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“Manual de Comunicação LGBT”

Introdução: Percurso Teórico

A proposta de análise do Manual de Comunicação LGBT ocorreu por meio de um


processo de busca e encadeamento de conceitos. A tese inicial tratava-se de discutir verbetes
supostamente errados trazidos pelo Manual. O verbete causador de maior efeito de rejeição
foi a definição de ​pansexual​: “Termo polêmico que se refere a pessoas cujo desejo sexual é
abrangente, podendo se dirigir inclusive a objetos.” No entanto, num movimento de
afastamento do conteúdo para se ver o panorama discursivo, o questionamento tornou-se
“porque esse verbete foi interpretado como incorreto?”, “o que causou esse efeito de
sentido?”. A busca por uma resposta levou a um percurso de conceitos. Iniciou-se pelas
condições de produção e a pergunta: quem é o sujeito que emitiu o discurso interpretado
como errado e de qual posição ele fala de forma que seu enunciado possa ser categorizado
como correto ou incorreto? Na ausência de uma resposta concreta ao analisar a instituição
responsável pela produção do Manual, algo da materialidade que poderia justificar o
equívoco, o olhar então se voltou à questão da autoria: o que constitui um autor, um sujeito,
como produtor de um manual (que também pode ser interpretado analogamente a um
dicionário, como será comentado na ocasião da descrição do material). Quem é o lexicógrafo
como sujeito de discurso e como o erro pode ser explicado à guisa de esquecimentos e
apagamentos? Novamente, o questionamento à luz de um conceito levou à consideração de
outro; as relações de força, projeções e formações imaginárias. Apesar da disposição
sequencial dada à essa introdução, o percurso descrito não ocorreu de forma linear, de um
ponto de partida a um ponto de chegada, e sim como várias partes que serviram a esclarecer
um todo, uma mesma pergunta: qual a razão do efeito de sentido produzido pela leitura do
Manual, efeito de erro, equívoco, ausência? Esta análise não se propõe, de forma alguma, a
ser exaustiva, muito menos de trazer uma resposta definitiva aos questionamentos. O que se
propõe a fazer é dispor as conclusões chegadas a cada etapa do percurso por meio dos
conceitos resgatados durante a pesquisa.
O material de análise: uma descrição

Um primeiro passo no percurso será uma breve descrição do material analisado. O


objetivo do Manual é esclarecer terminologias a fim de prevenir problemas na abordagem de
questões LGBT por meios de comunicação, conforme descrito na introdução:

Esse Manual, além de explicar didaticamente a terminologia correta a ser


usada para falar sobre homossexualidades, lesbianidades, bissexualidades,
travestilidades e transexualidades, serve ainda para que profissionais de
comunicação não corram o risco de sofrer ações de danos morais e cometer
crimes de injúria, calúnia ou difamação.

O Manual é dividido em doze partes, separadas por categorias de assunto. Cada parte contém
definições e explicações acerca de diversos aspectos da experiência LGBT e sugestões para
como abordar (ou por vezes não abordar) na mídia. As seções são 1) Sexualidade; 2)
Orientação sexual; 3) Identidade de gênero; 4) Atitude social; 5) Homofobia; 6) Aids; 7)
Política e militância; 8) União estável e família; 9) Religião; 10) Datas; 11) Símbolos
do Movimento LGBT; 12) A ABGLT. Também contém quatro anexos ao final, 1) Código
de Ética dos Jornalistas, 2) Projeto de Lei da Câmara Federal 122/06 (criminalização da
homofobia), 3) Resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia (“normas de atuação
para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual”) 4) o Projeto de Lei 4.914/09
(união homoafetiva).

Início do percurso: os “equívocos”

Na primeira leitura do Manual, o objetivo foi buscar regularidades, questões que


repetidamente capturassem o interesse e fossem da esfera linguística/discursiva,
transcendendo a materialidade do conteúdo. Apesar desta tentativa, o primeiro passo que
alavancou a pesquisa foi um confronto com as definições apresentadas, em especial as
seguintes:
Drag queen: Homem que se veste com roupas femininas de forma satírica e
extravagante para o exercício da profissão em shows e outros eventos. Uma
drag queen não deixa de ser um tipo de “transformista” (consultar abaixo o
termo), pois o uso das roupas está ligado a questões artísticas – a diferença
é que a produção necessariamente focaliza o humor, o exagero.
Estupro: (...) De acordo com o Código Penal Brasileiro, estupro é a
penetração do pênis na vagina sem o consentimento da mulher. As outras
formas de violência sexual, inclusive as praticadas contra os homens, são
classificadas como atentado violento ao pudor, apesar de algumas
popularmente serem chamadas de estupro. Nesse caso, perante o Código
Penal, gays e lésbicas, em especial os primeiros, têm reduzidas (ou
inexistentes) chances de processar agressores(as) sexuais recorrendo ao crime
de estupro: as relações sexuais forçadas, neste caso, são consideradas
atentados violentos ao pudor.(...)
Pansexual: Termo polêmico que se refere a pessoas cujo desejo sexual é abrangente,
podendo se dirigir inclusive a objetos.

A primeira impressão, e que inicialmente norteou a pesquisa foi de que estas definições
estavam erradas, ou continham equívocos e que seria produtivo buscar nas condições de
produção fatores que justificassem o erro. Uma drag queen não é somente um homem em
roupas femininas para fins artísticos, há toda uma questão de identidade de gênero atrelada. O
crime de estupro não mais se restringe à penetração do pênis na vagina. A pessoa pansexual
se difere da bissexual em que não se trata de uma atração dentro do binarismo de gênero e
engloba atração por indivíduos em todos os pontos do espectro de identidade de gênero e não
tem relação alguma com atração por objetos. Muitos desses supostos equívocos repetem
conceitos muito correntes no senso comum da população em geral. Uma das hipóteses
levantada foi que devido ao Manual se destinar a profissionais da comunicação, pessoas que
podem não ter tanto contato com nomenclaturas e a população LGBT, houve uma escolha
consciente de aproximar as definições de um padrão que seria aceito pelo senso comum e
facilmente compreendido por leigos. Ou até que os erros teriam acontecido devido a falta de
conhecimento dos produtores do Manual. No entanto, nenhuma destas linhas de investigação
se mostrou produtiva. Mesmo que se confirmasse uma escolha ou desconhecimento dos
autores, isso nada diz a respeito do efeito de sentido provocado. Não se pode falar em
“escolha consciente” quando se trata de um sujeito psicológico. O desejo do sujeito empírico
não faz diferença alguma, uma vez que ele está submetido ​aos efeitos de memória, da história
e do próprio funcionamento da língua. Sendo assim, não fazia sentido indagar quanto à
natureza do sujeito empírico, uma vez que não importa quem é a pessoa no mundo, mas sim
como esta se coloca no discurso como sujeito de linguagem.
Apesar do abandono da linha de pesquisa da natureza dos autores do Manual, a
questão de condições de produção ainda se manteve relevante, mas dessa vez se referindo às
condições discursivas e não materiais. Como foi mencionado na descrição do material,
pode-se considerar o Manual com um funcionamento análogo ao de um dicionário. Há um
sujeito que seleciona quais itens lexicais são relevantes e quais podem ser apagados. Há uma
definição de cada um numa estrutura “X é Y” Nunes (2006). E como ocorre com dicionários,
espera-se que estes tragam uma transparência nos sentidos, o que provavelmente explica a
reação ao perceber falhas e vazios nas definições trazidas pelo Manual. Considerando o
Manual como um dicionário terminológico, pode-se por analogia considerar os sujeitos
produtores como sujeitos lexicógrafos, que serão analisados como tais.
As condições de produção de um dicionário em nada se diferem das condições de
quaisquer discursos emitidos por sujeitos em todas as esferas discursivas. Há um sujeito
inconsciente, que não é totalmente responsável por seus ditos e não ditos. Ocorrem
apagamentos, silenciamentos, opacidade. No dicionário se apresenta o mesmo jogo de um A
que produz o discurso a um destinatário B, cada um ocupando sua posição e tendo sua
posição dada pela sua relação com o outro. O sujeito lexicógrafo toma esta posição ao
assumir um sujeito que consulta e valida seus ditos. Por sua vez, o sujeito receptor do
discurso assume a sua emissão por uma figura de autoridade na língua, detentora de um
conhecimento inacessível a si, que se torna acessível no ato de produção do dicionário. E é
nesta questão da relação autor-lexicógrafo com seu receptor que a questão dos erros no
Manual se torna interessante. Ao assumir na figura dos autores competência nos assuntos
pertinentes à população LGBT e suas terminologias, é conferida uma aura de infalibilidade,
transparência e cristalização linguística. Todavia, o que se pode observar, do ponto de vista
discursivo, é justamente o contrário. Sendo o autor um sujeito da língua, o que se deve
esperar é justamente a opacidade, os esquecimentos e apagamentos. A memória discursiva
não deixa de agir aí, selecionando e antecipando o dizível disponível ao autor.
Tais relações entre autor-produtor não são, de forma alguma, simétricas e iguais. Há
um constante jogo de poder, de hierarquização entre quem fala o que, quem pode falar o que
e a quem tal e tal coisa pode ser dita. Estas posições não são rígidas, mas são criadas no
momento da emissão do discurso e da posição que os sujeitos envolvidos atribuem um ao
outro, bem como projeções advindas do contexto sócio-histórico e as memórias do já-dito.
Como postula Eni Orlandi,
Temos assim a imagem da posição sujeito locutor (quem sou eu para lhe falar
assim?) mas também da posição sujeito interlocutor (quem é ele para me falar
assim, ou para que eu lhe fale assim?, e também a do objeto de discurso (do que eu
estou lhe falando, do que ele me fala?). É pois todo um jogo imaginário que preside
a troca de palavras. (ORLANDI, 2010 p.40)

Retornando ao contexto do Manual, é possível hipotetizar que a causa do


estranhamento frente ao conteúdo do texto se dá pela discrepância entre a posição tomada
pelo sujeito locutor, que não foi bem sucedido em posicionar-se, uma vez que ao mesmo
tempo que se colocou como figura de autoridade nos assuntos abordados, trouxe à tona toda a
bagagem de memória histórica-cultural corrente no senso comum e na linguagem brasileiras.
Podem ser levantados diversos outros supostos equívocos e apagamentos, como a ausência
completa de esclarecimentos da Assexualidade, o foco em questões mais pertinentes à
história e cultura de homens homossexuais, em detrimento de questões feministas e do
restante do espectro de gênero, problema bastante recorrente na cultura do Brasil (e também
de outros lugares do mundo em que se fala de cultura LGBT), mas tais questões são mais
indicadas para uma análise sociológica do que linguística (apesar de isso não significar, de
forma alguma, que não sejam perpassadas por elementos linguísticos). Na análise que se
propôs aqui, de pensar a autoria e sua relação com seus interlocutores, vê-se que não é
possível realizar atos de fala e discurso fora do dizível delimitado pelas memórias e relações
de interdiscurso.

Referências Bibliográficas

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.


PÊCHEUX, M. Análise de Discurso. Michel Pêcheux: textos escolhidos por Eni Orlandi. Campinas: Pontes,
2011.
Nunes, José Horta. ​Dicionários no Brasil: análise e história.​ FAPESP, 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E
TRANSEXUAIS. Manual de Comunicação LGBT. Ferdinando Martins, Lilian Romão, Liandro Lindner,
Toni Reis. (Org.) [Curitiba]: Ajir Artes Gráficas e Editora, 2010.
Garcia, Dantielli Assumpção, and Lucília Maria Abrahão. "A MANUALIZAÇÃO DO SABER LINGUÍSTICO
E A CONSTITUIÇÃO DE UMA LINGUAGEM NÃO SEXISTA." ​Línguas & Letras​ 17.35.

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