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Cristo Jesus
Alvo ou propósito: o objetivo primeiro desta palavra é refletir com os irmãos, uma vez mais,
e de um modo um pouco mais detido, sobre a realidade e a profundidade da salvação em
Cristo Jesus; e, em um segundo momento, a esperança que temos ao desfrutar de alguns
aspectos desta salvação aqui e agora, mas principalmente em um mundo vindouro, em que
estaremos com Ele face a face. Pedro tinha como propósito relembrar aos cristãos
perseguidos o amor de Deus por eles, demonstrado em Cristo Jesus, e da segurança de uma
herança eterna reservada a eles. Guardadas as devidas proporções, o que se objetiva aqui é a
exortação à perseverança pela lembrança e reflexão sobre o que o Senhor fez por nós.
1- Introdução
- Chamada ao assunto
- Contexto do texto básico
Pedro escreve esta carta a partir de Roma, provavelmente entre 62 e 65 d. C, em uma época
de perseguição. Em 64 d. C., o imperador Nero incendiou a cidade, e a culpa recaiu sobre os
cristãos. Esse fato intensificou a violenta perseguição a eles, em todo o Império Romano. A
Carta é endereçada à região da Ásia Menor, hoje em dia, Turquia; e apesar de haver muitos
elementos judaicos e do Antigo Testamento na carta, é possível afirmar que a mesma não se
dirige apenas a judeus,
O propósito da epístola é relembrar aos cristãos a obra redentora de Cristo e a sã doutrina, por
meio desta lembrança, encorajá-los a testemunhar o evangelho mesmo em um contexto de
perseguição e sofrimento, como o que os cristãos passavam (ler rapidamente 5.12). Neste
sentido, o texto se baseia na dualidade Sofrimento/Esperança, na qual há identificação em
Cristo em seu sofrimento, e o vislumbre de Sua glória em um Reino Vindouro.
O texto é estruturado da seguinte forma:
A. Introdução (1.1-2)
B. Da Salvação (1.3-12)
C. As implicações da salvação (1.13 a 3.12)
- Santidade (1.13-2.3)
- Eleição (2.4-10)
- Submissão e Sujeição a autoridades civis, nos relacionamentos sociais e familiares
(2.11-3.12)
D. Do Sofrimento (3.13-4.19)
E. Do serviço cristão (5. 1-11)
F. Conclusão e saudações finais (5. 12-14)
- Apresentação do texto básico (ideia central)
Nos versículos sobre os quais esta pregação se detém, Pedro relembra aos cristãos sua eleição
e salvação em Cristo Jesus, que os dá esperança de vida eterna mediante a ressurreição dentre
os mortos, e de acesso a uma herança a eles reservada
3- Esboço
Pontos principais que quero abordar: fomos escolhidos pela presciência de Deus -
regenerados pela sua muita misericórdia - “somos guardados pelo poder de Deus, mediante a
fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (versículo 5).
- Ponto 1: Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai
- Exposição: Pedro aqui se refere ao fato de Deus nos ter escolhido para a salvação,
para receber a fé salvadora, dada por Ele a todos os crentes que, por meio desta fé,
confessam a Cristo Jesus como Filho de Deus e como único e suficiente Salvador.
Neste sentido, a eleição divina nos tira do caminho de perdição, ira e condenação que
no qual estávamos por nossa natureza pecaminosa, rebelde, inimiga de Deus (Rm 5.
6-11). Esta fé, retratada por Paulo como dom de Deus (Ef. 2.8), é dada aos eleitos por
Deus não com base em seus méritos pessoais, nem em um conhecimento prévio de
Deus daqueles que iriam se render a Cristo, mas é um ato divino soberano, eterno e
justo. Neste sentido, a presciência (que pode ser compreendida como de antemão
reconheceu ou amou) de Deus na eleição dos crentes diz diz respeito à predestinação,
isto é, à determinação divina, antes mesmo do nascimento (Sl 139.16), daqueles que
seriam salvos, sem julgamento de suas obras, porque nenhuma delas ainda havia, nem
conhecimento prévio da disposição do homem a aceitar a Jesus (até porque, pela
depravação total, estávamos mortos em delitos e pecados, e nossos olhos jamais
teriam se desvendado para a realidade deste estado e da salvação em Cristo se o
Espírito não tivesse nos regenerado para conversão).
Neste sentido, é clara a soberania de Deus na predestinação e eleição dos crentes para
salvação. Enquanto uma determinação divina, baseada única e exclusivamente nos
desígnios e vontade de um Deus eterno e imutável, e não em vontade ou mérito
humano, falível e volúvel, a eleição é também eterna. Muito se discute porém sobre o
caráter de justiça desta escolha divina, o que é respondido por Paulo no livro de
Romanos 9. 14-26 (“terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e
compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, não depende de quem
quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia”).
Uma vez eleitos por Deus, o chamado ao evangelho se torna eficaz, somos
regenerados pelo poder do Espírito e então nos rendemos ao evangelho (conversão).
Este mesmo Espírito que nos regenera e convence da obra redentora de Cristo na cruz
a partir da eleição divina, opera em nós e conosco a santificação, isto é, o processo
constante de desenvolvimento da salvação e distinção do mundo, de separação para
Deus, para obediência e aspersão do sangue de Cristo, conforme o versículo 2 deste
capítulo de 1 Pedro.
Reler o versículo e atentar para a conclusão do mesmo: Graça (comentário da Bíblia
de Genebra: amor de Deus que protege os pecadores por causa da identificação deles
com Cristo) e paz (condição objetiva de estar reconciliado com Deus por meio de
Jesus Cristo, juntamente com tudo o que procede deste relacionamento). O significado
profundos consolo e conforto destas palavras em tempos de perseguição.
- Ilustração: a conversão de Paulo (At 9.1-9) e do eunuco, alto oficial de candace, da
Etiópia (At 8.26-40)
1
VOLTEMOS AO EVANGELHO. Girolamo Zanchi - A misericórdia de Deus. Série Reforma 500 anos.
Disponível em: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2017/01/girolamo-zanchi-misericordia-de-deus-
reforma500/?utm_source=inf-resumo-diario-ve&utm_medium=inf-resumo-diario-
ve&utm_campaign=inf-resumo-diario-ve. Acesso em 01 abr 2017
a graça específica. A misericórdia geral e a graça comum está ligada à bondade de
Deus manifesta dia-a-dia para com a humanidade, seja por meio da satisfação das suas
necessidades ou permitindo-lhes viver, concedendo a eles beleza, inteligência e dons,
seja refreando o pecado e postergando a sua ira (Mateus 5.45 e Atos 14.17). Já a
misericórdia especial e a graça específica indicam “sua livre e eterna vontade ou
propósito de tornar bem-aventurados alguns da raça caída, libertando-os da culpa e
domínio do pecado, e se comunicando a eles de uma forma consistente com a sua
própria justiça inviolável, verdade e santidade. (...) os efeitos desta misericórdia
especial são a redenção e a justificação deles mediante a expiação de Cristo, o
chamado eficaz, a regeneração e a santificação por meio do seu Espírito, a sua
infalível e final preservação em estado de graça na terra e sua eterna glorificação no
céu.” (citação direta do autor por meio do Voltemos ao Evangelho).
É sobre esta última definição de misericórdia e graça que repousa o louvor de Pedro
ao nosso Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo pela obra redentora que nos livra do
peso do pecado e nos dá esperança de que, assim como fomos crucificados com
Cristo, também ressuscitaremos com Ele (Romanos 6. 1-8) para uma herança que não
se deteriora, é pura e santa, que não perde sua beleza, força e exuberância, que está
reservada para nós. Este é o galardão que a igreja sofredora e perseguida poderia
esperar ardentemente, sabendo que se Deus entregou seu próprio Filho, a maior
dádiva que poderia ser concedida, por amor à esta igreja, eles poderiam descansar na
esperança de vida eterna, mesmo que nesta vida fossem contristados e provados na fé.
- Ilustração: Romanos 8:32
- Ponto 3: “somos guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação
preparada para revelar-se no último tempo” (versículo 5).
- Exposição: Uma vez que somos salvos mediante a fé, dada a nós como um dom de
Deus (Efésios 2.8-9), e por meio desta fé, recebemos o Espírito Santo de Deus, somos
preservados por Ele no caminho para a salvação, uma vez que este mesmo Espírito,
também por meio da santificação, opera em nós o querer e a capacitação para
obediência a Cristo Jesus e perseverança até o fim, não importa o que aconteça. Esta
palavra está ligada diretamente ao texto de Filipenses 2. 12-13 (pedir aos irmãos que
abram no texto). Deste modo, não tivemos participação alguma em nossa salvação, e
ainda o processo de santificação é um ato soberano de Deus em nós, em que sofremos
e manifestamos ativamente seus efeitos. Neste processo, de acordo com Francis
Turretini, o homem opera em submissão a Deus. De acordo com o autor,
“Santificação segue a justificação e se inicia pela regeneração e é promovida pelo
exercício da santidade e das boas obras, até que uma seja consumada na outra pela
glória. Nesse sentido, ela é passiva, na medida em que é operada por Deus em nós, e
me outro sentido é ativa, na medida em que deve ser feita por nós. Deus realiza seu
trabalho em nós e através de nós.” Assim, somos preservados e vamos perseverando
na caminhada, externando o caráter de Cristo através das boas obras, pelas quais o
Espírito, o Filho e o Pai são igualmente glorificados e exaltados. No entanto,
perseveramos sabendo que essa persistência não é fruto puramente de nossas forças,
mas da ação do Santo Espírito que nos concede a graça e a dádiva de permanecermos
diante de Deus e dos homens crescendo em graça
- Ilustração: Filipenses 4: 11-13 (Paulo está capacitado por Aquele que o fortalece a
suportar sofrimentos e desfrutar alegrias)
4- Conclusão
- Breve revisão ou resumo (acrescentarei aqui a aplicação à igreja e aos irmãos em um
nível individual)
O objetivo de Pedro com esta carta é, em um contexto de perseguição e sofrimento,
trazer à memória a segurança aos cristãos por meio do conhecimento de que:
1- toda a nossa vida foi predestinada por Deus, que é soberano e imutável em suas
escolhas
2- a salvação não depende de méritos próprios, mas é uma decisão do próprio Deus
em regenerar, por meio de sua misericórdia específica e graça especial, nossos
corações e conceder a fé em Cristo Jesus
3- por meio do seu Espírito, confirmar, desenvolver e nos preservar nesta salvação,
nos concedendo força para respondermos a ela com perseverança, na expectativa de
acessar a herança incorruptível e eterna
A pregação desta verdade no coração da igreja deveria trazer ânimo e esperança, bem
como coragem para testemunhar da fé em Cristo em todas as áreas da vida, estando
seguros de sua aliança de amor e graça que gera consolo em meio às tribulações. O
objetivo desta palavra é que, de modo semelhante, por meio da reflexão da dimensão
e profundidade da obra redentora de Cristo, pudéssemos desfrutar desta mesma
alegria e esperança. Embora não estejamos (ainda, a meu ver) em um contexto de
perseguição, a fé na suficiência do amor e na fidelidade de nosso Deus devem gerar
em nós alegria e diligência ao servi-lo, sabendo que nossos esforços no Senhor não
são vãos. Ele fará cumprir a Sua palavra e seus desígnios, que são maiores que os
nossos. Assim, podemos buscar no Espírito a capacitação para um serviço íntegro,
honesto, zeloso, e descansar sabendo que Ele despertará aqueles que são chamados
por Seu decreto, e frutificará as nossas boas obras, que são consequências de nossa
salvação. Enquanto filhos do Deus Altíssimo, além do que foi mencionado acima,
podemos repousar os nossos corações em Seu amor e Sua graça, confiando que o
amor que sente por nós não depende do que fazemos ou somos, mas de uma decisão
do próprio Deus, embora dia a dia ansiamos - e devemos de fato buscar isso - ser
libertos de nossa natureza limitada, fragmentada, inconstante, pecaminosa. Então
convido você a colocar nas mãos de Deus suas ansiedades sobre o seu próprio ser,
sobre o que quer se tornar (em todos os âmbitos: relacionamento, profissional,
ministerial…) e sobre o que quer ter. Como lemos em Romanos 8:32, se Ele nos deu
Seu filho e nos ama apesar de nós, certamente ele nos ajudará e, por meio destes
sonhos e inquietações, trabalhará conosco para que a imagem de Cristo seja formada
em nós.
- Conceito pregado e sua relação com Cristo
Gostaria de finalizar a pregação com um breve parágrafo de Martinho Lutero, citado
por Franklin Ferreira, que nos ajuda a compreender esta realidade:
Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo,
meu Senhor, e nem vir a Ele, mas o Espírito Santo me chamou pelo
evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na fé verdadeira.
Assim como chama, congrega, ilumina e santifica toda a cristandade na terra,
e em Jesus Cristo a conserva na fé verdadeira e única. Perdoa a mim e a todos
os crentes diária e abundantemente todos os pecados, e no dia derradeiro e
ressuscitará a mim e a todos os mortos, e a Cristo me dará a mim e a todos os
crentes a vida eterna; isso é certissimamente verdade. (LUTERO apud
FERREIRA, 2015, p. 38)
- Súplica