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Depois de 4 eleições presidenciais sucessivas vencidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) -
2002, 2006, 2010 e 2014 - o Brasil está vivendo não só uma crise econômica e social de grandes
proporções, como enfrenta um enfraquecimento da democracia, a falta de legitimidade das
instituições democráticas e acaba de eleger um presidente (para o mandato que começa em
2019 e termina no ano das comemorações dos 200 anos da Independência do pais) que costuma
fazer apologia da ditadura militar e tem um discurso de cunho racista, sexista, misógino,
xenófobo, homofóbico, autoritário e antiambiental. Ou seja, o capitão Jair Messias Bolsonaro é
a antítese do PT.
Evidentemente, não dá para culpar a população e os quase 60 milhões de eleitores que deram
a vitória ao candidato do Partido Social Liberal (PSL). Depois de 4 eleições votando em
candidatos à esquerda, o eleitorado deu um “cavalo de pau” e foi no rumo da extrema-direita.
O que possibilitou a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, foi o descontentamento com o sistema
político e a generalização do sentimento antilulista e antipetista que se espraiou pelo território
nacional, especialmente na áreas mais dinâmicas e desenvolvidas do país. Parece que não ser
exagero dizer que a vitória do ex-capitão foi impulsionada pelos erros de Luiz Ignácio Lula da
Silva e do PT.
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2. O erro fatal de ter lavado as mãos ou até se colocado contra os manifestantes de 2013 no
momento em que se abatia uma repressão fascistoide sobre eles, principalmente por parte da
polícia e do judiciário de São Paulo e do Rio de Janeiro (o componente esquerdista daqueles
protestos foi esmagado e a direita, a partir de então, foi aumentando cada vez mais sua
influência);
3. A pusilanimidade do Lula ao não exigir a posição de candidato em 2014, mesmo sabendo que
a Dilma não tinha a mais remota competência para segurar a onda que se prenunciava (talvez
fosse melhor dizer tsunami!) na economia;
6. A insistência de Dilma em lutar até o mais amargo fim contra o impeachment, permanecendo
na defensiva enquanto o inimigo acumulava forças sem parar (no domingo em que a Câmara
Federal autorizou a abertura do processo, já alertei que a guerra estava antecipadamente
perdida e melhor seria a renúncia imediata, seguida do lançamento de uma campanha na linha
das Diretas-Já para, aproveitando a antipatia pela figura do Temer, retomarmos a ofensiva);
8. Ter lançado o Fora Temer para tirar o foco de suas responsabilidades no impeachment,
fazendo passar por golpe de Estado o que não passou de um peteleco parlamentar num governo
que estava caindo de podre (resultado: o vácuo resultante da desestabilização do Temer foi
preenchido pela extrema-direita bolsonarista e pelos golpistas que clamavam por intervenção
militar);
9. A rasteira desastrosa que Lula aplicou em Ciro Gomes, inviabilizando a união da esquerda
numa frente para apoiar uma candidatura única, que poderia ser do Ciro, da Marina ou do
Boulos (bastava não pertencer aos quadros do PT e não carregar a enorme rejeição que tal
partido acumulou em 13 anos no poder);
De fato, não dá para discordar da análise de Celso Lungaretti. Contudo, a estes erros históricos
do PT e de Lula se somam os erros mais recentes e aqueles surgidos durante a campanha
eleitoral de 2018. Sem querer contrapor com a lista acima (muito bem elaborada), a lista abaixo
apresenta outros erros que podem contribuir para novos pontos para uma lista definitiva (ainda
a ser consolidada no futuro próximo) dos dez pecados capitais do PT:
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1) Banalização do vocábulo fascista. Desde o começo das jornadas de junho de 2013, quando
a juventude foi espontaneamente às ruas a partir de uma pauta inicial sobre transporte
público, que o PT passou a usar a palavra fascista para designar todos os movimentos de
massa que discordavam da plataforma petista. No raciocínio primário do PT, somente a
esquerda e os fascistas colocam as massas na rua. Portanto, todos os movimentos de massa
contra o PT são, por definição, caracterizados como fascistas. Desta forma, eles usaram e
abusaram tanto do assombração, que o fantasma acabou aparecendo na forma de defesa
do regime militar, como na greve dos caminhoneiros de maio de 2018. O vocábulo fascista
foi tão vilipendiado que acabou vilipendiando o vocábulo petista.
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socialista e passou a atuar na aliança de classes e na defesa das diversas identidades e das
minorias. Desta forma, ao invés de “expropriar os expropriadores” passou a defender
programas de transferência de renda, como propunha, por exemplo, o Banco Mundial. O
Programa Bolsa Família passou a ser o carro chefe da luta petista contra a pobreza,
transformando um programa emergencial em política permanente e sem conseguir
implementar políticas universais como a bandeira da OIT: “Pleno emprego e trabalho
decente”. Ao invés de garantir educação básica universal e de qualidade, além de acesso
integral à universidade, passou a defender políticas de cotas raciais. Ao invés de garantir
direitos sexuais e reprodutivos para todos os habitantes do país, ofereceu alguns ganhos
parciais e ainda fez inúmeras concessões aos líderes evangélicos e católicos. A defesa do
“politicamente correto” em um país com tantas desigualdades sociais não conseguiu evitar
o racismo, o sexismo, a homofobia, o xenofobismo e nem o especismo e ainda deixou o
ambiente tenso e conflituoso;
7) As alianças partidárias e sociais foram estreitas, pois ao contrário do primeiro turno das
eleições de 2002, quando Lula convidou um vice (José Alencar) que era empresário e
evangélico para ampliar a base social do partido, a aliança PT-PCdoB-PROS, em 2018, foi
limitada e a vice Manuela D’Ávila não agregou praticamente nada à uma aliança mais ampla
(pois o PCdoB é um aliado natural) e o PT deixou de conquistar outras bases, sendo que a
derrota no eleitorado evangélico foi decisiva;
8) A demora em lançar Haddad como candidato, em nome do mito Lula, possibilitou a
transferência de votos no primeiro turno, mas o lema “Lula é Haddad e Haddad é Lula”,
passou a ideia de um candidato teleguiado e controlado desde o cárcere. A ideia do “poste
dois” foi interpretada como uma ofensa ao eleitorado e a candidatura Haddad não teve
nem tempo e nem liberdade o suficiente para mostrar a que veio. A tentativa de
transformar Lula em um mito fracassou e a rejeição explodiu;
9) O PT não conseguiu construir uma frente democrática para unir as forças progressistas no
segundo turno e nem deixou de lado a sua inerente tendência ao hegemonismo de
esquerda. Na concepção petista, todas as pessoas progressistas e democráticas tinham de
aderir automaticamente e bovinamente ao partido que estava lutando contra o “fascismo”.
Disseram que o voto nulo seria o mesmo que apoiar os “golpistas”, mas se aliaram a Renan
Calheiros, a família Barbalho, ao Eunício Oliveira, etc. Pediram para que todos aderissem à
candidatura petista, mas sem mostrar capacidade de construir um projeto para a nação;
10) É um erro achar que os 47 milhões de votos obtidos no dia 28 de outubro pertencem ao PT.
Na verdade eles pertencem aos próprios eleitores. Marina Silva teve cerca de 20 milhões
de votos em duas eleições seguidas, mas caiu para cerca de 1 milhão em 2018. Geraldo
Alckmin teve 40 milhões de votos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2006, caiu
para 37,5 milhões no segundo turno e ficou reduzido a 5 milhões de votos no primeiro turno
das eleições de 2018. Portanto, ninguém é dono dos votos e uma eleição não segue
necessariamente a lógica da eleição anterior. Votos se conquistam a cada eleição e não são
patrimônio de ninguém.
Embora o PT tenha conseguido eleger a maior bancada na Câmara e 4 governadores (BA, PI, CE
e RN), viu sua bancada ser reduzida na Câmara e no Senado, além de ficar restrito a UFs menores
em termos de população e de economia. O PT foi amplamente derrotado no Sul, Sudeste e
Centro-Oeste e viu sua influência diminuir muito na região Norte. Não foi para o segundo turno
em 4 grandes estados: SP, MG, RJ e RS. E o maior agravante é que viu a rejeição ao petismo e ao
lulismo subir à um nível inimaginável. Portanto, mesmo com um fracasso do governo Bolsonaro,
será muito difícil o PT recuperar a sua narrativa histórica e o protagonismo que teve nas eleições
passadas.
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Referências:
ALVES, JED. Agenda ambiental do próximo governo não é só prejudicial ao país, mas uma
ameaça ao planeta, entrevista a Patrícia Fachin, IHU, 08/11/2018
http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/entrevistas/584464-agenda-ambiental-de-bolsonaro-
nao-e-so-prejudicial-ao-pais-mas-uma-ameaca-ao-planeta-entrevista-especial-com-jose-
eustaquio-diniz-alves
Celso Lungaretti. Abandonar nossos mitos, Correio da Cidadania, 08/11/2018
http://www.correiocidadania.com.br/politica/13556-abandonar-nossos-mitos