Sunteți pe pagina 1din 39

Frank O’Hara

Poemas
Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

Na manhã de 24 de julho de 1966, um domingo, o poeta Frank O’Hara estava na praia, em Fire
Island, perto de Nova York, quando foi atropelado por um buggy. Levado ao hospital, com o
fígado dilacerado, ele morreria na manhã seguinte. Seu desaparecimento prematuro, aos
quarenta anos, interrompeu uma carreira muito peculiar que unia os mundos da poesia e das
artes plásticas. Naqueles anos em que Nova York fervilhava como o centro mundial da arte de
vanguarda, Frank O’Hara estava no centro do centro. E era um de seus mais refinados poetas.

Nos quinze anos anteriores, ele havia passado, no MoMA, onde trabalhava, do posto de
atendente no balcão de informações a um dos mais importantes curadores. Conviveu com
artistas como Jackson Pollock, Willem de Kooning, John Cage e Merce Cunningham. Figura
agregadora, ele era conhecido pela sua generosidade para com seus amigos e pela intensidade
com que vivia. Ao mesmo tempo, e, dado seu ritmo de vida, quase milagrosamente, escrevia
poemas sem parar, todos os dias, freneticamente. Um de seus livros, Lunch poems, tem este
título justamente porque seus versos foram escritos durante os intervalos para almoço no museu.

Em geral enquadrada na “New York School”, a obra de Frank O’Hara é totalmente pessoal. As
influências são múltiplas e vão do surrealismo francês ao simbolismo, passando por Maiakóvski
e a pintura expressionista. No livroDigressions on some poems by Frank O’Hara, de Joe
LeSueur, seu antigo companheiro, nos damos conta do quanto seus poemas são autobiográficos,
nem tanto no sentido de antigas reminiscências, mas muito sobre aquilo que aconteceu naquele
dia, naquela hora.

Frank O’Hara nunca foi publicado, em livro, no Brasil, embora seus poemas apareçam
traduzidos, esporadicamente, em sites e blogs literários.

AUTOBIOGRAPHIA LITERARIA

When I was a child


I played by myself in a
corner of the schoolyard
all alone.

I hated dolls and I


hated games, animals were
not friendly and birds
flew away.

If anyone was looking


for me I hid behind a
tree and cried out “I am
an orphan.”

And here I am, the


center of all beauty!
writing these poems!
Imagine!
AUTOBIOGRAPHIA LITERARIA

Quando eu era criança


eu brincava sozinho
canto do pátio da escola
totalmente solitário.

Eu detestava bonecos e eu
detestava jogos, os animais não eram
amigáveis e os pássaros
saíam voando.

Se alguém ficasse olhando


para mim eu me escondia atrás
de uma árvore e berrava “eu sou
um órfão.”

E aqui estou eu, o


centro de toda a beleza!
escrevendo estes poemas!
Imaginem!

JOSEPH CORNELL

Into a sweeping meticulously detailed disaster the violet light pours. It’s not a sky, it’s a
room. And in the open field a glass of absinthe is fluttering its song of India. Prairie winds
circle mosques.

You are always a little too young to understand. He is bored with his sense of the past, the
artist. Out of the prescient rock in his heart he has spread a land without flowers of near
distances.

JOSEPH CORNELL

Dentro de um meticulosa-mente detalhado desastre emana a luz violeta. Não é um céu, é um


quarto. E no campo aberto um copo de absinto está agitando sua canção da Índia. Ventos da
pradaria circundam mesquitas.

Você é sempre um pouco novo demais para compreender. Ele está entediado com a sua noção
de passado, o artista. Para além da rocha presciente em seu coração, ele espalhou uma terra
sem flores de distâncias próximas.

POEM

Instant coffee with slightly sour cream


in it, and a phone call to the beyond
which doesn’t seem to be coming any nearer.
“Ah daddy, I wanna stay drunk many days”
on the poetry of a new friend
my life held precariously in the seeing
hands of others, their and my impossibilities.
Is this love, now that the first love
has finally died, where there were no impossibilities?

POEMA

Café instantâneo com um pouco de creme


azedo, e uma chamada telefônica mais além
a qual não parece estar ficando nem um pouco mais próxima.
“Ah, papai, eu quero me embebedar por muitos dias”
na poesia de um novo amigo
minha vida se segura precariamente em ver
as mãos dos outros, as deles e as minhas impossibilidades.
Será isso é amor, agora que o primeiro amor
finalmente morreu, lá onde não existiam impossibilidades?

POEM

“Two communities outside Birmingham, Alabama, are


still searching for their dead.” — News Telecast

And tomorrow morning at 8 o’clock in Springfield, Massachusetts,


my oldest aunt will be buried from a convent.
Spring is here and I am staying here, I’m not going.
Do birds fly? I am thinking my own thoughts, who else’s?

When I die, don’t come, I wouldn’t want a leaf


to turn away from the sun — it loves it there.
There’s nothing so spiritual about being happy
but you can’t miss a day of it, because it doesn’t last.

So this is the devil’s dance? Well I was born to dance.


It’s a sacred duty, like being in love with an ape,
and eventually I’ll reach some great conclusion, like assumption,
when at last I meet exhaustion in these flowers, go straight up.

POEMA

“Duas comunidades próximas a Birmingham, no Alabama, ainda


estão procurando por seus mortos.” — News Telecast

E amanhã cedo às 8 da manhã em Springfield, Massachusetts,


minha tia mais velha sairá do convento para ser enterrada.
A primavera está aqui e eu ficarei por aqui, eu não vou.
Pássaros voam? Eu estou pensando meus próprios pensamentos, de quem
mais?

Quando eu morrer, não venha, eu não iria querer que uma folha
se afastasse do sol — ele a adora lá.
Não há nada esotérico sobre estar feliz
mas você não pode perder um dia, porque isso não dura.

E então, será esta a dança do diabo? Eu nasci para dançar.


É um dever sagrado, como se apaixonar por um macaco,
e no fim eu vou acabar chegando a alguma grande conclusão, como suposição,
quando eu finalmente encontrar a exaustão nestas flores, vou direto para o alto.

JUNE 2, 1958

Oh sky over the graveyard, you are blue,


you seem to be smiling! Or are you sneering?
under the captured moss a little girl
is climbing, come closer! why it’s Maude,
or Maudie, as she’s sometimes called. I think
she is looking for the turtle. Meanwhile,
back at Patsy Southgate’s, two grown men
are falling off a swing into a vat of Bloody Marys.
It’s Sunday and the trains run on time. What
a wonderful country it is, so black and blue
airy green, leaning out a window
thinking of the sea and the uncomfortable sand.

2 DE JUNHO, 1958

Ó céu sobre o cemitério, você está azul,


e parece estar sorrindo! Ou está zombando?
sob o musgo aprisionado uma garotinha
está escalando, chegue mais perto! por que é a Maude,
ou Maudie, como ela é às vezes chamada. Eu acho
que ela está procurando sua tartaruga. Enquanto isso,
na casa de Patsy Southgate, dois homens crescidos
estão mergulhando num barril de Bloody Mary.
É domingo e os trens estão no horário. Que
país maravilhoso é este, tão preto e azul
arejado e verdejante, debruçando-se na janela
pensando no mar e no desconforto da areia.
RIVER

Whole days would go by, and later their years,


while I thought of nothing but its darkness
drifting like a bridge against the sky.
Day after day I dreamily sought its melancholy,
its searchings, its soft banks enfolded me,
and upon my lenghtening neck its kiss
was murmuring like a wound. My very life
became the inhalation of its weedy ponderings
and sometimes in the sunlight my eyes,
walled in water, would glimpse the pathway
to the great sea. For it was there I was being borne.
Then for a moment my strengthening arms
would cry out upon the leafy crest of the air
like whitecaps, and lightning, swift as pain,
would go through me on its way to the forest,
and I’d sink back upon that brutal tenderness
that bore me on, that held me like a slave
in its liquid distances of eyes, and one day,
though weeping for my caress, would abandon me,
moment of infinitely salty air! Sun fluttering
like a signal! upon the open flesh of the world.

RIO

Dias inteiros vão-se embora, e depois seus anos,


enquanto eu penso em nada a não ser na sua escuridão
à deriva como uma ponte contra o céu.
Dia após dia eu sonhadoramente persigo sua melancolia,
suas buscas, suas margens suaves me envolvem,
e sobre o meu alongado pescoço, seu beijo
murmurava como uma ferida. Minha vida
se tornou a inalação de suas ponderações de ervas
e algumas vezes, sob a luz do sol, meus olhos,
cercados na água, terão um vislumbre do caminho
que leva ao grande mar. Porque foi lá que eu vim ao mundo.
E então por um momento meus braços estendidos
vão gritar por sobre a frondosa copa do ar
como cristas de ondas, e relâmpagos, rápidos como a dor,
passarão através de mim em direção à floresta,
e eu me afundarei diante daquela brutal ternura
que me sustenta, que me segura como um escravo
na sua distância líquida de olhos, e um dia,
ainda que chorando por minhas carícias, me abandonará,
momento de ar infinitamente salgado! O sol palpitando
como um sinal! por sobre a carne aberta da terra.
A RASPBERRY SWEATER

to George Montgomery

It is next to my flesh,
that’s why. I do what I want.
And in the pale New Hampshire
twilight a black bug sits in the blue,
strumming its legs together. Mournful
glass, and daisies closing. Hay
swells in the nostrils. We shall go
to the motorcycle races in Laconia
and come back all calm and warm.

UM SUÉTER FRAMBOESA

para George Montgomery

Está junto à minha carne,


é por isso. Eu faço o que eu quero.
E no pálido crepúsculo de New Hampshire
um besouro preto senta-se no azul,
batendo ao mesmo tempo suas pernas. Vidro
em luto, e margaridas se fechando. Ondulações
de alfafa nas narinas. Nós devemos ir
às corridas de motocicletas em Laconia
e depois voltar tranquilos e aquecidos.

YESTERDAY DOWN AT THE CANAL

You say that everything is very simple and interesting


it makes me feel very wistful, like reading a great Russian novel does
I am terribly bored
sometimes it is like seeing a bad movie
other days, more often, it’s like having an acute disease of the kidney
god knows it has nothing to do with the heart
nothing to do with people more interesting than myself
yak yak
that’s an amusing thought
how can anyone be more amusing than oneself
how can anyone fail to be
can I borrow your forty-five
I only need one bullet preferably silver
if you can’t be interesting at least you can be a legend
(but I hate all the crap)
ONTEM LÁ EMBAIXO NO CANAL

Você diz que tudo é muito simples e interessante


o que me faz sentir bem melancólico, como ao ler um grande romance russo
eu me sinto terrivelmente entediado
algumas vezes é como assistir a um filme ruim
em outros dias, mais frequentemente, é como ter uma doença aguda nos rins
deus sabe que isso não tem nada a ver com o coração
nada a ver com pessoas mais interessantes do que eu
besteira besteira
este é um pensamento divertido
como pode alguém ser mais divertido do que si mesmo?
como pode alguém não conseguir?
posso pegar emprestada sua quarenta e cinco?
eu só preciso de uma bala, de preferência de prata
se você não pode ser interessante pelo menos pode ser uma lenda
(mas eu odeio toda essa merda)

THE DAY LADY DIED

It is 12:20 in New York a Friday


three days after Bastille day, yes
it is 1959 and I go get a shoeshine
because I will get off the 4:19 in Easthampton
at 7:15 and then go straight to dinner
and I don’t know the people who will feed me

I walk up the muggy street beginning to sun


and have a hamburger and a malted and buy
an ugly NEW WORLD WRITING to see what the poets
in Ghana are doing these days
I go on the bank
and Miss Stillwagon (first name Linda I once heard)
doesn’t even look up my balance for once in her life
and in the GOLDEN GRIFFIN I get a little Verlaine
for Patsy with drawings by Bonnard although I do
think of Hesiod, trans. Richmond Lattimore or
Brendan Behan’s new play or Le Balcon or Les Nègres
of Genet, but I don’t, I stick with Verlaine
after practically going to sleep with quandariness

and for Mike I just stroll into the PARK LANE


Liquor Store and ask for a bottle of Strega and
then I go back where I came from the 6th Avenue
and the tobacconist in the Ziegfeld Theatre and
casually ask for a carton of Gauloises and a carton
of Picayunes, and a NEW YORK POST with her face on it
and I am sweating a lot by now and thinking of
leaning on the john door in the 5 SPOT
while she whispered a song along the keyboard
to Mal Waldron and everyone and I stopped breathing

O DIA EM QUE A DAMA MORREU[1]

São 12:20 em Nova York, uma sexta-feira


três dias após o dia da Bastilha, sim
é 1959 e eu vou engraxar os sapatos
porque eu vou sair do 4:19 em Easthampton
às 7:15 e então ir direto jantar
e eu não conheço as pessoas que me darão de comer

eu caminho pela rua úmida começando a bater sol


e peço um hambúrguer e um achocolatado e compro
um feio NEW WORLD WRITING para saber o que os poetas
em Gana têm feito ultimamente
eu vou ao banco
e a senhorita Stillwagon (cujo primeiro nome é Linda, uma vez eu ouvi)
nem sequer por uma única vez na vida olha para meu extrato
e na GOLDEN GRIFFIN eu pego um pequeno Verlaine
para a Patsy com desenhos de Bonnard, embora eu tenha
pensado em Hesíodo, trad. de Richard Lattimore ou
na nova peça de Brendan Behan ou em Le Balcon ou Les Nègres
de Genet, mas não, eu fico com o Verlaine
depois de praticamente ir dormir com o dilema

e para o Mike eu dou uma passada na loja de bebidas da


PARK LANE e peço uma garrafa de Strega e depois
eu volto por onde eu tinha vindo, da 6ª Avenida
e a na tabacaria no Teatro Ziegfeld eu
distraidamente peço um pacote de Gauloises e um pacote
de Picayunes, e um NEW YORK POST com o rosto dela estampado

e eu estou transpirando um bocado agora e pensando em


dar uma entrada no banheiro do 5 SPOT
enquanto ela sussurrava uma canção junto ao piano
de Mal Waldron e eu e todo o mundo paramos de respirar

TO MY DEAD FATHER

Don’t call to me father


wherever you are in
still your little son
running through the dark
I couldn’t do what you
say even if I could hear
your roses no longer grow
my heart’s black as their

bed their dainty thorns


have become my face’s
troublesome stubble you
must not think of flowers

And do not frighten my


blue eyes with hazel flecks
or thicken lips when
I face my mirror don’t ask

that I be other than your


strange son understanding
minor miracles not death
father I am alive! Father

forgive the roses and me

PARA MEU PAI MORTO

Não me chame, pai


onde quer que você esteja
ainda o seu filhinho
correndo pela treva

eu não poderia fazer o que você


fala, ainda que eu pudesse ouvir
suas rosas não crescem mais
meu coração está negro como suas

camas, seus delicados espinhos


se tornaram os problemáticos
pelos na minha face, você
não deve pensar em flores

E não assuste meus


olhos azuis, manchas cor de avelã
ou lábios grossos, quando
eu olhar para meu espelho, não diga

que eu seja outro que não seu


estranho filho, entendendo
pequenos milagres, não morto
pai eu estou vivo! Pai

perdoe as rosas e a mim.


A STEP AWAY FROM THEM

It’s my lunch hour, so I go


for a walk among the hum-colored
cabs. First, down the sidewalk
where laborers feed their dirty
glistening torsos sandwiches
and Coca-Cola, with yellow helmets
on. They protect them from falling
bricks, I guess. Then onto the
avenue where skirts are flipping
above heels and blow up over
grates. The sun is hot, but the
cabs stir up the air. I look
at bargains in wristwatches. There
are cats playing in sawdust.
On
to Times Square, where the sign
blows smoke over my head, and higher
the waterfall pours lightly. A
Negro stands in a doorway with a
toothpick, languorously agitating.
A blonde chorus girl clicks: he
smiles and rubs his chin. Everything
suddenly honks: it’s 12:40 of
a Thursday.
Neon in daylight is a
great pleasure, as Edwin Denby would
write, as are light bulbs in daylight.
I stop for a cheeseburger at JULIET’S
CORNER. Giulietta Masina, wife of
Federico Fellini, è bell’ attrice.
And chocolate malted. A lady in
foxes on such a day puts her poodle
in a cab.
There are several Puerto
Ricans on the avenue today, which
makes it beautiful and warm. First
Bunny died, then John Latouche,
then Jackson Pollock. But is the
earth as full as life was full, of them?
And one has eaten and one walks,
past the magazines with nudes
and the posters for BULLFIGHT and
the Manhattan Storage Warehouse,
which they’ll soon tear down. I
used to think they had the Armory
Show there.
A glass of papaya juice
and back to work. My heart is my
pocket, it is Poems by Pierre Reverdy.

A UM PASSO LONGE DELES

É meu horário de almoço, então eu saio


para uma caminhada em meio ao zumbido alaranjado
dos táxis. Primeiro, descendo pela calçada
onde trabalhadores alimentam seus sujos
e cintilantes torsos, sanduíches
e Coca-Cola, usando capacetes amarelos.
Que os protegem de quedas de
tijolos, eu acho. Então pela
avenida, onde saias vão rodopiando
sobre os saltos e decolam acima
dos bueiros . O sol está quente, mas os
táxis fazem o ar se mover. E olho
relógios à venda em pechincha. Há
gatos brincando na serragem.
Rumo
ao Times Square, onde o cartaz
solta fumaça sobre minha cabeça, e mais alto
uma cascata escorre, levemente. Um
negro de pé numa porta com uma
escova de dentes, se agita lânguido.
Uma garota loira do coral dá um estalo: ele
sorri e esfrega seu queixo. Tudo,
de repente, buzina: são 12:40 de
uma quinta-feira.
O neon à luz do dia é um
grande prazer, como Edwin Denby poderia
escrever, assim como são lâmpadas à luz do dia.
Eu paro para um cheeseburger no JULIET’S
CORNER. Giulietta Masina, mulher de
Federico Fellini, è bell’ attrice.
E chocolate maltado. Um senhora com
estola num dia como este mete seu poodle
num táxi.
Há um monte de porto-
riquenhos na avenida hoje, o que
a faz bonita e cálida. Primeiro
Bunny morreu, depois John Latouche,
e então Jackson Pollock. Mas está a
terra tão repleta deles, quanto a vida esteve?
E já se comeu e agora se caminha,
passando por revistas com nus
e por posters com TOURADAS e
a Manhattan Storage Warehouse,
que eles em breve demolirão. Eu
antes pensava que o Armory Show
aconteceu lá.
Um copo de suco de papaia
e de volta ao trabalho. Meu coração é meu
bolso, são os Poemas de Pierre Reverdy.

POEM

Wouldn’t it be funny
if The Finger had designed us
to shit just once a week?

all week long we’d get fatter


and fatter and then on Sunday morning
while everyone’s in church
ploop!

POEMA

Não teria sido engraçado


se O Dedo tivesse nos projetado
para cagar só uma vez por semana?

ao longo de toda a semana nós engordaríamos


e engordaríamos e então, na manhã de domingo
com todo o mundo na igreja
plup!

POEM

All of a sudden all the world


is blonde. The Negro on my left
is blonde, his eyes are brimming
like a chalice, he is melting
the gold.
Beside me, passed out
on the floor, a novelist burns a hole
in my pants and he is blonde,
even the cigarette is. Some kind
of Russian cigarette.
Jean Cocteau
must be blonde too. And the music
of William Boyce.
Yes, and what
comes out of me is blonde.
POEMA

E de uma hora pra outra todo o mundo


é loiro. O negro à minha esquerda
é loiro, seus olhos se enchem
como um cálice, ele está fundindo
o ouro.
Junto a mim, desmaiado
no chão, um romancista queima um buraco
em minhas calças e ele é loiro,
até o cigarro é. Algum tipo
de cigarro russo.
Jean Cocteau
também deve ser loiro. E a música
de William Boyce.
Sim, e o que
sai de dentro de mim é loiro.

A TRUE ACCOUNT OF TALKING TO THE SUN AT FIRE ISLAND

The Sun woke me this morning loud


and clear, saying “Hey! I’ve been
trying to wake you up for fifteen
minutes. Don’t be so rude, you are
only the second poet I’ve ever chosen
to speak to personally
so why
aren’t you more attentive? If I could
burn you through the window I would
to wake you up. You can’t hang around
here all day.”
“Sorry, Sun, I stayed
up last night talking to Hal.”

“When I woke Mayakovsky he was


a lot more prompt” the Sun said
petulantly. “Most people are up
already waiting to see if I’m going
to put in an appearance.”
I tried
to apologize “I missed you yesterday.”
“That’s better” he said. “I didn’t
know you’d come out.” “You may be
wondering why I’ve come so close?”
“Yes” I said beginning to feel hot
wondering if maybe he wasn’t burning me
anyway.
“Frankly I wanted to tell you
I like your poetry. I see a lot
on my rounds and you’re okay. You may
not be the greatest thing on earth, but
you’re different. Now, I’ve heard some
say you’re crazy, they being excessively
calm themselves to my mind, and other
crazy poets think that you’re a boring
reactionary. Not me.
Just keep on
like I do and pay no attention. You’ll
find that people always will complain
about the atmosphere, either too hot
or too cold too bright or too dark, days
too short or too long.
If you don’t appear
at all one day they think you’re lazy
or dead. Just keep right on, I like it.

And don’t worry about your lineage


poetic or natural. The Sun shines on
the jungle, you know, on the tundra
the sea, the ghetto. Wherever you were
I knew it and saw you moving. I was waiting
for you to get to work.

And now that you


are making your own days, so to speak,
even if no one reads you but me
you won’t be depressed. Not
everyone can look up, even at me. It
hurts their eyes.”
“Oh Sun, I’m so grateful to you!”

“Thanks and remember I’m watching. It’s


easier for me to speak to you out
here. I don’t have to slide down
between buildings to get your ear.
I know you love Manhattan, but
you ought to look up more often.
And
always embrace things, people earth
sky stars, as I do, freely with
the appropriate sense of space. That
is your inclination, known in the heavens
and you should follow it to hell, if
necessary, which I doubt.
Maybe we’ll
speak again in Africa, of which I too
am specially fond. Go back to sleep now
Frank, and I may leave a tiny poem
in that brain of yours as my farewell.”

“Sun, don’t go!” I was awake


at last. “No, go I must, they’re calling
me.”

“Who are they?”


Rising he said “Some
day you’ll know. They’re calling to you
too.” Darkly he rose, and then I slept.

UM RELATO VERÍDICO SOBRE UMA CONVERSA COM O SOL NA FIRE


ISLAND

O Sol me acordou esta manhã alto


e claro, dizendo “Ei! eu venho
tentando acordá-lo há quinze
minutos. Não seja tão rude, você é
apenas o segundo poeta que eu já escolhi
para falar pessoalmente
então por que
você não é mais atencioso? Se eu pudesse
tê-lo queimado através da janela para
acordá-lo eu o teria feito. Você não pode ficar
enrolando por aqui o dia todo.”
“Me desculpe, Sol, eu fiquei
acordado a noite passada, conversando com o Hal.”

“Quando eu acordei Maiakóvski ele se mostrou


muito mais disposto”, o Sol disse,
petulante. “Muita gente já está de pé
esperando para ver se eu vou
fazer uma entrada.”
Eu tentei
me desculpar, “eu perdi você ontem.”
“Assim é melhor”, ele disse. “Eu não
sabia se você sairia.” “Você deve estar
pensando por que eu cheguei tão perto?”
“Sim”, eu disse, começando a me sentir quente
pensando que quem sabe ele não estaria me queimando
de qualquer jeito.
“Para ser franco, eu quis contar a você
que eu gosto de sua poesia. Eu vejo muita
em meus giros, e a sua é boa. Você pode
não ser a melhor coisa na terra, mas
você é diferente. É, alguns dizem que
você é louco, eles mesmos sendo, na minha opinião,
excessivamente tranquilos, e alguns
poetas malucos pensam que você é um reacionário e
entediante. Mas não eu.
Apenas siga em frente
como eu faço e não dê atenção. Você verá
que as pessoas sempre reclamam
sobre o clima, que ora está muito quente
ou muito frio ou muito claro ou muito escuro, dias
muito curtos ou muito longos.
Se num belo dia você
simplesmente não aparecer vão pensar que você é preguiçoso
ou que morreu. Apenas siga em frente, eu gosto disso.

E não se preocupe com a sua linhagem,


poética ou natural. O Sol brilha na
floresta, você sabe, na tundra
no mar, no gueto. Em todos os lugares em
que você esteve eu soube e o vi se movendo. Eu estava esperando
que você começasse a trabalhar.

E agora que você


está no controle dos seus dias, por assim dizer,
mesmo que ninguém além de mim o leia
você não deve ficar deprimido. Nem
todos podem olhar para o alto, nem mesmo para mim.
Machuca os olhos.”
“Oh Sol, eu sou tão grato a você!”

“Obrigado e se lembre que eu estou olhando. É


mais fácil para mim conversar com você aqui
fora. Eu não preciso me esgueirar
entre edifícios para chegar aos seus ouvidos.
Eu sei que você adora Manhattan, mas
você deveria olhar para o alto mais vezes.
E sempre
abrace as coisas, pessoas terra
céu estrelas, como eu faço, com liberdade e com
o senso apropriado de espaço. Esta
é a sua inclinação, conhecida nos céus
e você deve segui-la até o inferno, se
necessário, o que eu duvido.

Talvez nós
conversemos novamente na África, pela qual eu também
tenho especial adoração. Volte a dormir agora
Frank, e eu de repente deixo um pequeno poema
nesta sua cabeça, como despedida.”

“Sol, não vá!” Eu estava finalmente


acordado. “Não, ir eu devo, eles estão me
chamando.”
“Quem são eles?”
Levantando, ele disse: “Um
dia você saberá. Eles estão chamando você
também.” Sombrio ele subiu, e então eu dormi.

[1] Refere-se ao dia da morte de Billie Holyday.


Having a coke with you

is even more fun than going to San Sebastian, Irún, Hendaye, Biarritz, Bayonne
or being sick to my stomach on the Travesera de Gracia in Barcelona
partly because in your orange shirt you look like a better happier St. Sebastian
partly because of my love for you, partly because of your love for yoghurt
partly because of the fluorescent orange tulips around the birches
partly because of the secrecy our smiles take on before people and statuary
it is hard to believe when I’m with you that there can be anything as still
as solemn as unpleasantly definitive as statuary when right in front of it
in the warm New York 4 o’clock light we are drifting back and forth
between each other like a tree breathing through its spectacles

and the portrait show seems to have no faces in it at all, just paint
you suddenly wonder why in the world anyone ever did them
.................................................................................I look
at you and I would rather look at you than all the portraits in the world
except possibly for the Polish Rider occasionally and anyway it’s in the Frick
which thank heavens you haven’t gone to yet so we can go together the first time
and the fact that you move so beautifully more or less takes care of Futurism
just as at home I never think of the Nude Descending a Staircase or
at a rehearsal a single drawing of Leonardo or Michelangelo that used to wow me
and what good does all the research of the Impressionists do them
when they never got the right person to stand near the tree when the sun sank
or for that matter Marino Marini when he didn’t pick the rider as carefully
.................................................................................as the horse
it seems they were all cheated of some marvellous experience
which is not going to go wasted on me which is why I’m telling you about it

Tomar coca-cola com você


(contextualização de Ricardo Domeneck)

é ainda mais divertido que ir a São Francisco, La Jolla, Tijuana, Tecate, Ensenada
ou ter o estômago revirado de enjoo na Madison Avenue em Nova Iorque
em parte porque nesta camisa laranja você me parece um São Francisco melhor mais feliz
em parte por causa do meu amor por você, em parte por causa do seu amor por vodca
em parte por causa das margaridas laranja fluorescente cercando os ipês
em parte por causa do mistério que nossos sorrisos vestem diante de gente e estatuária
é difícil de acreditar quando estou com você que pode haver algo tão imóvel
tão solene tão desagradavelmente definitivo quanto estatuária quando bem em frente
no ar quente das quatro da tarde em São Paulo nós vagamos em círculos num vai e vem
como uma árvore respirando por suas oftálmicas

e a exposição de retratos parece não ter qualquer rosto, só tinta


você de repente pergunta-se por que diabos alguém deu-se ao trabalho de pintá-los
.................................................................................eu olho
você e preferiria olhar você a todos os retratos do planeta com exceção
talvez do Auto-Retrato com corrente de ouro de vez em quando que está no MASP
aonde graças aos céus você nunca foi então podemos ir juntos pela primeira vez
e o fato de que você se move tão lindo resolve mais ou menos o Futurismo
assim como em casa eu nunca penso no Nu Descendo uma Escada ou
num ensaio nalgum desenho do Michelangelo ou Da Vinci que antes me deixava boquiaberto
e de que adianta aos Impressionistas toda a sua pesquisa
quando eles nunca conseguiam a pessoa certa para encostar-se à árvore ao pôr-do-sol
ou a propósito Marino Marini se ele não escolheu o cavaleiro com o mesmo cuidado
.................................................................................que o cavalo
é como se tivessem roubado deles uma experiência maravilhosa que eu não pretendo
desperdiçar e é por isso que estou aqui falando tudo isso pra você

Ao capitão do porto

Quis certificar-me que eu chegaria a você;


embora minha nau estivesse a caminho, embaraçou-se
em certas amarras. Estou sempre a ancorar-me
e então decidindo partir. Em tormentas e
no ocaso, com as bobinas metálicas da maré
cercando meus braços abissais, sou incapaz
de entender as formas de minha vaidade
ou mal estou a sotavento com o leme
à mão e o sol a se por. A você
ofereço meu casco e o cordame esfarrapado
de meu querer. Os canais aterradores onde
o vento me lança contra os lábios barrentos
dos juncos ainda não ficaram para trás. Mesmo
assim, confio na sanidade de minha embarcação;
e se naufragar, tanto poderá ser em resposta
ao raciocínio das vozes eternas,
as ondas que me impediram de chegar a você.

(tradução de Ricardo Domeneck)

To the harbormaster
Frank O´Hara

I wanted to be sure to reach you;


though my ship was on the way it got caught
in some moorings. I am always tying up
and then deciding to depart. In storms and
at sunset, with the metallic coils of the tide
around my fathomless arms, I am unable
to understand the forms of my vanity
or I am hard alee with my Polish rudder
in my hand and the sun sinking. To
you I offer my hull and the tattered cordage
of my will. The terrible channels where
the wind drives me against the brown lips
of the reeds are not all behind me. Yet
I trust the sanity of my vessel; and
if it sinks, it may well be in answer
to the reasoning of the eternal voices,
the waves which have kept me from reaching you.

Poema

Há dias em que sinto exalar uma fina poeira


como aquela atribuída a Pilades na famosa
Chronica nera areopagitica ao ser descoberta

e é porque um arqueólogo
adentrou a câmara secreta do meu peito
e chacoalhou o papel que carrega seu nome

Não gosto deste estranho espirrando sobre nosso amor.

(tradução de Ricardo Domeneck)


Canção (Estará sujo)

Estará sujo
como se parece sujo
é o que você pensa na cidade

será que só parece sujo


é o que você pensa na cidade
você não se recusa a respirar recusa

alguém chega com um belo dum mau caráter


parece atraente. será mesmo. sim muito
ele é tão atraente quanto mau caráter. será. sim

é o que você pensa na cidade


passe seus dedos por sua mente sem musgo
isto não é um pensamento é fuligem

e você tira muita sujeira das pessoas


será menos mau o caráter. não. melhora constantemente.
você não se recusa a respirar recusa

(tradução de Ricardo Domeneck)

Song (is it dirty)

Is it dirty
does it look dirty
that's what you think of in the city

does it just seem dirty


that's what you think of in the city
you don't refuse to breathe do you

someone comes along with a very bad character


he seems attractive. is he really. yes very
he's attractive as his character is bad. is it. yes

that's what you think of in the city


run your finger along your no-moss mind
that's not a thought that's soot

and you take a lot of dirt off someone


is the character less bad. no. it improves constantly
you don't refuse to breathe do you
Por que eu não sou pintor

Eu não sou pintor, sou poeta.


Por quê? Eu acho que preferiria ser
pintor, mas não sou. Bem,

por exemplo, Mike Goldberg


começa um quadro. Eu dou
uma passada. "Senta e bebe alguma coisa",
ele diz. Eu bebo; nós bebemos. Eu dou
uma olhada."Você pôs SARDINHAS neste."
"É, precisava de alguma coisa ali."
"Ah." Eu vou e os dias vão-se
e dou outra passada. O quadro
está indo, e eu vou, e os dias
vão-se. Dou uma passada. O quadro está
pronto. "Cadê SARDINHAS?"
Tudo o que sobrou são
letras, "Estava exagerado", diz Mike.

E eu? Um dia começo a pensar sobre


uma cor: laranja. Eu escrevo um verso
sobre laranja. Não demora a tornar-se
uma página inteira de palavras, não de versos.
Então, mais uma página. Deveria ter
tantas coisas mais, não de laranja, de
palavras, de como laranja é horrível,
e a vida. Dias vão-se. É assim mesmo
em prosa, eu sou poeta de verdade. Meu poema
está pronto e eu ainda não mencionei
laranja. São doze poemas, eu chamo de
LARANJAS. E um dia numa galeria
eu vejo o quadro de Mike, chamado SARDINHAS.

(tradução de Ricardo Domeneck)

Why I am Not A Painter

I am not a painter, I am a poet.


Why? I think I would rather be
a painter, but I am not. Well,

for instance, Mike Goldberg


is starting a painting. I drop in.
"Sit down and have a drink" he
says. I drink; we drink. I look
up. "You have SARDINES in it."
"Yes, it needed something there."
"Oh." I go and the days go by
and I drop in again. The painting
is going on, and I go, and the days
go by. I drop in. The painting is
finished. "Where's SARDINES?"
All that's left is just
letters, "It was too much," Mike says.

But me? One day I am thinking of


a color: orange. I write a line
about orange. Pretty soon it is a
whole page of words, not lines.
Then another page. There should be
so much more, not of orange, of
words, of how terrible orange is
and life. Days go by. It is even in
prose, I am a real poet. My poem
is finished and I haven't mentioned
orange yet. It's twelve poems, I call
it ORANGES. And one day in a gallery
I see Mike's painting, called SARDINES.
Para Lígia, após uma festa

Você nem sempre sabe o que estou sentindo. / Ontem à noite no ar morno de setembro enquanto
/ eu brandia uma invectiva contra alguém que não me interessa / era amor por você que me
inflamava, / e não é esquisito? pois em salas cheias de / estranhos minhas emoções mais tenras
/ contorcem-se e / dão à luz o grito. / Estenda sua mão, não há / um cinzeiro, de repente, ali?
Ao lado / da cama? E alguém que você ama adentra o quarto / e diz você não / quer os ovos um
pouco / diferentes hoje? E quando eles chegam são / apenas ovos mexidos comuns e o ar morno
/ permanece.
POEM

Lana Turner has collapsed!


I was trotting alone and suddenly
it started raining and snowing
and you said it was hailing
but hailing hits you on the head
hard so it was snowing and
raining and it was such a hurry
to meet you but the traffic
was acting exactly like the sky
and suddenly I see a headline
LANA TURNER HAS COLLAPSED!
there is no snow in Hollywood
there is no rain in California
I have been to lots of parties
and acted perfectly disgraceful
but I never actually collapsed
oh Lana Turner we love get up

POEMA

Lana Turner desmaiou!


eu andava por aí e então
começou a chover e nevar
e você disse que era granizo
mas granizo bate tão forte
na cabeça que, de resto, era neve e
chuva e eu estava tão doido
pra te encontrar mas o tráfego
agia exatamente como o céu
e aí eu vi uma manchete
LANA TURNER DESMAIOU!
não há neve alguma em Hollywood
não chove na Califórnia
tenho ido a muitas festas
e agido como um perfeito imbecil
mas é fato nunca desmaiei
ah Lana Turner nós te adoramos levanta

MY HEART

I'm not going to cry all the time


nor shall I laugh all the time,
I don't prefer one "strain" to another.
I'd have the immediacy of a bad movie,
not just a sleeper, but also the big,
overproduced first-run kind. I want to be
at least as alive as the vulgar. And if
some aficionado of my mess says "That's
not like Frank!", all to the good! I
don't wear brown and grey suits all the time,
do I? No. I wear workshirts to the opera,
often. I want my feet to be bare,
I want my face to be shaven, and my heart--
you can't plan on the heart, but
the better part of it, my poetry, is open.

MEU CORAÇÃO

Eu não vou chorar o tempo todo


nem devo rir o tempo todo,
não prefiro um "cordel" ao outro.
Eu ficaria com o imediatismo de um mau filme,
não só um filme B, mas também o do tipo grande,
superproduzido, competitivo. Eu queria ser
ao menos tão vívido quanto o vulgar. E se
algum aficionado do meu troço disser "Aquilo
não parece Frank!", tanto melhor! Eu
não uso ternos marrons e cinzas o tempo todo,
uso? Não. Uso camisas de expediente na ópera,
com freqüência. Eu quero meu pé descalço,
meu rosto barbeado, e meu coração-
não se pode planejar no coração mas
a melhor parte dele, minha poesia, aberta.

THE DAY LADY DIED

It is 12:20 in New York a Friday


three days after Bastille day, yes
it is 1959 and I go get a shoeshine
because I will get off the 4:19 in Easthampton
at 7:15 and then go straight to dinner
and I don't know the people who will feed me

I walk up the muggy street beginning to sun


and have a hamburger and a malted and buy
an ugly NEW WORLD WRITING to see what the poets
in Ghana are doing these days
I go on to the bank
and Miss Stillwagon (first name Linda I once heard)
doesn't even look up my balance for once in her life
and in the GOLDEN GRIFFIN I get a little Verlaine
for Patsy with drawings by Bonnard although I do
think of Hesiod, trans. Richmond Lattimore or
Brendan Behan's new play or Le Balcon or Les Nègres
of Genet, but I don't, I stick with Verlaine
after practically going to sleep with quandariness

and for Mike I just stroll into the PARK LANE


Liquor Store and ask for a bottle of Strega and
then I go back where I came from to 6th Avenue
and the tobacconist in the Ziegfeld Theatre and
casually ask for a carton of Gauloises and a carton
of Picayunes, and a NEW YORK POST with her face on it

and I am sweating a lot by now and thinking of


leaning on the john door in the 5 SPOT
while she whispered a song along the keyboard
to Mal Waldron and everyone and I stopped breathing

O DIA EM QUE A DAMA MORREU

É 12:20 em Nova York, uma sexta


três dias depois da queda da Bastilha, sim
é 1959 e ando atrás de um engraxate
porque vou desembarcar do 4:19 em Easthampton
às 7:15 e então vou logo jantar
e não conheço as pessoas que vão me dar de comer

Caminho pela rua mormacenta abrindo-se ao sol


Peço um hambúguer e um maltado e compro
um horrendo NEW WORLD WRITING para ver o que
poetas em Ghana estão fazendo esses dias
e vou ao banco
e a Senhora Stillwagon (primeiro nome Linda, ouvi uma vez)
sequer confere meu saldo pela primeira vez na vida
e no GOLDEN GRIFFIN consigo um Verlaine fino
para Patsy com desenhos de Bonnard, embora tenha
pensado em Hesíodo, trad. Richmond Lattimore, ou
a nova peça de Brendan Behan, ou Le Balcon ou Lê Négres
de Genet, nada disso, insisto no Verlaine
depois de praticamente adormecer de dúvida

e para Mike só avanço pela loja de destilados da


PARK LANE e peço uma garrafa de Strega e
logo retorno de onde eu viera, 6ª Avenida
para a tabacaria do Teatro Ziegfeld e
distraído peço um maço de Gauloises e um maço
de Picauyunes e um NEW YORK POST com o rosto dela

e estou suando em bicas agora e pensando em


recostar-me ao pórtico do 5 SPOT
enquanto ela sussurrava uma canção ante o piano
para Mal Waldron e todo mundo e eu parávamos de respirar
CALL ME

The eager note on my door said "Call me,"


call when you get in!" so I quickly threw
a few tangerines into my overnight bag,
straightened my eyelids and shoulders, and

headed straight for the door. It was autumn


by the time I got around the corner, oh all
unwilling to be either pertinent or bemused, but
the leaves were brighter than grass on the sidewalk!

Funny, I thought, that the lights are on this late


and the hall door open; still up at this hour, a
champion jai-alai player like himself? Oh fie!
for shame! What a host, so zealous! And he was

there in the hall, flat on a sheet of blood that


ran down the stairs. I did appreciate it. There are few
hosts who so thoroughly prepare to greet a guest
only casually invited, and that several months ago.

ME LIGA

A ansiosa nota na minha porta dizia "Me liga,


liga assim que chegar", então joguei depressa
umas tangerinas na minha insone mochila,
franzi as pálpebras, os ombros, e

dirigi-me direto à porta. Era por volta do


outono quando cheguei à esquina, ah tudo
revogado de ser ou paciente ou confuso, mas
as folhas eram mais vivas que a grama na calçada!

gozado, pensei, que as luzes estejam acesas tão tarde


e a porta da sala aberta; até esta hora, um campeão
de jai-alai como ele próprio? Que coisa!
que vergonha! Que zeloso anfitrião! E ele estava

lá, na sala, estirado num lençol de sangue que


fluia escada abaixo. Eu bem que apreciei. Há poucos
anfitriões que tão radicalmente preparam-se para receber
uma visita, convidada meio ao acaso, muitos meses atrás.
SONG OF LOTTA

You're not really sick


if you're not sick with love
there is no medicine

the busy grass can grow


again but love's a witch
that poisons the earth

you're not really sick


if you think of love as
a summer's vacation

I'm going to die unless


my love soon chases
the clouds away

and the azure smiles


and browns my strong
belief that love is.

CANÇÃO PARA LOTTA

Você não está mesmo doente


se não está doente de amor
não há remédio

o afobado capim pode crescer


de novo mas amor é bruxaria
que corrompe a terra

você não está mesmo doente


se pensa no amor
como férias de verão

eu vou morrer salvo


se meu amor não espantar logo
as nuvens pra longe

e o azul-celeste sorrir
e acastanhar minha forte
fé que o amor é.
LES LUTHS

Ah nuts! it's boring reading French newspapers


in New York as if I were a Colonial waiting for my gin
somewhere beyond this roof a jet is making a sketch of the sky
where is Gary Snyder I wonder if he's reading under a dwarf pine
stretched out so his book and his head fit under the lowest branch
while the sun of the Orient rolls calmly not getting through to him
not caring particularly because the light in Japan respects poets

while in Paris Monsieur Martroy and his brother Jean the poet
are reading a piece by Matthieu Galey and preparing to send a pneu
everybody here is running around after dull pleasantries and
wondering if The Hotel Wently Poems is as great as I say it is
and I am feeling particularly testy at being separated from
the one I love by most dreary of practical exigencies money
when I want only to lean on my elbow and stare into space feeling
the one warm beautiful thing in the world breathing upon my right rib

what are lutes they make ugly twangs and rest on knees in cafés
I want to her only your light voice running on about Florida
as we pass the changing traffic light and buy grapes for wherever
we will end up praising the mattressless sleigh-bed and the
Mexican egg and the clock that will not make me know
how to leave you

LES LUTHS

Ora bolas! é maçante ler jornais franceses


em Nova York como se eu fosse um colono a espera do meu gim
algures acima deste teto um jato faz esboços no céu
onde está Gary Snyder imagino se ele segue lendo sob um pinho anão
frondoso assim que o livro e a cabeça dele encaixam no galho mais baixo
enquanto o sol do oriente gira calmo sem filtrar-se até ele
despreocupado porque a luz no Japão respeita os poetas

enquanto em Paris Monsieur Martroy e seu irmão Jean o poeta


seguem lendo rimas de Matthieu Galey e preparando o envio de um bacilo
todos por aqui correm atrás de brinquedos estúpidos e
especulam se Os Poemas do Hotel Wently é tão bom quanto eu digo que é
e me sinto particularmente à prova por estar distante
daquele que amo pela mais lúgubre das exigências práticas dinheiro
quando só quero equilibrar-me no cotovelo e fixar o vazio a sentir
a coisa morna e mais bonita do mundo exalando em minha costela direita

os alaúdes produzem zunidos feios e ficam de joelhos nos cafés


quero para ela só tua bela voz discorrendo sobre a Flórida
no que cruzamos o semáforo que comuta e compramos uvas pois como seja
acabaremos louvando a desacolchoada cama-trenó e o
ovo mexicano e o relógio que não me vai permitir saber
como lhe deixar

Nota - "Mexican egg" - traduzido por "ovo mexicano" [penúltima linha do poema] - é uma
receita apreciada nos Estados unidos à base de ovos, pimenta, tomate, queixo cheddar,
cebolinha verde e salsa.

MADRID

Spain! Much more beautiful than Egypt!


better than France and Livorno! Or Théophile Gautier!
nothing but rummies in Nice
and junkies in Tunis
but everything convulses under the silver tent of Spain
the dark
the dry
the shark-bite-sand-colored mouth
of Europe, the raped and swarthy goddess of speed! O Spain
to be in your arms again
and the dung-bight olives
bluely smiling at the quivering angulas
smudged
against the wall of mind

where the silver turns


against the railroad tracks
and breathe goes down
and down and down
into the cool moonlight
where the hotel rooms is on wheels
and there all buttocks are black and blue
dun
is the color of the streets and the sacks of beer
where dopes lead horses with a knight each

do you care if the rotunda is sparrowy


caught behind the arras of distaste and sorrow
did you
wait, wait very long
or was it simply dark and you standing there
I saw the end of a very long tale
Being delivered in the Rastro on Sunday morning
And you were crying, and I was crying right away too

The Retiro confided in us


all those betrayals
we never meant but has to do, the leaves
the foolish boats like High School
before the Alhamabra
before the echo of your voice
I have done other things but never against you

now I am going home


I am watering the park for La Violetera
I am cherishing the black and white of your love

MADRI

Espanha! Muito mais bela do que o Egito!


melhor do que a França e a Alsácia e Livorno! ou Théophile Gautier!
nada além de bebuns em Nice
e vagabundos em Túnis
mas tudo convulsiona sob a prateada tenda da Espanha
a escura
a seca
a boca cor-de-areia-mordida-de-cação
da Europa, a violentada e morena deusa da velocidade! ah Espanha
estar de novo em teus braços
e as estrume-claro oliveiras
azulando sorrisos diante das trêmulas enguias
mancha
sobre o muro da mente

onde a prata recai


sobre os caminhos de ferro
e o fôlego desce
e desce e desce
para o frio luar
onde os quartos de hotel vão sobre rodas
e as bundas aí são todas pretas e azuis
parda
é a cor das ruas e o xerez
onde éteres conduzem potros com cavaleiros em cada

você se importa se a rotunda é aspargamente


colhida sob o arrás do dissabor e da mágoa
se importa
espere, espere bastante
ou estava só escuro e você lá, de pé

eu vi o final de uma história bem comprida


sendo contada no Rastro na manhã do domingo
e você chorava, e eu chorava junto

o Retiro confiava-nos
todas aquelas traições
que nunca planejamos, mas tínhamos que, as folhas
os barcos estúpidos como a Escola Secundária
diante da Alhambra
diante do eco de tua voz
tenho feito umas outras coisas mas nunca contra ti

agora vou para casa


estou aguando o parque para a Violetera
nutrindo o preto e o branco de teu amor

A STEP AWAY FROM THEM

It's my lunch hour, so I go


for a walk among the hum-colored
cabs. First down the sidewalk
where laborers feed their dirty
glistening torsos sandwiches
and Coca-Cola, with yellow helmets
on. They protect them from falling
bricks, I guess. Then onto the
avenue where skirts are flipping
above heels and blow up over
grates. The sun is hot, but the
cabs stir up the air. I look
at bargains in wristwatches. There
are cats playing in the sawdust.
On
to Times Square, where the sign
blows smoke over my head, and higher
the waterfall pours lightly. A
Negro stands in a doorway with a
toothpick, languorously agitating.
A blonde chorus girl clicks: he
smiles and rubs his chin. Everything
suddenly honks : it is 12:40 of
a Thursday.
Neon in daylight is a
great pleasure, as Edwin Denby would
write, as are light bulbs in daylight.
I stop for a cheeseburger at JULIET'S
CORNER. Giulietta Masina, wife of
Federico Fellini, è bell' attrice.
And chocolate malted. A lady in
foxes on such a day puts her poodle
in a cab.
There are several Puerto
Ricans on the avenue today, which
makes it beautiful and warm. First
Bunny died, then John Latouche,
then Jackson Pollock. But is the
earth as full as life was full, of them?
And one has eaten and one walks,
past the magazines with nudes
and the posters for BULLFIGHT and
the Manhattan Storage Warehouse,
which they'll soon tear down. I
used to think they had the Armory
Show there.
A glass of papaya juice
and back to work. My heart is in my
pocket, it is Poems by Pierre Reverdy.

UM PASSO PARA LONGE DELES

É minha hora de almoço, e eu vou


dar uma volta entre os táxis de cores
berrantes. Primeiro rua abaixo
onde os operários nutrem seus torsos
imundos cintilantes de sanduíches
e Coca-Cola, os capacetes flavos
protegendo-os de tijolos
cadentes, penso. Então pela
avenida onde saias esvoaçam
por cima de saltos e estufam-se sobre
grelhas. O sol é forte, mas os
táxis avivam o ar. Confiro
ofertas de relógios de pulso. Há
gatos brincando na serragem.
Para
Times Square, onde o letreiro
deita poeira em meu cabelo, e acima
a cascata verte de leve. Um
negro de pé num portal
palita os dentes, languidamente.
Uma corista loura pisca: ele
sorri e esfrega o queixo. De repente
tudo buzina: é 12:40 de
uma quinta.
Neon à luz do dia é um
grato prazer, como Edwin Denby
escreveria, como são lâmpadas à luz do dia.
Paro para um cheeseburguer no JULIET'S
CORNER. Giullieta Masina, mulher de
Frederico Fellini, é bell'atrice.
E chocolate maltado. Uma dama de
peliça num dia assim põe seu poodle
Num táxi.
Há muitos porto-
riquenhos na avenida hoje, o que a
torna bela e animada. Primeiro
Bunny morreu, e aí John Latouche,
e aí Jackson Pollock. Mas a terra
segue cheia como a vida estava cheia, deles?
E alguém come e passeia,
ao lado dos nus nas revistas
e dos cartazes de TOURADA e
da Companhia de Estocagem de Manhattan,
que breve serão rasgados. Me soe
pensar que eles tinham o Armory
Show ali.
Um copo de suco de mamão
e de volta ao batente. Meu coração segue no
bolso, é o Poems de Pierre Reverdy.

Traduções: Ruy Vasconcelos


ANIMAIS

Você se esquece de como nós éramos antes


quando ainda éramos de primeira classe
e o dia veio gordo com uma maçã na boca

de nada adianta preocupar com o Tempo


mas nós tínhamos alguns truques nas mangas
e fizemos umas curvas fechadas

todos os pastos pareciam nossas refeições


não precisávamos de velocímetros
de gelo e água nós fazíamos coquetéis

Eu não iria querer que fosse mais rápido


ou verde que agora se você estivesse comigo Ó você
foi o melhor de todos os meus dias

CANÇÃO

Eu estou preso no trânsito em um táxi


o que é típico
e não só da vida moderna

lama sobe trepada pela treliça dos meus nervos


a maioria dos amantes de Eros terminam com Venus
muss es sein? es muss nicht sein*, eu vos digo

como eu odeio doença, é como uma preocupação


que se torna realidade
e simplesmente não deve ser capaz de acontecer

em um mundo onde você é possível


meu amor
nada pode dar errado para nós, diga-me

AVE MARIA

Matronas da América
deixem seus filhos irem ao cinema!
tirem eles de casa assim eles não ficam sabendo do que vocês aprontam
é verdade que ar fresco faz bem para o corpo
mas e quanto a alma
que cresce nas trevas, gravada em imagens prateadas
e quando vocês envelhecerem como envelhecerem vocês devem
eles não vão lhes odiar
eles não vão lhes criticar eles não vão saber
eles estarão em algum país glamouroso
que eles viram pela primeira vez numa tarde de sábado ou matando aula

eles podem até lhes ser gratos


pela primeira experiência sexual deles
que lhes custou apenas uns centavos
e não perturbou a paz do lar
eles saberão de onde vem as barras de chocolate
e os sacos gratuitos de pipoca
tão gratuitos quanto sair do cinema antes do fim do filme
com uma estranha agradável cujo apartamento fica no Edifício Paraíso na Terra
perto da Ponte Williamsburg
ó matronas vocês terão feito os pivetinhos
tão feliz que mesmo que ninguém os pegue no cinema
não fará diferença
e se alguém os pegar será apenas puro tempero
e eles estarão verdadeiramente entretidos de qualquer forma
ao invés de vadiando pelo quintal
ou nos quartos deles
lhes odiando
prematuramente já que vocês não terão feito nada horrivelmente maldoso ainda
exceto por protegê-los das alegrias mais sombrias
o que por sua vez é imperdoável
então não me culpem se vocês não seguirem esse conselho
e a família se destruir
e seus filhos ficarem velhos e cegos em frente a televisão
vendo
filmes que vocês não deixaram eles verem quando eram jovens

HOJE

Ó! cangurus, lantejoulas, sodas de chocolate!


Vocês são mesmo lindas! Pérolas,
gaitas, jujubas, aspirinas! todas
as coisas que eles sempre falaram sobre

ainda fazem de um poema uma surpresa!


Essas coisas estão conosco todos os dias
até mesmo em cabeças-de-praia e caixões. Elas
têm significado. Elas são fortes como rochas.
DORMINDO SOBRE A ASA

Talvez seja para evitar alguma grande tristeza,


como em uma tragédia da Restauração o herói clama “Durma!
Ó pois o longo profundo sono e então esqueça!”
que se voa, flutuando por sobre as cidades sem costa,
guinando ascendente da calçada como um pombo
o faz quando um carro buzina ou uma porta bate, a porta
dos sonhos, vida perpetuada em amores coloridos em tons
e belas mentiras todas em línguas diferentes.

O medo também se vai, como o cimento, e você


está sobre o Atlântico. Onde fica a Espanha? onde fica
quem? A Guerra Civil foi travada para libertar os escravos,
foi? Uma repentina corrente baixa de ar te relembra da gravidade
e sua posição a respeito do amor humano. Mas
aqui é onde estão os deuses, especulando, perplexos.
Umas vez que você está desamparado, você está, dá pra acreditar
nisso? Nunca acordar para o triste esforço de um rosto?
sempre viajar por sobre qualquer vastidão impessoal,
estar por fora, para sempre, nem dentro nem para!

Os olhos rolam adormecidos como se virados pelo vento


e as pálpebras flutuam levemente abertas feito uma asa.
O mundo é um iceberg, tanta coisa é invisível!
e foi e é, e ainda a forma, ela pode estar dormindo
também. Essas características gravadas no gelo de alguém
amado que morreu, e você é um escultor sonhando espaço
e velocidade, sua mão apenas poderia ter feito isso.
Curiosidade, a mão apaixonada do desejo. Morte,
ou sono? Há velocidade o suficiente? E, mergulhando,
você renuncia tudo que você fez por si mesmo,
o reino do seu auto-navegar, pois você deve despertar

e respirar seu próprio calor nessa imagem amada


esteja ela morta ou meramente desaparecendo,
como o espaço está desaparecendo e sua singularidade.

----
*Alemão para "deve ser? não deve ser". Jogo com a pergunta de Beethoven no quarteto de
cordas nº 16, opus 35 (no caso, a frase é "muss es sein? es muss sein!"). Nesse caso, a
pergunta serve para questionar os padrões de sexualidade, tema que ainda era "novidade" na
época (entre aspas, já que homossexualidade é coisa discutida desde a Grécia Antiga), vide o
verso "a maioria dos amantes de Eros (sexo) terminam com Vênus (mulher)", então segue
"deve ser? não deve ser".

S-ar putea să vă placă și