Sunteți pe pagina 1din 128

Memórias da terra:

análises cerâmicas
e geoquímicas nos sítios
Terra Preta 1 e Terra Preta 2
Estudos de Arqueologia na área de influência
da Mineração em Juruti-Pará

ORGANIZADORA
Lílian Panachuk

LVR - Academico_REV.indd 1 05/05/2017 14:36:06


Organização Lílian Panachuk

Daniel Cruz

Colaboração Greyce Guerra

Consultoria Eneida Malerbi

Solange Caldarelli

Revisão Ortográfica Tatiane Lima

Ilustração Scientia Consultoria Científica

Fotos Eliziane Duarte

Acervo Scientia Consultoria

Capa Patrícia Cassimiro

Wallace Felix

Projeto Gráfico/Diagramação Wallace Felix

Apoio Alcoa World Alumina Brasil Ltda

M533

Memórias da Terra: análises cerâmicas e geoquímicas nos sítios Terra


Preta 1 e Terra Preta 2: estudos de arqueologia na área de intervenção da mi-
neração Juruti-Para / Lílian Panachuk (org.); revisão, Tatiane Lima; projeto
gráfico, Wallace Felix. – São Paulo: [s. n.], 2016.
128p.: il.; 26 cm.

ISBN 978-85-61345-04-4

1. Patrimônio Cultural. 2. Educação Patrimonial. 3. Memória local.


I. Título. II. Panachuk, Lílian.

CDD – 363.69

É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada


a fonte. Esta publicação não pode ser vendida. Tiragem: 150 exemplares.
Impresso no Brasil

LVR - Academico_REV.indd 2 05/05/2017 14:36:06


Dedicatória

Este livro é dedicado à arqueóloga Ana Lúcia Machado (em


memória), que muito contribuiu para o estudo dos vestígios cerâmicos
encontrados em Juruti. Obrigada pelo aprendizado, esta obra também
é sua!

LVR - Academico_REV.indd 3 05/05/2017 14:36:06


LVR - Academico_REV.indd 4 05/05/2017 14:36:06
Agradecimento

Este trabalho somente foi possível com a colaboração de uma rede


de pessoas, igualmente importantes para a sua boa conclusão. A
coordenação dos trabalhos foi executada por Dra. Solange Caldarelli e
por Ma. Fernanda Araújo Costa, que traçaram as diretrizes da pesquisa
arqueológica; Dra. Dirse Clara Kern foi responsável pelo estudo
geoquímico. Importante apontar que as escavações dos sítios Terra Preta
1 e Terra Preta 2, no município paraense de Juruti, foram coordenadas
pelas pesquisadoras Dra. Denise Gomes e Dra. Dirse Clara Kern, mais
uma grande equipe de pesquisadores e técnicos de diferentes áreas. A
Ma. Ana Lúcia Machado (a quem dedicamos esta obra) coordenou uma
equipe de pesquisadores e técnicos para o entendimento da indústria
cerâmica (Graduados Isabel Pinheiro, Sabrina Sousa e André Heron
Carvalho dos Reis; Dra. Jucilene Amorim Costa; Técnico Fábio Correa dos
Santos; Especialistas Greyce Oliveira e Thiago Guerra), enquanto o Me.
Wesley Charles analisou o material lítico.

LVR - Academico_REV.indd 5 05/05/2017 14:36:06


LVR - Academico_REV.indd 6 05/05/2017 14:36:06
Abreviaturas

C - Carbono
P - Fósforo
Ca - Cálcio
Mg - Magnésio
TM - Terra Mulata
TPA - Terra Preta Arqueológica
pH - Potencial Hidrogeniônico
Valor T - Estatística que compara o valor de duas amostras
Zn - Zinco
Mn - Manganês
K - Potássio
g - Grama
ha - Hectare
Cu - Cobre
cm - Centímetro
L - Litro/Litros
ml - Mililitro
mm - Milímetro
Fe - Ferro
kg - Quilograma
nm - Nanômetro (um milionésimo de milímetro)
KCI - Cloreto de Potássio
N - Nitrogênio

Na - Sódio

LVR - Academico_REV.indd 7 05/05/2017 14:36:06


LVR - Academico_REV.indd 8 05/05/2017 14:36:06
Sumário

Apresentação ................................................................................... 11

Introdução ........................................................................................ 15

Capítulo 1 - A área de estudo: contexto arqueológico .............. 17

Capítulo 2 - A matriz do solo: estudo de terras pretas .............. 29

Procedimentos em campo ........................................................ 30

Procedimentos de laboratório .................................................. 31

Resultados alcançados nessa pesquisa ................................... 32

Capítulo 3 – Composição do solo: estudo da flotação ............... 39

Procedimentos de campo .......................................................... 40

Procedimentos de laboratório .................................................. 41

Resultados alcançados no estudo da flotação ........................ 42

Capítulo 4 - Análise cerâmica ...................................................... 51

Dados tecnológicos da cerâmica .............................................. 53

Tipo de artefato e porção do pote ............................................ 53

Técnica de produção dos artefatos .......................................... 56

Elementos presentes na pasta cerâmica ................................. 57

Tipo de queima ........................................................................... 60

LVR - Academico_REV.indd 9 05/05/2017 14:36:06


Tratamento de superfície: alisamento, polimento, barbotina e
engobo ................................................................................................... 61

Técnicas decorativas .................................................................. 65

Morfologia dos fragmentos e seus diâmetros ........................ 71

Marcas de produção, conservação e sinas de uso .................. 74

Projeção dos vasilhames: forma, altura e volume .................. 76

Cruzamento de dados: análise horizontal ............................... 89

Cruzamento de dados: análise vertical .................................... 96

Análise química da cerâmica ................................................... 100

Resultados alcançados ............................................................ 101

Capítulo 5 - Considerações finais .............................................. 107

Referências .................................................................................... 113

10

LVR - Academico_REV.indd 10 05/05/2017 14:36:06


Apresentação

Palavra da Scientia Consultoria Científica


Os vestígios arqueológicos localizados na região dos rios Tapajós e
Trombetas – sobretudo a exuberante decoração cerâmica e algumas
interessantes estatuetas de pedra – chamaram a atenção de estudiosos e
deram origem a pesquisas assistemáticas entre o último quartel do século
XIX e meados do século XX. Em meio a esses autores estiveram Barbosa
Rodrigues, Barbosa de Faria, Curt Nimuendajú, Erland Nordenskiöld,
Protásio Frikel, Frederico Barata, Peter Hilbert, Helen Palmatary. A partir
da década de 1980, na região empreenderam-se estudos arqueológicos
sistemáticos - como indicado adiante neste estudo. No presente, a cultura
material remanescente de ocupações humanas pretéritas na região continua
a despertar interesse, ao mesmo tempo em que cada estudo estimula a
proposta de mais pesquisas.

É o caso do conteúdo deste livro, que apresenta os resultados da pesquisa


arqueológica desenvolvida pela Scientia Consultoria Científica em dois sítios
arqueológicos, localizados no município paraense de Juruti, no contexto
do licenciamento ambiental da área de inserção de empreendimento da
Alcoa: contribui com algumas peças a mais para o complexo quadro do
povoamento antigo da Amazônia, e também levanta mais questões a serem
respondidas por estudos futuros.

Importa informar, também, que essa pesquisa arqueológica realizada


em Juruti, desde 2007, assim como um importante programa de
atividades educativas voltadas para o patrimônio cultural em geral e os
bens arqueológicos em específico integram ação dos Planos de Controle
Ambiental do processo de licenciamento do empreendimento de mineração
de bauxita da Alcoa no Município de Juruti. Múltiplas ações têm sido
realizadas em parceria com a comunidade e com outros programas sociais
atuantes no município que buscam formar cidadãos mais envolvidos com a
preservação tanto do patrimônio quanto da identidade cultural local.

11

LVR - Academico_REV.indd 11 05/05/2017 14:36:07


Palavra do empreendedor

Sobre a Alcoa Corp.


A Alcoa (NYSE: AA) é líder mundial no setor em produtos de bauxita,
alumina e alumínio, com um forte portfólio de produtos de fundição
e laminação de valor agregado e ativos de energia significativos. A
Alcoa está construída sobre uma base de valores fortes e excelência
operacional há quase 130 anos, desde a revolucionária descoberta
que fez do alumínio uma parte vital e acessível da vida moderna.
Desde a invenção da indústria de alumínio e no decorrer da nossa
história, nossos talentosos Alcoanos têm apresentado incríveis
inovações e melhores práticas que nos levaram à eficiência, segurança,
sustentabilidade e comunidades mais fortes em todos os momentos
em que operamos. Visite nosso site www.alcoa.com, siga @Alcoa no
Twitter e, no Facebook, em facebook.com/Alcoa. facebook/AlcoaBrasil

Sobre a Alcoa no Brasil


A Alcoa opera no Brasil em cinco das seis unidades de negócios
da Alcoa Corporation: Bauxita, Alumina, Alumínio, Fundição e Energia.
A estratégia de transformação da companhia busca ampliar seus
negócios na cadeia de valor do alumínio e criar operações na área de
commodities globalmente competitivas. A Alcoa emprega localmente
cerca de 2.300 pessoas e possui três unidades produtivas, em Minas
Gerais, Maranhão e Pará, além de escritórios em São Paulo e no Distrito
Federal. A companhia também é acionista da Mineração Rio do Norte
(MRN) e de quatro usinas hidrelétricas: Machadinho, Barra Grande,
Serra do Facão e Estreito. Foi escolhida pela oitava vez como uma das
empresas-modelo pelo Guia Exame de Sustentabilidade. Também
foi reconhecida pela 13ª vez como uma das Melhores Empresas para
Trabalhar, de acordo com o Great Place to Work Institute; e uma das
Melhores Empresas Para Começar a Carreira, segundo o Guia Você
S/A. Para mais informações, visite www.alcoa.com.br e siga @Alcoa no
Twitter em twitter.com/AlcoaBrasil e no Facebook em facebook.com/
AlcoaBrasil.

12

LVR - Academico_REV.indd 12 05/05/2017 14:36:07


Sobre a Alcoa Juruti
A Alcoa opera mina de bauxita no município de Juruti, oeste do
Estado do Pará, desde 2009, como uma das principais unidades do
negócio global de mineração da Alcoa. Composta por estruturas de
lavra, beneficiamento, transporte através de ferrovia de cerca de
55 km e terminal portuário, a Alcoa Juruti emprega cerca de 1.400
funcionários direta e indiretamente, mantendo uma média de 80% do
efetivo com origem paraense, e já gerou o montante de mais de R$
260 milhões em pagamentos de impostos e royalties da mineração de
bauxita.

Com uma proposta de operações integradas com a comunidade,


a Companhia promove iniciativas voluntárias de responsabilidade
social pelo fortalecimento das infraestruturas, mão de obra e negócios
locais, além de impulsionar a criação do Tripé Juruti Sustentável como
modelo de desenvolvimento local, abrangendo fórum de discussão
entre poder público, organizações sociais e iniciativa privada; fundo
de financiamento de projetos de sustentabilidade; e ferramenta
de indicadores socioeconômicos para adequada orientação das
prioridades do município. Segundo pesquisa de opinião pública
conduzida pelo Ibope, 91% da população de Juruti é favorável e apoia
as operações da Alcoa na cidade.

13

LVR - Academico_REV.indd 13 05/05/2017 14:36:07


LVR - Academico_REV.indd 14 05/05/2017 14:36:07
Introdução

O objetivo deste livro é apresentar, de maneira monográfica,


os resultados da pesquisa arqueológica desenvolvida pela Scientia
Consultoria em decorrência do processo de licenciamento do
empreendimento de mineração de bauxita da Alcoa no Município de
Juruti, Estado do Pará.

Não se trata de um estudo exaustivo sobre a região, mas sim de


uma obra focalizando os dois sítios escavados pela Scientia no ano de
2006, em Juruti, no oeste do estado do Pará.

Localização do município de Juruti (PA).


O interesse aqui é, em certa medida, amplificar os resultados
descritos em relatórios técnicos encaminhados ao Iphan; prestar
conta à comunidade científica sobre os estudos empreendidos, e
também contribuir com análise tecnológica realizada, tendo como
foco a indústria cerâmica.

15

LVR - Academico_REV.indd 15 05/05/2017 14:36:07


LVR - Academico_REV.indd 16 05/05/2017 14:36:07
Capítulo 1

A área de estudo:
contexto arqueológico*
As primeiras incursões arqueológicas e descrições dos artefatos
encontrados na região de Santarém e Oriximiná datam do século XIX.
O geólogo Frederick Hartt, entre os anos de 1870 e 1871 escavou o
sambaqui Taperinha, na região de Santarém, na foz do rio Tapajós
(HARTT, 1885).

No mesmo período, o botânico Barbosa Rodrigues foi encarregado


pelo governo imperial de explorar diversos rios da região amazônica, e
entre 1871 e 1874 viajou pelos rios Tapajós, Nhamundá e Trombetas,
tendo publicado suas anotações em 1875. Além das observações sobre
a flora, o seu relato conta com diversas informações sobre o material
arqueológico por ele encontrado, com destaque para o primeiro
“ídolo de pedra” (BARBOSA RODRIGUES, 1875 a, b). A descoberta dos
ídolos de pedra e dos Muiraquitãs ganhou grande repercussão no
meio acadêmico, com os trabalhos de Ladislau Netto (1885), Barbosa
Rodrigues (1899) e José Veríssimo (1883).

O primeiro artefato arqueológico identificado na região de Juruti


corresponde a um ídolo de pedra, coletado na região do Lago Salé por
Manoel Francisco Machado, o Barão de Cocais, senador por Óbidos
e entusiasta da arqueologia. Seu achado foi publicado em 1902, no
Jornal do Commercio, e posteriormente divulgado por Emílio Goeldi
no 14º Congresso de Americanistas, realizado em Stuttgart, Alemanha,
em 1904.

*Texto produzido por Daniel Cruz e Lílian Panachuk

LVR - Academico_REV.indd 17 05/05/2017 14:36:07


Ídolo de pedra encontrado na região do Lago Salé, em Juruti
(GOELDI, 1904).

A exuberância artefatual das culturas do Baixo Amazonas atraiu


o etnólogo alemão Curt Nimuendajú, que percorreu diversas áreas
entre os anos de 1923 e 1926, a serviço do Museu Etnográfico de
Gotemburgo. Partiu de Santarém, viajou pelas comunidades, lagos
e rios do entorno, subiu o rio Tapajós até Itaituba, o rio Xingu até
Altamira, pelo rio Amazonas chegou a Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná,
Parintins e Juruti, além de percorrer diversos lagos e paranás. O
resultado destas pesquisas foi sintetizado em duas obras: Die Tapajós
(Os Tapajós), escrito em Belém do Pará, em 1923, com suas primeiras
impressões, e Indianhische Siedelngsspuren am unteren Amazonas
(Vestígios da Habitação Indígena no Baixo Amazonas), escrito em
1924 (NIMUENDAJÚ, 2004). Nesses trabalhos o autor diferencia o
estilo cerâmico Tapajós, da margem direita do Amazonas, no entorno
da região de Santarém, e o estilo Konduri, da região do Nhamundá-
Trombetas, mas também encontrado na Serra dos Parintins e Lagos
do Salé e Jará. A cerâmica Konduri recebe esta denominação por estar
localizada em áreas descritas por viajantes como domínio de uma
etnia chamada Conduri, recorrente na bibliografia regional (CARVAJAL,
1941; HERIARTE, 1874; BARBOSA RODRIGUES, 1845, entre outros).

No atual território do município de Juruti, Nimuendajú identificou


pelo menos oito sítios arqueológicos. Os primeiros a serem registrados
estão localizados a oeste do Lago Grande, no topo de uma cadeia de
montanhas nas margens do Lago do Salé, conhecida como Serra do

18

LVR - Academico_REV.indd 18 05/05/2017 14:36:07


Bananal e Serra do Curupira. O sítio Serra do Bananal é composto
por uma espessa camada de terra preta, com 1 m de profundidade e
600 m de extensão, além de artefatos cerâmicos que ele associa com
a cultura Konduri (NIMUENDAJÚ, 2004, b). Na região dos Lagos do
Curumucuri e Jará foram encontrados mais três sítios: São Lourenço,
Jaraquyquara e Lago Jará, todos na margem dos lagos, com terra
preta e cerâmica Konduri. Na margem do Amazonas, pouco abaixo
da desembocadura do Lago Grande, na localidade chamada Maraca-
Uaçu, também foi encontrado um sítio, o único sem terra preta e com
cerâmica tapajônica em Juruti. Subindo o rio Amazonas, e adentrando
o paraná do Balaio, próximo à sua desembocadura, foi encontrado
o sítio São Paulo, e logo acima, em uma localidade homônima, o
sítio Serra do Balaio, também com terra preta e cerâmica Konduri.
No topo Serra dos Parintins, limite entre os municípios de Juruti
(PA) e Parintins (AM), há uma extensa área de terra preta, com a
cerâmica Konduri mais elaborada da margem direita do Amazonas
(NIMUENDAJÚ, 2004, b).

A região do Trombetas voltou a ser alvo de investigações


arqueológicas com o advento da expedição da Inspetoria de
Fronteiras chefiada pelo general Cândido Rondon, entre os anos
de 1928 e 1929. A curiosidade gerada pela doação de um vaso de
cerâmica semelhante aos ídolos de pedra conhecidos na região fez
com que Rondon enviasse o etnólogo João Barbosa de Faria para
uma exploração completa no vale do rio Trombetas (BARBOSA DE
FARIA, 1946). Nesta expedição foi registrado um total de 17 sítios
arqueológicos, com a identificação de terra preta e cerâmica.

Data da mesma época da viagem de Barbosa de Faria a publicação


de Erland Nordenskiöld (1930), arqueólogo, etnólogo e explorador
sueco-finlandês, e diretor do Museu de Gotemburgo. A partir das
informações de Nimuendajú, e de suas próprias pesquisas na
Amazônia, o autor apresentou ao público as principais descobertas
arqueológicas da região. Constam informações sobre sítios
arqueológicos no rio Trombetas e Lago do Sapucuá, além do relato
sobre dois ídolos de pedra.

Na década de 1950, o arqueólogo alemão, radicado no Brasil,


Peter Hilbert, iniciou sua pesquisa na região de Oriximiná a serviço do
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), com a colaboração de Protásio
Frikel, que foi durante um longo período sacerdote em Oriximiná, e
tinha grande conhecimento sobre a arqueologia da região. Apesar
de ter conhecimento sobre a pesquisa de Nimuendajú, Hilbert
não dispunha das informações, mas acabou por utilizar a mesma
terminologia de Curt na classificação da cerâmica, denominada
Konduri (HILBERT, 1955).

19

LVR - Academico_REV.indd 19 05/05/2017 14:36:07


Neste trabalho, Hilbert sistematiza os dados de levantamento de
41 sítios arqueológicos na região do Baixo Cuminá-Erepecurú, Lago
Salgado, Lago Sapucuá, Lago Piraruacá, na área de Terra Santa e no
Lago de Faro. Além de classificar a cerâmica em três estilos, estabelece
parâmetros comparativos entre a cerâmica Konduri e a Tapajós,
também chamada por ele de Santarém.

Quadro comparativo entre as cerâmicas Konduri e Santarém.

O estilo Santarém foi observado na região do Trombetas, em


quatro sítios, e no lago do Sapucuá, em outros dois sítios, nos quais o
autor identificou uma cerâmica cujo principal marcador é o tempero
com areia. Em termos de características tecnológicas, esta cerâmica
é descrita como sendo dura, áspera e com superfície alisada sem
grandes cuidados. A areia, presente na composição da pasta, foi
adicionada em quantidade moderada. As formas são pouco variadas,
sendo a mais comum uma panela globular, com um colo que produz
um ângulo pronunciado, base plana e cerca de 30 cm de diâmetro.
Este conjunto tecnológico não recebeu uma denominação específica
como os demais.

A decoração mais comum é composta por incisões angulares,


denominadas por Hilbert (1955:32) de “espinhas de peixe”, localizadas
na borda externa e no colo superior, além de botões de forma cônica
achatada aplicados sobre a borda. Apêndices antropomorfos também
foram associados a estas vasilhas

20

LVR - Academico_REV.indd 20 05/05/2017 14:36:07


Cerâmica temperada com areia (Fonte: HILBERT, 1955).

O segundo grupo classificado por Hilbert refere-se à cerâmica


Konduri. Tem como característica principal o antiplástico de cauixi
(tipo de biosílica, encontrada em espongiário de água doce), em
quantidade abundante. As formas sem decoração resultaram em
morfologias de contorno globular, com borda extrovertida e base
convexa, apresentando diâmetro entre 40 e 60 cm; vasilhas em
formato de calota esférica, com borda levemente extrovertida; e
vasilhas de formato semiesférico, cuja abertura de boca é menor
do que o diâmetro máximo (entre 20 e 40 cm). Assinala-se ainda, a
presença de pratos e assadores. Outra característica fundamental da
descrição do estilo Konduri são os pés cônicos, em formato de bulbo,
medindo entre 3 e 15 cm de comprimento. Segundo Hilbert (1955), eles
estariam associados a formas trípodes. Podem ser encontrados lisos
ou com decoração antropomorfa. Sua presença no Baixo Amazonas
é indicadora de relações culturais com o norte da América do Sul
(Equador, Colômbia e Venezuela).

Vasilha estilo Konduri (HILBERT, 1955).

O último conjunto descrito pelo autor refere-se ao estilo Globular.


Este estilo tem a mesma composição de antiplástico biomineral
encontrada na cerâmica Konduri, e foi identificada em sítio do Lago

21

LVR - Academico_REV.indd 21 05/05/2017 14:36:07


Sapucuá, em Terra Santa e Faro. Como características fundamentais,
foi descrita a presença de apêndices antropomorfos e zoomorfos
compostos pela sobreposição de esferas e a presença de elementos
decorativos também esféricos, encontrados no interior das bordas.
Quanto às formas desta cerâmica, estas são desconhecidas. Alguns
apêndices apresentam pintura vermelha sobre branco.

Fragmentos de cerâmica estilo Globular (HILBERT, 1955).

Alça ponte com decoração zoomorfa,


com incisões, ponteamentos e
modelagem para traçar a decoração
Procedência: Sítio Terra Preta 2, Juruti/
PA. Acervo: Scientia

Borda com aplique modelado e


combinação de técnicas decorativas
plásticas: ponteado, entalhado e
inciso. A decoração cria retângulos
encaixados na parede do pote e uma
representação em forma de animal
(zoomorfo). Procedência: Sítio Terra
Preta 2, Juruti/PA. Acervo: Scientia.
22

LVR - Academico_REV.indd 22 05/05/2017 14:36:07


Apêndice zoomorfo modelado, com apliques modulados
globulares e decoração incisa, ponteada e engobo branco.
Procedência: Sítio Terra Preta 1, Juruti/PA. Acervo: Scientia.

Apêndice zoomorfo (asa), com decoração incisa, ponteada


e modelada. Procedência: Sítio Terra Preta 2, Juruti/PA.
Acervo: Scientia.

Ainda neste trabalho, o autor menciona sítios arqueológicos


formados por terra preta nos lagos Juruti Velho e Juruti Mirim,
identificados em uma viagem à região em 1953, na companhia de
Harald Schultz, pesquisador do Museu Nacional. A cerâmica oriunda
destes sítios é classificada como Konduri, dado utilizado pelo autor
para situar o limite entre as cerâmicas Tapajós e Konduri mais a leste
do estipulado por Nimuendajú (1949), no entorno do Lago do Salé.
Essas observações já haviam sido feitas por Nimuendajú (2004), mas
não estavam disponíveis para Hilbert (1955).

23

LVR - Academico_REV.indd 23 05/05/2017 14:36:07


No mesmo período do trabalho de Hilbert, Frederico Barata,
jornalista paraense, publicou uma série de estudos estilísticos sobre
a cerâmica de Santarém, com referência nas coleções coletadas e
observadas por ele nas décadas de 1930 e 1940 (Barata, 1950, 1951,
1953a, 1953b, 1954), trabalho até hoje utilizado como referência para
a arqueologia do Baixo Amazonas, no entanto, o autor não analisa o
estilo Konduri, ou sítios mais a oeste de Santarém.

Na década seguinte, outro importante trabalho sobre a arqueologia


do Baixo Amazonas foi produzido por Helen Palmatary, The
Archaeology of the Lower Tapajós Valley, Brazil (PALMATARY, 1960).
Nessa obra, a autora retoma as pesquisas anteriores, principalmente
as realizadas por Nimuendajú e Hilbert, e visita diversos acervos
arqueológicos espalhados pela Europa, Estados Unidos e Brasil. Além
de publicar uma riquíssima iconografia de material lítico e cerâmico,
a autora faz uma análise estilística da cerâmica, envolvendo também
alguns exemplares Konduri.

Após os trabalhos de Palmatary, Ulpiano Bezerra elaborou o


primeiro projeto sistemático para a região de Santarém (Meneses,
1971), cujos resultados não foram significativos. Na década de 1980,
com a implantação do empreendimento Mineração Rio do Norte em
Oriximiná, houve uma retomada das pesquisas arqueológicas na região
(LOPES, 1981; ARAÚJO COSTA ET ALII, 1985; KALKMANN ET ALII, 1985;
HILBERT, 1980). Neste período, Hilbert divulgou os dados recolhidos
na década anterior em um artigo (HILBERT E HILBERT, 1980).

Na pesquisa de Hilbert e Hilbert, além dos estilos identificados


anteriormente (Hilbert, 1955), foi caracterizado o estilo Pocó, mais
antigo, em posição estratigráfica inferior ao estilo Konduri, em sítios nos
rios Trombetas e Pocó, afluente da margem esquerda do Nhamundá.
É a partir deste trabalho, no qual são discutidas características como
estratigrafia, estilo cerâmico e cronologias absolutas através de C14,
que o contexto cronológico é inserido na discussão.

Esta cerâmica Pocó, originária dos sítios Pocó e Boa Vista, é mais
antiga do que a Konduri e foi dividida pelos autores em três tipos
simples baseados no tempero: 1) cauixi; 2) cariapé; 3) cauixi e cariapé.
As formas mais comuns são vasilhas carenadas, rasas e fundas, além
das tigelas semiesféricas com bordas diretas ou extrovertidas, vasos
com gargalos e assadores. Foram descritos vários tipos de decoração
incluindo engobo vermelho, pintura branca, pintura vermelha sobre
branco, incisões geométricas, escovado, acanalado, raspado-zonado,
apêndices zoomorfos inciso-modelados, motivos compostos por
ponteado, marcado com corda, serrungulado, ungulado e impresso
em zigue-zague.

24

LVR - Academico_REV.indd 24 05/05/2017 14:36:07


Pote semi-inteiro com decoração pintada, atribuído ao Estilo Pocó. Procedência: sítio
Terra Preta 1, Juruti/PA. Acervo: Scientia

Cerâmica do estilo Pocó (HILBERTE E HIBERT, 1980)

25

LVR - Academico_REV.indd 25 05/05/2017 14:36:07


A pintura bicrômica, bem como os padrões incisos, alguns deles
com motivos curvilíneos complexos são vistos pelos autores como
característicos da tradição Barrancoide do rio Orinoco, cujas influências
são atribuídas pelos autores à cerâmica Pocó (HILBERT E HILBERT,
1980). Neste sentido, as datações apresentadas neste artigo, entre 65
a.C. e 205 A.D., foram consideradas pelos autores consistentes com
esta associação.

Entretanto, datas não reportadas naquela ocasião, provenientes da


base do sítio Boa Vista, revelaram uma antiguidade bem maior da fase
Pocó, entre 2950 + 130 A.P. e 3280 + 45 A.P., tendo sido a princípio
rejeitadas. Outras datas obtidas por Klaus Hilbert em nova campanha
na década de 1990, em seu retorno ao sítio Boa Vista, a ocupação Pocó
em 1820 + 60 A.P. e do sítio São José em 2800 + 70 A.P e 1980 + 60 A.P
(GOMES, 2002:45).

Na década de 1990 tem início o projeto de pesquisa sistemático


na região de Santarém, coordenado pela arqueóloga norte americana
Anna Roosevelt (1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992). Também na
década de 1990, o trabalho de Guapindaia reuniu informações
históricas e arqueológicas sobre a região de Santarém (Guapindaia,
1993), e a mesma pesquisadora também foi responsável pelas
pesquisas na área da Mineração Rio do Norte, que originaram sua tese
de doutorado (GUAPINDAIA, 2008). Outro trabalho expressivo, que
retoma o caráter exuberante das coleções artefatuais da região é o
livro de Denise Gomes “Cerâmica Arqueológica da Amazônia: vasilhas
da Coleção Tapajônica MAE-USP” (GOMES, 2002). Atualmente, diversos
projetos de engenharia de grande porte foram ou estão sendo
implantados na região, como linhas de transmissão, portos, estradas
e mineração, e trazem consigo um aumento no número de pesquisas
arqueológicas. Além dos projetos de caráter preventivo, a implantação
de um curso de bacharelado em arqueologia na Universidade Federal
do Oeste do Pará no ano de 2013 tem promovido o desenvolvimento
de novos projetos de pesquisa (GOES, ROCHA E MORAES, 2014; LIMA
E MORAES, 2014; MORAES, LIMA E SANTOS, 2014a; MORAIS LIMA E
SANTOS 2014b).

Os diversos sítios localizados e escavados proporcionaram um


conjunto de 21 datações, refinando a cronologia local, mas ratificando
as proposições de Hilbert na sequência estratigráfica dos estilos Pocó
(mais antigo) e Konduri (mais recente). Este último está localizado entre
os séculos X e XV d.C., o que possibilita associar essas populações aos
relatos dos primeiros viajantes europeus que estiveram na região, no
século XVI. Quanto às datas obtidas para a fase Pocó, estas ocupam
uma posição entre 160 a.C. e 300 d.C., e estão associadas a solos de
cor bruno, sendo, portanto, anteriores ao fenômeno de formação das
terras pretas na Amazônia.

26

LVR - Academico_REV.indd 26 05/05/2017 14:36:07


Em síntese, as ocupações identificadas na região do Trombetas,
associadas à fase Pocó, parecem possuir maior proximidade histórica
com indústrias presentes na Amazônia Central (Manacapuru e
Açutuba), do que com o complexo do período Formativo recentemente
identificado na região de Santarém (cerâmica de Parauá). Tais indústrias
Pocó, que de acordo com a literatura arqueológica apresentam
relações com a cerâmica Barrancoide, presente na região do Orinoco
e Caribe, marcariam uma fronteira cultural entre a Amazônia Central
e o Baixo Amazonas, precisamente na área correspondente ao atual
limite dos estados do Amazonas e Pará (LIMA, 2008). A ocorrência
da cerâmica de Parauá, do período Formativo, associada à tradição
Borda Incisa, com conexões com o Alto Xingu e Brasil Central, mas sem
apresentar características estilísticas e formais que permitam vinculá-
la a estas outras manifestações da tradição Barrancoide, apontaria
para a especificidade desta região de Santarém, além de uma maior
diversidade cultural no período Formativo.

27

LVR - Academico_REV.indd 27 05/05/2017 14:36:07


LVR - Academico_REV.indd 28 05/05/2017 14:36:07
Capítulo 2

A matriz do solo:
estudo de terras pretas*
Nos últimos anos tem se observado considerável avanço nos
estudos relacionados aos solos amazônicos modificados pelas ações
humanas em período pré-colombiano, a Terra Preta Antropogênica
(Kern & Kämpf, 1989) ou ainda Arqueo-antrossolos (Kämpf & Kern,
2005), conhecidos popularmente como Terra Preta (TP) e Terra Preta
de Índio (TPI). Esses solos se formaram em decorrência da ocupação
humana, resultado do descarte de resíduos orgânicos de natureza
diversa e sua posterior mineralização, que implicaram na modificação
das propriedades do solo. A cor escura desses solos, bem como os
teores relativamente elevados de cálcio, magnésio, fósforo, manganês,
zinco, cobre e carbono orgânico, combinados a fragmentos cerâmicos
e artefatos líticos normalmente encontrados no horizonte antrópico,
faz da terra preta uma variante fundamental no estudo evolutivo das
práticas de manejo e sustentabilidade dos solos amazônicos.

Além disso, as terras pretas são acompanhadas frequentemente


por faixas circunvizinhas de solos de cor bruno-escuro, com pouco
ou nenhum vestígio arqueológico, mas que ainda apresentam
teores elevados de matéria orgânica quando comparados aos solos
tipicamente tropicais. De acordo com Sombroek et al. (2002), esses
solos, denominados de terra mulata, parecem ser o resultado do
intenso uso agrícola por comunidades indígenas pré-coloniais.

O processo de formação das terras pretas deu origem a distintas


interpretações. Hartt (1885) denomina as terras pretas de solos
vegetais, para os quais os índios eram atraídos devido à elevada
*Texto de autoria de Dirse Kern e Jucilene Costa

LVR - Academico_REV.indd 29 05/05/2017 14:36:07


fertilidade natural. Para Cunha Franco (1962), as terras pretas teriam
sua origem em lagos antigos, cujas margens os índios habitavam.
Entretanto, Gourou (1950), Sombroek (1966), Simões & Corrêa (1987)
e ainda Kern & Kämpf (1989) afirmam que os solos com terra preta
correspondem a locais de antigos assentamentos indígenas, formados
a partir da ocupação humana pré-colombiana. Ranzani et al. (1962),
Andrade (1986) e Glaser et al. (2001), enfatizam ainda que a elevada
fertilidade das terras pretas deve-se à adição intencional de nutrientes
ao solo através de práticas de manejo.

O fato é que os solos de terra preta apresentam fertilidade elevada


e grande diversidade microbiológica. São mais estáveis e melhor
estruturados em relação aos solos adjacentes e, embora possam
ocorrer sobrepostos a diversas classes de solos, há predominância
sobre latossolos, que se estendem por cerca de 45% da Amazônia.

As pesquisas acerca da importância, bem como da distribuição das


terras pretas são pontuais, considerando as dimensões continentais
da região amazônica. A realização de estudos sistemáticos com o
propósito de avançar na compreensão dos processos que originaram
esses solos, significará também avanço quanto ao entendimento das
diversidades culturais do espaço amazônico.

Procedimentos em campo
Para o estudo das terras pretas das áreas dos sítios Terra Preta 1
e Terra Preta 2 foram realizados três tipos de coleta, com o objetivo
de obter uma cobertura sistemática e o mais completa possível do
conjunto, especialmente por se tratar de área que proximamente
sofreria completa descaracterização.

1. Foram coletadas amostras de solo (300 g) em todas as unidades


de escavação executadas nas áreas dos sítios, tanto nas sondagens
da malha sistemática como nas escavações amplas (unidades e
trincheira). Em cada uma destas unidades foram amostrados todos os
níveis arqueológicos e o nível estéril imediatamente abaixo da camada
de ocupação.

2. Ao longo da transversal que liga o sítio Terra Preta 1 ao sítio Terra


Preta 2, foram realizadas coletas com trado holandês, que extraiu uma
amostra de 20 cm de espessura, a partir da superfície, a cada 10 m,
por um percurso de 1.200 m.

3. Foram abertos seis perfis de solo em diferentes locais no Porto e


imediações (quadro seguinte). Esses perfis foram descritos e cada um
dos horizontes pedológicos foi amostrado. A descrição morfológica
dos perfis de solo obedeceu aos procedimentos propostos por Lemos
& Santos (2002). Para as cores, foi utilizada a carta de Munsell (2000).

30

LVR - Academico_REV.indd 30 05/05/2017 14:36:07


Perfil de solo Coordenada UTM Local: Juruti/PA
Terra Preta 1 21M 600159E/9760433N Terra Preta 1 - Porto
Terra Preta 2 21M 599557E/9759353N Terra Preta 2 - Porto
Terra Mulata 1 21M 599917E/9759593N Terra Mulata - Porto
Terra Mulata 2 21M 599377E/9759068N Comunidade Lago Preto
Viveiro 21M 599145E/9757654N Viveiro
Café Torrado 21M 602891E/9752556N Ramal do Café Torrado
Localização dos perfis amostrados.

O solo coletado totalizou 2.040 amostras, que foram analisadas de


forma detalhada, direcionados para resolução de problemas específicos,
na tese de Jucilene Costa (2012), e serão aqui retomados, de forma mais
geral.

Procedimentos de laboratório
Foram selecionadas 173 amostras para análise. Procediam
principalmente da transversal A-B de 1.200 m, que ligava o sítio Terra
Preta 1 ao Terra Preta 2 e que atravessava áreas de terra preta, terra
mulata e solos adjacentes, contendo, portanto, amostras de todas essas
variações. Foram ainda analisadas amostras procedentes das transversais
C-D (linha 360L) e E-F (linha 960L).

Localização das
transversais selecionadas
para análise de solo.

31

LVR - Academico_REV.indd 31 05/05/2017 14:36:07


As amostras de solo foram secas ao ar, destorroadas, pulverizadas
em grau de ágata e peneiradas (malha < 125 mesh). Em seguida, foram
encaminhadas à Geosol Laboratórios, para análise química clássica,
por via úmida, dos teores totais dos elementos fósforo (P), magnésio
(Mg), cálcio (Ca), cobre (Cu), zinco (Zn) e manganês (Mn). Para a extração
dos elementos foi aplicado o método de digestão total multiácida, com
solução extratora de ácido fluorídrico (HF) e ácido clorídrico (HClO4),
determinado por ICP (Induced Coupled Plasma).

Foram realizados estudos acadêmicos específicos com diferentes


objetivos. Análises de fertilidade, que consistem na determinação
de teores de cálcio e magnésio trocáveis por espectrofotometria de
absorção atômica; de sódio e potássio trocáveis, por fotometria de
chama; de fósforo disponível por colorimetria; de carbono orgânico,
acidez potencial (Al3++H+) e de alumínio por volumetria. O pH em água
será determinado pelo método potenciométrico numa suspensão
solo/solução 1:2,5 e a composição mineralógica será determinada
pela difração de raios-x e microscopia eletrônica de varredura (MEV),
tanto nos solos antrópicos como nas áreas circunvizinhas.

Resultados alcançados nessa pesquisa


Morfologicamente, o solo da área do sítio Terra Preta 1 apresentou
sequência de horizontes A1, A2, A3, AB, BA e B; cor variando do preto
(2.5YR2.5/1) ao amarelo brunado (10YR6/8); textura francoarenoso a
franco areno-argiloso; estrutura moderada a maciça e transição difusa
entre os horizontes. Trata-se de um solo profundo com mais de 200
cm, bem drenado, onde a camada de terra preta varia entre 30 e 150
cm de espessura.

O solo da área do sítio Terra Preta 2 registrou a sequência de


horizontes A1, A2, AB, BA e B e a espessura da camada de terra preta
variou de 15 a 40 cm. Nos demais atributos morfológicos as duas
áreas são semelhantes. Essas características indicam que as duas
áreas de ocupação estão sobrepostas à mesma classe de solo, o
latossolo amarelo. Além disso, as discrepâncias entre as espessuras
da camada de terra preta dos dois sítios podem ser resultantes de
processos de melanização pelo escurecimento do horizonte superficial
em função da irregular adição de matéria orgânica, podendo refletir a
diversidade de formas de organização, uso e permanência dos grupos
pré-colombianos nessa região. A variabilidade na espessura reforça
a ideia de diversidade de atividades discutida por Kern (1988, 1996),
relacionadas ao preparo de alimentos, ciclos agrícolas e descarte de
resíduos orgânicos.

32

LVR - Academico_REV.indd 32 05/05/2017 14:36:07


Perfil de solo e estratigráfico da
unidade 3, sítio Terra Preta 1.

No estudo do solo, a cor é uma propriedade que se destaca por


ser facilmente identificável em campo. A camada superficial de terra
escura identificada na área do Porto apresentou três matizes de cor,
dos quais resultaram 13 variações utilizadas para o mapeamento de
sua distribuição espacial na área dos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta
2, com base na carta de cores de Munsell.

Cor
Nome
Matiz Variações
2.5YR2.5/1 preto
2.5YR
2.5YR3/1 cinza muito escuro
7.5YR 2/1 preto
7.5YR 3/1 cinza muito escuro
7.5YR
7.5YR 3/2 bruno-escuro
7.5YR 3/3 bruno-escuro
10YR 2/1 preto
10YR2/2 bruno muito escuro
10YR 3/1 cinza muito escuro
10YR 10YR 3/2 bruno acinzentado muito escuro
10YR 3/3 bruno-escuro
10YR4/2 bruno acinzentado escuro
10YR4 /4 bruno amarelado escuro
Variações da cor do solo na camada superficial das terras escuras.

As áreas ocupadas pelas terras pretas além de apresentarem grande


variação quanto à espessura e à composição química, apresentam
também grande variabilidade quanto à extensão. Nas cartas de solos
que abrangem a região amazônica, apesar da frequente ocorrência
de solos com TP, estes são catalogados como inclusões e abrangem
normalmente de 2 a 3 ha, excepcionalmente, em alguns locais, podem
alcançar áreas superiores a 80 ha (HILBERT, 1955).

33

LVR - Academico_REV.indd 33 05/05/2017 14:36:07


No mapa de distribuição de cores do solo da área do Porto (área
Alcoa) é possível visualizar duas grandes manchas de terra preta com
forma ligeiramente alongada, cercada por outras menores. A mancha
correspondente ao sítio Terra Preta 1 está concentrada entre as linhas
60 e 540S / 720 e 1320L, ocupando uma área de aproximadamente
28,8 ha (480 x 600 m). A mancha correspondente ao sítio Terra Preta
2 encontra-se entre as linhas 1020 e 1620S / 120 e 480L, estendendo-
se por cerca de 28,08 ha (780 x 360 m). Essas grandes áreas de solo
escuro, modificado, correspondem às concentrações de material
cerâmico arqueológico. As espessas camadas de terra preta
observadas nos barrancos do Porto indicam ainda que, no passado,
esses sítios arqueológicos eram mais extensos em direção à drenagem
e provavelmente os processos dinâmicos naturais do rio Amazonas,
somados ao desmatamento das encostas pela ação humana,
certamente aceleraram os processos erosivos nas encostas
provocando a destruição de parte dos vestígios dessas ocupações. As
manchas menores de solo escuro deverão ser analisadas
quimicamente para a melhor caracterização da anomalia, visto que
nessas áreas não houve registro de vestígios de cultura material.

Distribuição de cores
do solo nos sítios Terra
Preta 1 e Terra Preta 2.

34

LVR - Academico_REV.indd 34 05/05/2017 14:36:08


Embora a identificação das áreas de ocorrência das terras pretas
seja simplificada por alguns aspectos de sua morfologia, como a cor
escura e a presença de fragmentos cerâmicos e/ou líticos, fatores não
aparentes como seus teores de cálcio, magnésio, fósforo, zinco, cobre,
manganês e carbono orgânico em relação a estes mesmos teores
nos solos adjacentes são fundamentais na taxonomia dos solos e na
interpretação do contexto arqueológico.

Os dados geoquímicos das terras escuras dos sítios Terra Preta 1


e Terra Preta 2 apontam duas áreas com elevadas concentrações de
elementos químicos, separadas por uma área de terra mulata com
menor concentração desses elementos diagnósticos. Os teores mais
elevados de cálcio e fósforo foram registrados no Terra Preta 1 com
7.276 mg/kg e 2.335 mg/kg, respectivamente. Conforme Kämpf & Kern
(2005), teores elevados de fósforo e cálcio estão associados à ocupação
humana pré-histórica, haja vista que esses elementos podem ser
encontrados em restos de vegetais (mandioca, açaí, bacaba etc.), de
animais (ossos e excrementos) e em resíduos de alimentos.

Os teores mais elevados de magnésio e manganês foram


identificados no sítio Terra Preta 2, com 1.450 mg/kg e 793 mg/kg,
respectivamente. Quanto aos elementos cobre e zinco, não houve
diferenças significativas entre as duas áreas de terra preta, mas são
superiores aos encontrados na área intermediária correspondente
à terra mulata, indicando também modificação do solo nestas duas
manchas, pela adição de matéria orgânica. Conforme Kern et al.
(1999), as folhas de palmeiras utilizadas na cobertura e paredes
das habitações, renovadas periodicamente, podem ser uma fonte
importante de magnésio, manganês e zinco para o solo.

Nas figuras sequentes, os gráficos relativos aos teores de Ca, P, Mg


e Mn, Cu e Zn, ao longo de linha que liga o sítio Terra Preta 1 ao sítio
Terra Preta 2, paralela à margem do rio.

8000 Ca

7000
B
6000

5000
mg/kg

4000

3000

Distribuição do teor de 2000

cálcio entre os sítios 1000


TP 2 TP 1
Terra Preta 1 e Terra 0
A

Preta 2. 0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m
Transversal

35

LVR - Academico_REV.indd 35 05/05/2017 14:36:08


2750
P
2500

2250

2000 B

1750

1500
mg/kg

1250 A

1000

750

500

250 TP 2 TP 1 Distribuição do teor de


0
0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m fósforo entre os sítios Terra
Transversal Preta 1 e Terra Preta 2.

1600
Mg

1400

1200

1000
mg/kg

800

600 B

400

200
A TP 2 TP 1 Distribuição do teor de
0
0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m
magnésio entre os sítios
Transversal Terra Preta 1 e Terra Preta 2.

800
Mn

700

600

500
mg/kg

400

300 B

200

100
A TP 2 TP 1 Distribuição do teor de
0 manganês entre os sítios Terra
0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m

Transversal
Preta 1 e Terra Preta 2.

36

LVR - Academico_REV.indd 36 05/05/2017 14:36:08


30
Cu
28
26
24
22
20
18 B
16

mg/kg
14
12
10 A
8
6
4
Distribuição do teor de cobre TP 2 TP 1
2
entre os sítios Terra Preta 1 0
0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m
e Terra Preta 2.
Transversal

140
Zn

120

100
B

80
mg/kg

60

40

Distribuição do teor de zinco 20 A


TP 2 TP 1
entre os sítios Terra Preta 1
0
e Terra Preta 2. 0 120 240 360 480 600 720 840 960 1080 1200 m

Transversal

A variabilidade de teores de elementos no interior dos sítios no


sentido perpendicular ao rio, como mostra a figura sequente, também
é significativa. Na linha 360L (transversal C-D) que atravessa o sítio
Terra Preta 2, é possível visualizar descontinuidade de distribuição
entre os teores de cálcio (CaO) e fósforo (P2O5), o que pode estar
relacionado à perturbação do solo em função de atividades agrícolas,
ou mesmo pela deposição de material como conchas ou carapaça de
quelônios, ricos em cálcio. A figura evidencia, também, que todas as
sondagens estão alocadas na terra preta. Já, na linha 960L do sítio
Terra Preta 1, os teores de cálcio e fósforo apresentam correlação em
todas as sondagens, o que indica uma distribuição mais homogênea
do material orgânico depositado, provavelmente resíduos ricos
nesses dois elementos, como ossos. É possível visualizar claramente o
término da terra preta por volta da sondagem 480S-960L com a queda
brusca dos elementos, corroborando assim, os dados de cor do solo
observados em campo.

37

LVR - Academico_REV.indd 37 05/05/2017 14:36:08


4000
P2O5
3500 CaO

3000

2500
D
ppm

2000

1500
C
1000

500
Variabilidade de teores de fósforo
(P2O5) e cálcio (CaO) ao longo da
0
1000 1100 1200 1300 1400 1500 S
linha 360L (transversal C-D) no sítio
360L (Terra Preta 2)
Terra Preta 2.

10000
P2O5
CaO
8000

E
6000
ppm

4000

2000

F Variabilidade de teores de fósforo


0
-50 100 250 400 550 700 850 1000 1150 1300 1450 S (P2O5) e cálcio (CaO) da linha 960L
960L (Terra Preta 1) (transversal E-F) no sítio Terra Preta 1.

Análises geoquímicas futuras, com o objetivo de detectar variações


espaciais nas superfícies dos sítios arqueológicos Terra Preta 1 e Terra
Preta 2, poderão trazer contribuições significativas para a compreensão de
padrões de assentamento pré-histórico dos grupos que habitaram a área,
indicando locais específicos e determinados onde era feito o descarte de
material.

Dados etnográficos enfatizam que vários grupos habitantes da região


amazônica faziam o descarte de restos de alimentos na parte detrás de suas
casas, onde se localizava a cozinha. As práticas funerárias também podem ter
tido um papel relevante no aumento de determinados elementos químicos
no solo (principalmente o cálcio e o fósforo, componentes principais dos
ossos), pois registros etnográficos e arqueológicos mostram que vários
grupos enterram seus mortos dentro da própria casa, ou ainda no centro da
aldeia (MIGLIAZZA, 1964; RAMOS, 1971). A identificação de locais com teores
relativamente baixos de elementos indicadores das terras pretas também
são importantes, pois podem indicar uma praça ou área de maior circulação,
acesso para a mata e para as principais fontes de água para abastecimento
do grupo, por isso deixadas intencionalmente mais limpas.

38

LVR - Academico_REV.indd 38 05/05/2017 14:36:08


Capítulo 3

Composição do solo:
estudo da flotação*
As terras pretas antropogênicas ou terras pretas de índio são solos
formados ocasionalmente pela ocupação humana pré-colonial e a
deposição de seus detritos orgânicos (KERN, 1996). Partindo deste
pressuposto, classificamos a TPA como solo de natureza antrópica,
resultante da presença humana no ambiente, modificando seu estado
natural. Sendo as TPAs ricas em elementos antrópicos como artefatos
arqueológicos, ossos e restos de vegetação utilizados pelo homem pré-
histórico (Hilbert, 1955; Hartt, 1870; Nimuendajú, 1926; Kern, 1996), a
sua caracterização geoquímica e morfológica decorrerá da presença
e interação destes materiais no solo, tornando-o rico em nutrientes
como Ca, Mg, P, Mn, Zn, Cu e C orgânico e tornando-o de coloração
escura.

Atualmente, os estudos sobre as TPAs têm apontado tanto para a


caracterização morfológica quanto para o comportamento químico
destes solos, com o objetivo de possuir um entendimento mais apurado
dos processos que levaram à sua formação. Tanto para a pedologia
quanto para a arqueologia, as TPAs têm grande importância, tanto por
sua fertilidade estável quanto para entender-se a interação dos índios
pré-históricos com o meio ambiente de floresta tropical.

Neste capítulo, pretende-se apresentar um breve estudo dos


elementos que compõem a textura grossa do solo através de
métodos de separação granulométricas (flotação), bem como da

*Texto de autoria de Dirse Kern e Andre Heron

LVR - Academico_REV.indd 39 05/05/2017 14:36:08


triagem e classificação destes elementos em grupos orgânicos e
inorgânicos, seguidos da observação do comportamento estatístico
destes compostos nas estratigrafias de duas unidades de escavação
dos sítios arqueológicos Terra Preta 1 e Terra Preta 2, no município
de Juruti, Pará. Esses sítios foram escavados em cooperação entre a
empresa Scientia Consultoria Científica e a Coordenação de Ciências
da Terra e Ecologia – CCTE do Museu Paraense Emílio Goeldi, para as
análises de cultura material e pedológica. Dessa forma, observando o
comportamento dos elementos que constituem a fração grossa do solo
nas estratigrafias das unidades 1 e 2 do sítio Terra Preta 2, podemos
conjecturar quanto aos processos formadores do solo, levando em
consideração a procedência dos elementos de composição (antrópicos
ou minerais), e o comportamento dos tais, recriando assim a formação
da TPA na área de Juruti.

Procedimentos de campo
Foram flotadas todas as amostras de solo procedentes das
sondagens e níveis em que ocorreu material arqueológico, em um total
de 362 amostras. Para estudo inicial, foram selecionadas amostras de
duas unidades de escavação, cada uma localizada em um dos sítios: a
unidade de escavação 3, procedente do sítio Terra Preta 1 e unidade
de escavação 2, procedente do sítio Terra Preta 2.

No material flotado foram identificados os seguintes materiais:


carvão, sementes, osso, microlascas líticas, cerâmica e laterita.

A coleta das amostras de solo ocorreu concomitantemente às


escavações arqueológicas, sendo que a prospecção da área ocorreu a
partir da aplicação de uma malha sistemática composta por 14 linhas
distando 120 m para leste. As sondagens foram abertas ao longo
destas linhas em intervalos de 60 m; ao todo, foram escavadas 192
sondagens, destas, 176 nas proporções de 0,50 x 0,50 m, denominadas
de sondagens A. Também foram abertas sondagens de proporção
1,0 x 1,0 m, com uma malha intercalada de 240 x 360 m, a cada 12
sondagens; estes quadrantes foram subdivididos em A, B, C e D.
Entretanto, foram abertas cinco áreas de escavação e uma trincheira
para maior reconhecimento da área. Sendo que as Unidades 3 e 4
e a Trincheira pertencentes ao sítio Terra Preta 1, foram abertas em
proporções 2 x 2 m e 1 x 3 m respectivamente, e as unidades 1, 2 e 5
pertencentes ao sítio Terra Preta 1, em proporções 3 x 3 m (Unidade 1)
e 2 x 2 m (Unidades 2 e 5) (SCIENTIA, 2008).

Estratigraficamente, as sondagens foram abertas até a profundidade


da camada arqueológica, em níveis artificiais, seguidas da coleta de
solo e de vestígios materiais. A coleta de solo ocorreu nas sondagens

40

LVR - Academico_REV.indd 40 05/05/2017 14:36:08


sistemáticas e nas unidades de escavação com profundidade mínima
de 50 cm. Ao todo, foram coletadas 218 amostras destinadas à flotação,
sendo 91 da Unidade 1 e 23 da Unidade 2, totalizando 114 amostras,
na área do sítio Terra Preta 2; e 52 amostras tanto da Unidade 3 quanto
da Unidade 4, situadas no sítio Terra Preta 1 (SCIENTIA, 2008).

Procedimentos de laboratório
As amostras coletadas foram devidamente organizadas e seriadas
conforme a prioridade de análise. Essa organização ocorreu conforme
os registros de campo e os dados informados nas etiquetas que
identificavam cada amostra.

O método de separação por flotação consistiu na lavagem de


amostras de solo, utilizando um conjunto de peneiras granulométricas
com malhas de 1 e 2 mm, na qual a peneira de malha maior é sobreposta
a de malha menor, para selecionar materiais pelas dimensões.
Após despejar o solo nas peneiras, elas foram mergulhadas em um
recipiente com água para lavagem das amostras. Depois da saturação
com água, foram coletados separadamente o material flutuante, o
material maior que 2 mm e o material maior que 1mm. Em seguida, as
amostras secaram em temperatura ambiente por três dias.

Neste momento, foi feita a caracterização morfológica do solo,


quando se definiu textura, plasticidade, pegajosidade e cor do solo
- segundo o proposto por Lemos e Santos (1996) e carta de Munsell
(2000). Os dados foram assinalados nas planilhas correspondentes
finalizando esta fase de análise.

Com o uso de lupa binocular, o material flotado de cada uma das


duas frações (maior que 2 mm e maior que 1mm) foi classificado
por tipo de matéria-prima e quantificado. Seus resultados foram
registrados em planilhas para obtenção dos gráficos.

Assim, o material resultante da flotação das amostras de solo está


separado por sondagem, por nível, por fração e por matéria-prima.

Para apresentar os resultados destes estudos, serão apresentados


os dados gerais, pois através deles foi possível perceber tendências.

O método da flotação se torna eficaz na análise do solo por revelar os


microssedimentos formadores do solo, naturalmente não perceptíveis
em macrovisão na etapa de campo. Este método também revela os
sedimentos e compostos orgânicos como carvões, ossos e restos
de vegetação e microfauna, que são fundamentais para entender o
ambiente formador do solo das terras pretas antropogências. Esse
procedimento é comumente usado para a identificação e análise

41

LVR - Academico_REV.indd 41 05/05/2017 14:36:08


de carvão na antracologia e identificação de antigas estruturas de
fogueiras e restos de animais, dispersos pela ação intempérica do
tempo (SCHEEL-YBERT, 1998).

Em sequência, a partir dos dados obtidos da planilha de análise,


processou-se a quantificação e análise estatística do material resultante.
Este método consiste em observar o comportamento matemático
destes materiais nas estratigrafias, através de gráficos e tabelas. Assim
se indicia tanto sua presença, quanto ausência e estabilidade, segundo
os contextos arqueológicos e pedológicos postos em estudo.

Cerâmica Carvão Semente

Material Malacológico Osso Microfauna


Exemplos de microvestígios identificados.

Resultados alcançados no estudo da flotação


Para traçar uma grande tendência geral, foi reunida toda a
amostra (material menor que 2 mm e sobrenadante) em busca de
caracterizações gerais. Chama a atenção, a tendência geral entre a
porção ao norte (Terra Preta 1) e a porção sul (Terra Preta 2) no que
toca à frequência de materiais orgânicos e inorgânicos.

Dentre os elementos orgânicos descritos (osso, carvão e semente)


há uma tendência geral de ocorrência de carvão em ambas as áreas
(na porção sul e norte). No entanto, pode-se notar uma expressiva
presença de material ósseo na porção norte (Terra Preta 1) e na
presença de sementes na porção sul (Terra Preta 2).

42

LVR - Academico_REV.indd 42 05/05/2017 14:36:09


11997 4623
Terra Preta 2
118

635 4541 295


Terra Preta 1

0% 20% 40% 60% 80% 100%

osso carvão

Material orgânico.

O material inorgânico também chama a atenção no que toca à


forte incidência de microlascas na porção norte do sítio. O quartzo e a
laterita são componentes naturais nestas áreas, não sendo, portanto,
irrelevantes neste caso. A presença de cerâmica obedece à distribuição
das áreas.

6395 11736 32149


Terra Preta 2

50

2983 1645 6635 5128


Terra Preta 1

0% 20% 40% 60% 80% 100%

cerâmica lasca quartzo laterita

Material inorgânico.

43

LVR - Academico_REV.indd 43 05/05/2017 14:36:10


Pode ser que esta diferença geral marque zonas de atividades
diferentes, pois os microvestígios identificados em uma área e outra
do sítio – seja a porção norte (Terra Preta 1) seja a porção sul (Terra
Preta 2) – são diferentes.

Pode ser, hipoteticamente, que este dado esteja mostrando zonas


complementares de vestígios:

• ao norte – zona com mais concentração de TPA – aparecem


mais vestígios de microlascas e ossos. É válido lembrar de que nesta
porção aparecem em alta concentração tanto o cálcio como o fósforo
(como debatido no item anterior).

• ao sul – vale chamar a atenção para a maior ocorrência de


sementes.

Para análise das diferenças e semelhanças serão avaliadas


tendências gerais a partir das amostras de duas unidades de
escavação, cada uma localizada em um dos sítios: a unidade de
escavação 3, situada na porção norte (Terra Preta 1) e unidade de
escavação 2, localizada ao sul (Terra Preta 2).

Inicialmente, os dados foram organizados de forma geral


em relação aos níveis artificiais de escavação (feitos de 10 em 10
cm). Assim, foram quantificados juntos, independentemente do
tamanho dos microvestígios, cada tipo de evidência por tipo e nível.
As amostras foram agrupadas separadamente, por tipo geral de
vestígio: orgânicos e inorgânicos.

Primeiro, será avaliado o material orgânico. Chama a atenção


a espessura do pacote de aparecimento de microevidências,
que combina com a espessura de ocorrência de TPA (discutido
anteriormente). Com o procedimento da flotação foram identificados
microvestígios até a profundidade de 130 cm para a porção norte do
sítio (Terra Preta 1) e de até 60 cm de profundidade ao sul (Terra
Preta 2).

Na porção ao norte (Unidade 3/Terra Preta 1) há uma forte


presença de material ósseo em todos os níveis de ocorrência de
material arqueológico e TPA. Pode-se notar também dois picos de
frequência: tanto nas camadas entre 20 e 40 cm quanto na camada
entre 80 e 90 cm.

Na porção ao sul (Unidade 2/Terra Preta 2) a presença de


sementes está associada aos níveis superiores, podendo, portanto,
ser resultado das ocupações mais recentes.

44

LVR - Academico_REV.indd 44 05/05/2017 14:36:10


0-10cm

10-20 cm

20-30 cm

30-40 cm

40-50 cm

50-60 cm

60-70 cm

70-80 cm

80-90 cm

90-100 cm

100-110…

110-120…

120-130…

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Carvão Osso Semente


Frequência de material orgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

0-10cm
10-20 cm
20-30 cm
30-40 cm
40-50 cm
50-60 cm
60-70 cm
70-80 cm
80-90 cm
90-100 cm
100-110…
110-120…
120-130…

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Carvão Osso Semente


Frequência de material orgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

Ainda para o material orgânico, a incidência de material por nível


permite lançar mão de outro dado mais didático para tal tarefa, que
representa o mesmo dado apresentado sobre tipo de material e nível
artificial, mas por número absoluto. Pode-se notar que a constância
de aparecimento de microevidência, para ambos os locais, é de até
60 cm de profundidade. Ainda sobre as semelhanças, vale dizer que

45

LVR - Academico_REV.indd 45 05/05/2017 14:36:12


a tendência geral segue o que foi apresentado anteriormente para a
totalidade da área.

Quando se observa o comportamento da distribuição do carvão


dentre os níveis artificiais pode-se notar que, embora seja frequente
em ambas as porções, apresenta menor quantidade de material na
porção norte (Terra Preta 1), onde alcança até 120 cm de profundidade;
é mais abundante na porção sul (Terra Preta 2). Pode-se ainda
notar no gráfico sequente que os picos de carvão apresentam leve
dessemelhança. Na porção norte (Terra Preta 1) o pacote de maior
incidência com este material varia entre 20 a 40 cm de profundidade,
enquanto que na porção sul (Terra Preta 2) existem dois picos que
marcam um contínuo entre 10 e 60 cm de profundidade.

Quando se repara o comportamento do material ósseo, é clara


a maior incidência na porção norte (Terra Preta 1), justamente
na área de maior incidência, na unidade escavada, de carvão
(entre 20 e 30 cm).

Por fim, o comportamento vertical das sementes é claramente


relacionado à porção sul (Terra Preta 2), no entanto, todo o material
encontra-se na porção mais superficial, nos primeiros 10 cm. Pode ser
que esses vestígios estejam associados às ocupações mais recentes.

600

500

400

300

200

100

0
90-100 cm

100-110 cm

110-120 cm

120-130 cm
10-20 cm

60-70 cm

70-80 cm

80-90 cm
20-30 cm

30-40 cm

40-50 cm

50-60 cm
0-10cm

Carvão Osso Semente

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

46

LVR - Academico_REV.indd 46 05/05/2017 14:36:12


600

500

400

300

200

100

90-100 cm

100-110 cm

110-120 cm

120-130 cm
10-20 cm

60-70 cm

70-80 cm

80-90 cm
20-30 cm

30-40 cm

40-50 cm

50-60 cm
0-10cm

Carvão Osso Semente

Frequência de material orgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

0-10 cm
10-20 cm
20-30 cm
30-40 cm
40-50 cm
50-60 cm
60-70 cm
70-80 cm
80-90 cm
90-100 cm
100-110 cm
110-120 cm
120-130 cm

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Cerâmica Lasca
Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

47

LVR - Academico_REV.indd 47 05/05/2017 14:36:13


0-10 cm
10-20 cm
20-30 cm
30-40 cm
40-50 cm
50-60 cm
60-70 cm
70-80 cm
80-90 cm
90-100 cm
100-110 cm
110-120 cm
120-130 cm

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Cerâmica Lasca

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

Para avaliar o comportamento por nível da porcentagem de


material inorgânico, foi retirado da comparação o material mineral
não antrópico, composto por quartzo e laterita. Foram considerados
somente o material cerâmico e microlascas, independentemente do
tamanho (menor que 2 mm ou sobrenadante).

Chama a atenção a presença de microlascas em todos os níveis da


porção norte do sítio (Terra Preta 1).

600

500

400

300

200

100

0
90-100 cm

120-130 cm
10-20 cm

60-70 cm

70-80 cm

80-90 cm

100-110 cm

110-120 cm
0-10 cm

20-30 cm

30-40 cm

40-50 cm

50-60 cm

Cerâmica Lasca

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 3. Terra Preta 1.

48

LVR - Academico_REV.indd 48 05/05/2017 14:36:14


600

500

400

300

200

100

90-100 cm

120-130 cm
10-20 cm

60-70 cm

70-80 cm

80-90 cm

100-110 cm

110-120 cm
0-10 cm

20-30 cm

30-40 cm

40-50 cm

50-60 cm

Cerâmica Lasca

Frequência de material inorgânico por nível. Unidade 2. Terra Preta 2.

Quando este comportamento é avaliado por número absoluto


revela um comportamento similar no que toca à concentração de
materiais verticalmente.

Embora a quantidade de material seja maior na porção norte (Terra


Preta 1) e menor na porção sul (Terra Preta 2), pode-se notar que o
aparecimento majoritário ocorre nas imediações entre 20 e 30 cm de
profundidade.

Este comportamento complementar, por vezes obedecendo a um


mesmo padrão, por vezes com diferenças que se completam, apontam
para a interdigitação dos dados.

Assim, resumidamente, pode-se dizer, através dos dados obtidos


pela flotação do solo:

• a porção norte do sítio (Terra Preta 1) apresenta carvão ao longo


de toda a espessura de TPA – em especial entre 20 e 40 cm, além de
reunir quase toda a amostra de material ósseo. Além disso, comporta
a quase totalidade do material lítico, microlascas.

• a porção sul (Terra Preta 2) apresenta maior quantidade de


carvão em relação à porção norte. A presença de sementes está
associada aos primeiros centímetros, podendo o material ser fruto de
ocupações mais recentes. O material cerâmico é frequente enquanto
o material lítico é pouco expressivo, em relação à porção norte.

49

LVR - Academico_REV.indd 49 05/05/2017 14:36:15


LVR - Academico_REV.indd 50 05/05/2017 14:36:15
Capítulo 4

Análise Cerâmica*

Em laboratório, cada um dos vestígios foi lavado e separado por tipo


de artefato, entre cerâmico e lítico. Sendo o primeiro mais abundante
e rico em informações, foi utilizado para análise e diagnóstico do sítio
arqueológico, guiando o estudo.

Durante o processo de limpeza do material, investiu-se na


identificação de cacos cerâmicos remontáveis em um mesmo nível
arbitrário. Posteriormente, foram triados e separados os cacos que
seriam analisados daqueles não analisados. Nesta categoria, incluíram-
se os cacos sem uma das faces ou cujo tamanho fosse inferior a 2 cm.

Os cacos a serem analisados foram numerados individualmente,


e somaram 6.370 fragmentos. Foram criadas duas sequências
diferentes, uma para a malha escavada e outra para o material coletado
em superfícies ampliadas, de uma área de 259.200 m². Durante todo
este processo de numeração, insistiu-se ainda na remontagem dos
fragmentos, agora entre os níveis arbitrários. A remontagem dos cacos
entre os níveis arbitrários poderia denunciar uma única ocupação em
profundidade em cada sondagem escavada.

O material cerâmico obtido nas diversas unidades de coleta totalizou


24.246 fragmentos de cerâmica, dos quais 6.198 menores que 2 cm,
11.678 considerados não diagnóstico e 6.370 foram analisados um a
um, compondo o material diagnóstico. Todos os cacos coletados foram

*Texto de autoria de Lílian Panachuk.

LVR - Academico_REV.indd 51 05/05/2017 14:36:15


contados e pesados, sendo que somente os vestígios considerados
diagnósticos foram submetidos à análise tecnológica detalhada.

Amostra cerâmica - triagem geral

26% 26%

Menores que 2 cm

Não diagnóstico

Diagnóstico

48%

Os fragmentos menores que 2 cm foram retirados da amostra


depois de ter sido submetidos à curadoria; correspondem entre 47%
a 15% dos fragmentos exumados nas diferentes áreas amostradas,
e somam 6.198. Os fragmentos maiores que 2 cm, sem decoração,
não foram analisados e foram classificados como não diagnósticos;
correspondem entre 63% a 22% de cada área amostrada, e contabilizam
11.678 fragmentos. Os fragmentos considerados diagnósticos, com
elementos decorativos, morfologias distintivas, foram analisados
individualmente e correspondem entre 34% a 14% nas áreas
amostradas, somando 6.370 cacos. O gráfico abaixo sumariza a
quantidade e percentual de cada amostra.

Triagem do material cerâmico


100%
90% 531
1961
1.025 2853 Menores que 2 cm
80%
70%
60% 716 1911
50% Não-diagnóstico
3415 5636
40%
30%
20% 1.546
1231
10% 2033 Diagnóstico
1388
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha Superfícies amplas

52

LVR - Academico_REV.indd 52 05/05/2017 14:36:15


A arqueologia, como várias outras ciências humanas, utiliza
métodos estatísticos para auxiliar na percepção do padrão e da
diferença, possibilitando reunir grupos e tipos que possam ser
descritos e classificar os vestígios materiais (BINFORD, 1976). Esse
ponto é essencial, já que a arqueologia lida o tempo todo com uma
quantidade grandiosa de fragmentos da cultura material, tornando
impossível a compreensão mental de miríades de dados, recorre-se às
ciências duras para assim inferir comportamentos humanos, sociais.

Se as quantificações parecem apreensões de um real existente,


deve-se lembrar de que os atributos e as variáveis são escolhidos por
pesquisadores e podem alterar a percepção e o entendimento do
conjunto material. Assim, é de extrema necessidade explicitar cada
um dos atributos elencados (DUNNEL, 2007).

Para a análise do material, foram enumeradas distintas variáveis,


tentando delimitar os traços característicos no material.

As estatísticas funcionam, para a arqueologia, como a quantificação


do concreto. Assim, auxiliam a entender a estabilidade e a variabilidade
do material. Com este concreto quantitativo, é possível não somente
estabelecer as frequências, mas também cruzar variáveis, o que auxilia
na criação de tipos e classes de artefatos. As quantidades se prestam,
portanto, ao entendimento da variabilidade quantitativa, podendo
ter relações com a variabilidade espacial, o que permite testar as
variabilidades relacionais de dado conjunto artefatual (SHIFFER &
SKIBO, 1997).

Dados tecnológicos da cerâmica


A caracterização tecnológica da cerâmica será apresentada com
base nos dados fornecidos pela malha sistemática e pela escavação
das diferentes superfícies ampliadas.

Tipo de artefato e porção do pote


A categoria será dada através do reconhecimento do fragmento no
artefato cerâmico (ou seja, a porção do pote) ou mesmo sua definição
como outro instrumento da indústria cerâmica (identificando os tipos
de artefatos). Quando se referem aos potes, os fragmentos podem
ser definidos como lábio, borda, gargalo, bojo superior, bojo mesial,
bojo inferior, carena, inflexão, base, entre outros. Quando se referem
aos demais artefatos cerâmicos podem ser cachimbos, tortual de
fuso, adorno, bola de argila, e outros mais. Essa separação permite
vislumbrar tipos de potes e de outros instrumentos existentes na
coleção. Em Juruti, os cacos cerâmicos escavados são vestígios de
recipientes, em 95% dos casos, e comportam diferentes morfologias

53

LVR - Academico_REV.indd 53 05/05/2017 14:36:15


e distintos tamanhos e decorações, somam 5.469 fragmentos. Poucos
exemplares, 267 amostras (5% do total analisado), apresentam aspecto
que permite classificá-los como objetos independentes (adorno,
cachimbo e roletes), e objetos que particularizam os potes (alça, asa,
flange, apliques).

Sítio Terra Preta 1, Trincheira, quadra Sítio Terra Preta 1, Trincheira, quadra
359S-960L (C); fragmento cerâmico, pintura 359S-960L (C); fragmento cerâmico, pintura
laranja sobre engobo branco. vermelha sobre engobo branco.

Observando os dados para os fragmentos de asa, alça e flange, eles


são mais expressivos na porção norte (Terra Preta 1), representam o
dobro da porção sul (Terra Preta 2). Os apliques, que também foram
usados em recipientes cerâmicos são expressivos em toda a área
escavada, no entanto, a média é maior na porção sul, com 85%, que
na porção norte, 71%.

Os dois cachimbos foram localizados na área do sítio Terra Preta 1,


ambos com decoração pintada, bem como os dois adornos. Objetos
como roletes foram identificados em toda a extensão escavada, e
nos parecem testes iniciais para avaliar a qualidade da pasta argilosa.
Destacam-se em toda área do sítio Terra Preta 1.

Alguns instrumentos identificados


100%
88%
90% 83%
78%
80%
70% 63%
60%
50%
40%
30%
21%
20% 16%
11% 9%
6% 6% 7% 8%
10%
2% 2%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Asa, alça, flange Adorno Cachimbo Rolete Aplique
Malha sistemática Superfície ampliada

54

LVR - Academico_REV.indd 54 05/05/2017 14:36:15


Nos sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2 os fragmentos são
provenientes de recipientes cerâmicos, em sua quase totalidade, como
salientado anteriormente.

Morfologicamente, a categoria de fragmento predominante no sítio


Terra Preta 1 foi a parede, com 54,2% do total, destes, 383 fragmentos
ocorreram na malha sistemática e 1.496 nas escavações amplas,
sendo a trincheira a área de maior concentração. A categoria borda
representou pouco mais de 34% do total deste sítio, sendo 159 peças
na malha sistemática e 1.023 nas escavações amplas, seguida pelas
bases, sendo 46 peças na malha regular e 190 peças nas sondagens
amplas. No sítio Terra Preta 2, a categoria borda foi a mais popular com
ocorrência de 133 fragmentos na malha sistemática e 834 fragmentos
nas escavações amplas, representando 42,6% do total. A categoria
parede foi a segunda mais abundante, com pouco mais de 33% do
total desta área, sequenciada pelas bases com representatividade de
13,3%, sendo 49 peças distribuídas na malha sistemática e 250 nas
sondagens amplas. A categoria aplique apresenta-se pouco variável
tanto na malha sistemática como nas escavações amplas, com total
de 102 e 138 peças no Terra Preta1 e Terra Preta2, respectivamente.

O sítio Terra Preta 2 apresenta maior quantidade de fragmentos de


borda, o que talvez implique uma maior quantidade de potes, mesmo
que não tenha maior variabilidade de morfologia entre os sítios, Terra
Preta 1 e Terra Preta 2. Essa tendência pode ser vista tanto no material
coletado através da malha sistemática quanto nas escavações amplas.

Porção do pote
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Bordas Paredes Carena Bases Aplique Outros

55

LVR - Academico_REV.indd 55 05/05/2017 14:36:15


Técnica de produção dos artefatos
Entender a técnica de produção é útil para entender as escolhas, as
possibilidades de produção utilizadas e para qual tipo de artefato. A técnica
de manufatura pode ser observada a partir das trincas e fragilidades da peça
(RYE, 1987). No Brasil, entre os Waurá e Karajá cerca de ¾ ou até metade
dos vasos são confeccionados pela técnica de modelado e o restante por
acordelamento. Os Tapirapé levantam toda a parede do vasilhame sem o
emprego da técnica de acordelamento (Lima, 1987), enquanto a produção
por acordelamento pode ser vista entre os Waiwai (Yde, 1965), Guarani (La
Salvia e Brochado, 1989), dentre outros, de maneira quase exclusiva.

A técnica de manufatura de maior ocorrência foi a acordelada, presente,


em média, em 27% dos fragmentos do sítio Terra Preta 1, com 126 peças
na malha sistemática e 990 fragmentos nas escavações amplas. No sítio
Terra Preta 2 essa mesma técnica ocorreu com menor frequência: apenas
74 fragmentos nas sondagens sistemáticas e 447 nas escavações amplas,
representando 23%, em média.

A segunda técnica mais identificada foi a modelada, concentrada


principalmente no sítioTerra Preta 2, a qual ocorreu em média em 20% dos
fragmentos, contrastando com 5% do sítio Terra Preta 1.

A associação de técnicas de confecção acordelada e modelada ocorreu


em uma pequena parcela dos cacos observados, 1% e 2%, em média.
Além disso, não foi possível identificar o processo de elaboração em 2.155
fragmentos cerâmicos no sítioTerra Preta 1 e 1.279 fragmentos no sítioTerra
Preta 2.

Nota-se, portanto, uma mesma tendência – independente da forma de


intervenção, do uso da técnica do acordelado em geral, com maior ocorrência
de modelados na porção sul, onde se localiza o sítio Terra Preta 2.

Técnicas de manufatura cerâmica


80%
73%

70% Não identificada

60%
60% 57%
55%

50%
Acordelada

40%
35%

30%
24% 23%
21% 21% Modelada
18%
20%

10%
5% 5%
2% 1% 2%
0%
0% Acordelada + modelada
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

56

LVR - Academico_REV.indd 56 05/05/2017 14:36:15


Elementos presentes na pasta cerâmica
A análise dos elementos da pasta é um critério importante para
auxiliar no entendimento das escolhas durante a produção, pois
a oleira define a fonte de argila de acordo com suas exigências e
intenções, que são reais e também simbólicas. A argila colhida será
tratada e “transformada em pasta e os elementos intervenientes são
tantos e a interdependência entre eles são tais, que não podemos
aceitar a sua presença como elemento decisório de um contexto
cultural” (LA SALVIA & BROCHADO, 1989:12). É sempre difícil julgar de
forma criteriosa quais elementos estavam presentes na fonte de argila,
e quais foram inseridos na pasta. Elementos manufaturados para a
inclusão, como caco moído e cinza de cariapé, permitem afirmar que
o material foi inserido durante o tratamento da pasta. No entanto,
biosílica como o cauixi, pode estar presente na fonte de argila.

Nesta análise, interessou-se pelo tipo do elemento presente no


fragmento cerâmico, pela composição do elemento mineral e pela
granulometria do tempero utilizados na pasta. Para tanto, foi criada
uma lista de possibilidades, para ser marcada na ficha de respostas.
O tipo e o tamanho dos elementos podem auxiliar na compreensão
de características de desempenho e escolhas sociais adotadas em
sociedades pretéritas, pois cada escolha cria possibilidades físico-
químicas que são determinantes e fixas (SHIFFER & SKIBO, 1997).

O elemento predominante na pasta é o cauixi, presente em 63,2%


do material cerâmico do sítio Terra Preta 1 e em 67,8% do total de
fragmentos do sítio Terra Preta 2. Segue-se a associação de cauixi e
cerâmica triturada identificada em pouco mais de 31% dos fragmentos
do sítio Terra Preta 1, com a maior concentração na trincheira e
em 28,7% do total de fragmentos do sítio Terra Preta 2, com maior
ocorrência na unidade de escavação 1. O cariapé está presente em
12 fragmentos, apenas nas sondagens amplas do sítio Terra Preta
1, não sendo identificado na malha sistemática. Já no sítio Terra
Preta 2, o cariapé ocorreu em 17 fragmentos distribuídos na malha
e nas unidades de escavação. Houve ainda eventuais ocorrências de
antiplástico mineral e concha na forma individual ou associada, bem
como três fragmentos sem nenhum elemento identificável. Mesmo o
material Pocó não apresenta grande quantidade de cariapé em ambos
os sítios, ao contrário do que apontam Hilbert e Hilbert (1980).

Chama a atenção o comportamento similar em ambas as áreas


com material arqueológico, seja na intervenção do tipo malha ou
sondagens amplas. A similitude entre a escolha de antiplástico a ser
utilizado pode deflagrar uma semelhança maior, que aproxima a
amostra. A maior incidência de tempero é o cauixi (gira em torno de
62% a 68%), seguido da combinação entre cauixi e caco moído (entre
24% e 31%).
57

LVR - Academico_REV.indd 57 05/05/2017 14:36:15


Elementos presentes na cerâmica
80,0% Cauixi

70,0%
Cauxi + cerâmica
60,0%

50,0% Cariapé

40,0%
Cauxi + cariapé

30,0%

Cerâmica
20,0%

10,0%
Cauixi + cariapé +
cerâmica
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Outros
Malha sistemática Superfícies amplas

Deve-se lembrar de que o cauixi, dada sua grande incidência no


Baixo Amazonas, pode estar na fonte de argila. No entanto, o uso do
chamote – ou caco moído – além de ser comum para as populações
pretéritas regionais (Guapindaia, 2004 ), marca uma intencionalidade
de uso e um planejamento para utilizar os fragmentos de outros potes
produzidos.

Hilbert (1955:35), em entrevista com ceramistas de Oriximiná,


relatou que o uso do cauixi tem como correlato material queima
mais uniforme, maior resistência ao choque térmico e mecânico.
Extrapolando as observações de Schiffer e Skibo (1992) e de Reid
(1984) sobre tempero de fibra e tempero orgânico, talvez o cauixi
também auxilie na redução do excesso de água, e também melhore
a plasticidade da argila, bem como a resistência das paredes, com
estrutura fibrosa e leve, além de dar maior força da argila molhada,
facilitando a construção do objeto.

A cerâmica Santarém, segundo Hilbert (1950), distingue-se da


Konduri principalmente pela quantidade de cauixi empregado como
antiplástico (muito mais abundante na cerâmica Konduri). Em Juruti,
nota-se também essa variação de quantidade da presença de cauixi,
mesmo em peças Konduri.

58

LVR - Academico_REV.indd 58 05/05/2017 14:36:15


Pasta cerâmica de Juruti, mostrando grande concentração de espículas de cauixi (à esquerda)
e baixa concentração das espículas (à direita). Fonte: Dirse Kern.

A composição mineral da pasta inclui somente o quartzo, para


poucos fragmentos (25 cacos). Aparece tanto na porção norte (Terra
Preta 1) quanto na porção sul (Terra Preta 2). Por ser pouco expressiva,
não foi realizada a expressão gráfica.

Quanto à granulometria dos elementos incluídos na pasta, pode-se


dizer que há uma tendência para a escolha de grãos finos de todos
os elementos na pasta. Isso pode denotar um tratamento da argila,
durante a preparação da massa, com peneiramento da argila seca.

Pode-se notar uma mesma tendência geral para ambas as áreas. A


maioria dos fragmentos apresenta, na pasta, elementos de até 1 mm
associados (cerca de 2/3 da amostra analisada), enquanto o restante
apresenta elementos entre 2 e 3 mm (outros 1/3 da amostra).

Granulometria dos elementos da pasta


80,0%
68,9% 67,2% 68,0%
70,0%
58,7%
60,0%

50,0%
41,1%
40,0%
30,4% 32,4% 31,8%
30,0%

20,0%

10,0%
0,2% 0,6% 0,4% 0,2%
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Até 1 mm Até 2 mm Até 3 mm

59

LVR - Academico_REV.indd 59 05/05/2017 14:36:16


Essa homogeneização da pasta no que tange ao diâmetro dos grãos
tem impacto na compreensão sobre a plasticidade da argila (Schiffer e
Skibo, 1997), e também indica se é compatível com o acabamento de
superfície e a decoração (BALFET, FAUVET & MONZON, 1983; ORTON,
TYERS & VINCE, 1993). A regularidade dos grãos permite maior
harmonia da superfície do pote e facilita a decoração.

Tipo de queima
Para que a argila se tranforme em cerâmica, é feito o process de
queima. As temperaturas mínimas para cada tipo de argila variam,
encontrando-se geralmente entre 300° e 700º C (RICE, 1987). Acima
da temperatura de fusão de cada tipo de argila esta adquire as
características próprias da cerâmica: dureza, porosidade e estabilidade
em frente a uma larga escala de circunstâncias físico-químicas (RYE,
1981).

No Brasil, os exemplos etnográficos apontam para a queima


em fogueira, com muitas variações no formato e tipo de madeira
com relação à quantidade e tamanho das vasilhas (LIMA, 1987). Os
estágios operatórios pelos quais a cerâmica passa durante o processo
de queima (RICE, 1987) incluem a retirada da água intermolecular,
vista no vapor emitido pelos vasilhames a 100 °C; a decomposição
orgânica de baixa temperatura, que se completa próxima aos 350 °C;
a decomposição e agregação do argilo-mineral em uma temperatura
que varia conforme tempo e intensidade, mas está entre 400 °C e 850
°C; a combustão orgânica, que ocorre sob temperaturas entre 200 °C
até 950 °C; e, por fim, o resfriamento.

O objetivo nesse atributo foi de registrar o resultado de queima,


levando em consideração a história de vida do objeto (depois da
queima o objeto é levado ao fogo, o que altera o resultado inicial) e as
marcas de eventos pós-deposicionais que podem alterar também o
aspecto final da queima (ORTON, TYERS & VINCE, 1993).

Quando se observa o resultado do processo de queima nos


fragmentos de Juruti, pode-se notar igualmente uma mesma tendência
em todo o material, independente da área de escavação e da forma
de intervenção. A preferência é por peças com queima reduzida ou
totalmente oxidada, sendo popular também a redução central.

60

LVR - Academico_REV.indd 60 05/05/2017 14:36:16


Tipo de queima
50% Totalmente
45% reduzido

40% Redução tabatinga

35%
Totalmente
30% oxidado
25%
Redução central
20%

15% Oxidação central

10%
Reduzida FE
5%

0%
Reduzida FI
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Tratamento de superfície: alisamento, polimento, barbotina


e engobo
Quando se observa cada fragmento em relação ao tratamento de
superfície, pode-se notar um grande investimento no polimento e na
barbotina, para além da predominância do alisamento. Esse atributo
é importante para se entender características de performance
secundárias, devem ser coletadas sempre que possível, pois auxiliam
na compreensão das escolhas sociais (SCHIFFER & SKIBO, 1997).

Na porção norte da área escavada, no sítio Terra Preta 1, pode-se


notar uma maior concentração de fragmentos com a presença de
superfície polida, a quantidade de barbotina aparece em ambas as
áreas, de forma mais homogênea, entre 24% e 16%. Os resultados são
semelhantes entre os sítios, independente da forma de intervenção,
se malha sistemática ou sondagens ampliadas.

Tratamento de superfície
100%
90% 16% 20% 21%
24%
80% 3%
5%
70% 19% 24%
60%
50%
40% 81% 75%
30% 58% 55%
20%
10%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Alisamento Polimento Barbotina

61

LVR - Academico_REV.indd 61 05/05/2017 14:36:16


Quando se focaliza o alisamento, pode-se ver que a maior frequência
é a presença deste tipo de tratamento de superfície em ambas as faces
do objeto cerâmico. Isto ocorre independentemente da localização do
fragmento (porção norte ou sul) e independente do tipo de intervenção.
Em todo caso, pode-se notar que na porção sul da área escavada (sítio
Terra Preta 2) parece haver um aumento percentual de fragmentos
com somente uma das faces alisadas, especialmente a externa.

Alisamento e as faces de aplicação


90,0%
80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas
Alisamento face externa Alisamento face interna Alisamento ambas as faces Face não identificada

Se a tendência geral é semelhante, pode-se notar que na porção


norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) aparecem mais fragmentos
com polimento na face interna; enquanto na porção sul (sítio Terra
Preta 2) concentram-se os fragmentos com polimento na face externa.

Polimento e as faces de aplicação

80,0%
70,0%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Polimento face externa Polimento face interna Polimento ambas as faces Face não identificada

No que toca ao uso de barbotina, há uma mesma tendência


de leve aumento em relação ao uso de barbotina na face interna,
quando se observa a porção norte (Terra Preta 1), ao mesmo tempo
que a tendência de aumento proporcional para os fragmentos com
barbotina na face externa, na porção sul da área de escavação (sítio
Terra Preta 2).

62

LVR - Academico_REV.indd 62 05/05/2017 14:36:16


Barbotina e as faces de aplicação
60,0%

50,0%

40,0%

30,0%

20,0%

10,0%

0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas
Barbotina face externa Barbotina face interna Barbotina ambas as faces Face não identificada

Em relação à presença de engobo nas faces, pode-se verificar uma


dessemelhança entre as áreas escavadas: na porção ao norte (sítio Terra
Preta 1) nota-se o predomínio de engobo na face externa enquanto na
porção sul (sítio Terra Preta 2) vê-se uma tendência proporcional ao
engobo na face interna.

Localização do engobo nas faces


90% 85%
79%
80%
70% 63%
60%
51%
50%
40% 36%

30% 27%

20% 15%
10% 10% 12%
10% 6% 5%

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Engobo face externa Engobo face interna Engobo em ambas as faces

O engobo e suas cores


Uma parte considerável da amostra cerâmica analisada apresenta
engobo. Na porção norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) a presença
de engobo corresponde a 27,7% (são 960 fragmentos) enquanto na porção
sul (sítio Terra Preta 2) essa frequência é mais baixa e representa 12,2%
(276 cacos).

Quanto à tonalidade do engobo, há predominância das cores branca


e vermelha. No sítio Terra Preta 1 prevalece o engobo branco, enquanto
que no sítio Terra Preta 2 há maior ocorrência do engobo vermelho. Essa
tendência geral pode ser vista tanto para o material exumado na malha
sistemática, quanto no material oriundo de escavação ampla.

63

LVR - Academico_REV.indd 63 05/05/2017 14:36:16


Coloração do engobo
90,0%
82,7%
80,0%

70,0% 66,2%
62,9%
60,0% Vermelho
54,8%

50,0% Branco

40,0% 35,5% 35,1%


30,8% Laranja
30,0%
Bicromia
20,0% 15,2%
9,7%
10,0%
2,5% 1,6% 1,6%
0,5% 0,5% 0,4%
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Na porção escavada ao norte – sítio Terra Preta 1 – foram


identificados 761 fragmentos com presença de engobo branco: 131
cacos pertencem à malha sistemática (66,2%) e 630 fragmentos
oriundos das sondagens amplas (82,7%). O engobo vermelho foi
identificado em apenas 177 fragmentos: sendo 61 característicos da
malha sistemática (30,8%) e 116 das sondagens amplas (15,2%).

Na porção sul – sítio Terra Preta 2 – apenas 97 fragmentos


apresentaram engobo branco, sendo 11 na malha sistemática e
86 nas sondagens amplas (que representam cerca de 35% em cada
amostra). O engobo vermelho foi identificado em 171 fragmentos:
sendo 17 da malha sistemática e 154 característicos das sondagens
amplas (corresponde respectivamente a 54,8% e 62,9%). Vale a pena
chamar a atenção para a relativa presença de engobo laranja situado
na porção sul da área escavada (sítio Terra Preta 2) principalmente na
malha sistemática.

Outras ocorrências também foram identificadas, porém em pouca


quantidade. O engobo laranja, presente em 17 fragmentos do sítio
Terra Preta 1 e em sete do Terra Preta 2 e as associações de engobo
vermelho e branco e engobo branco e laranja, que quantificados,
totalizam cinco fragmentos no sítio Terra Preta 1 e apenas um
fragmento no sítio Terra Preta 2.

O engobo pode ser usado em várias porções do pote, seja na borda,


na parede, em apliques e mesmo na base.

Dentre o material analisado, foi possível verificar ainda que essa


tendência do uso de engobo branco na porção norte (sítio Terra Preta
1) e no uso do vermelho na porção sul (sítio Terra Preta 2) é flagrante
quando se cruza a cor do engobo e a porção do pote, sendo que na
porção sul há, proporcionalmente, menos paredes decoradas.

64

LVR - Academico_REV.indd 64 05/05/2017 14:36:16


Localização do engobo branco
90%

80%

70% Borda

60%
Parede
50%

40% Aplique

30%
Base
20%

10% Outro

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

No sítio Terra Preta 1 pode-se ver que não há nenhum aplique, na


amostra, que tenha utilizado engobo vermelho. Isso ocorre tanto para
o material oriundo da malha sistemática quanto para o material das
sondagens ampliadas.

Não ocorre esta pequena tendência na porção sul do sítio (Terra


Preta 2), onde a maior incidência de engobo é na coloração vermelha.

Localização do engobo vermelho


90%
80% Borda
70%
60% Parede
50%
40% Aplique

30%
Base
20%
10%
Outro
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies ampliadas

Técnicas decorativas
Os dados decorativos são essenciais, pois foram alvo de observações
de pesquisas anteriores (como na metodologia definida pelo Programa
Nacional de Pesquisas Arqueológicas), contando, portanto, com ampla
bibliografia brasileira para discussão. Além dos dados decorativos
serem eminentemente estéticos e estilísticos, como é apresentado pelo
PRONAPA (Meggers & Evans, 1971), podem ter relação com estruturas
eminentemente simbólicas, dizer de escolhas sociais sobre o belo,
sobre organização política, ou mesmo uma instituição de oleiras.

65

LVR - Academico_REV.indd 65 05/05/2017 14:36:16


Há também outras implicações físico-químicas que uma decoração
pode causar, que têm relação com as características de performance
secundária (SCHIFFER & SKIBO, 1997).

Por exemplo, uma panela inteiramente decorada com elementos


corrugados terá maior capacidade em acumular calor, pois sua
superfície de contato é maior do que um pote de mesma morfologia e
tamanho, mas sem tal atributo decorativo. Neste mesmo sentido, uma
vasilha com pintura poderá não ser indicada como pote para cozinhar,
pois toda a tinta tende a sumir com a utilização. Por tais motivos
definiu-se, no banco de dados, o tipo de decoração para cada uma das
possibilidades registradas, seja plástico ou pintado. Ainda se investiu
em um campo para melhor avaliar o local da decoração.

Cabe dizer que a quantidade de material decorado é expressiva em


ambos os sítios, Terra Preta 1 e Terra Preta 2. Se forem computados
os fragmentos diagnósticos (que vêm sendo tratados neste item) e o
material não diagnóstico (que não foi analisado por não ter marcas
características e apresentam mais de 2 cm) teremos um total de
17.414 cacos. Deste total, 3.774 cacos (22%) com algum tipo de padrão
decorativo e 13.640 fragmentos (78%) sem nenhuma decoração.

Deve-se lembrar de que não foram computados os fragmentos


menores que 2 cm (que podem ou não ter decoração). Podendo, assim,
ainda ser mais expressiva a quantidade de fragmentos decorados
nesta amostra.

Presença e ausência decorativa


100%
8,7% 13,5%
27,9%
80% 36,2%
31,1%
33,6% Decoração pintada
60%
48,6% Decoração plástica
40% 42,9%
60,2% 52,9% Ausente
20%
23,5% 20,9%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Para detalhar a técnica decorativa serão apresentados somente os


cacos que as contêm, para tanto, foram produzidos gráficos nos quais

66

LVR - Academico_REV.indd 66 05/05/2017 14:36:16


é possível identificar tanto o número absoluto quanto a percentagem
do total de fragmentos diagnósticos.

Pode-se notar uma mesma tendência geral: na porção ao norte


(sítio Terra Preta 1) a quantidade de material sem nenhum tipo de
decoração é pequena (23,5% e 20,9%, respectivamente, na malha
sistemática e nas sondagens amplas). A decoração plástica é bastante
marcada (48,6% e 42,9%, para a malha sistemática e as sondagens
amplas). Enquanto a decoração pintada é também expressiva (de
27,9% para a malha sistemática e 36,2% nas sondagens amplas).

Na porção ao sul (sítio Terra Preta 2) há uma grande maioria de


fragmentos sem decoração (60,2% para a malha sistemática e 52,9%
para as sondagens amplas). A decoração plástica é mais expressiva
– como ocorre no sítio Terra Preta 1, mas em menores proporções
(31,1% a 33,6%, respectivamente, para a malha sistemática e para as
sondagens amplas). A decoração pintada alcança índices de frequências
muito baixos (8,7% e 13,5% respectivamente, para a malha sistemática
e para as sondagens amplas).

Presença e ausência de decoração


100%
27 265
90%
171
80% 1033
96
70% 659
60%
50% 298 Presente pintada
40% 1225
Presente plástica
30% 186
1037
20% Ausente
10% 144 595
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

A decoração plástica
A análise do material cerâmico revelou grande variabilidade de
padrões decorativos, especialmente nas formas associadas. De modo
que os grupos que mais se destacaram foram os modelados, incisos,
excisos e escovados. Foram identificados 1.523 fragmentos na porção
norte (sítio Terra Preta 1) e outros 759 cacos na porção sul (sítio Terra
Preta 2).

67

LVR - Academico_REV.indd 67 05/05/2017 14:36:16


Para facilitar a visualização das tendências gerais para os padrões
decorativos do tipo plástico, foram criadas grandes categorias, mas que
apresentam certa variabilidade interna. Portanto, é necessário delimitar
os tipos gerais eleitos:

• Modelado: modelado aplicado, modelado aplicado ponteado,


modelado aplicado ponteado entalhado inciso, modelado aplicado
inciso, modelado aplicado ponteado inciso, modelado aplicado
escovado, modelado entalhado, modelado aplicado ponteado
entalhado, modelado aplicado entalhado, modelado aplicado
entalhado inciso.

• Inciso: inciso ponteado, inciso fino, inciso largo, inciso largo e inciso
fino, inciso escovado, inciso zigue-zague, inciso ponteado entalhado.

• Exciso: exciso simples, exciso inciso, exciso inciso ponteado, exciso


inciso modelado escovado, exciso inciso escovado.

• Outros: entalhado, entalhado inciso, ponteado, ponteado


modelado, ponteado arrastado, ponteado entalhado, aplique
zoomorfo, aplique antropomorfo, aplique antropozoomorfo,
aplicado, aplicado ponteado, canelado, acanalado, raspado,
serrungulado, digitungulado.

A decoração predominante no sítio Terra Preta 1 é do tipo inciso,


ocorrendo em 61% do total de fragmentos, quantificados por 176 peças
na malha e 763 nas superfícies amplas. Chama a atenção também a
quantidade de decoração escovada.

No sítio Terra Preta 2, o tipo decorativo mais difundido é o modelado,


representando 60% do total de fragmentos, constituídos pelos 61
fragmentos na malha sistemática e 386 nas superfícies amplas. Vale
ressaltar que nessa área o padrão modelado se apresenta associado
principalmente ao ponteado, ao mesmo tempo cabe dizer que a categoria
outros é bastante difundida nesta porção da área de ocorrência de
material, indicando alta variabilidade.

Decoração plástica
70%
62%
61%
59% 59%
60%

50% Modelados

40% Incisos

30% 28% Excisos

19% 19%
20% Escovado
15%
13% 12%
11%
9%
10% Outros
5% 5% 5% 5% 4%
3% 4%
0,2%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

68

LVR - Academico_REV.indd 68 05/05/2017 14:36:16


A decoração pintada
A decoração pintada foi identificada em 1.204 fragmentos no sítio
Terra Preta 1 e 292 fragmentos no sítio Terra Preta 2.

Em relação às cores utilizadas, foram feitas avaliações com um


primeiro agrupamento para avaliar a quantidade de cores utilizadas
por fragmento. Assim, em uma primeira classificação pode-se ordenar
os fragmentos da seguinte forma:

• Pintura monocrômica (envolvendo as cores vermelho, amarelo,


branco, preto ou laranja);

• Pintura bicrômica (vermelho/engobo branco, laranja/engobo


branco, amarelo/vermelho, vermelho/amarelo, vermelho/laranja,
preto/vermelho);

• Pintura t ricrômica (vermelho/branco/amarelo, vermelho/preto/


branco, laranja/branco/vermelho, laranja/vermelho/branco).

Dentre o material com decoração pintada pode-se notar através


dos gráficos, tanto para a malha sistemática quanto para as superfícies
amplas, que ambas as porções do sítio apresentam mais da metade
da amostra em monocromia. A porção norte da área escavada (sítio
Terra Preta 1) comporta 97 fragmentos (57%) na malha sistemática e
mais 652 cacos nas sondagens amplas (63%). A porção sul (sítio Terra
Preta 2) reúne 26 fragmentos (96%) com aplicação monocrômica e
outros 232 fragmentos (79%) referente às sondagens amplas.

Há diferenças, no entanto. A porção norte da área de escavação


(sítio Terra Preta 1) apresenta uma quantidade expressiva do
material decorado em bicromia, tanto na malha sistemática quanto
nas sondagens amplas. O mesmo ocorre no caso da tricromia, mais
expressiva na porção norte.

Uso das tintas e combinações


120%
96%
100%
79% Monocromia
80%
63%
57%
60%
Bicromia
39%
40% 30%
Tricromia
20% 11%
4% 4% 0% 7%
1%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

69

LVR - Academico_REV.indd 69 05/05/2017 14:36:17


Quando se observam somente as decorações monocrômicas
pode-se notar que a pintura vermelha se apresenta com grande
incidência em ambas as áreas de escavação e em ambas as formas
de intervenção. Chama a atenção da maior diversidade de cores
presentes na porção sul da área escavada (sítio Terra Preta 2), mesmo
sendo uma pequena amostra (nas cores: branco, preto e laranja). Ao
norte da área de escavação (sítio Terra Preta 1) aparece também uma
pequena parcela de fragmentos com pintura laranja, além de pinturas
em branco e preto.

Pintura monocrômica
105,0%

100,0%

Pintura laranja
95,0%

Pintura preta
90,0%

Pintura branca
85,0%

Pintura amarela
80,0%

Pintura vermelha
75,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Aparecem, no total, 408 fragmentos com presença de bicromia:


vermelho/engobo branco, laranja/engobo branco, amarelo/vermelho,
vermelho/amarelo, vermelho/laranja, preto/vermelho. A bicromia é
mais popular na porção norte (sítio Terra Preta 1) onde se sobressai o
laranja sobre branco, bem como o preto sobre vermelho. Na porção
sul (sítio Terra Preta 2) o uso do vermelho e branco é mais expressivo,
seguido pelo laranja e branco.

Uso da bicromia
120,0%

100,0%

80,0% Vermelho/branco

Vermelho/amarelo
60,0%
Vermelho/Laranja

40,0% Laranja/branco

Amarelo/vermelho
20,0%
Preto/vermelho

0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfície ampla

70

LVR - Academico_REV.indd 70 05/05/2017 14:36:17


Foram identificados 81 cacos com ocorrência de tricromia, em
várias combinações: vermelho, branco e amarelo; vermelho, preto e
branco; laranja, branco e vermelho; laranja, vermelho e branco.

Nesta amostra há dessemelhanças entre as áreas de escavação:


a porção norte (sítio Terra Preta 1) apresenta a maior incidência de
fragmentos com tricromia, combinando três tonalidades: laranja,
vermelho e branco. Enquanto que a porção sul (sítio Terra Preta 2)
apresenta maior quantidade percentual nas cores vermelho, preto e
branco.
Uso da tricromia
120,0%

100,0%

80,0%

60,0%

40,0%

20,0%

0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfície ampla

Vermelha/branca/amarela Laranja/branca/vermelha
Laranja/vermelha/branco Vermelha/preta/branco

Morfologia dos fragmentos e seus diâmetros


Em relação à morfologia das diferentes partes do corpo do pote,
os fragmentos foram classificados entre bordas, lábios e bases, sendo
que o primeiro e o último itens foram também observados segundo o
diâmetro estimado.

Em relação à forma da borda, podem-se delimitar quatro tipos


mais frequentes: direta, reforçada, extrovertida e expandida, sendo
reunidos sob a alcunha “outras” os cacos que apresentam borda
introvertida, cambada, vazada, contraída e dobrada (cada uma com
somente um exemplar na amostra).

Pode-se notar uma tendência geral à presença de borda direta –


tanto para a porção norte quanto sul, independentemente do tipo de
intervenção. As bordas extrovertidas mantêm quantidade estável no
gráfico, em ambas as áreas e intervenções. Ao mesmo tempo, há uma
leve tendência de maior percentual de bordas expandidas na porção
norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) e de reforçada na porção
sul (sítio Terra Preta 2).

71

LVR - Academico_REV.indd 71 05/05/2017 14:36:17


Tipo de borda
100%
Direta
80%
Reforçada
60%
Extrovertida
40%
Expandida
20%
Outra
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Em relação à inclinação dos fragmentos de borda, pode-se notar


uma grande estabilidade. A maior proporção é de fragmentos de
borda vertical, seguida de bordas inclinadas externamente e, por fim,
com inclinação interna.

Inclinação da borda
100%
20 6 16 42
80%

60%
Inclinada interna

40% 30 8 28 40
Vertical
20%
13 29 Inclinada externa
3 8
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Em relação ao diâmetro da borda, pode-se notar uma mesma


tendência no aparecimento de potes entre 11 e 20 cm de diâmetro,
seguido de potes ainda maiores, entre 20 e 30 cm. Os fragmentos
com diâmetro menor que 10 cm ainda é mais expressivo que aqueles
maiores que 30 cm.

72

LVR - Academico_REV.indd 72 05/05/2017 14:36:17


Diâmetro de borda
70,0%

60,0%

50,0%

< 10 cm
40,0%

30,0% 11 e 20 cm

20,0% 20 a 30 cm

10,0% mais de 30 cm

0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Quanto ao lábio, pode-se dizer que há dois tipos principais. A


tendência geral é de lábios arredondados, seguido por lábios planos,
e por fim algum exemplar apontado.

Morfologia do lábio
100%
90%
80%
70%
60%
50% Apontado

40%
30% Plano

20%
Arredondado
10%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Em relação à morfologia da base, pode-se notar uma preferência


majoritária pela base plana, tanto para a malha sistemática quanto
para as sondagens amplas, seja na porção norte da escavação (sítio
Terra Preta 1) seja na porção sul (sítio Terra Preta 2). No entanto,
percebe-se ainda uma leve tendência no aumento da frequência
para bases em pedestal na porção norte, e no uso de base anelar na
porção sul. A porção sul apresenta a maioria absoluta de bulbos de
base trípode.

73

LVR - Academico_REV.indd 73 05/05/2017 14:36:17


Morfologia da base
80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

Convexa Plana Côncava Anelar Em pedestal Trípode

Em relação ao diâmetro da base, há uma tendência percentual em


um aumento de bases menores que 10 cm na porção norte da área
(sítio Terra Preta 1), ao mesmo tempo em que se pode ver uma maior
quantidade proporcional de fragmentos cujo diâmetro é maior que 20
cm na porção sul (sítio Terra Preta 2).
Diâmetro da base
70% 67% 67%

60%

50%
44%
42% 42%
40%

30% 29% 29%


30% 27%

20% 17%

10%
4% 4%

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfícies amplas

< 10 cm 10 e 20 cm mais de 20 cm

Marcas de produção, conservação e sinais de uso


Quando se observam as marcas de produção, pode-se notar a
presença massiva de marcas de rolete, o que deflagra o uso da técnica
do acordelado – apresentado anteriormente.

A frequência que chama a atenção é a maior quantidade proporcional


de marcas de apliques na porção sul da escavação (sítio Terra Preta 2).

74

LVR - Academico_REV.indd 74 05/05/2017 14:36:17


Marcas de produção
100,0%

90,0%

80,0% Marcas de rolete

70,0% Fuligem de queima

60,0% Marca de aplique

50,0% Marcas de alisamento

40,0%
Rolete e fuligem queima

30,0%
Furo
20,0%
Marcas de rolete e estrias
10,0%
Outros
0,0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfície ampla

A amostra está majoritariamente erodida, ultrapassando 50% em


alguns casos.

Estado de conservação dos cacos


100%
90% 129
80%
70% 1212
1178 1321
60%
Erodido
50%
40% 818
30% Conservado
20% 1076
660 638
10%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfície ampla

No entanto, quando se avalia o estado de conservação pela


superfície pode-se ver uma tendência de erosão na face interna destes
vasilhames. Este comportamento é bastante interessante, pois pode
evidenciar uma marca de uso (Schiffer & Skibo, 1997) que flagraria o
uso como continente de bebida fermentada.

75

LVR - Academico_REV.indd 75 05/05/2017 14:36:17


Local da erosão em relação às faces
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40% Face externa
30%
Face interna
20%
10% Ambas as faces

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Superfície ampla

Projeção dos vasilhames: forma, altura e volume


As vasilhas cerâmicas pré-coloniais projetadas graficamente
totalizaram 228 formas e foram agrupadas de acordo com os seus
atributos morfológicos: compostos por 131 vasilhas no sítio Terra
Preta 1 (porção norte) e por 97 vasilhas no sítio Terra Preta 2 (porção
sul).

Os critérios estabelecidos para criar as classes foram a forma geral


do corpo do pote, a base e a borda, bem como a inclinação da parede.
Outros atributos, no entanto, também foram observados, mas não
são definidores de nenhuma classe, como a dimensão do pote e o tipo
de decoração.

Tipo 1
Refere-se aos 20 potes abertos projetados com contorno simples
em forma de segmento de esfera ou mesmo plano. Apresenta pouca
altura, ou mesmo nenhuma, sendo vasilhas bastante rasas.

Apresenta base plana ou arredondada, cada tipo com dez


exemplares. Para as bases planas, notou-se que há um ângulo que
marca o limite entre a base e a borda, pois não há uma porção do bojo
expressiva. Os demais exemplares apresentam ângulo mais suave,
com continuidade entre o corpo e a borda.

A borda é majoritariamente expandida e reforçada, quase formando


um flange. O lábio, arredondado na sua maioria.

76

LVR - Academico_REV.indd 76 05/05/2017 14:36:17


A decoração aparece na maioria dos potes, sendo que a decoração
mista é a mais significativa, com pouco menos que a metade da
amostra. Essa decoração apresenta tratamento inciso ou modelado e
pintura vermelha. Ocorre que cada tipo de decoração pode aparecer
sozinho: somente decoração plástica (incisão) ou decoração pintada
(vermelha, em geral). Existem alguns potes sem decoração, o que
pode ser fruto de processos pós-deposicionais, representam 20%
neste tipo. Cabe ainda dizer sobre a decoração que a incisão ocorre na
face interna do pote, na borda. Isto ressalta ainda mais essa porção do
pote. Os traços largos sugerem a existência de um padrão associado à
Tradição Borda Incisa.

Tipo 1 - Decoração
es
20% 20%

Sem decoração
Decoração pintada
Decoração mista
15%
Decoração plástica

45%

Estes potes apresentam abertura da boca média entre 40 e 24 cm,


altura ultrapassa pouco os 5 cm, e o volume não chega aos 2,50 L.
Com o auxílio do gráfico, pode-se notar que o diâmetro da boca pode
atingir grandes dimensões, no entanto, a altura é baixa. São potes
mais largos que altos, de pequena litragem.

Tipo 1 - Dimensões
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
3292. 277. 497. 3960. 5718. 5263. 5484. 4902. 4873. 6349. 4882. 5450. 4843. 4012. 1978. 2667. 1170. 1788. 5190. 1181.
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

77

LVR - Academico_REV.indd 77 05/05/2017 14:36:18


Podem-se notar peças menores (nº 1.978, 277, 2.667), mas com as
mesmas feições, que foram incluídas nesta categoria, as dimensões
estão entre 10 e 18 cm de diâmetro, não chegando a 5 cm de altura
e volume de até 130 ml. E ainda uma miniatura (nº 3.292) cujas
dimensões são: 3 cm de diâmetro máximo e 0,4 cm de altura, sendo o
volume inexpressivo.

A forma geral deste tipo de pote sugere uso como “assador” –


utilizado ao fogo para a cocção da farinha – ou mesmo como “prato”
– utilizado para servir alimentos sólidos para certa quantidade de
pessoas. A presença da pintura pode indicar o uso como “prato”, já que
uso ao fogo desgastaria rapidamente a decoração. As peças pequenas
poderiam ser usadas como pratos individuais.

Tipo 1. Acima: Terra Preta 1; abaixo, Terra Preta 2.

78

LVR - Academico_REV.indd 78 05/05/2017 14:36:18


Sítio Terra Preta 1, nº 3.292, Unidade 3,
pequena peça do tipo 1, com decoração
incisa fina, pintura vermelha no lábio.

Tipo 2
Neste tipo foram incluídos 79 potes abertos projetados que
aparentam corpo com contorno simples em forma de meia-calota,
ovoide horizontal ou vertical. A borda é inclinada externa, base
arredondada.

A ausência de decoração é majoritária, sendo em seguida mais


frequente a decoração plástica e a decoração mista (envolvendo
pintura e alteração na superfície), por fim pode-se notar a decoração
pintada.

Tipo 2 - Decoração

26%

Sem decoração
42%
Decoração pintada

Decoração mista

Decoração plástica
21%

12%

O diâmetro da borda vai desde 7 a 46 cm, no entanto, a altura está


entre 4 e 20 cm, e o volume máximo é de 15 L.

A forma geral deste tipo de pote sugere uso como “prato” – utilizado

79

LVR - Academico_REV.indd 79 05/05/2017 14:36:18


Tipo 2 - Dimensões
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
76.
629
5543

527.
441.
352.

468.

982.
4895.

5556.

6191.
4874.

6260.
3891.
5723.
1736.
1489.
2227.
5086.
1544.
2082.
1702.
2480.
2433.
2082.

1015.
1182.
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

para servir certa quantidade de pessoas com alimentos sólidos – ou


“tigela” – utilizada para consumo individual, tanto para sólidos quanto
para caldos e mingaus.

80

LVR - Academico_REV.indd 80 05/05/2017 14:36:18


Tipo 3

Potes abertos, de contorno simples e forma elíptica vertical ou


horizontal, ou levemente globular. A borda é levemente inclinada
externamente e acompanha, em geral, extroversão da borda. A base é
arredondada, em todos os casos.

A maior parte dos potes não apresenta decoração nenhuma,


seguido da decoração mista, com estabilidade entre os tipos aparecem
tanto a decoração pintada quanto a plástica.

Tipo 3 - Decoração

17%

Sem decoração

45% Decoração pintada

Decoração mista
24%
Decoração plástica

14%

As dimensões dos objetos variam. O diâmetro máximo, localizado


na borda destes vasilhames, estão entre 12 e 46 cm, a altura varia
entre 10 e 25 cm, e o volume pode chegar a 20 L.

Tipo 3 - Dimensão
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
137.
5378.
4883.
5827.
5590.
6078.
4232.
6319.
6315.
5893.
4062.
5810.
4059.
4064.
6066.

3017.
1683.
2657.
1974.
1767.
1919.
2828.
2659.
1869.
1472.
1536.
2352.
1882.
2121.

Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

81

LVR - Academico_REV.indd 81 05/05/2017 14:36:18


Os maiores exemplares devem ter sido utilizados ao fogo para a
cocção de alimentos, isto porque a abertura da boca fornece acesso
ao interior do pote. As formas menores, no entanto, devem ter sido
utilizadas para consumo individual.

Em todos, aparece uma pequena extroversão da borda, que se


inclina externamente formando um pequeno gargalo. Este gargalo
pode, potencialmente, criar uma área de preensão para maior
segurança no manuseio do pote com as mãos, se a panela não estiver
quente. E ainda cria possibilidade de preensão através de uma corda
amarrada no gargalo, útil para manuseio do vasilhame ainda quente.

82

LVR - Academico_REV.indd 82 05/05/2017 14:36:19


Tipo 4
Potes com contorno composto formado por carena na porção do
bojo médio ou superior, que pode ter um ângulo menor que 90° a
135°. Assim, podem ser levemente abertas ou fechadas. Em todo caso,
o diâmetro da borda é pouco menor ou igual ao diâmetro máximo,
localizado na proximidade da boca do vasilhame. Essa forma de
produção, mais sofisticada é difícil pela criação do ângulo abrupto no
vasilhame, fez com que fosse agrupada em um tipo específico.

Somam 16 exemplares e apresentam, além de contorno composto,


corpo inferior convexo invertido e o corpo superior à carena é reto ou
côncavo. A base é em sua totalidade arredondada. A borda apresenta
reforço externo ou direto. O lábio é majoritariamente arredondado.

A decoração mista predomina: majoritariamente aparece a incisão,


seguida do escovado e ponteado, com algum resíduo de pintura. A
decoração pintada ou aquela com decoração plástica são expressivas,
sendo que a ausência de decoração é marginal.

Tipo 4 - Decoração
6%
19%

19%
Sem decoração

Decoração pintada

Decoração mista

Decoração plástica

56%

As dimensões incluem o diâmetro entre 10 e 38 cm, altura entre 5 e


15 cm e volume não atinge 5 L.

Cabe dizer que esta forma é exclusiva da porção norte da área


escavada (sítio Terra Preta 1), em geral associada às estruturas

83

LVR - Academico_REV.indd 83 05/05/2017 14:36:19


Tipo 4 - Dimensões
40
35
30
25
20
15
10
5
0
4049. 896. 4052. 4233. 413. 513. 4463. 3823. 4652. 4677. 4258. 619. 3964. 4079. 4074. 4084.
Terra Preta 1

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

escavadas. Tal particularidade pode estar relacionada à atividade


específica, talvez ritualística.

Sítio Terra Preta 1, Peça 4.052, Unidade 3, Sítio Terra Preta 1, peça 413, 360S-960L
decoração ponteada com pintura vermelha (B), nível entre 130 e 140 cm, borda com
vestigial. decoração modelada, aplicada, incisa e
ponteada, além de pintura vermelha vestigial.

84

LVR - Academico_REV.indd 84 05/05/2017 14:36:19


Tipo 5
Potes de contorno simples e forma do corpo ovoide horizontal
ou vertical, com inclinação da borda tendendo à vertical. A base é
arredondada e a borda é, em geral, direta.

A decoração é majoritariamente pintada, seguida pela ausência de


decoração e pela decoração mista, por fim aparecem fragmentos com
decoração plástica.

Tipo 5 - Decoração

15%
24%

Sem decoração

Decoração pintada

24% Decoração mista

Decoração plástica

36%

Os potes projetados apresentam diâmetro da borda entre 4 e 24


cm e altura entre 2, 6 e 12 cm. O volume pode chegar a 2,5 L.

Tipo 5 -Dimensões
30

25

20

15

10

0
24.
4674

521.
3657

662.
470.

532.
421.

617.

709.
5184
4033.
3827.
6358.

5640.

5321.

5562.

3707.
5595.

5594.

4275.

1529.
2576.
2929.
2413.
1023.
2439.
3096.
3005.
2882.
5246.
1967.
4946.

Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

O uso destes vasilhames pode ser para servir individualmente,


tanto bebidas quanto alimentos sólidos.

85

LVR - Academico_REV.indd 85 05/05/2017 14:36:19


Tipo 6
Trata-se de potes projetados que apresentam o contorno do corpo
simples, com formato esférico horizontal ou globular. A inclinação da
borda é levemente fechada ou fechada. Na quase totalidade, a borda
é direta e a base arredondada.

86

LVR - Academico_REV.indd 86 05/05/2017 14:36:19


A ausência de decoração é majoritária, com mais de 50% da
amostra, a outra metade divide-se quase igualmente entre decoração
mista, pintada e plástica.

Tipo 6 - Decoração

16%

Sem decoração

Decoração pintada

19% 51%
Decoração mista

Decoração plástica

14%

As vasilhas podem apresentar grandes dimensões, entre 5 e 46 cm


de borda, altura entre 5 e 25 cm, sendo que o volume pode alcançar
24 L.

Tipo 6 - Dimensões
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
6286.
5972.

4847.
6178.
5889.
3933.
6287.
5439.
6165.
4541.

5592.
5465.

4259.
4017.
6267.
2841.
5240.
2972.
1807.
1863.
2729.
1734.
1723.

1165.
2186.
2277.
2982.
1602.
5084.
5096.
2367.
2158.
1674.
630.

986.
6268

186

Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

Tais vasilhames podem ser úteis para a cocção de alimentos,


principalmente os maiores vasilhames. Os menores devem ter sido
utilizados para o consumo individual. A morfologia sugere que os
maiores exemplares devem ter sido utilizados ao fogo para a cocção
de alimentos, isto porque a abertura da boca fornece maior facilidade
de acesso ao interior do pote. As formas menores, no entanto, devem
ter sido utilizadas para consumo individual de substâncias específicas.

87

LVR - Academico_REV.indd 87 05/05/2017 14:36:20


TIPO 6: Porção Sul (Terra Preta 2).

Tipo 7
Foram reunidos neste tipo, grupos distintos formados por
fragmentos do sítio Terra Preta 1 e sítio Terra Preta 2.

88

LVR - Academico_REV.indd 88 05/05/2017 14:36:20


Tipo 7 - Decoração
9%

36%
Sem decoração

Decoração pintada

Decoração mista

55%

Tipo 7 - Dimensões
30

25

20

15

10

0
3390. 606. 3466. 932. 253. 4098. 2379. 1719. 2962. 941. 2932.
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Diâmetro Altura (cm) Volume (L)

Cruzamento de dados: análise horizontal


Para avançar nesta análise descritiva, é necessário que se retomem
os aspectos fundamentais apresentados até agora.

Em geral, pode-se notar que há uma estabilidade entre os dados


descritivos deste conjunto de material analisado, seja na porção norte
da escavação (sítio Terra Preta 1) seja na porção sul (sítio Terra Preta
2), independente da forma de intervenção (malha sistemática ou
sondagens amplas).

Pode-se dizer que a categoria mais frequente é a parede, como é


esperado, na medida em que esta é a maior porção de um pote.

A técnica de produção mais utilizada é o acordelado para ambas

89

LVR - Academico_REV.indd 89 05/05/2017 14:36:20


as áreas, sendo que chama a atenção a quantidade de fragmentos
modelados na porção sul (sítio Terra Preta 2).

Sobre os elementos inseridos na pasta, há também uma constância


entre as porções do sítio e a forma de escavação. Em relação aos tipos
de elementos a maior frequência é de cauixi, seguido pela combinação
entre cauixi e caco moído. A granulometria também é compartilhada.
A tendência está no uso de grãos em torno de 1 mm (quase 2/3 da
amostra), seguido dos grãos em torno de 2 mm. A inclusão de grãos
maiores que 3 mm é quase nula.

A queima é também bastante semelhante. Em geral, os fragmentos


apresentam-se totalmente reduzidos ou totalmente oxidados.

Em relação ao tratamento de superfície, pode-se notar uma


predominância de fragmentos com alisamento. Chama a atenção
a maior concentração de cacos polidos e com presença de engobo
branco dominante na porção norte (sítio Terra Preta 1).

Sobre as técnicas decorativas, é importante dizer que há uma


pequena distinção. Na porção norte da área de escavação (sítio Terra
Preta 1) é mais frequente a ocorrência de cacos com presença de
decoração plástica, principalmente a incisão. Em relação à decoração
pintada, a maior concentração de fragmentos com bicromia e tricromia
também aparece na porção norte.

Na porção sul da área escavada (sítio Terra Preta 2) há maior


ocorrência de fragmentos sem decoração. Dentre os tipos com
decoração plástica são mais comuns os modelados, enquanto é mais
comum a monocromia dentre os tipos pintados e engobo vermelho.

O tipo geral de borda é compartilhado – borda direta –, no entanto,


há uma leve tendência de concentração de bordas expandidas na
porção norte da escavação (sítio Terra Preta 1) enquanto na porção
sul (sítio Terra Preta 2) aparecem proporcionalmente mais as bordas
reforçadas. Quanto à inclinação das bordas, há uma tendência
compartilhada em haver maior frequência de bordas verticais, seguida
daquelas com inclinação externa. O diâmetro da borda também é
constante, estando entre 11 e 20 cm em sua maioria; e entre 21 e 30
cm. O lábio mais frequente é o arredondado seguido do lábio plano.

A morfologia da base, como tendência geral, é plana. No entanto,


pode-se ver uma leve tendência em um aumento proporcional de base
em pedestal para a porção norte da escavação (sítio Terra Preta 1) e
de maior frequência de base anelar para a porção sul (sítio Terra Preta
2). O diâmetro da base apresenta dessemelhanças. Na porção norte
é mais frequente a presença de fragmentos com diâmetro menor

90

LVR - Academico_REV.indd 90 05/05/2017 14:36:20


que 10 cm, enquanto que na porção sul é mais usual a presença de
fragmentos maiores que 20 cm.

As marcas de produção mais comuns, para ambas as séries de


dados, são os roletes; e o uso mais frequente parece estar associado à
fermentação de bebidas.

De posse destas frequências gerais foram realizados alguns


cruzamentos de dados que pareceram revelar algumas tendências ou
padrões.

Os elementos associados à pasta (antiplásticos ou temperos) bem


como os elementos decorativos são importantes, pois foram atributos
utilizados em todas as análises cerâmicas realizadas anteriormente,
principalmente pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas
(PRONAPA).

Para avaliar tendências, foram escolhidos os dois tipos de tempero


mais populares no sítio (cauixi e a combinação cauixi e caco moído),
relacionados com os tipos de cacos segundo a decoração (ausência
de decoração, decoração plástica e pintada). Com este cruzamento,
pode-se notar uma leve preferência da decoração plástica associada
ao tempero de cauixi; enquanto a decoração pintada aparece mais
expressiva na associação entre o cauixi e o caco moído.

Tipo de carga e presença e ausência decorativa

Cauixi
Preta 1
Malha sistemática

Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Preta 2
Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Sondagens amplas

Preta 1
Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Preta 2
Terra

Cauixi + caco moído

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Sem decoração Decoração plástica Decoração pintada

A leve diferença encontrada em relação à decoração estimulou a


busca por novas diferenças através de cruzamentos estatísticos.

Para tanto, iniciou-se com a interdigitação dos dados sobre tipo de

91

LVR - Academico_REV.indd 91 05/05/2017 14:36:20


tempero (ainda levando em consideração os dois mais populares) e o
tipo de tratamento dado à superfície (alisamento, polimento, barbotina
e engobo).

Pode-se notar nos gráficos produzidos, uma leve tendência para a


amostra exumada na porção norte da escavação (sítio Terra Preta 1). Há
uma preferência, mesmo que leve, na combinação entre tempero de
cauixi e o tratamento de superfície alisado ou com engobo. Enquanto
que o tempero composto por associação entre o cauixi e o caco moído
parece ter mais tendência a aparecer combinado ao tratamento polido
e a barbotina. Na porção sul da área escavada (sítio Terra Preta 2) essa
tendência se perde.

Cargas x tratamento de superfície

Cauixi
Sondagens amplas Malha sistemática

Preta 1
Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Preta 2
Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Preta 1
Terra

Cauixi + caco moído

Cauixi
Preta 2
Terra

Cauixi + caco moído

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Alisado Polido Barbotina Engobo

Para comparar a morfologia das bordas, já que há uma tendência de


semelhanças, buscou-se dois cruzamentos: tipo de borda x inclinação
da borda e tipo de borda x diâmetro.

Para tanto, esses critérios foram inicialmente cruzados respeitando


a diferença entre o tipo de intervenção (malha sistemática e
sondagens ampla) e a área da escavação (sítios Terra Preta 1 e Terra
Preta 2). No entanto, estas informações foram reunidas em cada sítio,
independente da forma de escavação (malha sistemática e superfícies
ampla). O interesse aqui é verificar tendências (seja aproximada ou
divergente) para o material cerâmico em questão.

A porção norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) reúne 109


bordas nas quais foi possível tomar a forma e a inclinação. Pode-

92

LVR - Academico_REV.indd 92 05/05/2017 14:36:20


se notar a maior presença de borda direta; as demais são estáveis
(reforçada, extrovertida e expandida). A tendência mais nítida é a
ausência da borda extrovertida associada à inclinação interna.

A porção sul da escavação (sítio Terra Preta 2) apresenta 128 cacos


nos quais foram medidas a forma e a inclinação. Os tipos de borda
direta e extrovertida são os mais populares e apresentam todos os
tipos de inclinação.

Inclinação x Morfologia de borda


100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Inclinada Vertical Inclinada Inclinada Vertical Inclinada Inclinada Vertical Inclinada Inclinada Vertical Inclinada
interna externa interna externa interna externa interna externa
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Sondagens amplas

Direta Reforçada Extrovertida Expandida

Quando se cruza o tipo de borda e o diâmetro da borda pode-se


notar inicialmente uma tendência semelhante na maior concentração
de cacos entre 11 e 20 cm de abertura, seguido pelas vasilhas que
apresentam diâmetro entre 21 e 30 cm. Deve-se notar ainda que é na
porção norte (sítio Terra Preta 1) onde ocorre grande quantidade de
vasilhas com os maiores e menores diâmetros.

Na porção norte da escavação (sítio Terra Preta 1) pode-se notar a


constância da borda direta para todas as faixas de diâmetro escolhidas,
o que ocorre em menor proporção para a borda expandida. As bordas
com reforço tendem a aparecer associadas aos menores diâmetros,
enquanto a borda extrovertida aparece com os maiores diâmetros.

Na porção sul da escavação (sítio Terra Preta 2) as bordas reforçadas


e extrovertidas aparecem associadas a todos os diâmetros propostos.
À borda reforçada estão relacionados os maiores diâmetros, bem
como a borda extrovertida.

93

LVR - Academico_REV.indd 93 05/05/2017 14:36:20


Tipo de borda e diâmetro
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Reforçada

Expandida

Reforçada

Expandida

Reforçada

Expandida

Reforçada

Expandida
Extrovertida

Extrovertida

Extrovertida

Extrovertida
Direta

Direta

Direta

Direta
Terra Preta 1 Terra Preta 2 Terra Preta 1 Terra Preta 2
Malha sistemática Sondagens amplas

Mais de 41 cm Entre 31 e 40 cm Entre 21 e 30 cm entre 11 e 20 cm Menor 10 cm

Sobre os tipos de pote no espaço percebem-se algumas semelhanças


e diferenças. Pode-se notar, inicialmente a ausência do tipo 4 no sítio
Terra Preta 2, na porção sul da área escavada; ao mesmo tempo
vale ressaltar que o tipo 7 também difere entre si. Os demais tipos
são bastante estáveis nas duas séries, tanto a norte quanto a sul da
escavação (respectivamente, sítio Terra Preta 1 e sítio Terra Preta 2). A
não ser pelo leve aumento do tipo 6 na porção sul.

Tipo de pote x sítio


40%

35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Tipo 6 Tipo 7

94

LVR - Academico_REV.indd 94 05/05/2017 14:36:20


Quando se observa a capacidade dos vasilhames percebe-se que a
totalidade dos potes maiores que 10 L se localiza exclusivamente no
sítio Terra Preta 1.

Capacidade volumétrica dos recipientes


70%
63%
60% 56%

50%

40% 35%

30%
23%
20%

8% 7% 9%
10%

0%
0%
Terra Preta 1 Terra Preta 2

até 1,9 litro entre 2 e 5,9 litros entre 6 e 9,9 litros entre 10 até 24 litros

Quando os potes são colocados no espaço horizontal do sítio,


percebe-se a grande quantidade de vasilhas produzidas e seus tipos.

95

LVR - Academico_REV.indd 95 05/05/2017 14:36:21


Em comum percebe-se uma grande quantidade de potes projetados
nas porções marginais. Essa situação ocorre tanto ao norte da porção
norte da área escavada (sítio Terra Preta 1), quanto ao sul da porção
sul (sítio Terra Preta 2).

Cruzamento de dados: análise vertical


Quando se observa o material cerâmico em sua distribuição pelos
níveis artificiais escavados, pode-se notar que acompanha o pacote
de terra preta antropogênica. A diferença de deposição pode ter
diversos fatores. Pode se tratar de uma ocupação contemporânea
que tenha utilizado o espaço de forma diferente, com distintas áreas
de atividades. Pode também ser resultado de ocupações diferentes,
que tenham comportamento social distinto ou que tenham habitado o
local por tempo e duração diferentes, gerando como correlato pacote
com espessura também diferente.

Pode-se notar uma mesma tendência na porção norte da área


escavada (sítio Terra Preta 1) independente da forma de intervenção.
O material está distribuído até 180 cm de profundidade, sendo que
não chega a 15% de concentração em um mesmo nível.

Quando se observa a porção sul da área escavada (sítio Terra Preta


2) nota-se uma maior concentração nos níveis superiores, chegando a

96

LVR - Academico_REV.indd 96 05/05/2017 14:36:21


90 cm de profundidade, independente da forma de escavação. Nesta
região, a concentração de material cerâmico por nível chega a quase
30%, entre os níveis 0 a 30 cm.

Nível artificial - Terra Preta 1


Superfície

0 a 10 cm

10 a 20 cm

20 a 30 cm

30 a 40 cm

40 a 50 cm

50 a 60 cm

60 a 70 cm

70 a 80 cm

80 a 90 cm

90 a 100 cm

100 a 110 cm

110 a 120 cm

120 a 130 cm

130 a 140 cm

140 a 150 cm

150 a 160 cm

160 a 170 cm

170 a 180 cm

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Malha sistemática Terra Preta 1 Sondagens amplas Terra Preta 1

Nível artificial - Terra Preta 2

Superfície

0 a 10 cm

10 a 20 cm

20 a 30 cm

30 a 40 cm

40 a 50 cm

50 a 60 cm

60 a 70 cm

70 a 80 cm

80 a 90 cm

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Malha sistemática Terra Preta 2 Sondagens amplas Terra Preta 2

97

LVR - Academico_REV.indd 97 05/05/2017 14:36:21


Para que se possa observar o comportamento dos tipos decorados
(plástico ou pintado) em relação aos níveis artificiais, utilizaram-se
somente os dados oriundos das sondagens ampliadas, tanto do sítio
Terra Preta 1 quanto do sítio Terra Preta 2.

Pode-se notar uma interdigitação dos dados no que toca a esta


distribuição em profundidade.

O gráfico resultante da análise do material na porção norte da


área de escavação (sítio Terra Preta 1) demonstra que a decoração
pintada cria uma leve parábola: inicia, nos níveis mais profundos,
com bastante expressão – chegando a alcançar 50% dentre o material
decorado. Alcança picos de mais de 50% de ocorrência entre 110 e 60
cm de profundidade, quando começa a declinar – não alcançando 35%
do material.

Nos níveis superiores, entre 60 cm de profundidade e a superfície


atual, os gráficos apresentam a mesma tendência de maior
concentração de fragmentos com decoração plástica. De fato, a
porção sul da área escavada (sítio Terra Preta 2) apresenta de forma
mais clara esta preferência pela decoração plástica. Nesta área, em
média 30% do material de cada nível é composto por vestígios com
decoração plástica, talvez pela maior popularidade de material com
atributos Konduri.

Este comportamento assemelhado, interdigitado, leva a sugerir


que as diferentes áreas onde foi realizado o resgate pertençam a
uma mesma ocupação pretérita, e talvez representem momentos
diferentes na história de vida destas sociedades. Pode ser ainda
que tais caracteres demonstrem áreas de atividades diferentes em
momentos diferentes da vida comunitária lá estabelecida, restrito a
uma única ocupação.

Terra Preta 1: Nível x decoração


0 a 10 cm
10 a 20 cm
20 a 30 cm
30 a 40 cm
40 a 50 cm
50 a 60cm
60 a 70 cm
70 a 80cm
80 a 90 cm
90 a 100cm
100 a 110 cm
110 a 120cm
120 a 130 cm
130 a 140cm
140 a 150 cm
150 a 160cm
160 a 170 cm
170 a 180cm

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Sem decoração Decoração plástica Decoração pintada

98

LVR - Academico_REV.indd 98 05/05/2017 14:36:21


Terra Preta 2: Nível x decoração

0 a 10 cm

10 a 20cm

20 a 30 cm

30 a 40cm

40 a 50 cm

50 a 60cm

60 a 70 cm

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Sem decoração Decoração plástica Decoração pintada

Na porção norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) pode-se ver


uma parábola clara com o uso inicial de tempero composto por cauixi
associado ao caco moído, nos níveis mais profundos; há o aumento
gradual até chegar ao auge de sua porcentagem entre 60 e 30 cm de
profundidade, decaindo nos níveis mais superficiais.

Na porção sul da escavação (sítio Terra Preta 2) nota-se uma


constância estável para o uso de tempero em profundidade. Pode-se
ver que, em geral, o material com caco moído associado ao cauixi é
mais popular.

Terra Preta 1 - Nível x Carga


0 a 10 cm

10 a 20cm

20 a 30 cm

30 a 40cm

40 a 50 cm

50 a 60cm

60 a 70 cm

70 a 80cm

80 a 90 cm

90 a 100cm

100 a 110 cm

110 a 120cm

120 a 130 cm

130 a 140cm

140 a 150 cm

150 a 160cm

0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0% 18,0% 20,0%

Cauixi Cauixi + caco moído

99

LVR - Academico_REV.indd 99 05/05/2017 14:36:21


Terra Preta 2 - Nível x carga
0 a 10 cm

10 a 20cm

20 a 30 cm

30 a 40cm

40 a 50 cm

50 a 60cm

60 a 70 cm

70 a 80cm

80 a 90 cm

90 a 100cm

100 a 110 cm

110 a 120cm

120 a 130 cm

130 a 140cm

140 a 150 cm

150 a 160 cm

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0%

Cauixi Cauixi + caco moído

Análise química da cerâmica1


Foram selecionadas oito amostras de cerâmica em dois pontos de
amostragem nas linhas 1200S/360L (sítio Terra Preta 2) e 300S/960L
(sítio Terra Preta 1). As amostras selecionadas compunham diferentes
categorias da cerâmica: borda, base, parede e fragmento com pintura.
As amostras foram pulverizadas em grau de ágata.

Após a pulverização das amostras foram misturados 5 g de


massa da cerâmica a 100 ml de solução extratora Mellich (HCl
0,05N+H2SO4 0,025N), colocada em agitador horizontal circular
durante trinta minutos, e colocada em repouso por uma noite. Houve
a determinação de teores de macroelementos (P, Ca, Mg, K) e de teores
de microelementos (Fe, Mn, Cu, Zn).

Os extratos das amostras foram filtrados e colocados em


recipiente devidamente esterilizado. A sequência foi transferir 5 ml
da solução para um Becker de 50 ml (se diluída, em Becker de 100
ml); adicionar 10 ml de solução de molibidato de amônio e uma
pitada de ácido ascórbico (vitamina C) em pó; agitar e desenvolver
coloração azul por aproximadamente quarenta e cinco minutos; ligar
o espectrofotômetro com trinta minutos de antecedência; aferir entre
0 e 100 de transmitância usando respectivamente a cubeta preta e o
material obtido na prova em branco (que leva todos os elementos da
solução a ser lida, exceto a solução extraída da cerâmica) na frequência
de 660 nm ou usando filtro vermelho (efetuar a leitura com os padrões
1, 2, 3 e 4 de P em mg/kg). Efetuou-se a leitura das amostras tendo-se
o cuidado de lavar com a própria solução a estrutura antes de colocá-
la no aparelho.
1 Texto produzido por Dirse Kern e Sabrina Souza.

100

LVR - Academico_REV.indd 100 05/05/2017 14:36:21


Extração de sódio (Na) e potássio (K)
Fotometria de chama. A solução é colocada em combustão pelo
aparelho onde sofre um processo de fluxo turbulento ou consumo
total (a solução é colocada em combustão e será medida de acordo
com os padrões estabelecidos posteriormente). Sendo zerada e
purificada com água deionizada a cada nova medida (mudança de
solução a ser medida).

Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg)


Colocar 2,5 g de massa da cerâmica, em erlenmeyer de 250 ml
e adicionar 100 ml de KCl N ph7; agitar durante trinta minutos em
agitador, retirar o erlenmeyer do agitador e deixar em repouso por
uma noite; e depois coar a solução.

Resultados alcançados

Macroelementos (P, Ca, Mg, Na, K)


Os resultados de fósforo disponíveis nas amostras de cerâmica
pertencentes ao sítio Terra Preta 2, revelou teores de 7428 mg/kg na
parede, 2778 mg/kg na base e apenas 1153 mg/kg na borda. Enquanto
que nas amostras do sítio Terra Preta 1, a categoria parede apresentou
teores de 3525 mg/kg de P disponível, na borda os teores chegaram a
1752 mg/kg e na base observou-se a concentração mais elevada com
5594 mg/kg.

Teor de Fósforo disponível


8000

7000

6000

5000
mg/kg

4000

3000

2000

1000

0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Os gráficos dos teores de cálcio e magnésio apresentam curvas


semelhantes, indicando uma relação diretamente proporcional entre

101

LVR - Academico_REV.indd 101 05/05/2017 14:36:21


eles. No sítio Terra Preta 2, a base apresentou teores muito elevados
com 624 mg/kg para cálcio e 71 mg/kg para magnésio. Para o sítio Terra
Preta 1 foram obtidos resultados apenas no fragmento de borda com
332 mg/kg de cálcio e 36 mg/kg de magnésio. As categorias parede e
base não foram analisadas, pois a massa foi insuficiente para realizar
estas análises.

Teor de cálcio trocável Teor de magnésio trocável


700 80

70
600
60
500
50

400 40

30
300
20
200
10
100 0
Borda Borda Bojo Base
0
Terra Preta 1 Terra Preta 2
Borda Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Os teores de sódio para o sítio TP2, foram de 17 mg/kg na parede,


23 mg/kg na base e 22 mg/kg na borda, esses resultados mostram que
para o elemento sódio as diferenças não foram significativas entre as
categorias analisadas. Já no sítio Terra Preta1, a maior concentração
deste elemento com teores de 47 mg/kg foi obtida no fragmento de
base, na borda foi de 37 mg/kg e 30 mg/kg no fragmento de parede.

Teor de sódio trocável


50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

102

LVR - Academico_REV.indd 102 05/05/2017 14:36:22


Quanto às concentrações do elemento potássio, o sítio Terra Preta
2 apresentou 14 mg/kg na parede, 22 mg/kg na base e 20 mg/kg na
borda. Enquanto que no sítio Terra Preta 1 os teores mais elevados
desse elemento foram obtidos na base (46 mg/kg), decrescendo no
fragmento de parede com 33 mg/kg e 24 mg/kg na borda.

Teor de potássio trocável


50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

Microelementos (Zn, Cu, Fe e Mn)


Na cerâmica do sítio Terra Preta 2, os teores de zinco apresentaram
as seguintes concentrações: 48 mg/kg na parede, 44 mg/kg na base
e 35 mg/kg na borda. Enquanto na cerâmica do sítio Terra Preta 1, o
teor mais elevado ocorreu na base, com 60 mg/kg, decrescendo para
43 mg/kg na parede e 40 mg/kg na base.

Teor de zinco disponível


70

60

50

40

30

20

10

0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

103

LVR - Academico_REV.indd 103 05/05/2017 14:36:22


O elemento cobre, dentre os elementos analisados, foi o que apresentou
os menores teores na cerâmica dos sítios estudados, exceto no fragmento
de base do sítio Terra Preta 1, onde apresentou 23 mg/kg.

Teor de cobre disponível


25

20

15

10

0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

O elemento ferro apresentou concentrações mais elevadas no sítio


Terra Preta 1, estando na base os maiores teores (45 mg/kg). Enquanto
que no sítio Terra Preta 2 o teor mais elevado foi de 24 mg/kg na parede.

Teor de ferro disponível


50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

O manganês na cerâmica do sítio Terra Preta 2, foi mais elevado na


parede com 23 mg/kg e menos elevado na base (10 mg/kg). Enquanto
que no sítio Terra Preta 1 a base foi o tipo de fragmento com maior

104

LVR - Academico_REV.indd 104 05/05/2017 14:36:22


concentração de manganês (24 mg/kg) e a parede apresentou a menor
concentração, de apenas 12 mg/kg.

Teor de manganês disponível


30

25

20

15

10

0
Borda Bojo Base Borda Bojo Base
Terra Preta 1 Terra Preta 2

A categoria base foi a que apresentou as concentrações mais elevadas


em macroelementos (cálcio, magnésio, sódio e potássio), nos dois sítios
estudados. Enquanto que os teores de fósforo foram mais elevados nos
fragmentos de parede do sítio Terra Preta 2, e nos fragmentos base do
sítio Terra Preta 1.

Os microelementos (zinco, cobre, ferro e manganês) estavam mais


concentrados nos fragmentos de parede, no sítio Terra Preta 2 e nos
fragmentos de base do sítio Terra Preta 1.

105

LVR - Academico_REV.indd 105 05/05/2017 14:36:22


LVR - Academico_REV.indd 106 05/05/2017 14:36:22
Capítulo 5

Considerações*

Os resultados da pesquisa arqueológica desenvolvida pela Scientia


Consultoria para o empreendimento da Alcoa incluem a identificação
e cadastro de 79 sítios arqueológicos junto ao Iphan, escavação dos
sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2, mais análise laboratorial dos
vestígios resgatados (SCIENTIA, 2008).

A problemática de campo que mobilizou as escavações dos sítios


Terra Preta 1 e Terra Preta 2 foi a de entender os limites das áreas
de concentração de material arqueológico e de terra preta. Por
esse motivo, toda a extensão de terra entre eles também foi alvo de
intervenções arqueológicas, do tipo malha sistemática, em uma área
de quase 500.000 m². As análises geoquímicas do solo, somadas às
análises da cultura material, especialmente da cerâmica, geraram
frutos interessantes, que retomaremos brevemente.

A maior concentração de cerâmica está associada à maior


concentração de terra preta, nas áreas da barranca do rio Amazonas,
que foram nomeadas de sítio Terra Preta 1 e sítio Terra Preta 2; a terra
mulata não aparece combinada a nenhum material arqueológico. O
que chamou a atenção foi uma área de terra preta mais a leste que não
apresenta nenhum vestígio material associado; e poderia funcionar
como área de refugo de material orgânico (COSTA et al, 2013: figura
4). Os diferentes teores dos elementos analisados pela geoquímica do
solo podem ser observados através de microvestígios evidenciados
pela técnica da flotação.
* Texto de autoria de Lílian Panachuk.

LVR - Academico_REV.indd 107 05/05/2017 14:36:22


A porção norte da área escavada (sítio Terra Preta 1) reúne maior
quantidade de vestígios materias que a porção sul (sítio Terra Preta 2),
sendo o pacote arqueológico também mais espesso ao norte que ao
sul, em ambos os casos com presença de terra preta. A distribuição do
material arqueológico em profundidade é semelhante entre as áreas
de escavação no que tange à ausência de lapso de material, como
ocorre também no sítio Boa Vista (GUAPINDAIA, 2008; NEVES et al,
2014). Essa continuidade de material implicaria em continuidade de
ocupação?

Em ambos os sítios se nota que o primeiro momento de ocupação,


cerca de 170 cm de profundidade, no sítio Terra Preta 1, apresenta
material com características da fase Pocó, ou Tradição Pocó-Açutuba
(Neves et al, 2014), com presença de policromia associada aos estratos
mais profundos e de terra preta. Esse material mantém-se presente
até os níveis mais superficiais, como também ocorre no sítio Cipoal do
Araticum (GUAPINDAIA, 2008; NEVES et al, 2014).

Esses dois aspectos contribuem para incrementar as questões


associadas ao material Pocó, na medida em que se diferenciam dos
dados apontados por Hilbert (1955) e Hilbert e Hilbert (1980), nos
quais o material Pocó estava localizado somente nos estratos mais
profundos, separados do material Konduri.

Para explicitar a problemática esboçada, o material cerâmico e o


solo serviram de alicerce para os estudos e foram avaliados segundo
correlatos materiais que definem cada uma das tradições e estilos
existentes na região do Baixo Amazonas. O material cerâmico, analisado
pela arqueóloga Ana Lúcia Machado, foi entendido como fruto de uma
mistura entre diferentes tradições arqueológicas cerâmicas, sendo o
material Konduri mais popular ao sul da área escavada (sítio Terra
Preta 2) e o material Pocó mais numeroso na porção norte (sítio Terra
Preta 1).

Diferentes "fases"

Konduri 16%
60%

Pocó 60%
12%

Pocó e Konduri 14%


16%

Globular 8%
7%

Santarém 2%
5%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

Terra Preta 1 Terra Preta 2

108

LVR - Academico_REV.indd 108 05/05/2017 14:36:23


Diferentes "fases" por nível, Terra Preta 1

0-10cm 10 10 6 6 1

10-20cm 12 25 15 4

20-30cm 22 49 16 5 3

30-40cm 28 87 24 8

40-50cm 21 56 13 5

50-60cm 17 70 7 6

60-70cm 9 20 9 3 1

70-80cm 12 45 13 1 2

80-90cm 3 37 3

90-100cm 6 19 6

100-110cm 2 30 4 2

110-120cm 5 26 3 1

120-130cm 3 16 3

130-140cm 2 28 2 1

140-150cm 2 11 1 1

150-160cm 10 1 1

160-170cm 16 1

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Konduri Pocó Pocó e Konduri Globular Santarém

Essa mistura pode ser vista entre os níveis, em cada sítio.

A análise dos gráficos parece apontar no sentido da predominância


Pocó nos níveis inferiores (sítio Terra Preta 1), chegando a 170 cm com
a presença de terra preta antropogênica.

Nos níveis intermediários (90 a 40 cm) parece haver uma confluência


entre o material Barrancoide e o Inciso Ponteado. Tratar-se-ia de
uma intrusão como foi notado para os cursos dos rios Trombetas e
Tapajós (HILBERT & HILBERT, 1980)? Ou seria uma área para se avaliar
mudanças e continuidades? O que significaria a presença de material
Pocó até os níveis mais superficiais, conforme também foi registrado
no rio Trombetas, no sítio Cipoal do Araticum (NEVES et al, 2014)?

109

LVR - Academico_REV.indd 109 05/05/2017 14:36:23


Diferentes "fases" por nível - Terra Preta 2
0-10cm 110 2 20 8 10

10-20cm 137 20 48 14 14

20-30cm 66 18 25 6 7

30-40cm 16 13 6 3 1

40-50cm 9 13 5 2 3

50-60cm 2 1 2 1

60-70cm

70-80cm 1

80-90cm 1 1

90-100cm

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Konduri Pocó Pocó e Konduri Globular Santarém

Observando-se os dados, pode-se notar que as datações mais


recentes, obtidas no mesmo nível (entre 20 e 30 cm), embora em áreas
distintas, são contemporâneas entre si (640 +- 50 AP e 690 +- 40 AP).
Assim, as diferentes áreas do sítio têm uma mesma janela temporal.

No entanto, outras duas datações contemporâneas entre si (1760


+- 40 AP; 1710 +- 50 AP) estão em níveis artificiais bastante diferentes
(30 a 60 cm; 120 a 130 cm), o que talvez indique perturbação.

Três datações absolutas se encaixam em semelhante lapso


temporal (1960 +- 40 AP; 2040 +- 40 AP; 2090 +- 50 AP) e semelhante
lapso estratigráfico (70 e 100 cm). Pode-se notar que as camadas
superiores apresentam as datas mais recentes, dando continuidade
temporal para este pacote.

Cabe notar que foi obtida uma datação bastante recuada (8140
+- 80 AP), sem nenhuma continuidade temporal com as demais, está
isolada. Essa amostra foi identificada na profundidade do pacote
ceramista entre 90 e 100 cm de profundidade; semelhante data foi
obtida no sítio Boa Vista (Guapindaia, 2008:171), entre 8170 e 7960 BP,
para o nível 130 cm.

A análise de solo mostra semelhança entre as áreas com


concentração de terra preta em ambos os locais. No entanto, no
sítio Terra Preta 1 aparece maior concentração de cálcio e fósforo
(que estaria relacionada aos microvestígios identificados: conchas e
quelônios) e no sítio Terra Preta 2 nota-se presença de manganês e
magnésio (associados aos vestígios vegetais identificados). A terra
no entorno, entendida como terra mulata, apresenta acréscimo de
carbono, que pode estar associado à melhoria do solo para o plantio.
A terra preta a leste, sem presença de cultura material, pode ter sido
usada como lixeira.

110

LVR - Academico_REV.indd 110 05/05/2017 14:36:23


Uma área tão extensa levanta questionamentos sobre a
contemporaneidade ou não das duas áreas inicialmente identificadas
como sítios Terra Preta 1 e Terra Preta 2, considerando-se que esses
locais foram ocupados no mesmo lapso temporal, entre os séculos XIII
e XIV, como indicam duas datações obtidas entre os níveis 20 a 30 cm.

111

LVR - Academico_REV.indd 111 05/05/2017 14:36:23


A identificação de quase oito dezenas de sítios arqueológicos na área
prospectada é em si uma importante contribuição para a arqueologia
da região, e se estudados, poderão ajudar a responder as questões
ainda inconclusas.

Os sítios escavados permitiram entrever novas formas de relação


entre o material Pocó e o Konduri, que ocorrem sem hiato do material.
As datas obtidas encontram-se no lapso temporal apontado para as
tradições arqueológicas, corroborando as datações próximas ao ano
100 d.C., a não ser pela data mais antiga. O estudo e apresentação dos
resultados tiveram como objetivo ampliar e alicerçar os conhecimentos
sobre as tradições, conectando-os aos resultados geoquímicos.

Trata-se do primeiro estudo mais exaustivo no município de Juruti,


aproximando a região, em termos arqueológicos, do que se encontrou
no rio Trombetas (Guapindaia, 2008), onde a Tradição Pocó-Açutuba
(Neves et al, 2014) antecede à Tradição Inciso Ponteada, e ocupa o
mesmo local.

Além da pesquisa arqueológica, outros frutos da parceria entre a


Scientia e a Alcoa estão relacionados à educação para o patrimônio
voltada à população local, focalizando especialmente educadores e
artesãos como multiplicadores; e crianças e adolescentes como foco
de atendimento. Trata-se de programa educativo de, até o momento,
sete anos de duração, objeto de estudo específico para dissertação de
mestrado (PANACHUK, 2011).

112

LVR - Academico_REV.indd 112 05/05/2017 14:36:23


Referências

AB’ SABER. A. N. Os domínios morfoclimáticos na América do Sul:


primeira aproximação. Geomorfologia, São Paulo, n. 52, p. 1-21, 1977.

ALBUQUERQUE, P. T. de S. A faiança portuguesa: demarcador


cronológico na Arqueologia Brasileira. Recife, 2001. 153p. Tese
(Doutorado). 1 CD-ROM.

ALMEIDA, F. O. de. O complexo Tupi da Amazônia Oriental. Dissertação


(Mestrado). São Paulo: MAE-USP, 2008.

ANDRADE, A. Investigación arqueológica dos antrosolos de Araracuara.


Bogotá, Fundacion de Investigaciones Arqueológicas Nacionales,
Vol. 31, 1986. p.19-64 and 91-103.

ARAÚJO COSTA, F.; KALKMANN, A.; COSTA NETO, A.; KERN, D.


Salvamento Arqueológico na Região de Porto Trombetas (PA).
Primeiro Relatório Preliminar. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi.
Inédito. 1985.

BACK Alley Antiques. Antiques, collectibles and gifts for all occasions.
Disponível na Internet em: http://www.backalleyantiques.com. Acesso
em 5 maio de 2009.

BALÉE, W. Antiquity of traditional ethnobiological knowledge in


Amazonia: The Tupi-Guarani family and time. Ethnohistory, Columbia,
v. 47, n. 2, p. 399-422, 2000.

___________. Indigenous history and Amazonian biodiversity. In: STEEN,


H. K.; TUCKER, R. P. (eds.). Changing Tropical Forests: historical
perspectives on Today’s Challenge in Central and South America.
Durham: Forest History Society, 2001.

BALFET, Heléne, FAUVET-BERTHELOT, Marie France & MONZON,


Susana. Lexique et Typologie des Poteries: Pour la Normalisation de la

113

LVR - Academico_REV.indd 113 05/05/2017 14:36:23


Description des Poteries. Paris, 1983.

BARATA, F. Uma análise estilística da cerâmica de Santarém. Cultura, 5,


p 185-203. 1953.

BARBOSA DE FARIA, J. A cerâmica da tribo Uaboí dos rios Trombetas e


Jamundá. Contribuição para o estudo da arqueologia pré-histórica do
Baixo Amazonas. Ministério da Agricultura, CNPI. Publicação nº 89.
Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1946.

BARBOSA RODRIGUES, J. Exploração e estudo do Valle do Amazonas.


O rio Tapajós. Typografia Nacional, Rio de Janeiro, 1875.

BARRETO, C. Arte e arqueologia na Amazônia Antiga: working paper


number CBS- 66-05. Oxford: University of Oxford; Centre for Brazilians
Studies, 2005. 27 p.

BINFORD, L. Forty-seven trips: a case study in the caracter of some


formation processes of the archaeological record. In: E. HALL (org).
Contributions to Anthropology: the interior peoples of Northern
Alaska (National Museum of Man Mercury Series, 49), Otava Ottawa, p.
299-351. 1976.

BUENO, Lucas e MACHADO, Juliana. Levantamento Arqueológico da


área de Implantação do Porto no Município de Juruti, PA. 2005. 60f.
Relatório técnico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
2005.

BRASIL Arqueológico. A faiança. Disponível na Internet em: <http://


www.magmarqueologia.pro.br/home.asp.>. Acesso em 5 mai. 2009.

BRANCANTE, E. F. O Brasil e a Cerâmica Antiga. São Paulo: Cia.


Lithographica Ypiranga, 1981.

BRUNO, E. S. História do Brasil geral e regional. São Paulo: Cultrix,


1966. (7 volumes).

CALDARELLI, S. B. Refinaria de Alumina Brasil China: Refinaria ABC.


Barcarena (PA): ERM Brasil Ltda., 2006. Relatório de Impacto Ambiental.

CANTO, P. Aldeias, missões religiosas e diretório: intercâmbio políticos,


econômicos, culturais e ambientais. In: NEVES, F. A. de F.; LIMA, M. R. P.
Faces da história da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2006.

CARNEIRO, R. The Ecological Basis of Amazonian Chiefdoms. Revista


de Arqueologia, São Paulo, v. 20, p.117-154, 1978 (Tradução Denise P.
Schann, setembro de 2007).

CHYMZ, I. Terminologia Brasileira para Cerâmica: manuais de


Arqueologia 1: parte II. Curitiba: CEPA, 1975.

114

LVR - Academico_REV.indd 114 05/05/2017 14:36:23


CORREA. C.; SIMÕES M. F. Pesquisas arqueológicas na região do Salgado
(Pará), a fase Areão do litoral de Marapanim. Boletim do Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), nova série, antropologia, n. 48. Belém,
1971.

COSTA, Jucilene. Contribuições à arqueologia da Amazônia:


tecnologia cerâmica e pedogeoquímica no sítio arqueológico Terra
Preta 2, município de Juruti, Região do Baixo Amazonas. 2008. 55f.
Monografia (Especialização em Arqueologia) – Universidade Federal do
Pará. 2008.

COSTA, Jucilene. Mineralogia e geoquímica de Terra Preta


Arqueológica para identificação de padrão ocupacional pré-
histórico no Vale do Baixo Rio Amazonas (Juruti, Pará). 2011. 109f.
Tese (Doutorado em Geologia e Geoquímica) - Universidade Federal do
Pará. 2011.

COSTA, M. L.; KERN, D. C.; KAMPF, N. Pedogeochemical and Mineralogical


Analyses of Amazonian Dark Earths. In: Amazonian Dark Earths:
Origin, Properties, Management. 1. Ed. Dordrecht: Kluwer Academic
Publishers, v.1, p. 333-352. 2003

COSTA, Jucilene, COSTA, Marcondes; KERN, Dirse. Analysis of the


spatial distribution of geochemical signatures for the identification
of prehistoric settlement patterns in ADE and TMA sites in the lower
Amazon Basin. Journal of Archaeological Science, 40, p. 2771-2782,
2013.

CUNHA FRANCO, E. As “Terras Pretas” do Planalto de Santarém. Revista


da Sociedade dos Agrônomos e Veterinários do Pará, Belém, (8), pp.
17-21, 1962.

DENEVAN, W. M. A bluff model of riverine settlement in prehistoric


Amazonia. Annals of the Association of American Geographers, n.
86, p. 654-681, 1996.

DESCOLA, Ph. Ecologia e Cosmologia. In: CASTRO, E. ; PINTON, F. (Orgs.).


Faces do Trópico Úmido: conceitos e questões sobre desenvolvimento
e meio ambiente. Belém: Cejup, 1997, p. 140-163.

_____________. Estrutura ou sentimento: a relação com os animais na


Amazônia. MANA: estudos de antropologia social, Rio de Janeiro, v. 4,
n. 1, p. 23-45, 1998.

DREYFUS, S. Os empreendimentos coloniais e os espaços políticos


indígenas no interior da Guiana Ocidental (entre o Orenoco e o
Corentino) de 1613 a 1796. In: CASTRO, E. V.; CUNHA, M. C. da. (Orgs.).
1993. Amazônia. Etnologia e História Indígena. São Paulo: NHII-USP/
FAPESP, 1993.

115

LVR - Academico_REV.indd 115 05/05/2017 14:36:23


DUNNEL,R. C. Classificação em arqueologia. São Paulo: Fapesp, 2007.

ENGOLE, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos


num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre,
ano 18, n. 37, p. 25-44, jan./jun. 2012.

EVANS, C.; MEGGERS, B. Preliminary Results of Archaeological


Investigations at the Mouth of the Amazon. American Antiquity,
Washington, v. 16, n. 1, p. 1-9, 1950.

FAUSTO, C. Os Índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahra, 2000.

FUNARI, P. P. A.; JONES, S.; HALL, M. Introduction: archaeology in history.


In: _________. Historical Archaeology: back from the edge. New York:
Rutledge, 1999. p. 1-20.

GALEANO, E. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. L&PM


Editores. Porto Alegre, RS. 2009

GERMAN, L. Ethnoscientific understandings of Amazonian Dark Earths.


In: LEHMANN, J.; KERN, D. C.; GLASER, B. & WOODS, W. I. Amazonian
Dark Earths: Origin, properties and management. Dordrecht: Kluwer
Academic Publishers, p.179-201. 2003.

GLASER, B.; GUGGENBERGER, G. & ZECH, W. Organic chemistry studies on


Amazonian Dark Earths. In: Lehmann, J.; Kern, D. C.; Glaser, B. & Woods,
W. I. Amazonian Dark Earths. Origin, properties and management.
Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, p. 227-241. 2003.

GLASER, B.; HAUMAIER, L. GUGGENBERGER, G. ZECH,W. The Terra


Preta phenomenon – a model for sustainable agriculture in the humid
tropics. XI Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Anais de
resumos SAB, 2001.

GOELDI, Emílio A. Sobre o uso dos machados de pedra de índios sul-


americanos, especialmente amazônicos, atualmente existentes. Bol.
Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. Humanas [online]. 2009, vol. 4, n.
1, pp. 131-133. ISSN 1981-8122. http://dx.doi.org/10.1590/S1981-
81222009000100011.

GOMES, Denise. Cerâmica Arqueológica da Amazônia: Vasilhas da


Coleção Tapajônica. MAE-USP. São Paulo, Edusp, FAPESP: Imprensa
Oficial. 355p. 2002.

GOUROU, P. Observações geográficas na Amazônia. IBGE: Revista


Brasileira de Geologia (2), p. 171-250. 1950.

GUAPINDAIA, Vera. Além da Margem do Rio: a ocupação Konduri e


Pocó na região de Porto Trombetas, PA. 2008. 206f. Tese (Doutorado
em Arqueologia) - Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade

116

LVR - Academico_REV.indd 116 05/05/2017 14:36:23


de São Paulo (MAE-USP). 2008.

GUAPINDAIA, V. Fontes históricas e arqueológicas sobre os Tapajó


de Santarém. A coleção Frederico Barata do Museu Paraense Emílio
Goeldi. Dissertação de Mestrado, Inédito, Recife: UFPE, 1993.

GUAPINDAIA, V.; LOPES, D. Relatório de Escavação do PA-OR-63: sítio


Boa Vista. Belém: MPEG, MR; FADESP, 2004.

GUAPINDAIA, V.; SCHANN, D. P.; CANTO, P. Levantamento Arqueológico


na Linha de Transmissão Tucuruí - Vila do Conde (Pará). Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Belém: MPEG, 1998. Relatório de
Prospecção Arqueológica.

HALL, M.; SILLIMAN, S. W. Introduction: Archaeology of the Modern


World. In: _________. Historical Archaeology. Malden, MA; Oxford:
Blackwell Publishing, 2006. p. 1-19.

HARTT, F. Geology and physical geography of Brazil - Geologia e


Geografia Física do Brasil (1870). Boston: Fields, Osgood & Co. 619p.
1870.

HARTT, F. Contribuição para a Ethnologia do Valle do Amazonas.


Archivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, 6, p. 10-14.1885.

HILBERT, Peter. A cerâmica Arqueológica da Região de Oriximiná.


Publicações do Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará,
Belém, p. 1-76,1955.

HILBERT, P. P. Preliminary results of archaeological investigations in the


vicinity of the mouth of the Rio Negro. In: CONGRESSO INTERNACIONAL
DOS AMERICANISTAS, 33, 1958. Atas..., Amazonas, 1958, p. 370-377.

HILBERT, Peter. & HILBERT, Klaus. Resultados Preliminares da Pesquisa


Arqueológica nos Rios Nhamundá e Trombetas, Baixo Amazonas.
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém: MPEG, nº 75, p.
1-14, 1980.

HIRAOKA, M et al. Contemporary use and management of Amazonian


Dark Earths. In: Lehmann, J.; Kern, D.C.; Glaser, B. & Woods, W.I.
Amazonian Dark Earths. Origin, properties and management.
Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, p.387-406. 2003.

HORTA, M. L. P.; GRUNBERG, E. MONTEIRO, A. Q. Guia básico de


educação patrimonial. Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999.

INDIANA. edu. How old is “old”? Recognizing Historical Sites and


Artifacts. Bottles. Disponível na Internet em: http://www.indiana.
edu/~e472/cdf/suggest/old/Bottles.html. Acesso em 05 mai. 2009.

INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos

117

LVR - Academico_REV.indd 117 05/05/2017 14:36:23


num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano
18, n. 37, pp. 25-44, jan./jun. 2012.

IPHAN. Cadastro Nacional de Sítio Arqueológico do Instituto do


Patrimônio e Artístico Nacional. Disponível em: <www.iphan.org.br>.
Acesso em: 30 set. 2009.

JOHNSON, M. H. Rethinking historical archaeology. In: FUNARI, P.P. A.;


HALL, M.; JONES, S. (Eds.). Historical Archaeology: back from the edge.
London; New York: Routledge, 1999, p. 23-36.

JULIANI, L. C. O Material de Vidro. In. CALDARELLI, S. B. (Coord.).


Arqueologia do Vale do Paraíba Paulista, SP-170 – Rodovia Carvalho
Pinto. São Paulo: Dersa Desenvolvimento Rodoviário S.A., 2003, p. 172-
190.

KERN, D.C. Caracterização Pedológica de Solos com Terra Preta


Arqueológica na Região de Oriximiná. Pará. Porto Alegre, Faculdade
de Agronomia, UFRGS. Dissertação de Mestrado, 1988.

KERN, D. C. Geoquímica e pedogeoquímica de sítios arqueológico


com terra preta na Floresta Nacional de Caxiuanã (Portel - Pará).
Belém, UFPa, (tese de doutorado), 1996.

KERN, D. C. Análise e interpretação dos solos e/ou sedimentos nas


pesquisas arqueológicas. Revista do Museu de Arqueologia e
Etnologia. , v. 1, p. 3–17. 2009.

KERN, D. C. et al. Evolução do Conhecimento em Terra Preta de Índio.


In: As Terras Pretas de Índio da Amazônia: Sua Caracterização e Uso
deste Conhecimento na Criação de Novas Áreas. 38 ed, v. 1. Manaus:
Embrapa Amazônia Ocidental, 2009.

KERN, D. C.; FRAZÃO, F. J. L.; COSTA, M. L.; FRAZÃO, E. & JARDIM, M.


A. A influência das palmeiras como fonte de elementos químicos em
sítios arqueológicos com Terra Preta. SBG/NO, Resumos, VI Simpósio
da Geologia da Amazônia, Manaus. 1999.

KERN, D. C.; KÄMPF, Nestor. Les Terres Noires des Indiens en Amazonie.
In: Annie Walter;Eric Mollard. (Org.). Agricultures singulieres du
monde. 1ed. Montpellier - França, v. 1, p. 274-278. 2008.

KERN, D. C.; KÄMPF, Nestor. Ação antrópica e pedogênese de solos com


Terra Preta em Cachoeira Porteira, Pará. Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi. Série Ciências Naturais, v. 1, p. 187-201, 2005.

KERN, D. C. & KÄMPF, N. O Efeito de Antigos Assentamentos Indígenas


na Formação de Solos com Terra Preta Arqueológica na Região de
Oriximiná-Pa. Rev. Brasileira de Ciência do Solo, 13, p. 219-25.
Campinas, 1989.

118

LVR - Academico_REV.indd 118 05/05/2017 14:36:23


LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. P. Cerâmica Guarani. 2. ed. Porto Alegre:
Posenato Arte e Cultura, 1989.

LATHRAP, D. W. “The Hunting” economies of the Tropical Forest Zone


of South America: an attempt at historical perspective. In: LEE, R.; DE
VORE, I. (Eds.) Man The Hunter. Chicago: Aldine, 1968, p. 23-29.

______________. The Upper Amazon. London: Thames & Hudson, 1970.

LEHMANN, J. et al. Nutrient availability and leaching in an archaeological


Anthrosol and a Ferralsol of the Central Amazon basin: fertilizer, manure
and charcoal amendments. Plant Soil, 249, p. 343-357. 2003.

LEMOS, R. C. de. e SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de


solo no campo. 3ª ed. Campinas-SP: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo – Centro Nacional de Pesquisa de Solos, p. 83. 1996.

LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. dos. Manual de Descrição e Coleta de


Solo no Campo. 4ª ed. Campinas-SP: Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo, 2002.

LIMA, Helena. História das Caretas. A tradição Borda Incisa na


Amazônia Central. 2008. 400f. Tese (Doutorado em Arqueologia) -
Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo. 2008

LIMA, Helena, NEVES, Eduardo. G. & PETERSEN, James B. La Fase Autua:


um novo Complexo Cerâmico na Amazônia. In: Arqueologia Sul-
Americana. Colômbia, World Archaeological Congresso, Universidade
del Calca, Vol. 2, nº 1, p. 26-52, 2006.

LIMA, T. Cerâmica indígena brasileira. In: Suma Etnológica Brasileira.


Volume 2 – Tecnologia Indígena. Editora Vozes, Finep. Petrópolis/Rio de
Janeiro. p. 173-230. 1987.

LONGACRE, W. A.; SKIBO J. M. (Eds.). Kalinga Ethnoarchaeology.


Washington (D.C.): Smithsonian Institution Press, 1994.

LOWIE, R. H. The Tropical Forests: an Introduction. In: STEWARD, J.


Handbook of South American Indians: the Tropical forests tribes.
Washington (D.C.): Smithsonian Institution, 1948, p. 1-56. (Bureau of
American Ethnology Bulletin, n. 143), (The Tropical Forests, v. 3).

McCann, J.M., Woods, W.I., & Meyer, D.W. Organic matter and anthrosols
in Amazonia: Interpreting the Amerindian legacy. In R.M. Rees, B.C. Ball,
C.D. Campbell, & C.A. Watson (Eds.), Sustainable Management of Soil
Organic Matter. Oxford: CAB International, p. 180-189. 2001.

MEGGERS, B. J. Environmental limitation on the development of culture.


American Anthropologists, v. 56, p. 801-824, 1954.

_________. Environmental and culture in Amazonia: an appraisal of the

119

LVR - Academico_REV.indd 119 05/05/2017 14:36:23


theory of environmental limitations. In: PALERM, A. Studies in human
ecology. Washington DC: Union Panamericana, 1957, p. 71-89.

_________. Ambiente y cultura en la cuenca del Amazonas: revisión de


la teoría del determinismo ambiental. In: _________. Estudios sobre
Ecologia Humana. Conferencias en la Sociedad de Antropologia de
Washington: Unión Panamericana, 1958.

_________. Amazonia: man and culture in a counterfeit paradise.


Chicago: Aldine, 1971.

_________. Vegetation fluctuation and prehistoric cultural adaptations in


Amazonia: some tentative correlations. London: World Archaeology,
v. 8, n. 3, p. 287-303, 1977.

_________. Climatic Oscillation as a Factor in the Prehistory of Amazonia.


American Antiquity, Washington, v. 44, n. 2, p. 252-266. 1979.

_________. Prehistoric population density in the Amazon Basin. In:


VERANO, J.; UBERAKER, D. (Eds.). Disease and demography in the
Americas. Washington (DC): Smithsonian Institution Press, p. 197-205.
1992.

MEGGERS, B. J., EVANS, C. Archaeological Investigation in the Mouth


of the Amazon. Washington (DC): Smithsonian Institution; Government
Printing Press, 1957.

________________________. Como Interpretar a Linguagem da cerâmica.


Washington (DC): Smithsonian Institution, 1971.

MEGGERS, B. J.; MILLER, E. Th. Hunter-Gatherers in Amazonia during


the pleistocene-holocene transition. In: MERCADER, J. (Org.). Under the
Canopy: the archaeology of tropical rain forests. New Brunswick;
New Jersey: Rutgers University Press, p. 291-316. 2003.

MEIRELLES FILHO, J. O Livro de Ouro da Amazônia: mitos e verdades


sobre a região mais cobiçada do planeta. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

MIGLIAZZA, E. Organização social dos Xiriâna do rio Uraricaá. Bol. Mus.


Par. Emílio Goeldi. Série Antropologia, 22, p.1-19. 1964.

MORA,C.I., DRIESE, S.G., and SEAGER, P.G. Carbon dioxide in the


Paleozoic atmosphere: Evidence from carbonisotope compositions of
pedogenic carbonate. Geology, v. 19, p. 1017-1020. 1991.

MUNSELL COLORS COMPANY. Munsell soil colors charts. Baltimore,


2000.

MYAZAKI, N.; AITAY, D. A aldeia pré-histórica de Monte-Mor. Campinas,


(SP): PUC, 1974.

120

LVR - Academico_REV.indd 120 05/05/2017 14:36:23


NAVES, Simone. A educação patrimonial como mediadora da
informação no projeto de arqueologia preventiva na área
de intervenção do projeto Juruti/Pará. 2010. 62f. Monografia
(Especialização em Arqueologia, História e Sociedade) – Universidade
de Santo Amaro. 2010

NEVES, Eduardo; GUAPINDAIA, Vera; LIMA, Helena; COSTA, Bernardo,


GOMES, Jaqueline. A Tradição Pocó-Açutuba e os primeiros sinais
visíveis de modificações e paisagem na calha do Amazonas. In: ROSTAIN,
Stéphen (ed). Amazonía. Memorias de las Conferencias Magistrales
del 3er Encuentro Internacional de Arqueología Amazónica.
Equador, 2014. p. 137- 158.

NEVES, E. G.; PETERSEN, James B; BARTONE, Robert N; SILVA, C.A.da.


Historical and Socio-cultural Origins of Amazonian Dark Earths. In: J.
Lehmann; D. Kern; B. Glaser; W. Woods. (Org.). Amazonian Dark Earths:
Origins, Properties, Management. Kluwer Academic Publishers, 2003.

NEVES, E. G.; PETERSEN, J.B.; BARTONE, R. N; HECKENBERGER, M. The


Timing of Terra Preta Formation in the Central Amazon: Archaeological
Data from Three Sites. In: B. Glaser; W. I. Woods. (Org.). Amazonian
Dark Earths: Exolorations in Space and Time. Berlin: Springer Verlag,
2004. Faltam as páginas

NEVES, F. A. de Freitas; LIMA, M. R. P. Faces da história da Amazônia.


Belém: Paka-Tatu, 2006.

NIMUENDAJÚ, C. Os Tapajós. Belém: Boletim do Museu Paraense


Emílio Goeldi, nº 10, 1949.

NIMUENDAJÚ, C. Os Índios Palikur e seus Vizinhos, tradução do texto


de 1926, versão do NHII-USP, no prelo.

NIMUENDAJÚ, C. Mapa Etno-Histórico do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE,


1981.

NORDENSKIÖLD, E. Ars Americana, vol. 1: L’Archaeologie du Basin de


L’Amazone. Paris: Les Éditions G. Van Oest, 1930.

NORONHA MONTEIRO, J. Roteiro da viagem da cidade do Pará até as


últimas colônias do sertão da Província (1768). PORRO, A. (Introdução
e Notas). São Paulo (SP): EDUSP, 2006.

ODELL, George. Bewitched by mechanical site-testing devices. American


Antiquity, Vol. 57, No. 4, p. 692-703. 1992.

ORSER J. R.; CHARLES E.; FAGAN, B. M. Historical Archaeology. New


York: Harper Collins College Publishers, 1995.

ORSER, J. R.; CHARLES, E. A Historical Archaeology of the Modern

121

LVR - Academico_REV.indd 121 05/05/2017 14:36:23


World. New York; London: Plenum Press, 1996.

ORTON, C., TYERS, P.; VINCE, A. Pottery in Archaeology. United


Kingdom: Cambridge University Press, 1993.

PALMATARY, Helen C. The Archeology of Lower Tapajós Valley–Brazil.


Transactions of the American Philophical Society, n. s. 50, 1960.

PALUS, M. M.; LEONE, M. P.; COCHRAN, M. D. Critical Archaeology:


politics past and present. In: HALL, M.; SILLIMAN, S. W. (Eds.). Historical
Archaeology. Malden, MA; Oxford: Blackwell Publishing, p. 84-104.
2006.

PANACHUK, L. Arqueologia preventiva e socialmente responsável!


A musealização da arqueologia e meu mundo expandido. Baixo
Amazonas, Juruti/Pará. 2011. 266f. Dissertação (Mestrado em
Arqueologia) – Universidade de São Paulo. 2011.

PANACHUK, Lílian. Fazeres e saberes: as cerâmicas arqueológicas e


os mitos sobre a olaria. 2014. 10f. Plano de trabalho (Doutorado em
Arqueologia) – Universidade Federal de Minas Gerais. 2014.

PEARSALL, D. M. Domestication and agriculture in the new world


tropics. In: PRICE; BRIGGITE (Eds.). Last Hunters, first farmers. Santa
Fé: School of American Research Press, p. 157-192. 1998.

PEREIRA, E. Curso Prática em Arqueologia Amazônica. Relatório de


Atividades. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1998.

_________. Arte rupestre na Amazônia - Pará. Belém: MPEG, 2003.

PIPERNO D.; PEARSALL, D. M. Background of tropical agricultural origins.


In: _________. The Origins of Agriculture in the Lowland Neotropics.
New York: Academic Press, 1998. Cap. 1 e 2.

PORRO, A. As crônicas do rio Amazonas. Petrópolis: Vozes, 1993.

PREZIA, B.; HOORNAERT, E. Brasil indígena: 500 anos de resistência.


São Paulo: FTD, 2000.

RAMOS, A. As culturas indígenas. Rio de Janeiro: Livraria Editora da


Casa do Estudante do Brasil. V 2. 1971.

RANZANI, G.; KINJO, T.; FREIRE, O. Ocorrência de “Plaggen Epidedon”


no Brasil. Bol. Te. Cient. Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, 5, p.1-11. 1962.

REID, K. 1984. Fire and Ice: New Evidence for the Production and
Preservation of Late Archaic Fiber-Tempered Pottery in the Middle-
Latitude Lowlands. American Antiquity (Impact Factor: 1.51). 01/1984;
49 (1):55. DOI: 10.2307/280512

122

LVR - Academico_REV.indd 122 05/05/2017 14:36:23


RICE, P. M. Pottery Analysis. London: Univ. of Chicago Press, 1987.

RODRIGUES, T. E. Solos da Amazônia. In: ALVARES, V. V. H.; FONTES, L. E.


F.; FONTES, M. P. F. O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do
Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa: SBCS, UFV, p.19-60.
1996.

ROOSEVELT, A. C. Amazonian Indians from prehistory to the present.


Anthropological perspectives. Hardcover. The University of Arizona
Press, Tucson. 420p. 1994.

ROOSEVELT, A. C. Early Pottery in the Amazon: Twenty Years of Scholarly


Obscurity. In: Barnett, W. & J. Hoopes (ed.), The Emergence of Pottery.
Washington and London: Smithsonian Institution Press, p.115-131.
1995.

ROOSEVELT, A. C. Arqueologia Amazônica. In: Manuela Carneiro da


Cunha (org.) História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992.

ROOSEVELT, A. C. Parmana: Prehistoric maize and manioc


subsistence along the Amazon and Orinoco. New York: Academic
Press, 1980.

_________________. Determinismo ecológico na interpretação do


desenvolvimento social indígena da Amazônia. NEVES, W. (Ed.). Origens,
adaptações e diversidade biológica do homem nativo da Amazônia.
Belém: MPEG-CNPq-SCT-PR, p.103-141. (Coleção Snethlage). 1991.

ROOSEVELT A. et al. Paleoindian Cave Dwellers in the Amazon: The


Peopling of America. Science, 272:372-384, 1996.

ROOSEVELT, A. C.; HOUSLEY, R. A.; SILVEIRA, M. I.; MARANCA, S. &


JOHNSON, R. 1991. Eighth millenium pottery from a prehistoric shell
midden in the Brazilian Amazon. Science, Dec 13; 254 (5038):1621-
4.1991.

ROUSE, I. The Circum-Carbean Theory, an Archaeological Test. American


Anthropologist, Virginia, v. 55, n. 2, p. 188-200, 1953.

RYE, O. S. Pottery Technology: principles and reconstruction.


Washington: Taraxacum, 1981.

SAHLINS. M. Metáforas históricas e realidades míticas: estruturas


nos primórdios da história do reino das Ilhas Sandwich. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.

SAUER, C. O. Agricultural Origins and Dispersals. New York: American


Geographical Society, 1952.

SCHAAN, D. P. A Linguagem Iconográfica da Cerâmica Marajoara.

123

LVR - Academico_REV.indd 123 05/05/2017 14:36:23


Dissertação (Mestrado) Rio Grande do Sul. PUC-RS. Porto Alegre, 1996.

_________. Cultura Marajoara: história e iconografia. In: Resgate da


Cultura Material e Iconográfica do Pará. Belém: SEBRAE/MPEG, 1999.
(v. 1, Arte Rupestre e Cerâmica).

_________. Estatuetas Marajoara: o Simbolismo de Identidades de


Gênero em uma Sociedade Complexa Amazônica. Boletim do Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Série Antropologia v. 17, n. 2, p. 23-63,
2001.

SCHEEL-YBERT. Stabilité de l’Écosystème sur le Littoral Sud-Est du


Brésil à l’Holocène Supérieur (5500-1400 ans BP). Les Pêcheurs-
Cueilleurs-Chasseurs et le Milieu Végétal: Apports de l’Anthracologie.
Tese de Doutorado. Montpellier: Université Montpellier II, USTL. 3 vol.
520 p. 1998.

SCHIFFER, M. B.; SKIBO, J. Theory and Experiment in the Study of


technical change. M. B. Schiffer (Ed.). Technological Perspectives on
Behavioral Change. Tucson, University of Arizona Press, p. 40-76. 1992

SCHIFFER, M. B.; SKIBO, J. M. The Explanation of Artifact Variability. In:


American Antiquity, Washington, v. 62, n. 1, 1997.

SCIENTIA. Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de


intervenção da UTE Barcarena, PA. Belém: Scientia Consultoria, 2008.
Relatório final das atividades de campo.

SCIENTIA. Projeto de Arqueologia Preventiva nas Áreas de


Intervenção do Projeto Juruti, Pará: Relatório final. Relatório técnico,
2008.

SCIENTIA. Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção do Projeto


Juruti, PA – Relatório Parcial 1. Belém, Scientia Consultoria, 2006.

SCIENTIA. Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção do Projeto


Juruti, PA – Relatório Final, Análise de laboratório Sítio Terra Preta
1 e 2. Relatório técnico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. 2008.

SCIENTIA. Projeto de Arqueologia Preventiva nas Áreas de


Intervenção do Projeto Juruti, Pará: Relatório final. 2008. 296f.
Relatório técnico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
2008.

SCIENTIA. Arqueologia Preventiva na área de intervenção da Linha


de Transmissão 500 kV Oriximiná (PA) – Itacoatiara (AM) – Cariri
(AM), etapa de resgate. Análise de Laboratório. Relatório Parcial
2. 207f. Relatório técnico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. 2013.

124

LVR - Academico_REV.indd 124 05/05/2017 14:36:23


SCIENTIA. Arqueologia Preventiva na área de intervenção da Linha
de Transmissão 500 kV Oriximiná (PA) – Itacoatiara (AM) – Cariri
(AM), etapa de resgate. Análise de laboratório. Relatório Parcial
3. 246f. Relatório técnico. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. 2014.

SEPOF. Estatística municipal: município de Barcarena (PA). Governo


do Estado do Pará. Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e
Finanças (SEPOF), 2008.

SHEPARD, Anna. Ceramics for the archaeologist. Washington D.C.,


Carnegie Institution of Washington, 1956.

SILLIMAN, S. W. Struggling with Labor, Working with Identities. In: HALL,


M.; SILLIMAN, S. W. (Ed.). Historical Archaeology. Malden, MA; Oxford:
Blackwell Publishing, 2006. p. 147-166.

SILVEIRA, M. I. da.; MARQUES, F. L. T. Levantamento de potencialidades


arqueológicas e históricas na área dos municípios de Barcarena e
Abaetetuba. Belém, MPEG, 2004. Relatório inédito.

SIMÕES. M. F. Conselho Nacional de Pesquisas. Instituto Nacional


de Pesquisas da Amazônia. Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas, patrocinado pelo
Conselho Nacional de Pesquisas e Smithsonian Institution. Resultados
preliminares do primeiro ano, 1965-1966. Publicações avulsas Museu
Paraense Emílio Goeldi, n. 6. Belém, 1967.

_________. Conselho Nacional de Pesquisas. Instituto Nacional de


Pesquisas da Amazônia. Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas
3: resultados preliminares do terceiro ano, 1967-1968. Publicações
avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, n. 13. Belém, 1969.

_________. Pesquisas arqueológicas na região do Salgado (Pará), a fase


Areão do litoral de Marapanim. Boletim do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG), nova série, Antropologia, n. 48. Belém, 1971.

_________. Índice de fases e Tradições. Belém: Museu Paraense Emílio


Goeldi (MPEG), 1972.

SIMÕES, M.F. & CORRÊA, C. G. Pesquisas arqueológicas no baixo


Uatumã-Jatapu (Amazonas). Revista de Arqueologia 4 (1): 29-48. 1987.

SINOPOLI, C. M. The archaeology of empires. Annual Review of


Anthropology, n. 23, p. 159-180, 1994.

SMITH, N. Anthrosols and human carrying capacity in Amazonia. In:


Annals of the American Association of Geographers, Vol. 70, Nº. 4,
p: 553-566. 1980.

125

LVR - Academico_REV.indd 125 05/05/2017 14:36:23


SOCIETY for Historic Archaeology. Historic Glass Bottle Identification
and Information Website. Disponível na Internet em: http://www.sha.
org/bottle/index.htm. Acesso em 05 mai. 2009.

SOMBROEK, W. G. Amazon soils: A Reconnaissance of the Soils of


the Brazilian Amazon Region. Wageningen, Center for Agricultural
Publications and Documentation. 1966. 292p.

SOMBROEK, KERN, RODRIGUES, CRAVO, JARBAS, WOODS, GLASER. Terra


Preta and Terra Mulata: pre-Columbian Amazon kitchen middens and
agricultural fields, their sustainability and their replication. 17º WCSS,
14-21, August 2002, Thailand. 2002.

STEWARD, J. Culture Areas of the Tropical Forests. In: STEWARD, J.


Handbook of South American Indians: the Tropical forests tribes.
Washington (D. C.): Smithsonian Institution, 1948, p. 883-899. (Bureau
of American Ethnology Bulletin, n. 143), (The Tropical Forests, v. 3).

STOCKTON, J. Earth moving equipament in archaeological excavation.


Archaeology & Physical Anthropology in Oceania, Vol. 9, No. 3 (Oct.,
1974), p. 238-241. 1974.

SYMANSKI, L. C. P. Espaço Privado e Vida Material em Porto Alegre


no século XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. (Coleção Arqueologia, 5).

_________. Louças e auto-expressão em regiões centrais, adjacentes


e periféricas do Brasil. In: ZARANKIN, A.; SENATORE, M. X. (Orgs.).
Arqueologia da Sociedade Moderna na América do Sul. Buenos
Aires: Ediciones del Tridente, 2002. v. 1

TOCCHETTO, F. B. Fica dentro ou joga fora? Sobre práticas cotidianas


em unidades domésticas na Porto Alegre oitocentista. Tese (Doutorado
em História) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: PUC/RS, 2004.

TOCCHETTO, F. B. et.al. A faiança fina em Porto Alegre: vestígios


arqueológicos de uma cidade. Porto Alegre: Unidade Editorial/SMC,
2001.

VIEIRA, C. M. F.; DE SOUZA, E. T. A.; MONTEIRO, S. N. Efeito da incorporação


de chamote no processamento e microestrutura de cerâmica vermelha.
Cerâmica. v. 50, p. 254-260. 2004.

WILSON, Samuel. The indigenous people of the Caribbean. University


Press of Florida, Ganesville. 1999.

WOODS, W. I., & MCCANN, J. M. Anthropogenic origin and persistence of


Amazonian dark earths. Yearbook, Conference of Latin Americanist
Geographers, 25, pp. 7-14. 1999.

126

LVR - Academico_REV.indd 126 05/05/2017 14:36:23


YDE, J. 1965. Material Culture of the Waiwai. The National Museum of
Copenhagen. 1965.

ZANETTINI, P. E. Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano


doméstico na Casa Bandeirista. Tese (Doutorado em Arqueologia). São
Paulo: MAE/USP, 2005.

_________. Pequeno roteiro para classificação de louças obtidas em


pesquisas arqueológicas em sítios históricos. Arqueologia, Curitiba, n.
5, p. 117-130. 1986.

ZANETTINI, P. E.; BAVA DE CAMARGO, P. F. Cacos e mais cacos de vidro:


o que fazer com eles? São Paulo: Zanettini Arqueologia, 1999 (revisado
em 2005).

ZANETTINI, P. E.; MORAES, C. A. Contribuição para a discussão em torno


da Cerâmica “Neobrasileira”: algumas reflexões sobre a louça produzida
na Capitania de São Paulo entre os séculos XVII e XIX. In: CONGRESSO DA
SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, 13, 2005, Campo Grande,
MS. Anais... Campo Grande: Oeste, 2005. 1 CD-ROM, Windows XP.

127

LVR - Academico_REV.indd 127 05/05/2017 14:36:23


128

LVR - Academico_REV.indd 128 05/05/2017 14:36:23

S-ar putea să vă placă și