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1 INTRODUÇÃO
Desde a adoção da resolução normativa REN 482/2012 e REN 687/2015 pela Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), em que se procede a regulamentação de gerações distribuída no Brasil
(ANEEL, 2012; ANEEL, 2015), o futuro da energia solar fotovoltaica permanece desconhecido. Apesar
do crescimento do setor de energias renováveis, cogeração e biomassa, o segmento carece do
cumprimento da regulação por parte das concessionarias de energia.
A ausência de um quadro regulamentar específico para a energia solar fotovoltaica introduz uma
nova variável que, juntamente com o intrínseco de grandes projetos de construção de energia, exige
uma identificação de riscos em uma fase ainda conceitual do projeto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
De um ponto de vista genérico, estão disponíveis na literatura diferentes definições de risco, sendo
a primeira a mais adequada para projetos de sistemas fotovoltaicos:
Com base nessas definições, o PMBOK® Guide 5th Edition 2013, sugere que uma gestão de
risco eficaz envolve um processo de quatro fases:
1. Identificação dos riscos: o processo de determinação de quais os riscos podem afetar o projeto
eas metodologias para documentar suas características.
2. Avaliação dos riscos: o processo de priorização do risco para posterior análise ou ações
subsequêntes, avaliando e combinando a probabilidade de ocorrência e impacto.
3. Resposta aos riscos: o processo de desenvolvimento de opções e ações para melhorar
asoportunidades e reduzir as ameaças que impactam os objetivos do projeto.
4. Monitoramento e atualização dos riscos: o processo de implementação de planos de resposta
aosriscos, rastreamento de riscos identificados, monitoramento de riscos residuais, identificação
de novos riscos e revisão da evolução dos riscos iniciais.
Este artigo centra-se na primeira fase do processo descrito acima, uma vez que são apresentados
procedimentos para a identificação dos riscos em projeto de grandes usinas fotovoltaicas, deixando
para futuras pesquisas a execução das outras etapas do processo de avaliação de riscos, mais
relacionadas à fase de construção do projeto.
3 METODOLOGIA
Nesta seção propõe-se um modelo de identificação de risco para projetos de sistemas fotovoltaicos
de grande porte. O modelo consiste em três etapas:
Neste artigo, o painel de identificação de risco é composto por quatro especialistas com vasta
experiência em projetos de geração fotovoltaica.
• E1: Gerente de Projetos, com experiência no projeto e construção de usinas solares fotovoltaicas.
• E2: Investidor em instalações para produção de eletricidade a partir de fontes renováveis de energia.
• E3: Gerente de uma empresa de projetos de construção fotovoltaica EPC (Engineering,Procurement
and Construction).
• E4: Supervisor de instalações fotovoltaicas do departamento de O&M (Operation and Maintenance).
A identificação dos riscos tem como objetivo detectar com antecedência todos os fatores que
podem impactar o projeto, a fim de eliminar ou reduzir os riscos negativos e aumentar os riscos positivos
ou oportunidades. Uma correta identificação dos riscos é essencial, uma vez que o restante dos
processos de gestão de riscos, como a análise de risco e as estratégias de resposta ao risco, só podem
acontecer nos riscos potenciais identificados.
A identificação de riscos é um processo iterativo presente ao longo do ciclo de vida do projeto, uma
vez que os riscos podem evoluir ou aparecer novos à medida que o cronograma do projeto avança. A
frequência de iteração depende das características do projeto. Como os projetos de sistemas
fotovoltaicos são geralmente ágeis (abaixo de seis meses), são necessárias sessões de identificação
e atualização de riscos mais frequêntes.
Existem alguns métodos úteis para identificar os riscos potenciais de projetos, como lista de
verificação, diagramas de influência, diagramas de causa e efeito, análise do modo de falha e seus
efeitos, árvores de falhas e árvores de eventos (Yim et al., 2015; Ahmed, Kayis e Amornsawadwatana,
2007, Chapman 1998).
1. Riscos Políticos
2. Riscos Técnicos
3. Riscos Econômicos
4. Riscos no Cronograma
5. Riscos Legais
6. Riscos Sociais.
4 ESTUDO DE CASO
Como forma de testar a metodologia de identificação de riscos, é utilizado um projeto de uma usina
solar fotovoltaica de 321,98 MW localizada em Cassilândia/MS. Esta usina está em fase de estudo e
processamento inicial. As características técnicas gerais do projeto são:
No que diz respeito aos riscos políticos, a influência da política não é apenas nacional, existem
partes interessadas internacionais, como países do G-20 que assinaram tratados para redução das
emissões de dióxido de carbono na atmosfera. Como é visto nas tabelas de risco, a política nacional
também possui parte significativa do gerenciamento de riscos, principalmente na aprovação de
licenças. É necessário frizar o momento em que a política brasileira passa, com inúmeros escândalos
de corrupção e instabilidade político no executivo.
4.1.1 Macroeconomia
Este grupo de riscos engloba os elementos associados à influência da política brasileira em
questões voltadas a produção de energia por meio de fontes alternativas. Atualmente, este tipo de
projeto situa-se no âmbito do plano brasileiro apresentado na COP-21 em Paris, sendo que em 2030,
o país deverá antingir (COP Report, 2016):
A seleção correta da localização da planta é essencial para o sucesso do projeto. Este projeto
está localizado na área de radiação V, de acordo com o CRECESB (2006), com um nível de
precipitação de 1300-1500 l/ano. A terra é uma área agrícola ligeiramente ondulada que hoje é
dedicada a pastoreio.
Tabela 3. Riscos técnicos - Localização da instalação.
GRUPO SUB-GRUPO RISCO DESCRIÇÃO
2.1.1 - Adaptação tecnológica às Mudanças climáticas podem
mudanças climáticas afetar o projeto durante seu
ciclo de vida
2.1.2 - Riscos de tempestades e Possibilidade de tempestades
enchentes fortes e inundações na área do
projeto
2- 2.1 - 2.1.3 - Estimativa da irradiação Existência de erro nas
Riscos Localização da solar estimativas de irradiação solar
técnicos planta para o local
2.1.4 - Terraplanagens Problemas técnicos associados
a sismos e acomodação
geológica
2.1.5 - Estudos geotécnicos Riscos associados com
problemas geotécnicos em
estruturas
4.2.2 Tecnologia fotovoltaica empregada
A operação da usina é a fase mais delicada na perspectiva econômica, pois é a fase em que
os fluxos de caixa necessários para fazer pagamentos de financiamento e benefícios esperados para
o projeto ocorrem.
A localização da planta é essencial para a média de produção anual de energia, bem como os
possíveis custos associados com serviços como terraplanagem e sondagens. Tabela 6. Riscos
econômicos - Localização da planta
GRUPO SUB-GRUPO RISCO DESCRIÇÃO
3.2.1 - Erros na estimativa da Falta de consistência na
irradiação solar disponível estimativa da irradiação solar
disponível
3.2 - 3.2.2 - Estimativa de produção Mudanças climáticas ao longo
3 - Riscos
Localização da devido à mudanças climáticas do ciclo de vida da planta
econômicos
planta 3.2.3 - Produtividade da Risco de custos adicionais
terraplanagem associados às medidas
corretivas de nivelamento do
terreno
6
Uma seleção incorreta de tecnologia para uso nos principais componentes fotovoltaicos pode
ser um custo significativo na instalação e falta de desempenho.
Tabela 8. Riscos econômicos - Tecnologia
GRUPO SUB-GRUPO RISCO DESCRIÇÃO
3.4.1 - Custos devido à seleção Risco de redução na
inadequada dos paineis rentabilidade da planta
fotovoltaicos
3 - Riscos 3.4.2 - Custo relacionados à Risco de redução na
3.4 - Tecnologia
ecnonômicos seleção incorreta do inversor rentabilidade da planta
3.4.3 - Custos devidos à falta de Custos associados ao reparo
consistência na seleção das das estruturas de suporte e
estruturas de suporte e fixação fixação
4.3.5 Macroeconomia
As mudanças macroeconomicas podem gerar sérios riscos sobre o futuro do projeto, uma vez
que impactam diretamente a rentabilidade da planta. A atenção a esse grupo de riscos deve ser
redobrada, uma vez que existe instabilidade política no Brasil, além de desconfiança internacional por
parte de investidores.
Ao identificar os riscos do projeto, maior a escala do projeto, maior influência tem na sociedade.
A sociedade brasileira está cada vez mais envolvida com a introdução de energias renováveis
em suas vidas diárias, sendo um impacto positivo para a região de Cassilândia e para o estado de Mato
Grosso do Sul. Entretanto, é necessário se atentar para questões fundiárias e culturais quando
extensas áreas de terras são ocupadas por tempo indeterminado.
5 CONCLUSÃO
Neste trabalho, foi utilizado um modelo de identificação de riscos baseado no trabalho de um grupo
de especialistas pelos principais perfis profissionais necessários para a construção de usinas solares
fotovoltaicas. Uma vez identificados, os riscos formam uma estrutura de riscos hierárquicos de três
níveis.
Para testar a adequação do modelo, aplica-se a um projeto de construção de uma usina solar
fotovoltaica de 321,98 MW em Cassilândia/MS. Como parte do modelo de implementação, existe um
painel de identificação de risco, formado por quatro especialistas, sendo um invertidor, um gerente de
projeto, um gerente de uma empresa especializada em construção de plantas fotovoltaicas e
responsável pela operação e manutenção de usinas.
Para coletar os resultados da identificação de riscos de cada especialista, foi utilizado o método
Delphi com um questionário de duas camadas. Com base em uma classificação geral dos riscos
(políticos, tecnológicos, econômicos, atrasos no cronograma, legais e sociais), os especialistas
identificaram quinze subgrupos que constituem o segundo nível da estrutura hierárquica. Na segunda
fase do questionário, identificaram cinquenta e três riscos que podem ocorrer na construção da usina
fotovoltaica.
A estrutura hierárquica de riscos será a base para pesquisas futuras que desenvolvam as seguintes
etapas de gerenciamento de risco para o projeto de construção, tais como avaliação de risco, resposta
a riscos e monitoramento e controle de riscos durante todo o ciclo de vida do projeto.
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AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO