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Editora.
2ª edição
1ª Impressão - 2011
Produção Editorial
Equipe Novo Conceito
Temas multidisciplinares de neuropsicologia & aprendizagem / Luiza Elena Leite Ribeiro doValle.
-- 2. ed. -- Ribeirão Preto, SP :
Novo Conceito Editora, 2011.
Vários autores.
ISBN 978-85-63219-51-0
11-05926 CDD-612.801
Sobre os autores
15
1. Compreendendo o fracasso
Fernando César Capovilla,
escolar no Brasil na década
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle,
1995-2004
Alessandra G. S. Capovilla
39
4. Infans – Unidade de
Cláudia Mascarenhas Fernandes,
Atendimento ao Bebê
Ethel Aronis, Íris Franco,
Lou Muniz Atem
107
5. Causas genéticas
de más-formações corticais Claudia Eunice Neves de Oliveira
115
6. Bases neuropsicológicas da
aprendizagem Rosana Siqueira Dias
125
7. Atuação fonoaudiológica no
Cristina Ide Fujinaga,
bebê prematuro
Carmen Gracinda Silva Scochi
135
8. Aprendizagem
e desenvolvimento
Rita Thompson
neuropsicomotor
151
9. Desenvolvimento neuronal
e comportamento lúdico na
Elsa L. G. Antunha
primeira infância
161
11. Aprendizagem
e desenvolvimento
neuropsicológico via jogos Vera Barros de Oliveira
de regras
175
41. CEMADA
Marcio Ribeiro do Valle
497
Abram Topczewski
Aidyl Pérez-Ramos
15
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Alan Demanboro
Alexa L. Sennyey
Alessandra G. Seabra
Aline Mauricio
16
sobre os autores
Angela Alfano
Catia Araujo
17
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Cecília Pera
18
sobre os autores
Edda Bomtempo
19
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Elizabeth Polity
Ethel Aronis
20
sobre os autores
Evaldo J. B. Rodrigues
Giovana Granchelli
Guiomar Albuquerque
21
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Íris Franco
Jacqueline Abrisqueta-Gomez
João Beauclair
Jorge G. Splettstoser
22
sobre os autores
Jussara Sommerhalder
23
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Keila Viggiano
Leila Vasconcelos
Leonardo Cervera
24
sobre os autores
Lucila Pesce
Marcia Bidá
25
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Marcio L. S. Bezerra
®
Assistente social, consultora empresarial e educacional. Didata em Biodanza
®
e coordenadora da Escola Paulista de Biodanza . Membro do Conselho Científico
da International Biocentric Foundation.
26
sobre os autores
®
Diretora da Escola Paulista de Biodanza e tradutora de C. G. Jung. Membro
do Conselho Científico da International Biocentric Foundation.
27
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Marcos Duran
Neuropediatra.
Mônica Losso
Myriam J. J. S. Lima
Nádia G. Passini
Paula Saretta
28
sobre os autores
Priscila Zerloti
Rita Thompson
Roberto Godoy
29
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Rubens Reimão
Sabrina P. Morelli
Sigmar Malvezzi
30
sobre os autores
Sueli Rossini
Tânia Marcon
31
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Vasco P. Moretto
32
sobre os autores
Yuristella Yano
Zenita C. Guenthen
33
Introdução
35
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
36
introdução
37
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
38
1
Compreendendo o fracasso
escolar no Brasil na década
1995-2004:
PCNs na contramão da história, 89% a 96%
de fracasso do ensino fundamental, segundo Saeb,
e recorde mundial de incompetência de leitura,
segundo OCDE
39
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
40
compreendendo o fracasso escolar no brasil na década 1995-2004
Capovilla, & Everatt, 2001; A. Capovilla, Suiter, & F. Capovilla, 2002; F. Capovilla,
2002a, 2002b; F. Capovilla & A. Capovilla, 2001, 2002, 2003, 2004; F. Capovilla
& Viggiano, 2004), fica claro que o padrão de fracasso dessas crianças é mais
típico dos analfabetos funcionais do que dos disléxicos. Seus níveis de habilidades
pré-requisito, como discriminação fonológica, memória de trabalho fonológica,
velocidade de processamento fonológico, processamento auditivo central, e assim
por diante, podem ser considerados aceitáveis. Contudo, o mesmo não ocorre
com sua consciência fonológica, especialmente no nível fonêmico, que se limita
a níveis sofríveis. A primeira característica que distingue a maior parte das
crianças que fracassam em aprender a ler é a baixa habilidade metafonológica,
também chamada de consciência fonêmica. Trata-se da consciência de que a fala
pode ser concebida como um fluxo no tempo de um certo número limitado de
fonemas que se combinam e recombinam em diferentes ordens conforme regras
convencionais compondo diferentes palavras faladas, e que esses fonemas podem
ser convertidos em seus grafemas correspondentes num mapeamento de ordem
conforme a sequência tempo-espaço (da esquerda para a direita na linha, e de cima
para baixo entre linhas), e com lacunas para separar as palavras. Tal consciência
pode ser facilmente avaliada medindo os níveis de um conjunto de habilidades
metafonológicas, como as de manipular fonemas (isto é, adição, subtração ou
substituição de fonemas no início, meio ou fim de palavras produzindo novas
palavras ou pseudopalavras, como do som b por m transformando cabelo em
camelo) e transpor fonemas (isto é, inverter sua ordem produzindo novas palavras
ou pseudopalavras, como de íris para siri), e fazer trocadilhos (isto é, inverter a
ordem de fonemas iniciais, mediais ou finais entre palavras, como de bomar tanho
para tomar banho). Já se demonstrou sobejamente que os níveis dessas habilidades
metafonológicas predizem com bastante precisão os níveis de leitura em voz
alta escrita sob ditado e compreensão de textos (A. Capovilla & F. Capovilla,
2003, 2004b; F. Capovilla & A. Capovilla, 1996, 1999; National Institute of Child
Health and Human Development, National Reading Panel, 2000; Observatoire
National de la Lecture, et Centre National de Documentation Pédagogique, 1998;
UK Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness
Unit, 2000).
Pelo fato de terem sido privadas de instruções metafonológicas e fônicas
explícitas e sistemáticas, essas crianças não têm suficientes consciência fonêmica e
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
conhecimento das relações grafema-fonema para mapear a fala por meio da escrita
e para recuperar a fala interna (pensamento em palavras) com base nessa escrita.
Permanecem, portanto, funcionalmente analfabetas em plenas 3a, 4a, 5a, 6a, 7a e 8a
séries do ensino fundamental, não apenas de escolas públicas como também de
muitas privadas. O fracasso de leitura e escrita dessas coortes (ou legiões anuais)
de crianças não se deve a variáveis de natureza hereditária e constitucional com
substrato anatômico e funcional identificável como na dislexia do desenvolvimento
(A. Capovilla & F. Capovilla, 2004c) ou nos distúrbios de processamento auditivo
central (F. Capovilla, 2002b) e do sistema vestibular (A. Capovilla, Miyamoto, & F.
Capovilla, 2003a), mas, sim, a falhas extremamente grosseiras no modo como os
princípios mais elementares que regem o ensino da alfabetização deveriam ter sido
implementados. Pesquisa científica recente descobriu que essas falhas consistem na
privação de instruções fônicas (isto é, relações grafema-fonema) e metafonológicas
(isto é, exercícios de consciência fonológica) explícitas e sistemáticas, e no errôneo
incentivo a uma abordagem ideovisual à aprendizagem de leitura e escrita com
textos complexos administrados desde o início sem qualquer preparo prévio
para tanto (A. Capovilla & F. Capovilla, 2002d). O achado mais contundente
dessa pesquisa é que o padrão de fracasso observado nessas crianças decorre da
abordagem ideovisual global prescrita pelos errôneos PCNs em alfabetização
sancionados pelo MEC (Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Fundamental, 1997), tanto que quanto mais os alfabetizadores tentarem seguir os
PCNs em alfabetização, tanto pior será a competência de leitura e a compreensão
de textos dos seus alunos ao final do ano escolar. Esses achados explicam por
que os parâmetros de alfabetização adotados pelos países bem-sucedidos são tão
diametralmente opostos aos PCNs brasileiros, como documentado fartamente
(A. Capovilla & F. Capovilla, 2004b; Cardoso-Martins, Capovilla, Gombert,
Oliveira, Morais, Adams, & Beard, 2003; National Institute of Child Health and
Human Development, National Reading Panel, 2000; Observatoire National de la
Lecture, et Centre National de Documentation Pédagogique, 1998; UK Department
of Education and Employment, Standards and Effectiveness Unit, 2000).
Desde a entronização do construtivismo no MEC e o sancionamento dos
famigerados PCNs em alfabetização e de cursos de treinamento e reciclagem de
professores neles baseados, como o Profae, a qualidade do ensino básico no Brasil
vem declinando de modo marcante, como pode ser constatado pelos dados
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foi de apenas 15%. Contudo nessa mesma 1a série, segundo pesquisa com 13 mil
crianças de 47 municípios brasileiros realizada pela Fundação Carlos Chagas
(publicada na Revista Época na matéria intitulada Fábrica de analfabetos, em 30
de junho de 2003), 54% das crianças não reconhecem as sílabas e 42% reconhecem
algumas palavras mas trocam ou omitem letras, sendo que 96% das crianças
da escola pública saem da 1a série sem saber ler, ou seja, nos tempos do método
alfabético silábico das cartilhas, aprovação escolar significava que a criança
havia aprendido, que sabia, e que era capaz. Nos atuais tempos construtivistas,
aprovação escolar não significa rigorosamente nada, segundo quaisquer critérios,
inclusive, especialmente, os oficiais do próprio governo federal como o Saeb do
Inep—MEC e de entidades internacionais como a Unesco.
Recordando: Como nos últimos 25 anos as escolas se esqueceram
cada vez mais de como é que se alfabetiza, o conhecimento foi regredindo de
maneira vertiginosa, com as crianças do ensino público passando a aprender
e a saber cada vez menos. De modo cruel, para essas crianças que constituem
os 91% da população escolar do ensino fundamental mais submetidos aos
PCNs, esse processo perverso acaba restringindo sua perspectiva futura ao
subemprego, desemprego, miséria ou marginalidade. Desorientadas pelos PCNs
construtivistas, as escolas passaram a produzir em série um enorme e crescente
contingente de legiões inteiras de crianças incapazes de ler e aprender pela leitura.
Em consequência, as avaliações — que no mundo civilizado são empregadas para
avaliar, reorientar e calibrar o ensino — acabaram se transformando, no Brasil,
em gargalos estreitos, verdadeiras barreiras intransponíveis para essa massa
crescente de analfabetos funcionais, incapazes de aprender qualquer conteúdo
escolar por meio da leitura. Nos tempos construtivistas, mesmo se tornando
cada vez mais liberais, permissivas, frouxas e pouco significativas, as avaliações
passaram a ser vistas como vilãs, simplesmente porque, independentemente
de quão liberais, permissivas, frouxas e pouco significativas que estivessem se
tornando, ainda assim provavam que, sob o construtivismo em alfabetização,
um contingente cada vez maior de crianças sabia cada vez menos. O ódio
dos construtivistas pelas avaliações se explica porque elas, não importa quão
frágeis, reduzidas e deformadas, insistem em revelar que o construtivismo, em
alfabetização, simplesmente não funciona. Como a corda sempre arrebenta do
lado mais fraco, os construtivistas, depois de terem deformado as avaliações
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porque ainda ignora, de modo obtuso, como outros países fizeram para sair
dele, e recuperar a competência de sua população escolar. As linhas mestras
dessa perspectiva são resumidas nos parágrafos a seguir.
A história recente da educação internacional mostra que, em meados da
década de 1990, a Inglaterra, a França e os Estados Unidos se viram submersos
sob uma onda de fracasso muito semelhante à que vem afogando o ensino
básico no Brasil desde a ascensão construtivista. Naqueles tempos, há cerca
de um quarto de século, inspirados em falsas crenças baseadas em estudos
hoje totalmente desacreditados (como os de Goodman, 1967; e Smith, 1971,
1973; ver crítica em Cardoso-Martins, Capovilla et al., 2003), os quatro países
embarcaram na aventureira moda daqueles tempos inconsequentes que era
abolir o ensino de leitura pelo método alfabético-silábico (o avô do método
fônico), colocando, no lugar, o método global ou ideovisual, na ausência de
qualquer pesquisa metodológica que justificasse tal medida. Deixaram o ensino
explícito, sistemático e progressivo das relações grafema-fonema das sílabas às
palavras, frases e textos, e começaram a introduzir textos complexos desde o
início, acreditando que a criança se alfabetizaria por si mesma desse modo.
Quinze anos depois da infeliz aventura, em meados da década de 1990, os
indicadores de competência haviam declinado e os quatro países amargavam um
acúmulo histórico de estagnação na mediocridade. Contudo, enquanto o Brasil
continuou afundando até os presentes meados da década de 2000, Inglaterra,
França e Estados Unidos conseguiram emergir da onda de fracasso e ascender
à tona. O determinante fundamental da diferença de destinos entre os dois
grupos de países, isto é, entre o destino de recuperação e sucesso dos Estados
Unidos, França e Inglaterra e o de agravamento da crise de fracasso do Brasil,
foi o modo como suas autoridades governamentais e educacionais reagiram
em meados da década de 1990 diante da constatação da crise de fracasso e
mediocridade em que estavam metidos, ou seja, foi a porta (a da frente ou a
dos fundos) que escolheram para tentar sair do prédio em chamas. O Brasil
escolheu a porta dos fundos e, trancado no quintal, permaneceu, de modo
insensível, teimoso e inconsequente, insistindo no mesmo método que vinha
produzindo o incêndio, ou seja, a séria crise de fracasso que ameaça asfixiar e
consumir o sistema como um todo. Já os Estados Unidos, a França e a Inglaterra
optaram pela porta da frente: empreenderam pesquisas para descobrir as razões
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foram colhidos poucos anos depois, com a plena recuperação do ensino (Twist,
Sainsbury, Woodthorpe & Whetton, 2003). Assim, notamos no Reino Unido
um processo muito semelhante ao verificado nos Estados Unidos, com a classe
política dando voz ao clamor da comunidade por mudanças no modo como a
alfabetização vinha sendo conduzida pelo establishment pedagógico. Para uma
visão ampla e precisa dos novos procedimentos adotados, recomendamos os
relatórios intitulados The National Literacy Strategy: Framework for teaching
(UK Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness
Unit, 1998a) e The National Literacy Strategy: Literacy training pack (UK
Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness Unit,
1998b). Outro fruto importante dessa revisão foi o relatório intitulado Literacy
(UK Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness
Unit, 2000), que confirma claramente a importância do método fônico,
pode ser consultado no endereço http://www.standards.dfee.gov.uk/literacy/
publications/?pub_id=135&top_id=337. Além desses, recomendamos, também,
os relatórios intitulados The National Literacy Strategy: Progression in Phonics
(UK Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness
Unit, 1999) e Excellence and enjoyment: A strategy for primary schools (UK
Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness Unit,
2003). Finalmente, destacamos os artigos de revisão britânicos publicados pelo
UK Department of Education and Employment que reiteram os benefícios de
instruções metafonológicas e fônicas, como os de Beard (2000) intitulado The
National Literacy Strategy: Review of research and other related evidence, o do
UK Department of Education and Employment, Standards and Effectiveness
Unit (2003) intitulado The National Literacy Strategy: Literacy training pack, o de
Beard (2003) intitulado The National Literacy Strategy in England, além dos
de Riley (2001) e de Stuart (2003). Um sumário objetivo dos principais pontos
dos documentos britânicos pode ser obtido em português alhures (A. Capovilla
& F. Capovilla, 2004b; Cardoso-Martins, Capovilla et al., 2003).
Ainda nessa mesma época, em meados da década de 1990, a crescente
insatisfação pública com a embaraçosa estagnação dos estudantes franceses sob o
método ideovisual levou o Observatoire National de la Lecture, o Centre National
de Documentation Pédagogique e o Ministère de la Jeneusse, de l’Education
Nationale et de la Recherche (i.e., Observatório Nacional da Leitura da França,
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nível superior em Pedagogia têm desempenho apenas e tão somente 10% menos
sofrível do que o dos alunos de alfabetizadores com apenas diploma de nível
médio. E esse desempenho, conforme dados do próprio Saeb-Inep-MEC (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1998, 1999, 2001b, 2002b),
tem declinado cada vez mais, para muito abaixo dos padrões minimamente
admissíveis, para desespero dos pais dos alunos e de toda a sociedade civil
que terá de arcar com as consequências desse malogro retumbante. Tal
como documentado por pesquisa nacional compreensiva (Cardoso-Martins,
Capovilla et al., 2003), mais de uma década de hegemonia construtivista na área
de alfabetização conseguiu finalmente instaurar o mais absurdo desencontro
entre as Secretarias de Educação, bem como entre os alfabetizadores, quanto
ao que venha a ser alfabetizar, quanto aos critérios para considerar alguém
alfabetizado, e quanto às noções mais básicas e elementares sobre alfabetização.
Por essa razão e por tantas outras é que se suspeita, inclusive, que esse alarmante
declínio na competência de leitura de 1995 a 2001, tal como documentado a
cada avaliação bianual do Saeb desde 1995 (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais, 1998, 1999, 2001b, 2002b), também possa refletir em
certo grau as aposentadorias de professores que aprenderam a alfabetizar antes
que o construtivismo se tornasse tão hegemônico nas faculdades de educação
e, feito cego a conduzir os cegos, provocasse tamanho rombo na formação
pedagógica dos alfabetizadores brasileiros.
Se em 2001 o Brasil conseguiu bater o recorde mundial de incompetência
de leitura, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (A. Capovilla & F. Capovilla, 2004b; Organization for Economic
Cooperation and Development, 2001; Suwwan, 2001) e se alfabetizadores
formados pelas Faculdades de Educação brasileiras conseguem um desempenho
apenas 10% menos pífio do que o dos alunos de alfabetizadores sem diploma
de Faculdades de Educação, não há dúvidas de que as Faculdades de Educação
definitivamente não estão formando alfabetizadores competentes como,
aliás, declaram explicitamente as próprias Secretarias de Educação brasileiras
(Cardoso-Martins, Capovilla et al., 2003). Apesar da extrema gravidade dessa
contundente prova de incompetência das Faculdades de Educação em formar
alfabetizadores minimamente competentes — fato notório que ganhou espaço na
consciência nacional e vem se refletindo em toda a mídia — o mais surpreendente
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esperado caiu de 45% para apenas 20% e, em 2001, a Inglaterra passou a ocupar
o terceiro lugar no ranking internacional de desempenho de leitura de alunos
de 4a série, comparativamente ao desempenho de alunos de 45 países (Twist,
Sainsbury, Woodthorpe, & Whetton, 2003). Esse caso mostra que a estratégia do
establishment construtivista de atribuir o fracasso da alfabetização brasileira a
fatores sociais para além dos muros da escola não passa de desculpa esfarrapada
para manter o status quo e a confusão pedagógica por ele instaurada dentro dos
muros da escola.
Desde meados da década de 1990, enquanto os dirigentes da educação
da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos vêm capitaneando a nau fônica
rumo à alfabetização competente, com extraordinário e crescente sucesso, o
establishment construtivista em alfabetização no MEC vem lançando todos os
anos o mesmo velho modelo de embarcação construtivista, aquele de casco
furado, e colecionando naufrágio após naufrágio, com 1,6 milhão de vítimas
por ano, só na 1a série de alfabetização. Ainda assim, infelizmente, apesar de
todos os fiascos, não passa pela mente desse establishment questionar suas
falsas crenças e mexer em seu modelo de alfabetização, de modo que, a cada
ano letivo que o MEC faz zarpar o mesmo velho de modelo de alfabetização
construtivista, embarcando nele quase 6 milhões de criancinhas de 7 anos,
o naufrágio do fim de ano supera em muito o do Titanic na magnitude do
horror e da destruição. Afinal, nenhum Titanic conseguiria afogar e levar para
o fundo cerca de 1,6 milhão de criancinhas de 7 anos, como fez a alfabetização
construtivista só na leva de 2001, segundo o Censo educacional 2001-2002
(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 2002a). Aos poucos,
contudo, cresce a percepção de que o construtivismo na alfabetização não vai
a lugar algum, e que o construtivismo na alfabetização sequer flutua. Os 7,4
milhões de crianças que todos os anos abandonam os estudos, soçobrando ao
longo da viagem na embarcação construtivista, sem jamais chegar ao porto
seguro da graduação do ensino fundamental, são prova contundente de que
a embarcação construtivista de alfabetização não leva as crianças a lugar
nenhum, com exceção do fundo.
Além da contagem do número de vítimas que desaparecem no fundo do
esquecimento, para além dos muros da escola, a cada dois anos, nas avaliações
bianuais do Saeb, é também medido o tamanho do estrago causado naquelas
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mais a aprender procurando saber o que fazem seus colegas de Cuba, França,
Inglaterra e Estados Unidos.
É preciso ressaltar quão interessante é o fato de que países com ideologias
tão discrepantes como Cuba, de um lado, e Estados Unidos, Inglaterra e França,
de outro lado, possam compartilhar a mesma abordagem à alfabetização: a
abordagem fônica. A explicação é simples: o método fônico funciona, e os países
que zelam pelo futuro de seus jovens e de sua pátria dão o melhor para cultivar a
competência de seus jovens e, assim, não hesitam em empregar as abordagens, os
métodos, os procedimentos e os recursos que funcionam. Enquanto isso, Brasil
(37a posição do mundo dentre 41 países), Argentina (35a posição do mundo) e
México (34a posição do mundo) continuam insistindo em seguir Emília Ferreiro
e o método global ideovisual, na mais perigosa contramão da história.
As consequências dessa opção irresponsável e cega pela contramão do
mundo desenvolvido são públicas e vexatórias. Os dados da OCDE publicados
em 2001 (Organization for Economic Cooperation and Development, 2001)
sobre a avaliação Pisa de competência de leitura de estudantes de 36 países
revelaram as consequências do modelo pedagógico incorreto sobre alfabe-
tização que o MEC insiste em seguir. Participaram desse estudo cerca de 5
mil brasileiros, com 15 anos de idade, estudantes da 7a ou 8a série do ensino
fundamental público e privado. Esse estudo revelou que 56% dos brasileiros
apresentam competência de leitura inferior ou igual ao nível 1, ou seja, o mais
baixo da escala. Portanto, depois de despenderem sete a oito anos na escola,
os alunos brasileiros conseguem chegar ao final do ensino fundamental sem
que tenham a mais pálida compreensão de leitura dos textos que tentam ler.
Os dados desse estudo deixam claro que os altíssimos índices de fracasso
escolar (isto é, evasão e reprovação escolar) que desperdiçam as vidas de 41%
dos alunos (isto é, 2 milhões e 378 mil alunos) do ensino fundamental e de
60% dos alunos (isto é, 3 milhões e 480 mil alunos) do ensino básico resultam
da incompetência dos alunos, mais precisamente do fracasso da escola em
alfabetizá-los adequadamente, tal como documentada pelos dados do Saeb-
-Inep-Mec (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1998, 1999,
2001a, 2001b, 2002a, 2002b) e da Unesco-OCDE-Orealc (Organization for
Economic Cooperation and Development, 2001; Unesco-Orealc, 2000), e não
de um eventual rigor excessivo dos professores. Os dados deixam claro que os
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critérios que os professores brasileiros vêm usando para avaliar seus alunos são
extremamente baixos, e que se eles fossem usar critérios semelhantes aos critérios
internacionais adotados pela OCDE no Pisa, teriam que reprovar 60%-80%
dos alunos (Organization for Economic Cooperation and Development, 2001).
O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países no Pisa obrigou a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a
reformular a nova edição da prova, incluindo questões mais fáceis em 2009.
Ainda assim, o Brasil ficou em 53º lugar em leitura, 55º em matemática e 53º em
Cultura Científica, entre 65 países que participaram. De acordo com a edição de
Panorâmica da Educação 2010: Indicadores da OCDE, esta avaliação “possibilita
aos países verem-se a si mesmos à luz do desempenho de outros países. Fornece
a comparabilidade e atualização de um conjunto diverso de indicadores e
representa o consenso do pensamento profissional sobre a forma de medir o
estado atual do ensino a nível internacional” (OECD, 2010). O Brasil conseguiu
algum progresso, mas permanece na situação de um dos piores países do mundo
e o OECD (2010) adverte sobre perda de vantagem global na educação: “Numa
época de competição global intensa, eles precisarão trabalhar duro para manter
a base de conhecimentos e habilidades que permanece crescendo com demandas
em transformação”.
Conforme mencionado, o problema se arrasta, já que em 2003, em asso-
ciação da Unesco, quando a OCDE acrescentou mais cinco países à lista dos 36
previamente avaliados, o Brasil decepcionou. Segundo essa pesquisa internacional
sobre competência de leitura (Unesco-OCDE, 2003) (objeto da Coluna Educação
da Folha OnLine em 01/07/03), dos 41 países pesquisados, sendo 14 deles em
desenvolvimento, o Brasil ficou na 40a posição (isto é, em penúltimo lugar, só à
frente do Peru) em desempenho escolar em matemática e ciências, e na 37a posição
em competência de leitura (isto é, só à frente da Macedônia, Indonésia, Albânia e
Peru). De acordo com essa pesquisa, 56% dos alunos brasileiros de 15 anos estão
abaixo, no nível 1 de alfabetização (o mais elementar), com séria dificuldade em
extrair o significado de textos para escolarizar-se. Os dados de desempenho dos
41 países podem ser encontrados nos seguintes endereços: em http://www1.folha.
uol.com.br/folha/educacao/ ult305u13178.shtml e em http://www1.folha.uol.com.
br/folha/educacao/20030701-avaliacao_internacional.shtml. É preciso ressaltar
quão dignas de nota são as posições dos três países comprometidos com uma
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
catastróficos que aqueles com diploma de nível médio apenas. Pelo mero efeito
de escolarização, seria esperada uma eficácia muito maior. As consequências de
ter cegos conduzindo cegos são claramente tristes: segundo o Geografia da
educação brasileira, dos 5,8 milhões de alunos que ingressam a cada ano
na 1a série do ensino fundamental no Brasil, só 59% terminam a 8a série do
ensino fundamental e, mesmo assim, demoram 10,2 anos para tanto. Logo,
41% dos alunos do ensino fundamental fracassam antes de conseguir concluir
a 8a série, ou seja, a cada ano, a educação brasileira baseada na alfabetização
construtivista tem desperdiçado o futuro de 2 milhões 378 mil alunos do ensino
fundamental, que não tendo aprendido a ler e escrever, conseguem aprender,
fracassam e abandonam os estudos no meio do caminho. Ainda segundo a
mesma publicação, só 40% terminam a 3a série do ensino médio, mesmo assim,
demorando 13,9 anos para tanto. Logo, 60% fracassam antes de terminar 3a série
do ensino médio, ou seja, a cada ano, a educação brasileira desperdiça o futuro
de 3 milhões 480 mil alunos do ensino básico, que não conseguem aprender,
fracassam e abandonam os estudos no meio do caminho, e vão engrossar as
filas de desempregados, as estatísticas de marginalidade e criminalidade, e
abarrotar as dependências da Fundação Casa e dos presídios de todo o país.
Para Otaviano Helene, esses dados são alarmantes e evidenciam o atraso escolar
brasileiro que decorre da má qualidade do ensino que é consequência, dentre
outras coisas, de professores mal preparados. Segundo ele, educação brasileira
está muito abaixo da de outros países, inclusive da América do Sul, para não falar
da América Latina. Quanto a esta última, ele tem razão, pois, conforme dados da
Unesco-OCDE (Organization for Economic Cooperation and Development,
2001; Unesco-Orealc, 2000), 86% dos estudantes cubanos, que aprendem a ler
pelo método fônico, têm desempenho de leitura superior ao dos estudantes
brasileiro e argentino que se debatem em vão tentando aprender a ler por conta
própria sob o construtivismo.
Embora os dados numéricos variem entre as publicações, eles são
unânimes em retratar uma situação insustentável. Por exemplo, segundo o Censo
educacional 2001-2002 (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais,
2002a), no ensino fundamental, dos 35,3 milhões de estudantes matriculados,
20,9% (ou seja, 7,4 milhões) fracassam antes de graduar-se, seja por reprovação
(3,9 milhões) ou por evasão. A maior incidência de fracasso é verificada na 1a e na
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2001, 2002, 2003; F. Capovilla & A. Capovilla, 1997, 2001, 2002, 2003, 2004;
F. Capovilla, A. Capovilla, & Macedo, 2001a, 2001b; F. Capovilla, Macedo,
& A. Capovilla, 2002a, 2002b; F. Capovilla, Macedo, Duduchi, A. Capovilla,
& Gonçalves, 1998; F. Capovilla & Viggiano, 2004) demonstram os efeitos
perniciosos dos PCNs em alfabetização, e constituem fortes razões para
afirmar que esses PCNs em alfabetização são um dos principais fatores que têm
condenado a criança brasileira ao fracasso e envergonhado nossa nação perante
as outras. Dentre tantos achados significativos, os estudos de A. Capovilla e F.
Capovilla (2002d, 2004b) revelam que a competência de leitura e a compreensão
de textos dos escolares de 1a série ao final do ano são inversamente proporcionais
ao grau de fidelidade das professoras às diretrizes expressas nos PCNs em
alfabetização e diretamente proporcionais ao seu grau de infidelidade a esses
mesmos PCNs em alfabetização. A competência de leitura e a compreensão
de textos mostram-se inversamente proporcionais ao grau de fidelidade das
professoras às diretrizes expressas nos PCNs em alfabetização já que os PCNs
insistem em introduzir desde o início textos “autênticos”, em enfocar o significado
na ausência de qualquer instrução fônica e metafonológica preparatória, e
em ignorar qualquer ensino das relações entre grafemas e fonemas, exceto
incidentalmente em meio ao texto e à busca do significado. A competência
de leitura e a compreensão de textos se mostram diretamente proporcionais
ao grau de infidelidade dessas professoras aos PCNs em alfabetização à
medida que elas oferecem instruções fônicas e metafonológicas preparatórias
e provêm ensino sistemático e explícito de decodificação grafofonêmica e de
codificação fonografêmica. Dadas as demonstrações científicas de que os PCNs
em alfabetização desorientam os professores e prejudicam a aprendizagem
de leitura e escrita dos alfabetizandos, pode-se afirmar que os PCNs em
alfabetização têm sido um desserviço à educação brasileira, contribuindo para
condenar as crianças ao fracasso escolar, e para sufocar o fluxo de estudantes
que não têm competência suficiente para serem aprovados. Os PCNs produzem
incompetência, fracasso, reprovação e evasão, e resultam no estrangulamento do
fluxo escolar. Na ausência da revogação desses PCNs, os governos não têm tido
alternativa senão a de lançar mão de expedientes heterodoxos de maquilagem.
Em vez de providenciar as mudanças necessárias para que as professoras
passem a ensinar de modo competente de modo a produzir aprendizagem
competente, consequente sucesso nas avaliações e recuperação do fluxo escolar,
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essa porcentagem caiu de 45% para apenas 20%, sendo que, já quatro anos depois
da mudança, os estudantes ingleses de dez anos de idade conseguiram galgar a
terceira posição do mundo em competência de leitura (Twist et al., 2003). Esse
caso da Inglaterra é ilustrativo do imenso poder de documentos oficiais como
o Estratégia de Alfabetização Nacional dos britânicos (assim como o Aprender
a ler para os franceses, e o Ensinando crianças a ler para os norte-americanos)
em produzir resultados concretos para a alfabetização da população escolar no
ensino fundamental. Os PCNs brasileiros em alfabetização são mais um desses
documentos oficialmente sancionados pelo governo e de grande eficácia em
moldar o desempenho da população escolar. A única diferença é que, já que
os PCNs brasileiros em alfabetização advogam o oposto daqueles documentos
europeus e norte-americanos, o grau de sua elevada eficácia tem sido medido,
paradoxalmente, pelo grau de estagnação e de incompetência de leitura gerados
na população escolar brasileira.
Os casos da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos ilustram bem o
quanto podem ganhar os países quando suas respectivas cabeças (o governo)
pensam e percebem a importância de fazer as mudanças necessárias, e o quanto
eles perdem quando suas cabeças ficam estagnadas em velhas fórmulas que o
mundo todo abandonou como prejudiciais e perniciosas. Por um lado, enquanto
o Ministério da Educação continuar a curvar-se ao lobby do establishment
construtivista e cedendo à fácil tentação, tão falsamente sofisticada e tão em
voga, de atribuir o fracasso da educação brasileira a problemas relacionados
à macroeconomia, sociologia e cultura, será incapaz de resolver a crise. Por
outro lado, se abrir-se ao mundo civilizado e fizer revisão crítica de suas
crenças pedagógicas terceiromundistas, poderá enxergar a mesma solução
que já se mostrou tão bem-sucedida nos países civilizados: que usando
métodos comprovadamente eficazes pode tornar competente sua população
escolar, mudando o destino dos 8,3 milhões de crianças que a cada ano vêm
fracassando no ensino fundamental brasileiro, assegurando-lhe um futuro mais
digno e feliz. Em suma, a boa nova deste capítulo é que, com base na experiência
internacional e na evidência científica, a educação brasileira pode dar a volta
por cima sem ter de esperar décadas até a melhoria de fatores macroeconômicos
e/ou socioculturais. Com a adoção de PCNs em alfabetização sintonizados
com as práticas internacionais e os achados científicos, pode-se constituir
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Referências bibliográficas
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2
Crianças que não aprendem,
escolas que não ensinam:
mais ciência, consciência,
cooperação efetiva – agora
Samuel Pfromm Netto
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aborto não intervém para matá-los durante a vida intrauterina. Não é possível
que continuemos surdos, mudos, indiferentes perante problemas tão sérios, tão
graves, como esses que infelicitam filhos e pais no Brasil de hoje.
Não há dúvida de que a educação formal nas escolas cresceu bastante.
Mas essa expansão do ensino, no que respeita a indicadores como número de
matrículas ou de escolas em funcionamento, jamais deveria significar rebaixa-
mento de padrões, deterioração desse ensino e negligência em relação aos que
experimentam dificuldades de aprendizagem, sofrem limitações especiais ou
compõem a imensa legião de “crianças de risco”. A verdade simples e pura é que
há mais e mais escolas, mais e mais crianças em escolas, e os alunos, de modo
geral, aprendem menos e menos. Excetuemos os afortunados que se encontram
nas nossas ilhas de excelência — e estas existem, tanto no ensino privado como
no público — e pensemos na grande maioria de crianças que não dispõe de boas
escolas, bom ensino e bons professores, nem de profissionais e serviços que as
ajudem a superar suas limitações. Concentremo-nos na debacle de larguíssimas
proporções que escancaradamente vem sendo evidenciada por pesquisas sérias,
como as que compararam o desempenho dos nossos estudantes com os de
outros países; concentremo-nos nos que não aprendem e deixam suas escolas
sem saber ler, escrever ou contar; detenhamo-nos em melancólicas histórias
de malogros — malogro na escola, malogro no desenvolvimento vocacional-
-profissional, malogro na vida.
Atentemos para essa categoria de criançada que teimosamente fazemos
de conta que não existe — as crianças excepcionais — com os superdotados num
extremo e no outro os retardados mentais; ou os milhares e milhares de alunos
com dificuldades de aprendizagem; com problemas de atenção, impulsividade
de comportamento e hiperatividade — os DDAH —; os estudantes com sintomas de
transtornos emocionais e comportamentais, os que padecem de problemas
de saúde (uso de drogas, aids, epilepsia, paralisia cerebral etc.); as crianças com
problemas de visão, audição e comunicação oral; as crianças com múltiplas
incapacidades. São, primeiro, crianças, como lembram Sternberg e Williams
(2002), que “apresentam características não usuais, que criam necessidades
especiais quanto à sua identificação, ensino ou avaliação. Em outras palavras,
crianças excepcionais (inclusive as superdotadas) são aquelas que, por razões
educacionais, e às vezes por razões legais, precisam ser identificadas e educadas
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crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
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crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
desejar, na maioria dessas escolas. Seria ingênuo demais supor que, em meio a
essa melancólica realidade, as crianças que não aprendem, as que têm limitações
físicas, as que estão às voltas com problemas emocionais e comportamentais,
as superdotadas, os retardados mentais etc. poderão ser beneficiados por bom
ensino, adequado às suas peculiaridades, sob a orientação de professores bem
preparados e competentes.
Em conferência recente, referimo-nos ao colapso do ensino público
fundamental no Brasil. No que se refere à educação antes dos sete anos, que
cabe aos municípios e à iniciativa particular, segundo o IBGE (2003), faltam
cerca de 14,6 milhões de vagas no país. Apenas dois em cada dez professores
de educação infantil contam com formação de nível superior. No ensino funda-
mental de oito anos, que teoricamente vai dos sete aos 14 anos de idade, ocorre
uma discrepância curiosa: embora a população nessa faixa de idade seja de 27
milhões, o total de alunos matriculados é de pouco mais de 35 milhões, pois
neste último total estão incluídos cerca de 8 milhões que não tiveram acesso ao
ensino fundamental na idade apropriada. Além disso, nosso ensino fundamental
inclui um enorme contingente de alunos “atrasados”, isto é, adolescentes com
15, 16 ou mais anos de idade. Ademais, essas estatísticas nada dizem em relação
à qualidade do ensino proporcionado ao seu alunado. Numerosas evidências,
contudo, apontam para um expressivo contingente de diplomados que mal
sabem (ou simplesmente não sabem) rudimentos de leitura, escrita, matemática
e conhecimentos gerais.
Numerosos fatores têm sido apontados como responsáveis pelo desca-
labro que se constata no ensino fundamental: baixos salários dos professores,
despreparo de grande parcela destes, ausência de materiais de ensino, má
qualidade de livros didáticos e assim por diante. Pouca ou nenhuma atenção
tem sido dada, no entanto, a um equívoco pedagógico e psicológico ao mesmo
tempo que viceja no Brasil desde os anos de 1970. Desde então, o pluralismo
metodológico, a flexibilidade de ação docente, o embasamento da prática
educativa nas contribuições das pesquisas empíricas, psicológicas e pedagó-
gicas, acerca do ensino-aprendizagem, a autonomia docente, a diversidade dos
recursos postos a serviço do trabalho do professor, a liberdade deste em escolher
materiais, procedimentos e fundamentação séria para o seu trabalho junto aos
alunos, passaram a ser abertamente hostilizados entre nós, senão suprimidos.
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crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
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crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
Referências bibliográficas
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3
Uma abordagem biológica do
desenvolvimento
do cérebro, da inteligência
e da aprendizagem
Isabel Ribeiro do Valle Teixeira
Introdução
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A evolução do cérebro
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uma abordagem biológica do desenvolvimento do cérebro, da inteligência e da aprendizagem
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uma abordagem biológica do desenvolvimento do cérebro, da inteligência e da aprendizagem
conexões diferentes. Além disso, nas sinapses existem por volta de neurotransmis-
sores 53 diferentes, que podem diferenciar um estímulo de outro (Ratey, 2001). A
própria complexidade de nosso cérebro já basta para compreendermos o porquê
é tão difícil prever o comportamento humano depois de algum estímulo.
Muitos fatores relacionados com a nossa história evolutiva e de nossos
ancestrais contribuíram para que nosso cérebro chegasse a este nível de
complexidade. É necessário, porém, muito cuidado ao se falar na evolução
do cérebro, pois corremos o risco de associar os desafios comportamentais
pelos quais passamos (usar a linguagem, aprender a manipular competidores
sociais etc.) à evolução do cérebro de 400 g do Australopithecus ao cérebro de
nossos ancestrais. Possivelmente, ao contrário da função ditando a evolução
da estrutura, foi uma estrutura adicional que permitiu o desenvolvimento
das diversas funções no cérebro humano (Finlay et al. 2001). A evolução do
cérebro humano é, provavelmente, resultado de uma “evolução em mosaico”
(Mosaic Evolution), caracterizada por hipertrofias diferenciais de subsistemas
físicos essenciais para a humanidade (Hayden, 1993; Stringer e Gamble 1993;
Mithen 1996; Noble e Davidson 1996). Deste modo, a evolução do cérebro
humano é resultado de uma seleção natural a favor de que diferentes seções do
cérebro preexistentes expandissem e se especializassem de uma protuberância
menos complexa situada na extremidade de um tubo neural dos vertebrados
primitivos. Nos símios e nos primeiros humanos, a percepção de cores e de
forma era necessária, mesmo na ausência de movimentos, o que impulsionou o
desenvolvimento do córtex para desvendar esses complexos problemas visuais
(Ratey, 2001). O interessante, em humanos, é o próprio desenvolvimento do
cérebro do nascimento até a idade adulta. A grande diferença de um cérebro de
um recém-nascido (400 g) para um adulto (1.300 g) é que um imenso número
de interconexões se desenvolve ao longo da vida, à medida que o encéfalo é
estimulado e resultam numa rede complexa (Cardoso, 2000).
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uma abordagem biológica do desenvolvimento do cérebro, da inteligência e da aprendizagem
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Conclusões finais
104
uma abordagem biológica do desenvolvimento do cérebro, da inteligência e da aprendizagem
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Zorzetto, R. As teias da inteligência. Revista Pesquisa Fapesp 93: 42-47, 2003.
106
4
Infans – Unidade de
Atendimento ao Bebê1
A formação de uma rede de atenção aos primeiros
anos de vida
1 O Infans tem sede em São Paulo, capital, à rua Artur de Azevedo, 46, Pinheiros. Site
www.Infans.org, e-mail: Infans@ig.com.br, tel.: (11) 3082. 1921.
107
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108
infans – unidade de atendimento ao bebê
Chegada do paciente
Atendimento ambulatorial
109
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Atendimento domiciliar
Acompanhamento terapêutico
110
infans – unidade de atendimento ao bebê
no que diz respeito aos serviços por elas prestados. Por exemplo: observações
em creche para auxiliar na capacitação dos educadores infantis e no desen-
volvimento da criança; acompanhamento e intervenções no processo de
amamentação em U.T.I. neonatal e na implementação no Programa de Atenção
Humanizada Método Canguru.
Formação de profissionais
111
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Referências bibliográficas
112
infans – unidade de atendimento ao bebê
113
5
Causas genéticas
de más-formações corticais
Claudia Eunice Neves de Oliveira
Introdução
115
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
116
causas genéticas de más - formações corticais
de sua última divisão mitótica, ou seja, da zona proliferativa, até o seu destino
final no córtex cerebral. É um processo complexo e altamente especializado
do desenvolvimento cerebral. Esta etapa pode durar, para cada célula, de um a
três dias nos estágios iniciais da neurogênese, até mais que duas semanas nos
estágios finais do desenvolvimento cortical (Rakic, 1978).
A longa duração do processo migratório e sua alta complexidade levam
a uma maior vulnerabilidade a possíveis lesões, gerando, frequentemente,
persistência de neurônios em posição heterotópica, seja em nódulos, bandas
ou como lâminas espessas de células subcorticais.
Nessas anormalidades, enquadram-se as lissencefalias, heterotopias nodu-
lares subcortical (SNH — subcortical nodular heterotopia) e periventricular
(PNH — periventricular nodular heterotopia), a heterotopia em banda difusa
subcortical (SBH — subcortical band heterotopia) e a paquigiria difusa. Essas
entidades não possuem neurônios dismórficos ou células em balão, mas têm
neurônios imaturos localizados em posições heterotópicas interferindo, destarte,
com a formação giral (Palmini, 2000).
Dentre as MCs incluídas nesta classe, somente as lissencefalias, a SBH e a
PNH apresentam uma etiologia genética conhecida.
Na lissencefalia clássica, caracterizada pela ausência das circunvoluções
cerebrais, fornecendo ao córtex cerebral um aspecto liso (Dobyns e Truwit,
1995), o gene LIS-1, localizado em 17p13.3 é identificado como responsável por
esta malformação (Reiner et al., 1993). Este gene codifica a proteína LIS-1 ou
PAFAH1B1, uma subunidade do fator de ativação plaquetário cerebral acetil-
-hidrolase (Hattoti et al., 1994).
Os fatores de ativação plaquetário foram identificados, primeiro, por parti-
cipar da resposta inflamatória. Hoje se sabe que eles são, também, sintetizados
e liberados no cérebro, interagindo com receptores específicos nos neurônios e
nas células gliais, o que estimula o influxo de cálcio (Walsh, 1995). Uma vez que
o PAFAH1B1 controla o nível do fator de ativação plaquetário ao degradá-lo, o
gene LIS-1, consequentemente, regula esta sinalização intracelular.
Como sabemos, o cálcio tem importantíssimo papel na migração celular,
sendo necessária uma concentração ótima de cálcio intracelular, pois seu
aumento, ou diminuição, altera a mobilidade celular, interferindo no processo
migratório e, posteriormente, no crescimento axonal (Kater et al., 1988).
117
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
118
causas genéticas de más - formações corticais
119
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Considerações finais
Referências bibliográficas
120
causas genéticas de más - formações corticais
121
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122
Tabela 1 – Principais processos do desenvolvimento do córtex cerebral, suas respectivas
malformações de acordo com o pico de ocorrência e os genes identificados
Tubo neural.
Indução dorsal 3ª – 4ª Fechamento do neuroporo anterior (24d) e
Indução ventral 5ª – 6ª posterior (29d).
Formação das vesículas encefálicas.
Proliferação e Proliferação celular nas zonas ventricular e
Displasia Cortical Focal tipo Taylor.
diferenciação 8ª – 16ª subventricular.
Hemimegalencefalia.
123
neuronal e glial Diferenciação dos neuroblastos e glioblastos.
Lissencefalia - LIS1 (17p13.3); XLIS
(Xq22.3-q23).
Heterotopia em banda subcortical - XLIS
(Xq22.3-q23).
Migração 8ª – 20ª Migração neuronal radial e tangencial
Heterotopia nodular subcortical.
Heterotopia nodular periventricular – Gene
causas genéticas de más - formações corticais
filamin-1 (Xq28).
Paquigiria difusa.
Projeção axonal.
Polimicrogiria.
20ª – pós- Sinaptogênese.
Organização Esquizencefalia - EMX2 (10q26).
-natal Morte celular programada.
Desorganização Intracortical Laminar.
Mielinização.
6
Bases neuropsicológicas
da aprendizagem
Introdução
125
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
126
bases neuropsicológicas da aprendizagem
127
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
128
bases neuropsicológicas da aprendizagem
129
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
130
bases neuropsicológicas da aprendizagem
131
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
132
bases neuropsicológicas da aprendizagem
Considerações finais
133
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
134
7
Atuação fonoaudiológica
no bebê prematuro
Cristina Ide Fujinaga,
Carmen Gracinda Silva Scochi
135
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
136
atuação fonoaudiológica no bebê prematuro
137
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Com relação à idade corrigida1, idade pós-natal e peso, existe uma grande
variação individual que interfere na habilidade de a criança prematura se alimentar
por via oral. Geralmente, os pesquisadores relatam que 32 semanas de gestação é o
período mais curto para que um bebê desenvolva a habilidade de sugar e deglutir, a
qual é precedida pela habilidade de engasgar que, reflexivamente, evita a aspiração.
Para O’Rahilly e Müller (1987), na 16a semana, a língua começa a se
movimentar e aparece o reflexo da deglutição. Na 20a semana surge o reflexo
de sucção e na 32a semana, aproximadamente, ocorrerá a coordenação entre o
reflexo de sucção e de deglutição.
Vários autores descrevem o mecanismo de sucção, destacando-se dois tipos:
a sucção nutritiva, utilizada pelo neonato para ingerir alimento através de via
oral, constituída de um padrão de sucção mais lento e com curtos períodos de
pausa; a sucção não nutritiva, quando não há ingestão de nutrientes, apresentada
pelo neonato a partir da 18a semana de gestação (Harris, 1986; Glass e Wolf,
1994; Lemons e Lemons, 1996).
As pesquisas sobre sucção não nutritiva apontam duas áreas de estudo: a
primeira refere-se à relação entre sucção não nutritiva e estado comportamental
e a outra ao efeito da integralidade do sistema nervoso central (Medoff-Cooper
e Ray, 1995).
Hafström e Kjellmer (2000) relatam que a sucção é uma das primeiras
atividades de coordenação muscular do corpo humano e que a ontogênese da
sucção não nutritiva é primariamente dependente da maturidade sendo pouco
afetada pela idade pós-natal ou experiência de alimentação. Com aumento
da maturidade, a frequência dos grupos de sucção (burst) aumenta e os inter-
valos de pausa diminuem (Hack et al., 1985; Hafström e Kjellmer, 2000). Se a
sucção não nutritiva não for estimulada com uso de chupeta ou sucção digital,
esta desaparecerá por volta dos 4 ou 5 meses de idade (Hafström e Kjellmer,
2000). Estes últimos autores, estudando o padrão de sucção não nutritiva em
recém-nascidos pré-termo, constataram que ocorre uma mudança gradual no
padrão da sucção não nutritiva, indicando como fator mais significativo a idade
gestacional corrigida, seguida do gênero, estado de atividade e peso.
138
atuação fonoaudiológica no bebê prematuro
139
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Conclusões finais
140
atuação fonoaudiológica no bebê prematuro
Instrumento de avaliação
da prontidão do prematuro
para início da alimentação oral
Identificação:
Nome: __________________________________ Nº Pront: ____
Data: __/__/__ Horário: _____
Idade pós-natal: ________ Idade corrigida: ________ Peso: _______
Alimentação: ( ) S.N.G.( ) S.O.G. Vol: ________ Ganho ponderal diário: _____
Postura Oral
Postura de lábios (2) vedados (1) entreabertos (0) abertos
Postura de língua (2) plana (0) elevada (0) retraída (0) protruída
Reflexos Orais
Reflexo de procura (2) forte (1) fraco (0) ausente
Reflexo de sucção (2) forte (1) fraco (0) ausente
Reflexo de mordida (2) presente (1) presente exacerbado (0) ausente
Reflexo de vômito (2) presente (1) presente anteriorizado (0) ausente
141
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
142
crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
Guia Instrucional
Instrumento de avaliação da prontidão do prematuro
para início da alimentação oral
Idade corrigida*
☐☐ Menor ou igual a 32 semanas.**
☐☐ Entre 32 a 34 semanas.**
☐☐ Maior que 34 semanas.**
* Idade corrigida: é a idade gestacional somada à idade pós-natal menos o referencial de 40 semanas.
** Parâmetros definidos tendo por base os autores Meier et al. (1987) e Lemons & Lemons (1996).
Postura global
☐☐ Flexão: flexão de membros superiores e inferiores e posição do pescoço em
linha mediana em relação ao tronco.
☐☐ Semiflexão: flexão de membros inferiores e posição do pescoço em linha
mediana em relação ao tronco.
☐☐ Extensão: extensão de membros superiores, inferiores e do pescoço em relação
ao tronco.
Tônus global
☐☐ Normotonia: leve resistência à movimentação passiva de flexão e extensão,
sendo ligeiramente maior nesta última.
☐☐ Hipertonia: resistência aumentada à movimentação passiva de flexão e extensão.
☐☐ Hipotonia: resistência diminuída à movimentação passiva de flexão e extensão.
143
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
POSTURA ORAL
Postura de lábios
☐☐ Vedados: lábio superior e inferior justapostos.
☐☐ Entreabertos: lábio superior e inferior parcialmente separados.
☐☐ Abertos: lábio inferior e superior totalmente separados.
Postura de língua
☐☐ Plana: língua plana, posicionada dentro da cavidade oral, com ponta arredondada.
☐☐ Elevada: ponta da língua em posição elevada, pressionando o palato.
☐☐ Retraída: língua em posição de retração na cavidade oral.
☐☐ Protruída: língua em posição de protrusão na cavidade oral, estando sobreposta
aos lábios.
REFLEXOS ORAIS
Reflexo de procura
☐☐ Forte: mediante o estímulo dos quatro pontos cardeais na região perioral,
procura imediatamente a região estimulada, direcionando a cabeça ao estímulo
e abrindo a boca.
☐☐ Fraco: mediante o estímulo dos quatro pontos cardeais na região perioral
procura lentamente a região estimulada, direcionando ou não a cabeça ao
estímulo e/ou com abertura parcial da boca.
☐☐ Ausente: ausência da resposta.
Reflexo de sucção
☐☐ Forte: suga prontamente a própria mão ou o dedo enluvado do avaliador.
☐☐ Fraco: leva um tempo para iniciar a sucção da própria mão ou o dedo do
avaliador.
☐☐ Ausente: ausência da resposta.
Reflexo de mordida
☐☐ Presente: responde ao estímulo do dedo do examinador no rolete gengival da
cavidade oral, com trancamento da mandíbula, seguido de relaxamento.
☐☐ Presente exacerbado: responde ao estímulo do dedo do examinador no rolete
gengival da cavidade oral, mantendo o trancamento de mandíbula.
☐☐ Ausente: ausência de respostas.
144
crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
Reflexo de vômito
☐☐ Presente: responde com náuseas e/ou vômito ao estímulo da introdução do
dedo do avaliador ao atingir a região medioposterior da língua.
☐☐ Presente anteriorizado: responde com náuseas ou vômito ao estímulo da
introdução do dedo do avaliador já ao atingir a região anterior da língua.
☐☐ Ausente: ausência de resposta.
Canolamento da língua
☐☐ Presente: elevação das bordas laterais e presença de sulco na região central da
língua.
☐☐ Ausente: ausência de resposta.
Movimentação de mandíbula
☐ ☐ Adequada: reduzida excursão da mandíbula, com movimentação rítmica
e suave.
☐☐ Alterada: ampla excursão da mandíbula e/ou com movimentação arrítmica e/ou
trancamento da mesma.
☐☐ Ausente: ausência de movimentação.
☐☐ Força de sucção
☐☐ Forte: forte compressão contra o palato e pressão negativa intraoral encontrando
resistência à retirada do dedo do avaliador da cavidade oral.
☐☐ Fraca: fraca compressão contra o palato e pressão negativa intraoral encon-
trando pouca ou nenhuma resistência à retirada do dedo do avaliador da
cavidade oral.
☐☐ Ausente: ausência de resposta.
145
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Sinais de estresse
☐☐ Ausente: ausência de sinais de estresse.
☐☐ Até 3 sinais de estresse.
☐☐ Mais de 3 sinais de estresse.
Os sinais de estresse a serem observados durante a avaliação são:
☐☐ Variação de tônus
☐☐ Variação de postura
☐☐ Variação da coloração da pele
☐☐ Batimento de asa nasal
☐☐ Tiragem
☐☐ Apneia
☐☐ Acúmulo de saliva
☐☐ Tremores de língua e ou mandíbula
☐☐ Soluço
☐☐ Choro
146
crianças que não aprendem , escolas que não ensinam
Referências bibliográficas
147
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
148
atuação fonoaudiológica no bebê prematuro
149
8
Aprendizagem e
desenvolvimento
neuropsicomotor
Rita Thompson
151
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
152
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicomotor
153
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Tônus
154
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicomotor
Equilíbrio
155
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Nível subcortical
Nível cortical
Imagem corporal
156
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicomotor
Dominância lateral
Orientação espacial
157
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
que é por meio do espaço e das relações espaciais que observamos as relações
entre as coisas e objetos no nosso envolvimento.
Orientação temporal
Praxias
158
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicomotor
Referências bibliográficas
159
9
Desenvolvimento neuronal
e comportamento lúdico na
primeira infância
Elsa L. G. Antunha
161
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
162
desenvolvimento neuronal e comportamento lúdico na primeira infância
163
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
164
desenvolvimento neuronal e comportamento lúdico na primeira infância
165
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
166
desenvolvimento neuronal e comportamento lúdico na primeira infância
167
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
168
10
Brinquedo e aprendizagem
na escola
Edda Bomtempo
169
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
170
brinquedo e aprendizagem na escola
171
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
mundo, tanto por parte dos pais que esperam mais aprendizagem acadêmica
como até mesmo por parte de alguns educadores, que se sentem forçados a
repensar o papel que o brincar deveria ter na sala de aula diante das pressões
para fortalecer o currículo acadêmico (Henninger, 1991).
Por sua vez, os professores não receberam uma formação que os capacite
a entender o tipo de aprendizagem que provém do uso bem empregado das
brincadeiras e das oportunidades para brincar. Introduzir a brincadeira no
ensino requer profunda compreensão e sensibilidade para entender o padrão
único de habilidades e interesses de uma criança em um dado momento. Requer,
também, profundo conhecimento de materiais lúdicos para saber lidar com
eles e adaptar-se ao ritmo de cada criança. A intervenção do professor não
deve tolher a imaginação criativa da criança, mas orientá-la, deixando que a
brincadeira espontânea surja na situação de aprendizagem, pois é através dela
que a criança se prepara para a vida em seus próprios termos.
A proposta de um novo jogo a ser jogado na escola deve começar pela
observação e compreensão de quem está mais bem habilitado para o jogo — a
criança (Marcelino, 1990). É ela que vai mostrar o caminho a seguir através
de seus brinquedos e brincadeiras. É importante que nós, educadores, mergu-
lhemos no universo tão rico da criança para melhor compreendê-la, chegando
mais perto de suas necessidades.
Os programas educacionais raramente preparam os professores para
usar estratégias que promovam o brincar. Saracho (1991) aponta dois tipos de
intervenção no brincar das crianças: participativo e dirigido.
Participativo: quando a intervenção do professor visa à aprendizagem
incidental durante o jogo: as crianças encontram um problema e o professor
ajuda-as na solução.
Dirigido: o professor aproveita o jogo para a aprendizagem do conteúdo do
currículo. Em geral, o estilo dirigido costuma levar as atividades para situações não
lúdicas, desvalorizando o brincar e impedindo o desenvolvimento da criatividade.
Muitas pesquisas sugerem que o professor que percebe quando deve
participar encoraja mais a criatividade da criança. A reflexão sobre a natureza
e limites de sua intervenção evitará que ele se torne organizador, sem abdicar
de seu papel de animador.
172
brinquedo e aprendizagem na escola
Referências bibliográficas
173
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
174
11
Aprendizagem e
desenvolvimento
neuropsicológico via
jogos de regras
Vera Barros de Oliveira
Este artigo analisa o pressuposto de que os jogos de regras podem ser vistos
como estratégias privilegiadas para a dinamização do processamento mental
e, consequentemente, para a aprendizagem.
Considera que, por serem jogos, incluem-se na categoria das atividades
lúdicas, nas quais, numa abordagem piagetiana (Oliveira, 1998), predomina o
prazer sobre o desprazer ou mal-estar, o relaxamento sobre a tensão, a espon-
taneidade sobre o comportamento coagido ou direcionado de fora para dentro.
Por sua vez, por envolverem regras, supõem o conhecimento destas, de forma
clara, objetiva e precisa, sabendo os participantes o que pode e o que não pode
ser feito durante o desenvolvimento do jogo.
Conjugando essas duas colocações, levanta-se a hipótese de que sua riqueza
talvez esteja justamente nesta complexa combinação entre ordem e ruído,
liberdade de ação com aceitação e cumprimento de regras, já que esses jogos
175
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
176
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicológico via jogos de regras
177
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
178
aprendizagem e desenvolvimento neuropsicológico via jogos de regras
179
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
180
12
Processamento cerebral na
resolução de quebra-cabeças
informatizados
Elsa Lima. Gonçalves Antunha,
Vera Barros de Oliveira
181
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
182
processamento cerebral na resolução de quebra - cabeças informatizados
183
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
184
processamento cerebral na resolução de quebra - cabeças informatizados
Todos esses passos intermediários parecem mais simples se tivermos bem claro para
nós, internamente, o fim que almejamos. Nessa trajetória, de utilização de meios
significativos para atingir um fim, vamos desenvolvendo uma metodologia de ação,
que se baseia na análise crítica do que vamos fazendo, identificando procedimentos
mais eficazes para abstrai-los e generalizá-los a situações similares.
Quanto mais experts ficamos na resolução de determinado tipo de problema,
mais seletivos nos tornamos. Para ficarmos tal, temos que, em primeiro lugar, segundo
o autor, ter bastante conhecimento do assunto, adquirido justamente em situações
prévias análogas. Esse conhecimento procedural, ou seja, o desenvolvimento de
um know-how eficiente, diz respeito a formas de agir mais lógicas e significativas,
selecionadas pela experiência crítica do vivido e pensado. Isso supõe a busca da
ação não aleatória, por ensaio e erro, mas, ao contrário, o desenvolvimento de um
procedimento intencional e seletivo, que reflete sobre as estratégias mal-sucedidas,
sobre os erros cometidos, procurando entender o que foi que não funcionou bem.
Nesse sentido, na resolução de um problema, é fundamental não perder de
vista o fim principal que se está buscando, para se conciliar as etapas entre si,
de forma sequencial. Desta forma, durante todo o percurso, combinar o passo
que se está dando no momento, com o objetivo maior do problema, buscando
fazer com que cada estratégia utilizada diminua a distância do fim desejado, o
que Simon denomina “análise dos significados x fins” (means-ends analysis). Daí
a importância do constructo interno inicial, deixando bem claro a finalidade a
ser alcançada, constructo este extremamente plástico, que vai desenvolvendo
seus mapas e redes de ação, conforme as experiências registradas pelo cérebro.
Anderson (2000) ressalta justamente a importância dessa atenção seletiva
em um comportamento complexo, que busca resolver um problema. Nessa
caminhada, é importante que o cérebro identifique não apenas os diferentes
passos que está dando, mas também as unidades de conhecimento que estão por
trás destes passos. Isto supõe identificar e selecionar as informações relevantes do
meio e de nossa experiência anterior (conhecimento declarativo) sobre o assunto.
Com base nesses dois tipos de informação (externa e interna) vamos procurar
resolver o problema, articulando-os sempre a nosso conhecimento procedural,
que diz respeito justamente à forma de proceder, às regras, à melhor maneira
de agir neste caso específico. O sistema vai analisar as informações relativas ao
assunto e decidir o que fazer. Essas decisões vão ser melhoradas ao longo da
185
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
186
13
Sono e aprendizagem
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle,
Eduardo L. Ribeiro do Valle,
Sueli Rossini,
Rubens Reimão
187
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
188
sono e aprendizagem
189
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
higiene do sono, nem sempre com sucesso, por não saber bem como lidar com
o problema. Com esse trabalho pudemos concluir que os professores não estão
preparados para prevenir e encaminhar problemas do sono. Conhecer sobre
os distúrbios do sono e sobre a importância dos cuidados com o sono poderá
permitir que investiguem possíveis problemas, encaminhando para avaliação
especializada, quando indicado. A falta de conhecimento contribui para que
os distúrbios do sono não sejam observados, diagnosticados e tratados, apesar
dos avanços científicos. São as pesquisas científicas e sua divulgação que podem
proporcionar conhecimentos para possibilitar tratamentos eficazes e qualidade
de vida. Os conhecimentos sobre o sono devem sensibilizar os profissionais de
saúde, para que atuem na orientação de pais e professores e possam ficar mais
atentos sobre o sono.
O sono não é um estado homogêneo: são dois estados distintos de sono.
Ocorrem movimentos rápidos dos olhos (Rapid Eye Movement — REM) durante
uma parte do sono sendo este chamado de sono REM. Ele ocupa apenas 20% do
tempo total de sono (TTS) de um adulto e o restante é chamado de sono NREM
(Não REM). Então, “o sono é uma condição especial ativa, gerado por regiões
específicas do cérebro, de ocorrências cíclicas, alternando-se entre atividade
menor (sono Não REM) e maior (sono REM), objetivando a manutenção da
vida” (Vilas Boas e Valladares, 2007). O sono é iniciado pelo estado NREM e os
estados NREM e REM se alternam. O estagiamento do sono é realizado pelo
registro de três tipos de variáveis fisiológicas: pelas atividades cerebrais através
do eletroencefalograma (EEG), pelo movimento ocular no eletroculograma
(EOG) e pela atividade muscular no eletromiograma (EMG). São essas variáveis
que possibilitam estagiar o sono REM e NREM. O sono NREM é composto
por quatro etapas, em grau crescente de profundidade, alguns especialistas
consideram a etapa zero ou estágio de vigília.
No primeiro estágio ocorre a transição entre o estado de vigília e o início
do sono. Começam a predominar as ondas teta, em lugar das ondas alfa e o
tônus muscular decresce, assim como o ritmo respiratório. Corresponde de
2% a 5% do TTS.
No segundo estágio há uma redução no grau de atividade dos neurônios
corticais e verifica-se a presença de ondas em forma de fuso (complexos K) e
menos 20% das ondas delta. Há também diminuição da temperatura do corpo,
190
sono e aprendizagem
I - Insônia
191
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
192
sono e aprendizagem
III - Hipersonias
193
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
V - Parassônias
194
sono e aprendizagem
Referências bibliográficas
195
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
196
14
O insucesso do aprendizado
Abram Topczewski
197
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
198
o insucesso do aprendizado
199
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200
o insucesso do aprendizado
201
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
203
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
alvo de caridade, já que grande parte dos deficientes físicos adquiria a deficiência,
geralmente em formas de mutilações, por atos de suposto heroísmo.
Atualmente, segundo censo divulgado em 2002, existem no Brasil 24,5
milhões de portadores de algum tipo de deficiência, de acordo com a Classifi-
cação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde — CIF.
Para estes quase 25 milhões de cidadãos, o que se busca não é mais uma
mera proteção, e sim a igualdade. Igualdade esta que é não é fruto natural da
concepção humana, mas, sim, da organização social. O homem não nasce igual
a outro, mas é preciso que a sociedade lhe dê ferramentas para igualá-lo aos seus
semelhantes. Neste sentido a igualdade deve ser buscada através de tratamento
desigual. Nos dizeres de Ruy Barbosa: “A regra da igualdade consiste senão
em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam”.
O princípio da igualdade que se consagrou com a Declaração de Indepen-
dência dos Estados Unidos da América e, posteriormente, com a Revolução
Francesa visa, em um primeiro momento, reconhecer a existência de direitos
inatos inerentes a todo ser humano e, em um momento seguinte, impossibilitar
desequilíbrios fortuitos ou injustificados.
Mas é preciso compreender que a igualdade não é natural do ser humano
ela resulta da organização social. Para o Jurista Pontes de Miranda “os homens
são desiguais, sendo obrigação do Estado Democrático e liberal diminuir
esta desigualdade”.
Joseph Barthémlemy afirmava que “o sentimento mais poderoso nas demo-
cracias é a igualdade. Passa a frente de todos os outros. É mais fácil privar um
povo de liberdade que de sua igualdade. Há consolo em ser escravo, quando todos
o são. Há resignação mesmo à miséria, uma vez que todo mundo nela esteja”.
Celso Antônio Bandeira de Mello ensina ainda que “A lei não deve ser fonte de
privilégios ou perseguições, mas instrumento regulador da vida social que neces-
sita tratar equitativamente todos os cidadãos. Este é o conteúdo político-ideológico
absorvido pelo princípio da isonomia e juridicizado pelos textos constitucionais
em geral, ou de todo modo assimilado pelos sistemas normativos vigentes”.
Assim, em um primeiro momento, deve-se acabar com a negação das
diferenças. É preciso que as diferenças sejam sim apontadas para que possamos
através delas conquistar a igualdade.
204
inclusão social
205
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Artigo 203, V, que garante, ao deficiente físico que não tenha condições de
prover sua manutenção, o recebimento de um salário mínimo.
Artigo 227, § 1º, II, que determina a criação de programas de atendimento
especializado, facilitando o acesso aos bens e serviços coletivos, através
da eliminação de preconceitos e barreiras arquitetônicas.
206
inclusão social
207
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
por um lado, muito já foi conquistado, por outro, ainda há muito há percorrer
para o alcance da igualdade social.
Referências bibliográficas
208
16
Brinquedos adaptados
para crianças com
necessidades especiais
Um convite à reflexão e à pesquisa
Aidyl Pérez-Ramos,
Cecília Pera
Introdução
209
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
210
brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais
211
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
212
brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais
de quem lhe cuida, tenta virar a cabeça quando lhe falam perto do seu ouvido,
como também reage, gesticulando, a odores e a toques sensíveis. Tem-se, sempre, a
considerar que as reações favoráveis aos estímulos, inclusive lúdicos, se apresentam
quando o bebê, nesses primeiros meses de vida, está desperto, com os olhos abertos
e atento, momento que é denominado “estado de alerta”.
Com algum controle do corpo, em especial da cabeça, o bebê vai ganhando
mais experiência com os órgãos do sentido e movimentação, o que é estimulado
por móbiles coloridos e sonoros, como também chocalhos atrativos. Assim, com
o seu crescimento e estímulos ambientais e brincadeiras, o bebê vai evoluindo
rapidamente. Por volta de três a quatro meses, “descobre” suas mãos e seus pés;
são eles, agora, os seus “brinquedos”; move-os, leva-os à boca e os solta, várias
vezes, também já ri, sorri e solta gargalhadas, especialmente, em resposta às
brincadeiras que lhe são dirigidas.
São estes os progressos mais comuns nos primeiros quatro meses de vida
para prosseguir com as aquisições próprias do quatro a oito meses. Ao mesmo
tempo que vai diferenciando e controlando os movimentos do seu tronco, braços
e pernas, poderá entreter-se com um brinquedo, por exemplo um chocalho
maleável e sonoro, apertando-o, sacudindo-o, levando-o à boca. Com essas
manipulações, descobrirá que o brinquedo que tem nas mãos poderá emitir
sons ao apertá-lo, o que estimulará a repetir várias vezes o movimento inicial,
para certificar-se da relação entre o ato de apertar e a emissão do som.
Nesses meses, também se apresentam importantes avanços na linguagem:
intensa vocalização, balbucio e seu significado, através de brincadeiras que o
bebê realiza consigo mesmo e das que os outros lhe proporcionam. Mais tarde,
é capaz de brincar de “esconde-esconde” (esconder e aparecer o rosto do adulto)
e encontrar um brinquedinho escondido na sua presença e ainda, atirá-lo de
diferentes maneiras.
No período seguinte, isto é, de oito a doze meses, progressos de importância
facilitarão ao bebê explorar mais o ambiente e entender algo mais sobre os
brinquedos, pessoas e também sobre o que passa ao seu redor. Além disso
adquirirá mais recursos para participar das brincadeiras e se comunicar com
os demais. Ele passa, gradualmente, da posição de engatinhar para a de ficar de
pé e a tentativas de caminhar sozinho. Seus braços e mãos encontram-se mais
firmes e com maior agilidade para explorar brinquedos como os de encaixe
213
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
214
brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais
selecionando os meios de que dispõe para esse fim. Assim, quando percebe
que não pode alcançar, por si mesmo, um brinquedo colocado na parte alta
de um móvel, procura uma cadeira e subindo nela, obtém o que deseja. Segue
visualmente o percurso que faz um brinquedo que atira, e indo procurá-lo,
pode utilizar um caminho, inclusive, mais curto, mostrando possuir noção
de espaço, e perceber o tempo que transcorre ao seguir o percurso de um
brinquedo que rola. As noções de causa-efeito são agora mais intensas e
diversificadas, como o puxar o carrinho para que role, tocar o tamborzinho
para seguir o seu ritmo etc. Tendo maior desenvoltura na motricidade,
interessa-se por andar de tricículo, mesmo que não pedale ainda; com três
dedos juntos pode rasgar papel, encaixar, unir peças e rabiscar. Percebe-se,
portanto, que nesta fase são agregados muitos elementos novos que facilitam
a criança utilizar os brinquedos de diversos modos, procurando tirar deles o
maior proveito possível em variadas atividades.
Pode-se afirmar que os brinquedos e as brincadeiras, quando apropriados,
constituem elementos fortemente estimuladores para o desenvolvimento
infantil, particularmente nos dois primeiros anos da criança. As conquistas
que ocorrem durante o processo evolutivo em apreciação são resultantes não
somente do seu crescimento, mas especialmente dos estímulos lúdicos criados
por ela própria e proporcionados pelas pessoas do seu ambiente. Por sua vez
as ajudam a entendê-la melhor, a identificar-se com ela e perceberem no seu
comportamento momentos de oportuna atuação.
215
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
216
brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais
Considerações finais
Espera-se que o presente trabalho traga uma nova mensagem para uma vida
saudável à criança com deficiência, desde os seus primeiros anos de existência,
com a utilização de estímulos lúdicos que lhe sejam apropriados. O uso dos
brinquedos adaptados, especialmente na primeira infância, requer a adoção de
total consideração pela criança, independente da deficiência e de sua intensidade
que ela possa sofrer, possibilitando-lhe ademais, desde cedo, convivência comum
com as pessoas isentas de tais distúrbios, sejam elas adultos ou crianças. Além
disso, o assunto que nos ocupa constitui um campo atrativo para a realização
de pesquisas, ainda pouco trilhado e de significativa importância. O trabalho
indica um caminho a percorrer, tanto na fundamentação teórica como nos
procedimentos de análise para adaptação dos brinquedos, ainda pouco conhe-
cidos devido à sua criação em tenra idade da criança.
Referências bibliográficas
217
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Fases evolutivas
Brinquedos 0-4 4-8 8-12 12-18 18-24
Chocalhos • • •
Móbiles • •
Capas de mamadeira • •
Pulseirinhas e tornozeleiras • • •
Boias para banheira •
Tapetes • •
Fantoches •
Família de bonecos •
Bolas • •
Capas de lápis • • •
218
brinquedos adaptados para crianças com necessidades especiais
219
QUADRO No 3 – Critérios para adaptação dos brinquedos em função dos tipos de deficiência, na
primeira infância
BRINQUEDOS DM DV DA DF
Sonoros e diferentes Maleáveis leves e
Chocalhos Poucos detalhes Coloridos e variados
formas coloridos
Diversos sons, aromas e Brilhantes, várias cores Maleáveis, com apoio
Móbiles Contornos simples
texturas e formas para puxar
Coloridas e com Diferentes texturas e Coloridas e materiais Coloridas e alças de
Capas de mamadeira
texturas relevos variados apoio para as mãos
Pulseirinhas e Cores variadas, sonoras Sonoras e diferentes Cores variadas e Sonoras, largas e bem
Tornozeleiras e largas texturas largas firmes
220
Contornos simples e Tridimensionais e Contornos variados e Tamanhos grandes e
Boias para banheira
coloridas sonoras coloridas suporte para manuseio
Figuras simples e Puxadores com objetos Materiais do cotidiano Figuras tridimensionais,
Tapete
destacáveis familiares coloridos e destacáveis maleáveis e coloridas
Formas bem definidas, Grandes, com várias
Fantochesm Figuras familiares Cores contrastantes
com particularidades cores
Membros bem Membros diferenciados
Família de bonecos Roupas coloridas Grandes e maleáveis
diferenciados por texturas
Grossas e diferentes Grossas, com texturas Grossa, pesadas com
Capas de lápis Coloridas e brilhantes
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
221
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Objetivo geral
222
a brincadeira simbólica na reabilitação psicomotora da criança hemiparética
Método
223
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
▶▶ Primeira intervenção.
▶▶ Reavaliação das participantes S. e G. por meio da EETP, em maio-junho
de 2003.
▶▶ Segunda intervenção.
▶▶ Avaliação final das participantes S. e G. por meio da EETP e das PFM,
em julho de 2003.
Resultados
224
a brincadeira simbólica na reabilitação psicomotora da criança hemiparética
. . . . .
225
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
tipos mais finos de preensão relacionados com atividades como pegar o lápis
para escrever e segurar objetos finos como um cartão telefônico.
Foi observado nas brincadeiras simbólicas que todos os participantes
apresentaram aumento da atividade motora espontânea (movimentos amplos
dos braços, pulo e corrida), maior concentração, evidenciada por uma redução
da atividade motora geral e maior precisão focal visuo-manual sobre os objetos,
o que sugere que este tipo de atividade esteja mais indicado no treino de
padrões motores finos. Foi constatado também aumento de envolvimento, o
que favoreceu a adequação do tônus postural, a coordenação e intencionalidade
dos movimentos gestuais observadas nesta pesquisa, o que comprova estudos
anteriores, durante a brincadeira simbólica há uma reorganização do campo
perceptivo e motor que se adapta à situação objetiva real, visando dar-lhe um
significado simbólico, como quando a criança segura e movimenta um bloco
de madeira “como se” ele fosse um carrinho.
Discussão
Conclusões finais
226
a brincadeira simbólica na reabilitação psicomotora da criança hemiparética
Referências bibliográficas
227
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
228
18
Leitura em surdos do ensino
fundamental ao médio:
processamento logográfico,
perilexical e lexical
Fernando Capovilla,
Alessandra G. Seabra,
Keila Viggiano,
Márcia Bidá,
Aline Mauricio
229
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
230
leitura em surdos do ensino fundamental ao médio
231
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
232
leitura em surdos do ensino fundamental ao médio
o teto de 70 pontos, o que sugere que o teste pode ser aplicado para além da
1a série do ensino médio, até provavelmente a conclusão do ensino superior.
Tais dados permitiram normatizar o TCLP1.1 por série escolar e validá-lo por
comparação com os resultados nos outros dez testes, também normatizados
para a mesma população. Além disso, o estudo ofereceu a versão TCLP1.2, em
que os 70 itens encontram-se reordenados por grau de dificuldade crescente.
Ofereceu, também, o modelo teórico de F. Capovilla sobre o processamento
de leitura em surdos que discute, dos achados presentes e da bibliografia, as
relações entre competências de leitura, escrita e sinalização.
Em termos de validade por critério de correlação com outros testes, os
resultados revelaram que a competência de leitura de palavras no TCLP1.1
esteve mais correlacionada com a competência de leitura de sentenças e com a
habilidade de nomear figuras (quer por escolha, quer por escrita), do que com
a habilidade de nomear sinais (quer por escolha, quer por escrita), e com esta
do que com o vocabulário receptivo de sinais, ou seja, a competência de leitura
de itens isolados (isto é, palavras e pseudopalavras) esteve mais correlacionada
com as competências de leitura e de escrita de nomes de figuras do que com as
de nomes de sinais, e com estas do que com a compreensão de sinais da Libras.
O estudo também identificou diferenças entre leitores surdos e ouvintes
quanto ao padrão de acerto nos subtestes, revelando peculiaridades do
processamento ideovisual, perilexical e semântico dos estudantes surdos.
Analisando a distribuição de acertos nos subtestes por 628 surdos de 1a a 8a
série e comparando-a à distribuição de acertos de mil leitores ouvintes de 1a a
3a série, foi encontrado que o padrão de escores dos surdos (isto é, [VS = 8,4] >
[PE = 8,0] > [PH = 7,4] > [VF = 6,5] > [VV = 6,0]) difere de modo marcante do
padrão dos ouvintes (isto é, [PE = 9,2] > [VS = 8,8] > [VV = 7,9] > [VF = 6,9] >
[PH = 5,9]). As discrepâncias entre os padrões são reveladoras:
1) Leitores ouvintes detectaram corretamente VV mais que PH e VF (isto
é, deixando-se enganar mais pela semelhança fonológica), já leitores surdos
detectaram corretamente mais PH e VF que VV (isto é, deixando-se enganar
mais pela semelhança visual);
2) Leitores ouvintes detectaram corretamente mais VF que PH (isto é,
deixando-se enganar mais pela homofonia que pela semi-homofonia), já leitores
surdos detectaram corretamente mais PH que VF;
233
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
234
leitura em surdos do ensino fundamental ao médio
Referências bibliográficas
235
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
236
19
Letramento e surdez:
questões em aberto
Zilda Maria Gesueli
Introdução
1
Optamos por utilizar o termo letramento, que vai muito além da alfabetização, pois
este se dá pelas possibilidades de aprendizagem que realizamos através das diversas
formas de leitura, e não pela mera decodificação letra/som. Segundo Kress, o processo
de significação, característico do letramento, depende dos signos e valores disponíveis
para o sujeito, ou ainda, o sujeito utiliza o que estiver à mão, “transforma-o e por sua vez é
transformado no processo” (Kress, 1997, apud Souza, 2001. p. 178).
237
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Surdez e letramento
238
letramento e surdez : questões em aberto
2
O software HagáQuê foi desenvolvido no Instituto de Computação da Unicamp sendo
tema da Dissertação de Mestrado de Eduardo Tanaka sob a orientação da Profa. Dra.
Heloísa Vieira Rocha e pode ser obtido no endereço: http:/pan.nied.unicamp.br/~hagaque/
3
Atualmente já encontramos estudos da escrita da língua de sinais (Quadros, 1997;
Capovilla e Raphael, 2001) mas que não invalidam o ensino do português. Estas pesquisas
estão sendo desenvolvidas também por pesquisadores surdos que visam introduzir no
ensino para surdos a escrita da língua de sinais (Campos, 2002a e 2002b; Quadros, 2000;
Stumpf e Quadros, 2000). Estas iniciativas são extremamente válidas, pois na área da
surdez muito ainda deve ser feito na busca de um caminho mais promissor no ensino
para surdos.
239
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
4
O projeto de pesquisa intitulado “As Relações entre a Língua de Sinais e a Escrita do
Português na elaboração de HQs Eletrônicas” de no 0988/02, desenvolvido pela autora foi
aprovado pelo Comitê de Ética e contou com financiamento do Fundo de Apoio e Pesquisa –
FAEP da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
240
letramento e surdez : questões em aberto
241
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
242
letramento e surdez : questões em aberto
Figura 19.2 – Produção de B.
5
Algo similar parece acontecer com o uso da conhecida linguagem “internautês” pois o
aluno usa “vc” para referir-se a “você’. Essa linguagem constitui-se, além de abreviaturas,
por símbolos denominados emoticons (McCleary, 1996) que nada mais são do que
recursos visuais que acompanham a escrita e que expressam os sentimentos daquele
que escreve: raiva, alegria, dúvida, sendo comumente utilizados em contextos de
interação mediada por computador.
243
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
244
letramento e surdez : questões em aberto
Considerações finais
6
Veja Souza (2001) sobre o significado dos desenhos na prática escrita multimodal da
comunidade indígena Kaxinawá.
245
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
246
letramento e surdez : questões em aberto
247
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
248
20
Necessidades emocionais
na surdez segundo avaliação
de autoconceito
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
Visão histórica
Até o fim do século 19, a língua de sinais foi utilizada em todo o mundo.
A partir dessa época, a perspectiva de ensinar o mudo a falar, estimulada pelas
249
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
250
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
251
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
252
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
253
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
A comunicação dos pais com a criança surda é essencial por serem os prin-
cipais interlocutores da criança. Há necessidade de eliminar os danos cognitivos
ou emocionais decorrentes de um atraso na linguagem. Os demais profissionais
devem perceber a importância da comunicação para as relações sociais e a língua
de sinais pode facilitar os diálogos entre os surdos e facilitar a aprendizagem,
permitindo o desenvolvimento cognitivo que irá interferir favoravelmente em
outras aquisições, como uma segunda língua. A aquisição espontânea da Libras
numa idade semelhante à que as crianças ouvintes adquirem a língua oral evita o
atraso de linguagem e suas consequências, em nível de percepção, generalização,
formação de conceitos, atenção, memória, na evolução das brincadeiras e na
educação escolar, principalmente se a escola utilizar a língua de sinais como
principal instrumento linguístico no ensino dessas crianças, para que possam
entender a língua de seu país e posteriormente se comunicar pela aprendizagem
da leitura e escrita.
A escrita é uma função linguística distinta, que difere da fala oral, tanto na
estrutura como no funcionamento e exige um alto nível de abstração. Enquanto
a fala interior é condensada e abreviada, a escrita é mais completa do que a fala
oral. É da participação na compreensão e expressão pessoal que se consolida
a possibilidade de perceber a si mesmo na comunidade, estabelecendo o auto-
conceito, que se busca analisar nesse trabalho com alunos surdos.
O objetivo geral desta pesquisa foi contribuir para a integração do defi-
ciente auditivo na sociedade, compreendendo suas necessidades especiais na
aprendizagem e no relacionamento interpessoal. O estudo foi realizado para
compreender aspectos socioemocionais da experiência do portador de defici-
ência auditiva tomou lugar em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, numa
escola de atendimento para surdos.
A Escola de Surdos “Dr. Tarso de Coimbra” — ESTARC foi fundada em
5 de setembro de 1959, por um grupo de senhoras da sociedade de Poços de
Caldas. A escola tem uma diretoria com o objetivo de promover eventos em
seu benefício e resolver assuntos ligados ao seu estatuto e passou a ser mantida
pela Prefeitura Municipal em 6 de outubro de 1987. Em 1992, a presidência da
escola passou a ser da coordenadora do Bem-Estar Social.
A escola funciona em três turnos. Os alunos dos cursos diurnos frequentam
o ensino regular.
254
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
255
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Fora do ensino
Professora Alunos Ensino regular
regular
Cláudia 6 5
Taíse 8 6 2 APAE
Regina 6 5 1 não estuda
Maria José 9 9
Marli 10 6 4 não estudam
Elisete 8 1 7 não estudam
Tabela 1
256
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
Resultados
257
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Pontuação Pontuação
Aspecto social
masculina feminina
confiança de amigos 10 21
autocontrole 9 10
rancor 13 6
sociabilidade 26 23
fofoca 20 10
compreensão 10 19
Tabela 3 – Aspecto social
No aspecto físico os sujeitos mostram aceitar sua aparência física, assim como
dedicar cuidados a esse aspecto, embora, de modo geral, tivessem alguma crítica com
relação a alguma parte do corpo: alguns rapazes gostariam de ser mais musculosos
ou mais altos, algumas moças prefeririam ter mais busto ou formas mais bem
delineadas. Ainda assim, atingem o máximo da pontuação algumas vezes.
258
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
Caráter M. F.
pessoa má 28 21
honestidade 28 27
moral 24 19
mal procedimento 18 14
impulsividade 6 18
reconhecer erros 22 27
amizade 30 28
responsabilidade 16 14
valor pessoal 21 10
autoaceitação 20 14
autodesprezo 21 16
falta de jeito 17 18
sol. de probl. 14 16
neg. de probl. 14 7
meios ilícitos 18 9
instabilidade 10 8
Tabela 5 – Características pessoais
Conclusões finais
259
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
260
necessidades emocionais na surdez segundo avaliação de autoconceito
do sinal como ponte entre sinal e escrita alfabética, está longe de acontecer na
região. Apesar disso, há tendência a um aumento no uso dos sinais pela ESTARC
e pelas famílias, que já se pôde verificar após mudanças na direção da ESTARC,
animando as expectativas de satisfação e eficiência no desempenho dos surdos,
em função da constatação de trabalhos que apontam a importância da Libras
na realização das necessidades dos surdos (Capovilla, 2003).
As necessidades emocionais dos surdos, verificadas no teste, esbarram
na carência de contatos efetivos e de mais trabalhos que possam popularizar
a comunicação dos surdos, de forma a levar a sociedade ouvinte a abrir-lhes
espaço para sua linguagem natural, com igualdade de condições para uma
expressão espontânea e para o desenvolvimento de seu potencial.
Referências bibliográficas
261
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
262
21
Projeto mais:
prevenção e inclusão social
na aprendizagem
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
263
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
264
projeto mais : prevenção e inclusão social na aprendizagem
265
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
266
projeto mais : prevenção e inclusão social na aprendizagem
1 - E. Fund.
45.688
(91%)
2- E. Medio
4.756 (9%)
Figura 21.1
267
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
268
projeto mais : prevenção e inclusão social na aprendizagem
269
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Quando conduzir uma pessoa cega não a empurre para a frente. Convém perguntar
ao cego se quer ser ajudado e como.
270
projeto mais : prevenção e inclusão social na aprendizagem
Referências bibliográficas
271
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
272
22
Percepção e autismo
Francisco B. Assumpção Jr.
273
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
a compreensão dos próprios estados mentais, bem como o dos outros (Povinelli
e Preuss, 1995), uma vez que seria ela que permitiria as interações sociais que
envolvem o atribuir estados mentais, como crenças e desejos, a outras pessoas
(Baltaxe, 1976). Entretanto, ele pode ser pensado também enquanto uma forma
diferente na percepção dos inputs sensoriais que lhe chegam, sejam eles das mais
diferentes categorias e que, processados de maneira própria, proporcionariam a
construção diferente de seu mundo e de seu relacionar-se com os outros.
Dessa maneira, a percepção seria integrada de maneira não usual, o que
justificaria alguns dos sintomas clinicamente observados.
Tradicionalmente podemos distinguir diferentes sistemas sensoriais como
visão, audição, olfato, gustação, tato e sistema vestibular. Entretanto, podemos
tentar incluir ainda a percepção de espaço (dependente de aspectos visuais) e a
de tempo (dependente de aspectos visuais e auditivos).
Como seria extremamente complexo delinear todas essas questões,
tentaremos abordar alguns desses aspectos, em função do trabalho de nosso
grupo, trabalho esse que vem sendo desenvolvido já há alguns anos e que aqui
tentaremos encadear de maneira que duas categorias avaliadas possam ser
encadeadas em uma terceira mais complexa envolvendo as duas anteriores.
Assim, um dos mais discutidos e estudados aspectos no autismo é a
percepção da expressão facial, uma vez que ela é um meio comunicacional
importante, que permite a percepção de informações vitais que caracterizam
esses estados e atributos mentais (Davies et al., 1994). Sua identificação é realizada,
não somente enquanto identificação classificatória e generalizada, mas como
uma identificação particularizada e, assim, a identificação de objetos genéricos é
mais simples que a de indivíduos específicos, ou seja, a habilidade de classificar
é mais simples que a de identificar (Ullman, 1997), sendo a primeira condição
básica para o estabelecimento da segunda. Entretanto, mesmo considerando-se
a presença da primeira, não necessariamente observamos a segunda, o que nos
permite compreender parcialmente, algumas das dificuldades observadas em
indivíduos autistas. Algumas pessoas que se enquadram nesse espectro são
descritas como apresentando prosopagnosia, que pode ser referida como uma
dificuldade no reconhecimento facial (Bogdashina, 2003; Pietz et al., 2003),
sugerindo-se mesmo que seja um sintoma capital nos quadros autísticos, com
alguns autores (Keenan, 1973) referindo que a presença de prosopagnosia em
274
percepção e autismo
275
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
já podem adaptar a mensagem àquilo que a pessoa que escuta sabe ou não, e
responder adequadamente às reações ou respostas daquele que ouve (Furrow,
1984; Mueller et al., 1977). Para isso, a compreensão de algumas expressões
faciais básicas faz-se necessário.
Crianças com atraso de linguagem (Room e Bliss, 1981) e com Síndrome
de Down (Coggins et al., 1983) mostram atividade de linguagem com fina-
lidade comunicativa, bem como adolescentes portadores de retardo mental
(Bedrosian, 1978; Longhurst, 1974; Price-Williams e Sabsay, 1979). Nas
crianças e adolescentes portadores de autismo, essa finalidade comunicativa
parece encontrar-se prejudicada em todos os seus níveis, independentemente
do retardo mental associado. Esse déficit na compreensão e na decodificação
das manifestações emocionais do outro pode contribuir para o entendi-
mento da dificuldade empática descrita usualmente nos portadores de
autismo (Attwood, 1998). Entretanto, é importante percebemos que, além
das dificuldades no reconhecimento facial, alterações em outros aspectos
não verbais também estão presentes e, embora não possam ser considerados
como característicos do quadro, uma vez que podem ocorrer em algumas
outras variedades de retardo mental, podem ser vistas como a base do processo
comunicativo e relacional falho (Trevarthen et al., 1997).
Uma teoria cognitiva de compreensão do autismo supõe que a capacidade
para metarrepresentações esteja comprometida nesta síndrome. Dessa maneira, a
habilidade para mentalizar ou utilizar metarrepresentações (teoria da mente) não
se manifesta desde o nascimento nem se adquire através da aprendizagem, mas se
desenvolve de acordo com o crescimento da criança. Tal fato reforça nossas ideias,
fazendo-nos supor que a capacidade de decodificar as expressões faciais dependa
de aspectos específicos de seu desenvolvimento, e não de seu desenvolvimento
cognitivo global. Vários estudos reforçam essa nossa ideia (Peteers, 1977), referindo
que essa população não possui habilidade inata para o reconhecimento facial
observada em crianças normais ou mesmo que sejam capazes de reproduzi-las,
mesmo através do aprendizado, com uma dificuldade maior, principalmente na
observação dos olhos. Dois outros estudos (31), que avaliam emoções através da
expressão facial, encontraram comprometimento em amostra de pacientes autistas,
no reconhecimento da expressão facial através de fotografias, embora esse déficit
não fosse independente do comprometimento linguístico.
276
percepção e autismo
277
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
278
percepção e autismo
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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percepção e autismo
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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percepção e autismo
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
284
percepção e autismo
285
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
286
23
Narrativas sobre a formação
de vínculo com autistas
Maria Helena Cirne de Toledo
Introdução
Desde muito antes de poder me pensar como profissional, talvez até mesmo
como indivíduo, a questão da pessoa com necessidades especiais ocupava um
lugar privilegiado em minhas “preocupações”. Ainda criança, era levada a
pensar porque estes indivíduos tinham todos algo em comum e que, em minha
fantasia infantil, traduzia-se por um “estar-amarrotado-por-dentro”, como se
a “personalidade” do indivíduo fosse também deficiente.
Durante anos esta era a fantasia que me ocorria nas poucas vezes em que
me deparei com pessoas com necessidades especiais. Junto com isto, surgia
um sentimento de onipotência, a fantasia de que seria possível “desamarrotar”
estas pessoas, permitir que florescessem enquanto individualidades e que a
“deficiência” se descolasse do psiquismo, restringindo-se ao físico ou ao intelecto
ou ainda aos aspectos sensoriais.
Durante os anos de graduação e o período em que trabalhei com Psicologia
Organizacional, esta temática se esvaeceu. No entanto, há cerca de 15 anos voltei
287
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
minha atenção para a área clínica, o que me levou a buscar formação específica
na área da psicanálise, período em que a questão da deficiência retornou com
muita força, voltando minha atenção para a questão das crianças autistas
portadoras de psicoses infanto-juvenis.
Este fato determinou minha ida até o CIAD/PUC-Campinas que é um
centro de extensão da Universidade e que tem como missão a facilitação da
inclusão social de pessoas com necessidades especiais. Este trabalho foi desen-
volvido no CIAD, ao longo dos anos de 1999 e 2002.
A escolha do tema autismo provoca em mim empolgação mediada pela
afetividade, não existindo medo nem afastamento. Ao contrário, mobiliza
dentro de mim um sentimento de onipotência, que faz com que acredite que
posso ajudar esses indivíduos no seu desenvolvimento pessoal, facilitando o
surgimento do vínculo afetivo. A enorme dificuldade de contato social dos
autistas põe em relevo o desenvolvimento do vínculo, quando este se estabelece,
possibilitando o estudo de sua natureza. A formação do vínculo preconizado
por Pichon-Rivière (2000) ocorre em níveis não verbais, o que determinou a
escolha do instrumento de parte de minha pesquisa, qual seja a filmagem em
vídeo, utilizado como tentativa de superar minha dificuldade de traduzir
em palavras o processo de instauração do vínculo. A realização do vídeo seria
a substituição das palavras por imagens, num processo também não verbal.
O CIAD
288
narrativas sobre a formação de vínculo com autistas
A psicanálise e o autismo
289
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
(1991, 1994) tiveram uma compreensão do autismo como uma defesa contra a
fragmentação ou o desmoronamento, fosse pela impossibilidade de lidar com a
separação, fosse como impossibilidade de diferenciar estímulos vindos de dentro
ou de fora do corpo, fosse pela fantasia de que a união levava ao aniquilamento.
Outros autores (Levin, 2001; Jerusalinsky, 1993; Kupfer, 2000a) conceberam
o autismo como sendo uma falha da função materna, na qual a mãe ficava
impossibilitada de investir libidinalmente no bebê, cujo corpo apenas podia
sair de sua condição de organismo biológico, se houvesse quem o pilotasse em
relação ao mundo humano e dirigisse seus atos além dos reflexos, dando-lhes
sentido, ou seja, à mãe cabia, no desempenho da função materna, desenhar
com o olhar o mapa libidinal do corpo do filho. Lasnik-Penot (1997) também
enfatizava a função materna, cuja capacidade de “ilusão antecipatória” possi-
bilitava a constituição do sujeito.
Pessoalmente, penso como Levin (2001), Jerusalinsky, (1993) e Kupfer,
(2000a, b) que o autismo é consequência de uma possível falha na capacidade
materna de investir libidinalmente no bebê, de desenhar com o olhar o mapa
libidinal do corpo do filho. Falha que pode ser provocada pela impossibilidade
de reconhecer o bebê “diferente” como filho, como herdeiro de seu narcisismo
primário (Freud, 1974). Acredito ser muito difícil para a mãe investir libidinal-
mente num bebê que ela reconhece como “diferente”, que a todo momento suscita
nela culpa e ressentimento. Talvez isto leve a mãe a colocar este bebê num lugar
de exclusão (Jerusalinsky, 1993; Levin, 2001), lugar em que, inapelavelmente, o
grupo social também o irá colocar, provocando vergonha na família da criança
autista e a perda do status social (Telford e Sawrey, 1988). Todo este quadro
possivelmente impeça que a mãe possa antecipar um significado tanto nos sons
quanto nos comportamentos emitidos pelo bebê (Laznik-Penot, 1997) ou que
possa antecipar uma existência subjetiva em seu filho (Kupfer, 2000a). Ao longo
do tempo em que tenho trabalhado no CIAD tenho visto sistematicamente os
autistas apresentarem um déficit em seu esquema corporal, o que acredito seja
consequência da ausência do investimento libidinal materno no corpo do autista,
corpo que permanece precariamente como um organismo biológico, para o qual
mesmo a dor física pode ser desconhecida. Por sua vez, quando a mãe sofre uma
depressão ou outra perturbação, fica impossibilitada de investir libidinalmente no
corpo do filho. O que possivelmente dê origem ao “corpo mudo”, denominação
que encontrei para tentar explicar a falta aparente de significados nos gestos
290
narrativas sobre a formação de vínculo com autistas
e sons emitidos pelos autistas e na expressão corporal, fazendo com que sua
comunicação, sobretudo a não verbal, se encontre profundamente comprometida.
Além disso, tal como Amy (2001), acredito que seja de suma importância que
nós profissionais possamos acolher os pais de autistas, dando a eles um “modelo
a ser seguido”. Ainda como Amy, acredito que os irmãos eventualmente possam
suportar melhor o inconsciente atormentado da criança autista mesmo que em
algumas ocasiões se vejam incomodados pela vergonha provocada pelas atitudes
e comportamentos daquela. Eventualmente o fato de não terem expectativas a
respeito do irmão e poderem mais facilmente impor um significado aos sons e
gestos emitidos pelo autista permita uma maior compreensão. Funcionamento
similar ao dos estagiários do CIAD, que não têm expectativas do trabalho com
os autistas nem teorias a serem seguidas, o que lhes permite usar apenas de suas
características pessoais, de sua qualidade de “macio” e de usarem livremente a
própria criatividade. Parece-me, aliás, que foi da mesma forma que me aproximei
dos autistas, sem teorias que me aprisionassem nem caminhos preestabelecidos
para serem seguidos. O que ainda me surpreende e faz com que seguidamente
rejeite o título de especialista e me veja antes como alguém que se descobre diante
de uma porta inesperadamente aberta, aí onde antes não havia sequer uma fresta.
Se o autismo é uma patologia da relação, e se instala precocemente, então o
trabalho com os autistas deve privilegiar o resgate da relação primitiva mãe-bebê
e os estagiários devem ter disponibilidade interna para com essas crianças, uma
atitude de “maternalização” (Sayers, 1992) que leve o estagiário a se identificar
com o autista, parceiro de sua dupla.
Minha intuição, baseada na prática, me permite identificar que estagiários
possuem a característica pessoal que denominei “macio” (entendendo-se aqui
macio como algo que não risca o objeto, que apara arestas, que absorve parcial
ou totalmente o impacto) e convidá-los a desenvolver o trabalho com os autistas
e a fazer às vezes da “mãe de veludo”, parodiando a pesquisa de Harlow e Suomi
(citado por Mussen e outros, 1997).
O conhecimento da natureza do vínculo e, sobretudo seu desenvolvimento
enquanto relação privilegiada é o objetivo último deste trabalho. O estudo
de uma possível sistematização da formação do vínculo entre estagiários do
CIAD/PUC-Campinas e uma garota autista colocou-se, portanto, como o tema
principal do trabalho.
291
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Método
Várias ideias se passaram na minha cabeça antes que pudesse chegar a ponto
de apresentar um estudo de caso de uma menina autista, caso que me pareceu
emblemático do autismo. Pensei inicialmente em realizar um vídeo que regis-
trasse cenas nas quais pudesse identificar movimentos na direção da formação
de vínculos, vídeo que seria realizado durante as atividades das quais a menina
autista participava, mas também do grupo de autistas vinculados ao CIAD com os
quais a menina trabalhava. Vídeo que deveria utilizar a linguagem cinematográfica
para tratar da questão do autismo. O primeiro empecilho sério para a realização da
pesquisa neste formato foi o fato de que não domino a linguagem cinematográfica,
ainda que me pareça que penso melhor sob a forma de quadros, cenas. O vídeo
também me pareceu um recurso extremamente interessante, já que estava me
propondo a falar da formação de vínculos, o que me parece, pode ser percebido
através da comunicação não verbal, o que vale dizer através de imagens.
Assim, optei por analisar uma sequência de cenas do vídeo para ilustrar o
trabalho que desenvolvo no CIAD e exemplificar claramente minhas ideias sobre
o estabelecimento do vínculo. Por sua vez, ao mesmo tempo, tive acesso ao relato
escrito feito pela mãe da menina, sob meu pedido, bem como pude orientar esta mãe
ao longo dos quatro anos em que sua filha frequentou o CIAD, pude entrevistar o
psiquiatra que atendeu a menina durante uma década e realizar supervisões cons-
tantes com os estagiários que trabalhavam com a menina autista. Os participantes
deste estudo de caso foram uma menina autista de cerca de 11 anos, os estagiários
do CIAD que trabalharam com ela no decorrer de 2000 e eu como supervisora.
Considerações finais
292
narrativas sobre a formação de vínculo com autistas
geral, uma vez que respondia às tentativas de aproximação física dos outros com
comportamentos agressivos ou autolesivos. Além disso, em torno dos dois anos,
a menina deixou de ter uma comunicação verbal e não verbal com o ambiente.
Quanto a seus interesses, elegia um único brinquedo como o preferido por
longos períodos, ficando muitas vezes diante da televisão fitando a tela “com
chuvisco”, sem qualquer imagem ou som compreensível ou ainda rasgando
revistas e enrolando os pedaços de papel entre os dedos.
Do ponto de vista psicanalítico, possivelmente a menina tenha vivenciado
o afastamento de sua mãe durante o período em que ficou internada no hospital
em torno dos dois anos de idade como um trauma, cuja consequência teria sido
a regressão a organizações mentais muito primitivas, com defesas muito carac-
terísticas, as quais alguns autores chamam de “autismo secundário” (Amy, 2001).
A mãe da menina, por sua vez, viveu longos períodos de depressão, nos quais,
reconhece, ficou impedida de se envolver emocionalmente com a filha (Tustin,
1991, 1994; Meltzer, 1984). A par deste fato, a mãe descrevia a filha como um bebê
que dormia muito, a quem era preciso acordar para mamar, um bebê diferente.
O que possivelmente tenha contribuído para que a relação mãe-bebê se tenha
alterado, provocando o que chamaria de curto-circuito na relação, provocando
uma falha na capacidade materna de investir libidinalmente no bebê (Levin, 2001;
Jerusalinsky, 1993; Kupfer, 2000). Ao longo do tempo tenho buscado respaldar
o trabalho que desenvolvo no CIAD em diferentes autores. No entanto, a teoria
dá conta de uma vertente da questão parecendo no tanto descrever uma cena
inanimada. Minha visão sobre o autismo é a de que ocorre um curto-circuito
na relação mãe-bebê, o qual produziria um corpo mudo. Para que o corpo fale, é
preciso despertar uma centelha através do vínculo pessoa-pessoa. O que me levou a
utilizar a teoria do vínculo como um critério operacional, que funciona como um
instrumento de trabalho importantíssimo, que me permite abordar o indivíduo
autista de maneira dinâmica e compreendê-lo. A partir do momento em que
estabelece um vínculo de eleição com os estagiários do CIAD, o autista permite
o acesso à sua mente, fornecendo uma alavanca “terapêutica” insubstituível, que
possibilita o surgimento de um processo de comunicação e de aprendizagem.
O vínculo no CIAD começa por aspectos sensoriais (cheirar, tocar) e posterior-
mente se torna prazeroso e não ameaçador, uma vez que os autistas não têm de
desenvolver atividades preestabelecidas, o que poderia ser vivenciado como algo
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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narrativas sobre a formação de vínculo com autistas
Referências bibliográficas
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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Teste de Competência
de Leitura Silenciosa
de Palavras (TCLP) para
avaliação coletiva em sala
de aula e de crianças com
paralisia cerebral
Fernando César Capovilla,
Luciana F. Marcílio,
Alessandra G. Seabra
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teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
Há também oito itens de treino para ilustrar os sete tipos de item. São eles:
1) Palavra UVA sob figura de uva. Trata-se de exemplo de treino envolvendo
item do Tipo 1 (CR: Correta Regular), ou seja, palavra ortograficamente
correta, semanticamente correta e grafofonemicamente regular, a ser aceita;
2 e 3) Palavras CASA sob figura de casa, e CHAVE sob a figura de chave.
Trata-se de dois exemplos de treino envolvendo itens do Tipo 2 (CI: Corretas
Irregulares), ou seja, palavras ortograficamente corretas, semanticamente
corretas e grafofonemicamente irregulares, a serem aceitas; 4) Palavra
LARANJA sob figura de banana. Trata-se de exemplo de treino envolvendo
item do Tipo 3 (VS: Vizinha Semântica), ou seja, palavra ortograficamente
correta mas semanticamente incorreta, a ser rejeitada; 5) Pseudopalavra
CADEIPA sob figura de cadeira. Trata-se de exemplo de treino envolvendo
item do Tipo 4 (VV: Vizinha Visual), ou seja, pseudopalavra ortograficamente
incorreta, com trocas visuais, a ser rejeitada; 6) Pseudopalavra JUVEIRO sob
figura de chuveiro. Trata-se de um exemplo de treino envolvendo item do
Tipo 5 (VF: Vizinha Fonológica), ou seja, pseudopalavra ortograficamente
incorreta, com trocas fonológicas, a ser rejeitada; 7) Pseudopalavra JÊNIU
sob figura de gênio. Trata-se de um exemplo de treino envolvendo item do
Tipo 6 (PH: Pseudopalavra Homófona), ou seja, pseudopalavra ortografi-
camente incorreta, embora homófona a palavra semanticamente correta,
a ser rejeitada; 8) Pseudopalavra PAZIDO sob figura de xarope. Trata-se
de um exemplo de treino envolvendo item do Tipo 7 (PE: Pseudopalavra
Estranha), ou seja, pseudopalavra ortograficamente incorreta e estranha,
tanto fonologicamente quanto visualmente, a ser rejeitada.
A Figura 24.1 ilustra sete pares compostos de figura e item escrito, que
exemplificam cada um dos sete tipos de pares que compõem a versão original do
Teste de Competência de Leitura de Palavras (TCLP1.1). Conforme ilustrado pela
figura, no teste há dois tipos de pares corretos a serem aceitos, como a palavra
grafofonemicamente regular FADA e a grafofonemicamente irregular TÁXI.
Há também cinco tipos de pares incorretos a serem rejeitados, como a palavra
rádio que, sob a figura de um telefone, é semanticamente incorreta; e as quatro
pseudopalavras: A homófona jêniu, a pseudo-homófona com troca fonológica
máchico, a pseudo-homógrafa com troca visual teieuisão, e a pseudopalavra
estranha meloce que permite controlar o efeito da atenção à tarefa.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
302
teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
que tem dificuldade. Assim, esse padrão tem elevado valor informativo para
caracterizar a natureza particular da dificuldade de leitura de determinado
examinando. Contudo, essa caracterização de diferentes tipos de dificuldade
requer que o padrão de erros exibido pela criança se configure de modo
confiável e estatisticamente significativo.
Como descrito por A. Capovilla e F. Capovilla (2003a) e F. Capovilla e
A. Capovilla (2001b), o insucesso na aceitação de palavras corretas grafofo-
nemicamente irregulares (isto é, Tipo 2-CI) pode indicar dificuldade com o
processamento lexical (ou falta dele). Do mesmo modo, o insucesso na rejeição
de pseudopalavras homófonas (isto é, Tipo 6–PH) pode indicar a mesma
dificuldade com o processamento lexical (ou falta dele) num nível ainda mais
acentuado, com uma leitura mais limitada à decodificação fonológica. Quando
um examinando ouvinte já tem pelo menos 9 anos de idade e já foi bastante
exposto a textos, se ele deixar de rejeitar pseudopalavras homófonas, isso indica
que ele está lendo pela rota fonológica, isto é, por decodificação grafofonêmica
estrita, sem fazer recurso à rota lexical. Se ele fizesse recurso ao léxico ortográfico
e encontrasse nesse léxico as palavras ortográfica e semanticamente adequadas
às figuras (p. ex., pássaro, sinal, gelo, almoço, hospital, CHAPÉU, MENINO,
táxi, homem, boxe), ele seria capaz de identificar as malformações ortográficas
das pseudopalavras homófonas e não teria dificuldade em rejeitar essas pseu-
dopalavras. A falha em rejeitá-las sugere falta de representação apropriada no
léxico ortográfico, quer por exposição insuficiente à leitura, quer por dificuldade
de leitura. Um pouco mais sério é o insucesso na rejeição de pseudopalavras
com trocas fonológicas (isto é, Tipo 5-VF), que poderia indicar a mesma falta de
recurso ao léxico, mas com o agravante de dificuldades adicionais no próprio
processamento fonológico. Já o insucesso na rejeição de palavras semantica-
mente incorretas (isto é, Tipo 3-VS) poderia indicar falta de acesso ao léxico
semântico. Ainda mais sério, o insucesso na rejeição de pseudopalavras com
trocas visuais (isto é, Tipo 4-VV) poderia indicar dificuldade com o processa-
mento fonológico e recurso à estratégia de leitura logográfica. Finalmente, o
insucesso na rejeição de pseudopalavras estranhas (isto é, Tipo 7-PE) poderia
indicar sérios problemas de leitura, com ausência de processamento lexical,
fonológico e, mesmo, logográfico. Alternativamente, essa falha em rejeitar
pseudopalavras estranhas também poderia sugerir problemas com a atenção
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Método
Participantes
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
distribuição das crianças por nível escolar, sexo e fornece a média de idade das
crianças em cada série escolar.
Instrumento
O TCLP, com seus setenta itens, foi aplicado coletivamente em sala de aula
em uma única sessão para cada turma.
Resultados
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teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
série escolar revelou efeito significativo, F (2, 113) = 12,16, p < 0,000. Análises
de comparação de pares de Bonferroni revelaram que a frequência de erros na
3ª série (5,20) foi significativamente menor que na 1a (10,90) e 2a séries (8,43).
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
Considerações finais
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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teste de competência de leitura silenciosa de palavras ( tclp )
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Grégoire, J., & Piérart, B. (Orgs.). Avaliação dos problemas de leitura: Os novos
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322
25
Prova de Consciência
Fonológica por Escolha
de Figuras (PCFF) para
avaliação coletiva em sala
de aula e de crianças com
paralisia cerebral
Fernando César Capovilla,
Luciana F. Marcílio,
Alessandra G. Seabra
Uma das mais importantes características que distingue a maior parte das
crianças que fracassam em aprender a ler é a baixa habilidade metafonêmica,
também chamada de consciência fonêmica. Trata-se da consciência de que
a fala pode ser concebida como um fluxo no tempo de um certo número
limitado de fonemas que se combinam e recombinam em diferentes ordens
conforme regras convencionais compondo diferentes palavras faladas, e que
esses fonemas podem ser convertidos em seus grafemas correspondentes num
mapeamento de ordem conforme a sequência tempo-espaço (da esquerda
para a direita na linha, e de cima para baixo entre linhas), e com lacunas para
323
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
324
prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
aquela cujo nome falado termina com os mesmos sons daquele nome falado;
2) Aliteração: tendo ouvido um nome pronunciado pelo examinador, a criança
deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado começa com os
mesmos sons daquele nome falado; 3) Adição Silábica: tendo ouvido o avaliador
pronunciar uma palavra e uma sílaba adicional, a criança deve escolher, dentre
cinco figuras, aquela cujo nome falado corresponde à adição da sílaba àquela
palavra falada (p. ex., pato + sa no começo = sapato); 4) Adição Fonêmica: tendo
ouvido o avaliador pronunciar uma palavra e um fonema adicional, a criança
deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado corresponde à
adição do fonema ao nome falado pelo avaliador (p. ex., ala + /s/ no começo =
sala); 5) Subtração Silábica: tendo ouvido o avaliador pronunciar uma palavra
e uma sílaba, a criança deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome
falado corresponde à palavra falada pelo avaliador menos aquela sílaba (p.
ex., macaco - ma = caco); 6) Subtração Fonêmica: tendo ouvido o avaliador
pronunciar uma palavra e um fonema, a criança deve escolher, dentre cinco
figuras, aquela cujo nome falado corresponde à palavra falada pelo avaliador
menos aquele fonema (p. ex., boca – /b/ = oca); 7) Transposição Silábica: tendo
ouvido o avaliador pronunciar uma palavra, a criança deve inverter a ordem
das sílabas que compõem essa palavra e escolher, dentre cinco figuras, aquela
cujo nome falado corresponde ao resultado dessa inversão de sílabas (p. ex.,
lobo / bolo); 8) Transposição Fonêmica: tendo ouvido o avaliador pronunciar
uma palavra, a criança deve inverter a ordem dos fonemas que compõem essa
palavra e escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado corresponde
ao resultado dessa inversão de fonemas (p. ex., íris / siri); 9) Trocadilho: tendo
ouvido o avaliador pronunciar duas palavras, a criança deve inverter a ordem
dos fonemas iniciais dessas duas palavras e escolher, dentre cinco figuras, aquela
cujo nome falado corresponde ao resultado dessa inversão de fonemas (p. ex.,
cular porda/pular corda).
A PCFO se baseia na Prova de Consciência Fonológica por Produção
Oral (PCFO: A. Capovilla e F. Capovilla, 1998a, 1998b, 2003), um teste
comprovadamente robusto e sensível, normatizado e amplamente vali-
dado em uma série de estudos que mostram sua elevada correlação com
habilidades centrais como leitura em voz alta, leitura silenciosa, memória
de trabalho fonológica, discriminação fonêmica, vocabulário receptivo
325
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
auditivo, dentre outras (A. Capovilla e F. Capovilla, 1997, 2000, 2002b, 2002c,
2003, 2004; F. Capovilla e A. Capovilla, 1996, 1999, 2001a, 2004; F. Capovilla,
Nunes, Nogueira et al., 1997). Em relação à PCFO, a PCFF apresenta duas
importantes vantagens, como as de permitir avaliar a consciência fonológica
em situação coletiva, bem como avaliar a consciência fonológica em pessoas com
severos distúrbios de articulação da fala, como no caso da paralisia cerebral,
sendo, assim, ideal para avaliar os ganhos de programas de alfabetização fônica
de paralisados cerebrais (F. Capovilla, Tomazette e A. Capovilla, no prelo).
Embora recentemente desenvolvida, a PCFF já foi empregada em três estudos
preliminares de validação, os quais documentaram boa fidedignidade no teste-
-reteste e boa correlação positiva com a PCFO (A. Capovilla, Gütschow e F.
Capovilla, 2003b), boa correlação com a competência de leitura silenciosa e
boa capacidade de distinguir entre bons e maus leitores (A. Capovilla, Suiter
e F. Capovilla, 2003), boa correlação com a competência de leitura silenciosa
e a escrita sob ditado (A. Capovilla, Gütschow e F. Capovilla, 2003a), e com
consciência sintática (A. Capovilla, F. Capovilla e Soares, no prelo). Segue uma
breve descrição desses estudos.
O estudo intitulado Diferenças em processamento cognitivo entre crianças
com e sem dificuldades de leitura (A. Capovilla, Suiter e F. Capovilla, 2003)
analisou processos cognitivos envolvidos na aquisição da linguagem escrita
e identificou algumas das habilidades cognitivas mais frequentemente
prejudicadas nas dificuldades de leitura e escrita. Participaram 90 crianças
de pré-escola e 1a série da rede pública e particular, avaliadas em leitura,
escrita, consciência fonológica, memória fonológica, vocabulário, aritmética,
processamento visual (cópia e desenho de memória) e sequenciamento. Em cada
teste, foram comparados os desempenhos de bons e de maus leitores (definidos
como tendo desempenhos em leitura acima e abaixo de um desvio-padrão em
relação à média de sua classe, respectivamente), usando série escolar e percentil
no Raven como covariantes. Resultados revelaram que os bons leitores obtêm
pontuações significativamente superiores às dos maus leitores em tarefas de
escrita, consciência fonológica, vocabulário, memória fonológica de curto prazo
e memória visual com desenho de memória. Tais resultados são compatíveis
com estudos (p. ex., Grégoire e Piérart, 1997) que demonstram a existência de
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Método
Participantes
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Instrumento
Foi empregada a PCFF com seus nove subtestes, que se encontram descritos
e ilustrados a seguir.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Aliteração: A criança deve julgar, dentre cinco itens, quais são os dois
que começam com o mesmo som. Instruções: Vejam essas linhas. Há cinco
desenhos em cada linha. Na primeira temos: morcego, cabeça, vestido, peteca
e menino. [O examinador aponta os desenhos conforme fala seus nomes
correspondentes]. Eu vou dizer uma palavra, e vocês devem escolher qual
desenho começa com o mesmo som que essa palavra. Por exemplo, olhem
os desenhos dessa primeira linha. Qual desenho começa igual a palavra
“cachorro”? Itens de teste: 1) palavra falada: sala; figuras: pipa, luva, pincel, sapo,
panda; 2) bolo: boné, sorvete, pavão, joelho, leão; 3) galho: pizza, bala, vaso,
lápis, gato; 4) folha: porco, meia, lixo, fogo, pudim; 5) pera: garfo, pena, leite,
anel, selo. A Figura 25.2 exemplifica a aparência dos itens, no caso, o item 1.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Por exemplo, a palavra “punha”. Como fica a palavra “punha” se eu tirar o pedacinho
/p/, que é o som do começo? Prestem atenção: “punha” sem o /p/. Fica “unha”. Então
qual desenho nós vamos marcar? O terceiro, o desenho da “unha”. Então, desses
cinco desenhos, o que fica igual a “punha” retirando o /p/ é a “unha”. Então vamos
fazer um X na unha. Itens de teste: 1) fala: milha - /m/ no começo; figuras: alho, ilha,
tapete, âncora, mamão; 2) fala: casa - /c/ no começo; figuras: asa, ventilador, cachorro,
trem, cabelo; 3) fala: gatas - /s/ no final; figuras: batata, gatas, escada, abacaxi, gata;
4) fala: casal - /l/ no final; figuras: cobra, sola, carta, casa, palhaço; 5) fala: pasto - /s/
mo meio; figuras: pato, dominó, pirulito, balanço, peixe. A Figura 25.6 exemplifica
a aparência dos itens, no caso, o item 4.
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
“cular porda” é “colar papel” trocando os sons? Não. “cular porda” é “subir na parede”
trocando os sons? Não. “cular porda” é “ave” trocando os sons? Não. “cular porda” é
“pescar peixe” trocando os sons? Não. “cular porda” é “pular corda” trocando os sons?
Sim! Prestem atenção nos sons: “cular porda” e “pular corda”. São parecidos, não? Eu
troquei os sons do começo. “cular” e “pular”; e “porda” e “corda”. Entenderam? Então
“cular porda” é “pular corda”. Então vamos fazer um X no “pular corda”. Itens de teste:
1) fala: botar tanho; figuras: sentir vento, atrapalhar a menina, frutas, tomar banho,
boneca; 2) fala: cazer fonta; figuras: tirar foto, casa, fazer conta, atravessar ponte, fonte;
3) fala: vomar tacina; figuras: tomar vacina, piscina, votar, tartaruga, beber água; 4)
fala: paca vintada; figuras: vinte, jogar vôlei, vaca pintada, fazer pão, capivara; 5) fala:
fogar jutebol; figuras: afogar, jogar futebol, jogar golfe, lutar judô, fogão. A Figura 25.9
exemplifica a aparência dos itens, no caso, o item inicial de treino.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Procedimento
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Figura 25.11. Efeito da série escolar sobre a pontuação nos subtestes da Prova
de Consciência Fonológica por Escolha de Figuras (PCFF): Subtração Silábica
(à esquerda) e Adição Fonêmica (à direita).
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Figura 25.13. Efeito da série escolar sobre a pontuação nos subtestes da PCFF:
Transposição Fonêmica (à esquerda) e Trocadilho (à direita).
Discussão
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prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Referências bibliográficas
341
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
342
prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (no prelo b). Teste de Vocabulário por
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Paulo, SP.
Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (no prelo c). Teste de Compreensão Auditiva
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Capovilla, F. C., Nunes, L. R. O. P., Nogueira, D., Nunes, D., Araújo, I., Bernat,
A. B., & Capovilla, A. G. S. Análise da validade concorrente do Teste de
344
prova de consciência fonológica por escolha de figuras ( pcff )
Capovilla, F. C., Tomazette, L., & Capovilla, A. G. S. (no prelo). Como alfabetizar
crianças e jovens com paralisia cerebral: Método fônico adaptado. São Paulo, SP.
345
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Grégoire, J., & Piérart, B. (Orgs.). Avaliação dos problemas de leitura: Os novos
modelos teóricos e suas implicações diagnósticas. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas, 1997.
346
26
Comunicação alternativa:
uma interface com o mundo
Maria de Jesus Gonçalves
Poesia. Uma das formas pelas quais o ser humano pode expressar o que vê,
o que sente, o que pensa. Ler poesia, escrever poesia, é possível pelo domínio
que o ser humano tem da linguagem. Esses versos de Alberto Caeiro, um dos
347
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
348
comunicação alternativa : uma interface com o mundo
349
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
de ser portátil e de ter fácil acesso, até os dias de hoje muito pouco tempo se
passou. Apesar disso, é difícil encontrar paralelo para a alta velocidade de
desenvolvimento desta área. Os computadores, hoje, não só estão espalhados
pelo mundo como a qualquer instante e em qualquer lugar permitem o contato
com o mundo. A informática tem determinado mudanças profundas nas rela-
ções humanas especialmente nas relações de trabalho e na sua organização.
Com alta portabilidade e muito mais fáceis de operar que os seus ancestrais,
os computadores também passaram a integrar o dia a dia.
A tecnologia tem mostrado sua importância para a sociedade atual, não
só como meio de facilitar e aumentar produção e na melhoria da qualidade
de vida, mas também para a comunicação, eliminando distâncias e barreiras.
Quando se trata da Comunicação Alternativa e Suplementar e seus usuários,
a tecnologia assume um papel ainda mais fundamental, pois a necessidade de
adaptações para esta população torna-se, muitas vezes, vital, constituindo-se na
única forma de relacionamento com o ambiente; pode fazer a diferença entre a
comunicação e a não comunicação.
Como aponta Ratcliff (1994), é cada vez maior o número e a variedade de
pacientes indicados para intervenção via Comunicação Alternativa e Suple-
mentar. Além disso, os avanços tecnológicos possibilitam a esses usuários um
número cada vez maior de opções por sistemas de comunicação. Considerando
a diversidade de aspectos envolvidos em cada usuário e a variedade de sistemas
disponíveis, para que se possa fazer uma indicação precisa que otimize o uso
funcional dos sistemas de Comunicação Alternativa e Suplementar, é importante
que se busque o melhor sistema e as adaptações necessárias para cada usuário
em um dado momento. Os sistemas de comunicação podem ser de baixa ou
de alta tecnologia, dependendo do tipo de equipamento e estrutura utilizada,
podem variar quanto à extensão e complexidade, isto é, quanto ao número e
tipo de símbolos que os compõem, quanto à forma como esses símbolos são
organizados e quanto à forma como são selecionados para a composição de
mensagens.
Conforme já se referiu, a Comunicação Alternativa e Suplementar surgiu da
necessidade de encontrar formas de comunicação possíveis para pessoas que não
conseguiam fazê-lo por meio da fala. Historicamente,, a área de Comunicação
Alternativa e Suplementar em diversos países surge no trabalho com pessoas com
350
comunicação alternativa : uma interface com o mundo
paralisia cerebral, pois devido às suas dificuldades motoras e de fala, eles podem
tirar proveito de soluções tecnológicas, tanto para fins de locomoção quanto
de controle de ambiente e comunicação. Entretanto, com desenvolvimento da
área, o uso de sistemas de Comunicação Alternativa e Suplementar estendeu-se
a pessoas com outros quadros clínicos em que alterações de comunicação estão
presentes, tais como: afasia, disartria, autismo, deficiência mental, esclerose
lateral amiotrófica entre outros.
A Comunicação Alternativa, para constituir-se como uma possibilidade
de interface de seu usuário com o mundo, necessita de recursos tecnológicos
que permitam a interface mente humana-máquina; que habilidades estão sendo
exigidas do usuário em termos sensoriais, cognitivos e motores para que eles
usem os sistemas de comunicação alternativa da forma mais proveitosa possível.
Um dos componentes mais estudados é a técnica de acesso ao sistema.
As duas técnicas mais usadas são a seleção direta por toque sobre a tela e a
seleção por varredura. Na direta o usuário indica diretamente os elementos da
mensagem. Ela é natural, fácil de compreender, fornece feedback direto, requer
participação ativa do usuário no processo de seleção, é o meio mais eficiente
e rápido de ter acesso aos elementos da mensagem (Beukelman, Yorkston e
Dowden, 1985; Harris e Vanderheiden, 1980; McDonald, 1980; Vanderheiden,
1976, 1988; Vanderheiden e Lloyd, 1986).
A técnica de varredura é eficiente porque requer controle motor mínimo,
porém parece requerer mais tempo e esforço mental do que a seleção direta. Além
disso, a velocidade de acesso é diminuída (Harris, 1982; Harris e Vanderheiden,
1976, 1980; Vanderheiden, 1988). Clínicos e pesquisadores concordam que a
técnica de varredura é uma tarefa complexa que envolve uma variedade de
componentes, incluindo habilidades motoras, de percepção visual, cognitivas
e lingüísticas (Blackstone, 1982a; Light, 1989). Entretanto, a natureza das
diferenças específicas entre as duas técnicas permanece especulativa (Cook,
Coleman, Preszler e Dahlquist, 1983; Gunderson, 1985; Mathy-Laikko e Yoder,
1986; Shane, Lipschultz e Shane, 1982).
Vários estudos abordam a questão do grau de dificuldade das diferentes
formas de seleção. Comparando crianças de pré-escola, 2a e 7a séries, Villarruel
(1986) encontrou que as crianças de grau superior levaram menos tempo e foram
mais precisas na construção de mensagens com o ditado, apontando os itens
351
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
352
comunicação alternativa : uma interface com o mundo
menos direta e menos intuitiva do usuário com o output. O usuário não produz
diretamente a escolha do item, mas “constrói” uma escolha, em dois momentos
de seleção, à medida que o sistema de varredura possibilita essa seleção. Embora
a espera passiva seja consideravelmente maior nos sistemas de varredura serial do
que naqueles com varredura linha por coluna, nestes a complexidade cognitiva
envolvida é maior que naqueles.
Um outro ponto importante são as habilidades de percepção visual
envolvidas em qualquer discussão de sistemas de comunicação representados
visualmente. Especula-se sobre o fato de que as duas técnicas de acesso podem
demandar diferentes tipos e/ou graus de habilidades específicas de percepção
visual. Piche e Reichle (1991) afirmam que varredura linha por coluna requer
a habilidade de alternar o olhar entre dois alvos que estão suficientemente
separados para não estarem no mesmo campo visual. Além disso, requer que o
usuário varra um alvo em movimento tanto no plano vertical quanto horizontal.
Estudos realizados por Gonçalves (1999) também encontraram forte
evidência de que certas adaptações para acionamento de sistemas de Comuni-
cação Alternativa e o recurso de varredura são decisivos para garantir e melhoria
da comunicação de seus usuários.
Mesmo com toda a discussão a respeito das vantagens e desvantagens do
uso de varredura e das suas diferentes formas, ela continua sendo o recurso
que garante autonomia e independência de comunicação a grande parte dos
usuários de Comunicação Alternativa.
É importante lembrar que, dada a riqueza de recursos disponíveis para o
aperfeiçoamento dos serviços de atendimento que hoje estão disponíveis para
pacientes que apresentam perda ou atraso no desenvolvimento da linguagem
em suas formas falada, escrita, e sinalizada, é fundamental que os profissionais
se preocupem com a qualidade de sua formação e atuação clínica e que se
mantenham atualizados com respeito a esses recursos e à literatura acerca de
seu emprego. Tem sido enfatizada a necessidade de formação especial e multi-
disciplinar para quem pretende trabalhar na área. Somente desta forma se pode
contribuir para que a Comunicação Alternativa e Suplementar se configure
como uma interface do seu usuário com o mundo.
353
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
354
comunicação alternativa : uma interface com o mundo
355
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
356
27
Exclusão digital – O grande
desafio dos professores da
atualidade
Valéria Santos Paduan Silva
Introdução
357
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
358
exclusão digital – o grande desafio dos professores da atualidade
Segundo Moran (1999), “... educar dentro de uma sociedade que muda,
é ajudar desenvolver vários níveis de competência: competência do conheci-
mento, competência no desenvolvimento social, competência na comunicação”.
Partindo destas premissas é fundamental que o professor ao selecionar as
359
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
360
exclusão digital – o grande desafio dos professores da atualidade
361
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
362
exclusão digital – o grande desafio dos professores da atualidade
metodologia pedagógica deve sofrer mudanças para que haja o resultado esperado.
Colocar o computador para continuar a mesma prática de sala de aula convencional,
de nada adianta para afastar do aluno o desinteresse pelas aulas.
Hoje a tecnologia proporciona entretenimento e enquanto brinca com o
computador, o aluno tem a possibilidade de ingressar no mundo da fantasia,
num processo de simulação, assimilando inconscientemente conceitos e ultra-
passando dificuldades na aprendizagem.
Como nos lembra José Manuel Moran, “Nossa mente é a melhor tecnologia,
infinitamente superior à complexidade do melhor computador, porque pensa,
relaciona, sente, intui e pode surpreender”.
Partindo desta premissa, criatividade, entusiasmo e mente aberta são habili-
dades imprescindíveis na formação presente e futura de educadores inovadores,
criativos, flexíveis para o uso de novas tecnologias de educação e comunicação.
Referências bibliográficas
363
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
364
28
A psicologia da educação
especial: lidando com as
necessidades especiais do
binômio escola-aprendiz
Lília Maíse de Jorge,
Elvira Aparecida Simões de Araujo
365
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
366
a psicologia da educação especial
367
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
368
a psicologia da educação especial
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a psicologia da educação especial
Referências bibliográficas
371
29
Integração sensorial –
princípios básicos
Priscila Zerloti
373
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
374
integração sensorial – princípios básicos
FASE II – Pré-escolar
Sistema somatossensorial
É formado pela propriocepção (sensação de posição e movimento via recep-
tores dos músculos, tendões e articulações) e exterocepção (sensações captadas
na superfície do corpo como visão, audição, tato-pressão, dor e temperatura).
375
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Sistema vestibular
As sensações vestibulares auxiliam na manutenção do tônus muscular,
do equilíbrio, da coordenação entre os dois lados do corpo, da postura e da
manutenção da posição da cabeça contra gravidade. O sistema vestibular pode
ser imaginado como a fundação para a orientação do corpo em relação ao
meio ambiente. Magalhães (2002) descreve como sendo as principais funções
deste sistema:
376
integração sensorial – princípios básicos
377
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
378
integração sensorial – princípios básicos
379
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
380
integração sensorial – princípios básicos
381
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Disfunções de
Comportamento – pode ter dificuldades
discriminação
para
sensorial
Diferenciar objetos pelo tato ou completar AVDs sem
pistas visuais (p. ex., fechos, colher à boca, perceber se
Discriminação do a roupa está torcida, achar a chave na bolsa ou moedas
estímulo tátil no bolso.
Identificar, sem olhar, a parte do corpo que foi tocada.
Manipular pequenos objetos sem o uso da visão.
Discriminação de Diferenciar cheiros sem o uso da visão.
estímulos gustativos e
olfativos Alertar-se com certos cheiros (p. ex., fumaça, gás).
Diferenciar e lembrar palavras e sons similares.
Seguir um ou dois comandos, apesar de ser capaz de
cumprir cada um.
Saber localizar a fonte sonora (virar na direção dela).
Discriminação de
estímulo auditivo Saber a distância e localização do som (p. ex., confuso
com o eco em corredores ou com a direção que o carro
está se aproximando).
Focar ou reconhecer um som no ambiente na presença
de barulho de fundo.
Perceber forma, espaço e a relação entre os objetos.
Reconhecer, parear e categorizar cores, textura, forma
e tamanho.
Olhar imagens sequenciais e mudar o foco de visão
rapidamente.
Discriminação de
Guiar visualmente a movimentação fina e grossa (p. ex.,
estímulo visual
colorir dentro da linha, chutar uma bola).
Reconhecer símbolos e gestos.
Perceber profundidade, distância, localização dos
limites e espaço entre os objetos.
Diferenciar figura do fundo.
382
integração sensorial – princípios básicos
Princípios de tratamento
383
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
384
integração sensorial – princípios básicos
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
Referências bibliográficas
386
integração sensorial – princípios básicos
387
30
Desenvolvimento da memória
autobiográfica na infância:
um possível entrelaçamento
entre neurociência e
psicanálise
Integrar mente e cérebro, estabelecendo
correlações entre a psicanálise e a Neurociência,
exige muito mais do que apresentar relações
funcionais entre cérebro e comportamento humano.
389
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
390
desenvolvimento da memória autobiográfica na infância
A função da memória
391
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Memória autobiográfica
392
desenvolvimento da memória autobiográfica na infância
393
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
394
desenvolvimento da memória autobiográfica na infância
Referências bibliográficas
395
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
396
31
A linguagem e suas
diferentes formas de
manifestação x leitura escrita
Evaldo J. B. Rodrigues
Linguagem
397
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
vigília, sofremos porque não podemos comandar nossa atividade motora, nem
nossa vontade. Não raro acordamos assustados e a nossa conversa interior
termina sinistra, sob a aflição causada pelas imagens desordenadas que afloram
à consciência. Desse modo, o tempo todo estamos a serviço desse jogo funcional
simbólico chamado linguagem. É o que rege e define toda e qualquer atividade
e/ou interação que todos têm de acordo com a necessidade, a oportunidade, o
interesse e o juízo de valor (expectativa, crença, prazer, ambição) que cada um
consegue definir a cada momento, com a qualidade que depende da eficiência da
sua linguagem interior. E sempre impregnada pela emoção e pelos sentimentos
que emergem com a intensidade e o viés que dependem do que, e como, para si
mesmo, cada um contou do mundo, no decorrer do tempo.
2- Paralinguística
3- Fisiognomônica
Emerge de aspectos físicos: forte, fraco, franzino, gordo, barba por fazer,
calvo, alto etc. Levam a nossa conversa interior — baseada no juízo de valor
398
a linguagem e suas diferentes formas de manifestação x leitura escrita
4- Cinésica
5- Mímica
6- Artefactual
7- Olfática
8- Háptica
399
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
9- Proxêmica
10- Cronêmica
Leitura e escrita
400
a linguagem e suas diferentes formas de manifestação x leitura escrita
401
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2- Fala
3- Atenção arbitrária
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a linguagem e suas diferentes formas de manifestação x leitura escrita
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a linguagem e suas diferentes formas de manifestação x leitura escrita
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Referências bibliográficas
406
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Avaliação neuropsicológica
das disfunções executivas
Catia Araujo
407
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avaliação neuropsicológica das disfunções executivas
409
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
410
avaliação neuropsicológica das disfunções executivas
411
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
mas cujos domínios cognitivos estão intactos podem obter escores dentro ou
acima da média. Os seus déficits aparecem apenas nos dois primeiros itens de
cada nova tarefa, após os quais ele tem um bom desempenho e passa a responder
mais rápido.
Outra forma de avaliar a ação propositiva é avaliando a flexibilidade e
a capacidade de alternância. A inflexibilidade conceitual aparece em formas
concretas ou rígidas de entender e resolver problemas e também na incapa-
cidade do examinando de flexibilizar suas respostas ou de tirar a atenção de
pensamentos correntes ou estímulos que aparecem no campo perceptivo, mas
que não são importantes para a resolução da tarefa em curso.
Um dos testes mais utilizados para esse tipo de exame é o Wisconsin Card
Sorting Test (WCST). Nesse teste, o examinando deve associar um cartão a um
dentre quatro outros, mas o examinador não diz qual é a regra de associação.
As possibilidades são de associar por cor, forma e número de figuras no cartão e
essa regra vai mudando de tempos em tempos. Examinandos com lesão frontal
tentem a perseverar numa determinada categoria, não aprendem com o erro
(pois a cada associação é dito se houve acerto ou erro) e muitas vezes não são
capazes de mudar o conceito de associação.
Um dos testes utilizados para avaliar o desempenho efetivo é o Random
Generation Test. Pede-se ao examinando que gere uma sequência de 100 letras
do alfabeto numa ordem aleatória. Embora a tarefa pareça difícil, mesmo pessoas
não lesionadas acham difícil evitar sequências estereotipadas ou combinações
frequentes (como A-B-C, O-N-U). A resposta foi avaliada de três formas: a frequência
de cada letra, para detectar redundâncias; a frequência de pares de palavras
(dígrafos), novamente para detectar redundâncias; e a frequência de pares de
letras na ordem alfabética (padrões estereotipados). Examinandos com lesão
frontal tendem a perseverar em algumas sequências (padrões estereotipados).
Uma das baterias mais completas de síndrome disexecutiva é conhecida
como BADS (Behavioral Assessment of Disexecutive Syndrome). Essa bateria é
composta por seis tarefas diferentes, cada uma propondo-se a avaliar diferentes
aspectos de uma disfunção executiva.
A primeira delas, um teste com cartas de baralho desenhadas, é composta
por duas etapas. Na primeira, o examinando tem a seguinte regra a sua frente:
412
avaliação neuropsicológica das disfunções executivas
“Diga sim para vermelho (carta vermelha) e não para preto (carta preta)”.
À medida que o examinador vira as páginas, o examinando dá a resposta de
acordo com a regra. Na segunda etapa, a regra muda: “Diga sim para a mesma
cor da anterior, e não para cor diferente da anterior”. O examinando deve dizer
sim quando a carta que ele estiver vendo for da mesma cor da carta anterior e
não para cor diferente. Em pacientes lesionados, é comum eles permanecerem
usando a primeira regra na segunda etapa.
A segunda tarefa é composta por um conjunto de materiais: um pote
transparente que deve ser entregue ao examinando com dois terços de água
dentro, um tubo de vidro, dentro do qual existe uma rolha de cortiça, uma
haste de ferro que não alcança o fundo do tubo, um recipiente de plástico e uma tampa
de rolha (que encaixa perfeitamente no recipiente. A tarefa do examinando é
conseguir tirar a rolha do tubo sem tocar o tubo e o pote com as mãos e fazendo
uso do material descrito. Obviamente, essa tarefa é inédita e requer grande
planejamento (o chamado “ver à frente”).
A terceira tarefa exige que o examinando trace com um lápis um caminho
dentro da área de um quadrado desenhado no papel, dentro do qual ele deve
imaginar ter perdido suas chaves. Esse subteste avalia a capacidade de traçar
estratégias eficazes para a resolução de um determinado problema.
A quarta tarefa é composta por perguntas que demandam uma estimativa
de quanto tempo leva para uma pessoa realizar algumas coisas como assoprar
para encher uma bola de gás até ela estourar. A estimativa de tempo é outra
habilidade que costuma estar comprometida em pacientes frontais.
A quinta tarefa é uma visita fictícia a um zoológico desenhado no papel,
onde estão determinados alguns lugares por onde o examinando deve ir sem,
no entanto, poder fazer uso de alguns caminhos por mais de uma vez. Também
é dividida em duas partes: na primeira, ele deve escolher o caminho a seguir;
na segunda, o percurso é dado por etapas para ele. Aqui avalia-se também a
capacidade de planejamento e é possível verificar se ocorre perseveração.
A sexta tarefa envolve flexibilidade e alternância. São dadas três tarefas, cada
uma dividida em duas partes, e o examinando tem dez minutos para, ao final,
ter realizado ao menos um pouco de cada uma das seis partes. Quem planeja e
divide o tempo pelas seis partes é o examinando.
413
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
414
33
Avaliação neuropsicológica
no Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade
(TDAH): aspectos práticos
Angela Alfano
Podemos dizer que a atenção é uma função cognitiva que pode ser
avaliada em diversos testes, mesmo naqueles que não foram desenvolvidos
com este objetivo. Existem testes específicos para avaliar o domínio da
atenção, mas, na prática, o examinador deve se basear não apenas neles,
mas no desempenho do paciente ao longo de toda a avaliação, para inferir
sobre a integridade da capacidade atentiva. Observações do desempenho
do paciente nos diversos testes formais e também em situações informais,
de análise qualitativa, devem servir de base para a avaliação da atenção. Um
paciente com TDAH pode, por exemplo, não conseguir se manter atento
durante instruções muito longas e demonstrar suas dificuldades atentivas
já neste momento.
Cabe ressaltar que muitos testes são altamente dependentes de atenção,
apesar de não serem formalmente destinados a avaliá-la, entre eles o teste de
415
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
416
avaliação neuropsicológica no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Testes pouco sensíveis podem deixar escapar déficits sutis, que podem
aparecer ao longo da avaliação informal ou até mesmo durante a execução de
outros testes que não sejam primariamente de atenção.
417
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
O teste de Stroop consiste em pedir ao paciente que leia em voz alta a cor
da tinta na qual determinada palavra foi impressa. Todas as palavras são nomes
de cores, dispostos em colunas. Por exemplo: A palavra “verde” está escrita em
tinta azul e ele deve, então, ler “azul”. O examinador, por sua vez, deve anotar
os acertos e todos os tipos de erro do examinando.
O teste PASAT é constituído por uma fita que o paciente deve ouvir, na
qual são ditos números randômicos que o paciente deve somar dois a dois. Por
exemplo: A fita diz a sequência: 2 – 7 – 3 – 5 e o paciente fala: 9 – 10 – 15. Como
no Stroop o examinador deve anotar os erros e acertos.
O local deve ser apropriado para o exame, sem muitos distratores externos
(estímulos decorativos na sala, barulho etc.).
418
avaliação neuropsicológica no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
419
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
Barkley, R. A et al. Frontal lobe functions in attention deficit disorder with and
without hyperactivity: A review and research report. Journal of Abnormal
Child Psychology, v. 20, p. 163-188, 1992.
Casey et al. Implication of right frontostriatal circuitry in response inhibition
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Child and Adolescent Psychology, v. 36, p. 374-383, 1997.
Filipek, P. A et al. Volumetric MRI analysis comparing subjects having attention
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Goldberg, E. O Cérebro Executivo – Lobos Frontais e a Mente Civilizada. Imago:
Editora, Rio de Janeiro, 2002.
Lezak, M. D. Neuropsychological Assessment. Oxford University Press: New
York, 1995.
420
34
Avaliação de linguagem no
Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade
Guiomar Albuquerque
Introdução
421
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
fala tais como articulação, disfluência, velocidade de fala. Existem menos relatos
de problemas de fala no TDAH do que de problemas de linguagem, contudo, há
estudos que relatam a existência de menor controle motor na fala de crianças com
TDAH (Hamlet et al., 1987; Tannock et al., 1993; Zentall, 1998 apud Tannock,
2000). Problemas de competência comunicativa referem-se a dificuldades na
manutenção de relações dialógicas, tais como a tomada e sequenciamento de
turnos de fala, manutenção e desenvolvimento de tópico. São problemas
de natureza pragmática, portanto, não são específicos de linguagem porque
não são relacionados aos níveis linguísticos, mas ao conhecimento de mundo
de cada um dentro de um contexto social, devendo ser abordados mais adiante.
Os problemas de linguagem, por sua vez, referem-se a problemas no
processamento linguístico, isto é, na compreensão e produção da fala baseado
nos níveis linguísticos de estruturação sintático, semântico e fonológico,
refletindo-se tanto na linguagem oral quanto na linguagem escrita (leitura e
escrita). Uma desordem muito frequente em crianças com TDAH é o atraso
de linguagem, que corresponde à aquisição tardia da linguagem e é mais
comum ocorrer em crianças com TDAH do que em crianças sem TDAH
numa frequência de 6% a 35% de crianças com TDAH comparados com a
frequência de 2% a 6% de acometimento em crianças sem TDAH (Gross-Tsur
et al., 1991; Hartsough e Lambert, 1985; Ornoy et al., 1993; Szatmuri et al.,
1989 apud Tannock, 2000).
Inicialmente será realizada uma breve apresentação das principais defi-
ciências relacionadas com a linguagem que ocorrem nas crianças com TDAH,
seguidas de um roteiro de avaliação fonoaudiológica.
Problemas pragmáticos
422
avaliação de linguagem no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Dificuldades de leitura
423
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Dificuldades de escrita
Se a fala influencia a leitura, a influência sobre a escrita é ainda maior por ser
também um meio de expressão. Desta forma, podemos esperar um texto escrito
com muitas omissões de letras, sílabas, palavras e até frases, pois a dificuldade de
sequenciamento também ocorre na escrita. A dificuldade de aquisição e fixação
das regras ortográficas é outra característica frequente e devida à desatenção.
Segundo Tannock (2000), uma associação entre TDAH e problemas no
controle motor tem sido documentada em muitas amostras clínicas e epide-
miológicas em diferentes culturas. O tipo de dificuldade de coordenação motora
(ampla ou fina) interfere na rotina de atividades diárias da criança com TDAH
caracterizando-a como “estabanada ou desajeitada” em maior ou menor grau. Esta
dificuldade de coordenação motora reflete-se também na escrita, causando um
transtorno gráfico denominado Disgrafia que caracteriza-se por incoordenação
do traçado das letras, forte pressão do lápis no papel, má organização espacial,
presença de repassamentos. Tais aspectos podem tornar a escrita incompreensível
e desorganizada, além de poder originar dores nas mãos, braços e/ou ombros
provocando um desagrado ou até mesmo um evitamento do ato de escrever.
Um estudo de Piek et al. (1999, apud Tannock, 2000) sugere que o tipo e grau
de dificuldade motora podem diferir entre os subtipos de TDAH, com a habili-
dade motora fina estando mais comprometida no subtipo desatento, enquanto
a coordenação motora ampla, mais comprometida no subtipo combinado.
Entretanto, problemas de coordenação motora em geral, são mais fortemente
relatados no subtipo desatento do que no subtipo hiperativo/impulsivo (Kadesjo
e Gillberg 1998; Piek et al., 1999 apud Tannock, 2000).
Diante da alta frequência de comorbidade entre dificuldades de comu-
nicação e linguagem com TDAH, houve a necessidade de elaboração de uma
bateria de avaliação que permitisse identificar a presença de tais dificuldades
na criança com TDAH, permitindo o traçado de um planejamento terapêutico
mais adequado para cada caso.
424
avaliação de linguagem no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Avaliação da linguagem
Anamnese
425
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
o histórico deve ser norteado por questões que visem especificar as dificuldades
das crianças. Informações sobre a competência comunicativa, aquisição do sistema
fonológico, habilidades de leitura e escrita e sobre a vida escolar são fundamentais.
Portanto, não podem faltar questões do tipo: Demorou a falar? Sua fala era
compreendida por todos? Fala alto? Solicita muitas repetições? Tem histórico
de doenças no ouvido? Aguarda a vez para falar ou interrompe? Muda muito
de assunto? Sabe contar uma história do início ao fim? Gosta de ler e escrever?
Há queixas escolares? Precisa de ajuda para estudar? Esquece o que aprende? Já
repetiu série?
O histórico deve ser relatado pelos pais da criança da forma mais precisa
possível por tratar-se de informações valiosas para o seu diagnóstico. Após a coleta
do histórico parte-se para a avaliação propriamente dita realizada com a criança.
Habilidades metafonológicas
426
avaliação de linguagem no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Fluência verbal
Memória de trabalho
Nomeação
427
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Avaliação da leitura
A avaliação da leitura deve ser realizada com extremo cuidado por haver
grande comorbidade entre transtornos de leitura e TDAH. Deve-se observar a
existência de déficits especificamente linguísticos ou interferência da atenção.
São realizadas tarefas de leitura de palavras (pseudopalavras, palavras regulares
e palavras irregulares) e leitura de textos (leitura oral e silenciosa). Os textos são
selecionados de acordo com a escolaridade do paciente.
Durante a leitura oral de texto é avaliada a compreensão de texto lido
e automatização da decodificação fonológica da palavra contextualizada. É
comum portadores de TDAH realizarem leitura automática, isto é, realizar a
decodificação fonológica adequadamente, porém não compreender o material
lido porque as representações semânticas não são mantidas para o tempo
necessário para que ela se processe. Observa-se o ritmo de leitura, a entoação
expressiva, a pontuação e a decodificação fonológica por serem aspectos
importantes referentes ao processamento fonológico da língua. Após a leitura, o
paciente deve relatar o texto lido e responder questões interpretativas para que se
possa verificar a monitoração semântica e a realização de inferências pertinentes.
428
avaliação de linguagem no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Avaliação da escrita
429
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
de trabalho, visto que nada pode ser repetido após a escrita ter sido iniciada. No
autoditado a criança precisa evocar as representações fonológicas, ortográficas e
semânticas a partir de estímulo visual. A produção textual avalia a capacidade de
desenvolver uma sequência narrativa, além dos aspectos anteriormente citados.
Segundo Lima & Albuquerque (2003) a influência do TDAH na escrita
é mais acentuada na dificuldade de fixação das representações ortográficas
e no planejamento e elaboração das sequências narrativas. Também é muito
comum a presença de disgrafia, como citado anteriormente, resultando num
desagrado para a escrita ou até mesmo recusa e ansiedade por seu término.
Porém as dificuldades motoras leves podem ficar mascaradas em situação de
testagem, visto que a criança pode se controlar e “caprichar” por saber que está
sendo avaliada e que é por um espaço curto de tempo. Pode ser interessante ter
acesso ao caderno escolar da criança para verificar seu desempenho no dia a dia.
Considerações finais
430
avaliação de linguagem no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
Referências bibliográficas
431
35
Intervenção nos transtornos
de aprendizagem
Simone Aparecida Capellini
433
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
434
intervenção nos transtornos de aprendizagem
435
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
436
intervenção nos transtornos de aprendizagem
Esta combinação de estratégias é descrita por vários autores, entre eles, Broom
e Doctor (1995), Barrera (1995), Santos (1996), Capovilla e Capovilla (2000),
Capellini (2001), Ygual-Fernandez e Cervera (2001), Etchepareborda (2002).
A estrutura descrita ainda pode ser combinada com atividades de leitura
oral e escrita sob ditado. De um modo geral, as crianças em fase pré-escolar
se beneficiam da remediação fonológica com ênfase perceptiva-auditiva,
enquanto as crianças escolares se beneficiam da remediação fonológica que
combinam a percepção auditiva e visual, isto pode ser explicado pelo fato desta
remediação favorecer a transformação do estímulo visual em compreensão
verbal, por meio do acionamento do sistema de processamento buttom-up
(acesso exterior dos estímulos visuais e auditivos – envolvendo mecanismos
de atenção e discriminação de estímulos) e do sistema de processamento
top-down (uso de mecanismos de linguagem/aprendizagem como abstração
e categorização).
Orientações a profissionais
437
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
438
intervenção nos transtornos de aprendizagem
Referências bibliográficas
439
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
440
36
A dislexia e algumas
estratégias de intervenção
Raquel Caruso Whitaker,
Silvia Amaral de Mello Pinto
Introdução
441
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Dislexia
442
a dislexia e algumas estratégias de intervenção
443
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
444
a dislexia e algumas estratégias de intervenção
445
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
446
a dislexia e algumas estratégias de intervenção
447
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Intervenção
448
a dislexia e algumas estratégias de intervenção
Considerações finais
Referências bibliográficas
449
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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Vigotsky, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Livraria Martins Fontes
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450
37
Dislexia: intervenção
psicopedagógica com
o PEI – Programa
de Enriquecimento
Instrumental de Reuven
Feuerstein
Júlia Eugênia Gonçalves
A dislexia
451
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Como não se trata de uma doença, mas de uma síndrome que, neste caso
específico, não acomete o portador de nenhum mal que ponha em risco sua
saúde física, somente quando ele entra em contato formal com a leitura e a
escrita, ou seja, durante o processo de alfabetização é que os sintomas da dislexia
começam a se tornar evidentes.
Esta diferença entre doença e síndrome é fundamental para a compreensão
do tema, no enfoque que pretendemos privilegiar.
Doença é uma alteração da saúde física ou mental, que compromete o
funcionamento de todo o corpo ou de parte dele, ocasionando uma série de
transtornos, generalizados ou localizados, que podem ser fruto de alguma lesão,
de uma disfunção, ou de uma desorganização no processo de desenvolvimento
humano. A doença pode levar à morte, quando suas causas não são identificadas
ou tratadas convenientemente.
A síndrome difere da doença, porque consiste num conjunto homogêneo
de sintomas que expressam uma maneira específica de o organismo se
manifestar. Uma febre é um sintoma que pode ser atribuído a várias causas.
Porém, se estiver acompanhada de outros sinais que possam vir a compor
um conjunto de sintomas, pode fazer parte de uma síndrome. Um mesmo
sintoma pode ser comum a várias doenças ou pode ser produzido por causas
inteiramente distintas.
452
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
O que garante que estamos diante de uma síndrome e não de uma doença
é o fato de que os sintomas que afetam o sujeito formam um “quadro clínico”
característico, passível de ser “descrito”. Há sintomas que podem pertencer a
várias doenças diferentes, ou aparecerem justapostos em uma mesma enfermi-
dade. No caso das síndromes, a presença deste conjunto organizado de sintomas
é que permite o diagnóstico diferencial e sua consequente identificação.
As síndromes podem ter causas genéticas, hereditárias, anatômicas,
sensoriais e afetivas.
O que pretendemos é trazer à discussão sobre a dislexia, o enfoque psico-
pedagógico, apresentando o papel que o psicopedagogo desempenha junto ao
disléxico, à sua família e à sua escola.
Também é nossa intenção expor um “programa” de intervenção — o
PEI — cujos pressupostos, a nosso ver, constituem uma oportunidade de atuação
dirigida para a superação de alguns sintomas que interferem no desempenho
social, intelectual e emocional do sujeito atendido na clínica psicopedagógica.
453
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
454
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
Enfoque psicopedagógico
455
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
456
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
O psicopedagogo não olha para a “dislexia”, mas para um sujeito e sua história de
dificuldades de leitura/escrita, no contexto de sua modalidade de aprendizagem.
Como área de estudos transdisciplinar, a Psicopedagogia acompanha as
pesquisas e a evolução do conhecimento científico em campos epistemológicos
com os quais mantém interfaces. Deste modo, parte dos seguintes princípios
para orientar sua intervenção em casos de dislexia:
▶▶ De que se a dislexia não é doença, não tem cura e, portanto, o disléxico
vai apresentar seus sintomas, com maior ou menos intensidade, durante
toda sua vida;
▶▶ de que fatores emocionais interferem para o agravamento dos sintomas;
▶▶ de que o meio familiar pode interferir de maneira favorável ou não
ao desenvolvimento das estruturas objetivas e subjetivas presentes no
processo de aprendizagem;
▶▶ de que os fatores etiológicos são múltiplos e não se pode afirmar com
segurança que este ou aquele seja o causador da dislexia;
▶▶ de que o diagnóstico da dislexia pode ser realizado pela exclusão das
seguintes características: em hipótese alguma o disléxico tem compro-
metimento intelectual, ou perda auditiva, nem visual;
▶▶ de que o diagnóstico da dislexia pode ser confirmado pela presença
de algumas características comuns: dificuldade de processamento
auditivo que concorre para baixo índice de consciência fonológica;
incapacidade para reter na memória de longo prazo o perfil visual das
palavras; dificuldade para ler e compreender o significado de orações
e textos; tendência de troca ou inversão de fonemas ou grafemas por
outros de som parecido, de aspecto visual semelhante ou com sime-
tria oposta; dificuldades de orientação espacial, relacionadas com a
direcionalidade e a lateralidade; memória prejudicada, o que acar-
reta esquecimento de datas, números de telefones, compromissos
agendados; falta de organização temporal; facilidade para resolver
problemas oralmente; inteligência prática e bem desenvolvida, com
alto índice de criatividade;
▶▶ de que o sujeito disléxico pode ter um bom desempenho escolar se
adquirir consciência de que seu funcionamento mental não é inferior,
porém diferente e peculiar à sua condição existencial.
457
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
458
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
459
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
460
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
PRIMEIRA ETAPA:
▶▶ Organização de pontos: projeção de relações virtuais;
▶▶ orientação espacial I: representação mental num sistema de coorde-
nadas móveis;
▶▶ comparações: observação e comparação;
▶▶ classificações: percepção de semelhanças e diferenças, estruturas de
classe e ordem;
▶▶ ilustrações: percepção, inferência lógica, pensamento hipotético-
-dedutivo;
▶▶ percepção analítica: identificação e análise e síntese;
▶▶ orientação espacial II: representação mental num sistema de coorde-
nadas fixas.
SEGUNDA ETAPA:
▶▶ Instruções: codificação e decodificação;
▶▶ relações familiares: correspondências unívocas e biunívocas, reversibi-
lidade mental;
▶▶ relações temporais: abstração de conceitos temporais;
▶▶ progressões numéricas: estruturas de ordem e série;
▶▶ relações transitivas: pensamento lógico formal;
▶▶ silogismos: lógica proposicional formal;
▶▶ desenho de padrões: operacionalização das funções cognitivas presentes
nos demais instrumentos.
Considerações finais
461
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
462
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
“O terapeuta não cura, ele cuida”.... O terapeuta está lá apenas para pôr
o doente nas melhores condições possíveis para que ele possa mudar.”
(Leloup, 1996)
Referências bibliográficas
463
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
464
38
Transtorno da leitura
(dislexia) e transtorno
do déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH)
Guiomar Albuquerque
Introdução
465
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Dificuldades pragmáticas
466
transtorno da leitura (dislexia) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (tdah)
Dificuldades de escrita
467
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
468
transtorno da leitura (dislexia) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (tdah)
que não existem e não tem nenhum significado), cinco palavras reais, uma frase
e produção textual realizada pela criança de uma figura.
469
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
470
transtorno da leitura (dislexia) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (tdah)
Leitura e TDAH
471
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
472
transtorno da leitura (dislexia) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (tdah)
Contudo, observa-se uma taxa de comorbidade muito alta entre tais transtornos,
o que motiva a realização de estudos a fim de esclarecer essa correlação.
As dificuldades encontradas na linguagem oral do sujeito com TDAH
são referentes às disfunções executivas e se refletem na escrita e na leitura com
características muito semelhantes.
No que tange à ocorrência simultânea do TDAH e da dislexia, observamos
um funcionamento peculiar do cérebro desses sujeitos. É interessante como
transtornos tão diferentes possam ser confundidos por gerar comportamentos
semelhantes em alguns aspectos. Devido a isso, é de extrema importância o
conhecimento das características de cada um. Por sua vez, a coocorrência de
ambos é frequente, sendo necessário um diagnóstico mais precocemente possível
para que possa haver uma intervenção igualmente precoce a fim de proporcionar
a aquisição e desenvolvimento da linguagem escrita de maneira mais próxima
possível daquelas sem os transtornos.
Vale lembrar que na dislexia a habilidade prejudicada é a consciência
fonológica, que é essencial para a aquisição e o desenvolvimento da leitura e
da escrita, sobretudo para a análise e o armazenamento cerebral adequado
das palavras lidas. Portanto, é extremamente importante a diferenciação
de dificuldades e transtornos de linguagem, ou seja, de deficiências na e da
linguagem, e o fonoaudiólogo é o profissional mais habilitado para a realização
de tal diagnóstico.
Referências bibliográficas
473
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
474
39
Funções executivas e
resolução de problemas
aritméticos
Leila Vasconcelos
475
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
476
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
477
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
478
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
479
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Funções executivas
480
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
481
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
A resolução de problemas
482
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
483
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Este estudo não tem a pretensão de ser conclusivo, mas almeja tanto traçar
uma nova forma de avaliar as “funções executivas” numa dimensão “ecológica”,
pertinente a uma atividade da vida cotidiana, bem como enfatizar a utilização
do recurso da resolução de problemas como um meio eficaz no ensino da
matemática, visto que favorece o próprio desenvolvimento das funções cogni-
tivas. Obviamente, teremos que avaliar, paralelamente, o domínio aritmético
484
dislexia : intervenção psicopedagógica com o pei
para que possamos obter dados confiáveis. Se reconhecemos que ambientes ricos
em estimulação e situações propícias favorecem o desenvolvimento cognitivo
e o próprio desenvolvimento cerebral, teremos que reconhecer também que
estratégias utilizadas adequadamente podem desencadear, favorecer, direcionar
e ampliar a condição de aprendizagem do ser humano.
Referências bibliográficas
485
40
Cooperar para incluir –
os jogos cooperativos como
uma prática inclusiva
Giovanna Tereza Abreu de Oliveira
487
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
488
cooperar para incluir – os jogos cooperativos como uma prática inclusiva
489
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Um breve histórico
490
cooperar para incluir – os jogos cooperativos como uma prática inclusiva
491
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
492
cooperar para incluir – os jogos cooperativos como uma prática inclusiva
493
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
494
cooperar para incluir – os jogos cooperativos como uma prática inclusiva
O facilitador deve estar atento a tudo o que acontece durante o jogo. Facilitar
é acompanhar, estar junto sempre e não simplesmente propor uma atividade
onde nem se sabe se todos estão participando. É ser flexível se precisar mudar,
acrescentar, suspender; ser sensível ao processo do grupo; criativo e também
paciente. Deve lembrar-se sempre do riso, os jogos devem ser alegres!
O facilitador pode também transformar jogos com estrutura competitiva
em jogos cooperativos e até criar novos, lembrando sempre que:
▶▶ Ninguém pode ser excluído em nenhum momento do jogo;
▶▶ todos podem e devem participar;
▶▶ é preciso ser desafiador, divertido e interessante;
▶▶ o desfio deve ser adequado às características do grupo;
▶▶ o prazer deve estar no processo do jogo e não no resultado;
▶▶ o ritmo de cada participante deve ser considerado;
▶▶ o facilitador também deve ter espaço para jogar.
Considerações finais
Espero que a visão aqui apresentada possa ter contribuído para levantar
questionamentos e instigar novas possibilidades de ação coletiva, dentro e fora
da sala de aula. Acredito que a inclusão começa quando estamos atentos à
mensagem que transmitimos não só por meio de uma atividade, mas também
pelos valores embutidos em nossa ação, em nossa fala, em nosso olhar.
Confiamos, verdadeiramente no caminho da cooperação e da inclusão?
Ou ainda achamos que é mais sadio competir? Qual é a nossa real convicção?
495
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
496
41
Cemada
Marcio Ribeiro do Valle
497
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
498
cemada
Referências bibliográficas
499
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
500
42
Alta capacidade, dotação e
talento
Zenita C. Guenther
501
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
502
alta capacidade , dotação e talento
503
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Expressões e manifestações
Inteligência
504
alta capacidade , dotação e talento
Criatividade
Domínio socioafetivo
505
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Domínio físico
506
alta capacidade , dotação e talento
Origens da dotação
507
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Caracterização
508
alta capacidade , dotação e talento
Caracterização
509
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
510
alta capacidade , dotação e talento
O Cedet
511
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
1. Atitude científica
2. Fé no conhecimento científico
512
alta capacidade , dotação e talento
3. Paciência e persistência
Para captar a força do aprender pela vivência concreta, e não por explicações
e discussão, os planos pedagógicos são desenvolvidos em interação dinâmica
em redes não hierárquicas, envolvendo alunos, escolas, famílias, instrutores
voluntários, comunidade, estagiários, visitantes... Através dessa rede de inte-
gração natural configura-se o ambiente educativo.
Dinâmica processual
513
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
514
alta capacidade , dotação e talento
515
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
que não se expressa por vias de pensamento linear sequencial, ou pela “lógica
escolar” de “começo-meio-fim”. Reconhecida essa limitação, introduzimos no
processo um período de observação assistida.
Observação assistida
Intervenção educativa
516
alta capacidade , dotação e talento
O plano individual
517
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Instrutores voluntários
A família
518
alta capacidade , dotação e talento
A escola
A comunidade
519
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
Referências bibliográficas
520
alta capacidade , dotação e talento
521
43
Hidroterapia e integração
sensorial
Leonardo Cervera
523
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
524
hidroterapia e integração sensorial
525
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
Aborelius M., Balldim Ui., Lilja B. et al. Hemodynamic changes in man during
immersion with the head above water. 1995.
Ayres, A. J. Sensory Integration and the Child Western Psychological Services,
L. A., 1980.
Blanche E. I. Botticelli, T. M; Hallaway, M. K. Combining Neuro Developmental
Treatment and Sensory Integration Principles Therapy Skill Builders,
USA, 1995.
526
hidroterapia e integração sensorial
527
44
Biodanza®: uma pedagogia
de vida
Maria Angelina Pereira,
Maria Luiza Appy
529
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Saberes necessários
“A aprendizagem em Biodanza®”
530
biodanza ® : uma pedagogia de vida
531
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
532
biodanza ® : uma pedagogia de vida
533
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
O que significa tecer uma pedagogia de vida dentro de nossas escolas? Viver
nossa corporeidade que fala? O corpo tem lugar nos bancos de nossas escolas?
Existe uma percepção do processo ensino-aprendizagem em sua totalidade?
O educador ama a criança que é confiada ao seu cuidado? Como olha para a
ela, percebe seus medos, suas certezas e incertezas? As direções das escolas, as
coordenações, conseguem olhar nos olhos dos educadores e enxergar a vida
que ali pulsa? E os planejadores de educação do país, do estado, do município
enxergam as diretoras, as coordenadoras, as educadoras, as crianças, os pais,
as mães e a comunidade como pessoas que necessitam ser compreendidas,
educadas, cuidadas e amadas?
As interrogações acima nos levam à problematização: como transformar
no sistema educacional situações que já não se justificam, como construir novas
formas de educar que possam, ensinar a arte de viver e amar, a arte da justiça,
a ética, a solidariedade, o viver com qualidade e plenitude?
534
biodanza ® : uma pedagogia de vida
Sementes de esperança
535
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
536
45
A equoterapia e sua
interdisciplinaridade –
o terapêutico além
do movimento
Núcleo Educacional e Terapêutico Vida em Movimento
Claudionor,
Giovana Granchelli,
Jussara Sommerhalder,
Marcos Duran,
Mônica Losso,
Nádia G. Passini,
Sabrina P. Morelli,
Tânia Marcon
537
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
538
a equoterapia e sua interdisciplinaridade – o terapêutico além do movimento
539
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
540
a equoterapia e sua interdisciplinaridade – o terapêutico além do movimento
541
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Médico
Instrutor de equitação
Fisioterapeuta
542
a equoterapia e sua interdisciplinaridade – o terapêutico além do movimento
Terapeuta Ocupacional
543
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Fonoaudiólogo
Pedagogo
544
a equoterapia e sua interdisciplinaridade – o terapêutico além do movimento
Psicólogo
545
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
546
a equoterapia e sua interdisciplinaridade – o terapêutico além do movimento
Referências bibliográficas
547
46
Acupuntura, cinco elementos
e cinco emoções
Jorge G. Splettstoser
549
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
550
acupuntura , cinco elementos e cinco emoções
551
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Ynn Yang
Metal pulmão intestino grosso
Água rim bexiga
Madeira fígado vesícula biliar
Fogo coração intestino delgado
Terra baço-pâncreas estomago
O elemento fogo porém tem mais dois pares que são circulação sexualidade/
triplo aquecedor.
552
acupuntura , cinco elementos e cinco emoções
553
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Ataca Transtorna
Medo Água rim / bexiga
Raiva Madeira fígado / vesícula biliar
554
acupuntura , cinco elementos e cinco emoções
coração /
intestino delgado
Alegria Fogo
circulação sexualidade /
triplo aquecedor
baço-pâncreas/
Melancolia Terra
estômago
pulmão /
Tristeza Metal
intestino grosso
555
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
556
acupuntura , cinco elementos e cinco emoções
557
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Qualquer doente pode ser tratado com acupuntura, da mesma forma que
qualquer doença. Hoje em dia as aplicações dessa arte médica estão sendo
empregadas em todos os setores da medicina, da psiquiatria à oncologia; no
tratamento das dores crônicas, na anestesia inclusive de grandes cirurgias etc.
Também tem um largo uso na veterinária e por incrível que pareça na agricultura.
Unindo forças, com o arsernal científico moderno a acupuntura vai sem
dúvida ser elucidada e muitos benefícios serão conquistados para uma medicina
mais preventiva, menos invasiva e muito barata favorecendo uma vida melhor.
Referências bibliográficas
558
47
Desenvolvimento de
Interfaces Pessoa -
Computador (IPC) e suas
contribuições para a
reabilitação
Elizeu Coutinho de Macedo
Introdução
559
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
560
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
561
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
562
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
563
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Figura 78.1. Tela do sistema NoteVox (Capovilla et al., 2000) com acionamento
por linhas e colunas (à esquerda) e com padrão de busca visual de letras por
sujeito exposto ao sistema (à direita).
564
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
565
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
566
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
567
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
568
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
Referências bibliográficas
569
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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570
desenvolvimento de interfaces pessoa - computador ( ipc )
571
48
Fatores de risco e de
proteção: discutindo o
desenvolvimento infantil
Carolina de Aragão Escher Marques
explicar as mudanças que ocorrem com a criança com o passar do tempo. Mais
especificamente, Meece (1997) aponta três grandes objetivos que balizam os
estudos acerca do desenvolvimento: descrever como as crianças se modificam
de um ano para outro, como os diferentes aspectos do desenvolvimento se inter-
-relacionam e porque o desenvolvimento procede em determinada direção.
A preocupação atual mais evidente na Psicologia como um todo e, em
especial, na Psicologia do Desenvolvimento refere-se, segundo Rossetti-Ferreira
(2004), a apreender e a analisar os fenômenos complexos em suas múltiplas
dimensões, de maneira integrada e inclusiva, em uma visão geralmente referida
como sistêmica. Os usos e interpretações desta abordagem são muito variados,
entretanto, alguns pontos mais ou menos consensuais incluem o foco nas
pessoas em interação, o reconhecimento da interdependência, da reciprocidade
e do sinergismo entre as diferentes pessoas, e, por fim, incluem uma investigação
do desenvolvimento situado, ou seja, em contexto.
Na prática, contudo, o desenvolvimento humano ainda tem sido tradi-
cionalmente estudado em laboratórios, onde são verificados, por exemplo,
os tempos de emergência das capacidades, os seus limiares, os efeitos causais
de variáveis independentes sobre as dependentes. São simuladas tarefas de
aprendizagem, de memória e, até mesmo, comportamentos sociais em settings
razoavelmente sofisticados e criativos, mas com resultados, muitas vezes,
extremamente afastados da vida real (Paúl, 1995).
Entretanto, segundo Guzzo (2002), quem vive o dia a dia em uma situação
real sabe que não se pode compreender o que acontece com uma criança, nem
mesmo propor alguma solução para um problema ou dificuldade em seu
desenvolvimento, sem uma observação minuciosa de todos os sistemas em que
ela se desenvolve. Apenas a compreensão teórica baseada em alguns estudiosos
do desenvolvimento humano não é suficiente, uma vez que a ciência e a vida,
no seu cotidiano, devem caminhar juntas.
Esta afirmação torna-se preocupante ao considerarmos, de acordo com
Bastos (2001), que uma importante parte da Psicologia tem sido construída de
observações acerca do contexto de crianças brancas, ocidentais de Primeiro
Mundo e de classe média. O problema é que, mesmo com os avanços tecnoló-
gicos e com o fantástico crescimento na produção de serviços e bens materiais
573
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
nas últimas décadas, a distribuição desumana destes bens faz com que dois
terços da humanidade viva em uma realidade de pobreza (Boff, 2000).
Com base nesta realidade, conclui-se que a Psicologia e a pesquisa científica
não vêm oferecendo respostas satisfatórias para várias questões relativas ao
desenvolvimento de crianças em situação de risco social. Mesmo com um
volume substancial de pesquisa na área do desenvolvimento infantil, grande
parte da qual é descritiva, há uma série de questões que ainda precisam ser
investigadas para melhor entender o desenvolvimento desta população (Hutz
e Koller, 1996).
Especificamente com relação à realidade brasileira, cerca de um terço das
crianças e adolescentes vive em famílias com renda igual ou menor a meio salário
mínimo. Mais especificamente, 27,4 milhões de meninas e meninos brasileiros
vivem em situação de pobreza (Niimi, 2003). Apesar deste triste dado estatístico,
Trombeta e Guzzo (2002) assinalam que as políticas de proteção social no Brasil
são caras, fragmentadas, discriminatórias e ineficientes, priorizando sempre a
remediação em prol de ações preventivas.
No entanto, os programas de prevenção vêm ganhando um lugar de destaque
na função de entender e acompanhar o desenvolvimento das crianças para
assegurar o menor impacto possível de condições de risco sobre o curso de suas
vidas. De acordo com Silva (2002), nas sociedades em que o capitalismo foi, com
o passar dos anos, intensificando as desigualdades sociais e as diferentes formas
de marginalização social, como é o caso do Brasil, as estratégias de prevenção
de saúde tanto em níveis individuais como sociocomunitários, são prioritários.
A American Psychological Association (APA) define as intervenções
preventivas para jovens como aquelas que envolvem a redução da incidência
de problemas psicológicos e físicos, assim como a intensificação de competências
sociais e de saúde (Weissber; Kumpfer e Seligman, 2003). Embora algumas
práticas específicas possam ser mais relevantes para determinado contexto ou
população alvo, Nation, Crusto, Wandersman, Kumpfer, Seybolt, Morrissey-
-Kane e Davino (2003) apontaram que uma das características básicas que
programas de prevenção com sucesso costumam seguir é justamente a utilização
de uma estrutura baseada em fatores de risco e de proteção que envolve as
famílias, os pares, a escolas e a comunidade como parceiros para atingir os
resultados esperados.
574
fatores de risco e de proteção : discutindo o desenvolvimento infantil
575
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
576
fatores de risco e de proteção : discutindo o desenvolvimento infantil
Referências bibliográficas
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
578
49
Dificuldade de aprendizagem
e família: construindo novas
narrativas
Elizabeth Polity
Introdução
Síntese teórica
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
580
dificuldade de aprendizagem e família : construindo novas narrativas
581
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Apresentação
582
dificuldade de aprendizagem e família : construindo novas narrativas
583
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
584
dificuldade de aprendizagem e família : construindo novas narrativas
um certo grau de autonomia e individualidade, que por sua vez nos permitem
elaborar nossa própria identidade.
A pouca diferenciação entre os membros da família leva a uma confusão
de papéis que provoca perturbações na estrutura hierárquica da família, com
inversões nas quais os filhos se tornam pai e os pais se tornam filhos, ou são
todos irmãos, sem haver uma divisão nítida de papéis. A família nuclear não se
separara o suficiente das respectivas famílias de origem e não estabeleceram o
que Minuchin chama de fronteiras geracionais. (Minuchin, op. cit.)
A criança com dificuldade de aprendizagem, que é o objeto de nosso estudo,
está na maior parte das vezes situada numa família onde seu discurso não encontra
um sentido. A ela muitas cabe a função de carregar o peso da história do grupo.
Esta função pode ser demasiado difícil e ela não conseguir dar conta.
É quando surgem os sintomas: notas baixas, falta de atenção, dificuldade
ou lentidão de raciocínio. Ele fica nas nuvens; Nunca traz as lições, seus cadernos
estão incompletos; Não faz nada durante as aulas, parece que eu falo com as
paredes; comentam os professores.
Cada grupo familiar introduz expectativas e valores sobre como o filho
deve ser, como deve se comportar e passa, mesmo sem o saber, os sonhos sobre a
vida profissional futura da criança. Desde seu nascimento começam as profecias
(acho que ele será um grande economista, como o avô), os mandatos (somos uma
família de advogados), as comparações (ele deve se esforçar para tirar notas boas
como o irmão), as lealdades (meus pais são analfabetos, acho que também não
preciso estudar muito) os segredos (sempre achei melhor não lhe falar nada sobre
a adoção). Todas estas situações marcam profundamente o desenvolvimento
futuro da criança impondo-lhe tarefas que estão em desarmonia com suas
capacidades, aptidões ou mesmo desejos.
Para que uma criança aprenda é necessário que ela tenha o desejo de
aprender. E que sobretudo o desejo dos pais a autorizem. Como diz Maud
Mannoni, numa belíssima metáfora, as crianças andam não só porque tem pernas
mas porque seus pais assim o permitem.
Bowby (1993) afirma que a existência de uma criança com problema representa
uma ruptura para os pais. As expectativas construídas em torno do filho normal
tornam-se insustentáveis. Vistos como uma projeção dos pais, estes filhos representam
585
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
Ao longo de seu Ciclo Vital, o ser humano traz dentro de si, muitas famílias:
a da sua infância, a da sua adolescência, a da sua fase adulta, com filhos e netos,
e em todas elas a herança familiar é seu legado mais forte. Ser bem-sucedido,
do ponto de vista intelectual (poder aprender e fazer uso do conhecimento,
como uma apropriação legítima), está intimamente ligado à forma como o
funcionamento destas famílias internas de suas relações atuais permitem que
o sujeito construa sua relação com a aprendizagem.
A criança vem inscrita no desejo materno, afirma a psicanálise, e os pais que
se vêem às voltas com a frustração de ter um filho diferente tendem a estabelecer
vínculos patológicos com essa criança.
Algumas vezes, na tentativa de superprotegê-la, encobrem sua raiva e frus-
tração, outras colocam-na num plano de menos valia, determinando para ela,
através de mitos, mandatos, lealdades, uma incompetência que está muito longe
586
dificuldade de aprendizagem e família : construindo novas narrativas
587
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
588
50
“Estou com vergonha
de mim”: a reflexividade
auxiliando o trabalho
disciplinar na sala de aula
Ana Maria Falcão de Aragão Sadalla
A frase que nomeia este texto foi dita por um professor, cuja vida docente
compreendia 20 anos, e que atuava em uma escola pública municipal da periferia
da cidade de Campinas. Este profissional queixava-se de, diferentemente dos anos
anteriores, não conseguir ministrar aulas para classes de 5a a 8a séries naquele
ano letivo, em função de estar enfrentando inúmeros problemas disciplinares
com seus alunos. Ao relatar para o grupo de docentes o que ocorrera na sua
sala de aula, emocionado, o professor afirmou que não imaginara que um dia
chegaria ao ponto de pensar em desistir da docência devido a comportamento
de alunos em classe.
Usar bonés ou óculos escuros em sala de aula, apoiar o pé sobre a própria
cadeira, mascar chiclete, emprestar material escolar para os colegas. Estes
são alguns exemplos de comportamentos não permitidos para alunos de
determinados professores uma vez que são considerados comportamentos
589
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
590
“ estou com vergonha de mim ”
isto não acontecesse, além de se correr o risco de não haver uma coerência entre
o que se pretende com os direitos e deveres discentes e docentes, há também a
possibilidade de membros diversos da comunidade escolar terem opiniões dife-
rentes acerca de determinados atos e suas consequências, o que não colaborará
em nada na direção da promoção do desenvolvimento dos alunos.
Além disso, a falta de acordo entre os professores de uma escola na
implementação das regras em sala de aula pode levar a comportamentos
indisciplinados, pois a falta na consistência em sua aplicação, bem como a falta
de comunicação entre o que é permitido ou não, pode levar aos alunos a terem
dificuldade de levantar hipóteses acerca de comportamentos ou procedimentos
mais ou menos adequados. Assim, se não houver consistência, dificilmente os
alunos poderão analisar com tranqüilidade o que é adequado ou não de ser
feito dentro da escola.
Estrela (1984) aponta que os comportamentos indisciplinados dos alunos
podem variar segundo uma escala, indo de ações que perturbam as funções
que devem executar, passando pela recusa de papéis que lhes são prescritos,
buscando, inicialmente, atingir o professor na sua autoridade docente, até chegar
ao ponto máximo que representa um comportamento que pretende atingir o
professor de modo pessoal, e não apenas como profissional.
Além de estes comportamentos causarem um grande desgaste de tempo
para que o docente consiga promover o processo de ensino-aprendizagem na
sala de aula, são extremamente prejudiciais às funções docentes, pois o professor
acaba assumindo atitudes defensivas, ficando sob tensão, além de chegar a ponto
de analisar cuidadosamente a possibilidade de abandonar sua profissão1.
Goergen (2001) aponta a educação moral como possível e necessária, mas
afirma que não se deve acreditar na transmissão de valores morais aos discentes
dentro da escola. É fundamental, segundo o autor, que sejam oferecidas situações
reais de vivência para que os alunos possam fazer reflexões acerca de seu agir
moral. Se o cotidiano for problematizado visando discussões de atitudes e
procedimentos consensuais na escola, os alunos terão melhores condições de
analisar seus atos e conseqüências.
591
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
592
“ estou com vergonha de mim ”
593
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
valor, optando-se, assim, pela discussão acerca dos objetivos do sarau cultural
recentemente ocorrido nas dependências da escola.
Ao ser vivenciada esta proposta com o corpo docente, a discussão da atividade
promoveu na comunidade escolar a conclusão, de forma coletiva, que havia a neces-
sidade de uma alteração mais profunda na estrutura, organização e funcionamento
curriculares, nas ações docentes cotidianas, tanto no que se referiam às estratégias
de ação, bem como ao conteúdo a ser ministrado, ou seja, era necessária uma
transformação no projeto político-pedagógico da escola de forma fundamentada.
As reuniões realizadas pelo corpo docente, funcionários, equipe de gestão
escolar e universidade começaram também a evidenciar diferenças significativas
de comportamento, atitude e postura dos alunos em situações extraclasse
nos momentos em que eram agrupadas diferentes séries (de 1a à 8a), assim como nos
eventos cuja participação dos alunos era mais intensa e direcionada, mesmo em
situações de competição, como ocorreu na gincana que envolvia toda a comunidade
escolar, o que motivava a equipe da escola a buscar elaborar um projeto pedagógico
que envolvesse experiências inovadoras e mais significativas aos alunos.
Parceria. Esta é a palavra que melhor traduz o movimento de construção
daquele projeto que conjugou escola e universidade públicas, buscando-se não
só reconhecer os problemas, as necessidades, os questionamentos e os dilemas
originados na realidade escolar, mas também trazer as fundamentações teóricas
que pudessem subsidiar a tomada de decisões na busca coletiva de superação
dos conflitos cotidianos3.
Uma das grandes conquistas neste ano, a partir destas reuniões coletivas,
foi o notável fortalecimento do grupo de docentes, atuando de forma a discutir e
debater aspectos fundamentais do processo ensino-aprendizagem. Deste modo,
as alterações no projeto pedagógico da escola podem ser vistas como resultado
desta interação ocorrida entre os membros do corpo docente, de funcionários
e os demais profissionais envolvidos, deixando evidente que a Psicologia pode
auxiliar os docentes a compreenderem as relações entre desenvolvimento-
3 Da redação deste projeto, foi enviada à Fapesp uma solicitação de apoio dentro da
rubrica especial Escola Pública, que poderá favorecer o desenvolvimento do trabalho
como um todo. Entretanto, ainda não houve tempo hábil para que a resposta a este
pedido fosse enviada.
594
“ estou com vergonha de mim ”
Referências bibliográficas
595
51
Propostas político-
-pedagógicas de organização
do processo escolar:
algumas tendências
Maria José Viana Marinho de Mattos
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
598
- pedagógicas de organização do processo escolar
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
600
- pedagógicas de organização do processo escolar
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
602
- pedagógicas de organização do processo escolar
1 Santa Catarina instituiu os ciclos escolares com progressão continuada, por um período
prolongado de 1970 a 1983.
603
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
604
- pedagógicas de organização do processo escolar
1996 alcançou 28,1% em 2002, lembrando que este Estado teve dois movimentos
importantes neste período: o primeiro, a obrigatoriedade de organização em
ciclos escolares em 1998 (gestão de Eduardo Azeredo) e, o segundo, na gestão de
Itamar Franco (1999-2002), quando a SEE/MG delegou às escolas competência
para definir a forma de organização do ensino fundamental.
Nesse quadro de revisão, outro aspecto observado, é a diversidade de
conceitos da expressão ciclos, blocos e níveis, presentes na literatura, na legislação
e nos documentos das redes públicas de ensino do país, para caracterizar uma
organização de ensino oposta à seriação, ou seja, a desseriação. Nos países
europeus, por exemplo, a literatura refere-se à organização escolar em ciclos
de aprendizagem; nos países latino-americanos usam-se ciclos escolares, níveis e
blocos, como na maioria das propostas educacionais brasileiras. No entanto, há
propostas que defendem os Ciclos de Formação Humana, proposta defendida
por alguns educadores entre eles Arroyo (1999), Rodrigues (2001), quando se
referem à organização da escola, aos conteúdos, aos tempos e espaços escolares
entendidos como ciclos de desenvolvimento dos educandos.
No conjunto das propostas político-pedagógicas de organização escolar em
ciclos, identificamos que a organização do processo escolar vem acompanhada
de diferentes formas de promoção do estudante, as mais comuns são: a promoção
automática, classes de aceleração e progressão continuada.
A promoção automática talvez seja a mais controvertida e mais radical das
políticas de correção de fluxo, pois sua principal característica aparece como
proposta de eliminação da reprovação no ensino fundamental.
Outra medida adotada pelas políticas educacionais que acompanham
o regime de ciclos é a aceleração de estudos que é uma forma de propiciar a
alunos, com atraso escolar, a oportunidade de atingir o nível de desenvolvimento
correspondente a sua idade. Estudantes com atraso escolar são aqueles que se
encontram com idade superior a que corresponde à série, período ou ciclo que
esteja cursando (CEE/MG, 1997). Vale ressaltar o Programa de Aceleração da
Aprendizagem adotado pelo MEC com a adesão de alguns sistemas estaduais
e municipais, como política nacional de correção do fluxo escolar dos alunos
das quatro primeiras séries do ensino fundamental que apresentam defasagem
idade/série de dois anos ou mais.
605
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
606
- pedagógicas de organização do processo escolar
que, em breve, todos tenham oito anos de escolarização, mas não o acesso aos
mesmos níveis de conhecimento (Oliveira, 2000).
Outra questão observada é que as análises decorrentes das políticas de
correção do fluxo tendem a integrá-las às políticas inclusivas, pois estão voltadas
para o enfrentamento do fracasso escolar e “à construção de uma escola demo-
crática, onde todos entrem, todos aí permaneçam aprendendo e todos sejam
incluídos” (Setubal, 2000).
Diante da complexidade da temática e considerando pesquisa recente
realizada junto a um grupo de educadores, identificamos que as tendências
de organização do processo escolar estão relacionadas ao processo de imple-
mentação dos programas de qualidade e equidade do ensino, entendidos como
um conjunto de programas que garantam a eficácia do sistema educacional,
acompanhada de programas de formação e capacitação docente e de condições
institucionais necessárias para sua efetivação.
Enfim, os princípios de flexibilização e de autonomia escolar garantem
a formulação de propostas político-pedagógicas de organização do processo
escolar, desde que formuladas e implementadas articuladas a outras medidas
que visam o processo educativo.
Desta forma, para uma análise mais elucidativa acerca das formas de
organização escolar e das políticas de correção do fluxo escolar, não podemos
nos afastar do problema da repetência e da evasão escolar, pois são problemas
crônicos, que sempre estiveram presentes na história da educação brasileira. Os
prejuízos causados à organização escolar e ao financiamento do sistema educa-
cional, as dificuldades enfrentadas no tocante ao processo de aprendizagem dos
estudantes e os problemas decorrentes da repetência no plano pessoal, familiar
e social são os desafios emergentes enfrentados por nós educadores.
Referências bibliográficas
607
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
608
52
Avaliação da aprendizagem:
uma relação ética
Vasco P. Moretto
Introdução
609
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
repressão, como meio de garantir que uma aula seja levada a termo com certo
grau de interesse por parte dos estudantes. Sentenças como anotem, pois vai cair
na prova, prestem atenção neste assunto, porque na semana que vem tem prova,
se não ficarem calados vou fazer uma prova surpresa, já que vocês não param de
falar, considero a matéria dada e vai cair na prova, ou outras que se equivalem,
são fortes indicadores de como a avaliação da aprendizagem tem sido utilizada
por muitos professores.
Se para o professor esse processo gera angústia, podemos imaginar o que
ele representa para os alunos. Momento de acerto de contas, A hora da verdade,
A hora de dizer ao professor o que ele quer que se diga, A hora da tortura, são
algumas das muitas representações em voga no meio dos alunos de todos os
níveis de educação. Enquanto não há “prova marcada”, alguns alunos encontram
um álibi para não estudar. E se o professor disser que a meteria será dada em
aula, mas não cairá na prova, quem precisa estudar?
Para muitos pais, a prova também não cumpre seu real papel. Se a nota
foi razoável ou ótima, eles se dão por satisfeitos, pois pressupõem que a nota traduz a
aprendizagem correspondente, o que nem sempre é verdade. E os alunos sabem
disso! Se a nota foi de “aprovação” (não foi nota vermelha!), o aluno a apresenta
como um troféu pelo qual “deve receber recompensa” (saídas autorizadas,
aumento de mesada, férias no exterior etc.). Quanto ao sentimento do dever
cumprido... Ah! Isso nem vem ao caso!
Diante de tais constatações, a avaliação da aprendizagem precisa ser
analisada sob novos parâmetros, ressignificada e assumir seu novo papel no
processo de intervenção pedagógica.
610
avaliação da aprendizagem : uma relação ética
visão de ensino, o aprender tem sido visto como a forma de gravar informações
transcritas para um caderno (cultura “cadernal”) e devolvê-las da forma mais
fiel possível ao professor na avaliação. Expressões como o que será que o professor
quer com esta questão, professor, a questão 7 não estava no caderno de ninguém,
professora, dá para explicar o que a senhora quer com esta questão?, professor,
decorei todo o questionário que o senhor deu e o perguntou tudo diferente na prova
são indicadoras de que a preocupação dos alunos é satisfazer os professores,
é tentar responder a tudo o que se imagina que o professor quer que o aluno
responda.
Dentro desta visão, que classificamos de tradicional por ser o que ainda
domina fortemente o processo de ensino nas escolas de hoje, a avaliação da
aprendizagem é vista como um processo de “toma lá, dá cá”, em que o aluno
deve devolver ao professor o que dele recebeu e, de preferência, exatamente
como recebeu. Não cabe interpretação e nem muita criatividade.
A relação professor-aluno, concebida da forma acima descrita, é identificada
como uma espécie de dominação, de autoritarismo, de submissão. É uma forma
perniciosa no processo de formação para a cidadania.
A perspectiva construtivista para a educação em contexto escolar estabelece
uma nova relação entre o professor, o aluno e o conhecimento. Parte-se do
princípio que o aluno não é um mero acumulador de informações, ou seja, um
simples receptor-repetidor de dados, mas, ao contrário, o fundamento é que ele
seja visto como o construtor de seu próprio conhecimento, este constituído de
uma rede de relações significativas entre dados considerados relevantes para o
contexto do aluno.
Esta construção se dá com a mediação do professor, mas na ação do aluno,
que estabelece a relação entre suas concepções prévias e o objeto de conhecimento
proposto para o estudo. Assim, fica claro que a construção do conhecimento,
neste enfoque, é um processo interior do sujeito da aprendizagem, estimulado
pelas condições exteriores criadas pelo professor. Por isso, cabe a este o papel
de catalisador do processo da aprendizagem. Catalisar/mediar/facilitar são
palavras que indicam o novo papel do professor no processo pedagógico de
interação com o aluno.
611
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
612
avaliação da aprendizagem : uma relação ética
que o professor quer que o aluno responda. Por isso, muitos alunos, na hora das
provas, levantam a mão (quando o fazem!) e perguntam: “Professor, o que o
senhor quer mesmo com esta questão 5?”. Veja, o aluno não pergunta “o que diz
a questão 5”, mas deseja saber o que o professor quer que se escreva. Ele sabe,
na cultura do “toma lá, dá cá”, que deve escrever o que o professor quer, mesmo
que na questão proposta isto não esteja claro.
Certa vez encontrei, em uma prova de ciências, a seguinte pergunta: Como
é a organização das abelhas numa colmeia?. O aluno simplesmente respondeu:
É joia! A interpretação do aluno está correta para a pergunta feita. E qual será o
parâmetro para a correção? Não está claro na pergunta. Muitas outras respostas
podem ser dadas, tais como: é maravilhosa, é espetacular, é surpreendente etc.
O que dirá o professor? Certamente dará zero para a questão e justificará sua
ação afirmando: O aluno assistiu minha aula, logo deve saber o que eu quero
e da forma como foi dado. É sobre isso que queremos chamar a atenção. Essa
afirmação traduz uma visão clara da didática que conceituamos como tradi-
cional: o professor (detentor do conhecimento) passou as informações (leia-se
informações e não conhecimentos) aos alunos (receptores-repetidores) e estes
copiaram em seus cadernos (cultura cadernal!) e na hora da prova devem repetir
o que receberam (Pedagogia Bancária denunciada por Paulo Freire).
613
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Contextualização do conteúdo
Ao ler a questão, o aluno deve perceber com clareza os parâmetros que serão
utilizados na correção de sua resposta. Assim, uma questão como Caracterize
os gases fica sem parâmetro, pois não o aluno não sabe quantas características
deve colocar e de que tipo elas devem ser. Ao passo que o enunciado Apresente
ao menos três características dos gases, dentre as que estudamos em aula indica,
de forma mais clara, o critério que será utilizado na correção da reposta.
Costumamos afirmar que os alunos não sabem ler e nem escrever. Na hora
da avaliação – momento privilegiado de estudo — não lhes proporcionamos a
oportunidade de leitura e de escrita. Com frequência são elaboradas questões
de forma direta, do tipo: “O que é rocha?”, “O que é república?”, “O que é
uma ilha?”, “Defina densidade”, “Defina morro e montanha”. Com este tipo
de questões, as respostas serão, certamente, do tipo: “Rocha é ....”, “República
é ...”, “Densidade é ...” etc. O que estamos ressaltando é que o contexto deve
favorecer a leitura e as perguntas elaboradas devem provocar argumentações,
descrições, relações, análises, sínteses, etc. O aluno deve ser estimulado a
escrever, embora não se deva descartar instrumentos de avaliação com outro
tipo de questão, como do tipo múltipla-escolha, completar, verdadeiro-falso,
etc. Se alguém levantar o argumento: e depois, como vou corrigir se dou 40
614
avaliação da aprendizagem : uma relação ética
aulas por semana? Ou, tenho 200 alunos fazendo provas e não tenho tempo
para ler tudo o que eles escrevem. Pense no seu profissionalismo. Esta limitação
é real e deve ser levada em conta, mas não deve ser fator para abandonar outras
formas que estimulem o pensamento e a criatividade do aluno.
615
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
616
avaliação da aprendizagem : uma relação ética
Referências bibliográficas
617
53
Problemas de aprendizagem:
diagnóstico e suas
consequências sociais
Shirlei Lizak Zolfan
619
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Vale lembrar também da questão emocional que apesar de ela poder não
ter provocado o problema que a criança apresenta, pode contribuir para o
agravamento dos distúrbios.
Outro fator a ser levantado é em relação ao tipo de relacionamento estabe-
lecido entre professores e alunos e entre os alunos da classe, pois poderá criar
boas condições para o aprendizado bem como, pode dificultá-lo muitíssimo.
A ênfase, muitas vezes, colocada no desempenho da criança pode dar
a impressão de que seu progresso ou o seu fracasso depende exclusivamente
dela. Entretanto, isso não é verdade. O problema pode estar na relação entre
suas características e o método empregado pela escola, nas características da
professora, nos seus colegas de classe, e muitos outros. Portanto, uma criança
que apresente problemas de aprendizagem não exime o professor da busca
de condições adequadas ao seu repertório. Pelo contrário, as crianças que
apresentam problemas de aprendizagem geralmente são capazes de aprender
se as condições forem favoráveis.
Algumas vezes é possível, à própria escola, avaliar e dar o atendimento
necessário a uma criança que vem apresentando problemas de aprendizagem.
Esta é uma situação privilegiada que evita uma sobrecarga ao aluno e oferece
possibilidades de que os resultados obtidos se mantenham, porque o problema
foi trabalhado na situação em que eles ocorrem.
620
problemas de aprendizagem : diagnóstico e suas consequências sociais
Porém, isso não acontece, porque muitas vezes a escola não dispõe de
recursos necessários para tal avaliação e tratamento do problema da criança,
sendo necessário o encaminhamento para profissionais especializados fora da
escola. As crianças que apresentam problemas de aprendizagem são encami-
nhadas a profissionais pela escola com intuito de ser realizada uma avaliação
desses problemas que apresentam em sala de aula e prejudicam a aprendizagem.
Para que a escolha do encaminhamento seja mais adequada possível é
preciso considerar as características do caso e as informações que a escola dispõe.
Assim:
a) Quando é possível descartar a hipótese de existência de distúrbios de
aprendizagem, pois o problema é de ordem exclusivamente orgânico
(deficiência auditiva ou visual, por exemplo) ou de ordem emocional,
o encaminhamento deve ser feito para um profissional ou instituição
competente para resolver cada um destes tipos de problema.
b) Quando em um primeiro momento a avaliação da escola não puder ser
conclusiva ou se existir forte suspeita de distúrbios de aprendizagem, o
encaminhamento ideal seria para uma psicopedagoga ou para o profis-
sional da área que parecer mais comprometida.
621
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
622
problemas de aprendizagem : diagnóstico e suas consequências sociais
623
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
Briggs, D. C. A Auto estima do seu Filho. Tradução Waltensir Dutra. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2002.
Tiba, I. Quem Ama Educa! São Paulo: Editora Gente, 2002.
624
problemas de aprendizagem : diagnóstico e suas consequências sociais
625
54
Dando voz às crianças:
privilegiando a dimensão
afetiva na educação infantil
Paula Saretta
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
628
dando voz às crianças : privilegiando a dimensão afetiva na educação infantil
629
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
dos direitos trabalhistas, mais famílias procuravam as creches e isso fez com
que as características e os objetivos destas instituições se transformassem cada
vez mais. Porém, como afirmam Amorim e Rossetti-Ferreira (2003), “apesar
dos avanços, a prática e as rotinas nas creches têm muito a se modificar, sendo
que muitas questões de relevância para a educação infantil continuam, ainda,
por serem resolvidas”.
Oliveira (2002) discute as heranças que estes modelos deixaram na educação
infantil e acredita que, em geral, apesar de as escolas de educação infantil estarem
buscando ainda uma identidade própria, pode-se notar em muitas instituições
um ensino individualista, com atividades pouco significativas, realizadas dentro
de rotinas rígidas e inflexíveis. Sendo comum prevalecer a ideia de educação
infantil apenas como preparatória para o ensino fundamental.
Para superar algumas destas questões, um aspecto que merece atenção é
o próprio conceito de infância. Este termo tem o sentido de não fala (in-fans),
originado nos períodos clássico e medieval e que caracterizava uma época em
que as crianças eram vistas como seres com tendências selvagens e depois como
representantes da natureza pecadora do homem (Oliveira, 2002; Reis, 2002).
Reis (2002) considera que o fato de a criança ser caracterizada como um ser
que não tem condições de falar, de se expressar tem elementos muito antigos, e
acredita que, ainda hoje, as crianças são encaradas pelos adultos como objeto de
sua empatia, de sua proteção, de seu controle, de maneira que infância acaba não
sendo dita por si, mas pelos outros. A autora ainda discute a subordinação da
própria criança na imagem projetada pelo adulto, no sentido de que estes têm,
na maioria das vezes, uma concepção idealizada de infância, descontextualizada
da realidade. Deste modo, parece que muitas vezes os adultos se relacionam não
com as crianças reais, concretas, mas com um adulto futuro, ou seja, com um
ser que será alguém no futuro.
Podem ser vistas em todo o mundo concepções diversas em relação à
própria infância que, segundo Oliveira (2002), têm pesos políticos próprios,
uma vez que os familiares e os educadores acabam alimentando ideias diferentes
acerca das habilidades e necessidades das crianças, favorecendo o estabeleci-
mento de metas diversificadas, até muitas vezes divergentes em relação ao que
elas deveriam alcançar.
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dando voz às crianças : privilegiando a dimensão afetiva na educação infantil
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
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dando voz às crianças : privilegiando a dimensão afetiva na educação infantil
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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55
Neuropsicologia e
biociências: aprendendo
ecologia humana com um
novo olhar – sobre si mesmo
e os outros – com base na
autopoiese1
João Beauclair
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
2 Vale a pena conhecer o número 17 da Revista Scientific American – Brasil, que trata
especificamente do tema Cérebro aperfeiçoado: o que a neurociência está fazendo por você.
Editado pela Duetto Editorial, o número 17 é da edição de outubro de 2003. Homepage
www.sciam.com.br
636
neuropsicologia e biociências
A essencialidade que devemos ter sempre desperta, cada vez mais neste
nosso século XXI caracterizado pela sociedade do conhecimento e da infor-
mação, é a de estarmos em prontidão para aprendermos novas competências
e desenvolvermos novas habilidades enquanto seres humanos viventes neste
espaçotempo terrenal.
Com base em minha vivência em múltiplos espaços e lugares de aprendi-
zagem, pretendo neste texto estabelecer conexões entre novas idéias e paradigmas
que pesquiso no decorrer de minha trajetória como aprendente-ensinante,
partindo do conceito de autopoiese proposto por Maturana e Varela (2002)2
como estímulo para iniciar um novo olhar sobre a própria Ecologia Humana,
destacando-a como uma nova perspectiva das Biociências capaz de nos ajudar
a resignificar nossas vivências clínicas-institucionais, com novos caminhos do
viver e novos espaços do sentir.
Proponho, por fim, um caminhar onde idéias em rede possam contribuir à
construção de outras possibilidades de ser, pensar, sentir e, principalmente, refletir e
agir em nossa contemporaneidade, resgatando principalmente nossa potencialidade
humana de estarmos, todos e todas, juntos/as na nossa comum trajetória humana.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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neuropsicologia e biociências
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
640
neuropsicologia e biociências
É óbvio que aqui o destaque que devo dar à palavra cognição está centrado
no item 4, vinculado à Psicologia. Trata-se de enfatizar que tudo que se refere
ao ato de conhecer perpassa efetivamente por nossos processos mentais, onde
podemos perceber fatos, coisas e objetos, recorrer à memória, estabelecer
parâmetros de classificação, além de, entre outras múltiplas possibilidades,
reconhecer movimentos plurais em nosso viver cotidiano.
Pelo que aqui propus ao nosso pensar, aprender é condição essencial para
uma existência sustentável, não somente no que se refere às organizações e
instituições, mas também aos próprios sujeitos.
Se me proponho a pensar num espaçotempo onde haja, de modo veloz,
um forte fluir de informações, conhecer, a princípio, está intimamente ligado
a nossa potencialidade de aprendizagem, tema/conceito que, na história da
humanidade, sempre foi debatido e que, na nossa contemporaneidade, ganha
espaço renovado e vincula-se ao pensar sobre os novos pilares para a educação
do século XXI, com todas as mudanças referentes aos paradigmas individuais
e aos paradigmas organizacionais, ou seja, ganham cada vez mais ênfase os
debates acerca da aprendizagem das organizações e instituições (Morin, 2000).
No decorrer das pesquisas do século 20, foi possível pensar e identificar, no
cérebro humano, como se processa a aprendizagem. No entanto, no que se refere às
organizações, ainda há muito espaço de discussão e caminhos abertos para pesquisa
e busca de constatações, principalmente sobre a questão da organização que aprende.
Tal espaço nos remete a revisitar as chamadas teorias da aprendizagem, que com
o seu desenvolvimento, trouxe a baila conjuntos de inúmeras possibilidades para
compreendermos, mais e melhor, a potencialidade humana de aprender.
Não foram poucos os estudos de educadores/as, psicólogos/as, biólogos,
psicopedagogos/as, entre outros especialistas que se envolveram (e ainda se
envolvem) com a temática do aprender. Em seus estudos, enfocam, entre
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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neuropsicologia e biociências
643
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
644
neuropsicologia e biociências
645
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
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Beauclair, J. Educação para a Paz: um estilo de ‘aprenderensinar’ e
‘ensinaraprender’ na perspectiva da Educação em Direitos Humanos
como possível suporte psicopedagógico. Publicado no site www.aprender-
ai.com.br e comunicação apresentada na mesa redonda “Estilos de Ensinar
e Aprender”, da II Jornada Regional de Psicopedagogia, promovida pela
ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia e organizada pelo
Núcleo Sul Mineiro de Psicopedagogia, na cidade de Poços de Caldas,
em 23/6/2001.
. A prática de ‘ensinagem’ no desenvolvimento de projetos edu-
cativos: potencialidades e condições básicas” apresentado na III Jornada
Cientifica da Universo / II Encontro Anual de Iniciação Científica da
Universidade Salgado de Oliveira. Campus São Gonçalo, RJ e publicado
no Caderno de Estudos e Pesquisas da Universo, volume especial, de
setembro de 2001. Este artigo também se encontra disponível no site
www.aprender-ai.com.br e na Revista Paradoxa – Projetivas Múltiplas
em Educação, Universo, v. 8 , n.º 10/11/2001 .
.Um pé na escola e outro no mundo: ideias de Paulo Freire para
um cotidiano escolar em Direitos Humanos. Revista Paradoxa —
Projetivas Múltiplas em Educação, Universo, v. 12, 2001.
. Vencer o Medo, Nutrir a Esperança, Cuidar da Vida, construir a
Paz: a contribuição (necessária) da Educação. Artigo apresentado como
comunicação oral no Encontro de Diretores e Supervisores de Ensino
da Coordenadoria Metropolitana IX, Itaboraí, Rio de Janeiro, dezembro
de 2002.
. Direitos Humanos na Prática Pedagógica: perspectivas, limites
e possibilidades. Dissertação de Mestrado em Educação. Programa de
pós-graduação e Pesquisa da Universo – Universidade Salgado de
Oliveira, Campus são Gonçalo, Rio de Janeiro, dezembro de 2002.
646
neuropsicologia e biociências
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56
Inclusão educacional e
telemática: a formação do
educador
Aidyl Pérez-Ramos,
Lucila Pesce
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Paradigma da Inclusão
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inclusão educacional e telemática : a formação do educador
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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inclusão educacional e telemática : a formação do educador
pensar e do sentir, com reflexos sobre sua prática pedagógica. Por sua estrutura
hipertextual, o foco da navegação telemática ocorre na circulação do fluxo de
informações, através de diversas formas de interatividade reticular, fortalecendo
tanto a comunicação como a memória dos envolvidos, comprovando Lévy
(1997, 1998).
Nesse cenário, a educação a distância, via telemática, pode vir a viabilizar
interações entre educadores de diferentes contextos — erguidas em meio
à multiplicidade de ideias, valores, culturas, linguagens regionais, crenças e
etnias. Fato que pode vir a contribuir significativamente para a formação dos
docentes que atuam no Paradigma da Inclusão, ampliando-lhes a perspectiva
de alteridade. Isso contribuiria significativamente à construção de conceitos
afetos ao Paradigma da Inclusão, nos programas de formação docente, erguidos
de experiências vividas e/ou compartilhadas.
Recomenda-se aos programas de formação a distância para professores
que atuam na perspectiva educacional inclusiva a utilização da EaD embasada,
principalmente, no construcionismo contextualizado, como anuncia Valente
(1998), em menção ao construcionismo de Papert (1994) e à construção de
conhecimento contextualizado de Freire (1997). Tais programas, ao se preocu-
parem em viabilizar a construção de um grupo de aprendizagem colaborativa,
acabam por explorar ao máximo os ambientes de interação do instrumental
telemático, tais como os chats, fóruns e listas de discussão. Nessa perspectiva,
a telemática pode privilegiar a reflexividade e a auto-organização dos profes-
sores em formação, de modo a apontar caminhos para o aprimoramento das
inteligências individuais, que se tornam mais complexas no desenvolvimento
da inteligência coletiva, tomando como base as ideias de Lévy (1998).
Também Machado (1997) partilha de tais ideias ao sublinhar que só
pode haver educação no contexto da proximidade, seja ela ideológica, afetiva,
conceptual entre outras, não precisando ser necessariamente geográfica. Dessa
forma, ao invés da utilização da telemática como processo de aprendizagem
passiva — situação em que os educadores em formação passam a ser simples
receptores nesse veículo — é importante o emprego desses recursos em EaD,
que privilegie o diálogo e as manifestações pessoais, dando-lhes vez e voz, qual
seja, uma utilização que os inclua como participantes ativos do seu próprio
processo de formação.
653
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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inclusão educacional e telemática : a formação do educador
Considerações finais
655
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
que considera e, por que não dizer, inclui o professor em seu próprio processo
de formação. Nesse sentido, uma abordagem de EaD que se erga em meio a
alguns pressupostos inclusivos, talvez possa contribuir de modo significativo ao
aprimoramento da prática docente, sob enfoque do Paradigma da Inclusão,
por possibilitar-lhe uma formação crítico-reflexiva, calcada na sistêmica meta-
cognição de seu percurso pessoal e profissional.
Referências bibliográficas
656
inclusão educacional e telemática : a formação do educador
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Valente, J. A. (Org.). Computadores e Conhecimento: repensando a Educação. 2.
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657
57
Neurofisiologia clínica
nas demências
Mário Silva Jorge
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
660
neurofisiologia clínica nas demências
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neurofisiologia clínica nas demências
Considerações finais
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Leituras Recomendadas
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neurofisiologia clínica nas demências
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666
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Plasticidade do Sistema
Nervoso Central
Luciana Auxiliadora de Paula Vasconcelos,
Regiane Luz Carvalho
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Desenvolvimento
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plasticidade do sistema nervoso central
embrionário, sabe-se que seu término dar-se-á somente alguns anos após o
nascimento. Assim, sabemos que esse sistema sofre influências não só gené-
ticas mas também do ambiente durante esse processo, sendo que esse último
apresenta-se de grande importância, o que torna necessário expor o sistema
nervoso não maduro a adequados fatores ambientais para a interação das
regiões cerebrais e para promover as alterações das estruturas celulares, o que
permitirá um melhor desenvolvimento das habilidades diversas regidas pelo
sistema nervoso como perceptuais, motoras, cognitivas e sociais (Oliveira et
al., 2001/2002; Annunciato, 1995). Rosenzweig e Bennett (1978) apresentaram
registros de trabalhos experimentais que constataram a alteração de morfologia
de células nervosas por estímulos ambientais, prejudicando ou favorecendo sua
atividade funcional.
Aprendizagem/Memória
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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plasticidade do sistema nervoso central
Pós-processo lesional
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Supersensitividade de desnervação
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plasticidade do sistema nervoso central
Potencialização sináptica
Brotamento regenerativo
Brotamento colateral
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plasticidade do sistema nervoso central
Referências bibliográficas
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plasticidade do sistema nervoso central
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Memória
Roberto Godoy
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Mecanismos da memória
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memória
Não obstante, alguns modelos são propostos para explicar essa função do
cérebro humano.
O primeiro dos modelos propostos tem como base a atividade elétrica
cerebral. Assim, a informação seria guardada em circuitos elétricos, ditos
reverberantes. Evidência desse mecanismo é obtida pela existência de conexões
neuronais recorrentes, ou seja, ramificações da célula nervosa (neurônio) que
voltam ao seu próprio corpo, reestimulando-a. É possível que esse mecanismo
esteja presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e
de curto prazo.
O segundo modelo baseia-se na produção de substâncias químicas que
conteriam um código relacionado às informações. Esse modelo supõe que os
neurônios possam sintetizar ARN (ácido ribonucleico) e que esta substância
conteria um código da memória da mesma forma que o ADN (ácido deso-
xirribonucleico) contém a codificação genética. Embora se tenha verificado
aumento da síntese de ARN em fases de aprendizado, atualmente acredita-se
que essa síntese seja responsável mais pelo funcionamento celular que pela
criação de um código químico, de forma a ter-se relegado a um segundo
plano essa hipótese.
Outro modelo pressupõe a alteração das conexões entre os neurônios, sendo
denominado modelo conexionista. Todos os neurônios emitem ramificações que
se comunicam com outros neurônios, tendo umas, caráter estimulante e outras,
caráter inibitório para a célula a que se destinam. A transmissão do impulso
nervoso é feita no ponto de encontro dessas ramificações com a célula alvo, ponto
esse denominado sinapse. Haveria alteração da função sináptica criando novos
circuitos neuronais e seriam esses circuitos que codificam as informações. Esse
modelo tornou-se bastante plausível depois que se comprovou, experimental-
mente, o aumento da resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos.
Assim, acredita-se que o substrato da memória é o aumento da função sináptica
(hipertrofia) ou a criação de novas sinapses. Esse modelo é bastante interessante,
pois, além de esclarecer como são guardadas as informações, permite explicar,
também, a atenuação das lembranças, fenômeno conhecido por todos e que
seria devido à diminuição da função sináptica causada pelo desuso.
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Amnésia
682
memória
das crises, mas ficou com amnésia anterógrada muito intensa. Esse caso, muito
estudado, além de demonstrar que déficits de memória podem surgir no pós-
-operatório, foi de fundamental importância para os estudos neuropsicológicos
da memória.
Esquecimento
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Fatores interferentes
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memória
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
686
memória
Referências bibliográficas
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Reabilitação da memória
Jacqueline Abrisqueta-Gomez
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reabilitação da memória
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reabilitação da memória
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reabilitação da memória
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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reabilitação da memória
inserção destes apoios deverá ser dividido em etapas individuais, sendo cada
uma delas cuidadosamente treinadas (Bird, 2000).
A determinante crítica no processo de aprendizado dessas ajudas externas
consiste no treinamento do paciente para lembrá-lo a fazer uso delas (isto é,
‘lembrar de consultar seu calendário ou agenda) como foi abordado nos trabalhos
de Clare et al. (2000). Portanto, é necessário ensinar ao paciente a utilizá-los o
mais independentemente possível, pois a dependência de dicas externas aliadas
às sugestões dos parentes ou cuidadores nem sempre são possíveis todos os dias.
Neste sentido, um meio de contornar essa dificuldade pode ser o uso de apoios
externos eletrônicos portáteis e de fácil manuseio, que transmitem na hora correta
as informações previamente gravadas para lembrar o paciente. O uso de alguns
dispositivos de ajuda de memória tem sido testado com sucesso em pacientes com
amnésia severa não progressiva (Wilson et al., 1997; Goldstein et al., 1998), aumen-
tando sua autossuficiência no dia a dia sem depender dos parentes ou cuidadores.
Um método similar também foi recentemente aplicado em pacientes com DA por
Zanetti et al. (2000), sugerindo possibilidades de intervenção em futuros projetos
de reabilitação da memória envolvendo este tipo de apoios, especialmente em fases
iniciais da doença. Embora os apoios externos eletrônicos ainda não tenham sido
amplamente testados e sua validade ecológica ainda não tenha sido confirmada,
podem ser um método de reabilitação poderoso (especialmente para as gerações
futuras), ativando no paciente que é treinado uma reação adequada para cumprir
de forma mais independente suas atividades.
Considerações finais
697
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
Abrisqueta-Gomez J., Brucki S. M. D., Canali F., Oliveira, E., Ponce, C., Vieira,
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Gerontologist 37: 30-39, 1997.
698
reabilitação da memória
699
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
700
reabilitação da memória
Zanetti, O., Zanieri, G., De Vreese, L. P., Frisoni, G., Binetti, G. & Trabucchi, M.
Utilizing an electronic memory aid with Alzheimer’s disease patients.
A study of feasibility. Paper presented at the 6th International Stockholm.
Symposium on Advances in Alzheimer Therapy, Stockholm, Sweden, 2000.
701
61
Atualização terapêutica em
neuropatias periféricas
Eduardo L. Ribeiro do Valle
Margareth Reiko Kai
Introdução
Diagnóstico
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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atualização terapêutica em neuropatias periféricas
Neuroanatomia e neurofisiologia
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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atualização terapêutica em neuropatias periféricas
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atualização terapêutica em neuropatias periféricas
Testes complementares
Eletroneuromiografia
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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atualização terapêutica em neuropatias periféricas
Biópsia
Tratamento
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atualização terapêutica em neuropatias periféricas
Considerações finais
Referências bibliográficas
713
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
714
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Variações da depressão:
aspectos psiquiátricos e
psicológicos
Yuristella Yano,
Teng Chei Tung
Aspectos psiquiátricos
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
e psicológico. Vale ressaltar que estas apresentações não ocorrem na vida real
de forma pura, como a maioria dos fenômenos naturais. Existem variações que
muitas vezes são complexas, e que acabam sendo um desafio clínico para a sua
compreensão e abordagem.
Depressão melancólica
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
Depressão psicótica
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Depressão sazonal
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
Depressão crônica
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
2. hipersonia
3. “paralisia de chumbo”
4. sensibilidade à rejeição interpessoal
C. Não preencher critérios para características melancólicas
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
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variações da depressão : aspectos psiquiátricos e psicológicos
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63
Ansiedade, estresse,
distúrbios do sono e saúde
no trabalho
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle,
Eduardo L. Ribeiro do Valle,
Sigmar Malvezzi,
Rubens Reimão
Ansiedade, estresse e sono são termos comuns à nossa vida diária. Parece
natural experimentar situações freqüentes de ansiedade nos dias de hoje frente a
exigências múltiplas que se desenrolam em nossos afazeres, enquanto o relógio
parece não acompanhar o ritmo de nosso tempo. O estresse, sem dúvida, resulta
de ansiedade que resulta em cansaço aumentado, mas também soa rotineiro.
O sono surge como uma atividade parada no tempo que se precisa gastar, nem
sempre como se gostaria...
O trabalho faz parte da vida humana e traz benefícios importantes. É um
meio de sobrevivência, de realização, de construção de identidade psicossocial,
mas pode ser um meio de adoecimento, quando surgem situações de ansiedade
ou estresse, gerando transtornos mentais, somáticos ou sociais, que inevitavel-
mente afetam o sono, criando um círculo vicioso de transtornos que acentuam
731
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
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ansiedade , estresse , distúrbios do sono e saúde no trabalho
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temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
734
ansiedade , estresse , distúrbios do sono e saúde no trabalho
que se desenvolve como uma prevenção de danos que uma atividade cansativa
ou prolongada poderia ocasionar ao corpo e ao cérebro, em particular. Além
disso, o sono tem um papel bastante ativo, que repara o desgaste que a vigília
ocasiona ao organismo, seja através da síntese de substâncias utilizadas durante
a vigília, pela eliminação das toxinas acumuladas ou pela elaboração psicológica
dos eventos através dos sonhos. Também tem sido considerado um processo
com função conservadora de energia, através do qual se promove a plasticidade
do corpo e mente, através de um afastamento por períodos prolongados.
Segundo Ayala-Guerrero, Aguilar e Medina (2010), o distúrbio do sono no
homem produz uma série de distúrbios orgânicos e mentais. Entre os efeitos da
privação do sono que têm sido descritos no homem, encontram-se:
▶▶ Deterioração da memória. A memória sofre uma diminuição signifi-
cativa na recordação de uma lista de palavras, porém, sem déficit no
reconhecimento de figuras.
▶▶ Distúrbios de aprendizagem. A leitura torna-se quase impossível, a
escrita ilegível e a linguagem inteligível.
▶▶ Alterações nas funções executivas, em geral, na intenção, na inibição
de respostas irrelevantes, nas tomadas de decisões e nas mudanças de
estratégia após a privação de sono.
▶▶ Alentecimento no desenvolvimento raciocínio matemático, mas sem
aumento do número de erros, relacionadas às variações circadianas da
temperatura corporal.
▶▶ Rebaixamento de respostas nas tarefas de atenção e concentração, com
grau de comprometimento mais pronunciado quando essas tarefas
são simples e repetitivas, do que quando são complexas e interessantes
e, mais ainda, nas tarefas que produzem incerteza em comparação as
repetitivas. Além disso, há uma deterioração maior quando a atenção
tem que ser seletiva, ao observar o potencial lento negativo ou variação
de contingência negativa (VCN) que precede o potencial evocado.
▶▶ O tempo de reação tende a aumentar em indivíduos privados de sono,
quando submetidos a um teste de sinais auditivos.
▶▶ Tarefas psicomotoras sofrem um déficit significativo no desempenho.
Demora aumentada na realização das atividades.
▶▶ O comprometimento cognitivo é acompanhado por mudanças na
735
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
736
ansiedade , estresse , distúrbios do sono e saúde no trabalho
737
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
738
ansiedade , estresse , distúrbios do sono e saúde no trabalho
739
64
Um paralelo entre ansiedade
e insônia – Epidemiologia,
diagnóstico e tratamento
Marcio L. S. Bezerra,
C. Guilherme Suárez,
F. Teles da Silva
Introdução
741
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Insônia
742
um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
Ansiedade
743
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Diagnóstico e classificação
Dissonias
Parassonias
744
um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
Tratamento
Tratamento comportamental
Higiene do sono
745
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
746
um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
747
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
que permanece na cama nove horas, mas dorme apenas cinco horas, orienta-se
para a primeira semana um tempo de permanência na cama de cinco horas,
a partir da segunda semana serão feitos ajustes conforme a eficiência do sono:
▶▶ Se esta for maior que 90%, aumenta-se 15 a 20 minutos do tempo na
cama por semana;
▶▶ se esta for menos que 80%, diminui-se em 15 a 20 minutos do tempo na
cama por semana;
▶▶ se a eficiência do sono estiver entre 80% e 90% não se altera o tempo na cama;
▶▶ deve-se ressaltar que o tempo na cama não deve ser menor do que cinco
horas para evitar excessiva sonolência diurna.
Técnicas de relaxamento
748
um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
749
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Intenção paradoxal
Muitas pessoas pioram sua insônia com a preocupação de ser ou não capaz
de adormecer. Para reduzir a ansiedade antecipatória associada ao tentar dormir,
os pacientes são orientados a ir para a cama e ficar acordado e não tentar
adormecer. Essa técnica reduz a ansiedade associada ao medo de não ser capaz
de dormir, assim, os pacientes tornam-se mais relaxados e adormecem mais
rapidamente. Não é uma técnica frequentemente utilizada.
Reestruturação cognitiva
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um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
Tratamento farmacológico
751
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
752
um paralelo entre ansiedade e insônia – epidemiologia , diagnóstico e tratamento
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755
65
Neurofisiologia básica do
sono e polissonografia
Marcio L. S. Bezerra,
Eduardo L. Ribeiro do Valle
757
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
758
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
possuem uma chance de até sete vezes a mais de sofrer acidente automobilístico
(Teran-Santos J). Os custos e as consequências relacionadas com os TS podem ser
diretas, indiretas, relacionados e intangíveis e são de todas as maneiras imensos.
Esses acidentes podem ser domésticos, ocupacionais, de trânsito e até de grandes
proporções. Acidentes com usinas nucleares como Chernobyl e Three Mile
Island e acidentes com petroleiros como o Exxon Valdez ocorreram durante a
madrugada e existem evidências de decisões equivocadas, nestas ocasiões, em
consequência de problemas de sono (Mahowald MW).
Curiosamente, apesar de os distúrbios do sono apresentarem alta incidência
e prevalência na população geral e estarem intimamente relacionados com
problemas de saúde graves e importantes, e também estarem relacionados com
acidentes, com grande prejuízo em termos de vidas humanas, impacto ambiental
e custos econômicos diretos e indiretos, os médicos em geral têm pouca intimi-
dade e conhecimento destes problema levando a um subdiagnóstico de problemas
de sono no sistema de saúde primário. Este fato deve-se à Medicina do Sono ser
uma área relativamente nova dentro do contexto médico, ainda ignorada pela
grande maioria dos profissionais. A difusão dessa especialidade se faz necessária
por ser uma área multidisciplinar, abrangendo várias áreas do conhecimento,
tais como Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia etc.
Histórico
759
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
760
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
761
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
que regulam o sono, não se sabe adequadamente a função do sono. Por isso,
surgiram na literatura, teorias que tentam traçar elementos que expliquem, ao
menos, parcialmente algumas evidências observadas. A Teoria da conservação
de energia baseia-se no fato de que o animal de maior taxa metabólica dorme
o maior número de horas que o animal de menor taxa metabólica; Teoria da
termorregulação consiste na observância de que ratos quando privados de sono
por duas semanas demonstram uma queda da temperatura corpórea, sugerindo
que o sono tenha um papel de retenção de calor; Teoria do metabolismo anabólico
refere-se que durante o sono ocorre liberação de hormônios anabólicos (GH)
e há redução da liberação dos hormônios catabólicos (cortisol) (Chokroverty,
1995); Teoria da restauração tecidual descreve que durante o sono REM ocorre
um aumento da síntese proteica no tecido cerebral e durante o sono Não REM
ocorre aumento da síntese proteica no tecido corporal (Adam K.); Teoria da
consolidação da memória os proponentes desta teoria acreditam que as infor-
mações e processamentos atribuídos ao sono REM apaguem, de forma seletiva,
traços de memória, como se fosse descarga de informação supérflua durante
a vigília. Mas o achado de que o sono REM serviria apenas para este processo
de informação acumulada ficou desestruturado com as pesquisas endereçadas
ao desenvolvimento ontogenético do ciclo sono-vigília, pois observou-se que
todos os mamíferos recém-nascidos apresentavam altas taxas de sono REM
e era o primeiro estágio a aparecer ontogeneticamente. Portanto, os autores
sugeriram que os eventos neurais forneciam substrato sensorial e motor para o
sistema nervoso central, para promover o enriquecimento das densidades sináp-
ticas, assim como desenvolver circuitos neuronais bem operantes (Roffwarg).
Contudo, sabemos atualmente que o sono não é um processo monolítico e sim
um contém vias a serem pavimentadas e trafegadas ao processo do conheci-
mento. Cabe salientar, no entanto, que parece-nos atual, apesar de ter sido dito
há 2000 anos por Aristóteles, que a função do sono é de prevenir a incapacidade
que resulta o excesso de vigília (Baker, 1985).
Poder-se-ia pensar que o estudo do sono é muito interessante do ponto de
vista puramente científico, fornecendo dados e explicações de como o cérebro
funciona ou no que consiste o sono, mas sem aplicações clínicas de relevância.
No entanto não é assim, os transtornos do sono começaram a ser identificados
e descritos. Foi na Europa que ocorreram os primeiros avanços no estudo da
762
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
763
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Arquitetura do sono
764
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
Nesta faixa etária, os indivíduos são mais facilmente despertos, pois ocorre
uma diminuição do sono de ondas lentas. Os indivíduos com mais de 60 anos
765
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
766
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
Considerações finais
767
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
porém que ainda hoje é prejudicada por certas crenças e tabus e pela falta de
investimentos na educação médica nesta disciplina. Ao observarmos que ocorre
uma melhora no desempenho, na produtividade e principalmente na qualidade
de vida de muitas pessoas, e ainda diminui a incidência de certas patologias
associadas aos distúrbios do sono, como, a hipertensão arterial e problemas
gastrointestinais, entre outros, esperamos que haja uma conscientização de
todos para que estes conceitos se estendam para toda a população.
Referências bibliográficas
768
neurofisiologia básica do sono e polissonografia
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769
66
Mecanismos fisiológicos
da audição em níveis
ocupacionais
Kátia Miriam de Melo Silveira
Introdução
771
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Métodos
772
mecanismos fisiológicos da audição em níveis ocupacionais
773
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Resposta
Bilateral
Sexo Sexo
Grupo
Etário
Tonal
N % N %
Sim 44 64,7 21 72,4 0,615
Adultos
Não 24 35,3 8 27,6
RA
Sim 33 47,8 27 45,0 0,885
Idosos
Não 36 52,2 33 55,0
774
mecanismos fisiológicos da audição em níveis ocupacionais
Resposta
Fisher (p)
N % N %
Adultos 0, 1, 2 22 32,4 5 17,2 0,203
3 46 67,6 24 82,8
Sons Instrumentais
Idosos 0, 1, 2 41 59,4 39 65,0 0,639
3 28 40,6 21 35,0
775
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Qui-quadrado
Grupo Etário
ou Fisher (p)
Resposta
Sequenciamento Feminino Masculino
Sonoro
N % N %
Adultos 0, 1, 2 10 14,7 3 10,3
0,749
3 58 85,3 26 89,7
Sons Verbais
Idosos 0, 1, 2 31 44,9 25 41,7
0,846
3 38 55,1 35 58,3
Resposta
Qui-quadrado
Sequenciamento Adultos Idosos
ou Fisher (p)
Sonoro
N % N %
Sons Verbais 0, 1, 2 13 13,4 56 43,4 <0,001
Sexo Sexo
Grupo
Etário
Adultos 0,317
Sonora
5 48 70,6 24 82,8
2, 3, 4 43 62,3 41 68,3
Idosos 0,596
5 26 37,7 19 31,7
Resposta
776
mecanismos fisiológicos da audição em níveis ocupacionais
Considerações finais
777
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
778
mecanismos fisiológicos da audição em níveis ocupacionais
779
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
780
67
Avaliação e diagnóstico
dos distúrbios do
processamento auditivo
Karla M. Ibraim da Freiria Elias
Introdução
Definição
781
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
782
avaliação e diagnóstico dos distúrbios do processamento auditivo
Principais sintomas
783
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Avaliação
784
avaliação e diagnóstico dos distúrbios do processamento auditivo
785
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Diagnóstico
786
avaliação e diagnóstico dos distúrbios do processamento auditivo
Considerações finais
Referências bibliográficas
787
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
788
68
Avaliação neuropsicológica
da atenção
Catia Araujo
789
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Amplitude
790
avaliação neuropsicológica da atenção
Rastreamento
Sustentação
Seletividade
791
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Esta capacidade é muito importante, pois, uma vez que nosso cérebro
tem uma capacidade limitada e não é possível dar conta de tudo o que nos é
apresentado, é preciso saber priorizar.
A seletividade pode ser avaliada, de modo mais simples, pedindo-se para
o paciente assinalar com a caneta determinada letra, ou ainda uma deter-
minada letra de cor específica numa página repleta de letras de várias cores
(testes de cancelamento). Pode-se aprimorar a avaliação utilizando-se testes
computadorizados, como o TAVIS-3, desenvolvido em nosso meio, pedindo-se
para que dê uma resposta (apertando um botão do joystick) quando aparecer
determinado estímulo na tela do computador (um sinal de jogo da velha cinza),
sendo também apresentados estímulos distratores diferentes e semelhantes ao
estímulo alvo.
A seletividade, juntamente com a sustentação, forma a vigilância, que é a
capacidade de se manter numa determinada tarefa, com a atenção voltada apenas
para o estímulo que interessa para a realização, com êxito, da tarefa. A vigilância
pode ser entendida como o que o senso comum chamaria de capacidade de
concentração: ficar muito tempo numa tarefa (ou até completá-la), sem se
importar com o que está acontecendo fora dela.
Uma tarefa de avaliação da capacidade de vigilância muito utilizada é o
Stroop Color Test. Trata-se de uma tarefa em que o examinador, num primeiro
momento, apresenta uma folha cheia de nomes de cores (4) impressas em cores
distintas daquelas que esses nomes representam. O examinando deverá ler o
mais rápido que puder todas as palavras constantes na folha (sustentação).
Numa segunda parte da tarefa, o examinando diz o nome da cor na qual a
palavra foi impressa, tendo que ignorar a cor que a palavra representa, e também
o mais rápido que puder ou até que o examinador peça que pare (seletividade
e sustentação).
Alternância de conceitos
792
avaliação neuropsicológica da atenção
Tempo de reação
793
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
794
69
Avaliação do paciente
com demência
Paulo Roberto de Brito-Marques
Demência
795
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
796
avaliação do paciente com demência
797
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
798
avaliação do paciente com demência
799
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
1. História da doença
800
avaliação do paciente com demência
ao contar seus sintomas e aflição pode não justificar a queixa. A entrevista ativa
deve ser feita sobre o comportamento do paciente, capacidade de trabalhar, alte-
ração de personalidade, linguagem, memória, julgamento, humor, preocupações
especial e rotineira, ideias delirantes, experiências alucinatórias, hábitos pessoais.
Deve-se perceber o estado emocional e nível intelectual do acompanhante.
Qual sua intenção com aquela consulta? Como está entendendo a situação de
convivência familiar agora perturbada? Sempre houve insatisfação ou acolhi-
mento naquele relacionamento? Ocorreu uma decepção ou omissão de um fato
em sua vida? Porque ter que aceitar o que nunca foi aceito é reviver conflitos
sem poder expor sua culpa à razão. Que tipo de pressão a acompanhante está
recebendo dos demais familiares? Entretanto, o médico deverá saber contornar
qualquer situação adversa em busca do bem-estar do paciente.
801
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
802
avaliação do paciente com demência
803
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
804
avaliação do paciente com demência
805
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
806
avaliação do paciente com demência
Referências bibliográficas
807
70
Doença de Alzheimer: sua
história natural
Paulo Roberto de Brito-Marques
Introdução
809
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
ser tratada? Qual terapêutica encontra-se disponível para a DA? Apoiados nessas
premissas, tanto os pesquisadores como os clínicos esperam melhores dias para
os portadores da DA, seus familiares e cuidadores. Assim sendo, neste capítulo,
estaremos retratando a sua história natural, uma visão panorâmica sobre essa
epidemia silenciosa que assola, principalmente, o Mundo Ocidental, que é a DA.
Conceito e histórico
810
doença de alzheimer : sua história natural
811
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
812
doença de alzheimer : sua história natural
813
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Evolução
814
doença de alzheimer : sua história natural
815
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
ambos os testes, devido ter ocorrido erro nos itens cálculo e praxia. Nessa
avaliação a paciente perdeu 7 e 5 pontos, respectivamente. É importante
chamar a atenção para o fato de que ocupação funcional da paciente é de
grande valia no desenvolvimento da sua capacidade cognitiva, no caso, a
paciente não exercia atividade profissional.
Em 1/7/99, na quinta avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontuação
era de 23 pontos para MEM e de 21 para MEMFE com falhas na orientação
temporal (dia, data e mês), evocação e compreensão para o primeiro teste e,
acrescentando o item cálculo para o segundo teste. Todos os itens errados
passam a ter valor clínico. Na entrevista clínica a paciente se encontrava bem
humorada e participava das atividades de vida diária. Repetiu algumas vezes
as mesmas perguntas e exclamações. Ansiosa na reavaliação.
Em 26/6/00, na sexta avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontu-
ação era de 14 pontos para o MEM e 16 pontos para o MEMFE, com erros
para ambos os testes de orientação temporal e espacial (dia, data, mês, ano e
instituição), evocação, cálculo, compreensão e praxia para o MEM. Na entrevista
a paciente encontrava-se bem humorada, ansiosa na reavaliação e apresentava
sinais clínicos vegetativos.
Em12/6/00, na sétima avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontu-
ação era de 12 pontos para o MEM e 13 pontos para o MEMFE com falhas
para ambos os testes, similar aos mesmos componentes da avaliação anterior.
Em 7/5/02, na oitava avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontuação
era de 06 pontos para o MEM e 07 pontos para o MEMFE, com erros nos
mesmos componentes anteriores, acrescidos por alterações na linguagem
(nomeação e compreensão escrita).
Em 26/11/02, na nona avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontu-
ação era de 05 pontos para o MEM e 06 pontos para o MEMFE com as mesmas
falhas nos mesmos componentes cognitivos. Durante a entrevista a paciente
mostrou que não reconhece todos os filhos e demais parentes. Não consegue
dizer o que pensa em poucas palavras.
Em 11/6/03, na décima avaliação em uso de donepezil, 10 mg/dia: a pontu-
ação era de 04 pontos para o MEM e 05 pontos para o MEMFE. A paciente não
me reconheceu. Estava ansiosa, inquieta, não verbalizava e parecia está perdida.
816
doença de alzheimer : sua história natural
DISCUSSÃO
817
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
7/5/02
11/6/03
4/3/04
5/6/97
29/10/98
1/7/99
12/6/01
26/11/02
1/1/96
4/11/97
26/6/00
Orientação temporal
Dia 1 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0
Data 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Mês 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Ano 1 1 1 0 1 1 0 0 0 0 0 0
Hora 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0
Orientação espacial
Local 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0
Instituição 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0
Bairro 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0
Cidade 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0
Estado 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0
Memória imediata
3 palavras 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 0
Atenção e cálculo
100-7 5 5 5 5 4 3 0 0 0 0 0 0
25-1 5 5 5 5 5 1 1 0 0 0 0 0
Memória recente
Evocação 3 2 1 0 1 2 1 1 0 0 0 0
Linguagem
Nomeação 2 2 2 2 2 2 2 2 0 0 0 0
Repetição 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0
Comando 3 2 3 3 3 2 0 0 0 0 0 0
Leitura 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0
Escrita 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0
Triângulos 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0
Pentágonos 1 1 1 1 0 1 0 0 0 0 0 0
Total = MENF 26 27 24 25 21 16 13 07 06 05 00
Total = MEM 28 27 24 23 23 14 12 06 05 04 00
818
doença de alzheimer : sua história natural
Referências bibliográficas
819
71
Avaliação Neuropsicológica
para o diagnóstico diferencial
entre Demência de Alzheimer
e Demência Vascular
Myriam J. J. S. Lima
Diagnóstico diferencial
Demência de Alzheimer
821
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Demência vascular
822
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
Demência de Alzheimer
Demência vascular
823
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Sintomatologia
Demência de Alzheimer
Demência vascular
824
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
O que diferencia
Demência de Alzheimer
Demência vascular
Perfil cognitivo
Demência de Alzheimer
825
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Demência vascular
Avaliação
826
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
Critérios diagnósticos
Demência de Alzheimer
▶▶ Minimental de Folstein
▶▶ Miniexame cognitivo de lobo
▶▶ NICDS-ADRDA
▶▶ GDS — Reisberg et al, 1982 (usado para avaliar depressão em caso de
eventual demência tipo Alzheimer)
▶▶ CERAD (Consortium to Establish a Registry for Alzheimer Disease)
▶▶ DSM IV (Diagnosis and Statistical Manual of Mental)
▶▶ CID 10
▶▶ CDR (Clinical Dementia Rating) — é considerado padrão ouro (gold
standard) para a classificação de demência
▶▶ NINDS-AIREN
827
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Demência vascular
▶▶ NINDS-ADRDA
▶▶ DSM IV (requer sinais e sintomas ou achados laboratoriais de dano
neurológico focal que seja atribuído ao distúrbio)
▶▶ CID 10 (distribuição desigual dos déficits cognitivos, sinais focais como
evidência de dano cerebral focal e doença cérebro vascular)
▶▶ NINDS — AIREN (National Institute of Neurological Disorders and
Stroke) — mais específico ADDTC (DV)
▶▶ State California - Alzheimer’s disease diagnostic and treatment centers —
isquemia possível( (mais sensível)
▶▶ DSM IV e CID 10, não exigem neuroimagem
▶▶ Escala de Hachinski (1975)
▶▶ Escala de Hachinski modificada por LOEB, 1985.
Diagnóstico possível
Demência de Alzheimer
Demência vascular
▶▶ Enfermidade cérebro-vascular
828
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
▶▶ Presença de demência
▶▶ Relação entre A e B.
Diagnóstico definido
Demência de Alzheimer
Demência vascular
Demência de Alzheimer
829
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
▶▶ Família.
▶▶ Discutir o desânimo.
▶▶ Discutir a importância das partes envolvidas.
▶▶ Orientar sobre os cuidados.
Demência vascular
O que observar
Na demência de Alzheimer
830
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
▶▶ Desinibição.
▶▶ Maior infantilismo.
▶▶ Embotamento emocional.
▶▶ Confusão.
▶▶ Irritação.
▶▶ Temor/pânico.
▶▶ Humor.
▶▶ Falta de cooperação.
Na demência vascular
TESTES
Demência de Alzheimer
831
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Demência vascular
▶▶ Minimental
▶▶ Rey Auditory verbal
▶▶ Learning test — lezac
▶▶ Escala de memória de Wechsler (Adult Intelligence Scale Revised), avalia
nível de funcionamento mental, presença ou ausência de disfunção
intelectual significativa (nomear dez animais em uma minuto)
▶▶ Teste de Fluência Verbal
▶▶ Escala de Hachinski (modificada por Loeb)
832
avaliação neuropsicológica para o diagnóstico diferencial
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833
72
Fonoaudiologia e reabilitação
neuropsicológica
Alexa L. Sennyey
Introdução
835
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
A. Avaliação neuropsicológica
B. Reabilitação neuropsicológica
836
fonoaudiologia e reabilitação neuropsicológica
837
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
838
fonoaudiologia e reabilitação neuropsicológica
Considerações finais
Referências bibliográficas
839
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
840
73
Reabilitação das afasias
Elizabeth Gonçalves Ribeiro
841
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
842
reabilitação das afasias
843
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
844
reabilitação das afasias
Mensagem pré-fala
Formulador
Léxico
Codificação gramatical Sistema de compreensão
Lemas
Estrutura superficial
Plano fonético
(Discurso interno)
Articulador Cadeia
Discurso externo
845
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
846
74
Aplicação do método
isostretching em disfunções
da coluna vertebral
Thatia Regina Bonfim
Introdução
847
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
O método isostretching
848
aplicação do método isostretching em disfunções da coluna vertebral
849
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
850
aplicação do método isostretching em disfunções da coluna vertebral
851
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
852
aplicação do método isostretching em disfunções da coluna vertebral
853
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
Referências bibliográficas
854
aplicação do método isostretching em disfunções da coluna vertebral
855
75
A Reeducação
Postural Global ou RPG
Adriana A. Guaraná Martins Silveira
Introdução
857
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Princípios
A- Individualidade
B- Causalidade
▶▶ Origem do problema
▶▶ Anamnese
▶▶ Exames
858
a reeducação postural global ou rpg
C- Globalidade
Cadeias musculares
▶▶ Músculos espinhais
▶▶ Pelvi-trocanterianos
▶▶ Grande glúteo
▶▶ Ísquio-tibiais
▶▶ Poplíteo
▶▶ Tríceps sural
▶▶ Músculos plantares
859
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Cadeia inspiratória
▶▶ Córaco-braquial
▶▶ Subescapular
▶▶ Feixe superior do peitoral maior
▶▶ Psoas-ilíaco
▶▶ Fáscia ilíaca
▶▶ Adutores pubianos
▶▶ Trapézio superior
▶▶ Feixe médio do deltoide
▶▶ Peitoral menor
▶▶ Córaco-braquial
▶▶ Bíceps
▶▶ Braquial anterior
▶▶ Supinador longo
▶▶ Todos os músculos anteriores do antebraço
▶▶ Músculos da face hipotênar e tênar
860
a reeducação postural global ou rpg
Posturas
▶▶ Cadeia inspiratória
▶▶ Cadeia anterointerno do ombro
▶▶ Cadeia anterointerno do quadril
▶▶ Cadeia superior do ombro
Rã no chão
Em pé no meio
Abertura do ângulo coxo-femoral/braços abduzidos
▶▶ Cadeia inspiratória
▶▶ Cadeia anterior do braço
▶▶ Cadeia anterointerno do quadril
▶▶ Cadeia anterointerno do ombro
Rã no chão Em pé contra a parede
Fechamento do ângulo coxo-femoral/braços aduzidos
▶▶ Cadeia inspiratória
▶▶ Cadeia anterior do braço
▶▶ Cadeia posterior
▶▶ Cadeia superior do ombro
861
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
▶▶ Cadeia inspiratória
▶▶ Cadeia anterior do braço
▶▶ Cadeia posterior
▶▶ Cadeia anterointerno do ombro
Rã no ar
Fonte: Souchard, 1980.
862
a reeducação postural global ou rpg
Patologias e posturas
863
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
▶▶ Pacientes que apresentam maior número de alterações
em cadeia posterior;
▶▶ pacientes com hiperextensão de joelhos e retroversão de pelve (tensão
de ísquios-tibiais);
▶▶ pacientes com curvas retificadas (tensão dos paravertebrais);
▶▶ pacientes com pé cavo e joelho varo;
▶▶ pacientes sujeitos a hérnias discais;
▶▶ pacientes com alta tensão em ísquios-tibiais;
▶▶ pacientes com hiperextensão de joelhos;
▶▶ pacientes com escoliose (principalmente a 2a postura);
▶▶ pacientes com fascite plantar;
▶▶ pacientes com queixa de dor na posição deitada.
Fonte: Souchard, 1980.
864
a reeducação postural global ou rpg
Considerações finais
Referências bibliográficas
865
76
Abordagens sobre cirurgia
de epilepsia
José Augusto Nasser
867
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
868
abordagens sobre cirurgia de epilepsia
Diversas técnicas existem para esta operação, com interesse particular na hemis-
ferectomia funcional que parece ter uma incidência menor de complicações.
Com todas essas abordagens, o critério de seleção deveria assegurar que a
origem das crises estaria dentro de uma área anatômica específica e poderia
com segurança ser ressecada.
O outro grupo de abordagens inclui ressecção ligada à fisiopatologia e à
localização das áreas eloquentes em cada caso. A informação para esta ligação
pode ser adquirida intra ou extraoperatorialmente, via implante de eletrodos
de registros intracranianos. Este tipo de abordagem coloca grande ênfase
na fisiopatologia individual, incluindo localização das descargas epilépticas
interditais, ponto alvo do ictus, ou seja, local de disparo inicial, e mudanças
induzidas por estimulação elétrica na função motora e linguagem. Cada
ressecção é guiada para remover anormalidades epilépticas enquanto poupa
locais eloquentes identificados. Este grupo de abordagens é baseado na visão de
que há uma variabilidade individual, na extensão da anormalidade epiléptica e
na localização das áreas eloquentes. O critério de seleção para este grupo requer
somente que a exposição para o mapeamento intraoperatório ou colocação dos
eletrodos intracranianos esteja na região epileptogênica.
Critério de seleção
Avaliação semiológica
869
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Estudo neurofisiológico
Estudo de imagem
RNM
Os pacientes são submetidos à RNM (ressonância magnética do cérebro)
aplicando um protocolo específico de sequências destinadas a localizar quaisquer
alterações corticais e relacioná-las ao foco epiléptico. Por exemplo, uma esclerose
medial hipocampal, conformando com a descarga no Vídeo-EEG ou mesmo
a simples lentificação medial temporal indicando a disfunção daquela área.
870
abordagens sobre cirurgia de epilepsia
Neuropsicologia
Lobectomia Temporal
Embora seja o mais comum procedimento realizado em adultos, é muito
raro em crianças. Crises parciais simples, crises parciais complexas e tônico-
-clônico generalizadas são os tipos usuais produzidos pelas lesões no lobo
temporal. A avaliação anatômica e funcional pré-operatória inclui o teste de
Wada, RNM, análise psicométrica e PET scan.
Técnica Cirúrgica
Dependendo do lado, é feita uma incisão em ponto de interrogação.
A medida do polo temporal na direção do giro temporal médio, a extensão
871
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
maior é 4,5 cm do lado dominante e 5,5 cm no outro lado. Uma janela é feita
até o ventrículo lateral, corno temporal. O hipocampo é descolado e então o
neocórtex lateral é removido dissecando para baixo para o assoalho da fossa
média através do sulco colateral. Próximo, usando uma dissecção subpial, a
amígdala e o hipocampo são ressecados. As lesões mais encontradas nesta área
são: hamartomas, astrocitoma de baixo grau, oligodendrogliomas e dnet.
Ressecção focal
É menos que uma hemisferectomia e mais do que uma ressecção temporal.
Investigações pré-operatórias não invasivas teriam mostrado que a área epilep-
togênica é anterior ao giro motor ou posterior ao giro somatossensitivo. PET
scan e EEG tem grande valor na localização destas áreas, localizando inclusive
com monitores invasivos, são usados grades ou estrias para eletrocorticografia
e neuroestimulação.
Técnica cirúrgica
Pelo fato de esta cirurgia ser realizada em pacientes acordados, é normal-
mente inapropriado para crianças jovens. Mapeamento cerebral usando
potencial evocado intraoperatório e eletrocorticografia são frequentemente
usados. O giro pós-central é identificado detectando uma fase reversa no poten-
cial evocado produzido por estimulação do nervo mediano contralateral. Na
sequência a área maior possível é monitorada com grade. Embora a detecção
de descargas epileptiformes seja útil, em crianças bem jovens, anormalidades
não epileptiformes têm mais valor.
Hemisferectomia
Em 1928, Dandy foi o primeiro neurocirurgião a realizar a hemisferictomia
cerebral. O paciente tinha um glioma difuso hemisférico direito e embora ela se
recuperou da cirurgia, a mesma não alterou o prognóstico da malignidade. Em
1938, Kenneth McKenzie de Toronto relatou um caso no qual ele tinha realizado
uma hemisferectomia direita em uma mulher jovem com epilepsia intratável e
que era hemiparética à esquerda. A paciente evoluiu bem, com controle de suas
crises. Em 1950, Roland Krynauw de Joanesburgo relatou uma série de 12 casos
em que ele realizou hemisferectomia para epilepsia intratável em crianças com
872
abordagens sobre cirurgia de epilepsia
Indicações
Crises intratáveis podendo ser parciais, crises parciais secundariamente
generalizadas, primariamente generalizadas ou espasmos infantis que não
responderam ao arsenal medicamentoso adequado. Crianças são os maiores
candidatos. Hemiparesia deveria ser significante com perda da dexteridade na
mão afetada. Frequentemente, a hemiparesia tem sido paresentada por muitos
anos e não aumenta muito após o procedimento.
Com relação ao EEG, todas as alterações deveriam se iniciar no lado contra-
lateral a hemiplegia, e o hemisfério normal deve ter todos os exames normais.
Não é raro aparecerem anormalidades bilaterais em alguns testes em pacientes
candidatos à hemisferictomia. Contudo, isso é secundário às anormalidades do
hemisfério doente contralateral e não deveria ser contraindicação à cirurgia.
Mesmo nas publicações iniciais, foi notado que havia um foco independente
no hemisfério contralateral que desaparecia após a hemisferectomia.
Hemisferictomia anatômica
Para este procedimento o paciente é colocado em posição supina com o
lado da cirurgia para cima. O plano sagital deveria ser paralelo ao assoalho e a
873
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Hemisferectomia funcional
A mesma incisão de pele já descrita na anatômica ou uma diminuição
na linha média. O retalho ósseo é também reduzido em sua dimensão ante-
roposterior. Uma vez que a dura tem sido aberta, uma lobectomia temporal
standard é realizada com a remoção do hipocampo e da amígdala. O giro pré
e pós-central com tecido dos lobos parietal e frontal adjacente é removido.
Trabalhando por dentro do sistema ventricular o corpo caloso pode ser dividido
no lobo frontal e occipital e então por estender através da parede ependimária
de maneira circunferencial a substância branca é dividida.
874
abordagens sobre cirurgia de epilepsia
Resultados
Na maioria das séries publicadas (Rasmussen, 1983), na maioria a frequência
das crises diminuiu significativamente. Engel reportou que a hemisferectomia
é associada a melhor controle de crises de que qualquer procedimento para
epilepsia. As complicações que são relatadas para hemisferectomia anatômica
são hemorragias tardias, dentro do vasto espaço subdural, hemosiderose super-
ficial, hidrocefalia. Para a hemisferectomia funcional a hidrocefalia é bastante
incomum e nenhuma complicação hemorrágica tem sido relatada.
Se a hemiparesia maciça for presente antes da hemisferectomia ou
se o procedimento for realizado antes de 8 anos de idade, o paciente quase
que recupera a capacidade de caminhar. Recuperação da fala no hemisfério
dominante não foi observada mesmo em pacientes com idade inferior a 8 anos.
A recuperação de movimentos finos no lado hemiparético também não foi
observada nas maiores séries.
Considerações finais
875
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Referências bibliográficas
876
77
Aspectos gerais e atuais
do EEG nas síndromes
epilépticas
Délrio Façanha da Silva
877
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
878
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
Síndrome de Ohtahara
879
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
880
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
Espasmos periódicos
Síndrome de West
881
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
882
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
Síndrome de Lennox-Gastaut
Síndrome de Doose
883
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
884
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
885
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
886
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
Síndrome de Landau-Kleffner
887
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
888
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
889
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
pós-ictal e aura em 70% dos casos. Tem início na adolescência e persiste até a
vida adulta, com exame neurológico e neuroradiológico geralmente normais e
boa resposta terapêutica à carbamazepina. O diagnóstico diferencial deve ser
feito com as distonias paroxísticas noturnas, parasonias noturnas benígnas,
doenças psiquiátricas e discinesias familiares.
O EEG inter-ictal é geralmente normal em cerca de 84% dos casos, o
que pode dificultar o diagnóstico. Quando as anormalidades ocorrem, são
geralmente de localização frontal, por ondas agudas e ondas lentas. O registro
das crises no EEG mostra atividade epileptiforme por onda aguda e onda lenta,
de projeção frontal bilateral. Entretanto, o EEG nestes tipos de crises de origem
frontal, pode não mostrar anormalidades, mesmo durante as crises, o que pode
nos conduzir a afastar o diagnóstico de epilepsia 56.
Em 1999, Scheffer 59 fez uma revisão sobre a epilepsia parcial familiar com
focos variáveis (EPFFV), que publicou pela primeira vez em 1998 em um grupo
890
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
de pacientes de uma família australiana. A idade de início das crises vai dos 9
meses até os 43 anos de idade (média = 10 anos). As crises podem ser de origem
frontal, temporal, centroparietal ou ocipital, com as características semiológicas
dependendo da região comprometida. Esta variabilidade de apresentação clínica
das crises é uma das principais características clínicas desta síndrome epiléptica.
Os exames neuroradiológicos são geralmente normais. A análise genética mostra
que a EPFFV apresenta herança autossômica dominante, com 62% de penetrância
para as crises parciais e 76% para as anormalidades epileptiformes no EEG.
O EEG apresenta um único foco para cada indivíduo da família, permane-
cendo constante durante toda a evolução. A atividade epileptiforme de projeção
frontal ou temporal são as mais frequentes, enquanto a topografia centroparietal
ou ocipital são menos comuns. As descargas são muito frequentes durante o
sono não REM, por vezes semicontínuas e geralmente persistentes, mesmo nos
pacientes sem crises há vários anos. Em alguns casos, o foco só surge com EEGs
repetidos e pode ser identificado em familiares sem epilepsia.
Ricci et al. 61, descreveram em 1995 um grupo de seis crianças com uma
síndrome que denominaram epilepsia mioclônica benigna reflexa (EMBR).
A EMBR acomete crianças na faixa etária entre 6 e 21 meses, com exame
neurológico normal, história familiar de epilepsia ou de convulsão febril, crises
mioclônicas espontâneas e induzidas por estímulos táteis (toque, percussão
891
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
da base do nariz), térmicos (água fria no rosto) ou acústicos, porém não são
provocadas por estímulos visuais (estimulação luminosa intermitente ou flash).
As crises ocorrem isoladamente ou em salvas (5 a 20/dia), simétricas, com flexão
da cabeça, às vezes elevação dos globos oculares e apresentam boa evolução,
com regressão das crises em alguns meses. A EMBR é considerada a epilepsia
generalizada idiopática mais precoce da literatura consultada 62.
O EEG da EMBR apresenta-se geralmente normal durante a vigília, porém
durante o sono não REM (fases I e II) ocorrem frequentes surtos de atividade
epileptiforme por complexos poliponta-onda irregulares, difusos e bilaterais.
Durante as crises, o EEG mostra polipontas e complexos poliponta-onda a 3Hz,
simétricos, difusos e bilaterais, com predomínio fronto-central 62.
892
aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
893
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
Considerações finais
Referências bibliográficas
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aspectos gerais e atuais do eeg nas síndromes epilépticas
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Dança sênior –
um instrumento alternativo
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Katia Pedreira Dias
901
temas multidisciplinares de neuropsicologia e aprendizagem
902
dança sênior – um instrumento alternativo para tratar corpo e mente
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que ela e os demais idosos recebiam no local em questão não era suficiente para
retardar ou melhorar as suas funções cognitivas e funcionais, onde percebia-se
um declínio acentuado na parte física, cognitiva e psíquica desses idosos.
Sensibilizada por essa questão, um grupo de pedagogos que trocavam
experiências sobre a estimulação cognitiva e funcional de idosos através de
exercícios em ancionatos resolveu se juntar e, através de estudos, criou movi-
mentos rítmicos coordenados e sincronizados em grupo, de intensidade leve a
moderados, vigorosos, controlados, como forma alternativa de retardar e manter
preservada as funções cognitivas e funcionais da pessoa de idade avançada.
O que se observou foi que além de contribuir para melhorar essas funções,
auxiliava também na autoestima, na socialização, no estresse/ansiedade, no
relaxamento, no bem-estar e no próprio comportamento dos indivíduos. E
começou a ser praticada não só em ancionatos, mas em diferentes lugares e
grupos, visando a qualidade de vida dos seus praticantes. Diferentes grupos de
profissionais começaram a se interessar e se juntar ao grupo, como fisiotera-
peutas, médicos, psicólogos, professores de educação física, assistentes sócias
e outros.
Em 1917, foi fundada a Federação Nacional da Dança Sênior na Alemanha,
que rapidamente se difundiu pela Europa, sendo indicada para trabalhos com
pessoas maiores de 50 anos, pelos benefícios que proporcionando nas pessoas
dessa faixa etária em diante, sem riscos para as mesmas. Em 1978, a dança sênior
chegou ao Brasil através da alemã Christel Webwr. A atividade foi apresentada
no estado de São Paulo (1978), depois em Curitiba (1981). O primeiro curso para
preparar dirigentes aconteceu no Rio Grande do Sul, em seguida na cidade de
Nova Friburgo (RJ), espalhando-se assim por todo o país. A sede da Associação
no Brasil está localizada em Santa Catarina, na cidade de Piraberaba.
A atividade de dança sênior dividiu-se em três partes:
1a parte — exercícios de ativação – cujo objetivo principal é proporcionar
ao corpo uma preparação para o início da dança que, propriamente dita
é fase de aquecimento e de concentração;
2a parte — as danças podem ser realizadas em pé ou sentada e possuem um
sequência própria de movimentos ao ritmo de uma música própria. Cada
dança tem uma história, uma origem, prelúdio e compasso, requerendo
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atividade. Todavia, todos os dirigentes devem ser capacitados através dos cursos
realizados pela associação. Quando o grupo já é comprometido, como pela
demência, por exemplo, as atividades são feitas em sessões de 15 a 20 minutos
em dias intercalados. A Universidade Federal Fluminense (UFF) aplica a dança
sênior a dois tipos diferentes de grupos: o primeiro no Programa Interdisci-
plinar de Geriatria e Gerontologia do Hospital Universitário Antônio Pedro
(UFF), com pacientes do referido hospital que frequentam o programa, após
avaliação médica, fisioterápica e psicológica (equipe interdisciplinar). Há o
encaminhamento dos pacientes que possuem ou não distúrbios cognitivos,
comportamentais e funcionais para o grupo da atividade. O trabalho está
associado à reabilitação. O grupo é heterogêneo, hoje em torno de 20 a 30 por
sessão de 50 a 60 minutos, no que tange as dificuldades físicas e cognitivas,
faixa etária entre 50 a 85 anos, ambos os sexos. A importância de não rotular o
grupo, isso é não ter um grupo específico com essa ou aquela dificuldade, faz
com que todos colaborarem na realização dos exercícios havendo dessa forma
um entrosamento e interesse em comum em todo o grupo. O grupo, sempre
que há oportunidade, se apresenta em público, dentro ou fora da UFF, não
sendo obrigatória a participação de seus membros. A proposta é feita ao grupo
em escolha de participar ou não de uma apresentação é livre. Entretanto, todos
querem participar. O depoimento dos participantes é unânime em afirmar que
essas apresentações proporcionam prazer, emocionam e são capazes de se tornar
um capítulo especial de suas vidas. Ao se verem nos filmes, praticando a dança,
todos se divertem e se sentem felizes por poderem vivenciar tal experiência.
O segundo grupo da UFF pertence ao Programa da Escola de Serviço Social
da UFF, denominado UFF-Espaço Avançado, destinado a trabalhar com idosos
em nível de promoção e manutenção da saúde, uma vez que os idosos que lá se
encontram não possuem distúrbios cognitivos, apresentando pequenos declínios
funcionais e de memória, típicos do envelhecimento. O grupo tem em média 20
a 30 idosos, de faixa etária de 50 a 80 anos, de ambos os sexos. O grupo também
realiza apresentações em público e é extremamente motivado e entrosado entre
si com o tempo, apresentam melhoras em nível físico, mental (memória), afetivo
e de relacionamento.
Em ambos os grupos a melhora no entendimento e aceitação das trans-
formações corporais e limitações que o corpo passa ao longo dos anos é uma
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Referências bibliográficas
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Qualidade de vida no
envelhecimento
Marcelo L. Ribeiro do Valle
Nos dias de hoje muito se discute sobre a qualidade de vida. Este assunto
se relaciona intimamente com a saúde do idoso e a prevenção de doença
cardiovascular.
Sabemos que morbidades como hipertensão, diabetes, tabagismo,
entre outras, são os principais fatores de risco de doenças cardiovasculares.
Estas doenças, como o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular
cerebral são as principais causas de mortalidade do mundo moderno ou
os responsáveis por deixar sequelas importantes, que limitam a qualidade
de vida.
Um estilo de vida saudável, cuidados com a alimentação, com o peso,
atividades físicas em geral bastam para o controle destas doenças ou, pelo menos,
conferem um poderoso auxílio ao tratamento medicamentoso.
Grandes estudos como o “Estudo Europeu de Prevenção Multifatorial”, o
“Veteranos de Los Angeles”, o “Oslo”, comprovaram a diminuição de risco de
doença cardiovascular através de mudanças no estilo de vida.
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Tabagismo
Atividade Física
Hipertensão
Obesidade
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qualidade de vida no envelhecimento
Estresse emocional
Diabetes Melito
Dislipidemias
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Leituras sugeridas
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