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SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS DE
PROFESSORES GUARANI E KAINGANG
CURITIBA
SEED/PR
2009
Cadernos Temáticos da Diversidade - Experiências pedagógicas de professores Guarani e Kaingang.
Depósito legal na Fundação Biblioteca Nacional, conforme Lei no 10.994, de 14 de dezembro de 2004.
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.
Editoração Eletrônica
MEMVAVMEM
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
IMPRESSO NO BRASIL
Governo do Estado do Paraná
Roberto Requião
Diretoria Geral
Ricardo Fernandes Bezerra
Superintendência da Educação
Alayde Maria Pinto Digiovanni
Departamento da Diversidade
Wagner Roberto do Amaral
Equipe Técnico-Pedagógica
Anabel do Nascimento Adão
Andréa Gouveia de Oliveira
Dirceu José de Paula
Iozodara Telma Branco De George
Leila do Rocio da Silva
Lilianny Rodriguez Barreto dos Passos
Maria Cristina de Paula Müller
Raquel Marschner
Autores Teodoro Tupã Jeguavy Alves, Vanderson Paulo Karai Tataendy Fernandes, Rosenilda
Darci Fógtẽ Bernardo, Dionísio Rodrigues, Lourenço. Norinhkanh Marcelo Frederico, Sebastiana
Doracilda Korigsãnh Lourenço Bernardo, Ilustrações Krexu Palacio, Teodoro Tupã Jeguavy Alves,
Jacira Jera Fernandes, Gabriel Ningren Darci Fógtẽ Bernardo, Dionísio Rodrigues, Vanderson Lourenço.
Belino, Janaína Kuitá Rodrigues, Luiz Jagjo Doracilda Korigsãnh Lourenço Bernardo, Fotografia
Gino, Olga de Fátima Kẽny Mendes, Oséias Jacira Jera Fernandes, Gabriel Ningren Doracilda Korigsãnh Lourenço Bernardo,
Poty Mirĩ Florentino, Paulo Karai Tataendy Belino, Luiz Jag jo Gino, Olg a de Oséias Poty Mirĩ Florentino.
Fernandes, Rosenilda Norinhkanh Marcelo Fátima Kẽny Mendes, Oséias Poty Mirĩ
Frederico, Sebastiana Krexu Palacio, Florentino,
Organizadores
Dirceu José de Paula
Lilianny Rodriguez Barreto dos Passos
Raquel Marschner
Colaboradoras
Anabel do Nascimento Adão, Andréa Gouveia de Oliveira, Ciomara Stocchero Amorelli, Iozodara
Telma Branco De George, Maria Cristina Cabral Troncarelli, Maria Cristina de Paula Müller.
APRESENTAÇÃO
Neste sentido, espera-se que o contato com esta série oportunize aos leitores a reflexão acerca
da educação escolar indígena sob a perspectiva dos professores indígenas. Este Caderno procura
também subsidiar as práticas pedagógicas dos professores da rede estadual de educação, ampliar
os horizontes de pesquisa na temática indígena e promover maior visibilidade aos povos indígenas,
partícipes do processo de constituição histórica e cultural deste Estado.
Cabe destacar ainda que as políticas educacionais, em âmbito estadual, são construídas através
de princípios democráticos e as políticas afirmativas para as populações indígenas vêm assegurar o
respeito às diferenças e colaborar na desconstrução de estereótipos e enfrentamento aos preconceitos
e discriminações.
5
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
No estado do Paraná estão territorializados, atualmente, aproximadamente 11.000 indígenas
representantes dos povos Guarani, Kaingang, Xetá e Xokleng, pertencentes a diferentes troncos
linguísticos, com organizações sociais, crenças, costumes, rituais e conhecimentos específicos.
Esta publicação também tem como objetivo, contribuir com o fortalecimento das políticas
educacionais voltada aos povos indígenas, assim como somar às reflexões da temática História e Cultura
Indígena.
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COMO NASCEU ESTA PUBLICAÇÃO
COLETIVA
A Secretaria de Estado da Educação tem como um dos princípios da atual gestão o respeito e
o atendimento à diversidade. Através do Departamento da Diversidade/Coordenação da Educação
Escolar Indígena, são implementadas políticas públicas que atendem aproximadamente 3.000 (três mil)
alunos indígenas da Educação Básica, pertencentes aos povos Kaingang, Guarani, Xokleng e Xetá em
21 Terras Indígenas. Ao todo são 33 escolas indígenas, territorializadas em 20 municípios no estado
do Paraná.
Desse modo, com esse conjunto de experiências, pretende-se propiciar visibilidade à diversidade
cultural e sociolinguística das comunidades indígenas situadas no Paraná, oportunizar a disseminação
de textos e literatura em línguas indígenas, bem como possibilitar acesso às pesquisas desenvolvidas
sobre a temática.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................11
PROFESSORES GUARANI ............................................................................................................................14
XEREKO KYRINGUE MBO’EA RAMI
Dionísio Rodrigues ...............................................................................................................................................15
NHOMBO’EA AIKO YPY’I JAVE GUARE
Jacira Jera Fernandes .............................................................................................................................................20
PENDEVY XEIRŨ KUERY
Oséias Poty Mirĩ Florentino ...............................................................................................................................30
MBYA REKO PYGUA
Paulo Karai Tataendy Fernandes ........................................................................................................................41
AIKO ANHOMBO’E AGUÃ REGUA
Sebastiana Krexu Palacio .....................................................................................................................................47
AMOĨ PORÃ MBA’EAPO NHEMBO’EA PY GUA
Teodoro Tupã Jeguavy Alves ...............................................................................................................................57
TXEMBA’EAPO NIMBO’EATY REGWA
Vanderson Lourenço .............................................................................................................................................61
PROFESSORES KAINGANG ........................................................................................................................66
INH RÃNHRÃJ KÃME
Darci Fógtẽ Bernardo ...........................................................................................................................................67
~
SỸ TY PROFESSORA JE KAME
Doracilda Korigsãnh Lourenço Bernardo ........................................................................................................71
9
INTRODUÇÃO
Em seu relato intitulado XEREKO KYRINGUE MBO’EA RAMI o professor Dionísio Rodrigues
fala sobre traços da cultura Guarani nos dias de hoje, o processo de como se tornar um professor em escolas
indígenas de sua comunidade, como foi que ele começou a trabalhar como docente, e a forma como organiza
o currículo escolar.
Visões de características culturais dos povos Guarani no passado e nos dias atuais, da importância
da escola e da casa de reza na formação dos educandos, podem ser encontradas no texto da professora
Jacira Jera Fernandes NHOMBO’EA AIKO YPY’I JAVE GUARE. Ela também relata a forma como se
tornou professora, os temas que aborda em seu trabalho docente e o processo de construção de sua prática
pedagógica.
O professor Oséias Poty Mirĩ Florentino, no seu texto PENDEVY XEIRŨ KUERY, comenta sobre
sua prática pedagógica, os materiais didáticos que produz, as dificuldades de comunicação encontradas tanto
pelos alunos indígenas quanto pelo professores não-indígenas devido ao fato de falarem línguas diferentes
e do seu papel na mediação entre eles.
No texto MBYA REKO PYGUA, o professor Paulo Karai Tataendy Fernandes fala da importância
de manter vivas a história e a cultura de seu povo. Destaca a importância da escola e da casa de reza
O texto AIKO ANHOMBO’E AGUÃ REGUA, de autoria da professora Sebastiana Krexu Palacio,
apresenta as experiências que a professora Guarani viveu ao trabalhar com uma turma de alunos Kaingang
e, posteriormente, com uma turma multisseriada cujo nível de conhecimento dos alunos era bastante
diversificado. Ela fala da busca de alternativas para desenvolver seu trabalho, dos temas que desenvolve em
sala de aula e das contribuições do curso de magistério “Kuaa Mbo’e” na sua formação profissional.
Diferentes temas são tratados no texto AMOĨ PORÃ MBA’EAPO NHEMBO’EA PY GUA, do
professor Teodoro Tupã Jeguavy Alves. Dentre eles, destacam-se: o envolvimento da comunidade no
planejamento e desenvolvimento de atividades e materiais didáticos para as aulas; a relação homem, natureza
e o conhecimento escolar; a valorização do conhecimento dos mais velhos nas práticas escolares; o confronto
das culturas indígena e não-indígena e o foco na oralidade que pauta o seu trabalho.
11
Na produção intitulada TXEMBA’EAPO NIMBO’EATY REGWA o professor Vanderson
Lourenço conta que cresceu fora da aldeia e que não falava sua língua materna, o Guarani Nhandewa.
Por iniciativa própria, em determinada época, decidiu estudá-la com seu irmão. E é nesse contexto que
inicia sua história como professor. Mais tarde, frequentou o Curso de Magistério Kuaa Mbo’e. Em seu
texto, ele comenta a respeito de sua prática pedagógica e descreve uma brincadeira que adaptou para fins
pedagógicos.
O professor Darci Fógtẽ Bernardo relata em seu texto INH RÃNHRÃJ KÃME como se tornou
professor de educação infantil em uma escola na aldeia Taquara quando ainda estava na 7ª série, como realiza
seu trabalho docente e a forma de como foi indicado, mais tarde, para ser professor da língua Kaingang
para alunos de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental e séries do Ensino Médio.
~
No texto da professora Doracilda Korigsãnh Lourenço Bernardo, SỸ TY PROFESSORA JE
KAME, o(a) leitor(a) encontrará diferentes temas desde o desafio que ela enfrentou ao atuar como professora
em uma turma numerosa. O incentivo vindo de outras pessoas para que ela não deixasse de lecionar; sua
opinião a respeito da indicação para o cargo por considerar que a pessoa precisa ter dom e os avanços de
ordem operacional que ela percebe como a contratação de mais professores. Embora ainda veja poucos
avanços qualitativos na educação, espera mudanças de resultados num breve espaço de tempo. Ela também
descreve atividades que realiza em sala de aula e comenta os diferentes resultados das atividades nas diferentes
escolas. Vê no artesanato uma oportunidade para o trabalho interdisciplinar. Por fim, apresenta sugestões
de atividades para o ensino de matemática, ciências e história.
No texto MEU TRABALHO COMO PROFESSOR, Gabriel Ningren Belino comenta sua
experiência com o ensino bilíngue, a forma como acredita que o trabalho deve ser conduzido com alunos
da pré-escola e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Defende que o ensino deve ser simultaneamente
bilíngue e ressalta situações comuns de equívocos na escrita que podem acontecer durante o aprendizado
diante das particularidades de cada língua.
~
O texto de Janaína Kuitá Rodrigues, INH RÃNHRÃJ TO VEME, relata seu desafio em trabalhar
com uma turma numerosa e em ambiente inadequado, as alternativas que ela buscou para desenvolver seu
trabalho, os materiais didáticos que elabora, alguns dos temas que ela desenvolve em sala e as visitas que
realiza com os alunos. Ela analisa como deve ser o perfil do professor nas escolas indígenas e aponta uma
relação de recursos materiais de que necessita na escola.
A ideia de publicação do material surgiu a partir do constante contato com estes sujeitos e as diferentes
vozes interferiram no formato ora apresentado. A natureza do material é bastante diversificada e requer um
olhar diferenciado na medida em que os temas tratados não são, necessariamente, os mesmos; muitos dos
autores produziram seus registros nas línguas Guarani ou Kaingang e uma versão na língua portuguesa;
outros produziram textos distintos nas línguas indígena e portuguesa; e a ordem escolhida pelos autores
na distribuição dos textos conforme a língua foi mantida, sem a adoção de um padrão.
No final da obra, apresentamos uma bibliografia que poderá ampliar o conhecimento do dia-a-dia
das escolas indígenas, na formação continuada de professores indígenas e não-indígenas, bem como na
pesquisa e no aprofundamento da temática História e Cultura Indígena.
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PROFESSORES gUARANi
Vanderson Teodoro
Jacira Dionísio
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XEREKO KYRINGUE MBO’EA RAMI
Xee amba’eapo kyringue ambo’e rami Tekoa Pindoty, Ilha da Cotinga py Paranaguá yvy’iry 2003 py.
Xerekoa py ma huvixa kuery oiporavo kyringue ombo’e va’e rã ha’e rami vyma ha’e kuery xevy pe
ome’ẽ kyringue ambo’e angua, jypy’i ma ndaikuaai mba’eixapa amba’eapo aguã ha’e rami vy jurua ma oiko
kyringue ombo’e va’e a’e rupi ve rive aiko ha’e mombe’u ombo’e va’e kue ma Mbya py amombe’e ha’e rami rã
kyringue voi oikuaa ve avi, jurua ijayvu rã ndoikuaai vy xevype meme oporandu.
Ha’e gui ma ama’e mba’eixapa jurua nhombo’e ha’e vy ma xeae ma ambo’e kyringue’i pe. Ha’e jave
ma Funai/SEED serenoi curso py aa angua amboe kuery kyringue mbo’ea kuery reve amongue ma harema
omba’epo nguekoapy ha’e kuery omombe’u mba’eixapa nhamba’eapo aguã nhanderekoa rupi ha’e rã mi vy
xepy tyvõ vaipa xerekoapy amba’ea po angua.
Ha’e py ma oiko orembo’e va’e mokoĩ heta va’e kuery guigua, ha’e kuery ma oikua Mbya kuery reko
ymanguare.
Aỹ ma aro vonhembo’ea romomba rive ma ha’e xee aikua xeve mba’eixapa kyringue ambo’e aguã.
No ano seguinte já fui trabalhar sozinho com uma turma de 9 alunos da pré-escola. Em 2004
fui chamado pela Funai e pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná para participar do Curso de
Formação de Professores Guarani para o Magistério Kuaa Mbo’e. Nesse curso conheci outros professores
1 Professor da Escola Estadual Indígena Pindoty - Terra Indígena Pindoty - Ilha da Cotinga - Município de Paranaguá - PR.
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indígenas, alguns experientes, que me ajudaram muito transmitindo suas experiências. Tivemos também
professores não-índios que foram importantes em cada etapa do curso, como o professor José Ribamar
Bessa e a professora Ruth Monserrat, que nos chamaram atenção pelos conhecimentos que possuem da
língua e da cultura Guarani.
Agora estou esperando o término do curso, que tem sido muito importante para o meu conhecimento
como professor, para que eu continue na sala de aula e me especialize mais nessa área.
Agradeço os professores que citei, que são grandes profissionais, pessoas de extrema confiança. Com
certeza, todos os professores Guarani irão lembrar deles.
Os nossos pajés, yvyra’ija estão muito preocupados com a nossa aldeia, porque já não temos terras
suficientes para praticar nossos costumes, como fazer roças, tirar árvores para fazer as nossas casas, caçar já
não é mais possível porque os animais estão em extinção, já não se pode mais pescar porque os rios estão
poluídos. Com tudo isso, as nossas dificuldades são muito maiores, principalmente para manter a nossa
alimentação habitual.
Quando eu falo sobre isso muitas vezes fico triste, não por mim, mas pelas crianças e pelos mais velhos.
As crianças nascem e crescem sem saber que vão ter dificuldades no mundo cheio de mudanças, de pessoas,
de ideias e de opiniões. Por isso é muito importante para nós termos terras suficientes para ensinar aos nossos
filhos os nossos hábitos tradicionais, para quando crescerem e se tornarem adultos, serem formadores de
uma só opinião, para termos união.
A minha aldeia está localizada no município de Paranaguá, numa ilha de 1.800 hectares chamada
Ilha da Cotinga, onde 40% da terra é formada por manguezais. Nós temos muito pouca área para fazer
plantações.
Nós temos uma escola de 1ª a 4ª série. Ali alfabetizamos nossos alunos primeiro na língua Guarani,
depois eles começam a aprender a língua portuguesa, mas continuam a estudar e acompanhar as aulas na
língua Guarani.
Depois que eles terminam a 4ª série, vão estudar em colégios fora da aldeia. Muitos desistem, porque
não se habituam e muitas vezes sofrem preconceito e discriminação por parte dos próprios colegas não-
índios. Isso às vezes não acontece por maldade, mas por falta de conhecimento. Estas escolas da cidade
não têm informações e nem materiais adequados para trabalhar sobre as culturas e os povos indígenas na
sala de aula.
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Finalizo o meu depoimento com um pequeno verso:
As crianças dentro da escola devem aprender a ler e a escrever, o professor apenas ajuda na
aprendizagem, mas ele também precisa conscientizar as crianças para manter a cultura Guarani.
No começo da alfabetização eu trabalho muito com as histórias e mitos Guarani. Eu peço para
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eles desenharem sobre a história que contei e depois eu peço para eles escreverem do jeito que eles sabem.
Algumas crianças tiveram dificuldade para ler e escrever, mas trabalho com métodos diferentes e eles
acabaram aprendendo, principalmente através de brincadeiras, além das danças espirituais que ajudam as
crianças na concentração.
Eu também tive dificuldade no começo, porque eu não sabia como trabalhar com os alunos. Em alguns
momentos pensei em desistir, mas com o apoio da comunidade e das lideranças passei a ser um ponto de
referência para as crianças. Cada vez mais eu aprendo junto com as crianças.
Hoje na minha escola eu trabalho muito com brincadeiras, como por exemplo, a brincadeira que
chamamos Amandau kyvy kyvy’i. As crianças adoram essa brincadeira que eu aprendi com a minha mãe e
agora estou repassando para os alunos dentro da escola.
Minha mãe disse que essa brincadeira vem dos nossos antepassados Guarani. Quando um grupo
Guarani partia em busca da “Terra sem Males”, nos locais onde eles paravam para acampar, as crianças
ficavam brincando.
Essa brincadeira é realizada por várias crianças. Um deles é o chefe que simula que estão numa roça
e o primeiro da fila é o dono da roça. O chefe vai cantando:
- Amandau kyvy kyvy’i, Amandau kyvy kyvy’i! Até ele chegar a um tronco de apoio onde o resto da
turma está formando uma fileira. Ao chegar lá, o chefe pergunta para o dono da roça se a roça está pronta. O
dono da roça fala que não, e assim vai, até que o dono da roça responde que a roça está pronta para colheita.
Aí o chefe vai arrancando todas as crianças, até eliminar o dono da roça.
Essa brincadeira tem dado resultado e as crianças começaram a brincar no seu dia a dia. Elas querem
aprender mais brincadeiras...
A preocupação maior na escola é manter a nossa cultura, língua, as danças, os mitos, os alimentos.
Tudo isso é difícil de resgatar, mas a luta é para não perdermos mais conhecimentos e terras do que já
perdemos.
Na minha comunidade temos atividades importantes que fazem parte de nossa cultura. Acho
importante falar sobre a colheita do milho, apesar de termos pouco espaço para plantar, ainda mantemos
esta tradição.
Na época de colher o milho, o pajé (yvyra’ija) chama os moços da aldeia e pede para eles irem de casa
em casa, avisando que no dia seguinte toda a comunidade participará da colheita. Essa atividade não tem
data marcada para terminar, pois depende da quantidade de milho que tiver para colher.
No calendário da minha escola está prevista a participação das crianças na colheita do milho, porque
eles aprendem muitas coisas junto com os pais e com os parentes.
Os conteúdos que trabalhamos e o calendário escolar são sempre elaborados com as lideranças
e a comunidade, para as crianças estarem livres na época da colheita, que é muito importante para a
18 aprendizagem das crianças da cultura Guarani.
As crianças observam os pais, os professores e os mais velhos para aprender com todos eles, por isso
é importante agir corretamente, para elas não aprenderem coisas erradas.
Opa mba’e ajapo va’e kyringue onhembo’eapy ma xerentarã kuery ha’e javi huvixa kuery reve roguapy
peteĩ kuaxia re rombopara va’ekue re amba’eapo aguá ha’e rami vy ore reko ndoroeja vaipai aguã.
Onhembo’e ramo rei va’e reve ma yma nguare nguare rive ranhe amombe’u. Ajapouka mbo’emo
ra’anga a’egui ombopora aguã oikuaa’i rami rive. Amongue kyryngue ma ndoikuai reve’i omboayvu aguã
a’egui ombopora aguã, va’eri jorami e’y mba’eapo oikua vai aguã amonheovanga a’egui amboporai kyringue
mborai’ipu a’eva’e gui ma a’ekuery vai onhea’ã ve oikuaa aguaã.
Xee vai ma ayexavai avi jypy’i ndoikuaai mba’eixa hete’i pa anhombo’e aguã xepy’a re oĩ nanhombo’e
vei aguã guive va’eri xerentara kuery xeruvixa kuery xepytyvõ ndae joi aguã kyringue ambo’earomi ve xee
aikuaa ve avy kyringue reve.
Ay gui amba’eapo ve yma nguare kyringue nheovongoapy peteĩ akuaa va’e amondau “kyvy
kyvy’i” kyringue onheovanga xe ro’xa a’eva’epy xee ma aikuaa a’e va’e ha’i gui a’e va’e kue ma kyringue pe a
amonbe’u.
Aỹ gui ma mbya kuery reko tekoa py yma nguare remi ỹ nhane’rembi’u ramo ijopara poma jaiporu
ma hetava’e kuery oiporu va’e.
A’e rami ngua re xeay vu vyma xepy’a raxy xere he’ỹ kyringue’i a’e tujakue’i re ama’ẽ vy rive kyringue’i
ioko vy tuvixa a’e ndoikuai mba’e maba’e pa aexa va’erã yvy vai re. A’erami raimi rima nhandeyvy ae jareko
ramo rã a’eve nhandera’y kuery nhambo’e aguã nhandereko py tuja na jareko aguerami ju gua’y kuery
oguereko aguã.
Xerekoa ma opyta Paranaguá hyvy’iry. Ilha ma me hera Cotinga yvyma oguereko 1.800 hectare
40% ma yapo yvy porã ma mbovy’i ve mba’emo’ĩ ronhonty aguã.
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NHOMBO’EA AIKO YPY’I JAVE GUARE
Jupy’i kyringue ambo’e aguã aike ypy’i jave ma ndaikuaai va’ekue mba’e pa ajapo aguã mba’eta aexa’ã
e’ya py xepopy. Ha’e gui kyringue ambo’e ma rire ma apensa vaipa. Curso de Magistério py ma aikuaa vaipa
professor mboae kuery reve. Aikuaa ambo’e aguã, xeayvu aguã, ha’e marã rami pa ajapo aguã. Ko’ẽ nhavõ
nhaneakã re ou jaikuaave aguã.
Nhembo’eaty py aike ypy’i jave ma ndaikuaai kyringue reve amba’eapo aguã. Mbeguei’i ma aikuaa
aavy. Porombo’ea rami aiko ypy’i aguã ma amboy’ypy karamboae 2004 py. Ha’e va’e semana re ve ma aa
Florianópolis katy Cursode magistério “Kuaa Mbo’e” ajapo aguã. Ha’e va’e guive amboypy ajapo aguã xeae
aikuaa arami hare jaraa ‘rã Kyringue nhambo’e kuaa aguã, va’e ri nhanhea’ãa rupi ma jaupity nho’rã
Ore rekoa py ma pavẽ onhevangaxevai, oje’oi ‘rã o’yta, ojopoi, yvyra’a ikuai ramo oje’oi ‘rã joupive
yvyra’a ho’u aguã. Ha’e ramia py oguapy, ijayvu katu, omombe’u mba’eypy opuka guive. Amongue py ma
japy pa ikuai vy oporaei guive.
Xee ma amombe’u jepi avy mba’eypy, ymã guare kuery reko, ha’e rire ajerure kyringue voi omombe’ei
aguã oexa ra’u va’ekue guive. Ha’e ramingua ha’e javi ma nhandereko pygua meme.
2 Professora da Escola Estadual Indígena Arandu Miri – Aldeia Rio D’Areia - Terra Indígena Rio D’Areia -Município de Inácio Martins-PR.
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Ilustração 2: Casa de reza Guarani
Ha’e rire ma ojapo’rã, guyra’i, pira ha’e mba’emo oveve’i va’e ra’angaa guive, rire ma herry avi ambopara
uka. Amombe’u porãve avi ha’e kuery pe mba’emo vixo nhandexu’u va’e.
21
Ilustração 3: Alfabeto Guarani
Amboae ramingua rojapo va’e ma joo rupiroje’oi mba’emo para re roikuaa pota aguã. Ha’e rire ojapo
ha’angaa. Hery ha’e javi ombopara joo rupi oexa va’ekue.
22
Ilustração 4: Casa feita de pau a pique
Mba’eta ymagua kuery ma ha’e rami gu ndói kuaai raka’e. Ha’e rami vy ae guamigueve ikuai va’e ndojou
poraĩ ra’aga teĩ a ỹgua kuery reko.
Ha’e rami vy jepe nhandeayvua nanhanderexarai ramo ma ha’e ve, jurua kuery re voi nhamenda potave
eme nho xeretarã kuery. Ha’e rami e’ỹ ramo guarã ma nda’evei ete nhande kuery pe ae. Nhande Guarani kuery
ete’i nda’evei nhandero nhainy aguã juruá kuery retã re. Ha’e kuery oipoiu va’e régua jerekopa, jaiporupa
teĩ. Kova’e ma anhomongetaa rupi ju ambopara. Pavẽ xeretarã kuery peroayvu va’e pexa vy peikuaa pota
aguã.
23
NHEMBO’EA GUARANI REKO PYGUA
Kyringue ha’e kunumigue, kunhatãngue arandurã ma ka’e nhavõ oĩ ‘rã peteĩ ro rupi ha’e opy’i py ae.
Ha’e py ae kuery ombo’e gua’y kuery ojapo aguã mba’em porã. Xamoĩ kuery omongeta kyringue kunumigue
ha’e omenda va’e kuery. Ha’e rami gua rupi ae orembaraeteve reje’oi vy orerekoa py oreretarã kuery reve.
Região ha’e javi Guarani kuery ikuaia rupi ma oĩ opy’i, peteĩ, mokoĩ rupi oiko opita’i va’e. Mokoĩ,
mboapy rupy oiko grupo ruvixa, mbaraka mbopua, rave’i, angu’apu ha’e mbaraka mbopua, rave’i, angu’apu
ha’e mbaraka mirĩ kunhã karai ma kunhãgue ruvixa. Nhanderuete ae ayvu oikuaa uka ramo ha’e kuery
oikuaa mboraei ojapo aguã nhande py.
Xee ma sexta-feira nhavõ araa jepi aluno kuery opy’i re. Sala de aula py rami ae ovare. Mba’eta
oguapy pa rire ma peteĩ xamã omongeta ‘rã, kyringue oporandu guive. Xamoĩ ijayvu nhanhomboete aguã
re: nhamboete ‘rã tujakue, nhandereko, opy’y porombo’ea kuery, nhanderu ha’e nhandexy huvixa ha’e jurua
kuery.
Ha’e rã, ogueroayvu aguã ha’e ombopara aguã ndoikuaaive va’e pe ma aipoa’e, quadro gui oguerova
aguã. Ayvu omboja’o ha’e jurua pygua nhande py ju ojapo aguã.
Kyringue ogueroayvu ‘rã livro jurua pygua, mba’emo rery omoxã ‘rã jurua py ha’e nhande py. Ha’e gui
ha’ angua ojapopa ma vy hery ju omoimba. Ha’e rire ogueroay amboa kuery oendu aguã.
Xee aikuaa ramo ma ha’ eve vaipa kyringue mokoĩ ayvu oikuaa aguã: jurua py ha’e nhande py. Mba’eta
Guarani ae vy rãe ha’e ve a’i rami ombo’e nhandeayvu py ombopara aguã.
Ha’e ve vaipa livro rojapo va’e re oĩ aguã desenho e’ỹ vy foto, kyringue ru kuery e’ỹ vy tamoĩ kuery
rembiapo. Roikuaa pota avi marã ramingua gui ete’i pa ojapoa re. Ex: varai ma takua ryvi gui ojapo guyrapa
ha’e hu’y re ma omoi guyra rague ha’e pindo ryvi oipoka va’ekue, ha’e yvyra pẽ gue onhopĩ va’ekue. Urukure’a
ra’angaa ha’e amboae ramingua vixo’i ma yvyra atã e’ỹ va’e (leiteiro) gui ojapoa. Petỹgua ma kuru rapo gui,
mbo’y ma kapi’i’a ha’e yvaũ gui ojapoa. Ka’ygua para’i ma ky’akua gui, hi’y ma takua gui ombo’y ha’e gui
ombopara ju guembepi py omboague uru ragur py. Haxa’i ma kuri rapo gui hi’y ma takua gui avi.
MA NHANDE PY JU AMBOPARA TA
Kova’e kuaxia re ambopara va’e ma xemba eapoa regua. Kyringue reve nhandeayvu’rã mba’emo jareko
va’e re, nhanhotỹ va’e re, mymba ka’aguy regua re. Nhamombe’u ja’u va’e, ja’u e’ỹ va’e. Nhandexu’u va’e,
Nhandexu’u e’ỹ va’e ha’e javi. Ha’e ramo kyringue oikuaa aguã, ha’e kuery voi gua’y kuery ikuai ma ramo
omombe’u kuaa aguã.
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Ha’e ve avi nhandeayvu aguã guyra’i kuery rery re. Artesanato re nhandeayvu vy ha’eve avi nhamombe’upa
aguã. Ha’e va’e ha’e javi ma nhande kuery rembikuaa, ha’e nhande kuery rembiporu meme.
Ha’e rami vy xee mo po rami rive ambopara ndaikuaa poraĩ teĩ aikuaa arami reve’i amombe’u. Avave
rei mo jaikuaapa katui’ĩ va’erã e’ỹ ae ma araka’e. Há’e rami teĩ jaikuaa’i va’e ma ha’eve nhamboaxa aguã
nhandera’y kuery pe Ha’e va’e anho amombe’u xeretarã kuery Xerery ma Jacira Jera Fernandes.
Juku’a pegua
Temomba pegua.
Quando comecei a dar aula eu não sabia como trabalhar com as crianças. Fui aprendendo devagar.
Entrei como professora na escola da minha aldeia em 2004. Na mesma semana fui para Florianópolis
fazer o curso de Magistério Kuaa Mbo’e. Desde aquela época comecei a trabalhar com a minha própria
experiência. Demora um pouco para a gente aprender a planejar e ensinar os alunos, mas com toda a força,
a gente consegue.
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TEMAS QUE TRABALHAMOS NA ESCOLA GUARANI
Na escola indígena falamos sobre a natureza, saúde e tudo que aprendemos com nossos pais. Nós
Guarani damos muito valor à escola e à casa de reza. Através desses dois lugares temos forças para ensinar
nossos filhos, para eles aprenderem e conhecerem o nosso mundo e o mundo do não-índio.
Na nossa comunidade todos brincam juntos, vão ao rio nadar, pescar, quando tem frutas vão juntos
para comer. Sentam, conversam, falam, contam causos, dão risadas. As crianças quando brincam juntas
também gostam de cantar.
Eu conto histórias na sala de aula e às vezes faço eles contarem seus sonhos, tudo isso faz parte da
educação indígena.
O que os alunos falam eu escrevo no quadro, para eles verem as letras e as palavras, construindo textos
a partir das ideias dos alunos. Falar na língua Guarani é fácil, mas para escrever é um pouco difícil, até eu
ainda tenho um pouco de dificuldade em algumas palavras.
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Converso também com os alunos sobre a demarcação da terra. O governo precisa demarcar todas as
terras indígenas, porque se as terras indígenas não forem demarcadas, os não-índios tomam essas terras.
Outro trabalho que fazemos é pesquisar nas casas os diferentes tipos de artesanato. Eles desenham
e escrevem o nome de todos os objetos de artesanato que têm dentro de suas casas.
Ilustração 7: Artesanato
É importante que nos livros que vamos produzir existam desenhos e fotos dos trabalhos feitos pelos
Antigamente, nossos avós não viviam como nós vivemos hoje. Não moravam na casa feita pelos
não-índios, não conheciam roupas e nem a comida dos não índios. As casas eram feitas de palha, de
folha de palmeiras e de pau-a-pique. Eles se vestiam com pano de estopa (voxa ou saco) que poucas vezes
conseguiam e se alimentavam das próprias plantações. A comida deles era feita de milho com feijão do
mato, feijãozinho dos índios, caça, mel trazido do mato. Plantavam bastante caninha fina. Sobreviviam
com estes alimentos.
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ESCOLA DA CULTURA GUARANI
A aprendizagem do dia a dia das crianças e jovens Guarani é na própria casa de cada família e na casa
de reza. É lá que os pais ensinam os seus filhos a fazerem coisas boas e os rezadores dão conselhos para as
crianças, para os jovens e também para os casais. Com essa união conseguimos ter mais forças na convivência
dentro da comunidade.
Em todas as regiões, nas aldeias Guarani, há sempre uma casa de reza, um ou dois Karai (sábios), dois
ou três chefes que comandam o grupo, tocadores de violão, de rabeca, de tambor e de chocalhos. Kunhã
Karai é quem comanda as mulheres.
Através da inspiração enviada por Nhanderu (Deus), eles conseguem fazer cânticos em Guarani.
Eu sempre levo meus alunos na casa de reza todas as sextas-feiras. Vale como uma aula porque eles
sentam todos no banco, depois levantam para cantar, depois o rezador dá conselhos para eles. Os alunos
também fazem perguntas para o rezador. O rezador fala sobre o respeito aos mais velhos, à cultura, à casa
de reza, aos professores, ao pai e a mãe, às lideranças e aos não-índios.
Com os alunos que têm mais dificuldade na escrita e na leitura eu falo para copiar palavras e textos
do quadro, separar sílabas e para traduzir os textos da língua portuguesa para a língua Guarani.
Para trabalhar com a língua portuguesa os alunos leem livros, fazem atividades de ligar nomes de
animais nas línguas Guarani e portuguesa, desenham e colocam os nomes dos desenhos que fizeram, leem
para a classe.
Eu acho melhor mesmo o aluno estudar as duas línguas: Português e Guarani. Em língua Guarani
só o professor Guarani pode ensinar a escrever e ler certinho.
Em português é mais fácil de escrever porque existem mais livros, que podem ajudar o aluno a
aprender.
Eu costumo trabalhar muito com os alunos tradução do português para o Guarani e vice-versa.
Com este texto estou falando sobre o meu trabalho. Quando formos trabalhar com os alunos,
devemos falar de todas as coisas que temos, da plantação e dos animais selvagens. Falar sobre as frutas
que servem e que não servem para comer. Também devemos falar para as crianças sobre os seres vivos
venenosos e não venenosos, animais perigosos e não perigosos. Para as crianças aprenderem que tudo isso
precisa saber e entender. Quando forem adultos, eles que vão contar para seus filhos. Podemos contar o
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nome dos passarinhos, nome dos artesanatos. Tudo isso é conhecido e usado pelos Guarani e por outros
povos indígenas.
Assim o que aprendemos devemos repassar para nossos filhos. É isso mesmo, meus parentes. Meu
nome é Jacira Jera Fernandes.
Nós Guarani temos vários remédios para algumas doenças: folhas verdes, casca de árvore, não é de
qualquer árvore, raiz, folhas de algumas árvores. Aqui estão algumas dicas:
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PENDEVY XEIRŨ KUERY
Kova’ kuaxia ambopara, xeirũ kuery pe, amombe’u aguã mba’exa pa amba’eapoa, mba’eta
nhamba’eapoa py ma axy rãe aluno kuery pe nhamboaxa kuaa ma voi aguã ha’e kuery oikuaa va’e rã, mba’eta
professor va’e ma guive ma formação porã reve he’ỹ’ra sala py jaike, ndajaikuaai mba’exa ete’i rã pa aula
nhamboypy ha’e nhame’ẽ aguã. Va’e ri ha’eve capacitação de professores rupi nhandekuai vy nhanhe’ãve tema
jaraa aguã aluno kuery pe, jaikuaa va’e. Kova’e ma iporã nhandevy ha’e nhaneretarã kuery pe, nhandekuai
kuaave aguã,
Aỹ ma Tekoa Tapixi py ju amba’eapo 3ª série, Ensino Fundamental reve. Ha’e gui ma aexa avi xeirũ
kuery omba’eapo va’e ojexavai rei okuapy ramo, ha’e vy ma anhea’ã aipytyvõ aguã rami aiko aguã. Xee voi
amba’eapo ypy vy ajexavai va’e kue, arandu amboaxa va’e rã ndaupityi vy.
Jypy ma professora kuery omba’eapo okuapy ramo ama’ẽ ranhe, planejamento ha’e conteúdo omboaxa
va’e re ha’e oikotevẽ jave aipytyvõ jepi avi. Jypy tekoa py aikoapy ma, kyrĩngue escola py ndooi okuapy ramo
nda’evei ranhe, ha’e rami teĩ nhemongeta oĩ jave xeayvu ombouve aguã gua’y kuery onhembo’e aguã, huvixa
kuery pe guive ajerure xepytyvõ aguã. Ha’e gui curso rupi aiko vy aikuaave mba’exapa amba’eapo kuaave
aguã sala py.
MBA’EXAPA AMBA’EAPOA
Amba’eapo 1ª a 4ª série reve vy ma xee aiporu vaipa material, curso rupi aikuaa va’e kue: dominó sílaba
reve gua, mba’emo ra’angaa reve, ha’e rami he’ỹ vy aluno kuery rery reve, xee ae ajapo va’e kue. Jypy ma aluno
kuery, guery nomboparakuaai okuapy. Ha’e ramo ajapo dominó teĩ re hery ha’e javi, ha’e gui hovai re ma
letra hery ijypya’i rive amoĩ ha’e kuery ae omboje’a aguã.
Aexauka rive ranhe mba’exapa omboje’a aguã tery letra ijypua’i va’e re, ha’e gui teĩ teĩ ijayvu mba’exagua
letra gui pa hery ijypya, ha’e rami vy aupity ha’e kuery ombopara aguã guery.
3 Professor da Escola Estadual Indígena Carlos Alberto Cabreira Machado - Aldeia Rio da Lebre - Terra Indígena Rio das Cobras –
Município de Nova Laranjeiras - PR.
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Ha’e ve avi amboae ae’i rami jajapo aguã, sílaba gui, Mbya py nhande ayvua omboje’a aguã jurua py,
ha’e rami he’ỹ vy mba’emo ra’angaa omboje’a aguã hery re ha’e oguero ayvu aguã.
Aiporu dominó va’ekue gui ma ha’e kuery voi ombopara kuaa ha’e oguero ayvu okuapy, ha’e va’e ma
peteĩ teĩ ojapo va’erã aluno kuery revê.
Kyrĩgueve, pré gui oaxa 1ª série py va’ema haxy rei, mba’eta “jurua” py noendukuaai ramo. Mba’eta
professor pré py ombo’e va’e ma mbyá py anho ijayvu. Ha’e ramo xee avi apytyvõ Mbyá py amombe’u aguã
professora “jurua” py ijayvu rã.
Ha’e nunga rupi nhande professor kuery ma nhanhea’ã rã ha’e jaeka rã nhambo’e kuaave aguã aluno
kuery.
Kova’ kuaxia ambopara, xeirũ kuery pe, amombe’u aguã mba’exa pa amba’eapoa, mba’eta nhamba’eapoa
py ma axy rãe aluno kuery pe nhamboaxa kuaa ma voi aguã há’e.
Atualmente trabalho com a alfabetização em língua portuguesa na Aldeia Rio da Lebre, na Terra
Indígena Rio das Cobras, no Paraná. Leciono para a 3ª série do Ensino Fundamental. Como percebi que
outros professores bilíngues iniciantes tinham dificuldade para preparar materiais e aulas para os alunos, eu
me preocupei e tenho ajudado a desenvolver materiais de apoio para estes professores, mas sempre deixando
que o professor tenha a sua criatividade.
Quando comecei a trabalhar tinha muita dificuldade por não ter conhecimentos adequados para
passar aos alunos.
Na minha comunidade tinha problemas em relação à evasão escolar, então eu comecei a falar da
importância da escolaridade dos alunos, dentro da nossa sociedade e no mundo em que vivemos, pedindo
a colaboração dos pais na educação escolar de seus filhos, incentivando-os sempre que necessário, nas
reuniões realizadas na comunidade. Depois de muitas dificuldades, a comunidade, através de suas lideranças,
se propôs a participar mais do dia a dia da escola. Em relação aos alunos que tinham mais dificuldade, foi
conversado com os pais para que acompanhassem a frequência deles em sala de aula.
Graças aos cursos de formação de professores que são organizados, fui adquirindo mais conhecimentos
que me ajudaram a trabalhar dentro da sala de aula.
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METODOLOGIA DE TRABALHO
Como trabalho e contribuo com alunos da 1ª a 4ª série, utilizo métodos e atividades que aprendi
nos cursos de formação: uso jogos como o dominó de sílabas elaborado por mim, desenhos, trabalho
com o nome dos alunos nas línguas Guarani e portuguesa. No começo os alunos tinham dificuldade para
aprender a escrever seus nomes. Então, eu elaborei um dominó usando numa parte as letras iniciais e na
outra o nome de cada aluno(a).
Mostrei o jogo de dominó para os alunos e pedi que achassem as letras iniciais de seus nomes e todos
foram completando o dominó. Cada um dizia com que letra começava o seu nome. Assim consegui que
todos escrevessem seus nomes.
Podem ser feitos outros tipos de dominó, com sílabas, com palavras na língua Guarani e língua
portuguesa, usando nomes de animais, por exemplo. Também pode ser feito um dominó com figuras, os
alunos vão ler o que está escrito e tentar achar a figura e emendar com a palavra.
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Ilustração 9: Dominó com figuras
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e a leitura. São jogos com materiais simples, todos os professores conseguirão desenvolvê-los.
Na aldeia em que moro, as dificuldades dos alunos com a língua portuguesa são grandes. Os alunos
que frequentam a pré-escola são alfabetizados na língua Guarani por um professor indígena. Quando
passam para a 1ª série começam a estudar com uma professora jurua. Eu tenho que estar acompanhando
essas aulas para explicar um pouco da língua portuguesa para os alunos, o significado das palavras e as letras
usadas na escrita do português. Não são só os alunos Guarani que têm problema de comunicação com as
professoras jurua, mas elas também têm os mesmos problemas para se comunicar com os alunos porque
não sabem falar a língua Guarani. Isso dificulta o desenvolvimento da aprendizagem. Por isso eu trabalho
junto com as professoras jurua, para acompanhar os alunos que têm dificuldade e para traduzir o que estas
professoras falam ou explicam, para a língua Guarani.
Nós, professores indígenas, temos que nos dedicar aos nossos alunos e gostar do que fazemos.
Foto 1: Prof. Oséias e seus alunos
É desta forma que
eu trabalho, tentando
encontrar soluções para
melhorar a situação de
aprendizagem na escola.
o
s jogand
luno
2: A
Foto
Fonte: Florentino, 2008.
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Quero deixar aos meus colegas, professores Guarani e Kaingang, a minha experiência, o meu relato,
espero que os ajude nesta tarefa de alfabetizar, para formar pessoas dentro das sociedades indígenas, com
respeito e dignidade, buscando cada vez mais conhecimentos adequados às nossas realidades, que são
próprias e diferentes, seja o povo Kaingang ou o povo Guarani. E ao final do meu relato, também deixo
um plano de aulas em Guarani, para que os meus colegas conheçam um pouco os temas e a metodologia
que utilizo no meu trabalho.
H A ‘ E T Y V A I J U O M
T A T U R I A J A V Y T E
E P Y T U ‘ U P O R Ã K E
peteĩ
mokõi
mboapy
irundy
teĩ nhiruĩ
Ejapo:
1- 2- 3- 4- 5-
2+2 6+1 2+1 1+1 5+4 3+2 1+0 5+1 4+4 6+2
Xeru (pai)
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Xereindy kuery (menino chama suas irmãs)
Xamõi (avô)
Xaryi (avó)
Xeirũ (amigo)
Xera’y (filho)
Xerajy (filha)
Huũ – preto
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Xiĩ – branco
Emoputã número reve oĩa rami: (pinte os balões de acordo com os números)
1 iju va’e
2 huũ
4 pytã nara
5 pytã
6 hovy ye’ẽ
7 hovy Jairo
H I J U V A ’ E M A P E
U H O V Y J A I R O I Y
Ũ X I Ũ P Y Y Ã N A R Ã
P Y T Ã V A ’ E O V E I
1- 2- 3- 4- 5-
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Ejapo mba’emo’a ra’anga ha’e emoĩ hery: (escreva o nome das frutas em Guarani)
pakova melancia
guavira banana
narã ariticum
xanjau gabiroba
araxiku laranja
A laranja é amarela.
A gabiroba é alaranjada.
A banana é amarela.
guyra – pássaro
karumbe – tartaruga
tay – formiga
pira – peixe
jagua – cachorro
xivi’i – gatinho
popo – borboleta
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vaka – vaca
uru – galinha
kavaju –cavalo
tapixi – coelho
mboi – cobra
nhandu – aranha
anguja – rato
vexa’i – ovelha
ype – pato
eiru – abelha
ju’i – sapo
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MBYA REKO PYGUA
Ilustração 12: Karai kuery oiporu va’e Ilustração 13: Karai kuery oiporu va’e
Nhande kuery kyringue mbo’ea jaiko va’e voi nda’evei nhamboyke aguã. Nhanhombo’e va’e voi ha’e
ve kyringue jaraa opy’i jaexauka aguã mba’exa va’e rã pa jaiko nhande Mbya kuery.
Opy’i voi ma kyringue onhembo’e avei ha’e nhande nhanhombo’e va’e voi jaikuaa ve rã marã rami pa
kyringue nhambo’e porã ve aguã.
Nhande Mbya pe ma opy’i ae nhanhembo’e aguã oĩ va’e ri jurua arandu avei jaikuaaxe vy ma
nhanhembo’e avei ha’e kuery arandu py.
Ha’e rami teĩ nda’evei nhanderexarai aguã nda’evei avi jaeja aguã, opy’i ma jaikuaa opa mba’e porã
4 Professor da Escola Estadual Indígena Vera Tupã - Aldeia Palmeirinha - Terra Indígena Mangueirinha – Município de
Chopinzinho - PR.
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veju. Ha’e nhaendu teri avei nhaneramoĩ ijayvu nhandereko rã re.
Ha’e rã jurua nhembo’ea py ma nanhaendui rã nhandereko re ijayvu va’e ha’e rã nhandero py’i ma ha’e
rami e’ỹ, nhanemongeta jaeja e’ỹ aguã nhandereko’i.
Nhanhombo’e va’e jaiko va’e voi ha’eve nhambo’e avei kyringue. Opy’i oĩ va’e va’e re guive.
Mba’ere tu opy’i ikuai mba’e mo oipuru py, hu’y, mbaraka, angu’apu rave’i popy gua’i.
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Yma ikuai va’e ndojayai avi o’a. Ha’e rami vy ae noendui va’e, ha’e ndoikuaai guive araka’e akã raxy,
ramigua.
Amboypy amba’eapo kyringue pré ha’e 1ª série Tekoa Pinhal py jave neĩ napẽxai amboae rami amba’eapo
aguã va’ekue.
Xee aa amba’eapo vy ha’e py mba’e ta nhombo’ea ojerure xevy amba’eapo aguã ombopara pa ma voi
va’e oeja xerey.
Aỹ ma arekove’i ma xe’arandua oija xevy amba’eapo agui sala py. Tekoa Palmeirinha py ma amboypy
amba’apo aguã 2001 py hare ma guive amba’eapo ha’e 4ª série reve Mbya ayvu py 2007 peve.
Aỹ amba’eapoa py ma kyringue ijayvu Mbya py meme nda’ijayvu vaipai, jurua py, ijayvu raẽ jurua py
va’e ri nhandeagua kuery re irũ vy rive. Xerekoa Palmeirinha py ma ikuai mokoĩ regua Mbya ha’e nhandeagua
ha’e rami teĩ, amba’eapo hexeve kuery Mbya ayvu py, xapy’a ramo kyringue araa’rã opy’i ramo voi ijayvu
mboae’i va’e kuery voi oo oexa aguã, sala py voi onhembo’e ombopara avei okuapy Mbya kuery reve.
Kyringue ru kuery voi orepytyvõ, oipytyvõ avei gua’y kuery oja e’ỹ aguã ha’e hexara e’ỹ aguã guive
Ore Mbya kuery ma roikuaa opy’i ae oĩ ronhembo’e ha’e ore’arandu aguã oĩ kyringue mboapy e’ỹ
vy irundy ma’ẽtỹ oguereko va’e oo nguu kuery reve opy’i rupi ikuai ixy, tuu mba’e ojerojy rã ojerojy, opita
mba’e rã voi oexa okuapy ha’e ramia rupi opita ave kyrĩ reve, ha’e rami ramo tuu kuery ojou porã, tuu kuery
anho e’ỹ guive xamoĩ kuery opita’i va’e ha’e hi’arandu ovy aguã nguu kuery reve.
Ore Mbya kuery ka’aru nhavõ re roo opy’i roendu aguã ayvu xamoĩ kuery, huvixa he’ỹ vy xondaro
xondaria ruvixa yjoyvu mba’e yayvu rã roendu aguã.
Ore ronhombo’e va’e pe voi iporã vaipa roikuaa porã pota ha’e romboekove’i aguã opy’i py ikuai va’e
ha’e opy re ikuai va’e oporai va’e, ojerojy va’e, opita’i oikovy va’e voi.
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MBA’EAPO KYRINGUE’I REVE
Kyringue jardim peteĩ ha’e mboapy ma ikuai axy vaipa ombopara aguã mba’eta omboypy ramo okuapy
vy ndoikuaai mba’e nunga pa alfabeto a voi ndoikuaai. Ha’e rami ramo xee apẽxa ajapo aguã peteĩ kyringue
ouga aguã vogais ayvu nhandepy gua re. Kyringue xereve onhembo’e va’e kuery xepytyvõ amopyta aguã
mba’emo ra’angaa ajapo va’e kue. Ha’eve vaipa ambo’e ouga aguã re mba’eta ha’e kuery ndoikuaai mba’exa
pa jauga va’e rãa. Kyringue oikuaa ouga aguã va’e ombo’e oirũ kuery ndoikuaai va’e. Ha’e ve xeayvu aguã
mba’eta ojou porã ougaa rupi hi’arandu okuapy vy ougaxe riae guive ougaxe, teĩ nhembo’ea py ma nda’ipoi
ha’e rami ouga okyuapy aguã.
Aexa xeremimbo’e kuery oikuaa oje’oi vy ougau okuapy vy, xee aikuaa amboae rami gua ouga py rã
ambo’e aguã letra re gui pré ha’e 1ª série. Amboypy letra alfabeto ha’e ajaya ha’angaa’i kuaxia yma gue gui
amboja ha’e ambopara aguã py ma xepytyvo 3ª ha’e 4ª série.
Peteĩ teĩ turma oguereko 4 hora peteĩ semana py onhembo’e aguã Mbya py. Xee areko katu kyringue
ouga aguã ha’e gui araa ambo’e aguã kyringue. Ha’eve vaipa dominó py ouga kuringue oguerovy’a vaipa
guive.
Oĩ porã vaipa avei amboae nhambo’e va’e kuery pe voi oikuaa ve aguã amboae rami kyringue ombo’e
aguã.
2007 py ma oĩ porã vaipa kyringue’i reve ha’e 1ª série reve Mbya ayvu py kyringue oikuaa pojava ouga,
oexa mba’emo ra’angaa, e’ỹ vy ojapo mba’e ra’angaa aru pi ikuai vy hi’arandu voi voi.
Kova’e 2008 dominó rami rai’i ae va’e xee aikuaa amboae rami gua ha’e rami vy ajapo kyringue ouga
aguã guaraná ryrukue py amboyru kuaxia hovy, pytã, ÿu, huũ, xiĩ va’e guive amoĩ avei número ha’e nunga
pe mo jogo de boliche he’i okuapy, ha’e nunga re ma kyringue oma’ẽ ha’e oikuaa pe ma guive cores número
ha’e rami ikuai vy hi’arandu okuapy.
Aỹ kyringue ikuai va’e oikuaa pojava ra cores, número, letra do alfabeto, ha’e rami ae ha’e va’e nunga
ajapo ha’e xee anho e’ỹ guive aikuaa pavẽ joapy romba’eapo va’e ha’e rami roikuaa vy peteĩ teĩ romba’eapo
ha’e rami gua re.
Quando eu comecei a trabalhar com o pré e a 1ª série, na aldeia Pinhal, nunca tive um pensamento de
44
trabalhar com práticas pedagógicas diferentes. Eu comecei a trabalhar com os alunos porque o professor me
pediu para ficar no lugar dele. Hoje eu já tenho um pouco de experiência para trabalhar em sala de aula.
No ano de 2001, trabalhei na aldeia Palmeirinha, com 1ª à 4ª série, ensinando a língua materna. Aqui
na aldeia Palmeirinha, onde eu continuo atuando, os alunos Guarani falam mais a sua língua materna do
que a língua do jurua (não-indígena). Mas quando eles estão junto com os Kaingang, eles conversam em
português. Lá na minha aldeia Palmeirinha tem duas etnias: Guarani e Kaingang. Mesmo assim eu trabalho
com eles na língua Guarani. Quando os alunos Guarani vão para a casa de reza, opy, os alunos Kaingang
participam junto com os Guarani. Dentro da sala de aula também os Kaingang aprendem a escrever a
língua Guarani.
Os pais dos alunos também ajudam a escola, praticando os nossos costumes para não esquecer a
história do povo Guarani.
Nós, Guarani, sabemos que a casa de reza, a opy, é uma escola. As crianças Guarani, desde que
completam 3 ou 4 anos, vão para a casa de reza com o pai e a mãe. Elas já começam a dançar e a pegar no
cachimbo para dar uma ou duas fumadinhas. Elas vão crescendo e aprendendo junto com os pais.
Para nós, professores, também é importante aprender e valorizar a cultura dentro da casa de reza,
a opy. Nós, Guarani, costumamos ir para a casa de reza todas as tardes, para escutar os conselhos do pajé,
xamoĩ, do cacique e das demais lideranças.
Nós, Guarani, que estamos vivendo, não podemos esquecer os costumes tradicionais que os nossos
antepassados nos deixaram. Nós, professores, também não podemos deixar de lado os nossos costumes,
mesmo trabalhando na sala de aula. Nós podemos levar os alunos à casa de reza para mostrar e explicar
porque não podemos esquecer de tudo que Nhanderu deixou para nós. As crianças que vão para a casa de
reza já estão estudando e nós, professores, também estamos estudando o conhecimento que existe na casa
de reza, para trazer esses conhecimentos para a sala de aula.
Para nós, Guarani, a escola e a casa de reza são importantes. Nós aprendemos nestes dois lugares.
Nossa responsabilidade como professores é falar bastante sobre a casa de reza e ensinar tudo o que
existe dentro da cultura Guarani.
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aprenderam mais rápido como jogar e ajudavam os coleguinhas. Posso dizer que todas elas gostaram de
jogar e se interessaram, pois na escola não temos jogos desse tipo.
Vendo que meus alunos aprenderam melhor jogando, eu resolvi inventar um outro jogo para ensinar
as letras e palavras na pré-escola e na 1ª série.
Comecei com as letras do alfabeto, recortei figuras de livros velhos e na hora de confeccionar tive a
ajuda dos alunos de 3ª e 4ª série.
Cada turma tem 4 horas por semana de aula na língua Guarani. Nas quartas-feiras eu planejo tudo
o que eu vou trabalhar com as turmas, no período de hora-atividade.
Foi bom trabalhar com o dominó, as crianças gostaram bastante e serviu de ideia para outros
professores inventarem outros jogos.
Em 2007 foi bom trabalhar com o pré e a 1ª série na alfabetização na língua Guarani. As crianças
aprendem rapidamente vendo os desenhos, desenhando e jogando.
Nesse ano de 2008, além do jogo de dominó, eu inventei outros tipos de jogos, como o de boliche,
para as crianças identificarem e descobrirem os números e as cores. Hoje, as crianças aprendem rapidinho
as cores, os números e as letras do alfabeto, por isso eu inventei vários tipos de joguinhos.
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AIKO ANHOMBO’E AGUÃ REGUA
Jypy’i anhombo’e aguã ma 2001 py nhandeagua huvixa Pedro Seg Ség oĩ teri jave xerenoĩ ha’e
py oporandu anhombo’exa paa re ha’e ramo xee aipoa’e aiko’rã ha’e. Ha’e jave Conselho Indígena py
xemomba’eapa.
Amboypy amba’eapo aguã. Ha’e vy ma peteĩ ma’etỹ re ndajapyi ipere’i va’e, aikoaxy, amogue py
akarue’ỹ re aa anhombo’e aguã. Kyringue rembi’u re rive akaru aikoa vy. Mokoĩ ma’etỹ re ha’e rami. 2003
py ma xemboaxa Estado py ju. Nhandeagua kuery py amba’eapo 2001 – 2006 peve.
Ha’e jave ma nhande kuery a py oĩ nhombo’ea Justino há’e oxẽ rire ma Mario ju oĩ. 2005 py “Kuaa
Mbo’e” py nhembo’e jave amboae nhandeagua huvixa Otávio oĩ teri jave ha’e xemboaxa nhande kuery py,
ha’e jave amboae nhombo’ea oxẽ ramo xee ju xemoĩ aỹ xeve oiko.
Nhandeagua kuery a py kyringue mbo’ea aiko. Xee ndaikuaai ambo’e aguã neĩ ndaikuaai mamo gui
pa amboypy aguã, xee aikoaxy vaipa ndoxeayvu kuaai aramive ma kyringue’i oje py anho’ĩ ijayvu. Xee ma
jurua py ambo’e nhandeagua’i kuery.
Ambo’e aguã jurua py ma aronhemboara ha’e gui ajapo hery, guery ombopara kuaa aguã ma ajapo
kunhangue’i rery amboae’i py amopytã ha’e avokue’i rery ma amopytã hovy va’e py.
Ha’e va’e kue gui ma kyringue’i kuery aikuaa ombopara aguã guery ha’e ijayvu amogue’i jurua py.
Ambopara peteĩ teĩ rery ha’e vy amoĩ ha’e kuery ae oeka aguã guery ojou vy ma ogueraa omoĩ aguã
Tekoa Ko’eju Porã py xemboaxa anhombo’e aguã jave amboae rami gua py ju aikoaxy. Ha’e py ma
ambo’e multisseriada, aikoaxy mba’eta, amogue kyringue ma ou amboae tekoa gui, neĩ ndoikuaai letra neĩ
ndogueroayvu kuaai guive, 2ª série oiko va’eri oguereko 9, 10 anos ma.
Xee ma ambo’e ayvu (pengue-pengue) ha’e vy ma arovauka kuaxia re, ha’e rami anheanga teĩ ndoikuaa
reguai.
Ha’e rami vy amba’eapo amboae rami jevy ajou mba’exa vy pa ambo’e porã ve aguã. Tekoa py ma oĩ
opy’i, ha’e py ma oikuaa mborai’i, ojeroky xondaro py.
Aikuaa pota ramo kyringue onhembo’e va’e, ha’e ramia py, ha’e kuery oikuaa ve opy’i regua.
5 Professora da Escola Estadual Indígena Arandu Pyahu - Aldeia Ko’ẽ ju Porã - Terra Indígena Marrecas - Município de Turvo - PR.
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Ha’e vy ma amboypy amba’eapo “Nhande kuery reko re”.
Xee ma ame’ẽxe vai ogueroayvu aguã amboypy jave ha’e ngoo katy oo jave.
Kyringue ma ogueroayvuxe vai, xee xerexarai ramo ha’e kuery ima’endu’a vy aipoe’i: Professora, aỹ pa
ndajaroayvui’rã?
Xee ma ambo’eapo ha’e kuery ojapoxe vai va’e re. Kyringue ma omparaxe vai, mba’emo ra’anga ojaya
ha’e mba’emo ra’anga ojapoxe vai.
Xee arovy’a vaipa mba’eta peteĩ nheruĩ kyringue ambo’e va’e ogueroayvu kuaa ma. Ajapouka texto,
amogue py amboxa mba’emo ra’anga ha’e gui ha’e kuery ombopara ayvu.
Em 2006, passei a ser funcionária da Secretaria de Estado de Educação do Paraná. Trabalhei nessa
escola Kaingang de 2001 a 2006.
Naquela época, o Justino era o professor dos alunos Guarani. Quando ele saiu de lá ficou o Mário
lecionando. Em 2005, comecei a fazer o Curso de Magistério “Kuaa Mbo’e” e o cacique Otávio Kaingang
me indicou para lecionar na Escola Guarani, pois o professor anterior havia saído. Trabalho lá até hoje.
METODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO
No começo eu dava aula numa Escola Kaingang, como professora de Educação Infantil. Eu não tinha
experiência, passei por muita dificuldade, não sabia por onde começar, porque a língua Kaingang, falada
pelos alunos é muito diferente da língua Guarani. As crianças pequenas só falavam Kaingang e como eu
não sabia falar Kaingang, tinha que dar aula em português.
Através de muitas brincadeiras e do uso de crachás, estes alunos aprenderam a falar um pouquinho
de português e a escrever o nome deles. Também para ensiná-los a escrever o nome eu fazia um cartaz,
dividido em duas partes, um para os alunos do sexo feminino e outro para os alunos do sexo masculino. Eu
espalhava os crachás com os nomes deles, eles procuravam e colocavam no cartaz.
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UMA SALA MULTISsERIADA
Outra experiência de trabalho foi quando mudei para trabalhar na Escola Indígena Guarani na aldeia
Ko’ẽ ju porã. Comecei a dar aula para uma sala multisseriada. Então passei por mais dificuldades porque eu
tinha alunos que vieram de outras aldeias que não conheciam as letras do alfabeto e nem sabiam ler. Eram
alunos de 2ª série, entre oito e nove anos de idade.
Eu tentava ensinar para eles as sílabas, mandava copiarem no caderno, mas eles não conseguiam se
alfabetizar.
Mas foi aí que comecei a trabalhar com temas novos e importantes. Na aldeia da minha escola
tem a casa de reza, onde as pessoas aprendem os cantos e as danças. Percebi que os alunos se interessavam
em aprender na casa de reza e comecei a trabalhar com temas da cultura Guarani, como por exemplo, as
diferenças da vida de antigamente e de hoje. As crianças também aprendem ouvindo os mais velhos contando
histórias dentro da casa de reza.
Depois que comecei a participar do curso “Kuaa Mbo’e” iniciei aulas sobre saúde corporal e bucal.
Primeiro expliquei tudo sobre esses temas, depois pedi para os alunos fazerem cartazes em dois grupos.
Cada grupo fez desenhos, pintou e escreveu frases, depois foram expor os seus trabalhos, que foram colados
na parede da escola. Eu preparei desenhos para poder dar melhores explicações para os alunos. Vi que eles
gostaram e a minha aula rendeu.
Eu também costumo dar leitura na entrada e na saída das aulas. Eles gostam de ler. Quando eu esqueço
de começar com a leitura, os alunos falam: “Professora, não vai ter leitura?” Eu trabalho em cima do que
eles gostam. Eles também apreciam escrever nomes de figuras, de recortar e de desenhar.
49
Ilustração 17: Lendo
Estou muito feliz porque os cinco alunos que eu tenho estão lendo. Também proponho que eles
façam produção de textos. Às vezes eu colo uma figura e eles escrevem frases.
- ir sempre ao dentista.
Fonte: Palacio,2008. Fonte: Palacio, 2008.
Quem escova os dentes após as refeições Quem não cuidar da saúde bucal vai
não sente dor de dente. estragar os dentes e inflamar as gengivas.
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- Jypy’i ma jajau vy nhaneakã jajoi porã, nhande ky e’ỹ aguã.
- Nhande ao ky’a nhamboi vy, iky’a e’ỹ va’e ju nhamoĩ nhanhembo’e jaa aguã.
- Pentear os cabelos.
Ojau ma. Oje’a vy ky, ha’e ijao iky’a e’ỹ va’e omoĩ.
Ijao iky’a rei ramo nda’evei, mba’eta amogue py jurua kuery ou ramo ma imbo’ei pe ijayvu.
Primeiramente, as mães são responsáveis pelos filhos, de cuidar, dar banho e lavar a roupa dos filhos.
Nós, as mães, temos que cuidar dos nossos filhos.
Se o filho ficar com as roupas sujas, não está certo, porque às vezes as pessoas de fora reparam e falam.
Se ficar sem tomar banho, pega sarna, aí a criança fica triste.
Outro tema trabalhado foram as diferenças entre a vida de antigamente e a vida atual do povo
Guarani:
A água era limpa e bonita, tinha bastante peixe. Os antigos só se alimentavam das coisas da
53
Ilustração 21: Terra bonita
A água está secando por causa do corte das árvores, os peixes estão morrendo por causa da
contaminação da água e do veneno usado nas lavouras.
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Ilustração 22: Terra destruída
METODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO
No meu relato, quero contar algumas atividades que aprendi no curso “Kuaa Mbo’e”, junto com os colegas.
Fizemos vários tipos de jogos como o jogo de memória, jogo de mico, a cesta de letras, entre outros.
Eu apliquei o jogo de memória com as palavras escritas na língua Guarani e na língua portuguesa.
As crianças gostaram muito e aprenderam com o jogo.
Eu tive três alunos que tinham dificuldades na leitura. Depois que fiz vários tipos de jogos como o
dominó de letras e números, por exemplo, eles se interessaram muito. Todo final de semana faço jogos com
eles, tabelas de palavras e também as quatro operações.
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AMOĨ PORÃ MBA’EAPO NHEMBO’EA
PY GUA
Aikotevẽ nhavõ amopu’ã mba’eaporã ojeporu va’e rã ou nhembo’eapy xe ma riae aenoĩ mba kyringue
ru kuery, mboruvixa ha’e xamoĩ kuery ijypy guive ha’e ramĩ, aỹ peve ndarovai amboae ramĩ.
Hekoa va’e kuery ojou porã riae xereve omboete mba’eaporã omopu’ã va’e kue joupi vepa, kuaxia
(xi-ti) para ogueru ha’e kuery remikotevẽ tuja’i kuery oarõ va’e oguero jeapo ha’e kuery ojapyxaka nhande
reko nhande jaikuaa arami tekoete’i rupi.
Xamoĩ kuery omoirũ agui mba’emo ojekuaa ha’e oy nhembo’ea Nhandeva’e omboete aguã nhande
kuery oikuaa va’e jajopy he’ỹ re juruá kuery arandu amboae rupi gua. Korami ae oy nhembo’ero paroguata
va’e rã nhandeae. Nhande kuery nhane’arandua ma oy nhembo’eropy anhoe’ỹ jareko, oĩ ma opy’i ha’e oka
rupi ha’e jaikoa rupi arynhavõ re.
Opy’ima pavẽ jaiporu nhanhe mboaty ha’e jajapy xaka aguã opita’i va’e kuery ijayvu ramo ha’e gui ve
nhamoirũ mba’emo karai ha’e kyringue nhemboery. Mboruvixa hekoa va’e kuery mongetaa tekoapy gua
omombe’u marami pa nhamboete va’e rã amboae nhande rapixa kuery amboae regua kuery (pongue).
Nhande kuery ma onhombo’e ombojarue’ỹ aguã Nhanderu omoingo va’e kue jaexake apy: oĩ YAKÃ,
KA’AGUY, YVY, OKY, YVYTU, YRO’Y ha’e MYMBA kuery. Nhanhembo’ea ma nhande rekogui ae avi
ou, jaikua aguã tekotu mba’emo kue jaexa va’e yvyrupa ha’e javire, oĩ ma ARA reko JAXY reko ARA YMA
Ore romboete mba’emo hejapyre marae’ỹ peteĩ gui rive’ima oikova’e rã ogueroayvu va’e rã nhandevy.
Oiko MBORUVIXA KARAI va’e ojerure YVYRA’IJA kuery pe omombe’u aguã mba’emo ijyague, ARA
nhavõ nhandeavu, nhanemba’epu, japorai jajerojy joupivepa, XAMOĨ kuery reve jaikuaa ou nhembo’ero
nhande pygua oguereko opa mba’e ombo’e aguã.
XE TUMPA JEGUAKA
Aikuaa aexa kuaa aguã mba’emo ypykue, amba’eapo kyringue kuery reve amoango uka kuaxia (xi-ti)
re ha’e ijayvu aguã mba’emo ypykue oime oime iva’e re.
6 Professor da Escola Estadual Indígena Araju Porã - Terra Indígena Itamarã - Município de Diamante D’Oeste - PR.
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Kyringue ha’e javi onhea’ã oikuaa ve aguã tekoare oikamavy, ka’aguyre oikoma jave oexavy mba’emo:
YVYRA, GUYRA, KUARAY, YAKÃ, KA’AGUY, YVY, YVYTU, JAXY (SY), ARAI, JAXYTATA,
KO’ẽ, PYTU ha’e ARA.
A’ỹ ma nda’evei ve oovy ma jaroguata aguã mokoĩ regua teko, nmhande reko ha’e jurua reko.
Toda vez que eu preciso elaborar atividades ou materiais para a escola, eu sempre chamo os pais dos
alunos, a comunidade, as lideranças e os xamoĩ (os avôs, os mais velhos).
Desde o início é assim, hoje não seria diferente. A comunidade sempre concorda comigo e valoriza
o trabalho coletivo.
A participação dos mais velhos é um instrumento importante para funcionar a escola indígena,
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valorizando os conhecimentos Guarani, independente dos conhecimentos dos não-índios. Só assim a escola
terá sua finalidade diferenciada.
A educação indígena não está apenas na sala de aula, está em qualquer lugar no nosso espaço e em
qualquer momento de nosso dia a dia. Por exemplo: a casa de reza é um local onde as pessoas se reúnem
para ouvir as palavras do rezador e das outras pessoas que acompanham a cerimônia ou ritual. Na casa de
reza os conselheiros orientam as famílias da aldeia como respeitar outras pessoas de outras etnias. A cultura
Guarani ensina a respeitar os recursos da natureza como os rios, mato, terra, chuva, vento, frio e animais.
A educação está ligada à cultura, com ela os Guarani aprendem a organizar as coisas do mundo: os
dias da semana, os meses e os anos. Tudo isso está ligado ao calendário Guarani.
Nós valorizamos o que a natureza nos oferece, são coisas sagradas, só os homens sábios podem ler
essa imagem. Existem lideranças religiosas que orientam os rezadores para falar sobre os mitos e as histórias
de nosso povo. Assim a gente aprende no nosso cotidiano a língua Guarani, os costumes, as crenças, as
tradições, as músicas, os cantos e as danças. Junto com os Xamoĩ (os velhos) descobrimos que cada escola
indígena possui riquezas metodológicas.
Descobrimos que a natureza ensina para a vida e o convívio de cada um de nós. Eu, Teodoro Tupã,
aprendi a observar e conviver com a natureza. Trabalhei com os alunos pedindo para eles desenharem no
caderno e falarem sobre as coisas nativas. As crianças adoram fazer pesquisas em vários espaços naturais
que existem na nossa aldeia e registrar no caderno os nomes das coisas que viram. As primeiras coisas que
as crianças identificam são as árvores, os pássaros, a água, a terra, o ar, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens e o
céu...
Eu sempre coloco no meu plano de aula o ensino oral, assim eu posso conversar com os alunos sobre
a natureza, refletindo sobre a função e a importância de tudo que existe na natureza, como a terra, a mata,
a água, o vento, os animais, o sol, a lua, as estrelas, o dia, a noite e o universo.
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Ilustração 27: Casa de madeira Ilustração 28: Casa de alvenaria
Fonte: Alves, 2008. Fonte: Alves, 2008.
Portanto, o tema desta aula foi de aprender a ler as horas. Eu levei um relógio para a sala de aula e
conversei com os alunos. Levei os alunos a imaginarem o que é medir o tempo e andamos um pouco no
espaço.
Cada aluno fez o seu relógio utilizando cartolina e expôs na sala de aula. Foi uma atividade individual
e em grupo.
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TXEMBA’EAPO NIMBO’EATY REGWA
2004 e’a amboypy ombo’e’a regwa Tekoa Laranjinha e’a teta Santa Amélia gwigwa, mamo
txetsytxeretxa a’egwi aa ywyaywy reta mbyte py mamo txetudja pa ma.
Ndatxeaywui ore aywu ryka’e, a’erõ ma amboypy Nhandewa rupi aywu agwã, animbo’e txerekeyi
rewe. A’erõ ma Tekoa Laranjinha ruwitxa oipotawy ambo’e ombo’e’a txerekeyi oipytymo agwã.
A’erõ ma peteĩ kunhã idjaywu porã wa’e Nhandewa rupi ndogweromba’epopotai ko regwa, a’erõ ma
ko mborowitxa txerenoi amba’epo agwã. Korengwa txewy nda’ewei awei wy ma a’e nunga ndatxe ayvu iporaĩ
ore aywu rupi, ndaikwaai mba’emo nimbo’eaty regwa, a’erõ ma teyi kwery ogwero ayvu porã txegwe, txee
dje animbo’epota a’erĩ ma amboypy.
Nimbo’eaty py amba’eapo ryka’e atsy katu weri txewy, mitangwe nonimbo’ei wy Nhandewa aywu.
A’erõ ma aikwaa ko mitangwe onimangapota awei nimbo’eaty py, a’eramĩ ambo’e oporai rupi, onimanga
rupi a’e amombe’u nhande reko regwa awei.
A’erĩ ma mitangwe odjou porã, a’erĩ ma oĩ peteĩ onimanga wa’e “Mborowitxa” djaei’a ewĩ wa
onimangapota wa’e. Ywypory kwe idjaywu “Mbitxy’akwa” ko nimanga wa’e txee ambodjera nhande reko
Djurua otsapukai:
- Mbitxy’akwa!
- Mbitxy’akwa!.
Djurua djiwy:
7 Professor da Escola Estadual Indígena Arai Wera - Aldeia Arai Wera - Terra Indígena Ywy Porã - Município de Cornélio Procópio - PR.
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- Ambokwa mbudjape.
- Mbudjape.
A’erõ ma ko djurua oporandu porandu mba’e mo eta a’e ambo’e kwery odjeoi woi ogweru agwã, mawã
ogweru woi a’e ma teyi mbarete ma.
Ko nimanga wa’e ko regwa nda’ewei nhandewy, a’erõ ma txee adjapo mba’e ramĩ ore ronimanga agwã,
a’erĩ ma peteĩ omondouka wa’e a’e ambo’e kwery odjapo wa’e mba’e mborowitxa oipota. Mborowitxa ma
awa arandu ramĩ ma.
Ko a’ỹ ma txeaywu porã Nhandewa rupi a’e aendukwaa mba’e wa’e Mbya idjaywu a’e Kaiowa idjaywu
awei.
Txee katu, nanimbo’ei pa teri nhandeaywu re a’erõ ma texee aywu aiko rii ma.
Ymã’i py, irundy arangwydje djaei’a ore mitangwe onimbo’e nombo’eaty py, a’ỹ anyi.
A’ỹ ma ewĩwa onimbo’e oreaywu ou gwatsu py. A’erõ ma awei, ndipowei ry txaryi ombo’e’a, txee
txerekeyi rewe ronimbo’e roikowy ywy aywu reko mitangwe pe nimbo’eaty pygwa. A’erĩ ma ambo’e weri
ma aikowy, ywy aywu reko a’e nhandereko regwa awei.
A’erõ ma 2005 arire peteĩ kwatia gwatsu, omoĩ ore orenimbo’eaty py romba’eapo agwã? Apy ma txe
amba’eapo 1ª a’e 2ª rewe a’e txerekeyi 3ª a’e 4ª rewe. Txee aipota weri mitangwe gwi, a’erĩ ma aipytymõ
mo’ã ko mitangwe itudja porã wa’e rã.
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Ilustração 29: Mborowitxa
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Não sabendo falar a minha própria língua, comecei a estudá-la com meu irmão. Nesse meio tempo,
o cacique procurava um outro professor que pudesse ensinar a língua materna, o Guarani Nhandewa.
A melhor candidata não aceitou o trabalho, então me nomearam para esse cargo. Eu nunca tinha
tido nenhum tipo de experiência pedagógica e ainda mais, devia ensinar uma língua da qual eu não tinha
o domínio. Mas devido ao meu esforço, a comunidade me disse que ensinasse o que eu havia aprendido
para as crianças de 1ª a 4ª série.
Hoje, tenho um bom diálogo em Guarani Nhandewa e conheço os dialetos Mbya e Kaiowa. Embora
eu não fale fluentemente, sou falante por opção.
Durante esses quatro anos de caminhada muita coisa mudou, a língua Guarani passou a ser ensinada na
casa de reza, e nós, eu e meu irmão, substituímos os professores não-índios de português na escola indígena.
Assim passei para uma outra realidade: alfabetizar em Guarani Nhandewa e ensinar português.
Desde 2005, através da formação que tivemos no Curso de Magistério Kuaa Mbo’e, assumimos todas
as séries iniciais, eu com a 1ª e 2ª séries e meu irmão com a 3ª e a 4ª séries. Desde então, passei a trabalhar
com mais empenho ainda, pois o futuro dessas crianças inicia-se também por mim.
As histórias e as músicas embalavam as crianças, mas a brincadeira que elas mais gostaram foi
Mborowitxa, uma brincadeira chamada “Boca de Forno” em língua portuguesa, que eu adaptei para a
língua e cultura Guarani.
- Boca de Forno!
Os presentes repetem:
- Forno.
O animador continua:
- Furei um bolo.
- Bolo.
64
O animador pergunta:
Então o animador começa a dar várias ordens. A pessoa que executar primeiro as ordens é a
vencedora.
Eu via que quem brincava se divertia muito, mas não teria nenhum fundamento se eu traduzisse
palavra por palavra, pois “boca de forno”, “furei um bolo”, não faziam sentido na língua e cultura Guarani.
Mas então eu adaptei, mantendo um que ordena e outros que obedecem. A palavra mboruwixa quer dizer
o cacique, o chefe.
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PROFESSORES KAINGANG
Darci Rosenilda
Olga Janaina
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INH RÃNHRÃJ KÃME
Vãsỹ inh sóg 7ª série ka vẽnhrán jẽ ra ẽg pã’i, tóg inh jé ke mũ. Ti tỹ inh mỹ tỹ ã vẽnh kanhrãnrãn tĩ
jẽnh ha henh ke ja vẽg tĩ.
Ẽn ka inh sóg sỹ tỹ vẽnh kanhrãnrãn tĩ jẽnh ke ki kagtĩg pẽjẽ vẽ, inh sỹ tỹ vẽnh kanhrãrãn jẽnh ke
to sóg jykrén tũ nĩ vẽ.
Kỹ pã’i tỹ inh jé ke kar kỹ sóg, jukrén mág mũ, inh hẽri kenh mũ vé e sóg.
Inh gĩr ag mỹ hẽri kenh mũ vé e sóg, isỹ ag mỹ ne tónh ke tóg tũ tĩ, inh pé hẽri ke kã tỹ vẽnh kanhrãnrãn tĩ já jé.
Kỹ ẽg tóg gĩr kãsir ag mré kófá jé ke mũ, ti tỹ vãsỹ vẽme to jé, ka krẽm.
8 Professor do Colégio Estadual Indígena Rio das Cobras - Aldeia Taquara - Terra Indígena Rio das Cobras - Município de Nova Laranjei-
ras - PR.
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Kar kỹ sóg gĩr ag mré nũmro tỹ nér kãgrá han tĩgé, kar ẽg tóg ag jiji han tĩ gé.
Kỹ ẽg tóg kar kỹ nén fy kãgrá han kar kỹ ti jiji han tĩ gé: gãr, rãgró, gãru, pẽnĩ gru, tag ag.
Ilustração 32: Fy
68
Uri inh rãnhrãj e jã tag tóg inh mỹ nén e ven mũ há, inh gĩr ag tóg ẽg vĩ ki ránrán há natĩ, kar kỹ to
ke há ki gé.
Kỹ ĩnh rãnhrãj kri prỹg e tĩn kar, kỹ tóg tũ e mũ, ẽg vĩ ki nĩm jé 5ª a 8ª série ag mỹ kar Ensino Médio
ag mỹ ke ge kỹ sóg uvi 5ª a 8ª série kar Ensino Médio ag mre:
- Nén kãme
- Vẽjẽn
Kỹ hãvẽ inh rãnhrãj kãme ti, vãsỹ prỹg tỹ 9 kã, ke ti, hãra sóg uri tỹ professor bilíngue
jẽ ha.
Com o passar dos anos, fui aprofundando cada vez mais a maneira de dar aulas. Fiquei seis anos
trabalhando na educação infantil numa escola localizada na aldeia Taquara. Depois que eu já estava
experiente, fui convidado para ter outra experiência, que foi ser professor bilíngue na Sede da Terra Indígena
Rio das Cobras, para ensinar a língua Kaingang.
Com os alunos da Educação Infantil chamamos um senhor de idade para contar uma história para
os alunos, debaixo de uma árvore.
Desenhamos todas as sementes, como gãr (milho), rãgró (feijão), gãr pẽ (milho pururuca) e gãru
(pipoca).
Hoje essa experiência de trabalho que vivenciei, já está dando frutos, pois estou vendo os alunos
lendo e escrevendo sua língua materna.
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Ilustração 33: Leitura
Fonte: Bernardo, 2008.
Depois de alguns anos faltou um professor de língua Kaingang de 5ª a 8ª série na Sede, como eu já
dava aulas de 1ª a 4ª série, fui escolhido novamente pelo cacique da aldeia.
Hoje trabalho só com a língua Kaingang lecionando de 5ª a 8ª série e no Ensino Médio. Nesse
trabalho nós pesquisamos e consultamos os mais velhos para aprender sobre as histórias do nosso povo, a
alimentação, as danças e outros aspectos da cultura Kaingang.
Esse é o relato da experiência que vivi de nove anos de trabalho como professor bilíngue.
70
~
SỸ TY PROFESSORA JE KAME
Kỹ prãg tỹ, 1986 kã mãreka tá inh pẽnjẽn, inh rãnhrãnh, inhkor kãkĩ sy tỹ professora tỹ fóg vĩ ke
rãnhrãj tĩ jẽ je, hã vỹ tĩntĩ há.
Ji pẽnjẽ ki ti jagy ti, sỹ gĩr sĩ e, mãn rã kỹ, sỹ ver to tõn tũ nĩ kỹ. Kejẽn sóg tovãnh sór, har inh so há,
ũ ag vy, ke tũn. Prãg ẽg vỹ jagy távĩn vyr, sỹ nén tỹ rãnhrãnh ke tũ nĩ kỹ.
Prág ũ tỹ pẽnjẽn mãn kỹ, sóg tarhe sĩ mũ sir, to tõn sóg mũ.
Vãhã sóg sỹ to tar ve ky, ge tĩ: Ẽg tỹ nẽnh to há tũ nĩ kỹ, han sór ke tũ já vẽgtĩ, javo tóg sir jagy pẽ
tĩgtĩ. Vãsỹ ke ẽn kã, ag tóg sir inh kuprẽg ja nĩgtĩ. Sy uri jygrén kỹ, tóg inh mỹ ki krov tu nĩgtĩ, ag ty ũ fẽg
jé, he kỹ.
Sỹ vãsỹ vẽnh rãnhrãj tag hán tĩ mũ ra tóg kejẽn ver inh mỹ jagy tĩgtĩ, ég ty vẽnhvĩ regre ki gĩr kanhrón
ti. Ũ tỹ tar nĩ, kar ũ tỹ, vẽnh so há ni, kar venh kar to há nĩ kỹn há nĩnh mũ.
Sỹ vãsỹ rãnhrãj to vãsãn tĩ ra sóg, vãhã uri vẽnh rá to vẽnh jygre tỹ tãpry sór vég mu há. Ũn e vỹ vahã
tỹ professor nỹtĩ mũ há, hãra ver ẽg nén mág vég tu nĩ kãinmar ti je há e kãn tĩ.
Inhkóra tỹ Indígena Coronel Nestor da Silva, kómra tá ẽg rãnhrãnh vỹ tỹ fóg vĩ ke kanhrãn sór nĩ.
Ẽg jykre tovãnh mág kỹ ẽg tóg nỹ tĩja nĩgtĩ. Kỹ profesor ag tóg pã’ĩ ag mré, kar kỹ tá ẽmã kar ag mré to jygrén
Ken jé ẽg vĩ, hã vy ty ẽg ven kãfã nĩ. Ẽg vĩ ty tũ ke kỹ ẽg tóg sir tỹ Kanhgág tũ nĩ, fog ag mã.
Tag to jygrén kỹ ẽg tóg sir, Kanhgág régre vĩ tỹ ẽg inhkóra tỹ nĩnh ke to vãsãn mũ: Kainhgág mre
Guarani.
9 Professora da Escola Estadual Indígena Coronel Nestor da Silva - Aldeia Sede - Terra Indígena Rio das Cobras - Município de Nova
Laranjeiras - PR.
71
Kar ky ẽg tóg vẽn ra e han to jygrén, Kaingang tã tãmi ke ag ty Konra ti Ke ag to vẽn jygre ki kainhró
nỹtĩ jé.
Ẽg inhkóra tá, ti si ag jygre kãmén sór ky gĩr ag tog, ag in ty ke ag ki jẽmẽg tĩ. Vãhã ag tóg gĩr ũ ag my
kãmẽn ti, inhkor kãki.
FENHTA
Fenhta ũ ag ri ke tũ han já. Ẽma sĩ ty Vãn tá vẽnh rãnhrãj vỹ ge ti, ty ũ nĩ e tĩ ẽmã ag mĩ. Ũ tá tóg há
kutẽ tĩ, javo tóg ũ tá há tũ nĩgtĩ ge.
Sỹ ãjag my kamén sór vẽ, inh sỹ vẽnh rãnhrãj sĩnvi han ja, ẽmãsi ta Van inhkóra Nér Nor, Kómra
ta.
Ky Secretaria Municipal tá ke fag tóg ẽg my vén jygre tag hãn ke to mũ. Ti jiji vỹ tã Projeto Chegada
do Novo Milênio ti, prãg tỹ 2000 Kã.
Inhkóra kãki sóg gĩr mré ẽg tỹ nẽn han ke ẽn ty tenhto han mũ: Kanhgág mré fóg vĩ ke. Kanhgág ag
tỹ nén krãnkrãn tĩ kar. Gĩr ũ ag tóg sir Brasil kãmĩ Kanhgág ag kãgrá kanẽ kỹ inhkóra kãmi jãgjánh je, ũ ag
tóg kómra ta Kanhgág nãtĩ ag to vẽnh rán mũ ge, fénhta vẽnh kãmũ mũ ag tỹ vigve jé. Kã pãner tóg ẽg mrẽ
jãn mũ ge, kurã ẽn kã. Varani ag vỹ ag jẽn makãmũ ge, kar ag tog vãhã ag vẽnh grén han mũ.
Vẽna rãnhrãj tag han je gir ag nỹ fag vỹ vãfy kamũ tĩ, jãvo ũ vỹ ẽg mỹ tĩmta nĩn tĩ. Kỹ ẽg tóg ka e krém,
pĩ han kỹ vãn nẽnh tĩ, tĩmta mré, ti kãgãg kỹ, gĩr fag vãfy hãn, ag nỹ fag ke gé.
Inhkóra kãtá gĩr vỹ vẽmẽn mũ, ẽg tỹ ka krém nẽn han ja ti, kar kỹ ẽg ty ránrán, ti, ẽg vi ke, kar fog vĩ
72 ke. Vãn tỹ tĩta kãmĩ tĩn ky ti ty ũ nĩ, ũ nĩ he tĩ. Ky ẽg tóg vãhã én mré hã to vẽmẽn tĩ. Ti hỹn ta ne ve hã ni?
Ka? Kanhkã, kanhkã góg? Vãnh?
Ũ ke ẽg vãn ry tỹ hẽri ke ty ẽg vafã han, he tĩ: kre, kẽj, sygsyg.
Ne kãgrá na vãfy ki vẽnh ven. Kar ag tog vãfy kaja to jygrén ky tó tĩ gé.
Uri, ẽg tóg, vẽnh jykre tag tỹ ũn sór mu fog ag to ẽg tóg vẽjẽn mã tĩ mũ, ky sóg to vẽnh mỹ en, sỹ ti
vẽnh mỹ ki kanhró nĩ ky vahã sóg to rãnhrãj sor mũ, gĩr ag mré. Ky sóg sir ka krẽm han ke tomũ, gĩr mré.
Ky gir ũ ag tóg ẽmĩ kajã makãmũ mũ, jãvo inh sóg nén ũ nĩ makãtĩ mũ sir. Vãhã ẽg tóg ka krém pĩn kã ẽg
vẽjẽn ko mũ sir.
TI SI AG VẽME
Ti si ag vỹ ag vẽmẽn, kỹ krĩg vỹ kutẽ tĩ he tĩ. Tug nãm nĩ, he ag tĩ. Har topẽ ty jẽnẽ jãfã vỹ goj mág ki
fón tĩ, ti tỹ ẽg ki rĩr nĩnkỹ. Jãvo ga tóg sir pũr mũ.
GĨR KANHRÃN KE Ũ
MATEMÁTICA
CIÊNCIAS
Ha pẽ tóg nĩ, ẽg ty ẽg jẽn to rãnhrãj ti, ne tỹ ki vãvãm ky nĩ tu nĩ kỹ. To ẽg tóg nén e ki kanhrón mũ.
Prosor tóg vãsy vẽjẽn mré, ũri ke ag vẽjẽn tỹ há ẽn tón ke mũ gé sir.
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HISTÓRIA
Inh vỹ projetu ũ han, ky tóg inh mỹ ha pẽ nĩ, sỹ ki Kanhgág jyjy, kar ẽmã jyjy, kar vahã ti kãme ki
kanhrón kỹ.
Ẽmã régre to vẽnhrá vén sór inh mu, inh vo ty tó já, inh mỹ.
Kurã ẽn pãte, pó ẽn vỹ tỹ ẽg Gar tũ nĩ. He tóg: ẽg Gar pó. Fóg ag tóg sir mẽg tĩ, vẽn vi ẽn ti: ẽg Gar
pó, ẽg Gar pó, kỹ fóg ag tóg, sir ag tỹ, tó sor ky Guarapuava he ja nĩgtĩ.
Atualmente, posso dizer que me acostumei mesmo e não quero mais parar. Acredito que quando
não se tem o dom de ser professora, é muito difícil trabalhar. Por isso acho complicado “indicar” alguém
para esse trabalho, pois a pessoa deve ter esse desejo por ela mesma.
Apesar de exercer essa função há alguns anos e gostar muito desse trabalho, posso afirmar que ensinar
duas línguas para os alunos não é nada fácil, principalmente ensinar a língua portuguesa como segunda
língua. Por isso penso que a pessoa precisa ter muita coragem, boa vontade, gostar de si e dos outros.
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Durante esse tempo que venho trabalhando, já pude ver alguns avanços, como a contratação de mais
pessoas nesta área da educação escolar, mas não vejo avanços qualitativos ainda. Espero que esta situação
venha a se reverter dentro de pouco tempo.
ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
Na Escola Estadual Indígena Coronel Nestor da Silva, trabalhamos mais para ensinar a língua
portuguesa. A cultura Kaingang vem sendo pouco praticada, já está bastante esquecida. No entanto, os
professores junto com a comunidade têm como objetivo revitalizar a cultura Kaingang junto com os alunos,
os pais e as pessoas mais antigas da comunidade. Ficamos muito preocupados quando nos reunimos e nos
questionamos: será que a nossa língua Kaingang vai acabar? O que faremos para continuar sempre falando
a nossa língua? Sabemos que a língua é a identidade de um povo indígena. Sem ela, o povo pode não ser
mais considerado pelos não-índios como indígena. Pensando nisso é que lutamos para que nossas aulas
de língua Kaingang e de língua Guarani continuem sempre, até pelo menos a 8ª série. Isso ainda é pouco.
Poderíamos criar mais materiais didáticos para serem usados nas escolas de 5ª a 8ª série, com as histórias
de nossos povos.
Nossos antepassados contam que as estrelas caem. Eles pedem que as observemos. Contam que a
estrela nunca chega até a terra, pois um enviado de Deus sempre está atento e joga esta estrela no mar. Se
não fosse assim, a terra poderia queimar.
Vou contar uma atividade que considero a melhor que desenvolvi, que aconteceu numa aldeia muito
pequena denominada Taquara (Ván), na Escola Estadual Indígena Nér-Nor Bonifácio, na Terra Indígena
Rio das Cobras, localizada no município de Nova Laranjeiras. O trabalho foi desenvolvido com uma turma
multisseriada de 1ª a 4ª séries.
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que é da cultura Kaingang e da cultura Guarani, aproveitando que o mês de abril se aproximava.
A participação foi muito boa por parte dos alunos, dos pais, das lideranças e de toda a comunidade. Até
então eles nunca tinham visto uma festa daquela! Foi um mês de preparação envolvendo toda a comunidade
Kaingang e Guarani. Cada grupo de pais ficou encarregado de desenvolver atividades junto com as crianças,
como caçadas, pescarias, coleta de verduras e frutas silvestres, atividades agrícolas, construções, etc.
Como haveria uma missa, os alunos fizeram na sala de aula a tradução de cantos, desenvolvendo a
escrita na língua Kaingang. Escreveram mensagens em português e na língua Kaingang. Foi organizada
uma exposição com alimentos tradicionais, como as diferentes espécies de milho cultivadas, entre outros.
Os alunos confeccionaram cartazes sobre outros povos indígenas do Brasil, sua localização e estudaram
os três povos que existem na Terra Indígena Rio das Cobras: Xetá, Kaingang e Guarani. O povo Guarani
trouxe também a sua alimentação e as suas danças.
Na sala de aula os alunos relatam como foi a “tarde do artesanato” em Kaingang. Em seguida, fazem
a tradução desse texto para a língua portuguesa junto com a professora. A tradução é escrita no quadro,
os alunos fazem a leitura e a cópia. Estudam também sobre as cores utilizadas para tingir as taquaras, sua
intensidade, sua tonalidade, pensam no que as cores fazem a gente lembrar... um dia de sol quente, um céu
sem nuvens, as florestas...
Em matemática são estudados os numerais através das tiras coloridas e não coloridas usadas na
confecção dos balaios, cestos e chocalhos. Na geometria podemos estudar os padrões das pinturas usadas
no artesanato. Também se pode trabalhar o preço dos artesanatos e criar problemas de compra e venda.
Em ciências podemos trabalhar com a questão do manejo da taquara: o que fazer para que a taquara não
venha a acabar, por causa de queimadas e desmatamento. Conscientizar as crianças de que se não cuidarmos
agora desse recurso natural, amanhã poderemos não ter mais essa planta valiosa. Ver se a criança já foi com
a mãe buscar taquara, se ela sabe como é trazida do mato e depois trabalhada, até o final do processo de
confecção. Também se pode refletir sobre como está sendo feita a comercialização do artesanato.
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ALGUMAS ATIVIDADES QUE TRABALHO NA ESCOLA:
Inicialmente, o aluno utiliza objetos da natureza para contar, como pedrinhas, pauzinhos, folhas,
grãos. Ao fazer artesanato os alunos já estão aprendendo a contar através das tirinhas de taquara brancas e
coloridas. Nós também usamos sucata nas nossas aulas.
Quando a turma é mais avançada, já não usamos tanto os materiais concretos, então o professor deve
usar sua criatividade para trabalhar com os alunos.
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CIÊNCIAS
É muito interessante trabalhar com alimentação tradicional, a partir do preparo de alimentos é
possível estudar química e física. O professor também pode comparar a qualidade e as características de
alimentos naturais e alimentos industrializados.
Atualmente, os alimentos tradicionais vêm sendo trocados pelos alimentos industrializados, que são
comprados. Por ser professora e estar preocupada com essa questão, resolvi trabalhar mais profundamente
com esse tema: resolvi fazer uma aula, fora do espaço da sala de aula, para realizar uma atividade prática, que
era preparar uma receita tradicional. Alguns alunos ficaram encarregados de levar o bolo de milho azedo
e eu fiquei encarregada de levar a carne.
Saímos e fizemos fogo, quando as brasas estavam bem acesas, assamos tudo na brasa, o bolo de milho
e a carne.
HISTÓRIA
Desenvolvi um projeto em que achei importante trabalhar com nomes de pessoas e de lugares, seus
significados e suas histórias. Segue abaixo duas histórias que ouvi do meu avô, sobre a origem dos nomes
de duas cidades.
- A partir de hoje esta pedra é de todos, pertence a todos. Então ele disse a frase: “Ẽg kar po”, ou seja,
“pedra de todos”. Os não-índios de tanto ouvirem aquela frase: “Ẽg kar po” começaram a falar Guarapuava.
Foi de tanto ouvir esta frase e repetir, que o nome ficou Guarapuava.
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MEU TRABALHO COMO PROFESSOR
Tenho 11 anos de experiência como professor bilíngue. Tenho trabalhado com alunos que são falantes
só da língua portuguesa ou só da língua Kanhgág. Em minha opinião, a criança deve ser alfabetizada nas
duas línguas ao mesmo tempo.
O ensino para os alunos da pré-escola deve ser oral e utilizando desenhos e figuras que a criança
conheça. Este aluno vai responder o professor na língua que ele fala. Em seguida, o educador vai ensinar a
outra língua para o aluno aprender. Com o decorrer do trabalho o educador pode ensinar algumas letras e
palavras, utilizando figuras para ela interpretar e escrever, respeitando a língua que a criança fala.
A escrita sobre as figuras e desenhos que o professor mostra deve ser feita primeiramente na língua
materna do aluno, depois o professor pode ensinar aquela palavra na segunda língua. Por exemplo, algumas
palavras ensinadas para um falante de Kaingang como primeira língua:
10 Professor do Colégio Estadual Indígena Rio das Cobras - Aldeia Sede - Terra Indígena Rio da Cobras - Município de Laranjeiras
do Sul - PR.
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Ilustração 36: Ensinando a Língua Portuguesa 2
Isso pode ser trabalhado com a 1ª e 2ª séries. Na 1ª série, o professor pode usar desenhos para formar
frases e na 2ª série para trabalhar com textos. Na 3ª série, o professor continua trabalhando com textos e
frases, pode pesquisar palavras com os mais velhos e também no dicionário, comentar sobre a fala e a escrita
das línguas. Na 4ª série, pode continuar com a leitura e produção de frases e textos, as pesquisas com os
mais velhos e a tradução de textos. Este trabalho deve ser feito com as duas línguas.
Quando a criança estuda só uma língua, ela sente dificuldade para aprender uma segunda língua. Eu
tive essa experiência quando trabalhei durante três anos na Terra Indígena Rio das Cobras, quando trabalhei
com crianças que eram alfabetizadas somente na língua Kaingang. Elas ficavam atrasadas no aprendizado
da língua portuguesa. Alunos de 14 a 16 anos, na 5ª ou 6ª série tinham dificuldade com a língua portuguesa
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e acabavam desistindo de estudar. Depois que eu comecei a trabalhar com as duas escritas, achei que os
alunos melhoraram bastante.
Fonte: Belino, 2008.
Quando acontece isso, o educador tem que tomar cuidado, explicar para os alunos que na língua
Kaingang se escreve de uma maneira e na língua portuguesa de outra maneira.
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~
INH RÃNHRÃJ TO VeME
Ẽmã tỹ Ivai tá isóg rãnhrãj vén mũ tá sóg kygrũ mré kófa ag mỹ vẽnhránrán mũ prỹn tỹ 2000 kã. Ũri
isóg jamã tỹ Apucaraninha kã rãnhrãj mũ.
Prỹg tỹ 2006 kã sóg gĩr kãsĩr ag mỹ vẽnhránrán Kanhgág vĩ ki. Sỹ gĩr ẽn ag vẽ kỹ ti inh mỹ há tĩ. Hara
ẽn kã ti vẽnhránrán jafã tũ nĩ. Kỹ sóg ĩn kuprã ki ag kanhrãnrãn mũ. Gĩr ag tỹ 40 nãtĩ kỹ inh vỹ ag mré re
ki. Kanhgág ag kãme si tugtó tĩ. Gĩr kar ẽn ag tóg ẽg vĩ tavĩ hã tugtó há ja nỹtĩ. Hã kỹ sóg Kanhgág ag jykre
tavĩ tỹ ag kanhrãn, ag tỹ nen mẽ ja ẽn. Ũn si ag kãme, kar vẽnh kanhir, ag jãnjãn, nén ũ kãgrá, nén tỹ ẽg
jamã kãkã nĩ kar ẽn to sóg ag kanhrãnrãn há han ti.
Ẽg tỹ gĩr ag mỹ nén venven, kar ag tỹ ãjag nĩgé tỹ nén ũ mẽ kỹ. Mré ẽg tỹ kurã kar ki nén ũ tỹ ag
kanhrán kỹ ti ag mỹ sér tĩgtĩ.
Ẽg vẽnhránrán jafã kaki ẽg tỹ jagnẽ mré rãnhrãj há han kỹ. Gĩr kanhrãn tĩ ag, kar pã’i, kar gĩr ag nỹ
fag mré ke ge kỹ ti ha tĩgtĩ. Ẽg kar tỹ jagnẽ to há nỹtĩ kỹ ti sér tĩgtĩ.
Prỹn tỹ 2007 kã isóg 3ª série ag kanhrãnrãn fóg ag vĩ ki. Hara gĩr ag tóg Kanhgág vĩ tavĩ tugtó tĩ nĩgtĩ.
Kỹ ti inh mỹ ag kanhrãn jagy tĩgtĩ. Fóg vĩ ki sóg ag mré vẽnhrá tugtó tĩ, ag tỹ nén ũ ki kagtĩg nytĩ kỹ sóg
Kanhgág vi ki ag mỹ tugtó tĩ. Ti ránrán kar kỹ ti tugtó ke gé.
Gĩr ag vy Kanhgág vi tavi to tĩ nãtĩ ky ag tóg fog vĩ ki, ti ránrán ki kanhrãnrãn vãnh han tĩ. Kỹ sóg
Kar ẽg vãnh kãmĩ vẽnh kagta mré ẽgóro to vẽnh kanhrãn mũ.
Kurã kar ki sóg vẽme si ag tugtó tĩ, kỹ gĩr ag tóg kófa ag ki vẽnh jykre jẽgmẽn ti ge, ag tỹ to ránrán ti
jé, kỹ gĩr ag tóg vẽnhránrán há nỹtĩ.
Ẽg vẽnhránrán jafã tá gĩr ag tóg 320 nỹtĩ, hara ag vẽnh kanhrãn jafã tóg sĩ nĩ gĩr ag tóg Kanhgág vĩ
11 Professora da Escola Estadual Indígena João Kavagtãn Vergílio - Aldeia Sede – Terra Indígena Apucaraninha - Município de Tama-
rana - PR.
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tavĩ ki vẽnh kanhrãn ki 2ª série ta kran tĩ.
Sỹ gĩr ag kanhrãn tĩ ag vỹ 40 nỹtĩ 3ª série ki. Kỹ ti kejẽn inh mỹ jagy tĩgtĩ ag e nỹtĩ kỹ.
Kanhgág vĩ tavĩ ki sóg ag mỹ venhránrán tĩ. Ag tỹ kãsĩr nỹtĩ kỹ sóg Kanhgág vĩ ki vogais mré alfabeto
to ag kanhrãnrãn vén mũ. Kỹ ẽg jãgnẽ mré sẽ ag jiji kar nén ũ jiji ránrán F tỹ ẽg FÁG ránrán mũ.
Kar kỹ sóg gĩr ag tỹ ãjag jiji rãnrãn ke to ag kanhrãn mũ, vẽnh kanhir mré ag jiji ránrán vẽnhrá ki,
kar kỹ sog ág nunh to sãn mũ.
Gĩr ag tỹ vẽnhránrán há nỹtĩ jé, sóg vẽme si tỹ ag mỹ tugtó e, kar kỹ ẽg tóg ẽg jamã kãki Kanhgág si
ag ki vẽnh jykre si jẽgmẽn mũ tĩ ge. Tá ag mré vẽmén kar kỹ, ẽg tóg jãgnẽ mré quadro ki vẽnhrãnrãn e tĩ.
2- Kanhgág ag jamẽ rá (rá ror mré ra joj) ti kãgrá hyn han ẽg ke gé ũ ag tỹ ve jé.
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GĨR AG Tỹ NÉN TO VẽNH KANHRÁNRÁN JÁ
Ẽg tỹ jagnẽ mré ẽg jamã kã ki nén to vẽnh kanhrãnrãn ja Kanhgág ag jykre to, jagnẽ mré ẽg tóg
vẽnhkagta to vẽnh kanhrãn mũ, kar ẽgóro. Goj vej ẽg mũ e tĩ gé, kar kofa ag ki ẽg tóg vẽme si to vẽnh
kanhrãn gé.
Ẽg tỹ nén e hyn han kar kỹ ẽg jamã kã ki nén to vẽnhrãnrãn tĩ. Kar kỹ ẽg tóg Kanhgág kurã to hã tĩ kỹ
ẽg jykre hun han e tĩ gĩr kar ag mré vẽnh ránrán jafã ti tá, tỹgtỹnh, gĩr kanhrã tĩ ag tóg gĩr kar ag mré (ẽmĩ,
men’hu, kyfe, pirã) hyn han e tĩ kre kygfy fag tĩ gé, kar kỹ ũ mag ag tóg vãre han tĩ.
Kỹ ẽg tóg sir ẽg kurã tavĩ ki vẽnh kar mỹ ven tĩ vãre krem. Kỹ Kanhgág kar ag tóg ve jé kãmũ tĩ fóg
ag ke gé. Gĩr ag tỹ ajãg jykre tovãnh tũ nĩ jé, kar ti tỹ tar nĩ jé ẽg tóg ag mré ge hyn han e tĩ.
Ẽg tỹ vẽnhránrán jafã kaki jagnẽ to há nỹtĩ ky kar ẽg tỹ jagnẽ mré rãnhrãj há han ky ti sér tĩ. Kỹ gĩr
ag tóg kanhrãnrãn há han tĩ.
Kar kỹ gĩr ag tỹ vẽnhránrán nỹtĩ jafã tỹ mag jẽ ra ti há jẽgtĩ vẽ, kar ẽg vĩ ki vẽnhrá tóg tũ nĩ gé, kar
TV, computador, DVD, calendário, currículo ẽg jykre tavĩ tỹ vẽnhrá ke gé. Ẽg jamã kaka Kanhgág kar, mré
pã’i ag tỹ ẽg mré vẽnh kanhrã jafã to jykren há han ra ti há tĩ vẽ.
Ẽg kar tỹ jagnẽ mré vẽjykre to jykren kãn ra, gir ag tóg kanhrãnrãn há han tĩ. Kỹ ti sir ẽg mỹ sér kar
Em 2006, trabalhei com a língua Kaingang na oralidade e escrita com uma turma de educação
infantil. Minha experiência foi muito boa, porque quando entrei na sala e vi aquelas crianças, senti uma
responsabilidade muito grande de ensiná-las. Minha sala de aula era numa casa vazia que existia na terra
indígena. Por falta de sala de aula na escola, passei o ano todo trabalhando naquela casa. Minha turma era
de 40 alunos e a sala era pequena. Trabalhei bastante com eles ao ar livre, com histórias pesquisadas na
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comunidade. Essas crianças eram falantes da língua materna Kaingang, por isso meu trabalho de ensino-
aprendizagem começou a partir dos conhecimentos dos alunos. Trabalhei com histórias, brincadeiras,
músicas, pesquisas, desenhos, sempre relacionados com a vida da comunidade indígena. Usei também jogos
como o dominó e caça-palavras, utilizei crachás, recortes e pintura.
Trabalhei conteúdos utilizando materiais concretos, para que as crianças pudessem ver e sentir, assim
conseguiam aprender melhor. As aulas diárias devem ser diferenciadas e significativas, para despertar o
interesse e a auto-estima das crianças.
Essa foi uma das experiências que tive com meus alunos, pois quando comecei a produzir materiais
diferenciados e usar materiais concretos, pude ver que tive resultados positivos atingindo os objetivos
que queria. Os materiais utilizados em sala de aula são produzidos por mim. Gosto muito do que faço. O
professor deve gostar do seu trabalho para ter bons resultados.
Na escola deve haver união entre o professor, as lideranças e os pais dos alunos. Só assim a escola terá
boa qualidade e será organizada de acordo com o modo de vida da comunidade.
Em 2007, trabalhei com uma turma de 3ª série, ensinando a língua portuguesa. Como os alunos
são falantes da língua Kaingang como primeira língua, no começo do ano todos tiveram dificuldade para
aprender a falar, ler e escrever em português. Então trabalho procurando diminuir as dificuldades deles,
eu escrevo e faço leituras em língua portuguesa, mas as dúvidas que eles têm são explicadas por mim na
língua Kaingang.
Como a primeira língua dos alunos é Kaingang, para eles é difícil aprender a ler e escrever em
português. Comecei então a produzir materiais diferentes para trabalhar, mas que tinham tudo a ver com
o que conhecem em sua terra indígena.
Entre as atividades que eles fizeram, localizaram aldeias antigas e atuais, estudaram como era a terra
indígena antigamente e nos tempos atuais. Fizeram trabalhos em grupo, seminários, recortaram palavras
e produziram textos, trabalharam com gravuras, brincadeiras e organizaram apresentações de música e
dança Kaingang na sala de aula. Assim começaram a escrever o que existe na Terra Indígena, escreveram
palavras, organizaram frases recortadas, tentaram escrever as letras de músicas que eles gostavam, fizeram
teatro, assistiram filmes, desenharam e escreveram o que entenderam.
Trabalhei também com alfabeto móvel, desenvolvi passeios de pesquisa para conhecer ervas medicinais
e alimentos, escrevendo sobre a sua utilidade. Usei dominó de palavras e quebra-cabeça com textos.
Todo dia eu lia uma história para eles e pedia para eles explicarem o que entenderam. Criei brincadeiras
para trabalhar palavras e sílabas, escrevia frases no quadro diariamente para eles lerem juntos, começava a
escrever uma frase e pedia para eles darem continuidade.
Nas pesquisas que fizemos com os mais velhos na comunidade, as crianças levavam seus cadernos e
anotavam o que entendiam.
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Com muito esforço e dificuldade, vejo hoje que os alunos estão aprendendo a ler e escrever. Aqueles
que não conheciam nenhuma letra, já conseguem escrever algumas palavras.
Quando eu trabalhava usando somente os livros das escolas da cidade e o quadro, vi que as crianças não
estavam aprendendo, mas com a nova maneira que comecei a ensinar, estou tendo resultados positivos.
Na nossa escola tem 320 alunos matriculados, mas não temos salas de aula suficientes. Os alunos são
alfabetizados na língua Kaingang até a 2ª série.
Tenho 40 alunos de 3ª série na minha sala, onde sinto dificuldade para dar atenção a todos, mas estou
tentando dar uma atenção especial para os que estão precisando mais.
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ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA
Outra experiência que tive, foi com 40 alunos de 3ª série. Eles são falantes da língua Kaingang e
deveriam aprender a oralidade e a escrita da língua portuguesa como segunda língua. Comecei a ensinar
através da leitura de histórias e de textos todos os dias. Depois pedia para eles relatarem na oralidade em
língua portuguesa o que entenderam.
Também escreviam e liam pequenas frases a partir de figuras e desenhos contextualizados na realidade
em que vivem.
A partir de várias pesquisas os alunos conseguiram produzir textos. Sempre que eles tinham dúvida
na língua portuguesa eu explicava na língua Kaingang, assim eles entendiam, conseguiam ler e escrever
textos.
Outra forma de pesquisa que proponho aos alunos é praticar as artes culturais indígenas na sala
de aula. As crianças aprendem a dançar, os professores e alunos preparam os alimentos tradicionais (ẽmĩ,
men’hu, kyfe, pirã), todos juntos fazem artesanato (kre) e também aprendem a construir a casa indígena
(vãre). Nessa casa é feita a exposição dos trabalhos que foram preparados, principalmente para exposição na
comemoração do dia do índio. A comunidade indígena e não-indígena participa assistindo as apresentações.
Tudo isso é feito para que os alunos sintam-se interessados e orgulhosos em praticar sua própria cultura,
dando mais valor e importância à sua própria etnia.
Tendo como temas todas essas artes indígenas praticadas com os alunos, preparamos atividades em
sala de aula, como a elaboração de desenhos, leitura e interpretação de textos orais e escritos, produção de
textos. Assim, as aulas se tornam produtivas, pois refletem as atividades culturais praticadas por eles.
É necessário união entre os professores e todos que atuam na escola, participar de todas as questões
relacionadas à educação, para que melhore o ensino.
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Também é preciso espaço adequado, materiais didáticos e equipamentos como TV, computadores,
internet, DVD etc.
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~
VÃSỸ KANHGÁG JIKRE SI VEN MÃN KEVe
Tỹ sóg professor Kanhgág nĩ, inh jiji hã vỹ, Luiz Jagjo Gino he mũ. Kurã tỹ 27 kysã tỹ março prỹg tỹ
2002 kã ki ẽg tóg Kanhgág si ag jikre han mũ sir.
Kỹ kurã tag kã sóg pã’i mré chefré Kógfyn mũ, kar Kanhgág ũ ag ki ge, ag tỹ inh mré ĩn han sór to
vãsãn jé, Kanhgág ĩn tag to.
Kỹ vã hã pã’i krẽm jẽ tóg vã hã vẽnh kar kógfyn mũ sir. Ẽg tỹ ĩn tag han sór to jikrén ki vẽ ha sir.
Ky Kanhgág kar ag tóg ĩn tag ti to ti ror jẽnh ken kỹ, ti hỹn nỹ tỹ hẽri ken kỹ to ró jẽne ke mũ e tĩ.
Kỹ Kanhgág tỹ 67 ag tóg vãhã sor préj nũnh mũ mũ, ũ tỹ sor préj sigse tỹ 1400 ku nũnh ja ag tóg nĩ
si.
12 Professor da Escola Estadual Indígena Cacique Onofre Kanhgrén - Aldeia Sede - Terra Indígena Barão de Antonina - Município
de São Jerônimo da Serra - PR.
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Vãsỹ Kanhgág si ag ĩn hã vẽ.
A antiga casa tradicional do índio.
Krẽ tỹ ag tóg sorpéj kri fi kỹ to tỹ tar e tĩ nár ki gé.
Ka ĩn nũgna.
Ka vỹ goj fyr ki nỹtĩ.
As árvores estão na beira do rio.
Tãnh kanẽ ko inh tĩ.
Eu como a fruta do coqueiro.
Pari vỹ goi kãkã sa?
O pari está armado no meio do rio.
Goj kron inh tĩ.
Eu bebo água.
Sa krog
Salto.
Fonte: Gino, 2008
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MINHA FORMAÇÃO, AS PRÁTICAS E EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS
COMO PROFESSOR
Como professor, participei de muitos cursos de formação, onde aprendi com professores índios e não-
índios. Como professor indígena eu tenho que passar vários conhecimentos para os alunos, principalmente
da cultura e da língua Kaingang, explicar sobre os alimentos tradicionais, as danças e os casamentos de
antigamente. Essa é a minha experiência como professor indígena.
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COMO OS SÁBIOS DA ALDEIA PARTICIPAM DA ESCOLA
Os mais velhos participam explicando e fazendo perguntas para os próprios alunos, para que eles falem
o que sabem sobre os alimentos e remédios indígenas. As famílias dos alunos participam para organizar
uma peça teatral ou para fazer uma casa tradicional. Assim que eu desenvolvo o meu trabalho.
Então, eu convidei os alunos para fazerem um passeio e conhecer a nossa mata, a beleza do rio que
ainda temos na nossa Terra Indígena. Este lugar que nós fomos, nenhum aluno tinha visitado ainda.
Cada aluno levou seu caderno para registrar o nosso passeio. Tudo o que foi encontrado nas matas,
no rio e na estrada foi desenhado e escrito na língua Kaingang e na língua portuguesa. Por exemplo:
toto – borboleta
kasĩn – rato
mũr – cipó
goj – rio
ka – árvore
sẽsĩ – passarinho
pó – pedra
ty – caité
tãnh – coqueiro
firég – grilo
Portanto, a minha experiência como professor é de criar atividades para revitalizar a nossa cultura,
as músicas, a história, as danças e os alimentos Kaingang.
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Ilustração 43: Taquara
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~
SỸ TỸPROFESSORA Je KÃME
Inh vỹ tỹ professora Kaingang vẽnhvĩ régre tó tĩ, prỹg tỹ 28 tóg nỹ, Rio Grande do Sul tá inh vỹ
vẽnhkanhrãn kỹ, jẽ inhkóra ũ ki, prỹg tỹ 1977 ki prỹg tỹ 1980 tá krỹg. Ẽn kã inhkóra ẽn vỹ tỹ Funai mré
topẽ jo ĩn tỹ luterana Alemanha tá ke mré han kỹ jẽg tĩ. Sỹ vẽnhkãn kar kỹ inh vỹ rãnhraj mũ sir escola ag
mĩ tỹ voluntária han kỹ. Jãnjãn jé gĩr ag mré ẽg vĩ ki, fénhta mĩ, Kanhgág ag kurã kã ke gé, topẽ jo ĩn mĩ hã.
Hãra kejẽn ag vỹ inh jãvãnh mũ sir sỹ inhkóra mĩ gĩr ag kanhrãnrãn jé. Kỹ inh vỹ sir materiais didáticos hyn
han ke to jykrén mũ sir alfabetizar ke jé ẽg vĩ ki.
Vãhã inh vỹ ga tỹ Mangueirinha ki rãnhrãj mũ sir, tá ag vĩ fóg vĩ tavĩ tó tĩ, ti si ũ ag hã vỹ ver to tĩ, tã
tá ke tỹ tá jun jun tĩ ag ke ge, kỹ ẽg rãnhrãj vỹ tỹ ẽg vĩ ki gĩr ag kanhrãn jé ke nĩ vẽ, tỹ tar ke jé, tá professores
ũ ag vẽnhpéti vẽg tĩ, kar comunidade kãki ũ ag.
VẼNHKANHNIR Ũ VẼ
Pape ki ẽg nén rán sór mũ, rán kar gĩr mỹ kónhpinpẽn kỹ ven mũ, ag tỹ kã ũn pir mãn jé. Kỹ inh vỹ
gĩr ag mỹ ũ nỹ ã tỹ vẽnh mẽg jiji rá mãg mũ kãgrán kãtĩg mũ ke tĩ, kỹ ũ vỹ kãtĩg vén tĩ, kỹ ti vỹ, ti professor
mỹ ven ke mũ, kỹ ti vỹ ti mỹ tónh ke mũ, gĩr tỹ ver ti rá ki kagtĩg jẽn kỹ, kỹ ti vỹ kãgran ke mũ sir ag tỹ to
jukrekrén jé, tỹ ne nĩ ẽn ti.
13 Professora da Escola Estadual Indígena Kokoj Tỹ Han Ja - Aldeia Sede - Terra Indígena Mangueirinha- Município de
Mangueirinha - PR.
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Ag ki kanhrãn tũ nĩn kỹ, gĩr tỹ ti rá mãg mũ ẽn vỹ lousa tá rán ke mũ gĩr ag kar tỹ ven jé jagnẽ mré
to ke kãn jé, ti rá to.
Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á,
Á, Á
MATEMÁTICA KI
1a série ag mré, inh vỹ tỹ ẽn ge tĩ, mũ nỹ vẽnh mẽg jiji rá tỹ hẽr ke nẽ vẽnh ven mũ lousa ki ke tĩ, kỹ
ag vỹ nĩkrénkrén ke mũ, hẽn ri ke mũn vỹ 15 nỹtĩnh mũ ag tỹ lousa ki rán já ti, kỹ ag vỹ numro rán mũ.
Subtração han jé, ũ tỹ hẽr ke nẽ letra K tỹ ran vén kỹ nỹtĩ, kỹ ẽn ag tỹ ki kunũnh nĩ kri junhjónh kỹ.
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SUBTRAÇÃO KI VE RA
Lousa:
15- 6 =
Jo adição ki sóg ge tĩ, vẽnh mẽg jiji rá jo nĩ ki ũn tỹ hẽr ke nỹ letra K tỹ jo rán vén kỹ nỹtĩ vem nĩ.
9-3=
Acho que deve ser porque ao chegar em casa as crianças não ouvem falar nada na língua Kaingang,
só aprendem na escola. Se as lideranças e outras pessoas da comunidade querem o fortalecimento e a
revitalização da língua Kaingang, então se deve fazer um trabalho também com os pais dos alunos.
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ATIVIDADES QUE DESENVOLVO NA ESCOLA
Na escola onde trabalho a alfabetização é feita através de brincadeiras, jogos, músicas, histórias,
desenhos e poesias.
UMA BRINCADEIRA
Uma forma dos alunos aprenderem a ler e escrever os nomes de animais domésticos e selvagens que
existem na Terra Indígena é através de uma brincadeira de imitação: cada criança receberá um papel com a
palavra escrita na língua Kaingang e na língua Portuguesa. Ao ser chamada, a criança levantará e escreverá
na lousa as palavras para os colegas lerem junto. Em seguida, fará a imitação do animal. Quem não souber
imitar pagará uma prenda, assobiando uma música, cantando ou dançando.
Um outro exemplo de atividade em que se pode trabalhar com a escrita de nomes de animais e com
matemática, que pode ser usada na 1ª e 2ª série: a professora escreverá na lousa alguns nomes de animais e
pede que os alunos risquem os nomes de animais que possuem a letra C. Depois, o professor pode pedir
para o aluno contar o total de palavras e excluir as que possuem a letra C, trabalhando com a idéia de
subtração.
15- 5=
Através dessa lista pode ser trabalhada a contagem de nomes com a letra T (6), com a letra P (3),
com a letra R (3) e pedir para os alunos somarem:
T+P+R
9+3+3=
Na matemática, usamos jogos como o dominó, jogo de dados, jogo de memória, várias atividades
para trabalhar com os números, como no exemplo do dado abaixo, para os alunos aprenderem a contar na
língua Kaingang e na língua portuguesa.
98
Ilustração 44: Jogo de dados
MÚSICAS
A música representa, na escola, um método onde as crianças poderão praticar a leitura, cantando,
interpretando e praticando a cultura, inspirando alegria no momento que estão se alfabetizando, tanto na
língua Kaingang como na língua portuguesa.
A música abaixo vem sendo transmitida de avós para netas. Eu aprendi com a Sra. Francisca Nẽnkrá
da Terra Indígena Palmas, já falecida há 40 anos atrás.
Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á, Á,
Á, Á
A dança e a festa do tamanduá representam para o povo Kaingang uma crença, através da qual
praticam um ritual dedicado ao espírito do tamanduá, um animal que é considerado pelos Kaingang como
aquele que possui muita força espiritual existente na floresta. O povo Kaingang acredita que durante a festa
o espírito do tamanduá transmitirá sua força para os meninos de 10 a 12 anos, que dançam em forma de
círculo imitando o tamanduá. Os meninos são pintados nas articulações com tinta preta, feita pelos velhos,
com as patas queimadas do animal, assim os seus filhos crescerão fortes e robustos e quando adultos, serão
grandes guerreiros.
Trabalho também com músicas populares como “Nesta rua”, que traduzi para a língua Kaingang:
100
ẼPRY TAG KI
Sỹ péju, sỹ péjun kỹ ã fe ti
Sỹ péjun, sỹ péjun, kỹ ã fe ti
Nesta rua nesta rua tem um bosque, que se chama, que se chama solidão.
Dentro dele, dentro dele mora um anjo, que roubou, que roubou meu coração.
Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar.
101
Ilustração 46: Rua de brilhantes
102
ĨNH RANHRÃJ KÃME
Inh kanhró vỹ sỹ 2º krỹg kar ke nĩ. Hãra sog ver tỹ fog fi auxiliar jẽ vén mũ. Fi jiji hã vỹ Rosane he
mũ. Professora tag fi vỹ inh ajuda he pẽ han. Kejẽn fi tóg inh mỹ: 2ª série mré rãnhrãj he mũ. Isỹ kamẽ ra
sóg kejẽn to tãn sir, professora Rosane fi tỹ inh ajuda hen kỹ.
Uri sóg Magistério Kanhgág tag ki vẽnh forma ke jẽ ge sir. Inh rãnhrãj jẽ kri tóg 5 anos ke mũ ge. Hãra
sóg to tar he mũ ge, inh amiga fi tỹ inh ajuda he já ki.
Ti si jé inh ke mũ,ti tỹ vãsỹ ke ag jykre tó sĩ han jé, aluno ag mỹ. Vasỹ vẽnh prũg kar uri vẽnh prũg tó ti
ẽg mỹ. Gĩr ag mỹ tóg há tĩ, ũn si ẽn tỹ vãsỹ ke ag jykre tón kỹ. Ag mỹ tóg vãsỹ kyrũ ag panh hã vỹ fag kuprẽg
tĩ he mũ. Hãra uri fag hã vỹ vẽnhmỹ kyrũ kuprẽg tĩ he mũ. Hã kỹ tóg jagnẽ ki krov tũ nĩgtĩ, he tóg.
14 Professora da Escola Estadual Indígena Cacique Trajano Mrẽj Tar - Aldeia Sede - Terra Indígena Marrecas - Município de Turvo - PR.
103
série. No começo fiquei com um pouco de medo, mas com o passar do tempo gostei muito dessa profissão.
Com a ajuda da professora Rosane consegui muitas coisas. Hoje vou me formar no curso de Magistério
Kaingang. Já faz cinco anos que trabalho com as crianças e me orgulho dessa profissão. Contei com o meu
esforço e com a ajuda de uma professora amiga, mas vou continuar me esforçando.
Nós podemos trazer um velho ou uma velha especialista na escola, para ele contar uma história para
as crianças. Eu já tive essa experiência, eu convidei um senhor especialista da comunidade para ele contar
histórias dos nossos avós para os alunos. Ele explicou as diferenças que existem entre o casamento de
antigamente e de hoje em dia. As crianças gostaram muito de saber como eram organizados os casamentos
antigamente. O especialista contou que antigamente a moça se casava com um rapaz escolhido por sua
família e os casais viviam bem. Ele disse que hoje em dia as próprias moças e rapazes escolhem o marido ou
a esposa, no começo eles vivem bem, mas no futuro acabam se separando.
Eu me surpreendo quando vejo um aluno que entrou na sala de aula e não sabia falar a língua
portuguesa, mas como se fosse mágica, em quatro meses já consegue ler e escrever nesta língua.
Nas minhas aulas utilizo brincadeiras como o bingo e o caça-palavras, nas línguas Kaingang e
portuguesa. No processo de alfabetização eu produzo jogos como o dominó com os nomes dos animais
escritos na língua Kaingang. Trabalho com cartazes com os nomes e desenhos dos animais, para os alunos
aprenderem melhor. Eu também trabalho com cantigas de roda na língua Kaingang. Os alunos desenham
e pintam suas casas e suas famílias, aprendem a escrever os nomes de seus parentes em Kaingang e em
português. Eu peço para os alunos lerem sozinhos, mas quando eles têm dificuldade eu ajudo a ler. Utilizo
também o desenho, principalmente com os alunos que ainda não sabem ler. Trabalho com histórias em
língua portuguesa que são traduzidas para a língua Kaingang. Avalio que os meus alunos de 3ª série estão
aprendendo ler e escrever bem nas línguas Kaingang e Portuguesa.
104
Duas histórias que trabalhei com meus alunos e que aprendi com meu pai Davi Pri Marcelo
Frederico:
Fonte: Frederico, 2008.
Tỹ vaj kỹ tóg ti tỹ ti kanhkã ag jo ẽgje han ja ẽn venh tĩ mũ, hã ra tóg kasĩn ũ kãgmĩ ja nĩ, kajẽr tóg to
kanhkã ag jo jykrén ja tũ nĩgtĩ, kỹ tóg kasĩn ẽn té kỹninĩ ta ti ag ja nĩgtĩ, kỹ jãtã ag tóg kasĩn ẽn ko ja nĩgtĩ.
Hãra tóg kajẽr mỹ sĩnvĩ nỹtĩ, kasĩn tỹ ka to ag kỹnỹtĩ ẽn tĩ. Hã ra tóg kejẽn kasĩn u ve mãn tũ nĩ, kỹ vãhã
játã ag tóg kajẽr ti ko mũ sir.
105
Ilustração 48: Kajẽr - kasĩn
Fonte: Frederico, 2008.
O MACACO E O RATO
Era uma vez um macaco malandro que brincava com seus amigos ratos.
Um dia o macaco fez uma armadilha para seus amigos ratos. Na manhã seguinte foi ver sua armadilha.
Ele viu que a armadilha pegou o seu amigo rato. O macaco, que era malandro, nem pensou no seu amigo.
Pegou o rato e foi pendurar numa árvore, para o urubu comê-lo.
Os ratos pensavam que o macaco era amigo deles, mas a cada dia que passava, mais ratos eram pegos
na armadilha e pendurados na árvore para os urubus comerem. Até que um dia o próprio macaco não
conseguiu pegar mais nenhum rato, então o urubu comeu o macaco.
106
IIustração 49: Kajẽr - kasĩn
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KAJẽR, GIRAFA, JACARÉ
Kajẽr tóg goj to han nĩgtĩ kurã kar ki tóg gój venh tĩ mũ ki kagtĩg tĩ nĩ gój tãnh ki.
Kã girafa fi kajẽr mỹ goj venh kã tĩ tũg nĩ, ke mũ. Tĩ tán tóg ã mỹ ke mũ kajẽr.
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Ilustração 52: Kajẽr - Girafa
Kurã ũ ka kajẽr tóg goj ra tĩ mãn mũ. Kỹ girafa fĩ tóg ti tĩn tũgnĩ kemũ. Jacaré vỹ ã mãn mũ e fĩ tĩ mỹ Experiências pedagógicas de professores Guarani e Kaingang
hãra tóg mẽ tó nĩ kajer tĩ. Kỹ jacaré tóg tĩ ki mũ.
109
Ilustração 53: Kajẽr - girafa - jacaré
O JACARÉ E O MACACO
Todo dia o macaco ia para o rio e sentava numa pedra no meio da água. Não sabia que ali havia
perigo.
- Meu filho macaco, não fique perto do rio, porque o rio é muito perigoso, tem bichos como o jacaré,
que vivem no rio.
- Coitado!
O jacaré veio na direção do macaco e o comeu. Então, a girafa chorou e lembrou o quanto ela avisou
para ele que o rio era muito perigoso.
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