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a liberalização e a promoção da concorrência nos mer- Nacional (SPN), bem como as disposições gerais apli-
cados energéticos, através da alteração dos respectivos cáveis ao exercício das actividades de armazenamento,
enquadramentos estruturais. transporte, distribuição, refinação e comercialização e
O presente decreto-lei, concretizando no plano nor- à organização dos mercados de petróleo bruto e de pro-
mativo a linha estratégica da Resolução do Conselho dutos de petróleo.
de Ministros n.o 169/2005, de 24 de Outubro, define
para o sector petrolífero um quadro legislativo coerente Artigo 2.o
e articulado com a legislação comunitária, com as obri- Âmbito de aplicação
gações decorrentes da Agência Internacional de Energia
e com os princípios e objectivos estratégicos aprovados 1 — O presente decreto-lei aplica-se a todo o ter-
na referida resolução. ritório nacional.
Nestes termos, o presente decreto-lei define os prin- 2 — Salvo menção expressa no presente decreto-lei,
cípios fundamentais orientadores das actividades e agen- as referências à organização, ao funcionamento e ao
tes, prevendo o livre acesso de terceiros às grandes ins- regime das actividades que integram o SPN reportam-se
talações petrolíferas e às redes de distribuição locais, ao continente.
a não discriminação e transparência das metodologias 3 — O disposto no número anterior não prejudica,
e dos critérios de aplicação tarifária quando for o caso, a nível nacional, a unidade e a integração do SPN.
sem esquecer os direitos dos consumidores e a possi-
bilidade do estabelecimento de obrigações de serviço
público. Artigo 3.o
Por outro lado, consagra, no âmbito dos compromis- Definições
sos internacionalmente assumidos, as disposições apli-
cáveis, nomeadamente, em termos de segurança do abas- Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por:
tecimento e de partilha dos recursos disponíveis em caso a) «Armazenamento» a manutenção de petróleo
de crise. bruto e de produtos de petróleo, em reserva-
Estabelece o regime geral para o acesso ao exercício tórios situados em instalações devidamente
das várias actividades — tratamento e refinação, arma- autorizadas, incluindo cavernas, para fins logís-
zenamento, transporte por conduta, distribuição e
comercialização — mantendo o princípio da sujeição a ticos, de consumo ou de constituição de reservas
licenciamento das instalações petrolíferas a partir das de segurança, para uso próprio ou de terceiros,
quais aquelas são exercidas, mas prevendo para a comer- incluindo instalações de venda a retalho e com
cialização um licenciamento próprio, considerando as exclusão da manutenção de produtos em vias
realidades e a multiplicidade de situações específicas de fabrico nas refinarias ou noutras instalações
inerentes à comercialização de produtos petrolíferos. petrolíferas industriais;
Ao Estado cabe o papel supletivo de garantir a segu- b) «Centros de operação logística» as grandes ins-
rança do abastecimento de combustíveis, através da talações de armazenamento ligadas a terminais
monitorização do mercado pela Direcção-Geral de Geo- marítimos ou a refinarias, através de sistemas
logia e Energia e pela definição da obrigação de cons- de transporte de produtos de petróleo por
tituição de reservas pelos intervenientes. Por outro lado, conduta;
para reduzir a dependência do exterior do nosso país c) «Cliente» o cliente grossista ou retalhista e o
dos produtos petrolíferos, integra-se a política do sector cliente final de produtos de petróleo;
petrolífero no quadro da política energética nacional, d) «Cliente doméstico» o cliente final que compra
promovendo-se a diversificação do aprovisionamento, produtos de petróleo para consumo doméstico,
da utilização de fontes de energia renováveis e da efi- excluindo actividades comerciais ou profissio-
cácia e da eficiência energética. nais;
Considerando a importância da protecção do e) «Cliente final» o cliente que compra produtos
ambiente e dos compromissos internacionalmente assu- de petróleo para consumo próprio;
midos, designadamente em matéria de emissões, con- f) «Comercializador grossista» a pessoa singular
diciona-se o exercício das actividades ao respeito da polí-
tica ambiental, promovendo-se simultaneamente a uti- ou colectiva que introduza no território nacional
lização racional de energia. petróleo bruto para refinação ou produtos de
Finalmente, o presente decreto-lei remete para legis- petróleo para comercialização, não incluindo a
lação complementar a formulação de soluções técnicas venda a clientes finais;
ou procedimentais. g) «Comercializador retalhista» a pessoa singular
Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das ou colectiva que comercializa produtos de petró-
Regiões Autónomas e a Associação Nacional de Muni- leo em instalações de venda a retalho, desig-
cípios Portugueses. nadamente de venda automática, com ou sem
Assim: entrega ao domicílio dos clientes;
Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 198.o da h) «Distribuição» a veiculação de produtos de
Constituição, o Governo decreta o seguinte: petróleo através de equipamentos móveis (rodo-
viários, ferroviários e embarcações) ou fixos
(redes e ramais de condutas) tendo em vista
CAPÍTULO I o abastecimento de clientes finais, ou de ins-
Disposições gerais talações de armazenamento destinado ao abas-
tecimento directo de clientes finais;
Artigo 1.o i) «GPL» os gases de petróleo liquefeitos;
j) «Grandes instalações de armazenamento» as
Objecto
instalações de armazenamento de produtos de
O presente decreto-lei estabelece as bases gerais da petróleo que pela sua capacidade e localização
organização e funcionamento do Sistema Petrolífero sejam definidos como de interesse estratégico,
N.o 33 — 15 de Fevereiro de 2006 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 1219
2 — No exercício das actividades objecto do presente 2 — Compete, ainda, ao Governo garantir a segu-
decreto-lei, é assegurada a protecção dos consumidores, rança de abastecimento, designadamente através da:
nomeadamente quanto à prestação do serviço, ao exer-
a) Definição das obrigações de constituição e
cício do direito de informação, à qualidade da prestação
manutenção de reservas e das condições da sua
do serviço, à repressão de cláusulas abusivas e à reso-
mobilização em situações de crise energética;
lução de litígios, em particular aos consumidores abran-
b) Promoção da adequada diversificação das fontes
gidos pela prestação de serviços públicos considerados
de aprovisionamento, em articulação com a uti-
essenciais, nos termos da Lei n.o 23/96, de 26 de Julho.
lização de outras formas alternativas de energia;
3 — A distribuição, incluindo o armazenamento que
c) Promoção da eficiência energética e da utili-
lhe está directamente associado, e a comercialização de
zação racional dos meios e dos produtos de
GPL canalizado integram o conceito de serviço público
petróleo;
essencial nos termos da Lei n.o 23/96, de 26 de Julho. d) Constituição de um cadastro centralizado e
actualizado das instalações petrolíferas locali-
Artigo 7.o zadas em território nacional;
e) Declaração de crise energética nos termos da
Protecção do ambiente legislação aplicável e adopção das medidas res-
tritivas nela previstas, de forma a minorar os
1 — No exercício das actividades abrangidas pelo pre- seus efeitos e garantir o abastecimento de com-
sente decreto-lei, os intervenientes no SPN devem adoptar bustíveis às entidades consideradas prioritárias.
as providências adequadas à minimização dos impactes
ambientais, observando as disposições legais aplicáveis.
2 — O Estado deve promover políticas de utilização Artigo 10.o
racional de energia, tendo em vista a eficiência ener- Regime de preços
gética e a protecção da qualidade do ambiente.
Sem prejuízo das regras de concorrência e das obri-
gações de serviço público, os preços a praticar inte-
Artigo 8.o gram-se no regime de preços livres.
Medidas de salvaguarda CAPÍTULO II
1 — Em caso de crise energética como tal definida Organização, regime de actividades e funcionamento
em legislação específica, nomeadamente de crise súbita
no mercado ou de ameaça à segurança de pessoas e
bens, enquadrada na definição do regime jurídico apli- SECÇÃO I
cável às crises energéticas, o Governo pode adoptar Composição do SPN
medidas excepcionais de salvaguarda, comunicando
essas medidas de imediato à Comissão Europeia, sempre Artigo 11.o
que sejam susceptíveis de provocar distorções de con-
Sistema Petrolífero Nacional
corrência e de afectarem negativamente o funciona-
mento dos mercados. Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por
2 — As medidas de salvaguarda, tomadas nos termos SPN o conjunto de princípios, organizações, agentes,
do número anterior, devem ser limitadas no tempo, res- actividades e instalações abrangidos pelo presente decre-
tringidas ao necessário para solucionar a crise ou ameaça to-lei, no território nacional.
que as justificou, minorando as perturbações no fun-
cionamento do mercado petrolífero. Artigo 12.o
Actividades do SPN
Artigo 9.o
1 — O SPN integra o exercício das seguintes acti-
Competências do Governo vidades:
1 — O Governo define a política do SPN, a sua orga- a) Refinação de petróleo bruto e tratamento de
nização e funcionamento, com vista à realização de um produtos de petróleo;
mercado competitivo, eficiente, seguro e ambiental- b) Armazenamento de petróleo bruto e de pro-
mente sustentável, de acordo com o presente decreto-lei, dutos de petróleo;
competindo-lhe, neste âmbito: c) Transporte de petróleo bruto e de produtos de
petróleo;
a) Promover a legislação complementar relativa ao d) Distribuição de produtos de petróleo;
exercício das actividades abrangidas pelo pre- e) Comercialização de petróleo bruto e de pro-
sente decreto-lei; dutos de petróleo.
b) Promover a legislação complementar relativa às
condições aplicáveis à construção, alteração e 2 — O exercício das actividades referidas no número
exploração das instalações de refinação, trata- anterior é acumulável, desde que os intervenientes cum-
mento e armazenamento de petróleo bruto e pram as condições para cada uma das actividades e não
de produtos de petróleo, bem como do trans- infrinjam a lei da concorrência.
porte, da distribuição e da comercialização de 3 — Os intervenientes no SPN devem obedecer a
produtos de petróleo; princípios de separação contabilística ou jurídica entre
c) Especificar as características dos produtos de actividades, nos termos a definir em legislação com-
petróleo e regulamenta a sua utilização. plementar.
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O licenciamento, a inspecção e a fiscalização das ins- Enquanto não for publicada a legislação referida no
talações petrolíferas para uso das Forças Armadas que presente decreto-lei, mantêm-se em vigor os diplomas
se situem em zonas ou instalações de interesse para legais e regulamentares respeitantes ao sector do petró-
a defesa nacional são realizados pelos órgãos compe- leo no que não forem incompatíveis com as disposições
tentes de cada um dos ramos das Forças Armadas. estabelecidas no presente decreto-lei.