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Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 15
ROTEIRO DE AULA
Obs. Trata-se de uma Súmula muito antiga. Quando elaborada pelo STF, quem conferia imunidade aos Deputados
Estaduais não era a Constituição Federal, mas sim as Constituições dos próprios Estados. Por esse motivo, o STF
sumulou tal entendimento. Por serem conferidas pelas Constituições locais, as garantias dos Deputados Estaduais
eram restritas ao âmbito dos respectivos Estados. Com o advento da Constituição de 1988, essa Súmula restou
superada (Art. 27, §1º - prevê que todas as garantias conferidas aos Deputados Federais e Senadores sejam
estendidas aos Deputados Estaduais, prerrogativa de foro, imunidade formal e imunidade material).
Aplicação integral: As Constituições Estaduais não podem estabelecer garantias que a CF não prevê tampouco
estabelecer menos garantias do que a CF assegura. As Constituições Estaduais devem reproduzir de forma integral
as garantias previstas na CF. A única diferença corresponde à prerrogativa de foro, uma vez que, enquanto os
Senadores e Deputados Federais são julgados pelo STF, os Deputados Estaduais são julgados, em regra, pelo
Tribunal de Justiça.
Aplicação imediata: Quando a CF é alterada no tocante às garantias, mesmo que a Constituição do Estado ainda
não tenha sofrido modificação, a regra da CF já se aplica imediatamente aos Deputados Estaduais. Ex. Antes da
Emenda 35/2001, os parlamentares só poderiam ser processados se houvesse autorização da respectiva casa
(princípio da improcessabilidade). Com a Emenda 35/2001, esse princípio da improcessabilidade foi substituído
pelo princípio da processabilidade. Hoje, os parlamentares são processados e o STF, assim que recebe a denúncia,
comunica à respectiva casa, que poderá suspender o processo se entender que há perseguição política. Quando
essa Emenda foi promulgada, as Constituições Estaduais consagravam a regra antiga. Até que as Constituições
Estaduais fossem emendadas levou certo tempo. No entanto, mesmo nesse período de adaptação, em que as
Constituições Estaduais ainda consagravam o princípio da improcessabilidade, passou a viger também no âmbito
estadual o princípio da processbilidade, pois as garantias são aplicadas de forma imediata, sendo desnecessário
aguardar a alteração das Constituições dos Estados.
1
- Foro por prerrogativa de função: TJ/TRF/TRE;
Como dito, a única diferença corresponde à prerrogativa de foro, uma vez que, enquanto os Senadores e
Deputados Federais são julgados pelo STF, os Deputados Estaduais são julgados, em regra, pelo Tribunal de Justiça.
Todavia, quando o crime for praticado contra bens, serviços ou interesses da União, a competência será do TRF.
Quando o crime for eleitoral, a competência será do TRE.
Questiona-se: O Deputado Estadual que pratica um crime doloso contra a vida será processado e julgado pelo
Tribunal do Júri ou pelo Tribunal de Justiça do Estado?
Trata-se de uma questão polêmica que, embora já decidida pelo STF, ainda gera controvérsias no âmbito
doutrinário. Nesse sentido:
STF – Rcl 7.936 MC/AL, Rel. Min. Celso de Mello (25.03.2009): “[...] a decisão emanada do Senhor
Presidente do Supremo Tribunal Federal reconheceu a prevalência, sobre a competência penal do Tribunal
do Júri, da prerrogativa de foro, ratione muneris, perante o Tribunal de Justiça local, não obstante se trate,
na espécie, de crime doloso contra a vida. Essa compreensão do tema ‘prevalência da prerrogativa de foro
sobre a competência penal do Tribunal do Júri’, tratando-se de Deputado Estadual –, tal como exposta na
decisão proferida pelo Senhor Presidente desta Suprema Corte, tem o beneplácito de autorizado magistério
doutrinário (...). É certo, no entanto, que essa percepção doutrinária em torno da matéria não se revela
imune a críticas, considerada a posição daqueles que sustentam a impossibilidade jurídica de o foro por
prerrogativa de função, quando exclusivamente estabelecido pela Constituição Estadual, preponderar sobre
a competência constitucional do Tribunal do Júri (...), ainda mais se se tiver presente que o julgamento,
pelo júri, nos crimes dolosos contra a vida, traduz, historicamente, em nosso sistema normativo, direito
fundamental assegurado pela própria Constituição da República.”
- Súmula Vinculante 45/STF: “A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual” (antiga Súmula 721/STF).
O Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
do Estado por conta da aplicação de um critério hierárquico. De um lado, a Constituição, Norma Suprema, diz que
crimes dolosos contra a vida são julgados pelo Tribunal do Júri. De outro lado, a Constituição dos Estados
estabelece a prerrogativa de foro. Havendo um conflito entre a Constituição da República e Constituição do Estado,
prevalece a norma superior, que é a Constituição da República.
Contudo, nos casos dos Deputados Estaduais, segundo o entendimento adotado pelo STF, não é a Constituição
Estadual que estabelece, exclusivamente, a prerrogativa de foro, pois esta prerrogativa de foro estaria incluída no
termo “imunidades” previsto no art. 27, § 1º da Constituição da República. Ou seja: segundo este entendimento, a
própria CF estabelecesse essa prerrogativa de foro para os Deputados Estaduais e não exclusivamente a
Constituição Estadual. Sendo assim, há outro tipo de conflito, entre uma norma geral, que é a do Tribunal do júri, e
uma norma específica, que é a do foro por prerrogativa de função. Neste caso, não se aplica o critério hierárquico,
mas sim o critério da especialidade.
Portanto, se um Deputado Estadual praticar um crime doloso contra a vida, ele será julgado pelo Tribunal de Justiça
e não pelo Tribunal do Júri.
1.2.4) Vereadores
I) Imunidade material: CRFB/88, art. 29, VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos
no exercício do mandato e na circunscrição do Município; (g.n)
A interpretação que o STF faz é a de que a CF restringe a imunidade material no caso dos Vereadores, porque ela
dispõe “no exercício do mandato e na circunscrição do Município”.
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Duas interpretações:
1ª : “na circunscrição do Município” significa “nos limites territoriais dos Municípios”, o que significa dizer que, se
as palavras e opiniões forem proferidas fora do Município, os Vereadores não teriam essa imunidade assegurada.
Trata-se de um entendimento já adotado pelo STF e defendido pelo Ministro Gilmar Mendes, em seu Curso de
Direito Constitucional, e pelo Prof. José Afonso da Silva, no Curso de Direito Constitucional Positivo.
- STF – HC 74.201/MG: “[...] A proteção constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política estende-se –
observados os limites da circunscrição territorial do Município – aos atos do Vereador praticados ratione officii,
qualquer que tenha sido o local de sua manifestação (dentro ou fora do recinto da Câmara Municipal). “ (g.n.)
Obs. Tal entendimento é bastante questionável, porque se, por exemplo, um Vereador, em Municípios limítrofes,
vai a um programa de rádio na Cidade vizinha para debater com alguém e defender os interesses de seu Município,
aquelas palavras proferidas por ele não estariam abrangidas pela imunidade material. Há quem entenda que a
interpretação mais adequada seria no sentido de que ele teria a imunidade material, desde que as palavras e
opiniões sejam relacionadas ao exercício do mandato como Vereador.
2º: Embora não tenha ficado muito claro, esse julgamento manteve o entendimento que o STF já tinha sobre o
assunto. Para Deputados Federais, Senadores, Deputados Estaduais e Deputados distritais, quando as palavras,
votos e opiniões são proferidas dentro do Plenário, dentro do CN, há uma presunção de conexão com o exercício
do mandato. Caso sejam proferidas fora do Parlamento, tem que haver conexão. Já no caso dos Vereadores, o STF
entende de forma diferente. Como a Constituição dispõe “no exercício do mandato”, o STF proferiu decisão,
mantendo a jurisprudência anterior, no sentido de que, apenas se houver pertinência com o exercício do mandato,
poderá a imunidade ser conferida, mesmo dentro do plenário. Se não houver conexão com o exercício do mandato,
mesmo dentro do plenário, o Vereador pode ser responsabilizado. Segue a decisão:
- STF – RE 600.063/SP: “1. Vereador que, em sessão da Câmara, teria se manifestado de forma a ofender ex-
vereador, afirmando que este “apoiou a corrupção [...], a ladroeira, [...] a sem-vergonhice”, sendo pessoa sem
dignidade e sem moral. 2. Observância, no caso, dos limites previstos no art. 29, VIII, da Constituição: manifestação
proferida no exercício do mandato e na circunscrição do Município...
... 5. A ausência de controle judicial não imuniza completamente as manifestações dos parlamentares, que podem
ser repreendidas pelo Legislativo. 6. Provimento do recurso, com fixação, em repercussão geral, da seguinte tese:
nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato, os vereadores são
imunes judicialmente por suas palavras, opiniões e votos.” (g.n.)
Questiona-se: Será que a Constituição Estadual poderia conferir imunidade formal aos Vereadores?
Resposta: Não. O STF possui uma jurisprudência sedimentada no sentido de que as Constituições Estaduais não
podem conferir imunidade formal aos Vereadores.
- STJ - HC 106.642-RJ: “[...] a imunidade formal prevista no art. 53, § 2º, da CF/1988 foi repetida no art. 102, § 1º,
da Constituição estadual em comento (a fluminense) para abrigar os parlamentares estaduais e foi estendida aos
vereadores pelo art. 349 dessa mesma Carta. Porém, o STF já suspendeu a eficácia desse dispositivo no julgamento
de ADI. [...] Precedentes citados do STF: ADI 558-RJ, DJ 26/3/1993”.
Portanto, em relação aos Vereadores, não há imunidade formal e a Constituição Estadual não pode estender.
Cuidado! Se a Constituição Estadual estabelecer foro por prerrogativa de função para o Vereador, caso este
pratique um crime doloso contra a vida, o julgamento se dará pelo Tribunal do Júri, uma vez que, neste caso,
aplica-se a Súmula Vinculante 45/STF. Prevaleceria o Tribunal do Júri sobre o foro por prerrogativa de função,
porque este último seria estabelecido exclusivamente pela Constituição do Estado, já que a Constituição Federal
não diz nada a respeito.
Obs. Estas resoluções do inciso VII não são as elaboradas por Tribunais, pelo CNJ ou pelo CNMP. São as resoluções
da Câmara, do Senado e do CN.
Obs. Todos os atos previstos no art. 59 são atos normativos primários, ou seja, são atos normativos que têm a
Constituição como fundamento de validade imediato. Tais atos compõem o processo legislativo, que nada mais é
do que o conjunto de normas que regula o processo de elaboração desses atos.
Ex. Art. 61, § 1º, traz um rol de matérias de iniciativa exclusiva do Presidente da República. Se essas matérias são
de iniciativa exclusiva do Presidente da República (esfera Federal), na esfera Estadual, a Constituição Estadual só
pode atribui-las ao Governador e, na esfera Municipal, a Lei Orgânica Municipal só pode atribuir a iniciativa dessas
matérias ao Prefeito, uma vez que são normas de observância obrigatória pelos Estados e Municípios.
Obs. Isso não significa que a Constituição Estadual tenha que reproduzir exatamente igual o que está na
Constituição Federal, mas as regras e princípios básicos devem ser observados.
Questiona-se: A Constituição Estadual pode prever que a derrubada do veto do Governador é através de escrutínio
secreto? Com a Emenda 76/2013, a derrubada do veto do Presidente através de escrutínio secreto foi retirada da
Constituição. Portanto, hoje, tal derrubada se dá por escrutínio aberto. Assim, como se trata de norma de
observância obrigatória no âmbito dos Estados, a derrubada do veto do Governador também tem que ser através
de escrutínio aberto. O mesmo deve ser observado no âmbito municipal, ou seja, a derrubada do veto do Prefeito
tem que ser através de escrutínio aberto.
Obs. A seguir, vamos ver, simultaneamente, o processo legislativo de elaboração de Emenda à Constituição, das
Leis Complementares e das Leis Ordinárias.
I) Introdutória:
a) Iniciativa comum/geral/concorrente: -
Ex.: Matéria tributária (TJ/MA 2013) (MP/MS 2013) - É de iniciativa concorrente do Executivo e do Legislativo, ou
seja, tanto o Executivo quanto o Legislativo podem tomar a iniciativa de propor projeto de lei em matéria
tributária.
Atenção! Cai muito, em provas, questão sobre matéria tributária e iniciativa concorrente. Observe-se que o Art.
61, §1º, II, b, da CF faz referência à matéria tributária. Pode-se imaginar que matéria tributária seria de iniciativa
privativa do Presidente da República, o que é um equívoco, uma vez que a referência prevista no dispositivo se
resume ao âmbito dos territórios. Apenas no âmbito dos territórios, a matéria tributária é de iniciativa exclusiva do
Presidente da República. O STF entende que, fora do âmbito dos territórios, a matéria tributária é de iniciativa
concorrente, do Presidente e dos Membros do Parlamento.
Ex. Leis de organização do MP (MP/SC 2013) – São de iniciativa concorrente do chefe do Executivo e do chefe do
MP.
b) Iniciativa reservada/exclusiva/privativa:
É atribuída a apenas um determinado órgão ou autoridade. Somente um determinado órgão ou autoridade pode
propor leis sobre determinadas matérias.
Ex. Matérias do art. 61, §º1, que são de iniciativa privativa do Presidente da República.
- Rol taxativo (numerus clausus); caráter excepcional; não pode ser ampliado por lei;
Obs. A regra geral é a iniciativa comum. A iniciativa reservada é uma exceção. Sabemos que normas excepcionais
devem ser interpretadas de maneira restritiva. Sendo assim, as matérias de iniciativa reservada devem ser
interpretadas restritivamente. Não podem ser ampliadas através de interpretação nem por lei. O rol é taxativo.
Aspectos importantes:
1º - Proposta de Emenda tem iniciativa mais restrita do que projeto de lei: A CF/1988 é rígida, o que significa que o
processo de elaboração das Emendas é mais dificultoso, mais solene do que o processo legislativo ordinário. A
aprovação de proposta de Emenda é mais difícil do que de projeto de lei. Isso vale tanto com relação ao quórum,
que é diferente, conforme veremos, quanto com relação à iniciativa, que, no caso de Emenda, é mais restrita. Nem
todos que podem propor projetos de lei podem apresentar propostas de Emenda.
2º - Não há qualquer diferença entre a iniciativa de Lei Ordinária e Lei complementar. Os legitimados são
exatamente os mesmos.
Obs. Note-se que o Presidente da República é a única autoridade que pode tanto propor projeto de lei ordinária e
complementar, cuja iniciativa está prevista no art. 61, quanto Emendas à Constituição.
Obs. Note-se que o Presidente da República não participa, no processo da elaboração de Emendas, de nenhuma
outra etapa que não seja a iniciativa, ou seja, não existe sanção ou veto de proposta de Emenda. Feita a proposta
pelo Executivo, todo o restante do processo se passa dentro do Parlamento.
Obs. Pelo Poder Legislativo, qualquer Parlamentar ou qualquer comissão da Câmara, do Senado e do Congresso, de
acordo com o Art. 61, pode propor a iniciativa de lei. Já no caso de Emenda, não é qualquer membro do Congresso
que pode propor tampouco qualquer comissão. A proposta de Emenda só pode ser apresentada por, no mínimo,
1/3 dos membros da Câmara ou 1/3 dos membros do Senado.
Obs. Pelo Poder Judiciário, podem propor leis ordinárias e leis complementares o STF e os Tribunais Superiores.
Pelo MP, pode propor o PGR. Cuidado! Tanto o judiciário quanto o MP só podem apresentar projetos de lei que
sejam relacionados à respectiva instituição. Ex. O Poder Judiciário não pode, por exemplo, apresentar um projeto
de lei sobre previdência social.
Obs. Note-se que o STF, os Tribunais Superiores e o PGR não têm legitimidade para propor Emendas à Constituição.
Obs. Outros legitimados: No caso de projeto de lei ordinária e complementar, qualquer cidadão (Art. 61, 2º). Neste
caso, precisa ser por mais de 1% do eleitorado nacional dividido em, pelo menos, 5 Estados da Federação, não
podendo ser menos do que 3/10% dos eleitores de cada um deles. Ex. A Transformação de homicídio qualificado
em crime hediondo ocorreu através de iniciativa popular encabeçada por Glória Perez, que colheu as assinaturas
no Brasil inteiro, após a morte de sua filha. A Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010) é uma lei complementar fruto de
iniciativa popular. No caso das Emendas, não há previsão de iniciativa popular.
a) Discussão:
- CCJ; comissão temática; plenário;
CCJ: A CCJ é primeira comissão a apreciar os projetos de lei e propostas de emenda que chegam ao Parlamento.
Antes de analisar o conteúdo, é necessário verificar se o projeto/proposta é compatível com a Constituição. Trata-
se de controle preventivo feito pelo Legislativo com a finalidade de evitar que um projeto de lei inconstitucional
tramite no Congresso. A Comissão pode determinar o arquivamento do projeto caso não haja compatibilidade com
a Constituição. Nos casos de arquivamento, cabe recurso ao plenário, que, se entender que a comissão agiu de
forma incorreta, pode determinar que o projeto seja discutido e votado por todos os parlamentares.
Comissões Temáticas: O Congresso Nacional tem várias comissões temáticas, que analisam projetos de lei de
acordo com o assunto. Como hoje os temas são muito vastos e complexos, estas comissões são especializadas em
determinadas matérias. Ex. comissão de previdência, comissão trabalhista, comissão de minas e energia.
Geralmente, as comissões temáticas correspondem aos Ministérios.
Plenário: Após passar pelas comissões, tanto pela CCJ quanto pelas comissões temáticas, em regra, o projeto de lei
vai para o plenário. Normalmente, só projetos de lei mais polêmicos são objeto de discussão no plenário. Na
maioria dos casos, a votação se dá através do chamado “voto de liderança” (as lideranças partidárias definem um
prévio acordo sobre o tema).
b) Votação:
Cuidado! Não confundir quórum de votação com quórum de aprovação. São dois quóruns completamente
diferentes. O quórum de votação é o número de Parlamentares presentes para votar um projeto de lei. Para que
um projeto de lei seja votado, é necessário que esteja presente a maioria dos membros (maioria absoluta).
Portanto, o quórum de votação é de maioria absoluta. Este quórum é a regra geral. Ele vale não só para a votação
de projetos de lei ordinária e complementar, mas para qualquer deliberação do Congresso Nacional.
Ex. 1: Se a votação será na CCJ, caso ela tenha 10 membros, a votação só pode ser realizada se estiverem
presentes, pelo menos, 6 membros.
Ex. 2: São 513 Deputados. Qualquer votação de lei ordinária, lei complementar ou qualquer deliberação da Câmara
só pode ocorrer se estiverem presentes na sessão do plenário, no mínimo, 257 Deputados.
Ex. 3: São 81 Senadores. Qualquer deliberação do Senado só pode ocorrer se estiverem presentes no plenário, no
mínimo, 41 Senadores. Percebe-se que o quórum de votação é maioria absoluta e é um número fixo, ou seja, nunca
varia, é sempre o mesmo número.
Matéria: A matéria da LO é residual, enquanto a da lei complementar é matéria reservada, ou seja, sempre que um
assunto tiver que ser tratado por LC, a Constituição disporá “nos termos da lei complementar” ou “cabe à lei
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complementar estabelecer...”. Tudo aquilo que não for reservado pela Constituição para um determinado ato
normativo pode ser tratado por lei ordinária.
Quórum de aprovação: O quórum de aprovação da lei ordinária é de maioria relativa. Já o quórum de aprovação da
lei complementar é de maioria absoluta. Ex. para a votação de uma lei ordinária é necessária a presença no
plenário de, no mínimo, 257 Deputados (quórum de votação). Suponha-se que estejam presentes 300 Deputados, o
número mínimo necessário para aprovar o projeto de lei será de 151 (mais da metade dos presentes – maioria
relativa). Já no caso da lei complementar, se estiverem presentes 257 Deputados, serão necessários 257 votos, pois
esse número é fixo e corresponde à maioria absoluta (metade mais um dos membros) da Câmara. Se estiverem
presentes 300 Deputados para aprovar lei complementar, serão necessários 257 votos. Se estiverem presentes 400,
serão necessários 257 votos.
Cuidado! Como visto, lei ordinária e lei complementar têm o mesmo quórum de votação, a diferença está na
matéria tratada e no quórum de aprovação.
Questiona-se: Existe hierarquia entre lei ordinária e lei complementar? A lei complementar é hierarquicamente
superior à lei ordinária?
Essa questão era objeto de divergência na jurisprudência. O STJ dizia que a lei complementar era superior à lei
ordinária e o STF dizia que não. O STJ acabou alterando seu entendimento e passou a adotar a mesma posição do
STF. Portanto, hoje, o entendimento que prevalece nos dois Tribunais é no sentido de que não há hierarquia entre
lei complementar e lei ordinária, ambas possuem campos materiais distintos estabelecidos pela constituição.
- STF - RE 377.457: “Contribuição Social sobre o Faturamento (COFINS) (CF, art. 195, I). Revogação pelo art. 56 da
Lei 9.430/1996 da isenção concedida às sociedades civis de profissão regulamentada pelo art. 6º, II, da LC 70/1991.
Legitimidade. Inexistência de relação hierárquica entre lei ordinária e lei complementar. Questão exclusivamente
constitucional, relacionada à distribuição material entre as espécies legais. Precedentes...
... A LC 70/1991 é apenas formalmente complementar, mas materialmente ordinária, com relação aos dispositivos
concernentes à contribuição social por ela instituída. ADC 1, Rel. Moreira Alves, RTJ 156/721.” (g.n.)
Obs. Se há um conflito entre a lei ordinária e a lei complementar, é necessário verificar na Constituição qual das
duas invadiu o campo material da outra. Necessário verificar se a matéria é reservada à lei complementar e foi
tratada pela lei ordinária ou se é uma matéria residual que foi tratada por lei complementar. Se a matéria é
reservada à lei complementar, lei ordinária não pode tratar do assunto. Neste caso, a lei ordinária será
inconstitucional. Se a matéria é residual e foi tratada por lei complementar, não haverá inconstitucionalidade. Lei
complementar pode tratar de matéria residual sem ser invalidada, por uma questão de economia legislativa. Como
o quórum da lei complementar é maior do que o da ordinária, permite-se que aquela lei complementar trate da
matéria, já que o quórum foi atendido. Quando uma lei complementar trata de matéria residual, ela é formalmente
complementar, mas materialmente ordinária. Se ela é materialmente ordinária, ela pode ser revogada por uma
outra lei ordinária.
Portanto, uma lei ordinária pode revogar uma lei complementar quando a lei complementar tiver tratado de
matéria de lei ordinária, ou seja, quando a lei complementar for materialmente ordinária.
- Exceção: comissões
É possível, em alguns casos, previstos no regimento interno, que a votação ocorra nas comissões. O regimento
interno pode dispensar a apreciação do plenário. Pode haver um recurso de 1/10 dos membros da casa e a questão
ser levada ao plenário.
- CF, art. 58, § 2o, I. Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei
que dispensar, na forma do regimento, a competência do plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos
membros da Casa. (g.n.)
Obs. O Poder Legislativo, na esfera Federal, é bicameral, ou seja, a manifestação de sua vontade só ocorre quando
as duas casas se manifestam a respeito. Assim, para que um projeto de lei seja aprovado, não pode haver a
concordância apenas de uma das casas. É necessário que ambas as casas do CN votem favoravelmente àquele
projeto de lei. Isso significa que toda alteração feita por uma das casas, necessariamente, tem que voltar para que a
outra casa aprecie, salvo casos de alteração formal de redação.
- Exceções:
1) Aumento de despesa em PL de iniciativa exclusiva do PR (salvo leis orçamentárias); Organização dos serviços
administrativos da CD, SF, TF, MP (art. 63);
Obs. A CF não veda emendas em projeto de lei de iniciativa exclusiva. O que ela não admite é aumento de
despesas.
- STF - ADI 3.114: “As normas constitucionais de processo legislativo não impossibilitam, em regra, a modificação,
por meio de emendas parlamentares, dos projetos de lei enviados pelo chefe do Poder Executivo no exercício de
sua iniciativa privativa. Essa atribuição do Poder Legislativo brasileiro esbarra, porém, em duas limitações:
a) a impossibilidade de o parlamento veicular matérias diferentes das versadas no projeto de lei, de modo a
desfigurá-lo; e
b) a impossibilidade de as emendas parlamentares aos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República,
ressalvado o disposto no § 3º e no § 4º do art. 166, implicarem aumento de despesa pública (inciso I do art. 63 da
CF).” (g.n.)
c) Aprovação:
- EC (art. 60, § 2º); Quórum qualificado de 3/5 dos membros de cada casa e 2 turnos de votação.
Obs. Aprovado o projeto de lei ordinária ou complementar, vai para sanção do Presidente. Aprovada a proposta de
Emenda à Constituição, como não tem sanção, vai direto para promulgação.
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d) Rejeição:
Questiona-se: Se a matéria constante de uma medida provisória for rejeitada em uma sessão legislativa, pode
haver uma reedição da MP na mesma sessão legislativa? Resposta: Não, no caso da MP, aplica-se a mesma regra da
Emenda, ou seja, se a matéria constante de uma medida provisória for rejeitada em uma sessão legislativa, ela só
poderá ser reeditada na sessão legislativa seguinte (Art. 62, §10 da CF).
- CRFB/88, Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas comissões
serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros;
Art. 60, § 2º. A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e
enviado à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar.
Julgado interessante: Na votação da PEC dos precatórios, o Senado Federal votou, no mesmo dia, os dois turnos. A
Emenda que resultou da PEC foi objeto de uma ADI (ADI 4425) no STF:
- STF – ADI 4.425: “A Constituição Federal de 1988 não fixou um intervalo temporal mínimo entre os dois turnos
de votação para fins de aprovação de emendas à Constituição (CF, art. 60, § 2º), de sorte que inexiste parâmetro
objetivo que oriente o exame judicial do grau de solidez da vontade política de reformar a Lei Maior. A
interferência judicial no âmago do processo político, verdadeiro locus da atuação típica dos agentes do Poder
Legislativo, tem de gozar de lastro forte e categórico no que prevê o texto da CF.”
Obs. Note-se que o entendimento foi no sentido de que, como não há um prazo fixado para os dois turnos e como
a CF não estabelece nenhum período como parâmetro, não pode o Judiciário dizer que é inconstitucional porque
foi votado no mesmo dia, ainda que o regimento interno estabeleça de forma diversa.
Classificações:
Tácita: O chefe do Executivo não se manifesta. O seu silêncio é considerado como uma sanção tácita. Ele tem o
prazo de 15 dias úteis para vetar o projeto de lei. Se em 15 dias úteis ele não vetar o projeto de lei, tacitamente
está concordando com aquele projeto.
Parcial: O chefe do Executivo concorda apenas com uma parte do projeto de lei e veta o restante.
Obs. Lembre-se que só há sanção ou veto no caso de projeto de lei. No caso de proposta de Emenda à Constituição,
não há essa fase, de modo que segue direto para promulgação.
f) Veto:
Obs. A sanção parcial é o outro lado da moeda do veto parcial, ou seja, se o chefe do Executivo sanciona uma parte,
significa que vetou a outra.
Obs. O veto parcial tem que abranger todo o artigo, todo o parágrafo, toda a alínea ou todo o inciso, ou seja, ele
tem que abranger o texto integral do dispositivo, não podendo incidir sobre uma palavra ou sobre uma expressão
apenas.
O veto jurídico é o veto por inconstitucionalidade. Quando o Presidente veta um projeto de lei por considerá-lo
inconstitucional, está fazendo uma análise jurídica daquele projeto de lei.
O veto político é o veto por contrariedade ao interesse público. Quando o Presidente veta um projeto de lei por
considerá-lo contrário ao interesse público, está fazendo uma análise de natureza política.
- CRFB/88, Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da
República, que, aquiescendo, o sancionará;
§ 1º Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao
interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto;
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea;
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção;
§ 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser
rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores;
§ 5º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República;
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§ 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da sessão
imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final;
§ 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos §§ 3º
e 5º, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do
Senado fazê-lo.
Obs. (§2º) – Cuidado para não confundir o veto parcial com a declaração de inconstitucionalidade parcial. A
declaração de inconstitucionalidade parcial, como já vimos, pode incidir sobre uma palavra ou sobre uma
expressão, desde que não altere o sentido do restante do dispositivo. O veto parcial tem que abranger o texto
integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.
Obs. (§ 3º) - Note-se que este parágrafo não fala em “15 dias úteis”, mas apenas em “15 dias”. Contudo, como o
veto é em 15 dias “úteis”, a sanção tácita também tem que ser no mesmo prazo. Portanto, a interpretação tem que
ser conjunta do §3º com o §1º. Entende-se que esses 15 dias são 15 dias úteis.
Obs. (§ 4º) - A apreciação do veto ocorrerá em sessão conjunta, ou seja, sessão em que a Câmara e o Senado se
reúnem para discutir e votar conjuntamente, embora os votos sejam computados de maneira separada (quando os
votos são computados juntos será sessão unicameral – Ex.: ADCT, art. 3º -, o que não é o caso).
O recebimento previsto neste parágrafo foi objeto de grande polêmica: O CN utilizou um artifício para que a pauta
não fosse trancada, o que ocorre quando o CN não vota a derrubada do veto em 30 dias. O Congresso havia
decidido que o recebimento do veto teria que ocorrer em uma sessão solene, ou seja, após o veto do Presidente,
os parlamentares teriam que fazer uma sessão solene para receber o veto, o que poderia ser feito em qualquer
prazo. Esse procedimento foi questionado no STF em um mandado de segurança, porque os parlamentares
passaram alguns vetos na frente de outros e disseram que os 30 dias não estariam correndo, já que não haviam
feito a sessão solene ainda. O STF decidiu que essa manobra não era permitida. O CN alterou seu regimento
interno. No regimento comum do Congresso hoje, esse recebimento não ocorre em uma sessão solene. Veja o que
dispõe o regimento:
- RCCN, Art. 104-A. O prazo de que trata o §4º do art. 66 da Constituição Federal será contado da protocolização do
veto na Presidência do Senado Federal (dispositivo reordenado em razão do Ato da Mesa do Congresso Nacional
nº 1, de 2015); (g.n)
Obs. (§5º) – O Presidente, que vetou, não é obrigado a promulgar o projeto caso seu veto tenha sido derrubado
pelo CN. Sendo assim, aplica-se o disposto no §7º, ou seja, se em 48h o Presidente não promulgar, o Presidente do
Senado o promulgará, sendo que, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo
Obs. A Constituição, até a Emenda 32 de 2001, previa um prazo de 30 dias de vigência para as medidas provisórias
e não limitava o número de reedições. Então, se o Congresso não a aprovasse ou não a rejeitasse em 30 dias, o
Presidente reeditava. Como os Presidentes, em geral, estavam abusando da utilização deste instrumento, o
Congresso, através da Emenda 32/2001, estabeleceu uma série de limitações.
- CRFB/88, Art. 62, § 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no
prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso
Nacional.
- 45 dias (publicação): regime de urgência (art. 62, § 6º) = suspensão de “todas as deliberações” da casa na qual
estiver tramitando (art. 62, §6º);
Ex. O Presidente edita uma medida provisória. A análise da medida provisória para conversão em lei começa
sempre pela Câmara. Se a Câmara dos Deputados, em 45 dias, não analisar a medida provisória, a pauta da Câmara
será trancada, ou seja, a Casa não pode votar nenhuma outra matéria enquanto não apreciar a medida provisória.
Se chegar no Senado depois dos 45 dias, já chega trancando a pauta, de modo que o Senado não pode votar nada
enquanto não apreciá-la.
Obs. Note que isso, de certa maneira, criou um obstáculo à atuação legislativa do Poder Legislativo, porque quem
comanda, basicamente, a pauta do Legislativo acaba sendo o Presidente da República, já que as medidas
provisórias trancam a pauta, devendo o Legislativo votar as medidas provisórias.
Curiosidade! Michel Temer, quando era presidente da Câmara, antes de ser Vice-Presidente da República, para
contornar este trancamento de pauta, adotou uma saída bastante engenhosa. Ele entendeu o seguinte: a medida
provisória só pode tratar de matéria residual, que é matéria de lei ordinária. Matéria residual só pode ser votada
nas sessões ordinárias, que são as sessões que ocorrem de terça a quinta-feira no CN. Como a medida provisória só
pode tratar de matéria residual, matéria votada em sessão ordinária, ela não tranca a pauta no caso períodos fora
da sessão ordinária, ou seja, fora de terça a quinta. Sendo assim, não há impedimento de votar matérias que não
são residuais como, por exemplo, Emendas à Constituição ou matéria de lei complementar, que é matéria
reservada, na sexta ou na segunda-feira. Portanto, a saída que Temer encontrou foi dizer que a medida provisória,
na verdade, só trancaria a pauta em relação às matérias residuais, que são as matérias de lei ordinária, as quais
podem ser tratadas por ela. Em relação a outras matérias, eles poderiam votar nas sessões extraordinárias, porque
são matérias que não podem ser tratadas por medida provisória.
- Sessões extraordinárias: matérias não residuais; sessões ordinárias (3ª a 5ª): matérias residuais.
§ 6º Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará
em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas,
até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando. (g.n.)
Note que, embora o texto constitucional seja claro ao dispor que ficarão sobrestadas “todas as demais deliberações
legislativas”, no julgamento do MS 27.931/DF, ocorrido em 29/06/2017, STF adotou o seguinte entendimento:
MARCIO LIMA DA CUNHA - 05308192790
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Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Celso de Mello (Relator), indeferiu o
mandado de segurança e deu, ao § 6º do art. 62 da Constituição, na redação resultante da EC 32/2001,
interpretação conforme à Constituição, para, sem redução de texto, restringir-lhe a exegese, em
ordem a que, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, seja fixado entendimento de que o
regime de urgência previsto em tal dispositivo constitucional – que impõe o sobrestamento das
deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional – refere-se, tão somente, àquelas matérias
que se mostram passíveis de regramento por medida provisória, excluídos, em consequência, do
bloqueio imposto pelo mencionado § 6º do art. 62 da Lei Fundamental, as propostas de emenda à
Constituição e os projetos de lei complementar, de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo,
tratando-se de projetos de lei ordinária, aqueles que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de
incidência das medidas provisórias (CF, art. 62, § 1º, I, II e IV). Vencido o Ministro Marco Aurélio.
Impedido o Ministro Dias Toffoli. Ausente o Ministro Ricardo Lewandowski, participando do Seminário
de Verão 2017, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal. Presidiu o julgamento a
Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 29.6.2017. (g.n.)
- CRFB/88, Art. 62, § 1º. É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
previsto no art. 167, § 3º;
Em termos de matéria penal, a questão sempre foi polêmica antes da vedação expressa. Havia no STF o
entendimento de que medida provisória não podia tratar de norma penal incriminadora.. Com a Emenda 32, que
trouxe a vedação expressa, hoje, a maioria da doutrina, seja no Direito Penal, seja no Direito Constitucional,
entende que não pode uma medida provisória tratar de matéria penal, seja norma incriminadora, seja norma não
incriminadora. No entanto, há posicionamento divergente. O Prof. Luiz Flávio Gomes, por exemplo, entende que,
mesmo após a Emenda 32/2001, medida provisória pode tratar de norma penal não incriminadora. Ele cita como
exemplo a seguinte decisão do STF:
RE 768.494/GO: “ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI Nº 10.826/03). CRIME DE POSSE DE ARMA DE FOGO DE USO
PERMITIDO. PRAZO PARA REGULARIZAÇÃO. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 417/2008. NATUREZA JURÍDICA.
APLICABILIDADE AOS FATOS PRATICADOS NO PERÍODO EM QUE VEDADO O REGISTRO DA ARMA DE FOGO.
ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. IRRETROATIVIDADE. PRECEDENTES. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.”
O Argumento que o Prof. Luiz Flávio Gomes utiliza é no sentido de que esta decisão do STF foi proferida após a
Emenda 32/2001 vedar o tratamento de matéria penal por medida provisória. A medida provisória, neste caso,
tratou de matéria penal e não foi invalidada pelo STF. Portanto, na visão de Luiz Flávio Gomes, o STF, com esta
decisão, implicitamente, entendeu que a medida provisória ainda pode tratar de matéria penal, desde que seja
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uma norma não incriminadora. Contudo, há quem não concorde com este posicionamento e defenda que a medida
provisória não possa tratar de medida provisória em qualquer sentido. Argumenta-se que, nos votos do referido
julgamento, em momento algum se discutiu a possibilidade de matéria penal ser tratada por medida provisória.
Assim, não seria possível dizer que a jurisprudência do STF admite medida provisória em matéria penal com base
nesta decisão, porque isso não foi objeto de deliberação.
“c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;”
Medida provisória também não pode tratar sobre “organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a
carreira e a garantia de seus membros”, porque, caso contrário, o Presidente da República poderia utilizar este
instrumento como forma de coação contra membros do MP e da Magistratura.
“d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o
previsto no art. 167, § 3º;”
De acordo com o art. 167, §3º, podem ser abertos créditos extraordinários para atender despesas imprevisíveis e
urgentes como, por exemplo, no caso de guerra declarada e no caso de calamidade pública.
O STF proferiu uma decisão na qual entende que não é toda e qualquer despesa que pode ser considerada
imprevisível e urgente, porque a CF estabelece uma diretriz interpretativa para identificar esse tipo de despesa.
- STF - ADI 4.048 MC/DF: “Interpretação do art. 167, §3º c/c o Art. 62, §1º, inciso I, alínea “d’, da Constituição. Além
dos requisitos de relevância e urgência (art. 62), a Constituição exige que a abertura de crédito extraordinário seja
feita apenas para atender a despesas imprevisíveis e urgentes. Ao contrário do que ocorre em relação aos
requisitos de relevância e urgência (art. 62), que se submetem a uma ampla margem de discricionariedade por
parte do Presidente da República, os requisitos de imprevisibilidade e urgência (art. 167, §3º) recebem
densificação normativa da Constituição... Os conteúdos semânticos das expressões “guerra”, “comoção interna” e
“calamidade pública” constituem vetores para a interpretação/aplicação do art. 167, §3º c/c o art. 62, §1º, inciso I,
alínea ‘d”, da Constituição. “Guerra”, “comoção interna” e “calamidade pública” são conceitos que representam
realidades ou situações fáticas de extrema gravidade e de consequências imprevisíveis para a ordem pública e a paz
social, e que dessa forma requerem, com a devida urgência, a adoção de medidas singulares e extraordinárias.”
(g.n)
O que se quis dizer nesta decisão é que, no caso de medida provisória para criar créditos extraordinários, a margem
de ação do Presidente da República para analisar o que é imprevisível e urgente não é tão ampla quanto para
editar medida provisória, com relação à urgência e relevância, porque, no caso de despesas imprevisíveis e urgente,
a CF densifica essas expressões, utilizando exemplos (“tais como guerra, comoção interna ou calamidade pública”).
II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do
Presidente da República.
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II,
IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último
dia daquele em que foi editada.
Obs. Como esses impostos não se sujeitam ao princípio da anterioridade anual, eles podem ser exigidos
imediatamente. Como eles podem ser exigidos imediatamente, a medida provisória instituir ou aumentar sem
precisar observar o princípio da anterioridade anual.
Obs. Apenas no caso do IPI, precisa observar a anterioridade nonagesimal (90 dias).
- CRFB/88, Art. 62, § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a
edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por
igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas
decorrentes.
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de
eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua
vigência conservar-se-ão por ela regidas.