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ESCOLA DA MAGISTRATURA FEDERAL DA 5ª REGIÃO

CURSO DE FORMAÇÃO DE JUÍZES


MÓDULO DE DEONTOLOGIA JURÍDICA E ÉTICA DA MAGISTRATURA

Professor George Marmelstein

Estudo de Caso – Caso Baltasar Garzón (Espanha – 2012)1

Baltasar Garzón é um famoso juiz de instrução espanhol que ficou mundialmente conhecido
pela sua atuação em casos polêmicos, principalmente a investigação dos crimes contra a humanidade
praticados por ditaduras militares latino-americanas. O auge da fama ocorreu com a emissão de uma
ordem de prisão contra o ex-ditador chileno Augusto Pinochet, pela morte, tortura e desaparecimento
forçado de cidadãos espanhóis. Garzón também teve ativa participação na investigação dos atos
praticados pela ditadura militar argentina, que, posteriormente, levou militares do alto escalão
daquele país à prisão.

O juiz espanhol também atuou em sensíveis casos ocorridos na própria Espanha. Ainda nos
anos 80, dirigiu processos contra diversos narcotraficantes, inclusive altos dirigentes das máfias
galega, turca e italiana. Comandou investigações sobre lavagem de dinheiro no litoral espanhol (região
de Málaga) e falsificação de moeda (derrame de notas de 100 dólares). Foi jurado de morte por
diversos traficantes e mafiosos e, por isso, passou a ser conduzido em carros blindados e a viver com
escolta policial.

Em 1993, afastou-se da magistratura para participar da política espanhola, entrando na lista


de candidatos à Câmara dos Deputados pelo PSOE. Chegou a comandar o Plano Nacional
AntiDrogas, porém renunciou após um ano de trabalho, queixando-se do excesso de corrupção no
governo. Há quem alegue que a sua insatisfação política decorreu do fato de ele não ter sido designado
ministro de estado.

1 As informações do presente caso foram obtidas da Sentencia 79/2012, do Tribunal Supremo da Espanha
(imagenes.publico-estaticos.es/resources/archivos/2012/2/9/1328793153123sentencia garzon.pdf) e da Wikipedia.
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Ao retornar à magistratura, deu seguimento às investigações do caso GAL (Grupos
Antiterroristas de Liberação), grupo de extermínio que, conforme ficou comprovado, foi criado
durante o primeiro governo do PSOE (partido do qual fez parte), ainda nos anos 1980, com a
finalidade de assassinar membros e simpatizantes do ETA. Várias autoridades foram condenadas em
virtude do caso, inclusive o ex-Ministro do Interior José Barrionuevo. Posteriormente, todos foram
indultados no governo de José María Aznar.

Garzón atuou também contra os terroristas bascos do ETA. Em 2002, conseguiu suspender o
funcionamento, por 3 anos, do partido Batasuna, ao demonstrar suas relações com o grupo terrorista.
Dessa ação, resultou também o fechamento dos jornais Egin e Egunkaria, além da rádio Egin Irratia.
Angariou com isso o ódio dos nacionalistas bascos, que consideram que atacou a cultura basca e não o
terrorismo.

Em 17 de outubro de 2008, Garzón declarou formalmente que os atos de repressão praticados


pelo regime de Franco configurariam crimes contra a humanidade e passou a investigar mais de mil
mortes e desaparecimentos forçados ocorridos durante e após a Guerra Civil Espanhola. O caso gerou
uma crise interna, pois os supostos crimes haviam sido praticados há mais de 70 anos e estariam
cobertos pela anistia concedida em 1977. Por esse processo, Garzón foi acusado de prevaricação, por
supostamente haver ultrapassar a sua esfera de competência, mas a Suprema Corte da Espanha o
absolveu, apesar de ter sido declarada a sua incompetência para processar o caso.

A partir daí, iniciou-se um processo de ataque generalizado à conduta de Garzón, tendo


surgido, inclusive, uma denúncia de que ele teria recebido dinheiro do Banco Santander para proferir
palestras na Universidade de Nova Iorque. Garzón, por sua vez, alegou que somente recebeu o valor
das aulas ministradas na condição de professor, diretamente da Universidade e não do Banco. A título
de curiosidade, Garzón havia arquivado um processo criminal instaurado contra o presidente do
Banco Santander alguns anos antes, o que levou seus detratores a insinuarem que Garzón teria se
corrompido.

Outro polêmico caso dirigido por Garzón foi o caso “Gürtel”, em que se investigava uma
grande rede de corrupção envolvendo os principais líderes do Partido Popular. Nesse caso, Garzón foi
acusado de haver praticado abuso de poder por haver determinado a gravação de conversas entre
advogados e seus clientes, o que motivou a abertura de processo disciplinar para investigar a conduta
do juiz.

FATOS NARRADOS NA DENÚNCIA CONTRA BALTASAR GARZÓN

A acusação central contra Baltasar Garzón baseou-se no fato de que o juiz, na qualidade de
responsável pela instrução processual do caso Gürtel, teria autorizado a interceptação das conversas,
no parlatório, entre os advogados e os seus clientes sob custódia judicial, em violação à legislação
processual penal e às garantias constitucionais. Segundo a legislação espanhola, a conversa entre os
prisioneiros e seus advogados não poderiam ser suspensas ou interceptadas, salvo por ordem judicial
em caso de terrorismo, o que não era o caso.

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Garzón, por sua vez, baseou sua decisão em uma norma que permitia a interceptação de
conversas realizadas pelos advogados e seus clientes quando houvesse indícios de que o advogado
estaria participando da organização criminosa. No caso Gürtel, estavam sendo investigados fatos que
poderiam constituir crime de lavagem de dinheiro, fraude fiscal, falsificação de documentos,
quadrilha e tráfico de influência, envolvendo várias pessoas importantes. A complexidade do caso e a
relevância da investigação teriam justificado o uso de técnicas de interceptação e gravação de
comunicações ambientais. Havia indícios de que os acusados, apesar de estarem presos, continuavam
a prática delitiva, sobretudo a ocultação de enorme quantidade de dinheiro ilícito, inclusive com a
ajuda dos seus advogados. A decisão que autorizou a interceptação dos advogados deixou claro que os
advogados poderiam estar se aproveitando de sua condição para atuar como “enlace” ou “canal de
comunicação” dos presos com o mundo exterior, servindo não no interesse da defesa, mas da própria
organização e com subordinação a ela.

Segundo a acusação, os advogados interceptados não faziam parte da suposta organização


criminosa. Além disso, a ordem de interceptação teria sido genérica, não identificando os advogados
que deveriam ter suas conversas interceptadas, permitindo assim que qualquer advogado que entrasse
em contato com os presos teria a sua conversa gravada. Até mesmo advogados que somente passaram
a atuar no caso depois da ordem de gravação tiveram as suas conversas com os presos interceptadas.
Além disso, de acordo com o relatório preparado pelos policiais responsáveis pela interceptação,
foram interceptadas até mesmo as conversas em que os presos discutiam as suas estratégias de defesa
com os advogados foram alvo de gravação.

Garzón, porém, alegou em sua defesa que as conversas dos presos com os advogados
relacionadas exclusivamente ao exercício do direito de defesa foram devidamente glosadas, a pedido
do próprio ministério público. Portanto,embora tenha havido a intercepção autorizada das conversas,
todas as transcrições de diálogos mantidos pelos presos com seus defensores foram eliminados dos
autos.

O ponto central do debate consistem em verificar se Baltasar Garzón praticou ou não abuso
de poder (crime também conhecido na Espanha como prevaricação judiciária) ao autorizar, naquele
caso concreto, a intercepção de conversas entre os presos e seus advogados.

ORIENTAÇÃO PARA O DEBATE: ANALISE O CASO SOB A PERSPECTIVA DOS


PRINCÍPIOS ÉTICOS APLICÁVEIS À MAGISTRATURA E NÃO PROPRIAMENTE
SOB A ÓTICA DA DOGMÁTICA PENAL.

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ARGUMENTOS CONTRA GARZÓN

Baltarsar Garzón, ao longo de sua carreira judicial, demonstrou que não possui a
imparcialidade necessária para exercer a função de juiz. A sua figura seria mais a de um justiceiro do
que a de um magistrado preocupado em proferir uma decisão justa. Isso se torna ainda mais claro pelo
fato de ele ter feito parte do Partido Socialista, assumindo uma clara postura político-partidária em
suas ações. No caso Gürtel, a politização da causa era óbvia, dado que se tratava de uma investigação
envolvendo o Partido Popular.

O juiz não precisa apenas ser imparcial e independente, precisa sobretudo demonstrar que
pode ser parcial e independente. A justiça não deve meramente ser feita, mas deve ser vista como
tendo sido feita aos olhos do público. E, no caso, havia uma percepção de que as decisões proferidas
por Garzón não seriam motivadas por um juízo de imparcialidade, dado o seu histórico político e a
natureza de suas investigações. Muitos dos que apóiam o juiz compartilham o seu viés político-
partidário. Por outro lado, muitos dos que criticam o juiz discordam de seu viés político-partidário.

Além disso, Baltasar Garzón não seria um juiz discreto, sobretudo em sua relação com a
imprensa. Ele costuma ser afetado pelos holofotes da mídia, buscando os aplausos fáceis das ruas, ao
invés de se pautar pela discrição e serenidade que deveriam orientar a vida pública e privada do
julgador. Ao agir assim, Garzón demonstra que não possui integridade, nem idoneidade para exercer
a função jurisdicional, pois usa o seu cargo para a promoção pessoal ou pelo menos para fins políticos.

No que se refere ao mérito da questão em si, é notório o erro judicial conscientemente


praticado por Garzón. Ele tinha plena noção de que a escuta por ele autorizada iria desrespeitar o
direito de defesa, mas preferiu correr o risco, como se estivesse acima da lei e da constituição. O direito
de defesa é uma garantia essencial ao processo justo. Ao suprimir a confidencialidade entre os
advogados e os seus clientes, sem que houvesse qualquer elemento concreto que indicasse que os
advogados estariam praticando ilícitos, Garzón teria atingindo o núcleo essencial do direito de defesa
de forma desproporcional em claro desrespeito à legislação aplicável e à própria norma constitucional.
Isso se torna ainda mais claro por ter sido autorizada a gravação de entrevistas de advogados que
ingressaram no processo após a ordem de interceptação, não havendo contra eles qualquer suspeita de
atuação delitiva. Esse tipo de quebra de sigilo profissional prejudica completamente o direito de
defesa, pois a acusação já saberá de antemão qual será a estratégia adotada. Além disso, mina a
confiança do cliente no seu advogado, fazendo-o, por medo de estar sendo grampeado, sonegar
informações vitais para o pleno exercício do direito defesa.

Garzón, que era um magistrado experiente, sabia das conseqüências da ordem que proferiu.
Ele tinha plena consciência de que sua decisão afetaria o direito de defesa dos seus jurisdicionados e
destruiria o sentimento de confidencialidade e de absoluta confiança que deve pautar o diálogo do
advogado com o seu cliente. Apesar disso, autorizou a interceptação e até mesmo a sua prorrogação.

Nenhum juiz está acima do bem e do mal. Todos os poderes públicos, inclusive o judicial,
estão subordinados à constituição. Em um sistema democrático, o poder judicial é legitimado pela

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aplicação da lei e não pela simples imposição das suas próprias convicções. Assim, o estado de direito é
violado quando o juiz, sob o pretexto de aplicação da lei, segue apenas a sua própria subjetividade,
adotando uma forma particular e só sua de resolver a questão, sem se preocupar com os métodos
aceitáveis de interpretação e os próprios limites semânticos do texto normativo. Mesmo que o
positivismo legalista tenha sido ultrapassado, não se pode aceitar voluntarismos ou solipsismos que
passem por cima da constituição e das leis vigentes, sobretudo aquelas que visam proteger os direitos
fundamentais.

Nesta perspectiva, o crime de abuso de poder (conhecido também como prevaricação


judiciária) não pode ser entendido como um ataque à independência do juiz, mas como uma exigência
democrática imposta pela necessidade de condenar o comportamento criminoso executado no
exercício do poder judicial, sob o pretexto de fazer justiça custe o que custar. Garzón violou o direito
constitucional aplicável, causando um dano inestimável ao direito dos jurisdicionados a um
julgamento justo e imparcial. Por isso, deve ser punido. Sua punição seria uma forma de restaurar a
credibilidade da justiça, indicando pedagogicamente ao povo e aos juízes que não se tolerará nenhuma
investigação que viole os direitos dos acusados.

ARGUMENTOS A FAVOR DE GARZÓN

Baltasar Garzón é considerado um modelo de juiz e exemplo para muitas gerações de


magistrados no mundo todo. Sua vida sempre foi dedicada à causa da justiça, sacrificando a sua
própria vida privada em favor de uma atuação séria e efetiva contra os piores criminosos. Nunca se
curvou, nem foi influenciado por pressões de quem quer que seja. Nunca teve medo de fazer o que
entendia que era o correto. Graças a sua atuação diligente e eticamente comprometida, a população
espanhola ainda tinha alguma esperança em relação ao judiciário. Com a sua punição, a imagem da
justiça será totalmente destruída, pois a confiança do público no judiciário depende, em grande
medida, de juízes íntegros e corajosos como Baltasar Garzón.

Punir Garzón por haver determinado a escuta ambiental de conversas de presos com seus
advogados seria uma grave violação à independência judicial. A decisão foi motivada e fundamentada
em uma razoável interpretação da legislação aplicável. Se os advogados não concordam com a
interpretação que foi dada, o remédio cabível é o recurso, com a possível anulação das provas colhidas
e da decisão proferida, mas nunca a punição do juiz. Nenhum juiz pode ser punido por sua atuação
judicial, exceto quando tenha agido com improbidade e má-fé. Não foi o caso. Garzón não obteve
qualquer ganho pessoal, direto ou indireto, com a decisão que proferiu. Não houve fraude, trapaça ou
falsidade. Sua atuação foi pautada estritamente pela descoberta da verdade e fazer justiça.

Desde muito tempo, a humanidade baniu do rol de condutas judiciais censuráveis o chamado
crime de hermenêutica. Não se pode responsabilizar penalmente ou disciplinarmente um juiz por suas
decisões, ainda que sua interpretação jurídica difira do padrão oficial. Do contrário, estar-se-ia
criando uma magistratura impotente, dócil e servil, “estabelecendo, para o aplicador judicial das leis,
uma subalternidade constantemente ameaçada pelos oráculos da ortodoxia cortes”, o que seria uma
hipérbole do absurdo, como já lembrava Rui Barbosa desde o século XIX. Saber se o juiz pode ou não
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determinar a escuta das conversas de presos perigosos com os seus advogados é uma questão jurídica
controvertida, envolvendo uma disputa entre dois posicionamentos razoáveis. Se todo juiz que tiver
uma decisão reformada for acusado de abuso de poder, não haveria prisão para tantos juízes.

Além disso, em sua decisão que autorizou as escutas das conversas dos presos com seus
advogados, Garzón teve a cautela de proteger o direito de defesa. Toda conversa gravada no parlatório
que tivesse alguma ligação com estratégia processual de defesa foi devidamente suprimida dos autos.
Eventual descontentamento com o teor da decisão deveria ser objeto de recurso e não de representação
criminal ou disciplinar. O que está em jogo não é a conduta do juiz, mas a correção ou não de uma
ordem judicial recorrível.

Afora isso, não se tratou de uma diligência absurda, pois havia claro indício de que os
advogados poderiam servir como canal de comunicação dos presos com o mundo externo. Tratava-se
de uma organização criminosa poderosa, com enorme poder econômico e influência política. A
situação era extrema e excepcional, dada a gravidade dos crimes e o poder econômico e político dos
acusados, de modo que as respostas judiciais eventualmente também deveriam ser extremas e
excepcionais.

É notório que Baltasar Garzón está sofrendo um processo de linchamento moral e jurídico,
em que seus inimigos pretendem neutralizá-lo por sua firme atuação contra os criminosos mais
poderosos. Há um verdadeiro contra-ataque político e econômico (ou seja, um backlash) à jurisdição e
ao próprio Poder Judiciário. Logo, cabe ao Judiciário zelar pela proteção das garantias e prerrogativas
da magistratura, dentre as quais a independência pode ser considerada a mais importante.

Por fim, é preciso enfatizar que a atuação de Baltazar Garzón é supra-partidária, até porque
também investigou e mandou prender membros do Partido Socialista, do qual foi membro há mais de
quinze anos. Em todos os casos, Garzón procurou aplicar a lei, independentemente de qualquer
ideologia ou cor partidária. Tanto é verdade que, nos variados casos polêmicos em que atuou como
juiz instrutor, as suas diligências frutificaram, resultando em condenações que foram posteriormente,
em sua maioria, confirmadas pelas instâncias superiores.

O comportamento e a conduta de um juiz devem reafirmar a fé das pessoas na integridade do


Judiciário e das instituições. É precisamente isso que Garzón tem tentado fazer, transmitindo ao
público a idéia de que ainda é possível acreditar na justiça. Tanto é verdade que o seu índice de
popularidade é bastante elevado, gozando de enorme prestígio não apenas entre a população
espanhola, mas também entre grande parte da comunidade internacional.

Condenar Baltasar Garzón significa, em última análise, passar aos demais juízes, sobretudo
aos mais novos, um recado desanimador acerca do combate à impunidade. Transmite-se a sensação de
que não vale a pena se esforçar, nem se sacrificar para julgar os poderosos.

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