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César Castro

HISTÓRIA DA
BIBLIOTECONOMIA
BRASILEIRA
Copyright © 2000 by - César Castro AGRADECIMENTOS

Foto da capa: Concludentes do Curso de Biblioteconomia da Escola Livre


de Sociologia e Política- 1945 (No centro, Prof. Adelpha
de Figueiredo) Elaborar um trabalho desta natureza exige esforço e contribuição
de inúmeras pessoas que, direta e indiretamente, escreveram comigo
Foto: Arquivo particular da Bibliotecária Laura Russo
este texto.
Revisão: Autor
Agradeço aos professores Edson Nery da Fonseca, Laura Russo,
Editoração eletrônica e capa: fesiel Sales Pontes Maria Antônia Pinke Belfort de Mattos, Esmeralda Aragão, Maria
Helena de Toledo Barros, pelas sugestões, criticas e empréstimo de
documentos.
ISBN: 85-7062-239-2
Aos companheiros de jornada cotidiana que fazem o Curso de
Biblioteconomia da UFMA.
C351Ú Castro, César
História da biblioteconomia brasileira/ Agradeço, em especial, à Prof'. Dta. Denice Catani, minha
César Castro.- Brasília: Thesaurus, 2000.
orientadora, que acreditou sempre neste trabalho e aos professores
I. Biblioteconomia, Brasil I. Título doutores Ezequiel Teodoro da Silva, Elze Benetti Válio, Marta Carvalho
CDU 02 (091) (81) e Hagar Espanha pela sugestão de transformar a tese em livro.
CDD02
Aos amigos: Doris Godoi, Sarnuel Velázquez, Solange Ribeiro,
Rildecy Medeiros, Nelson Nunes e Aldinar Bottentuit pelo apoio
constante.
Todos os direitos em língua portuguesa no Brasil, reservados de acordo com a lei. Nenhuma
parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por <Iualquer
Às bibliotecárias Tuca, Rita, Sônia, Lina e Rosa pela recuperação
meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorízada, sem permissão por
escrito do autor. THESAURUS EDITORA. DE BRASÍLIA LTDA. SIG Quadra 08 dos difíceis documentos raros.
Lote 2356 CEP 70610-400- Brasília-DF-Brasil. - TeL (61) 344-3738 - Fax, (61) 344-
2353.

Composto e impresso no Brasil


Printed in Brarji
Dedico esta obra a Janethe Castro, minha irmã, por tudo.

Dedico este livro a Nelly Cassaro (in memoriam) em


agradecimento a nossa amizade, que é eterna.

Dedico este livro, ainda, às três mulheres da minha vida: Luzia,


Teresa e Violeta.

A todos os bibliotecários e bibliotecárias que fizeram e fazem a


História da Biblioteconomia brasileira, em especial, a:

Adelpha de Figueiredo, Laura Russo, Rubens Borba de Moraes,


Lydia Sambaquy, Bemadette Sinay Neves, Edson Nery da Fonseca,
Esmeralda Aragão, EtelvinaLima, Cordelia Robalino, Miriam Gusmão,
Abner Vicentini, Zila Mamede, Antônio Miranda, Luzimar Silva
Ferreira e tantos outros.
SUMÁRIO

PREFÁCIO .................................................................................... 11

CAPITULO 1

OS LIMITES DO NOSSO OLHAR ............................................. 17


As dimensões educativas da Biblioteconomia no Brasil .... 21
As fontes e os discursos ......................................................... 31

CAPÍTULO 2
_,
O MOVIMENTO FUNDADOR DAS DIMENSÕES DUCA-
TIVAS DA BIBLIOTECONOMIA DO BRASIL ................... 43
A trajetória do Ensino de Biblioteconomia no Brasil:
o caso da Biblioteca Nacional .............................................. 53
A trajetória do Ensino de Biblioteconomia no Brasil:
o caso paulista ....................................................................... 62
A trajetória do Ensino de Biblioteconomia: anos 40 ......... 78
Cursos da Biblioteca Nacional: a reforma de 1962 ........... 97
A trajetória escolar entre Rio de janeiro e São Paulo .... 101
O Curso de Biblioteconomia da Praça da República ...... 106
A expansão do Ensino de Biblioteconomia pelo Brasil .. 109

CAPÍTULO 3

BIBLIOTECÁRIO: DO GENERALISTA AO SERVO DA


CIÊNCIA ............................................................................... 115
Bibliotecário: "profissional ideal" a serviço da ciência .... 116
Bibliotecário: "SERVUS SERVORUM SCIENTAE" ........ 135
Bibliotecários em busca de identidade ................................... 142

CAPÍTULO 4

E O VERBO SE FEZ LEI: REGULAMENTAÇÃO DA


PROFISSÃO BIBLIOTECÁRIA .......................................... 151
A trajetória para concretização do verbo ......................... 154
E o verbo fez-se lei .............................................................. 165
A FEBAB e o verbo ............................................................. 1 78 PREl:<~CIO
A burocratização do verbo ................................................. 185
"Deontologia e ética profissional" do bibliotecário ......... 189
~'Í<

CAPÍTULO A presente obra de César Augusto Castro é definitiva


tanto por reunir dados e informações (para muitos de nós,
até então, nebulosos e fragmentados) sobre a evolução da
CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DE BIBLIO-
Biblioteconomia no Brasil quanto por expor testemunhos e
TECONOMIA: ANOS 50 E 60 ............................................ 197 análises originais. Sem pretender ser exaustivo, tece a trajetória
Bibliotecário: técnico ou humanista? ................................ 199 de nossa profissão segundo postulados científicos válidos.
A uniformidade dos saberes biblioteconômicos ······-······ 203 Uma profissão requer um conjunto de elementos míni-
Padronização do ensino e dos saberes biblioteconômicos ... 215 mos para consolidar-se:
Bibliotecários: em busca da especialização ....................... 241
•um espaço na sociedade para desenvolver as suas
A trajetória do IBBD: fragmentos ..................................... 242 atividades e exercer a sua função social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 265 A obra de Castro é a revelação da busca de nossa ideo-
logia profissional através das propostas e experiências de nos-
sos pioneiros (cariocas e paulistas, como também os das de-
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................... :....... 271 mais regiões brasileiras, sem esquecer as contribuições dos
estrangeiros no processo).
As diversas fases, no espaço e no tempo, com as mu-
danças de "missão" e de paradigmas expressam o afinamento

11
- - - - --·---- ·-·····

constantes com as transformações tecnológicas e com os no- •um sistema de ensino capaz de transmitir os conheci-
vos valores de cada época. mentos necessários ao exercício profissional, em di-
ferentes níveis de capacitação.
•um programa de pesquisa para ampliar os horizon-
tes teóricos e técnicos que garantam o aperfeiçoa- Aqui é onde o trabalho de Castro é mais elucidativo, ao
mento profissional contínuo. recriar todo o processo de criação de nossos cursos de
Biblioteconomia, seus programas e conteúdos, suas filosofias
Embora a questão ·da pesquisa só comece a e orientações pedagógicas. Embora já tivéssemos anteceden-
institucionalizar-se a partir do advento dos programas de tes notáveis de esforço no levantamento do ensino profissio-
pós-graduação, o presente livro revela o esforço de nos- nal - como os textos de Nice Figueiredo e Suzana Mueller,
sas lideranças pela discussão dos grandes temas teóricos arrolados na bibliografia- as citações e comentários aqui in-
e pela experimentação de modelos, técnicas e processos, cluídos ampliam o nosso conhecimento sobre o fenômeno
muitos deles importados, ma~;adaptados ãs condições em questão.
nacionais. Prova disso, o IBBD impôs-se à sociedade bra-
sileira de seu tempo justamente por estar sempre na van- •uma legislação que garanta os direitos dos usuários
guarda e pelos conhecimentos que desenvolveu e preserve as conquistas dos profissionais da área.
institucionalmente. Em certa medida, antecipou-se ã pró-
pria época, exercendo os postulados de Peter Senge (das A questão está devidamente registrada, em suas
"organizações que aprendem") ao constituir-se numa equi- postulações legalistas, culminando na promulgação da lei de
pe de especialistas geradora de saberes e metodologias de exercício profissional e na criação de nossos conselhos fede-
amplo reconhecimento. ral e estaduais, a exemplo de outras carreiras universitárias.
Mais recentemente com a conquista de um código de ética
•uma literatura própria, orientadora de sua base teó- que, em princípio, também incorpora os deveres profissio-
rica e prática. nais e os interesses dos usuários. Mas, também deixa perce-
ber que a questão social está ainda mais em nível retórico,
Outra vez, a obra de Castro é reveladora do crescimen- com a classe bibliotecária pouco participativa nas lutas pela
to de nossa literatura especializada, não só pela vastidão das democracia nos períodos ditatoriais. Na pauta de nosso
fontes consultadas mas, também, pelo historiai do surgimento corporativismo aparecem mais as questões técnicas, as admi-
de nossas revistas especializadas e dos congressos e seminári- nistrativas, as legais, e raramente, o engajamento com os gran-
os que incentivaram a referida produção técnico-científico. des movimentos sociais que lutaram pela universalização do
Sem esquecer a proliferação de dissertações, teses e livros dos ensino, contra a censura à imprensa e às artes em geral, pela
anos mais recentes. defesa da cultura nacional e outras bandeiras que, todos nós

12 13
da no nosso país, é o reflexo da evolução da Biblioteconomia
sabemos, afetam o nosso desempenho e comprometem os
e da Ciência da Informação no Brasil e no Mundo.
nosso objetivos profissionais. Sem deixar de reconhecer que,
Por certo, foram as mentes mais iluminadas do "velho"
como indivíduos, muitos de nossos líderes foram combativos
(e tão vanguardista) IBBD que "importou" e introduziu a Ci-
e esclarecidos, o fato é que o livro de Castro passa ao longo
ência da Informação no Brasil, e sem entrar em disputas
destas problemáticas. ·
bizantinas praticadas em outras latitudes. E deu início aos
E é sintomático reconhecer que a profissão do biblio-
nossos cursos de pós-graduação, às revistas científicas da área,
tecário foi um dos espaços mais concretos para a ocupação
à operacionalização dos serviços cooperativos e descentrali-
das mulheres, em seu processo emancipatório, ao ponto de
zados, à visão interdisciplinar e sistêmica de que todos somos
que, ainda hoje, algumas pessoas pensem ser uma profissão
hoje beneficiários.
feminina. E as mulheres foram decisivas na evolução da
Hoje o IBICT está outra vez em crise, não por culpa de
profissão, a julgar pelas grandes lideranças femininas (ape-
seus dirigentes, mais pelas inquietações provocadas pelo ad-
sar de sempre termos contado com extraordinárias lideran-
vento massivo das novas tecnologias e pela globalização pró-
.
ças masculinas como Rubens Borba de Moraes , Antonio
pria da indústria da informação transnacionalizada dos dias
Caetano Dias e Edson Nery da FÓnseca, dentre outros). A
que vivemos.
própria história do IBBD é um espelho disso. Na fase
E estão em crise a Biblioteconomia e a Ciência da Infor-
evolucionária (nos 20 primeiros anos, a partir de sua funda-
mação, como um todo, por causa do impacto da telemática
ção em 1954), tivemos o concurso do talento de mulheres
em nossos processos, como acontece em outras profissões.
extraordinárias como Lydia de Queiroz Sambaquy, Célia
Os cursos de pós-graduação, quase todos, mudaram sua de-
Ribeiro Zaher e Hagar Espanha Gomes. Com a transfor-
nominação de Biblioteconomia para Ciência da Informação
mação em IBICT, em meados da década de 70, sucederam-
(seguindo o movimento criado pelo próprio IBBD), com a
se os administradores do sexo masculino, recrutados dentre
incorporação da C.I. nos currículos profissionais, com forte e
cientistas e assessores de outras áreas, sem maiores
crescente ênfase nos processos informatizados. Ao mesmo
exponencialidades (exceção para Afrânio Aguiar, que tinha
tempo em que se pretende abrir novos cursos, com novas e
pós-graduação em Ciência da Informação). Depois tive-
ousadas denominações, como já vem acontecendo.
mos uma terceira fase, que chega aos nossos dias, em que
O IBICT certamente acabará assumindo de direito, por-
homens e mulheres, de reconhecida capacitação profissio-
quanto já preparando-se e assumindo de fato, a liderança na
nal na área, vem alternando-se no poder.
instalação de nossa "Sociedade da Informação" ou do conhe-
As transformações do IBBD- que partiu da proposta de
cimento, como querem outros.
montar o controle bibliográfico nacional em C&T e de de-
senvolver a massa crítica e a infra-estrutura para facilitar a E é bom verificar que, ao lado da proposta estruturante
pesquisa, o ensino e a administração superior no Brasil-, pas- projetada pelos especialistas do Ministério da Ciência e
sando pela fase do IBICT- que partiu para a montagem e a Tecnologia (Carlos José Pereira de Lucena, Ivan Moura Cam-
coordenação de sistemas e serviços de informação especializa- pos e Silvio Lemos Meira), que refletem as tendências inter-

14 15
nacionais do setor, que prioriza e privilegia os segmentos so-
ciais e produtivos nacionais, esta também é a reflexão de Anna
da Soledade Vieira alertando para o fato de que não basta o
canal da RNP ou da Internet II, que é preciso fortalecer e
desenvolver os nossos conteúdos substantivos, direcionados
para serviços mais contextualizados, mais eficientes e
transcedentes.
É fantástico, pois, perceber no livro de César Augusto
Castro as sementes e a germinação de todo esse processo
institucionalizante.
O relato histórico interpretativo ganha força e relevo
pela voz dos protagonistas, sem jamais perder-se em detalhes CAPITULO 1
ou em maçantes descrições*.
O texto flui com leveza decque nos exige Ítalo Calvino,
sem perder outras condições essenciais como sejam a consis- OS LIMITES DO NOSSO OLHAR
tência, a multiplicidade, a exatidão e a visibilidade. E, apesar
da extensão da obra, a rapidez implícita na exposição dos fa-
tos e das conclusões. Apoiado em micro-biografias ilustrativas O desenvolver de um trabalho de pesquisa, seja ele de
(em janelas autõnomas como no hiper-texto), em citações qualquer natureza, não se dá no vazio, mas é atividade que
sempre oportunas e apropriadas, e em gráficos e quadros que parte, sem dúvida, de inquietações pessoais oriundas da nos-
sintetizam ou explicitam as visões e versões do fenõmeno. A sa vivência- caráter-prático da constituição do saber- e das leituras
História da Biblioteconomia Brasileira, à la Brecht, que per- realizadas, individual ou coletivamente- caráter teórico da cons-
mite maior objetividade mas sem renunciar à emoção e à tituição do sáber. Essa inter-relação teoria-prática propicia cons-
sutileza.
tantes revisões que nos impulsionam a caminhar. Nessa ca-
Uma obra fundamental para entender o que somos e
minhada, encontramos espaços de sombras e luzes e, algu-
para prognosticar o nosso próprio destino.
mas vezes, a trajetória se realiza na penumbra, no isolamen-
Antônio Miranda to, nas angústias do desvelar conhecimentos fragmentados
Universidade de Brasília que parecem um jogo, onde as regras do trabalho científico
Agosto /99 estabelecem a melhor forma de atuarmos diante das dificul-
dades, dos impasses, das dúvidas. Enfim, pesquisar é um jogo
que envolve palavras, frases, nomes, buscas e caminhos, exi-
"Não foi possível incluir, no volume presente, os Anexos da tese original que são vitais
para quem desejar aprofundar-se no estudo gindo um saber sobre o jogar e o entendimento das regras

16 17
que determinam a forma de atuar para atingirmos os objetivos uibuindo sobremaneira para a (re) construção histórica de um
propostos. As questões que surgem da relação teoria-prática dado campo, dentre outros aspectos possíveis, fuce à riqueza
(vice-versa) impulsionaram-me a escrever este livro sobre a de contribuições discursivas advindas deste tipo de material.
História da Biblioteconomia no Brasil nos anos 50 aos 60, em O segundo aspecto, por confrontar o texto-documento
especial, quanto ao seus aspectos educacionais. Livro este que com o depoimento de personagens que contribuíram nos
é resultante da tese que defendemos, em 1998, na Faculdade diversos momentos, e sob diversas formas, para a constitui-
de Educação da Universidade de São Paulo. ção do Campo de Biblioteconomia no Brasil.
Para tecer este texto, nos apropriamos de alguns traba- Em sendo assim, três questões nortearam esta investi-
lhos que evidenciam a educação bibliotecária no Brasil: gaçao:
Mueller (1982), Souza, F. (1995), Caberlon (1995), a) de que modo se constituíram os discursos explicitados
Figueiredo(1995), Dias (1964), Russo (1966), Fonseca (1957),
na Imprensa Periódica, nos anos 50 e 60, em torno das di-
Souza, S. (1987) e outros publicados em artigos de periódicos
mensões do ensino de Biblioteconomia no Brasil?;
ou anais dos Congressos Brasil§,iros de Biblioteconomia e
b) quais as principais determinações sobre a profissão e
Documentação- CBBD. Todavia, sabíamos que: "... o estudo do
o profissional bibliotecário nos anos 50 e 60?;
ensino de Biblioteconomia no país carrega uma certa dificuldade,
c) quais os marcos históricos anteriores aos anos 50 e 60
notadamente em função da escassa literatura[. .. ]. E os existentes não
relativos ao ensino de Biblioteconomia no Brasil?
contemplam os aspectos econômicos-históricos-sociais, privilegiando a
Para respondê-las, elegemos como objetivo geral desta
cronologia dos fatos em detrimento da análise do conteúdo"( Souza,
F., 1992, p.123). pesquisa:
Compreender como se processaram os discursos em
Nesta pesquisa, retomamos alguns destes trabalhos com
torno do ensino de Biblioteconomia no Brasil nos anos 50 e
a finalidade de verificar quais os aspectos tratados,
60, contidos na Imprensa Periódica da área, em especial os
metodologias e bibliografias utilizadas e, principalmente, para
boletins publicados pelo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Do-
analisar as similaridades e diferenças históricas apresentadas.
cumentação-IBBD e pela Federação Brasileira de Associações de Bi-
Portanto, estes estudos contribuíram para demarcarmos os
bliotecários-FEBAB. E como complementares a este:
limites do nosso olhar.
Dois aspectos diferenciam esta pesquisa das demais: pri- a) Analisar os movimentos fundadores do ensino da
meiro, por sustentar-se na Imprensa Periódica da área. Enten- Biblioteconomia no Brasil.
demos os materiais da Imprensa Periódica como veículos de Neste item nos interessou analisar os principais fatos
comunicação de um dado campo de saber e como mecanis- que contribuíram para a constituição do campo do ensi-
mos de divulgação de suas atividades, possibilitando ao pesqui- no, anteriores ao anos 50. A princípio analisamos a
sador compreender sua trajetória, suas idéias dominantes, em trajetória da Biblioteca Nacional (BN) e das primeiras bi-
determinado período, suas principais lideranças. Enfim, con- bliotecas do Estado de São Paulo, para situarmos o lugar

18 19
onde foram instalados os movimentos fundadores do ensi- c) Analisar as maneiras pelas quais a constituição do
no na área. No caso da Biblioteca Nacional, recorremos campo científico brasileiro, nos anos 50, contribuiu para a
aos relatórios da época, que se encontram publicados nos determinação de novos paradigmas no ensino de
Anais da Biblioteca Nacional. Para a construção do caso Biblioteconomia.
paulista nos apropriamos de Ellis (1997) e de artigos en- A constituição do campo científico resultou na criação
contrados no Boletim Bibliográfico da Biblioteca Mário de do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação - IBBD
Andrade e, ainda, daqueles publicados na imprensa perió- (atualmente Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
dica paulista do período. Quanto ao ensino, tomamos os Tecrtologia), órgão que tinha a finalidade de controlar e disse-
trabalhos de Rubens Borba de Moraes (1942, 1943), minar informações/pesquisas produzidas pelos cientistas na-
Adelpha de Figueiredo (1945), Dorothy Gropp (1940), que cionais, assim como aquelas produzidas em outros países de
são os principais representantes da constituição do ensino interesse da ciência brasileira. A sua criação abriu um novo
de Biblioteconomia nesse Estado. debate na área: os limites profissionais do bibliotecário e do
b) Analisar os conteúdos privilegiados que assumiram documentalista. No ensino, foram incorporados conhecimen-
status de verdade diante da categoria profissional bibliotecária. tos deste "novo saber", sendo que algumas escolas passaram
Em sendo diversificados os conteúdos encontrados na a adotar o termo Documentação. De igual modo, os Congres-
Imprensa Periódica Biblioteconômica, e até porque esta pes~ sos da área passaram a denominar-se Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e Documentação - CBBD.
quisa centrou-se nas questões de natureza educacional,
Ressaltamos que as concepções relativas ao campo como
selecionamos as seguintes categorias de análise:
espaço de lutas, em tomo de objetos legítimos tal como explicita
• bnsino de Biblioteconomia- Entende-se como o proces- Pierre Bourdieu (1983) foram úteis para a análise da constitui-
so formal de ensino: escolas/ cursos, currículo e disci- ção e do desenvolvimento do espaço educacional da
plinas escolares;
Biblioteconomia no Brasil. Do mesmo modo, algumas argu-
• Formação Profissional- Compreende as estratégias para mentações de Roger Chartier (1988) foram necessárias para
capacitar/aperfeiçoar o bibliotecário e para regula- relativizarmos a interpretação das fontes documentais qualifi-
mentar a profissão; cando-as de acordo com as suas condições de produção.
• Práticas Profissionais- Compreende o modus operandi
do bibliotecário, as técnicas inerentes ao campo, o As dimensões educativas da Biblioteconomia no Brasil
comportamento e o compromisso social e educacio-
nal deste profissional. As dimensões educativas da Biblioteconomia brasileira
podem ser compreendidas sob várias perspectivas, sendo as
• Papel/Função do Bibliotecário- Constitui-se nos discur-
sos em torno da profissão e do profissional. principais a profissional, a técnica e a que diz respeito aos
métodos de influência (ensino humanista e ensino pragmá-

20 21
rI
tico). A perspectiva profissional engloba desde a formação Fase II: 1930-1970 Caracterizada como tecnicista
até os estudos de mercado de trabalho. A técnica, as formas americana;
de controle, processamento e armazenamento da informa- Fase III: 1970-1987 Caracterização nacional da ca-
ção e, também, o uso das novas tecnologias e linguagens tegoria bibliotecária e do seu
documentárias. Os modelos de influência evidenciam o cur- despertar para a realidade na-
rículo e a inserção política, social, cultural e educacional do cional.
bibliotecário. Para Población (1992), o ensino de Biblioteconomia
Fonseca ( 196?) divide a história do ensino de divide-se em quatro fases:
Biblioteconomia em três fases: Fase I: 1915-1928 Formação de influência euro-
Fase I: 1879-1929 Liderança da Biblioteca Na- péia;
cional, de influência francesa; Fase II: 1929-1969 Mudança da direção da influ-
Fase II: 1929-1962 Transferência da influência ência europe1a para o
francesa, humanista, para a in- pragmatismo americano;
fluência americana, pragmática, Fase III: 1970-1985 Ufanismo nacionalista caracte-
que teve seu início em São Pau- rizado pelo crescimento quali-
lo, no Mackenzie College; tativo das escolas;
Fase III: 1962- Uniformidade dos conteúdos Fase IV: 1986- Estabilização do crescimento
pedagógicos com a instalação quantitativo das escolas e iní-
do currículo mínimo. cio do período de reflexão,
Mueller (1985, p.3) acrescenta ã divisão de Fonseca mais objetivando a avaliação quali-
duas fases, posto que o trabalho deste autor fora publicado tativa do ensino ministrado em
no início dos anos 60: "Desde então podemos acrescentar mais duas nível de graduação.
fases - a década de 70 pelo fortalecimento e proliferação dos cursos, Para esta autora, na fase II se inicia o crescimento quan-
pelo crescente descontentamento em relação ao conteúdo do currículo titativo das escolas de Biblioteconomia, notadamente nos anos
mínimo, pela influência da tecnologia e pelo aparecimento dos cursos 40, a partir da criação do Curso da Escola Livre de Sociologia e
de pós-graduação; e o período atual, a partir de 1982, data de apro- Política. De 1911 até os anos 40, foram criados quarenta e dois
vação do novo currículo mínimo e que será caracterizada, portanto, cursos, dos quais doze desapareceram nos anos postériores,
pela reformulação dos programas de ensino". totalizando trinta cursos que se encontram atualmente em
Souza, S. (1987), ao estudar as tendências da funcionamento, abrangendo todas as regiões do paísi.
Biblioteconomia brasileira, divide a sua história em três fases:
1
O mais recente Curso de Biblioteconomia foi criado em 1995, na Universidade Federal
Fase I: 1911-1930 Tendência humanista; do Rio Grande do Norte.

22 23
Tabela 1: Biblioteconomia no Brasü: 1911-1992: quatro fases do ensino ck gradua- este empreendimento: "O curso de mestrado em ciência da in-
ção. (Población, 1992). formação teve seu início em 1970, refletindo a preocupação euro-
péia e americana com a formação de recursos humanos para lidar
com a excessiva produção de informação cientifica e tecnológica
surgida na ambiência do pós-guerra. Foi o início da conscientização,
no Brasil, para a necessidade de organizar e controlar a informa-
ção como uma ferramenta para o próprio desenvolvimento da ci-
ência e tecnologia"(Barreto, 1995, p. 7).
Caberlon, ao tratar dos marcos históricos da
Biblioteconomia no Brasil, os divide em duas perspectivas: da
profissão e do ensino.
Tabela2: Marcos históricos da Biblioteconomia no Brasil (Carbelon, 1995, p.23)

1989 - ADEBD cria módulos de Estudos Curriculares:


- Região Norte/Nordeste 8 escolas (26,66%)
- Região C.O/Sudeste 8 escolas (26,66%)
- Região Sul 6 escolas (20,02%)
-São Paulo 8 escolas (26,66%)
TOTAL 30 escolas
Na Fase III da classificação de Población, que
corresponde à primeira de Mueller, são criados os cursos
de pós-graduação em Biblioteconomia em nível de
Mestrado. O primeiro, instalado no Instituto Brasileiro de Bi-
bliografia e Documentação-IBBD 2• O IBBD, desde a década de 1961 Criação da Pós-Graduação em Biblinteconornia.
profissão regulando seu exerdcio; institui o
50, vinha realizando alguns cursos de aperfeiçoamento para Federal de Biblioteconomia (CFB);
bibliotecários, daí constituir-se em ambiente propício para 1965 Regulafl!entaçãa da lei 4084/62 pelo Decreto 1982 Aprovação do segundo Currículo Mínimo de
n° 56725/65, ratificando a Biblioteconomia como Graduação em Biblioteconomia.
2
(cf. Resalução 08182 do CFE) (em
Outros cursos de pós-graduação em nível de mestrado foram criados na década de
70: 1972, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo; 1976, na
Universidade Federal de Minas Gerais; 1977, na Pontifícia Universidade Católica de
Campinas; 1978, na Universidade de Brasília e na Universidade Federal da Paraíba. A
partir de 1992, são criados os cursos de doutorado: lBICT/UFRJ, UNS, ECA/USP.

24 25
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Podemos afirmar que há relativa uniformidade nas divi-


1923 Paralização do curso da BN,
sões da história do ensino da Biblioteconomia no Brasil. Fon-
quando é estabelecido, no
seca toma como marco inicial a realização do primeiro con-
Museu Histórico Nacional, o
curso para bibliotecário realizado por Ramiz Galvão na Bibli-
Curso Technico com a finalidade
oteca Nacional. Para este autor, Mueller e Caberlon evidenci-
de formar bibliotecários,
am a aprovação dos currículos mínimos como delimitadores
paleógrafos, arquivistas e ar-
históricos. Población, mesmo não expondo textualmente,
queólogos.
deixa subentendida esta questão. Souza, S. retoma os princí-
pios adotados pelos demais autores. Contudo, em um aspec- FASE II: 1929--1939 Predomínio do modelo prag-
to, estes autores são totalmente acordados: quanto aos mo- mático americano em relação
ao modelo humanista francês;
delos de influência, humanista francês e técnico americano,
como demarcadores do campo do ensino de Biblioteconomia. 1929 Criação do curso do Instituto
Mueller apresenta uma outra influência, a tecnológica, que Mackenzie, marca do início da
aparece a partir dos anos 70. c> influência técnica americana;
Com base nestes autores e pelas leituras realizadas, nes- 1931 Retomada do curso da Biblio-
ta pesquisa, dividiremos a história do ensino de graduação teca Nacional;
em Biblioteconomia em cinco fases. 1935 Encerramento do curso do
FASE I: 1879-1928 Movimento fundador da Mackenzie;
Biblioteconomia no Brasil de 1936 Criação do curso do Departa-
influência humanista francesa, mento de Cultura da Prefeitu-
sob a liderança da Biblioteca ra Municipal da São Paulo, por
Nacional; Rubens Borba de Moraes;
1879 Realização do primeiro concur- 1939 Fechamento do curso do De-
so para bibliotecário durante a partamento de Cultura da
gestão de Ramiz Galvão; Prefeitura Municipal da São
1911 Criação na Biblioteca Nacional Paulo.
do primeiro Curso de FASE III 1940--1961 Consolidação e expansão do
Biblioteconomia no Brasil, du- modelo pragmático americano;
rante a gestão de Manoel 1940 Transferência do Curso da Pre-
Cícero Peregrino da Silva; feitura Municipal de São Paulo
1915 Início das atividades do Curso para a Escola Livre de Sociolo-
da Biblioteca Nacional; gia e Política- ELSP;

26
27
1942 Início da expansão do campo do 1963 Primeiro Código de Ética do Bi-
ensino pelo país, sendo criados bliotecário;
cursos: Bahia (1942), Escola de 1965 Criação do Conselho Federal
Filosofia Sedes Sapientae (SP) de Biblioteconomia.
(1944), Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (1945),
FASE V: 1970-1995 Paralisação do crescimento
Porto Alegre (1947), Departa-
quantitativo das escolas de gra-
mento de Documentação e Cul-
duação e crescimento quantita-
tura da Prefeitura Municipal do
tivo dos cursos de pós-graduação;
Recife (1947) enaEscolaNossa
busca da maturidade teórica da
Senhora do Sion (SP) (1948);
área a partir de novas aborda-
1944 Reforma do curso da BN du- gens tomadas de empréstimo de
rante a gestão de Rodolfo outros campos de saber.
Garcia ( 1933-1945);
1954 Criação do Instituto Brasileiro de Tabela 3: Fases e marcos históricos da Biblioteconomia brasileira consideradas neste
Bibliografia e Documentação- Estudo.
IBBD;
1958 Definição da Biblioteconomia
1': 1879-1928 Início da Constituição do Campo do Ensino da Biblioteconomia sob a influência
como profissão liberal e de ní- francesa- Biblioteca Nacional
vel superior;
2a: 1929-1939 Predomínio do modelo americano sob a influência dos primeiros cursos criados em
1961 Criação da Federação Brasilei- São Paulo- Mackenzie College e Cursos de Biblioteconomia da Prefeitura Municipal de
ra de Associações de Bibliote- São Paulo.
cários (FEBAB).
3': 1940-1961 Consolidação do modelo americano eexpansão do número de Escolas/Cursos

FASE IV 1962-1969 Uniformização dos conteúdos 4': 1962-1969 Estabelecimento do primeiro Currículo Mínimo e Regulamentaçãodaprofi~ão -lei 4084/62
pedagógicos e regulamentação
da profissão; 5': 1970-1995 Paralisação da criação dos Cursos de Graduação e crescimento dos Cursos de Pós-
1962 Promulgação da Lei 4084.
Aprovação do primeiro currí- Nesta pesquisa, centralizamos a análise histórica do en-
culo mínimo de Biblioteco- sino de Biblioteconomia nas terceira e quarta fases acima
nomia; descritas, que correspondem ãs duas últimas fases eleitas por

28 29
Fonseca e à segunda de Poblacióu e Souza, S. A análise con- As fontes e os discursos
templa ainda aspectos referidos por Caberlon, encerrando-
se a análise na primeira fase de Mueller. Esta pesquisa baseou-se na análise da Imprensa Perió-
A escolha deste período, anos 50 e 60, deu-se pelo dica Biblioteconômica, produzida por diversas e diferentes
Ülto de considerarmos essas décadas como as de maior re- instâncias, no período abrangido pelo estudo. Em não ha-
levância para a constituição do campo da Biblioteconomia vendo um repertório onde pudéssemos localizar a produção
brasileira em termos de conquistas profissionais, uniformi- das Associações de Classe, Escolas e Cursos, centralizamos as
zação dos conteúdos escolares, criação e ampliação de es- buscas na Bibliografia Brasileira de Biblioteconomia, publicada por
colas e cursos, estabelecimento dos debates científicos atra- Oswaldo de Carvalho (1959) e na Bibliografia Brasileira de Do-
vés de eventos como os CBBD's 3 e aparecimento de lide- cumentação -1960/1970. Ainda, nas bibliografias inseridas na
ranças nacionais, dentre outros. Do mesmo modo, as dé- Revista do Livro, publicada pelo Instituto Nacional do Livro e
cadas atuais serão importantes para pesquisas futuras em nas referências bibliográficas dos artigos da época. A maior
termos de novas abordagens teóricas, uso de tecnologias incidência dos trabalhos arrolados são livros, mas foi possível
modernas para armazenamento, recuperação e transferên- localizar através dos artigos o nome das fontes publicadas pela
cia de informações por meio de redes e sistemas nacionais área ou aquelas utilizadas pelos bibliotecários para divulgá-la,
e internacionais. a exemplo da Revista do Serviço Público, publicada pelo Depar-
Estes ciclos históricos, ricos em discursos, possibilitam tamento Administrativo do Serviço Público- DASP.
demonstrar a dinâmica do campo da Biblioteconomia no Os materiais da Imprensa Periódica são fontes privile-
Brasil. Evidentemente, ao estudarmos estes ciclos, estaremos giadas para compreensão dos "... movimentos ocorridos dentro de
considerando as determinações de tempo e lugar, na medida um campo de conhecimento, pois através dela pode-se estabelecer
em que condicionam os modos de saber e fazer: "Certamente mapeamentos das diferentes atuações, detectar conflitos e disputas e,
não existem considerações, por mais gerais que sejam, nem leituras, assim, clemonstrar; em parte, a estrutura e ofuncionamento" (Vilhena
tanto quanto se possa entendê-las, capazes de suprimir as particulari- e Catani, 1998, p.2) da Biblioteconomia brasileira, nos anos
dades do lugar de onde falo e do domínio em que realizo uma investi- 50 e 60. "A imprensa é, talvez, o melhor meio para se compreender as
gação. Esta marca é indelével. No discurso onde enceno as questões dificuldades de articulação entre a teoria e a prática: o senso comum
globais, ela terá a forma do idiotismo: meu patoá representa minha que perpassa as páginas dos jornais e das revistas ilustra uma das
relação com o lugar" ( Certeau, 1982). qualidades principais de um discurso educativo [e biblioteconômico]
que se constrói a partir dos diversos actores em presença (professores,
alunos, pais, associações, instituições)" (Nóvoa, 1993, p.xvii).
A imprensa periódica, na Biblioteconomia, provavelmen-
3
Os Congressos iniciaram-se em 1954, no Recife, com o nome de Congresso Brasilei- te se iniciou com a publicação da revista A Biblioteca (1944),
ro de Biblioteconomia, a partir do segundo, 1959, em Salvador, passaram a ter a
denominação acima. publicada pelo DASP, com a finalidade de divulgar as atividades

30 31
da biblioteca do órgão. Outras publicações são editadas por publicação de trabalhos que venham contribuir para o desenvolvi-
Associações de Classe: BAMBIM (1959), pela Associação de mento da Biblioteconomia e Documentação no Brasil e que tratam de
Bibliotecários Municipais de São Paulo; Notícias daABB (1952) assuntos ligados a estes dois campos" (Editorial, 1972, p.2).
e Bibliotecas e Bibliotecários ( 1957), pela Associação de Biblio- A FEBAB, desde 1960, editava o Boletim Informativo; em
tecários Brasileiros; Boletim Informativo da FEBAB (1960), pela 1973, em substituição ao Boletim, publica trimestralmente a
Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários; Boletim Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação. Em princí-
IBBD (1955), pelo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Docu- pio, o seu objetivo era documentar a legislação bibliote-
mentação- IBBD; Boletim ABDF (1966), pela Associação dos conômica ou correlata. A partir de 1978, inaugura uma nova
Bibliotecários do Distrito Federal. fase, com periodicidade semestral, voltando a sua atenção "às
Ao se referir às publicações periódicas na Bibliote- matérias que tratem de temas técnicos, científicos e educacionais da
conomia, antes de 1970, Fonseca ( 1957, p. 95) afirma que: ''Há Biblioteconomia e Documentação" (Editorial, 1978, p.1). As esco-
poucas revistas especializadas em Biblioteconomia, no Brasil. Impres- las de Biblioteconomia de Pernambuco e Bahia lançam, nos
sas, podemos citar apenas duas: o B.oletim Bibliográfico, da Bibliote- anos 80, os seus Cadernos de Biblioteconomia, ambos de vida
ca Pública Municipal de São Paulo [... ] e o Boletim Informativo do efêmera.
Instituto Brasileiro de Bibliogra[za e Documentação. A primeira é anual A proliferação da Imprensa Periódica Biblioteconômica,
e a segunda bimestral. A Biblioteca do Departamento Administrativo do a partir dos anos 70, ocorreu face a duas situações. A primei-
Serviço Público - (DASP) edita, desde 1944, uma pequena revista im- ra, pelo crescimento dos Cursos de pós-graduação e a segun-
pressa em multilith, com periodicidade irregular: A Biblioteca" da, pelo alerta de Hipólito Escobar, quando esteve no Brasil
A denominação atribuída por este autor- Revistas- con- em 1968, em missão da UNESCO, ao considerar a ausência
trapõe-se à de Souza, F. (1994) e Miranda (1981), quando afir- de periódicos como um dos doze pontos negativos da
mam que estas se iniciaram na década de 70: Ciência da Infor- Biblioteconomia brasileira.
mação, criada em 1972 pelo IBBD, com a finalidade de ser um Inicialmente, estas revistas atendiam a determinados in-
veículo de "divulgação e desenvolvimento da Informação no Brasil, teresses da profissão: "... a R. Esc. Bibliotecon. UFMG veicula arti-
bem como de divulgação das principais atividades do setor de infor- gos sobre Ensino de Biblioteconomia" (Miranda, 1981, p.31), tra-
mação científica e tecnológica"(Editorial, 1972, p.1). Em 1973, a zendo para este assunto contribuições significativas. Acredi-
Associação de Bibliotecários do Distrito Federal (ABDF), com a cola- tamos que algnns avanços ocorridos no ensino devam-se a
boração do Curso de Biblioteconomia da UnB, lança a Revista de esta publicação. A Revista Biblioteconomia de Brasília sobre
Biblioteconomia de Brasília, com a finalidade de ser "um veículo Sistemas de Informação e sobre SDI [Disseminação Seletiva
de comunicação de idéias, experiências e realizações da comunidade de Informação], e a Ciência da Informação, sobre
biblioteconômica brasileira" (Editorial, 1973, p.2). A Revista da bibliometria como reflexo da experiência de grupos e de seu
Escola de Biblioteconomia da UFMG começou a circular nomes- meio ambiente, grupos estes formados por professores ingle-
mo ano da Ciência dalriformação, em 1972, e "destinava-se à ses e norte-americanos, que estiveram ministrando cursos e

32 33
orientando os primeiros mestres em Ciência da Informação Mas, em sendo o nosso interesse de pesquisa as duas
no Brasil. Enfim, estas revistas demostram, nesta fase, uma décadas precedentes aos anos 70, selecionamos o Boletim In-
tendência dos cursos de pós-graduação de Minas Gerais, Rio formativo da FEBAB e o Boletim Informativo do IBBD, IBBD:
de janeiro e Brasília. Inclusive, a Capital Federal_destacou~se Notícias e IBBD: Notícias Diversas, sendo estes, prolongamen-
alguns anos na área de administração e automa;,ao de biblio- tos do primeiro.
tecas, chegando a ser considerada a capital da a) Boletim Informativo da Federação Brasileira de As-
Biblioteconomia". sociações de Bibliotecários-FEBAB.
A centralização em determinadas temáticas da
Biblioteconomia "em vez de constituir-se, portanto, em uma 'políti- Esta instituição, como seu nome indica, congrega todas
ca editorial' consciente, tratar-se-ia mais bem de uma tendência que as associações de bibliotecários. Logo, esta fonte, hipotetica-
podeounãotercontinuidade"(Miranda, 1981, p.31). Atual~ent~, mente, representa o pensamento da categoria, daí a sua in-
observamos que as publicações citadas têm a mesma Identi- corporação nesta pesquisa, além de apresentar periodicidade
dade e interesse, sendo praticamente impossível distinguir- regular.
mos a linha editorial das mesmas. No entanto, supomos que Este Boletim começa a circular em 1960, um ano após a
seja gerenciamento e políticas de informa~ão científica. e criação da FEBAB, com a finalidade de: "... contribuir para o
tecnológica. Certamente esta questao merecena progresso da Biblioteconomia no Brasil. I - mientando os bibliotecários
aprofundamento. . . para a apreciação de novas técnicas e processos; 2 - tornando conheci-
Consideramos Transinformação, reVIsta publicada pelo das, no meio da classe, as reivindicações profissionais; 3- publicando
curso de pós-graduação da PUCCA.LV!P, como a mais eclética, notícias das atividades das Escolas e Associações de Bibliotecários"
na medida em que, além de contemplar os assuntos acima, (Boi. Inf. FEBAB, 1960, p.l).
engloba: Leitura, Estudos de Usuários, Epistemologia da Sendo assim, a publicação procura ren·atar a importãn-
Biblioteconomia, dentre outras temáticas. cia desta Federação, enquanto espaço legítimo da categoria,
Por sua vez, Biblioteca e Sociedade, editada pelo mestrado sustentando que, a partir dela e com ela, as reivindicações
da Universidade Federal da Paraíba, procura firmar-se nesse profissionais seriam atingidas, na medida em que todos unis-
oceano de indecisões editoriais, e retrata a instabilidade teó- sem suas "forças e necessidades" em torno de uma
rica da Biblioteconomia brasileira; ou, ao contrário, será que Biblioteconomia reconhecida, enquanto profissão liberal e de
0 campo está movimentando-se positivamente na teoria e na nível superior, dotada de um currículo único e incorporada
prática ou as revistas publicam assuntos da moda, como fo- ao espaço universitário.
ram re-engenharia, qualidade total da informação, dentre Na apresentação do v.5, n.1/2 de 1962, problemas rela-
outros? No momento, este periódico procura contornar as cionados ao Ensino Superior assumem destaque, sendo pu-
dificuldades financeiras que o impedem de circular com re- blicados diversos dispositivos legais, com a proposta de man-
gularidade. ter os professores e bibliotecários atualizados a respeito das

34 35
mudanças que se processavam neste campo. Mesmo com a "... promover o intercâmbio de informações entre as instituições de pes-
aprovação do currículo mínimo e com o reconhecimento da quisa, no Brasil e no estrangeiro, divulgando os trabalhos técnico-
profissão como de nível superior, matérias dessa natureza se- científicos brasileiros"(L.Q.S., 1955, p.l). Dará destaque, então,
rão editadas até 1968, demonstrando, assim, a luta pela con- às diversas facetas da ciência, podendo-se encontrar desde
quista educacional da Biblioteconomia, em especial, da ne- artigos sobre Física Nuclear até Geografia. Porém, os artigos
cessidade de sua expansão: "Formulado dentro de um plano siste- sobre Biblioteconomia e Documentação ocupam maior es-
mático nas suas linhas gerais eflexível nos aspectos particulares, êste paço, e é onde se evidencia o papel do profissional bibliotecá-
boletim tem procurado oferecer uma visão imediata dos problemas rio e das bibliotecas diante do avanço das pesquisas no Brasil.
de ensino das dificuldades com que se defrontam os profissio- O IBBD, para concretizar sua finalidade, publicará "... bi-
nais responsáveis pelo desenvolvimento da Biblioteconomia bliografias especializadas correntes, guias das instituições de pesquisa
no Brasil". (Boi. Inf. FEBAB, 1962, p.2) (grifo nosso) brasileiras e de suas bibliotecas, o Boletim do Conselho Nacional de
Ainda neste sentido, pretendia: "... oferecer facilidades de Pesquisa e êste Boletim, editados de preferência em português e inglês"
acesso a matéria de interesse das Eseolas de Biblioteconomia e de (L.Q.S., 1955,p.l).
todos aqueles que se interessam pelos assuntos da Educação" Este Boletim pretendia "... dar notícias atuais e de interesse
(Bol.Inf. FEBAB, 1962, p.2) (grifo nosso). para a pesquisa bibliográfica registrando o que se passa no mundo
A divulgação das atividades científicas desenvolvidas no científico e tecnológico brasileiro, principalmente o que estiver relacio-
país e no estrangeiro no campo de Biblioteconomia e Docu- nado com os trabalhos do Conselho Nacional de Pesquisa e institui-
mentação, os trabalhos das comissões nacionais (catalogação, ções que lhe são relacionados"(L.Q.S., 1955, p.l).
classificação etc.) e notícias de interesse dos bibliotecários Estas informações contidas no artigo A Razão de Ser Deste
ocupam parte significativa da publicação, possibilitando a iden- Boletim, assinado por L.Q.S. (Lydia de Queiroz Sambaquy),
tificação dos movimentos ocorridos na década de 60. É evi- alerta aos leitores que na sua fase inicial seria falho e incom-
dente que, dependendo das reivindicações profissionais, uma pleto, mas, vencidas as primeiras dificuldades, poderia "... ser-
mesma temática estende-se por vários números ou vários anos. vir como primeiro veículo para o contato permanente que cabe a este
A partir de 1968 até 1970, a sua circulação é subvenci- instituto criar e manter entre as instituições nacionais e estrangeiras "
onada pelo Instituto Nacional do Livro, quando é substituí- (L.Q.S., 1955, p.2).
do, em 1970, pela Revista Brasileira de Biblioteconomia e Docu- Em todos os artigos publicados, se manifesta a idéia se-
gundo a qual o bibliotecário seria aquele que atenderia aos
mentação.
anseios· da ciência. Logo, deveria conhecer as terminologias
b) Boletim Informativo do Instituto Brasileiro de Biblio-
das áreas em que atuava. Desta forma, obteria "status" e res-
grafia e Documentação- IBBD
peito profissional junto à comunidade científica e à socieda-
Em sendo uma publicação do mais importante órgão de em geral, discurso que encontra ressonância nos cientis-
de informação e documentação da época, foi criado para tas defensores da categoria, a exemplo de Paulo Sawaya. Daí

36 37

L
~--~--------- ·----.

a insígnia encontrada em todos os trabalhos que tratam do ou de uma personagem diz respeito à localização das fontes,
bibliotecário: Servo dos Servos da Ciência. na medida em que são elas o foco de sustentação dos objetivos
Para corresponder a esta "necessidade científica", são pretendidos. Aí se estabelece um primeiro problema: o seu
promovidos diversos cursos de especialização, ministrados por rastreamento, geralmente lacunar, parcelar e residual, para
bibliotecários que tratavam dos conteúdos específicos e, por empregar expressões de Nunes e Carvalho (1994, p.23). No
cientistas que introduziam conhecimentos das Ciências Físi- Brasil, este problema é comum e exige do pesquisador atitu-
cas e Naturais, Ciências Médicas e Tecnológicas. des de "garimpeiro", muitas das vezes por caminhos difíceis e
tortuosos. A dificuldade de obter o material desejado centra-
A partir de 1961, ao mudar de nome paraiBBD: Notícias
se, entre outras coisas, na carência de políticas públicas em
Diversas, centra-se na Biblioteconomia e na Documentação.
todos os níveis para arquivos e bibliotecas, aliada, ainda, ao
Nesta fase, a periodicidade é bastante irregular. Em 1967, ocor-
estereótipo difundido entre os brasileiros, que faz acreditar
re uma nova mudança no título, agora IBBD: Notícias, mas a
que documentos antigos, por serem velhos, são destituídos
linha editorial permanece até 1975, quando cessa de circular.
de valor: "São inúmeros os documentos que as traças, o mofo e a
A Imprensa Periódica em si m€sma não se constituiu em
umidade destroem. Outras vezes, é o fogo que serve de arquivo, e o
material suficiente para caracterizar o movimento do campo da
passado vira fumaça. É verdade que muitos abnegados vêm lutando
Biblioteconomia, tal como está presente nesta pesquisa. Sendo
para a preservação de importantes documentos e arquivos, embora
assim, recorremos a outras fontes publicadas no período abran-
nem sempre contêm com os recursos necessários a essa tarefa, situação
gido pelo estudo ou àquelas que se reportam a ele, como teses,
que conspira contra a- tão necessária- soma de conhecimentos e expe-
anais de congressos, artigos de jornais e revistas e livros.
riências. Aquilo que é apresentado como novo e original, muitas vezes
Esclarecemos, entretanto, que, para alguns estudiosos das
já tem uma longa história, desconsiderada ao se pensarem ações futu-
fontes documentais, os materiais utilizados nesta pesquisa de-
ras" (Ribeiro, 1996, p.19).
nominam-se de documentos não-convencionais; para outros,
Com a finalidade de ampliarmos os discursos contidos
de literatura cinza. Com a finalidade de evitarmos senões
nas fontes documentais e também como forma de confron-
conceituais, optamos pelo termo Imprensa Periódica, por con-
tar o texto com o vivido, entendido como o conjunto de ex-
templar todo o tipo de material impresso relativo a uma dada
periências e atuações de personagens que contribuíram para
área: relatórios, boletins, folders, artigos de jornais e revistas.
a constituição do campo da Biblioteconomia brasileira, reali-
Isso se alia ao fato de que o uso deste termo vem sendo
zamos algumas entrevistas, na medida em que "... possibilitam
utilizado pela Educação, na França, por Pierre Caspard (1981),
recuperar aquilo que não encontramos em documentos de outra natu-
pioneiro neste tipo de investigação, em Portugal, por Antô-
reza: determinados acontecimentos pouco esclarecidos ou nunca evo-
nio Nóvoa (1993), na Itália, por Dario Ragazzini (1986) e, no
cados, experiências pessoais, impressões particulares etc" (Alberti, 1990,
Brasil, por Nunes e Carvalho (1994) e Vilhenae Catani (1998).
p.5). Possibilitam-nos, ainda, um outro olhar, que muitas das
Uma questão a ressaltar é que quando pretendemos
vezes a fonte não permite, posto que, ao mesmo tempo em
construir a história de um campo de saber, de uma instituição

38 39
que ela revela o fato histórico, o esconde. Logo, o uso desta encontrar o equilíbrio entre umas e outras. Também, é a
metodologia contribuiu para desvelar as práticas de "...pessoas maneira como olho a Biblioteconomia como bibliotecário,
que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjuntu- usuário de biblioteca, professor e cidadão.
ras, visões de mundo ... "(Alberti, 1990, p.S), enfim, da trajetória Portanto, este trabalho- etapa de um processo de apren-
histórica da Biblioteconomia brasileira. dizagem -foi elaborado não somente pelas fontes e os discur-
A seleção dos entrevistados foi realizada pela incidência sos, mas, e principalmente, tentamos imbuí-lo de emoção; ao
de publicações na Imprensa Periódica da área e pela partici- contrário, seria uma atividade para obtermos título acadêmi-
pação nos movimentos associativos e educacionais da co, limitada aos rigores do fazer ciência.
Biblioteconomia nos anos 50 e 60. Deste modo, entrevista- Daí, defendermos e explicitarmos idéias que certamen-
mos os seguintes bibliotecários: Edson Nery da Fonseca, Ma- te serão compactuadas por alguns companheiros e rechaçadas
ria Antônia Pinke Belfort de Mattos, Maria Helena de Toledo por outros. Entretanto, entendemos que somente evoluímos
Barros, Esmeralda Aragão, dentre outros. como SER, quando colocamos o nosso saber e o nosso pen-
As entrevistas não obedeceram a um roteiro sar sobre a mesa dos "inquiridores".
preestabelecido- com exceção do Prof. Edson N ery da Fonseca Deste modo, como em qualquer trabalho científico, é
e da Profª. Esmeralda Aragão, que sugeriam que as perguntas natural apresentá-lo em módulos, a fim de facilitar a sua
lhes fossem enviadas -, na medida em que pretendíamos obter fruição. Assim, estruturamos este estudo em seis capítulos, que
o maior número de informações; havendo necessidade, algu- se dividem em itens. Todavia, a divisão apresentada não se
mas interferências foram realizadas, com a finalidade de escla- constitui em quadros estanques, mas em idéias que se enca-
recermos dúvidas e obtermos mais dados sobre os aspectos rela- deiam, se harmonizam, se fundem.
tados pelos entrevistados. Neste sentido, ensina-nos Thompson No segundo capítulo, tratamos de discutir o movimen-
(1992, p.271): 'Vma entrevista não é um diálogo, ou uma conversa. to fundador do campo educacional da Biblioteconomia, na
Tudo o que interessa éJazer o informantefalar. Você deve manter-se o mais Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro e em São Paulo. Algumas
possível em segundo plano, apenas, fazendo algum gesto de apoio, mas fontes documentais foram fundamentais para a sua elabora-
não introduzindo seus próprios comentários ou hist&rias ". ção, como os Anais da Biblioteca Nacional, do mesmo modo
Os depoimentos foram gravados, transcritos e depois alguns artigos publicados nos jornais paulistas dos anos 20 e
categorizados de acordo com os itens eleitos para a pesquisa: 30. Por último, abordamos a expansão a partir dos anos 40 do
ensino de Biblioteconomia, formação profissional, práticas Ensino de Biblioteconomia no Brasil.
profissionais e regulamentação da profissão. No capítulo seguinte, fazendo uso da Imprensa Periódica
HISTÓRIA DA BIBLIOTECONOMIA BRASILEIRA Biblioteconômica, tratamos de evidenciar os discursos em torno
representa o modo como leio o mundo, sendo homem e ra- do papel e da função do bibliotecário ideal, aquele que serviria
cional, procurando em alguns momentos assumir atitudes como auxiliar dos cientistas. Daí os discursos centrarem-se na
dionisíacas e, em outros, atitudes apolíneas, cuja pretensão é sua necessária e imprescindível especialização e atualização.

40 41
Para finalizá-lo, nos reportamos à concepção do bibliotecário
como Servo dos Servos da Ciência e às críticas feitas por cientistas
como Paulo Sawaya, às práticas bibliotecárias e às estratégias
utilizadas para garantirem sua permanência no campo face à
penetração de atores estranhos ao mesmo.
As lutas para legitimar o campo, dando-lhe respaldo le-
gal, maneiras pelas quais os bibliotecários garantiriam o seu
espaço profissional, são o foco central deste capítulo, o quar-
to. Portanto, analisamos as estratégias políticas dos bibliote-
cários para a aprovação da Lei 4.082/62. Para escrevê-lo, nos
apropriamos dos relatórios das Comissões por onde tramitou
o projeto encaminhado pela FEBAB, levado à discussão no
Congresso Nacional pelo Deputado Rogê Ferreira. Com o
estabelecimento desta lei, um corp;; de dispositivos burocráti-
CAPÍTUL02
cos é criado: Conselhos Federal e Regionais de Bibliotecono-
mia, Código de Ética Profissional. Em sendo, a FEBAB, a ins-
tituição que contribuiu para constituir, em termos legais e
O MOVIMENTO JiVNDADOR DAS
associativos, a Biblioteconomia, fez-se necessário incluir a sua DIMENSÕES EDUCATIVAS DA
trajetória, com o objetivo de situá-la no campo. BIBliOTECONOMIA DO BRASIL
No quinto capítulo, tratamos de evidenciar a constitui-
ção do campo da Biblioteconomia, nos anos 50 e 60. Para A trajetória das bibliotecas no Brasil iniciou-se com as
tanto, se fez necessário discorrermos sobre os movimentos ordens religiosas dos Beneditinos, Franciscanos e Jesuítas.
para constituí-lo; os encontros e eventos que procuram justi- Entretanto, tomaremos como marco inicial, deste primeiro
ficar a sua importância no âmbito universitário, os modelos momento do trabalho, a criação da Bibilioteca Nacional-BN,
de formação, humanista e pragmático, a padronização das gênese do movimento fundador do campo de ensino da
escolas e uniformização dos saberes escolares. Os discursos Biblioteconomia no Brasil. Essa biblioteca é remanescente
em torno da especialização do bibliotecário levaram-nos a da Biblioteca Real da Ajuda, criada por D.João I, rei de Por-
abordar, preferencialmente, os cursos oferecidos pelo IBBD, tugal, depois do terremoto de l de novembro de 1755, que
que tinham esta finalidade,justificando-se, assim, a inclusão
destruiu a antiga Biblioteca Real.
da trajetória deste órgão. Em seguida, as Considerações Fi-
Com a invasão das tropas francesas de Junot, a família real
nais, e as Fontes Bibliográficas referenciadas nesta pesquisa.
portuguesa, sentindo-se ameaçada, refugiou-se na colônia mais
próspera, trazendo nos porões dos navios os instrumentais ne-

42 43
cessários ao seu bem-estar social, cultural e artístico, dentre eles vação do material, passa a ocupar, também por determina-
"... a numerosa erica livraria pacientemente amontoada pelo douto ahbade ção do Príncipe Regente, as "catacumbas", que até então ha-
de Santo Adrião de Sevér, Diogo Barbosa Machado, que generosamente a viam servido aos religiosos desta ordem. Pela relevância his-
offertara aD.Joséi"(Biblioteca Nacional, 1887, p.221). tórica deste ato, o transcreveremos:
Assim chegaram ao Brasil, por força das pressões polí- "Havendo ordenado, por Decreto de 2 7 deJunho do presente anno,
ticas, as primeiras obras, origem da Real Biblioteca, também que nas casas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à mi-
denominada de Biblioteca do Rio de Janeiro, da Corte. Ratniz nha Real Cappela, se colosassem a minha Real biblioteca egabinete dos
Galvão, ao descrever a coleção bibliográfica trazida por D. instrumentos de phisica e mathematica, vindos ultimamente de Lisboa e
João VI em 1808 e por Luis Marrocos em 1811, sendo esta a constando-me pelas últimas averiguações a que mandei proceder, que o
segunda leva de livros e peças para a real Biblioteca, afirma dito edifício não tem toda a luz necessária, nem offerece os commandos
que: "Não se sabe, o que mais se deva admirar, se a excellencia das indispensáveis em hum estabelecimento desta natureza, e que no lagar
edições raras, se a belleza dos exemplares preferidos pelo douto que havia servido de catacumba aos Religiosos do Carmo se podiaJazer
collecionador, se emjim a boa ordem e perJeição das colleções jacticiais, huma mais própria e decente accomodação para a dita livraria, hei por
prodígio de perserverança e de cuidado. Estão nelles reunidas quasi bem, revogado o mencionado Real Decreto de 27 deJunho, determinar
todas as províncias do saber humano, representado pelas suas obras que nas ditas catacumbas se erija e accomode a minha Real Biblioteca e
mais dignas de nota e estima"(Galvão, 1889, p.159). instrumentos de phisica e mathematica, jazendo-se à custa da Real Fa-
Segundo Rubens Borba de Moraes, a coleção de Diogo zenda toda despeza conducente ao arrajamento e manutenção do referi-
Barbosa Machado dividia-se em três grupos. O primeiro, de do estabelecimento[... ]- Palácio do Rio deJaneiro, em 20 de Outubro
obras diversas, continha edições de clássicos portugueses e de 1810- Coma rubrica doPrincipeRegenteNossoSenhor"(Bibliote-
espanhóis, latinos e obras religiosas. A segunda, a coleção ca Nacional, 1889, p.223).
de folhetos, "organizada de modo bárbaro e estranho", isto No ano posterior a sua fundação, é franqueada ao pú-
é, quando os folhetos para serem encadernados eram gran- blico, mas facultada apenas aos estudiosos, àqueles que obti-
des, ele os cortava e quando pequenos os emendava. Assim, nham consentimento régio. Em 1814, é suprimida esta exi-
Diogo Barbosa formou uma coleção de folhetos em 85 volu- gência, ficando totalmente aberta à população. Como as bi-
mes. A terceira, a coleção de retratos, era "formada de modo bliotecas brasileiras no tempo colonial, a Biblioteca Nacional<,
também excêntrico": os retratos recortados de outros impres- nas suas primeiras décadas, foi gerenciada por religiosos, que
sos depois colados em folhas em branco e para enfeitá-los vieram, alguns, com a família real. Os primeiros, Frei Gre-
recortava tarjas ou moldura de um outro livro. gório José Viegas, da Ordem Terceira de São Francisco, Pe.
A princípio o acervo foi instalado nas salas do andar
superior da Ordem Superior Terceira do Carmo, em 1810, 4 Sobre as biblioteca brasileiras no tempo colonial. consultar as seguintes fontes: LESSA,
ano considerado como de sua fundação. Contudo, não ten- Clado Ribeiro de. As Bibliotecas nos tempos colonias. Revista do IHGB, v.192, p.339-
345,abr./jun., 1946. MORAES, Rubem Borba de. Livros e Bibliotecas no Brasil
do o ambiente as condições necessárias para a devida conser- Colonial. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979.234p.

44 45
Joaquim Damaso, da alguns velhos catálogos ou a Jazer novos índices incompletos,
Congregação do summarios e incorrectissimos". Entretanto, Camillo de
Oratório de Lisboa, Monserrate teve como primeira preocupação requerer do
Frei Antônio de governo um novo prédio para comportar adequadamente
Arróbida, também o acervo sempre crescente, na medida em que o antigo, da
franciscano. Em se- Ordem Terceira do Carmo, não atendida mais às necessi-
guida, Pe. Felisberto dades. Desta forma, consegue a transferência da Bibliote-
Pereira Delgado e ca para um prédio no Largo da Lapa, dedicando-se em se-
Cônego Francisco guida à organização dos velhos catálogos que, para os bi-
Vieira Goulart. bliotecários, eram "... o primeiro dever do officio, e nem se pode
"Goulart dirigiu a Bibli- conceber bibliotheca, sem essa fonte de luz e sem esse fio directo, que
oteca como ajudante de o publico reclama com razão"(Galvão, 1889, p.121).
bibliothecario até 11 de Contudo, o grande problema enfrentado por este
janeiro de 1837 e como diretor era a falta de pessoal qualificado e em quantidade su-
bibliothecario d 'ahi em ficiente para desenvolver todas as atividades requeridas e que
diante até sua morte, COITespondessem aos seus planos de organização: "A verdade
ocorrido a 21 de agosto é que salvas as poucas excepções, eram todos destituídos de habilitações
de 183 9, em Niteroy " clássicas, e alguns d 'elles verdadeiros illetrados, que só por ironia da
(Biblioteca Nacional, sorte se achavam empregados em tractar de livros. Os poucos hábeis e
1889, p.236). Com a talvez competentes para trabalhos de certa ordem nada se demoravam
sua morte, coube a direção ao cônego Antônio Fernandes da na Bibliotheca, ou viviam no gôzo de quasi constantes licenças, e pro-
Silveira, até 5 de novembro de 1839, quando tomou posse o
curavam a todo custo empregos bem remunerados em outras reparti-
Cônego ]anuário da Cunha Barbosa. Após o seu falecimen-
ções, porque os da Bibliotheca não davam nem para garantir modesta
to, em 1846, é nomeado o Dr. em MedicinaJosé de Assis Bran-
subsistência" (Galvão, 1889, p.121).
co Muniz Barreto, o primeiro não religioso. Com sua prema-
Este problema parece ter sido comum na Biblioteca
tura morte é nomeado Jorge Estanislau Xavier Luis Camillo
Nacional. No relatório de 15 de janeiro de 1898, referente ao
Cléau, Frei Camillo de Monserrate, a quem Ramiz Galvão ho-
ano anterior, o então diretor, João Alexandre Teixeira de
menageia, publicando em 1887 a sua biografia, que constitui
Mello, afirma que problemas com o pessoal comprometeram
o volume XII dos Anais da Biblioteca Nacional.
o desenvolvimento de várias atividades, pois muitos eram
Ao comparar a administração deste com as anterio-
faltosos e licenciados por motivos de doença (Biblioteca Na-
res, Ramiz Galvão (1889, p.122), afirma que aqueles se li-
mitavam às atividades de expediente, "... ao mandar copiar cional, 1898, p.287). No relatório de 1900, do mesmo diretor,

46 47
esta questão reaparece, acrescida de mortes e moléstias (Bi- Além de CaJf>is-
blioteca Nacional, 1900, p.245). Manuel Peregrino da Silva, trano de Abreu,
ao se reportar, no relatório de 1907, à carência de pessoal, con- obteve o primeiro
fere ao problema o caráter de centro do desprestígio da bibli- gar, concorreram
oteca frente ao público (Biblioteca Nacional, 1907, p.293). vaga de oficial: '-'"'u"1-
Com a morte de Camilo de Monserrate, assume a direção da rel Misael Pe
biblioteca Benjamin Franklin Ramiz Galvão, imprimindo Pena, Alexandre
novas formas organizacionais adquiridas em viagem que rea- dido da Mota e ru•cv-
lizou à Europa5 , por incumbência do governo brasileiro.
Dentre as várias mudanças, destacamos o estabelecimen- Morais, sendo a
to de um regulamento, em 1879, no qual divide a biblioteca ca examinadora
em três seções: impressos, cartas geográficas, manuscritos e mada pelos chefes da
estampas. O horário de atendiménto ao público é ampliado seções do BN: João Saldanha da Gama, Alexandre Teixeira
das 9 às 11 e das 18 às 21 horas e modificado o quadro de de Melo e José Zeferino de Menezes Brum, como presidente
pessoal, que passou a ser composto de um bibliotecário, três Ramiz Galvão, e secretário Alfredo do Vale Cabral. Os pontos
chefes de seção, três oficiais, um secretário, oito auxiliares, das provas foram: Os Grandes Navegadores do século XV e seus
um guarda e um porteiro. Descobrimentos, em História Universal; Produtos naturais, indús-
Uma grande marca de sua administração foi a realiza- tria, comércio e navegação no Brasil, em Geografia; Os épicos por-
ção de concursos públicos para preenchimento de cargos, em tugueses e Moral individual e religiosa, em Literatura e Filosofia,
especial de bibliotecários. Tais concursos requeriam conheci- respectivamente.
mentos de História Universal, Geografia, Filosofia, Bibliogra- Cada prova disser-
fia, Iconografia, Literatura, Catalogação de Manuscritos e tra- tativa, durava em tor-
duções do Latim, Francês e Inglês, sendo aprovado, no pri- no de 4 horas. No dia
meiro concurso para bibliotecário, o historiador João seguinte, 2 de julho
Capistrano de Abreu (Fonseca, 1957, p.94). Dias (1955, p.6), de 1879, foram reali-
considera este concurso o marco inicial da formação profissi- zadas as provas de
onal em Biblioteconomia no Brasil. Línguas, Bibliografia,
Iconografia e Classifi-
• cação de Manuscri-
5
Esta viagem resultou na obra em forma de relatório Bibliotecas Públicas na Europa tos. Nos anos poste-
(1875), onde descreve a organização das mesmas e como havia de serem adotados
no Brasil esses procedimentos. riores, realizaram-se

48 49
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outros concursos, cujas disciplinas eram as mesmas. lamento para a Bi-


"Pela [sua] enumeração [... ] é fácil avaliar o grau de cultura blioteca Nacional,
humanística exigido aos candidatos às vagas ocorridas nos qua- aprovado pelo De-
dros da Biblioteca Nacional" (Dias, 1954, p.4). Este conteúdo creto 8.835 de 11 de
demonstra-nos que Ramiz Galvão concebia que o bibliote- junho de 1911 (Bra-
cário deveria ser ao mesmo tempo um erudito e um técni- sil, 1911, p.243). O
co. Interessa destacar que estes concursos seguiam os mo- primeiro capítulo
delos da École de Chartes de Paris, que foi a primeira esco- trata da estruturação
la criada no mundo para formação de pessoal para as bi- da BN, ficando a
bliotecas. mesma dividida em
Cabe ressaltar que o termo bibliotecário passou a ser quatro seções:
utilizado, na Biblioteca Nacional, a partir de 1824, quando a)Impressos -
da aprovação do segundo dispos·itivo legal- Artigos Regula- Seção que abrangia
mentares para o Regimento da Bibliotheca Imperial e Pública - livros, folhetos, pu-
elaborado pelo frei Antonio de Arróbida. Nesse documen- blicações periódicas,
to, após a Independência do Brasil, troca-se a denomina- músicas impressas e impressos avulso;
ção Biblioteca Real por Biblioteca Imperial e o administra- b)Manuscritos -Abrangia manuscritos, obras de
dor geral, até então chamado Prefeito ou Zelador, passou a paleografia e diplomática;
chamar-se Bibliotecário. c) Estampas- Seção onde estavam armazenados de-
Segundo Carvalho (1994, p.47), o que houve foram senhos, chapas gravadas, fotografias, cartas e coleções ge-
apenas mudanças de nomes, mas as atribuições perma- ográficas, planos e obras de iconografia;
neceram as mesmas com preocupação acentuada na am- d)Moedas e Medalhas- abrangia cédulas, vales, con-
pliação do acervo em detrimento de sua organização e decorações, títulos representativos de valor, distintivos,
conservação. jetons e obras de numismática, sigilografia e filatelia.
Com a Proclamação da República, a única modificação As primeiras seções eram dirigidas por bibliotecários e
digna de nota foi a mudança do nome de Bibliotecário para a última por um sub-bibliotecário diretor. Os sub-bibliotecári-
diretor e de Biblioteca Imperial para Biblioteca Nacional. os não-diretores tinham como atribuição executar os serviços
Em 1897, assume a direção o Dr. Manoel Cícero Pere- solicitados pelos bibliotecários, além de fiscalizar os trabalhos
grino da Silva, que marcaria uma nova fase na biblioteca e dos demais empregados, distribuindo, conservando e colo-
para o campo da Biblioteconomia no Brasil. Na adminis- cando os objetos da seção e substituindo os bibliotecários
tração de Peregrino da Silva é estabelecido um novo regu- quando impedidos por motivos de férias e licenças.

50 51
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r
i No artigo 10, do referido decreto, que descreve as atri- A trajetória do Ensino de Biblioteconomia no Brasil: o caso da Bi-
buições do sub-bibliotecário, observamos que não há dife- blioteca Nacional
renças significativas entre as sua funções e do bibliotecário
a não ser que não poderia participar das decisões do Con- O Curso de Biblioteconomia, criado na BN 6 , tinha
selho Consultivo, quando o mesmo deliberasse sobre pre- como objetivo sanar as dificuldades existentes na bibliote-
enchimento de cargos de bibliotecário. ca, há gerações, quanto à qualificação de pessoal. Daí a cons-
A partir deste regulamento, o quadro de pessoal ficou tituição de quatro disciplinas, que se desdobravam em cinco
distribuído entre os não nomeados e os nomeados, sendo matérias:
este formado pelo: diretor geral, 3 bibliotecários diretores de
seção, 5 sub-bibliotecários, um dos quais será o diretor da 4. ª
seção, 5 oficiais, 14 amanuenses, 16 auxiliares, I porteiro, 2
• Administração de Bibliotecas • Cartografia • Sigilografia
ajudantes de porteiro, 1 mecânico-eletricista, 1 inspetor téc- • Catalogação • Filatelia
nico das oficinas gráficas e de enéadernação. Os não nomea-
dos eram constituídos por: 12 guardas; 28 serventes; 4 aju- Por diversos motivos, o curso criado em 1911 somente
dantes de mecânico-eletricista; 4 ascensoristas; pessoal das iniciaria suas atividades em 1915, "fato que teve grande reper-
oficinas gráficas e de encadernação. cussão nos meios educacionais do Distrito Federal" (Dias,
Os artigos 34 a 45 e o artigo 137 deste decreto são da 1955, p.4). Em 1912, o curso da Biblioteca Nacional não pôde
maior relevância para o estudo da Biblioteconomia brasi- funcionar por desistência dos inscritos, na maioria funcioná-
leira, sendo que o segundo trata dos Serviços de Permutas rios da própria instituição. Provavelmente, com as mudanças
Internacionais de Bibliografia e Documentação, e os primeiros, realizadas pelo novo regulamento, o processo de adaptação
do Curso de Biblioteconomia. A criação do serviço de Bi- dos empregados reduziu a disponibilidade de tempo para eles
bliografia demonstra o quão eram avançadas as idéias de participarem de uma outra atividade, no caso o recém-criado
Peregrino da Silva: "... a organização, segundo o systema de clas- curso. Ainda, pela transferência do diretor da primeira seção,
sificação decimal e por meio de fichas, do repertório bibliographico impressos, para a segunda, manuscritos, uma vez que o mes-
brazileiro como contribuição para o repertório bibliographico uni- mo "... não se julgou devidamente preparado para a inauguração
versal, de modo a comprehender as obras de autores nacionais ou immediata do curso, encargo que só poderia tomar para si no anno
estrangeiros impresso ou editados no paiz, as de autores nacionaes
impressas no estrangeiro ou inéditas e as de autores estrangeiros 6 Vários autores, alguns citados neste trabalho, que tratam da História da Biblioteconomia
que se occuparam especialmente do Brazil, incluídos os artigos afirmam que este foi o primeiro Curso criado na América Latina; no entanto, no docuM
menta Análises de los Informes sobre el Estado Actual de la Profesión
insertos em publicações e os escriptos de qualquer natereza" (Bra- Bibliotecaria, constamos queo primeiro Curso foi fundado em Buenos Aires, pelo
Conselho de Mulheres da Argentina, em 1903, sendo o segundo o do Brasl!, Biblioteca
sil, 1911, p.352). Nacional.

52 53
seguinte, e o director da seção de impressos, por ocupar o cargo interi- positivo para o curso e os exigidos no concurso para bibliote-
namente, declarou que não fizera os estudos necessários para assumir cário, instituído por Ramiz Galvão, no qual foi aprovado
as responsabilidades da aula de bibliographia" (Biblioteca Nacio- Capristano de Abreu. Em resumo, era condição, para ser bi-
nal, 1939, p.439). Peregrino da Silva, justifica que a falta de bliotecário, possuir cultura geral o que incluía, além de co-
professores poderia ser um problema facilmente soluciona- nhecimento da língua materna, demonstrado em prova es-
do com a contratação de substitutos, se os funcionários, na- crita, saberes universais nos diversos campos, aliados aos do-
quele ano, não tivessem desistido das inscrições. mínios dos idiomas falados nas Artes, Ciências e Letras.
Ao se reportar ao Curso de Biblioteconomia, no relató- Esta primeira turma, composta inicialmente de vinte e
rio de 1915, referente a 1914, Peregrino daSilvaafirmaque o um alunos, é acrescida de mais seis por determinação do então
mesmo não havia funcionado por falta de candidatos: "É para Ministro daJustiça e Negócios Interiores, Dr. Carlos Maximiliano
sentir que não tenha sido possível até agora colher os resultados benéfi- Pereira dos Santos. Não fica evidenciado, no relatório de 1916,
cos que do funcionamento do curso se devem esperar não só em relação se estes últimos atendiam aos critérios exigidos para ingresso
ao estabelecimento, em cujo proveito reiultarão os conhecimentos técni- no curso, podendo tal dado configurar o fisologismo no ensi-
cos que foram ministrados aos que nelle trabalharam ou pretendem ser no da Biblioteconomia Brasileira no seu início.
admitidos, como também em relação a estes, pois o certificado de As aulas se iniciaram em 12 de abril, mas dois dias antes
approvação nas matérias do curso constituirá uma razão de preferên- Dr. Constantino Antonio Alves, diretor da seção de Bibliogra-
cia para as nomeações, uma circumstância digna de nota nas promo- fia da BN, proferiu a aula inaugural que evidenciava A Funcção
ções e uma condição indispensável para a elevação ao cargo de do Bibliothecario. Esse diretor seria responsável pela disciplina
bibliothecario devendo valer além d 'isto por um título de recomenda- que tinha o mesmo nome da seção que coordenava. As de-
ção para os que se propuzerem exercerfunções nas demais bibliothecas mais disciplinas, Paleografia e Diplomática, seriam ministra-
dopaiz" (Biblioteca Naciona1,)915, p.684-685). das por José Carlos de Carvalho; Aurélio Lopes de Souza fica-
Em 1915, abertas as inscrições de 15 a 31 de março, vin- ria com a cadeira de Iconografia e João Gomes do Rego, com
te e um cadidatos foram aceitos por atenderem às condições a Numismática.
determinadas pelo regulamento de 1910, no seu Art. 36, as Estas disciplinas eram subdivididas em uma parte teóri-
quais constavam de exame de admissão, que se compunha ca e outra prática, com duração de uma hora/ aula por sema-
de prova escrita de português e provas orais de Geografia, Li- na para cada uma delas, podendo ser ampliada, na medida
teratura, História Universal e de Línguas: francês, inglês e la- em que houvesse necessidade de aprofundar as práticas: ''De
tim. Contudo, estavam dispensados os candidatos admitidos Bibliographia foram dados os 30 pontos do programma, com a parte
anteriormente em escolas superiores ou aqueles aprovados practica, em 31 lições; de paleografia e diplomática também 30, com 0
para a carreira de bibliotecário. Vê-se, portanto, que não há esgotamento do programa e nas mesmas condições, em 47 aulas; de
diferença entre os critérios de ingresso adotados por este dis- iconografia os 29 nelle inscriptos, em 32 aulas, incluída igualmente a

54 55
practica da matéria; de numismática, finalmente, houve 31 aulas, serem aprovados, deveriam obter 16 pontos no mínimo. To-
em que se leram os 24 pontos do programa com a parte practica" davia, só poderiam se submeter aos exames finais, em dezem-
(Biblioteca Nacional, 1916, p.366). bro, aqueles alunos que tivessem cumprido mais da metade
Os programas destas disciplinas eram bastante extensos das aulas. Os aprovados realizavam estágios, sem remunera-
e abrangiam diversos conteúdos. A disciplina Bibliografia, que ção, nas diversas seções da Biblioteca Nacional, com acompa-
compunha o currículo dos anos 40, por exemplo, constava de: nhamento de um bibliotecário. Não fica evidenciado no Arti-
"1 )Bibliografia. Noções preliminares; 2) Tipografia. Composição e im- go 42, do regulamento, já citado, se esta exigência do estágio
pressão; 3) O livro. Ornamentação. flustração. Ex-Libris. Formato; 4) era restritiva aos não-funcionários da BN.
Encadernação; 5) O papel. História efabricação; 6) Conservação e res- Na conclusão do relatório de 1915, Aurélio Lopes de Sou-
tauração de Livros; 7) Invenção da imprensa. Transição do livro ma- za, diretor interino, ao se reportar ao curso de Biblioteconomia,
nuscrito para o impresso. Primeiros impressores; 8) Características do afirma que: "Apesar do resultado do curso de 1915, penso que não há
livro antigo e moderno. Incunábulos e cimélios. Livros raros epreciosos. como desconhecer a vantagem de tão útil creação. Certo ella fructificará,
Falsificação bibliográfica; 9) Ojornal. A revista. Ofolheto. Publicações e é de crer se torne uma fonte de grandes beneficios para o conhecimento
periódicas; 10) Classificações. Sistemas principais; 11) Classificações mais profundo e, portanto, mais proveitoso, em nosso paiz, da
decimal, suas codificações; 12) Catalogação. Arrumação dos livros e bibliographia e das outras sciencias que geralmente com ella se associ-
preparo para a catalogação. O bilhete sistemático. A ficha; 13) O catálo- am "(Biblioteca Nacional, 1916, p.367).
go. Fontes de informação. Repertórios; 14) A imprensa no Brasil. Livros O Curso da BN funcionou regularmente até 1922. Contu-
ejornais. Impressores e editores. Bibliografia Nacional. Fontes de Infor- do, com o estabelecimento do Regulamento do Museu Histórico
mação; 15) Bibliotecas; História. Construção. Iluminação. Mobiliário; Nacional, em 2 de Agosto de 1921, é criado um CURSO
16) A Biblioteca Nacional do Rio de janeiro. Fundação efases do seu TECHICO, que tinha a finalidade de formar profissionais para
desenvolvimento. Bibliotecas no Brasil; 17) Organização e Administra- atuarem nesta instituição, a Biblioteca Nacional e no Arquivo
ção das Bibliotecas. Pessoal. Estudos gerais e técnicos. Exames e concur- Nacional. Logo, o curso da BN: "Para ajustar-se à nova situação
sos; 18) Secretaria e Arquivo. Legislação. Regulamentos. Direitos auto- substituiu o Regulamento da Bibliotheca, de 6 de Setembro, o sobredito
rais; 19) Serviço de Informações. Serviço de permutas internacionais. curso profusional denominado de Biblioteconomia, pelo instituído no
Empréstimo domiciliar. Aquisição e remessa de livro, de manuscritos, de MuseuHistórico"(BibliotecaNacional, 1916, p.367). Este curso teria
estampas e peças de numismáticas para as seções. Oficinas gráficas" a duração de dois anos e seria composto de oito disciplinas:
(Werneck, 1944, p.43). 1. ano: a) História Literária
Após o término das aulas, os alunos submetiam-se aos b)Paleografia e Epigrafia
exames finais por disciplina, que consistiam de provas escri- c)História Política e Administrativa do Brasil
tas e práticas, em duas horas para cada uma delas e, também,
d)Arqueologia e História da Arte
provas orais, theorico-praticas, não excedendo meia hora. Para

56 57
2. ano: a) Bibliografia
Logo, a criação deste novo curso, o CURSO TECNICO,
b) Cronologia e Diplomática
não saiu do papel que o institui, menos por este motivo, mas
c) Numismática e Sigilografia principalmente, pela "... lei dos adidos que mandava aproveitar os
e) Iconografia e Cartografia (Biblioteca Nacional, funcionários em disponibilidade, [para os cargos de Bibliotecários,
1916, p.452) arquivista, arqueólogo e paleógrafos] que fez com que nunca funcio-
Estas disciplinas eram distribuídas entre as três institui- nasse este curso technico para bibliothecár"ios, paleográfos, arquivistas
ções. À Biblioteca Nacional coube História Literária, Bibliogra- e arqueólogos"(Biblioteca Nacional, 1916, p.466). Desta forma,
fia, Paleografia eEpigrafia. Ao Arquivo Nacional, História Política se encerra o que denominamos de a primeira etapa do Curso
e Administrativa do Brasil, Cronologia e Diplomática e ao Museu de Biblioteca Nacional.
Histórico Nacional, Arqueologia e História da Arte, Numismática e A segunda etapa, de retomada dos princípios do Curso,
Sigilografia. iniciou-se em 1931 através do Decreto nº 20.673, de 17 de
A partir de então, a BN passaria a depender deste curso novembro com grande repercussão nas imprensas carioca e
e do ensino nele ministrado com;forma de admissão de fun- mineira: "Este decreto [... ]vem preencher, caso seja executado, uma
cionários, substituindo o concurso de provas das 4 disciplinas lacuna, porque será o primeiro passo para que em um futuro próximo,
do curso preparatório para as provas do CURSO TECHNICO, possa o Brasil contar com elementos de competência e prática para a
comum às três instituições. organização e remodelação de suas bibliothecas. Actualmente, os que
Em 1923, este curso não funcionou, apesar de se terem se devotam a essa profissão supnm a falta de tirocínio technico com o
inscrito catorze alunos, e a causa aparente fora a recusa dos carinho, com o zelo, com a diligencia que imprimem aos seus misteres.
professores Constâncio Alves e Mario Behring em ministra- Asforçam-se, procuram ler os autores que se occupam da materia, mas
rem as disciplinas História Literária e Paleografia, por "moti- por falta de um curso efficiente e honesto, não chegam a adquirir os
vos justificados" (Biblioteca Nacional, 1916, p.452). Acredita- conhecimentos que só os estudos especializados ou a pratica podem
mos que os motivos estariam ligados à não-concordância com offerecer" (Bibliotecas, 1931, p. 7) .
a criação do CURSO TECHNICO, aliado ao fato de que ao A justificativa para sua retomada de acordo com o Mi-
assumirem a docência duplicariam suas atividades- Bibliote- nistério da Educação era de que: "o restabelecimento do curso de
cá~i~/Chefe de Seção e professor, não recebendo qualquer bibliotheconomia, creado em 1915 e paralysado em 1922, impõe-se,
adicwnal de salários; e "por não existir verba no orçamento desta não só como providencia urgente para accudir as necessidades da Bi-
Repartição destinada ao pagamento de professores extranhos ao qua- blioteca Nacional, senão como medida salutar destinada a extender às
dro, por aviso nº 1.179 de 15 de junho, após prévia consulta a esta demais bibliothecas publicas as vantagens de poderem contar, para o
directoria, resolveu esse Ministério que não houvesse aulas em 1923 preenchimento dos claros [sic] com professores habilitado" (Restabe-
(Biblioteca Nacional, 1916, p.456). lecido, 1931, p.9). O curso voltaria a funcionar nas depen-
dências da BN, sob a gerência do diretor da instituição, em
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dois anos e com as seguintes disciplinas: primeiro ano, mética, geografia, história universal, corografia e histólia do
Bibliographia, Paleographia e Diplomática; segundo ano, His- Brasil, válidos para a matrícula nos cursos superiores atesta-
tólia Literália (com aplicação à Bibliografia), Iconographia e dos de identidade, sanidade e idoneidade moral e recibo da
Cartographia (Biblioteconomia, 1931, p.1). O Decreto nº taxa de matrícula.
23.508, de 28 de novembro de 1933, inverte" ... a ordem das Não houve, com o passar dos anos, e com as diversas
disciplinas" (Dias, 1954, p.4 7): reformas do Curso de Biblioteconomia da BN, mudanças na
1º ano: Histólia Literária, com aplicação à Bibliografia forma de ingresso, pois ainda predominavam na década de
Iconografia e Cartografia 30 as mesmas diretrizes para preenchimento do cargo de bi-
bliotecário, determinadas por Ramiz Galvão. De tal modo,
2º ano: Bibliografia, Paleografia e Diplomática predominava a erudição exigida ao futuro profissional que,
Em termos gerais não houve mudanças significativas de posse do saber clássico, consagrado pelo Colégio Pedro li
entre a primeira e a segunda fase quanto aos saberes neces- ou instituição reconhecida, estaria apto não somente a rece-
sários à formação do bibliotecári?; continuou o "predomí- ber um conhecimento especializado, mas, e plincipalmente,
nio da cultura geral em detlimento das técnicas" (Dias, 1954, a adentrar na BN, espaço legítimo e reconhecido como mais
p.47) aliado à necessidade de formar pessoal para suprir, importante, na época, da cultura letrada do país e assumir o
principalmente, as deficiências internas da BN. A novidade papel, para si e diante da sociedade, de cultor e amante das
deste momento foi assegurar a preferência absoluta para pre-
letras e das artes.
enchimento de cargos para a BN, ou qualquer repartição Em 1944, durante a gestão de Rodolfo Augusto de
federal, dos detentores de diplomas de Biblioteconomia, Amorim Garcia, através do Decreto-Lei 6.440 de 27 de abril, o
como descreve o Art. 14, do Decreto 20.673, que determina-
curso da BN passa
va: "Aos possuidores de certificados do Curso de Biblioteconomia, a
por amplas e profun-
partir de I de janeiro de 1934, será assegurado o di'reito de preferên-
das reformas a que
cia absoluta para promoção nos cargos da Biblioteca Nacional, até
nos reportaremos
o de sub-bibliotecário, e para o provimento efetivo, interino, contra-
quando tratarmos do
tado ou em comissão no cargo de bibliotecário de qualquer departa-
ensino de Biblioteco-
mento ou repartição federal, excetuando nos cargos em que exigir
[... ] competênciaespecializada"(Werneck, 1944, p.42). nomia nos anos 40.
Para ingressar no curso, nesta segunda fase, era exigi- Enquanto, no
do, além da apresentação de requerimento ao diretor geral, Rio deJaneiro, a cons-
certificado de aprovação nos exames da 5.ª série do Curso tituição do campo da
Secundálio, prestados no Colégio Pedro II ou em estabeleci- Biblioteconomia, em
mento sob o regime de inspeção oficial ou certidões de apro- seus aspectos educaci-
vação nos exames de português, francês, inglês, latim, arit- onais, esteve atrelada à Biblioteca Nacional, em São Paulo, por

61
60
teca Pública Oficial de São Paulo, que seria o motivo para
sua vez, esteve ligada inicialmente à biblioteca escolar George
posterior estabelecimento de uma Universidade (Ellis, 1975,
Alexandre, do Mackenzie, e só depois à biblioteca pública. Por-
p.389). O seu acervo era formado, em grande parte, com
tanto, o início da Biblioteconomia no Brasil ocorreu em espa-
os livros que tinham pertencido ao bispo D. Mateus de
ços determinados. Esta ocorrência visava atender às necessida-
Abreu Pereira. Mas também com os livros que foram dos
des que se evidenciavam no âmbito interno destas instituições,
Franciscanos, legado do bispo do Funchal, para proveito
isto é, a princípio, havia maior preocupação destes cursos em
do público e, ainda, com seiscentos volumes doados pelo
resolver suas necessidades organizacionais do que em capaci-
tenente Rendon e com a coleção do desembargador
tar pessoal para qualquer tipo de biblioteca.
Chichorro da Gama.
Funcionando a princípio no Convento dos Franciscanos,
A trajetória do Ensino de Biblioteconomia no Brasil: o caso
em 1827 é anexada ã Faculdade de Direito. Desde a sua cria-
paulista
ção até 1823 é dirigida por José Antonio dos Reis, o "Padre
Bibliotecário". Sobre este, afirma Ellis: 'José Antonio dos Reis,
São Paulo, até o século XVIn,·'em termos de biblioteca,
órfão desde a infãncia, lutou contra a miséria, tendo muitas vezes que
não diferia dos demais Estados, aqui também eram "raras e
andar descalço epadecerfome; foi um exemplo de coragem e de tenaci-
estranhas" (Bruno, 1950, p.77). Apenas duas bibliotecas eram
dade êsse primeiro bibliotecário público de São Paulo, cujo espírito pri-
merecedoras deste nome: a do Convento dos Carmelitas e a
mou pela ordem e pelo civismo" (Ellis, 1950, p.393).
do bispo D. Francisco Manoel da Ressurreição. O acervo desta
No final do século XIX, se fundaram outras bibliotecas,
era formado essencialmente de obras históricas clássicas
' ' a do Mackenzie College, em 1886, e a da Escola Politécnica em
crônicas e representava importante meio para a educação dos
1894. No ano seguinte, em 1895, é criada a Biblioteca do Esta-
jovens sell\inaristas: ''A do Convento do Carmo, não se sabe se era
do, organizada pelo bibliotecário Jerônimo de Azevedo.
desorganizada, apesar de guardada com zêlo excessivo, como as bibliote-
Durante várias décadas, esta biblioteca apresentou uma
cas de conventos visitadas na mesma época, em outras cidades brasilei-
série de deficiências e dificuldades: instalações precárias, acer-
ras, por viajantes estrangeiros" (Bruno, 1950, p.77). Um dos viajan-
vo desatualizado e desorganizado. Diante deste quadro, em
tes de quem trata Emani Silva Bruno foi Henry Koster que, no
começo do século XIX, esteve em diversas cidades brasileiras 1925, o vice-prefeito, LuCiano Gualberto, submeteu à Câma-
conhecendo suas bibliotecas. Apresentavam, na época, maior ra projeto de lei para criação de uma Biblioteca Municipal,
desenvolvimento as localizadas em Recife e São Luís do que atendesse aos "requisitos modernos" e que representas-
Maranhão; mesmo assim, os livros existentes eram adquiridos se a capital mais rica e próspera do país, projeto que resul-
por contrabando nos portos, como constatou o visitante. tou na Lei 28.367 de 25 de fevereiro do mesmo ano. Assim
Somente em 1825, é criada, pelo presidente da pro- São Paulo, a partir de então, passou a contar com duas bibli-
víncia Luis Antonio Monteiro de Barros, a primeira Biblio- otecas- a Estadual e a Municipal, cuja responsabilidade de

63
62
direção ficou a cargo do intelectual baiano Eurico Doria de ção. Enfim, "... a escola trabalhava com métodos que causa-
Araujo Goes. vam escândalos e faziam a delícia dos alunos, mais principal-
Ao mesmo tempo é inaugurado, em 1926, o prédio da mente das alunas" (Almeida e Carvalho, 1996, p.48)
biblioteca do Mackenzie College, denominada de George Ale- Neste ambiente, influenciado pela moderna pedagogia
xandre, em homenagem ao benfeitor da escola. Segundo americana, é implantado, pela primeira vez no Brasil, o mo-
Rodrigues (1945, p.S), a biblioteca vivia estagnada, com acer- delo pragmático de ensino de Biblioteconomia e de organi-
vo organizado de forma precária e rudimentar, não zação de biblioteca, que vinha em consonância com a
correspondendo aos anseios e necessidades da sua clientela. modernidade de ensino adotado pelo Mackenzie.
Precisava assim de uma nova dinâmica, atual e moderna, isto
Não havendo bibliotecário no país com esta formação,
é, de acordo com os
fez-se necessário trazer para o Brasil uma profissional, Ms.
princípios e técnicas
Dorothy Murriel Gropp, na época com 23 anos, contratado
norte-americanas.
pelo Board de Trustees do Mackenzie em New York, com a finali-
O Mackenzie,
dade de reorganizar todo o acervo e introduzir processos no-
ao ser criado em
vos nos catálogos e na localização dos livros nas estantes, e
1870, por George
Whitehill Chamber- ministrar um Curso Elementar de Bibliotecanomia para funcioná-
lain e sua mulher rios da biblioteca e professores e bibliotecários de outras insti-
Mary Annesly, incor- tuições do Estado.
pora ao ensino Participaram desta primeira turma, seis alunos, aos quais
paulista "idéias revo- foi ensinado: Catalogação, Classificação, Referência e aulas
lucionárias", o que o "... puramente técnica de organização de bibliotecas" (Gropp,
diferenciava dos ou- 1940, p.216), servindo a biblioteca George Alexander como
tros tradicionais colé- laboratório de aprendizagem. Uma Segunda série do Curso de
gios, tais como: Dom Biblioteconomia foi dado sob os auspícios do Instituto de Educa-
Bosco, São José, São ção Caetano de Campos a um grupo de professores interessados
Luís e Arquidio-cesano: liberdade de ensino religioso, exclu- em promover teorias e práticas modernas de Educação
são de "toda e qualquer" forma de discriminação social, po- (Gropp, 1940, p.216).
lítica" ...que incluía filhos de abolicionista, republicanos, pro- Estas finalidades expostas por Ms. Gropp, de caráter
testantes, judeus e mulheres" (Almeida e Carvalho, 1996, p.48), geral, foram particularizadas por Adelpha Rodrigues (depois
salas mistas, eliminação de castigos físicos, como o uso da pal- Rodrigues de Figueiredo), bibliotecária efetiva do Mackenzie,
matória, esporte para mulheres e ensino centrado na com- quando afirma que o objetivo da sua contratação era prepará-
preensão, quando nas demais escolas predominava a decora- la para obtenção de uma bolsa de estudos nos Estados Uni-

64 65
dos, oferecida anualmente a mulheres latino-americanas pela em janeiro de 1839,
American Association of University Women, através de concurso em Santiago, Chile,
ao qual Rodrigues, por três vezes consecutivas, se submeteu, no qual foi apresen-
sem êxito.Finalmente em 1931 atingiu seus objetivos não só tada proposta para di-
por concurso, mas também por outros meios, que não ficam minuir as dificuldades
claros em seu discurso: "Não eram essas bôlsas oferecidas, mas ob- cambiais para o co-
tidas por concurso entre tôdas as candidatas latino-americanas. Disso mércio de livros entre
é prova o Jato que para realização desse imenso desejo de conseguir a América do Norte e
uma viagem para a América do Norte, teve a candidata de concorrer a América do Sul: Pan
três anos seguidos, além de usar de outros modos para a obtenção da American Conference of
referida bolsa de estudos" (Rodrigues, 1945, p.8) .Outra finalida- Municipalities, realiza-
de seria que Ms. Gropp devesse substituí-la na Biblioteca du- da em Havana, Cuba,
rante sua estada nos Estados Unidos. ' em 1938, com a fina-
Entrevistada a bordo do Arnerican Legion pelo Diário lidade de favorecer o
Nacional, Adelpha Rodrigues, afirmava que: "A minha viagem desenvolvimento de
será effectivamente de estudos. Pretendo aproveitar no sentido mais am- bibliotecas nas três
plo esse premio que me foi concedido, afim de aprender tudo o que diz Américas e estimular
respeito à moderna bibliotheconomia, em que os norte-americanos são o gosto pela leitura;
technicos especializados, tendo sido a elles confiada até a reorganiza- lnteramerican Biblio-
ção da bibliotheca do Vaticano. Os meus esforços realizados até mere- graphic and Library
ceram apoio e o aplauso dos dir~ctores da escola em São Paulo. Tive Association, instituição
sorte- accrescentou modestamente- num campo tão delicado e comple- que tinha a finalidade de promover trabalhos bibliográficos
xo que exige longos preparos; agora vou aos Estados Unidos para me interamericanos. Dentre estes destaca-se aAmericanAssociation
formar uma justa competente. E espero no meu regresso, de ser mais of University Women, que concedeu bolsa de estudos a diversas
útil aos meios intellectuais do meu paiz" (Vae, 1930, p.4). bibliotecárias latino-americanas para estudarem nos E.U.A., a
O interesse norte-americano pela Biblioteconomia Lati- exemplos de Adelpha de Figueiredo.
no-Americana manifesta-se por diversos organismos que, além "A 'American Library Association 'vem se interessando há mui-
do apoio financeiro, realizavam conferências no Brasil, em to tempo pelas bibliotecas dos países sul-americanos. Em várias
Cuba, no Chile e na Argentina, desde o final do século XIX, atividades isoladas até 1920, cristalizou-se esse sentimento, criando-se
ampliando-se significativamente nos anos 30: American Coriference um comitê especial na 'American Library Association' destinado a
of National Committee oflntellectual Cooperation, evento realizado traçar um programa e executá-lo. Na reorganização desse Comitê, em

66 67
1931 em que tomou o nome de 'Committee on Library Cooperation a vossa conferencista para obterem informações, sobre a organização
wiht Latin America; foram designadas as suas funções; 'servir como de bibliotecas modernas" (Rodrigues, 1945, p.S).
intermediário para trocas de informO;çõe_s, conselhos, e assistência entre Sobre as características pessoais de Adelpha Figueiredo,
as organizações bibliotecárias dos Estados Unidos e Canadá; com suas relata-nos Mattos (1997): ''D. Adelpha era uma criatura muito
congêneres da América Latina; promover a troca de livros e revistas interessante; alta, robusta, que as pessoas gostavam ou não dela, cer-
por doação, venda ou assinatura; e cooperar com o 'Committee on to? Ela tinha um jeito muito especial de falar, era muito empolado.
International Relations of the America Library Association '. E tam- Era uma boa pessoa, muito boa pessoa. Depois que você conhecia D.
bém no interesse daquele comitê traduzir para o espanhol ou português Adelpha, que tinha bom relacionamento com ela, horas de conversa,
os manuais de Biblioteconomia, facilitar, por meio de bôlsas de estudo, acabava gostanto de D. Adelpha ".
a vinda de estudantes latino-americanos aos EStados Unidos, para O curso do Mackenzie encerra suas atividades quando
cursar nossas escolas de Biblioteconomia, viajar e observar no pais o da criação do Curso de Biblioteconomia do Departamento de
que lhe possa interessar" (Gropp, 1940, p.218). Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, em 1936, criado
Portanto, havia um "climâ favorável" que possibilitou por Rubens Borba de Moraes. Moraes, desde muito cedo, foi
a Rodrigues - e a outras mulheres latino americanas - reali- um leitor ávido e frequentador assíduo de bibliotecas, princi-
zar seu tão almejado desejo de viajar aos Estados Unidos. palmente em Genebra, onde passou boa parte de sua vida, gra-
Segundo ela, esta era uma preocupação que tirava o sono duando-se em Letras. Ao retornar, em 1919, para São Paulo,
do diretor do Mackenzie. Ao retornar ao Brasil, em 1931, deparou-se com dois problemas primeiro com duas bibliote-
depois de cursar a Escola de Biblioteconomia de Columbia cas, a Estadual e a Municipal, que não atendiam a qualquer
University de Nova Iorque, reassume a direção da biblioteca requisito de funcionamento: acervo desatualizado, desorgani-
e do curso elementar, em sua segunda turma, em que con- zado e precárias condições físicas. Em segundo lugar, por não
cluíram cinco alunos. haver, no Brasil, Faculdade de Letras, ele não pode revalidar
Durante a sua ausência, de acordo com a mesma, o en- ou equiparar o diploma obtido na Europa. Impossibilitado de
sino, nesta segunda turma, decaiu em qualidade. A justificati- exercer sua profissão, interessou-se pela Biblioteconomia, es-
va para isso estaria nas várias atividades assumidas por sua tudando profundamente o assunto: ''Das leituras que empreen-
substituta. Contudo, com a sua chegada, o curso ganha nova deu, a que causou maior impressão foi um livro escrito porErnesto Nel-
dinâmica e impulso, passando a ser o centro convergente do son, Las Bibliotecas en los Estados Unidos. Obra encomendada pela
saber biblioteconômico paulista. Neste sentido afirma que: Fundação Carnegie para a Paz Internacional, tinha o objetivo de levar
"O interesse pela Biblioteconomia era, entretanto, grande, e isto se pode ao conhecimento da América Latina as novidades norte-americanas
observar pelo elevado número de pessoas que procuravam a conferen- na área de Biblioteconomia" (Bandeira, 1955, p.65).
cista para informações nesse assunto. Durante os anos de 1933, 34 e A criação do Departamento de Cultura foi o ponto cul-
princípios de 35, 125 pessoas procuraram, na Biblioteca do Makenzie, minante alcançado pelos mentores da Semana de Arte Mo-

68 69
derna de 22, como Mário de Andrade, Tacito de Almeida, da, à Divisão, ofere-
Sérgio Milliet, Alcântara Machado, Paulo Duarte e outros que cer anualmente um
encontraram apoio em Fábio Prado e Armando Salles de Oli- Curso de Biblioteco-
veira, para este empreendimento, sem dúvida ambicioso para nomia e organizar,
os padrões nacionais. O Departamento era constituído de cin- no município e na
co seções, dentre elas a Divisão de Bibliotecas, que compre- capital, serviços de
endia uma biblioteca modesta, a Municipal, funcionando bibliotecas públicas,
então em numa casa alugada na Rua 7 de Abril 7 • Sobre seu populares, circu-
estado, manifestou-se Rubens Borba de Moraes, diretor des- lantes e infantis.
sa divisão: "A biblioteca era antiquada, era antiqv,adíssima, não O curso criado
só era antiquada quanto ao acervo que tinha parado, mais ou, me- por Rubens Borba de
nos em 191 O. As novidades eram de 191 O e tecnicamente não ti- Moraes consolidou,
nham nenhuma orientação. Os lívrós eram arrumados. Não eram sistematizou e nor-
nem classificados. Enfim, não havia técnica nenhuma. Então eu, malizou as atividades
tive que enfrentar este problema. Era preciso, primeim, formar gente. de ensino, informais
Formar bibliotecários que soubessem funcionar como bibliotecários" e assistemáticas, de-
(Moraes, 1992, p.54). senvolvidas desde
A Divisão de Bibliotecas foi organizada em duas 1929 na Biblioteca
seções, de maneira a propiciar seu funcionamento: a pri- Municipal, pelo então diretor Eurico de Góes. Estes cursos ti-
meira abrangia serviços técnicos e armazenamento do acer- nham por finalidade reciclar e atualizar os funcionários desta
vo- Classificação, Catalogação, Arquivo e Fichamento- por biblioteca. Para tanto, Eurico de Góes: "... organizou v,m wrso de
tipo de material-, livros, jornais e revistas; à segunda, per- seis ou oito lições de bibliológia, comprehendendo: a evolução da escripta,
tenciam os serviços de apoio, zeladoria, encadernação e do livro e das bibliothecas, desde a antiguidade até nos tempos actuaes,
conservação, portaria e serviço de polícia. Competia, ain- e a technica bibliothecaria, em que se tratará da instalação efunciona-
mento das Bibliothecas Modernas, systemas de classificação e catalo-
7
gação, etc." (Curso, 1930, p.l).
Neste prédio havia funcionando o Gabinete de Investigação, com suas masmorras.
Com o crescimento da Cidade de São Paulo, esta rua " .. .transformou-se em pista de No ano seguinte, é oferecido o Curso de Bibliothecologia,
autos e motocyclos que, com o escapamento aberto, fazem da rua em questão, uma abordando as mesmas temáticas do anterior acrescidas de
verdadeiro campo de experiência das explosões de carburadores". Deste modo, "...
impediam aos que vão à biblioteca para ler, estudar, concentrar-se na obra que neces- Hygiene do Livro (Leitura, 1930, p.2).
sitam e onde buscam aquel!as noções que unicamente em um ambiente calmo e silecioso
poderão ser retidos".
Chama atenção o uso da expressão Biblioteca Moder-
Fonte: ESCAPAMENTOS Abertos .. Folha da Manhã, São Paulo, 3 abr. 1930
na que vinha sendo usada no Brasil, especialmente em São

70 71
Paulo, desde os anos 20, e que fará parte dos discursos, nos bibliothecário é de importância capital, havendo na América do Nor-
anos subseqüentes, de Rubens Borba de Moraes, no texto te, cursos especiais para elles. Uma Bibliotheca Moderna não pôde
A Lição das Bibliotecas Americanas ( 1942), sendo algumas par- mais ser dirigida por um ignorante incapaz de dar uma opinião ao
tes retomadas na palestra que profere na Biblioteca do Mi- público sobre o valor de um livro ou uma informação geral mais
nistério das Relações Exteriores, em 23 de setembro de aproveitável sobre qualquer assumpto ".
1943, a posteriori publicada em forma de livro com o título Portanto, podemos afirmar que Moraes e Figueiredo,
de O Problema das Bibliotecas Brasileiras (1943); de Adelpha ao criarem o primeiro Curso de Biblioteconomia, de nature-
de Figueiredo, no Desenvolvimento da Biblioteconomia em São za pragmática, retomam os conceitos e debates sobre as bibli-
Paulo, e nos anos 60 de Laura Russo em A Biblioteconomia otecas e a Biblioteconomia americana que, desde os anos 20,
Brasileira (1966), e de outros autores que também fazem Eurico de Góes e Braz de Souza apresentavam à imprensa
uso desta expressão quando se reportam às bibliotecas paulista.
americanas. As Bibliotecas Modernas seriam aquelas que O grande apoio dado à divisão e aos bibliotecários foi a
deveriam atender: "... às exigênâas da educação democrática, aprovação da Lei 2.839, a Lei das Bibliotecas, promulgada em 5
as estantes são abertas e acessíveis ao público, instalações amplas e de janeiro de 1937. Por essa determinação legal, a Biblioteca
confortáveis, boa iluminação, de preferência natural e entrada pró- Estadual fundiu-se com a Biblioteca Municipal. Tal fusão ge-
xima à rua, - os catálogos a disposição do público e os bibliotecári- rou polêmica entre funcionários da Estadual, que não queri-
os sempre prontos a auxiliarem os leitores em suas pesquisas" am ser transferidos para o Município, pois receavam a perda
(Arruda, 1928, p.3). de vantagens salariais e por acreditar que São Paulo, uma ci-
Esta concepção de biblioteca aparece pela primeira vez dade em vias de desenvolvimento, comportaria duas bibliote-
na Imprensa Periódica paulista no artigo Bibliotecas: os enormes cas. Esta fusão constituía-se "... como uma medida de economia e
resultados obtidos na América do Norte, de Braz de Souza Arruda, por achar-se vago o lugar de director da Biblioteca do Estado, será
em 1928. Este autor denomina as bibliotecas americanas de apresentado um projeto à Câmara &tadual, determinando que seja
"cidades dos livros" e sugere que as bibliotecas paulistas feita a fusão daquella com a Bibliotheca Municipal e para o cargo de
adotem a forma de organização, atendimento ao público e seu director será aproveitado o desta última, ampliando-se o edifício e
de atividades culturais oferecidas a sua clientela. Entretanto, dotando-se de conforto e melhoramento que ora nenhuma dellas pos-
alertava que: "Na organização, contudo das nossas bibliotecas de- sue" (A fusão, 1995, p.43).
vemos tomar certas cautelas e seguir com muito cuidado a experiência O artigo 13 da referida lei afirma que só seriam admiti-
dos povos mais adiantados" (Arruda, 1928, p.3). Este mesmo dos corno bibliotecários aqueles que apresentassem diploma
alerta é feito por Amorim nos anos 50. de Curso Superior e de Biblioteconomia, exceção para cargos
Souza Arruda (1928, p.3), ao fazer alusão ao preparo em pequenas bibliotecas; neste caso seria exigido diploma de
technico do bibliothecarío, afirma que: "O preparo technico do curso secundário.

72 73
II
I
Para Souza F. ( 1995, p.43), a exigência de diploma I d)Fktncês
universitário, antes da formação em Biblioteconomia, como I valor 15%
nos E.U.A., não foi adotada pelos bibliotecários brasilei- i e) Inglês ou Alemão
ros, quando da criação dos Cursos e Escolas. Sendo, para o valor 10%
autor, uma das causas da degradação do modelo norte-ame-
ricano no Brasil. j) Datilografia
valor 5%
Por outro lado, reconhecer, para efeito de concurso, di-
ploma em Biblioteconomia, artigo 15, expedido pelo Curso Em caso de coincidência de pontos entre candidatos, o
de Biblioteconomia do Departamento de Cultura, seria uma desempate seria através de:
forma de garantir a sua permanência pelo governo munici- a) Títulos de educação universitária;
pal, como também um modo de proteção profissional ou como
afirma este autor, um cartório profissional. O referido con- b)publicações em matéria de Biblioteconomia;
curso, por exigência da lei, requeria a apresentação de: ! c)número de línguas em que era versado o candidato.
a) Certidão de Nascimento; l
{,
Segundo Milanesi (1986, p.88), com o Estado Novo este
dispositivo legal: "... continuou em vigência, mas na prática todos
b) Carteira de Eleitor; I

c) Caderneta de Reservista, ou prova de que estava quites I os seus artigos e parágrafos, com exceção do artigo 20, foram iguora-
dos pelo representantes do Estado Novo, em São Paulo. Em vista dis-
com o Serviço Militar; l so, essa organização para as bibliotecas do nstado de São Paulo não
d)Atestado de que o candidato não sofria de moléstia deixou marco, pois não passou de um texto (lei) publicado no Diário
contagiosa e estava em condições físicas de exercer Oficial e nunca transformado em ação. A proposta era nova e, por
suas funções; isso, não cabia nos estTeitos limites da nova situação política dentro
da qual cabia um DIP".
e)Provas de conettrso, que se realizariam quando houves~e mais
A relevância deste debate possibilita demonstrar, em
de um candidato e constavam das seguintes disciplinas:
termos, o quanto foi conturbada a instalação do Curso de
a) Organização e administração de bibliotecas Biblioteconomia em São Paulo, e como as injunções políticas
valor 25% e burocráticas eliminaram, em parte, as propostas de Rubens
b) Catalogação e Classificação Borba de Moraes. Evidencia-se que este curso, como o da Bi-
valor 25% blioteca Nacional e o do Mackenzie, objetivava dar conta das
mudanças internas operadas nessas bibliotecas.
c) História do Livro
Daí a primeira turma de alunos, na sua maioria, ser de
valor20%
funcionários da mesma: "Havia na biblioteca um grupo de ra-

74 75
pazes e moças muito esforçados, com vontade e queriam aprender, imprensa paulista onde relata os motivos para esta decisão.
mas não tinham onde e como. Então surgiu, eu tive a idéia de fun- Afirma que Moraes obrigou o arquiteto a reservar no projeto
dar uma escola. Já que toda a gente quer aprender. E eu consegui do da Biblioteca Municipal (atualmente Biblioteca Mário de
Prefeito Fábio Prado uma autorização para fundar uma Escola de Andrade) um andar inteiro "... para a sua luxuosa residência.
Biblioteconomia. Uma escola modesta, exclusivamente para bibliote- Hall esplendido, living-room, numerosos dormitórios, ascensor priva-
cário que havia em São Paulo, para os existentes em São Paulo. tivo, etc., tudo estava maravilhosamente previsto. Só não estava pre-
Porque a Biblioteconomia não era uma carreira e não era reconheci- visto o prefeito que iria botar abaixo tão risonho projeto" (Maia, 1947).
da. De maneira que os bibliotecários e funcionários que trabalha- Ao reportar-se ao Curso de Biblioteconomia, Maia afir-
vam em bibliotecas tivessem a oportunidade de aprender; eram sim- ma, ainda, que o seu objetivo era servir de "lugar a proveitos e
plesmente os cursos de catalogação, de classificação e de história do gratificações especiais, particularmente ao diretor. Susta-se a
livro e um de organização de bibliotecas. Depois, mais tarde, fizemos irregularidade, mas por resistência passiva, o Sr. Borba cessou
de referência, ordem e bibliografia" (Moraes, 1992, p.54). também a atividade escolar, embora obrigatória" (Maia, 1947).
As disciplinas técnicas - Catalogação e Classificação - Diante este fato, em 1940, o curso da Prefeitura Munici-
eram ministradas por Adelpha de Figueiredo e História do pal de São Paulo é transferido para a Escola Livre de Sociologia e
Livro e Bibliografia por Rubens Borba de Moraes. Em maio Política, instituição da qual Rubens Borba de Moraes foi um
de 1937, havia 215 alunos matriculados, dos quais setenta e dos fundadores. Sobre a instalação do Curso de
dois já haviam cursado as duas primeiras disciplinas. Dois anos Biblioteconomia na ELSP, Prestes Maia, neste mesmo docu-
depois, no mesmo mês, a Prefeitura Municipal concedeu au- mento, afirma que: "F'oi-lhe, todavia, fácil o consolo: o tempo que
xílio no valor de quinhentos réis para cada professor. ele encontrava para dar o curso no estabelecimento oficial, passou a
Em 1939, ao assumir a Prefeitura de São Paulo, Prestes achá-lo e despendê-lo em idêntica ocupação, mais remunerada numa
Maia encerra o Curso de Bil:Jlioteconomia por não conceber escola particular. Aíformava bibliotecários, que depois ele mesmo de-
sua utilidade e viabilidade, apesar das alegações contrárias do via examinar nos concursos de admissão à biblioteca. Isto talvez escla-
seu mentor. reça porque vivia pedindo funcionários, precisava dar vazão aos pró-
Ao se defender das acusações de "... perseguição do pre- prios produtos" (Maia, 1947).
feito à cultura paulista" 8 , uma delas a exoneração de Rubens Outras acusações a Moraes podem ser verificadas neste
Borba de Moraes e, por extensão, o fechamento do Curso de documento, inclusive com relação à sua administração na
Biblioteconomia, Francisco Prestes Maia publica artigo na Biblioteca Nacional. Ao encerrar o artigo, de justificativa e
acusação, Prestes Maia comenta: "Nada temos contra a Bibliote-
8 ca Nacional, nem vemos em que caruncho a mais ou a menos lhe
Este trabalho nos foi cedido pela Pro-r Laura Russo, nele não localizamos o título e a
data da publlcação, sendo_ apenas possível identificar a fonte, Correio Brasiliense. possa alterar a situação. Mas tememos pela Municipal de São Paulo,
Pelo teor do mesmo julgamos que fora publicado em 1947, ano em que Rubens Borba de
Moraes deixa a direção da BN.
Deus a proteja" (Maia, 1947).

76 77
---------·

"Depois dêsse apanhado sôbre as idéias biblioteconômicas domi- maior soma de conhecimento; o aperfeiçoamento de técnicos brasileiros
nantes no momento, as mais amplas e dignas dos maürres louvores, e nas universidades americanas e a criação de um serviço nacional de
para que se possa avaliar oprogTesso alcançado, seja-me permitido uma catalogação cooperativa- único, até hoje, na América Latina".
palavra sôbre as características das bibliotecas antigas no Brasil. A sua Portanto, a década de 40 é bastante significativa para o
organização era tôda inspirada nos pocessos europeus. Os liwos ali- campo do ensino da Biblioteconomia, na medida em que
nhavam-se nas pateleiras de acôrdo com oformato, visando principal- ocorreram modificações na área em termos de conteúdos
mente dar uma aparência agradável ao arranjo. Assim, eram numera- pedagógicos com a incorporação do modelo pragmático ame-
dos de tal forma que, uma vez colocados na prateleira não podiam ricano. Contudo, não significa que, até então, o ensino da
mudar de lugar sem que se modificasse o número de ordens tanto no Biblioteconomia brasileira fosse destituído de procedimentos
livro como nas fichas corrrespondentes'' (Gropp, 1940, p.216). técnicos. No curso da Biblioteca Nacional, desde 1911, catalo-
Evidentemente que há um certo exagero nestas afirma- gação e classificação de livros e folhetos eram conteúdos da
ções de Ms. Gropp, na medida em que procura legitimar e disciplina Bibliografia: "Tudo dentro do melhor figurino da época
consagrar o ensino pragmático que ajudou a implantar no que era a obra de Giuseppe Fumarelli, Bibliografia, publicada em edi-
Brasil, na capital paulista. ção dos Manuais da ColeçãoHoepli" (Dias, 1964, p.9). Entende-
mos que, com a adoção do modelo americano, houve, em
A trajetória do Ensino de Biblioteconomia: anos 40 parte, o predomínio dos aspectos técnicos em detrimento dos
de natureza humanista.
''Podemos considerar o ano de 1940 como ponto de partida para Uma outra modificação nesta década foi a ampliação
a definitiva ampliação, entre nós, dos novos métodos de organização das oportunidades de acesso ao ensino, que ocorreu a partir
de bibliotecas, principalmente no que ser refere à arrumação de livros da criação do Curso da Escola Livre e Sociologia Política- ELSP
por sistema de classificação universal e na catalogação uniforme dos em 1940 e, ainda, com a reforma do curso da Biblioteca Naci-
acervos baseado em códigos já urizversalmente consagrados pela expe- onal em 1944: "Como em São Paulo, o Rio de janeiro, depois da
riência"(Dias, 1955, p.12). Reforma de 1944, passou a conceder bolsas de estudos a candidatos
Ainda neste sentido, afirma Alice Príncipe Barbosa residentes fora do Rio deJaneiro. ~sta providência teve como conseqü-
(1979, p.17) que: ''A década de 40 foi, no Brasil, inegavelmente, a ência a descentralização do Ensino de Biblioteconomia, todos os cur-
do início do desenvolvimento das modernas técnicas biblioteconômicas. sos ou escolas de Biblioteconomia, fundadas em outros Estados, tive-
Várias causas contribuíram para ser essa evolução, destacando-se en- ram como principais colaboradores ex-bolsistas dos Cursos da Bibliote-
tre nós: a atuação do então recém-criado Departamento Administrati- caNacional(Dias, 1964, p.9).
vo do Serviço Público, através de seus concursos especializados, que, O curso da ELSP, com subvenção da Rockefeller
formando melhores técnicos, abriram novas perspectivas de trabalho; Foundation, amplia suas atividades e concede bolsas de estu-
a reforma da Biblioteca Nacional, dando aos futuros profissionais dos a candidatos de outros Estados que ao regressarem

78 79
r
I

"... reorganizam velhas bibliotecas ao mesmo tempo em que com três professores: Ernani Cerdeira (Organização e Administração
criaram novas" (Fonseca, 1957, p.94) mas, e principalmente, de Bibliotecas e História do livro), Mílton Melo (Classificação) e Ed-
estes cursos contribuíram para a fundação de Escolas de son Nery da Fonseca (Bibliografia e Referéncia e Catalogação).
Biblioteconomia, por diversas localidades do país: Alfredo FerreiraHamarfundou em São Carlos a Escola de
Bernadette Sinay Neves, da Bahia, retornando ao seu Esta- Biblioteconomia e Documentação de São Carlos, sob o pa-
do, funda a Escola de Biblioteconomia, depois integrada à trocínio da Biblioteca da Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade da Bahia; Estado de São Paulo;
Etelvina Lima, de Minas Gerais, funda a Escola de Maria Luísa Monteiro da Cunha, bibliotecária chefe da
Biblioteconomia em Belo Horizonte, depois incorporada à Biblioteca Central da Universidade de São Paulo, fazendo
Universidade de Minas Gerais. Em colaboração com bibliote- parte de uma Comissão de Professores, consegue a fundação
cários do Rio de Janeiro, auxilia na fundação da Escola de da Escola de Biblioteconomia na Escola de Comunicação da
Biblioteconomia da Universidade do Paraná; Universidade de São Paulo (Penteado, 1967, p.15).
Ernesto Manuel Zinkfunda, ·em Campinas, Estado de São A reforma da Biblioteca Nacional, projetada pela bi-
Paulo, a Escola de Biblioteconomia, mantida pela Sociedade bliotecária Heloísa Cabral da Rocha Werneck e executada
Campineira de Educação e Instrução; por Cecilia Roxo Wagley ejosué Montello, operou modifi-
Angela da Costa Franco, do Rio Grande do Sul, fundou cações significativas no Curso de Biblioteconomia. De acor-
no seu Estado natal a Escola de Biblioteconomia do Rio Gran- do com Dias (1955, p.1 O), a sua finalidade era de transfor-
de do Sul, em seguida, anexada à Universidade Federal do mar o antigo curso de Biblioteconomia, que até então se
Rio Grande do Sul; limitava a formar bibliotecários apenas para atender às
Milton Ferreira Melo, de Pernambuco, fundou em Recife necessidades da instituição e para promoção do seu qua-
a Escola de Biblioteconomia. do Departamento de Documen- dro de pessoal, em curso destinado a capacitar bibliotecá-
tação e Cultura. Essa escola suspende suas atividades em 1950, rios para qualquer tipo de biblioteca: "Houve uma fase em
passando para a Universidade Federal de Pernambuco; so- que o bibliotecário era o grande humanista que se assenhorava de
bre este curso relata-nos Fonseca, E. ( 1997): "O primeiro curso técnicas biblioteconômicas e atuava em bibliotecas. O bibliotecário
de Biblioteconomia do Recife foi criado pelo Departamento de Docu-
foi considerado como um profissional de que se exigia a vocação e
mentação e Cultura da Prefeitura 1\!Iunicipal do Recife - dirigido e
a aptidão correspondente com o preparo adequado[... ]. A trans-
animado pelo engenheiroJosé Césio Regueira Costa -porque precisava
formação do curso da Biblioteca Nacional em 1944, substituindo
de bibliotecários para as bibliotecas populares que estavam sendo ou
a ênfase da preparação humanística pela ênfase da preparação de
iam ser instaladas nos bairros da Encruzilhada, Casa Amarela e Afo-
ordem técnica reflete a nova tomada de posição dos bibliotecários
gados, tanto para as do ônibus-biblioteca e para os postos de emprésti-
brasileiros" (Montello, 1967, p.l).
mo em diferentes pontos da cidade. O curso teve a duração de um ano,

80 81
Entretanto, desde a reforma de 1931, o curso da Bi-
funcionários admitidos na BN com a lista de alunos gradu-
blioteca Nacional não mais se destinava a capacitar somen-
ados, verificamos a baixa incidência destes. Pergunta-se: se
te seus funcionários, apesar do predomínio destes. Do
estes alunos não eram na sua totalidade absorvidos pela
mesmo modo, os conteúdos pedagógicos, ainda que
biblioteca, onde atuavam? Provavelmente assumiam suas
centrados nas necessidades internas da BN, possibilitavam
funções em outros órgãos, contradizendo a afirmativa de
aos graduados atuarem em outras bibliotecas, especialmen-
que somente com a reforma de 1944 o curso volta-se para
te aquelas ligadas a instituições públicas da Capital Federal
capacitar bibliotecários para outras bibliotecas. Entende-
(Rio de janeiro), a exemplo de Adolfo Martins Pereira Fi-
mos que o que houve foram mudanças nos saberes escola-
lho e Hugo Capeto da Câmara, ambos formados pela BN,
res que, a partir de então, não mais privilegiavam o caráter
que atuaram como bibliotecários na Faculdade Nacional de
humanista e erudito, predominante na formação dos bi-
Filosofia e na Divisão de Educação Física do Ministério de Edu-
bliotecários da BN, mas incorporaram por definitivo, no
cação, respectivamente.
ensino, os aspectos técnicos americanos, trazidos para este
A afirmativa acima ainda pode ser justificada anali-
contexto pelos bibliotecários, funcionários da BN, que rea-
sando-se os relatórios da BN de 1943, referentes ao ano
lizaram cursos de especialização nos E.U.A. como: Octavio
anterior e o de 1944 relativo a 1943, onde se pode consta-
Calasans Rodrigues, Vera Barbosa de Oliveira, Maria
tar o grande fluxo de alunos matriculados no curso de
Antonieta de Mesquita Barros, Emmanel Eduardo Gaudie
Biblioteconomia.
Ley, dentre outros (Biblioteca Nacional, 1944, p.265).
Em 1942, para o primeiro ano, foram inscritos ses-
Interessa-nos observar que, anteriormente a esta refor-
senta e um alunos e, para o segundo ano, cento e seis alu-
ma, o Departamento Administrativo do Serviço Público- DASP
nos. No ano posterior, o número de alunos aumentou, sen-
cria no Rio de Janeiro, em 1944, um curso de Biblioteconomia,
do cento e setenta para o primeiro ano e noventa e quatro
de curta duração (seis meses), com a finalidade de propiciar
para o segundo ano, totalizando nestes dois anos quatro-
atualização aos ocupantes dos cargos de bibliotecário-auxiliar
centos e trinta e uma matrículas. Estes dados possibilitam
e bibliotecário. Ainda suprir as deficiências no ensino da BN,
deduzir que era praticamente impossível a BN dispor de
que atendia aos seus interesses internos. Este curso funcionou
todo esse pessoal, sem contar aqueles que executavam ser-
até quando a BN modificou a sua estrutura curricular,
viços de apoio (porteiros, guardas, dentre outros). Entre-
adotando a linha pragmática. No curso do DASP, foram mi-
tanto, cabe uma ressalva: muitos dos alunos inscritos desis-
nistradas as disciplinas: Catalogação, Bibliografia e Referên-
tiam no início ou na metade do curso; outros tantos eram
cia, Organização e Administração de Bibliotecas, ou seja, as
reprovados nos exames finais, realizados a cada ano no mês
mesmas disciplinas adotadas pelo curso da ELSP.
de dezembro (ver tabela seguinte). Ao compararmos, nos
relatórios acima, no item descrição de pessoal, o nome dos

82
83
Tabela 5: Pmfessores e disciplinas do Curso da Biblioteca Nacional- 1940/1943
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84 85
serviços técnicos. Para tanto, o ensino compunha-se de qua-
Algumas questões advindas da reforma do curso daBN,
tro disciplinas:
em 1944, são da maior relevância e ultrapassam o simples
a) Organização de Bibliotecas
objetivo de formar trabalhadores para qualquer tipo de bibli-
oteca: a primeira, promoção de cursos de atualização para Nesta disciplina, o aluno aprendia as finalidades sociais
bibliotecários; a segunda, capacitação de mão-de-obra auxili- da biblioteca em seus diferentes tipos e os conhecimentos
ar bibliotecária e, a terceira, promoção e troca de experiênci- gerais inerentes ãs atividades dos bibliotecários auxiliares;
as e saberes biblioteconõmicos, entre o Brasil e outras nações, b) Classificação e Catalaogação
como evidencia o Decreto-Lei n. 6440, de 27 de abril de 1944, Compreendia o estudo e a aplicação dos mais utilizados
no seu Art. 2. sistemas de classificação bibliográficas e das normas de cata-
a)formar pessoal habilitado a organizar e dirigir biblio- logação para referências bibliográficas e para organização de
tecas ou a executar serviços técnicos de bibliotecas; catálogos de livros e periódicos. Ainda, noções de cataloga-
b)promover o aperfeiçoamento ou especialização de ção e classificação de partituras, cartas geográficas, estampas
bibliotecários, e de outros servidores em exercício nas e outros materiais;
bibliotecas oficiais e particulares; c) Bibliografia e Referência
c) promover unidades de orientação das técnicas funda- Abrangia o estudo das mais diferentes obras de referên-
mentais dos serviços de biblioteca, favorecendo a cia e sua utilização nos serviços de orientação aos leitores;
homogeneização básica desses serviços; d)História dos Livros e das Bibliotecas
d)difundir conhecimentos dos progressos realizados no Compreendia o estudo da evolução, características e
país e no estrangeiro, no campo da Biblioteconomia processos envolvidos na impressão e na encadernação de li-
(Neves, 1971, p.227). vros. Incluía também a história dos jornais e das publicações
Para dar conta dessas amplas finalidades, o antigo Cur- seriadas e os princípios gerais da Biblioteconomia.
so de Biblioteconomia passou a ter a designação de Cursos Por sua vez, o C.S.B. objetivava formar pessoal para ad-
da Biblioteca Nacional (C.B.N.), que compreendiam três ní- ministrar, organizar e dirigir serviços técnicos inerentes às bi-
veis: bliotecas. Compunham o programa deste curso dois níveis
a) Curso Fundamental de Biblioteconomia (C.F.B.); de disciplinas: as de núcleo comum, obrigatórias a todos os
alunos, em núméro de três, e as optativas, em número de
b) Curso Superior de Biblioteconomia ( C.S.B.);
oito.
c) Cursos Avulsos ( C.A.). a) Disciplinas obrigatórias
O C.F.B. tinha a finalidade de formar bibliotecários au-
1) Organização e Administração de Bibliotecas
xiliares, que, sob a orientação de bibliotecários, executassem

87
86
O programa incluía os princípios gerais da organização E, por último, os Cursos Avulsos (C.A.) que tinham por
e da administração de bibliotecas e os problemas inerentes à ".. .finalidade atualizar os conhecimentos dos bibliotecários e bibliote-
cários-auxiliares, divulgar conhecimentos sobre Biblioteconomia epro-
realização destas atividades;
mover a homogeneidade básica dos serviços de bibliotecas" (Neves,
2) Classificação e Catalogação
1971, p.227). Os cursos eram oferecidos, mediante decisão
Compreendia o estudo comparativo entre os principais do Diretor da Biblioteca Nacional conforme proposta do Co-
sistemas de classificação do conhecimento humano e da apli- ordenador dos Cursos.
cação em bibliotecas. As condições de ingresso em qualquer destes níveis obe-
3)História da Literatura deciam a critérios diferentes, sendo os mais rigorosos para o
Evidenciava o estudo das produções literárias, suas edi- f C.F.B., na medida em que o mesmo constituía-se na "porta
ções principais, traduções, adaptações e resumos e, ainda, I
I de entrada" para os demais cursos. Deste modo, era exigido
evolução dos conceitos filosóficos, sociais, científicos; I do candidato curso secundário completo, ginasial ou colegi-
b) Disciplinas optativas II al, e aprovação em concurso vestibular, o qual constava de
1) Noções de Paleografia e Catalogação de Manuscritos, provas de: Português, Conhecimentos Gerais (História, Geo-
livros raros e preciosos: grafia Geral e do Brasil) e Conhecimentos de Inglês ou Ale-
mão, Francês, Italiano ou Espanhol. Para ingressar no C.S.B.,
2)Iconografia;
o candidato deveria ter concluído o C.F.B., exceção para os
3) Mapotecas;
diplomados em cursos superiores mediante exame de habili-
4)Bibliotecas de Música; tação, que se constituía de prova de conhecimentos gerais e
5)Publicações Oficiais e Seriadas; Periódicos; conhecimentos específicos: Classificação, Catalogação, Bibli-
6) Bibliotecas Públicas; .. ografia e Referência. Os critérios de admissão nos Cursos
7) Bibliotecas Especializadas e Bibliotecas Universitárias; Avulsos modificavam-se a cada ano de acordo com aprova-
ção pelo diretor na BN das propostas do Coordenador dos
8) Bibliotecas Infantis e Escolares.
Cursos. Sendo estes os mesmos requisitos para determinação
Estas disciplinas eram oferecidas anualmente e em do número de vagas anualmente por cada curso.
único período, com exceção de Iconografia, que era em Através dos Cursos Avulsos, os bibliotecários diplomados
dois e em número suficiente para atender às necessidades tinham a oportunidade de se especializarem. Vários cursos,
do ensino e ao interesse dos alunos. Todavia, estas discipli- além dos citados anteriormente, foram realizados: Conserva-
nas poderiam ser substituídas por uma outra ou grupo de ção e restauração de livros, estampas e documentos, minis-
disciplinas cursadas pelo aluno na Faculdade Nacional de trados por Edson Mota, Bibliografia de Balzac, pelo Prof. Pau-
Filosofia ou Instituto congênere. Mas somente aquelas de lo Ronai, Iconografia, pelos professores Floriano Bicudo
interesse para a cultura geral do bibliotecário.
89
88
'-.;,

Teixeira e Mario Antonio Barata, Documentação, por Herbeth


março de 1940, se encontrava funcionando na ELSP, nos
Coblans, Paleografia, por Otavio Calazan e Emmanuel
moldes das Library Schools americanas e, sob a coopera-
Hasselman, dentre outros.
ção da Library Association e, como evidenciado, com
O período letivo para o C.F.B. e para o C.S.B. tinha a
donativos da Rockefeler Foundation, que além da cessão
duração de um ano e para o C.A., a duração que fosse neces-
de bolsas a estudantes de cidades do interior de São Paulo
sária para o alcance de suas finalidades. Para os dois primei-
e de outros Estados, possibilitou a organização de uma bi-
ros, o período letivo dividia-se em:
blioteca especializada em Biblioteconomia: "A fim de prote-
a)período de exame de admissão: de 15 de fevereiro a 5
ger os direitos dos alunos que se dedicavam a essa especialidade, e
de março;
de disciplinar o Ensino de Biblioteconomia, esforçou-se a Escola
b)período de matrículas: de 5 a 15 de março; para conseguir o necessário amparo legal à nova carreira, obtido,
c)primeiro período de aulas: de 15 de março a 15 de afinal, através do decreto nº 17.104 de 12 de março de 194 7, do
julho; Governo do Estado, que reconheceu o curso e exigiu o diploma de
bibliotecário para o exercício dessa função nos serviços públicos
d)segundo período de aulas: de 1 de agosto a 30 de no- estaduais" (Curso, 1955, p.l). .
vembro; Quando da sua criação o seu objetivo era capacitar pes-
e)período de provas finais: de 1 a 15 de dezembro (Ne- soal desta biblioteca. A partir desta década é "dar instrução
ves, 1971, p.231). técnica especializada às pessoas que desejam seguir a carreira
Ao término de cada disciplina, os alunos eram submeti- de bibliotecária" (Programa, 1945, p.5). Deste modo, os cur-
dos aos exames parciais e em dezembro, aos exames finais. sos eram organizados para treinar e habilitar o aluno "a bem
Nas disciplinas ministradas em apenas um período letivo, eram servir as necessidades de vários serviços da biblioteca" (Pro-
exigidas somente as provas finàis para ser aprovado, cada alu- grama, 1945, p.5).
no deveria obter a média mínima de sessenta pontos no con- O acesso ao mesmo dava-se mediante o pagamento da
junto das disciplinas. Estes pontos eram divididos entre a taxa de matrícula no valor de Cr$ 50,00, cujo requisito era a
média dos graus obtidos nos exercícios, nas provas parciais e apresentação do certificado de aprovação da quinta série ou
a nota dos exames finais. Aos aprovados no C.S.B., conferia- equivalente, e aprovação nos exames de admissão.
se o título de bibliotecários; aos concludentes do C.B.F., o de Estes exames constavam de três etapas: provas de lín-
bibliotecário-auxiliar e aos que terminavam os Cursos Avul- guas estrangeiras, inglês, francês, que consistiam na tradução
sos era conferido um certificado sem direito a titulação. para o português de um texto corrente na área de
Em São Paulo, por sua vez, o curso criado por Rubens Biblioteconomia; de datilografia, cópia à máquina de um tex-
Borba de Moraes, em 1937, na Biblioteca Municipal, desde to em vernáculo e de cultura geral, que tinha a finalidade de
avaliar os conhecimentos gerais necessários à formação cu!-

90
91
tural do bibliotecário. Aos candidatos aprovados era-lhes atri- O seu conteúdo abrangia duas fases. Na parte teórica,
buída a nota "A" e aos reprovados a nota "R". estudavam-se os códigos e tabelas e a história da catalogação,
Os aprovados pagariam nove mensalidades no valor de os métodos de leitura técnica do livro, os tipos de catálogos e
Cr$ 10,00 e mais Cr$ 50,00 relativos aos exames finais escri- fichários, as regras de ortografia, pontuação e alfabetação e o
tos, realizados a cada semestre e dois finais, orais e escritos, estudo comparado dos catálogos sistemáticos e dicionários.
no término do ano, para cada disciplina. Sendo que partici- Na parte prática, a cor das fichas, técnicas e fichamento, os
pariam destes exames os alunos com 80% de freqüência tan- tipos de fichas remissiva, topográficas, analíticas e de série e
to nas aulas práticas como nas teóricas. No entanto, aqueles as regras de altabetação e arranjo dos catálogos.
alunos, que "não dispuserem de tempo integral para o estu- c) Classificação
do [poderiam] fazê-lo parceladamente" (Programa, 1945, A disciplina compreendia o estudo dos diversos tipos de
p.60), na medida em que o curso funcionava durante todo o classificação, antigos e modernos, com ênfase ao sistema de-
dia, sendo a parte da manhã reservada às aulas, das 8 às 10 cimal de Dewey, além do conhecimento preciso da Classifica-
horas, e a tarde para os exercício das disciplinas, que eram ção da Library of Congress, dos E.U.A. e da Classificação
em número de cinco: Universal.
a) Organização e Administração de Biblioteca Como Catalogação, também era dividida em uma par-
A finalidade desta disciplina era oferecer aos alunos os te teórica e outra prática. A teórica compreendia a defini-
conhecimentos fundamentais de administração de bibliote- ção, os tipos e a finalidade de classificação e o modo de
cas e o modo de organizá-las. Para tanto, o conteúdo abran- localização dos livros nas estantes, a análise do Sistema de
gia os diferentes tipos de bibliotecas e suas arquiteturas, legis- Dewey e do Universal, denominado como de Bruxelas. Ain-
lação bibliotecária, serviços de atendimento aos leitores em da, número de chamada, com destaque para as tabelas de
geral e especiais: cegos, doentes e presidiários, critérios para CUTTER e, por último, a Classificação da Biblioteca do Con-
seleção de pessoal, historia das escolas de Biblioteconomia e gresso Americano, denominado de Sistema de Washing-
associações de classe. Ainda, os serviços de seleção, aquisição ton. A parte prática envolvia a leitura técnica do livro, estu-
e empréstimo, incluindo a conservação e o tratamento de do detalhado de cada classe, uso da tabela de CUTTER e a
revistas e jornais, cuja ênfase era a indexação de periódicos. aplicação da Classificação de Bruxelas, cujo modelo era a
b) Catalogação Ii classe 340 (Direito).
d)Bibliografia e Referência
"Este curso compreendia uma das matérias fundamentais da
Biblioteconomia"(Programa, 1945, p.7) e destinava-se a capaci-
tar o aluno a catalogar vários tipos de livros. ''As aulas são dadas
ll O curso compreendia os princípios fundamentais do
serviço de referência, o estudo das fontes bibliográficas e a
sob um ponto de vista essencialmente prático" (Programa, 1945, p. 7) prática do seu manuseio.

92 93
-------

Portanto, em português, pouco se podia ler sobre


e) História do Livro
Biblioteconomia, mas o atendimento em bibliotecas infan-
A sua finalidade era capacitar o aluno a compreender a tis, por exemplo, " ... encontrou respaldo na segunda parte
evolução e desenvolvimento do livro com destaque para Por- do livro A biblioteca, de Wanda Ferraz, também ela ex-pro-
tugal e Espanha, América do Norte e Sul e Brasil. ''Em cada fessora primária" (Fonseca, 1957, p.3). Esta obra nos anos
uma dessas paTtes pocuraT-se-á analisar a evolução do livro, desde 40 e 50 foi a mais utilizada pelas Escolas de Biblioteconomia
suas ongens até o que é hoje[... ] e a evolução das bibliotecas" (Pro- e pelas bibliotecas, consagrando-se como um clássico no
grama, 1945, p.7). campo.
Face à escassez de literatura biblioteconômia nacio-
Tabela 06: Disciplinas escolares daELSP, anos 40, wm respectivos professores nal produzida pelos bibliotecários ou traduzindo para o por-
tuguês, Edson Nery da Fonseca, na coluna Documentação
que assina no Jornal do Brasil, anos 50, investiga junto a
profissionais como Lais da Bôa Morte, Manoel Alfredo
Wanderley, Washington José de Moura, Bernadette Sinay
Neves, Cordelia Robalinho Cavalcanti, Sully Brodbek, Lêda
Laboriau, dentre outros, quais os livros de Biblioteconomia
que deveriam ser traduzidos para o nosso idioma. Ao re-
portar-se a esta difícil escolha, Wanderley afirma que
O material bibliográfico utilizado nas disciplinas, tanto
"Selecionar dez obras dignas de notas de tradução imediata no
da BN como da ELSP, nessa época, era essencialmente em
campo da documentação e Biblioteconomia é haver-se com os em-
língua inglesa, poucos em espanhol, seguido do francês, sen-
baraços de uma escolha muito restritiva. H á estantes sobre o assun-
do este idioma incidente nos. Cursos da BN. Em português,
to e os títulos em português escasseiam"(Fonseca,l957,p.l3). As
geralmente, os textos eram elaborados pelos professores face
obras mais recomendadas por este bibliotecário foram:
à escassez de fontes para as disciplinas escolares que minis-
Documentation, de S. C. Bradford (1953); La Bibliographie,
travam: Classificação Decimal de Melvil Dewey, de Adelpha de
de Louise Maclés ( 1956) c Bibliographic Organization de Shera
Figueiredo; Relação de Cabeçalhos de Assuntos e A Biblioteca, de
H. e Margareth Mann.
Wanda Ferraz; Resumo de Sistemas de Classificação Decimal, de
Para Robalinho, eleger algumas obras de
Paulo Ferraz Mesquita; Classificação, de José Soares Souza;
"... Biblioteconomia e documentação [... ]é um problema cuja so-
Compêndio de Classificação Decimal e Índice Alfabético, de Anto-
lução obteremos quando reunidas e estudadas tódas as respostas"
nio Caetano Dias; Guia de Classificação Decimal, de Irene de
(Fonseca,l957,p.l3). Em relação à documentação, "não po-
Medeiros Doria e Gênese e PTogresso da Imprensa Periódica no
deria ser ignorado o monumental Traité de Documentation, de Paul
Brasil, de Alfredo de Carvalho.

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94
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Otlet" (Fonseca,1957,p.13), texto que o autor acima consi- desconsideração para seu eminente autor; um prejuízo para os bi-
derava fundamental para a formação de documentalistas bliotecários brasileiros" (Fonseca,1957,p.15).
e bibliotecários. Contudo a leitura desta obra deveria ser Algumas conclusões advêm destas sugestões levan-
antecipada de Qu 'est-ce la Documentation, de Suzane Briet tadas por Edson Nery da Fonseca. A primeira é como as
(1952), e Documentation, de Bradford, e para completá-las, obras relativas ao campo da documentação constituíam-
Notions Fondamentales ( 1954) e Cours de Bibliographie, ambos se em "leitura obrigatória" dos bibliotecários como forma
de Maclés (1955). Em relação a Catalogação e Classifica- de atualização e de incorporação desses "novos saberes"
ção, Introduction of Cataloging and the Classification, de na Biblioteconomia brasileira. A segunda, a diferença das
Margareth Mann ( 1943), e Classified Catalog, de Shera origens das teorias: da França, os princípios da Documen-
(1956). tação e, dos Estados Unidos, as técnicas Biblioteconô-
Na opinião de Brodbeck "... devemos traduzir para o por- micas .. Por último, como a alguns bibliotecários era dado
tuguês, em primeiro lugar; algumas obras que facilitassem o estudo o poder de opinar sobre as regras de movimentação da
dos que se iniciam na profissão. Senti demais a falta de textos área em termos de saberes pedagógicos e práticas profis-
lecionando, nos cursos ... " (Fonseca,1957,p.13). Estes textos sionais.
eram fortemente representados pela língua inglesa, o que
impediaque os alunos as lessem. Dentre as várias obras Cursos da Biblioteca Nacional: a reforma de 1962
sugeridas, que são praticamente as mesmas dos demais bi-
bliotecários, indica como sendo de urgência a tradução do Em 1962, através do Decreto 550 de 1 de fevereiro,
livro de Herbert Coblans. os cursos da BN passam por uma outra reforma (Russo,
Coblans, em sua visita ao Brasil em missão da 1961, p.162). Contudo, seus objetivos permanecem os
UNESCO, em 1954, por solicitação do DASP escreve Intro- mesmos de 1944. As alterações mais significativas foram a
dução ao Estudo da Documentação, que deveria ser traduzido inclusão de novas disciplinas, no C.S.B., e a ampliação do
pela bibliotecária Maria Antonieta Requião Piedade. To- tempo do curso, que passou de dois para três anos, sendo
davia, até 1957, de acordo com Edson Nery da Fonseca, que o C.F.B., correspondia ao primeiro ano e os outros
este órgão não tinha empreendido qualquer esforço para dois ao C.S.B.
publicá-lo: "Antigamente, quando se desejava invocar o auxilio Com relação às mudanças nas disciplinas do C.F.B.,
governamental contra uma justiça ou fato clamoroso, gritava-se Organização de Bibliotecas passou a denominar-se Organiza-
'aqui-del-rei'. É o que devem Jazer todos os que, no Brasil, se inte- ção e Administração da Bibliotecas, mas o conteúdo permane-
ressam pela Documentação: gritar; em uníssono, aqui-del-rei. Aqui- ceu praticamente o mesmo, a não ser quanto ao desenvol-
del-rei pela publicidade do livro de Herbert Coblans, cuja reclusão, vimento dos serviços, que deixou de ser dos bibliotecários-
nas burocráticas gavetas do DASP, representa, além de uma auxiliar e passou a ser do bibliotecário. Com Catalogação e

96 97
Classificação, ocorreu o mesmo, sendo acrescentad;;t apenas de materiais não-bibliográficos. Reprodução de Documentos in-
a palavra Introdução, no início do nome da disciplina. Em cluía metodologias de foto-reprodução de materiais bibliográ-
relação ã História do Livro e das Bibliotecas, o conteúdo man- ficos e não-bibliográficos. Introdução à Cultura Filosófica e Artís-
teve-se como em 1944. tica visava "... ao estudo dos sistemas filosóficos e da história das artes,
As mudanças deram-se na disciplina Bibliografia e Refe- com ênfase na [sic] aspecto bibliográfico" (Russo, 1961, p.l63). E,
rência, que se separaram. Bibliografia passou a denominar- por último, Paleograjia, que compreendia "... o estudo geral da
se Bibliografia Geral, que compreendia o estudo dos proces- origem dos alfabetos, da paleografia greco-latina, medieval, portugue-
sos e normas técnicas de pesquisa bibliográfica e seu uso sa e dos documentos nacionais até o século XIX" (Russo, 1961,
em bibliotecas e centros de documentação. Referência teve p.l63).
seu nome modificado para Técnica do Serviço de Referência, Nos C.A., permaneceram os mesmos critérios para ofer-
com a qual o aluno aprendia a conhecer as mais diferentes ta de cursos. Todavia, as disciplinas optativas, que anterior-
obras de referência e suas práticas de uso. mente compunham o C.S.B., passaram com esta reforma a
No C.S.B., as alterações nas' disciplinas, do 2". ano, se constituir em cursos desta natureza.
também não foram muitas. Organização e Administração de Podemos observar, pelo título das disciplinas do currí-
Bibliotecas passou a chamar-se Organização e Técnica de Docu- culo de 1962, da BN, o quanto são enfatizados os fundamen-
mentação. A mudança foi mais na sua denominação do que tos da Documentação. Campo de saber que, desde a criação
nos conteúdos ministrados. Catalogação e Classificação ab- do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação - IBBD, nos
sorveu em grande parte o conteúdo adotado anteriormen- anos 50, ganhou impulso nos debates da classe bibliotecária.
te no C.F.B. A disciplina História da Literatura teve seu nome
alterado para Literatura e Bibliografia Literária, incluindo no
seu programa a seleção de livros e a orientação ã leitura.
Duas disciplinas foram incorporadas ao currículos: Bi-
bliografia Especializada, que compreendia "... o estudo dos pTO-
cessos e normas técnicas de pesquisa bibliográfica e sua utilização
pelas bibliotecas e centros de documentação" (Russo, 1961, p.163).
A outra, disciplina foi Introdução à Cultura Histórica e Socioló-
gica, que se constituía no estudo dos princípios das ciênci-
as históricas e sociais, enfatizando o aspecto bibliográfico.
No terceiro e último ano do C.S.A., foram incluídas
cinco disciplinas: Catalogação Especializada e Classificação Es-
pecializada, ambas voltadas para organização e tratamento

98 99
·····-·---···-------------~

Tabela 07: Comparação entre as disciplinas escolares dos cursos da BN ( C.B.N) nas A trajetória escolar entre Rio dejaneiro e São Paulo
reformas de 1944 e 1962.
A diferença entre o ensino do Rio de Janeiro, Biblioteca
Nacional, e São Paulo, Escola Livre de Sociologia e Política, é
• Organização e Administraçao de Biblioteca
• C!aSl:ificação e Catalogação - Introdução a Catalogação e Classificação marcada por duas influências: técnica e humanística- como
.- Bibliografia e Referência • Bibliografia Geral
- História do Livro e das Bibliatecas · Témica do Serviço de Referênàa
evidenciado no decorrer deste capítulo. A primeira fortemente
• História do livro e determinada pela França, École de Chartes, conservadora e
• Organização e Administração de Bibliotecas ano:
enciclopedista e, a segunda, pelos E. U .A., Columbia University,
- Classificação e Cata!Ggação - Organização e Téwica de Documentação essencialmente técnica.
- História da Literatura - Bibliografia Especializada
Disciplinas Optativas - Catalogação e Classificação
Com relação aos primeiros bibliotecários formados pela
- Iconografia - literatura e Bibliografia literária École de Chartes, Chartier, A. e Hébrard (1995, p.l22) afir-
- Mapotecas - lnrtnJdução à Cultura Histórica e Sociológica
- Noções de Paleografia 3° ano mam: "Os poucos conservadores, formados pela École de Chartes,
- Classificação de Manuscritos e de livro$ Raros e Preciosos • Catalogã'ção Especializada aprendem que sua missão esta bem definida no título que possuem;
- Bibliotecas de Música • Reprodução de Documentas
- Publicações Oficiais e Seriadas; Periódicos · Pa!eografia antes de mais nada é preciso conservar- e, então desconfiar dos leito-
- Biblloteca5 Públicas · lntrudução à Cultura fi!usófica e Artística. res, que sempre tratam o livro com excessiva desenvoltura, esquecendo-
se que têm em mãos não apenas um texto mas um objeto que deve ser
manipulado com cuidado. Dai, a considerar os leitores como um obs-
Biblioteca Nacional, mediante propusta do Coordenador · Bibliotecas Infantis e &colares táculo ao bom funcionamento da biblioteca".
dos Cursos · Bibliotecas Universitárias Enquanto, nos E.U.A., a idéia predominante era a de
- Iconografia
- Mecanização Bibliográfica que os alunos ao entrarem em uma Escola de
~Estabelecimento de Textos e Edições Críticas
Biblioteconomia traziam conhecimentos culturais suficien-
'~·Foto-Documentação
- Artt>s Gráficas tes, cabendo a estas fornecer-lhe as técnicas: "as escolas ame-
- Cartografia
ricanas formam excelente pessoal para o serviço diário e rotineiro,
- Biblioteca de Música
- Bibliotecas Públicas pessoal esse capaz de Jazer uma ficha sem escapar uma vírgula, de
- Relações Humanas
envernizar com eficiência a capa de um livm e de usar com rapidez
- Bibliografia Aplicada às Ci€ncias
- Bibliografia Aplicada à Arte a máquina de carregar o book card. Portanto, não havia discipli-
- Bibliografia Aplicada às Rt>ligiões
nas como História do Livro e das Bibliotecas, Ciências e Artes, etc."
- Bibliografia Aplicada à Filosofia
- Bibliotecas Especializadas (Moraes, 1942, p.3). Na disciplina Referência, os alunos
- Disciplinas ou grupo de disciplinas Cursadas na Faculdade de
Filosofia ou Instituto Congênere, versando sobre assunto de
aprendiam a prestar uma informação mecanicamente,
interesse para a cultura geral de bibliotecários e "... como quem procura um endereço num anuário, sem o mínimo
espírito critico" (Moraes, 1942, p.3).

100 101
A natureza e o papel da BN, conservadora da memória corno no Rio de janeiro, com a criação, em 1937, do DASP, cuja
nacional, a diferia de outras bibliotecas. Daí constituir-se no biblioteca era dirigida por Lydia de Queiroz Sambaquy. Afastado da
locus privilegiados para incorporação dos "saberes enciclopé- Biblioteca Municipal de São Paulo, Rubens Borba de Moraes foi no-
dicos". São Paulo, onde não havia biblioteca com o mesmo meado diretor geral da Biblioteca Nacional, que a reformou em. 1946".
lastro bibliográfico da BN, não justificaria disciplinas como Etelvina Lima, eminente bibliotecária mineira, afirma
Diplomática, Numismática, Paleografia e Cartografia. "Eram que, mesmo os professores destes cursos, tendo-se formado
tipos de bibliotecas que se ajustavam com maior proptiedade, ao novo sob a luz da Biblioteconomia americana, havia diferenças
sentido da formação técnica do bibliotecário moderno, amparado no marcantes nas teorias e nas práticas bibliotecárias ensinadas.
exemplo norte-americano" (Lima, 1997). No entanto, face ãs exi- A Biblioteca Nacional privilegiava o Código da Vaticana, tra-
gências do mercado e da americanização do país, os cursos duzido para o português pelo DASP e divulgado pelo INL atra-
da BN, em 1944, modificam a sua estrutura curricula1~ posto vés das bibliotecas públicas e dos Cursos de Biblioteconomia
que outras bibliotecas do Distrito Federal, Rio de Janeiro, res- de curta duração, que promoveu em diversos Estados, com ~
sentiam-se de uma formação difenmciada, na medida em que finalidade de estimular a criação de cursos regulares, a exem-
os saberes até então ministrados não correspondiam às ne- plo do Paraná e de Minas Gerais. Enquanto São Paulo fazia
cessidades e aos interesses das demais bibliotecas, especial- uso do Código da American Library Associatíon, "... divergên-
mente dos órgãos públicos como os ministérios, que se res- cia compreensível, se considerarmos, que o Curso de Biblioteconomia,
sentiam da falta de técnicos especializados: "Com as exigências no Rio, achava-se vinculado à Biblioteca Nacional, com. suas coleções
modernas das novas técnicas biblioteconômicas adotadas com grande eruditas e em São Paulo cresceu junto à Biblioteca Municipal, à Bibli-
sucesso, desde ofim do século passado, nos Estados Unidos da A méri- oteca Infantil e à Biblioteca Pública" (Lima, 1997).
ca do Norte, o problema do ensino da Biblioteconomia no Brasil teria Quanto aos as-
que mudar de direção" (Dias, 1955, p.3). pectos técnicos, a
Sobre a diferença do ensino entre Rio de Janeiro e São polêmica entre o Rio
Paulo, relata-nos Fonseca, E. (1997): "O chamado 'pragmatismo e São Paulo foi
americano' se manifestou na orientação da Universidade Mackenzie marcante. Um exem-
no sentido de formar bibliotecátios com ênfase nos processos técnicos, plo ilustrativo dessa
ao contrário dos Cursos da Biblioteca Nacional, criados sob a influên- rivalidade deu-se
cia daÉcole de Chartes. Creio que as duas orientações devem ser conci- com relação à perma-
liadas. Mas o que ocorreu foi um lamentável conflito que chegou ao nência ou não das re-
ponto de suscitar inimizades pessoais entre bibliotecárias de São Paulo ticências nas fichas
e do R:io de janeiro. Entretanto, a modernização de bibliotecas som·e o catalográficas, quando na folha de rosto de um livro não
influxo do pragmatismo americano ocorreu tanto em São Paulo- com houvesse informações relativas à autoria. Os bibliotecários
a Biblioteca Municipal sob a direção de Rubens Bm·ba de Moraes - paulistas não a julgavam necessária e os cariocas, imprescin-

102 103
dível: "Impressionou-me fortemente nessa ocasião a argumentação Outra diferença, entre Rio de Janeiro e São Paulo, era
de um ilustre bibliotecário carioca, que defendeu veementemente a com relação ãs disciplinas escolares, como demonstra a tabe-
conservação das reticências, dizendo: Suprimi-la seria acabar com o la abaixo.
mistêrio da profissão. Toda profissão necessita de algo misterioso, que
Tabela 08: Disciplinas escolares: Rio CÚ!Janeiro (BN) e São Paulo
os não-iniciados não entendem, para impressioná-los" (Lima, 1997).
Mistério que serve, principalmente, para afastar os leitores
das bibliotecas que não compreendem as "burocracias das técni-
cas bibliotecárias". É verdade que muitos profissionais valem-se 1915 -Bibliografia 1929 -Catalogagio
deste mistério para afirmarem que detêm poder, na medida em -Paleografia eDiplomática -Classificação
~Referência -Organização de Bibliotecas
que se julgam detentores da informação, somente porque as
1931 -Bibliografia 1941-1942 -Catalogação
bibliotecas armazenam ínfima parcela do conhecimento -Paleografia eDiplomática -Classificação
registrado na forma impressa e, comojulgam-se possuidores das J -História da literatura -Bibliografia
"chaves de acesso", criam suas dificuldades e rotinas policialescas. ij -Iconografia eCartografia -História do livro
-Organização de Bibliotecas
Ainda sobre as diferenças técnicas entre Rio e São Pau-
lo, relata-nos Fonseca, E. ( 1997): "No meu tempo - isto é, entre
-Catalogação -Classificação
194 7, quando concluí o curso de Biblioteconomia e 1960, quando me -Classificação -Bibliografia
mudei para Brasília - as divergências eram circunstanciais aos proces- -Bibliografia eReferência -Organização de Bibliotecas
sos técnicos [... ]a entrada de nomes na catalogação de obras de auto- -História do üvroedas Bibliotecas -História do livro ePaleogrfia
-H5tóriada literatura (aplicadaàBibliografia)
res brasileiros obedecia, no Rio deJaneiro, ao critêrio da tradição literá- -Noções de Paleografia
ria; e em São Paulo ao registro civil. Cito alguns casos significativos:
1962 Referência 1960-1961
no Rio deJaneiro, as fichas dos livros do romancistaJosé Lins do Rego -Bibliografia Geral -Cbssif~cação
indicavam: Rego, José Lins do; f?O catálogo da Biblioteca Municipal -Catalogagio eClassificação -Referência e Bibliografia
de São Paulo ele aparecia como: Cavalcanti,José Lins do Rego (por- -Organização eAdministração de Bibliotecas -História do livro
-História do livro edas Bibliotecas -Paleografia
que assim elefora registrado civilmente). A mesma divergência ocorria
-Organização eTécnicas de Documentação -Organização eAdministração
com o ensaísta Sérgio Milliet: ele aparecia nos catálogos das bibliotecas -literatura eBibliografia literária de Bibliotecas
do Rio de Janeiro como era conhecido literariamente: Milliet, Sérgio; -Introdução àCultura Histórica eSociológica -Seleção de livros
nas bibliotecas de São Paulo aparecia como: Silva, Sérgio Milliet da -Reprodução de Documentos -Introdução àCultura Artística
-Paleografia -lntrodugio àCultura Filosófica
Costa e (porque era esse o seu nome completo). Por causa de filigramas -Introdução à Cultura Filosófica eArtística -Introdução às Ciências Sociais
como essa, duas ilustres bibliotecárias- uma do Rio deJaneiro e outra ~Documentação

de São Paulo- quase iam às tapas numa das muniões da Conferência


da UNESCO para o Desenvolvimento das Bibliotecas Públicas na Podemos afirmar que, depois de 1944, não há diferen-
Amêrica Latina, realizada em São Paulo, em outubro de 1951 ". ças significativas entre os saberes ministrados entre os cursos

104 105
de São Paulo e do Rio de Janeiro. Supostamente, deve haver Segundo esta bibliotecária, neste curso a exigência era
outras diferenças nas práticas e nos modos de ensinar entre muito grande; conhecimentos de vários idiomas, cultura geral
os dois Estados: participação dos bibliotecários nos movimen- e dedicação exclusiva ao mesmo: "... quem se formava em Filo-
tos de classe, envolvimento dos profissionais nos debates da sofia saía o supra-sumo" (Mattos, 1997). Estes fatos aguçaram
área, mercado de trabalho, tendo em vista que São Paulo, a curiosidade de Mattos (1997): "... euqueriairlávercmnofuncio-
pelo crescimento da indústria, requeria, provavelmente, um nava, queria saber o que tinha essa escola, então eu me matriculei para
perfil profissional, enquanto o Rio de Janeiro, na época capi- isso, primeiro, com finalidade pessoal, e a segunda pela finalidade dos
tal da República, o empregador em potencial, deveria ser o meus país, como não havia cursos oficializados de Biblioteconmnia, até
Estado, e o perfil seria outro. Podemos inferir que, mesmo então ter um diploma por uma escola estadual, portanto, numa escola
sendo a nomenclatura das disciplinas iguais, o conteúdo para de governo estadual eu teria um diploma oficial de Biblioteconomia, eu
seria uma bibliotecária com um diploma oficial, era uma garantia".
atender às necessidades locais poderia ser diferente. Estas
O curso ti.mcionava no "Corredor em U [que]ligava o
questões merecem aprofundamento.
Oswaldo, barbeiro, depois encarregado de um café, à biblio-
teca dirigida pelo carrancudo Raspantini" (Reis, 1994, p.l 09).
O Curso de Biblioteconomia da Praça da República
Raspantini criou um curso de Biblioteconomia, na Faculdade
de Filosofia e Letras da Universidade de São Paulo, que teve
O Curso de Biblioteconomia do Instituto Caetano de vida efêmera. "Raspantini era inteligente: para ele criar esse curso,
Campos foi criado em 29 de janeiro de 1951, em nível de es- que era dele, não era da Universidade de São Paulo, era dele. Então
pecialização, destinado a professores normalistas e outros in- pediu autorização ao Conselho Universitário para fazer funcionar o
teressados mediante prova de seleção. Cursos desta natureza curso dele, na biblioteca da Faculdade e o Conselho Universitário au-
vinham sendo oferecidos pela Escola desde 1947: Canto torizou" (Mattos, 1997).
Orfeõnico, Desenho e Trabalhos Manuais e Artes Aplicadas A seleção para o ingresso no Curso de Biblioteconomia
(Mattos e Zacharias, 195-?). da Caetano de Campos compreendia o exame de duas lín-
Este Curso funcionou somente um ano, de 1951 a 1952, guas estrangeiras, escolhidas pelo candidato entre Espanhol,
nas dependências da biblioteca Prof. Otavio Mendes. Mattos Italiano, Inglês e Francês. Ainda, provas de conhecimentos
( 1997), ex-aluna, ao relatar a história deste curso, afirma que: gerais que abrangiam: História da Civilização e do Brasil, No-
''Eu não sei para que foi criado esse curso, sei que saiu um decreto ções de Literatura, Geografia Geral e do Brasil.
criando esse curso. O curso funcionava praticamente na Biblioteca da Quanto aos professores, aqueles das disciplinas gerais, isto
Escola, ali na Praça da República[.. .]. Eu fui [estudar} por curiosz~ é, as que não correspondiam aos saberes biblioteconõmicos,
dade para saber como era Caetano de Campos por dentro, eu ouvia eram contratados pela Secretaria de Educação, de acordo com
sempre falar Caetano de Campos, Caetano de Campos. Caetano de indicação do Diretor Superintendente da Escola. As específi-
Campos foi a Faculdade de Filosofia da USP. cas eram ministradas pelas bibliotecárias da instituição.

106 107
Tabela 09: Disciplinas escolares do Curso de Biblioteconomia da Caetano de Campos afirma que este curso, juntamente com o de Nossa Senhora de
Sion, Sedes Sapientae, despareceu por ".. falta de pessoal,Jalta de
alunos, por que a Sociologia [ELSP] era maior; tinha pessoal mais qua-
lificado. Pelo prestígio, pela capacidade dos professores da Sociologia, que
era ligada a uma Fundação, a Álvares Penteado, havia mais gabarito,
Organização eAdministração de J•.
apesar de os professores às vezes serem os mesmos, mas não havia uma
Catalogação Eny Dias J•. sustentação para as obras escolares" (Mattos, 1997).
Classificação llmen Rocha Maia 1". Dois anos depois de encerramento deste curso, em 1954,
Psicologia da Criança e do Adolescente Elisa Macedo Rolim 1". o Governador de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez, através
Hebe Rolim de 2". do Decreto 570-D de 19 de agosto, reconhece como válidos
Artes Gráficas Odetto Guersoni 2". os diplomas das 25 bibliotecárias graduadas pelo Curso de
História da Literatura e Literatura Infantil Maria Laice Prestas Barra 2". Biblioteconomia da Caetano de Campos (Mattos e Zacharias,
Paleografia Maiia Amoroso L. de Barros 2". 195-?).
Fundamentos I e Extensão Flavio Sampaio 1".
Cultura do Livro e da Biblioteca Maria Alice Forache 2". A expansão do Ensino de Biblioteconomia pelo Brasil
Bibliografia e Referência Dica Campos Lemon 2".
A partir da reforma dos Cursos da Biblioteca Nacional,
Mattos ( 1997), ao referir-se à disciplina Artes Gráficas, da transferência do Curso de São Paulo, Biblioteca Municipal,
afirma que: "Artes gráficas era um curso, uma disciplina muito inte- para a Escola Livre de Sociologia e Política e da expansão do
ressante. Quem dava era uma artista Odetto Guersoni, ele era entalista. ensino nas diversas regiões do país (ver tabela seguinte), esta-
Ele deu para nós, primeiro ele nos ensinou todas as gamas das cores, o beleceram-se algumas problemáticas e vantagens. No primei-
movimento das cores, depois ele deu noções perfeitas de arte grega, arte
ro plano, ocorreu o transplante curricular de São Paulo e Rio
romana. Depois ele nos deu a feitura de um livro artístico, as letras, os
de Janeiro, de modo acrítico, desconsiderando as necessida-
tipos de letras gráficas, as composições gráficas, como imprimir um
des e características de cada local. Ainda, os cursos criados nos
livro ou uma página de livro, a disposição das páginas. Foi uma
diversos Estados contavam com um reduzido quadro de pro-
matéria muito interessante, extraordinária".
fessores, sem dedicação exclusiva à docência. Segundo Souza,
Em 1952, as matrículas foram fechadas em todos os Cur-
F.(1995, p.43): "Esse movimento de expansão do número de escolas
sos de Especialização oferecidos pela Escola. A causa parece ter
foi, certamente, realizado sem maiores reflexões sobre as suas conseqüên-
sido a reforma por que passaria a mesma. Depois desta reforma,
cias, e, portanto, nãfJ levando em conta a sua contribuição para agra-
não foi mais oferecido o Curso de Biblioteconomia; a causa dis-
var a degradação do modelo de ensino". Tal Ülto resultou no fecha-
so não foi possível localizar em documentos. Entretanto, Mattos
mento de vários cursos nos anos 50 e 60, cujas causas aponta-

108 109
Tabela 10: Cursos de Biblioteconomia criados no Brasil: 1911-1969
das seriam: "1) baixa qualidade do ensino; 2) quase inexistência de
pesquisa; 3) reprodução de currículos importados; 4) maioria dos pro-
fessores contratados em tempo parcíal"(Souza, 1995, p.43) e baixa ~Curso da Biblioteca Nacional 1911
qualificação acadêmica. Desta maneira, as investigações em l -Escola de Biblioteconomia da Prefeitura Municipal de São Paulo 1939
torno da biblioteconomia foram insignificantes. Amorim, ao
3 -Escola de Biblioteconomia e Documentação da Universidade da Bahia 1942
fazer uma cartografia bibliotecológica com base na Bibliografia
4 -Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Filosofia Sedes Sapiente 1944
Bibliotecológica Brasileira (1950), publicada pela Biblioteca Cen-
tral da Universidade de São Paulo,justifica a baixa incidência 5 -Faculdade de Biblioteconomia da PUCCAMP 1945

da produção da área, ao afirmar que: "Medindo-se em têrmos de 6 ·Curso de Biblioteconomia do Departamento de Documentação e 1948
vida humana existe apenas uma geração de bibliotecários no Brasil. É Cultura da Prefeitura do Recife

uma geração 'bandeirante' em duplo sentido. De São Paulo surgiram 7 -Curso de Biblioteconomia Nossa Senhora do Sion 1948
os novos rumos, e os bibliotecários por êles orientados desbravaram terre- 8 -Curso de Biblioteconomia da Universidade de Pernambuco 1950
nos contra toda espécie de obstáculos" (Ámorim, 1957, p.179-180). 9 -Curso de Biblioteconomia da Univesidade de Minas Gerais 1950
No segundo plano, houve melhoria qualitativa dos ser- 10 -Curso i 1 Instituto Caetano de Campos 1951
viços das bibliotecas. Maria Luisa Monteiro da Cunha ( 1950, li -Curso de Biblioteconomia da Universidade do Paraná 1952
p.17), no texto A Biblioteca no Norte e no Nordeste do Brasil traça
12 -Escola de Biblioteconomia e Documentação Santa PUC!RJ 1957
as diferenças entre as bibliotecas dirigidas por bibliotecários for-
13 ·Escola de Biblioteconomia eDocumentação de São Carlos 1959
mados e as por bibliotecários cultos, amantes dos livros e do seu
14 ·faculdade de Biblioteconomia da Universidade de Brasília 1961
trabalho, mas sem conhecimentos das técnicas: "Pertencem ao
primeiro grupo: a Biblioteca Pública da Bahia; as bibliotecas da Esco- 15 -Curso de biblioteconomia da Universidade do Pará 1963
la Politécnica e da Escola de Biblioteconomia da Cidade de Salvador; 16 -Curso Autônomo de Biblioteconomia da Universidade do Estado 1963
da Discoteca Municipal de Recife; as novas coleções da Biblioteca do Rio de janeiro
Pública do Maranhão; A Biblioteca Pública de lvlanáus. No segundo 17 -Curso de Biblioteconomia eDocumentação da Universidade 1964
grupo se incluem as bibliotecas públicas de Vitória, João Pessoa, de Federal do Ceará
Natal, Fortaleza e de Belém do Pará... "155• 18 -Escola de Bibliotecários e Documentalistas da Fundação 1965
Como conseqüência desta expansão, surgiram lideran- "Álvaro Clemente de Oliveira"
ças fora do eixo Rio-São Paulo. Mulheres que vão publicar na 19 ·Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Maranhão 1969
área, reivindicar status profissional, lutar pelo estabelecimen- 20 -Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal da Paraíba 1969
to do currículo mínimo, pela regulamentação da profissão e
pela incorporação dos Cursos e Escolas nas Universidades, A incorporação ou criação de Escolas/Cursos de
Biblioteconomia pelas Universidades era uma reivindicação
em especial nas Federais:.

lll
110
antiga e constante dos bibliotecários, que acreditavam ser esta literatura, um conhecimento mediano das mais vulgarizadas línguas
a maneira pela qual a profissão alcançaria status acadêmico e estrangeiras, sem os princípios fundamentais de organização e admi-
social e, principalmente, um modo de os estudantes convive- nistração científicas, sem o conhecimento de psicologia, da sociologia,
rem com outros saberes, possibilitando a inter-relação entre o de relações humanas"(Aragão, 1967, p.6).
ensino técnico e humanista, requisitos necessários para formar Visão utópica. Se antes as pessoas que se interessavam
um profissional apto a atuar no mercado, além de contribuir pela formação bibliotecária advinham de uma classe social mais
para eliminar as escolas de qualidade inferior. Para tanto, as favorecida, supostamente possuíam uma cultura geral ou, em
escolas deveriam ser entregues a bibliotecários experientes para alguns casos, uma outra formação a exemplo de Bernadette
que pudessem orientar, informar e formar futuros bibliotecári- Sinay Neves, engenheira ouAdelpha de Figueiredo, dentista, a
os. Neste sentido, afirma Carvalho (1957, p.125): "...precisamos partir da abertura dos cursos a situação inverteu-se: a procura
pregar para que seja criada, em cada universidade brasileira, uma Es- deu-se por estudantes que não logravam êxito no vestibular
cola de Biblioteconomia, onde se possam definir vocações, preparar pro- para outras profissões, como afirma Schwartzman (1987, p.63):
fissionais capazes de bem estabelecer contato perene e direto com as mas- "Na medida em que o sistema de ensino superior brasileiro se expandia,
sas humanas, visando a sua elaboração em todos os setores'. os cursos de ciências sociais tenderam a se disseminar como uma espécie
Cavalcanti (1957, p.329), ao se referir ao ensino de de segunda ou terceira opção para estudantes que não conseguiam en-
Biblioteconomia no Brasil nos anos 50, afirma que este apre- trar nos cursos mais cobiçados, ou para aqueles -geralmente mulheres -
sentava as mesmas características dos Estados Unidos em p'ara quem a profissionalização não era uma preocupação fundamen-
1923, onde cada escola tinha objetivos e programas diversifi- tal, ou que podiam de Jato aspirar a uma carreira de magistério. As
cados, exigindo para sua melhoria quantitativa a uniformiza- novas 'profissões sociais' - jornalismo, administração,
ção. Nestes termos propõe: "1) Eliminação das escolas de nível BIBLIOTECONOMIA, comunicações - são em grande medida uma
inferior; 2) Anexação das Escolas de Biblioteconomia às universida- tentativa frustrada de wrrigir esta situação. Elas abandonam de vez a
des para: a) garantirem aos seus estudos o grau universitário; b) possi- pretensão intelectual das ciências sociais mais estabelecidas, mas não
bilitarem a existência de melhor corpo docente; c) possibilitarem estági- chegam a constituir um conteúdo cognitivo consistente nem a possuir
os nas bibliotecas da Universidade". um profissional definido. Tanto ou mais que as demais ciências sociais,
A expansão do ensino superior no país, a partir dos anos elas tendem a atrair pessoas estabelecidas e para as quais a luta pela
40, e o aparecimento de novas profissões contribuíram para conquista e manutenção de um nicho legalmente definido no mercado
aumentar as reivindicações dos bibliotecários. Todavia, a cri- de trabalho, pela via legislativa assume prioridade sobre qualquer outra
ação ou anexação de cursos/ escolas pelas universidades não consideração" (destaque nosso)
significou o aumento da procura pela profissão. Na Bahia, no Dados da CAPES ( 1956-1965), referenciados por Teixeira
vestibular de 1957, o número de alunos inscritos foi o menor (1987, p.168), sobre a expansão do número de matrículas em
em relação aos demais cursos da Universidade. Ainda, os apro- relação à expansão das universidades, levam a constatar que
vados não tinham "sólido conhecimento da sua própria língua e nesse período aumentou a procura pela Biblioteconomia,

112 113
-----------------------------1?--::--- - -
'

sendo a maior incidência entre 1962 e 1965. A justificativa


estará provavelmente na regulamentação da profissão e na
aprovação do currículo mínimo, em 1962. Entretanto, ao com-
pararmos parcialmente os dados apresentados, verificamos
que o número de matrículas é inferior às demais áreas apesar
de os percentuais gerais de crescimento apresentarem-se su-
periores aos da Engenharia, da Medicina e do Serviço Social.
Um outro fator da maior significância para o estabeleci-
mento do campo da Biblioteconomia brasileira foi a criação
do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação--IBBD, in ter-
ferindo no ensino, na denominação dos Congressos, antes
Congressos de Biblioteconomia, e das escolas, antes escolas
de Biblioteconomia. A partir de então, é incorporado o ter- CAPÍTUL03
mo Documentação nos eventos científicos e no nome de al-
gumas escolas. "As Escolas de Biblioteconomia passaram a se deno-
minar de Escolas de Biblioteconomia e Documentação, incluindo em BIBIJOTECÁRIO: DO G.é"NERALISTA
seus curric.ulos as técnicas documentais, capacitando, assim, os seus AO SERVO DA CIÊNCIA
alunos a realizarem nas bibliotecas ou nos chamados 'Centros de Do-
cumentação; o trabalho que a investigação e a técnica científica, ar-
tística e literária estão a exigir para a consecução dos seus empreendi- A expansão do número de escolas/ cursos de
mentos. Tal vem sendo a atenção dispensada aos serviços de docu- Biblioteconomia que se processara a partir da Biblioteca Na-
mentação da Biblioteconomia. Es,ta tentativa porém não surtiu o efei- cional, acentuando-se nas décadas de 50 e 60, possibilitou o
to desejado, pois, éfora de dúvida que a documentação não passa da crescimento do número de profissionais fora do eixo Rio de
evolução da Biblioteconomia "(Aragão, 1961, p.134). Janeiro, São Paulo e Bahia. Desde então, as reivindicações da
A expansão do ensino e a incorporação dos saberes da categoria deixaram de ser localizadas e ganharam "conotação
Documentação, no campo da Biblioteconomia, seriam con- nacional". Estas reivindicações, que se concentravam no re-
dições sine qua non, para modificar a formação do bibliote- conhecimento profissional, na melhoria qualitativa e quanti-
cário, agora um profissional detentor de conhecimentos tativa das bibliotecas e na formação dos bibliotecários, eram
especializados, a serviço da ciência. Enfim, um SERVO agora menos humanistas e mais especializadas. Conseqüen-
SERVORUM SCIENTAE.
temente, os discursos nestas décadas privilegiam as bibliote-
cas especializadas, enquanto que as públicas e escolares apa-
recem de modo bastante lacunar.

114 115
A centralização dos discursos em torno desta biblioteca vros, revistas, etc, pelo menos nas bibliotecas técnico- cientificas, mas
justifica-se pelo desenvolvimento mais acentuado da ciência que deveria ser um técnico que entendesse não só de Biblioteconomia,
brasileira a partir dos anos 50, com a criação do Conselho Naci- mas que tivesse também, pelo menos, sólidas noções gerais sobre o as-
onal de Pesquisa e dos seus órgãos subordinados: Instituto Naci- sunto ou assuntos de que tratassem as publicações sob sua guarda,
onal de Pesquisa da Amazônia ( 1952), Instituto de Matemática Pura nas respectivas bibliotecas" (Couto, 1956, p.92).
e Aplicada (1953) e, principalmente, o Instituto Brasileiro de Bi- Este seria o perfil do bibliotecário moderno na acepção
bliografia e Documentação- IBBD ( 1954). Estes órgãos, especial- de Figueiredo, A. (1945), Moraes (1942) e Lydiade Queiroz
mente o IBBD, objetivavam sistematizar políticas e Sambaquy (1956) ou do perfeito bibliotecário, no entender
institucionalizar a produção científica, a fim de fazê-la conhe- de Placer (1953).
cida no âmbito interno, na medida em que até então havia Todavia, estas transformações nos perfis profissionais
tentativas isoladas de controle do que era produzido no e so- dos bibliotecários
bre o Brasil, a exemplo da Fundação Getúlio Vargas e do Depar- não significaram
tamento Administrativo do Serviço Púbtico - DASP. uma valorização da
categoria, uma vez
Bibliotecário: "profissional ideal" a serviço da ciência que continuaram a
serem vistos como,
As mudanças processadas no campo da ciência e da "... um policial a ditar
tecnologia e a incorporação dos princípios da Documenta- normas para cercear
ção na Biblioteconomia brasileira passaram a exigir um bibli- o uso da biblioteca,
otecário mais dinâmico e participativo e, principalmente, es- nada mais" (Figuei-
pecializado, isto é, que conhece~se as principais fontes do cam- redo, N., 1954, p.3).
po em que atuava, suas terminologias e o modo como o mes- Esse "novo perfil" exi-
mo estruturava-se, enquanto espaço de construção de saber. gido ao bibliotecário
Para tanto, do bibliotecário eram exigidos títulos equivalen- está explícito no dis-
tes aos professores e pesquisadores, cujos requisitos necessá- curso dos profissio-
rios seriam o "... domínio do maior número possível de idiomas es- nais que ocupavam
trangeiros, além do perfeito conhecimento do português, formação cargos e funções em
universitária nas técnicas de organização do conhecimento registrado, espaços que favoreciam não somente a divulgação de suas
inclusive métodos de automação" (Lemos, 1970,1 p.20). idéias, mas, e principalmente, possibilitavam que desenvol-
Desta forma "... tornou-se óbvio que o bibliotecário não pode- vessem atividades de gerenciamento, planejamento de políti-
ria continuar a ser apenas um mero arrumador e catalogador de li- cas de informação científica e associativas: Lydia de Queiroz

116 117
Sambaquy no IBBD; Laura Russo, na FEBAB; Felisbela Car- Biblioteconomia atingiu estabilidade como campo, sem, con-
valho, no Curso de Biblioteconomia da Bahia, dentre outros. tudo, refletir em torno das necessidades e perspectivas
Eram discursos de um "ideal profissional", que seria informacionais do público e das bibliotecas de um país extre-
alcançado mediante a incorporação da Biblioteconomia no mamente desigual em todos os seus aspectos; Brasil.
espaço universitário e do seu reconhecimento legal, en- Aqueles discursos, e os atuais, não encontram eco ime-
quanto profissão. Em torno destas duas questões centrali- diato no campo educacional, na medida em que a rigidez dos
zavam-se os debates dos bibliotecários, até o início dos anos currículos, aliada à descontinuidade de políticas de informa-
60, quando foi aprovada a Lei 4084/62, que regulamenta o ção científica, tecnológica, pública e escolar, oferece poucas
exercício da profissão. Se agora estes discursos possibilidades de alterações significativas. De 1984, ano da
reivindicatórios estavam alcançados, outros ainda perma- aprovação do último currículo mínimo, passaram-se mais.de
necem, especialmente, o da valorização e do status profis- dez anos, a sociedade mudou, o avanço tecnológico e cientí-
sional. Situação esta que até o presente momento é reivin- fico alcançou níveis admiráveis de progresso e os conteúdos
dicação de toda a categoria, que busca se enquadrar, às ve- ministrados, nas escolas/ cursos, foram pouco alterados, res-
zes, de modo abrupto e desconectado da realidade nacio- peitando-se as devidas exceções. Alterações que se processam
nal, aos modismos paradigmáticos de outras ciências soci- mais nas disciplinas técnicas, a partir da incorporação do com-
ais. Daí encontrarmos na literatura recente afirmações as putador, do que nas disciplinas teóricas, entendidas como as
mais variadas, como as que consideram a Biblioteconomia que objetivam a formação cultural e humanista do bibliotecá-
como uma ciência pós-moderna e a sociedade brasileira rio. É verdade que esta incorporação tecnológica tem ocorri-
uma Sociedade da Informação. Parece haver nestes "no- do de modo mais agressivo no âmbito das práticas, nas bibli-
vos discursos" um desconhecimento dos problemas soci- otecas, do que no processo ensino/aprendizagem.
ais, que geram marginais e corruptos; educacionais, que No estudo desenvolvido por Souza, S., em 1987, sobre
não conseguem eliminar o analfabetismo das letras, agora as tendências da Biblioteconomia, comprova-se que a área
agravado pelo analfabetismo tecnológico e cultural, que nào progrediu muito na prática e menos na teoria. Em resumo, a
consegue romper com os preconceitos, historicamente " ... técnica[ ... ] avançou bastante, principalmente em função,
construídos, sobre o negro, a mulher e outras minorias so- hoje, das novas tecnologias" (Souza, S., 1987, p.64-65). O
ciais, acrescentando a estes, ainda, o fato do "estrangeirismo motivo da desproporção entre o saber e o fazer
intelectual" que sempre fecundou a mente dos bibliotecá- biblioteconômico, estaria no modo como a profissão é con-
rios brasileiros. cebida: uma atividade de apoio, uma técnica e não um cam-
Esta expressão, estrangeirismo intelectual, é entendida po de saber.
como a absorção de ideários dos países desenvolvidos ou, Butler, em 1930, chamava atenção para este fato ao afir-
como afirma Araújo (1992, p.3), ricos em informação, onde a mar que: "Ao contrário de seus colegas de outra atividade social, o

118 119
bibliotecário, por estranho que pareça, desinteressa-se pelos aspectos te- amareladas, e sempre de mau humor, exigindo na bibliote-
óricos de sua profissão[... ]. O bibliotecário aparentemente permanece ca um silêncio sepulcral. O Bibliotecário era "um homenzinho
isolado na simplicidade do seu pragmatismo, tomado isoladamente, de surrada indumentária, fundas rugas e melenas caindo pelas ore-
para satisfazer seu interesse intelectual" (Butler, 1971, p.ix-x). lhas, maniacamente debruçado sobre injólios e, na sua obsessão,
O isolamento do bibliotecário parece que está no modo alheio ao mundo ao seu redor; estranho ao convívio humano.
como comporta-se na sua cotidianeidade, escondendo-se Titularmente: conservador" (Placer, 1954, p.3). Em se tratando
"... nas saletas das bibliotecas por detrás das técnicas por mera atitude das mulheres, algumas eram despojadas de qualquer atrativo
de fuga, porque ele está consciente de seu pouco preparo. Então, isso é físico, porém solícitas, delicadas e organizadíssimas. Barros,
evidente, mais do que evidente. Ele não quer ter muito contato porque ( 1997), ao descrever uma bibliotecária que marcou a sua in-
ele sai inseguro [das escolas]. Salvo raras exceções " (Ferreira, 1997). fância, relata que: "Ela se vestia de preto cotidianamente, talvez
Um dos artigos publicados na imprensa periódica, em por motivo de luto, não sei, eternamente de chapéu mesmo estando
1955, que possibilita traçarmos uma panorâmica do campo é em recinto fechado[ ... ]. As senhoras daquela época, todas usavam
A Profissão do Bibliotecário de Lydiá Sambaquy. Neste trabalho, chapéus na rua. Só que o afã dela de trabalhar era tão grande que
a autora afirma que, mesmo a profissão não sendo ainda re- ela achava que era secundário tirar o chapéu [... ]. Ela era uma
conhecida e valorizada, oferecia nesta época "oportunidades figura que não era bonita, não era elegante, acho que cega de um
magníficas de trabalho" (Sambaquy, 1956, p.335), na medida olho, como figura não era nada cativante, mas tinha um carisma,
em que possibilitava " ... experiências variadas, iniciativas inte- um charme que impressionava".
ressantes e até mesmo sedutoras" (Sambaquy, 1956, p.335). A mudança da imagem do bibliotecário humanista, con-
Essas oportunidades magníficas de trabalho atendiam servador, imperfeito, para progressista e moderno dava-se na
mais e diretamente às bibliotecas especializadas, do que àque- medida em que este não se preocupava somente em adquirir
las mais gerais, que envolvi<~m a biblioteca pública e escolar. livros e pô-los em ordem, mas o seu interesse maior era que
Não significa que a autora não as referende, mesmo breve- todos os materiais existentes na biblioteca fossem lidos e con-
mente, chegando a comparar as práticas bibliotecárias às dos sultados: "A missão do bibliotecário [moderno, perfeito], em todos os
professores. Neste caso, contribuía o bibliotecário na livros, éJazer com que as coleções reunidas prestem serviços informan-
(in)formação dos jovens e adolescentes, cuja atividade não do, educando, [... ] o bibliotecário, obrigatoriamente, deve ser um co-
requeria qualquer orientação específica. Todavia, para atuar nhecedor dos livros que adquiriu e, para bem conhecê-los, é mister que
com a informação especializada, o bibliotecário deveria ser também conheça, perfeitamente, a matéria sõbr-e que tratam"
um investigador descobrindo e produzindo saber, aproximan- (Sambaquy, 1956, p.335).
do-se assim do pesquisador. Sambaquy, mesmo tentando desmistificar a profissão,
Tornava-se então indispensável desmistificar a imagem ainda, a relaciona a um suporte específico, o livro e, também,
do bibliotecário, guardião de papéis empoeirados e fichas a sua ordenação, ou seja, a função primeira do bibliotecário

120 121
estaria não somente em adquirir os livros, mas, e principal- Ao fazer a distinção entre o bibliotecário conservador e o
mente, em cuidar da sua organização como medida para se- bibliotecário moderno, o especialista, Sambaquy afirma que aquele
rem lidos e consultados. Logo, os catálogos constituíam-se na seria o guardião do acervo, erudito, com conhecimentos en-
representação de um acervo devidamente organizado. Deste ciclopédicos. Este perfil representava uma época em que os
modo, as técnicas serviam como medida para avaliar e de- saberes poderiam ser dominados por poucos indivíduos. En-
monstrar o nível de competência do profissional. Esta idéia quanto que o bibliotecário moderno voltava-se para a organiza-
centrada no acervo e no catálogo como elemento ção técnica dos materiais bibliográficos e o seu uso, assumin-
determinador da ordem estabelecida não difere da concep- do a posição de orientador de leitores, um pesquisador im-
ção de Camillo de Montesserate, em 1889, que o considerava parcial, um documentalista, seguidor de novas técnicas de
como o primeiro dever do ofício do bibliotecário, possibili- documentação (Sambaquy, 1956, p.337): "Pouco a pouco, vem
tando, assim, que o bibliotecário "desenterrasse do seu vocabulá- surgindo o bibliotecário para as bibliotecas médicas, versado em literar
rio expressões como 'não sei: 'não posso: 'não há meios: 'é de difícil tura médica e nos recursos para a pesquisa bibliográfica médica; o
solução: 'não existe: 'acha-se perdido!, etc. Nada desacredita tanto bibliotecário que se dedica às Ciéncias Naturais e que aprende a conhe-
como essas fórmulas tão usadas referido-se a um livro que não consta cer todas as exigências próprias das bibliotecas de m'useus de História
no catálogo"(Russo, 1961, p.4). Natural bem como as características da pesquisa bibliográfica nesse
A "postura moderna", a ser assumida pelo bibliotecá- setor de conhecimentos; o bibliotecário que prefere estudar tudo sobre
rio, inicia-se com o avanço da pesquisa científica quando a Artes Plásticas, a fim de ser capaz de identificar todos os processos de
produção do conhecimento cresce de modo "assustador", gravura e de classificar as obras de arte pelas diferentes escolas, etc; o
nos diversos campos do saber, ocasionando assim um des- bibliotecário que se dedica, exclusivamente, à Música e que sabe deter-
controle do que era produzido no e sobre os mesmos. Este minar a origem das mais singelas melodias; o bibliotecário que prefere
fenômeno, denominado de t;xplosão bibliográfica, "... apa- penetrar no tempo e no espaço, trazendo à atenção dos historiadores os
nhou de surpresa os bibliotecários de feitio documentos bibliográficos do passado para servirem aos conhecimen-
tradicional" (Fonseca, 1988, p.1 07). Daí a necessidade emer- tos atuais e futuros; outros há que se deixam seduzir pela Ciência e
gente de se voltarem para atender a um novo tipo de lei- pela 1ecnologia e estão desenvolvendo sistemas perfeitos de informa-
tor: o pesquisador, que precisa saber em que medida os ções sõbre os conhecimentos recém-adquiridos os laboratórios de pesqui-
novos tipos de documentos contêm informaçôes relevan- sa dos centros de investigação científica e tecnologia, das universida-
tes para suas investigaçôes, e isso a biblioteca e a bibliogra- des e das empresas industriais" (Sambaquy, 1956, p.338).
fia tradicionais não lhes ofereciam. Dessa "orgia bibliográ- As facetas do bibliotecário qualificado elencadas pela
fica" (Fonseca, 1988, p.39) surgem outros suportes de in- autora somente seriam atingidas mediante o domínio da li-
formação. Assim a erudição do bibliotecário cedia espaço teratura científica da área em que trabalhavam e das técni-
à especialização. cas biblioteconômicas, que contribuíssem para organizar e

122 123
divulgar a produção intelectual por meio das bibliografias e perder "a sua atitude mental [ ... ] e curiosidade por todas as
de buscas em centros nacionais e internacionais de infor- manifestações da cultura". Somente assim tornar-se-ia "... um
mação e documentação: "Bibliotecário-qualificado seria uma especialista completo, e pelo espírito, uma mentalidade esclarecida [se-
pessoa que possua os títulos reconhecidos como válidos no país onde ria} ele um verdadeiro 'servidor dos servidor-es da ciência'. Assim, rear
está situada a biblioteca, quer se trate de um diploma, de uma gra- lizará o bibliotecário moderno a imagem [e a função] do perfeito bibli-
duação, registro ou certificado. O bibliotecário-qualificado deve rece- otecário"(Placer, 1953, p.3).
ber um tratamento em relação com seus títulos e suas funções. É um Neste sentido, ressalta-nos Fonseca, E. (1997): "O único
estudioso, não um empregado - um diretor de serviço e não um ponto negativo que vejo na especialização do bibliotecário em uma
guardião; mas sobretudo deve merecer a consideração geral pela efi- án:a do saber - científico, tecnológico ou humanístico - seria a de
cácia dos serviços de informação que proporciona" (Redmond, fechar-se em sua especialização, desconhecendo o que se passa em ou-
1970, p.126). tras ár-eas e recusando a interdisciplinaridade. Mas a especialização
No entanto, Sambaquy lembra os profissionais que não tem muitos pontos positivos como: 1 Q) evitar que o bibliotecário fique
se dedicam ao setor especializado do conhecimento, ou seja, em posição de inferioridade quando abordado por especialistas alta-
os que atuavam em bibliotecas públicas, escolares e universi- mente diferenciados; 2Q) tornar o bibliotecário capaz de indexar e resu-
tárias. Mas somente nas bibliotecas especializadas o bibliote- mir artigos científicos de determinada área do saber. A especialização,
cário moderno poderia contribuir para o progresso da ciên- entretanto, deve ser combinada com um sadio generalismo, sem que o
cia, pois estas eram os "perfeitos centros de informação bibliotecário caia no ridículo de pretender conhecer tudo, como um
científica" (Sambaquy, 1956, p.338). Aristóteles ou um Leonardo da Vinci ".
Caberia, então, ao bibliotecário especializado em bibli- Mesmo com as mudanças tímidas, é verdade, na
ografia científica a difícil tarefa de facilitar, ao estudioso, a Biblioteconomia, é mais valorizado o profissional que atua
localização e a consulta de volumosas e extensas coleções. nas bibliotecas especializadas e universitárias. Esta valori-
Atividade desenvolvida com o apoio "... de numerosas bibliografi- zação ocorre no nível salarial, no status, nas condições de
as, índices, 'abstracts; etc. que constituem instrumentos de inestimável atualização e no uso das modernas tecnologias de infor-
valor para o controle bibliográfico sistematizado da literatura científi- mação. Logo, a literatura evidenciando as bibliotecas uni-
ca mundial"(Sambaquy, 1956, p.338). versitárias e especializadas é mais acentuada do que em
Placer, em 1953, chama atenção para a tão necessária relação ãs públicas e escolares. Isto demostra o quanto a
especialização do bibliotecário: "... ser especialista é usar an- evolução da Biblioteconomia tem sido irregular: "Nós temos
tolhos, para ver uma só direção". Portanto, o bibliotecário- evoluído em passos largos em determinadas áreas[... } enquanto
especialista não deveria limitar a sua visão de mundo a um que em outras bibliotecas públicas e escolares, nós não demos um
determinado campo, como se "o resto do universo [fosse] passo à frente, durante esses últimos quinze anos" (Neves, 1962,
ínfimo e desimportante ao seu estrabismo" de modo a não apud Sousa, S., 1987, p.65).

124 125
Entendemos as bibliotecas escolares e públicas como as forma em um dos dez cursos e Escolas de Biblioteconomia existentes no
básicas para formação do leitor, aquele que no futuro utiliza- país [anos 50] está destinado a organizar serviços, montar bibliote-
rá aquelas. Em conseqüência disso muitos pesquisadores e cas, motivar o hábito de leitura e uso das bibliotecas, criar serviços de
universitários desconhecem os mecanismos de funcionamen- informação, compor coleções bibliográficas, etc; enfim, cabia-lhe come-
to de uma biblioteca. Para minimizar esta "defasagem biblio- çar tudo, partindo exatamente do princípio" (Sambaquy, 1956,
tecária", surgem as visitas dirigidas aos "calouros", serviço de p.337).
orientação aos leitores e outras denominações atribuídas a Nessa diversidade de atuação do bibliotecário brasilei-
estas atividades, que entendemos como pouco eficazes. Po- ro, nesse "fazer-tudo", centrava-se o seu pioneirismo, que o
deríamos atribuir este problema ao sistema de ensino, em diferenciava dos seus companheiros europeus e americanos,
que as bibliotecas escolares são praticamente inexistentes ou herdeiros de rico patrimônio bibliográfico e altamente trei-
quando existem encontram-se, como afirma Silva, W. (1995), nados. Daí, defender a autora que as bibliotecas brasileiras e
em "estado de miséria", mas é simplesmente desviar para uma serviços de documentação estivessem sob a direção de profis-
outra instância, geralmente a ausência de políticas públicas sionais experientes, pois "os jovens bibliotecários são neófitos no
para o livro e a leitura, a suposta neutralidade do bibliotecá- oficio, sujeitos à orientação dos mais velhos, e longo tempo verão de-
rio frente às questões sociais, culturais e educacionais. correr antes de lhes serem confiados a direção e orientação de serviços"
Não significa, entretanto, que as bibliotecas especiali- (Sambaquy, 1956, p.337) ·
zadas e universitárias encontram-se com acervo atualizado, Contraditoriamente, no Brasil, pela força das pressões
recursos humanos e financeiros que possibilitam atenderem dos serviços de documentação e bibliotecas, que necessita-
plenamente às necessidades informacionais do seu público, vam de orientação e tinham carência de bibliotecários, os re-
mesmo que isto fosse possível nos tempos atuais, face ao ace- cém-formados encontravam-se em situação peculiar, assumin-
lerado crescimento da informação e dos suportes onde ' são do desde o início diversas atividades e problemas: organizan-
registradas. Mas, comparativamente às públicas e escolares, do serviços e coleções desatualizadas, convivendo com a
encontram-se em melhor situação, e para comprovar isto bas- incompreensão absoluta dos órgãos públicos e a falta perma-
ta-nos visitá-las. nente de recursos. Em compensação, não lhes faltavam opor-
As diferentes facetas do bibliotecário modemo elencadas tunidades para organizar, dirigir e reformar e, principalmen-
por Sambaquy seriam determinadas pelas tendências indivi- te, lutar para superar estes entraves. O quadro apresentado
duais e formação cultural. Entretanto, os bibliotecário brasi- por Sambaquy, na década de 50, parece-nos recente, embora
leiros tinham o privilégio de ser verdadeiros pioneiros no seu com novas nuances. Dilemas dos cursos/escolas de
campo de atividades, na medida em que, pela natureza de Biblioteconomia, posto que o que é ministrado em sala de
sua profissão, tratavam e distribuíam de modo sistemático a aula articula-se muito pouco à realidade brasileira em geral e
produção científica e literária. Assim, "cada bibliotecário que se das bibliotecas em particular. Se assim não fosse, estaríamos

126 127
formando uma nova mentalidade bibliotecária? Ou os alu- do contexto nacional sem, contudo, desconhecer a impor-
nos, ao tomarem conhecimento da mesma, permaneceriam tância e a relevância da literatura e das experiências estran-
nos cursos/ escolas? Desta feita, o ensino centraliza-se em dis- geiras: analfabetismo, os preconceitos sociais e raciais, ca-
cursos ideais, geralmente tomando como parâmetro a litera- rência e deficiência de escolas e bibliotecas, diferenças nos
tura e as experiências norte-americanas. Hipoteticamente, níveis sociais, culturais, econômicos e informacionais entre
esta pode ser a causa do número acentuado de evasão esco- o Norte e Sul do país, dentre outros. Interessa-nos discutir
lar nos cursos de Biblioteconomia, como evidenciam os estu- outros temas, sem dúvida relevantes e que possibilitam no-
dos de Carvalho e Perota (1989), Martucci e Nastri (1990), vas determinações teóricas ao campo como economia e an-
dentre outros. Neste termos relata Barros (1997): ''A teoria é tropologia da informação e sociedade informática. Todavia,
sempre utópica. Ela te mostra um ângulo ideal das coisas. Na prâtica, algumas vezes, estes discursos parecem-nos destituídos de
você estâ se defrontando com a realidade o tempo todo. Agora pior[... ] criticidade e incapazes de estabelecer relações com os as-
é uma prâtica do bibliotecâTio que tem no discurso uma coisa e a ação pectos referidos. Enquanto isso as bibliotecas ou, para
é completamente outra, muitas das vezes. Isso eu acho seTissimo. Não t adotarmos termos mais "modernos", centros de informações,
hâ coerência entre o discurso e a prâtica, muitas das vezes, mais muito r laboratórios de aprendizagem, centros de cultura e convi-
mesmo". vência, amargam todos os tipos de dissabores. Assim, o bi-
A respeito da absorção de saberes de outros países, ge- bliotecário brasileiro, recém-graduado, adentra no merca-
ralmente os desenvolvidos, Amorim, em 1957, afirma que as do de trabalho com "significativa formação", especialmente
críticas a serem feitas aos bibliotecários estavam no modo pelo nas disciplinas técnicas, mas alheio às macroquestões: soci-
qual absorviam saberes oriundos de outras nações, especial- ais, culturais, econômicas. Este ensino desvinculado da rea-
mente os E.U.A, onde a Biblioteconomia estabele~eu-se como lidade resulta em um profissional supostamente incapaz de
ciência moderna. Em conse9üência disso, a produção e are- compreender problemas extra-muros da biblioteca, reduzin-
flexão sobre os problemas biblioteconômicos brasileiros re- do suas práticas ao "fazer-fazer", isto é, sem questionar se os
tratava~ o caráter passivo, a aceitação e adoção de técnicas, procedimentos técnicos e recursos tecnológicos utilizados se
sem refletir se as mesmas aplicavam-se à realidade nacional. adequam ao interesse do público a que serve, ou seja, de
Entretanto, reconhecia que "... a juventude mesma da que modo os problemas de natureza política, educacional,
Biblioteconomia nacional nos permite apropriar conhecimentos e téc- dentre outros, interferem diretamente na biblioteca? Qual
nicas estabelecidas sobre bases jâ firmes, evitando o desperdício de tem- a perspectiva a ser encontrada para resolver a falta de
po com os empirismo de uma lenta e laboriosa descoberta da pólvora" afetividade entre bibliotecário e público? Como a biblioteca
(Sambaquy, 1956, p.337). pode contribuir com a sociedade para melhorar as condi-
Como Amorim, defendemos um olhar dos bibliotecá- ções de vida de milhões de crianças desnutridas e de analfa-
rios mais para dentro dos problemas presentes e cotidianos betos? Será que o ensino ministrado nas escolas de

128 129
Biblioteconomia possibilita a percepção destas questões que cionais, o bibliotecário veio a considerar seu ofício como um sacer-
margeiam a chamada Sociedade da Informação? dócio secularizado, ministrando um sacramento de comunhão cul-
Julgamos complexa esta questão, na medida em que o tural a almas individuais"(Butler, 1971, p.x). As concessões
ensino de Biblioteconomia é destituído de criatividade e dar-se-iam no plano técnico e os sacrifícios pelo aumento
centrado na suposta neutralidade, não possibilitando ao es- do trabalho a ser desenvolvido. Para esta autora, a coope-
tudante fugir do dado pelos códigos e tabelas e atualmente ração, o intercâmbio entre bibliotecas favoreceria a supe-
pelos pacotes bibliográficos computadorizados, "fonte da ração das constantes dificuldades com pessoal e acervo:
modernidade bibliotecária". Entendemos que a automação "Unidas as bibliotecas, unidos os bibliotecários, fortalecidos com
pouco tem contribuído para modificar os perfis profissionais sua capacidade de servir; ampliar o prestígio de seus serviços e en-
dos bibliotecários que continuam a Servir ao público como tendeTem o benefício dos seus trabalhos, que obtém, assim [pela co-
repassadores de informação e não produtores dela. Mattos
l~~i
operação] os melhores resultados" (Sambaquy, 1956, p.338). A
(1997) afirma que o "... computador dentro da biblioteca só !: cooperação teria, ainda, a finalidade de o bibliotecário
serve para fazer listagem bibliográfica, simplesmente isso". Será acompanhar as mudanças ocorridas em C&T; e favorece-
que Mattos não tem razão ao fazer esta afirmativa? ria superar "... os sérios dilemas bibliográficos, a fim de que possa
Podemos considerar Sumários Correntes, Levantamen- controlar a literatura mundial, mesmo em setores altamente
tos Bibliográficos (através de processos manuais e/ ou especializados"(L.Q.S., 1955, p.4). Deste modo, ampliava as
eletrônicos), acesso a banco e bases de dados nacionais e in- possibilidades de atendimento ao público, minimizava seus
ternacionais e outros serviços oferecidos aos leitores como problemas com recursos humanos, financeiros e bibliográ-
produtos de informação? Entendemos produtos de informa- ficos, o que se daria através da reunião de seus esforços, da
ção como aqueles resultantes de. investigação sistemática e soma de suas coleções e, principalmente, da permuta de
contínua, obedecendo ao rigor metodológico, e que a partir informações e publicações. Aspectos que se agravavam me-
de um saber acumulado resulte noutros estudos. Assume en- diante o crescimento da produção do conhecimento e com
tão, o bibliotecário,1o papel de pesquisador, que estuda, ana- desenvolvimento das bibliotecas e centros de documenta-
lisa, interfere na realidade para modificar atitudes, processos, ção. Tais fatos permitiram " ... dar uma atenção especial ao
serviços, dentre outros aspectos que necessitam ser conheci- setor de intercâmbio, por razões econômicas" (Suaiden,
dos visando à melhoria qualitativa e quantitativa dos serviços 1978, p.l5), na medida em que quase sempre há uma acu-
oferecidos pelas bibliotecas. mulação de publicações em duplicatas ou de pouco inte-
Um outro aspecto do discurso de Sambaquy é a coo- resse que não são incorporadas ao acervo e úteis a outras
peração e o intercâmbio entre bibliotecas, atividade para a bibliotecas. "Além disso, a permuta não somente é um meio de
qual o bibliotecário devia estar preparado, pois exigia con- aquisição, mas, sobretudo, uma oportunidade de se estabelecer in-
cessões e até sacrifícios. "Em sua preocupação com valores emo- tercâmbio cultural e difusão do conhecimento humano. Através

130 131
dele se propaga o espírito de colaboração, a união de esforços, a os centros de documentação. Tal fato resultou, sem dúvida,
solidariedade e a amizade"(Suaiden, 1978, p.l5). em um descompasso no campo, que se viu invadido por en-
Com tal finalidade, Sambaquy sugere a criação de um genheiros, químicos, dentre outros que conheciam as suas
Centro Nacional de Pesquisa e Bibliografia com objetivo de "... cri- necessidades informacionais e dominavam as terminologias
ar e estimular a permuta de documentos e informações entre institui- do seu campo, capacitados a selecionar, organizar e indexar,
ções nacionais e internacionais, [... ] [a fim de promover] levanta- de modo mais satisfatório, a documentação de que precisa-
mentos da produção bibliográfica em todos os seus aspectos e para vam para o desenvolvimento de seus estudos e pesquisa. En-
registrar; com precisão, os dados referentes ao desenvolvimento cultu- quanto os bibliotecários estiveram "presos" aos códigos e ta-
ral, artístico, tecnológico do país em que operam" (L.Q.S., 1955, p.5). belas, não conseguiram corresponder aos interesses dos estu-
Considerando-se as devidas diferenças, a proposta des- diosos, a quem interessa a informação e não o modo como a
te Centro identifica-se com as idéias de Peregrino' da Silva, mesma se constituía em objeto de guarda e conservação em
em 1911, quando este sugere actiação de um Serviço de Permu- bibliotecas e centros de documentação isso aliado ao fato de
tas Internacionais de Bibliografia e Documentação, conforme tra- que estes profissionais pouco se valiam das máquinas como
tamos no capítulo anterior. instrumentos de trabalho. "A minha geração não foi muito acos-
Neste aumento da produção em C&T -anteriormente tumada e nem era incentivada a trabalhar com máquinas. Isso acho
denominado de explosão bibliográfica-, sem precedentes em que foi um dos grandes empecilhos dessa geração", relata-nos Bar-
toda a história, os bibliotecários sentiram-se impossibilitados ros (1997).
de organizar esta grande produção pelos métodos tradicio- Sambaquy (1956, p.339) afirma que os profissionais de
nais. Este fato possibilitou que outros profissionais, insatisfei- outros campos transcendiam o fazer bibliotecário, e por se-
tos com as atividades dos bibliotecários, que não rem "mais engenhosos, lembravam-se de colocar máquinas a serviço
correspondiam às necessidades dos pesquisadores, da Bibliografia e das informações cientificas e tecnológicas", prolife-
adentrassem no campo: "... eram engenheiros, físicos, químicos e rando, assim, a Bibliografia Mecanizada que fazia uso de má-
especialistas de outras ciências e de variadas técnicas, que, desespera- quinas elétricas, eletrônicas - e, atualmente, os bancos e ba-
dos com a incapacidade dos bibliotecários informarem de maneira ses de dados -, com a finalidade de, em sendo experimenta-
rápida, perfeita e econômica, deixam seus laboratórios, suas pesquisas das, substituir os catálogos e registros usuais, cttia elaboração
e seus trabalhos para tentar ordenar a documentação que precisam" demorada e o crescimento excessivo da documentação exigi-
(Sambaquy, 1956, p.339). am solução imediata, eficiente e eficaz. Tal fato oportunizou
A penetração de outros profissionais no campo da a criação e a expansão dos centros de documentação e infor-
Biblioteconomia ocasionou a necessidade de os bibliotecári- mação bibliográfica, como um novo espaço de atuação do
os buscarem a proteção legal da profissão como forma de bibliotecário, espaço que não se constituiu efetivamente por
garantir e defender o seu espaço de trabalho: a biblioteca e estes profissionais, mas por outros de diferentes campos, mais

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habilidosos e tecnicamente preparados para lidar com a in- basta-nos verificar o recurso alocado para compra do livro
formação registrada em diferentes suportes, enquanto o bi- pelas bibliotecas, em relação a outros materiais: sonoros, CD-
bliotecário restringia suas práticas às informações impressas, ROM, visuais, etc. Estes suportes figuram como suplementa-
diga-se livros, sendo estes materiais seu objeto de desejo. res de informação, na medida em que, por mais que as bibli-
Evidentemente que os bibliotecários, diante da pene- otecas incorporem diferentes suportes, os impressos ocupam
tração de outros profissionais no campo julgado de seu domí- a primazia dos seus acervos. Logo, os livros desempenham,
nio, o da informação, saem em defesa da profissão: "... há muita ainda, a sua "rudimentar função": registrar e perpetuar o pen-
gente que está querendo tirar esse lugar; são analistas de sisternas [... ]é samento humano, o que nos possibilita concluir que vivemos
gente que vai analisar um sistema de biblioteca[... ] mas sem que lhe e viveremos, por muitos séculos, na Sociedade do Livro, que
dê toda a informação, ninguém monta, porque lhe falta a colabora- é, sem dúvida, parte da Sociedade da Informação, conside-
ção do analista da informação. É analista da informação, por razões rando-se, no entanto, as novas linguagens, formatos e meios
de acessá-la: "Se o livro vai morrer ou não, essa é urna discussão
legais e de formação escolar, só o bibliotecário, mais ninguém. Tem o
seu vocabulário técnico, até! vá falar em "irnprenta ", para urn ana- 'I restrita apenas ao círculos dos filólogos, pois, no fundo, tudo é urna
lista de sistema, para ver se ele sabe o que é f vá pedir a ele o que é o
"colofon ",para ver se ele sabe o que é! Assim corno ele, se disser: algu-
mas gírias lá do linguajar dele eu também posso não entende?: Cada
I
I'
questão de definir o que estamos chamando de livro. O homem conti-
nuará, de qualquer maneira, a inventar dispositivos para sua perma-
nência, consistência e alcance ao seu pensamento e às invenções de
um no seu lugar (Ferreira, 1997). (grifo nosso). sua imaginação. E tudo fará também para que esses dispositivos se-
O confronto do bibliotecário com outros profissionais jam adequados ao seu tempo. A sabedoria, corno dizia Brecht, conti-
se dá na medida em que o aparecimento de outros suportes nuará sempre passando de boca em boca, mas nada impede que esten-
do conhecimento necessários a sua formação o habilita a or- damos um microfone às bocas que falam, para lhes dar maior alcan-
ganizar bibliotecas, centros. de documentação ou espaços ce"(Machado, 1994, p.212).
onde haja essencialmente impressos, diga-se livros. O ideal
seria instrumentalizá-los a m!lnipular informações, indepen- Bibliotecário: "SERVUS SERVORUM SCIENTAE"
dente do suporte no qual se encontre registrada. Este é um
discurso comum entre os bibliotecários, porém na prática não Com a penetração de outros profissionais no campo da
se concretiza efetivamente, respeitando-se as devidas exceções. Biblioteconomia, a partir dos anos 50, os bibliotecários come-
O livro, mesmo com o aparecimento de outras formas de çam a repensar suas práticas de" ... organização de suas biblio-
registro da memória, ainda é o objeto de desejo dos bibliote- tecas e na interpretação dos objetivos de seus serviços"
cários. Desejo que se encontra representado na seleção, na (Sambaquy, 1956, p.338).
aquisição, na catalogação e na classificação e nos processos A nova postura, de especialista, assumida pelos bibliote-
de saída, circulação. Esta afirmação é facilmente constatada: cários diante da profissão não se processou por vontade des-

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tes profissionais, mas pelas pressões externas que exigiam uma gênio eivado de ranzinices, etc." (Sawaya, 1957, p.l49), que obe-
postura mais dinâmica e participativa diante do avanço as- decia rigorosamente às normas e regulamentos estabelecidos,
cendente em Ciência e Tecnologia (C & T), e pelas mudan- que freqüentemente se tornavam obsoletos e inadaptáveis:
ças operadas no campo educacional e social. Em sendo as- "Nos casos dos institutos cientificas, então tais regulamentos foram,
sim, fazia-se mister mudar suas práticas, questionar o ensino por vezes, entraves sérios à intensificação da pesquisa em vários setores
ministrado nas escolas/ cursos de Biblioteconomia, reivindi- daciência"(Sawaya, 1957, p.148).
car a regulamentação da profissão. Enfim, adequarem-se às Este perfil caricato do bibliotecário marcou negativa-
novas regras, pois aquelas antes de seu domínio não mais mente o desenvolvimento da profissão e, conseqüentemen-
correspondiam à emergência dos cientistas e leitores comuns te, sua aceitabilidade pelo corpo científico, resultando em
de bibliotecas. Para tanto, era exigida a especialização dos bi- conflito nas relações entre ambos. Do mesmo modo, se esta-
bliotecários, caso contrário estariam propensos a permane- beleceram atritos e disputas entre os bibliotecários-conservadores
cerem os guardiões do conhecimento, depositando em ou- e os bibliotecários-progressistas, modernos; aqueles exigiam des-
tros técnicos atribuições julgadas de sua alçada e competên- tes uma postura mais erudita e estes, maiores capacidades téc-
cia. Desta feita, o seu trabalho deveria assumir diferentes nicas daqueles.
facetas, orientando a leitura de todas as classes, desde o "... Apesar de reconhecer a importância do bibliotecário
operário, o lavrador, ao técnico, ao especialista. Que tenham amor à como auxiliar do cientistas, a visão de Sawaya reduzia as suas
educação e façam da divulgação cultural, o motivo de suas dívidas práticas na reunião e classificação dos documentos. Portan-
que sirvam à ciência e a tecnologia com dedicação, entusiasmo e efici- to, uma visão passiva, formada pelo exercício da técnica. Modo
ência" (Sambaquy, 1956, p.338). de percepção que não difere da atual, pois, mesmo desenvol-
Em defesa da categoria, alguns cientistas como Paulo vendo outras atividades como de planejamento e gerenciais,
Sawaya publicam na Imprensa Periódica, em 1956, ensaios o estigma de arrumador de livros ainda permanece.
evidenciando o papel e a importância do bibliotecário especi- Para minimizar os problemas entre bibliotecários e pes-
alizado, ao mesmo tempo em que fazem críticas a sua atuação. quisadores, assim como capacitá-los a responder tecnicamen-
Este cientista reivindica a presença do bibliotecário nos locais te à emergente produção científica nacional, durante a reali-
onde a pesquisa científica era intensa. Contudo, o bibliotecá- zação da 13a. Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da
rio era visto como persona non grata nesses ambientes, por al- Ciência- SBPC, Blumenau, lO a 16 de julho de 1966, na Seção
guns pesquisadores e administradores que negavam os "mé- Informação Cientifica, foi recomendado: "a) a promoção da en-
ritos incontestáveis desta nova carreira" (Sawaya, 1957, p.l48). contros entre bibliotecários, cientistas e documentalistas, com a finali-
De acordo com este autor, essa negação estaria na idéia dade de aperfeiçoamento das técnicas de informação entre bibliotecári-
do bibliotecário como profissional "... subalterno, guardador de os e público; b) a preparação dos bibliotecários e docurnentalistas
livros e de custódia de documentos, indivíduo mais ou menos de mau especializados através de Cursos de Pós-Graduação com base na for-

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mação pregressa especializada; c) a realização de estudos com o objetivo qualquer avaliação crítica, gerando um constante recomeço
de automação dos serviços oferecidos pelas bibliotecas; d) o incentivo à das atividades, principalmente daquelas relacionadas a publi-
divulgação das atividades cientificas em processo no Brasil; e) a intro- cações periódicas onde "... a atividade do bibliotecário neste
dução da disciplina Teoria da Comunicação nos currículos das esco- particular vem sendo meramente passiva" (Sawaya, 1957,
las de Biblioteconomia e Documentação" (Sociedade, 1966, p.95). p.l48).
As críticas dos cientistas ao bibliotecário estavam na im- Os métodos modernos utilizados pelos bibliotecários
portância dada por estes ao seu trabalho, que julgavam pres- não diminuíam os aspectos negativos da relação bibliotecá-
tar todas as informações necessárias ao pesquisador: quando rio-pesquisador. Estes reclamavam que, ao solicitarem a in-
apenas 10% das informações colocadas à sua disposição eram formação desejada, o bibliotecário, ao não encontrá-la no acer-
relevantes, as demais não passavam de leitura "lucrativa aos vo da biblioteca onde trabalhava, não despendia qualquer
cientistas" (Sawaya, 1957, p.148). esforço para obtê-la em outros centros bibliográficos nacio-
Uma outra crítica estava na concentração demasiada em nais e internacionais. A atitude desejada pelos pesquisadores
reunir, classificar, dispondo todo o seu tempo em reclassificar não seria a da suposta neutralidade ou descaso do bibliotecá-
materiais já classificados, o que o impedia de realizar outras rio em relação à informação solicitada, mas deveriam infor-
atividades, gerando um descrédito no pesquisador quanto a mar que: "A biblioteca não dispõe do material que deseja, mas talvez
sua função informativa. possa ajudá-lo na busca do que precisa[... ]. A arte que deseja encon-
Para Sawaya, o bibliotecário ideal seria aquele que con- tra-se em tal biblioteca bastará telefonar para lá e o conseguirá [... ].
tribuísse com o cientista, atualizando a bibliografia de seu in- Esse periódico não existe em São Paulo é, por certo, obtê-lo dentro de 15
teresse, c acompanhasse os progressos que ocorriam no seu dias [... ]. Esta revista não se encontra no Brasil, mas procurará a
campo de atividades em outros centros. Para tanto, deveriam biblioteca conseguir um bibliofilme nos Estados Unidos ou na Fran-
ter "o espírito necessário para não se entusiasmar em demasia com os ça"(Sawaya, 1957, p.150).
métodos modernos, muito ejicienÚs mas muito complicados, a maio- Mas, diante dos problemas das bibliotecas brasileiras e
ria dos quais inexeqüíveis entre nós. Se puderJazer isso, já terá contri- da formação deficiente dos bibliotecários, a atitude acima se-
buído enormemente para o progresso cientifico" (Sawaya, 1957, ria, para Sawaya, "estratosférica". Entretanto, recomendava
p.148). Enfim, "para um pesquisador; o melhor bibliotecário(... ) se- que a solução para resolver as relações entre bibliotecários e
ria aquele que tivesse se dedicado exclusivamente à pesquisa, durante cientistas estaria na boa vontade e no esforço de ambos, a
anos, e por fim, resolvido abandoná-la, para tomar-se bibliotecário" fim de vencerem "os óbices que todos conhecemos no cam-
(Sawaya, 1957,p.148). po da bibliografia corrente" (Sawaya, 1957, p.l51).
O alerta de Sawaya quanto à adoção dos "métodos mo- Desta forma, o bibliotecário ao obter informação deve-
dernos" estava em que, cada vez que surgia uma novidade ria lê-la, analisá-la, discuti-la e resumi-la. Estas atividades
técnica, imediatamente era absorvida pelo bibliotecário, sem contribuiríam para que o bibliotecário deixasse "... de ser um

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colab&rador e passasse a ser o co-autor do trabalho. lvJ.as devemos con- de informação para o desenvolvimento de seus estudos e pes-
vir; esta será uma situação excepcional, embora desejável em muitos quisas. Enfim, o ato de servir à ciência era um sinal de
sentidos. O bibliotecário que a ela se dedicar; naturalmente deixará modernidade bibliotecária, ou seja, uma atividade que reque-
sua profissão e passará à categoria de cientistas'' (Sawaya, 1957, ria especialização em um dado campo. Em sendo assim, esta
p.153). expressão marcava a diferença entre o bibliotecário
Esta seria uma posição imaginável se o bibliotecário não generalista, visão predominante até os 40, e o bibliotecário
se colocasse em uma posição subalterna aos demais profissio- qualificado, especializado.
nais. A insígnia SERVO DO SERVOS DA CIÊNCIA, adotada A idéia do bibliotecário-servo, sob a ótica do especialis-
pelos profissionais, evidencia qual o seu papel frente aos pes- ta, voltado para os interesses de leituras alheias, na França, já
quisadores, ou seja, aquele que diante do cientista atuasse se constituía em objeto de debates desde o início do século
como repassador de informação e simples elaborador de bi- XX pela Associação dos Bibliotecários Franceses: "Retirando o
bliografias. bibliotecário do círculo dos leitores para tomá-lo um profissional de
A idéia existente do bibliotecário e documentalista como leitura alheia, Chmtes Sustrac inverte as conotações negativas em ge-
SERVUS SERVORUM SCIENTAE é constante na literatura ral associadas à noção de serviço: só pode estar efetivamente a serviço
dos anos 50 e 60. Nestes termos, afirma Vieira (1983, p.83): dos leitores quem é mestre no campo do legivel. O 'auxiliar da ciência;
"... disseram-nos há algumas décadas atrás que o bibliotecário era o da história, da arte; não é apenas o guardião dos tesouros arquivísticos
'servo dos servos da ciência; isto é, um profissional sem identidade que lhe foram confiados mas também aquele que 'põe à disposição dos
própria, um técnico encarregado de, apenas, processar a coleção e colocá- outms as riquezas intelectuais que guarda" (Chartier, A e Hébrard,
la à disposição daquele público privilegiado. Um profzssional amorfo, 1955, p.l51).
passivo, pretensamente neutro, de atuação secundária, nos bastidores. Cavalcanti, M. (1957, p.329), ao fazer a distinção entre
Essa seria uma Biblioteconomia ârcunstancial, apendicular; a qual o documentalista e o bibliotecário, atribui a este o papel ex-
prevaleceu por longo tempo e, infelizmente, ainda persiste como mode- clusivo de servo da ciência, na medida em que desenvolvia
lo para os profissionais acomodados ". diferentes práticas em prol dos cientistas, em especial compi-
A concepção do bibliotecário servo da ciência, menciona- lando bibliografias.
da a Vieira, não corresponde à dos bibliotecários dos anos 50 O debate em torno das atividades do bibliotecário e do
e 60. No entanto, o próprio significado da palavra Servo: su- documentalista é bastante polêmico. Alguns defendiam a
jeito, vassalo, dependente, subalterno, inferior, pessoa a ser- idéia de que não existia o campo da documentação, por não
viço de algném, pode levar-nos a esta compreensão. Entre- apresentar diferenças significativas daquelas já exercidas pe-
tanto, os bibliotecários entendiam a expressão como algo los bibliotecários. Outros afirmavam não haver diferença en-
positivo, na medida em que se consideravam como auxiliares tre ambas as profissões e, por último, os que julgavam o cam-
dos cientistas, a quem estes recorriam quando necessitavam po da Documentação uma prática totalmente oposta à

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Biblioteconomia, sem, contudo, deixar de considerar aquela compreendida como sinônimo de bibliografia: "A prepara-
uma evolução desta, em especial, nas atividades deixadas de ção, divulgação e utilização de bibliografias é labor essencial de tôda
lado pelo bibliotecário. biblioteca que pretenda fomentar e servir à pesquisa. É preciso exami-
nar a situação das bibliografias, explorar-lhes as possibilidades e re-
Bibliotecários em busca de identidade lacionar mais intimamente êste aspecto do serviço bibliotecário com
a pesquisa. Deve-se lembrar que as bibliografias formam parte do
Com a criação do IBBD e com a visita de Herbert conjunto de contrôle do conteúdo de publicações que constituem 0
Coblans, Zeferino Paulo e .Jesse Shera, ao Brasil, nos anos 50, acervo da biblioteca"(Litton, 1969, p.7).
se estabelece na Biblioteconomia um novo debate, na medi- A ruptura entre Biblioteconomia e Documentação ocor-
da em que estes consultores trazem na bagagem a Documen- reu a partir da Revolução Industrial, quando grande número
tação, causando impacto e repulsa em alguns bibliotecários de trabalhadores desloca-se para os centros urbanos. Então,
que se sentiam ameaçados com a incorporação de outros sa- se fazia mister capacitá-los, principalmente alfabetizá-los. Cou-
beres: reprodução de documentos, mecanização bibliográfi- be então às bibliotecas e às escolas lhes oferecer leitura públi-
ca, indexação, aliada à exigência de uma postura mais cientí- ca e educação de adultos. Envolvidos neste "ideal da cultura
fica destes profissionais. Sobre esta questão relata-nos Fonse- popular e da educação de adultos eles [os bibliotecários} não se aperce-
ca, E. ( 1997): '1nicialmente, a atitude dos bibliotecários em face da beram de que um novo tipo de usuários começava a surgir; em conse-
Documentação foi de burrice histérica, conservantismo ou esperteza. qüência do desenvolvimento da ciência e da tecnologia: o especialista"
Uns eram burros e histéricos; outros por serem conservadores; e ainda (Fonseca, 1988, p.1 07). Especialista que centrava seu interes-
outros pelo temor de serem superados pelos documentalistas: esperteza se em artigos de revistas, relatórios de pesquisa, anais de con-
que garantia interesses criados". gresso, materiais que "... a biblioteca e a bibliografia tradicio-
Shera e Egan (1961), aoapresentarem o plano da_obra nais não ofereciam" (Fonseca, 1988, p.1 07). Cabe-nos desta-
Documentação de S. C. Bradford, descrevem as causas que car que a Documentação como disciplina e preocupação aca-
ocasionaram o aparecimento da documentação. Para estes dêmica e científica começa efetivamente na Europa, Bélgica,
autores: "A documentação tem suas raízes na Biblioteconomia, e nos fins do século XIX, quando Paul Otlet e Henry La
pode-se dizer que tem seu início quando, em fins do século Xl!,johann Fontaine, em 1895, criam o Instituto Internacional de Bibliogra-
Tritheim compilou seu Liber de Scriptoribus Ecclesiasticis e o seu fia, atualmente denominado de Federação Internacional de In-
Catalogus llustrium Virorum Germaniae, e meio século mais tarde formação e Documentação-Em.
Konrad Gesner preparava sua Bibliotheca Universalis, a primeira Esta "atitude de intolerância" dos bibliotecários, no en-
tentativa de uma bibliografia universal" (Shera e Egan, 1961, tender de Shera e Egan, propiciou que os documentalistas
p.17). A partir destas obras proliferam Bibliografias- comer- buscassem meios para atender aos especialistas através de
ciais, nacionais, etc.- estando deste modo a Biblioteconomia outras estratégias: indexação, resumos informativos e

142 143
indicativos, de que a tradicional Biblioteconomia não dava nominados de: "Arquivista, arquivologi.sta, bibliotecário, biblioteconômo,
conta, surgindo, assim, as bibliotecas especializadas e os cen- bibliógrafo, documentarista, documentalista, criptólo, documentador, téc-
tros de documentação, cuja diferenciação entendemos como nico em documentação, especialista em documentação, coordenador de
uma questão puramente semântica. informação, especialista da informação, bibliotecário pesquisadcrr; biblio-
No Brasil, a penetração das teorias da Documentação tecário especial, bibliotecário técnico, analista da literatura, cientista da
causou um desequilíbrio no modo de pensar e fazer literatura, encarregado de comunicação científica - eis a emaranhada
biblioteconômico, aparecendo discursos combativos: "...por lista de títulos profissionais ou ocupacionais em uso nos vários países do
certos bibliotecários aos quais faltou a iniciação filosófica necessária mundo, para desiguar aqueles que se imcumbem desta ou daquela fase da
para compreender que as posições mais aparentemente antagônicas se documentação"(Silva, 1968, p.160).
conciliam em sínteses dialéticas e o conhecimento de histórias das idéi- Silva alerta que alguns títulos correspondiam às deno-
as que os teria evitado refletir conflitos entre novas e velhas ciências, minações tradicionais, não oferecendo qualquer dúvida na
como ocorreu, por exemplo, com a História e a Sociologia. Os debates compreensão das funções dos arquivistas, bibliotecários e
entre bibliotecários que defendiam e atacavam a documentação assu-
miu, por vezes, aspectos de histeria coletiva, contribuindo para muita
confusão - ainda hoje persistente- entre Biblioteconomia e Documen-
I do criptólo. Entretanto, quando se tratava do especialista
em documentação " ... as discrepâncias, contradições e im-
pressões proliferam" (Silva, 1968, p.160). Essa proliferação
tação" (Fonseca, 1988, p.1 07). "tumultuosa de títulos inespecíficos" (Silva, 1968, p.160), usa-
Neves, ao distinguir o documentalista do bibliotecário, dos como sinônimos, requeria a fixação de uma terminolo-
atribui a este o papel exclusivo de SERVO da ciência, na me- gia que facilitasse o fluxo de idéias e a troca de conceitos,
dida em que desenvolvia inúmeras atividades, em especial, entre os interessados em Documentação. Deste modo é co-
compilar bibliografias: "A função do servo dos servos da ciência é a mum encontrarmos, na literatura dos anos 50 e 60, as ex-
única do bibliotecário, ao qual cumprem outras tarefas, das quais pressões; bibliotecário-documentalista (ou documentarista),
entretanto, o documentalista não participa ativamente. O trabalho documentalista e outras para designar as práticas e o perfil
dêste último é seguido sobretudo em centros de documentação (incluin- deste "novo profissional".
do grande número de bibliotecas, entidades e editôras de certas biblio- Evidência desta polêmica é constatada em Edson Nery
grafias, etc.), enquanto o bibliotecário poderá ser encontrado, tanto da Fonseca (1964), na obra Universidades, Bibliotecas e Museus ...
nessas instituições, como em outras não cientificas, como, por exem- na qual relata a viagem de estudos realizada nos E.U.A, quan-
plo, as bibliotecas públicas"(Cavalcanti, 1957, p.329). do da sua participação no Seminário Inter-Americano sôbreBibliote-
Todavia, um dos maiores problemas da Documentação e cas Universitarias, em janeiro de 1961. Neste evento, foi levanta-
dos documentalistas era a inexistência de terminologia definiti- do que no Brasil havia dois tipos de bibliotecários: os que acei-
va e consagrada, dificultando o comércio de idéias entre entida- tavam a Documentação como distinta da Biblioteconomia,
des e aqueles que lidavam com documentação, podendo ser de- embora relacionada a ela, e os que não atribuem qualquer dis-

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tinção entre ambas. Maria Luisa Monteiro da Cunha afirma
que aceitava a Documentação [. .. ]. Nós éramos os únicos brasileiros
que só havia um bibliotecário, no primeiro caso, Edson Nery.
participantes do Seminário, de modo que não ficava bem treplicar.
Tal discussão acabou em risos pelos demais participantes.
Eu considerava honroso ser o único bibliotecário brasileiro. Mas, na
Ao inquirirmos
verdade existiam outros, como Bernadette Sinay Neves, na Bahia,
o professor Edson
Tere:zine Arantes Ferraz, em São Paulo e Lydia de Queiroz Sambaquy,
Nery (1997) sobre
no Rio de janeiro".
esta questão, este nos
Uma outra polêmica, em relação ã Biblioteconomia e ã
relata que: ''Eu nunca
Documentação, ocorreu quando a Universidade de São Pau-
disse que no Brasil só
lo, Escola de Comunicações Culturais, atualmente Escola de
havia documentalistas
Comunicações e Artes, propõs um curso de Biblioteconomia
em vez de bibliotecários.
e um outro de Documentação8 , que não chegou a efetivar-se.
O que afirmei [...1foi que
No ensino, como evidenciado em passagens anterio-
a Documentação estava
res, a Documentação é incorporada como disciplina e como
sendo progressivamente
denominação de alguns cursos- Cursos de Biblioteconomia
aceita no Brasil por bi-
e Documentação. Daí encontrarmos, na literatura, vários
bliotecários capazes de
artigos reportando-se a esta questão. De igual modo, o
darem 'o seu a seu dono;
IBBD promoverá os chamados Cursos de Documentação
isto é, de deixar aos
Científica, a fim de suprir as deficiências de documentalistas
documentalistas as tare-
no país.
fas de reunir; organizar e
Este profissional deveria ser "... um especialista que seja bem
difundir informações de
informado e domine um dos mmos ou subramo da ciência e da técni-
caráter cientifico, ficando
ca de maneira que possa redigir o resumo ou a sinopse de um artigo de
os bibliotecários com as
matéria muito especializada, e que, ademais, conheça a fundo tôdos
nobres tarefas de organi-
os processos modernos de reprodução, difusão, e utilização de toda
zar e dirigir bibliotecas
sorte de documentos, os sistemas de classificação especialmente a CDU,
gerais, de atendimento ao
e as regras de catalogação" (Fonseca, 1958, p.l26).
público infanto-juvenil, a deficientes físicos, a leitores hospitalizados
O desenvolvimento destas práticas objetivava especial-
e aprisionados, de participação em programas nacionais de alfabeti-
mente a compilação de bibliografias especializadas face ã cres-
zação e educação permanente. É verdade que, na ocasião, minha
querida e saudosa amiga Maria Luisa Monterio da Cunha, afir- 8 O anteprojeto para criação desta Escola foi elaborado por: Maria Luisa Monteiro da
mou, em alto e bom som, que eu era o único bibliotecário brasileiro Cunha, Alfredo Hamar, Laura Russo, Heloisa de Almeida Prado,Terezine Arantes
Ferraz e ZHda Machado Taveira.

146 147
cente produção, principalmente, de periódicos científicos. Mas, contraditoriamente, afirma que: "O perigo da separa-
Práticas que se ampliam quando os cursos incorporam no cur- ção das duas atividades, Biblioteconomia e Documentação, ftlizmente
rículo disciplinas com esta finalidade. está superado em nosso país como em outros. A incorporação das discipli-
Durante a realização do Simpósio sóbre Bibliografia e Docu- nas ao currículo das Escolas de Biblioteconomia e a inclusão das atividades
mentação Cientifica, em 1956, é evidenciado que o ensino até dos documentalistas nos textos legais da legislação profzssional são reali-
então ministrado pelas escolas de Biblioteconomia deveria pas- dades irreversíveis. O que não impede, porém, que de quando em vez sur-
sar por amplas reformas afim de atender melhor e amplamente jam manifestações em sentido contrário" (Dias, 1967, p. 9) .
ãs necessidades dos pesquisadores e cientistas (Sambaquy, 1956, O fato de os bibliotecários demorarem a compreender
p.338), adotando, portanto, os princípios da Documentação. e adotar a Documentação demonstra-nos o tanto que estes
Este evento tinha como objetivo reunir bibliotecários e cientis- profissionais tendem a recusar mudanças quer seja nas suas
tas para que levantassem as necessidades das bibliotecas cien- teorias quer seja nas suas práticas, criando para isso diversos
tíficas, focalizando os problemas da pesquisa bibliográfica e da e diferentes dispositivos -leis, decretos, artigos, etc.- em de-
formação do bibliotecário e do documentalista. fesa, principalmente, dos seus interesses, apesar de os discur-
Com relação à incorporação da Documentação pelos sos proclamarem um fim comum, isto é, benefícios para o
Cursos da BN, afirma Dias: "... sem poder alterar a nomenclatura campo, como se sucedeu com a aprovação da lei 4084/62,
dos cursos de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional[... ] poderia- objeto do capítulo seguinte. Vale lembrar que Suzanne Briet
mos, em curto prazo, colocar os nossos Cursos em condições de atender (1955) e Herbert Coblans (1957), fortalecidos pelos depoi-
às novas exigências surgidas com o advento da documentação" (Dias, mentos de Jesse Shera e Verner Clapp, ao serem questiona-
1959, p.151). dos sobre o "que faz o documentalista que o bibliotecário não
Em 1967, este autor julgava necessário que, com a mu- possa fazer?", respondem: "nada, isso é uma questão de no-
dança nas denominações das Escolas de Biblioteconomia, dos menclatura" (Briet, 1955, p.120).
Congressos e, principalmente, com a incorporação, no currí- Para concluirmos este capítulo, recorremos ao texto Situ-
culo, da documentação, ''fosse revista a legislação [a lei 4084/62] ação Atual do Leitor Brasileiro, de autOiia de.Jordão Emerenciano
concernente às categorias profissionais de bibliotecários e (1954, p.2), apresentado no Primeiro Congresso de
documentalistas para que fiquem nitidamente delineadas as suas ahi- Biblioteconomia, por definir o perfil desejado para o bom bi-
buições e, em conseqüência, proporcionando a ambos oportunidade bliotecário-servo. Ao tecer as características deste profissional,
no campo da organização e da divulgação, difusão e disseminação este autor afirma que a sua vocação seria SERVIR, e não ser
da informação especializada" (Dias, 1967, p.S). Mesmo conside- um romancista, ensaísta ou historiador. Esta condição, a de
rando que bibliotecários e documentalistas tinham como atri- servir, era-lhe dada pela sua formação: "Sua missão é a de <Yu-
buição disseminar informações especializadas, Dias julgava ne- dar aos outros e de facilitar a tarefa dos estudiosos". Cabendo-
cessário definir legalmente os seus espaços profissionais. lhe, portanto, lembrar-se de que a biblioteca e o acervo não

148 149
lhe pertencem, não devendo ser usado para sua "recreação
pessoal ou para uso dos seus amigos" (Emerenciano, 1954, p.2).
Boa aparência, amabilidade, cortesia, boa saúde, seri-
am os requisitos básicos ao bom bibliotecário, aliados ã inteli-
gência, excelente memória e boas humanidades. "O bibliote-
cário pode e deve ser pessoa afável, e atenciosa sem afetação e sem o
falso amaneiramento dos barbeiros, perfumistas e costureiros. Há uma
falsa finura, uma intrinseca fidalguia que impedem de muitos gestos e
degrandeaparato"(Emerenciano, 1954, p.4).
Para este autm~ o bibliotecário moderno deveria ser uma
pessoa atenta aos leitores e ao ambiente físico da biblioteca,
procurando torná-la tanto quanto possível agradável, obser- CAPÍTUL04
vando detalhes como as cores das paredes, cortinas, tapetes,
temperatura. Ainda, ser tecnicamente habilitado: "...se lhe falta
a formação técnica, pouca importância têm a saúde, a corte- E O VERBO SE &'Z LEI:
sia e outras prendas pessoais" (Emerenciano, 1954, p.4). Des- REGULAi'viENTAÇÃO DA PROFISSÃO
te modo, o bibliotecário poderia exercer plenamente a "bele- BIBLIOTECÁRIA
za de sua missão, de auxiliar da ciência, de SERVO DA CIÊN-
CIA" (Emerenciano, 1954, p.4). (destaque nosso).
Até o início dos anos 60, este servo- incluso tanto o bibli- Até 1962, os bibliotecários brasileiros encontravam-se no
otecário como o documentalista- não tinha sua profissão reco- dilema de não terem garantido os seus direitos pela ausência
nhecida por lei. Então se fazia necessário legitimar o seu papel de uma lei que regulamentasse a profissão. Era o que faltava
de modo que pudesse servir sob a luz da justiça, ter seu espaço para consolidar os avanços que vinham ocorrendo, mesmo
garantido e reservado, evitando que químicos, físicos, biólo- timidamente, desde os anos 30: ampliação do número de es-
gos, etc. ocupassem esta sua função: "A pro[?Ssão do bibliotecário colas e associações de classe, organização de eventos científi-
não foi reconhecida entre as prof?Ssões liberais, os estabelecimentos de en- cos e reconhecimento pelo DASP da Biblioteconomia como
sino não sofreram a influência de um 'padrão' de Escola de Biblioteco- profissão de nível superior, dentre outras.
nomia; não existe legalmente, em todos os EStados, a regulamentação do Com o objetivo de terem sua profissão reconhecida, os
exercício da profzssão e, noto ser comum em todos os EStados a inexistência bibliotecários-líderes utilizam-se dos favores políticos, para alcan-
de um órgão coordenador cuja competência seria entrosar todos os tra- çarem esta finalidade, julgada mais que necessária, impres-
balhos relativos à Biblioteca" (Fonseca, 1954, p.1). cindível para o exercício da profissão. Por Bibliotecários-líderes,

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-------~·------- ..

entendemos aqueles que representavam a Biblioteconomia pelas instãncias políticas e por estarem situados na Capital
junto aos movimentos associativos, em órgãos como o IBBD, FederaL
e os que atuavam no campo pedagógico. Quando da aprovação da Lei 4084/62, que regula-
Deste modo, são constituídos dois grupos, fortemente mentou a profissão do bibliotecário, os cariocas tiveram
representados e apoiados por lideranças políticas. O grupo pouca interferência, apesar de contarem com a presença
Baiano, centrado no Deputado Raimundo Brito, e o grupo do IBBDe da Associação Brasileira de Bibliotecários, nome que
Paulista, em torno de Ulisses Guimarães. O primeiro movi- nos faz entender que a mesma tinha uma abrangência
menta-se em torno de Felisbela Carvalho e Esmeralda Aragão nacional, mas, na verdade, restringia-se aos funcionários
e o segundo, em torno de Laura Russo. "A posteriori", da Biblioteca NacionaL
centram-se na figura de Rogê Ferreira, Almino Monso e Au- Entendemos que a aprovação de uma lei que garantisse
relio Viana. o exercício da profissão bibliotecária tinha as seguintes fina-
O ativismo destes dois grupos até 1959 não tinha alcan- lidades:
çado qualquer resultado, na medida em que os projetos, os a) resguardar e garantir o mercado de trabalho: "Sem
ofícios e os constantes pedidos aos seus representantes no uma lei que regulamente a profissão [do bibliotecário] e o seu
legislativo encontravam-se na "estaca zero", como afirma Dias exercício no país, não se pode evitar as nomeações improvisa~
(1959, p.231): "O projeto de leiNº4. 770/58 que regula a profissão das ou indiscriminadas que proliferam entre nós, fruto de
do Bibliotecário-Documentalista no Brasil ainda tramita morosamente uma incompreensão das necessidades de bons serviços funci~
na Assembléia Legislativa Federal, apesar da vigilante assistência que onando em lugar de serviços deficientes, mal dirigidos e ori-
lhe tem sido dispensada pela FEBAB [. .. ] e outras associações regia~ entados, por pessoas sem gabarito e formação profissional"
nais, através [de] ofícios e pedidos pessoais aos deputados para sua (Aragão, 1961, p.2).
aprovação (Aragão, 1961, p.2). b) legalizar e estruturar de modo eficiente o "cartório
Até 1959, o único reconhecimento legal da profissão do profissional" (Souza, F., 1994), através da criação dos
bibliotecário tinha sido feita pelo DASP, que a classifica como Conselhos de Classe;
carreira de nível superior e de natureza técnica e científica. c) dar ao ensino de Biblioteconomia respaldo legal equi-
Cargo técnico ou científico seria aquele para cujo exercício , parando-o às demais carreiras de nível superior e;
fosse indispensável a aplicação de conhecimentos científicos
d) conquistar a valorização e status profissional reivin-
de nível superior de ensino, conforme explicitado no Decre- dicado pelos bibliotecário.
to nº 35.956, de 1954.
Aragão (1961, p.82), ao referir-se à tramitação no Con-
O modelo de ensino tomado para esta classificação fo-
gresso Nacional do anteprojeto de lei, que tratava da profis~
ram os cursos da BN, por contarem com uma estrutura já
são de bibliotecário e regularizava o seu exercício, afirma que:
consolidada historicamente, por serem os mais conhecidos

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. .. ~ ~ ---. )~

"Os bibliotecários brasileiros vêm lutando, há mais de quatro anos, todos os meios e sob diversas formas a importãncia do biblio-
para conseguir a sua aprovação, e em dois congressos consecutivos da tecário para o desenvolvimento da educação e da ciência.
classe o tema tem suscitado amplos e calorosos debates, concluindo-se Figueiredo, N. (1961, p.2), em 1961, no artigo Bibliotecário êsse
em tôdas as oportunidades pela necessidade imperiosa de vir a dispu- desconhecido, reporta-se à mesma questão, quando afirma que:
tar um direito que a sua formação profissional lhe assegura em igual- "Os bibliotecários brasileiros ainda são considerados meramente como
dade de condições com outras profissões para as quais há campos de profissionais comuns, dos quais não se conhecem bem a formação,
ação restrito e delimitado não se permitindo a ingerência de outros nem as atribuições especificas da profissão".
profissionais. Também o bibliotecário que se diploma por escola de Rodrigues, R., em 1979,julga que "uma das causas res-
Biblioteconomia de nivel superiorjá não suporta intromissão de quem ponsáveis pela grande parte dos problemas atinentes à
quer que seja". Biblioteconomia brasileira" (p.2) era a ausência de divulga-
ção. Nos anos 80 e 90, estas reivindicações continuam. Miranda
A trajetória para concretização do verbo apud Guiliano (1992, p.12) chama atenção parao fito de que
"ninguém valoriza o que não conhece. Divulguem e lutem
Os discursos reivindicadores em torno da aprovação pela profissão de vocês". Carvalho e Perota (1984, p.l4), ao
de uma lei que regulamentasse a profissão do bibliotecário estudarem a evasão escolar nos cursos de Biblioteconomia,
tinham como objetivo explícito obter respaldo legal para acreditam que "a falta de motivação dos alunos é ocasionada,
exercê-la. sobretudo, pelo desconhecimento da profissão bibliotecária".
Contudo, acima deste objetivo, como anteriormente Para Guimarães e Guarezzi ( 1994, p.381), "... o primeiro passo
referenciado, estava a preocupação dos profissionais de res- [para divulgar a projzssão} talvez seja a conscientização da coletividade
guardarem seus espaços de trabalho, atingirem status e valo- - e do bibliotecário - sobre a verdadeira junção social da proj'tSsão e,
rização profissional. Todavia, a lei, tão esperada, não garantiu num contexto educacional mais amplo, contribuir para o avanço
o alcance destes objetivos e muito menos contribuiu para cultural, cientifico e tecnológico".
minimizar "... os problemas que afetam a Biblioteconomia brasileira. Para Fonseca (1955, p.19), além da falta de divulgação,
Discorrer sobre eles aqui e agora seria 'chover no molhado' pois são o maior problema da Biblioteconomia Brasileira e Latino-
problemas já bastantes debatidos, embora a solução para muitos ain- americana estava na ausência de nomenclaturas para definir
da não tenha sido encontrada" (Rodrigues, 1979, p.2): a falta de o campo, e os profissionais que dele fazem parte.
integração entre os bibliotecários e ausência de divulgação Entretanto, julgamos esta questão a partir de outra ma-
ampla e real da Biblioteconomia. triz: a) ausência de postura profissional: geralmente o bibli-
A falta de divulgação da profissão é evidenciada por di- otecário mantém uma posição subalterna diante dos com-
versos autores em diferentes épocas. Em 1954 e 1956, panheiros de outras áreas, quer seja no modo como os aten-
Sambaquy (1955) julga necessário que fosse proclamada em de, geralmente de maneira paterna, quer seja na forma como

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se posiciona diante do mundo social, político, educacional e rios eram reconhecidos mais pela sua capacidade intelectual,
cultural. Atitude prejudicial que gera má interpretação do geralmente grandes literatos, do que pelas suas práticas bibli-
seu fazer; portanto, permanece a postura do SERVO DO otecárias, com ressalva a Peregrino da Silva, Ramiz Galvão e
SERVO DA CIÊNCIA, só que modernizada face ao uso dos Rubens Borba de Moraes.
computadores; b) baixa criatividade para adaptar as técni- Durante a realização do Primeiro Congresso Brasileiro
cas e tecnologias às necessidades da clientela a quem em- de Biblioteconomia, Carlos Frederico, cronista social do Diá-
presta sua força de trabalho, e em alguns casos rejeição à rio do Norte, do Recife, afirma que: "Hoje em dia, a mulher tem
incorporação dos elementos não humanos nas suAS biblio- outro sentido dado [à] vida. Não deixando jamais de ser feminina
tecas. O uso deste pronome é proposital, acrescido de MEU, [sic] ela alia essa qualidade ao gosto pelas coisas que a cultura impõe,
MINHA e os demais na medida em que é comum ouvirmos e se completa. É mais mulher". Contínua o jornalista, "... neste con-
expressões como: a minha biblioteca dispõe de tantos livros gresso se tem uma visão das moças de hoje. São inteligentes, desemba-
e/ ou periódicos, meus funcionários merecem ganhar mais, raçadas, sabem manter uma conversação. Nessa geração em caminho
os usuários da minha biblioteca são treinados a usar os com- para dias melhores, se pode confiar. Sabe ela o que quer epara onde ir"
putadores que se encontram disponíveis em nosso salão de (Bol.lnf. IBBD, 1954).
leitura e tantos outros exemplos dantescos, que demostram Contrário a este elogio feminino, Figueiredo, N. (1961,
a personificação das instituições públicas; c) rejeição às mu- p.2) afirma que: "E:rtquanto nos tiverem em conta somente como
danças, às críticas e à absorção de novos saberes à área, e d) moças - com exceção aos dignos cavalheiros que nos honram como
desqualificação profissional: acreditamos que seja esta a cau- colegas - que ganham bem e nada produzem de útil, e que passam o
sa dos demais problemas. tempo em sua repartição na leitura dos livros da biblioteca, ou de '
Não aceitamos, todavia, os discursos que atribuem a revistas que guardam em gavetas de trabalho quando assim julga-
baixa valorização e o status social do bibliotecário ao caráter dos, repetimos, não atingiremos a altura que desejamos".
feminino da profissão. Estes são falares sem expressão para Barros ( 1977), ao re.portar-se ao Curso de
uma profissão que teve sua gênese dominada pelos homens Biblioteconomia da Sedes Sapientae, relata que o mesmo era
e, nem por isso, neste período, lhe foi dado o real valor. Vale considerado como um Curso de "espera- marido", onde as
ressaltar que aos homens bibliotecários cabiam os cargos de moças de boa família iam estudar para obter um conheci-
coordenação e, às mulheres bibliotecárias, os de subordina- mento especializado. Provavelmente, esta mesma concepção
ção, exceção para Lydia Sambaquy, que dirigiu, por muitos estende-se a Professoras, Assistentes Sociais e Enfermeiras.
anos, o JBBD;Jannice Monte-Mór, Maria Alice Barroso e Celia Enfim, são aspectos que transcendem à simples divul-
Zaher, a Biblioteca Nacional; Yone Chastínet, no comando do gação do que seja a Biblioteconomia e do que faz o bibliote-
Programa Nacional de Bibliotecas Universitárias-PNEU, dentre cário. Divulgação que se torna complexa, na medida em que
poucas outras. Interessa observar que os homens bibliotecá- o que é promulgado sobre o campo não corresponde, algu-

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mas vezes, ao concreto. É prática comum os cursos de gradu- sentido, atual : "Rodei a catraca da porta de entrada, onde, do
ação, quando saem ã "cata de adeptos", face à baixa procura lado de dentro, se postava uma velha senhora com os braços cruza-
pela carreira nos exames vestibulares, listarem uma infinida- dos. Perguntei-lhe em que lugar eu poderia me sentar a fim de termi-
de de atribuições, de perspectivas de atuação dos bibliotecári- nar de escrever o meu texto. Sem nada dizer; ela lentamente ergueu o
os. Como exemplo, citamos: o bibliotecário é o profissional braço direito indicando-me uma das portas para a sala de leitura no
responsável pela organização de bibliotecas, centros de docu- andar térreo. [... ]Quando adentrei a sala de leitura[... ]- começou
mentação e de pesquisa, atuando como profissional da infor- o inferno 'psiu psiu! Onde o senhor vai?' surpreendeu-me uma se-
mação e pesquisador; a profissão oferece uma gama de opor- nhora sentada logo atrás da porta e cuja fisionomia não deu para
tunidades de trabalhos em editoras, livrarias, agências de via- perceber muito bem. Expliquei-lhe que desejava terminar de ler e escre-
gens, centrais de informação, mapotecas, videotecas. Para ver um texto para cumprir um compromisso. Ela deu com a cabeça
tanto, ao profissional é exigida postura crítica, criatividade e de lado e continuei seguindo em direção a uma das mesas. 'Psiu,
atitudes gerenciais, dentre outras. psiu' Vem aqui, senhor. .. '- era uma segunda senhora que, atrás de
Não discordamos da idéia de que o bibliotecário seja um balcão, me chamava com um dedo para perto de si. Repeti-lhe o
capaz de exercer todas estas funções. Mas, será que os cursos objetivo da minha visita [... ] mas ela com um cenho de pequena
de graduação os capacitam para executá-las eficientemente? autoridade, exclamou secretamente que ali eu não poderia ficar; pois
Contraditoriamente, os possíveis interessados pela área lidam se tratava de um local de consulta. Ia dizer-lhe que consultaria o
no seu cotidiano com bibliotecas e centros de documentação meu próprio manuscrito, mas de pronto desisti deste propósito em
pouco dinâmicos, acervos desatualizados e profissionais que função da feição fria e mumificada que eu tinha pela frente. Joguei
retratam a figura caiicata, explicitada por Anatole France, no os braços para cima e, frustado, com o rabo entre as pernas, saí da
livro A Revolta dos Anjos. sala ... · (Silva, E., 1991, p.97-98).
Evidentemente, não pociemos generalizar, dizendo que Se esta imagem fosse lembrança do passado e se a
todos os bibliotecários sejam lunáticos, carcereiros do saber, Biblioteconomia estivesse consolidada enquanto campo, não
e que se valem de regras, códigos, fichas, monitores para haveria sentido nas sugestões de Rodrigues, R. (1979, p.6-7)
afugentar público e traças; inimigos de ordem, sempre pron- ao listar os itens que deveriam ser tratados em uma campa-
tos a rebelarem-se, "pondo fogo", quebrando as grades do nha de divulgação da profissão, os quais seriam: "importância
sacralizado "templo das almas". Ezequiel Teodoro da Silva, das informações e das bibliotecas no desenvolvimento social, cultural e
na obra de Olhos Abertos... , relata a experiência negativa que econômico do país"; - o que é biblioteca e Biblioteconomia; -
teve na BN, onde precisava concluir um texto para uma con- importância de se adquirir hábitos de leitura e pesquisa desde a escola
ferência que iria proferir no }Q Ciclo de Estudos da Comissão primária; -importância da pesquisa e leitura em biblioteca;- recursos
Brasileira de Bibliotecas Públicas e Escolares, o que nos faz acre- disponíveis em uma biblioteca;- necessidade de se ter em todos os níveis
ditar que a imagem descrita por France ainda é, em certo da educação escolar noções de utilização de bibliotecas; - o que é que

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Jaz o bibliotecário; - evidenciar o nível cultural que deve ter o é a lei 4084, a 4084 é a cara da Laura, é ela, sem a menor dúvida.
bibliotecário". (grifo nosso) Ela teve o apoio muito grande de Rogê Ferreira para a aprovação da
lei. No Congresso foi Rogêf:i'erreira que apresentou" (Mattos, 1997).
Como anteriormente frisado e pela literatura analisada, E ainda: "Ela levou essa lei até a aprovação para que não
a necessidade de fazer a Biblioteconomia e o bibliotecário co- mudassem uma vírgula da lei e saiu tal qualfoi aprovada. Então, eu
nhecidos pela sociedade de dar à biblioteca seu real valor é um acho que todo o mérito da Laura foi ter aprovado a lei" (Mattos,
discurso que acompanha a profissão por longas datas. Em re- 1997).
sumo, é um modo de" ... dar a César o que é de César" (Aragão, Segundo esta entrevistada, Laura Russo, além de
1961, p.82) ou, melhor dizendo, as bibliotecas aos bibliotecári- mentora da lei, foi seu "cão de guarda". Esta expressão, atri-
os e, para ser bibliotecário, titular-se em Biblioteconomia. Essa buída por Mattos, dar-se-á pela maneira inusitada como
era uma das justificativas adotadas pelos bibliotecários, nos anos Laura Russo atuou para legalizar a profissão do bibliotecá-
50 e 60, para regulamentar a profissão, o que em verdade era rio; o fato é que, antes de o projeto de lei ser encaminhado
impedir que "... outros profissionais sintam-se credenciados a dirigir para o Congresso Nacional, deveria ser aprovado pelo DASP,
tais serviços [organizar; e administrar bibliotecas] sem que sejam os mes- e alguns funcionários responsáveis por essa pasta queriam
mos colocados à sombra para que outros gozem do prestígio do trabalho alterar alguns itens do projeto, com os quais não concorda-
querealiza"(Aragão, 1961, p.3). vam. Para garantir a sua redação original, durante toda a
Daí a necessária lei, cuja ausência era intolerável, ca- noite anterior a sua aprovação, permaneceu na porta, como
bendo "... à classe através de suas associações e da Federação Brasilei- um "cachorrinho vigia o dono" (Mattos, 1997): "Eu sei que a
ra de Associações de Bibliotecário estar atenta e interessada[... ] para Laura passou uma noite inteira sentada na porta do DASP. Quan-
que a regulamentação venha o quanto antes. Outras profissões, mais do todo mundo saiu ela ficou sentada na porta do DASP, ela posou
novas que a nossa, já viveram es{a expectativa e viram porfim coroa- aí. E ela entrou de manhã junto com o funcionário que estava com
dos de êxito os seus esforços. Há de chegar a vez do bibliotecário" a lei. Ela vigiou essa lei que nem um cachorrinho vigia o dono.
(Aragão, 1961, p.3). Pouca gente sabe disso. Laura tem um valor extraordinário[... ] Ela
A "vez do bibliotecário" só chegou em 1962, depois que tem um valor extraordinário"
o projeto de lei tramitou por várias instâncias federais. De Quem era essa mulher de valor extraordinário?
acordo com relato de Mattos, o documento·que resultou no "Laura era uma mulher maravilhosa, extraordinária. Mui-
projeto de lei, e "a posteriori" na própria lei, fora elaborado ta gente não gostava de Laura Russo, porque o jeitão dela, o que
"exclusivamente" por Laura Russo; todavia, encontramos na ela quer dizer; ela diz. Se ela chega assim e diz você não presta, não
documentação pesquisada o nome de Maria Helena Brandão, vale nada, ela diz para a pessoa. Ela fala mesmo, ela não sabe
como sua colaboradora: "Bem, a elaboração da lei foi de Laura, dizer meio termos. Fala categoricamente. Ela é categórica nessas
ela tem o mérito disso, com a colaboração de um outro advogado. Ela coisas" (Mattos, 1997).

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Rogê Ferreira,
ma: "A esse parlamentar se deve o brilhante parece~; publicado no
amigo das bibliotecá-
Diário do Congresso Nacional, em 19 de Março de 1961 [.... ], abrin-
rias, em especial das
do caminho para o Senado Federal" (Câmara, 1960, p. 73).
paulistas, em 1958, Em telegrama enviado a Laura Russo, este deputado in-
mês de julho, já ha-
forma que: "O pr~jeto de lei 4770/58 apresentado na Câmara
via conseguido do
Federal pelo Dr. Rogê Ferreira, encontra-se em tramitação nesta
Ministério do Trabalho
casa, após ter sido arquivado na última legislatura. O mesmo
e Previdência Social a
foi desarquivado em 1959 pelo deputado Aurélio Viana, e rela-
inclusãodo biblio-
tado em Abril pelo Deputado Raimundo Brito" 9 •
tecário no 19 9 grupo, No parecerjustificativa do referido projeto, Rogê
compreendido no Ferreira tece um comentário elogiativo à figura do bibliote-
plano da Confederação cário, cuja denominação atribuída ao profissional seria de
Nacional das Profissões
Bacharel em Ciências Biblioteconômicas: "O Bibliotecário de-
Liberais, apresentou,
sempenha nos dias atuais uma missão social e cultural muito im-
em 4 de dezembro desse mesmo ano, no Legislativo, o proje-
portante como: orientador de leitores atravé.s dos livros pedidos e su-
to de lei para regulamentar o exercício da profissão do biblio-
geridos, seja do ponto de vista cultural, científico e moral, basta lem-
tecário, depois que uma comissão de bibliotecárias do Estado
brar as Bibliotecas Infantis, Universitárias, Proletárias, Públicas,
de São Paulo, integrada por Laura Russo, Mra de Lima,
Especializadas ou não; colaborador direto de professores e estudiosos
Marina da Rocha Miranda, foi ao Rio de Janeiro, em 3 de
através da indicação bibliográfica; Auxiliar classificado na admi-
dezembro de 1958, procurá-lo para que "...fosse o portador niStração pública e privada pela organização de arquivos, docu-
das suas reivindicações perante o Congresso Nacional" (Câ- mentos, mapas, fichas; segundo os vários setores dos mesmos"
mara, 1960,p.73). ·
(FEBAB, 1961, p.67).
No Senado, o projeto recebeu o n 9 135/58 e na Câmara Rogê Ferreira considera a função do bibliotecário como
dos Deputados, o n 9 4.770/58. No Senado foi submetido à de natureza eminentemente técnica, cabendo a estes orga-
Comissão de Educação e Cultura, Finanças e Redação e na Câmara nizar, dirigir e executar "serviços técnicos de repartições públicas
às Comissões de Constituição eJustiça e Legislação Social. federais, estaduais, municipais, autarquias e empresas particulares:
Entretanto, o mesmo foi arquivado no ano seguinte à fichando livros, catalogando revistas, preparando catálogos"
sua apresentação, quando do término da legislatura de Rogê
(FEBAB, 1961, p.67).
Ferreira, e, em março de 1959, tramita novamente dado o
apoio do Deputado Aurélio Viana, na época líder do PTB,
que o reapresenta a pedido da comissão de bibliotecárias aci- 9 Conteúdo do telegrama enviado pelo Deputado Almino Afonso a Laura Russo em
março de 1960. (Documento do arquivo particular de Laura Russo).

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Perfil profissional que nos faz lembrar Mário de Andrade uso delas. Porém, absorvê-las ou tomá-las como modelos de
no texto Biblioteconomia, quando descreve as atividades dos Bi- sustentação das práticas bibliotecárias é sem dúvida reafinnar
bliotecários, que seriam: "... tornar perfeitamente acháveis os livros, e/ ou consolidar a visão tecnicista da profissão. Ao contrário,
como os seres, e alimpar a livre escôlha dos estudiosos de toda suja confu- as mesmas deverão ser compreendidas como um ritual de
são. Este é o seu mérito grave e primeiro. Fichando o livro, isto é, esco- passagem imprescindível para o acesso à informação.
lhendo em seu mistério confuso uma verdade, pouco importa qual, que
o define, a Biblioteconomia torna a verdade utilizável, quero dizer: não E o verbo fez-se lei
o objeto definitivo do documento, pois que houve arbitrariedade, mas
um valor humano, fecundo e caridoso de contemplação. E pelo próprio "O projeto 4.770/58, em trânsito na Câmara Federal,
hábito de fichar; de examinar o livro em todos os seus aspectos e desdobrá- que visa, uma vez transformada em lei, regulamentar a pro-
lo em todas as suas ofertas, a Biblioteconomia rallenta os seres e acode fissão de bibliotecário em todo Brasil, foi considerado consti-
aos perigos do tempo, tornando para nós completo o livro, derrubando tucional, merecendo da Comissão de Justiça uma emenda que
os quépis e escovando as becas"(Andrade, 1942, p.179). passamos a transcrever com o relatório da referida comissão"
Mesmo que esta concepção sobre a Biblioteconomia e (FEBAB, 1961, p.84). (grifo nosso).
o bibliotecário seja antiga e para alguns profissionais não O relator desta Comissão, a de Justiça, foi o Deputado
corresponda à realidade atual ou até que seja uma descrição Raimundo Brito, que em seu texto faz uma retrospectiva da
negativa, pejorativa, da imagem da profissão e do profissio- legislação brasileira sobre liberdade de profissão. A Consti-
nal em alguns aspectos, devemos considerar que este escri- tuição de 1891, de matriz positivista, legislou de maneira
tor, em alguns aspectos, continua atualizadíssimo. ampla a matéria. Exigia, para o preenchimento de vagas para
Evidentemente, as técnicas biblioteconômicas constitu- cargos públicos, provas de capacidade intelectual, moral e
em-se nos elementos que demarcam e delimitam o campo. O industrial. A de 1934 determinava a liberdade do exercício
fazer cotidiano do bibliotecário sem as técnicas de cataloga- de qualquer profissão com a condição de que fossem obser-
ção, classificação, indexação, atendimento ao público, st;ja vadas a capacidade técnica e outras fixadas de acordo com o
através dos recursos manuais ou automatizados, não se con- interesse público.
cretizam. Isto pode parecer radicalismo ingênuo; todavia, se A carta de 1937 assegurava os mesmos direitos para o
as retirássemos, o que restaria da Biblioteconomia? Incenti- exercício profissional a brasileiros e estrangeiros. Como as
var o hábito da leitura, desenvolver atividades de animação anteriores, recomendava provas de capacidade moral, inte-
cultural, promover educação de jovens e adultos. Atividades lectual e industrial. A última citada por Brito foi a de 1960,
que se fragmentam por outros campos: Educação, Arte-Edu- que, no parágrafo 141 do art.14, estatuía que "É livre o exercí-
cação, Sociologia etc. Enquanto que as técnicas citadas, so- cio de qualquer profissão observadas as condições de capaci-
mente Biblioteconomia, Arquivologia e Documentação fazem dade que a lei estabelecer" (FEBAB, 1960, p.69).

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o mais como está.
Por fim, conclui que como outras liberdades (sexo,
raça, classes social, etc ... ) a "... de profissão sofria as mesmas Sala Afrânio de Mello Franco em 6 de abril de 1960
restrições impostas pelo interesse público ou exigia a prova prévia Raimundo Brito, relator(FEBAB, 1960, p.67).
da idoneidade e capacidade daqueles que a exerçam. O Estado exerce
Sendo feita esta ressalva, Brito sugeriu que o projeto de
assim, o papel de um verdadeiro poder policial que se poderia en-
lei tramitasse na Comissão de Legislação Social.
quadrar dentro de um título geral de Polícia das Profissões"
Nesta comissão, o relator foi o Dep. Oscar Corrêa. No
(FEBAB, 1960, p.67).
seu relatório, evidencia a importãncia da profissão do bibli-
Raimundo Brito, ao comentar o projeto de lei, no seu
otecário, que segundo ele não se limitava ã simples guarda
art. 30, afirmava ser inadmissível restringir o exercício da pro-
de livros, mas a ultrapassava pois "... conhecia a bibliografia ge-
fissão ãqueles que apresentassem o diploma de curso superi-
ral e especializada do público a que servia, selecionava-a, orientava
or, mesmo respeitados os direitos dos atuais ocupantes efetivos:
leitores, empenhando-se em buscas e pesquisas, divulgava-as além
"Por outro lado, embora a justificativa [do projeto] já indique grande
de dominar os conhecimentos da sua matéria" (FEBAB, 1960, p. 67) .
número de }àculdades e Escolas de Biblioteconomia e malgrado nós
Para Corrêa, a Portaria 390 de 23 de setembro de 1953
mesmos saibamos que outras muitas existem no País, cremos que ain-
do DASP, que exigia a obrigatoriedade do diploma de biblio-
da não existe um número bastante grande desses diplomados, de for-
tecário para efeito de inscrição em concursos públicos, cons-
ma que estabelecemos em lei[... ], desde agora, aquela obrigatoriedade
tituía-se no ponto central de justificativa de Rogê Ferreira,
de diploma para o exercício das funções'; do bibliotecário (FEBAB,
para legalização da carreira. Este relator sugere as seguintes
1960, p.67).
alterações no projeto de lei:
Neste sentido, propõe que fosse dispensada a exigência
a) mudança na denominação dos profissionais de Ba-
do diploma por um prazo de 3 (três) anos.
charéis em Ciências Biblioteconõmicas para Bacharéis em
Emendas do Projeto 4770/58. Biblioteconomia, mudando a redação dos artigos: 10º, 20º,
I 30º, 60º e outros, e que;
b) os registros dos diplomas deveriam ser efetivados na
Ao art. 30: Diretoria do Ensino Superior do MEC e não na Diretoria Geral.
Suprima-se a palavra final 'efetivo' Oscar Corrêa acolhe as ponderações de Raimundo
Brito, em relação ao prazo de 3(três) anos para exigência de
!I
diplomas. Entretanto, acreditava ser mais conveniente man-
Ao Art. 30: ter a palavra efetivos, por ser restrito e mais lógico. Por fim
Acrescente-se após a expressão 'é obrigatória' o seguinte: este relator acata a decisão da Comissão de Constituição e
a partir de 3 (três) anos da data da presente lei Justiça e acrescenta as seguintes:

167
166
Onde se lê: bacharéis em ciências biblioteconômicas Técnica do Palácio do Planalto, a fim de que a Lei fosse promulgada,
sem os vetos propostos pelo DASP11 • Sua defesa sincera e consciente
Leia-se: bacharéis em Biblioteconomia.
valeu para os Bibliotecários aLei 4084/62 que lhes garante tratamen-
Onde se lê: Diretoria Geral do MEC to mais justo e digno em reconhecimento cultural do Brasil" (FEBAB,
Leia-se: Diretoria de Ensino Superior do MEC (FEBAB, 1960, 1962, p. 43).
p.82). No senado, o projeto tramitou pelas Comissões de Edu-
Após a aprovação do projeto de lei com as devidas alte- cação e Cultura, Serviço Publico Civil, Finanças e Redação.
rações da Comissão de Legislação Social e Constituição e justiça da Nas duas primeiras, foi relator Jarbas Maranhão e, na de fi-
Cãmara Federal, segue para o Senado Federal. A FEBAB foi nanças, Senador Ari Viana.
informada destes acontecimentos, através de telegrama do Jarbas Maranhão inicia o seu relato na Comissão de Edu-
Deputado Almino Monso: "Tenho o prazer de informar que o pm- cação e Cultura, expondo os objetivos do projeto de lei: "re-
jeto nº 4770/58,foi aprovado sendo rejeitadas as emendas da Comis- gular a profissão e o exercício das funções do bibliotecário"
são de justiça e aprovadas as da Comissão de Legislação Social. O (FEBAB, 1961, p.55), conforme atribuição dada por Rogê
projeto segue agora para o Senado "10 . Ferreira.
Cabe ressaltar que Almino Monso era amigo dos biblio-
Para este relator a legislação existente até então sobre
tecários paulistas, em especial de Laura Russo, com quem tro-
os Cursos de Biblioteconomia e a formação do bibliotecário
ca correspondências quase semanais, informando sobre a
eram injustas, pois não atendiam às necessidades dos profis-
tramitação no Congresso Nacional do referido projeto de lei.
sionais, "... além de não se harmonizar com os processos modernos de
Isto nos demostra o quanto a amizade- bibliotecário e políti-
Ensino de Biblioteconomia e com as atribuições exercidas pelos biblio-
cos- contribuiu para a aprovação da Lei 4.084/62, reafirman-
tecários"(FEBAB, 1961, p.55).
do as colocações expostas no início deste capítulo.
Maranhão afirma que desde 1915, data da criação da
Sobre esta questão, relata-nos Fonseca, E.(1997): ''É
primeira escola, até 1944 nenhuma lei havia tratado da pro-
público e notório que houve pressão dos bibliotecários- principalmen-
fissão do bibliotecário ou dos Cursos de Biblioteconomia.
te da FEBAB-junto aos congressistas, para aprovação do projeto de
Durante esse tempo só houve o Decreto 20.673 de 17 de no-
lei Nº 4084/62 ejunto ao Poder Executivo para aprovação do decreto
vembro de 1931, que restabeleceu os Cursos da BN, os quais
que a regulamentou".
Portanto, este deputado teve uma participação signifi- foram abolidos em 1922 e reinstalados em 1930, e o Decreto
cativa na aprovação da Lei 4084/62, atuando de "... maneira 23.508, de 28 de novembro de 1933 que reformula as discipli-
firme e, sobretudo, de verdadeiro amigo se bateu junto a Assessoria nas escolares. Enfim, "eram normas de menor importância"

ro Conteúdo do telegrama enviado por este Deputado a Laura Russo (Documento do 11 Pro~uram.os levanta.r em documentos e entrevistas quais os vetos que o DASP pre~
arquivo particular de Laura Russo). tendia ret1rar do proJeto de lei, sem êxito.

168 169
(FEBAB, 1961, p,55) e restritas à seriação dos cursos da BN e c)9º ao 26º reportam-se à organização e funcionamen-
ao seu regime escolar. to dos Conselhos de Biblioteconomia;
Em 1944, dois importantes atos foram efetivados pelo d)os demais são artigos destinados a prescrever as
Governo Federal. O Decreto-lei Nº 6. 732, de 24 de julho, que diretrizes gerais e transitórias.
tratou das finalidades da BN e o Decreto-lei Nº 6.440, de 27 de
abril, que dava nova organização aos seus cursos. Sobre a relevãncia do referido projeto, este relator afir-
Para este relator tais decretos "marcaram o passo mais ma que: "Os bibliotecários cuja profissão já se encontra enquadrada
avançado que se deu até hoje na legislação brasileira e na profissão do nos ramos das frrofissões liberais, por força de lei têm agora a regula-
bibliotecário"(FEBAB, 1961, p.56). O primeiro decreto deter- mentação da profissão e o exercício de suas atividades devidamente
minava as finalidades dos Cursos da BN e os dividia em três atendidas pelo presente projeto que, como sabemos representa o resulta-
níveis: Fundamental, Superior e Avulsos. O segundo, junta- do de um consciente trabalho de equipe, tendo nele colaborado
mente com o de Nº 15.395, reorganizou e estabeleceu as nor- diretamente os mais destacados mestres e técnicos do Ensino de
mas de adaptação dos cursos de Biblioteconomia, condições Biblioteconomia" (FEBAB, 1961, p,57).
de admissão aos mesmos, seriação do currículo escolar, expe- Procurando sanar as pequenas falhas existentes no pro-
dição de diplomas e certificados, duração dos cursos, organi- jeto de lei, Maranhão sugere algumas emendas, em número
zação didática e escolar. de seis, com a finalidade de "evitar senões" (FEBAB, 1961,
Fazia-se, então, imperiosa a formulação de diretrizes que p.57).
regulamentassem a profissão e o ensino de Biblioteconomia
a) primeira emenda
no Brasil. Todavia, se entendia que o projeto apresentava
pequenas falhas em alguns dispositivos, porém de fácil solu- Incluir no art. 1ºo seguinte título "Do exercício da pro-
ção. No geral, o mesmo tinha o grande "... mérito de não só fissão de bibliotecário e de suas atribuições" (FEBAB, 1961,
promover as medidas mais reclamadas do ponto de vista técnico-peda- p.57).
gógico como também de regulamentar o exercício da profissão de bibli- • justificativa:
otecário consoante às modernas normas do ensino de Biblioteconomia Afirma que o lapso ocorrido durante a realização deste
e dos novos encargos consentidos hoje universalmente aos técnicos e pr~jeto foi a não-inserção de um título referente aos disposi-
especialistas em Biblioteconomia" (FEBAB, 1961, p.56). tivos que tratam do exercício da profissão de bibliotecário e
Maranhão divide o projeto 4.770/58 em quatro partes, suas atribuições gerais.
de acordo com os assuntos tratados pelos artigos:
b) segunda emenda
a) 1º ao 8º tratam do exercício da profissão do bibliote-
cário, suas atribuições e restrições para exercê-la; Incluir o seguinte item: "A execução dos serviços de classifi-
b) 6º relaciona as atividades dos bibliotecários; cação e catalogação de manuscritos e livms rams e preciosos de

170

i 171
mapotecas, de publicações oficiais e seriadas de bibliografia e referên- c) terceira emenda
cia"(FEBAB, 1961, p.57). Suprimir todo a art. 8": ''É assegurado o exercício da profis-
• Justificativa: são de Bibliotecário àqueles que preencham as exigências da presente
regulamentação"(FEBAB, 1961, p.67).
Entendia que o projeto ao evidenciar as atribuições do
bibliotecário não mencionou as suas funções mais importan- • Justificativa
tes: os serviços de catalogação, classificação, bibliografia e re- O relator sugere a supressão deste artigo, por conter al-
ferência. Por tanto, havia necessidade de que fossem coloca- gumas impropriedades na expressão "presente regulamenta-
dos em prática estes conhecimentos adquiridos pelos biblio- ção" quando deveria ser "presente lei". "Medida atendida no
tecários nas disciplinas que compunham os Cursos Funda- art. I Q' que toma privativo dos bacharéis em Biblioteconomia, o exer-
mentais e Superiores de Biblioteconomia. Ao reportar-se a cício da profzssão quer pelo art. ]Q, que assegura este exercício aos atuais
estes cursos, o relator deixa-nos claro que o modelo de ensi- ocupantes de cargos técnicos de Bibliotecários e documentalistas"
no tomado como parãmetro no seu parecer fora o da BN, o (FEBAB, 1961, p.64).
que consolida a afirmação feita_ no início deste capítulo, quan- Ainda, afirmava que era per se notum que a todo aquele
do nos reportamos à classificação dada pelo DASP à carreira que preenchesse os requisitos e as exigências contidas na lei
do bibliotecário como de natureza técnica e científica: "Confe- ficava implícito o exercício da profissão de bibliotecário.
rindo-lhe a competência da organização de bibliotecas, atividade vin-
d) quarta emenda
culada à finalidade social das bibliotecas e às finalidades especificas
dos vários tipos de bibliotecas não se compreende que se omita à fun- Suprimir a expressão
ção que deve caber ao bibliotecário os serviços de classificação e catalo- " ... diplomados no Brasil" (FEBAB, 1961, p.64).
gação, tarefa que está ligada intimamente à técnica de Biblioteconomia,
através da aplicação do estudo dâs normas de catalogação, da sua • justificativa:
aplicação à redação de notícias bibliográficas, bem como das opera- Segundo o relator, esta questão contrariava o artigo 141,
ções necessárias à organização de catálogos de livros e de publicações parágrafo 14 e 16 da Constituição Federal: "Efetivamente, opa-
seriadas (periódicas)" (FEBAB, 1961, p.68) rágrafo 14 do artigo 141 da lei Magua, prescrevendo a liberdade do
Nas palavras de Maranhão, fica evidenciada a função téc- exercício de qualquer profissão observadas as condições de capacidade
nica do bibliotecário, imagem construída pelo Senador, pela que a lei estabelecer, e o art. 161, determinando que a lei regulará o
sua experiência, ou quiçá pelo texto explicitado no projeto de exercício das profissões liberais e a revalidação de diplomas expedidos
lei. Daí, a sua justificativa sobre as propriedades do campo: or- por estabelecimentos estrangeiros de ensino, estão estreitamente ligados,
ganização de bibliotecas, tratamento de material bibliográfico embora o primeiro encerre uma amplitude muito maior" (FEBAB,
através das práticas da classificação e catalogação. 1961, p.64).

172 173
e) quinta emenda corrigir "tecnicamente [as emendas] inclusive no que tange
a sua redação" (FEBAB, 1961, p.60).
"... seria honorífico ... " (FEBAB.1961, p.59). De acordo com este relator, a matéria contida no proje-
• justificativa: to era totalmente da alçada da Comissão de Educação e Cultura,
cabendo ã mesma analisar o Art. 3 que tratava do provimen-
O artigo 18 que dava direitos ao Presidente do Conse- to do diploma superior. Portanto, esta comissão centrou o seu
lho Federal de Biblioteconomia para responder até julgamen- parecer neste artigo e no seu parágrafo único, o qual deter-
to da direção do Conselho, e o art. 19 que incumbe ao presi- minava: "A apresentação de tais documentos não dispensa a presta-
dente a responsabilidade de prestar contas perante órgãos ção do respectivo concurso, quando êste for exigido para o provimento
federais que "fosse relevada a importãncia das atribuições do dos mencionados cargos"(FEBAB, 1961, p.60).
presidente, cujo mandato não pode ser meramente Maranhão afirmava que o referido artigo assegurava os
honorífico" (FEBAB, 1961, p.59). direitos dos funcionários que exerciam na administração pú-
j) sexta emenda blica o papel de bibliotecários, porém, a partir da aprovação
da lei, o cargo somente poderia ser exercido por aqueles que
Acrescentar in fine no artigo 16, item C, "promovendo as
apresentassem o diploma de Bacharel em Biblioteconomia.
providências que se fizerem necessárias, tendentes a favorecer a
Todavia, que fossem respeitados os direitos dos atuais ocu-
homogeneidade de orientação da Biblioteconomia" (FEBAB, 1961,
pantes.
p.59).
Para o relator isto era procedente na medida em que
e justificativa: resguardava o direito da profissão dos bibliotecários. Por fim,
Segundo o relator, não se deveria dar como atribuição a Maranhão dá parecer favorável à aprovação nos termos da
um órgão deliberativo, como.,o relatado no projeto, "tomar emenda da Comissão de Educação e Cultura.
simplesmente conhecimento de dúvidas suscitadas por órgão Em seguida, o projeto tramitou pela Comissão de Finan-
a êle subordinados" (FEBAB, 1961, p.59). Este acréscimo era ças, cujo relator fora o Senador Aurélio Viana. Este relator
conveniente na medida em que atendia às finalidades dos retoma o título e objetivos do projeto, mas detém-se nos Art.
Cursos de Biblioteconomia de manter a homogeneidade bá- 27 ao 31 que tratavam das anuidades e taxas dos bibliotecári-
sica dos serviços bibliotecários. os junto aos Conselhos Regionais. Viana não fez alterações
Jarbas Maranhão conclui o seu relatório de modo claro no projeto de lei, pois não apresentava nenhuma inconveni-
e direto; "É o parecer. Era o que tinha a dizer" (FEBAB, 1961, ência, acatando, assim, as determinações das comissões
p.60). anteriores: "Conseguida a legislação que tanto ambicionava a clas-
Na Comissão de Serviço Público Civil e Redação, o pro- se, para garantia de seus direitos acreditamos que, com maior entusi-
jeto de lei, segundo Jarbas Maranhão, teria a finalidade de asmo, a profissão de bibliotecário será exercida por pessoas profunda-

174 175
mente interessadas nos problemas da cultura e da educação, embora O Decreto Nº 51.624/62 deu nova redação ao Decreto
deva ser para sempre reconhecida a atividade de antigos bibliotecários Nº 50.562, de 8 maio de 1962, que no seu art. 1º, determina-
que tratados de maneira injusta, contribuíram decisivamente para o va que: "Aos funcionários do Poder Executivo da União que ocu-
desenvolvimento das bibliotecas brasileiras e jazendo com que a ciên- pam cargos de denominações a seguir indicados será concedida, na
cia biblioteconômica se impusesse à consideração de todos" (FEBAB, forma do artigo 74 da lei Nº 3.780, de 12 de julho de 1960, uma
1964, p.79). gratificação especial de nível nas percentagens mencionadas"
Estando aprovada a lei 4.084, a categoria deflagrou (FEBAB, 1962, p.52).
uma outra investida: incluir a profissão do bibliotecário Estas percentagens variavam de 15% a 25%, cujo cri-
entre as de caráter universitário, o que se concretizaria atra- tério era o tempo de duração dos cursos: 15% para os de 3
vés do decreto Nº. 51.624/62, de 17 de dezembro de 1962. anos, 20% para os de 4 anos c 25% para aqueles com dura-
O processo para obtenção do grau acadêmico do bibliote- ção de 5 ou mais anos. As profissões beneficiadas com esta
cário foi encaminhado ao Palácio do Planalto pela FEBAB, lei foram: Serviço Social, Economia, Cirurgião Dentista, En-
através do Oficio Nº 11/62, sendo estudado pelo Dr. Adauto genharia Agronômica, Engenharia de Minas, Geografia,
Bezerra Delgado. Geologia, Medicina, dentre outras. Entretanto, somente os
Com relação ã aprovação da lei 4084/62, relata-nos Fon- bibliotecários recebiam a gratificação de 15%, portanto; o
seca, E. (1997): "Todos sabem que discordei da lei Nº 4084/62 único curso com duração de 3 anos. Isto desencadeou am-
desde a discussão, entre bibliotecários, do anteprojeto apresentado pela plas e sérias discussões na categoria bibliotecária, em espe-
FEBAB. Discordei por dois motivos: 1 º)porque ela seguia, mutatis cial entre os baianos, onde o Curso de Biblioteconomia era
mutandis, as leis que regulam o exercício das profissões de médicos, de quatro anos, c os paulistas e cariocas, que defendiam a
engenheiros e advogados; estas, entretanto, procuram, assegurar o duração de três anos. Esta disputa cessou, quando da apro-
bem comum, resguardando os do~rztes de serem tratados por curan- vação do Currículo Mínimo, em 1962, que estabeleceu a
deiros, a população de ser vítima de acidentes causados pela incom-- duração de três anos para os Cursos de Biblioteconomia
petência de pseudo-engenheiros e a justiça de não ser corretamente de todo o país.
aplicada por falsos advogados; a lei não protegia o bem comum Em grande parte o "mérito da aprovação" da Lei 4084 é
e sim a classe bibliotecária, instituindo mais um da FEBAB, por ser a instituição agregadora de todas as.associ-
corporativismo dentro do serviço público. 2º) porque a lei fe- ações de classe, e foram estas mesmo que representadas por
chava a Biblioteconomia dentro de suas fronteiras justamente quan- um ou outro elemento que impulsionaram, direta ou
do as ciências e prof1Ssões começavam a se intercomunicarem, estabe- indiretamente, o reconhecimento da profissão do bibliotecá-
lecendo uma interdependência que só fez crescer até ofim do 2º milênio rio e a inclusão da Biblioteconomia entre as carreiras de nível
e que se impõe em face da globalização com a qual entraremos no 3º superior (Aragão, 1961, p.9).
milênio". (grifo nosso)

176 177
A FEBAB e o verbo Na verdade, os autores da proposta da criação de uma
entidade nacional retomam a proposta de Bernadette Sinay
A FEBAB nasceu sob a inspiração das mais sentidas Neves, que, de acordo com as resoluções do III CBBD, foi
reivindicações da classe, como um imperativo mesmo de a "...primeira bibliotecária brasileira a encetar estudos e apresentar
nossas próprias necessidades para o estabelecimento de propostas visando à criação da Federação de Associações de Bibli-
melhor orientação e coordenação das atividades, através otecáriosBrasileiros"(Boletimiii CBBD, 1961, p.19)., merecendo
[deste] órgão com atribuições de defesa e incentivo ao de- dos congressistas um "voto de louvor" (Boletim III CBBD, 1961,
senvolvimento da profissão (Aragão, 1961, p.9). p.19).
A origem da FEBAB remonta às deliberações do li Con- Na justificativa do texto apresentado por Russo e Ro-
gresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, realizado cha Júnior para a criação do que veio a ser a FEBAB, eles
em julho de 1959, em Salvador. fazem uma retrospectiva histórica do movimento agregativo
A idéia da sua criação foi apresentada por Laura Rus- do homem como condição para dominarem, em princí-
so e Rodolfo Rocha Júnior, cuja proposta inicial do nome pio, a natureza, e depois para defenderem os seus direitos
para o órgão que congregaria todas as associações de clas- sociais, econômicos, políticos e profissionais. Em relação
se seria Federação das Associações Brasileiras de Bibliotecários - ao associativismo profissional, afirmam que: "As condições
F.A.B.B., mas os participantes do referido evento optaram políticas e sociais de várias épocas deram origem às associações de
por Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB, todo o gênero e dos mais variados objetivos. O aparecimento das
1961, p.38), pois entendiam que esta denominação seria associações de classe perde-se no espaço e no tempo. Desempenha-
mais fácil de entendimento e de pronúncia. ram elas um papel preponderante nas civilizações antigas.
Segundo Russo e RochaJúnior,
·;-
sua criação tornava- Atualmente, não se pode negar a importância que desempenha o
se imperativa para a categoria, na medida em que com o movimento associativo. Graças a essa consciência social, cada gru-
passar do tempo "... os problemas da classe e das bibliotecas fo- po vem conquistando seu verdadeiro lugar nos mais variados setores
ram se aviltando, dado o progresso da técnica e da ciência. Insta- da atividade humana"(FEBAB, 1961, p.37).
lam-se constantemente, novas bibliotecas, nos mais afastados pon- Ao reportarem-se ao modelo ideal de associações de
tos do Território Nacional; fundam-se Escolas de Biblioteconomia bibliotecários a ser seguido no Brasil, destacam a American
com os mais diferentes currículos e fundam-se associações de biblio- Library Association e a International F'ederation of Library
tecários que procuram dia a dia, um caminho para a consecução Association, que interferiram no campo do ensino e nas prá-
do ideal de bem servir à coletividade por profissionais capazes e ticas profissionais dos bibliotecários, sendo a primeira de
integrados em seu devido lugar na sociedade" (FEBAB, 1961, âmbito nacional (EUA) e a segunda internacional.
p.38).

178 179
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No Brasil dos anos 50, existiam apenas sete associa- dos os bibliotecários se conheciam, todos os bibliotecários que traba-
ções12 que, de acordo com Russo e Rocha Júnior, vinham lhavam naquela época".
lutando para superar as dificuldades da classe e elevar o Além de congregar todas as associações de classe, a
caráter técnico-cultural do bibliotecário: "Não se pode ne- proposta da FEBAB seria solucionar problemas
gar que o trabalho desenvolvido pelas associações brasileiras de biblioteconômicos de diversas naturezas, dentre elas: in-
bibliotecários, não tenha surtido efeito benéfico em defesa da clas- tercâmbio profissional e associativo, divulgação dos assun-
se. Entretanto, ainda que dessa atividade se tenham colhidos bons tos de interesse dos bibliotecários e estabelecimento de um
frutos, muito há de realizar. Urge, pois, reunir essas forças disper- Código de Ética Profissional (FEBAB, 1961, p.88).
sas as quais precisam de um órgão centralizador, pelo qual se Deste modo, caberia à FEBAB:
poderá chegar com êxito ao fim desejado. Desnecessário é realçar, a) contribuir para a solução dos problemas relativos à
a considerável importãncia da organização federativa concebida Biblioteconomia, quer fosse nacional ou local;
com o espírito de união de classe, qye verá, por fim uma única
representação, defendidas suas legítimas aspirações" (FEBAB, b) prestar assistência direta às associações filiadas;
1961, p.37). c) atuar como centro de documentação e informa-
Sobre a desarticulação do movimento associativo bi- ção das atividades biblioteconômicas no país, cuja
bliotecário brasileiro antes da criação da FEBAB, manifes- finalidade era contribuir para o aproveitamento cul-
ta-se Mattos ( 1997): "Até 1960 cada Estado vivia só, ninguém tural e técnico da categoria e para o desenvolvimen-
se comunicava, ninguém praticamente se conhecia ou se conhecia to das bibliotecas brasileiras (FEBAB, 1961, p.88).
muito pouco. Além de nos conhecermos muito pouco, não havia
intercãmbio entre as associações, cada uma possuía os seus
d) Congregar as Associações de Bibliotecárias do País,
com o objetivo de defender a classe, nos terrenos
inferninhos, não havia vasos comunicantes nos inferninhos. Com
técnicos, culturais, sociais e econômicos.
a Laura, ela apresenta a criação da FEBAB, que ela então com·de-
nou, congregou e agregou as associações e com ela levava às esco- Estas associações de classe classificam-se em cinco ca-
las também. Ela ajudou todas as escolas também sem se intrometer tegorias: fundadoras, efetivas, correspondentes, honorári-
no meio das escolas, sem dar opiniões as escolas. Ela gritava, ela as e beneméritas.
opinava com as associações, ela mandava lá [.... } Ao tempo, to-

12 Associação Paulista de Bibliotecários, Associação Pernambucana de Bibliotecários,


Associação Bahiana de Bibliotecários, Associação Brasileira de Bibliotecários, Asso-
ciação Riograndense de Bibliotecários, Associação Paranaense do Paraná, Associ-
ação dos Bibliotecários Municipais._de São Paulo.

180 181
i
i
Tabela 11: Associações Fundmlnras (AI') eAssociação Ljétivas (AE) daJiEBAB Em princípio, a FEBAB, fundada em 26 de julho de 1959,
funcionou como Secretaria Geral, sob a responsabilidade de
Laura Russo com a colaboração de Maria Helena Brandão e
Maria Alice de Toledo Leite. Em 13 de janeiro de 1961, du-
rante a realização do III CBBD, ocorrido em Curitiba, é eleita
a sua primeira diretoria, assim composta:
Presidente: Laura Russo
Vice-Presidente: Fernanda Leite Ribeiro
Secretaria Geral: Maria Helena Brandão
1ª Secretaria: Philomena Bocatelli
2ª Secretaria: Odette Senna de Oliveira Penna
1ªTesoureira: Maria Alice de Toledo Leite
2ª Tesoureira: Heloísa Medeiros
Bibliotecária: Cecília Basilio de Sousa Reis
Em seu discurso de posse, em 14 de janeiro de 1961, Laura
Russo evidencia a desagregação do movimento associativo bi-
bliotecário, que gerava descontentamento e dúvidas nos pro-
fissionais, cuja causa estava no isolamento entre as associações
e, por conseguinte, dos bibliotecários: "Alguns buscavam refúgio
na confiança dos seus líderes: outros, já exaustos, haviam desistido de
Asmiação Paraense Af 18/ll/1958 19
de Bib!iotedrlos lutar contra a má vontade reinante. Em. meio dessa confusão e melan-
colia, foi criada a FEBAB, com o objetivo de concorrer para tomar cla-
ras as soluções fundamentais de nossos problemas profiSsionais, passa-
Associação dos i Af 11/12/1956 40
Municipais de 5ão Paul~> . ram a operar em trincheiras avançadas, de onde partem constantes e
incansavelmente as sugestões, as advertências e os apêlos, visando a
17
orientar as nossas reivindicações" (FEBAB, 1961, p.25).
ll Deste modo, afirma Russo que a diretoria empossada
18 envidaria todos os esforços para solucionar os problemas exis-
58 1-Eurydice Piret da Sant'Anna tentes, que eram muitos, e para criar um clima favorável ao
alcance dos interesses da categoria e da Biblioteconomia brasi-
44 I-laura Bierrenbach
leira: "Falamos de dificuldades; suas manifestações são tão evidentes e
1-Araucy Fiuza Costa
múltiplas que não cremos necessário enumerá-las. Alegra-nos, porém, a

182
183
certeza que, muito em breve, passaremos daquele estado de pessimismo quando afirmava haver uma 1alta de interesse da maioria de seus
ou de sonhos para um mundo feliz e autêntico que, sem modéstia, pode- membros e que desde a sua criação trabalharam, quase que exclusivamen-
mos proclamarjá merecer" (FEBAB, 1961, p.25). Ainda que: "Den- te, os membros das Associações da Guanabara e de São Paulo" (FEBAB,
tro dêsse ideal de bem servir, com desambição e renúncia, todos nós pode- 1968,p.13).
mos nos entender e cooperar, todos os antagonismos podem ter um ponto Laura Russo deve ter passado por vários mal-estares, oca-
de contato, todas as malquerenças uma linha de afeição e tôdas as riva- sionados pela falta de interesse dos bibliotecários em partici-
lidades uma superfície de concórdia" (FEBAB, 1961, p.25). parem do nascente movimento federativo, aliados à
O entusiasmo de Russo de que todos os bibliotecários incompreensão sobre o papel da FEBAB e dos Conselhos
se unissem e participassem ativamente do movimento
como órgãos de defesa da profissão, como manifestou a 24ª.
associativo, manifestado neste discurso, aos poucos foi per-
Reunião da FEBAB: ''A senhora presidente deixou transparecer a
dendo sua força, como evidenciado na 18ª. Reunião da
sua mágoa pela falta de compreensão de alguns colegas que não ava-
FEBAB, onde relata que estava "... cansada e um tanto desiludi-
da com a atitude de alguns colegas, a senhora presidente comunicou liando o grande trabalho desenvolvido pelaFEBAB para conseguir o
que já era hora das Associações pensarem em substituí-la, por outra Decreto de regulamentação da Lei 4084I 62, assim como a instalação
colega, nas próximas eleições, em 1965"(ATA, 1964, p.81). dos conselhos dão interpretação errada as questões realizadas. Esses
Este desinteresse pelas coisas da Biblioteconomia é mani- organismos são necessários, a fim de que a profzssão passe a serfzscali-
festado, na mesma reunião, por Maria Luisa Monteiro da Cu- zada como são as demais de nível universitário" (FEBAB, 1964, p.9).
nha, na época presidente da Comissão Nacional de Catalogação13, Com a aprovação da Lei 4.084, havia a necessidade de
instalação dos órgãos fiscalizadores, o Conselho Federal e os
Conselhos Regionais de Biblioteconomia. "O C.F.B. tem por
13
A criação desta comissão foi uma das recomendações do I CCB, Recife, 1954, cuja
coordenação seria do !NL, depois transferida para o !880; com a criação da FEBAB, finalidade orientar, supervisionar e disciplinar o exercício da profissão
passa a sua incumbência. Maria Luisa Monteiro da Cunha, na época presidente da de Bibliotecário, em todo o território nacional, na forma deste Regula-
Comissão Nacional Catalogação e maior especialista no assunto no Brasil, que desde
1952 vinha solicitando à American Library Association os direitos de tradução para a mento, bem como contribuir para o desenvolvimento da
língua portuguesa do Código Anglo- Americano de Catalogação. Em 1966, é concedido
este direito a Abner Lelfis C. Vicentini, o que veio a ocassionar a extinção desta Comis-
Biblioteconomia no pais"(LEI 4084/62, art.15). E o estabeleci-
são. Este fato, "causou espécie no seio da Classe, a interrupção dos trabalhos da CBC, mento de um Código de Ética Profissional.
uma vez que os benefícios de tão importante atividade já se faziam sentir, no tocante à
uniformização das entradas catalográficas". A FEBAB manifestou-se, no caso pub!ican~
do matéria no Boletim Informativo, onde afirma que: "Com relação aos direitos da tradução A burocratização do verbo
[ ...] somente agora concedidos, nada temos a comentar. O que nos parece estranho,
porém, é que o assunto-direitos - nunca tivesse sido comentado, pois as oportunidades de
esclarecimentos foram muitas e as atividades e objetivos da Comissão sempre foram
conhecidos, não só no Brasil, mas em reuniões internacionais [através da participação de
Com a 4.084/62 aprovada, fazia-se mister instituir uma
Maria Luisa Monteiro da Cunha] [ .. .]. Não podemos silenciar sôbre êsse desagradável diretoria para o Conselho Federal de Biblioteconomia- CFB. Com
incidente". Este incidente gerou polêmicas entre os bibliotecários brasileiros e portugue-
ses que reivindicavam os mesmos direitos; afirmavam estes que nada poderia ser feito, tal finalidade o Ministério do Trabalho e Providência Social edita a
neste sentido, enquanto não acabassem "as brigas nos arraiais da Biblioteconomia brasi~ Portaria de Nº 583, datada de 22 de outubro de 1965, que,
!eira''. FEBAB: Boletim Informativo, S~_o Paulo, v.14, n.1/2, p.13,juL/ago. 1966.

184 185
com base no art. 46 do Decreto 56.725, de 18 de agosto de
Art. 6º determina que a eleição seria presidida pelo
1965, determinava que fosse constituída uma comissão para
presidente do grupo de trabalho;
formalizar os procedimentos da primeira eleição para os car-
gos deste Conselho. Esta comissão foi composta por: Péricles Art. 7º determina que após 15 dias da homologação da
de Faria Mello, representante do Ministério do Trabalho e eleição haveria a posse da diretoria (FEBAB, 1966, p.l2).
Previdência Social e presidente da comissão, Nair Fontes Abur-
Sendo assim, foram realizadas as eleições para a primei-
Merbi, Francisco Figueiredo Luna de Albuquerque, represen-
ra diretoria do C.F.B., da qual participaram 23 bibliotecários,
tantes do MEC; Antônio Caetano Dias, representante dos
Cursos da Biblioteca Nacional; Laura Russo e Maria Alice de representantes de todas as associações de classe. Apurados os
Toledo Leite, representantes da FEBAB (FEBAB, 1966, p.12). votos, os resultados foram os que se encontram na tabela se-
guinte:
A partir dos trabalhos desta comissão, o referido Minis-
tério publica a portaria Nº 761, de 3 de dezembro de 1965, [ Tabela 12: Resultado das eleições para a primeira diretoria da C.F.B., por nome,
que tinha a finalidade de instruir os procedimentos eleitorais
classificação e número de votos.
para o CFB, os quais eram:
Art. 1º determina a data e o local da eleição.
Art. 2º determina que cada associação e escola deveria Laura Russo I' 24
credenciar um "delegado-eleitor", que seria eleito em as- Adelia leite Coelho 2' 23
sembléia, através de voto direto; lurdes Grego!
Eurydice Pires de Sant ·Anna 3' 22
Art. 3º determina que a eleição seria realizada por es- Marcelina Dantas
crutínio secreto, com pelo menos 2/3 dos delegados Alice Camargo Guarnieri 4' 17
credenciados em primeira convocação e com qualquer 06
Iilda Galhardo de Araújo 5'
número, uma hora depois;
Francisco lu na de Albuquerque 6' 02
Art. 4º determina que qualquer impugnação ãs eleições
realizadas deveria ser apresentada pelo Grupo de Tra-
balho, conforme a Portaria 585, de 22 de dezembro de
Ida Brandão de Sá Pessoa I'
1965, até 48 horas após a assinatura da data de eleição,
Ruth Versiari Moreira 2' 13
para apreciação e encaminhamento a decisão final do
Mercedes de Jesus Thomé forte 3' 21
Ministério do Trabalho e Previdência Social.
Art. 5º descreve o papel do Grupo de Trabalho;
I Alice Camargo Guarnieri
Iilda Galhardo de Araújo
4' 02

186

1 187
De acordo com estes resultados, foi escolhida a seguin- Em 28 de fevereiro de 1966, Castello Branco, Presidente
te diretoria: da República, atendeu à ordem da lista enviada pela comis-
• Laura Russo; são de eleição.
• Adelia Leite Coelho; O presidente da República resolve nomear: De acôrdo com os
• Lurdes Grego!; artigos 11 e 14 da Lei 4.084, de 30 de junho de 1962, a bibliotecária
• Eurydice Pires de Sant'Anna;
LAURA GARCIA MORENO RUSSO
• Marcelina Dantas;
• Alice Camargo Guamieri. Presidente do Conselho Federal de
Suplentes: Biblioteconomia
• Ida Brandão de Sá Pessoa;
• Ruth Versiari Moreira; Brasília, 28defevereirode 1966, 145ºAno
• Mercedes Thomé Forte. da Independência e 78º da República.
Para o Conselho foram êleitos:
Ass) H. Castello Branco
• Lydia de Queiroz Sambaquy (Guanabara;
" Ivanilda Fernandes Costa (Pernambuco); Walter Peracchi Barcellos.
• Heloisa de Almeida Prado (São Paulo);
• Maria Dorothéa Barbosa (Paraná);
• Etelvina Lima (Minas Gerias); "Deontologia e ética profissional" do bibliotecário
• Cordelia Robalino de O. Cavalvanti (Brasília).
Contudo, em cumprimento à Lei 4.048, foi realizada uma O primeiro trabalho em torno desta questão publicado
outra eleição com a finalidade de compor a lista tríplice a ser na Biblioteconomia parece ter sido Deontologia e Ética Profissio-
encaminhada ao Presidente da República para a escolha da nal, de autoria de Laura Russo, apresentado no III CBBD,
diretoria do C.F.B., sendo a mesma composta de: onde sugere um anteprojeto de um Código de Ética Profissional
do Bibliotecário Brasileiro- C.E'.P.B.B, assunto que estava na "or-
1ºLugar: Laura Russo, com 11 votos;
dem do dia" em diversas profissões.
2° Lugar: Adelia Leite Coelho, com 8 votos; Segundo .Jeremias Benthon, citado por Russo (1961,
3° Lugar: Marcelina Dantas e Lydia Sambaquy, ambas p.2), deontologia significa "a ciência dos deveres", ou seja, um
com 6votos. conjunto de normas que regulam o exercício profissional.
Para escolher o terceiro nome para compor a referida Ao apropriar-se deste conceito, Russo (1961, p.2) julga
lista, face ao empate, foi realizado um outro escrutínio, sen- que o primeiro passo para estabelecer um C.E.P.B.B seria con-
do escolhida Marcelina Dantas. siderar o bibliotecário um profissional "... porque não é, apenas

188 189
um trabalho que se faz para ganhar a vida. Requer conhecimento e toda categoria: "A criação de um código moral para 0 bibliotecário,
estudo especial, adquirido para benefício da coletividade". que poss~ captar o consenso geral e a indispensável aprovação social,
Portanto, este Código teria a finalidade de regular a con- zmphcara, dR certo modo, os processos evolutivos que caracterizam a
duta do bibliotecário no exercício de sua profissão. Seria en- ciência Biblioteconômica entre nós" (Russo, 1961, p.2).
tão um "Corpo de normas reguladoras da conduta projzssional do O texto aprovado pela plenária do III CBBD foi envia-
bibliotecário. Comumente, estas normas determinam os deveres do bi- do através da FEBAB, a todas as associações de classe e esco-
bliotecário, com relação à comunidade em que atua e à biblioteca que las/ cursos de Biblioteconomia, e a alguns bibliotecários líderes, a
dirige, asuaprofzssão e a seus colegas"(Buonocore, 1976, p.132). fim de receber as críticas e sugestões necessárias. Este texto
Então qual a natureza do trabalho bibliotecário? Russo d_o anteproje~o contemplava oito itens: exercício da profis-
enumera a competência, a segurança, a disciplina, a autori- s~o, das relaçoes com o público e com os colegas, da presta-
dade, a gratidão e o tato (Russo, 1961, p.2). Para Mattos (1979, çao de serVIços, da aceitação de trabalhos, das críticas das
p.5), o bibliotecário deveria ser umJntelectual, um educador associações de classe, da observância do código e a mod;fica-
e um apóstolo. Apóstolo é " ... o indivíduo que se propõe de- ção e vigência deste código.
fender a verdade, uma idéia, um programa, etc. Assim o bibli- Neste documento, fica evidenciada a necessidade do bi-
otecário deveria ser sempre um servidor destes [da sociedade bliotecário em preservar "contra tudo e contra todos" (Russo,
e da biblioteca] e não servir dos recursos da biblioteca para 1961, p.2), o cunho liberal e humanista de sua profissão e de
seu proveito pessoal". seu espaço de atuação, o que reafirma as colocações anterio-
Ainda fatores como habilidade e personalidade eram res quando nos reportamos à penetração de outros profissio-
importantes, na medida em que serviam para estimular pes- nais no fazer biblioteconômico.
soas com aptidões recomendáveis, para ingresso na profis- O oitavo artigo do C.E.P.B.B., "das relações com 0 públi-
são, desencorajando os incapazes. Bem como clareza, since- co e com seus colegas", evidencia que o bibliotecário tinha
ridade, interesse crítico e confiança seriam elementos impres- como função primeira tratar com respeito e dedicação autori-
cindíveis para o bom bibliotecário. Estas características o co- dades e público em geral. No entanto, estes não deveriam
locavam "à altura dos seus deveres, dos seus direitos, e o mantinham prestar o mesmo tratamento ao bibliotecário, evidenciando
em condições apropriadas, inclusive a de exigir salários justos. Unidos o papel de servo, obediente e submisso. Também não deveri-
em organizações bibliotecárias, participando dos movimentos e com- am apontar qualquer falha de formação profissional e
parecendo às reuniões e conferências dR interesse da profzssão" (Cardim, associativa brasileira em eventos internaciona1·s . EVI"tar, ain- ·
1961, p.6). da, emitir críticas sobre o desempenho de colegas pela im-
O anteprojeto apresentado por Laura Russo, antes de prensa, .mas. "em circunstâncias estremas[sic], dR razões especiais,
aprovado, deveria ser analisado pelas associações de classe, a po_ssam ;u:tific,ar a necessidade de uma explicação em público, [e]
fim de que o Código viesse a representar o pensamento de nao podera faze-lo senão com as assinaturas e responsabilidades, cin-

190 191
,.
.. · - · - - - ----- ·-------· ---------------------------·--

Tabela 13: Estudo wmparativo dos códigos de ética profissional -1963j 1986.
gindo-se ao assunto em questão, evitando referência a fatos estranhos
à causa"(Russo, 1961, p.2).
Depois de ser analisado, o anteprojeto foi levado, em 21
de janeiro de 1962, à Assembléia Anual da FEBAB. Sugestões
e críticas emitidas, escolheram a comissão responsável pela 11
sua redação final, formada por: Maria de Lurdes Claro de comas
Oliveira, Diretora Social da Associação Brasileira de Bibliote- autoridades e
com os colegas
cário, Maria Dorothéa Barbosa, Presidente da Associação dos
Bibliotecários do Paraná e Adelia Leite Coelho, Presidente 111 Da prestação Das Proibições
de Serviços
da Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal. Durante
Da aceitação
a realização do IV CBBD, Fortaleza, em 1963, foi aprovado o de trabalhos disciplinares
primeiro Código Profzssional dos Bibliotecário Brasileiros, com pou- epenalidades

cas alterações do texto apresentado por Laura Russo. v Das criticas Daaplicação
Em 1966, o C.E.P.B.B. sofre a sua primeira modificação, sanções
sob os auspícios do recém-criado Conselho Federal de Das associações EKtensão do Código Dos honorários
Biblioteconomia. Em seus aspectos gerais este "novo código" não de classe profissionais
apresenta alterações significativas do anterior. Na segunda Modificação do Código
modificação, em 1974, fica evidenciado o seu objetivo e a ne-
cessidade de combater o exercício ilegal da profissão, cabendo
ao bibliotecário "... denunciar 'jJro-lesivo' ao interesseprofzssional, todo
ato de investidura em cargos ouJunções dos que não estejam legalmente
habilitados ao exercício da profissão do bibliotecário, bem como a expedi-
ção de diplomas, licenças, atestados de idoneidade profzssional e outros,
Se havia a necessidade de estabelecer um dispositivo
dos que estejam nas mesmas condições" (Mattos, 1997, p.30).
ético para os bibliotecários brasileiros, o ensino, enquanto
Ao comentar o Código de 1986, Corte (1991, p.58) afir-
formador das mentalidades profissionais, deveria tornar o
ma que: "Certamente este código [como os demais] estabelece padrões
assunto objeto de discussão, através da criação de uma disci-
de comportamento entre os profissionais. A própria cultura brasileira
plina, que seria denominada Ética Profissional. Esta proposta
impede que suas sanções sejam aplicadas tal qual previstas, o que nos
foi apresentada por Volene Cardim, da Associação
Jaz pensar, que mais que um 'código de ética', o bibliotecário deve de-
Pernambucana de Bibliotecários, no mesmo Congresso em que
sempenhar e vivenciar um 'comportamento ético' perante seus colegas,
Laura Russo mostra a importância de um corpo de normas e
a sociedade e a profissão esc()lhida ".
193
192
I

'l'"!····•

princípios morais para o bibliotecário. Este trabalho causou O conteúdo desta disciplina abrangeria os princípios
polêmicas entre os participantes deste evento; alguns acha- morais da profissão bibliotecária, sua relação com as autori-
vam que o mesmo correspondia ao Tema III- Profissão do Bibli- dades, colegas e instituições e, principalmente, com o públi-
otecário-Documentalista, e outros preferiam incluí-lo no Tema IV co. Fazia-se então pertinente que a mesma fosse ministrada
-Relações Públicas e Intercâmbio. Face a esta discussão, Cardim no último ano, quando os alunos tivessem adquirido uma
retorna com a mesma proposta no IV CBBD, Fortaleza, 1963, formação técnica e intelectual. Aos professores seriam exigi-
justificando que a mesma: "É um incentivo que nos toma, por dos conhecimentos sobre o assunto. "Quanto ao programa,
assim dizer, afoitos e teimosos e confessamos a nossa intranqüilidade a própria FEBAB encarregar-se-ia de sugerir aos Diretores dos
enquanto o assunto não obtiver uma decisão final"( Cardim, 1963, Cursos" (Cardim, 1963, p.6).·
p.2). O apelo de Cardim, para que fosse implantada a disci-
Esta disciplina teria a finalidade de conceder aos alu- plinaA'ticaPmf1Ssiona~ nos cursos de Biblioteconomia, ressoou
nos uma formação moral "que desperte amor à causa para o somente em São Paulo, no Curso de Campinas e São Carlos.
trabalho não ser frio e penoso. Formação que penetre fundo e ensi- Sendo que neste a disciplina denominou-se Relações Públicas e
ne o que é dever e responsabilidade. Dever que é o estímulo das Ética Profissional. Este fato demostra-nos que a trajetória do
consciências retas, obrigação de se realizar o que se assumiu anteri- Ensino de Biblioteconomia no Brasil processou-se com relati-
ormente, dever que se traduz na exatidão de uma tarefa e que tem va polêmica, especialmente com relação às disciplinas que
como prêmio a paz dos que sabem fazer e a alegria tranqüila de deveriam fazer parte do currículo escolar.
quem tem na personalidade a marca de ser responsável" ( Cardim,
1963, p.1-2).
Ainda, contribuiria para melhorar a imagem do biblio-
tecário, pois estes eram ",moralmente mal formados e
deseducados" (Cardim, 1963, p.3), apesar de se considera-
rem como os funcionários que melhor sabiam atender ao
público. Daí, a necessária "reforma da mentalidade" a fim de
que se formassem bons bibliotecários: "Para ser um bom bi-
bliotecário não é necessário só amar os livros, ser competen-
te na função e capaz na administração" (Cardim, 1963, p.5).
Era preciso mais do que isso, afirma a autora, precisavam ser
útil a todos, e "viver o lema: servir e servir é pôr a alma inteira.
Sua função, dar-lhes-á os meios para saberem como bem
servir"(Cardim, 1963, p.5).

194 195
CAPÍTUL05

CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DE


BIBLIOTECONOMIA: ANOS 50 E 60

I A BIBLIOTECONOMIA ESTÁ EM CRISE, alertava


Lasso de la Vega, em 1961. A sua origem estava na formação
I
r
do bibliotecário, eminentemente técnica e distanciada da
cultura geral e humanística, resultando, por conseguinte, "na
pobreza de inovações que no presente caracteriza a profzssão bibliotecá-
ria e toma evidente a necessidade de revisão deste problema e de buscar
bases sólidas para ajustar-se aos novos tempos" (Lasso de la Vega,
1961, p.263). Ao citar autores como Metclaf', Russel, Osborn
e Abner Vicentini, esse autor afirma que todos comungavam
da mesma idéia de que a Biblioteconomia estava paralisada e
requeria urgentes reformas a fim de atender "ao crescimento
assombroso da ciência e das fontes de saber; por um lado, e das máqui-

197
nas colocadas a serviço da documentação, por outm lado, têm posto, selecionar material bibliográfico altamente especializado, redigir resu-
sobre o 'tapete das necessidades 'o caráter; os meios e os fins que terá de mos de trabalhos científicos, realizar pesquisas bibliográficas, orientar
cumprir a nossa profissão, no presente e no futuro" (Lasso de la leitores, lidar com processos eletrônicos de armazenagem e recuperação
Vega, 1961, p.263). de informações. Vê-se claramente que, na formação do bibliotecário, as
Este mesmo alerta é feito no Brasil, pela Comissão de- disciplinas culturais são tão importantes quanto as técnicas"
signada pela Diretoria de Ensino Superior do Ministério da Educa- (Cavalcanti, 1957, p.328).
ção (1962) para estudar um plano de currículo mínimo para As representações dos discursos, sempre
a área, valendo-se, inclusive, da mesma expressão utilizada reivindicatórios, em torno do Ensino de Biblioteconomia
'
por Lasso de La Vega (Curriculo, 1962, pA). Também Laura anos 50 e 60, centralizavam-se em torno de: estabelecimento
Russo, no trabalho que apresentou, em 1968, no Colóquio In- de um currículo mínimo, "modelo ideal" de formação, técni-
ternacional de Estudos Luso-Brasileiros, em Coimbra, Portugal, ca ou humanística, incorporação ou anexação de escolas/
afirma que "A Biblioteconomia brasileira está em crise" (Rus- cursos pelas universidades, valorização e "status" social e pro-
so, 1968, p.5). fissional do bibliotecário.
Os motivos desta crise eram diversos; entretanto, os Os discursos em torno de currículo e dos saberes nele
mais evidentes pareéiam ser: incorporados que contemplam as vertentes humanista e téc-
a) ausência de um currículo mínimo; nica constituem-se no foco central da literatura contida da
Imprensa Periódica analisada neste estudo. Sendo as demais
b) supostamente a "incapacidade dos bibliotecários" em
acompanharem tecnicamente a acelerada produção reivindicações conseqüências destes, ou seja, de uma "boa
científica mundial; formação escolar que evidentemente deveria contemplares-
tas duas vertentes" (Cavalcanti, 1957, p.328).
c) baixo reconhecimentosocial do papel do bibliotecá-
rio;
Bibliotecário: técnico ou humanista?
d) ensino eminentemente técnico.
Para solucioná-los seria imprescindível a conquista de O debate em torno de uma formação técnica ou
um espaço social mais amplo pela Biblioteconomia, que se humanística do bibliotecário tem o seu início com a instala-
daria a partir das mudanças na formação do bibliotecário, de- ção dos cursos de Biblioteconomia na capital paulista. Antes
vendo privilegiar a técnica e a cultura geral e, principalmente, predominava o modelo humanista francês da École de Chartes,
situar no âmbito das Universidades, preferencialmente nas que a Biblioteca Nacional adotara durante três décadas. Mo-
Federais: ".... há que dar ao bibliotecário uma formação condigna, delo que vinha sendo criticado, na França, desde o início do
ao mesmo tempo cultural e técnica. Há que preparar bibliotecários século XX, pelos bibliotecários-progressistas, que reivindicavam
capazes de organizar e dirigir_ bibliotecas e serviços de dowmentação, mudanças nas estruturas das bibliotecas, a fim de que as mes-

198 199
----------~-·-

mas atendessem às políúcas públicas de leitura ( Charúer, A. e obras dos naturalistas, dos simbolistas, dos impressionistas. Circulam
Hebrard, 1995, p.156) . Mudança que os bibliotecários conserva- também no Brasil os filmes de Pathé Freres e da Gaumont, o teatro de
dores franceses não aceitavam, alegando que o atendimento à Regina Badet, Suzanne Depres e Sarah Bernhardt" (Massi, 1989,
leitura era atividade própria das escolas e que o papel da bibli- p .413) . (grifo nosso)
oteca era preservar. Esta discussão trava-se, também, entre os Com o passar dos anos, o ensino de Biblioteconomia,
bibliotecários brasileiros nos anos 20 e 30. Uns defendiam a antes enciclopédico, "converteu-se em eminentemente
biblioteca guardiã, e outros, a de livre acesso e democrática. técnico"(Fonseca, 1979, p.35), resultando num visível rebai-
Deste modo, a Biblioteconomia brasileira adota um mo- xamento do bibliotecário que passou a "produzir fichas e or-
delo que na sua matriz era objeto de insaúsfação por parte do denar livros nas estantes" (Russo, 1968, p.12), enquanto as
público e de alguns bibliotecários que exigiam uma biblioteca outras atividades, gerenciais, necessitavam de orientação de
animada, viva, em contraposição à "biblioteca morta". O gran- pessoas tecnicamente habilitadas, "tornando-o assim, objeto de
de defensor da "Biblioteca animada" foi Eugene Morei, cujas críticas e dava a convicção de que o ensino de Biblioteconomia estava
idéias foram explicitadas no texto Bibliotheques: essai sur le ultrapassado, na medida em que as escolas formavam pessoal essenci-
développement des bibliotheques publiques et la libraire dans les deux almente [capacitados] em processos técnicos, porém pouco familiari-
mondes. Neste texto, ele sugere para a França as free libraries com zados com os problemas da cultura e da pesquisa" (Dias, 1955, p.8).
salas abertas, acesso livre às estantes. Estas idéias causaram es- Entendia Russo que a concentração nas técnicas
cãndalo entre os defensores das bibliotecas-museus francesas fragilizava o ensino, pois a sua função era disúnguir as práti-
(Chartier, A. e Hebrard, 1995, p.153-154). Portanto, quando a cas do bibliotecário das de outros profissionais; portanto, não
Biblioteca Nacional adota o ensino enciclopedista da École de deveriam ser absorvidas como a essência do fazer
Chartes, os bibliotecários franceses começavam a debater e biblioteconômico. Ao contrário, tomadas como as
referenciar a Biblioteconomia,americana. determinantes do campo, não favoreceriam o seu desenvol-
Segundo Fonseca (1957, p.96), a adoção pela vimento e não propiciavam " ... a conquista de valores sociais, exi-
Biblioteconomia do modelo francês,jusúficava-se na medida gidos pelos bibliotecários, e não os colocava à frente das necessidades
em que a ciência, as artes, a cultura brasileira, neste período, da ciência e da sociedade em geral" (Dias, 1955, p.8).
eram fortemente influenciadas por esse país: "O final do sécu- Tornava-se então pertinente que as escolas incluíssem
lo XIX e as primeiras décadas do século XX particularmente no perío- "... estudos que concorram para o desenvolvimento cultural dos bibli-
do pré-t;Uerra de 1914, podem ser descritos como um movimento de otecários tais como iniciação à filosofia, à filologia e à literatura, às
intenso contato com a França. No plano científico, são as idéias de ciências sociais e econômicas, às ciências naturais, às artes e à história.
evolução do darwinismo, o positivismo e o materialismo que encon- Assim jazendo, em relação à formação dos bibliotecários, lançaram as
tram eco nas elites políticas e intelectuais brasileiras. No plano cultu- bases do conhecimento necessário à futura especialização daqueles que
ral, a literatura de Zola, Maupassant, Verlaine e Rimbaud, além das tal desejassem" (Figueiredo, 1954, p.21).

200 201
De acordo com Heloisa de Almeida Prado, um ensino científica e humanística. "E na certeza de ser indispensável êsse su-
que privilegiasse as vertentes humanista e técnica seria mais porte cultural em favor da sua formação profiSSional, contribuindo para
que importante, seria vital, por ser a Biblioteconomia uma um melhor desempenho de suas atribuições no exercício profzssional".
das profissões que "mais exige cultura geral dos profissionais" Carvalho, F. (1957, P.321), ao reportar-se ao curso da Bahia,
(Prado, 1961, p.2), na qual a técnica vinha a ser um elemen- afirma que, quando surgiu o movimento renovador da
to demarcador do exercício diário do bibliotecário. Daí suge- Biblioteconomia brasileira em São Paulo, o predomínio da téc-
rir que fossem incluídos no ensino saberes como arte, ciênci- nica justificava-se, mas, passando esta fase, se fez relevante pre-
as, literatura e línguas. Saberes que tinham a finalidade de encher as lacunas culturais da formação do bibliotecário, ques-
capacitar o bibliotecário a dirigir, desenvolver e manter bibli- tão que este curso tentava solucionar, isto é, oferecer uma for-
otecas universitárias, nacionais e especializadas. Contudo, mação que contemplasse estas duas vertentes.
segundo esta eminente bibliotecária, autora de um best-seller Portanto, o bibliotecário deveria ser um "... misto de técni-
da área, Como Organizar uma Biblioteca, para atuar em bibliote- co e intelectual. A sua preocupação principal não deve ser datilografar
cas escolares, infantojuvenis e municipais não haveria neces- fichas perfeitas, segundo um código de catalogação, mas conhecer o
sidade de preparar profissionais, devendo ser uma atribuição conteúdo dos livros que possui, ser ·um guia intelectual do leitm: Mui-
de professores primários, que, após a conclusão do curso nor- tos bibliotecários esquecem que a principal coisa, na biblioteca, para o
mal, seriam treinados pelas escolas de Biblioteconomia para leitor, é o livro e não a técnica que se empregou para catalogá-lo e
desenvolverem atividades nestas bibliotecas. Isto se justifica- classificá-lo. O bibliotecário moderno, repito, é um intelectual e um
va, pois ''formar apenas bibliotecários [nível superior] seria não que- técnico. A cultura, ele a adquire em primeiro lugar; antes de entrar
rer enfrentar a realidade brasileira. Mesmo em países mais avançados para a escola técnica, na Universidade efora dela, lendo e estudando
do que o nosso, tal solução seria utópica" (Prado, 1961, p.2) os conhecimentos humanos em perpétua transformação. É por isso
Evidentemente que diapte deste debate, técnica versus que julgo um erro colocar à frente das bibliotecas não só eruditos, sem
humanismo, alguns bibliotecários julgam mais pertinente preparo técnico, mas também técnicos sem erudição" (Moraes, 1942,
as escolas privilegiarem uma ou outra vertente, e há aque- p.207).
les, como os acima citados, que não concebiam a separação
entre ambas. A uniformidade dos saberes biblioteconômicos
Taveira (1967, p.4) defende, por exemplo, o predomínio
da técnica, pois através dela e com ela, os bibliotecários aten- Anteriormente a 1962, cada escola/curso determinava
deriam ãs necessidades das bibliotecas modernas. Contrária a o seu programa curricular, julgado sempre o ideal, para for-
esta idéia, Carvalho, M. ( 1957, p.30) considerava que não cabe- mar, obviamente, um bibliotecário ideal, perfeito, moderno
ria às escolas- a autora reporta-se à escola da UFMG -, forma- que, de posse de um saber técnico e cultural, atendesse à soci-
rem apenas o técnico, mas também o bibliotecário com base edade brasileira, no momento em que esta ampliava o pro-

202 203
cesso de industrialização e o campo universitário e, principal- A causa para o não-estabelecimento de um currículo mí-
mente, regulamentava e institucionalizava a pesquisa cientí- nimo, no Brasil, antes dos anos 60, estava na ausência de
fica. Começava, a partir de então, o confronto entre os profis- unidade de ponto de vista, entre as Escolas de
sionais que defendiam a necessidade técnica e aqueles que Biblioteconomia, isto é, quais os saberes a serem incorpora-
requeriam um currículo que atendesse também à formação dos neste currículo. Na tentativa de solucionar o impasse, Dias
cultural e humanista do bibliotecário. Para Antônio Caetano ( 1955, p. 6) sugere que, durante a realização do Primeiro Con-
Dias, as reivindicações relativas à valorização e ao status pro- gresso de Biblioteconomia, fosse instituída uma comissão com
fissional, anexação e ou criação de escolas/ cursos junto às representantes de todos os cursos, a fim de estudarem a viabi-
universidades tinham pouca significância, enquanto o cam- lidade de criação de um currículo mínimo. Contudo, esta reu-
po não dispusesse de um corpo de saberes uniformes e nião não se realizou; a razão provável fora o desinteresse dos
estruturados : Currículo Mínimo. diretores dos cursos em debater o assunto, priorizando ou-
A ausência de uniformidade dos saberes e a fragilida- tros como o reconhecimento legal da profissão.
de teórica na formação do bibliotecário não eram privilé- Entretanto, este autor propõe um modelo de currícu-
gio do Brasil, mas de toda a Ibero-américa, como fica evi- lo, caso houvesse, em algum momento, acordo entre aque-
denciado no Seminário Ibero-americano sobre Planejamento de les que detinham poder para estabelecê-lo. Este currículo
Serviços Bibliotecários e Documentação, realizado em Madrid, deveria contemplar dois níveis de disciplinas: as profissio-
de 5 fevereiro a 2 de março de 1968, organizado pela nais e as não-profissionais. Incluíam-se entre as primeiras:
UNES CO e Oficina de Educación Ibero-americano ( OEI) e pelo Catalogação, Classificação, Organização e Administração de
Instituto de Cultura Hispânica. Em relação à formação pro- Bibliotecas, História do Livro e das Bibliotecas, Bibliografia
fissional, é relatado que: "O Ensino de Biblioteconomia e docu- e Referência, Técnicas de Documentação, Catalogação e
mentação em Ibero-america n&o é satisfatório apesar dos esforços Classificação Especializada. Quanto às disciplinas não-pro-
que realizam as escolas e professores. A situação das escolas não é fissionais, ponto de divergência entre os diretores das esco-
uniforme e essa falta de uniformidade é conseqüência de uma série las que não as concebiam como necessárias à formação do
de fatores, destacando-se os seguintes: distribuição geográfica não bibliotecário, não deveriam ser incluídas no programa regu-
planificada que dificulta o acesso ao ensino - existência de escolas lar de ensino, a exemplo de Seleção e Orientação de Leito-
fora do âmbito universitário, o qual provoca diferenças hierárqui- res, História da Literatura ou Bibliografia Literária, Introdu-
cas entre títulos aparentemente iguais: planos e programas não con- ção à Cultura Histórica, Literária, Artística, Científica e Ci-
templam as necessidades reais da profissão nem faz sua projeção ência Filosófica (Dias, 1955, p.6).
para o futuro, baixa matrícula determinada pela falta de incenti- Para Dias, a inclusão destas disciplinas tinha a finalida-
vo que atraem a juventude a esta profissão; professorado escasso e de de suprir as deficiências do ensino médio, que não
nem sempre idôneo ... " (Seminário, 1957, p.1). oportunizava ao futuro bibliotecário uma cultura geral e

204 205
humanística (Currículo, 1962, p.l): "Consciente do importante As disciplinas propostas para o Curso de Graduação
papel do bibliotecário na sociedade moderna e sem se distanciar do seriam:
princípio de que a escola para sua formação profissional não deve se • Bibliografia;
limitar exclusivamente ao problema de seu preparo técnico, a duração
• Organização e Administração de Bibliotecas e Servi-
do curso já naquela época [o caso do Curso de Biblioteconomia da ços de Documentação;
UrMG] se preocupava, com a necessidade de uma base cientifica,
• Técnica de Indexação e Resumos;
aliada a essa preocupação técnica do futuro bibliotecário. E na certeza
de ser imprescindível êsse suporte cultural em favor de sua fmmação • Catalogação;
profissional, contribuindo para um melhor desempenho de suas atri- . • Documentação;
buições no exercício da profissão, adotara o currículo mínimo de
• Armazenagem e Recuperação de Informações;
Biblioteconomia"(Carvalho, 1967, p.l).
Com base no Art. 1º da Lei 4.084 de 30 de junho de • História da Arte;
1962 e no Art. 60 da Lei de Diretrizes da Educação Nacional, • Pesquisa Bibliográfica;
Dumerval Trigueiro Mendes, então Diretor do Ensino Supe- • História da Ciência e da Tecnologia;
rior, convocou uma Comissão de Especialistas em Biblioteconomia,
• História da Literatura;
para elaborar proposta de um currículo mínimo, que em se-
guida deveria ser encaminhada para o Conselho Federal de Edu- • Referência;
cação, para análise. Constituíam esta comissão: Edson Nery • Teoria da Informação e Cibernética;
da Fonseca, Abner Lellis Corrêa Vicentini, Nancy Wesfallen
• Reprodução de Documentos;
Correa, Cordelia R. de Cavalcanti, Sully Bradbeck, Zilda Ga-
lhardo de Araújo. '· • História do Livro e das Bibliotecas·,
Estes professores propuseram que o ensino de • Introdução à Filosofia;
Biblioteconomia fosse ministrado nas universidades e em três • Introdução às Ciências Sociais·
níveis: Curso de Graduação, Curso de Pós-Graduação e Cur- '
• Seleção de Livro.
so de Doutorado. O Curso de Graduação- cujos critérios de
ingresso dar-se-iam através de concurso de habilitação, que Por sua vez, o Curso de Pós-Graduação abrangia quatro
constaria de exames de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira especializações: Bibliografia, Bibliotecas Infanto-juvenis, Documenta-
e Portuguesa, Histõria Geral e do Brasil, Língua Inglesa e outras a ção, Bibliotecas Especializadas e Didática. E o grau de "Doutor em
serem escolhidas entre o francês, o alemão e o italiano- deveria Biblioteconomia será conferido ao concluinte do Curso de Doutorado que
ter a duração de três anos e destinava-se a formar bibliotecá- apresentau defender tese, de acôrdo com asfmmalidadRs legais"( Carvalho,
rios e documentalistas. 1967, p.l). Interessa observar que a proposta desta comissão

206 207
. 'erpretada pelo Conselho' que a modificou
- ter st.do m,, privilegiado para isso,justiflcando a inclusão de disciplinas como
"...parece nao _ de
maneira substancial" (Russo, 1968, p.9-1 O) ' quando da fixaçao do Catalogação, Classificação e Bibliografia. Evidente que para não con-
figurar a formação do bibliotecário como exclusivamente técni-
currículo mínimo em 1962. . , . .
Este primeiro Currículo Mínimo obngatono fOI es~bele- ca foram incorporadas algumas disciplinas culturais. Mas até que
cido elo Conselho Federal de Educação através da Resoluçao de ponto estas disciplinas possibilitaram suprir deficiências do ensi-
16/li/1962. O parecer NQ 326/62 em que se fu.ndamento~ ~ no médio e deram ao profissional um cabedal de conhecimen-
Resolução foi do Conselheiro Josué Montello. Eis a resoluçao. tos culturais? Entretanto, se levarmos em consideração que o
total de disciplinas técnicas, que sempre foram superiores às cul-
art. 1 -O Currículo mínimo do curso de Bibliotecono-
turais, aliado ao número de horas que estas ocupam nos currí-
mia compreenderá as seguintes matérias: culos de Biblioteconomia, veremos que, provavelmente, não
• História do Livro; suprem deficiências educacionais anteriores.
Este currículo atendeu às reivindicações das escolas e
o História da Literatura;
associações de classe. Interessante frisar que, neste período,
• História da Arte; escolas e associações atuavam praticamente em conjunto, na
• Introdução aos Estudos Históricos; medida em que os professores eram os mesmos que repre-
• Evolução do Pensamento Filosófico e Científico; sentavam os movimentos profissionais.
A literatura analisada, em especial a história da cria-
• Organização e Administração de Bibliotecas;
ção dos Cursos de Biblioteconomia, nos permite supor que
• Catalogação e Classificação; a base para o currículo de 1962 tenha sido o programa es-
• Bibliografia e Referência; tabelecido por Francy Portugal, Zilda Galhardo de Araújo,
Maria Antonieta Mesquita Barros e Maria Antonieta
• Documentação;
Requião Piedade, para a Escola de Biblioteconomia e Documen-
• Pal eografla tação do Instituto Santa Úrsula. Programa adotado pelo Cur-
art. 2- A duração do curso será de três anos letivo so da BN, depois que Antônio Caetano Dias "... apresentou
[em outubro de 1956] ao Diretor da Biblioteca Nacional projeto de
art. 3- É obrigatória a observância dos art. 1Qe 2Q a par- um novo regulamento para os Cursos da Biblioteca" (Piedade,
tir do ano letivo de 1963. 1958, p.l61) em especial, a incorporação da disciplina Do-
. Este Currículo objetivava, entre outras questões, atender cumentação. Cabe-nos destacar que o Curso do Instituto
, necess1.da des do "mercado biblioteconômico ascendente"' ao. Santa Úrsula foi o primeiro a adotar este termo na sua de-
as .
aumento da produção científica brasileira que requena orgam- nominação. Portanto, Curso de Biblioteconomia e Documenta-
zação e controle, e as técnicas biblioteconômicas eram o canal ção do Instituto Santa Úrsula.

209
208
Esta discussão permite-nos supor que tem ocorrido na Deste modo, a transmissão do saber, antes restrita a es-
Biblioteconomia a inclusão forçada de conteúdos pedagógi- paço localizado, não mais obedece a limites geográficos e
cos que pouco têm favorecido a formação humanística do muito menos a uma determinada instituição: bibliotecas, cen-
bibliotecário. Aliada ao fazer bibliotecário que, mesmo reves- tros de documentação, escolas, dentre outras.
tido de modernidade, face ao uso de novos recursos Retomando um outro trabalho de Dias, apresentado no V
tecnológicos e das teorias da Administração, Filosofia, Socio- CBBD (1967), observa-se que, desde a criação do primeiro curso
logia, Educação e outras, é marcado pelas velhas técnicas, que de Biblioteconomia, houve uma ampliação quantitativa das es-
na atualidade ganharam outras dimensões: a ficha colas, não significando uma melhoria qualitativa nos processos
catalográfica de 12,5 X 7,5 passou para o computador, os le- de ensino e nos saberes ministrados. Para este autor, o cresci-
vantamentos bibliográficos, antes manuais, começam a ser mento no número de escolas foi satisfatório, principalmente a
realizados através de banco e bases de dados. Enfim, sofisticou- partir dos anos 50, por dois motivos: o primeiro, pela compreen-
se o fazer bibliotecário, mas o saber, mesmo que revestido de são dos responsáveis pelo ensino superior, em especial o CFE,
novas roupagens, pelo empréstimo de teorias de outras ciênci-
que entendeu a dimensão da profissão e da necessidade de
as, continua o mesmo como nos anos 50 e 60.
incorporá-la no quadro dos cursos universitários. Segundo, pelo
Citamos, como exemplo, a disciplina História do Livro e
aumento da produção de revistas e folhetos científicos, que re-
das Bibliotecas, uma das mais antigas do currículo da área. Como
queriam tratamento especializado, contribuindo para transfor-
o nome indica, centra-se na descrição histórica de um suporte
mar a mentalidade dos professores, estudiosos e pesquisadores
de registro do conhecimento e de uma agência específica para
em relação às atividades dos bibliotecários. No bojo do cresci-
armazenamento e tratamento desse material. Entretanto, face
mento das escolas, se ampliaram as associações de classe como
ao avanço dos novas tecnologias de informação que rompe-
ram com as determinações de tempo e lugar, o conteúdo desta espaços de reivindicações profissionais: "Chega, assim, a
disciplina, por suposto, deveria incluí-los. No entanto, predo- Biblioteconomia brasileira ao seu V Congresso com uma sólida infra-es-
minam saberes sobre as grandes bibliotecas, a trajetória do li- trutura constituúia por quinze escolas e dezesseis associaçõesfiliados àfede-
vro em suas diferentes idades históricas, sem compreendermos ração (FEBAB) e, ainda, com uma legislação prof'tSsional que confere aos
o processo evolutivo nos modos de registro e armazenamento bibliotecários o direito privativo ao exercício da prof'tSsão, contando com
do conhecimento e dos processos de transmissão da informa- dez Conselhos Regionais e um Conselho federal de Biblioteconomia, já
ção que passaram por diferentes fases: da pedra, das tábuas de instaladoeemplenofuncionamento"(Dias, 1967, p.3).
argila ao papiro, do pergaminho ao papel e deste "... à televisão, As quinze escolas existentes até 1967 formavam a cada ano
os computadores e microcomputadores, o lançamento de satélites e esta- quatrocentos bibliotecários índice considerado baixo, pois o país
ções orbitais, o walkman, fitas de áudio e videocassete, videodisco, telefo- contava com apenas 4.332 bibliotecários para atender a uma po-
ne celular; fax, telex, scanner; holografia e redes de fibra ótica, discos pulação de 82.222.000 habitantes e às 12.567bibliotecas existen-
compactos, dentre outros" (Caldeira, 1994, p.vii). tes. A maimia destas bibliotecas era pública, criada pelo Instituto

210 211
Nacional do Livro- INL, que prestava assistência, distribuía mate- maior déficit neste sentido. ''Em geral, as escolas [brasileiras] não
rial bibliográfico, dentre outras atividades da maior significância estão equipadas com laboratórios para práticas. Cremos que seja essa
para os bibliotecários brasileiros. Em resumo, para cada três bi- a falha mais evidente em nosso sistema que precisa passar de tão teóri-
bliotecas existia apenas um bibliotecário diplomado. co para mais prático"(Sanz, 1955, p.266).
Em face destes dados, o Brasil apresentava o maior défi- Segundo Dias ( 1955, p.S), estas previsões para o Brasil eram
cit bibliotecário da América Latina, como revelado na Primei- modestas face à expansão do mercado de trabalho principal-
ra Mesa de Estudos sobre a Formação de Bibliotecários e Melhoramen- mente depois que a Biblioteconomia incorporou no currículo a
to de Bibliotecários em Serviços na América Latina, realizado em Documentação, o que propiciou o interesse de outros profissio-
1965, em Medellín, Colômbia. Para suprir esta deficiência, para nais que passaram a exigir o controle de produção científica do
os próximos dez anos a previsão seria de 10.226 bibliotecários seu campo através de modernas técnicas documentárias e, tam-
(Sanz, 1955, p.144), cálculo que tinha por base 1 (um) biblio- bém, indústrias, empresas privadas e públicas que começaram a
tecário para cada 2.000 habitantes. Se dividirmos este total criar seus centros de documentação e informação.
entre as quinze escolas, cada uma deveria graduar, nesse pe- Para atender a esse mercado emergente caberia às esco-
ríodo, a cada ano, uma média de 681 alunos. las brasileiras a responsabilidade de capacitar melhor o futuro
Dentre os países da América Latina, o Brasil e a Argentina profissional, adequando-o às exigências do momento e àque-
apresentavam o melhor quadro: em número de escolas, qualifi- las ainda por vir. Do mesmo modo, deveriam ampliar suas va-
cação dos professores e recursos materiais. Uma diferença entre gas de acesso ã carreira, inclusive oferecendo bolsa de estudos,
estas duas realidades era com relação às condições de ingresso por intermédio da Diretoria de ilnsino Superior do MEC e da CA-
nos Cursos. No Brasil, havia somente os exames vestibulares, PJi;s, a candidatos dos Estados onde não havia escolas, de ma-
enquanto na Argentina, cada escola, em número de dez, tinha neira tal que o país fosse coberto por bibliotecários, em especi-
modos de acesso diversificados: análise de currículos e provas de al, em centros de pesquisa e indústrias. Outra vez, é evidencia-
conhecimentos gerais, em algnmas; em outras, provas de conhe- do um tipo de atividade requerida pelo bibliotecário: a especia-
cimento e formação em magistério (Sanz, 1955, p.144). lização para atuar junto a grupos determinados de profissio-
Com relação ao professorado, o Brasil apresentava uma nais, enquanto que, para atender a outras esferas da socieda-
situação favorável em relação aos demais países da América de, a escolar- exceção para o ensino superior- e às classes me-
Latina, havendo carência apenas de professores qualificados . nos favorecidas econômica, cultural e socialmente, não reque-
e suficientes, para as chamadas "disciplinas novas": Documen- ria níveis de especialização, bastava o saber adquirido nas esco-
tação, Reprodução de Documentos e Introdução a Cultura Cientifica las nos três anos de duração do curso: "A especialização do bibli-
e Filosófica. Em contrapartida, as escolas não dispunham de otecário brasileiro [que se desenvolve] natural eprogressivamente na pro-
recursos pedagógicos, a exemplo dos audiovisuais e laborató- porção em que um contigente de profissionais diplomados (como já oconia
rios para as aulas práticas, sendo o país que apresentava nos tradicionais centros culturais do país, Rio e São Paulo), puder aten-

212 213
f) Intercãmbio entre as escolas com o incremento das
der à crescente demanda do mercado de trabalho, cada vez mais
viagens de estudo;
diversificada. Obviamente a especialização estará sempre vinculada às
possibilidades deemprêgo"(Dias, 1955, p.5). . g) Aperfeiçoamento dos professores das disciplinas pro-
Para Dias, a especialização traria benefícios aos professo- fissionais;
res das escolas e cursos de Biblioteconomia, à medida em que h) Incorporação das escolas não veiculadas às universi-
os aprimorava, principalmente nas disciplinas profissionais. dades (Dias, 1955, p.6).
Atividade que vai ser desenvolvida pelo IBBD, ao promover Todavia, Dias alertava que estas recomendações somen-
diversificados cursos de pesquisa bibliográfica em várias áreas te seriam úteis quando as escolas padronizassem seus espa-
objetivando adequar o bibliotecário às linguagens e terminolo- ços físicos, os saberes ministrados e as nomenclaturas das dis-
gias das Ciências Médicas, Físicas e Naturais, dentre outras. ciplinas escolares.
Se caberia às escolas capacitar o bibliotecário e se a es-
pecialização se constituía no mecanismo de aprimo~amento, Padronização do ensino e dos saberes biblioteconômicos
era imprescindível que o ensino passasse por alteraçoes, quer
fosse no currículo quer fosse no exercício prático dos saberes A preocupação dos bibliotecários, nos anos 60, era pa-
transmitidos, para tanto, requeria conjugar as teorias com as dronizar o ensino, através do currículo mínimo; as suas
práticas. Nesta perspectiva, são instituídas as bibliotecas-la~o­ atividades, por meio da especialização e as bibliotecas, pela
ratório que, comparativamente às outras áreas, em espeCial catalogação cooperativa. Portanto, as escolas de
às físicas e naturais, seria o espaço de manipulação das fontes Biblioteconomia também deveriam ser padronizadas para que
documentais com base nos códigos, normas e tabelas. dispusessem de condições mínimas de funcionamento. Ale-
Para melhoria qualitativa das escolas recomendava este gavam os professores que a falta de padrões para as escolas
autor: ,, era ocasionada pelo governo (entende-se MEC), que não
a) Fortalecimento das escolas já existentes através de au- compreendia a importância do campo dentro do sistema edu-
mento de recursos financeiros para aumentar a capa- cacional, mesmo tendo contribuído para a sua expansão des-
cidade de diplomar maior número de candidatos; de os anos 50. Com a finalidade de minimizar esta problemá-
b) Criação de novas escolas; tica, a Diretoria de Ensino Superior do MEC, através da Portaria
Nº 28 de 31 de Janeiro de 1967, institui uma comissão forma-
c) Instituição de bolsas de estudo;
da por especialistas da área com a atribuição de diagnosticar
d)Instituição de Cursos de Pós-Graduação, Esp~cializa­ a situação das escolas e propor soluções para a melhoria do
ção e Extensão, quando as condições permrtirem;
ensino, em especial criar padrões para as mesmas (Portaria,
e) Ampliação de equipamento audiovisu~, ~as bibliote- 1967, p.3).
cas especializadas e bibliotecas-laboratono;

215
214
Em relação às salas de aula, estas deveriam dispor de "... um
Esta Comissão de Especialistas de Ensino em Biblioteconomia
metro quadrado por aluno e tôdas as salas deverão estar equipadas com
(CEEB) era formada por: Edson Nery da Fonseca, Professor
quadro negro fixado às paredes e carteiras em número equivalente aos
da Universidade de Brasília; Maria Martha de Carvalho, Pr~­
alunos matriculados. As escrivaninhas e cadeiras para os professores
fessora da Universidade Federal de Minas Gerais; Laura Garc~a deverão estar sôbre um nível mais alto do piso" (Escolas, 1968, p.37).
Moreno Russo, Presidente do Conselho de Biblioteconomia Ainda, deveriam contar com amplas bibliotecas-labora-
de São Paulo; Lydia de Queiroz Sambaquy, Professora dos tório. Este assunto foi o mais debatido pela comissão e, su-
Cursos da BN; Maria Lectícia de Andrade Lima, Professo~a postamente, a recomendação adotada por todas as escolas
da Universidade Federal de Pernambuco e Zenaira Garcia de Biblioteconomia- o encontro de Medellín evidenciava a
Marquez, Professora da Universidade Federal do Rio Grande necessidade de criá-la-, posto que as mesmas teriam a finali-
do Sul (Escolas, 1968, p.36). dade de funcionar como espaço onde seriam manipuladas as
Estes especialistas alertavam que para estabelec~r pa- fontes e "... às máquinas [de escrever] e materiais que farão parte da
drões para as escolas deveriam ser consideradas as dimen- vida dos futuros profzssionais, facultarão melhor preparo técnico "(Es-
sões geográficas do país. Para tanto, seria adequ~do fixa~ pa- colas, 1968, p.38).
drões mínimos e máximos, considerando tambem as dispo- Esta questão, padrão mínimo, é retomada no Seminá-
nibilidades financeiras de cada escola/ curso. rio Ensino de Biblioteconomia no Brasil, promovido pela Associa-
Ao reconhecer que os problemas do ensino de ção Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentação- ABEBD
Biblioteconomia transcendiam a simples determinação de pa- e pela Escola ele Biblioteconomia da UFMG, em 1968, cujo objetivo
drões para as escolas, ampliam a discussão, ~~cl~indo na ~au­ era avaliar o ensino da área no Brasil e adequá-lo à reforma
ta assuntos como: currículo mínimo, efie1ene1a do ensmo, do ensino superior (Seminário, 1968, p.232).
incremento do número de alunos e estratégias para desper- Neste evento, foram debatidas três temáticas que se cons-
tar 0 espírito profissional dos bibliotecários. . tituíam, neste período, nos problemas da Biblioteconomia
De acordo com esta comissão, as escolas devenam ofe- brasileira: Pesquisa em Biblioteconomia, Currículo e Duração dos
recer as condições mínimas para o desenvolvimento das Cursos e Pós-Graduação em Biblioteconomia. Quando da sua rea-
atividades de ensino-aprendizagem. Um dos critérios a ser lização havia 18 escolas, sendo: 09 vinculadas a universidades
levado em consideração seria a proporcionalidade entre área federais, 02 em universidades católicas, 04 em fundações, 01
física número de alunos, professores e equipamentos. Es- em autarquia e 02 particulares (FEBAB, 1968, p.57).
colas,veiculadas às universidades deveriam funcionar junto Pela primeira vez, aparece na Imprensa Periódica anali-
à biblioteca central, como laboratório de aprendizagem. As- sada o termo pesquisa como uma prática a ser desenvolvida
sim, escola e biblioteca poderiam atingir o desenvolvimento pelos bibliotecários; até então este era concebido como auxi-
de suas atividades mais amplamente. liar do pesquisador- Servo do Servo da Ciência.

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Entretanto, para que a pesquisa viesse a tornar-se uma Este trabalho foi elaborado a partir da análise da Bibliografia
prática comum dos bibliotecários, era imprescindível a sua Braszlezra: 1934-1952, publicada pela Universidade de São
inclusão no currículo escolar, como disciplina obrigatória, que Paulo. Esta autora ressalta que essa fonte não era exaustiva
objetivava instrumentalizar os alunos no modo de desenvol- ne~ arrola~a tudo que tinha sido publicado na área, por ex-
ver estudos investigativos, durante e, notadamente, após a clmr os artigos da Revista do Serviço Público (Amorim, 1957,
conclusão do seu curso de graduação. O que não ocorreu p.l79). Entretanto, possibilitava traçar um perfil da "Carto-
efetivamente, nos currículos de 62 e 82. grafia Bibliotecológica Brasileira".
A disciplina, denominada por algumas escolas,
atualmente, como Metodologia da Pesquisa, evidencia as técni-
Tabela 14: Freqüência de publicações na Biblioteconomia brasileira: 1934-1953
cas de referência ou um tipo de pesquisa, a bibliográfica, ou
constitui-se na orientação aos alunos para elaboração de
monografias de conclusão de curso, também denominadas
de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC.
Devemos considerar que, somente no início dos anos
70, com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação, é
que as escolas começam a realizar sistematicamente pesqui-
sas, na medida em que professores, ao concluírem seus
mestrados e retornarem para suas unidades de trabalho, a
incorr;>oram no processo ensino-aprendizagem.
No bojo do desenvolvimento das pesquisas científicas
em Biblioteconomia, ampl~a,m-se os canais de publicação
(como evidenciamos no primeiro capítulo), denominados
revistas; antes deste período, o que havia sido editado eram os
boletins, que trazem mais notícias sobre o que ocorria na área
no Brasil e exterior, do que artigos resultantes de investiga-
ções científicas. Contudo, estes materiais são da maior rele-
vância para se compreender a trajetória da Biblioteconomia
brasileira, anterior aos anos 70.
Um trabalho que possibilita identificarmos a produção
biblioteconômica nacional, dos anos 30 a início de 50, é A
LiteraturaBibliotecológicaBrasileira, de MariaJosé T. de Amorim.

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Os bibliotecários paulistas foram os que mais publica- tude daBiblioteconomiaentrenós"(Amorim, 1957, p.181), A con-
ram trabalhos, dezoito; seguidos pelos do Rio de Janeiro, com centração em torno destas bibliotecas dava-se face a sua ex-
nove; Pernambuco com quatro e Amazonas, com dois. O pre- pansão em todo território nacional, através do Instituto Nacio-
domínio de São Paulo dava-se pelo avanço da área, que, des- nal do Livro - INL.
de os anos 30, ampliava o número de escolas e, por conse- Outro assunto, que ocupa relevância significativa, era a
guinte, de bibliotecários. O Rio de Janeiro é representado pelo natureza e a função da Biblioteconomia. Entretanto, segun-
Curso da BN e pelas publicações da Associação Brasileira de do a autora, este termo não poderia estar desvinculado de
Bibliotecários: "... verifica-se que a publicação bibliotecológica brasi- Biblioteca e do bibliotecário, pois "não se compreende a
leira, no período compreendido, apresenta uma linha muito irregular. Biblioteconomia sem as instituições em que é exercida e sem as pessoas
O ano áureo foi o de 1950, com 34 publicações, havendo uma queda que a praticam. São três facetas de um único tópico, a implantação de
brusca em 1951, em que só se registram 15 publicações .. O número instituições, os conceitos e normas em que se devem basear e as noções
ainda mais reduzido de publicações em 1952 é devido, provavelmen- sôbre a profzssão, ainda muito mal compreendidos entre nós" (Amorim,
te, ao aparecimento da Bibliografia em agôsto, mês com que está data- 1957, p.180).
do o prefácio. Quais seriam as razões do aumento da literatura em Tabela 15: Assuntos predominantes na literatura biblioteconômica: 1934-1953
1950 e da sua subseqüente queda? Eis tema para quefuturo investiga-
dor tente uma correlação com as possíveis causas sociais de tal jato"
(Amorim, 1957, p.187).
Os temas predominantes na Biblioteconomia brasilei- Classificação
ra, no período arrolado por esta Bibliografia, centravam-se
14 9,4
nas técnicas relativas à área, na descrição das bibliotecas do
Biblioteconomia 14 9,4
Brasil e estrangeiras e na Biblioteconomia, enquanto profis-
são: ''Essa distribuição poderá constituir mais um elemento no estudo Bibliotecários 8
de uma geografia bibliotecológica brasileira. Algumas publicações sôbre 5
bibliotecas estrangeiras revelam a preocupação de estudar a situação Microfilme
nos outros países e de viajar para colher informações" (Amo rim, 1957,
p.179), Referência 3 2,0
Em relação às bibliotecas, as públicas eram as mais de-
Em relação à Classificação, predominava o debate em
batidas. Trabalhos explicitavam suas funções, natureza, im-
torno do Sistema de Dewey. A centralização em torno do
portància social, cultural e o seu conceito moderno. ''As carac-
mesmo dava-se por ser o mais antigo e por ser norte-america-
terísticas assumidas pela preocupação com a bíblioteca [especialmente
na a origem teórica dos bibliotecários brasileiros. Ainda, por
a pública] parecem indicar,justamente, uma conseqüência da juven-

221
220
ser 0 mais utilizado em bibliotecas públicas. Neste sentido, o Catálogo-Dicionário, o Livro de Tombo e, especialmente, a Clas-
comenta a autora: "Para a arrumação racional dos livros nas es- sificação de Dewey ainda são conteúdos obrigatórios nas disci-
tantes, foram os bibliotecários brasileiros buscar os sistemas em vo~a plinas escolares dos cursos de Biblioteconomia. Certamente,
nas bibliotecas americanas. 1àlvez, seja muito útil no Brasü a adoçao este autor, o mais polêmico da Biblioteconomia nacional, di-
entre nós de um sistema de Classificação quase universal, o de Dewey" ria que a "burrice bibliotecária", neste final de século, se faz
presente.
(Amorim, 1957, p.185). Quanto à Catalogação, os ~s~ursos
centravam-se nas maneiras de produzir fichas, nos codigos e Em relação à temática livros, arrolada na bibliográfia ana-
na representação descritiva dos livros. lisada por Amorim (1957, p.179), o debate centrava-se na sua
Para Edson Nery da Fonseca, o grande equívoco dos organização e importância, enquanto que" ... o livro como obra
bibliotecários brasileiros foi a adoção indiscriminada do Siste- de arte ou objeto raro ... , sua feitura e história não ocupavam,
ma de Dewey, que é "hoje uma classificação morta, embora nos anos 30 e 50, espaço na literatura biblioteconômica".
continue a ser [utilizada], graças à preguiça mental de certos Todavia, ao analisarmos a Bibliografia Brasileira de
bibliotecários ... (Fonseca, 1988, p.20). Este sistema apresen- Biblioteconomia, de autoria de Oswaldo de Carvalho, que co-
ta uma série de desvantagens, admite Fonseca: monolíngüe, bre o período de 1883 a 1957, localizamos o trabalho de Eduar-
obsoleto, pouco adequado para automação. Em con~partida, do Frieiro, Os Livros Nossos Amigos, editado em 1941 e reeditado
defende 0 Sistema Universal, por apresentar reqmsitos fun- em 1945 e 1957. Neste livro, que é extenso, 221 páginas, há
damentais para a atualização bibliotecária: multilíng~e, _revi- uma "série de observações, sob a forma de capítulos, referen-
são constante, compatível com as linguagens das maqumas, tes às artes gráficas, bibliografia, leitura etc." (Carvalho, 1959,
dentre ouu·os. p.1). Provavelmente, a Bibliografia utilizada por Amo rim não
Com relação à Catalogação, condena o uso, também faz menção a este texto, ou não considerava que o mesmo
indiscriminado, do catálogo-dicionário, que considera como tratasse deste aspecto reclamado.
"... a mais alta expressão da burrice bibliotecária (Fon_seca, Para esta autora, a análise da produção biblioteco-
1988, p.21). Burrice que se estende ao livro de registro: nômica tinha como ponto positivo mostrar o que fora reali-
"Francamente, ao ver essa defesa de instrumentos ultrapassados zado, estudado e pesquisado. E, negativo, os outros assuntos
como 0 sistema decimal de Melvil Dewey, o Código da Biblioteca que mereciam investigação, isto é, sobre aqueles pelos quais"
Vaticana, 0 Catálogo-Dicionário e o livro de tombo[. .. ] só me_ resta nada tinha sido feito" (Amorim, 1957, p.179). Entretanto, con-
a exclamação do nosso grande Machado de Assis, na delzcwsa siderava o negativo como positivo, posto que suscitava novos
crônica 'O velho Senado': Quanta coisa obsoleta" (Fonseca, /1988, temas e interesses dos bibliotecários por assuntos que mere-
ciam atenção, possibilitando uma movimentação docente/
p.21). . . '
Se atualmente o Código da Vaticana f01 substitmdo pelo profissional em produzir saberes sobre facetas do campo, ain-
American Library Association, conhecido como Código da ALA, da descobertas.

222 223
lI
Ao fazer uma avaliação das lacunas temáticas da litera- ( 1992, p.216-217), as pesquisas realizadas na Biblioteconomia
tura biblioteconômica deste período, a autora evidenciava
que, em relação à Classificação, nada tinha sido publicado
estão impregnadas de referências funcionalistas e I
behavioristas: "O senso comum das pesquisas define escalas e questi-
sobre a necessária criação ou adaptação de um Sistema que onários/ entrevistas ou grupos de controle e experimentais para medir
atendesse à realidade nacional ou sobre outros sistemas mais o comportamento, seja o comportamento verbal como as opiniões, seja
adiantados, neste caso, os Sistema de Bliss e Ranganathan. o comportamento dos atos. Uma vez medido, ele é contrastado com
Quanto ao uso de máquinas eletrônicas, como recurso outras opiniões (venham de reflexões, venham de onde vier). O conhe-
para o desenvolvimento de pesquisas bibliográficas, não ha- cimento dessas opiniões dá mais algumas conclusões, mas tudo isso é
via qualquer referência. Em resumo, a literatura retratava uma realizado de forma mecânica, sem o requisito da historicidade- donde
"... preocupação com os instrumentos básicos e iniciais no trabalho de o impasse da incompreensão e o conseqüente moralismo das recomen-
organizar bibliotecas. Se outros problemas não foram ventilados é por- dações para que sefaçam mais pesquisas naqueles pontos que ficaram
que não tinham relação com o nosso meio, pelo menos na época com- obscuros. Ou, então, quando o comportamento não se encaixa no
preendida pela bibliografia. No Brasil, entretanto, já se fabricam má- modelo anteriormente teorizado, é o comportamento que precisa de
quinas de calcular eletrônicas. Discute-se muito o que tais máquinas redirecionamento, mas a teoria não, donde o autoritarismo da
possam vir a representar na catalogação, classificação e outros proces- autoconsciéncia teórica das ciências. Os empíricos-analíticos envelhe-
sos técnicos, nos meios biblioteconômicos adiantados "(Amorim, 1957, cem a história incessantemente para assim atualizar a ciência".
p.185). O paradigma da simplificação que predomina nas pes-
A crítica feita pela autora a estes trabalhos estava na quisas em Biblioteconomia ".... elimina a contradição quando se-
ausência de qualquer rigor metodológico, isto é: "Não havia, para a realidade em fragmentos que são, então, isolados. Desta forma
até 1952, investigações com bases em métodos científicos aplicáveis à a lógica funciona perfeitamente sobre as proposições isoladas, suficien-
bibliotecologia, de qualquer um,dos seus tópicos" (Amorim, 1957, temente abstratas para não serem contaminadas pelo real, mas que,
p.185). O que demonstra o empirismo dos primeiros estudos por isso mesmo, permitem as apropriações sobre o real, fragmento por
produzidos em Biblioteconomia, supostamente simples rela- fragmento" (Teixeira, 1990, p.27).
tos de experiências. Na análise que realizamos no Índice da Revista Ciéncia da
Enfim, nào havia "... estudos documentados sôbre o verdadei- Informação ( 1970-1993), uma das mais importantes publicações
ro papel social que a biblioteca deverá assumir entre nós. A que neces- periódicas da área, predominam os Estudo Bibliométricos, se-
sidades deverá atender? A que pesquisas, da acumulação guidos de Avaliação de Coleção e Estudos de Usuários. Em resu-
indiscriminada [referindo-se aos acervos], da seleção, da leitura recre- mo, em torno destas temáticas foram realizados os primeiros
ativa, da informação rápida?" (Amorim, 1957, p.l86). estudos no mestrado do IBICT, orientados por consultores/
Atualmente, qual a natureza das pesquisas realizadas professores estrangeiros como Jack Mills, Tefko Saracevic e
pela Biblioteconomia? Conforme Mostafa, Lima e Maranon outros. A incidência desses estudos justifica-se na medida em

224
225
que começavam as primeiras investigações científicas no cam-
dos serviços oferecidos seria melhorada e ampliada com mais
po e os problemas relativos a estas questões eram, sem dúvi-
eficiência, no sentido de que o pesquisador-bibliotecário po-
da, inquietantes e mereciam respostas. Entretanto, estes es-
deria interferir direta e imediatamente na realidade, modifi-
tudos ainda são uma constante nos cursos de pós-graduação,
cando-a. e adequando-a aos interesses de quem a usa. Contu-
quando acredito que muitos destes trabalhos deveriam ser
do, estes estudos requerem o uso de metodologias adequa-
incorporados como práticas comuns dos bibliotecários nos
das e diversidade de instrumentos para coleta de dados: ques-
espaços onde emprestam sua força de trabalho, especialmen-
tionário, entrevistas, observ.1ção (direta e indireta), dentre
te Avaliação de Coleções e Estudos de Usuários. Para isso se-
outros que possibilitam diagnosticar e avaliar os elementos
ria preciso produzir dissertações sobre uso e necessidades de
humanos e não humanos da instituição biblioteca.
informação do público ou sobre a qualidade do acervo?
Entendemos que a predominância de estudos desta na-
Enfim, estudos que "... demonstram um compromisso
tureza na Biblioteconomia ocorre porque:
crescente com a lógica, [ ... ] e a quantificação do dia-a-dia das
a) os profissionais ainda estão preocupados em resolver
atividades da biblioteca," (Ravichandra, 1986, p.3). Estes estu-
problemas cotidianos e imediatos da biblioteca onde
dos são realizados com a finalidade de avaliar a qualidade do
trabalham;
acervo, dos serviços oferecidos pela biblioteca e o nível de
(in)satisfação do público. Logo, as conclusões, geralmente, b) as Escolas de Biblioteconomia não instrumentalizam
o futuro bibliotecário a desenvolver de forma siste-
apresentam sugestões estimuladoras a fim de que, no fututo,
mática pesquisa relativa a Estudo de Usuário e Avali-
o público possa formular conceitos adequados de biblioteca,
ação de Coleção, dentre outros necessários para o
de leitura, de serviço de referência, dentre outros.
desempenho satisfatório do profissional. Contradito-
Como são formadas as coleções dessas bibliotecas, sem
riamente, as escolas o instrumentalizam nos princí-
conhecer as necessidades dos clientes? O uso de recursos pios para formar e desenvolver coleções sem capacitá-
tecnológicos tem contribuúloefetivamente para a melhoria lo a compreender o público que hipoteticamente uti-
dos serviços oferecidos pelas bibliotecas? Enfim, são pergun- lizará o acervo colocado a sua disposição. E, também,
tas merecedoras de respostas diárias, que deveriam consti- a diagnosticar a qualidade desse material, o que re-
tuir-se em estudos permanentes desenvolvidos pelos biblio- sulta na insatisfação do público, na baixa relevância
tecários. do acervo e periodicidade irregular das revistas, den-
A crítica a estes estudos não está na sua qualidade; no tre muitos outros aspectos que contribuem para que
entanto, defendemos a idéia de que os mesmos sejam o trabalho do bibliotecário seja algumas vezes desne-
atividades rotineiras dos bibliotecários. Provavelmente, assim cessário e incompreendido. Isso tudo aliado à impor-
desenvolvidos, por um bibliotecário ou por grupos de biblio- tância que o profissional atribui às atividades técni-
tecários, a qualidade do acervo, do atendimento ao público, cas e à ausência, quase sempre, de metodologias para
entender o seu público e o material exposto nas es-

226
1 227
tantes, havendo assim a concepção errônea do biblio- para atuarem nas bibliotecas públicas e escolares, atendendo
tecário de que, quanto maior o acervo, número de a outras clientelas e cita, neste caso, os adultos analfabetos.
empréstimos, levantamentos bibliográficos realiza- Para minimizar o problema sugere a promoção de Cur-
dos, quantidade e diversidade de computadores sos de Extensão "... destinados ao preparo de encarregados de peque-
e bases de dados, melhor a biblioteca. Não é difícil nas bibliotecas públicas e de professores primários para as bibliotecas
compreendermos o desespero de alguns companhei- escolares primárias" (Azevedo, 1967, p.1). E, também, que fosse
ros em controlar diariamente as estatísticas da biblio- implantada a disciplina Introdução à Biblioteconomia Aplicada
teca como se a quantidade de material emprestado,
às Bibliotecas Escolares, nos cursos de Pedagogia de todo o país.
no local ou a domicílio, representasse o seu uso efetivo.
Sugere ainda, que fossem ministradas, nestes cursos,
Quanto ao currículo e à duração dos cursos, os partici- noções de funcionamento e organização de bibliotecas esco-
pantes deste Seminário, sobre o Ensino de Biblioteconomia no lares e infantis nos programas de administração escolar, cujos
Brasil, decidiram que quaisquer mudanças a serem realizadas professores seriam bibliotecários portadores de diploma su-
deveriam aguardar a Reforma Universitária (1968) que, con- perior e especializados no assunto, e, na esfera governamen-
seqüentemente, alcançaria a Biblioteconomia. Acreditavam tal, que fosse firmado convênio com as Escolas de
inclusive que, a partir de então, seria a oportunidade de es- Biblioteconomia para assistirem aos encarregados das biblio-
tender o ensino para todo o país, criando escolas anexas às tecas escolares e infantis; caberia a ABEBDpropor ao Conselho
universidades, o que realmente veio a acontecer, inclusive a Federal de Biblioteconomia-CFB conceder aos cone! udentes des-
instalação, em seguida, dos cursos de pós-graduação. ses cursos, título provisório de bibliotecário enquanto não hou-
Uma questão estava clara para os membros deste even- vesse profissionais graduados para assumirem funções nessas
to: que, por mais que as escolas formassem número de profis- bibliotecas.
sionais para atender a uma possível demanda, não atingiri- Entretanto, só seriam válidos os cursos oferecidos pelas
am as pequenas e distantes bibliotecas. Os motivos seriam escolas de Biblioteconomia ou aqueles levados a efeito sob a
que os bibliotecários graduados não iriam assumi-las, primei- sua direção. Esta proposta que não foi atendida pelo CFB,
ro por questões salariais e depois por que estas bibliotecas que, em sendo um "cartório profissional", como afirma Sou-
não ofereciam condições de aprimoramento profissional e, za, F. ( 1994), não permitiria ceder, mesmo que provisoriamen-
principalmente, porque as bibliotecas universitárias e te, título de bibliotecário a pessoas que a partir de um curso
especializadas os absorviam logo que terminavam os cursos. de extensão obtivessem conhecimentos sobre a Biblioteco-
Ao retratar a situação das bibliotecas pernambucanas nomia. Este temor profissional dava-se pelo fato de que o
em 1967, Azevedo alerta para o fato, de que os recém-gradu- mercado de trabalho podia saturar-se com pessoas pouco
ados eram imediatamente contratados pela SUDENE e Uni- habilitadas: sem um diploma universitário, mas detentoras de
versidade Federal. Em conseqüência, faltavam bibliotecários I conhecimentos, mesmo que rudimentares, sobre organiza-

228 j 229
-- --...,

pária que não se pode banhar no Ganges, que não tem um lugar ao
ção de bibliotecas, requisito necessário para despertar o inte- sol, que apenas preenche uma lacuna, enquanto o legítimo dono não
resse dos órgãos empregadores que teriam suas bibliotecas vier reclamar o seu lugar"(Dantas, 1934, p.4).
organizadas com baixo dispêndio financeiro com pessoal. Com esta divisão da carreira bibliotecária, aliada à polí-
Resultou disso que as bibliotecas pequenas permaneceram tica do INL, algumas escolas promoveram cursos para formar
sem bibliotecário graduado ou com pessoas com noções rudi- encarregados de bibliotecas. O pioneiro foi o Curso de
mentares do campo, sendo organizadas aleatoriamente, sem Biblioteconomia da Bahia que, através de convênio com a Secre-
qualquer critério. tária de Educação e Saúde, gestão de Anísio Teixeira, em 1949,
Interessa observar que a preocupação em torno da for- oferece um Curso Intensivo de Biblioteconomia para professores
mação de bibliotecários-auxiliares ou encarregados de peque- primários (Bahia, 1949). A análise das fichas dos inscritos
nas bibliotecas, remonta aos anos 10. Nos anos 40, com a possibilita-nos verificar quais os motivos que levaram os alu-
política de expansão de bibliotecas públicas pelo Instituto Na- nos a cursá-lo: ''Aprender um assunto de interesse para mim epossi-
cional do Livro, esta questão ganha impulso e, consequente- bilitar-me à organização duma biblioteca; Por achá-lo interessante e
mente, surgem polêmicas que se estabelecem quando o DASP de aplicação prática positiva no currículo escolar; A convite do prefei-
cria através do Decreto-lei no. 2.166 de 6 maio de 1940, dois to local"(Bahia, 1949).
nív~is de carreira na Biblioteconomia: Bibliotecário-auxiliar e Cinco disciplinas constituíam o programa escolar deste
Bibliotecário. curso: Seleção de Livros e Literatura Infantil, Catalogação,
Esta polêmica pode ser evidenciada através da carta que Classificação, Referência, Organização e Funcionamento de
a bibliotecária Dulce Leite Gomes, graduada pelo Curso Su- Redes de Bibliotecas Escolares. Sendo ministradas por
perior de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional, enviou ao Bernadette Sinay Neves, Belita Literato de Mattos Carvalho,
jornalista Pedro Dantas, da Tribuna da Imprensa, onde relata Maria José das Mercês Passos, Oswaldo Imbassay e Irene de
as "injustiças sofridas" com estas determinações do DASP. Menezes Doria (Bahia, 1949).
Carta transformada no artigo Os Párias do J<uncionalismo que
retrata a situação dos bibliotecários nos anos 40: "E,m 1949,
saíram as instruções para o Concurso para Bibliotecário do Serviço
I Em relação às disciplinas escolares, os participantes do
citado Seminário recomendavam ao CFE:
Público Federal, poré:m não se abriram as inscrições, pois os Bibliotecá- a) desdobramento da disciplina Introdução aos Estudos
rios- auxiliares (Classe E a H) conseguiram pela Lei 682 (26-4- 49), Históricos e Sociais em Introdução aos Estudos Históricos e
regulamentado pelo decreto 27.097 (26-8-49), o direito ao acesso, sem Introdução aos Estudos Sociais;
concurso, à carreira de bibliotecário" (Dantas, 1934, p.4) · b)desdobramento da disciplina Evolução do Pensamento
Depois de citar inúmeros problemas relativos a esta de- Filosófico e Cientifico em História da Ciência e História da
cisão do DASP, Gomes conclui que, a partir de então, com- Filosofia;
preendia o conceito de :funcionário público interino: "é um
231
230
1
1
c) desdobramento da disciplina Bibliografia e Referência A última recomendação dos participantes deste evento
em duas disciplinas. O mesmo deveria ocorrer com à ABEBD com relação à modificação do currículo mínimo foi
Catalogação e Classificação ; e a implantação da disciplina Reprografia e Seleção de Material Bi-
d) supressão da disciplina Paleografia_ como .m~té.ria bliográfico e Audiovisual, e ainda que os cursos de pós-gradua-
autônoma e sugestão de sua inclusao na dJsc1plma ção em Biblioteconomia fossem instalados nas universidades
Introdução aos Estudos Históricos, como unidade do que oferecessem melhores condições e interesse de manter
programa respectivo (Escolas, 1968, p.36). cursos de pós-graduação, inicialmente em nível de mestrado
(Escolas, 1968, p.36).
Paleografia foi incorporada no currículo de 62, por im-
As questões debatidas neste Seminário sempre ocupa-
posição da Biblioteca Nacional, onde tinha ~ele~ãnci.a, face à
ram pauta nos congressos de Biblioteconomia, desde o pri-
riqueza de seus manuscritos. No entanto, aJUSUficatwa dada
meiro, em Recife, em 1954. Durante a sua realização, como já
pelo CFE, através da Portaria 326 de 21 de novembro de 196~,
referenciado, neste capítulo, o professor Antonio Caetano
estava na necessidade de os bibliotecários atuarem em arqm-
Dias propôs um encontro entre as escolas de Biblioteconomia
vos por não haver cursos de Arquivologia na mesma propor-
com a finalidade de discutirem os aspectos acima referidos,
ção que Biblioteconomia. em especial, a uniformização dos currículos. A realização des-
Em 1963, durante o IV CBBD, realizado no Ceará, os
te encontro só veio a acontecer quando da comemoração dos
participantes propuseram a inclusã~ da discipl.ina 50 anos dos cursos da BN, no Primeiro Simpósio do Ensino de
Arquivologia nos cursos de Biblioteconomia. ~este ~ent1do; Biblioteconomia e Documentação, Rio de Janeiro, 1965. A análise
afirma Russo: 'Já era tempo dessa especzalzdade: Arquwologza, deste evento, após o Seminário do Ensino de Biblioteconomia no
a leitura, a interpretação e descrição de documentos dos nossos ar- Brasil (1968), objetiva demonstrar que as reivindicações e re-
quivos, que representam a história viva do país, não devem ser comendações para melhoria do ensino no campo eram pra-
adiados. Se continuarmos, assim, na política de cons~derar os ar- ticamente as mesmas nas duas reuniões. ·
quivos 'depósitos de papéis velhos', dentro de algumas dezenas de Esta reunião teve seu início em 9 de novembro de 1965,
anos, quando mesmo a tradição oral deturpar os !actos~ o ~rasz: sendo o seu presidente Adonias Filho, então diretor da BN; o
não terá outro remédio senão publicar a sua hzstorza m~tologzca coordenador o Prof. Antônio Caetano Dias, diretor dos Cur-
(Russo, 1968, p.19). sos da BN e relator geral Maria Luisa Monteiro da Cunha (Pri-
Em seguida, afirma a mesma autora que: "Cabe às escolas meiro, 1966, p.66).
emprestarem a esse ensino uma característica mais prática, pela ~tura Este Simpósio contou com representantes de todas as
de documentos dos próprios arquivos, pela projeção de reproduçao dos Escolas de Biblioteconomia e da FEBAB. Os trabalhos foram
vários tipos de escrita utilizadas através dos séculos" (Russo, 1968, distribuídos em seis grupos, que discutiram variadas temáticas,
p.19). como demonstra a tabela seguinte:

232 233
Tabela 16: Temáticas e participantes do Primeiro Simpósio do Ensino de
Biblioteconomia eDocumentação dois primeiros, por estarem iniciando suas atividades, e a
BN, por promover cursos avulsos. Um exemplo de inclu-
são de outros saberes ao currículo foi Língua Estrangeira,
OI Implantação da leí 4.084/62 de acordo com o laura Russo- SP incorporada como disciplina instrumental, exceção da
decreto 59.725 de 16/8/65 Míríam G. de Mello- DF Bahia e do Ceará que, por considerá-la indispensável para
Esmeralda Aragão -BA
a formação do bibliotecário, adotam-na como disciplina
02 Currículum Mínimo Felísbela Carvalho- BA
Zílda Machado- SP
obrigatória.
Heloísa de Almeida Prado- SP · Enquanto algumas disciplinas eram implantadas no
Aldadas Mercês M. de Cunha- PA currículo, outras, já adotadas por força do CFE, eram
Zenaíra Garcia Marques- RS
Alfredo Hamar- São Carlos- SP
objeto de polêmica, principalmente Paleograjia, disciplina
03 Normalização das Nomenclaturas das
Matérias eDisciplinas Maria Martha Carvalho- MG obrigatória, não muito bem recebida pelo categoria bibli-
leíla Haddad- São Carlos- SP otecária e Escolas de Biblioteconomia. A primeira, por não
Sônia Corrêa-São Carlos- SP
Maria lgnezdeC. Días- São Carlos- SP lhe atribuir valor prático e, a segunda, pela deficiência
04 Aperfe~omento Profissional laura M. de Figueiredo- Guanabara teórica dos professores. Em defesa da mesma, o Prof.
Maria Antonía R. de Matos- Campinas- SP Hasselman, do Curso da BN, esclarece aos membros des-
Maria Antonieta Ferraz- SP
Maria Letícia de A.líma- PE te encontro sua importância como matéria indispensável
05 Intercâmbio com Entidades de Classe laura Russo- SP à formação do bibliotecário. Para sanar estas deficiências
Míríam Gusmão de Mello- DF propõe-se a ministrar aos professores cursos intensivos
Esmeralda Aragão- BA
durante as férias.
06 Intercâmbio entre Escolas Antonio Caetano Días -SP
Hagar Espanha Gomes- RJ Se houve discordância quanto àquela disciplina
Zílda G. de Araújo- Guanabara (Paleografia), com relação à Psicologia todos foram unâni-
mes em aceitar a sua inclusão no currículo, por acredita-
rem que ela mesma instrumentalizaria o bibliotecário no
Neste capítulo, não nos deteremos na primeira temática, .
trato com o público. Quanto à Documentação, foi sugerido
pois as discussões em torno da implantação da Lei 4084 en-
que a mesma fosse mais prática, inclusive fazendo uso da
contram-se no capítulo anterior.
automação. E para aumentar o rol de disciplinas, Maria
Em relação ã instalação do currículo mínimo, norte
Luisa Monteiro da Cunha sugere a criação da disciplina
do processo ensino-aprendizagem, quando implantado
Base Científica e Tecnológica, que teria a finalidade de dar mais
(1962), as escolas não se limitavam a ele, sem, contudo,
ênfase à formação científica e tecnológica do bibliotecá-
deixar de obedece-lo. Das 11 escolas existentes em 1966,
rio: "eis que os atuais currículos dão maior importância à
apenas três se restringiam a ele: Pará, Niterói e a BN. Os
sua formação humanística" (Primeiro, 1966, p.66).

234 235
Alguns bibliotecários julgavam que o currículo de 62 Tabela 17: Normalização da nomenclatura das disciplinas escolares
privilegiou a cultura geral em detrimento da técnica. "Mui-
tas escolas estão insatisfeitas com o currículo mínimo, por acharem
excessivo o número de disciplinas culturais em um plano de estudo Bibliografia I
destinado à formação de técnicos. Cremos, entn!tanto, um pouco exa- Bibliografia 11
Bibliografia /11
gerada essa afirmação, uma vez que, durante anos, alguns bibliote-
cários e pessoas interessadas nessa ciência criticavam o regime rei-
Documentação I
nante de format; segundo dizem 'fazedores de fichinhas" (Russo, Documentação 11
1968, p.10).
Em resumo, neste evento, ficou determinado que "... o
'currículo ideal' incluísse Psicologia, Relações Humanas, Seleção de
Material Bibliográfico e Audiovisual, Administração, Serviços Regio- Evolução do Pensamento filosófico eCientífico Evolução do Pensamento Filosófico eCientífico I
Evolução do Pensamento Filosófico eCientífico 11
nais de Bibliotecas" (Primeiro, 1966, p.66). Para ministrá-las se-
Bibliotecas I
ria indispensável o aperfeiçoamento profissional, temática do Bibliotecas 11
grupo 4, que decidiu que esta questão, por ser complexa, trans-
cendia a responsabilidade da ABEBD e das Associações de Catalogação 11 1'
Catalogação 111 3'
Classe, posto que, em sendo as escolas subordinadas às uni-
I I I I I'
versidades, dependia da política destas. 1 r
Quanto à Uniformidade da Nomenclatura das Disciplinas Es- I I 111 3'
colares, outro entrave encontrado pelas escolas, pois acarreta- Seleção de Materiais 3'
Bibliográficos eAudiovisual
va obstáculos ao melhor entr!l>saÍ:nento entre as escolas e difi-
cultava a transferência de alunos entre elas; esta questão é
evidenciada em 1961 por Laura Russo no livro Biblioteconomia
Brasileira, que se constitui em um completo levantamento das
matérias ministradas nos cursos de Biblioteconomia, no perí-
odo. O último grupo, o sexto, Intercâmbio entre as Escolas,
O grupo 03, Normalização das Nomenclaturas das matérias e debateu a necessária troca de experiências, em forma de
disciplinas, sugere que algumas fossem desdobradas e distri- visitas e estágios, entre alunos das diferentes escolas no pe-
buídas nos três anos de duração do curso. Conforme descre- ríodo das férias. Este grupo sugeriu a criação de um órgão
ve a tabela seguite: central de informação, funcionando na BN ou na FEBAB,
com a finalidade de beneficiar professores e alunos em re-

236
l 237
1
;l
!ação a estágios em outras escolas, principalmente de São a) que fosse criada a Associação Brasileira de Professo-
res de Biblioteconomia e Documentação ABEBD;
Paulo e Rio de Janeiro, promoção e participação em cursos
de aperfeiçoamento no Brasil e exterior. E, ainda, a edição b )que fossem incluídas no currículo as seguintes discipli-
de uma Revista de Biblioteconomia, como meio para divulga- nas: Seleção de Material Bibliográfico e audiovisual,
ção de informações e difusão da produção bibliográfica de Psicologia, Línguas Estrangeiras, Relações Humanas,
professores e alunos. Este periódico deveria contar com a Administração;
"participação de tôdas as escolas, de preferência as várias c)que as escolas criassem Cursos de Pós-Graduação;
revistas editadas por diferentes entidades" (Primeiro, d)que as escolas instalassem e mantivessem bibliotecas
1966, p.67). laboratório;
Entretanto, é
e) q~e as direções das escolas reunissem suas congrega-
oportuno ressaltar
çoes, no sentrdo de promoverem a uniformidade da
que a escola da Bahia
nomenclatura das disciplinas com base nas sugestões
vinha desenvolvendo do grupo 2, com o objetivo de eliminar definitivamen-
esta atividade desde te o problema;
1952. O ofício enca-
f) que as escolas promovessem cursos de atualização,
minhado por Berna-
extensão e pós-graduação com a finalidade de ampli-
dette Sinay Neves, ar e atualizar os saberes profissionais;
diretora da Escola de
Biblioteconomia, ao g) que a Revista de Biblioteconomia fosse editada pela
Associação Brasileira de Professores de Biblioteco-
Prefeito Oswaldo
nomia e Documentação;
Gordilho, comunica
que "... as Srtas. Miral- h) que as escolas incluíssem em seus orçamentos recur-
va Simões Baruana, sos para proporcionar aos professores e alunos via-
Eurydice Santana, gens de estudos em outros centros de Ensino de
Nilza Medrado V. Santos e a Sra. Edith Tavares, alunas do 2Q ano
Biblioteconomia e Documentação;
[... ], estão devidamente autorizadas por esta escola a realizar uma i) que o resumo das sugestões e depoimentos do en-
viagem de observação às bibliotecas do Rio de ]aneim, São Paulo e contro fosse encaminhado ao Conselho Federal de
Buenos Aires, assim como comparecerem às 3'~· jornadas Bibliotecári- Educação, através de Josué Montello, e à Diretoria de
as Argentinas" (Bahia, 1949) . Ensino Superior (Primeiro, 1966, p. 77).
No término deste encontro foi recomendado: Mesmo depois da aprovação do currículo mínimo, em
1962, Sampaio, Barreto e Silva (1967, p.5) indicam que, para 0

238 239
desde os anos 20, educadores e literatos a abordavam:
ensino de Biblioteconomia no Brasil melhorar qualitativa e
Fernando de Azevedo14, Lourenço Filho15, Lêdo Ivo16, dentre
quantitativamente, deveria incorporar dois níveis de disciplinas:
outros. Supostamente estes autores queriam se referir à au-
aquelas que instrumentalizassem o bibliotecário para desenvol-
ver suas atividades profissionais e aquelas que lhe dessem uma sência de estud~s. no campo da Biblioteconomia. A disciplina
Pedagogza e Dzdatzca teria a finalidade de formar futuros pro-
formação humanística e conceitual. Isto demonstra a insatisfa-
fessores de Biblioteconomia. A proposta de inclusão destas
ção dos bibliotecários com o currículo aprovado pelo MEC:
disciplinas em dois níveis correspondia à estrutura curricular
No primeiro nível, se incluíam:
da Esc_ol~ da, Bahia, que em relação a línguas estrangeiras,
a) Catalogação e Classificação; oferecia mgles, francês e alemão.
b) Organização e administração de bibliotecas e orga- . _Foi sugerido, ainda, que os bibliotecários lutassem pela
nismos de documentação. Arquivologia; cnaçao de cursos de aperfeiçoamento, inclusive em nível de
doutorado. As pesquisas em nível de doutorado teriam a fi-
c) Seleção e compra de livros;
nalidade de preencher lacunas na literatura e dar soluções
d) Bibliografia e Referência; :ientífic~s para os problemas da área, forma de equipará-la
e) Documentação; as demais carreiras técnicas, científicas e liberais. Ainda, que
f) História do Livro e das Bibliotecas; estimulassem políticas de cooperação entre os professores
nacionais e estrangeiros.
g) Bibliopsicologia.

As de caráter Humanístico e Cultural seriam: Bibliotecários: em busca da especialização

a) História das Ciências;


Para melhor compreendermos as atividades desenvol-
b) Conhecimentos Literários e de Língua Estrangeira; vidas para formar o bibliotecário especialista, se fez neces-
c) Sociologia; sário traçarmos sucintamente a traJetória do IBBD na me-
d) Psicologia e Relações Humanas; dida em que é o órgão que atuará de forma mais incisiva

e) Pedagogia, Didática (Sampaio, Barreto e Silva, 1967,


AZEVEDO, Fe~na_ndo de. As técnicas de produção de livros e as relações entre
14

p.5). mestres e d~SC!pulos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.4, n. 12,


p, 329-345, JUn: 1~45. Neste texto trata do livro, a biblioteca, a arte de ler e de
Para estes autores, a disciplina Bibliopsicologia, assunto estudar, transm~ssao da cultura e breve retrospecto da história do livro.
inexplorado no Brasil, se revestia da maior importãncia, pois 13
LOUREN~O.FILHO, Manoel. O ensino e a biblioteca. Revista Brasileira de Estudos

estudava a influência da leitura e do livro, em um ou em gru- n:


Pedagog1~os. v.6, 16, p. 5- 24, out. 1945. Depoimento do autor sobre quarenta
anos ~e leitura; a leitura como instrumento de informação, de cultura geral e de
pos de pessoas. Parece-nos que estes autores desconheciam a emoçao.
14
IVO, Lêdo. Os leitores no palco. Estado de São Paulo, São Paulo, 12 abr. 1958.
literatura produzida sobre esta temática, na medida em que,

241
240
nesta questão. Desta maneira, acreditamos oferecer uma
compreensão mais ampla sobre os discursos em torno des- A respeito do desapreço pela documentação no Brasil,
te assunto. que é um problema histórico, Fonseca cita a queima dos ar-
quivos sobre a escravidão ordenado por Rui Barbosa em 1890,
A trajetória do IBBD: fragmentos quando Ministro da Fazenda. A alegação para este ato era
que com a abolição da escravatura os senhores proprietários
Com o término da segunda Grande Guerra, nações de de negros poderiam, com base na matrícula geral dos escra-
todo o mundo reuniram-se para criar organismos que pro- vos, solicitar vultosas indepizações, recursos de que o Estado
movessem a paz mundial e que rrÜnimizassem os destroços não dispunha.
causados com a bomba atõmica, o que gerou uma corrida A preocupação de estabelecer políticas de informação
sem precedentes em toda a história na busca do desenvolvi- no país tem sua gênese em Peregrino da Silva, diretor da Bi-
mento em Ciência e Tecnologia (C&T), na perspectiva de blioteca Nacional de 1900 a 1921, como evidenciado no se-
dominar a sua aplicação. Dentre asvárias instituições criadas, gundo capítulo, "... os pontos mais altos de sua brilhante adminis-
destaque especial à UNES CO, que "desde a sua criação, em 1946, tração foram a re01ganização geral da repartição, a construção do
procurou[... ] melhorar, por toda parte, os meios de informação, dan- edifício atual, a criação do primeiro Curso de Biblioteconomia da
do-lhes alta prioridade nos seus planos de trabalho. Com este objetivo, América Latina e a fundação de um Serviço de Bibliografia e Docu-
consagrou a nova organização grande parte dos seus recursos ao de- mentação- SBD (grifo nosso) em correspondência com o IJB" (Fon-
senvolvimento das bibliotecas e dos arquivos, do cinema e da televi- seca, 1973, p.40).
são" (Carneiro, 1997, p.27). Portanto, já pavia, desde os primeiros anos do século
O Brasil participou destes empreendimentos, dentre XX, preocupação com a documentação nacional, acredita-
outras ações, com a fundação do Instituto Brasileiro de Bibliogra- mos que mais no sentido de preservá-la (o que era uma gran-
fia Documentação- IBBD. Anf~·s da sua criação, havia no país de ação) do que c!isseminá-la. Peregrino da Silva, com uma
ações sendo desenvolvidas com objetivo de controlar, arma- visão de homem da ciência, procurou adotar, quando da re-
zenar e disseminar informações, particularmente na recém- organização do acervo da BN, uma linguagem documentária
criada Fundação Getúlio Vargas e no Departamento Adminis- que na época havia per1etrado fortemente no meio científi-
trativo do Serviço Público -DASP Ações que pudessem rever- co, no caso a Classificação Decimal Universal- CDU. Este sistema
ter o Caos Documentário existente no Brasil, propiciado pelo de organização do conhecimento foi adotado por Juliano
aumento da produção científica em nível nacional e interna- Moreira, Oswaldo Cruz e pelo engenheiro civil Vitor Alves da
cional e, principalmente, modificar o desapreço pela docu- Silva Freire. O primeiro utilizou a CDU no Annaes da Sociedade
mentação no Brasil, corno retrata Franklin de Oliveira no li- de Medicina e Cirurgia da Bahia, revista por ele dirigida. Oswaldo
vTO MortedaMemóriaNacional (1967). Cruz utilizou-a na organização da biblioteca do Instituto que
anos depois recebeu seu nome e, por último, Vitor Freire es-
242
243
creveu um trabalho sobre a necessidade de o Brasil participar as exceções indicadas se resignavam às melancólicas tarefas de
na organização internacional da bibliografia científica, sen- endeusamento das autoridades e divulgação da sub-literatura dos
do este texto o primeiro em língua portuguesa que recebeu o áulicos, alguns abnegados procuravam jazer o dépouillement de
número de publicação oficial do IIB (Fonseca, 1973, p.40). periódicos especializados, divulgando índices que podem ser conside-
A proposta de Peregrino da Silva de criar um Serviço de rados como os primeiros instrumentos documentográficos brasileims"
Bibliografia e Documentação, no qual foram previstas quase to- (Fonseca, 1973, p.45).
das as peças dos centros de documentação, não encontrou Estes primeiros dépouillements brasileiros centravam-se nas
ressonância em seus sucessores, como explicitamos no segun- ciências biomédicas- origem da documentação no Brasil e no
do capítulo. mundo. No Brasil, o precursor foi o médico paulista Jorge de
Na década de 30, o governo transformou os Serviços de Andrade Maia, que ocupou o cargo de bibliotecário-chefe da
Publicidade em Serviços de Documentação, sendo criado, Faculdade de Medicina da USP de 1927 a 1960. Dentre as suas
nesta época o DASP, instituição ligada diretamente à Presi- variadas atividades, destacam-se a Publicação do Índice-Catálogo
dência da República, com a finalidade de organizar o serviço Médico Paulista (1860-1936) e o Índice-Catálogo Médico Brasileiro
público, elaborar a proposta orçamentária do governo, (1937-I958). No campo da Geologia, foi publicada pelas biblio-
selecionar candidatos a cargos e funções ao serviço civil fede- tecárias Dolores Iglesias e Maria de Loudes Meeghezzi uma
ral e, ainda, orientar, examinar, remodelar e adaptar edifícios Bibliografia e Índice da Geologia do Brasil.
públicos, dentre outras. Em relação ao Serviço de Documen- Estes são exemplos de algumas atividades isoladas, no
tação do DASP, Fonseca (1973, p.45) afirma que este não fez sentido de controlar/ disseminar a produção bibliográfica bra-
"... documentação no sentido técnico da palavra, mas procurou deba- sileira, havendo, contudo, a necessidade de institucionalizá-
ter o problema em cursos especializados e em editoriais e artigos da las, face ao avanço que vinha ocorrendo em nível internacio-
Revista do Serviço Público" (Viana, 1954, p.24-25). nal na área de C&T e se, a partir da criação do CNPq, a pes-
A partir de então, vários ministérios implementam seus quisa científica no Brasil começava a marcar uma nova fase,
serviços de publicidade (agora de documentação), a exem- logo era condição sine qua non, que fosse criado um organis-
plo da Educação e Saúde, Agricultura; assim como aqueles mo com o objetivo de organizar a documentação para auxili-
que não dispunham deste serviço os criam: Relações Exterio- ar cientistas, professores universitários e, ainda, divulgar a
res, Marinha, Justiça, etc. produção nacional em outros países.
Fonseca critica estes serviços afirmando que os mesmos Em nível mundial, tinham sido fundados vários orga-
destinavam-se a publicar livros e revistas de divulgação dos nismos com esta finalidade. Na Rússia, o VINIT1 (Instituto Fede-
atos governamentais, exceção do Ministério da Justiça e Ne- ral de Informação Científica e Técnica); no Japão, o Centrojaponês
gócios Interiores, pioneiro da documentação legislativa no de Informação Científica e Tecnologia (JICST) e, na França, o Cen-
Brasil: "Enquanto os serviços de documentação governamentais, com tro de Documentação do Centm Nacional da Pesquisa Científica -

244 245
quisa de informações bibliográficas; d) traduções de trechos de livros .
CNRS(Garcia, 1980, p.8): "No Brasil, a indústria, as universida- ou de artigos de publicações periódicas; e) cópias de microfilmes, ou
des e os centros de investigação cientifica, que, presentemente, estão vi- cópias fotostáticas de trechos de livros ou de artigos de revistas; f) Cata-
vendo um promissor periodo de reformas, reorganização e desenvolvi- logação e classificação, em fichas impressas, dos livros e revistas de
mento, lutam ainda contra a deficiência de documentação bibliográ- suas bibliotecas" (Atividades, 1955, p.6).
fica especializada. Os nossos centros de estudos e pesquisas traba!ham Em linhas gerais, ao IBBD cabia levantar toda a produ-
isolada e pauperrimamente, não havendo coordenação, zntercambzo ção científica nacional, a fim de facilitar o seu acesso e, para
ou colaboração, elementos imprescindíveis na vida moderna em que se tanto, deveria publicar bibliografias nas diversas áreas do co-
agiganta "(Avelar, 1955, p.158). . nhecimento. Entretanto, este trabalho requeria pessoal qua-
Para reverter este quadro, é criado em 1954 o Instttuto lificado. A partir de 1956, vários cursos foram oferecidos para
Brasileiro de Bibliografia e Documentação, através de uma propos- aperfeiçoamento dos bibliotecários e para formação de téc-
ta conjunta do Conselho Nacional de Pesquisa e da Fundação Ge- nicos em bibliografias especializadas: Ciências Naturais, Físicas
túlio Vargas, ao qual foram atribuídas funções próprias de cen- e Matemáticas, Medicina e Tecnologia. Os bibliotecários de diver-
tro de documentação especializado, a exemplo dos existen- sos estados que participaram destes cursos, ao retornarem para
tes em outros países e, ainda, atividades específicas de cen- suas bibliotecas, renovaram suas atividades e iniciaram inter-
tros bibliográficos gerais, "... a fim de tomar mais fácil, não só o câmbios com outras bibliotecas do país "a fim de facilitar ao
trabalho nas instituições cientificas, técnicas e industriais, mas ainda máximo, as trocas de publicações e de informações científi-
colaborar no desenvolvimento dos trabalhos biblioteconômicos e bibli- cas" (Sambaquy, 1957, p.255).
ográficos de interêsse básico para o progresso da educação e da pesqui- Sob a direção de Lydia de Queiroz Sambaquy, o IBBD
sa no Brasil" (Avelar, 1955, p.160). implementou suas atividades, seja através de acordos com uni-
Para tanto, o IBBD tinha por finalidade: "a) Promover a versidades e institutos de pesquisa brasileiros e estrangeiros,
criação e 0 desenvolvimento dos sérviços especializados de bibliografia seja incentivando a criação de bibliotecas especializadas e
e documentação; b) Estimular o intercâmbio entre bibliotecas e centros Escolas de Biblioteconomia ou publicando livros, revistas e
de documentação, no âmbito nacional e internacional; c) Incentivar bibliografias nos variados campos do saber.
e coordenar o melhor aproveitamento dos recursos bibliográficos e A presença de missões estrangeiras no Brasil nos primei-
documentários do país, tendo em vista, em particular, sua utilização ros anos de criação do IBBD foi importante para a
na informação cientifica e tecnológica destinada a pesquisadores" (O conscientização dos bibliotecários e cientistas quanto aos pro-
CNPq, 1955, p.4). blemas da documentação e à importância de organizá-las e
Para alcançar estas finalidades, o IBBD oferecia aos ci- tratá-las como uma maneira pela qual a memória nacional
entistas e pesquisadores os seguintes serviços: "a) Compilação pudesse ser resgatada e estimulada e, ainda, uma forma de pro-
de bibliografias especiais que possam ser de interesse; b) localização nas gresso científico e tecnológico. Dentre os consultores enviados
bibliotecas brasileiras de determinada obra de que necessitam; c) pes-
247
246
pela UNESCO para o Brasil, Herbert Coblans foi uma figura dade à luta pela difusão da Documentação em nosso país. Por falar
da maior importância quando da instalação do IBBD: ''Em dez português e ter uma personalidade muito forte e dionisíaca, obteve mais
conferências proferidas na Biblioteca Nacional[... ] Herbert Coblans sucesso do que Herbert Coblans, que era um apolíneo. Deve-se a Zeferino
desenvolveu as informações, conceitos (sobre documentação). Este foi o Ferreira Paulo o ingresso do Brasil na Federação Internacional de
primeiro curso sobre documentação promovido no Brasil com aborda- Documentação, a nossa participação na Comissão Internacional da
gem aos problemas de informação cientifica em vez das fastidiosas disser- CDU e as edições brasileiras desse sistema. A influência de Herbert
tações sobre bibliotecas, arquivos e museus que caracterizavam cursos Coblans e de Zeferino Ferreira Paulo na Biblioteconomia brasileira
anteriores coma mesma denominação"(Fonseca, 1973, p.45). pode ser comparada à dos professores europeus - como Fernand
Outro nome que não podemos deixar de mencionar é Braudel, Claude Levi-Strauss, os dois Bastide e Giuseppe Ungaretti-
de Zeferino Ferreira Paulo, documentalista português que que deram à Universidade de São Paulo categoria internacional"
"com seu extraordinário dinamismo, percorreu o Brasil, proferindo Sobre as missões da UNES CO que estiveram na América
palestras, dirigindo cursos, estimulando atividades documentológicas Latina (1946-1982), pela Tabela 18 observamos que o Brasil,
em todos os setores"(Fonseca, 1979, p.75). dentre os demais países do continente, foi um dos mais bem
A respeito de Herbert coblans, relata-nos Fonseca atendidos.
( 1997): "Herbert Coblans- químico industrial sul-africano (obteve, Tabe/al8: Missão da UNE"'SCOnaAméricaLatina (Silva, L., 1994, p.207).
depois, a cidadania inglesa por não concordar com a odiosa política
do apartheid dos ajricaners ), diretor do serviço de documentação e
informação do Centro Europeu de Energia Nuclear (CERN)- veio ao
Brasil como consultor da Unesco para o projeto de criação, no Rio de Argentina 11
Janeiro, de um centro nacional de documentação que veio a ser- pela Bolívia 5 3
paranóia de Lydia de Queiroz Sambaquy- o IBBD. Ele ministrou na Brasil 9
Biblioteca Nacional um curso nó"qual pela primeira vez se falou, no Colômbia 16 4
Brasil, das técnicas mais avançadas de armazenagem e recuperação Costa Rica 6
da informação: o curso do qual resultou seu livro Introdução ao
Cuba li
ensino de documentação que, traduzido para o português por
Chile 4
Maria Antonieta Requião Piedade, foi publicado pelo DASP em 1957.
Equador 3
Pelo seu alto nível de cientista e humanista, ele conquistou a simpatia
de muitos bibliotecários brasileiros e também contribuiu para a substi- México lO

tuição da Classificação Decimal de Melvil Dewey pela Classificação Peru 5


Decimal Universal. Zeferino Ferreira Paulo- médico e documentalista Uruguai 1 1
português, chegou ao Brasil pouco depois de Coblans e deu continui- I Venezuela 14 6

I
248 249

.....L
O IBBD desenvolveu suas atividades de modo eficiente, A partir de então, outros sistemas de informação foram
alcançando prestígio no meio científico e universitário pela criados no Brasil, a exemplo do Centro de Informação
qualidade dos serviços ofer~cidos a esta clientela; contudo Tecnológica ( 1968) do Ministério da If\dústria e Comércio,
"... devido a sua proposta de órgão monolítico, suas preocupações com que sugeriu ao governo a criação de uma rede de abrangência
o planejamento ou a coordenai;do eram praticamente existentes" (Sil- nacional de informação tecnológica, proposta acatada pelo
va, L., 1994, p.207). governo, quando da elaboração do seu Programa de Metas e
Com o golpe militar, que provocou mudanças em todos Bases ( 1970-1973). Como conseqüência deste Programa, em
os aspectos da vida nacional; ocorreu no IBBD uma desorga. 1974, o CNP foi transformado em Conselho Nacional de
nização ocasionada pelo afastamento de Lydia Sambaquy da Desenvolvimento Científico e Tecnológico subordinado à Pre-
sua direção. Os motivos que causaram a sua saída depois de sidência da República, com a finalidade de formular a políti-
10 anos na direção do IBBD não foram evidenciados por Le- ca nacional de C&T e coordenar o Sistema Nacional de In-
mos (1986, p.106). formação Científica e Tecnológica (SNICT). No bojo destas
Cunha (1988, p.91), ao se reportar à ação dos militares mudanças, o IBBD foi transformado no Instituto Brasileiro de
no campo educaciortal, afirma que "... nos dez primeiros anos que Informação em Ciência e Tecnologia (IBIC1). "O IBICT, como suces-
se seguiram ao golpe, as ações (foram] quase que exclusivamente re- sor do IBBD, concentrou suas ações na coordenação do setor de infor-
pressivas, voltadas principalmente para a demissão de pessoas e no- mação do país, levando em conta a orientação legal que foi conferida
meação de outras". ao CNPq de sistema nacional de ciência e tecnologia" (Silva, L., 1994,
Fazendo uso da citação de Cunha, podemos inferir que p.238). Esta orientação legal significa para nós apoiar através
a saída de Sambaquy do IBBD ocorreu por repressão dos mi- de informações o regime ditatorial estabelecido que, para
litares, que possuíam planos de transformar o Instituto em atuar eficientemente, necessitava controlar a produção cien-
um canal de informações a s~.u serviço. Sobre esta questão, tífica e tecnológica naciom).l. Se INFORMAÇÃO É PODER e
afirma este autor que o objetivo dos militares era "entregar ór- se o sistema político (de poder) é autoritário, as instituições
gãos de informação científica e técnica à direção dos militares, pois os que manipulam informações estão ao seu serviço. Cremos ser
civis, além de rasgarem papéis não teriam a necessária tenacidade para bastante racional esta dedução.
coordená-los" (Cunha, 1988, p.92). Ao reportar-se a especialização do bibliotecário, que
Assim, o órgão coordenador das políticas de informa- se deu a partir da criação do IBBD e dos Cursos de Pós-Gra-
ção do governo seria o IBBD, agora com o nome de Instituto duação, Taveira afirma que o modo como eram estruturados
Brasileiro de Documentação e Informação, que "... deveria es- os currículos de Biblioteconomia, rígidos e desvinculados das
tar voltado para a mais intensiva utilização de métodos necessidades das escolas, do ambiente e dos alunos, não de-
computadorizados no armazenamento e recuperação de informações" veria ser transposto para os cursos de pós-graduação, em qual-
(Lemos, 1986, p.108). quer dos seus níveis e propõe para estes a adoção de disci-

250 251
plinas obrigatórias e optativas. Alertava ainda, para o fato As condições gerais, deste curso, seriam:
de que mesmo sendo a base de sustentação a literatura nor- a) Defesa de dissertação, versando sobre o campo da
te-americana e inglesa, os estudos a serem realizados não Biblioteconomia e da Documentação;
deveriam perder de vista a especificidade dos problemas na-
cionais (Taveira, 1967, p.2). b) Currículo organizado por semestre em sistema de
créditos;
As disciplinas obrigatórias seriam:
c) Planejamento anual das atividades de ensino e pes-
a) Organização e Administração de Bibliotecas; quisa;
b) Processos técnicos: aquisição, catalogação, classifica- d) Duração de um ano: neste período o aluno cumpri-
ção, etc; ria os créditos e defesa do trabalho.
c) Referência e Bibliografia; As condições de ingresso nestes cursos obedeceriam
d) O Papel da Biblioteconomia na Comunidade; aos seguintes critérios: a) exigência do diploma de bacha-
rel em Biblioteconomia, podendo ser aceitos, de acordo
e) Biblioteca Especializada; com critérios dos departamentos, profissionais com outra
f) Informação Científica. formação; b) conhecimento de uma língua, além do in-
glês, exceção para o espanhol e, por último, a apresenta-
Dentre as disciplinas optativas, se incluíam: ção de um plano de estudo e o assunto escolhido para
a) Documentação Industrial e Tecnologia; desenvolver uma dissertação.
Além da PG, Taveira sugere, também, um "curso es-
b) Documentação em Humanidades e Ciências Sociais;
pecial" para professores de Biblioteconomia e Documen-
c) Documentação em ciências Bioméclicas. tação, cujo objetivo seria formá-los, aprimorá-los nos fun-
damentos de educação. "Tôdas as escolas pmfissionais de nível
O método de ensino para a PG seria composto de cur- superior preocupam-se quanto à seleção e preparo dos professôres.
sos regulares, trabalhos de pesquisa, seminários, estágios e Os bibliotecários sentem, mais que os outms profissionais, a
treinamento em bibliotecas e serviços de documentação. premência do problema. já se Jaz notar um movimento significati-
As disciplinas básicas seriam realizadas nos cursos de vo no sentido de melhorar os padrões de ensino, através de um
Biblioteconomia e as especializadas, em outros centros. Des- conveniente preparo do professor" (Taveira, 1967, p.5).
ta maneira, haveria a possibilidade do intercâmbio entre pro- Segundo esta autora, as condições para melhoria do
fessores e alunos e, ainda, treinamento destes na universi- Ensino de Biblioteconomia em todos os seus níveis se daria a
dade, o que contribuiria para sua educação geral. partir da: "a) criação em várias escolas de cursos de PC, visando à

252 253
formação do professor especializado; bj promoção do intercâmbio entre O primeiro curso centrou-se na área de Ciências Natu-
escolas e cursos de Biblioteconomia; c) promoção de uma diversidade rais, em 1955, coordenado pelo Prof. Carlos de Paula Couto
curricular em cursos de PC; e d) transformação do Ensino de Paleontólogo do Museu Nacional. A sua finalidade era o fere~
Biblioteconomia em instrumento para preparação de novos líderes pro- cer aos bibliotecários a compreensão necessária sobre a lite-
[1Ssionais e não prof?Ssionais individuais" (Curso, 1955, p.241). ratura científica deste campo e instrumentalizá-los a compre-
O apelo de toda a categoria em relação ao aperfeiçoa- ender as necessidades bibliográficas dos pesquisadores. "A
mento e à especialização do bibliotecário, como frisado nos bíblioteca existe somente em função da pesquisa, não havendo, por-
capítulos anteriores, efetivou-se nos anos 50, principalmente tanto, quem melhor possa orientar as bibliotecárias sôbre a necessidade
após a criação do IBBD, 1955, através dos chamados Cursos de pesquisa, no que concerne a literatura cientifico, que 0 próprio pes-
de Pesquisa Bibliográfica, que se destinavam a ".. .formar pesso- quzsador que é o principal usufrutuário da biblioteca, em seus estu-
dos"(Couto, 1955, p.203).
al especializado para os serviços de bibliotecas especializadas e centros
de documentação e informação cientifica. Nos cursos em aprêço, serão Para tanto, seria imprescindível o entrosamento en-
passados em revista os problemas referentes ao controle de informações tre pesquisador e bibliotecário. Ação que favorecia 0 de-
cientificas que são representados anualmente por centenas de dados de senvol.vimen~o da ciência brasileira na medida em que os
maior interêsse, dispersos nos milhares de livros e revistas, através de p~sqmsadores dependem da documentação para a realiza-
milhões de valiosos artigos e trabalhos. Ji'reqüentemente, constam êsses çao de suas investigações. Do bibliotecário "... perfeitamente
dados de trabalhos não impressos e presos a uma distribuição limita- compenetrado de seus deveres, entusiasta de sua profissão, muito
da, por isso, de difícil obtenção. Tratam êsses cursos, ainda do inter- depende o bom andamento da pesquisa cientifica " (Couto, 1955,
p.205).
câmbio bibliográfico nacional e internacional, que vem eliminando
as fronteiras culturais e contribuindo de maneira relevante para o de- Este curso, por ser o pioneiro, foi repleto de falhas
senvolvimento da Ciência e da 'iFecnologia em todo o mundo" ( Cur- no seu planejamento e execução, passando por diversas
so, 1967, p.246). alterações no seu transcorrer: "como todo esforço pioneiro, 0
Com a realização destes cursos, o IBBD estaria "... contri- nosso não foi isento de falhas que, observadas e devidamente ano-
buindo na medida possível para que se crie,· se desenvolva e se genera- tadas, serão, juntamente com as outras experiências acumuladas
lize uma nova concepção do que poderão realizar as bibliotecas e os durante o curso, elementos de grande valia para a organização de
centros de documentação em prol do desenvolvimento da ciência e da outro curso congênere, que vier a ser programado pelo IBBD"
tecnologia"(Curso, 1967, p.247). (Co~to,_l955, p.205). Para tanto, deveriam requerer apoio
Estes cursos deveriam ter a duração de um ano, com dos orgaos do governo ligados à pesquisa técnico-científi-
duas aulas diárias. Deste modo, seriam evitados possíveis atro- ca e cultural até que os mesmos fossem incorporados pelas
pelos e menos sacrifícios para os professores e maiores vanta- universidades.
gens para os alunos.

254 255
Tabela 19: Professores que kcionaram no CuTSo de Pesquisa Bibliográfica em Ciências
c) Pesquisa Bibliográfica- Prof.Jesse Shera (como pro-
Naturais por Instituição e Disczpiinas
fessor convidado da Western Reserve University -
EUA), Edson Nery da Fonseca e Lydia de Queiroz
Sambaquy.

Haroldo Pereira Tavares Museu Nacional Pesquisa em Zoologia No Curso de Ciências Naturais foram oferecidas as seguin-
Walterdalilva Carvello Museu Nacional Pesquisa em Mineralogia ePetrologia tes disciplinas:
Carlos de Toledo Rizzini jardim Botânico Pesquisa em Botânica eBiologia Geral
a) Biologia Geral- Prof. Oswaldo Frota Pessôa;
Paulo Erickson de Oliveira e Divisão de Geologia eMineralogia Pesquisa em Geologia Geral,
Elias Dolianiti do Departamento Nacional de Palrontologia dos Invertebrados b) Botãnica- Prof. Carlos de Toledo Rizzini;
Produção Mineral
c) Mineralogia e Petrologia- Prof. Fritz de Lauro;
Bernadette Sinay Neves Introdução àOrganização eà Pesquisa
Bibliográfica d) Geologia- Prof. Fritz de Lauro;
Carlos de Paulo Couto Pesquisa em Geologia Histórica e e) Zoologia- Prof. Hermann Lent.
Paleontologia Geral edos
Invertebrados
No Curso de Ciências Fi5icas e Matemáticas, foram ofereci-
das três disciplinas:
A partir deste curso, o IBBD promoverá outros, sen-
do um em Ciências Médicas e outro em Ciências Matemáticas e a) Matemática- Profa. Eliana Rocha e Prof. Ri de No-
Físicas. Dado o apoio financeiro e a concessão de bolsa pela gueira;
CAPES, estes cursos ganharam conotação nacional, possi- b) Física- Prof. Abel Silveira;
bilitando a participação de .bibliotecários de outros Esta- c) Química- Prof. Jacques Danan e Prof. Eurico Assis
dos e a oferta novamente do Curso de Ciências Naturais. A (IBBD, 1956, p.360).
partir daí passaram a oferecer dois núcleos de disciplinas:
A metodologia do Curso de Ciências Médicas diferia das
aquelas comuns a todos os cursos, relativas ao campo da
anteriores, por ser ministrada através de conferências pronun-
Biblioteconomia e Documentação, e as relativas à área da ciadas por especialistas e professores da Universidade doBra-
especialização. sil, conforme demonstra a tabela segui te:
As disciplinas de núcleo comum eram:

a) Serviços Técnicos- Profa. Ada Maria Coaracy;


b) Catalogação e Classificação - Lais da Bôa Morte;

256
257
Tabela 20: Conferências proferidas no Curso de Ciências Médicas e palestrantes
Antonio Simões dos Reis e Edson Nery da Fonseca, sendo
dividido em duas partes que se alternavam em 14 aulas. A
Prof. Paulo Góes • Introdução ao Estudo da Bibliografia eda Documentação primeira relativa à Biblioteconomia e Documentação, e a segunda
nas Ciências Médicas em Geral à História do Brasil.
• Métodos de Pesquisa Bibliográfica no Trabalho Científico l - Técnica Bibliográfica- Prof. Edson Nery da Fonseca
Conteúdo:
Canos Chagas • Introdução ao Método Experimental em Medicina eBiologia a) Introdução à Pesquisa Bibliográfica;
b) Abordagem Bibliográfica de um Assunto;
Paulo lacaz
c) A Pesquisa Bibliográfica e suas Fontes;
d) A Descrição Bibliográfica e suas Normas;
Bruno
e) A Análise Bibliográfica e seus Critérios;
Mauro Viana Dias
f) A Classificação Bibliográfica;
Paulo de Carvalho • Fannacologia

Eduardo Maclure • Patologia g) Apresentação de Bibliografia.

Cruz lima • Clínica Médica


2- Bibliografia de História do Brasil- Prof. Antônio Simões
dos Reis
Aloisio de Paula Tórax
Conteúdo:

a) Bibliografias de Bibliografias que interessam ao Estu-


Bernardo Couto
do da História do Brasil;
Nobre de Mello • Psiquiatria
b) Bibliografias e Catálogos: exame sumário de cada um;
Outros cursos, objetivando a especialização, foram c) A exposição de História do Brasil e seu Catálogo: exa-
promovidos pelo IBBD, Biblioteca Nacional, Associação me detalhado;
Paulista de Bibliotecários, dentre outros, como demonstra
d) Periódicos especializados em História do Brasil ou de
a Tabela 22.
interesse para o seu estudo;
Em 1956, a BN promoveu o Curso Avulso de Pesquisa Biblz~
ográfica aplicada à História do Brasil, a cargo dos Professores e) Repertórios alfabéticos: dicionários e biografias
coletivas;

258
259
f) Repertórios cronológicos da História do Brasil, em necessidades prioritárias no setor de educação e da cultura estabele-
geral, e de cada Estado; cem uma hierarquia de gastos orçamentários que não pode ser com-
parada aos países superdesenvolvidos "(Dias, 1973, p.55).
g) Instituições que se dedicam à História do Brasil.
Desta maneira, a literatura em torno das questões edu-
Até 1967, 225 alunos concluíram os cursos promovi-
cacionais cresce significativamente, tanto em artigos publi-
dos pelo IBBD; destes, 26 latino-americanos e um africa-
cados nas revistas, que começam a proliferar a partir do
no, de Angola. A partir de 1964, os Cursos de Pesquisa Biblio-
início dos anos 70, como nos Congressos Nacionais e nos
gráfica denominam-se Curso de Documentação Científica, me-
eventos realizados sobre assuntos específicos, a exemplo
diante acordo entre o Conselho Nacional de Pesquisa e a Uni-
do Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, En-
versidade do Brasil. A sua ".. .finalidade era preparar especialistas
contro Nacional de Biblioteconomia e Informática, Semi-
para realizarem trabalhos de informação e documentação científi-
nário Nacional de Ensino de Biblioteconomia e Ciência da
ca, de alto nível"(IBBD, 1956, p.360).
Informação.
Em 1968, depois da Reforma Universitária até os anos
Entretanto, Neusa Dias Macedo (1987, p.137), ao re-
70 são criados vários Cursos de Biblioteconomia, especial-
' portar-se aos CBBD' s, afirma que: "... desde 1954, os[. . .] con-
mente nas Regiões Norte e Nordeste. As reivindicações de
gressos têm evoluído gradativamente, mas não conseguiram ain-
toda a categoria para o estabelecimento de um outro currí-
da, alcançar a sua principal função de comunicação de conheci-
culo, e extensão de 3 para 4 anos do tempo de duração dos
mentos novos, de espaço para formação de 'colégios invisíveis'. As
mesmos tornam-se mais incisivas. Este currículo deveria
atividades são tantas, com pluralidade de temas debatidos, obses-
atender às novas tendências da ciência e da tecnologia,
são pelos cursos, fugidas flagrantes dos congressistas para conhecer
principalmente, incorporando disciplinas da Ciência da In-
os pontos turísticos locais, etc., que formam um tumulto mental
formação: "Os argumentos daqueles que defendem a inclusão das
nos participantes, fugindo-lhe a essência do evento científico".
disciplinas da Ciência da Informação, no currículo mínimo das
Com a criação dos cursos de pós-graduação,
Escolas de Biblioteconomia e Documentação, se baseiam no
notadamente o mestrado em Ciência da Informação, pelo
surgimento de um novo mercado de trabalho, altamente seletivo e
IBBD, surge uma outra polêmica que coloca à baila o cam-
sofisticado, vinculado ao uso dos computadores nos processos da
po da Biblioteconomia, agora em torno da Ciência da Infor-
recuperação da informação, bem como a automação de certos ser-
mação, que transcendia tanto este como a Documentação.
viços bibliográficos, como a elaboração de listagens bibliográficas e
catalogação. Sob a alegação de que tal medida viria, naturalmen-
te, valorizar o profissional em termos de salário, seus pa·rtidários
não se lembram que, num país em processo de desenvolvimento, as

260 261
Tahe/a21: 1entativa de delimitaJ;iio defirmteiras entre aBibliotecarwmia, aDocmrumtaJ;iio ainda, as mesmas características nas décadas posteriores, al-
eaCiên.ciadalnfm:maçiio(Fonseca, 1987, p.l27). cançando o presente momento. Certamente, o que demons-
tra que a Biblioteconomia é um campo que precisa avançar
muito, principalmente agora que estamos adentrando na era
da globalização. Ao contrário, se permanecer SERVA DA CI-
• Seleção, aquisição os meios ÊNCIA, tende a ser sucumbida por outras profissões mais di-
organização eutilização • Produção de publicações utilizados pelos nâmicas e por profissionais mais capacitados, aqueles que
de publicações: documentos i eterciárias pesquisadores para a
correspondam às necessidades e interesses da ciência, da
bibliográficos, audiovisuais e atualização e
táteis (Braille) de
tecnologia, da cultura, da educação, da economia, da socieda-
primárias de. Enfim, profissionais abertos à incorporação de novos sabe-
res e menos presos às normas e regras de catalogação, classifi-
• Bibliotecas nacionais, cação, como se estas fossem o fim último de suas práticas.
públicas, infantis, escolares
universitárias eespecializadas
• Bibliografias Nacionais
• Catálogoscoletivos
• Reprografia
•ISBN
•ISSN
I i • Bibliografia • Biblioteconomia • Lingüística
• Bibliologia • Bibliografia • História da Ciência
• Administração pública • História da Arte
• Administração de empresas • História da Literatura
• Organização eMétodos • História da Idéias
• Psicologia individual • Biblioteconomia
e Documentação e Documentação

o Ciência da Informação Arquívística e Informática

e Informática o Museo!ogia

• História da Civmzação
o Arquivística

• Museologia

Em resumo, os discursos levantados e analisados sobre o


Ensino de Biblioteconomia no Brasil, neste capítulo, ocupam,

262 263
Tabela 22: Cursos ik atualização oferecidos aos bibliotecários- anos 1950 a 1962

!9 Atualização do Conhecimento

IBBD/CAPEI do Conhuimento CONSIDERAÇÕES FINAIS


IBBDICNEN

faculdade de
farmácia e A pesquisa realizada acerca da Imprensa Periódica
IBBD Biblioteconômica nos possibilitou traçar a trajetória deste cam-
po, nos anos 50 e 60, notadamente quanto aos seus aspectos
educacionais. Esta imprensa (em especial o Boletim Informa-
tivo do ffiBD e o Boletim Informativo da FEBAB, mesmo sen-
do publicados em épocas distintas, o primeiro nos anos 50 e o
segundo nos anos 60) apresenta alguns pontos em comum:
divulgação da profissão, indecisão nas linhas editoriais e ciclo
de vida curto.
Para melhor compreendermos a trajetória deste cam-
IUDENE 1961 Bibliotedrio Diplomado 15 po, retrocedemos a seu movimento fundador, do qual pode-
mos afirmar que a origem do ensino de Biblioteconomia no
IBBDICAPES 1961 Bibliotecário Médico e 30 Brasil constitui-se por vontade e abnegação de alguns indiví-
Profmor e Aluno de
i duos Peregrino da Silva, Rubens Borba de Moraes, por exem-
APB 1961 Bibliotecário Diplomado 17 Atualização de Informações
plo, e não de uma necessidade social. Ainda com a finalidade
de responder a problemas particulares de algumas bibliote-

264 265
cas e não de atender a políticas públicas de leitura, informa-
A partir dessa reforma e da cessão de bolsas de estudo
ção ou educação.
Isso aliado ao fato de que, ao adotarmos o modelo pela ELSP e pela BN, são formados profissionais de diversos
humanista, de origem francesa, este já era considerado obso- Estados que ao retornarem para suas origens criaram novos
leto, sendo objeto de críticas dos bibliotecários progressistas fran- cursos ocasionando a expansão de ensino e do modelo nor-
te-americano.
ceses. Portanto, implantamos disciplinas e incorporamos sabe-
res, nesta primeira fase do ensino, que não correspondiam às Entretanto, este modelo não era uniforme. São Paulo
optava por determinadas técnicas e saberes escolares e o Rio
necessidades das bibliotecas e da sociedade em geral, mas
de janeiro por outros, apesar de os "nomes das disciplinas
apenas da Biblioteca Nacional. Em resumo, o ensino de
serem praticamente os mesmos". Esta questão gerava dife-
Biblioteconomia no Brasil nasceu endêmico e ultrapassado.
renças na maneira de organizar bibliotecas e nas práticas e
Com a implantação do modelo americano, se privilegi-
temias Biblioteconômicas. Evidentemente, escolas criadas sob
am as técnicas, em princípio de Catalogação e Classificação,
a influência de uma ou outra tendência assumiam caracterís-
depois outras, como de Referência, Organização de Bibliote-
ticas das matrizes. Somente na gestão Rubens Borba de
cas, etc. Tal fato ocasionou o abandono dos aspectos cultu-
Moraes na Biblioteca Nacional, é que se consolida a influên-
rais da profissão. Isto em termos práticos, posto que nos dis-
cursos não há esta dicotomia, entre os dois modelos, inclusi- cia da Biblioteconomia paulista na Biblioteconomia carioca.
Com a expansão do ensino, o crescimento da produção
ve entre os bibliotecários que estabeleceram e divulgaram o
científica nacional, a criação do IBBD e a ampliação do cam-
pragmatismo na Biblioteconomia: Rubens Borba de Moraes,
po universitário, os bibliotecários buscam a especialização na
Adelpha de Figueiredo e Laura Russo, dentre muitos outros.
perspectiva de se igualarem aos cientistas e pesquisadores,
Isto não significa, entretanto, que o modelo europeu,
sendo sua atividade principal a elaboração de Bibliografias.
como se pensava, fosse somente contemplação do acervo e da
Daí as bibliotecas universitárias e especializadas tornarem-se
biblioteca, mas as técnicas (Cafálogação e Classificação) eram
o locus privilegiado de atuação profissional, uma vez que as
conteúdo da disciplina Bibliografia. A diferença entre ambos
demais bibliotecas ficariam a cargo dos bibliotecários
os modelos é que um privilegiava uma formação mais erudita
generalistas. Com esta mudança de perfil, os bibliotecários
do bibliotecário e o outro uma formação mais técnicà.
acreditavam que atingiriam valorização e status profissional
Na reforma do Curso da Biblioteca Nacional, nos anos
na medida em que contribuiriam para o desenvolvimento da
40, foi instalado o modelo pragmático mais por pressão exter-
ciência nacional. Se antes eram considerados guardiões do
na do que por vontade própria. Pressão exercida pelo DASP,
saber, a partir de então se tornam SERVOS DOS SERVOS DA
que exigia um profissional apto a organizar e administrar
CIÊNCIA. Esta mudança, impulsionada pelo IBBD gera
qualquer tipo de biblioteca, corno vinha ocorrendo em São
polêmicas entre as fronteiras da Biblioteconomia e da Docu-
Paulo, desde os anos 30.
mentação.
266
267
O ensino procura adaptar-se a esta configuração do cam- que também precisavam de padrões físicos e materiais, em
po criando disciplinas novas, ou seja, aquelas que atendessem especial de bibliotecas-laboratórios que tinham as mesmas fi-
diretamente ãs práticas documentárias. Deste modo, os cur- nalidades dos laboratórios das ciências físicas e naturais.
rículos procuram por um lado atender às necessidades técni- Portanto, observamos que a Biblioteconomia, nesse
cas gerais e por outro lado as técnicas inerentes à Documen- momento, não procurava comparar-se às Ciências Socias, pro-
tação, ficando deste modo as disciplinas culturais em um plano vavelmente por achá-las menos científicas e socialmente me-
bastante reduzido. nos consolidadas.
Todavia, este avanço pouco significava, na medida em Ainda podemos notar que as práticas e os discursos dos
que a Biblioteconomia ainda não era uma profissão reconhe- bibliotecários eram dirigidos por modelos de ensino, de esco-
cida legalmente. Para sanar esta deficiência, os bibliotecários las, de currículo, de profissional. Em fim, tudo dentro de es-
apadrinham-se aos políticos, notadamente os paulistas repre- calas e medidas, características das primeiras investigaçãoes
sentados pela FEBAB, na figura de Laura Russo, a quem é científicas realizadas na área pelos cursos de pós-graduação
atribuída a redação do anteprojeto que resultou na Lei 4084/ na sua origem.
62. Laura Russo, mulher de personalidade forte e determina- Ressaltamos que o currículo implantado em 1962 não
da, assumiu para si a tarefa que seria de toda uma categoria: atendeu às expectativas de grande número de bibliotecários,
regulamentar a profissão. que passaram a reivindicar alterações no mesmo. Alguns jul-
Com a aprovação desta lei foram criados os organismos gavam que contemplavam demasiadamente as discplinas cul-
burocráticos como o C.F.B. que tinham a finalidade de res- turais e outros ao contrário que se centralizava nas disciplinas
guardar o campo de possíveis intrusos: físicos, químicos, enge- técnicas.
nheiros que, insastifeitos com o trabalho dos bibliotecários, Se ensino de graduação estava consolidado, a partir dos
criam suas estratégias de organização e tratamento da docu- anos aumentam as reivindicações para ampliação dos cursos
mentação que necessitavam para suas pesquisas. de pós-graduação, atividade assumida pelo IBBD desde os
Para dar maior respaldo à carreira, além desta lei, os anos 50, ampliada na década seguinte e consolidada na de
bibliotecários lutam para incorporar a Biblioteconomia no 70, com o Mestrado em Ciência da Informação.
campo universitário de modo a garantir e dar respaldo acadê- Em resumo, este estudo nos possibilita concluir ainda que:
mico e científico à àrea, igualando-se a Medicina, Direito, a) o ensino de biblioteconomia no Brasil se estabeleceu
Engenharia, carreiras que os bibliotecários tomavam como para resolver problemas de bibliotecas escolares (Mackenzie
parãmetros de comparação. College), públicas (Mário de Andrade) e da Nacional. Por-
Para tanto, se fazia necessário estabelecer um currículo tanto, não houve pretensões mais amplas, isto é, de estabele-
mínimo que uniformizasse os saberes escolares, eliminar as cer um corpo teórico e atender às necessidades sociais mais
dicotomias e diversidades ~ntre as escolas e cursos. Escolas amplas;

268 269
b)o ensino de biblioteconomia, nos anos 50 e 60, pro-
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
curava adaptar-se às mudanças, sem uma análise da realida-
de e das características da sociedade brasileira. Logo, não ti- AINDA a bibliotheca municipal. Folha da Manhã, São Paulo, 12
abr. 1930.
nha uma feição própria e sólida, mas assumia aquelas que
ALBERTI, Verena. História Oral: a experiência do CPDOC. Rio
poderiam dar ares de ciência moderna; de Janeiro: FGV, 1990.115p.
c)a preocupação dos bibliotecários centrava-se na infor-
ALCÂNTARA, Lucio. Profissão do bibliotecãrio: modernização
mação especializada, enquanto as bibliotecas públicas esco- da legislação. Brasília: CFB, 1997. mimeo.
las ficavam estregues às mãos dos bibliotecários menos habi- ALMEIDA, Beatriz, CARVALHO, Patrícia. As centenárias e histó-
lidosos para tratar da produção acadêmica e científica. ricas escolas de São Paulo. Revista SIOEST, São Paulo, v.22.
Enfim, os discursos dos bibliotecários manifestados na n.187, p.44-54, nov. 1996. .
Imprensa Periódica utilizada neste trabalho nos possilitam AMAT, Nuria. E! documentalista: un científico de científicos.
afirmar, finalizando esta pesquisa, que, mesmo sendo a Revista Espaiiola de Docrunentación Científica, Madrid, v.14,
n.2, p.179-189, 1991.
biblioteconomia uma das profissões mais antigas, não atin-
AMO RIM, Maria José Thereza. A Literatura Bibliotecológica no
giu em termos de Brasil suficiente maturidade teórica e práti-
Brasil. IBBD: Boletim Informativo, Rio de Janeiro, v.3, n.3/
ca e, no presente momento, face à globalização da informa- 4, p.175-187, maio/ag. 1957.
ção, ao acelerado crescimento da produção científica e ANDRADE, Mario de. Os f"tlhos da Candinha. São Paulo: Martins
tecnológica, à crise nos paradigmas em todos os campos do 1942. p.179-183. ,
saber humano, torna-se cada vez mais uma profissão nebulo- APRESENTAÇÃO. FEBAB: Boletim Informativo, São Paulo, v.l8,
sa e pouco discernível. Daí os discursos sobre ensino e reivin- n.5/6, p.57-91, nov./dez. 1968.
dicações profissionais serem bastantes circulares. Portanto, ___ .Boletim Informativo da FEBAB, São Paulo, v.1, n.5/6,
p.1-3, maio/jun. 1960.
partindo desta pesquisa, sugérimos outras que analisem os
discursos sobre o ensino de biblioteconomia contidos na Im- ___ .Boletim Informativo da FEBAB, São Paulo, v.3, n.1/2,
jan./fev., p.1-3, 1961.
prensa Períodica publicada pós anos 70 e comparem estes
ARAGÃO, Esmeralda M. de. A profissão de Bibliotecários e
com os evidenciados neste livro.
Documentalistas: situação e perspectivas no Brasil. 1n: CON-
O jogo com as palavras que, no início, parecia dificil de GRESSO l$RASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCU-
ser delineado chegou ao seu fim. Fim relativo na medida em MENTAÇAO, 3, Anais ... , Curitiba, ABPr, 1961. p.1-8.
que outros jogos poderão ser traçados a partir deste e espera- I AI<AUJO, Vânia. Informação: fator de submissão ou dominação.
mos olhares mais distantes e mais amplos sobre a Ci. Inf., v.3, n.7, p.13-18, jan./jun. 1992.
_ _ _ .Estágio Planificado. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE
biblioteconomia brasileira. I BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 5, Anais ... , São
Paulo, APB, 1965.p.1-6.

I 271
270
J
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v.8, n.3/4, p.81, mar./abr., 1964. rior e Justiça pelo Dr.José Alexandre Teixeira de Mello. Anaes
ATA DA 24a. Reunião da FEBAB. FEBAB: Boletim Informativo, da Bibliotbeca Nacional, Rio de Janeiro, v.22, p.240-247,jan./
v.8, n.3/4, p.83,mar./abr., 1964. dez. 1900.
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272 273
___ .Relatório que ao Exmo. Sr. Dr. Gustavo Capanema, Mi-
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287
286
(

História da Biblioteconomia
Brasileira, César Castro, foi
diagramado no formato 15x22 em,
em tipologio Nebrosko, corpo
12pt, entrelinha 15,5. FotoHtodo
e impresso nas oficinas gráficos
do THESAURUS EDITORA
DE BRASÍLIA, em papel
75_grs., em outubro de 2000.
presente obra de César Augusto Castro é definitiva César Augusto Castro
tanto por reunir dados e informações (para muitos de
nós, até então, nebulosos e fragmentados) sobre a
~
evolução da Biblioteconomia no Brasil quanto por expor
testemunhos e análises originais. Sem pretender ser
exaustivo, tece a trajetória de nossa profissão segundo
postulados científicos válidos.
HISTORIADA
a m 111 111 111 111

obra .fundamental para entender o que somos e


\ll,:;,''>UU

para prognosticar o nosso próprio destino.


111

BIBLIOTECONOMIA
Antônio Mií-anda - UnB

trabalho de César Castro é impecável em termos de


estruturação lógica e redação; rigoroso na seleção e
síntese das fontes utilizadas; primoroso em termos da
constituição da Biblioteconomia brasileira.
Ezequiel Theodoro da Silva - UNICAMP

a 111 111 m 111 m m 1

fundamental para compreendermos a história da

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