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Resumo:
Abstract
The purpose of this presentation is to relate in a brief way Norbert Elias’ work, especially
the “Pacifier Process” concept, with the ideas developed by Lev Vigotski, considering his
cultural-historic handling. We are doing it in two ways: the first one allowing an approach
among the thoughts of these authors related to the human condition specificity; the second
putting forward the distance among Elias and Vigotski related to the human-psycho
development characterization.
INTRODUÇÃO.
Evocar o pensamento de Norbert Elias e Lev Vigotski requer, seja qual for o
leitor, uma profundidade compatível com as idéias por eles afirmadas, o que infelizmente
não será possível alcançar somente com a leitura deste texto, haja vista o expediente ser
restrito para o atendimento desse intento. Portanto, procuramos aqui relacionar de maneira
sucinta o trabalho de Norbert Elias, em especial o conceito de “processo civilizador”, com
as idéias desenvolvidas por Lev Vigotski, considerando sua abordagem histórico-cultural,
seguindo, dessa maneira, a proposta de outros artigos acadêmicos, em especial os de Algel
1
Nos referimos aqui aos seguintes trabalhos: ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade
de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.]; ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939.
[O processo civilizador, 2 vols., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994-5].
2
Dedico especial atenção ao trabalho: VIGOTSKI, Lev. “Gênesis de las funciones psíquicas superiores” in:
Problemas del desarrollo de la psique. Obras escogidas. Vol 3. Madri: Visor, 1995.
1
Pino 3 e Maria Cecília Rafael de Góes 4 , publicados em edições passadas neste mesmo
Simpósio, expondo temas comuns entre Elias e Vigotski.
Não podemos deixar de anunciar o fato de que Elias e Vigotski, mesmo sendo
autores contemporâneos, com produções dentro de uma mesma faixa de tempo histórico 5 ,
tiveram atuações em ramos distintos do saber, sem contar as concepções teóricas também
diferentes que ostentavam. Por isso, evitaremos o perigoso jogo de comparações
restringindo nossa escrita a apenas duas questões: a primeira permitindo uma aproximação
entre o pensamento desses dois autores no que diz respeito à especificidade da condição
humana; a segunda apontando para um distanciamento entre Elias e Vigotski no que se
refere à caracterização do desenvolvimento psíquico humano. Vejamos a primeira:
Para Norbert Elias cada prática humana deve ser compreendida como estando
numa rede de inter-relações com outros elementos da cultura humana que se afetam
reciprocamente. Tal idéia rompe com o pressuposto de que é a natureza biológica ou as
determinações de cunho metafísico que dão sentido ao homem ou às suas coisas. Para Elias
o homem é um ser peculiar em vista de outras espécies porque está sendo construído a cada
instante por ele próprio, não havendo nada que seja passível de estranheza na sua
constituição. Temos a partir do pensamento de Elias a afirmação de que aquilo que dá
condição humana ao homem deva ser encontrado na própria história do homem, mais
precisamente nas configurações que estabelece com seus pares, ou seja, no âmbito social.
Sendo assim, o estudo da psique humana (psicogênese) não pode ser compreendido se não
estiver relacionado aos estudos da sociedade (sociogênese). É, portanto, no campo da
história social humana que os gestos e as atitudes humanas ganham sentido, ganham
integibilidade.
6
ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume 1, Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 221 ].
7
VEYNE, Paul. “Foucault révolutinne l’historie” in: Comment on écrit l’historie suivi de Foucault
révolutionne l’historie, Paris: Seuil, 1978, p. 236. citado por CHARTIER. Roger. op.cit. p. 65
8
ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade de corte. Lisboa: Editorial Estampa, 1987.
p .76]
3
estão comprometidas com uma linha evolutiva somente perceptível quando analisadas
dentro de uma grande faixa do tempo histórico também chamada de tempo de longa
duração. Através da análise de uma série de questões por muito tempo rotuladas de
indignas de nota pelo historiador, como por exemplo, o estudo da etiqueta, Elias constatou
que o homem ocidental nem sempre manifestava da mesma maneira o seu modo de
comportar-se. A identificação dessa alteração comportamental e a trajetória evolutiva em
que ela se encaixa só foi possível de ser estudada utilizando-se do conceito de “processo
civilizador”. O conceito de processo civilizador e a maneira como ele age sobre o
indivíduo será caracterizado no próximo tópico Um distanciamento: “mediação social” e
“processo civilizador”. Por ora alertamos que a idéia de processo civilizador deve ser
pensada como algo construído pelo homem e que afeta o próprio ser do homem. Refuta-se
qualquer teoria que apresenta o processo civilizatório como algo oriundo da natureza ou de
algo que não reconhece a ação humana na sua constituição. Passamos à diante a identificar
no pensamento de Lev Vigotski a idéia de que o caráter humano do indivíduo deve ser
procurado no âmbito sócio-cultural, ou seja, a partir das condições concretas da história
social dos homens.
9
BAQUERO, Ricardo. “Idéias centrais da teoria sócio-histórica”. In: Vygotsky e a aprendizagem escolar.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p.34
10
Na tradição Behaviorista, por exemplo, o comportamental é tido como resposta aos estímulos do mundo
sensível e se altera qualitativamente conforme o repertório adquiro pelo indivíduo.
5
É possível afirmar que Vigotski atribui ao signo a função de ferramenta
psicológica quando, no plano externo (vida social), ele se torna um meio de comunicação
ou meio de influência (conexão psíquica) em relação aos demais indivíduos. A noção de
ferramenta psicológica também pode ser associada ao signo quando no plano interno
(intrapessoal). Nesse caso, cabe ao signo a responsabilidade de conversão das conexões
iniciais do cérebro em relações psicológicas mais complexas. O signo assume, portanto, a
função comunicativa e produtora de efeitos no meio social bem como de regulação do
próprio comportamento individual. Isso consiste em dizer que o signo é um meio de
comunicação que age tanto na formação das funções psíquicas de caráter social quanto nas
conexões psíquicas de cunho particular de um indivíduo.
11
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela
Galhardo. Lisboa: Difel, 1988. p.110.
6
direção ou em outra inteiramente diferente da desejada ou esperada
pelos pais com base em seu próprio condicionamento 12 .”
Para Elias a relação entre pais e filhos evidencia que os hábitos, palavras e
condutas manifestadas pelos pais são lentamente modelados na vida da criança. Essa tarefa
de condicionamento não segue necessariamente um planejamento que se torna mais
adequado para cada tipo de criança. Às vezes ela acontece de maneira não intencional
como se obedecesse a um movimento automático. Aliás, é necessário apresentar que a
atividade psíquica humana afetada pelo condicionamento social passa a ser incorporada
pelo indivíduo como “um superego estritamente regulado 13 ” O indivíduo sofre de tal
maneira as pressões da civilização, dividindo a estrutura psíquica entre aquilo que remete à
esfera do privado e à esfera pública, que se torna um hábito. O controle das proibições ao
se transformar em hábito leva o indivíduo a se autocontrolar mesmo quando se encontra
em um ambiente privado. Eis aí a interdependência observada por Elias entre a estrutura
social e a estrutura psíquica fundamental para a constituição do pensamento humano.
Referências bibliográficas:
ELIAS, Norbert. Die Höfische Gesellschaft. 1969. [A sociedade de corte. Lisboa: Editorial
Estampa, 1987.
_____________. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume
1, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
GOES, Maria Cecília Rafael de. “Lev Vygotski e Norbert Elias: notas sobre suas
proposições a respeito de linguagem e conhecimento.” artigo apresentado no IX
Simpósio Internacional Processo civilizador, realizado na cidade de Ponta Grossa –
PR, 2005.
VIGOTSKI, Lev. “Gênesis de las funciones psíquicas superiores” in: Problemas del
desarrollo de la psique. Obras escogidas. Vol 3. Madri: Visor, 1995
12
ELIAS, Norbert. Über den Prozess der Zivilisation, 1939. [O processo civilizador, volume 1, Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 188 ].
13
ELIAS, idem. p. 186
7
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