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Volume 16, Número1, Jan/Jun, 2012, p. 46-56.

ACOLHIMENTO PSICOLÓGICO NA CLÍNICA ESCOLA: UM


RELATO DE EXPERIÊNCIA

Nayara Fileni Prodócimo


Martha Franco Diniz Hueb
(Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM – Uberaba-MG)

Resumo

Este relato de experiência teve por objetivo apresentar e discutir o trabalho de acolhimento
psicológico implementado dentro de uma clínica-escola, e que era oferecido à comunidade
aberta. Para tal, utilizou-se o referencial psicanalítico. A partir da revisão teórica, e das
orientações nas supervisões, discutiu-se a proposta de atendimento e as implicações desta na
vida dos usuários. No caso relatado, identificaram-se, através da fala da paciente, benefícios
que esta prática trouxe em sua vida, e destacou-se a importância de se oferecer esse suporte à
comunidade, assim como um tratamento prolongado em casos de maior agravamento.

Palavras-chave: clínica-escola; acolhimento psicológico; psicanálise; estágio.

Abstract

Home school psychological clinic: an experience report

This experience report aimed to present and discuss the work of psychological care
implemented within a school clinic, and was offered to the public community. To this end, we
used the psychoanalytical. From the literature review, guidance and supervision in, discussed
the proposed service and its implications on the lives of users. In our case, were identified
through the patient's speech, that this practice has brought benefits in your life, and stressed
the importance of providing this support to the community, as well as prolonged treatment in
the event of further deterioration.

Key-words: school clinic, psychological care, psychoanalysis, stage.

Introdução

O presente artigo vem discutir os serviços relato de uma experiência de atendimento


prestados nas clínicas escolas e ao trazer o neste contexto, faz uma articulação com a
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teoria psicanalítica a qual foi utilizada para de trabalho necessitará se auto-conduzir e


embasar esse tratamento de caráter de ser criativo, sendo assim, a utilização do
acolhimento psicológico. espaço clínico dentro da universidade pode
As clínicas-escola possuem uma ser uma oportunidade do aprimoramento
rotina complexa que envolve atividades do aluno (Mello Silva, Santos & Paulin,
diferentes para atender a objetivos 2005).
diversos, como as práticas acadêmicas, os As clínicas escolas, além de
estágios, as necessidades da população e de trazerem benefícios para a formação dos
se estruturar dados para que possam ser estudantes, favorecem também a
utilizados em pesquisas em psicologia população, visto que na realidade social do
aplicada. Embora necessárias, atender as nosso país, ela se torna mais um meio que
vertentes de ensino, pesquisa e extensão oferece atendimento qualificado a uma
não são de fácil articulação dentro do grande parcela da comunidade que não
trabalho, mas são desejáveis. (Perfeito & possui recursos para busca de atendimento
Melo, 2004). em outro local (Mello Silva, et al. 2005).
Neste sentido a clínica psicológica No acolhimento psicológico o
nas universidades serve tanto como um estagiário oferece uma hospedagem para as
espaço de alívio do sofrimento psicológico, fantasias do paciente, e estas mantém seu
quanto como uma porta de entrada para o significado até que durante o processo
mundo profissional dos estagiários, que sejam reveladas ou resignificadas, sendo
nesse momento tem a oportunidade de assim, o estagiário possibilita que material
manter contato com a atitude clínica de de seu paciente flua, para depois tomá-lo
forma mais direta. Entendendo que uma em consideração, mantendo dessa forma a
das funções da universidade é garantir a função terapêutica (Mello Silva, et al.
formação de profissionais bem preparados 2005).
para responder as exigências do mercado, Importante ressaltar que apesar dos
ressalta-se que essa prática profissional grandes benefícios trazidos a comunidade,
torna possível a consolidação da atuação os serviços prestados dentro das clínicas
do psicólogo clínico, articulando teoria a escolas precisam passar por constante
técnica. O aluno que passou sua graduação processo de reflexão crítica e análise dos
apenas reproduzindo comandos de seus fazeres, permitindo a organização de
professores, quando ingressar no mercado determinados saberes e a reorganização do
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trabalho sempre que necessário, visto que funcionar tanto como uma força que
por se tratar de um serviço impulsiona o tratamento, quanto uma
institucionalizado, está sujeito à resistência ao mesmo.
cristalização pelas características Em sua origem, o termo
intrínsecas da instituição o que pode transferência, designa também transmissão,
colocar o atendimento numa posição contágio, tradução, e quando utilizado na
inercial que se mostra ineficiente frente à psicanálise ganha um sentido de
demanda de atendimento (Salinas & estabelecer um laço afetivo intenso que se
Santos, 2002). instaura na relação com o terapeuta. O que
No atendimento a ser relatado, o mais o caracteriza é a substituição de um
acolhimento terapêutico tinha como foco o afeto por uma pessoa importante na vida
alívio das angústias do paciente. Dessa do paciente, pela pessoa do terapeuta, que
forma o estagiário ouvia as queixas do utilizará da sua interpretação para
usuário e depois juntos refletiam sobre o compreender o que está sendo mostrado
que foi verbalizado, de forma que através em ato pelo paciente (Maurano, 2006).
da fala o paciente pudesse aliviar aquilo Bernardes (2003), analisando a obra de
que o angustiava ao ser ouvido dentro de Freud (1914), aponta que a transferência
uma escuta compreensiva embasada pela vem como aquilo que não pode ser
psicanálise. Posteriormente os estagiários verbalizado, e é nisso em que estão
eram orientados pela supervisora sobre a enlaçados os conteúdos recalcados do
condução do caso, de forma a oferecer o inconsciente, sendo assim impossível de
melhor atendimento possível ao paciente. dizer sobre, fazendo margem ao que é
Ressalta-se que nos atendimentos simbólico.
embasados pela psicanálise, alguns O sujeito, por vezes, pode manter
elementos são de extrema importância para certas maneiras de agir que se repetem a
o desenvolvimento do trabalho, sendo um cada nova relação que se estabelece, como
deles a transferência. por exemplo, aquele que se comporta como
Segundo Maurano (2006) a sendo sempre o “coitadinho”, ou o que
transferência está relacionada com o amor demanda reconhecimento por parte do
e a demanda de ser amado, e ainda com a outro, como se o sujeito se encontrasse
forma que essa demanda de amor será preso em uma trama. Embora a
acolhida, encaminhada e tratada na prática transferência perpetue em todas as relações
psicanalítica. A transferência pode humanas cotidianas, nem sempre é
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identificada. O que ocorre no encontro Durante o processo analítico,


terapêutico de fundamentação psicanalítica mesmo ocorrendo uma transferência
é que ela não passa por despercebida, além positiva, é possível perceber que o paciente
do que funcionará como instrumento de também pode apresentar resistências ao
trabalho para o terapeuta (Maurano, 2006). atendimento. Essas estão associadas às
Assim como os vários tipos de defesas inconscientes do paciente e entram
relações que estabelecemos com nosso em atuação quando começamos a tratar de
ambiente, é possível que tenhamos vários conteúdos reprimidos no inconsciente. Tal
tipos de transferência. No caso a ser fenômeno é denominado de mecanismos
apresentado neste artigo foi possível de defesa do Ego contra o Id (Brenner,
observar dentre outras, a predominância da 1973).
transferência positiva da paciente em Dentre os tipos de defesas
relação à estagiária. existentes, uma delas é denominada
A esse tipo de transferência projeção. Trata-se de um mecanismo no
referem-se às pulsões libidinais, em qual o indivíduo atribui um desejo ou
especial os sentimentos carinhosos, impulso seu a outro, ou mesmo a um
podendo incluir os desejos eróticos objeto. Sendo assim, se este mecanismo é
(Zimerman, 2006). Para que haja a extremamente utilizado, a pessoa pode ter
satisfação do desejo pulsional, parte dos uma percepção errônea de realidade e a
elementos libidinais do sujeito se capacidade do seu ego analisar a realidade
desenvolvem e são incorporadas a estará prejudicada (Brenner, 1973).
personalidade consciente deste, e outra Segundo Almeida (1996), os
parte sofre interrupções e permanece mecanismos de defesa não devem ser
inconsciente, dissociada da personalidade, vistos como doença, e sim como “o mais
dando possibilidades ao surgimento da primitivo recurso do Ego para permanecer
fantasia. Assim, em cada nova relação, íntegro e integrado” (Almeida, 1996).
deve-se levar em conta tanto a parte Dessa forma fazem parte da constituição
consciente quanto a inconsciente que da estrutura de personalidade, e será seu
determinam a forma particular de cada um uso adequado ou inadequado que
se relacionar e que estarão sempre caracterizará o comportamento como sadio
repetindo o que foi formado ao longo de ou patológico.
sua vida (Pinheiro, 2002).
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Metodologia psicanalítica a respeito de algo que se


vivenciava durante o atendimento.
O atendimento que embasa este
artigo foi realizado dentro de uma proposta Acolhendo Maria das Dores
de acolhimento psicológico em uma clínica
escola de uma universidade pública O caso a ser relatado trata-se do
mineira. O propósito desse trabalho era atendimento de uma paciente, aqui
aliviar as tensões e angústias daquelas apresentada com um nome fictício com a
pessoas que procuravam pelo serviço, finalidade de preservar sua identidade. Foi
como uma forma de “ventilar as emoções”, encaminhada para o serviço por um
pois se acredita que o fato de poder falar psiquiatra, e já na sua primeira sessão se
sobre o que se sente e ser ouvido dentro de mostrou muito aberta e com uma grande
uma escuta terapêutica, já proporciona necessidade de falar. Comunicou de
benefícios ao paciente. Os casos mais imediato à estagiária que lhe contaria sua
graves, que não encontravam vida desde o início para que esta soubesse
resolutividade neste processo eram o que se acontecia com ela nesse momento
encaminhados para uma psicoterapia de passando a discursar sobre sua história
tempo mais prolongado. desde a infância.
A proposta do acolhimento Resumidamente relatado aqui,
psicológico no serviço-escola é de cerca de Maria informou sobre uma tentativa de
seis sessões individuais, de acordo com a estupro por parte do padrasto, aos cinco
necessidade apresentada pelo paciente anos de idade, o que a levou a morar com
durante o processo. Previamente sua avó materna. Posteriormente, aos 11
agendadas de acordo com a disponibilidade anos voltou a morar com sua mãe, pois
dos pacientes e dos estagiários, as sessões como relatou “toda criança tem aquele
ocorriam semanalmente no mesmo horário, sonho de morar com a mãe”. Aos 15 anos
assim como as supervisões com um iniciou um namoro e devido a uma
professor responsável por orientar os incompreensão por parte da mãe foi
estagiários em processo de atendimento. expulsa de casa. Não tendo para onde ir,
Dentro das supervisões ocorriam debates foi buscar abrigo na casa do namorado.
sobre os casos atendidos e orientações de Posteriormente engravidou e passou a ser
estudos embasados na perspectiva traída pelo então marido, que vivia em uma
vida considerada por ela promíscua. Na
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época, também sofria agressões por parte dele, inclusive mantendo encontros
dele. Quando o filho nasceu, ela deu um esporádicos, assim como não conseguiu
prazo de seis meses ao marido para que ele terminar com seu atual namorado. Além
mudasse de vida, porém como nada disso, ficou clara a tendência à repetição
ocorreu, ela optou por se separar. Logo em seus relacionamentos. Sempre se
depois, se envolveu com outro homem, envolvendo com homens que a agrediam
mas com relacionamento semelhante ao de uma forma ou de outra, e que
primeiro, pois se repetiam as agressões e indiretamente lhe delegavam a
traições. responsabilidade para com eles, assumia a
Novamente se separou de uma função de cuidadora, assim como o
forma bastante conflituosa, sem consegui- controle das finanças da casa.
lo fazer oficialmente. Devido a tantas Apesar de Maria se mostrar
conturbações passou a trabalhar consciente dessa repetição e querer
exaustivamente, como uma válvula de eliminá-la, ela não sabia como fazê-lo,
escape, porém após um mês do embora nos nossos encontros exprimisse
rompimento com o segundo marido, seu desejo de mudar. Em seus relatos
começou a viver maritalmente com um ex- mostrava trazer para o novo
usuário de drogas. Imensamente relacionamento conjugal expectativas
descontente com o relacionamento, porém referentes aos relacionamentos anteriores.
não sabendo como encerrá-lo, tentou cortar Com seu novo namorado, ela já se
os pulsos. Internada em um hospital comportava como se tudo o que viveu com
psiquiátrico, relata do período como “as os ex-maridos fosse se repetir, mas não
férias que ela precisava ter retirado e não percebia que ela colaborava para que isso
tirou”. Foi devido a este episódio de se mantivesse, tentando ser controladora
internação que a paciente foi orientada a em demasia, não deixando que o
buscar tratamento psicoterápico. companheiro fosse espontâneo, fosse real.
Durante o processo de atendimento, Com o caminhar do acolhimento
ficou clara a dificuldade que Maria tem em psicológico, Maria se mostrou bem mais
terminar relacionamentos: ofereceu um aliviada, sendo capaz de refletir sobre
prazo para o primeiro marido mudar de várias coisas. Relatou à estagiária que
vida, com o segundo marido não conseguiu ficava pensando muito sobre as “conversas
formalizar o divórcio e nem se distanciar mantidas ali” e que isso a ajudava muito. A
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paciente disse certa vez: “Eu converso com encerramento, fato que mostrou resistência
as amigas, mas não é a mesma coisa, aqui é e novamente a dificuldade em terminar de
diferente”. Quando se encerrava o forma conclusiva seus relacionamentos.
atendimento ela dizia: “Como sempre foi
muito bom conversar com você, me sinto Discussão do Caso
muito mais aliviada”.
No entanto, quando lhe foi No decorrer dos atendimentos, foi
retomado a proposta de atendimento da possível perceber que a paciente conseguiu
clínica-escola naquele momento, como fazer reflexões e progressos importantes,
sendo apenas um acolhimento pontual que tanto pela forma como se apresentava,
girava em torno de seis sessões, de forma passando a cuidar melhor da aparência
que os encontros estavam chegando ao fim, física e se mostrar mais motivada, quanto
a paciente exprimiu seu desejo em por conseguir replanejar sua rotina de
continuar recebendo atendimento trabalho de forma que não trabalhasse
psicológico com a estagiária dizendo: “Se exaustivamente, e em consequência não
pudesse eu gostaria de continuar com você tivesse tempo para pensar em si.
(estagiária), pois foi muito bom para mim, Conseguiu se reorganizar e começou a
mas se não for possível, tentarei fazer coisas que gostava e há tempos não
encaminhamento para uma terapia fazia.
posterior”; o que aparentemente mostrava Notou-se também uma
uma transferência positiva e certa transferência positiva da paciente para com
resignação. Porém após esta última fala a estagiária, e assim como Zimerman
Maria não conseguiu mais retornar para o (2006) relata, a transferência positiva são
encerramento do atendimento, e em os sentimentos carinhosos dirigidos a uma
contato por telefone, realizado pela pessoa. Pois esta relatava sempre gostar de
estagiária com a intenção de novo vir às sessões, inclusive no último encontro
agendamento, Maria apenas disse que não em que compareceu, exprimiu o desejo “Se
havia comparecido, pois havia se atrasado possível gostaria de continuar com você”
em casa. No entanto não procurou dar referindo-se a dar continuidade no estagio
maiores esclarecimentos, apenas relatou em psicoterapia a ser oferecido no próximo
que como seria mesmo necessário encerrar semestre.
o atendimento, pensou não ser preciso Ainda segundo Maurano (2006), o
retornar ao serviço-escola para o psicoterapeuta de fundamentação
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psicanalítica deve utilizar a transferência relacionamento, mesmo em se tratando de


como um objeto de trabalho e ver o que um relacionamento paciente-estagiária.
aquilo pode significar no processo de Assim, podemos inferir que com o
análise. Dessa forma o fizemos. No relato fato de no princípio se dar uma
do caso, foi citada a dificuldade que a transferência positiva; quando a estagiária
paciente encontrava para terminar seus aponta a necessidade de se iniciar um
relacionamentos, prolongando-os sempre processo de encerramento do atendimento,
além do que dizia desejar, mesmo que isso visto que se trabalhava dentro de uma
lhe causasse sofrimento. Como ocorria proposta de acolhimento, de escuta
com seu ex-marido, apesar de reconhecer terapêutica, esta não compareceu mais para
que não lhe fazia bem reencontrar-se com a sessão, se repetindo a dificuldade em
ele, e que queria o rompimento, não o finalizar um relacionamento.
conseguia, pois dizia sentir-se “em débito” Compreendendo a dificuldade da paciente,
para com ele, visto que ele a ajudou certa percebe-se que ela “abandona para não ser
vez que ela precisou. Isso não ocorria abandonada”, visto que ela fez
apenas com o ex-marido, mas se dava investimentos afetivos na relação
também com o atual namorado. terapêutica e não conseguia conceber a
Inicialmente desejava o fim do namoro, ideia de que também seria “abandonada”
pois se sentia esgotada em ser a única a pela terapeuta. Foi abandonada por sua
sustentar a casa, mas não conseguia se mãe quando criança e quando adolescente;
desvincular. O acolhimento ajudou-lhe a foi abandonada afetivamente pelo primeiro
pensar o relacionamento, de forma a marido; sofreu com o término do primeiro
permitir que o atual companheiro pudesse e do segundo casamento, e novamente via-
participar mais da relação, em que ela não se sendo abandonada, agora pela terapeuta.
fosse a única provedora, que também se Dessa forma, ela opta por abandonar o
permitisse a ser cuidada ao invés de apenas acolhimento. Prevenindo-se de sofrer
cuidar. novamente um abandono, agora é ela quem
Somando-se a isso o fato da abandona.
paciente sentir-se abandonada pela mãe, e Nesse sentido, infere-se que não
por outras figuras importantes, tornava-se compareceu à sessão de desligamento,
difícil para ela encerrar um devido à dificuldade em separar, em
finalizar, em romper relacionamentos, fato
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que aponta a necessidade de se trabalhar caráter patológico, que necessitaria de


mais esta sua dificuldade. ajuda psicoterapêutica mais prolongada.
Percebeu-se também como
característica da paciente o uso do Considerações Finais
mecanismo de defesa da projeção, que
como explica Brenner (1973) seria a De acordo com o que foi
atribuição de um impulso próprio à outra experienciado nos atendimentos e
pessoa, fazendo com que haja uma supervisões, vimos que a proposta de
percepção errônea da realidade. Maria acolhimento psicológico foi benéfica tanto
disse em sua primeira sessão “Não sei o para pacientes quanto estagiários, pois
que acontece, mas eu queria entender o que grande parte dos pacientes atendidos
me faz repetir sempre essa coisa de viver apresentou boa evolução durante o
tudo da mesma forma, mesmo sabendo que processo. Assim como os estagiários
vai dar errado no final”, referindo-se aos tiveram a oportunidade de articular a teoria
tipos de relacionamentos em que se com a prática, aprimorar seus
envolvia. Percebe-se que a paciente conhecimentos e adquirir certa experiência
projetava nos relacionamentos atuais profissional, tão almejada nos últimos
aquilo que ela viveu nos anteriores, de tal semestres do curso.
forma que ela já antecipava certos Porém, percebeu-se também que
acontecimentos e projetava características em certos casos, apenas o acolhimento
de seus ex-maridos no atual namorado, de psicológico não é suficiente para ajudar o
forma que ela se desmotivava a prosseguir paciente, e apesar da proposta deste
no relacionamento, e também a se proteger trabalho ser válida, alguns pacientes, como
do medo de se decepcionar novamente. no caso relatado aqui, não conseguiram
Como explica Almeida (1996), o concluir o atendimento, visto que ainda
tipo do uso que a paciente faz de suas não conseguiram elaborar certas questões
defesas é que a caracterizará como que lhes eram muito angustiantes,
saudável ou doente. Neste caso analisado, necessitando de um tempo maior em
percebe-se que o uso dessa defesa começa terapia, para se fortalecer e realmente
a prejudicar o desenvolvimento saudável vivenciar uma modificação na sua estrutura
da vida da paciente, portanto ele pode ser egóica. Nota-se assim, a necessidade de
caracterizado como um comportamento de que realmente haja o encaminhamento
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posterior nestes casos de maior dificuldade.

Referencias

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Bernardes, A. C. (2003). Tratar o impossível: a função da fala em psicanálise. Rio de Janeiro:


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Brenner, C. (1973). Noções básicas de psicanálise – Introdução à Psicologia Psicanalítica.


Rio de Janeiro: Imago.

Maurano, D. (2006). A transferência: uma viagem rumo ao continente negro. Rio de Janeiro:
Zahar.

Mello Silva, R. R., & Santos, M. A., & Paulin, C. (2005). Formação em psicologia: serviço
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Zimerman, D. E. (2006). Fundamentos psicanalíticos – teoria, técnica e clínica. Porto Alegre:


Artmed.

As autoras:

Nayara Fileni Prodócimo é graduanda em Psicologia na UFTM. Rua da Constituição 1180 - apto. 801, Abadia,
38025-110 Uberaba, MG, e-mail: nah_prodocimo@hotmail.com

Martha Franco Diniz Hueb é Doutora em Saúde Mental pela Universidade de São Paulo e
Professora Adjunta da Universidade Federal do Triângulo Mineiro Rua Cruzeiro do Sul, 106, 38020-110
Uberaba, MG, e-mail: marthahueb@psicologia.uftm.edu.br

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