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Capítulo 1 – Detecção da agressão

Num dos primeiros contatos com discussões feministas, o mais comum é a troca de relatos
e experiências que tivemos ao longo da nossa vida, geralmente eventos traumáticos,
recorrente e comuns na vida de várias mulheres por mais plurais que sejamos e foi assim
que eu consegui a maioria dos relatos, alguns partindo de uma conversa despretensiosa
sobre situações que ambas já passaram e outras partindo de uma abordagem mais técnica,
explicitando desde o início que se tratava de uma entrevista e que esse material teria uma
finalidade para um trabalho científico.

1.1 – O primeiro relacionamento, da violência psicológica à econômica.

Numa dessas rodas de conversa eu conheci Sofka, e ao ter conhecimento sobre o meu
projeto de pesquisa aceitou contribuir com dois relatos que julgou importantes para
registro. No primeiro relato, ela possuía apenas 16 anos de idade e o namorado, que vamos
chamar de Júnior, apenas 17. O namoro durou de maio de 2011 até setembro de 2012, por
ter sido representante do Piauí no PJB (Parlamento Jovem do Brasil) em 2011, teve
oportunidades de entrar na Universidade Federal do Piauí mais cedo, eram grandes
conquistas que não eram valorizadas. O relacionamento começou de uma forma amigável
e sem conflitos, ele também era bolsista e recebia R$300 como estagiário, mas metade
desse dinheiro era dado a sua mãe para colaborar com os gastos domésticos, não sobrando
quase nada para uso pessoal. Muitos dos seus gastos ficavam desfalcados, pedindo assim,
ajuda financeira à Sofka, que a princípio ajudava de bom grado, com o decorrer do tempo,
essa “ajuda” tomou um teor de obrigatoriedade, gastos com transporte, roupas e
equipamentos de treino para MMA tornaram-se muito custosos ao ponto de não sobrar
nada para o uso pessoal da própria Sofka. Quando reclamava, Junior dizia que esse era o
seu papel, já que ele o amava. Ao ingressar na UFPI, no curso de Ciências Sociais, o
Junior ficou muito animado e alegou que a partir daquele momento as coisas iriam
melhorar para ambos, a princípio não ficou muito claro o porquê. Logo no primeiro
período, Sofka conseguiu bolsa PIBID de R$400 + proventos que conseguia dando aulas
e corrigindo trabalhos acadêmicos, criou uma conta bancária e dois cartões de crédito
com bandeiras diferentes, mas com limite único de R$350, um dos cartões foi solicitado
que ficasse com o Junior, para casos de emergência e Sofka cedeu. Na primeira fatura, a
conta já estava estourada, ao reclamar do gasto indevido em seu cartão, o Junior contra
argumenta ofendendo-a por conta do seu sobrepeso, indagando que ela deveria se sentir
agradecida por ele ainda estar com ela naquelas condições, sofrendo bullying tanto do
namorado, quanto dos amigos dele, sempre frisando que não passava de uma brincadeira
e que não havia motivos para irritação. Sempre que Sofka reclamava das piadas e dos
comportamentos do Junior e de seus amigos, o namorado saia em defesa dos amigos e
desqualificava as reclamações da Sofka, alegando que era exagero aquela reação ou
simplesmente para parar com a “encheção de saco”, Sofka sempre se calava no final.

Os meses foram passando e as reclamações passaram a partir também da mãe do Junior,


que ponderava sobre Sofka não se arrumar o suficiente ou achar que ela se mete demais
na vida do filho, mesmo que a maior parte das suas despesas sejam custeadas com o
dinheiro da sua bolsa e que os amigos do namorado não gostavam de Sofka. Decidida a
cancelar uma das bandeiras do cartão, o relacionamento piorou significativamente. Tudo
era motivo para brigas, motivos para atacar o sobrepeso de Sofka, chegando a policiar a
forma como ela se alimentava, pouco antes do final da greve das Federais em 2012, o
namorado também passa a controlar as suas amizades. Apesar de sempre se calar no final
das infindáveis discussões, Sofka era reativa e sempre reclamava quando se sentia
incomodada, não demorou para criar a fama de louca e barraqueira no círculo social e
familiar do namorado.

O relacionamento apesar de ser estritamente monogâmico, passava pela avaliação e


validação de pelo menos mais cinco pessoas, todos amigos do Junior, o que tensionava
ainda mais a relação e causava uma situação de desconforto maior à Sofka. Em setembro
de 2012, extremamente atarefada com afazeres acadêmicos e acumulação de tarefa –
enquanto o namorado apenas treinava MMA e não tinha passado em nenhuma
universidade -, Sofka corta todos os subsídios e logo as acusações de traição e falta de
amor eclodiram novamente, após uma longa discussão, Junior decide terminar o
relacionamento sem comunicar de fato o fim à Sofka, que soube apenas no dia seguinte,
quando ele manda mensagem pedindo dinheiro emprestado. Passaram mais um mês
juntos como amigos, mas nenhum frequentar mais a casa do outro, não existia mais o
envolvimento de um relacionamento amoroso que existia antes, a rotina foi quebrada. No
mês seguinte, mais uma fatura absurda chega às mãos de Sofka, o namorado tinha pego
o seu cartão para comprar roupas a uma outra mulher que ele já estava se envolvendo.
Sofka registra um B.O, o namorado devolve o cartão, paga a fatura e passa a se empenhar
vorazmente a difamar a imagem da agora ex-namorada publicamente. Sofka passa a ser
conhecida como a mentirosa, traidora e pior namorada do mundo, essa é uma situação de
difamação que perdura até hoje.

1.2 – Da

Em um segundo relacionamento, Sofka já tinha 19 anos e o seu companheiro 34, teve em


média a duração de 5 meses. Anderson já tinha um filho, trabalhava como ilustrador para
companhias importantes como DC e Marvel, era divorciado e morava com a mãe. Essa
era uma fase de transição para Sofka, que tinha acabo de trocar de curso – largou Ciências
Sociais para iniciar Ciências Políticas -, e estava tentando entender como as coisas iam se
desenrolar a partir daquele momento, a crise financeira doméstica e crises de ansiedade
estavam em seu auge. O relacionamento começou após alguns encontros e desde o
princípio o grau de compatibilidade ideológica era muito baixo, mas após sair de uma
relação onde Sofka carregou a alcunha de exagerada e briguenta, Sofka estava em busca
de se tornar uma pessoa mais tolerante e mansa, essa poderia ser a experiência perfeita a
este fim. Sofka estava se relacionando com um homem que afirmava que se uma mulher
está sozinha em uma rua escura durante a noite ela está causando a própria situação de
estupro. Sofka ainda passou algumas tardes com ele, dividindo o tempo entre procurar
um emprego novo – pois tinha acabado de sair do antigo, as obrigações acadêmicas,
correção de trabalhos acadêmicos que ajudavam como renda extra e ajuda de mulheres
em geral, Sofka já era engajada em coletivos feministas nessa época.

No início da relação, ele já alertava que era um homem muito ocupado, pois tinha uma
grande carga de trabalho de desenho e com o filho, que passava uma ou outra tarde com
ele. Sofka interpretou isso como uma mensagem indireta de que não era pra se verem com
tanta frequência e se possível não em locais públicos, de fato, Sofka relata que eles mal
iam ao sushi da esquina juntos, seu companheiro aparentava ter uma preocupação
exagerada com a discrição. No Piauí, há um evento chamado “Salve Rainha” no qual
Sofka fazia parte, se trata de uma tecnologia social de conservação do patrimônio público
em Teresina, eram promovidos comemorações temáticas com arte e música para
conscientizar a população sobre a importância da história e dos artistas piauienses. Neste
evento, uma moça chamada Maria inicia uma discussão e procura por Sofka no evento,
Júnior tenta separar as duas e interromper qualquer forma de contato ou diálogo, Sofka
descobre que a Maria na verdade era um ex-namorada de Junior e permaneceram pelo
menos três meses juntos, no tempo que mantinham relacionamento, Maria pedia dinheiro
ao Junior para custear um tratamento de saúde e ele concordou, custeou seu tratamento
por alguns meses. No fim, Maria não estava doente e eles terminaram. Já no
relacionamento entre Sofka e Junior, Maria chegou a procura-lo para pedir o retorno do
relacionamento, pediu para que ele se afastasse de Sofka pois ainda estava muito
apaixonada. Essa foi somente a primeira dor de cabeça que Sofka teria que enfrentar, a
segunda era a ex-mulher do seu namorado, que vivia na casa dele, dormia, postava fotos
nas redes sociais – assim como várias outras ex-namoradas-, enquanto ela mesma, na
posição de namorada era proibida de fazê-lo, além de ser absurdamente ciumenta e ter
proibido que Sofka se aproximasse do filho do casal, determinando que a criança ficasse
apenas pela manhã com o pai, duas vezes na semana, o que deixou Anderson
extremamente irritado, culpando Sofka pelo ocorrido, diversas vezes a ex-mulher de
Anderson acusou Sofka de ter batido em seu filho, sem nenhuma prova, mas Sofka nunca
respondeu à altura e acabava concordando, para não provocar mais brigas, era mais fácil
do que bater de frente com ele e ser colocada mais uma vez como a louca da história.

Sempre que Sofka reclamava das proibições e restrições que Anderson imputava no
relacionamento era acusada de ser inexperiente e infantil, a pouca experiência de vida não
lhe permitia que reconhecesse ver a relação de amizade que ele mantinha com as ex-
namoradas. A Maria estava sempre presente em várias situação da vida do Anderson,
junto com as outras ex,e havia um esforço enorme da parte de Anderson para mantê-las
próximas e unidas enquanto convites da própria namorada eram frequentemente
rejeitados, principalmente se fossem públicos.

No sexo, Sofka era liberal, apesar de ter alguns fetiches que não aceitava, como se vestir
de forma infantilizada, chamar o companheiro de “papai” durante o sexo ou simular
resistência diante de um suposto estupro, qualquer crítica ou reclamação a respeito disso
era contra argumentado com a imaturidade e falta de experiência, colocada por Anderson
como o principal problema do relacionamento deles. Toda reação negativa dele diante um
pedido de Sofka era responsabilidade dela. Dizia que “fica difícil dizer sim pra você se
quando quero algo novo e saudável para nós, você vem com essas baboseiras
feministas”. O desrespeito com os desejos e preferências sexuais de Sofka não pararam
aí, era frequente ser acordada sendo penetrada por Anderson enquanto dormia, sem
consentimento, com ele forçando sexo anal e ejaculando em cima dela. Sempre que
reclamava, novamente surgia a argumentação da falta de experiência, da “pouca idade” e
que um dia ela ia gostar de tudo isso.
O fim do relacionamento foi inevitável, a situação já estava ficando insuportável. Ele
atribuiu o rompimento à inexperiência. Passado uma semana, reataram, com a condição
de que Sofka extinguisse qualquer “baboseira feminista” e aceitasse de bom grado a
presença das ex-namoradas de Anderson na sua vida. Sofka aceitou, mas romperam
novamente e não reataram mais. A partir daí, ocorreram uma série de situações em que
Anderson pedia perdão, pedia pra conversar e quando tinha seus pedidos negados tornava
a atacar Sofka como imatura. Após o término, Anderson também se empenhou em um
comportamento de difamação, atribuindo unilateralmente ao fracasso da relação à
inexperiência de Sofka, que também ganhou a fama de desequilibrada.

Em ambos os relacionamentos, a percepção pela série de abusos sofridas só ficou nítida


após os términos. Porém no segundo, já havia uma percepção de que algo estava muito
errado, mas não conseguia lidar de fato com isso por realmente se achar muito imatura
naquela ocasião de diante daquelas experiências. A situação agrava por ter recebido um
diagnóstico psiquiátrico equivocado na época – de borderline – o que colaborou para
aguentar calada uma série de situações problemáticas sem expressar descontentamento e
não parecer problemática como a doença sugeria. No que concerne ao círculo social de
Sofka, não houve apoio em nenhuma das vezes, chegando a ficar dias sem manter contato
com ninguém. No segundo relacionamento, com o Anderson, amigos em comum
chegaram a orquestrar situações a ponto de forças encontros entre ambos, o que deixou
Sofka extremamente irritada. A literatura feminista e a rede de apoio que une feministas
de todo o país em grupos de discussões e trocas de experiências foi o seu principal suporte.

Na universidade, o abatimento era nítido, as notas caíram, a reprovação em uma


disciplina, mas como Sofka nunca tinha dado espaço pra ninguém se meter em sua vida,
todos assistiram à sua situação calados. Sofka também carregou traumas sexuais devido
as péssimas experiências que passou, iniciou um novo relacionamento oito meses após o
término com Anderson, e só foi se sentir segura e confiante novamente com um ano de
relacionamento, tudo a deixava com medo e desconfiada, chegando a chorar durante o
sexo várias vezes, pois sempre lembrava de algo que seu ex-namorado fazia ou dizia.

Após o término com Anderson, Sofka cogitou suicídio e só não o fez por que sua mãe de
santo lhe acolheu e confortou, neste momento Sofka se aproxima da umbanda, onde segue
fiel à religião até hoje.
1.3 – Motoristas de Uber e assédio sexual

Tal qual o depoimento de Maeve, 27 anos, estudante de Cinema e Audiovisual na


Universidade Federal de Pernambuco, participante do 5º Recifest - Festival de Cinema e
Diversidade Sexual e de Gênero, onde a festa de encerramento do evento acabou tarde,
devido a distância a ser percorrida, Maeve seria a última de um grupo de mais 3 amigos
a ser deixada pelo uber, pois morava mais distante de todos, um por um amigos que
estavam com ela foram se despedindo e adentrando suas casas, até restar apenas o
motorista e Maeve. Ao sentir-se só, o motorista iniciou um processo de aproximação e
solicitou que Maeve passasse para o banco do passageiro, que levemente embriagada e
sem reconhecer nenhum perigo no momento ou qualquer tipo de malícia acatou ao
pedido. Fazendo perguntas de cunho cada vez mais íntimo como “se o piercing no smille
não atrapalha pra beijar” e ter diminuído a velocidade, Maeve passa a se sentir
desconfortável e fica atenta aos rumos que aquela conversa está tomando. O motorista
insiste nas perguntas sem muito sucesso, já que visivelmente incomodada com o teor das
perguntas Maeve faz o possível pra se esquivar e encerrar o assunto, ao finalmente chegar
ao seu destino, uma rua escura próxima a uma favela na Zona Oeste do Recife, Bairro da
Várzea, o motorista tranca as portas e impede a passageira de sair e insiste nas perguntas
dessa vez sendo mais direto “você transaria com uma pessoa que acabou de conhecer?”
relatando estar visivelmente embriagada, Maeve diz que não reconheceu de imediato que
aquela era uma situação crítica que poderia descambar para uma violência maior, mas
identifica que estava claramente desconfortável, com a contínua insistência do motorista
com perguntas cada vez mais íntimas a respeito de sua sexualidade, Maeve fica nervosa
e passa a ameaçar quebrar as maçanetas da porta se ele não abrir imediatamente, o
motorista finge uma calma e demora pra atender o seu pedido, abre as portas, reclama ao
não ter o seu cumprimento de “boa noite” respondido reciprocamente e vai embora.
Finalmente em casa, Maeve liga para os amigos para avisar que chegou em segurança e
relata o que aconteceu, o motorista foi denunciado à central de atendimento do Uber, mas
não houve retorno ou medidas cabíveis foram tomadas. Somente no dia seguinte, Maeve
alega ter tido a total clareza do que realmente havia acontecido e enxerga o que
embriagada não conseguiu compreender, segundo suas palavras, que havia escapado de
um possível estupro, o ato de travar as portas impedindo a sua saída, em uma rua escura
e deserta num horário “bem bizarro” foram os sinais que lhe fizeram chegar a essa
conclusão.
1.4 – Assédio no local de trabalho, ameaças e reação da plateia.

Em uma segunda ocasião, dessa vez à luz do dia e em seu local de trabalho, onde oferece
pizza aos transeuntes, Maeve é abordada por um sujeito que aparenta estar alcoolizado e
já chega invadindo o seu espaço pessoal, botando a mão em sua cintura, o desconforto é
imediato e ela repreende, “com licença, você está sendo invasivo” e tira a mão do sujeito
em torno da sua cintura. Foi o suficiente para a situação ficar mais tensa, um segundo
homem que estava em companhia do sujeito se exalta, sai em defesa do amigo e acusa
Maeve de estar louca e apavorada sem nenhum motivo aparente, que não precisava agir
daquela forma pois ela não seria estuprada e se fosse pra acreditar “nesses contos da
internet” ela ia ficar doida. Apesar da situação de tensão ter tomado proporções a ponto
de fazer terceiros pararem suas atividades para acompanhar a trama, ninguém fez
absolutamente nada. Maeve recolheu a sua caixa de isopor onde armazenava as pizzas e
foi embora, se sentindo completamente impotente e constrangida.

1.5 – Assédio no Estágio e a perda de uma carreira.

Paula, é estudante de psicologia na Universidade Federal do Maranhão e aos 23 anos,


possui uma vasta experiência negativa com caronas envolvendo conhecidos e semi-
conhecidos. O caso em específico aconteceu em uma empresa privada, onde a maioria do
corpo de funcionários eram compostos por mulheres, um dos funcionários acumulava
múltiplas funções, fazia entregas, era motorista, consertava as coisas quando necessário
e etc. Este funcionário ofereceu carona à Paula, pois o horário que ela saia coincidia com
o horário de entrega de materiais no bairro do Anjo da Guarda, em São Luís. Paula
percebeu indícios de que o funcionário sentia algo a mais por ela através do seu
comportamento: lhe levava lanches, bolos que ele mesmo preparava, puxava conversa
sempre que podia, elogiava a sua aparência. Até este ponto, para Paula tudo era aceitável,
não lhe faltou com o respeito em nenhum momento e as interações eram sempre cordiais.
As caronas concedidas geralmente eram feitas por moto, em determinada ocasião, uma
das funcionárias lhe pergunta “Que horas você vai deixar a Paula? Preciso que você vá
hoje no Anjo da Guarda” e foi nesse momento que Paula percebeu que o seu trajeto não
era o mesmo do funcionário, ele saia exclusivamente para lhe deixar na universidade, os
caminhos não coincidiam, mas ele sempre estava disposto a leva-la.
Novamente oferecendo carona como costumeiramente fazia, Paula aceita, dessa vez a
carona é em um furgão que possuía apenas o banco do motorista e do passageiro, além
da área para transporte de carga. Nesse dia, o funcionário que iremos identificar como
João, disse que precisava falar-lhe algumas coisas e que pegou Paula completamente
desprevenida, apesar de já desconfiar das intenções do João. Paula se sentiu encurralada,
não tinha como se sentar no banco de trás, não tinha como sair do carro. João falava que
gostava muito de Paula e que não iria se perdoar se não tentasse nada com ela. Paula ficou
com muito medo, não tinha como se defender de uma possível investida ou ataque físico,
o homem era três vezes maior que ela, um confronto corporal será caótico, nesse momento
de tensão, Paula tira o salto do pé e pensa em usá-lo pra sua defesa caso João exceda os
limites, “se ele fizer algo, enfio no olho!”, João estaciona o furgão e se vira para Paula,
que questiona “E a tua esposa? Como está?” Ele ri, diz que está bem e desconversa. Paula
prossegue falando que João deve repensar suas atitudes que possam trazer sofrimento pra
esposa e filhos, pra ele e pra Paula, falou da empresa e de como esse tipo de
comportamento não é bem visto no âmbito do trabalho e que poderiam lhe trazer sérias
consequências, a técnica usada nesse tipo de argumentação, segundo Paula, foi
rememorar tudo o que aprendeu em clínica psicológica para fazer com que João refletisse
em vez de agir por impulso, pois Paula estava completamente sem defesas para um
confronto direto. Por fim, João deixa Paula sair do carro, ela se despede e vai embora.
Desligou-se da empresa depois do ocorrido, se sentiu mal por muito tempo mesmo tendo
a plena consciência de que nada do que tinha ocorrido era sua culpa. Houveram outras
ocasiões onde a experiência da carona, seja com amigos, colegas ou conhecidos se
tornaram constrangedoras ou ameaçadoras à sua integridade física. Hoje o que Paula faz
pra evitar esse tipo de situação é evitar caronas com quem mal conhece, certificar-se de
saiba pra onde, com quem e o caminho que ela está indo e se possível, principalmente no
Uber, nunca sentar no banco do passageiro, mas atrás.

Paula resolveu desligar-se da empresa por que ficava muito nervosa só de pensar que João
ia chegar a qualquer momento, perdeu a oportunidade de contratação à longo prazo, mas
julga ter sido melhor assim do que permanecer em um ambiente adoecedor.

1.6 – Assédio no estágio e a incerteza da violência sofrida

Alita, tem 21 anos, é estudante de psicologia na Faculdade Pitágoras, estagiária do Setor


de Regularização Fundiária (SECID), onde o chefe a princípio se mostrava muito
simpático e brincalhão, mas que com o tempo suas brincadeiras passaram a ser
constrangedoras, devia ter na faixa dos 35 anos. Ele tinha o costume de apertar os ombros
e nuca de Alita, e sempre que podia, falava com ela sempre dando indícios de que pagaria
para estar com ela, lhe chamando para ir a lugares sozinhos, em particular. Alita levava
as investidas na brincadeira apesar de se sentir extremamente incomodada, tentava se
desvencilhar quando o abraço era apertado e demorado demais para um simples aceno
cordial entre chefe e estagiária, mas nunca fez nenhuma reclamação direta, nunca disse
nada a ninguém. Alita resolve fazer amizade com o pessoal do outro setor e disponibiliza-
se a trabalhar em uma outra área com eles, assim Alita consegue sair do setor onde era
assediada, mas continua na mesma empresa. Nesse novo setor, houveram novas situações
constrangedoras, um outro funcionário passava a mão na bunda de Alita, tentando parecer
discreto, numa segunda investida, esse mesmo funcionário precisava passar por um
espaço em que Alita estava localizada, mesmo tendo espaço de sobra pra se locomover o
funcionário escolhia passar colado ao corpo de Alita. Quando Alita lhe vê, acena de longe
e evita sempre que possível estar na mesma sala sozinha com ele, apesar de nunca ter
comentado nada sobre o ocorrido com ninguém da empresa, Alita se encontra em um
constante conflito ao achar que tudo isso poderia ser somente “coisa da sua cabeça”, ou
que tinha feito uma interpretação errada do comportamento e intenções do seu chefe e
colega de setor.

1.7 – Assédio por taxista, castigo e culpabilização.

Iara, estudante secundarista, na época com 16 anos, ocorrido em 2008, relata sua
experiência ao embarcar sozinha em uma viagem de táxi de volta para sua casa, após
passar a tarde com as amigas no São Luís Shopping. Iara pegou o táxi no próprio táxi e
se acomoda no banco do passageiro, ao lado do motorista que inicia a corrida sem ligar o
taxímetro. O motorista inicial uma conversa cordial com Iara que relata não ter percebido
malícia no seu comportamento, ao chegar em casa, sem saber quanto tinha dado a corrida,
o taxista pergunta-lhe “quanto ela estava disposta a pagar”, sem entender o teor da
pergunta Iara permanece em silêncio, interrompida somente pela chegada de sua avó ao
carro com a carteira na mão se prontificando a pagar a corrida. Iara despede-se sem falar
nada ao motorista, entra em casa e em particular relata o que tinha acontecido para a sua
mãe, que fica indignada com a ingenuidade da filha e a “exposição desnecessária ao
perigo”.

Ela ficou indignada mas comigo e não com o motorista, eu pensei até que fosse me bater!
Ela falava coisas como ‘não se senta no banco da frente sozinha, tu não assiste televisão?
Todo dia tem notícia de mulher sendo estuprada por aí, nunca mais faça isso!’ Mas ela
mesma nunca me orientou em qual lugar é o ideal ou mais seguro pra voltar sozinha, é
uma coisa que ela já esperava que eu soubesse, que eu tivesse adivinhado.

Não houve nenhuma denúncia formal sobre assédio, apenas repreensão contra o
comportamento ingênuo de Iara em relação à sua própria segurança. Na época, a mãe de
Iara não permitiu que a filha voltasse sozinha pra casa, por carona ou táxi, até que a filha
se comprometesse e “jurasse de pés juntos” que iria prestar mais atenção a esses detalhes.
Aconselhando e alertando as amigas da filha, todas na mesma faixa etária.

1.8 – Assédio por professor e constrangimento público

Laissa é estudante de cursinho pré-vestibular há 2 anos, tem 20 anos de idade atualmente


e foi assediada pelo menos duas vezes por um professor, que tinha em volta dos 35 anos
de idade. Na primeira vez, foi em um plantão para tirar dúvida dos alunos, assim que o
atendimento foi concluído, o professor aperta o braço de Laissa na parte inferior de uma
forma que lhe deixa extremamente desconfortável, esse evento aconteceu de forma
particular, longe dos olhos de outras pessoas. Na segunda vez, foi durante a aula. Como
Laissa costumava sentar nas primeiras cadeiras, fica bem próxima ao tablado do
professor. Antes de iniciar a aula, Laissa pede permissão para ir ao banheiro e o professor
se sentiu no direito de colocar a mão em seu rosto e perguntou “Você não vai matar minha
aula, né flor?” dessa vez na frente da sala inteira, com os demais alunos.

Laissa se desvencilha rapidamente e vai o mais rápido que pode ao banheiro. Convém
pontuar, que Laíssa é diagnosticada com TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou
seja, há uma aversão muito grande em relação ao toque de qualquer outra pessoa que não
possua intimidade ou que não lhe peça permissão para fazer contato físico. Algumas horas
depois do ocorrido, a face de Laíssa ainda formigava no local onde o professor tinha
tocado, Laissa estava tão nervosa e descontrolada com o ocorrido que quase urinou em si
mesma, sem conseguir tirar da cabeça o que tinha lhe ocorrido. Laissa decidiu não assistir
mais a aula deste professor há meses, mesmo tendo como consequência a defasagem pela
falta do conteúdo ministrado. O professor, além de tudo, é casado.

1.10 – Violência doméstica e omissão familiar

Manuela tinha 19 anos e tinha acabo de ter um bebê, a relação com o seu cônjuge era
conflituosa. Daniel era alcóolatra e num dos seus acessos de raiva, lhe agrediu
fisicamente. Manuela morava na casa da sogra, que tentou lhe ajudar, mas não fazia muita
coisa por se tratar do próprio filho, havia uma espécie de defesa e minimização das suas
agressões, mas não impedia Manuela de tomar a iniciativa de acionar os próprios
familiares (Seu pai, sua prima e um amigo). Eles não podiam fazer muita coisa e possuíam
uma influência limitada na situação do casal, a situação costumava ficar conflituosamente
estável.

O pai de Manuela apenas acusava: “Mas você provoca! Dá nisso!”

Alguns meses depois Manuela se separa e sai da casa da sogra. Atualmente Manuela
trabalha como recepcionista de uma Clínica de Odontologia, não chegou a efetuar uma
denúncia forma contra as agressões sofridas, mas cortou vínculos com Daniel ao
conseguir independência financeira.

Daniel procurou Manuela inúmeras vezes parar pedir para reatar o relacionamento,
dizendo-se arrependido, inclusive no local de trabalho da Manuela, o que desencadeou
mais conflito entre os dois e funcionários da clínica, já que Daniel costumava aparecer
alcoolizada e mostrava-se sempre agressivo nessas ocasiões. Manuela relata que por
muitas vezes se sentiu confusa a respeito do que fazer, seu sentimento por Daniel ainda
era muito forte, mas o medo de que ele pudesse mata-la ou usar a sua filho como vingança
também era.

“Eu tenho muito medo do que pode acontecer se eu voltar e sei que ninguém vai me
ajudar, como não fizeram antes. Eu queria retomar os meus estudos, mas agora eu não
posso porque tenho filha pra criar, ele sempre joga isso na minha cara, a minha mãe
também me cobra. Eu sinto saudades da época que a gente namorava, ele era muito
romântico mas sempre que bebia ficava agressivo, já me tratou mal na frente dos amigos
e eu relevava por causa da bebida, os amigos dele me falavam a mesma coisa, que isso
era “coisa de bêbado”, e minha única saída era aceitar, eu me sentia muito infeliz por
isso.

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