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DIAGNÓSTICO RURAL
PARTICIPATIVO
Acaraú
Fevereiro de 2010
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 3
3. METODOLOGIA.......................................................................................................................... 4
4. OBJETIVO................................................................................................................................... 5
7. MATRIZES .................................................................................................................................. 9
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projeto pode esperar que o processo do DRP aumente a motivação e o interesse
entre os membros da comunidade, para participar do desenho e da implementação
das atividades.
No caso do DRP realizado com os Tremembé de Queimadas, a situação não
foi diferente. Desta forma, tomamos o cuidado de deixar claro os objetivos do DRP,
entretanto, entendemos que este trabalho se configura como a verbalização e
oficialização das demandas e necessidades da aldeia, que até então as famílias não
tinham conseguido reunir em um documento. Sendo assim, a equipe que realizou
este trabalho tomou o cuidado para expressar integralmente as percepções,
anseios e expectativas da comunidade.
3. METODOLOGIA
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Além destas reuniões, a equipe técnica também organizou uma
mobilização para a execução do DRP, de modo que fosse possível aplicar as demais
técnicas utilizadas especificamente para obter os dados principais que
fundamentam o diagnóstico.
4. OBJETIVO
OBJETIVO
5. MEMORIAL DESCRITIVO2
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Cf: LOPES, Ronaldo Santiago. Organização social e identidade étnica: a situação dosdos Tremembés de
Acaraú/CE. Mimeo, 2010.
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Depoimento obtido informalmente, mas que se encontra presente no relatório antropológico realizado
pelo Antropólogo Sergio Telles Brissac, analista pericial em Antropologia do Ministério Público Federal –
MPF/CE, em 2007.
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A Lagoa dos Negros está situada no município de Itarema. Segundo depoimentos, o lugar teria sido
descoberto pelos índios que vinham de Almofala. A referida lagoa era muito bonita e havia fartura de
água, peixe e outros animais que viviam em redor. Os índios contam que ela foi desencantada pelo Pajé
João Cosmo. Como era um lugar também propício à criação de gado, pela abundância de água, alguns
“coronéis” expulsaram os índios e se apossaram do lugar. É nesse êxodo que um grupo de índios chega à
localidade de Queimadas.
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momento com uma grande queimada provocada não se sabe por quem. Foi neste
lugar que o grupo resolveu se estabelecer com suas respectivas famílias.
Diferentemente dos Tremembés das Telhas, os índios de Queimadas
travam sua luta contra o próprio Estado, através do Departamento Nacional de
Obras contra as Secas – DNOCS, que tenta desapropriar a comunidade indígena
para ampliar a área do Perímetro Irrigado do Baixo Acaraú. Os conflitos
começaram no final dos anos 80, quando o DNOCS alega que já teria indenizado as
famílias da aldeia. A comunidade reconhece que uma das lideranças teria recebido
dinheiro do órgão federal, mas argumentam que foram lesados. Mesmo a questão
estando na justiça, o DNOCS destruiu parte significativa do território ocupado
pelos Tremembés de Queimadas, principalmente a área chamada de Serrote, tida
como sagrada pelos índios. O processo continua em andamento, mas com a
intervenção da FUNAI e do Ministério Público Federal as obras na área indígena
foram paralisadas. A extensão da terra em questão na qual vivem os Tremembé de
Queimadas é de 912 hectares.
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No "verão" (meses de outubro e novembro), quando as plantas
apresentam menor teor de água, as famílias iniciam o preparo da área. Esse
preparo consiste em brocar (desmatar). Parte da madeira é retirada para
confecção da cerca onde será feito o roçado e parte para uso como lenha nas casas
e nos fornos das Casas de Farinha. Em seguida faz-se o uso da queimada da área,
que geralmente é feita em pleno meio dia (período de maior intensidade solar e
maior calor). Caso "não tenha queimado bem" eles voltam na área e realizam as
coivaras, ou seja, juntam os restos de galhos que não foram queimados na primeira
etapa e novamente ateam fogo. Com isso a terra está queimada, pronta para ser
construída a cerca que geralmente é feita de pau a pique, ou do tipo “faxina”, com
galhos entrançados geralmente de espécies como sipaúba, catanduva e
marmeleiro. Essa cerca tem durabilidade de 2 anos, período em que o roçado fica
na mesma área.
Até o mês de janeiro a área deve estar no ponto de ser plantada, pois em
alguns anos a chuva se inicia em janeiro e isso garante o legume mais cedo. O
plantio da mandioca é feito com os galhos da planta, conhecida como maniva, no
período antecedendo as chuvas. A maniva é colocada quando o solo ainda está seco
na lua minguante, pois de acordo com eles facilita o crescimento e o
desenvolvimento do tubérculo. O plantio de milho e feijão é feito "após o chão estar
bem molhado", quando se observa que o período de chuva iniciou (conhecimento
empírico). Se as chuvas forem intensas é ano de colheita de milho, se for pouco de
é de escassez, sendo bom para o feijão. O plantio do milho e do feijão é feito na lua
quarto crescente, saindo da lua nova para a lua cheia.
As atividades do roçado são realizadas de forma coletiva, juntando se um
grupo que pode variar de duas pessoas até grupos de dez agricultores dentro da
mesma área. O trabalho é coletivo desde o desmatamento, queimada, coivara, o
plantio e as limpas (capina) que se faz no terreno até o momento em que o milho
e o feijão crescem na altura que ultrapasse as ervas (mato). Mas desde o início do
desmatamento a área estará totalmente fragmentada, dividida, com linhas
imaginárias, onde eles marcam através de planta, tocos, ou até mesmo parte da
cerca com intuito de delimitar a área de plantio de cada um.
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No período da colheita o trabalho passa a ser individual. Não é realizado
no mesmo período, alguns retiram o milho e o feijão ainda verde para se alimentar
e vender, enquanto outros preferem guardar o milho para alimentar os pequenos
animais.
Observou-se que não existe muita variedade de milho e feijão, porém foi
relatada a presença de mais de 16 tipos de tubérculos da família da mandioca e
macaxeira. Ocorre também a seleção de algumas plantas como o caso do milho e do
caju. Após a colheita do milho, os índios fazem a separação das espigas de maior
tamanho e menos deformação e retiram os grãos da extremidade medindo três
dedos para cada lado, com isso ele retiram os grãos irregulares das extremidades e
priorizam os grãos do meio da espiga com melhores características para a
produção. No caso do caju eles também escolhem as maiores castanhas e guardam
para o plantio no período do cultivo do milho. No momento que estão no
roçado, fazem as "covas" e semeam, marcando com pequenos galhos para se
orientar e não prejudicar na hora da capina.
Outro aspecto agroeconômico importante de Queimadas diz respeito a
cultura do caju, que é de extrema importância para a cultura e economia da
comunidade. Do caju eles preparam a bebida fermentada tradicional dos índios, o
mocororó, a cajuína, o doce de cajú, o suco que é riquissimo em vitamina C, além da
castanha que pode ser utilizada como alimento e é uma renda garantida num
período do ano, através da colheita.
Durante a safra do caju, toda a aldeia se envolve com a coleta da castanha
para a venda e com o pedúnculo que é utilizado para fazer doces, cajuína e o
mocororó. Apesar de a maioria das famílias terem conhecimento na produção de
alimentos oriundos do caju, este potencial não é explorado economicamente. A
produção de doces e cajuína é apenas para o autoconsumo. No entanto, o potencial
da cajucultura poderia ser melhor aproveitado com a construção de uma unidade
de beneficiamento de frutas que poderia abarcar não só o caju, mas outras frutas
existentes no local.
O mocororó, bebida criada pelos índios, uma espécie de vinho do caju, é
um dos principais elementos motivadores da prática do torém, uma dança de roda
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em que os índios exaltam a natureza, o trabalho e a relação que o índio tem com a
terra. Além disso, outro aspecto marcante da dança é o culto aos seres encantados.
Praticamente todos são agricultores e, além da renda advinda com a venda
da castanha, a produção de farinha e goma é o principal fator de geração de renda
da aldeia. O processo de preparação da farinha, chamado de farinhada, é feito
coletivamente numa casa de farinha comunitária. No período em que estão sendo
realizadas, as farinhadas duram várias semanas.
7. MATRIZES
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Segundo moradores, há alguns anos o pedido foi encaminhado a FUNASA, sem, no
entanto, nenhuma resposta até o momento.
Demarcação e regularização da terra
A Terra Indígena de Queimadas espera a regularização da terra. Até o
presente momento, foram realizados apenas estudos preliminares de identificação
da comunidade por parte da FUNAI. Os Tremembé de Queimadas travam uma luta
contra o DNOCS, responsável pelo Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.
Educação Indígena
A comunidade identifica como um problema distante, o magistério
superior para os professores da escola de Queimadas, visando uma formação mais
contextualizada com a história e as práticas culturais da comunidade indígena.
Atualmente, os professores da aldeia estão concluindo o magistério de nível médio
organizado pela CREDE 03.
Trabalho
Algumas pessoas citaram o caju como potencial econômico da aldeia e
colocaram como um projeto distante uma unidade de beneficiamento do caju. Além
da venda da castanha, os indígenas desejam trabalhar o pedúnculo,
transformando-o em cajuína, mocororó, doces entre outros produtos.
Implantação de projetos
Vários indígenas apontaram a necessidade da elaboração de projetos
voltados para atender as demandas apresentadas pela comunidade de Queimadas.
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Outro aspecto colocado pelo grupo foi o desejo de trabalhar na própria
terra indígena. Atualmente um número considerável de homens trabalham como
diaristas no Perímetro Irrigado do Baixo Acaraú, ganhando em média 12 reais por
dia trabalhado. Algumas pessoas afirmaram que “a comunidade vai viver melhor”
quando as famílias tirarem o sustento da “própria terra”, outras manifestam o
desejo de deixar de “trabalhar pro alugado”. Entre as áreas de trabalho sugeridas
pelos membros da aldeia se destacam:
- Horticultura (hortas familiares e comunitárias);
- Criação de avinos, caprinos e suínos;
- Beneficiamento do caju;
Implantação de Sistemas Agroflorestais – SAF
A necessidade de recomposição de mata nativa, sobretudo, de espécies
que não são mais encontradas na mata, foi colocada por membros da aldeia. A
iniciativa de algumas famílias apontam os sistemas agroflorestais como alternativa
sustentável para utilização da terra indígena, tendo em vista que o manejo
ecológico da terra proporciona produção de alimentos e conservação da natureza.
Produção de artesanato
A produção de artesanatos (colares, anéis, renda, redes, chapéus e outros
produtos de palha) foi apresentada como um desejo da aldeia. Apesar de ser
identificado como um problema “próximo”, falta incentivo para capacitação e
qualificação das famílias visando a produção. Além disso, existe também a
necessidade de organização produtiva e de comercialização do artesanato.
Incentivo à formação acadêmica
Alguns membros do grupo acreditam que a formação educacional (básica
e superior) também depende do empenho de cada pessoa, assim como do
incentivo da família. Entretanto, os Tremembé do município de Acaraú ainda não
contam com incentivos à formação universitária, principalmente dos professores
indígenas.
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Instituto Carnaúba de Ecologia Social
Parceiro do CRAS e da Secretaria de Assistência Social desde o final do ano
de 2009, o Instituto Carnaúba presta assessoria e assistência técnica aos indígenas
de Queimadas e Telhas, implantando quintais produtivos e sistemas agroflorestais,
cuja finalidade principal é garantir a segurança alimentar e nutricional das aldeias
indígenas. Além disso, oferece assistência na elaboração e acompanhamento
técnico de projetos de base agroecológica.
Secretaria
Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Acaraú
Como as famílias indígenas vivem basicamente da agricultura, esta
instituição foi citada pelos recentes diálogos estabelecidos e pela disposição do
gestor da secretaria em aprovar projetos de criação animal para Queimadas. No
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entanto, pela posição ocupada no diagrama, percebe-se que o canal de
comunicação com a comunidade precisa ser intensificado.
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Responsável pela garantia dos direitos das populações indígenas, a FUNAI
tem tido uma atuação marcada pela ausência na aldeia Queimadas. As famílias
reclamam da indiferença dos técnicos da FUNAI em relação aos problemas da
aldeia. A demarcação da Terra Indígena de Queimadas está parada por conta da
burocracia do órgão indigenista oficial. A ajuda na FUNAI à aldeia tem se
restringido a cestas básicas enviadas mensalmente. A comunidade reclama da
ausência de projetos e ações concretas para melhorar as condições de vida das
famílias da aldeia. Até a construção de uma Casa de Farinha, iniciada pelo órgão
não foi concluída, tendo o galpão sido apropriado por uma pessoa que se diz dono
do espaço. Além disso, a comunidade indígena reclama da falta de comunicação
entre a FUNAI e as famílias, tendo em vista que os técnicos passam longos períodos
sem visitar a aldeia, o que dificulta o repasse das demandas e a resolução de
conflitos internos.
Vale ressaltar, que as instituições mais distantes, segundo a comunidade,
são aquelas que deveriam estar mais próximas, tendo em vista que cabe a elas
(FUNAI e FUNASA) a garantia dos direitos fundiários, sociais, jurídicos, civis e de
saúde, ou seja, são atribuições institucionais o atendimento às comunidades
indígenas.
Instituto
Instituto Carnaúba de Ecologia Social
Situação: em andamento
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9. PLANO DE AÇÃO COMUNITÁRIA – PAC
ATIVIDADES RESPONSÁVEIS
Demarcação da Terra Indígena; FUNAI
Construção de moradias; Trabalho na FUNAI; Prefeitura Municipal de Acaraú
Aldeia; Projetos.
Construção do Posto de Saúde; FUNASA
Atendimento médico; dentista.
Unidade; organização social e política Conselho Indígena Tremembé de
Queimadas – CITQ
Sistemas Agroflorestais; Quintais Comunidade; Instituto Carnaúba
Produtivos
Magistério Superior para professores CREDE / SEDUC
indígenas
Projetos de beneficiamento do Cajú; Secretaria Municipal de Agricultura
Criação de galinhas, cabras e porcos.
Acompanhamento social e assessoria Centro de Referência da Assistência
Social – CRAS
Projeto de Aquisição de Alimentos Secretaria de Assistência Social;
CONAB; CRAS; I. Carnaúba.
Trabalho com artesanato Comunidade; CRAS; Carnaúba;
Secretaria de A. Social.
Financiamento de projetos agrícolas Banco do Nordeste – BNB; Ematerce.
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10. REGISTRO FOTOGRÁFICO
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11.
11. EQUIPE TÉCNICA
Tiago Silva Bezerra – Técnico em Agroecologia e estudante de Zootecnia da UVA;
Eli Briseno – Biólogo;
Ronaldo Santiago – Antropólogo e técnico do Centro de Referência da Assistência
Social – CRAS.
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