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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E MUSEOLOGIA
CURSO DE MUSEOLOGIA

Camila Maria Silva de Moraes Santos

ARQUIVO x MEMÓRIA: Subsídios para uma decisão conceitual em


museologia.

Recife - PE
2017
CAMILA MARIA SILVA DE MORAES SANTOS

ARQUIVO x MEMÓRIA: Subsídios para uma decisão conceitual em


museologia.

Monografia apresentada ao Programa de Graduação


do Departamento de Antropologia e Museologia –
Curso de Museologia, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Museologia pela
Universidade Federal de Pernambuco, sob a
orientação do professor Dr. Alexandro Silva de Jesus.

Recife, 2017.

2
SANTOS, CAMILA MARIA SILVA DE MORAES.

ARQUIVO x MEMÓRIA: subsídios para uma decisão conceitual em museologia/


Camila Maria Silva de Moraes Santos._. Recife-PE, 2017.
42f. : il.
Orientador: Prof. Dr. Alexandro Silva de Jesus
Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco. Departamento de
Antropologia e Museologia.

1. Derrida. 2. Museu. 3. Teoria Museológica.

xxxxxxx

Monografia (Graduação) – Universidade Federal de Pernambuco, Departamento


de Antropologia e Museologia.

3
Camila Maria Silva de Moraes Santos

ARQUIVO x MEMÓRIA: Subsídios para uma decisão conceitual em


museologia.

Relatório final, apresentado a Universidade


Federal de Pernambuco, como parte das
exigências para a obtenção do título de
Bacharel em Museologia.

Recife, de Março de 2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Dr. Alexandro Silva de Jesus
Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________
Prof. Dr. Daniel de Souza Leão Vieira
Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________
Prof. Dr. Francisco Sá Barreto dos Santos
Universidade Federal de Pernambuco

4
Reparto aqui minha dedicatória em dois momentos:

No meu lar, dedico a vocês: Charles, Éverton, Maria José e Nicole. Saibam
que são para mim, razão, inspiração e motivação diária. Obrigada por
fazerem de mim uma pessoa melhor a cada dia, eu os amo!

Na caminhada até aqui, o meu reconhecimento e gratidão ao meu amigo


Alexandro. Sem sua dedicação a construção de quem hoje sou não seria
possível! Obrigada!
5
AGRADECIMENTOS

É clichê, mas inicio meus agradecimentos, exaltando essa força maior que nos move, seja qual
for seu nome, ou seus muitos nomes, eu lhe sou grata pela força de vida que corre em mim!

Agradeço aos meus familiares, ao núcleo de amor, primeiramente a você Maria José, minha
mainha, minha maior incentivadora, meu exemplo-mor. Espero estar sempre à altura de todo
seu amor, dedicação e esforço. Éverton, meu gordinho, meu esposo, meu namorado, obrigada
pelo amor, paciência e convívio diário. Sabemos que nem sempre foi fácil, mas sempre
estivemos um ao lado do outro, e isso é o que importa. Charles, meu tesouro, minha estrela,
meu filho, você me motiva e encanta cada dia mais. Obrigada por ser exatamente quem é, de
todas as funções que já exerci e que ainda virei a exercer na vida, ser sua mãe é a mais
maravilhosa delas. Nicole, minha feia, minha melhor amiga, minha irmã, obrigada por me
acompanhar e motivar nessa louca caminhada que é viver, sempre serei grata ao universo por
ter você na minha vida! Luiz Gonzaga, meu painho! Obrigada ser quem é, boa parte dos meus
sonhos e do colorido do meu mundo nasceram em você!
Obrigada a cada um de vocês, meus amores! Obrigada pelas caronas, pelas esperas, por me
buscarem na parada, por lerem e relerem meus textos. Obrigada pela compreensão às minhas
ausências, por suportarem minhas leituras madrugada adentro e todas as adversidades que se
fizeram presentes durante essa graduação. Sou muito grata à vida pelo privilégio de ter vocês
nessa minha caminhada!

Agradeço ao apoio constante e a amizade de Pablo Cantalice, Sinzinando Albuquerque e sua


família linda. Minha gratidão também aos queridos Marcela Gomes e Maurício Reynaldo.

Agradeço aqueles que vieram a mim através da UFPE – vou leva-los comigo por toda vida!
Alex, mais que um professor, mais que um orientador, tenho em você um amigo e sei e quero
você saiba, que para muito além dessa produção acadêmica, a minha construção enquanto ser
humano, a partir da UFPE, passa por você! Pollynne minha amiga, minha fiel escudeira,
obrigada por tudo, a sua presença tornou essa caminhada muito mais feliz! Polly (tu sempre
ao meu lado, Hahay), Ed David e Dani ruiva, meus queridos companheiros de D.A.MU –
Pensare tenho tanto orgulho do construímos ali! Amigos e colegas de sala: o trajeto até aqui
não poderia ter mais orgulho e felicidade. Minha gratidão aos componentes do GLMA, aos
6
meus colegas de curso, à turma 2016.1, foram primordiais as experiências vividas com vocês.
Obrigada ao corpo docente – em especial à Francisco Sá Barreto, Daniel Vieira (Você foi uma
grata surpresa), Hugo Menezes, Caetano De’Carli, Viviane Valença, Ana Cláudia Rodrigues,
Paulo Marcondes e Emanuela Ribeiro (sua psicologia funcionou!), aos técnicos – em especial
à Maria Cristina de Freitas Gomes e ao super Clarck Melindre e aos funcionários e
profissionais terceirizados da UFPE (Tio Álvaro), eu não teria como agradecer a cada um
individualmente mas quero que saibam da minha gratidão a vocês, por todos os momentos
vividos durante esse 05 anos.

Agradeço àquelas pessoas que fizeram e fazem do Museu de Arte Contemporânea – MAC.PE
o meu primeiro e eterno amor museal. Muitíssimo obrigada à Ana Cristina Alves, Célia
Labanca, Sônia Correia, Rogério Barbosa, sem esquecer de Luci Timóteo, Seu Eduardo, Seu
Oliveira e demais funcionários.

7
EPÍGRAFE

“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.” – O
caderno. Saramago, José

8
RESUMO

Durante o processo de graduação no bacharelado em museologia pela UFPE, surge um mal-


estar oriundo do choque entre a teoria produzida a partir dos estudos sobre a obra de Jaques
Derrida, em mal de arquivo (2001) e a atividade empirica realizada no Museu de Arte
Contemporanêa de Pernambuco – MAC.PE. Este espaço servirá de lugar de teste, e
juntamente com a teoria derridariana tentará produzir os subsidios necessários a afirmação de
que são os museus instituições pertencentes a gama de espaços que devem ser qualificados
também como arquivos. A metologia é construída a partir da observação à produção de
conceituação dos termos caros a esta elaboração acadêmica, a saber, o arquivo e a memória.
Em um primeiro momento esse trabalho fará suas apostas em autores caros ao campo da
museologia, como Mário Chagas e Jaques Le Goff, e em um momento posterior será
elaborada o destrinchamento da teoria de Jaques Derrida em comparação com o espaço
museal em análise.

Palavras-chaves: Derrida, Museu e Teoria Museológica.

9
ABSTRACT

During the undergraduate degree in museology at the UFPE, a malaise arises from the clash
between the theory produced by the studies on the work of Jaques Derrida, in archival (2001)
and the empirical activity carried out at the Museum de Contemporary Art of Pernambuco -
MAC.PE. This space will serve as a testing place, and together with the derridarian theory
will attempt to produce the necessary subsidies to assert that museums are institutions
belonging to the range of spaces that must also be qualified as archives. The metology is
constructed from the observation to the production of conceptualization of the terms
expensive to this academic elaboration, namely, the file and the memory. At first, this work
will make its bets on expensive authors in the field of museology, such as Mário Chagas and
Jaques Le Goff, and at a later stage will be elaborated the disruption of the Jaques Derrida
theory in comparison with the museum space under analysis.

Keywords: Derrida, Museum and Museological Theory.

10
INSTITUIÇÕES PESQUISADAS

FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE:

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DE PERNAMBUCO – MACPE;

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE:

BIBLIOTECA DO CENTRO DE FILOSIFIA E CIÊNCIAS HUMANAS.

11
ABREVIATURAS E SIGLAS

FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN;

MUSEU DE ARTE CONTEMPOÂNEA DE PERNAMBUCO – MAC/PE;

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE;

12
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS.................................................................................................... 6
EPÍGRAFE ..................................................................................................................... 8
RESUMO ....................................................................................................................... 9
ABSTRACT ................................................................................................................. 10
INSTITUIÇÕES PESQUISADAS ................................................................................ 11
ABREVIATURAS E SIGLAS ...................................................................................... 12
O PARADOXO ............................................................................................................ 14
AS APOSTAS .............................................................................................................. 19
O TESTEMUNHO TEÓRICO ...................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 38

13
O PARADOXO

Esta produção acadêmica parte da premissa que apresenta o pertencimento dos museus ao
conjunto de instituições que devem ser denominadas como arquivos, demonstrando através de
um conjunto teórico e de um lugar de teste a concretude de tal afirmativa. Tal pressuposto
abre para questões sobre o arquivamento dos bens ali resguardados, mais objetivamente, sobre
a ausência de procedimentos museológicos basilares, como registro e inventário do acervo,
dentro dos parâmetros orientados pela legislação vigente1. Estarão aqui em observação as
consequências práticas de perturbações a princípio de ordem conceitual, mas que geram
ausências nos processos de registro institucional, e consequentemente, implicações nas
políticas aplicadas ao espaço museal.

A metodologia aqui proposta pretende através de uma perspectiva teórica, demonstrar que por
meio da distinção entre os conceitos de arquivo e memória, será possível subsidiar uma
análise que permita à instituição observada uma maior consciência dos efeitos das políticas de
salvaguarda até aqui adotadas. Consciência esta que permitirá correções quanto às formas de
análise, tratamento, armazenamento e disposição do seu acervo. Ações que em primeiro nível
estima-se que permitirão ao espaço analisado o domínio de seu conteúdo, assim diante de um
aprofundamento no princípio aqui apresentado, a instituição alvo, assim como qualquer outra
que se enquadre nos mesmos parâmetros, terá condições de construir um processo eficiente
para lidar com as políticas de salvaguarda atualmente em voga e assim ultrapassar as barreiras
que impedem sua plena realização institucional.
.
A problemática que deu origem a essa produção, faz em Jaques Derrida 2o seu arcabouço
teórico, optando-se pela bagagem conceitual contida em seu título, Mal de Arquivo (2001).
Entretanto, tal opção se coloca em choque com a tendência bibliográfica da área do
conhecimento que abriga esta produção, uma vez que Derrida apesar da consistência de sua
obra, não está inserido no elenco dos autores usuais de construção conceitual para a
museologia. Assim sendo, essa construção funcionará da seguinte forma: Inicialmente serão
testados no capítulo imediatamente posterior, dois autores mais caros ao campo, a saber,

1
LEI Nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009.
2
(1930 - 2004) Filósofo franco-argelino associado à teoria da desconstrução (1960). Autor de inúmeras obras,
entre elas Gramatologia (Perspectiva, 1967), A Escritura e a Diferença (Perspectiva, 1972) e o Olho da
universidade (Estação Liberdade, 1999).
14
Mario Chagas, 3 e Jaques Le Goff4. Nesta parcela da construção serão elencados e justificados
os argumentos apontados pelos autores selecionados para a elaboração dos conceitos-chaves a
esta produção, a saber, arquivo e memória. Espera-se evidenciar como tais literaturas não
produzem o desdobramento necessário para a discussão aqui proposta, portanto, ficará a cargo
do terceiro e último capítulo a demonstração do papel fundamental que a teoria de Derrida
produz para as questões museais, a partir da perspectiva arquivística.

No exercício que se seguirá, a análise teórica terá no Museu de Arte Contemporânea de


Pernambuco – MAC.PE5 o seu lugar de teste. De acordo com as informações disponibilizadas
pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE6 através de
sites e folders institucionais, o marco inicial do MAC.PE se dá em 23 de Dezembro de 1966,
quando sob a tutela do Instituto do Patrimônio Histórico – IPHAN, o então Secretário
Nacional da Cultura, Aluísio Magalhães tomba o prédio que hoje abriga o espaço museal. O
monumento arquitetônico data de 1765, tendo sido projetado para abrigar o Aljube, a única
cadeia eclesiástica em funcionamento no Brasil durante a época da Inquisição Católica. Já
entre o ínterim de 1874 e 1950, funcionaram ali diversos entidades públicas, dentre elas, a
cadeia pública do município de Olinda. Posteriormente a este período e diante da chegada de
parte do acervo pessoal de artes plásticas de Assis Chateaubriand, as esferas públicas
responsáveis acham por bem utilizar do imóvel histórico para abrigar a doação recém-
chegada, culminando no tombamento supracitado.
Este é o arquivo do histórico-institucional do prédio que dá corpo ao MAC.PE. Mas estas
informações não conseguem abranger a identidade que foi ali constituída a partir do acervo e
dos usos que lhe foram atribuídos ao longo dos anos. O MAC.PE já representou passagem
obrigatória para grandes eventos de arte de âmbito local, regional e nacional. Funcionando
como local de exibição e formação artística, o espaço teve seu ápice em conjunto com os

3
(1956 - ) Museólogo pela UNIRIO(1976) associado à museologia social. Autor de títulos como Há uma gota de
sangue em cada museu: A ótica museológica de Mario de Andrade (2015) e A Imaginação Museal (2009).
4
(1924 – 2014) Historiador Francês associado à corrente conceitual “nova história” – Escola dos Annales
(1970). Autor de inúmeras obras, entre elas História e Memória (1990), Ensaios de Ego-História (1989) e
Reflexões Sobre a história (1982).
5
Atualmente o MAC.PE é composto por um complexo cultural, constituído pelo prédio sede, Capela de São
Pedro Advíncula, Praça Assis Chateaubriand e duas casas com influências arquitetônicas do final do séc. XIX e
início séc. XX (Galeria de Arte Tereza Costa Rêgo e reserva técnica). A instituição é vinculada à esfera Estadual
e gerenciada pela FUNDARPE.
6
“A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco é o órgão executor da Política Cultural do
Estado, em todas as suas dimensões e expressões [...] Criada em 17 de julho de 1973, a Fundação visa, além do
incentivo à cultura, a preservação dos monumentos históricos e artísticos do Estado. Faz parte da Administração
Indireta do Estado e está vinculada à Secretaria de Cultura” – Para mais:
http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/fundarpe/institucional/a-fundarpe/.
15
movimentos artísticos ocorridos por toda Olinda/PE, durante as décadas de 1960, 1970 e
19807. Para além, e como instituição detentora de um acervo notável e singular, o museu é
responsável pela tutela de obras de grandes nomes das artes plásticas, como Portinari, Tarsila
do Amaral, Cícero Dias, Djanira, Samico, Adão Pinheiro, Bajado dentre outros. Tais
conjuntos, atualmente compõem quinze coleções que representam as mais variadas técnicas e
temáticas. Tamanho acervo abarca, assim como disposto pela atual gestora do espaço, Célia
Labanca, desde o “academicismo francês até a contemporaneidade”.

Entretanto, atualmente, o espaço museal sofre com uma gama de precariedades 8 que
inviabilizam sua efetividade enquanto instituição museológica. Mesmo diante da sua já
evidenciada importância, o museu não dispõe de um registro eficiente de nenhum de seus
setores; Até os mais basilares estão descobertos de documentação. Um exemplo primário seria
o exercício cotidiano do espaço enquanto instituição, que além de não dispor de um sistema
organizado com o qual se possa produzir sua documentação, não possui sequer uma área
destinada ao armazenamento do material burocrático ali gerado.

A precariedade institucional também se faz notar à medida que mesmo uma coleção tão
relevante quanto a ali resguardada não dispõe de uma atualização adequada9 sobre sua
documentação museológica. O último inventário do espaço data de 1984. Após esse
procedimento foram realizados alguns arrolamentos10, o último em processo de atualização
desde 2013. Sua finalização está pendente devido à indisponibilidade de materiais basilares11,
como luvas, máscaras, trinchas, resmas de papel, cartuchos, computadores, impressoras... E
até mesmo pela ausência de material humano, já que atualmente apenas um técnico em
conservação está lotado no espaço.

7
Durante o período citado, Olinda abrigou importantes movimentos e espaços voltados para as mais diversas
vertentes artísticas, em especial, às artes plásticas. O “Movimento da Ribeira” um dos pioneiros, contava entre
seus talentos com nomes como Tereza Costa Rêgo e João Câmara. Esse tipo de ação funcionou de forma
embrionária para a pluralidade cultural presente nas ladeiras da Cidade Alta. O Movimento da Ribeira foi o
percussor de inúmeros ateliês, que por sua vez atraíram nomes como Gilvan Samico, Adão Pinheiro e Bajado.
8
É importante salientar que infelizmente o Caso do MAC.PE não é uma exceção, grande parte dos equipamentos
culturais que se encontram sob tutela pública enfrentam o que minimamente pode-se classificar como uma
negligência sob suas necessidades mais basilares, o que inclui a questão da documentação museológica.
9
Subseção IV (Dos acervos dos museus) da LEI Nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009.
10
Embora seja um procedimento de listagem tal qual o inventário, este se diferencia pelo caráter provisório de
sua numeração. Para Mais: http://www.cultura.pr.gov.br/arquivos/File/downloads/p_museologia.pdf
11
O fornecimento de todos esses itens primordiais é de responsabilidade da FUNDARPE – Para mais:
http://www.cultura.pe.gov.br/pagina/fundarpe/institucional/a-fundarpe/.
16
Essa evidente debilidade está refletida em todas as ramificações do espaço 12, e é o foco
primário dessa pesquisa, posto que, existindo institucionalmente como suporte desse mesmo
material, o registro do acervo fica no mínimo comprometido, ao estar à mercê da ausência de
um sistema arquivístico. Todas as questões aqui elencadas colaboração na constituição do
MAC.PE como lugar de teste ideal para as proposições dessa construção acadêmica.

Os questionamentos que originaram essa produção surgem a partir do encontro entre duas
atividades no processo de graduação no bacharelado em Museologia pela UFPE.
Primeiramente, a participação no grupo de estudos, GLDMA. Nele se procurou por meio da
leitura dirigida da obra Mal de Arquivo (Derrida, 2001) concentrar os esforços, e assim
esmiuçar tanto o vocabulário quanto os textos referenciados na obra supracitada. Estas ações
permitiram a construção de um arcabouço consistente a cerca das determinantes do arquivo,
seus preceitos e consequências. No segundo momento está uma atividade de estágio
extracurricular. Esta consistia na execução de um processo de arrolamento que já se
encontrava em andamento, onde por meio de buscas físicas pelas peças que se encontravam
elencadas na listagem de tombamento do espaço, eram feitas a conferência e o posterior
preenchimento de uma nova tabela, porém mais detalhada que a anterior e que por vezes iria
conter obras que haviam sido admitidas no acervo posteriormente ao primeiro documento.

A situação acima descrita produziu um mal-estar, que se origina nas lacunas que começaram a
surgir durante o preenchimento da nova listagem. Muitos itens, inclusive aqueles que eram
contemporâneos ao primeiro documento, não possuíam as informações completas a cerca da
entrada do objeto no acervo, em geral estavam ausentes dados cruciais como ano de inclusão
no acervo e forma de entrada, por vezes até referências relativas à autoria. Contudo o que
poderia configurar a impossibilidade de execução do projeto de atualização da documentação
institucional se desdobrou na descoberta da riqueza de detalhes da memória dos funcionários
mais antigos do espaço, em especial as memórias de Sônia Maria Correia e Ana Cristina
Alves13. Em muitas ocasiões eram as memórias dessas funcionárias que detinham as
informações necessárias ao preenchimento do novo documento. Aqui se inicia o paradoxo:

12
Corroborando com a problemática até aqui vislumbrada, o espaço museal ainda vai de encontro com a atual
legislação destinada aos museus e espaços do gênero, uma vez que, o prazo estipulado já prescreveu e a
instituição ainda não se adequou as exigências do novo código; O Prazo para adequação à nova legislação
prescreveu em maio de 2014. Para mais: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2009/Lei/L11904.htm
13
Ambas as funcionárias têm condições de solicitar aposentadoria, quer pelo tempo de serviço, quer pelo
período de contribuição. Essa situação trabalhista representa mais um elemento de tensão, pois a volatilidade
mnemônica enquanto característica biológica é ali reforçada pela questão legislativa.
17
Como qualquer instituição museal, o MAC.PE tem por princípio a obrigação no que se refere
a perpetuação do acervo sob sua guarda. Então, como é possível que a documentação, o
registro do seu acervo, esteja ancorada na volatilidade do memento humano?

Está dado o problema! Por um lado, um ambiente em que se consolida diariamente uma teoria
social, aplicada e de múltiplos fatos que busca demonstrar as complexidades e consequências
das atividades de arquivo, apontando e justificando seus preceitos e aspectos primordiais. Em
contra partida, há uma ação empírica que não contradiz a teoria pela precariedade de sua
realidade, mas que contesta seus conceitos pela forma, embora inegavelmente inconsistente,
que continua se realizando, através de exposições, visitas de grupos escolares e da própria
atualização documental, que acontecem para além da ausência arquivistica. Como é possível
tal configuração? Estaria o filósofo equivocado ou qual seria o nível de consistência
necessária para a efetiva realização institucional de um espaço museal? Em suma, quais as
consequências políticas – sejam elas de ordem teórica ou prática, da não consciência do
Museu de Arte Contemporânea da sua função enquanto arquivo?

Espera-se que a aproximação e a exposição tanto da realidade institucional quanto da teoria de


Derrida (2001) se estabeleça a possibilidade de outros pesquisadores vislumbrarem a mesma
problemática que principiou esta elaboração acadêmica; Que ambas possam proporcionar o
horizonte necessário para visualizar o alcance produzido por uma questão técnica que se
origina muito além das ações práticas, envolvendo teorias e construções múltiplas, ampliando
inclusive os preceitos institucionais. Por meio de Derrida (2001), esta elaboração acadêmica
pretende busca formas de demonstrar o quão próximo o museu está de uma teoria arquivística.
Em contrapartida, também está entre seus objetivos, demonstrar que o lugar de teste desse
trabalho, o MAC.PE, apresenta muitos níveis de realização institucional, níveis estes que
rompem com a normativa em vigor, porém, como se pretende poder demonstrar no terceiro e
último capítulo desta produção, tais níveis não foram trabalhados pelo filósofo francês, mas,
espera-se que permitam um desdobramento prático da teoria por ele proposta. Por fim,
constitui-se a pretensão que a elaboração aqui presente sobre essas duas antíteses, as práticas
dos espaços museais e a teoria derridariana, tornem visíveis os paradoxos presentes na
instituição elencada como lugar de teste. A teoria, como já foi dito, pode não ter sido
desenvolvida para este caso específico, mas é a responsável pela constatação da efemeridade
dos arquivos de uma instituição que se propõe à perenidade.

18
AS APOSTAS

A possibilidade preliminar de verificação e construção de sentido dos conceitos supracitados


entre aqueles habituais à área se dá por meio do artigo de Mario Chagas, “Memória e Poder:
Contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus” (2013). No texto o autor aborda, a partir
de referências como Foucault, Le Goff e Nietzsche, premissas relacionadas à memória e ao
poder. Chagas (2013) discorre sobre questões como a (hiper) utilização em voga do retrô,
além de tratar de apontamentos sobre o poder oriundo da memória e seus usos e
consequências dentro da esfera museal.

Em um primeiro olhar, a obra de Chagas apresenta construções que possibilitariam seu uso na
edificação desta pesquisa, tal qual o apontamento a despeito das relações entre memória e
poder e sua constância na construção identitária de qualquer museu.

“Assim os museus são a um só tempo: herdeiros de memória e do poder. Estes dois conceitos estão
permanentemente articulados nas instituições museológicas. É fácil compreender [...] que os museus
podem ser espaços celebrativos da memória do poder ou equipamentos interessados em trabalhar com o
poder da memória.”. (CHAGAS, 2013).

O discurso supracitado tende a ser facilmente absorvido, principalmente depois do movimento


gerado pela Mesa de Santiago do Chile em 1972, que clamava pela democratização dos
espaços de cultura. E talvez com maior força, ao menos no âmbito nacional, depois do
período de normatização e expansão do setor cultural proporcionado pelo primeiro mandado
da chamada “Era Lula”, que acompanhou o surgimento de inúmeros museus – muitos
abordando temáticas e discursos até então nunca expostos, entretanto, adversidades teóricas
presentes no texto encorpam a impossibilidade de uso da obra acima como alicerce desta
produção. Inicialmente seriam apenas impasses relacionados à qualificação do termo
memória, já que o autor trabalha a partir de duas construções possíveis, “A memória
(provocada ou espontânea) é construção e não está aprisionada nas coisas, ao contrário, situa-
se na dimensão interrelacional entre seres, e entre os seres e as coisas” (2013, p. 22) Ao
apresentar a memória como um processo de construção, seja ela “provocada ou espontânea”,
o autor equivocadamente dá ao conceito de memória características de arquivo. Essa questão
pode se comprovar através da observação feita pelo autor, que apresenta o conceito como uma
construção. Ainda há problemas com relação à localização dada por Chagas (2013) ao
conceito. O arquivo, que foi travestido de memória na sentença apresentada realmente é

19
construção, porém diferente do abordado, este conceito está sempre aprisionado no que o
autor apresenta como os “seres e as coisas”, é o acesso a estes e não sua relação que .
“provoca” o que no texto foi chamado de memória.

Ainda é possível concordar com a produção de Chagas (2013), principalmente com relação à
concepção trabalhada para com a estrutura dos museus tradicionais: “Para estes museus, a
celebração do passado (recente ou remoto) é a pedra de toque. O culto à saudade, aos acervos
valiosos e gloriosos é o fundamental” (2013, p. 23). A afirmativa sobre esse tipo de espaço
museal, por meio do destaque a rememoração à origem, frisando suas caraterísticas típicas,
como a escassez democrática e a imposição autoritária de determinados grupos em prol da sua
autocelebração é um movimento válido, embora pouco acrescente à discussão.

As esparsas convergências dos pontos de vista não superam os empecilhos de uso da obra na
presente produção acadêmica. Além da questão já exposta sobre o conceito apresentado ao
termo memória, outras duas barreiras agregam a argumentação contra a utilização da
produção em análise.

A primeira delas surge quando o autor ao tratar da concentração do poder e suas


consequências dentro de espaços apresentados pelo mesmo como tradicionais, fala da
estagnação da força da memória, apresentando o conceito de “coágulos de poder”, fazendo ali
uma explanação sobre a relação entre o que é apresentado como “documento” e o que é
“monumento”.

“Os objetos (seres e coisas), para os que alimentam estes modelos, são coágulos de poder e indicadores
de prestígio social. Distanciados da idéia de documento, eles querem apenas monumentos.” (CHAGAS,
2013).

Este trecho faz uma clara referência à obra de Le Goff, a saber, “Documento/Momento”,
inserido do livro História e Memória (1990), porém esta referência não foi relacionada por
Chagas, restando como referência ao trabalho de Le Goff: Reflexões sobre a História (1982) e
o primeiro capítulo do volume I da Enciclopédia Einaudi (1984). Aqui, se apresenta o
problema hermenêutico que justifica o primeiro momento que leva à impossibilidade de uso
deste material na construção desta produção acadêmica. É necessário enfatizar que a
problemática não reside no erro de citação, e sim, como foi dito inicialmente no problema de
interpretação presente no trecho. É possível identificar de onde surgiram as construções
20
elaboradas por Chagas (2013), mas sua produção apresenta monumento e documento como
conceitos antônimos, enquanto o autor referenciado, Le Goff – em todas as suas obras,
apresenta tais conceitos como complementares e representantes da externalidade daquilo que
este apresenta como memória. A questão de interpretação aqui exposta fica evidente quando
observado o Volume I da Enciclopédia Einaudi (Le Goff, 1984), obra que foi referenciada por
Chagas e expõe justamente a explanação contrária:

“A outra forma de memória ligada à escrita é o documento escrito num suporte especialmente destinado
à escrita [...]. Mas importa notar que [...] todo documento tem em si um carácter de monumento e não
existe memória coletiva bruta.” (LE GOFF, 1984).

Ao ultrapassar a supracitada confusão hermenêutica, segue-se com o segundo momento que


embasa a impossibilidade de uso da produção de Chagas (2013) como objeto basilar desta
empreitada acadêmica. Em seu artigo, Chagas (2013) atesta que haveria possibilidade de que
alguns museus conseguiriam ultrapassar o que mesmo denomina como instituições “pouco
democráticas onde prevalece o argumento da autoridade, onde o que importa é celebrar o
poder ou o predomínio de um grupo social, étnico, religioso ou econômico sobre outros
grupos” (2013, P. 23). Entretanto a antítese dada pelo autor é exposta nos seguintes termos:

“Importa esclarecer, [...] que os museus surgidos com o caráter celebrativos não estão maculados por
pecado original e fadados à reprodução de modelos que eliminam a participação social e a possibilidade
de conexão com o presente.” (CHAGAS, 2013).

O problema que justifica este segundo momento será tratado mais uma vez como uma questão
hermenêutica. Há uma “não compreensão” da construção narrativa tão característica dos
espaços museais, já que toda instituição, independente de sua matriz ideológica, é detentora e
ditadora de aspectos políticos e tem por consequência que selecionar sua narrativa
expográfica. Ora, seria utópico reproduzir o “Total” dentro de um discurso expográfico. Tal
suposição fadaria qualquer instituição a repetir o destino de Funes (BORGES, 1979) 14, que
diante da recordação total se viu paralisado até a culminância desta condição em sua morte.
Portanto, mesmo instituições pretensas a uma vertente dita “mais social” necessitam
apresentar recortes das realidades que ali se representam. A totalidade não é uma opção dentro
da museologia, independente da vereda institucional.

14
(1899 – 1986) Escritor, Tradutor, poeta, ensaísta e crítico literário Argentino. Condecorado com diversos
prêmios internacionais relacionados à literatura, dramaturgia ou editoração. Autor de inúmeros contos e livros,
entre eles Ficções (1944), Outras Inquisições (1952), A Cifra (1981) e Os Conjurados (1985).
21
Chagas (2013) se propõe em sua publicação a um maior enfoque quanto às questões relativas
ao poder e a memória, seus usos e representações, entretanto, as problemáticas hermenêuticas
aqui expostas e justificadas e a ausência de uma produção consistente para os conceitos
apresentados, principalmente para o termo memória – um dos termos chave para essa
produção acadêmica gerou o descarte do artigo, muito embora este se encontre dentro daquilo
que é entendido como uma produção incluída nos limites da área do conhecimento desta
produção acadêmica.

A segunda aposta dentro do campo da Museologia perpassa pelo pensamento de Jaques Le


Goff, que embora não tenha formação na área, é detentor de uma obra que em muito é
estrutural às diversas vertentes do conhecimento, em especial as ciências sociais e humanas. A
partir do trabalho no verbete “Memória” da Enciclopédia Einaudi (1984), o autor destrincha
desde os aspectos biológicos relativos à memória até suas implicações antropológicas.

Durante o desenvolvimento de sua obra Le Goff , expõe sua teoria a respeito do que chama de
uma relação ente “a memória e a história”, separando a memória “nas sociedades sem escrita
(antigas e modernas)” (1984 – p. 13) daquelas em transição entre um modelo e outro e as que
se efetivaram nos moldes da escrita até o padrão atual de sociedade. Assim, o verbete é
seccionado em “Memória étnica”; “O desenvolvimento da memória: Da oralidade à escrita, da
pré-história à antiguidade”; “A Memória medieval no ocidente”; “Os progressos da memória
escrita e figurada da renascença aos nossos dias” e “Conclusão: o valor da memória” (1984 –
p. 13).

Ao categorizar o conceito e subdividi-lo em memória “específica, étnica e artificial” o autor


conceitua o verbete memória em amplo sentido, colocando esta faculdade mental não como
uma extensão ou propriedade da inteligência, mas como integrante de sua composição, base
de armazenamento de nossos atos. Le Goff (1984) apresenta o termo memória através da
amplidão semântica de cada uma das suas subdivisões conceituais:

“[...] Memória “específica” para definir a fixação dos comportamentos de espécies animais, de uma
“memória étnica” que assegura a reprodução dos comportamentos nas sociedades humanas e, no mesmo
sentido, de uma memória “Artificial”, eletrônica na sua forma mais recente, que assegura, sem recurso
ao instinto ou à reflexão, a reprodução de actos mecânicos encadeados” (LE GOFF, 1984).

22
O trecho acima traz à tona, o primeiro óbice ao uso dessa produção na construção desse
trabalho acadêmico: A não distinção dos termos e a consequente miscelânea entre o que seria
mais bem descrito como instinto, memória e arquivo respectivamente, acrescenta-se à
problemática o fato do autor apresentar o conceito de memória através das determinantes do
conceito de arquivo. Com a elaboração deste trabalho perpassando pela definição dos
conceitos de arquivo e memória, a ausência de uma separação entre os temas centrais desta
pesquisa, produz ambiguidade entre os mesmos, o que mesmo em um primeiro momento, já
enfraquece a aposta feita na literatura aqui disposta.

Outras questões podem ser observadas, como as explanações a respeito do poder de decisão
sobre o arquivo sem aprofundamento do mesmo: “[...] Os esquecimentos e os silêncios da
história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva [...]” (1984,
p. 13). Ao adentrar no texto é possível reforçar essa ambiguidade conceitual, uma vez que a
escrita é apresentada como um elemento transformador, mas interno à memória;

“A escrita permite à memória coletiva um duplo progresso, o desenvolvimento de duas formas de


memória. A primeira é comemoração, a celebração através de um monumento comemorativo de um
acontecimento memorável. A memória assume então a forma de inscrição [...]”. (LE GOFF, 1984).

Ao se tornar “inscrição”, “monumento”, ou seja, estando externa ao pensamento humano,


como ainda seria possível classificar essa faculdade, que não pode mais ser entendida como
mental devido ao seu atual aspecto físico, como memória? Tal ação não a transmuta em
arquivo? Tal questão remete diretamente à problemática encontrada na obra anteriormente
testada, onde a mesma dualidade de conceitos se dá, agora de forma mais evidente com a
apresentação do uso da escrita, como memória, quando tal concepção trata de um suporte à
mesma, portanto, um arquivo:

“A pedra, o mármore, servia os mais das vezes de suporte a uma sobrecarga de memória. Os “Arquivos
de pedra” acrescentam à função de arquivos propriamente ditos um carácter de publicidade insistente,
apostando na ostentação e na durabilidade dessa memória lapidar e marmórea.”. (LE GOFF, 1984).

Tal explanação remete diretamente às funções do documento escrito, pois diante da tentativa
de discorrer sobre seus usos o autor apenas reforça a separação entre os termos que
anteriormente foram expostos como intrínsecos,

23
“[...] A escrita tem duas funções principais: “Uma é o armazenamento de informações, que permite
comunicar através do tempo e do espaço, e fornece ao homem um processo de marcação, memorização
e registro.”; a outra, “Ao assegurar a passagem da esfera auditiva à visual” permite reexaminar,
reordenar, rectificar frases e até palavras isoladas.” [...]”. (LE GOFF,1984).

O próprio autor apresenta contradição e dualidade entre os termos caros a este projeto,
evidenciando o caráter monumental do documento escrito ao discorrer sobre o que apresenta
como “matéria memorável” (1984, p. 18),

“A soma dos factos que devem ultrapassar as gerações imediatamente seguintes. Limita-se à religião, à
história e à geografia. O triplo problema do tempo do espaço e do homem constitui a matéria
memorável.” (LE GOFF,1984).

Aqui é apresentada a trindade problemática constituinte que compõe o termo apresento, mas o
problema é também aqui de ordem hermenêutica, Le Goff (1984) trata do uso de métodos de
arquivamento para o que ele apresenta como uma civilização da memória escrita, Estas
construções levam a mais uma indagação sobre o real atributo do que a autor apresenta como
“Memória Real” (1984, p. 18) que, de acordo com o mesmo, consistia na ação de antigos reis
que ordenavam a gravação em pedra de seus feitos. Aqui o autor apresenta a seguinte
construção: “E que nos levam à fronteira onde a memória se torna história” (1984, p. 18), esta
claramente não é a fronteira, o limite se dá entre a lembrança da ação e o se registro. Outro
exemplo desde arquivo sobre pedra se dá no conceito que Le Goff apresenta como “Memória
funerária” (1984, p. 18). Tal conceito é exemplificado através das “estelas gregas e os
sarcófagos romanos”. Em ambos os conceitos as demandas que visam a preservação de fatos
se estabelece, porém sempre utilizando determinantes do arquivo para estabelecer a descrição
daquilo que o autor apresenta como memória.

Na conclusão é possível afirmar que por todo o capítulo referente ao verbete “memória”, o
autor, desde a apresentação da evolução antropológica desse conceito, até o fechamento de
sua produção Le Goff (1984) não atinge a elaboração de uma discriminação adequada para a
conceituação de memória e de arquivo, questão basilar a esta pesquisa, portanto, a partir
dessas explanações, é possível afirmar que a não determinação dos limites entre os conceitos
aqui examinados, faz com que ações externas ao memento humano, sejam elas corporais ou
escritas, passem equivocadamente muitas vezes, dentro da obra por hora observada, por
memória, inclusive definindo a evolução cultural de determinadas populações por suas
características anamnésicas. Diante da problemática conceitual supracitada, dos exemplos
aqui já dispostos e mesmo sendo Le Goff (1984) um autor usual nesta área do conhecimento,
24
as lacunas presentes em sua obra inviabilizam o trato conceitual buscado nesta pesquisa ao
evidenciar as falha de ambas as apostas em autores inseridos no campo museológico. É diante
desse lapso conceitual que se consolida a seleção exclusiva pela obra de Jaques Derrida como
condutor teórico da presente pesquisa.

25
O TESTEMUNHO TEÓRICO

O conceito presente em Mal de Arquivo (DERRIDA, 2001) conduz teoricamente este trabalho
e simultaneamente se torna objeto de sua análise, dada sua aplicabilidade técnica em um lugar
de teste, o MAC/PE, e à prática de arquivo presente neste espaço enquanto tema de análise
desta pesquisa.

O movimento de fundamentação da coalisão entre a teoria derridariana e as questões


museológicas tratadas nesta produção, passa por um lugar-comum, tanto para a ordem
empírica quanto conceitual, a saber, o Museu. Paralelo ao eixo principal da pesquisa de
Derrida, a conexão com este tipo de espaço aparece inicialmente como subsídio para a
conferência que deu origem à obra aqui referenciada;

“Conferência proferida no dia 5 de junho de 1994, em Londres, por ocasião de um colóquio


internacional intitulado: Memória: a questão dos arquivos. Organizado por iniciativa de René Major 15 e
de Elizabeth Roudinesco16, este colóquio se realizou sob os auspícios da Sociedade Internacional de
História da Psiquiatria e da Psicanálise, do Museu Freud17 e do Instituto de Arte Courtauld18.”
(DERRIDA, 2001).

As demais aparições que justificam o movimento aqui proposto se dão em três ocasiões,
sempre como parte significativa da teoria ali em ação. Estas abordagens apontam os encontros
entre o museu e a obra de Derrida, assim como os argumentos relativos às políticas vigentes
nestes lugares – espaços museais, que aqui denominaremos como “lugar-comum” entre a
teoria de Derrida e a prática sociológica do arquivo e da memória, além de explanações que
tratam da soberania existente em tais pontos de intersecção.

15
(1932 - ) Psicanalista, atual presidente da Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e da Psicanálise.
Autor de diversas obras, tais como A agonia do dia (Aubier, 1979), Lacan com Derrida (Mentha, 1991, e
Champs Flammarion, 2001) e No início. A vida, a morte. (Galilée, 1999).
16
(1944 - ) Historiadora , psicanalista, e professora na École Pratique des Hautes Études. Autora de diversos
livros, entre eles, História da psicanálise na França (2 vols. /1994), Dicionário de psicanálise (Michel Plon/1997)
e De que amanhã... (Jacques Derrida/2004); Ainda possui produção para a televisão, através do roteiro do
documentário Sigmund Freud, a invenção da psicanálise (E. Kapnist, 1977).
17
Última residência de Sigmund Freud (1856 – 1939). Médico neurologista austríaco, fundador da psicanálise.
Autor de obras como A interpretação dos sonhos (1900), Psicologia da Vida Cotidiana (1901), Totem e Tabu
(1913) e O Ego e o Id e outros trabalhos (1923 – 1925). O espaço foi instituído casa-museu em 1986. O Freud
Museum abriga desde mobiliário até correspondências e documentação pertencentes à família Freud. Para mais:
https://www.freud.org.uk/.
18
Centro pioneiro e especializado no estudo da história da arte, submetido à Universidade de Londres/UK. Para
Mais: http://courtauld.ac.uk/.
26
O manifesto subsequente ao da tutela do evento argumenta sobre a função de abrigo que os
arquivos constituem. De acordo com a consolidação do objeto aqui exposto, se tornará mais
evidente a necessidade, apresentada pelo autor como de uma “localização” para instituição de
um arquivo e do local onde a conversão institucional do material ali salvaguardado ocorre –
Comumente essa conversão se dá, através da passagem do âmbito privado ao público. Fato
que se distingue da transmutação entre os campos que o autor apresenta como “secreto e não
secreto” (2001, p. 13).

“Foi assim, nesta domiciliação, nesta obtenção consensual de domicílio, que os arquivos nasceram. A
morada, este lugar onde se de-moravam, marca esta passagem institucional do privado ao público, o que
não quer dizer do secreto ao não secreto. (É o que se dá, por exemplo, em nossos dias, quando uma
casa, a última morada dos Freud, transformar-se num museu: passagem de uma instituição a outra.)”
(DERRIDA, 2001).

A citação acima busca expor uma grande questão política, de consequências éticas que
envolvem o arquivo: A contenda relativa à acessibilidade ao conteúdo salvaguardado. A fala
utilizada para exemplificar a mudança institucional ocorrida com criação do Museu Freud
revela que embora os documentos e a totalidade das informações anteriormente pertencentes à
família Freud (próprio do âmbito privado), se encontrem atualmente sob guarda de uma
instituição museológica e, portanto, sob tutela pública. A mudança institucional não gera
obrigatoriamente uma transferência entre as esferas apresentadas Por Derrida. É relevante
frisar que de formas mais múltiplas a experiência pública preserva o jogo entre o “secreto” e o
“não secreto”. Como em toda instituição, há uma seleção entre o que pode ou não ser exposto
ao público, assim como a forma de disponibilização de tal material.

O tratar relativo ao acesso aos conteúdos em qualquer dos inúmeros subtipos de arquivo –
estando aqui inclusos os museus – embora a princípio possa não levantar grandes
questionamentos, está cercado de problemáticas éticas como aquelas trabalhadas por Combe
(2011) 19. Ao abordar a acessibilidade aos arquivos, Combe traz à tona discussões não apenas
sobre o arcabouço legislativo que regulam o funcionamento e o acesso a esses dispositivos,

19
Professora na Université Paris-Ouest Nanterre, tem seus estudos voltados à história da Europa Oriental sob o comunismo
e à memória histórica dos regimes comunistas nas sociedades, bem como a história do pós-comunismo. Direciona seus
trabalhos à desefa da abertura dos documentos públicos para população geral. Autora de obras como Arquivos interditos
(1994), Arquivos e escritos da história em sociedades pós-comunistas (La Découverte, 2009) e Resistir à razão de Estado
(2011).

27
como também discorre sobre democracia e efetivação das estruturas de governo. E, muito
embora tais temas não sejam aprofundados na obra de Derrida, nem tão pouco haja condições
de destrinchar sobre esse aspecto nesta construção acadêmica, este é um tema relevante e
levanta questões políticas primordiais dentro da temática arquivística.

Ao retomar ao museu, o encontramos exposto na obra de Derrida em outras duas citações.


Estas que serão elencadas fazem alusão à força que se concentra nesse espaço instituidor de
poder (espaço esse que é o museu), à sua função na efetivação do acervo ali abrigado e à
leitura ali constituída.

“Digamos por enquanto assinatura freudiana para não ter que decidir entre Sigmund Freud, o nome
próprio, por um lado, e por outro, a invenção da psicanálise: projeto de saber, de prática e de instituição,
comunidade, família, domiciliação, consignação, “casa”, ou “museu” no estado presente de seu
arquivamento. Para nós que está em jogo se situa entre os dois.”. (DERRIDA, 2001).

“Ele tem força de lei, de uma lei que é a casa (oikos), da casa como lugar, domicílio, família,
instituição. Transformada num museu a casa de Freud hospeda todos estes poderes da economia.”.
(DERRIDA, 2001).

Em ambas as menções o museu não apenas acomoda, como também estabelece o poder. Dita
os elementos que irão compor a narrativa, e, sobretudo as regras de leitura e interpretação do
relato ali exposto.

Na primeira citação do conjunto acima, Derrida revela que por trás da opção de não
determinar entre o nome próprio ou a ciência são dadas as consequências de tal apuração na
própria sentença. A escolha pelo “nome próprio” não teria folego para abarcar toda a extensão
de questionamentos sobre os deveres do arquivo, tão pouco sobre os desejos de memória que
afligem a sociedade moderna, no entanto, a “Invenção da psicanalise” acarretaria
exclusivamente, em um agrupamento de saberes, que seriam dados física e
hermeneuticamente diante de um conjunto, fugindo do foco dado pelo autor. Assim, Derrida
(2001) nos encaminha para as interrogações trazidas pelo pano de fundo da obra, a psicanalise
freudiana. A citação acima e o recorte museal exercido nesta produção, mais uma vez
permitem a visualização da manipulação que se faz presente em todo o universo do arquivo, e
consequentemente no universo dos museus.

A segunda referência novamente faz alusão ao poder instituidor do arquivo. É importante


fazer notar que não há ali nenhuma menção a abertura do conteúdo resguardado. A

28
problemática abordada trata apenas do abrigo dos poderes, entretanto essa “guarida
transfigurada” é robusta o suficiente para modificar o gênero (de casa para museu) de uma
mesma espécie de arquivo, e assim possibilitar o resguardo da economia já presente nos
pertences abrigados na casa da família Freud.

Fica, portanto, justificada através da presença do espaço museal agindo simultaneamente em


pontos tão cruciais do texto, a afirmativa que de é o museu um dos tipos do arquivo. A
legitimação do uso da obra “Mal de Arquivo” (Derrida, 2001) ultrapassa o que aqui foi
delimitado como lugar-comum (o museu), estando sua verdadeira justificativa no caráter
teórico do trabalho aqui em construção.

O ponto central dessa empreitada trata, como já foi anteriormente exposto, da conceituação
dos termos caros a esta elaboração acadêmica (memória/arquivo). Para tanto, é primordial
estabelecer como as sentenças do léxico derridariano definem arquivo para, a partir desse
deslocamento, estabelecer a distinção com o conceito de memória e posteriormente comparar
com a realidade presente no objeto de estudo selecionado, o MAC.PE.

Em sua obra, Derrida (2001) apresenta determinantes para a efetivação do arquivo enquanto
suporte mnêmico. Um dos primeiros movimentos perpassa pelo questionamento do ímpeto da
construção do que seja seu conceito, tal elaboração\ é dada pelo autor como “a um só tempo
técnica e política, ética e jurídica” (p. 7, 2001), e provoca em seu primeiro movimento a
indagação a respeito desses conjuntos formados. Fica evidente que não é de forma acidental o
agrupamento estabelecido entre “técnica” e “política”, tão pouco entre “ética” e “jurídica”.
Tais termos, seus sentidos e a leitura que lhes é determinada apresentam os primeiros sinais
dos efeitos e repercussão do arquivo.

“[...] Os desastres que marcam o fim do milênio são também arquivos do mal: dissimulados ou
destruídos, interditados desviados, “recalcados”. Seu tratamento é ao mesmo tempo massivo e refinado
ao longo de guerras civis ou internacionais, de manipulações privadas ou secretas.” (DERRIDA, 2001)

É através desses conceitos que se principia o questionamento dos efeitos da não efetivação
dos arquivos nas esferas técnica, política, ética e jurídica. Quão prejudicados estarão cada um
desses âmbitos institucionais? É relevante observar a saturação de técnicas, políticas das mais
distintas ordens, questões éticas e jurídicas em qualquer espécie de arquivo. Aqui neste
primeiro momento, já é possível vislumbrar a presença da manipulação do arquivo.
29
Manipulação esta, que por ora apenas havia sido exposta enquanto eram feitos os
apontamentos a cerca da presença do museu na produção aqui abordada.

Para apresentar a primeira necessidade de tratamento do conceito-chave de sua obra, Derrida


(2001), discorre sobre a distinção entre aquilo que o arquivo efetivamente é, e aquilo a que
este é reduzido.

“Não devemos começar distinguindo o arquivo daquilo a que o reduzimos frequentemente, em especial
a experiência da memória e o retorno à origem, mas também o arcaico e o arqueológico, a lembrança
ou a escavação, em suma, a busca do tempo perdido?” (DERRIDA, 2001).

A polissemia presente no termo “reduzir” torna necessário deslocar as atenções para o


vocábulo. O termo possui, de acordo com o dicionário vulgar 20, ao menos duas acepções
relevantes para a teoria firmada por Derrida (2001). Primeiramente pela definição
apresentada como “simplificação (uma fração)” (2006, p. 690). Esta orienta a construção no
sentido de ser o arquivo uma reunião de parcelas de conceitos distintos, tal qual como partes
constituidoras de um total. Se assim o fosse, esta leitura iria direcionar à máxima de que o
arquivo é mais que memória, embora o conceito de memória se faça presente entre as
exigências de sua definição. Dito isso, mesmo se esta definição conseguisse abranger as
intenções primárias do texto, não se efetivaria diante dos demais conceitos apresentados ao
longo da obra por Derrida. Resta como segunda opção o direcionamento de leitura para a
outra definição apresentada, “transforma-se” (2006, p. 690). Esta é designação que consegue
apreender toda a complexidade presente no termo arquivo. Ao efetivar a leitura do vocábulo
“reduzir” como transformação, se reafirma a intenção de ser o arquivo o produto resultante de
um processo de transmutação, dito de outra forma, no conceito de arquivo, que tem por
formação três outros conceitos – suporte externo, consignação e autoridade hermenêutica, há
a produção de uma origem, mas não é possível, através dele retornar ao evento original, visto
que lhe é uma interpretação externa.

Assim, tendo em mente a direção necessária à leitura, esta produção segue para destrinchar
sobre as determinantes do arquivo, explanando sobre quais seriam as condições que devem
ser, minimamente, alcançadas para que o arquivo possa se estabelecer. Logo, não pode haver
experiência arquivística fora dos termos abaixo:

20
Mini Aurélio – 6ª edição revista e atualizada.
30
“[...] Exterioridade de um lugar, operação topográfica de uma técnica de consignação, constituição de
uma instância e de um lugar de autoridade (o arconte, o Arkheion, isto é, frequentemente o Estado e até
mesmo um Estado patriárquico ou fratriárquico), tal seria a condição do arquivo [...]”. (DERRIDA,
2001).

Estes três aspectos, “exterioridade de um lugar, técnica de consignação e instância e lugar de


autoridade” (p. 8, 2001) demonstram as três características essenciais elencados por Derrida
para a efetivação do arquivo.

A primeira condição a ser listada é a de localização. De acordo com o autor faz-se obrigatório
um lugar para além daquilo que se deseja rememorar. O arquivo tem que ultrapassar o limite
psíquico que é a memória, a exterioridade do suporte em que o arquivo se constitui é vital ao
termo chave da produção de Derrida (2001). Não é possível a disposição de arquivo sem esse
lugar exterior, o lugar que suporta a marca e a impressão. A ruptura (entre arquivo e memória)
é instituída mesmo quando o suporte se dá no próprio corpo, na própria carne. Derrida (2001)
sentencia: “Não há arquivo sem o espaço instituído de um lugar de impressão. Externo,
diretamente no suporte, atual ou virtual.” (2001, p.8). Mesmo diante da virtualidade de nossos
dias, o arquivo deve estar para além da memória, ultrapassando-a em todas as suas vertentes.
Tal situação se efetiva através da instituição de registros, sejam estes caracterizados por
materiais mais usuais tal qual e-mails, timelines, livros, cadernos, fotografias, esculturas ou
quadros, seja pela marca na própria carne, como acontece no caso das tatuagens, cicatrizes,
formas corporais e o próprio uso do corpo como expressão. Todas essas condições e muitas
outras são exterioridades, marcas de acontecimentos, desígnios culturais e condições
psicossociais que compõem inúmeros arquivos e o acesso a estes, revela as construções de
cada indivíduo ou grupo social.

No que se refere à operação de consignação, a ideia só pode ser compreendida por completo
através da análise feita por Derrida:

“... por consignação não entendemos apenas, no sentido corrente dessa palavra, o fato de designar uma
residência ou confiar, pondo em reserva, em um lugar e sobre um suporte, mas o ato de consignar
reunindo os signos. Não é apenas a consignatio tradicional, a saber, a prova escrita, mas aquilo que
toda e qualquer consignatio supõe de entrada. A consignação tende a coordenar um único corpus em
um sistema ou uma sincronia na qual todos os elementos articulam a unidade de uma configuração
ideal. Num arquivo, não deve haver dissociação absoluta, heterogeneidade ou segredo que viesse a
separar secernere, compartimentar de modo absoluto. O princípio arcôntico do arquivo é também um
princípio de consignação, isto é, de reunião.” (DERRIDA, 2001).

31
É imprescindível compreender que para o conceito aqui trabalhado, é inconcebível a ideia de
“dissociações absolutas” (2001, p. 14) entre os documentos ali recolhidos, ou seja, o arquivo
não suporta heterogeneidades totais; todos os elementos, objetos ou documentos que o
compõem devem se dispor a resultar no que o autor chama de “configuração ideal” (2001, p.
14), dito de outra forma, o conteúdo ali reservado deve fazer parte de um sistema comum,
onde mesmo elementos distintos constituem um quadro coeso, unificado, e é sob essa
necessidade de reunião que se efetua o exercício hermenêutico sobre o seu conteúdo.

Por fim resta a característica que abrange o que se refere à determinação da instância e do
lugar de autoridade. De todas as propriedades inerentes ao arquivo, esta é a mais política
delas, já que é aqui que as intenções do arquivo se efetuam.

“O sentido de “arquivo”, seu único sentido, vem para ele do arkheion grego: inicialmente uma casa, um
domicílio, um endereço, a residência dos magistrados superiores, os arcontes, aqueles que comandavam
[...] Não eram responsáveis apenas pela segurança física do depósito e do suporte. Cambiam-lhes
também o direito e a competência hermenêuticos. Tinham o poder de interpretar os arquivos.
Depositados sob a guarda desses arcontes, estes documentos diziam, de fato, a lei: eles evocavam a lei e
convocavam à lei. [...] Mesmo em sua guarda ou em sua tradição hermenêutica, os arquivos não podiam
prescindir de suporte nem de residência.”. (DERRIDA, 2001).

A determinação do que aqui é chamado de “instância e do lugar de autoridade” (p.7, 2001)


tem consequência direta sob os demais aspectos, uma vez que é indispensável o espaço e
quem por este responda para que se concretize a salvaguarda – física e conceitual do material
resguardado. “Para serem assim guardados, na jurisdição desse dizer a lei eram necessários
mesmo tempo um guardião e uma localização.”. (p. 13, 2001). Este guardar está em muito
ligado, como dito na citação acima, à interpretação dos arquivos, e consequentemente à
construção da consignação dos mesmos. É a autoridade hermenêutica responsável que vai
designar o sistema ou como foi dito anteriormente, a “configuração ideal” (2001, p.14) que irá
reger o arquivo. No tocante à tensão entre o “secreto” e o “não secreto” do mesmo, também
há nesta característica a influência da autoridade aqui discutida, uma vez que é a soberania
daquele que se fizer responsável pela materialidade de que é composto o arquivo, que
determinará se esta será mantida ou alterada de acordo com as intenções de uso, preservação
e/ou divulgação.

A importância da figura do arconte se evidencia de acordo com a apresentação das


determinantes do conceito de arquivo, demonstrando que a autoridade dentro da experiência
arquivística se origina em um dos dois princípios presentes no arquivo, a saber, Arkhê do
32
comando. Derrida (2001) dispõe os princípios como físico ou ontológico: “Ali onde as coisas
começam” (p. 11, 2001) e como comando ou nomológico, “princípio da lei ali onde os deuses
e os homens comandam” (p. 11, 2001). É importante salientar que esse Ali apresentado pelo
autor em ambos os princípios, trata do poder que emana do “Arkheion grego” (p. 12, 2001), a
residência dos arquivos, estando, aí representadas as ordens que dão o verdadeiro sentido à
presença da autoridade sobre o arquivo, a saber, o começo e o comando. Estas são as
diretrizes de autoridade do conceito-chave dessa produção, a menção “ao originário, ao
primeiro, ao principal, ao primitivo em suma, ao começo. Porém, ainda mais, ou antes, o
“arquivo” remete ao arkhê no sentido nomológico, ao arkhê do comando.” (p. 12, 2001).

Após relacionar as propriedades do arquivo, se torna simples estabelecer a distinção entre este
e o outro termo caro a esta produção, a memória. Entretanto antes de abordar as diferenças
serão apontadas as particularidades comuns com o foco da obra de Derrida (2001), o arquivo.
A memória, tal qual o arquivo, detêm entre suas características a incapacidade de apreensão
do total. A lembrança se constitui sempre como um recorte, um ponto de vista, elaborada a
partir dos olhos de um espectador, podendo ainda ser modificada pela presença de relatos ou
arquivos de outrem.

A representação apresentada na obra Mal de Arquivo (Derrida, 2001), a saber, o Bloco


Mágico citado ainda antes por Freud, dá conta – embora tenha sua representatividade
problematizada por Derrida –, da descrição materializada do processo psíquico que resulta na
memória. Tal instrumento consiste em uma placa de cera, de tamanho e formato próximos aos
de um caderno ou bloco de notas, anteposta por um filme plástico espesso preso apenas na
parte superior do objeto e uma espécie de caneta sem tinta ou ponta. Tal estrutura permite ao
usuário do produto que inscreva sobre o filme plástico, porém as marcas produzidas poderão
ser apagadas ao se levantar e assim separar o filme plástico da placa de cera. Contudo, a placa
de cera que serve de suporte para as inscrições das impressões produzidas no filme plástico,
faz às vezes, em Freud, do inconsciente que preserva, de forma distorcida, cada nova marca
recolhida pelo aparelho psíquico, acumulando inscrições de tal forma que em determinado
instante, não será mais possível ler as impressões ali realizadas. Apesar da impossibilidade de
leitura, as marcas permanecem ali preservadas. Assim age a memória, sendo reelaborada a
cada nova informação recebida, construindo a cada novo dado uma nova cena mnemônica. As
distorções, sejam elas proveniente do recorte realizado pelo campo de visão de quem capturou

33
a ação, sejam elas oriundas de acessos a arquivos externos, não permitem a ressurreição plena
e livre de manipulação do evento original.

No que cabe aos elementos diferenciais que se recolhem nos conceitos, a mais relevante neste
momento da discussão está relacionada à deficiência oriunda da memória, na sua
incapacidade de perpetuação. É nesse déficit que se faz valer o arquivo, naquilo que o autor,
nas primeiras páginas de sua obra, apresenta como “a impaciência absoluta de um desejo de
memória” (2001, p.9).

Ao focar na instituição utilizada como lugar de teste, é possível estabelecer as relações entre
as determinantes do arquivo e da memória e as práticas museais ali praticadas. Das
precariedades listadas no primeiro capítulo dessa produção, dentre elas, e talvez de forma
mais grave, a ausência de documentação adequada, afeta o MAC.PE de forma profunda,
produz no corpo do espaço museal aquilo que Derrida (2001) apresenta e já foi aqui exposto,
como “o secreto e o heterogêneo” (2001, p. 14). Tais fatores, embora não permitam
conclusões sobre sua origem como causa, ou como resultado, são responsáveis pelas ameaças
à consignação, geram consequências incalculáveis: O espaço não tem mais condições de
produzir ou fomentar arte; as oficinas há muito não são mais realizadas, as exposições que
ainda conseguem serem produzidas ali – Exposições que em geral não contam com nenhum
auxílio do órgão responsável, FUNDARPE – são eventos pontuais, muito distintos das
movimentações artísticas de outrora. Outro reflexo das duras consequências sofridas pelo
MAC.PE se encontra no próprio acervo – a inconsistência das ações públicas faz com que,
muitas das peças mais relevantes não tenham condições de estar em exposição 21. Retornando
novamente para a situação da documentação, esta não está muito melhor que as outras áreas o
espaço museal, e é essa situação que impede pesquisadores de acessar o rico material ali
resguardado.

As consequências aqui apresentadas já forneceriam uma base sólida o suficiente para a


afirmação de que o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco não se realiza enquanto
instituição. Mas outro lado da questão emerge quando se observa que o espaço apesar de estar

21
Essa impossibilidade se dá por muitos aspectos que abrangem desde o estado das áreas de exposição – a verba
para manutenção do prédio histórico é ínfima, quando existente – Até problemas com a segurança ou mesmo as
condições das obras de arte. Para mais: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2016/07/mac-esta-em-estado-
de-abandono-constata-auditoria-do-tce.html.
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com suas funções comprometidas, mantém ações que reverberam na comunidade, como a
parceria estabelecida com o “Projeto Acervo Educativo”, que “se propõe a realizar curadorias
educativas a partir de acervos de todos os tipos, públicos ou privados, oriundos de museus,
instituições culturais, bibliotecas, arquivos, obras de domínio público e outros, visando à
criação de materiais e atividades de caráter educativo, tais como exposições, mostras, eventos,
materiais gráficos e outros” 22, ou exposições temporárias como o projeto “Ora Bolas” 23 que
expos obras de todo território brasileiro, abrigando no mesmo espaço artísticas consagrados e
novos nomes. A instituição também vem funcionando como pouso para exposições itinerantes
como o projeto da artista plástica Elisa Lobo, “Janelas contemporâneas” 24
. Estas ações
somadas às tentativas de reestruturação25 fornecem corpo suficiente para atestar a realização
institucional do MAC.PE? Ultrapassando as problemáticas do espaço, é importante ressaltar
que mesmo com a teoria de Derrida (2001) não tendo sido desenvolvida para o caso
específico do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, nem sequer tendo sido
projetada para os limites culturais ou arquivísticos do Brasil, o incômodo se fez presente. O
choque entre as práticas arquivomuseais realizadas na instituição e a filosofia social
apresentada pelo autor gerou a produção acadêmica aqui presente. É inegável que existe um
nível de realização institucional do espaço que contradiz a produção de Derrida (2001): O
MAC.PE dispõe de uma realidade onde a memória faz às vezes de suporte ao arquivo, porém
assim como o descrito em Mal de Arquivo (Derrida, 2001), essa configuração cobra seu preço
e o espaço museal perece diante dela.

Seguindo o caminho teórico de Derrida (2001), encontra-se uma abordagem relevante que em
muito se articula não apenas com o processo vivido pela instituição aqui abordada, mas com o
próprio jogo estabelecido em museus. Trata-se da “Pulsão de Morte”. Um conceito de Freud
que Derrida faz uso para descrever, o que talvez possa ser classificado como a grande
manipulação do arquivo.

22
Para mais: https://lupaedu.hotglue.me/?acervoeducativo .
23
Para mais: http://fliporto.net/ora-bolas-no-mac-olinda/.
24
Para mais: http://www.cultura.pe.gov.br/canal/espacosculturais/linhas-e-bordados-tecem-exposicao-no-mac/.
25
Para mais: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/artes-plasticas/noticia/2016/10/02/reforma-e-projeto-
prometem-nova-vida-ao-mac-pe-254913.php, http://defender.org.br/tag/pernambuco/page/3?print=print-search e
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/artes-plasticas/noticia/2016/10/20/mac-pe-abre-mostra-com-a-
colecao-chateaubriand-257354.php.
35
“A pulsão de morte e, acima de tudo, anarquívica, poderíamos dizer, arquiviolítica. Sempre foi, por
vocação, silenciosa, destruidora do arquivo [...] A pulsão de morte é também [...] uma pulsão de
agressão e de destruição, [...] ela leva não somente ao esquecimento, à amnésia, à aniquilação da
memória como mneme ou anamnesis; a saber, o arquivo, a consignação, o dispositivo documental ou
monumental como hupomnema, suplemento ou representante mnemotécnico, auxiliar ou memento. Pois
o arquivo, se esta palavra ou esta figura se estabiliza em alguma significação, não será jamais a
memória nem a anamnese em sua experiência espontânea, viva e interior. Bem ao contrário: o arquivo
tem lugar em lugar da falta originária e estrutural da chamada memória.” (DERRIDA, 2001).

Dada a Pulsão de Morte e sua relação com arquivo (será preciso ter sempre em mente o
museu como um dos inúmeros tipos de arquivo), passa a ser lógica a conclusão apresentada
pelo autor, onde o arquivo necessita da ausência da memória para se fazer presente; Ao
adentrar no espaço museal, o objeto se perde de seu significado original. Ali, a partir daquele
instante, estará apenas o seu espectro. Os objetos, os fatos, os seres são arquivados para
poderem ser esquecidos. É o arquivo que permite a amnésia, é a amnésia que o justifica. É a
Pulsão de morte que age no MAC.PE justificando-o, destruindo-o.

É possível ir mais a fundo, é essa pulsão “arquiviolítica” (2001, p. 21) que justifica a
determinante social que se esconde no acesso da vez maior aos arquivos, essa quantidade
incalculável de informações revela o quão hipomnésica é a memória, entretanto, de acordo
com Derrida (2001) uma compulsão que tende a destruir o arquivo, essa “Anankê, a
necessidade invencível” (2001, p. 21) se concretiza justamente através da pulsão de morte.

“O arquivo é hipomnésico. E notemos de passagem um paradoxo decisivo sobre o qual não teremos
tempo de nos deter mas que condiciona sem dúvida toda esta proposta: se não há arquivo sem
consignação em algum lugar exterior que se assegure a possibilidade da memorização, da repetição, da
reprodução ou da reimpressão, então lembremo-nos também que a própria repetição, é, [...]
indispensável da pulsão de morte. Portanto, da destruição. Consequência: diretamente Naquilo que
permite e condiciona o arquivamento só encontraremos aquilo que expõe à destruição e, na verdade,
ameaça de destruição, introduzindo a priori o esquecimento e a arquiviolítica no coração do
monumento. No próprio “saber de cor”. O arquivo trabalha sempre a priori contra si mesmo.”.
(DERRIDA, 2001).

Os fatos aqui apresentados, a teoria exposta, não permitem classificar o lugar de teste dessa
produção como pertencente ao conjunto dos arquivos? Diante de tudo até aqui exposto, como
não transfigurar o museu em uma das exemplificações do Arkheion? Como não enxergar
tamanha compatibilidade? A presença de tais condições evidencia a soberania por trás do
movimento de autoridade no arquivo – soberania esta também presente no museu. E são estas,
as mesmas que trazem à tona a malícia característica do arquivo – e do museu, que “não se

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efetua nunca através de um ato de anamnese intuitiva que ressuscitaria viva, inocente ou
neutra, a originalidade de um acontecimento.” (p. 8, 2001). É através da perspectiva daqueles
detentores do poder hermenêutico que surgem as delimitações de acesso e mais uma vez se
permite o vislumbre do espaço museal na obra selecionada, afinal quais seriam as funções de
museólogos, curadores e expógrafos senão a de Arcontes? Não serão eles os responsáveis pela
salvaguarda, leitura, interpretação e acima de tudo seleção do que será exposto? Doravante,
através do conhecimento das determinantes do arquivo e da análise do lugar de teste, o
MAC.PE, fica consolidada a construção aqui presente, que visa demonstrar as determinantes
arquivísticas presentes nos espaços museais.

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REFERÊNCIAS

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1979, vol. 1;

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In: Maria Leinad Vasconcelos Carbogin. (Org.). Memória Viva de Icapuí. 1ª ed.Fortaleza:
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COMBE, Sonia. Resistir à razão do Estado. In: Marlon Salomon (Org.). Saber dos Arquivos.
Edições Ricochete. Goiânia-GO. 2011;

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: Uma impressão freudiana. Editora Relume-Dumará.


Rio de Janeiro. 2001;

LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In: História e Memória. 4ª ed. Campinas:


Editora da Unicamp, 1996;

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