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Serviço Social da Indústria - SESI/SP

- Professor de Educação Básica II, III,


- Professor Tutor de Educação a Distância
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Espanhol

Língua Portuguesa
Interpretação de Texto: As questões de Língua Portuguesa têm por objetivo verificar a capacidade de leitura,
compreensão e interpretação de texto, bem como, a habilidade de usar a linguagem como meio para produzir,
expressar e comunicar ideias em diferentes situações .................................................................................................1
Tipos de textos ......................................................................................................................................................................3
Linguagem verbal e não verbal ..........................................................................................................................................4
Conteúdo do texto; Relações semântico-discursivas entre ideias no texto e os recursos linguísticos usados em
função dessas relações; Modalizações no texto e os recursos linguísticos usados em função dessas
modalizações.........................................................................................................................................................................6
Níveis de linguagem; Linguagem denotativa e linguagem conotativa ..................................................................... 11
Figuras de linguagem (comparação, metáfora, eufemismo, prosopopeia, onomatopeia, antítese, paradoxo,
hipérbole, perífrase, silepse, hipérbato, metonímia, ironia, sinestesia, aliteração) .............................................. 12
Fenômenos semânticos: sinonímia, homonímia, antonímia, paronímia, hiponímia, hiperonímia, ambiguidade
.............................................................................................................................................................................................. 15
Ordem das palavras/orações no enunciado; Estrutura do enunciado .................................................................... 18
Discursos direto e indireto .............................................................................................................................................. 19
Escrita do texto .................................................................................................................................................................. 20

Conhecimentos Pedagógicos
BRASIL LEI Nº 9394/96 DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– LDB; .....................................................................................................................................................................................1
BRASIL RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 2010. Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
para a Educação Básica; ................................................................................................................................................... 15
CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. ............................................................ 24
CORTELLA, Mário S. A escola e o conhecimento. São Paulo: Cortez, 1998. ............................................................ 25
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2000;....
.............................................................................................................................................................................................. 31
COLELLO, S.M.G. A escola que (não) ensina a escrever. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2012 ........................... 41
DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B. Gêneros Orais e escritos na escola. Campinas (SP): Mercado de Letras; 2004; ..... 43
LA TAILLE, Yves et alii. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus,
1992; .................................................................................................................................................................................... 47
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. PRIETO, Rosângela Gavioli. Inclusão Escolar: pontos e contrapontos. São
Paulo: Summus, 2006; ...................................................................................................................................................... 50
MORAN, José Manoel; MASETTO, Marcos. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000;
.............................................................................................................................................................................................. 53
RIOS, T. A. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001;.....
.............................................................................................................................................................................................. 62
WEISZ, Telma. O Diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2002; ........................................... 65
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 1998; .............................................. 70
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas (org.). Avaliação formativa: Práticas inovadoras. Campinas, SP:
Papirus, 2011; .................................................................................................................................................................... 72

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DEMO, P. Educar pela Pesquisa. 8ª Ed. Campinas: Autores Associados, 2007; ...................................................... 78
BRASIL LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência);........................................................................................................................... 80
SOLÉ. I. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998; ................................................................................... 97
ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na
escola: necessidades educacionais especiais dos alunos Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Especial, 2005. ...............................................................................................................................................100
BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Org.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação.
Porto Alegre: Penso, 2015; ............................................................................................................................................103
GABRIEL, Martha . Educ@r - a (r ) e v o l u ç ã o Digital na Educação. São Paulo: Ed Saraiva, 2013; ..............105
MATTAR, João. Web 2.0 e redes sociais na educação. São Paulo: Artesanato Educacional, 2013 ....................105

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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
questão;
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las;
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a-
interpretacao-de-textos-em-provas/

Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar


inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
Interpretação de Texto: As questões de profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
Língua Portuguesa têm por objetivo verificar moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
a capacidade de leitura, compreensão proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
e interpretação de texto, bem como, a comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
habilidade de usar a linguagem aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
como meio para produzir, relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
expressar e comunicar ideias código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
em diferentes situações. interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
dúvidas.
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
Uma interpretação de texto competente depende de
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
primeiro, algumas definições importantes:
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
Texto
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de
que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
televisão também são formas textuais.
uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
Interlocutor
É a pessoa a quem o texto se dirige.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
Texto-modelo
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com
autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…)
certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado,
funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante
praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
da sua vida.”
leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
(Revista Capricho)
dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
Modelo de Perguntas
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
é o seu interlocutor preferencial?
interpretacao-texto.html
Um leitor jovem.
Questões
2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem
a você identificar o interlocutor preferencial do texto?
O uso da bicicleta no Brasil
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes.
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
A linguagem informal típica dos adolescentes.
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
oferecem mais vantagens.
assunto;
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
leitura;
e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
menos duas vezes;
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
04) Inferir;
prioridade sobre os automotores.
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
autor;
no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor
não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
compreensão;
e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
claro, nos impostos.

No Brasil, está sendo implantado o sistema de


compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br)
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
espalhadas em pontos estratégicos. (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
(C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte,
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de 04. Considere o cartum de Douglas Vieira.
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas, Televisão
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes,
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.

Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A


verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, (http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br.
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com Adaptado)
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo. É correto concluir que, de acordo com o cartum,
(A) os tipos de entretenimento disponibilizados pelo livro ou
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) pela TV são equivalentes.
(B) o livro, em comparação com a TV, leva a uma imaginação
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de mais ativa.
locomoção nas metrópoles brasileiras (C) o indivíduo que prefere ler a assistir televisão é alguém
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra que não sabe se distrair.
devido à falta de regulamentação. (D) a leitura de um bom livro é tão instrutiva quanto assistir
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido a um programa de televisão.
incentivado em várias cidades. (E) a televisão e o livro estimulam a imaginação de modo
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela idêntico, embora ler seja mais prazeroso.
maioria dos moradores.
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os Leia o texto para responder às questões:
demais meios de transporte.
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade Propensão à ira de trânsito
arriscada e pouco salutar.
Dirigir um carro é estressante, além de inerentemente
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos perigoso. Mesmo que o indivíduo seja o motorista mais seguro
objetivos centrais do texto é do mundo, existem muitas variáveis de risco no trânsito, como
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do clima, acidentes de trânsito e obras nas ruas.
ciclista. E com relação a todas as outras pessoas nas ruas? Algumas
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é não são apenas maus motoristas, sem condições de dirigir, mas
mais seguro do que dirigir um carro. também se engajam num comportamento de risco – algumas até
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta agem especificamente para irritar o outro motorista ou impedir
no Brasil. que este chegue onde precisa.
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de Essa é a evolução de pensamento que alguém poderá
locomoção se consolidou no Brasil. ter antes de passar para a ira de trânsito de fato, levando um
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve motorista a tomar decisões irracionais.
dar prioridade ao pedestre. Dirigir pode ser uma experiência arriscada e emocionante.
Para muitos de nós, os carros são a extensão de nossa
03. Considere o cartum de Evandro Alves. personalidade e podem ser o bem mais valioso que possuímos.
Afogado no Trânsito Dirigir pode ser a expressão de liberdade para alguns, mas
também é uma atividade que tende a aumentar os níveis de

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
estresse, mesmo que não tenhamos consciência disso no Informativo: Tem a função de informar o leitor a respeito
momento. de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de jornal, de revista,
Dirigir é também uma atividade comunitária. Uma vez que folhetos informativos, propagandas. Uso da função referencial
entra no trânsito, você se junta a uma comunidade de outros da linguagem, 3ª pessoa do singular.
motoristas, todos com seus objetivos, medos e habilidades ao
volante. Os psicólogos Leon James e Diane Nahl dizem que um Descrição: Um texto em que se faz um retrato por escrito
dos fatores da ira de trânsito é a tendência de nos concentrarmos de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de
em nós mesmos, descartando o aspecto comunitário do ato de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua
dirigir. função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-
Como perito do Congresso em Psicologia do Trânsito, o se até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de
Dr. James acredita que a causa principal da ira de trânsito não anterioridade e posterioridade. Significa “criar” com palavras a
são os congestionamentos ou mais motoristas nas ruas, e sim imagem do objeto descrito. É fazer uma descrição minuciosa do
como nossa cultura visualiza a direção agressiva. As crianças objeto ou da personagem a que o texto se refere.
aprendem que as regras normais em relação ao comportamento
e à civilidade não se aplicam quando dirigimos um carro. Elas Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictício ou
podem ver seus pais envolvidos em comportamentos de disputa não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo
ao volante, mudando de faixa continuamente ou dirigindo em certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. Há
alta velocidade, sempre com pressa para chegar ao destino. uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal
Para complicar as coisas, por vários anos psicólogos predominante é o passado. Estamos cercados de narrações
sugeriam que o melhor meio para aliviar a raiva era descarregar desde as que nos contam histórias infantis, como o “Chapeuzinho
a frustração. Estudos mostram, no entanto, que a descarga de Vermelho” ou a “Bela Adormecida”, até as picantes piadas do
frustrações não ajuda a aliviar a raiva. Em uma situação de ira cotidiano.
de trânsito, a descarga de frustrações pode transformar um
incidente em uma violenta briga. Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver ou
Com isso em mente, não é surpresa que brigas violentas explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto
aconteçam algumas vezes. A maioria das pessoas está dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos,
predisposta a apresentar um comportamento irracional quando juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório,
dirige. Dr. James vai ainda além e afirma que a maior parte das o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto
pessoas fica emocionalmente incapacitada quando dirige. O que dissertativo não está preocupado com a persuasão e sim, com
deve ser feito, dizem os psicólogos, é estar ciente de seu estado a transmissão de conhecimento, sendo, portanto, um texto
emocional e fazer as escolhas corretas, mesmo quando estiver informativo.
tentado a agir só com a emoção.
(Jonathan Strickland. Disponível em: http://carros.hsw.uol.com.br/ Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrário, têm
furia-no-transito1 .htm. Acesso em: 01.08.2013. Adaptado) por finalidade principal persuadir o leitor sobre o ponto de vista
do autor a respeito do assunto. Quando o texto, além de explicar,
05. Tomando por base as informações contidas no texto, é também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento,
correto afirmar que temos um texto dissertativo-argumentativo.
(A) os comportamentos de disputa ao volante acontecem à Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de
medida que os motoristas se envolvem em decisões conscientes. solicitação, deliberação informal, discurso de defesa e acusação
(B) segundo psicólogos, as brigas no trânsito são causadas (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados,
pela constante preocupação dos motoristas com o aspecto editorial.
comunitário do ato de dirigir.
(C) para Dr. James, o grande número de carros nas ruas é Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, expõe
o principal motivo que provoca, nos motoristas, uma direção ideias, explica, avalia, reflete. Estrutura básica; ideia principal;
agressiva. desenvolvimento; conclusão. Uso de linguagem clara. Ex:
(D) o ato de dirigir um carro envolve uma série de ensaios, artigos científicos, exposições,etc.
experiências e atividades não só individuais como também
sociais. Injunção: Indica como realizar uma ação. É também
(E) dirigir mal pode estar associado à falta de controle das utilizado para predizer acontecimentos e comportamentos.
emoções positivas por parte dos motoristas. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, na sua
maioria, empregados no modo imperativo. Há também o uso do
Respostas futuro do presente. Ex: Receita de um bolo e manuais.
1. (B) / 2. (A) / 3. (D) / 4. (B) / 5. (D)
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas ou mais
pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, como pausas e
retomadas.
Tipos de textos; Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais pessoas
(o entrevistador e o entrevistado), na qual perguntas são feitas
pelo entrevistador para obter informação do entrevistado. Os
repórteres entrevistam as suas fontes para obter declarações
que validem as informações apuradas ou que relatem situações
Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor vividas por personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe
que também é transmitida através de figuras, impregnado uma pauta que contém informações que o ajudarão a construir
de subjetivismo. Ex: um romance, um conto, uma poesia... a matéria. Além das informações, a pauta sugere o enfoque a ser
(Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal). trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da
entrevista o repórter costuma reunir o máximo de informações
Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir uma disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que
mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Ex: uma será entrevistada. Munido deste material, ele formula perguntas
notícia de jornal, uma bula de medicamento. (Denotação, Claro, que levem o entrevistado a fornecer informações novas e
Objetivo, Informativo). relevantes. O repórter também deve ser perspicaz para perceber
O objetivo do texto é passar conhecimento para o leitor. se o entrevistado mente ou manipula dados nas suas respostas,
Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ideia. Exemplos fato que costuma acontecer principalmente com as fontes
de textos explicativos são os encontrados em manuais de oficiais do tema. Por exemplo, quando o repórter vai entrevistar
instruções. o presidente de uma instituição pública sobre um problema que

Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO
está afetando o fornecimento de serviços à população, ele tende Os trens da Companhia do Metropolitano de São Paulo (metrô)
a evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o que circulam com velocidade média até quatro vezes maior do
considera positivo na instituição. É importante que o repórter que a dos carros nas ruas da metrópole. No horário de pico da
seja insistente. O entrevistador deve conquistar a confiança noite, entre 17h e 20h, os usuários do transporte público sobre
do entrevistado, mas não tentar dominá-lo, nem ser por ele trilhos deslocam-se a 32,4 quilômetros por hora (km/h), em
dominado. Caso contrário, acabará induzindo as respostas ou média. Enquanto isso, os paulistanos que estão atrás do volante
perdendo a objetividade. trafegam a 7,6 km/h, quase no ritmo de um pedestre.
As entrevistas apresentam com frequência alguns sinais de Na manhã, entre 7h e 10h, os números sofrem algumas alterações.
pontuação como o ponto de interrogação, o travessão, aspas, O carro melhora seu desempenho e atinge a velocidade de uma
reticências, parêntese e às vezes colchetes, que servem para dar bicicleta, 20,6 km/h. O metrô mantém os 32,4 km/h, conforme
ao leitor maior informações que ele supostamente desconhece. mostram os dados obtidos pelo estado por meio da Lei de
O título da entrevista é um enunciado curto que chama a atenção Acesso à Informação. As velocidades dos carros foram medidas
do leitor e resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) no corredor
letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na maioria modelo da cidade – Avenidas Eusébio Matoso e Rebouças e Rua
dos casos, apenas as preposições ficam com a letra minúscula. O da Consolação.
subtítulo introduz o objetivo principal da entrevista e não vem Circulam diariamente pela cidade 4,2 milhões de
seguido de ponto final. É um pequeno texto e vem em destaque carros. O metrô paulistano recebe 4,7 milhões de
também. A fotografia do entrevistado aparece normalmente passageiros, provenientes de toda a região metropolitana.
na primeira página da entrevista e pode estar acompanhada Embora o metrô seja mais rápido, muitos paulistanos
por uma frase dita por ele. As frases importantes ditas pelo preferem usar carro.
entrevistado e que aparecem em destaque nas outras páginas da
entrevista são chamadas de “olho”. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/
velocidade-do-metro-upera-muito-a-dos-carros-em-sp>. Acesso em:
Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um 7/3/2014, com adaptações.
gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus
grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, 1. (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO
ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM
texto, você conhecerá as principais características da crônica, ELETRÔNICA – IADES/2014) Quanto à tipologia, o texto lido é,
técnicas de sua redação e terá exemplos. predominantemente,
Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso- (A) descritivo, pois está voltado apenas para a representação
brasileira corresponde à definição de crônica como “narração das características dos trens do metrô e dos carros de São Paulo.
histórica”. É a “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de (B) narrativo, pois desenvolve uma sequência de
Caminha, na qual são narrados ao rei português, D. Manuel, o acontecimentos durante alguns períodos do dia em São Paulo.
descobrimento do Brasil e como foram os primeiros dias que (C) dissertativo, pois apresenta e analisa dados sobre a
os marinheiros portugueses passaram aqui. Mas trataremos, velocidade dos trens do metrô de São Paulo e a dos carros que
sobretudo, da crônica como gênero que comenta assuntos do dia circulam pela metrópole.
a dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Machado (D) narrativo, pois relata episódios sobre os horários de pico
de Assis: de São Paulo.
(E) dissertativo, pois apresenta e discute uma opinião sobre
O nascimento da crônica a qualidade do serviço prestado pelo metrô de São Paulo.
“Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. Resposta
É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando
as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente 1. Resposta: C
sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos O texto apresenta características da descrição, mas, como é
atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e destacado no enunciado: predomina o dissertativo, analisando
da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a dados que dão ao autor base para argumentação.
Petrópolis, e la glace est rompue está começada a crônica. (...)”

(Machado de Assis. “Crônicas Escolhidas”. São Paulo: Editora


Ática, 1994)
Linguagem verbal
Publicada em jornal ou revista destina-se à leitura diária e não verbal;
ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. A crônica se
diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação.
Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois
a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio
aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea,
singular. abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade.
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes
um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é
é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo
mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia a fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante.
dia comuns nas grandes cidades.
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer que No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa,
a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De um mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores.
recebe a observação atenta da realidade cotidiana e do outro, Dentre eles, destacam-se:
a construção da linguagem, o jogo verbal. Algumas crônicas são
editadas em livro, para garantir sua durabilidade no tempo. Fatores regionais: é possível notar a diferença do português
falado por um habitante da região nordeste e outro da região
Questão sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há
variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por
Velocidade do metrô supera muito a dos carros em SP exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão

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que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior A informação é permeada de subjetividade e influenciada
do estado. pela presença do interlocutor.

Fatores culturais: o grau de escolarização e a formação Recursos: signos acústicos e extralinguísticos, gestos,
cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram entorno físico e psíquico
para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada
utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve Língua Escrita:
acesso à escola.
Palavra gráfica
Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo
com a situação em que nos encontramos: quando conversamos É mais objetiva.
com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se
estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura. É possível esquecer o interlocutor

Fatores profissionais: o exercício de algumas atividades É mais sintética.


requer o domínio de certas formas de língua chamadas
línguas técnicas. Abundantes em termos específicos, essas A redundância é um recurso estilístico
formas têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico
de engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da Comunicação unilateral.
informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.
Ganha em permanência
Fatores naturais: o uso da língua pelos falantes sofre
influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança Mais correção na elaboração das frases.
não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-
se em linguagem infantil e linguagem adulta. Evita a improvisação

Fala Pobreza de recursos não-linguísticos; uso de letras, sinais de


pontuação
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode É mais precisa e elaborada.
escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu
gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto, Ausência de cacoetes linguísticos e vulgarismos
sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive,
etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande O contexto extralinguístico tem menos influência
diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo,
além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros Registros da língua falada
falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas
dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a Há pelo menos dois níveis de língua falada: a culta ou padrão
linguagem delas seja exatamente como a nossa. e a coloquial ou popular. A linguagem coloquial também aparece
nas gírias, na linguagem familiar, na linguagem vulgar e nos
Níveis da fala regionalismos e dialetos.
Essas variações são explicadas por vários fatores:
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar Diversidade de situações em que se encontra o falante: uma
alguns níveis: solenidade ou uma festa entre amigos.
Grau de instrução do falante e também do ouvinte.
Nível coloquial-popular: é a fala que a maioria das pessoas Grupo a que pertence o falante. Este é um fator determinante
utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais. na formação da gíria.
Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utiizá-lo, não nos Localização geográfica: há muitas diferenças entre o falar de
preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as um nordestino e o de um gaúcho, por exemplo. Essas diferenças
regras formais estabelecidas pela língua. constituem os regionalismos e os dialetos.

Nível formal-culto: é o nível da fala normalmente utilizado Atenção: o dialeto é a variedade regional de uma língua.
pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um Quando as diferenças regionais não são suficientes para
cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras constituir um dialeto, utiliza-se os termos regionalismos ou
gramaticais estabelecidas pela língua. falares para designá-las. E as pichações têm características da
linguagem falada.
Diferenças existentes entre a língua falada e a escrita
A língua falada como recurso literário
Língua Falada:
A transcrição da língua falada é um recurso cada vez mais
Palavra sonora; explorado pela literatura graças à vivacidade que confere ao
texto.
Requer a presença dos interlocutores; Observe, no trecho seguinte, algumas das características da
língua falada, tais como o uso de gírias e de expressões populares
Ganha em vivacidade; e regionais; incorreções gramaticais (erros na conjugação verbal
e colocação de pronomes) e repetições:
É espontânea e imediata;
Exemplo:
Uso de palavras-curinga, de frases feitas; “– Menino, eu nada disto sei dizer. A outro eu não falava, mas
a ti eu digo. Eu não sei que gosto tem esse bicho de mulher. Eu
É repetitiva e redundante; vi Aparício se pegando nas danças, andar por aí atrás das outras,
contar histórias de namoro. E eu nada. Pensei que fosse doença,
O contexto extralinguístico é importante; e quem sabe não é? Cantador assim como eu, Bentinho, é mesmo
que novilho capado. Tenho desgosto. A voz de Domício era de
A expressividade permite prescindir de certas regras; quem falava para se confessar:

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– Desgosto eu tenho, pra que negar?... “ Esta aprendizagem tem grande valor, uma vez que permite
(Pedra Bonita, de José Lins do Rego) melhorar a compreensão da leitura, da comunicação oral e a ter
melhor domínio da linguagem através da expressão escrita com
Registros da língua escrita uma estrutura mais coerente. Por outro lado, esta compreensão
traz mais eficiência para a comunicação.
Além dos dois grandes níveis – língua culta e língua
coloquial –, os registros escritos são tão distintos quanto as Para compreendermos um texto é necessário descobrir
necessidades humanas de comunicação. Destacam-se, entre sua estrutura interna; nela encontraremos ideias principais
outros, os registros jornalísticos, jurídicos, científicos, literários e secundárias e precisamos descobrir como essas ideias se
e epistolares. relacionam.

Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman4. As ideias principais giram em torno do tema central, de um


php assunto-núcleo contida no texto; a ela somam-se as secundárias,
http://www.vestibular1.com.br/redacao/red020.htm que só são importantes enquanto corroboradas do tema central.
Se há ideias principais e secundárias, como ocorre relação
entre elas?

Muitas vezes, a técnica usada é a de explanação de ideias


Conteúdo do texto; Relações semântico- “em cadeia”; ocorre a explanação da ideia básica e, a seguir, o
discursivas entre ideias no texto e os recursos desdobramento dessa ideia nos parágrafos subsequentes, a fim
linguísticos usados em função dessas de discutir, aprofundar o assunto.
relações; Modalizações no
texto e os recursos linguísticos A clareza e a objetividade devem caracterizar a estrutura do
usados em função dessas texto, para que as ideias nela contidas possam atingir o propósito
modalizações; de sua mensagem. Tal propósito, por sua vez, pode ser alcançado
através dos mecanismos linguísticos que se associam às relações
de coordenação e subordinação de ideias-conjunções.

Ideias Principais e Ideias Secundárias Vejamos, pois, como uma série de enunciados simples,
coordenados e relacionados pelo sentido, pode articular-se para
Em todo argumento ou raciocínio existem ideias que são formar um período complexo em que haverá uma ideia principal
principais, ou seja, são os pontos destacados desse discurso e outras que lhe servirão de suporte:
pessoal.
Júlia chegou ao Chile em 1985.
Ideias que valorizam determinado ponto de vista. Entretanto,
estas ideias principais contam com o reforço das ideias Ela não contava ainda com seis anos.
secundárias, estas últimas que são muito valiosas e contribuem
com aspectos positivos do ponto de vista pessoal. Ela teve que acompanhar a família.

Saber distinguir a ideia principal das complementares Após a chegada, matriculou-se logo numa escola para
estrangeiros.
Um dos pontos mais importantes na oratória consiste
precisamente em saber diferenciar claramente quais são os Ideia mais importante: a chegada de Júlia.
pontos de destaque numa exposição oral e quais são as ideias Admitamos que o fato considerado mais importante seja
secundárias para poder contribuir com uma estrutura lógica a chegada de Júlia ao Chile. A versão do período poderia ser a
nesta exposição. seguinte:

Contribuir com argumentos ‘“Júlia, que não contava ainda com seis anos, chegou em
1985 ao Chile, para onde ela teve de acompanhar a família,
Do mesmo modo, esta diferenciação também é essencial matriculando-se numa escola para estrangeiros”.
ao aplicar uma das técnicas de estudo mais habituais na Da oração principal “Júlia chegou em 1985 ao Chile”
compreensão de um texto: o sublinhado. Ao sublinhar em dependem as demais.
um texto as ideias destacadas com alguma cor chamativa é
indispensável grifar apenas as informações que são valiosas. Fontes: http://professorvallim.blogspot.com.br/2010/12/
As ideias secundárias de um texto são aquelas que trazem interpretacao-de-texto.html
informação complementar, ideias derivadas de um argumento http://queconceito.com.br/ideias-secundarias
principal. Atuam como se tratasse de um complemento.

Existe uma relação de ligação entre a ideia principal e a Coesão


ideia secundária de um texto, estão relacionadas entre si na
qual o significado completo de uma ideia secundária pode ser Coesão é a conexão, ligação, harmonia entre os elementos de
compreendido melhor em relação ao ponto de vista principal. um texto, como descreve Marina Cabral. Percebemos tal definição
Estas ideias têm uma função de reforço na mensagem, como quando lemos um texto e verificamos que as palavras, as frases
também trazem mais justificativas e aspectos concretos à e os parágrafos estão entrelaçados, um dando continuidade ao
mesma. outro.

Como identificar a ideia principal do texto Os elementos de coesão determinam a transição de ideias
entre as frases e os parágrafos.
O uso das ideias secundárias não significa dar rodeios. Existe
um ponto importante para diferenciar qual é a ideia principal de Observe a coesão presente no texto a seguir:
um texto daquela que é secundária. A ideia principal é aquela
que mesmo com a diminuição do parágrafo continua tendo “Os sem-terra fizeram um protesto em Brasília contra a
o mesmo valor e significado por si só. Em compensação, não política agrária do país, porque consideram injusta a atual
ocorre o mesmo com o resto das ideias. distribuição de terras. Porém o ministro da Agricultura
considerou a manifestação um ato de rebeldia, uma vez que o

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projeto de Reforma Agrária pretende assentar milhares de sem- - pronomes relativos: que, o qual, onde...
terra.” - advérbios de lugar: aqui, aí, lá...

JORDÃO, R., BELLEZI C. Linguagens. São Paulo: Escala Educacional, Ex.: Marcela obteve uma ótima colocação no concurso. Tal
2007, p. 566 resultado demonstra que ela se esforçou bastante para alcançar
o objetivo que tanto almejava.
As palavras destacadas têm o papel de ligar as partes do
texto, podemos dizer que elas são responsáveis pela coesão do - Coesão por substituição: substituição de um nome (pessoa,
texto. objeto, lugar etc.), verbos, períodos ou trechos do texto por uma
Há vários recursos que respondem pela coesão do texto, os palavra ou expressão que tenha sentido próximo, evitando a
principais são: repetição no corpo do texto.

- Palavras de transição: são palavras responsáveis pela Ex.: Porto Alegre pode ser substituída por “a capital gaúcha”;
coesão do texto, estabelecem a interrelação entre os enunciados Castro Alves pode ser substituído por “O Poeta dos Escravos”;
(orações, frases, parágrafos), são preposições, conjunções, João Paulo II: Sua Santidade;
alguns advérbios e locuções adverbiais. Vênus: A Deusa da Beleza.

Veja algumas palavras e expressões de transição e seus Ex.: Castro Alves é autor de uma vastíssima obra literária.
respectivos sentidos: Não é por acaso que o “Poeta dos Escravos” é considerado o mais
importante da geração a qual representou.
- inicialmente (começo, introdução)
- primeiramente (começo, introdução) Assim, a coesão confere textualidade aos enunciados
- primeiramente (começo, introdução) agrupados em conjuntos.
- antes de tudo (começo, introdução)
- desde já (começo, introdução) Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/redacao/coesao.htm
- além disso (continuação)
- do mesmo modo (continuação) Questões
- acresce que (continuação)
- ainda por cima (continuação) 01. (TJ/RJ – Analista Judiciário – FGV/2014)
- bem como (continuação)
- outrossim (continuação) Texto 1 – Bem tratada, faz bem
- enfim (conclusão)
- dessa forma (conclusão) Sérgio Magalhães, O Globo
- em suma (conclusão)
- nesse sentido (conclusão) O arquiteto Jaime Lerner cunhou esta frase premonitória: “O
- portanto (conclusão) carro é o cigarro do futuro.” Quem poderia imaginar a reversão
- afinal (conclusão) cultural que se deu no consumo do tabaco?
- logo após (tempo) Talvez o automóvel não seja descartável tão facilmente. Este
- ocasionalmente (tempo) jornal, em uma série de reportagens, nestes dias, mostrou o
- posteriormente (tempo) privilégio que os governos dão ao uso do carro e o desprezo ao
- atualmente (tempo) transporte coletivo. Surpreendentemente, houve entrevistado
- enquanto isso (tempo) que opinou favoravelmente, valorizando Los Angeles – um caso
- imediatamente (tempo) típico de cidade rodoviária e dispersa.
- não raro (tempo) Ainda nestes dias, a ONU reafirmou o compromisso desta
- concomitantemente (tempo) geração com o futuro da humanidade e contra o aquecimento
- igualmente (semelhança, conformidade) global – para o qual a emissão de CO2 do rodoviarismo é agente
- segundo (semelhança, conformidade) básico. (A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a
- conforme (semelhança, conformidade) poluição em São Paulo mata o dobro do que o trânsito.)
- assim também (semelhança, conformidade) O transporte também esteve no centro dos protestos de
- de acordo com (semelhança, conformidade) junho de 2013. Lembremos: ele está interrelacionado com a
- daí (causa e consequência) moradia, o emprego, o lazer. Como se vê, não faltam razões para
- por isso (causa e consequência) o debate do tema.
- de fato (causa e consequência)
- em virtude de (causa e consequência) “Como se vê, não faltam razões para o debate do tema.”
- assim (causa e consequência)
- naturalmente (causa e consequência) Substituindo o termo destacado por uma oração
- então (exemplificação, esclarecimento) desenvolvida, a forma correta e adequada seria:
- por exemplo (exemplificação, esclarecimento) (A) para que se debatesse o tema;
- isto é (exemplificação, esclarecimento) (B) para se debater o tema;
- a saber (exemplificação, esclarecimento) (C) para que se debata o tema;
- em outras palavras (exemplificação, esclarecimento) (D) para debater-se o tema;
- ou seja (exemplificação, esclarecimento) (E) para que o tema fosse debatido.
- quer dizer (exemplificação, esclarecimento)
- rigorosamente falando (exemplificação, esclarecimento). 02. (TJ/RJ – Analista Judiciário – FGV/2014)
“A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a poluição
Ex.: A prática de atividade física é essencial ao nosso em São Paulo mata o dobro do que o trânsito”.
cotidiano. Assim sendo, quem a pratica possui uma melhor
qualidade de vida. A oração em forma desenvolvida que substitui correta e
adequadamente o gerúndio “advertindo” é:
- Coesão por referência: existem palavras que têm a função (A) com a advertência de;
de fazer referência, são elas: (B) quando adverte;
- pronomes pessoais: eu, tu, ele, me, te, os... (C) em que adverte;
- pronomes possessivos: meu, teu, seu, nosso... (D) no qual advertia;
- pronomes demonstrativos: este, esse, aquele... (E) para advertir.
- pronomes indefinidos: algum, nenhum, todo...

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03. (PC/RJ – Papilocopista – IBF/2014) convencionais a vagas de medicina nas federais foi de 787,56
pontos. Para os cotistas, foi de 761,67 pontos. A diferença
Texto III - Corrida contra o ebola entre eles, portanto, ficou próxima de 3%. IstoÉ entrevistou
educadores e todos disseram que essa distância é mais do que
Já faz seis meses que o atual surto de ebola na África razoável. Na verdade, é quase nada. Se em uma disciplina tão
Ocidental despertou a atenção da comunidade internacional, concorrida quanto medicina um coeficiente de apenas 3%
mas nada sugere que as medidas até agora adotadas para refrear separa os privilegiados, que estudaram em colégios privados,
o avanço da doença tenham sido eficazes. dos negros e pobres, que frequentaram escolas públicas, então
Ao contrário, quase metade das cerca de 4.000 contaminações é justo supor que a diferença mínima pode, perfeitamente, ser
registradas neste ano ocorreram nas últimas três semanas, igualada ou superada no decorrer dos cursos. Depende só da
e as mais de 2.000 mortes atestam a força da enfermidade. A disposição do aluno. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro
escalada levou o diretor do CDC (Centro de Controle e Prevenção (UFRJ), uma das mais conceituadas do País, os resultados do
de Doenças) dos EUA, Tom Frieden, a afirmar que a epidemia último vestibular surpreenderam. “A maior diferença entre
está fora de controle. as notas de ingresso de cotistas e não cotistas foi observada
O vírus encontrou ambiente propício para se propagar. no curso de economia”, diz Ângela Rocha, pró-reitora da UFRJ.
De um lado, as condições sanitárias e econômicas dos países “Mesmo assim, essa distância foi de 11%, o que, estatisticamente,
afetados são as piores possíveis. De outro, a Organização não é significativo”.
Mundial da Saúde foi incapaz de mobilizar com celeridade (www.istoe.com.br)
um contingente expressivo de profissionais para atuar nessas
localidades afetadas. Para responder a questão, considere a passagem – A
Verdade que uma parcela das debilidades da OMS se explica diferença entre eles, portanto, ficou próxima de 3%.
por problemas financeiros. Só 20% dos recursos da entidade O pronome eles tem como referente:
vêm de contribuições compulsórias dos países-membros – o (A) candidatos convencionais e cotistas.
restante é formado por doações voluntárias. (B) beneficiados.
A crise econômica mundial se fez sentir também nessa área, (C) dados do Sistema de Seleção Unificada.
e a organização perdeu quase US$ 1 bilhão de seu orçamento (D) dados do Sistema de Seleção Unificada e pontos.
bianual, hoje de quase US$ 4 bilhões. Para comparação, o CDC (E) pontos.
dos EUA contou, somente no ano de 2013, com cerca de US$ 6
bilhões. 05. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário –
Os cortes obrigaram a OMS a fazer escolhas difíceis. A agência VUNESP-2014)
passou a dar mais ênfase à luta contra enfermidades globais Leia os quadrinhos para responder a questão.
crônicas, como doenças coronárias e diabetes. O departamento
de respostas a epidemias e pandemias foi dissolvido e integrado
a outros. Muitos profissionais experimentados deixaram seus
cargos.
Pesa contra o órgão da ONU, de todo modo, a demora para
reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços iniciais foram
limitados e mal liderados.
O surto agora atingiu proporções tais que já não é mais
possível enfrentá-lo de Genebra, cidade suíça sede da OMS.
Tornou-se crucial estabelecer um comando central na África
Ocidental, com representantes dos países afetados. Um enunciado possível em substituição à fala do terceiro
Espera-se também maior comprometimento das potências quadrinho, em conformidade com a norma- padrão da língua
mundiais, sobretudo Estados Unidos, Inglaterra e França, portuguesa, é:
que possuem antigos laços com Libéria, Serra Leoa e Guiné, (A) Se você ir pelos caminhos da verdade, leve um capacete.
respectivamente. (B) Caso você vá pelos caminhos da verdade, lembra-se de
A comunidade internacional tem diante de si um desafio levar um capacete.
enorme, mas é ainda maior a necessidade de agir com rapidez. (C) Se você se mantiver nos caminhos da verdade, leve um
Nessa batalha global contra o ebola, todo tempo perdido conta capacete.
a favor da doença. (D) Caso você se mantém nos caminhos da verdade, lembre
de levar um capacete.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ (E) Ainda que você se mantêm nos caminhos da verdade,
opiniao/2014/09/1512104-editorial-corrida-contra-o-ebola.shtml: leva um capacete.
Acesso em: 08/09/2014)
Respostas
Assinale a opção em que se indica, INCORRETAMENTE, o
referente do termo em destaque. 01. (C) - As orações subordinadas desenvolvidas possuem
(A) “quase US$ 1 bilhão de seu orçamento bianual” (5º§) – conjunção e verbos conjugados em modos e tempos verbais.
organização Na letra “a” o verbo está num tempo diferente da frase.
(B) “A agência passou a dar mais ênfase” (6º§) – OMS Na letra “b” o verbo está no infinitivo o que caracteriza como
(C) “Pesa contra o órgão da ONU”(7º§) – OMS oração reduzida.
(D) “Seus esforços iniciais foram limitados” (7º§) – gravidade Na letra “c” a oração apresenta a conjunção “para que” que
da situação exprime finalidade e o verbo está conjugado no tempo correto
(E) “A comunidade tem diante de si” (10º§) – comunidade da frase.
internacional Na letra “d” não apresenta conjunção.
Na letra “e” o verbo está no particípio caracterizando oração
04. (TJ/SP – Escrevente Técnico Judiciário – reduzida.
VUNESP-2014) Portanto, a resposta certa é a letra “c”.

Leia o texto para responder a questão. 02. (C) - “A USP acaba de divulgar estudo advertindo que a
As cotas raciais deram certo porque seus beneficiados são, poluição em São Paulo mata o dobro do que o trânsito”.
sim, competentes. Merecem, sim, frequentar uma universidade Os verbos acabar e matar contidos na frase estão no
pública e de qualidade. No vestibular, que é o princípio de presente do indicativo. Logo, o verbo advertir ficará no presente
tudo, os cotistas estão só um pouco atrás. Segundo dados do do indicativo. EX: eu advirto, tu advertes, ele adverte.
Sistema de Seleção Unificada, a nota de corte para os candidatos

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03. (D) - Pesa contra o órgão da ONU, de todo modo, a 3) Princípio da Relevância: Um texto com informações
demora para reconhecer a gravidade da situação. Seus esforços fragmentadas torna as ideias incoerentes, ainda que cada
iniciais foram limitados e mal liderados. fragmento apresente certa coerência individual. Se as ideias não
De quem foram os esforços? Da ONU, pois estes formam dialogam entre si, então elas são irrelevantes.
limitados e mal liderados.
É importante ressaltarmos que o uso adequado dos
04. (A) - “a nota de corte para os candidatos convencionais conectivos também colabora na construção de um texto coerente:
a vagas de medicina nas federais foi de 787,56 pontos. Para os a coesão textual é um importante mecanismo de estruturação do
cotistas, foi de 761,67 pontos” texto, presente em dois movimentos essenciais: restrospecção
A DIFERENÇA ENTRE ELES é de 3%. e prospecção. Lembre-se de que a coerência é um princípio de
eles quem ? (os candidatos convencionais e os cotistas) que interpretabilidade, portanto, cabe a você depreender os sentidos
estão postos em relação a diferença de NOTA . do texto.

05. (C) Tipos de coerência


(A) Se você ir (for) pelos caminhos da verdade, leve um
capacete. São seis os tipos de coerência: sintática, semântica, temática,
(B) Caso você vá pelos caminhos da verdade, lembra-se pragmática, estilística e genérica. Conhecê-los contribui para a
(lembre-se) de levar um capacete. escrita de uma boa redação.
(C) Se você se mantiver nos caminhos da verdade, leve um
capacete. Você já deve saber que alguns elementos são indispensáveis
(D) Caso você se mantém (mantenha) nos caminhos da para a construção de um bom texto. Entre esses elementos,
verdade, lembre de levar um capacete. está a coerência textual, fator que garante a inteligibilidade das
(D) Ainda que você se mantêm (mantenha) nos caminhos ideias apresentadas em uma redação. Quando falta coerência, a
da verdade, leva (leve) um capacete. construção de sentidos fica seriamente comprometida.

Coerência É importante que você saiba que existem tipos de coerência,


elementos que colaboram para a construção da coerência global
A coerência textual não está na superfície do texto: a de um texto. São eles:
construção de sentidos será feita de acordo com o conhecimento
prévio de cada leitor Coerência sintática: está relacionada com a estrutura
linguística, como termo de ordem dos elementos, seleção
Quando você se propõe a escrever um texto, certamente se lexical etc., e também à coesão. Quando empregada, eliminamos
lembra de quem vai ler, não é verdade? Provavelmente, você estruturas ambíguas, bem como o uso inadequado dos
também se lembra de que alguns cuidados devem ser tomados conectivos.
para que o leitor compreenda o texto. Nessa tentativa de fazer-
se compreendido, você estabelece alguns padrões mentais que Coerência semântica: Para que a coerência semântica esteja
diferem o que é coerente daquilo que não faz o menor sentido, presente em um texto, é preciso, antes de tudo, que o texto não
certo? seja contraditório, mesmo porque a semântica está relacionada
com as relações de sentido entre as estruturas. Para detectar
Pois bem, intuitivamente, você está seguindo um princípio uma incoerência, é preciso que se faça uma leitura cuidadosa,
básico para uma boa redação, chamado de coerência textual. ancorada nos processos de analogia e inferência.
Você pode até não conhecer a exata definição desse elemento
da linguística textual, mas possivelmente evita construções Coerência temática: Todos os enunciados de um texto
ininteligíveis em sua redação e recorre aos seus conhecimentos precisam ser coerentes e relevantes para o tema, com exceção
sociocognitivos. A coerência é uma conformidade entre fatos das inserções explicativas. Os trechos irrelevantes devem ser
ou ideias, próprio daquilo que tem nexo, conexão, portanto, evitados, impedindo assim o comprometimento da coerência
podemos associá-la ao processo de construção de sentidos do temática.
texto e à articulação das ideias. Por serem os sentidos elementos
subjetivos, podemos dizer que a coerência não pode ser Coerência pragmática: Refere-se ao texto visto como
delimitada, pois o leitor é o responsável pela constituição dos uma sequência de atos de fala. Os textos, orais ou escritos,
significados do texto. são exemplos dessas sequências, portanto, devem obedecer
às condições para a sua realização. Se o locutor ordena algo
A coerência é imaterial e não está na superfície textual. a alguém, é contraditório que ele faça, ao mesmo tempo, um
Compreender aquilo que está escrito dependerá dos níveis de pedido. Quando fazemos uma pergunta para alguém, esperamos
interação entre o leitor, o autor e o texto. Por esse motivo, um receber como resposta uma afirmação ou uma negação, jamais
mesmo texto pode apresentar múltiplas interpretações. Quando uma sequência de fala desconectada daquilo que foi indagado.
lemos um texto, estamos ao mesmo tempo construindo sua Quando essas condições são ignoradas, temos como resultado a
interpretação, e fazer isso de maneira eficiente está relacionado incoerência pragmática.
com os conhecimentos que já possuímos. Como vamos entender
um texto que trate de química nuclear se não soubermos o que Coerência estilística: Diz respeito ao emprego de uma
são os elementos da tabela periódica? Como entender um texto variedade de língua adequada, que deve ser mantida do início ao
que fale sobre coerência se não soubermos o básico sobre a fim de um texto para garantir a coerência estilística. A incoerência
interpretação de textos? estilística não provoca prejuízos para a interpretabilidade
de um texto, contudo, a mistura de registros — como o uso
Três princípios básicos são necessários para concomitante da linguagem coloquial e linguagem formal —
compreendermos melhor o que é coerência textual: deve ser evitada, principalmente nos textos não literários.

1) Princípio da Não Contradição: Um texto deve apresentar Coerência genérica: Refere-se à escolha adequada do gênero
situações ou ideias lógicas que em momento algum se textual, que deve estar de acordo com o conteúdo do enunciado.
contradigam; Em um anúncio de classificados, a prática social exige que ele
tenha como objetivo ofertar algum serviço, bem como vender
2) Princípio da Não Tautologia: A tautologia nada mais é ou comprar algum produto, e que sua linguagem seja concisa e
do que um vício de linguagem que repete ideias com palavras objetiva, pois essas são as características essenciais do gênero.
diferentes ao longo do texto, o que compromete a transmissão Uma ruptura com esse padrão, entretanto, é comum nos textos
da informação; literários, nos quais podemos encontrar um determinado gênero

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assumindo a forma de outro. variedade não padrão

É importante ressaltar que em alguns tipos de texto, Sobre o nível de linguagem adotado por Calvin, podemos
especialmente nos textos literários, uma ruptura com os tipos de afirmar que se trata, em relação aos tipos de coerência, de uma
coerência descritos anteriormente pode acontecer. Nos demais a) incoerência pragmática.
textos, a coerência contribui para a construção de enunciados b) incoerência genérica.
cuja significação seja aceitável, ajudando na compreensão c) incoerência estilística.
do leitor ou do interlocutor. Todavia, a coerência depende de d) incoerência temática.
outros aspectos, como o conhecimento linguístico de quem e) incoerência semântica.
acessa o conteúdo, a situacionalidade, a informatividade, a
intertextualidade e a intencionalidade. 03. Observe o discurso de Calvin e responda à questão:

Fontes: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/
coerencia-textual.htm
http://portugues.uol.com.br/redacao/tipos-coerencia.html

Questões

01. Sobre a coerência textual, é incorreto afirmar:


a) A coerência é uma conformidade entre fatos ou ideias,
própria daquilo que tem nexo, conexão, portanto, podemos
associá-la ao processo de construção de sentidos do texto e à A identificação de elementos textuais como as figuras de
articulação das ideias. linguagem é essencial para a interpretação de textos
b) Por serem os sentidos elementos subjetivos, podemos
dizer que a coerência não pode ser delimitada, pois o leitor é o A incoerência na fala de Calvin sobre a TV pode ser explicada
responsável pela constituição dos significados do texto. através da seguinte figura de linguagem:
c) A coerência é imaterial e não está na superfície textual. a) Eufemismo.
Compreender aquilo que está escrito dependerá dos níveis de b) Hipérbole.
interação entre o leitor, o autor e o texto. Por esse motivo, um c) Paradoxo.
mesmo texto pode apresentar múltiplas interpretações. d) Ironia.
d) A não contradição, a não tautologia e o princípio da e) Personificação.
relevância são elementos básicos que garantem a coerência
textual. 04.
e) A coerência textual dispensa o uso adequado dos
conectivos, elementos que apenas colaboram para a estruturação Oito Anos
do texto sem apresentar relação direta com a semântica textual.
“Por que você é Flamengo
02. Observe a tirinha Calvin e Haroldo, de Bill Watterson, E meu pai Botafogo
e responda à questão: O que significa
“Impávido colosso”?
Por que os ossos doem
enquanto a gente dorme
Por que os dentes caem
Por onde os filhos saem
Por que os dedos murcham
quando estou no banho
Por que as ruas enchem
quando está chovendo
Quanto é mil trilhões
vezes infinito
Quem é Jesus Cristo
Onde estão meus primos
Well, well, well
Gabriel (...)”.

(Paula Toller/Dunga. CD Partimpim, de Adriana Calcanhoto,


São Paulo, 2004)

Julgue as seguintes proposições:


I. Pode-se dizer que se trata de um conjunto de frases
interrogativas sem ligação entre si, configurando então um texto
desprovido de coerência.
II. Embora o texto apresente uma série de interrogações
aparentemente sem ligação entre si, existem nele elementos
linguísticos que nos permitem construir a coerência textual.
III. A letra da canção é constituída por uma “lista” das
perguntas que um filho faz para a mãe, e a sequenciação de
perguntas aparentemente desconexas, na verdade, explicita o
grande número de questionamentos que povoam o imaginário
infantil.
IV. A ausência de elementos sintáticos, como conectivos,
prejudica a construção de sentidos do texto.

Para cada situação interativa existe uma variedade de língua a) Todas estão corretas.
adequada. O falante pode optar pela variedade padrão ou pela b) Apenas II e III estão corretas.

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c) Apenas I e IV estão corretas. basicamente, duas possibilidades:
d) Apenas I e III estão corretas.
e) I, III e IV estão corretas. a) No primeiro exemplo, a palavra apresenta seu sentido
original, impessoal, sem considerar o contexto, tal como aparece
Respostas no dicionário. Nesse caso, prevalece o sentido denotativo - ou
denotação - do signo linguístico.
01. (E)
O uso adequado dos conectivos é um importante mecanismo b) No segundo exemplo, a palavra aparece com outro
de estruturação do texto, seja nos aspectos relacionados à significado, passível de interpretações diferentes, dependendo
semântica, seja nos aspectos relacionados à sintaxe. Um texto do contexto em que for empregada. Nesse caso, prevalece o
pode ser coerente sem conectivos, contudo, esses elementos sentido conotativo - ou conotação do signo linguístico.
garantem dois movimentos de leitura essenciais em uma
redação: a retrospecção e a prospecção. Obs.: a linguagem poética faz bastante uso do sentido
conotativo das palavras, num trabalho contínuo de criar ou
02. (C) modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é
De acordo com a coerência estilística, cada situação comum a exploração do sentido conotativo, como consequência
interativa exige do falante ou do produtor do texto a adequação da nossa forte carga de afetividade e expressividade.
à variedade linguística, ou seja, devemos optar, de acordo com
o contexto comunicacional, pela variedade padrão ou pela Exemplos de variação no significado das palavras:
variedade não padrão. Analisando as falas de Calvin, podemos
inferir que, ao adotar a variedade padrão fora de seu contexto Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido próprio
ideal de uso, ele cometeu uma incoerência estilística. ou literal)
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
03. (D) figurado)
A ironia é a figura de linguagem capaz de explicar a Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
incoerência presente no discurso de Calvin. Sem captar a ironia As variações nos significados das palavras ocasionam
de sua fala, o discurso transforma-se em apologia, quando, na o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
verdade, a intenção do cartunista foi tecer uma crítica aos meios (conotação) das palavras. O sentido denotativo é também
de comunicação. conhecido como sentido próprio ou literal e o sentido conotativo
é também conhecido como sentido figurado.
04. (B)
Denotação

Níveis de linguagem; Linguagem Uma palavra é usada no sentido denotativo (próprio ou literal)
denotativa e linguagem quando apresenta seu significado original, independentemente
conotativa; do contexto frásico em que aparece. Quando se refere ao seu
significado mais objetivo e comum, aquele imediatamente
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da
A língua portuguesa é rica, interessante, criativa e versátil, palavra.
encontrando-se em constante evolução. As palavras não
apresentam apenas um significado objetivo e literal, mas sim A denotação tem como finalidade informar o receptor
uma variedade de significados, mediante o contexto em que da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo assim um
ocorrem e as vivências e conhecimentos das pessoas que as caráter prático e utilitário. É utilizada em textos informativos,
utilizam. como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de
medicamentos, textos científicos, entre outros.
A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio
da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu Exemplos:
significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia
original (básica e objetiva). Assim, frequentemente remetem- O elefante é um mamífero.
nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de Já li esta página do livro.
sua colocação numa determinada frase. Observe os seguintes A empregada limpou a casa.
exemplos:
Conotação
A menina está com a cara toda pintada.
Aquele cara parece suspeito. Uma palavra é usada no sentido conotativo (figurado)
quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes
No primeiro exemplo, a palavra cara significa “rosto”, a parte interpretações, dependendo do contexto frásico em que aparece.
que antecede a cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no Quando se refere a sentidos, associações e ideias que vão além
segundo exemplo, a mesma palavra cara teve seu significado do sentido original da palavra, ampliando sua significação
ampliado e, por uma série de associações, entendemos que mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo
nesse caso significa “pessoa”, “sujeito”, “indivíduo”. um sentido figurado e simbólico.

Algumas vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou A conotação tem como finalidade provocar sentimentos no
mais) possibilidades de interpretação. Veja: receptor da mensagem, através da expressividade e afetividade
que transmite. É utilizada principalmente numa linguagem
Marcos quebrou a cara. poética e na literatura, mas também ocorre em conversas
Em seu sentido literal, impessoal, frio, entendemos que cotidianas, em letras de música, em anúncios publicitários, entre
Marcos, por algum acidente, fraturou o rosto. Entretanto, outros.
podemos entender a mesma frase num sentido figurado, como
“Marcos não se deu bem”, tentou realizar alguma coisa e não Exemplos:
conseguiu.
Você é o meu sol!
Pelos exemplos acima, percebe-se que uma mesma Minha vida é um mar de tristezas.
palavra pode apresentar mais de um significado, ocorrendo, Você tem um coração de pedra!

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Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil1.php Com suor e com cimento*
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denotacao/ Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento.”
*Com trabalho.

- O lugar de origem ou de produção pelo produto:


Figuras de linguagem (comparação,
metáfora, eufemismo, prosopopeia, Comprei uma garrafa do legítimo porto*.
onomatopeia, antítese, paradoxo, *O vinho da cidade do Porto.
hipérbole, perífrase, silepse,
hipérbato, metonímia, ironia, - O autor pela obra:
sinestesia, aliteração);
Ela parecia ler Jorge Amado*.
*A obra de Jorge Amado.

- O abstrato pelo concreto e vice-versa:


As figuras de linguagem ou de estilo, de acordo com Renan
Bardine, são empregadas para valorizar o texto, tornando Não devemos contar com o seu coração*.
a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para *Sentimento, sensibilidade.
expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo
originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso. Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de
um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido
As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos
produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A sinédoque nos seguintes casos:
palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa
a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo. - O todo pela parte e vice-versa:

As figuras de linguagem classificam-se em: “A cidade inteira (1) viu assombrada, de queixo caído, o
pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (2) de seu cavalo.”
1) figuras de palavra; *1 O povo. 2 Parte das patas.
2) figuras de harmonia;
3) figuras de pensamento; - O singular pelo plural e vice-versa:
4) figuras de construção ou sintaxe.
O paulista (3) é tímido; o carioca (4), atrevido.
1) FIGURAS DE PALAVRA *3 Todos os paulistas. 4 Todos os cariocas.

As figuras de palavra são figuras de linguagem que consistem - O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):
no emprego de um termo com sentido diferente daquele
convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito Para os artistas ele foi um mecenas (5).
mais expressivo na comunicação. *5 Protetor.

São figuras de palavras: Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque.

a) comparação e) catacrese Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metáfora,


b) metáfora f) sinestesia “é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente
c) metonímia g) antonomásia nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca.
d) sinédoque h) alegoria É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito
estilístico.” (Othon M. Garcia)
Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece
aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados Exemplos: folhas de livro, pele de tomate, dente de alho,
por conectivos comparativos explícitos – feito, assim como, montar em burro, céu da boca, cabeça de prego, mão de direção,
tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem – e alguns verbos – ventre da terra, asa da xícara, sacar dinheiro no banco.
parecer, assemelhar-se e outros.
Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações
Exemplos: “Amou daquela vez como se fosse máquina. diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser
Beijou sua mulher como se fosse lógico. físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas
(subjetivas).
Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui
outro através de uma relação de semelhança resultante da Exemplo: “A minha primeira recordação é um muro velho, no
subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco
entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação
não está expresso, mas subentendido. visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal.” (Augusto
Meyer)
Exemplo: “Supondo o espírito humano uma vasta concha, o
meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão.” Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos
uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a
Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de distingue.
uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de
semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido,
mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo,
real, realizando-se de inúmeros modos: especificativo etc.) do nome próprio.
Exemplos:
- A causa pelo efeito e vice-versa: “E ao rabi simples(1), que a igualdade prega,
Rasga e enlameia a túnica inconsútil;
“E assim o operário ia *1 Cristo

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Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos
O poeta dos escravos (= Castro Alves) almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
O Dante Negro (= Cruz e Souza)
O Corso (= Napoleão) Apóstrofe: Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma
pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente
Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é
referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que utilizada para dar ênfase à expressão.
consiste em expressar uma situação global por meio de outra
que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas Exemplo: “Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?”
as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é (Castro Alves)
comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um
referencial e outro metafórico. Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação
de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que
Exemplo: “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade
e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que outra designação para paradoxo.
lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver;
orquestra é excelente… (Machado de Assis) É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
2) FIGURAS DE HARMONIA É dor que desatina sem doer;” (Camões)

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra ou
produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como
quando se procura “imitar”sons produzidos por coisas ou seres. penosa, desagradável ou chocante.

As figuras de linguagem de harmonia ou de som são: Ex:“E pela paz derradeira(1) que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague” (Chico Buarque)
a) aliteração c) assonância *1 paz derradeira: morte
b) paronomásia d) onomatopéia
Gradação: Ocorre gradação quando há uma seqüência de
Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da palavras que intensificam uma mesma idéia.
mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em
posição inicial da palavra. Exemplo: “Aqui… além… mais longe por onde eu movo o
passo.” (Castro Alves)
Exemplo: “Toda gente homenageia Januária na janela.”
Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma
Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de
mesma vogal ao longo de um verso ou poema. impacto.

Exemplo: “Sou Ana, da cama Exemplo: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo
da cana, fulana, bacana Bilac)
Sou Ana de Amsterdam.”
Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação,
Paronomásia: Ocorre paronomásia quando há reprodução pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as
de sons semelhantes em palavras de significados diferentes. palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa
ou sarcástica.
Exemplo: “Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro Exemplo: “Moça linda, bem tratada,
quero que você ganhe que você me apanhe três séculos de família,
sou o seu bezerro gritando mamãe.” burra como uma porta:
um amor.” (Mário de Andrade)
Onomatopeia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de
palavras imita um ruído ou som. Prosopopéia: Ocorre prosopopéia (ou animização ou
personificação) quando se atribui movimento, ação, fala,
Exemplo: “O silêncio fresco despenca das árvores. sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a
Veio de longe, das planícies altas, seres inanimados ou imaginários.
Dos cerrados onde o guaxe passe rápido…
Vvvvvvvv… passou.” Também a atribuição de características humanas a seres
animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas
3) FIGURAS DE PENSAMENTO e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: “O
peixinho (…) silencioso e levemente melancólico…”
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se
referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. Exemplos: “… os rios vão carregando as queixas do caminho.”
(Raul Bopp)
São figuras de linguagem de pensamento:
Um frio inteligente (…) percorria o jardim…” (Clarice
a) antítese d) apóstrofe g) paradoxo Lispector)
b) eufemismo e) gradação h) hipérbole
c) ironia f) prosopopéia i) perífrase Perífrase: Ocorre perífrase quando se cria um torneio de
palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou
Antítese: Ocorre antítese quando há aproximação de situação que não se quer nomear.
palavras ou expressões de sentidos opostos.
Exemplo: “Cidade maravilhosa
Exemplo: “Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições Cheia de encantos mil

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Cidade maravilhosa São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
Coração do meu Brasil.” (André Filho)
b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de ideias que
4) FIGURAS DE SINTAXE já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de
As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do
desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sentido real das palavras.
sua ordem, possíveis repetições ou omissões.
Exemplos: subir para cima, entrar para dentro, repetir de
Elas podem ser construídas por: novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, monopólio
exclusivo, breve alocução, principal protagonista
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige
d) ruptura: anacoluto; a norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso
e) concordância ideológica: silepse. que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.

Portanto, são figuras de linguagem de construção ou sintaxe: Exemplo: “Vão chegando as burguesinhas pobres,
e as criadas das burguesinhas ricas
a) assíndeto e) elipse i) zeugma e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
b) anáfora f) pleonasmo j) polissíndeto (Manuel Bandeira)
c) anástrofe g) hiperbato l) sínquise
d) hipálage h) anacoluto m) silepse Anástrofe: Ocorre anástrofe quando há uma simples
inversão de palavras vizinhas (determinante / determinado).
Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras
deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem Exemplo: “Tão leve estou (1) que nem sombra tenho.” (Mário
justapostas ou separadas por vírgulas. Quintana)
*1 Estou tão leve…
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por
exigência das pausas rítmicas (vírgulas). Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão
completa de membros da frase.
Exemplo: “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam
pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, Exemplo: “Passeiam à tarde, as belas na Avenida. ” 1 (Carlos
fundindo-se.” (Machado de Assis) Drummond de Andrade)
*1 As belas passeiam na Avenida à tarde.
Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou
oração que facilmente podemos identificar ou subentender no Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta
contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e
dinamismo. Exemplo: “A grita se alevanta ao Céu, da gente. ” 1 (Camões)
*1 A grita da gente se alevanta ao Céu.
Exemplo: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias
coloridas.” Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do
1 Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a
sandálias…) outro, na mesma frase.

Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na Exemplo: “… as lojas loquazes dos barbeiros.” 2 (Eça de
frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. Queiros)
*2 … as lojas dos barbeiros loquazes.
Exemplo: “Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários
dos Felipes.” 1 Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção
1 Zeugma do verbo: “e foram assassinados…” do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a
seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais
Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de termos – que não apresentam função sintática definida –
palavras no início de um período, frase ou verso. desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa
sensível.
Exemplo: “Depois o areal extenso…
Depois o oceano de pó… Exemplo: “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar
Depois no horizonte imenso nelas.” (Alcântara Machado)
Desertos… desertos só…” (Castro Alves)
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita
Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da com as palavras, mas com a ideia a elas associada.
mesma ideia, isto é, redundância de significado.
a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre
a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto
do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, Exemplo: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.”
enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem. (Guimarães Rosa)

Exemplo: “Iam vinte anos desde aquele dia b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância
Quando com os olhos eu quis ver de perto envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Quando em visão com os da saudade via.” (Alberto
de Oliveira) Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário
Barreto)
“Ó mar salgado, quando do teu sal

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c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o (D) Somos esse novelo de dons.
sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve (E) As notícias da imprensa nos dão medo em geral.
se inclui no sujeito enunciado.
05. (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
Exemplo: “Na noite seguinte estávamos reunidas algumas AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014) No
pessoas.” (Machado de Assis) verso “Essa dor doeu mais forte”, pode-se perceber a presença
de uma figura de linguagem denominada:
Questões (A) ironia
(B) pleonasmo
01. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE (C) comparação
JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM (D) metonímia
BIBLIOTECONOMIA – FGV/2014 - adaptada). Ao dizer que os
shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de Respostas
linguagem figurada denominada
(A) metonímia. 01. Resposta D
(B) eufemismo. A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto
(C) hipérbole. convencional (denotativo) e transportá-la para um novo campo de
(D) metáfora. significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita,
(E) catacrese. de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/
02. (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a
figura de linguagem presente na tira seguinte: 02. Resposta D
“Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave,
mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa
áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada
a expressão “deram suas vidas por nós” no lugar de “que
morreram por nós”.

03. Resposta B
A expressão é um exagero! Ela serve apenas para representar
o calor excessivo que está fazendo. A figura que é utilizada “mil
vezes” (!) para atingir tal objetivo é a hipérbole.
(A) metonímia 04. Resposta D
(B) prosopopeia A alternativa que apresenta uma linguagem metafórica
(C) hipérbole (figurada) é a que emprega o termo “novelo” fora de seu contexto
(D) eufemismo habitual (novelo de lã, por exemplo), representando, aqui, um
(E) onomatopeia emaranhado, um monte, vários dons.
03. (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ 05. Resposta B
UFAL/2014) Repetição de ideia = pleonasmo (essa dor doeu).
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.

O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de Fenômenos semânticos:


linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, sinonímia, homonímia, antonímia,
horário do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura paronímia, hiponímia,
do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a hiperonímia, ambiguidade;
65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse
aproximadamente 90 ºC.

Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: 22 jan.


2014. Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como
O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente
fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de linguagem. O com a ideia associada a este conjunto.
autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
(A) Eufemismo. Sentido Próprio e Figurado das Palavras
(B) Hipérbole.
(C) Paradoxo. Pela própria definição acima destacada podemos perceber
(D) Metonímia. que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
(E) Hipérbato. a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
04. (SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/PI – ela traz (denominada significado).
ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – UESPI/2014). A linguagem Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
por meio da qual interagimos no nosso dia a dia pode revestir- assim:
se de nuances as mais diversas: pode apresentar-se em sentido - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
literal, figurado, metafórico. A opção em cujo trecho utilizou-se que costumamos dar a uma palavra.
linguagem metafórica é - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
(A) O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente podemos dar a uma palavra.
familiar. Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
(B) Temos medo de sair às ruas. contextos:
(C) Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
shoppings. 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que

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APOSTILAS OPÇÃO
adota condutas pouco apreciáveis) diferentes na escrita.
3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito - Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
sobre alguma coisa, “expert”) - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de
(ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido consertar).
figurado. - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
Podemos então concluir que um mesmo significante (parte - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
concreta) pode ter vários significados (conceitos). - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
- Censo (recenseamento) e senso (juízo).
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado. - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
Exemplo: - Paço (palácio) e passo (andar).
- Alfabeto, abecedário. - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
- Brado, grito, clamor. - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. anular).
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
(tempo de uma reunião ou espetáculo).
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo
pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.
sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios - Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo).
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
- Adversário e antagonista. tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e
- Translúcido e diáfano. séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir
- Semicírculo e hemiciclo. (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade
- Contraveneno e antídoto. de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento,
- Moral e ética. deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
- Colóquio e diálogo. divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto,
- Transformação e metamorfose. corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
- Oposição e antítese. vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).

O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
palavra que também designa o emprego de sinônimos. A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
- Ordem e anarquia. gado.
- Soberba e humildade. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Louvar e censurar. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu
- Mal e bem. do palato.
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/ têm dezenas de acepções.
antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/
implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/ Denotação e Conotação
anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário;
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: exemplo:
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
- Aço (substantivo) e asso (verbo).
Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido próprio,
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. comum, usual, literal.
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é
considerada uma deficiência dos idiomas. - DICA  - Procure associar  Denotação  com  Dicionário: trata-se
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: dicionarístico.

Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes - Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
no timbre ou na intensidade das vogais. seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico);
- Rego (substantivo) e rego (verbo). usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e
- Colher (verbo) e colher (substantivo). expressiva. Veja este exemplo:
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que seja
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). tarde mais.
- Para (verbo parar) e para (preposição). Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações;
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). disciplina, limitação de conduta e comportamento.
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de
per+o). Fonte:
http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm-sp/
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html

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Ambiguidade Quem estuda enfermagem, a estudante ou o garoto?

Ambiguidade ou anfibologia é o nome dado, dentro da A estudante de enfermagem falou com o garoto;
linguística na língua portuguesa, à duplicidade de sentidos,
onde alguns termos, expressões, sentenças apresentam mais ou
de uma acepção ou entendimento possível. Em outras palavras,
ocorre quando, por falta de clareza, há duplicidade de sentido da A estudante falou com o garoto do curso de enfermagem;
frase. Apesar de ser um recurso aceitável dentro da linguagem
poética ou literária, deve ser na maioria das vezes, evitado Uso indevido de formas nominais
em construções textuais de caráter técnico, informativo, ou
pragmático. A moça reconheceu a amiga frequentando a academia.

A ambiguidade ocorre quando há duplicidade de sentido em Quem estava na academia? a moça ou a amiga?
uma frase.
A moça reconheceu a amiga que estava frequentando a
A palavra tem origem no latim “ambiguitas”, que possui academia.
significado similar ao vocábulo no português: incerteza,
equívoco. Ao contrário das figuras de linguagem, que são ou
ferramentas à disposição do usuário da língua, e que dão realce
e beleza às mensagens emitidas, a ambiguidade é colocada A moça, na academia, reconheceu a amiga.
no grupo das espécies de vícios de linguagem. Os vícios de
linguagem são palavras ou construções que vão de encontro às Fonte: http://www.infoescola.com/portugues/ambiguidade/
normas gramaticais, e, na maioria das vezes, costumam ocorrer
por descuido, ou ainda por desconhecimento das regras por Questões
parte do emissor. O uso da ambiguidade pode resultar na má
interpretação da mensagem, ocasionando múltiplos sentidos. 01. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos erros
É importante lembrar que toda comunicação estabelece uma do passado.
finalidade, uma intenção para com o interlocutor, e para que isso a) eminente, deflagração, incidiram
ocorra, a mensagem tem de estar clara, precisa e coerente. b) iminente, deflagração, reincidiram
c) eminente, conflagração, reincidiram
A inadequação ou a má colocação de elementos como d) preste, conflaglação, incidiram
pronomes, adjuntos adverbiais, expressões e mesmo enunciados e) prestes, flagração, recindiram
inteiros podem acarretar duplo sentido, comprometendo a
clareza do texto. Na publicidade observamos o uso e o abuso da 02. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre
linguagem plurissignificante, por meio dos trocadilhos e jogos diante da ....... demonstrada pelo político”.
de palavras, procurando chamar a atenção do interlocutor para a) seção - fragrante - incipiência
a mensagem. Caso o autor não se julgue preparado para utilizar b) sessão - flagrante - insipiência
corretamente a ambiguidade, é preferível uma linguagem c) sessão - fragrante - incipiência
mais objetiva, com vocábulos ou expressões que sejam mais d) cessão - flagrante - incipiência
adequadas às finalidades requeridas. e) seção - flagrante - insipiência

Os tipos comuns de ambiguidade, como vício de linguagem 03. Na .... plenária estudou-se a .... de direitos territoriais a ... .
são: a) sessão - cessão - estrangeiros
b) seção - cessão - estrangeiros
Uso indevido de pronomes possessivos c) secção - sessão - extrangeiros
d) sessão - seção - estrangeiros
A mãe pediu à filha que arrumasse o seu quarto. e) seção - sessão - estrangeiros

Qual quarto? o da mãe ou da filha? Para evitar ambiguidade: 04. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem política.
A mãe pediu à filha que arrumasse o próprio quarto. b) A catástrofe torna-se iminente.
c) Sua ascensão foi rápida.
Outro exemplo: d) Ascenderam o fogo rapidamente.
e) Reacendeu o fogo do entusiasmo.
Vi o João andando com seu carro.
05. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
O carro em questão pode ser do próprio João, ou da pessoa a a) cozer = cozinhar; coser = costurar
quem a mensagem foi dirigida. b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país
c) comprimento = medida; cumprimento = saudação
Vi o João andando com o carro dele. d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar
e) chácara = sítio; xácara = verso
Colocação inadequada das palavras
06. Assinale o item em que a palavra destacada está
A criança feliz foi ao parque. incorretamente aplicada:
a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
A criança ficou feliz ao chegar no parque, ou estava assim b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros.
antes? c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.
d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever.
Feliz, a criança foi ao parque. e) A cessão de terras compete ao Estado.

Uso de forma indistinta entre o pronome relativo e a 07. O ...... do prefeito foi ..... ontem.
conjunção integrante a) mandado - caçado
b) mandato - cassado
A estudante falou com o garoto que estudava enfermagem. c) mandato - caçado
d) mandado - casçado

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APOSTILAS OPÇÃO
e) mandado - cassado Questão

08. Marque a alternativa cujas palavras preenchem 01. Os vocábulos destacados em “Na banca da feira da
corretamente as respectivas lacunas, na frase seguinte: vinte e cinco, havia cupuaçu, bacuri, taperebá e outras frutas
“Necessitando ...... o número do cartão do PIS, ...... a data de meu regionais.”, têm relação entre si por possuírem o mesmo campo
nascimento.” semântico, isto é, todos são frutas inclusive típicas da Amazônia.
a) ratificar, proscrevi Tais termos destacados, em relação à palavra “fruta”, são
b) prescrever, discriminei designados como:
c) descriminar, retifiquei
d) proscrever, prescrevi (A) hiperônimos.
e) retificar, ratifiquei (B) hipônimos.
(C) cognatos.
09. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os ..... (D) polissêmicos.
em astronomia.” (E) parônimos.
a) insipiência tachar expertos
b) insipiência taxar expertos Resposta
c) incipiência taxar espertos 01. B
d) incipiência tachar espertos
e) insipiência taxar espertos

10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, Ordem das palavras/orações
apresentava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras no enunciado; Estrutura
adequadas para preenchimento das lacunas são: do enunciado;
a) censo - lasso - cumprimento - eminentes
b) senso - lasso - cumprimento - iminentes
c) senso - laço - comprimento - iminentes
d) senso - laço - cumprimento - eminentes Equivalência e transformação de estruturas
e) censo - lasso - comprimento - iminentes
A equivalência e transformação de estruturas consiste
Respostas em saber mudar uma sentença ou parte dela de modo a que
fique gramaticalmente correta. Um exemplo muito comum em
01.(B) / 02.(B) / 03.(A) / 04.(D) / 05.(B) / 06.(C) / provas de concursos é o enunciado trazer uma frase no singular,
07.(B) / 08.(E) / 09.(A) / 10.(B) por exemplo, e pedir que o aluno passe a frase para o plural,
mantendo o sentido. Outro exemplo é o enunciado dar a frase
em um tempo verbal, e pedir que o aluno a passe para outro
Hiperonímia e Hiponímia tempo. Ou ainda a reescritura de trechos, mantendo a correção
semântica e sintática.
Hiperonímia e Hiponímia: Tais vocábulos estão
relacionados ao estudo da semântica – ciência que se ocupa Paralelismo sintático (e paralelismo semântico)
do significado das palavras. Nela falando, sempre nos vêm à
mente algumas noções relacionadas à antonímia, sinonímia, Desde o primeiro instante em que nos propomos a discorrer
polissemia, paronímia, homonímia, mas quase nunca ouvimos sobre ambos os elementos, somos impulsionados a tornar
falar da hiperonímia e da hiponímia. Sendo assim, vejamos um evidentes nossos conhecimentos em relação às estruturas
pouco acerca das características que as norteiam: que compõem uma boa escrita. Mesmo que todas estejam
interligadas entre si, formando uma relação de dependência,
Partindo do princípio de que as palavras estabelecem entre mencioná-las de forma particular não seria algo viável para o
si uma relação de significado, observe este enunciado: momento. Em razão disso, procuraremos exaltar uma, ora tida
como sendo de singular importância – a coerência.
Fomos à feira e compramos maçã, banana, abacaxi, melão...
Nossa! Como estavam baratas, pois são frutas da estação. Desta forma, para que toda interlocução se materialize
de forma plausível, antes de tudo, as ideias precisam estar
Atendo-nos aos vocábulos “maçã”, “banana”, “abacaxi”, dispostas em uma sequência lógica, clara e precisa, pois, se
“melão” e também “frutas”, perguntamo-nos: existe alguma por um motivo ou outro houver uma quebra desta sequência,
relação entre eles? Toda, não é verdade? Desse modo, ao o discurso certamente estará comprometido. Mediante este
observar o conceito de hiperonímia e hiponímia, chegaremos à aspecto, vale dizer que determinados elementos revelam sua
conclusão ora pretendida. Note: parcela de contribuição para que tais pressupostos se tornem
efetivamente concretizados, o que é garantido, muitas vezes,
Hiperonímia = como o próprio prefixo já nos indica, esta pelo paralelismo sintático e pelo paralelismo semântico.
palavra confere-nos uma ideia de um todo, sendo que deste todo
se originam outras ramificações, como é o caso de frutas. Esses se caracterizam pelas relações de semelhança que
determinadas palavras e expressões apresentam entre si. Tais
Hiponímia = demarcando o oposto do conceito da palavra relações de similaridade podem se dar no campo morfológico
anterior, podemos afirmar que ela representa cada parte, cada (quando as palavras integram a mesma classe gramatical),
item de um todo, no caso: maçã, banana, abacaxi, melão. Sim, no semântico (quando há correspondência de sentido) e no
essas são palavras hipônimas. sintático (quando a construção de frases e orações se apresenta
de forma semelhante).
E frutas? “Frutas” representa, portanto, uma palavra
hiperonímica de todas as que a ela se relacionam. Assim, analisemos um caso no qual podemos constatar a
ausência de paralelismo de ordem morfológica: A tão inesperada
Eis a grande diferença que demarca o objeto de estudo aqui decisão é fruto resultante de humilhações, mágoas, concepções
abordado. equivocadas e agressores por parte de colegas que almejavam
ocupar sua função.
Fonte: http://portugues.uol.com.br/gramatica/hiperonimia-
hiponimia.html Constatamos uma nítida ruptura relacionada a fatores de
ordem gramatical, demarcada pela exposição de um adjetivo

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(agressores) em detrimento ao substantivo “agressões”.

Ausência de paralelismo de ordem semântica: Discursos direto e indireto;

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de


réis (Machado de Assis). Detectamos que houve uma quebra de
sentido com relação à ideia expressa pelo tempo, ao associá-lo
com a noção de quantidade, valor. Discurso é a prática humana de construir textos, sejam eles
escritos ou orais. Sendo assim, todo discurso é uma prática
Ausência de paralelismo de ordem sintática: social. A análise de um discurso deve, portanto, considerar o
contexto em que se encontra, assim como as personagens e as
O respeito às leis de trânsito não representa segurança condições de produção do texto.
somente para o motorista e é para o pedestre. Tal ocorrência
manifesta-se por intermédio do uso do conectivo e em Em um texto narrativo, o autor pode optar por três tipos
detrimento a outro, que também integra a classe das conjunções de discurso: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso
aditivas, representado pela expressão “mas também.” Assim, no indireto livre. Não necessariamente estes três discursos estão
intento de reformularmos o discurso, obteríamos: separados, eles podem aparecer juntos em um texto. Dependerá
de quem o produziu.
O respeito às leis de trânsito não representa segurança
somente para o motorista, mas também para o pedestre. Vejamos cada um deles:

Vejamos alguns casos que representam esta dualidade Discurso Direto: Neste tipo de discurso as personagens
paralelística: ganham voz. É o que ocorre normalmente em diálogos. Isso
permite que traços da fala e da personalidade das personagens
não só... mas também sejam destacados e expostos no texto. O discurso direto
O respeito às leis de trânsito representa segurança não só reproduz fielmente as falas das personagens. Verbos como
para o motorista, mas também para o pedestre. dizer, falar, perguntar, entre outros, servem para que as falas das
Tal construção, além de expressar a ideia de adição, personagens sejam introduzidas e elas ganhem vida, como em
ainda retrata um enfoque especial ao se referir aos pedestres uma peça teatral.
(representada pela conjunção “mas também”).
Travessões, dois pontos, aspas e exclamações são muito
quanto mais... (tanto) mais comuns durante a reprodução das falas.
Atualmente, quanto mais nos aperfeiçoamos, mais temos
condições de ser bem sucedidos. As estruturas paralelísticas Exemplo:
denotam o sentido de progressão entre os elementos.
“O Guaxinim está inquieto, mexe dum lado pra outro. Eis
tanto... quanto que suspira lá na língua dele - Chente! que vida dura esta de
O tabagismo é prejudicial tanto para os fumantes guaxinim do banhado!...”
ativos, quanto para os passivos. Aqui, tais estruturas, além
de expressarem adição, ainda acrescentam uma ideia de “- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!”
equiparação ou equivalência.
Discurso Indireto: O narrador conta a história e reproduz
primeiro... segundo fala, e reações das personagens. É escrito normalmente em
Há dois procedimentos a realizar: primeiro você diz toda a terceira pessoa. Nesse caso, o narrador se utiliza de palavras
verdade; segundo, pede desculpas pelo erro cometido. suas para reproduzir aquilo que foi dito pela personagem.
Constatamos que os elementos utilizados se relacionam à
ideia de uma enumeração, evidenciados de forma sequencial. Exemplo:

não... e não / nem “Elisiário confessou que estava com sono.” (Machado de
Não obteve um bom resultado neste ano, nem no anterior. Assis)
Tal recurso foi empregado no sentido de evidenciar uma
sequência negativa em relação aos fatos. “Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama, e, pelo
cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo
seja... seja / quer...quer / ora... ora se o tivesse não poderia consultá-la à fraca luz da masmorra,
Quer você apareça, quer não, iremos ao cinema. imaginava podiam ser onze horas.” (Lima Barreto)
O emprego das estruturas paralelísticas está relacionado à
noção de alternância no que se refere às ações. Passagem do discurso direto para discurso indireto

por um lado... por outro Na passagem do discurso direto para o discurso indireto,
Se por um lado as obras garantem o emprego de todos, por ocorre mudança nas pessoas do discurso, mudança nos tempos
outro, desagradam aos moradores. verbais, mudança na pontuação das frases e mudança nos
advérbios e adjuntos adverbiais.
Tempos verbais.
Mudança das pessoas do discurso: Toda a narrativa que
Se todos comparecessem, o evento ficaria mais animado. se encontre na 1.ª pessoa no discurso direto passa para a 3.ª
/ se todos comparecerem, o evento ficará mais animado. pessoa no discurso indireto, incluindo nessa mudança não só o
Constatamos que o emprego do pretérito imperfeito do verbo, mas também todos os pronomes que aparecem na frase,
subjuntivo (comparecessem) na oração subordinada condicional como os pronomes eu, nós e meu, que passam para ele/ela, eles/
requisita o emprego do futuro do pretérito (ficaria) na oração elas e seu no discurso indireto.
principal. Já o emprego do futuro do subjuntivo (comparecerem)
na oração subordinada pede o emprego do futuro do presente Mudança de tempos verbais nos tempos do indicativo: O
(ficará) na principal. presente no discurso direto passa para pretérito imperfeito no
discurso indireto, o pretérito perfeito no discurso direto passa
Fonte: http://classroombr.blogspot.com.br/2014/07/equivalencia- para pretérito mais-que-perfeito no discurso indireto e o futuro
e-transformacao-de.html do presente no discurso direto passa para futuro do pretérito no

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discurso indireto. (E) dissertação - discurso direto e indireto - dinamizar - pro-
tagonizar - em que.
Mudança de tempos verbais nos tempos do subjuntivo:
O presente e o futuro no discurso direto passam para pretérito 03. Faça a associação entre os tipos de discurso e assinale a
imperfeito no discurso indireto. sequência correta.
1. Reprodução fiel da fala da personagem, é demarcado
Mudança de tempos verbais no imperativo: O imperativo pelo uso de travessão, aspas ou dois pontos. Nesse tipo de dis-
no discurso direto passa para pretérito imperfeito do subjuntivo curso, as falas vêm acompanhadas por um verbo de elocução,
no discurso indireto. responsável por indicar a fala da personagem.
2. Ocorre quando o narrador utiliza as próprias palavras
Mudança na pontuação das frases: Frases interrogativas, para reproduzir a fala de um personagem.
exclamativas e imperativas no discurso direto passam para 3. Tipo de discurso misto no qual são associadas as ca-
frases declarativas no discurso indireto. racterísticas de dois discursos para a produção de outro. Nele a
fala da personagem é inserida de maneira discreta no discurso
Mudança nas noções temporais: As noções temporais do narrador.
como ontem, hoje e amanhã no discurso direto passam para no
dia anterior, naquele dia e no dia seguinte no discurso indireto. ( ) discurso indireto
( ) discurso indireto livre
Mudança nas noções espaciais: As noções espaciais como ( ) discurso direto
aqui, aí, este e isto no discurso direto passam para ali, lá, aquele
e aquilo no discurso indireto. (A) 3, 2 e 1.
(B) 2, 3 e 1.
Exemplo: (C) 1, 2 e 3.
Discurso direto: - Iremos de férias amanhã. (D) 3, 1 e 2.
Discurso indireto: Eles disseram que iriam de férias no dia
seguinte. 04. “Impossível dar cabo daquela praga. Estirou os olhos
pela campina, achou-se isolado. Sozinho num mundo coberto
Discurso Indireto Livre: O texto é escrito em terceira pessoa de penas, de aves que iam comê-lo. Pensou na mulher e sus-
e o narrador conta a história, mas as personagens têm voz pirou.  Coitada de Sinhá Vitória, novamente nos descampados,
própria, de acordo com a necessidade do autor de fazê-lo. Sendo transportando o baú de folha.”
assim é uma mistura dos outros dois tipos de discurso e as duas
vozes se fundem. O narrador desse texto mistura-se de tal forma à persona-
gem que dá a impressão de que não há diferença entre eles. A
Exemplo: personagem fala misturada à narração. Esse discurso é chama-
do:
“Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com (A) discurso indireto livre
a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que (B) discurso direto
pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!” (C) discurso indireto
(D) discurso implícito
“Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. (E) discurso explícito 
Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)
Respostas
“D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para
que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. 01. Resposta D
Irmãos.” (Graciliano Ramos) Apenas no discurso direto as personagens ganham voz. Para
construirmos um discurso direto, devemos utilizar o travessão e
FONTE: Celso Cunha in Gramática da Língua Portuguesa, 2ª edição. os chamados verbos de elocução, ou seja, verbos que indicam o
que as personagens falaram.
Questões Exemplo de verbo de elocução:
– Muita fome! – Lucas respondeu, passando sua mão pela
01. Sobre o discurso indireto é correto afirmar, EXCETO: barriga.
(A) No discurso indireto, o narrador utiliza suas próprias pa- No exemplo acima, o verbo “respondeu” é o verbo de elocu-
lavras para reproduzir a fala de um personagem. ção.
(B) O narrador é o porta-voz das falas e dos pensamentos
das personagens. 02. Resposta C
(C) Normalmente é escrito na terceira pessoa. As falas são
iniciadas com o sujeito, mais o verbo de elocução seguido da fala 03. Resposta B
da personagem.
(D) No discurso indireto as personagens são conhecidas 04. Resposta A
através de seu próprio discurso, ou seja, através de suas pró- O discurso indireto livre é um tipo de discurso misto, em que
prias palavras.  se associam as características do discurso direto e do indireto. 

02. Assinale a alternativa que melhor complete o seguinte


trecho:
No plano expressivo, a força da ____________ em _____________ Escrita do texto
provém essencialmente de sua capacidade de _____________ o epi-
sódio, fazendo ______________ da situação a personagem, tornando-
-a viva para o ouvinte, à maneira de uma cena de teatro __________ Ato de Escrever
o narrador desempenha a mera função de indicador de falas.
(A) narração - discurso indireto - enfatizar - ressurgir – onde; “Escrever é expressar-se.
(B) narração - discurso onisciente - vivificar - demonstrar- Escrever é lembrar-se.
-se – donde; Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de
(C) narração - discurso direto - atualizar - emergir - em que; classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou
(D) narração - discurso indireto livre - humanizar - imergir conquistar posições e honrarias.
- na qual; Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever.”

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APOSTILAS OPÇÃO
Lêdo Ivo apud Campedelli, 1998, p. 335 Tema:
O crescente dinamismo que permeia a sociedade, aliado à
Como sabemos, a redação é um dos elementos mais requisi- inovação tecnológica, requer um aperfeiçoamento profissional
tados em processos seletivos de uma forma geral, e em virtude constante.
disso é que devemos estar aptos para desenvolvê-la de forma
plausível e, consequentemente, alcançarmos o sucesso almeja- Título:
do. A importância da capacitação profissional no mundo
contemporâneo.
Escrever redação não é difícil! A primeira coisa que pode-
mos salientar para que tenha um bom desempenho com o seu Como podemos perceber, o tema é algo mais abrangente e
trabalho é sempre priorizar as questões de coerência e também consiste no assunto que deve ser explorado ao longo do texto.
coesão, em outras palavras, dar cabo no assunto, e não fugir dele Já o título é algo mais sintético, é como se fosse afunilando o
em momento algum. assunto que será posteriormente discutido.
O importante é sabermos que: do tema é que se extrai o título,
É sempre importante estarmos atentos para a realidade haja vista que o tema é um elemento-base, fonte norteadora
mundial e em especial a brasileira, temos que ler e assistir para os demais passos.
jornais, ler revistas, etc. em síntese, estar em sintonia com as Existem certos temas que não revelam uma nítida
notícias, pois manter-se sempre atualizado pode ser a chave objetividade, como o exposto anteriormente. É o caso de
para o sucesso. fragmentos literários, trechos musicais, frases de efeito, entre
outros.
Os concursos públicos e vestibulares atuais exploram com Nesse caso, exige-se mais do leitor quanto à questão da
certo peso essas atualidades, incorporando o aspecto do dia interpretação, para daí chegar à ideia central, como podemos
a dia. As provas de hoje estão todas intertextualizadas, com a identificar por meio deste excerto:
integração de conteúdos comuns à prova de gramática, literatura
e interpretação de texto (uma boa interpretação é 60% de “As ideias são apenas pedras postas a atravessar a corrente
garantia de se ter uma boa nota), além do qual o senso crítico e de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra
de compreensão do concursando farão a diferença. margem, a outra margem é o que importa”. (José Saramago)

Uma redação bem feita é sinal que a pessoa tem um bom Essa linguagem, quando analisada, leva-nos a inferir o
conhecimento da sua língua. É necessário também ter calma e seguinte e que este poderia ser o título:
paciência, sempre prestar muita atenção nas propostas dadas A importância da coerência e da coesão para o sentido do
pelos examinadores. texto.
Fazendo parte também dessa composição estão os temas
Faça um rascunho a lápis de sua redação, crie seu texto, revise apoiados em imagens, como é o caso de gráficos, histórias em
para ver se não há erros, e passe a limpo na folha especificada a quadrinhos, charges e pinturas. Tal ocorrência requer o mesmo
tinta. Depois disso é torcer para que você tenha ido muito bem procedimento por parte do leitor, ou seja, que ele desenvolva seu
e conseguido uma boa nota, já que na maioria dos concursos e conhecimento de mundo e sua capacidade de interpretação para
vestibulares do Brasil, a prova de redação tem um peso muito desenvolver um bom texto.
alto. O concurso ou o vestibular pode dar tanto o tema quanto
o título, de acordo com Gustavo Atallah Haun. Cabe ao redator
Na produção de um texto, o mais importante é como você saber manejar as duas formas.
organiza as ideias, muitas vezes o candidato sabe muito sobre Caso seja dado o título, este se tornará obrigatório no início
o assunto, todas as suas causas e consequências, porém ele não da prova, centralizado, na primeira linha (se não houver um
tem a preocupação de organizar suas ideias, e esse, certamente lugar específico para ele!). Podem daí surgir duas possibilidades,
é o responsável pela reprovação de muitos na prova de redação. o tema estar inserido nos textos de apoio que acompanham o
enunciado da questão ou do título você terá que tirar o tema.
O modo de correção da prova é muito rígido, de modo que Se for dado o tema em destaque, durante ou após o
determinado professor não possa expor sua opinião julgando enunciado da redação, você terá que falar especificamente dele,
o concursando ao espelho de seu pensamento. A correção independente do assunto tratado nos textos de apoio.
abordará aspectos formais do texto, o emprego da gramática Muitas bancas examinadoras não exigem o título. Na maioria
normativa, o senso crítico e a correlação tema/texto. das vezes ele é opcional. Porém, quando for obrigatório vai ter
Escrever bem não é coisa do outro mundo, é alcançável a sempre na instrução da prova: “Dê um título ao seu texto” ou
todos, basta apenas interesse. “Seu texto deve ter título” e similares. Portanto, leia com atenção
as instruções da sua prova de produção textual.
Tema e Título
PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE TEMA X TÍTULO:
Segundo Vânia Duarte, tecer um bom texto é uma tarefa
que requer competência por parte de quem a pratica, pois a
construção textual não pode ser vista como um emaranhado
de frases soltas e ideias desconexas. Pelo contrário, elas devem
estar organizadas e justapostas entre si, denotando clareza de
sentido em relação à mensagem que se deseja transmitir.
Como sabemos, a redação é um dos elementos mais
requisitados em processos seletivos de uma forma geral. Por
essa razão,devemos estar aptos para desenvolvê-la de forma
plausível e, consequentemente, alcançarmos o sucesso almejado. Fique atento e não cometa esse erro!
Geralmente, a proposta é acompanhada de uma coletânea de
textos, que deve ser lida de forma atenta para percebermos qual Delimitado ou não
é o tema abordado em questão. O tema pode vir amplo, genérico, ou já delimitado. Atenção
Diante disso, é essencial que entendamos a diferença máxima quanto a isso. No primeiro caso, pode-se pedir para
existente entre estes dois elementos: Título e Tema. Para tal, escrever sobre “Violência”, por exemplo, e dentro desse tema
aprofundaremos mais nossos conhecimentos sobre o assunto. tão universal, você ter que especificar, delimitá-lo: “A violência
doméstica está crescendo no Brasil em pleno século XXI”. Pronto,
Consideremos o exposto abaixo: agora é só começar a escrever.

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APOSTILAS OPÇÃO
Tema objetivo ou subjetivo? reconhece sobre o que se pode falar no texto.
Outro aspecto importante que se tem que ficar atento é se o
tema é de âmbito objetivo ou subjetivo. Modelo com tema objetivo
Para entender a diferença entre um tema objetivo e um 1º. Tema: Desenvolvimento e Meio Ambiente.
tema subjetivo, faz-se necessário, antes, relembrar que há
mais de uma forma de usar as palavras: no sentido real ou no 2º. Delimitação do Assunto:
sentido figurado. Essa diferenciação não se faz apenas no uso • como conciliar desenvolvimento econômico e preservação
da linguagem escrita ou falada, mas também ao se fazer uso do meio ambiente?
de outras linguagens. Explico: quando se assiste a um filme, • estar o meio ambiente em estado de degradação é sinal de
é possível associar seu enredo a outros significados que não evolução da sociedade capitalista ou “involução”?
apenas aquele aparente; você assistiu a “Matrix”, por exemplo?
Será que aquela história de se viver um mundo falso, que alguém 3º. Tese: Depois de as grandes potências econômicas
programa para nós, não é uma grande metáfora? Vemos tudo o passarem pelo período de exploração da maior parte dos
que existe? O que existe é real ou nossos sentidos nos enganam? recursos naturais existentes, e pelo completo descuido com
O verde que você vê é o verde que eu vejo? Como saber? o meio ambiente, surge a preocupação em se controlar esse
Você poderá pensar desta forma também ao admirar uma processo, antes desordenado, para que se possa falar em
pintura, uma escultura, um grafite na rua, e se perguntar: o que gerações futuras.
será que se quis dizer com essa representação? Enfim, consegue
perceber a possibilidade de mais de uma leitura nas diferentes Adequação Vocabular
linguagens? Os examinadores esperam que você seja analítico,
que faça associações, que entenda não ser mundo algo estático Adequação Vocabular é obter das palavras os melhores
sócio-econômico-política e culturalmente. Então, guarde esses efeitos. É conseguir usar as palavras adequadas ao contexto
conceitos: em que elas são produzidas: para quem são produzidas, quem
produz, com que finalidade, em que ambiente e momento.
Denotação - palavra usada em sentido literal: objetividade: É conseguir usar as palavras corretamente e, como recurso,
Ex.: Meu coração está batendo acelerado. conseguir substituí-las por outras sem prejuízo de sentido.
Como adequar as palavras? Uma das formas de adequação
Conotação - palavra usada em sentido figurado: vocabular, é a substituição de um termo por um hipônimo ou
subjetividade. hiperônimo. Hiperônimo é uma palavra que apresenta um
Ex.: Meu coração galopa quando te vê... significado mais abrangente que o seu hipônimo, palavra com
significado mais restrito. É o que acontece com as palavras
doença (hiperônimo) e gripe (hipônimo).
Também podemos adequar bem as palavras usando e
aplicando os conceitos de homonímia, paronímia, sinonímia,
antonímia, conotação e denotação, discutidos em aulas
anteriores. A adequação vocabular depende de uma boa escolha
lexical.
Adequação linguística
Fatores Contexto
Construindo um Texto a Partir de Um Tema Objetivo e
Interlocutores Com quem estamos falando?
Um Subjetivo
Situação É uma situação formal ou
Vimos anteriormente que, o tema é a proposta para a informal?
redação. Você irá delimitar o assunto e a partir dessa delimitação
Assunto Tratamos de assuntos
irá formular sua tese (a afirmação central sobre o assunto, que
será desenvolvida e comprovada no texto). Observe que há diferentes com o mesmo tipo
uma tendência de os vestibulares apresentarem o tema e uma de linguagem? O nascimento
coletânea de textos, de todos os tipos: fragmentos filosóficos, um bebê é anunciado da
excertos literários; poemas; reportagens ou notícias de jornais mesma forma que um
e revistas; cartuns ou pinturas. Normalmente, o avaliador não velório?
deseja um texto com visão limitada sobre o assunto. Caso tenha Ambiente Estamos em uma festa ou no
pela frente um tema subjetivo, haverá a necessidade de se
escritório?
interpretar a proposta.
Agostinho Dias Carneiro em seu livro Redação em
Observe os seguintes modelos:
Construção* descreve seis critérios de adequação vocabular,
listados a seguir:
Modelo com tema subjetivo
1º. Tema subjetivo: “Tudo o que é sólido desmancha no ar.”
1. A adequação ao referente
(Karl Marx )
Esse critério baseia-se na utilização de vocábulos gerais
frente a vocábulos específicos. O exemplo que o autor dá é
2º. Delimitação do Assunto:
a palavra ver, que tem emprego mais amplo que observar,
• a observação de como a história elimina estruturas
contemplar, distinguir, espiar, fitar etc.
aparentemente eternas.
Se eu disser, por exemplo, Pedro estava muito triste com a
• trata-se de uma referência às instituições, comportamentos,
separação. Por isso, foi à praia, sentou-se na areia e viu o sol,
modelos econômicos, que se modificam no tempo.
certamente causará estranhamento no interlocutor. Ao passo
que se eu disser Pedro estava muito triste com a separação.
3º. Tese: Nosso cotidiano parece cercado por estruturas
Por isso, foi à praia, sentou-se na areia e contemplou o sol,
fixas, imutáveis, sejam instituições, relações de poder, formas de
não haverá nenhum problema na comunicação, pois houve
vida. Mas, se dermos um passo atrás e olhamos a história, o que
adequação quanto ao uso do vocábulo.
encontramos é uma sucessão de transformações, em que estas
estruturas, que pareciam eternas, são criadas e destruídas.
2. Adequação ao ponto de vista
Aqui serão levados em consideração os vocábulos positivos,
Esse foi um exemplo com tema subjetivo. Vejamos um
neutros e negativos.
exemplo de tema objetivo. Lê-se o tema e imediatamente se

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Em Você me deu um café gelado, a palavra gelado assume pelo conhecimento mútuo dos interlocutores sobre si mesmos e
valor negativo, entretanto, assume valor positivo em Depois do sobre as regras de convivência colocadas.
trabalho vamos tomar uma cerveja gelada? Se o texto tivesse sido compreendido no sentido literal –
ou seja, se tivessem sido consideradas as suas informações
3. Adequação aos interlocutores explícitas– a resposta da professora teria que ser outra- como,
Há, nesse critério, quatro tipos de seleção vocabular: quanto por exemplo, “São cinco para as 11”. Nesse caso, as autorizações
à atividade profissional com o uso dos jargões; quanto à imagem não teriam sido dadas e os alunos continuariam executando as
social de um dos interlocutores, ou seja, um chefe de Estado se tarefas.
expressa como o que se espera de alguém que ocupa tal cargo; Podemos dizer, então, que o sentido de um texto é
quanto à idade com o uso de vocábulos modernos (luminária) constituído tanto por informações que são apresentadas
ou antigos (abajur) ou quanto à origem dos interlocutores com explicitamente na superfície ou linearidade do texto, quanto por
emprego do vocábulo regional (piá – criança). outras, que se encontram implícitas. As primeiras são facilmente
localizáveis no texto, pois se encontram escritas com todas as
4. Adequação à situação de comunicação letras. Já as segundas são dependentes do repertório prévio dos
Refere-se, esse critério, ao uso de vocábulos formais ou interlocutores e das características da situação comunicativa.
informais e ainda aos estrangeirismos. A capacidade de localizar informações explícitas no texto é
Lembrando que palavras estrangeiras devem ser grafadas fundamental para a constituição da proficiência leitora e deve
entre aspas nas redações e só devem ser usadas quando ser objeto de ensino, desde os primeiros anos de escolarização,
necessárias, ou seja, quando forem importantes para o já no processo de alfabetização. Muitos consideram essa
entendimento; em uma situação de estilo ou quando não houver capacidade a mais simples de todas. No entanto, é preciso
palavra equivalente na Língua Portuguesa. considerar que nenhuma capacidade de leitura é mobilizada no
vazio, mas sempre em função da materialidade textual. Assim, se
5. Adequação ao código o texto for mais complexo ou extenso, o processo de localização
É relevante para esse critério a correção não só ortográfica, da informação solicitada – e a decorrente atribuição de sentido -
mas também semântica, respeitando os significados poderá ser igualmente mais complexo.
dicionarizados.
Agostinho ressalta que os empregos “de moda” devem Informações Implícitas
evitados, pois “em nada contribuem para o real enriquecimento Muitos candidatos ao ENEM se perguntam como melhorar
de um idioma” e dá um exemplo: colocar em lugar de apresentar sua capacidade de interpretação dos textos. Primeiramente, é
e assumir em lugar de responsabilizar-se: preciso ter em mente que um texto é formado por informações
– Vou colocar aqui um problema… explícitas e implícitas. As informações explícitas são aquelas
– Se der errado, eu assumo… manifestadas pelo autor no próprio texto. As informações
implícitas não são manifestadas pelo autor no texto, mas podem
Somam-se a esse caso, os parônimos e os homônimos ser subentendidas. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura
(homógrafos e homófonos), já tratados em outra aula. ( tópico eficiente, é preciso ir além do que foi dito, ou seja, ler nas
jà tratado aqui) entrelinhas.
Por exemplo, observe este enunciado:
6. Adequação ao contexto
As situações textuais revelam-se nas relações desenvolvidas - Patrícia parou de tomar refrigerante.
entre as palavras do texto. Por exemplo, se há relação de causa A informação explícita é “Patrícia parou de tomar
e efeito – tropeçar / cair; se há relação de finalidade – livro / refrigerante”. A informação implícita é “Patrícia tomava
estudar; se há relação de parte e todo – rei / xadrez; se há relação refrigerante antes”.
de sinonímia – aroma / perfume; se há relação de antonímia
– entrar / sair; se há relação de unidade e coletivo – livro / Agora, veja este outro exemplo:
biblioteca; se há relação de objeto e ação – cadeira / sentar e se -Felizmente, Patrícia parou de tomar refrigerante.
há relação simbólica – pomba / paz. A informação explícita é “Patrícia parou de tomar
O uso do vocábulo fora de um desses critérios e até mesmo refrigerante”. A palavra “felizmente” indica que o falante tem
em critério inadequado à situação será erro. uma opinião positiva sobre o fato – essa é a informação implícita.
Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir
Fonte:s http://slideplayer.com.br/slide/1270845/ informações a partir de um texto. Fazer uma inferência significa
http://conversadeportugues.com.br/2015/11/adequacao-e- concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Nos
inadequacao-linguistica/ vestibulares, fazer inferências é uma habilidade fundamental
para a interpretação adequada dos textos e dos enunciados.
Informações Implícitas e Explícitas A seguir, veremos dois tipos de informações que podem ser
inferidas: as pressupostas e as subentendidas.
Para que seja possível compreender o que vem a ser
informação explícita em um texto, é preciso compreender que Pressupostos
a linguagem verbal é polissêmica: um mesmo enunciado pode Uma informação é considerada pressuposta quando um
assumir diferentes sentidos em diferentes contextos e diferentes enunciado depende dela para fazer sentido.
leitores podem atribuir sentidos distintos a um texto, segundo Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: “Quando
Kátia Lomba Bräkling. Patrícia voltará para casa?”. Esse enunciado só faz sentido
se considerarmos que Patrícia saiu de casa, ao menos
Vejamos a interação a seguir: temporariamente – essa é a informação pressuposta. Caso
Aluno: [levantando a mão] Professora, você pode me dizer Patrícia se encontre em casa, o pressuposto não é válido, o que
que horas são? torna o enunciado sem sentido.
Professora: [olha no relógio e responde] Podem guardar o Repare que as informações pressupostas estão marcadas
material, pessoal! através de palavras e expressões presentes no próprio enunciado
Aluno: Êba! [rapidamente, guarda o material, seguido por e resultam de um raciocínio lógico. Portanto, no enunciado
outros colegas] “Patrícia ainda não voltou para casa”, a palavra “ainda” indica
Podemos observar que o aluno não perguntou se poderia que a volta de Patrícia para casa é dada como certa pelo falante.
guardar o material. No entanto, pela reação dele era o que queria
saber. A professora, interpretando a sua intenção, autorizou a Subentendidos
guarda do material, encerrando a aula. Nesse caso, o sentido Ao contrário das informações pressupostas, as informações
dos enunciados foi definido por fatores externos ao texto, subentendidas não são marcadas no próprio enunciado,
autorizados pelas características da situação comunicativa e são apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como

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APOSTILAS OPÇÃO
insinuações. e) impulsionará o crescimento da qualidade da leitura dos
O uso de subentendidos faz com que o enunciador se esconda brasileiros, uma vez que as características do produto permitem
atrás de uma afirmação, pois não quer se comprometer com ela. que a leitura aconteça a despeito das adversidades geopolíticas.
Por isso, dizemos que os subentendidos são de responsabilidade
do receptor, enquanto os pressupostos são partilhados por Resposta
enunciadores e receptores.
Em nosso cotidiano, somos cercados por informações 01. (B) Observe que o enunciado da questão usa o verbo
subentendidas. A publicidade, por exemplo, parte de hábitos “inferir”, ou seja, espera-se que o candidato seja capaz de chegar
e pensamentos da sociedade para criar subentendidos. Já a a uma conclusão a partir da leitura dos dois textos. Nesse caso,
anedota é um gênero textual cuja interpretação depende a a leitura dos textos separadamente pode levar o candidato ao
quebra de subentendidos. erro. A partir da leitura do gráfico, o candidato deve inferir
que a telefonia celular abrange apenas uma parte do território
Fonte: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/estudo-do- brasileiro, o que atrapalha a democratização do livro digital.
texto/implicitos-e-pressupostos.html (Adaptado)
Argumentação
Questão
Argumentar é a capacidade de relacionar fatos, teses,
01. Texto I estudos, opiniões, problemas e possíveis soluções a fim de
embasar determinado pensamento ou ideia.
Um texto argumentativo sempre é feito visando um
destinatário. O objetivo desse tipo de texto é convencer,
persuadir, levar o leitor a seguir uma linha de raciocínio e a
concordar com ela.
Para que a argumentação seja convincente é necessário
levar o leitor a um “beco sem saída”, onde ele seja obrigado a
concordar com os argumentos expostos.
No caso da redação, por ser um texto pequeno, há uma
obrigatoriedade em ser conciso e preciso, para que o leitor possa
ser levado direto ao ponto chave. Para isso é necessário que se
exponha a questão ou proposta a ser discutida logo no início
do texto, e a partir dela se tome uma posição, sempre de forma
impessoal. O envolvimento de opiniões pessoais, além de ser
terminantemente proibido em textos que serão analisados em
concursos, pode comprometer a veracidade dos fatos e o poder
de convencimento dos argumentos utilizados. Por exemplo,
Época. 12 out. 2009 (adaptado). (Foto: Reprodução/Enem) é muito mais aceitável uma afirmação de um autor renomado
ou de um livro conhecido do que o simples posicionamento do
Texto II redator a respeito de determinado assunto.
CONEXÃO SEM FIO NO BRASIL Uma boa argumentação só é feita a partir de pequenas regras
Onde haverá cobertura de telefonia celular para baixar as quais facilmente são encontradas em textos do dia-a-dia, já
publicações para o Kindle que durante a nossa vida levamos um longo tempo tentando
convencer as outras pessoas de que estamos certos.

Época. 12 out. 2009. (Foto: Reprodução/Enem) Os argumentos devem ter um embasamento, nunca deve-
se afirmar algo que não venha de estudos ou informações
A capa da revista Época de 12 de outubro de 2009 traz um previamente adquiridas.
anúncio sobre o lançamento do livro digital no Brasil. Já o texto Os exemplos dados devem ser coerentes com a realidade, ou
II traz informações referentes à abrangência de acessibilidade seja, podem até ser fictícios, mas não podem ser inverossímeis.
das tecnologias de comunicação e informação nas diferentes Caso haja citações de pessoas ou trechos de textos os
regiões do país. A partir da leitura dos dois textos, infere-se que mesmos devem ser razoavelmente confiáveis, não se pode citar
o advento do livro digital no Brasil qualquer pessoa.
a) possibilitará o acesso das diferentes regiões do país às Experiências que comprovem os argumentos devem ser
informações antes restritas, uma vez que eliminará as distâncias, também coerentes com a realidade.
por meio da distribuição virtual. Há de se imaginar sempre os questionamentos, dúvidas e
b) criará a expectativa de viabilizar a democratização da pensamentos contrários dos leitores quanto à sua argumentação,
leitura, porém esbarra na insuficiência do acesso à internet por para que a partir deles se possa construir melhores argumentos,
telefonia celular, ainda deficiente no país. fundamentados em mais estudo e pesquisa.
c) fará com que os livros impressos tornem-se obsoletos, Sobre a estrutura do texto:
em razão da diminuição dos gastos com os produtos digitais Deve conter uma lógica de pensamentos. Os raciocínios
gratuitamente distribuídos pela internet. devem ter uma relação entre si, e um deve continuar o que o
d) garantirá a democratização dos usos da tecnologia no outro afirmava.
país, levando em consideração as características de cada região No início do texto deve-se apresentar o assunto e a
no que se refere aos hábitos de leitura e acesso à informação. problemática que o envolve, sempre tomando cuidado para não

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APOSTILAS OPÇÃO
se contradizer. De modo geral, a relação entre tese e argumento pode ser
Ao decorrer do texto vão sendo apresentados os argumentos compreendida de duas maneiras principais:
propriamente ditos, junto com exemplificações e citações (se Argumento, portanto, Tese (A→ pt→T) ou Tese porque
existirem). Argumento (T→ pq→A):
No final do texto as idéias devem ser arrematadas com uma
tese (a conclusão). Essa conclusão deve vir sendo prevista pelo (A→ pt→T)
leitor durante todo o texto, a medida que ele vai lendo e se “O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no tratamento
direcionando para concordar com ela. das mais diversas doenças relacionadas ao tabagismo; os ganhos
A argumentação não trabalha com fatos claros e evidentes, com os impostos nem de longe compensam o dinheiro gasto com
mas sim investiga fatos que geram opiniões diversas, sempre em essas doenças. Além disso (Ainda, e, também, relação de adição
busca de encontrar fundamentos para localizar a opinião mais → quando se enumeram argumentos a favor de sua tese), as
coerente. empresas têm grandes prejuízos por causa de afastamentos de
Não se pode, em uma argumentação, afirmar a verdade ou trabalhadores devido aos males causados pelo fumo. Portanto
negar a verdade afirmada por outra pessoa. O objetivo é fazer (logo, por conseguinte, por isso, então → observem a relação
com que o leitor concorde e não com que ele feche os olhos para semântica de conclusão, típica de um silogismo), é mister que
possíveis contra-argumentos. sejam proibidas quaisquer propagandas de cigarros em todos os
Caso seja necessário se pode também fazer uma comparação meios de comunicação.”
entre vários ângulos de visão a respeito do assunto, isso poderá
ajudar no processo de convencimento do leitor, pois não dará (T→ pq→A)
margens para contra-argumentos. Porém deve-se tomar muito O governo deve imediatamente proibir toda e qualquer
cuidado para não se contradizer e para ser claro. Para isso é forma de propaganda de cigarro, porque (uma vez que, já que,
necessário um bom domínio do assunto. dado que, pois → relação de causalidade) ele gasta, todos os
anos, bilhões de reais no tratamento das mais diversas doenças
Organização Textual relacionadas ao tabagismo; e, muito embora (ainda que, não
O ser humano se comunica por meio de textos. Desde uma obstante, mesmo que → relação de oposição: usam-se as
simples e passageira interjeição como Olá até uma mensagem concessivas para refutar o argumento oposto) os ganhos com
muitíssimo extensa. Em princípio, esses textos eram apenas orais. os impostos sejam vultosos, nem de longe eles compensam o
Hoje, são também escritos. Nesse processo, os textos ganharam dinheiro gasto com essas doenças.
formas de organização distintas, com propósitos nitidamente
distintos também. As principais formas de organização textual Há diferentes tipos de argumentos e a escolha certa consolida
registradas na humanidade são, assim: o texto.
Narrativa: aquela que compreende textos que contam uma
história, relatam um acontecimento. Argumentação por citação
Argumentativa: a que visa ao convencimento do interlocutor. Sempre que queremos defender uma ideia, procuramos
Descritiva: cuja finalidade é apresentar concreta ou pessoas ‘consagradas’, que pensam como nós acerca do tema em
metaforicamente uma dada descrição. evidência.
Cada uma dessas formas de organização textual desdobra- Apresentamos no corpo de nosso texto a menção de uma
se em inúmeros gêneros textuais distintos, que nada mais são informação extraída de outra fonte.
do que cada concretizável possível a cada um dos objetivos
textuais. Assim, por exemplo, a diferentes formas e formatos A citação pode ser apresentada assim:
para se narrar: fábula, conto de fadas, romance, conto, notícia, Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste
fofoca, etc. num sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser
procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras”
Texto Argumentativo (Piaget, 1994, p.11). A essência da moral é o respeito às regras.
Esse tipo de texto, que é aplicado nas redações do Enem, A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa
inclui diferentes gêneros, tais quais, dissertação, artigo de uma racionalidade em si mesma equilibrada.
opinião, carta argumentativa, editorial, resenha argumentativa, O trecho citado deve estar de acordo com as ideias do texto,
dentre outros. assim, tal estratégia poderá funcionar bem.
Todo e qualquer texto argumentativo, como já dito, visa
ao convencimento de seu ouvinte/leitor. Por isso, ele sempre Argumentação por comprovação
se baseia em uma tese, ou seja, o ponto de vista central que se A sustentação da argumentação se dará a partir das
pretende veicular e a respeito do qual se pretende convencer informações apresentadas (dados, estatísticas, percentuais) que
esse interlocutor. Nos gêneros argumentativos escritos, a acompanham.
sobretudo, convém que essa tese seja apresentada, de maneira Esse recurso é explorado quando o objetivo é contestar um
clara, logo de início e que, depois, através duma argumentação ponto de vista equivocado.
objetiva e de diversidade lexical seja sustentada/defendida, com
vistas ao mencionado convencimento. Veja:
A estrutura geral de um texto argumentativo consiste de O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o
introdução, desenvolvimento e conclusão, nesta ordem. Cada Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir
uma dessas partes, por sua vez tem função distinta dentro da de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da
composição do texto: Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos
que estão fora das escolas em cada estado.
Introdução: é a parte do texto argumentativo em que Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 %
apresentamos o assunto de que trataremos e a tese a ser da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual
desenvolvida a respeito desse assunto. o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula.
Desenvolvimento: é a argumentação propriamente dita, O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado,
correspondendo aos desdobramentos da tese apresentada. Esse ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal,
é o coração do texto, por isso, comumente se desdobra em mais com apenas 2,3% (7 200) de crianças excluídas, seguido por Rio
de um parágrafo. De modo geral, cada argumentação em defesa Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7
da tese geral do texto corresponde a um parágrafo. mil).
Conclusão: a parte final do texto em que retomamos a tese (Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)
central, agora já respaldada pelos argumentos desenvolvidos ao
longo do texto. Nesse tipo de citação o autor precisa de dados que
demonstrem sua tese.
Relação entre tese e argumento

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Argumentação por raciocínio lógico http://brasilescola.uol.com.br/redacao/a-argumentacao.htm
A criação de relações de causa e efeito é um recurso utilizado
para demonstrar que uma conclusão (afirmada no texto) é Texto e Textualidade
necessária, e não fruto de uma interpretação pessoal que pode Texto
ser contestada.
Veja: É o grupamento de frases e palavras interligadas que
“O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. possibilitam uma interpretação e emitem uma mensagem. É toda
Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, obra original escrita e que pode formar um documento escrito
crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na ou um livro. O texto é um elemento linguístico de dimensões
TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser maiores do que a frase1.
proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia.”
VARELLA, Drauzio. In: Folha de S. Paulo, 20 de maio de Em processos  gráficos, o texto é o conteúdo escrito, por
2000. divergência a todos os outros conteúdos iconográficos, como
as ilustrações. É o componente central do livro, periódico
Para a construção de um bom texto argumentativo faz- ou revista, formado por produções concretas, sem títulos,
se necessário o conhecimento sobre a questão proposta, subtítulos, fórmulas, epígrafes e tabelas.
fundamentação para que seja realizado com sucesso.
Um texto pode ser cifrado, sendo criado conforme um código
Fonte: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/texto- definitivamente suspenso após uma leitura direta. Ele possui
argumentativo/argumentacao.html tamanhos diferentes e precisa ser redigido com coerência e
coesão. Pode ser considerado como não-literário e literário.
Questão

01. Identifique o sentido argumentativo dos seguintes


textos, e separe, por meio de barras, a tese e o(s) argumento(s).
a) “Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante para o que
preciso. É econômico, nunca dá defeito e tem espaço suficiente
para transportar toda a minha família.”
b) “Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais; além
disso, todo ano batemos recordes de produção agrícola. Sem
contar que nosso parque industrial é um dos mais modernos do
mundo. definitivamente, somos o país do futuro.”
c) “Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem tudo
para dar errado: nossa diferença de idade é grande e nossos
gostos são quase que opostos. Além disso, a família dela é
terrível.” Os textos literários possuem uma colocação estética.
d) “Como o Brasil é um país muito injusto, toda política social Normalmente, são escritos com uma linguagem poética e
por aqui implementada é vista como demagogia, paternalismo.” expressiva, com o intuito de conquistar o interesse e sensibilizar
o leitor. Os autores dos textos literários acompanham um
Resposta certo estilo e utilizam as expressões de maneira elegante para
manifestar as suas ideias. Existe um domínio da linguagem
a) O sentido aí presente é (T→ pq→A), uma vez que, após conotativa e da função poética. Os romances, contos, poesias,
uma constatação, se seguem as motivações que a fundamentam. novelas e textos sagrados, são exemplos de textos literários.
Meu carro não é grande coisa, mas é o bastante para o que
preciso (TESE)./ É econômico (argumento 1), /nunca dá defeito Os textos não-literários, por sua vez, apresentam atividade
(argumento 2)/ e tem espaço suficiente para transportar toda a utilitária ao explicar e informar o leitor de maneira objetiva e
minha família (argumento 3). clara. São modelos de textos informativos que não se preocupam
b) Nesse exemplo, já encontramos a orientação (A→ pt→T), com a estética. Existe um domínio da linguagem denotativa
uma vez que se parte de exemplificações para, a partir delas, e da função referencial, diferentemente do estilo literário.
enunciar uma proposição. Alguns exemplos de textos não literários são, textos científicos,
Veja bem, o Brasil a cada ano exporta mais e mais (argumento didáticos, reportagens jornalísticas e notícias.
1);/ além disso, todo ano batemos recordes de produção agrícola
(argumento 2)./ Sem contar que nosso parque industrial é um Existem ainda os textos narrativos que contam uma certa
dos mais modernos do mundo (argumento 3)./ Definitivamente, história. A história é descrita por um narrador, que pode ou não
somos o país do futuro. (TESE). participar de forma direta da história. Esse tipo de texto utiliza
c) Aqui, o sentido é (T→ pq→A), em que de uma afirmação uma estrutura específica e predeterminada.
inicial se desdobram exemplos que a justificam.
Embora a gente se ame muito, nosso namoro tem tudo Além desses, há ainda outro tipo de texto conhecido como
para dar errado (TESE):/ nossa diferença de idade é grande texto crítico. Esse modelo é uma exibição textual que começa
(argumento 1) e nossos gostos são quase que opostos a partir de um método analítico e reflexivo originando um
(argumento 2). Além disso, a família dela é terrível (argumento conteúdo junto com uma crítica construtiva e bem demonstrado.
3).
d) Nesse exemplo, o movimento é (A→ pt→T), já que se parte De maneira geral, todos os textos precisam possuir
de uma causa que funciona como justificativa a uma enunciação determinadas particularidades formais, isto é, tem que
que, por sua vez, é a consequência constatada. apresentam estrutura e elementos que construam uma relação
Como o Brasil é um país muito injusto (argumento),/ toda entre eles. Entre essas particularidades formais tem a coerência
política social por aqui implementada é vista como demagogia, e a coesão, que oferecem forma e sentido ao texto. A coerência
paternalismo (TESE). está ligada com a compreensão, ou seja, a interpretação daquilo
ARTIGOS RELACIONADOS que está escrito ou que se fala. Já a coesão é a ligação entre as
Redação Enem 2014: apostas para o tema palavras ou frases do texto.
Faça uma boa redação no Enem: dicas para prova de 2014
Um texto para ter sentido precisa possuir coerência. Apesar
Fontes: http://www.infoescola.com/redacao/argumentacao/ da coesão não ser requisito suficiente para que as afirmações
http://educacao.globo.com/portugues/assunto/texto-
1 Fonte: http://www.resumoescolar.com.br/portugues/texto-e-textua-
argumentativo/argumentacao.html lidade/

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formem um texto, são os recursos coesivos que oferecem respeito desse tipo de produção textual, é só procurá-lo nestes
maios legitimidade e realçam as relações entre os seus vários tipos de canais informativos. A leitura é breve e simples, pois são
componentes. A partir disso, pode-se concluir que a coerência textos pequenos e a linguagem não é intelectualizada, uma vez
depende da coesão. que a intenção é atingir todo tipo de leitor.
Uma característica muito peculiar deste tipo de gênero
Textualidade textual é a persuasão, que consiste na tentativa do emissor
de convencer o destinatário, neste caso, o leitor, a adotar a
Textualidade é o grupo de particularidades que faz com que opinião apresentada. Por este motivo, é comum presenciarmos
o texto seja reconhecido como tal, e não como um aglomerado descrições detalhadas, apelo emotivo, acusações, humor satírico,
de frases e palavras. Uma interpretação possível indicaria ironia e fontes de informações precisas.
como textualidade um argumento usado pelo interlocutor, Como dito anteriormente, a linguagem é objetiva e aparecem
fundamentada em seus antecipados conhecimentos funcionais repletas de sinais de exclamação e interrogação, os quais incitam
e estruturais de texto, que possibilita por meio da apreciação de à posição de reflexão favorável ao enfoque do autor.
diversos fatores exercer a textualização de uma mensagem em Outros aspectos persuasivos são as orações no imperativo
uma situação já estabelecida. (seja, compre, ajude, favoreça, exija, etc.) e a utilização de
De acordo com Dressler e Beaugrande, existem dois conjunções que agem como elementos articuladores (e, mas,
conjuntos de sete elementos, que são encarregados pela contudo, porém, entretanto, uma vez que, de forma que, etc.) e
textualidade de todos os discursos: dão maior clareza às ideias.
1) Elementos semânticos (coesão e coerência); Geralmente, é escrito em primeira pessoa, já que trata-se de
2) Elementos pragmáticos (aceitabilidade, intencionalidade, um texto com marcas pessoais e, portanto, com indícios claros
informatividade, situacionabilidade e intertextualidade). de subjetividade, porém, pode surgir em terceira pessoa.
Para produzir um bom artigo de opinião é aconselhável
A Linguística Textual passou a progredir no fim dos anos 60 seguir algumas orientações. Observe:
na Europa, principalmente entre os anglo-germânicos, e tem a) Após a leitura de vários pontos de vista, anote num papel
se empenhado a analisar os fundamentos característicos do os argumentos que mais lhe agradam, eles podem ser úteis para
texto e os elementos implicados em sua recepção e produção. fundamentar o ponto de vista que você irá desenvolver.
Em paralelo ao progresso dessa teoria, do fim dos anos 60 até
os dias de hoje, tem se consolidado e se expandido, no ramo b) Ao compor seu texto, leve em consideração o interlocutor:
da Linguística, as pesquisas relacionadas aos fenômenos que quem irá ler a sua produção. A linguagem deve ser adequada ao
transcendem as margens da frase, como o discurso e o texto, gênero e ao perfil do público leitor.
abrangendo menos os produtos e mais os processos.
c) Escolha os argumentos, entre os que anotou, que podem
Elementos pragmáticos fundamentar a ideia principal do texto de modo mais consciente,
e desenvolva-os.
-Intencionalidade: referente a comunicação efetiva, que
possibilita que os propósitos comunicativos fiquem com clareza d) Pense num enunciado capaz de expressar a ideia principal
para o leitor. que pretende defender.

– Aceitabilidade: o texto fica igual à expectativa formada e) Pense na melhor forma possível de concluir seu texto:
pelo receptor. É dependente da qualidade do texto. retome o que foi exposto, ou confirme a ideia principal, ou faça
uma citação de algum escritor ou alguém importante na área
– Situacionalidade: o texto se adapta ao cenário da relativa ao tema debatido.
comunicação. Conduz a direção do discurso.
f) Crie um título que desperte o interesse e a curiosidade do
– Informatividade: discurso mais informativo e menos leitor.
previsível.
g) Formate seu texto em colunas e coloque entre elas uma
– Intertextualidade: combina contextos e textos. chamada (um importante e pequeno trecho do seu texto).

– Contextualidade: circunstância comunicativa precisa em h) Após o término do texto, releia e observe se nele você se
que o texto foi construído. posiciona claramente sobre o tema; se a ideia está fundamentada
em argumentos fortes e se estão bem desenvolvidos; se a
– Coesão: dispositivo linguístico que assegura a ordem do linguagem está adequada ao gênero; se o texto apresenta título
texto e o item semântico. A coesão gera a disposição formal do e se é convidativo e, por fim, observe se o texto como um todo é
texto. persuasivo.
Reescreva-o, se necessário.
– Coerência: menção e não contradição, a não redundância
e a importância. Argumentações de Artigos de Opinião
Artigo de Opinião
Para facilitar ainda mais a elaboração do seu artigo, os
O artigo de opinião, como o próprio nome já diz, é um texto argumentos são fixados a esta estrutura e podem e as dicas para
em que o autor expõe seu posicionamento diante de algum tema elaborar são as de:
atual e de interesse de muitos. Argumento de Causa: Propor uma relação com uma causa e
É um texto dissertativo que apresenta argumentos sobre o conseqüência em sua argumentação.
assunto abordado, portanto, o escritor além de expor seu ponto
de vista, deve sustentá-lo através de informações coerentes e Argumento de Autoridade: Sempre usar uma fonte, ou um
admissíveis. estudo confiável para ter uma credibilidade ao que você defende.
Logo, as ideias defendidas no artigo de opinião são de total
responsabilidade do autor, e, por este motivo, o mesmo deve ter Argumento de Exemplificação: Mostrar inúmeras
cuidado com a veracidade dos elementos apresentados, além de comparações e exemplos para ilustrar o seu argumento.
assinar o texto no final.
Contudo, em vestibulares, a assinatura é desnecessária, uma Fontes: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/artigo-
vez que pode identificar a autoria e desclassificar o candidato. opiniao.htm
É muito comum artigos de opinião em jornais e revistas. http://brasilescola.uol.com.br/redacao/artigo-opiniao.htm
Portanto, se você quiser aprofundar mais seus conhecimentos a http://portalbrasil10.com.br/artigo-de-opiniao/

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Fato e Opinião do Rio de Janeiro e eu nome completo era Cecília Benevides de
Carvalho Meireles. Sua infância foi marcada pela dor e solidão,
Muitas vezes nos encontramos com pessoas dialogando pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não
sobre qualquer que seja o tópico em questão, porém no meio do chegou a conhecer (morreu antes do seu nascimento). Foi criada
diálogo ouvimos “o fato é que...”, “mas na minha opinião...” - Será pela avó dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília
que todos sabemos distinguir o que é FATO e o que é OPINIÃO? começou a escrever suas primeiras poesias. Estudiosos de sua
- É importante saber esta diferença? obra dizem que seus poemas encantam os leitores de todas as
idades.
Fato: O fato é algo que é de conhecimento de todos. Sendo
um fato, ele pode ser provado através de documentos, ou de Qual frase apresenta uma opinião sobre Cecília Meireles?
outras formas de registros. (A) Foi criada pela avó Dona Jacinta
(B) Nasceu no dia 7 de novembro de 1901.
(C) Perdeu a sua mãe com apenas três anos de idade.
O crescimento acelerado dos grandes centros econômicos
(D) Seus poemas encantam os leitores de todas as idades.
mundiais, aumenta os problemas sociais;
O aumento dos estudantes estrangeiros nas universidades 02. Leia o fragmento do texto O outro príncipe sapo de Jon
brasileiras. Scieszka e responda o que se pede:

Opinião: A opinião é a maneira particular de olhar um Era uma vez um sapo.


fato. A opinião vai divergir de acordo com inúmeros fatores
socioculturais. Certo dia, quando estava sentado na sua vitória-régia, viu
Se meu amigo não fosse tão baixinho, ele poderia jogar uma linda princesa descansando a beira do lago. O sapo pulou
futebol; dentro da água, foi nadando até ela e mostrou a cabeça por cima
Homens que assistem novelas são bons maridos das plantas aquáticas. “Perdão, ó linda princesa”, disse ele com
sua voz mais triste e patética...
Quando é importante saber a diferença
Qual é a opinião do autor a respeito da voz do sapo:
(A)voz mansa e suave
Várias são as oportunidades de usar a diferença com (B)estridente e aguda
propriedade, mas duas delas são principais. (C)triste e melancólica
1- Quando nos engajamos em um debate de algum tema (D)triste e patética
polêmico;
2- Quando somos testados e devemos escrever um texto Respostas
dissertativo. 01. (D) / 02. (D)

As variantes dissertativas são: Introdução

1. Expositiva: Quando as ideias do texto estão claramente A Introdução é a informação do assunto sobre o qual a dis-
vinculadas a alguma reportagem ou notícia de jornais, revistas sertação tratará. O parágrafo introdutório é fundamental, preci-
sa ser bem claro e chamar a atenção para os tópicos mais impor-
impressas ou eletrônicas, cujo conteúdo é conhecido por
tantes do desenvolvimento.
todos através do rádio ou da televisão, sendo, por sua vez, O primeiro parágrafo da redação pode ser feito de diversas
inquestionável. A dissertação expositiva tem como objetivo maneiras diferentes:
expor o fato, ficando em segundo plano a discussão sobre ele.
Trajetória histórica
2. Argumentativa: A dissertação argumentativa é aquela Traçar a trajetória histórica é apresentar uma analogia en-
que exige de nós maior reflexão ao escrever sobre certos temas, tre elementos do passado e do presente. Já que uma analogia
mas que possui por objetivo a exposição do ponto de vista será apresentada, então os elementos devem ser similares; há
pessoal. Quem disserta, através de sua opinião bem embasada, de haver semelhança entre os argumentos apresentados, ou
faz com que os fatos ali apresentados e discutidos tenham uma seja, só usaremos a trajetória histórica, quando houver um fato
conclusão. Esta é uma das maneiras mais difíceis de dissertar no passado que seja comparável, de alguma maneira, a outro no
por apresentar juízos de valores que endossam a análise crítica presente.
de quem escreve. Quando apresentar a trajetória histórica na introdução,
deve-se discutir, no desenvolvimento, cada elemento em um
só parágrafo. Não misture elementos de épocas diferentes em
3- Mista: Esta é uma forma de dissertação que tem inseridos um mesmo parágrafo. A trajetória histórica torna convincente
nela os elementos dos dois outros tipos dissertativos. Nela a exemplificação; só se deve usar esse argumento, se houver co-
podemos expor os fatos como forma de exemplo, ou mesmo nhecimento que legitime a fonte histórica.
como argumento de autoridade para dar força às opiniões,
juízos e análise crítica a serem feitos sobre o tópico ou tópicos Comparando social, geográfica ou historicamente
discutidos. Também é apresentar uma analogia entre elementos, porém
sem buscar no passado a argumentação. É comparar dois países,
Fontes: http://pt.slideshare.net/ElieteFarneda/diferena-entre- dois fatos, duas personagens, enfim, comparar dois elementos,
fato-e-opinio para comprovar o tema.
http://lingua-agem.blogspot.com.br/2011/06/fato-algo-cuja- Lembre-se de que se trata da introdução, portanto a com-
existencia-independe-de.html paração apenas será apresentada para, no desenvolvimento, ser
discutido cada elemento da comparação em um parágrafo.
Questões
Conceituando ou definindo uma ideia ou situação
01. Leia o texto e responda à pergunta. Em alguns temas de dissertação surgem palavras-chave de
extrema importância para a argumentação. Nesses casos, pode-
Um pouco da história de Cecília Meireles -se iniciar a redação com a definição dessa palavra, com o signifi-
cado dela, para, posteriormente, no desenvolvimento, trabalhar
Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura com exemplos de comprovação.
brasileira. Ela nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade

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APOSTILAS OPÇÃO
Contestando uma ideia ou citação, contradizendo, em Paráfrase
partes
Uma maneira de se elaborar a introdução é valendo-se da
Quando o tema apresenta uma ideia com a qual não se con- paráfrase, que consiste em reescrever o tema, utilizando suas
corda inteiramente, pode-se trabalhar com este método: concor- próprias palavras. Deve-se tomar o cuidado, para não apenas
dar com o tema, em partes, ou seja, argumentar que a ideia do substituírem as palavras do tema por sinônimos, pois isso será
tema é verdadeira, mas que existem controvérsias; discutir que demonstração de falta de criatividade; o melhor é reestruturar
o assunto do tema é polêmico, que há elementos que o compro- totalmente o tema, realmente utilizando “suas” palavras.
vem, e elementos que discordem dele, igualmente. Observe o que traz o Michaelis - Moderno Dicionário da
Não se esqueça de que o desenvolvimento tem que ser con- Língua Portuguesa, quanto à definição da palavra paráfrase: Ex-
dizente com a introdução, estar em harmonia com ela, ou seja, plicação ou tradução mais desenvolvida de um texto por meio
se trabalhar com esse método, o desenvolvimento deve conter de palavras diferentes das nele empregadas. Portanto sua frase
as duas comprovações, cada uma em um parágrafo. deve ser mais desenvolvida que a frase apresentada como tema,
e as palavras devem ser diferentes, e não sinônimas.
Refutando o tema, contradizendo totalmente
Frases-modelo, para o início da introdução
Refutar significa rebater os argumentos; contestar as asser-
ções; não concordar com algo; reprovar; ser contrário a algo; Não tomem estas frases como receita infalível. Antes de usá-
contrariar com provas; desmentir; negar. Portanto refutar o -las, analise bem o tema, planeje incansavelmente o desenvol-
tema é escrever, na introdução, o contrário do que foi apresenta- vimento, use sua inteligência, para ter certeza daquilo que será
do pelo tema. Deve-se tomar muito cuidado, pois não é só escre- incluso em sua dissertação. Só depois disso, use estas frases:
ver o contrário, mas mostrar que se é contra o que está escrito. É de conhecimento geral que...
O ideal, nesse caso, é iniciar a introdução com “Ao contrário do Todos sabem que, em nosso país, há tempos, observa-se...
que se acredita...” Nesse caso, utilizei circunstância de lugar (em nosso país)
Não se esqueça, novamente, de que o desenvolvimento tem e de tempo (há tempos). Isso é só para mostrar que é possível
que ser condizente com a introdução, estar em harmonia com acrescentar circunstâncias diversas na introdução, não neces-
ela, ou seja, se trabalhar com esse método, o desenvolvimento sariamente estas que aqui estão. Outro elemento com o qual se
deve conter apenas elementos contrários ao tema. Cuidado para deve tomar muito cuidado é o pronome “se”. Nesse caso, ele é
não cair em contradição. Se for, na introdução, favorável ao tema, partícula apassivadora, portanto o verbo deverá concordar com
apresente, no desenvolvimento, apenas elementos favoráveis a o elemento que vier à frente (singular ou plural).
ele; se for contrário, apresente apenas elementos contrários.
Cogita-se, com muita frequência, de...
Elaborando uma série de interrogações O mesmo raciocínio da anterior, agora com a circunstância de
Pode-se iniciar a redação com uma série de perguntas. Po- modo (com muita frequência).
rém, cuidado! Devem ser perguntas que levem a questionamen- Muito se tem discutido, recentemente, acerca de...
tos e reflexões, e não perguntas vazias que levem a nada ou ape- Muito se debate, hoje em dia...
nas a respostas genéricas. As perguntas devem ser respondidas,
no desenvolvimento, com argumentações coerentes e importan- Partícula apassivadora novamente. Cuidado com a concor-
tes, cada uma em um parágrafo. Portanto use esse método ape- dância.
nas quando já possuir as respostas, ou seja, escolha primeira-
mente os argumentos que serão utilizados no desenvolvimento O (A)... é de fundamental importância em...
e elabore perguntas sobre eles, para funcionar como introdução É de fundamental importância o (a)...
da dissertação. É indiscutível que... / É inegável que...
Pode-se transformar a introdução em uma pergunta. O mes- Muito se discute a importância de...
mo já citado anteriormente, mas com apenas uma pergunta. Comenta-se, com frequência, a respeito de...
Não raro, toma-se conhecimento, por meio de..., de
Elaborando uma enumeração de informações Apesar de muitos acreditarem que... (refutação)
Ao contrário do que muitos acreditam... (refutação)
Quando se tem certeza de que as informações são verídicas, Pode-se afirmar que, em razão de... (devido a, pelo)...
podem-se usá-las na introdução e, depois, discuti-las, uma a Ao fazer uma análise da sociedade, busca-se descobrir as cau-
uma, no desenvolvimento. sas de...
Talvez seja difícil dizer o motivo pelo qual...
Caracterizando espaços ou aspectos Ao analisar o (a, os, as)..., é possível conhecer o (a, os, as)....,
pois...
Pode-se iniciar a introdução com uma descrição de lugares Norma Culta e Língua-Padrão
ou de épocas, ou ainda com uma narração de fatos. Deve ser uma
curta descrição ou narração, somente para iniciar a redação de De acordo com M. T. Piacentini, mesmo que não se mencione
maneira interessante, curiosa. Não se empolgue! Não transfor- terminologia específica, é evidente que se lida no dia-a-dia com
me a dissertação em descrição, muito menos em narração. níveis diferentes de fala e escrita. É também verdade que as
pessoas querem “falar e escrever melhor”, querem dominar a
Resumo do que será apresentado no desenvolvimento língua dita culta, a correta, a ideal, não importa o nome que se
lhe dê.
Uma das maneiras mais fáceis de elaborar a introdução é
apresentar o resumo do que se vai discutir no desenvolvimen- O padrão de língua ideal a que as pessoas querem chegar é
to. Nesse caso, é necessário planejar cuidadosamente a redação aquele convencionalmente utilizado nas instâncias públicas de
toda, antes de começá-la, pois, na introdução, serão apresenta- uso da linguagem, como livros, revistas, documentos, jornais,
dos os tópicos a serem discutidos no desenvolvimento. Deve-se textos científicos e publicações oficiais; em suma, é a que circula
tomar o cuidado para não se apresentarem muitos tópicos, se- nos meios de comunicação, no âmbito oficial, nas esferas de
não a dissertação será somente expositiva e não argumentativa. pesquisa e trabalhos acadêmicos.
Cada tópico apresentado na introdução deve ser discutido no
desenvolvimento em um parágrafo inteiro. Não se devem mistu- Não obstante, os linguistas entendem haver uma língua
rá-los em um parágrafo só, nem utilizar dois ou mais parágrafos, circulante que é correta mas diferente da língua ideal e
para se discutir um mesmo assunto. O ideal é que sejam apre- imaginária, fixada nas fórmulas e sistematizações da gramática.
sentados somente dois ou três temas para discussão. Eles fazem, pois, uma distinção entre o real e o ideal: a língua
concreta com todas suas variedades de um lado, e de outro um

Língua Portuguesa 29
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APOSTILAS OPÇÃO
padrão ou modelo abstrato do que é “bom” e “correto”, o que mandado embora?
conformaria, no seu entender, uma língua artificial, situada num
nível hipotético. Ou mesmo assim:
– Tive que levar os gatos, pois encontrei eles bem
Para os cientistas da língua, portanto, fica claro que há machucados.
dois estratos diferenciados: um praticamente intangível, – Conheço ela há muito tempo – é ótima menina.
representado nas normas preconizadas pela gramática – Acho que já lhe conheço, rapaz.
tradicional, que comporta as irregularidades e excrescências da
língua, e outro concreto, o utilizado pelos falantes cultos, qual Então, se os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso
seja, a “linguagem concretamente empregada pelos cidadãos às regras padronizadas, incutidas no processo de escolarização,
que pertencem aos segmentos mais favorecidos da nossa se exprimem desse modo, essa é a norma culta. Já as formas
população”, segundo Marcos Bagno. propugnadas pela gramática tradicional e que provavelmente só
se encontrariam na escrita (conta-me como foi /enganaram-te /
Convém esclarecer que para a ciência sociolinguística explica-me uma coisa / pois os encontrei / conheço-a há tempos
somente a pessoa que tiver formação universitária completa / acho que já o conheço) configuram a norma-padrão ou língua-
será caracterizada como falante culto(urbano). padrão.

Sendo assim, como são presumivelmente cultos os sujeitos Se para os cientistas da língua, portanto, existe uma
que produzem os jornais, a documentação oficial, os trabalhos polarização entre a norma-padrão (também denominada
científicos, só pode ser culta a sua linguagem, mesmo que a “norma canônica” por alguns linguistas) e o conjunto das
língua que tais pessoas falam e os textos que produzem nem variedades existentes no Brasil, aí incluída a norma culta, no
sempre se coadunem com as regras rígidas impostas pela senso comum não se faz distinção entre padrão e culta. Para os
gramática normativa, divulgada na escola e em outras instâncias leigos, a população em geral, toda forma elevada de linguagem,
(de repressão linguística) como o vestibular. que se aproxime dos padrões de prestígio social, configura a
norma culta.
Isso é o que pensam os linguistas. E o povo – saberá ele fazer
a distinção entre as duas modalidades e os dois termos que as Norma culta, norma padrão e norma popular
descrevem?
A Norma é um uso linguístico concreto e corresponde ao
Para os linguistas, a língua-padrão se estriba nas normas dialeto social praticado pela classe de prestígio, representando
e convenções agregadas num corpo chamado de gramática a atitude que o falante assume em face da norma objetiva. A
tradicional e que tem a veleidade de servir de modelo de normatização não existe por razões apenas linguísticas, mas
correção para toda e qualquer forma de expressão linguística. também culturais, econômicas, sociais, ou seja, a Norma na
língua origina-se de fatores que envolvem diferenças de classes,
Querer que todos falem e escrevam da mesma forma e de poder, acesso a educação escrita, e não da qualidade da forma
acordo com padrões gramaticais rígidos é esquecer-se que não da língua. Há um conceito amplo e um conceito estreito de
pode haver homogeneidade quando o mundo real apresenta Norma. No primeiro caso, ela é entendida como um fator de
uma heterogeneidade de comportamentos linguísticos, todos coesão social. No segundo, corresponde concretamente aos
igualmente corretos (não se pode associar “correto” somente a usos e aspirações da classe social de prestígio. Num sentido
culto). amplo, a norma corresponde à necessidade que um grupo
social experimenta de defender seu veículo de comunicação das
Em suma: há uma realidade heterogênea que, por abrigar alterações que poderiam advir no momento do seu aprendizado.
diferenças de uso que refletem a dinâmica social, exclui a Num sentido restrito, a Norma corresponde aos usos e atitudes
possibilidade de imposição ou adoção como única de uma de determinado seguimento da sociedade, precisamente aquele
língua-modelo baseada na gramática tradicional, a qual, por sua que desfruta de prestígio dentro da Nação, em virtude de razões
vez, está ancorada nos grandes escritores da língua, sobretudo políticas, econômicas e culturais. Segundo Lucchesi considera-
os clássicos , sendo pois conservadora. E justamente por se valer se que a realidade linguística brasileira deve ser entendida como
de escritores é que as prescrições gramaticais se impõem mais um contínuo de normas, dentro do quadro de bipolarização do
na escrita do que na fala. Português do Brasil.

“ A cultura escrita, associada ao poder social , desencadeou A existência da civilização dá-se com o surgimento da
também, ao longo da história, um processo fortemente unificador escrita. Suas regras são pautadas a partir da Norma Culta. Sendo
(que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), esta importante nos documentos formais que exigem a correta
que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando expressão do Português para que não haja mal entendido algum.
neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse Ela nada mais é do que a modalidade linguística escolhida pela
processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de elite de uma sociedade como modelo de comunicação escrita e
norma-padrão ou língua-padrão” (Faraco, Carlos Alberto). verbal.

Aryon Rodrigues entra na discussão: “Frequentemente o A Norma Culta é uma expressão empregada pelos linguistas
padrão ideal é uma regra de comportamento para a qual tendem brasileiros para designar o conjunto de variantes linguísticas
os membros da sociedade, mas que nem todos cumprem, ou não efetivamente faladas, na vida cotidiana pelos falantes cultos,
cumprem integralmente”. Mais adiante, ao se referir à escola, ele sendo assim classificando os cidadãos nascidos e criados em
professa que nem mesmo os professores de Língua Portuguesa zonas urbanas e com grau de instrução superior completo.
escapam a esse destino: “Comumente, entretanto, o mesmo “Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras
professor que ensina essa gramática não consegue observá-la dos grandes escritores, em cuja linguagem a classe ilustrada põe
em sua própria fala nem mesmo na comunicação dentro de seu o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso
grupo profissional ”. idiomático e consagrou”. (ROCHA LIMA).

Vamos ilustrar os argumentos acima expostos. Não há Dentre as características que são pertinentes à Norma Culta
brasileiro – nem mesmo professores de português – que não fale podemos citar que é: a variante de maior prestígio social na
assim: comunidade, sendo realizada com certa uniformidade pelos
membros do grupo social de padrão cultural mais elevado;
– Me conta como foi o fim de semana… cumpre o papel de impedir a fragmentação dialetal; ensinada
– Te enganaram, com certeza! pela escola; usada na escrita em gêneros discursivos em que há
– Me explica uma coisa: você largou o emprego ou foi maior formalidade aproximando-a dos padrões da prescrição da

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gramática tradicional; a mais empregada na literatura e também e do pretérito-mais-que-perfeito no indicativo; do presente do
pelas pessoas cultas em diferentes situações de formalidade; subjuntivo; do infinitivo pessoal; falta de correlação verbal entre
indicada precisamente nas marcas de gênero, número e pessoa; os tempos; redução do processo subordinativo em benefício da
usada em todas as pessoas verbais, com exceção, talvez, da 2ª frase simples e da coordenação; maior emprego da voz ativa
do plural, sendo utilizada principalmente na linguagem dos em lugar da passiva; predomínio das regências verbais diretas;
sermões; empregada em todos os modos verbais em relação simplificação gramatical da frase; emprego dos pronomes
verbal de tempos e modos; possuindo uma enorme riqueza pessoais retos como objetos.
de construção sintática, além de uma maior utilização da
voz passiva; grande o emprego de preposições nas regências Na visão de Preti, os falantes cultos “até em situação de
aproveitando a organização gramatical cuidada da frase. gravação consciente revelaram uma linguagem que, em geral,
também pertence a falantes comuns”. Sendo mais espontânea e
De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa criativa, a Norma Popular se afigura mais expressiva e dinâmica.
formal, buscará seguir as regras da norma explícita de sua Temos, assim, alguns exemplos: estou preocupado (Norma
língua e ainda procurará seguir, no que diz respeito ao léxico, Culta); to preocupado (Norma Popular); to grilado (gíria, limite
um repertório que, se não for erudito, também não será vulgar. da Norma Popular).
Isso configura o que se entende por norma culta. A Norma
Padrão está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge
representadas na gramática, mas é marcada pela língua conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade,
produzida em certo momento da história e em uma determinada expressividade e enorme criatividade para viver, necessitando
sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes conhecer a língua culta para conviver.
formas de linguagem que hoje não são consideradas pela Norma Fonte:https://centraldefavoritos.wordpress.
Padrão, com o tempo podem vir a se legitimar. com/2011/07/22/norma-padrao-e-nao-padrao/(Adaptado)

Dentro da Norma Padrão define-se um modelo de língua Questões


idealizada prescrito pelas gramáticas normativas, como sendo
uma receita que nenhum usuário da língua emprega na fala e 1. (Pref. De Goiânia – Auxiliar de Atividades Educativas
raramente utiliza na escrita. Sendo também uma referência – CS-UFG/2016)
para os falantes da Norma Culta, mas não passam de um ideal
a ser alcançado, pois é um padrão extremamente enriquecido Festejando no precipício
de língua. Assim, as gramáticas tradicionais descrevem a Norma
Padrão, não refletindo o uso que se faz realmente do Português Gregório Duvivier
no Brasil.
Quando pequeno, a primeira coisa que fazia ao comprar uma
Marcos Bagno propõe, como alternativa, uma triangulação: agenda era escrever em letras garrafais no dia 11 de abril: “MEU
onde a Norma Popular teria menos prestígio opondo-se à Norma NIVER”. Depois ia pro dia 11 de março: “FALTA UM MÊS PRO
Culta mais prestigiada, e a Norma Padrão se eleva sobre as duas MEU NIVER”. E depois me esquecia da existência da agenda, até
anteriores servindo como um ideal imaginário e inatingível. porque não tinha muitos compromissos naquela época. Tenho
umas cinco agendas que só contêm essas duas informações
A Norma Padrão subdivide-se em: Formal e Coloquial. A fundamentais.
Padrão Formal é o modelo culto utilizado na escrita, que segue
rigidamente as regras gramaticais. O aniversário era o grande dia do ano, a maior festa popular
do planeta, um Natal em que o Jesus era eu. Pulava da cama
Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante e marcava minha altura no batente da porta. Era o dia de
tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como comemorar cada milímetro avançado nessa guerra que travo
porque é supervalorizada na nossa cultura. É a história do vale o desde pequeno contra a gravidade.
que está escrito. Já a Padrão Coloquial é a versão oral da língua
culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de Meu pai abria a porta: “Hoje a gente vai pro lugar que você
liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. quiser”. “Oba! Vamos pro Tivoli Park!” “Não, filho, pro Tivoli Park
Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, não.” “Mas você falou qualquer lugar.” “No Tivoli Park tem assalto
embora exista, a permissividade com relação às transgressões é no trem fantasma.” Era um argumento forte.
pequena.
Acabava me levando pro clube, e depois minha mãe dava
Assim, na linguagem coloquial, admitem-se sem grandes uma festa lá em casa na qual eu era o centro das atenções e
traumas, construções como: ainda não vi ele; me passe o podia comer brigadeiro e tomar litros de refrigerante — ambos
arroz e não te falei que você iria conseguir?. Inadmissíveis na artigos proibidos, classificados como “porcaria” — e assistir ao
língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência show do meu artista predileto — o mágico Almik. Na hora do
dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente parabéns, me escondia debaixo da mesa quando cantavam “Com
as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. Quem Será?”, mas até que gostava da ideia de que um dia alguém
Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos talvez fosse querer se casar comigo. Para um garoto com cabelo
e muitas formas peculiares da Norma Popular são condenadas de cuia e uma dentição anárquica, um relacionamento amoroso
mesmo na linguagem oral. A Norma Popular é aquela linguagem era um sonho tão distante quanto um McDonalds dentro de casa.
que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a O tempo passou e a verdade veio à tona: ambas as coisas talvez
linguagem popular, falada no cotidiano. sejam possíveis, mas será que são desejáveis?

O nível popular está associado à simplicidade da utilização Hoje faço trinta. Dizem que com o passar dos anos deixa de
linguística em termos lexicais, fonéticos, sintáticos e semânticos. fazer sentido comemorar o passar dos anos. Afinal, cada ano
Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da a mais é um ano a menos e na vida adulta não há nem mais a
natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. esperança de crescer algum centímetro. No batente da porta,
estacionei no 1.69 m, entre minha prima Helena e minha irmã
Dentre as características da Norma Popular podemos Barbara. Para piorar, o Brasil tá um caos, todo o mundo se odeia,
destacar: economia nas marcas de gênero, número e pessoa; e a temperatura do mundo não para de esquentar.
redução das pessoas gramaticais do verbo; mistura da 2ª com
a 3ª pessoa do singular; uso intenso da expressão a gente em Lembro que a revista “The Economist” ficou chocada que o
lugar de eu e nós; redução dos tempos da conjugação verbal e de Brasil teria Carnaval mesmo na crise —estaríamos “festejando
certas pessoas, como a perda quase total do futuro do presente no precipício”. A revista pode entender de crise, mas não

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entende nada de Carnaval — acha que serve para comemorar a
opulência. Toda festa boa serve pra esquecer, nem que seja por
um momento, o precipício. Debaixo da mesa do bolo, a felicidade Anotações
parece tão possível, tão desejável. 

Disponível em:. Acesso em:<http://1.folha.uol.com.br/


colunas/gregorioduvivier/2016/04/1759507-festejando-no-
precipiicio-.shtm,> 11 abr. 2016. 

Um dos fatores de textualidade usados pelo autor é a


intertextualidade, materializada 

a) nas referências aos traumas de sua infância.


b) na alusão à caótica crise brasileira
c) na citação da revista “The Economist”.
d) na menção à sua prima e à sua irmã.

2. (Pref. De Teresina – PI – Professor – Português –


NUCEPE/2016)

O quarto quadrinho do texto apresenta o conectivo mas,


que normalmente opõe duas ideias contrárias. Esse recurso
linguístico como fator de textualidade realiza uma  
a) coesão referencial.
b) coerência argumentativa.  
c) coesão sequencial.
d) coerência narrativa.Parte inferior do formulário

Respostas

1. (C)
Intertextualidade: é a relação que se estabelece entre dois
textos quando um deles faz referência a elementos existentes
no outro. Esses elementos podem dizer respeito ao conteúdo, à
forma, ou mesmo forma e conteúdo.
O texto “festejando no precipício”, no último parágrafo, faz
referência a outro texto, presente na revista “The Economist”.

2. (C)
Coesão REFERENCIAL - faz referência a algo que JÁ FOI
DITO  na frase/oração  (coesão anafórica) ou algo que ainda
NAO foi dito e vai ser explicado a frente na frase (catafórica) e
também pode ser uma ideia FORA DO TEXTO (exofórica). 
EX: Atenção e ESTA ideia: fumar é prejudicial. (ESTA refere
ao termo posterior “fumar é prejudicial” - catafórica)
Fumar é prejudicial, atenção a ESSA ideia. (ESSA refere ao
termo a anterior” fumar é prejudicial” - anafórica)

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

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IX - garantia de padrão de qualidade;


X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar

BRASIL LEI Nº 9394/96 DE 20 Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública
será efetivado mediante a garantia de:
DE DEZEMBRO DE 1996. I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
Estabelece as Diretrizes e Bases aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
da Educação Nacional – LDB; forma:
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
1LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o educandos com deficiência, transtornos globais do
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino;
TÍTULO I
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
Da Educação
médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas condições do educando;
manifestações culturais. VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se adultos, com características e modalidades adequadas às suas
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
instituições próprias. trabalhadores as condições de acesso e permanência na
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do escola;
trabalho e à prática social. VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e
Comentário: A educação escolar de que se trata essa lei,
assistência à saúde;
considera a educação em instituições próprias à esse fim de
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos
modo porém que essa educação tome sentido não só na vida
como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de
escolar da criança mas, também, no meio profissional e na
prática social. insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem.
TÍTULO II X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua cidadãos, associação comunitária, organização sindical,
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o
qualificação para o trabalho.
Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
§ 1o O poder público, na esfera de sua competência
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
federativa, deverá:
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em
escola; idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a concluíram a educação básica;
cultura, o pensamento, a arte e o saber; II - fazer-lhes a chamada pública;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; escola.
V - coexistência de instituições públicas e privadas de § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público
ensino; assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório,
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais
níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades
oficiais;
constitucionais e legais.
VII - valorização do profissional da educação escolar;
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na
Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

1 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.


Acesso em abril de 2017.

Conhecimentos Pedagógicos 1
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hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a
gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela pós-graduação;
ser imputada por crime de responsabilidade. VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de instituições de educação superior, com a cooperação dos
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da ensino;
escolarização anterior. IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos ensino.
de idade. § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Nacional de Educação, com funções normativas e de
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as supervisão e atividade permanente, criado por lei.
seguintes condições: § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e União terá acesso a todos os dados e informações necessários
do respectivo sistema de ensino; de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
pelo Poder Público; delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o mantenham instituições de educação superior.
previsto no art. 213 da Constituição Federal.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
Comentário: É dever do Estado garantir escola pública na I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 oficiais dos seus sistemas de ensino;
(dezessete) anos de idade de modo que o acesso à essa II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
educação é direito público subjetivo, ou seja, todo e qualquer oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
cidadão tem direito à ela e caso não consiga tem, também, o distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
direito de acionar o poder público para exigi-la. Por outro lado, com a população a ser atendida e os recursos financeiros
a matrícula nas escolas é dever dos pais ou responsáveis a disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
partir dos 4 anos. III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,
TÍTULO IV integrando e coordenando as suas ações e as dos seus
Da Organização da Educação Nacional Municípios;
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
respectivos sistemas de ensino. ensino;
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de V - baixar normas complementares para o seu sistema de
educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e ensino;
exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
relação às demais instâncias educacionais. prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
nos termos desta Lei. VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
estadual.
Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento) Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração competências referentes aos Estados e aos Municípios.
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
Territórios; oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao e planos educacionais da União e dos Estados;
Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à III - baixar normas complementares para o seu sistema de
escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva ensino;
e supletiva; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito estabelecimentos do seu sistema de ensino;
Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e,
educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas
assegurar formação básica comum; plenamente as necessidades de sua área de competência e com
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
para identificação, cadastramento e atendimento, na educação ensino.
básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) municipal.
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por
educação; se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele
VI - assegurar processo nacional de avaliação do um sistema único de educação básica.
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,

Conhecimentos Pedagógicos 2
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Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
incumbência de: integram seu sistema de ensino.
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
financeiros; I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
estabelecidas; II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada pela iniciativa privada;
docente; III – os órgãos municipais de educação.
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor
rendimento; Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
processos de integração da sociedade com a escola; (Regulamento)
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a mantidas e administradas pelo Poder Público;
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a II - privadas, assim entendidas as mantidas e
execução da proposta pedagógica da escola; administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz privado.
competente da Comarca e ao respectivo representante do
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do nas seguintes categorias: (Regulamento)
percentual permitido em lei. I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: jurídicas de direito privado que não apresentem as
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do características dos incisos abaixo;
estabelecimento de ensino; II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos representantes da comunidade;
de menor rendimento; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
além de participar integralmente dos períodos dedicados ao jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia
planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; específicas e ao disposto no inciso anterior;
VI - colaborar com as atividades de articulação da escola IV - filantrópicas, na forma da lei.
com as famílias e a comunidade.
TÍTULO V
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
gestão democrática do ensino público na educação básica, de CAPÍTULO I
acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes Da Composição dos Níveis Escolares
princípios:
I - participação dos profissionais da educação na Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
elaboração do projeto pedagógico da escola; I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino
II - participação das comunidades escolar e local em fundamental e ensino médio;
conselhos escolares ou equivalentes. II - educação superior.

Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades Comentário: A educação básica vai dos 4 (quatro) aos 17
escolares públicas de educação básica que os integram (dezessete) anos e é dividida em três etapas a educação infantil
progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa (creche e pré-escola), a educação fundamental (até a oitava
e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito série, 9° ano) e o ensino médio.
financeiro público. Outra etapa da educação é o ensino superior, em que o
estudante opta pela “área” em que quer estudar e que só é
Art. 16. O sistema federal de ensino possível após a conclusão da educação básica.
compreende:(Regulamento)
I - as instituições de ensino mantidas pela União; CAPÍTULO II
II - as instituições de educação superior criadas e mantidas DA EDUCAÇÃO BÁSICA
pela iniciativa privada; Seção I
III - os órgãos federais de educação. Das Disposições Gerais

Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver
Federal compreendem: o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; progredir no trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior mantidas pelo
Poder Público municipal; Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries
III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
e mantidas pela iniciativa privada; períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade,
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
respectivamente.

Conhecimentos Pedagógicos 3
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organização, sempre que o interesse do processo de adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do
aprendizagem assim o recomendar. art. 4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades
situados no País e no exterior, tendo como base as normas responsáveis alcançar relação adequada entre o número de
curriculares gerais. alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às do estabelecimento.
peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à
critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir vista das condições disponíveis e das características regionais
o número de horas letivas previsto nesta Lei. e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto
neste artigo.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em
por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada,
excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver; exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) cultura, da economia e dos educandos.
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
a) por promoção, para alunos que cursaram, com matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; realidade social e política, especialmente do Brasil.
b) por transferência, para candidatos procedentes de § 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões
outras escolas; regionais, constituirá componente curricular obrigatório da
c) independentemente de escolarização anterior, mediante educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
avaliação feita pela escola, que defina o grau de § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua escola, é componente curricular obrigatório da educação
inscrição na série ou etapa adequada, conforme básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada
regulamentação do respectivo sistema de ensino; pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis
por série, o regimento escolar pode admitir formas de horas;
progressão parcial, desde que preservada a sequência do II – maior de trinta anos de idade;
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
ensino; situação similar, estiver obrigado à prática da educação física;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro
de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento de 1969;
na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou V – (Vetado)
outros componentes curriculares; VI – que tenha prole.
V - a verificação do rendimento escolar observará os § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
seguintes critérios: contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena,
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os africana e europeia.
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto
eventuais provas finais; ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com 13.415, de 2017)
atraso escolar; § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries linguagens que constituirão o componente curricular de que
mediante verificação do aprendizado; trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; 2016).
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela
de ensino em seus regimentos; Lei nº 13.415, de 2017)
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do componente curricular complementar integrado à proposta
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006,
aprovação; de 2014)
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou prevenção de todas as formas de violência contra a criança e
certificados de conclusão de cursos, com as especificações ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos
cabíveis. currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino da Criança e do Adolescente), observada a produção e
médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de distribuição de material didático adequado. (Incluído pela Lei
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos nº 13.010, de 2014)
mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de
2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,

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de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco)
Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e anos de idade.
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo as seguintes regras comuns:
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
caracterizam a formação da população brasileira, a partir desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção,
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da mesmo para o acesso ao ensino fundamental;
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas,
no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho
índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas educacional;
contribuições nas áreas social, econômica e política, III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas
pertinentes à história do Brasil. diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro- integral;
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados IV - controle de frequência pela instituição de educação
no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por
educação artística e de literatura e história brasileiras. cento) do total de horas;
V - expedição de documentação que permita atestar os
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.
observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, Seção III
aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem Do Ensino Fundamental
comum e à ordem democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de
em cada estabelecimento; 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
III - orientação para o trabalho; (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas cidadão, mediante:
desportivas não-formais. I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
Art. 28. Na oferta de educação básica para a população cálculo;
rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se
de cada região, especialmente: fundamenta a sociedade;
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
II - organização escolar própria, incluindo adequação do formação de atitudes e valores;
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
climáticas; solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. assenta a vida social.
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do fundamental em ciclos.
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de por série podem adotar no ensino fundamental o regime de
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo
12.960, de 2014) sistema de ensino.
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
Comentário: Quando se fala em educação, mais língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a
especificamente em educação básica deve-se considerar não utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
apenas os conteúdos administrados em sala de aula, mas aprendizagem.
também, o desenvolvimento integral do aluno de modo a § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino
possibilitar seu desenvolvimento enquanto cidadão inserido a distância utilizado como complementação da aprendizagem
em um contexto social favorecendo seu desenvolvimento para ou em situações emergenciais.
o trabalho e também para seus estudos posteriores servindo, § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
assim, como base para o seu desenvolvimento enquanto obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
sujeito e autor do seu futuro. e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
Seção II Adolescente, observada a produção e distribuição de material
Da Educação Infantil didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
família e da comunidade. dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

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§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base


procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de
admissão dos professores. acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, Lei nº 13.415, de 2017)
constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
definição dos conteúdos do ensino religioso. esperados para o ensino médio, que serão referência nos
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a
sendo progressivamente ampliado o período de permanência formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho
na escola. voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formação nos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º O ensino fundamental será ministrado § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas avaliação processual e formativa serão organizados nas redes
de ensino. de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas
orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de
Seção IV tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
Do Ensino Médio (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415,
com duração mínima de três anos, terá como finalidades: de 2017)
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos II - conhecimento das formas contemporâneas de
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos,
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
aperfeiçoamento posteriores; arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
intelectual e do pensamento crítico; I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº
IV - a compreensão dos fundamentos científico- 13.415, de 2017)
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei
com a prática, no ensino de cada disciplina. nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá pela Lei nº 13.415, de 2017)
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas pela Lei nº 13.415, de 2017)
seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
de 2017) 13.415, de 2017)
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
13.415, de 2017) respectivas competências e habilidades será feita de acordo
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
13.415, de 2017) (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08
nº 13.415, de 2017) § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá composição de componentes curriculares da Base Nacional
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 13.415, de 2017)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
13.415, de 2017) médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 13.415, de 2017)
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
preferencialmente o espanhol, de acordo com a estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos profissional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) II - a possibilidade de concessão de certificados
intermediários de qualificação para o trabalho, quando a

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formação for estruturada e organizada em etapas com Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível
terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) médio deverá observar:
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes
inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua de Educação;
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho II - as normas complementares dos respectivos sistemas de
Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no ensino;
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos
contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela de seu projeto pedagógico.
Lei nº 13.415, de 2017)
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio
refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei,
em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada será desenvolvida de forma:
previamente pelo Conselho Estadual de Educação, I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído
homologada pelo Secretário Estadual de Educação e o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a
certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível
13.415, de 2017) médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com matrícula única para cada aluno;
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas
outros cursos ou formações para os quais a conclusão do distintas para cada curso, e podendo ocorrer:
ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
13.415, de 2017) oportunidades educacionais disponíveis;
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o oportunidades educacionais disponíveis;
sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios
pela Lei nº 13.415, de 2017) de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
reconhecer competências e firmar convênios com instituições Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional
de educação a distância com notório reconhecimento, técnica de nível médio, quando registrados, terão validade
mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na
Lei nº 13.415, de 2017) educação superior.
I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
2017) técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra subsequente, quando estruturados e organizados em etapas
experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados
Lei nº 13.415, de 2017) de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma
instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº qualificação para o trabalho.
13.415, de 2017)
IV - cursos oferecidos por centros ou programas Seção V
ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Da Educação de Jovens e Adultos
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais
ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela ensino fundamental e médio na idade própria.
Lei nº 13.415, de 2017) § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) consideradas as características do alunado, seus interesses,
condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
Seção IV-A § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio permanência do trabalhador na escola, mediante ações
integradas e complementares entre si.
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões regulamento.
técnicas.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
ou em cooperação com instituições especializadas em caráter regular.
educação profissional. § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio maiores de quinze anos;
será desenvolvida nas seguintes formas: II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores
I - articulada com o ensino médio; de dezoito anos.
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
concluído o ensino médio.

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§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos Art. 42. As instituições de educação profissional e


educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos
mediante exames. especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível
Comentário: A educação infantil (até os 5 anos de idade) de escolaridade.
deve ser complementar à ação da família e da comunidade
desde então possibilitando o desenvolvimento da criança CAPÍTULO IV
enquanto um ser bio-psico-social. Da Educação Superior
O ensino fundamental, por sua vez, com duração de 9 anos
e tento início aos 6 anos de idade visa a formação básica do Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
cidadão, ou seja, - o desenvolvimento da capacidade de I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do
aprender através do domínio da leitura, da escrita e do cálculo, espírito científico e do pensamento reflexivo;
a compreensão do ambiente natural e social, do sistema II - formar diplomados nas diferentes áreas de
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
fundamenta a sociedade, a aquisição de conhecimentos e e para a participação no desenvolvimento da sociedade
habilidades e a formação de atitudes e valores e o brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
assenta a vida social. tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
O ensino médio com duração mínima de 3 anos tem como desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
finalidade o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos vive;
anteriormente, a preparação para o trabalho, o IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
aprofundamento do desenvolvimento enquanto ser humano e científicos e técnicos que constituem patrimônio da
a integração da teoria à pratica profissional. humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
A Educação Profissional Técnica de Nível Médio, que tem publicações ou de outras formas de comunicação;
por princípios os mesmos pressupostos do ensino médio além V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
de preparar o educando para o exercício de profissões cultural e profissional e possibilitar a correspondente
técnicas. concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
A Educação de Jovens e Adultos, diz respeito àqueles que adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
não deram continuidade no ensino fundamental e médio na conhecimento de cada geração;
idade prevista e que têm o direito de prossegui-la na idade VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo
adulta. presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
CAPÍTULO III uma relação de reciprocidade;
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL VII - promover a extensão, aberta à participação da
Da Educação Profissional e Tecnológica população, visando à difusão das conquistas e benefícios
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no tecnológica geradas na instituição.
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se VIII - atuar em favor da universalização e do
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
possibilitando a construção de diferentes itinerários 13.174, de 2015)
formativos, observadas as normas do respectivo sistema e
nível de ensino. Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os e programas:
seguintes cursos: I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
I – de formação inicial e continuada ou qualificação níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos
profissional; requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde
II – de educação profissional técnica de nível médio; que tenham concluído o ensino médio ou equivalente;
III – de educação profissional tecnológica de graduação e II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
pós-graduação. concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de classificados em processo seletivo;
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne III - de pós-graduação, compreendendo programas de
a objetivos, características e duração, de acordo com as mestrado e doutorado, cursos de especialização,
diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados
Nacional de Educação. em cursos de graduação e que atendam às exigências das
instituições de ensino;
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
de educação continuada, em instituições especializadas ou no ensino.
ambiente de trabalho. (Regulamento) § 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso
II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação
profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para classificação, bem como do cronograma das chamadas para
prosseguimento ou conclusão de estudos. matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das
vagas constantes do respectivo edital. (Incluído pela Lei nº

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11.331, de 2006) (Renumerado do parágrafo único para § 1º a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
pela Lei nº 13.184, de 2015). diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições lei nº 13.168, de 2015)
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei docente até o início das aulas, os alunos devem ser
nº 13.184, de 2015) comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168,
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará de 2015)
as competências e as habilidades definidas na Base Nacional V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) nº 13.168, de 2015)
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de
Art. 45. A educação superior será ministrada em ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
variados graus de abrangência ou especialização. de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela
lei nº 13.168, de 2015)
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em
como o credenciamento de instituições de educação superior, cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele
terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação
após processo regular de avaliação. (Regulamento) profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168,
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este de 2015)
artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento
caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros
na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca
autonomia, ou em descredenciamento. examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.
responsável por sua manutenção acompanhará o processo de § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, salvo nos programas de educação a distância.
para a superação das deficiências. § 4º As instituições de educação superior oferecerão, no
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de oferta noturna nas instituições públicas, garantida a
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos necessária previsão orçamentária.
exames finais, quando houver.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
cada período letivo, os programas dos cursos e demais quando registrados, terão validade nacional como prova da
componentes curriculares, sua duração, requisitos, formação recebida por seu titular.
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições
e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras não-universitárias serão registrados em universidades
formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
de 2015). § 2º Os diplomas de graduação expedidos por
I - em página específica na internet no sítio eletrônico universidades estrangeiras serão revalidados por
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como de reciprocidade ou equiparação.
título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
2015) por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
b) a página principal da instituição de ensino superior, bem por universidades que possuam cursos de pós-graduação
como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma em nível equivalente ou superior.
finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168, Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na
de 2015) forma da lei. (Regulamento)
d) a página específica deve conter a data completa de sua
última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando da
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade
I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.
III - em local visível da instituição de ensino superior e de
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de
ensino.

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Art. 52. As universidades são instituições geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de Poder mantenedor;
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas
I - produção intelectual institucionalizada mediante o peculiaridades de organização e funcionamento;
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e aprovação do Poder competente, para aquisição de bens
nacional; imóveis, instalações e equipamentos;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
acadêmica de mestrado ou doutorado; providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial
III - um terço do corpo docente em regime de tempo necessárias ao seu bom desempenho.
integral. § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades estendidas a instituições que comprovem alta qualificação
especializadas por campo do saber. (Regulamento) para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação
realizada pelo Poder Público.
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às
universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
atribuições: Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e desenvolvimento das instituições de educação superior por ela
programas de educação superior previstos nesta Lei, mantidas.
obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do
respectivo sistema de ensino; (Regulamento) Art. 56. As instituições públicas de educação superior
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a
observadas as diretrizes gerais pertinentes; existência de órgãos colegiados deliberativos, de que
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa participarão os segmentos da comunidade institucional, local
científica, produção artística e atividades de extensão; e regional.
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão
institucional e as exigências do seu meio; setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e
consonância com as normas gerais atinentes; modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; de dirigentes.
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de
geral, bem como administrar rendimentos conforme aulas. (Regulamento)
dispositivos institucionais;
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma CAPÍTULO V
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos
cooperação financeira resultante de convênios com entidades desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
públicas e privadas. preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
Parágrafo único. Para garantir a autonomia didático- com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
científica das universidades, caberá aos seus colegiados de altas habilidades ou superdotação.
ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio
disponíveis, sobre: especializado, na escola regular, para atender às
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; peculiaridades da clientela de educação especial.
II - ampliação e diminuição de vagas; § 2º O atendimento educacional será feito em classes,
III - elaboração da programação dos cursos; escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das
IV - programação das pesquisas e das atividades de condições específicas dos alunos, não for possível a sua
extensão; integração nas classes comuns de ensino regular.
V - contratação e dispensa de professores; § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do
VI - planos de carreira docente. Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a
educação infantil.
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos altas habilidades ou superdotação:
de carreira e do regime jurídico do seu pessoal. I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições organização específicos, para atender às suas necessidades;
asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas II - terminalidade específica para aqueles que não puderem
poderão: atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em
administrativo, assim como um plano de cargos e salários, menor tempo o programa escolar para os superdotados;
atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos III - professores com especialização adequada em nível
disponíveis; médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em professores do ensino regular capacitados para a integração
conformidade com as normas gerais concernentes; desses educandos nas classes comuns;
III - aprovar e executar planos, programas e projetos de IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições

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adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção I – a presença de sólida formação básica, que propicie o
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma competências de trabalho;
habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
psicomotora; supervisionados e capacitação em serviço;
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais III – o aproveitamento da formação e experiências
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
regular.
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação plena, admitida, como formação mínima para o exercício do
matriculados na educação básica e na educação superior, a fim magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) 2017)
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino em regime de colaboração, deverão promover a formação
estabelecerão critérios de caracterização das instituições inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação magistério.
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e § 2º A formação continuada e a capacitação dos
financeiro pelo Poder Público. profissionais de magistério poderão utilizar recursos e
Parágrafo único. O poder público adotará, como tecnologias de educação a distância.
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
educandos com deficiência, transtornos globais do preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
própria rede pública regular de ensino, independentemente § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
do apoio às instituições previstas neste artigo. adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência
em cursos de formação de docentes em nível superior para
Comentário: A Educação especial diz respeito ao direito à atuar na educação básica pública.
Educação, preferencialmente na rede regular aos educandos § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e incentivarão a formação de profissionais do magistério para
altas habilidades ou superdotação, que possuem necessidades atuar na educação básica pública mediante programa
especiais e que requerem, em alguns casos, atenção especial. À institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
essas crianças o direito à educação deve ser garantido visando matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
o maior desenvolvimento possível desse educando. nas instituições de educação superior.
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
TÍTULO VI mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino
Dos Profissionais da Educação médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar Nacional de Educação - CNE.
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido § 7o (Vetado).
formados em cursos reconhecidos, são: § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
I – professores habilitados em nível médio ou superior terão por referência a Base Nacional Comum
para a docência na educação infantil e nos ensinos Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº
fundamental e médio; 13.415, de 2017)
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; habilitações tecnológicas.
III - trabalhadores em educação, portadores de diploma de Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim; e os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou
(Redação dada pela Medida Provisória nº 746, de 2016) em instituições de educação básica e superior, incluindo
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos cursos de educação profissional, cursos superiores de
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação.
áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
atestados por titulação específica ou prática de ensino em Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão:
unidades educacionais da rede pública ou privada ou das I - cursos formadores de profissionais para a educação
corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei formação de docentes para a educação infantil e para as
nº 13.415, de 2017) primeiras séries do ensino fundamental;
V - profissionais graduados que tenham feito II - programas de formação pedagógica para portadores de
complementação pedagógica, conforme disposto pelo diplomas de educação superior que queiram se dedicar à
Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, educação básica;
de 2017) III - programas de educação continuada para os
profissionais de educação dos diversos níveis.
Parágrafo único. A formação dos profissionais da
educação, de modo a atender às especificidades do exercício Art. 64. A formação de profissionais de educação para
de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes administração, planejamento, inspeção, supervisão e
etapas e modalidades da educação básica, terá como orientação educacional para a educação básica, será feita em
fundamentos: cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-

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graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
formação, a base comum nacional. mencionadas neste artigo as operações de crédito por
antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita
horas. estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais,
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério com base no eventual excesso de arrecadação.
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
em programas de mestrado e doutorado. efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas
universidade com curso de doutorado em área afim, poderá a cada trimestre do exercício financeiro.
suprir a exigência de título acadêmico. § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação,
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos observados os seguintes prazos:
termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada
público: mês, até o vigésimo dia;
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
e títulos; dia de cada mês, até o trigésimo dia;
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
III - piso salarial profissional; § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção
IV - progressão funcional baseada na titulação ou monetária e à responsabilização civil e criminal das
habilitação, e na avaliação do desempenho; autoridades competentes.
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
incluído na carga de trabalho; Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e
VI - condições adequadas de trabalho. desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício à consecução dos objetivos básicos das instituições
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se
termos das normas de cada sistema de ensino. destinam a:
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e
8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas demais profissionais da educação;
funções de magistério as exercidas por professores e II - aquisição, manutenção, construção e conservação de
especialistas em educação no desempenho de atividades instalações e equipamentos necessários ao ensino;
educativas, quando exercidas em estabelecimento de III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, ensino;
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à
pedagógico. expansão do ensino;
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao V - realização de atividades-meio necessárias ao
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos funcionamento dos sistemas de ensino;
públicos para provimento de cargos dos profissionais da VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
educação. públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito
TÍTULO VII destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
Dos Recursos financeiros VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção
de programas de transporte escolar.
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
originários de: Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
Distrito Federal e dos Municípios; I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
II - receita de transferências constitucionais e outras ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que
transferências; não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade
III - receita do salário-educação e de outras contribuições ou à sua expansão;
sociais; II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
IV - receita de incentivos fiscais; caráter assistencial, desportivo ou cultural;
V - outros recursos previstos em lei. III - formação de quadros especiais para a administração
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de IV - programas suplementares de alimentação, assistência
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras
e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas formas de assistência social;
Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
manutenção e desenvolvimento do ensino público. VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela quando em desvio de função ou em atividade alheia à
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou manutenção e desenvolvimento do ensino.
pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e
receita do governo que a transferir. desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos

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balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se TÍTULO VIII
refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal. Das Disposições Gerais
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão,
prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais índios, desenvolverá programas integrados de ensino e
Transitórias e na legislação concernente. pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e
intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a
Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
oportunidades educacionais para o ensino fundamental, suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de ciências;
assegurar ensino de qualidade. II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo às informações, conhecimentos técnicos e científicos da
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-
para o ano subsequente, considerando variações regionais no índias.
custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos sistemas de ensino no provimento da educação intercultural
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente, às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de integrados de ensino e pesquisa.
qualidade de ensino. § 1º Os programas serão planejados com audiência das
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula comunidades indígenas.
de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
Federal ou do Município em favor da manutenção e do I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna
desenvolvimento do ensino. de cada comunidade indígena;
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será II - manter programas de formação de pessoal
definida pela razão entre os recursos de uso especializado, destinado à educação escolar nas comunidades
constitucionalmente obrigatório na manutenção e indígenas;
desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo III - desenvolver currículos e programas específicos, neles
ao padrão mínimo de qualidade. incluindo os conteúdos culturais correspondentes às
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a respectivas comunidades;
União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático
estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos específico e diferenciado.
que efetivamente frequentam a escola. § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á,
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à
responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V pesquisa e desenvolvimento de programas especiais.
do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
atendimento. Art. 79-A. (Vetado)

Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei,
sem prejuízo de outras prescrições legais. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, (Regulamento)
confessionais ou filantrópicas que: § 1º A educação a distância, organizada com abertura e
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam regime especiais, será oferecida por instituições
resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela especificamente credenciadas pela União.
de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; de exames e registro de diploma relativos a cursos de
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra educação a distância.
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder § 3º As normas para produção, controle e avaliação de
Público, no caso de encerramento de suas atividades; programas de educação a distância e a autorização para sua
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino,
recebidos. podendo haver cooperação e integração entre os diferentes
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser sistemas. (Regulamento)
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma § 4º A educação a distância gozará de tratamento
da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, diferenciado, que incluirá:
quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios
obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede de comunicação que sejam explorados mediante autorização,
local. concessão ou permissão do poder público;
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive educativas;
mediante bolsas de estudo.

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APOSTILAS OPÇÃO

III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Público, pelos concessionários de canais comerciais. Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições da data de sua publicação.
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos
desta Lei. e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos
respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de estabelecidos.
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
sobre a matéria. disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.

Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da
fixadas pelos sistemas de ensino. publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
ensino.
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime
respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste,
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação autonomia universitária.
própria poderá exigir a abertura de concurso público de
provas e títulos para cargo de docente de instituição pública Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de
assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968,
das Disposições Constitucionais Transitórias. não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de
como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição 1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e
de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e quaisquer outras disposições em contrário.
Tecnologia, nos termos da legislação específica.
Questões
TÍTULO IX
Das Disposições Transitórias 01. (SEDUC –AM- Pedagogo- FGV/2014) As opções a
seguir apresentam destaques da Lei nº 9394/96, à exceção de
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um uma. Assinale-a.
ano a partir da publicação desta Lei. (A) Flexibilidade do currículo – permite a incorporação de
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação disciplinas considerando o contexto e a clientela.
desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano (B) Educação Artística e Ensino Religioso – disciplinas
Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos obrigatórias no Ensino Básico.
seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre (C) Jornada escolar no Ensino Fundamental – pelo menos
Educação para Todos. quatro horas em sala de aula.
§ 2º (Revogado) (D) Educação Profissional – constitui um curso
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, independente do Ensino Médio.
supletivamente, a União, devem: (E) Educação organizada em dois níveis – Educação Básica
I - (Revogado) e Educação Superior.
a) (Revogado)
b) (Revogado) 02. (IF-SP- Professor- Biologia- IF-SP/2015) Segundo a
c) (Revogado) Lei nº 9394, de 1996, a respeito do tema “diplomas", é
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e incorreto afirmar que:
adultos insuficientemente escolarizados; (A) Os diplomas de cursos de educação profissional técnica
III - realizar programas de capacitação para todos os de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e
professores em exercício, utilizando também, para isto, os habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação
recursos da educação a distância; superior.
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino (B) Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação quando registrados, terão validade nacional como prova da
do rendimento escolar. formação recebida por seu titular.
§ 4º (Revogado) (C) Os diplomas de graduação expedidos por
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a universidades estrangeiras serão revalidados por
progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
fundamental para o regime de escolas de tempo integral. área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao de reciprocidade ou equiparação.
Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos (D) Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes por universidades que possuam cursos de pós-graduação
pelos governos beneficiados. reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
em nível equivalente ou superior.
Art. 87.A- (Vetado).

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APOSTILAS OPÇÃO

(E) Os diplomas expedidos pelas universidades e aqueles


conferidos por instituições não-universitárias serão
registrados pelo Conselho Nacional de Educação.
BRASIL RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº
4, DE 13 DE JULHO DE 2010.
03. (INSS- Analista Pedagogia- FUNRIO/2014) Segundo Define Diretrizes Curriculares
o artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
9394 de 1996, em seu inciso VI, o controle de frequência dos
Nacionais Gerais para a
alunos ficará a cargo da Educação Básica;
(A) secretaria de ensino municipal, conforme o disposto no
seu regimento, e exigida a frequência mínima de setenta e
cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE
(B) secretaria de ensino estadual, conforme o disposto no EDUCAÇÃO CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
seu regulamento, e exigida a frequência mínima de setenta e
cinco por cento do total de horas letivas para aprovação. RESOLUÇÃO Nº 4, DE 13 DE JULHO DE 20102
(C) escola, conforme o disposto no seu regimento e nas
normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica.
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas
para aprovação. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho
(D) escola, conforme o disposto no seu regimento, e exigida Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais, e de
a frequência mínima de oitenta e cinco por cento do total de conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º
horas letivas para aprovação. da Lei nº 4.024/1961, com a redação dada pela Lei nº
(E) secretaria de educação básica do MEC, conforme o 9.131/1995, nos artigos 36, 36A, 36-B, 36-C, 36-D, 37, 39, 40,
disposto em regimento federal, e exigida a frequência mínima 41 e 42 da Lei nº 9.394/1996, com a redação dada pela Lei nº
de oitenta e cinco por cento do total de horas letivas para 11.741/2008, bem como no Decreto nº 5.154/2004, e com
aprovação. fundamento no Parecer CNE/CEB nº 7/2010, homologado por
Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
04. (UFT - Assistente em Administração - COPESE – publicado no DOU de 9 de julho de 2010.
UFT/2017) Quanto às normas da educação superior,
previstas na Lei 9.394/1996 (LDB), assinale a alternativa RESOLVE:
INCORRETA.
(A) A educação superior será ministrada em instituições de Art. 1º A presente Resolução define Diretrizes Curriculares
ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de Nacionais Gerais para o conjunto orgânico, sequencial e
abrangência ou especialização. articulado das etapas e modalidades da Educação Básica,
(B) A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como baseando-se no direito de toda pessoa ao seu pleno
o credenciamento de instituições de educação de nível médio desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania
e superior terão prazos ilimitados. e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em
(C) Na educação superior, o ano letivo regular, ambiente educativo, e tendo como fundamento a
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a
exames finais, quando houver. inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das
(D) As instituições informarão aos interessados, antes de crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional, a
cada período letivo, os programas dos cursos e demais aprendizagem para continuidade dos estudos e a extensão da
componentes curriculares, sua duração, requisitos, obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica.
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, TÍTULO I
assim como publicar as respectivas informações nos termos da OBJETIVOS
lei.
Art. 2º Estas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para
05. (IFB - Professor – Português – IFB/2017) No que a Educação Básica têm por objetivos:
concerne aos níveis e modalidades de educação e ensino, I - sistematizar os princípios e as diretrizes gerais da
previstos na Lei nº 9394/96, pode-se afirmar que: Educação Básica contidos na Constituição, na Lei de Diretrizes
(A) A educação básica é formada pela educação infantil e e Bases da Educação Nacional (LDB) e demais dispositivos
pelo ensino fundamental. legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para
(B) A educação escolar compõe-se de educação básica, assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco
média e superior. os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola;
(C) A escola poderá reclassificar os alunos tendo como II - estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
base as normas curriculares gerais. subsidiar a formulação, a execução e a avaliação do projeto
(D) A educação básica tem a finalidade de desenvolver o político-pedagógico da escola de Educação Básica;
educando para o exercício da cidadania, sendo a educação III - orientar os cursos de formação inicial e continuada de
média e média técnica meios para progressão no trabalho e em docentes e demais profissionais da Educação Básica, os
estudos posteriores. sistemas educativos dos diferentes entes federados e as
(E) O calendário escolar do ensino básico deve ser escolas que os integram, indistintamente da rede a que
obedecido em todo o território nacional, com a previsão de pertençam.
dois ciclos de férias escolares, em julho e em janeiro.
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais específicas
Respostas para as etapas e modalidades da Educação Básica devem
01. B. / 02. E. / 03. C. / 04.: B. / 05.: C. evidenciar o seu papel de indicador de opções políticas,

2Resolução CNE/CEB 4/2010. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de julho de


2010, Seção 1, p. 824.

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sociais, culturais, educacionais, e a função da educação, na sua TÍTULO IV


relação com um projeto de Nação, tendo como referência os ACESSO E PERMANÊNCIA PARA A CONQUISTA DA
objetivos constitucionais, fundamentando-se na cidadania e na QUALIDADE SOCIAL
dignidade da pessoa, o que pressupõe igualdade, liberdade,
pluralidade, diversidade, respeito, justiça social, solidariedade Art. 8º A garantia de padrão de qualidade, com pleno
e sustentabilidade. acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens
na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e
TÍTULO II da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da
REFERÊNCIAS CONCEITUAIS educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do
processo educativo.
Art. 4º As bases que dão sustentação ao projeto nacional de
educação responsabilizam o poder público, a família, a Art. 9º A escola de qualidade social adota como
sociedade e a escola pela garantia a todos os educandos de um centralidade o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe
ensino ministrado de acordo com os princípios de: atendimento aos seguintes requisitos:
I - igualdade de condições para o acesso, inclusão, I - revisão das referências conceituais quanto aos
permanência e sucesso na escola; diferentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a sociais na escola e fora dela;
cultura, o pensamento, a arte e o saber; II - consideração sobre a inclusão, a valorização das
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
IV - respeito à liberdade e aos direitos; cultural, resgatando e respeitando as várias manifestações de
V - coexistência de instituições públicas e privadas de cada comunidade;
ensino; III - foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como
oficiais; instrumento de contínua progressão dos estudantes;
VII - valorização do profissional da educação escolar; IV - inter-relação entre organização do currículo, do
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma da trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; tendo como objetivo a aprendizagem do estudante;
IX - garantia de padrão de qualidade; V - preparação dos profissionais da educação, gestores,
X - valorização da experiência extraescolar; professores, especialistas, técnicos, monitores e outros;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as VI - compatibilidade entre a proposta curricular e a
práticas sociais. infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e
Art. 5º A Educação Básica é direito universal e alicerce acessibilidade;
indispensável para o exercício da cidadania em plenitude, da VII - integração dos profissionais da educação, dos
qual depende a possibilidade de conquistar todos os demais estudantes, das famílias, dos agentes da comunidade
direitos, definidos na Constituição Federal, no Estatuto da interessados na educação;
Criança e do Adolescente (ECA), na legislação ordinária e nas VIII - valorização dos profissionais da educação, com
demais disposições que consagram as prerrogativas do programa de formação continuada, critérios de acesso,
cidadão. permanência, remuneração compatível com a jornada de
trabalho definida no projeto político-pedagógico;
Art. 6º Na Educação Básica, é necessário considerar as IX - realização de parceria com órgãos, tais como os de
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, assistência social e desenvolvimento humano, cidadania,
buscando recuperar, para a função social desse nível da ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, saúde,
educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em meio ambiente.
formação na sua essência humana.
Art. 10. A exigência legal de definição de padrões mínimos
TÍTULO III de qualidade da educação traduz a necessidade de reconhecer
SISTEMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO que a sua avaliação associa-se à ação planejada, coletivamente,
pelos sujeitos da escola.
Art. 7º A concepção de educação deve orientar a § 1º O planejamento das ações coletivas exercidas pela
institucionalização do regime de colaboração entre União, escola supõe que os sujeitos tenham clareza quanto:
Estados, Distrito Federal e Municípios, no contexto da I - aos princípios e às finalidades da educação, além do
estrutura federativa brasileira, em que convivem sistemas reconhecimento e da análise dos dados indicados pelo Índice
educacionais autônomos, para assegurar efetividade ao de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou outros
projeto da educação nacional, vencer a fragmentação das indicadores, que o complementem ou substituam;
políticas públicas e superar a desarticulação institucional. II - à relevância de um projeto político-pedagógico
§ 1º Essa institucionalização é possibilitada por um concebido e assumido colegiadamente pela comunidade
Sistema Nacional de Educação, no qual cada ente federativo, educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a
com suas peculiares competências, é chamado a colaborar pluralidade cultural;
para transformar a Educação Básica em um sistema orgânico, III - à riqueza da valorização das diferenças manifestadas
sequencial e articulado. pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
§ 2º O que caracteriza um sistema é a atividade intencional segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
e organicamente concebida, que se justifica pela realização de IV - aos padrões mínimos de qualidade (Custo Aluno-
atividades voltadas para as mesmas finalidades ou para a Qualidade Inicial – CAQi);
concretização dos mesmos objetivos. § 2º Para que se concretize a educação escolar, exige-se um
§ 3º O regime de colaboração entre os entes federados padrão mínimo de insumos, que tem como base um
pressupõe o estabelecimento de regras de equivalência entre investimento com valor calculado a partir das despesas
as funções distributiva, supletiva, normativa, de supervisão e essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos
avaliação da educação nacional, respeitada a autonomia dos formativos, que levem, gradualmente, a uma educação
sistemas e valorizadas as diferenças regionais. integral, dotada de qualidade social:

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I - creches e escolas que possuam condições de escolares que se desdobram em torno do conhecimento,
infraestrutura e adequados equipamentos; permeadas pelas relações sociais, articulando vivências e
II - professores qualificados com remuneração adequada e saberes dos estudantes com os conhecimentos historicamente
compatível com a de outros profissionais com igual nível de acumulados e contribuindo para construir as identidades dos
formação, em regime de trabalho de 40 (quarenta) horas em educandos.
tempo integral em uma mesma escola; § 3º A organização do percurso formativo, aberto e
III - definição de uma relação adequada entre o número de contextualizado, deve ser construída em função das
alunos por turma e por professor, que assegure aprendizagens peculiaridades do meio e das características, interesses e
relevantes; necessidades dos estudantes, incluindo não só os
IV - pessoal de apoio técnico e administrativo que componentes curriculares centrais obrigatórios, previstos na
responda às exigências do que se estabelece no projeto legislação e nas normas educacionais, mas outros, também, de
político-pedagógico. modo flexível e variável, conforme cada projeto escolar, e
assegurando:
TÍTULO V I - concepção e organização do espaço curricular e físico
ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: CONCEITO, LIMITES, que se imbriquem e alarguem, incluindo espaços, ambientes e
POSSIBILIDADES equipamentos que não apenas as salas de aula da escola, mas,
igualmente, os espaços de outras escolas e os socioculturais e
Art. 11. A escola de Educação Básica é o espaço em que se esportivo recreativos do entorno, da cidade e mesmo da
resignifica e se recria a cultura herdada, reconstruindo-se as região;
identidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes II - ampliação e diversificação dos tempos e espaços
próprias das diferentes regiões do País. curriculares que pressuponham profissionais da educação
Parágrafo único. Essa concepção de escola exige a dispostos a inventar e construir a escola de qualidade social,
superação do rito escolar, desde a construção do currículo até com responsabilidade compartilhada com as demais
os critérios que orientam a organização do trabalho escolar em autoridades que respondem pela gestão dos órgãos do poder
sua multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e público, na busca de parcerias possíveis e necessárias, até
aconchego, para garantir o bem-estar de crianças, porque educar é responsabilidade da família, do Estado e da
adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento entre todas sociedade;
as pessoas. III - escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar,
pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar pela
Art. 12. Cabe aos sistemas educacionais, em geral, definir o escola, que oriente o projeto político-pedagógico e resulte de
programa de escolas de tempo parcial diurno (matutino ou pacto estabelecido entre os profissionais da escola, conselhos
vespertino), tempo parcial noturno, e tempo integral (turno e escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz
contra turno ou turno único com jornada escolar de 7 horas, curricular, a definição de eixos temáticos e a constituição de
no mínimo, durante todo o período letivo), tendo em vista a redes de aprendizagem;
amplitude do papel socioeducativo atribuído ao conjunto IV - compreensão da matriz curricular entendida como
orgânico da Educação Básica, o que requer outra organização propulsora de movimento, dinamismo curricular e
e gestão do trabalho pedagógico. educacional, de tal modo que os diferentes campos do
§ 1º Deve-se ampliar a jornada escolar, em único ou conhecimento possam se coadunar com o conjunto de
diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do atividades educativas;
estudante vincula-se tanto à quantidade e qualidade do tempo V - organização da matriz curricular entendida como
diário de escolarização quanto à diversidade de atividades de alternativa operacional que embase a gestão do currículo
aprendizagens. escolar e represente subsídio para a gestão da escola (na
§ 2º A jornada em tempo integral com qualidade implica a organização do tempo e do espaço curricular, distribuição e
necessidade da incorporação efetiva e orgânica, no currículo, controle do tempo dos trabalhos docentes), passo para uma
de atividades e estudos pedagogicamente planejados e gestão centrada na abordagem interdisciplinar, organizada
acompanhados. por eixos temáticos, mediante interlocução entre os diferentes
§ 3º Os cursos em tempo parcial noturno devem campos do conhecimento;
estabelecer metodologia adequada às idades, à maturidade e à VI - entendimento de que eixos temáticos são uma forma
experiência de aprendizagens, para atenderem aos jovens e de organizar o trabalho pedagógico, limitando a dispersão do
adultos em escolarização no tempo regular ou na modalidade conhecimento, fornecendo o cenário no qual se constroem
de Educação de Jovens e Adultos. objetos de estudo, propiciando a concretização da proposta
pedagógica centrada na visão interdisciplinar, superando o
CAPÍTULO I isolamento das pessoas e a compartimentalização de
FORMAS PARA A ORGANIZAÇÃO CURRICULAR conteúdos rígidos;
VII - estímulo à criação de métodos didático-pedagógicos
Art. 13. O currículo, assumindo como referência os utilizando-se recursos tecnológicos de informação e
princípios educacionais garantidos à educação, assegurados comunicação, a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim de
no artigo 4º desta Resolução, configura-se como o conjunto de superar a distância entre estudantes que aprendem a receber
valores e práticas que proporcionam a produção, a informação com rapidez utilizando a linguagem digital e
socialização de significados no espaço social e contribuem professores que dela ainda não se apropriaram;
intensamente para a construção de identidades socioculturais VIII - constituição de rede de aprendizagem, entendida
dos educandos. como um conjunto de ações didático-pedagógicas, com foco na
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do aprendizagem e no gosto de aprender, subsidiada pela
interesse social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do consciência de que o processo de comunicação entre
respeito ao bem comum e à ordem democrática, considerando estudantes e professores é efetivado por meio de práticas e
as condições de escolaridade dos estudantes em cada recursos diversos;
estabelecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de IX - adoção de rede de aprendizagem, também, como
práticas educativas formais e não-formais. ferramenta didático-pedagógica relevante nos programas de
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se formação inicial e continuada de profissionais da educação,
assegurar o entendimento de currículo como experiências sendo que esta opção requer planejamento sistemático

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integrado estabelecido entre sistemas educativos ou conjunto § 3º A língua espanhola, por força da Lei nº 11.161/2005,
de unidades escolares; é obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora
§ 4º A transversalidade é entendida como uma forma de facultativa para o estudante, bem como possibilitada no
organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas e Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano.
eixos temáticos são integrados às disciplinas e às áreas ditas
convencionais, de forma a estarem presentes em todas elas. Art. 16. Leis específicas, que complementam a LDB,
§ 5º A transversalidade difere da interdisciplinaridade e determinam que sejam incluídos componentes não
ambas complementam-se, rejeitando a concepção de disciplinares, como temas relativos ao trânsito, ao meio
conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto ambiente e à condição e direitos do idoso.
e acabado.
§ 6º A transversalidade refere-se à dimensão didático- Art. 17. No Ensino Fundamental e no Ensino Médio,
pedagógica, e a interdisciplinaridade, à abordagem destinar-se-ão, pelo menos, 20% do total da carga horária
epistemológica dos objetos de conhecimento. anual ao conjunto de programas e projetos interdisciplinares
eletivos criados pela escola, previsto no projeto pedagógico, de
CAPÍTULO II modo que os estudantes do Ensino Fundamental e do Médio
FORMAÇÃO BÁSICA COMUM E PARTE DIVERSIFICADA possam escolher aquele programa ou projeto com que se
identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica conhecimento e a experiência.
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores produzidos § 1º Tais programas e projetos devem ser desenvolvidos
culturalmente, expressos nas políticas públicas e gerados nas de modo dinâmico, criativo e flexível, em articulação com a
instituições produtoras do conhecimento científico e comunidade em que a escola esteja inserida.
tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das § 2º A interdisciplinaridade e a contextualização devem
linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na assegurar a transversalidade do conhecimento de diferentes
produção artística; nas formas diversas de exercício da disciplinas e eixos temáticos, perpassando todo o currículo e
cidadania; e nos movimentos sociais. propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes
§ 1º Integram a base nacional comum nacional: a) a Língua campos do conhecimento.
Portuguesa;
b) a Matemática; TÍTULO VI
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo
da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, Art. 18. Na organização da Educação Básica, devem-se
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, observar as Diretrizes Curriculares Nacionais comuns a todas
incluindo-se a música; as suas etapas, modalidades e orientações temáticas,
e) a Educação Física; respeitadas as suas especificidades e as dos sujeitos a que se
f) o Ensino Religioso. destinam.
§ 2º Tais componentes curriculares são organizados pelos § 1º As etapas e as modalidades do processo de
sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento, escolarização estruturam-se de modo orgânico, sequencial e
disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade articulado, de maneira complexa, embora permanecendo
dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais individualizadas ao logo do percurso do estudante, apesar das
se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da mudanças por que passam:
cidadania, em ritmo compatível com as etapas do I - a dimensão orgânica é atendida quando são observadas
desenvolvimento integral do cidadão. as especificidades e as diferenças de cada sistema educativo,
§ 3º A base nacional comum e a parte diversificada não sem perder o que lhes é comum: as semelhanças e as
podem se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas identidades que lhe são inerentes;
específicas para cada uma dessas partes, mas devem ser II - a dimensão sequencial compreende os processos
organicamente planejadas e geridas de tal modo que as educativos que acompanham as exigências de aprendizagens
tecnologias de informação e comunicação perpassem definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e
transversalmente a proposta curricular, desde a Educação progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior,
Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos projetos constituindo-se em diferentes e insubstituíveis momentos da
político-pedagógico. vida dos educandos;
III - a articulação das dimensões orgânica e sequencial das
Art. 15. A parte diversificada enriquece e complementa a etapas e das modalidades da Educação Básica, e destas com a
base nacional comum, prevendo o estudo das características Educação Superior, implica ação coordenada e integradora do
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da seu conjunto.
comunidade escolar, perpassando todos os tempos e espaços § 2º A transição entre as etapas da Educação Básica e suas
curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Ensino fases requer formas de articulação das dimensões orgânica e
Médio, independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos sequencial que assegurem aos educandos, sem tensões e
tenham acesso à escola. rupturas, a continuidade de seus processos peculiares de
§ 1º A parte diversificada pode ser organizada em temas aprendizagem e desenvolvimento.
gerais, na forma de eixos temáticos, selecionados
colegiadamente pelos sistemas educativos ou pela unidade Art. 19. Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus
escolar. princípios, objetivos e diretrizes educacionais,
§ 2º A LDB inclui o estudo de, pelo menos, uma língua fundamentando-se na inseparabilidade dos conceitos
estrangeira moderna na parte diversificada, cabendo sua referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção
escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da norteadora do projeto político-pedagógico elaborado e
escola, que deve considerar o atendimento das características executado pela comunidade educacional.
locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em vista as
demandas do mundo do trabalho e da internacionalização de Art. 20. O respeito aos educandos e a seus tempos mentais,
toda ordem de relações. sócioemocionais, culturais e identitários é um princípio
orientador de toda a ação educativa, sendo responsabilidade

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dos sistemas a criação de condições para que crianças, nas motivações estimuladas e orientadas pelos professores e
adolescentes, jovens e adultos, com sua diversidade, tenham a demais profissionais da educação e outros de áreas
oportunidade de receber a formação que corresponda à idade pertinentes, respeitados os limites e as potencialidades de
própria de percurso escolar. cada criança e os vínculos desta com a família ou com o seu
responsável direto.
CAPÍTULO I
ETAPAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA Seção II
Ensino Fundamental
Art. 21. São etapas correspondentes a diferentes
momentos constitutivos do desenvolvimento educacional: Art. 23. O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de
I - a Educação Infantil, que compreende: a Creche, duração, de matrícula obrigatória para as crianças a partir dos
englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da 6 (seis) anos de idade, tem duas fases sequentes com
criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com características próprias, chamadas de anos iniciais, com 5
duração de 2 (dois) anos; (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis)
II - o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de
duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos Parágrafo único. No Ensino Fundamental, acolher significa
finais; III - o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) também cuidar e educar, como forma de garantir a
anos. aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o
Parágrafo único. Essas etapas e fases têm previsão de estudante desenvolva interesses e sensibilidades que lhe
idades próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se permitam usufruir dos bens culturais disponíveis na
atenta para sujeitos com características que fogem à norma, comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral, e que lhe
como é o caso, entre outros: possibilitem ainda sentir-se como produtor valorizado desses
I - de atraso na matrícula e/ou no percurso escolar; bens.
II - de retenção, repetência e retorno de quem havia
abandonado os estudos; Art. 24. Os objetivos da formação básica das crianças,
III - de portadores de deficiência limitadora; definidos para a Educação Infantil, prolongam-se durante os
IV - de jovens e adultos sem escolarização ou com esta anos iniciais do Ensino Fundamental, especialmente no
incompleta; primeiro, e completam-se nos anos finais, ampliando e
V - de habitantes de zonas rurais; intensificando, gradativamente, o processo educativo,
VI - de indígenas e quilombolas; mediante:
VII - de adolescentes em regime de acolhimento ou I - desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
internação, jovens e adultos em situação de privação de como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
liberdade nos estabelecimentos penais. cálculo;
II - foco central na alfabetização, ao longo dos 3 (três)
Seção I primeiros anos;
Educação Infantil III - compreensão do ambiente natural e social, do sistema
político, da economia, da tecnologia, das artes, da cultura e dos
Art. 22. A Educação Infantil tem por objetivo o valores em que se fundamenta a sociedade;
desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, IV - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,
afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a
ação da família e da comunidade. formação de atitudes e valores;
§ 1º As crianças provêm de diferentes e singulares V - fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
contextos socioculturais, socioeconômicos e étnicos, por isso solidariedade humana e de respeito recíproco em que se
devem ter a oportunidade de ser acolhidas e respeitadas pela assenta a vida social.
escola e pelos profissionais da educação, com base nos
princípios da individualidade, igualdade, liberdade, Art. 25. Os sistemas estaduais e municipais devem
diversidade e pluralidade. estabelecer especial forma de colaboração visando à oferta do
§ 2º Para as crianças, independentemente das diferentes Ensino Fundamental e à articulação sequente entre a primeira
condições físicas, sensoriais, intelectuais, linguísticas, étnico- fase, no geral assumida pelo Município, e a segunda, pelo
raciais, socioeconômicas, de origem, de religião, entre outras, Estado, para evitar obstáculos ao acesso de estudantes que se
as relações sociais e intersubjetivas no espaço escolar transfiram de uma rede para outra para completar esta
requerem a atenção intensiva dos profissionais da educação, escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade e a
durante o tempo de desenvolvimento das atividades que lhes totalidade do processo formativo do escolar.
são peculiares, pois este é o momento em que a curiosidade
deve ser estimulada, a partir da brincadeira orientada pelos Seção III
profissionais da educação. Ensino Médio
§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social Art. 26. O Ensino Médio, etapa final do processo formativo
devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve da Educação Básica, é orientado por princípios e finalidades
ocorrer ao longo da Educação Básica. que preveem:
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos
promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação adquiridos no Ensino
Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças, Fundamental, possibilitando o prosseguimento de
em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a estudos;
sociedade, prevendo programas e projetos em parceria, II - a preparação básica para a cidadania e o trabalho,
formalmente estabelecidos. tomado este como princípio educativo, para continuar
§ 5º A gestão da convivência e as situações em que se torna aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas
necessária a solução de problemas individuais e coletivos condições de ocupação e aperfeiçoamento posteriores;
pelas crianças devem ser previamente programadas, com foco

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III - o desenvolvimento do educando como pessoa humana, Seção II


incluindo a formação ética e estética, o desenvolvimento da Educação Especial
autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científicos e Art. 29. A Educação Especial, como modalidade transversal
tecnológicos presentes na sociedade contemporânea, a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte
relacionando a teoria com a prática. integrante da educação regular, devendo ser prevista no
§ 1º O Ensino Médio deve ter uma base unitária sobre a projeto político-pedagógico da unidade escolar.
qual podem se assentar possibilidades diversas como § 1º Os sistemas de ensino devem matricular os estudantes
preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
científica e tecnológica; na cultura, como ampliação da regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE),
formação cultural. complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em
§ 2º A definição e a gestão do currículo inscrevem-se em salas de recursos multifuncionais ou em centros de AEE da
uma lógica que se dirige aos jovens, considerando suas rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou
singularidades, que se situam em um tempo determinado. filantrópicas sem fins lucrativos.
§ 3º Os sistemas educativos devem prever currículos § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para
flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens que o professor da classe comum possa explorar as
tenham a oportunidade de escolher o percurso formativo que potencialidades de todos os estudantes, adotando uma
atenda seus interesses, necessidades e aspirações, para que se pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e inclusiva e,
assegure a permanência dos jovens na escola, com proveito, na interface, o professor do AEE deve identificar habilidades e
até a conclusão da Educação Básica. necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os
serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a
CAPÍTULO II participação e aprendizagem dos estudantes.
MODALIDADES DA EDUCAÇÃO BÁSICA § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de
ensino devem observar as seguintes orientações
Art. 27. A cada etapa da Educação Básica pode fundamentais:
corresponder uma ou mais das modalidades de ensino: I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no
Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação ensino regular;
Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação II - a oferta do atendimento educacional especializado;
Escolar Indígena e Educação a Distância. III - a formação de professores para o AEE e para o
desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;
Seção I IV - a participação da comunidade escolar;
Educação de Jovens e Adultos V - a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos
Art. 28. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) destina-se transportes;
aos que se situam na faixa etária superior à considerada VI - a articulação das políticas públicas intersetoriais.
própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio. Seção III
§ 1º Cabe aos sistemas educativos viabilizar a oferta de Educação Profissional e Tecnológica
cursos gratuitos aos jovens e aos adultos, proporcionando-lhes
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as Art. 30. A Educação Profissional e Tecnológica, no
características do alunado, seus interesses, condições de vida cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se
e de trabalho, mediante cursos, exames, ações integradas e aos diferentes níveis e modalidades de educação e às
complementares entre si, estruturados em um projeto dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia, e articula-se
pedagógico próprio. com o ensino regular e com outras modalidades educacionais:
§ 2º Os cursos de EJA, preferencialmente tendo a Educação Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e Educação a
Profissional articulada com a Educação Básica, devem pautar- Distância.
se pela flexibilidade, tanto de currículo quanto de tempo e
espaço, para que seja(m): Art. 31. Como modalidade da Educação Básica, a Educação
I - rompida a simetria com o ensino regular para crianças e Profissional e Tecnológica ocorre na oferta de cursos de
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e formação inicial e continuada ou qualificação profissional e
conteúdos significativos para os jovens e adultos; nos de Educação Profissional Técnica de nível médio.
II - providos o suporte e a atenção individuais às diferentes
necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem, Art. 32. A Educação Profissional Técnica de nível médio é
mediante atividades diversificadas; desenvolvida nas seguintes formas:
III - valorizada a realização de atividades e vivências I - articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: a)
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras integrada, na mesma instituição; ou
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; b) concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
IV - desenvolvida a agregação de competências para o II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
trabalho; concluído o Ensino Médio.
V - promovida a motivação e a orientação permanente dos § 1º Os cursos articulados com o Ensino Médio,
estudantes, visando maior participação nas aulas e seu melhor organizados na forma integrada, são cursos de matrícula
aproveitamento e desempenho; única, que conduzem os educandos à habilitação profissional
VI - realizada, sistematicamente, a formação continuada, técnica de nível médio ao mesmo tempo em que concluem a
destinada, especificamente, aos educadores de jovens e última etapa da Educação Básica.
adultos. § 2º Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio,
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla
certificação, podem ocorrer:
I - na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
oportunidades educacionais disponíveis;

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II - em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das


oportunidades educacionais disponíveis; escolas indígenas, é reconhecida a sua condição de
III - em instituições de ensino distintas, mediante possuidores de normas e ordenamento jurídico próprios, com
convênios de intercomplementaridade, com planejamento e ensino intercultural e bilíngue, visando à valorização plena das
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. culturas dos povos indígenas e à afirmação e manutenção de
§ 3º São admitidas, nos cursos de Educação Profissional sua diversidade étnica.
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em
etapas que possibilitem qualificação profissional Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser
intermediária. considerada a participação da comunidade, na definição do
§ 4º A Educação Profissional e Tecnológica pode ser modelo de organização e gestão, bem como:
desenvolvida por diferentes estratégias de educação I - suas estruturas sociais;
continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de II - suas práticas socioculturais e religiosas;
trabalho, incluindo os programas e cursos de aprendizagem, III - suas formas de produção de conhecimento, processos
previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
IV - suas atividades econômicas;
Art. 33. A organização curricular da Educação Profissional V - edificação de escolas que atendam aos interesses das
e Tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na comunidades indígenas;
identificação das tecnologias que se encontram na base de uma VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
constituídos.
Seção VI
Art. 34. Os conhecimentos e as habilidades adquiridos Educação a Distância
tanto nos cursos de Educação Profissional e Tecnológica, como
os adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem Art. 39. A modalidade Educação a Distância caracteriza-se
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para pela mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e
prosseguimento ou conclusão de estudos. aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e
Seção IV professores desenvolvendo atividades educativas em lugares
Educação Básica do Campo ou tempos diversos.

Art. 35. Na modalidade de Educação Básica do Campo, a Art. 40. O credenciamento para a oferta de cursos e
educação para a população rural está prevista com adequações programas de Educação de Jovens e Adultos, de Educação
necessárias às peculiaridades da vida no campo e de cada Especial e de Educação Profissional Técnica de nível médio e
região, definindo-se orientações para três aspectos essenciais Tecnológica, na modalidade a distância, compete aos sistemas
à organização da ação pedagógica: estaduais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as
I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às normas complementares desses sistemas.
reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural;
II - organização escolar própria, incluindo adequação do Seção VII
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições Educação Escolar Quilombola
climáticas;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. Art. 41. A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
Art. 36. A identidade da escola do campo é definida pela requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade
vinculação com as questões inerentes à sua realidade, com étnico-cultural de cada comunidade e formação específica de
propostas pedagógicas que contemplam sua diversidade em seu quadro docente, observados os princípios constitucionais,
todos os aspectos, tais como sociais, culturais, políticos, a base nacional comum e os princípios que orientam a
econômicos, de gênero, geração e etnia. Educação Básica brasileira.
Parágrafo único. Formas de organização e metodologias Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das
pertinentes à realidade do campo devem ter acolhidas, como a escolas quilombolas, bem como nas demais, deve ser
pedagogia da terra, pela qual se busca um trabalho pedagógico reconhecida e valorizada a diversidade cultural.
fundamentado no princípio da sustentabilidade, para
assegurar a preservação da vida das futuras gerações, e a TÍTULO VII
pedagogia da alternância, na qual o estudante participa, ELEMENTOS CONSTITUTIVOS PARA A ORGANIZAÇÃO
concomitante e alternadamente, de dois ambientes/situações DAS
de aprendizagem: o escolar e o laboral, supondo parceria DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA
educativa, em que ambas as partes são corresponsáveis pelo A EDUCAÇÃO BÁSICA
aprendizado e pela formação do estudante.
Art. 42. São elementos constitutivos para a
Seção V operacionalização destas Diretrizes o projeto político-
Educação Escolar Indígena pedagógico e o regimento escolar; o sistema de avaliação; a
gestão democrática e a organização da escola; o professor e o
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades programa de formação docente.
educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm
uma realidade singular, requerendo pedagogia própria em CAPÍTULO I
respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO E O REGIMENTO
comunidade e formação específica de seu quadro docente, ESCOLAR
observados os princípios constitucionais, a base nacional
comum e os princípios que orientam a Educação Básica Art. 43. O projeto político-pedagógico,
brasileira. interdependentemente da autonomia pedagógica,
administrativa e de gestão financeira da instituição

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educacional, representa mais do que um documento, sendo um sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios
dos meios de viabilizar a escola democrática para todos e de de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos direitos e
qualidade social. deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e
§ 1º A autonomia da instituição educacional baseia-se na funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e
busca de sua identidade, que se expressa na construção de seu função das suas instâncias colegiadas.
projeto pedagógico e do seu regimento escolar, enquanto
manifestação de seu ideal de educação e que permite uma nova CAPÍTULO II
e democrática ordenação pedagógica das relações escolares. AVALIAÇÃO
§ 2º Cabe à escola, considerada a sua identidade e a de seus
sujeitos, articular a formulação do projeto político-pedagógico Art. 46. A avaliação no ambiente educacional compreende
com os planos de educação – nacional, estadual, municipal –, o 3 (três) dimensões básicas:
contexto em que a escola se situa e as necessidades locais e de I - avaliação da aprendizagem;
seus estudantes. II - avaliação institucional interna e externa;
§ 3º A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, III - avaliação de redes de Educação Básica.
artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e
diversidade cultural que compõem as ações educativas, a Seção I
organização e a gestão curricular são componentes Avaliação da aprendizagem
integrantes do projeto político-pedagógico, devendo ser
previstas as prioridades institucionais que a identificam, Art. 47. A avaliação da aprendizagem baseia-se na
definindo o conjunto das ações educativas próprias das etapas concepção de educação que norteia a relação professor-
da Educação Básica assumidas, de acordo com as estudante-conhecimento-vida em movimento, devendo ser
especificidades que lhes correspondam, preservando a sua um ato reflexo de reconstrução da prática pedagógica
articulação sistêmica. avaliativa, premissa básica e fundamental para se questionar o
educar, transformando a mudança em ato, acima de tudo,
Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de político.
construção coletiva que respeita os sujeitos das § 1º A validade da avaliação, na sua função diagnóstica,
aprendizagens, entendidos como cidadãos com direitos à liga-se à aprendizagem, possibilitando o aprendiz a recriar,
proteção e à participação social, deve contemplar: refazer o que aprendeu, criar, propor e, nesse contexto, aponta
I - o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do para uma avaliação global, que vai além do aspecto
processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo; quantitativo, porque identifica o desenvolvimento da
II - a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação autonomia do estudante, que é indissociavelmente ético,
da aprendizagem e mobilidade escolar; social, intelectual.
III - o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos – § 2º Em nível operacional, a avaliação da aprendizagem
que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de tem, como referência, o conjunto de conhecimentos,
vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, habilidades, atitudes, valores e emoções que os sujeitos do
como base da reflexão sobre as relações vida-conhecimento- processo educativo projetam para si de modo integrado e
cultura-professor-estudante e instituição escolar; articulado com aqueles princípios definidos para a Educação
IV - as bases norteadoras da organização do trabalho Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas, bem
pedagógico; assim no projeto político-pedagógico da escola.
V - a definição de qualidade das aprendizagens e, por § 3º A avaliação na Educação Infantil é realizada mediante
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança,
refletem na escola; sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando de acesso
VI - os fundamentos da gestão democrática, compartilhada ao Ensino Fundamental.
e participativa (órgãos colegiados e de representação § 4º A avaliação da aprendizagem no Ensino Fundamental
estudantil); e no Ensino Médio, de caráter formativo predominando sobre
VII - o programa de acompanhamento de acesso, de o quantitativo e classificatório, adota uma estratégia de
permanência dos estudantes e de superação da retenção progresso individual e contínuo que favorece o crescimento do
escolar; educando, preservando a qualidade necessária para a sua
VIII - o programa de formação inicial e continuada dos formação escolar, sendo organizada de acordo com regras
profissionais da educação, regentes e não regentes; comuns a essas duas etapas.
IX - as ações de acompanhamento sistemático dos
resultados do processo de avaliação interna e externa (Sistema Seção II
de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados Promoção, aceleração de estudos e classificação
estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica),
incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complementem Art. 48. A promoção e a classificação no Ensino
ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e Fundamental e no Ensino Médio podem ser utilizadas em
outros; qualquer ano, série, ciclo, módulo ou outra unidade de
X - a concepção da organização do espaço físico da percurso adotada, exceto na primeira do Ensino Fundamental,
instituição escolar de tal modo que este seja compatível com alicerçando-se na orientação de que a avaliação do rendimento
as características de seus sujeitos, que atenda as normas de escolar observará os seguintes critérios:
acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação, I - avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
deliberadas e assumidas pela comunidade educacional. estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
Art. 45. O regimento escolar, discutido e aprovado pela eventuais provas finais;
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um II - possibilidade de aceleração de estudos para estudantes
dos instrumentos de execução do projeto político-pedagógico, com atraso escolar;
com transparência e responsabilidade. III - possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e mediante verificação do aprendizado;
da finalidade da instituição, da relação da gestão democrática IV - aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e

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V - oferta obrigatória de apoio pedagógico destinado à § 2º É obrigatória a gestão democrática no ensino público
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de e prevista, em geral, para todas as instituições de ensino, o que
estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto implica decisões coletivas que pressupõem a participação da
no regimento escolar. comunidade escolar na gestão da escola e a observância dos
princípios e finalidades da educação.
Art. 49. A aceleração de estudos destina-se a estudantes § 3º No exercício da gestão democrática, a escola deve se
com atraso escolar, àqueles que, por algum motivo, empenhar para constituir-se em espaço das diferenças e da
encontram-se em descompasso de idade, por razões como pluralidade, inscrita na diversidade do processo tornado
ingresso tardio, retenção, dificuldades no processo de ensino- possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta é a de
aprendizagem ou outras. se fundamentar em princípio educativo emancipador,
expresso na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
Art. 50. A progressão pode ser regular ou parcial, sendo divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber.
que esta deve preservar a sequência do currículo e observar as
normas do respectivo sistema de ensino, requerendo o Art. 55. A gestão democrática constitui-se em instrumento
redesenho da organização das ações pedagógicas, com de horizontalização das relações, de vivência e convivência
previsão de horário de trabalho e espaço de atuação para colegiada, superando o autoritarismo no planejamento e na
professor e estudante, com conjunto próprio de recursos concepção e organização curricular, educando para a
didático-pedagógico. conquista da cidadania plena e fortalecendo a ação conjunta
que busca criar e recriar o trabalho da e na escola mediante:
Art. 51. As escolas que utilizam organização por série I - a compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser
podem adotar, no Ensino Fundamental, sem prejuízo da que aprende, que sonha e ousa, em busca de uma convivência
avaliação do processo ensino-aprendizagem, diversas formas social libertadora fundamentada na ética cidadã;
de progressão, inclusive a de progressão continuada, jamais II - a superação dos processos e procedimentos
entendida como promoção automática, o que supõe tratar o burocráticos, assumindo com pertinência e relevância: os
conhecimento como processo e vivência que não se harmoniza planos pedagógicos, os objetivos institucionais e educacionais,
com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o e as atividades de avaliação contínua;
estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo III - a prática em que os sujeitos constitutivos da
contínuo de formação, construindo significados. comunidade educacional discutam a própria práxis
pedagógica impregnando-a de entusiasmo e de compromisso
Seção III com a sua própria comunidade, valorizando-a, situando-a no
Avaliação institucional contexto das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
IV - a construção de relações interpessoais solidárias,
Art. 52. A avaliação institucional interna deve ser prevista geridas de tal modo que os professores se sintam estimulados
no projeto político-pedagógico e detalhada no plano de gestão, a conhecer melhor os seus pares (colegas de trabalho,
realizada anualmente, levando em consideração as estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir as suas
orientações contidas na regulamentação vigente, para rever o dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
conjunto de objetivos e metas a serem concretizados, V - a instauração de relações entre os estudantes,
mediante ação dos diversos segmentos da comunidade proporcionando-lhes espaços de convivência e situações de
educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se
compatíveis com a missão da escola, além de clareza quanto ao compreender e se organizar em equipes de estudos e de
que seja qualidade social da aprendizagem e da escola. práticas esportivas, artísticas e políticas;
VI - a presença articuladora e mobilizadora do gestor no
Seção IV cotidiano da escola e nos espaços com os quais a escola
Avaliação de redes de Educação Básica interage, em busca da qualidade social das aprendizagens que
lhe caiba desenvolver, com transparência e responsabilidade.
Art. 53. A avaliação de redes de Educação Básica ocorre
periodicamente, é realizada por órgãos externos à escola e CAPÍTULO IV
engloba os resultados da avaliação institucional, sendo que os O PROFESSOR E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA
resultados dessa avaliação sinalizam para a sociedade se a
escola apresenta qualidade suficiente para continuar Art. 56. A tarefa de cuidar e educar, que a fundamentação
funcionando como está. da ação docente e os programas de formação inicial e
continuada dos profissionais da educação instauram, reflete-
CAPÍTULO III se na eleição de um ou outro método de aprendizagem, a partir
GESTÃO DEMOCRÁTICA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA do qual é determinado o perfil de docente para a Educação
Básica, em atendimento às dimensões técnicas, políticas, éticas
Art. 54. É pressuposto da organização do trabalho e estéticas.
pedagógico e da gestão da escola conceber a organização e a § 1º Para a formação inicial e continuada, as escolas de
gestão das pessoas, do espaço, dos processos e procedimentos formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
que viabilizam o trabalho expresso no projeto político- professores ou especialistas, deverão incluir em seus
pedagógico e em planos da escola, em que se conformam as currículos e programas:
condições de trabalho definidas pelas instâncias colegiadas. a) o conhecimento da escola como organização complexa
§ 1º As instituições, respeitadas as normas legais e as do que tem a função de promover a educação para e na cidadania;
seu sistema de ensino, têm incumbências complexas e b) a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de
abrangentes, que exigem outra concepção de organização do investigações de interesse da área educacional;
trabalho pedagógico, como distribuição da carga horária, c) a participação na gestão de processos educativos e na
remuneração, estratégias claramente definidas para a ação organização e funcionamento de sistemas e instituições de
didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação ensino;
de novas abordagens e práticas metodológicas, incluindo a d) a temática da gestão democrática, dando ênfase à
produção de recursos didáticos adequados às condições da construção do projeto político-pedagógico, mediante trabalho
escola e da comunidade em que esteja ela inserida.

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coletivo de que todos os que compõem a comunidade escolar 03. (SEDUC-PI - Professor – Informática –
são responsáveis. NUCEPE/2009) A Didática constitui disciplina essencial nos
processos de formação de professores, notadamente
Art. 57. Entre os princípios definidos para a educação articulando o saber, o saber-ser e o saber-fazer. No contexto
nacional está a valorização do profissional da educação, com a dessa análise, pode-se afirmar CORRETAMENTE, acerca da
compreensão de que valorizá-lo é valorizar a escola, com concepção tradicional de Didática que:
qualidade gestorial, educativa, social, cultural, ética, estética, a) refere-se a um conjunto de procedimentos universais
ambiental. relativos à docência;
§ 1º A valorização do profissional da educação escolar b) afirma a neutralidade científica do método, a
vincula-se à obrigatoriedade da garantia de qualidade e ambas preocupação com os meios desvinculados dos fins e do
se associam à exigência de programas de formação inicial e contexto;
continuada de docentes e não docentes, no contexto do c) caracteriza-se por transcender métodos e técnicas de
conjunto de múltiplas atribuições definidas para os sistemas ensino, buscando articular escola/sociedade;
educativos, em que se inscrevem as funções do professor. d) compreende uma doutrina da instrução, revelando-se
§ 2º Os programas de formação inicial e continuada dos como um conjunto de normas prescritivas centradas no
profissionais da educação, vinculados às orientações destas método;
Diretrizes, devem prepará-los para o desempenho de suas e) caracteriza-se por estabelecer métodos e técnicas de
atribuições, considerando necessário: educação desvinculados dos princípios educacionais.
a) além de um conjunto de habilidades cognitivas, saber
pesquisar, orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, 04. (SEE-AL - Todos os Cargos – CESPE/2013) Com
interpretar e reconstruir o conhecimento coletivamente; relação à didática e à sua prática histórico-social, julgue o item
b) trabalhar cooperativamente em equipe; a seguir.
c) compreender, interpretar e aplicar a linguagem e os O enfoque tecnicista da didática busca estratégia objetiva,
instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica, racional e neutra do processo de ensino-aprendizagem, em
econômica e organizativa; contraposição ao enfoque humanista.
d) desenvolver competências para integração com a ( ) Certo
comunidade e para relacionamento com as famílias. ( ) Errado

Art. 58. A formação inicial, nos cursos de licenciatura, não Respostas


esgota o desenvolvimento dos conhecimentos, saberes e 01.: Certo. / 02.: Certo. / 03.: D / 04.: Certa
habilidades referidas, razão pela qual um programa de
formação continuada dos profissionais da educação será
contemplado no projeto político-pedagógico. CONTRERAS, José. A
Art. 59. Os sistemas educativos devem instituir orientações autonomia de professores.
para que o projeto de formação dos profissionais preveja: São Paulo: Cortez, 2002.
a) a consolidação da identidade dos profissionais da
educação, nas suas relações com a escola e com o estudante;
b) a criação de incentivos para o resgate da imagem social
José Contreras é professor titular da Universidade de
do professor, assim como da autonomia docente tanto
Barcelona (Catalunha), atua desde 1992, no Departamento de
individual como coletiva;
Didática e Organização Educacional; graduado em Ciências da
c) a definição de indicadores de qualidade social da
Educação pela Universidade Complutense de Madri, e Doutor
educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
em Ciências da Educação pela Universidade de Málaga, onde
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos de
foi professor de 1983 a 1992.
formação inicial e continuada de docentes, de modo que
É autor dos seguintes livros: Ensenanza, Curriculum y
correspondam às exigências de um projeto de Nação.
profesorado. Introduciiíon Crítica a la Didáctica. (Madri, 1990;
2ª ed. 1994), Models d’investigacció a l’aula ( em coautoria
Art. 60. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua
com Angel Pérez Gómez Y Félix Ângulo Rasco). (Barcelona,
publicação.
Universitat Oberta da Catalunya, 1996) e La Autonomia Del
Profesorado (Madri , 1997; 2ª ed. 1999). É autor de diversos
Questões
artigos científicos publicados sobre teoria do currículo,
01. Acerca da Resolução nº 04/2010, julgue o item abaixo:
professores e sobre pesquisa-ação. Atualmente é membro dos
A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento
conselhos de Redação das revistas Investigación en la Escuela
integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo,
(Universidade de Sevilha), Temps d’Educació (Universidade
psicológico, intelectual, social, complementando a ação da
de Barcelona), da revista eletrônica Heuresis (Universidade de
família e da comunidade.
Cádiz) e da seção em língua espanhola da revista eletrônica
( ) Certo
Education Policy Analysis Archives (Arizona State University).
( ) Errado
O texto traduzido por Sandra Trabucco (2002) oferece a
oportunidade a estudiosos e profissionais da área da educação
02. Acerca da Resolução nº 04/2010, julgue o item abaixo:
de conhecer uma das obras de José Contreras. É um convite à
O Ensino Fundamental com 9 (nove) anos de duração, de
reflexão sobre os conceitos e contradições generalizados tão
matrícula obrigatória para as crianças a partir dos 6 (seis)
comuns nos discursos pedagógicos modernos que versam
anos de idade, tem duas fases sequentes com características
sobre a profissionalização de professores. Propõe uma análise
próprias, chamadas de anos iniciais, com 5 (cinco) anos de
crítica valendo-se da contribuição de outros teóricos também
duração, em regra para estudantes de 6 (seis) a 10 (dez) anos
professores, profissionais reflexivos e pesquisadores,
de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de duração, para
contemplando e focalizando a suposta autonomia dos
os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
professores.
( ) Certo
O livro está organizado em oito capítulos, divididos em três
( ) Errado
partes: a primeira delas tem como título “O Profissionalismo
no ensino” e contempla três capítulos; a segunda, “Modelos de

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professores: em busca da autonomia”, com mais três capítulos, Elliott: mostra o significado da ideia do professor como
e uma terceira parte, “A autonomia e seu contexto”, com os pesquisador enquanto prática reflexiva; a reflexão depende do
dois últimos capítulos, numa tentativa de diferenciar e conhecimento acumulado ao longo da sua experiência.
esclarecer o significado da autonomia de professores através O terceiro modelo analisado é do professor como
das diferentes concepções educativas sobre o papel daqueles intelectual crítico, no qual se apoiam os fundamentos
que ensinam e a sua relação com a sociedade. filosóficos e os processos de reflexão crítica coerentes com a
A primeira parte traz a problemática do profissionalismo visão do exercício profissional, contrapondo-se aos limites do
no ensino, com questões sobre a proletarização dos professor como artista reflexivo. Na terceira parte “A
professores, ressaltando os aspectos contraditórios e autonomia e seu contexto”, o autor se empenha em
ambíguos que a classe docente viveu ao longo da história, compreender a autonomia profissional dos professores,
sofrendo perda de qualidade, de controle e de sentido do seu apontando o equilíbrio necessário entre as diferentes
próprio trabalho, através de atividades em processos necessidades e condições de realização da prática docente, a
individuais e rotineiros, desatentos ao processo de partir das condições pessoais, institucionais e sócio políticas
desqualificação intelectual, das habilidades e competências nas quais esses profissionais estão inseridos, visando uma
reduzidas em função da racionalização do seu trabalho em autonomia profissional necessária sob essa ótica.
tarefas e etapas a serem cumpridas, muitas vezes sem
qualquer orientação ideológica e sentido ético. [...]a autonomia, no contexto da prática do ensino, deve ser
Segundo o autor, a recuperação de uma concepção de entendida como um processo de construção permanente no
autonomia profissional dos professores requer a transposição qual devem se conjugar, se equilibrar e fazer sentido muitos
de algumas barreiras e armadilhas, o enfrentamento de elementos. Por isso, pode ser descrita e justificada, mas não
perigos e problemas associados à ideia de profissional, acerca reduzida a uma definição autoexplicativa. (CONTRERAS, 2002,
das qualidades que essa prática exige, pois eles não p. 193)
desempenham somente a arte de ensinar, mas uma incansável
tentativa de expressar valores e pretensões que almejam O autor reconhece, enfim, que a autonomia requer uma
alcançar e desenvolver nesta profissão. O autor considera três reformulação nas relações e construções de vínculos entre os
dimensões de profissionalidade na perspectiva educativa, professores e a sociedade que, mesmo parecendo óbvias,
dispondo das contribuições de alguns autores que inter- deverão estar claramente definidas nas políticas educacionais,
relacionam o problema da autonomia com a ideia da obrigação propondo a expansão das ideias, pretensões e valores comuns
moral, do compromisso com a comunidade e da competência à prática docente. Contreras tenta resgatar um programa
profissional, de forma que se possa compreender o ensino no ideológico, estabelecendo não somente um programa político,
seu contexto educacional, no seu propósito e realização. mas uma linguagem sócio-educacional, acreditando que todos
Na segunda parte, busca analisar as vantagens, os limites e estejam envolvidos, escolas, professores e comunidades, cuja
as possibilidades dessa profissionalização, focando três autonomia transforma o contexto em condições mais amplas
concepções tradicionais: os professores técnicos, o ensino para uma análise crítica, buscando formas de avaliação e
como uma profissão de caráter reflexivo e o professor adequação para uma potencial democratização dos sistemas
intelectual crítico. educacionais.
O primeiro modelo dominante da prática profissional a ser No final desta obra, o autor faz alusão, mesmo que em
discutido, com a contribuição do teórico Schön, é a linhas gerais, às políticas educacionais ocidentais,
racionalidade técnica. particularizando como exemplo o caso espanhol, com sua
A ideia básica do modelo de racionalidade técnica é que a organização política tendo como chave o “currículo” que
prática profissional consiste na solução instrumental de desenvolveu toda uma reforma, e pretendendo atingir todos os
problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico níveis do sistema educacional.
e técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa Seria de grande valia a discussão dessas análises e críticas
científica. É instrumental por que supõe a aplicação de técnicas envolvendo as temáticas e contribuições contidas nas ideias
e procedimentos que se justificam por sua capacidade para dos teóricos que Contreras reuniu em seu livro, visando uma
conseguir os efeitos ou resultados desejados. compreensão e uma reflexão quanto às ações que se fazem
Essa concepção de atuação revela um profissional com necessárias nos contextos educacionais existentes,
suas incapacidades para resolver e tratar os imprevistos que incentivando e possibilitando a construção de uma autonomia
não sejam interpretados como processos de decisão e atuação no processo educacional, resgatando a autoestima e a
de acordo com o sistema de raciocínio e de resultados qualificação profissional de professores, especialistas,
previstos. diretores e colaboradores, em consonância com a comunidade.
O segundo modelo tenta resgatar a base reflexiva da
atuação profissional, com formas que abordam as situações
problemáticas da prática, ao contrário do modelo de CORTELLA, Mário S. A escola
racionalidade técnica, na qual a realidade externa fica alheia à
ação profissional. No segundo modelo, o profissional reflexivo e o conhecimento. São
percebe que faz parte da situação e busca desenvolver Paulo: Cortez, 1998.
soluções por meio de tentativas para superar seus limites
frente às situações consideradas instáveis.
Para discutir o modelo do professor reflexivo, o autor
VISÃO GERAL
apresenta as ideias de vários outros, apontando as
O livro tem o objetivo de demonstrar que o conhecimento é
contradições e contribuições de cada um: Schön: reflexão-na-
uma construção cultural e que a escola tem um
ação, a forma como os diferentes profissionais efetivamente
comprometimento político, de caráter ao mesmo tempo
realizam o seu trabalho.
conservador e inovador. Inicia com uma visão sobre o
Stenhouse: singularidade das situações educativas; o
conhecimento para a seguir rebater a ideia de que o
ensino é uma arte, visto que significa a expressão de certos
conhecimento seja uma “descoberta”. Em continuação, volta sua
valores e de determinada busca que se realiza na própria
atenção para a escola e suas práticas, enfatizando o sentido
prática do ensino. (p. 114)
social do trabalho pedagógico e acenando com a possibilidade
do conhecimento como ferramenta da liberdade e do poder de
convivência entre iguais.

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Introdução – em nenhum momento da história torno de uma estrelinha entre outras 100 bilhões, que
republicana a frase “A educação está em crise” deixou de ser compõem uma mera galáxia em meio a outras 100 bilhões,
dita, pois não atingimos ainda patamares mínimos de uma presente em um dos universos existentes, cilíndrico e que se
justiça social expande há 15 bilhões de anos... Era menos instável viver na
compatível com a riqueza produzida pelo país e usufruída por Idade Média, quando tudo estava em “ordem”: a Terra no
uma minoria. A crise é de todos os setores sociais, mas a da centro do Universo, o Homem no centro da Terra, a Alma no
educação tem raízes específicas: confronto entre ensino centro do Homem e Deus no centro da Alma. Foram os 500
confessional e laico; conteúdos e metodologias; novas anos mais recentes que nos “descentralizaram”, com
ideologias; democratização do acesso; gestão democrática; Copérnico, Galileu, Darwin, Freud e outros. Afinal o que é, para
educação geral versus formação especial; educação de jovens nós, a vida, senão o intervalo entre nascer e morrer? Essa
e adultos; escolaridade reduzida; público versus privado; constatação nos torna únicos: o homem é o único animal que
baixa qualidade de ensino; despreparo dos educadores; sabe que vai morrer e, por isso, não é de estranhar a sensação
movimentos corporativos ineficientes; evasão e retenção de angústia de muitos. Albert Camus já explicava que o homem
escolar. é a única criatura que se recusa a ser o que é. Porque não faz
1. Gênese recente de uma antiga crise e atuação dos sentido, nós o construímos.
educadores - A urbanização dos últimos 30 anos trouxe para 2. Um passeio pelas nossas origens. Nosso estágio atual é
as cidades uma demanda sem precedentes por serviços fruto de uma evolução singular: em relação ao meio ambiente,
públicos. No entanto, o modelo econômico pós-64 privilegiou não somos especialistas em nada, nossa estrutura orgânica é
a produção capitalista industrial, direcionando os débil e frágil, pouca força física, pouca velocidade de
investimentos para a infra-estrutura e, com a ausência de deslocamento, a pele é pouco resistente ao clima e agressões,
investimentos sociais, houve uma demanda explosiva na não nadamos bem e não voamos, não resistimos mais do que
Educação, a depauperação do instrumental didático- alguns dias sem água e alimento, nossa infância é muito
pedagógico, a entrada de educadores sem a formação demorada e temos que ser cuidados por longo tempo. Num
apropriada, a diminuição salarial, a imposição de um modelo planeta de extremos como o nosso, se vivêssemos apenas do
de formação profissional e compulsória e centralização dos nosso “equipamento natural”, seríamos muitos menos e
recursos orçamentários. habitaríamos uns poucos locais. Por não sermos
2. Educação brasileira, epistemologia e política: por que especializados, tornamo-nos um animal que teve que se fazer,
repensar fundamentos dessa articulação? É preciso pensar se construir e construir o próprio ambiente. Ainda com base
uma nova qualidade para uma nova escola, numa sociedade numa teoria da evolução, ao descer das árvores, nossos
que elegeu a educação como um direito objetivo da cidadania ancestrais hominídeos tiveram de adaptar-se: uma postura
e por isso rever a ligação entre Educação, Epistemologia e ereta (que libera as mãos, aumenta a velocidade e permite ver
Política. A democratização do acesso e a permanência devem de mais longe os perigos), o uso do polegar opositor
ser encaradas como sinal de qualidade social: a qualidade em (habilidade de preensão) e a expansão do volume da massa
educação passa, necessariamente, pela quantidade. A encefálica (e um córtex integrador que equilibra a necessidade
formação do educador precisa abranger o aspecto técnico em de sangue na parte superior do corpo pela posição ereta). Foi
uma área do saber, a dimensão pedagógica do ensino, a uma maturação lenta que nos obrigou a permanecer mais
democratização da relação professor-aluno/entre instâncias tempo sendo cuidados e convivendo com os adultos da
dirigentes/comunidades e a democratização do saber. Em espécie. Com a criação de um ambiente próprio, nos tornamos
resumo, são três polos: uma sólida base científica, a formação um “produzido produtor do que o produz”, um ambiente
crítica de cidadania e solidariedade de classe social. A escola humano por nós produzido e no qual somos produzidos, ao
pública, aí, deixa de ser um local onde o trabalhador qual chamamos cultura.
simplesmente aprende o seu cotidiano profissional para ser 3. Cultura: o mundo humano. Adaptar-se significa estar
uma nova perspectiva de realidade social. Há a necessidade de recluso a uma posição específica; é conformar-se (aceitar e
uma reorientação curricular que parta da realidade, para ocupar a forma), submeter-se, por isso, ao ter de buscar tudo
superá-la e usar os conhecimentos como ferramenta da que precisamos, romper a acomodação e enfrentar a realidade
mudança. passa a ser uma questão de necessidade, não de liberdade. Que
ferramenta temos? Não é a racionalidade, pois não basta
Capítulo 1 – Humanidade, Cultura e Conhecimento (p. pensar para que as coisas aconteçam. Nossa interferência no
21-54) mundo se dá pela ação transformadora consciente, ou seja,
Atuar em educação é lidar com formação e informação; é uma capacidade de agir intencionalmente em busca de uma
trabalhar com o conhecimento e que, embora se privilegie o mudança no ambiente que nos favoreça. A isso se chama
extremamente recente (historicamente falando) científico, trabalho ou práxis e seu fruto chama-se cultura: o conjunto dos
abrange também o estético, o religioso, o afetivo. resultados da ação do humano sobre o mundo por intermédio
1. O que significa ser humano? desde Aristóteles (o homem do trabalho. Assim, nenhum ser humano é desprovido de
é um animal racional) e Platão (um bípede implume), cultura, pois nela somos socialmente formados: o homem não
passando por Fernando Pessoa (um cadáver adiado), muitas nasce humano mas torna-se humano na vida social e histórica
foram as definições que procuraram capturar a essencialidade da cultura, um processo de humanização. Começa a cultura,
da natureza humana. O que há de comum é que todas tentam começa o homem; começa o homem, começa a cultura. Os
identificar o humano e dar a este uma identidade, uma resultados são de duas ordens: as ideias e as coisas, ambas
definição (finis = fronteira). A indagação sobre a razão de duplas e a partir de necessidades diversas: os produtos
sermos e nossa origem e destino (o sentido materiais têm uma idealização (é preciso pensá-las antes) e os
2/10 da existência) é um tema presente em toda a História. produtos ideais tem uma materialidade (partem da realidade).
A resposta, porém, parece cada vez mais longe, o que é uma Porque nos são úteis, as chamamos bens, é necessário
das características do conhecimento (é impossível esgotá-lo reproduzi-los e, para isso, criamos outros bens: há então bens
ou “só sei que nada sei” – Sócrates). Essa premissa nos leva a de consumo e bens de produção. O mais importante bem de
pensar o conhecimento como algo a ser revelado, uma produção é o Humano e, nele, a Cultura, que, por não ter
descoberta. De forma caricatural, podemos responder à transmissão genética (não se nasce sabendo), precisa ser
questão quem sou eu assim: sou um indivíduo entre outros 5,5 recriada e superada. Outro bem de produção básico é o
bilhões, pertencente a uma única espécie entre outras 30 conhecimento (o entendimento, averiguação e interpretação
milhões diferentes, vivendo em um planetinha, que gira em sobre a realidade) e a educação é o veículo que o transporta.

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4. Conhecimentos e valores: fronteiras da não-neutralidade. na Grécia. Pode-se dividir a formação da sociedade grega em
Manter-se vivo é intenção de todo ser vivo, mas, para o ser quatro períodos:
humano, só sobreviver com base nos conhecimentos é - pré-homérico: onde grupos de pastores fundam núcleos
3/10 insuficiente: é preciso que a vida valha a pena, e, para urbanos que se tornam hegemônicos até que no século XII a.C.
isso, a cultura tem produtos ideais como os valores, que dão um outro povo nômade, os dóricos, os dispersaram e a
sentido (significado e direção) e estabelecem uma ordem e um população se agrupou em unidades familiares chamadas
posicionamento no mundo. Constituem uma moldura que genos.
abrange uma visão de mundo (compreensão da realidade),
uma informação (que dê forma aos conhecimentos) e - Homérico: em duas fases – na primeira, o agropastoreio
conceitos (entendimentos). Entretanto, valores, por genos (grupos familiares autossuficientes, com posse
conhecimentos e conceitos (e pré-conceitos) devem mudar coletiva e distribuição igualitária dos bens e da produção,
porque ser humano é ser capaz de ser diferente. O significado chefiados pelo pai) que vai se desintegrando por uma luta por
dessas referências não é do mesmo modo para todos, sempre, mais terras. Os chefes com mais terras, poder militar, religioso
pois é moldado pela cultura, pela sociedade e pela história e jurídico tornaram-se uma aristocracia (áristos, o melhor +
dessa cultura, ou seja, todo símbolo (conhecimentos e valores) kratia, domínio) e se associaram para proteção mútua, fazendo
é relativo e não pode ser examinado por si só. Embora a surgir as polis (cidades-estados) das quais os pequenos
individualidade gere um ponto de vista particular sobre isso proprietários passaram a depender economicamente.
tudo, a construção é coletiva, o que implica em uma vida - Arcaico: consolidam-se as cidades-estados,
política onde se negocia, produz e conquista significado. Por principalmente Esparta, Tebas, Corinto e Atenas. Esta última,
isso a produção dos valores não é neutra, dependente do poder inicialmente agrícola, com o comércio e o artesanato
de quem possui. A posição de predominância social significa, crescendo, provocou uma disputa política que, somada à
então, ter seus valores e conhecimentos difundidos e aceitos pobreza crescente dos povos das redondezas, provocou
pela maioria como se fossem próprios ou universais, seja por inúmeras reformas legislativas, governos monárquicos e
imposição ou convencimento. O canal de conservação e oligárquicos, tiranias e uma nova forma de governo chamada
inovação são as instituições sociais, os responsáveis pelos democracia.
processos educativos da longa infância humana. A educação - Clássico: Implantada por Clístenes no século VI a.C., a
assim, além de ser basal, divide-se em vivencial/espontânea democracia repartiu a polis e redondezas em unidades
(vivendo e aprendendo) e intencional/propositada políticas (demos), compostas por todos os cidadãos (apenas os
(deliberada, em locais determinados com instrumentos homens gregos, adultos e livres, ou cerca de 10% da
específicos). Por isso, os processos pedagógicos não são população: ficam de fora as mulheres, jovens, crianças,
neutros, envolvidos que estão na conservação ou na inovação estrangeiros e escravos). A harmonia interna duradoura de
do grupo. Ver além do próprio grupo, história, visão, conceito, Atenas deu maior solidez às instituições mas não garantiu a
significa uma visão de alteridade que permite identificar no hegemonia por muito tempo. As cidades-estados, por suas
outro (e em nós mesmos) o caráter múltiplo da Humanidade. lutas entre si e guerras externas, enfraqueceram a ponto de
É superar a obsessão evolucionista de que o passado é tornarem fácil a dominação macedônica no século IV a.C.
sinônimo de atraso, a verdade uma conquista inevitável e a 2. O percurso das indagações filosóficas. A produção do
ciência a redenção da humanidade.... Não há um produto conhecimento em cada período será diferente. Nos períodos
acabado, mas por construir. pré-homérico e homérico, articulam-se num eixo central: as
Capítulo 2. Conhecimento e verdade: a matriz da noção origens do povo e do Cosmos, de onde surgem os mitos. No
de descoberta. (pág. 55-100) Todo educador tem uma período arcaico, pela alteração da produção e das relações
interpretação, nem sempre consciente e reflexiva, sobre o sociais, não basta apenas saber de onde vem o mundo mas
conhecimento: o que é, de onde vem e como chegar até ele. como é que funciona. Nesse período, a produção excedente e o
Fala-se aqui de uma “teoria” do conhecimento”: antes uso do trabalho escravo fizeram aumentar a riqueza da
gnosiologia (de gnosis=conhecimento), depois filosofia da aristocracia e de seu tempo livre, o skholé ou ócio. Com isso,
Ciência e mais recentemente, epistemologia surge um tipo específico de pensamento metódico e
(episteme=ciência). Também nos preocupamos em julgar se o sistemático que não precisa estar sujeito a ser aplicado, ao qual
conhecimento é válido ou correto, ou seu valor de Verdade. A poderiam se dedicar os filósofos (philos, afeição por + sophia,
noção mais presente no nossos sistema educacional é o que sabedoria). São exemplos Tales de Mileto (“pai da Filosofia”, a
entende o Conhecimento ou a Verdade como descoberta. Falar água como essência da natureza); Pitágoras (os números eram
de Verdade é complexo, pois raízes ocidentais e construções a essência de tudo, inclusive as almas); Heráclito (a realidade
históricas de sentido a relativizaram. Etimologicamente, é uma mudança contínua e a harmonia o confronto entre os
verdade vem do latim veritate, com radical verus (certo, opostos); Parmênides (a verdade é uma e imutável e a
correto). Veritate, por sua vez, em grego, era alétheia, ou a mudança é uma ilusão dos sentidos); Empédocles (que
(não) létho (esquecer). Desse ponto de vista, verdade tem a associou a realidade a quatro elementos imutáveis e
ideia de não-esquecível, não-velado. O que não se esquece é o indestrutíveis – água, terra, fogo e ar) e Anaxágoras (a
que se vê, daí a noção de que a Verdade precisa ser vista ou realidade é formada por partículas diversas que tinham cada
desvelada ou descoberta. Surge no período clássico grego uma e todas as mesmas características do todo, ordenadas e
(séculos V e IV a.C.), com Platão. mudadas por uma Inteligência Superior).
1. Elos históricos do paradigma grego. A maioria dos nossos As preocupações, nota-se, giravam em torno da ideia da
parâmetros linguísticos, estéticos, políticos, filosóficos e percepção dos componentes da realidade, se estável ou
científicos têm como matriz inicial a civilização grega da passageira, e de questões do tipo: onde está a Verdade? Com
Antiguidade, à qual se somou o legado moral e religioso as mudanças da organização da sociedade e a disputa entre os
judaico-cristão e, ainda, a experiência da Roma Antiga no aristocratas e os comerciantes, aqueles tinham mais ócio e
campo do Direito e do Estado. Em função de seu relevo estes mais negócio (neg-otium, negar o ócio). Para poder votar
montanhoso e situado na passagem para o oriente asiático e nas assembleias dos demos, era preciso ter tempo livre, e os
europeu, os gregos tiveram contato com outros povos e comerciantes, que não o tinham, contrataram pensadores
tornaram-se mais permeáveis à absorção de conteúdos de gregos ou estrangeiros para que os ensinassem: os sofistas ,
outras culturas. Não só a geografia mas também as ridicularizados pela aristocracia, que considerava indigno o
dominações por outros impérios difundiram as ideias nascidas trabalho intelectual mediante pagamento. Os sofistas

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romperam com o acreditar em verdades absolutas e situaram nesta vida. Se a alma já conheceu a verdade, as esqueceu ao
a linguagem como uma mera simbolização. ganhar um corpo, por isso é preciso reconhecer, recordar,
3. A presença de Sócrates. Afinal, onde está a Verdade? (ubi conhecer é descobrir. Quem auxilia nessa maiêutica (“parto”)
veritas?): alguém vai até a tribuna da praça dos debates (a é o filósofo, cuja obrigação é levar os cidadãos a desocultação
ágora) defende uma ideia e convence as pessoas; inverte os das verdades. Portanto, quanto mais se dedicou à skholé, mais
argumentos e obtém concordância. Surge Sócrates, nas obras perto chegará dos deuses, caso contrário voltará. Tudo isso
de Xenofonte e Platão. É dificílimo distinguir as teorias justifica a sociedade na qual vivia Platão e da qual era membro
socráticas das platônicas: a escrita em forma de diálogos proeminente. Nenhuma teoria é neutra, como nenhum método
facilitava a argumentação, o encadeamento de raciocínios e o pedagógico também: ambos têm raízes no momento histórico,
exercício de um tipo de debate (dialética) no qual ideias político e econômico em meio aos quais são formulados.
contrárias eram confrontadas. Sócrates (que vivia em meio à
aristocracia) sempre conseguiu vitórias sobre os sofistas. 5. Ressonâncias. A escravidão não é responsabilidade dos
Sócrates dedicará boa parte de sua reflexão num problema: que são escravos, foi castigo dos deuses; a direção política é
como estabelecer verdades que fossem válidas para todas as dos filósofos e o ideal é um governo aristocrático (dos
pessoas. Para ele, os conhecimentos nos chegam por dois melhores); as verdades não são deste mundo e só a razão pode
caminhos: os sentidos e a razão. São confiáveis? Não, pois nos descobri-las, são metafísicas (metà, além + physikon, físico, de
enganam (Descartes, mais tarde, retoma essa análise). Ao physis, natureza); as verdades independem dos humanos, as
consultar os deuses sobre isso, no oráculo de Delfos, vê, no ideias têm uma existência imaterial autônoma e própria. Essa
templo, muitas inscrições gravadas desde o período arcaico, herança influenciou o Cristianismo (Agostinho cristianiza esse
entre elas uma: conhece-te a ti mesmo, que assume como pensamento e justifica o poder de dez séculos da Igreja
sendo a resposta à sua indagação. Onde está a Verdade ? em Católica no ocidente) e embasa a ideia de conhecimento como
nós. Mas isto não significa que cada um tem uma Verdade; é a descoberta. Aristóteles, aluno de Platão por 20 anos, se
Verdade que está em cada um. A questão fica: se a Verdade está contrapôs a Platão quanto ao método de conhecimento, não
em cada um, se, como mortais, não somos seus geradores e, quanto ao caráter metafísico das verdades. Após alguns anos
ainda assim, ela chegou até dentro de nós, quem a colocou aí? fora, torna-se preceptor de Alexandre por 6 anos e funda sua
Disso se encarregou Platão, após a morte de Sócrates, própria escola (num bosque dedicado a Apolo Liceios, deus
condenado por suas ideias tanto pelos aristocratas dos pastores),o Liceu. Para Aristóteles, os dois mundos se
incomodados como pelos comerciantes criticados em sua juntam na realidade, então a verdade não está no mundo das
fragilidade de ideias. ideias mas aqui mesmo, onde matéria e
4. A síntese platônica. O nobre Platão (ou Arístocles), aluno forma se unem. Platão é um racionalista, a razão independe
dos 20 aos 28 anos de Sócrates, abandonou a polis por mais de da experiência deste mundo; Aristóteles é um empirista, o
10 anos em função da morte do seu professor. Ao voltar, conhecimento vem da experimentação e observação do
fundou a Academia (num bosque dedicado a Acádemos, um mundo, sendo a razão a ferramenta afiada pela lógica.
herói mitológico) e nela ensinou até morrer aos 75 anos. Em Na Idade Média, com o poder nas mãos da Igreja Católica,
50 anos, buscou elaborar uma síntese das tendências a visão platônica se sobrepõe à Aristotélica, que foi mais
filosóficas anteriores, de modo a compatibilizar a busca da apropriada por filósofos árabes e judeus. Do século V ao IX, a
explicação da realidade como um todo e o pensamento Filosofia e a Teologia ocidentais foram feitas pelos padres
socrático, voltado para o Homem. O primeiro passo é a (período Patrístico). Então, alguns mosteiros e conventos
cosmogonia (origem do mundo), na qual Platão retoma alguns montaram escolas e, no século XI, surge a Universidade de
mitos antigos e os reorganiza de modo mais filosófico: um deus Bolonha, onde não só os padres, entre eles Tomás de Aquino,
ordenador (um demiurgo, de demós, povo+ ergon, trabalho, ou mas também leigos estudam (período Escolástico). Com o
artesão autônomo) organiza o caos (confusão) e o transforma esgotamento do modo de produção feudal, no século XII, passa
em cosmo (universo). Ele modelou uma matéria-prima que já a não ser suficiente ter fé na revelação para ter conhecimento:
existia, baseado em originais ou eídos (ideias ou verdades). Aristóteles volta à cena (embora com os 700 anos de
Assim, as essências ou verdades são anteriores à existência do dominação ibérica nunca tenha sido mesmo posto de lado) e
mundo, não pertencem a ele e, por isso, não são materiais, mas Aquino aceita que perceber a realidade é o ponto de partida
eternas e imutáveis. Com essa cosmogonia, forma-se uma para o conhecimento. A sociedade torna-se mais complexa,
cosmologia com sentido próprio: há dois mundos: o sensível surge uma burguesia comercial que precisa contrapor-se à
(das coisas, das aparências, das cópias), material, finito e velha ordem das coisas, daí a busca de valorizar mais o
imperfeito, uma imitação do inteligível (das ideias, das formas, humano e menos o divino: surge o Renascimento. De um lado
das verdades, dos originais), imaterial, eterno e perfeito. O o racionalismo, com Descartes, Spinoza e Leibniz, para os quais
humano participa dos dois mundos: a essência está na alma e o conhecimento é fruto de raciocínios dedutivos e, de outro, o
a matéria no corpo. Como e por que, então, cada alma veio empirismo com Bacon, Locke e Hume, defensores da
parar aqui? porque, em alguma situação no mundo das ideias, importância da percepção sensível e da experiência. Três
erramos e fomos castigados pelos deuses. alemães tentarão resolver o impasse: Kant, Hegel e Husserl.
A queda se explica: nossa alma (essência) é uma charrete Kant juntou os dois lados admitindo que há conhecimentos
guiada por um condutor (razão) e puxada por dois cavalos; um tanto de uma como de outra origem; Hegel afirma que a Ideia
é bom (nossa vontade) e o outro é mau (desejo por prazeres se depura na ação e volta ao ser humano, melhorada
materiais). Deve-se levar firmemente a charrete para cima (idealismo) e Husserl, evitando dizer que nada pode ser
(ascese), controlando os dois cavalos para a morada dos verdadeiramente sabido (ceticismo), propõe que entendamos
deuses. Se a razão se descontrola e um dos cavalos puxa para o conhecimento como fenômenos (sentidos que vêm à tona)
seu próprio lado a charrete se desgoverna e desaba. O castigo dos quais devemos extrair o não-essencial e deixar a razão
é encarnar-se e ficar aprisionado. Em Fedro, há uma hierarquia mergulhar para revelar-se.
em função do quanto as almas chegaram perto das verdades: o A relação do conhecimento é entre sujeito e objeto, mas a
que chegou mais perto será filósofo, depois um rei legislador, verdade não está nem em um nem em outro: está na relação
o terceiro um político e assim por diante até ter de viver como em si. Esta se dá no tempo histórico e não é nem absoluta nem
mulher, estrangeiro, escravo... Encarna-se para purificar a eterna, não é individual mas coletiva, social. A verdade não é
alma e o corpo, morada terrena de uma alma exilada, sofre descoberta mas uma construção cultural que visa construir
necessidades e dores, precisa libertá-la. Ao deixar o corpo com referências que orientem o sentido da ação humana e o sentido
a morte, a liberdade estaria vinculada ao quanto se purificou da existência.

Conhecimentos Pedagógicos 28
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APOSTILAS OPÇÃO

Capítulo 3. A escola e a construção do decorrência da busca e só quem não busca, não erra. Isso não
Conhecimento (pág. 101-128) Uma das questões cruciais significa que se deva incentivá-lo, mas que ser inteligente não
para as nossas práticas pedagógicas é a concepção sobre o é não errar; é saber como aproveitar e lidar bem com os erros.
conhecimento e, no mais das vezes, este é entendido como algo Assim o foi com Edison e suas invenções, com Wilmut e a
pronto, acabado, sem conexão com sua produção histórica. ovelha Dolly, com Newton e a gravitação. Newton era um gênio
Também é tratado como algo mágico, que “cai dos céus”, como iluminado por uma maçã ou estava trabalhando pré-ocupado
nas lendas do “eureka” de Arquimedes ou do cientista como com o assunto há pelo menos 20 anos, quando aconteceu?
um ser genial dentro de um laboratório. A mídia e os que não Não há conhecimento significativo sem pré-ocupação, ou
têm desenvolvido o pensamento crítico deixam-se levar pela sem partir delas. Fica claro que parte do desinteresse e
convicção de que é um outro mundo, ao qual não terão acesso. “indisciplina” pode ser atribuído ao distanciamento dos
1. Relativizar: caminho para romper a mitificação. Quando conteúdos em relação às preocupações que os alunos trazem
se nega aos alunos a compreensão das condições culturais, para a escola. Se “um dia você vai saber” para que serve, então
históricas e sociais de produção do conhecimento, reforça-se a por que não esperar que esse dia chegue para aprender?
mitificação e a sensação de impotência e incapacidade 3. Ritualismos, encantamentos e princípios. Esse
cognitiva. Mesmo os conhecimentos ligados às ciências distanciamento do universo dos alunos e conteúdos se mostra
naturais e matemáticas precisam ser relativizados: a beleza da na avaliação da escola feita por docentes e discentes. Dizemos
abstração da matemática é absolutamente construída: na : “eles não querem saber de nada”; dizem eles: “as aulas não
natureza não há “1” ou uma matriz de 2o. grau ou uma têm nada a ver comigo”. Conclusão nossa: “eles não gostam da
derivação. Quando ensinamos que “2+2=4”, inventamos o “2”, escola”. Porém, quase todas as crianças gostam da escola, o
o “+”, o “=” e o “4”. Isso vale para qualquer área. Em Estudos que, talvez, não gostem muito, é das nossas aulas.
Sociais, usam-se mapas retangulares, com o meridiano de Nós os colocamos reclusos, numa fase de excitação motora
Greenwich como centro divisor vertical. Estando no espaço, e ou de “ferveção” de hormônios para ensinar coisas
um planeta arredondado, isso é convenção. A linguagem “interessantíssimas” para eles: adjunto adnominal, afluentes,
absorve as convenções e perde-se no tempo: antes da era os reis de Roma, mitocôndrias, raiz quadrada.... Não são poucas
Moderna, no Oriente a referência para alguém que estava no as vezes em que a sala se assemelha a um local de culto
caminho correto, mental ou não, era orientado/desorientado, religioso não-voluntário ou um teatro desinteressante.
quando deslocou-se a hegemonia para o hemisfério norte, Necessita-se silêncio obsequioso, um celebrante que domine o
passou-se a dizer norteado/desnorteado. Ambas as culto e fiéis conscientes de sua fragilidade; o espaço obedece à
expressões hoje convivem... A lógica histórica é transformada hierarquia, o celebrante à frente, com espaço e mobiliário
em padrão natural, como se o modo “normal” do mapa e do próprios e os fiéis arrumados em filas ou círculos, em móveis
planeta deva ser aquele da representação. Que sentido faria, menores; é o celebrante que dá início ao culto, o dirige e pode
para um aluno que “aprendeu” assim, que um avião vá para o interrompê-lo; há partes repetitivas nos cultos; uma ponte de
Japão, do Brasil, sem passar sobre a África e China? ou que a ascendência sobre os participantes baseada no domínio de
distância entre o cabo Dezhnyov (extremo da Ásia, na Rússia) ferramentas do culto; ao celebrante cabe ser paciente e
e o cabo Príncipe de Gales (extremo da América do Norte, no compreensivo, uma bondade segura e assepsia moral; aos
Alasca) é de 64 quilômetros, menos, portanto, que a distância demais, que se pronunciem apenas quando avocados, que se
de São Paulo a Santos? ou, em História, que como, no livro, a preparem previamente para a exposição de mistérios, que
história de Roma vem depois da Grécia, que as duas se confessem seus erros e submetam-se às provações para a
desenvolveram em períodos concomitantes ? ou que “achado remissão. Como teatro, exige atenção contínua, o ator principal
não é roubado”, nas ocupações portuguesas, inglesas e deve estar acima dos outros para ser visto e ouvido; a plateia
francesas da América do Sul ? tem noção do tema, mas desconhece o enredo; quando
A linguagem esconde suas origens: “bárbaros” eram participa, não tem ideia do porquê e para que o faz; o ator usa
quaisquer “forasteiros” para os gregos e mais tarde para os enredos de outros, recorrendo às vezes ao ponto; nem sempre
romanos - virou sinônimo de cruel e violento; “vândalo”, povo a peça é adequada à plateia ou tem para ela um significado;
de origem germânica que invadiu os domínios romanos, porém, ela a assiste por hábito ou apatia, até o final. O lúdico e
transmutou-se em brutalidade; Roma, ao conquistar, está a amorosidade são postos do lado de fora, não há prazer
fazendo a “expansão do Império”, os povos que retomaram compartilhado.
parte de seus territórios fizeram uma “invasão bárbara”; ou A sala é um espaço para confrontos, conflitos, rejeições,
então os bandeirantes “desbravadores”, ou seria melhor dizer paixões, medos e saberes, para ser “humano”. A criação do
: pacificador à força dos que reagiam à destruição de seu conhecimento (e recriação) não está em apenas falar sobre
ambiente ? Os “selvagens” são conhecidos através de filmes no coisas prazerosas, mas, principalmente, em falar
qual se amansam os apaches, os sioux; que não eram prazerosamente sobre as coisas. Seriedade não é sinônimo de
domesticados („de casa”): tristeza; a alegria é resultante de um processo de
2. Intencionalidade, erro e pré-ocupação. Para Paulo Freire, encantamento recíproco Partir das preocupações dos alunos
“fazemos, logo pensamos; assim, existimos”, o que reflete: não é o mesmo que nelas permanecer; levar em conta é bem
- que o saber pressupõe uma intencionalidade, o método é diferente de acatar passivamente. A ciência pode estar sob
uma ferramenta, portanto escolhida, portanto não é neutro; controle da classe dominante, mas não é inútil, é uma produção
cultural coletiva cuja apropriação deve ser distribuída. O
- que o melhor método é aquele que propuser a melhor conhecimento é relativo à história e à sociedade e não é neutro,
aproximação com o objeto em estudo, o que não garante a mas político, porque envolve o poder que advém por tê-lo.
exatidão;
- que a aproximação da Verdade depende da Capítulo 4. Conhecimento escolar: epistemologia e
intencionalidade e esta é sempre social e histórica; política (pág. 129-160) Quando Comenius fez uma análise
- que cada um e cada uma de nós é um método, pois corpos desalentada da educação, em 1632, apontou a ignorância, a
e consciências são ferramentas de intencionalidade; inveja o desamparo dos educadores como causas da
- que existimos assim: fazendo. E, porque fazemos, “desordem escolar”. Como ultrapassar esse olhar amargo
pensamos. E porque pensamos, fazemos nossa existência. sobre a escola, sobre o sentido social do que fazemos? A
Daí a importância do erro: o conhecimento é resultado de resposta depende da compreensão política que tivermos, da
processo e este não está isento de equívocos. Investigar é bem finalidade do nosso trabalho pedagógico.
diferente de receber uma revelação límpida. Errar é

Conhecimentos Pedagógicos 29
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1. A relação sociedade/escola: alguns apelidos - ao receber a lista de livros e material a serem trazidos,
circunstanciais. Muito comum é o otimismo ingênuo, que muitos pais também ouvem que “sem todo o material é
atribui à escola uma missão messiânica e onde o educador é impossível trabalhar”. Por um lado, uma obrigação pública de
um sacerdote, portador de uma vocação. Na relação com a prover condições para os cidadãos carentes, por outro, uma
Sociedade, a compreensão é a de que a Educação é a alavanca organização da nossa prática que leve em conta as dificuldades
do desenvolvimento e do progresso. É otimista porque reais da população.
valoriza a escola, mas é ingênua, pois atribui a ela uma Quando analisamos o fracasso escolar (ou pedagocídio), na
autonomia absoluta na sua inserção social e na capacidade de evasão e repetência, é usual apontar-se causas extra-escolares.
extinguir a pobreza e a miséria que não foram por ela Se desejamos aproveitar a contradição entre o inovador e o
originalmente criadas. “Professor, o senhor não trabalha? Só conservador de nossas práticas, devemos também verificar as
dá aulas?” e a rejeição a movimentos corporativos são sinais causa intra-escolares do fracasso: o uso não-reflexivo dos
dessa visão. A escola é supra-social, desligada das classes livros didáticos, passando por conteúdos excessivamente
sociais e neutra, o que configura essa compreensão com a de abstratos e sem integração e chegando à culpabilização dos
um inocente útil. Predominou quase isoladamente até meados alunos pelo próprio fracasso:
dos anos 70, quando uma análise mais contundente passou a - “eles vêm sem saber nada”. e cada professor reclama da
influenciar mais o trabalho pedagógico. série anterior, até que se chegue à vida uterina....
Nessa época, apoiada na noção central de que a educação - “comigo não tem moleza, 20 de 40 vão ficar” como se a
tem, sim, a tarefa de servir ao Poder e é dele um instrumento avaliação da qualidade do trabalho fosse medida pelos
de dominação. Chamemos de pessimismo ingênuo. A escola é fracassos e os alunos fossem adversários a serem derrotados.
reprodutora da desigualdade social, nela, o educador é um Imagine um médico dizer: “dos meus 40 pacientes, 20 vão
agente da ideologia dominante, um funcionário das elites. A morrer, comigo não tem moleza” ?
relação com a sociedade é que a escola é um aparelho - “hoje eu peguei a molecada, dei uma prova de surpresa”.
ideológico do Estado, determinada pelas elites sociais que A avaliação é um meio de correção de comportamento ?
controlam a sociedade. À escola cabe “fazer a cabeça”, Avaliação é diferente de auditoria: avaliação visa
disciplinar, controlar e, para isso, foi invadida por uma identificar problemas e facilidades, para reorientar o processo
hierarquia do setor industrial, com diretores, supervisores, pedagógico; a auditoria objetiva localizar desvios para punir
inspetores, etc, fragmentando o poder interno. Assim, não há os envolvidos. Uma cartilha que diga “Eva viu as uvas” só faz
nenhuma autonomia. O Pessimismo vem por conta do papel sentido para quem conhece uvas. Explicar o encontro
unicamente discriminatório da Escola, desvalorizando-a como consonantal DR com “dromedário” ou LH com “lhama” só faz
ferramenta para a conquista da justiça social; a ingenuidade sentido para quem conhece esses animais. Para quem não
vem da setorização, ao obscurecer a existência de contradições “sabe o que é”, não serve pra essas coisas, é um “burro” que
no interior das instituições sociais, atribuindo-lhes um perfil serve para usar as mãos, não a cabeça. Ensinar exige
exclusivamente conservador. reconhecer que a educação é ideológica. É contra a miopia de
No início dos anos 80, uma outra concepção buscou não perceber os preconceitos e discriminações que devemos
resgatar a positividade das anteriores, o otimismo crítico, que nos acautelar:
aponta para a natureza contraditória das instituições sociais, - a professora que divide as meninas e os meninos de cada
ou seja, a educação teria uma função conservadora e inovadora lado da fila; onde mais há filas assim ?
ao mesmo tempo. Se a escola pode, sim, servir para reproduzir
as injustiças, é também capaz de ser instrumento para - a figura da família como é representada ? A mulher serve.
mudanças. O educador tem um papel político-pedagógico e Isso aparece na cartilha, na mídia, na propaganda, no
tem, assim uma autonomia relativa e é a quem cabe construir “suplemento feminino” do jornal (que é “coisa de homem”,
coletivamente os espaços efetivos de inovação. então)
2. A construção da inovação: inquietações contra o - o corpo humano: um desenho de um homem (ou mulher)
pedagocídio. Ao perguntar para estudantes de Pedagogia ou branco, alto, forte, olhos claros, e a criança olha para si, para os
do curso de Magistério “por que quer formar-se em educação?” lados e para quem conhece....
a quase totalidade das respostas costuma ser: porque gosto de - a festa junina que considera fantasia ser remendado, ter
crianças. É uma resposta bela e afetiva, mas insuficiente. dentes falhos e o falar incorreto. Poucas escolas explicam a
Gostar é imprescindível para a tarefa pedagógica, mas além, é origem das festas e sua importância para o campesino de
necessário que se qualifique para um exercício socialmente resguardar sua dignidade; que a falha do dente é sofrimento;
competente da profissão. De qual criança gosta Aquela que que produzem comida e passam fome. Não se trata de fazer
tem acesso à comida, saúde, lazer ou a que não tem recursos discurso político às criancinhas, mas de não omitir a realidade
para o material escolar, não sai de seu mundo imediato e que e achar que a vida rural é uma delícia .
estuda na mesa da cozinha? Quando não nos qualificamos para Afirma Paulo Freire que no exercício crítico é que nos
atuar junto aos diferentes “ser criança” que coexistem, predispomos a uma atitude aberta ao outro e à realidade, ao
aprofundam-se as diferenças e mantêm-se as injustiças. mesmo tempo em que desconfiamos das certezas. O melhor
Reafirmemos o óbvio: há um fortíssimo reflexo das condições caminho para o aprender a pensar certo é manter-se alerta,
de vida dos alunos no seu desempenho escolar; há muitas ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é estar exposto
décadas se discute isso, sem mudanças significativas na nossa às diferenças e recusar posições dogmáticas. A crise da
ação coletiva. educação não é uma fatalidade, mas construção. Ao analisar o
- o professor reclama de alunos que falam sempre muito passado de educação, é preciso distinguir entre o tradicional –
alto. São mal-educados ou os alunos economicamente que deve ser resguardado por sua eficiência pedagógica e o
favorecidos, que aprenderam a compartilhar os espaços e a ser arcaico – que é o ultrapassado e que não tem mais
comedidos na altura do som são diferentes daqueles oriundos aplicabilidade em novas circunstâncias. É preciso fugir a
da classe proletária, que, ao brincar e conversar na rua, vícios, tais como o vício do círculo vicioso (em que os alunos
precisam gritar para ser ouvidos? sem base tornam-se professores sem base), do “faço o que eu
posso” (limitador).
- é importante que os pais acompanhem as atividades 3. Sobre ideias e pães. Dois índios xavantes, nos anos 70,
escolares das crianças, porém, nas camadas populares, a pediram para ir embora, não apenas do mercado aonde foram
grande maioria dos pais sequer ultrapassou a 3a série do levados (o velho prédio do Mercado Central), mas da cidade.
ensino fundamental. Não tiveram uma revolta ética, mas cultural: não conseguiram

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compreender uma situação tão “normal” como a de uma “vanguardismo” dos intelectuais de esquerda tradicionais e
criança ter fome e, não tendo dinheiro, comer comida sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só
estragada do chão, rodeada de comida “boa”. Não como método, mas como um modo de ser realmente
compreenderam nossa organização porque não foram democrático. Foi o brasileiro mais homenageado da história:
formados aqui, nas nossas instituições sociais, nem nas nossas ganhou 41 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades
escolas. A maior tarefa dos educadores e educadoras está na como Harvard, Cambridge e Oxford; e recebeu diversos
junção entre a epistemologia e a política, na destruição do galardões como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz
“aqui é assim”. É uma ética da rebeldia, que reafirme nossa em 1986. Em 13 de abril de 2012 foi sancionada a lei 12.612
possibilidade de dizer “não” e que valorize a inconformidade. que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação
Só quem é capaz de dizer o não pode dizer o sim, pode Brasileira.
escolher. Ser humano é ser junto: a minha liberdade acaba
quando acaba a do outro: se algum humano ou humana não é Palavras do Autor
livre, ninguém é livre. Porque somos educadores ? Por que
dedicarmos toda uma existência a essa atividade cansativa, A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a
econômica e socialmente prejudicada e desvalorizada, prática educativo- progressiva em favor da autonomia do ser
entremeada de percalços ? Por causa da paixão. A paixão pela dos educandos é a temática central em torno de que gira este
ideia irrecusável de que gente foi feita para ser feliz. Paixão texto. Temática a que se incorpora a análise de saberes
pela inconformidade de as coisas serem como são; paixão pela fundamentais àquela prática e aos quais espero que o leitor
derrota da desesperança e pela ideia de tornar as pessoas crítico acrescente alguns que me tenham escapado ou cuja
melhores, paixão pelo futuro. importância não tenha percebido.
Nosso “negócio” é o futuro e assim, torna-se absurdo dizer Devo esclarecer aos prováveis leitores e leitoras o
que quanto mais se vive, mais velho se fica. Para isso, teríamos seguinte: na medida mesma em que esta vem sendo uma
de ter nascido prontos e ir desgastando. Isso acontece com temática sempre presente às minhas preocupações de
objetos, não com humanos. Nascemos não-prontos e vamos educador, alguns dos aspectos aqui discutidos não têm sido
nos fazendo, o mais velho de mim está no passado, hoje eu sou estranhos a análises feitas em livros meus anteriores. Não
a minha versão mais nova (”revista e ampliada”). Como creio, porém, que a retomada de problemas entre um livro e
parteiro do futuro, o educador procura realizar as outro e no corpo de um mesmo livro enfade o leitor.
possibilidades que a educação tem de colaborar na conquista Sobretudo quando a retomada do tema não é pura
de uma realidade social superadora das desigualdades. Mais repetição do que já foi dito. No meu caso pessoal retomar um
que uma espera, é um escavar no hoje de nossas práticas à assunto ou tema tem que ver principalmente com a marca oral
procura daquilo que hoje pode ser feito. Nosso tempo é este de minha escrita. Mas tem que ver também com a relevância
em que hoje se gesta o amanhã, do qual não possuímos que o tema de que falo e a que volto tem no conjunto de objetos
certezas, mas possibilidades. É nessa paixão pelo humano a que direciono minha curiosidade. Tem que ver também com
onde se dá o encontro do sonho de um Conhecimento como a relação que certa matéria tem com outras que vêm
ferramenta da Liberdade e de um Poder como amálgama da emergindo no desenvolvimento de minha reflexão. É neste
convivência igualitária. Um ditado chinês diz que se dois sentido, por exemplo, que me aproximo de novo da questão da
homens vêm andando numa estrada, cada um com um pão e, inconclusão do ser humano, de sua inserção num permanente
ao se encontrarem, trocam os pães, cada homem vai embora movimento de procura, que rediscuto a curiosidade ingênua e
com um; porém, se os dois carregam uma ideia, e ao se a crítica, virando epistemológica.
encontrarem, as trocarem, cada homem vai embora com duas. É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito mais
Quem sabe é esse mesmo o sentido do nosso fazer: repartir do que puramente treinar o educando no desempenho de
ideias, para todos terem pão... destrezas e por que não dizer também da quase obstinação
com que falo de meu interesse por tudo o que diz respeito aos
homens e às mulheres, assunto de que saio e a que volto com
FREIRE, P. Pedagogia da o gosto de quem a ele se dá pela primeira vez. Daí a crítica
permanentemente presente em mim à malvadez neoliberal, ao
autonomia: saberes necessários cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexível ao
à prática educativa. São Paulo: sonho e à utopia.
Paz e Terra, 2000; Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu
discurso quando me refiro às injustiças a que são submetidos
os esfarrapados do mundo. Daí o meu nenhum interesse de,
não importa que ordem, assumir um ar de observador
AUTOR
imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos. Em
tempo algum pude ser um observador “acizentadamente”
Paulo Freire foi um educador, pedagogista e filósofo
imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição
brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na
rigorosamente ética. Quem observa o faz de um certo ponto de
história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o
vista, o que não situa o observador em erro. O erro na verdade
movimento chamado pedagogia crítica. É também o Patrono
não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-la e
da Educação Brasileira. Sua prática didática fundamentava-se
desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é
na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo
possível que a razão ética nem sempre esteja com ele.
fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em
O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o dos
contraposição à por ele denominada educação bancária,
excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações
tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria
terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes e a
educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um
insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o que venho
já previamente construído; libertando-se de chavões
chamando de ética universal do ser humano. Estou com os
alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu
árabes na luta por seus direitos mas não pude aceitar a
aprendizado. Destacou-se por seu trabalho na área da
malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas de Munique.
educação popular, voltada tanto para a escolarização como
Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos,
para a formação da consciência política.
professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no
Autor de Pedagogia do Oprimido, livro que propõe um
exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta
método de alfabetização dialético, se diferenciou do

Conhecimentos Pedagógicos 31
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responsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham uma possibilidade mas não é uma virtude. Não podemos
em formação para exercê-la. Este pequeno livro se encontra aceitá-la.
cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da Não é possível ao sujeito ético viver sem estar
necessária eticidade que conota expressivamente a natureza permanentemente exposto á transgressão da ética. Uma de
da prática educativa, enquanto prática formadora. Educadores nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta:
e educandos não podemos, na verdade, escapar à rigorosidade fazer tudo o que possamos em favor da eticidade, sem cair no
ética. Mas, é preciso deixar claro que a ética de que falo não é a moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente farisaico.
ética menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade recusar,
interesses do lucro. com segurança, as críticas que veem na defesa da ética,
Em nível internacional começa a aparecer uma tendência precisamente a expressão daquele moralismo criticado. Em
em acertar os reflexos cruciais da ‘nova ordem mundial’, como mim a defesa da ética jamais significou sua distorção ou
naturais e inevitáveis. Num encontro internacional de ONGs, negação.
um dos expositores afirmou estar ouvindo com certa Quando, porém, falo da ética universal do ser humano
frequência em países do Primeiro Mundo a ideia de que estou falando da ética enquanto marca da natureza humana,
crianças do Terceiro Mundo, acometidas por doenças como enquanto algo absolutamente indispensável à convivência
diarreia aguda, não deveriam ser salvas, pois tal recurso só humana. Ao fazê-lo estou advertido das possíveis críticas que,
prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao sofrimento.” infiéis a meu pensamento, me apontarão como ingênuo e
Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário, da idealista. Na verdade, falo da ética universal do ser humano da
ética universal do ser humano. Da ética que condena o cinismo mesma forma como falo de sua vocação ontológica para o ser
do discurso citado acima, que condena a exploração da força mais, como falo de sua natureza constituindo-se social e
de trabalho do ser humano, que condena acusar por ouvir historicamente não como um “a priori” da História. A natureza
dizer, afirmar que alguém falou A sabendo que foi dito B, que a ontologia cuida se gesta socialmente na História.
falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, É uma natureza em processo de estar sendo com algumas
soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não conotações fundamentais sem as quais não teria sido possível
cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamente, falar mal reconhecer a própria presença humana no mundo como algo
dos outros pelo gosto de falar mal. A ética de que falo é a que original e singular. Quer dizer, mais do que um ser no mundo,
se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente o ser humano se tornou uma Presença no mundo, com o
imorais como na perversão hipócrita da pureza em mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra
puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na presença como um “não- eu” se reconhece como “si própria”.
manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que
É por esta ética inseparável da prática educativa, não intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do
importa se trabalhamos com crianças, jovens ou com adultos, que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide,
que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é vivê- que rompe. E é no domínio da decisão, da avaliação, da
la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade
nossas relações com eles. Na maneira como lidamos com os da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna
conteúdos que ensinamos, no modo como citamos autores de inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais
cuja obra discordamos ou com cuja obra concordamos. Não uma virtude.
podemos basear nossa crítica a um autor na leitura feita por Na verdade, seria incompreensível se a consciência de
cima de uma ou outra de suas obras. Pior ainda, tendo lido minha presença no mundo não significasse já a
apenas a crítica de quem só leu a contracapa de um de seus impossibilidade de minha ausência na construção da própria
livros. presença. Como presença consciente no mundo não posso
Posso não aceitar a concepção pedagógica deste ou escapar à responsabilidade ética no meu mover- me no mundo.
daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razões por Se sou puro produto da determinação genética ou cultural ou
que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crítica, é de classe, sou irresponsável pelo que faço no mover-me no
mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico mundo e se careço de responsabilidade não posso falar em
do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. Isto não significa negar os condicionamentos genéticos,
ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e culturais, sociais a que estamos submetidos. Significa
esta. Formação científica, correção ética, respeito aos outros, reconhecer que somos seres condicionados mas não
coerência, capacidade de viver e de aprender com o diferente, determinados. Reconhecer que a História é tempo de
não permitir que o nosso mal- estar pessoal ou a nossa possibilidade e não de determinismo, que o futuro, permita-se
antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não me reiterar, é problemático e não inexorável.
fez são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas Devo enfatizar também que este é um livro esperançoso,
perseverantemente nos dedicar. um livro otimista, mas não ingenuamente construído de
É não só interessante mas profundamente importante que otimismo falso e de esperança vã. As pessoas, porém, inclusive
os estudantes percebam as diferenças de compreensão dos de esquerda, para quem o futuro perdeu sua problematicidade
Faros, as posições às vezes antagônicas entre professores na – o futuro é um dado – dirão que ele é mais um devaneio de
apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. sonhador inveterado. Não tenho raiva de quem assim pensa.
Mas é fundamental que percebam o respeito e a lealdade com Lamento apenas sua posição: a de quem perdeu seu endereço
que um professor analisa e critica as posturas dos outros. na História.
De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este tema. A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso
É que me acho absolutamente convencido da natureza ética da neoliberal anda solta no mundo. Com ares de pós-
prática educativa, enquanto prática especificamente humana. modernidade, insiste em convencer- nos de que nada podemos
É que, por outro lado, nos achamos, ao nível do mundo e não contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a
apenas do Brasil, de tal maneira submetidos ao comando da ser ou a virar “quase natural”. Frases como “a realidade é assim
malvadez da ética do mercado, que me parece ser pouco tudo mesmo, que podemos fazer?” ou “o desemprego no mundo é
o que façamos na defesa e na prática da ética universal do ser uma fatalidade do fim do século” expressam bem o fatalismo
humano. Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora.
da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída para a
transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não
éticos. Neste sentido, a transgressão dos princípios éticos é pode ser mudada. O de que se precisa, por isso mesmo, é o

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treino técnico indispensável à adaptação do educando, à sua crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige estética e ética. A
sobrevivência. O livro com que volto aos leitores é um decisivo necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode
não a esta ideologia que nos nega e amesquinha como gente. ser feita sem uma rigorosa formação ética e estética. Decência
De uma coisa, qualquer texto necessita: que o leitor ou a leitora e boniteza andam de mãos dadas. Mulheres e homens, seres
a ele se entregue de forma crítica, crescentemente curiosa. É histórico-sociais, tornamo-nos capazes de comparar, de
isto o que este texto espera de você, que acabou de ler estas valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper. Por
“Primeiras Palavras”. tudo isso nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos
Paulo Freire sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é
São Paulo possível pensar os seres humanos longe da ética. Quanto mais
Setembro de 1996 fora dela, maior a transgressão. Ensinar exige a corporificação
das palavras pelo exemplo. Quem pensa certo está cansado de
RESUMO saber que palavras sem exemplo pouco ou nada valem. Pensar
certo é fazer certo (agir de acordo com o que pensa).
Capítulo l - Não Há Docência Sem Discência Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal, que
o re-diz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao professor
Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos, nem pensar que pensa certo (de forma progressista), e, ao mesmo
formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou tempo, perguntar ao aluno se "sabe com quem está falando".
alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das forma de discriminação. É próprio do pensar certo a
diferenças, não se reduzem à condição de objeto um do outro. disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser
Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao negado ou acolhido só porque é novo, assim como critério de
aprender. Ensinar exige rigorosidade metodológica. Ensinar recusa ao velho não é o cronológico. O velho que preserva sua
não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, validade encarna uma tradição ou marca uma presença no
superficialmente feito, mas se alonga à produção das tempo continua novo. Faz parte igualmente do pensar certo a
condições em que aprender criticamente é possível. E estas rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação.
condições exigem a presença de educadores e de educandos A prática preconceituosa de raças, de classes, de gênero
criadores, investigadores, inquietos, curiosos, humildes e ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente
persistentes. a democracia. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. A
Faz parte das condições em que aprender criticamente é prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
possível a pressuposição, por parte dos educandos, de que o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre
educador já teve ou continua tendo experiência da produção o fazer. É fundamental que, na prática da formação docente, o
de saberes, e que estes, não podem ser simplesmente aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar
transferidos a eles. Pelo contrário, nas condições de certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de
verdadeira aprendizagem, tanto educandos quanto professores que, iluminados intelectuais, escrevem desde o
educadores transformam-se em sujeitos do processo de centro do poder. Pelo contrário, o pensar certo que supera o
aprendizagem. Só assim podemos falar realmente de saber ingênuo tem de ser produzido pelo próprio aprendiz, em
ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido na sua razão comunhão com o professor formador. É preciso possibilitar
de ser. Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, que a curiosidade ingênua, através da reflexão sobre a prática,
com a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não vá tornando-se crítica.
apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar Na formação permanente dos professores, o momento
certo - um professor desafiador, crítico. Ensinar exige fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando
pesquisa. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode
Hoje se fala muito no professor pesquisador, mas isto não é melhorar a próxima prática. O discurso teórico, necessário à
uma qualidade, pois faz parte da natureza da prática docente a reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se
indagação, a busca, a pesquisa. confunda com a prática. Ensinar exige o reconhecimento e a
Precisamos que o professor se perceba e se assuma como assunção da identidade cultural. A questão da identidade
pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os momentos cultural, com sua dimensão individual e da classe dos
do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade que, tornando-se educandos, cujo respeito é absolutamente fundamental na
mais e mais metodologicamente rigorosa, transforma-se no prática educativa progressista, é problema que não pode ser
que Paulo Freire chama de "curiosidade epistemológica". desprezado. Tem a ver diretamente com a assunção de nós por
Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. A escola nós mesmos. É isto que o puro treinamento do professor não
deve respeitar os saberes dos educandos – socialmente faz, perdendo-se na estreita e pragmática visão do processo.
construídos na prática comunitária - discutindo, também, com
os alunos, a razão de ser de alguns deles em relação ao ensino Capítulo 2 – Ensinar Não É Transferir Conhecimento
dos conteúdos.
Por que não aproveitar a experiência dos alunos que vivem Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
em áreas descuidadas pelo poder público para discutir a possibilidades para a sua própria construção. Quando o
poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem- educador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a
estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à indagações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crítico
saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas à e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de ensinar
realidade concreta, em que a violência é a constante e a e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é uma
convivência das pessoas com a morte é muito maior do que postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de
com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés da assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo
ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua, e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela
associada ao saber comum, se criticiza, aproximando-se de vigilância constante que temos de exercer sobre nós mesmos
forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do objeto para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências
cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica. grosseiras.
Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mudança É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável
não se dá automaticamente. Essa é uma das principais tarefas para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém vire
do educador progressista - o desenvolvimento da curiosidade raivosidade, gerando um pensar errado e falso. É cansativo,

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por exemplo, viver a humildade, condição sine qua non do respeito aos educandos, se não se levar em consideração as
pensar certo, que nos faz proclamar o nosso próprio equívoco, condições em que eles vêm existindo, e os conhecimentos
que nos faz reconhecer e anunciar a superação que sofremos. experienciais com que chegam à escola. Isto exige de mim uma
Sem rigorosidade metódica não há pensar certo. Ensinar exige reflexão crítica permanente sobre minha prática. O ideal é que
consciência do inacabamento. Na verdade, a inconclusão do se invente uma forma pela qual os educandos possam
ser é própria de sua experiência vital. Onde há vida, há participar da avaliação. E que o trabalho do professor deve ser
inconclusão, embora esta só seja consciente entre homens e com os alunos e não consigo mesmo. O professor tem o dever
mulheres. de realizar sua tarefa docente.
A invenção da existência envolve necessariamente a Para isso, precisa de condições favoráveis, sem as quais se
linguagem, a cultura, a comunicação em níveis mais profundos move menos eficazmente no espaço pedagógico. O desrespeito
e complexos do que ocorria e ocorre no domínio da vida, a a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à
espiritualização do mundo, a possibilidade não só de prática pedagógica. Ensinar exige humildade, tolerância e luta
embelezar, mas também de enfear o mundo; tudo isso em defesa dos direitos dos educadores. Como ser educador
inscreveria mulheres e homens como seres éticos. Só os seres sem aprender a conviver com os diferentes? Como posso
que se tornaram éticos podem romper com a ética. É respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade
necessário insistir na problematização do futuro e recusar sua e da real compreensão do papel da ignorância na busca do
inexorabilidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser saber, temo revelar o meu desconhecimento? A luta dos
condicionado "Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou um professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve
ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que ser entendida como um momento importante de sua prática
posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser docente, enquanto prática ética. Ainda que a prática
condicionado e o ser determinado... Afinal, minha presença no pedagógica seja tratada com desprezo, não tenho por que
mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele se desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la mal.
insere". Minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente,
E a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas crítica e organizada dos professores.
também sujeito da história. Histórico-sócio-culturais, Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de
tornamo-nos seres em quem a curiosidade, ultrapassando os formação permanente dos quadros do magistério como tarefa
limites que lhe são peculiares no domínio vital, torna-se altamente política, e reinventar a forma de lutar. Ensinar exige
fundante da produção do conhecimento. Mais ainda, a apreensão da realidade. Como professor, preciso conhecer as
curiosidade é já o conhecimento. Como a linguagem que anima diferentes dimensões que caracterizam a essência da minha
a curiosidade e com ela se anima, é também conhecimento e prática. O melhor ponto de partida para estas reflexões é a
não só expressão dele. Na verdade, seria uma contradição se, inconclusão do ser humano. Aí radica a nossa educabilidade,
inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano não se bem como a nossa inserção num permanente movimento de
inserisse em tal movimento. É neste sentido que, para busca. A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de
mulheres e homens, estar no mundo necessariamente significa ensinar, implica a nossa habilidade de apreender a
estar com o mundo e com os outros. É na inconclusão do ser, substantividade de um objeto. Somos os únicos seres que,
que se sabe como tal, que se funda a educação como processo social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender.
permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na Por isso aprender é uma aventura criadora, muito mais
medida em que se reconheceram inacabados. rica do que meramente repetir a lição dada. Aprender é
O ideal é que, na experiência educativa, educandos e construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz
educadores, juntos, transformem este e outros saberes em sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Toda prática
sabedoria. Algo que não é estranho a nós, educadores. Ensinar educativa demanda:
exige respeito à autonomia do ser educando. O professor, ao - a existência de sujeitos
desrespeitar a curiosidade do educando, o seu gosto estético, - um que, ensinando, aprende, e outro que, aprendendo,
a sua inquietude, a sua linguagem, ao ironizar o aluno, ensina (daí seu cunho gnosiológico);
minimizá-lo, mandar que "ele se ponha em seu lugar" ao mais - a existência de objetos, conteúdos a serem ensinados e
tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao se eximir do aprendidos;
cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do - o uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta prática
aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de estar também implica, em função de seu caráter diretivo, objetivos,
respeitosamente presente à experiência formadora do sonhos, utopias, ideais. Daí sua politicidade, daí não ser neutra,
educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos ser artística e moral.
de nossa existência. É neste sentido que o professor autoritário
afoga a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito Exige uma competência geral, um saber de sua natureza e
de ser curioso e inquieto. saberes especiais, ligados à atividade docente. Como
Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um professor, se a minha opção é progressista e sou coerente com
dever, por mais que se reconheça a força dos ela, meu papel é contribuir para que o educando, seja o, artífice
condicionamentos a enfrentar. A beleza de ser gente se acha, de sua formação. Devo estar atento à difícil caminhada da
entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de heteronomia para a autonomia. "É assim que venho tentando
brigar. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao
educando exige de mim uma prática em tudo coerente com saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por
este saber. Ensinar exige bom senso O exercício do bom senso, seus desafios..." Ensinar exige alegria e esperança.
com o qual só temos a ganhar, se faz no corpo da curiosidade. O meu envolvimento com a prática educativa jamais
Neste sentido, quanto mais colocamos em prática, de forma deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer que
metódica, a nossa capacidade de indagar, de comparar, de tenha podido criá-la nos educandos. Parece-me uma
duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nos contradição que uma pessoa que não teme a novidade, que se
podemos tornar e mais crítico se torna o nosso bom senso. sente mal com as injustiças, que se ofende com as
O exercício do bom senso vai superando o que há nele de discriminações, que luta contra a impunidade, que recusa o
instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos fatalismo cínico e imobilizante não seja criticamente
acontecimentos em que nos envolvemos. O meu bom senso esperançosa. Ensinar exige a convicção de que a mudança é
não me diz o que é, mas deixa claro que há algo que precisa ser possível.
sabido. É ele que, em primeiro lugar, me diz não ser possível o

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A realidade não é inexoravelmente esta. E esta agora, e própria autonomia, ainda que reelaborando materiais vindos
para que seja outra, precisamos lutar, viver a história como de fora de si.
tempo de possibilidade, e não de determinação. O amanhã não É com a autonomia, penosamente construída e fundada na
é algo pré-dado, mas um desafio. Não posso, por isso, cruzar os responsabilidade, que a liberdade vai preenchendo o espaço
braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros, indispensáveis antes habitado pela dependência. O fundamental no
a quem pretende que sua presença se torne convivência. O aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade
mundo não é. O mundo está sendo. O meu papel no mundo não da liberdade que se assume. O essencial nas relações entre
é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem autoridade e liberdade é a reinvenção do ser humano no
intervém como sujeito de ocorrências. aprendizado de sua autonomia. Nunca me foi possível separar
Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No fundo, dois momentos - o ensino dos conteúdos da formação ética dos
as resistências orgânicas e culturais são manhas necessárias à educandos. O saber desta impossibilidade é fundamental à
sobrevivência física e cultural dos oprimidos. É preciso, porém, prática docente.
que tenhamos na resistência fundamentos para a nossa Quanto mais penso sobre a prática educativa,
rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas. reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, mais
Não é na resignação que nos afirmamos, mas na rebeldia em me convenço do nosso dever de lutar para que ela seja
face das injustiças. A rebeldia é ponto de partida, é deflagração realmente respeitada: Ensinar exige comprometimento. Não
da justa ira, mas não é suficiente. posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar
A rebeldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até uma com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar
posição mais radical e crítica, a revolucionária, politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a
fundamentalmente anunciadora. Mudar é difícil, mas é maneira como eles me percebem tem importância capital para
possível. Ensinar exige curiosidade. Como professor, devo o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas
saber que, sem a curiosidade que me move, não aprendo nem preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação
ensino. A construção do conhecimento implica o exercício da cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que
curiosidade, o estímulo à pergunta, a reflexão crítica sobre a pareço ser e o que realmente estou sendo. Isto aumenta em
própria pergunta. mim os cuidados com o meu desempenho.
O fundamental é que professor e alunos saibam que a Se a minha opção é democrática, progressista, não posso
postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Minha
apassivada. A dialogicidade, no entanto, não nega a validade de presença de professor é, em si, política. Enquanto presença,
momentos explicativos, narrativos. O bom professor faz da não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo
aula um desafio. Seus alunos cansam, não dormem. Um dos revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir,
saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que me de optar e de romper, minha capacidade de fazer justiça, de
adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu
para a curiosidade epistemológica. Resultado do equilíbrio testemunho. Ensinar exige compreender que a educação é uma
entre autoridade e liberdade, a disciplina implica o respeito de forma de intervenção no mundo. Outro saber de que 'não
uma pela outra, expresso na assunção que ambas fazem de posso duvidar na minha prática educativo-crítica é que, como
limites que não podem ser transgredidos. experiência especificamente humana, a educação é uma forma
de intervenção no mundo. Intervenção esta que, além do
Capítulo 3 - Ensinar É Uma Especificidade Humana conhecimento dos conteúdos, bem ou mal ensinados e/ou
aprendidos, implica tanto o esforço da reprodução da
Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.
docente democrática deve revelar em suas relações com as Nem somos seres simplesmente determinados nem
liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais,
segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a
decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência de
próprias posições, com que aceita rever-se. Ensinar exige Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre
segurança, competência profissional e generosidade - A desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses
segurança com que a autoridade docente se move implica uma humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de classes de
outra, fundada na sua competência profissional. pessoas. Não posso ser professor se não percebo cada vez
Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de
competência. O professor que não leva a sério sua formação, mim uma definição, uma tomada de posição, uma ruptura.
que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua Exige que eu escolha entre isto e aquilo.
tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a
classe. A incompetência profissional desqualifica a autoridade favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor
do professor. Outra qualidade indispensável à autoridade, em simplesmente da Humanidade, frase de uma vaguidade
suas relações com a liberdade, é a generosidade. Não há nada demasiado contrastante com a concretude da prática
que inferiorize mais a tarefa formadora da autoridade do que educativa. Sou professor a favor da decência contra o
a mesquinhez, a arrogância ao julgar os outros e a indulgência despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
ao se julgar, ou aos seus. autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
A arrogância que nega a generosidade nega também a ditadura. Sou professor a favor da luta constante contra
humildade. O clima de respeito que nasce de relações justas, qualquer forma de discriminação, contra a dominação
sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as econômica dos indivíduos ou das classes sociais, contra a
liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o ordem vigente que inventou a aberração da miséria na fartura.
caráter formador do espaço pedagógico. A autoridade, Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar
coerentemente democrática, está convicta de que a disciplina de tudo. Contra o desengano que consome e imobiliza e a favor
verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos da boniteza de minha própria prática. Tão importante quanto
silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe. A
instiga, na esperança que desperta. Um esforço sempre coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. Ensinar
presente à prática da autoridade coerentemente democrática exige liberdade e autoridade. O problema que se coloca para o
é o que a torna quase escrava de um sonho fundamental - o de educador democrático é como trabalhar no sentido de fazer
persuadir ou convencer a liberdade para a construção da possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente

Conhecimentos Pedagógicos 35
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pela liberdade. Sem os limites, a liberdade se perverte em fatos e a sua comunicabilidade. Ensinar exige reconhecer que
licença e a autoridade em autoritarismo. Por outro lado, faz a educação é ideológica Saber igualmente fundamental à
parte do aprendizado a assunção das consequências do ato de prática educativa do professor é o que diz respeito à força, às
decidir. vezes, maior do que pensamos da ideologia. É o que nos
Não há decisão que não seja seguida de efeitos esperados, adverte de suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair.
pouco esperados ou inesperados. Por isso a decisão é um A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da
processo responsável. É decidindo que se aprende a decidir. verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou
Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca, opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos torna
porque há sempre a sabedoria e a sensatez de meu pai e de míopes. No exercício crítico de minha resistência ao poder da
minha mãe a decidir por mim. Ninguém é autônomo primeiro ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando
para depois decidir. A autonomia vai se construindo na sabedoria indispensável à minha prática docente. A
experiência. Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por necessidade desta resistência crítica, por exemplo, me
outro lado, ninguém amadurece de repente. A gente vai predispõe, de um lado, a uma atitude sempre aberta aos
amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo, demais, aos dados da realidade; de outro, a uma desconfiança
não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma metódica que me defende de tornar-me absolutamente certo
pedagogia da autonomia tem de estar centrada em das certezas. Para me resguardar das artimanhas da ideologia
experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, não posso nem devo me fechar aos outros, nem tampouco me
ou seja, que respeitam a liberdade. Ensinar exige tomada enclausurar no ciclo de minha verdade. Pelo contrário, o
consciente de decisões. Voltemos à questão central desta parte melhor caminho para guardar viva e desperta a minha
do texto - a educação, especificidade humana, como um ato de capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de ouvir com
intervenção no mundo. respeito, por isso de forma exigente, é me deixar exposto às
Quando falo em educação como intervenção me refiro diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que me admita
tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo como dono da verdade.
da economia, das relações humanas, da propriedade, do Ensinar exige disponibilidade para o diálogo Nas minhas
direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que, relações com os outros, que não fizeram necessariamente as
reacionariamente, pretende imobilizar a História e manter a mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da
ordem injusta. E que dizer de educadores que se dizem estética, da pedagogia, nem posso partir do pressuposto que
progressistas, mas de prática pedagógica-política devo conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco
eminentemente autoritária? A raiz mais profunda da temer que pretendam conquistar-me. É no respeito às
politicidade da educação se acha na educabilidade do ser diferenças entre mim e eles, na coerência entre o que faço e o
humano, que se funda em sua natureza inacabada e da qual se que digo, que me encontro com eles. O sujeito que se abre ao
tornou consciente. Inacabado e consciente disso, mundo e aos outros inaugura, com seu gesto, a relação
necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade,
opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos como inconclusão em permanente movimento na história.
quais tanto pode manter-se fiel à ética quanto pode transgredi- Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno
la. Se a educação não pode tudo, pode alguma coisa geográfico, social, dos educandos? Com relação a meus alunos,
fundamental. Se a educação não é a chave das mudanças, não diminuo a distância que me separa de suas condições
é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante. negativas de vida na medida em que os ajudo a aprender não
O que quero dizer é que a educação nem é uma força importa que saber, o do torneio ou do cirurgião, com vistas à
imbatível a serviço da transformação da sociedade nem mudança do mundo, à superação das estruturas injustas,
tampouco é a perpetuação do status quo. jamais com vistas à sua imobilização. Debater o que se diz e o
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo
solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, cada vez mais importante.
sobretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a ser Como educadores progressistas não apenas não podemos
transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo,
escutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas de discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um aparelho de
avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se televisão entregues ou disponíveis ao que vier. Ensinar exige
assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima querer bem aos educandos. O que dizer e o que esperar de
para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A mim, se, como professor, não me acho tomado por este outro
questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às
e da prática da avaliação, enquanto instrumento de apreciação vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria
do que fazer, de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo, da prática educativa de que participo. Na verdade, preciso
libertação e não da domesticação. Avaliação em que se descartar como falsa a separação radical entre seriedade
estimule o falar a como caminho para o falar com. Quem tem o docente e afetividade. A afetividade não se acha excluída da
que dizer, tem igualmente o direito e o dever de dizê-lo. É cognoscibilidade.
preciso, porém, que o sujeito saiba não ser o único a ter algo a O que não posso, obviamente, permitir é que minha
dizer. Mais ainda, que esse algo, por mais importante que seja, afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de
não é a verdade alvissareira por todos esperada. professor no exercício de minha autoridade. Não posso
Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para que maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso, por
este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar não é outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da
no sentido de que, como sujeito cognoscente, torne-se capaz formação científica séria e da clareza política dos educadores.
de inteligir e comunicar o inteligido. É neste sentido que se Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi como
impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus algo que, pelo menos, parecesse com um que-fazer de anjos.
receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a pena lutar
aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar a diferença é uma contra os descaminhos que nos obstaculizam de ser mais.
das virtudes sem a qual a escuta não pode acontecer. Tarefa Como prática estritamente humana, jamais pude entender
essencial da escola, como centro de produção sistemática de a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os
conhecimento, é trabalhar criticamente a i das coisas e dos sentimentos e as emoções, os desejos e os sonhos devessem

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ser reprimidos por uma espécie de ditadura reacionalista. Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor
Jamais compreendi a prática educativa como uma experiência que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim
a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina uma definição. (...). Sou professor a favor da decência contra o
intelectual. Estou convencido de que a rigorosidade, a séria despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
disciplina intelectual, o exercício da curiosidade autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
epistemológica não me fazem necessariamente um ser mal- ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da
amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Nem a arrogância é luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra
sinal de competência nem a competência é causa de a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
arrogância. Certos arrogantes, pela simplicidade, se fariam Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou
gente melhor. esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da
Texto adaptado: Carlos R. Paiva. esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra
o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a
3.1- Ensinar exige segurança, competência profissional favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela
e generosidade (p.91 a 96) some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por
este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias
O professor que não leve a sério sua formação, que não sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se
estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador
tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de
(...). Há professoras cientificamente preparados mas minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e
autoritários a toda prova. O que quero dizer é que a desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. (p.102-103)
incompetência profissional desqualifica a autoridade do
professor. (p.92) 3.4 - Ensinar exige liberdade e autoridade (p.104 a 108)
Outra qualidade indispensável à autoridade em suas
relações com as liberdades é a generosidade. (...). A arrogância O que sempre deliberadamente recusei, em nome do
que nega a generosidade nega também a humildade. (...) (p.92) próprio respeito à liberdade, foi sua distorção em
A autoridade docente mandonista, rígida, não conta com licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a
nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de sua relação tensa, contraditória e não mecânica, entre autoridade
forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o gosto e liberdade, no sentido de assegurar o respeito entre ambas,
de aventurar-se. (p.92-93) cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra. (p.108)
(...)O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais A posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a
livre quanto mais eticamente vá assumindo a democrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário,
responsabilidade de suas ações. Decidir é romper e, para isso, para quem não é possível autoridade sem liberdade e esta sem
preciso correr o risco. (...) (p.93) aquela. (p.108)
Me movo como educador porque, primeiro, me movo como
gente. (p.94) 3.5 - Ensinar exige tomada consciente de decisões (p.109
Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o a 113)
quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são
tarefas que jamais dicotomizei. (p.94) Voltemos à questão central que venho discutindo nesta
Como professor, tanto lido com minha liberdade quanto parte do texto: a educação, especificidade humana, como um
com minha autoridade em exercício, mas também diretamente ato de intervenção não está sendo usado com nenhuma
com a liberdade dos educandos, que devo respeitar, e com a restrição semântica. Quando falo em educação como
criação de sua autonomia bem como com os anseios de intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais
construção da autoridade dos educandos. (p.95) na sociedade, no campo da economia, das relações humanas,
da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à
3.2 - Ensinar exige comprometimento (p.96 a 98) saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente
pretende imobilizar a História e manter o ordem injusta.
Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e (p.109)
que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no A educação não vira política por causa da decisão deste ou
cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim daquele educador. Ela é política. (p.110)
os cuidados com meu desempenho. Se a minha opção é O que devo pretender não é a neutralidade da educação
democrática, progressista, não posso ter uma prática mas a respeito, a toda prova, aos educandos, aos educadores e
reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno às educadoras. O respeito aos educadores e educadoras por
em nome de nenhum motivo. (p.97) parte da administração pública ou privada das escolas; o
Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de respeito aos educandos assumido e praticado pelos
comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha educadores não importa de que escola, particular ou pública. É
capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por por isto que devo lutar sem cansaço. Lutar pelo direito que
isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. (p.98) tenho de ser respeitado e pelo dever que tenho de reagir a que
me destratem . Lutar pelo direito que você, que me lê,
3.3 - Ensinar exige compreender que a educação é uma professora ou aluna, tem de ser você mesma e nunca, jamais,
forma de intervenção no mundo. (p.98 a 104) lutar por essa coisa impossível, acinzentada e insossa que é a
neutralidade. (p.111-112)
Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer (...) O educador e a educadora críticos não podem pensar
na minha prática educativo-crítica é o de que, como que, a partir do curso que coordenam ou do seminário que
experiência especificamente humana, a educação é uma forma lideram, podem transformar o país. Mas podem demonstrar
de intervenção no mundo. (p.98) que é possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância
Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da de sua tarefa político-pedagógica. (p.112)
necessária radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o
que diz respeito à defesa dos interesses humanos. Interesses
superiores aos de puros grupos ou de classes de gente. (p.100)

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3.6 - Ensinar exige saber escutar (p.113 a 125) “Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e
prestimoso”.
Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me “Você sabe com quem está falando?”
confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser “Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se
humano é maior do que mecanismos que o minimizam. (p.115) casar com mulher.”
Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de “É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá.”
professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos “Quando negro não suja na entrada, suja na saída.”
verticais, de cima para baixo, mais insistindo em passar por “O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde mora
democráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto gente que paga imposto.”
professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é, “Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por
naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessária, você.”
mas resistir aos métodos silenciadores com que ela vem sendo “Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou você.
às vezes realizada. A questão que se coloca a nós é lutar em Vote em fulano de tal.”
favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto “Está se vendo, pela cara, que se trata de gente fina, de trato,
instrumento de apreciação do que fazer de sujeitos críticos a que tomou chá em pequeno e não de um pé-rapado qualquer.”
serviço, por isso mesmo, da libertação e não da domesticação. “O professor falou sobre a Inconfidência Mineira.”
(...) (p.116) “O Brasil foi descoberto por Cabral.” (p.133)
Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no (...) o melhor caminho para guardar viva e desperta a
sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intolerável minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de
o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar
comportar-se como proprietário da verdade(...). (p.117) exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que
Que me seja perdoada a reiteração, mas é preciso enfatizar, me admita como proprietário da verdade. (...) (p.134)
mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência do objeto
ao educando mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito 3.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo. (p. 135
cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o a 140)
inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o
educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua Como professor não devo poupar oportunidade para
incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao
ele. (p.119) discutir um tema, ao analisar um fato, ao expor minha posição
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem em face de uma decisão governamental. (p.135)
o que a escuta não se pode dar. (p.120) Me sinto seguro porque não há razão para me envergonhar
Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso por desconhecer algo. (p.135)
conhecer pelo aluno. (p.124) O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o
amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que se diz
3.7 - Ensinar exige reconhecer que a educação é e o que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo
ideológica. (p.125 a 134) cada vez mais importante. (p.139)
Como educadores e educadoras progressistas não apenas
Há um século e meio Marx e Engels gritavam em favor da não podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-la,
união das classes trabalhadoras do mundo contra sua sobretudo, discuti-la.(p.139)
espoliação. Agora, necessária e urgente se fazem a união e a O poder dominante, entre muitas, leva mais uma vantagem
rebelião das gentes contra a ameaça que nos atinge, a dos à sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico de que se
"fereza" da ética do mercado. (p.128) acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja nos noticiários,
Prefiro ser criticado como idealista e sonhador inveterado nos comentários aos acontecimentos ou na linha de certos
por continuar, sem relutar, a aposta no ser humano, a me bater programas, para não falar na propaganda comercial, nossa
por uma legislação que o defenda contra as arrancadas mente ou nossa curiosidade teria de funcionar
agressivas e injustas de que transgride a própria ética. (p.129) epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil. (p.140)
É exatamente por causa de tudo isso que como professor,
devo estar advertido do poder do discurso ideológico, 3.9- Ensinar exige querer bem aos educandos (p.141 a
começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na 146)
verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas é
possível que não perceba a natureza ideológica do discurso (...) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade.
que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem um poder de O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade
persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos ameaça de interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no
anestesiar a mente, de confundir, das coisas, dos exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a
acontecimentos. Não podemos escutar, sem um mínimo de avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor
reação crítica, discursos como estes: (p.132) bem querer que tenha por ele. (p.141)
(...) A alegria não chega apenas no encontro do achado mas
“O negro é geneticamente inferior ao branco. É uma pena, faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não
mas é isso o que a ciência nos diz.” podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
“Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher.” (...). (p.142)
“Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, invasores (...) É esta força misteriosa, às vezes chamada vocação, que
de terra?” explica a quase devoção com que a grande maioria do
“Essa gente é sempre assim: damos-lhe os pés e logo quer as magistério nele permanece, apesar da imoralidade dos
mãos.” salários. E não apenas permanece, mas cumpre, como pode,
“Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa. seu dever. Amorosamente, acrescento. (p.142)
Perguntar-lhe seria uma perda de tempo.” (...) A prática educativa é tudo isso: afetividade, alegria,
“O saber erudito a ser entregue às massas incultas é a sua capacidade científica, domínio técnico a serviço da mudança
salvação.” ou, lamentavelmente, da permanência do hoje.(...). (p.143)
“Maria é negra, mas é bondosa e competente.”

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(...) Se não posso, de um lado, estimular os sonhos “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes,
impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo.” (p.27)
de sonhar. Lido com gente e não com coisas. (...).(p.144)
(...) Como prática estritamente humana jamais pude “O professor que pensa certo deixa transparecer aos
entender a educação como uma experiência fria, sem alma. (...). educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar
(p.145) no mundo e com o mundo (...), e a capacidade de intervindo no
Estou convencido, porém de que a rigosidade, a séria mundo conhecer o mundo.” (p.28)
disciplina intelectual, o exercício da curiosidade
epistemológica não me faz necessariamente um ser mal- “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (...).
amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Ou, em outras Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar
palavras, não é a minha arrogância intelectual a que fala de ou anunciar a novidade” (p.29)
minha rigorosidade científica. Nem a arrogância é sinal de
competência nem a competência é causa de arrogância. Não “Não há para mim, na diferença e na “distancia” entre a
nego a competência, por outro lado, de certos arrogantes, mas ingenuidade e a praticidade (...). A superação e não a ruptura
lamento neles a ausência de simplicidade que, não diminuindo se da na medida em que a curiosidade ingênua se criticiza.”
em nada seu saber, os faria gente melhor. Gente mais gente. (p.31)
(p.146)
“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move
Realmente ler a obra de Freire ( especificamente o capítulo e que nos põe pacientemente em pacientes diante do mundo
3), nos faz refletir acerca de questões no qual estamos que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. A
inseridas e por vezes não percebemos. Seguimos numa necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou
ingenuidade imperdoável, enquanto isso os manipuladores não deve ser feita a distância de uma rigorosa formação ética
permanecem como tais. Perceber a postura do professor nesta ao lado sempre da estética.” (p.32)
visão é lamentar o quão longe estamos de algo dito há anos.
Infelizmente, os docentes, abatidos pelo desrespeito do “O professor que realmente ensina nega como falca, a
sistema arcaico e preferem trilhar o caminho mais fácil, formula farisaica do ‘faço o que eu mando e não o que eu faço’
porque afinal ouvir o outro requer tempo, sensibilidade, (...). Pensar certo e fazer certo. (...). Não há pensar certo fora de
criticidade e afinal eles “não são pagos para isso”. uma pratica testemunhal que o re-diz no lugar de desdizê-lo.”
Um professor que tem vocação, é uma arma perigosa, pois (p.34)
ele pode trabalhar não apenas com os conteúdos, como
também levar o indivíduo a pensar. Pensar sobre coisas “Faz parte do pensar certo o gosto da generosidade que,
simples e acreditar que é possível mudar. Fazemos parte da não negando a quem o tem o direito à raiva, a distingue da
transformação e ela pode começar por nós. A educação é a raivosidade irrefreada.” (p.35)
chave da mudança!
Freire fala sobre a importância que existe na afetividade “Faz parte igualmente do pensar certa a rejeição mais
relacionada a discente- docente, pois de fato é arbitrário decidida a qualquer forma de descriminação. A pratica
estabelecer uma construção de saber, dado por troca, sem que preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a
haja alegria, vivacidade, competência, respeito e capacidade. O substantividade do ser humano e nega radicalmente a
modo como o aluno vê o educador, é outro ponto que me democracia.” (p.36)
chamou atenção, pois a postura apresentada deve estar em
harmonia com o discurso ético deste profissional. “Às vezes, mal se imagina o que pode se passar ao
Vale ressaltar que o grau de comprometimento com o representar na vida de um aluno um simples gesto do
trabalho define seu resultado, isto vale para todas as partes professor.” (p.42)
envolvidas no processo de aprendizagem, o preparo é
primordial. Estabelecer limites não implica em ser sisudo, a “Este saber, o da importância desses gestos que se
liberdade é tão importante quanto o respeito, muito embora multiplicam diariamente nas tramas do espaço escolar, e algo
essas linhas tênues se percam, não é válido assumir o modo sobre o que teríamos de refletir seriamente.” (p.43)
silenciador, fazendo do educando mero receptador.
Trabalhar com gente, nunca foi tarefa fácil, mas de certo é “Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se
uma experiência incrível. Que se valha da esperança nos aliado, de um lado, do exercício da criticidade que implica a
momentos de angústia e olhando adiante, vejamos que é promoção da curiosidade ingênua à curiosidade
possível prosseguir um pouco mais e sempre mais. Desistir espitemológica, e de outro, sem o reconhecimento do valor das
não faz parte do perfil vencedor. A leitura foi de grande valia, emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou
certamente contribuiu muito em meu conhecimento. adivinhação.” (p.45)

TRECHOS IMPORTANTES DO LIVRO “Quando entra em uma sala de aula devo estar sendo um
ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos
“Ensinar não e transferir conhecimento, mas criar alunos, as suas inibições (...). Como professor no curso de
possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” formação docente não posso esgotar minha prática
(p.22) discursando sobre a Teoria da não extensão do conhecimento.”
(p.47)
“Quem forma-se forma é reforma ao formar e quem é
formado forma-se e forma ao ser formado. (...). Não há “O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo
docência sem decência, as duas se explicam. (...). Quem ensina concreto, pratico, da teoria. Sua encarnação.” (p.48)
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”
(p.23) “Minha franquia ante os outros e o mundo mesmo e a
maneira radical como me experimento enquanto ser cultural,
“Ensinar não se esgota no ‘tratamento’ do objeto ou do histórico, inacabado e consciente do inacabamento. (...) Onde a
conteúdo, superficialmente feita, mas se alonga à produção das vida há inacabamento.” (p.50)
condições em que aprender criticamente e possível.” (p.26)

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“Só os seres que se tornaram éticos podem romper com a “Como professor devo saber que sem a curiosidade que me
ética. (...) Não foi possível existir sem assumir o direito e o move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo
dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso nem ensino.” (p.85)
nos traz de novo a imperiosidade da pratica formadora, de
natureza eminentemente ética.” (p.52) “O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a
intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de
“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de
condicionado, mas, consciente do inacabamento (inacabado), sua razão de ser.” (p.88)
sei que posso ir além dele.” (p.53)
“A segurança com que a autoridade docente se move
“Minha presença no mundo não e de quem a ele se adapta, implica outra, a que se funda na sua competência profissional”
mas e de quem nele se insere. E a posição de quem luta para (p.91)
não ser apenas objeto, mas sujeito também da história.” (p.54)
“A segurança com que a autoridade docente se move
“A inconsciência do inacabamento entre nos, mulheres e implica outra, a que se funda na sua competência profissional”
homens, nos fez seres responsáveis, daí a eticidade de nossa (p.91)
presença no mundo.” (p.56)
“Há professores e professoras cientificamente deparados,
“A consciência do mundo e a consciência de si como ser mas autoritários a toda prova. (...) ”Outra qualidade
inacabado necessariamente inscreve o ser consciente de sua indispensável à autoridade em suas relações com as
inclusão num permanente conhecimento de busca.” (p.57) liberdades e a generosidade.” (p.92)

“Estar no mundo sem fazer história sem por ela ser feita “A autoridade coerentemente democrática, fundando-se
(...) sem politizar não e possível. Mulheres e homens se na certeza da importância, quer de si mesma, quer da
tornaram educáveis na medida em que se reconheceram liberdade dos educandos para construção de um clima de real
inacabados. Não foi a educação que fez mulheres e homens disciplina, jamais minimiza a liberdade. (...) O educando que
educáveis, mas a consciência de sua de sua inclusão é que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais
gerou sua educabilidade.” (p.58) eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas ações.”
(p.93)
“O inacabamento de que nos tornamos consciente nos fez
seres éticos (...) a possibilidade do desvio ético não pode “No fundo, o essencial nas relações entre o educador e o
receber outra designação se não a de transgressão. O professor educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães,
que desrespeita a curiosidade do educando.” (p.59) filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de
sua autonomia.” (p.94)
“Transgride os princípios fundamentalmente éticos de
nossa existência.” (p.60) “O ensino dos conteúdos implica o testemunho ético do
professor (...) não há lugar para puritanismo. Só há lugar para
“O exercício do bom senso com o qual só temos o que pureza. (...) A minha pura fala sobre estes direitos a que não
ganhar se faz do ‘corpo’ da curiosidade.” (p.62) corresponda a suas concretizações não tem sentido.” (p.95)

“Como na verdade posso eu continuar falando no respeito “Não e possível exercer a atividade do magistério como se
à dignidade do educando se o ironizo (...). Se o testemunho que nada ocorresse conosco. (...) Não posso escapar à apreciação
a ele dou e da irresponsabilidade (...). A responsabilidade do dos alunos.” (p.96)
professor, de que às vezes não nos damos conta, e sempre
grande.” (p.65) “Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e
que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no
“Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim
direitos dos educadores.” (p.66) os cuidados com meu desempenho. (...) Não posso discriminar
o aluno em nome de nenhum motivo.” (p.97)
“Em nome do respeito que devo ao aluno não tenho por
que me omitir, por que me ocultar a minha opção política “Nada justifica a minimização dos seres humanos, no caso
assumindo uma neutralidade que não existe. Esta, a omissão das maiorias composta de minorias que não perceberam ainda
do professor em nome do respeito ao aluno, talvez seja a que juntas seriam a maioria. (...) Falo da resistência, da
melhor maneira de desrespeitá-lo.” (p.71) indignação, da “justa ira” dos traídos e dos enganados. Do seu
direito e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões
“O meu envolvimento com a pratica educativa, éticas de que são vitimas cada vez mais sofridas. (p.101)
sabidamente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser
feito com alegria. (...) Há uma relação entre a alegria necessária “Não posso ser professor sem me achar capacitado para
à atividade educativa e a esperança. (...) A esperança é uma ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina. (...) É
espécie de ímpeto natural possível e necessário, a importante que os alunos percebam o esforço que faz o
desesperança é o aborto deste ímpeto.” (p.72) professor ou a professora procurando a sua coerência.”
(p.103)
“O mundo não é. O mundo está sendo.” (p.76)
“Ensinar exige liberdade e autoridade.” (p.104)
“A mudança do mundo implica a dialetização entre a
denúncia da situação desumanizante e o anuncio de sua “A liberdade sem limite e tão negada quanto a liberdade
superação, no fundo, o nosso sonho. (...) mudar é difícil mas é asfixiada ou castrada. (...) Quanto mais criticamente a
possível (p.79) liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade
tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu
nome. (p. 105)

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“Ninguém e autônomo primeiro para depois decidir. A querer bem aos educandos e à própria pratica educativa de
autonomia vai se construindo na experiência de várias, que participo. (...) Não e certo, sobre tudo do ponto de vista
inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. (...) A gente vai democrático, que serei tão melhor professor quanto mais
amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia enquanto severo, mais frio, mais distante e ‘cinzento’. (...) O que não
amadurecimento do ser para si, e processo, e vir a ser.” (p.107) posso obviamente permitir e que minha afetividade interfira
no cumprimento ético do meu dever de professor no exercício
“Ensinar exige saber escutar. (...) O educador que escuta de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do
aprende a difícil missão de transformar o seu discurso, às trabalho escolar de um aluno ao maior ou menos bem querer
vezes e necessário, ao aluno, em fala com ele.” (p.113) que tenha por ele.” (p.141)

“No processo da fala e da escuta a disciplina do silencio a


ser assumida com rigor e a seu tempo pelos sujeitos que falam “E esta força misteriosa, às vezes chamada vocação que
e escutam e um ‘sine Qua’ [sem o qual não pode ser] da explica a quase devoção com que a grande maioria do
comunicação dialógica. (...) É preciso, porém, que quem tem o ministério nele permanece, apesar da imoralidade dos
que dizer saiba sem sombra de duvidas, não ser o único ou a salários. (...) Mas e preciso, sublime, que, permanecendo e
única a ter o que dizer.” (p.116) amorosamente cumprindo seu dever, não deixe de lutar
politicamente, por seus direitos e pelo respeito à dignidade de
“A importância do silencio no espaço da educação e sua tarefa, assim como pelos erros devido ao espaço
fundamental.” (p.117) pedagógico em que atua com seus alunos.” (p.142)

“Escutar e obviamente algo que vai mais além da “Como pratica estreitamente humana jamais pude
possibilidade auditiva de cada um. Escutar significa (...) entender a educação como experiência fria, sem alma em que
abertura a fala do outro, ao gesto do outro, às diferenças do os sentimentos (...) devessem ser reprimidos por uma espécie
outro.” (p.119) de ditadura racionalista.” (p.145)

“Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de “Não nego a competência, por outro lado, de certos
produção sistemática de conhecimento, é trabalhar arrogantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que,
criticamente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e sua não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor.
comunicabilidade.” (p.123) Gente mais gente.” (p.146)

“Ninguém pode conhecer por mim assim como não posso


conhecer pelo aluno.” (p.124) COLELLO, S.M.G. A escola
“Ensinar exige reconhecer que a educação e ideológica.
que (não) ensina a escrever.
Saber igualmente é fundamental à pratica educativa do São Paulo: Editora Paz e
professor ou da professora é o que diz respeito à força as vezes Terra, 2012
maior do que pensamos, da ideologia.” (p.125)

“A capacidade de nos amaciar que tem a ideologia nos faz


Com o objetivo de favorecer a revisão dos conceitos e
às vezes mançamente aceitar que a globalização da economia
práticas do ensino da língua escrita, a obra procura analisar
e uma invenção dela mesma ou de um destino que não poderia
tendências pedagógicas (concepções, atividades e dinâmicas
se evitar.” (p.126)
em sala de aula) que, por força da tradição e de tantos outros
condicionantes relativos à educação no Brasil, concretizam-se
“O discurso da globalização que fala da ética esconde,
na escola de modo reducionista e ineficiente. Enfoca também
porém, que a sua é a ética do mercado e não a ética universal
os resultados dessa prática na produção dos textos infantis,
do ser humano, pela qual devemos lutar.” (p.127)
constatando que, até mesmo nos casos de garantidos o acesso
e a permanência na escola, a aprendizagem da escrita não
“A liberdade do comercio não pode estar a cima da
necessariamente resulta no ajustamento da expressão nem no
liberdade do ser humano.” (p.129)
desenvolvimento da imaginação ou mesmo de inserção do
aluno no universo letrado. Procurando evidenciar os vários
“O desemprego do mundo não é, (...) uma fatalidade.”
fatores envolvidos na aquisição da escrita, discute casos de não
(p.130)
aprendizagem, um fenômeno tão comum quanto mal
compreendido pelos professores. Finalmente, aponta
“Ensinar exige uma disponibilidade para dialogo. (...)
alternativas para uma escola que possa, efetivamente,
Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e de
enfrentar o desafio de ensinar a ler e a escrever.
que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso saber
Uma crítica que não se esgote em si, mas que, ao
melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. (...) não há
fundamentar o trabalho docente, subsidie a transformação do
razão para me envergonhar por desconhecer algo.” (p.135)
ensino. Afinal, compreender as falhas didáticas e as tendências
pedagógicas viciadas é o caminho para a constituição de um
“Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao
sujeito ‘senhor de sua própria palavra’ no contexto de uma
mundo e aos outros à procura de explicação, de respostas a
escola que efetivamente ensine a escrever.
múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se
Aprendemos a falar bem antes de chegarmos à escola. A
tornam transgressão ao impulso natural da incompletude.”
oralidade nos provê de um primeiro mapa de significações –
(p.136)
um protomapa – para representar o mundo. Em geral, à escola
cabe a tarefa de nos alfabetizar, de nos iniciar no ensino da
“O mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o
escrita. Estudamos várias disciplinas, mas, como já diziam
amanhã já este feito. Tudo muda rápido.” (p.139)
nossos avós, a escola deve nos ensinar a ler, escrever e contar.
Há muito, tal visão sintética das funções da escola deixou
“Ensinar exige querer bem aos educandos. (...) preciso
de ser suficiente para descrever as competências que devemos
estar aberto ao gosto de querer bem, às vezes, à coragem de
desenvolver. Antigamente, ser analfabeto era não saber se

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expressar por escrito; hoje, podem ser caracterizados diversos imediatas, e a valorização da clareza, da objetividade, do dizer-
tipos de analfabetismo: na língua, nas ciências, nas tecnologias dizendo.
informáticas etc. O elenco de competências pessoais a ser De modo geral, ao longo de todo o texto, a autora se esmera
desenvolvido ampliou-se de forma significativa. Além de ler, na busca do equilíbrio nas análises e na valorização dos
escrever e compreender um texto na língua materna, aspectos metodológicos e filosóficos das ações que projeta ou
precisamos ser capazes de nos expressar em diversas examina. O material apresentado não constitui um livro de
linguagens, de compreender fenômenos em diferentes metodologia da alfabetização ou da escrita em sentido estrito,
contextos, de argumentar de modo consistente, de enfrentar ainda que esteja recheado de observações preciosas nesse
situações-problema em variados contextos, entre outras terreno. Assim como um sistema do tipo GPS é um auxílio
competências primárias. Uma ideia, no entanto, permanece importante para quem sabe aonde quer ir, mas em nada ajuda
invariante: à escola compete ensinar a escrever. Como lidar, quando não sabemos em qual lugar queremos chegar, os
então, com a ambiguidade sugerida no título da presente obra? recursos metodológicos apenas assumem funções
Afinal, a escola ensina ou não ensina a escrever? Eis aí a importantes quando as questões cruciais de fins e de valores
questão norteadora do denso trabalho com que a autora nos estão devidamente esclarecidas.
brinda no texto a seguir. A despeito da riqueza dos insights filosóficos ou
O ponto de partida da reflexão é o significado profundo do psicológicos, que estão presentes ao longo de todo o texto,
ensino e da aprendizagem da escrita. Somos levados a ler e também não estamos diante de um livro de filosofia ou de
escrever, mas o texto é apenas o primeiro outro diante de nós psicologia, uma vez que os olhares estão permanentemente
a demandar uma compreensão; dele, partimos para a leitura voltados para o chão da fábrica, ou seja, para a sala de aula. Os
de fenômenos em sentido mais amplo, ou à compreensão de inúmeros exemplos comentados que ilustram a exposição, da
outros “outros”. Na feliz expressão da lavra de Paulo Freire, da primeira à última página, favorecem a notável alimentação
leitura stricto senso, partimos para a leitura do mundo; tarefa mútua conseguida pela autora entre as perspectivas
complexa e desafiadora, sem dúvida, mas valiosa e ingente. metodológica e de fundamentação teórica das ações docentes
Na problematização das questões enfrentadas no ensino no processo de alfabetização.
da escrita, tendo por base a fecunda atividade docente da As características do trabalho o direcionam, portanto, aos
autora, em diversos níveis de ensino, múltiplos descaminhos educadores efetivamente comprometidos com as tarefas
são identificados e caracterizados. Práticas escolares docentes, que refletem sobre suas práticas, mas que buscam
excludentes ou ineficientes, bem como dinâmicas equivocadas, extrair de suas reflexões elementos para a instrumentação
são apontadas e analisadas. Estratégias dos aprendizes efetiva da ação docente, estabelecendo pontes consistentes
reveladoras de egocentrismo, de preenchimento “burocrático” entre as concepções teóricas e o ato de ensinar.
de espaços, de um dizer-não-dizendo, de um não-dizer- Na parte final do texto, a autora procura amealhar
dizendo são examinadas por meio de exemplos extremamente elementos para fundamentar novas práticas e esboçar
ricos, expressivos de uma realidade educacional viva, tanto no caminhos alternativos para a constituição de uma escola que
ensino público quanto no privado. ensine a escrever. Resistindo ao fascínio e à facilidade da
Em sintonia com o que acima se registrou, merece especial denúncia, não joga os problemas apontados no colo do leitor
destaque o fato de que a autora produziu um texto crítico, apenas, articulando ideias e propostas de ação. A leitura não
analítico, mas assertivo, propositivo. As questões discutidas deixa na boca, em nenhum momento, o gosto amargo da
vão das mazelas da ação ingênua ou incipiente à consciência desilusão. Demonstra com clareza o profundo compromisso
dos meios de produção da escrita; dos artifícios a que os alunos profissional com a Educação da autora que, continuamente, ao
recorrem para se desincumbir das tarefas escolares ao longo do texto, sugere, inspira, anima, instrumenta, instiga,
vislumbre das sementes da criação efetiva. Ela jamais assume aponta, semeia, acredita...
o papel de franco-atiradora, não instilando a desconfiança nas Nunca será demasiado o destaque ao fato, já registrado
ações docentes, nem destilando críticas inconsequentes. antes, de que a autora impulsiona o leitor para além do
Considera que, mais importante do que apenas apontar o joio diagnóstico dos problemas apresentados. Sua maturidade
e o trigo, é fundamental semear expectativas de superação dos profissional e sua consciência crítica a imunizaram do desvio
problemas assinalados. Assim, após dar nomes aos que consiste na mera denúncia dos desvios. Afinal, como
bois/desvios, a análise das tendências contemporâneas na enfatizou Hannah Arendt em sua análise sobre a crise na
produção da escrita, com suas seduções e suas armadilhas, Educação, não deveria ser pai ou educador aquele que não se
conduz a uma visão positiva dos caminhos a ser trilhados, em dispusesse a assumir a responsabilidade pelo mundo. É óbvio
busca de uma escola que efetivamente ensine a escrever. que isso não significa conformar-se com aquilo que a realidade
Um dos pontos altos da reflexão realizada é a análise do nos apresenta, mas qualquer possibilidade de transformação
papel do desenho como forma básica de representação passa necessariamente pelo desafio de assumir as
infantil, concomitante, e, às vezes, anterior à escrita. Analisa o responsabilidades inerentes às funções que ocupamos, pela
papel das imagens na produção textual e o modo como tal diligência em cuidar da parte que nos toca.
relação evolui ao longo dos anos de escolaridade. Descartando Se a linguagem é a maior das invenções humanas, a escrita
ideias superficiais que limitam o papel do desenho ao de um é a maior conquista da civilização, motivo pelo qual ela marca
complemento estético do texto, a autora esboça uma o início da história da humanidade. Graças às suas
articulação digna de nota entre textos verbais e pictóricos, características, a escrita promove uma ruptura com o espaço
indo muito além do tratamento do desenho como algo fechado (interlocução a distância), com o tempo (permanência do texto
em si mesmo. Apenas por essa elaboração teórica o trabalho já como portador autônomo) e com as exigências dialógicas
mereceria os maiores elogios. primárias da interlocução (intercâmbio na ausência do outro),
Outro ponto digno de nota é o equilíbrio entre os aspectos ampliando indiscutivelmente os limites da existência humana.
lúdicos e os que pressupõem um trabalho duro, uma dedicação A alfabetização não garante, contudo, o ingresso diferenciado
intensa; entre a valorização do contexto, do fato, do que já está em nosso mundo. As competências para ler e escrever, em
feito, e a exploração da fantasia, do ficto, do idealizado ou nossa sociedade, são fatores tão necessários quanto mal
imaginado. Não é possível semear a competência na escrita compreendidos, sobretudo pela influência dos parâmetros
com base apenas em relatórios técnicos, ou em fatos objetivos: reducionistas que explicam o mundo e contaminam a
trata-se, literalmente, do desvio do fatalismo. Também nesse educação.
terreno a autora logra um equilíbrio admirável entre o elogio Pela vertente racionalista, a escrita coloca-se a serviço dos
da imaginação, da transcendência das circunstâncias mesmos princípios que limitam a interpretação da

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complexidade social. Como decorrência palpável dos Na Parte 2, os Capítulos 2 e 3 discutem o ensino da escrita
mecanismos que negam a diversidade, a personalização e a sob uma abordagem teórica que pretende enfocar a
autonomia do indivíduo em um mundo complexo, ela passa a problemática vivida no contexto da escola. O Capítulo 4, em
ser regida pelo convite à reprodução e produtividade, pela uma retomada ainda teórica, explana de forma mais específica
conformidade aos modelos instituídos, que não a temática da não aprendizagem segundo os princípios da
necessariamente exprimem a voz do sujeito (a pluralidade de alfabetização: a quem, para que, o que e como se ensina a
suas intenções, valores, impressões e sentimentos). A palavra língua escrita. Os dois capítulos que se seguem (5 e 6),
escrita instala-se como um conhecimento técnico- redigidos com base em pesquisas de campo em escolas
instrumental que contraria a natureza da linguagem e a públicas e privadas de São Paulo, permitem um confronto mais
dialogia das relações sociais. direto do referencial teórico com a realidade escolar,
Os textos aqui reunidos têm o objetivo de rever a escrita analisando, respectivamente, as práticas pedagógicas e as
na sua multifuncionalidade e multidimensionalidade. Ao dinâmicas em sala de aula.
considerar as diversas razões do escrever e as diferentes Na Parte 3, o debate sobre o reducionismo do ensino é
formas de fazê-lo, pretendo chamar a atenção para a complementado pela análise da escrita na perspectiva dos
complexidade de fatores inerentes à construção da escrita e processos e das produções dos alunos. O Capítulo 7 discute
para a importância de práticas pedagógicas que, mais do que casos de suposta dificuldade apoiados em diferentes critérios
ensinar ou instruir, possam resgatar, no âmbito do de análise. Os demais capítulos (8, 9, 10 e 11) caracterizam
desenvolvimento, os princípios de humanização do sujeito algumas tendências na produção textual de crianças do ensino
aprendiz. fundamental: o difícil acesso ao texto crítico e funcional, o
Combatendo a epistemologia do “saber doado” e do frágil voo da ficção, o declínio do imaginário e os mecanismos
“conhecimento útil e necessariamente produtivo”, entendo a de tendências relativas à produção textual são parte da minha
educação como um meio de promover práticas simbólicas de pesquisa de doutorado, realizada com base no estudo de 659
sutura entre o homem e o mundo. Uma vez construídas as redações infantis de uma escola pública de São Paulo.
“pontes” por meio da interlocução e do acesso à cultura, No conjunto dos capítulos aqui propostos, pretendo
tornam-se possíveis novas formas de se situar perante a vida, desvelar os mecanismos do aprisionamento linguístico
assim como de estimular que se crie outros mecanismos em inerentes ao ensino, deixando evidentes os seus efeitos sobre
organização social, capazes de respeitar a diversidade e a a constituição do “escritor”. A constatação das falhas
identidade em cada um. pedagógicas e de seus resultados não será um discurso estéril
No âmbito da problemática enfocada e em estreita sintonia se ela puder subsidiar a revisão de valores arraigados, de
com os pressupostos aqui assumidos, os textos que compõem princípios conservadores e de práticas tão reducionistas.
o presente trabalho foram escritos em diferentes momentos. Sem esquecer os parâmetros de interpretação da realidade
Alguns, publicados em anais de congressos, permaneceram e as tendências sociais mais amplas que se refletem no ensino,
relativamente limitados a um público restrito; outros, não há como negar o papel e as práticas da principal agência
dispersos em revistas científicas, nem sempre estiveram de letramento, aquela que, formalmente, foi encarregada da
acessíveis em língua portuguesa; e alguns, ainda inéditos, transmissão do saber: a escola. No que diz respeito à escrita, é
aguardavam a oportunidade para ser formalmente ela que ensina e, com certeza, condiciona o seu uso em práticas
apresentados. Esta obra vem a público com o objetivo de mais ou menos restritivas. Até que ponto, ao ensinar a
organizar essa produção, viabilizando uma abordagem que escrever, não estamos limitando o uso da escrita e as
possa contribuir para a sempre oportuna temática do ensino possibilidades de comunicação?
da língua escrita.
A fim de garantir a unidade e a coerência interna de cada
capítulo, optou-se pela apresentação deles o mais próximo DOLZ, J. e SCHNEUWLY, B.
possível das publicações originais, mesmo correndo o risco (e
agora assumindo a responsabilidade) de repetir alguns
Gêneros Orais e escritos na
argumentos, assim como a explicitação de determinados escola. Campinas (SP):
referenciais teóricos. Contudo, talvez o demérito da repetição Mercado de Letras; 2004;
possa ser compensado por uma abordagem que, tomada sob
diferentes perspectivas, permita uma abordagem mais ampla
e profunda sobre o tema proposto. Embora os textos sejam
Este livro reúne um conjunto de nove artigos de
independentes entre si, o que possibilita diferentes opções na
Schneuwly, Dolz e colaboradores, traduzidos e organizados
ordem de leitura, eles se integram e se completam na defesa
por Rojo e Cordeiro, cuja análise centra-se no texto como “a
da ideia de que é possível rever os princípios e práticas do
base do ensino-aprendizagem de língua portuguesa.” (p.7).
ensino para garantir a efetiva apropriação da língua escrita.
Para tanto, importa não só considerar a contribuição teórica
1 - Apresentação: Gêneros Orais e Escritos como
produzida nos últimos anos como também disponibilizar-se a
objetos de ensino: modo de pensar, modo de fazer.
aprender com os nossos alunos: suas perspectivas, suas
Foi na década de 1980, no Brasil, que estudos e práticas
dificuldades e seus modos de produção.
pedagógicas começaram a serem desenvolvidas tendo o texto
Os capítulos foram organizados em quatro partes que
como fundamento. De lá para cá, o texto, na maioria das vezes,
correspondem a diferentes focos de abordagem. A primeira
vem sendo tomado como um objeto empírico através do qual
considera objetivamente a alfabetização no que diz respeito às
se efetivam práticas de leitura, análise linguística e produção
metas educativas, aos eixos de operação cognitiva no processo
de textos. Inserindo-se no rol de estudiosos do tema que
de aprendizagem e às frentes de trabalho pedagógico. A
criticam essa abordagem limitada do uso do texto, as
segunda problematiza as diretrizes e as práticas do ensino da
organizadoras esclarecem que, a partir do século XXI, novas
língua escrita. A terceira analisa os efeitos de uma pedagogia
pesquisadas vêm sendo produzidas sobre leitura e produção
reducionista sobre a produção da escrita. Para finalizar, a
de textos. Esses novos estudos, cujos autores dos artigos que
conclusão discute a possibilidade de uma escola que possa
compõe essa coletânea são representativos, fundamentam os
ensinar a escrever de modo efetivo.
atuais PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) orientando
A Parte 1 (Capítulo 1) procura situar a língua e o trabalho
que, agora, “trata-se então de enfocar, em sala de aula, o texto
de alfabetização a ser desenvolvido na escola.
em seu funcionamento e em seu contexto de produção/leitura,
evidenciando as significações geradas mais do que as

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propriedades formais que dão suporte a fundamentos professores, para cada um dos níveis de ensino, informações
cognitivos.” (p.11). concretas sobre os objetivos visados pelo ensino, sobre as
Os PCNs, como referenciais, objetivam apresentar os práticas de linguagem que devem ser abordadas, sobre os
princípios e fundamentos nos quais deve se pautar a ação saberes e habilidades implicados em sua apropriação.” (p.43)
docente no ensino da linguagem oral e escrita e acabam Na elaboração de uma proposta curricular para a linguagem
apresentando dúvidas, aos professores, em como organizar o oral e escrita deve-se levar em conta, também, a progressão,
trabalho de ensino-aprendizagem com base nessas novas ou seja, a ordem temporal que deve seguir o processo de
ideias. Eis a importância e o motivo principal da organização aprendizagem. Há uma tripla ordem temporal: a que se define
da presente obra, cujo objeto consiste em discutir modos de em função dos objetivos propostos para cada série escolar, a
pensar e fazer a fim de orientar o trabalho docente. que se destina às finalidades de cada ciclo e, ainda, à referente
a cada unidade de ensino. A elaboração do currículo
2 - Gêneros e Tipos de Discurso: considerações progressivo deve fundamentar-se na premissa vygotskyana de
psicológicas e ontogenéticas. que a aprendizagem alavanca o processo de desenvolvimento
Este artigo foi escrito por Bernard Schneuwly e objetiva das funções superiores dos sujeitos, incluindo, aqui, a
classificar as tipologias textuais de modo que ajude no linguagem.
processo de aquisição das diferentes formas de discurso. Para a organização do trabalho, os professores devem
levar devem partir de três fatores: “as especificidades das
Fundamentando-se em Vygotsky, o autor define o gênero práticas de linguagem que são objeto de aprendizagem, as
como um instrumento, de caráter psicológico, mediador do capacidades de linguagem dos aprendizes e as estratégias de
processo de aprendizagem da criança na leitura e na escrita ensino propostas pela sequência didática” (p.51). As
possibilitando, assim, novos conhecimentos e novas ações. sequências didáticas referem-se aos módulos de ensino
Gênero, por sua vez, de acordo com Bakhtin, tem um sentido dispostos sequencialmente a fim de levar o aluno a alcançar,
amplo: são os diferentes tipos de textos orais e escritos que os ao final do processo, os objetivos propostos no planejamento
sujeitos utilizam, socialmente, de acordo com funções pedagógico.
definidas pelo contexto vivido. Cada gênero linguístico possui O desenvolvimento das capacidades linguísticas das
determinadas características: 1.para cada situação social crianças se constitui, em parte, por um processo de
definida é elaborado um tipo específico de enunciado; 2.cada reprodução de modelos socialmente legitimados. Estratégias
gênero apresenta conteúdo, estilo e composição própria; 3.a sistemáticas e intencionais do processo de ensino-
definição de cada gênero se dá em função da temática em foco, aprendizagem são necessárias para garantir o domínio desses
dos participantes envolvidos no contexto e na vontade do instrumentos sociais por parte dos aprendizes. Cabe, portanto,
locutor. Desse modo, pode-se inferir que há uma relação de à escola, e aos professores, essa tarefa.
interconexão e dependência entre gênero e contexto que cria Que critérios utilizar para a elaboração e desenvolvimento
uma dupla necessidade: conhecimento do gênero em si e, do processo de ensino-aprendizagem das expressões orais e
também, do contexto do qual é expressão e ao qual se destina. escritas, na escola? “Nesse processo, o critério a privilegiar
Nas palavras de Schneuwly, “a ação discursiva é, portanto, ao para tomar decisões é o da validade didática: as possibilidades
menos parcialmente, prefigurada pelos meios.” (p.28). efetivas de gestão do ensino proposto, a coerência dos
O desenvolvimento linguístico dos sujeitos se dá por um conteúdos ensinados, assim como os ganhos de
processo de continuidade e ruptura através dos usos de aprendizagem.” (p.67)
gêneros primários e secundários (categorias utilizadas por
Bakhtin), ou seja, através de discursos que se originam de 4 - Os Gêneros escolares – das práticas de linguagem
situações espontâneas (primários) ou de comunicações aos objetos de ensino
culturais (secundárias). A primeira se caracteriza, A ideia central desse artigo escrito por Schneuwly e Dolz é
essencialmente, por discursos orais e o segundo por escritos “de que o gênero é (...) utilizado como meio de articulação
envolvendo produção artística, científica e sociopolítica. Os entre as práticas sociais e os objetos escolares, mais
gêneros primários constituem-se no nível real de particularmente no domínio do ensino da produção de textos
desenvolvimento linguístico das crianças (zona de orais e escritos” (p.71).
desenvolvimento real) que, a partir deles, é possível
desenvolverem os gêneros secundários através de intervenção As práticas sociais se dão nas relações que os sujeitos
sistemática (zona de desenvolvimento proximal). Por isso estabelecem ente si (relações sociais) de diferentes formas,
afirma-se, no texto, que “os gêneros primários são os sendo a linguagem uma delas. As diferentes expressões orais e
instrumentos de criação dos gêneros secundários” (p.35). escritas, suas formas, estilos, funções emergem das práticas
Após esse percurso de análise, Schneuwly defende a tese sociais e se materializam em diferentes tipos de textos ou, em
de que a diversidade de tipos de textos aos quais as crianças palavras mais técnicas, gêneros linguísticos. É na escola que as
são expostas possibilita a passagem dos gêneros primários expressões linguísticas usadas nas práticas sociais são
para os secundários, constituindo-se, assim, “construções apropriadas pelas crianças. Esse processo de apropriações
necessárias para gerar uma maior heterogeneidade nos ocorre através dos diferentes gêneros linguísticos.
gêneros, para oferecer possibilidades de escolha, para garantir Ao ser transposto ao ambiente escolar, o gênero é, além
um domínio consciente dos gêneros, em especial daqueles que meio de comunicação, objeto de ensino-aprendizagem,
jogam com a heterogeneidade.” (p.38). transformando-se, portanto, em gênero escolar. O autor
destaca três vertentes de práticas pedagógicas que enfocam
3 - Gêneros e progressão em expressão oral e escrita – um dos aspectos constitutivos do processo de apropriação da
elementos para uma reflexão sobre uma experiência Suíça linguagem: a) desaparecimento da comunicação que resulta da
(Francófona) redução dos gêneros em objetos de ensino esvaziados de suas
Este artigo foi escrito por Joaquim Dolz e Bernard funções sociais; b) a escola como lugar de comunicação,
Schneuwly e relata a experiência de elaboração de um vertente na qual a própria instituição é tida como lugar de
currículo para o ensino da expressão oral e escrita em escola comunicação e, portanto, como espaço e finalidade da
na Suíça Francófona. produção e uso de textos; c) negação da escola como lugar
específico de comunicação, abordagem que nega a escola como
Fundamentados em Coll (1992), os autores defendem que parte da prática social geral buscando, assim, transpor, de
“um currículo para o ensino da expressão deveria fornecer aos

Conhecimentos Pedagógicos 44
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forma direta, as expressões orais e escritas utilizadas na 6 - Palavra e ficcionalização: um caminho para o
sociedade para o interior da escola. ensino da linguagem oral
Contrapondo-se a essas correntes que geram práticas Este texto é de autoria de Bernard Schneuwly, fruto de uma
limitadoras de ensino-aprendizagem da linguagem, o autor Conferência no Programa de pós-graduação em Linguística
defende que os gêneros são “objeto e instrumento de trabalho Aplicada e estudos da Linguagem (Lael) da PUC-SP, proferida
para o desenvolvimento da linguagem” (p.80). em 1997. Sua tese é de que é possível trabalhar o ensino da
É apontada a necessidade de construir modelos didáticos linguagem oral materna na escola através de uma nova relação
de gêneros a partir dos quais seja possível elaborar sequências da linguagem.
didáticas que possibilitem a apropriação dos gêneros pelas
crianças sendo necessário o estudo das dimensões passíveis Analisando a história do ensino da linguagem na escola,
de serem ensinadas a respeito de cada gênero linguístico. Para especificamente acerca da relação entre o oral e o escrito, o
tanto, o autor propõe três princípios orientadores da autor analisa criticamente duas vertentes comuns que
elaboração desses modelos: a) legitimidade: que consiste em orientam o processo de ensino-aprendizagem para, ao final,
analisar os conhecimentos produzidos pelos especialistas propor um caminho possível para se trabalhar a linguagem
sobre os gêneros; b) pertinência: refere-se “às capacidades dos oral na escola.
alunos, às finalidades e aos objetivos da escola, aos processos A primeira abordagem discutida é aquela na qual os alunos
de ensino-aprendizagem” (p.82); c) solidarização: tornando são levados a desenvolver habilidades linguísticas orais tendo
“coerentes os saberes em função dos objetivos visados” (p.82). como referência a norma da linguagem escrita culta. São
enfocados, aqui, as dimensões estruturais da linguagem
5 - Sequências didáticas para o oral e a escrita: (fonológicas, sintáticas, lexicais) e não trabalhados outros
apresentação de um procedimento aspectos relevantes na linguagem oral como, por exemplo, os
Buscando responder a pergunta “Como ensinar a argumentos e a estrutura textual utilizados pelo aluno.
expressão oral e escrita?” (p.95), esse texto de Joaquim Dolz, A segunda referência aborda a linguagem oral como uma
Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly, propõe a sequência expressão em si mesma bastando, apenas, que o aluno tenha
didática como uma estratégia adequada para elaboração do espaços nos quais se expresse oralmente acerca de seus
processo de ensino-aprendizagem, compreendendo “um sentimentos. Não há, portanto, nessa concepção, objetivos
conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira didáticos estabelecidos para a linguagem oral na escola.
sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” Schneuwly propõe que o trabalho da linguagem oral
(p.97). É sugerido um modelo de sequência didática contendo assuma uma outra dimensão na instituição escolar
quadro momentos distintos mas articulados e objetivando levar os alunos de uma oralidade espontânea a
interdependentes que serão apresentados a seguir. uma expressão oral gestada, ou seja, pensada e planejada
intencionalmente pelos sujeitos em interlocução. Essa
1. Apresentação da situação: essa etapa é crucial pois é mudança do rumo que adquire a oralidade pressupõe uma
aqui que serão definidos o contexto, a forma e conteúdo do certa ficcionalização, ou seja, uma elaboração abstrata de
gênero a ser estudado e produzido envolvendo duas ações. A situações envolvendo quatro parâmetros: “enunciador,
primeira refere-se a situação de comunicação e a escolha do destinatário, finalidade ou objetivo, lugar social” (p.144).
gênero e a segunda diz respeito aos conteúdos a serem
trabalhados. Para ajudar na preparação da primeira ação, são 7 - O oral como texto: como construir um objeto de
apresentadas 4 questões que devem necessariamente, serem ensino
respondidas: “Qual é o gênero que será abordado? A quem se Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly escrevem este artigo
dirige a produção? Que forma assumirá a produção? Quem com a colaboração de Sylvie Haller com o intuito de constituir
participará da produção?” (p.99/100). A segunda dimensão a expressão oral em objeto de ensino em função da
refere-se ao tema e possíveis subtemas que serão abordados. centralidade que ele ocupa nas práticas sociais desde a mais
2. Primeira produção: Os alunos farão uma produção oral tenra idade até a fase adulta. Para tanto, é imprescindível
ou escrita dependendo do gênero que será trabalhado. Essa definir, clara e objetivamente, quais são as características da
produção tem uma dupla importância: para os alunos será o linguagem oral que devem ser ensinadas. A partir da sua
momento de compreender o quanto sabem do gênero e do definição é possível traçar estratégias de ensino mais
assunto a serem estudados e, ainda, se entenderam a situação adequadas para o desenvolvimento das habilidades orais dos
de comunicação à qual terão de responder; para os alunos.
professores tem o papel de analisar o que os alunos já sabem,
identificar os problemas linguísticos do gênero que deverão A primeira dimensão do oral é de que ele consiste numa
ser enfocados e definir a sequência didática. linguagem falada com entonação, acentuação e ritmos
3. Módulos: A quantidade e conteúdo dos módulos de próprios envolvendo um aparelho fonador interligado com o
ensino devem ser definidos de acordo com as informações aparelho respiratório, através dos quais se emitem sons
colhidas pelo professor da primeira produção dos alunos. Cada articulados em fonemas (vogais e consoantes) combinados de
módulo deve contemplar problemas específicos do gênero em modo a formarem sílabas. O oral pode ir do espontâneo que
questão a fim de garantir melhora dos alunos na compreensão consiste numa fala improvisada diante de uma situação
e uso da expressão oral ou escrita estudada. imediata vivenciada à escrita oralizada referente à vocalização
4. Produção final: Após o processo os alunos deverão de um texto escrito através da leitura ou do recital. A oralidade
realizar uma produção que demonstrará o domínio adquirido tem como marca, também, a linguagem corporal, através de
ao longo da aprendizagem acerca do gênero e do tema mímicas, gestos, expressões faciais.
propostos e permitirá ao professor avaliar o trabalho Outra questão a considerar é da relação entre oral e escrita.
desenvolvido. A linguagem, para os autores é um sistema global que envolve
Os autores esclarecem, contudo, ao final do texto, que “as tanto a oralidade e a escrita. O que define qual expressão será
sequências devem funcionar como exemplos à disposição dos usada (oral ou escrita) é a situação comunicacional na qual se
professores. Elas assumirão seu papel pleno se os conduzirem, está inserido. Assim, tomar o oral como objeto de ensino
através de formação inicial ou contínua, a elaborar, por conta pressupõe que se conheça e compreenda as práticas orais e os
própria, outras sequências.” (p.128) saberes e linguísticos nelas implicados.
Toda relação comunicacional produz um texto entendido
como “uma unidade de produção verbal que veicula uma

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mensagem organizada linguisticamente e que tende a produzir 5. Dividir a classe em dois grupos – um que foi alvo de um
um efeito de coerência sobre seu destinatário” (p.169). trabalho didático e outro que não – possibilitou verificar o
Selecionar diferentes textos (orais) utilizados socialmente papel da intervenção didática na produção dos textos;
tornará o ensino mais significativo para os alunos e 6. Nas discussões das duplas para definição das estratégias
professores. Além da expressão oral propriamente dita, os para elaboração do texto foram muito mais ricas do que o texto
autores consideram que a outra dimensão dessa expressão produzido por eles. Este não continha várias das questões
linguística – a oralização da escrita – também é importante na levantadas e decididas pela dupla;
apropriação por parte dos alunos das práticas e atividades 7. Didaticamente, é necessário intervenção para a
linguísticas socialmente construídas e legitimadas pela produção das narrativas em três dimensões: processo de
sociedade. Sugere-se, assim, também o trabalho com recitação, abdução que permite desvendar o crime e achar o culpado; a
teatro e leitura para os outros. necessidade de criar suspeitos dando condições de se criar
Quais gêneros orais ensinar na escola? O papel da escola, intrigas para retardar a descoberta do culpado e, enfim,
para os autores, é o de instruir mais do que de educar a escolha necessidade de caracterizar os personagens através de
dos textos deve-se recair, sobretudo, nos de caráter público diálogos, ações e descrições.
formal, ou seja, aqueles frutos (e utilizados) de situações
públicas formais (conferência, debate, entrevista jornalística, 9 - A exposição oral
entre outros). Além disso, as expressões orais utilizadas nas O artigo em questão foi escrito por quatro autores:
situações públicas convencionais são mais complexas e Joaquim Dolz, Bernard Schneuwly, Jean-François de Pietro e
requerem uma intervenção didática intencional para que seja Gabrielle Zahnd. Partindo da constatação de que a exposição
possível sua apropriação e uso consciente e intencionalmente. oral, sobretudo o seminário, é muito utilizada nas salas de aula,
Cabe ao professor, portanto, conhecer os gêneros orais os autores, com base em pesquisas realizadas, afirmam que,
oriundos de situações públicas formais e fim de transformá-los contudo, ele não se configura como objeto de ensino. Assim,
em objetos de ensino através de sequências didáticas cujos não há um trabalho sistemático e intencional cujo objetivo seja
princípios e proposta de um modelo são apresentados no possibilitar aos alunos a apropriação das características
artigo intitulado “Sequências didáticas para o oral e a escrita: próprias desse gênero oral a fim de melhorar seu desempenho
apresentação de um procedimento”. nas exposições orais.

8 - Em busca do culpado. Metalinguagem dos alunos na Diante desse diagnóstico, os autores defendem que as
redação de uma narrativa de enigma exposições orais sejam utilizadas, na escola, como meio de
Com o intuito de analisar “o papel das atividades comunicação e, também, como objeto de ensino. A exposição
metalinguísticas no ato de escrita, por meio do exemplo da oral é um texto de caráter público e formal onde um sujeito
narrativa de enigma” (p.190), Joaquim Dolz e Bernard transmitirá, de forma estruturada, informações acerca de um
Schneuwly escrevem este artigo baseado em uma pesquisa tema que domina a uma plateia com pré-disposição para
realizada com um grupo de alunos, organizados em pares, aprender. O ensino desse gênero oral deve levar em
produzindo uma narrativa de enigma (narrativa de um crime consideração dimensões inerentes a ele: capacidade de
e seu processo de investigação). A escolha desse gênero comunicação, conteúdo específico e procedimentos
fundamenta-se no fato de que, para escrever um texto desse linguísticos e discursivos.
tipo é necessário buscar compreender como ele se estrutura a A situação de comunicação deve ser objeto de análise: qual
fim de seguir seu “modelo” objetivando construir a narrativa. o tema, quais as problemáticas serão abordadas na exposição,
quem são os interlocutores, o que eles já sabem sobre o tema,
A pesquisa foi realizada com um grupo de 24 pré- quais as conclusões as quais deve-se chegar.
adolescentes subdividido em duplas. Das 12 duplas formadas, O estudo do conteúdo a ser exposto também deve ser alvo
8 foram submetidas a uma sequência didática na qual foram de discussão. Os alunos devem procurar diversas fontes e
abordados alguns aspectos do gênero a ser trabalhado, além utilizar, caso necessário, de gráficos, tabelas, enfim, do
das instruções acerca do texto a ser produzido. As outras 4 repertório de fontes como apoio à exposição do tema.
duplas receberam somente as instruções para a realização do Após, passe-se à organização interna da exposição também
texto. Todas as duplas receberam um texto-base contendo o considerando sete fases: abertura, introdução ao tema,
início da história informando acerca do crime cometido e um apresentação do plano da exposição, desenvolvimento e
parágrafo final genérico no qual não aparecia o culpado do encadeamento dos temas, recapitulação e síntese, conclusão e
crime. A proposta consistia em completar a história. encerramento.
Dos resultados obtidos, verificou-se que, a maioria das
duplas realizou uma certa discussão acerca dos elementos 10 - Relato da elaboração de uma sequência: o debate
principais que devia conter um texto de enigma sendo que, público
grande parte deles foram dos que participaram da atividade Este capítulo do livro escrito por Joaquim Dolz, Bernard
didática que precedeu a elaboração do texto. Schneuwly e Jean-François de Pietro, relata uma sequência
Algumas conclusões ainda que iniciais, dado a amostra didática aplicada a uma situação de ensino do debate como
limitada que foi trabalhada na pesquisa, foram apresentadas: uma experiência prática de ensino de expressão oral, na escola.
1. A observação dos alunos durante o processo de
elaboração de um texto permite estudar as atividades O debate foi escolhido como objeto de ensino porque
metalinguísticas por eles desenvolvidas; permite desenvolver várias habilidades necessárias para a
2. O texto-base foi uma estratégia que colaborou para o vida em sociedade, tais como: capacidades linguísticas
desenvolvimento da proposta; (discurso, argumentação, retomada do discurso), cognitivas
3. Uma das noções discutidas pelos alunos e que, nas (crítica), social (ouvir e respeitar o outro) e individual (situar-
narrativas enigmáticas é de suma importância, é de culpado; se perante uma situação, tomar posição diante de um assunto,
4. A narrativa de enigma a ser elaborada possibilitou o construir sua própria identidade).
surgimento de problemas relacionados com esse gênero Os autores apresentam três tipos de debate que se pode
linguístico. Além disso, a elaboração da intriga, elemento trabalhar:
central desse gênero literário, precisa de um trabalho 1.de opiniões: aqui as crianças são levadas a colocar sua
sistemático que alavanque, nos alunos, a discussão sobre essa opinião e justificá-la a respeito de um tema sem, contudo, seja
questão; necessário chegar a uma conclusão;

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2. deliberativo: aqui o que direciona o debate e a reciprocidade e universalidade. A personalidade é o ponto


argumentação é a necessidade de se tomar uma decisão; mais refinado da socialização: o eu renuncia a si mesmo para
3.para resolução de problemas: a discussão do problema e inserir seu ponto de vista entre os outros, em oposição ao
suas possíveis soluções é o centro do trabalho. egocentrismo, em que a criança elege o próprio pensamento
Após a definição do tipo de debate a ser estudado, parte-se como absoluto. O ser social de mais alto nível é aquele que
para a escolha do tema que deve levar em conta: os interesses consegue relacionar-se com seus semelhantes realizando
dos alunos, a complexidade e saberes dos alunos sobre o tema, trocas em cooperação, o que só é possível quando atingido o
a relevância social, capacidade didática. estágio das operações formais (adolescência).

Enfim, chega-se à questão das formas de se tratar o O processo de socialização


conteúdo do debate. Nessa fase, sugere-se que sejam A socialização vai do grau zero (recém-nascido) ao grau
trabalhados temas cujos argumentos podem ser buscados no máximo (personalidade). O indivíduo mais evoluído pode
conteúdo das disciplinas que estão sendo desenvolvidos e usufruir tanto de sua autonomia quanto das contribuições dos
buscar outras fontes, preferencialmente orais, de aumentar o outros. Para Piaget, “autonomia significa ser capaz de se situar
repertório dos alunos acerca do assunto. Deve-se atentar, consciente e competentemente na rede dos diversos pontos de
também, para questões de ordem prática que envolvem o vista e conflitos presentes numa sociedade” (p.17). Há uma
ensino da oralidade na escola: duração da sequência didática e “marcha para o equilíbrio”, com bases biológicas, que começa
de seu conteúdo em função do nível de desenvolvimento que no período sensório-motor, com a construção de esquemas de
os alunos estão; inserir, no projeto de classe, trabalhos com ação, e chega às ações interiorizadas, isto é, efetuadas
oralidade; buscar formas para registrar esses trabalhos mentalmente.
(gravação: só da fala ou com imagens); proporcionar aos Embora tudo pareça resumir-se à relação sujeito-objeto,
alunos contato com modelos de expressões orais de caráter para La Taille, as operações mentais permitem o
público formal. conhecimento objetivo da natureza e da cultura e são,
No ensino das expressões orais, na escola, o papel do portanto, necessidades decorrentes da vida social. Para ele,
professor é primordial visto que, ao mesmo tempo, ele precisa Piaget não compartilha do “otimismo social” de que todas as
gerenciar duas dimensões articuladamente: criar uma relações sociais favorecem o desenvolvimento. Para La Taille,
situação de comunicação motivadora e enriquecedora e a peculiaridade da teoria piagetiana é pensar a interação pela
desenvolver, nos alunos, suas capacidades argumentativas. Ao perspectiva da ética (igualdade, respeito mútuo, liberdade,
longo e ao final do processo é necessário, ainda, que o direitos humanos). Ser coercitivo ou cooperativo depende de
professor avalie tanto seu próprio trabalho como gestor do uma atitude moral, sendo que a democracia é condição para o
ensino bem como os trabalhos realizados pelos alunos que desenvolvimento da personalidade. Diz ele: “A teoria de Piaget
expressam o grau de desenvolvimento por eles alcançado. é uma grande defesa do ideal democrático” (p. 21).

Vygotsky e o processo de formação de conceitos


LA TAILLE, Yves et alii. Piaget, Marta Kohl de Oliveira
Vygotsky, Wallon: teorias Substratos biológicos e construção cultural no
psicogenéticas em discussão. São desenvolvimento humano
Paulo: Summus, 1992; A perspectiva de Vygotsky é sempre a da dimensão social
do desenvolvimento. Para ele, o ser humano constitui-se como
tal na sua relação com o outro social; a cultura torna-se parte
da natureza humana num processo histórico que molda o
PARTE I – FATORES BIOLÓGICOS E SOCIAIS
funcionamento psicológico do homem ao longo do
O lugar da interação na concepção de Jean Piaget
desenvolvimento da espécie (filogenética) e do indivíduo
Yves de La Taille
(ontogenética). O ser humano tem, assim, uma dupla natureza:
membro de uma espécie biológica que só se desenvolve no
La Taille considera que nada há de mais injusto que a
interior de um grupo cultural.
crítica feita a Piaget de desprezar o papel dos fatores sociais no
Vygotsky rejeitou a idéia de funções fundamentais fixas e
desenvolvimento humano. O máximo que se pode dizer é que
imutáveis, “trabalhando com a noção do cérebro como um
Piaget não se deteve sobre a questão, mas, o pouco que
sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos
levantou é de suma importância.
de funcionamento são moldados ao longo da história da
espécie e do desenvolvimento individual” (p. 24). Para ele, o
Para o autor, o postulado de Wallon de que o homem é
cérebro é formado por sistemas funcionais complexos, isto é,
“geneticamente social” (impossível de ser pensado fora do
as funções não se localizam em pontos específicos, mas se
contexto da sociedade) também vale para a teoria de Piaget,
organizam a partir da ação de diversos elementos que atuam
pois são suas palavras: “desde o nascimento, o
de forma articulada. O cérebro tem uma estrutura básica,
desenvolvimento intelectual é, simultaneamente, obra da
resultante da evolução da espécie, que cada membro traz
sociedade e do indivíduo” (p.12).
consigo ao nascer. Essa estrutura pode ser articulada de
Para Piaget, o homem não é social da mesma maneira aos
diferentes formas pelo sujeito, isto é, um mesmo problema
seis meses ou aos vinte anos. A socialização da inteligência só
pode ser solucionado de diferentes formas e mobilizar
começa a partir da aquisição da linguagem. Assim, no estágio
diferentes partes do cérebro.
sensório-motor a inteligência é essencialmente individual, não
Há uma forte ligação entre os processos psicológicos e a
há socialização. No estágio pré-operatório, as trocas
inserção do indivíduo num contexto sócio-histórico específico.
intelectuais equilibradas ainda são limitadas pelo pensamento
Instrumentos e símbolos construídos socialmente é que
egocêntrico (centrado no eu): as crianças não conseguem
definem quais possibilidades de funcionamento cerebral serão
seguir uma referência única (falam uma coisa agora e o
concretizadas. Vygotsky apresenta a ideia de mediação: a
contrário daí a pouco), colocar-se no ponto de vista do outro e
relação do homem com os objetos é mediada pelos sistemas
não são autônomas no agir e no pensar. No estágio operatório-
simbólicos (representações dos objetos e situações do mundo
concreto, começam a se efetuar as trocas intelectuais e a
real no universo psicológico do indivíduo), que lhe possibilita
criança alcança o que Piaget chama de personalidade – o
planejar o futuro, imaginar coisas, etc.
indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de

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Em resumo: operar com sistemas simbólicos permite o Ao nascer, é pela expressividade ou mímica que o ser
desenvolvimento da abstração e da generalização e define o humano atua sobre o outro. A motricidade disponível consiste
salto para os processos psicológicos superiores, tipicamente em reflexos e movimentos impulsivos, incoordenados. A
humanos. Estes têm origem social, isto é, é a cultura que exploração da realidade exterior só é possível quando surgem
fornece ao indivíduo o universo de significados as capacidades de fixar o olhar e pegar. A competência no uso
(representações) da realidade. As funções mentais superiores das mãos só se completa ao final do primeiro ano de vida,
baseiam-se na operação com sistemas simbólicos e são quando elas chegam a uma ação complementar (mão
construídas de fora para dentro num processo de dominante e auxiliar). A etapa dominantemente práxica da
internalização. motricidade ocorre paralelamente ao surgimento dos
movimentos simbólicos ou ideativos1. O movimento, a
O processo de formação de conceitos princípio, desencadeia o pensamento. Por exemplo, uma
A linguagem é o sistema simbólico fundamental na criança de dois anos, que fala e gesticula, tem seu fluxo mental
mediação entre sujeito e objeto do conhecimento e tem duas atrofiado se imobilizada. O controle do gesto pela ideia
funções básicas: interação social (comunicação entre inverte-se ao longo do desenvolvimento. Há uma transição do
indivíduos) e pensamento generalizante (significado ato motor para o mental.
compartilhado pelos usuários). Nomear um objeto significa
colocá-lo numa categoria de objetos com atributos comuns. As fases da inteligência – as etapas de construção do eu
Palavras são signos mediadores na relação do homem com o No processo de desenvolvimento da inteligência há
mundo. preponderância (a cada período mais marcado pelo afetivo
O desenvolvimento do pensamento conceitual segue um segue-se outro mais marcado pelo cognitivo) e alternância de
percurso genético que parte da formação de conjuntos funções (a criança ora está mais voltada para a realidade das
sincréticos (baseados em nexos vagos e subjetivos), passa pelo coisas/conhecimento do mundo – fases centrípetas, ora mais
pensamento por complexos (baseado em ligações concretas e voltada para a edificação da pessoa/conhecimento de si – fases
factuais) e chega à formação de conceitos (baseados em centrífugas).
ligações abstratas e lógicas). 1ª fase: impulsivo-emocional (de zero a um ano). Voltada
Esse percurso não é linear e refere-se à formação de para o desenvolvimento motor e para a construção do eu. No
conceitos cotidianos ou espontâneos, isto é, desenvolvidos no recém-nascido, os movimentos impulsivos que exprimem
decorrer da atividade prática da criança em suas interações desconforto ou bem estar são interpretados pelos adultos e se
sociais imediatas e são, portanto, impregnados de transformam em movimentos comunicativos através da
experiências. Já os conceitos científicos são os transmitidos em mediação social; até o final do primeiro ano a relação com o
situações formais de ensino-aprendizagem e geralmente ambiente é de natureza afetiva e a criança estabelece com a
começam por sua definição verbal e vão sendo expandidos no mãe um “diálogo tônico” (toques, voz, contatos visuais).
decorrer das leituras e dos trabalhos escolares. Assim, o 2ª fase: sensório-motor e projetivo (de um a três anos).
desenvolvimento dos conceitos espontâneos é ascendente (da Aprendendo a andar a criança ganha mais autonomia e volta-
experiência para a abstração) e o de conceitos científicos é se para o conhecimento do mundo. Surge uma nova fase de
descendente (da definição para um nível mais elementar e orientação diversa, voltada para a exploração da realidade
concreto). externa. Com a linguagem, inicia-se o domínio do simbólico.
A partir do exposto, duas conclusões são fundamentais: 3ª fase: personalismo (três a seis anos). Novamente
1ª - diferentes culturas produzem modos diversos de voltada para dentro de si, a preocupação é agora construir-se
funcionamento psicológico; como ser distinto dos demais (individualidade diferenciada).
2ª - a instrução escolar é de enorme importância nas Com o aperfeiçoamento da linguagem, desenvolve-se o
sociedades letradas. pensamento
1 Ideomovimento é expressão peculiar de Wallon e indica
Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência o movimento que contém ideias discursivo. Sucedem-se uma
segundo Wallon etapa de rejeição (atitudes de oposição), outra de sedução do
Heloysa Dantas outro e conciliação (idade da graça) e outra de imitação (toma
o outro como modelo).
Wallon tem uma preocupação permanente com a infra- 4ª fase: categorial (seis a onze anos). Voltada para o
estrutura orgânica de todas as funções psíquicas. Seus estudos cognitivo, é a fase escolar. Ao seu final, há a superação do
partem de pessoas com problemas mentais, portanto, seu sincretismo do pensamento em direção à maior objetividade e
ponto de partida é o patológico, isto é, utiliza a doença para abstração. A criança torna-se capaz de diferenciações
entender a normalidade. Para Wallon, o ser humano é intelectuais (pensamento por categorias) e volta-se para o
organicamente social, isto é, sua estrutura orgânica supõe a conhecimento do mundo.
intervenção da cultura. A metodologia do seu trabalho ancora- 5ª fase: puberdade e adolescência (a partir dos onze anos).
se no materialismo dialético, concebendo a vida dos Nesta fase, caracterizada pela autoafirmação e pela
organismos como uma pulsação permanente, uma alternância ambivalência de atitudes e sentimentos, a criança volta-se
de opostos, um ir e vir permanente, com avanços e recuos. novamente para a construção da pessoa. Há uma reconstrução
do esquema corporal e o jovem tem a tarefa de manter um eu
A motricidade: do ato motor ao ato mental. diferenciado (dos outros) e, ao mesmo tempo, integrado (ao
A questão da motricidade é o grande eixo do trabalho de mundo), o que não é fácil.
Wallon. Para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato
motor. Ao longo do desenvolvimento mental, a motricidade PARTE II – AFETIVIDADE E COGNIÇÃO
cinética (de movimento) tende a se reduzir, dando lugar ao ato Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria
mental. Assim, mesmo imobilizada no esforço mental, a de Jean Piaget
musculatura permanece em atividade tônica (músculo parado, Yves de La Taille
atitude). A tipologia de movimento que Wallon adota parte de
atos reflexos, passa pelos movimentos involuntários e chega A obra “O julgamento moral da criança”(1932) traz
aos voluntários ou praxias, só possíveis graças à influência implícita a relação que existe entre afetividade e cognição para
ambiental aliada ao amadurecimento cerebral. Piaget, bem como a importância que ele atribui à autonomia
moral.

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a) As regras do jogo Afetividade e inteligência na teoria piagetiana do


Segundo Piaget, toda moral consiste num sistema de desenvolvimento do juízo moral
regras, sendo que a essência da moralidade deve ser Para La Taille, o notável na teoria piagetiana é que nela
procurada no respeito que o indivíduo tem por elas. Piaget “não assistimos a uma luta entre afetividade e moral”(p.70).
utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por Afeto e moral se conjugam em harmonia: o sujeito autônomo
considerá-lo paradigmático para a moralidade humana não é reprimido mas um homem livre, convencido de que o
porque: é atividade interindividual regulada por normas que respeito mútuo é bom e legítimo. A afetividade adere
podem ser modificadas e que proveem de acordos mútuos espontaneamente aos ditames da razão. Ele considera que na
entre os jogadores, sendo que o respeito às normas tem um obra “O juízo moral na criança” intui-se um Piaget movido por
caráter moral (justiça, honestidade..). alguma “emoção”, que sustenta um grande otimismo em
Piaget dividiu em três etapas a evolução da prática e da relação ao ser humano. No entanto, para ele, o estudo sobre o
consciência de regras: juízo moral poderia ter sido completado por outros que se
1ª - anomia (até 5/6 anos): as crianças não seguem detivessem mais nos aspectos afetivos do problema.
atividades com regras coletivas;
2ª - heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm as O problema da afetividade em Vygotsky
regras como algo de origem imutável e não como contrato Marta Kohl de Oliveira
firmado entre os jogadores; ao mesmo tempo, quando em jogo,
introduzem mudanças nas regras sem prévia consulta aos Vygotsky pode ser considerado um cognitivista
demais; as regras não são elaboradas pela consciência e não (investigou processos internos relacionados ao conhecimento
são entendidas a partir de sua função social; e sua dimensão simbólica), embora nunca tenha usado o termo
3ª - autonomia: é a concepção adulta de jogo; o respeito às cognição, mas função mental e consciência. Para ele há uma
regras é visto como acordo mútuo em que cada jogador vê-se distinção básica entre funções mentais elementares (atenção
como possível “legislador”. involuntária) e superiores (atenção voluntária, memória
lógica). É difícil compreender cada função mental
b) O dever moral isoladamente, pois sua essência é ser inter-relacionada com
O ingresso da criança no universo moral se dá pela outras funções. Sua abordagem é globalizante. Ele utiliza o
aprendizagem dos deveres a ela impostos pelos pais e demais termo consciência para explicar a relação dinâmica
adultos, o que acontece na fase de heteronomia e se traduz (interfuncionalidade) entre afeto e intelecto e, portanto,
pelo “realismo moral” que tem as seguintes características: questiona a divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do
- a criança considera que todo ato de obediência às regras funcionamento psicológico. Para ele, não dá para dissociar
impostas é bom; interesses e inclinações pessoais (aspectos afetivo-volitivos)
- as regras são interpretadas ao pé da letra e não segundo do ser que pensa (aspectos intelectuais).
seu espírito;
- há uma concepção objetiva de responsabilidade: o Consciência
julgamento é feito pela consequência do ato e pela Vygotsky concebe a consciência como “organização
intencionalidade. objetivamente observável do comportamento, que é imposta
aos seres humanos através da participação em práticas sócio-
c) A justiça culturais”(p.78). É evidente a fundamentação em postulados
A noção de justiça engloba todas as outras noções morais e marxistas: a dimensão individual é considerada secundária e
envolve ideias matemáticas (proporção, peso, igualdade). derivada da dimensão social, que é a essencial. Carrega ainda
Quanto menor a criança mais forte a noção de justiça imanente um fundamento sócio-histórico, isto é, a consciência humana,
(todo crime será castigado, mesmo que seja por força da resultado de uma atividade complexa, formou-se ao longo da
natureza), mais ela opta por sanções expiatórias (o castigo tem história social do homem durante a qual a atividade
uma qualidade estranha ao delito) e mais severa ela é (acha manipuladora e a linguagem se desenvolveram.
que quanto mais duro o castigo, mais justo ele é). A partir dos As impressões que chegam ao homem, vindas do mundo
8/9 anos a desobediência já é vista como ato legítimo quando exterior são analisadas de acordo com categorias que ele
há flagrante injustiça. adquiriu na interação social. A consciência seria a própria
essência da psique humana, o componente mais elevado das
As duas morais da criança e os tipos de relações sociais funções psicológicas humanas e envolve a inter-relação
Mesmo concordando que a moral é um ato social, para dinâmica e em transformação entre: intelecto e afeto,
Piaget o sujeito participa ativamente de seu desenvolvimento atividade e representação simbólica, subjetividade e interação
intelectual e moral e detém uma autonomia possível perante social.
os ditames da sociedade.
As relações interindividuais são divididas em duas Subjetividade e intersubjetividade
categorias: As funções psicológicas superiores, tipicamente humanas,
- coação: derivada da heteronomia, é uma relação referem-se a processos voluntários, ações conscientemente
assimétrica, em que um dos polos impõe suas verdades, sendo controladas, mecanismos intencionais.
contraditória com o desenvolvimento intelectual; Apresentam alto grau de autonomia em relação a fatores
- cooperação: é uma relação simétrica constituída por biológicos, sendo, portanto, o resultado da inserção do homem
iguais, regida pela reciprocidade; envolve acordos e exige que em determinado contexto sócio-histórico.
o sujeito se descentre para compreender o ponto de vista O processo de internalização de formas culturais de
alheio; com ela o desenvolvimento moral e intelectual ocorre, comportamento, que corresponde à própria formação da
pois ele pressupõe autonomia e superação do realismo moral. consciência, é um processo de constituição da subjetividade a
Em resumo: para Piaget, a coerção é inevitável no início da partir de situações de intersubjetividade. Assim, a passagem
educação, mas não pode permanecer exclusiva para não do nível interpsicológico para o intrapsicológico envolve
encurralar a criança na heteronomia. Assim, para favorecer a relações interpessoais e a construção de sujeitos únicos, com
conquista da autonomia, a escola precisa respeitar e trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em
aproveitar as relações de cooperação que espontaneamente, sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras
nascem das relações entre as crianças. pessoas.

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Sentido e significado Características do comportamento emocional


Para Vygotsky, os processos mentais superiores são A longa fase emocional da infância tem correspondência na
mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o história da espécie humana: é a emoção que garante a
sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. O solidariedade afetiva e a sobrevivência do indivíduo.
significado é componente essencial da palavra, o filtro através Da função social da emoção resultam seu caráter
do qual o indivíduo compreende o mundo e age sobre ele. Nele contagioso (a ansiedade infantil pode provocar irritação ou
se dá a unidade de duas funções básicas da linguagem: a angústia no adulto, por exemplo) e a tendência para nutrir-se
interação social e o pensamento generalizante. Na concepção com a presença do outro (uma plateia alimenta uma chama
sobre o significado há uma conexão entre os aspectos emocional entre os participantes, por exemplo). Devido a seus
cognitivos e afetivos: significado é núcleo estável de efeitos desorganizadores, anárquicos e explosivos, a emoção
compreensão e sentido é o significado da palavra para cada pode reduzir o funcionamento cognitivo, se a capacidade
indivíduo, no seu as contexto de uso e relacionado às suas cortical da ação mental ou motora para retomar o controle da
vivências afetivas. situação for baixa. Se a capacidade cortical for alta, soluções
A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação inteligentes poderão ser encontradas.
com base em fatores linguísticos e extralinguísticos. Para Para Wallon não existe estado não emocional. Até a
entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras, serenidade exprime emoção. Assim, a educação da emoção
mas também seu pensamento e suas motivações. deveria ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica
para evitar a formação do “circuito perverso de emoção”: a
O discurso interior emoção surge num momento de incompetência do sujeito e,
O discurso interior corresponde à internalização da não conseguindo transformar-se em atividade racional,
linguagem. Ao longo de seu desenvolvimento, a pessoa passa provoca mais incompetência. O efeito desorganizador da
de uma fala socializada (comunicação e contato social) a uma emoção concentra a sensibilidade no próprio corpo e diminui
fala internalizada (instrumento de pensamento, sem a percepção do exterior.
vocalização), correspondente a um diálogo consigo mesma.
Afetividade e inteligência
A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética O ser humano é afetivo por excelência. É da afetividade que
de Wallon se diferencia a vida racional. No início da vida, afetividade e
Heloysa Dantas inteligência estão sincreticamente misturadas. Ao longo do
desenvolvimento, a reciprocidade se mantém de tal forma que
A teoria da emoção as aquisições de uma repercute sobre a outra. A pessoa se
Para Wallon a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto constitui por uma sucessão de fases com predomínio, ora do
do ponto de vista da construção da pessoa quanto do afetivo, ora do cognitivo. Cada fase incorpora as aquisições do
conhecimento. A emoção é instrumento de sobrevivência nível anterior. Para evoluir, a afetividade depende da
típico da espécie humana. O bebê humano, frágil como é, inteligência e vice-versa. Dessa forma, não é só a inteligência
pereceria não fosse sua capacidade de mobilizar que evolui, mas também a emoção. Com o desenvolvimento, a
poderosamente o ambiente para atender suas necessidades. A afetividade incorpora as conquistas da inteligência e tende a
função biológica do choro, por exemplo, é atuar fortemente se racionalizar. Por isso, as formas adultas de afetividade são
sobre a mãe, fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre diferentes das infantis. No início a afetividade é somática,
os humanos. Assim, a emoção tem raízes na vida orgânica e tônica, pura emoção. Alarga seu raio de ação com o surgimento
também a influência. Um estado emocional intenso, por da função simbólica. Na adolescência, exigências racionais são
exemplo, provoca perda de lucidez. colocadas: respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos.
Segundo Wallon, a atividade emocional é simultaneamente
social e biológica. Através da mediação cultural (social), realiza Inteligência e pessoa
a transição do estado orgânico para a etapa cognitiva e O processo que começa com a simbiose fetal tem por
racional. A consciência afetiva cria no ser humano um vínculo horizonte a individualização. Para Wallon, não há nada mais
com o ambiente social e garante o acesso ao universo social do que o processo pelo qual o indivíduo se singulariza,
simbólico da cultura – base para a atividade cognitiva – em que o eu se constrói alimentando-se da cultura, sendo que
elaborado e acumulado pelos homens ao longo de sua história. o destino humano, tanto no plano individual quanto no social,
Dessa forma, para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o é uma obra sempre inacabada.
orgânico e o social. Daí sua natureza contraditória de
participar de dois mundos.
A opção metodológica adotada por Wallon é o MANTOAN, Maria Teresa
materialismo dialético. Isso quer dizer que não dá para pensar Eglér. PRIETO, Rosângela
o desenvolvimento como um processo linear, continuísta, que
só caminha para a frente. Pelo contrário, é um processo com Gavioli. Inclusão Escolar:
idas e vindas, contraditório, paradoxal. Assim, sua teoria da pontos e contrapontos. São
emoção é genética (para acompanhar as mudanças funcionais) Paulo: Summus, 2006;
e dialética.
A origem da conduta emocional depende de centros
subcorticais (de expressão involuntária e incontrolável) e MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Arantes, Valéria Amorin
torna-se susceptível de controle voluntário com a maturação (ORG). Inclusão Escolar: pontos e contrapontos3
cortical. Para Wallon, as emoções podem ser de natureza
hipotônica ou redutora do tônus (como o susto e a depressão) A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos
e hipertônica ou estimuladora do tônus (como a cólera e a (1948), percebe-se o crescente desenvolvimento de políticas
ansiedade). públicas educacionais voltadas para a educação especial.
Dentre os documentos internacionais redigidos que o Brasil é
signatário, temos a Declaração de Jomtien (1990), a

3Texto adaptado de Paula Lemos de Paula, Lucas silva Fernandes da Silveira e


Washington César Shoiti Nozu.

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APOSTILAS OPÇÃO

Declaração de Salamanca (1994), a Convenção de Guatemala normativos da educação inclusiva Um dos documentos
(1999) e a Declaração de Montreal (2001); e em termos de pioneiros no que diz respeito à inclusão escolar, é a Declaração
legislação, no que diz respeito aos documentos nacionais, Universal de Direitos Humanos de 1948, pois a partir dela
destacam-se a Constituição Federal (1988), o Estatuto da foram criados documentos mais específicos na área de
criança e do adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases da educação especial. Em seu artigo 26, a Declaração de 1948
Educação Nacional (1996), e a Política Nacional de Educação exalta o direito de todos à instrução, que deverá ser gratuita e
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), obrigatória, pelo menos nos níveis elementar e fundamental, e
lembrando ainda a existência de resoluções e portarias, não ter por objetivos proporcionar o desenvolvimento pleno da
menos importantes. No entanto, mesmo com a criação de personalidade humana, possibilitar a propagação dos direitos
todos esses documentos, os direitos das pessoas com humanos e das garantias fundamentais, e, também, promover
deficiências ainda não são totalmente efetivos, vez que ainda a compreensão, a tolerância, e a amizade entre os povos das
permanecem muitas barreiras arquitetônicas, instrumentais, diversas nações e aos grupos raciais ou religiosos,
atitudinais e humanas. Desta maneira, as políticas públicas contribuindo com a manutenção da paz.
têm o papel de colocar em prática as propostas efetuadas Desta forma a partir da Declaração Universal, o movimento
nestes documentos, e também a responsabilidade de lutar inclusivo ganhou força, e as pessoas com deficiências,
para derrubar as barreiras que impedem que as pessoas com passaram a conquistar seus primeiros direitos no que diz
deficiências gozem de seus direitos. Desta forma é importante respeito à educação. Assim, começaram a serem criados os
esclarecer o que são políticas públicas, para assim principais documentos acerca dos direitos das minorias. A
percebermos a sua importância. Declaração de Jomtien, em 1990, teve como objetivo a
Políticas públicas sociais é o conjunto de regras, satisfação das necessidades básicas da aprendizagem. A
programas, ações, benefícios e recursos destinados a Declaração de Salamanca, de 1994, é considerada um dos
promover o bem-estar social e os direitos do cidadão. Dentro documentos mais importantes sobre o processo inclusivo, pois
das políticas públicas sociais, temos as políticas públicas de trata dos princípios, políticas e das práticas a cerca das
educação, que correspondem às ações destinadas ao processo necessidades educativas especiais, esta declaração trata de
educacional. Dentro das políticas públicas de educação atuais, defender a educação para todos, sem discriminar suas
apontam-se as políticas públicas de educação inclusiva, que características pessoais, pois entende que cada pessoa tem sua
buscam a inclusão de pessoas com deficiências no processo forma de aprender. Vale lembrar, ainda, da Convenção de
educacional, visando, desse modo, promover ações para o Guatemala, de 1999, cujo objetivo era a erradicação de todas
acesso e permanência desses alunos na escola comum. A as formas de discriminação contra as pessoas com deficiência,
educação assume assim um papel de suma importância, pois onde destaca que todos possuem direitos iguais, e dignidade.
as constantes batalhas travadas em prol do direito de todos à Pretendendo desenvolver a integração dessas pessoas na
educação, mostram que a educação é, sim, fundamental, já que sociedade.
pode ser entendida como objeto transformador da sociedade. No que se relaciona especificamente à acessibilidade,
Dada a importância da educação, a escola deve ser um constata-se a Declaração de Montreal, em 2001. Dos
ambiente que possibilite troca de experiências, sendo palco de documentos nacionais, a Constituição Federal, de 1988, a
interação, aberta a todos. constituição cidadã, exalta os direitos sociais como de todos.
Ainda que a escola não seja o único meio de sociabilização, De acordo com a carta magna de nosso país, temos como
é, sem dúvidas, um dos mais fundamentais ao homem, pois garantia que:
possibilita sua convivência com a diversidade e desta maneira Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e
deve trabalhar para promover a formação de pessoas da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
conscientes, nos tornando capazes de aprender com a sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
multiplicidade, tornando possível a troca de saberes, de preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
experiências. Nas palavras de Mantoan “As escolas de o trabalho.
qualidade são espaços educativos de construção de Lembrando ainda que no artigo 206 da mesma
personalidades humanas autônomas, criticas, onde crianças e Constituição, em seu inciso I, temos ressaltado a igualdade de
jovens aprendem a ser pessoas”. Como diz Mantoan “Se o que condições para o acesso e permanência na escola. Podemos,
pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente que seus além disso, destacar o artigo 208, que afirma, em seu inciso III,
planos se redefinam para uma educação voltada para a ser dever do Estado para com a educação, a oferta de
cidadania global, plena, livre de preconceitos, que reconheça e atendimento educacional especializado às pessoas com
valorize as diferenças.”. Nesse sentido, elenca-se enquanto deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
problemática a seguinte questão de estudo: como se Temos também o Estatuto da Criança e do Adolescente, (1990)
desenvolveu a política de inclusão escolar a partir do aparato em que o direito de todos à educação é assegurado novamente,
legal elaborado depois da Declaração Universal dos Direitos constando no artigo 55, que é obrigatório que os pais ou
Humanos? responsáveis matriculem seus filhos na rede de ensino regular,
Desta forma o objetivo desse estudo é discutir a construção podendo os pais em caso de contrariar a lei, ter a perda ou
da política de inclusão escolar, tecendo reflexões sob a ótica suspensão de seus direitos familiares, de acordo com o artigo
dos direitos humanos com vistas a elucidar a educação como 24. Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
um direito de todos. Assim, o presente trabalho foi realizado Nacional (LDB), definiu a educação especial como modalidade
por meio da pesquisa bibliográfica, visando obter maior educacional, que deve ser oferecida preferencialmente na rede
intimidade com o tema exposto. Para tanto, foi realizada a regular de ensino, para as pessoas com necessidades especiais.
leitura de obras de autores pertinentes, como Maria Teresa Sobre a LDB é oportuno citar Mazzotta:
Eglér Mantoan e David Rodrigues, com os respectivos Este projeto de LDB disciplina a educação escolar. No
fichamentos que possibilitaram a análise e interpretação dos Capítulo III, dispondo sobre o direito à educação e o dever de
dados. Diante do exposto, entende-se o caráter transformador educar, estabelece que “a educação, direito fundamental de
da educação, cujo papel não se restringe ao aprendizado do todos, é dever do Estado e da família, com a colaboração da
português e da matemática, mas é muito mais abrangente, pois sociedade, cabendo ao Poder Público (...) observar
trata de um conjunto, onde as disciplinas devem estar modalidades e horários compatíveis com as características da
vinculadas, buscando ainda a formação de cidadãos. Visto clientela”. E por último destaca-se a Política Nacional de
desta maneira a educação inclusiva é muito mais uma questão Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, cujo
de direitos humanos. Breves considerações sobre os marcos objetivo é:

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A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da fenômeno da deficiência de seus filhos (MANTOAN, 2006b, p.
Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão 24). Desta feita, um dos obstáculos encontrados são frutos da
escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desinformação, pois muitas instituições especializadas
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, querem deixar tudo como está, vez que temem desaparecer,
orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ignorando o fato de que não deixaram de existir, mas sim
ensino regular, com participação, aprendizagem e passaram a dar suporte ao ensino regular funcionando como
continuidade nos níveis mais elevados do ensino; complemento da impossibilidade que muitas instituições
transversalidade da modalidade de educação especial desde a encontram em rever as próprias práticas, outro desafio são as
educação infantil até a educação superior; oferta do ideias equivocadas feitas sobre as pessoas com deficiências,
atendimento educacional especializado; formação de além da ignorância dos próprios pais, e de certa relação de
professores para o atendimento educacional especializado e proteção, onde muitos entendem que essas minorias devem
demais profissionais da educação para a inclusão; participação ser mantidas fora desse processo.
da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos A inclusão escolar tem sido mal compreendida,
transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; principalmente no seu apelo a mudanças nas escolas comuns
e articulação intersetorial na implementação das políticas e especiais. Sabemos, contudo, que sem essas mudanças não
públicas (BRASIL, 2008). Passamos, portanto por um período garantiremos a condição de nossas escolas receberem,
fértil, onde se criou documentos que hoje são essenciais na luta indistintamente, a todos os alunos, oferecendo-lhes condições
das minorias em busca de um direito tão transformador como de prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada
a educação. Com base nas ações governamentais podemos por um, sem discriminações nem espaços segregados de educação
finalidade conceber a realidade de um movimento (MANTOAN, 2006b, p. 23). Entende-se assim, que as mudanças
sociocultural, buscando trazer novas práticas, mais saberes e são necessárias, pois são instrumentos para alcançar uma
maneiras de ensinar e de aprender para alunos com educação de qualidade e igualdade.
deficiências, visando que todos tenham os mesmo direitos
humanos e garantias fundamentais que os demais alunos da Reflexões sobre a relevância da inclusão escolar
rede regular de ensino, na condição de valorizar a
heterogeneidade. A inclusão é necessária, pois como o próprio nome diz,
refere-se a incluir. Desta forma este processo visa
Obstáculos da concretização da política de educação proporcionar aos grupos vulneráveis a oportunidade de se
inclusiva juntar ao processo educacional. Partindo de um contexto de
segregação, a inclusão de forma alguma pretende a extinção da
Crescemos muito em termos de políticas para a educação, educação especial, mas prevê para ela um papel de suporte,
sobretudo com relação as políticas educacionais inclusivas de onde no lugar de se decidir por um ou outro tipo de ensino, se
forma geral. Contudo, ainda que se tenham avanços, não é opta pelos dois conforme a necessidade do educando. Para
permitido parar de lutar, pois nesse momento, ainda existem mostrar a importância da inclusão, Mantoan assinala que:
muitos direitos que por mais que sejam já assegurados, não A escola comum é o ambiente mais adequado para garantir
são de fato efetivados. As escolas tradicionais possuem uma o relacionamento entre os alunos com ou sem deficiência e de
tendência de buscar um modelo pré-estabelecido do tipo de mesma idade cronológica, bem como a quebra de qualquer
alunos que elas querem receber, constroem um molde, ação discriminatória e todo tipo de interação que possa
passando a aceitar somente aos que conseguirem adequar-se beneficiar o desenvolvimento cognitivo, social, motor e afetivo
ao seu sistema. Caracterizando-se em uma atitude dos alunos em geral. Deste modo, a inclusão é vista muitas
discriminatória, pois rejeitam aos que não se adaptam. Sobre vezes como uma medida radical, pois ela vem para exigir
as atitudes das instituições escolares Prieto, afirma: mudanças de paradigmas educacionais. Em sua perspectiva
As instituições escolares, ao reproduzirem caem as subdivisões em ensino regular e especial, vez que as
constantemente o modelo tradicional, não têm demonstrado escolas passam a atender seus alunos de maneira que atendam
condições de responder aos desafios da inclusão social e do as diferenças sem discriminar e segregar alguns alunos.
acolhimento às diferenças nem de promover aprendizagens David Rodrigues reflete que: É claro que devemos dedicar
necessárias à vida em sociedade, particularmente nas uma atenção especial àqueles que são mais vulneráveis à
sociedades complexas do século XXI. Logo, percebemos que exclusão. Entretanto, esta atenção tem que ser dada dentro de
enquanto as escolas continuarem a querer um padrão de uma perspectiva inclusiva: proporcionar apoio sem segregar,
aluno, não teremos o direito a diversidade respondido, esse não criando “guetos” nem “classes especiais”.
modelo tradicional de escola, possui um molde de aluno pré- A questão é que os alunos não podem, de modo algum, ser
estabelecido, e desta forma só aceitam nesta instituição tomado como inferiores e sem valor por motivo de suas
aqueles que corresponderem aos padrões por ela definidos, diferenças, independente das atividades nas escolas comuns
quem não encaixar na forma, fica de fora. Ao contrário disso, a ou especiais.
escola inclusiva sabe lidar com a multiplicidade de pessoas, Deve ser também considerado que, de acordo com
entendendo que não há um padrão único a ser seguido, Mantoan “[...] a inclusão propõe a desigualdade de tratamento
trabalhando com a questão de que o espaço escolar deve se como forma de restituir uma igualdade que foi rompida por
adaptar as características de cada aluno, o ambiente se adapta formas segregadoras de ensino especial e regular”.
ao aluno e não o aluno ao ambiente.
Há apoio legal suficiente para mudar, mas só temos tido, Papel das políticas públicas na efetivação do direito à
até agora, muitos entraves nesse sentido. Entre esses entraves educação das pessoas com deficiência
estão: a resistência das instituições especializadas a mudanças
de qualquer tipo; a neutralização do desafio à inclusão, por No âmbito das políticas publicas, a cada “nova” proposta
meio de políticas púbicas que impedem que as escolas se governamental deparamos com o incremento de dispositivos
mobilizem para rever suas práticas homogeneizadoras e, em legais que nem sempre contribuem para dissipar nossa
consequência, excludentes; o preconceito, o paternalismo em desconfiança em relação ao projeto nacional para a educação.
relação aos grupos socialmente fragilizados, como o das Desta feita, assinala Prieto, as mudanças a serem
pessoas com deficiência. [...], o corporativismo dos que se implantadas devem ser assumidas como parte da
dedicam às pessoas com deficiência mental; a ignorância de responsabilidade tanto da sociedade civil quanto dos
muitos pais, a fragilidade de grande maioria deles diante do representantes do poder público, pois se, por um lado, garantir

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educação de qualidade para todos implica somar atuações de uma característica qualquer, inventada, e atribuída de fora.
várias instâncias, setores e agentes sociais, por outro, já que a Assim, a educação é, portanto um direito fundamental, sendo
educação escolar pode propiciar meios que possibilitem necessários que todos tenham a chance de aprender, sendo
transformações na busca da melhoria da qualidade de vida da também incentivados a permanecer no local de aprendizado,
população. E isso é interessante para todos! Para David pois deve ser levado que cada aluno tem o direito de aprender
Rodrigues (2008), a educação inclusiva deve ser muito mais a seu modo.
uma aposta na rede pública de ensino, e deve para tanto ter É necessário que uma boa parcela da sociedade
como fim a criação de vantagens para todos seus compreenda a indispensável interlocução entre escola regular
intervenientes. e escola especial, de forma que possibilite organizar serviços
O desenvolvimento da EI depende, em grande parte, do de apoio mútuo. É chegada a hora da metamorfose
desenvolvimento do sistema educativo no seu conjunto. [...] educacional, onde os conflitos sejam superados e, que se
Precisamos de escolas com recursos, a funcionar os dois perceba a dimensão de saberes que a diversidade tem a
turnos do dia, com instalações dignas, com lideranças oferecer. Conclui-se que as escolas não podem mais ser palco
positivas, com professores satisfatoriamente remunerados e de discriminação, ou de esquecimento. Deve-se harmonizar a
motivados para encarar novos desafios. A EI, enquanto questão da igualdade com a da diferença, para que os alunos
reforma educacional, só poderá florescer em sistemas não percam seu valor enquanto pessoa humana. Assim, é
educativos capazes de aceitar uma mudança nos seus hábitos valido dizer que ainda que a proposta inclusiva exija mudanças
e paradigmas. radicais, não se pretende encerrar as escolas especiais, vez que
A importância da criação de políticas públicas para a continuarão a existir, porém atuarão de forma complementar
educação especial reside justamente no fato de impulsionar a escola regular, oferecendo seu suporte, e não mais
uma educação para todos, pois promove formas de incentivar monopolizando e nem segregando as pessoas com
os ditos alunos especiais, a participar de todo um processo deficiências. Não há um padrão de normalidade para
sociocultural, onde terão como possibilidade a educação, e julgarmos uma pessoa mais normal que a outra, a única
passarão por inúmeras experiências que resultarão em grande igualdade aparente que possuímos é o simples fato de sermos
aproveitamento, proporcionando a participação das pessoas todos diferentes, ninguém é igual a ninguém, se houvesse
com deficiências como cidadãos ativos na sociedade. necessidade de normalização, seu elemento seria a própria
Para Mantoan, “A inclusão total é uma oportunidade que diferença.
temos para reverter a situação da maioria de nossas escolas,
as quais atribuem aos alunos as deficiências que são do
próprio ensino ministrado por elas”. A partir das políticas MORAN, José Manoel; MASETTO,
desenvolvidas em prol destas minorias, é que teremos
oportunidade de partir para a inclusão dessas pessoas, criando
Marcos. Novas tecnologias e
ambientes saudáveis, reconhecendo as necessidades das mediação pedagógica. Campinas:
escolas, para que possam ser receptivas e atender aos Papirus, 2000;
estudantes indistintamente.

Relação entre direitos humanos e educação inclusiva


Para onde estamos caminhando no ensino?
A Declaração Universal trata dos direitos e garantias
Com as mudanças na sociedade, as formas de ensinar
fundamentais do homem, para que se tenha uma vida digna.
também sofreram alterações, tantos os professores como os
Desta forma a Declaração toma a educação como um direito
alunos percebem que muitas aulas convencionais estão
fundamental ao homem, e a inclusão vem para possibilitar a
ultrapassadas. É inevitável a pergunta: Para onde mudar?
essas pessoas a chance de exercer um direito que já possuem,
Como ensinar e aprender em uma sociedade interconectada?
mas que por diversos motivos, tiveram seus direitos
Mudanças na educação é importante para mudar a
reprimidos. A inclusão escolar está articulada a movimentos
sociedade. As tecnologias estão cada vez mais em evidência e
sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e
os investimentos visam ter cada classe conectada à Internet e
mecanismos mais equitativos no acesso a bens e serviços.
cada aluno com um notebook; investe-se também em educação
Ligada a sociedades democráticas que está pautada no mérito
a distância, educação contínua, cursos de curta duração. Mas
individual e na igualdade de oportunidades, a inclusão propõe
só tecnologia não basta. “Ensinar é um desafio constante”.
a desigualdade de tratamento como forma de restituir a
igualdade que foi rompida por formas segregadoras de ensino
Os desafios de ensinar e educar com qualidade.
especial e regular.
Essa relação é muito íntima, pois a educação deve ser vista
Preocupa-se hoje mais com ensino de qualidade do que
como um instrumento para a propagação dos direitos
com educação de qualidade. Ensino e educação são conceitos
humanos, como também é fundamental para se alcançar
diferentes. O ensino destina-se a ajudar os alunos a
outros direitos fundamentais. Quando entendemos que não é
compreender áreas específicas do conhecimento (ciências,
a universalidade da espécie que define um sujeito, mas as sua
história, matemática).
peculiaridades, ligadas a sexo, etnia, origem, crenças, tratar as
Educação é um o foco além de ensinar, é ajudar a integrar
pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças, assim
ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, é ajudar a
como tratar igualmente os diferentes pode esconder as suas
integrar todas as dimensões da vida e encontrar o caminho
especificidades e excluí-los do mesmo modo; portanto, ser
intelectual, emocional, profissional que leve o indivíduo a
gente é correr sempre o risco de ser diferente.
realização e contribuição para a mudança social.
Deste modo, ressaltamos a pretensão de se construir com
Educar é transformar a vida em processos permanentes de
a diferença uma sociedade em equilíbrio, onde tenhamos o
aprendizagem. É ajudar os alunos na construção de sua
direito de sermos diferentes ou iguais, dependo da situação
identidade, do seu caminho pessoal e profissional, mostrar um
diante de nós. A indiferença às diferenças esta acabando,
projeto de vida que lhes permitam encontrar seus espaços
passando da moda. Nada mais desfocado da realidade atual do
pessoais, tanto no social como no profissional, com o objetivo
que ignorá-las. Nada mais regressivo do que discriminá-las e
de torná-los cidadãos realizados e produtivos.
isolá-las em categorias genéricas, típicas da necessidade
Ensinar é um processo social de cada cultura com suas
moderna de agrupar os iguais, de organizar pela abstração de
normas, tradições e leis, mas não deixa de ser pessoal, pois

Conhecimentos Pedagógicos 53
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APOSTILAS OPÇÃO

cada um desenvolve seu estilo, aprendem e ensinam. O aluno Em síntese, as formas de informação multimídia ou
precisa querer aprender e para isso, precisa de maturidade, hipertextual são mais difundidas. As crianças, os jovens
motivação e de competência adquirida. sintonizados com esta forma de informação quando lidam com
textos, fazem-no de forma mais fácil com o texto conectado
As dificuldades para mudar na educação. através de links, o hipertexto.
O livro então se torna uma opção menos atraente. Não
As mudanças na educação dependem, em primeiro lugar podemos, nos limitar em uma ou outra forma de lidar com a
de termos educadores maduros, intelectuais e informação, devemos utilizar todas em diversos momentos.
emocionalmente curiosos, que saibam motivar e dialogar. Há um tipo de conhecimento multimídico de respostas
O educador autêntico é humilde e confiante, mostra o que rápidas que é importante. É preciso saber selecionar para
sabe, porém está sempre atento ao novo, ensina aprendendo a encontrar conexões, causas e efeitos, tudo é fluido e válido,
valorizar a diferença, a improvisar. Aprender por sua vez, é tudo tem sua importância e em pouco tempo perde o valor
passar da incerteza a uma certeza provisória, pois dará lugar anterior.
as novas descobertas, não há estagnação no sistema de É uma atitude que se manifesta no navegar na Internet, ao
aprendizagem e descobertas. O novo deve ser questionado, deixar-se ficar diante da televisão, numa salada de dados,
indagado e não aceito sem análise prévia. Por isso é informações e enfoques. As pessoas não permanecem
importante termos educadores/ pais, com amadurecimento passivas, elas interagem de alguma forma, mas muitos não
intelectual, emocional, ético que facilite todo o processo de estão preparados para receber tal variedade de dados e
aprendizagem. adotam a última moda na mídia ou na roupa, que efêmeros, são
As mudanças na educação dependem também de facilmente esquecidos e/ou substituídos.
administradores, diretores e coordenadores que atendam Tornamo-nos cada vez mais dependentes do sensorial. É
todos os níveis do processo educativo. bom, mas muitos não partem do sensorial para voos mais
Os alunos também fazem parte da mudança. Alunos ricos, mais abertos, inovadores. Muitos dados e informações
curiosos e motivados, ajudam o professor a educar, pois não significam necessariamente mais e melhor conhecimento.
tornam-se interlocutores e parceiros do professor, visando um O conhecimento torna-se produtivo se o integrarmos em uma
ambiente culturalmente rico. visão ética pessoal, transformando-o em sabedoria, em saber
pensar para agir melhor.
A construção do conhecimento na sociedade da
informação. Caminhos que facilitam a aprendizagem.

Conhecer significa compreender todas as dimensões da Podemos extrair alguma informação ou experiência de
realidade, captar e saber expressar essa totalidade de forma tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa, que nos possa
cada vez mais ampla e integral. Pensar e aprender a raciocinar, ajudar a ampliar o nosso conhecimento, para confirmar o que
a organizar o discurso, submetendo-o a critérios. O já sabemos ou rejeitar determinadas opiniões.
desenvolvimento da habilidade de raciocínio é fundamental Um dos grandes desafios para o educador é ajudar a tornar
para a compreensão do mundo. Além do raciocínio, a emoção a informação significativa, escolher as verdadeiramente
facilita ou complica o processo de conhecer. importantes, a compreendê-las de forma cada vez mais
A informação dá-se de várias formas, segundo o nosso abrangente e profunda.
objetivo e o nosso universo cultural. A forma mais habitual é o Aprendemos melhor, quando vivenciamos,
processamento lógico-sequencial, que se expressa na experimentamos, sentimos, descobrindo novos significados,
linguagem falada e escrita, na qual o sentido vai sendo antes despercebidos. Aprendemos mais, quando
construído aos poucos, em sequência concatenada. estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a
A informação de forma hiper-textual, contando histórias, experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática: quando
relatando situações que se interlaçam, ampliam-se, nos uma completa a outra.
mostrando novos significados importantes, inesperados. É a Aprendemos quando equilibramos e integramos o
comunicação “linkada”. A construção do pensamento é lógica, sensorial, o racional, o emocional, o ético, o pessoal e o social.
coerente, sem seguir uma única trilha, como em ondas que vão Aprendemos quando interagimos com os outros e o
ramificando-se em diversas outras. Hoje, cada vez mais mundo. Aprendemos pelo interesse, pela necessidade.
processamos as informações de forma multimídia, juntando Aprendemos quando percebemos o objetivo, a utilidade de
pedaços de textos de várias linguagens superpostas, que algo, que nos traz vantagens perceptíveis.
compõem um mosaico ou tela impressionista, e que se Aprendemos pela criação de hábitos, pela automatização
conectam com outra tela multimídico. Uma leitura em flash, de processos, pela repetição. Aprendemos mais, quando
uma leitura rápida que cria significações provisórias, dando conseguimos juntar todos os fatores: temos interesse,
uma interpretação rápida para o todo, através dos interesses, motivação clara, desenvolvemos hábitos que facilitam o
percepções, do modo de sentir e relacionar-se de cada um. processo de aprendizagem e sentimos prazer no que
A construção do conhecimento, a partir do processamento estudamos.
multimídia é mais livre, menos rígida, com maior abertura, Aprendemos realmente quando conseguimos transformar
passa pelo sensorial, emocional e pelo racional; uma nossa vida em um processo constante, paciente, confiante e
organização provisória que se modifica com facilidade. afetuoso de aprendizagem.
Convivemos com essas diferentes formas de processamento
da informação e dependendo da bagagem cultural, da idade e Conhecimento pela comunicação e pela interiorização.
dos objetivos, predominará o processamento sequencial, o
hipertextual ou o multimídico. A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer
Atualmente perante a rapidez que temos que enfrentar é relacionar, integrar, contextualizar, fazer nosso o que vem de
situações diferentes e cada vez mais utilizamos o processo fora. Conhecer a aprofundar os níveis de descoberta, é
multimídico. A televisão utiliza uma narrativa com várias conseguir chegar ao nível de sabedoria, da integração total.
linguagens superpostas, atraentes, rápidas, porém, traz O conhecimento se dá no processo rico de interação
consequências para a capacidade de compreender temas mais externo e interno. Conseguimos compreender melhor o
abstratos. mundo e os outros, equilibrando os processos de interação e
de interiorização.

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Pela interação, entramos em contato com tudo o que nos É importante não começar pelos problemas, erros, pelo
rodeia, captamos as mensagens, mas a compreensão só se negativo, pelos limites, mas sim pela educação positiva, pelo
completa com a interiorização, com o processo de síntese incentivo, pela esperança.
pessoal de reelaboração de tudo que captamos pela interação.
Os meios de comunicação puxam-nos em direção ao O docente como orientador/ mediador da
externo. Hoje há mais pessoas voltadas para fora do que para aprendizagem
dentro de si, mais repetidoras do que criadoras; se
equilibrarmos o interagir e o interiorizar conseguiremos O professor é um pesquisador em serviço. Aprende com a
avançar mais e compreender melhor o que nos rodeia, o que pesquisa com a prática e ensina a partir do que aprende. O seu
somos. papel é fundamentalmente o de um orientador/ mediador:
Os processos de conhecimento dependem do social, do
ambiente onde vivemos. O conhecimento depende - Orientador/mediador/intelectual: informa, ajuda a
significativamente de como cada um processa as suas escolher as informações mais importantes, fazendo os alunos
experiências, quando crianças, principalmente no campo compreendê-las e adaptá-las aos seus conceitos pessoais.
emocional. Ajuda a ampliar a compreensão de tudo.
As interferências emocionais, os roteiros aprendidos na - Orientador/ mediador/ emocional: motiva, incentiva,
infância, levam as formas de aprender automatizadas. Um estimula.
deles é o da passagem da experiência particular para a geral, - Orientador/ mediador gerencial e comunicacional:
chamado generalização. Com a repetição de situações organizam grupos, atividades de pesquisas, ritmos, interações.
semelhante a tendência do cérebro é a de acreditar que elas Organiza o processo de avaliação, é a ponte principal entre as
acontecerão sempre do mesmo modo, e isso torna-se algo instituições, os alunos e os demais grupos envolvidos da
geral, padrão. comunidade. Ajuda a desenvolver todas as formas de
Com a generalização, facilitamos a compreensão rápida, expressão, de interação de sinergia, de troca de linguagem,
mas podemos deturpar ou simplificar a nossa percepção do conteúdos e tecnologias.
objetivo focalizado. - Orientador ético: ensina a assumir, vivenciar valores
Esses processos de generalização levam a mudanças, construtivos, individuais e socialmente vai organizando
distorções, a alterações na percepção da realidade. continuamente seu quadro referencial de valores, ideias,
Se nossos processos de percepção estão distorcidos, atitudes, tendo alguns eixos fundamentais comuns como a
podem nos levar desde pequenos a enxergar-nos de forma liberdade, a cooperação, a integração pessoal.
negativa. Um dos eixos de mudança na educação seria um Alguns princípios metodológicos norteadores:
processo de comunicação autêntica e aberta entre professores - Integrar tecnologia, metodologias e atividades.
e alunos, comunidade, incluindo os funcionários e os pais. Só - Integrar textos escritos, comunicação oral, hipertextual,
aprendemos dentro de um contexto comunicacional multimídia.
participativo, interativo, vivencial. Autoritarismo não vale a - Aproximação da mídia e das atividades para que haja um
pena, pois os alunos não aprendem a ser cidadãos. fácil trânsito de um meio ao outro.
As organizações que quiserem evoluir terão que aprender - Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola.
a reeducar-se em ambientes de mais confiabilidade, de - Variação no modo de dar aulas e no processo de avaliação.
cooperação, de autenticidade. - Planejar e improvisar, ajustar-se às circunstâncias, ao
novo.
Podemos modificar a forma de ensinar. - Valorizar a presença e a comunicação virtual,
- Equilibrar a presença e a distância.
Cada organização através de seus administradores precisa
encontrar sua forma de ensinar, criando um projeto inovador. Integrar as tecnologias de forma inovadora
Para encaminhar nossas dificuldades em ensinar poderiam
ser estas algumas pistas: É importante na aprendizagem integrar todas as
- Equilibrar o planejamento institucional e o pessoal nas tecnologias: as telemáticas, as audiovisuais, lúdicas, as
organizações educacionais; textuais, musicais.
- Integrar em planejamento flexível com criatividade Passamos muito rapidamente do livro, para a televisão e o
sinérgica; vídeo e destes para a Internet sem saber explorar todas as
- Realizar um equilíbrio entre flexibilidade, que está ligada possibilidades de cada meio. O docente deve encontrar a forma
ao conceito de liberdade, criatividade e a organização; mais adequada de integrar as várias tecnologias e os
- Avançar os programas previstos às necessidades dos procedimentos metodológicos.
alunos, criando conexões com o cotidiano, com o inesperado;
- Equilibrar: planejamento e criatividade; Integrar os meios de comunicação na escola
- Aceitar os imprevistos, gerenciar o que podemos prever
e a incorporar o novo; Antes de chegar à escola a criança passa por processos de
- Criatividade que envolve sinergia, valorizando as educação importantes como o familiar e o da mídia eletrônica
contribuições de cada um. e neste ambiente vai desenvolvendo suas conexões cerebrais,
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade, roteiros mentais, emocionais e linguagem.
espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixo, A criança aprende a informar-se, a conhecer os outros, o
mais pesquisas. mundo e a si mesma. A relação com a mídia eletrônica é
Uma das dificuldades da aprendizagem é conciliar a prazerosa e sedutora, mesmo durante o período escolar, a
extensão das informações, a variedade das fontes de acesso, mídia mostra o mundo de outra forma, mais fácil, agradável. A
com o aprofundamento da sua compreensão. mídia continua educando como contraposto à educação
O papel principal do professor é ensinar o aluno a convencional, educa enquanto entretém.
interpretar os dados, a relacioná-los, a contextualizá-los. Os meios de comunicação desenvolvem formas
Aprender depende também do aluno de que ele esteja maduro sofisticadas de comunicação e opera imediatamente com o
para entender a informação. sensível, o concreto, a imagem em movimento. O olho nunca
consegue captar toda a informação, então o essencial, o

Conhecimentos Pedagógicos 55
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suficiente é escolhido para dar sentido ao caos e organizar a Algumas dinâmicas de análise da televisão e do vídeo
multiplicidade de sensações e dados.
A organização da narrativa televisiva baseia-se numa Análise em conjunto: O professor exibe as cenas principais
lógica mais intuitiva, mais conectiva, portanto não é uma lógica e as comenta junto com os alunos. O professor não deve ser o
convencional, de causa-efeito. primeiro a opinar e sim posicionar-se depois dos alunos.
A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica Análise globalizante: Depois da exibição do vídeo abordar
entre mostrar e demonstrar: “se uma imagem impressiona os alunos a respeito das seguintes questões: 1- aspectos
então é verdadeira”. Também é muito comum a lógica de positivos do vídeo. 2-aspectos negativos. 3- ideias principais
generalizar a partir de uma situação concreta, do individual, que foram abordadas. 4- o que eles mudariam no vídeo.
tendemos ao geral. Ex: dois escândalos na família real inglesa Discutir essas questões em grupos, que são depois relatadas
e se tira conclusões sobre a ética da realeza como um todo. por escrito, o professor faz a síntese final.
Uma situação isolada converte-se em uma situação padrão. Leitura concentrada: Escolher depois uma ou duas cenas
marcantes e revê-las mais vezes. Observar o que chamou a
Integrar a televisão e o vídeo na educação escolar atenção.
Análise funcional: Antes da exibição do vídeo escolar,
Vídeo para o aluno significa descanso e não aula. Essa alguns alunos para desenvolverem algumas funções, anotar
expectativa deve ser aproveitada para atrair o aluno. A palavras chaves, imagens mais significativas, mudanças
televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, daquilo que acontecidas no vídeo, tudo será anotado no quadro e
toca todos os sentidos. posteriormente comentado pelo professor.
Televisão e vídeo exploram também o ver, o visualizar, ter Análise da linguagem: Reconstrução da história, como é
diante de nós as pessoas, os cenários, cores, relações espaciais, contada a história, que ideias foram passadas, quais as
imagens estáticas e dinâmicas, câmaras fixas ou em mensagens não questionadas, aceitas sem discussão, como
movimento, personagens quietos ou não. foram apresentados a justiça, o trabalho, o amor, o mundo e
A fala aproxima o vídeo do cotidiano, de como as pessoas como cada participante reagiu.
se comunicam, enquanto o narrador costura as cenas, dentro Completar o vídeo: Pedir aos alunos apara modificarem
da norma culta, orientando a significação do conjunto. A alguma parte do vídeo, criar um novo material, adaptado à sua
música e os efeitos sonoros servem como evocação de realidade.
situações passadas próximas às personagens do presente e Vídeo produção: Fazer uma narrativa sobre um
cria expectativas. determinado assunto. Pesquisa em jornais, revistas,
A televisão e o vídeo são sensoriais, visuais as linguagens entrevistar pessoas e exibir em classe.
se interagem não são separadas. As linguagens da T.V. e do Vídeo espelho: A câmara registra pessoas ou grupos e
vídeo respondem à sensibilidade dos jovens e de adultos. depois se observa e comenta-se o resultado.
Dirigem-se mais à afetividade do que a razão. O jovem vê para Vídeo dramatização: Usar a representação teatral, pelos
compreender a linguagem audiovisual, desenvolve atitudes alunos, expressar o que o vídeo mostrou.
perceptivas como a imaginação enquanto a linguagem escrita Comparar versões: Observar os pontos de convergência e
desenvolve mais a organização, a abstração e a análise lógica. divergências do vídeo. Ótimo para aulas de literatura.
Comparar o vídeo e a obra literária original.
Propostas de utilização da televisão e do vídeo na
educação escolar O computador e a Internet
- Começar com os vídeos mais simples, próximos a
sensibilidade dos alunos e depois partir para exibição de O computador permite cada vez mais pesquisar, simular
vídeos mais elaborados. situações, testar conhecimentos específicos, descobrir novos
- Vídeo como sensibilização: Um bom vídeo é interessante conceitos, lugar e ideias. Com a Internet pode-se modificar
para introduzir um novo assunto, despertando e motivando mais facilmente a forma de ensinar e aprender. Procurar
novos temas. estabelecer uma relação de empatia com os alunos,
- Para a sala de aula realidades distantes do aluno. procurando conhecer seus interesses, formação e perspectivas
- Vídeo como simulação: É uma ilustração mais sofisticada, para o futuro. É importante para o sucesso pedagógico a forma
pois pode simular experiências de química que seriam de relacionamento professor/aluno.
perigosas em laboratórios. Pode mostrar o crescimento de Descobrir as competências dos alunos motivá-los para
uma planta, da semente até a maturidade. aprender, para participar de aula-pesquisa e para a tecnologia
- Vídeo como conteúdo de ensino: Mostra o assunto de que será usada entre elas a Internet.
forma direta orientando e interpretando um tema de foram O professor pode criar uma página pessoal na Internet, um
indireta, permitindo abordagens diversas deste tema. lugar de referência para cada matéria e para cada aluno.
- Vídeo como produção: Registro de eventos, estudo do Orientar os alunos para que estes criem suas páginas e
meio, experiências, entrevistas, depoimentos. participem de pesquisas em grupo, discutam assuntos em
- Vídeo como intervenção: Interferir, modificar um chats. O papel do professor amplia-se – do informador
determinado programa, acrescentar uma nova trilha sonora transforma-se em orientador de aprendizagem, em
ou introduzir novas cenas com novos significados. gerenciador de pesquisa e comunicação dentro e fora da sala
- Vídeos como expressão: Como nova forma de de aula.
comunicação adaptada à sensibilidade das crianças e dos
jovens. Produzem programas informativos feitos pelos Lista eletrônica/ Fórum
próprios alunos. Incentivar os alunos a aprender navegar na Internet e que
- Vídeo integrando o processo de avaliação: dos alunos e do todos tenham seu endereço eletrônico (e-mail), e com isso
professor. criar uma lista interna de cada turma que irá ajudar a criar
- Televisão/vídeo – espelho: Os alunos veem-se nas telas, uma conexão virtual entre eles.
discutindo seus gestos, cacoetes, para análise do grupo e dos Aulas – pesquisa
papéis de cada um. Incentiva os mais retraídos e corrige os que Transformar uma parte das aulas em processos contínuo
falam muito. de informação, comunicação e pesquisa, equilibrando o
conhecimento individual e o grupal, entre o professor-
coordenador- facilitador e os alunos, participantes ativos.

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Trabalhar os temas do curso coletivamente, mas estão acostumados a receber tudo pronto do professor e,
pesquisando mais individualmente ou em pequenos grupos os portanto não aceitam esta mudança na forma de ensinar.
temas secundários. Os grandes temas são coordenados pelo Também há os professores que não aceitam o ensino
professor e pesquisados pelos alunos. Assim o papel do aluno multimídia, porque parece um modo de ficar brincando de
não é de executar atividades, mas o de co-pesquisador aula....
responsável pelo resultado final do trabalho. Na navegação muitos alunos se perdem pelas inúmeras
O professor coordena a escolha de temas ou questões mais possibilidades de navegação e acabam se dispersando. Deve-
específicas, procura ajudar a ampliar o universo alcançado se orientá-los a selecionar, comparar, sintetizar o que é mais
pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados relevante, possibilitando um aprofundamento maior e um
das informações. conhecimento significativo.
Construção cooperativa
A Internet favorece a construção cooperativa, ou seja, o Mudanças no ensino presencial com tecnologia
trabalho conjunto de professor e alunos.
Um modo interessante de cooperativismo é criar uma Muitos alunos já começam a utilizar o notebook para
página dos alunos, um espaço virtual de referência, onde vai pesquisa, para solução de problemas. O professor também
sendo colocado o que acontece de mais importante no curso. acompanha esta mudança motivando os alunos através dos
Pode ser um site provisório ou um conjunto de sites avanços tecnológicos. Teremos com esta atitude mais
individuais. ambientes de pesquisa grupal e individual em cada escola; ex:
É importante combinar o que podemos fazer melhor em as bibliotecas transformam-se em espaços de integração de
sala de aula, conhecer-nos motivar-nos, reencontrar-nos com mídias e banco de dados.
o que podemos fazer a distância, comunicar-nos, quando Com isto haverá mais participação no processo de
necessário e acessar os materiais construídos em conjunto na comunicação, tornando a relação professor/aluno mais aberta
homepage. e interativa, mais integração entre sociedade e a escola, entre
O espaço de trocas de conhecimento transita da sala de aprendizagem e a vida.
aula para o virtual. Quando vale a pena encontrar-nos na sala de aula?
Aprendemos e ensinamos com programas que apresentam
Preparar os professores para a utilização do o melhor da educação presencial com as novas formas virtuais;
computador e da Internet porém há momentos que precisamos encontrar-nos
fisicamente, em geral no começo e no final de um assunto ou
Tanto o professor como o aluno têm que estar atentos às curso.
novas tecnologias, principalmente à Internet. Para tanto é
necessário que haja salas de aula conectadas e adequadas para Equilibrar o presencial e o virtual
pesquisa, laboratórios bem equipados. Facilitar o acesso de
alunos e da escola aos meios de informática, diminuir a Dificuldades no ensino presencial não serão resolvidos
distância que separa os que podem e os que não podem pagar com o virtual. Unir os dois modos de comunicação o presencial
pelo acesso à informação. e o virtual e valorizando o melhor de cada um é a solução.
Ajudar na familiarização com o computador e no navegar As atividades que fazemos no presencial como
na Internet, na utilização pedagógica da Internet e dos comunidades, criação de grupos afins. Definir objetivos,
programas multimídia. Ensiná-los a fazer pesquisa conteúdos, formas de pesquisas e outras informações iniciais.
interagindo com o mundo. A comunicação virtual permite interações espaço-temporais
mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos novos
Questões que a Internet coloca aos professores contatos com pessoas semelhantes, mas distantes, maior
liberdade de expressão à distância.
Utilizar a Internet para ensinar exige muita atenção dos Com o processo virtual o conceito de curso, de aula
professores. Não se deter diante de tantas possibilidades de também muda. As crianças têm mais necessidade do contato
informação, saber selecionar as mais importantes. Uma página físico para ajudar na socialização, mas nos cursos médios e
bem apresentada, atraente dever ser imediatamente superiores, o virtual superará o presencial. Menos salas de
selecionada e pesquisada. A Internet facilita a motivação dos aulas e mais salas ambientes, de pesquisa, de encontro,
alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de interconectadas.
pesquisa que oferece.
A Internet ajuda a desenvolver a intuição, a flexibilidade Tecnologias na educação a distância
mental e a adaptação a ritmos diferentes: A intuição porque as
informações vão sendo descobertas por acerto e erro. Muitas organizações estão se limitando a transpor para o
Desenvolve a flexibilidade, porque as maiores parte das virtual, adaptações do ensino presencial. Começamos a passar
sequências são imprevisíveis, abertas. dos modelos individuais para os grupais. A educação a
Na Internet também desenvolvemos novas formas de distância mudará de concepção, de individualista para mais
comunicação principalmente escrita. Escrevemos de forma grupal, de isolada para participação em grupos. Educação a
mais aberta, hipertextual, multilinguística; todos se esforçam distância poderá ajudar os participantes a equilibrar as
para escrever bem. A comunicação afetiva, a criação de amigos necessidades e habilidades pessoais com a participação em
em diferentes países é um outro grande resultado, individual e grupos-presenciais e virtuais.
coletivo, dos projetos.
Alguns caminhos para integrar as tecnologias num
Alguns problemas no uso da Internet na educação ensino inovador

Os dados e informações são muitos, e, portanto gera uma Na sociedade informatizada, estamos aprendendo a
certa confusão entre informação e conhecimento. conhecer a comunicar-nos, ensinar, reaprendendo a integrar o
Na informação os dados organizam-se dentro de uma humano e o tecnológico, a integrar o indivíduo, o grupal e o
lógica, de uma estrutura determinada. social. É importante chegar ao aluno por todos os caminhos
Conhecimento é integrar a informação no nosso possíveis, experiência, imagem, som, dramatizações,
referencial tornando-a significativa para nós. Alguns alunos simulações.

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Partir de onde o aluno está e ajudá-lo a ir do concreto ao o papel de aprendiz ativo e participante que o leva a aprender
abstrato, do vivencial para o intelectual. Tanto nos cursos e a mudar seu comportamento.
convencionais como nos cursos a distância teremos que
aprender a lidar com a informação e o conhecimento de formas Tecnologia e mediação pedagógica
novas, através de muitas pesquisas e comunicação constante.
Ensinar não é só falar, mas se comunicar, com Como fazer para que o uso da tecnologia em educação,
credibilidade, falando de algo que conhecemos e vivenciamos principalmente nos cursos universitários de graduação, possa
e que contribua para que todos avancemos no grau de desenvolver uma mediação pedagógica.
compreensão do que existe. As principais reações que o bom - O que entendemos por mediação pedagógica?
professor/ educador desperta no aluno são: confiança, Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o
credibilidade e entusiasmo. comportamento do professor que se coloca como um
Necessitamos de pessoas livres nas empresas e nas escolas facilitador, incentivando ou motivando da aprendizagem.
que modifiquem as estruturas arcaicas e autoritárias
existentes. Se somos pessoas abertas iremos utilizar as Mediação pedagógica em técnicas convencionais
tecnologias para comunicar e interagir mais e melhor.
Se formos pessoas fechadas, desconfiadas, as tecnologias A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas
serão usadas de forma defensiva. O poder de interação não estratégias convencionais como nas novas tecnologias
está nas tecnologias, mas em nossas mentes. Ensinar com as - Por técnicas convencionais identificamos aquelas que já
novas tecnologias será válido se mudarmos os paradigmas existem há muito tempo, importantes para a aprendizagem
convencionais do ensino que mantém a distância de presencial. Seu uso não tem sido muito frequente talvez
professores entre alunos. porque os professores não as conhecem, ou por não
Caso contrário conseguiremos dar um verniz de dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma
modernidade sem mexer no essencial. forma de dinamizar as aulas.
- Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas ao
MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E USO DA TECNOLOGIA uso do computador, a informática, a telemática e a educação a
Marcos T. Masetto. distância.
- As técnicas convencionais, em geral são usadas para
A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros
como mediação pedagógica, pressupõe alguns fatos que do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas
envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo de técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que
aprendizagem. afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um.
1. Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia - Num segundo grupo as técnicas permitem que os
adequadamente visando a maior eficácia do ensino- aprendizes desenvolvam-se em situações simuladas. Ex.
aprendizagem. O professor é formado para valorizar dramatizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos
conteúdos e ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a de caso, apresentando estratégias de situações da realidade.
técnica de aula expositiva para transmitir os ensinamentos. São técnicas que desenvolvem a capacidade de analisar
No ensino superior brasileiro, essa concepção se mantém problemas e achar soluções, preparando para enfrentar
até hoje valorizando a transmissão de informação, situações reais e complexas.
experiências, técnicas, pesquisas de um profissional para - Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em
formação de outros. contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas
Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação, no práticas, visita a obras, indústrias, escolas, enfim em locais
entanto há questões tecnológicas que interessam ao processo próprios das atividades profissionais. É altamente motivador
aprendizagem. para a aprendizagem. Ajudam a dar significado para as teorias.
2. Dois fatos novos trazem à tona à discussão sobre a
mediação pedagógica e o uso da tecnologia: Mediação pedagógica e as novas tecnologias
- O surgimento da informática e da telemática que
proporcionam a oportunidade de entrar em contato com as Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso da
mais recentes informações, pesquisas e produções cientificas informática, do computador, da Internet CD-ROM, da
do mundo em todas as áreas. Desenvolvem-se os processos de hipermídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas
aprendizagem à distância. de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e
- Outro fato novo é a abertura no Ensino Superior para linguagens digitais que podem colaborar para tornar a
formação de competências pedagógicas dos professores aprendizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento
universitários. da educação em sua forma presencial (fisicamente); pois
dinamizam as aulas. Cooperam também para a aprendizagem
Tecnologia e processo de aprendizagem a distância (virtual), pois foram criadas para atendimento
desta nova modalidade de ensino. São tecnologias, porém
A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no exigem eficiência e adequação aos objetivos aos quais se
processo de aprendizagem. Ela tem sua importância apenas destinam. Entende-se que estas técnicas são ótimas no ensino
como um instrumento para favorecer a aprendizagem de a distância, para transmitir informações e conhecimentos no
alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema sentido mais estrito.
educacional do Brasil. Poderá colaborar, se for usada É importante ressaltar que não se pode pensar no uso de
adequadamente. uma tecnologia sozinha ou isolada, seja na educação presencial
O conceito de ensinar esta mais ligada ao professor que ou na virtual. Requer um planejamento para várias atividades
transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O conceito integrem-se em busca de objetivos determinados e que as
de aprender está diretamente ligadas ao aluno que produz técnicas sejam escolhidas, planejadas para que a
reflexões e conhecimentos próprios, pesquisas, diálogos, aprendizagem aconteça.
debates, mudanças de comportamento. Numa palavra o Alguns itens a serem observados:
aprendiz cresce e desenvolve-se, o professor fica como Teleconferência: caracteriza-se por colocar um
mediador entre o aluno e sua aprendizagem. O aluno assume especialista em contato com telespectadores de regiões
diversas do planeta.

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Chat ou bate-papo: e um momento em que todos os 2. Professor e aluno constituem-se como célula básica da
participantes estão no ar, ligados e convidados a expor suas aprendizagem;
ideias. 3. Corresponsabilidade e parcerias são atitudes básicas,
Listas de discussão: cria grupos de pessoas que possam incluindo planejamento, sua realização e avaliação;
debater um assunto ou tema sobre o qual sejam especialistas. 4. Respeitar todos os participantes, ênfase nas estratégias
Seu objetivo e avançar os conhecimentos, as informações ou as cooperativas de aprendizagem, confiança, envolver os
experiências. aprendizes num planejamento conjunto de métodos e direções
Correio eletrônico: facilita o encontro entre aluno e curriculares;
professor para sanar dúvidas. Para tanto há a necessidade do 5. Domínio profundo de sua área de conhecimento,
professor para responder aos e-mails, pois o aluno desmotiva- demonstrando competência e atualização em relação à área;
se não sendo atendido em suas dúvidas. 6. Criatividade para buscar com o aluno soluções para
Internet: no ensino de graduação depara-se com duas situações novas;
dificuldades no incentivo à leitura e a pesquisa. O aluno 7. Disponibilidade para o diálogo, que deve ser frequente e
prefere apostilas ao livro. A informática proporciona contínuo.
oportunidade de sanar essa dificuldade. A Internet é um 8. Subjetividade e individualidade. Observar que tanto o
recurso dinâmico e atraente, de fácil acesso e possibilita a professor e o aluno podem estar passando por momentos de
obtenção de um número ilimitado de informações. Há, porém indisposição e às vezes podem estar usando uma linguagem
a necessidade de o professor orientar os alunos, a direcionar o mais dura, outra vez mais carinhosa.
uso desse recurso para as atividades de pesquisas, para que 9. Comunicação e expressão em função da aprendizagem.
não façam cópias de textos. Usamos a linguagem para nos comunicar, o professor deverá
cuidar muito da sua expressão vocal, para ajudar no processo
Tecnologia, avaliação e mediação pedagógica. de aprendizagem.
Na prática esse processo de mediação pela expressão e
A avaliação tem que ser um processo motivador da comunicação deverá ser:
aprendizagem. - Excepcionalmente para transmitir informações;
Pontos básicos: - Para dialogar e trocar experiências;
1 - Considerar a avaliação como um processo as da - Para debater dúvidas e lançar perguntas;
aprendizagem que motive e incentive e não como o conjunto - Para motivar o aprendiz e orientá-lo;
de provas e/ou de trabalhos realizados em datas previamente - Para propor desafios e reflexões;
estipuladas, servindo para aprovar ou reprovar o aluno. - Para relacionar a aprendizagem com a realidade;
2 - A avaliação normalmente indica o índice de erros ou - Para incentivar o conhecimento junto com o aprendiz;
acentos que o aluno comete em uma prova. Esta abordagem - Para ajudar o aprendiz a comandar a máquina.
em geral não significa que o aluno aprendeu pouco ou muito, e Segundo Almeida, o professor que trabalha com a
também não colabora para a aprendizagem. Para isso informática na educação, deverá desenvolver uma mediação
acontecer, essas mesmas atividades deveriam se revestir de pedagógica que promova o pensamento do aluno, seus
outras características, continuidade, variedade de técnicas, projetos, compartilhe seus problemas sem apontar soluções,
revisão. ajudando o aprendiz a entender, analisar, testar e corrigir
3 - É importante que se veja a avaliação como um processo erros.
de feedback que traga ao aprendiz informações oportunas no Contudo, a intenção de refletir sobre tecnologia e a
momento que ele precisa para desenvolver sua aprendizagem, mediação pedagógica é chamar a atenção para a presença e
Informações ao longo do processo de aprendizagem para influência que a tecnologia tem na sociedade e na educação
corrigir erros e falhas. É a avaliação como um elemento escolar e informal, tanto na presencial como à distância.
incentivador e motivador da aprendizagem e não como uma Chamar a atenção para a necessidade de empregar essa
forma de julgá-lo. tecnologia, se quiser ser eficiente no processo educacional.
4 - Tanto no uso das técnicas presenciais como no uso da Neste texto, foram discutidas técnicas, seu uso e objetivos,
tecnologia a distância, deve-se fazer a avaliação com a e percebe-se que estas, apenas poderão colaborar como
aplicação de algum instrumento que ofereça o feedback ou mediadores, para o desenvolvimento e crescimento das
retroinformação. pessoas.
5 - Quanto à avaliação, observar a reação dos alunos para O aprendiz tem que ser o centro do processo. Na educação,
dialogar sobre a informação dada, completando ou fazendo nota-se um encadeamento de ideias ao abordar um assunto,
colocações adicionais ao que foi explicado. nada é isolado, sempre há um entrelaçamento com outros,
6 - O feedback que medializa a aprendizagem é aquele devido à própria complexidade educacional, cujo objetivo é
colocado de forma clara, orientando, ou por meio de perguntas propiciar melhores condições de aprendizagem, e
ou de uma breve sugestão. automaticamente maior gratificação para os que se dedicam
7 - Fazer registros juntamente com o feedback contínuo, de ao trabalho docente.
todos os aprendizes que permita um diálogo e um
acompanhamento sobre a aprendizagem com um todo. PROJETOS DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA NUM
8 - Abrir esse processo de avaliação (feedback), PARADIGMA EMERGENTE
juntamente com os alunos, a respeito do curso, das atividades Marilda Aparecida Behrens
que estão sendo avaliadas, se está adaptadas ou não aos
objetivos pretendidos. As perspectivas para o Séc. XXI indicam a educação como
9 - Por último, é preciso que as atividades presenciais e a pilar para alicerçar os ideais de justiça, paz, solidariedade e
distância permitam ao aluno e professor desenvolver sua liberdade. As transformações pelas quais o mundo vem
autoavaliação. passando são reais e irreversíveis.
O advento da sociedade do conhecimento e a globalização
O professor como mediador pedagógico. afetam a sociedade. Essas mudanças levam a ponderar sobre
uma educação planetária, mundial e globalizante. O contexto
O professor que se propõe a ser um mediador pedagógico de globalização torna as nações mais interdependentes e inter-
desenvolverá algumas características: relacionadas e, ao mesmo tempo mais dependentes de uma
1. Estar mais voltado para a aprendizagem do aluno; estrutura econômica neoliberal.

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O advento da economia globalizada e a forte influência dos Todos os seres vivos interagem e são interdependentes
avanços dos meios de comunicação e da informática aliados à uns dos outros. Buscar a superação das verdades absolutas e
mudança de paradigma da ciência não comportam um ensino inquestionáveis, do positivismo, da racionalidade e do
conservador repetitivo e acrítico nas universidades. pensamento convergente.
A produção do saber nas áreas do conhecimento leva o “A natureza não são blocos isolados, mas uma complexa
professor e o aluno a buscar processos de investigação e teia de relações entre as várias partes de um todo unificado”
pesquisa. O aluno precisa ser menos passivo e tornar-se (Capra). Visão na qual o mundo é um complicado tecido de
criativo, crítico, pesquisador e atuante. O professor precisa eventos, que se interconectam e se combinam, determinando
agir com critério e com visão transformadora. o todo.
A escola precisa ensinar os alunos a refletir sobre a
A era digital e a aprendizagem colaborativa realidade para que possam administrar conflitos,
pensamentos divergentes e respeitar a opinião dos outros;
O desafio imposto aos docentes é mudar o eixo do ensinar “aprender a viver juntos”
para os caminhos que levam a aprender. O quarto pilar apresentado refere-se ao “aprender a ser”.
Segundo Pierre Lévy (1993) o conhecimento poderia ser Delors recomenda “A educação deve contribuir para o
apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita e a desenvolvimento completo da pessoa; espírito e corpo,
digital. inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade
A digital não descarta todo o caminho feito pela linguagem pessoal, espiritualidade”. Visão que tenta superar a
oral e escrita. desumanização do mundo, dando ao homem liberdade de
A abertura de novos horizontes mais aproximados da pensamento e responsabilidade sobre seus atos.
realidade contemporânea, e das exigências da sociedade
depende de uma reflexão crítica do papel da informática na Paradigma emergente na prática pedagógica
aprendizagem e benefícios que a era digital pode trazer para o
aluno como cidadão, tornando-os transformadores e Paradigma emergente é um paradigma inovador que
produtores de conhecimento. venha atender aos pressupostos necessários às exigências da
O desafio do professor ao propor sua ação docente será sociedade do conhecimento. Caracterizar um paradigma
levar em consideração e contemplar as oito inteligências emergente não é tarefa de fácil resposta, mas o que se pode
denominadas por Gardner (1994) como espacial; interpessoal, garantir é que o paradigma inovador engloba diferentes
intrapessoal, cinestésico-corporal, linguística ou verbal, pressupostos de novas teorias. Por exemplo, Moraes
lógico-matemática, musical e naturalista. Além do denomina paradigma emergente a aliança entre as abordagens
desenvolvimento das inteligências múltiplas é fundamental vistas construtivas, interacionista, sociocultural e
desenvolver a inteligência emocional (Goleman 1996) para transcendente, onde o ponto de encontro entre os autores a
desencadear a formação do cidadão. busca da visão da totalidade, o enfoque da aprendizagem e o
Na era das Relações (Moraes 1997) cabe aos gestores e desafio de superação da reprodução para a produção do
professores derrubar barreiras que segregam o espaço e a conhecimento.
criatividade dos professores e dos alunos. Behrens(1999) acredita na necessidade de desencadear
A aprendizagem precisa ser significativa, desafiadora, uma aliança de abordagem pedagógica, formando uma teia, da
problematizadora e instigante para mobilizar o aluno e o visão holística:
grupo a buscar soluções aos problemas. A relação
professor/aluno na aprendizagem colaborativa contempla a 1) O ensino com pesquisa – Onde professor e aluno
interdependência dos seres humanos. tornam-se pesquisadores e produtores dos seus próprios
conhecimentos.
Quatro pilares da aprendizagem colaborativa 2) A abordagem progressiva. Instiga o diálogo e a
discussão coletiva.
O “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional 3) A visão holística ou sistêmica – busca a superação da
sobre Educação para o Séc. XXI”, coordenada por Jacques fragmentação do conhecimento.
Delors (1998) aponta a necessidade de uma educação A aliança, a partir das três abordagens, permite uma
continuada. A aprendizagem ao longo da vida, assentada em prática pedagógica competente e que dê conta dos desafios da
quatro pilares: sociedade moderna.
- Aprender a conhecer.
- Aprender a fazer. Paradigma emergente numa aliança de abordagem
- Aprender a viver juntos. pedagógica
- Aprender a ser.
Aprender a conhecer - Este tipo de aprendizagem visa não Behrens defende o paradigma emergente, uma aliança
um repertório de saberes mas o domínio dos próprios entre os pressupostos da visão holística, da abordagem
instrumentos do conhecimento. Compreender o mundo que o progressiva e do ensino com pesquisa instrumentalizada.
rodeia para viver dignamente e desenvolver suas capacidades. O ensino com pesquisa, proposto por Paoli, por Demo e por
Com essa visão enfatiza-se ter prazer em descobrir, em Cunha defende uma aprendizagem baseada na pesquisa para a
investigar, em ter curiosidade, em construir o conhecimento. produção de conhecimento, superando a reprodução, a cópia e
Segundo Gadotti aprender a conhecer implica ter prazer de a imitação do pensamento newtoniano - cartesiano
compreender, descobrir, construir e reconstruir o A - O ensino com pesquisa necessita de um professor que
conhecimento. perceba o aluno como um parceiro. Segundo Demo, ensinar
O aluno precisa ser instigado a buscar o conhecimento, a pela pesquisa apresenta fases, progressivas desde a
ter prazer em conhecer, a aprender a pensar, elaborar as interpretação reprodutiva, até a criação e descoberta. O
informações para aplicá-la à realidade. ensino com pesquisa leva a acessar, analisar e produzir
Como segundo pilar Delors apresenta o “aprender a fazer” conhecimentos.
- aprendizagem associada ao aprender a conhecer. B - A abordagem progressiva busca a transformação social.
Aliando aprender a conhecer e aprender a fazer, o Os professores progressistas promovem processos de
professor precisa superar a dicotomia teórica e pratica, estas mudança, manifestando-se contra as injustiças sociais,
devem caminhar juntas. atitudes antiéticas, injustiças políticas e econômicas.

Conhecimentos Pedagógicos 60
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APOSTILAS OPÇÃO

C - A visão holística caracteriza a prática pedagógica num 1ª fase - Apresentação e discussão do projeto
paradigma emergente aliada ao ensino com pesquisa e à 2ª fase - Problematização do tema
abordagem progressiva. A proposta da visão holística propõe 3ª fase - Contextualização
uma sociedade com indivíduos que se pautam nos princípios 4ª fase - Aulas teóricas exploratórias
éticos da dignidade humana, da paz, da justiça, do respeito da 5ª fase - Pesquisa individual
solidariedade e da defesa do meio ambiente. Conhecer o 6ª fase - Produção individual
universo como um todo, que leva a interconectividade e inter- 7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva
relações entre os sistemas vivos. 8ª fase - Produção, coletiva
9ª fase - Produção final
Tecnologia como ferramenta para aprendizagem 10ª fase - Avaliação coletiva do projeto
colaborativa
1ª fase - Apresentação e discussão do projeto
A tecnologia da informação, pode ajudar a tornar mais Discutir com os alunos cada fase do projeto de
acessíveis as políticas educacionais dos países, os projetos aprendizagem, valorizando as contribuições dos alunos.
pedagógicos em todos os níveis, projetos de aprendizagem, 2ª fase - Problematização do tema
metodologia de ensino. Fase essencial do projeto de aprendizagem. Refletir sobre
- A exercitação oferece treinamento de certas habilidades. os problemas relacionados ao tema, levando os alunos a
- Os programas tutoriais – blocos de informação buscar referenciais que venham contribuir com a construção
pedagogicamente organizados como se fosse um livro de algumas soluções.
animado em vídeo. 3ª fase – Contextualização
- Os aplicativos: programas voltados para funções Incita a visão holística do projeto. O professor precisa ficar
específicas como planilhas eletrônicas, processadores de atento para que na contextualização estejam presentes dados
textos e gerenciadores de bancos de dados. da realidade, aspectos sociais e históricos, econômicos e
- Programas de autoria extensão avançada das linguagens outros referentes à problemática levantada.
de programação, permitem que qualquer pessoa crie seus 4ª fase - Aulas teóricas exploratórias
próprios programas, sem que possuam conhecimentos O professor apresenta a temática e os conhecimentos
avançados de programação. básicos as aulas expositivas precisam contemplar os temas, os
- Jogos opção com finalidade de lazer. conteúdos e as informações levando o aluno a perceber quais
- Simulações – programas que possibilitam a interação com são os assunto pertinentes a problematização levantada.
situações complexas. Ex: Simuladores de voo. 5ª fase - Pesquisa individual
O computador é ferramenta auxiliar no processo de O aluno de posse desses conhecimentos precisa buscar,
“aprender a aprender”. acessar, investigar as informações que possam solucionar as
problematizações levantadas.
Tecnologia da informação e o avanço dos 6ª fase - Produção individual
procedimentos Propor a composição de um texto próprio construído com
base na pesquisa elaborada pelo aluno e no material
Baseada na proposta de Chikering e Ehrmanm a tecnologia disponibilizado pelo grupo. Tarefa que pode ser realizada em
da informação pode contribuir para: sala de aula ou fora dela.
1- Encorajar contato entre estudantes e universidades. 7ª fase - Discussão coletiva, crítica e reflexiva
2- Encorajar cooperação entre estudantes. Acontece quando o professor desenvolve os textos
3- Encorajar aprendizagem colaborativa. produzidos individualmente e provoca a discussão sobre os
4- Dar retorno e respostas imediatas. dados levantados. Nesse momento os alunos estão mais
5- Enfatizar tempo para as tarefas. preparados para discutir avanços e suas dificuldades, suas
6- Comunicar altas expectativas. dúvidas.
7- Respeitar talentos e modos de aprender diferente. 8ª fase - Produção, coletiva
O cyberspace é uma rede que torna todos os computadores Revela a possibilidade de aprender a trabalhar em
participantes e seus conteúdos acessíveis aos usuários de parceria; produzir um texto coletivo partindo das produções
qualquer computador ligado a essa rede. Possibilitando, via individuais.
Internet, o acesso a bibliotecas do mundo inteiro, por exemplo: 9ª fase - Produção final
numa viagem virtual. É a fase que propicia o espaço para criar, para buscar um
salto maior que os registrados. Fase que os alunos irão
O paradigma emergente e a aprendizagem apresentar a produção já finalizada.
colaborativa baseada em projetos 10ª fase - Avaliação coletiva do projeto
O professor deve instigar a avaliação de cada fase do
Os projetos de aprendizagem colaborativos levam em projeto. A avaliação perante realinhar alguma fase ou
consideração as aptidões e competências que o professor atividades propostas no desencadear do projeto de
pretende desenvolver com seus alunos, cuja finalidade é aprendizagem.
tornar os alunos aptos a atuar como profissionais em suas
áreas de conhecimento. O professor deve apropriar-se de Aprendizagem para a sociedade do conhecimento:
referências utilizadas na sala de aula e fora dela.
Projetos de aprendizagem colaborativa num A busca das competências e da autonomia.
paradigma emergente Os projetos de aprendizagem possibilitam a produção do
conhecimento significativo. Os alunos no processo de parceria
A aprendizagem baseada em projetos necessita de um têm a oportunidade de desenvolver competências, habilidades
ensino que provoque ações colaborativas num paradigma e aptidões que serão úteis a vida toda; focalizando o aluno
emergente instrumentalizado pela tecnologia inovadora. como sujeito crítico e reflexivo no processo de “aprender a
Deve-se contemplar a produção do conhecimento dos alunos e aprender”.
do próprio professor.
Fases do projeto de aprendizagem colaborativa

Conhecimentos Pedagógicos 61
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APOSTILAS OPÇÃO

Mediação pedagógica e o uso da tecnologia - Novas tecnologias são aquelas que estão vinculadas ao
uso do computador, a informática, a telemática e a educação a
A discussão que envolve a análise do uso da tecnologia distância.
como mediação pedagógica, pressupõem alguns fatos que - As técnicas convencionais, em geral são usadas para
envolvem a questão do emprego de tecnologia no processo de iniciar um curso, despertar um grupo, para que os membros
aprendizagem. do grupo se conheçam em um clima descontraído. Essas
1- Em educação escolar, não se valorizou a tecnologia técnicas ajudam a expressar expectativas ou problemas que
adequadamente visando a maior eficácia do ensino- afetam o clima entre eles ou o desempenho de cada um.
aprendizagem. O professor é formado para valorizar - Num segundo grupo as técnicas que permitem que os
conteúdos e ensinamentos acima de tudo, e privilegiar a aprendizes se desenvolvem em situações simuladas. Ex.
técnica de aula expositiva para transmitir os ensinamentos. dramatizações, jogos dramáticos, jogos de empresa, estudos
No ensino superior brasileiro, essa concepção se mantém de caso, apresentando estratégias de situações da realidade.
até hoje valorizando a transmissão de informação, experiência, São técnicas eu desenvolvem a capacidade de analisar
técnicas pesquisas de um profissional para formação de problemas e achar soluções, preparando para enfrentar
outros. situações reais e complexas.
Vê-se uma desvalorização da tecnologia em educação, no - Um terceiro grupo de técnicas coloca o aprendiz em
entanto há questões tecnológicas que interessam ao processo contato com situações reais. Ex. Estágios, excursões, aulas
aprendizagem. práticas visita a obras, industrias, escolas enfim em locais
2- Dois fatos novos trazem à tona a discussão sobre a próprios das atividades profissionais. É altamente motivador
mediação pedagógica e o uso da tecnologia, o surgimento da para a aprendizagem. Ajuda a dar significado para as teorias.
informática e da telemática porque proporciona a
oportunidade de entrar em contato com as mais recentes Mediação pedagógica e as novas tecnologias
informações, pesquisas e produção cientificas do mundo em
todas as áreas. Por novas tecnologias em educação, entende-se o uso da
Desenvolvem-se os processos de aprendizagem a informática, do computador, da Internet CD-ROM, da
distância. hipermídia, da multimídia, educação a distância, chats, listas
de discussão, correio eletrônico e de outros recursos e
Tecnologia e processo de aprendizagem linguagens digitais que podem colaborar para tornar a
aprendizagem mais eficaz, cooperam para o desenvolvimento
A tecnologia apresenta-se como meio para colaborar no da educação em sua forma presencial (fisicamente) pois
processo de aprendizagem. Ela tem sua importância apenas dinamizam as aulas.
como um instrumento para favorecer a aprendizagem de
alguém. Não é a tecnologia que vai resolver o problema
educacional do Brasil. Poderá colaborar se for usada RIOS, T. A. Compreender e
adequadamente.
O conceito de ensinar está mais ligado ao professor que
ensinar: por uma docência
transmite conhecimentos e experiências ao aluno. O conceito da melhor qualidade. 2ª ed.
de aprender está diretamente ligado ao aluno que produz São Paulo: Cortez, 2001;
reflexões e conhecimentos próprios, pesquisa, dialogo, debate,
mudança de comportamento. Numa palavra o aprendiz cresce
e desenvolve-se, o professor fica como mediador entre o aluno
A autora apresenta neste texto4, sua tese de doutorado
e sua aprendizagem. O aluno assume o papel de aprendiz ativo
defendida em agosto de 2000 na Faculdade de Educação da
e participante que o leva a aprender e a mudar seu
Universidade de São Paulo apreciada por Selma Garrido
comportamento.
Pimenta, (sua orientadora), Mário Sergio Cortella e José Carlos
Libâneo. Ensinar é o enfoque do livro, que a autora faz com
Tecnologia e mediação pedagógica
muita propriedade, uma vez que "fazer aulas " e "ensinar" é a
sua alegria. Fala de seus limites, o "largar tudo", mas retorna
Como fazer para que o uso da tecnologia em educação,
com esperança refletindo sua prática numa mistura de razão e
principalmente nos cursos universitários de graduação, possa
paixão, é uma reflexão que empreende uma busca de
desenvolver uma mediação pedagógica.
compreensão da realidade através da Filosofia e da Didática,
- O que entendemos por mediação pedagógica?
chamada de ciência do ensino.
Por mediação pedagógica, entendemos a atitude e o
comportamento do professor que se coloca como um
Compreender e Ensinar no Mundo Contemporâneo
facilitador, incentivando ou motivador da aprendizagem.
É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes que
contribuem para a construção contínua da competência do
Mediação pedagógica em técnicas convencionais
professor. Filosofia - é a reflexão e a compreensão da atuação
dos seres humanos no mundo. Didática - é a preocupação com
A mediação pedagógica pode estar presente tanto nas
o ensino, a socialização, criação e recriação. Tanto a Filosofia
estratégias convencionais como nas novas tecnologias.
como a Didática são saberes humanos historicamente situados
- Por técnicas convencionais identificamos aquelas que já
e é preciso verificar as caraterísticas do contexto, nos quais
existem há muito tempo, importantes para a aprendizagem
eles desempenham suas funções e quais as alternativas para
presencial. Seu uso não tem sido muito frequente talvez
que estes sujeitos possam "fazer acontecer". A
porque os professores não as conhecem, ou por não
responsabilidade pelo ensino está dispersa, mas há uma
dominarem sua pratica. Mas para muitos professores é uma
grande preocupação com ele e pode-se constatar que as
forma de dinamizar as aulas.
demandas colocadas à Filosofia ainda são muito grandes.
Assim sendo, encontra-se no campo da educação a perspectiva
de uma ressignificação da ciência do ensinar.

4 http://pt.slideshare.net/marcaocampos/rios-terezinha-azeredo-
compreender-e-ensinar

Conhecimentos Pedagógicos 62
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APOSTILAS OPÇÃO

Nosso mundo, nosso tempo - precariedade e urgências – É uma disciplina que compõe a grade curricular dos cursos de
necessário refletir sobre os possíveis caminhos através da formação de professores.
Filosofia e da Didática. Na passagem do novo milênio, do novo O ensino como objeto da Didática, é considerado como uma
século, o que se afirma é que se enfrenta uma crise de prática social que se dá no interior de um processo de
significados da vida humana, das relações entre as pessoas, educação e que ocorre informalmente, seja espontânea, ou
instituições e comunidades. A crise aponta para duas formalmente, de maneira sistemática, intencional e
perspectivas - perigo e oportunidades. Quando consideramos organizada. De maneira organizada, se desenvolve na
o perigo, estamos envolvidos por uma atitude negativa, instituição escolar realizado a partir da definição de objetivos,
ignorando as alternativas de superação, e quando considera- conteúdos a serem explorados no processo educacional. A
se a perspectiva de oportunidade, estamos à mercê da crítica, relação professor-aluno, por intermédio do gesto de ensinar,
da reflexão e a da reorientação da prática. propicia um exercício de meditação, é o encontro com a
Este mundo, definido como pós- moderno, tem a referência realidade, considerando o saber já existente, e procura
de uma modernidade antecedente. A modernidade articular a novos saberes. Este processo possibilita aos alunos
caracterizou-se como um período em que a razão é como um a formação e o desenvolvimento de capacidades, habilidades
elemento explicador e transformador do mundo. Ser moderno cognitivas e operativas. Logo, o ensino através da ação
implicava em lançar-se à aventura da razão instrumental, específica do docente caracteriza-se como uma ação que se
tecnológica. Do ponto de vista político-econômico instalou-se articula à aprendizagem. Diante desta apresentação, a autora
o modelo liberal, a defesa do livre mercado, o incentivo à faz um alerta reflexivo na seguinte frase: "O professor afirma
especialização, a discussão sobre os ideais de liberdade e que ensinou e que infelizmente os alunos não aprenderam". A
igualdade. Globalização - fenômeno da expansão de inter- Didática é um elemento fundamental para o desenvolvimento
relações, principalmente de natureza econômica, em uma do trabalho docente. "Um bom professor é reconhecido pela
escala mundial, entre países e sociedades de todo o mundo, sua didática". Esse conceito é identificado como um "saber
reflete o progresso tecnológico e o crescimento da pobreza em fazer". A Didática deve ser entendida em seu caráter prático de
todas as regiões do mundo. É a convivência com a exclusão contribuição ao desenvolvimento do trabalho de ensino,
social. É um mundo desencantado que despreza alguns valores realizado no dia- a- dia da escola. (Oliveira, M.R.S., 1993:133-
fundamentais na construção do mundo e do ser humano. Neste 134).
mundo complexo, também se tornam mais complexas as Didática e Filosofia da Educação: uma interlocução - Na
tarefas dos educadores. E neste contexto, qual será a atitude a música de Gilberto Gil "Hoje o mundo é muito grande, porque
se tomar no campo do trabalho docente, na perspectiva da a Terra é pequena" e no Vasto mundo de Drumond de Andrade.
educação e da filosofia? A autora ressalta algumas demandas O mundo cuja extensão se torna maior em função da
que se configuram como desafios: intervenção contínua dos seres humanos, construindo e
- um mundo fragmentado exige para a superação da modificando a cultura e a história. Como ser professor neste
fragmentação, uma visão de totalidade, um olhar abrangente mundo? O que é ensinar? Como e de que modo os alunos
e, no que diz respeito ao ensino, a articulação estreita dos aprendem?
saberes e capacidades; A fragmentação do conhecimento, da comunicação e das
- um mundo globalizado requer, para evitar a massificação relações comprometem a prática educativa. Portanto, é
e a homogeneidade redutora, o esforço de distinguir, para unir preciso um novo olhar e uma articulação estreita de saberes e
a percepção clara de diferenças e desigualdades e, no que diz capacidades para que a Filosofia da Educação abranja o
respeito ao ensino, o reconhecimento de que é necessário um processo educativo em todos os aspectos. A Didática necessita
trabalho interdisciplinar que só ganhará sentido se partir de dialogar com a diversidade dos saberes da docência, enfrentar
uma efetiva disciplinaridade; os desafios e buscar alternativas para pensar e repensar o
- num mundo em que se defronta a afirmação de uma razão ensino. Este contexto implica a revisão de conteúdos, de
instrumental e a métodos, do processo de avaliação, novas propostas e novas
de um irracionalismo é preciso encontrar o equilíbrio, fazendo organizações curriculares. Ensinar - Muitas questões se
a recuperação do significado da razão articulada ao apropriam da prática docente, com o objetivo de estabelecer
sentimento e, no que diz respeito ao ensino, à reapropriação vínculos entre o conhecimento e a formação cultural, o
do afeto no espaço pedagógico. desenvolvimento de hábitos, atitudes e valores.
A autora ressalta com base em Selma G. Pimenta em "O
Compreender o mundo - Através da Filosofia faz-se uma estágio na formação de professores"- 1994, que são
reflexão e objetiva-se um saber inteiro com clareza, necessárias novas questões para um novo cenário educacional
abrangência e profundidade, orienta-se num esforço de e para o novo milênio. O fenômeno da globalização é uma
compreensão que é o desvelamento da significação, o valor dos percepção clara das diferenças e especificidades dos saberes,
objetos sobre os quais se volta. Conceito de compreensão - e das práticas para realizar um trabalho coletivo e
uma referência a uma dimensão intelectual e a uma dimensão interdisciplinar. Interdisciplina - ressalta "mistura de
afetiva. Faz-se necessária também uma atitude de admiração trabalhos" que é a maneira equivocada em que ocorre a
diante do conhecido. Aristóteles afirmava que a admiração é o interdisciplinaridade, em torno de um tema. Na verdade, a
primeiro estímulo que o ser humano tem para filosofar. Na interdisciplinaridade é algo mais complexo, que só ocorre
prática, o que fascina e intriga? A resposta está na vivência das quando trata verdadeiramente de um diálogo ou de uma
situações-limite, ou situações problemáticas. Quando se faz parceria, que é constituída exatamente na diferença, na
uma reflexão sobre o próprio trabalho, questiona-se a sua especificidade da ação de grupos ou indivíduos que querem
validade, o seu significado. As respostas são encontradas em alcançar objetivos comuns. É preciso ter muita clareza do tipo
dois espaços: na prática - na experiência cotidiana; na reflexão de contribuição que cada grupo pode trazer, na especificidade
crítica - sobre os problemas que esta prática faz surgir como desta contribuição, que é a disciplinaridade.
desafios.
Ensinar o mundo - Etimologicamente; didática em grego Competência e Qualidade na Docência
didaktika, derivado do verbo didasko - significado "relativo ao É uma reflexão sobre a articulação dos conceitos de
ensino". Para Coménio - "a arte de ensinar". A definição de competência e de qualidade no espaço da profissão docente.
Didática engloba duas perspectivas: uma ciência que tem um Estes termos são empregados com múltiplas significações,
objeto próprio, como um saber, um ramo do conhecimento, e gerando equívocos e contradições. A ideia de ensino
competente é um ensino de boa qualidade. É fazer a conexão

Conhecimentos Pedagógicos 63
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APOSTILAS OPÇÃO

estreita entre as dimensões: técnica, política, ética e estética da 5 - Trabalhar em equipe;


atividade docente. Trata-se de refletir sobre os saberes que se 6 - Participar da administração da escola;
encontram em relação à formação e à prática dos professores. 7 - Informar e envolver os pais;
O conceito de qualidade é abrangente, é multidimensional. Na 8 - Utilizar novas tecnologias;
análise crítica da qualidade, devem ser considerados os 9 - Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão;
aspectos que possam articular a ordem técnica e pedagógica 10- Administrar sua própria formação contínua.
aos de caráter político - ideológico. A reflexão sobre os
conceitos de competência e qualidade têm o propósito de ir a Com referência às 10 competências de Perrenoud, a autora
busca de uma significação que se alterou exatamente em ressalta: "competências são as capacidades que se apoiam em
virtude de certas imposições ideológicas. conhecimentos", é usado como sinônimo de outros termos
Em busca da significação dos conceitos: o recurso à lógica como: capacidade, conhecimento, saber. Apresenta também,
- A lógica formal permite analisar os conceitos em sua própria quatro tipos diferentes de competências: (1998:14-16):
constituição. Para Aristóteles, a lógica foi chamada de organon, 1. competência intuitiva;
necessária em todos os campos do conhecimento. A 2 - competência intelectiva;
compreensão dos termos tem sofrido modificações em virtude 3 - competência prática;
das características dos contextos em que são utilizados. Assim, 4 - competência emocional.
o termo Competência, frequentemente é usado para designar
múltiplos conceitos como: capacidade, saber, habilidade, Completando este capítulo, é preciso trabalhar com a
conjunto de habilidades, especificidade. Portanto, no que se perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade e
refere à Qualidade observa-se: programa de computadores, competência que são ampliadas na construção coletiva.
qualidade de um atleta, o controle de qualidade de produtos
industriais. O que realmente é importante não são as palavras, Dimensões de Competência
os termos, e sim os objetos da realidade que eles designam. No Uma definição de competência apresenta uma totalidade,
que diz respeito à educação de qualidade refere-se à história ou seja, uma pluralidade de propriedades (conjunto de
da educação brasileira. Recentemente, menciona-se com qualidades de caráter positivo) mostrando suas dimensões:
frequência a necessidade de competência no trabalho do Técnica, Política, Ética, Estética e a estreita relação entre elas.
educador. A docência da melhor qualidade tem que se buscar,
Qualidade ou qualidades? - Há uma multiplicidade de continuamente, e se afirmar na explicitação desta qualidade no
significados: educação de qualidade, está se referindo a uma que se refere a: o quê, por que, para que, para quem. Essa
série de atributos que teria essa educação, ou seja, um explicitação se dará em cada dimensão da docência:
conjunto de atributos que caracteriza a boa educação. Usando - dimensão técnica - a capacidade de lidar com os
a palavra Qualidade com a maiúscula, é na verdade um conteúdos, conceitos, comportamentos e atitudes, e a
conjunto de "qualidades". habilidade de construí-los e reconstruí-los com os alunos;
Conforme a citação da autora, para Aristóteles, "a - dimensão estética - diz respeito à presença da
qualidade é uma das categorias que se encontram em todos os sensibilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;
seres e indicam o que eles são ou como estão. As categorias - dimensão política - diz respeito à participação na
são: substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lugar, construção coletiva da
ação, paixão, posição e estado". São breves referências no que sociedade e ao exercício de direitos e deveres;
diz respeito à noção de qualidade, e pode-se trabalhar no - dimensão ética - diz respeito à orientação da ação
campo da educação. A educação é um processo de socialização fundada no princípio do
da cultura, no qual se constroem, se mantêm e se transformam respeito e da solidariedade, na direção da realização de um
os conhecimentos e os valores. A esta definição chama-se bem coletivo.
categoria da "substância". Se este processo de socialização se
faz com a imposição de conhecimentos e valores, ignorando as Felicidadania
características dos educandos, diremos que é uma má Apresenta a re-significação da cidadania, como realização
educação. Toda educação tem qualidades. A boa educação pela individual e coletiva. Cidadania - Identifica-se com a
qual desejamos e lutamos, é uma educação cujas qualidades participação eficiente e criativa no contexto social. Democracia
carregam um valor positivo. - A participação através do voto - "as decisões políticas". É
Competência ou competências? - Como se abriga qualidade necessário criar espaço para que se possa construir
no conceito de competência? O termo é recente e passa a ser conjuntamente as regras e estabelecer os caminhos. Felicidade
uma referência constante. Perrenoud reconhece que "a noção - Na articulação entre cidadania e democracia retoma-se a
de competência tem múltiplos sentidos" e segundo sua articulação entre a ética e política. Alteridade e autonomia - É
afirmação: (...) uma competência como uma capacidade de agir no convívio que se estabelece a identidade de cada pessoa na
eficazmente em um tipo definido de situação, capacidade que sociedade.
se apoia em conhecimentos, mas não se reduz a eles. Para A ação docente e a construção da felicidadania:
enfrentar da melhor maneira possível uma situação, devemos 1. Construir a felicidadania na ação docente - é reconhecer
em geral colocar em jogo e em sinergia vários recursos o outro;
cognitivos complementares, entre os quais os conhecimentos. 2. Construir a felicidadania na ação docente - é tomar como
As competências utilizam, integram, mobilizam referência o bem coletivo;
conhecimentos para enfrentar um conjunto de situações 3. Construir a felicidadania na ação docente - é envolver-se
complexas. "Como guia, um referencial de competências na elaboração e desenvolvimento de um projeto coletivo de
adotado em Genebra - 1996 para a formação contínua", (lista trabalho;
das 10 competências): 4. Construir a felicidadania na ação docente - é instalar na
escola e na aula uma instância de comunicação criativa;
1 - Organizar e dirigir situações de aprendizagem; 5. Construir a felicidadania na ação docente - é criar espaço
2 - Administrar a progressão das aprendizagens; no cotidiano da relação pedagógica para a afetividade e a
3 - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de alegria;
diferenciação; 6. Construir a felicidadania na ação docente - é lutar pela
4 - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu criação e pelo aperfeiçoamento constante de condições
trabalho; viabilizadoras do trabalho de boa qualidade.

Conhecimentos Pedagógicos 64
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Certezas Provisórias profissional. Ficava impressionada quando conversava com


Uma reflexão sobre a formação e a prática docente. algumas mães e essas achavam natural que seus filhos não
Articular os conceitos de competência e de qualidade que tivessem sucesso na escola. Diziam que ela poderia 'bater
visam à possibilidade de uma intervenção significativa no neles' para ver se estudavam.
contexto social. A melhor qualidade se revela na escolha do Esse foi seu batismo de fogo que fez com que se afastasse
melhor conteúdo, para poder reverter conceitos, por 12 anos da educação. A sensação mais profunda que ficou
comportamentos e atitudes. A melhor qualidade se revela na dessa experiência foi a de ignorância. Ficou claro, para ela, que
definição dos caminhos para se fazer a mediação entre o aluno as informações e ideias que circulavam na educação não
e o conhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor davam conta do problema do ensino. O professor era um cego.
conteúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios da Para ela, o professor continua chegando hoje à escola com as
cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor mesmas insuficiências com a qual ela chegou em 1962, sendo
metodologia é a que tem como referência as características do que a diferença, hoje, está na possibilidade que o professor tem
contexto em que se vive, no desejo de criar, superar limites e de, se quiser, tentar resolver essa situação. Hoje, os
ampliar possibilidades. professores têm à sua disposição um corpo de conhecimentos
A melhor qualidade revela-se na sensibilidade do gesto que, se não dá conta de tudo, pelo menos ilumina os processos
docente na orientação de sua ação, para trazer o prazer e a através dos quais as crianças conseguem ou não aprender
alegria ao contexto de seu trabalho e da relação com os alunos. certos conteúdos. O entendimento que se tem do professor
Alegria no melhor sentido, resultante do contato com o mundo hoje é o de alguém com condições de ser sujeito de sua ação
e da ampliação do conhecimento sobre ele. O ensino da melhor profissional.
qualidade é aquele que cria condições para a formação de Ao final de 1962, e durante os 12 anos seguintes trabalhou
alguém que sabe ler, escrever e contar. Ler não apenas as em áreas completamente diferentes, e como nenhuma outra
cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. atividade dava sentido à sua vida profissional, acabou
Escrever não apenas nos cadernos, mas no contexto de que voltando para a educação. Seu compromisso é com essas
participa, deixando seus sinais, seus símbolos. Contar não crianças - que são maioria nas escolas públicas - para que
apenas números, mas sua história, espalhar sua palavra, falar superem o fracasso e tenham sucesso na escola.
de si e dos outros. Contar e cantar nas expressões artísticas, Apesar de ser considerada especialista em alfabetização, sua
nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversificadas questão é a aprendizagem, em especial, a aprendizagem
investigações científicas. escolar.

Capítulo 2 - Um novo olhar sobre a aprendizagem.


WEISZ, Telma. O Diálogo entre o
Apesar de ter iniciado sua docência em 1962, e de ter na
ensino e a aprendizagem. São época um certo conhecimento significativo quanto ao fato da
Paulo: Ática, 2002; criança conseguir escrever, mesmo que não ortograficamente,
ela não tinha um conhecimento científico acumulado que lhe
permitisse superar um ponto de vista "adultocêntrico", ou seja,
a forma como se concebe a aprendizagem das crianças a partir
WEISZ, Telma. O Diálogo entre o Ensino e a
da própria perspectiva do adulto que já domina o conteúdo
Aprendizagem.
que quer ensinar. A partir dessa perspectiva, não é possível
compreender o ponto de vista do aprendiz, pois não se
Weisz cursou o Normal no Instituto de Educação, no Rio de
'enxerga' o objeto de seu conhecimento com os olhos de quem
Janeiro, possivelmente influenciada pela professora de seu
ainda não sabe. A partir dessa perspectiva, o professor (do
curso primário de quem gostava muito. Ao longo do curso,
lugar de quem já sabe) define, a priori, o que é mais fácil e o
estando envolvida com outros interesses (artes plásticas) quis
que é mais difícil para os alunos e quais os caminhos que eles
sair, mas seus pais a convenceram a continuar. Fez, então, o
devem percorrer para realizar as atividades desejadas. Tal
Instituto de Belas Artes (atual escola de Artes Visuais do
concepção, por parte do professor, gera um tipo de
Parque Lage). Em 1962, quando cursava o seu último ano do
procedimento pedagógico que dificulta o processo de
Curso Normal, constatou que a repetência fabricada pelas
aprendizagem para uma parte das crianças, principalmente,
escolas tinha ultrapassado os limites, pelo fato de não haver,
aquelas que mais necessitam da ajuda da escola, por ter menos
em consequência, vagas para alunos novos na 1ª série. O
conhecimento construído sobre os conteúdos escolares.
governador, então, tomou três providencias: aprovou as
Assim, a adoção de uma postura adultocêntrica não é uma
crianças por decreto - tendo ido todo mundo para a 2a. série,
decisão voluntária dos professores, uma vez que, o
sabendo ou não ler; montou escolas de madeira, com telhado
conhecimento científico que trazem consigo, não lhes permite
de zinco, e convocou todas as normalistas do último ano do
enxergar e acolher uma outra concepção de aprendizagem
curso para dar aulas. A partir daí, ela foi dar aula, para um
relacionada à perspectiva do aprendiz.
grupo de crianças que tinham entre 11 e 12 anos e, que depois
A metodologia embutida nas cartilhas de alfabetização
de terem repetido várias vezes a 1a. série, tinham passado
contribui para o fracasso escolar.
para a 2ª em função do decreto do governador.
A chamada Psicogênese da Língua Escrita, resultado das
Eram 45 alunos, sendo que apenas 3 não eram negros. Não
pesquisas realizadas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky
eram todos analfabetos, porém não se podia considerá-los
(1970), sobre o que pensam as crianças quanto ao sistema
alfabetizados. Apesar de empregar as técnicas de ensino,
alfabético de escrita, evidencia os problemas que a
sentia-se como preenchendo o tempo de aula. Não conseguia
metodologia embutida nas cartilhas (que faz uso do método da
avaliar os resultados do trabalho, nem o que deveria esperar
análise-síntese ou da palavra geradora) traz para as crianças.
das propostas que colocava em prática, sentindo-se confusa e
Por meio das pesquisas das autoras acima mencionadas, em
impotente. Situações da sala revelavam o abismo existente
uma sociedade letrada, as crianças constroem conhecimentos
entre o desempenho de seus alunos na escola e o que a vida
sobre a escrita desde muito cedo, a partir do que observam na
fora da escola exigia deles. Nesse sentido, tinha a sensação de
interação com o seu meio físico e social e das reflexões que
que a escola parecia uma armadilha montada para que esses
fazem a esse respeito. As pesquisas evidenciaram que quando
meninos não pudessem se sair bem, e também, a convicção de
as crianças ainda não se alfabetizaram, buscam uma lógica que
que esse tipo de situação tinha um papel político muito
importante que devia ser enfrentado durante toda a sua vida

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explique o que não compreendem, elaborando hipóteses de escrita, através da construção de novas teorias explicativas.
muito interessantes sobre o funcionamento da escrita. Nesses momentos, a atuação do professor é fundamental, pois
Esses estudos permitiram compreender que a metodologia a conquista de novos patamares de compreensão pelo aluno é
das cartilhas pode fazer sentido para crianças convencidas de algo que depende também das propostas didáticas e da
que para escrever uma determinada palavra, bastar uma letra intervenção que ele fizer.
para cada sílaba oral emitida (hipótese silábica), mas para Essas teorias explicativas são formas de interpretação não
aquelas que ainda cultivam ideias muito mais simples a necessariamente conscientes, mas que orientam a ação de
respeito da escrita, ou seja, que ainda não estabeleceram quem está aprendendo. Tais teorias são modificadas no
relação entre a escrita e a fala (pré-silábica), o esforço de embate com a realidade com a qual o aluno se depara a todo
demonstrar que uma sílaba, geralmente, se escreve com mais instante e especialmente quando o professor cria contextos
de uma letra não faz nenhum sentido. São essas as crianças que adequados para que isso aconteça. Para aprender, a criança
não conseguem aprender com a cartilha e que ficam repetindo passa por um processo que não tem a lógica do conhecimento
a 1ª série várias vezes, chegando a desistir da escola. final, como é visto pelos adultos.
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita e seus Do ponto de vista do referencial construtivista, nenhum
usos a partir da participação em situações nas quais os textos conceito nasce com o sujeito ou é incorporado de fora, mas
têm uma função social de fato. Frequentemente as crianças precisa ser construído através da interação do sujeito com o
mais pobres são as que têm hipóteses mais simples, pois vivem meio (físico, social, cultural); nesse processo de construção, as
poucas situações desse tipo. Para elas a oportunidade de expressões do aprendiz não têm a lógica do conhecimento
pensar e construir ideias sobre a escrita é menor do que para final, concebido pelo adulto. As pesquisas realizadas pelo
as crianças que vivem em famílias típicas de classe média ou psicólogo Jean Piaget quanto à conservação de quantidades
alta, nas quais ouvem a leitura de bons textos, ganham livros e (massa/ fichas), demonstram que para crianças com idade de
gibis, observam os adultos manusearem jornais para buscar 5/7 anos, o fato de oito fichas apresentarem-se juntas e oito
informações, recebem correspondências, fazem anotações, etc. fichas apresentarem-se espalhadas apresentam quantidades
Isso não quer dizer, que as crianças pobres não tenham acesso diferentes, simplesmente pela disposição / configuração
à escrita ou não façam reflexões sobre seu funcionamento fora dessas fichas (pensamento pré-operatório/perceptivo/
da escola, mas habitualmente tais práticas não fazem parte do irreversível). Começa com Piaget, a construção de um novo
cotidiano do seu grupo social de origem e isso faz com que o olhar sobre a aprendizagem.
início de sua escolarização se dê em condições menos Piaget desenvolveu uma teoria do conhecimento
favoráveis do que para aquelas crianças que participam de (Epistemologia e Psicologia Genética) que explica como se
práticas sociais letradas desde pequenas. avança de um conhecimento menos elaborado para um
Assim, independente do fato de que as crianças venham de conhecimento mais elaborado, ressaltando que o
uma família pobre ou não, o que importe realmente é a ação conhecimento é resultado da interação do sujeito com o meio
pedagógica do professor, e esta dependerá da sua concepção externo, que é um processo no qual o sujeito participa
de aprendizagem (todo o ensino se apoia numa concepção de ativamente, modificando o meio no qual está inserido e sendo,
aprendizagem). É possível enxergar o que o aluno já sabe a também, modificado por esse mesmo meio.
partir do que ele produz e pensar no que fazer para que Foram os estudos de Piaget que abriram a possibilidade de
aprenda mais. Nas últimas décadas muitas pesquisas pontuam se estudar a construção de conhecimentos específicos, como o
uma concepção de aprendizagem que é resultado da ação do fez Emília Ferreiro que mostrou que era possível pensar o
aprendiz. Dessa forma, a função do professor é criar condições construtivismo - o modelo geral de construção do
para que o aluno possa exercer a sua ação de aprender conhecimento, tal como formulado por Piaget e colaboradores
participando de situações que favoreçam a atividade mental, da Escola de Genebra - como a moldura de uma investigação
ou seja, o exercício intelectual. Quando o professor entende sobre a aquisição de um conhecimento particular, no caso de
que o aprendiz sempre sabe alguma coisa e pode usar esse Emília Ferreiro, o da leitura e escrita.
conhecimento para continuar aprendendo ele pode identificar A Psicogênese da Língua Escrita é um modelo psicológico
que informação é necessária para que o conhecimento do de aprendizagem específico da escrita que serve de
aluno avance. Essa percepção permite ao professor informação ao educador, porém a maneira como essas
compreender que a intuição não é mais suficiente para guiar a informações são usadas na ação educativa pode variar muito
sua prática e que ele precisa de um conhecimento que é porque nenhuma pedagogia responde apenas a um modelo
produzido no território da ciência. É preciso considerar o psicológico. O modelo geral no qual se apoia a Psicogênese da
conhecimento prévio do aprendiz e as contradições que ele Língua Escrita é de que há um processo de aquisição no qual a
enfrenta no processo. criança vai construindo hipóteses sobre a escrita, testando-as,
Em uma concepção de aprendizagem construtivista, o descartando umas e reconstruindo outras. Durante a
conhecimento é visto como produto da ação e reflexão do alfabetização, aprende-se mais do que escrever
aprendiz. Esse aprendiz é compreendido como alguém que alfabeticamente. Aprendem-se, pelo uso, as funções da escrita,
sabe algumas coisas e que, diante de novas informações que as características discursivas dos textos escritos, os gêneros
têm para ele sentido, realiza um esforço para assimilá-la, assim utilizados para escrever e muito outros conteúdos.
frente a um problema (conflito cognitivo) o aprendiz tem a O modelo de ensino atualmente relacionado ao
necessidade de superá-lo. construtivismo chama-se aprendizagem pela resolução de
O novo conhecimento aparece como aprofundamento do problemas (situações-problema). Aprender a aprender é algo
conhecimento anterior que ele já detém. É inerente à própria possível apenas a quem já aprendeu muita coisa. Para
concepção de aprendizagem que o aprendiz busque o aprender a aprender, o aprendiz precisa dominar
conhecimento prévio que ele possui sobre qualquer conteúdo. conhecimentos de diferentes naturezas, como as linguagens,
Através dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky e por exemplo. Nesse processo, a flexibilidade e a capacidade de
demais colaboradores, sabemos que a criança representa a se lançar com autonomia nos desafios da construção do
escrita de diferentes modos, como a expressão de um conhecimento são extremamente importantes, pois há todo
conhecimento sobre a escrita que precede a compreensão real um saber necessário para poder aprender a aprender; e isso só
do funcionamento do sistema alfabético. No caso da é possível para quem aprendeu muito sobre muita coisa. Deste
aprendizagem da escrita, o meio social coloca para as crianças modo, é desejável que o aprendiz saiba buscar informações
uma série de contradições e de conflitos que a forçam a buscar através do computador, porém é fundamental desenvolver a
soluções, superar as hipóteses inadequadas quanto ao sistema capacidade de estabelecer relações inteligentes entre os

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dados, as informações e os conhecimentos já construídos. que o que elas pensam tem sentido e não é fruto de sua
Nesse sentido, para ser capaz de aprender permanentemente, ignorância. O professor precisa criar um ambiente sócio-
a bagagem básica necessária atualmente é acadêmico-cultural, afetivo para que as crianças possam manifestar
em que se articulam conhecimentos de origem livremente/espontaneamente o que pensam; somente assim,
tradicionalmente escolar e aqueles relacionados aos poderá favorecer situações de aprendizagem significativas. Tal
movimentos culturais da sociedade (formação geral). ambiente deve possibilitar que as crianças pensem sobre suas
Assim, a escola tem uma tripla função: ideias. Do mesmo modo, cabe ao professor oferecer
1. levar o aluno a aprender a aprender; conflitos/situações problemas que possibilitem às crianças
2. dar-lhe os fundamentos acadêmicos e; exercitarem o pensamento, na busca de soluções possíveis.
3. equalizar as enormes diferenças no repertório de Isso requer do professor estudo e uma postura reflexiva e
conhecimentos dos aprendizes. investigativa. A psicogênese da língua escrita abriu a
possibilidade de o professor olhar para a criança e acreditar
É praticamente impossível a escola realizar sozinha essa que para aprender ela pensa, que aquilo que ela faz tem lógica
terceira função, mas sua contribuição é essencial, pois é e o que o professor não enxerga é porque não tem
preciso pensar como agir para democratizar o acesso à instrumentos suficientes para perceber o sentido que está
informação e às possibilidades e construção de conhecimento. sendo manifestado pela criança. Um casamento entre a
disponibilidade da informação externa e a possibilidade da
Capítulo 3 - O que sabe uma criança que parece não construção interna. Quando o professor não entende a
saber nada produção da criança deve-se perguntar à criança, mesmo que
não consiga entender suas explicações, uma atividade indicada
Saber o que o aluno sabe e o que ele não sabe para poder para isso é o trabalho em dupla, pois trabalhando juntas as
atuar é uma questão complexa. Esse saber não está crianças dão explicações umas às outras e, então, o professor
relacionado ao conteúdo a ser ensinado (perspectiva adulta) e poderá compreender as hipóteses das crianças.
sim ao ponto de vista do aprendiz porque é esse o Assim, é importante observar os procedimentos dos
conhecimento necessário para fazer o aluno avançar do que alunos diante de uma atividade, para que o professor possa
ele já sabe para o que não sabe. O que realmente importa são reconhecer esses procedimentos dos alunos, de modo, a saber
as construções e ideias que o aprendiz elaborou e que não quais são os menos e os mais avançados e que raciocínio os
foram ensinadas pelo professor e, sim, construídas pelo alunos mais avançados então realizando. O trabalho em grupo
aprendiz. Quando uma criança escreve fazendo uso de uma permite que as crianças observem os procedimentos de
concepção silábica de escrita, por exemplo, essa 'escrita' não é atuação de seus colegas, inclusive daqueles que utilizam
reconhecida como um saber, pois do ponto de vista de como se procedimentos de resolução de problemas mais avançados. Ao
escreve em português, essa escrita não existe. Mas, para perceberem a possibilidade de diferentes formas de execução,
chegar a escrever em português (escrita alfabética), o aprendiz reconhecem o procedimento do colega como mais produtivo e
precisa passar por uma concepção de escrita desse tipo econômico, construindo, assim, a lógica necessária para poder
(silábica), imaginando que quando se escreve representa-se as aprender (a criança aprendeu com outra que sabe mais).
emissões sonoras que ele consegue reconhecer (a sílaba), Tem-se, assim, de um delicado casamento entre a
isolando-as pela via da audição. disponibilidade da informação externa e a possibilidade da
Tal conhecimento é importante e o professor deve construção interna - construtivismo: um modelo explicativo da
reconhecê-lo na aprendizagem da escrita. Caso contrário aprendizagem que considera, ao mesmo tempo, as
contribuirá muito pouco com os avanços do aluno em relação possibilidades do sujeito e as condições do meio. Cabe ao
à escrita e, se a criança aprender a ler, provavelmente, será por professor tomar decisões importantes, seja na formação das
conta própria. parcerias entre alunos, seja nas questões que ele mesmo
Um olhar cuidadoso sobre o que a criança errou pode ajudar o propõe no desenrolar da atividade.
professor a descobrir o que ela tentou fazer. Somente um olhar Todas as crianças sabem muitas coisas, só que umas sabem
cuidadoso e despojado do professor sobre a produção do coisas diferentes das outras.
aprendiz (quanto ao saber não reconhecido), permitir-lhe-á As crianças são provenientes de culturas diferentes e isso
descobrir o que pensa esse aprendiz, possibilitando-lhe contribui para que saibam coisas diferentes, por isso é
levantar questões e perguntas sobre tal produção. Ao importante que o professor tenha claro que as crianças
desconsiderar o esforço do seu aluno, dizendo-lhe que sua provenientes de um nível cultural valorizado pela escola
produção não está correta, acaba desvalorizando sua tentativa apresentam enormes vantagens em relação às outras crianças.
e esforço e, consequentemente, o aluno vai pensar duas vezes Para tais crianças a escola será muito mais fácil, porque está
antes de produzir de novo. O conhecimento se constrói por em consonância com a cultura da família e do seu ambiente.
caminhos diferentes daqueles que o ensino supõe. Isso Por outro lado, as crianças provenientes de ambientes onde as
acontece no processo de aquisição da escrita, na construção pessoas possuem menor grau de escolaridade e distantes dos
dos conceitos matemáticos e na aprendizagem de qualquer usos cotidianos dos conteúdos que a escola valoriza
outro conteúdo e mesmo quando os alunos estão submetidos encontrarão dificuldades.
a um tipo de ensino convencional, pois o que impulsiona a Assim, a equalização das oportunidades de aprendizagem
criança é o esforço para acreditar que atrás das coisas que ela dessas crianças deve ser uma tarefa da escola que deve
tem de aprender existe uma lógica. Se o professor não sabe repensar sua própria prática, de modo a não prejudicar o
nada sobre o que o aluno pensa ou conhece a respeito do sucesso escolar desses alunos. (...) "É preciso, pois, educar o
conteúdo que quer que ele aprenda, o ensino que ele oferece olhar para enxergar o que sabem as crianças que
não tem com quem dialogar. Conhecimentos prévios dos aparentemente não sabem nada".(p, 49)
alunos não deve ser confundido com conteúdo já ensinado A equalização de oportunidades de aprendizagem não
pelo professor. significa uma pedagogia compensatória. É preciso socializar os
Na perspectiva construtivista - de resolução de problemas conteúdos pertencentes ao mundo da cultura: literatura,
- o professor não pode considerar como sinônimos o que o ciência, arte, informação tecnológica, etc., pois isso é uma
aluno já sabe e o que lhe foi ensinado, pois não são questão de inserção social e, portanto, direito de todas as
necessariamente a mesma coisa. Para que isso não aconteça, é crianças. A escola não pode ser instrumento de exclusão social.
preciso que o professor desenvolva uma sensibilidade e uma Todo professor deve levar todos os seus alunos a participarem
escuta atenta para a reflexão que as crianças fazem, supondo da cultura.

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O termo cultura é utilizado não em seu sentido coerência e coesão). Como a metodologia de ensino expressa
antropológico e sim no do senso comum: a cultura erudita e a nas cartilhas concebe os caminhos pelas quais a aprendizagem
de larga difusão, mas produzida para e pela elite. acontece. Na concepção empirista, o conhecimento está 'fora'
Todos os professores, principalmente, aqueles das classes do sujeito (a fonte do conhecimento é externa ao sujeito - é o
iniciais que quiserem contribuir para que todos os alunos de meio físico e social) e, é interiorizado através dos sentidos,
sua classe tenham a mesma oportunidade de aprender, devem ativado pela ação física e perceptual.
estimulá-los a participar da cultura. É papel do professor ler O sujeito é concebido como uma tábula rasa – ‘vazio’ na sua
diferentes tipos de assuntos/textos (usar o jornal e outras origem, sendo 'preenchido' pelas experiências que tem com o
fontes de informação e de pesquisa) em classe e levar as mundo (conceito de 'educação bancária' criticada por Paulo
crianças para exposições de artistas importantes. É preciso Freire). O aprendiz é alguém que vai juntando informações. O
oferecer às crianças a oportunidade de navegar na cultura, na processo de ensino fundamentado nessa teoria caracteriza-se
Internet, na arte, em todas as áreas do conhecimento, em todas pela: cópia, ditado, memorização pura e simples, utilização da
as linguagens, em todas as possibilidades. memória de curto prazo para reconhecimentos das famílias
Um exemplo de alguém que sabia como tratar as crianças silábicas, leitura mecânica para posterior leitura
era Monteiro Lobato que escrevia livros contando coisas da compreensiva. Para mudar é preciso reconstruir toda a prática
Antiguidade, falando de astronomia, da história do mundo. a partir de um novo paradigma teórico. Em uma concepção
Porém, o que normalmente se oferece para as crianças lerem construtivista, o conhecimento não é concebido como cópia do
são histórias empobrecidas, versões resumidas e textos com real, incorporado diretamente pelo sujeito. A teoria
supressões. Não é possível formular receitas prontas para construtivista pressupõe uma atividade, por parte do
serem aplicadas a qualquer grupo de alunos. Nos anos 1970, aprendiz, que organiza e integra os novos conhecimentos aos
uma visão de escola como linha de montagem, denominada de já existentes. Isso acontece com alunos e professores em
tecnicista, voltada para criar máquinas de ensinar, métodos de processo de transformação.
ensino, sequências de passos programados, dominava a Uma preocupação, bastante pertinente, diz respeito ao fato
concepção de ensino e aprendizagem. No Brasil, esse modelo do professor querer inovar a sua prática, adotando um modelo
chamava-se ensino programado. A função do professor, nesse de construção de conhecimento sem compreender,
modelo, era simplesmente, a de administrar o ensino suficientemente, as questões que lhe dão sustentação,
programado e foi, justamente, esse modelo o responsável por correndo o risco de se deslocar de um modelo que lhe é
uma exigência cada vez mais baixa de qualificação dos familiar para o outro meio conhecido, mesclando teorias, como
professores. se costuma afirmar. Outra preocupação diz respeito ao
O ensino programado permitia o que se chamava de entendimento destorcido por parte de professores, que
'ensino na medida do estudante', que embora considerasse os acreditando ser o sujeito sozinho quem constrói o
vários ritmos de aprendizagem da criança, todos aprendiam, conhecimento, veem a intervenção pedagógica como
pois, seguindo os passos programados chegariam todos, de desnecessária. Tais concepções não fazem nenhum sentido
alguma forma, ao final. O papel do professor dentro de uma num modelo construtivista. Conteúdos escolares são objetos
proposta construtivista é bem diferente deste proposto pelo de conhecimento complexos, que devem ser dados a conhecer,
modelo tecnicista. Cabe ao professor construir conhecimentos aos alunos, por inteiro.
de diferentes naturezas, que lhe permitam ter claros os seus Para o referencial construtivista, a aprendizagem da
objetivos, assim como selecionar conteúdos adequados, leitura e da escrita é complexa e, portanto, deve ser
enxergando na produção de seus alunos o que eles já sabem e apresentada / oferecida por inteiro ao aprendiz e de forma
construindo estratégias que os levem a conquistar novos funcional. Para os construtivistas, o aprendiz é um sujeito,
patamares de conhecimento. Não há receitas prontas a serem protagonista do seu próprio processo de aprendizagem,
aplicadas a grupos de alunos, uma vez que, a prática alguém que vai produzir a transformação, convertendo
pedagógica é complexa e contextualizada. O professor precisa informação em conhecimento próprio. Essa construção pelo
ser alguém com autonomia intelectual. aprendiz não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de
situações nas quais age sobre o que é o objeto do seu
Capítulo 4 - As ideias, concepções e teorias que conhecimento, pensa sobre ele, recebendo ajuda, sendo
sustentam a prática de qualquer professor, mesmo quando desafiado a refletir, interagindo com outras pessoas. A
ele não tem consciência delas. diferença entre o modelo empirista e o modelo construtivista
é que no primeiro a informação é introjetada ou não; enquanto
A prática pedagógica do professor é sempre orientada por que no segundo, o aprendiz tem de transformar a informação
um conjunto de ideias, concepções e teorias, mesmo que nem para poder assimilá-la. Isso resulta em práticas pedagógicas
sempre tenha consciência disso. Para que possamos muito diferentes. Afirmar que o conhecimento prévio é a base
compreender a ação do professor, é preciso verificar de que da aprendizagem não é defender pré-requisitos.
forma seus atos expressam sua concepção sobre: No modelo construtivista, o conhecimento não é gerado do
- o conteúdo que ele espera que o aluno aprenda; nada, é uma permanente transformação a partir do
- o processo de aprendizagem (os caminhos pelo quais a conhecimento que já existe. Essa afirmação de que
aprendizagem acontece); conhecimentos prévios constituem a base de novas
- como deve ser o ensino. aprendizagens não significa a crença ou a defesa de pré-
requisitos e muito menos significa matéria ensinada
Historicamente, a teoria empirista é a teoria que mais vem anteriormente pelo professor.
impregnando as representações sobre o que é ensinar, quem é Não informar nem corrigir significa abandonar o aluno à
o aluno, como ele aprende e o que e como se deve ensinar própria sorte. A crença espontaneísta de que o aluno constrói
(modelo de ensino e aprendizagem conhecido como estímulo- o conhecimento, não sendo necessário ensinar-lhe, faz com
resposta). Essa teoria define a aprendizagem como 'a que o professor passe a não informar, a não corrigir e a se
substituição de respostas erradas por respostas certas', satisfazer com que o aluno faz ' do seu jeito'; isso significa
partindo da concepção de que o aluno precisa memorizar e abandonar o aluno à sua própria sorte. Cabe ao professor
fixar informações, as mais simples e parciais possíveis e ir organizar a situação de aprendizagem de forma a oferecer
acumulando com o tempo. A cartilha está fundamentada nesse informação adequada. A função do professor é observar a ação
modelo (palavras-chaves, famílias silábicas usadas da criança, acolher ou problematizar / desestabilizar suas
exaustivamente, frases desconectadas, textos com mínimo de produções, intervindo sempre que achar que pode contribuir

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para que a concepção da criança sobre o objeto de cooperação, a solidariedade, o respeito e o tutoramento (um
conhecimento avance. É papel do professor apoiar a aluno ajudando o outro) em sala de aula.
construção do conhecimento pelo aprendiz. A interação entre os alunos é necessária não somente
porque o intercâmbio é condição para o convívio social na
Capítulo 5 - Como fazer o conhecimento do aluno escola, mas, também, porque informa a todos os envolvidos e
avançar. potencializa quase infinitamente a aprendizagem. O conteúdo
trabalhado deve manter suas características de objeto
O processo de ensino deve dialogar com o de sociocultural real. O ensino da língua portuguesa está cheio de
aprendizagem. Isso mostra que não é o processo de criações escolares que em nada coincidem com as práticas
aprendizagem (aluno) que deve se adaptar ao processo de sociais de uso da língua, objeto de ensino na escola, baseadas
ensino (professor), mas, sim, o processo de ensino que deve se no senso comum. Isso não acontece somente no ensino da
adaptar ao processo de aprendizagem. língua portuguesa, mas em todas as outras áreas. Na escola,
Para tanto, o professor precisa compreender o caminho de por exemplo, aprende-se a linguagem matemática escrita, que
aprendizagem que o aluno está percorrendo naquele é pouco usada na rua. Porém, não se pode deixar de lado esta
momento e, a partir disso, identificar as informações e competência que o aluno já traz desenvolvida (devido a sua
atividades que permitirão ao aluno avançar do patamar de vivência de 'rua') e sobrepor a escolarização a ela.
conhecimento que conquistou para outro que é mais Quando se trata de ciência ou prática social convertida em
avançado. Para isso, é preciso que o professor organize objeto de ensino, estas acabam por sofrer modificações. A arte
situações de aprendizagem: atividades planejadas (propostas é diferente na Educação Artística, o esporte é diferente da
e dirigidas) com a intenção de favorecer a ação do aprendiz Educação Física, a linguagem é diferente do ensino de Língua
sobre um determinado objeto de conhecimento, sendo que Portuguesa, a ciência é diferente do ensino de Ciências. Porém,
essa ação está na origem de toda e qualquer aprendizagem. não se pode criar invenções pretensamente facilitadoras que
Tais atividades devem reunir algumas condições e acabem tendo existência própria. É papel da escola garantir a
respeitar alguns princípios: aproximação máxima entre o use social do conhecimento e a
- os alunos devem por em jogo tudo que sabem e pensam forma de tratá-lo didaticamente.
sobre o conteúdo que se quer ensinar;
- devem ter problemas a resolver e decisões a tomar em Capítulo 6 - Quando corrigir, quando não corrigir.
função do que se propõe produzir;
- a organização da tarefa pelo professor deve garantir a O professor desenvolve dois tipos de ação pedagógica:
máxima circulação de informação possível; planejamento e intervenção, uma intervenção clássica é a
- o conteúdo trabalhado deve manter suas características correção que não é a única intervenção possível, nem a mais
de objeto sociocultural real, sem se transformar em objeto importante, porém é a que mais tem preocupado os
escolar vazio de significado social. professores. Numa concepção construtivista de aprendizagem,
a função da intervenção é atuar de modo que os alunos
Alunos põem em jogo tudo que sabem, têm problemas a transformem seus esquemas interpretativos em outros que
resolver e decisões a tomar: deem conta de questões mais complexas que as anteriores. A
O aprendiz precisa testar suas hipóteses e enfrentar correção é algo relacionado a qualquer situação de
contradições, seja entre as próprias hipóteses, seja entre o que aprendizagem, o que varia é como ela é compreendida pelo
consegue produzir sozinho e a produção de seus pares ou professor.
entre o que pode produzir e o resultado tido como A tradição escolar normalmente vê a correção realizada
convencionalmente correto. Partindo-se de uma proposta longe dos alunos na qual os erros são assinalados para que os
construtivista, o conhecimento só avança quando o aluno tem alunos corrijam, como a mais importante (concepção
bons problemas sobre os quais pensar. Para isso, o professor empirista - exigente com a transmissão). Quando se trata de
deve criar boas situações de aprendizagem para os alunos, uma redação, o texto tem que ser passado a limpo, corrigido -
atividades que representem possibilidades difíceis, porém o erro poderá ficar fixado na memória do aluno (concepção
dificuldades possíveis de serem resolvidas. que supõe a percepção e a memória como núcleos na
A escola precisa autorizar e incentivar o aluno a acionar aprendizagem). Outra visão de correção é a informativa que
seus conhecimentos de experiências anteriores, fazendo uso carrega a ideia de que a correção deve informar o aluno e ser
deles nas atividades escolares; é preciso criar atividades para feita dentro da situação de aprendizagem (concepção de erro
que isso seja de fato requisitado, sendo útil para qualquer área construtivo - que faz parte do processo de aprendizagem de
de conhecimento. A organização da tarefa garante a máxima qualquer pessoa).
circulação de informação possível. Os erros devem ser corrigidos no momento certo. Que nem
Os livros e demais materiais escritos, a intervenção do sempre é o momento em que foram corrigidos. A ideia do erro
professor, a observação de um colega na resolução de um construtivo fascinou muitos educadores, que começaram a ver
problema, as dúvidas, as dificuldades, o próprio objeto de de outra forma os textos escritos dentro de um sistema silábico
conhecimento que o aluno se esforça para aprender são e mesmo os de escrita alfabética. Porém, depois que a criança
situações que informam. compreendeu o sistema alfabético de escrita é necessário que
Por isso, é importante que se garanta a máxima circulação o professor intervenha na questão ortográfica, considerando a
de informação possível na classe e o ambiente escolar deve melhor forma de fazer isso. O que deve ser repensado é a
permitir que as perguntas e as respostas circulem. Nesse concepção tradicional de correção. Os alunos sabem o que
processo, as informações que chegam até o aprendiz precisam achamos importantes que eles aprendam, mesmo que não
ser trabalhadas ou interpretadas por ele de acordo com que falemos nada. Muitos professores, por não quererem bloquear
lhe é possível naquele momento. O professor precisa estar a criatividade do aluno, acabam deixando que ele escreva de
ciente de que o conhecimento avança quando o aprendiz se qualquer jeito. Tal procedimento acaba consolidando um
defronta com situações-problema nas quais não havia pensado contrato didático implícito, pois de alguma forma o aluno
anteriormente. Situações significativas de aprendizagem em percebe que o professor não valoriza esse tipo de
sala de aula acontecem quando o professor abre mão de ser o conhecimento e acaba por desvalorizá-lo investindo nessas
único informante e quando o clima sócio afetivo se baseia no aprendizagens. É importante que o professor tenha claro que
respeito mútuo e não no autoritarismo. É preciso incentivar a depois de um tempo de escolaridade, são inaceitáveis.

Conhecimentos Pedagógicos 69
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Capítulo 7 – A necessidade e os bons usos da avaliação. Como encaminhamento para o modelo, utiliza-se de uma
perspectiva processual, onde as fases de planejamento,
No que diz respeito à avaliação, é preciso ter claro o que o aplicação e avaliação, devem assegurar um sentido integral às
aluno já sabe no momento em que lhe é apresentado um variáveis metodológicas que caracterizam as unidades de
conteúdo novo. O conhecimento prévio é o conjunto de ideias, intervenção pedagógica. Também as condicionantes do
representações e informações que servem de sustentação para contexto educativo, como as pressões sociais, a trajetória
a nova aprendizagem, ainda que não tenham, profissional dos professores, entre outras, assumem uma
necessariamente, uma relação direta com o conteúdo que se posição de relevância.
quer ensinar. É importante investigar e explorar essas ideias e
representações prévias porque permite saber de onde vai A função social do ensino e a concepção sobre os
partir a aprendizagem que se quer que aconteça. Conhecer processos de aprendizagem: instrumentos de análise
essas ideias e representações prévias ajuda muito na hora de
construir uma situação na qual o aluno terá de usar o que já A finalidade da escola é promover a formação integral dos
sabe para aprender o que ainda não sabe. alunos, segundo Zabala, que critica as ênfases atribuídas ao
Após esta avaliação inicial, relacionada aos conhecimentos aspecto cognitivo. Para ele, é na instituição escolar, através das
prévios, é preciso que o professor utilize um ou outro relações construídas a partir das experiências vividas, que se
instrumento para verificar como os alunos estão progredindo, estabelecem os vínculos e as condições que definem as
pois o conhecimento não é construído igualmente, ao mesmo concepções pessoais sobre si e os demais. A partir dessa
tempo e da mesma forma por todos. Esse instrumento é a posição ideológica acerca da finalidade da educação
avaliação de percurso - formativa ou processual - feita durante escolarizada, é conclamada a necessidade de uma reflexão
o processo de aprendizagem. Esse procedimento permitirá ao profunda e permanente da condição de cidadania dos alunos,
professor avaliar se o trabalho que está desenvolvendo com os e da sociedade em que vivem.
alunos está sendo produtivo e se os alunos estão aprendendo Sobre os conteúdos da aprendizagem, seus significados são
com as situações didáticas propostas. ampliados para além da questão do que ensinar, encontrando
A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do sentido na indagação sobre por que ensinar. Deste modo,
trabalho do professor. acabam por envolver os objetivos educacionais, definindo suas
Quando se avalia a aprendizagem do aluno, também se ações no âmbito concreto do ambiente de aula. Esses
avalia a intervenção do professor, pois o ensino deve ser conteúdos assumem o papel de envolver todas as dimensões
planejado e replanejado em função das aprendizagens da pessoa, caracterizando as seguintes tipologias de
conquistadas ou não. Assim, é importante a organização de aprendizagem: factual e conceitual (o que se deve aprender?);
espaços coletivos de discussão do trabalho pedagógico na procedimental (o que se deve fazer?); e atitudinal (como se
escola, valorizando-se a prática de observação de aula pelo deve ser?). Para a Educação Escolar, essa caracterização dos
coordenador ou orientador pedagógico - ou mesmo por um conteúdos parece apontar avanços, na medida em que chama
colega que ajude a olhar de fora. O professor está sempre tão atenção para a dimensão conceitual, bem como, operacionaliza
envolvido que, às vezes, não lhe é possível enxergar o que salta o antigo conceito denominado afetivo (atitudinal),
aos olhos de um observador externo. tradicionalmente desenvolvido em nossa área de maneira
Se a maioria da classe vai bem e alguns não, estes devem espontaneísta.
receber ajuda pedagógica. Quando, numa verificação de Sobre a concepção de aprendizagem, o autor afirma que
aprendizagem, grande parte dos alunos apresenta não é possível ensinarmos sem nos determos nas referências
dificuldades, é certo que o professor precisa rever o seu de como os alunos aprendem, chamando a atenção para as
encaminhamento. Porém, quando a verificação aponta que particularidades dos processos de aprendizagem de cada
alguns alunos não estão bem, estes devem ser atendidos aluno (diversidade). O construtivismo é eleito como concepção
imediatamente através de outras atividades que possibilitem metodológica em virtude da validação empírica de uma série
a superação das dificuldades. de princípios psicopedagógicos: os esquemas de
A escola deve estar comprometida com a aprendizagem de conhecimento; o nível de desenvolvimento e dos
todos e, dessa forma, criar um sistema de apoio para que os conhecimentos prévios, e a aprendizagem significativa.
alunos não se percam no caminho. As dificuldades precisam Baseada nessa concepção, a aprendizagem dos conteúdos
ser detectadas rapidamente para que sejam sanadas e apresenta características específicas para cada tipologia.
continuem progredindo, não desenvolvendo bloqueios. Tais
crianças precisam ser atendidas por meio de realização de As sequências didáticas e as sequências de conteúdo
atividades diferenciadas durante a aula, trabalho conjunto
com colegas que possam ajudá-los e intervenções. Zabala explicita que a ordenação articulada das atividades
seria o elemento diferenciador das metodologias, e que o
primeiro aspecto característico de um método seria o tipo de
ZABALA, Antoni. A prática ordem em que se propõem as atividades. Ressalta que o
parcelamento da prática educativa tem certo grau de
educativa: como ensinar. artificialidade, explicável pela dificuldade em encontrar um
Porto Alegre: ArtMed, 1998; sistema interpretativo adequado, que deveria permitir o
estudo conjunto de todas as variáveis incidentes nos processos
educativos.
A sequência considera a importância das intenções
Buscar a competência em seu ofício é característica de
educacionais na definição dos conteúdos de aprendizagem e o
qualquer bom profissional. Zabala elabora um modelo que
papel das atividades que são propostas. Alguns critérios para
seria capaz de trazer subsídios para a análise da prática
análise das sequências reportam que os conteúdos de
profissional. Como opção, utiliza-se do modelo de
aprendizagem agem explicitando as intenções educativas,
interpretação, que se contrapõe àquele em que o professor é
podendo abranger as dimensões: conceituais; procedimentais;
um aplicador de fórmulas herdadas da tradição,
conceituais e procedimentais; ou conceituais, procedimentais
fundamentando-se no pensamento prático e na capacidade
e atitudinais. Certos questionamentos pareceram-nos
reflexiva do docente. Recomenda-se, assim, uma constante
relevantes:
avaliação do trabalho por parte do profissional.

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- Na sequência há atividades que nos permitam determinar trabalhado na escola e o sistema social, ou o que é veiculado
os conhecimentos prévios?; pela mídia.
- Atividades cujos conteúdos sejam propostos de forma Parece que na Educação Escolar, por conta da sua
significativa e funcional?; especificidade, ainda faltam reflexões e discussões por parte
- Atividades em que possamos inferir sua adequação ao dos professores e estudiosos da área9. Contudo, em relação ao
nível de desenvolvimento de cada aluno?; modelo militar vigente anteriormente já houve certos avanços
- Atividades que representem um desafio alcançável?; consideráveis no processo das relações interativas.
- Provoquem um conflito cognitivo e promovam a
atividade mental?; A organização social da classe
- Sejam motivadoras em relação à aprendizagem dos novos
conteúdos?; Antoni Zabala procurou analisar as diferentes formas de
- Estimulem a auto-estima e o auto-conceito?; organização social dos alunos vivenciadas na escola e sua
- Ajudem o aluno a adquirir habilidades relacionadas com relação com o processo de aprendizagem. Observou duas
o aprender a aprender, sendo cada vez mais autônomo em suas características pelas quais esses grupos são tradicionalmente
aprendizagens? organizados: a heterogeneidade e a homogeneidade,
procurando discutir as vantagens e as desvantagens de cada
Em relação às questões, convém expor sua relevância para opção e os tipos de conteúdos que elas desenvolvem
a Educação Escolar no nosso entendimento, salientando que o prioritariamente. Percebeu que todo tipo de organização
conflito mental proposto pode ser também de ordem motora – grupal dos alunos, assim como todas as atividades a serem
de modo integrado, ao contrário de uma conotação dual que a programadas/desenvolvidas pela escola e a própria forma de
pergunta do autor permite supor. Consideramos também uma gestão que esta emprega, devem levar em consideração os
outra unidade de análise, as sequências de conteúdo, que tipos de aprendizagens que estão proporcionando a seus
requer uma interação entre as três dimensões, com ênfase na alunos e os objetivos expressos pela própria escola. Desse
conceitual, bem como um aumento da complexidade e modo, alertou para o fato de que inconscientemente a
aprofundamento ao longo das unidades. instituição escolar, ao não refletir sobre esses aspectos, pode
acabar por desenvolver uma aprendizagem inversa àquilo que
As relações interativas em sala de aula: o papel dos apregoa.
professores e dos alunos Tais considerações apresentam-se bastante úteis aos
profissionais da educação, para que reflitam sobre a
O autor expõe o valor das relações que se estabelecem importância de se organizar o grupo de alunos, levando em
entre os professores, os alunos e os conteúdos no processo consideração o tipo de aprendizagem e conteúdo que esperam
ensino e aprendizagem. Comenta que essas se sobrepõem às desenvolver nestes, percebendo que a organização social da
sequências didáticas, visto que o professor e os alunos classe tem relação direta com a aprendizagem. O mesmo se
possuem certo grau de participação nesse processo, diferente aplica à Educação Física que parece não ter atentado, ainda,
do ensino tradicional, caracterizado pela para a importância de se organizar o grupo de alunos de
transmissão/recepção e reprodução de conhecimentos. diferentes maneiras durante as aulas, para que eles consigam
Examina, dentro da concepção construtivista, a natureza dos aprender os diversos conteúdos.
diferentes conteúdos, o papel dos professores e dos alunos,
bem como a relação entre eles no processo, colocando que o A Organização dos Conteúdos
professor necessita diversificar as estratégias, propor
desafios, comparar, dirigir e estar atento à diversidade dos São analisadas as relações e a forma de vincular os
alunos, o que significa estabelecer uma interação direta com diferentes conteúdos de aprendizagem. Ao longo da história,
eles. os conhecimentos foram alocados em disciplinas, em uma
O professor possui uma série de funções nessas relações lógica da organização curricular. Contudo, nos últimos anos é
interativas: o planejamento e a plasticidade na aplicação desse cada vez mais comum encontrarmos propostas que rompem
plano, o que permite uma adaptação às necessidades dos com a organização por unidades centradas exclusivamente em
alunos; levar em conta as contribuições dos alunos no início e disciplinas; o autor denominou tais métodos de
durante as atividades; auxiliá-los a encontrar sentido no que globalizadores. Ele defende a organização dos conteúdos
fazem, comunicando objetivos, levando-os a enxergar os nesses métodos, pois os conteúdos de aprendizagem só podem
processos e o que se espera deles; estabelecer metas ser considerados relevantes na medida em que desenvolvam
alcançáveis; oferecer ajuda adequada no processo de nos alunos a capacidade para compreender uma realidade que
construção do aluno; promover o estabelecimento de relações se manifesta globalmente. No tocante aos métodos
com o novo conteúdo apresentado, e exigir dos alunos análise, globalizadores, o autor descreve as possibilidades dos centros
síntese e avaliação do trabalho; estabelecer um ambiente e de interesse de Decroly, os métodos de projetos de Kilpatrick,
relações que facilitem a autoestima e o autoconceito; o estudo do meio, e os projetos de trabalhos globais.
promover canais de comunicação entre professor/aluno, No nosso entendimento, a temática de organização dos
aluno/aluno; potencializar a autonomia, possibilitando a conteúdos de aprendizagem não poderia ser mais atual e
metacognição; avaliar o aluno conforme sua capacidade e significativa para a educação brasileira de maneira geral. Os
esforço. PCNs, nos seus documentos do Ensino Fundamental, dão um
Em seguida, aborda a influência dos tipos dos conteúdos papel de destaque para os temas transversais. Daí a
procedimentais e atitudinais na estruturação das interações importância da compreensão do significado da
educativas na aula. Nos procedimentais, o professor necessita transversalidade. Por outro lado, as DCNs do Ensino Médio
perceber e criar condições adequadas às necessidades referenciam como princípio básico para este nível a
específicas de cada aluno; nos atitudinais, é preciso articular interdisciplinaridade. Portanto, o conhecimento sobre as
ações formativas, não bastando propor debates e reflexões novas formas de organização é necessário para a compreensão
sobre comportamento cooperativo, tolerância, justiça, e reflexão destes documentos, e para o encaminhamento de
respeito mútuo etc.; é preciso viver o clima de solidariedade, novas propostas de ensino.
tolerância.... E trabalhar conteúdos atitudinais é muito difícil,
envolvendo em primeiro lugar a contradição entre o que é

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Os materiais curriculares e outros recursos didáticos A prática educativa parece ter inúmeras facetas, algumas
contempladas por essa obra de Antoni Zabala. Contudo,
Materiais curriculares são os instrumentos que generalizações do trabalho docente podem incorrer em
proporcionam referências e critérios para tomar decisões: no engodos, pela superficialidade referente ao contexto de
planejamento, na intervenção direta no processo de atuação de cada professor. Quanto às especificidades
ensino/aprendizagem e em sua avaliação. São meios que contextuais, as considerações do autor pareceram superar
ajudam os professores a responder aos problemas concretos essa limitação, pois a obra tratou de princípios. Não obstante,
que as diferentes fases dos processos de planejamento, ponderamos a prática educativa, mesmo que o autor tenha se
execução e avaliação lhes apresentam. Na relação entre os reportado à prática docente genérica. Essa ampliação do
materiais curriculares e a dimensão dos conteúdos, temos: universo de análise ocasionou extrapolações que vão ao
para os conteúdos conceituais, quadro negro, audiovisuais e encontro de expectativas apontadas na área de Educação.
livros didáticos; para os conteúdos procedimentais, textos, Tais inferências abrangeram: problematização das
dados estatísticos, revistas, jornais; para os conteúdos vivências, inclusão dos alunos, organização das condições de
atitudinais, vídeos e textos que estimulem o debate. Todos os ensino e aprofundamento significativo e integral dos
materiais curriculares utilizados por professores e alunos são conteúdos nas três dimensões. Essa indissociação dos
veiculadores de mensagens e atuam como transmissores de conteúdos parece ser o ponto central para o trabalho dos
determinadas visões da sociedade, da história e da cultura, professores, relacionado com a obra resenhada.
devendo ser analisados a sua dependência ideológica e o
modelo de aula a que induzem..
Realiza-se uma severa crítica à forma como habitualmente VILLAS BOAS, Benigna Maria de
é compreendida a avaliação. A pergunta inicial “por que temos
que avaliar”, necessária para que se entenda qual deve ser o
Freitas (org.). Avaliação
objeto e o sujeito da avaliação, demora um pouco a ser formativa: Práticas inovadoras.
respondida. A proposta elimina a ideia da avaliação apenas do Campinas, SP: Papirus, 2011;
aluno como sujeito que aprende e propõe também uma
avaliação de como o professor ensina. Elabora a ideia de que
devemos realizar uma avaliação que seja inicial, reguladora
O texto analisa a importância da avaliação formativa no
(prefere esse termo ao invés de formativa, por entender que
processo de formação de professores, para que, como
explica melhor as características de adaptação e adequação, ou
consequência, ela seja praticada em escolas de todos os níveis.
seja, é capaz de acompanhar o progresso do ensino), final e
Apresenta-se o entendimento de processo de formação de
integradora. Esta divisão é empregada como necessária para
professores, de cursos de formação de professores, e de
se continuar fazendo o que se faz, ou o que se deve fazer de
avaliação formativa. Analisam-se as características da
novo, o que é mais uma justificativa para a avaliação, o por quê
avaliação formativa e de três dos seus componentes essenciais.
avaliar.
Conclui-se que: a) os professores aprendem a avaliar enquanto
Em o que avaliar propõe a avaliação de fatos, conceitos,
se formam, o que justifica a prática da avaliação formativa em
procedimentos e atitudes, chegando a justificar a prova escrita
todos os níveis escolares; b) o feedback é elemento-chave na
para fatos e conceitos, seja-a do tipo mais rápido ou exaustivo.
avaliação formativa; c) a vivência do feedback que se
Uma nota importante diz respeito à observação de que os
transforma em automonitoramento, da avaliação informal
conceitos podem ser mais bem avaliados quando a expressão
encorajadora e complementadora da avaliação formal e da
verbal é possível, e não apenas a escrita, da mesma forma que
autoavaliação que dá responsabilidade ao aluno contribui para
vê nas pessoas a necessidade de uma expressão de gestos,
o desenvolvimento da autonomia intelectual de alunos e
citando o exemplo do uso das mãos que os indivíduos fazem
professores. Com esse entendimento, a avaliação cumpre sua
para explicar melhor esses conceitos. Esclarece que os
vocação de promover aprendizagem duradoura.
procedimentos só podem ser avaliados enquanto um saber
fazer, propondo uma avaliação sistemática em situações
Dados recentes do Ministério da Educação informam que
naturais ou artificialmente criadas.
91% dos estudantes brasileiros terminam a educação
Afirma que os conteúdos atitudinais implicam na
fundamental abaixo do nível desejável de aprendizagem,
observação das atitudes em diferentes situações e levanta a
apresentando dificuldades para reter ou compreender textos
possibilidade das pessoas não darem o devido valor às
básicos. Em 2004, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
atitudes enquanto um conteúdo, pelo fato das mesmas não
Educacionais Anísio Teixeira – INEP – divulgou dados da
poderem ser quantificadas. Utiliza a metáfora do médico que
avaliação realizada em 2003 pelo Sistema Nacional de
não possui instrumentos para medir dor, enjoo ou estresse e,
Avaliação da Educação Básica (Saeb), associando o perfil dos
nem por isso deixa de diagnosticar e medicar. Neste ponto,
alunos da 4ª série do ensino fundamental ao seu desempenho,
pode-se fazer uma transposição dos objetivos referentes à
os quais são resumidamente apresentados a seguir.
avaliação de conceitos, procedimentos e atitudes. Também
Morar em cidades com menos de 200 mil habitantes, na
para esta área é mais fácil a utilização de avaliações sobre
Região Nordeste, trabalhar, ter sido reprovado na escola e ter
conceitos e procedimentos do que sobre as atitudes, mas a
pais com baixa escolaridade foram características encontradas
observação continua a ser a forma preferida de avaliação para
em maior grau entre os estudantes que estavam no estágio
atitudes e procedimentos. Acredita que esta deva ser
muito crítico de conhecimento em Língua Portuguesa. Os
compartilhada e não tratada como uma filosofia do engano ou
alunos das escolas municipais eram os que apresentavam pior
do caçador e da caça. Para isto ela precisa ser vista como
desempenho: 22,8% estavam no estágio muito crítico de
pertencente a um clima de cooperação e cumplicidade entre
desempenho em Língua Portuguesa. Os municípios
professores e alunos. Por último, deixa dúvidas sobre se as
concentravam 66% dos 18,9 milhões de alunos de 1ª a 4ª série
notas ou classificações deveriam ser totalmente públicas, da
do ensino fundamental, de acordo com dados do Censo Escolar
forma como é atualmente, pois entende que isto esbarra em
(INEP, 2004).
uma dimensão ética, ou seja, além da dimensão pública existe
A reprovação, o abandono da escola e o consequente atraso
uma privada e íntima que precisa ser respeitada. Duvida o
escolar dos estudantes também incidiam negativamente no
autor dos efeitos estimulantes desta divulgação da forma como
desempenho. Entre os alunos reprovados pelo menos uma vez,
é feita.
32% se situavam no pior patamar de desempenho do Saeb e,
entre aqueles que não foram reprovados, 12,4% se situavam

Conhecimentos Pedagógicos 72
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no patamar mais baixo. Do total de alunos que declararam ter elementos diretamente relacionados à avaliação, no seu
abandonado a escola pelo menos uma vez, 32,6% estavam no sentido mais amplo: reprovação, pais e mães com baixa
estágio muito crítico; dentre aqueles que não deixaram a escolaridade, abandono da escola, rejeição por professores e
escola, o índice foi de 16,6%. Com relação ao atraso escolar, colegas e atraso escolar. A avaliação que valorize o aluno e sua
19,3% dos alunos que apresentavam um ano de defasagem aprendizagem e o torne parceiro de todo o processo conduz à
estavam no estágio muito crítico; o índice era de 11,1% para inclusão, e não à exclusão. Esse é o papel da avaliação
os que não apresentavam distorção idade-série (INEP, 2004). formativa.
A rejeição que alguns estudantes sofriam na sala de aula, Contrariamente à avaliação classificatória, a formativa
pelos colegas ou pelos professores, teve impacto no promove a aprendizagem do aluno e do professor, e o
desempenho escolar, principalmente entre as crianças da 4ª desenvolvimento da escola, sendo, portanto, aliada de todos.
série do ensino fundamental. Segundo dados do Saeb, 13% dos Despe-se do autoritarismo e do caráter seletivo e excludente
alunos da 4ª série afirmaram se sentir "deixados de lado" na da avaliação classificatória.
sua turma. Para 34%, essa situação ocorria de vez em quando. Um dos indicadores que exercem grande influência sobre
Percebe-se, então, que 47% desses alunos se sentiam a organização do trabalho pedagógico que acolha a avaliação
rejeitados. formativa é a formação do professor, nos seus vários
Na 8ª série do ensino fundamental e na 3ª série do ensino momentos. Por esse motivo, o propósito deste texto é
médio, onde 12% e 9% dos estudantes, respectivamente, argumentar em favor da avaliação formativa no processo de
disseram se sentir "deixados de lado" na sala de aula, a formação de professores, para que, como consequência, ela
influência da rejeição mostrou-se menor. seja praticada em todos os níveis escolares.
Dentre os indicadores que têm forte impacto na
aprendizagem encontram-se as condições de trabalho das A avaliação formativa pode contribuir para a mudança
escolas (instalações físicas, recursos didáticos, biblioteca, do cenário educacional
recursos humanos etc.), o envolvimento das mães e dos pais, a Na educação escolar brasileira, ainda se encontram fortes
escolaridade das mães e dos pais, a formação dos professores traços da avaliação classificatória, seletiva e excludente. Ainda
e demais profissionais da educação que atuam na escola e a se avalia para dar nota e para aprovar ou reprovar os alunos.
organização do trabalho pedagógico, incluída a avaliação. As práticas avaliativas escolares têm, cada vez mais, se
Geralmente não se inclui a avaliação nesse rol, porque ela inspirado na competição presente nas atividades sociais. Não
costuma ser entendida como aplicação de provas e atribuição é à toa que se diz com frequência: professor nota 10; show nota
de notas, servindo para aprovar ou reprovar os alunos. 10; promoção nota 10 (de loja); gás nota 10 etc. Como a
Contudo, no seu sentido mais amplo, ela tem sido o mecanismo avaliação está presente em todas as situações da vida, é natural
pelo qual o aluno é incluído na escola ou dela é excluído. que haja influência mútua entre a que se realiza na escola e a
* Doutora em Educação pela Universidade Estadual de que acontece no nosso dia-a-dia.
Campinas (Unicamp, 1993) e Pós-doutora em Educação pelo A avaliação classificatória é uma das manifestações da
Instituto de Educação da Universidade de Londres (1997). avaliação somativa, na escola. A expressão “avaliação
Professora da Faculdade de Educação da Universidade de classificatória” não é utilizada na literatura internacional
Brasília (mbboas@terra.com.br). sobre avaliação. Em um artigo sobre avaliação formativa, que
Sabe-se que a avaliação praticada na escola pode cumprir pode ser considerado clássico, tal a sua importância e o uso
duas funções principais: classificar o aluno ou promover a sua que dele tem sido feito, o professor australiano ROYCE
aprendizagem. A primeira delas tem sido a mais empregada. SADLER (1989, p. 120) afirma que a avaliação somativa
Classificam-se os alunos de várias formas: por meio de notas apresenta o balanço do desempenho do aluno ao final de um
ou menções; quando são agrupados por nível de período de estudos, geralmente com o propósito de
aprendizagem, para a constituição de turmas; quando são certificação. Encontra-se, também, que a avaliação somativa é
rotulados em fortes, médios e fracos, para fins diversos; empregada para “medir” o que foi aprendido ao final de um
quando se oferecem estudos de recuperação somente para os determinado período; para promover os alunos; para
alunos de “menor rendimento” ou “para os casos de baixo assegurar que eles alcancem os padrões de desempenho
rendimento escolar”, expressões usadas pela LDB nº 9.394, de estabelecidos para conclusão de cursos, para exercer certas
20/12/96 (inciso V, art. 12; e letra “e”, inciso V, art. 24, ocupações ou para selecionar os que prosseguirão os estudos.
respectivamente). Pela maneira como essa lei apresenta a Dirigentes educacionais usam resultados da avaliação
recuperação, as escolas podem entender que o objetivo é a somativa para tornar as escolas que recebem subsídios
“recuperação” de notas, e não o oferecimento de condições governamentais responsáveis pela qualidade do trabalho
para o aluno aprender o que “ainda” não aprendeu. A redação desenvolvido (OECD, 2005, p. 21). Segundo SADLER, o que
da lei indica que somente os alunos com “baixo rendimento” diferencia a avaliação somativa da formativa é o propósito e o
têm direito a ela. Com relação à impropriedade do termo efeito, e não o momento da sua realização.
“recuperação”, apresentei anteriormente minha análise Mas a avaliação cumpre, também, função formativa, pela
(VILLAS BOAS, 2004, p. 80). qual os professores analisam, de maneira frequente e
Quando se apresentam os resultados insatisfatórios do interativa, o progresso dos alunos, para identificar o que eles
desempenho estudantil, geralmente não se questiona a aprenderam e o que ainda não aprenderam, para que venham
avaliação. É comum responsabilizar os alunos e suas famílias: a aprender, e para que reorganizem o trabalho pedagógico.
os primeiros são preguiçosos, não gostam de estudar e não Essa avaliação requer que se considerem as diferenças dos
querem “saber de nada”; seus pais, por sua vez, são acusados alunos, se adapte o trabalho às necessidades de cada um e se
de não os auxiliar nas tarefas de casa e de não colaborar com a dê tratamento adequado aos seus resultados. Isso significa
escola. Entretanto, a avaliação classificatória pode ser um dos levar em conta não apenas os critérios de avaliação, mas,
fatores que têm contribuído para o insucesso do aluno, do também, tomar o aluno como referência. A análise do seu
professor e da escola. Ela está tão impregnada na cultura progresso considera aspectos tais como: o esforço por ele
escolar, que se torna extremamente difícil libertar-se dela. despendido, o contexto particular do seu trabalho e as
Políticas de combate à repetência e à evasão escolar são aprendizagens adquiridas ao longo do tempo.
importantes e necessárias, mas é preciso olhar para dentro da Consequentemente, o julgamento da sua produção e o
escola para investigar o que acontece ali. Atenção especial feedback que lhe será oferecido levarão em conta o processo
merece a organização do trabalho pedagógico, aí incluída a de aprendizagem por ele desenvolvido, e não apenas os
avaliação. Os dados fornecidos pelo MEC mencionam critérios de avaliação. As circunstâncias individuais devem ser

Conhecimentos Pedagógicos 73
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observadas se a avaliação pretende contribuir para o aprendizagem de seus alunos. Por cultura de avaliação o
desenvolvimento da aprendizagem e para o encorajamento do relatório entende a adoção de linguagem comum sobre os
aluno. A avaliação formativa seria desencorajadora para objetivos da aprendizagem e do ensino, assim como a
muitos alunos que enfrentam fracasso se fosse baseada compreensão comum dos propósitos da avaliação para atingir
exclusivamente em critérios. A combinação da avaliação esses objetivos (OECD, 2005, p. 25).
baseada em critérios com a consideração das condições do Os professores, de modo geral, enfrentam dificuldades e
aluno fornece informações importantes e é consistente com a pressões para a realização do seu trabalho diário. Apoio e
ideia de que a avaliação formativa é parte essencial do trabalho oportunidades para enfrentar desafios, como o da avaliação
pedagógico. A identificação de problemas ou dificuldades que formativa, são necessários. O mínimo de que precisam para
os alunos possam ter pode ser feita somente por meio dessa mudar sua prática é o apoio de colegas e dirigentes escolares.
combinação de informações (HARLEN; JAMES, 1997, p. 370). Verdadeiras transformações no desenvolvimento do trabalho
Pesquisa desenvolvida recentemente pelo Centre for pedagógico, incluída a avaliação, requerem forte liderança
Educational Research and Innovation, da Organização para a institucional, sérios investimentos em formação e
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OECD,1 analisou desenvolvimento profissional e em programas inovadores,
práticas de avaliação formativa em escolas secundárias de oito assim como incentivos políticos apropriados (OECD, 2005, p.
países: Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Finlândia, 31). A pesquisa nos oito países indicou que as políticas que
Itália, Nova Zelândia e Escócia. De acordo com o relatório da podem contribuir para o desenvolvimento da avaliação
pesquisa, a avaliação formativa tornou-se um tema promissor formativa incluem: legislação que a apoie e a defina como
em educação (OECD, p. 5). Por esse motivo, a pesquisa prioridade; esforços para encorajar o uso de dados somativos
focalizou o trabalho de sala de aula com vistas a identificar o para propósitos formativos na escola e na sala de aula;
conceito de avaliação formativa nas escolas investigadas, diretrizes sobre ensino e práticas de avaliação formativa
identificar e analisar as suas práticas nos diferentes países e incluídas no currículo e em outros dispositivos; oferecimento
sugerir meios pelos quais as políticas possam apoiar a de meios que apoiem a avaliação formativa; investimento em
ampliação dessas práticas. iniciativas especiais e programas inovadores que incorporem
O relatório aponta que, por meio da avaliação formativa, a avaliação formativa; investimento no desenvolvimento
pode-se atingir os objetivos da aprendizagem permanente, profissional do professor.
quais sejam: a promoção de desempenho de alto nível; a Cabe salientar o caso da Finlândia, onde se considera ser
adoção de tratamento equânime dos resultados da avaliação mais importante o desenvolvimento da escola do que
dos alunos; a construção de habilidades para o aprender a estabelecer comparação entre escolas e entre alunos. Nesse
aprender. Cabe esclarecer que, no contexto brasileiro, país, os resultados e o processo da avaliação são importantes.
entende-se por tratamento equânime desses resultados a Em 1993, o Conselho Nacional de Educação da Finlândia
necessidade de planejar o que será feito com eles, para que não lançou um projeto para desenvolver práticas de autoavaliação
se mantenha o caráter classificatório, que costuma penalizar pela escola. Esse projeto foi considerado o início do
os que apresentam desempenho mais fraco e os menos reconhecimento da autoavaliação como o conceito nuclear do
favorecidos economicamente. Como já foi mencionado, a sistema educacional finlandês (OECD, 2005, p. 34). Esse é um
avaliação está a serviço da aprendizagem. exemplo de um dispositivo legal apoiando o uso da avaliação
Segundo o mesmo relatório, a avaliação formativa formativa na escola. Se esta é incentivada a se autoavaliar,
contribui para que os alunos aprendam a aprender, porque os certamente, em sala de aula, os alunos avaliarão o seu próprio
ajuda a desenvolver as estratégias necessárias; coloca ênfase progresso.
no processo de ensino e aprendizagem, tornando os alunos Outro exemplo que merece destaque é a iniciativa de
participantes desse processo; possibilita a construção de Newfoundland e Labrador, no Canadá, onde o Departamento
habilidades de autoavaliação e avaliação por colegas; ajuda os de Educação divulga um conjunto de diretrizes e critérios
alunos a compreenderem sua própria aprendizagem. Alunos (rubrics) a serem considerados para a avaliação em
que constroem ativamente sua compreensão sobre novos alfabetização infantil. Essas diretrizes especificam o que será
conceitos (e não meramente absorvem informações) avaliado e com que qualidade, possibilitando uma análise
desenvolvem estratégias que os capacitam a situar novas segura por professores e alunos. Além disso, elas ajudam os
ideias em contexto mais amplo, têm a oportunidade de julgar professores a refletir sobre os objetivos da aprendizagem e os
a qualidade do seu próprio trabalho e do trabalho dos colegas, critérios de avaliação (OECD, 2005, p. 38).
a partir de objetivos de aprendizagem bem definidos e Nas escolas brasileiras, encontram-se esforços no sentido
critérios adequados de avaliação, e estão, ao mesmo tempo, de uso da avaliação formativa com mais frequência na
construindo capacidades que facilitarão sua aprendizagem ao educação infantil e nos anos iniciais da educação fundamental,
longo da vida. quando um só professor atua junto ao aluno durante toda a
Contudo, os estudos mencionados revelam uma barreira à jornada diária. Percebe-se, no entanto, que as iniciativas
prática ampla da avaliação formativa nos países participantes existentes ainda são desarticuladas, nas escolas e nos sistemas
da pesquisa: a falta de conexão entre a avaliação realizada pela de ensino. Constituem, geralmente, projetos especiais, em
escola e a conduzida por sistemas de ensino. Informações lugar de ações integradas. Há escolas que afirmam praticar a
coletadas em salas de aula nem sempre são consideradas para avaliação formativa porque eliminaram notas, mas mantêm
a formulação de políticas educacionais. Em muitos países, aulas de recuperação até para crianças da educação infantil e
resultados da avaliação somativa têm dominado os debates ameaçam castigar os alunos que não fazem os deveres de casa.
políticos acerca da educação. Escolas que têm apresentado Talvez isso se dê porque os professores, em grande parte,
resultados insatisfatórios em exames nacionais têm sofrido ainda se formam passando por práticas avaliativas
consequências, como a ameaça de fechamento, a exigência de tradicionais (centradas em notas e em aprovação e
reorganização do seu trabalho e a demissão de professores. reprovação).
Um dos interesses particulares da pesquisa conduzida pela A avaliação formativa, no seu verdadeiro sentido, ainda é
OECD é o exame de como professores e dirigentes um desafio a enfrentar.
educacionais podem criar ou fortalecer culturas de avaliação,
de modo que eles usem informações sobre o desempenho dos Avaliação formativa: aliada do aluno e do professor
alunos para gerar novos conhecimentos a partir do que tem Em seu trabalho publicado em 1996, BLACK e DYLAN
dado bons resultados, partilhar as descobertas com colegas e (1998, p. 53) informam que a expressão “avaliação formativa”
construir sua capacidade de atender as necessidades de não era comum na literatura sobre avaliação (eles se referiam

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à literatura produzida na Europa, nos países escandinavos, na procedimento é parte do automonitoramento. Se a fonte de
Austrália e nos Estados Unidos), naquela época. Depois de informação lhe é externa, ela é associada a feedback. Em
quase 10 anos, a situação parece ter se alterado. No Brasil, o ambos os casos, busca-se a eliminação da distância entre os
que se denomina de avaliação mediadora, emancipatória, níveis de desempenho atual e o de referência. A avaliação
dialógica, fundamentada, cidadã, pode ser entendido como formativa inclui o feedback e o automonitoramento. Cabe
avaliação formativa. salientar que o objetivo do trabalho pedagógico é facilitar a
A avaliação formativa é a que engloba todas as atividades transição do feedback para o automonitoramento. Esse é o
desenvolvidas pelos professores e seus alunos, com o intuito processo de desenvolvimento da autonomia intelectual do
de fornecer informações a serem usadas como feedback para aluno, em todos os contextos educacionais, especialmente os
reorganizar o trabalho pedagógico (BLACK; DYLAN, 1998, p. dedicados à formação de professores.
7). Esses autores, assim como SADLER (1989, p. 120),
entendem que o feedback é o elemento-chave na avaliação Avaliação é aprendizagem: como entender a avaliação
formativa. Diz respeito à informação, ao próprio aluno, de formativa na formação de professores?
quão bem sucedido ele foi no desenvolvimento do seu SADLER (1989, p. 142) nos ensina que, para que os alunos
trabalho. Alerta Sadler que poucas habilidades físicas, aprendam, precisam saber como estão progredindo. O
intelectuais e sociais podem ser desenvolvidas feedback geralmente é entendido como informação dada ao
satisfatoriamente simplesmente falando ao aluno sobre elas. A aluno sobre o desenvolvimento do seu trabalho: se atende aos
maioria requer prática em ambiente apoiador, que favoreça o objetivos, se houve avanços, que aspectos precisam ser
entrelaçamento de feedbacks. O professor é quem sabe o que melhorados etc. Em quase todas as situações educacionais, o
os alunos precisam aprender; é ele quem é capaz de trabalho dos alunos não pode ser avaliado simplesmente como
reconhecer e descrever o desempenho desejável, assim como correto ou incorreto. A qualidade do trabalho é determinada
indicar como o desempenho ainda incipiente pode ser por julgamento qualitativo. Nesse caso, a definição tradicional
melhorado. de feedback é insuficiente. São necessárias as condições
O feedback pode ser definido, também, em relação ao seu apontadas anteriormente, por parte do aluno.
efeito, em lugar de referir-se às informações que fornece, como A melhoria do trabalho do aluno é alcançada se o professor
concebe RAMAPRASAD (apud SADLER, 1989, p. 120): lhe oferece orientação e se o primeiro a segue. Mas isso pode
“feedback é informação sobre a distância entre o nível atual e fazer com que o aluno fique dependente da orientação do
o nível de referência de um parâmetro sistêmico usado para professor. Surge, então, a proposta de Sadler no sentido de que
alterar essa distância de alguma forma”. O feedback atende ao os alunos desenvolvam habilidades para avaliar a qualidade do
professor e ao aluno. O primeiro o usa para decisões seu próprio trabalho, durante a sua realização. A transição do
programáticas sobre prontidão, diagnose e recuperação. O feedback professor-aluno para o automonitoramento pelo
segundo o usa para acompanhar as potencialidades e aluno não acontece automaticamente. O desenvolvimento da
fraquezas do seu desempenho, para que aspectos associados a capacidade de avaliação do próprio trabalho faz parte das
sucesso e alta qualidade possam ser reconhecidos e aprendizagens a serem adquiridas. A vivência de práticas
reforçados, assim como os aspectos insatisfatórios possam ser avaliativas assim concebidas é condição necessária para o
modificados ou melhorados. desenvolvimento da capacidade avaliativa e,
Sadler salienta que a importância da contribuição de consequentemente, para o automonitoramento inteligente. É
Ramaprasad reside no fato de ele entender que a informação insuficiente para o aluno restringir-se ao julgamento do
sobre a distância entre o nível atual e o de referência só pode professor.
ser considerada feedback se for usada para alterar essa O desenvolvimento da avaliação formativa requer que o
distância. Se a informação for simplesmente registrada, processo de transição do feedback professor-aluno para o
entregue a pessoas não envolvidas diretamente com a situação automonitoramento pelo aluno seja construído pelo professor
ou que não têm o poder de modificá-la, ou apresentada de e pelo aluno. Três componentes da avaliação formativa
forma tão codificada que impeça a execução da ação merecem atenção especial em cursos de formação de
apropriada, os dados obtidos tornar-se-ão inúteis para um professores: a avaliação informal, a avaliação por colegas e a
feedback efetivo. Assim sendo, no contexto da avaliação autoavaliação. Refiro-me especificamente a “cursos de
formativa, o feedback não tem o objetivo de “melhorar” a nota formação de professores”, pelo fato de eles constituírem
ou a menção. A nota pode ser contraprodutiva para propósitos momentos privilegiados de aprofundamento teórico,
formativos, diz SADLER (1989, p. 121). O compromisso do sistematização de ideias e realização de pesquisas. A avaliação
feedback é, pois, com a aprendizagem do aluno, e não com informal é destacada no presente contexto por dois motivos. O
notas. primeiro leva em conta os dados reveladores da internalização
A avaliação da qualidade do trabalho ou do desempenho da exclusão. Um desses dados lhe diz respeito mais
do aluno requer que o professor possua concepção de diretamente: a rejeição sentida por parte considerável de
qualidade apropriada à tarefa e seja capaz de julgar de acordo alunos da 4ª série da educação fundamental, o que pode
com essa concepção. O aluno, por sua vez, precisa ter resultar da sua utilização inadequada. Essa avaliação se realiza
concepção de qualidade similar à do professor, ser capaz de por meio da interação do aluno com professores, demais
monitorar continuamente a qualidade do que está sendo educadores que atuam na escola e até mesmo com colegas, em
produzido durante o próprio ato de produção e ter repertório todos os momentos e espaços escolares. Na educação infantil e
de encaminhamentos ou estratégias aos quais possa recorrer. nos anos iniciais da educação fundamental, essa modalidade
Isso significa que ele tem de ser capaz de julgar a qualidade da de avaliação é frequente, por causa do contato longo e
sua produção e de regular2 o que está fazendo enquanto o faz. duradouro do professor com seus alunos, dando-lhe chances
É necessário que o aluno: a) conheça o que se espera dele de conhecer mais amplamente cada um deles: suas
(objetivos da aprendizagem); b) seja capaz de comparar o seu necessidades, seus interesses, suas capacidades. Quando um
nível atual de desempenho com o esperado; c) se engaje na aluno mostra ao professor como está realizando uma tarefa ou
ação apropriada que leve ao fechamento da distância entre os lhe pede ajuda, a interação que ocorre nesse momento é uma
níveis. Essas condições são satisfeitas simultaneamente; não prática avaliativa, isto é, o professor tem a oportunidade de
são etapas a serem vencidas isoladamente (SADLER, 1989, p. acompanhar e conhecer o que ele já aprendeu e o que ainda
121). O autor citado explica a diferença entre feedback e não aprendeu. Quando circula pela sala de aula observando os
automonitoramento. Se o próprio aluno gera a informação alunos trabalharem, o professor também está analisando, isto
necessária ao prosseguimento da sua aprendizagem, esse

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é, avaliando o trabalho de cada um. São momentos valiosos programas de ensino: o último ou um dos últimos itens. Na
para avaliação. maioria das vezes, o último tema de uma disciplina ou curso
A diferença entre a avaliação informal e a formal é que a não chega a ser discutido ou o é de maneira abreviada, por falta
informal nem sempre é prevista e, consequentemente, os de tempo. Recentemente, uma aluna do Curso de Pedagogia da
avaliados, no caso os alunos, não sabem que estão sendo UnB, que concluiu o Curso de Magistério, relatou que, neste
avaliados. Por isso deve ser conduzida com ética. Precisamos último, nada estudou sobre avaliação, pois “não deu tempo”. E
nos lembrar sempre de que o aluno se expõe muito ao foi considerada habilitada a trabalhar na educação infantil e
professor, ao manifestar suas capacidades e fragilidades e seus nos anos iniciais da educação fundamental! Outra constatação
sentimentos. Cabe à avaliação ajudá-lo a se desenvolver, a foi a de que, em um determinado ano, o tema estava sendo
avançar, não devendo expô-lo a situações embaraçosas ou trabalhado, em algumas Escolas Normais do DF, por
ridículas. A avaliação serve para encorajar, e não para estagiários do Curso de Pedagogia, em uma única aula, sem a
desencorajar o aluno. Por isso, rótulos e apelidos que o presença do professor titular da disciplina Didática. Esse fato
desvalorizem ou humilhem não são aceitáveis. Gestos e indica a falta de compreensão do papel e das consequências da
olhares encorajadores por parte do professor são bem-vindos. avaliação.
Afinal de contas, a interação do professor com os alunos é Pesquisas têm encontrado uma faceta inaceitável da
constante e muito natural. Uma piscadinha de olho de forma avaliação informal: a emissão de comentários públicos sobre a
acolhedora e amiga, indicando que o aluno está no caminho pessoa do aluno, por parte de professores, em sala de aula e
adequado, lhe dá ânimo. em outros espaços escolares, assim como a extensão desse tipo
A avaliação informal dá grande flexibilidade de julgamento de avaliação às famílias dos alunos (VILLAS BOAS, 1993). Em
ao professor, devendo ser praticada com responsabilidade. uma situação de pesquisa, observou-se, em uma segunda-feira,
Um dos exemplos disso é o costumeiro “arredondamento de a professora de uma turma de primeira série do ensino
notas”, que consiste em o professor aumentá-las ou diminuí- fundamental dizer a um aluno que não havia realizado as
las segundo critérios por ele definidos e nem sempre tarefas de casa: “sua mãe não fica em casa nem nos finais de
explicitados. Além disso, esses critérios costumam ser semana para ajudá-lo?” (VILLAS BOAS, 1993).
diferentes para cada aluno. Esse arredondamento é feito com Tratando da avaliação informal, FREITAS (2002, p. 315)
base nessa modalidade de avaliação. Quando é feito para comenta que
aumentar a nota, os argumentos usados costumam ser: o aluno Professores e alunos defrontam-se na sala de aula
é organizado, frequente, bonzinho, faz os deveres de casa. Por construindo representações uns dos outros. Tais
outro lado, o arredondamento é feito, também, para diminuir representações e juízos orientam novas percepções, traçam
a nota, usando-se justificativas do seguinte tipo: o aluno é possibilidades, estimam desenlaces, abrem ou fecham portas
desobediente, conversador, não faz as atividades, chega e, do lado do professor, afetam o próprio envolvimento deste
atrasado, é preguiçoso. São argumentos advindos da avaliação com os alunos, terminando por interferir positiva ou
informal. É preciso deixar claro que a avaliação informal é negativamente com as estratégias de ensino postas em marcha
muito importante e pode ser uma grande aliada do aluno e do na sala de aula. É aqui que se joga o sucesso ou o fracasso do
professor, se for empregada adequadamente, isto é, para aluno – nesse plano informal e não no plano formal. De fato,
promover a aprendizagem. Um argumento em seu favor é que quando o aluno é reprovado pela nota, no plano formal, ele já
ela acontece em ambiente natural e revela situações nem tinha sido, antes, reprovado no plano informal, no nível dos
sempre previstas, o que pode ser altamente positivo, se juízos de valor e das representações do professor – durante o
soubermos tirar proveito dela e se não a usarmos de forma próprio processo.
punitiva. O professor atento, interessado na aprendizagem do A presença forte e, às vezes, tão decisiva da avaliação
seu aluno e investigador da realidade pedagógica procurará informal não costuma ser conhecida dos alunos, porque, como
usar todas as informações advindas da informalidade para diz ENGUITA (1989, p. 203),
cruzá-las com os resultados da avaliação formal e, assim, ...na escola aprende-se a estar constantemente preparado
compor a sua compreensão sobre o desenvolvimento de cada para ser medido, classificado e rotulado; a aceitar que todas as
aluno. nossas ações e omissões sejam suscetíveis de serem
A avaliação informal pode acontecer quando o professor: incorporadas a nosso registro pessoal; a aceitar ser objeto de
dá ao aluno a orientação de que necessita, no momento exato; avaliação e inclusive desejá-lo. O agente principal desse
manifesta paciência, respeito e carinho ao atender suas processo de avaliação é o professor...
dúvidas; providencia os materiais necessários à O segundo motivo que provocou a inclusão da avaliação
aprendizagem; demonstra interesse pela aprendizagem de informal neste texto, que articula a avaliação formativa à
cada um; atende a todos com a mesma cortesia e interesse, sem formação de professores, é o fato de essa modalidade de
demonstrar preferência; elogia o alcance dos objetivos da avaliação, quando desenvolvida de forma a constranger e
aprendizagem; não penaliza o aluno pelas aprendizagens humilhar os alunos, poder contribuir para que eles façam o
ainda não adquiridas, mas, ao contrário, usa essas situações mesmo com seus colegas, na escola, em casa e em outros
para dar-lhe mais atenção, para que ele realmente aprenda; lugares. Esse fato recebe o nome de “bullying” e está
não usa rótulos nem apelidos que humilhem ou desprezem os preocupando educadores em todo o mundo. Na Inglaterra, a
alunos; não comenta em voz alta suas dificuldades ou situação parece ser pior, mas a sociedade já começou a reagir.
fraquezas; não faz comparações; não usa gestos nem olhares Bullying é o ato covarde de crianças molestarem, ameaçarem
de desagrado com relação à aprendizagem. e humilharem colegas. Assume formas diversas: violência
A avaliação formal (provas, relatórios, exercícios diversos, física; ataques verbais; rótulos; ameaças e intimidação;
produção de textos etc.) costuma ocupar muito menos tempo extorsão ou roubo de dinheiro ou de objetos; rejeição pelo
do trabalho escolar do que a avaliação informal. No entanto, grupo. Esse ato acontece com alguma criança a cada sete
observa-se que a disciplina “Didática”, a que se ocupa de minutos em parques de diversão no Canadá. A todo momento,
conteúdos de avaliação nos cursos de formação de crianças estão presenciando situações desse tipo. Professores
professores, em nível médio e universitário, costuma dar e pais nem sempre percebem as suas consequências
ênfase à construção de “instrumentos de verificação do (www.bullying.org, 2005).
rendimento escolar” (VILLAS BOAS, 2000). Livros de Didática O que é preocupante em relação ao bullying é que a
geralmente apresentam o tema “avaliação escolar” em capítulo bibliografia sobre o assunto não o associa ao tratamento
próprio e como um dos últimos que compõem a obra. Esse é recebido pelo aluno na escola. Já existem manuais de
comumente o tratamento recebido pela avaliação em livros e informação a pais e professores. Contudo, não se menciona o

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fato de o bullying poder ser decorrência da avaliação informal ao professor incentivar a prática da autoavaliação pelos
a que o aluno e seus colegas se submetem. Os alunos são alunos, continuamente, e não apenas nos momentos por ele
expostos a situações de avaliação a todo instante na escola. Por estabelecidos, e usar as informações fornecidas para
isso é tão comum a reprodução das experiências escolares em reorganizar o trabalho pedagógico, sem penalizá-los.
outros contextos. Crianças gostam de “dar aula” para seus WEEDEN et alii (2002, p. 72) entendem que a
amigos, e até para brinquedos, usando o mesmo tratamento autoavaliação é mais ligada à avaliação para a aprendizagem
que seu professor ou sua professora dá não só a elas, mas à do que à avaliação da aprendizagem, pelo fato de buscar-se o
turma toda. A inspiração para o bullying não pode vir da desenvolvimento da aprendizagem. Ela inclui a formulação de
avaliação informal? julgamentos do mérito do trabalho, pelo aluno, o que
Percebe-se, assim, o poder que a avaliação confere ao usualmente tem sido tarefa do professor. A valorização do que
professor, que pode decidir a trajetória escolar do aluno, por os alunos pensam sobre a qualidade do seu trabalho constitui
meio da aprovação e da reprovação. Para romper com esse um desafio à ordem estabelecida e à rotina escolar. Esses
processo unilateral e autoritário e para oportunizar ao aluno autores afirmam que o ponto de partida para a adoção da
aprender a avaliar, o professor pode lançar mão de dois autoavaliação consiste em definir o papel do professor e o do
componentes da avaliação formativa: da avaliação por colegas aluno. DAVID SATTERLY, citado por WEEDEN et alii (2002, p.
e da autoavaliação. 74), considera que há aspectos do trabalho dos alunos que o
A avaliação por colegas (da mesma disciplina ou da mesma professor espera que eles conheçam melhor do que ele: o
turma, por estarem desenvolvendo as mesmas atividades) é quanto trabalharam; o que eles estão tentando alcançar; até
um componente importante do processo avaliativo e pode ser que ponto eles entendem o que alcançaram; como o trabalho
o primeiro passo para a autoavaliação. Enquanto analisam e se relaciona aos seus objetivos pessoais. Contudo,
corrigem suas próprias produções, os alunos podem fazer o provavelmente, no início os alunos não conheçam, tanto
mesmo com as dos colegas. Sabendo que suas atividades serão quanto o professor, as expectativas curriculares e os critérios
apreciadas por colegas, eles as prepararão com mais cuidado de avaliação. Isso parece indicar a necessidade de parceria na
e, possivelmente, com mais prazer. As tarefas diversas podem avaliação, para que cada participante contribua com
ser avaliadas em duplas de alunos e, posteriormente, em informações que, reunidas, permitam retratar as
grupos de três ou quatro, sempre tendo o acompanhamento do aprendizagens.
professor. Essa ajuda mútua tem a vantagem de ser conduzida Assim como acontece com a avaliação informal, o uso das
por meio da linguagem que os alunos naturalmente usam. informações fornecidas pela autoavaliação é feito com ética, o
Além disso, os alunos costumam aceitar mais facilmente os que significa que elas só podem servir aos propósitos que são
comentários de colegas do que os de seus professores. do conhecimento dos alunos. Além disso, o professor precisa
Se for possível, os próprios alunos podem criar listas de ter muita sensibilidade para distinguir as que podem e as que
discussão, blogs e outros meios, por Internet, para envio de não podem ser comentadas publicamente. A avaliação é um
material para análise por colegas. ato ético por excelência.
O feedback advindo de um grupo de colegas pode ser mais A autoavaliação é uma aliada do aluno, por possibilitar-lhe
bem aceito do que o individual. Esse tipo de avaliação permite refletir sobre o seu progresso e participar da tomada de
a participação dos alunos e aumenta a comunicação entre eles decisão sobre as futuras atividades; ao mesmo tempo, é aliada
e o professor, sobre sua aprendizagem. Ao possibilitar aos do professor, por permitir-lhe conhecer com mais
alunos reconhecerem suas próprias necessidades, profundidade o que o aluno pensa sobre o seu trabalho e com
comunicando-as ao professor, este tem o seu trabalho ele dividir responsabilidades. Na perspectiva tradicional de
facilitado e tempo maior para auxiliar os alunos que precisam avaliação, o aluno não costuma saber que a sua aprovação ou
de sua atenção. Enquanto os alunos estão ocupados, reprovação já está decidida antes mesmo de a avaliação formal
envolvidos na avaliação das produções dos colegas, o acontecer, porque tudo costuma ser resolvido somente pelo
professor pode dedicar-se a observar o desenvolvimento das professor. Os critérios de avaliação nem sempre são
atividades, refletir sobre elas e fornecer as intervenções construídos pelo professor e pelos alunos.
necessárias. Em resumo, os alunos aprendem assumindo o
papel de professores e de avaliadores das aprendizagens dos Articulações finais
colegas (BLACK et al., 2003, p. 51). Neste texto argumentou-se que a preparação de
Enquanto avaliam as atividades de colegas, os alunos professores para a avaliação não é de responsabilidade
aprendem a avaliar seu próprio trabalho. DUNCAN HARRIS e exclusiva dos cursos destinados à sua formação. Antes disso,
COLLIN BELL, citados por WEEDEN et alii (2002, p. 75), como alunos, eles convivem com práticas avaliativas diversas.
entendem a autoavaliação como um continuum do controle O que se observa é que essa convivência não tem sido
pelo professor ao controle pelo aluno. Esse continuum significa compreendida como aprendizagem que pode vir a ser
que a responsabilidade crescente pela sua aprendizagem é reproduzida em outros contextos, inclusive o pedagógico,
imputada ao aluno. Parte-se da avaliação tradicional para a tanto de forma presencial quanto a distância. O processo
colaborativa (professor e aluno), e da avaliação por colegas avaliativo produz consequências; não termina quando o curso
para a autoavaliação. é concluído. Como foi ressaltado, avaliação é aprendizagem.
A autoavaliação é um componente importante da avaliação Enquanto se avalia se aprende e enquanto se aprende se avalia.
formativa. Refere-se ao processo pelo qual o próprio aluno Os professores aprendem a avaliar enquanto se formam. O seu
analisa continuamente as atividades desenvolvidas e em processo de formação é longo, tendo início quando entram na
desenvolvimento, registra suas percepções e sentimentos e escola como alunos. Todas as situações que presenciam e
identifica futuras ações, para que haja avanço na vivenciam, como alunos, nos vários níveis do processo de
aprendizagem. Essa análise leva em conta: o que ele já escolarização, fazem parte da sua constituição de professores
aprendeu, o que ainda não aprendeu, os aspectos facilitadores e podem ser bem marcantes. Costuma-se pensar na sua
e os dificultadores do seu trabalho, tomando como referência formação obtida apenas nos cursos de formação que
os objetivos da aprendizagem e os critérios de avaliação. Dessa frequentam; contudo, estes representam apenas uma pequena
análise realizada por ele, novos objetivos podem emergir. A parte da sua vivência como alunos. Nesse processo inclui-se a
autoavaliação não visa à atribuição de notas ou menções pelo avaliação. Por ser um tema que tem merecido pouca atenção
aluno; tem o sentido emancipatório de possibilitar-lhe refletir nos cursos de formação, em nível médio e superior, pressupõe-
continuamente sobre o processo da sua aprendizagem e se que os atuais professores estejam reproduzindo as práticas
desenvolver a capacidade de registrar suas percepções. Cabe

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dos seus ex-mestres. E essas práticas nem sempre se inserem no questionamento reconstrutivo, cada um dentro do seu
na avaliação formativa. próprio horizonte.
As informações divulgadas pelo MEC e apresentadas no  A pesquisa deve ser atitude cotidiana no professor e no
início deste texto demonstram que a educação básica aluno, é fundamental para desmistificá-la.
brasileira vai mal e que um dos fatores que podem contribuir  Educação é o processo de formação da
para isso é a avaliação, considerada em seu sentido mais competência humana histórica.
amplo. Elas revelam a existência da internalização da exclusão,
 Pesquisa no aluno
isto é, os excluídos da escola continuam em seu interior.
BOURDIEU e CHAMPAGNE (1998, p. 222) dão a esse fato o  A escola deve ser o ambiente criativo por excelência,
nome de exclusão branda, por retratar práticas insensíveis, onde o aluno tem participação ativa e motivação constante, e
não um ambiente repressor que cultiva apena a disciplina.
“no duplo sentido de contínuas, graduais e imperceptíveis,
Favorecer o lúdico.
despercebidas, tanto por aqueles que as exercem como por
aqueles que são suas vítimas”. Portanto, a avaliação formativa  Valorizar o trabalho em equipe, buscando o equilíbrio
depara-se com a situação contraditória de buscar a inclusão de entre individualidade e solidariedade.
todos no processo de aprendizagem, ao mesmo tempo em que  Habituar o aluno a ter iniciativa na busca de material
a escola ainda convive com a exclusão, que se manifesta de para pesquisa e combater a receita pronta.
várias formas: pela reprovação, repetência, constituição de  Motivar para o aluno fazer as próprias interpretações,
turmas especiais de aceleração da aprendizagem e de reelaborando-as. Interpretar o material pesquisado. Passar de
recuperação etc. atitude passiva para atitude crítica.
Diante desse quadro, questionam-se as práticas usuais de  Reconstruir a partir do conhecimento prévio,
avaliação adotadas na educação básica e na superior, acrescentando o conhecimento disponível, elaborando
considerando-se que a formação do professor perpassa esses textos próprios.
dois níveis. Um é determinante do outro e, ao mesmo tempo,  Material didático: motivações lúdicas, hábito de leitura,
por ele determinado. A formação dos professores para a uso de computador, TV, DVD, apoio dos pais, uso intensivo do
avaliação engloba as suas experiências como alunos nos dois tempo escolar.
níveis, complementada pelos estudos que realizam sobre o
 Cuidados propedêuticos (iniciais, introdutórios relativos
tema, quando isso ocorre. Por outro lado, as práticas ao Ens. Fundamental)
avaliativas dos professores da educação superior, tanto os que 1. Saber pensar: estimular o aluno ao raciocínio
têm formação pedagógica quanto os que não a têm, costumam 2. Aprender a aprender: pela teoria e pela prática
inspirar-se nas dos seus ex-mestres. 3. Saber avaliar-se a avaliar a realidade com consciência
A vivência do feedback que se transforma em auto crítica
monitoramento, da avaliação informal encorajadora e 4. Ética: não usar treinamento
complementadora da avaliação formal, da avaliação por 5. Estimular o discurso fundamentado
colegas e da autoavaliação que dá responsabilidade ao aluno 6. Exigir que o processo seja bem feito
constitui componente essencial da avaliação formativa, 7. Estimular o uso da lógica para formulação e
porque contribui para o desenvolvimento da autonomia argumentações
intelectual de alunos e professores. Com esse entendimento, a
8. Reconhecer a capacidade do outro
avaliação cumpre sua vocação de contribuir para a
9. Tomar atitude investigativa no dia a dia
aprendizagem duradoura.
 Reorganização curricular
1. Currículo extensivo = educação bancária
2. Currículo intensivo = pesquisa
DEMO, P. Educar pela Num currículo intensivo: aprofunda-se o mesmo através
Pesquisa. 8ª Ed. Campinas: de temas e constrói-se uma visão geral e não
compartimentalizada. Preferir aulas mais longas e
Autores Associados, 2007; proporcionar ambiente próprio para pesquisa e leitura,
análise discussões, preparação do trabalho. Flexibilização do
currículo. Levar em consideração os ritmos individuais e
A condição para educar pela pesquisa é que o professor próprios, combater o fracasso.
seja um pesquisador e tenha-a como uso no cotidiano. O aluno  Avaliação: utilizar formas alternativas e constantes,
deixa de ser objeto de ensino para ser companheiro de debates, argumentações orais e escritas, participação.
trabalho.  Pesquisa no professor
I Parte
 Construir um projeto pedagógico próprio que deve estar
em atualização permanente e ter compromisso com o
O desafio de Educar pela pesquisa na Educação Básica
desempenho do aluno
 Pressupostos
 Construir textos científicos e pedagógicos próprios, com
 a convicção de que a educação pela pesquisa é a fundamentação teórica
especificidade mais própria da educação escolar e acadêmica
 Refazer o material didático, e testá-lo antes de levar aos
 o questionamento com qualidade é o cerne da pesquisa alunos, seja teórico ou prático.
 a necessidade de fazer da pesquisa uma atitude cotidiana  Inovar na prática didática, lutando contra a aula
no professor e no aluno. reproduzida e copiada, e contra a postura passiva dos alunos
 a educação é um processo de formação humana na  Recuperar constantemente a competência através da
competência. pesquisa, de cursos de atualização, de eventos, pós-graduação,
 A pesquisa é uma propriedade específica do ambiente etc.
escolar, a base da educação escolar é a pesquisa e não a sala de
aula. 2ª. PARTE
 A pesquisa forma o sujeito crítico e criativo, a aula apenas Currículo intensivo na Universidade
repassada e copiada não constrói nada. Nesta parte o autor praticamente repete o que foi dito
 A distinção entre a pesquisa praticada pelo doutor e pela anteriormente, com as devidas adaptações para o ambiente
criança não está nos óbvios resultados, mas na qualidade, universitário.

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A universidade tem um pressuposto de desenvolver a sua vez é o cerne da educação. Pesquisa é a emancipação do
competências, formar Cidadãos críticos, politizados, aluno à medida que ele questiona a realidade.
pesquisadores. O autor também compara educação e pesquisa, afirmando
Não é o que se observa nas particulares e principalmente que ambas lutam contra a ignorância. “A pesquisa busca o
nas noturnas, onde não se evidencia a pesquisa, mas sim conhecimento e a educação busca a consciência crítica. Ambas
apenas a competência mercadológica. valorizam o questionamento.” A pesquisa se alimenta da
dúvida, de hipóteses alternativas e superação de paradigmas;
Ensaios de currículo intensivo ela persegue o conhecimento novo.
1. Definindo termos A crítica feita consiste no fato de que muitas pessoas veem
 Educação como processo de formação na competência o professor como instrutor, e se for realmente só este o papel
humana: compromisso da universidade do professor, qualquer um pode ser professor. Precisa-se de
 Questionamento reconstrutivo professores pesquisadores, não considerando aqui pesquisa
como a que é feita por mestres e doutores, mas como uma
 Aproximação de pesquisa e educação – ímpeto
atividade cotidiana e cujo papel na escola é transformar o
emancipatório, já que alimentam a consciência crítica
aluno objeto m aluno sujeito. Ele afirma que o aluno
 Pesquisa compreendida como atitude cotidiana pesquisador deve ser como uma criança que a tudo questiona.
 Pesquisa na universidade faz parte também da Mas o “problema” com que ele se depara é a escola, que preza
profissionalização pela disciplina.
 Compromisso com a ética e com a inovação Sobre o sujeito crítico, diz-se que ele questiona até na vida:
Bases Gerais para um currículo intensivo há o telespectador crítico, a mãe crítica, que sabe ler o choro
 Qualidade do professor: como pretender que o professor do bebê, o homem que usa a tristeza para crescer, etc. Mas não
ensine através da pesquisa se não é formado assim, se o basta só pensar. É preciso produzir, pois competência é inovar,
professor de universidade assim não o faz? Portanto, o é questionar; é reconstruir o conhecimento todos os dias.
professor universitário Tb. Deve formar pela pesquisa. Marcos Bagno em seu livro pesquisa na escola, oferece dicas e
 Delimitar seu próprio espaço, sua linha de pesquisa alternativas de como trabalhar gramática na escola através da
 Dedicar-se inicialmente ao estudo de assuntos iniciais pesquisa, tornando a disciplina mais interessante.
como matemática, filosofia, história de educação, metodologia Já foi dito que educação forma a competência e busca a
científica. consciência crítica. Mas de que maneira isso deve ocorrer?
Através da orientação dos trabalhos em conjunto pelo
 Preparar suas aulas a partir da pesquisa, seja didática ou
científica, manter-se atualizado professor. Quanto às propostas do autor, ele diz que o
professor deve repensar o trabalho em equipe para que um
 Produção constante, orientação constante – competência componente não fique com todo o peso nas costas e os demais
humana crítica e política
e os demais não fiquem ociosos; ao invés de carteiras, que
O restante do capítulo destina-se a recomendações e
houvesse mesas redondas; ao invés de silêncio, barulho de
delineamentos práticos propriamente ditos.
questionamentos; incentivar o aluno a procurar livros, textos,
fontes; evitar dar tudo pronto, mas pra isso, a escola deve
Riscos e Desafios
possuir biblioteca, laboratórios...
 Não deixar virar modismo, ou repulsa a priori. O professor que apenas enche a cabeça dos alunos de
 Dedicação exclusiva, tempo integral. coisas reforça a sua condição de objeto. Ele deve aproveitar o
 Currículo intensivo é mais facilmente aceito em que o aluno traz de fora, pois não é possível criar
instituições públicas, mas não impede de tentar implantação conhecimento novo, mas o reconstruímos a partir do que já
também nas particulares. existe. O aluno precisa ser motivado a avançar na autonomia
 Avaliação constante do sistema e do professor. (hoje em da expressão própria. Portanto, no conceito de pesquisa, é
dia a avaliação também compreende a universidade e os mister haver a relação teoria/prática. O aluno pesquisador é
institutos.) motivado a buscar, ler, querer saber mais, duvidar, deixar para
 O autor finaliza sugerindo modelos de cursos de pós- traz a condição de objeto. Ele passa de informado a informante.
graduação (mestrado e doutorados). Agora o que fazer para motivar o aluno a desenvolver seu
questionamento reconstrutivo? Concorda-se com a solução
Outro ponto de vista sobre o livro Educar pela proposta por Pedro Demo, quando ele enfatiza a importância
pesquisa de motivações lúdicas e o hábito da leitura, o apoio familiar e
Pedro Demo, em seu livro intitulado "Educar pela o uso intensivo do tempo escolar. Mas o professor só pode
pesquisa", traz novos conceitos de educação, pesquisa e cultivar esses hábitos nos alunos se ele tiver esses hábitos e
também desenvolve uma teoria sobre o questionamento para isso, o professor precisa se expressar de maneira
reconstrutivo, aluno sujeito e aluno objeto, entre outros, fundamentada, exercitar o conhecimento sempre, a
indicando meios de romper com a educação tradicionalista. formulação própria, cotidianizar a pesquisa, além de refazer o
Como se sabe, um dos objetivos da educação é desenvolver material didático, inovar a prática didática, construir textos
o ouvir, o falar, o ler e o escrever, ou seja, é formar a científicos e recuperar constantemente a competência.
competência. O responsável pela educação dos alunos é o Quanto à forma de avaliação, preconiza-se o
professor e como Pedro Demo afirma, para o professor, não acompanhamento dos alunos, o interesse pela pesquisa, as
basta ser um profissional da pesquisa, mas um profissional da elaborações próprias e a participação ativa. O aluno deve saber
educação pela pesquisa, que torne a pesquisa uma constante que ele é avaliado todos os dias. Todas essas considerações
na sala de aula, de modo que o aluno deixe de ser objeto, aquele acerca de educar pela pesquisa é com o fim de combater o
que não age, mas apenas ouve e recebe o conhecimento por fracasso escolar, cuja culpa é, em parte, do sistema e em parte
osmose e passe a ser sujeito, aquele que busca o conhecimento. do alfabetizador que dá aula copiada. A formação da
À medida que o aluno se torna um sujeito ativo, ele passa a competência do aluno tem a ver com a competência do
questionar o conhecimento e a realidade para saber o porquê professor e exatamente por ainda hoje se ter a visão de que dar
das coisas, além de adquirir a independência crítica. Logo, este aula é fácil é que não se tem investido na condição profissional
questionamento serve para renovar o conhecimento. Daí do professor, e às vezes o próprio professor não vê a
denominado “questionamento reconstrutivo”. O necessidade de se recapacitar.
questionamento reconstrutivo é o cerne da pesquisa, que por

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Não há pesquisa somente na escola, mas também e


principalmente na Universidade. Há uma grande expectativa
ao se entrar na universidade acerca do que é pesquisa e muitos
BRASIL LEI Nº 13.146, DE 6 DE
jovens acabam se decepcionando ao sair da universidade, pois JULHO DE 2015. Institui a Lei
percebem que educação superior é um entupimento teórico - Brasileira de Inclusão da Pessoa
sistemático e o tempo letivo se resume a aula copiada e prova.
“Mesmo nas públicas ainda há professores que só se
com Deficiência (Estatuto da
preocupam em dar aula e ensinar a copiar ainda que nessa faz Pessoa com Deficiência);
cresça a pressão sobre a necessidade da pesquisa.” Acaba se
formando uma elite acadêmica de professores pesquisadores
que se acham especiais. Assim a universidade joga fora a LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 20155
chance de postar-se no centro do desenvolvimento humano.
Somente uma população competente, munida da Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
capacidade de questionamento reconstrutivo sólido seria Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
capaz de contrapor-se ao processo excludente. Quem faz
greves? uma população conhecedora de seus direitos ou uma
ignorante? É preciso prezar pela cidadania acadêmica para
mudar a história. A pesquisa é a razão de ser da universidade LIVRO I
e a base da transformação do mero ensino em educação. PARTE GERAL
Na universidade, assim como na educação básica, deve TÍTULO I
haver a recuperação permanente da competência, do fazer DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
para o saber fazer e sempre refazer. É preciso inovar e renovar CAPÍTULO I
sempre pois vivemos na era da informação e hoje em dia a DISPOSIÇÕES GERAIS
graduação não é o bastante devido ao envelhecimento rápido
de qualquer profissionalização e importa mais qualidade do Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
que quantidade de informação. Por isso a importância de com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
atualizar-se permanentemente. destinada a assegurar e a promover, em condições de
Pedro Demo alerta que na universidade há aula copiada. igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
De acordo com Werneck: “O professor finge que ensina e o fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua
aluno finge que aprende; preocupado, toma nota, reproduz na inclusão social e cidadania.
prova.” Professor que reprova a maioria dos alunos está Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção
reprovado. Professor bom é aquele que faz pessoas comuns sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
gostarem de matemática. “Se na escola o professor não precisa Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do
ser um profissional da pesquisa, já que é um profissional da Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, em
educação pela pesquisa, na universidade pesquisa é profissão. conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º
Deve-se desde o início incentivar a pesquisa na universidade da Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor
pra que o aluno produza sempre e para que a monografia não para o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de
o pegue desprevenido. Na maioria das vezes, a monografia é a 2008, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto
primeira vez que o aluno produz algo. Não é à toa que muitos de 2009, data de início de sua vigência no plano interno.
fazem monografia de encomenda.
A banalização começa com a própria banalização da Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que
profissão: qualquer um que dê aula ou coisa parecida é tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
professor. Portanto, se educação é um processo de formação intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
da competência humana, educar pela pesquisa é trabalhar a barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
competência emancipatória e a competência se alimenta do sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
questionamento reconstrutivo. Logo, cada aluno, em nome da § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será
emancipação, precisa tomar iniciativa e tapar seus buracos por biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e
si mesmo. Não faz sentido que aprenda somente o que consta interdisciplinar e considerará:
nos cursos. I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação
da deficiência.

Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:


I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para
utilização, com segurança e autonomia, de espaços,
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e
tecnologias, bem como de outros serviços e instalações
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo,
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida;
II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes,
programas e serviços a serem usados por todas as pessoas,

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-


2018/2015/Lei/L13146.htm.

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sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com
incluindo os recursos de tecnologia assistiva; criança de colo e obeso;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas)
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a localizadas em áreas residenciais da comunidade, com
funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da estruturas adequadas, que possam contar com apoio
pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa
sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em
social; situação de dependência, que não dispõem de condições de
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou autossustentabilidade e com vínculos familiares fragilizados
comportamento que limite ou impeça a participação social da ou rompidos;
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus XI - moradia para a vida independente da pessoa com
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de deficiência: moradia com estruturas adequadas capazes de
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados
compreensão, à circulação com segurança, entre outros, que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e
classificadas em: adultos com deficiência;
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família,
espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados
coletivo; básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios suas atividades diárias, excluídas as técnicas ou os
públicos e privados; procedimentos identificados com profissões legalmente
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e estabelecidas;
meios de transportes; XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de quais se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de
informações por intermédio de sistemas de comunicação e de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as
tecnologia da informação; técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que legalmente estabelecidas;
impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com
deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de
demais pessoas; atendente pessoal.
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias; CAPÍTULO II
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade
o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá
ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a nenhuma espécie de discriminação.
linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência
meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou
aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar,
tecnologias da informação e das comunicações; impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com
ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, fornecimento de tecnologias assistivas.
a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar § 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição
ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as de benefícios decorrentes de ação afirmativa.
demais pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais;
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda
obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou
energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de degradante.
comunicação, abastecimento e distribuição de água, Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no
paisagismo e os que materializam as indicações do caput deste artigo, são considerados especialmente
planejamento urbanístico; vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas deficiência.
vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos
elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da
modificação ou seu traslado não provoque alterações pessoa, inclusive para:
substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de I - casar-se e constituir união estável;
sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e
análoga; planejamento familiar;
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, compulsória;
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da V - exercer o direito à família e à convivência familiar e
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da comunitária; e

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VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada
adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento
oportunidades com as demais pessoas. ou a institucionalização forçada.
Parágrafo único. O consentimento da pessoa com
Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade deficiência em situação de curatela poderá ser suprido, na
competente qualquer forma de ameaça ou de violação aos forma da lei.
direitos da pessoa com deficiência.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da
e os tribunais tiverem conhecimento de fatos que caracterizem pessoa com deficiência é indispensável para a realização de
as violações previstas nesta Lei, devem remeter peças ao tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa
Ministério Público para as providências cabíveis. científica.
§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família curatela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau
assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a possível, para a obtenção de consentimento.
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à § 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com
sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser
habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver
previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de
à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra
informação, à comunicação, aos avanços científicos e opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes
tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à não tutelados ou curatelados.
convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes
da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis sem seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de
e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu
social e econômico. superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis.

Seção Única CAPÍTULO II


Do Atendimento Prioritário DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO

Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um
atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de: direito da pessoa com deficiência.
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; Parágrafo único. O processo de habilitação e de
II - atendimento em todas as instituições e serviços de reabilitação tem por objetivo o desenvolvimento de
atendimento ao público; potencialidades, talentos, habilidades e aptidões físicas,
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais
tecnológicos, que garantam atendimento em igualdade de e artísticas que contribuam para a conquista da autonomia da
condições com as demais pessoas; pessoa com deficiência e de sua participação social em
IV - disponibilização de pontos de parada, estações e igualdade de condições e oportunidades com as demais
terminais acessíveis de transporte coletivo de passageiros e pessoas.
garantia de segurança no embarque e no desembarque;
V - acesso a informações e disponibilização de recursos de Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia-
comunicação acessíveis; se em avaliação multidisciplinar das necessidades, habilidades
VI - recebimento de restituição de imposto de renda; e potencialidades de cada pessoa, observadas as seguintes
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e diretrizes:
administrativos em que for parte ou interessada, em todos os I - diagnóstico e intervenção precoces;
atos e diligências. II - adoção de medidas para compensar perda ou limitação
funcional, buscando o desenvolvimento de aptidões;
§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao III - atuação permanente, integrada e articulada de
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente políticas públicas que possibilitem a plena participação social
pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste da pessoa com deficiência;
artigo. IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação
§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a intersetorial, nos diferentes níveis de complexidade, para
prioridade conferida por esta Lei é condicionada aos atender às necessidades específicas da pessoa com deficiência;
protocolos de atendimento médico. V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa
com deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a
TÍTULO II organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS territórios locais e as normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
CAPÍTULO I
DO DIREITO À VIDA Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de
reabilitação para a pessoa com deficiência, são garantidos:
Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da
pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para
Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou atender às características de cada pessoa com deficiência;
estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços;
considerada vulnerável, devendo o poder público adotar III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação,
medidas para sua proteção e segurança. materiais e equipamentos adequados e apoio técnico
profissional, de acordo com as especificidades de cada pessoa
com deficiência;

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IV - capacitação continuada de todos os profissionais que I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério,


participem dos programas e serviços. com garantia de parto humanizado e seguro;
II - promoção de práticas alimentares adequadas e
Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e
ações articuladas para garantir à pessoa com deficiência e sua cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e
família a aquisição de informações, orientações e formas de nutrição da mulher e da criança;
acesso às políticas públicas disponíveis, com a finalidade de III - aprimoramento e expansão dos programas de
propiciar sua plena participação social. imunização e de triagem neonatal;
Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste IV - identificação e controle da gestante de alto risco.
artigo podem fornecer informações e orientações nas áreas de
saúde, de educação, de cultura, de esporte, de lazer, de Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de
transporte, de previdência social, de assistência social, de saúde são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no
habitação, de trabalho, de empreendedorismo, de acesso ao mínimo, todos os serviços e produtos ofertados aos demais
crédito, de promoção, proteção e defesa de direitos e nas clientes.
demais áreas que possibilitem à pessoa com deficiência Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde da
exercer sua cidadania. pessoa com deficiência no local de residência, será prestado
atendimento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de
CAPÍTULO III tratamento, garantidos o transporte e a acomodação da pessoa
DO DIREITO À SAÚDE com deficiência e de seu acompanhante.

Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em
com deficiência em todos os níveis de complexidade, por observação é assegurado o direito a acompanhante ou a
intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário. atendente pessoal, devendo o órgão ou a instituição de saúde
§ 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência proporcionar condições adequadas para sua permanência em
na elaboração das políticas de saúde a ela destinadas. tempo integral.
§ 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas e § 1º Na impossibilidade de permanência do acompanhante
técnicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de ou do atendente pessoal junto à pessoa com deficiência, cabe
saúde e contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às ao profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-
especificidades da pessoa com deficiência, incluindo temas la por escrito.
como sua dignidade e autonomia. § 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1º
§ 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa deste artigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar as
com deficiência, especialmente em serviços de habilitação e de providências cabíveis para suprir a ausência do acompanhante
reabilitação, deve ser garantida capacitação inicial e ou do atendente pessoal.
continuada.
§ 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação
pessoa com deficiência devem assegurar: contra a pessoa com deficiência, inclusive por meio de
I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por cobrança de valores diferenciados por planos e seguros
equipe multidisciplinar; privados de saúde, em razão de sua condição.
II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que
necessários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos
manutenção da melhor condição de saúde e qualidade de vida; serviços de saúde, tanto públicos como privados, e às
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento informações prestadas e recebidas, por meio de recursos de
ambulatorial e internação; tecnologia assistiva e de todas as formas de comunicação
IV - campanhas de vacinação; previstas no inciso V do art. 3º desta Lei.
V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares
e atendentes pessoais; Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos
VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa com
orientação sexual da pessoa com deficiência; deficiência, em conformidade com a legislação em vigor,
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos
fertilização assistida; arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação
VIII - informação adequada e acessível à pessoa com que atendam às especificidades das pessoas com deficiência
deficiência e a seus familiares sobre sua condição de saúde; física, sensorial, intelectual e mental.
IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o
desenvolvimento de deficiências e agravos adicionais; Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de
X - promoção de estratégias de capacitação permanente violência praticada contra a pessoa com deficiência serão
das equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde
no atendimento à pessoa com deficiência, bem como públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério
orientação a seus atendentes pessoais; Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com
XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de Deficiência.
locomoção, medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se
conforme as normas vigentes do Ministério da Saúde. violência contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou
§ 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às omissão, praticada em local público ou privado, que lhe cause
instituições privadas que participem de forma complementar morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico.
do SUS ou que recebam recursos públicos para sua
manutenção. CAPÍTULO IV
DO DIREITO À EDUCAÇÃO
Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à
prevenção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com
meio de: deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em
todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma

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a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de
talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de
segundo suas características, interesses e necessidades de lazer, no sistema escolar;
aprendizagem. XVI - acessibilidade para todos os estudantes,
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da trabalhadores da educação e demais integrantes da
comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às
qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e
toda forma de violência, negligência e discriminação. níveis de ensino;
XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, XVIII - articulação intersetorial na implementação de
desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: políticas públicas.
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e
modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI,
garantir condições de acesso, permanência, participação e XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de
aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de valores adicionais de qualquer natureza em suas
acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas
inclusão plena; determinações.
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da
educacional especializado, assim como os demais serviços e Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se
adaptações razoáveis, para atender às características dos observar o seguinte:
estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na
currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista educação básica devem, no mínimo, possuir ensino médio
e o exercício de sua autonomia; completo e certificado de proficiência na Libras;
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando
língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como direcionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos
segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir nível
inclusivas; superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução e
Interpretação em Libras.
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em
ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e Art. 29. (VETADO).
social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a
permanência, a participação e a aprendizagem em instituições Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e
de ensino; permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos ensino superior e de educação profissional e tecnológica,
métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de públicas e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:
equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos
plano de atendimento educacional especializado, de serviços;
organização de recursos e serviços de acessibilidade e de II - disponibilização de formulário de inscrição de exames
disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de com campos específicos para que o candidato com deficiência
tecnologia assistiva; informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva
VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas necessários para sua participação;
famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade III - disponibilização de provas em formatos acessíveis
escolar; para atendimento às necessidades específicas do candidato
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o com deficiência;
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de
vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e
criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com escolhidos pelo candidato com deficiência;
deficiência;
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo
programas de formação inicial e continuada de professores e candidato com deficiência, tanto na realização de exame para
oferta de formação continuada para o atendimento seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia
educacional especializado; solicitação e comprovação da necessidade;
XI - formação e disponibilização de professores para o VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas,
atendimento educacional especializado, de tradutores e discursivas ou de redação que considerem a singularidade
intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais linguística da pessoa com deficiência, no domínio da
de apoio; modalidade escrita da língua portuguesa;
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso VII - tradução completa do edital e de suas retificações em
de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar Libras.
habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua
autonomia e participação; CAPÍTULO V
XIII - acesso à educação superior e à educação profissional DO DIREITO À MORADIA
e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com
as demais pessoas; Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de digna, no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge
nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a
de temas relacionados à pessoa com deficiência nos vida independente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em
respectivos campos de conhecimento; residência inclusiva.

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º O poder público adotará programas e ações oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades
estratégicas para apoiar a criação e a manutenção de moradia com os demais empregados.
para a vida independente da pessoa com deficiência. § 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência
§ 2º A proteção integral na modalidade de residência acessibilidade em cursos de formação e de capacitação.
inclusiva será prestada no âmbito do Suas à pessoa com
deficiência em situação de dependência que não disponha de Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de
condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso
fragilizados ou rompidos. e de permanência da pessoa com deficiência no campo de
trabalho.
Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou Parágrafo único. Os programas de estímulo ao
subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o
ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de cooperativismo e o associativismo, devem prever a
imóvel para moradia própria, observado o seguinte: participação da pessoa com deficiência e a disponibilização de
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades linhas de crédito, quando necessárias.
habitacionais para pessoa com deficiência;
II - (VETADO); Seção II
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de Da Habilitação Profissional e Reabilitação
acessibilidade nas áreas de uso comum e nas unidades Profissional
habitacionais no piso térreo e de acessibilidade ou de
adaptação razoável nos demais pisos; Art. 36. O poder público deve implementar serviços e
IV - disponibilização de equipamentos urbanos programas completos de habilitação profissional e de
comunitários acessíveis; reabilitação profissional para que a pessoa com deficiência
V - elaboração de especificações técnicas no projeto que possa ingressar, continuar ou retornar ao campo do trabalho,
permitam a instalação de elevadores. respeitados sua livre escolha, sua vocação e seu interesse.
§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo, § 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em
será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas critérios previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de
uma vez. habilitação ou de reabilitação que possibilite à pessoa com
§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios de deficiência restaurar sua capacidade e habilidade profissional
financiamento devem ser compatíveis com os rendimentos da ou adquirir novas capacidades e habilidades de trabalho.
pessoa com deficiência ou de sua família. § 2º A habilitação profissional corresponde ao processo
§ 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas destinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de
unidades habitacionais reservadas por força do disposto no conhecimentos, habilidades e aptidões para exercício de
inciso I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão profissão ou de ocupação, permitindo nível suficiente de
disponibilizadas às demais pessoas. desenvolvimento profissional para ingresso no campo de
trabalho.
Art. 33. Ao poder público compete: § 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação
I - adotar as providências necessárias para o cumprimento profissional e de educação profissional devem ser dotados de
do disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e recursos necessários para atender a toda pessoa com
II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a deficiência, independentemente de sua característica
política habitacional prevista nas legislações federal, específica, a fim de que ela possa ser capacitada para trabalho
estaduais, distrital e municipais, com ênfase nos dispositivos que lhe seja adequado e ter perspectivas de obtê-lo, de
sobre acessibilidade. conservá-lo e de nele progredir.
§ 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação
CAPÍTULO VI profissional e de educação profissional deverão ser oferecidos
DO DIREITO AO TRABALHO em ambientes acessíveis e inclusivos.
Seção I § 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional
Disposições Gerais devem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas,
especialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em
Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho todos os níveis e modalidades, em entidades de formação
de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e profissional ou diretamente com o empregador.
inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais § 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas
pessoas. por meio de prévia formalização do contrato de emprego da
§ 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de pessoa com deficiência, que será considerada para o
qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de cumprimento da reserva de vagas prevista em lei, desde que
trabalho acessíveis e inclusivos. por tempo determinado e concomitante com a inclusão
§ 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de profissional na empresa, observado o disposto em
oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e regulamento.
favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por § 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional
trabalho de igual valor. atenderão à pessoa com deficiência.
§ 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
deficiência e qualquer discriminação em razão de sua Seção III
condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho
contratação, admissão, exames admissional e periódico,
permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com
profissional, bem como exigência de aptidão plena. deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser
ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de
de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no
ambiente de trabalho.

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APOSTILAS OPÇÃO

Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com III - a monumentos e locais de importância cultural e a
deficiência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, espaços que ofereçam serviços ou eventos culturais e
observadas as seguintes diretrizes: esportivos.
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em
com maior dificuldade de inserção no campo de trabalho; formato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer
II - provisão de suportes individualizados que atendam a argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos
necessidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive de propriedade intelectual.
a disponibilização de recursos de tecnologia assistiva, de § 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à
agente facilitador e de apoio no ambiente de trabalho; eliminação, à redução ou à superação de barreiras para a
III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa promoção do acesso a todo patrimônio cultural, observadas as
com deficiência apoiada; normas de acessibilidade, ambientais e de proteção do
IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos patrimônio histórico e artístico nacional.
empregadores, com vistas à definição de estratégias de
inclusão e de superação de barreiras, inclusive atitudinais; Art. 43. O poder público deve promover a participação da
V - realização de avaliações periódicas; pessoa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais,
VI - articulação intersetorial das políticas públicas; culturais, esportivas e recreativas, com vistas ao seu
protagonismo, devendo:
VII - possibilidade de participação de organizações da I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de
sociedade civil. recursos adequados, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas;
Art. 38. A entidade contratada para a realização de II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos
processo seletivo público ou privado para cargo, função ou serviços prestados por pessoa ou entidade envolvida na
emprego está obrigada à observância do disposto nesta Lei e organização das atividades de que trata este artigo; e
em outras normas de acessibilidade vigentes. III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em
jogos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e
CAPÍTULO VII artísticas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de
DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL condições com as demais pessoas.

Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios
benefícios no âmbito da política pública de assistência social à de esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares,
pessoa com deficiência e sua família têm como objetivo a serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa com
garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e deficiência, de acordo com a capacidade de lotação da
da reabilitação, do desenvolvimento da autonomia e da edificação, observado o disposto em regulamento.
convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso § 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo
a direitos e da plena participação social. devem ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa
§ 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos visibilidade, em todos os setores, próximos aos corredores,
termos do caput deste artigo, deve envolver conjunto devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de
articulado de serviços do âmbito da Proteção Social Básica e público e obstrução das saídas, em conformidade com as
da Proteção Social Especial, ofertados pelo Suas, para a normas de acessibilidade.
garantia de seguranças fundamentais no enfrentamento de § 2º No caso de não haver comprovada procura pelos
situações de vulnerabilidade e de risco, por fragilização de assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser
vínculos e ameaça ou violação de direitos. ocupados por pessoas sem deficiência ou que não tenham
§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa mobilidade reduzida, observado o disposto em regulamento.
com deficiência em situação de dependência deverão contar § 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo
com cuidadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e devem situar-se em locais que garantam a acomodação de, no
instrumentais. mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida, resguardado o direito de se
Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não acomodar proximamente a grupo familiar e comunitário.
possua meios para prover sua subsistência nem de tê-la § 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver,
provida por sua família o benefício mensal de 1 (um) salário- obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência
mínimo, nos termos da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de acessíveis, conforme padrões das normas de acessibilidade, a
1993. fim de permitir a saída segura da pessoa com deficiência ou
com mobilidade reduzida, em caso de emergência.
CAPÍTULO VIII § 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput
DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL deste artigo devem atender às normas de acessibilidade em
vigor.
Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral § 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as
de Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria nos sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com
termos da Lei Complementar no 142, de 8 de maio de 2013. deficiência.
§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não
CAPÍTULO IX poderá ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E
AO LAZER Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser
construídos observando-se os princípios do desenho
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao universal, além de adotar todos os meios de acessibilidade,
esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades conforme legislação em vigor. (Vigência)
com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: § 1º Os estabelecimentos já existentes deverão
I - a bens culturais em formato acessível; disponibilizar, pelo menos, 10% (dez por cento) de seus
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade
atividades culturais e desportivas em formato acessível; e acessível.

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§ 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo cumprimento do disposto nos arts. 46 e 48 desta Lei.
deverão ser localizados em rotas acessíveis. (Vigência)

CAPÍTULO X Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de


DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE veículos acessíveis e a sua utilização como táxis e vans, de
forma a garantir o seu uso por todas as pessoas.
Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa
com deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10%
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
meio de identificação e de eliminação de todos os obstáculos e deficiência.
barreiras ao seu acesso. § 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de
§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com
coletivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições, deficiência.
consideram-se como integrantes desses serviços os veículos, § 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos
os terminais, as estações, os pontos de parada, o sistema viário fiscais com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a
e a prestação do serviço. que se refere o caput deste artigo.
§ 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta
Lei, sempre que houver interação com a matéria nela regulada, Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer
a outorga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a
ou a habilitação de linhas e de serviços de transporte coletivo. cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo,
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e
dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo comandos manuais de freio e de embreagem.
gestor público responsável pela prestação do serviço.
TÍTULO III
Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao DA ACESSIBILIDADE
público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias CAPÍTULO I
públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de DISPOSIÇÕES GERAIS
circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para
veículos que transportem pessoa com deficiência com Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com
comprometimento de mobilidade, desde que devidamente deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma
identificados. independente e exercer seus direitos de cidadania e de
§ 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem participação social.
equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo,
1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com as especificações Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta
de desenho e traçado de acordo com as normas técnicas Lei e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que
vigentes de acessibilidade. houver interação com a matéria nela regulada:
§ 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de
exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de comunicação e informação, a fabricação de veículos de
beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de transporte coletivo, a prestação do respectivo serviço e a
trânsito, que disciplinarão suas características e condições de execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação
uso. pública ou coletiva;
§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão,
sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XVII do art. autorização ou habilitação de qualquer natureza;
181 da Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de III - a aprovação de financiamento de projeto com
Trânsito Brasileiro). utilização de recursos públicos, por meio de renúncia ou de
§ 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é incentivo fiscal, contrato, convênio ou instrumento congênere;
vinculada à pessoa com deficiência que possui e
comprometimento de mobilidade e é válida em todo o IV - a concessão de aval da União para obtenção de
território nacional. empréstimo e de financiamento internacionais por entes
públicos ou privados.
Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre,
aquaviário e aéreo, as instalações, as estações, os portos e os Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que
terminais em operação no País devem ser acessíveis, de forma tratem do meio físico, de transporte, de informação e
a garantir o seu uso por todas as pessoas. comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da
§ 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste informação e comunicação, e de outros serviços,
artigo devem dispor de sistema de comunicação acessível que equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público
disponibilize informações sobre todos os pontos do itinerário. ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na
§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade rural, devem atender aos princípios do desenho universal,
e segurança nos procedimentos de embarque e de tendo como referência as normas de acessibilidade.
desembarque nos veículos de transporte coletivo, de acordo § 1º O desenho universal será sempre tomado como regra
com as normas técnicas. de caráter geral.
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos § 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros universal não possa ser empreendido, deve ser adotada
dependem da certificação de acessibilidade emitida pelo adaptação razoável.
gestor público responsável pela prestação do serviço. § 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de
conteúdos temáticos referentes ao desenho universal nas
Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de diretrizes curriculares da educação profissional e tecnológica
turismo, na renovação de suas frotas, são obrigadas ao e do ensino superior e na formação das carreiras de Estado.

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§ 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a § 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento


serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de para qualquer atividade são condicionadas à observação e à
auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão incluir certificação das regras de acessibilidade.
temas voltados para o desenho universal. § 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação
§ 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida
deverão considerar a adoção do desenho universal. anteriormente às exigências de acessibilidade, é condicionada
à observação e à certificação das regras de acessibilidade.
Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança
de uso de edificações abertas ao público, de uso público ou Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção
privadas de uso coletivo deverão ser executadas de modo a das ações de acessibilidade atenderão às seguintes premissas
serem acessíveis. básicas:
§ 1º As entidades de fiscalização profissional das
atividades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e
anotarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir reserva de recursos para implementação das ações; e
a responsabilidade profissional declarada de atendimento às II - planejamento contínuo e articulado entre os setores
regras de acessibilidade previstas em legislação e em normas envolvidos.
técnicas pertinentes.
§ 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante
certificado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e de solicitação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extratos
instalações e equipamentos temporários ou permanentes e e cobranças de tributos em formato acessível.
para o licenciamento ou a emissão de certificado de conclusão
de obra ou de serviço, deve ser atestado o atendimento às CAPÍTULO II
regras de acessibilidade. DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO
§ 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de
edificação ou de serviço, determinará a colocação, em espaços Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet
ou em locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional mantidos por empresas com sede ou representação comercial
de acesso, na forma prevista em legislação e em normas no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com
técnicas correlatas. deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis,
conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade
Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo adotadas internacionalmente.
já existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com § 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em
deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo destaque.
como referência as normas de acessibilidade vigentes. § 2º Telecentros comunitários que receberem recursos
públicos federais para seu custeio ou sua instalação e lan
Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso houses devem possuir equipamentos e instalações acessíveis.
privado multifamiliar devem atender aos preceitos de § 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º deste
acessibilidade, na forma regulamentar. artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de
§ 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo seus computadores com recursos de acessibilidade para
projeto e pela construção das edificações a que se refere o pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1
caput deste artigo devem assegurar percentual mínimo de (um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior
suas unidades internamente acessíveis, na forma a 1 (um).
regulamentar.
§ 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata
aquisição de unidades internamente acessíveis a que se refere o art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do
o § 1º deste artigo. financiamento de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.

Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de
públicos, o poder público e as empresas concessionárias telecomunicações deverão garantir pleno acesso à pessoa com
responsáveis pela execução das obras e dos serviços devem deficiência, conforme regulamentação específica.
garantir, de forma segura, a fluidez do trânsito e a livre
circulação e acessibilidade das pessoas, durante e após sua Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de
execução. aparelhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade
que, entre outras tecnologias assistivas, possuam
Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de possibilidade de indicação e de ampliação sonoras de todas as
acessibilidade previstas em legislação e em normas técnicas, operações e funções disponíveis.
observado o disposto na Lei no 10.098, de 19 de dezembro de
2000, no 10.257, de 10 de julho de 2001, e no 12.587, de 3 de Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens
janeiro de 2012: devem permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:
I - os planos diretores municipais, os planos diretores de I - subtitulação por meio de legenda oculta;
transporte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e os II - janela com intérprete da Libras;
planos de preservação de sítios históricos elaborados ou III - audiodescrição.
atualizados a partir da publicação desta Lei;
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de
uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário; incentivo à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; comercialização de livros em formatos acessíveis, inclusive em
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; publicações da administração pública ou financiadas com
e recursos públicos, com vistas a garantir à pessoa com
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e deficiência o direito de acesso à leitura, à informação e à
pânico. comunicação.

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§ 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de
abastecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em medidas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro) anos,
todos os níveis e modalidades de educação e de bibliotecas com a finalidade de:
públicas, o poder público deverá adotar cláusulas de I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com
impedimento à participação de editoras que não ofertem sua oferta de linhas de crédito subsidiadas, específicas para
produção também em formatos acessíveis. aquisição de tecnologia assistiva;
§ 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de
digitais que possam ser reconhecidos e acessados por importação de tecnologia assistiva, especialmente as questões
softwares leitores de telas ou outras tecnologias assistivas que atinentes a procedimentos alfandegários e sanitários;
vierem a substituí-los, permitindo leitura com voz sintetizada, III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção
ampliação de caracteres, diferentes contrastes e impressão em nacional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de
Braille. concessão de linhas de crédito subsidiado e de parcerias com
§ 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e institutos de pesquisa oficiais;
a produção de artigos científicos em formato acessível, IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e
inclusive em Libras. de importação de tecnologia assistiva;
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos
Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade recursos de tecnologia assistiva no rol de produtos
de informações corretas e claras sobre os diferentes produtos distribuídos no âmbito do SUS e por outros órgãos
e serviços ofertados, por quaisquer meios de comunicação governamentais.
empregados, inclusive em ambiente virtual, contendo a Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste
especificação correta de quantidade, qualidade, artigo, os procedimentos constantes do plano específico de
características, composição e preço, bem como sobre os medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois)
eventuais riscos à saúde e à segurança do consumidor com anos.
deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, no que
couber, os arts. 30 a 41 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de CAPÍTULO IV
1990. DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E
§ 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios POLÍTICA
publicitários veiculados na imprensa escrita, na internet, no
rádio, na televisão e nos demais veículos de comunicação Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com
abertos ou por assinatura devem disponibilizar, conforme a deficiência todos os direitos políticos e a oportunidade de
compatibilidade do meio, os recursos de acessibilidade de que exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas.
trata o art. 67 desta Lei, a expensas do fornecedor do produto § 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de
ou do serviço, sem prejuízo da observância do disposto nos votar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações:
arts. 36 a 38 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os
§ 2º Os fornecedores devem disponibilizar, mediante materiais e os equipamentos para votação sejam apropriados,
solicitação, exemplares de bulas, prospectos, textos ou acessíveis a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso,
qualquer outro tipo de material de divulgação em formato sendo vedada a instalação de seções eleitorais exclusivas para
acessível. a pessoa com deficiência;
II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a
Art. 70. As instituições promotoras de congressos, desempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis
seminários, oficinas e demais eventos de natureza científico- de governo, inclusive por meio do uso de novas tecnologias
cultural devem oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, assistivas, quando apropriado;
os recursos de tecnologia assistiva previstos no art. 67 desta
Lei. III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a
propaganda eleitoral obrigatória e os debates transmitidos
Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os pelas emissoras de televisão possuam, pelo menos, os recursos
demais eventos de natureza científico-cultural promovidos ou elencados no art. 67 desta Lei;
financiados pelo poder público devem garantir as condições de IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para
acessibilidade e os recursos de tecnologia assistiva. tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para
que a pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a pessoa de sua escolha.
serem desenvolvidos com o apoio de agências de § 2º O poder público promoverá a participação da pessoa
financiamento e de órgãos e entidades integrantes da com deficiência, inclusive quando institucionalizada, na
administração pública que atuem no auxílio à pesquisa devem condução das questões públicas, sem discriminação e em
contemplar temas voltados à tecnologia assistiva. igualdade de oportunidades, observado o seguinte:
I - participação em organizações não governamentais
Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em relacionadas à vida pública e à política do País e em atividades
parceria com organizações da sociedade civil, promover a e administração de partidos políticos;
capacitação de tradutores e intérpretes da Libras, de guias II - formação de organizações para representar a pessoa
intérpretes e de profissionais habilitados em Braille, com deficiência em todos os níveis;
audiodescrição, estenotipia e legendagem. III - participação da pessoa com deficiência em
organizações que a representem.
CAPÍTULO III
DA TECNOLOGIA ASSISTIVA TÍTULO IV
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a
produtos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimento
serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnológicas,
autonomia, mobilidade pessoal e qualidade de vida. voltados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da
pessoa com deficiência e sua inclusão social.

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a geração Art. 82. (VETADO).
de conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e ao
tratamento de deficiências e ao desenvolvimento de Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem
tecnologias assistiva e social. negar ou criar óbices ou condições diferenciadas à prestação
§ 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social de seus serviços em razão de deficiência do solicitante,
devem ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós- devendo reconhecer sua capacidade legal plena, garantida a
graduação, a formação de recursos humanos e a inclusão do acessibilidade.
tema nas diretrizes de áreas do conhecimento. Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput
§ 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de deste artigo constitui discriminação em razão de deficiência.
instituições públicas e privadas para o desenvolvimento de
tecnologias assistiva e social que sejam voltadas para melhoria CAPÍTULO II
da funcionalidade e da participação social da pessoa com DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI
deficiência.
§ 4º As medidas previstas neste artigo devem ser Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito
reavaliadas periodicamente pelo poder público, com vistas ao ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de
seu aperfeiçoamento. condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será
Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o submetida à curatela, conforme a lei.
desenvolvimento, a inovação e a difusão de tecnologias § 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de
voltadas para ampliar o acesso da pessoa com deficiência às processo de tomada de decisão apoiada.
tecnologias da informação e comunicação e às tecnologias § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência
sociais. constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
Parágrafo único. Serão estimulados, em especial: necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação menor tempo possível.
como instrumento de superação de limitações funcionais e de § 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente,
barreiras à comunicação, à informação, à educação e ao contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço
entretenimento da pessoa com deficiência; do respectivo ano.
II - a adoção de soluções e a difusão de normas que visem
a ampliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados
computação e aos sítios da internet, em especial aos serviços aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
de governo eletrônico. § 1º A definição da curatela não alcança o direito ao
próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à
LIVRO II educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
PARTE ESPECIAL § 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo
TÍTULO I constar da sentença as razões e motivações de sua definição,
DO ACESSO À JUSTIÇA preservados os interesses do curatelado.
CAPÍTULO I § 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização,
DISPOSIÇÕES GERAIS ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que
tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com
Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pessoa o curatelado.
com deficiência à justiça, em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos, Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será
adaptações e recursos de tecnologia assistiva. exigida a situação de curatela da pessoa com deficiência.
§ 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência
em todo o processo judicial, o poder público deve capacitar os Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de
membros e os servidores que atuam no Poder Judiciário, no proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação
Ministério Público, na Defensoria Pública, nos órgãos de de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de
segurança pública e no sistema penitenciário quanto aos oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo,
direitos da pessoa com deficiência. curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às
§ 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência disposições do Código de Processo Civil.
submetida a medida restritiva de liberdade todos os direitos e
garantias a que fazem jus os apenados sem deficiência, TÍTULO II
garantida a acessibilidade. DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
§ 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão
as medidas necessárias à garantia dos direitos previstos nesta Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa
Lei. em razão de sua deficiência:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de § 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima
tecnologia assistiva disponíveis para que a pessoa com encontrar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.
deficiência tenha garantido o acesso à justiça, sempre que § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo
figure em um dos polos da ação ou atue como testemunha, é cometido por intermédio de meios de comunicação social ou
partícipe da lide posta em juízo, advogado, defensor público, de publicação de qualquer natureza:
magistrado ou membro do Ministério Público. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido o
acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de seu § 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá
interesse, inclusive no exercício da advocacia. determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste,
ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:
Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do
garantidos por ocasião da aplicação de sanções penais. material discriminatório;

Conhecimentos Pedagógicos 90
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APOSTILAS OPÇÃO

II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de § 6º As informações a que se refere este artigo devem ser
informação na internet. disseminadas em formatos acessíveis.
§ 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito da
condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos
destruição do material apreendido. órgãos de controle interno e externo, deve ser observado o
cumprimento da legislação relativa à pessoa com deficiência e
Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, das normas de acessibilidade vigentes.
pensão, benefícios, remuneração ou qualquer outro
rendimento de pessoa com deficiência: Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. pessoa com deficiência moderada ou grave que:
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se
o crime é cometido: I - receba o benefício de prestação continuada previsto no
I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que passe
testamenteiro ou depositário judicial; ou a exercer atividade remunerada que a enquadre como
II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de segurado obrigatório do RGPS;
profissão. II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício
de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei no 8.742, de
Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, 7 de dezembro de 1993, e que exerça atividade remunerada
casas de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres: que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS.
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa com
as necessidades básicas de pessoa com deficiência quando deficiência perante os órgãos públicos quando seu
obrigado por lei ou mandado. deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de
condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio desproporcional e indevido, hipótese na qual serão
eletrônico ou documento de pessoa com deficiência observados os seguintes procedimentos:
destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões I - quando for de interesse do poder público, o agente
ou remuneração ou à realização de operações financeiras, com promoverá o contato necessário com a pessoa com deficiência
o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem: em sua residência;
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se apresentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará
o crime é cometido por tutor ou curador. representar-se por procurador constituído para essa
finalidade.
TÍTULO III Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiência
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS atendimento domiciliar pela perícia médica e social do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pelo serviço
Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa público de saúde ou pelo serviço privado de saúde, contratado
com Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público ou conveniado, que integre o SUS e pelas entidades da rede
eletrônico com a finalidade de coletar, processar, sistematizar socioassistencial integrantes do Suas, quando seu
e disseminar informações georreferenciadas que permitam a deslocamento, em razão de sua limitação funcional e de
identificação e a caracterização socioeconômica da pessoa com condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus
deficiência, bem como das barreiras que impedem a realização desproporcional e indevido.
de seus direitos.
§ 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder Art. 96. O § 6º-A do art. 135 da Lei no 4.737, de 15 de julho
Executivo federal e constituído por base de dados, de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com a seguinte
instrumentos, procedimentos e sistemas eletrônicos. redação:
§ 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão “Art. 135. .................................................................
obtidos pela integração dos sistemas de informação e da base ........................................................................................
de dados de todas as políticas públicas relacionadas aos § 6º-A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada
direitos da pessoa com deficiência, bem como por informações eleição, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá-
coletadas, inclusive em censos nacionais e nas demais los na escolha dos locais de votação, de maneira a garantir
pesquisas realizadas no País, de acordo com os parâmetros acessibilidade para o eleitor com deficiência ou com
estabelecidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas mobilidade reduzida, inclusive em seu entorno e nos sistemas
com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. de transporte que lhe dão acesso.
§ 3º Para coleta, transmissão e sistematização de dados, é ....................................................................................”
facultada a celebração de convênios, acordos, termos de
parceria ou contratos com instituições públicas e privadas, Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
observados os requisitos e procedimentos previstos em aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943,
legislação específica. passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e as “Art. 428. ..................................................................
liberdades fundamentais da pessoa com deficiência e os ...........................................................................................
princípios éticos que regem a utilização de informações, § 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a
devem ser observadas as salvaguardas estabelecidas em lei. comprovação da escolaridade de aprendiz com deficiência
§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão ser deve considerar, sobretudo, as habilidades e competências
utilizados para as seguintes finalidades: relacionadas com a profissionalização.
I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das ...........................................................................................
políticas públicas para a pessoa com deficiência e para § 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos
identificar as barreiras que impedem a realização de seus ou mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe
direitos; anotação na CTPS e matrícula e frequência em programa de
II - realização de estudos e pesquisas.

Conhecimentos Pedagógicos 91
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APOSTILAS OPÇÃO

aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade “Art. 6º .......................................................................


qualificada em formação técnico-profissional metódica.” (NR)
“Art. 433. .................................................................. ............................................................................................
........................................................................................... Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do
I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência,
salvo para o aprendiz com deficiência quando desprovido de observado o disposto em regulamento.”
recursos de acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio “Art. 43. ......................................................................
necessário ao desempenho de suas atividades; ............................................................................................
..................................................................................”
§ 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo
Art. 98. A Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, passa a devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive
vigorar com as seguintes alterações: para a pessoa com deficiência, mediante solicitação do
“Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de consumidor.” (NR)
interesses coletivos, difusos, individuais homogêneos e
individuais indisponíveis da pessoa com deficiência poderão Art. 101. A Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, passa a
ser propostas pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, vigorar com as seguintes alterações:
pela União, pelos Estados, pelos Municípios, pelo Distrito “Art. 16. ......................................................................
Federal, por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
termos da lei civil, por autarquia, por empresa pública e por emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)
fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental
suas finalidades institucionais, a proteção dos interesses e a ou deficiência grave;
promoção de direitos da pessoa com deficiência. ............................................................................................
.................................................................................” (NR) III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor
“Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência
5 (cinco) anos e multa: intelectual ou mental ou deficiência grave;
.................................................................................”
I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, “Art. 77. .....................................................................
procrastinar, cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em ............................................................................................
estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público § 2º ..............................................................................
ou privado, em razão de sua deficiência;
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de ............................................................................................
alguém a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua
deficiência; II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à ambos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte e
pessoa em razão de sua deficiência; um) anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de intelectual ou mental ou deficiência grave;
prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa ...................................................................................
com deficiência; § 4º (VETADO).
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ...................................................................................”
ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; “Art. 93. (VETADO):
VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos I - (VETADO);
indispensáveis à propositura da ação civil pública objeto desta II - (VETADO);
Lei, quando requisitados. III - (VETADO);
§ 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência IV - (VETADO);
menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um V - (VETADO).
terço). § 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de
§ 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de
para indeferimento de inscrição, de aprovação e de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias
cumprimento de estágio probatório em concursos públicos e a dispensa imotivada em contrato por prazo indeterminado
não exclui a responsabilidade patrimonial pessoal do somente poderão ocorrer após a contratação de outro
administrador público pelos danos causados. trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da
§ 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta Previdência Social.
o ingresso de pessoa com deficiência em planos privados de § 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe
assistência à saúde, inclusive com cobrança de valores estabelecer a sistemática de fiscalização, bem como gerar
diferenciados. dados e estatísticas sobre o total de empregados e as vagas
§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência preenchidas por pessoas com deficiência e por beneficiários
e emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).” reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, quando
solicitados, aos sindicatos, às entidades representativas dos
Art. 99. O art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990, empregados ou aos cidadãos interessados.
passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII: § 3º Para a reserva de cargos será considerada somente a
“Art. 20. ...................................................................... contratação direta de pessoa com deficiência, excluído o
.............................................................................................. aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis
XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º
prescrição, necessite adquirir órtese ou prótese para de maio de 1943.
promoção de acessibilidade e de inclusão social. § 4º (VETADO).”
..................................................................................” “Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios
operacionalizados pelo INSS, não será exigida apresentação de
Art. 100. A Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990 termo de curatela de titular ou de beneficiário com deficiência,
(Código de Defesa do Consumidor), passa a vigorar com as observados os procedimentos a serem estabelecidos em
seguintes alterações: regulamento.”

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Art. 102. O art. 2º da Lei no 8.313, de 23 de dezembro de Art. 106. (VETADO).


1991, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º:
“Art. 2º ......................................................................... Art. 107. A Lei no 9.029, de 13 de abril de 1995, passa a
............................................................................................. vigorar com as seguintes alterações:
§ 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão “Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática
concedidos a projetos culturais que forem disponibilizados, discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de
sempre que tecnicamente possível, também em formato trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo, origem,
acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência,
regulamento.” reabilitação profissional, idade, entre outros, ressalvadas,
nesse caso, as hipóteses de proteção à criança e ao adolescente
Art. 103. O art. 11 da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992, previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.”
passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IX: “Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e nos
“Art. 11. ..................................................................... dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de
............................................................................................ preconceito de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações:
acessibilidade previstos na legislação.” ..................................................................................”
“Art. 4º ........................................................................
Art. 104. A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o
vigorar com as seguintes alterações: período de afastamento, mediante pagamento das
“Art. 3º ..................................................................... remunerações devidas, corrigidas monetariamente e
.......................................................................................... acrescidas de juros legais;
§ 2º ........................................................................... ....................................................................................”

.......................................................................................... Art. 108. O art. 35 da Lei no 9.250, de 26 de dezembro de


V - produzidos ou prestados por empresas que comprovem 1995, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º:
cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para pessoa “Art. 35. ......................................................................
com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que .............................................................................................
atendam às regras de acessibilidade previstas na legislação. § 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo
........................................................................................... único do art. 3º da Lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003, a
§ 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida pessoa com deficiência, ou o contribuinte que tenha
margem de preferência para: dependente nessa condição, tem preferência na restituição
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais que referida no inciso III do art. 4º e na alínea “c” do inciso II do art.
atendam a normas técnicas brasileiras; e 8º.” (NR)
II - bens e serviços produzidos ou prestados por empresas
que comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista Art. 109. A Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997
em lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado da (Código de Trânsito Brasileiro), passa a vigorar com as
Previdência Social e que atendam às regras de acessibilidade seguintes alterações:
previstas na legislação. “Art. 2º ...........................................................
...................................................................................” Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são
“Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § 2º e consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação
no inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão cumprir, pública, as vias internas pertencentes aos condomínios
durante todo o período de execução do contrato, a reserva de constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de
cargos prevista em lei para pessoa com deficiência ou para estacionamento de estabelecimentos privados de uso
reabilitado da Previdência Social, bem como as regras de coletivo.” (NR)
acessibilidade previstas na legislação. “Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de
Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o que trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser
cumprimento dos requisitos de acessibilidade nos serviços e sinalizadas com as respectivas placas indicativas de
nos ambientes de trabalho.” destinação e com placas informando os dados sobre a infração
por estacionamento indevido.”
Art. 105. O art. 20 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de “Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é
1993, passa a vigorar com as seguintes alterações: assegurada acessibilidade de comunicação, mediante emprego
“Art. 20. ...................................................................... de tecnologias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as
............................................................................................. etapas do processo de habilitação.
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação § 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas
continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que teóricas dos cursos que precedem os exames previstos no art.
tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, 147 desta Lei deve ser acessível, por meio de subtitulação com
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais legenda oculta associada à tradução simultânea em Libras.
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na § 2º É assegurado também ao candidato com deficiência
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. auditiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de
............................................................................................ intérprete da Libras, para acompanhamento em aulas práticas
§ 9º Os rendimentos decorrentes de estágio e teóricas.”
supervisionado e de aprendizagem não serão computados “Art. 154. (VETADO).”
para os fins de cálculo da renda familiar per capita a que se “Art. 181. ...................................................................
refere o § 3º deste artigo. ..........................................................................................
............................................................................................. XVII - .........................................................................
§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput Infração - grave;
deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos .................................................................................”
probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e
da situação de vulnerabilidade, conforme regulamento.”

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Art. 110. O inciso VI e o § 1º do art. 56 da Lei no 9.615, de V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com
24 de março de 1998, passam a vigorar com a seguinte deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de
redação: atendente pessoal;
“Art. 56. .................................................................... VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes de
........................................................................................... obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação,
VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de
arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de
federais e similares cuja realização estiver sujeita a comunicação, abastecimento e distribuição de água,
autorização federal, deduzindo-se esse valor do montante paisagismo e os que materializam as indicações do
destinado aos prêmios; planejamento urbanístico;
............................................................................................. VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas
§ 1º Do total de recursos financeiros resultantes do vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos
percentual de que trata o inciso VI do caput, 62,96% (sessenta elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua
e dois inteiros e noventa e seis centésimos por cento) serão modificação ou seu traslado não provoque alterações
destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de
(trinta e sete inteiros e quatro centésimos por cento) ao sinalização e similares, terminais e pontos de acesso coletivo
Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), devendo ser observado, às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos,
em ambos os casos, o conjunto de normas aplicáveis à marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza
celebração de convênios pela União. análoga;
..................................................................................” VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
Art. 111. O art. 1º da Lei no 10.048, de 8 de novembro de estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a
2000, passa a vigorar com a seguinte redação: funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da
“Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à
igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
lactantes, as pessoas com crianças de colo e os obesos terão social;
atendimento prioritário, nos termos desta Lei.” (NR) IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
Art. 112. A Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille,
passa a vigorar com as seguintes alterações: o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres
“Art. 2º ....................................................................... ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias da informação e das comunicações;
tecnologias, bem como de outros serviços e instalações X - desenho universal: concepção de produtos, ambientes,
abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas,
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com sem necessidade de adaptação ou de projeto específico,
deficiência ou com mobilidade reduzida; incluindo os recursos de tecnologia assistiva.”
II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou “Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas,
comportamento que limite ou impeça a participação social da dos parques e dos demais espaços de uso público deverão ser
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus concebidos e executados de forma a torná-los acessíveis para
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de todas as pessoas, inclusive para aquelas com deficiência ou
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à com mobilidade reduzida.
compreensão, à circulação com segurança, entre outros, Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório
classificadas em: de urbanização e parte da via pública, normalmente segregado
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos e em nível diferente, destina-se somente à circulação de
espaços públicos e privados abertos ao público ou de uso pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário
coletivo; urbano e de vegetação.”
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios “Art. 9º ........................................................................
públicos e privados; Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e em vias públicas de grande circulação, ou que deem acesso aos
meios de transportes; serviços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave para
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou orientação do pedestre.”
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de “Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano em
informações por intermédio de sistemas de comunicação e de área de circulação comum para pedestre que ofereça risco de
tecnologia da informação; acidente à pessoa com deficiência deverá ser indicada
III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento mediante sinalização tátil de alerta no piso, de acordo com as
de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou normas técnicas pertinentes.”
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, “Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em congêneres devem fornecer carros e cadeiras de rodas,
igualdade de condições com as demais pessoas; motorizados ou não, para o atendimento da pessoa com
IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, deficiência ou com mobilidade reduzida.”
por qualquer motivo, dificuldade de movimentação,
permanente ou temporária, gerando redução efetiva da Art. 113. A Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto
mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da da Cidade), passa a vigorar com as seguintes alterações:
percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com “Art. 3º ......................................................................
criança de colo e obeso; ............................................................................................

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III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
construção de moradias e melhoria das condições IV - (Revogado).”
habitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos “Art. 1.767. ..................................................................
passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
de uso público; puderem exprimir sua vontade;
IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, II - (Revogado);
inclusive habitação, saneamento básico, transporte e III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
mobilidade urbana, que incluam regras de acessibilidade aos IV - (Revogado);
locais de uso público; ....................................................................................”
.................................................................................” “Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela
“Art. 41. .................................................................... deve ser promovido:
........................................................................................... .............................................................................................
§ 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem IV - pela própria pessoa.”
elaborar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano “Art. 1.769. O Ministério Público somente promoverá o
diretor no qual está inserido, que disponha sobre os passeios processo que define os termos da curatela:
públicos a serem implantados ou reformados pelo poder I - nos casos de deficiência mental ou intelectual;
público, com vistas a garantir acessibilidade da pessoa com ............................................................................................
deficiência ou com mobilidade reduzida a todas as rotas e vias III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas
existentes, inclusive as que concentrem os focos geradores de mencionadas no inciso II.”
maior circulação de pedestres, como os órgãos públicos e os “Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da
locais de prestação de serviços públicos e privados de saúde, curatela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe
educação, assistência social, esporte, cultura, correios e multidisciplinar, entrevistará pessoalmente o interditando.”
telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de “Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades
maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de da pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições
passageiros.” (NR) constantes do art. 1.782, e indicará curador.

Art. 114. A Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em
Civil), passa a vigorar com as seguintes alterações: conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência
“Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer de conflito de interesses e de influência indevida, a
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 proporcionalidade e a adequação às circunstâncias da pessoa.”
(dezesseis) anos. “Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com
I - (Revogado); deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a
II - (Revogado); mais de uma pessoa.”
III - (Revogado).” “Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767
“Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à receberão todo o apoio necessário para ter preservado o
maneira de os exercer: direito à convivência familiar e comunitária, sendo evitado o
..................................................................................... seu recolhimento em estabelecimento que os afaste desse
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; convívio.”
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no
puderem exprimir sua vontade; 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar
............................................................................................. com a seguinte redação:
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada
por legislação especial.” “TÍTULO IV
“Art. 228. ..................................................................... Da Tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão
............................................................................................. Apoiada”
II - (Revogado);
III - (Revogado); Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei no
............................................................................................. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar
§ 1º .............................................................................. acrescido do seguinte Capítulo III:
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em
igualdade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe “CAPÍTULO III
assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” Da Tomada de Decisão Apoiada
“Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais
ou tutores revogar a autorização.” Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo
“Art. 1.548. ................................................................... pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas)
I - (Revogado); pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem
....................................................................................” de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão
“Art. 1.550. .................................................................. sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
............................................................................................. informações necessários para que possa exercer sua
§ 1º .............................................................................. capacidade.
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em § 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua pessoa com deficiencia e os apoiadores devem apresentar
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os
curador.” (NR) compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigencia
“Art. 1.557. ................................................................ do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses
............................................................................................ da pessoa que devem apoiar.
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico § 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido
irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas
aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.

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§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de § 2º No caso de não preenchimento das vagas na forma
decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, estabelecida no caput deste artigo, as remanescentes devem
após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o ser disponibilizadas para os demais concorrentes.”
requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.
§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfera de
efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja governo, a elaboração de relatórios circunstanciados sobre o
inserida nos limites do apoio acordado. cumprimento dos prazos estabelecidos por força das Leis no
§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha 10.048, de 8 de novembro de 2000, e no 10.098, de 19 de
relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra dezembro de 2000, bem como o seu encaminhamento ao
assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua Ministério Público e aos órgãos de regulação para adoção das
função em relação ao apoiado. providências cabíveis.
§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput deste
prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a artigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um) ano a
pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o contar da entrada em vigor desta Lei.
Ministério Público, decidir sobre a questão.
§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos
indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a nesta Lei não excluem os já estabelecidos em outras
pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao legislações, inclusive em pactos, tratados, convenções e
Ministério Público ou ao juiz. declarações internacionais aprovados e promulgados pelo
§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador Congresso Nacional, e devem ser aplicados em conformidade
e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, com as demais normas internas e acordos internacionais
outra pessoa para prestação de apoio. vinculantes sobre a matéria.
§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à
término de acordo firmado em processo de tomada de decisão pessoa com deficiência.
apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do
participaçao do processo de tomada de decisao apoiada, sendo disposto nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado e
seu desligamento condicionado à manifestaçao do juiz sobre a favorecido a ser dispensado às microempresas e às empresas
matéria. de pequeno porte, previsto no § 3º do art. 1º da Lei
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisao apoiada, no que Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006.
couber, as disposiçoes referentes à prestaçao de contas na
curatela.” Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos:
I - o inciso II do § 2º do art. 1º da Lei no 9.008, de 21 de
Art. 117. O art. 1º da Lei no 11.126, de 27 de junho de 2005, março de 1995;
passa a vigorar com a seguinte redação: II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei no 10.406, de 10 de
“Art. 1º E assegurado à pessoa com deficiencia visual janeiro de 2002 (Código Civil);
acompanhada de cão-guia o direito de ingressar e de III - os incisos II e III do art. 228 da Lei no 10.406, de 10 de
permanecer com o animal em todos os meios de transporte e janeiro de 2002 (Código Civil);
em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei no 10.406, de 10 de
privados de uso coletivo, desde que observadas as condições janeiro de 2002 (Código Civil);
impostas por esta Lei. V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei no 10.406, de 10 de
............................................................................................. janeiro de 2002 (Código Civil);
§ 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas as VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei no 10.406, de 10
modalidades e jurisdições do serviço de transporte coletivo de de janeiro de 2002 (Código Civil);
passageiros, inclusive em esfera internacional com origem no VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei no 10.406, de 10 de
território brasileiro.” (NR) janeiro de 2002 (Código Civil).

Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei no 11.904, de 14 de Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em vigor
janeiro de 2009, passa a vigorar acrescido da seguinte alínea em até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor desta Lei.
“k”:
“Art. 46. ...................................................................... Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir
........................................................................................... discriminados, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o
IV - .............................................................................. cumprimento dos seguintes dispositivos:
........................................................................................... I - incisos I e II do § 2º do art. 28, 48 (quarenta e oito)
k) de acessibilidade a todas as pessoas. meses;
.................................................................................” II - § 6º do art. 44, 48 (quarenta e oito) meses;
III - art. 45, 24 (vinte e quatro) meses;
Art. 119. A Lei no 12.587, de 3 de janeiro de 2012, passa a IV - art. 49, 48 (quarenta e oito) meses.
vigorar acrescida do seguinte art. 12-B:
“Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a
reservar-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para condutores vigência da Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995.
com deficiência.
§ 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180
deste artigo, o condutor com deficiência deverá observar os (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial.
seguintes requisitos quanto ao veículo utilizado:
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e Brasília, 6 de julho de 2015; 194º da Independência e
II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da 127º da República.
legislação vigente.
DILMA ROUSSEF

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Questões (D) ao shopping center, para garantir ao menos 10 (dez)


vagas no estacionamento, independentemente de sua
01. (Prefeitura de Campinas/SP - Procurador – capacidade total, próximas aos acessos de circulação de
FCC/2016). Acerca das inovações introduzidas pela Lei pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da transportem pessoa com deficiência;
Pessoa com Deficiência, Lei n°13.146, de 06 de julho de 2015), (E) ao Prefeito Municipal, para reservar ao menos 2 (duas)
é correto afirmar: vagas em cada via pública que ofereça estacionamento ao
(A) O pedido de tomada de decisão apoiada será formulado público, independentemente do total de vagas na rua, para
por pelo menos dois apoiadores idôneos, devendo constar os pessoa com deficiência ou com comprometimento de
limites do apoio a ser oferecido e o prazo de vigência do mobilidade, desde que devidamente identificada.
acordo.
(B) A interdição da pessoa com deficiência não mais afeta 04. (INSS - Analista do Seguro Social - Serviço Social –
os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e de CESPE/2016). No que se refere ao Estatuto da Pessoa com
gestão negocial, que poderão ser realizados com a adoção de Deficiência, julgue o seguinte item.
processo de tomada de decisão apoiada. A pessoa com deficiência tem o direito de receber
(C) A declaração de incapacidade absoluta da pessoa com cobranças de tributos de forma acessível, independentemente
deficiência está condicionada à prévia avaliação por equipe de solicitação.
multi-profissional e interdisciplinar. ( ) Certo ( ) Errado
(D) Para emissão de documentos oficiais, não será exigida
a situação de curatela da pessoa com deficiência. 05. (Questão adaptada – 2015) Consoante o que dispõe
(E) O Estatuto instituiu em favor da pessoa com deficiência a Lei 13.146/2015:
o benefício da meia entrada em espetáculos artístico-culturais (A) A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se
e esportivos. submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a
institucionalização forçada.
02. (Prefeitura de Nova Ponte/MG - Advogado – (B) A pessoa com deficiência poderá ser obrigada a se
IBGP/2016). A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) busca institucionalização forçada.
assegurar e a promover, em condições de igualdade, o (C) A pessoa com deficiência poderá ser obrigada a se
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais para submeter somente a intervenção clínica.
pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e (D) A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se
cidadania. submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, podendo ser
Nos termos da Lei em referência, assinale a alternativa obrigada todavia a tratamento ou a institucionalização
INCORRETA. forçada.
(A) Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma Respostas
espécie de discriminação. 01.: D / 02.: C / 03.: C / 04.: Errado / 05.: A.
(B) É dever de todos comunicar à autoridade competente
qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da
pessoa com deficiência. SOLÉ. I. Estratégias de
(C) A deficiência afeta a plena capacidade civil da pessoa, Leitura. Porto Alegre:
limitando o exercício do direito à família e à convivência
familiar e comunitária. Artmed, 1998;
(D) A pessoa com deficiência tem direito a receber
atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade de O objetivo desse livro é ajudar educadores e profissionais
atendimento em todas as instituições e serviços de a promover a utilização de estratégias de leitura que permitam
atendimento ao público. interpretar e compreender os textos escritos.
03. (MPE/RJ - Analista do Ministério Público – Capítulo 1 - O desafio da Leitura
Processual – FGV/2016). Promotoria de Tutela Coletiva
especializada na Proteção à Pessoa com Deficiência instaurou A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto
inquérito civil público para apurar eventual desatendimento para satisfazer um propósito ou finalidade. Lemos para algo:
das disposições do Estatuto da Pessoa com Deficiência, no que devanear, preencher um momento de lazer, seguir uma pauta
se refere ao direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com para realizar uma atividade, entre outras coisas.
deficiência ou com mobilidade reduzida. Identificada Para compreender o texto leitor utiliza seus conhecimento
irregularidade cometida pelo investigado, com base na Lei nº de mundo e os conhecimentos do texto.
13.146/2015, o Promotor expediu recomendação: Controlar a própria leitura e regulá-la, implica ter um
(A) à sociedade empresária que opera frota de táxi para objetivo para ela, assim como poder gerar hipóteses sobre o
reservar 50% (cinquenta por cento) de seus veículos conteúdo que se lê. Por isso a leitura pode ser considerada um
acessíveis à pessoa com deficiência, que terá prioridade sobre processo constante de elaboração e verificação de previsões
os demais passageiros nas filas para embarque nos táxis; que levam a construção de uma interpretação.
(B) à locadora de veículos para oferecer pelo menos 1 (um) Na leitura de um texto encontramos, inicialmente o título,
veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, subtítulo, negrito, itálico, esquema. Isso pode ser utilizado
independentemente da quantidade total de veículos que como recursos para prever qual será o assunto do texto, por
compõem sua frota; exemplo.
(C) à concessionária de serviço público de transporte Esses indicadores servem para ativar o conhecimento
coletivo municipal de passageiros para que assegure à pessoa prévio e serão úteis quando se precisar extrair as ideias
com deficiência prioridade e segurança nos procedimentos de centrais.
embarque e de desembarque, de acordo com as normas O que foi apresentado até agora pode dar pistas de como
técnicas; as práticas pedagógicas podem organizar situações de ensino
e aprendizagem que tragam em si essas análises.

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A leitura na escola Capítulo 3 - O ensino da leitura

Um dos objetivos mais importante das escola é fazer com Vamos apontar nesse capítulo a ideia errônea que consiste
que os alunos aprendam a ler corretamente. Essa aquisição da em considerar que a linguagem escrita requer uma instrução e
leitura é indispensável para agir com autonomia nas a linguagem oral não a requer.
sociedades letradas.
Pesquisas realizadas apontam que a leitura não é utilizada Código, consciência metalinguística e leitura
tanto quanto deveria, isto é, não lemos o bastante.
Uma questão que se coloca é a seguinte: será que os Devemos considerar como fundamental a leitura realizada
professores e a escola tem clareza do que é ler? por outros (família, amigos, pessoas) por familiarizar a criança
com a estrutura do texto escrito e com sua linguagem.
A leitura, um objeto de conhecimento Na escola ao se deparar com a linguagem escrita, a
crianças, em muitos casos se encontra diante de algo
No Ensino Fundamental a leitura e a escrita aparecem conhecido, sobre o que já aprendeu várias coisas. O
como objetivos prioritários. Acredita-se que ao final dessa fundamental é que o escrito transmite uma mensagem, uma
etapa os alunos possam ler textos de forma autônoma e utilizar informação, e que a leitura capacita para ter acesso a essa
os recursos ao seu alcance para referir as dificuldades dessa linguagem. Na aquisição deste conhecimento, as experiências
área. de leitura da criança no seio da família desempenham uma
O que se vê nas escolas, no ensino inicial da leitura, são função importantíssima. Para além da existência de um
esforços para iniciar os pequenos nos segredos do código a ambiente em que se promova o uso dos livros e da disposição
partir de diversas abordagens. Poucas vezes considera-se que dos pais a adquiri-los e a ler, o fato de lerem para seus filhos
essa etapa tem início antes da escolaridade obrigatória. relatos e histórias e a conversa posterior em torno dos
O trabalho de leitura costuma a se restringir a ler o texto e mesmos parecem ter uma influência decisiva no
responder algumas perguntas relacionadas a ele como: seus desenvolvimento posterior destes com a leitura.
personagens, localidades, o que mais gostou, o que não gostou, Assim, o conhecimento que a criança tem das palavras e
etc. isso revela que o foco está no resultado da leitura e não em suas características aumentará consideravelmente quando ela
seu processo. começar a manejar o impresso.
Percebe-se que as práticas escolares dão maior ênfase no O trabalho que se deve realizar com as crianças é mostrá-
domínio das habilidades de decodificação. las que ler é divertido, que escrever é apaixonante, que ela
pode fazê-lo. Precisamos instigá-las a fazer parte desse mundo
Capítulo 2 - Ler, compreender e aprender maravilhoso e cheio de significados.

É fundamental que ao ler, o leitor se proponha a alcançar O ensino inicial da leitura


determinados para determinar tanto as estratégias
responsáveis pela compreensão, quanto o controle que, de Na escola, as atividades voltadas para o ensino inicial da
forma inconsciente, vai exercendo sobre ela, à medida que lê. leitura devem garantir a interação significativa e funcional da
O controle da compreensão é um requisito essencial para ler criança com a língua escrita, como um meio de construir os
de forma eficaz. conhecimentos necessários para poder abordar as diferentes
Para que o leitor se envolva na atividade leitura é etapas de sua aprendizagem.
necessário que esta seja significativa. É necessário que sinta Para isso é fundamental trazer para a sala de aula, como
que é capaz de ler e de compreender o texto que tem em mãos. ponto de partida, os conhecimentos que as crianças já
Só será motivadora, se o conteúdo estiver ligado aos interesses possuem e a partir de suas ideias, ampliar suas significações.
do leitor e, naturalmente, se a tarefa em si corresponde a um A leitura e a escrita são procedimentos e devem ser
objetivo. trabalhados como tal em sala de aula.
Como isso pode ser transferido para a sala de aula: sabe-se Um aspecto importante que precisa ser garantido é o
que na diversidade da classe torna-se muito difícil contentar o acesso a diferentes materiais escritos para as crianças: jornais,
interesse de todas as crianças com relação à leitura, portanto, revistas, gibis, livros, rimas, poemas, HQ, e gêneros diversos.
é papel do professor criar o interesse.
Uma forma possível de propiciar esse interesse é Capítulo 4 - O ensino de estratégias de compreensão
possibilitar o a diferentes suportes para a leitura, que sejam e leitora
incentivem atitudes de interesse e cuidado nos leitores.
Ao professor cabe o cuidado de analisar o conteúdo que Já tratamos no capítulo anterior que os procedimentos
veiculam. precisam ser ensinados. Se estratégias de leitura são
procedimentos, então é preciso ensinar estratégias para a
Compreensão leitora e aprendizagem significativa compreensão dos textos: não como técnicas precisas, receitas
infalíveis ou habilidades específicas, mas como estratégias de
A leitura nos aproxima da cultura. Por isso um dos compreensão leitora que envolvem a presença de objetivos,
objetivos da leitura é ler para aprender. planejamento das ações, e sua avaliação.
Quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo e Estas estratégias são as responsáveis pela construção de
coloca em funcionamento uma série de estratégias cuja função uma interpretação para o texto. E uma construção feita de
é assegurar esse objetivo. forma autônoma.
Isso nos remete a mais um objetivo fundamental da escola:
ensinar a usar a leitura como instrumento de aprendizagem. Que estratégias vamos ensinar? O papel das
Devemos questionar a crença de que, quando uma criança estratégias na leitura
aprende a ler, já pode ler de tudo e também pode ler para São aquelas que permitem ao aluno planejar sua tarefa de
aprender. Se a ensinarmos a ler compreensivamente e a modo geral. Perguntas que o leitor deve se fazer para
aprender a partir da leitura, estamos fazendo com que aprenda compreender o texto:
a aprender.
1. Compreender os propósitos implícitos e explícitos da
leitura. Que/Por que/Para que tenho que ler?

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2. Ativar e aportar à leitura os conhecimentos prévios - quem não sente prazer pela leitura não conseguirá
relevantes para o conteúdo em questão. Que sei sobre o transmiti-lo aos demais.
conteúdo do texto? - a leitura para as crianças tem que ter uma finalidade que
3. Dirigir a atenção ao fundamental, em detrimento do que elas possam compreender e partilhar.
pode parecer mais trivial. - a complexidade da leitura e a capacidade que as crianças
4. Avaliar a consistência interna do conteúdo expressado têm para enfrentá-la.
pelo texto e sua compatibilidade com o conhecimento prévio e
com o “sentido comum”. Este texto tem sentido? 2. Motivação para a leitura
5. Comprovar continuamente se a compreensão ocorre Toda atividade deve ter como ponto de partida a
mediante a revisão e a recapitulação periódica e a auto- motivação das crianças: devem ser significativas, motivantes,
interrogação. Qual é a ideia fundamental que extraio daqui. e a criança deve se sentir capaz de fazê-la.
6. Elaborar e provar inferências de diversos tipos, como
interpretações, hipóteses e previsões e conclusões. Qual 3. Objetivos da leitura
poderá ser o final deste romance?
Os objetivos dos leitores, ou propósitos, com relação a um
Um conjunto de propostas para o ensino de estratégias de texto podem ser muito variados, de acordo com as situações e
compreensão leitora pode ser considerado segundo momentos. Vamos destacar alguns dos objetivos da leitura,
BAUMANN (1985;1990) nos processos: que podem e devem ser trabalhados em sala de aula:
1. Introdução. Explica-se aos alunos os objetivos daquilo - ler para obter uma informação precisa;
que será trabalhado e a forma em que eles serão úteis para a - ler para seguir instruções;
leitura. - ler para obter uma informação de caráter geral;
2. Exemplo. Exemplifica-se a estratégia a ser trabalhada - ler para aprender;
mediante um texto. - ler para revisar um escrito próprio;
3. Ensino Direto. O professor mostra, explica e escreve a - ler por prazer;
habilidade em questão, dirigindo a atividade. - ler para comunicar um texto a um auditório;
4. Aplicação dirigida pelo professor. Os alunos devem por - ler para praticar a leitura em voz alta; e
em prática a habilidade aprendida sob o controle e supervisão - ler para verificar o que se compreendeu.
do professor.
5. Prática individual. O aluno deve utilizar 4. Revisão e atualização do conhecimento prévio
independentemente a habilidade com material novo. Para compreender o que se está lendo é preciso ter
conhecimentos sobre o assunto. Mas algumas coisas podem
Tipos de texto e expectativas do leitor ser feitas para ajudar as crianças a utilizar o conhecimento
prévio que tem sobre o assunto, como dar alguma explicação
Alguns autores, entre eles ADAM (1985), classificam os geral sobre o que será lido; ajudar os alunos a prestar atenção
textos da seguinte forma: a determinados aspectos do texto, que podem ativar seu
1. Narrativo: texto que pressupõe um desenvolvimento conhecimento prévio ou apresentar um tema que não
cronológico e que aspira explicar alguns acontecimentos em conheciam.
uma determinada ordem.
2. Descritivo: como o nome diz, descreve um objeto ou 5. Estabelecimento de previsões sobre o texto
fenômeno, mediante comparações e outras técnicas. É importante ajudar as crianças a utilizar simultaneamente
3. Expositivo: relaciona-se à análise e síntese de diversos indicadores: como títulos, ilustrações, o que se pode
representações conceituais ou explicação de determinados conhecer sobre o autor, cenário, personagem, ilustrações, etc.
fenômenos. para a compreensão do texto como um todo.
4. Instrutivo-indutivo: tem como pretensão induzir a ação
do leitor com palavras de ordem, por exemplo. 6. Formulação de perguntas sobre ele
Requerer perguntas sobre o texto é uma estratégia que
Seria fundamental que essa diversidade de textos pode ser utilizada para ajudar na compreensão de narrações
aparecesse na escola e não um único modelo. Principalmente ensinando as crianças para as quais elas são lidas a centrar sua
os que frequentam a vida cotidiana. atenção nas questões fundamentais.
Trata-se de organizar um ensino que caracterize cada um
destes textos, mostrando as pistas que conduzem à uma Capítulo 6 - Construindo a compreensão... Durante a
melhor compreensão, fazendo com que o leitor saiba que pode leitura
utilizar as mesmas chaves que o autor usou para formar um
significado, e além de tudo interpretá-lo. Para a compreensão do texto uma das capacidades
envolvidas é a elaboração de um resumo, que reproduz o
Capítulo 5 - Para compreender... Antes da leitura significado global de forma sucinta.
Para isso, deve-se ter a competência de diferenciar o que
Apresentam-se aqui seis passos importantes para a constitui o essencial do texto e o que pode ser considerado
compreensão, que devem ser seguidos antes da leitura como secundário.
propriamente dita: O professor pode utilizar em sala de aula a estratégia da
leitura compartilhada, onde o leitor vai assumindo
1. Ideias Gerais progressivamente a responsabilidade e o controle do seu
São algumas ideias que o professor tem sobre a leitura: processo é uma forma eficaz para que os alunos compreendam
- ler é muito mais do que possuir um rico cabedal de as estratégias apontadas, bem como, a leitura independente,
estratégias e técnicas. onde podem utilizar as estratégias que estão aprendendo.
- ler é um instrumento de aprendizagem, informação e
deleite.
- a leitura não deve ser considerada uma atividade
competitiva.

Conhecimentos Pedagógicos 99
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Não estou entendendo, o que eu faço? Os erros e as lacunas Reestruturar o ensino da leitura deve passar por isso: uma
de compreensão construção coletiva e significativa para os alunos, e também
para os professores.
Para ler eficazmente, precisamos saber quais as nossas
dificuldades. Podem ser: a compreensão de palavras, frases,
nas relações que se estabelecem entre as frases e no texto em ARANHA, Maria Salete Fábio.
seus aspectos mais globais.
Para isso devemos ter estratégias como o uso do dicionário
Projeto Escola Viva: garantindo o
ou a continuação da leitura que pode sanar alguma dúvida. acesso e permanência de todos os
alunos na escola: necessidades
Capítulo 7- Depois da leitura: continuar
compreendendo e aprendendo...
educacionais especiais dos alunos
Brasília: Ministério da Educação,
A compreensão do texto resulta da combinação entre os Secretaria de Educação Especial,
objetivos de leitura que guiam o leitor, entre os seus
conhecimentos prévios e a informação que o autor queria
2005.
transmitir mediante seus escritos.
Para que os alunos compreendam a ideia principal do
texto, o professor pode explicar aos alunos o que consiste a Aranha, Maria Salete Fábio
“ideia principal”, recordar porque vão ler concretamente o Projeto Escola Viva : garantindo o acesso e permanência de
texto - função real, ressaltar o tema, à medida que vão lendo to- dos os alunos na escola : necessidades educacionais
informar aos alunos o que é considerado mais importante, especiais dos alunos / Maria Salete Fábio Aranha. - Brasília :
para que, finalmente concluam se a ideia principal é um Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial,
produto de uma elaboração pessoal. 2005.

O resumo A retrospectiva da educação no Brasil


Prezado Professor,
Utilizar essa estratégia pode ser uma boa escolha para Aqui estamos, novamente, para fazer uma breve
estabelecer o tema de um texto, para gerar ou identificar sua retrospectiva da Educação no Brasil, da época colonial até a
ideia principal e seus detalhes secundários. década de 90, momento que testemunhou o início dos
É importante, também, que os alunos aprendam porque movimentos internacionais para a construção de sistemas
precisam resumir, e como fazê-lo, assistindo resumos educacionais inclusivos, na busca da garantia do acesso de
efetuados pelo seu professor, resumindo conjuntamente, todos à escola, respeitando-se as peculiaridades de cada um.
passando a utilizar essa estratégia de forma autônoma
COOPER (1990), afirma que para ensinar a resumir parágrafos A história das relações, na área educacional, entre a
de texto é importante que o professor: sociedade brasileira e o segmento populacional constituído
1. ensine a encontrar o tema do parágrafo e a identificar a pelas pessoas com deficiência vem se modificando no decorrer
informação trivial para deixá-la de lado. do tempo, com maiores ganhos objetivos observados na última
2. ensine a deixar de lado a informação repetida. década.
3. ensine a determinar como se agrupam as ideias no
parágrafo para encontrar formas de englobá-las. Revisando, há que se lembrar que a educação pública neste
4. ensine a identificar uma frase-resumo do parágrafo ou a País é relativamente jovem, não tendo completado sequer 80
elaborá-la. anos! No período do Brasil colônia, a educação se restringia
ao ensino religioso, sob a responsabilidade dos padres jesuítas,
Capítulo 8- O ensino e a avaliação da leitura processo e situação que durou até o século XVIII, quando a
Companhia de Jesus foi expulsa do País.
Considerando o que foi visto até agora em relação aos
processos de leitura e compreensão é interessante ressaltar A primeira Constituição brasileira, promulgada no
que: início do século XIX (1824), foi o primeiro documento oficial a
- Aprender a ler significa aprender a ser ativo ante a leitura, manifestar o interesse do País pela educação de todos os
ter objetivos para ela, se auto interrogar sobre o conteúdo e cidadãos, ao estabelecer a gratuidade da instrução primária.
sobre a própria compreensão. Entretanto, ela não explicitou de quem seria a responsabilidade
- Aprender a ler significa também aprender a encontrar pelo sistema e pelo processo educacional, eximindo o poder
sentido e interesse na leitura. público desse compromisso. É importante também lembrar
- Aprender a ler compreensivamente é uma condição que, como bem o aponta Kassar (1999), quando o texto dizia
necessária para poder aprender a partir dos textos escritos. “todos os cidadãos”, certamente não incluía a massa de
- Aprender a ler requer que se ensine a ler, e isso é um trabalhadores, constituída, em sua maioria, de escravos.
papel do professor. Assim, o texto constitucional que aparentemente se compro-
- Ensinar a ler é uma questão de compartilhar. metia com os brasileiros, na verdade se referia somente a uma
Compartilhar objetivos, compartilhar tarefas, compartilhar os pequena minoria, representada pela elite sociopolítica no País.
significados construídos em torno deles.
- Ensinar a ler exige a observação dos alunos e da própria A partir de 1961, os textos legislativos tornaram-se
intervenção, como requisitos para estabelecer situações gradativamente mais explícitos, especificamente no que se
didáticas diferenciadas capazes de se adaptar à diversidade refere à educação das pessoas com deficiência. De maneira
inevitável da sala de aula. geral, os dispositivos legais se referem à educação desse
- É função do professor promover atividades significativas segmento populacional como um direito a ser usufruído,
de leitura, bem como refletir, planejar e avaliar a própria quando possível, no sistema regular de ensino. Apesar
prática em torna da leitura. desses dizeres, entretanto, manteve-se sempre uma tentativa
Para finalizar esse livro se faz necessário ressaltar que as de conciliação entre as forças antagônicas que têm
mudanças na escola acontecem quando são feitas em equipe. caracterizado o debate social sobre esse assunto ao garantir
apoio financeiro também às entidades privadas,
Conhecimentos Pedagógicos 100
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incentivando o encaminhamento e a permanência de O compromisso prático resultante da opção pela adoção


pessoas com deficiência em escolas e classes especiais, desses princípios foi determinar que cada instância da
segregadas, sob o argumento do benefício da atenção pública:
especialidade.
•identificasse a situação da pessoa com deficiência;
No decorrer da década de 70, o Paradigma da •tomasse as providências necessárias para garantir o
Institucionalização, vigente no País desde o período imperial, acesso imediato e a participação da pessoa com deficiência
começou a dividir o espaço com um novo conjunto de nos serviços e recursos disponíveis em cada área da
ideias. Nesse ponto da caminhada, o País, sob influências atenção pública;
provenientes de diferentes direções, passou a assumir: •tornasse disponíveis os suportes que se mostrem
1. o princípio da normalização como critério necessários para favorecer esse acesso e participação;
norteador da avaliação social, e •promovesse a capacitação de recursos humanos para
2. o Paradigma de Serviços como modelo de administrar a atenção pública em uma comunidade
atenção à pessoa portadora de deficiência, na área educacional. inclusiva;
Assim, recomendava a prestação de serviços • favorecesse a conscientização dos cidadãos, de
educacionais técnicos, especializados, com o objetivo de maneira geral, quanto à responsabilidade de cada um no
promover a adaptação da pessoa ao seu meio social. pro- cesso de construção de uma sociedade inclusiva.

A DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E O PROGRAMA Tais providências se constituíram nos primeiros passos


EDUCAÇÃO PARATODOS para a implementação de ações objetivas e afirmativas no
sentido de ajustar/adequar a sociedade, nas várias
A década de 80 manteve essa tendência, que começou instâncias da atenção e da ação públicas, de forma que ela
novamente a se modificar nos anos 90, especialmente após a se torne acolhedora para todos.
Conferência Mundial de Educação para Todos, ocorrida em
Jomtien (Tailândia, 1990), secundada e fortalecida no que se Tal procedimento, portanto, se faz essencial para garantir
refere aos direitos das pessoas com deficiência, pela que a pessoa com necessidades especiais possa acessar e
Declaração de Salamanca, 1994. participar, imediata e definitivamente, do espaço comum da vida
em sociedade, independentemente do tipo de deficiência que
O Programa Educação para Todos trata da garantia, para apresente, de seu grau de comprometimento.
todos os cidadãos, do acesso à escolaridade, ao saber Na área da Educação, isso implica que se providencie e
culturalmente construído, ao processo de produção e de difusão implemente todos os ajustes que se fizerem necessários
do conhecimento e, principalmente, à sua utilização na vivência para garantir que os alunos com necessidades educacionais
da cidadania. O cumpri- mento de tais objetivos requer a especiais possam se matricular, frequentar e participar da
existência de sistemas educacionais planejados e organizados escola regular, em todos os seus níveis e modalidades,
para dar conta da diversidade dos alunos, de forma a poder compartilhando do cotidiano da vida comunitária.
oferecer, a cada um, respostas pedagógicas adequadas às suas
peculiaridades individuais, às suas características e • Mas então o aluno com deficiência não mais precisa do
necessidades específicas. A Declaração de Salamanca, por sua ensino especial?
vez, traz as recomendações referentes aos princípios, à política e • Ele deverá então ficar na sala regular, sem atendimento
à prática de reconhecimento e atenção às necessidades especializado?
educacionais especiais.
• Mas assim ele não será prejudicado?
Ao concordar com as recomendações contidas nesses dois
Estas são perguntas importantes, principalmente
importantes documentos, e ao fazer delas seu compromisso, o
porque têm circulado no meio educacional, sendo fonte de
Brasil sinalizou que estava pronto para promover novo
preocupação e de angústia para muitos professores e
avanço na relação com seus cidadãos com deficiência.
dirigentes educacionais!
Os pressupostos que fundamentaram essa atitude foram
Vejamos... sabemos que todos somos diferentes uns dos
de natureza filosófica, ética, política e social, e encontram-se
outros, não é verdade? Nem todos somos morenos, ou loiros,
abaixo explicitados:
temos pele amarela, ou pele vermelha, somos de cor branca, ou
de cor negra, temos cabelos lisos, ou cabelos enrolados, e assim
• todos somos diferentes uns dos outros, o que vem por diante...
a ser o aspecto central da diversidade que constitui qualquer CADA PESSOA TEM CARACTERÍSTICAS QUE SÃO
sociedade; SOMENTE SUAS E QUE, NA VERDADE, AS DIFERENCI- AM
• não há diferença que faça de uma pessoa um DAS DEMAIS.
cidadão de menor valia: todos são iguais perante a lei;
• a pessoa com deficiência é cidadã como qualquer O mesmo acontece com nosso funcionamento mental.
outra pessoa e, como tal, tem o direito de receber os serviços Algumas pessoas aprendem melhor por via visual, ou seja,
de que necessita, sem que, para tanto, necessite permanecer lendo textos, assistindo cenas; outras aprendem melhor por
segregada; via auditiva, ou seja, ouvindo o professor, ou lendo em voz alta;
• assim, tem imediatamente o direito ao acesso e à algumas pessoas compreendem melhor um fato ou um
permanência no ambiente comum, independentemente do tipo fenômeno qualquer se puderem lidar com ele concretamente;
de deficiência que tiver e de seu grau de comprometimento; outras pessoas já têm facilidade para compreender o mesmo
• para que isso aconteça, a sociedade tem de se fenômeno, ainda que dele se trate abstratamente, ou seja, no
reajustar de forma a se tornar acolhedora para todos; nível da imaginação, da elaboração de ideias.
• isso deverá acontecer em cada comunidade, em
todos os níveis de ação pública, em todos os ambientes, em Nem todos seguem o mesmo raciocínio para resolver um
todas as instâncias. problema! Certa vez, uma professora pediu a alunos surdos,
não oralizados, que resolvessem o problema de construir uma
escada utilizando um programa de computador. Foi

Conhecimentos Pedagógicos 101


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interessante observar que nem todos seguiram o mesmo sala de aula, como você se sentiria? Seria muito difícil, não é
raciocínio. Cada aluno seguiu passos diferentes para chegar à verdade?
mesma solução para o problema proposto: um iniciou pelo
degrau inferior, tendo construído a escada de baixo para cima Além disso, se cada vez que você estivesse tentando se
(um traço horizontal para a direita, um verti- cal para cima, comunicar, as pessoas olhassem para você com estranheza ou
outro horizontal para a direita, outro vertical para cima, e mesmo fugissem de você (porque você está emitindo sons sem
assim por diante...). Outro aluno seguiu outro procedimento sentido, altos, que você mesmo não escuta), como seria?
para solucionar o problema de construir a es- cada: fez vários
traços horizontais, localizando cada um, pouco acima e à direita Bem, as cenas acima descritas não seriam reais para
do outro, e depois, ligou esses traços entre si, com traços todos os surdos, porque:
verticais. • há surdos que aprenderam a leitura labial;
• há os que estão oralizados (falam);
Bem sabemos o quanto nossos alunos são diferentes uns • há os que se utilizam da língua brasileira de sinais para
dos outros. Sabemos que cada um traz os conhecimentos já se comunicar;
apreendidos, sabemos a que tipo de estratégia pedagógica cada • há os que emitem sons estridentes;
um reage melhor, sabemos quais de nossos alunos aprendem • há os mais tímidos, que se fecham em seu silêncio;
melhor quando trabalham em grupo, ou em dupla, e quais
• há os que são mais agitados, bem como os mais
trabalham melhor em atividades individualizadas. Sabemos de
tranquilos;
que tipo de conteúdo cada um gosta mais, bem como para que
disciplina ou conteúdo cada um não mostra interesse...
• há os que já foram alfabetizados e os ainda não
alfabetizados.
Sabemos quando alguém está particularmente triste, sofrido,
alegre, feliz... Enfim, cada um de nós foi aprendendo, no
O que poderiam ter em comum, no que se refere às
decorrer do cotidiano de nossa profissão, a conhecer e a
necessidades educacionais que apresentam?
reconhecer cada um de nossos alunos.

Sabemos ainda que há aqueles alunos que temos 1. Bem, todos se beneficiariam da aprendizagem
dificuldade para ensinar. Lutamos na busca de um jeito de ensiná- da língua brasileira de sinais, bem como da disponibilidade
los produtivamente, de ajudá-los a apreender o conteúdo que dessa via de comunicação em sua escolaridade. Essa seria uma
estamos trabalhando, de motivá-los para a situação de necessidade educacional especial, determinada pela
aprendizagem.. presença de uma deficiência, no caso, a auditiva.

Mas... continuamos sempre tentando, não é mesmo? Às 2. No mais, cada aluno, como qualquer outro
vezes acertamos e conseguimos sucesso, às vezes, não... Às aluno, terá suas necessidades educacionais específicas, que
vezes mantemos nossa calma, às vezes a perdemos..., mas em de- vem ser consideradas pelo professor!
geral estamos sempre tentando e buscando descobrir aquele
jeitinho de ajudar cada um a aprender. Da mesma forma, o aluno com deficiência mental... Não é
verdade que ele não aprende! Enquanto for oferecida a
É assim mesmo! Cada um de nossos alunos tem sua oportunidade, ele aprenderá. Há que se elaborar um
história de vida, sua história de aprendizagem, suas plano de ensino que atenda a diversidade de todos os
características pessoais e suas necessidades específicas! E alunos, inclusive os que apresentam dificuldades
como ficamos nós, para responder a essa diversidade? cognitivas, seja associada à deficiência mental ou não.

Desfazendo alguns mitos sobre a deficiência É verdade que alguns encontrarão mais dificuldade em lidar
com abstrações. Outros, no armazenamento de informações já
Primeiramente, temos que enfrentar alguns dos mitos que apreendidas (memória). E ainda, os que necessitarão de um
foram sendo criados em nossa história político-educacional: acompanhamento mais individualizado que outros alunos.
• o surdo é agressivo e atrapalha o andamento da aula; Mas também é verdade que muitos têm uma memória
fabulosa! Que outros têm uma habilidade marcante para
• o deficiente mental não aprende e atrapalha o
determinadas atividades ou tarefas. Além disso, tudo o que se
andamento da aula;
expôs acima seria realmente característica exclusiva do
• o deficiente mental é chato, pegajoso, não respeita
aluno portador de deficiência? Bem o sabemos que não...
limites;
• o cego é meio “por fora” e “molão”, de forma que nem Veja, os alunos surdos não são todos iguais! Nem têm as
aproveita muito das aulas; mesmas necessidades educacionais! Da mesma forma, os alunos
• a criança que tem paralisia cerebral é perigosa, cegos, os que têm baixa visão, os alunos comdeficiência mental,
agressiva, não dá para conviver com outras crianças; os que têm altas habilidades, os com deficiência física, etc.
• a criança que tem paralisia cerebral é retardada,
nunca vai aproveitar nada do ensino em uma classe regular; Há necessidades que são mais comuns em pessoas que
• as crianças com deficiência têm inúmeros problemas têm algum tipo de deficiência, mas que não são restritas a
de comportamento; esses alunos!
• as crianças com deficiência têm problemas e
necessitam de cuidados que só os educadores especiais são Expandindo o processo de construção de um sistema
capazes de dar; educacional inclusivo
• as crianças com deficiência são dependentes e A municipalização, processo de descentralização político-
incapazes de fazer qualquer coisa sozinhas. administrativa em implantação no país desde 1988, veio,
segundo Aranha (2000), “aproximar dos cidadãos a instância
Ora, vamos imaginar uma situação em que você não decisória responsável pela definição dos rumos a imprimir à
escutasse, não se comunicasse verbalmente e ninguém vida na comunidade. Aproximou, também, o controle social
conhecesse os gestos ou sinais com os quais você estivesse sobre a execução das direções escolhidas e das decisões
acostumado a se comunicar em casa, em sua família, ou em sua

Conhecimentos Pedagógicos 102


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tomadas pela comunidade... Nesse contexto, passou a ser comunidade; alguns precisam que os textos escolares sejam
necessário que cada Município se organizasse para: transcritos para o Braille; outros necessitam de algum recurso
ou equipamento especial para escrever, ou para fixar o papel
1. identificar o perfil de seu alunado; na carteira, para se comunicar (caderno de signos, por
2. identificar o conjunto das necessidades educacionais exemplo) ou para se loco- mover, enfim, para permanecer no
especiais nele presentes; ambiente escolar e dele efetivamente participar.
3. desenvolver estudos-pilotos que possam resultar em Cada Município deve explicitar claramente o seu
conhecimento acerca de que práticas e procedimentos melhor compromisso político com a construção de um sistema
atenderão às suas peculiaridades, necessidades e possibilidades; educacional inclusivo, contando, em seu planejamento
4. desenvolver um projeto pedagógico consistente com os político-administrativo, com ações e providências que
dados acima mencionados, delineados a atender e a acolher a favoreçam a intersetorialidade na atenção à população escolar.
todos no sistema educacional.
E a educação, como fica?
Seria irrealista pensar que se pode construir um sistema Veja, professor, ensinar é uma tarefa que envolve, como já o
educacional inclusivo do dia para a noite, em função de dissemos anteriormente, vários fatores:
decisões tomadas administrativamente. Mas a instância 1. conhecimento acerca de como se dá a aprendizagem;
político-administrativa pode coordenar o processo de 2. domínio do conhecimento a ser socializado;
diagnóstico das necessidades da realidade municipal, o qual 3. competência técnico-pedagógica;
deve, por sua vez, nortear a elaboração de Plano que contenha 4. planejamento pedagógico;
objetivos a serem alcançados a curto, médio e longo prazos, na 5. competência para ajustar o ensino a partir das
direção da implementação de um sistema inclusivo, de forma especificidades e necessidades educacionais de seus alunos;
gradativa e fundamentada técnico-cientificamente”.
Essas são funções inerentes à profissão de educador, de
A importância do planejamento estratégico maneira geral.
Nenhum processo ou projeto pode ser bem-sucedido, se
não for calcado em: Aos professores, por sua vez, cabe atuar, em cooperação,
• estudo crítico cuidadoso sobre a realidade no qual ele compartilhando o conhecimento de que dispõem, para
estará inserido (necessidades, desejos, objetivos, metas, responder e atender às necessidades educacionais de todos os
problemas existentes, desvantagens, vantagens, fatores alunos, inclusive às dos alunos com deficiência, garantindo-
favoráveis, etc.) lhes o acesso e permanência nos sistemas de ensino.
• identificação de procedimentos que resolvam os
problemas e aumentem os fatores que contribuam para o Referências bibliográficas
alcance de seus objetivos e metas; Aranha, M.S.F. Inclusão Social e Municipalização. Em
• elaboração de cronograma realista e viável de Manzini,
implementação do processo; E. (org.) Educação Especial: temas atuais. Marília: UNESP-
• caracterização do sistema e dos procedimentos de Marília, 2000.
suporte que serão necessários para garantir o sucesso do Brasil. EFA 2000, Avaliação do ano 2000 - Informe
processo; Nacional. Brasília: INEP O Instituto, 2000.
• elaboração e planejamento do sistema de avaliação do Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais - Adaptações
programa que permita acompanhar continuamente o cotidiano Curriculares. Brasília: MEC/SEF/SEESP, 1999.
de sua implementação, permitindo também identificar as Kassar, M.C.M. Deficiência Múltipla e Educação no
intervenções que se mostrem necessárias para garantir seu Brasil: discurso e silêncio na história de sujeitos. Campinas:
sucesso, materializado no alcance dos objetivos. Editora Autores Associados, 1999.

Sistemas de apoio e intersetorização


Como já sabemos, a construção de um sistema educacional
inclusivo é, na realidade, um processo fundamental para a
BACICH, L.; TANZI NETO, A.;
transformação de nossa sociedade em um organismo mais TREVISANI, F. M. (Org.). Ensino
respeitoso, justo e digno, interesse e responsabilidade de híbrido: personalização e
todos e de cada um de nós.
tecnologia na educação. Porto
Em assim sendo, há que se poder contar com a participação Alegre: Penso, 2015;
de todas as instâncias da sociedade, em particular as áreas de
atenção e de ação públicas.
A intersetorialidade, ou seja, a cooperação entre as Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação
áreas da Educação, da Saúde, da Previdência e Assistência (BACICH; TANZI NETO; TREVISANI, 2015) apresenta-se como
Social, de Equipamentos e Transportes Urbanos, do Trabalho, um livro feito por professores para professores. A proposta
do Lazer, do Esporte e da Cultura, do Planejamento é essencial deste livro se assenta na experiência de um grupo de
para viabilizar esse processo. professores que refletiram a partir de experiências práticas de
Cada uma delas tem valiosa contribuição a dar. O aluno uso integrado das tecnologias digitais visando a
com necessidades educacionais especiais relacionadas ou não personalização do ensino e buscaram apoio na literatura para
à deficiência precisa ter garantida a regularidade de sua embasar suas reflexões.
alimentação diária; precisa ser acompanhado com A obra está organizada em 10 capítulos que apresentam as
regularidade pelo sistema de saúde, na prevenção de doenças, concepções que norteiam a proposta de ensino híbrido e que
na promoção da saúde e no atendimento imediato, quando são enriquecidos por exemplos práticos de utilização de
porventura sofrer uma intercorrência qualquer; precisa ter modelos híbridos em sala de aula.
assegurado um meio público de transporte que lhe possibilite No prefácio, José Armando Valente introduz o tema
chegar até a escola; precisa receber educação profissional; indicando que ações eficientes de personalização do ensino e
precisa ter garantido o acesso aos equipamentos com os quais se da aprendizagem, integradas ao uso de tecnologias digitais,
promovem as atividades culturais, de esporte e de lazer na

Conhecimentos Pedagógicos 103


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oferecem ao estudante oportunidade de mover-se, Os Espaços de aprendizagem são abordados, no quinto


gradativamente, para o papel de protagonista no processo de capítulo, por Glauco de Souza Santos. As tecnologias digitais
construção de conhecimento e, afirma, a promoção da podem ampliar esses os espaços, segundo o autor,
autonomia e da responsabilidade do estudante são os aspectos possibilitando vivências compartilhadas que são enriquecidas
mais importantes do ensino híbrido. quando o espaço é organizado e adaptado com o intuito de
No primeiro capítulo, Educação híbrida: um conceito chave atender às necessidades de seus alunos. Algumas sugestões de
para a educação, hoje José Moran discute sobre as inúmeras organização do espaço e depoimentos de sua ação em sala de
formas de aprender e ensinar em uma sociedade aula enriquecem o capítulo, complementado pelo depoimento
predominantemente heterogênea, que tem, à sua disposição, de Maria Alessandra D. Nascimento, que leciona para alunos
uma ampla oferta de recursos e, apesar disso, se depara com a da primeira etapa do ensino fundamental, e que relata sobre
dificuldade em conseguir que todos os atores desse processo sua experiência com a gestão do espaço em uma escola pública.
desenvolvam todo o seu potencial. Moran discute modelos A avaliação é um ponto nevrálgico a ser discutido na
pedagógicos inovadores que enfatizam valores e competências proposta de ensino híbrido, uma vez que é a partir dela que as
amplas, apontando a importância do projeto pedagógico ações pedagógicas podem ser planejadas. Muito mais do que
contemplar as chamadas metodologias ativas na relação que ocorrer ao final de um processo, é ela que possibilita a
se estabelece com o conhecimento. identificação do caminho a seguir, como afirma o professor
Após esses textos, que introduzem e embasam a reflexão Eric Freitas Rodrigues, no capítulo A avaliação e a tecnologia.
sobre o tema, Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando Em tempos de tecnologias digitais, as avaliações podem ser
Mello Trevisani, organizadores do livro, apresentam, no repensadas e, de forma mais ágil, fornecer dados para que o
segundo capítulo, um histórico do processo de professor, a partir dessa análise, organize suas ações, como
experimentação proposto aos professores que participaram aponta Aline Soares Silva, em seu depoimento sobre as
do Grupo de Experimentação em Ensino Híbrido, iniciativa do atividades no modelo de ensino híbrido que realizou com seus
Instituto Península e da Fundação Lemann, em 2014, e que alunos do 5º ano, em uma escola particular.
assinam os demais capítulos do livro. No sétimo capítulo, é discutido o tema As tecnologias
Aspectos como o papel do professor, a valorização da digitais no ensino híbrido, por Alexsandro Sunaga e Camila
autonomia do aluno, a organização do espaço escolar para o Sanches de Carvalho. As tecnologias digitais são apresentadas
uso integrado das tecnologias digitais, a reflexão sobre qual a como um recurso para a personalização do ensino e, entre
melhor forma de avaliar nesse processo, o envolvimento da outras propostas, os autores comentam sobre plataformas
gestão para propiciar uma mudança gradativa na cultura adaptativas, indicando que, apesar de fornecerem atividades
escolar, foram temas abordados durante o processo de de acordo com a identificação de acertos e erros dos
formação e que fazem parte dos capítulos que compõem a estudantes ao realizá-las, reforçam que não dispensam uma
obra. O foco das propostas elaboradas e apresentadas ao grupo análise do professor na interpretação dos dados,
foi possibilitar aos professores suporte para experimentarem principalmente ao elaborar um plano de ação que possibilite
novas formas de atuação, refletirem sobre elas e, nesse envolver alunos em diferentes níveis de proficiência em
movimento, verificarem até que ponto essas formas de relação a um determinado conteúdo.
condução das aulas poderiam impactar nos resultados Verônica Cannatá discute o papel da gestão, no capítulo
esperados em relação ao desempenho dos alunos. Os autores Quando a inovação na sala de aula passa a ser um projeto de
deste capítulo, que atuaram na equipe de coordenação do escola, refletindo sobre a importância de um projeto político
grupo, afirmam que se tratou, portanto, de um processo de pedagógico que contempla o uso das tecnologias digitais
pesquisa-ação em que a reflexão decorrente dessa pesquisa é amparado por uma metodologia adequada, não com fins em si
o fio condutor dos textos elaborados pelos professores. mesmas.
Fernanda Schneider, no terceiro capítulo, intitulado A cultura escolar na era digital é o título do nono capítulo,
Otimização do espaço escolar por meio do modelo de ensino em que Rodrigo Abrantes Silva e Ailton Luiz Camargo abordam
híbrido, discute o protagonismo do estudante nas ações em as diferenças entre modelos sustentados e disruptivos de
que está envolvido nos modelos de ensino híbrido e enriquece implementação de tecnologias digitais nas instituições de
suas reflexões com o relato de sua experiência com alunos do ensino e a relevância de uma reflexão conjunta dos atores
Ensino Médio, concluindo que a motivação e a maximização do envolvidos no processo para a ressignificação de uma cultura
aprendizado são os principais benefícios da personalização escolar arraigada, ainda, em um modelo de educação distante
que é possibilitada, também, pelos usos das tecnologias das expectativas dos estudantes e, de maneira geral, da
digitais nos mais diferentes espaços escolares. Carla F. F. Pires sociedade do século XXI.
complementa essa exposição com o relato de suas Os organizadores apresentam, no capítulo denominado
experiências com os alunos da segunda etapa do Ensino Planejando a mudança, a análise de planos de aula elaborados
Fundamental, enfatizando a importância de movimentar o pelos professores do grupo e discutem como cada um desses
aluno do papel de mero espectador para o de protagonista e a planos envolve modelos de Ensino Híbrido e sua relação com
construção de conhecimentos por meio da autonomia e da a personalização do ensino.
valorização das relações interpessoais. Assim, são apresentadas possibilidades de integração das
O professor no ensino híbrido é o título do capítulo tecnologias digitais ao currículo escolar, de forma a alcançar
seguinte, elaborado por Leandro H. F. de Lima e Flávia R. de uma série de benefícios no dia a dia da sala de aula, como o
Moura. De acordo com as reflexões dos autores, a ação docente maior engajamento dos alunos no aprendizado e o melhor
é essencial na organização e no direcionamento da proposta, aproveitamento do tempo do professor para momentos de
porém o objetivo é que, gradativamente, ele assuma um papel personalização do ensino por meio de intervenções efetivas.
de articulador e de coaching, à medida que planeja atividades
que possam atender às demandas reais da sala de aula, por
meio de parceria e apoio mútuo. Afirmam, ainda, que a
utilização de todos os recursos para que os alunos realmente
aprendam está no cerne da personalização, compreendendo
que os alunos não aprendem todos da mesma forma e que o
ensino que desconsidera essa questão tende a estar distante
da maioria das estudantes.

Conhecimentos Pedagógicos 104


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APOSTILAS OPÇÃO

GABRIEL, Martha . Educ@r - MATTAR, João. Web 2.0 e


a (r ) e v o l u ç ã o Digital na redes sociais na educação.
Educação. São Paulo: Ed São Paulo: Artesanato
Saraiva, 2013; Educacional, 2013

A evolução das tecnologias digitais de informação e Este início de século trouxe transformações relevantes,
comunicação tem transformado profundamente a sociedade especialmente naquilo que se refere à relação da sociedade
em todas as suas dimensões, inclusive a educação. com o saber. Hoje essa nova relação é marcada pela expansão
Considerando isso, o novo livro de Martha Gabriel apresenta e da cibercultura, das tecnologias da Web 2.0 e da construção da
discute dois importantes aspectos que afetam profundamente inteligência coletiva. Há uma nova dinâmica na produção e
a educação tradicional. multiplicação do conhecimento, diretamente atrelada às novas
O primeiro aspecto abordado são as mudanças causadas tecnologias. A educação precisa agora ser pensada neste
pela disseminação e penetração das plataformas e tecnologias contexto e se faz cada vez mais necessário refletir acerca dos
digitais na sociedade, o segundo são os impactos dessas limites e possibilidades do uso das redes sociais e outros
mudanças na educação e as possibilidades que as plataformas recursos da Web 2.0 como ferramenta de aprendizagem.
e tecnologias digitais apresentam. João Mattar, no livro “Web 2.0 e redes sociais na educação”,
Esse novo panorama repleto de possibilidades, conexões e traça um relato, carregado de reflexão, sobre a utilização das
ampliação do potencial humano, traz também profundas tecnologias da Web 2.0 como ferramenta educacional. Há um
transformações e, consequentemente, novos desafios. A Era da longo debate entre autores na elaboração de conceitos e na
Informação está dando lugar à Era da Inovação e com isso busca por teorias que expliquem este novo processo de
questionamentos surgem: como deve ser a educação na era aprendizagem, mas sua análise está sempre associada a relatos
digital? Que desafios e oportunidades ela nos traz? do uso das ferramentas e das redes sociais em atividades
O professor exerce um papel essencial nesse novo mundo educacionais, o que sugere que a relevância de seu trabalho
digital, não mais como um “provedor de conteúdos”, mas atende tanto pesquisadores quanto docentes interessados em
funcionando como um catalisador de reflexões e conexões trabalhar com estes recursos.
para seus alunos nesse ambiente mais complexo, que também O debate teórico é expresso no primeiro capítulo, em que
é mais rico e poderoso. A intenção é auxiliar os professores a procura definir e diferenciar os conceitos de Web 2.0 e de
se sentirem preparados para continuar acompanhando as redes sociais. No segundo capítulo, Mattar resgata as
tendências e possibilidades que surgirão. contribuições das teorias pedagógicas clássicas e pós-
O novo livro de Martha Gabriel trata de transformações construtivistas com o objetivo de avaliar suas contribuições
digitais, e não existe nada mais natural do que apresentar para a compreensão das novas formas de aprendizagem. Faz
cases e exemplos de forma digital. Assim, para permitir que o também uma abordagem bastante detalhada acerca do
leitor acesse links digitais apresentados ao longo do texto, os conectivismo, pedagogia baseada em rede, e dos MOOCS –
cases e exemplos trazem um QRcode que pode ser escaneado Massive Open Online Courses, como tentativa de explorá-lo.
e acessado imediatamente on-line. Assim, a experiência de No terceiro capítulo, o autor traça relatos do uso das redes
leitura do livro físico torna-se totalmente integrada com o sociais e outras ferramentas, plataformas e interfaces em
conteúdo digital! educação, como blogs, microblogs, wikis, imagens, podcasts,
vídeos, games e outros. Por fim, o último capítulo é dedicado a
Podemos dizer que “Era da Informação” refere-se ao refletir sobre a avaliação em ambientes cibernéticos de
período no qual a informação tornou-se moeda corrente e aprendizagem, em que se critica o uso exclusivo de avaliações
valiosa no mundo, e que se inicia na década de 1950e se de múltipla escolha em cursos EaD organizados na mera
estende até os dias atuais. No entanto, após a internet e as compilação de conteúdos, que não promovem qualquer
novas tecnologias digitais, a “Era da Informação” tem se interatividade.
transformado, pois o valor atribuído anteriormente à A Web 2.0 representa uma mudança significativa nas
informação tem passado, gradativamente, para a interface – a relações de comunicação no ciberespaço, desde que o conceito
informação hoje está se tornando, de algum modo, disponível foi estabelecido em 2004. Nela a web se transforma em
a todos, mas, em virtude de sua imensidão e velocidade caótica plataforma, oferecendo ao usuário acesso à tecnologias que
de crescimento, ela só consegue ser acessada de modo tornam desnecessárias a instalação de softwares caros em seu
inteligível por intermédio de filtros (que são interfaces). Por computador e favorecendo a criação de redes de inteligência
isso, talvez a forma mais apropriada de referirmos à era atual coletiva e colaboração, como as wikis e os Docs, por exemplo.
seja como “Era da Interface” ou “Era Digital.” A contribuição dos usuários passou a ter papel fundamental na
Se analisarmos a situação tecnológica atual das instituições atualização dos softwares, em beta perpétuo, na produção de
de ensino brasileiras, temos diversos tipos de desafagens entre conteúdo, no trabalho online em grupo, isto é, a Web 2.0 é
as públicas e as privadas, além de também estarmos em ancorada na ideia de colaboração. Neste contexto observa-se
estágios diferentes se nos comparamos a países estrangeiros. que as tecnologias da Web 2.0 que mais vêm se expandindo e
No entanto, parece que o fator “tecnologia” em si não é que se fundamentam na colaboração e no compartilhamento
definitivo para a educação na era digital – ele só é diferencial de conteúdo são as redes sociais.
positivo se contar com a participação efetiva do professor e Os softwares de redes sociais podem ser considerados
dos planos pedagógicos. O professor deve deixar de ser um tecnologias da Web 2.0. Apesar de não terem sido elaborados
informador para ser um formador; caso contrário, o uso da para fins educacionais há diversas experiências de usos bem
tecnologia terá apenas aparência de modernidade. Alguém já sucedidos das redes sociais no processo de aprendizagem no
disse que um computador permite que você faça mais erros lugar, ou em conjunto, dos Ambientes Virtuais de
rapidamente que outra invenção da história da humanidade. A Aprendizagem. As possibilidades de socialização e
Internet amplificou esse potencial computacional, interatividade que as redes sociais promovem podem ser
adicionando o ingrediente “rede” – para o bem e para o mal. pedagogicamente bastante eficazes.
João Mattar promove um debate entre teorias de
aprendizagem tradicionais e aquelas que propõem novas

Conhecimentos Pedagógicos 105


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APOSTILAS OPÇÃO

estratégias pedagógicas para dar conta desta nova relação do


aluno com o conhecimento. Independente da teoria
pedagógica que será entendida pelos especialistas como a
mais abrangente, o autor demonstra a inevitável necessidade
de mudança de postura – e até de função – do professor ao
incorporar e combinar ferramentas da Web 2.0 e das redes
sociais.
O uso das redes sociais, em especial o Facebook, vem se
expandindo aceleradamente entre os jovens no Brasil e no
mundo. Há diversos relatos indicando que a interatividade
deste ambiente e principalmente a presença massiva dos
estudantes o torna uma ferramenta educacional poderosa. Ele
oferece diversos recursos que permitem o compartilhamento
de conteúdo em grupos de usuários, a construção colaborativa
de conhecimento, a promoção de fóruns de debate, enfim, o
Facebook e outras redes sociais com amplo acesso e
interatividade podem funcionar muito bem como espaço de
aprendizagem, desde que haja intervenção das instituições de
ensino e seus professores.
Vale ressaltar, por fim, que as questões abordadas na obra
de Mattar são ainda bastante novas, e que demandam muita
experimentação e pesquisa. Algumas instituições se debruçam
sobre as redes sociais, criando políticas para lidar com elas. O
próprio Facebook vem produzindo documentos para orientar
educadores e escolas neste sentido. No entanto, o ponto
central deste livro sugere algumas reflexões ainda demorarão
a serem concluídas: as plataformas específicas de ensino e
aprendizagem são mesmo tão necessárias diante da expansão
das redes sociais e toda sua interatividade? Quais são as
dificuldades no uso das tecnologias da Web 2.0 e das redes
sociais como ferramentas pedagógicas? Há uma ferramenta ou
uma rede social mais adequada, ou deve-se pensar no uso
conjunto de todas? As teorias pedagógicas tradicionais são
conta de compreender o processo de ensino e aprendizagem
na cibercultura? Quais são as novas funções atribuídas ao
professor? É necessária uma mudança de postura em qual
direção? A Web 2.0 e as redes sociais serão definitivamente
incorporadas pelas instituições de ensino e pelas políticas
públicas educacionais como poderosos recursos de
aprendizagem?

Anotações

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