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Saúde da Mulher

Conceito materno-infantilista de saúde da mulher: aborda apenas aspectos da biologia e


anatomia do corpo feminino. Nas concepções mais restritas, o corpo da mulher é visto apenas na
sua função reprodutiva e a maternidade torna-se seu principal atributo. A saúde da mulher limita-
se à saúde materna ou à ausência de enfermidade associada ao processo de reprodução
biológica. Nesse caso estão excluídos os direitos sexuais e as questões de gênero.

Conceito de saúde reprodutiva da mulher da CIPD: em 1994, na Conferência Internacional


sobre População e Desenvolvimento, a saúde reprodutiva foi definida como “um estado de
completo bem-estar físico, mental e social em todas as matérias concernentes ao sistema
reprodutivo, suas funções e processos, e não apenas mera ausência de doença ou enfermidade.
A saúde reprodutiva implica, por conseguinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e
satisfatória, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas
vezes deve fazê-lo”

Crítica do conceito de saúde reprodutiva da mulher da CIPD: nessa definição, toma-se como
referência o conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas o conceito da
CIPD fica restrito à saúde reprodutiva e não trata a saúde-doença como processo na perspectiva
da epidemiologia social, o que vem sendo bastante discutido pelas teóricas feministas e
sanitaristas desde o final dos anos 60.

Importância da análise dos fatores sociais para compreender a saúde da mulher: a saúde e
a doença estão intimamente relacionadas e constituem um processo cuja resultante está
determinada pela atuação de fatores sociais, econômicos, culturais e históricos. Isso implica em
afirmar que o perfil de saúde e doença varia no tempo e no espaço, de acordo com o grau de
desenvolvimento econômico, social e humano de cada região. As desigualdades sociais,
econômicas e culturais se revelam no processo de adoecer e morrer das populações e de cada
pessoa em particular, de maneira diferenciada.

Exemplo: o número de mulheres que vivem em situação de pobreza é superior ao de homens,


que as mulheres trabalham durante mais horas do que os homens e que, pelo menos, metade do
seu tempo é gasto em atividades não remuneradas, o que diminui o seu acesso aos bens sociais,
inclusive aos serviços de saúde.

Conceito de saúde integral da mulher: da mesma maneira que diferentes populações estão
expostas a variados tipos e graus de risco, mulheres e homens, em função da organização social
das relações de gênero, também estão expostos a padrões distintos de sofrimento, adoecimento
e morte. Partindo-se desse pressuposto, é imprescindível a incorporação da perspectiva de
gênero na análise do perfil epidemiológico e no planejamento de ações de saúde, que tenham
como objetivo promover a melhoria das condições de vida, a igualdade e os direitos de cidadania
da mulher.

Primeiros programas de saúde da mulher

Primeiros programas de saúde da mulher: no Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às


políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século 20, sendo limitada, nesse período,
às demandas relativas à gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas
décadas de 30, 50 e 70, traduziam uma visão restrita materno-infantilista sobre a mulher,
baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável
pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e demais familiares.

Características dos primeiros programas de saúde da mulher:


• Ações materno-infantis como estratégia de proteção aos grupos de risco e em situação de
maior vulnerabilidade, como era o caso das crianças e gestantes.

• Verticalidade e a falta de integração com outros programas e ações propostos pelo governo
federal.

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• As metas eram definidas pelo nível central, sem qualquer avaliação das necessidades de
saúde das populações locais.

• Fragmentação da assistência e o baixo impacto nos indicadores de saúde da mulher.

Críticas feministas aos primeiros programas de saúde da mulher: no âmbito do movimento


feminista brasileiro, esses programas são vigorosamente criticados pela perspectiva reducionista
com que tratavam a mulher, que tinha acesso a alguns cuidados de saúde no ciclo gravídico-
puerperal, ficando sem assistência na maior parte de sua vida. Nessa visão reduzida materno-
infantilista da saúde da mulher, todas as atenções à saúde da mulher dirigiam-se para a gravidez,
parto, amamentação, reduzindo a mulher ao ciclo gravídico-puerperal, como se ela só tive
importância e valor enquanto uma mulher reprodutora, fruto de uma sociedade patriarcal e
machista

Com base nesses argumentos, foi proposto que a perspectiva de mudança das relações sociais
entre homens e mulheres prestasse suporte à elaboração, execução e avaliação das políticas de
saúde da mulher. As mulheres organizadas reivindicaram, portanto, sua condição de sujeitos de
direito, com necessidades que extrapolam o momento da gestação e parto, demandando ações
que lhes proporcionassem a melhoria das condições de saúde em todas os ciclos de vida. Ações
que contemplassem as particularidades dos diferentes grupos populacionais, e as condições
sociais, econômicas, culturais e afetivas, em que estivessem inseridos.

Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM)

Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) (1984): foi o primeiro programa
específico do Ministério da Saúde, quando nem ao menos existia o Sistema Único de Saúde,
marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde
das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo. Esse programa visou
superar a abordagem materno-infantilista de política de saúde da mulher.

Princípios e diretrizes do PAISM: o PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas


de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a
eqüidade da atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se
concebia o arcabouço conceitual que embasaria a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Políticas do PAISM: o novo programa para a saúde da mulher incluía ações educativas,
preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em
clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST,
câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil
populacional das mulheres

Implantação e implementação do PAISM (anos 80 e 90): o processo de implantação e


implementação do PAISM apresenta especificidades no período de 84 a 89 e na década de 90,
sendo influenciado, a partir da proposição do SUS, pelas características da nova política de
saúde, pelo processo de municipalização e principalmente pela reorganização da atenção básica,
por meio da estratégia do Programa Saúde da Família. Estudos realizados para avaliar os
estágios de implementação da política de saúde da mulher demonstram a existência de
dificuldades na implantação dessas ações e, embora não se tenha um panorama abrangente da
situação em todos os municípios, pode-se afirmar que a maioria enfrenta ainda dificuldades
políticas, técnicas e administrativas.

Críticas ao PAISM:
• O balanço institucional das ações realizadas no período de 1998 a 2002, indica que, nesse
período, trabalhou-se na perspectiva de resolução de problemas, priorizando-se a saúde
reprodutiva e, em particular, as ações para redução da mortalidade materna (pré-natal,
assistência ao parto e anticoncepção).

• Nesse balanço são apontadas ainda várias lacunas como atenção ao climatério/menopausa;
queixas ginecológicas; infertilidade e reprodução assistida; saúde da mulher na adolescência;
doenças crônico-degenerativas; saúde ocupacional; saúde mental; doenças infecto-
contagiosas e a inclusão da perspectiva de gênero e raça nas ações a serem desenvolvidas.

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• Em 2003, a Área Técnica de Saúde da Mulher identifica ainda a necessidade de articulação
com outras áreas técnicas e da proposição de novas ações, quais sejam: atenção às mulheres
rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e lésbicas e a participação nas
discussões e atividades sobre saúde da mulher e meio ambiente.

Norma Operacional de Assistência a Saúde (NOAS)

Norma Operacional de Assistência a Saúde (NOAS) (2001): Visando ao enfrentamento desses


problemas, o Ministério da Saúde editou a Norma Operacional de Assistência à Saúde, que
amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica, define o processo de
regionalização da assistência, cria mecanismos para fortalecimento da gestão do SUS e atualiza
os critérios de habilitação para os estados e municípios. A delimitação das ações básicas
mínimas para o âmbito municipal é resultante do reconhecimento das dificuldades para
consolidação do SUS, e das lacunas que ainda existem na atenção à saúde da população.

Ações municipais básicas para saúde da mulher: na área da saúde da mulher, a NOAS
estabelece para os municípios a garantia das ações básicas mínimas de pré-natal e puerpério,
planejamento familiar e prevenção do câncer de colo uterino e, para garantir o acesso às ações
de maior complexidade, prevê a conformação de sistemas funcionais e resolutivos de assistência
à saúde, por meio da organização dos territórios estaduais

Críticas ao NOAS: apesar do NOAS ter avançado no reconhecimento da responsabilidade dos


municípios para a implementação de políticas de atenção a saúde da mulher, essa proposta não
abrange todo o conjunto de ações previstas nos documentos que norteiam a Política de Atenção
Integral à Saúde da Mulher, que passa a contemplar, a partir de 2003, a atenção a segmentos da
população feminina ainda invisibilisados e a problemas emergentes que afetam a saúde da
mulher

Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM)

As mulheres são a maioria da população brasileira (50,77%) e as principais usuárias do Sistema


Único de Saúde (SUS). Freqüentam os serviços de saúde para o seu próprio atendimento mas,
sobretudo, acompanhando crianças e outros familiares, pessoas idosas, com deficiência,
vizinhos, amigos. São também cuidadoras, não só das crianças ou outros membros da família,
mas também de pessoas da vizinhança e da comunidade.

Considerando a heterogeneidade que caracteriza o País, seja em relação às condições


socioeconômicas e culturais, seja em relação ao acesso às ações e serviços de saúde,
compreende-se que o perfil epidemiológico da população feminina apresente diferenças
importantes de uma região a outra do País. Essas diferenças não serão abordadas em
profundidade, porém salienta-se que, no processo de implantação e implementação da Política
Nacional para Atenção Integral à Saúde da Mulher, elas devem ser consideradas, possibilitando
uma atuação mais próxima da realidade local e portanto com melhores resultados.

Análise das estatísticas sobre mortalidade para análise da saúde das populações:
• Enquanto a mortalidade por violência afeta os homens em grandes proporções, a morbidade,
especialmente provocada pela violência doméstica e sexual, atinge prioritariamente a
população feminina.

• Também no caso dos problemas de saúde associados ao exercício da sexualidade, as


mulheres estão particularmente afetadas e, pela particularidade biológica, têm como
complicação a transmissão vertical de doenças como a sífilis e o vírus HIV, a mortalidade
materna e os problemas de morbidade ainda pouco estudados.

Principais causas de morte da população feminina:


• Doenças cardiovasculares, destacando-se o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular
cerebral

• Neoplasias, principalmente o câncer de mama, de pulmão e o de colo do útero

• Doenças do aparelho respiratório, marcadamente as pneumonias (que podem estar encobrindo


casos de AIDs não diagnosticados)

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• Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com destaque para o diabetes

• Causas externas

10 principais causas de morte de mulheres (Capitais brasileiras):


• Acidente vascular cerebral

• AIDs

• Homicídios

• Câncer de mama

• Acidente de transporte

• Neoplasia de órgãos digestivos

• Doença hipertensiva

• Doença isquêmica do coração

• Diabetes

• Câncer de colo do útero.

Importante: a mortalidade associada ao ciclo gravídico-puerperal e ao aborto não aparece entre


as dez primeiras causas de óbito nessa faixa etária. No entanto, a gravidade do problema é
evidenciada quando se chama atenção para o fato de que a gravidez é um evento relacionado à
vivência da sexualidade, portanto não é doença, e que, em 92% dos casos, as mortes maternas
são evitáveis.

Objetivos gerais da PNAISM:


• Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a
garantia de direitos legalmente constituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de
promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território brasileiro

• Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil, especialmente por


causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem
discriminação de qualquer espécie.

• Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de


Saúde.

Objetivos específicos e estratégias da PNAISM:


• Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive para as portadoras da infecção
pelo HIV e outras DST

• Estimular a implantação e implementação da assistência em planejamento familiar, para


homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde

• Promover a atenção obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência ao


abortamento em condições inseguras, para mulheres e adolescentes

• Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica e sexual

• Promover, conjuntamente com o PN-DST/AIDS, a prevenção e o controle das doenças


sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids na população feminina

• Reduzir a morbimortalidade por câncer na população feminina

• Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob o enfoque de gênero

• Implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério

• Promover a atenção à saúde da mulher na terceira idade

• Promover a atenção à saúde da mulher negra

• Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da cidade

• Promover a atenção à saúde da mulher indígena

• Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de prisão, incluindo a promoção das
ações de prevenção e controle de doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/
AIDS nessa população

• Fortalecer a participação e o controle social na definição e implementação das políticas de


atenção integral à saúde das mulheres:

Precariedade da assistência em anticoncepção

Na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada em 1996, observa-se a concentração


no uso de dois métodos contraceptivos: a laqueadura tubária e a pílula (40% e 21%,
respectivamente). A prevalência da ligadura tubária é maior nas regiões onde as mulheres têm
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menor escolaridade e condições socioeconômicas mais precárias. A pouca expressividade de
outros métodos anticoncepcionais, apontada nessa pesquisa (métodos hormonais injetáveis
1,2%, condom 4,4%, esterilização masculina 2,6%, DIU 1,1%, métodos naturais e outros 6,6%),
e a ausência de citação do diafragma indicam o limitado acesso das mulheres às informações
sobre o leque de opções para regular a fecundidade e aos métodos anticoncepcionais.

Ainda segundo a referida pesquisa, 43% de usuárias de métodos anticoncepcionais interrompem


o uso durante os 12 meses após a sua adoção, e nos cinco anos que antecederam o estudo,
aproximadamente 50% dos nascimentos não foram planejados. A porcentagem de mulheres com
necessidade insatisfeita de anticoncepção é de 9,3% na área rural e de 4,5% na área urbana.
Essa situação contribui para a ocorrência de abortamentos em condições inseguras e
conseqüentemente para o aumento do risco de morte por essa causa.

O estímulo à participação e à inclusão dos homens e adolescentes nas ações de planejamento


familiar limitam-se a experiências isola- das de alguns serviços ou organizações não-
governamentais, que trabalham com homens e adolescentes, e têm pouca chance de causar
algum impacto sobre o problema no Brasil como um todo. Além disso, problemas culturais e
informações distorcidas sobre contracepção de emergência constituem barreiras para sua
aceitação e uso adequado.

Identificam-se ainda problemas na produção, controle de qualidade, aquisição e logística de


distribuição dos insumos, manutenção da continuidade da oferta de métodos anticoncepcionais
e capacitação de gestores, de gerentes e de profissionais de saúde. Isso tem resultado numa
atenção precária e excludente, ou até inexistente em algumas localidades, com maior prejuízo
para as mulheres oriundas das camadas mais pobres e das áreas rurais.

Poucos serviços oferecem atenção à saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. A gravidez na
adolescência vem sendo motivo de discussões controvertidas. Enquanto existe uma redução da
taxa de fecundidade total, a fecundidade no grupo de 15 a 19 anos de idade vem aumentando.
Esse aumento se verifica mais nas regiões mais pobres, áreas rurais e na população com menor
escolaridade Acrescente-se a todas essas questões o fato de que ainda existe uma
desarticulação entre ações de anticoncepção e de prevenção de DST/ HIV/AIDS, agravos que
vêm apresentando uma tendência de cresci- mento entre as mulheres e jovens.

Objetivo do PNAISM: estimular a implantação e implementação da assistência em planejamento


familiar, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde

Estratégias do PNAISM:
• Ampliar e qualificar a atenção ao planejamento familiar, incluindo a assistência à infertilidade;

• Garantir a oferta de métodos anticoncepcionais para a popula- ção em idade reprodutiva;

• Ampliar o acesso das mulheres às informações sobre as opções de métodos


anticoncepcionais;

• Estimular a participação e inclusão de homens e adolescentes nas ações de planejamento


familiar.

1) Inconstitucionalidade do artigo 10 da Lei do Planejamento Familiar (Lei 9.263/1996)

O Partido Socialista Brasileiro ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5911) contra
dispositivos da Lei do Planejamento Familiar (Lei 9.263/1996):

Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes


situações:

I - Em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25


anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado
o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato
cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a
serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe
multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce

II - Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto,


testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos

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(…)

§ 5º Na vigência de sociedade conjugal, a esterilização depende do


consentimento expresso de ambos os cônjuges.

Como visto, o trecho determina que a esterilização voluntária só pode ser feita por homens e
mulheres acima dos 25 anos ou com pelo menos 2 filhos vivos e com autorização de ambos os
cônjuges. A lei também estabelece um período de 60 dias entre o pedido e a cirurgia, em que a
pessoa terá aconselhamento "visando desencorajar a esterilização precoce”.

De acordo com o PSB, as exigências da Lei do Planejamento Familiar violam direitos previstos na
Constituição, como a dignidade da pessoa humana, igualdade, liberdade de escolha e de
planejamento familiar, além dos direitos sexuais e reprodutivos.

Ao justificar o questionamento, a ação destaca que o artigo 226 da Constituição prevê que o
planejamento familiar é de "livre decisão do casal" e que é vedada ao ao Estado "qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”. A petição também destaca que, de
acordo com a Lei Maria da Penha, é considerada violência doméstica impedir uso de método
contraceptivo.

Não restam dúvidas de que os dispositivos excessivamente restritivos trazidos pela Lei 9.263/96
vêm prestando um verdadeiro desserviço à implementação de políticas públicas efetivas no
âmbito do planejamento familiar. A Lei de Planejamento Familiar é uma legislação de mais de
duas décadas que, há muito tempo, precisava ser revista para se harmonizar com o disposto no
nosso sistema jurídico atual.

Na ação, a legenda cita pesquisa de acordo com a qual, 25,8% das mulheres e 31% dos homens
que pediram a cirurgia no SUS não tiveram sucesso após 6 meses. O estudo foi feito em 6
capitais brasileiras (Palmas, Recife, Cuiabá, Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba) e revelou
também que 8% das mulheres acompanhadas engravidaram no período de espera pela
esterilização.

2) Esterilizações forçadas em mulheres negras e mulheres em situação de rua

Janaina Aparecida Aquino, mulher negra, pobre, com grave quadro de dependente química e
mãe de cinco crianças foi submetida ao procedimento de esterilização compulsória por meio de
duas ações promovidas por membro do Ministério Público e que não deram à Janaína o direito
de defesa. A ordem ao município e à mulher veio por meio de decisão do juiz de Direito Djalma
Moreira Gomes Júnior, da 2ª vara de Mococa/SP, em Ação Civil Pública apresentada pelo MP/
SP.O MP/SP ingressou com ACP supostamente voltada à tutela individual de direito fundamental
de pessoa hipossuficiente, contra a mulher e contra o município de Mococa/SP, objetivando
compeli-la a realizar o procedimento.

De acordo com o parquet, a mulher apresenta grave quadro de dependência química e "não
ostenta condições de prover as necessidades básicas de seus rebentos, além de colocá-los,
frequentemente, em potencial risco em razão do uso de álcool e outras drogas”. Assim, foi
recomendada a realização da esterilização.

Ela chegou a ser internada, mas se recusou a aderir a tratamentos ambulatoriais disponíveis. O
MP alegou, entre outros pontos, que ela não teria discernimento para avaliar as consequências
de uma nova gestação, não tendo ela condições de fornecer cuidados mínimos para os filhos
atuais. Contra o município, pediu a sua condenação na obrigação de realizar a laqueadura na
corré, “mesmo contra a sua vontade” por ser o direito à saúde dever do Estado e direito de
todos.

Após recurso do município, a 8ª câmara de Direito Público do TJ/SP reverteu a decisão,


entendendo inadmissível, diante do ordenamento jurídico pátrio, a realização do procedimento
sem consentimento. Também foi apontada a ocorrência de cerceamento de defesa. Isto porque
não foi nomeado defensor público para realizar a defesa da mulher, bem como não foi realizada
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qualquer audiência, motivos que, por si só, já ocasionariam a nulidade absoluta do procedimento
diante da condição de vulnerabilidade da ré. Mas era tarde demais: a laqueadura já havia sido
realizada.

Acerca do caso, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a ONU Mulheres e o
Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Direitos Humanos (ACNUDH) destacam em um comunicado conjunto sua preocupação com a
"judicialização" do caso e afirmam que "as decisões sobre a quantidade de filhos ou filhas (...)
pertencem às mulheres, não sendo admissível a interferência do Estado nessa esfera”.

Violência doméstica e sexual contra a mulher

A violência sexual é um dos principais indicadores da discriminação de gênero contra a mulher.


Pesquisa coordenada pela OMS (2002), em oito países, retrata o perfil da violência sofrida pelas
mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos. No Brasil, o estudo foi realizado em São Paulo e na
zona da mata de Pernambuco. Nesses municípios, 29% das mulheres relataram violência física e/
ou sexual por parte do companheiro. Em Pernambuco, 34% das mulheres relataram algum
episódio de violência cometido pelo parceiro ou ex-parceiro. Dentre as mulheres agredi- das,
foram relatados problemas de saúde: dores ou desconforto severo, problemas de concentração e
tontura. Nesse grupo também foi mais comum a tentativa de suicídio e maior freqüência do uso
do álcool.

Os dados dessa pesquisa confirmam que a violência sexual e/ou doméstica é um grave problema
de saúde pública. Porém, entre as mulheres que relataram violência, apenas 16% em São Paulo
e 11% em Pernambuco buscaram hospitais ou centros de saúde (OMS, 2002). Considerando-se
que São Paulo concentra a maior parte dos serviços de referência no Brasil, esses percentuais
indicam pouca divulgação e dificuldades de acesso aos serviços.

A atenção às mulheres em situação de violência apresenta uma tendência progressiva de


expansão nos últimos quatro anos, ainda que os serviços estejam concentrados nas capitais e
regiões metropolitanas. Em 1999, 17 serviços hospitalares estavam preparados para atender às
mulheres vítimas de estupro. Em fins de 2002, esse número chega a 82, sendo que o aborto pós-
estupro é realizado em 44. Observa-se maior investimento dos gestores na rede, porém, apesar
dos esforços, a maior parte das mulheres agredidas ainda não têm acesso a esse tipo de
atenção.

Objetivo do PNAISM: promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência


doméstica e sexual.

Estratégias do PNAISM:
• Organizar redes integradas de atenção às mulheres em situação de violência sexual e
doméstica;

• Articular a atenção à mulher em situação de violência com ações de prevenção de DST/aids;

• Promover ações preventivas em relação à violência doméstica e sexual.

1) Atendimento integral às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar

Lei Maria da Penha: a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) positivou no Direito brasileiro a
coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher e disciplinou diversas questões ligadas
a essa temática, como a assistência à mulher em situação de violência doméstica, as medidas de
integração e de prevenção, o atendimento da mulher pela autoridade policial e os procedimentos
a serem adotados, a competência para o processo e o julgamento ele casos que envolvam a
violência doméstica e familiar contra a mulher, as medidas protetivas de urgência, a atuação do
Ministério Público, a assistência judiciária e a equipe de atendimento multidisciplinar, além de
outras questões.

a) Medidas protetivas a mulher vítima de violência doméstica e familiar:


b) Medidas preventivas da violência doméstica e familiar contra a mulher
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c) Medidas de assistência a mulher vítima de violência doméstica e familiar: a assistência
da mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e
conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no
Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e
políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
• Proteção do direito à assistência social da mulher: O juiz determinará, por prazo certo, a
inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas
assistenciais do governo federal, estadual e municipal.

• Proteção do direito ao trabalho da mulher: o juiz assegurará à mulher em situação de


violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica o acesso
prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta e
a manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho,
por até seis meses.

• Proteção da saúde sexual da mulher: a assistência à mulher em situação de violência


doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento
científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da lmunodeficiência Adquirida
(AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

Assistência de equipe de atendimento multidisciplinar (art. 29, Lei Maria da Penha): A


equipe multidisciplinar que auxiliará os juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher é formada por uma equipe de atendimento integrada por profissionais especializados nas
áreas psicossocial, jurídica e de saúde, com diversas atribuições, entre outras, fornecer subsídios
por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente
em audiência, e desenvolver trabalhos ele orientação, encaminhamento, prevenção e outras
medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças
e aos adolescentes. O custeio da manutenção da equipe multidisciplinar pode ser feito pelo
próprio Poder Judiciário, com recursos financeiros próprios, destacados da sua lei orçamentária.

Atendimento especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica e sexual no


Sistema Único de Saúde (SUS): a Lei 13.427/2017 modificou o artigo 7 da Lei 8.080/90,
garantindo, entre outros direitos, o acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas
reparadoras, se for o caso:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços


privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único
de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes
previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda
aos seguintes princípios:

(…)

XIV – organização de atendimento público específico e


especializado para mulheres e vítimas de violência doméstica em
geral, que garanta, entre outros, atendimento, acompanhamento
psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com
a Lei 12.845/2013.

2) Atendimento integral às mulheres vítimas de violência sexual

Atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual (Lei


12.845/2013): os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual atendimento
emergencial, integral e multidisciplinar, visando ao controle e ao tratamento dos agravos físicos e
psíquicos decorrentes de violência sexual, e encaminhamento, se for o caso, aos serviços de
assistência social.

Atendimento imediato, obrigatório em todos os hospitais integrantes da rede do SUS,


compreende os seguintes serviços:

• Diagnóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas demais áreas afetadas;

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• Amparo médico, psicológico e social imediatos

• Facilitação do registro da ocorrência e encaminhamento ao órgão de medicina legal e às


delegacias especializadas com informações que possam ser úteis à identificação do agressor e
à comprovação da violência sexual

• Profilaxia da gravidez

• Profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST

• Coleta de material para realização do exame de HIV para posterior acompanhamento e terapia

• Fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços


sanitários disponíveis.

Saúde mental e gênero

Trabalhar a saúde mental das mulheres sob o enfoque de gênero, nasce da compreensão de que
as mulheres sofrem duplamente com as conseqüências dos transtornos mentais, dadas as
condições sociais, culturais e econômicas em que vivem. Segundo o IBGE (2012), 94,85% das
mulheres exercem dupla jornada (trabalham fora e dentro de casa), contra somente 5,2% dos
homens. O IBGE aponta ainda que a média de horas semanais gastas com trabalho doméstico
para as mulheres é de 27,7 h, enquanto homens trabalham apenas 11,2h. Há, assim, uma
sobrecarga de atribuições e trabalho invisível e não legitimado, o que pode favorecer o
adoecimento psíquico

Numa análise breve da sociedade patriarcal na qual vivemos, as mulheres ganham menos, estão
concentradas em profissões mais desvalorizadas, têm menor acesso aos espaços de decisão no
mundo político e econômico, sofrem mais violência (doméstica, física, sexual e emocional), vivem
dupla e tripla jornada de trabalho e são as mais penalizadas com o sucateamento de serviços e
políticas sociais, dentre outros problemas. Outros aspectos agravam a situação de desigualdade
das mulheres na sociedade: classe social, raça, etnia, idade e orientação sexual, situações que
limitam o desenvolvimento e comprometem a saúde mental de milhões de mulheres.

Para que os profissionais de saúde possam compreender as reais necessidades das mulheres
que buscam um atendimento em serviço de saúde mental, é necessário que se dê um processo
de incorporação, à prática das ações de saúde, da perspectiva de que a saúde mental das
mulheres é, em parte, determinada por questões de gênero, somadas às condições
socioeconômicas e culturais. Dentro dessa realidade, o SUS poderá propiciar um atendimento
que reconheça, dentre os direitos humanos das mulheres, o direito a um atendimento realmente
integral a sua saúde.

Estudos brasileiros constatam que as mulheres são mais frequentadoras dos serviços públicos
de saúde mental do que os homens. Essa diferença associa a pouca procura por serviços de
saúde por parte de homens a um modelo hegemônico de masculinidade, relacionado a hábitos
de prevenção que usualmente são mais associados às mulheres, ao cuidado de si como
expressão da esfera feminina, a relação do ser homem à invulnerabilidade, força e virilidade; a
vergonha de ficar exposto ao profissional de saúde; o medo de descobrir que sua saúde está
vulnerável; além da falta de unidades de saúde específicas para acolhimento das demandas dos
homens.

Especificamente, sugere-se que a baixa demanda dos homens, no cenário desta pesquisa, pode
estar relacionada ao modelo de masculinidade citado acima, nos quesitos "cuidado de si" e
"medo de descobertas ruins sobre a sua saúde mental", os quais mascaram o sofrimento
psíquico e dificultam o acesso a esse CAPS. Alguns protocolos de acolhimento e evoluções
psiquiátricas confirmam a existência da negação da doença pelo usuário e uso irregular da
medicação, o que expressa a dificuldade de cuidar de si. Nesse sentido, um deles chamou
atenção, por trazer a informação de o início dos sintomas ter sido há mais de 20 anos, mas o
paciente ter procurado o CAPS apenas em 2001.

Já o alto percentual de mulheres adoecidas e frequentadoras de CAPS pode apontar para uma
questão importante de saúde pública, a psiquiatrização das mulheres. Muitas das condições
citadas por elas foram expressas nos prontuários, em sua maioria conflitos com a mãe
(desentendimentos, perdas e maus tratos) e parcela menor com o pai, além de conflitos
relacionados à maternidade (crises após nascimento ou morte de um filho), relações conjugais
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(divórcio, separação, brigas, tentativas de suicídio, entre outros), diversos tipos de violências
sofridas, vida laboral prejudicada e o papel de cuidadoras de outros e da casa.

Objetivo do PNAISM: Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob o
enfoque de gênero.

Estratégias do PNAISM:
• Melhorar a informação sobre as mulheres portadoras de transtornos mentais no SUS

• Qualificar a atenção à saúde mental das mulheres;

• Incluir o enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres portadoras de transtornos


mentais e promover a integração com setores não-governamentais, fomentando sua
participação nas definições da política de atenção às mulheres portadoras de transtornos
mentais.

1) Perspectiva de gênero na atenção à depressão

Distúrbio depressivo maior (DDM), transtorno depressivo maior: conhecido simplesmente


como depressão, é um distúrbio mental caracterizado por pelo menos duas semanas de
depressão que esteja presente na maior parte das situações.É muitas vezes acompanhado de
baixa autoestima, perda de interesse em atividades de outra forma aprazíveis, pouca energia e
dor sem uma causa definida

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão atinge 5% da população


mundial, o que equivale a aproximadamente 350 milhões de pessoas. Ainda segundo a OMS,
para cada homem com depressão, duas mulheres sofrem com a doença.

Possíveis razões da maior incidência de depressão em mulheres:


• Período menstrual: Algumas mulheres são sensíveis às oscilações hormonais nesses
períodos, tornando-se mais vulneráveis aos transtornos do humor, especialmente à depressão
como doença ou aos sintomas depressivos. O ciclo menstrual pode estar diretamente ligado a
uma flutuação da sintomatologia depressiva.

• Gravidez: Vários estudos referem que os sintomas depressivos são mais frequentes durante e
após o período de gravidez do que em outros períodos da vida de uma mulher. Alguns fatores
contribuem para isso, como: o grande número de eventos vitais indesejáveis durante esse
período, baixo apoio emocional durante a gravidez, solidão, menoridade, ser solteira, baixo
nível educacional, baixo nível socioeconômico, antecedentes de aborto induzido e histórias de
partos problemáticos anteriores;

• Menopausa: neste período o risco de adquirir depressão é considerado cerca de duas vezes
maior do que em outros momentos da vida de uma mulher. Além disso, os hormônios podem
afetar a reprodução de neurotransmissores que estão relacionados à depressão,
desencadeando a doença.

• Papel social da mulher: A dupla jornada encarada por muitas mulheres, que precisam
conciliar os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos com a atividade profissional é um
fator que contribui para o desenvolvimento da doença, pois estas responsabilidades
acumuladas podem trazer menos tempo para distração e prazer

• Questão do corpo perfeito (imagem corporal): Mais cobrado nas mulheres e pelas mulheres,
pode contribuir também para o aparecimento da sintomatologia depressiva

• Educação: O fato de mulheres receberem uma educação baseada em regras machistas, ou


seja, que o homem é mais poderoso e tem maiores direitos, pode favorecer baixo sentimento
de auto eficácia associado aos sintomas depressivos

• Violência sexual: Mulheres são mais vulneráveis a serem vítimas de estupros e abusos, tanto
na infância, quanto na vida adulta. Esse fator também pode contribuir para o surgimento da
doença, pois situações de abuso e violência favorecem a baixa autoestima, a sensação de
desamparo, os sentimentos de culpa e o isolamento social que consequentemente
desencadeiam a depressão.

• Desigualdade social entre os sexos: Salários mais baixos, falta de emprego para as mulheres
e pouca atuação política pode favorecer o desenvolvimento de sintomas depressivos nas
mulheres.

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Apesar desses fatores, é importante destacar que a depressão é uma doença multifatorial, ou
seja, várias causas colaboram para o surgimento desse transtorno. Entre essas causas, está a
herança genética. Sabe-se que a chance de ter depressão é até três vezes maior em pessoas
que possuem parentes em primeiro grau com o mesmo problema ou com outros transtornos
psiquiátricos. Porém, é bom frisar que a herança genética é importante, mas não é uma condição
única para o aparecimento do quadro.

Importante: alguns estudiosos alegam que, na realidade, a diferença está no fato de as mulheres
procurarem, com mais freqüência, ajuda médica ou de outros profissionais de saúde do que os
homens, dificultando mais o conhecimento sobre a população masculina. Isso ocorre porque os
homens são condicionados, desde crianças, a negar tais sintomas, além de terem maior
tendência a fazer uso de bebidas alcoólicas e drogas como estratégias de enfrentamento dos
sintomas depressivos, enquanto que as mulheres tendem a interiorizá-los e a expressarem
tristeza retraindo-se, esquivando-se das situações sociais e chorando.

Artigo “Depressão e gênero: porque as mulheres deprimem mais que os homens?” De Maria das
graças de Oliveira: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v7n2/v7n2a05.pdf

2) Perspectiva de gênero na atenção às doenças neurodegenerativas

“Doença neurodegenerativa” é um termo genérico para uma série de doenças que afetam os
neurónios do cérebro humano. As doenças neurodegenerativas são doenças incuráveis e
debilitantes que têm como consequência a degeneração progressiva e/ou morte dos neurónios.
Causam assim problemas de movimento (ataxias) ou de função mental (demências).

Exemplos de doenças neurodegenerativas:


• Doença de Alzheimer (DA) e outras demências (As demências são as responsáveis pela maior
carga da doença, com o Alzheimer a representar aproximadamente 60-70% dos casos de
doenças neurodegenerativas)

• Doença de Parkinson (DP) e perturbações relacionadas com a DP

• Encefalopatia espongiforme transmissível

• Doenças do neurónio motor (DNM)

• Doença de Huntington (DH)

• Ataxia espinocerebelosa (AEC)

• Atrofia espinal muscular (AEM)

A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de demência no idoso, aumentando sua
prevalência exponencialmente entre 65 e 95 anos. No Brasil, o número de pessoas com
Alzheimer ultrapassa 1,2 milhão, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer. O Alzheimer
predomina em mulheres de idade mais avançada, tem distribuição universal e é uma das
principais causas de doença no idoso, constituindo um dos maiores problemas médicos e sociais
na atualidade.

Entretanto, é fato que de maneira geral a doença de Alzheimer afeta mais as mulheres que os
homens, revela a Associação Americana de Alzheimer (Alzheimer’s Association). O risco de uma
mulher desenvolver a doença aos 65 anos é de 1 em 6, o que representa quase o dobro do risco
de ela ter câncer de mama. Os homens, por sua vez, apresentam risco de 1 em 11 de
desenvolver a doença na mesma faixa etária.

Possíveis razões pela maior incidência de Alzheimer em mulheres:


• Maior longevidade: boa parte da diferença de gênero está ligada a um dos maiores fatores de
risco da demência: idade. Quanto mais velho você é, maior a propensão de desenvolver
Alzheimer. Mulheres tipicamente vivem mais que os homens, então mais mulheres sofrem
demência.

• Maior índice de depressão: enquanto isso, outros fatores de risco da doença afetam mais as
mulheres que os homens. Por exemplo, mais mulheres sofrem depressão - e a condição foi
ligada ao acometimento de Alzheimer.

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• Menopausa, complicações de gravidez: outros fatores de risco afetam apenas as mulheres,
como menopausa cirúrgica e complicações de gravidez como a pré-eclâmpsia, ambos
problemas ligados ao declínio cognitivo na fase mais avançada da vida.

• Tarefa de cuidado com outros pacientes com demência: tarefas sociais como cuidar do
outro também podem aumentar a chance de desenvolver demência. Algumas pesquisas
mostram que ser uma cuidadora em si é um risco de sofrer Alzheimer, diz Annemarie
Schumacher, uma psicóloga. No Reino Unido, entre 60 e 70% das pessoas que cuidam de
pessoas com demência sem ser pagas são mulheres.

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