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Resumo: O presente trabalho situa-se no campo de estudos da educação superior e tem por
finalidade apresentar como se constituiu o sistema de seleção unificado (SiSU) apresentado
como uma nova forma de ingresso ao ensino superior público, bem como a nova proposta de
utilização do exame nacional do ensino médio (ENEM). Trata-se de uma pesquisa qualitativa,
onde a coleta de dados foi realizada a partir do levantamento de fontes documentais (leis,
planos, decretos, etc.) e estudos de cunho bibliográficos. Realizamos a disposição do texto da
seguinte maneira: inicialmente apresentamos uma breve contextualização dos “processos
seletivos” para ingresso à educação superior pública, com vistas a sua apropriação e
localização numa perspectiva histórica mais abrangente; posteriormente, delineamos como se
constituiu a nova forma de ingresso o sistema de seleção unificada (SiSU) e o processo
seletivo novo ENEM. Os processos seletivos passaram ao longo da história da educação
superior pública por modificações até chegarmos ao presente momento, com uma nova
configuração o “novo ENEM e o SiSU”, que é defendido pelo ministério da educação como
uma forma de ingresso às universidades mais democrático, possibilitando maior inclusão
social e mobilidade acadêmica, além de reestruturação curricular do ensino médio. As
universidades puderam aderir ao novo modelo de quatro maneiras: como fase única, com
sistema de seleção unificada, informatizado; como primeira fase; combinado com o vestibular
da instituição; e como fase única para as vagas remanescentes do vestibular. Porém, há muitas
dúvidas e desconfianças, se esse novo modelo realmente romperá com os modelos que já
existiram ao longo do percurso histórico do país. Ainda não está claro que efeito a mudança
para um sistema de seleção unificado terá sobre as questões de ingresso ao ensino superior
público. Mas podemos ponderar que as mudanças ocorridas nos processos seletivos ao longo
da história brasileira não perderam a sua essência.
Palavras-chave: Processos Seletivos. Novo ENEM. SISU.
Introdução
De acordo com Cunha (2000), para ingressar nas escolas superiores, desde 1808, era
necessário que os candidatos se sujeitassem aos exames de estudos preparatórios, porém,
está regra não se direcionava aos alunos do Colégio Pedro II, que, a partir de 1837, passaram
a ter direito ao ingresso a qualquer curso do ensino superior do Império.
Neste momento histórico começam-se pressões e lutas das elites regionais para que
ocorressem facilidades para o ingresso à educação superior, levando, os exames preparatórios
a serem obtidos “perante juntas especiais, no Rio de Janeiro, depois nas capitais das
províncias, o prazo de validade da aprovação passou de instantânea para permanente; os
exames foram parcelados”. (CUNHA, 2000, p. 155).
Na primeira República (1889-1930), segundo Cunha (2000), o federalismo tornou-se o
escape principal do novo regime, as províncias transformaram-se em estados regionais por
constituições, além de ser um momento marcado pela luta de liberais e positivadas pelo
“ensino livre” e dos positivistas contra os privilégios dos diplomas escolares. Nas primeiras
décadas da República, intensificou-se a procura pelo ensino superior, o que gerou uma
facilitação do ingresso. Foram criadas Reformas que reforçavam este direito.
A Reforma Benjamim Constant (Decreto Nº. 981 DE 08.11.1890): na qual ocorreu a
criação do exame de madureza que se realizaria na última série do secundário, dando ao
candidato aprovado a condição de matricular-se em qualquer escola superior do País. Logo
em seguida surge a Reforma Rivadávia Corrêa (DECRETO 8.659 DE 05.04.1911): oficializa-
se a implementação do exame de admissão como forma de seleção para o ingresso à
educação superior, originando-se assim os processos de seleção para ingresso a universidade
“com a criação do “exame de madureza” organizou-se e padronizou-se os currículos de todas
as escolas secundárias, que deveriam seguir o modelo do Colégio Pedro II, alargando e
facilitando o acesso à Educação Superior”. (SOUZA, 2007, p.81)
Posteriormente surgiu a Reforma Carlos Maximiano (DECRETO 11.530 DE
18.03.1915): neste momento os exames de admissão passam a ser chamados de exames
vestibulares e o critério de ingresso exigido é o certificado do ensino secundário.
Sucessivamente apresenta-se a Reforma Rocha Vaz (DECRETO 17782.A DE 13.03.1925):
tinha a finalidade de conter o fluxo de passagem do ensino secundário para o ensino superior,
ao limitar vagas e introduzir o critério classificatório.
Em relação aos exames vestibulares, por meio da Reforma Francisco Campos
(DECRETO 1851 DE 11.04.1931) o Estatuto das Universidades Brasileiras manteve a
admissão inicial nos cursos via aprovação “nos exames vestibulares, que passam a ser
realizados pela natureza dos cursos almejados e fica restrito à algumas disciplinas
consideradas pré-requisitos mais importantes”. (SOUZA, 2007, p. 82).
Em 1942, período do Estado Novo, com a Reforma Gustavo Capanema criaram-se os
exames de licença exames aplicados aos estudantes que concluíssem o curso clássico ou o
curso científico, dando-lhes o direito, se aprovados, de ingressar em qualquer curso de ensino
superior. Esses exames foram extintos mais tarde pelo Decreto nº 9.303 de 27 de maio de
1946, que concedia um certificado de conclusão no final da 4º série do ginásio ou na 3º série
colegial.
A partir de 1945, inicia-se a fase da República Populista, período do qual foi aprovado
em 1946 uma nova Constituição de princípios liberais e democráticos. Neste mesmo ano,
apresenta-se o projeto de lei que se configuraria na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional:
que não alterou a forma de seleção instituída pelo Estatuto das Universidades
Brasileiras de 1931, mas para facilitar o ingresso das camadas médias à
educação superior, instituiu a equivalência entre os diversos ramos dos
cursos de Ensino Médio, possibilitando o ingresso na Educação Superior a
todos os egressos de qualquer curso de Ensino Médio e trazendo tendências
favoráveis ao sistema privado de ensino. (SOUZA, 2007, p. 83).
1
Conhecido como Processo Seletivo Seriado (PSS) ou Processo Seletivo de Avaliação Seriada (PAS), é um
método de seleção que difere do vestibular tradicional principalmente por ser realizado enquanto o estudante está
cursando o ensino médio. Funciona da seguinte maneira: o aluno faz sua inscrição em uma instituição que realiza
a Avaliação Seriada quando ainda estiver no 1º ano do Ensino Médio. Ao final de cada ano (1º, 2º e 3º) ele faz
uma prova e só escolhe a carreira no final do 3º ano. As provas são semelhantes às do vestibular tradicional
(Redação mais teste de múltipla escolha – algumas incluem questões discursivas), com uma diferença básica de
conteúdo: ela exige o que foi aprendido naquele ano e não nos três. Apenas em algumas instituições o conteúdo é
cumulativo (ao final do 2º ano, conteúdos de 1º e 2º anos, e ao final do 3º o conteúdo dos três anos, como no
vestibular).
I – conferir ao cidadão parâmetro para auto-avaliação, com vistas à
continuidade de sua formação e à sua inserção no mercado de trabalho;
II – criar referência nacional para os egressos de qualquer das modalidades
do ensino médio;
III – fornecer subsídios às diferentes modalidades de acesso à educação
superior;
IV – constituir-se em modalidade de acesso a cursos profissionalizantes pós-
médio.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) foi criado pela Portaria Ministerial nº
438 de 28 de 1998, instituído de início com a finalidade de avaliar, anualmente, o
desempenho do estudante ao fim da escolaridade básica e, com isso, auxiliar na elaboração de
políticas educacionais, podendo ser utilizado também como ingresso no ensino superior de
forma isolada ou concomitante com outro processo seletivo. A partir de 2005, no governo
Lula, o ENEM passou a ser utilizado como forma de ingresso no Programa Universidade Para
Todos (PROUNI), conforme o disposto no art. 3º da lei nº 11.096.
A partir de 2009, o governo do então presidente Luis Inácio Lula da Silva, reformulou
a proposta da prova anunciando o Novo ENEM como o novo processo seletivo das
universidades públicas do Brasil. Junto com que essa medida, surge o Sistema de Seleção
Unificada (SiSU) que é o sistema informatizado utilizado para selecionar os candidatos.
O MEC apresentou a Proposta à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições
Federais de Ensino Superior (ANDIFES) com as seguintes justificativas:
para conseguir a adesão dos administradores das IFES a tal processo seletivo
externo, o ministro Fernando Haddad prometeu repassar recursos para as
mesmas, a fim de ressarci-las da perda de recursos que arrecadam com a
realização desses concursos, que por conta da falta de verbas, acabou
virando uma fonte de renda (não carimbada) das referidas instituições.
(SIQUEIRA, 2009, não paginado)
Segundo Haddad, o MEC terá que dobrar esse volume de recursos para
atender à futura demanda provocada pela possível substituição do atual
modelo de vestibular por uma avaliação nacional nos moldes do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem). [...] “Eu vou anunciar aqui que vamos
ampliar o programa de assistência estudantil, sobretudo com foco nas
instituições que aderirem [à nova proposta de avaliação]. (RIBEIRO, 2009,
não paginado)
Diante dessa informação, constata-se que ocorre uma contrapartida financeira, embora
não esteja explícita nas legislações e portarias, para as universidades que aderiram à seleção
unificada proposta pelo Governo.
Podemos ressaltar conclusivamente que de acordo com a intenção do MEC o SiSU foi
criado com a finalidade de possibilitar
Considerações finais
Um número cada vez mais crescente de pessoas deseja cursar o ensino superior
público, gerando a necessidade de ampliar e diversificar as possibilidades de ingresso a
conhecimentos e a informações considerados de alto nível. Porém, a discussão sobre
processos seletivos democratizantes é sempre polêmica, já que nesse debate se configuram
concepções discrepantes sobre direito à educação, à igualdade de oportunidades, a função
social da universidade, os exames meritocráticos de seleção, o privilégio, o elitismo, a
seletividades social e recentemente se discute a questão da inclusão social.
Os processos seletivos foram se modificando ao longo da história educacional
brasileira, até chegarmos ao presente momento, com uma nova configuração o “Novo Enem e
o SiSU”, que aparece como um processo democratizante, segundo a defesa do Ministério da
Educação. Porém, há muitas dúvidas e desconfianças, se esse novo modelo realmente romperá
com os modelos que já existiram ao longo do percurso histórico do país.
De acordo com o professor Roberto Leher:
Ainda não está claro que efeito a mudança que um sistema de seleção unificado terá
sobre as questões de ingresso ao ensino superior público. Dessa forma, recomenda-se que as
análises que se procedam sobre os processos seletivos levem em consideração que a referida
temática, apesar da centralidade que possui no âmbito do ingresso à educação superior
pública, representa um dos elementos do processo. Em outras palavras, precisa-se levar em
conta os diversos aspectos que condicionam a realidade concreta. Assim, apresentá-los
significa dar a conhecer uma parte de um todo abrangente e complexo, exigindo-se um exame
mais minucioso de certas particularidades, o que pode ser alcançado pela produção de novas
pesquisas.
Referências
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