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AS TRÊS PENEIRAS RASGADAS

Edno Gonçalves Siqueira

Conta-se, recorrentemente, uma famosa história sempre que se quer ressaltar algumas
virtudes éticas. Parece que a fonte seria o filósofo Sócrates que propôs uma virada na
investigação filosófica chamada de giro para o homem ao propor que ele, o Homem, é a
medida de todas as coisas. Não se conta à toa essa história de fins prescritivos, corretivos e
coibitivos. Não se faz uso dela impunemente porque quem a conta faz pesar sobre a própria
cabeça um peso descomunal, maior inclusive sobre as cabeças dos ouvintes, já que o objetivo
da Parábola é didático e sobre padrões de ética a serem seguidos pela comunidade,
sobretudo, pelo portador da mensagem que supostamente, por ser o responsável por sua
reprodução, deveria ser exemplo do seu conteúdo.

Quem alerta aponta um erro e propõe uma solução sempre que se esteja em situação de
desigualdade: o saber não gera apenas poder, ele cria compromisso e responsabilidade, cria a
necessidade de haver coerência entre quem exorta e a exortação feita.

Vamos à história: um homem procurou um sábio e lhe disse que precisava contar algo sobre
alguém! Mas, nem chegou a concluir sua frase, quando o sábio ergueu os olhos do livro que lia
e perguntou:

Espere... O que vai me contar já passou pelas três peneiras?

Que peneiras?

O sábio continuou: a primeira é a da Verdade. Você está de fato certo de que o que vai contar
é mesmo verdadeiro?

Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!

Então, suas palavras já não vazaram pela primeira peneira e precisam ser retidas. Vamos para
a segunda peneira que é a da Bondade. Sobre o que vai dizer, gostaria que os outros também
dissessem a seu respeito?

Claro que não! Mais uma retenção, portanto; suas palavras não passaram pela segunda
peneira. A terceira peneira é a da Necessidade. É realmente necessário contar sua história, ou
até passá-la adiante? Resolverá algo? Ajudará a quem ouvir? Melhorará algo para alguém? Se
o que se dirá não passar pelas três peneiras é melhor esquecer para não envenenar ninguém e
nem causar a discórdia. Da próxima vez que ouvir um boato ou mesmo algo que
eventualmente pode ser real, ainda assim, submeta-o ao teste das três peneiras.

As pessoas inteligentes falam sobre o que vai elevar a comunidade, sobre ideias que ajudam,
toleram a diferença, não precisam convencer, mas acolhem os que abraçam suas ideias e
passam a caminhar juntos compartilhando as dificuldades do trajeto;

Pessoas comuns falam sobre aquilo que pouco entendem, ou sobre suas crenças pessoais e
coletivas e geralmente creem e defendem o que adotam como a verdade a seguir e, muito
visto, apegam-se cegamente aos seus modos de estar no mundo, temendo que outros não o
façam, atacando ou afastando-se daqueles que deles divergem;

Pessoas mesquinhas e miseráveis, que geralmente se escondem sobre o manto das


inteligentes ou das comuns, falam sobre pessoas e agem com elas em total desprezo aos
critérios de inspeção da Verdade, da Bondade e da Necessidade, e antes, destorcem e
reconduzem maliciosamente, ajudam a detratação da imagem alheia, desejam o mal mesmo
que não haja motivos de revidar, insinuam perniciosamente, espalham comportamentos e
ideias que não aprimoram os demais eticamente, bajulam e manipulam para possuir prestígio
e poder, são gananciosas e não possuem empatia pelo próximo, antes até, tratam o outro
nunca como gostariam de ser tratadas, tratando o outro como um campo a ser explorado, um
continente a ser desbravado para a introdução de assentamentos de dominação ou um
inimigo a ser conquistado, e se não puder, derrotado e aniquilado. O detalhe

Boa história para fins morais se...as peneiras tiverem furos proporcionais ao conteúdo que
devem filtrar. As peneiras, assim como as consciências, não são iguais, não são homogêneas,
não são feitas do mesmo material, não filtram igualitariamente. Há peneiras velhas e novas,
reforçadas e fracas, flexíveis e quebradiças. Consciência e peneira têm de igual o fato d serem
conceitos abstratos dentro dos quais cabem elementos tão distantes quanto uma melancia e
um grão de mostarda. Imagine a confusão de uma peneira que pensa ser própria a filtrar água,
mas lhe óleo diesel queimado sob o rótulo de água pura? E vice-versa. As consciências são
individuais, sofrem influxos grupais, temporais, ocasionais e banais. É tênue a situação da
consciência frente àqueles valores (verdade, bondade, necessidade). Não que ela não possa
ser uma boa peneira. Até pode. Mas que peneira será essa? De que material deverá ser feita?
Trata-se da distinção do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, do essencial e do acessório.
Não são distinções fáceis ou pré-moldadas. Ser ético, entre nós, suporta fórmulas do tipo pré-
fabricadas em modelos genéricos para a aplicação em casos específicos. Esse tipo de ética é,
para nós ocidentais, o canônico (o modelo tido como o oficial). Nosso radar ético é orientado
por fundamentos herdados do cristianismo e alguns movimentos históricos que por sua vez,
têm raízes em tendências filosóficas (Renascimento, Iluminismo) romanas e gregas. Já em
Homero podem ser vistos poemas (ou cantos, melhor) gnômicos ou sapienciais que se
constituíam de máximas morais. Esses poemas traduziam a ética do consenso, que prefiro
chamar de moral grupal, pois ética implica sempre, por definição, reflexão e crítica filosófica (o
que não é fácil, nem comum). Esse tipo de método de ensino é transmitido aos romanos e nos
chega pelo cristianismo (vide Evangelhos). Vamos lembrar de que vemos o mundo com os
olhos de nossa cultura. Inclusive aquelas noções ou valores máximos de que tratamos há
pouco, parecem também ser constituídos assim. Mas, há quem discorde. Para muitos, mesmo
que não saibam, o bem, a justiça, o necessário são valões que transcendem as culturas e os
tempos. São valores para além do tempo e do espaço, valores de um mundo sem alterações,
sem mudanças, sem dúvidas ou sombra delas. Porém, esse mundo, se existe, não é o nosso.
Não é a realidade cotidiana que nos cega e enlouquece, que desiquilibra e demanda
reestruturação constante. Esse mundo, vasto mundo nosso, de toda santa segunda-feira, das
contas a pagar com o salário esvaído do fim de mês, parece estar mais para dúvidas e
incertezas, deslizes e inseguranças, deslocamentos constantes e ressignificações rotineiras que
qualquer outra criação romanesca. Como são as peneiras nesse mundo nosso, de que
materiais são feitas e o que filtram? O que são o bem, o justo, o verdadeiro que devem
identificar na medição (aferição aqui é identificação por distinção)?

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