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26/09/2018 "Identidade da centro-direita foi posta em xeque"

26/09/2018 - 05:00

"Identidade da centro-direita foi posta em xeque"


Por Malu Delgado

O movimento de descolamento da sociedade para extremos é recorrente no


cenário internacional, mas apresenta particularidades no Brasil, opina a
sociológa espanhola Esther Solano Galleno, 35 anos, professora da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Observadora do cenário
eleitoral e pesquisadora dos movimentos à direita no país, ela avalia que a
centro-direita foi colocada em xeque pela extrema-direita. O fenômeno da
antipolítica, no Brasil, afetou em maior intensidade a centro-direita do que a
centro-esquerda, avalia, porque não há uma liderança política forte neste Esther Solano: “Me parece que será uma
eleição muito polarizada (...) Será a
campo, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem militância
polarização petismo e o antipetismo”
orgânica e tampouco memória recente dos governos tucanos.

"No Brasil, a centro-esquerda está capturada pela lógica do PT e não sofreu esvaziamento porque há uma militância, uma
memória recente de governos petistas e uma figura como Lula. Não há esta potência política forte na centro-direita",
afirma a socióloga, organizadora do livro "O ódio como política", lançado nesta semana pela editora Boitempo.

Estes fatores, para Esther Solano, ajudam a compreender o fenômeno Jair Bolsonaro e "a morte ao vivo do PSDB", o que
endossa a dualidade petismo X antipetismo. Uma eventual vitória de Bolsonaro agravaria o caldeirão da intolerância e
colocaria em pauta, diz ela, "a lógica da militarização da vida pública", em que a política é associada à "guerra", e os
adversários são "inimigos".

A socióloga chegou ao Brasil em 2010, no auge da crise econômica europeia, logo após concluir seu doutorado. Assistiu de
perto às jornadas de 2013, às eleições de 2014, e ao impeachment, em 2016. Em maio deste ano, escreveu uma análise
acadêmica intitulada "Crise da democracia e extremismos de direita". Anos antes, foi uma das autoras do livro
"Mascarados, a verdade histórica da tática black bloc". A crise econômica migrou da Europa para o Brasil, mas Esther
Solano não quer fazer o caminho de volta. Está empenhada em entender o fenômeno Bolsonaro.

A professora alerta, ainda, que as instituições brasileiras têm promovido uma espécie de autoboicote. O descrédito gradual
da institucionalidade formal, fortalecido pelo processo de impeachment e pelos deslizes da Operação Lava-Jato e excesso
de exposição do Judiciário, pontua, gerou consequências nas relações democráticas e fortaleceu personalidades como o
deputado Jair Bolsonaro, candidato à Presidência pelo PSL.

A crise brasileira nem de longe será amenizada com a eleição presidencial. "Não vai ser fácil. Esses problemas de
institucionalidade vão perdurar a longo prazo, e vai depender da capacidade da esfera política e da esfera partidária de se
renovarem e atenderem um pouco os anseios da população."

A seguir, os principais momentos da entrevista ao Valor:

Valor: Como interpreta a consolidação de dois polos, petismo e antipetismo, diante da provável disputa no 2º turno
entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)?

Esther Solano Galleno: Há, sobretudo, o deslocamento de uma centro-direita tradicional para a extrema direita.
Estamos quase assistindo, ao vivo, à morte do PSDB em âmbito nacional, com a dificuldade de Geraldo Alckmin para
decolar. Há um esvaziamento de partidos que foram tradicionais para a social-democracia mais clássica e agora estão
https://www.valor.com.br/imprimir/noticia_impresso/5884403 1/4
descolados para movimentos mais extremos. Isto acontece
26/09/2018 "Identidadena
da Europa toda,
centro-direita foi não
postaéem
algo típico apenas do Brasil. Me faz
xeque"

pensar que esta identidade do centro-direita clássico está em xeque, esvaziado pela extrema-direita. Outra coisa é que há
uma força petista ressurgindo. O PT está se recolocando fortemente na retórica do golpe, da perseguição política contra o
Lula, contra a Lava-Jato. O partido está ganhando muito espaço com esta narrativa. Me parece que será uma eleição muito
polarizada, mas não mais a polarização clássica PT e PSDB que se configurou desde a redemocratização brasileira. Será a
polarização petismo e o antipetismo simbolizado pelo Bolsonaro. A retórica antipetista virá muito forte.

"O PSDB calibrou mal o passo do antipetismo à antipolítica. Pensou que a fratura ficaria só na órbita
do PT"

Valor: Quais seriam as causas desta morte antecipada do PSDB e da captura da centro-direita tradicional pela direita
extrema?

Esther: Há uma questão complicada de identidade. Isso acontece com alguns países em que o centro se esvazia porque
você também tem uma crise democrática representativa e econômica. A tendência é não ter confiança nas figuras
tradicionais e haver migração para os polos. Por exemplo: nos EUA, a polarização Bernie Sanders X Trump é muito mais
extrema que a polarização tradicional. No Brasil, a centro-esquerda está muito capturada pela lógica do PT. O Lula ainda é
uma figura muito potente. Então a centro-esquerda não sofreu esvaziamento porque há uma militância, uma memória
mais recente de governos petistas e uma figura como o Lula, com a retórica da perseguição. Não há esta potência política
na centro-direita como há com Lula na centro-esquerda. Essa falta de identidade que a política tradicional está sofrendo,
com a antipolítica, afeta mais a centro-direita porque não há militância orgânica e nem memória recente de governos do
PSDB. É um caso específico do Brasil, em que há a migração da centro-direita, mas a centro-esquerda permanece, por
conta do PT.

Valor: O problema de identidade do PSDB esbarra também, aparentemente, em disputas internas e escolhas políticas.
Há inclusive leituras feitas por tucanos de que a adesão ao governo Michel Temer (MDB) teria aumentado o desgaste.
Concorda com essa avaliação?

Esther: É muito simbólica a declaração do Tasso Jereissati [ex-presidente nacional do PSDB]. Houve uma migração
latente do PSDB para a direita. O partido foi criado com um papel mais progressista e foi se 'endireitando', com candidatos
que apresentavam uma versão mais à direita deste centro. O Alckmin, por exemplo, adotou uma postura mais punitiva na
segurança pública. Isto é complicado, porque há candidatos mais extremos nesta posição e que são vistos como mais
honestos, como é o caso do Bolsonaro. Então ele perde posições. Se você bate nesta tecla da política do encarceramento,
polícia dura, repressão, acaba perdendo votos para aquele que representa de forma mais fiel este extremo. O PSDB, me
parece, calibrou mal o apoio ao impeachment e o apoio ao governo Temer. Calibrou mal o passo do antipetismo para a
antipolítica mais abrangente. Calculou que o antipetismo venceria, e que eles conseguiriam capitalizar este
descontentamento. O que o partido não calculou foi exatamente este transbordamento à antipolítica. E se viu isso já na
virada de 2016 e em 2017. O antipetismo leva à frustração geral com a política. E o PSDB é um partido tradicional, e foi
vítima disso. O partido pensou que a fratura político-institucional ficaria só na órbita do PT.

Valor: Sua linha de pesquisa tem abordado a política do ódio. Após o atentado contra Bolsonaro, como vê os riscos da
instabilidade com os extremos políticos que se perpetuam?

Esther: O Brasil já tem um certo histórico de violência na política, com candidatos mortos. Não é uma coisa que surgiu do
nada. Mas o que vemos hoje é que houve a extrapolação dessa violência política para a esfera federal. Um candidato que
expressamente reivindica a violência, quando, por exemplo, ele fala dos "petralhas" que devem ser "metralhados", esse
discurso misógino, homofóbico é extrapolado. O clima de violência é, também, uma decorrência do ambiente pós-
impeachment onde houve a política muito visceral. Você tem uma tensão provocada por fatores políticos, a politização do
ódio. Há um mal-estar, um descontentamento, uma frustração, e você canaliza e potencializa isso. O ódio, essa política do
inimigo, é eleitoralmente muito potente. Você enumera um inimigo. Há isso com Donald Trump: o inimigo é o imigrante.
Aqui é a mesma coisa: o inimigo é o PT, por exemplo. Isso, eleitoralmente, é muito potente, e uma postura absolutamente
antidemocrática. A democracia se constrói na ideia de inclusão do outro, do diferente, do alheio, não com a ideia de
inimigo. Essa visão antidemocrática legitima uma onda de violência. Quando a política institucional legitima a postura
violência, isso transborda para a sociedade.

Valor: Mas o ódio não é ou foi legitimado pelos dois extremos?


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Esther: Acho que não comparação a legitimização"Identidade
26/09/2018 do ódio nos dois polos.foiEu
da centro-direita coloco
posta muito em crítica essa visão. Não acho
em xeque"

que os dois polos, o bolsonarista e o lulista, petista, estão na mesma dinâmica do ódio. Essa é uma simetria falsa. Você tem
um candidato que fomenta o ódio e a intolerância, que é o Bolsonaro. O outro partido, você goste ou não dele, joga com as
regras democráticas.

"O ódio é eleitoralmente muito potente. Você enumera um inimigo. Com Trump, o inimigo é o imigrante.
Aqui, é o PT"

Valor: Como administrar esse caldeirão de intolerância no Brasil pós-eleição, independentemente do resultado de
outubro?

Esther: Ganhando Bolsonaro o caldeirão da intolerância será forte, porque, como eu disse, ele dá legitimidade à
intolerância. Ele tem uma visão militarizada da vida pública, ideia de intolerância com adversários políticos. Deixa a porta
aberta para estes comportamentos de ódio. Se um presidente fala, ao vivo, na TV, uma mensagem misógina, por que o
cidadão não pode fazer isso abertamente? Bolsonaro expressa, abertamente, a mensagem do ódio. Vai institucionalizar
isso. Se o PT ganhar, o que vai acontecer é que o antipetismo vai ser muito forte e teremos um clima extremo
potencializado pelos derrotados, em especial o Bolsonaro. O país está fraturado, não vai votar de forma unida, com
pensamento de Estado. O país está dividido, polarizado e com institucionalização da política violenta. Isso não se resolve
numa eleição. Não será fácil para quem assumir.

Valor: Sobre esta visão militarizada da vida pública, declarações do vice de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão,
têm provocado forte inquietação sobre riscos democráticos, em especial quando ele defendeu o "autogolpe". Vê com
preocupação a postura do Exército em caso de vitória do PT?

Esther: Minha percepção é que talvez não haja movimentação do Exército neste contexto. Porém, o que vejo com muita
preocupação é essa lógica da militarização da vida pública, sinalizando que estamos num momento de caos, de crise e de
bagunça e temos que aderir aos valores militares: autoridade, hierarquia. Essa ideia de que precisamos de disciplina, de
militarização da escola, a escola sem partido. Me dá um pouco de medo a ideia de cerceamento de liberdades, de liberdade
política, de expressão, essa lógica militarismo da vida política. E o conceito militar, de ver a política como inimigo, como na
guerra.

Valor: Desde o boom da Lava-Jato, a crise social de 2013, e o processo de impeachment de 2016 se discute no Brasil o
papel e a solidez das instituições democráticas. Na sua avaliação, essas instituições de alguma maneira têm atuado para
minar o processo democrático?

Esther: Eu te diria que o Brasil historicamente não tem uma estrutura institucional muito sólida. Se você pega, por
exemplo, pesquisas de confiança nas instituições - na Presidência, no Congresso, nos partidos etc -, os dados históricos
mostram que essa confiança sempre foi muito baixa. Há duas questões principais nas quais as próprias instituições têm
sido protagonistas deste processo de enfraquecimento institucional. No impeachment de Dilma Rousseff está cada vez
mais claro para a população que foi uma manobra que não teve nada a ver com o combate à corrupção e com o orçamento,
mas com uma questão fisiológica e de sobrevivência. Neste sentido, depois do impeachment, as instituições representativas
- Congresso, partidos, Presidência -, que já estavam enfraquecidas, ficaram mais ainda. Uma outra instituição, que é o
Poder Judiciário, que sempre teve maior confiança no Brasil, também tem diminuído muito sua confiança pela dinâmica
da Operação Lava-Jato - que é muito teatralizada e expõe muito os juízes e o Ministério Público, e diante da qual os seus
próprios protagonistas dão um excesso de entrevista à imprensa, com vazamentos. Eu diria que as instituições
representativas e o Poder Judiciário têm se boicotado com essa dinâmica de diminuir as respectivas legitimidades por
conta destes dois processos, o impeachment e a Lava-Jato.

Valor: Quais seriam as consequências deste autoboicote das instituições para a sociedade?

Esther: As consequências são bem claras. Primeiro, você tem uma desconfiança ainda maior nas instituições, o que
aumenta diretamente o sentimento antipolítico, a frustração das pessoas, a negação da política e de seus termos mais altos,
não a política partidária. Isso não é só no Brasil. Vemos no mundo inteiro um cansaço, uma desesperança com o mundo
político-institucional e, portanto, o aumento de certos populismos demagógicos de direita e de extrema direita. Veja por

https://www.valor.com.br/imprimir/noticia_impresso/5884403 3/4
exemplo a figura do Bolsonaro. Nos periódicos históricos
26/09/2018 com
"Identidade legitimidade
da centro-direita foiinstitucional você vê o fortalecimento de figuras
posta em xeque"

que se apresentam como outsiders, antissistema, figuras que representam essa sinergia contra o sistema. Mas,
normalmente são figuras muito perigosas porque têm esse viés antidemocrático.

Valor: Segundo Steven Levitsky, professor de Harvard e um dos autores de "Como as Democracias Morrem", repúblicas
democráticas estão ameaçadas hoje pelos civis, e não por arroubos militares autoritários, como ocorreu nas décadas
passadas, em especial na América Latina. Olhando para o perfil de candidatos à Presidência, vê aqui nomes que atacam
preceitos democráticos mais claramente?

Esther: Sem dúvida. No Brasil, além de você ter uma crise da democracia representativa - no mundo todo, e ninguém
nega- temos aqui outro conflito: é um dos países mais desiguais do mundo, com estrutura muito autoritária, muito racista,
conservadora. Bolsonaro tem discurso misógino, homofóbico. O Daciolo também falou isso várias vezes. Temos estes
candidatos com posturas claramente excludentes, antifeminista, anti-LGBT, racistas, e punitivos no quesito segurança
pública, o que desemboca numa estrutura antidemocrática.

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