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SENTENÇA
Processo nº: 1056145-41.2016.8.26.0053 - Mandado de Segurança
Impetrante: Rafael Magri Damin da Silva
Impetrado: Coordenador do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo -
Detran-sp e outro
Vistos.
Este documento foi liberado nos autos em 22/02/2017 às 07:20, é cópia do original assinado digitalmente por RANDOLFO FERRAZ DE CAMPOS.
Rafael Magri Damin da Silva, qualificado(a)(s) a fls. 1, ajuizou(aram) mandado
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 1056145-41.2016.8.26.0053 e código 2CC08CF.
de segurança contra ato do(a)(s) Coordenador do Departamento Estadual de Trânsito de São
Paulo - Detran-sp e Diretor de Habilitação do Departamento Estadual de Trânsito de São
Paulo - Detran-sp, alegando que: foi autuado pelo DETRAN/SP por ter-se recusado a se
submeter ao exame do aparelho etilômetro (bafômetro); apresentou impugnação ao auto de
infração, mas foi ela indeferida e veio a ser instaurado processo de suspensão do direito de dirigir
(PA n. 1486-2/2016), sendo convocado a entregar a sua C.N.H. à autoridade de trânsito; nulo é o
auto de infração porque ingestão de álcool não foi demonstrada, mas sim dele constou
expressamente que o impetrante " não apresentava sinais de embriaguez, tampouco alteração de
sua capacidade psicomotora"; a mera recusa à realização do exame, desprovida de sinais de
embriaguez, não pode ter por consequência a lavratura de auto de infração; a autoridade policial
fiscalizadora em momento algum encaminhou-lhe a local especializado para realizar exames
outros para constatação de presença de álcool em seu organismo; uma vez nulo o auto de infração,
inválida também é o processo administrativo para a imposição de suspensão do direito de dirigir;
ocorreu a decadência para a imposição da multa, pois decorreu prazo superior ao legalmente
fixado entre a ocorrência da suposta infração e o envio da notificação da instauração do processo
administrativo; não pode haver dupla punição pelo mesmo fato; e há excesso de punição. Pediu,
por consequência, a concessão da ordem para declarar-se nulo o auto de infração em questão,
anulando-se, por consequência, o processo administrativo instaurado para imposição de
penalidade de suspensão do direito de dirigir, vindo-se, ainda, a condenar o DETRAN a devolver-
lhe o valor da multa paga e, se assim não for, para que seja reduzida a punição de suspensão do
direito de dirigir. Requereu a concessão de liminar para que se proceda à suspensão dos efeitos do
processo administrativo bem como da exigibilidade da multa imposta.
Este documento foi liberado nos autos em 22/02/2017 às 07:20, é cópia do original assinado digitalmente por RANDOLFO FERRAZ DE CAMPOS.
O Ministério Público manifestou-se pela sua não intervenção no feito.
É o relatório.
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Passo a decidir.
Pois bem, discute-se aqui a validade da autuação com sua multa e também a pena
de suspensão do direito de dirigir.
II
dependência.
Este documento foi liberado nos autos em 22/02/2017 às 07:20, é cópia do original assinado digitalmente por RANDOLFO FERRAZ DE CAMPOS.
teste do "bafômetro" ou etilômetro. A partir dessa conclusão, poder-se-ia alegar ser possível dele
exigir seja submetido a exame outro para o qual não tenha de praticar qualquer ação positiva, já
que, nesse caso, não haveria produção de prova contra si mesmo.
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No entanto, equivocada também tal afirmação.
O art. 277 do C.T.B. enuncia, em seu caput, que "o condutor de veículo
automotor envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito poderá
ser submetido a teste, exame clínico, perícia ou outro procedimento que, por meios técnicos ou
científicos, na forma disciplinada pelo Contran, permita certificar influência de álcool ou outra
substância psicoativa que determine dependência. (Redação dada pela Lei nº 12.760, de 2012)" e
adverte em seu § 3º que "serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas
no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos
previstos no caput deste artigo" (incluído pela Lei Federal n. 11.705, de 2008).
1 "Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
(Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Infração - gravíssima; (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. (Redação dada pela Lei nº
12.760, de 2012)".
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os sinais de alteração da capacidade psicomotora". (grifamos)
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condutor com sinais de alteração da capacidade psicomotora.
E se o condutor não apresentar tais sinais, então, não pode ser autuado sob pena
de ilegalidade, já que o indivíduo será punido apenas por ter-se recusado a produzir prova contra
si mesmo.
Nesse passo e a demonstrar que a resolução aludida é que traz a solução correta
sobre o art. 277, § 3º, do C.T.B. -, recorde-se que “o entendimento adotado pelo Excelso Pretório,
e encampado pela doutrina, reconhece que o indivíduo não pode ser compelido a colaborar com
os referidos testes do 'bafômetro' ou do exame de sangue, em respeito ao princípio segundo o
qual ninguém é obrigado a se autoincriminar ('nemo tenetur se detegere'). Em todas essas
situações prevaleceu, para o STF, o direito fundamental sobre a necessidade da persecução
estatal” (STJ. REsp 1.111.566, 3ª Seção, Rel. p/Ac Min. Adilson Vieira Macabu, m.v., j. 28.3.12,
DJe 4.9.12).
O cidadão, então, submete-se aos testes apenas se o desejar a fim de exercer o seu
direito de contraprova a uma eventual imputação (por constatação de "sinais de alteração da
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Parecer n. 9415 PGR-RG, de 28.02.2013 exarado para o processo atinente à Ação Direta de Inconstitucionalidade
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capacidade psicomotora") e não para provar que não está sob a influência de álcool.
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poderá ser autuado se tiver sinais de alteração psicomotora, os quais deverão ser anotados pelo
agente autuador no auto de infração. Nesse sentido é, inclusive, a Recomendação n. 1/2013 do
Conselho Estadual de Trânsito de São Paulo:
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"O Conselho Estadual de Trânsito do Estado de São Paulo CETRAN/SP,
representado pelo seu Presidente, visando propor diretrizes para a
padronização na atuação dos órgãos públicos envolvidos na fiscalização,
prevenção e repressão de infrações administrativas e penais de trânsito,
(...)
Recomenda a todos os agentes públicos envolvidos na fiscalização, na
prevenção e na repressão de infrações administrativas e penais de trânsito:
1. No atendimento de acidentes de trânsito bem como por ocasião de
abordagens ou operações fiscalizatórias nas quais os condutores dos veículos
automotores envolvidos apresentem sinais de alteração da capacidade
psicomotora em razão de possível influência de álcool ou substância
psicoativa, os agentes de trânsito ou policiais devem viabilizar a realização de
testes de alcoolemia, em especial o teste do aparelho de ar alveolar pulmonar
('etilômetro' ou 'bafômetro');
2. A submissão do condutor do veículo ao teste do 'etilômetro' será precedida
de esclarecimento e solicitação pelo agente de trânsito ou policial, ficando
sob a livre decisão do cidadão submeter-se ou não ao teste, não devendo
ocorrer de maneira impositiva, porquanto, na legislação vigente, referido
teste consubstancia exercício do direito à contraprova, de relevante interesse
do condutor fiscalizado;
3. Concordando o condutor do veículo em se submeter ao teste, o agente de
trânsito ou policial deve indagar-lhe se ingeriu bebida alcoólica, e, em caso
de resposta positiva, se tal fato ocorreu há mais de 15 (quinze) minutos; caso
contrário, negada a ingestão de bebida alcoólica, deve o agente de trânsito ou
policial convidar o condutor fiscalizado a enxaguar a boca com água e
aguardar o decurso do citado lapso temporal, visando evitar que a
concentração de álcool detectada seja da mucosa bucal e não do ar alveolar;
(...)
7. Se a medida aferida for igual ou superior a 0,34 mg/l de ar alveolar, além
das providências administrativas elencadas no item 6, o agente de trânsito ou
policial militar deverá encaminhar o condutor do veículo fiscalizado (bem
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capacidade psicomotora, o agente de trânsito deve adotar as medidas
relativas à infração administrativa do artigo 165, do CTB, e do mesmo modo
indicado no item 7, encaminhar o condutor do veículo e eventuais
testemunhas à unidade de polícia judiciária, noticiando a suspeita da prática
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do crime do artigo 306, do CTB, para a avaliação técnico-jurídica e adoção
das providências legais a critério do Delegado de Polícia;
9. Quando a infração administrativa do art. 165, do CTB for configurada
pela presença de sinais de alteração da capacidade psicomotora, deve ser
considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais que
comprovem a situação do condutor, os quais deverão ser descritos no auto de
infração ou em termo específico que deverá acompanhar o auto de infração,
contendo as informações mínimas indicadas no Anexo II, da mencionada
Resolução 432/2013 do Contran e nos moldes de seus artigos 5º, § 2º e 8º,
inciso II (...)”. (grifamos)
O auto de infração, portanto, deve conter a descrição dos sinais de alteração da
capacidade psicomotora, caso elas existam e se recuse o condutor a realizar os testes, o que é,
conforme supra exposto, direito seu, na medida em que não está obrigado a produzir prova contra
si mesmo.
No caso em tela, o impetrante foi autuado por ter-se recusado a se submeter aos
testes para constatação de ingestão de álcool, porém o auto de infração (fls. 19) não traz a
descrição dos sinais de alteração da capacidade psicomotora, tanto que todos os campos referentes
a eles estão sem preenchimento.
Este documento foi liberado nos autos em 22/02/2017 às 07:20, é cópia do original assinado digitalmente por RANDOLFO FERRAZ DE CAMPOS.
Ora, se não tinha o impetrante sinal notório de embriaguez, não poderia ter sido
autuado, ainda que sob a recusa da realização de qualquer teste, conforme todo o raciocínio ora
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desenvolvido.
O auto foi, desse modo, lavrado de forma ilegal na medida em que desprovido
dos mínimos requisitos para a sua validade, pretendendo sancionar o impetrante sem razões para
tanto.
Mas friso.
Inexiste bis in idem, já que nada obsta, pela gravidade de uma infração, opte o
legislador por sancionar de forma mais grave o infrator como, verbi gratia, cumulando sanções
(no caso, pecuniária e perda temporária do direito de dirigir), tampouco houve decadência, já que
não se há confundir notificação da autuação e a da multa imposta com a da instauração de
processo administrativo pertinente àqueles atos.
III
Oficie-se.
advogado.
Este documento foi liberado nos autos em 22/02/2017 às 07:20, é cópia do original assinado digitalmente por RANDOLFO FERRAZ DE CAMPOS.
P.R.I. e C..
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Randolfo Ferraz de Campos
Juiz de Direito
3 STJ, REsp. 739.684/PR, 1ª T., Rel. Min. Francisco Falcão, v.u., j. 5.12.2006, DJU 1º.2.2007, pág. 404.