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A autora pretende impugnar o ato de decidir realizar a alienação do lote B2, como descrito
pelos anexos da autora.
Consequentemente, alegam que não existiu uma notificação devida, nos termos do
artigo 83º/1 da Lei 280/2007.
Começando pela legitimidade passiva, regulada no regime geral do CPTA no artigo 10º.
Segundo o nº1 do preceito citado, tem legitimidade passiva quem for a outra parte na relação
material controvertida.
Na perceção da autora, a notificação que não foi efetuada deveria ter sido feita nos termos do
artigo 83º/1 da Lei 280/2007. Porém, esta não é devida pela Câmara Municipal de Lisboa, mas
sim à Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.
Nestes termos, e segundo o nº2 do artigo 10º, estando em causa uma omissão de uma direção
geral, a presente ação deveria ter sido instaurada contra a Direcção-Geral do Tesouro e
Finanças, responsável pela omissão, em nome do Ministério das Finanças pela exceção da
demanda da pessoa da pessoa coletiva na segunda parte do preceito referido.
É de notar que a sessão de hasta pública ainda não decorreu, estando marcada para o próximo
dia de METER DIA, tendo já a sociedade o conhecimento da mesma pela consulta ao Diário da
República.
Tendo conhecimento da sessão de hasta pública e não tendo esta decorrido, a notificação
revela-se agora supérflua pelo conhecimento da que seria notificada.
Deste modo, não existiu a preterição do direito de preferência, dado que a sociedade tem
conhecimento da futura alienação e tem a possibilidade de o exercer no decorrer da sessão de
hasta pública.
Neste sentido, a sociedade LISBOA É UM ESTALEIRO S.A. não retira qualquer efeito útil da
impugnação.
O artigo 51º define como impugnáveis as “decisões que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e
concreta”, utilizando a definição do artigo 148º do CPA.
Neste sentido, apenas atos com caráter decisório são impugnáveis, para efeitos do artigo
51º/1
Decidir, em sede de órgão do município, o destino a dar a bens do mesmo não se traduz numa
decisão com efeitos sobre situações jurídicas de terceiros, sendo um ato meramente interno.
Trata-se ainda de uma situação de formação de vontade da pessoa coletiva por uma decisão
interna do seu órgão.
Olhando para a doutrina do Professor Mário Aroso de Almeida “não são, naturalmente,
internos os atos decisórios praticados ao longo dos procedimentos, (…), que, ainda que
parcialmente, definem situações jurídicas dos interessados, como aqueles que, (…), contêm
pré-decisões (…)”
A decisão 469/CM/2018 em questão apenas vincula o órgão que a praticou, neste caso, a
Câmara Municipal. O plano externo apenas será atingido aquando da realização da própria
hasta pública.
Sendo apenas um ato interno, o ato não é passível de impugnação pelo disposto no artigo
51º/1
A decisão, por si só, de realizar hasta pública, não é uma decisão produtora de efeitos para
termos do artigo 54º/1. Decidir pela afetação dos imóveis do município a certo fim não produz
efeitos no sentido do preceito, apenas a venda efetiva o faria.
Analisando o nº2 do mesmo artigo, verifica-se que não se verificam quaisquer das exceções lá
previstas.
Assim sendo, o ato não é impugnável, apenas o sendo quando a sua venda seja efetivada, em
preterição da preferência da autora, por falta da notificação em questão.
Uma decisão de realizar hasta pública não produz efeitos por si mesmo, não sendo impugnável
nos termos do artigo 54º/1.
O preceito refere que a figura se aplica aos casos de anulabilidade, que se trata da pretensão
da Autora, considerando como aceitação a prática de facto, expresso ou tácito, incompatível
com a vontade de impugnar.
A autora sustenta que a decisão de colocar o lote B2 em hasta pública e a eventual hasta
pública padecem de ilegalidade, por falta da sua notificação como preferente legal. Porém,
demonstra interesse em participar na mesma.
A sociedade LISBOA É UM ESTALEIRO, S.A. está assim a aceitar tacitamente o ato da decisão de
colocar o lote B2 em hasta pública, que alega sofrer de ilegalidades, abdicando da faculdade de
o impugnar, nos termos do artigo 56º/1 do CPTA.
Após ter tomado conhecimento da realização da hasta pública nos termos que descreveu nos
pontos, autora demonstrou interesse em participar na hasta pública em questão.
Do direito
Quando à invocação do artigo 1380º, existem vários fundamentos para a sua não aplicação ao
processo em questão.
Em primeiro lugar, a própria inserção sistemática do preceito na Secção VII do Capítulo III
(Propriedade de Imóveis), intitulada “Fracionamento e emparcelamento de prédios rústicos”
indicia a limitação do seu campo de aplicação apenas aos prédios rústicos, não aos urbanos
Por sua vez, olhando para o elemento literal do preceito, é referido que apenas é reconhecido
o direito de preferência em questão é reconhecido a proprietários de terrenos confinantes,
reconhecendo a sua classificação como prédios rústicos.
Olhando para a jurisprudência, é de citar o acórdão do STA CITAR ACORDÃO, que “O dono de
prédio urbano, constituído por edifício e logradouro ou quintal dos mesmos, não goza de
direito de preferência na compra de prédio rústico confinante.”
Na petição inicial, a autora reconhece o caráter urbano da propriedade que considera ser
contígua (4º da PI). Ademais, a própria escritura pública anexa à petição inicial (ANEXO 1), de
prova da transmissão relatada no ponto 3º reconhece o caráter urbano do imóvel.
Tendo em conta a falta de caráter rústico do imóvel da autora, o artigo 1380º do Código Civil
não pode ser aplicado, pelo que não fundamenta um direito de preferência à sociedade.
Quanto à invocação do site da CML como fundamento jurídico, no ponto 64º, nada é dito na
alegação da sociedade LISBOA É UM ESTALEIRO S.A. quanto à sua localização no site, bem
como quanto ao seu valor legal ou obrigacional, não se podendo retirar qualquer valor jurídico
da invocação de um sítio da internet sem provar a força legal do mesmo.