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passando por um período de desuso e com retomada em 1960 com a ascensão da União
Soviética e de seus ideais socialistas. O estudioso das lutas de classes, Karl Marx, considera o
artista como um trabalhador social como os outros; que pode ser influenciado pela sociedade,
mas que não segue mecanicamente as mutações dela, sendo esse um processo que pode vir a
surgir (ARGAN; FAGIOLO, 1994, p. 100). Assim, a obra de arte pode ser influenciada pelo
meio em que foi concebida, mas não necessariamente isso ocorrerá. Essa relação entre arte e
sociedade confere uma interdependência de ambas, visto que ambas podem estabelecer um
diálogo para determinar os rumos da obra, bem como a obra de arte pode ser concebida
independente dos acontecimentos sócio-históricos de seu momento. Cabe ao artista analisar a
pertinência do entorno à sua produção, ou também, de se influenciar espontaneamente.
As inter-relações entre arte e sociedade não encontram apenas no diálogo entre obra de
arte e sociedade, mas em todo o sistema artístico, como com a influência na produção
artística, na distribuição e no consumo da obra de arte (SALTURI, 2015). Os diálogos
estabelecidos entre arte e sociedade são bastante significativos, visto que apresentam-se não
apenas na relação artista, sociedade ou obra, sociedade, mas atuam de maneira ampla. Em
diálogo da sociedade com todo o sistema da arte que sofre as devidas influências.
Nestór García Canclini mostra a amplitude dos estudos que concluem que o
descobrimento de artistas é uma evidência empírica das investigações sociológicas, como
mostram as pesquisas de Pierre Bourdieu que tratam do público nos museus e sobre o gosto
de acordo com as classes sociais e bairros de Paris. Esses trabalhos não deixam dúvidas de
que o objeto de estudo da estética e da história da arte não pode ser a obra, mas o processo de
circulação social em que seus significados se constituem e variam (CANCLINI, 1979, p. 17).
Destacam-se pesquisadores do método sociológico de diversas nacionalidades e com
diferentes abordagens. Alguns com postura político-ideológica bastante marcada, e outros
mais imparciais que revisam as pesquisas de seus antecessores.
As pesquisas sobre Sociologia da Arte destacam-se inicialmente com os estudos de
Frederick Antal, que acreditava não ser possível compreender a arte e os estilos artísticos sem
a compreensão da sociedade. Discorreu suas ideias na sua obra mais conhecida: La pintura
fiorentina e il suo ambiente nel Trecento e nel primo Quattrocento (1947), que aborda as
diferenças das classes sociais presentes em uma sociedade onde o catolicismo dita as regras e
influencia na produção artística de diferentes maneiras.
Destaca-se também Arnold Hauser , pesquisador húngaro, que dedicou-se durante dez
anos para compor a História Social del Arte y de la Literatura (1951). O livro fora lançado
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em Nova Iorque e causara polêmica devido à sua guinada política esquerdista. Hauser faz
uma análise dos processos artísticos e literários de determinada época associando esses
movimentos à sociedade em questão.
Como principal sociólogo da arte na França, Pierre Francastel foi o responsável por
revisar e aperfeiçoar as pesquisas de Émile Mâle (CHALUMEAU, 1997, p. 129). Escreveu
três importantes livros: Peinture et Societé, La Figure et le Lieu e La Réalité Figurative.
Francastel discorda de Mâle na ideia de que o Concílio de Trento teria influenciado as artes.
Enquanto Mâle acreditava na ideia de que a arte encontrava-se subordinada ao Concílio,
sendo recomendada a multiplicação das imagens religiosas; Francastel apontava que os padres
realmente quiseram limitar o número e vigiar a fantasia dos artistas, pontuando que Mâle não
soube distinguir a arte divulgadora da criadora (CHALUMEAU, 1997, p. 134).
Dentre os variados métodos de análise de obra de arte, destaca-se neste artigo o
método sociológico a fim de compreender a fundo as relações da arte com as influências
socioculturais. “Chamaríamos então de sociologia das artes o estudo das formas objetais que a
realidade, concebida sob o ângulo do valor ou ideal, assume, em determinadas circunstâncias
históricas” (LEENHARDT, 1998, p. 104). Assim, observa-se como as obras de arte são
influenciadas pelos acontecimentos histórico-sociais. A arte, estando imbuída em determinada
sociedade, carrega as características daquela, influenciando-se pelos seus acontecimentos
sociais, políticos e culturais. Visto que a arte se encontra intimamente relacionada à
sociedade, de maneira que a arte constitua-se como um produto da sociedade em que se
origina.
De acordo com Chalumeau, que traz os pensamentos de Francastel, pode-se analisar
que suas principais ideias consistem em abordar a relação da sociologia com outras
disciplinas; discutir o real e o imaginário, via objeto figurativo; e, principalmente, o artista
face à sociedade (CHALUMEAU, 1997, p. 129).
Abordar a Sociologia e suas relações com outras disciplinas salienta o caráter
transdisciplinar da Sociologia, bem como auxilia na compreensão daquilo que está sendo
produzido em outras áreas. A interação com outras disciplinas faz com que a Sociologia
analise-as de acordo com seus próprios pretextos, reconhecendo assim o que a própria
disciplina não reconheceria ou por vezes omitiria.
Francastel tem a concepção de que a obra de arte deve ser encarada como um fato
técnico, um produto da psicologia coletiva, como um testemunho sociológico
(CHALUMEAU, 1997, p. 131). Assim, encara-se a possibilidade de que a arte não é
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REFERÊNCIAS
ARGAN, Giulio; FAGIOLO, Maurizio. Guia de História da Arte. Lisboa: Estampa 1994, p.
100.
AMARAL, Aracy. Textos do trópico de capricórnio: volume II. São Paulo: Editora 34, 2005,
p. 37
CANCLINI, Nestór García. La producción simbólica: teoría y método en sociología del arte.
México D.F.: Siglo XXI Editores, 1979, p. 17. Tradução nossa.
CHARTIER, Roger. Pierre Bourdieu e a história: debate com José Sérgio Leite Lopes.
Revista: Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2002, p. 140.
LEENHARDT, Jacques. Uma sociologia das obras de arte é necessária e possível? Tempo
Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 10(2): 101-111, outubro de 1998.
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