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em tempos de crise:
Diálogos entre economia, sustentabilidade e visão sistêmica
Brasileiro
de Sistemas Universidade Federal de Uberlândia - MG
ISSN: 2446-6700 03 e 04.11.2016
Elton Freitas
Universidade Federal de Minas Gerais
eltonfreitas@cedeplar.ufmg.br
Resumo
O objetivo principal desse trabalho é a aplicação de técnicas de Big Data e redes complexas
scale-free para o estudo do comércio mundial, com foco específico na investigação das ideias
cepalinas e estruturalistas. Um objetivo secundário do trabalho é ilustrar o potencial de
utilização das abordagens da nova ciência das redes complexas em economia, no que vem
sendo mais recentemente conhecido como uma agenda de pesquisa de econofísica.
Trabalhamos com dados para uma rede comercial com 101 países e 762 produtos que geraram
1.756.224 links no ano de 2013. Os resultados empíricos baseados em metodologias
computacionais para análise das redes aqui reportados apontam na direção do que diziam os
economistas da CEPAL; países de renda per capita elevada se concentram na produção e
exportação de bens manufaturados e complexos no centro da rede, países de renda per capita
baixa se concentram na produção e exportação de commodities não complexas na periferia da
rede.
Palavras-Chave: redes complexas scale-free, big data, desenvolvimento econômico,
comércio internacional, Cepal, centro-periferia
Abstract
The main purpose of this paper is to apply big-data and scale-free complex network techniques
to the study of world trade, with a specific focus on the investigation of ECLA and structuralist
ideas. A secondary objective is to illustrate the potentialities of the use of the new science of
complex networks in economics, in what has been recently referred to as an econophysics
research agenda. We work with a trade network of 101 countries and 762 products which
generated 1,756,224 trade links in 2013. The empirical results based on network analysis and
computational methods reported here point in the direction of what ECLA economists used to
12º Congresso Brasileiro de Sistemas 2
argue; countries with higher income per capita concentrate in producing and exporting
manufactured and complex goods at the center of the trade network; countries with lower
income per capita specialize in producing and exporting non-complex commodities at the
network’s periphery.
Keywords: complex networks, core-periphery, economic development, international trade,
ECL
Introdução
Uma das chaves para se entender os modelos e ideias da Comissão Econômica para a
desagregação das analises por tipos de produto é tarefa fundamental; não é possível entender o
e produtivas de cada tipo ou categoria de bem produzido numa determinada nação. Para os
clássicos do desenvolvimento estiver correta, deveríamos encontrar países de renda per capita
constatar numa rápida análise superficial dos padrões de comércio atuais, mas difícil de se
comprovar de maneira mais robusta. Nesse trabalho seguiremos essa via. Usando técnicas
computacionais de redes complexas e Big Data, faremos um estudo dos principais mercados
de produtos e da rede comercial mundial para identificar países dominantes. Trata-se de usar
países emergentes e de produtos industrializados nas mãos de países ricos é uma evidencia
periferia.
comércio internacional (FAGIOLO et al, 2008; DEGUCHI et al, 2014), mas não com o
enfoque que aqui daremos usando ideias cepalinas e com uma base dados que se concentra em
principal desse trabalho será, portanto, a aplicação de técnicas de Big Data e redes complexas
scale-free para o estudo do comércio mundial, com foco especifico na investigação das ideias
nova ciência das redes complexas em economia, no que vem sendo mais recentemente
caracterizado como uma agenda de pesquisa de econofísica (SINHA et al, 2010). O trabalho
se divide em 5 partes. A próxima seção apresenta de forma resumida a conexão feita por
Econômica e apresenta o banco de dados que será usado para a análise empírica a ser feita
adiante. A seção 3 apresenta a discussão sobre redes complexas scale free e trata da
metodologia empírica que será aplicada no trabalho. A quarta seção traz as aplicações para
diversos mercados do comércio internacional e para a rede global no ano de 2013. A quinta
produtivo. Com base na hipótese de que a estrutura produtiva industrial de um país afeta tanto
produção de setores de baixa produtividade para setores de alta produtividade, onde retornos
final dos anos 1950. À luz das experiências históricas, os principais pensamentos apresentados
nesta versão latino-americana estão encapsulados nas obras de Raul Prebisch e Celso Furtado
(BIANCHI & SALVIANO, 1999), com foco sobre os desafios enfrentados pelos países em
desenvolvimento para crescer em uma economia mundial dividida em dois pólos: o centro e a
inovações tecnológicas e altas sinergias decorrentes de divisão do trabalho dentro das empresas
técnico, alto conteúdo de R&D, grandes possibilidades de economias de escala e escopo, alta
concentração industrial, grandes barreiras à entrada, diferenciação por marcas, etc…). Esse
grupo de atividades de alto valor agregado se contrapõe às atividades de baixo valor agregado,
em geral praticadas em países pobres ou de renda média com típica estrutura de competição
perfeita (baixo conteúdo de R&D, baixa inovação tecnológica, informação perfeita, ausência
2010).
2016). Migrar de atividades de baixa qualidade para as atividades de alta qualidade é tarefa de
por marcas são algumas das características desses mercados que dificultam muito o acesso de
novas empresas do mundo emergente. Para se desenvolver um país precisa ser capaz de
constituir empresas nesses setores já muito bem ocupados onde os potenciais de economias de
escala e lucros são enormes: aí está a produtividade. Tarefa nada fácil para um país emergente;
sem entrar nesses mercados e ocupar espaços relevantes não há ganhos de produtividade
país, são capazes de medir de forma indireta a sofisticação tecnológica de seu tecido produtivo.
num Atlas (http://atlas.media.mit.edu) que reúne extenso material sobre uma infinidade de
produtos e países desde 1963. Os dois conceitos básicos para se medir se um país é complexo
exportadora. Se uma determinada economia é capaz de produzir bens não ubíquos, raros e
Os bens não ubíquos devem ser divididos entre aqueles que têm alto conteúdo
tecnológico e, portanto, são de difícil produção (aviões, por exemplo) e aqueles que são
altamente escassos na natureza, por exemplo, diamantes, e, portanto, tem uma não ubiquidade
natural. Para controlar esse problema dos recursos naturais escassos na medição de
produto feito num determinado país com a diversidade de exportação de países que também
exportam esse produto. Por exemplo: Botsuana e Serra Leoa produzem e exportam algo raro
e, portanto, não ubíquo: diamantes brutos. Por outro lado, têm uma pauta exportadora
extremamente limitada e não diversificada. Temos aqui então casos de não ubiquidade sem
imagem (raio-X), algo que praticamente só Japão, Alemanha e Estados Unidos conseguem
fabricar, certamente um produto não ubíquo. Só que nesse caso a pauta exportadora de Japão,
EUA e Alemanha são extremamente diversificadas, indicando que esses países são altamente
capazes de fazer várias coisas. Ou seja, não ubiquidade com diversidade significa
“complexidade econômica”. Um país que tenha uma pauta muito diversificada, mas em bens
ubíquos (peixes, tecidos, carnes, minérios, etc…) não apresenta grande complexidade
econômica; faz o que todos fazem. Dessa forma, diversidade sem não ubiquidade significa falta
de complexidade econômica.
produtos (PCI) é que não há considerações sobre questões qualitativas relevantes para a
produção e exportação desses bens. Ou seja, não há juízo de valor em relação ao que se
classificando diversos países e chegam a correlações robustas entre níveis de renda per capita,
et al, 2015). Japão, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e Suécia estão sempre entres os
econômico pode ser tratado como o domínio de técnicas de produção mais sofisticadas que em
geral levam a produção de maior valor adicionado por trabalhador, como defendiam os
diversos países. Os resultados do Atlas também apontam na direção sugerida pelos clássicos
países, o Atlas cria uma medida interessante sobre conhecimento produtivo contido nos
et al, 2007). Quanto maior a probabilidade de dois produtos serem co-exportados maior a
produtivas similares para serem produzidos, são produtos “irmãos” ou “primos”. O indicador
produtivo entre produtos, ou seja, ele indica as conexões produtivas existentes entre vários bens
graças aos pré-requisitos comuns necessários para produzi-los. Os bens que tem muita
torna hubs de conhecimento; enquanto que bens com baixa conectividade requerem
têm engenheiros e conhecimentos que permitem produzir uma série de coisas similares e
provavelmente serão incapazes de fazer bens mais complexos. É importante frisar aqui que
são os produtos e não as habilidades que os países têm em produzi-los. Do ponto de vista
empírico, fica claro no Atlas que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais
complexos e commodities aparecem como bens não complexos. Das 34 principais comunidades
BERGSTROM, 2007), é possível observar que maquinário, produtos químicos, aviões, navios
e eletrônicos se destacam como bens mais complexos e conectados entre si (ou seja, hubs de
conhecimento). Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e crustáceos, frutas,
Arthur na liderança do Instituto Santa Fé no Novo México no final dos anos 80 (ARTHUR,
2015; FOSTER, 2005). Com aplicações em várias frentes, a perspectiva de sistemas dinâmicos
complexos tem sido aplicada em diversos campos de pesquisa em economia e outras ciências.
Estas aplicações são usadas, por exemplo, em teoria dos jogos, ciência política, biologia, física,
contextos e estudos sobre path dependence ou dinâmicas tecnológicas que dependem de sua
de 2011 apresentado na seção anterior combina avanços dessa discussão de complexidade com
a tecnologia de Big Data para criar talvez um dos mais modernos e relevantes banco de dados
da atualidade para analise do comércio mundial. O termo Big Data vem sendo utilizado
universo digital; na sua raiz, o termo se refere a análise de um grande volume e variedade de
Em uma compilação de suas contribuições para a ciência das redes complexas scale-
free Barabasi (2002) explica de forma detalhada suas novas contribuições para a ciência das
redes no contexto de Big Data para diversos campos do saber; alguns exemplos práticos
principais são a própria internet, a rede de atores e filmes de Hollywood, redes biológicas e a
malha aérea americana, entre tantas outras. O caso da malha aérea americana (ver FIG.1)
apresentado por Barabasi (2002) demonstra o conceito de rede complexa scale-free com hubs
que usaremos em nossa analise empírica de forma bastante intuitiva. A rede do sistema
rodoviário americano com muitos nós de conexão (cada cidade é um nó) e sem hubs relevantes
é uma rede randômica. A rede da malha aérea é o exemplo oposto: uma rede complexa com
hubs (ou nós grandes com muitas conexões) e, portanto, não randômica ou scale-free. Existem
alguns poucos hubs que concentram a maioria das conexões (Chicago, Nova Iorque, Houston,
LA, etc). Nesse tipo de rede complexa e não randômica, alguns poucos hubs tem a maioria dos
links ou conexões e os outros tantos nós têm pouquíssimas ou nenhuma conexão. Uma nova
cidade que tente competir em termos de receber e enviar voos terá grande dificuldade ao tentar
competir com os hubs. Sua posição de “nó comum” na rede dificulta demais a entrada nesse
mercado. A rede é considerada scale-free pois o número de links dos nós não segue um padrão
Numa rede randômica os nós têm uma quantidade aleatória de links. Numa rede
complexa scale-free e com hubs, alguns nós têm a maioria dos links e a grande maioria dos
outros nós tem pouquíssimos links. Uma distribuição gaussiana caracteriza o primeiro tipo de
rede enquanto que uma distribuição do tipo power law caracteriza o segundo tipo de rede. Em
redes não randômicas existe uma hierarquia onde os hubs mandam pois tem muito mais acesso
aos outros links do que os nós “comuns”, reina uma “topocracia” (ver Borondo et al, 2014).
nó coletou muitas arestas e virou um hub, com mais acesso a outras arestas. Um nó comum
tem muita dificuldade de competir com um hub pois parte de uma situação inicial pobre em
termos de estoque de links acumulados. Barabasi e sua equipe criaram um modelo simplificado
que reproduz com incrível precisão esse tipo de dinâmica de redes encontradas na vida real.
Trata-se de um modelo simples com três regras: i) uma rede que cresce com novos nós sendo
incorporados por links a outros nós a cada momento do tempo; ii) uma regra de conexão
preferencial onde cada novo nó prefere se conectar a um nó já existente com muitas conexões
(preferencial attachment) e iii) fitness: alguns nós tem competência maior do que outros para
acumular links, o que pode em tese ajudar um nó novo a superar a dificuldade de não ter links
Com essas três regras Barabasi e sua equipe reproduzem em termos formais as
características desse tipo de rede encontrada no mundo real; inclusive em termos de surgimento
de distribuições do tipo power laws conforme destacamos acima no caso da malha aérea
conhecida dinâmica de retornos crescentes ilustrado com a urna por Polya e depois
generalizado para várias urnas por Yules. H. Simon mostrou que power laws surgem como
economia essas descobertas são de grande importância pois formalizam e trazem um ganho
analítico enorme para insights e regularidades empíricas importantes já conhecidas. Esse tipo
de análise traz muitas novas conclusões, especialmente para as discussões da nova geografia
econômica e comércio internacional1. Esse tipo de dinâmica das redes de Barabasi ilustra bem
os processos de retornos crescentes e “path dependent” analisados por Arthur (2015) em seus
mercados dos produtos do comércio internacional para o ano de 2013 (base mais atualizada
uma metodologia de analise de número de arestas entre países (nós). Nosso banco de dados
final e completo após diversas filtragens em relação a dados faltantes resultou numa rede
comercial com 101 países e 762 produtos (Standard International Trade Classification – SITC
- revisão 2 com 4 dígitos) que geram 1.756.224 arestas. Um nó da rede representa um país e
cada aresta representa um produto que sai de um nó (país de origem) e chega a outro nó (país
de destino). Quanto mais arestas tiver um país em determinado mercado, maior será sua
relevância segundo nossa metodologia. A ideia econômica aqui é que muitas conexões ou
arestas de um pais num determinado produto mostram que esse país tem vantagens
comparativas reveladas importantes neste mercado. Existem n fatores capazes de explicar essas
baixo custo de transporte, ii) abundância relativa de recursos naturais, iii) mão de obra barata
diante. A rede a seguir (Fig.2) ilustra o mercado total de blown glass (produto top 1 do
1
Krugman et al (1999) entre outros já haviam destacado.
Observatorio da Complexidade em 2013) com todos os países conectados por suas arestas.
Trata-se de uma rede com 133 nós e 962 links que conectam todos os países entre si segundo
produto que vai do pais A para o pais B medido por presença ou não de exportações de A para.
Os hubs maiores dominam o comércio desse mercado, os nós menores têm pouca relevância e
metodologia que aqui utilizamos. Para se entender a rede global de comércio total para nossa
base de dados basta se imaginar a rede acima para os outros 761 produtos. Teremos então uma
rede com 1.756.224 links conectando 101 países a 762 produtos. Nossa preocupação empírica
maior no estudo dessa rede global completa foi identificar países mais relevantes para
identificação de hubs comerciais através da analise de arestas nos parece ser uma alternativa
mercado; rotina essa já feita por Hausmann et al (2011). A metodologia de analise de arestas
nos permite também executar um algoritmo para detectar a presença de power laws e hubs na
rede principal de comércio global (com todos os países e todos os produtos) e nos diversos
foi por nós considerado um hub seguindo a metodologia de Barabasi (2002) apresentada acima.
Nos gráficos abaixo (Fig. 3) desenhamos as redes de comércio dos mercados de semestes de
gergilim, urânio e thorium, vidros e equipamentos óticos em termos de hubs e nós para ilustrar
medida por PCI). O tamanho dos nós dos países representa a participação de cada país nas
exportações daquele produto, já a intensidade da cor dos nós indica o número de conexões que
Pode-se perceber em inspeção visual que existem vários nós relevantes nesses
mercados e alguns hubs maiores. O algoritmo para detecção de power laws e hubs que rodamos
encontrou resultado positivo para um terço dos mercados SITC e para a rede como um todo.
Fizemos aqui a busca por power laws com a utilização do package poweRlaws disponibilizado
para o software estatístico R. São considerados neste procedimento os dados contidos na base
de dados com o universo de 762 produtos e uma rotina que captura a distribuição de links de
países para cada produto e calcula a lei de potência pelo método de “Maximum Likelihood
- 43
𝑥+
𝛼 ≃ 1 + 𝑛 log
𝑥,+- − 0,5
+23
estão contidos os dados, 𝑥+ é o valor da variável i no vetor x e 𝑥,+- é o mínimo valor de x onde
se inicia a lei de potência, caso exista. A tabela abaixo mostra como ficou a distribuição dessas
leis de potência após as análises com todos os 762 produtos nos países amostrados.
Coeficiente
alpha Porcentagem
alpha = a<1 0%
alpha =
1<a>2 25%
alpha =
2<a>3 34%
alpha = a>3 41%
Total 100%
Fonte: Elaborado pelos autores.
arestas, o número deles cresce mais do que proporcionalmente. Para leis de potência, que são
valores do parâmetro alpha entre dois e três temos 34% dos resultados. Nos chamou a atenção
de modo geral a grande concentração produtiva de alguns desses 762 mercados analisados,
além da rede comercial como um todo. Algo que certamente se aproxima de medidas de
concentração do tipo HHI feitas para o mercado mundial. A título de curiosidade, encontramos
resultados muito parecidos em termos da metodologia por nós aqui seguida com medidas do
tipo HHI para os mercados de soja, trigo e café (ver Oladi & Gilbert, 2012). Conclusões mais
aprofundadas sobre esse tema demandariam mais estudos numa rota de pesquisa futura que
indicador PCI, fizemos também uma analise do total de arestas de cada pais ponderada pela
qualidade da aresta. O objetivo foi capturar a qualidade das arestas dos diversos países. Assim
suas capacidades produtivas são provavelmente piores do que a de um pais B que tem poucas
arestas mas num mercado muito complexo (digamos instrumentos óticos). A título de exemplo
e visualização, os mapas abaixo (Fig. 4) mostram as arestas de Suíça e Japão (top 2 do ranking
produzidos e exportados. Arestas azuis representam produtos complexos com PCI acima de 0
e arestas vermelhas representam produtos não complexos com PCI abaixo de 0. O tamanho dos
nós dos produtos representa a participação de cada produto nas exportações do daquele país, já
a intensidade da cor dos nós indica o número de conexões que aquele país tem no comércio
mundial do produto.
Feita a análise de arestas e detecção de Hubs, partimos para o segundo passo de nossa
metodologia que consistiu em analise de regressões para melhor estudar a rede com os 101
países da amostra, 762 produtos e 1.756.224 links para detectar possíveis padrões do tipo centro
periferia. Nosso objetivo nessa segunda etapa da análise empírica foi analisar possíveis padrões
produtivos em termos de renda per capita, quantidade e tipo de arestas e grau de complexidade
dos produtos exportados. A regressão abaixo (Fig 5) mostra os resultados principais. Os países
hub com maior número de arestas se concentram no centro da rede, os países que tem menor
Figura 5: Regressão entre número total de links e renda per capita (PPP)
A regressão acima mostra que há uma correlação importante entre o número total de
arestas de cada país e sua renda per capita; quanto mais próximo do centro da rede global de
comércio esta o pais, maior é sua renda per capita. Tanto número total de links quanto renda
per capita aumentam de forma não linear entre países. Usamos aqui a ideia de número total de
arestas como medida de centralidade na rede seguindo a literatura sobre o tema2. Fizemos
também regressões usando uma transformação do número de links de produtos não ponderados
para ponderados segundo a classificação PCI dos produtos mencionada acima. Nesse segundo
exercício demos maior peso a produtos complexos nos links dos países e menor peso a produtos
a proximidade ou não do país em relação ao centro da rende se mantem para a analise com
Ou seja, os países do centro são hubs tanto em termos da gama total de produtos do
comércio mundial como em termos da gama qualificada dos produtos mais complexos. O
conforme se observa no gráfico abaixo (Fig. 6). Mais uma indicação de que países que se
produtivas em inúmeros produtos. Isso vale tanto para países de população grande quanto
pequena conforme análise que fizemos (ver apêndice). Um próximo passo empírico para um
futuro trabalho poderia ser analisar a relação entre renda per capita, total de arestas dos países
qualidade das instituições, etc.); um trabalho que poderia explorar as conexões entre a
crescimento.
Os dados gerais apresentados nessa seção nos indicam que os países com a maior
quantidade de links, tanto em termos de produtos não qualificados como em termos de produtos
qualificados por PCI, são países ricos, são hubs do comércio mundial. Os simples nós são
países pobres. China e Índia se destacam muito na rede mundial de 2013 mostrada acima.
Apesar de terem renda per capita relativamente baixa ainda por conta da enorme população,
conseguiram acumular uma enorme quantidade de links nos últimos 10 anos. Em termos de
arestas complexas deixam um pouco a desejar, especialmente a Índia. EUA, Alemanha, Japão
e Coreia do Sul aparecem no centro da rede, são os “usual suspects”; tem milhares de arestas
autores cepalinos: países de renda per capita elevada se concentram na produção e exportação
periferia da rede. Países ricos da Europa, América do Norte e Ásia estão no centro da rede de
comércio mundial. Países pobres da África, América Latina e Ásia estão na periferia da rede.
maior falha do método seja usar unicamente dados de exportações como proxies da estrutura
produtiva dos diversos países. Trata-se de fato de uma fragilidade pois sabemos que muitos
países produzem, mas não exportam bens por n motivos. Toda a análise aqui empreendida se
baseia no que podemos "ver" nos dados de comércio mundial; uma base ampla, desagregada,
padronizada e com histórico desde os anos 60. A grande vantagem dessas bases de comércio
não captar todas as questões internas idiossincráticas de cada país. Por outro lado, as bases de
contas nacionais que poderiam ter esses dados não conseguem capturar, ainda, o mesmo tipo
de informação com a granularidade necessária para o tipo de análise que aqui fizemos; são, em
geral, bases com poucas camadas de desagregação produtiva. Um outro problema do banco de
dados é não identificar os países que são maquiladores: aqueles que simplesmente importaram
e depois exportam produtos complexos. O caso mais conhecido é o México. Schteingart (2014)
conta número de patentes registradas e gastos em P&D como porcentagem do PIB; uma via
que poderá ser seguida no futuro para aperfeiçoar a metodologia de analise de redes aqui
sugerida.
Conclusões
com base em análises de complexidade, contagem de arestas e níveis de renda per capita eram
Atlas faz regressões de renda per capita e complexidade de países, usando as tradicionais
variáveis de controle da literatura sobre o tema. Aqui seguimos a via de detectar hubs e redes
parecem bastante promissores no sentido de mostrar novo conteúdo empírico importante para
global completa. Com medidas de concentração baseadas em número de arestas, hubs e power
Na ótica das redes complexas aqui apresentada, poderíamos dizer que a capacidade de
cada país de coletar links no comércio mundial depende de suas capacidades produtivas. Os
países mais complexos, nos termos do Atlas, foram capazes de coletar muitos links de melhor
qualidade (medidos por PCI). Os países pobres coletaram poucos links e de baixa qualidade.
Todo o processo histórico que levou a fotografia da rede mundial de comércio em 2013 que
apresentamos se deu num ambiente de enormes retornos crescentes, num mundo de power
laws. Nesse ambiente, países que já coletaram muitas arestas têm facilidade de coletar ainda
mais na margem. Países que coletaram poucas arestas têm mais dificuldades de progredir. Os
breakthroughs do estado de poucos links de baixa qualidade para muitos links de alta qualidade
são possíveis, mas extremamente difíceis. Um potencial de pesquisa futuro da perspectiva aqui
apresentada poderia ser a analise a dinâmica da rede de comércio que aqui estudamos só para
o ano de 2013.
Fizemos então nesse trabalho uma nova análise da topologia da rede de comércio entre países
também um banco de dados em nível mais desagregado em relação ao trabalho de Serrano &
análise das redes aqui reportados apontam na direção do que diziam os economistas cepalinos
indicam que o centro da rede de comércio mundial tem uma estrutura produtiva especializada
scale-free complexa de comércio mundial tem uma estrutura voltada para a produção e
o desenvolvimento econômico continuará sendo tarefa bastante árdua para esses países mais
pobres até que sejam capazes de transformar sua estrutura produtiva no sentido de conseguir
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