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DEBATE DEBATE
em relação à saúde mental e à violência
Abstract This article reflects about the situation of Resumo Este artigo reflete sobre as violências co-
mental health and violence against Brazilian chil- metidas contra crianças e adolescentes brasileiros e
dren and adolescents, proposing a discussion about suas repercussões sobre a saúde mental, propondo
the need for public health policies including these um debate sobre a necessidade das políticas públicas
extremely relevant issues in their priority agenda. de saúde priorizarem temáticas de tamanha rele-
In Brazil, the debate about this problem has occurred vância. No país, tem-se verificado que a discussão
in a fragmented and not very consistent way. This dos temas “violência e problemas de saúde mental
article presents a non-systematic selection of epide- em crianças e adolescentes” vem ocorrendo de for-
miological investigations on this subject conducted ma fragmentada e pouco consistente. Este trabalho
in Brazilian schools and communities. The great traz uma seleção não sistemática de estudos epide-
variety and prevalence of familiar and community miológicos desenvolvidos em escolas e comunidades
violence and of mental health problems is pointed brasileiras sobre o assunto. A ampla variedade e a
out and the methodological differences between the prevalência da violência familiar e comunitária e
studies and the concentration of studies in the South dos problemas de saúde mental são apontadas, res-
and Southeastern regions of the country are empha- saltando-se as diferenças metodológicas dos métodos
sized. The article still highlights to the scarce service de aferição e a concentração de estudos nas regiões
network for dealing with this kind of problem and sul e sudeste do país. A ainda escassa rede de atendi-
the lack of concern with the prevention of mental mento para os problemas aqui tratados é sinalizada,
disorders and promotion of mental health. assim como a falta de preocupação com a prevenção
Key words Child, Adolescent, Mental health, Vio- do transtorno mental e com a promoção da saúde
lence mental.
Palavras-chave Criança, Adolescente, Saúde men-
tal, Violência
1
Centro Latino-Americano
de Violência e Saúde Jorge
Careli, Fiocruz. Av. Brasil
4036/700, Manguinhos.
21040-261.
Simone@claves.fiocruz.br
350
Assis SG et al.
Assis8 Adolescentes (escolas Duque de Caxias/ 1.328 11-17 anos *CTS (VF)
públicas e privadas) Rio de Janeiro VIrm - elaborado para o
estudo
Minayo et al.10 Adolescentes Rio de Janeiro 914 14-20 anos *CTS (VF, VP)
(domiciliar)
Assis et al.11 Adolescentes (escolas São Gonçalo/Rio 1.685 11-19 anos *CTS (VF)
públicas/privadas) de Janeiro ** Violência psicológica
Bordin et al. 3
Mães e filhos Embu/São Paulo 89 pares 0-17 anos World SAFE Core
(domiciliar) (mãe/filho) Questionnaire
Assis et al.13 Crianças (escolas São Gonçalo/Rio 500 6-13 anos *CTS (VF, VP, Vpais)
públicas) de Janeiro VIrm - Elaborado para o
estudo
Estudos Violência física (VF) Violência psicológica (VP) Violência entre os Violência entre
irmãos (VIrm) os pais (Vpais)
Waiselfisz9 40,3% (estrato social A) 14,3% (estrato social A) 68,2% (estrato social A) -
39,5% (estrato social B) 16% (estrato social B) 69,5% (estrato social B)
18,2% (estrato social C) 6,8% (estrato social C) 36,4% (estratos social C)
Minayo et al.10 14,5% (estratos sociais A/B) 75,1% (estratos sociais A/B) - -
16,3% (estratos sociais C/D/E) 72,3% (estratos sociais C/D/E)
Bordin et al. 3
10,1% - - -
Assis et al.13 Violência severa do pai - 25,5% Agressão verbal do pai - 63,1% 47,4% Pai contra a mãe
Violência severa da mãe - 58,2% Agressão verbal da mãe - - 21,4%
81,4% Mãe sobre o pai
- 35,9%
* Conflict Tactics Scale14,15, que afere violência física e agressão verbal; ** Pitzner e Drummond16 e Avanci et al.17.
352
Assis SG et al.
Quadro 2. Características de estudos epidemiológicos e prevalências de tipos da violência comunitária contra a criança e o
adolescente.
Waiselfisz 9 Adolescentes (domiciliar) Brasília/DF 401 14-20 anos Elaborado para o estudo
10
Minayo et al. Adolescentes (domiciliar) Rio de Janeiro 914 14-20 anos Elaborado para o estudo
12
Assis et al. Adolescentes (escolas São Gonçalo/RJ 1.923 11-19 anos **Child Abuse and Trauma
públicas e privadas) (VS)
***Violência na escola (VE)
Assis et al.13 Crianças (Escolas públicas) São Gonçalo/RJ 500 mães 6-13 anos ***Violência na escola e
comunidade (VE, VC)
Elaborado para o estudo
(VS)
Assis e Njaine19 Adolescentes (escolas Manaus/Amazonas 474 14-19 anos **Violência na escola e
públicas e privadas) comunidade (VE,
VC)Elaborado para o estudo
(VS)
Estudos Violência sexual (VS) Violência na escola (VE) Violência na Comunidade (VC)
Minayo et al. 10
2,3% (estratos sociais A/B) Agressão física 53.5% (estratos sociais A/B)
2% (estratos sociais C/D/E) 28,2% estratos sociais A/B 31.3% (estratos sociais C/D/E)
23,3% estratos sociais C/D/E
Polanczyk et 2,3% - -
al.18
12
Assis et al. 7,8%(experiências sexuais 2,1% (agressão física intensa) -
traumáticas ou perturbadoras)
Outros estudos mostram dados similares. Em outras pessoas e 12,1% já viram pessoas sendo
pesquisa com crianças de 6 a 12 anos de um muni- assassinadas ou mortas23. Cardia24 constatou em
cípio próximo ao Rio de Janeiro, 11,3% das mães dez capitais brasileiras que 16% dos jovens já ha-
ou responsáveis disseram que seus filhos já teste- viam sido ou tinham um parente próximo amea-
munharam alguém gravemente ferido; 11,4% já çado de morte e 12% tinham sofrido agressão físi-
presenciaram alguém roubando ou atirando em ca na comunidade em que moram.
353
epidemiológicas que utilizaram o questionário de menores. Esta escala foi criada para aferir sintomas
habilidades e dificuldades (Strengths and Difficul- em adultos, avaliando: sintomas psicossomáticos,
ties Questionnaire – SDQ43-45) para rastreio de pro- como dores de cabeça, má digestão e sensações de-
blemas de saúde mental na infância. Esse instru- sagradáveis no estômago; sintomas depressivos, a
mento possui cinco sub-escalas: hiperatividade, exemplo de tristeza, choro freqüente, falta de apeti-
problemas emocionais, problemas de conduta, te, perda de interesse, sentimento de inutilidade e
relacionamentos interpessoais e comportamento sem valor, idéia de acabar com a vida, cansaço, di-
pró-social. Como se pode perceber, encontram-se ficuldade de pensar com clareza e de realizar com
valores entre 12% e 15% quando os próprios jo- satisfação atividades diárias; e sintomas ansiosos,
vens avaliam, entre 8% e 10% na visão dos educa- como dormir mal, assustar-se com facilidade, tre-
dores e entre 14% e 18,7% na perspectiva dos pais. mores na mão, nervosismo/tensão/agitação, difi-
O estudo de Fleitlich e Goodman46 mostra ainda culdade para tomar decisões e dificuldades no tra-
diferenças em relação a variáveis socioeconômicas balho e na escola. Tem sido utilizado também com
em diferentes situações comunitárias. Goodman adolescentes, resultando em prevalências variadas52-
et al.47 indicam maior presença de problemas de 56
. No Quadro 4, observam-se alguns estudos rea-
saúde mental entre adolescentes do sexo feminino. lizados no país com dados especificados para a fai-
Outros estudos utilizaram o Self-Reported Ques- xa da adolescência. Observa-se a dificuldade de com-
tionnaire – SRQ-2050– , validado no Brasil por Mari paração entre os resultados, especialmente por cau-
e Williams51, para aferir transtornos psiquiátricos sa dos distintos pontos de corte utilizados.
Quadro 3. Prevalência de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes brasileiros, segundo a escala SDQ.
Fleitlich e 898 7-14 Domiciliar em SDQ anormal Pais, professores Campos do 15% jovens (22%
Goodman 46
anos favela, área com impacto e crianças/ Jordão/SP favela; 12% área
urbana e rural adolescentes urbana e 12%
rural)
Cury e 107 6-11 Uma escola SDQ anormal Pais e professores Ribeirão 18,7% pais;8,3%
Golfeto 48
327 anos pública Preto/SP professores
Barros49 187 11-15 Escolas públicas SDQ anormal/ Adolescentes Barretos/SP 12,6% jovens
anos e privadas limítrofe com
impacto
Goodman et 430 pais; 7-14 Domiciliar SDQ anormal Adolescentes; Ilha de 15,1% pais,
al. 47 406 anos com impacto pais; professores Maré/BA 10,3% professores
professores e 13,1%
adolescentes
Quadro 4. Prevalência de transtornos psiquiátricos menores em adolescentes brasileiros, segundo a escala SRQ-20.
Feijo et al..54 126 13-20 anos Duas escolas públicas 8 Porto Alegre/RS 8%
Oehlsschlaeger 960 15-18 anos Setores censitários – 5 homens; 6 mulheres Pelotas/RS 50,9%
et al. 55 área urbana
Avanci 1.923 10-19 anos Escolas públicas e 7 homens; 8 mulheres São Gonçalo/RJ 29,4%
et al. 17 privadas
355
Quadro 5. Prevalência de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes brasileiros, segundo escalas CBCL e DAWBA.
Fleitlich-
(1)
1.251 7-14 Escolas públicas DAWBA Pais, professores, Taubaté/SP 12,7%
Bilyk e anos e privadas crianças /
Goodman62 adolescentes
Paula et al.65 479 6-17 Domiciliar CBCL/ YSR Pais; crianças/ Embú/SP 24,6% casos
anos adolescentes clínicos (pais e
adolescentes)
Assis et
(2)
500 6-13 Escolas públicas CBCL/TRF Pais; professores São 15,7% casos
al. 13 anos Gonçalo/RJ clínicos (pais)13,2%
(professores)
(1)
Transtorno de ansiedade 5,2%; transtorno depressivo 1%; transtorno de atenção/hiperatividade 1,8%; transtorno oposicional/conduta 7%; (2)
Problemas internalizantes: 12% segundo os pais e 10,9% os professores; problemas externalizantes: 11% pais e 10,2% professores; problemas com a
atenção: 5,6% para pais e para professores.
356
Assis SG et al.
bidades, assinalado como uma real característica idade) à punição e restrição física na família e esco-
das desordens psiquiátricas nas etapas iniciais do res mais altos no Questionário de Morbidade Psi-
desenvolvimento humano, o que se impõe como quiátrica Infantil (instrumento elaborado por Al-
grande desafio aos estudiosos e clínicos da área. meida Filho42) de crianças da mesma família na
Outros fatores individuais, como a presença faixa dos 5-14 anos de idade.
de doenças, hospitalização, prematuridade e QI Fleitlich e Goodman46, utilizando a SDQ, en-
mais baixo são considerados fatores de risco à saúde contraram mais desordens psiquiátricas entre
mental. Também são considerados relevantes uma crianças e adolescentes que testemunham violên-
série de dificuldades familiares, escolares e comu- cia entre pais e que são educados através de dura
nitárias vivenciadas por esses seres em formação, disciplina que inclui atos como bater com cintos.
tais como problemas de saúde mental da mãe; mau Benvegnú et al.64 observaram que crianças e
relacionamento familiar; ausência do pai; vivência adolescentes com mães que gritam excessivamen-
em famílias muito extensas (o filho mais velho se- te, batem, espancam ou punem severamente den-
ria o mais vulnerável); condições econômicas des- tre outras reações inadequadas têm o dobro da
favoráveis; racismo; precário desempenho da cri- chance de apresentar problemas de saúde mental
ança na escola e convivência com violências na fa- do que os não expostos a estas práticas.
mília, escola e comunidade3,45,46,63,64,68-70. Vitolo et al.69 entrevistaram pais de 454 crian-
ças entre 7 e 11 anos, estudantes de escolas públi-
cas e particulares de Taubaté, e verificaram que
Violências e problemas de saúde mental bater em crianças com cinto, em si, esteve associa-
do a transtorno de conduta e de saúde mental.
Pesquisas internacionais vêm indicando a associa- Esses problemas se agudizam quando há outros
ção entre vivenciar violências e sofrer problemas de fatores de risco, como o fato de ser menino, haver
saúde mental ao longo do ciclo de crescimento e problemas de saúde mental dos pais e vivência de
desenvolvimento humano. Estudo realizado com condições socioeconômicas desfavoráveis.
crianças de 6 a 10 anos numa vizinhança pobre e No mesmo período, Salvo et al.77 verificaram
violenta em Washington, Estados Unidos indica que que a falta de monitoria positiva aliada a práticas
a exposição a esse tipo de fenômeno (ser vitimizado educativas negativas, como negligências, punição
ou ser testemunha) está associada com sintomas inconsistente, abuso físico, são preditoras de pro-
de sofrimento mental, tais como ansiedade, depres- blemas de comportamento.
são, distúrbios de sono e pensamentos intrusivos71. Bordin et al.36, em estudo seccional realizado
Malik72 também associa violência familiar e comu- com população de baixa renda por meio de visita
nitária com problemas de comportamento inter- domiciliar em Embu, São Paulo com amostra de
nalizantes e externalizantes, apontando que a forte 89 crianças até 18 anos, observou que problemas
relação entre violência comunitária e o funciona- de saúde mental de crianças e adolescentes e expe-
mento mental da criança acontece porque seu sen- riência materna de violência física severa na infân-
so de segurança é ameaçado, prejudicando o seu cia estiveram correlacionados à punição física se-
crescimento e desenvolvimento. Outros estudos vera infantil e juvenil, no ano anterior à pesquisa.
confirmam a associação entre vitimização por vio- A punição severa foi aferida como um ou mais dos
lência com problemas físicos, transtorno de estres- seguintes comportamentos: sacudir ou chacoalhar
se pós-traumático, falta de concentração na escola, em caso de crianças até dois anos; chutar, esganar,
distúrbios do sono e hipervigilância73-75. sufocar, queimar, espancar ou ameaçar com arma
Os investigadores nacionais começam a se de- em todos os casos.
bruçar mais recentemente sobre essas temáticas. Paula et al.2, em estudo seccional, estudaram
Dos poucos trabalhos existentes, sobressaem os fatores de risco e protetores para problemas de
estudos seccionais, que avaliam a associação entre saúde mental em adolescentes, dentre os quais a
os problemas, sem capacidade de aferir causalida- violência intrafamiliar e urbana. Adolescentes ex-
de. Alguns desses são apresentados a seguir. Todos postos a essas situações mostraram ter duas vezes
apontam na direção da associação entre sofrer vi- mais problemas de saúde mental. Nenhum outro
olência e apresentar problemas emocionais e com- fator de risco ou protetor investigado revelou as-
portamentais. sociação (nível socioeconômico da família, sexo,
Bastos e Almeida Filho 76 encontraram, em mãe responsável pela família e participação em ati-
amostra de 545 crianças de um bairro popular de vidades sociais). Adolescentes expostos à violência
Salvador, Bahia, associações altamente significan- familiar mostraram-se três vezes mais propensos
tes entre exposição da criança (até cinco anos de a apresentar problemas do que os expostos à vio-
357
população práticas preventivas e de vida mais sau- munitária e em acordo com as diretrizes da refor-
dável, além de realizar procedimentos médicos, no ma psiquiátrica.
sentido amplo. O Programa Saúde da Família A criação do Fórum Nacional de Saúde Mental
(PSF), criado na década de 1990, vem investindo de Crianças e Adolescentes, instrumento de gestão
na promoção da saúde da população, na preven- que visa a dar visibilidade e resolutividade às di-
ção de doenças e na articulação da saúde mental versas dificuldades nesse campo específico da saú-
com a atenção básica, já que todo problema de de mental, foi fundamental nesse sentido, princi-
saúde é também de saúde mental e a saúde mental palmente por possibilitar a ampla participação da
é também produção de saúde. sociedade na elaboração de propostas e consoli-
O Ministério da Saúde vem começando a cons- dação de uma política própria. Esse fórum busca
truir, nos últimos anos, as diretrizes e condições incorporar as orientações do Estatuto da Criança
para que nos municípios com menos de 20 mil e do Adolescente (ECA) e é composto por repre-
habitantes a rede de cuidados em saúde mental sentantes de instituições governamentais, setores
estruture-se a partir da atenção básica, obedecen- da sociedade civil, entidades filantrópicas, agentes
do ao modelo de redes de cuidado de base territo- da justiça e promotoria da infância e juventude.
rial e buscando o estabelecimento de vínculos e Sua atuação tem caráter deliberativo90.
acolhimento. Nessas localidades, equipes de saúde Apesar dessas ações e do grande passo dado
mental, que podem estar lotadas em ambulatóri- em tão pouco tempo, a construção de uma políti-
os ou CAPS de municípios vizinhos, passam a dar ca pública de saúde mental voltada para a criança
apoio às equipes de atenção básica. e o adolescente continua sendo um dos maiores
Todavia, o atendimento no país é também li- desafios do setor. Ainda há muito o que avançar,
mitado pela quantidade de profissionais especiali- não só na abertura de novos CAPSi, como tam-
zados. Levantamento tomando por base o núme- bém na sensibilização da rede de saúde, como é o
ro de psiquiatras da infância e adolescência, habi- caso dos ambulatórios e a rede de atenção básica.
litados pela Associação Brasileira de Psiquiatria, Há também urgência de investimento na capacita-
indica haver um profissional especializado para ção da assistência social, dos conselhos tutelares,
cada 35 mil crianças e adolescentes brasileiros. Nos das instâncias jurídicas e da área de educação.
Estados Unidos, onde a relação jovem/psiquiatra é Inicialmente, as ações da saúde mental para a
considerada pequena, existe uma relação de um criança e o adolescente no Brasil estiveram con-
para cada 15 mil adolescentes87. Os pediatras, por centradas no atendimento à clientela com grave
sua vez, não estão preparados para lidar com pro- sofrimento psíquico, em especial, os casos de au-
blemas de saúde mental88. Outros profissionais da tismo e de psicose. A seguir, a preocupação com
equipe de saúde, como psicólogos, nem sempre várias outras situações começaram a se impor,
estão presentes no atendimento cotidiano de ser- como é o caso de cuidados com crianças e adoles-
viços públicos. Por outro lado, a capacitação dos centes envolvidos em situação de risco ou vulnera-
profissionais da equipe de saúde, seja para lidar bilidade social, como tráfico, prostituição, abuso
com a violência ou para produzir intervenções mais de álcool, drogas e violências. Hoje, os sintomas
eficazes em casos de crianças com problemas men- que levam o responsável a pedir tratamento em
tais são ainda insuficientes89. saúde mental variam desde as situações assinala-
É histórica a omissão da Saúde Pública no di- das até dificuldades escolares, comportamentos
recionamento das políticas de saúde mental para agressivos, automutilação, dentre outros.
infância e adolescência. Apenas em 2001, essa po- Para enfrentar esses desafios, é necessário que
pulação foi incluída na pauta das discussões polí- à área de saúde mental se articulem outros cam-
tico-assistenciais e de urgência, na III Conferência pos de atuação, como assistência social, justiça,
Nacional de Saúde Mental. Essa lacuna foi preen- educação e conselhos tutelares. O trabalho inter-
chida por uma rede de assistência à criança e ao setorial faz-se imprescindível para inclusão e cons-
adolescente composta por instituições filantrópi- trução dos encaminhamentos para uma rede de
cas e privadas, com forte componente tutelar, como cuidados e proteção, preservando-se o papel de
é o caso de educandários, abrigos, escolas especi- cada um e da família, em especial.
ais, institutos para deficientes mentais e clínicas para Oliveira86 destaca que não são apenas os im-
autistas. Tais instituições ainda desempenham re- passes das políticas públicas orientadas para este
levante papel na assistência infanto-juvenil, embo- campo que dificultam o atendimento às crianças e
ra, em 2003, o Ministério da Saúde tenha passado jovens com problemas de saúde mental. Aspectos
a orientar a construção coletiva e intersetorial de clínicos são fundamentais para que se estabeleça
diretrizes para uma rede de assistência de base co- vínculo de confiança e a relação interpessoal entre
359
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