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Impugnações de Fátima Theresa Esteves dos Santos de Oliveira (fls. 1.118-1.150, e-STJ) e da
Defensoria Pública da União (fls. 1.151-1.432, e-STJ).
A União (fls. 1.032-1.043, e-STJ) sustenta, em síntese, que: (a) "considerando-se que o
Brasil adota a Medicina baseada em evidências, o laudo expedido pelo médico que assiste o paciente
nem sempre será suficiente para fundamentar a concessão judicial do medicamento, sendo necessário
que se realize prova pericial que efetivamente demonstre que, para aquele paciente, a terapia
disponibilizada pelo SUS é totalmente ineficaz" (fls. 1.036-1.037, e-STJ); (b) não houve a devida
motivação para a modulação dos efeitos; (c) ante a modulação dos efeitos, fere a isonomia a
Impugnações de Fátima Theresa Esteves dos Santos de Oliveira (fls. 1.118-1.150, e-STJ) e da
Defensoria Pública da União (fls. 1.151-1.432, e-STJ).
Fátima Theresa Esteves dos Santos de Oliveira (fls. 1.044-1.067, e-STJ) sustenta haver
omissão e contradição no acórdão, apontando que: (a) o requisito da obrigatoriedade de registro do
medicamento na ANVISA não observou que o julgamento do RE 657.718/MG, que trata da questão,
não foi concluído pelo STF e que é permitida, àqueles que possuem capacidade econômica para tal, a
importação de medicamentos controlados sem registro no país, o que viola o princípio da isonomia; (b)
"a jurisprudência maciça do Supremo Tribunal Federal é categórica e firme no sentido de que os entes
federativos podem ser compelidos a fornecer medicamento não registrado na ANVISA quando
demonstrado que ele constitui a única terapia eficaz para o tratamento e a manutenção da saúde e da
vida do paciente" (fl. 1.063, e-STJ); (c) "para fins de prequestionamento, requer que esta C. Corte se
manifeste expressamente sobre todas as normas invocadas nos presentes embargos, notadamente
quanto a violação aos arts.1º, caput e inciso III, art.3º, inc. I, 5º, caput e inciso XXXV, §1º, 6º, 93, IX,
196, 197 e 198 de nossa Constituição".
Impugnações apresentadas pela União (fls. 1.091-1.106, e-STJ), pelo Estado do Rio de
Janeiro (fls. 1.108-1.116, e-STJ) e Defensoria Pública da União (fls. 1.151-1.432, e-STJ).
É o relatório.
EMENTA
TESE FIXADA:
A tese fixada no julgamento repetitivo passa a ser: A concessão dos medicamentos não
VOTO
Assentada a premissa acima, para maior clareza, segue a análise, de forma separada, de cada
um dos três embargos de declaração opostos.
No entanto, não cabe ao Superior Tribunal de Justiça, na fixação da tese repetitiva, "dirigir"a
Por fim, o Estado do Rio de Janeiro pede que se esclareça se a necessidade do registro na
ANVISA afasta o fornecimento de medicamento de uso off label, que é aquele em que o
medicamento é utilizado no tratamento de patologias não autorizado pela agência governamental e, por
conseguinte, não se encontra indicado na bula.
Sendo assim, ainda que não conste no registro na ANVISA, na hipótese de haver autorização,
ainda que precária, para determinado uso, é resguardado o direito do usuário do Sistema Único de
Saúde de também ter acesso a utilização do medicamento no uso autorizado não presente no registro.
É o voto.
Em segundo lugar, o citado art. 15, § 1º, do Decreto n. 7.646/2011 disciplina o requerimento de
incorporação de medicamentos ao SUS realizado por interessados. Não é o caso da previsão constante
do acórdão embargado segundo a qual poderá o julgador, após o trânsito em julgado, expedir
comunicação ao Ministério da Saúde e à Comissão Nacional de Tecnologias do SUS (CONITEC) a
fim de que se realizem estudos quanto à viabilidade de incorporação do medicamento no âmbito do
Além disso, por oportuno, impõe-se fazer os seguintes esclarecimentos quanto à modulação
dos efeitos.
É importante destacar que o julgamento do presente caso repetitivo possui duas faces: uma
voltada para os feitos pendentes e outra para os processos futuros.
Assim, fixou-se a tese segundo a qual a concessão dos medicamentos não incorporados em
atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos:
(i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da
ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
Todavia, também realizou-se a modulação dos efeitos, de forma que tais requisitos somente
serão exigidos para os processos que tenham sido distribuídos, na primeira instância, a partir da
publicação do acórdão embargado. Conclui-se, portanto, que os requisitos fixados de forma cumulativa
dirigem-se ad futurum. Esta é, conforme afirmado acima, a primeira face do julgado.
Assim, realizados os esclarecimentos acima, verifica-se que não há que se falar em vício a
ensejar a modificação do acórdão embargado, pois todas as questões foram devidamente analisadas.
Não constitui omissão o mero inconformismo com a conclusão do julgado, manifestado nas seguintes
afirmações: necessidade de outros meios de prova, além do laudo médico, a fim de comprovar a
imprescindibilidade do medicamento requerido; a modulação dos efeitos viola o princípio da isonomia.
Assim, eventual dissenso com decisões de outros tribunais, ainda que seja da Suprema Corte,
por representar circunstância externa ao corpo do acórdão embargado, também denominada
"contradição externa", não autoriza o acolhimento do recurso integrativo.
Portanto, não se vislumbra que a parte tenha apontado em suas razões qualquer contradição
do acórdão embargado no sentido acima apontado.
Também não há que se falar em omissão, pois todas as questões foram devidamente
analisadas pelo acórdão embargado. Não constitui omissão o mero inconformismo com a conclusão do
julgado, manifestado nas seguintes afirmações: que o STF tem admitido o fornecimento de
medicamento não registrado na ANVISA; que a questão está sendo apreciada, em sede de
repercussão geral, pelo Supremo Tribunal Federal, mas que ainda não foi concluído o julgamento; que o
requisito de registro na ANVISA fere o princípio da isonomia.
Ficou consignado no acórdão embargado que "os critérios e requisitos estipulados somente
serão exigidos para os processos que forem distribuídos a partir da conclusão do presente julgamento".
No entanto, tal termo inicial suscita dúvidas, podendo ser interpretado de, pelos menos, duas
formas: a conclusão julgamento refere-se ao julgamento do recurso especial, ou seja, o termo inicial da
modulação seria a data da assentada que se julgou o repetitivo e fixou-se a sua tese (25/4/2018); ou a
conclusão do julgamento impõe o esgotamento da instância, isto é, o termo inicial da modulação seria
quando se julgar o último recurso cabível no âmbito do Superior Tribunal de Justiça.
Sendo assim, com espeque no inciso I do art. 494 do CPC/2015, que possibilita a correção de
ofício de inexatidões materiais, altera-se o termo inicial da modulação dos efeitos do presente
repetitivo, que passa a ser a data da publicação do acórdão embargado, ou seja, 4/5/2018.
Quanto ao mérito:
a) O laudo médico apresentado pela parte não vincula o julgador, isto é, cabe ao juiz avaliar o
laudo e verificar se as informações constantes nele são suficientes para a formação de seu
convencimento quanto à imprescindibilidade do medicamento
b) Cabe ao juiz avaliar, a partir dos elementos de prova juntados pelas partes, a alegada
ineficácia do medicamento fornecido pelo SUS decidindo se, com a utilização do medicamento pedido,
poderá haver ou não um relevante acréscimo na resposta terapêutica.
c) A exortação constante no acórdão embargado para que o juiz, após o trânsito em julgado,
expeça comunicação ao Ministério da Saúde e/ou CONITEC a fim de realizar estudos quanto à
viabilidade de incorporação no SUS do medicamento deferido, deve receber o mesmo tratamento da
situação prevista no § 4º do art. 15 do Decreto n. 7.646/2011.
Quanto a modulaçao:
b) Quanto aos processos pendentes, com distribuição anterior à 4/5/2018, é exigível o requisito
que se encontrava sedimentado na jurisprudência do STJ: a demonstração da imprescindibilidade do
medicamento.
A tese fixada no julgamento repetitivo passa a ser: A concessão dos medicamentos não
incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes
requisitos:
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima elencados sejam
exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos distribuídos a partir da data da publicação
do acórdão embargado, ou seja, 4/5/2018.
É o voto.