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EA, SABERES TRADICIONAIS/ALTERNATIVOS

ISSN: 1887-2417
ISSN-e: 2386-4362

terreiro de candomblé
“Kosi ewe, kosi orisa” (no leaves, no orisha):
ecologic experiments in a candomble ‘terreiro’
Universidade de Brasília
-DF (Brasil).

Resumo

sacerdote de Ogum. A pesquisa investigou as possíveis relações entre a cosmovisão


africana, suas práticas culturais e os fundamentos e práticas de Educação Ambiental, bem
como as formas de produzir e compartilhar conhecimentos no supracitado terreiro. Como
estratégia de construção coletiva de conhecimentos, a pesquisa visou possibilitar vivências

por um método de intervenção coletiva, permeada pela dimensão afetiva, baseado nos
princípios da etnopesquisa-ação e inspirado nas técnicas de tomada de decisão, que
associou pesquisadores e atores sociais num procedimento conjunto de transformação de
uma dada realidade e de compartilhamento de conhecimentos entre uma tradição cultural

um diálogo intercultural de conhecimentos.


Astract

Ogun’s priest. The research aimed to investigate the probable relation between an African
worldview, its cultural practices and Environmental Education basis and practices, as well as

(Diagnosis / Orisha-nature / Environmental Education) as a colective building strategy of

The collective research group has chosen a collective intervention method based on the

DOI: 10.17979/ams.2015.2.20.1703 ambientalMENTEsustentable


ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1857
xullo-decembro 2015, ano X, vol. II, núm. 20, páxinas 1857-1877
VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

has united researchers and social actors in a changing reality procedure which made possible

reassured the impostance of an intercultural dialogue.


Palabras chave

Key-words

Aspectos introdutórios

princípios da Educação Ambiental e os

- -

sentação dos resultados de uma etnopes-


quisa-ação, que teve lugar em um terreiro os conceitos nativos do candomblé Ketu

Ketu denomina- relativos à relação ser humano + natureza,

do Ilè Àsè Opó Osogunlade ( na perspectiva dos valores da cosmovisão

Oxogum Ladê africana, bem como compreender como

- os mesmos são ali vivenciados.

Babalaxé Re-
ginaldo Daniel ( ),
63 anos, sacerdote de Ogum - -

ritual de Mãe Stella de Oxóssi, uma das da de decisão, que associasse pesquisa-

mais expressivas lideranças religiosas do dores e atores sociais num procedimento

dados advindos do trabalho de campo es- realidade, pareceu-nos mais adequado

tão em fase de análise e neste texto serão para compreender a complexidade des-

parcialmente apresentados. -
veis relações foram observadas de forma
compartilhada por meio de diálogos per-

as possíveis relações entre a cosmovi- manentes, nos bate-papos informais, na

são africana, suas práticas culturais e vivência do cotidiano do terreiro e nas

os fundamentos e práticas de Educação


Ambiental, bem como as formas de pro-
duzir e compartilhar conhecimentos no -
nais de semana ao longo de seis meses,

construção coletiva de conhecimentos, a -

pesquisa visou possibilitar vivências pe-

1858 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20


“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

- -
biental. -hierarquização de conhecimentos, que
buscamos vivenciar no decorrer da etno-
- -pesquisa-ação.
morou saberes ancestrais e acolheu novos
saberes referentes à educação ambiental
- Tramas epistemológicas
fundar os conhecimentos fundadores do

e natureza, foram realizadas 02 entrevistas


As variadas leituras, estudos, conexões,
com 01 sacerdote e 01 sacerdotisa repre-
desconexões, reconexões vivenciadas na
sentativos da nação ketu no Brasil.
construção dessa interação de saberes
acadêmicos e tradicionais, nos aponta-
A dimensão afetiva permeou essa constru-
ram para a oportunidade ímpar de fazer
ção coletiva nesse ambiente de formação
um encontro preliminar com a transdis-
-
ciplinaridade ( , 1999), com
relação cultura-natureza foi percebida a
a abordagem transdisciplinar e com o
partir de referenciais de estudos antropo-
exercício caro, árduo e em constante
lógicos e de conceitos nativos da cosmo-
construção de experienciar uma atitude
visão africana, baseados na cosmovisão e
transdisciplinar.

A amplitude da transdisciplinaridade,
-
tunidade de propiciar o compartilhamen-
sua abertura epistemológica me permiti-
to de conhecimentos entre uma tradição

propor ao Programa de Pós-Graduação


em Educação da Universidade de Brasília
de conhecimento coletivo.

qual o sagrado se funda a partir de uma


cosmovisão panteísta de profunda intera-
dados se dá sob a luz da complexidade
ção com a natureza.
e de uma epistemologia transdisciplinar.
Buscando a compreensão dos fenôme-
-
nos estudados nos múltiplos aspectos e
integrando implicação do pesquisador e

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VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

3. Uma das revoluções conceituais des- , 2009), representadas por autores e


se século (XX) veio, paradoxalmente, da autoras brasileiros/as como Muniz ,
ciência, mais particularmente da física
, Deoscóredes
quântica, que fez com que a antiga visão
(Mestre Didi LUZ,
da realidade, com seus conceitos clás-
sicos de continuidade, localidade e de-
e a argentina Juana ,
terminismo, que ainda predominam no chegamos à abordagem do vivido-concebi-
do que se une à atitude transdisciplinar ao
explodida. Ela deu à luz uma nova lógi-
ca, correspondente em muitos aspectos -
a antigas lógicas esquecidas. Um diálo-
ram conhecimentos, sentimentos e emo-
go capital, cada vez mais rigoroso e pro-
ções comuns que se estabeleceram e por
fundo, entre a ciência e a tradição, pode
meio dos quais se fortaleceram os vínculos
- de aliança. “Nem tudo está pensado e pla-
ral: a transdisciplinaridade. -
4. A transdisciplinaridade não procura
construir sincretismo algum entre a ci-
ência e a tradição: a metodologia da ci-
ência moderna é radicalmente diferente
das práticas da tradição. A transdiscipli-
naridade procura pontos de vista a partir A abertura ao imprevisto e o acolhimento
dos quais seja possível torná-las intera- da diversidade fazem parte de uma neces-
tivas, procura espaços de pensamento sária atitude transdisciplinar que considera
que as façam sair de sua unidade, res- “tanto o pensamento como a experiência
peitando as diferenças, apoiando-se es-
interior, tanto ciência quanto a consciência,
pecialmente numa nova concepção da
tanto a efetividade quanto a afetividade”
natureza1.
( -
-se de uma abordagem intercultural ( -
Por outro lado, considerando as produções
DAU, 2003) que orienta processos que têm
das chamadas Epistemologias do Sul ( -
por base o reconhecimento do direito à di-
ferença e a luta contra todas as formas de
discriminação e desigualdade social. Tenta
do colóquio sobre Ciência e Tradição: pers- promover relações dialógicas e igualitárias
entre pessoas e grupos que pertencem a
realizado em Paris entre 2 de 6 de dezembro
universos culturais diferentes, trabalhando
BERGER,
Michel , Roberto Lima
de e Basarab Fonte:
Ainda tramamos com a ecologia dos sa-
-
dologia.transdisciplinar.
beres ( , 2009) na busca do re-

1860 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20


“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

conhecimento de uma pluralidade de co- Segundo o mito3, , o deus trovão,


nhecimentos heterogêneos que procura -
dar a consistência epistemológica ao pen- res de Ossãim
samento pluralista e propositivo ao reco- a deusa dos ventos e das tempestades,
nhecer a existência de uma pluralidade que ventasse muito no lugar onde mora-
va Ossaim, para que as folhas sagradas
que guardava em sua cabaça de segredos
fossem espalhadas e ele pudesse apanhá-
- -las. Por seu amor a
nhecimentos e ignorâncias. Ela nos convi-
da a aprender outros conhecimentos sem as folhas, todos os orixás correram para
esquecer os próprios para sonharmos com apanhá-las, sabendo de seus poderes.
a utopia do interconhecimento. A Ecologia Ossaim, ao ver o que acontecia pronun-
ciou palavras mágicas que solicitavam que
mais aprofundada sobre a diferença entre as folhas voltassem às matas, sua casa
a ciência como conhecimento monopolis- e seu domínio. Todas as folhas voltaram,
ta e a ciência como parte de uma ecolo-
gia dos saberes e assevera que nenhuma daquelas que conseguiu apanhar. Só que
forma singular de conhecimento pode res- -
ponder por todas as intervenções possí- gia) que quando estavam sob o domínio
de Ossaim. Para evitar novos episódios de
Ossaim permitiu, então, que
Essa construção nos remete a um itan , a 2
cada orixá se tornasse dono de algumas
um mito muito difundido nos terreiros que -
to e cura ele liberaria quando lhe pedis-
mito envolve sem, cantando, licença para usufruir dos
segredo das folhas sagradas.

tempestades e do fogo (poder que com- -


partilha com Ossãim tas ou precisamos entrar em conexão com
segredo das folhas. Ossaim
e cantamos para que ele permita que a for-

3 Disponível em: http://eleg-


participam os orixás e que sempre deixam um
ensinamento para os seguidores dessa verten- php?pagina=1344975701 - Acesso em
te religiosa. maio/2012.

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VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

orixá’. -
que o encantamento aconteça. Esse mito
pode nos remeter à interpretação de que
Ossaim permitiu que houvesse, ainda que outras) têm sido as guardiãs da identidade
com que limites, a democracia do conheci-
mento das folhas, permitiu a ecologia dos e de perpetuação de caráter civilizatório
-
lação e encantamento podem ser coloca- resguardadas as línguas africanas (ioru-
dos a favor da vida.
negras que formaram a cultura brasileira
resistiram, adaptaram-se e seus descen-
nesse processo de aprendizado educacio- dentes continuam tecendo sua cultura an-

meio a turbulências de ordem socioeconô-


elementos sagrados, simbólicos e exem-
plos de ser e fazer que norteiam a conduta
- fundado em

antiga do Brasil -a histórica cidade de São

A construção coletiva -
ção religiosa de origem africana no Brasil, temos

brasileiras. Dentre os vários cultos, de distintas


linhagens originadas em diversas regiões afri-

de forma corrente no cotidiano do apren-


dizado vivencial dentro de um terreiro de
4
‘sem folha, não há

4 Candomblé
ligado a uma cidade ou a um país inteiro. Por históricos. Estes heróis são denominados Òrìsàs
-
-
-

e rituais serem semelhantes aos de outras nações

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

Cristóvão, no estado de Sergipe- está in- pela realização de ritos que propiciam co-
serido no bairro denominado Caípe. As
diretrizes daquele terreiro apontam para
a preocupação de promover uma maior
consciência ecológica, visto que para os possuía,
-

rituais e para a atualização e preservação


dos valores culturais de origem africana no de iniciados), popularmente conhecidos
Brasil, embora considerando que a corrida
urbana vem reduzindo paulatinamente a um corpo de seguidores os quais mantêm
dimensão territorial dos terreiros em geral -
e, consequentemente, os seus espaços
para o cultivo de folhas sagradas.
duradoura e comprometida com os terrei-
- ros do que os clientes que buscam os ser-
dade da vida por meio da conexão direta viços mágicos para solução dos proble-
- mas imediatos. Muitas vezes utilizando os
conhecimentos dos sacerdotes e sacerdo-
brasileiras, tais comunidades precisaram
-
Existem iniciativas de caminhadas pelo
suas dependências. Por esta razão, todo município de São Cristóvão para alertar
terreiro deve conter: 1. um “espaço mato”: a população local sobre os impactos da
área não cultivada que abriga os vegetais ação humana no meio-ambiente, por meio
fundamentais ao culto aos orixás que cres- da Rede Ewe Lara: folhas para a vida,
cem livremente e se encontram dispersos que foi uma iniciativa do Oxogumladê
na natureza onde se pode entrar em con- para congregar parceiros no dia da Ação
tato com o poder sobrenatural das folhas Climática em 2009. A chegada de novos
um
“espaço urbano”: - da Biologia, das Ciências Ambientais, da
cações destinadas aos rituais e por outras Agroecologia para o terreiro tem motiva-
destinadas à moradia da comunidade reli-
-
bein dos -
(1993) que chamou de “espaço clusivamente para a formação do público
cultivado” aquele utilizado e transformado interno do terreiro.

ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1863


VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

Talvez por isso, a preocupação com a di- o primeiro momento para apresentação do
mensão ecológica, com a mudança de
comportamentos em relação à natureza, os demais encontros ao longo de 2013,
-
parsa, teórica e restrita a alguns membros roda de conversa avaliativa, em dezem-
do terreiro acima referido. Embora, do bro/2013.
ponto de vista do sagrado, esses compor-
- -
zação para se empreender uma mudança tato com o campo da cognição e suscita-
de realidade com novos comportamentos -
cepções, sentimentos (cuidado, relações
percebida pelas manifestações expressas de poder, desconhecimento, afetividade).
-
vam para uma preocupação em relação -
-pesquisador que se voluntariava para
-
- -
do que, a partir do segundo semestre de
entrávamos em contato com a expressão
de sentimentos relacionados ao foco de
interesse e buscávamos nos preparar para

no território.

-
-
- realizamos a Contratualização do grupo/
reiro. Trabalhamos com a descrição densa -
e as categorias analíticas da tese, as quais,
principalmente, em se tratando de uma et-
nopesquisa-ação, emergiram da base em- -
pírica, no decorrer do próprio trabalho. -
Prestação
de Contas do Ponto de Cultura Axé Ô!
-

com o grupo pesquisador coletivo, sendo a retomada da memória da comunidade

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

e recriou o histórico do terreiro por meio das necessidades do terreiro, dentre eles:
-
xão, como cânticos, contação de histórias -
- quente de descartáveis durante as festas
na propiciou a construção dos espaços -
tos integrantes sobre plantas sagradas e
foi trabalhado (aprimoramento dos dados
impacto dos resíduos no ambiente e au-
- sência de discussão de práticas coletivas
biente, desmatamento, queimadas, agen- para gestão do espaço-meio, tempo e ta-
tes poluidores, iniciativas de preservação refas.
ambiental por parte de gestores munici-
pais e sociedade civil/legislação ambien- Frente aos problemas diagnosticados,
- foram propostas possíveis soluções: a
bientais). separação e redução do consumo e con-
sequente aumento da quantidade de lixo
-
pelo terreiro para entrar em contato com
da utilização de descartáveis por meio de

lembranças ecológicas, folhas, orixás, tri- -


lhas para reconhecimento do território sa- lização de um mapeamento de plantas de
-
casa de culto aos orixás e falou de suas -
características, bem como dos elementos cação ambiental e sobre orixás e natureza.
que os associam à natureza.
A partir da análise interpretativa das vivên-

de tomarmos conhecimento da realidade dos depoimentos, emergiram as catego-


interna e externa ao terreiro, foi elabora-
do um cronograma de atividades de pes- -
quisa-ação, com datas e responsáveis,
-
Pudemos vislumbrar uma oposição entre

como empreender mudanças diante do necessidade de se encaminhar para uma


diagnóstico de problemas e levantamento mudança comportamental que vai ao en-

ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1865


VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

contro dos pressupostos de uma Edu- te biofísico, convertendo-a assim em seu

entendemos ser esta mudança de cunho território político e cultural, tem soberania,
paradigmático e que implica numa mu- suas próprias leis, regras e o legado de
-
-
de, os vínculos afetivos que mantemos
com esse pedaço de terra, a história da
nos situarmos no tempo e na história: de ocupação desse território que está guar-
-
truiu esse caminho antes de nós? Que da- que fazemos desse território e as formas
tas, fatos históricos merecem registro na de defesa desse território ( , 2001).
história da nossa memória coletiva? Fize-
mos um esboço dessa linha que puderam um grupo determinado representa uma
ser complementadas com outras informa- das formas mais importantes de dotar
ções ao longo de todo a nossa etnopes-
quisa-ação. ( -

A ancestralidade, revelada pelos depoi- língua iorubá preservada no interior da co-


mentos de construção da linha do tempo, munidade religiosa e utilizada nos rituais
não se restringe ao parentesco sanguí- ou mesclada com o português do Brasil
neo nem às linhagens de africanos e seus

cristaliza, mas dinamiza a vida e transcen- designam tempo de iniciação ou senhori-

guias, nossa visão, nossa sabedoria, nos- caracterizam o terreiro, como a porteira, a
bandeira branca, os assentamentos dos
natureza divinizada e essa relação se dá
por meio de meios mágicos, por meio da
intuição, por meio do ser. A ancestralidade
está em constante interação com a comu-
nidade e vive-versa.

A territorialidade foi compreendida como


o esforço coletivo de um grupo social para

- Imagem 1: Caminhada pelo terreiro

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

(símbolo de resistência e ancestralidade), uma grande mobilização e setorização do


trabalho. “Só com a roça limpa podemos
muitos outros. ver nosso descaso com a natureza” (Meni-
na do ferro).

sobre o lugar de cada um na hierarquia da -


sociedade religiosa, os limites de acesso nhecimento sobre: - plantas e folhas sa-

responsabilidade que os integrantes mais


velhos do terreiro têm em repassar infor-
mações para que os mais novos possam agroecológicas e, ao mesmo tempo, o
colaborar no cuidado com o territorio sa- cuidado com algumas práticas ecológicas
grado. Algumas falas mostram o sentido dentro do terreiro que devem respeitar as
dessa aprendizagem.:
-
“Quero ser chamada a atenção para sa- lização e recolhimento dos alguidares.
ber onde posso acessar. Se o mais novo
é orientado e não faz, aí sim, podemos
-
concluir que não há resposta. A ideia é
na, o pesquisador coletivo considerou a
“cuidar do lugar que cuida de mim” (Me-
nina da mata). vivência como um resgate e propiciado-
ra de renovação do conhecimento, prin-
cipalmente em uma comunidade regida

que essa territorialidade tem vários esco- pela oralidade e suscitou um importante

- resultado descrito nesse convite para os

de do nível de informação circulante para demais integrantes do terreiro para a re-

a orientação, facilitando a contribuição alização de um mutirão de limpeza para

dos demais. “Essa atividade ajudou a gen- cuidado com o territorio sagrado.

te a se desterritorializar e a se reterritoria-

sentimento de pertença, gerou ideias


comunicação entre nós” (Menina do vento,
boas, como a de um MUTIRÃO para lim-
grifo meu). peza do axé, principalmente no que diz
respeito às arvores e plantas sagradas e
- ao seu entorno. O fato de a roça ter esta-
minhada pelo terreiro possibilitou a intro- do relativamente limpa, no momento das
atividades, tornou possível ver o quanto,
-
sem que nos demos conta, devemos

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VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

caminhar para transformarmos em ação -


nossos ideais de sustentabilidade. As- do partilhados, que os conhecimentos vão
sim, a ideia é que neste domingo haja
na roça um MUTIRÃO para organização
“O tempo não gosta que se faça

a homenagem aos ancestrais, cuja data


nada sem ele!”.
escolhida é 16 de março”. (Menina do nós, tão ocidentalizados, passamos a re-
vento).

desvinculada dos outros aspectos da vida.


(1986) nos fala
Daniel foram enfocados os valo- que:
res da cosmovisão africana vivenciada nos
terreiros ketu no Brasil conectando cultura Ninguém escapa da educação. Em
e natureza. Breve exposição da pesqui- casa, na rua, na igreja ou na escola, de
um modo ou de muitos todos nós en-
sadora acadêmica sobre territorialidade
volvemos pedaços da vida com ela: para
e sinais diacríticos. Caminhada de reco-
aprender, para ensinar, para aprender-e-
nhecimento do territorio sagrado do ter-
-ensinar. Para saber, para fazer, para ser
ou para conviver, todos os dias mistura-
sobre a simbologia do poder feminino no mos a vida com a educação. Com uma
ou com várias: educação? Educações
(BRANDÃO, 1986:07).

dos orixás femininos e masculinos por


Ao permear todas as manifestações cul-
meio dos mitos e sobre a importância da
turais humanas, o mito aponta para o
que pode ser permanente ou universal na
de corpo com musicalidade para articular
natureza humana (CAMPBELL apud -
os aspectos cognitivos das expressões
emocionais e sociais estiveram presentes
em todo processo de aprendizagem nes-
-
ta etno-pesquisa-ação. Aquí emergiu a
volvidos/as nessa etno-pesquisação, pois
os mitos sustentam a tradição de perten-
cimento à natureza intrínseca ao candom-

de saberes e do enraizamento do humano


A educação/formação dentro do terreiro
na sua base-natureza sustenta os princí-
pios da Educação Ambiental.
no devido tempo que a complexidade do
sagrado vai sendo assimilada pelos inicia-

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

do possível, reaproveitados para coloca-


conversa com o Babalase: o poder femi- ção de frutas, vasos para plantas e deco-
-
zou por dar continuidade ao retelhamento

femininos e masculinos. Conversamos Com duração de dois dias nos turnos da


ainda sobre as folhas sagradas, seu uso manhã (caminhada pelo terreiro), tarde
medicinal e simbologia ritualística para o -

pedagógico a contação de itans onde são narrativas dos participantes sobre cons-
retratados as histórias e aprendizados por
meio dos mitos. de diálogo / articulação e primeiras cone-
xões entre EA e cosmovisão africana.

(maio/2013) foi coordenada pela pesqui-


sadora com a colaboração de duas co-
legas pesquisadoras do doutorado e da
orientadora desta pesquisa, Professora

abordagem sobre os princípios da Educa-


ção Ambiental e sobre noção de perten-
cimento e cuidado. Dando continuidade a
-
mos mudar e como está sendo feita a mu-

-
cia das árvores sagradas para o candom-

Educação ambiental-maio/2013.

responsabilizaram pela reestruturação de


placas e cartazes e para estudar possibili-
princípios, valores da Educação Ambiental
-
(Eco-lógica, respeito, cooperação, solida-
res e outros que estavam espalhados pelo
riedade, cuidado, pertencimento, enraiza-
terreiro. Eles foram lavados e, na medida

ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1869


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mento dos saberes tradicionais). A partir mostra o caminho que vamos trilhar.
daqueles princípios/valores, foi solicitado Somos uma comunidade. Uma família.
O pertencimento é o desejo de perten-
-
cer. Estamos aqui porque queremos.
mentos sobre os princípios, valores sagra-
Colocar o pé no chão. Saber viver tanto
- aqui quanto lá fora. Ter ciência para ter
tem ter uma relação de compromisso, de consciência. Amor que é sentimento su-
zelo, de responsabilidade com a natureza. premo” (Menina da lama).

estabelecidas relações diretas entre prin-


cípios/valores da EA e princípios/valores

veremos a seguir.

A eco-lógica aparece como um princípio


gerador e aglutinador. Transmissão de
saber enraizado entre quem transmite e
quem recebe.
resíduos sólidos

É de onde parte essa vontade de coo-


A natureza é parte essencial de nossos
-
rituais, de nossa crença. Nós acredita-
sejo de pertencer, de fazer parte disso
mos na própria natureza. Todo mundo
fala, ‘nós adoramos a natureza’. Mas
A gente vai se entendendo, se situando.
a natureza é tudo isso que está aí, as
Quando eu vim pra cá, eu não sabia
águas, mares, tudo, tudo é da natureza
mesmo (Senhora das matas).
ouvi e estou aprendendo um saber que
eles disponibilizaram. Desejo me solida-
-
rizar com essa força, essa energia, essa
-

lógica de articulação que, para mim, tem


forma em espiral (Menina do vento). Quando não há respeito não há equilí-
brio. Se não há equilíbrio não há harmo-

Sobre o pertencimento: nia. Os saberes ancestrais estão integra-


dos à vida. É preciso respeito desde que
Tudo que temos aqui temos que pensar
chegamos à porteira,onde pedimos ago
como bem comum. Aqui é um espaço
(licença) (Menina do ferro 2).
diferente lá de fora. Aqui a gente apren-
de convivendo. É a convivência que nos

1870 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20


“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

- Todos os nossos rituais dependem das


sidade: folhas para se fazerem. Temos a folha
para poder sacramentar, para lavar ou-
Cuidado com o corpo, com a outra pes- tros elementos da natureza. E as folhas
soa, com o nosso saber, com o saber do que foram ritualizadas podem ser usa-
outro, com os valores pessoais de cada das depois para banhos. É uma ligação
um e com os do Osogunlade que são intrínseca. A transmissão de conheci-
diferentes. Cuidado com o axé de cada mento vai do sacerdote maior para o
um, com o axé que rege todo o espa-
ço, com as relações pessoais e com os orixá (Senhor do ferro 2).
sentimentos. Somos todos diferentes e
precisamos cuidar de um ambiente que Durante a pesquisa-ação foram realiza-
é comum a todos nós” (Senhora das
águas do mar).

Oxogum Lade e com sua mãe espiritual,


Axé Opo Afon-
ousava sentar no mesmo nível que o pai
já. As duas entrevistas corroboraram com
de santo. A quebra dessa regra hierárqui-
a possibilidade de diálogo entre os conhe-
ca era considerada desrespeito.

os fundamentos da educação ambiental.


Pertencimento se institui quando a gen-
Para a Senhora das matas, esse diálogo
te consegue se olhar um no olho do
outro. Repeito não quer dizer submis- sugere aprendizado.

dominação. Eu sou tão humano quanto Eu acho necessário, mesmo porque sem
vocês. O respeito é mais importante do esse diálogo, nada feito. Pois se cada
que se sentar no nível mais baixo. Pre- um chegar com seus pensamentos e
suas práticas, somente aplicando, não
do ferro). se chega num senso comum [consenso].
Então, esse diálogo é necessário e eu
não fujo dele não, eu gosto até de fazer
porque, inclusive, me esclarece muita
dinamismo da cultura na atualização de
coisa também (Senhora das matas).
valores da tradição. Entretanto, essa atu-

Para o Senhor do ferro,


raízes dos princípios fundadores de uma
cultura. o que você tem de fato é que nós somos
natureza. Na hora da doença ele tem que
saber que além da questão física, pode

pode haver saber sem cooperação. ter uma questão espiritual. E é nessa in-
teração entre o material e o natural, entre

ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1871


VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

o espiritual e o humano, que se efetiva eu conheci uma das minhas tias velhas
nas atitudes, nas ações, na descoberta,
no querer conhecer, no manejo e nos
ela cozinhava e lavava pra ela mesma
desse universo sagrado que se movi- com seus quase 90 anos. E, inúmeras
menta em direção ao humano porque vezes, a gente presenciava ela conver-
ao humano foi dado inteligência. Então,
a preocupação ambiental do candom- assanhaço. E quando ele começava a
blé para com a existência, para com a
vida vai se dar nas possibilidades que se pra janela e dizia: “ Xangô meu pai, eu
abrem mediante a carência de um e o
poder do outro (Senhor do ferro).
E falava do cotidiano dela. Ah, era uma
velha esclerosada, alguns falavam. Mas
será que era só isso? Creio que ela che-
gou no auge de uma conectividade com
a vida e com a natureza que não sei se
você ou eu vamos chegar. Do jeito dela,
ela chegou. Mas, essa invasão urbana
dentro dos territórios sagrados vai pos-
sibilitar que nossas roças hoje consigam
-
car no canto do pássaro a visita de seu
pai-de-santo é qualidade de vida, isso
é amor e isso eu aprendi dentro do Ase
Opo Afonja (Senhor do ferro).

Imagem 5: colocando a mão na massa da terra “[…] Nós temos nossos segredos e
enlameada para preparar a fachada da casa de que não é de bom tom ser falado fora dos
momentos propícios, que é justamente na
hora das obrigações (Senhora das matas).
A referência que o homem tem de co-
A mesma entrevista reforça o cuidado e o
nexão com a natureza, no sentido mais
abrangente, mais cosmologicamente fa- sentido dos mitos, ferramenta dominante
lando ainda é a árvore. Conversar com o na educação dentro dos terreiros de can-
pé da jaqueira é uma das possibilidades.
Eu sou testemunha de uma dedicação e
amor à natureza, à vida, maravilhosos. E o cuidado com a face da terra que sa-
Na minha infância no Asè Opo Afonjá, bemos que foi Olorum quem nos deu. É

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

com os mitos da formação da terra, do e vai limpando seu astral (Senhora das
Aiye, que aprendemos os cuidados que matas).
devemos ter com as águas, com as ma-
tas, com as árvores, até com o próprio
A valorização do elemento água como o
ser humano, pois nós somos também
primeiro elemento nas ações ritualíticas e
veículo do próprio orixá. Eu considero
nosso corpo como um templo, o templo

Tudo o que Deus fez, tudo o que exis- Quando vc vai fazer uma iniciação, a
te na natureza é digno de respeito e de partir do banho, tudo é lavado. Qualquer
cuidado e de veneração (Senhora das elemento que você pega na feira, uma
matas). quartinha por exemplo, para ela ser con-
sagrada tem que se lavada. Nosso cor-
po, tudo é lavado, nosso interior, nosso
A dignidade e a preocupação com o as-
emi (sopro úmido que vem da palavra
seio pessoal, revelam a importância da
proferida pelo sacerdote ou sacerdoti-
água, do banho e da ritualização dos ele- sa). Também não podemos esquecer de
beber água (Senhora das matas).
ambiente e do próprio corpo.
-
[…] No candomblé, o primeiro ato quan- de religiosa, desrespeito esse capitaneado
do você acorda é tomar banho. Durma-
-
-se no pé do orixá, quando se acorda
costais:
tem que tomar banho. E nosso banho
você sabe que não é qualquer banho. É
Quando se fala em candomblé todo
toda uma preparação com as ervas ne-
-
cessárias, com o sabão necessário, com
alizando o preconceito de que é coisa do
o local determinado. Todo candomblé
-
que se preza tem seu quarto de banho.
ça é nosso coração, é nossa cabeça e,
É obrigatório mudar a roupa todo dia.
além do mais, o nosso consentimento …
Devemos estar na frente do orixá ou dos
Se a gente não tiver um gesto de amor
outros sempre com roupa limpa, tanto é
não adianta nada.. A responsabilidade
que tem pessoas que têm restrição de
dos pais e mães de santo é a comunida-
usar roupa velha, rasgada, quanto mais
de. O compromisso com o bem e com
elegantes, limpos, bem vestidos, com
a verdade. Nosso poder é ese (Senhora
roupas inteiras, melhor para o próprio
das matas).
orixá. Porque damos tudo de melhor
para o orixá. Nossa aparência, nosso
cheirinho gostoso, de sabão, de banho,
nossa roupinha limpa, nossa mente tam- um dos entrevistados, um dos valores que
bém é limpa. Então nesse exercício de
tomar banho, cantando pra seu orixá,
logo as negatividades vão se esvaindo,

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VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

Se eu não admito a possibilidade de arasalé. Quem me pariu objetivamen-


ter uma conexão com esse oculto, com te, foi a terra. E pra terra ter me parido
esse sensível, eu vou simplesmente re- tem que haver um intermédio e esse é
correr ao hospital, ao advogado, ao juiz. o meu ancestral. A ideia de ancestral se
Porque eu não opero enquanto ser na difere em várias culturas. Na verdade, é
possibilidade polar: eu tenho o orixá, o modo como você chega ao entendi-
tenho a mata e tenho o homem. Como mento da ancestralidade. […] O plantar
me relaciono com essa polaridade? abacaxi, batata-doce, plantar orinrin pra
- lavar os olhos quando estiverem incha-
cina. Mas o valor da medicina obede- -
ce uma regra eminentemente racional, co vem através da minha ancestralidade.

de uma intervenção sobrenatural. Por terreiro não difere do discurso popular.


mais que existam alguns setores da ci- Esse conhecimento que o candomblé
ência dizendo que há uma possibilidade tem de não pegar folha em qualquer
e isso talvez seja o caminho de volta ao horário, o povo do campo sabe, não é
começo. Pois, da mesma forma que o o povo da cidade. Essas práticas foram
homem ostenta a crença de que sem a somadas entre índios e africanos […]
razão nada se explica, essa mesma fala (Senhor do ferro).
é questionada: será? Por que um óbito
iminente fracassou? É esse retorno que Um outro enfoque do depoimento do Se-
pode garantir dias melhores. Chegamos
a um ponto em que a própria Inteligência

as crianças podiam andar descalças, brin-


fazer esse retorno. E o candomblé pode
ser uma primeira estação para esse car com a terra livremente, beber a água
retorno.”(Senhor do ferro). da nascente...

- Mas, mediante a evolução do tempo, o

cação à natureza. Basta dizer que toda e próprio homem envenenou a terra e se
envenenou. Hoje, as crianças não po-
qualquer necessidade de manipulação do
dem mais vivenciar e experimentar uma
sagrado não se faz evocando o criador
relação visceral com a natureza. E se, no
- momento em que a criança, que nasce
cia-se assim, a noção de pertencimento à da natureza, é impedida de pegar numa
natureza e a intrínseca relação ser humano planta porque vai pegar uma gripe, tudo

homem de dentro da natureza e consi-


derando-o como uma natureza isolada,
Todas as culturas tribais não se movi-
mentam sem beijar a terra. Mojubá, Oni-
não cortou o cordão umbilical com a na-
lê. E depois da terra, faz-se reverência
tureza. Ele tem que reconhecer que o elo
aos ancestrais. Mojuba ahun gbogbo

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“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

não foi cortado e refazer o próprio cami-


nho e voltar pra ela. Por isso, nós não que percebemos depende da nossa es-
podemos entender candomblé, mesmo
no Brasil, mesmo com a efetiva produ-
realidades quantas pessoas percebedoras
ção cultural brasileira, como religião.

aí possamos pensar nesse “religare”. No


caso do Osogunlade, somos exatamen- -
te um entreposto pra mostrar isso: um dade de repatriamento, de reorganização
caminho de retorno à natureza... (Senhor
do ferro).
-

O Senhor do ferro também acredita no


diálogo entra campos de conhecimen- para manterem sua sobrevivencia física,
tos diferentes para construir novas rea-
lidades. estatais e perseguições para desestrutu-
A população que frequenta o terreiro,
que usa esse espaço, que usa o bene-
Para esclarecer, o senhor do ferro divaga:
fício de nossa ancestralidade, não são
exatamente as pessoas que, em sua
E é nesse sentido que se faz a diferen-
maioria, descendem dessa ancestralida-
ça entre casa e terreiro de candomblé.
de e alguns poucos dizem e falam dessa
A casa deve ter uma política doméstica
conexão. São aquelas em que você vê
essa espiritualidade e essa ancestralida-
-
de falando de forma que chega até a nos
cupar com o culto daquele orixá e não
assustar. Pois há pessoas que não têm
vai se preocupar em ter clientes pra fazer
nenhuma vivência dentro desse território
ebó porque não tem estrutura na casa
e mesmo que não atenda à visão esté-
pra fazer ebó. Mas se eu tenho um ter-
tica, dessa ou daquela corrente, você a
reiro, uma comunidade, um território, eu
vê falando coisas que não é propriedade
tenho uma área espacial que me permite
da intelectualidade dela. A pessoa pode
e garante a conexão com os vários ter-
estar atrapalhada, pode estar confusa,
ritórios necessários a essa cosmologia
mas está conectada. Mas tem gente que
africana. Eu tenho água, rio, fonte, ter-
descende diretamente dessa ancestrali-
reno, eu posso colocar casa de vários
dade, que está confuso, que está atra-
orixás, eu posso fazer tal ebó aqui, eu
palhado, mas que nem o orixá demons-
tenho o ar, e tenho folhas. Ebó se resolve
tra tanta evidencia (Senhor do ferro).
com competência sacerdotal e não com
“achismo” e nem com quantidade. Se
-
fosse assim, as pessoas que têm uma
truímos a partir de nossas percepções, e casa de candomblé não eram também
- -
cepções. Por conseguinte, nosso mundo masia suas práticas mágicas no espa-

ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20 1875


VERÔNICA MARIA DA SILVA GOMES E VERA MARGARIDA LESSA CATALÃO

ço urbano. Então, o que precisamos é -


defender uma política de que orixá não rias para implodir esses inimigos do Axé.
é quantidade, é qualidade. E se a gente Uns são inconscientes, mas outros são
tira os alguidares da encruzilhada e nos conscientes sim (Senho do ferro).
reportamos à antiguidade, com um abra-
ço na árvore, com um pano (ojá) amarra-
do numa árvore e muita fé, a gente faz
uma revolução… Precisamos de espiri-
Breves considerações
tualização, de fé (Senhor do ferro).

Finalmente, o Senhor do ferro esboça uma


preocupação que vai ao encontro da pre- o respeito e reverência à natureza intera-
ocupação para se considerar o todo e não -
apenas as partes e como pensar em rela- de-se que:
ções mais saudáveis para a perpetuação

a importância de considerar o tempo do emanações dos orixás na terra. Poluir

tempo (khairós). o ar, desperdiçar a água, destruir as ár-


vores, desrespeitar a humanidade são
práticas contrárias à aprendizagem dos
Não dá pra falar com o caseiro pra tirar
terreiros de candomblés (BOTELHO,
-
2005:43).

não tivermos uma visão holística dessas


interrelações. E não vamos ter porque

tempo e na hora certos, a informação em suas diversas manifestações. A noção


de sagrado como um nível de realidade
as pessoas acharem que surtirá efeito
não pode ser abolido da compreensão das
usar essa máscara de hipocrisia. A gente
-
não pode perder a elegância. Mas não
podemos perder também a racionalida- pe na busca do conhecimento e compre-
de e deixar de ver o protecionismo. Não ensão das coisas ( , 1999).
podemos nos deixar nos levar por uma
única visão. Existem as ‘mise en cenes’. Em um movimento similar, a educação am-
Não vamos perder a esperança para
lutar contra as condutas cancerígenas.
uma preservação solidária de todas as co-
Não vamos acolher pessoas de fora,
com pessoas aqui dentro que não são
sensíveis para perceber e sentir o outro
- extingue leva consigo uma informação úni-
ca da diversidade da vida.

1876 ambientalMENTEsustentable, 2015, (II), 20


“Kosi ewe, kosi orisa” (Sem folha não há orixá)

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