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FAVORITOS (HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/ESTANTE/FAVORITOS/)
Jorge Ferreira
27 Out 2018
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Jorge
28/10/2018Ferreira, professor de5 história do aBrasil
livros para conhecer história da da UFF
República (Universidade
no Brasil - Nexo Jornal Federal
Fluminense) indica cinco livros para conhecer a história republicana
Indicar livros sobre a história da República no Brasil às vésperas do segundo turno das eleições
presidenciais de 2018 não é tarefa fácil. Sobretudo porque as escolhas são influenciadas pelas
preocupações com o presente mais imediato e com o futuro próximo da sociedade brasileira. É
momento para refletir sobre a trajetória republicana brasileira, a questão democrática e as
tradições autoritárias que, por vezes, seduzem a imaginação política brasileira.
Entre os livros escolhidos há os que discutem como foi construído o conceito de cidadania no
Brasil, mas também de um conjunto de imagens e representações fortemente arraigado no
imaginário social brasileiro: o anticomunismo. Outra reflexão importante às vésperas das
eleições é sobre a crise política que resultou no fim da experiência democrática de 1946-1964,
momento em que o país conheceu processos de radicalização política, à esquerda e à direita. Não
foi a primeira vez, nem a última, em que a sociedade brasileira conheceu o processo de
polarização política. Mas também há livros que exploram o longo período autoritário da ditadura
militar e a reconstrução da democracia no país com ampla mobilização popular por uma
Constituição democrática e, como se costuma dizer, cidadã.
Por que, no Brasil, os cidadãos desconfiam da política e, ao mesmo tempo, estão prontos a seguir
um líder carismático? Que tipo de cidadania existe no Brasil? Ou melhor, como neste país se
construiu um conceito de cidadania e uma experiência democrática? O livro examina tais
questões, apontando que, desde a década de 1930, a cidadania no Brasil passa pela questão dos
direitos sociais (trabalhistas em especial) e pela luta pela extensão da participação política a eles
vinculados. Tal processo envolve, necessariamente, a ação dos trabalhadores em defesa
permanente de direitos arduamente conquistados e frequentemente ameaçados, para que uma
sociedade menos desigual e mais democrática seja assegurada para todos os brasileiros.
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28/10/2018 5 livros para conhecer a história da República no Brasil - Nexo Jornal
Trata-se de um estudo sobre as manifestações do anticomunismo no Brasil entre os anos 1920 e
1960, enfocando seus argumentos, representações e ações políticas. Alguns capítulos do livro
abordam registros iconográficos, representações e matrizes discursivas, enquanto outros
analisam o papel do anticomunismo na construção das engrenagens repressivas estatais. A
questão central do livro é mostrar como as representações e as campanhas anticomunistas
abriram caminho para as duas ditaduras marcantes da história brasileira, uma vez que
estimularam a formação de poderosas coalizões direitistas. O tema adquiriu atualidade no
contexto presente, em vista da guinada direitista que em grande medida se baseia em discursos
anticomunistas. A leitura do livro significa importante contribuição à compreensão da nossa
história, mas também lança luz sobre dilemas do tempo presente.
O livro trata do governo de João Goulart e da crise política que resultou no golpe de Estado de
1964. Para a autora, o golpe não era inevitável. Ela recusa as versões que ressaltam as
conspirações como fatores decisivos para o colapso da democracia no Brasil naquele ano. Seu
argumento central é que entre 1961 e 1964 os atores políticos fizeram escolhas que inviabilizaram
as possibilidades de implementar acordos e compromissos em torno das reformas, ao mesmo
tempo preservando o regime de democracia-liberal. Em detalhado estudo, Argelina Figueiredo
demonstra que tais oportunidades existiram, mas o processo de radicalização e permanente
confronto fragilizou o governo Goulart, retirando dele a capacidade de deter o movimento
golpista direitista.
O livro permite ao leitor conhecer a trajetória da ditadura militar brasileira. Desde os dois
primeiros generais-presidentes, a ditadura mostrou-se autoritária, violenta, repressiva,
intolerante e discricionária. O autor analisa diversos momentos daquele período, como os
chamados “anos de chumbo”, o “milagre econômico” e a “abertura” de Geisel, cujo projeto não
era a democratização do país. Conhecemos também a reação da sociedade ao autoritarismo,
sobretudo na segunda metade dos anos 1970, com estudantes, sindicalistas e movimentos sociais
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28/10/2018 5 livros para conhecer a história da República no Brasil - Nexo Jornal
contestando a ditadura. Especialista em questões relativas à cultura, o autor dedica três capítulos
ao tema. Com redação voltada para o grande público, mas sem perder o rigor historiográfico, o
autor considera que o golpe foi civil-militar, mas que a ditadura foi essencialmente militar.
Também questiona a divisão dos militares da época em “duros” e “moderados”, recusando
explicações simplificadoras. Com razão, defende que ditadura militar nada teve de branda. Foi
regime autoritário que perseguiu, torturou e assassinou. O livro termina com a discussão sobre o
estabelecimento de diversas memórias sobre aquele período, seja a dos militares, a das
esquerdas e a dos liberais, esta última compreendida pelo autor como a vitoriosa: culpabilizou a
todos – esquerdas e direitas radicais – pelo desastre autoritário, ao mesmo tempo em que se
absolve, embora os mesmos liberais tenham apoiado o golpe contra Goulart em atitude
liberticida.
Tornou-se costume dizer que os anos 1980 foram a “década perdida”. Nada mais enganoso.
Maria Helena Versiani nos mostra a grande mobilização popular em torno da questão
democrática: a reorganização de movimentos sociais, a formação de partidos políticos, as
campanhas pelos direitos das mulheres, dos negros, dos índios, dos deficientes físicos, entre
diversos outros atores sociais. Em seu livro, Versiani nos mostra a grande mobilização popular
durante a Constituinte na luta por um país em que a palavra democracia não deveria constar
apenas no texto constitucional. A formação do Movimento Nacional pela Participação Popular na
Constituinte fomentou a criação de diversas organizações similares em estados e municípios. O
auge da mobilização foi o Encontro Nacional de Plenários Pró-Participação Popular na
Constituinte. A “Constituição Cidadã”, na definição de Ulysses Guimarães, não surgiu pelo
suposto progressismo dos constituintes, mas, em grande parte, pela pressão popular organizada
no Congresso Nacional. A autora trabalha com milhares de cartas que indivíduos, instituições,
associações e movimentos sociais, vindas de todas as partes do país, escreveram aos
constituintes com reivindicações diversas, sobretudo no sentido de instituir um efetivo regime
democrático. Rico material iconográfico enriquece a análise. Versiani, em seu livro, demonstra
que, com o fim da ditadura, a cidadania foi construída no país com a participação dos próprios
cidadãos.
Jorge Ferreira é doutor em história social pela USP, professor titular do programa de pós-
graduação em história social da UFF e professor visitante do programa de pós-graduação em
história da Universidade Federal de Juiz de Fora. É autor de “João Goulart: Uma biografia” e
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organizador da coleção “O Brasil5 livros para conhecer a história da República no Brasil - Nexo Jornal
Republicano”, que acaba de ganhar novo volume, feito em
parceria com Lucília Junqueira de Almeida Prado.
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