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NOVA CRUZ-RN
2012
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NOVA CRUZ-RN
2012
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COMISSÃO DE AVALIAÇÃO:
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Examinador
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Examinador
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Prof.ª Cláudia Vecchi
Examinadora
NOVA CRUZ-RN
2012
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
RESUMEN
El abordaje del control de las políticas públicas ambientales del Municipio de Passa e
Fica/RN dentro del orden jurídico Constitucional, como forma de promover una ciudadanía
activa capaz de propiciar un medio ambiente equilibrado, que venga a armonizar desarrollo
con sustentabilidad, así como de la acción de cada ciudadano y del estado, por sus
representantes, como sujetos y agentes de cambio, constituyen los principales objetivos del
presente trabajo. Analizando la realidad histórica social y ambiental de este municipio,
identificando las fallas y los aciertos en la ejecución de las políticas públicas, será
abordado los siguientes requisitos: el papel de los actores sociales, los gobernantes y
gobernados; el papel de los consejos comunitarios como expresión de los intereses de la
sociedad civil organizada; el papel del Ministerio Público junto a la sociedad, actuando
como fiscal de la ley; y, por fin, el papel del Poder Judiciario. La elección de la temática de
este trabajo fue motivada por la constatación del impacto socio-ambiental causado en este
municipio cuando el desarrollo económico y el crecimiento demográfico comprometen el
equilibrio del ecosistema, y la percepción del contrasto entre el crecimiento demográfico,
el desarrollo estructural de la ciudad y la falta de investimento en el desarrollo humano.
Serán abordados los principios constitucionales que nortean los actos administrativos de
los gestores que conducen a la máquina estatal, y el Orden Social Ambiental, que trata
del medio ambiente, tendencia contemporánea de preocupación con los intereses difusos,
así como el concepto de Estado de Derecho Ambiental, pues se trata de acrecentar el
elemento “relevancia ecológica” a la fórmula consagrada por las democracias
constitucionales contemporáneas, siempre se llevando en cuenta la necesidad de garantizar
el medio ambiente y las diversas esferas humanas de existencias. Por fin, será tratada la
democracia participativa de la sociedad civil organizada en la elaboración y ejecución de
las políticas públicas ambientales, analizando la actuación de los consejos comunitarios
existentes en el municipio, la actuación del Poder Público, Executivo y Legislativo, y el
control judicial de estas políticas.
TABELA DE SIGLAS
SCO – Sociedade Civil Organizada
ONG – Organização Não Governamental
SAR – Serviço de Assistência Rural
SEAPAC – Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários
CF – Constituição Federal
EMATER – Empresa Brasileira de Extensão Rural (uma para cada Estado)
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10
2. DO CONCEITO DE POLÍTICA AO CONCEITO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS..................................................................................................................... 13
2.1 Da origem do conceito de política Greco-Romana aos nossos dias.................... 13
2.2 O conceito de políticas públicas.......................................................................... 17
3. DOS INSTRUMENTOS CONSTITUCIONAIS DE CONTROLE
SOCIAL E INSTITUCIONAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS............................... 21
3.1 Do controle social................................................................................................ 21
3.2 Do controle Institucional..................................................................................... 25
3.3 Os princípios constitucionais da Administração Pública.................................... 32
4. A ORDEM SÓCIOAMBIENTAL E OS ELEMENTOS
ESTRUTURANTES DO ESTADO DE DIREITO AMBIENTAL........................... 40
4.1 A Educação Ambiental e a Política Nacional do Meio Ambiente....................... 40
4.2 Conceito Jurídico de Meio Ambiente e competência municipal........................ 43
4.3 Princípios do Direito Ambiental.......................................................................... 44
4.4 Licitação ambiental.................................................................................. 47
4.5 O Estado de Direito Ambiental.................................................................. 48
5. PANORAMA HISTÓRICO E GEOPOLÍTICO DO MUNICÍPIO DE
PASSA E FICA ............................................................................................................. 57
5.1 Das raízes aos frutos............................................................................................ 57
5.2 A implantação do Projeto de Educação Ambiental............................................ 61
5.3 As casas de farinha, o enfraquecimento da cultura da mandioca e os impactos
socioambientais............................................................................................................... 65
5.4 A preservação cultural no município de Passa e Fica......................................... 67
5.5 Biodiversidades: A fauna e a flora do município de Passa e Fica............... 69
5.5.1 Parque Estadual da Pedra da Boca....................................................................... 72
5.5.4 A caça predatória e o comércio de animais silvestres......................................... 74
6. DEMOCRACIA PARTICIPATIVA: Uma luz no final do túnel......................... 75
6.1 O ESTADO SOCIOAMBIENTAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
AMBIENTAIS: Os conselhos municipais estão a serviço do Estado ou da Sociedade
Civil?............................................................................................................................ 76
6.2 A atuação do SAR e a resistência à mudança de mentalidade........................... 79
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1 INTRODUÇÃO
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Partindo da constatação de que o controle social e jurídico nem sempre é tão eficaz
na realidade dos pequenos municípios brasileiros, e que muitas vezes este controle é
condicionado por interesses quase sempre indiferentes ao interesse público, aqui se traz a
baila questões atinentes ao exercício pleno da cidadania no tocante ao papel do Estado e da
Sociedade Civil no horizonte do Direito Constitucional no contexto da Ordem Social
Ambiental expressa em nossa Carta de 1988.
Objetivando-se abordar o controle social e jurídico, sua eficácia e/ ou eficiência,
como forma de promover uma cidadania ativa capaz de propiciar um meio ambiente
equilibrado que harmonize desenvolvimento com sustentabilidade, e que também seja
capaz de combater a corrupção e a impunidade daqueles que são responsáveis pela
degradação do ambiente em que vivemos, do qual fazemos parte, agindo como sujeito e
agente de transformação.
A escolha do município de Passa e Fica como parâmetro para os demais da região
do Agreste Potiguar foi motivado pela constatação do impacto socioambiental causado
num determinado município quando o desenvolvimento econômico e o crescimento
demográfico atingem o equilíbrio do ecossistema. O que fazer numa realidade social onde
a preocupação com a organização da infraestrutura do município está no topo das
prioridades dos administradores enquanto o mesmo município se encontra entre os que
estão abaixo da linha da pobreza? Como conciliar desenvolvimento e sustentabilidade nos
pequenos municípios?
É neste contexto que o SAR (Serviço de Assistência Rural) da Arquidiocese de
Natal chegou ao município para suscitar questionamentos e buscar soluções junto ao povo.
Para tanto, faz-se necessário analisar a conjuntura social, política e econômica do
município de Passa e Fica para perceber o contraste entre desenvolvimento estrutural,
crescimento demográfico e desenvolvimento humano, a ponto de o município em tela ser
colocado entre os oito municípios do Estado do Rio Grande do Norte que estão abaixo da
linha de pobreza.
Há de se considerar também a ausência de políticas públicas que atendam às
necessidades precípuas do município levando em consideração à participação popular nas
discussões e na tomada de decisão. Vê-se que o povo é o menos solicitado quando se trata
de aplicar recursos do erário público. E quando o povo é chamado, na maioria dos casos,
sua participação restringe-se em referendar o que já está imposto.
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as chefias locais e sobre os que usufruíam das terras, pois as rebeliões eram frequentes e a
disputa pelo poder interminável. Este controle era feito pelos representantes do rei, fazendo
surgir daí uma burocracia imensa, realizada pelos funcionários régios. (Chauí, 1996)
Para por fim a este poder despótico os gregos e os romanos inventaram a política,
desfazendo as características de autoridade e poder, pautadas no patriarcalismo, no
absolutismo, na corporificação do poder, na magia sobrenatural, no transcendentalismo, na
hereditariedade. Eles tomaram um conjunto de medidas que impediram a concentração dos
poderes e da autoridade nas mãos de um rei, senhor da terra, da justiça e das armas,
representante da divindade.
A propriedade da terra não se tornou propriedade régia ou patrimônio privado do
rei, nem se tornou propriedade comunal ou da aldeia, mas manteve-se como propriedade
de famílias independentes, cuja peculiaridade estava em não formarem uma casta fechada
sobre si mesma, porém aberta à incorporação de novas famílias e de indivíduos, ou não-
proprietários enriquecidos no comércio. (Chauí, 1996)
Como a propriedade não mais pertencia ao rei, nem mesmo à aldeia, mas às
famílias independentes, formou-se na Grécia e em Roma uma camada pobre de
camponeses que migraram para as aldeias, ali se estabeleceram como artesãos e
comerciantes, prosperaram, fizeram das aldeias cidades, passaram a disputar o direito ao
poder com as grandes famílias agrárias, fazendo surgir às lutas de classes. A luta de classes
entre ricos e entre ricos e pobres pelo poder pedia uma solução, que foi a política.
Os primeiros chefes políticos ou legisladores criaram uma divisão territorial das
cidades que visava diminuir o poder das famílias agrárias, dos artesãos e comerciantes
urbanos ricos e a satisfazer a reivindicação dos camponeses pobres e dos artesãos e
assalariados urbanos pobres.
Em Atenas, a polis foi subdivida em unidades sociopolíticas denominadas demos;
em Roma, em tribus. Quem nascesse num demos, ou numa tribus, independentemente de
sua condição econômica, tinha o direito assegurado de participar das decisões da cidade,
donde o regime ser uma democracia. Em Roma, os não-proprietários pobres formavam a
plebe, que tinha o direito de eleger um representante – o tribuno da plebe – para defender e
garantir os interesses plebeus junto aos interesses e privilégios dos que participavam
diretamente o poder, que constituíam o populus romanus, os patrícios. O regime político
romano era uma oligarquia. (Chauí, 1996)
A partir daí, criaram a lei e o direito, como expressão de uma vontade coletiva e
pública, definidora dos direitos e deveres para com todos os cidadãos, retirando dos
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indivíduos o direito de fazer justiça com as próprias mãos, delegando ao Estado a sua
aplicação, criando também as instituições públicas, que são os tribunais e magistrados para
aplicarem a lei e garantir os direitos.
Criaram ainda a instituição do erário público ou do fundo público, impedindo a
concentração da propriedade e da riqueza nas mãos dos dirigentes. Criaram o espaço
político ou público – a assembleia grega e o tribunal romano – donde se discutia as ideias,
opiniões, defendiam interesses, deliberavam e decidiam por meio de votos, fazendo com
que a sociedade conheça as deliberações e participe da tomada de decisão. Desta forma, a
democracia ateniense e as oligarquias de Esparta e da república romana fundaram a ideias
e prática da política na Cultura Ocidental. (Chauí, 1996)
No entanto, não se pode ser ingênuo em supor que este ideal de política criado
pelos gregos e romanos sejam idênticos à nossa forma de conduzir a vida política.
Ademais, em nosso sistema político a cidadania não está restrita apenas aos homens
adultos, livres, nascidos no território da cidade, pois em nosso modo próprio de fazermos a
política, não há discriminação de raça ou de sexo, como era entre os gregos e romanos.
O termo política, que se expandiu graças à influência de Aristóteles, para aquele
filósofo categorizava funções e divisão do Estado e as várias formas de Governo, com a
significação mais comum de arte ou ciência do Governo; sofreu uma transposição de
significado das coisas qualificadas como político, para a forma de saber mais ou menos
organizado sobre esse mesmo conjunto de coisas.
O termo política foi usado, a seguir, para designar principalmente as obras
dedicadas ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere de algum modo às
coisas do Estado: Política methodice digesta, exemplo célebre, é obra com que Johannes
Althusius (1603) expôs uma das teorias da consociatio publica (o Estado no sentido
moderno da palavra), abrangido em seu seio várias formas de consociationes menores.
Na época moderna, o termo perdeu seu significado original, substituído pouco a
pouco por outras expressões como ciência do Estado, doutrina do Estado, ciência
política, filosofia política, passando a ser comumente usado para indicar a atividade ou
conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis, ou
seja, o Estado. (Bobbio, 2002)
Então, ao falar um pouco de política, na busca do seu sentido etimológico e da
significação do termo ao longo da história não se pode restringir a discussão apenas ao
aspecto eletivo, consolidado pelo voto da maioria, mas, sobretudo, no aspecto mais
genuíno do termo política, como política pública. É o que vamos esmiuçar a seguir.
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Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral. Ela faz
solicitações (pedidos ou demandas) para os seus representantes (deputados, senadores e
vereadores) e estes mobilizam os membros do Poder Executivo, que também foram eleitos
(tais como prefeitos, governadores e inclusive o próprio Presidente da República) para que
atendam as demandas da população. Isso é o que a prática cotidiana nos aponta.
Política pública é definida aqui como o conjunto de ações desencadeadas pelo
Estado, no caso brasileiro, nas escalas federal, estadual e municipal, com vistas ao bem
coletivo. Elas podem ser desenvolvidas em parcerias com organizações não
governamentais e, como se verifica mais recentemente, com a iniciativa privada. Cabe ao
Estado propor ações preventivas diante de situações de risco à sociedade por meio de
políticas públicas. No caso das mudanças climáticas, é dever do Estado indicar alternativas
que diminuam as conseqüências que elas trarão à população do Brasil, em especial para a
mais pobre, que será mais atingida.
Porém, não resta dúvida que diversas forças sociais integram o Estado. Elas
representam agentes com posições muitas vezes antagônicas. Também é preciso ter claro
que as decisões acabam por privilegiar determinados setores, nem sempre voltadas à
maioria da população brasileira. Analisar ações em escalas diferentes de gestão permite
identificar oportunidades, prioridades e lacunas. Além disso, ela possibilita ter uma visão
ampla das ações governamentais em situações distintas da realidade brasileira que, além de
complexa, apresenta enorme diversidade natural, social, política e econômica que gera
pressões nos diversos níveis de gestão.
A temática do aquecimento global ganhou corpo no mundo desde a década de 1980.
Na década seguinte, surgiram convenções internacionais para regulamentar emissões de
gases de efeito estufa e, principalmente, apontar causas e efeitos das alterações climáticas.
O Brasil teve um papel destacado nas negociações internacionais. Porém, internamente as
políticas públicas relacionadas ao tema ainda deixam a desejar. Na escala Federal houve a
destacada Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas, coordenada pelo Ministério
de Ciência e Tecnologia. Além disso, o Ministério do Meio Ambiente lançou um
documento de avaliação das implicações das alterações climáticas para o Brasil.
Na escala estadual, São Paulo merece destaque por aplicar uma política de
mitigação. Apesar de apresentar resultados preliminares interessantes, carece de recursos
para ganhar em escala maior. Por sua vez, o município de São Paulo desenvolveu no
último ano uma política na escala municipal que busca contribuir para a redução de
emissões da maior aglomeração urbana do país. (Júlio César Hoenisch et al, 2004).
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Para que a eficiência e a eficácia das políticas públicas sejam plenas e as políticas
atinjam seus objetivos faz-se necessário a aplicação de instrumentos constitucionais para
estabelecer seu controle, e tais instrumentos são os mesmos tanto para a sociedade quanto
para as instituições.
Em virtude da apatia social de grande parte da população, que não se interessa por
questões ideológicas ou partidárias, é que as políticas públicas são implementadas sem o
devido controle da sociedade civil, que mesmo se fazendo representar nos conselhos
paritários, não acompanha de perto todo o processo, desde a elaboração até a concretização
da política.
Vale ressaltar que a responsabilidade pelo controle social das políticas públicas é de
todos os cidadãos. Esta responsabilidade assume proporção ainda maior quando estamos
tratando das políticas públicas voltadas às questões socioambientais que afetam a todos,
direta ou indiretamente.
Ora, a ignorância de grande parte da sociedade em relação aos programas sociais e
ambientais do Governo, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, faz com que muitas
vezes as políticas públicas não sejam devidamente implantadas em prol das camadas
socialmente mais necessitadas. Isto é uma questão de educação.
Assim como na Grécia antiga, a dialética, o instrumento adequado na busca do
conhecimento científico, tem por fundamento um diálogo, e por essa razão é esse o estilo
literário de todas as obras de Platão. Na modernidade, o diálogo é uma forma democrática
de troca de ideias entre dois ou mais atores sobre qualquer assunto previamente escolhido.
Para adentrar no conceito de Controle Social, é necessário começar pelo que não é.
Controle Social não é consulta. Mesmo porque, consulta não gera controle sobre nenhum
ato, mas é apenas uma escuta, nem sempre criando interação ou continuidade da relação
entre as partes. Na mesma linha, não se trata de feedback, que é um retorno, uma notícia do
impacto que uma ação gerou no outro. Também não se trata de convencer o outro sobre
uma política correta. Nem mesmo ouvir demandas para montar um projeto ou programa.
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O autor é coerente em suas afirmações no que se refere ao controle, pois traz uma
visão inovadora na qual nenhum ramo do Estado pode afastar sua aplicabilidade.
Importante é a afirmação do professor Jessé Torres (2006) quando este diz que o controle
basicamente significa, hoje, o exercício de uma função política, de um dever jurídico e de
uma etapa inerente a todo processo sistêmico de trabalho. É manifestação de uma função
política porque decorre necessariamente da Constituição da República, dentro desta, da
aplicação dos freios e contrapesos que viabilizam a harmonia e a independência entre os
Poderes, coibindo-lhes os eventuais abusos.
Depreende-se daí que é dever jurídico porque está predeterminado à produção de
resultados de interesse público e, é isto que se pode esperar do funcionamento de qualquer
sistema Estatal em favor da população em geral. É também etapa necessária de um
processo sistêmico de trabalho, na medida em que toda atuação Estatal, deve almejar uma
gestão eficiente e eficaz dos meios que a sociedade deposita nas mãos dos gestores
públicos. É o devido processo legal aplicado às relações de administração entre o Estado e
os cidadãos.
O Professor Jessé Torres afirma que no Brasil, segundo o sistema constitucional
vigente, existem quatro vertentes de controle: o controle da Administração Pública sobre si
mesma, segundo os princípios da tutela administrativa e da autotutela; o controle
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submetido à lei. Este princípio impõe que o administrador público só pratique o ato para o
seu fim legal, que a finalidade é inafastável do interesse público, de sorte que o
administrador tem que praticar o ato com finalidade pública, sob pena de desvio de
finalidade, uma das mais graves formas de abuso de poder. (Silva, 2004)
O assunto marca presença no art. 5º, LXIX da CF, no qual se prevê o mandado de
segurança. Ali se diz cabível sua concessão contra ilegalidade e abuso de poder. O abuso
de poder consiste em usar do poder além de seus limites. Um dos limites do poder é
justamente a finalidade em vista da qual caberia ser utilizado. Donde, o exercício do poder
com desvirtuamento da finalidade legal que o escancharia está previsto com censurável
pela via do mandado de segurança.
O Princípio da Finalidade está contido no da Legalidade, pois corresponde à
aplicação da lei tal qual é; ou seja, na conformidade de sua razão de ser, do objetivo em
vista do qual foi editada. Por isso pode-se dizer que tomar uma lei como suporte para a
prática de ato desconforme com sua finalidade não é aplicar a lei. É desvirtuá-la. É burlar a
lei sob pretexto de cumpri-la. Daí por que os atos incursos neste vício – denominados
´desvio de poder´ ou ´desvio de finalidade´ – são nulos. Quem desatende ao fim legal
desatende à própria lei.
A lei não concede autorização para agir o agente sem um objetivo próprio, como
lembra Tácito (2001). A obrigação jurídica não é uma obrigação inconsequente: ela visa
sempre a um fim especial, presume um endereço, antecipa um alcance, predetermina o
próprio alvo. Lima (2001) advertiu que é traço característico da atividade administrativa
estar vinculada a um fim alheio à pessoa e aos interesses particulares do agente ou do
órgão que o exercita. (Tácito, 2001)
Assim, o Princípio da Finalidade impõe que o administrador atue com rigorosa
obediência à finalidade de cada qual. Isto é, cumpre-lhe cingir-se não apenas a finalidade
própria de todas as leis, que é o interesse público, mas também à finalidade específica
abrigada na lei a que esteja dando execução.
Assim, há desvio de poder e, em consequência, nulidade do ato, por violação da
finalidade legal, tanto nos casos em que a atuação administrativa é estranha a qualquer
finalidade pública quanto naqueles em que o fim perseguido, se bem que de interesse
público, não é o fim preciso que a lei assinalava para tal ato. Mesmo que, como vem
ocorrendo nas privatizações (“houve manipulação em bem do patrimônio público”), a
violação pretenda beneficiar o erário público, ela é ilegal (Morais, 2003).
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No início, era comum ver as pessoas aguando as calçadas e asfalto defronte suas
residências, além de serem implantadas neste pequeno município um número considerável
de “lava-jatos” totalizando 4, sendo três na sede do município e um na zona rural. Daí a
grande quantidade de água potável derramada, além dos resíduos com adicional de óleo e
detergentes que escoam para os córregos que atravessam o município em direção ao Rio
Curimataú, através do seu afluente Rio Calabouço. Isto mostra que a falta de uma política
pública de educação ambiental constante, enseje na ignorância do conceito de meio
ambiente.
demais entes, como no caso do Meio Ambiente, deixariam de ser regulados pelo poder
público municipal por não ser interesse exclusivo deste, entretanto tal posicionamento se
mostra incorreto. Melhor interpretação é aquela que afirma que interesse local não quer
dizer interesse exclusivo, mas sim que tal interesse predomina sobre os demais interesses.
Assim, aquilo que seja de interesse da população de determinado Município ou de apenas
parte dela, poderá ser objeto de norma municipal.
Carrazza, ao explicar “interesse local”, afirma “interesse local” não quer dizer
privativo, mas simplesmente local, ou seja, aquele que se refere de forma imediata às
necessidades e anseios da esfera municipal, mesmo que, de alguma forma, reflita sobre
necessidades gerais do Estado-Membro ou do país.
Após as primeiras afirmações sobre as competências, passa-se agora a traçar como
o Município age com relação ao cuidar de normas que envolvam a proteção de Meio
Ambiente. Para que se tenha em cada Município um desenvolvimento ordenado e o
aproveitamento de todos os potenciais neles existentes, bem como a cidade se desenvolva
de maneira a fazer valer os preceitos encartados na Carta Magna, fazia-se necessário que
fosse implementada uma política de desenvolvimento urbano que tivesse por objetivo
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes, entenda-se também a proteção do Meio Ambiente, pois, este reflete nos
itens antes narrados, conforme encartado no Art. 182 da Constituição Federal que dependia
de regulamentação.
Hely Lopes Meirelles escreveu que a atuação municipal será, principalmente,
executiva, fiscalizadora e complementar das normas superiores da União e do Estado-
membro, no que concerne ao peculiar interesse local, especialmente na proteção do
ambiente urbano. Assim, a execução da política urbana determinada pelo Estatuto da
Cidade, deverá ser orientada em decorrência dos principais objetivos do direito ambiental
constitucional. (Meirelles, 1997)
Lembra MILARÉ (2005, p.157) que um princípio pode não ser exclusivo de uma
única ciência, possuindo caráter compartilhado, interativo. Isso se observa em especial na
questão ambiental, de cunho eminentemente multidisciplinar. Por esta razão, podemos
realizar uma leitura conjunta das diretrizes que orientam o Sistema de Gestão Ambiental
ISO 14.001 e a principiologia do ordenamento jurídico-ambiental.
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prevenção ou mitigação da possibilidade de dano, que devem ser suportadas primeiro pelo
poluidor, em momento antecipado, prévio à possibilidade de ocorrência de qualquer dano
ao ambiente” (LEITE, 2004, p. 97).
No Brasil, com o Princípio da Participação, o Poder Público e a coletividade têm
o dever de defender e preservar o ambiente, como descrito no artigo 225, caput da CF. A
participação popular pressupõe informação (previsto nas Leis 6.938/81, art. 9, VII e
10.650/03, que trata do acesso público às informações do Sisnama), educação ambiental
(previsto na CF, art. 225, § 1º, IV; na Lei 6.938/81, art. 2º, X; e na Lei 9.795/99, que trata
da Política Nacional de Educação Ambiental) e acesso ao poder judiciário (Lei 7.347/85,
que trata da ação civil pública). Leite (2000, p.21) associa o princípio da participação ao
que chama “Estado Democrático e de Justiça Ambiental”, que pressupõe a gestão coletiva
do bem ambiental, devendo este “ser considerado um bem de interesse público e cuja
administração, uso e gestão devem ser compartilhados e solidários com toda a comunidade,
inspirado em um perfil de democracia ambiental.”
Paralelamente, a ISO 14.001 prevê que a organização estabeleça canais de
comunicação com suas partes interessadas. O empreendedor deve: a) reconhecer a
existência de indivíduos e grupos interessados ou afetados pelo desempenho ambiental do
negócio; b) reportar publicamente seu compromisso de gestão ou sua Política Ambiental;
c) receber, documentar e responder às comunicações; d) quando pertinente, realizar a
comunicação externa de seus aspectos ambientais significativos.
Em absoluto, esta abertura às partes interessadas não significa que a gestão da
organização será coletivizada. Representa, contudo, uma boa prática de transparência, que
importa no intercâmbio de informações e ganho de confiabilidade. O princípio da
democracia econômica-social representa o lastro principiológico que deve escudar todos os
demais princípios que informam o Direito Ambiental a fim de oportunizar uma
harmonização naquela seara.
O modelo de gestão ambiental ISO 14.001, de modo semelhante ao Direito
Ambiental, também estrutura-se a partir de princípios como do desenvolvimento
sustentável, da prevenção, do poluidor pagador e da participação. As organizações, face
aos desafios do comércio global, têm assumido a responsabilidade ambiental como
estratégia de negócios. A certificação ambiental é uma forma de otimizar os processos
produtivos no que diz respeito ao consumo de matérias-primas, insumos, água, geração de
resíduos e demonstrar às partes interessadas o avanço do desempenho ambiental da
empresa.
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gerações; o art. 225, § 1º, inciso IV, que exige, para instalação da obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade.
O art. 37, § 3º determina que a lei disciplinará as novas formas de participação do
usuário no serviço público; art. 5, inciso XXXIII, que outorga a todos o direito de receber
dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
geral, que serão prestados no prazo da lei, sob pena de responsabilidade; e, finalmente, o
art. 5º, inciso LXXIII, que confere a qualquer cidadão o direito de propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Em Portugal, o princípio da participação está previsto no art. 66º, nº 2, da
Constituição da República Portuguesa, quando ali se prescreve que incumbe ao Estado, por
meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos,
assegurar o direito ao meio ambiente, no modelo de desenvolvimento sustentável.
Assinale-se, por fim, que a participação na tutela do meio ambiente necessita
também, para a sua consecução, da cooperação entre os diversos Estados visando à
proteção ambiental comum. De fato, os problemas de degradações do meio ambiente não
se circunscrevem apenas no âmbito interno, mas, diversamente, chegam mesmo a
extrapolá-lo, exigindo uma atuação interestatal solidária para um combate efetivo à
devastação ambiental capaz de salvar o planeta, preservando-o para as futuras gerações.
Neste sentido, o art. 174º, nº 4, do Tratado CE, prevê que, no domínio do meio
ambiente, a Comunidade e os Estados-membros cooperarão, no âmbito das respectivas
atribuições, com os países terceiros e as organizações internacionais competentes. Os
princípios da Declaração de Estocolmo orientaram, ainda, a ação dos Estados no campo de
proteção internacional do meio ambiente até a Conferência do Rio de Janeiro, em 1992.
Viu-se, anteriormente, que os princípios da prevenção e da participação constituem
elementos ordenadores do Estado Ambiental de Direito. Neste diapasão, denota-se outro
elemento fundamental para a efetivação dessa ação em conjunto: o princípio da
responsabilização, mecanismo de atuação, numa relação de complementaridade, porquanto
nenhum desses elementos, isoladamente, não funciona.
Destarte, indubitavelmente, de nada adiantariam ações preventivas e participativas,
se eventuais responsáveis por possíveis danos ao meio ambiente (tanto pessoas físicas
como pessoas jurídicas) não fossem compelidos a responder por seus atos. "A sociedade
exige, portanto, que o poluidor seja responsável pelos seus atos, ao contrário do que
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prevalecia no passado quanto ao uso ilimitado dos recursos naturais e culturais” (LEITE,
2000, P. 33).
Assim, a responsabilização por danos ambientais, nas suas modalidades civil,
administrativa e criminal, assume singular importância para a edificação
do Estado Ambiental de Direito.
Nos ordenamentos jurídicos, o princípio da responsabilização encontra-se
adequadamente contemplado. No Brasil, a Constituição Federal, art. 225, § 3º, preceitua
que as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.
O aludido dispositivo constitucional pátrio prevê, pois, o tríplice apenamento do
responsável por danos causados ao meio ambiente, tanto pessoa física como jurídica: a
sanção penal, por conta da responsabilidade penal, que importa a limitação da liberdade, a
restrição de direitos ou a multa; a sanção administrativa, em decorrência da
responsabilidade administrativa, que acarreta a advertência, a multa, a suspensão ou a
interdição da atividade; e a sanção civil, em razão da responsabilidade civil, que implica a
indenização ou reparação do dano.
Em Portugal, a Constituição da República Portuguesa, art. 52º, nº 3, letra "a",
institui que é conferido a todos o direito de requerer para o lesado ou os lesados, por meio
da ação popular, a correspondente indenização, nomeadamente para a finalidade de vida e
a preservação do ambiente e do patrimônio cultural.
Registre-se, também, que a responsabilização (civil) por danos ambientais é objeto
da convenção do Conselho da Europa (Lugano) sobre Responsabilidade Civil pelos Danos
Causados por Atividades Perigosas para o Ambiente, de 21 de junho de 1993.
Anote-se, por derradeiro, que a doutrina discute a inserção do princípio da
responsabilização numa dimensão econômica, isto é, "a inserção da imputação de custos
ambientais relacionada à atividade dos produtores" (LEITE, 2000, p. 33).
Com efeito, o princípio do poluidor pagador (pollutor pays principle), assentado na
ética ambiental redistributiva, inspira-se na teoria econômica de que os custos sociais
externos que acompanham o processo produtivo (v.g., o custo resultante por danos
ambientais) devem ser internalizados, vale dizer, que os agentes econômicos devem levá-
los em conta ao elaborar os custos de produção e, consequentemente, assumi-los
(MILARÉ, 2000, p. 100).
55
Devido a essa função, foi estalada uma hospedaria a beira da estrada que ficava na
fronteira entre o Estado do Rio Grande do Norte e o da Paraíba, ponto obrigatório de pouso
e rancho que servia de descanso para os boiadeiros que conduziam seus rebanhos de gado
com o objetivo de comercializá-los nas tradicionais feiras de gado da Paraíba e de
Pernambuco (CAVALCANTE, 2006, p. 02).
Em suma, a origem do nome do município está ligada primeiramente à existência
fazenda Passa e Fica e posteriormente, a instalação da famosa hospedaria. Em curto
espaço de tempo, em torno da fazenda, da hospedaria e do posto fiscal, nesse cruzamento,
iniciou-se a formação de um pequeno aglomerado de casas, e que, no dia 10 de maio de
1962, através da Lei de Criação nº 2.782, Passa e Fica se emancipou politicamente de
Nova Cruz, tornando-se mais um município norteriograndense (Dicionário Escolar do
Município de Passa e Fica/RN, 2001, p.10).
Porém, segundo populares mais antigos, havia uma banca de jogos, na qual dos
tropeiros e viajantes que ali passavam, alguns ficavam para frequentar o primitivo
“cassino” e, após gastar todo o dinheiro que portava, retornava à sua origem, sem
prosseguir viagem. Até que alguém exclamou: “este lugar é o passa e fica”. Isto porque
alguns passavam, apenas, enquanto outros ficavam.
Geograficamente, o município de Passa e Fica se situa em zona fisiográfica de
caatinga, localizado na Mesorregião do Agreste Potiguar, inserido na Microrregião do
Agreste Potiguar, entre os paralelos 6º 26’ 09” de Latitude Sul e entre os meridianos 35º
38' 35" de Longitude Oeste.
Passa e Fica limita-se com os seguintes municípios: Ao norte, São José do
Campestre – RN e Lagoa D'anta - RN; ao sul, Campo de Santana-PB; ao leste, os
municípios de Nova Cruz – RN e Lagoa D'Anta - RN; e ao oeste, Serra de São Bento –
RN. O município abrange uma área de 43 Km², equivalente a 0,08% da superfície estadual,
inseridos na folha São José de Campestre (SB, 25-Y-A-I), na escala 1:100.000, editados
pela SUDENE (CPRM, 2005, p. 02).
Geologicamente o município de Passa e Fica - RN caracteriza-se por dois tipos de
terrenos: O Embasamento Cristalino e as coberturas Colúvio-eluviais. A Sede do
município tem uma altitude média de 189 m, está distante 155 km de João Pessoa - PB,
148 km de Campina Grande - PB e 105 km de Natal – RN, Capital do Estado.
O Embasamento Cristalino, Complexo Serrinha - Pedro Velho aflora nas áreas mais
baixas, nos vales dos rios, sua estrutura é composta de rochas do período Pré-Cambriano
(1.100-2.500 milhões de anos): granitos, migmatitos, gnaisses, xistos e anfibólitos.
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rio, no passado, mesmo não sendo perene, era fonte de abastecimento para os habitantes
mais antigos, que em lombos de jumentos iam buscar água nos poços naturais (comumente
conhecidos por olheiros) e também ás margens do rio as mulheres lavavam as roupas.
Geralmente, as cidades sempre cresceram às margens de um rio. Em Passa e Fica
não poderia ser diferente. Muito embora o rio que separa os estados da Paraíba e Rio
Grande do Norte não corte a cidade, foi às suas margens que os primeiros habitantes
fixaram morada. Este rio tem sua nascente na Paraíba, no município de Araruna, por trás
da Pedra da Boca, passa pelo município de Passa e Fica e deságua no município de Nova
Cruz, no Rio Curimataú.
De acordo com o IBGE (1996, p.117) a vegetação predominante no município é a
Savana Estépica nordestina - Caatinga, de característica Hipoxerófila, vegetação de clima
semiárido, apresentando arbustos e árvores com espinhos e de aspecto menos agressivo do
que a caatinga Hiperxerófila. Este bioma exclusivamente brasileiro vem sofrendo forte
intervenção humana no tocante ao fornecimento de madeira e lenha para o uso humano,
para a criação do gado e plantios agrícolas. É aqui que entra a política pública ambiental,
procurando promover um desenvolvimento sustentável para garantir à atual e às gerações
futuras um ambiente equilibrado que possa proporcionar qualidade de vida para todos.
Ao menos deveria ser esta a principal preocupação dos gestores que administraram
o município nestes últimos 48 anos. O meio ambiente é sempre o mais afetado quando se
trata de desenvolvimento. Até o fim da década de 80, o município ainda vivia num clima
de cidade interiorana arraigada às culturas e tradições dos antigos moradores. Nos últimos
20 anos o município cresceu demograficamente sobremaneira devido o advento da água
encanada oriunda da Lagoa do Bomfim/RN, através do sistema de adutoras.
Além do mais, os últimos administradores primaram pelo investimento em
infraestrutura e urbanismo de modo a atrair pessoas de várias partes do Estado potiguar,
bem como da Paraíba. Com isso, pelo crescimento demográfico, veio também a
preocupação com o ecossistema.
Com o crescimento de vias urbanas e com o aumento considerável de habitantes,
resultante do êxodo rural dos que migravam do campo para viver na cidade, a produção de
resíduos também aumentou significativamente. A coleta era feita de forma precária, em
caminhões ou carroças de tração animal, sem a preocupação de fazê-la de forma seletiva, e
todo o resíduo coletado era depositado em terreno baldio, a céu aberto. Hoje, não é
diferente. Não obstante, algumas tentativas de mudar esta realidade foram frustradas, como
veremos a seguir.
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discricionariedade do chefe do executivo, pois vive submisso a este. É claro que não se
pode tomar isto em absoluto, pois existe exceção.
Neste ínterim de inchaço populacional, foi criada, em 2001, a coordenadoria
municipal de turismo, com o intuito de olhar com mais atenção para o meio ambiente, não
apenas por amor às riquezas naturais que dispomos, mas para a implantação do turismo, ou
precisamente do ecoturismo, explorando a beleza natural deste recanto de nordeste.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSA E FICA, 2003)
Esta coordenadoria, formada por um vereador, um arquiteto e um professor do
município, elaborou um Projeto de Educação Ambiental, que foi gestado pela prefeitura
municipal de Passa e Fica, visando uma melhoria na qualidade de vida da população,
objetivando, sobretudo, a consciência ecológica, para que cada cidadão passafiquenses
possa se tornar consciente do seu papel na sociedade, mostrando-lhe a importância da
assunção de atitudes que possibilitem a redução na geração de resíduos e correta
destinação destes, contribuindo assim para a preservação ambiental. (SECRETARIA
MUNICIPAL DE TURISMO DE PASSA E FICA)
Para implantar este projeto, tiveram como justificativa dar uma ênfase na educação
ambiental, na participação popular, na consciência ambiental e na mobilização da
sociedade civil, uma vez que se constatou a cultura do desperdício, inclusive da água,
assim como dos demais recursos naturais disponíveis e de acesso universal, que estão cada
vez mais ameaçados pela degradação do solo, das águas e do ar.
Este audacioso projeto começou conscientizando a população para Repensar os
hábitos de consumo e de desperdício de resíduos que poderiam ser Reduzidos, pois é
necessário aprender a consumir menos e melhor para amainar o impacto causado pelo
homem. Com isso deve-se aprender a Reutilizar os bens de consumo, dando-lhe nova
possibilidade ou uso, como é o caso das embalagens retornáveis. E, por fim, Reciclar, que
consiste na reintrodução dos resíduos, seja sólido, líquido ou gasoso, gerando assim novos
produtos, uma opção que pode impactar, a curtíssimo prazo, a qualidade de vida ambiental
e humana do município em questão.
A reciclagem de materiais, resíduos sólidos, gera uma perspectiva de negócio, que,
nos últimos tempos, vem sendo desenvolvido e disseminado pelo meio empresarial e
governamental seja em busca de lucro, ou da qualidade de vida da sociedade. Daí uma
política pública socioambiental de tal envergadura que deveria entrar para o rol das
prioridades administrativas num município de pequeno e médio porte. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE PASSA E FICA, 2003)
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Infelizmente, como ocorre em várias sociedades, o povo não absorve esta feliz e
urgente ideia de harmonizar desenvolvimento sustentável com preservação dos recursos
naturais. E o mais preocupante, é que os conselhos comunitários, paritários, criados por lei
para realizar os projetos em prol do desenvolvimento social e econômico do município são
formados a portas fechadas, nos gabinetes do poder executivo e legislativo, com nomes
elencados apenas para cumprir formalidades.
Neste ínterim, chegou a Passa e Fica o grupo do SAR (Serviço de Assistência
Rural), ligado à Arquidiocese de Natal, para levar conhecimento e informação aos cidadãos
passafiquenses, em especial aos que estavam envolvidos nos conselhos paritários e nas
entidades que compunham a sociedade civil. Foi constatado, segundo levantamento deste
grupo, que grande parte dos membros dos conselhos existentes no município sequer tinha
conhecimento de que participassem de algo na cidade. Entidades, como as igrejas e o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais desconheciam que seus membros os representavam
nos conselhos comunitários do município. (SAR, 2004)
O mais intrigante nisso tudo é que, apesar de a Prefeitura ter encampado o projeto
de educação ambiental, que foi desenvolvido nas escolas estaduais e municipais, não havia
sequer o Conselho Municipal do Meio Ambiente, mas sim, apenas a secretaria de turismo,
que resolveu implantar este projeto tendo em vista o ecoturismo que estava se delineando
no Parque Estadual da Pedra da Boca, sito o município de Araruna-PB, mas que o
município de Passa e Fica situa-se na entrada deste parque, auferindo vantagens
consideráveis.
Além deste projeto de educação ambiental, o artesanato local começou a crescer,
pois muitos artesãos começaram a produzir seus trabalhos a partir de matéria prima
extraído dos resíduos reutilizáveis ou recicláveis. Infelizmente tais empreendimentos não
obtiveram o êxito esperado, pois a própria população não dá crédito a esses projetos, nem
valoriza tais trabalhos. Existem, no município, apenas três catadores de resíduos sólidos
que vão ao lixão, ou catam pelas ruas mesmo, em busca de latas, cartões, plásticos etc., e
vendem para empresas de fora. Mas o fazem não por consciência ecológica e ambiental,
mas por questão de sobrevivência. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSA E FICA,
2004)
Tudo estava caminhando a passos longos, com a campanha de conscientização nas
escolas, nas igrejas e nas ruas. Porém, como faltava o controle social e o controle jurídico
para acompanhar de perto esta política socioambiental, que tinha tudo para desenvolver o
município de forma sustentável, melhorando a qualidade de vida da população urbana e
64
rural, deste projeto, apenas as etapas iniciais foram realizadas a contento, ficando a cargo
da Prefeitura complementar o restante.
Tal projeto previa investimentos na infraestrutura, como a confecção de pontos de
coleta de lixo, com as cores conforme o resíduo, a fim de possibilitar a coleta seletiva,
onde cada tipo tinha destino diverso, assim como também era previsto a construção de uma
usina de compostagem para absorver o lixo orgânico, e um espaço para os coletores de
materiais recicláveis pudessem fazer a seleção e comercialização dos resíduos.
Enfim, o sonho teve curta duração. Os monitores que vieram fazer a capacitação
dos educadores, alunos e da sociedade civil organizada, foram embora, e o projeto ficou
inacabado. A cidade continuou, até o presente momento, a tratar os resíduos sem nenhum
cuidado com o meio ambiente, ampliando o impacto que estes causam ao solo, aos
mananciais de água e ao ar.
Também neste meio tempo, um dos representantes do Poder Legislativo, que fazia
parte da coordenadoria de turismo do município, se levantou contra um ato administrativo
do Poder Executivo, que sem nenhuma autorização do IDEMA, do IBAMA, do próprio
Poder Legislativo, fazendo uso da sua discricionariedade, implantou um lixão na zona rural
do município a sopra vento, no lado leste, e em meio a terras agricultáveis, de modo que,
com o passar dos dias, pelo acúmulo de resíduos no local e pela queima do mesmo, não
tardou a aparecer os primeiros impactos ao meio ambiente. (SAR, 2004)
Sensibilizado com a situação dos moradores circunvizinhos ao novo depósito de
lixo, que mal conseguiam fazer as refeições diárias devido ao excesso de moscas que
vinham do lixão para suas residências, além do mau cheiro, da fumaça da queimada e do
chorume que ameaçava a qualidade da água de alguns poços e pequenos barreiros que
serviam para o consumo doméstico e para os animais, este vereador começou com uma
campanha de conscientização, a começar pela própria Câmara de Vereadores que não
fiscaliza tal empreendimento do então gestor.
Sem sucesso, não conseguindo mobilizar toda a sociedade para o problema, pois
apenas os que moravam mais próximos ao lixão eram os mais atingidos e, portanto, os
mais preocupados, buscou auxílio no Ministério Público, que de pronto recomendou ao
gestor a imediata remoção do lixão da zona rural onde já residia havia décadas,
agricultores que estavam sendo diretamente prejudicados em sua cultura, e também ao
meio ambiente como um todo.
Inconformado com a recomendação ministerial da Promotoria de Justiça, temendo
maiores consequências, o gestor resolveu o problema, criando outro ainda maior.
65
Encaminhou um projeto para a Câmara criando o novo lixão, “batizando-o” com o nome
do vereador ambientalista. E com isso, o município continua a mercê da coleta de lixo de
forma tradicional, desde sua fundação, ou seja, recolhendo-o em carroceria de trator,
caminhão ou em caçamba, destinando todo o lixo produzido pelo município para o mesmo
local, agora situado a sota-vento, no sentido oeste. (MINISTÉRIO PÚBLICO/COMARCA
DE NOVA CRUZ, 2004)
Em face desta realidade, constitui uns dos grandes problemas administrativos,
ambientais e estruturais dos pequenos, médios e grandes municípios, o de darem um
destino adequado a todo o resíduo produzido diariamente e/ou planejarem sua produção de
modo a causar menos impacto ao meio ambiente.
São nos pequenos municípios onde esse impacto ao meio ambiente se dá com maior
intensidade, devido justamente à falta de uma política pública socioambiental que procure
promover um desenvolvimento sustentável, e devido à falta de participação e compromisso
da sociedade.
Nos grandes centros urbanos são gigantescos os problemas decorridos de impactos
ambientais, mas há um maior esclarecimento por grande parte da sociedade. O nível de
conscientização é bem maior, muito embora a consequência oriunda da falta de uma
educação ambiental se veja nas catástrofes quando há uma precipitação torrencial nas
capitais, decorrente da falta de uma política de urbanização que pense nas consequências
da poluição.
pai da pobreza por dar oportunidade de trabalho para quem não tinha terra para cultivar,
mas sim, apenas a força da mão-de-obra. Assim, Passa e Fica entrou para o competitivo
mercado regional na fabricação da farinha de mandioca, disputando com o Município de
Brejinho, que até hoje continua sendo o município conhecido pela qualidade de sua
farinha. (CAVALCANTE, 2006)
No entanto, com a cultura da mandioca em grande escala, surgiu também o
problema da degradação da flora, através das queimadas das matas da região para o cultivo
da terra, para a pecuária e para o abastecimento das casas de farinha com lenha, pois em
sua maioria, as casas de farinha ainda eram artesanais e os fornos eram à lenha, muito
embora as mini-indústrias de farinha situadas na cidade já funcionavam com fornos
elétricos e máquinas que substituíam o trabalho manual na moenda.
Com o passar do tempo, o baixo preço da mandioca desestimulou os agricultores,
que começaram a vender seus produtos para outros municípios. Também as intempéries do
tempo, marcado por longos períodos de estiagem, fizeram com que os agricultores
produzissem apenas as culturas de subsistência, como o milho e o feijão, e a mandioca
perdeu um pouco do seu apogeu. O comércio foi crescendo, à medida do crescimento
demográfico e urbanístico. As pessoas começaram a depender mais do poder político local,
vivendo de subempregos na prefeitura. (STR DE PASSA E FICA, 2005)
Com o crescimento demográfico, devido à chegada de água encanada no município,
através da política de adutoras, denominadas Adutoras Monsenhor Expedito, que trouxe
água para os municípios da Lagoa do Bonfim para a região agreste e trairí do Rio Grande
do Norte, e também devido às políticas habitacionais dos gestores que passaram por este
município, que ofereciam terrenos, materiais de construção e até mão-de-obra para os
novos munícipes oriundos de outras regiões do Estado e até da Paraíba, isto em troca de
votos, na maioria dos casos, fez com que aumentasse a pobreza pela falta de perspectiva de
emprego e renda. (PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSA E FICA, 2004)
Mas para sanar um pouco a problemática da falta de emprego e renda que surgiram
no município algumas iniciativas privadas que implantaram pequenas e médias indústrias,
tanto no ramo de estofados, confecções, tijolos e pré-moldados, serigrafias e oficinas
mecânicas. E sabe-se que com o advento destas vêm também os impactos causados ao
meio ambiente. E o que não se vislumbra neste município é uma preocupação com estas
atividades econômicas por demais impactantes. Sequer existe um conselho do meio
ambiente, nem sequer uma secretaria. Como foi dito acima, os conselhos municipais que
67
existem são apenas de fachada, sem efetividade, e muito menos as secretarias criadas para
auxiliarem na administração pública.
Um exemplo disto é a Secretaria da Agricultura que existe no papel há muito
tempo, mas não existia secretário nomeado para assumir tal cargo. Somente nos últimos
dois anos é que fora nomeado um secretário, engenheiro agrônomo, que está mais para
dirigir a EMATER, órgão do Estado, do que propriamente secretariar o município no
âmbito rural. (EMATER, 2005)
Por fim, como não há políticas voltadas para as atividades rurícolas, que no passado
era quem ditava o ritmo da economia do município, a agricultura e a pecuária vão sendo
tocadas de maneira desorganizada, sem o cuidado que o meio ambiente necessita, pois não
cessam de ocorrer queimadas nos campos, desmatamento de vegetação nativa e,
consequentemente extinção de espécies da fauna.
Há também o uso inadequado e inadvertido de agrotóxicos nas propriedades rurais
por parte dos que nela labutam, sejam estes proprietários, arrendatários, meeiros ou
comodatários. Sem sabê-lo acabam por comprometer a qualidade dos alimentos produzidos
e também fragilizando o solo com o manejo sem técnicas. Como a maioria dos
trabalhadores rurais cultiva a terra em regime de economia familiar, a falta de informação
acaba por acarretar situações lastimáveis no rendimento da produção, cada vez mais
escassa pelas intempéries do tempo e pela degradação do solo marcada pela erosão do
mesmo.
É importante frisar que até mesmo a cultura local passa por um processo de
extinção, pois no passado havia manifestações das tradições populares, como o pastoreio, o
bumba-meu-boi, o mamolengo, as quadrilhas juninas que faziam menção aos elementos
naturais da fauna e da flora.
Havia então a velha tradição das pessoas que costumavam se reunirem nas calçadas
e alpendres para contar histórias, onde ali, naquela ocasião, o saber popular era passado de
geração pra geração, o que, infelizmente, hoje não ocorre mais. No entanto, ainda se vê os
mais velhos reunirem-se nos bancos de praça contando seus “causos” e anedotas, ou
mesmo pra falar da vida alheia, nas famosas “rádio peão”, nas reuniões dos homens, e
“rádio peoa” nas reuniões das mulheres. Mas aquelas estórias, anedotas e bate-papos
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descontraídos que tinham conteúdos sadios, pois passavam ensinamentos para os mais
jovens estão desaparecendo com os que vão morrendo. (ORLANDO RODRIGUES, 2004)
A cada dia, quando morre um idoso, a tristeza invade as ruas da cidade de Passa e
Fica e penetra nos corações daqueles que têm sensibilidade e fome de saber, pois a
sabedoria e a experiência dos mais antigos vão embora com ele. É justamente para resgatar
estes preciosos berços de cultura e história vivas que infelizmente falta, por parte dos
administradores, uma política pública destinada ao amparo dos mais idosos.
O que se vê, na verdade, são programas sem um objetivo claro e definido, como é
popularmente chamado o “forró da peia mole”, onde os idosos do lugar frequentam
periodicamente para se encontrar dançarem, jogarem cartas, merendarem e, às vezes,
passearem, mas não se vislumbra uma preocupação em documentar o que cada um tem de
experiência de vida. (ORLANDO RODRIGES, 2004)
Os jovens têm apenas um reflexo desta cultura local devido a um trabalho pioneiro
de um arquiteto que trabalhou para a prefeitura, o mesmo que compunha a coordenadoria
de turismo. Ele montou um grupo para-folclórico denominado MACAMBIRAIS, fazendo
menção à uma vegetação nativa da região. (SECRETARIA MUNICIPAL DE TURISMO
DE PASSA E FICA, 2005)
Teatro e dança também forma o cenário cultural do município. O grupo teatral
Macambirais é uma companhia de dança e cultura popular, criada em 2001, que utiliza
elementos do folclore nordestino para apresentar suas danças e peças teatrais. O tradicional
forró pé-de-serra, o coco-de-roda, cirandas, maracatus, araruna, caboclinhos, entre outras
danças são apresentados pelo grupo fazendo algumas adaptações.
O grupo também apresenta dramas, cânticos de romanceiro e autos populares. O
organizador do grupo confessa que o único objetivo era criar uma opção cultural para os
visitantes da Pedra da Boca. Porém, com o tempo, foi se percebendo que aqueles garotos
tinham um grande potencial artístico e poderiam ser mais bem aproveitados dentro do
projeto de valorização cultural do município.
O grupo expandiu as atividades desenvolvidas inicialmente e terminou sendo parte
do Projeto Macambirais, ONG criada em 2003 para educar, qualificar e desenvolver um
projeto de inclusão social para a criança e adolescente. O espetáculo “Nordeste Vivo”, uma
mostra de 32 danças, tem sido apresentada em diversos Estados brasileiros. Um grande
passeio cultural pelas mais variadas manifestações populares e que melhor caracterizam a
alma cultural norte-rio-grandense.
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progresso que chegou aos pequenos municípios do agreste potiguar, que trouxe consigo
suas consequências. Não se vê mais certas árvores, nem certos animais rasteiros, nem aves.
Os mais jovens sequer têm ideia do que existia até pouco tempo atrás.
A fauna e flora são recursos naturais que juntos proporcionam ao homem inúmeros
benefícios, sendo responsáveis diretos pelo equilíbrio e manutenção dos ecossistemas,
constituindo parte importante do conjunto definido como biodiversidade.
A flora é o principal agente da cobertura vegetal do solo, auxiliando também no
processo de evolução e manutenção, além manter agradável às condições climáticas e
fornecer alimentos aos seres vivos.
A fauna por sua vez mantém com a flora uma relação de sobrevivência, retirando
da flora o seu alimento e em troca proporciona o desenvolvimento da flora e a manutenção
da mesma, ajudando a diversificar os tipos de cobertura vegetal ao longo da formação do
ambiente onde se abriga.
As espécies da flora identificadas na área da micro bacia do Rio Calabouço estão
descritas respectivamente por nomenclatura popular, nome científico e família, que segue
abaixo:
Micro bacia do Rio Calabouço: Espécies vegetais
NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Angico Piptadenia peregirna Leguminosae
Aroeira Astronium urundeuva Anacardiáceae
Algaroba Prosopis juliflora Mimosaceae
Catolé Syagrus comosa mart Palmae
Gameleira Ficus spp Anacardiáceae
Jatobá Hymenaea courbaril Leguminosae
Jenipapo Tocoyena brasliensis mart Rubiaceae
Juazeiro Ziziphus joazeiro Ramnáceae
Jucá Caesalpina férrea Leguminosae
Jurema Mimosa acustitipula Leguminosae
Jurema preta Mimosa hostillis Leguminosae
Jurema branca Pithecolobium foliolosum Leguminosae
Macambira Bromélia laciniosa Bromeliáceae
Mandacaru Cereus jamacaru Cactáceae
Mororó Bauhinia cheilanta Leguminosae
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Dos animais, o mais afetado será o próprio ser humano, grande responsável pela situação
em que se encontra nosso planeta.
Menos mal que surgiu este empreendimento do Governo do Estado da Paraíba que
criou este Parque Ecológico, pois tanto os animais quanto as plantas nativas estão sendo
preservados, na medida do possível. (CAVALCANTE, 2001)
com uma retroescavadeira. A maioria dos conselheiros acatou a opinião do prefeito e foi
feita a aquisição.
Até hoje, este veículo está a serviço da prefeitura servindo inicialmente para
realizar as obras de drenagem e do saneamento básico da cidade, do espaço urbano
especificamente. Depois fora utilizado para cavar açudes e barreiros na propriedade
particular o administrador.
Outro projeto em que houve desvio de sua finalidade, foi de uma outra comunidade,
que necessitava de uma debruadeira de grãos, ao passo que este equipamento foi parar em
outro município, a serviço de particulares. (EMATER/RN, Projedo de Combate à Pobreza
Rural)
Vários foram os projetos realizados no município em que não foram levados em
consideração as necessidades e anseios prioritários das comunidades, tendo em vista que os
conselhos, uma vez que eram compostos por pessoas ligadas ao Poder Público, que
mantinham vínculos com a prefeitura através de subempregos contratados, sempre
optavam por aprovar projetos que atendiam aos desmandos do poder executivo.
Neste ínterim, o Poder Legislativo mantinha-se inerte, pois a câmara era sempre
composta por maioria a favor do executivo. A bancada de oposição era sempre em minoria
esmagada, sem voz nem vez. Os vereadores, ao invés de fiscalizar, apenas corroboravam
com os interesses do chefe do executivo. É certo que, em alguns casos, a população era
atendida em suas necessidades, mas como é praxe em todos os municípios pequenos, existe
sempre uma classe privilegiada em detrimento da maioria que vive sempre à margem das
benesses.
Se não havia fiscalização por parte do Poder Legislativo, que sempre legislava em
favor do Poder Executivo, ou melhor, fazia apenas assinar o que o prefeito ordenava a
população por sua vez não tinha sequer a capacidade de questionar certos absurdos que
acontecia no município.
E o Poder Judiciário, onde estava? E o Ministério Público, o que fazia? Justamente
a ausência de controle jurídico e social fazia com que o município crescesse
demograficamente, mas econômico e socialmente decrescesse. Não havia mercado de
trabalho para todos, ao passo que a população ia inchando devido à chegada dos recursos
hídricos através do sistema de adutoras, oriundas da Lagoa do Bonfim.
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apoio do Poder Público e, principalmente, pelo comodismo da sociedade civil. Nos anos
consecutivos, os trabalhos foram ficando pra traz, e o SAR partiu para outras realidades
onde seus serviços eram necessários e imprescindíveis. (SAR, 2004)
Certamente, a missão do SAR no município não foi levada a termo justamente pela
ingerência negativa do poder público local que não aceitou que se veiculasse a situação
real de Passa e Fica, pois em toda imprensa do Estado, veiculava-se sempre que este
pequeno município do Agreste Potiguar era um dos mais promissores, que crescia a cada
dia. É inegável que o município crescia, mas demograficamente e estruturalmente, pois
sendo o gestor um engenheiro a prioridade de sua administração era a construção civil. E
como diz o velho jargão popular: “gaiola bonita não dá de comer a canário”. Fazendo
analogia, o povo continua na dependência econômica, política e ideológica.
Como foi visto acima, há alguns anos, foi realizada uma campanha em prol da
educação ambiental envolvendo educadores e educandos para mobilizar a sociedade
quanto á destinação correta dos resíduos produzidos pela população local, tanto da zona
urbana quanto da zona rural.
Este projeto de educação ambiental tinha o objetivo precípuo de mobilizar a
comunidade para a mudança de mentalidade quanto ao zelo pelo meio ambiente, a começar
pela destinação correta do lixo, ou seja, implantando no município a coleta seletiva de
resíduos, implantando a política socioambiental do desenvolvimento sustentável
reutilizando e reciclando os resíduos sólidos inorgânicos e implementando uma usina do
compostagem para aproveitar o resíduo orgânico em prol da qualidade de vida, uma vez
que se eliminam da área geográfica do município os terríveis lixões que só trazem
transtornos e impactos irreparáveis ao meio ambiente. (ESCOLA ESTADUAL
DEPUTADO DJALMA ARANHA MARINHO, 2004)
No entanto, este projeto de educação ambiental foi abortado pelo poder público,
que instalou uns depósitos de coleta seletiva na praça onde funciona a feira-livre e alguns
depósitos próximos ao hospital, mas não implantou a política da coleta seletiva. Todo o
trabalho e esforço dos alunos e seus professores, que mobilizaram a cidade com campanhas
82
viverão na inércia? A natureza geme, clama e sofre as consequências das ações impensadas
dos seres humanos.
6.4 As experiências positivas e a atuação da Sociedade Civil nas Políticas Públicas
Socioambientais
Ao longo destes anos, acompanhando o trabalho do SAR, que fez um diagnóstico a
partir de estudos feitos pela Pastoral da Criança, movimento pertencente à Arquidiocese de
Natal, que o subsidiou de informações acerca da realidade social de alguns municípios da
região agreste e trairí do Estado do Rio Grande do Norte, que vaticinava estarem estes
municípios abaixo da linha de pobreza devido ao baixo IDH, notou-se que o município em
tela, não obstante à atuação um tanto passiva da Sociedade Civil no planejamento de
execução de políticas públicas, vem apresentando algum sinal de crescimento e
amadurecimento, portanto, demonstrando que houve experiências exitosas.
Apesar da postura passiva de grande parte desta Sociedade Civil, os Conselhos
Municipais vem desempenhando papel importante no desenvolvimento socioeconômico de
Passa e Fica, pois muitos dos projetos oriundos do governo estadual e federal dependem da
existência destes conselhos municipais, bem como de sua participação efetiva.
Os conselhos existentes no município são: O Conselho Municipal de Saúde, o
Conselho Municipal do FUMAC e o Conselho Municipal de Direitos da Criança e
Adolescentes. Cada qual, na sua especificidade, procurou atuar de maneira efetiva para
atender aos anseios da sociedade. No entanto, a falta de formação destes conselheiros não
rendeu os frutos que poderiam render. Mesmo assim, várias foram as ações que ajudaram a
tirar o município da situação calamitosa de estar com um índice de desenvolvimento que
não harmoniza com um município que vem crescendo geograficamente e
demograficamente.
O Conselho Municipal do FUMAC foi o que mais atuou no campo social devido à
sua própria filosofia, que é o combate a pobreza, principalmente na zona rural, onde ano
após ano o homem do campo vem sofrendo com as mudanças climáticas e ambientais que
comprometem a sua cultura laboral. E, no decurso de alguns anos, o município conseguiu
implantar vários projetos, em parceria com o PDS (Programa de Desenvolvimento Social),
do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, assim como também realizou parcerias
importantes com o Governo Federal.
Através de investimentos na área rural, foi possível a implantação de programas de
cisternas, como foi dito acima, ampliação de rede de água e esgoto para algumas
comunidades rurais, que se tornou realidade com o advento do Programa de adutoras,
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criada pelo Monsenhor Espedito (In Memoriam), cursos de capacitação para agricultores,
pequenos pecuaristas e artesãos.
Com o apoio da Emater, o PRONAF adentrou na vida das mulheres e dos homens
do campo proporcionando-os, em parceria com o BNB (Banco do Nordeste do Brasil),
linhas de crédito para financiar compra de gado leiteiro e de corte, assim como o custeio e
reforma de propriedades, com sistema de amortização de dívida e carência elástica, de
modo a não onerar em demasia a economia familiar.
importância a nível mundial. Uma vez que se formam cidadãos conscientes dos seus
direitos e deveres, uma vez que se educa para a cidadania e para a consciência ambiental,
será possível ver uma população mais independente, livre e com sabedoria para eleger bem
seus representantes e participar mais ativamente da administração pública, vivendo numa
democracia de fato e de direito. (CNBB/CF2011)
É certo que muito se avançou neste país no sentido de participação democrática,
muito diverso da participação cidadã na Grécia e na Roma antiga, onde apenas os homens
livres podiam decidir diretamente os rumos da cidade (polis). A invenção da política foi
um das maiores que o homem pode experimentar como forma de governo e o regime
democrático provou ser o melhor dos regimes.
Porém, ainda falta para os cidadãos de hoje, principalmente nos pequenos
municípios, um amadurecimento maior. E não é preciso reinventar a roda. As leis que
existem são muito boas e eficazes. É preciso apenas uma correta aplicação. Para que isso
ocorra, cabe a cada cidadão, uma vez em posse do conhecimento dos seus direitos e
deveres, fiscalizar, acompanhar de perto os atos dos administradores, ajudando-os na
elaboração e execução das políticas públicas. Isto não é tarefa fácil, porém possível.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face ao exposto, pode-se decorrer que o controle social e jurídico depende, quase
que exclusivamente, da vigilância da sociedade civil que tem ao seu alcance os
instrumentos necessários para exercer, com eficiência e eficácia, sua cidadania através da
participação democrática no governo de seu Município, do seu Estado e do País. Além
destes instrumentos legais, temos os órgãos constituídos para esse fim, como é o caso do
Ministério Público, do Poder Judiciário e dos Tribunais de Contas, além dos agentes
fiscalizadores que compõem o Legislativo.
Partindo do conceito originário de política, que se reporta à Grécia e a Roma,
chegou-se ao conceito mais restrito, o de política pública. Foi visto que o modelo de
democracia e de política Greco-romana, embora sirva de base para os modelos atuais,
muito se distingue dos moldes atuais de política e democracia.
O Brasil, geopoliticamente dividido em Estados e Entes federados, está ainda muito
distante de ser um país politizado, pois grande parte de população ainda vive à margem do
acesso a políticas públicas efetivas que transforme este país continental numa grande
potência mundial.
Pleno de riquezas naturais o Brasil continua sendo o país do futuro, apesar de 500
anos de “saques” por parte dos seus dominadores, que ainda hoje continuam usufruindo
indiscriminadamente dos recursos naturais disponíveis. A falta de zelo pela fauna e flora,
pela ausência de cultura e pela fraca educação mantém o país no rol dos países atrasados,
se comparados com alguns países europeus e com outras nações. Isto tem reflexos diretos
nos pequenos municípios, onde a educação não é a prioridade dos governantes. Sendo
assim, a falta de educação infere principalmente na preservação do meio ambiente.
Infelizmente, a maioria da população ainda não sabe distinguir a política pública da
política partidária, apesar dos meios de comunicação que não cessam de passar
informações do gênero. E o acesso aos meios de comunicação de qualidade também é
outro entrave à formação cidadã do povo brasileiro. Os meios de comunicação de massa a
que a população menos instruída tem acesso, em sua maioria, são dominados pela elite
que, para poder auferir vantagens e continuar no topo, manipulam tais meios para manter o
povo alienado.
O conceito de políticas públicas aos poucos vai sendo absorvido pela população
mais esclarecida, mas que constitui uma batalha sem limites contra a ignorância daqueles
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que preferem cruzar os braços, tapar os ouvidos ou fechar os olhos pra não ver a realidade.
Preferem não se comprometer.
Mas historicamente a nação brasileira vem avançando no espaço político a ponto de
se ver mudanças significativas no campo da legislação, que aos poucos foi colocando ao
alcance das pessoas instrumentos para proporcionar uma participação mais direta e ativa
nos destinos do país, desde o menor e mais pobre dos municípios ao maior e mais
desenvolvido estado ou região do país. A Constituição Federal de 1988 trouxe novos
horizontes para a democracia e política brasileiras ao definir princípios norteadores do agir
de cada cidadão brasileiro.
O município de Passa e Fica, situado na região agreste potiguar, fazendo fronteira
com o Estado da Paraíba, muito jovem, desde a sua emancipação, ainda mantém uma
mentalidade provinciana de modo que parece que a Constituição Federal ainda não foi
sequer conhecida por seus cidadãos. Isto é constatado pela falta de politização dos
passafiquenses, que sequer conhecem a Lei Orgânica Municipal. E o mais escandaloso,
nem mesmo seus representantes no Poder Legislativo a conhecem, sendo uma parte destes
semianalfabetos, ou analfabetos funcionais, que apenas assinam o nome ou tem
escolaridade básica.
A falta de conhecimento daqueles que são escolhidos como representantes do povo
já dá uma amostragem da falta de politização da sociedade passafiquense que ainda não
aprendeu o que significa democracia, nem muito menos distinguir política pública de
política partidária. Infelizmente, a maioria da população vive na expectativa de, a cada dois
anos, viverem o “frevo” das campanhas eleitorais onde vigora o “toma-lá-dá-cá”,
reminiscência do antigo coronelismo, onde o poder econômico prevalece sobre o político.
A sociedade não está muito preocupada com os destinos políticos nem com a
qualidade da administração pública, uma vez que delegam este papel para seus eleitos. O
que a maioria espera é ser atendido em suas necessidades particulares, de modo que o que
é coletivo não é prioritário.
Diante deste cenário, realmente é um desafio implantar políticas públicas dentro
dos moldes dos princípios constitucionais visando à conscientização para a preservação
ambiental, e possível reparação. Não obstante, também se vê alguns sinais de lucidez em
boa parte da população, principalmente na juventude que hoje busca seu espaço,
acreditando que é na educação que está a solução para a maioria dos problemas que afetam
a sociedade. Mas sabe-se que esta luta não é fácil. Infelizmente é a minoria da população
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juvenil que ainda alimenta um ideal de mundo melhor, e que acredita nas mudanças pela
força da democracia.
O grande desafio dos cidadãos passafiquenses é o de mostrar para o restante da
população que outra via é possível para ver o município crescer, não somente
demograficamente, como vem ocorrendo ao longo de vinte anos, mas principalmente em
qualidade de vida. A via que se acredita é a da educação, a da formação para uma
cidadania ativa, a via da liberdade de consciência. Muito se espera destes jovens
desbravadores que alçam voos altos para terem uma visão global da realidade local.
Ao longo deste trabalho vislumbrou-se que a possibilidade de mudanças de
mentalidade e de postura na sociedade é real, pois os instrumentos para a atuação cidadã no
controle das políticas públicas socioambientais estão ao alcance de todos. Todos os meios
são disponibilizados para que cada cidadão possa reivindicar seus direitos, que muitas
vezes são tolhidos pela má gestão dos recursos públicos.
Uma vez que as associações, os conselhos comunitários, as ong’s e as entidades
religiosas têm em mãos as informações necessárias para lutar pelos seus direitos e por uma
sociedade mais justa, livre, fraterna e solidária, não há que se perder a esperança de que se
pode chegar bem próximo do ideal de democracia, uma vez idealizada e vivenciada na
Grécia antiga e em Roma, como resposta aos desmandos do poder despótico que reinava
na época. O que motiva a sociedade civil para a luta por uma democracia mais participativa
é a constatação de que esse despotismo teima em querer ressurgir.
Além do controle social, exercido diretamente pelos cidadãos, de maneira
organizada e legalmente fundamentada, temos as instituições que desempenham seu papel
de controle jurisdicional delimitando e norteando, pelos princípios constitucionais da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da razoabilidade, da publicidade e da
eficiência, os atos administrativos dos que são colocados no topo do poder para servir à
própria sociedade.
O papel do Ministério Público é de suma importância para este controle social e
jurídico por ser uma instituição cujo escopo é o de defender os direitos coletivos e difusos,
atuando como fiscal dos três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, chegando
às vezes, a ser tratado como se fosse o “quarto poder”. Os promotores de Justiça, após a
Constituição Federal de 1988, não são mais meros acusadores, mas se tornaram os grandes
defensores da sociedade, sendo-lhes parceiro na luta por justiça, e justiça social.
Este novo perfil do Ministério Público, tornando-o mais próximo da sociedade, fez
com que sua existência encontrasse sentido na promoção da justiça. No entanto, constata-
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se ainda certo comodismo por uma grande parte de representantes do Ministério Público
que não se sentem encorajados a sair do gabinete para promover a justiça junto à sociedade
pela falta de aparelhamento estatal.
Ao lado do Ministério Público, o Poder Judiciário também sofreu certa mutação em
termos de postura. É bem sabido que o Estado também não dá o devido suporte a esta
terceira face do poder que emana do povo. Hoje não dá mais pra ficar apoiado no princípio
da inércia para ver as mudanças acontecerem. Esperar pela manifestação da sociedade, ou
pela atuação do Ministério Público é de certa forma contribuir para que a sociedade não
alcance o nível de liberdade e de democracia verdadeira. O Poder Judiciário também tem
que se aproximar do povo, já que este muitas vezes lhe teme. Aproximar o povo do direito
e o direito do povo é o meio mais eficaz de transformar a mentalidade de uma sociedade
provinciana, ainda arraigada ao sistema feudal do medievo.
No tocante à atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário da Comarca de
Nova Cruz, no controle jurídico das políticas públicas, especificamente no município de
Passa e Fica, existem algumas ações tramitando, todas na vara cível, dentre as quais estão
ações de improbidade administrativa, ação civil pública e uma na seara criminal,
envolvendo representantes do executivo e do legislativo, além de funcionários públicos,
todos arguidos por má gestão do erário público. Mas nenhuma ação contra os gestores
dizem respeito a questões ambientais. Infelizmente, não se tem notícias de que algum
gestor tenha respondido processo, julgado e condenado por crime ambiental.
Falta por parte da sociedade civil organizada um trabalho efetivo de fiscalização e
de denúncia de crimes ambientais, ou até mesmo de desmandos na implementação de
políticas públicas. Quando a sociedade despertar do seu sono profundo, talvez as
instituições, que foram criadas para fiscalizar, julgar e punir pelo próprio Estado, cumpram
seu papel de maneira mais efetiva e eficiente.
Enquanto a implementação de políticas públicas socioambientais não forem
acompanhadas de perto pela sociedade civil organizada, enquanto as decisões não forem
tomadas consultando a sociedade, enquanto as instituições legais não atuarem com rigor,
enquanto os recursos públicos forem geridos por pessoas inescrupulosas, sem ética, sem
moral e sem decência, o mundo vai caminhando para o caos.
A natureza sofre as consequências da degradação ambiental causada pela ambição
desmedida dos homens. “A terra é pequena e limitada, se a terra morrer, também
morrerás...” (Pe. ZEZINHO, SCJ). O homem está acabando com sua casa, com sua vida.
Pode parecer piegas, mas a implementação de políticas públicas socioambientais está
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associado a questões não apenas sociais, mas, sobretudo éticas. E quando se fala de justiça
social, deve-se incluir neste contexto uma postura religiosa, uma vez que amor à natureza
ao próximo e à vida faz parte do rol doutrinário das religiões, e fundamenta os princípios
constitucionais.
Muito embora se viva hodiernamente sob a égide de um regime republicano, onde
há a nítida separação de Estado e Igreja, não se pode prescindir o papel religioso nas
decisões e ações do Estado no que tange às políticas públicas que visam atender às
necessidades da coletividade, quando se busca a igualdade, fraternidade e liberdade como
garantia da pacificação social.
Na formação dos conselhos comunitários paritários a Igreja sempre fez questão de
ter assento, seja no âmbito estadual como no local. Mas apesar de a Igreja, como
instituição milenar, ter influenciado o poder temporal durante séculos, no mundo moderno
cabe-lhe atuar de modo profético, fazendo-se representar por pessoas que têm ideais e um
senso crítico da realidade que o cerca. Mas o poder temporal, desta vez, é quem interfere
no espaço religioso, indicando quem pode ou não representar a instituição religiosa nos
conselhos. É o que acontece no município de Passa e Fica, e nos demais pequenos
municípios dos estados brasileiros.
Então, já não se pode falar em eficiência e eficácia na realização de projetos e
programas que perfazem as políticas públicas socioambientais, pois a ausência da
sociedade civil, representada pelos conselhos comunitários, somado à ausência dos órgãos
constituídos na fiscalização da execução de tais políticas faz com que os gestores desviem-
nas do seu objetivo principal, que é o atendimento aos anseios e necessidades do povo.
Somente uma mudança radical na mentalidade e na postura das pessoas, através da
educação e da politização poderá proporcionar uma transformação da realidade social.
Sabe-se que promover tal mudança não é tarefa fácil, pois infelizmente a corrupção e a
impunidade ainda maculam a política brasileira. As pessoas têm que se conscientizar de
que sua atuação junto aos governantes nas reflexões, deliberações e execuções das políticas
públicas é de suma importância para o desenvolvimento sustentável, tanto em âmbito local
como em âmbito global. Todos são corresponsáveis pela ordem e progresso deste país,
governantes e governados. A cidadania ativa é o modo mais eficiente e eficaz de garantir
uma sociedade justa, fraterna e solidária, onde os atores sociais não sejam meros figurantes
no cenário político e econômico. Que o controle social e o controle jurídico das políticas
públicas socioambientais sejam cada vez mais eficientes, tanto nos pequenos municípios
quanto em todo o país. Que a realidade local se torne espelho para a realidade global.
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