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O HOMEM AO ZERO
(DESCONGESTIONANTE CEREBRAL)
INDICAÇÕES
O homem ao zero é recomendado às pessoas que sofrem de fadiga, de mau humor, de
irritação, de cansaço crônico, de falta de ar, de gripe — e especialmente às pessoas que não
sofrem de nada. Foi bolado durante anos e anos de pesquisas, para ministrar, em doses
exatamente científicas, tudo aquilo que o espírito humano necessita para melhor aproveitar a
vida. A combinação de diversos ingredientes, comprovadamente testados, através de cobaias
sujeitas às mais desencontradas reações, permitiu-nos chegar à fórmula definitiva do bem-
estar social, levando-se em conta que, para isso, é necessário que exista o bem-estar
individual.
APRESENTAÇÃO
O homem ao zero é apresentado em formato único, porque achamos que essa disparidade de
tamanhos é feita apenas para embromar a boa fé dos pacientes: são duzentas páginas da
mesma qualidade, embaladas por uma capa resistente, que permite resguardar o seu conteúdo
por tempo indeterminado, quer seja em lugares quentes, úmidos ou mesmo gelados. Suas
páginas não se dissolvem com facilidade, mas, ainda assim, recomenda-se que não sejam
expostas à ação da chuva, por mais de uma semana.
GENERALIDADES
O homem ao zero, quando usado com regularidade, produz uma agradável sensação de bem-
estar, torna claro o raciocínio do leitor e lhe permite um melhor conhecimento de si mesmo. Em
certos casos, o efeito é tão eficiente que essa sensação de bem-estar pode se estender a
outras pessoas que estejam próximas. Não produz efeitos colaterais, como angústia, febre,
tremedeiras, tonteiras nem sono — ao contrário, mantém a pessoa desperta por muitos e
muitos dias. Em caso de alguma anormalidade, repetir a dose quantas vezes forem
necessárias, até que o paciente se sinta completamente saudável e equilibrado — como era
antes. Mas é preciso tomar muito cuidado: quem ingerir, uma vez, todo o conteúdo do livro,
corre o risco de se tornar um viciado e contra isso só dois produtos similares: O homem ao
quadrado e O homem ao cubo, do mesmo fabricante.
FORMULA
Humor .................... 0,100 g
Irreverência ............... 0,100 g
Ironia ..................... 0,100 g
Sátira..................... 0,100 g
Non-sense ................. 0,100 g
Ficção .................... 0,100 g
Bossas .................... 0,100 g
Etc, etc, etc.............. 0,300 g
VANTAGENS
O homem ao zero não produz alergia. Não debilita a visão. Não altera o sistema nervoso. Não
acelera o coração. Não diminui os glóbulos vermelhos. Não prejudica a circulação do sangue.
Não perturba a digestão. Pode ser ingerido de pé, sentado ou de bruços — dependendo da
posição que mais agrade ao paciente.
POSOLOGIA
Crianças: dez a vinte páginas por dia, depois das refeições, podendo ser acrescida a dose, à
medida que as crianças forem comendo melhor.
Adolescentes: vinte a quarenta páginas por dia, que podem ser tomadas isoladamente ou em
conjunto, isto é, com a respectiva namorada.
Adultos: quarenta a oitenta páginas por hora, antes ou depois das refeições, ou mesmo ao
invés de.
Velhos: cem a trezentas páginas de uma vez, de acordo com a capacidade de cada um.
Venda sem prescrição médica. Cada um pode comprar quantos exemplares quiser: não tem
contra-indicação.
O HOMEM AO
ZERO
CÍRCULO 00 LIVRO
Edição integral Copyright Leon Eliachar
Licença editorial para o Círculo do Livro por cortesia da Livraria Francisco Alves Editora
S.A.
A todos os homens, bons e maus,
sem exceção,
que ninguém tem culpa de ser bom.
Ao leitor comum,
um amigo fora do comum.
Ao inventor da dedicatória,
um puxa-saco declarado.
SUMÁRIO
Endereço ...............................................................
Cidade....................................................................
Estado....................................................................
(assinatura do autor)
EU SOU O PREFÁCIO
AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ
Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho
de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais
atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas
pesadas, consegui atingir o chamado "preço-teto" da imprensa brasileira,
quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um
teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do
desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os
seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não
pelo atestado de bons antecedentes, mas pela dificuldade com que se tira um
atestado, já fiz de tudo na vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho,
crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de
redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de
teatro, show de buate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de
cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo,
ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira,
acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por
vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou
experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto
em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte
influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com
escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando
minha mulher disse "sim" e a segunda quando seus pais disseram "não", sou
a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com
separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das
coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve — quando estou em
Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista —
pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos
de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é
ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar
piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também
não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem
nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa
a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo, às vezes quando desligo,
num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro
estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome
várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva
porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula
anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do
mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o
problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta
perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um
homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que
estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém
sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura
porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com
orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto
mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única
esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos
os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos
estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci um concurso
internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o
segundo prêmios entre os participantes de dezesseis nações concorrentes,
fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter
sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o
leitor está mais fraco.
LEON ELIACHAR
AULAS PRÁTICAS PARA ALUNOS
TEÓRICOS
A GUERRA
A humanidade divide o seu tempo em duas partes: guerra e paz. Durante
a paz, vive discutindo a guerra e durante a guerra vive implorando a paz. A
guerra foi inventada por um sujeito que morreu na guerra. A paz ainda não
foi inventada. Há vários tipos de guerra: a guerra fria, a guerra quente, a
guerra morna, a guerra requentada e a guerra propriamente dita: dessa
ninguém escapa, porque todo mundo é convocado antes mesmo de começar
a guerra. Antigamente, a guerra era feita a pé: quando os soldados chegavam
no país inimigo a guerra já tinha acabado. Hoje, a guerra é mais ligeira: basta
apertar um botão que ela começa e acaba ao mesmo tempo — e quando
acaba não se encontra nem o botão. Durante a paz, os homens se preparam
para a guerra, construindo tanques, aviões, submarinos, foguetes, táxis e
ônibus elétricos. Quem foge da guerra se chama desertor, quem fica se
chama herói. O desertor foge da guerra pra não morrer nas mãos do inimigo,
mas acaba morrendo nas mãos do amigo: é fuzilado. O fuzilamento é um
processo de matar o sujeito que escapa da guerra — ao invés de morrer
distraído, morre prevenido. Antes de ir pra guerra, os médicos submetem os
soldados a um exame físico completo: quem tiver boa saúde, pode ir e
morrer tranqüilo. Quando o homem se matricula na guerra, recebe um
uniforme: quando entra na guerra, pinta o uniforme todinho pra ninguém ver
que ele está de uniforme. Existem guerras famosas: a de 14, porque
sobraram catorze; a dos Cem Anos, que quando acabou só tinha velhinho, e a
de 39 — que todo mundo pensa que acabou. Antigamente, se fazia a guerra
com baioneta calada, mas isso foi no tempo do cinema mudo. Hoje, a
baioneta não só fala mas também canta — como se pode ver nos musicais de
Hollywood. Muitos combatentes são considerados malucos porque voltam
pra casa com psicose de guerra, mas os psiquiatras não se preocupam a
mínima com a psicose de paz — que é muito pior. E por incrível que pareça,
o soldado mais conhecido da guerra é o soldado desconhecido.
A IMPRENSA
O carnaval é a maior data do ano, porque um dia dura três. Maior do que
essa data só "véspera de carnaval" — que dura 362. Os psiquiatras acreditam
que o carnaval é um pretexto para homem se desrecalcar, por isso os bons
psiquiatras só se fantasiam de pacientes. Os velhos insistem que o carnaval
mudou muito, não é mais como o de antigamente, eles devem estar certos:
pular com reumatismo é muito mais difícil. Dizem que o carnaval de rua está
acabando, mas é mentira: o que está acabando são as ruas. O homem que
inventou a máscara tinha cara de urso, pra disfarçar começou a usar cara de
cavalo. As fantasias mais usadas no carnaval são: homem vestido de mulher
e mulher vestida de nada. A fantasia mais discutida é o travesti (homem
vestido de homem) e a de maior sucesso é o biquíni (mulher vestida de
mulher). O concurso de fantasias foi inventado pra ver quanto tempo resiste
o mesmo júri, julgando os mesmos candidatos e premiando as mesmas
fantasias. Durante o carnaval, a polícia costuma reforçar a falta de
policiamento. O Departamento de Turismo gasta milhões pra decorar a
cidade, depois vem o Departamento de Limpeza Urbana e gasta outros
milhões pra tirar a decoração. Nos bailes cabem, em média, 2 000 pessoas
sentadas e 5 000 em pé, quando o baile acaba tem mais de 15 000 deitadas.
O verdadeiro milagre do carnaval é a televisão, que consegue trazer a rua pra
dentro de casa: por isso não existe mais o carnaval de rua — fica todo
mundo em casa vendo na televisão o carnaval de rua.
AS FÉRIAS
A DEMOCRACIA
Democracia é essa forma de governo onde todos concordam em
discordar um do outro, mas não convém discordar muito, senão acaba a
democracia. Há duas espécies de democracia: a primeira e a segunda. A
primeira ninguém pode explicar porque a segunda não deixa e a segunda
também ninguém pode explicar porque a primeira não deixa. Enfim,
chegamos à conclusão que numa democracia o mais forte diz o que quer,
mas deixa o mais fraco reclamar — desde que não reclame no rádio, nem na
televisão, nem nos jornais, nem nas paredes, nem nos comícios: quem quiser
reclamar que reclame em casa, com a mulher — desde que ela não seja uma
democr. ta da oposição. E quando não se consegue falar na democracia,
melhor passar os dias falando sobre o tempo, se vai chover ou fazer sol. Não
sei se perceberam a sutileza, mas essa questão de democracia é apenas uma
questão de tempo. Donde se conclui que num regime democrático o que
atrapalha o povo é o governo que ele escolhe.
RECREIO
Sempre acerto na mosca
CO-PRODUÇÃO
QUE É ISSO?
Ovo de calombo
TESTE
Responda rápido: onde está o lampião? No poste, na árvore ou no livro?
O CRIME
O crime foi inventado por um indivíduo chamado Caim, que matou seu
irmão Abel, mas como naquela época não havia polícia técnica, não se sabe
até hoje como foi executado o crime: não havia imprensa pra romancear a
verdade, nem júri pra ser influenciado pela imprensa. Com o correr dos anos,
o crime foi se desenvolvendo: o homem passou a matar a mulher, a mulher o
marido, o marido o genro, o genro a sogra, a sogra o vizinho — até que
inventaram a polícia, que passou a matar o tempo. Foi então que se
lembraram de inventar a justiça, pra julgar os criminosos e condená-los, mas
lhe colocaram uma venda nos olhos — e daí pro erro judiciário foi um passo.
Existem várias maneiras de se punir um criminoso, mas todas elas estão
desaparecendo: o homem que inventou a guilhotina foi condenado à forca, o
que inventou a forca foi condenado à cadeira elétrica, o que inventou a
cadeira elétrica foi condenado à câmara de gás, o que inventou a câmara de
gás foi condenado à prisão perpétua — e já que ele tinha de ficar na prisão o
resto da vida acabou inventando a "comutação da pena", e caiu fora: foi
assim que nasceu o primeiro anistiado, hoje conhecido como desajustado
social. O maior de todos os inventos criminológicos foi a "liberdade
condicional": soltam o criminoso com a condição de ele continuar preso em
sua própria casa. Há vários tipos de crime: o crime passional, o crime
premeditado, o crime ocasional e o crime perfeito. O crime perfeito é sempre
aquele que a polícia não consegue descobrir e até hoje não se conseguiu
provar se o crime é mesmo perfeito ou se a polícia é que é imperfeita. Num
julgamento, o réu fica horas assistindo à discussão de dois advogados, sendo
que um deles lhe faz uma série de acusações que ele nunca praticou
enquanto o outro lhe atribui uma série de qualidades que ele nunca mereceu.
O juiz está ali pra decidir qual dos dois advogados é o mais habilidoso.
Geralmente, o crime é orientado pela imprensa, que forma a opinião pública:
quando os jurados vão dar o seu veredicto já trazem de casa a opinião
pública, publicada. E essa história de se dizer que o criminoso sempre volta
ao local do crime é pura conversa: quem volta ao local do crime uma porção
de vezes é a polícia, pra colher impressões digitais. A polícia vive insistindo
que o crime não compensa, mas nenhum policial quer sair da polícia.
O CASAMENTO
O casamento foi inventado há milhares de anos, pra evitar que o homem
tivesse mais de uma mulher, o que felizmente ainda não se conseguiu até
hoje. Há dois tipos de casamento: o civil e o religioso. O civil é o que
ninguém vê, o religioso é onde todo mundo se viu. O casamento é uma
verdadeira peça de teatro, o enredo é sempre o mesmo, só mudam os
personagens: mas os intérpretes são tão ruins que raros são os que
conseguem chegar ao terceiro ato. Algumas peças ficam em cartaz durante
meses, outras durante anos: a "boda de prata" é a data que escolheram pra
comemorar o "sucesso de bilheteria". No casamento, uma coisa é infalível:
onde come um, comem dois — só que a metade. O casamento só dá certo
quando não dá certo: é a única maneira de o homem ficar livre de novo. A
aliança é um símbolo da união e na sociedade moderna a união faz a farsa. O
casamento é um compromisso cercado de leis por todos os lados, as leis
foram inventadas pra quando o homem burla a mulher. Alguns homens são
tão espertos que conseguem burlar a mulher e burlar a lei — e acabam se
burlando a si próprios, pois casam de novo. Por isso, é recomendável que
tanto o noivo como a noiva leiam a burla antes de usar.
A CENSURA
A censura é xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. Por isso, em todas as partes
do mundo, ela é exercida com o maior critério, pois todos os xxxxxxxxx
fazem questão de xxxxxxxxxxxxxx. Existem duas espécies de censura: a
censura xxxxxxx e a censura xxxxxxxx xxxxxxxxx. Num regime
democrático, a censura é completamente xxxxxxxxx. A liberdade de
pensamento não pode e não deve ser xxxxxxxx xxxxxxxx em razão direta da
formação das xxxxxxx xxxxxx xxxxxx. No entanto, parece que os
xxxxxxxxx xxxxx, razão pela qual xxxxxxxxx xxxxxxx, mesmo porque
xxxxxxxxxx xxxxxxxxx xxx, a não ser em casos muito especiais, como por
exemplo: xxxxxxxxx, xxxxxxxx e xxxxxxxxx. Para exercer a censura é
preciso, antes de tudo, ser muito xxxxxxxxx, porque do contrário
xxxxxxxxxxxxxx. Nos países civilizados, onde a censura é exercida por
xxxxxx xxxx, não se pode duvidar que xxxxxxxx xxxx, sendo os resultados
muito xxxxxxxxxxxxx. Sem dúvida alguma a censura é responsável pelos
xxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxx de um país. Ainda assim, existe uma
forma bastante hábil para xxxx xxxxxxxxx, pois para bom entend xxxx meia
palavra basta.
A ESTATÍSTICA
Estatística é justamente essa habilidade que os homens têm de
transformar fatos em números, de tal maneira que nunca podem provar que
esses números são um fato. Na última estatística feita pelos americanos, que,
segundo a estatística, é o povo que faz mais estatística, o maior índice de
mortes é causado pela velhice. À primeira vista, parece que nos Estados
Unidos só tem velho, mas não: quando o sujeito chega a certa idade, vira
número e entra pra estatística. Mas nem sempre a estatística facilita as
coisas: quantas crianças engolem bola de gude por dia? É evidente que o
número de crianças é bem maior que o número de bolas de gude, no entanto
a estatística não soluciona o problema: continua-se fabricando muito mais
crianças do que bolas de gude. Quantos buracos existem nas calçadas? É
muito duvidoso um resultado positivo, porque 87,3 por cento dos
pesquisadores que saem pra fazer a estatística caem dentro dos buracos.
Ainda assim, a estatística consegue milagres: de cada dez mulheres que
passam na rua, nove ouvem piadinhas e uma é surda. De cada dez veículos
que vão pra cidade, nove atropelam na ida e um atropela na volta. De cada
dez mulheres casadas, uma é solteira. De cada dez homens solteiros, nove
são casados. De cada dez telefonemas que o marido recebe, nove são pra sua
mulher e um é engano .— justamente quando é ela quem atende. De cada
dez estrelas do cinema, nove usam o sabonete das estrelas e a outra não é
estrela, é protegida. De cada 10 quilos de carne de boi, 1 quilo é de carne de
cavalo. De cada 10 litros de leite de vaca, 9 são de água e 1 é de leite em pó.
De cada dez motoristas, nove saem pra se distrair e um se distrai. Mas nem
sempre a estatística é eficaz: quantas pessoas no mundo inteiro vivem da
profissão de fazer estatística? Não se sabe. Toda vez que vão fazer um
levantamento, nunca tem ninguém em casa — porque saíram todos pra fazer
estatística.
A VALENTIA
O homem valente nunca anda armado, mas em compensação vive muito
menos. A verdadeira coragem é ter coragem de dizer que não tem coragem.
O homem só deve ser valente dentro de casa, até a mulher chegar. Num
duelo a faca, leva mais vantagem o que está de revólver. No avião, a
coragem é passageira. Todo covarde tem seu dia de valentia, geralmente é o
último. De cada dez valentes nove estão enterrados: o décimo se acovardou.
Valente é o índio: já entra no filme sabendo que vai morrer. O noivo também
é valente: casa com uma mulher, sabendo que vai enfrentar duas. Já o
trapezista não é tão valente quanto parece: valente, no duro, é o espectador
que senta embaixo do trapézio.
MINHA AMIGA, A TV
O pior espectador é aquele que quer ver
Minha televisão vai fazer nove anos. Tenho vontade de comprar uma
nova pra ver se ela passa programas mais novos. No princípio só pegava um
canal, agora pega um monte, cada um querendo imitar o outro. Antigamente,
eu sabia qual era o canal pela cara do artista, mas agora é difícil, porque os
artistas mudam tanto de canal que a gente nunca sabe qual está vendo.
Dizem que a televisão se orienta por um Departamento de Pesquisas que
divide o público em classes a, b, c e d —não sei de que classe sou, porque
nunca fui pesquisado.
Só sei que me sinto um nobre, de sangue azul, porque assisto televisão
no "horário nobre", que eles convencionaram ser das 8 às 10. Acho até que
sou supernobre, às vezes vejo televisão até à meia-noite. À tarde nunca
assisto, só dá criança-prodígio fazendo caretas e dando adeusinho pra
mamãe; acho irritante criança com rótulo de talento. Mas o pior são as
crianças-prodígio que entram na faixa das 6 horas da tarde: todas elas com
mais de trinta anos. Sei que a televisão está evoluindo, porque inventaram
um aparelho que liga e desliga de longe, só não inventaram um pra desligar a
do vizinho. A coisa mais fascinante na televisão são as mensagens do
patrocinador: eles apresentam um frasco de desodorante e convencem que se
a gente usar aquele produto acaba arranjando uma namorada — só não
ensinam como é que a gente vai explicar isso à nossa mulher. Dizem que a
televisão dá economia, a gente fica em casa e não precisa gastar dinheiro em
cinema, em teatro, em buate — mas isso é pra quem não tem filho que
obriga o pai a comprar tudo o que aparece na televisão. Outra coisa curiosa
são os programas que eles dizem populares, pra vender coisas baratinhas,
mas ninguém sabe o que eles querem vender, porque dão prêmio de
automóvel e a gente só se lembra do automóvel. Inventaram também esses
programas de auditório, ao invés de esticarem o palco, esticam o auditório,
pra caber mais gente; se a intenção deles é levar todo mundo pro auditório
por que anunciam tanta televisão na televisão? A estatística diz que a
televisão une a família, acho que une até os vizinhos. Mas ai de quem abrir a
boca pra interromper a novela, logo depois da novela vem a fita de mocinho,
logo depois da fita de mocinho vem o jornal com notícias fresquinhas, logo
depois vem a entrevista, logo depois vem o filme onde o astro é um
cachorro, ou um cavalo, ou um gato, isso depende do animal que estiver na
moda, logo depois vem o show com muita mesma mulher, com muita mesma
música e com muita mesma piada, isso quando não entra em cadeia um
especialista político pra dar sua mesma mensagem sob o alto patrocínio do
governo federal, provando com dezenas de gráficos que o custo de vida está
baixando — só que a impressão que dá é que eles usam os gráficos de
cabeça para baixo, depois vem um programa esportivo, depois vem a mulher
da gente dar a "bronca" porque a gente está dormindo no sofá há mais de
duas horas e deixou a televisão ligada. Ter uma televisão é um inferno — já
vi que preciso ter duas.
Eu tinha uma televisão portátil. Tão portátil que não resistia à tentação
de mudá-la de um lugar para outro, mesmo quando estava desligada.
Gostava muito dessa televisão, não sei se porque era decorativa ou se porque
as caras que apareciam nela eram tão pequenas que me davam uma sensação
de ser um homem muito maior do que todos os que ela focalizava. Pode
parecer bobagem, mas é uma sensação agradável a gente pensar que é maior
do que os outros — e deve ser por isso que as televisões portáteis vendem
tanto. Mas de uma coisa ninguém escapa: a televisão portátil passa o dia
inteirinho anunciando a televisão tamanho gigante e, não é nada, não é nada,
isso vai dando um complexo de inferioridade na gente que tem televisão
pequena. A cara dos outros pode ser menor, mas a gente sabe que a nossa
televisão é menor que a dos outros — e isso é chato. Tanto falam, tanto
apregoam, tanto anunciam, que um dia a gente vai na onda e acaba com-
prando uma televisão bem grande, com imagem filtrada, tridimensional, e
todos os requisitos da propaganda moderna. Eu fui nessa. Quando a televisão
chegou, veio cercada de quatro carregadores, não sei se por precaução de ela
cair e quebrar ou se pra dar a impressão de que o aparelho era maior do que
realmente é. Sei que quando entrou na sala, a sala começou a ficar pequena:
foi preciso afastar um sofá, retirar duas poltronas e mudar a posição de
alguns quadros — isso pra não seguir a sugestão de um dos carregadores que
achava conveniente derrubar uma parede. Só que ele não sabia que atrás
dessa parede morava o meu vizinho e, ainda que o vizinho concordasse, tá na
cara que ele ia querer ver televisão de graça o dia inteiro. Optei pela retirada
das poltronas, se bem que essa medida dificultasse um pouco o meu conforto
pra assistir televisão, sentado no chão, mas afinal valia a pena: eu poderia
ver perfeitamente da outra sala. Era uma vantagem que a TV portátil não me
dava, nem era preciso transportá-la de um cômodo para outro, era só me
afastar e ver de qualquer lugar. Está aí um novo ângulo que os vendedores de
televisão grande ainda não bolaram: anunciar na base inversa da TV portátil:
"Fixa, imóvel, não precisa ser transportada, você escolhe o lugar e ela fica ali
para o resto da vida. Mais confortável, mais prática, não dá trabalho, não
cansa: completamente irremovível". Mas com todo o seu tamanho, com toda
a sua imponência, a TV grande precisa de uma antena externa. Vem o
especialista, sobe no telhado, jorra metros e metros de fio, rasteja pelas
paredes, coloca chaves de separação de canais, regula daqui, mexe dali, e a
TV começa a tomar conta da casa. Na hora dos doses, vou te contar: é cada
cabeção que não tem mais tamanho. A gente tem de se curvar, ficar
cabisbaixo, prestar atenção, mesmo que não queira. São pessoas nítidas, com
cores firmes, sem risquinhos atravessando os olhos: é o casamento perfeito
da imagem com o som, mas em tamanho sobrenatural. É aí que a gente vê o
ridículo das coisas: cada cabeça enorme dizendo tanta besteira. Agora, que
tem as suas vantagens, tem. As mulheres dos shows, mesmo as que aparecem
em conjunto, lá atrás, a gente vê todas, uma por uma. A cantora, quando abre
a boca, a gente pode até contar os dentes. Se vê tudo: as rugas, os cílios
postiços, a costura das operações plásticas e até os decotes. Só é chato uma
coisa: nunca vi anunciar tanta televisão portátil como nessa minha televisão
grande. Parece até que adivinham o tamanho da televisão que a gente tem —
senão não anunciavam tanta televisão na televisão. Vão desnortear assim no
raio que os parta: só anunciam a televisão que a gente não tem.
enquanto
isso
COMERC
IAIS
MULHER
MULHER
MULHER
MULHER
MULHER
MULHER
MULHER
MULHER
SWISVO
SWISVO
SWISVO
Não interrompe o seu sono. Nem com a campainha nem com o tique-
taque incômodo dos outros relógios. Porque Swisvo não tem maquinismo.
SWISVO
Não lhe custa dinheiro, somente tempo: porque o tempo que você leva
pra se convencer é mais caro do que o dinheiro que você gasta pra comprar.
Consulte hoje mesmo o "plano Swisvo": 128 horas de entrada e 45
minutos mensais.
SWISVO
SWISVO
RATAPLAN
RATAPLAN
RATAPLAN
RATAPLAN
RATAPLAN
É o único caixão que lhe oferece uma vantagem que nenhum outro
caixão oferece: vem equipado com o "olho mágico", que lhe permite ver
quais as pessoas que irão ao seu enterro. Dê ao seu corpo o conforto que ele
não teve em vida. Adquira hoje mesmo o seu.
RATAPLAN
RATAPLAN
Diga comigo:
SWEET-CAR
SWEET-CAR
SWEET-CAR
Jogue fora o seu relógio, você pode saber as horas pelo número de
batidas.
SWEET-CAR
Tira as suas dúvidas quando você não sabe se as palavras se escrevem
com z ou com s — porque Sweet-Car não tem z. Venha hoje mesmo ao nosso
escritório e bata as suas promissórias na própria máquina.
SWEET-CAR
O chato da bebida não é o mal que ela nos pode trazer, são ^_ os bêbados
que ela nos traz.
Segurança de vôo é essa garantia que nos dão os que ficam aqui
embaixo, enquanto estamos lá em cima.
O pior cego não é aquele que não quer ver: é aquele que não quer ser
visto.
Um homem prevenido vale por dois, dois homens prevenidos não sobra
nenhum.
Síndico é o único sujeito que consegue ser proprietário daquilo que não é
seu e manda mais que os próprios donos.
Saca-rolha é esse instrumento que foi inventado pra empurrar a rolha pra
dentro da garrafa.
Existem maridos que são meio surdos: sempre que suas mulheres lhes
pedem 50 eles só ouvem 25.
A estatística comprova que 99 por cento das donas-de-casa não têm casa.
Sogra é esse parente afastado que se torna cada vez mais próximo.
Só existe uma fórmula pra se dar bem no casamento: é se dar bem com o
marido da sua mulher.
Isto, sim, é um triângulo diferente: ele, ela e o pior amigo.
Pai moderno é uma ilha de afeto cercada de contas por todos os lados.
O que o bêbado precisa pra parar de beber não é que lhe cortem a bebida,
é que lhe cortem o crédito.
O crime perfeito leva tanto tempo pra ser planejado que às vezes o
criminoso morre antes da vítima.
Nos apartamentos de hoje a gente tem de ligar a televisão bem alto pra
não ouvir a do vizinho.
O homem não dorme por dois motivos: pelo que tem de fazer amanhã e
pelo que fez ontem.
Faquir é esse sujeito que fica deitado sobre pregos pra ganhar o seu pão
de cada cem dias.
Agora que já existe o parto sem dor só falta inventarem a yg conta com
anestesia.
Olheiro é esse sujeito que ganha pra vigiar os carros, mas só fica de olho
nos motoristas.
Uma mulher é uma mulher, uma mulher, uma mulher. Às vezes, uma
rosa.
É mais cômodo ter três mulheres fora de casa do que uma dentro.
Certos vestidos são um estouro: a mulher aperta o botão nas costas e eles
estouram na frente. "
O HOMEM EM ESTADO DE COMO
COMO SE MONTA UM ESCRITÓRIO
Todo homem deve ter um escritório, pelo menos pra quando sair de casa
dizer à mulher que foi ao escritório. E quando chegar no escritório, dizer pra
telefonista que não está pra ninguém.
Um bom escritório tem de ser funcional, isto é, tem de ter tudo para o
homem não funcionar enquanto o escritório está funcionando.
Por exemplo, a primeira coisa importante é ter uma janela bem ampla
por onde deve passar a luz e botar uma cortina bem grossa, pra não deixar
passar a luz. Como se vê, a janela é importante, a cortina, funcional. Quer
dizer, desde que a cortina funcione.
A segunda coisa é ter uma boa iluminação artificial, isso pode ser feito
com um pouco de bom gosto e um pouco mais de dinheiro. Se você não tiver
bom gosto, tenha pelo menos o dinheiro — que o mau gosto também custa
uma nota.
É imprescindível que tenha uma mesa bem grande, o suficiente pra se
deixar em cima dela um monte de papéis que deviam estar nas gavetas. E já
que você sabe que não vai guardar os papéis nas gavetas, a mesa deve ter no
mínimo quatro, pra guardar tudo aquilo que não lhe interessa que os outros
vejam, como presentes de festas, talões de cheque, conta de luz atrasada,
tesoura de unhas e um par de meias — que dão bem o toque de relaxamento
dos grandes homens de negócio.
O escritório funcional deve ter um fichário, mas o fichário, pra ser
funcional, deve ser sempre revisto — pode acontecer de entrar uma barata na
letra G quando o certo seria letra B.
O ar condicionado é outra peça indispensável para o calor do escritório,
digo, para o escritório no calor. Mas isso não quer dizer que no inverno você
tenha de removê-lo e aturar durante vários meses aquele buraco imenso na
parede: é só deixá-lo desligado. Mas para isso, é preciso que o aparelho seja
funcional — e nada mais funcional num escritório do que um aparelho de ar
condicionado que não funcione, desde que não seja coberto pela cortina.
Uma eletrola bem escondida, com alto-falantes mais escondidos ainda,
dão um certo ar de mistério — mas nunca esquecer de ligar a eletrola antes
de mandar alguém entrar. Detalhe: um isqueiro de mesa, metido a besta, sem
fluido, pode entreter durante algumas horas as pessoas que estão esperando.
Uma porta bem disfarçada pode servir de curiosidade a muitas pessoas
que não conseguem disfarçar a sua curiosidade em certas ocasiões, então
você diz: é aí mesmo.
Livros também são muito importantes num escritório, pelo menos fazem
o dono do escritório ficar importante, mesmo que ele não os tenha lido —
porque livro de escritório só quem lê são as visitas, quando examinam a
estante.
Por falar em estante, as prateleiras devem ter profundidade suficiente
para que caibam os livros na frente e as garrafas de uísque atrás. A não ser
que você seja desses homens muito exigentes que primeiro constróem o bar
e depois é que fazem o escritório em volta. Nesse caso, a maneira mais fun-
cional é fazer um barzinho embutido, com a porta imitando um cofre: em
caso de roubo, os ladrões tomam um pileque de arromba.
Uma televisãozinha portátil não faz mal a ninguém, é até decorativa.
Porque não há nada mais decorativo num escritório do que um homem
esparramado numa poltrona vendo televisão. Dá um ar de prosperidade, de
bem-estar, que só as pessoas muito íntimas podem constatar — mas não há
esse risco, porque pessoas muito íntimas não freqüentam escritório, a não ser
as secretárias.
Ah, ia me esquecendo: um escritório funcional deve ter também uma
secretária funcional. Mas, cá entre nós, se você arranjar uma secretária
funcional, me diga: pra que escritório?
Deixar de fumar é fácil, quero ver é não deixar. Sou um fumante normal,
tragando em média de trinta a quarenta cigarros por dia — se é que isso
possa ser considerado normal. Em 25 anos, já consumi cerca de 365 000
cigarros e já tirei umas dez radiografias do pulmão, todas elas boas, mas isso
não impede que um dia eu possa ter câncer no pulmão, ou no cotovelo, onde
o fumo não penetra — só pra chatear os especialistas. Confesso que cada vez
me impressiono mais com esses relatórios sobre câncer no pulmão, causado
pelo fumo; acho realmente fantástico esse pessoal da estatística esvaziando
pulmões de cadáveres à procura de nicotina.
Toda a vez que leio um relatório médico nesse sentido, tenho vontade de
parar de fumar, mas reajo rapidamente e começo a ler os anúncios de
cigarros, todos otimistas, vendendo saúde em tecnicolor, com moças bonitas
tirando fumaça até pelos olhos, me convencendo com muito mais facilidade
que p mundo sem cigarro não tem o menor sentido.
É aí que começo a meditar sobre esse intricado mundo da propaganda de
cigarro, cada qual querendo convencer que o seu cigarro é o melhor.
Ninguém troca de marca de cigarro porque uma moça de pernas lindamente
bronzeadas diz que fuma o cigarro X ou Y, a gente fica na dúvida se eles
querem vender mesmo o cigarro ou se querem insinuar a mulher. A
"mensagem" é dirigida diretamente ao nosso subconsciente, porque,
conscientemente, nossa vontade não é trocar de cigarro e sim trocar de
mulher.
De qualquer forma, a luta que se estabelece no nosso íntimo é violenta,
principalmente quando o contrato de propaganda dos jornais está no fim e
eles começam a publicar artigos contra o fumo, ensinando "como deixar de
fumar". Já umas dez vezes tentei deixar, cheguei a fazer planos e arquitetar
idéias mirabolantes, esquecendo propositadamente os maços nos locais mais
distantes. Li inúmeros artigos antifumo escritos por cirurgiões, médicos-
legistas, cancerologistas e todos eles ficam na área da suposição estatística,
pois se eles garantem que um fumante vive menos dez anos que o não-
fumante é porque tiram a média, mas, entre esses, garanto que tem muito
velhinho de 120 anos que só não fuma na frente do pai porque o pai detesta
cigarro: prefere o charuto.
Os psiquiatras afirmam que não é o fumo que traz o vício, mas os gestos
que se tornam mecânicos no hábito de fumar, como puxar o cigarro da
carteira, bater uma das suas pontas, acender o isqueiro, levar o cigarro à
boca, pousá-lo no cinzeiro etc.
Isso quer dizer que é muito simples deixar o cigarro: o difícil é se
desfazer dos gestos, e toda vez que penso nisso, abandono a idéia de deixar
de fumar — pois se já é ridículo todo esse ritual com um cigarro na mão,
muito pior seria sem ele. Baseado nisso, decidi criar sistemas que não
permitam largar o cigarro, como por exemplo: decidir parar sempre no
próximo aumento. É uma espécie de vingança que a gente vai arquitetando
mentalmente — se a gente parar agora o prejuízo do fabricante será pequeno,
se a gente parar quando o cigarro estiver muito mais caro é capaz até de
levá-lo à falência. E, adiando de um aumento para outro, não se pára nunca,
porque os aumentos também não param.
Outro bom sistema pra não parar de fumar é trocar o hábito do cigarro
por balas; a gente começa a chupar bala o dia inteiro e acaba ficando viciado
em bala e pra deixar o vício das balas nada melhor do que trocá-las por
cigarros. Eu bolando aqui, eles bolando lá, a guerra continua cada vez mais
violenta: segundo pesquisa recente, 125 000 norte-americanos morrem
anualmente do hábito de fumar, sendo "a maior ameaça à vida do homem em
tempos de paz". Cento e quarenta e quatro milhões de dólares foram gastos
em propaganda na América para apresentar o cigarro, principalmente aos
jovens, como útil e indispensável.
Os números dominam o mundo de tal forma que é fácil deduzir que o
que mata o homem moderno não é o câncer, é a estatística. Não é por nada,
mas, com todos esses dados e com todos esses argumentos, é preciso ter
muita força de vontade pra não deixar de fumar.
ANÚNCIOS MODERNOS
PRECISA-SE de um espião da melhor qualidade, quanto menos
referências, melhor.
BABÁ com oitenta anos de prática de crianças procura uma patroa com
prática de velhinhas.
VELHO de 120 anos gratifica a quem encontrar o seu filho de treze, mas
não se lembra mais do seu nome.
CEGO procura psiquiatra pia tratar sua mulher que deu pra falar sozinha
há mais de duas semanas.
PRECISA-SE de um ator que saiba levar soco na cara, se reagir vai pro
olho da rua.
NEGOCIANTE com pequeno capital e grande capacidade de trabalho
deseja dobrar o capital e reduzir a capacidade de trabalho.
CARTA: Meu marido não pára em casa. Que devo fazer? (Inezita —
Ituiutaba)
CARTA: Briguei com meu namorado pela primeira vez, só que ele jurou
que foi a última. Estou com vontade de me suicidar, mas estou sem dinheiro.
O senhor conhece algum método de suicídio bem baratinho? (Alonsa — Juiz
de Fora)
CARTA: Meu marido é piloto de avião a jato, não me dá uma folga. Mal
sai de casa já está voltando. Que é que o senhor me aconselha? (Eldemira —
Barra Mansa)
CARTA: Estou namorando um índio, mas meus pais são contra, porque
ele é antropófago e já comeu a metade do meu braço esquerdo. Agora nem
sei onde colocar a aliança — que é que o senhor sugere? Urgente, pelo amor
que o senhor tem à sua mãe, que ele não tira os olhos de cima de mim.
(Japanira — Manaus)
RESPOSTA: A culpa é toda sua, Japanira. Se ele não pediu a sua mão
aos seus pais e resolveu comer o seu braço é porque não merece a menor
confiança. O melhor é abandoná-lo, de estalo. Só espero que ainda lhe reste
pelo menos um olho pra você ler este meu conselho.
CARTA: Pedi 400 cruzeiros pro meu marido pra comprar um maiô, mas
ele só me deu 30. Comprei 30 cruzeiros de maio, mas ele acha que está
aparecendo muita coisa e não me deixa ir à praia. O senhor acha isso justo?
(Zuleika — Guarujá)
RESPOSTA: Justo deve ser o seu maio. Tão justo que faz o seu marido
parecer injusto. Mas não dê importância, vá à praia assim mesmo: quanto
menos importância a mulher dá ao marido, muito mais fácil conseguir
qualquer importância.
CARTA: Meu marido foi pra guerra e até hoje só escreveu duas cartas,
uma em 1914 e a outra em 1939. O senhor acha que ele vai escrever de
novo? (Dorotéia — Zurich)
RESPOSTA: Nunca se sabe, minha filha. Está pra estourar outra guerra a
qualquer momento — é sempre mais uma chance que você tem.
RESPOSTA: Este é um caso inteiramente inédito e pelo que vejo vai ser
impossível tirar o cavalo daí. A melhor solução é você fazer amizade com o
cavalo, ensinar a ele a jogar biriba: isso sempre ajuda a matar o tempo.
Chato vai ser se ele ganhar no jogo.
CARTA: Tenho 99 anos e onze meses, até agora não consegui arranjar
marido. Existe algum macete pra isso? (Hiroshima — São Paulo)
RESPOSTA: Quem tem de acreditar não sou eu, é você, que a mulher é
sua. Mas se você quiser tirar a dúvida, troque o número do seu quarto e
aguarde: garanto que a sua mulher aparece. Se não aparecer, aparece o
vizinho — aí você tranca ele que ela acaba aparecendo.
CARTA: Mando minha mulher pra fora todo ano durante o carnaval.
Este ano ela cismou de me ajudar no escritório e o pior é que não tenho
escritório. (Armando — Gávea)
RESPOSTA: Monte um escritório pra sua mulher e peça a ela pra lhe
mandar pra fora todo ano durante o carnaval.
CARTA: Anexo a esta carta, segue a minha mulher. Seja sincero, olhe
bem pra ela e diga se é possível ser feliz até> que a morte nos separe.
(Gastão — Teresópolis)
RESPOSTA: Segue de volta sua mulher. Você tem toda razão: se ela
fizesse a felicidade de alguém, garanto que teria se extraviado no caminho.
CARTA: Sou náufrago, estou numa ilha deserta há mais de oito anos.
No princípio, eu tinha sete mulheres, mas os navios foram passando e foram
levando, uma de cada vez. Ontem levaram minha última mulher e hoje estou
gastando minha última garrafa pra lhe enviar esta carta pela correnteza das
6hl5. Pelo amor de Deus, me ajude no que puder. (Desesperado —
arquipélago das Antilhas)
RESPOSTA: Recebi sua garrafa e confesso que não entendi bem o seu
apelo: não sei se você está querendo que lhe mande uma mulher ou uma
garrafa. Explique-se melhor. Se for mulher, poderei lhe enviar até duas
dúzias, sendo cinco de entrada e o restante em suaves prestações mensais. Se
for garrafa, iniciarei uma campanha pra arrecadar garrafas em benefício do
náufrago desamparado.
CARTA: Passei dezoito anos na guerra e voltei ontem pra minha terra
natal. Acontece que não consigo mais me adaptar à paz do lar: o senhor não
sabe de uma guerrinha que aceite um voluntário estrangeiro? (Combatente
— Argélia)
RESPOSTA: Se você matar qualquer dos dois maridos, vai ficar com
remorso, pois achará sempre que deveria ter matado o outro. Se não matar
nenhum, será presa. Só há uma solução: mate os dois e diga pra polícia que é
solteira — não tem dado certo até agora?
RESPOSTA: O problema é seu, meu caro: o pior surdo é o que não quer
ver.
— Meu filho é mudo, doutor, com que idade ele vai começar a
gesticular?
— Atende o telefone, Maria. Se for empregada, diz pra vir logo pra
substituir você.
— Esta é a bomba dos meus sonhos, doutor, sempre que ela explode eu
acordo.
— Agora que fiquei rico não corro mais atrás de mulher, corro na frente.
— Confio na minha mulher, não confio é nos homens que saem com ela.
— Vim buscar minha mulher de volta, há três meses que ela saiu de casa
e disse que vinha aqui pra fazer uma consulta.
— Virei minha janela pelo avesso porque adoro ficar olhando pra dentro
de casa.
— Garçom, me traz um prato com menos 3,9 por cento de arroz, 7,8 por
cento de feijão e 42,5 por cento de carne, pra compensar a alta dos preços.
— Tenho medo de elevador, mas toda vez que subo pela escada ela
enguiça.
— A única coisa que tenho contra o senhor é que o senhor está a meu
favor.
■
MEU HORÓSCOPO me recomenda procurar pessoas importantes, passo
o dia telefonando e não encontro ninguém. Chego à conclusão de que as
pessoas importantes nunca estão: vai ver, o horóscopo delas recomenda que,
evitem pessoas estranhas.
UM AMIGO meu inventou uma fechadura sem chave e não tinha idéia
de como lançá-la no mercado. Queria inventar um slogan na base da
segurança do segredo, sei lá. Apelei pro trocadilho: "A chave da sua
segurança está na fechadura sem chave". Ele gostou tanto da frase que
deixou a fechadura de lado e me propôs abrirmos uma agência de slogans.
Preferi comprar a fechadura e não se falou mais nisso.
CADA vez me convenço mais que as noites de autógrafos, para vender
livro, vendem mesmo é autógrafo. É constrangedor convidar amigos pra lhes
impingir um autógrafo que só pode ser dado no livro que eles têm de
comprar. Amigos verdadeiros não deviam comprar nenhum livro em noite de
autógrafo. Deviam comprar dois, nas livrarias.
QUANDO eu era menino, queria ser médico, hoje pelo menos teria um
da minha confiança. Mas foi bom: eu talvez não fosse da confiança dos
outros — e pra viver à minha custa era preciso que eu ficasse sempre doente.
E DE repente o telefone bate e uma voz macia diz que quer a minha
opinião para uma enquete. As enquetes foram inventadas pra saber qual a
data que viveremos na próxima semana e não fosse isso ninguém se
lembraria dessas datas. As perguntas são sempre as mesmas, as respostas
também e até as pessoas entrevistadas não variam. Afinal, todo ano me
obrigam a dizer onde pretendo passar o réveillon — isso é até muito bom,
assim evito ir aos lugares aonde sei que outras pessoas também irão.
O DIA mais chato da minha vida foi quando decidi concordar com tudo.
Não há coisa mais monótona e estéril do que um ser humano concordar com
o outro. É completamente desumano.
CADA mais humilhante do que uma fotografia 3x4. Para provar que
somos nós mesmos, temos de mostrar um retrato completamente diferente
daquilo que pensamos que somos. Pior não é isso: todo mundo que vê a
fotografia acredita nela, apesar dos cabelos fartos, apesar do bigode que já
não usamos, apesar da ausência dos óculos que já estamos usando, apesar da
testa sem rugas. As aparências só enganam em fotografia 3x4, porque a
semelhança é uma convenção como outra qualquer. Basta ter um carimbo em
cima.
FICO confuso quando dizem que subiu outro astronauta. Subiu mesmo?
Por que não desceu? O certo devia ser "afastou-se", pois está provado que se
pode subir pra baixo e descer pra cima — depende de que lado da Terra a
gente está na hora em que soltam o foguete.
NÃO SEI quem inventou o inverno, mas que foi um cara sabido, foi.
Bolou a janela com vidraça pra bater neve, o capote de vison, a lareira, o
conhaque, o chuveiro elétrico, a calefação, o chá com torradas, as luvas de
couro, o suéter de lã, o casaco de camurça, tudo certinho como manda o
figurino. Depois veio um cara muito mais sabido e inventou a liquidação de
inverno.
O DIABO é a gente ter uma família tamanho família. Pra saber qual é a
nossa escova de dentes a gente vai tentando até à última — e é essa mesmo.
2.° MÊS
— Percebo que estão todos apreensivos, suas caras mudam de
expressão depois que abrem o jornal e comentam que o preço do
leite vai subir, não sei por que essa preocupação se o leite que tomo
é de graça e é a mamãe que fornece. Se o leite subir até que é bom,
porque a mamãe pode ficar rica.
3.° MÊS
— Quero esclarecer que quando molho a fralda choro muito, mas
é por causa da despesa que estou dando, sei como está difícil
arranjar empregada pra lavar todo dia. Outra coisa que me chateia e
não posso reagir é quando as visitas dizem que sou a cara do pai, no
princípio eu não ligava, mas agora que já vi a cara do papai não
gosto muito.
4.° MÊS
— A vovó tem mania de ficar me balançando no colo e pensa que
durmo por causa disso, mas não é não, é que fico tontinho e
desmaio. A mamãe passa o dia inteiro lendo livros pra saber como
cuidar de mim, mas os livros são tão diferentes que quem sofre sou
eu, pois ela fica sem saber o que fazer.
5.° MÊS
— Não gosto quando a mamãe insiste em tirar a minha chupeta e
o papai diz que é melhor do que botar o dedo na boca. O que me
incomoda não é nem a falta da chupeta nem do dedo, é a discussão
na minha cara.
6.° MÊS
— Não gosto do meu pediatra porque todo mês receita um monte
de sopas que eu detesto e um monte de remédios que quem detesta
é a mamãe. Só gosto daqueles ferrinhos que ele traz na malinha,
mas toda vez que seguro um pra brincar ele tira da minha mão e
enfia na minha garganta.
7.° MÊS
— Quanto às mamadeiras, acho bom entenderem de uma vez
por todas que quando não quero tomar, não adianta ninguém insistir
nem me passar de mão em mão pra cada um tentar uma vez. O
problema não é trocarem as pessoas — é trocarem o leite, que eu
conheço o gosto.
8.° MÊS
— Aqui em casa todos acreditam nos livros que ensinam "como
cuidar do bebê", mas nenhum médico nunca me consultou do que
gosto e do que não gosto, pois quando eles escreveram seus livros
eu nem tinha nascido. Seguir estatística é nisso que dá: quem entra
pelo cano sou eu.
9.° MÊS
— Não adianta ficarem dizendo na minha cara "mama" e "papá",
porque o certo é "mamãe" e "papai". As pessoas grandes ensinam a
gente a falar errado porque acham que é mais engraçadinho —
depois eu sei o que acontece, de tanto a gente falar errado eles
acabam mandando a gente pra escola pra aprender a falar direito.
10.° MÊS
— Coisa que não gosto é quando chegam visitas, entram no meu
quarto pra ver se estou dormindo e ficam falando baixinho que estou
acordado, depois vem outro e diz que estou dormindo, depois vem
outro e diz que acha que estou acordado — ninguém se manca, pois
com todo mundo cochichando não consigo dormir.
11.° MÊS
— Muito constrangedor é quando deixo a sopa no prato, só pela
cara da mamãe já sei que o preço dos legumes subiu de novo. Coisa
que não entendo é que todo mundo concorda que não se deve bater
numa criança, mas bem que de vez em quando me dão umas
palmadas. Não quero crescer nunca, acho gente grande muito
nervosa.
12.° MÊS
— A maior emoção da minha vida foi quando consegui ficar de
bruços, porque esse negócio de ficar deitado de costas é muito bom
mas é pro papai. Agora estou engatinhando e ouço dizer que muito
breve começarei a andar. Eles não perdem por esperar: assim que
eu começar a andar, saio de casa.
À MARGEM DO HUMOR
RECEITA DE VIVER
CABEÇA
TRONCO
Mulher pessimista é a que compra uma cinta e pensa que não vai
caber dentro dela, mulher otimista é a que nem compra a cinta.
MEMBROS
ESPELHO
BOAS MANEIRAS
Num jantar de cerimônia, aproveite pra ver a marca das louças
antes de servirem o seu prato. Depois fica mais difícil.
Evite comer azeitonas num coquetel. A não ser que você tenha o
hábito de engolir os caroços.
Nunca ponha os cotovelos na mesa. Peça à dona da casa um
descanso de cortiça que fica mais macio.
Freqüente de preferência os jantares informais. É onde geral-
mente se conseguem maiores informações.
Não cruze as pernas no meio da sala. Se você quer mostrá-las,
leve duas ou três pessoas de cada vez para um cantinho discreto.
Se um cavalheiro se oferecer para levá-la em casa e tentar beijá-
la no meio da rua, não grite. Você correrá o risco de não ser beijada.
COMO SE TORNAR BELA
FRASES FEMININAS
— Detesto quando me mandam flores sem cartão, é que faço
coleção de cartões.
PIADAS SUPERSÔNICAS
NOTA: É proibida a reprodução, total ou parcial, de qualquer destas
piadas sem autorização prévia do autor. Mas quem quiser arriscar, é um
favor: o autor prefere receber na Justiça — que rende mais.
FLAGRANTE
ELA — Ih, meu Deus, meu marido vem chegando.
ELE — Que é que eu faço?
ELA — Você não faz nada, quem vai fazer é ele.
APARÊNCIA
PSIQUIATRA — Entre, meu caro, tire o paletó e deite no divã.
HOMEM — O senhor está enganado, doutor. Vim aqui pra
consertar o diva.
ROTINA
CORONEL — Estou preocupado, nossa patrulha de reconhe-
cimento ainda não voltou. GENERAL — Isso é normal: na certa foi
reconhecida.
ESPIONAGEM
UM — Vim aqui em missão secreta.
OUTRO — Qual a missão?
UM — Também não sei. É tão secreta que não me disseram.
NECESSIDADE
UM — Preciso ganhar pelo menos mais 20 000 por mês.
OUTRO —- Quanto é que você está ganhando?
UM — NADA.
TESTE
DECORADOR — Qual a peça que se você tirar deste quarto
transformará completamente o ambiente?
ALUNA — Meu vestido.
VIDA NOVA
PATROA — Tá muito alegre, hoje, Maria, arranjou outro
namorado?
EMPREGADA — Não, senhora. Arranjei outro emprego.
REMÉDIO
CLIENTE — Já tentei me suicidar cinco vezes, doutor. Até nisso
sou um fracassado.
PSICANALISTA — Vá tentando, meu filho. Um dia você acerta e
não precisa mais voltar aqui.
DIVERGÊNCIA
MULHER — Mas isso é hora de chegar?
MARIDO — Eu quis voltar mais cedo, meu bem, aí disseram
pra mim: mas isso é hora de sair?
DESCUIDO
MULHER — Joe, onde está o mapa do assalto?
GÂNGSTER — Roubaram.
SENTENÇA
JORNALISTA — O senhor foi absolvido por cinco jurados contra
dois?
PRESIDIÁRIO — Fui.
JORNALISTA — Então por que está preso?
PRESIDIÁRIO — Porque depois do julgamento liquidei os dois.
POSSIBILIDADE
VELHINHO — Quer ir ao cinema comigo?
BROTINHO — Não se enxerga? O senhor podia ser meu pai.
VELHINHO — Podia, sim, mas sua mãe também não quis ir ao
cinema comigo.
TRAVESSIA
ORDENANÇA — Destruíram a ponte, general.
GENERAL — Diga ao pessoal que vá pela outra margem.
ORDENANÇA — Mas o pessoal estava em cima da ponte,
general.
IMPRESSÃO
BÊBADO — Garçom, traz mais um café.
GARÇOM — Pois não.
BÊBADO — Já é o décimo quinto que tomo e esse macaco não
some da minha frente.
GARÇOM — Nem vai sumir. Esse aí é o gerente.
BONS TEMPOS
VELHA — No meu tempo as coisas eram muito diferentes.
MOÇA — No meu também espero que sejam.
CARNAVAL
MULHER — Você jura, meu bem, que não vai me esquecer
depois que acabar este baile? BÊBADO — Que baile?
PROVA
BÊBADO — Este uísque está falsificado.
GARÇOM — Como é que o senhor sabe?
BÊBADO — Os morcegos que estou vendo não conseguem nem
levantar vôo.
TELEFONEMA
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um aparelho Telex
para surdez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um aparelho Telex
para surdez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — O senhor quer comprar um a-pa-re-lho
Telex para sur-dez?
VOZ DO OUTRO — Hem?
VOZ DE UM LADO — Nada, não. Pode deixar que mando um aí.
URGÊNCIA
MULHER — Embrulha quatro velas das grandes, bem depressa.
CAIXEIRO — Sua luz apagou?
MULHER — Não, senhor, quem apagou foi meu marido.
CONFISSÃO
ELA — Quando bebo, sinto vontade de fazer mil e uma loucuras.
ELE — Quais são as outras mil?
PLANO
ESPIÃO 1 — Você entra ali, pé ante pé.
ESPIÃO 2 — Impossível: só tenho uma perna.
PRISMA
PROMOTOR — A senhora atropelou a vítima porque estava em
excesso de velocidade.
RÉ — Quem estava em excesso de velocidade era a vítima. Se
ela andasse mais devagar, quando chegasse ao local do
atropelamento eu já teria passado.
EXAME
ELA — Vim fazer o teste do strip-tease.
ELE — Pois não. Entre ali e vista a roupa.
REVANCHE
JOGADOR 1 — Já sei, o senhor veio aqui pra ver se recupera a
sua mulher que perdeu ontem no jogo, não foi?
JOGADOR 2 — Não. Vim aqui pra ver se ganho a sua.
RECURSO
HOMEM — Telefonista, por favor, há mais de duas horas que
estou chamando esse número e só dá sinal de ocupado.
TELEFONISTA — Que é que você quer que eu faça? Que deixe o
serviço e vá lá colocar o fone no gancho?
DIAGNÓSTICO
MÉDICO — Diga 33.
CLIENTE — 22.
MÉDICO — 33.
CLIENTE — 22.
MÉDICO — O senhor está com o pulmão muito fraco.
MIOPIA
MÉDICO — Lamento dizer, mas o senhor é míope do olho
esquerdo.
CLIENTE — Do esquerdo é impossível, doutor: é a bola de gude
do meu filho.
REGIME
CAVALHEIRO — Vamos dançar?
DAMA — Fui proibida pelo médico.
CAVALHEIRO — Quem é o seu médico?
DAMA — Meu marido.
ASSALTO
GÂNGSTER 1 — Às 8hO2 saio da ambulância, às 8hO3 entro no
banco, às 8hO4 liquido o caixa, às 8hO5 vou ao cofre, às 8hO6 saio
pelos fundos, às 8hO7 pulo o muro, às 8hO8 você me pega de
automóvel. Entendeu?
GÂNGSTER 2 — Entendi, chefe, mas é muito perigoso.
GÂNGSTER 1 — Perigoso por quê?
GÂNGSTER 2 — Porque não tenho relógio.
OPORTUNIDADE
SNOB — Você já viu iluminação mais moderna do que essa do
meu apartamento?
VAMP — Nunca. Em todo apartamento que entro, a primeira
coisa que fazem é justamente apagar a luz.
VANTAGEM
UM — Ganho 50000 na televisão, mas televisão pra mim é bico.
OUTRO — E você vive de quê?
UM — De bico.
ABSURDO
FREGUÊS — Garçom, na minha sopa tem uma barata.
GARÇOM — Impossível, meu amigo: esta sopa é de DDT.
FAROESTE
FORASTEIRO — A que horas chega a diligência das 3hO5?
XERIFE — Depois do assalto das 4hlO.
SELVA
ÍNDIO — Vim pedir a mão de sua filha.
CACIQUE — Trouxe a aliança?
ÍNDIO — Não. Trouxe a machadinha.
ENCONTRO
PACIENTE — Doutor, vou lhe confessar uma coisa que me
atormenta a consciência há mais de cinco anos: sou um espião.
MÉDICO — Vou lhe confessar uma coisa que também me
atormenta há mais de cinco anos: não sou doutor, sou polícia
secreta.
CHAMARIZ
MOÇA — Foi daí que botaram um anúncio procurando uma
datilografa?
MOÇO — Foi, sim. Entre ali e tire a roupa.
MOÇA — Pra escrever à máquina, preciso tirar a roupa?
MOÇO — Não é pra escrever à máquina, é pra trabalhar no show
A datilografa nua.
NEGÓCIO
UMA — Casei.
OUTRA — Quanto?
SOLUÇÃO
GRÃ-FINA 1 — No verão prefiro ir para o campo. A vida no asfalto
é insuportável para as crianças.
GRÃ-FINA 2 — Por que não compra uns sapatinhos pra elas?
SINCERIDADE
ADVOGADO — Qual era o seu estado civil antes de casar com o
seu marido?
CLIENTE — Estado interessante, doutor.
DIVISÃO
NÁUFRAGO — Você fica com a mulher e eu com a espingarda.
OUTRO — Ótimo.
NÁUFRAGO — Mãos ao alto! Agora me devolve a mulher.
ABATIMENTO
PROMOTOR — A senhora partiu o seu marido ao meio com este
serrote, por isso vai pegar dez anos de prisão por cada pedaço.
ACUSADA — Que sorte, e eu que havia pensado cortá-lo em
quatro.
VANTAGEM
SOLDADO 1 — O que mais admiro no capitão é a sua valentia.
Diante do maior bombardeio ele fica impassível: não muda a cara.
SOLDADO 2 — Nem pode, coitado: está morto há três dias.
CARNAVAL
MULHER — Adorei brincar o carnaval com você, meu bem, onde
é que você mora?
MACACO — No jardim zoológico.
EQUIVOCO
FREGUÊS — Isso é um absurdo, comi o braço da minha mulher
e o senhor incluiu na conta.
GARÇOM — É engano seu, o senhor comeu foi o braço da
mulher do patrão.
INFLAÇÃO
UM — As mãos vão subir.
OUTRO — Quando?
UM — Agora. Mãos ao alto.
DUVIDA
CLIENTE — Sonho com este elefante todo dia, doutor.
PSIQUIATRA — Isso não é elefante, é uma cobra.
CLIENTE — Foi por isso, exatamente, que eu trouxe ela aqui.
MODA
CAMELÔ — A última novidade em matéria de biquíni: 4
centímetros de largura por 4 de comprimento, é só cair n'água que
encolhe mais.
MULHER — Me dá um.
CAMELÔ — Está aqui.
MULHER — Mas como é que vou entrar nisso?
CAMELÔ — Não é pra entrar, não senhora. É pra levar na mão
CONFIRMAÇÃO
JUIZ — A senhora colocou o seu marido no forno e tem a audácia
de dizer que não o matou friamente?
RÉ — Perfeitamente, senhor juiz. É que o forno estava ligado.
DESESPERO
CLIENTE — Doutor, não sei o que faço, engoli o meu cachorro.
MÉDICO — Tenha calma, senhora, tenha calma. CLIENTE — Eu
tenho, doutor, quem não tem é o cachorro.
IMPREVISTO
HOMEM — Pelo amor de Deus, doutor, minha mulher cismou que
é automóvel.
PSIQUIATRA — Não se preocupe, traga ela aqui.
HOMEM — De que jeito, doutor. Ela estacionou em local proibido
e foi rebocada.
SALVAMENTO
NÁUFRAGO — Eu pedi sos e me mandaram uma mulher.
HABITANTE DA ILHA — E agora?
NÁUFRAGO — Agora quem está pedindo sos é ela.
SEGREDO
MASCARADO 1 — Como é o nome da sua fantasia?
MASCARADO 2 — O Crime da Mala.
MASCARADO 1 — Sua mulher sabe disso?
MASCARADO 2 — Nem vai saber. É ela que está na mala.
TORTURA
CARRASCO — Confessa, imbecil, senão somos obrigados a usar
métodos mais violentos.
PRISIONEIRO — Está bem, eu confesso, mas antes vocês me
devolvem meus dois braços e minhas duas pernas.
PREFERÊNCIA
GARÇOM — Que deseja para sobremesa?
CANIBAL — Você mesmo.
TRAJETÓRIA
LEGISTA — A bala perfurou o ombro esquerdo da vítima, fez
ruptura no fígado, perfurou o estômago, transfixou o cérebro, varou o
pulmão e atravessou o armário do quarto.
INVESTIGADOR — Morreu?
LEGISTA — Só morreu o sujeito que estava no armário.
PREOCUPAÇÃO
OFICIAL 1 — Não consigo dormir, vim pra guerra e minha mulher
ficou em casa.
OFICIAL 2 — Fala com o capitão, ele não é seu primo?
OFICIAL 1 — Por isso é que não consigo dormir: ele também
ficou em casa.
FINALIDADE
COMPRADOR — Tem bala para este revólver?
VENDEDOR — Tem sim, quantas quer?
COMPRADOR — Basta uma.
VENDEDOR — Está aqui.
COMPRADOR — Mãos ao alto! Agora me dá mais cinqüenta.
EXIGÊNCIA
RICAÇO — Garçom, me disseram que este restaurante tem tudo,
é verdade?
GARÇOM — Pode tirar a dúvida, doutor: o que o senhor pedir
nós trazemos.
RICAÇO — Então me traga uma loura.
GARÇOM — Pois, não, doutor. Bem passada ou mal passada?
HOTEL
HÓSPEDE — Senhor gerente, tem um cavalo na suíte ao lado do
meu quarto e não posso dormir.
GERENTE — O que é que o senhor quer que eu faça?
HÓSPEDE — Põe ele na rua.
GERENTE — O senhor não vai acreditar, mas ele é o único
hóspede que ainda paga em dia.
CARREIRA
GAROTA 1 — Resolvi meter a cara na televisão, estou fazendo
comercial de meia.
GAROTA 2 — Mas meia não aparece a cara.
GAROTA 1 — Ora, minha filha, a gente começa por baixo.
CONSEQÜÊNCIA
DETETIVE — Coitado, morreu envenenado pela mulher do
amigo.
LEGISTA — Impossível, ele tem duas balas no pulmão esquerdo.
DETETIVE — Exatamente por isso. A mulher o envenenou tanto
que ele decidiu tomar satisfações do amigo.
INVASÃO
SOLDADO — Fui obrigado a deixar minha mulher no tanque.
SARGENTO — Lavando roupa?
SOLDADO — Não. Embaixo.
SURPRESA
MULHER — Doutor, meu caso é muito grave: amanheci com
duas cabeças.
MÉDICO — Mas só vejo uma.
MULHER — É que a outra está aqui na minha bolsa.
CONDECORAÇÃO
TENENTE — Isso aqui é a medalha do mérito.
SARGENTO — E o que foi que eu fiz pra merecer medalha?
TENENTE — Nada, Aí é que está o mérito.
INTENÇÕES
ATRIZ — Teve um crítico que elogiou muito o meu último
programa de TV.
FIGURANTE — E o programa foi bom?
ATRIZ — Não sei, ainda não foi pro ar.
CASTIGO
MULHER — Sumiu o meu tapete de tigre, como é que o senhor
explica isso?
GERENTE — Seu tapete de tigre foi despedido: hoje de manhã
ele comeu o nosso melhor camareiro.
VIVA O PROGRESSO
MANCHETES AINDA INÉDITAS
Cortina de ferro
será trocada por
porta giratória
Computador Eletrônico Dá Vexame:
Demite seu Construtor
ÚLTIMO DESASTRE
NAS FERROVIAS:
ACABARAM OS
TRENS
OFICINAS FECHAM POR FALTA DE PEÇAS E
PEÇAS FECHAM POR FALTA DE TEATROS
O chato dos fins de ano é ouvir dizer a todo instante "puxa, como
passou depressa" e nós bem sabemos quanto nos custou chegar ao
fim.
CONTO A
CORES
Lurdinha acordou com disposição de ir à praia. Saiu debaixo do
lençol vermelho, trocou o pijama vermelho por um maio vermelho e
foi ao encontro do sol vermelho. Havia no céu algumas nuvens
vermelhas, quando Lurdinha tirou sua saída vermelha e abriu sua
barraca vermelha. Colocou sua bolsa vermelha em cima da toalha
vermelha e, ao lado das sandálias vermelhas, abriu um livro
vermelho. Nesse instante, surgiu um rapaz desconhecido, de calção
vermelho e camisa vermelha, e, sem pedir licença, deitou na sombra
de sua barraca vermelha e ligou seu rádio transistor vermelho.
Lurdinha ficou azul de vergonha — pois o vermelho tinha acabado.
Ontem, no psicanalista, encontrei um Homem de Marte. Estava
deitado no diva, com muita dificuldade, as antenas quase batendo no
teto da sala, acendendo e apagando uma luzinha vermelha no ouvido
esquerdo, como se fosse dobrar uma esquina. O psicanalista me fez
sinal pra não me aproximar, o Homem de Marte tinha complexo de
inferioridade e se sentia completamente deslocado aqui na Terra.
Pior, não sabia como veio parar aqui nem como voltar, pois perdera
um parafuso durante a viagem — fato que o psicanalista verificou
logo de saída, pois só é procurado por quem tem um parafuso a
menos. Fiquei atrás da cortina e vi quando o psicanalista lhe pediu
que relembrasse a sua infância. O Homem de Marte sorriu e disse
que lá era ao contrário: as pessoas nasciam velhas e depois é que
iam ficando pequenas, até desaparecer — o que era muito mais
lógico, pois resolvia o problema chato de enterrar os mortos. Em
Marte — explicou — as pessoas não morrem: nascem e desnascem.
Aquele pobre desajustado disse então que estava com menos 180
anos de idade — e nem sequer parecia uma criança. O médico lhe
pediu que relembrasse sua velhice e ele respondeu, com muito bom
senso, que não se lembrava de nada, pois naquela época era muito
velho e não tinha memória. Percebi, rapidamente, que era outro bom
senso dos marcianos, pois evitam pensar no passado e no futuro,
uma vez que o futuro é o que vem pra trás. Havia outras vantagens
que ele foi explicando: todos têm vontade de fazer aniversário,
porque "ficam um ano mais moços" e isso justifica até as
comemorações, pois não há vantagem alguma em se ficar um ano
mais velho. Além disso, há a experiência que o homem tem de ser
filho depois de já ter sido pai, poupando um monte de vexames. Mas
a grande vantagem é que todos se casam com balzacas, que aos
poucos vão ficando brotinhos, evitando aventuras nem sempre bem-
sucedidas. O único perigo é se transformar em criança gagá, mas
mesmo assim é muito melhor que ser velho gagá. Sua noção de bom
senso era tanta que quase me atrevi a perguntar se lá eles já tinham
inventado também o Volkswagen — mas o psicanalista poderia ficar
furioso com a intromissão inteiramente fora de propósito de um
comercial ao vivo pra interromper a sua consulta. Foi então que
pensei nos sapatos. Não ficariam grandes os sapatos dos marcianos
para os seus pés que naturalmente iriam ficando pequenos? Foi
quando o marciano se levantou e agarrou no colo a televisão portátil
que havia na mesinha ao lado e começou a embalá-la nos braços,
como se fosse um filho. O psicanalista ficou um pouco perturbado e
não teve outro remédio senão pedir à enfermeira uma mamadeira —
e o pior veio depois: a televisão tomou tudinho, até a última gota.
Não sei por que canal, uma vez que todos eles mamam muito bem.
Só sei que no fim a televisão deu um arroto tão estranho que o
psicanalista decidiu chamar um técnico e só não conseguiu porque
foi demovido da idéia pelo marciano que, com nova demonstração de
bom senso, disse que as televisões de Marte liquidaram todos os
técnicos — ao contrário do que acontece aqui na Terra, onde os téc-
nicos destroem as televisões. Lembro-me perfeitamente que eram
Ilhl5 em ponto, quando este fato se deu, pois nenhum relógio
conferiu com o do outro — detalhe tanto mais importante quando
verifiquei que nenhum de nós tinha relógio. Contei a outro
psicanalista tudo o que se passou comigo, ele disse que só podia ser
um pesadelo. Ora, tratando-se de um psicanalista da mais absoluta
confiança, fui correndo pra casa pra conferir e, de fato, os lençóis
estavam remexidos, mas eu não estava na cama — nem sequer
havia dormido em casa naquela noite. Não é por nada, mas
desconfio que tanto o primeiro como o segundo psicanalista estão
ficando loucos. Senão não havia motivo algum pra me receberem
pendurados no lustre do consultório.
CORRESPONDÊNCIA COMERCIAL
Ilmo. Sr.
Diretor Superintendente
Nesta
Prezado Senhor:
Atenciosamente
■
NOVELA
ISABELA
Capítulo 1
Isabela nasceu num cantinho de página. Nasceu pra sofrer, pra que
negar? Logo na terceira ou quarta linha, completou vinte anos de idade, pra
ter, de saída, a sua primeira desilusão no amor. Augusto, o homem que não
chegaria a amá-la, pois morreu assassinado antes mesmo de entrar nesta
história, encheu a vida de Isabela de reticências...........
Mas Isabela, disposta a sofrer, saiu das reticências com lágrimas nos
olhos, como se pode constatar pelo desenho ao lado e, pouco antes do fim
deste primeiro capítulo, encontrou RICARDO. Também, pudera, com umas
letras deste tamanho ela só não o encontraria se fosse cega — e ainda é
muito cedo pra isso.
Isabela escapou. Como se vê, de uma página para outra, muita coisa
pode acontecer. Ao se despedir do diretor do hospital, Isabela apaixonou-se
por ele, sem mais nem menos:
— Estou apaixonada!
Viram? O diretor não respondeu. Vontade não lhe faltou, mas é que
detestamos fazer diálogos, gastam muito tempo e muito espaço e nem
sempre convencem. Por isso, casaremos Isabela com o diretor do hospital,
sem a menor troca de palavras. E pela primeira vez na vida de um autor
acontece um absurdo desses: Isabela ficou viúva, antes mesmo de casar.
Sabem como? Muito simples: quando terminávamos este capítulo, juntamos
distraidamente as páginas desta novela com as páginas de outra novela,
onde um gângster disparava a sua metralhadora contra o caixa de um
banco. Foi muito azar: o futuro marido de Isabela foi se meter logo na frente
do caixa e foi atravessado pelas balas do gângster da outra novela.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 6-a
Pra princípio de conversa isto aqui não é página seguinte coisa
nenhuma, pois o capítulo aí de cima foi muito curtinho e resolvemos
aproveitar este espaço aqui embaixo. Mas, se algum leitor obedeceu o
nosso aviso e passou direto para a página seguinte, não perdeu nada, pois
tudo isso que escrevemos neste capítulo foi justamente pra preencher o
espaço que faltava pra completar a página. Além do quê, bem que Isabela
merecia uma folguinha.
(CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE)
Capítulo 7
Antes mesmo que Isabela tentasse qualquer atitude, colocamo-la
na linha do trem, completamente amarrada, enquanto colocamos
também um trem no mesmo trilho em que ela estava estendida.
Porém, como não sabemos desenhar trem, ou melhor, como um
trem gasta muito mais tempo e muito mais nanquim (e nós não
ganhamos pra isso) resolvemos apelar para o automóvel que até
uma criança de três anos sabe fazer (e, cá entre nós, foi nosso
sobrinho mesmo quem fez). E se continuarmos em divagações
estéreis para o fio da história, Isabela, que é muito viva (mas não
tanto quanto nós) acabará se desamarrando e saindo do trilho, razão
por que, já no próximo parágrafo, será sumariamente esmagada
pelas rodas do automóvel.
Não disse? Vejam no próximo capítulo as conseqüências deste.
(CONTINUA NA PÁGINA .SEGUINTE)
Capítulo 80
Ou oito ou oitenta. Conosco é oitenta mesmo, e isso
nos poupa o trabalho de escrever os outros 72 capítulos.
Mas isso não impede que Isabela tenha sofrido muito, a
ponto de ficar bem magrinha, não tanto que lhe
aparecesse o esqueleto e nem tão pouco que não
pudesse caber aí ao lado. Mas isso não importa: o que
importa é que Isabela agora está no Texas, e não
sabemos como foi parar lá, porque não lemos os 72
capítulos anteriores, justamente porque não foram
escritos. O fato é que Isabela virou uma fera, quando
sentiu que estava acabando mais depressa do que a
própria novela, pois enquanto ela estiver viva a novela
continuará — e ela sabe muito bem disso. Portanto, nada
mais simples do que liquidar Isabela e para isso é só
colocá-la diante de um ladrão de gato que a matou com
um tiro certeiro e depois acabou matando também o
revisor, pois ele era ladrão de gado e não de gato. E sem
revisor, amigos, não há Iasleba que agüente.
PIADAS CURTAS PARA
INTELIGÊNCIAS LONGAS
Vendedor para o freguês: "A gente sua muito pra ligar esse
ventilador, mas depois que liga seca em menos de meia hora".
Amiga para outra: "Não sei o que fazer, meu marido deu pra
chegar pontualmente em casa".
Estudante para outra: "Tenho certeza que vou passar nos exa-
mes, não estudei a matéria, mas estudei bem o examinador".
Marido para a mulher: "Se o 13.° salário não sair, é melhor dizer
logo às crianças que o Papai Noel não existe".
Elegante para outra: "Seu vestido está muito chique, por que não
o vestiu todo?"
Grã-fina para outra grã-fina: "No Natal faço meus pedidos com
cópia e ganho sempre dois presentes iguaizinhos".
.'
IMBECIL!
IDIOTA!
SEM ERGONHA !
CRETlNO,
HIPÓCRITA!
CRÁPULA!
HORÓSCOPO
CAPRICÓRNIO
PEIXES
TOURO
CÂNCER
VIRGEM
ESCORPIÃO
As pessoas nascidas neste signo, se forem homens devem usar
calça comprida, se forem mulheres, também — só que mais justa. Os
maridos devem presentear suas esposas com uma dúzia de rosas
todas as semanas, mas se mandarem mais de uma dúzia não
esquecer do cartão, senão ela pensa que foi outro que mandou. As
esposas podem seguir seus maridos sem susto: o susto vem depois.
Pedra preciosa: para os homens, safira. Para as mulheres, qualquer
uma, como sempre. Número de sorte: 500. Para comerciantes, 499.
SAGITÁRIO
ÁREA INTERNA
Morava no terceiro andar, até aí tudo bem, principalmente quando
ficava na janela da frente. Nos fundos era um inferno: não havia
vizinho, do quarto andar pra cima, que não jogasse lixo na sua área.
Sua mulher era uma dessas conformadas que só existe duas no
mundo, sendo que a outra ninguém viu:
— Deixa isso pra lá, Antônio, pior seria se a gente morasse no
térreo.
Antônio não se controlava, ficava uma fera quando via cair
cascas de banana, de laranja, restos de comida. Em época de
melancia ficava quase louco, tinha vontade de se mudar. A mulher
procurava contornar:
— Tenha calma, Antônio, daqui a pouco as melancias acabam e
você esquece tudo.
Mas ele não esquecia:
— Acabam as melancias, vêm as jacas, acabam as jacas, vêm os
abacates. Já pensou, Marieta? Caroço de abacate é fogo.
Um dia chegou na área, tinha até lata de sardinha. Procurou pra
ver se tinha alguma sardinha, mas a lata tinha sido raspada. Se
queimou. Falou com o síndico, ele disse que era impossível fiscalizar
todos os quarenta e oito apartamentos pra ver quem é que atirava as
coisas. Pensou em fechar a área com vidro, pediram uma nota firme
e se não decidisse dentro de sete dias ia ter um acréscimo de trinta
por cento. Foi à polícia dar queixa dos vizinhos, o delegado achou
muita graça, disse que não podia dar educação aos vizinhos e se pu-
desse daria aos seus, pois ele morava no térreo e era muito pior.
Antônio voltou pra casa inconformado, afinal devia haver uma
solução para tamanho abuso. Comprou um revólver, passou várias
noites à espreita, atrás da porta da cozinha, só ouvia o barulho,
quando chegava na área só havia lixo — nenhum vestígio que
pudesse indicar de que lado e de que andar eram jogados aqueles
restos. Uma noite, teve uma idéia genial: desenhou um cartaz
enorme e pregou na parede, do lado de fora, pra todo mundo ver:
"Favor jogar o lixo aqui dentro da área". Foi tiro e queda, nunca mais
jogaram nada, nem ponta de cigarro.
CABEÇA RASPADA
Aparício saiu de casa dizendo que ia ao barbeiro. Duas horas
depois, apareceu com a cabeça inteiramente raspada. Sua mulher
não se conformou:
— Que é isso, Aparício? Que falta de imaginação! Aparício não
deu muita importância:
— Isso é o "corte de verão", minha filha.
— Verão ou inverno, com você assim é que eu não ponho os pés
na rua.
Aparício passou a mão na cabeça, acariciando a careca:
— É o que veremos. Ponha uma roupa simples que vamos ao
cinema.
A mulher virou as costas. Aparício deu um murro em cima da
mesa:
— Não demore, tem dez minutos pra se vestir.
Ela ficou surpresa. Era a primeira vez que Aparício falava nesse
tom.
— Que modos são esses? Ao menos você pode pedir as coisas
com jeito.
Aparício não deu o braço a torcer:
— Com jeito ou sem jeito, com cabelo ou sem cabelo, nós vamos
sair juntos e vamos ao cinema.
A mulher não teve outra saída:
— Está bem, mas só se a gente entrar com a luz apagada.
Aparício não estava brincando. Era a primeira vez que estava
tomando uma atitude. Até então, quem dizia como ele devia se
pentear era a mulher. Que camisa botar, que gravata, que terno, que
sapato, que meia, que abotoadura. Tudo era ela, como se ele fosse
seu filhinho. Depois de dez anos de vida em comum, Aparício
descobriu que já era hora de mostrar que era marido. Um amigo seu,
advogado, lhe havia dito que quem canta de galo em casa é o marido
e não a mulher. Nesse dia ele riu, foi direto ao barbeiro e pediu a
máquina 0. Agora deu nisso, pela primeira vez em dez anos
discutiam boba-mente:
— Você está diferente, Aparício. Acho que o barbeiro raspou a
sua educação junto com os cabelos.
Ele continuava firme nos seus propósitos:
— De agora em diante, quem manda na minha cabeça sou eu.
Vou com ela pra onde quiser e como quiser. E você vai comigo, se
quiser continuar usando o meu nome.
Não houve outro jeito. A mulher se vestiu, saíram os dois pela
rua, tomaram um ônibus. Ela morria de vergonha, tentou várias
vezes virar o rosto, mas ele não deu chance, chamou-a de querida o
tempo todo e abraçou-a, coisa que não fazia há muito tempo — pelo
menos na rua. Saltaram na porta do cinema, entraram. A sessão não
havia começado, ficaram parados na sala de espera, ele indiferente,
ela com a impressão que estava todo mundo olhando pra ela por
estar ao lado de um careca.
— Vou comprar bala, volto já — disse ela.
— Eu também vou — disse ele.
Não adiantou. Ela despencou-se do seu braço e se misturou com
a multidão que saía e que entrava. Era difícil saber se a mulher tinha
ido pra dentro ou pra fora do cinema. Aparício ficou com cara de
pateta, no meio do saguão, todo mundo entrando e saindo, pensando
que ele era uma estátua, por causa da cabeça raspada. Aparício
tomou fôlego, decidiu entrar sozinho, viu um pedaço da fita, não
entendeu nada, estava preocupadíssimo com a mulher. Saiu, pegou
um táxi pra casa. A mulher estava deitada na cama, toda coberta
com o lençol, chorando:
— Você está aí, Aparício? 280
Ele não disse nada. Puxou o lençol e caiu pra trás. A mulher havia
também raspado a cabeça. Ela disse, ainda soluçando:
— E amanhã vai ter de ir comigo ao cinema, ouviu?
Aparício não ouvia nada. Estava desmaiado.
AS FLORES
Há dois meses que Iracema recebia flores, sem cartão. Colocava
tudo nas jarras, vasos, copos, mesas, janelas, banheiro e até na
cozinha. Quando o marido lhe perguntava por que tantas flores,
todos os dias, ela sorria:
— Deixe de brincadeira, Epitácio.
Ele não percebia bem o que ela queria dizer, até que um dia:
— Epitácio, acho bom você parar de comprar tanta flor, já não
tenho mais onde colocar.
Foi aí que ele compreendeu tudo:
— O quê? Você quer insinuar que não sabia que não sou eu
quem manda essas flores?
Foi o diabo, ela não sabia explicar quem mandava, ele não
conseguia convencê-la de que não era ele.
— Um de nós dois está mentindo — gritou, furioso.
— Então é você — rebateu ela.
No dia seguinte, de manhã, ele decidiu não sair, pra desvendar o
mistério. Assim que as flores chegassem, a pessoa que as trouxesse
seria interpelada. Mas não veio ninguém.
— Já são 2 horas da tarde e as flores não chegaram, Epitácio. É
muita coincidência. Vai me dizer que não era você.
Ele não tinha por onde escapar. Insinuou muito de leve que a
mulher devia ter conhecido alguém na sua ausência. Ela chegou a
chorar e se trancou no quarto. A discussão entrou pela noite até o dia
seguinte. Epitácio saiu cedo, sem mesmo tomar café. Bateu a porta
com força e levou o mistério para o trabalho. Meia hora depois, a
mulher saiu e foi ao florista.
— Como vai, Dona Iracema? A senhora ontem não veio, hem?
Aconteceu alguma coisa?
À noite, Epitácio viu as flores e não disse uma palavra, mas a
mulher não parou:
— Seu cínico. Bastou você sair para as flores aparecerem e
ainda tem coragem de dizer que não foi você.
Nessa noite ele teve insônia.
ATENÇÃO, SENHORES PAIS.
SUBÚRBIO
O marido entrou de sola:
— De amanhã em diante quero ver todas essas contas bem
explicadinhas. Está pensando que sou algum otário? Dou um murro
danado o dia inteiro e no fim do mês não me sobra dinheiro nem pra
comprar um par de sapatos.
Arminda já estava habituada a esses trancos do Roberto. Sabia
que o seu sonho era comprar um automóvel, mas só falava em
sapato. Tinha recalque com sapato. Arminda havia prometido a si
mesma que se houvesse mais uma "crise política" ela se desquitava,
pois toda vez que havia crise política o negócio estourava mesmo era
dentro da sua casa. Afinal, ela não podia fazer milagres: comprava
feijão, arroz, cebola, manteiga, açúcar, pagava o Seu Joaquim da
padaria, o Seu José do botequim, o Seu Pedro do açougue,
tinturaria, lavanderia, empregada, o diabo. Há um mês que não ia a
um cabeleireiro e nem fazia as unhas — só pra fazer economia, mas
nem assim o Roberto reconhecia.
— Virar dinheiro é que não posso! — gritava ele.
— Nem eu! — respondia ela.
Roberto entrava então com aquele argumento infalível:
— Mas a idéia de morar em Copacabana foi sua, não foi? Pois
então, agüente. Nasceu pra milionária, é isso que dá.
Encheu. De agora em diante, a despesa de Roberto haveria de
crescer:
— Não esqueça de trazer o jornal, que vou procurar um
apartamento no subúrbio.
Roberto hesitou um pouco, antes de sair. Voltou pra mulher, deu-
lhe um beijo na face e saiu assoviando:
— Eu estava só brincando, meu bem.
Pegou o elevador, saiu do edifício, olhou de um lado e do outro e
entrou na farmácia, pra telefonar. Marcou um encontro, todo feliz, e
partiu para o trabalho.
— Subúrbio, eu, hem?
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
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BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
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BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
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BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BlS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
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BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS! BIS!
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