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1. CARACTERIZAGAO JURIDICA DA DIGNI- DADE DA PESSOA HUMANA 1— INTRODUGAO. A utilizago da expressdo “dignidade da pessoa humana” no mundo do dircito ¢ fato hist6rico recente, Muitas civilizagdes, gragas a seus herdis “santos”, tiveram consideragao pela dignidade da pessoa humana, mas juridicamente a tomada de consciéncia, com a verbalizago da expressio, {oi um passo notivel dos tempos mais proximos'. “Da dignidade da pessoa ‘humana tormam-se os homens de nosso tempo sempre mais cOnscios” (De- claragio “Dignitaris Humanae” sobre a liberdade religiosa, de Paulo VI e do Coneilio Vaticano Il, em 7 de dezembro de 1965). Tomada em si, a ‘expressio é um conceito juridico indeterminado;_utilizada em norma, es- pecialmente constitucional, ¢ principio juridico*. E sob esta dltima caracte- 1. Parece que a expresso em causa surgi pela primeira vez, nesse content preceptivo em que hoje est sendo usa, er 1945, no “Predmbula” da Carta das Nagdes Unidas (‘digi- dade e valor do ser hurmano"). A palavra“dignidade”,porém, wlzada em context ico, no jurdico, para o ser hunnano, est muito prcisamente em Kant, que ope “prego” — "Preis", ‘ara tado que serve de meio —A“dignidade” — “Wide, para que € um fim em si mesmo, ‘0 valor intrinseco dose rocional (para 0 citado fl6sofo,somente o homem esti nessa condi- ‘o)-Ctamos Kant por va de tadugo francesa dos Fundamentos da metafisica dos costames (p. 80). Os dados completos de todas as ctagbes esto na bibiografia final. 2.0s conceitosjuridicosindeterminados slo assim chamados porque seu conteido € mais indeterminado que 0 dos conceitos juridicos determinados (exemplo destes, 05 ‘numéricos — 18 anos, 24 horas —, daqueles, “casa particular). Os conceitos juridicos indeterminados podem ser descritivos (x. patrinvinio, cobranga) ou normativos (ex. justa ‘causa, boa-f) (cf. Engsh, neroducdo ao pensamento juridico, 1988, p. 210), Os norma- tivos exigem valoracio, No caso da dignidade humana, © conceto,além de normativo, € axioldgico porque a dignidade humana € valor —a dignidade € a expressio do valor da ‘pessoa humana, Todo “valor” ¢ a projego de um bem para alguém:; no caso, a pessou humana éo bem ea dignidase, o seu valor, isto é, a sua projesio. rizago que esta na Constituigo da Repiblica, j4 que af aparece entre os “prineipios fundamentais” (art, 1°, ID. Com ligeiras diferengas de redacdo, também utilizam a expresso, exemplificativamente: 1) a Declaragao Universal dos Direitos do Homem (1948), tanto em seu primeiro “considerando” quanto em seu primeiro arti- ‘20. “Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os ‘membros da familia humana ¢ de seus direitos iguais e inalienaveis & 0 fundamento da liberdade, da justiga e da paz no mundo”. E art, 1*: “Todos 6s homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Sao dotados de raziio ¢ conscigncia e devem agir em relacao uns aos outros com espirito de fraternidade” 2) a Constituigdo da Repiblica Ttaliana (1947): “Todos os cidadios tém a mesma dignidade social e so iguais perante a lei sem distingI0 de sexo, raga, lingua, religido, opinido politica e condigBes pessoais ¢ sociais” (art, 3°, 1* part), 3) a “Lei Fundamental” da Alemanha (1949): “A dignidade do ho- ‘mem é intangivel. Respeiti-la e protegé-la € obrigagao de todo 0 poder pablico” (art. 1.1), 4) a Constituigdo da Repiiblica Portuguesa: “Portugal é uma Repiibli- ‘ea soberana, baseada, entre outros valores, na dignidade da pessoa humana ‘ena vontade popular e empenhada na construgio de uma sociedade livre, Jjusta e solidaria” (art. 18)'. E: “Todos 0s cidadiios tém a mesma dignidade social e sio iguais perante a lei” (art. 138, 1¥alinea). Infelizmente, porém, 0 acordo sobre palavras, “dignidade da pessoa humana”, jd ndo esconde o grande desacordo sobre seu contetido. Hé hoje Principio juriico, por sua vez, éa idéia diretora de uma regulamentagio (ef. Larenz, Derecho justo, 1985, p. 32). O principio juridico no € regra mas é norma juridica;exige ‘no somente interpetago mas também concretizag. 3. redagio de 1976, repetida em 1982, por ocaso da I*revisto, era: “Portugal & una Republica soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e ‘empenhada na sua transformago numa sociedade sem classes", Depo, em 1989 (2 revi- So), redagdo passou a: “Portugal € uma Replica soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construgio de uma sociedade ive, juste solidira”, Hoje, apés a 3 revisio, o tor do art. 1° € o que consta do texto supra. (© artigo “O direito brasileiro o principio da dignidade humana”, de Nobre Jinior (2001), enumera diversas outras ConstitigBes que abrigam o principio da dignidade. O livro A afirmaco historica dos direitos humanos, de Comparato (2001), por sua vez, raz ‘coment as mais importantes declarages de direitos humans. 4 dduas diversas concepedes da pessoa humana que procuram dar suporte & jdéia de sua dignidade: de um lado, hi a concepedo insular, ainda dor ante, fundada no homem como razao € vontade, segundo uns, como autoconsciéncia, segundo outros — é a concepcao para cujo fim queremos ccolaborar porque se tornou insuficiente —, e, de outro, a concepeao prépria ‘de uma nova ética, fundada no homem como ser integrado a natureza, par- ticipante especial do fluxo vital que a perpassa ha bilhOes de anos, e cuja nota especifica no est na razio e na vontade, que também os animais superiores possuem, ou na autoconsciéncia, que pelo menos os chimpanzés também tém, e sim, em rumo inverso, na capacidade do homem de sair de si reconhecer no outro um igual, usar a linguagem, dialogare, ainda, prin- cipalmente, na sua vocagao para 0 amor, como entrega espiritual a outrem, [A primeira concepsao leva ao entendimento da dignidade humana como autonomia individual, ou autodeterminacdo; a segunda, como qualidade do ser vivo, capaz de dialogar e chamado a transcendéncia. Do ponto de vista ontol6gico, ou de visio da realidade, a concepgao insular da pessoa humana é dualista: homem e natureza niio se encontram, esto em niveis diversos; sdo respectivamente sujeito e objeto. © homem, ", v8 e pensa a natureza. Somente 0 homem € racional e capaz de querer. © homem é radicalmente diferente dos demais seres; so- mente ele & autoconsciente. A natureza é fato bruto, isto é, sem valor em si. ‘A segunda é monista: entre homem e natureza, ha um continuum; 0 homem faz parte da natureza e nao € 0 tnico ser inteligente © capaz de querer, ou 0 Linico dotado de autoconsciéncia. H4, entre os seres vivos, um crescendo de complexidade e o homem € 0 tiltimo elo da cadeia. A natureza como um todo é um bem. Ea vida, 0 seu valor. Do ponto de vista antropolégico, em segundo lugar, o homem nio é wa“mente”, que fem um corpo; ele todo é corpo. O racionalismo iluminista, que deu origem a concepgao insular, corresponde visualmente & figura do hhomem curopeu: 0 terno que veste deixa-Ihe & mostra somente a cabega e ‘as mis (= raziio + ago, ou vontade); 0 resto do corpo € a parte oculta do iceberg — a natureza fisica, cuja esséncia, no homem, aquela filosofia ig- nora‘. Essa parte do corpo (entre parénteses, observamos que insensivel- 5. O presente texto resulta de comunicagio feta em congresso realizado em Ouro Preto, onde hi, em algunas igreas, “santos de roca da época do Ihuminismo: essas ima ‘gens também servem muito bem parailustrar a concepe0 insular da pessoa humana: so- ‘mente tém cabeca e mos, o resto “roupa”. Nao deixa de ser curioso observarcomo.essis ‘imagens ndo sto apreciadas pelos brasieiros. E claro — elas no correspondem & nossa mente “o corpo” € pensado por nés muitas vezes a curopéia como sendo a parte de nosso ser que nao é a cabeca), essa parte do corpo, repetimos, € ‘considerada uma “méquina” ou um “mecanismo” tido pela mente. Mas a mente também é corpo! 0 desconhecimento do valor da natureza, inclusive da natureza no hhomem, é, assim, a primeira grande insuficiéncia de concepgao insular. A segunda é, justamente, seu carster fechado, subjetivista. Quer como raziio € vontade quer como autoconsciéncia, a concepeio insular age com redugdo da plenitudo hominis, retirando do ser humano justamente 0 que ele tem de realmente especifico: seu reconhecimento do préximo, com a capacidade de dialogar, e sua vocagio espiritual. Apesar dos desvios, dos rumos dispersos, dos caminhos sem saida, a evolugio dos seres vivos, vista a longuissimo prazo, revela aumento progressivo de complexidade — dos seres unicelulares, como a bactéria, aos pluricelulares, passando aos vege- tais, aos animais invertebrados, aos vertebrados, e vindo até o homem. En- tre 0 mais remoto e o mais recente dos seres, hid mudangas de nivel com a emergéncia de novas faculdades, Sempre, porém, sem quebra da continui- dade: a simples vida, foram se acrescentando a mobilidade, a sensibilidade, a inteligéncia ea vontade, a autoconsciéncia e, finalmente, a projecio para © préximo, com a capacidade de dialogar, ¢ a potencial abertura para 0 absoluto’. Ao tentar fixar a especificidade do homem, a concepeao insular para na inteligéncia e na vontade, que sto faculdades comuns aos homens ‘animais superiores, ou para na autoconsciéneia, comum pelo menos 20 homem e ao chimpanzé*. O que, de fato, ¢ especffico do homem é omitido Tormagao aficana ¢ indigena, que valoriza 0 corpo e a vida. Jorge Miranda (Manual de direte consttucional,t. WV, 36) assim se expressa sobre os valores da Africa tradicio- hal: “A inviolabilidade da vida e enteajuda dos membros da comunidad so os valoes fundamentais da ordem colectiva. Procura-s, acima de td, vida em harmonia com os ‘outros, com a Natureza e com os espiitos que a povoam e animam”. Nesse sentido, a nova ‘tic, que defendemos, por ser mais abrangente, 6 até mesmo mais “brasileira” que a insu lar, sempre t0 “europa 5. Do inicio da vida na Teer até a projegio para 0 préximo, com 0 uso da lingua gem, hi um continuum (manne). abertara para o absoluo € poteneial para transforms la em ato ¢ preciso uma decisto fundamental, amt. Amar é decisio fundamental que inventa a transcendénc 6. A autoconsciéncia¢atribuida pela etologia também sos chimpanzés(etalvez aos orangotangos) especialmente por causa da chamada “experitncia do espelho”. “While almost all visually oriented mammals intially try to reach or look behind a mirror, only ‘wo nonhumman species — chimpanzees and orangutans — seem to understand that they 6 por ela. Daf, com graves consequléncias juridicas, 0 lento deslizar intelectu- al no entendimento da dignidade da pessoa humana, de “autonomia indivi- ‘dual”, para “qualidade de vida”, quando, entdo, algo que deveria ser radical passa a ser tao relativo quanto viver melhor ou pior. A concepcio insular, antropocéntrica e subjetivamente fechada, jé nao garante juridicamente 0 ser humano; infelizmente, ela pode levar a abusos e desvios, entre os quais ‘caso da eutandsia é paradigmitico’. Se as concretizagies juridicas da dignidade segundo ambas as con- ‘cepgdes sto muitas vezes idénticas, em pontos fundamentais divergem ra- dicalmente. Segue-se, entio, por forea desse diverso entendimento do que seja pessoa humana, um absurdo juridico: © mesmo texto normativo cons- ie seeing themselves. The special status of these apes has been recognized for along time. In 1922 Anton Pertielje, a Dutch naturalist, remarked that, whereas monkeys fail to ‘understand the relation between ther reflections and themselves, an orangutan attentively Tooks firstly at his mirror image, bat then aso at his behind and his erust of bread in & mirror... obviously understanding the use of a mirror. Similar the German gestalt psychologist Wolfgang Kohler in 1925 commented ‘on the lasting interest of chimpanzees in their mirror image: they continue to play with making strange faces at themselves and checking reflected objects agains the real thing by looking back and forth between the two. Monkeys, in contrast, react with facial expressions that sre anything but frivolous: the regard their reflection as another indivi dual, tating it asa stranger of their own sex and species. ‘Compelling evidence was derived in the 1970s from elegant experiments by Gordon Gallup, an American comparative psychologist. An individual unknowingly received a dot ‘of paint ina specific place, such as above the eyebrow, invisible without « mirror. Guided by their reflection, chimpanzees and orangutans —as wel as children more than eighteen ‘months of age — rubbed the pained spot with their hand and inspected the fingers that had touched it recognizing that the coloring on the reflected image was on their own face. (ther primates — and younger children — failed 1o make this connection. Gallup went on to equate self — recognition with self — awareness, and this in turn with a multitude of sophisticated mental abilities. The lst encompassed attribution of intention to others, intentional deception, reconciliation, and empathy. Accordingly, humans and apes have ‘entered a cognitive domain tha ses them apart from all other forms of life" (De Waal, Good natured, 1996, p. 67) 7.Bsereve Etienne Montero (Cahiers, 3, 1998) contra a chamada “eutandsia dre- 1a": “A alguns agradariafazer-noscrer que, ao pevilegiaro rspeito 3 autonomia individu "al (cada um ¢ juiz da sua propria dignidadee decide 0 momento de sua mort). alegaliza- "go Ga tinica solugdo admisivel em um estado pluralistaeIaico. Mas esto muito equve- ‘cados: 20 plasmar em um texto legal — cuja vocagio € estruurar comportamentos — 0 ‘principio da eutanisia, inclusive a voluntira, o legislador avalizariaa controvertida nogio e “qualidade de vida’, impondo-a a todos’

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