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com/lacanempdf
PROGRESSOS EM PSICANÁLISE
BASTANTE LENTOS•
Será que situei o que pude lhes dizer no ano passado sob o título Vida de Lacan 1 ,
par.t este ano entretê-los com a ·obra' de Lacan? 'Vida e obra', o binário é conhecido.
Mas, para dizer a verdade, existe a 'obra' de Lacan? Se há uma palavra ausente em Lacan,
nunca pronunciada nem escrita para designar o produto de seu trabalho, é exatamente a
·obra'. Ele preferia apresentar o que transmitia ao público apenas como ·acepipes·.z, anun
ciando indefinidamente o prato principal, destinados a abrir o apetite para o que viria
a seguir: ''A seguir, no próximo número!" Lacan só propôs menus sob a forma de um
folhetim - o de seu Seminário. Atualizemos. Observem, por exemplo, as séries da televi
são americana, muito em moda nos dias de hoje, em que vemos, a cada ano, os mesmos
personagens parcirem para novas aventuras. O Seminário de lacan é cambém uma série.
1. ARQUITETÔNICA DO SEMINÁRIO
Üpçào Lacaniana
nº 64
9 lkzcmhro 2011
<lissolu�:ào da Escola �reudiana de P�ri� e de sua_ tentativa <..le criar
L"OntemPorjneo à . J :õ
. i cs desse seminario foí.im escritas de antcmao; elas su bsiste.rn
uma nova Esc:o1a. As ç
inr egral mente. . .
amplitude de �rmta anos: d� 1951 a 1980. Tr�nta anos q
Temos, por tanto, uma _ ut
lacaniana da ps1�a��hse, se " ªº fosse necessário acrescentar
formam, diríamos, a época ..
que o Semmano adqum s se uma forma acabada. Hoje,
os trint a anos necessários para
Digo "ou quase" porque falta puhlicá-lo.
chegamos lá! o total aí está, ou quase.
Evoquei 05 dois Seminários topológicos de Lacan:
"A topologia e o tempo" e �Ob.
n deles re�ta será p:blicad
jeto e representação . Posso dizer-lhes que� que � �� a�exo no
" dois Seminanos in iciais,
livro 25, intitulado "O momento de concluu . Com relaçao aos
dispomos apenas do segundo, dedicado ao "Homem dos lobos", e apenas sob a forma de
indicações, de notas de ouvintes que circularam entre os alunos de Lacan. Estabeleci seu
texto e conto publicá-lo com o Seminário último, o da dissolução da Escola Freudiana de
3
Paris, em um pequeno volume intitulado "Nos extremos do Seminárto" •
Para terminar de situar o ponto em que estamos na publicação do Seminário que
ainda resta sair, indico que reuni em um só volume os Seminários 21 e 22, "Les non-du
pes errent" e uRSI", respectivamente, e, em outro volume os Seminários 24 e 25, "L'insu
que sait de l'une-bévue s'aile à mourre" e "O momento de concluir".
À pane o pequeno volume "Nos extremos do Seminário", re stam, portanto, oito
volumes a publicar. Tentarei convencer o editor a lançar dois por ano, já que suas in
tenções são de publicar apenas um nesse mesmo período. Conto com que a vox popuJi
se manifeste com insistência suficiente para que ele queira de bom grado acelerar essa
produção e que, por fim, disponhamos da sequência dos Seminários que Jacques Lacan
deixou.
Lacan nunca disse: "minha obra". Tampouco dizia: "minha teoria". Ele dizia: "meu
ensino". Ele não se quis um autor. Não se pensou nem se identificou com a posição de
um autor, mas sim com a daquele que ensina4 • Como esta palavra ficou comprometida.
ele foi identicado à posição, digamos com uma palavra empregada por ele, de "ensina
dor"'. Isto não significa apenas que sua Grande Obra é oral. O que distingue um autor
de um ensinador? Em primeiro lugar, um autor tem leitores, ao passo que
um ensinador
tem alunos. Além disso, o autor fala potencialmente para todos,
jã o ensinador fala para
alguns - o que evoca, claro, os bappyfew, de Shakespe
are a Stendhal.
E esses alguns que formaram o endereçamento
de Lacan - endereçamento cons
tante, para além dos contratempos que renovar
am seus ouvintes - eram psicanali>u:<
Lacan se endereçou, escolheu limitar
seu endereçamento aos psicanalistas, precisamente
os analistas que vinham escutã-
lo, que se deslocavam para fazê-lo, que traziam seu cor
po, tal como devemos levã-l
o a uma sessão de psicanãlise.
era vivo, a publicação cio Semin
ário demorou tanto - até
Se, quando Lacan ainda
10
minha chegada, diria eu -, não foi apenas devido à incapacidade dos outros de seus
alunos, em fazê-lo, nem somente devido às exigências de Lacan ou às suas re�icências.
Foi porque a própria matéria desse discurso endereçado a alguns repugnava, era de cena
forma antinômica a ser oferecida a qualquer um, nas livrarias. Lacan, definitivamente,
se a��modava muito bem com o fato de seus Seminários se acumularem num pequeno
armano, na rue de Ltlle, que, certo dia, ele abriu diante de mim. É verdade que ao mesmo
tempo ele era movido pelo anseio de que não se mantivessem assim, mas era preciso
haver a ocasião, que só chegou bem carde.
O Semtnário só se tornou uma obra, e Lacan um autor, pelo ofício, por intermédio
de um outro que tomou para si essa transformação e se fez seu agente. Esse efeito de
transformação foi passar do que era mais ou menos audível ao legível. É uma transfor
mação que, se assim posso dizer, universaliza esse discurso.
Por outro lado, Lacan foi autor. Há os Escritos' e, já há dez anos, há os Outros Es
critos. Ele começou a escrever antes de ministrar seu Seminário. Mas, uma vez começado
o Seminário, seus escritos se tornaram depósitos, cristalizações, quedas, rebotalhos dele.
Seus escritos, são, disse Lacan, testemunhos dos momentos em que ele teria sentido,
especialmente no que concernia ao Semtnário, resistências a segui-lo.
De um modo geral, seus escritos foram também ocasiões que suscitaram nele o
movimento de concluir uma articulação por escrito, muito frequentemente impelido por
uma demanda. Os escritos de Lacan têm um endereçamento, um por um. Eles foram
endereçados àqueles que lhe pediam para escrever, tal como me ocorreu lhe pedir para
escrever um prefácio ao Seminário 11, ou Televisão, quando ele se mostrava incapaz de
improvisar diante de uma câmera. Enfim... Ele era perfeitamente capaz de improvisar
diante de uma câmera, mas quando se filma, retoma-se, há emendas. Entre as tomadas,
a reflexão de Lacan continuava avançando, o que fazia com que, quando se tinha de
fazer uma emenda, nunca o era uma. Ao cabo de um dia, nos dávamos conta de que seu
pensamento não se mantinha no lugar. Foi então necessário parar a produção. E eu disse
a ele: "o senhor vai precisar escrever tudo isso", e foi o que ele fez.
Sem dúvida, de um modo que ignoro, ou que me é menos familiar, seus escritos
foram todos redigidos sob demanda. Demanda para entregar um relatório para um con
gresso, demanda de participar de uma enciclopédia, de um colóquio, de fazer um prefá
cio, de ir ao rãdio ou à televisão, ou seja, ocasiões. O último texto dos Escritos, intitulado
"A ciência e a verdade", Lacan o escreveu porque lhe pedi um texto para uma publicação
da Escola Nonnal Superior, da qual eu era aluno na época; uma publicação que eu es-
Longe de mim a ideia de desvalorizar o que Lacan produziu como escritos Nada
.
do que evoco aqui vai nessa direção. Sei bem que certo número de prosadores celebram
o Lacan do Seminário - esse Seminário que os fazia vibrar - e lamentam, em
contraparti
da, a aspereza de seu estilo escrito, qualificando-o de ilegível, mal acabado,
forçado. Esse
não é de modo algum meu ponto de vista Lacan distingui
. u a função do escrito muito
antes de ela estar na ordem do dia do pensamento
da filosofia contemporânea. Ele deu o
em seu Seminário 9, sobre a identificação.
devido lugar à função da escrita, em especial
e nos t ermos mais precisos, evocando até
uma primazia da escrita.
É pelo escrito que Lacan fixa sua doutri
na, o uso próprio de seus termos. É ali que
ele separa, se assim posso dizer, o
em seu Seminário, o
joio do trigo, que ele seleciona,
que merece, a seu critério, ser
isolado, preservado. Em seu Semi
tentativas, avança em múltiplas nário, Lacan faz muitas
direções, aventura-se, por
cakulado - em alguns deva veze s - aind a que de modo
neios, estira algumas analo
cntos, em contrapanida gias até onde pode . Em seus es
, ele faz a divisão entre
forma e o que pode, diga o que merece ser pres
mos, ficar em seu arm ervado sob ess a
Não me passa a menor ãrio.
ideia de desvalorizar
ma,.s pessoal foram seus escritos uma vez
que num plano
eles que me 1evaram
tome,. conhecim'. a Lacan. Sob a inju
nção de Louis Althusser.
ento no final de 196
foi preCISa
· mente assim.' 3 • dos artigos de Laca
que fui pego. n disp onív eis nas livrarias
.E
OPÇào la<aniana
n• 64
12
Dezembro :!011
O Seminário, lugar da invenção
13 lkzc:mbro 1011
Opção Lacaniana n° 64
.. 0 trata mal os seu s ouvintes ps, 1··
orém . como Laca , . .
l int t.• . r dt:ss
no • . a homenage m, P
.. .
quc .-.nu. · a ' recor rem a ahbts e, em ve2 ,1.
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e . . ... . •
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t ta o
pe•nsar a prop �
enta o . repet i-las,
ms1stt r. Lacan disse:
cis o,
n
É pre
lhes fora m d'tt aS . _ as testem unhas da invençao,
sao no sentido
. o, esses P'sicana listas . -
ensino. De rodo mod unh ar quan to à adeq uaçã o das prop os1çoes de La can
tes·tem
em que são eles que p . . ' sobre O que se passa nessa expe riên cia
na expene... nc1a ana lít'ic3
odem
No que é meu trabalho, não se trata simplesmente de restituir o que Lacan disse.
Para isso, bastaria datilografar a estenografia, tarefa à qual muitas pessoas se dedicam
e que eu nunca as impedi de fazê-lo. Em meu trabalho, trata-se de reencontrar o que
Lacan quis dizer e não disse, ou disse de modo imperfeito, obscuro. Evidentemente, isto
é arriscado. É um exercício arriscado avaliar o que ele quis dizer e não disse porque
o significante resiste à intenção de dizer. Trata-se de reencontrar o que ele quis dizer
o mais próximo possível daquilo que ele disse, mas subtraindo-se da ditadura do que
ainda resta na estenografia.
Isto é especialmente válido quando se trata, como no Seminário "A identificação",
de múltiplas figuras topológicas as quais Lacan aprendia ao mesmo tempo em que as
ensinava ou, pelo menos, as desenhava. Uma parte do que dizia sobre isso, ele o fazia
enquanto desenhava. Aqui, se não tomamos como regra o que ele quis dizer, não com
preendemos absolutamente nada. Trata-se, portanto, certamente da intenção, tal como
podemos reconstituí-la a partir do que Lacan disse. Em outras palavras, se tivesse de
qualificar a partir disso o que fiz. e talvez o que deveria ter feito mais, eu diria: trata-se
de " traduzir Lacan". É uma tradução.
Lacan se expressava em uma língua falada apenas por um, que ele se esforçava
para ensinar aos outros. Pois bem, trata-se, então, de compreender essa língua! Nestes
últimos anos me dei conta de que, na verdade, eu só a compreendi depois de tê-la tra
duzido. Antes, ao percorrer inúmeras vezes seus Seminários, eu percebia, sem dúvida
- como dizê-lo? .. -, do que se tratava, o suficiente para deles extrair os teoremas que
poderiam me inspirar em meu Curso. Mas foi apenas depois de estabelecer e escrever o
texto no movimento de fazê-lo definitivamente que apareceram para mim os lineamen
tos e a trama tão cerrada da invenção de Lacan.
Quando digo "traduzir", digo que se trata de fazer aparecer a arquitetura desse
ensino. I.acan diz ter se dedicado à invenção de uma dialética. Um filósofo. tal como eu
era outrora, teria falado da autodeterminação arquitetônica do Seminário, ou seja. dessa
Nessa figura, com muitas precauções, ele opõe duas dimensões ou duas formas de
existência do furo. O primeiro é o furo interno, jã presente no cilindro, em torno do qual
se enrola uma superfície que se encontra, assim, oca. O segundo furo, 0 fu ro central do
toro é aquele pelo qual ele se comunica com o espaço circundante. Hã O fu ro dentro do
cilindro e, depois, o segundo furo que perfura o toro verticalmente.
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Dezembro 201 1
Lacan desenvolve longamente a oposição desses dois furos e, logo em seguida,
propõe seu uso metafórico, ilustrando por seu intermédio a rela\'ào entre a demanda e
o desejo. Ele convida a traçar círculos em espiral em torno do '-"<>rpo cilíndrico do toro
e propõe metaforicamente que esses círculos em espiral, a girar em tomo da câmara de
ar, representam a repetição e a insistência da demanda: a demanda se reitera. Em tomo
do furo interno, temos essa primeira representação dos giros múltiplos da demanda que
acabam por se fechar ao término do circuito. Ele então ressalta que, pelo simples fato de
se terem fechado em torno do corpo cilíndrico, o furo central encontra-se invisivelmente
rodeado por eles. Esse furo central é identificado por ele, sempre metaforicamente, com
o objeto do desejo. Nenhum dos giros da demanda envelopa esse objeto, mas o corpo
completo dos giros da demanda acaba por desenhar o furo central.
Retornaremos a isso eventualmente ainda este ano. Evoco-o apenas para dizer
que me represento o Seminário de Lacan, hoje, pautado nesse modelo. Os Seminários
que prosseguem se enroscam como os giros da demanda, reiterando-se ano após ano,
cabe dizer, até o fim, enquanto ele teve voz. Ao mesmo tempo, eles formam o contorno
de um vazio central. É em direção a esse vazio que o Seminário progride. Esse vazio é,
de algum modo, a mola da reiteração, a mola desse work in progress. Talvez devamos
colocar um nome nesse vazio.
17 Dezembro l01 I
Opçio lacaniana n" 64
é predso restituir. Lacan, nesse c.·aso, se precipita, tenta di1.er numa só fra se o q ue
�U..
um recorte cm muitas oper�-ões e, por não desdobrar esses tempos, não compree�.1
mos nada. A essa dificuldade, acrescente-se o fato de que - e Lacan tentou demonstrã,
k_
em seus últimos Seminários - há uma pertinência muito grande entre a topologia e f,
tempo, precisamente. Há coisas que devem ser feitas primeiro e outras que se deve fa
depois; isso muda conforme a ordem em que são feitas as operações. Digamos que llO<,
ztr
Opção l.acaniana nº 64
li Dezembro 201 1
Faço isso agora mais do que antes. Por quê? Eu era mais tímido? Antes, eu deixava
mais para o leitor se virar com isso. E, eventualmente, em meu Curso, eu destrinchava.
Digamos que, hoje, destrincho bem mais o texto do que no passado. Comecei pela frase.
Lacan sempre confia o termo mais imponante da frase à última palavra, o que obriga a
fazer acrobacias prévias, o que preservei por longo tempo. Mas, a panir de certa data, ao
constatar as dificuldades que isso produzia para o leitor, decidi destorcer a frase. Hoje,
dei um passo a mais, a saber: tentei viabilizar, nesses oito Seminários vindouros, um
texto tão pouco equívoco quanto possível. Por exemplo, vê-se com mais clareza quais
são os antecedentes dos pronomes relativos. Fiz isso pensando que, se não o fizesse,
ninguém mais faria. Devo dizer que esse desembrenhar emerge como uma Atlântida en
golfada. Há uma espécie de escavação, na qual se tem nas mãos alguma coisa poeirenta
que começamos a limpar com um pincelzinho para, então, ver aparecer os relevos. Isso
se produz para mim no trabalho que faço, que realizo com o júbilo de um arqueólogo
que vê chegarem à superfície inscrições escondidas.
Certamente é preciso pôr algo de si. Por mais destorcida, por mais completada que
seja a argumentação de Lacan, ela não impede que ali se ponha algo de seu. Evocarei
aqui um autor ao qual, creio eu, Lacan se referiu uma vez, mas não penso que haja um
rastro disso. Quando anunciava a criação de sua Escola, ele evocara - talvez porque eu
havia l he falado a respeito - o filósofo Fichte, aluno de Kant que, em sua segunda intro
dução a Wissenschaftlebre, A doutrina da ciência'!!, escreveu, com relação à objeção que
lhe fizeram no sentido de não se compreender absolutamente nada do que ele enuncia
va em seu curso de filosofia: "Dizem que se deve contar com a atividade autônoma do
outro e l he dar não tal pensamento determinado, mas apenas as indicações para que ele
mesmo o pense."
É isto que faz Lacan em seus escritos, mas cambém em seus Seminários: ele dá as
indicações para que se pense por si mesmo. Esta é uma ideia que ele próprio exprime
no final da "Abertura" dos Escrllos. Ele o faz à sua maneira, mas é a mesma ideia que a
de Fichte: "Queremos, com o percurso de que estes textos são os marcos e com o estilo
que seu endereçamento impõe, levar o leitor a uma consequência em que ele precise
colocar algo de si"14•
19 Dezembro lOl l
Opção Lacaniana nº 64
tem , por ocasião das pesquisas empíricas,
que só· um homem que ,.
·peven·amos pensar ·si mesm elas con
as.
. tentam pouco o espmto , sentido �·
cia O q ua nto . par · �
do com frequên . . ntes que ali se encontram remetem quase se
mas· mais interessa 11lf
•sarnente qu e os .proble . irt a
com que lenu.d.ao. e ince
rteza nelas se prognde sem ideias di....
princípios supenore5 e _ . a • a a lle-1�
r..t
A d as a discernir aparenc i e e1et
ren deu , por expenen
múlt iplas,
só um homem qu e 3P i�1-
humanos; só um tal homem, fati ado
dade , a fut1hdade e a real a
.. id de dos conhecimentos g Pct
que ele própn0 propôs 3
. si mesmo na ignorância daquilo de
inumera s P esquisa·s vãs
. qUt 1)
. só um cal homem despertará em si, com um completo inte�
esPfrit o do h mem é c a pa z,
.• . rdo daqui lo que ele demanda, a questao: o que, no fina
o
Real, em alemão, das Real. "O que, no final, é real (Rea[) em nossas representa.
ções?" Essa questão, no fundo, é o que há de mais natural para um psicanalista. Não
em relação à re presentação, levada a seu ãpice pelo idealismo transcendental, mas na
dimensão das palavras, em tudo o que se carreia em uma análise: relatos, historietas.
deplorações, censuras, aproximações, votos, mentiras, meias verdades, arrependimen.
tos, suspiros, falas qu e, dizia Lacan, definitivamente valem bem pouco. Em tudo isso. o
que, no final, é o real? Digo que o que orienta a tarefa maravilhosa dessa invenção da
dialética da qual Lacan falou e que está depositada nos giros espiralados do Seminário
é a questão formulada por Schelling nos seguintes termos: o que é, no final, das Real?
A grande resposta do ensino de Lacan a essa pergunta é, em primeiro lugar: o
real é o simbólico. É o simbólico porque o que ele chamava de real, nessa época, estava
excluído da análise . O que ele isolava como sendo o real no tratamento analítico. no
sujeito, era o núcleo de simbólico, eventualmente encarnado pela.frase,
em sua oposição
ao que se tratava de atravessar como uma tela, a saber: o imaginári
o. Digamos, então.
que aquilo que se chamou de ensino de Lacan e que se
mantém essencialmente nos seis
primeiros Seminários, de Os escritos técnicos de Freud
a "O desejo e sua interpretação·.
é o simbólico tomado como real do imaginá
rio. O simbólico é o que hã de real no ima·
ginário.
Foi preciso a ruptura do sétimo Seminá
rio, A ética da psicanálise, para que o real
encontrasse suas cores
à distância do simbólico e
do imagin ário, os quais adquiriram
então O e statuto de
semblante. Esse real aparece então index
ado pela palavra alemã : da-'
Dlng. Foi O que fez com que me referis
se a Fichte e a Schelling entre Kant e Hegel. re
aparece indexado ª das O 'Ji
Ding, à Coisa, referência com a
Isso é O que este ano, no fio qual Lacan indicava a pu lsão
do Seminário de Laca n, será
Em Freud, para dizê-lo nossa questão.
rapidamente, o que finalm ente
Freud, no final dos é real, é a biolog ia. pa�
.
fina'is, 0 rea 1 é a b10log1a.
PDsso diz . ' Se eu quiser permanecer no curto-ci· rcui!O·
er que' para Laca n, no
fi nal dos finais o que é real é a topologia. A aber e
s ·
Opção lacaniana nº
64
20
que não é matéria nenhuma, que é apenas pura relação de espaço, ou ainda, um espaço
que, em relação aos outros, devemos marcar com uma negação. Um n�o16 indicando
não se tratar de nada sensível. Se, no Semtnário: "A identificação", Lacan utiliza ainda as
figuras topológicas como ilustrações ou como metáforas; e ele continuou, inclusive para
além de seu Seminário: "Momento de concluir", a acossar a topologia, foi por ter visto,
por ter situado o real em seu sem sentido.
Em tudo o que Lacan enuncia, as aspas são sempre constantes. Em seu Seminário,
ele nunca se expressa sem dizer: "se assim posso dizer", "por assim dizer", "o que cha
mam de ... ". Ele pega tudo com pinças, isto quer dizer que os toma como significantes
com os quais tentamos, desajeitadamente, captar o que acontece com o real. Aliãs, por
essa razão sou obrigado, quando lhe dou uma forma legível, a retirar algumas dessas
expressões, caso contrário, não se poderia ler a frase. Conservando os "por assim dizer"
e os "o que chamam de ... ", dobraríamos o volume do Seminário. Deixo o suficiente para
apreendermos que a atmosfera de seu discurso, a própria essência de sua enunciação é
tomar as coisas, as palavras, entre aspas. São maneiras de falar. São maneiras de falar,
que também são modos de apagar aquilo de que se trata.
Essa "atitude proposicional" - posso dizê-lo assim, tal como dizia Bertrand Russell
- desde sempre foi a de Lacan. Ele dizia, inclusive, que, quando estudante, era aquele
que falava: "não é bem isso". Mas, por vezes, quando nos atemos a essa disciplina, é exa
tamente isso. Em particular, quando encontramos a palavra justa. Com frequência, para
encontrar a palavra justa, é preciso deformá-la, é preciso que ela chegue a ultrapassar o
muro do significante e do significado. E não se ultrapassa o muro do significante e do
;significado sem deformá-lo um pouco e, por vezes, é exatamente isso. Quando digo que
; para Lacan - ele disse isso uma ou duas vezes - a topologia é o real, faço-o sem aspas,
Usei minhas mãos para fazer a mímica da relação entre os dois círculos, cuja
articulação é constituinte do objeto topológico cha mado toro, que foi o primeiro dessa
ordem a ser introduzido por La can na psicanálise.
inventado por
Direi que essa topologia é, de certa forma, um novo imaginário
Lacan , na medida em q ue ele a pescou na s matemáticas para nos levar a empregar
novas fonnas. 0 uso que faço da expressão "novo imaginário" se justifica pelo fato de
que La can, m e parece, foi levado a i sso por uma obra da qual um dos autores se cha ma
Dav id H ilbert - matemático bastante conhecido e muito importante do final do século
XI X, um oráculo d a s m a temática s - que, na oca sião, acrescentou um reputado Cohn,
Dezembro 2011
Opção Lacaniana nº 64 Z1
. er qu e me é d esconhecido. Essa obra
d,z
mod o de. ,.
que um Laca n pescou a banda de Maeb·
men��. 11 ar que
que identi fico on . fo1 1
o
Não é por acaso que, no primeiro passo que podemos dar sobre o real, esbarramos
na noção de causa. Há, para dizê-lo como os filósofos. uma pertinência conceituai es·
sendal entre o real e a causa. Quando nos servimos da palavra "real", poderíamos fazer
disso o traço distintivo da adequação da palavra: o real é causa. Só é legítimo falar de
real sob a condição de que aquilo a que atribuímos a qualidade de ser real seja causa.
O primado da representação
õ to. Respir. am os H .
um correlato real e, na ide' · de Deus, ela não pode deixar ,1( ,
. a a 1·de ia
ia de Deus esta. i. r �-
nador, uma vez que ele é p lícito que ele não pode querer se e
o que ha de m ais · real. Adem . . "'
m
iram os e vem os
t-omeço retornar pelo tudO que se havia colocado em susp1:.•n.s.i_O...111
canal de u m Outr
da representação o que é situado ali c omo o passador <la OfV" .
para o real . N i: 111-'1�
ão se dirã que
e um Outro supos,to saher. E lt:.
' • •
Vou rápido, mas direi que os grandes cartesianos que, no entanto, divergiram de
Descartes em muitos pontos, seja Malebranche ou Spinoza, reconhecem no significante
"Deus" a função de passador da representação para o real: a representação procede de
Deus. Eles se distinguem de Descartes no sentido em que, d.e certo modo, sua enuncia
ção se instala, de saída, no lugar do Outro. Assim, eles se privam do patético da expe
riência cartesiana, patético ao qual ficamos sensíveis quando lemos as Meditações desse
sujeito sozinho, que tenta ali se achar, que caminha dificilmente vendo desmoronar
todas as suas crenças e hábitos, depois todas as suas certezas, o conjunto formado pelo
ente, para, por fim, emergir reduzido a um vértice, a partir do qual tudo se recompõe.
Os outros cartesianos, de saida, passam para o lugar do Outro e se dedicam ao que,
em Malebranche, se chama a visão em Deus e, em Spinoza, a equivalência entre Deus
e a natureza - Deus sive natura. Deus é a natureza, que estende esse lugar do Outro ao
conjunto dos entes.
Aproximamo-nos do ponto em que estamos <."Om Freud e com a psicanálise, a
partir do momento em que a conexão divina entre a ordem da representação e o real foi
rompida. Estou dando um curso de filosofia para psicanalistas, mas é preciso passar por
isso, pelo menos este ano. Sem me estender muito, diria que essa conexão se rompeu
a partir de Kant. De todo modo, foi com Kant que saímos da Idade Média. Será que de
fato saímos dela? Nada garantido. É com Kant que liquidamos o resíduo escolástico de
Descartes. Este foi o valor de manter o que fez gerações de filósofos e também de não
filósofos darem risa.das, a saber, o limite imposto por Kant ao falar de a coisa em si que.
justamente, não é para o sujeito, da coisa em si que, como tal, é incognoscível e, pre
cisamente, da ordem daquilo que, do real, não passa para a representação. Foi a partir
desse momento que não mais pudemos nos servir do significante Deus para garantir a
conexão entre representação e real. Sobre isso, Kant mobilizou os recursos da lógica a
fim de mostrar que o raciocinio de Descartes sobre a ideia de Deus é um paralogismo.
Sigo adiante.
: cisão
o real segundo Schopenhauer
que caberia em
Ele , "'
dua'· t res folh .
adtnira• ve[ retóric as de pape1 , e el .
. o que tr . . e escreveu seiscentas pãga nas. n<'
a Slmphcida az indefinid ament
de de que fal . e provas em seu a poio, mas a a nnadu�
O l ivro li ea .
liervava COm0 ' monde com me VOlo
Le
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a VOn•·-.&t: 0 real incognOScív me,• é uma exaltação do sujeito. O q 111,JI 1
"- do suJell
em si, Schopenhauer chanta <1e v . . r r1
· . o que el da co·isa o
Rlcio da
COnt não é re ,,,,�
•ida q0e é e. mpIação, ao ffio presen tav . e), mas da
qual podem os n<>< a r� \.;JJ· ,
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da si mpl co, que se expressa esped a hnente ria ,.,,
es represe oP"
°""' L.-._.
--- .. 64
m açao.
- A vontade quer a vi · d • sch
·
illSlala como ca1egoria central do su;eilo o querer vi\.'er. E nessa es1eira que l'i�
se inscre'\-erá. graduando o querer ,i,-er. os inimigos do querer ,·i\'el' e celebrando. ao
contrário. a carreira dada ao destjo e ao querer vi\.'er.
Isso levou Schopenhauer a dar, nesse seu livro. um lugar especial ao que ele dia
ma de ato da procriação. Não há muitos 6lósofus que tenham dado esse lugar ao ato da
procriação. Há Aristóteles. mas ele deu lugar a tudo. Em sua História dos animais há. é
claro. um lugar para a procriação. Mas. em Schopenhauer (: diferente. pois ele considera
o ato da procriação como uma encamação absolutamente distinta do querer ,i..-er. Ele
chega a evocar o gozo carnal. no qual a \-ontade de viver mostra que ultrapassa. a vida
do indivíduo. mostra que é transindi,idual. Os exegetas no<aram esse lugar que Schope
nhauer da,.,. à relaçào entre os sexos em duas. tres páginas fulgurantes. ls.,;o os ie--ou a
pensar que Freud calvez ti\,:sse folheado le monde comme 110/onlé el comnw fY!/Jl'f!snlla
lion. o que não me parec:e ser o caso.
. e ác
.
bto e D e m ócrito . Hegel que n. e Schopenhaut,
Hegel e Schopenhauer. assim com H
. . as coisa s nunca podem temu nar bem
0 r
Dezembro 201 1
can - que. bem entendido, se desprende de Rornan Jakobson e de Claude Lévi-Strauss
-, a saber: a questão do real.
O que Lacan enconcrou na estrutura foi uma resposta à questão do real, que lhe
pareceu operatória para a psicanálise, a fim de passar do palavrório para o real. Isso o
levou a formular que o que é real e o que é causa, no campo freudiano, é a estrutura da
linguagem. E digo a mim mesmo que, quando ainda muito jovem, ao escrever um artigo
intitulado •Action de la structure.i7, depois de fazer uma primeira leitura de Lacan, pelo
menos apreendi em que sentido, em Lacan, a estrutura é o real.
Lidamos com o real, o simbólico e o imaginário como algo conhecido porque re
citamos isso, se assim posso dizer, antes mesmo de nascermos. Lacan pescou esses três
termos em uma página de aaude Lévi-Strauss, em "L'efficacité symbolique" - que é uma
forma de dizer "Ação da estrutura" - e, sobre isso, ele fez uma conferência que precede
a cisão de 1953 e seu primeiro Seminário público. Vocês encontrarão essa conferência,
reeditada pelas edições Seuil, no opúsculo que intitulei Os Nomes-do-Pai, já que Lacan
disse, mais tarde, que o real, o simbólico e o imaginário eram, no fundo, Nomes-do-Pai.
Lidamos como se a tripanição real, simbólico e imaginário fosse algo adquirido -
por quem .... ?28 Ela é validada pelo uso que fazemos dela e pela clarificação trazida por
ela para os fenômenos com os quais nos confrontamos na experiência analítica. Na últi
ma pane de seu ensino, Lacan se aplicou a colocar essa tripartição no mesmo plano com
aros de barbante. Todavia, no começo, não era nada assim: hã, primeiro, uma tripartição
e até mesmo uma hierarquia ontológica entre esses três termos.
Essa tripartição permite, primeiro, excluir o real, no sentido de real, no sentido,
aqui, do que é dado, do que é natural. Pode-se ver que ela exclui a um só tempo o que
haveria de substancial no corpo. Ela induz ao fato de que no campo freudiano só apa
recem as voltas do dito, o resto não é levado em conta. Não diremos ao paciente: "você
me disse isso sobre seu pai; pois bem, vamos interrogar seu pai a fim de conhecer seu
ponto de vista! " É o que se faz muito naturalmente na terapia familiar, em que se trata
de estar de acordo com o que aconteceu, em que se trata de comunicar as coisas. É um
exercício de negociação, é uma terapia por negociação: as pessoas deal.
A exclusão do real é outra coisa. Ela quer dizer que, embora tudo isso seja muito
legitimo em uma terapia de família, não faz parte do campo freudiano: não pedimos ao
paciente para trazer sua mãe. Isso nos parece muito natural, mas significa que partimos
de um: "confiamos no que você diz, nas mentiras que você diz". Consideramos essas
mentiras como mai.'i preciosas do que todas as verificações que, eventualmente, os ana-
Um real estruturado
··
A escolha hegeliana de Lacan, a orientação hegeliana primeira de Lacan, penrutru-
er =;= -•"·- · ·- · ·
-llie inscrev a ,-...- no registro da oenaa, pots essa orientação o autorizava dizer
que real de que se trata na psicanálise é um real estruturado. Ele O diz sob a fonna de
�
seu mconsoente estruturado como uma linguagem". Isso foi repetido e repetido como
fórmula de levitaÇ30"', mas isto só tem senti·c1o lacamano .
sob a condição de se apreender
. .
=
que o 1nconsoerue é real.
.
Lacan guardou isto - o inconsciente é real - p ara st. Só abriu mão de le
., eO
em seu u, 1tuno . texto que J3 comentei 1ongarnenie em outro momento, a
saber: o "Prefácio
à edição q.,,_;--•�- do Semlnário , • , .
11 , o ultimo texto dos Outros escritos.
. . Ele o escreveu em
um parêntese ·· "( ··· ) do mconsciente (que só é o que se crê _ digo · . .
· o tnconsciente, sep..
o real - caso se acredite em mim)"'°.
A escolha hegeliana de l.acan é inteira
ntente coerente com seu
estruturalismo, ao
passo que os estruturalistas comuns
gelianos ; eram mais posítivjsia,· Claude
"."'
eram .
tto naturalmente antidialéticos e
anti-he-
·
Lévi-Strauss levou isso muito
........,
.--- ·
_ a natura1tZar longe. Ele esrava
a estrutura. Aliás
' por essa razão, nossos sonhadores neocientist2S
podem se juntar a ele .., __ ª IS50.
""·-- . ·
nal•• de Hcge� se traduz,
Mas é preaso ver que O "tudo o que é real é rad<>"
para Lacan
real". No fundo, este é O � "";;; � segundo a qual "há saber no
J>ORulado
' po!S de Galileu: a natureza é escrita em
Opçio l.ocaniana .. 64
32
signo:. matemáticos. Nesse sentido, o inconsciente para Lacan é uma estrutura. ou seja,
um ber no rea! . T�r �-se d� saber qual, mas, há saber no real. Desse modo, Lacan pôde
�
pensar que a psicanahse se Juntaria à ciência. Ele apelou para a topologia a fim de exibir
o real da �'ilrutura. Pesq�ei isto no Seminário "Os problemas cruciais para a psicanálise".
onde ele diz: •A topologia que construo para vocês é alguma coisa que deve ser entendi
da, para falar com propriedade, como o real, ainda que seja o real do qual o impossível
é uma das dimensões, sua dimensão própria e essencial�·. Para Lacan, a topologia nào é
representação, uma vez que representa o que é, ou seja, fórmulas matemáticas, relações
matemáticas, um saber. Para ele, a topologia é a via que corresponde ao que é exigido
pela estrutura da linguagem.
De� 201 1
D
. a dialética , a história. o
estrutura,
a comb inato, ria . . .
a m só tempo , a . que, em seu o i mi smo pnme1ro, Lacan
. ból ,c " o, temos , . , ia, .
fixação e a inerc
t
"m
u
simbólico.
por completo ao próximo deslocamento do • . . .
essa de reabsorçao do imaginário
Podemos dizer que há, em primeiro lugar, uma prom da
verdade sobre o real - exp
proferida por Lacan. Há, primeiro, uma dominação da
hcarei
l�nbro ZO J l
Seminários: "A i.s.,
SI·rua entre seus
até essa data . �- ,- que se
......,,
""'� "'Ili;
esfo,ço de ensino 1· . "
" e·oaro psieana itiCO .
da íanrasia
(aldUia1
0 que Kl)llleCe com a
lmente o que, para o su�
. . eu diria que é essc,ncia
Em uma pnmeira aboldagem. . des.sa tela lhe permita o acesso ao 'ta'.
faz tela diante do real . Supõe-se que ª in:�_... ã estava cerceado, era ÍIICapoi
___._ qual o SUjettO, """ ent o•
ter um awnw com O real, do
apena s para o real, mas também para O ser do sujeilo. A OO!ll
Essa íantasia faz tela não . .
• ,.• é O que precipita um suJeilO para a amhse, 11111;
desse ser a pergunta: Quem sou eu. .
f"alo de estar diante de algo que opacdian
vez que ;,._0 dispõem dessa chave, ou pelo
o que em á1g_ebra rnamos ""'
seu ·eu sou", o que o levaria a sustentar-se como � �.
um "x". As.sim. a questão de que se trata é que o efeito maior da
incógnita, �
com propriedade, <
analítica não é nem o de cura, nem o de formação, mas, para falar
de revelação ontológica quanto ao sujeito.
A íantasia, porém, não é apenas tela do real. Ela também é, ao mesmo lelllpt
janela para o real. Temoo aqui um valor da fantasia que merece ser confrontado, entre,
tela e a janela. Cito Lacan em sua "Proposição de 9 de outubro ... •, variando um pouco ,
frase: "A íantasia é aquilo que ronstilu i pa ra cada u m sua janela para o real...""
Nes.,e sentido, a fantasia é uma função do real, uma função subjetivada, singub,
rizada, do real. Ela é o real para cada um, o que deixa no horizonte a possibilidade de
uma vez atravessada essa janela que singulariza, o sujeito ter acesso ao real para todos
a um campo comum do real que Lacan chegou a celebrar no começo de seu ensino. Eli
via, na experiência analítica, o caminho pelo qual o sujeito se despojaria de sua singu
laridade a fi m de ir ao eooontro de um "para todos" que, indiscutivelmente, tinha uro,
tonalidade hegeliana.
Dc:Kmbru .ZOI I
. se torna um ser do saber. "'"
JO
o rfose.
. o se r do dese . .
pa A fantasia que ""<
ter mos de me ta m fantasia se dissi .
trJduz .lSto em con ver sao
- , na qua I a sa ber. O dese)O
. se su t n
s e i,
nis. so .a\go de u ma verdadeira . u ma vez que não havia .
po tava o dese10, e a nál ise quan do o d ese10 "vira·
sustentad.a e que
su a, fi naI d ... .
o fundo ' haver são de uma analise. E, assim
r
L
AS ANFIBOLOGIAS DO REA
O real e a verdade
mesmo que Lacan tenha repetido que o real é o que retorna sempre ao mes
e o u o e o e
pés l i geiros,
0
Essa fórmula, aliás, se mpre retornou ao mesmo lugar. Tal como Aquiles de
eirJ
real retorna sempre ao mesmo lugar. Em um Dicionário das ideias, concebidas à m an
de Flaubert, concernente ao discurso de Lacan, é assim que ele figuraria . Contudo , o real
nem sempre quer dizer a mesma co isa . Retornar sempre ao mesmo lugar sign ifica q
ue
o real nào é dialético e, nesse sentido , ele compo rta um elemento, um caráter reb idl e
Aliás, quando Lacan introduz a categoria do real, ele, de saída , faz dela u m elemen º
1
excluído: na análise, não há real.
Quando ele se esmera em dar algumas diretivas em relação à direção do t rata mell'
to, é preciso ver que ele as enuncia com certo cinismo. Quando fala do trata me nto e d)
direção que O analista poderia lhe imprimir, ele indica, primeiro e muito precisameoti·
Opç:lo Lacaniana nº 64
quol é o pnmeuo tempo dessa direção. Remeto mcês aos Escrilos. à pigim ',92, ·A dt
� do mumeno ' ... J <olm9e. em primeiro lugar. em fuer rom que o 5Ujeilo aplique
a tqtl'2 analiic:a.._'"""'
Ele não diz muilo mais sobre isso. Mas. par., nós. esse é um rom-.e no ao anali
same par., dizer as alisas sem censura. em t<ll2J liberdade. o analisanre de,,, dizer o que
lhe ,,.,., à abeça pois. par., biar rom propriewde, esse é o sentido do que Freud ctwna
de Einfa/J. is1o é. ·o que =-- É o que lhes ai. lhes passa pela c:m<Ç2- A nespeilo desse,
tempo inicial ucan diz ainda - e aqui eslá o que llllei de cinismo -. "Digamos apenas
que. ao tmJZHO à sua ,-.enlade. esse tempo consisle em fuer o padenlr esquecer que
se uaia apenas de pala\-ras..:.
•.\qUi es1á eswnpada uma impostura primeira da experiência analtica, trat2-se
Ião somertt de p,wl\Tas. não se uaia de real. Sequer se pede par., dizer a ,,enlade.
Seria complewnenle errôneo considerar que a regra analilica é, ·diga-me a w:rdade".
a ,-en:bde que seria. de aconlo com a definição cláS>ica. a adequação ffllre a coi.sa e o
pensamenro. Dizler a ,-.enlade é uma injunção jurídica, ·Juro dizer a ,ienlade. � a
\Oeldade. nada mais que a vcnlade". Aliás. �. por CfftO. de ía,i-Jo. Abstemo
-nos por presen"2r. quanio à verdade. seu caráter de desconhecido. ainda por vir. A
injunção analíôca é. pelo conuário e para falar com propriedade. dizer qualquer coisa.
não o ,-eroadeiro. rampouco o real. Ou seja. dizer o que nos \"CIII à abeç.a. E. de saída.
quando ucan a,'311ÇOU sua tripaniçào, real. simbólico e im3ginário. ele fez do real o que
eslá mais ou menos excluído da experiência analítica .
•'lgor:I que jã se encontra publicada em um pequeno l.n-ro chamado Os ,iomes do
pai. uma conl\:rencia de Lacan darada de 8 de julho de 1953"'. ,-ocês podem se repanar
a ela. Nessa �- a petI1Unta de Lacan - par., logo recusá-la - é se. de fato. numa
análise. remos de haver-nos com uma relação do sujeilo com o real.
Lacan se depara em seguida. em seu caminho. com o imaginário sohre o qual diz
ser analisi,'el. embora não se confunda com o analisi,"'1. Cenrra-se, então, na função
simbólica, naquilo que 1.évi-Strauss chamava de leis de esrrurura, que se impõem a
<lemenros aniculados. elemenlos emprestados de rodos os registros da realidade e do
imaginário. Lévi-Straus.<. em seu anigo ·A efi<."ácia simbólica", que. nessa época, in.spr.l\-a
Lacan, dizia que o inconsciente era sempre vazio. constiruído apenas das lei.• de esrruru
ra às quais impunha a um marerial romposro de imagens, ·o vo..-ahulArio importa menos
do que a es1rutura"-". dizia ele.
Nesse sentido, enndo excluído o real o-orno realidade. é o simbólico que aparece
•
J)aS5o d,
efeitos. Este é u m
O que tem
al e z , o rea1 como , aq le que se ex""'-.
como w;rldicb. com<> re fica sicanálise
relagem da p
ue
r
de psíquica vem do
.; milado quil
isso.
à o q ue , na fí sic a de Ga li leu, é 0
engendran,
perm ta çõe s signi ficantes que
para ilustrar as
de ·A carta roubada"" foi feita efeitos psíquicos. Cada persona
geq
u
A esse respeito, houve alguém que entendeu Lacan, alguém que, sem dúvida, en
tendeu muito bem o Seminário 11 e o traduziu à sua maneira. Esse alguém foi Roland
Barthes que, em seu último livro, publicado quando ainda era vivo, e intitulado "A câma
ra clara", escreveu sobre a fotografia. Poderíamos pensar que a fotografia é uma repre
sentação bruta do real. Mas, em conformidade com a direção de Lacan, Roland Barthes
ali distingue duas dimensões que designa com nomes latinos: o studium e o punctum,
termos que respondem perfeitamente à clivagem entre homeostase e repetição, e tam
bém entre autômaton e Uquê.
Segundo Barthes, em uma foto há, em primeiro lugar, o que ele chama de studium,
ou seja, o que interessa, o que é o objeto de um investimento geral, sem acuidade particu
lar: el� interessa, informa, se sustenta. De algum modo, é o porte e a harmonia da imagem.
Depois, quando se trata de uma boa foto, quando é uma foto que nos retém, há o punc
tum, alguma coisa que vem quebrar ou escandir o studium, perfurá-lo l."Omo uma flecha.
É um acaso que me atinge, que me toma, diz ele. Esse punctum é, de algum modo, um
detalhe que mobiliza especialmente e que faz mancha no studtum, ele desdobra a imagem.
Pois bem, a meu ver, trata-se de um texto que foi diretamente inspirado pelo Seminário 11,
de Lacan, com o estilo próprio, é claro, o gênio próprio de Roland Barthes.
Pensar nessa referência me levou também a outro artigo de Banhes que deixou
marca nos estudos literários: /'l;[fet de rée/40 • Posso lhes dar um dos exemplos que ele
toma de "Un coeur simple nt 1 , um dos Três contos de Flaubert: •um velho piano suportava ,
sob um barômetro, um amontoado piramidal de caixas e de papelão•. O que sào esses
detalhes? Barthes admite que isso a<."Ontece na casa da patroa da empregada doméstica,
Félicité, e que o velho piano pode assinalar seu status social. As caixas e o papelão in
dicam que há certa desordem, que a casa é mal cuidada. Mas, e o barômetro? Ah!, isso
não se explica. o interesse de Roland Banhes se centra, sobretudo, no barômetro, ou
seja, em um deralhe que parece supérfluo, a mais. Este é, de algum modo, o punctum
:=çao, �
dos �iros, mediante os quais podemos generalizar o qu e recebemos por m eio da
canal da intu ição . �nto, o qu e é intuitivo é sempre singular, Enquanto
� provem da ordem do conceito é, pelo contrário, g eral. Poderíamos aqu i , se vocês
qwsessem, evocar oposição do concreto ao abstrato .
ª
A fórmula kantiana supõe do co nh ec1. m ento supõe sempre cena conjunção da in·
tuição e do conceito. A .mcu,çã . o e• da ordem do
qu e receb emos do m undo, do exterior.
sendo , portanto da ordem d rec ept 1V1dade. . .
do suj eito. A ta�fa é
ª Já O conceito pertence à esp ontan eidade
• então, pensar com o o entend·• m ento
e a sensibilidade entram elTI
acordo e se conjugam .
lacan, que inclUsive evoca ISSO . de passage m , diz - é divertido -q
sensibilidade e entendi m ento p u e o acordo entre
assa, em Kant por
susc1.tou todas as COntrové um afunila mento12 . Este a fu ni lamento
rsias •magmav e,s
. , . .
dos c om entadores. Para que possam o s ter '
.
ide"13 de como isso funciona
. ' eu m e contentarei c om o . :
sua arquitecõnica, foi Decessá.rio a Kant seguinte e m sua construção, eJ1l
sões, foi preciso enc enc ontrar u m m ed·1 do
ontrar um ele m ento 3 r entre essas duas dimen·
de todo modo, decorresse també que.' por algum lado ,
pen encesse à in!lli�-:io <-
ma , para o qual i m do c onc e1to. Ele
nvema um Pod er Pró O enc Ontra no qu e chama d e esque-
prt" o da alm a, que
designa c o m o "esquemausn . )(I.·
Opçio W2niana. rr 64
44
do qual diz ser a arte mais misteriosa. Vou citá-lo, pois é bem engraçado: -esse esquema
tismo é uma arte oculta nas profundezas da alma humana". Há onze páginas da Critica
da ,r,zão prática, que Heiddeger dizia serem o núcleo da obra. Com efeito. é sobre a
interpretação desse esquematismo, sobre a importância que lhe dão ou a negligência
que lhe devotam que se distinguem os comentadores.
Pois bem, talvez seja necessário retonar a essa função esquematizante na próxima
vez, até porque o que disse sobre ela é muito elementar. Ela é vinculada de maneira
muito tradicional à imaginação, a essa faculdade das imagens, a essefantasmaticum que,
desde Aristóteles, tem uma função intermediária entre o sentir e o pensar.
Esse esquematismo é empregado especialmente quando se trata de conceitos que
encontram sua intuição. Isso é exigido, em especial, nas matemáticas, nas quais alguma
coisa do conceito deve poder ser intuída. Evidentemente, na matemática, trata-se de
imagens de um tipo especial. As imagens do conceito devem comportar, em si mesmas,
algo da estrutura, ou seja, apresentar elas próprias a regra de suas variações, de sua
permutação.
É nesse ponto que culmina a dificuldade da Critica da mzào pura. Devo dizer que
eu realmente compreendi Kant ao ler Heidegger. Dizem que ele é confuso, mas, em seu
Kant et /e probleme de la metapbisique''. ele propiciou a leitura mais límpida da Critica
da ,r,zão pura. Heidegger explica que o próprio Kant recuou diante da dificuldade dessa
arte misteriosa. Na segunda edição de Cnltca da razão pura ele ta.mponou tudo isso,
ele atribuiu o esquematismo ao entendimento de maneira a encobrir o que ali havia de
agudo e de difícil nessa noção.
Na verdade, se eu quisesse trazer Kant até nós em curto-circuto, diria que o que
é essencialmente receptividade para o sujeito, e que constitui a dificuldade do termo, é
o gozo. Em Freud, como em Lacan, o gozo. o estilo de gozo de um sujeito, está sempre
ligado a um primeiro acontecimento de gozo, um a<.-ontecimento de valor traumático.
Esse sujeito, portanto, decorre essencialmente, em sua sensibilidade, do Outro, do que
lhe vem do Outro.
l)&.?.('llllm.1 .!tl l l
()peão I.acaniana n" 64
tão, vou retomar as coisas por outro lado, supondo que poderei passear por Freud e por
Lacan considerando que, sobre eles, vocês têm conhecimentos, pelo menos vislumbres
suficientes.
Para fechar a primeira parte deste ano, jã que só retomarei em três de março, vou
lhes informar sobre meus progressos na leitura de Lacan a respeito do que nos interessa
e�te ano - progresso de leitura bastante lento, vocês poderiam dizer, parafraseando um
título de Jean Paulhan.
Vejo agora que ler Lacan não é tudo. No fundo, o mais interessante é ler o que ele
não diz, o que ele não escreveu. Caso contrário, contentamo-nos em reconstituir - e isto
jã apresenta certa dificuldade. Vou utilizar agora uma palavra já utilizada na primeira vez
que os vi este ano: reconstituir a arquitetônica conceituai de um texto, de um escrito,
da lição de um Seminário. Isso, porém, não diz nada da razão, não diz nada do que o
escrito afasta ou atesta não perceber.
Heidegger diz alguma coisa parecida concernente à sua leitura de Kant. Não se
trata apenas de entrar na potência mecânica conceituai posta em marcha, por exemplo,
em Critica da razão pura. Trata-se de apreender onde incide a ênfase e, precisamente,
diria eu em termos lacanianos, o que esse pensamento se esmera em evitar.
Nesse sentido, a Critica da razão pura é um bom exemplo, já que Kant publi
cou uma segunda edição sensivelmente modificada, a qual Heidegger se esforça para
demonstrar que constitui um recuo em re lação ao que estava no horizonte da primeira
edição. Então utiliza essa segunda edição para mostrar que ela fecha o que a primeira
abria. Das diferentes partes de Critica da razão pura, Heidegger privilegia aquela que se
chama ''A Estética transcendental". É a panir dela que ele examina os outros desenvol
vimencos que Kanl dá às "Proposições analíticas e sintétk.-as" e à "Dialética transcenden
tal". Outros comentadores de Kant, pelo contrário, leram a Critica da razão pura à luz
das "Proposições ana líticas" ou à luz de "A dialética'', Temos, assim, três tipos de leitura,
que, aliás, foram ordenadas em um livro que muito pratiquei em minha juventude, cujo
autor é um filósofo chamado VuilJemin que, por sua vez, havia escrito uma obra sobre
L'Hérllage kantlen e/ la révolutton coperntcienne-1 1 •
Lacan também, por vezes, lançou uma segunda edição de alguns de seus escritos,
cujas modificações são sempre significativas, mas também sempre ligeira.s, incidindo
sobre dois ou três parágrafos. O arrependimento não fazia seu gênero, não era seu forte.
l! mais na continuidade de sua reflexão que ele se corrige. Seu vocabu]ário, porém, não
muda, ou muda muito pouco. E como seu tom é sempre as.o;erlivo, podemos acreditar
ns anos, ha tem . u e me é
dada , talvez , pela sausfaç;.,
gues. Passei algu . a de Lacan . A d1sta• nc1a q m
rqu •
iteto nic . Semin ários me faz perceber co
chamava de a ão do con1u nto d
os
nclm 'd Oª re daç mo dific uldades co nCej.
de haver quase co s tratava co
o que eu a nte
o re1evo no qua l min ha maneira de ler.
cla reza , creio eu , cert de o tra o rd e m . Const ato que
gora, decorrer me debr ucei por longo
tua is me pare<-em, a u mesmo
u
b re os . q a is e
canom • · cos de Laca n, so. ao que ago ra me oc upa
u
hoje, os escntos
·
r, no que conc erne
udou e, em pa rucu la
tempo, essa maneira m real.
saber: o estat uto do
a título da obra de Laca n, a
SOi
48
Ordens, registros, d.izmensões
O próprio termo ordem mereceria ser comentado em seu uso lacaniano. Ele é
utilizado, sobretudo, para o que chamamos de registro simbólico, mas designa também
os dois outros registros: o do real e o do imaginário. São registros, mas de quê? Pois
bem, são registros do ser, registros ontológicos. Com o simbólico, o imaginário e o real,
temos a tripartição do que ele, mais tarde, chamará de dizmensões {dtlmenstons/, jogan
do com a palavra e extraindo desta o dito [dil[ . São três diferentes maneiras de alojar
o dito. Obedecem a regras sensivelmente diferentes. A imagem, em particular, tem um
funcionamento totalmerue distinto daquele do significante que, por sua vez, é articulado
em cadeias ou como um sistema.
Lacan faz um amplo desenvolvimento do que acontece em cada uma dessas ordens
separadamente. Na ordem simbólica, ele enfatizou certo número de relações matemáti
cas e de redes propriamente linguísticas. Em contrapartida, no imaginário ele enfatizou
- assim como o fez a literatura analítica - um reservatório de imagens prevalentes que
desempenham um papel para o sujeito, apesar da voz corrente segundo a qual algumas
dessas representações seriam inacessíveis à consciência.
Assim, o que especifica a fantasia é uma conexão, uma interpenetração especial do
simbólico e do imaginário. Basta nos referirmos à fantasia "Uma criança é espancada""�
para vermos ali encenadas, a um só tempo, uma representação imaginária e a presença
de uma frase articulada. A perspectiva cornada por Lacan nos mostra que ali se compõem
elementos decorrentes de ordens diferentes. Não me estenderei muito sobre isso porque,
a esse respeito, Lacan educou suficientemente nossa percepção. Pela insistência de seu
ensino, e o fez de modo a distinguirmos, de maneira quase espontânea, o que decorre
do imaginário e o que decorre do simbólico naquilo que um tratamento analítico pode
fazer surgir. É em relação a essa percepçào educada que, por essa conjugação e essa
interpenetração, a fantasia se distingue dessas duas dimensões. Também por isso, pode
mos compreender porque há uma convergência especial da prática analítica na fantasia.
Há, de um lado, 0 que decorre do significante e, do outro, o que decorre do imaginário e
é na cena da fantasia, que encontramos reunida essas duas dizmensões, que, no entanto.
são distintas.
de duas ordens dife-
A fantasia se concretiza e se particulariza pela imbricação
a título do simbólico, e o
rentes, nas quais se situam respectivamente o sujeito barrado,
objeto a, a título do imaginário _ ($ O a). É a escrita da
fantasia que Lacan utilizará ao
todos os elementos
longo de todo O seu ensino, exceto no derradeiro, quando ele liquida
e todas as construções.
.. Ikzembro 201 1
taÇão imaginária
�--..1 , ulllll represen
� • de n.,uu, e
O Pba
construiu, a p,,
do, tal co mo Laca n o
. , . co, temos o suje ito ba rra
Do lado do s1mbóh onst rui u c omo um va z io, uma negação <!
. oc
Com efeito, e1e
� de negaçâo·
tir da noçao sentid o, votad o a identi fica r-,,
com o negaçao• do s·er e ' nesse
· ncia e
substâ até m esmo e, em seus parenteses, todas as &,
. , . temos o ob"1eto a que abra ng .
,
Do lado do imagmano, . sujei to a utulo do deseJo, baseado ,.·
cauvar 0 interesse do . . ,
mas imaginárias que podem de �eu � rc1s1 smo, ate tudo O qit-
lho, como a encarnação -
sua própria imagem no espe am-s e md1s tmta po� se e�te�derer.
as front eiras torn :
é imagem. Aqui, cabe dizer que çao. Ja aludi a ISSO. e
dãssica chamava de repre senta
tão longe quanto O que a filosofia
ão mais ampla , abrang e tudo o que é representação.
imaginãrio, em sua acepç
para esse lado. É um termo freudia�
Aliás, o Phantasienm, de Freud, tende mais
, tive uma pequena com-ers..
mais aristotélico do que lacaniano ou francês. Esta semana
passado, está retraru
com o tradutor de Freud, Jean-Pierre Lefebvre que, desde o ano
zindo a obra de Freud. Ele traduziu a Traumdeutung sob o título ·A interpretação do
sonhos•, mas posso dizer que o recomendei como tradutor, sabendo apenas que ek
traduzira magnificamente a Fenomenologia do espírito.
Ele me dizia que em breve seria lançado o .. Uma lembrança de infância , obra qu,.
M
será prefaciada por Clotilde Leguil, aqui presente. Ele acrescentou lambendo os beiço,
"Và� botar ª boca no trombone! ". O que em geral se traduz co:.no fantasia, ele o tr.r
�uZ1u �o _"represe�taçào imaginária", considerando que o que chamamos de fantaSL
e uma cnaçao da ps1canãlise na França, além do fato de que esse termo não dá coni.
do Pbantasteren em seu uso freudiano pO. 'i b em, para .
· L . mim, ele acertou na moSC'J e 1
totalmente coerente com o que eu penso a esse
. respeito ! Por ora é tudo o que po�
d"izer, mas nem por isso colocarão menos a boca . no trombone, talvez um pouco meIJl."t
na Escola da Causa Freudiana.
Ponanto, o imaginário tem a am ·
p 1 idào da represemaçào. Mas o formidável é qi,.
essa escrita da fa ntasia conr muou
sendo utilizada por Lacan e permanecerá empre ,·:1·1 �
da qua ndo ele considerar que . s
. a fa ntas1a conjuga O sim. .J.
f:ªrá girar seu símbolo a de uma bohco e o real, ou seja, qua ndo C"
# •
na fantasia. ......,
%Oa
SOR
a
(- cp)
É também esse algoritmo que prevalece quando Lacan propõe o passe como fi nal
de análise, uma vez que ele vê duas versões nesse fi nal: o acesso à hiância do complexo
de castração, menos pbi, ou então o acesso ao objeto que a obtura, o objeto a, evocando
o estatuto que lhe fora dado por Freud, como objeto pré-genital. Vale dizer, se Lacan
escolheu referir-se ao pré-genital como a uma aproximação do que é o objeto a, foi
porque, na época, ele ainda não podia decidir se esse objeto a era imaginário ou real.
Por essa razão, ele sai pela tangente dizendo que seu objeto a decorre do que Freud nos
preparou sob a forma do objeto pré-genital". Precisamente neste ponto percebemos que
o estatuto do objeto a é completamente equívoco. Temos aqui um primeiro exemplo do
que eu evocava: uma leitura de Lacan que se ocupa do que ele não disse.
No fundo, eu poderia dizer que, de modo geral, ocorre o mesmo quando se trata
de saber, quando se lê Lacan, se, para ele, em certo momento de seu ensino, o gozo
é imaginário ou real, uma vez que o gozo estará sempre ali. Considerando o ponto de
partida escolhido por Lacan, pode-se dizer que seu ensino - que lhe foi ofertado e ao
qual ele se prendeu - repousa em uma bipartição ou, mais exatamente, sobre a primazia
dada ao campo da linguagem e da fa la que, por seu dinamismo conceituai próprio, obri
ga a uma partição entre o que está no campo da linguagem como simbólico, articulado,
causal, como Wirklicb, repelindo o resto para o ourro lado, ou seja, para o estatuto da
representação, em outras palavras, para o imaginário. Nào faltam, portanto, argumentos
para afirmar que o gozo tem um estatuto imaginário. Marca-se, aqui, precisamente, a
imagem do t."Orpo. o corpo suportado pela representação é uma fonte eminente, um
objeto de satisfa<.,'ào, de contemplação, um objc.::-to de extrema <."Omplacência no qual se
denota, em termos precisos, que ali está o gozo.
Isso é perfeitamente claro quando Lacan trata do nso Schreher, no qual o gow se
no . do go q u e é exal"
ima g nã de arte.
do o que é da ordem da o bra
ro
Então, considerando seu ponto de partida, o goro para Lacan primeiro se sitw
do lado imaginário . Só em um segundo movimento de seu ensino é que ele chega i
dist i ngu i r, sobre os rastros de Freu d, que o Warbeitskern, o núcleo de verd ade esr.
do lado do real . Freud fala, pa rticu larmente no texto que eu relia, "Construções e<
análise�•. a respeito do delírio, do Wahrbeltskern, do núcleo de verdade. Pois bem
poderíamos dizer que o núcleo de gozo, o Lustkern, é da ordem d o real. Criei a expre>
são alemã, Lutskern, mas t alvez ela esteja em algum texto de
Freu d Ir d o imaginál'K
ao real, com relação ao gozo, é uma longa trajetór
ia, não preestabelecida co mo em ucr
jogo de passa-passa .
Para Lacan, no começo, o a é imagin
ário. Em comp ensaç ão o que é designa&
como menos pbt 1· ª- é 0 resul
tado de u ma operação
dessa ordem. Nas im agens simbólica, já q ue a negação decon<
' a operaçao - dª negaçao não funciona Nesse
demos O imaginá no . como . sentido, apreeP'
um veu do que decorre
à prática analítica ter . d a ordem simbólica. Isso presei<''
#
nº <Yi
Wabrbeüskern é o: "não há relação sexual'; esta é também uma declinação do nada.
Pode-se colocar tudo isso em série.
Mas quando o esquema é diferente, quando o R de real vem se inscrever sobre
o que é simbólico, quando o objeto a toma o valor de real, então não é mais a mesma
--
c..-oisa.
l R
s s
Versões do real
O resto ou o caroço
Só que esse real também se apresenta sob ângulos diferentes. Podemos, primei
ro, nos aproximar dele a título de resto. Era o que fazia o próprio Freud e que Lacan
retomou. Não um resto fantasmático, mas um resto sintomático. É a famosa constatação
psicanalítica, a saber: mesmo depois de uma análise terminada com satisfação, hã restos
sintomáticos. Podemos, é claro, tratar isso como um defeito, como a marca de que nem
tudo é possível, de que não se pode exigir das pessoas o impossível. Mas é preciso ver
que esse real infringe o culto do nada.
O resto sintomático não se enquadra inteiramente no que Lacan evoca sobre o
dedo de São João a apontar para o horizonte desabitado do ser. Há São João apontando
esse horizonte e, durante esse tempo, o resto sintomático surge na sua frente, se assim
posso dizer. Talvez o horizonte do ser seja sempre desabitado. São João, porém, é hahita
do, parasitado. Dizem-lhe: "olhe pra cima, olhe pra cima, não olhe pra baixo ! " Ele olha,
se coça, não vê nada, se coça mais uma vez. Banco o palhaço parn que vtx.-ês imaginem
a contradição que é perceptível na maneira como os analistas apreendem a expcriênc.-ia
analítica. Está aí O real como caroço do real, (..'OIDO pcdac.-o de real. É o ca�u porque
O sinthoma
A ideia de Lacan é que isso pode se resolver na cena da fantasia. Ele tem essa
ideia _ e é O chamamos de passe - de que aquilo de que se trata na oitava parte de
"Análise terminável e interminável" se desenvolve na cena da fantasia, que Freud não
esquece, e que é nesse lugar, se reconhecermos o caráter fantasmãtico desse debate, que
poderemos ultrapassar o problema. O que se desenvolve na cena da fantasia pode ser
ultrapassado. Por meio de que operação Lacan faz da fantasia o campo no qual se trata
de res olver esse obstáculo maior no término do tratamento psicanalítico? Parece-me que
pode mos simplesmente responder que ele faz valer que, o que Freud chama de aspir.:1-
ção à vi rilidade é de ordem fantasmátic a. Preciso perguntar a Jean-Pierre Lefebvre como
tra duzir O term� "aspiração" em Freud. Aspimçào faz um pouco o gênero Madame Bova
,
ryi•. Espero ter tempo de voltar a esse ponto. A virilidade é, portan� por excelência �a
ordem da fantasia, 0 que significa que ela repousa sobre o preenchimento da castr.açao
funda mental de todo ser falante - marcada como (-q:,) - pelo pequeno a. Isto é o que
chamamos de virilidade.
r -q:,, teremos .. É
Para dizê-lo de modo ainda mais simples: se o a vier tampona
o do su-
bem isso 3 instituiçã o do sujeito. Freud cinge o caráter radical da instituiçã fálica
)À."Zf.'lllbn> .!0 1 1
Opç-lu l.al-anlana nº M
n ulo p elo qual a ahn....
. seja qual for o â g
u ma fan tasia que • --,"'111,
· va de •
·eito pela persp ecu . ca,
1 fah
uma fantasia
será sempre
asia
Vi rilida de - Fant
[ (-�) J
•
CI>
Aspiração à feminilidade
Freud tenta cingir o que w-,ederiJolu ngszwa Tl8, ou sej a, o autom atiStllo dt
opera O
no nível do isSO Içai , onde · a . Há uma ouera frase essen
cial de Freud nesse u� .,,
qu l pulsao. é cattv
repetição do 1 escreve com todas as letras no "Adend,.
frase que ee
a
um
a
.
que assinale• há um tem po,
. • real "", etwaS Reales. Alguma co;,.
é alguma coisa de
a
a no '/Hebansprucb. Alt!
Traduziram como "exigência pulsiona l" o termo freudi
pruncb é urna reivindicação, urna recl a m a ção, portanto, um enunciado . Pois bem, eit
seu grafo, I.acan fez do termo 11-tebansprucb a dema nda. Podemos dizer que, come
urna demanda, ele domesticou aquilo de que se trata na 7Hebansprucb. Quando Laca,:
diz que a demanda de amor é incondiciona l, va leria muito ma is ter aplicado o adjetilt
incondldonal à Triebansprucb. É uma reclamação incondiciona l . Claro que I.acan st
deu conta disso, pois quando Freud introduz essa a lguma coisa de real da exigência pul
sional, ele diz que é o funda mento real da angústia. Era precisamente o que ele visa"
quando disse que a angústia não é sem objeto. Ela não é sem objeto porque tem com:
fundamento o que há de real na exigência pulsiona l. O mesmo ocorre quando Lacan du
que o objeto a foi aproximado como pré-genital, já que está também em Freud a propó
sito das exigências pulsionais da sexualidade infantil.
úican levou muito longe a domestica ção da pulsão. Em seu grafo de dois patama·
res, cu,a arquitetura espero que vocês conheçam,
a pulsão estã no andar superior e 3
fala no andar inferior. Isso acontece entre fala
e pulsão . Os dois patamares funcionaa
SJmukaneamente e respondem ao mesmo
mode!o: são duas cadeias significantes. Laca<
diz =. com � as �
* � � �tgm�ca ntes constituinte
EIe fez essa construção para' reso s da cadeia superior
lve� a queslão da dupla inscriç
trata-se de uma construça- o que ão, na qual não entrarei.
supoe fazer da pulsão um tipo
de enunciado.
Pulsa«,
Fala
18
Mas fazer da pulsão certo tipo de enunciado não solucion
a a questão do etwas
Reales. Formulemos a seguinte pergunta: serã que a relação do sujeito com a pulsão se
desenvolve na cena da fantasia? Lacan tentou de tudo para que assim fosse. Para tanto,
ele uma vez utilizou a expressão fantasia fundamental. Há a fantasia 'ordinária', uma his
torieta, um cenário com suporte simbólico e representações imaginárias. Mas, para além
da fantasia ordinãria, há a fantasia 'fundamental', em que se trata do real.
Podemos dizer que, em todo um aspecto, o ensino de Lacan é uma defesa contra
o real. Foi de modo coagido e forçado que ele foi obrigado a constatar, aos poucos, que
mdas as suas construções - toda essa arquitetura à maneira de Vauban construída por
ele, à qual ele alude - deveriam ceder diante de um real que ele tentou cingir fazendo
dele u ma demanda articulada no nível superior de seu grafo. Ali, vai-se do gozo à cas
tração, os dois termos últimos, passando pela pulsão escrita a partir da demanda, 1 O D,
e o famoso significante de uma falta no Outro, S(A) .
Castração
Gozo
Deus sabe que levei mu ito tempo para me dar conta de� construção e entendê
-la. Mas devemos agora nos pergu ntar o que tudo isso quer dizer. O que Laca � q�er
demonstrar é que' na pulsão, isso fala. Ele quer demonstrã-lo por ser o modo maL"i . s1.m-
pies de conceber a função da fala como tendo u ma incidência sobre a pulsão. O su1eno,
. .
porém, é claro, não tem ne nhuma ideia de que, na pulsão, ele fala, mas
isso não nos m
mais o s jeito fala na p lsão
camada. Dizemos a nós mesmos, como Lacan que "quanto u u
tanto mais ele está longe do falar . É formidá�I Não se vê nada, mas não se inquietem:
"
o sujeito estl ali, ele fala na pu L�ão.
1.acan evidencia o carãter de demanda da pu
lsão com um D maiúsculo. No entan-
e nta
. ·iamente. É Preciso, ($ O D), e, aq
e
. p1,o da pulsão, • _
,m
o $ na fó rmula
can , no qu e concerne a pulsao, fala do
Te l1106 "' a s La .
o s ,-wito. tasia. o M b os d01s termos quei. ra�
na da fan I to - em ora
a).
do mesmo que do su·ei
u
. I.P
d e fading
ã trata da fanta sia, mas, em
evanesce• ncia . do su1.e1to l·eito qua ndo se
. sa. EI e fa la de Jading dO su
e n o
e ma coi vra fi
a dinª � par a o mesmo símbolo g
dizer a m pregar a pala
prefere não em . sabe r diss o a fim de compreendê-lo: i
se tratando da pu 1sa·o'
s
. rirn e1ro
can demonstra tudo. É preciso P • a ndo quer demon strar algum,
. do que voces e eu. Qu
e e. muito mais intehg. ente
que e11.a nte: "E u me empenho em dar se1a qual for ,
d1 ex licita me
coisa . ele consegue . Ele o Sse � . temp o suficiente . A lguem
., ,. qUe
s me de 1xarem fala r o
sentido a qualquer palavra, se voce . sa de sua maneira de fazer.
. , por certo revelou alguma co1 ,
nos diz algo as�1_m . fala na pulsão, as provas em 3pül(í.
Portanto, Iª que é preclSo demonstrar que isso
há tudo o que em F reu d d e monstra que a pulsão obedece a um,
não faltam . Primeiro, . ,. ,.
ordem gramatical, com reversões do sujeito a obje�o: l�o lª :sta present� tanto no caso
Schreber como em seu texto �os instintos e suas v1c1ss1tudes s:J. Em segmda, Lacan enfa.
tiza O caráter de corte apresentado pelas zonas erógenas. São zonas que têm bordas, qut
"são� bordas e, para Lacan, a borda é eminentemente uma função significante. Em seguida
e isto é formidável: a pulsão insiste, o que significa que é dotada
de memória, memória
obrigatoriamente feita de significantes. Lacan ava nça essa ideia em
seu Seminário, livro -
a ética da psicanálise. Guardei essa lembranç
a porque, ao redigi-lo, disse a mim mesroo
que ele levava a coisa meio longe. Com efei
to, chega mesmo a dizer
histór ica . Em nome da insistência da que a pulsão tem uma
� �
me o
pulsão, devido a uma fi xação precisamente
mvanavel, lacan chega a nos dizer
que se trata de memória e,
em busca de tudo que é po , portanto, de história. Ele 531
ss1ve1 enco trar para reco
essa causa. É e m esse mod . � nduzir a pulsão à fala. Ele defendê
. � tra o enunciativo que Lacan
Desde Ja, nquilizo todos os q apresenta a pu lsão
el
ue se assu sta .
pensamento de Lac . . , m com a ternvel ,,
an · Em Pnm e1ro lugar cabe ct · crítica que faço dei
mas critico um Lac ' tzer q ue sempre tive vontade criticá J .
an em nome de ·o
como ele progrid outro Lacan· Faç
o Lacan luta r cont
Assim , Laca n ap
e.
ra Lacan, mostfCl
ma que há ' no , resenta a pulsão segu ndo
nivel da fala, u u m moctelo
.
qual se situ m feehament enunciati vo . Da mesma for·
e O fam o da signifi
Talvez eu tenh 050 S(X), Deste, ern seg , caçao,
� é preciso
haver outro f1l'
a u 1· da, se fez
com efeito, o algo. a ver com ISs .
o po rque, d O santa dos
Sa ntos da psicanáJL{,t'
q ue s1gnifica e 1at
e o ,
enunciado, e
a· S(A:)? Ele é
a res' posta , ' uma construção pre tensiosa.
mult idão! Pe sabe r: nele ' ao ao que aco Ma.�
gam0-; o a .- � - há respon dente nte ce com a pulsão cofllC
no an1.1ário n uario, proc . O re o
, não Il
á nen hu m 1· ura mos Trt b e , �P ndente t um desconhecido d:i
ist ado no e .. nt nguém
número q. r
� �111ana u voc s ! O espondente não figUP
n• 64 e ê buscaram . Para zê lo
di - r!l
>
,ermos arqu i<etô�kos, digam os que S(i() responde a uma falta . .
no Outro, o que signifi ca
que mda pulsão e organizada em signifi cames, que seus objeto.
sao .
- está sobre uma correia sig nificante' e 1a • s são sigm'ficantes
. . A pul-
nao está fora da fala.
E no entanto....
Isso não impede Lacan de dar o devido lugar ao gozo quando fala da pulsão. Em
seu grafo, ele escreve 'gozo' no começo do vetor superior. Como falar da pulsão sem dar
ao gozo seu lugar? Mas então, como fazer o gozo entrar nesse sistema? Pois bem, claro
que comentei isso, embora não o tivesse visto sob esse ângulo, a saber: aqui, Lacan junta
o gozo ao complexo de castração. Ele dá ao gozo seu lugar, e esta é a falta no Outro: não
hã o signi ficante do gozo que seria necessário. Ele trata esse gozo, e isto é fundamental,
a partir da interdição. Ele trata o gozo a partir de um não ao gozo, ou seja, a partir de
uma problemática essencialmente edipiana.
Vemos esse paradoxo com clareza ao ler a frase empregada por ele no comentário
sobre seu grafo, na página 836 dos Escrllos: "É isso que predestina o falo a dar corpo
ao gozo"54 . De todo modo, 0 gozo não esperou pelo falo para ter um corpo. O próprio
80Zo é impensável sem um corpo, um corpo que goza. Portanto, o falo dá corpo ao gozo
ao discurso
na dialética ana l ítica. Mas, nesse momento, trata-se de outra coisa, relativa
analítico. Com efeito, nesse momento, 0 que aparece da elaboração de Lacan não é o faco
ele o falo dar corpo ao gozo, mas O fato de ele lhe dar uma 'significação' muico precisa
a gozo, a saber: iva à interdição. É pelo fato
o uma significação de transgressão, correlat
de o gozo chegar aparelhado com um discurso de interdição - "cu não dews gozar de
Dezembro ZO 1 1
61
de teu órgão, etc: ,
, deves gozar
nao
r de tu a vizinha , tu de a t ribui r a essa signifi cação
1,
oza . .so, Lacan p o
na- o deves g . . á. oç,
tua mãe, cu o
.ssã . P or i:;
1 . , 1 ' e di zer que ao mult1ph c
a de tra nsgre símb o o v-
J :,
ele toma a f.onn . p ou co - o
a para rir u m
ainda que se1
ign ifica nte: (-1) .
:::;� a falta de s
ica
. da coisa analít
. • nc1a
Res1ste
· as o que ainda assim ,
. rentes modali dades do negat ivo M . v
. Lacan: veio
Temos , portanto, dife , . res1.st e. É assim que lem
a
, ria
. ,
e que a cois a ana ht1c
a histo
divertido ness . sua argumentação e constat o que hã
esforços prodigiosos dese nvolv1<los p or ele em
. coisa
· da psic
. , .se que resiste · E • com o sua abordagem é ex.
anah
assim mesmo, a própria há, justamente
em um passe de mág i ca - que
tremamente precisa, sentimos - como
alguma coisa ali.
para um gozo que debocht
É preciso evidentemente, que Lacan reserve um lugar
Q�anto ao gozo, a negação não tem nenhum efeit o ! Há um gozo que estt
da negação.
tal
fora da negação. É O que ele chama de falo simbóli co, significante do gozo e, co �o
impossível de negativar. Então, como tratar do impossível de negativar em um Ststelllí
inteiramente articulado em torno da negação?
Isto se vê em uma frase. Observem como Lacan passa de -c:p a fl>, na página 838 00
Escritos: YPor mais que seja suporte do (-1), ali, ele se transforma em <I>, o falo si m bólicr
impossível de negativizar��� . -cp, que é negativado, passa a <I>, impossível de negativiz.ar
Tentem representar isso para si! Eu tentei! Mas é exatamente nesse
m o do de frase que
todo o problema se concentra, o problema de parir um
imp ossível de negativar a parrn
do negativo. Tentamos a multiplicação, tentam
os tudo isso até O m o mento em que joga·
mos tudo fora. Com efeito, o que é o
ensin o de Laca n? o ensin o de
cipação. Foi preciso, primeiro, ter pass Lacan é uma ante
ado pelo que reco mponho aqui,
poder colocar tud no cesto. Diga para em seg uiCU
� mos, pel o menos, que ele foi
A esse respeito l hes dou apena além disso .
5 0 seguinte exe m plo.
ram o que é a pu lsao - ao 1er o Seminário Vo cês sem dúvida aprende-
dos Quatro co nceitos
caná/tse. Pois bem ' co .
mparem os dois cap fundamentais da psi·
dois anos antes. Não se ítul os sobre a pulsao
recoohece mai. s com o que disse Lacar.
de modo profu ndamen nada ·i É c o m p1eta
te disfmto. Em Os mente di ferente, construi'de
Lacan toma a questão quatro conce1tosfun
- - do gozo co mo po nto de p3n·ct damenta'is da psicaná/isf.
pu1sao nao e- mais 1 a, nao- com o ponto de chega da A
um enu nciado, .
mais S(X,) etc , h'a mas um vet or
. a problemática que vem c o ntornar
mt . ·
erd1ção não produ de uma pulsã o o objeto a. Não h';1
z mais a fu nrã se m i nterdiçã o ,
"" o do gozo. uma pulsão na qual J
0 QUE TRABALHAVA LACAN
IÀ'n'fflbIO Z01 1
63
o e vira no que dava. Entà,
ra de sair d iss
Lacan acaba
ou•
, ir. é o gozo do our ro. essa não é a questao.
uer ozn do Out
ro,
. boma• não há mais g nterd ição do gozo, posca em fu nçã,
qO sml
m. Lacan
evoca que a i
enesse c nt t q
_ o, r esponde ao desejo do Q uero . O ne urorr , . co é e
,
de '·astraça
ex o
.
o
. cad o
rela ção ao complexo . 1to
. para q ue m O Outro sena habr por u ma von
um su1
defi nido por e1e como . " vontade'", deve -se enrender: um "d eseio decidido
.
e
As astúcias da dialética
do gozo e do desejo
A ordem do traumatismo
O gozo não está articu lado à lei do desejo, ele é da ordem do traumatismo, do
choque, da contingência, do pu ro acaso. Isso se opõe, termo a termo, à lei do desejo. O
gozo não está aprisionado em uma dialética, mas é objeto de uma fixação.
� precisamente porque Lacan pode passar para além da problemãtica da interdi
ção que lhe foi possível em segu ida extrair o gozo feminino como tal, ou seja, não mais
centrá-lo no Pentsnetd que é, por excelência, uma função negativa. O que Lacan enten
de como esse gozo especial reservado à mulher, é precisament a pa � de .SC:W que
�
subsiste sem sofrer interdição, a parte que não é capturada pelo SJStema mterdiçao-recu
l'Craçào, quer dizer, pela A,efbebung. Sabemo s aonde leva a Aujbebu ng concernente à
sexualidade femin ina. Isso consiste em dizer que, afinal, para uma mulher, uma cnança
� •ind melhor. Para ue o órgão que lhe falta. Uma
a ela u ma criança é ainda melhor do q
Vez introduzida ali a fanu1ia, a SOC1edade, a rehg1ào erc.
língua materna, tudo se segue: a
da A,efbebung, perder
1..., apaga o que da feminilidade resiste precisamente à lógica
Pl'illlei.ro para em seguida reencontrar.
65
OC'Zembm 20 1 1
o, hã aindi
A esse respeit
ornelll-
do lado dO h diz er-l hes um J>e<I.,
C'·ona . só Pude
Sº fu !l vez, pol.S
com<> iS óxirna
.
5er,a . -ciSO ver
.,.-- . da pi raie•
éo qu e
ser dita e do
- coisa a
rou"· Ribtiri
cinho do
qu e eu . prepara ·
tiavta Tradução: vera Avellar
�=
13 CJ. F'idue,J.G. (2000). Doctrine de la sclence. Paris: Livre de Poche, col Classiques de la philosophie.
H l>cm, J. (199811966!). "Abenu" desta «>lelhea". Op. cll., p.ll.
15 Cf. W.J. Scbdling, Premlffl krlll, tr. J.·F. Courtine, Paris PUF/Epiméthée, 1987. Os textos de Fichte aos quais Scbellilf-_
parece se reporw primeiro sào a Doctr&le de la sdmce 0794) e o Pnkis ,:k ce qui est prop,e à la Doclrine de la saenci
:.r�eq:;:
16
{O'. Fichle, J. G., Doctrine de la science, op. clt.).
� ':' = palavras pela homofonia entre um espaço (un espace) e um n espaço
u n .
17 Cl. Hilben. D., Cahn, S. 0952). Geomelryand tbe lmagtnatkm. American Mathemalical Sociely, A
MS Chelsea Publishn>I
18 Cl. Lacan,J. (200ll19721l. -o 01uN11to•. Op. cll., p.4'18 e sq. N:r. Em francês,
1 éloutdh".
19 1d, lbld., p.448.
20 N.T. i!.m fnncés, respectivamente: parfotbéra
p;es e parione.
21 Cl. Heúlegae,, M. 0938) ,i. époque de, r-· ....... ......,.IODS du Monde-. ln Cbemlns qul ne mênenl
a,l Tcl, p. 99 & sq. nulle pari. Paris: GallímaiJ
22 N.T. éla,w signilica lagoa,cha
roo.
23 Cl. Scbopenhaue,, A. 0966). ú monde
comme volo.,. el COlftme �
M a. Kcge\, G:W.P. 0991). Pbmom,J - Paris: PUF.
de I
� N.T., Em fnn,io, &ire Dodd ..,.,.. Esprl� Ir. De ] .-P. Lclebvre. Paris , Aubier.
26 N:r.: cm fnnci!s: dans
l acaller.
e
r d. �lilkr, J.-A. (2
�
''"'
2). • Act ion de la strucl ure •. n bu
.,,.•
U dé 1 da ,,s la Vie. Pa ;
ris Gallim rd
ª •
le Pl'Wllenl"l.lr, p.57&
a
ruco <las pa)a\'f'.tS acquls (adquirido) e à
;!8 t,,í.: jogO iwmo(ô qui !por <J U m?J. sq.
c
.formu le lévlratoire.
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"° Cf. Barthes, R. 0968). ,L'effet de récl,. Communlcatlons, 01), retomado em Oeu11res Compleles. tomo Ili, p. 15.32.
�l Cf. Flaubert, G. 0999). "Um coeur simplc�. ln 1>vJs conles. P..aris: Le Livre de Pochc, p.47-89.
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