Sunteți pe pagina 1din 210

MODO DE USAR

O HOMEM AO ZERO
(DESCONGESTIONANTE CEREBRAL)

Uso por via ocular

INDICAÇÕES
O homem ao zero é recomendado às pessoas que sofrem de fadiga, de mau humor, de
irritação, de cansaço crônico, de falta de ar, de gripe — e especialmente às pessoas que não
sofrem de nada. Foi bolado durante anos e anos de pesquisas, para ministrar, em doses
exatamente científicas, tudo aquilo que o espírito humano necessita para melhor aproveitar a
vida. A combinação de diversos ingredientes, comprovadamente testados, através de cobaias
sujeitas às mais desencontradas reações, permitiu-nos chegar à fórmula definitiva do bem-
estar social, levando-se em conta que, para isso, é necessário que exista o bem-estar
individual.

APRESENTAÇÃO
O homem ao zero é apresentado em formato único, porque achamos que essa disparidade de
tamanhos é feita apenas para embromar a boa fé dos pacientes: são duzentas páginas da
mesma qualidade, embaladas por uma capa resistente, que permite resguardar o seu conteúdo
por tempo indeterminado, quer seja em lugares quentes, úmidos ou mesmo gelados. Suas
páginas não se dissolvem com facilidade, mas, ainda assim, recomenda-se que não sejam
expostas à ação da chuva, por mais de uma semana.

GENERALIDADES
O homem ao zero, quando usado com regularidade, produz uma agradável sensação de bem-
estar, torna claro o raciocínio do leitor e lhe permite um melhor conhecimento de si mesmo. Em
certos casos, o efeito é tão eficiente que essa sensação de bem-estar pode se estender a
outras pessoas que estejam próximas. Não produz efeitos colaterais, como angústia, febre,
tremedeiras, tonteiras nem sono — ao contrário, mantém a pessoa desperta por muitos e
muitos dias. Em caso de alguma anormalidade, repetir a dose quantas vezes forem
necessárias, até que o paciente se sinta completamente saudável e equilibrado — como era
antes. Mas é preciso tomar muito cuidado: quem ingerir, uma vez, todo o conteúdo do livro,
corre o risco de se tornar um viciado e contra isso só dois produtos similares: O homem ao
quadrado e O homem ao cubo, do mesmo fabricante.
FORMULA
Humor .................... 0,100 g
Irreverência ............... 0,100 g
Ironia ..................... 0,100 g
Sátira..................... 0,100 g
Non-sense ................. 0,100 g
Ficção .................... 0,100 g
Bossas .................... 0,100 g
Etc, etc, etc.............. 0,300 g

Não se agite antes de usar

VANTAGENS
O homem ao zero não produz alergia. Não debilita a visão. Não altera o sistema nervoso. Não
acelera o coração. Não diminui os glóbulos vermelhos. Não prejudica a circulação do sangue.
Não perturba a digestão. Pode ser ingerido de pé, sentado ou de bruços — dependendo da
posição que mais agrade ao paciente.

POSOLOGIA
Crianças: dez a vinte páginas por dia, depois das refeições, podendo ser acrescida a dose, à
medida que as crianças forem comendo melhor.
Adolescentes: vinte a quarenta páginas por dia, que podem ser tomadas isoladamente ou em
conjunto, isto é, com a respectiva namorada.
Adultos: quarenta a oitenta páginas por hora, antes ou depois das refeições, ou mesmo ao
invés de.
Velhos: cem a trezentas páginas de uma vez, de acordo com a capacidade de cada um.
Venda sem prescrição médica. Cada um pode comprar quantos exemplares quiser: não tem
contra-indicação.

Lab. Círculo do Livro S.A.


São Paulo: Av. Brigadeiro L. Antônio, 2151
Farm. responsável — Leon Eliachar, RJ
Produzimos "Homens" desde 1960 e honramo-nos ser uma indústria genuinamente bem-
sucedida.
4
3
2
1
LEON ELIACHAR

O HOMEM AO

ZERO
CÍRCULO 00 LIVRO
Edição integral Copyright Leon Eliachar

Desenhos: do autor, com exceção dos bem desenhados


(os bonecos dos capítulos são de Yves e as vinhetas do horóscopo são de Mário Pacheco)

Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da Livraria Francisco Alves Editora
S.A.
A todos os homens, bons e maus,
sem exceção,
que ninguém tem culpa de ser bom.

À minha máquina de escrever,


amiga e inimiga de todas as horas.

Ao leitor comum,
um amigo fora do comum.

Ao inventor da dedicatória,
um puxa-saco declarado.
SUMÁRIO

1 — EU SOU O PREFÁCIO ............................ 11


2 — AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS TEÓRICOS... 15
A guerra ...................................... 16
A imprensa.................................... 17
O carnaval .................................... 18
As férias ...................................... 19
O cinema ..................................... 20
A democracia.................................. 21
Recreio ...................................... 22
O trânsito ..................................... 27
O crime ...................................... 28
O casamento .................................. 29
A censura ..................................... 30
A estatística ............................... 31
A valentia..................................... 32
3 — MINHA AMIGA, A TV ........................... 33
O espectador................................... 35
A propaganda ................................. 36
O locutor ..................................... 39
O intervalo .................................... 41
O aparelho .................................... 42
Os comerciais.................................. 44
4 — VERDADES INADIÁVEIS.......................... 54
5 — O HOMEM EM ESTADO DE COMO ................ 59
Como se monta um escritório ................... 60
Como se recebe um seguro ...................... 61
Como se prepara uma decoração ................. 62
Como se conserta um aspirador .................. 63
Como se faz a previsão do tempo ................ 64
Como se conserva um fumante .................. 65
6 — ANÚNCIOS MODERNOS .......................... 67
7 — CARTAS NA MESA ............................... 72
g — TÚMULOS ....................................... 81
9 — A VERDADEIRA SEMANA DA ASA................ 86
10 — FRASES COM ALGUM NEXO ..................... 88
11 — DO MEU DIÁRIO ................................ 91
12 — DO DIÁRIO DE UM BEBÊ......................... 101
13 — À MARGEM DO HUMOR ......................... 105
!4 — O FASCINANTE MUNDO FEMININO .............. 108
Anatomia da mulher............................ 109
Anúncios femininos ............................. 111
Forma prática de decorar a sua casa.............. 113
Como curar um resfriado........................ 113
A moda....................................... 114
Boas maneiras ................................. 115
Como se tornar bela ........................... 116
Truques novos para o seu velho lar............... 116
Frases femininas ............................... 117
Receitas inéditas ............................... 119
15 e 16 — DOIS CAPÍTULOS NUM SÓ .................. 121
Xifópagos ..................................... 121
Piadas supersônicas ............................. 121
17 — VIVA O PROGRESSO............................. 143
Manchetes inéditas ............................. 144
Ah, os inventores .............................. 146
O elevador .................................... 147
Tabuletas ...................................... 148
Registro policial ................................ 150
18 — A LÓGICA DO ABSURDO ......................... 152
O homem feliz................................. 153
Feliz Natal e próspero Ano Novo ................ 154
Acerte o seu relógio ............................ 155
Em cima do diva ............................... 156
Crônica de um dedo só ......................... 158
Conto a duas cores ............................. 159
O homem de Marte ............................ 160
19 — CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL................. 162
20 — NOVELA ......................................... 165
Isabela, a mulher que sofria em grifo............. 166
21 — PIADAS CURTAS PARA INTELIGÊNCIAS LONGAS . . 175
22 — PRA LER DE LONGE............................ ...... 178
23 — JORNAL .......................................... 180
24 — HUMOR EM BALÕES............................. 187
25 — HORÓSCOPO ..................................... 191
26 — HISTÓRIAS REAIS QUASE FICTÍCIAS.............. 200
Área interna................................... 200
Cabeça raspada ................................ 201
As flores...................................... 203
Edifício suspeito..............,.................. 206
Lolita .......................'.................. 207
Subúrbio ...................................... 207
AUTÓGRAFO

O autor se recusa, terminantemente, a dar autógrafos em noites de


autógrafos. Por isso, bolou o sistema tranqüilo do "autógrafo pelo
reembolso": o leitor destaca o cupão, manda pra livraria mais próxima, a
livraria manda pro editor, o editor manda pro autor, o autor assina, devolve
pro editor,, o editor devolve pra livraria, a livraria devolve pro leitor, que
torna a colar o cupão no livro — e tudo isso por menos de 115 000 cruzeiros
e 82 centavos.

AUTÓGRAFO PELO REEMBOLSO

Nome do leitor ......................................................

Endereço ...............................................................

Cidade....................................................................

Estado....................................................................

(assinatura do autor)
EU SOU O PREFÁCIO

AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ

Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho
de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais
atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas
pesadas, consegui atingir o chamado "preço-teto" da imprensa brasileira,
quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um
teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do
desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os
seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não
pelo atestado de bons antecedentes, mas pela dificuldade com que se tira um
atestado, já fiz de tudo na vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho,
crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de
redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de
teatro, show de buate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de
cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo,
ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira,
acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por
vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou
experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto
em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte
influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com
escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando
minha mulher disse "sim" e a segunda quando seus pais disseram "não", sou
a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com
separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das
coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve — quando estou em
Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista —
pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos
de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é
ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar
piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também
não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem
nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa
a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo, às vezes quando desligo,
num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro
estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome
várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva
porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula
anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do
mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o
problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta
perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um
homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que
estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém
sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura
porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com
orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto
mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única
esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos
os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos
estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci um concurso
internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o
segundo prêmios entre os participantes de dezesseis nações concorrentes,
fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter
sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o
leitor está mais fraco.

LEON ELIACHAR
AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS
TEÓRICOS
A GUERRA
A humanidade divide o seu tempo em duas partes: guerra e paz. Durante
a paz, vive discutindo a guerra e durante a guerra vive implorando a paz. A
guerra foi inventada por um sujeito que morreu na guerra. A paz ainda não
foi inventada. Há vários tipos de guerra: a guerra fria, a guerra quente, a
guerra morna, a guerra requentada e a guerra propriamente dita: dessa
ninguém escapa, porque todo mundo é convocado antes mesmo de começar
a guerra. Antigamente, a guerra era feita a pé: quando os soldados chegavam
no país inimigo a guerra já tinha acabado. Hoje, a guerra é mais ligeira: basta
apertar um botão que ela começa e acaba ao mesmo tempo — e quando
acaba não se encontra nem o botão. Durante a paz, os homens se preparam
para a guerra, construindo tanques, aviões, submarinos, foguetes, táxis e
ônibus elétricos. Quem foge da guerra se chama desertor, quem fica se
chama herói. O desertor foge da guerra pra não morrer nas mãos do inimigo,
mas acaba morrendo nas mãos do amigo: é fuzilado. O fuzilamento é um
processo de matar o sujeito que escapa da guerra — ao invés de morrer
distraído, morre prevenido. Antes de ir pra guerra, os médicos submetem os
soldados a um exame físico completo: quem tiver boa saúde, pode ir e
morrer tranqüilo. Quando o homem se matricula na guerra, recebe um
uniforme: quando entra na guerra, pinta o uniforme todinho pra ninguém ver
que ele está de uniforme. Existem guerras famosas: a de 14, porque
sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a
de 39 — que todo mundo pensa que acabou. Antigamente, se fazia a guerra
com baioneta calada, mas isso foi no tempo do cinema mudo. Hoje, a
baioneta não só fala mas também canta — como se pode ver nos musicais de
Hollywood. Muitos combatentes são considerados malucos porque voltam
pra casa com psicose de guerra, mas os psiquiatras não se preocupam a
mínima com a psicose de paz — que é muito pior. E por incrível que pareça,
o soldado mais conhecido da guerra é o soldado desconhecido.
A IMPRENSA

A imprensa foi feita para orientar a opinião pública, mas, em verdade, é a


opinião pública que orienta a imprensa. Suas duas grandes forças são o crime
e a política; a política é feita criminosamente e o crime não passa de política
pra vender jornal. Na imprensa moderna há seções para todo tipo de público,
inclusive a de humorismo — mas não é qualquer leitor que percebe
facilmente qual é verdadeiramente a seção de humorismo. Muito jornalista
tem outras profissões e faz da imprensa um bico: é que ganha o suficiente
por fora, pra não abrir o bico. Para um linotipista, o jornal se divide em
cíceros, para um redator em colunas, para um publicista em centímetros
quadrados e para o proprietário em metros cúbicos — de encalhe. O que não
se pode negar é que a imprensa é uma profissão de futuro: os diretores
sempre prometem um salário melhor para o futuro. Os jornalistas se dividem
em três categorias: os formados, os informados e os conformados. "Furo" é
essa notícia sensacional que todos os jornais dão juntos, em primeira mão.
"Barriga" é a notícia que apenas um jornal dá, com absoluta exclusividade
— bem-feito, quem mandou não confirmar? "Foca" é o novato que pede ao
diretor pra adiar a reportagem das enchentes porque é muito difícil trabalhar
com as ruas inundadas. Mas uma coisa é inegável, através dos tempos: por
mais que um jornal tire o corpo fora, acaba sempre no embrulho.
O CARNAVAL

O carnaval é a maior data do ano, porque um dia dura três. Maior do que
essa data só "véspera de carnaval" — que dura 362. Os psiquiatras acreditam
que o carnaval é um pretexto para homem se desrecalcar, por isso os bons
psiquiatras só se fantasiam de pacientes. Os velhos insistem que o carnaval
mudou muito, não é mais como o de antigamente, eles devem estar certos:
pular com reumatismo é muito mais difícil. Dizem que o carnaval de rua está
acabando, mas é mentira: o que está acabando são as ruas. O homem que
inventou a máscara tinha cara de urso, pra disfarçar começou a usar cara de
cavalo. As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher
e mulher vestida de nada. A fantasia mais discutida é o travesti (homem
vestido de homem) e a de maior sucesso é o biquíni (mulher vestida de
mulher). O concurso de fantasias foi inventado pra ver quanto tempo resiste
o mesmo júri, julgando os mesmos candidatos e premiando as mesmas
fantasias. Durante o carnaval, a polícia costuma reforçar a falta de
policiamento. O Departamento de Turismo gasta milhões pra decorar a
cidade, depois vem o Departamento de Limpeza Urbana e gasta outros
milhões pra tirar a decoração. Nos bailes cabem, em média, 2 000 pessoas
sentadas e 5 000 em pé, quando o baile acaba tem mais de 15 000 deitadas.
O verdadeiro milagre do carnaval é a televisão, que consegue trazer a rua pra
dentro de casa: por isso não existe mais o carnaval de rua — fica todo
mundo em casa vendo na televisão o carnaval de rua.
AS FÉRIAS

As férias foram inventadas por um homem que trabalhava 24 horas por


dia, pra descobrir um meio de tirar férias, e, como não conseguia descobrir,
desistiu — e quando desistiu percebeu que estava em férias. Todo homem
deve tirar férias: é a única maneira de reorganizar as preocupações. Pra gozar
bem as férias é preciso que o homem vá pra fora, se não puder ir, deve
mandar a família, que dá no mesmo. O lugar mais barato pra passar as férias
é longe da mulher: enquanto descansa um, descansam dois. Muitos homens
passam as férias tão longe que quando voltam estão completamente
exaustos. O melhor lugar pra se passar férias é no hotel, principalmente
quando se é dono do hotel. Tem secretária que quando tira férias deixa o
patrão na mão, tem patrão que quando tira férias leva a secretária pela mão.
Durante as férias, o homem prefere variar de clima: se mora na praia vai pra
montanha, se mora na montanha vai pro mato, se mora no mato vai pro
hotel, se mora no hotel deve ir pra casa — que a família está esperando. As
férias originaram o "cigarra", que é o sujeito que manda a mulher pra fora e
pensa que é solteiro de novo. Às vezes fica mesmo — quando a mulher
volta, de repente.
O CINEMA
O cinema, como todos sabem, é conhecido como a sétima arte, mas na
maioria das vezes tem muito mais de sétima do que de arte. Há dois tipos de
cinema, o preto e branco e o tecnicolor: o preto e branco quando filma um
preto sai preto mesmo e quando filma um branco sai cinza. O tecnicolor,
quando filma um preto sai vermelho e quando filma um branco sai amarelo.
Atualmente, tem tanta gente trabalhando no cinema que foi preciso inventar
o cinemascope: a tela é muito maior e assim cabe todo mundo. O artista que
mais ganha dinheiro no cinema é o índio: cada vez que morre recebe 50
dólares — e tem índio que morre mais de vinte vezes, na mesma fita.
Japonês também ganha muito dinheiro, faz dezenas de papéis e ninguém
percebe, porque em filme japonês a gente só sabe quem é o bandido e quem
é o mocinho no fim da fita: o bandido é o que morre na luta de espada e o
mocinho na cena do harakiri. O cinema moderno evoluiu tanto que os ci-
neastas descobriram várias fórmulas: no filme de caubói, por exemplo, o
mocinho passa a metade da fita montado no cavalo fugindo dos bandidos e a
outra metade montado no cavalo perseguindo os bandidos, o que não deixa
de ser um processo econômico: é só inverter o rolo e passar de novo. No
gênero policial, o crime toma feições inteiramente diferentes da vida real,
tanto que fazem questão de frisar que "qualquer semelhança é mera
coincidência" — mas a única coincidência é que nunca há semelhança. No
cinema, o detetive sempre descobre quem é ô assassino no fim da fita, na
vida real quem descobre é o acaso. Detetive de cinema tem particularidades
especiais: no cinema inglês, o detetive bate na porta antes de entrar, no
cinema americano o detetive entra e depois bate na porta, no cinema francês
o detetive não bate na porta — bate na mulher. Há muitos tipos de filmes: o
filme pra ganhar prêmio em festival, o filme pra ser proibido pela censura, o
filme pra fazer rir (e que faz chorar), o filme pra fazer chorar (e que faz rir),
o filme pra ser discutido pelos intelectuais e o filme pra agradar: o mais fácil
de fazer é o filme pra agradar —basta não saber fazer o filme que ele agrada.

A DEMOCRACIA
Democracia é essa forma de governo onde todos concordam em
discordar um do outro, mas não convém discordar muito, senão acaba a
democracia. Há duas espécies de democracia: a primeira e a segunda. A
primeira ninguém pode explicar porque a segunda não deixa e a segunda
também ninguém pode explicar porque a primeira não deixa. Enfim,
chegamos à conclusão que numa democracia o mais forte diz o que quer,
mas deixa o mais fraco reclamar — desde que não reclame no rádio, nem na
televisão, nem nos jornais, nem nas paredes, nem nos comícios: quem quiser
reclamar que reclame em casa, com a mulher — desde que ela não seja uma
democr. ta da oposição. E quando não se consegue falar na democracia,
melhor passar os dias falando sobre o tempo, se vai chover ou fazer sol. Não
sei se perceberam a sutileza, mas essa questão de democracia é apenas uma
questão de tempo. Donde se conclui que num regime democrático o que
atrapalha o povo é o governo que ele escolhe.
RECREIO
Sempre acerto na mosca
CO-PRODUÇÃO

Jacaré americano contracenando com jacaré brasileiro

QUE É ISSO?

Dois desenhistas com o mesmo traço


QUE É ISSO?

Ovo de calombo
TESTE
Responda rápido: onde está o lampião? No poste, na árvore ou no livro?

Se você respondeu "nos três", demonstrou ser inteligente e pouco


observador — porque a resposta certa é "em cima dos 3".
Seta de Setembro 37
O TRÂNSITO
Vamos deixar de modéstia, o trânsito é igual em qualquer parte do
mundo, pra cada pedestre existem seis automóveis: a confusão é que os seis
automóveis tentam pegar o mesmo pedestre, ao mesmo tempo. O trânsito se
divide em duas partes: o que vai-pra-lá-e-vem-pra-cá e o que vem-pra-cá-e-
vai-pra-lá. Pra não haver tumulto nem congestionamento, bolaram as ruas de
mão única e foi aí que deram azar: tem muita gente que mora no sentido
inverso da mão. Pra solucionar isso, inventaram o guarda e o apito: o guarda
ninguém vê e o apito ninguém ouve — daí serem obrigados a inventar a
multa. Pra evitar a multa, inventaram o sinal luminoso: verde, vermelho e
amarelo. O verde é pra avançar tranqüilo, o vermelho é pra avançar
intranqüilo e o amarelo é pra ficar na dúvida se avança ou não avança.
Resultado: quando o motorista freia pra respeitar a luzinha da frente vem
outro carro e desrespeita a luzinha de trás. Diante disso, decidiu-se que a
desorganização do trânsito devia ser organizada, daí inventarem o chamado
diretor de trânsito, que planeja qual a melhor maneira de congestionar as
ruas, quais os melhores pontos de engarrafamento e qual a melhor televisão
pra ele explicar por que o seu planejamento não tem dado certo. O que não
se pode negar é que, apesar do diretor de trânsito, muita gente consegue
chegar em casa. Pra evitar chateação com o diretor de trânsito, inventaram a
carteira de motorista, que dá direito a cada portador dizer que a culpa é do
outro e como todo mundo tem carteira, ninguém tem culpa. Para a carteira de
motorista funcionar, inventaram o esquecimento: se o motorista não
esquecesse a carteira em casa, iam descobrir que ele não faz exame de vista
há mais de vinte anos. Pra evitar o exame de vista, inventaram 0 p0Ste — e
quem pára uma vez no poste, nunca mais faz exame de vista. E foi assim que
acabaram inventando a perícia: contra essa, ainda não se inventou nada,
porque todos que a chamaram estão esperando até hoje.

O CRIME
O crime foi inventado por um indivíduo chamado Caim, que matou seu
irmão Abel, mas como naquela época não havia polícia técnica, não se sabe
até hoje como foi executado o crime: não havia imprensa pra romancear a
verdade, nem júri pra ser influenciado pela imprensa. Com o correr dos anos,
o crime foi se desenvolvendo: o homem passou a matar a mulher, a mulher o
marido, o marido o genro, o genro a sogra, a sogra o vizinho — até que
inventaram a polícia, que passou a matar o tempo. Foi então que se
lembraram de inventar a justiça, pra julgar os criminosos e condená-los, mas
lhe colocaram uma venda nos olhos — e daí pro erro judiciário foi um passo.
Existem várias maneiras de se punir um criminoso, mas todas elas estão
desaparecendo: o homem que inventou a guilhotina foi condenado à forca, o
que inventou a forca foi condenado à cadeira elétrica, o que inventou a
cadeira elétrica foi condenado à câmara de gás, o que inventou a câmara de
gás foi condenado à prisão perpétua — e já que ele tinha de ficar na prisão o
resto da vida acabou inventando a "comutação da pena", e caiu fora: foi
assim que nasceu o primeiro anistiado, hoje conhecido como desajustado
social. O maior de todos os inventos criminológicos foi a "liberdade
condicional": soltam o criminoso com a condição de ele continuar preso em
sua própria casa. Há vários tipos de crime: o crime passional, o crime
premeditado, o crime ocasional e o crime perfeito. O crime perfeito é sempre
aquele que a polícia não consegue descobrir e até hoje não se conseguiu
provar se o crime é mesmo perfeito ou se a polícia é que é imperfeita. Num
julgamento, o réu fica horas assistindo à discussão de dois advogados, sendo
que um deles lhe faz uma série de acusações que ele nunca praticou
enquanto o outro lhe atribui uma série de qualidades que ele nunca mereceu.
O juiz está ali pra decidir qual dos dois advogados é o mais habilidoso.
Geralmente, o crime é orientado pela imprensa, que forma a opinião pública:
quando os jurados vão dar o seu veredicto já trazem de casa a opinião
pública, publicada. E essa história de se dizer que o criminoso sempre volta
ao local do crime é pura conversa: quem volta ao local do crime uma porção
de vezes é a polícia, pra colher impressões digitais. A polícia vive insistindo
que o crime não compensa, mas nenhum policial quer sair da polícia.

O CASAMENTO
O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem
tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não se conseguiu até
hoje. Há dois tipos de casamento: o civil e o religioso. O civil é o que
ninguém vê, o religioso é onde todo mundo se viu. O casamento é uma
verdadeira peça de teatro, o enredo é sempre o mesmo, só mudam os
personagens: mas os intérpretes são tão ruins que raros são os que
conseguem chegar ao terceiro ato. Algumas peças ficam em cartaz durante
meses, outras durante anos: a "boda de prata" é a data que escolheram pra
comemorar o "sucesso de bilheteria". No casamento, uma coisa é infalível:
onde come um, comem dois — só que a metade. O casamento só dá certo
quando não dá certo: é a única maneira de o homem ficar livre de novo. A
aliança é um símbolo da união e na sociedade moderna a união faz a farsa. O
casamento é um compromisso cercado de leis por todos os lados, as leis
foram inventadas pra quando o homem burla a mulher. Alguns homens são
tão espertos que conseguem burlar a mulher e burlar a lei — e acabam se
burlando a si próprios, pois casam de novo. Por isso, é recomendável que
tanto o noivo como a noiva leiam a burla antes de usar.

A CENSURA
A censura é xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Por isso, em todas as partes
do mundo, ela é exercida com o maior critério, pois todos os xxxxxxxxx
fazem questão de xxxxxxxxxxxxxx. Existem duas espécies de censura: a
censura xxxxxxx e a censura xxxxxxxx xxxxxxxxx. Num regime
democrático, a censura é completamente xxxxxxxxx. A liberdade de
pensamento não pode e não deve ser xxxxxxxx xxxxxxxx em razão direta da
formação das xxxxxxx xxxxxx xxxxxx. No entanto, parece que os
xxxxxxxxx xxxxx, razão pela qual xxxxxxxxx xxxxxxx, mesmo porque
xxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxx, a não ser em casos muito especiais, como por
exemplo: xxxxxxxxx, xxxxxxxx e xxxxxxxxx. Para exercer a censura é
preciso, antes de tudo, ser muito xxxxxxxxx, porque do contrário
xxxxxxxxxxxxxx. Nos países civilizados, onde a censura é exercida por
xxxxxx xxxx, não se pode duvidar que xxxxxxxx xxxx, sendo os resultados
muito xxxxxxxxxxxxx. Sem dúvida alguma a censura é responsável pelos
xxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx de um país. Ainda assim, existe uma
forma bastante hábil para xxxx xxxxxxxxx, pois para bom entend xxxx meia
palavra basta.
A ESTATÍSTICA
Estatística é justamente essa habilidade que os homens têm de
transformar fatos em números, de tal maneira que nunca podem provar que
esses números são um fato. Na última estatística feita pelos americanos, que,
segundo a estatística, é o povo que faz mais estatística, o maior índice de
mortes é causado pela velhice. À primeira vista, parece que nos Estados
Unidos só tem velho, mas não: quando o sujeito chega a certa idade, vira
número e entra pra estatística. Mas nem sempre a estatística facilita as
coisas: quantas crianças engolem bola de gude por dia? É evidente que o
número de crianças é bem maior que o número de bolas de gude, no entanto
a estatística não soluciona o problema: continua-se fabricando muito mais
crianças do que bolas de gude. Quantos buracos existem nas calçadas? É
muito duvidoso um resultado positivo, porque 87,3 por cento dos
pesquisadores que saem pra fazer a estatística caem dentro dos buracos.
Ainda assim, a estatística consegue milagres: de cada dez mulheres que
passam na rua, nove ouvem piadinhas e uma é surda. De cada dez veículos
que vão pra cidade, nove atropelam na ida e um atropela na volta. De cada
dez mulheres casadas, uma é solteira. De cada dez homens solteiros, nove
são casados. De cada dez telefonemas que o marido recebe, nove são pra sua
mulher e um é engano .— justamente quando é ela quem atende. De cada
dez estrelas do cinema, nove usam o sabonete das estrelas e a outra não é
estrela, é protegida. De cada 10 quilos de carne de boi, 1 quilo é de carne de
cavalo. De cada 10 litros de leite de vaca, 9 são de água e 1 é de leite em pó.
De cada dez motoristas, nove saem pra se distrair e um se distrai. Mas nem
sempre a estatística é eficaz: quantas pessoas no mundo inteiro vivem da
profissão de fazer estatística? Não se sabe. Toda vez que vão fazer um
levantamento, nunca tem ninguém em casa — porque saíram todos pra fazer
estatística.
A VALENTIA
O homem valente nunca anda armado, mas em compensação vive muito
menos. A verdadeira coragem é ter coragem de dizer que não tem coragem.
O homem só deve ser valente dentro de casa, até a mulher chegar. Num
duelo a faca, leva mais vantagem o que está de revólver. No avião, a
coragem é passageira. Todo covarde tem seu dia de valentia, geralmente é o
último. De cada dez valentes nove estão enterrados: o décimo se acovardou.
Valente é o índio: já entra no filme sabendo que vai morrer. O noivo também
é valente: casa com uma mulher, sabendo que vai enfrentar duas. Já o
trapezista não é tão valente quanto parece: valente, no duro, é o espectador
que senta embaixo do trapézio.
MINHA AMIGA, A TV
O pior espectador é aquele que quer ver
Minha televisão vai fazer nove anos. Tenho vontade de comprar uma
nova pra ver se ela passa programas mais novos. No princípio só pegava um
canal, agora pega um monte, cada um querendo imitar o outro. Antigamente,
eu sabia qual era o canal pela cara do artista, mas agora é difícil, porque os
artistas mudam tanto de canal que a gente nunca sabe qual está vendo.
Dizem que a televisão se orienta por um Departamento de Pesquisas que
divide o público em classes a, b, c e d —não sei de que classe sou, porque
nunca fui pesquisado.
Só sei que me sinto um nobre, de sangue azul, porque assisto televisão
no "horário nobre", que eles convencionaram ser das 8 às 10. Acho até que
sou supernobre, às vezes vejo televisão até à meia-noite. À tarde nunca
assisto, só dá criança-prodígio fazendo caretas e dando adeusinho pra
mamãe; acho irritante criança com rótulo de talento. Mas o pior são as
crianças-prodígio que entram na faixa das 6 horas da tarde: todas elas com
mais de trinta anos. Sei que a televisão está evoluindo, porque inventaram
um aparelho que liga e desliga de longe, só não inventaram um pra desligar a
do vizinho. A coisa mais fascinante na televisão são as mensagens do
patrocinador: eles apresentam um frasco de desodorante e convencem que se
a gente usar aquele produto acaba arranjando uma namorada — só não
ensinam como é que a gente vai explicar isso à nossa mulher. Dizem que a
televisão dá economia, a gente fica em casa e não precisa gastar dinheiro em
cinema, em teatro, em buate — mas isso é pra quem não tem filho que
obriga o pai a comprar tudo o que aparece na televisão. Outra coisa curiosa
são os programas que eles dizem populares, pra vender coisas baratinhas,
mas ninguém sabe o que eles querem vender, porque dão prêmio de
automóvel e a gente só se lembra do automóvel. Inventaram também esses
programas de auditório, ao invés de esticarem o palco, esticam o auditório,
pra caber mais gente; se a intenção deles é levar todo mundo pro auditório
por que anunciam tanta televisão na televisão? A estatística diz que a
televisão une a família, acho que une até os vizinhos. Mas ai de quem abrir a
boca pra interromper a novela, logo depois da novela vem a fita de mocinho,
logo depois da fita de mocinho vem o jornal com notícias fresquinhas, logo
depois vem a entrevista, logo depois vem o filme onde o astro é um
cachorro, ou um cavalo, ou um gato, isso depende do animal que estiver na
moda, logo depois vem o show com muita mesma mulher, com muita mesma
música e com muita mesma piada, isso quando não entra em cadeia um
especialista político pra dar sua mesma mensagem sob o alto patrocínio do
governo federal, provando com dezenas de gráficos que o custo de vida está
baixando — só que a impressão que dá é que eles usam os gráficos de
cabeça para baixo, depois vem um programa esportivo, depois vem a mulher
da gente dar a "bronca" porque a gente está dormindo no sofá há mais de
duas horas e deixou a televisão ligada. Ter uma televisão é um inferno — já
vi que preciso ter duas.

O segredo da propaganda é a propaganda do


segredo
Depois de tantos anos vendo televisão diariamente, chego a uma
conclusão definitiva: é muito mais divertido e mais prático ver os anúncios.
Enquanto as outras pessoas ficam aflitas tentando decorar os horários das
novelas, das paradas de sucesso e dos chamados programas humorísticos, eu
não tenho problema: ligo a televisão em qualquer canal e vejo os anúncios
sem preocupação de horário. Vocês talvez achem que é loucura ver os
mesmos anúncios diversas vezes, mas posso garantir que os anúncios variam
muito mais que as piadas e as músicas que são servidas todos os dias. Pelo
menos os anúncios são bem bolados, alguns até inteligentes. A técnica é
chatear tanto até ficarem em nosso subconsciente — se é que alguém
consegue ter subconsciente assistindo televisão.
Os refrigerantes, por exemplo: quase todos fazem as garrafas dançar na
nossa frente e tocam uma musiquinha que chega a dar sede. Aí a gente não
resiste: vai à geladeira e bebe um copo de água.
Mas bom mesmo é anúncio de sabonete: aparece cada moça bonita que
vou te contar. E com uma grande vantagem, as moças não falam, só
aparecem, ligam o chuveiro e ficam nuinhas dentro da espuma. Por mais que
a gente saiba que aquilo é anúncio de sabonete, fica sempre aquela dúvida se
um dia eles não vão resolver dar o nome daquele chuveiro ou, quem sabe, o
telefone da moça.
Geniais mesmo são as geladeiras que duram toda a vida. Mas muito mais
geniais são os textos garantindo que cabe tudinho dentro delas, mas acho que
não têm tanta certeza, pois fazem questão de botar uma moça bem bonita pra
mostrar a geladeira — e a gente tem é vontade de comprar a moça, mesmo
sem o "certificado de garantia".
E as televisões, baratíssimas, cada vez mais vendidas, dentro dos novos
planos de venda. Ao invés de bolarem uma televisão mais perfeita, ficam é
bolando planos de venda. No dia em que inventarem uma televisão que
focalize a cara de um sujeito com menos de três orelhas, não precisam nem
fazer anúncio: é só exibir, que esgota no mesmo dia.
Existe anúncio de todo tipo: tecidos que não amarrotam, tecidos que dão
prêmios, tecidos que dão desconto, tecidos coloridos que são apresentados
em preto e branco, tecidos brancos que ficam cada vez mais brancos à
medida que vai surgindo um novo sabão em pó. Mas é o que eles pensam: o
branco deles, lá em casa, todo mundo tá vendo que é cinza.
O mais engraçado são os anúncios de inseticidas que matam todos os
insetos, menos as moscas do estúdio.
Anuncia-se também muita banha, muito pneu, muito perfume, muito
sapato, muito automóvel, muita calça, muita bebida e muita pílula pra dor de
cabeça. Parece até que um anúncio depende do outro — é como se fosse uma
novela, com a vantagem de a gente sempre saber qual o final de cada
anúncio. E não pensem que sou o único a achar os anúncios mais
interessantes que os programas: os donos das emissoras também acham —
senão não ocupavam a maior parte do tempo com anúncios. Nos intervalos é
que colocam alguns programinhas — por absoluta falta de mais anúncios.
Reparem só: os programas de humor mostram o lado negativo das
pessoas, os personagens são quase todos fossilizados, gagos, surdos, cegos,
velhos borocochôs ou sem sexo definido. As novelas exploram seres
anormais dentro de um mundo de misérias e lágrimas. Já os anúncios
apresentam um mundo de otimismo, onde tudo é bom e saudável, não
quebra, dura toda a vida e qualquer um pode adquirir quase de graça,
pagando como puder, no endereço mais próximo da sua casa. O único
detalhe que nos deixa um pouco frustrados é que a moça que dá os endereços
fala tão preocupada em não errar que a gente não consegue decorar nenhum
endereço. Em compensação, sabe de cor a moça todinha.
-
O bom locutor é o que não usa a cabeça

Alguns locutores, quando lêem as notícias, mexem tanto com a cabeça


que não consigo dar tanta atenção às notícias quanto às suas cabeças. Fazem
questão de fingir que não estão lendo, por isso nunca mostram o papel que
está em cima da mesa, mas falam sempre de cabeça baixa, dando a
impressão de que não estão acreditando muito naquilo que estão dizendo. Só
de vez em quando olham rapidamente para a câmara, pra dar a entender que
estão se dirigindo a um público; o certo seria fazer o contrário, olhar para o
público o tempo todo e só de vez em quando olhar para o papel. Mas já que
não conseguem decorar o texto, acho que a única solução seria fazer uma
mesa com tampo de vidro e colocar a câmara debaixo da mesa.
Já os locutores esportivos não mexem com a cabeça, mexem com as
mãos. E têm um vocabulário todo especial, dizem que o "couro" foi para o
"fundo do barbante" — e a gente fica sabendo que couro é a bola e que
barbante tem fundo. Dizem que o jogador "amaciou a bola no peito" — e a
gente tenta em casa amaciar a bola no peito e ela fica ainda mais dura.
Dizem que o craque caiu no "tapete verde do gramado" — e a empregada da
gente fica com água na boca, só de pensar que debaixo daquele tapetão cabe
tanto lixo. Dizem que o jogador "naufragou na etapa complementar" — e
nisso são descarados, pois os jogadores naufragam mesmo em dia de sol.
Dizem uma infinidade de coisas, tais como "dois tentos a um", "defender as
nossas cores", "passou pelo arco", "esfregou a pelota", "calçou o adversário",
"caiu contundido", etc. A televisão já tem boa técnica, o futebol já tem bons
jogadores e o Brasil demonstra ser bastante esportivo, pra aceitar esse tipo de
locutor.
A maior invenção da TV: o intervalo
Certos programas são tão desinteressantes que entram por um olho e
saem pelo outro.
Alguns artistas cobram uma fortuna pra se apresentar num programa,
enquanto alguns patrocinadores pagam uma fortuna pra aparecer.
A vantagem dos programas humorísticos é que eles contratam uma
claque e as piadas já chegam ridas em casa.
Pior é pianista dando concerto: ao invés de olhar pra partitura ou para as
teclas, toca de lado, olhando pra câmara que focaliza um orelhão que não
tem mais tamanho, por isso a gente percebe claramente que na televisão todo
pianista toca de ouvido.
Acho contraproducentes os comerciais de companhias de aviação: os
aviões passam de um lado para o outro, mas nunca voltam.
O melhor
aparelho portátil
é o tamanho gigante

Eu tinha uma televisão portátil. Tão portátil que não resistia à tentação
de mudá-la de um lugar para outro, mesmo quando estava desligada.
Gostava muito dessa televisão, não sei se porque era decorativa ou se porque
as caras que apareciam nela eram tão pequenas que me davam uma sensação
de ser um homem muito maior do que todos os que ela focalizava. Pode
parecer bobagem, mas é uma sensação agradável a gente pensar que é maior
do que os outros — e deve ser por isso que as televisões portáteis vendem
tanto. Mas de uma coisa ninguém escapa: a televisão portátil passa o dia
inteirinho anunciando a televisão tamanho gigante e, não é nada, não é nada,
isso vai dando um complexo de inferioridade na gente que tem televisão
pequena. A cara dos outros pode ser menor, mas a gente sabe que a nossa
televisão é menor que a dos outros — e isso é chato. Tanto falam, tanto
apregoam, tanto anunciam, que um dia a gente vai na onda e acaba com-
prando uma televisão bem grande, com imagem filtrada, tridimensional, e
todos os requisitos da propaganda moderna. Eu fui nessa. Quando a televisão
chegou, veio cercada de quatro carregadores, não sei se por precaução de ela
cair e quebrar ou se pra dar a impressão de que o aparelho era maior do que
realmente é. Sei que quando entrou na sala, a sala começou a ficar pequena:
foi preciso afastar um sofá, retirar duas poltronas e mudar a posição de
alguns quadros — isso pra não seguir a sugestão de um dos carregadores que
achava conveniente derrubar uma parede. Só que ele não sabia que atrás
dessa parede morava o meu vizinho e, ainda que o vizinho concordasse, tá na
cara que ele ia querer ver televisão de graça o dia inteiro. Optei pela retirada
das poltronas, se bem que essa medida dificultasse um pouco o meu conforto
pra assistir televisão, sentado no chão, mas afinal valia a pena: eu poderia
ver perfeitamente da outra sala. Era uma vantagem que a TV portátil não me
dava, nem era preciso transportá-la de um cômodo para outro, era só me
afastar e ver de qualquer lugar. Está aí um novo ângulo que os vendedores de
televisão grande ainda não bolaram: anunciar na base inversa da TV portátil:
"Fixa, imóvel, não precisa ser transportada, você escolhe o lugar e ela fica ali
para o resto da vida. Mais confortável, mais prática, não dá trabalho, não
cansa: completamente irremovível". Mas com todo o seu tamanho, com toda
a sua imponência, a TV grande precisa de uma antena externa. Vem o
especialista, sobe no telhado, jorra metros e metros de fio, rasteja pelas
paredes, coloca chaves de separação de canais, regula daqui, mexe dali, e a
TV começa a tomar conta da casa. Na hora dos doses, vou te contar: é cada
cabeção que não tem mais tamanho. A gente tem de se curvar, ficar
cabisbaixo, prestar atenção, mesmo que não queira. São pessoas nítidas, com
cores firmes, sem risquinhos atravessando os olhos: é o casamento perfeito
da imagem com o som, mas em tamanho sobrenatural. É aí que a gente vê o
ridículo das coisas: cada cabeça enorme dizendo tanta besteira. Agora, que
tem as suas vantagens, tem. As mulheres dos shows, mesmo as que aparecem
em conjunto, lá atrás, a gente vê todas, uma por uma. A cantora, quando abre
a boca, a gente pode até contar os dentes. Se vê tudo: as rugas, os cílios
postiços, a costura das operações plásticas e até os decotes. Só é chato uma
coisa: nunca vi anunciar tanta televisão portátil como nessa minha televisão
grande. Parece até que adivinham o tamanho da televisão que a gente tem —
senão não anunciavam tanta televisão na televisão. Vão desnortear assim no
raio que os parta: só anunciam a televisão que a gente não tem.
enquanto
isso
COMERC
IAIS
MULHER

MULHER

Um produto que vem sendo fabricado há milhares e milhares de anos.

Modelo único: não enguiça


não enferruja
não encolhe

MULHER

Pode ser usada em casa, na rua ou no escritório. É de fácil transporte,


podendo lhe proporcionar um excelente fim de semana.

MULHER

É de manejo simples: funciona com apenas um toque.


Não tenha inveja do seu vizinho, você também pode ter uma igual.
Troque hoje mesmo sua mulher velha por uma nova.

MULHER

É apresentada no formato que você quiser, mas prefira sempre o de


molejo permanente.

MULHER

É a mercadoria que lhe convém: resistente


saudável
de-co-ra-ti-va

E vem com o tradicional certificado de "garantia permanente": funciona


pra toda vida.
MULHER

Adapta-se com facilidade a qualquer temperatura:

■ no verão, funciona de biquíni;


■ no inverno, basta adaptar uma pele de marta e você terá o modelo
"vista-vison".

MULHER

É de fácil acomodação, pode ser guardada na sala, na cozinha, no


banheiro ou no lugar que você achar mais razoável.
Faça uma surpresa à sua esposa, levando hoje mesmo pra sua casa.

MULHER

O encanto permanente do seu lar!


DESPERTADOR

Tempo é dinheiro, mas o nosso despertador só lhe poupa tempo.

SWISVO

O único despertador do mundo que estica o seu tempo: tem treze


números no mostrador. Isso lhe garante uma bonificação de duas horas por
dia, ou seja, sessenta horas por mês, ou seja trinta dias no ano.

Você terá suas férias anuais sem perceber.

SWISVO

Tem outras vantagens: campainha silenciosa, o que lhe garante um sono


tranqüilo, até à hora de você acordar.

SWISVO

Não interrompe o seu sono. Nem com a campainha nem com o tique-
taque incômodo dos outros relógios. Porque Swisvo não tem maquinismo.

SWISVO

É apresentado em três tamanhos:

■ tamanho pequeno, para os apressados,


■ tamanho médio, para as pessoas normais,
■ tamanho gigante, para os preguiçosos — porque o ponteiro demora
muito mais pra dar a volta.
SWISVO

Não lhe custa dinheiro, somente tempo: porque o tempo que você leva
pra se convencer é mais caro do que o dinheiro que você gasta pra comprar.
Consulte hoje mesmo o "plano Swisvo": 128 horas de entrada e 45
minutos mensais.

SWISVO

O único relógio do mundo que tem "corda permanente", porque vem


amarrado numa corda. E a corda de Swisvo tem duas vantagens: poupa o
tempo de dar corda no relógio e poupa dinheiro: quando você estiver duro,
aproveita a corda e pendura o despertador.

SWISVO

O único relógio do mundo que vai equipado pra ficar no prego.


CAIXÃO

RATAPLAN

A última palavra em caixão para defunto. Note bem:

a última palavra é a sua, não a do caixão.

RATAPLAN

Resolve o problema do seu futuro, porque o seu futuro é um só.

RATAPLAN

Não deixe para os seus parentes um problema que é exclusivamente seu:

morra de uma vez e pague um pouquinho por mês.

RATAPLAN

Escolha hoje mesmo o seu caixão: um corpo de entrada e suaves


prestações mensais durante o resto da vida.

Sim, porque você só pára de pagar quando dá a entrada. . . no caixão.

RATAPLAN

apresentado em dois modelos:

modelo simples, para as mortes súbitas,

modelo de luxo, um belíssimo presente para as pessoas doentes.


RATAPLAN

É o único caixão que lhe oferece uma vantagem que nenhum outro
caixão oferece: vem equipado com o "olho mágico", que lhe permite ver
quais as pessoas que irão ao seu enterro. Dê ao seu corpo o conforto que ele
não teve em vida. Adquira hoje mesmo o seu.

RATAPLAN

Um caixão otimista. Tão otimista que é todo pintado de cores vivas.

RATAPLAN

É a sua oportunidade: nunca houve um caso de devolução.

Diga comigo:

Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . .


Rataplan. . . Rataplan. . . Rataplan. . .
MÁQUINA DE ESCREVER

SWEET-CAR

A máquina de escrever construída para os seus dedos.

SWEET-CAR

Escreve em espaço duplo,


quádruplo,
oitábulo,
dezessêisbulo

— o que lhe permite fazer o rascunho entre uma linha e outra.

SWEET-CAR

É apresentada em vários modelos:

SWEET-CAR ECONOMIC — feita especialmente para financistas. Não


tem mais o cifrão superado: já bate tudo convertido em dólar.

SWEET-CAR TELEVISION — ideal para humoristas de televisão. Cria


as mesmas piadas de sete em sete dias.

SWEET-CAR SOCIETY — própria para colunistas sociais. Tem quatro


ss, sendo que três deles com cedilha.

SWEET-CAR CINEMATIC — ótima pra fazer legendas de filmes


americanos. Você pensa em inglês e ela escreve em português.
SWEET-CAR

Apresenta outras vantagens:

Ph numa tecla só, para as pessoas antiquadas.


383 batidas por minuto.

Jogue fora o seu relógio, você pode saber as horas pelo número de
batidas.

SWEET-CAR
Tira as suas dúvidas quando você não sabe se as palavras se escrevem
com z ou com s — porque Sweet-Car não tem z. Venha hoje mesmo ao nosso
escritório e bata as suas promissórias na própria máquina.

SWEET-CAR

A máquina do presente que fará o seu futuro. Soletre comigo: a — s — d


— f — g: Sweet-Car!
VERDADES INADIÁVEIS

O cigarro não provoca o câncer. O câncer, sim, é que vive provocando o


cigarro.

O chato da bebida não é o mal que ela nos pode trazer, são ^_ os bêbados
que ela nos traz.

Segurança de vôo é essa garantia que nos dão os que ficam aqui
embaixo, enquanto estamos lá em cima.

O jogo não é propriamente um vício: é o hábito que a gente adquire de


perder.
Não são os cavalheiros que estão acabando, é o h que já não se usa mais.

O pior cego não é aquele que não quer ver: é aquele que não quer ser
visto.

A coisa mais chata num jantar de cerimônia é a falta de cerimônia com


que as pessoas se portam.

Depois que o homem sai da prisão, perde completamente a liberdade.

O maior vexame que um limpador de vidraça pode passar é cair da janela


pra dentro.

Pior do que a criança do vizinho só a nossa — segundo o nosso vizinho.

Um homem prevenido vale por dois, dois homens prevenidos não sobra
nenhum.

Síndico é o único sujeito que consegue ser proprietário daquilo que não é
seu e manda mais que os próprios donos.

Saca-rolha é esse instrumento que foi inventado pra empurrar a rolha pra
dentro da garrafa.

A alegria do geômetra é ver o círculo pegar fogo.

Tem sujeitos que só usam a vírgula pra dar um nó na frase anterior.

Sinal dos tempos no trânsito é isso: os tempos mudam e os sinais


continuam.

Existem maridos que são meio surdos: sempre que suas mulheres lhes
pedem 50 eles só ouvem 25.

O que mais pesa em cima de um travesseiro é a consciência.


O automóvel é uma extensão do homem: quando um enguiça o outro
também enguiça.

Garantia é um certificado que as firmas dão pra gente se chatear até


acabar a garantia.

Quando o cosmonauta chega ao céu, aí começa o inferno.

A estatística comprova que 99 por cento das donas-de-casa não têm casa.

Só uma coisa o homem faz questão de acompanhar durante toda a sua


vida com verdadeiro carinho: a queda dos cabelos.

O aspirador é a prova de que o pó que respiramos está cada vez mais


caro.

Liberdade de imprensa é fácil. Difícil é ser jornalista livre.

O chato da inflação é que a gente recorre a todos os meios pra empregar


o dinheiro que não tem.

A vantagem da inflação é que em pouco tempo a gente pode trocar um


litro de gasolina por um carro novo.

As pessoas passam anos tentando arranjar um telefone e quando


arranjam deixam fora do gancho pra não serem incomodadas.

O que aumenta a dor de cabeça é a dúvida que a gente tem em escolher o


comprimido que vai tomar.

Sogra é esse parente afastado que se torna cada vez mais próximo.

Como evoluiu a odontologia: cada dia se inventa um aparelho diferente


pra provocar uma dor diferente.

Os postes também deviam fazer exame de vista.

Só existe uma fórmula pra se dar bem no casamento: é se dar bem com o
marido da sua mulher.
Isto, sim, é um triângulo diferente: ele, ela e o pior amigo.

Louco é todo sujeito que cisma que é Napoleão, desde os tempos de


Napoleão.

Pai moderno é uma ilha de afeto cercada de contas por todos os lados.

O que o bêbado precisa pra parar de beber não é que lhe cortem a bebida,
é que lhe cortem o crédito.

Nada melhor pra se conhecer menos uma pessoa do que pedir


informações a seu respeito.

A maior ambição do milionário é ter uma amante, mas quando arranja


uma, deixa de ser milionário.

Grande negócio é o cinema: exibe um filme de trinta anos atrás, num


cinema de cinqüenta anos atrás — com os preços de hoje.

O crime perfeito leva tanto tempo pra ser planejado que às vezes o
criminoso morre antes da vítima.

Nos apartamentos de hoje a gente tem de ligar a televisão bem alto pra
não ouvir a do vizinho.

Grã-finos que se separam continuam se encontrando nas colunas sociais:


ele na linha de cima e ela na de baixo.

São inúteis as belíssimas vitrinas das casas de óptica: quem precisa de


óculos não enxerga nada.

Da discussão não nasce a luz, nasce a conta da luz.

A grande luta dos anunciantes de sabão em pó é querer tornar o seu


branco mais branco que o do outro.

O homem não dorme por dois motivos: pelo que tem de fazer amanhã e
pelo que fez ontem.
Faquir é esse sujeito que fica deitado sobre pregos pra ganhar o seu pão
de cada cem dias.

Pediatra é um sujeito de profissão difícil: tem de agradar as mães sem


prejudicar a saúde das crianças.

O sim mais caro do mundo o homem deposita na igreja e a , mulher fica


sacando o resto da vida.

Agora que já existe o parto sem dor só falta inventarem a yg conta com
anestesia.

Olheiro é esse sujeito que ganha pra vigiar os carros, mas só fica de olho
nos motoristas.

Uma mulher é uma mulher, uma mulher, uma mulher. Às vezes, uma
rosa.

Marido é um homem que passa a metade da vida procurando uma mulher


e a outra metade tentando livrar-se dela.

É mais cômodo ter três mulheres fora de casa do que uma dentro.

Certos vestidos são um estouro: a mulher aperta o botão nas costas e eles
estouram na frente. "
O HOMEM EM ESTADO DE COMO
COMO SE MONTA UM ESCRITÓRIO

Todo homem deve ter um escritório, pelo menos pra quando sair de casa
dizer à mulher que foi ao escritório. E quando chegar no escritório, dizer pra
telefonista que não está pra ninguém.
Um bom escritório tem de ser funcional, isto é, tem de ter tudo para o
homem não funcionar enquanto o escritório está funcionando.
Por exemplo, a primeira coisa importante é ter uma janela bem ampla
por onde deve passar a luz e botar uma cortina bem grossa, pra não deixar
passar a luz. Como se vê, a janela é importante, a cortina, funcional. Quer
dizer, desde que a cortina funcione.
A segunda coisa é ter uma boa iluminação artificial, isso pode ser feito
com um pouco de bom gosto e um pouco mais de dinheiro. Se você não tiver
bom gosto, tenha pelo menos o dinheiro — que o mau gosto também custa
uma nota.
É imprescindível que tenha uma mesa bem grande, o suficiente pra se
deixar em cima dela um monte de papéis que deviam estar nas gavetas. E já
que você sabe que não vai guardar os papéis nas gavetas, a mesa deve ter no
mínimo quatro, pra guardar tudo aquilo que não lhe interessa que os outros
vejam, como presentes de festas, talões de cheque, conta de luz atrasada,
tesoura de unhas e um par de meias — que dão bem o toque de relaxamento
dos grandes homens de negócio.
O escritório funcional deve ter um fichário, mas o fichário, pra ser
funcional, deve ser sempre revisto — pode acontecer de entrar uma barata na
letra G quando o certo seria letra B.
O ar condicionado é outra peça indispensável para o calor do escritório,
digo, para o escritório no calor. Mas isso não quer dizer que no inverno você
tenha de removê-lo e aturar durante vários meses aquele buraco imenso na
parede: é só deixá-lo desligado. Mas para isso, é preciso que o aparelho seja
funcional — e nada mais funcional num escritório do que um aparelho de ar
condicionado que não funcione, desde que não seja coberto pela cortina.
Uma eletrola bem escondida, com alto-falantes mais escondidos ainda,
dão um certo ar de mistério — mas nunca esquecer de ligar a eletrola antes
de mandar alguém entrar. Detalhe: um isqueiro de mesa, metido a besta, sem
fluido, pode entreter durante algumas horas as pessoas que estão esperando.
Uma porta bem disfarçada pode servir de curiosidade a muitas pessoas
que não conseguem disfarçar a sua curiosidade em certas ocasiões, então
você diz: é aí mesmo.
Livros também são muito importantes num escritório, pelo menos fazem
o dono do escritório ficar importante, mesmo que ele não os tenha lido —
porque livro de escritório só quem lê são as visitas, quando examinam a
estante.
Por falar em estante, as prateleiras devem ter profundidade suficiente
para que caibam os livros na frente e as garrafas de uísque atrás. A não ser
que você seja desses homens muito exigentes que primeiro constróem o bar
e depois é que fazem o escritório em volta. Nesse caso, a maneira mais fun-
cional é fazer um barzinho embutido, com a porta imitando um cofre: em
caso de roubo, os ladrões tomam um pileque de arromba.
Uma televisãozinha portátil não faz mal a ninguém, é até decorativa.
Porque não há nada mais decorativo num escritório do que um homem
esparramado numa poltrona vendo televisão. Dá um ar de prosperidade, de
bem-estar, que só as pessoas muito íntimas podem constatar — mas não há
esse risco, porque pessoas muito íntimas não freqüentam escritório, a não ser
as secretárias.
Ah, ia me esquecendo: um escritório funcional deve ter também uma
secretária funcional. Mas, cá entre nós, se você arranjar uma secretária
funcional, me diga: pra que escritório?

COMO SE RECEBE UM SEGURO

Coisa engraçada é o seguro, já não digo o de vida, porque desse a gente


não tira a menor vantagem, pois se chama de vida mas só pagam quando a
gente morre. Me refiro ao seguro de automóvel, desses que a gente faz
quando compra um carro, com receio de dar uma batida, e no fim do ano fica
chateado porque pagou um dinheirão e não teve nenhum acidente.
Mas o engraçado não é isso: é quando há o tal acidente. A falta de
confiança no segurado, por parte dos seguradores, é tão grande que eles
lutam por todos os meios pra saber "por que" pagam, "quanto" têm de pagar
e "de que maneira" vão pagar um compromisso que assumiram com a gente
quando a gente pensava que ia poupar trabalho fazendo um seguro.
Outro dia, por exemplo, quando entrei no carro, verifiquei que faltava
um farol: havia um buraco num dos pára-lamas. Não sei se roubaram, se
algum caminhão deu marcha à ré e quebrou o vidro e depois tiraram tudo
para não deixar vestígios, ou se caiu de maduro. Só sei que o farol faz parte
do carro e se sumiu o seguro deve pagar. Me informaram que o seguro não
paga roubo de peças: eu teria de dizer que roubaram o carro e que quando o
carro foi encontrado estava com menos um farol.
Como se vê, há macetes pra não pagar e há macetes pra fazer pagar —
mas acho que há uma verdade acima de tudo isso: a gente paga pra não se
chatear e não pra mentir. Mas o pior é que a chateação começa justamente na
hora de receber: eles exigem uma vistoria com hora marcada, mas quem
marca a hora e o local são eles. Perguntam um monte de coisas, conferem
daqui, conferem dali, procuram uma certa lógica nas declarações, como se
um acidente tivesse alguma lógica. Resultado: a gente faz seguro pra não se
aborrecer mas acaba pagando qualquer conserto pra não se aborrecer com o
seguro. Acho que deviam inventar um seguro contra o seguro.

COMO SE PREPARA UMA DECORAÇÃO

Os dois grandes problemas de uma decoração no apartamento são a


mulher da gente e o decorador da mulher da gente. O decorador gosta de
azul, a mulher gosta de vermelho e a gente gosta de verde.
É difícil conciliar os três gostos na mesma decoração: ou a gente muda
de decorador, ou troca de mulher ou substitui as três cores por uma neutra.
Mas a nenhum de nós ocorre esse pequeno detalhe, durante os três meses em
que se passa as noites em claro discutindo a cor.
E o pior não é isso: quando se chega a uma conclusão intermediária
sobre a cor, um cedendo um pouquinho no azul, outro cedendo um
pouquinho no vermelho e a gente cedendo um pouquinho no verde, vem o
problema do pintor.
A vizinha da gente diz que conhece um pintor ótimo que pintou a casa de
uma amiga, mas que ele mora no subúrbio e não tem telefone, assim que ela
encontrar a vizinha vai falar com ela pra ver se ela encontra o pintor e dá o
recado pra ele. A gente sai andando pela rua e encontra um pintor pendurado
numa janela, ele larga tudo e vem combinar com a gente. Faz o preço, diz
que precisa de dinheiro pra comprar a tinta e quando a gente percebe ele já
levou a metade do orçamento com o que se convencionou chamar de sinal.
Só à noitinha é que vem a surpresa: a mulher da gente já encomendou papel
pintado, porque detesta cheiro de tinta.
COMO SE CONSERTA UM ASPIRADOR

Meu aspirador enguiçou: fez um ruído estranho, começou a cheirar a


queimado, depois cismou de não puxar mais o pó. Toquei pra companhia:
— Nós mandaremos um técnico, amanhã ou depois.
Perguntei se não podiam dar certeza se "amanhã" ou "depois", disseram
que não, que as camionetas saem dia-sim-dia-não. Perguntei qual o dia-sim,
a mocinha titubeou, disse que faria o possível para o técnico vir amanhã.
Esperei o amanhã inteirinho e ele só veio depois: fiquei sabendo que o dia-
sim era o depois. O técnico chegou, examinou, mexeu, olhou, desmontou,
montou, disse que precisava levar o aparelho para um exame mais detalhado,
mas logo de cara foi avisando que precisava mudar o "induzido", o
"rolamento", o "carvão", enfim, só não precisava mudar a carcaça, porque
senão seria melhor comprar outro novo. Levou o aparelho, deixou uma nota
comigo, pediu que ligasse dentro de dois dias, que era o tempo que se
gastava pra se fazer o orçamento. Liguei dois dias depois, uma mocinha
disse que o pessoal encarregado do orçamento estava meio adoentado e que
o orçamento ficaria pronto amanhã, mas como amanhã era sábado, melhor
seria ligar na segunda-feira. Fiquei sabendo que o pessoal adoentado da
companhia só fica bom na segunda-feira.
— Já está pronto o orçamento?
— Quem está falando?
Dei o número da nota, mas não adiantou, ela pediu todos os dados outra
vez: nome, endereço, telefone, data da nota, nome do técnico e perguntou
qual o defeito do aparelho e ela se sentiu muito feliz quando eu disse que o
aparelho não funcionava. Pediu um minutinho e sua voz voltou em forma de
cifras:
— 257,98.
— O queeeeeeeeeeeê?
— Isso mesmo: 257,98.
— Mas isso é quase o preço de um novo.
— O senhor é que pensa: o novo agora está custando 980 e vai ter outro
aumento mês que vem.
A mocinha disse mais, que se eu não quisesse fazer o conserto, tinha de
pagar 4000 cruzeiros pra ela devolver o aspirador. Acabei topando, afinal o
que são 257,98 nos dias de hoje? Quase o preço de um filé, ou de um pneu
antiderrapante ou mesmo de um par de sapatos — e nada disso tira o pó do
tapete.
— Quando é que fica pronto?
— O senhor vai ligando pra cá, quando estiver pronto nós avisamos.
Não fiz outra coisa, liguei a semana inteirinha e caí no mesmo problema:
amanhã não temos camioneta, só depois. Fiquei em casa esperando o
aspirador como quem espera uma noiva, com a diferença de que a noiva a
gente leva pro cinema e o aspirador não fica bem, mesmo porque nunca se
sabe se o filme é impróprio pra dezoito anos e o meu aspirador ainda vai
fazer dez. Quando o homem chegou, ligou o aparelho na tomada e disse que
agora sim, estava novinho, puxava o ar com uma força que vou te contar: se
não tiro o meu cigarro de perto ele acaba dando uma tragada. Paguei a nota e
pedi o recibo, o homem me deu um recibo provisório, disse que o verdadeiro
vinha depois, pelo correio. Parece que eles gostam de complicar as coisas,
além disso, o homem disse que o aparelho agora tinha garantia de seis
meses, pelo conserto, mas não me deu nenhum documento que provasse isso
— e fiquei sem garantia de que teria mesmo garantia. Foi só o homem sair,
pra eu começar a rodar a casa puxando o pó: não durou cinco minutos e
pifou. Daí pra frente, a história é a mesma: liguei pra tal mocinha, ela pediu
o número da nota, o nome, o endereço, o telefone, o nome do técnico, depois
disse que o aspirador já tinha sido entregue, respondi que se não tivesse sido
entregue eu não poderia fazer nova reclamação, pois o aspirador tinha
enguiçado outra vez. Ela parecia um disco:
— Amanhã ou depois, mandaremos um técnico.
— Não pode ser hoje? Acabei de pagar uma fortuna pra consertarem e
deu o mesmo defeito.
— Hoje não temos camioneta, só amanhã.
É muita coincidência, mas deduzi que eles só não têm camioneta nos
dias que a gente liga. Acabei me conformando com o velho provérbio que
cada vez mais se torna atual: "do pó viemos, ao pó retornaremos".

COMO SE FAZ A PREVISÃO DO TEMPO

1 — O serviço meteorológico tem muito mais de meteoro do que de


lógico. Quando a previsão diz tempo bom, isso é mau. Quando diz mau, é
muito pior — porque pode acertar.

2 — Vou explicar pra vocês como é que se faz a previsão do tempo: os


funcionários se reúnem, jogando um níquel pra cima: se der cara, faz sol, se
der coroa, chove; se o níquel cair de pé, tempo nublado. Só não acertam
porque há muito tempo que o serviço meteorológico está sem níquel.
3 — Não existe previsão, o que existe é revisão do tempo: os jornais
publicam os boletins e o próprio tempo faz a revisão.

4 — Mas não há dúvida que as coisas vão melhorar, quando começar a


funcionar o cérebro eletrônico. Ele fará, diariamente, a previsão certa e
infalível: "tempo instável, sujeito a chuvas, ou vice-versa".

5 — O serviço meteorológico americano é o mais adiantado do mundo:


de três em três meses um furacão arrasta o prédio inteirinho de uma cidade
para outra.

COMO SE CONSERVA UM FUMANTE

Deixar de fumar é fácil, quero ver é não deixar. Sou um fumante normal,
tragando em média de trinta a quarenta cigarros por dia — se é que isso
possa ser considerado normal. Em 25 anos, já consumi cerca de 365 000
cigarros e já tirei umas dez radiografias do pulmão, todas elas boas, mas isso
não impede que um dia eu possa ter câncer no pulmão, ou no cotovelo, onde
o fumo não penetra — só pra chatear os especialistas. Confesso que cada vez
me impressiono mais com esses relatórios sobre câncer no pulmão, causado
pelo fumo; acho realmente fantástico esse pessoal da estatística esvaziando
pulmões de cadáveres à procura de nicotina.
Toda a vez que leio um relatório médico nesse sentido, tenho vontade de
parar de fumar, mas reajo rapidamente e começo a ler os anúncios de
cigarros, todos otimistas, vendendo saúde em tecnicolor, com moças bonitas
tirando fumaça até pelos olhos, me convencendo com muito mais facilidade
que p mundo sem cigarro não tem o menor sentido.
É aí que começo a meditar sobre esse intricado mundo da propaganda de
cigarro, cada qual querendo convencer que o seu cigarro é o melhor.
Ninguém troca de marca de cigarro porque uma moça de pernas lindamente
bronzeadas diz que fuma o cigarro X ou Y, a gente fica na dúvida se eles
querem vender mesmo o cigarro ou se querem insinuar a mulher. A
"mensagem" é dirigida diretamente ao nosso subconsciente, porque,
conscientemente, nossa vontade não é trocar de cigarro e sim trocar de
mulher.
De qualquer forma, a luta que se estabelece no nosso íntimo é violenta,
principalmente quando o contrato de propaganda dos jornais está no fim e
eles começam a publicar artigos contra o fumo, ensinando "como deixar de
fumar". Já umas dez vezes tentei deixar, cheguei a fazer planos e arquitetar
idéias mirabolantes, esquecendo propositadamente os maços nos locais mais
distantes. Li inúmeros artigos antifumo escritos por cirurgiões, médicos-
legistas, cancerologistas e todos eles ficam na área da suposição estatística,
pois se eles garantem que um fumante vive menos dez anos que o não-
fumante é porque tiram a média, mas, entre esses, garanto que tem muito
velhinho de 120 anos que só não fuma na frente do pai porque o pai detesta
cigarro: prefere o charuto.
Os psiquiatras afirmam que não é o fumo que traz o vício, mas os gestos
que se tornam mecânicos no hábito de fumar, como puxar o cigarro da
carteira, bater uma das suas pontas, acender o isqueiro, levar o cigarro à
boca, pousá-lo no cinzeiro etc.
Isso quer dizer que é muito simples deixar o cigarro: o difícil é se
desfazer dos gestos, e toda vez que penso nisso, abandono a idéia de deixar
de fumar — pois se já é ridículo todo esse ritual com um cigarro na mão,
muito pior seria sem ele. Baseado nisso, decidi criar sistemas que não
permitam largar o cigarro, como por exemplo: decidir parar sempre no
próximo aumento. É uma espécie de vingança que a gente vai arquitetando
mentalmente — se a gente parar agora o prejuízo do fabricante será pequeno,
se a gente parar quando o cigarro estiver muito mais caro é capaz até de
levá-lo à falência. E, adiando de um aumento para outro, não se pára nunca,
porque os aumentos também não param.
Outro bom sistema pra não parar de fumar é trocar o hábito do cigarro
por balas; a gente começa a chupar bala o dia inteiro e acaba ficando viciado
em bala e pra deixar o vício das balas nada melhor do que trocá-las por
cigarros. Eu bolando aqui, eles bolando lá, a guerra continua cada vez mais
violenta: segundo pesquisa recente, 125 000 norte-americanos morrem
anualmente do hábito de fumar, sendo "a maior ameaça à vida do homem em
tempos de paz". Cento e quarenta e quatro milhões de dólares foram gastos
em propaganda na América para apresentar o cigarro, principalmente aos
jovens, como útil e indispensável.
Os números dominam o mundo de tal forma que é fácil deduzir que o
que mata o homem moderno não é o câncer, é a estatística. Não é por nada,
mas, com todos esses dados e com todos esses argumentos, é preciso ter
muita força de vontade pra não deixar de fumar.
ANÚNCIOS MODERNOS
PRECISA-SE de um espião da melhor qualidade, quanto menos
referências, melhor.

VESGO troca olho direito pelo olho esquerdo de outro vesgo.

PORTEIRO precisa de emprego com urgência, tratar com o porteiro.

VENDE-SE um saxofone com urgência, tratar no andar de baixo e pegar


o saxofone no andar de cima.

TROCA-SE um rádio de pilha por uma pilha de livros sobre como


consertar um rádio de pilha.

TÉCNICO de som procura médico de ouvido, um dos dois está com a


razão.

MOTORISTA amador deseja trabalhar para motorista profissional.

VIGIA procura emprego num edifício de respeito. Não deixa ninguém


entrar sem perguntar pra onde vai, nem sair sem perguntar a que horas volta.
Trabalhou vinte anos na portaria da penitenciária.

OCASIÃO — vende-se 1 metro pelo preço de 80 centímetros.

BABÁ com oitenta anos de prática de crianças procura uma patroa com
prática de velhinhas.

VENDEM-SE 800 gramas de vergonha, saldo do ano passado e o único


que resta no mercado. Também resolvemos ficar sem.

VENDE-SE um foguete baratinho, semana que vem vai subir.

VENDE-SE um segredo de cofre a quem conseguir abrir o cofre, porque


o dono não consegue.

VENDE-SE um pulmão de aço com pequeno defeito, negócio


urgentíssimo senão não dá mais tempo.
VENDE-SE um táxi com apenas cinco postes de uso.

AGÊNCIA oferece as piores e as' melhores empregadas da praça


mediante razoável comissão mensal. As piores não ficam no emprego porque
as patroas não querem, as melhores porque nós não queremos.

MÉDICO especialista em médicos especialistas deseja consultar médico


não especialista.

VELHO de 120 anos gratifica a quem encontrar o seu filho de treze, mas
não se lembra mais do seu nome.

VENDE-SE uma tranca de direção tão boa que os ladrões levaram o


carro mas não conseguiram levar a tranca.

PROFESSOR aposentado deseja tomar aulas de aposentadoria.

VENDE-SE uma cadeira de balanço que já não consigo mais balançar.

PERDEU-SE uma jovem de dezoito anos, alta, esbelta, bonita, cabelos


castanhos e olhos verdes. A quem devolver a jovem de dezoito, gratifica-se
com duas de 35.

CEGO procura psiquiatra pia tratar sua mulher que deu pra falar sozinha
há mais de duas semanas.

VENDE-SE um boato com a máxima urgência, antes que deixe de ser


boato.

VENDE-SE um fígado quase novo, favor não discutir na hora de acertar


o preço.

CONSERTAM-SE aparelhos de televisão, mesmo os que estejam


funcionando bem.

PRECISA-SE de um ator que saiba levar soco na cara, se reagir vai pro
olho da rua.
NEGOCIANTE com pequeno capital e grande capacidade de trabalho
deseja dobrar o capital e reduzir a capacidade de trabalho.

DETETIVE particular oferece seus serviços a mulheres enganadas. É tão


particular que resolve seus problemas sem sair da sua casa.

VENDE-SE um par de halteres de 120 quilos, pagamento à vista, que


ninguém é otário.

VENDE-SE violino de menino-prodígio, faz-se um bom conto a quem


ficar também com o menino.

DÁ-SE chance a uma secretária que dê chance.

PROCURO piano desafinado para alugar, até meu vizinho aprender a


tocar.

ESPIÃO internacional troca dezoito uniformes militares por um terno.

VENDE-SE um par de pernas mecânicas, uma delas zero quilômetro.

VENDE-SE uma roleta viciada em jogador.

LOUCO com mania de Napoleão fugiu do hospício, quem o encontrar


pode ficar com ele que o hospício tem mais quinze.

TIPÓGRAFO aflito compra um v com urgência, tratar com o Bicente.

CHOFER sem experiência, mas com muito boa vontade, deseja se


empregar em residência que tenha carro do ano porque está doido pra
aprender a dirigir.

VENDE-SE um colchão de casal gasto de um lado só.

NOVELA DE TV precisa de ator responsável para fazer o papel de


irresponsável.

VENDE-SE um guarda-chuva por preço de ocasião, favor aparecer num


dia de sol.
VENDE-SE um véu de noiva que nunca foi usado, nem o véu nem a
noiva.

TROCA-SE um carro que pertenceu a uma só mulher e troca-se também


uma mulher que pertenceu a vários carros.

ÍNDIO DE CINEMA procura emprego a 50 dólares a morte.

VENDO a minha consciência mas o preço quem faz é a sua.

AGÊNCIA FUNERÁRIA participa o aumento do seu capital após o


falecimento de três dos seus sócios.

GA-GA-GAGO pro-pro-procura re-re-remédio pa-pa-para ve-ve-velho


ga-gá, é isso mesmo.

PROCURA-SE um psicanalista que queira trocar um consciente velho


por um subconsciente novo.
CARTAS NA MESA

CARTA: Eu e meu marido somos gêmeos, quer dizer, eu sou gêmea de


minha irmã e meu marido é gêmeo do irmão dele. O senhor pode calcular
como vivemos num ambiente de tortura e desconfiança. Outro dia meu
marido saiu de casa e disse, distraído, que ia pra casa. Como tirar essa eterna
dúvida? (Aríete — Rio)
RESPOSTA: Há vários processos, um deles é um casal se vestir sempre
de azul e o outro sempre de vermelho. Aí vocês podem se conhecer pela cor,
embora dê um pouquinho de confusão na hora do banho. A solução ideal
seria um casal morar na Bahia e o outro no Rio Grande do Sul: na hora de
decidir quem vai pra um lado e quem vai pro outro é que pode dar margem a
erro — mas dentro de algum tempo tudo se soluciona e os casais se
identificarão pelo sotaque.

CARTA: Meu marido não pára em casa. Que devo fazer? (Inezita —
Ituiutaba)

RESPOSTA: Durma fora. A melhor maneira de prender o marido em


casa é a mulher dormir fora.

CARTA: Briguei com meu namorado pela primeira vez, só que ele jurou
que foi a última. Estou com vontade de me suicidar, mas estou sem dinheiro.
O senhor conhece algum método de suicídio bem baratinho? (Alonsa — Juiz
de Fora)

RESPOSTA: Vamos com calma, Alonsa. Nesses casos de briga de


namorados o mais aconselhável é a "tentativa": dá o mesmo resultado que o
suicídio, com a vantagem da pessoa ficar viva. Segundo o livro Como se
matar sem morrer, de autor desconhecido, pois se suicidou antes de editar o
livro, existem muitos meios de "tentativas", mas as mais baratinhas e mais
práticas são: Abrir o gás. Mas, antes de abrir o gás, abrir também a porta.
Assim, enquanto o gás sai pela porta, os vizinhos sentem o cheiro e entram
pra salvar. Tomar uma pílula de tranqüilizante e deixar o vidro vazio caído
no chão. Nada como um vidro de tranqüilizante para intranqüilizar as
pessoas. Se quiser dar mais autenticidade à "tentativa", tome o vidro todo de
tranqüilizante. Dá um sono gostoso e quando você acordar está tudo cor-de-
rosa: se estiver de outra cor, ligue depressa para o pronto-socorro — porque
não dura muito e você vê tudo em preto e branco. Estes exemplos dão pra
quebrar o galho, escreva de novo e me conte. Se não escrever é porque
exagerou na dose.

CARTA: Meu marido é piloto de avião a jato, não me dá uma folga. Mal
sai de casa já está voltando. Que é que o senhor me aconselha? (Eldemira —
Barra Mansa)

RESPOSTA: Coloque na entrada da sua casa uma porta giratória, assim a


senhora inverte o problema: mal o seu marido entra, já está saindo.

CARTA: Estou namorando um índio, mas meus pais são contra, porque
ele é antropófago e já comeu a metade do meu braço esquerdo. Agora nem
sei onde colocar a aliança — que é que o senhor sugere? Urgente, pelo amor
que o senhor tem à sua mãe, que ele não tira os olhos de cima de mim.
(Japanira — Manaus)

RESPOSTA: A culpa é toda sua, Japanira. Se ele não pediu a sua mão
aos seus pais e resolveu comer o seu braço é porque não merece a menor
confiança. O melhor é abandoná-lo, de estalo. Só espero que ainda lhe reste
pelo menos um olho pra você ler este meu conselho.

CARTA: Costumo ir à buate toda semana com a minha mulher. Ontem


saí um instante pra lavar as mãos e quando , voltei pra mesa ela cismou de
dançar comigo a noite ty inteira. Só quando cheguei em casa foi que reparei
que a minha mulher havia sido trocada por outra. Que é que faço pra
continuar com essa? (Gilberto — Guanabara)

RESPOSTA: Nunca mais vá à buate. Se você for com essa mulher, tá na


cara que vai acabar voltando pra casa com a sua. Não convém arriscar.

CARTA: Pedi 400 cruzeiros pro meu marido pra comprar um maiô, mas
ele só me deu 30. Comprei 30 cruzeiros de maio, mas ele acha que está
aparecendo muita coisa e não me deixa ir à praia. O senhor acha isso justo?
(Zuleika — Guarujá)

RESPOSTA: Justo deve ser o seu maio. Tão justo que faz o seu marido
parecer injusto. Mas não dê importância, vá à praia assim mesmo: quanto
menos importância a mulher dá ao marido, muito mais fácil conseguir
qualquer importância.
CARTA: Meu marido foi pra guerra e até hoje só escreveu duas cartas,
uma em 1914 e a outra em 1939. O senhor acha que ele vai escrever de
novo? (Dorotéia — Zurich)

RESPOSTA: Nunca se sabe, minha filha. Está pra estourar outra guerra a
qualquer momento — é sempre mais uma chance que você tem.

CARTA: Todas as noites, quando entro no meu apartamento, encontro


um cavalo deitado na minha cama. Já fiz tudo para convencê-lo a sair, mas
ele insiste em dizer que mora ali muito antes de construírem o edifício. O
síndico me disse que o cavalo está certo e que ganhou, inclusive, a ação de
despejo na justiça — pois mostrou documentos provando que o apartamento
lhe foi deixado numa herança, por parte da sua avó materna, uma zebra.
(Félix — São Conrado)

RESPOSTA: Este é um caso inteiramente inédito e pelo que vejo vai ser
impossível tirar o cavalo daí. A melhor solução é você fazer amizade com o
cavalo, ensinar a ele a jogar biriba: isso sempre ajuda a matar o tempo.
Chato vai ser se ele ganhar no jogo.

CARTA: Comprei um convite pro baile do Municipal, mas o Li preço


foi tão caro que não sobrou um tostão pra fazer a fantasia. Que é que o
senhor sugere? (Crispina — Grajaú)

RESPOSTA: Vá fantasiada de convite. Além de ninguém lhe barrar na


porta, você ainda pode ganhar o prêmio de fantasia mais cara do baile. Mais
cara e mais corpo.

CARTA: Tenho 99 anos e onze meses, até agora não consegui arranjar
marido. Existe algum macete pra isso? (Hiroshima — São Paulo)

RESPOSTA: Hiroshima, meu amor: macete pra arranjar marido, sempre


tem. O que não tem é macete pra sua idade.
CARTA: Eu estava jogando pôquer, quando o carteiro chegou com a
notícia de que minha mulher teve uma trinca de gêmeos. (Ardovino — Juiz
de Fora)

RESPOSTA: Bem feito. De outra vez quando jogar pôquer fique


plantado e não peça cartas, diga mesa.

CARTA: Estou fazendo estação de águas num luxuoso hotel e há uma


semana que minha mulher não dorme comigo, e a desculpa que ela dá, de
manhã, é sempre a mesma: diz que errou o número do quarto. O senhor
acredita nisso? (Alonso — Caxambu)

RESPOSTA: Quem tem de acreditar não sou eu, é você, que a mulher é
sua. Mas se você quiser tirar a dúvida, troque o número do seu quarto e
aguarde: garanto que a sua mulher aparece. Se não aparecer, aparece o
vizinho — aí você tranca ele que ela acaba aparecendo.

CARTA: Mando minha mulher pra fora todo ano durante o carnaval.
Este ano ela cismou de me ajudar no escritório e o pior é que não tenho
escritório. (Armando — Gávea)

RESPOSTA: Monte um escritório pra sua mulher e peça a ela pra lhe
mandar pra fora todo ano durante o carnaval.

CARTA: Anexo a esta carta, segue a minha mulher. Seja sincero, olhe
bem pra ela e diga se é possível ser feliz até> que a morte nos separe.
(Gastão — Teresópolis)

RESPOSTA: Segue de volta sua mulher. Você tem toda razão: se ela
fizesse a felicidade de alguém, garanto que teria se extraviado no caminho.

CARTA: As moças de hoje são tão independentes que há mais de dois


meses não consigo encontrar a minha filha em casa. Que me aconselha?
(Ermecinda — Guaratinguetá)
RESPOSTA: Chegue um pouquinho mais cedo.

CARTA: Sou náufrago, estou numa ilha deserta há mais de oito anos.
No princípio, eu tinha sete mulheres, mas os navios foram passando e foram
levando, uma de cada vez. Ontem levaram minha última mulher e hoje estou
gastando minha última garrafa pra lhe enviar esta carta pela correnteza das
6hl5. Pelo amor de Deus, me ajude no que puder. (Desesperado —
arquipélago das Antilhas)

RESPOSTA: Recebi sua garrafa e confesso que não entendi bem o seu
apelo: não sei se você está querendo que lhe mande uma mulher ou uma
garrafa. Explique-se melhor. Se for mulher, poderei lhe enviar até duas
dúzias, sendo cinco de entrada e o restante em suaves prestações mensais. Se
for garrafa, iniciarei uma campanha pra arrecadar garrafas em benefício do
náufrago desamparado.

CARTA: Passei dezoito anos na guerra e voltei ontem pra minha terra
natal. Acontece que não consigo mais me adaptar à paz do lar: o senhor não
sabe de uma guerrinha que aceite um voluntário estrangeiro? (Combatente
— Argélia)

RESPOSTA: Existem várias guerras que estão pra estourar há bastante


tempo, mas a ONU ainda não chegou a um acordo quanto às datas. Não o
aconselho a se meter em guerra velha: uma guerra nova pode lhe dar
melhores oportunidades.

CARTA: Meu marido sempre chega em casa com os sapatos na mão,


depois das 4 da madrugada. (Carlota — Três Rios)

RESPOSTA: Venda o relógio e passe a consultar as horas pelos sapatos


do seu marido.

CARTA: Meu marido já está com 63 anos e faz na cama. (Marilena —


Jacarepaguá)
RESPOSTA: Tem certas coisas, Marilena, que, apesar da idade, o
homem continua fazendo na cama, como dormir, ler jornal, fumar e ver
televisão. Mande detalhes.

CARTA: Matei meus cinco primeiros maridos e nunca ninguém


descobriu. Agora estou numa tremenda sinuca: estou casada com dois
homens e a polícia quer me prender por bigamia. Sou forçada a matar mais
um marido, mas não sei qual porque amo os dois. Que é que o senhor me
aconselha? (Indecisa — Sete Lagoas)

RESPOSTA: Se você matar qualquer dos dois maridos, vai ficar com
remorso, pois achará sempre que deveria ter matado o outro. Se não matar
nenhum, será presa. Só há uma solução: mate os dois e diga pra polícia que é
solteira — não tem dado certo até agora?

CARTA: Minha profissão é fazer strip-tease. Ontem, quando acabei o


meu número, não me deixaram vestir a roupa.
Estou presa aqui na buate, sem poder sair — que devo fazer? (Jaqueline
— Copacabana)

RESPOSTA: Mande o endereço, minha filha.

CARTA: Meu marido está apaixonado por uma girafa e na hora de


dormir é um drama, ele cismou de colocar a girafa na nossa cama. Fica
aquele pescoção enorme no v. quarto e o resto na sala. Que faço? (Heloísa —
Goiás)
RESPOSTA: Se a posição da girafa lhe incomoda, inverta a girafa:
ponha o pescoço dela na sala e o resto no quarto.

CARTA: Sou surdo. Minha mulher passa as noites conversando com um


primo dela que vai lá em casa diariamente. Riem, brincam, dão tapinhas nas
costas — e não entendo nada, porque não me explicam. O senhor acha que
devo desconfiar de alguma coisa? (Matheus — Campinas)

RESPOSTA: O problema é seu, meu caro: o pior surdo é o que não quer
ver.

CARTA: Minha mulher achou um colar numa pesca submarina e disse


que não sabe de quem é, o senhor não acha melhor botar um anúncio no
jornal? Só tem um detalhe: minha mulher não sabe nadar. (Jonjoca — Angra
dds Reis)

RESPOSTA: Acho que o senhor deve botar um anúncio no jornal, mas


procurando um professor de natação pra sua mulher. Se sem saber nadar ela
achou um colar de pérolas, imagine nadando.

CARTA: Meu marido é soldado e todo dia chega tarde da guerra, a


desculpa que dá é que o tanque enguiçou. Ontem ele chegou muito cedo,
mas veio de uniforme trocado, o senhor não acha isso estranho? (Zuzu —
Palestina)
RESPOSTA: Guerra é guerra, minha filha, vale tudo. É aconselhável
você verificar se, dentro do uniforme, o seu marido também não foi trocado.

CARTA: Moro num apartamento de fundos que dá para uma porção de


janelas de frente. Minha persiana enguiçou e não mudo de roupa há mais de
quatro meses, porque a rapaziada fica olhando de binóculo. Que me
aconselha? (Ana Maria — Ipanema)
RESPOSTA: Já tentou mudar de roupa no banheiro?

CARTA: Você é um grande chato. Fique sabendo que nós moramos em


frente ao apartamento da moça da persiana. (Zé Otávio, Borja, Arce, Walter,
Boni e Otatti — Ipanema)

RESPOSTA: Azar o de vocês. É que o meu apartamento dá exatamente


pro banheiro dela.
RESPOSTA: Quando sua carta chegou, o livro já estava impresso, mas
isso não impediu de ajudá-la, como pode ver. Mande uma fotografia de
corpo inteiro, para conhecermos melhor as suas possibilidades. Quem tem
boca vai a Roma, mas depende muito do resto.
Túmulos
A VERDADEIRA SEMANA DA ASA
DIGO, DO AZAR
FRASES COM ALGUM NEXO

— Só queria ver a cara do Cristóvão Colombo, hoje, tentando colocar


ovo em pé a 120 cruzeiros cada ovo.

— Meu filho é mudo, doutor, com que idade ele vai começar a
gesticular?

— Os aumentos diminuíram, isso é bom sinal, desde que não se tenha de


pagar nada de sinal.

— Chato de trabalhar em Hollywood é que na hora de receber o cachê a


gente tem de entrar na fila de índios.

— Atende o telefone, Maria. Se for empregada, diz pra vir logo pra
substituir você.

— Esta autobiografia é tão autêntica que a cena da tentativa de suicídio


foi escrita com o meu próprio sangue.

— É muito azar, a porta da geladeira enguiçou e o técnico ficou do lado


de dentro.
— Hoje faz exatamente 15 anos, 4 meses e 27 dias que perdi a memória.

— Lamento informar-lhe, doutor, que agora só consigo dormir no seu


diva.

— Acordo sempre bem-humorado, mas logo verifico que sou casado e


tenho de ir pra casa.

— Bom nadador, só chegou em segundo lugar porque o tiro da partida


pegou na sua perna.

— Nunca discuto com ninguém, mesmo quando tenho certeza de que


estou errado.

— Esta é a bomba dos meus sonhos, doutor, sempre que ela explode eu
acordo.

— Agora que fiquei rico não corro mais atrás de mulher, corro na frente.

— Alô, é da farmácia? Mande uma enfermeira com vitamina A e outra


com vitamina B.

— Garçom, traz outro uísque mais rápido que a diferença do segundo


pro terceiro foi de 500 pratas.

— Seja franco, doutor, tenho ou não tenho razão de me esquecer que me


lembro das coisas?

— Isso é caso para advogado, tenho absoluta certeza de que ambos


estamos sem razão.

— Alô, aqui é da radiopatrulha, pode fazer o favor de me mandar uma


radiopatrulha?

— Depois de muito tempo descobri que o melhor regime pra emagrecer


é o democrático.

— Acabaram-se as minhas preocupações, doutor, agora vão começar as


suas: não tenho um tostão.

— Tome este botão, minha filha, e desligue a televisão de meia em meia


hora.

— Antes de me casar minha mulher me achava um super-homem, agora


que nos casamos ela quer que eu voe.

— Confio na minha mulher, não confio é nos homens que saem com ela.

— Doutor, sinto um nó na garganta toda vez que vou enforcar alguém.

— Vim buscar minha mulher de volta, há três meses que ela saiu de casa
e disse que vinha aqui pra fazer uma consulta.

— Cumpro meus compromissos com a precisão de um relógio : às vezes


atraso, às vezes adianto e às vezes paro.

— Depois que rasguei o calendário nunca mais consegui botar a minha


vida em dia.

— Virei minha janela pelo avesso porque adoro ficar olhando pra dentro
de casa.

— Não consigo mais beber, doutor, a garrafa tem de me segurar pra eu


não balançar.

— Sonho sempre com duas mulheres, doutor, gostaria que o senhor


desse um jeito de eu vê-las em sonhos separados.

— Seu relógio ficou novinho, são exatamente 12 horas e 220 cruzeiros.

— Garçom, me traz um prato com menos 3,9 por cento de arroz, 7,8 por
cento de feijão e 42,5 por cento de carne, pra compensar a alta dos preços.

— Que azar, as letras da minha máquina de escrever já venceram e não


tenho dinheiro pra comprar outra fita.

— Chega pra lá, mulher, parece que nunca atravessou um túnel!


— Mudei de cara três vezes, agora decidi mudar de cirurgião.

— Coitado, quando foi apagar as velas também se apagou.

— Meu filho tem um parafuso a menos, doutor, deixei ele em casa e


trouxe os parafusos pro senhor conferir.

— Sei que é impressão minha, doutor, de ter um cachorro na barriga,


mas ao menos faça ele parar de latir durante a noite.

— Quando eu era menino, tinha medo de ficar sozinho no escuro, agora


tenho medo de ficar acompanhado.

— Vou te matar, conta até três que eu não sei contar.

— Perdi minha agenda, não sei o que fazer.

— Tenho medo de elevador, mas toda vez que subo pela escada ela
enguiça.

— A única coisa que tenho contra o senhor é que o senhor está a meu
favor.

— Sou um psicanalista sem complexos, cobro uma fortuna sem o menor


constrangimento.
DO MEU DIÁRIO


MEU HORÓSCOPO me recomenda procurar pessoas importantes, passo
o dia telefonando e não encontro ninguém. Chego à conclusão de que as
pessoas importantes nunca estão: vai ver, o horóscopo delas recomenda que,
evitem pessoas estranhas.

ALGUMAS mulheres são tão inatingíveis que para se alcançar o seu


coração exigem o trabalho de um alpinista: precisam ser escaladas. Mas o
pior é a volta.

SEI QUE existem certas firmas que vendem colchão em "suaves


prestações mensais", mas é um contra-senso. Não entendo como uma pessoa
pode dormir tranqüila, sabendo que está devendo um colchão.

COISA curiosa reparei nos coquetéis: os homens se reúnem de um lado,


as mulheres do outro. Os homens passam o tempo contando como ganham o
seu dinheirinho e. as mulheres como o gastam.

O HOMEM passa a vida inteira tentando ser patrão; quando consegue,


não se livra mais disso: passa a ser empregado de si mesmo. Só então
percebe como é humilhante e irritante se sujeitar aos seus caprichos.

AH, ESSES homens do recenseamento! Cada vez os admiro mais ao


saírem cedinho de casa, apontando e contando pessoas, examinando e
perguntando, anotando e divulgando. Alguns morrem no caminho e levam
milhões de números para o túmulo.

UM AMIGO meu inventou uma fechadura sem chave e não tinha idéia
de como lançá-la no mercado. Queria inventar um slogan na base da
segurança do segredo, sei lá. Apelei pro trocadilho: "A chave da sua
segurança está na fechadura sem chave". Ele gostou tanto da frase que
deixou a fechadura de lado e me propôs abrirmos uma agência de slogans.
Preferi comprar a fechadura e não se falou mais nisso.
CADA vez me convenço mais que as noites de autógrafos, para vender
livro, vendem mesmo é autógrafo. É constrangedor convidar amigos pra lhes
impingir um autógrafo que só pode ser dado no livro que eles têm de
comprar. Amigos verdadeiros não deviam comprar nenhum livro em noite de
autógrafo. Deviam comprar dois, nas livrarias.

DEBAIXO da minha porta, um jornal de cortesia com um aviso: "A


vantagem de receber o seu jornal na hora do café". Estou tentando descobrir
uma forma de receber o meu café na hora do jornal.

QUANDO eu era menino, queria ser médico, hoje pelo menos teria um
da minha confiança. Mas foi bom: eu talvez não fosse da confiança dos
outros — e pra viver à minha custa era preciso que eu ficasse sempre doente.

COMPREI 200 gramas de otimismo, cheguei em casa vi que o homem


só havia embrulhado 180. Concluí que o otimismo não pesa na balança.

MEU FILHO nasceu no momento exato em que acabava de se consumar


uma revolução. Não sorriu nem chorou, pois tanto o seu sorriso como o seu
choro poderiam ser mal interpretados. Melhor era ver como ficavam as
coisas, já que ele não entendia nada do que se passava. Seus olhinhos
semifechados não davam pra distinguir as coisas, muito menos as pessoas.
Tenho a impressão que amanhã, quando ele abrir os olhos e estiver bem
crescido, continue não entendendo nem as coisas nem as pessoas.

ACORDEI pensando que existem certos assuntos nunca explorados


pelos cronistas que, na falta de assunto, apelam pra janela e ficam a falar de
passarinhos. Um bom assunto, por exemplo, é o da mulher amada que está
ao nosso lado, na cama, mas entre ela e nós existe uma parede: ela é
justamente a mulher do vizinho que mora do outro lado. E tem também a
carta de amor que nunca foi remetida e que diz coisas que a gente jamais
diria a não ser numa crônica. E tem o perfume cuja fragrância (desculpe, mas
é fragrância mesmo) nos lembra uma mulher misteriosa ou um anúncio de
xampu pra enganar as mocinhas românticas. Mas acho que nunca daria um
bom cronista, minha memória é fraca e confusa: acabaria mandando a carta
de amor com um passarinho dentro, ficaria na janela tentando ver a mulher
do vizinho — e fazer crônica assim pode ser fácil de começar, mas pra
acabar é um inferno.

PROFISSÃO ingrata é a do humorista, tem de dar certo logo na


primeira. O médico receita remédios, depois recorre à operação, depois apela
pra novos remédios, depois faz novas operações, depois consulta outros
médicos, depois decide recomendar um especialista. O advogado também
tem seus "depois", sabe que está metido numa guerra de inteligência e não de
justiça: se perder, apela pra segunda instância, se perder de novo apela pro
Tribunal Superior e, ainda assim, consegue um descontozinho na pena do
seu constituinte, que, mesmo condenado, tem a seu favor o indulto e a
liberdade condicional. O humorista mete-se numa enrascada e não tem mais
saída: ou todo mundo acha bom e ri, ou não ri e acha péssimo. Não tem a
apelação, não pode viver de tentativas, não pode voltar atrás e tentar trocar
uma palavra na frase que já foi dita. E o pior não é isso: quando dá certo, não
pode repetir. Não é como o cantor, que faz sucesso com uma música e passa
o resto da vida cantando a mesma música.

NÃO ME conformo com esse hábito ultrapassado de dar presentes. Pior


é que a gente só dá presente pra quem dá pra gente, e se recebe uma vez tem
de dar sempre, e se dá uma vez e não recebe, fica chateado, e se recebe fica
com raiva porque afinal de contas o cara podia pelo menos dar um presente
do mesmo valor. Não é por nada, mas presente obriga a gente a abrir uma
conta-corrente muito íntima, creditando e debitando favores. Às vezes, fica
um saldo de ressentimento, mas não há de ser nada: o Natal está aí pra gente
cobrar nossas promissórias sentimentais na base do constrangimento — é só
mandar um cartão com endereço completo.

E DE repente o telefone bate e uma voz macia diz que quer a minha
opinião para uma enquete. As enquetes foram inventadas pra saber qual a
data que viveremos na próxima semana e não fosse isso ninguém se
lembraria dessas datas. As perguntas são sempre as mesmas, as respostas
também e até as pessoas entrevistadas não variam. Afinal, todo ano me
obrigam a dizer onde pretendo passar o réveillon — isso é até muito bom,
assim evito ir aos lugares aonde sei que outras pessoas também irão.

PERDI a chave da gaveta e de repente senti que um pedaço da minha


vida ficou lá dentro: talões de cheque, chave do carro, carteira de identidade,
caderno de telefones, isqueiro, tesoura de unhas, caneta, enfim uma série de
acessórios que formam o equipamento do chamado homem civilizado. De
um momento para outro, percebi que não era ninguém. Um homem com a
gaveta trancada é um homem sem destino. O bom psiquiatra não precisa
perder tempo remexendo a alma da gente, basta remexer a nossa gaveta: é lá
dentro que o nosso verdadeiro eu fica escondido.

DEBAIXO de um secador de cabelos, as mulheres assumem poses de


estátua, como se não ouvissem o que o cabeleireiro fala das suas amigas.

FICO feliz em saber que os homens estão aprendendo a valorizar as


flores. Cada dia que passa, elas ficam mais caras.

AMANHECI pensando que o ser humano desperdiça 80 por cento da sua


existência em coisas completamente maçantes, que fazem, justamente, a
rotina de viver. A maioria dessas coisas é torturante, como por exemplo:
receber o salário, pegar condução, atravessar a rua, telefonar para pessoas
difíceis, receber telefonemas de pessoas fáceis, trocar dinheiro na rua,
lubrificar o carro, cortar os cabelos, fazer embrulhos, ir ao dentista, comprar
presentes, esperar a mulher se vestir, fazer a barba, engraxar os sapatos,
procurar os chinelos, alinhar os quadros na parede, apagar as luzes antes de
sair, acender o aquecedor, trocar a fita da máquina, calibrar os pneus,
descobrir o sabonete, mudar o canal de televisão, tentar consertar uma
tomada, escovar os dentes, pedir linha à telefonista, dar corda no relógio,
consultar o dicionário, substituir a lâmpada queimada, arranjar lápis e papel
para anotar um recado, entrar em fila de cinema, descascar laranja, tirar os
caroços do mamão, arrumar gavetas, limpar cinzeiros, desmarcar encontros,
fechar os vidros do carro, colocar fluido no isqueiro, pagar a conta da luz no
banco mais próximo, encher a caneta de tinta, dar nó na gravata, olhar-se no
espelho em várias posições, botar o pijama, aguardar visitas, conseguir um
clips, esperar o elevador, descobrir qual a chave da porta quando a gente
chega em casa, e outras coisas que provavelmente devo ter esquecido. Os
outros 20 por cento do tempo a gente gasta indo pra fora pra descansar —
quando o carro não enguiça.

O DIA mais chato da minha vida foi quando decidi concordar com tudo.
Não há coisa mais monótona e estéril do que um ser humano concordar com
o outro. É completamente desumano.

AH, OS profetas de fim de ano! Vivem à custa do nosso otimismo,


espalhando o seu pessimismo.

FELICIDADE conjugai é ter um belíssimo apartamento com vista para o


mar, uma casa de campo com vista para a montanha, um iate, dois
mordomos, duas boas empregadas, uma babá de confiança, uma razoável
conta no banco, quatro carros, um chofer e uma bonita mulher para
administrar tudo isso. Difícil é arranjar o chofer.

VONTADE de fugir, de escapar, de sair de dentro de si mesmo pra se


encontrar lá fora. Viajar, viajar, viajar. Atravessar as fronteiras dos mapas e
encontrar outros lugares, outras caras, outros hábitos, outros macetes. Ver
países que a gente só conhece de cinema, entrar dentro do filme e participar
dele. Deixar de ser real pra virar personagem, como todo viajante que vai,
como todo viajante que vem. Em certas fases da vida, o homem precisa se
emancipar da rotina e fugir — ainda que na fuga leve a própria mulher. A
mulher "em trânsito" é sempre outra mulher e o homem se realiza numa
aventura mais barata, mais amena, mais segura. Mas, se puder, na volta, é
bom deixar lá a mulher.

LEIO no meu horóscopo: número de sorte, 3 . Outro horóscopo deu 8,


outro deu 2 e outro deu 7 . Tudo diferente, mas um ao lado do outro fazem a
chapa do meu automóvel: XY 3827. Parece que os horoscopistas são muito
individualistas, se trabalhassem em equipe talvez desse mais certo. De
qualquer forma, peguei o carro e fui dar um passeio. Na primeira curva,
derrapei e bati num poste. Os horoscopistas estavam certos: meus números
de sorte estavam todos ali, amassados. O azar foi do poste, que não consulta
horóscopo.

CADA mais humilhante do que uma fotografia 3x4. Para provar que
somos nós mesmos, temos de mostrar um retrato completamente diferente
daquilo que pensamos que somos. Pior não é isso: todo mundo que vê a
fotografia acredita nela, apesar dos cabelos fartos, apesar do bigode que já
não usamos, apesar da ausência dos óculos que já estamos usando, apesar da
testa sem rugas. As aparências só enganam em fotografia 3x4, porque a
semelhança é uma convenção como outra qualquer. Basta ter um carimbo em
cima.

O HOMEM importante vive fugindo, mas gosta de ser pro-"j4 curado.


Só não consegue fugir de si mesmo, no espelho, quando sente que a sua
importância nada mais é do que um reflexo. Importante mesmo é o inventor
do espelho.

SÓ DESCOBRIMOS que os isqueiros que temos não funcionam depois


que vasculhamos a casa toda à procura de um fósforo.

ELETRICIDADE é que dirige os destinos do homem moderno: às vezes


ele faz a barba na sala de jantar, vê televisão no banheiro, janta na sala de
estar, recebe visitas na copa, lê o jornal na cozinha, veste a roupa no hall.
Depende do aposento em que queimou a lâmpada.

FICO confuso quando dizem que subiu outro astronauta. Subiu mesmo?
Por que não desceu? O certo devia ser "afastou-se", pois está provado que se
pode subir pra baixo e descer pra cima — depende de que lado da Terra a
gente está na hora em que soltam o foguete.

TODA vez que quero comprar sapatos examino um monte de vitrinas e


não vejo nenhum que me agrade, como acontece a qualquer pessoa que
decide comprar sapatos. A gente olha de perto, olha de longe, olha de um
lado, olha do outro, chega a pensar em entrar na loja pra ver como é que fica
no pé — mas é aí justamente que o sapato muda de fisionomia, fica
completamente diferente, perde aquela dignidade e aquela pose de bacana de
quem sabe que está sendo olhado por todo mundo e adquire um ar de
humildade de quem vai pertencer a um só dono. Sabe que vai mudar de casa,
sair de um lugar todo envidraçado pra se meter debaixo de um armário ou
dentro de uma gaveta. Só o caixeiro não compreende o seu drama, porque
caixeiro de sapataria não entende de psicologia de sapato. Daí a
transferência: enquanto o sapato fica humilde, o caixeiro adquire ar de
importante subindo e descendo escadas, enfiando a calçadeira e mudando de
expressão a cada recusa, usando todos os argumentos de quem quer vender
— mas freguês que entra numa sapataria não se conforma: só quer levar
mesmo é o sapato da vitrina. E infelizmente, sapato de vitrina nunca tem o
outro pé.

NÃO SEI quem inventou o inverno, mas que foi um cara sabido, foi.
Bolou a janela com vidraça pra bater neve, o capote de vison, a lareira, o
conhaque, o chuveiro elétrico, a calefação, o chá com torradas, as luvas de
couro, o suéter de lã, o casaco de camurça, tudo certinho como manda o
figurino. Depois veio um cara muito mais sabido e inventou a liquidação de
inverno.

GOSTO de escrever â máquina em espaço dois: isso realça bem as


entrelinhas, que é justamente onde a gente consegue dizer alguma coisa.

MEU FILHO está engatinhando na sala, diante da'televisão. Por


enquanto, ele só se interessa pelos botões; quando crescer talvez não haja
mais botões e a televisão perderá completamente o interesse.

A OBRA da minha casa chegou no ponto em que a gente não sabe se


volta atrás ou se continua. Entre uma atitude e outra há sempre uma
diferença de alguns milhares de cruzeiros. Quando entro na sala vazia, com
cheiro de tinta, me sinto oprimido pelo entulho que se espalha no chão, pelas
vigas de madeira que zombam da minha indecisão, pelos ladrilhos
empilhados à espera de uma ordem, pelos operários cronometrados que
tomam cerveja às 11 horas em ponto. É nessa ocasião que medito: quem é
mais importante, o homem ou a obra? E mando tocar pra frente.

O DIABO é a gente ter uma família tamanho família. Pra saber qual é a
nossa escova de dentes a gente vai tentando até à última — e é essa mesmo.

CONSEGUI alcançar o momento mais angustiante da vida: ninguém me


deve nada e não devo nada a ninguém.

A PERSONALIDADE de um homem é um conjunto de gestos e roupas,


as palavras e os pensamentos não importam muito. O homem pode mudar de
idéia de uma hora para outra que a gente não nota diferença, mas quando
muda o estilo da camisa ou o nó da gravata é capaz de não ser reconhecido.

QUAIS as três coisas que você gostaria de fazer, se o mundo acabasse


amanhã? Esta é a pergunta mais cretina que sempre se faz às vésperas de
cada fim de mundo. Mas o mundo não acaba e ninguém faz nunca as três
coisas que gostaria de fazer. Acham que ainda têm muito tempo, porque o
mundo continua aí dando sopa. Imagino sempre que o mundo vai acabar
amanhã e faço diariamente as três coisas que gostaria de fazer, que às vezes
são dez, às vezes vinte e às vezes nenhuma porque não estou com vontade de
fazer nada. Esta a pequena vantagem que levo sobre os que não acreditam no
fim do mundo. Agora, tem uma coisa: se eu tivesse certeza absoluta de que o
mundo acabaria mesmo amanhã, eu não faria nada, absolutamente nada —
adiaria todos os meus compromissos para depois de amanhã.
DO DIÁRIO DE UM BEBÊ
1.° MÊS
— Completo hoje trinta dias e confesso que já estou farto de ouvir
"bilu-bilu" o dia inteiro na minha cara. Por que os adultos não falam
direito, fazem voz esquisita e fanhosa, se sabem que não entendo
nada do que dizem e muito menos falando assim?

2.° MÊS
— Percebo que estão todos apreensivos, suas caras mudam de
expressão depois que abrem o jornal e comentam que o preço do
leite vai subir, não sei por que essa preocupação se o leite que tomo
é de graça e é a mamãe que fornece. Se o leite subir até que é bom,
porque a mamãe pode ficar rica.

3.° MÊS
— Quero esclarecer que quando molho a fralda choro muito, mas
é por causa da despesa que estou dando, sei como está difícil
arranjar empregada pra lavar todo dia. Outra coisa que me chateia e
não posso reagir é quando as visitas dizem que sou a cara do pai, no
princípio eu não ligava, mas agora que já vi a cara do papai não
gosto muito.
4.° MÊS
— A vovó tem mania de ficar me balançando no colo e pensa que
durmo por causa disso, mas não é não, é que fico tontinho e
desmaio. A mamãe passa o dia inteiro lendo livros pra saber como
cuidar de mim, mas os livros são tão diferentes que quem sofre sou
eu, pois ela fica sem saber o que fazer.

5.° MÊS
— Não gosto quando a mamãe insiste em tirar a minha chupeta e
o papai diz que é melhor do que botar o dedo na boca. O que me
incomoda não é nem a falta da chupeta nem do dedo, é a discussão
na minha cara.

6.° MÊS
— Não gosto do meu pediatra porque todo mês receita um monte
de sopas que eu detesto e um monte de remédios que quem detesta
é a mamãe. Só gosto daqueles ferrinhos que ele traz na malinha,
mas toda vez que seguro um pra brincar ele tira da minha mão e
enfia na minha garganta.

7.° MÊS
— Quanto às mamadeiras, acho bom entenderem de uma vez
por todas que quando não quero tomar, não adianta ninguém insistir
nem me passar de mão em mão pra cada um tentar uma vez. O
problema não é trocarem as pessoas — é trocarem o leite, que eu
conheço o gosto.

8.° MÊS
— Aqui em casa todos acreditam nos livros que ensinam "como
cuidar do bebê", mas nenhum médico nunca me consultou do que
gosto e do que não gosto, pois quando eles escreveram seus livros
eu nem tinha nascido. Seguir estatística é nisso que dá: quem entra
pelo cano sou eu.

9.° MÊS
— Não adianta ficarem dizendo na minha cara "mama" e "papá",
porque o certo é "mamãe" e "papai". As pessoas grandes ensinam a
gente a falar errado porque acham que é mais engraçadinho —
depois eu sei o que acontece, de tanto a gente falar errado eles
acabam mandando a gente pra escola pra aprender a falar direito.

10.° MÊS
— Coisa que não gosto é quando chegam visitas, entram no meu
quarto pra ver se estou dormindo e ficam falando baixinho que estou
acordado, depois vem outro e diz que estou dormindo, depois vem
outro e diz que acha que estou acordado — ninguém se manca, pois
com todo mundo cochichando não consigo dormir.

11.° MÊS
— Muito constrangedor é quando deixo a sopa no prato, só pela
cara da mamãe já sei que o preço dos legumes subiu de novo. Coisa
que não entendo é que todo mundo concorda que não se deve bater
numa criança, mas bem que de vez em quando me dão umas
palmadas. Não quero crescer nunca, acho gente grande muito
nervosa.

12.° MÊS
— A maior emoção da minha vida foi quando consegui ficar de
bruços, porque esse negócio de ficar deitado de costas é muito bom
mas é pro papai. Agora estou engatinhando e ouço dizer que muito
breve começarei a andar. Eles não perdem por esperar: assim que
eu começar a andar, saio de casa.
À MARGEM DO HUMOR
RECEITA DE VIVER

• Antes de mais nada, é necessário que a pessoa se conheça


cada vez mais, pra ir se amoldando ao próprio temperamento: até o
chato pode viver bem, desde que aprenda a se aturar. O conceito de
felicidade vai mudando dentro de nós, à medida que o tempo vai
passando: o homem só consegue ser completamente feliz quando
não se preocupa mais com isso. Mas existem aquelas três coisinhas
básicas que ajudam bastante, como dinheiro (algum), amor (um
pouco mais) e fantasia (mais ainda). Se conseguir inverter, melhora
muito. O importante é ver tudo em tecnicolor, que o preto e branco já
está superado, e carregar bem nas tintas, com o cuidado de não
misturá-las, senão borra tudo.

• Não pensar muito no futuro, nem muito no passado, nem muito


no presente: quem pensa muito não faz nada e quem não faz nada
não vive. Amar ao próximo como a si mesmo, sem deixar que ele
seja próximo demais. Trabalhar o suficiente para não ter que
trabalhar. Ser egoísta ao extremo, como todo mundo, pra não levar
desvantagem. Libertar-se das convenções, ainda que isso seja
anticonvencional. Amar nas horas próprias, isto é, todas, e, nos
momentos de folga, arranjar um contrabando sem maiores
conseqüências que as conseqüências naturais.

• Ser livre como um homem nu no banheiro, dormir quando tem


sono, comer quando tem fome, trabalhar quando tem vontade, a
quantidade não importa — o que vale é a intenção. Ter a consciência
tão leve que não sinta que tem uma consciência. Se vender tão caro,
que não haja preço que se possa pagar, para que não haja
oportunidade de se vender. Sentir vergonha dos outros, menos que
de si mesmo — porque os outros sempre vão embora. Dizer a
verdade a qualquer preço, que é muito mais cômodo e menos com-
plicado. Não fazer nada forçado, nem mesmo os trabalhos forçados.
Ser comodista ao máximo, ainda que isso custe anos e anos de
sacrifícios. Acreditar nas pessoas até que elas não acreditem mais
na gente.

• Comer maçã na hora que se tem vontade de comer maçã,


levando-se em conta que a maçã é simbólica, donde se conclui que
viver bem é comer os símbolos na hora que se tem vontade de
comer símbolos. Jogar fora o relógio, chutar o emprego, não ser
empregado nem patrão, nem marido nem amante, nenhuma palavra
que possa limitar a ação da vontade dentro do espaço e do tempo,
enfim, deixar o barco correr — mesmo quando não se tem o barco.

• Compreender os outros sem a preocupação de ser


compreendido, porque nunca compreenderão como a gente gostaria
que compreendessem. O homem feliz faz o que quer, quando quer e
onde quer: se tem vontade de se pendurar no lustre da sala, deve se
pendurar — mas não custa olhar primeiro se tem gente na sala, pode
chegar um engraçadinho e acender a luz. A verdadeira felicidade do
homem está no lar. Por isso, recomendo a todos que tenham dois,
três e até quatro lares — que é um número bem razoável, pra
começar.

• Uma grande verdade é que a vida começa aos quarenta e uma


grande descoberta é que começa pela segunda vez: antes disso não
se vive, é tudo um vestibular. E dizer que muita gente passa a
metade da vida estudando e, quando chega aos quarenta, leva pau e
fica pra segunda época.

• Vocês devem estar estranhando eu não ter falado de mulher até


agora, mas é que onde entra mulher, aí acaba a receita: mulher, cada
um usa como sabe.
O FASCINANTE, MISTERIOSO,
MIRABOLANTE, ATRAENTE
E DESCONCERTANTE
MUNDO FEMININO
ANATOMIA DA MULHER
A mulher se divide em quatro partes: cabeça, tronco,
membros e espelho.

CABEÇA

Quando põe a peruca é como se a mulher estivesse estreando


uma cabeça nova. E está.

A mulher nunca percebe quando lhe aparece o primeiro fio de


cabelo branco. É sempre a amiga.

Quando a mulher sai do cabeleireiro muda completamente a sua


fisionomia, depois a do marido.

A prova de que a vaidade da mulher não tem limites é que ela


passa batom onde não tem mais lábios.

Quando o médico diz à mulher que ela precisa mudar de óculos,


ela corre pra óptica e manda trocar o aro.

Segredo de mulher é isso que entra por um ouvido e sai Ia boca.

Cada vez que se pinta, a mulher se sente como um pintor que


cria um novo quadro.

Antes de dormir a mulher se despe de sua maquilagem.

TRONCO

Algumas mulheres adotam a linha saco pra encobrir a forma que


não têm.

A mulher faz saia curta e decote longo pra se divertir puxando o


vestido pra cima e pra baixo.

Em geral, a mulher prefere que o vento lhe levante a saia a que


lhe desmanche os cabelos.

Dentro de um biquíni a mulher lembra uma vitrina de alto luxo


onde só expõe a etiqueta.

A mulher elegante é a que veste um vestido, a deselegante é a


que entra nele.

Quando vai ao médico a mulher sai um pouco frustrada, se ele


diz que ela não tem nada.

Mulher pessimista é a que compra uma cinta e pensa que não vai
caber dentro dela, mulher otimista é a que nem compra a cinta.

MEMBROS

A mulher reserva uma parte de si mesma pra ser pedida ao seu


pai: a mão.

Os pais não dão nunca a mão de suas filhas. Depositam.

As jóias são o trailer da fortuna da mulher, mas algumas fazem


questão de exibir a fita toda.

ESPELHO

O espelho é o subconsciente da mulher: reflete exatamente o que


ela pensa que está vendo.
ANÚNCIOS
FEMININOS

PERDEU-SE uma blusa dentro do elevador, no trajeto entre o 2.°


e ,o 15.° andar, pede-se a quem a encontrar deixá-la no térreo.

VENDE-SE uma bússola enguiçada. Infelizmente não sei onde


estou, senão não vendia a bússola.

PROCURA-SE cozinheira de forno e fogão (mais de fogão) para


senhora de cama e mesa (mais de mesa).

VENDE-SE uma bolsa de crocodilo ainda viva.

VENDE-SE um carro que nunca levou batida, só deu.

VENDE-SE um par de brincos com uma orelha, um dos fechos


está enguiçado.

PERDEU-SE uma carteira com uma lista de objetos perdidos


dentro, pede-se a quem encontrar a lista acrescentar uma carteira.

NU ARTÍSTICO procura outro emprego, está cansado de ser


artístico.

MULHER de vida fácil deseja tentar vida difícil.

PROCURA-SE um carro sem freio, não se sabe onde parou.

VENDE-SE um armário que dá pra oito vestidos deitados e um


homem em pé.

PROCURA-SE uma empregada com prática de patroa.

VENDE-SE um secador de cabelos com uma cabeça dentro que


não deu tempo de tirar.
VENDE-SE um par de sapatos 34 para senhoras que calcem 36.

VIÚVA vende 48 ternos e um pijama, os ternos entrega hoje, o


pijama assim que o marido sair da tenda de oxigênio.

PROCURA-SE doméstica toda equipada, com televisão, as-


pirador de pó e vestidos da ex-patroa.

VENDE-SE uma máquina de costura de segunda mão. Já é a


segunda mão que fica costurada na máquina.

PERDEU-SE um caderninho de telefones, pede-se a quem o


encontrar telefonar para todos pedindo desculpas.

VENDEM-SE um monoquíni e um chicote, ambos usados apenas


uma vez.

VENDE-SE um piano a qualquer preço, meu vizinho paga a


diferença.
FORMA PRÁTICA DE DECORAR A
SUA CASA
Minha amiga, se você tem pouco dinheiro e quer decorar a sua
casa, não se preocupe: quem tem de se preocupar é o seu marido.
Você vai decorando a casa e ele vai decorando as datas dos
pagamentos. Compre tudo o que quiser, poltronas, sofás, lustres,
armários embutidos, tapetes, azulejos, plantas, objetos de arte,
estantes e reserve as paredes para forrar com as promissórias: à
medida que o seu marido for pagando, você vai riscando com lápis
vermelho, azul, amarelo, verde. Nos primeiros meses não dá bom
efeito, mas depois que as paredes estiverem todas pagas fica uma
beleza. Se o seu marido não gostar, não tem importância, você forra,
tudo de novo com os recibos, é uma forma de dizer às suas
amiguinhas que a decoração está paga. Além do mais, você decora a
prazo, mas o pagamento fica à vista.

COMO CURAR UM RESFRIADO


Esprema um limão num copo, depois deixe o copo em cima da
pia e vá à farmácia tomar uma injeção de vitamina C, que não vai
adiantar nada porque até hoje não se encontrou uma fórmula de
sugestionar a gripe com remédios. Quando voltar, ligue para o
médico, bata um papinho com ele, isso ajuda a matar o tempo — o
seu e o dele. O médico lhe dirá que o mais recomendável é o
repouso, você pede licença e vai deitar dez minutinhos na cama, mas
antes aproveite pra tomar o limão que você espremeu no copo. Ao
voltar a falar com o médico, evite espirrar no telefone; se espirrar,
limpe com uma flanela úmida, mas tome bastante cuidado depois pra
não pensar que a flanela é um lenço; se pensar, lave o lenço, aliás a
flanela, depois vá buscar o lenço. Mas não esqueça que enquanto
você está fazendo tudo isso o seu médico está esperando no
telefone. Ande depressa, ele é capaz de pegar um resfriado e não
saberá como curá-lo.
A MODA
Depois da folha de parreira, a mulher não fez outra coisa senão
mudar a posição e o padrão da folha, que hoje tem o nome de
vestido. Durante algum tempo, a mulher se cobria de tal maneira que
só se lhe viam os olhos. O pudor foi abrindo mão de seus direitos em
benefício da elegância e, de acordo com o figurino, a vergonha se
vem deslocando de um lado para outro: uma vez é feio mostrar os
joelhos, outra vez é o pescoço, outra vez o braço — e a maioria das
vezes é feio não mostrar nada.
Por natureza, a mulher é volúvel. Não fosse isso e não haveria a
indústria da frivolidade, mais conhecida como "alta costura", com
quartel-general em Paris e Roma. Daí nascem as famosas "linha
saco", "linha H", "linha Y", "linha balão", "linha trapézio", "linha
canudo", "linha flecha", "linha tubinho", "linha diretório" — e outras
linhas que fazem a mulher perder completamente a linha.
A mulher faz todos os sacrifícios pra se vestir de maneira
completamente diferente, custe o que custar. Seu problema é ser
original — o que custar, é problema do marido.
Os grandes costureiros é que controlam o gosto (ou a falta de)
das mulheres de todo o mundo. São eles que fazem a mulher
mostrar as pernas, descer o decote, abrir as mangas, folgar a saia,
realçar o busto e balançar as cadeiras. São eles também que sabem
explorar a excentricidade feminina, confeccionando os mais absurdos
chapéus. Por um chapéu extravagante, qualquer mulher perde a
cabeça — antes e depois de usá-lo.
Parece que o lema da mulher é não se repetir, daí a grande
variedade de vestidos que ela tem no armário: vestido pra noite,
vestido pra chá, vestido pra iê-iê-iê, vestido pra passeio, vestido pra
coquetel, vestido pra ficar em casa, vestido pro trabalho, vestido pra
levar o cachorrinho no quintal, etc. A mulher elegante é a que usa o
vestido certo na hora certa, mas o difícil é a "hora certa", porque a
sua indecisão em escolher é tão grande que ela acaba sempre
botando o vestido fora de hora. Consulta o marido, troca de roupa,
consulta o irmão, troca de roupa, consulta a empregada, troca de
roupa, consulta a visita, troca de roupa, consulta o vizinho, troca de
roupa, consulta o espelho — conclui que não tem roupa. Cai em
prantos, reclama do marido que essa vida é um inferno, que não tem
um vestidinho decente, já estão todos fora de moda — e não tem
imaginação pra concluir que o tempo que ela leva se vestindo é
justamente o tempo que leva pra qualquer vestido cair de moda. E
depois que decide vestir uma roupa, passa o dia inteiro agoniada
porque acha que devia ter saído com outra.
Quando acaba de se vestir, a mulher tem de ser ornamentada. É
aí que entram os chamados complementos, talvez porque sejam de
uso obrigatório: sapatos, luvas, bolsa, cinto, broches, óculos, relógio,
piteira, anéis, pulseira, colar, brincos. Algumas mulheres, na hora de
se vestir, deviam contratar decoradores. Combinar os acessórios é
uma arte: a cor dos sapatos tem de combinar com a da bolsa, as
luvas têm de contrastar com o vestido, a fivela do cinto tem de
combinar com os brincos, a pulseira com o colar, os óculos com a
piteira, e assim por diante. Algumas mulheres chegam a ameaçar o
marido de suicídio para lhes comprar uma bolsa que combine com os
cabelos. É a eterna luta da vaidade feminina: a bolsa ou a vida.

BOAS MANEIRAS
Num jantar de cerimônia, aproveite pra ver a marca das louças
antes de servirem o seu prato. Depois fica mais difícil.
Evite comer azeitonas num coquetel. A não ser que você tenha o
hábito de engolir os caroços.
Nunca ponha os cotovelos na mesa. Peça à dona da casa um
descanso de cortiça que fica mais macio.
Freqüente de preferência os jantares informais. É onde geral-
mente se conseguem maiores informações.
Não cruze as pernas no meio da sala. Se você quer mostrá-las,
leve duas ou três pessoas de cada vez para um cantinho discreto.
Se um cavalheiro se oferecer para levá-la em casa e tentar beijá-
la no meio da rua, não grite. Você correrá o risco de não ser beijada.
COMO SE TORNAR BELA

O que mais prejudica a beleza da mulher é o espelho. Uma


mulher sem espelho jamais saberá se é feia, porque ninguém terá
coragem de lhe dizer isso na cara, a não ser o namorado, quando
estiver zangado — mas dificilmente ela terá possibilidades de
arranjar um. Portanto, minha amiga, fique sabendo que a beleza da
sua cara está nas suas mãos. Explico: se você quiser melhorar a
cara terá de usar as mãos, tanto assim que a maioria das mulheres
não usa a cara original, usa uma cara de segunda mão. Donde se
conclui que a mão é a parte verdadeiramente cara da mulher. Um
dos truques mais fáceis e mais práticos para uma mulher se tornar
mais bonita é andar sempre acompanhada de uma mulher feia. A
mulher feia deve andar acompanhada de uma mulher mais feia
ainda. Se todas as mulheres adotassem esse sistema, acabariam
fatalmente andando sozinhas. E mulher sozinha é infa-livelmente
mais bonita, porque não tem com quem se comparar. Outro truque
muito bom é andar sempre de perfil: pra bom entendedor, meia
mulher basta.

TRUQUES NOVOS PARA O SEU


VELHO LAR
Para tirar o pó dos móveis use um aspirador, para tirar o pó do
aspirador use uma empregada, para tirar a empregada do aspirador
não use nada: basta virar as costas.
Pequenas gotas de mel, quando derramadas na toalha de mesa,
dão um sabor especial aos guardanapos, mas não são reco-
mendáveis — afinal, você talvez não goste de guardanapos.
Casca de cebola colocada dentro dos armários espanta as ba-
ratas, mas em compensação a roupa fica cheirando mal até as
próximas eleições.
Se o seu relógio parou, não gaste dinheiro em relojoeiros: tire os
dois ponteirinhos que ninguém perceberá nada.
As camisas sem botões podem ser consertadas facilmente,
desde que você contrate uma costureira: assim que ela chegar na
sua casa, basta apertar um botão que ela começa a trabalhar.
Para remover manchas de batom do lenço nada melhor do que
acordar seu marido bem cedinho e lhe esfregar o lenço na cara
gritando: "O que é isso?" Se as manchas não sumirem, somem os
lenços. Em certos casos, se você esfregar com muita força, some até
o marido.

FRASES FEMININAS
— Detesto quando me mandam flores sem cartão, é que faço
coleção de cartões.

— Toda vez que vou estacionar, os carros parados batem no


meu.

— Minha maior ambição é que as minhas amigas não realizem


suas ambições.

— Detesto fazer fofocas, prefiro vivê-las.

— Tenho mania de grandeza: adoro mudar de roupa com a janela


aberta pra ser aumentada pelos binóculos dos vizinhos.

— Sou a viúva mais infeliz do mundo: meu marido ainda está


vivo.

— Recebi tantos presentes que sou obrigada a fazer aniversário


este ano.

— Tenho um sono muito pesado: sonho sempre com elefantes.

— Estou com um remorso horrível, há cinco anos que engano o


marido da minha melhor amiga.
— Só me casei porque quando meu marido pediu a minha mão
eu estava saltando de um trapézio para outro.

— Meu patrão é ótimo, faço dele um verdadeiro empregado.

— Se eu fosse para uma ilha deserta, levaria o Adão pra começar


um mundo só meu.
RECEITAS INÉDITAS

BERINJELA RECHEADA — Antes de mais nada, é preciso ter um


prato e uma berinjela. Deixe o prato descansando, enquanto você se
ocupa da berinjela. Aí é que vem o detalhe mais importante: você
tem de tirar o recheio que vem dentro da berinjela e colocar outro,
que pode ser encontrado no açougue, na padaria, no armazém ou
até numa serraria — caso você goste de serragem. Mas se você
gosta mesmo de serragem, não diga nada a ninguém, a não ser a
um psiquiatra. Se ele achar isso natural, troque de psiquiatra. Ou
então esqueça a berinjela e prepare um "psiquiatra recheado".
Garanto que você terá sonhos esquisitos que aparentemente ele não
poderá interpretar. Mas é aí justamente que está o seu engano: se
você comer o psiquiatra, ninguém melhor do que ele pra conhecer o
seu interior.

MACARRÃO PARA NAMORADOS — Compre um pacotinho no


armazém da esquina, outro no supermercado do seu bairro e outro
no supermercado do centro, assim você demonstra que não vai na
onda de uma propaganda só, embora os preços sejam
completamente diversos, isto é, cada um mais caro que o outro. A
grande vantagem desse prato é que se compra quatro pacotinhos de
macarrão, mas só se usa um, sendo, portanto, um prato quatro vezes
mais econômico que os pratos comuns. Deve ser feito a dois, de
preferência um rapaz e uma moça que estejam se namorando, se
não estiverem não tem importância: quando o prato ficar pronto, já
estarão — desde que sigam à risca essas instruções. Cada um
segura uma ponta do macarrão e vai esticando até o fim, quando
estiver bem esticadinho, a moça coloca a sua extremidade no fogo e
vai puxando até chegar a ponta do rapaz, que deve largar
rapidamente, porque namorado que se preza não põe a mão no fogo
pela namorada. Espere quinze minutos da maneira que achar mais
agradável e verifique se o macarrão não se partiu; se isso acontecer,
aproveite os pedaços pra fazer embrulhos de Natal: os presenteados
poderão aproveitar os lacinhos pra servir na ceia.
PICADINHO INFLAÇÃO — Compre 5 quilos de arroz, 5 de feijão,
uma bisnaga de pão, meio quilo de cebola, 250 gramas de alho, meio
quilo de tomate, uma lata de óleo de amendoim, uma lata de azeite
português, meio quilo de farinha, duas latas de leite em pó, 250
gramas de margarina, 100 gramas de sal, um vidro de ketchup, 3
quilos de camarão, 4 quilos de batata, duas dúzias de ovos, uma
galinha, meia dúzia de laranjas, 100 gramas de queijo, 1 quilo da
filet-mignon, meio quilo de vagem, 2 quilos de cenoura, 1 quilo de
quiabo, um vidrinho de mostarda e 100 gramas de pimenta-do-reino.
Quando chegar em casa, desembrulhe tudo com muito cuidado e
anote os preços em pedacinhos de papel. Guarde a mercadoria num
armário de aço que é o melhor investimento (a mercadoria, não o
armário), depois pegue os preços anotados e faça um picadinho. É
um prato econômico, porque não precisa ir ao fogo: quem já está no
fogo é você. É um prato que faz muita vista, pois os convidados
ficarão boquiabertos, só de ver os preços. É um prato vantajoso,
porque você pode trocar as notas fiscais por talões que valem
milhões e só a espera do sorteio fará você ficar com água na boca, o
que dispensa servir água na mesa. Só tem uma desvantagem: é um
prato que não pode ser guardado de um dia para o outro, porque os
preços ficarão velhos e você terá de refazer tudo, já imaginou que
trabalhão? Mas ainda que você queira refazer o prato, convide só
humoristas: para os humoristas não existe melhor prato do que a
inflação.
XIFOPAGOS
dois capítulos num só

PIADAS SUPERSÔNICAS
NOTA: É proibida a reprodução, total ou parcial, de qualquer destas
piadas sem autorização prévia do autor. Mas quem quiser arriscar, é um
favor: o autor prefere receber na Justiça — que rende mais.

FLAGRANTE
ELA — Ih, meu Deus, meu marido vem chegando.
ELE — Que é que eu faço?
ELA — Você não faz nada, quem vai fazer é ele.
APARÊNCIA
PSIQUIATRA — Entre, meu caro, tire o paletó e deite no divã.
HOMEM — O senhor está enganado, doutor. Vim aqui pra
consertar o diva.

ROTINA
CORONEL — Estou preocupado, nossa patrulha de reconhe-
cimento ainda não voltou. GENERAL — Isso é normal: na certa foi
reconhecida.

ESPIONAGEM
UM — Vim aqui em missão secreta.
OUTRO — Qual a missão?
UM — Também não sei. É tão secreta que não me disseram.

NECESSIDADE
UM — Preciso ganhar pelo menos mais 20 000 por mês.
OUTRO —- Quanto é que você está ganhando?
UM — NADA.

TESTE
DECORADOR — Qual a peça que se você tirar deste quarto
transformará completamente o ambiente?
ALUNA — Meu vestido.

VIDA NOVA
PATROA — Tá muito alegre, hoje, Maria, arranjou outro
namorado?
EMPREGADA — Não, senhora. Arranjei outro emprego.
REMÉDIO
CLIENTE — Já tentei me suicidar cinco vezes, doutor. Até nisso
sou um fracassado.
PSICANALISTA — Vá tentando, meu filho. Um dia você acerta e
não precisa mais voltar aqui.

DIVERGÊNCIA
MULHER — Mas isso é hora de chegar?
MARIDO — Eu quis voltar mais cedo, meu bem, aí disseram
pra mim: mas isso é hora de sair?
DESCUIDO
MULHER — Joe, onde está o mapa do assalto?
GÂNGSTER — Roubaram.

SENTENÇA
JORNALISTA — O senhor foi absolvido por cinco jurados contra
dois?
PRESIDIÁRIO — Fui.
JORNALISTA — Então por que está preso?
PRESIDIÁRIO — Porque depois do julgamento liquidei os dois.

POSSIBILIDADE
VELHINHO — Quer ir ao cinema comigo?
BROTINHO — Não se enxerga? O senhor podia ser meu pai.
VELHINHO — Podia, sim, mas sua mãe também não quis ir ao
cinema comigo.

TRAVESSIA
ORDENANÇA — Destruíram a ponte, general.
GENERAL — Diga ao pessoal que vá pela outra margem.
ORDENANÇA — Mas o pessoal estava em cima da ponte,
general.

IMPRESSÃO
BÊBADO — Garçom, traz mais um café.
GARÇOM — Pois não.
BÊBADO — Já é o décimo quinto que tomo e esse macaco não
some da minha frente.
GARÇOM — Nem vai sumir. Esse aí é o gerente.
BONS TEMPOS
VELHA — No meu tempo as coisas eram muito diferentes.
MOÇA — No meu também espero que sejam.

CARNAVAL
MULHER — Você jura, meu bem, que não vai me esquecer
depois que acabar este baile? BÊBADO — Que baile?

PROVA
BÊBADO — Este uísque está falsificado.
GARÇOM — Como é que o senhor sabe?
BÊBADO — Os morcegos que estou vendo não conseguem nem
levantar vôo.
TELEFONEMA
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um aparelho Telex
para surdez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um aparelho Telex
para surdez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um a-pa-re-lho
Telex para sur-dez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — Nada, não. Pode deixar que mando um aí.
URGÊNCIA
MULHER — Embrulha quatro velas das grandes, bem depressa.
CAIXEIRO — Sua luz apagou?
MULHER — Não, senhor, quem apagou foi meu marido.

CONFISSÃO
ELA — Quando bebo, sinto vontade de fazer mil e uma loucuras.
ELE — Quais são as outras mil?

PLANO
ESPIÃO 1 — Você entra ali, pé ante pé.
ESPIÃO 2 — Impossível: só tenho uma perna.
PRISMA
PROMOTOR — A senhora atropelou a vítima porque estava em
excesso de velocidade.
RÉ — Quem estava em excesso de velocidade era a vítima. Se
ela andasse mais devagar, quando chegasse ao local do
atropelamento eu já teria passado.

EXAME
ELA — Vim fazer o teste do strip-tease.
ELE — Pois não. Entre ali e vista a roupa.

REVANCHE
JOGADOR 1 — Já sei, o senhor veio aqui pra ver se recupera a
sua mulher que perdeu ontem no jogo, não foi?
JOGADOR 2 — Não. Vim aqui pra ver se ganho a sua.

RECURSO
HOMEM — Telefonista, por favor, há mais de duas horas que
estou chamando esse número e só dá sinal de ocupado.
TELEFONISTA — Que é que você quer que eu faça? Que deixe o
serviço e vá lá colocar o fone no gancho?

DIAGNÓSTICO
MÉDICO — Diga 33.
CLIENTE — 22.
MÉDICO — 33.
CLIENTE — 22.
MÉDICO — O senhor está com o pulmão muito fraco.

MIOPIA
MÉDICO — Lamento dizer, mas o senhor é míope do olho
esquerdo.
CLIENTE — Do esquerdo é impossível, doutor: é a bola de gude
do meu filho.
REGIME
CAVALHEIRO — Vamos dançar?
DAMA — Fui proibida pelo médico.
CAVALHEIRO — Quem é o seu médico?
DAMA — Meu marido.

ASSALTO
GÂNGSTER 1 — Às 8hO2 saio da ambulância, às 8hO3 entro no
banco, às 8hO4 liquido o caixa, às 8hO5 vou ao cofre, às 8hO6 saio
pelos fundos, às 8hO7 pulo o muro, às 8hO8 você me pega de
automóvel. Entendeu?
GÂNGSTER 2 — Entendi, chefe, mas é muito perigoso.
GÂNGSTER 1 — Perigoso por quê?
GÂNGSTER 2 — Porque não tenho relógio.
OPORTUNIDADE
SNOB — Você já viu iluminação mais moderna do que essa do
meu apartamento?
VAMP — Nunca. Em todo apartamento que entro, a primeira
coisa que fazem é justamente apagar a luz.

VANTAGEM
UM — Ganho 50000 na televisão, mas televisão pra mim é bico.
OUTRO — E você vive de quê?
UM — De bico.

ABSURDO
FREGUÊS — Garçom, na minha sopa tem uma barata.
GARÇOM — Impossível, meu amigo: esta sopa é de DDT.

FAROESTE
FORASTEIRO — A que horas chega a diligência das 3hO5?
XERIFE — Depois do assalto das 4hlO.

SELVA
ÍNDIO — Vim pedir a mão de sua filha.
CACIQUE — Trouxe a aliança?
ÍNDIO — Não. Trouxe a machadinha.

ENCONTRO
PACIENTE — Doutor, vou lhe confessar uma coisa que me
atormenta a consciência há mais de cinco anos: sou um espião.
MÉDICO — Vou lhe confessar uma coisa que também me
atormenta há mais de cinco anos: não sou doutor, sou polícia
secreta.
CHAMARIZ
MOÇA — Foi daí que botaram um anúncio procurando uma
datilografa?
MOÇO — Foi, sim. Entre ali e tire a roupa.
MOÇA — Pra escrever à máquina, preciso tirar a roupa?
MOÇO — Não é pra escrever à máquina, é pra trabalhar no show
A datilografa nua.
NEGÓCIO
UMA — Casei.
OUTRA — Quanto?

SOLUÇÃO
GRÃ-FINA 1 — No verão prefiro ir para o campo. A vida no asfalto
é insuportável para as crianças.
GRÃ-FINA 2 — Por que não compra uns sapatinhos pra elas?

SINCERIDADE
ADVOGADO — Qual era o seu estado civil antes de casar com o
seu marido?
CLIENTE — Estado interessante, doutor.

DIVISÃO
NÁUFRAGO — Você fica com a mulher e eu com a espingarda.
OUTRO — Ótimo.
NÁUFRAGO — Mãos ao alto! Agora me devolve a mulher.

ABATIMENTO
PROMOTOR — A senhora partiu o seu marido ao meio com este
serrote, por isso vai pegar dez anos de prisão por cada pedaço.
ACUSADA — Que sorte, e eu que havia pensado cortá-lo em
quatro.

VANTAGEM
SOLDADO 1 — O que mais admiro no capitão é a sua valentia.
Diante do maior bombardeio ele fica impassível: não muda a cara.
SOLDADO 2 — Nem pode, coitado: está morto há três dias.

CARNAVAL
MULHER — Adorei brincar o carnaval com você, meu bem, onde
é que você mora?
MACACO — No jardim zoológico.

EQUIVOCO
FREGUÊS — Isso é um absurdo, comi o braço da minha mulher
e o senhor incluiu na conta.
GARÇOM — É engano seu, o senhor comeu foi o braço da
mulher do patrão.
INFLAÇÃO
UM — As mãos vão subir.
OUTRO — Quando?
UM — Agora. Mãos ao alto.

DUVIDA
CLIENTE — Sonho com este elefante todo dia, doutor.
PSIQUIATRA — Isso não é elefante, é uma cobra.
CLIENTE — Foi por isso, exatamente, que eu trouxe ela aqui.

MODA
CAMELÔ — A última novidade em matéria de biquíni: 4
centímetros de largura por 4 de comprimento, é só cair n'água que
encolhe mais.
MULHER — Me dá um.
CAMELÔ — Está aqui.
MULHER — Mas como é que vou entrar nisso?
CAMELÔ — Não é pra entrar, não senhora. É pra levar na mão

CONFIRMAÇÃO
JUIZ — A senhora colocou o seu marido no forno e tem a audácia
de dizer que não o matou friamente?
RÉ — Perfeitamente, senhor juiz. É que o forno estava ligado.

DESESPERO
CLIENTE — Doutor, não sei o que faço, engoli o meu cachorro.
MÉDICO — Tenha calma, senhora, tenha calma. CLIENTE — Eu
tenho, doutor, quem não tem é o cachorro.
IMPREVISTO
HOMEM — Pelo amor de Deus, doutor, minha mulher cismou que
é automóvel.
PSIQUIATRA — Não se preocupe, traga ela aqui.
HOMEM — De que jeito, doutor. Ela estacionou em local proibido
e foi rebocada.

SALVAMENTO
NÁUFRAGO — Eu pedi sos e me mandaram uma mulher.
HABITANTE DA ILHA — E agora?
NÁUFRAGO — Agora quem está pedindo sos é ela.

SEGREDO
MASCARADO 1 — Como é o nome da sua fantasia?
MASCARADO 2 — O Crime da Mala.
MASCARADO 1 — Sua mulher sabe disso?
MASCARADO 2 — Nem vai saber. É ela que está na mala.

TORTURA
CARRASCO — Confessa, imbecil, senão somos obrigados a usar
métodos mais violentos.
PRISIONEIRO — Está bem, eu confesso, mas antes vocês me
devolvem meus dois braços e minhas duas pernas.

PREFERÊNCIA
GARÇOM — Que deseja para sobremesa?
CANIBAL — Você mesmo.
TRAJETÓRIA
LEGISTA — A bala perfurou o ombro esquerdo da vítima, fez
ruptura no fígado, perfurou o estômago, transfixou o cérebro, varou o
pulmão e atravessou o armário do quarto.
INVESTIGADOR — Morreu?
LEGISTA — Só morreu o sujeito que estava no armário.
PREOCUPAÇÃO
OFICIAL 1 — Não consigo dormir, vim pra guerra e minha mulher
ficou em casa.
OFICIAL 2 — Fala com o capitão, ele não é seu primo?
OFICIAL 1 — Por isso é que não consigo dormir: ele também
ficou em casa.

FINALIDADE
COMPRADOR — Tem bala para este revólver?
VENDEDOR — Tem sim, quantas quer?
COMPRADOR — Basta uma.
VENDEDOR — Está aqui.
COMPRADOR — Mãos ao alto! Agora me dá mais cinqüenta.

EXIGÊNCIA
RICAÇO — Garçom, me disseram que este restaurante tem tudo,
é verdade?
GARÇOM — Pode tirar a dúvida, doutor: o que o senhor pedir
nós trazemos.
RICAÇO — Então me traga uma loura.
GARÇOM — Pois, não, doutor. Bem passada ou mal passada?

HOTEL
HÓSPEDE — Senhor gerente, tem um cavalo na suíte ao lado do
meu quarto e não posso dormir.
GERENTE — O que é que o senhor quer que eu faça?
HÓSPEDE — Põe ele na rua.
GERENTE — O senhor não vai acreditar, mas ele é o único
hóspede que ainda paga em dia.

CARREIRA
GAROTA 1 — Resolvi meter a cara na televisão, estou fazendo
comercial de meia.
GAROTA 2 — Mas meia não aparece a cara.
GAROTA 1 — Ora, minha filha, a gente começa por baixo.
CONSEQÜÊNCIA
DETETIVE — Coitado, morreu envenenado pela mulher do
amigo.
LEGISTA — Impossível, ele tem duas balas no pulmão esquerdo.
DETETIVE — Exatamente por isso. A mulher o envenenou tanto
que ele decidiu tomar satisfações do amigo.

INVASÃO
SOLDADO — Fui obrigado a deixar minha mulher no tanque.
SARGENTO — Lavando roupa?
SOLDADO — Não. Embaixo.
SURPRESA
MULHER — Doutor, meu caso é muito grave: amanheci com
duas cabeças.
MÉDICO — Mas só vejo uma.
MULHER — É que a outra está aqui na minha bolsa.
CONDECORAÇÃO
TENENTE — Isso aqui é a medalha do mérito.
SARGENTO — E o que foi que eu fiz pra merecer medalha?
TENENTE — Nada, Aí é que está o mérito.

INTENÇÕES
ATRIZ — Teve um crítico que elogiou muito o meu último
programa de TV.
FIGURANTE — E o programa foi bom?
ATRIZ — Não sei, ainda não foi pro ar.

CASTIGO
MULHER — Sumiu o meu tapete de tigre, como é que o senhor
explica isso?
GERENTE — Seu tapete de tigre foi despedido: hoje de manhã
ele comeu o nosso melhor camareiro.
VIVA O PROGRESSO
MANCHETES AINDA INÉDITAS

CHEGOU A ONDA DE FRRR FRRR *


FRRR FRRR FRRR FRRR FRRRIO

Cortina de ferro
será trocada por
porta giratória
Computador Eletrônico Dá Vexame:
Demite seu Construtor

ONU - Tudo pronto para a


terceira paz mundial

Mais um cosmonauta russo projetado no espaço:


voltou porque quis
DIMINUEM OS ACIDENTES NO TRÂNSITO!
AGORA É TUDO DE PROPÓSITO

ÚLTIMO DESASTRE
NAS FERROVIAS:
ACABARAM OS
TRENS
OFICINAS FECHAM POR FALTA DE PEÇAS E
PEÇAS FECHAM POR FALTA DE TEATROS

CIRURGIÃO PLÁSTICO LANÇA NOVA MODA:


JOELHOS ABAIXO DAS SAIAS
AH, OS INVENTORES

Pra combater o calor o homem inventou o leque, o ventilador, o ar


condicionado e o técnico em ar condicionado. Pra combater o técnico
ainda não se inventou nada.

A "arma secreta" é um dos maiores inventos da guerra-fria, a


arma é tão secreta que quando alguém a descobre, desaparece.

A polícia técnica foi inventada pra dizer "como" foi cometido o


crime. O detetive foi inventado pra dizer "quem" cometeu o crime. O
advogado foi inventado pra provar que o criminoso "não" cometeu o
crime.

O homem que inventou a desculpa demorou tanto tempo e não


tinha nenhuma desculpa pra dar.

Quando foram homenagear o inventor do dicionário, ele sim-


plesmente disse que não tinha mais palavras para agradecer.
O ELEVADOR
TABULETAS
Numa fábrica de cadeiras de balanço, no fim do ano: "Aberto para
balanço".

Num cinema do pólo norte: "Ar condicionado imperfeito".

Numa fábrica de material bélico: "Liquidação de bombas a preços


de paz".

No pára-choque de um caminhão: "Entre sem bater". Na porta de


um ginásio de boxe: "Bata antes de entrar". Num advogado criminal:
"Pendure suas armas no cabide".

Na porta de um novo restaurante: "Aqui você encontrará a comida


mais fresca da cidade e a tinta também".

Numa agência de propaganda: "Entre sem ser anunciado, mas


traga um anúncio".
Na porta de uma farmácia: "Injeção a crédito: nós espetamos o
braço e você, a conta".

Nas grades de um hospício: "Cuidado com os médicos". Numa


fábrica de tapetes: "Limpe os pés antes de sair".

Num hipódromo: "Se você acredita no azar, entre. Nós come-


çamos assim".

Na portaria de um hotel: "Nada funciona, mas em compensação


temos o melhor Departamento de Reclamações do mundo".

Na janela de uma pensão: "Aluga-se o último quarto, agora já


posso morar fora".

Numa emissora de TV: "Ajude-nos a sustentar nosso índice de


audiência: segure o gráfico".

Numa fábrica de cigarros: "Não é proibido fumar, mas traga o


cigarro".

Numa cartomante: "Seu futuro está aqui e o nosso também".

Numa fábrica de isqueiros: "Nosso isqueiro é tão bom que só falta


falhar".
REGISTRO POLICIAL
Matou o detetive que contratou pra seguir a mulher.

Bandidos assaltam vigia do túnel e fogem pelo outro lado.

Alfaiate vai à falência depois de atear fogo às vestes.

Carpinteiro baleado dentro do armário enquanto consertava o


cabide.

Esquartejou a amásia e evadiu-se. A polícia está tentando re-


constituir o cadáver.

Quadrilha assalta banco e rouba 100 mil. Na reconstituição do


crime, investigadores roubam mais 100.

Partiu o noivo em dois pra dividir com a rival.

Médico-legista suicida-se e deixa várias pistas para os colegas.

Avião explodiu em terra e passageiros morreram no ar.

Abateu o melhor amigo na companhia de sua mulher.

Trem descarrilou e apenas um vagão chegou no horário.

Ônibus cai no abismo e motorista é preso em flagrante por pára-


quedista que passava pelo local.

Guarda foge da penitenciária disfarçado de presidiário.

Secretária suicida-se sem deixar memorando.

Ascensorista agredido por 480 quilos de gente.

Perícia descobre: incêndio na fábrica de fósforo foi causado por


um fósforo.

Marido enganado duas vezes matou a mulher do amigo por


engano.

Táxi capotou cinco vezes e o motorista capotou na primeira.

Pivô do crime foi o dentista.

Comprou um revólver e assaltou o próprio vendedor.

Assassinado pelo surdo que interpretou mal o seu gesto.

Velho demais morreu enquanto tentava ser jovem demais.

Traidor suicida-se com punhalada nas costas.


A LÓGICA DO ABSURDO
O HOMEM FELIZ
John Smith é um homem calmo, não precisa lidar com cruzeiro,
nem novo nem antigo, só entende de dólar, é vermelhão, sempre de
bom humor, tem dois carros hidramáticos, faz fim de semana com a
família, desliza em estradas maravilhosas, sexta-feira de tarde, às 5
em ponto, interrompe a reunião do escritório de estalo, entrega a
firma ao gerente, deixa tudo pra segunda-feira depois do meio-dia,
vai pra casa, toma uma sauna, entra na ducha, mergulha na piscina,
beija os filhos, fica entregue a eles sem a desculpa de que não tem
tempo porque precisa ganhar a vida, arruma as malas, põe o caniço
na capota da camioneta, a mulher está na cozinha automática
preparando sanduíches coloridos, os tomates e os ovos estão
frescos, o leite é branquinho, o alface é tão verde que parece offset,
as crianças limpinhas como se fossem anúncios, entram no carro e
partem para a casinha de campo, todos de blue jeans, dão milho às
galinhas, afagam o cachorro, alisam os cavalos, brincam com os
gansos, examinam os coelhos, regam a horta, colhem flores no
jardim, improvisam um jantar bonito e sadio e ficam contando os
seus casinhos, cada um se interessando pelo outro porque estão
juntos pra isso mesmo, todos se gostam, o papai acende o
cachimbo, a mamãe costura qualquer coisa sem compromisso, o
menino brinca com a irmãzinha, o bebê está quieto no berço, a
musiquinha estereofônica é mansa, o ar é puro, dormem tranqüilos,
as janelas abertas e sem grades, a lua iluminando os móveis rús-
ticos, tudo limpinho e asseado pois não há empregada pra sujar,
John Smith não tem preocupação, tudo dá certinho com ele, seu
único problema é receber o salário no fim da fita. Vai representar
bem assim no raio que o parta!
Feliz natal e PrU$Pero ano novo
Dezembro é um saldo do calendário que os homens liquidam em
muito menos de trinta dias.

Em cada fim de ano mandamos os mesmos telegramas para as


mesmas pessoas, crentes que as pessoas são as mesmas e nós
também.

Antigamente, as crianças não dormiam esperando o Papai Noel,


hoje é o Papai Noel que não dorme.

A vantagem dos fins de ano é enfrentarmos os mesmos com-


promissos, os mesmos problemas e as mesmas datas — mas numa
nova agenda.

O chato dos fins de ano é ouvir dizer a todo instante "puxa, como
passou depressa" e nós bem sabemos quanto nos custou chegar ao
fim.

Há muitos anos que a gente deseja aos amigos um próspero ano


novo, mas pelos cartões que eles nos enviam parece que vêm
piorando.

Em certas casas muito prósperas é muito comum existir dois


Papai Noel.

Família que come castanha unida permanece unida — até acabar


a castanha.

É realmente um deboche: dá-se um tambor a uma criança e


deseja-se ao pai um feliz Ano Novo.
Pontualidade francesa é simples: quando o homem está che-
gando a mulher já está saindo.

Pontualidade britânica é mera coincidência: os dois chegam


atrasados exatamente cinco minutos.

Pontualidade israelense é infalível: o que chegar atrasado des-


conta no próximo encontro.

Pontualidade portuguesa é desconcertante: o» dois chegam na


hora, mas em lugares diferentes.

Pontualidade americana é premeditada: os dois botam a culpa no


computador eletrônico.

Pontualidade suíça não falha: quando um chega atrasado joga


fora o relógio.

Pontualidade brasileira só em desastre: os dois se encontram no


cruzamento e nenhum deles tem tempo de sair do carro.
EM CIMA DO
Todo dia de manhã me sento no espelho pra conhecer melhor os
meus reflexos, doutor. Experiências nucleares nos dois extremos da
Terra, um botão pode acabar com o mundo, e dizer que só preciso de
um pra pregar na minha camisa. Ué, onde está minha camisa que
deixei aqui agorinha mesmo? Ladrões continuam assaltando à luz do
dia, a Light promete enérgicas providências. O Brasil espera que
cada um cumpra o seu dever, somos ao todo 100 milhões de
devedores. Há sete mulheres casadas para cada homem, azar o
meu que as minhas se dão muito bem com os maridos. Caiu outro
avião, está vendo? O motor não falha, o que falha é a estatística.
Estou preocupadíssimo, os rádios estão anunciando que reina a mais
completa ordem em todo o território nacional. Papai, o que é
plebiscito? Não chateia, menino, eu não tenho filho. É muita
ingenuidade querer saber o que é ingenuidade? Depois de tantos
fuzilamentos é animador saber que restaram oitenta sobreviventes.
Depressa, um copo de água que estou morrendo de sede. Queira
desculpar mas há precisamente oito meses que deixamos de fabricar
copos. Diferença de idade bárbara é um homem de noventa e sete
anos casar com uma mocinha de cinqüenta. Trocadilho ainda faz
sucesso? Conheço um Papai Noel que veio puxando o trenó sem a
rena, só pra não pagar o imposto sobre a rena. Agora posso explicar
por que há greves nas ferrovias: quem com ferro fere, com ferroviário
será ferido. Sei que só irei a um enterro, mas desse eu garanto que
não volto. Em cara de homem não se bate, a não ser dentro do
ringue: um, dois, três, quatro, cinco, seis, que azar! Se eu soubesse
contar até dez podia descansar mais um pouquinho. Dê um tiro no
ouvido, seu bobo, que você não ouve nem o estampido. Estou com
vontade de vender moral em pó, mas tenho medo que subam os
preços dos aspiradores. Se encontrar a Democracia, dá um abraço
nela que eu mandei. Descobri por que o movimento dos hotéis é
intenso, toda vez que a conta chega o hóspede sai. Nada melhor do
que uma guerrinha pra gente ter um pouco de paz. Engraçado,
doutor, quanto mais me irrito, mais me torno paciente. Tenho um
relógio tão preciso que quando não confere com a Rádio Relógio
mando consertar o rádio. Só vejo televisão por trás do aparelho pra
ver a cara dos atores quando estão de costas. O que admiro no
astronauta é a sua coragem de voltar à Terra. Sou um mágico tão
bom que nem preciso fazer mágica. Não sei se sou surdo porque
nunca fui a um otorrino. Comprei um sítio no meio do mato que não
tinha nenhuma cobra, mas levei quatro. Existem peixes tão sensíveis
que quando a gente engasga eles sentem um frio na espinha. Se
Freud esperasse mais um pouco poderia analisar os sonhos em
video-tape. O prazer do pai é ter uma folga pra sair com o filho, o da
mãe é o filho sair pra ter uma folga com o pai. A morte mais traiçoeira
é a que nos pega pela frente, que a gente não pode correr pra trás.
Mulher é a coisa mais imprevisível do mundo, a gente nunca sabe
quando aparece o homem. Um dia é da caça, o outro do caçador,
quando chega o dia da caça não chega mais o do caçador. Em
Copacabana, o pecado não mora ao lado, mora em frente. Não tem
nenhum sentido os soldados ficarem em posição de sentido. A
grande bossa, depois dos horários quebrados, são os cinemas
quebrados. Todos os anos recebo telegramas me desejando um feliz
aniversário, até hoje os telégrafos não compraram o /. A matemática
não tem lógica, toda vez que a gente elimina um desejo aumenta um.
As vitaminas foram descobertas pra mostrar à gente como o nosso
organismo é deficiente em letras. Conversa de bêbedo entra por uma
narina e sai pela outra. Exportação de cinismo seria um grande
negócio: o cinismo entraria cinicamente em qualquer alfândega do
mundo. A mulher moderna freqüenta praias, piscinas, museus,
coquetéis, salões de pintura e jantares — sem trocar o maio. Botei
meu relógio no prego pra não depender de ninguém, agora é um
inferno ir lá todos os dias pra ver as horas. Sei que estamos num
regime democrático, mas digo o que penso com a maior franqueza.
Está bem, doutor, concordo com o senhor: vamos começar a
discussão.
R NC D U D D S
C Ô I A E M E O Ó
Apareceu um corte no meu dedo e minha mulher cismou que eu
devia botar um pouquinho de sulfa, deu uma coceira tão grande na
mão que durante duas semanas esqueci do dedo — até descobrir
que sou alérgico a sulfa. Enquanto tratei da alergia, o corte evoluiu,
pois os meus glóbulos vermelhos deviam estar infiltrados de glóbulos
brancos que, como se sabe, exercem ação subversiva, o que me faz
acreditar que preciso fazer com urgência uma revolução nas minhas
artérias. Um amigo disse pra eu dar uma pincelada de mercúrio
cromo, outro me recomendou uma pomada que é tiro e queda — só
não explicou se a queda era do dedo. Uma vizinha afirmou que bom
mesmo era cobrir com esparadrapo pra não pegar poeira, outra me
garantiu que o dedo precisava ficar descoberto pra respirar.
Confesso que o dedo já estava me dando mais trabalho do que lhe
dei em toda minha vida, porque era justamente um desses dedos
que não servem nem para apontar estrelas. Mas isso era o de
menos, pois o dedo recebeu tanta atenção que começou a ficar
inchado, tão inchado que os outros já estavam complexados. Fiquei
na dúvida se levava o dedo doente a um cirurgião ou os sadios a um
psiquiatra, acabei optando pelo cirurgião, que ia tratar de um
enquanto o psiquiatra teria de tratar de quatro — e garanto que ele ia
ter um bocado de trabalho, principalmente com o polegar, que é
completamente diferente dos outros e vive retraído no seu cantinho.
O cirurgião me mandou a um cancerologista, o cancerologista me
mandou tirar uma radiografia, sem atentar para o detalhe de que o
raio X, segundo os cientistas britânicos, provoca o câncer. Quando
menos esperei, estava envolvido com uma série de especialistas,
que passam as noites estudando não é à toa, que afinal precisam pôr
à prova os seus conhecimentos, além de decorar diariamente um
monte de nomes de remédios novos pra poderem receitar no dia
seguinte. Um dos médicos dizia que o meu dedo estava assim por
causa do fígado, outro garantia .que era uma infecção no estômago,
outro me mandou usar óculos, outro disse que eu era capaz de ficar
surdo, cada um deles me exigindo um punhado de exames, de
sangue, de urina, de fezes, como se eu fosse fazer um vestibular de
saúde: meu medo era ficar pra segunda época e perder as férias.
Resultado: andei tanto de um lado para outro, que o dedo decidiu
desinchar sozinho e não procurei mais médico nenhum, pra evitar
que ele dissesse que isso é um sintoma muito grave, uma vez que a
grande preocupação dos médicos são os sintomas — e isso é um
mau sintoma. Não é por nada, mas esta crônica foi batida com o
dedo desenganado, boa noite, doutor, e durma bem.

CONTO A

CORES
Lurdinha acordou com disposição de ir à praia. Saiu debaixo do
lençol vermelho, trocou o pijama vermelho por um maio vermelho e
foi ao encontro do sol vermelho. Havia no céu algumas nuvens
vermelhas, quando Lurdinha tirou sua saída vermelha e abriu sua
barraca vermelha. Colocou sua bolsa vermelha em cima da toalha
vermelha e, ao lado das sandálias vermelhas, abriu um livro
vermelho. Nesse instante, surgiu um rapaz desconhecido, de calção
vermelho e camisa vermelha, e, sem pedir licença, deitou na sombra
de sua barraca vermelha e ligou seu rádio transistor vermelho.
Lurdinha ficou azul de vergonha — pois o vermelho tinha acabado.
Ontem, no psicanalista, encontrei um Homem de Marte. Estava
deitado no diva, com muita dificuldade, as antenas quase batendo no
teto da sala, acendendo e apagando uma luzinha vermelha no ouvido
esquerdo, como se fosse dobrar uma esquina. O psicanalista me fez
sinal pra não me aproximar, o Homem de Marte tinha complexo de
inferioridade e se sentia completamente deslocado aqui na Terra.
Pior, não sabia como veio parar aqui nem como voltar, pois perdera
um parafuso durante a viagem — fato que o psicanalista verificou
logo de saída, pois só é procurado por quem tem um parafuso a
menos. Fiquei atrás da cortina e vi quando o psicanalista lhe pediu
que relembrasse a sua infância. O Homem de Marte sorriu e disse
que lá era ao contrário: as pessoas nasciam velhas e depois é que
iam ficando pequenas, até desaparecer — o que era muito mais
lógico, pois resolvia o problema chato de enterrar os mortos. Em
Marte — explicou — as pessoas não morrem: nascem e desnascem.
Aquele pobre desajustado disse então que estava com menos 180
anos de idade — e nem sequer parecia uma criança. O médico lhe
pediu que relembrasse sua velhice e ele respondeu, com muito bom
senso, que não se lembrava de nada, pois naquela época era muito
velho e não tinha memória. Percebi, rapidamente, que era outro bom
senso dos marcianos, pois evitam pensar no passado e no futuro,
uma vez que o futuro é o que vem pra trás. Havia outras vantagens
que ele foi explicando: todos têm vontade de fazer aniversário,
porque "ficam um ano mais moços" e isso justifica até as
comemorações, pois não há vantagem alguma em se ficar um ano
mais velho. Além disso, há a experiência que o homem tem de ser
filho depois de já ter sido pai, poupando um monte de vexames. Mas
a grande vantagem é que todos se casam com balzacas, que aos
poucos vão ficando brotinhos, evitando aventuras nem sempre bem-
sucedidas. O único perigo é se transformar em criança gagá, mas
mesmo assim é muito melhor que ser velho gagá. Sua noção de bom
senso era tanta que quase me atrevi a perguntar se lá eles já tinham
inventado também o Volkswagen — mas o psicanalista poderia ficar
furioso com a intromissão inteiramente fora de propósito de um
comercial ao vivo pra interromper a sua consulta. Foi então que
pensei nos sapatos. Não ficariam grandes os sapatos dos marcianos
para os seus pés que naturalmente iriam ficando pequenos? Foi
quando o marciano se levantou e agarrou no colo a televisão portátil
que havia na mesinha ao lado e começou a embalá-la nos braços,
como se fosse um filho. O psicanalista ficou um pouco perturbado e
não teve outro remédio senão pedir à enfermeira uma mamadeira —
e o pior veio depois: a televisão tomou tudinho, até a última gota.
Não sei por que canal, uma vez que todos eles mamam muito bem.
Só sei que no fim a televisão deu um arroto tão estranho que o
psicanalista decidiu chamar um técnico e só não conseguiu porque
foi demovido da idéia pelo marciano que, com nova demonstração de
bom senso, disse que as televisões de Marte liquidaram todos os
técnicos — ao contrário do que acontece aqui na Terra, onde os téc-
nicos destroem as televisões. Lembro-me perfeitamente que eram
Ilhl5 em ponto, quando este fato se deu, pois nenhum relógio
conferiu com o do outro — detalhe tanto mais importante quando
verifiquei que nenhum de nós tinha relógio. Contei a outro
psicanalista tudo o que se passou comigo, ele disse que só podia ser
um pesadelo. Ora, tratando-se de um psicanalista da mais absoluta
confiança, fui correndo pra casa pra conferir e, de fato, os lençóis
estavam remexidos, mas eu não estava na cama — nem sequer
havia dormido em casa naquela noite. Não é por nada, mas
desconfio que tanto o primeiro como o segundo psicanalista estão
ficando loucos. Senão não havia motivo algum pra me receberem
pendurados no lustre do consultório.
CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
Ilmo. Sr.
Diretor Superintendente
Nesta

Prezado Senhor:

Tenho a satisfação de lhe comunicar que acabei


de adquirir uma partida de papel carbono de
excelente qualidade, cuja primeira demonstração a
título de experiência, estou fazendo neste momento.

Infelizmente, a secretária que V. S. me


recomendou não tem a mesma qualidade do papel
carbono, pois, embora possua todas as virtudes que
V.S. tão bem soube descrever, tem um pequeno
defeito: é muito distraída.

Pela presente, V. S. poderá constatar as duas


coisas que estou afirmando: a qualidade do papel
carbono e a distração da secretaria.

Sem outro assunto, subscrevo-me

Atenciosamente


NOVELA
ISABELA

A mulher que sofria em grifo

Capítulo 1

Isabela nasceu num cantinho de página. Nasceu pra sofrer, pra que
negar? Logo na terceira ou quarta linha, completou vinte anos de idade, pra
ter, de saída, a sua primeira desilusão no amor. Augusto, o homem que não
chegaria a amá-la, pois morreu assassinado antes mesmo de entrar nesta
história, encheu a vida de Isabela de reticências...........
Mas Isabela, disposta a sofrer, saiu das reticências com lágrimas nos
olhos, como se pode constatar pelo desenho ao lado e, pouco antes do fim
deste primeiro capítulo, encontrou RICARDO. Também, pudera, com umas
letras deste tamanho ela só não o encontraria se fosse cega — e ainda é
muito cedo pra isso.

(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)


Capítulo 2

No momento em que Ricardo se aproximou de Isabela para beijá-la, a


rotativa deste livro começou a funcionar, resultando que Isabela ficou toda
suja de sangue, pois havia tinta demais na máquina-e o impfessor estava
dormindo. O mais estranho é que, só depois do livro pronto, foi que veri-
ficamos que Isabela tinha sangue amarelo, pois não sabíamos ainda que
cor iria entrar na composição deste livro e nos convenceram de que o
amarelo era melhor, enfim, isso são problemas gráficos que eu não entendo
e muito menos Ricardo, que ficou impressionadíssimo com a transfiguração
de Isabela e abandonou-a ali mesmo e foi tratar de arranjar outra novela,
porque desse jeito era duro trabalhar com Isabela. Quando o impressor
tentou limpar Isabela da tinta, piorou: ficou toda arranhada, com
escoriações generalizadas. Resultado: fomos obrigados a providenciar uma
ambulância com a máxima urgência, o que não foi tão difícil assim pra
quem tem curso de datilografia. E aí está: uma ambulância
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 3

No hospital, Isabela queixava-se de dores terríveis, sentia uma pontada


no pulmão, como se tivesse um punhal encravado nas costas. Foi
convocada uma junta médica de emergência e, depois de minucioso
exame, voltaram com o diagnóstico: Isabela tinha, de fato, um punhal
encravado nas costas. Era preciso fazer a extração do punhal o mais rápido
possível — mas, já então, a sala de operações estava cercada de médicos
e os médicos cercados de detetives. A história tomava agora um rumo
inteiramente diverso: era preciso que Isabela fosse salva, para que esta
novela não se transformasse num romance policial. E era preciso também
que Isabela sobrevivesse pra continuar sofrendo — e logo de saída decidi-
ram fazer a operação sem anestesia, o que nos obrigou a parar aqui este
capítulo, pois não sabemos bater à máquina com gritos de mulher nos
ouvidos.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 4

Isabela escapou. Como se vê, de uma página para outra, muita coisa
pode acontecer. Ao se despedir do diretor do hospital, Isabela apaixonou-se
por ele, sem mais nem menos:
— Estou apaixonada!
Viram? O diretor não respondeu. Vontade não lhe faltou, mas é que
detestamos fazer diálogos, gastam muito tempo e muito espaço e nem
sempre convencem. Por isso, casaremos Isabela com o diretor do hospital,
sem a menor troca de palavras. E pela primeira vez na vida de um autor
acontece um absurdo desses: Isabela ficou viúva, antes mesmo de casar.
Sabem como? Muito simples: quando terminávamos este capítulo, juntamos
distraidamente as páginas desta novela com as páginas de outra novela,
onde um gângster disparava a sua metralhadora contra o caixa de um
banco. Foi muito azar: o futuro marido de Isabela foi se meter logo na frente
do caixa e foi atravessado pelas balas do gângster da outra novela.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 5

Tudo é premeditado. Para aproveitarmos um velho desenho de uma


mulher de preto, matamos, sem titubear, o marido de Isabela, que passou a
ficar de luto, pela morte do seu primeiro marido — uma vez que
pretendemos casar Isabela muitas outras vezes. Para isso, neste capítulo,
fizemos um desenho novo, com tinta e nanquim também novos, em papel
de primeira qualidade: afinal de contas, uma Isabela caprichada, com traços
firmes e curvas insinuantes, atrairá certamente a cobiça de novos
personagens. Mas nem isso adiantou, porque na hora de compor este texto,
o diagramador fez o cálculo errado, obrigando o montador desta página a
passar o texto por cima de Isabela, partindo-a em deis. E agora?
Conseguirá

Isabela escapar? Ou melhor, conseguirão os dois pedaços de Isabela


se juntar? Não percam, novos e sensacionais sofrimentos de Isabela, a
mulher que sofria e continuará sofrendo em grifo.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
(■fj/\"i.:

Capítulo 6

E agora? Agora só nos resta restaurar Isabela da melhor forma


possível, para que ela possa conquistar novos personagens e,
conseqüentemente, sofrer mais. Dito e feito: mergulhamos a pena no
nanquim e de lá extraímos uma nova Isabela, com cachorrinho e tudo. E só
depois de escrevermos isso tudo foi que verificamos que já havíamos dito
quase a mesma coisa no capítulo anterior, provocando um sorriso de
gozação de Isabela. Mas como não estamos aqui pra levar gozo de
personagem de ninguém, e muito menos nosso, ela vai ver só o que lhe
acontecerá no próximo capítulo, pois não estamos com disposição pra
refazer este.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)

Capítulo 6-a
Pra princípio de conversa isto aqui não é página seguinte coisa
nenhuma, pois o capítulo aí de cima foi muito curtinho e resolvemos
aproveitar este espaço aqui embaixo. Mas, se algum leitor obedeceu o
nosso aviso e passou direto para a página seguinte, não perdeu nada, pois
tudo isso que escrevemos neste capítulo foi justamente pra preencher o
espaço que faltava pra completar a página. Além do quê, bem que Isabela
merecia uma folguinha.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 7
Antes mesmo que Isabela tentasse qualquer atitude, colocamo-la
na linha do trem, completamente amarrada, enquanto colocamos
também um trem no mesmo trilho em que ela estava estendida.
Porém, como não sabemos desenhar trem, ou melhor, como um
trem gasta muito mais tempo e muito mais nanquim (e nós não
ganhamos pra isso) resolvemos apelar para o automóvel que até
uma criança de três anos sabe fazer (e, cá entre nós, foi nosso
sobrinho mesmo quem fez). E se continuarmos em divagações
estéreis para o fio da história, Isabela, que é muito viva (mas não
tanto quanto nós) acabará se desamarrando e saindo do trilho, razão
por que, já no próximo parágrafo, será sumariamente esmagada
pelas rodas do automóvel.
Não disse? Vejam no próximo capítulo as conseqüências deste.
(CONTINUA NA PÁGINA .SEGUINTE)
Capítulo 80
Ou oito ou oitenta. Conosco é oitenta mesmo, e isso
nos poupa o trabalho de escrever os outros 72 capítulos.
Mas isso não impede que Isabela tenha sofrido muito, a
ponto de ficar bem magrinha, não tanto que lhe
aparecesse o esqueleto e nem tão pouco que não
pudesse caber aí ao lado. Mas isso não importa: o que
importa é que Isabela agora está no Texas, e não
sabemos como foi parar lá, porque não lemos os 72
capítulos anteriores, justamente porque não foram
escritos. O fato é que Isabela virou uma fera, quando
sentiu que estava acabando mais depressa do que a
própria novela, pois enquanto ela estiver viva a novela
continuará — e ela sabe muito bem disso. Portanto, nada
mais simples do que liquidar Isabela e para isso é só
colocá-la diante de um ladrão de gato que a matou com
um tiro certeiro e depois acabou matando também o
revisor, pois ele era ladrão de gado e não de gato. E sem
revisor, amigos, não há Iasleba que agüente.
PIADAS CURTAS PARA
INTELIGÊNCIAS LONGAS

Ortopedista para outro: "O negócio está melhorando, tenho


faturado duas a três fraturas por mês".

Treinador para o pugilista: "Assim não é possível, todo conselho


que lhe dou entra por um ouvido e sai pelo olho".

Esquimó para a mulher, depois de deitar na cama e apagar a luz:


"Boa noite, querida, e até janeiro".

Cliente para o advogado: "Quer que eu negue tudo ou fica melhor


para o senhor a legítima defesa?"
Comerciante para outro: "Meu sócio faliu porque não podia
contratar uma secretária, eu fali porque contratei uma".

Grã-fina para o psiquiatra: "Meu marido cismou tanto que é


jacaré, que peguei ele e fiz um sapato, agora quando ando, ele
geme".

Artista de teatro para o diretor: "Meu contrato só me obriga a


beijar dois homens, três já é um abuso, o que é que a minha mulher
vai pensar de mim?"

Psicanalista para outro: "Sou especialista em complexos de


inferioridade tão eficiente que os meus pacientes saem do con-
sultório completamente arrasados".

Homem para outro: "Depois que meus filhos receberam presentes


duas vezes no mesmo Natal deixaram de acreditar em Papai Noel.
Agora quem acredita sou eu".

Ascensorista escondido no armário, no momento exato em que o


marido traído abre a porta do armário: "Sobe?"

Cabotino para outro: "Vim aqui para falarmos um pouco sobre


eus dois".

Almirante referindo-se a um escafandrista: "Ele é bom até em


cima d'água".

Mulher para o oftalmologista: "Quero trocar o meu olho pelo do


meu marido, ele vê demais".

Rainha da Inglaterra para a princesa: "Minha filha, você tem que


decidir: ou o cara ou a coroa".

Vendedor para o freguês: "A gente sua muito pra ligar esse
ventilador, mas depois que liga seca em menos de meia hora".

Diretor de cinema para os artistas: "Hoje só começaremos a


filmar amanhã".

Raposo para a raposa: "Olhe, meu bem, o que eu trouxe pra


você: uma pele de homem".

Amiga para outra: "Não sei o que fazer, meu marido deu pra
chegar pontualmente em casa".

Gatuno para náufrago numa ilha deserta: "A balsa ou a vida".

Estudante para outra: "Tenho certeza que vou passar nos exa-
mes, não estudei a matéria, mas estudei bem o examinador".

Marido para a mulher: "Se o 13.° salário não sair, é melhor dizer
logo às crianças que o Papai Noel não existe".

Elegante para outra: "Seu vestido está muito chique, por que não
o vestiu todo?"

Grã-fina para outra grã-fina: "No Natal faço meus pedidos com
cópia e ganho sempre dois presentes iguaizinhos".

Caçador para outro: "A bússola foi a nossa salvação, os índios


gostaram muito dela".

Recém-casada para outra: "Nunca esqueço de tomar a pílula,


mas meu marido às vezes me esquece".

Obstetra para outro: "Tenho três filhos, um se chama Anovlar,


outro Enovid e o outro Novulon".

Marido para outro: "Às vezes minha mulher me surpreende. É


justamente quando a surpreendo".

Mulher para o cirurgião plástico: "Tenho um complexo terrível,


doutor, sou pequena demais para o meu nariz".

Louco para outro louco: "Desconfio que o nosso médico já está


ficando bom".
PRA LER DE LONGE
FQWR
HJLBÇO
DEGKYNQUTX
ASZMBQTIOCVIF
Sua vista está boa? Então prepare-se para ler de perto.
JORNAL
METEOROLOGIA. Técnicos contratados para fazer a previsão do tempo

JOANESBURGO — Na África do LONDRES — Audacioso assalto


Sul, uma senhora consultou um foi executado nesta cidade por um
computador eletrônico, dizendo que bando de ladrões que entrou num
desejava um marido honesto, banco, depois de arrombar a porta dos
trabalhador, eficiente, dinâmico e, fundos. O banco vai fechar durante
sobretudo, sem falhas. O computador semanas, por falta de fundos.
respondeu: "O marido ideal para a
senhora sou eu". CALIFÓRNIA — Violento furacão
atingiu uma cidade do sul, obrigando
NÁPOLES — Um homem pegou muita gente a sair de casa. Em
sua mulher em flagrante com o seu compensação, algumas pessoas não
melhor amigo, deu cinco tiros no precisaram sair: a casa é que saiu.
amigo, mas quem morreu foi a mulher.
Pior foi depois, quando o homem NORUEGA — Foi feito em Oslo o
descobriu que a mulher não era sua, jornal mais rápido do mundo. O jornal
era do amigo. O caso está na justiça, foi posto na rua em quinze minutos e o
mas o júri não sabe se deve condenar seu diretor em vinte.
o marido enganado ou o amigo —:
pois ambos estavam enganados. Para SÃO PAULO — Foi lançado ao
complicar mais a situação, o amigo do espaço o primeiro cosmonauta
marido enganado feriu mortalmente o brasileiro. Ao fazer reparos no fusível
marido da mulher assassinada, não se do foguete, levou um bruto choque —
sabendo qual será o desfecho dessa e subiu sem o foguete.
tragédia, uma vez que os médicos
desenganaram o marido enganado. MANHA — Trágico naufrágio
acaba de se verificar nos estaleiros
Goldstone, em Nuremberg. ao ser conformada, quando passava pelo
arremessada a garrafa de champanha 46.° andar. Segundo um faxineiro que
para o batismo do navio Bismarck II, a fazia a limpeza no 23.°, Mrs. Marga-
garrafa não se partiu — o que se reth chegou a confessar que estava
partiu foi o navio. O fato mais curioso fazendo uma ótima trajetória. Não se
dessa tragédia, sem precedentes em sabe de maiores detalhes, porque este
toda a história naval, é que Nuremberg telegrama foi expedido no momento
não tem porto, pois não é uma cidade exato em que Mrs. Margareth passava
marítima. pelo 7.° andar, não tendo ainda
chegado ao solo.
LISBOA — Durante a cerimônia
de casamento realizada na principal ESTOCOLMO — A polícia sueca
igreja desta capital, o noivo mostrava- deu uma batida numa ilha de nudismo,
se muito nervoso. Quando o padre não conseguindo prender ninguém. Os
perguntou se alguém se opunha policiais estavam disfarçados de
àquele casamento, o noivo não nudistas, mas foram facilmente
resistiu e gritou: "Eu". identificados por dois detalhes: o
quepe e o cassetete.
DALLAS — Fato estranho ocorreu
num cinema desta cidade. Estava PARIS — Cientista francês, que
sendo exibido um filme de índio, trabalhava sigilosamente na fabri-
quando, de repente, na cena do cação da mais violenta bomba do
ataque, uma bala atingiu um índio na mundo, acabou de anunciar à im-
platéia. O índio foi medicado no prensa que sua bomba está pronta.
próprio local e dali foi pra casa. Pela Logo em seguida, outro telegrama
primeira vez, um índio não morre no informou que explodiu em Paris o
cinema. inventor da mais violenta bomba do
mundo. O féretro sairá do Alasca,
MOSCOU — Foi preso na Praça onde seu corpo está sendo aguardado
Vermelha um mágico chinês. Dentro a qualquer momento
da sua cartola a polícia encontrou farto
material subversivo: dois tanques, BERNA — Venceu o concurso
quatro metralhadoras, cinco bombas anual de salto de esqui a jovem suíça
molotov e dois pombos-correio. Ingrid Squire, de dezessete anos de
Depois de interrogados durante mais idade. Ingrid tomou impulso e veio
de quatro horas, os pombos deslizando até dar o salto vitorioso,
confessaram que eram espiões. que conseguiu levá-la até a fronteira
da Áustria. Os geógrafos estão
trabalhando ativamente para recompor
NOVA YORK — Mrs. Margareth, a linha do mapa que marca a fronteira
de 35 anos, atirou-se esta madrugada em cuja divisão o esqui de Ingrid se
do 98.° andar do Empire State embaraçou.
Building. Segundo testemunhas que
estavam na janela, Mrs. Margareth
declarou que estava arrependida,
quando passava pelo 52.° andar.
Outras testemunhas, mais abaixo,
dizem que Mrs. Margareth estava
MADUREIRA — Um ônibus
desgovernado perdeu a direção e caiu
da calçada, bem no meio da rua. O
motorista, encabulado, fugiu em
disparada — chegando ao fim da linha
com oito passageiros nas costas.

BERLIM — Foi preso no Muro da


Vergonha um oficial alemão que não
tinha vergonha. Em sua companhia,
foi encontrada uma enfermeira
austríaca. As autoridades fuzilaram o
oficial, enquanto a enfermeira ficará
detida para averiguações.

DETROIT — Novo modelo de


avião a jato foi inventado nesta cidade.
O avião é tão veloz que sai hoje e
chega ontem. Dizem que o aparelho é
muito bom para ser utilizado por
industriais que querem recuperar o
tempo perdido. Outra grande
vantagem desse avião é que em caso
de desastre a notícia sai na véspera e
os passageiros desistem da viagem.

ECONOMIA. Plantação de ESCÓCIA — Em recente pesquisa


gráficos na residência do senhor ficou constatado que a Escócia é o
ministro da Fazenda segundo país do mundo a fabricar
uísque escocês. O primeiro é o Brasil.
JAMAICA — Um arquiteto passou trancada pelo lado de fora. O caso
dois anos construindo um edifício e, só está tomando proporções de grande
depois de concluído, a prefeitura local mistério, especialmente quando se
decidiu interditá-lo, alegando que o sabe que os detetives britânicos, de
terreno era pantanoso. O arquiteto, tanto remexerem, acabaram
que não tinha tomado conhecimento descobrindo mais quatro homens no
do fato, entrou no elevador, apertou o armário, sendo que nenhum deles, até
botão e o prédio desceu. agora, soube explicar o que estava
fazendo ali dentro.
MANCHESTER — Encontrado ÍNDIA — Um cidadão revoltado,
dentro de um armário o cadáver de um em sinal de protesto contra a guerra,
homem com um copo na mão. Depois encharcou sua roupa de gasolina e
de muito pesquisar, os peritos ingleses ateou fogo às vestes, em plena rua.
descobriram que dentro do copo havia Não morreu, mas foi preso
veneno — fazendo supor que se trata imediatamente, pois antes de tocar
de um suicídio. Mesmo assim, a fogo na roupa teve o cuidado de tirá-
Scotland Yard continua perplexa, pois la. Foi condenado por atentado ao
não sabe se o cadáver tomou o pudor.
veneno antes ou depois de entrar no LE MANS — Na corrida anual
armário — uma vez que a porta estava realizada nesta cidade, o corredor
italiano Gino Stefano enguiçou o NITERÓI — Um guarda tentou
acelerador na prova das Mil Milhas assaltar outro guarda, mas foi preso
conseguindo fazer duas mil milhas. por um ladrão que passava pelo local.
Stefano corria tanto que conseguiu Assim que percebeu o assalto, o
ultrapassar o seu próprio carro, na ladrão puxou das algemas que havia
segunda volta, chegando na frente de roubado na véspera, algemou o
si mesmo. Esta é a primeira vez que guarda numa das mãos e colocou a
um corredor tira, na mesma prova, o outra argola na sua. No distrito, o
primeiro e o segundo lugar. delegado fez mais fé no guarda e
prendeu o ladrão.
LIVERPOOL — Sensacional des-
file de peles de raposa ocorreu na NEVADA — Um industrial morreu
residência do famoso costureiro de desgosto, quando vendeu o vestido
Johnson Smiles. A nota dominante do de noiva de sua mulher, tendo
desfile foi quando uma das peles esquecido de tirar a mulher de dentro
comeu o manequim que o vestia, pois do vestido. O desgosto do industrial foi
esqueceram de tirar a raposa de quando bateram à sua porta, no dia
dentro da pele. Minutos depois de o seguinte, para devolver a mulher.
animal engolir a jovem, alguns
ingleses fanáticos montaram nos seus HONOLULU — O mágico Fu-Lin-
cavalos e começaram, ali mesmo, no Chu, ao apresentar-se no Teatro Ula-
salão, a caça à raposa, que finalmente Ula, foi denunciado como ladrão,
foi abatida a três quarteirões da pas- depois de fazer sumir uma porção de
sarela. Agora o problema é tirar o objetos de algumas pessoas
manequim de dentro da raposa. presentes. O chefe de polícia local
conseguiu ser mais mágico que o
RIO — Zuleika de Tal foi presa por próprio mágico: assim que entrou no
ter dado o "golpe da machadinha" no teatro, o mágico desapareceu.
marido, José de Tal, deixando
perplexa a família de Tal, que não MÉXICO — Nasceu em Acapulco
sabia o que fazer. O advogado, um bebê prodígio, tão prodígio que
convocado para fazer a partilha dos nasceu com cinco anos de idade.
bens de Zuleika, não teve muito Chama-se Pablito e fala inglês,
trabalho: mandou um pedaço de José alemão e dinamarquês —
de Tal para o Caju e o outro pedaço sem legendas. Quando o parteiro
para o São João Batista. José de Tal deu a primeira palmadinha nas costas
só deixou o corpo. do bebê ele exclamou: Vá bater en Ia
vovozina!

INFLAÇÃO. Grupo de brasileiros classe média tentando alcançar o custo de


vida
HABITAÇÃO. Só há uma solução: construir com urgência mais bancos nas
praças
HUMOR EM BALÕES

.'
IMBECIL!
IDIOTA!
SEM ERGONHA !
CRETlNO,
HIPÓCRITA!
CRÁPULA!
HORÓSCOPO

(válido até a 55 a edição)


Se os horoscopistas soubessem mesmo o que vai acontecer, não
perderiam tempo fazendo horóscopo pra ganhar uma miséria — sem
mesmo poder adivinhar se vão receber no fim do mês. Ainda assim,
se dão ao luxo de vender um pouco de otimismo às pessoas cujas
esperanças se gastam no atrito diário da vida, estimulando-as a se
conhecer e ao seu futuro. A insegurança de cada um é a própria
insegurança dos astros que movimentam os destinos dos
horoscopistas, mais que o nosso próprio. Existem horóscopos
diários, semanais, mensais, para homens, para mulheres, com uma
precisão de detalhes tão impressionante que não há quem não fique
impressionado. Este nosso horóscopo é por edição, vale até a 55. a —
mesmo porque, segundo o nosso signo, este livro não irá mais longe
do que isso. É praticamente um horóscopo permanente, pode ser
consultado em qualquer caso de depressão, de desilusão, de
ansiedade, de angústia ou tudo somado. Tem uma vantagem que os
outros horóscopos não têm: se você não gostar do seu signo, pode
consultar outro, pode até trocar com o do seu vizinho. Só há um
detalhe: deve ser lido junto com sua mulher e seus filhos, porque
família que lê horóscopo unida permanece unida — desde que
pertençam todos ao mesmo signo.

CAPRICÓRNIO

As pessoas nascidas neste signo, se forem homens devem


procurar uma mulher, se forem mulheres podem deixar que. os
homens procuram. Nos dias de chuva, ambos devem andar de
guarda-chuva, porque nada melhor para aproximar um casal do que
um guarda-chuva no meio. Os maridos serão sempre surpreendidos
pelas mulheres e as mulheres ficarão surpreendidas se não
conseguirem surpreender os maridos. Saúde: boa, desde que o
médico esteja doente. Número de sorte: 40. Para os gêmeos, 20 pra
cada um.
AQUÁRIO

As pessoas nascidas neste signo terão grande disposição para o


trabalho — e desde já peço desculpas. Os homens ganharão muito
dinheiro nas suas atividades, pra receber é que vai ser duro: mas é
aí justamente que começa a atividade. Os empregados devem ser
francos com os patrões e, logo em seguida, procurar outro emprego.
Os patrões não precisam ser francos com os empregados: podem
continuar como estão. Cores favoráveis: para as mulheres, azul-
turquesa, para os homens, louras. Número de sorte: 5 555. Para
crianças, 55.

PEIXES

As pessoas nascidas neste signo têm preguiça até de ter


preguiça, mas devem reagir: precisam ter preguiça com mais
entusiasmo. Outubro é o mês indicado para plantar uma árvore no
jardim da sua casa. Se não tiver jardim, plante dentro de casa, se
não tiver casa, plante na rua mesmo e more em cima da árvore. As
mulheres que tiverem filhos não devem se preocupar. Os homens
também não — desde que não sejam eles os pais. Número de sorte:
22. Para os gagos, 2 222.
1 ÁRIES

As pessoas nascidas neste signo têm grande tendência pra ter


tendências, quaisquer que sejam. Os homens que quiserem viver
tranqüilos devem evitar as mulheres casadas, especialmente as
suas. As mulheres farão bons casamentos escolhendo maridos do
mesmo signo, de preferência solteiros — senão dá um bolo que não
há astrólogo que dê jeito. Coração irregular: se bater muito devagar,
chamar um médico depressa. Se bater muito depressa, nem dá
tempo de chamar o médico. Número de sorte: 4 824 672 651, o chato
é decorar.

TOURO

As pessoas nascidas neste signo têm grande inclinação pra


sonegar os impostos, mas isso não tem a menor importância porque
as dos outros signos também têm — só que os astrólogos são
intransigentes e prevêem uma belíssima cadeia para todos. Dia
nefasto: para os homens, quinta-feira. Para as mulheres, o resto da
semana — porque basta o homem ter um dia nefasto pra mulher
entrar pelo cano a semana inteira. Número de sorte: 33, menos
quando é o médico que manda dizer.
GÊMEOS

As pessoas nascidas neste signo têm grande tendência para o


casamento, inclusive as que são casadas — o que dificulta um
pouco. Os homens públicos devem ser mais reservados e as
mulheres públicas devem ser mais particulares. Dia excelente para
arrancar dentes: quarta-feira, mas não devem arrancar porque é um
dia de azar para os dentistas. Dia propício para o amor: 29 de
dezembro. As solteironas devem aproveitar a chance, senão só pro
ano. Número de sorte: no biriba, 2 de paus; no pôquer, 2 de copas —
só que mela o jogo.

CÂNCER

As pessoas nascidas neste signo têm grande tendência pra falar


a verdade, mas não conseguem, pois, via de regra, acabam se
tornando advogados criminais. Os homens darão muita sorte com as
mulheres dos outros, por isso é aconselhável trancar a sua em casa.
As vedetas de teatro podem continuar tentando o suicídio que
sempre dará boas reportagens, desde que tomem cuidado pra não
ser a última. Número de sorte: uma dúzia. Para estudantes, meia.
LEÃO

As pessoas nascidas neste signo têm grande tendência pra


serem fiéis, por isso não convém casar. Os maridos devem evitar as
mulheres e as mulheres devem evitar os filhos — mas se os maridos
evitarem as mulheres, é claro que as mulheres evitarão os filhos. Os
homens devem mudar de casa, as mulheres não — o que é uma
grande chance para os dois. Saúde: evitar os excessos,
principalmente os de velocidade. Número de sorte: 999, noves fora,
nada.

VIRGEM

As pessoas nascidas neste signo são muito impressionáveis, por


isso não devem ler este horóscopo até o fim. Mas não adianta
recomendar, porque' essas pessoas são acima de tudo curiosas. As
mulheres que receberem a visita da cegonha devem mandar ela en-
trar, sentar, servir um cafezinho e aguardar a chegada do marido. Os
maridos que não acreditam na cegonha não devem voltar pra casa.
Pedra preciosa: para as mulheres, quartzo. Para os homens, quartzo
e sala conjugados. Números de sorte: 1-02. É só discar e pedir
informações.
BALANÇA

As pessoas nascidas neste signo são propensas a ser felizes às


segundas, quartas e sextas e infelizes às terças, quintas e sábados.
Aos domingos, não se sabe, que é descanso do horoscopista. Os
homens devem desconfiar da mulher, mas sem investigar -pra evitar
chateação. As mulheres que costumam ficar em casa devem sair. As
que costumam sair devem continuar saindo. Isso é ótimo: porque fica
com muito mais mulher em circulação. Número de sorte: 13. Para os
supersticiosos, 13 e meio.

ESCORPIÃO
As pessoas nascidas neste signo, se forem homens devem usar
calça comprida, se forem mulheres, também — só que mais justa. Os
maridos devem presentear suas esposas com uma dúzia de rosas
todas as semanas, mas se mandarem mais de uma dúzia não
esquecer do cartão, senão ela pensa que foi outro que mandou. As
esposas podem seguir seus maridos sem susto: o susto vem depois.
Pedra preciosa: para os homens, safira. Para as mulheres, qualquer
uma, como sempre. Número de sorte: 500. Para comerciantes, 499.
SAGITÁRIO

As pessoas nascidas neste signo são irremediavelmente


retardadas, senão não deixavam pra nascer no último mês j do ano.
Mas isso será rapidamente recuperado no ano seguinte e elas se
mostrarão mais espertas do que as outras. Os homens terão
possibilidades de fazer grandes negócios. As mulheres devem casar
com homens de negócio — o que não deixa de ser um bom negócio.
Oportunidades as mesmas de sempre, isto é, nenhuma. Número de
sorte: ou 8 ou 80.
HISTORIAS REAIS
QUASE FICTÍCIAS,
OU VICE-VERSA

ÁREA INTERNA
Morava no terceiro andar, até aí tudo bem, principalmente quando
ficava na janela da frente. Nos fundos era um inferno: não havia
vizinho, do quarto andar pra cima, que não jogasse lixo na sua área.
Sua mulher era uma dessas conformadas que só existe duas no
mundo, sendo que a outra ninguém viu:
— Deixa isso pra lá, Antônio, pior seria se a gente morasse no
térreo.
Antônio não se controlava, ficava uma fera quando via cair
cascas de banana, de laranja, restos de comida. Em época de
melancia ficava quase louco, tinha vontade de se mudar. A mulher
procurava contornar:
— Tenha calma, Antônio, daqui a pouco as melancias acabam e
você esquece tudo.
Mas ele não esquecia:
— Acabam as melancias, vêm as jacas, acabam as jacas, vêm os
abacates. Já pensou, Marieta? Caroço de abacate é fogo.
Um dia chegou na área, tinha até lata de sardinha. Procurou pra
ver se tinha alguma sardinha, mas a lata tinha sido raspada. Se
queimou. Falou com o síndico, ele disse que era impossível fiscalizar
todos os quarenta e oito apartamentos pra ver quem é que atirava as
coisas. Pensou em fechar a área com vidro, pediram uma nota firme
e se não decidisse dentro de sete dias ia ter um acréscimo de trinta
por cento. Foi à polícia dar queixa dos vizinhos, o delegado achou
muita graça, disse que não podia dar educação aos vizinhos e se pu-
desse daria aos seus, pois ele morava no térreo e era muito pior.
Antônio voltou pra casa inconformado, afinal devia haver uma
solução para tamanho abuso. Comprou um revólver, passou várias
noites à espreita, atrás da porta da cozinha, só ouvia o barulho,
quando chegava na área só havia lixo — nenhum vestígio que
pudesse indicar de que lado e de que andar eram jogados aqueles
restos. Uma noite, teve uma idéia genial: desenhou um cartaz
enorme e pregou na parede, do lado de fora, pra todo mundo ver:
"Favor jogar o lixo aqui dentro da área". Foi tiro e queda, nunca mais
jogaram nada, nem ponta de cigarro.

CABEÇA RASPADA
Aparício saiu de casa dizendo que ia ao barbeiro. Duas horas
depois, apareceu com a cabeça inteiramente raspada. Sua mulher
não se conformou:
— Que é isso, Aparício? Que falta de imaginação! Aparício não
deu muita importância:
— Isso é o "corte de verão", minha filha.
— Verão ou inverno, com você assim é que eu não ponho os pés
na rua.
Aparício passou a mão na cabeça, acariciando a careca:
— É o que veremos. Ponha uma roupa simples que vamos ao
cinema.
A mulher virou as costas. Aparício deu um murro em cima da
mesa:
— Não demore, tem dez minutos pra se vestir.
Ela ficou surpresa. Era a primeira vez que Aparício falava nesse
tom.
— Que modos são esses? Ao menos você pode pedir as coisas
com jeito.
Aparício não deu o braço a torcer:
— Com jeito ou sem jeito, com cabelo ou sem cabelo, nós vamos
sair juntos e vamos ao cinema.
A mulher não teve outra saída:
— Está bem, mas só se a gente entrar com a luz apagada.
Aparício não estava brincando. Era a primeira vez que estava
tomando uma atitude. Até então, quem dizia como ele devia se
pentear era a mulher. Que camisa botar, que gravata, que terno, que
sapato, que meia, que abotoadura. Tudo era ela, como se ele fosse
seu filhinho. Depois de dez anos de vida em comum, Aparício
descobriu que já era hora de mostrar que era marido. Um amigo seu,
advogado, lhe havia dito que quem canta de galo em casa é o marido
e não a mulher. Nesse dia ele riu, foi direto ao barbeiro e pediu a
máquina 0. Agora deu nisso, pela primeira vez em dez anos
discutiam boba-mente:
— Você está diferente, Aparício. Acho que o barbeiro raspou a
sua educação junto com os cabelos.
Ele continuava firme nos seus propósitos:
— De agora em diante, quem manda na minha cabeça sou eu.
Vou com ela pra onde quiser e como quiser. E você vai comigo, se
quiser continuar usando o meu nome.
Não houve outro jeito. A mulher se vestiu, saíram os dois pela
rua, tomaram um ônibus. Ela morria de vergonha, tentou várias
vezes virar o rosto, mas ele não deu chance, chamou-a de querida o
tempo todo e abraçou-a, coisa que não fazia há muito tempo — pelo
menos na rua. Saltaram na porta do cinema, entraram. A sessão não
havia começado, ficaram parados na sala de espera, ele indiferente,
ela com a impressão que estava todo mundo olhando pra ela por
estar ao lado de um careca.
— Vou comprar bala, volto já — disse ela.
— Eu também vou — disse ele.
Não adiantou. Ela despencou-se do seu braço e se misturou com
a multidão que saía e que entrava. Era difícil saber se a mulher tinha
ido pra dentro ou pra fora do cinema. Aparício ficou com cara de
pateta, no meio do saguão, todo mundo entrando e saindo, pensando
que ele era uma estátua, por causa da cabeça raspada. Aparício
tomou fôlego, decidiu entrar sozinho, viu um pedaço da fita, não
entendeu nada, estava preocupadíssimo com a mulher. Saiu, pegou
um táxi pra casa. A mulher estava deitada na cama, toda coberta
com o lençol, chorando:
— Você está aí, Aparício? 280
Ele não disse nada. Puxou o lençol e caiu pra trás. A mulher havia
também raspado a cabeça. Ela disse, ainda soluçando:
— E amanhã vai ter de ir comigo ao cinema, ouviu?
Aparício não ouvia nada. Estava desmaiado.

AS FLORES
Há dois meses que Iracema recebia flores, sem cartão. Colocava
tudo nas jarras, vasos, copos, mesas, janelas, banheiro e até na
cozinha. Quando o marido lhe perguntava por que tantas flores,
todos os dias, ela sorria:
— Deixe de brincadeira, Epitácio.
Ele não percebia bem o que ela queria dizer, até que um dia:
— Epitácio, acho bom você parar de comprar tanta flor, já não
tenho mais onde colocar.
Foi aí que ele compreendeu tudo:
— O quê? Você quer insinuar que não sabia que não sou eu
quem manda essas flores?
Foi o diabo, ela não sabia explicar quem mandava, ele não
conseguia convencê-la de que não era ele.
— Um de nós dois está mentindo — gritou, furioso.
— Então é você — rebateu ela.
No dia seguinte, de manhã, ele decidiu não sair, pra desvendar o
mistério. Assim que as flores chegassem, a pessoa que as trouxesse
seria interpelada. Mas não veio ninguém.
— Já são 2 horas da tarde e as flores não chegaram, Epitácio. É
muita coincidência. Vai me dizer que não era você.
Ele não tinha por onde escapar. Insinuou muito de leve que a
mulher devia ter conhecido alguém na sua ausência. Ela chegou a
chorar e se trancou no quarto. A discussão entrou pela noite até o dia
seguinte. Epitácio saiu cedo, sem mesmo tomar café. Bateu a porta
com força e levou o mistério para o trabalho. Meia hora depois, a
mulher saiu e foi ao florista.
— Como vai, Dona Iracema? A senhora ontem não veio, hem?
Aconteceu alguma coisa?
À noite, Epitácio viu as flores e não disse uma palavra, mas a
mulher não parou:
— Seu cínico. Bastou você sair para as flores aparecerem e
ainda tem coragem de dizer que não foi você.
Nessa noite ele teve insônia.
ATENÇÃO, SENHORES PAIS.

Já passa da página 204 e por influência do juizado de menores,


lembramos que terminou a parte deste livro permitida a menores de
dezoito anos — se é.que no Brasil existem menores de dezoito anos.
EDIFÍCIO SUSPEITO
Ficou parado na porta do edifício, mais de três horas. Viu a sua
mulher entrar e viu quando o porteiro apagou todas as luzes e
trancou a porta. Estava doido pra ver como é que ela ia sair de lá e
qual a desculpa que ia dar. O tempo ia passando e, sem querer, foi
ficando com cara de detetive particular. Tinha a impressão que todo
mundo já estava desconfiado. Um amigo parou pra pedir fogo:
— Tem um fósforo aí?
Quando acendeu o cigarro, o amigo fez ar de espanto:
— Não me diga. Nem o tinha reconhecido. Que é que você está
fazendo aqui a estas horas? Mudou pra cá?
Quis encurtar o assunto:
— Mudei.
O amigo foi positivo.
— Você não sabia? Esse prédio é suspeito, dizem que só tem
garçoniere.
— Não diga.
— No duro. A semana passada houve até flagrante de adultério.
Foi um escândalo. Só não saiu nos jornais porque o cara era um
figurão e conseguiu abafar.
Tremeu dos pés à cabeça. Não tinha coragem de lavrar flagrante
contra a sua própria mulher, porque achava que o flagrante
desmoralizava mais o que surpreendia do que o surpreendido. Pra
falar a verdade, tinha tanto pavor da mulher, que morria de vergonha
só em pensar que ela pudesse aparecer ali na porta do edifício e o
surpreendesse fazendo aquele papel ridículo de adolescente
desconfiado. Não deu nem tempo de terminar o raciocínio, quando
passou o primeiro táxi, largou o amigo sem mesmo se despedir. Em
cinco minutos chegou em casa, subiu os dois lanços de escada,
abriu a porta rapidamente e correu para o quarto. Chegou a levar um
susto com a presença da mulher, deitada na cama. Encolheu de
vergonha, vestiu o pijama, abriu o livro O matrimônio perfeito e
começou a ler, desesperadamente. A mulher se mexeu:
— Apaga a luz, pelo amor de Deus. Não vê que estou exausta?
Marcou a página com cuidado, deu-lhe um beijo na testa e
passou a noite em claro pensando: "Exausta?"
LOLITA
Entrou na fila do cinema rebolando com graça. Não tinha mais
que quatorze anos, mas se pintava pra aparentar dezoito — e
acabou aparentando vinte e cinco. Quando andava, não enganava
ninguém: tinha quatorze mesmo. Atrás dela, entrou um velho de
sessenta, atrás do velho de sessenta, entrou outro de setenta, atrás
do de setenta, outro de sessenta, mais outro de oitenta, mais outro
de 75. Somando a fila toda, devia chegar à casa dos 3 000 anos —
nunca se viu tanto velho junto: devia ser dia de folga nos asilos. No
cartaz do cinema, a explicação do fenômeno: estava sendo exibido
Lolita. A mocinha de quatorze anos foi barrada:
— O filme é proibido para menores de dezoito anos. Ela não se
perturbou:
— Já li o romance, moço, garanto que a fita não é tão forte.
O porteiro nem sabia que havia o tal romance:
— São ordens do gerente. A senhorita pode devolver o ingresso e
receber o dinheiro de volta.
Não teve outro remédio senão recuar, enquanto os velhinhos iam
entrando com um sorriso malicioso nos lábios. Um deles guardou a
entrada no bolso e achou mais negócio seguir a mocinha:
— Escuta, menina, você não prefere ver um filme de Tarzan?
Ela o ameaçou com a bolsa:
— Cai fora, velhinho. Se o meu amiguinho me pega conversando
com homem na rua me põe pra fora de casa.
E saiu correndo.

SUBÚRBIO
O marido entrou de sola:
— De amanhã em diante quero ver todas essas contas bem
explicadinhas. Está pensando que sou algum otário? Dou um murro
danado o dia inteiro e no fim do mês não me sobra dinheiro nem pra
comprar um par de sapatos.
Arminda já estava habituada a esses trancos do Roberto. Sabia
que o seu sonho era comprar um automóvel, mas só falava em
sapato. Tinha recalque com sapato. Arminda havia prometido a si
mesma que se houvesse mais uma "crise política" ela se desquitava,
pois toda vez que havia crise política o negócio estourava mesmo era
dentro da sua casa. Afinal, ela não podia fazer milagres: comprava
feijão, arroz, cebola, manteiga, açúcar, pagava o Seu Joaquim da
padaria, o Seu José do botequim, o Seu Pedro do açougue,
tinturaria, lavanderia, empregada, o diabo. Há um mês que não ia a
um cabeleireiro e nem fazia as unhas — só pra fazer economia, mas
nem assim o Roberto reconhecia.
— Virar dinheiro é que não posso! — gritava ele.
— Nem eu! — respondia ela.
Roberto entrava então com aquele argumento infalível:
— Mas a idéia de morar em Copacabana foi sua, não foi? Pois
então, agüente. Nasceu pra milionária, é isso que dá.
Encheu. De agora em diante, a despesa de Roberto haveria de
crescer:
— Não esqueça de trazer o jornal, que vou procurar um
apartamento no subúrbio.
Roberto hesitou um pouco, antes de sair. Voltou pra mulher, deu-
lhe um beijo na face e saiu assoviando:
— Eu estava só brincando, meu bem.
Pegou o elevador, saiu do edifício, olhou de um lado e do outro e
entrou na farmácia, pra telefonar. Marcou um encontro, todo feliz, e
partiu para o trabalho.
— Subúrbio, eu, hem?
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!

Gostou mesmo? Então compre outro.

S-ar putea să vă placă și