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MARCOS CHOR MAIO

a o refletir sobre a importân-


cia de uma renovação ideo-
lógica na América Latina,
Morse (1990, pp. 176-7) ins-
pirou-se brevemente em dois estudos so-
bre as relações raciais nos EUA e no Brasil.
No primeiro caso, destaca na obra de
Gunnar Myrdal (1944) o drama dos negros

O Projeto
nos EUA, crentes no credo universalista,
com base em critérios meritocráticos e na
igualdade de direitos e oportunidades, e, ao
mesmo tempo, vivendo o violento e cotidi-
ano racismo. O discernimento dessa ideo-
logia, no projeto de Myrdal, era de funda-

Unesco: mental importância para a inteligibilidade


da discriminação racial tanto em termos
legais quanto no âmbito das atitudes soci-
ais e pessoais. Para o sociólogo sueco, o
dilema americano seria também um pro-

ciências blema moral. A refinada síntese do credo


americano e seu paradoxo teve enorme
impacto sobre a luta pelos direitos civis dos
anos de 1940 aos de 1960 (Southern, 1991).
No caso brasileiro, Morse revela uma

sociais e
certa frustração ao constatar que o ciclo de
pesquisas patrocinado pela Unesco não
contemplou qualquer esforço de sistemati-
zação de um “credo brasileiro”, na medida
em que esse “credo” não existiria no Brasil
na perspectiva unitária atribuída por Myrdal

o “credo para os Estados Unidos. A partir da obra de


Roberto DaMatta, Morse considera que na
sociedade brasileira vingaria um espectro
variado de éticas (Morse, 1990, pp. 177-8).
Entre outras hipóteses, o historiador norte-

racial
americano sugere que “talvez […] a discri-
minação contra os negros não se constitu-
ísse um salto quântico em relação à discri-
minação contra outros grupos marginali-
zados” (idem, p. 177).
Desde meados dos anos 1950, Oracy

brasileiro” Nogueira afirmava, a começar dos traba-


lhos do Projeto Unesco, que o inventário
do preconceito e da discriminação racial
produzido por esses estudos revelavam que
“pela primeira vez, o depoimento dos cien-
tistas sociais vem, francamente, de encon-
tro e em reforço ao que, com base em sua
MARCOS CHOR MAIO própria experiência, já proclamavam, de um
é pesquisador da Casa de
Oswaldo Cruz (Fiocruz), modo geral, os brasileiros de cor” (Noguei-
no Rio de Janeiro ra, 1955, p. 415). Todavia, esse diagnósti-

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co, diferente da pesquisa de Myrdal, não da sob a égide de uma democracia racial, a
teve qualquer impacto político sobre a so- Unesco, ainda sob o impacto do Holocausto,
ciedade brasileira. Se os achados do Proje- esforça-se em combater a ideologia racista
to Unesco não tiveram repercussão públi- que serviu de suporte para a montagem e
ca, quais foram suas ressonâncias? operação da máquina infernal nazista. Para
Este artigo tem por objetivo abordar os tanto, a agência internacional resolveu co-
efeitos do Projeto Unesco. Se na esfera ordenar uma pesquisa comparativa sobre
pública o ciclo de estudos não gerou mu- as relações raciais em diferentes regiões
dança alguma na tradicional auto-imagem brasileiras. O objetivo inicial desses estu-
da sociedade brasileira, fenômeno distinto dos era o de oferecer ao mundo lições de
ocorreu no universo acadêmico, com o in- civilização à brasileira em matéria de coo-
cremento da institucionalização das ciên- peração entre raças. Na esperança de en-
cias sociais. Por outro lado, diferente de contrar a chave para a superação das maze-
Morse, concebo que o Projeto Unesco rei- las raciais vividas em diversos contextos
terou a existência de um “credo brasilei- internacionais, a agência intergoverna-
ro”. Ele não pode ser exposto nos termos mental teria acabado por se ver diante de
apresentados por Myrdal, pois é um con- um conjunto de dados sistematizados so-
junto de crenças marcado pela ambigüida- bre a existência do preconceito e da discri-
de, pelos “meios-tons” ou, como aponta minação racial no Brasil. Evidenciou-se
DaMatta, pela “hierarquia, gradualismo e uma forte correlação entre cor ou raça e
complementaridade” (DaMatta, 1979; status socioeconômico. A utopia racial bra-
1997). De outro modo, esse “credo” é, a sileira foi colocada em questão. Inaugu-
meu ver, representado pelo mito da demo- rou-se, dessa forma, no campo das ciências
cracia racial. Procuro demonstrar que aná- sociais, uma produção acadêmica que jul-
lises e evidências sobre o preconceito e a gava como falsa consciência o mito da
discriminação racial no Brasil elaboradas democracia racial brasileira.
pelo Projeto Unesco não importaram no No entanto, acredito que a visão recor-
cancelamento de uma sintonia fina entre rente sobre a origem, resultados e impacto
sociedade e comunidade dos cientistas so- do Projeto Unesco devam ser matizados.
ciais no Brasil dos anos 50, ou seja, a cren- Quando vislumbramos o Projeto Unesco à
ça na especificidade e, em última instância, luz do pensamento social brasileiro ou, em
no compartilhamento de um “credo”, a termos mais específicos, no plano da his-
saber, o “credo à brasileira”. tória das ciências sociais no Brasil, é pos-
sível se obter outro rendimento. Nessa pers-
pectiva, o ciclo de pesquisas seria concebi-
do, ora como uma possibilidade para a
PROJETO UNESCO: UM PROCESSO emergência de novos diagnósticos sobre o
Brasil, enfocando as tensões entre tradição
ANTROPOFÁGICO e modernidade, ora como uma oportunida-
de privilegiada para analisar o perfil da
Já se tornou senso comum na literatura comunidade dos cientistas sociais e seus
sobre as relações raciais no Brasil conce- vínculos com a sociedade brasileira, as
ber o ciclo de estudos patrocinado pela conexões internacionais, as trajetórias so-
Unesco no início dos anos 50 como mo- ciais e intelectuais dos pesquisadores en-
mento de ruptura com a tradição “cultu- volvidos, os conteúdos teórico-metodo-
ralista” acerca das interações entre brancos lógicos que informaram as pesquisas, o
e negros no país. Em geral, o relato pode estado da arte de determinadas disciplinas
ser sintetizado do seguinte modo: incenti- como a antropologia e a sociologia, a rela-
vada por obras que, na linha interpretativa ção entre intelectuais e vida pública. Desse
de Gilberto Freyre, concebiam a sociedade modo, o Projeto Unesco permite tanto a
brasileira como singularmente conforma- análise do processo de institucionalização

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das ciências sociais no Brasil quanto a re- mundo capitalista, uma sociedade com re-
velação, mais uma vez, da busca perma- duzida taxa de tensões étnico-raciais, com
nente e sempre inacabada de interpretar a a perspectiva de tornar universal o que se
sociedade brasileira. acreditava ser particular. Por sua vez, cien-
Ianni (1966), em análise sobre o contex- tistas sociais brasileiros e estrangeiros ha-
to de emergência dos estudos sobre as rela- viam assumido como desafio intelectual não
ções raciais no Brasil, estabelece um elo entre apenas tornar inteligível o cenário racial
o Projeto Unesco e o pensamento social brasileiro, mas também responder à recor-
brasileiro. Como observa o sociólogo: rente questão da incorporação de determi-
nados segmentos sociais à modernidade.
“[…] as iniciativas da Unesco e outras ins- Enfim, uma suposta visão idílica, um
tituições estrangeiras colaboraram no de- propalado ethos nacional, é antropofa-
senvolvimento das investigações sobre o gicamente transformado em problema na-
assunto. Note-se que dizemos ‘colabora- cional (desigualdades sócio-raciais, desa-
ram’ e não ‘iniciaram’. Na verdade, esses fio da integração de segmentos excluídos)
institutos encontraram condições favorá- sem cancelar a importância do significado
veis à sua realização, inclusive nos meios do mito da democracia racial à brasileira.
acadêmicos, sendo chefiados por especia- Em princípio, a pesquisa só seria reali-
listas brasileiros (Florestan Fernandes, zada na Bahia. A opção preferencial pelo
Thales de Azevedo, Oracy Nogueira, L. A. cenário baiano parecia adequar-se à ima-
Costa Pinto e outros). Note-se que foram as gem do Brasil como uma “democracia ra-
preocupações humanitárias da Unesco que cial”, imagem essa presente na reflexão de
a levaram a iniciar essas pesquisas, pois antropólogos e sociólogos nos anos 30 e 40
que se havia difundido também no exterior (Pierson, 1945; Frazier, 1942; Landes; 1994
que no Brasil reinava a ‘democracia bioló- [1947]; Herskovits, 1943). No entanto, os
gica’. Recordemos, entretanto, que, antes objetivos da investigação foram ampliados,
das iniciativas da Universidade de Chica- graças sobretudo à atuação de Charles
go e da Unesco, já se realizavam no país Wagley, Luiz de Aguiar Costa Pinto, Roger
investigações científicas a respeito das re- Bastide, Ruy Coelho e Otto Klineberg,
lações raciais em geral, desde alguns as- acrescida da visita de Alfred Métraux ao
pectos da integração sócio-cultural dos in- Brasil, no final de 1950, após a qual ele
dígenas, ou as técnicas de infiltração social veio a afirmar que o caso paulista seria “sus-
dos mulatos, até a análise dos produtos cetível de alterar a imagem por demais oti-
marginais da assimilação dos alemães” mista que se fez do problema racial no
(Ianni,1966, p. 71; grifo do autor). Brasil” (1).
Essa conexão intelectual transatlântica
Nesta perspectiva, a pesquisa patroci- concordara quanto aos limites de um
nada pela Unesco foi um projeto negocia- enfoque restrito à Bahia enquanto síntese
do ou, nas palavras de Mariza Corrêa do caso brasileiro. Ela indicou a existência,
(1987), um projeto “estimulad[o] tanto por no Sudeste do país, de uma realidade bas-
um interesse vindo do exterior quanto por tante distinta da baiana, onde as tensões
uma ânsia de autoconhecimento razoavel- raciais seriam mais perceptíveis, como já
mente bem estabelecida como tradição entre havia verificado a produção intelectual ela-
a intelectualidade brasileira” (p. 220). borada por cientistas sociais, intelectuais e
Em trabalho anterior (Maio, 1999c), tive militantes do movimento negro (Nogueira,
a oportunidade de demonstrar que na ori- 1942; Fernandes, 1943; Bicudo, 1945; Fi-
1 Alfred Métraux, “Rapport au
gem da pesquisa da Unesco ocorreu um lho, 1947; Willems, 1949; Costa Pinto, Directeur Général sur Mission
processo antropofágico. Uma instituição 1947, 1950; Guerreiro Ramos, 1948a, au Brésil (16 nov.-20 déc.
1950)”, in Race Questions &
internacional, criada logo após o Holo- 1948b, 1950a, 1950b, 1950c; Ramos, 1938, Protection of Minorities. REG
1939, 1942, 1947, 1951), revelando assim 323.1. Part II up to 31/VII/50
causto, momento de profunda crise da civi- (BOX REG 145), Unesco
lização ocidental, procura na periferia do um universo mais amplo. Os resultados do Archives, p. 5.

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Projeto Unesco, correspondentemente, vi- ção representava o primeiro resultado de
eram a revelar diversos “retratos do Bra- maior vulto da cadeira de Sociologia I da
sil”, o que a meu ver atendia basicamente à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
resolução da 5a sessão da Conferência Ge- da USP, sob a coordenação de Florestan
ral da Unesco em Florença, que falava em Fernandes.
“organizar no Brasil uma investigação-pi- Na segunda metade dos anos 50, Flo-
loto sobre contatos entre raças ou grupos restan havia assumido a condição de um
étnicos, com o objetivo de determinar os intelectual na vida pública, com a campa-
fatores econômicos, sociais, políticos, cul- nha de defesa da escola pública (Soares,
turais e psicológicos favoráveis ou desfa- 1993, pp. 40-3), e acreditava que por meio
voráveis à existência de relações harmonio- da universidade seria possível levar às úl-
sas entre raças e grupos étnicos” (2). timas conseqüências a associação, de ins-
Nesse caso não se deve entender a con- piração manheimiana, entre ciência, edu-
dução da pesquisa e seu destino final como cação e planejamento (Fernandes, 1995, p.
“frustração” e, sim, como resposta e con- 16). Tratava-se, à época, de um cientista
firmação plenas. Uma vez que o Projeto em sua fase “acadêmico-reformista”
Unesco operou com padrões científicos, (Freitag, 1986, p. 165), convicto de que a
porém tendo em vista fins políticos, qual- universidade acabava por se constituir numa
quer avaliação do significado de seus re- rica experiência, equivalente à de um par-
sultados deve levar em conta o tipo de re- tido (Fernandes, 1995, p. 16). Segundo
percussão dos estudos realizados no âmbi- Florestan, “por lá [na universidade] nós
to da pesquisa. Apresentarei a seguir algu- podíamos apanhar a ciência no que ela
mas considerações sobre o desdobramento t[inha] de revolucionário, uma reflexão
das pesquisas do Projeto Unesco no campo crítica sobre o presente, independentemente
das ciências sociais no Brasil. de uma formalização política maior” (idem,
p. 16). Desde os anos 40, diante de uma
sociedade civil frágil, desorganizada,
inorgânica, o sociólogo afirmava, anos mais
O PROJETO UNESCO E A tarde que “o meu partido acabou sendo a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras”
INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS (idem, p. 6).
Foi por meio do Projeto Unesco que o
CIÊNCIAS SOCIAIS NO BRASIL sociólogo paulista começou a transformar
“a cadeira de sociologia I […] [n]uma ins-
Em dezembro de 1959, Florestan Fer- tituição dentro de outra instituição” (Fer-
nandes concluía o prefácio do livro Cor e nandes, 1977, p. 185). A inserção na pes-
Mobilidade Social em Florianópolis, de quisa sobre relações raciais em São Paulo
Fernando Henrique Cardoso e Octavio ocorreu concomitantemente a sua escolha
Ianni. A pesquisa, patrocinada por duas como assistente de Roger Bastide. A inten-
agências governamentais (Inep/Capes), sa experiência de pesquisa em equipe fez
contou com o apoio de Anísio Teixeira e Florestan lembrar, anos mais tarde, que ao
Charles Wagley. Ela era o desdobramento aceitar o convite do sociólogo francês, no
do Projeto Unesco para o Sul do país, que final de 1950, “já tinha em mente que (…)
até aquela altura ainda não havia sido con- deveria ser o seu substituto. Ao sucedê-lo,
templado. A coleta do material empírico procurei escolher pessoas que haviam sido
foi realizada em 1955 e o trabalho conclu- meus estudantes e para os quais eu tinha
2 Records of The General
ído em 1957 (Cardoso e Ianni, 1960, pp. um ideal de carreira” (Fernandes, 1978, p.
Conference of The United xxxix-xi). O estudo era o exemplo mais 22). Fernando Henrique Cardoso e Octavio
Nations Educational, Scientific
And Cultural Organization, Fifth bem-acabado da influência do Projeto Ianni foram peças-chave no comando do
Session, Florence, 1950, Unesco no processo de institucionalização “departamento-partido”.
Resolutions. Paris, July, 1950,
p. 40. Unesco Archives. das ciências sociais no Brasil. A investiga- Nessa ocasião, com o deslocamento de

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seus interesses da etnologia, do folclore para tropologia foi desenvolvida de maneira
as relações raciais, Florestan enveredou pela extremamente criativa, sensível e contem-
análise histórico-sociológica, para desven- porânea. Oracy Nogueira tornou-se “um
dar a difícil transição do arcaico para o elemento deslocado no grupo de pesquisa
moderno no Brasil, realçando os limites da paulista” (Cavalcanti, 1998, p. 16).
integração e da mobilidade social da popu- Por outro lado, no sintético e clássico
lação de cor. No caso específico dos ne- trabalho Preconceito Racial de Marca e
gros, Florestan assinala que “nas condições Preconceito Racial de Origem, apresenta-
em que se operou estruturalmente a transi- do no XXXI Congresso Internacional dos
ção para o regime de classe, o trabalho li- Americanistas, em 1954 (Nogueira, 1955a),
vre não serviu como um meio de revalori- o autor modestamente afirma, em seu arti-
zação social do negro” (Fernandes, 1955b, go, que procurou sistematizar as análises e
p. 109, grifo do autor). Ao mesmo tempo, informações contidas nos estudos socioló-
as mudanças ocorridas teriam preservado gicos realizados por Pierson (1945) e pelos
as imagens negativas sobre negros e par- pesquisadores do Projeto Unesco. No en-
dos, assim como a perpetuação de determi- tanto, uma leitura mais atenta de Relações
nadas atitudes. Segundo o autor, “na eti- Raciais no Município de Itapetininga (sua
queta das relações raciais conserva-se o pesquisa para a Unesco) verificará que os
antigo padrão de tratamento recíproco dois tipos ideais (preconceito de marca e
assimétrico” (idem, p. 112). preconceito de origem), na perspectiva
Em termos profissionais e institucionais, weberiana, já se encontravam presentes em
parece não haver dúvida que Florestan sua investigação finalizada em 1952 (No-
Fernandes soube canalizar de modo amplo gueira, 1955, pp. 550-553). Trata-se da
e eficiente a experiência da pesquisa sobre primeira análise comparativa – rigorosa e
as relações raciais em São Paulo. Quanto a extremamente atual – das diferenças quali-
Roger Bastide e Oracy Nogueira, o Projeto tativas entre o racismo à brasileira e o ra-
Unesco teve conseqüências diferenciadas cismo à norte-americana.
em suas carreiras profissionais. Bastide já No Rio de Janeiro, o Projeto Unesco
era um pesquisador reconhecido, com um teve dois resultados distintos. Em primeiro
sólido acúmulo de conhecimento e pesqui- lugar, o estudo suscitou controvérsia com
sa sobre o negro em São Paulo e na Bahia. os intelectuais vinculados ao Teatro Expe-
A pesquisa da Unesco reforçou sua autori- rimental do Negro, especialmente o soció-
dade nessa área de estudos, no campo in- logo Alberto Guerreiro Ramos, no que tan-
ternacional. Bastide foi, sem dúvida, o ci- ge à reflexão sociológica de Costa Pinto
entista social mais prestigiado nas publica- sobre o movimento negro (Maio, 1997b).
ções da Unesco (1952, 1952a, 1957) ao Em segundo lugar, a pesquisa de Costa Pinto
tratar especificamente do projeto realizado contribuiu para o incremento da trajetória
no Brasil. singular das ciências sociais no então Dis-
No caso de Oracy Nogueira, ocorreu um trito Federal, o que, neste caso, se deu com
aparente paradoxo. Seu seminal estudo de o surgimento de centros de pesquisa fora
comunidade que versava sobre os padrões da universidade. Costa Pinto, com a inves-
de relações raciais presentes em Itape- tigação sobre as relações raciais no Rio de
tininga, no interior de São Paulo, foi trata- Janeiro, assume em definitivo seus temas
do como mero “apêndice” da pesquisa da favoritos: estratificação social, mudança
Unesco em São Paulo. A crise institucional social e os obstáculos, impasses e desafios
vivida pela Escola Livre de Sociologia e do desenvolvimento econômico-social.
Política (ELSP) e as disputas teórico-me- A experiência de debate sobre o estatu-
todológicas entre a ELSP e a FFCL preju- to científico do conceito de raça, patroci-
dicaram a visibilidade de um dos trabalhos nada pela Unesco no final de 1949 (Maio,
mais completos do Projeto Unesco, onde a 1998a) e sua participação no Projeto Unesco
articulação entre história, sociologia e an- (Maio, 1998b) colocaram Costa Pinto no

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circuito internacional. Em 1953, tornou-se como professor na Universidade da Bahia,
membro do comitê executivo da Associa- com bolsa da Capes, por um período de
ção Internacional de Sociologia (ISA), or- dois anos e foi professor da Escola Livre de
ganização criada sob a chancela da Unesco Sociologia e Política no final dos anos 50.
no final dos anos 40. Em 1955, participou No entanto, do “grupo de Wagley”, Marvin
dos debates em torno da organização do Harris foi o único que continuou a pesquisar
Centro Brasileiro de Estudos Educacionais as relações raciais no Brasil.
(CBPE), idealizado por Anísio Teixeira, e Se Thales de Azevedo já havia se con-
desenvolveu na recém-criada instituição vertido à antropologia cultural, desde o
uma pesquisa sobre estratificação social no final da década de 40, seu envolvimento
Brasil (Mariani, 1982, pp. 177-8). É inte- no Projeto Unesco não deixa por isso de
ressante observar que outros participantes adquirir significado especial. Não obstante
diretos ou indiretos no Projeto Unesco vi- houvesse participado da organização e
eram a se incorporar ao CBPE, como fo- concepção dos estudos de comunidade
ram os casos de Charles Wagley, Otto desenvolvidos pelo convênio Columbia
Klineberg, Oracy Nogueira, Josildeth Go- University/Estado da Bahia, foi só com a
mes Consorte e Renato Jardim Moreira. investigação sobre as relações raciais em
Em 1957, com a criação do Centro La- Salvador que Thales pôde finalmente exer-
tino-Americano de Pesquisas em Ciências citar em sentido pleno sua sensibilidade
Sociais (CLAPCS), vinculada à Unesco e socioantropológica, dando seguimento,
que tinha por objetivo estudar o processo adiante, a uma série de estudos sobre o
de desenvolvimento na América Latina, tema na Bahia (Azevedo, 1966; Guima-
Costa Pinto torna-se diretor da instituição rães, 1996a; 1996b). Os estudos da Bahia
por quatro anos (Oliveira, 1995, pp. 268- revelaram enorme riqueza etnográfica so-
304). Costa Pinto é um bom exemplo de bre as relações raciais numa região tradi-
cientista social que, a despeito de todas as cional. Preconceito e discriminação racial
dificuldades da universidade do Brasil, emergem nas múltiplas formas de intera-
conseguiu estabelecer vínculo permanente ção social (Guimarães, 1996b; Maio,
entre ensino e pesquisa. 1997a, cap. 6).
No caso da Bahia, é difícil dissociar a A pesquisa de Recife incorporou uma
pesquisa da Unesco do projeto Columbia nova questão à produção acadêmica de
University/Estado da Bahia. Desde o final René Ribeiro, a saber, as relações raciais.
dos anos 30, o antropólogo Charles Wagley Embora o tema da aculturação já estivesse
esteve ligado a temas brasileiros, e embora presente nos seus trabalhos, o estudo da
não estivesse inserido de forma regular Unesco combinou história, antropologia e
numa instituição de ensino ou pesquisa no sociologia. Além disso, a pesquisa serviu
Brasil, foi um ator fundamental no estrei- para dar maior visibilidade ao Instituto
tamento das relações acadêmicas entre o Joaquim Nabuco e para preservar o legado
Brasil e os EUA, seja como professor da de Gilberto Freyre. De algum modo, atua-
Universidade de Colúmbia e da Flórida, lizou certas reflexões do mais consagrado
seja como pesquisador da Unesco. No pe- sociólogo brasileiro à época, servindo de
ríodo do projeto Columbia University/Es- contraponto às investigações que vinham
tado da Bahia/Unesco, seus alunos (Harry sendo elaboradas no Sudeste do Brasil
William Hutchinson, Marvin Harris e Ben- (Maio, 1999a).
jamin Zimmerman) encontravam-se em O Projeto Unesco não se limitou apenas
fase de elaboração de suas teses de douto- ao incremento de carreiras científicas. Nele
rado. Foram, em parte, como observa Massi manifesta-se com vigor um olhar sociológi-
(1989), “‘pesquisadores itinerantes’, que co que, observando com sistematicidade o
passam pelo país o tempo exato da coleta país, é capaz de apontar os dilemas de uma
do material para a sua investigação” (p. sociedade em processo de modernização, que
453). Hutchinson chegou a se estabelecer se compromete, como intelligentsia, em

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deixar para trás um Brasil tradicional sem nalização por meio da ampliação do número
cancelar, como veremos a seguir, um diá- de faculdades de filosofia e experimentando
logo com as interpretações tradicionais a novos modelos teórico-metodológicos que
seu respeito. dessem maior substância à formação de um
novo personagem, o cientista social.
Esse processo avançou no período da
CIÊNCIA E POLÍTICA NO PROJETO democratização do país, a partir de 1945.
Nos anos 50, quando ocorreu a pesquisa da
UNESCO Unesco, o debate sobre o padrão de desen-
volvimento econômico e social que deve-
A articulação de ciência e política, tão ria nortear o país tornou-se questão obriga-
marcante na inspiração da Unesco ao deci- tória para os cientistas sociais. Essa discus-
dir pela elaboração do projeto, estava niti- são assumiu rumos diversos, mas sempre
damente presente para os sociólogos e an- colocando na ordem do dia o papel das ci-
tropólogos envolvidos nas pesquisas. Além ências sociais em tempos de mudança soci-
disso, a atividade científica estava investida, al. Não obstante a pesquisa da Unesco re-
para alguns deles, de um engajamento, ou meter de imediato a um tema específico,
seja, as ciências sociais seriam o melhor ou seja, as relações raciais, ela serviu de
instrumento de uma compreensão da reali- “pretexto” para diversas análises acerca
dade, que se constituísse numa forma pri- da transição do arcaico para o moderno,
vilegiada de comprometimento e interven- do nosso sistema de estratificação social,
ção nas mudanças sociais necessárias. Cabe de mobilidade vertical, dos impasses às
lembrar que a associação cientista social e transformações sociais, do papel dos inte-
socialismo era muito comum nas ciências lectuais na vida pública e da incorporação
sociais no Brasil nesse período (Peirano, de determinados estratos sociais na soci-
1981). E, enfim, a partir dessa posição edade de classes.
gradativamente consolidada, eles chegaram Desse modo, aparentemente, a mera
a reavaliar as grandes sínteses interpre- divulgação de dados concernentes a uma
tativas construídas principalmente nos anos experiência particular em matéria étnica
20 e 30, lidando construtivamente com poderia ser vista como um objetivo limita-
aquilo que a tradição anterior apontara como do para a maioria dos cientistas sociais
positivo e singular no Brasil. Segue uma envolvidos no Projeto Unesco. Afinal, ca-
exposição mais pormenorizada do meu bia aproveitar o patrocínio internacional de
argumento. uma instituição de prestígio, como era o
Florestan Fernandes, ao elaborar o pla- caso da Unesco, para decifrar sob novos
no de pesquisa a ser realizado em São Pau- parâmetros a realidade brasileira. Todavia,
lo, afirma que “o estudo deve ser projetado os cientistas sociais do Projeto Unesco
em bases científicas, mas tem uma origem acreditavam, em graus variados, que o Bra-
e um fim que são igualmente extra-cientí- sil se constituía em um “laboratório de ci-
ficos: destina-se a uma instituição, a vilização”. Para abordarmos com cuidado
Unesco, que o solicitou com o propósito de esta questão, é necessário considerar com
servir-se de seus resultados na reeducação atenção a convicção, presente entre os pes-
social dos adultos e em sua política básica quisadores, de que o Brasil seria dotado de
de aproximação das raças.” (Bastide e Fer- certa singularidade.
nandes, 1959[1951], p. 324). No prefácio a Cor e Mobilidade Social
A pesquisa da Unesco foi realizada num em Florianópolis, Florestan considera que
momento de transição no desenvolvimento os estudos sobre as relações raciais eram um
das ciências sociais no Brasil. Ocupando indicador preciso do amadurecimento das
espaços na universidade a partir dos anos ciências sociais no Brasil. Afora a impor-
30, as ciências sociais procuraram nas déca- tância das preocupações teóricas e empíricas
das seguintes consolidar essa institucio- que mobilizariam os cientistas sociais, ao

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ampliarem os conhecimentos acerca dos acima dos princípios da ordem social demo-
padrões de relações étnicas existentes no crática” (idem, p. xiv).
país, haveria um interesse em responder a
questões de natureza imediata e de caráter Entretanto, afirma Florestan, o desenvol-
político. Como afirma Florestan: vimento da civilização ocidental no Brasil –
a saber, industrialização, democratização da
“Ninguém ignora o quanto a heteroge- riqueza e do poder e progresso social – deve
neidade cultural e racial afetou, está afe- estar informado por “nossa herança sócio-
tando e continuará a afetar as possibilida- cultural”, pois “um povo que estimule pro-
des de desenvolvimento da ‘civilização gramas rápidos de mudança cultural, sem
ocidental’ no Brasil. Sob esse aspecto, as orientá-los segundo critérios inteligentes e
questões pertinentes ao assunto possuem o construtivos, paga preços exorbitantes pelo
caráter de problema nacional, o que se progresso social” (idem, p. xvi).
confere às investigações realizadas ou em Florestan observa que a riqueza e
curso um interesse prático iniludível” (Fer- plasticidade da civilização ocidental con-
nandes, 1960, p. xi, grifos do autor). templa diferentes sistemas culturais nacio-
nais, que se ordenam por meio de determi-
No entanto, o sociólogo paulista lamenta nados valores ideais básicos. Neste senti-
que a sociedade em geral não esteja atenta do, caberia, segundo Florestan, incrementar
para o significado das pesquisas em anda- a consciência de cidadania e o exercício
mento. Esse fenômeno é atribuído por Flo- mais eficaz da democracia, sem, com isso,
restan Fernandes à crença de que o Brasil cancelar “a tolerância convencionalizada
vive sob a égide de uma democracia racial. nas relações raciais e o mínimo de sobran-
Envoltos por essa ideologia, os “leigos” ceria [de orgulho], que caracteriza a ex-
dificultam o surgimento de uma mentali- pressão assumida pelo individualismo e
dade de novo tipo capaz de canalizar esfor- pela autonomia da pessoa quer em nosso
ços na direção de uma sociedade industri- homem culto, quer em nosso homem rústi-
al, democrática tanto em termos políticos co” (idem, p. xvi, grifos do autor).
quanto sociais (idem, pp. xi-xii). Florestan, sem dúvida, nos surpreende,
Seria função do sociólogo, segundo ao considerar que aquilo que nos condena
Florestan, desvendar os fundamentos da é também a fonte que pode nos redimir. O
estrutura social, no intuito de indicar os sociólogo paulista, que desenvolveu uma
mecanismos de reprodução do racismo. série de reflexões sobre o antagonismo entre
Dessa forma, ficariam evidentes os “obstá- civilização e “cultura de folk”, e interessa-
culos à mudança social” (idem, pp. xii-xiii, do, sobretudo, no debate sobre as resistên-
ênfase do autor). Florestan Fernandes é cias culturais à mudança social, indica que
categórico: “a tolerância convencionalizada nas rela-
ções raciais”, um elemento de nossa tradi-
“Não existe democracia racial efetiva [no ção, que poderia ser traduzido, por exem-
Brasil], onde o intercâmbio entre indivíduos plo, pela cordialidade, é um valor a ser
pertencentes a ‘raças’ distintas começa e preservado seja por intelectuais, seja pelas
termina no plano da tolerância conven- camadas populares.
cionalizada. Esta pode satisfazer às exigên- Diante do processo avassalador de de-
cias de ‘bom tom’, de um discutível ‘espíri- senvolvimento econômico, urbanização,
to cristão’ e da necessidade prática de ‘man- mobilidade social que chega ao auge na era
ter cada um em seu lugar’. Contudo, ela não JK, e face à convicção de que as desigual-
aproxima realmente os homens senão na base dades raciais são um “problema nacional”,
da mera coexistência no mesmo espaço so- Florestan alerta para os possíveis efeitos
cial e, onde isso chega a acontecer, da con- perversos da ausência de parâmetros
vivência restritiva, regulada por um código socioculturais que regulem a expansão
que consagra a desigualdade, disfarçando-a desenfreada do capitalismo no Brasil, la-

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cuna essa que impediria uma verdadeira taria, segundo o sociólogo francês, do se-
“reforma social à brasileira”. Nesse senti- guinte modo:
do, o sociólogo reconhece aspectos posi-
tivos da sociabilidade no campo das rela- “as expressivas mudanças da estrutura so-
ções raciais e revela a condição ambiva- cial e o desenvolvimento de idéias demo-
lente da convivência do racismo à brasi- cráticas tendem a substituir o velho pater-
leira com o mito da democracia racial, nalismo por uma luta que não é mais pela
tendo em vista a relevância dos aspectos igualdade racial legal, mas sim pela igual-
culturais que se apresentam no jogo das dade racial no plano da economia. Essa
relações sociais. Florestan Fernandes, em luta gera tanto consciência de raça entre as
seu aparente paradoxo, revelava o “dile- pessoas de cor quanto discriminação por
ma brasileiro”. parte dos brancos. Ao mesmo tempo, o
Thales de Azevedo já havia alertado para brasileiro tem orgulho das relações afetivas
o desafio de combinar o processo de indus- que conseguiu estabelecer entre as raças;
trialização de sua região com a preserva- ele se identifica com um código de com-
ção do ethos baiano (Azevedo, 1955, pp. portamento, que leva significativamen-
197-8). Charles Wagley, por sua vez, não te em conta a dignidade do indivíduo e ao
era pessimista quanto à modernização do ideal de uma fraternidade universal que lhe
país, contanto que se atentasse para a pre- fez merecer o qualificativo de ‘cordial’
servação da tradição que gerou uma socia- (‘warm-hearted’)” (Bastide, 1957, p. 512).
bilidade positiva (Wagley, 1955, p. 11).
O mesmo espírito pode ser detectado Observa-se neste caso que para Bastide,
em Oracy Nogueira, que ao abordar a ideo- como na perspectiva de Costa Pinto, mo-
logia tradicional das relações raciais, não dernidade e racismo não se contrapunham
via apenas a preterição do negro em rela- (Maio, 1999b). O processo de mudança
ção ao branco no processo de ascensão social que gera tensões raciais poderia tam-
social. A complexa ideologia da democra- bém vir a ter uma solução promissora “ao
cia racial, parte constitutiva do “ethos na- se passar do paternalismo à igualdade sem
cional” (Nogueira, 1955a, pp. 423-4), tam- deixar que nesse processo o povo perca a
bém seria um parâmetro para situações de cordialidade, a tolerância e o respeito mú-
constrangimento vividas pelos negros, na tuo” (idem, p. 512).
medida em que a opinião pública seria sen- No caso de Costa Pinto, o sociólogo não
sível a atitudes agressivas que mostrassem admitia diferença substantiva entre o racis-
abertamente situações de preconceito ou mo brasileiro e o norte-americano. No en-
de discriminação racial (Nogueira, 1955, tanto, a conclusão a que chega, no que se
p. 516). Por isso mesmo, o autor acreditava refere à comparação entre os dois países,
que o “preconceito de marca”, próprio ao ocorre em detrimento de uma série de singu-
“racismo à brasileira” (DaMatta, 1981, p. laridades apontadas pelo próprio sociólogo
58), diferente do “preconceito de origem”, ao longo do seu trabalho, a saber: a estraté-
característico da experiência norte-ameri- gia do branqueamento como possibilidade
cana, teria melhores condições de ser supe- de ascensão no interior da sociedade tradici-
rado por meio da educação, ou seja, medi- onal de pardos e negros (as “honrosas exce-
ante a utilização de técnicas racionais de ções”), os atributos associados à cor que, em
esclarecimento que alterassem crenças e diversas situações, alteram a posição social
comportamentos de negros e brancos no dos indivíduos e, finalmente, o sistema de
domínio das relações raciais (Nogueira, classificação de cores no Brasil que impli-
1955, p. 518). caria uma dimensão cultural e social e, por
Podemos lembrar ainda a esse respeito conseguinte, uma série de “imprecisões”,
Roger Bastide, que, inspirado em Gunnar como o próprio Costa Pinto observa nos
Myrdal (1944), acreditava na existência censos (Maio, 1998).
de um “dilema brasileiro”. Ele se apresen- É interessante observar que mesmo o

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sociólogo Guerreiro Ramos, que se coloca- de de se exercitar mais uma vez, no campo
va no campo oposto ao Projeto Unesco – por da ciência, a “tradição da ruptura”. Os no-
conta de distinta perspectiva sobre o padrão vos marcos intelectuais suscitados pela
de trabalho sociológico –, postulava que a emergência dos cursos de ciências sociais,
democracia racial brasileira era um dos principalmente, em instituições universi-
principais instrumentos ideológicos na luta tárias de São Paulo e do Rio de Janeiro
contra a dominação dos países hegemô- associados às diversas perspectivas teóri-
nicos. Guerreiro, em contexto nacional- co-metodológicas advindas principalmen-
desenvolvimentista, associava o enfrenta- te da França e dos EUA, ofereceram a opor-
mento das mazelas vividas pelo negro à tunidade de se afirmar a superação de uma
conformação definitiva de uma identida- fase ensaística, pouco rigorosa na perspec-
de enquanto nação (Maio, 1996). Naquele tiva do então emergente padrão de trabalho
que foi provavelmente o último trabalho científico. Ênfase particular é atribuída à
que elaborou acerca das relações raciais, superioridade da nova fase, na qual se bus-
Guerreiro, em seu estilo normativo, acon- ca estabelecer demarcações, mas ao mes-
selhava o governo brasileiro a dar respaldo mo tempo se observa uma relação ambígua
com a tradição (cf. Vilhena, 1997, p. 129).
“[a]os grupos e as instituições nacionais que, Esta posição informa, de certo modo, o
pelos seus requisitos de idoneidade científi- clássico artigo de Oracy Nogueira (1955),
ca, intelectual e moral, possam contribuir no qual o autor divide em três correntes a
para a preservação das sadias tradições de literatura que trata da “situação racial bra-
democracia racial no Brasil, bem como para sileira”. A primeira, vinculada aos estudos
levar o nosso país a poder participar da lide- afro-brasileiros (Nina Rodrigues, Arthur
rança das forças internacionais interessadas Ramos, Melville Herskovits, René Ribei-
na liquidação do colonialismo” (Guerreiro ro, Édison Carneiro e Roger Bastide), esta-
Ramos, 1957, p. 202). va voltada à investigação da dinâmica
aculturativa, preocupada então em delimi-
Parece que no contexto em que foi rea- tar a influência das culturas africanas no
lizado o Projeto Unesco, cientistas sociais processo de constituição de uma cultura
brasileiros e estrangeiros não acreditavam brasileira. A segunda corrente, denomina-
que a pesquisa e a divulgação de dados acer- da de histórica, é representada por Gilberto
ca do preconceito e da discriminação pre- Freyre, que procura revelar as formas de
sentes nas relações raciais no Brasil impe- inserção do negro na sociedade brasileira,
dissem o reconhecimento à singularidade os impactos resultantes e o lugar que tradi-
do país em matéria racial. cionalmente vem sendo atribuído à raça
negra. Por último, Oracy Nogueira sugere
uma terceira corrente, a sociológica (Donald
CONSIDERAÇÕES FINAIS Pierson e, principalmente, os cientistas
sociais envolvidos no Projeto Unesco), que,
O Projeto Unesco é recorrentemente não obstante o reconhecimento da produ-
concebido como momento de inflexão nos ção intelectual anterior, valoriza em parti-
estudos sobre as relações raciais no Brasil, cular as variadas formas de interação racial
ao deslocar o paradigma cultural, represen- entre brancos e negros.
tado pela obra de Gilberto Freyre dos anos Oracy reconhece um certo grau de ar-
30, especialmente Casa-Grande & Senza- bitrariedade em seus critérios de classifi-
la, e substituído pelo paradigma sociológi- cação e alocação de autores. Além disso,
co, da estrutura social, que emerge da obra atribui importância à tradição, sem, no
de Florestan Fernandes. entanto, deixar de registrar implicitamen-
O processo crescente de institucio- te, que a “corrente sociológica” seria uma
nalização das ciências sociais brasileiras a etapa superior dos estudos sobre as rela-
partir dos anos 40 e 50 criou a possibilida- ções raciais no Brasil. Sua cientificidade

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teria por base os seguintes critérios: 1o) integração da massa dos excluídos à nova
delimitação da área de investigação com o ordem social e política instituída no Brasil
intuito de viabilizar uma coleta contínua e pós-escravista (cf. Lima, 1999). Há, desse
intensiva de dados, capaz de garantir uma modo, um elo de continuidade entre o final
sólida base empírica para o estudo; 2o) apre- do século XIX e os anos 50 e 60 do presente
sentação objetiva dos dados utilizados, vi- século: uma intelectualidade compromis-
sando à comparação com outras pesquisas sada com os destinos da nação e a centrali-
e à produção de novas análises; 3o) estabe- dade do negro para o entendimento dos
lecimento de analogias entre a situação dilemas brasileiros, seja a partir do para-
racial brasileira e a de outros países, em digma racial (Silvio Romero), do paradig-
especial, os Estados Unidos; 4o) inteligi- ma cultural (Gilberto Freyre), ou do para-
bilidade da complexa “situação racial” do digma sociológico (Florestan Fernandes,
país, em seu conjunto, pela comparação e Costa Pinto, Guerreiro Ramos).
síntese, potencializando o surgimento de Ao realizarem um denso, amplo e com-
novos estudos de caso em distintas locali- plexo inventário do preconceito e da dis-
dades do Brasil (idem, p. 412). A análise criminação racial no Brasil, os cientistas
sistemática das relações raciais no Brasil, sociais envolvidos no Projeto Unesco não
segundo Oracy Nogueira, seria um indica- revelaram apenas o racismo à brasileira.
dor preciso de um estilo inédito de trabalho Eles estavam cientes da existência de um
sociológico no Brasil. tipo de sociabilidade, que poderia ser tra-
Nogueira enfatiza a novidade, embora duzido pela afetividade, tolerância, cordi-
não prescinda da tradição. Este jogo faz parte alidade, aspectos essenciais para o desen-
da própria busca de legitimidade do conhe- volvimento de laços de solidariedade e pro-
cimento científico que, ao se apresentar como jetos coletivos (cf. Souza, 1997, p. 31).
inédito, revela ainda uma certa fragilidade, Embora desde os anos de 1940 obser-
buscando assim dialogar com os precurso- ve-se a elaboração de balanços críticos das
res, ao custo de releituras que inspiraram os ciências sociais no Brasil, só em passado
esforços renovadores (cf. Vilhena, 1997, p. recente verifica-se uma intensificação dos
129; Maio & Villas-Bôas, 1999, p. 9). esforços de reflexão sobre as instituições,
O negro foi objeto de obsessiva refle- o conhecimento acumulado e as trajetórias
xão do que comumente é denominado pen- sociais e intelectuais dos “pais-fundado-
samento social brasileiro, na medida em res”. Reconhecendo a existência de uma
que ajudava a compreender aspectos da vida tradição, esses cientistas sociais, não dife-
nacional relacionados com a escravização rente de outras experiências internacionais,
de um grande contingente de populações buscam associar mudanças no campo inte-
de origem africana durante a maior parte lectual a contextos mais amplos de trans-
do período colonial e durante mais de meio formações da modernidade. Em alguns
século de vida nacional independente, e ao casos, há clara intenção em se procurar nos
lugar que seus descendentes ocupam na precursores respostas para os desafios co-
constituição da sociedade e da cultura bra- locados pela “crise” dos paradigmas das
sileiras. Por meio da reflexão sobre o ne- ciências sociais.
gro, procurou-se verificar a possibilidade De qualquer modo, julgo que o nosso
dos brasileiros levarem a cabo um projeto pensamento social tem uma tradição que
de modernidade. deve ser interpelada dada a sua riqueza
Nesse sentido, o papel de relevo de nossa interpretativa dos fatos sociais brasileiros.
intelligentsia na construção simbólica da Acredito, enfim, que essa tradição deve ser
nação, próprio de sociedades que se retar- fonte constante de diálogo, especialmente
daram no processo de modernização capi- no momento de crescente debate acerca de
talista, não se limitou à criação de uma políticas anti-racistas no Brasil. O Projeto
unidade cognitiva e moral, mas também Unesco é, sem dúvida, um parâmetro para
esteve voltada para o problema da essa reflexão obrigatória.

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