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Conhecendo o novo Código de Processo Civil

Parte I

Conhecendo o novo Código de Processo Civil: Parte I

Marcelo Colombelli Mezzomo

Publicado em 07/2015. Elaborado em 07/2015.

O tempo do processo sem dúvida foi o grande motivo de pressão por mudança. A celerização da comunicação com a
internet e o celular, as relações de massa e a tutela de novos tipos de direitos geraram um descompasso entre o tempo em
que a tutela podia ser prestada e o em que ela deveria ser prestada.

1) Breve Introdução. 2) Normas Fundamentais, Princípios, Valores e a Jurisdição. 2.1) Paradigma Constitucional. 2.2) Princípio da Demanda e Impulso
Oficial. 2.3) Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional. 2.4) Arbitragem. 2.5) Métodos Autocompositivos. 2.6) Duração Razoável do Processo.
2.7) Boa-fé. 2.8) Paridade e Contraditório. 29) Contraditório na matéria conhecível de ofício. 2.10) Positivação infraconstitucional de critérios
hermenêuticos. a) Fins Sociais e bem Comum. b) Dignidade da Pessoa Humana. c) Proporcionalidade e Razoabilidade. d) Eficiência. 2.11) Publicidade e
Fundamentação. 2.12) Ordem Cronológica. 2.13) Tempus Regit Actum. 3) Jurisdição e Condições da Ação. 4) Competência Nacional. 5) Cooperação
Internacional. 5.1) Auxílio Direto. 5.2) Carta Rogatória

1) BREVE INTRODUÇÃO

Depois de longa tramitação e expectativa, tem advento o novo Código de Processo Civil. O sinal de que o Código de 1973 principiava a ficar vetusto era visível
nas alterações pontuais já em número significativo que lhe vinham sendo feitas, tendo passado por pelo menos duas grandes alterações e várias outras de
menor monta.

O CPC Buzaid, de 1973, era e ainda é um bom diploma processual, mas é tecido para o seu tempo. Após sua implantação, a feição da tutela jurisdicional que
passou a ser exigida pela sociedade mudou significativamente, carecendo de um diploma que fornecesse uma tutela com uma nova visão de “tempo do
processo”, e que contemplasse mecanismos alternativos à solução de conflitos diante de uma Justiça cada vez mais morosa.

O tempo do processo sem dúvida foi o grande motivo de pressão por mudança. A celerização da comunicação com a internet e o celular[1], as relações de
massa[2] e a tutela de novos tipos de direitos[3] geraram um descompasso entre o tempo em que a tutela podia ser prestada e o em que ela deveria ser
prestada.

Da mesma forma, o CPC 1973 tinha um esquadro onde as relações se passavam, em tese, entre sujeitos mais próximos da situação de paridade, vale dizer, seu
gabarito eram relações privadas entre sujeitos com relativa igualdade de condições diante do processo e envolvendo direitos disponíveis, de ordem privada,
em regra.

Com a Constituição de 1988, houve significativo incremento das obrigações estatais o que implicou maior quantidade de relações entre Estado e administrado
e aumento da máquina administrativa. Tanto pelas demandas dos administrados, buscando fazer valer estes novos direitos, como ações envolvendo direitos
subjetivos dos próprios servidores, se viu crescer exponencialmente as demandas envolvendo entes públicos, onde, como regra, esta presente a
indisponibilidade dos direitos.

Maior quantidade de demandas decorrentes de novos direitos e da difusão de seu conhecimento; percepção do fator tempo diferenciada, influenciada por
meios tecnológicos; e incremento das ações envolvendo o Estado são a tônica da necessidade de mudanças, que foram sendo feitas pontualmente.

Entrementes, a possibilidade de emendas em um diploma processual é limitada, sob pena de transformação do seu texto em “colcha de retalhos”. Isso já
começava a ocorrer com o CPC 1973, dificultando sua aplicação e muito o aprendizado. O indício foi sentido.

Passaremos doravante a descortinar o novo CPC que entrará em vigor em 2016. Embora em linhas gerais mantenha muitas características do CPC Buzaid, tem
inovações em vista das quais temos de nos adaptar, e isso depende de que, desde já, tomemos contato com o novo Código.

Por conta disso, à semelhança do que já fiz quando do advento do Código Civil em 2003[4], passo agora a uma apreciação do novo Código Civil, buscando
trazer pontos de vista que dezessete anos de labuta na área jurídica me conferiram.

A abordagem não se fará por glosa de cada dispositivo, mas procurará manter-se fiel aos capítulos e divisões, inclusive para facilitar a assimilação da topologia
do novo Código, destacando o que de mais relevante se revelar, e procurando efetuar uma comparação com o CPC de 1973.

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2) NORMAS FUNDAMENTAIS, PRINCÍPIOS E VALORES

Já ao princípio é bem visível a mudança de ótica entre os dois Códigos. O novo CPC traz em seu intróito a menção de princípios e regras gerais que iluminam
sua aplicação, coisa que não existe no CPC de 1973.

A ausência de menção de regras gerais e princípios no CPC de 1973 nunca foi óbice a que fossem reconhecidos e aplicados alguns, por força do reconhecimento
da doutrina e da jurisprudência. Todavia, a expressa menção é representativa do indicativo de uma matriz menos privatista, uma vez que alguns dos princípios
e regras versam justamente sobre uma visão que enxerga o processo não só como um mecanismo de solução do conflito inter partes, mas também como um
serviço estatal relevante.

É emblemático observar que o CPC de 1973 não trata diretamente de principiologias ou regras de orientação e valores, limitando-se a ingressar direto na
tratativa da Jurisdição e da ação. A opção por mencioná-los no novo CPC lhes dá o caráter de vinculatividade e torna inequívoca a opção por eles. Faremos um
apanhado destes princípios, regras e valores.

2.1) Paradigma Constitucional: Nunca houve dúvida da submissão das normas processuais infraconstitucionais ao texto constitucional. A norma
constitucional é o vetor de orientação hermenêutica, dentro da concepção clássica da pirâmide Kelseniana. Podemos afirmar, inclusive, na esteira do que já
fizeram ilustres autores, que há um processo constitucional, como um conjunto de regras de topologia constitucional e que são aplicáveis indistintamente aos
diversos ramos do processo.

Estas regras principiam pelas normas insertas no artigo 5º, da CF/88, na condição de direitos e garantias fundamentais e são complementadas pelas normas
específicas do capítulo destinado ao Poder Judiciário.

A condição de que o texto constitucional ilumina a interpretação e aplicação do CPC é ditada no artigo 1º, onde consta que “o processo civil será ordenado,
disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as
disposições deste Código.”

2.2) Principio da Demanda e Impulso oficial: O novo CPC mantém os princípio da demanda e do impulso oficial. O primeiro está intimamente relacionado à
condição de inércia da jurisdição, a qual, de seu turno, tem imbricações com a imparcialidade, que é característica fundamental da atividade jurisdicional e
corresponde a pressuposto processual subjetivo relativo ao juiz.

Vai de longe o tempo em que se reconheceu que as condições de provocador da atividade jurisdicional e de julgador não poderiam ser condensadas na mesma
pessoa, pela potencial perda da imparcialidade. A mera probabilidade de que isso ocorresse já é motivo para que o impedimento ocorra, pois é inegável que o
conhecimento prévio do fato implicaria em algum grau, ainda que subconsciente, de pré-julgamento, simpatia, ou antipatia para com a pretensão de uma das
partes. Assim nasceu a regra segundo a qual a iniciativa da demanda deve caber à parte mediante propositura da ação, ainda que esta, a parte, seja um órgão
do próprio Estado.[5]

No mesmo dispositivo, porém, consta a ressalva de que, paralelamente, incide o princípio do impulso oficial. Segundo este, após iniciado o processo pelo
exercício do direito de ação, de par com os direitos subjetivos em voga, titularizados pelas partes, há, também, o interesse publico em ver a demanda resolvida,
compelindo o julgador a fazer o processo andar rumo ao seu deslinde natural, seja que espécie de tutela for. Representa um contraponto ao princípio da
demanda e decorre da presença de uma verdadeira angularização da relação processual na qual se insere o Estado como titular, também, de direitos e
obrigações ainda que de índole puramente “processual”.[6]

A redação do artigo 2º do novo CPC não difere muito da redação do artigo 262 do CPC de 1973. No primeiro consta que “o processo começa por iniciativa da
parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” ao passo que no segundo o texto diz que “o processo civil começa por iniciativa da
parte, mas se desenvolve por impulso oficial.”

Qual o motivo da diferente redação? Primeiro, o novo CPC não regula somente o processo civil, mas, como o diz o artigo 15 do novo Código, também de forma
supletiva os processos eleitoral, trabalhista e administrativo. Em segundo lugar, o número de exceções à atividade oficiosa do novo código é maior, de forma
que se justifica a menção expressa da presença de exceções.

2.3) Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional: O artigo 3º, caput, do novo Código traz a consagração, em nível infraconstitucional, do princípio
da inafastabilidade do controle Jurisdicional, segundo o qual nenhuma lesão ou ameaça de lesão a direito será afastada da apreciação do controle
jurisdicional.

Dito princípio encontra consagração constitucional no artigo 5º, inciso XXXV, da CF/88, sendo o fundamento constitucional do direito de ação.

É importante salientar que o direito de ação, uma vez que adotada a teoria eclética da ação, que concebe a categoria das condições da ação, não implica
necessariamente no direito de obter a tutela jurisdicional pretendida com a pretensão manejada. O direito de ação no caso implica direito a não ter sua
postulação açambarcada; é um direito de pedir livremente, e todo pedido formulado, coreto ou não, conforme ou não aos pressupostos e condições deverá ter
uma manifestação do Judiciário. Ai reside a inafastabilidade. Já para o acolhimento da pretensão vertida no pedido e obtenção do bem da vida concretamente
colimado, é mister que o exercício do direito de ação tenha sido exercido em conformidade às condições previstas; que a relação processual nascida deste
exercício seja hígida, o que será avaliado sob o prisma dos pressupostos processuais; e que o mérito seja favorável à parte.[7]

Qual o significado de constar de um diploma infraconstitucional citado princípio? O mais imediato impacto é que a invocação deste princípio agora passa a
legitimar também a interposição de Recurso Especial.

2.4) Arbitragem: A arbitragem tem menção no CPC de 1973 no artigo 267, inciso VII, aparecendo, a convenção de arbitragem, como impeditivo a que o mérito
seja apreciado pelo Judiciário.

A arbitragem foi instituída pela Lei nº 9.307/96. Cuida-se de instituto que teve larga aceitação nos sistemas do commom law, mas que não graça tanto
prestigio no sistemas de origem romano-canônica (civil law), predominantes na América Latina.[8]

O novo Código limita-se a afirmar que a arbitragem será admitida na forma da lei em seu art. 3º, parágrafo 1º.

2.5) Métodos Autocompositivos: Os parágrafos segundo e terceiro do artigo 3º, tratam dos meios de composição consensuais. Primeiro, há uma determinação
de que sempre que possível os conflitos sejam resolvidos de forma consensual. A meu ver, trata-se de uma exortação inócua, pois qualquer pessoa que labutou
na seara jurídica conhece o axioma de que um acordo ruim é quase sempre melhor que uma sentença boa. Já aqueles que estão, ou estiveram na condição de

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julgadores, como é o caso deste autor, bem conhece o fato de que a sentença sempre desagrada uma das partes e não raro a duas.

Sendo notório que a solução consensual é sempre melhor, já que construída pelas partes que assimilam as perdas mutuas como algo que decorre de suas
vontades, mecanismos destinados a implementar este tipo de tratativa vem tendo continua valorização no período mais recente do processo civil, citando-se o
exemplo da Lei nº 9.099/96.

Três formas de se obter solução consensual despontam. O acordo judicial no curso do processo levado a cabo pelo juiz; a mediação e a conciliação, estas duas
conduzindo ao acordo homologado.

O acordo judicial promovido pelo juízo tem azo na audiência de conciliação, cuja efetiva designação, embora prevista no CPC de 1973, depende de caso a caso.
[9]

No que concerne às figuras do mediador e do conciliador, o próprio CPC novo indica qual o critério diferencial no artigo 165. O conciliador, que atuará
preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, ao passo que mediador, que atuará
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito,
de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

O artigo 3º, parágrafo 3º, do novo Código traz a exortação de que “conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.”

A previsão da utilização da conciliação e mediação é bem vinda ao passo que a formula de exortação é inócua. Inclusive, são medidas que carecem de
implementação de estrutura adequada.

A exegese dos parágrafos 2º e 3º deve ser a de que a previsão da solução consensual autoriza a tentativa de conciliação, inclusive com designação de audiência
em todo e qualquer procedimento onde seja possível a solução via acordo.

2.6) Duração Razoável do Processo: Como ressaltado, o fator tempo tornou-se crítico nas últimas décadas, e pode ser apontado como principal causa de
defasagem entre a tutela perquirida pela sociedade e aquela deferida pelo CPC 1973.[10]

Por conta da introdução do inciso LXXVIII do artigo 5º da CF/88 operada pela Emenda Constitucional nº 45, passou a figurar, no texto constitucional, como
direito fundamental que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade
de sua tramitação”.

Pergunta-se, qual o tempo razoável? Qual duração que pode ser tolerada de um processo? E o que este dispositivo e a redação do artigo 4º do CPC de novo
trazem de fato e concretamente para a parte?

A rigor, o citado dispositivo ao dizer que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa” faz
uma exortação inócua, pois carente de parâmetros e de medidas concretas que confiram mecanismos para suprir a demasia de demora quando ela ocorrer.[11]

Não menos inócua é a exortação do artigo 6º para que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão
de mérito justa e efetiva”. Ora, quer se queira ou não, processo é antagonismo, antítese. Ilusão vã acreditar que os contendores venham colaborar uns com os
outros. Inutilidade no texto.

2.7) Boa-fé: Diversamente, ao creditar às partes e a qualquer pessoa que intervenha no processo o dever de comportar-se de acordo com a boa-fé, não se tem
uma disposição vazia.

A boa-fé, não só subjetiva, como objetiva, tem ganhado reconhecimento ao longo das últimas décadas como um valor que norteia e permeia todo Direito,
traduzindo-se, na prática, na necessidade de um comportamento lhano, reto, destituído do escopo de invocar-se o próprio direito subjetivo, material ou
processual, de forma abusiva ou embuída de espírito emulativo.

Esta regra geral encontrará desmembramento normativo nos artigos 77 a 81 adiante vistos amiúde.

É importante referir que este dever abrange a todos os que participam do processo, incluídos terceiros, como as testemunhas e também (e principalmente) o
julgador.[12]

2.8) Paridade e Contraditório: O art. 7º do novo diploma processual apregoa que “é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de
direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo
contraditório.”

A parità delle armi no processo é um axioma fundamental que dispensa previsão normativa para ser entendido como regra fundamental, e sua simbologia
encontra-se inserta na figura da balança como figura que espelha a justiça.

A rigor, de tal expressão e importância é esta regra que deveria constar como cânone constitucional e estar inserta no artigo 5º, da CF/88, mas com redação
diversa da preconizada pelo novo CPC, que não foi muito feliz pela generalidade e imprecisão.

É que esta igualdade não é absoluta e pode ser excepcionada pela própria lei quando motivos relevantes o autorizem para assegurar a igualdade real entre as
partes. Permeado pela noção do contraditório, o processo se caracteriza por, em regra, a cada ato de um aparte corresponder um da outra. Mas por vezes, há
faculdades que são exclusivas de uma ou outra parte, de forma que, dependo do tipo de demanda e da condição da parte, a igualdade deixa de ser absoluta.

Logo, o que deve ser entendido é que, na ausência de previsão legal em sentido diverso, as partes devem ser tratadas em grau de absoluta igualdade e
paridade, especialmente em vista dos direitos processuais fundamentais, a que assim podemos chamar aqueles relacionados a atos relativos à preservação do
contraditório e da ampla defesa.

Já o contraditório este é direito fundamental previsto constitucionalmente no artigo 5º, inciso LV, da CF/88. A noção de contraditório é tão cara ao processo
moderno que há mesmo doutrina que qualifique o processo como “o procedimento em contraditório”. Esta visão reflete o papel do contraditório como o
principal fator de concessão de legitimidade ao processo e é esta legitimidade que lhe dá institucionalização como instância natural de resolução do conflito.
[13]

Outro ponto relevante desta concepção reside na possibilidade de criação de uma teoria ampla do processo, abarcando processo não judicial.[14]

Mas o que se extrai de relevante desta disposição do artigo 7°? Ela impõe ao magistrado que, na ausência de disposição legal a respeito, deva tomar sempre
medida que resguarde o contraditório, mesmo tomando medida não positivada. Importante notar que resguardar contraditório deve ser entendido como
possibilidade de contraditório, pois se o direito é disponível e a parte capaz, pode muito bem optar por não agir. Esta assegurada possibilidade não

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necessariamente a efetividade.

Como seqüência, o artigo 8º reforça que “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.” Novamente “ouvida” deve ser
entendido como deferida possibilidade a que tanto ocorresse. Há, portem, três exceções.

A primeira concerne à tutela provisória de urgência, cuja previsão encontra-se nos artigos a partir do artigo 294, e que será adiante vista.

A segunda diz respeito à tutela de evidência, novidade do artigo 311, igualmente vista mais adiante.

E a terceira é a do artigo 701, que diz respeito à ação monitória no novo CPC.

Comportamentos que violem a paridade de armas e o contraditório, uma vez que previstos em lei infraconstitucional, legitimarão, agora também, em tese, o
manejo do Recurso Especial, com invocação direta deste dispositivo.

2.9) Contraditório na matéria conhecível ex officio: Ainda voltado à disciplina do contraditório, o artigo 10 diz que “o juiz não pode decidir, em grau algum de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício.”

No CPC de 1973, a matéria conhecível de ofício é composta basicamente pelas condições da ação, pressupostos processuais[15], decadência e a prescrição[16],
além das nulidades previstas no CC, mas de aplicação geral.[17]

Hoje, por força da cláusula constitucional do contraditório, o procedimento de deferi-lo antes de qualquer decisão já é uma praxe consolidada. Entretanto, não
raro ocorrer de o julgador conhecer diretamente da questão, quando autorizada a atuação oficiosa, sem que as partes tenham sido instadas a se manifestarem
especificamente sobre o ponto.

O dispositivo em questão deixa claro que toda vez que o julgador se deparar com hipótese de julgamento de questão, ainda que possa atuar de ofício e não
tenha havido manifestação das partes a respeito, a prolação de decisão somente poderá ocorrer após ter sido conferido prazo para manifestação das partes.

2.10) Positivação infraconstitucional de critérios hermenêuticos: O artigo 8º apresenta largo alcance em termos de inovação legal. Diz, referido artigo, que
“ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.”

Como se observa, o dispositivo elenca verdadeiros critérios hermenêuticos que podem levar ao afastamento da aplicação de exegeses estritas e literais. A rigor,
a possibilidade de aplicação destes critérios como norteadores da decisão implica possibilidade de afastamento da legalidade formal, permitindo a
flexibilização do conteúdo da decisão mesmo diante de dispositivos legais expressos.

a) Fins Sociais e Bem Comum: São conceitos abertos, permeáveis a certo grau de subjetivismo de parte do julgador.

Ambos estão relacionados à tomada em linha de conta de que fatos e circunstâncias que aparentam eficácia inter partes na verdade quase sempre, em alguma
medida, tem repercussões em vista de terceiros, e muitas vezes as decisões tomadas à vista de uma demanda individual podem ter significativas repercussões
sociais. Sintetizando, representam a dimensão coletiva, potencial ou efetiva, da repercussão da decisão que decorrer de demandas atomizada.

Mas onde encontramos um critério minimamente objetivo para discriminar o que seriam os fins sociais da lei? Em regra, a legislação é infensa ao uso de
fórmulas abertas ou que possam dar largo espectro para subjetivismo. Os fins últimos colimados costumam figurar como princípios sem reconhecimento
positivado, funcionando como normas de superdireito (Lex legum) não positivadas. Apesar disso, podemos encontrar alguma referência a elas no
ordenamento.

Creio que um bom orientador está nos artigos 1 e 3º da CF/88[18]. Óbvio, porém, que estes são indicadores genéricos. A determinação do que sejam os fins
sociais da lei e o bem como não refoge a um alto grau de casuística a ser analisado caso a caso, à luz das circunstâncias concretas, com múltiplas variantes.

Na prática, a invocação do bem comum e dos fins sociais servirá para que o julgador possa, de forma fundamentada, e considerando as repercussões diretas e
indiretas da decisão a ser tomada, seja em relação aos próprios litigantes ou terceiros, afastar a aplicação de disposições legais a priori cabíveis, a fim de evitar
soluções que sejam legais sob o prisma formal, mas iníquas materialmente falando[19].

b) Dignidade da Pessoa Humana: É elemento que tem assento constitucional, tendo previsão no artigo 1º, inciso III, da CF/88 na condição de “fundamento”
da Republica Federativa do Brasil.

Cuida-se, igualmente, de um conceito aberto, permeado por ingerências e construções culturais e históricas. Ao falarmos de dignidade da pessoa humana na
acepção que a menciona o novo CPC, temos de tomar em linha de conta nosso momento histórico e o conjunto de conquistas sociais e individuais que o
caracterizam; os valores promovidos pela sociedade ocidental e os valores cultivados peculiarmente no Brasil.[20]

Grosso modo, e considerada esta premissa, pode se afirmar que a dignidade da pessoa humana se materializa em um conjunto de condições que permite a
cada indivíduo ter asseguradas sua liberdade, propriedade, liberdade de acesso ao conhecimento e de expressar-se, e condições materiais mínimas, dentro de
um clima de redução máxima da interferência despótica de terceiros. Neste contexto, reconhecidos aspectos da vida de cada um que têm reflexos coletivos, a
individualidade, como expressão do livre arbítrio, é o que deve ser preservado.

Assim como nos itens anteriores, o que se tem aqui é uma cláusula derrogatória da legalidade estrita. E ela opera com duplo efeito, positivo e negativo. De um
lado, o julgado deve abster-se de produzir comando decisório que comprometa a cláusula de dignidade da pessoa humana. De outro deve em cada caso buscar
promovê-la, podendo, em casos excepcionais, e sopesados os valores em eventual confronto (legalidade/objetividade x dignidade da pessoa
humana/subjetividade) propender para aquela solução que assegura o segundo.

Cumprirá ao julgador, dando azo à observância aqui ainda mais necessária do artigo 93, inciso IX, da CF/88, fundamentar substancialmente a opção pelo
afastamento da legalidade formal estrita, e indicando concretamente em quais e por quais aspectos de sua decisão se buscou afastar o comprometimento da
dignidade da pessoa ou promovê-la.

Apesar de ainda um conceito aberto, que defere certo grau de discricionariedade, a dignidade da pessoa humana tem espetro delimitatório mais palpável que
os anteriores.

c) Proporcionalidade e Razoabilidade: Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade figuram dentre os denominados princípios constitucionais
implícitos[21], o que é de se lastimar, pois denota a falta de visão do constituinte de 1988, já que ambos representam vetores exegéticos da mais alta relevância
[22].

Ambos são universalmente reconhecidos e legitimam o afastamento da legalidade estrita e formal. Grassa certa confusão entre ambos dada a similitude de

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conceitos associados, mas é possível estabelecer-se uma dicotomia.

Pode se dizer que a razoabilidade esta mais associada à pertinência da aplicação de uma norma face ao caso concreto e se traduz em uma regra que pode ser
definida como a necessidade de aplicação do bom senso.

Enquanto a razoabilidade está ligada à aplicação ou não da norma, a proporcionalidade esta vinculada à modulação de efeitos da norma.

Ambas buscam adequar o meio a fim, mas enquanto a razoabilidade diz com a escolha dos meios, a proporcionalidade diz com a sua intensidade (daí o
conceito de modulação).

De há muito estes princípios apareciam como norteadores na aplicação do ordenamento, especialmente da norma material. Agora, temos uma positivação
como balizadores da aplicação da norma processual, o que facilitará o seu manejo como elementos da causa de pedir e legitimadores de recurso especial.

d) Eficiência: Enquanto que os princípios da legalidade e da publicidade já faziam parte do glossário da atividade jurisdicional, notadamente o segundo, o
princípio da eficiência é novidade assaz importante.

Razões de ordem histórica e cultural obnubilaram a percepção de um aspecto de suma importância, qual seja, o de que a jurisdição é também um serviço
público, que tem destinatários e uma finalidade precípua a ser atingida, in casu a pacificação social pela criação de uma instância “civilizada” de resolução do
conflito.

Este serviço público é prestado através de duas espécies de atividades. Uma atividade fim que é a prestação jurisdicional. A outra, atividade de apoio de ordem
eminentemente administrativa. Enquanto que o cabimento do princípio da eficiência é inconcusso no caso das atividades de apoio, no que diz respeito à
atividade fim, que é jurisdicional, sempre ficou, sua aplicação, obscurecida, pois o artigo 37, caput, da CF/88 teria como destinatário somente as atividades
administrativas, dada a topologia de sua inserção no texto constitucional.

Mas há, nesta premissa, rematado equivoco. A ratio essendi da aplicação do princípio da eficiência está presente em todas as atividades do Estado, sendo
irrelevante a sua natureza. Motivo alguma autoriza as diferenças existentes entre as atividades tipicamente executivas (que materializam a maioria dos atos
administrativos), e as jurisdicionais a afastar a aplicação da eficiência como princípio nortedor destas últimas também. E isso se deve à constatação de que em
ambas está presente uma atividade do Estado voltada à satisfação de necessidades do administrado/jurisdicionado, que é quem custeia estas atividades e tem
direito a um serviço publico eficiente.

Porque a res publica a todos pertence e por todos é custeada, mas a ninguém especificamente pertence, de forma que devem ser extraídas as máximas
possibilidades dos recursos públicos; e porque a atividade jurisdicional também tem os mesmos destinatários e provedores de recursos, também esta última
deve pautar-se por entregar a prestação mais abrangente e eficiente com o uso da menor quantidade de recursos possível, o que é a essência definidora da
eficiência. [23]

Logo, é muito bem vinda a menção da eficiência como princípio que deve nortear a aplicação da legislação processual civil.

Mas sob o pronto de vista prático, o que representa a positivação do princípio da eficiência no âmbito do processo civil, e de forma indireta, nos outros ramos
processuais que o tomam por subsídio?

A invocação confere ao julgador a possibilidade de executar adaptações procedimentais no escopo de conferir maior eficácia a cada recurso, humano ou
material, havendo enorme gama de medidas que a casuística possibilita, tendo como balizador a necessidade de que estas medidas não venham a ferir outros
cânones de igual ou superior importância, como o seja, v.g, o contraditório. Isso no que diz respeito à condução do processo, pois certamente que, com
sobejas, razões, e com mais razão ainda, se deverá buscar dar aplicação ao princípio na atuação dos serviços de apoio, que tem natureza de atividades
administrativas.

2.11) Publicidade e Fundamentação: Apesar de o artigo 8º já mencionar a publicidade como princípio a ser observado, o artigo 11 determina que “todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.”

Tanto a publicidade dos julgamentos como a necessidade de fundamentação das decisões encontra assento constitucional, logrando amparo no artigo 93,
inciso IX, da CF/88.[24] Comecemos pelo segundo aspecto.

A fundamentação das decisões a meu juízo é direito de tal envergadura que, sem sombra de dúvida, deveria constar do rol do artigo 5º da CF/88. Constitui
grotesco amadorismo do constituinte que ali não figure. O motivo para isso é simples. A tutela jurisdicional é a depositária do poder de atuar diante de
concreta ameaça ou lesão a direito. Volta-se à preservação de todos os direitos subjetivos reconhecidos. Na medida em que se tolerassem decisões sem a
fundamentação, a garantia materializada pela tutela jurisdicional simplesmente deixa de existir. Abre-se larga margem ao subjetivismo, que é, em regra,
inimigo da Justiça.

O novo CPC avança, conforme veremos mais adiante, na qualificação da fundamentação adequada, dirimindo, com parâmetro legal, várias questões que hoje
ainda são suscitáveis de surgir quando à adequada fundamentação das decisões.

A redação do dispositivo é, no entanto, acanhada e incompleta. Isso porque é sabido que há processos para os quais a publicidade é restrita às partes e seus
advogados em vista da presença do strepitus fori. Tais são, por exemplo, as causas envolvendo relações familiares. A redação deveria ter o mesmo contorno
daquela da Constituição, pois a lógica é que o texto infraconstitucional tenha sempre maior detalhe que o texto constitucional.

2.12) Ordem Cronológica: O artigo 12 do novo CPC traz uma inovação que terá significativa repercussão e que vem em muito boa hora. Cuida-se de vinculação
da ordem de julgamentos à cronologia da conclusão[25] para julgamento.

A medida é importante para evitar situações relativamente comuns, onde os processos mais volumosos ou problemáticos vão tendo seu julgamento relegado.
[26] Uma vez que o direito a uma tutela célere e tempestiva foi guindado a alçada de direito constitucional e consta do novo Código, deve haver o firme
compromisso do julgador em por fim ao processo. Deve ser abolida a postura segundo a qual, quando em voga direitos privados, o processo é interesse
somente das partes. Há em todo processo o interesse que também é público, e também é do Estado Juiz, de resolução rápida do conflito, interesse este que
não se limita somente ao escopo de evitar o acúmulo de processos, mas que deve ser tomado em linha de conta em cada processo em curso. O juiz deve ver o
processo como um inimigo a que se deve dar renhido combate.

A rigorosa observância de cronologia de conclusão para julgamento cria mais um mecanismo de controle que opera em fase crucial do processo, impedindo a
sua estagnação.

A lista de cronologia deve ter ampla publicidade, havendo determinação também de sua disponibilização na internet. Mas há o estabelecimento de exceções à
regra que permitirão o julgamento sem que ela seja vinculativa. Elas estão previstas no parágrafo segundo deste artigo e são:

a) As sentenças proferidas em audiência[27], homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido: As primeiras por óbvio contemplam

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questões já em curso e a audiência tanto pode ser conciliatória como de instrução. No caso das primeiras, não ocorrendo acordo, pode ser reconhecida
situação de extinção do feito sem apreciação meritória, ou pode ser caso onde dispensada a instrução, e, neste caso, pode o julgador passar a conhecer direto
das questões meritórias.

As homologações de acordo podem contemplar questões já postas em juízo ou não, no segundo caso havendo apenas pedido de homologação de acordo que foi
entabulado extra judicialmente[28].

A improcedência liminar do pedido introduzida pelo novo Código será adiante vista.

b) O julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos: Compreendem ações onde, em regra, há
questões predominantemente de cunho legal, e que, uma vez estabelecido o paradigma de julgamento (adiante visto), podem ser julgadas conjuntamente,
havendo simplificação da decisão que é repetida para todas. Estas espécies de situações costumam ocorrer mais comumente em demandas envolvendo o
Estado ou direitos do consumidor em relações de massa.

c) O julgamento de recursos repetitivos ou de incidente de resolução de demandas repetitivas: Adiante visto. Neste caso a exceção justifica-se por conta do
fato de que um julgamento paradigma poderá ser usado para resolução de vários casos. A rigor, há uma verdadeira extensão de efeitos do julgado.

d) As decisões proferidas com base nos arts. 485 e 932: Compreendendo as decisões que põe fim ao processo sem apreciação do mérito e julgamentos
monocráticos pelo relator.

e) O julgamento de embargos de declaração: Como complementação da decisão (caso conhecidos e providos), estão isentos de ordem, devendo ser feita a
apreciação na primeira oportunidade.

f) O julgamento de agravo interno: Interponível das decisões monocráticas do relator.

g) As preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça: As preferências são aqueles estabelecidas pontualmente pela própria
legislação processual, seja codificada seja extravagante. As metas do CNJ constam de programas estabelecidos especialmente no desiderato de promover com
prioridade o julgamento de processos mais antigos.

h) Os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal: Os feitos criminais tem precedência de julgamento dado o notório
interesse publico neles presente e a submissão da pretensão punitiva a prazos de prescrição.

i) A causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada: Comportando apreciação caso a caso e com demonstração efetiva
de qual situação de fato implica, por sua natureza ou por suas conseqüências presumíveis, urgência.

A ordem cronológica após inserção do feito na lista de conclusões poderá ser alterada em caso de reabertura da instrução ou conversão do julgamento em
diligência[29], devendo ser considerada para efeitos de precedência a nova inclusão em pauta de julgamento posteriormente. Desacolhido o pedido da parte a
respeito de mudança na lista, torna o processo ao seu lugar nela.

Outra hipótese de exceção à ordem cronológica e que terá por conseqüência a inserção do feito em primeiro lugar na lista a barca as hipóteses de anulação de
decisão sem necessidade de reabertura de instrução e a do artigo 1040, inciso II, do novo CPC, que diz respeito aos recursos especiais e extraordinários
repetitivos, sendo no caso o inciso II, dirigido à revisão de acórdão recorrido na origem que contrarie o paradigma estabelecido no julgamento repetitivo. Ou
seja, compreende o caso de rejulgamento por conta de contrariedade ao acórdão que decorre do julgamento paradigma.

2.13) Tempus regit actum: No capitulo II, relativo à aplicação das normas processuais, é mantido o princípio do tempus regit actum, ou seja, da
irretroatividade da norma processual.

Estabelecida mudança legislativa, a norma opera pro futuro, somente em vista de situações que lhe sejam posteriores à vigência.

3) JURISDIÇÃO E CONDIÇÕES DA AÇÃO

A jurisdição, somada a ação e ao processo, formam o alicerce do processo moderno.[30]

No capítulo destinado à função jurisdicional, o novo Código traz alguns aspectos de relevância, a principiar pela previsão do artigo 17, que contempla duas
condições da ação, quais sejam, a legitimidade e o interesse. Diz o artigo que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.[31] Disposição
com semelhante teor já consta do CPC de 1973 com redação um tanto diversa e de menor amplitude[32].

O interesse é o legítimo interesse processual, que se compõe de três elementos: necessidade, utilidade e adequação do provimento buscado.

A tutela é necessária quando há pretensão resistida ou impõe a lei a necessidade de manifestação do Poder Judiciário.

A utilidade da tutela jurisdicional se traduz na constatação de que um efetivo proveito para a parte que a postula deve estar presente. Isso se traduz na
necessidade de produção de modificações na sua esfera de direitos com criação ou manutenção de um quadro de vantagem. A ausência de utilidade se revela
em tutela que é postulada por mero espírito emulativo ou questão de cunho estritamente moral e subjetivo.

A adequação do provimento diz respeito à utilização de um pedido idôneo a produzir o fim pretendido. Em termos práticos, diz com a escolha da espécie de
tutela correta em vista da situação de direito material posta como base de uma pretensão.[33]

A legitimidade é ordinariamente definida como a “pertinência subjetiva da demanda”. E, como em regra o substrato do processo é uma relação de direito
material[34], a legitimidade decorre da posição do sujeito em vista da relação de direito material posta à lide.

Correspondem ambas as condições às denominadas “condições da ação” erigidas pela Teoria Eclética da Ação a uma situação intermediária entre a abstração
completa e o mérito, este último representando a situação efetiva de fato após a consideração da prova.

A avaliação destas condições da ação faz-se a partir da Teoria da Asserção, ou in status assertionis, que nada mais significa do que tomar a compleição dos
fatos conforme narrados na inicial e efetuar-se um raciocínio condicional.[35]

A idéia central da Teoria Eclética da Ação[36] reside em propiciar um filtro intermediário objetivando impedir que situações completamente desprovidas de

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fundamento, mesmo consideradas em tese, fossem tomar tempo do Poder Judiciário. Todavia, a parca compreensão da sua compleição e alcance por muitos
julgadores por vezes gera aplicações absurdas, onde se relega ao mérito o que a ele não por receio de enfrentar-se questão difícil processualmente falando. A
rigor, como o denominado “despacho saneador” é muito pouco usado, ficando relegadas as condições da ação à apreciação da sentença, inclusive já com prova
produzida, na verdade acaba fazendo pouca diferença prática a presença de condições intermediárias de apreciação da lide como são as condições da ação.

Correlato ao tema da legitimidade está o da legitimação extraordinária, ou substituição processual, cuja imbricação com a legitimidade reside no fato de ser
uma exceção à regra de aferição da presença daquela. O artigo 18 trata deste tema, aduzindo que “ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio,
salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.”[37] Quando isto tem azo, estamos diante da substituição processual, que opera a alteração da
legitimidade no plano processual, conferindo-a a quem não titula (nem mesmo em tese, pois a avaliação é in status assertionis), o direito material pretendido
na via do processo.[38]

Já o parágrafo único, mal redigido, diz que “havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial”. Mal redigido
porque incompleto. O que nele deveria constar é que, havendo possibilidade de substituição processual e sendo o substituído parte, poderá o autorizado à
promover substituição habilitar-se como assistente litisconsorcial. Caso não esteja o titular do direito material como parte, esta condição (e não a de
assistente) é a do que o substitui.

O assistente litisconsorcial como cediço, ostenta os mesmos poderes da parte assistida, ou seja, age como parte independente.

Já os artigos 19 e 20 tratam de explicitar o alcance do interesse processual. O artigo 19 tem paralelo no artigo 4º do CPC de 1973 com redação ligeiramente
diversa no inciso I, no que se houve bem. Isto porque o artigo 4º, inciso I, do CPC de 1973 diz que o interesse do autor pode limitar-se à declaração de
existência ou inexistência da relação jurídica ao passo que a redação do inciso I do artigo 19 diz que pode limitar-se não só à existência ou inexistência de
relação jurídica, mas ao seu modo de ser.

Apesar de nunca ter grassado dúvida acerca de que uma demanda constitutiva legitimamente proposta pudesse ter por objeto modificar a forma de uma
relação jurídica, a redação nova é mais precisa e correta e se coaduna ao fato de que as demandas revisionais que buscam modificar os termos de relações
jurídicas são sobejamente mais comuns que as que visam declaração de existência ou inexistência.

O inciso segundo de ambos os dispositivos mantém o interesse na declaração de autenticidade ou falsidade de documento.

Já o artigo 20 traz inovação ao afirmar cabível a ação declaratória mesmo quando tenha havido violação ao direito. Qual sua razão de ser? Ele tem ligação com
o interesse processual, mais precisamente com a utilidade do provimento. Isto decorre do fato de que, uma vez operada a violação a direito, surge a pretensão
de restituição do status quo ante ou, em sendo isto impossível, do ressarcimento, através de tutela sub-rogatória. A rigor, violado o direito subjetivo, a parte
tem melhor resultado postulando que se declare a violação e pedindo a reposição da sua esfera de direitos de forma direta, pela tutela específica, ou indireta,
através do ressarcimento sub-rogatório. Ao pedir apenas declaração, feneceria real utilidade, e, portanto, não haveria interesse processual.

Mas é possível que a simples declaração tenha utilidade para a parte, e apesar de o Judiciário dever velar pela utilidade de sua atividade, não pode se fazer
senhor da lide a ponto de julgar o que é melhor para a parte.

4) COMPETÊNCIA NACIONAL

Competência é definida como a “medida da jurisdição que é atribuída a cada órgão judicante.”

A jurisdição, como emanação da Soberania, é una. Não pode haver duas jurisdições como não pode haver duas soberanias. Há a jurisdição brasileira.[39] Mas
a impossibilidade de julgamento de todas as causas por um só órgão e a óbvia constatação de que a especialização melhora a eficiência, levaram à criação de
justiças e juízos especializados, sem invalidar a unicidade da Jurisdição do Estado.

A melhor maneira de apanhar a temática da competência é partindo da dissecação da jurisdição do mais amplo ao mais estrito, vale dizer, estabelecer
primeiro a competência nacional e depois tratar da justiça, do foro e do juízo.

A topologia adotada pelo novo CPC para o tema é bem melhor que a do CPC de 1973, pois mais adequada à natureza do assunto e sua sistematização. A
competência, enquanto tema diretamente relacionado à jurisdição, tem tratativa lógica como seqüência desta, e antes dos pormenores relativos ao exercício do
direito de ação, que é conseqüência de sua existência. O CPC de 1973 interpunha diversas questões relativas às partes e procuradores antes de tratar da
competência.

Dada esta nova topologia e a organização deste trabalho, iremos versar sobre os limites nacionais da jurisdição e de alguns novos institutos criados pelo novo
CPC nesta primeira parte, ficando as questões relativas à competência interna como objeto da segunda parte juntamente com outras.

O artigo 21 do novo CPC tem redação idêntica a do artigo 88 do código de 1973 (exceto pelo inciso III). Ambos estipulam como abrangidas pela competência
da jurisdição nacional as causas: 1) O réu tiver domicílio no Brasil, independentemente de sua nacionalidade, incluindo-se no conceito as filiais, sucursais e
agências. 2) A obrigação tiver de ser cumprida no Brasil. 3) O fundamento da demanda (causa de pedir) for fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

A redação conferida ao inciso III é de melhor precisão, pois nem sempre a origem da demanda é de fato a sua causa de pedir. É mais correta a associação de
“fato” a fundamento da demanda. Estas três hipóteses, contudo, não operam ad excludendum. Por outras palavras, não impedem que outra jurisdição julgue a
matéria e eventualmente a decisão venha a ser reconhecida para cumprimento no Brasil.

No artigo 22 são mencionadas novas hipóteses de atribuição da jurisdição nacional, igualmente sem exclusividade e inovando em vista do CPC de 1973. São
previstos três tipos de demandas a saber: 1) Ações de alimentos em duas situações. A primeira quando o credor for domiciliado no Brasil ou o réu mantiver
laços econômicos no País. 2) Ações relativas a relações de consumo quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil. 3) Ações onde as partes,
expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição brasileira.

Especial realce merece a segunda hipótese, pois tem crescido exponencialmente o comércio de itens de pequeno valor envolvendo fornecedores estrangeiros e
com uso da internet, principalmente. São notórias as dificuldades para acionamento judicial nestas condições. A possibilidade de que seja a demanda proposta
aqui facilita sobremaneira.

As competências excludentes da jurisdição nacional tiveram ampliação. No CPC de 1973 temos previsão das ações relativas a imóveis situados no Brasil (foro
rei sitae), e as ações de inventário e partilha de bens situados no Brasil, ainda quando o de cujus fosse estrangeiro e tivesse residido fora.

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A redação do artigo 23 do novo CPC acresce a confirmação de testamento particular e as ações de partilha relativas a separação, divórcio e dissolução de união
estável.

E mantida a disposição segundo a qual a demanda intentada no estrangeiro não implica litispendência em vista da jurisdição nacional, de forma que não fica
impedida, a homologação de sentença estrangeira quando cabível, e com ressalva de tratados ou acordos que possam implicar em litispendência.

De outro lado, o artigo 25 ressalva a utilização do foro de eleição, com as condicionantes estatuídas no artigo 63 do CPC novo e ressalvados os casos de
competência excludente da jurisdição nacional.

5) COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

É epigrafe inovatória que versa sobre a possibilidade de mútuo auxílio entre autoridades jurisdicionais de nacionalidade diversa e cria alguns dos mecanismos
relacionados.

Tem por pressuposto a presença de tratado, ou seja, de um instrumento de direito publico internacional, fundamentado na reciprocidade e que regule as
condições e formas de cooperação, ou declaração de reciprocidade diplomática, na ausência daquele.

Mas o próprio CPC traz condicionantes, quais sejam:

Respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente: Que se traduz na


presença de um processo na origem que siga à regras gerais e universais, previamente
estabelecidas em lei produzida com regular trâmite. Por outras palavras, é o processo que
não é de exceção. Embora não o diga o dispositivo, é ínsito ao devido processo legal a
presença de ampla defesa e contraditório, cuja amplitude pode variar de intensidade e
momento, mas que deve se apresentar, em regra.
Logo, é de se entender que o processo deverá ter como tônica a presença de atos de comunicação processual que levem ao conhecimento das partes seus atos e
termos; possibilidade de manifestação acerca dos fatos e teses esgrimidas; possibilidade de dilação probatória quando e se necessária; decisões
fundamentadas, enfim, as características que o fariam um processo válido e eficaz se tivesse transcorrido sob a égide das garantias mínimas asseguradas pela
lei nacional. Devido processo legal ai deve ser entendido em sua dimensão material e não meramente formal, caso contrário, processos formalmente legais sob
o enfoque da lei de origem, mas cujo trâmite trouxesse fatos marcadamente repugnantes ao conjunto de garantias universais consagradas no processo, tenha
ele a natureza que tiver.[40] Tanto assim é que há expressa ressalva no artigo 26, parágrafo terceiro, acerca do fato de que não se admitirá sob o pálio da
cooperação atos cujos resultados contrariem as normas fundamentais do Estado Brasileiro, as quais podem ser apontadas no texto constitucional de forma
não exaustiva (especialmente as cláusulas pétreas)

Igualdade de tratamento em nacionais e estrangeiros, inclusive quando a possibilidade de concessão de assistência judiciária aos necessitados: Não pode
haver diferenciação de tratamento seja pela jurisdição nacional em vista do estrangeiro nem o inverso. É pressuposto das medidas de cooperação tratamento
isonômico.

Publicidade processual ressalvadas as exceções: Como antes dito, a publicidade é garantia fundamental do processo, pois é ela que permite a ampla
fiscalização do exercício desta potestade. As exceções justificam-se pelo resguardo da intimidade e do espectro privado da vida individual, que pode ser
atingido pelo streptus fori. As exceções poderão ser as consignadas na lei nacional ou de origem.

Presença de autoridade central: Para operacionalização dos pedidos Obviamente não se tem como impor a constituição de tal órgão ao Estado estrangeiro.
Este órgão terá que ter sua criação e regulamentação feita por lei. Na ausência de estipulação o Ministério da Justiça exercerá a função.

Espontaneidade na transmissão das informações: Ou seja, não há necessidade de provocação da parte, mas deve ser observada a imparcialidade. Há uma linha
tênue a ser observada.

O artigo 27 traz enumeração de medidas processuais que poderão ser realizadas e termina com formula geral. Data vênia, se tem formula geral de “qualquer
medida não proibida pela lei brasileira”, é escusada menção casuística feita no mesmo dispositivo. Falha de redação.

5.1) Auxilio Direto: É a modalidade de cooperação quando não houver necessidade de juízo delibatório no Brasil, ou seja, não houver necessidade de ser
submetida à validação interna obrigatória. Poderá ter azo em todas as hipóteses previstas em tratados de que seja signatário o Brasil bem como,
residualmente, nas seguintes: 1) obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos
ou em curso; 2) Colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária
brasileira;

Quando o pedido for passivo, a autoridade central envia a AGU (Advocacia Geral da União) que postula a medida judicial cabível. Se o Ministério Público for a
autoridade central, ele próprio postulará medida judicial pertinente. Quando a medida não implicar providência de cunho jurisdicional, a própria Autoridade
Central atuará concretamente.

A competência para as medidas jurisdicionais é da Justiça Federal.

5.2) Carta Rogatória: Correrá perante o STJ, sendo contenciosa e com resguardo do contraditório e ampla defesa, mas sem que se possa reapreciar mérito
da medida, de forma que os eventuais questionamentos cingir-se-ão aos requisitos formais do pedido e a possibilidade de ser atendido.

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NOTAS

[1] Aqueles que já nasceram sob a égide do celular e da internet passa despercebida a enorme revolução protagonizada por estas inovações tecnológicas. Na
década de oitenta e antes, o meio básico de comunicação era o telefone fixo. O celular permite que isso ocorra 24 horas por dia em qualquer lugar. A internet
permite a obtenção de qualquer informação mesmo nos locais mais remotos. Hoje ambos os instrumentos estão conectados em uma simbiose revolucionária.
Deixou de existir um tempo do dia em que o trabalho parava. Deixou de haver a dificuldade da comunicação como um fator de retardo nas relações jurídicas.
O resultado prático disso é que a percepção do tempo das coisas é outra. O CPC de 1973 foi concebido para ofertar um processo cujo tempo de tramitação era
mais ou menos compatível com a sociedade daquela época, e esta percepção hoje é outra. O processo civil de concepção ordinária passou a ser visto como um
verdadeiro entrave. A idéia do processo judicial como algo demorado acaba gerando a percepção de que os danos resultantes do conflito de interesses pode ser
menor do que os dele somados aos danos “colaterais” do processo. Por conta disso, é, hoje, perceptível certa resistência à invocação da demanda judicial como
instância natural de resolução de conflitos. Ora, nada pode ser mais danoso à tutela jurisdicional do que ela ser relegada a segundo plano. Quando as partes
preferem suportar a lesão a seu direito do que invocá-la é porque ela não esta cumprindo sua função e esta perdendo a institucionalização, ou seja, o
reconhecimento pela sociedade.

[2] O denominado setor terceário cresceu muito nas últimas quatro décadas. Novas tecnologias permitiram a criação de confortos almejados avidamente. A
forma de comercialização de produtos e serviços durante o último século fez surgir o conceito de “relação de consumo” partindo dos catálogos impressos até a
oferta global pela internet. Tais relações jurídicas caracterizam-se por contratos de adesão, envolvendo partes em condições dispares. Disso surgiu a
necessidade do direito consumerista, que visa, elinha gerais, buscar uma parificação das condições das partes. Um exemplo disso no campo processual reside
na tratativa diferenciada do ônus da prova. Um dos efeitos reflexos das relações de massa foi o incremento do número de processos. É possível dizer, sem erro,
que a criação dos Juizados Especiais Cíveis tem direta relação com as relações de consumo. Como muitas destas relações envolvem valores reduzidos, as
regras usuais do processo ordinário faziam com que custo/benefício de uma demanda nunca compensasse para o consumidor lesado. Esta característica
também tornava paradoxal a aplicação de alguns formalismos do processo convencional.

[3] Além do despontar dos direitos do consumidor, que clamaram por um processo que lhes fosse mais apropriado, o constitucionalismo das últimas décadas
e a conjuntura social e cultural fizeram surgir direitos de terceira e quarta geração, cuja titularidade refoge do gabarito usual de partes certas e determinadas
com relativa paridade de condições. Como o nosso processo civil tem matriz peninsular, e se vocaciona à relações atomizadas e privadas, surgiu um
descompasso que teve de ser suprido pela legislação extravagante, de que é exemplo a Lei de Ação Civil Pública.

[4] Com a série de textos “Conhecendo o Novo Código Civil” disponível na internet.

[5] Interessante notar que alguns Tribunais estão concebendo a idéia da criação de procuradorias próprias para cobrança de custas pendentes que sejam
devidas ao judiciário. Em regra este papel cabe as Procuradorias Gerais dos Estados. Ocorre, porém, que é comum o uso de valores de alçada por estes órgãos
balizando o limite mínimo de valores mínimos que podem ensejar execução. Por conta disso, significativos aportes de valores acabaram acontecendo. Quide
inde? A situação não comporta contorno legal definido no direito positivado. Este autor quando magistrado no RS determinava BACEN JUD, ao argumento da
necessidade de preservação de valores do erário e analogia às execuções oficiosas da Justiça Trabalhista, mas a tese é efetivamente questionável. O único caso
que tive onde a decisão foi questionada via agravo, a parte sagrou-se vencedora. Implantada que seja dita procuradoria, teremos o inusitado fato de um órgão
do próprio poder Judiciário estar fazendo as vezes de dar início ao processo, o que não pode conduzir a espanto, uma vez que não se trata de órgão
jurisdicional. Mais preocupante que isso é a postura de magistrados, em primeiro e segundo grau, já contaminados pela sanha arrecadadora, ensejando
comportamento que prescinde de regulamentação legal para acontecer, chegando a beirar a perda da imparcialidade. Exemplo disso é considerar como valor
que tenha que ser dado a um incidente de impugnação à AJG ou a causa como sendo valor do feito principal. Ora, é de palmar evidência que nem em um nem
em outro, o objeto e o respectivo proveito, paradigma primordial na ausência de regulamenta precisa do artigo 259 do CPC, é o mesmo do feito principal. A
obrigatoriedade de que o valor do feito principal seja usado como parâmetro, especialmente quando a corrigenda decorre de atividade ex officio não pode ter
outro motivo que não seja a arrecadação de custas, dada a evidência do equívoco.

[6] O processo judicial trás um benefício que é a síntese da ratio essendi da atividade jurisdicional, qual seja a pacificação social. Satisfeita ou não, a parte
vencida tem de se conformar. Concomitantemente o processo tem escopos políticos, sociais e econômicos que surgem como reflexos indiretos e vistos sob o
prisma geral, no que também cumpre funções importantes (a respeito, ver Cândido Rangel Dinamarco em “A instrumentalidade do Processo”, Editora
Malheiros). Mas para atingir estes escopos, também há um ônus, um custo. Para as partes há o ônus financeiro e a cristalização do conflito, ou seja, sua
estabilização, que pode acabar por protraí-lo no tempo aquém das expectativas, gerando certa frustração. Pelo prisma do Estado, no caso Estado-juiz, Poder
Judiciário, a atividade jurisdicional representa um ônus financeiro e uma carga de trabalho ao passo que a demora não lhe é menos prejudicial, já que agrava
estes ônus e ainda conspurca a sua credibilidade, pois como já dizia com precisão Rui Barbosa, justiça tardia é injustiça. Enquanto verdadeiro serviço estatal, a
Jurisdição precisa ser eficiente para ser institucionalizada e não perder eficácia e legitimidade. Logo, quanto antes o processo terminar melhor, pois a demora
gera mais represamento mais custos que por sua a fazem ainda menos eficiente, em um ciclo vicioso. Daí que se conceba o princípio do impulso oficial.

[7] Obviamente que a asserção está sendo feito em vista das tutelas cognitiva e cautelar, onde há de fato julgamento, pois o julgamento meritório favorável não
ocorre na execução, onde os atos são jurisatisfativos, e a cognição é incidental, não se apresentando a presença de uma lide (conflito de interesses qualificado
pela pretensão resistida, na fórmula célebre de Carnelutti), ou seja, do mérito, como escopo principal da tutela. Por outras palavras se algo tem mérito no
processo de execução são seus incidentes ou ações conexas. Mas certamente que as condições da ação e os pressupostos processuais e sua conformação no
caso concreto condicionam a tutela executiva da mesma forma que a cognição e a cautelaridade.

[8] Por uma série de questões históricas e culturais cujo espaço aqui se torna sumamente exiguo para tratar, os latinos em geral, e os brasileiros em especial,
parecem nutrir certa desconfiança em vista de uma tutela não estatalizada, o que é um temor sem fundamento plausível. Mais recentemente, com a
morosidade generalizada do Poder Judiciário, que é excepcionado por apenas algumas “ilhas de eficiência” (raras), a arbitragem tem se mostrado uma saída
que está encontrando mais eco, principalmente no ramo empresarial. Contra si ainda conspiram seus altos custos, bem superiores em regra aos da justiça
oficial.

[9] Minha experiência como julgador indica que a audiência do artigo 330 do CPC é uma grande inutilidade na realidade atual. Tomo tal conclusão a partir do
tempo e recursos envolvidos na marcação e realização da solenidade e o índice de sucesso nos acordos, que não compensa. Mais racional o julgador
determinar que, em havendo possibilidade de acordo as partes declinem, desde já, na contestação e réplica, inclusive formulando propostas, ou, então, que ao
menos indiquem se tem interesse na audiência.

[10] Aqui é preciso dizer que não somente as normas processuais e a grande quantidade de processos são os responsáveis pela morosidade, mas também a
cultura administrativa e a postura dos magistrados. É preciso entender que a presença de demandas repetitivas com significativa gama de processos
padronizados permite a ampla utilização de estagiários, mão-de-obra barata e que pode realizar a grande maioria dos despachos sob supervisão do juiz. A
título exemplificativo, o autor quando magistrado tinha sob sua responsabilidade pouco acima de 10.000 processo em vara cível e um juízo fazendário e
dispunha de 08 estagiários, sem assessoria ou secretario, como costumam ter os juizes no RS, e ainda assim conseguia manter média de 20 dias no máximo
de conclusão fossem para sentença ou para “despacho”. Outro aspecto relevante é a cobrança de produtividade dos julgadores que é feita à base da parcimônia
pelas Corregedorias, órgãos que sabem ser bastante corporativistas. Houve enorme resistência ao Programa Meta do CNJ, que expõe a produtividade dos

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magistrados. No caso da Justiça Comum do RS, por exemplo, ainda é notoriamente difícil encontrar os dados. Qual motivo? Medo de que? Este autor sempre
expôs a cada fim de mês dados de processos despachados, sentenciados e audiência realizadas quando exerceu a função, e certa feita chegou a ser questionado
por uma juíza corregedora o motivo pelo qual fazia isso ao que respondi que na condição de servidor publico tinha de dar satisfações aos meus pagadores, os
jurisdicionados.

[11] Cabe a ao CNJ tomar as medidas cabíveis, criando parâmetros e medidas correicionais, pois as Corregedorias não o farão. A ministra Eliana Calmon
estava correta.

[12] Cabe ao juiz, como condutor do processo, reprimir atos atentatórios a boa fé e ao Ministério Público e Defensoria Pública fiscalizar e apontar este tipo de
comportamento. Todavia, é nos advogados que a verdadeira diferença se opera, pois a parte, ainda que possa praticar atos de má-fé, ordinariamente esta
alheia ao processo. Inúmeras vezes nos anos que trabalhei junto ao MP como assessor jurídico e após como Juiz, verifiquei a prática de atos de má-fé e estes
em sua maioria tinham azo na atuação do advogado, não da parte, a qual, condenada por eles, sequer tinha conhecimento do que ocorria.

[13] A institucionalização do processo materializa o grau de identificação e aceitação dele como instância natural de resolução de conflitos. Quanto maior é a
credibilidade de um instituto ou instrumento, maior é sua procura pelos interessados. Isso de um lado faz com que menor quantidade de lesões ou ameaças de
lesão a direitos fiquem sem resposta, e ao mesmo tempo cria um estame onde o conflito pode ser resolvido de forma equilibrada, com garantias e direitos a
ambas as partes. Se o sistema processual, entendido como as normas e os seus operadores, é eficiente, neste caso tem-se que, quanto mais ele é acionado mais
eficiente parece ao seu “consumidor final”, o que faz com que a procura aumente gerando um ciclo no qual o sistema se reforça e se consolida com o tempo.
Este seria o quadro ideal. Mas o que vivemos é o inverso, porque o sistema é ineficiente, fechado e corporativista.

[14] A teoria tradicional de inspiração peninsular costuma utilizar a lide como pedra de toque, de forma a estabelecer uma dicotomia entre processo e
procedimento, sendo o primeiro caracterizado pela presença da lide, o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Daí que se tenha no CPC
de 1973 a divisão entre o processo e os procedimentos de jurisdição voluntária, onde se costuma afirmar não haveria verdadeiro processo, mas apenas
“administração judicial de interesses privados” e “mero procedimento”. Da mesma forma, no direito brasileiro, a instância administrativa não goza do mesmo
prestígio que tem na Europa Continental, onde os seus julgados formam coisa julgada e são intangíveis pelo questionamento da jurisdição exercida pelo Poder
Judiciário. Isso deixou o processo administrativo em segundo plano no Brasil. Porém, a partir do ponto em que previstos o contraditório e a ampla defesa
também neles, principiou-se, cada vez mais, a reconhecer que o processo administrativo carecia de maiores garantias e de um tratamento mais acurado. Esta
aproximação do processo judicial ao administrativo, motivada pelo valor fundamental do contraditório, abre caminho para uma concepção ampla de processo,
de forma que, ainda que de forma mais simplificada, o processo administrativo deve seguir os mesmos princípios e regras. Ainda que subsista ampla
possibilidade de questionamento na Justiça dos atos administrativos, dentre os quais se enquadra a resolução do processo administrativo, é imperativo não
olvidar que o denominado mérito administrativo é intangível e que o processo administrativo pode implicar ingerências significativas na esfera de direitos,
pelo que a materialização de direitos e garantias processuais básicas no âmbito deste processo é muito bem vinda.

[15] Dentro dos pressupostos processuais encontra-se a disciplina das nulidades, ou, melhor dir-se-ia, invalidades processuais, que está relacionada à
presença de pressupostos objetivos intrínsecos.

[16] O reconhecimento da prescrição em qualquer caso de ofício é possível desde 0 advento da Lei nº 11.280/206.

[17] Não devemos, porém, olvidar as nulidade do Direito Administrativo, como, por exemplo, o desvio de finalidade ou a incompetência. As nulidades
processuais, de seu turno, encontram-se abrangidas pelos pressupostos processuais objetivos intrínsecos.

[18] O artigo 1º, inciso IV, inclusive fala dos valores sociais do trabalho e livre iniciativa.

[19] Vai de longe o tempo onde se teve a vã pretensão que o Direito Positivado pudesse condensar e regular toda a realidade empírica como pretendeu o
Código Napoleônico, tanto mais quando a evolução em todos os campos de atividade humana se acelerou exponencialmente nas últimas décadas, ampliando-
se, ainda, as finalidades do processo, fator, este, que lhe conferiu metas em outras dimensões que não a meramente condicionada pela lide. A concessão de um
campo aberto dentro do qual a decisão jurisdicional possa trabalhar para adequar a Lei aos fins almejados na realidade concreta apresenta a vantagem de
capacitar o ordenamento a uma sobrevida, na medida em que a variação hermenêutica e a acomodação do texto à realidade por ele concedidas arejam e
vivificam o texto. Há, contudo, igualmente alguns inconvenientes nesta fórmula que carecem de devido sopesamento. O principal deles reside na possibilidade
do subjetivismo. Invariavelmente o julgador, se não em todas ao menos em boa parte de suas decisões, deixa transparecer alguma carga ideológica e cultural
própria. É impossível desvestir-se de suas visões, vivências e opiniões, ainda que estas se manifestem em nível subconsciente. O ordenamento, objetivando as
possibilidades de escolhas, restringe os lindes de manifestação deste subjetivismo. A partir da inserção de critérios hermenêuticos escudados em conceitos
abertos, abre-se ensanchas a que o subjetivismo acabe por transformar o julgador em verdadeiro legislador às avessas. Não é difícil encontrar país a fora os
autodenominados “juizes alternativos”. Nada de mal em se arejar o texto legal com uma porção de realidade, porém não raro acabam indo longe de mais e
extrapolando, a bem de visões e posições pessoais, os limites da lícita atuação de adaptação, passando a querer, motu proprio, criar “a sua justiça”. O juiz não
ocupa um cargo nobiliárquico. É um agente publico, aliás, um servidor público que exerce potestade em nome do Estado. Deve ter consciência que a
autorização de adoção de critérios exegéticos além dos estreitos corredores da legalidade formal não implica uma autorização para arvorar-se em produtor de
normas. Quando o julgador verificar que o auto-irrogado pioneirismo de uma decisão ou posicionamento seus, especialmente se tomados contra legem,
estiver causando inquietação, apreensão ou até revolta no estame social, deve desconfiar que o seu limite ultrapassou. Direito há para pacificar, não para
instilar a revolta e o desprezo aos seus destinatários e muito menos para devaneios pessoais idealistas.

[20] Nos países do assim denominado Novo Mundo, correspondendo às Américas, a esmagadora maioria da população descende de colonizadores, de forma
que a cultura de cada um forma-se de um amalgama local, com elementos presentes também em outras, dada a colonização européia. Isto já não é mais um
fator tão relevante. Podemos falar que os meios tecnológicos hoje disponíveis estão conduzindo à formação de uma cultura generalizada comum a todo
mundo. Por outras palavras, há um conjunto de valores, símbolos, condutas e expressões que se universaliza pelos meios de comunicação, chegando a todas as
partes do planeta e fazendo com que hoje o que há de comum nos povos seja mais do que os diferencia, em regra. No ocidente, salvante algumas regiões onde
a pobreza e o isolamento ainda são um empecilho ao acesso a estes fatores tecnológicos, esta universalização se verifica nas formas de falar (universalização de
expressões em inglês), na arquitetura, nas formas comerciais etc....É certo que as diferenças regionais a cada dia se esmaecem.

[21] Aqueles não positivados expressamente, mas reconhecidos, ainda assim. Algumas Constituições Estaduais os contemplam, como é o caso da Constituição
do Rio Grande do Sul, cujo artigo 19, caput, trata da razoabilidade.

[22] Estes princípios deveriam constar simultaneamente nos artigos 5º e 37 da CF/88. Primeiro como direito fundamental do administrado de que a atuação
do Estado, por qualquer de seus poderes, será sempre pautada pela razoabilidade e proporcionalidade, e no artigo 37, caput, somando-se ao cinco princípios
ali citados.

[23] A aplicação do princípio da eficiência ao processo foi por mim defendida no texto “Jurisdição Voluntária e Justiça Trabalhista – Incompatibilidade ou
Solução”, disponível na internet.

[24] Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a

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Conhecendo o novo CPC: Parte I - Jus Navigandi Página 11 de 12

presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

[25] Diz-se concluso o processo que é encaminhado ao Juiz para despacho ou julgamento. Os órgãos jurisdicionais, sejam varas, juizados, câmaras ou turmas,
funcionam à base de uma subdivisão que contempla o gabinete e o cartório ou secretaria. O gabinete é formado pelo julgador, seus assessores ou analistas,
secretários e estagiários, ao passo que o cartório ou secretaria tem um escrivão ou quem o faça às vezes e pelos servidores (oficiais). O cartório ou secretaria
efetua a movimentação dos feitos e a confecção de documentação à conta das determinações do julgador. Quando o cartório ou secretaria envia o processo
para o gabinete para apreciação do julgador, este processo está “concluso”. Um dos motivos de conclusão mais relevantes é a conclusão para julgamento. É
com base nesta data que o novo dispositivo pretende criar a lista de antiguidade e, portanto, de precedência dos julgamentos.

[26] É preciso coragem (e isso é algo que não falta ao autor) para dizer a verdade que é escondida da sociedade. E comum, sim, nos juízos Brasil a fora que
determinados processos sejam “empurrados com a barriga”, tendo seu julgamento postergado com despachos inúteis e protelatórios na esperança de que
toque a decidir a um substituto ou que ocorra a remoção ou promoção do julgador. Isto é um fato, e infelizmente as corregedorias não tomam as medidas
necessárias. Os processos comuns não precisam de uma miríade de decisões e despachos para serem levados a termo de julgamento. Basta querer que isso
ocorra e que se pare com os “diga a parte acerca” que fazem do processo uma jogo de tênis de mesa interminável.

[27] Já que tratamos do recorrentemente da celeridade como um dos problemas centrais do processo, é importante aqui mencionar um equívoco comum que
é cometido por alguns magistrados, qual seja o de programar as audiências de instrução para que seja proferida a sentença nesta mesma solenidade. Acaba
ocorrendo que muitas vezes surgem novas questões em audiência que demandam providências, impedindo o julgamento e gerando tempo ocioso. Outrossim,
ainda que isso não ocorra, a utilização deste expediente acaba implicando em que uma ou duas audiências possam ser realizadas em um turno, ao passo que se
houvesse apenas a instrução, ao menos o dobro disso seria possível. O efeito cumulativo desta situação acaba gerando processos represados para realização de
audiência, criando pautas extremamente prolongadas. Fica o conselho para que a possibilidade de prolação de sentença em audiência fique relegada somente
a casos onde isso é de fato muito provável, e a matéria sabidamente não comportar possível alteração do quadro probatório e fático, permitindo que se chegue
á audiência já com uma solução provável à vista. Medidas administrativas deste jaez tornam possíveis significativos ganhos em celeridade.

[28] Nos termos do que permite hoje o artigo 475-N, inciso III, do CPC, e como autoriza o artigo 515, inciso III, do novo CPC.

[29] A conversão do julgamento em diligência decorre de ação ,oficiosa ou provocada, do juízo determinando providências, especialmente quando
relacionadas ao saneamento processual embora não esteja afastada a possibilidade de versar sobre questões meritórias (probatórias), quando autorizada a
busca da verdade real e levando em conta os poderes instrutórios de que revestido o julgador (hoje previstos no artigo 131 do CPC).

[30] A respeito, ver, de minha autoria, “Jurisdição, Ação e Processo. Para onde caminha o processo”, texto que pode ser visto na Revista Forense, nº 376, pgs.
145-180, ou na obra “Ações Constitucionais” publicada em co-autoria e com coordenação de Alexandre Cruz pela Editora Millenium, pgs. 17-70. e que pode ser
acessado na internet também.

[31] Aqui é preciso considerar que ambas as partes, autor e réu, postulam em juízo. O autor postula o acolhimento de sua pretensão, enquanto que o réu
postula tutela declaratória negativa, que é a improcedência do pedido do autor.

[32] O artigo 3º do CPC de 1973 diz que: “Art. 3º Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade.”

[33] As espécies de tutelas são a cognitiva, a cautelar e a executiva. A cognitiva é ofertada pelo processo de rito ordinário (em regra), e pode ensejar uma das
cinco espécies de carga de eficácia da sentença: condenatória, executiva, mandamental, declaratória e constitutiva. A respeito destas, sugiro a consulta ao texto
de minha autoria “A Antecipação de Tutela e as Eficácias das Sentenças”, disponível na internet. A tutela cautelar objetiva ao resguardo da eficácia de um
processo que tem por objeto uma das duas outras formas de tutela. Já a tutela executiva objetiva a produção de real transformação no mundo empírico em
cumprimento a um julgado ou em decorrência de pretensão escudada em documento ao qual a lei atribui a possibilidade de legitimar a execução, denominada
sugestivamente de “execução aparelhada (título executivo extrajudicial). As formas mais comuns de falta de interesse processual ocorrem na utilização de
tutela liminar cautelar ao invés de antecipação de efeitos da tutela, ou seja, invocação do poder geral de cautela, que não tem natureza satisfativa, ao invés do
artigo 273 do CPC, que tem este caráter. Hoje, à luz do parágrafo 7º do artigo 273 do CPC, estabelecendo a fungibilidade cautela/antecipação, esta situação
perde muito em relevo. Outra hipótese reside no manejo de ação condenatória quando a parte já dispõe de titulo extrajudicial apto a embasar execução. Neste
caso, os julgados mais recentes têm afastado a ausência de interesse processual diante da desnecessidade que estaria presente ao argumento de que não
haveria, neste caso, prejuízo ao devedor; ao revés, teria ele na ação de tutela cognitiva ainda maiores meios de defesa que em eventual ação de embargos.

[34] Salvo na ação rescisória.

[35] O raciocínio a ser feito é simples. Levando-se em conta a narrativa feita pelo autor, se ele lograr torná-la comprovada, tem ele legitimidade porque lhe
tocar parte na relação de direito material? É necessária e útil efetivamente a tutela que pretende pois agregar algo a sua esfera de direitos?

[36] Sobre ela e a demais teorias da ação, ver o meu já citado “Jurisdição, Ação e Processo. Para onde caminha o processo”.

[37] Princípio consagrado pelo art. 6º do CPC de 1973.

[38] O fenômeno da substituição processual teve seu espetro de aplicação largamente ampliado a partir do reconhecimento de uma série de novos direitos de
compleição difusa ou coletiva, cuja titularidade não pode ser individualmente estipulada, ou, ainda que possa, os quais por sua condição, dificilmente teria
acionamento judicial pelos seus titulares. Assim, por exemplo, são os direitos do consumidor e os decorrentes do meio ambiente. A legitimação nestes casos,
tem sido ampliada para permitir que associações ou órgãos governamentais, como o Ministério Publico, e mais recentemente a Defensoria Pública, ostentem
legitimação extraordinária para atuar em juízo. Tal se justifica na medida em que o dano efetivo ou potencial quando atomizado nos indivíduos, que em regra
ostentariam legitimidade pelo plexo do direito material, torna-se de monta tão pequena que no mais das vezes a ação jamais seria proposta. O que é
lamentável e ver o corporativismo da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público tentar, pela ADIn nº 3943, questionar a legitimação das
Defensorias Públicas para propor ações civis publicas, demanda embuida pelo sentimento menor de manutenção de status profissional e em prejuízo da
sociedade. Felizmente no último dia 07 de maio de 2015 a demanda foi repelida por unanimidade pelo STF. Causa estranheza que o Ministério Público
postule, de forma geral, lhe seja reconhecida capacidade de promover investigações juntamente com as policias ao argumento de que a ampliação desta
atribuição só vem em benefício da sociedade, e ao mesmo tempo, diante de situação onde o argumento seria identicamente aplicável (benefício para a
sociedade por mais um órgão poder atuar), tenha tomado esta atitude que passa a ser contraditória e paradoxal em vista da legitimidade da Defensoria
Pública.

[39] A situação cada vez mais comum de reconhecimento de jurisdição de Cortes Internacionais, como a Corte Interamericana de Direitos Humanos e o
Tribunal Penal Internacional, não infirma isso. O que há não é propriamente admissão de uma segunda jurisdição, mas reconhecimento de eficácia de
decisões por nossa jurisdição. Para que não passe in albis, estas Cortes Internacionais não passam de fantoches políticos onde o que mais há é ingerência
ideológica e o que menos há é isonomia, e onde não há isonomia não há Justiça de verdade. O TPI, por exemplo, não teve adesão dos paises mais belicistas e
maiores violadores dos direitos humanos, ao passo que a Corte Interamericana ter servido para revanchismos políticos.

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[40] O processo levado a efeito em um Estado que esteja em regime de exceção, com ruptura da ordem democrática e do Estado de Direito poderá ser
formalmente legal sob o ponto de vista interno, mas materializar verdadeira aberração sob o ponto de vista externo a este regime ou ordem de exceção.

Autor

Marcelo Colombelli Mezzomo

Ex-Juiz de Direito no Rio Grande do Sul. Professor.

Informações sobre o texto

Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT)

MEZZOMO, Marcelo Colombelli. Conhecendo o novo CPC: Parte I. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4405, 24 jul. 2015. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/41162>. Acesso em: 11 ago. 2015.

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