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Princípio da obrigatoriedade: (desde 2008 que) os factos que constam do art. 2º e 3º CRPr são
obrigatoriamente sujeitos a registo (salvo exceções previstas) no prazo de inscrição de 2 meses (art. 8º-
A CRPr).
Não é uma verdadeira obrigação, pois o seu incumprimento não tem consequencias negativas,
apenas taxas mais elevadas no momento da inscrição como estatui o art. 8º-C/1 CRPr.
! Esta obrigatoriedade do registo não contraria a eficácia real do facto sujeito a registo que
decorre da mera celebração do contrato (princípio da consensualidade, princípio da unidade e da
causalidade) !
Princípio da instância: a iniciativa da prática dos atos registais pertence aos interessados – cuja
legitimidade resulta do art. 36º CRPr - no registo exclusivamente, o conservador não lança registos
oficiosamente (art.41º CRPr).
(É pelo facto da iniciativa registal estar na disposição dos interessados, e não obstante o principio da
obrigatoriedade, que frequentemente o registo predial falha e existem situações de desconformidade.)
Princípio do trato sucessivo: o registo predial como tal deve patentear toda a sequência dos factos
jurídicos que respeitam a cada prédio descrito, procurando que a sua história jurídica seja retratada
fielmente e sem interrupções – art. 34º CRPr.
Este princípio tem como destinatário o conservador do registo predial: cabe ao conservador verificar no ato do
registo se o facto que regista provem de titular inscrito, i.e., se respeita a lógica do último facto inscrito. A
verificar que assim não é, deve o conservador recusar o registo, sob pena de o registo com violação do trato
sucessivo ser nulo nos termos do art. 16º/e) CRPr.
Tutoria Direitos Reais TB 2018/2019
O registo encerra uma presunção de titularidade (da ordem substantiva) a favor do sujeito que beneficia
do registo ultimo do facto jurídico que incide sobre o prédio em causa – art.7ºCRPr.
Esta presunção, nada mais determina além de uma titularidade presumida, que é ilidível, mediante
impugnação dos factos registados nos termos do art. 8º CRPr.
E isto porque a função primordial do registo é a publicidade das situações jurídicas dos prédios e a
consolidação da titularidade na ordem substantiva no plano registal, mas não a atribuição de direitos na
ordem substantiva.
Isto significa que, em casos de desconformidade entre a ordem registal e a ordem substantiva, prevalece
a substantiva e a presunção registal é afastada e existe fundamento para cancelamento do registo nos
termos do art. 13º CRPr, salvo exceções (situações de aquisição tabular).
1. Efeito presuntivo do registo predial: o registo predial tem efeito presuntivo nos termos do art. 7º
CRPr na medida em que determina que se deve presumir que o sujeito com inscrição a seu favor é
titular da situação jurídica registada.
A presunção do art. 7º CRPr tem duas vertentes:
- presume-se que o direito real existe
- presume-se que o direito real existe nos termos exatos em que é inscrito
(só a inscrição é abrangida pela presunção, a descrição não)
Esta presunção vale ainda que o registo seja nulo, mas não se este é inexistente nos termos do art.
15º CRPr.
2. Efeito consolidativo do registo predial: é o efeito regra do registo predial, por força do principio
da consensualidade (art. 408º/1 CC) e da causalidade: é principio de direitos reais que a
transmissão/constituição do direito real (efeito real) ocorre por mera eficácia da celebração do
contrato independentemente do seu registo.
Tutoria Direitos Reais TB 2018/2019
Ora, se assim é, para que serve o registo? Serve para consolidar essa titularidade adquirida no
plano substantivo e a publicitar, protegendo-a de fenómenos de aquisição tabular por
terceiro.
Para estes atos o registo predial tem um efeito meramente enunciativo (limita-se a
enunciar os factos jurídicos), podendo os mesmos não constar de registo sem que o titular fique por
isso sujeito a perdê-los.
5. Efeito atributivo do registo predial: em certas situações excecionais (somente: art. 5º/1 e 3,
17º/2 e 122º CRPr e 291º/2 CC), que se desviam da regra do efeito consolidativo do registo
predial, sempre que se encontrem verificados determinados pressupostos legais pode o registo
predial implicar alterações na ordem substantiva nomeadamente, alterando a titularidade do
direito real em causa.
O registo predial surge, por força do princípio da publicidade dos direitos reais, como sistema
organizado em conservatórias que promove a publicidade para os direitos reais que incidem sobre
bens imóveis. É por isso o Estado que fomenta a confiança dos particulares no registo, tendo
exatamente em vista a segurança no comércio jurídico (art. 1ºCRPr).
É nestas circunstâncias que, perante certas situações com caraterísticas específicas, o Estado se vê
obrigado a reconhecer o efeito atributivo do registo predial por força da fé pública registal,
invertendo a ordem de prevalência da ordem substantiva sobre a registal erguendo o ato de registo
a verdadeiro facto aquisitivo de direitos reais. Estes são casos de aquisição tabular que são
excecionais dada a sua gravidade pois implicam a preterição do titular na ordem substantiva e o
seu direito à propriedade privada (art. 62º CRP).
A. Dupla disposição
Embora o art. 5º/1 CRPr fale em “oponibilidade” não é isso que esta em causa. Os direitos reais são sempre
oponíveis erga omnes (princípio da absolutidade), não dependendo de registo para esse efeito.
Entende-se que quando o art. 5º CRPr fala em oponibilidade, esta deve ser entendida como a proteção do
terceiro que, confiando na aparência da situação registal desconforme à realidade substantiva, celebra um
negócio jurídico inválido com um titular inscrito mas não legitimo, registando esta sua aquisição.
O negócio jurídico celebrado em segundo lugar é inválido: falta legitimidade ao disponente que ainda que
ainda que inscrito no registo não tem a titularidade do direito real não tendo legitimidade para dele dispor.
Porque é que o terceiro adquirente confia no registo e tem direito à proteção da fé pública registal? Porque o
registo goza de presunção de titularidade (nos termos do art.7º CRPr) justificando que este terceiro confie na
validade do negócio que celebra, e no Estado que assegura esta publicidade.
Releva porque significa que, quando o direito real em causa não decorre de ato de disposição de
autor comum incompatível, não é fundamento para efeitos de aquisição tabular: é o caso da
hipoteca legal, arresto, penhora, arrolamento, …cujo direito não resulta de ato de disposição do
titular inscrito na ordem jurídica. E pode implicar uma interpretação restritiva do art. 824º/2 CC,
nomeadamente a desconsideração da sua ultima parte por força da prevalência desta tese, que
impede nestes casos que as onerações acompanhem os direitos reais.
Exemplo:
A B
C com penhora sobre o imóvel que A dispôs a favor de B pretende fazê-la valer contra B.
Não pode porque não adquiriu de autor comum incompatível. O mesmo se diga da venda judicial.
“boa fé” : só o adquirente de boa fé pode beneficiar da aquisição tabular – que boa fé se exige?
- boa fé subjetiva ética (art. 291º/3 CC): se o terceiro adquirente conhece ou devia conhecer o direito
do verdadeiro titular na ordem jurídica substantiva o registo predial não defraudou a sua confiança
na situação substantiva e este não merece qualquer proteção da ordem jurídica. Não procede a fé
pública registal.
4. Caráter oneroso do negócio jurídico: requisito que resulta da conjugação de todos os preceitos atinentes à
aquisição tabular comuns, e por isso exige-se aqui também embora o art. 5º CRPr omita este requisito.
5. Terceiro regista a sua aquisição antes do registo do facto aquisitivo pelo titular legítimo na ordem
substantiva: só enquanto o registo ainda está incompleto é que o terceiro consegue registar o ato de aquisição
porquanto o disponente ainda se afigura neste como titular do direito real com legitimação e presunção de
titularidade a seu favor (art. 7º e 9º CRPr) + princípio do trato sucessivo (art. 34º CRPr).
Exemplo:
A B (que não regista)
A (vende a) C (que regista)
Há desconformidade entre o registo predial e a ordem substantiva: A continua a estar inscrito no registo predial
mas B é que tem a propriedade (princípio da consensualidade).
A volta a dispor a C, que estava de boa fé, o negócio com A foi oneroso, A ainda tinha registo a seu favor porque
B não havia registado e por isso não beneficiava do efeito consolidativo do registo predial. C registou antes de
B registar a aquisição. Logo C beneficia de aquisição tabular (efeito atributivo do registo predial).
Tutoria Direitos Reais TB 2018/2019
Há desconformidade entre o registo predial e a ordem substantiva: B é que está inscrito no registo predial ainda
que A é que tenha a propriedade dado que a mantem omissa do registo não beneficiando do efeito consolidativo
do registo.
B dispõe de X a C, que estava de boa fé, o negócio foi oneroso (Compra e venda), B tinha registo a seu favor
porque A não havia registado. C registou antes de A registar a ação de declaração de nulidade do registo. Logo
C beneficia de aquisição tabular (efeito atributivo do registo predial) nos termos do art. 17º/2 CRPr.
Qual o facto aquisitivo subjacente à aquisição tabular no caso de subaquisição com nulidade registal?
Prof. Menezes Leitão: continua a ser o negócio jurídico.
Prof. José Alberto Vieira: não pode continuar a ser o negocio jurídico porque esse é, no caso, um
exemplo, inválido, logo o facto aquisitivo é o próprio registo que nestes casos tem efeito atributivo.
Tutoria Direitos Reais TB 2018/2019
Qual o facto aquisitivo subjacente à aquisição tabular no caso de subaquisição com nulidade registal?
Prof. Menezes Leitão: continua a ser o negocio jurídico
Prof. José Alberto Vieira: não pode continuar a ser o negocio jurídico porque esse é, no caso, um
exemplo, inválido, logo o facto aquisitivo é o próprio registo que nestes casos tem efeito atributivo.
6. Já terem decorrido 3 anos após a celebração do negócio inválido: se não, o terceiro de boa fé,
não vê a sua posição tutelada.
o 3 anos a partir da celebração de que negócio inválido?
o Prof. José Alberto Vieira: desde o primeiro negócio inválido entre o titular
originário e o adquirente que vai depois dispor a terceiro.
Exemplo:
A B C (terceiro de boa fé)
(CV inválida em 2014) (CV inválida em 2016)
Os 3 anos decorrem logo em 2017, porque conta a data do negócio inválido entre o titular
na ordem substantiva (A) e o adquirente B que depois alienará a C – desde o primeiro
negócio inválido.
Qual o facto aquisitivo subjacente à aquisição tabular no caso de subaquisição com nulidade registal?
Prof. Menezes Leitão: continua a ser o negócio jurídico.
Prof. José Alberto Vieira: não pode continuar a ser o negocio jurídico porque esse é, no caso, um
exemplo, inválido, logo o facto aquisitivo é o próprio registo que nestes casos tem efeito atributivo.
Discussão acerca da articulação entre art. 17º/2 CRPr e 291º CC: existem casos de nulidade substancial que,
podem reconduzir-se igualmente a uma situação de nulidade registal nos termos do art. 17º/2 CRPr, será o caso
de um negocio de compra e venda nulo que dá lugar a nulidade substantiva nos termos do art. 291º CC e que
funde uma subaquisição com nulidade registal nos termos do art. 16º e 17º CRPr. Atendendo a que o art. 291º/2
CC tem um requisito extra que onera mais a posição do terceiro, só o protegendo se decorridos 3 anos desde a
Tutoria Direitos Reais TB 2018/2019
nulidade do negocio, requisito que não se exige no art. 17º/2 CRPr como se devem articular estes preceitos?
Qual se deve aplicar?
Prof. Oliveira Ascensão: resolve a questão por maioria de razão analogicamente, aplicando o limite do art.
291º/2 CC a casos de aquisição tabular por subaquisição fundada em registo nulo, art. 17º/2 CRPr, ficando os
casos que correspondem a um e a outro todos sujeitos à exigência de 3 anos para efeitos de aquisição tabular.
Prof. Menezes Leitão: às situações em que o art. 17º/2 CRPr e o art. 291º/2 CC coincidissem, aplicar-se-ia o
art. 17º/2 CRPr abdicando da exigência de 3 anos para fazer funcionar a aquisição tabular, dado que este seria
o regime que melhor protegia o terceiro.
Prof. José Alberto Vieira: perante situações reconduzíveis no caso concreto à previsão quer ao art. 17º/2
CRPr quer ao art. 291º CC em simultâneo, caberia ao interessado decidir qual dos preceitos pretende invocar
conforme o seu interesse e atendendo a que os requisitos de proteção não são iguais, tal como se um tem a
vantagem de não estar sujeito à exigência de 3 anos, poderá ter outras desvantagens que não interessem ao
particular.
Consequências da aquisição tabular:
Prof. José Alberto Vieira - depende: