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DOSSIÊ QUEM SÃO E O QUE PENSAM AS “NOVAS” DIREITAS BR ASILEIR AS

As múltiplas faces do
conservadorismo brasileiro
A D E S E S P E R A N Ç A Q U E PA I R A S O B R E O PA Í S R A M I F I C A - S E
E M D I S T I N TA S F O R M A S D E V I V E R A N A Ç Ã O , F R A C I O N A D A S
P O R CL A SSE , GER AÇ ÃO, ES TILO DE V IDA E P OSI Ç ÃO P OLÍTI C A

R OS A N A PI N H EI R O - M AC H A D O • TAT I A N A VA R G A S M A I A

T
odo “fascista” é igual? Uma observação sol negro”, publicado no site da CULT, enfati-
rápida do debate público no Brasil pa- zando a dimensão romântica daqueles que não
rece sugerir que sim. Todavia, um exa- aceitam o novo. Além disso, o melancólico
me mais cuidadoso desse campo ideológico tem sido descrito como aquele que, ao resig-
revela uma realidade um pouco mais complexa nar-se à ordem presente de forma radical, tem
do conservadorismo brasileiro. Nossa propo- a potência de uma ação para o futuro.
sição é que o debate público sobre o conserva- Contemporaneamente, os países desenvol-
dorismo no país precisa vencer dois desafios: vidos em crise são o melhor exemplo da forma
o primeiro é não reduzir esse posicionamento como a nostalgia, a melancolia, o conservado-
moral e político a uma homogeneidade – tal rismo e um nacionalismo revisionista estão
como sintetizado na expressão “fascista”. O imbricados. Não é coincidência que, desde
segundo desafio é esmiuçar quais são as múl- 2012, ainda na ressaca da crise econômica de
tiplas facetas do conservadorismo brasileiro, 2007, as campanhas para os executivos nacio-
em um contexto nacional que se difere, por nais de países como a Rússia, a China e os
exemplo, das grandes potências em crise. Estados Unidos tenham sido marcadas pela
Existe um antigo debate nas humanidades ascensão de um nacionalismo nostálgico, si-
sobre nostalgia e melancolia nas subjetivida- multaneamente romântico e ansioso de um
des políticas, especialmente no conservado- passado glorioso. Em 2012, Xi Jinping prome-
rismo. O nostálgico, confrontando-se com a teu um “grande rejuvenescimento do povo
irreversibilidade do tempo, deseja o que não chinês”, no mesmo ano em que Putin afirmou
existe mais em um presente em transforma- que “A vitória será nossa!”, remetendo à Gran-
ção. O melancólico não se desprende da expe- de Guerra Patriótica de 1941. Mais recente-
riência da perda e confronta-se com os limites mente, a campanha de Donald Trump à pre-
de sua existência, associando sua perda à in- sidência dos Estados Unidos em 2016 foi
certeza em relação ao futuro. Recentemente, embalada pelo slogan “Faça a América gran-
Helena Vieira travou esse debate no artigo de novamente!”. No Brexit, no Reino Unido,
“Melancolia e conservadorismo: o brilho do existe uma correlação entre uma experiência

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Tomando para si a titularidade do discurso
anticorrupção, de modo seletivo e hipócrita,
uma característica comum às diferentes
direitas tem sido a defesa da ação moralizante
idealizada da classe trabalhadora inglesa e o
da política encampada pelo Poder Judiciário,
cultivo de um fetiche por objetos antigos pu-
ramente “Made in Britain” com o voto a favor consagrando um populismo punidor e um
da saída da União Europeia. messianismo judicial com amplo apoio da
Todas essas manifestações são unidas por mídia hegemônica. Além disso, intensificam-se
uma similaridade nítida: um apelo a uma outros pontos dessa extensa agenda, que
identidade nacional contida num passado ago-
ra abandonado, e a convicção de que os pro-
engloba diferentes dimensões, tais como o
blemas presentes se originam nesse abandono discurso que vende a política como mera
e podem ser resolvidos por meio de uma reto- gestão, as reformas de enfraquecimento da
mada radical desse passado. regulação estatal em diversos ramos da
Nos exemplos citados, o que está em jogo
economia, a retirada de direitos sociais, a
é o sentimento da grandiosidade perdida de
uma nação. Essa sensação de perda não ape- desqualificação dos direitos humanos, a
nas de status, mas também de um projeto exaltação da segurança pública autoritária e a
nacional ascendente, tem sido capturada em patrulha moral de escolas e instituições
diversas pesquisas de opinião que demons- culturais para impedir reflexões sobre os papéis
tram uma divisão clara entre países desen-
volvidos e emergentes no que diz respeito à
tradicionais de gênero e as diversas formas de
percepção do futuro, com a população dos exercer livremente a sexualidade. Entretanto,
primeiros respondendo de forma majorita- essa ampla frente das direitas, que envolve
riamente pessimista quando questionada também setores hegemônicos da mídia e do
acerca de um futuro melhor para as próximas
Judiciário, terá dificuldades de manter a
gerações. Dessa forma, não é incongruente
observar o crescimento de um reacionarismo unidade que a caracterizou até aqui, pois o
entre a própria classe trabalhadora que, vi- antipetismo não será mais um fator agregador
vendo em um presente instável e depreciado, suficiente, havendo uma tendência de que as
passa a interpretar esse passado como um disputas internas entre esses grupos, inclusive
lugar seguro e estável, e a desejar por um re-
nas eleições de 2018, emerjam com mais força.
torno a ele. Mesmo entre as classes menos
privilegiadas, mantém-se uma construção RENAN QUINALHA
romântica de um passado nacional mais in- ADVOGADO, MILITANTE DE DIREITOS HUMANOS
clusivo que abarcava a todos. E PROFESSOR DE DIREITO DA UNIFESP
No caso de países em desenvolvimento e
emergentes, marcados por profunda segrega-
ção social, nosso pressuposto é que o entendi-
mento dessa melancolia precisa ser recontex- Stefan Zweig em 1941 para conotar simulta-
tualizado. Não é um passado nacional que é neamente um horizonte otimista para os ou-
idealizado de forma homogênea, mas sim uma tros países do mundo, um devir nação, um
experiência muito particular posicionada no exemplo esperançoso nos escombros da Se-
tempo e no espaço de determinados grupos. gunda Guerra Mundial. No século 21, passa a
A nostalgia nacionalista de uma nação país emergente: um país que estava pratica-
grandiosa ou de uma classe trabalhadora mente atingindo aquele horizonte vislumbrado
próspera não necessariamente define o con- por Zweig, quase cumprindo a promessa de
servadorismo no Brasil. Detentor de um pas- chegar ao futuro por meio do crescimento eco-
sado colonial brutal, por muitos anos o Brasil nômico e da inclusão social. Mas como bem
foi o “país do futuro” – expressão cunhada por representou a sequência de capas da The

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Economist de 2009, 2013 e 2016, o decolar se Pretendemos apontar que tanto a nostalgia
transformou num voo de galinha estatelado quanto a melancolia são manifestações mul-
no chão. Do crescimento econômico espeta- tifacetadas e, portanto, sua análise no Brasil
cular da primeira década do século 21, entrou- deve ser escrutinada. Entendemos que assim
-se em uma recessão profunda. como existem diversos grupos conservadores,
A crise postergou o sonho do país do fu- existem diferentes recortes através dos quais
turo. Em comum, à direita e à esquerda restou a melancolia e, inclusive, a não melancolia
a sensação de colapso nacional. Nesse contexto podem ser observadas. É esse debate mais ma-
histórico, que dificilmente consegue sair do tizado – buscando fugir das grandes genera-
lugar de um devir nação, é difícil pensar a me- lizações acusatórias que colocam múltiplas
lancolia ou a nostalgia como subjetividades expressões políticas e morais dentro de uma
que remetem a um passado nacional de abun- mesma categoria, não raramente sob o nome
dância. Quem vestiu verde-amarelo nas ma- de “fascistas” ou “coxinhas” – que procuramos
nifestações a favor do impeachment de Dilma travar aqui por meio do esboço de alguns re-
Rousseff não estava exaltando romanticamen- cortes que podem nos auxiliar na compreen-
te um nacionalismo que se refere a um passa- são da heterogeneidade do conservadorismo
do grandioso perdido, mas havia ali uma brasileiro contemporâneo.
multiplicidade de perdas e frustrações. Se a Em um recorte moral e cultural, a melan-
desesperança e a inconformidade pairam so- colia à brasileira se expressa na negação das
bre o país, isso não ocorre de forma homogê- identidades políticas e culturais emergentes no
nea, mas se ramifica em distintas formas de século 21, como os movimentos LGBT, negro
vida e de viver a nação, fracionadas por classe, e feminista, que se organizaram publicamente
geração, estilo de vida e posição política. de maneira franca na busca de uma maior
equidade no reconhecimento, demandando
uma mudança no status quo político e social
brasileiro por meio de uma abertura institu-
cional democrática que passe então a reconhe-
O primeiro objetivo da direita é interromper cer, contemplar e proteger a diversidade de
o sistema bolivariano que a esquerda tenta expressões e projetos de vida presentes no país.
Esse status quo, em grande medida apoiado em
implantar no Brasil. Após isso, fundamentar os um ordenamento religioso de matriz cristã
princípios cristãos e da família, com a liberdade bastante conservador e na noção de uma “fa-
do livre mercado. Conservadores nos princípios mília tradicional brasileira”, possui uma trans-
liberais na economia! O diálogo ou a versalidade muito interessante no Brasil con-
temporâneo, abrangendo e influenciando
identificação entre os diferentes movimentos é o
atitudes políticas de diversas camadas da po-
calcanhar de Aquiles da direita. Infelizmente, pulação brasileira. Essas manifestações são
os egos são enormes – parece coisa surreal. tragadas pelas guerras culturais e pela pola-
Com isso, fica muito difícil, quase beirando o rização política: de um lado, a luta pela livre
impossível, uma ação unificada e eficaz para expressão e pelo reconhecimento das identida-
des diversas e, de outro lado, o medo e o res-
a direita. Somos um exército que atua como
sentimento que culpa esses movimentos emer-
batalhões independentes. Infelizmente. gentes pela degeneração e perda do rumo
MARCELLO REIS
nacional. O conservantismo de costumes apa-
FUNDADOR DO REVOLTADOS ON LINE rece em todas as classes sociais e se expressa
de maneira tão forte no Brasil que hoje chega
a esmaecer distinções tradicionais entre es-
querda e direita, consolidando no país uma

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Levamos anos para nos posicionar à direita,
após muito refletir sobre o que é melhor para o
país. Nossa intenção é reduzir o tamanho do
tradicionais da mentalidade conservadora: o
Estado, descentralizar o poder e desburocratizar conservadorismo é tanto uma reação quanto
a administração do país, gerando mais emprego, uma reflexão sobre deter poder, ver esse poder
mais prosperidade e oportunidade para as ameaçado, e tentar recuperá-lo. Tais políticas de
pessoas, principalmente as das classes C, D e E. redistribuição de recursos e de combate à desi-
gualdade são encaradas como injustas por essa
Privatizar, em longo prazo, toda a saúde e parcela da população exatamente por alterarem
educação, para que o pobre que hoje frequenta o equilíbrio de poder econômico e a distribuição
uma escola de nível baixíssimo, seja pela de acesso às instituições que viabilizam a mobi-
corrupção, seja pela incompetência dos setores lidade social. Em uma sociedade historicamente
hierarquizada como a brasileira, poucas coisas
públicos, possa estudar na mesma escola do
podem ser mais ameaçadoras à “ordem” e à “es-
dono da empresa onde seu pai trabalha, através tabilidade” do que tais iniciativas.
de sistema de voucher. Isso gerará o mesmo Há também o recorte geracional daqueles
nível de educação para ricos e pobres, que reelaboram a experiência dos anos de di-
proporcionando, em médio e longo prazo, tadura civil-militar no Brasil como um perío-
do de ordem e desenvolvimento. Esse é o re-
oportunidades iguais para todos. Da mesma corte em que a melancolia e a nostalgia
forma, diminuindo o Estado, o dinheiro público conservadora mais se aproximam daquelas
em circulação reduz, proporcionalmente. observadas nas grandes potências mundiais,
O que favorece o corte da corrupção. Além uma vez que há um apagamento da desigual-
dade social e da pobreza presente naqueles
disso, melhorar o investimento na inteligência
tempos, bem como um esquecimento das dis-
da polícia, para que ela possa realizar de forma putas políticas, sociais, culturais e econômicas
mais plena seu trabalho, valorizá-lo e preservar do período, privilegiando uma narrativa de
o direito de defesa do policial. É assim que estabilidade que se mistura com memórias de
diminuiremos a violência. prosperidade e noções de identidade e unidade
nacional. Entre os melancólicos militares há
CARL A ZAMBELLI um forte apego à ordem como remédio contra
FUNDADORA DO MOVIMENTO NASRUAS
tanto uma suposta degeneração moral brasi-
leira como um sentimento de impunidade
irremediável, o que leva ao endosso de valores
punitivistas por associar, de maneira ligeira, a
ideia de disciplina militar com uma intolerân-
posição transpartidária contrária à postura cia a comportamentos e atitudes consideradas
progressista em termos culturais e de valores. “desviantes”. Nessa variação, observamos uma
Em um recorte de classe, o tipo ideal da me- nostalgia por um passado em que regras eram
lancolia brasileira é um sujeito que não apenas (supostamente) respeitadas, o que (suposta-
rechaça as reformas sociais fomentadas no pe- mente) resultou em um país mais seguro, mais
ríodo lulista como também as culpa tanto pelos organizado, mas estável, ou seja: um país me-
fracassos individuais quanto pela crise nacional. lhor, que foi perdido, abandonado em prol de
Cotas, ProUni e FIES, Bolsa Família, crédito um novo regime político que não conseguiu
popular, PEC das Domésticas, entre tantas ou- efetivar as promessas avançadas e as expecta-
tras, são reformas vistas como eleitoreiras e ine- tivas criadas durante a sua construção.
ficientes em que “tudo é dado a eles e nada a Além de observar a existência de uma “nos-
nós” – um “nós” supostamente mais merecedor talgia múltipla” (moral, de classe e geracional),
de oportunidades. Parece-nos que, aqui, esse ainda chamamos atenção para a possibilidade
recorte sublinha algumas das dimensões mais de, nesse contexto de um passado nacional

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que não aponta para a glória, florescer um con- com um discurso pseudocientífico antidiversi-
servadorismo não melancólico que, contradito- dade que identifica nas demandas por reconhe-
riamente, assim como flerta com o passado, cimento de camadas subalternas uma trapaça,
aponta para o futuro de diversas maneiras. Pa- uma tentativa de subversão da moralidade e dos
rece-nos essencial destacar, no âmbito desse valores estabelecidos do status quo.
debate, um fenômeno relativamente novo (so- Ações como as do Movimento Brasil Livre
bretudo pelo ineditismo de a direita se organizar (MBL) flertam com o passado em relação às
como movimento social no Brasil do século 21) questões morais. Todavia, se levarmos em con-
que diz respeito à emergência de um ultracon- sideração, por exemplo, o fato de que um dos
servadorismo não melancólico: juvenil, com líderes do MBL era integrante do Bonde do
estética contemporânea, antissistêmico e clara- Rolê, temos aí uma pista de que tal flerte é me-
mente orientado para o futuro. Aqui, observa- ramente mais uma estratégia para abocanhar
mos uma mescla um pouco turva que envolve o popularidade entre segmentos religiosos – es-
resgate e a proposta de um aprofundamento de pecialmente após o fracasso de suas últimas
um neoliberalismo no campo econômico asso- mobilizações – do que necessariamente uma
ciado a um pânico moral – uma combinação do nostalgia em relação ao passado e uma relação
que definimos como as clivagens moral e de melancólica com o presente. Com o foco nas
classe, afastando-se (não de maneira convincen- pautas punitivistas e anticorrupção, o grande
te) do recorte geracional. É uma tentativa de um apelo do MBL é justamente se comunicar do
reganismo requentado, que combina uma reto- modo orientado para o futuro, a partir de uma
mada do discurso neoliberal da década de 1980 ideia subentendida de que “o Brasil tem jeito”.

Pelo contato que tive, especialmente pela internet, existe um interesse muito
grande por pensadores que se diferenciam do status quo universitário
brasileiro. Posso citar, entre os vivos, Olavo de Carvalho, Jordan Peterson,
Theodore Dalrymple. Entre os mortos, Ortega y Gasset, Louis Lavelle e Eric
Voegelin, por exemplo. Notei, quando realizava o crowdfunding de O jardim
das aflições, que as doações aumentavam de acordo com o conteúdo intelectual
que postávamos. Quanto mais frases, entrevistas, textos, inclusive longos
textos ou entrevistas, mais as pessoas se dispunham a colaborar. Existe um
interesse intelectual verdadeiro. E isso se nota pela quantidade de editoras que
têm nascido e se mantido produzindo livros para esse público. Os movimentos
de direita não são unidos, e em parte é bom que não o sejam. Entretanto,
existe união nos temas fundamentais: contra o governo Dilma, por exemplo,
os movimentos de direita se uniram, e você veja o resultado.
JOSIAS TEÓFILO
DIRETOR DO DOCUMENTÁRIO O JARDIM DAS AFLIÇÕES, SOBRE OLAVO DE CARVALHO

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Observo que as principais pautas morais da
Dentro desse espectro de um conservado- direita brasileira – combate ao casamento
rismo não nostálgico/melancólico, cabe men-
homoafetivo, definição de família apenas
cionar a emergência da figura de Jair Bolsonaro,
cujo apelo fundamental se dá a partir da pauta sanguínea, recusa da adoção homoparental,
da violência. Ainda que se trate de um fenô- combate à descriminalização do aborto, recusa
meno transversal geracionalmente e que, por- ao reconhecimento de cidadania para pessoas
tanto, dialoga com o que já mencionamos trans – são capitaneadas por forças religiosas
sobre uma relação nostálgica com a ditadura
civil-militar, o fato mais surpreendente do atuantes na política brasileira, mas não apenas.
bolsonarismo é seu apelo entre a juventude (o Observo também que são de atuação
DataFolha, em 2016, apontou que 60% dos internacional tanto as denominações
eleitores de Bolsonaro são jovens). Como vem evangélicas neopentecostais quanto a Igreja
mostrando a pesquisa em andamento de Ro-
Católica, no caso brasileiro aliadas dessa pauta
sana Pinheiro-Machado e Lúcia Scalco na pe-
riferia de Porto Alegre, a orientação desses que aparece na política como forma de dizer
jovens com o referido político mistura elemen- que estamos vivendo num mundo sem valores
tos de simbologia de identificação e pertenci- morais e que, portanto, é preciso recolocar as
mento juvenil com a crença de que todos po- coisas em “ordem”. O discurso de combate à
derão andar armados e se defender do que
chamam de “bandidagem”. A ideia recorrente
corrupção, que é uma pauta política necessária,
de que Bolsonaro vai colocar o país “nos eixos” acaba se colando a esse imaginário de
indica uma pulsão que, ainda que agressiva e descalabro moral completo. O diagnóstico é
violenta, não deixa de ser de esperança, proje- falso, mas a partir dele crescem os discursos
tando um futuro de mais segurança para os
de ódio a tudo aquilo que possa ser
grupos de baixa renda no Brasil.
Percebemos, por meio do panorama apre- transformador, que precisa ser lido como
sentado, que o que comumente se identifica ameaçador. É, como tão bem diz Vladimir
como um movimento conservador no Brasil Safatle, o manejo do medo e da esperança.
é, na verdade, um fenômeno bastante diverso. Talvez esse seja o único novo interesse da
Aqui, apresentamos um esforço preliminar de
mapear e compreender o que identificamos
direita brasileira, tentar nos convencer de que
como uma heterogeneidade constitutiva do governos de esquerda são corruptos e só
conservadorismo brasileiro e que, portanto, tirá-los do poder pode nos salvar “disso tudo
há atravessamentos e sobreposições entre esses que está aí”. O problema dessa pauta é que
modelos. Acreditamos que se trata de uma
entre “isso tudo” há uma camada imensa de
contribuição importante para dar complexi-
dade ao debate público no país, que, em tem- pessoas que não me parecem dispostas a deixar
pos de polarização, tende a ora interpretar o de existir, viver, trabalhar, estudar, se
conservadorismo brasileiro como um simula- movimentar e reivindicar seu lugar nisso que
cro da nostalgia das grandes potências, ora insistimos em chamar de nação brasileira.
tipificar um fenômeno difuso por meio de
categorias acusatórias simplistas e estereoti- CARL A RODRIGUES
padas, abdicando, assim, de uma possibilidade DOUTORA EM FILOSOFIA PELA PUC E PROFESSORA
de interpretação matizada de um fenômeno DO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA UFRJ
intrinsecamente complexo.

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