Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
(...) declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes - como, por
exemplo, uma concessionária de serviço público), no exercício de
prerrogativas públicas, manifestada mediante providências jurídicas
complementares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a
controle de legitimidade por órgão jurisdicional.
Essa declaração, também podemos colher da definição, deve provir do Estado, ou,
pelo menos, de entidade que tenha prerrogativas do Estado. Também os atos administrativos
são diferentes da lei. O ato administrativo é uma providência jurídica que o Estado performa
complementar à lei, para criar situações jurídicas não previstas nem em lei, nem no texto
Constitucional. (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 381)
É certo que podem haver atos administrativos que estejam previstos, antes, na lei ou
muito excepcionalmente na Constituição. Nesse caso, no entanto, o ato será mera reprodução
daquilo que está previsto no texto legal. Chamamos, nesse caso, o ato de "plenamente
vinculado", isto é, não pode divergir dos ditames da lei. (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p.
381)
Por fim, um ato eficaz é aquele que já pode produzir efeitos, que pode criar, extinguir,
modificar ou declarar direitos e obrigações prontamente, sem nenhum impedimento outro de
ordem legal. (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 383)
Outro ponto importante a se destacar a respeito dos atos administrativos – essa figura
jurídica que materializa o dia-a-dia da administração pública - são os seus pressupostos.
Dissemos, de antemão, que o ato válido é aquele que está conforme a legalidade. Assim, a
doutrina, a partir dos requisitos que a lei estabelece, concluiu a respeito de alguns pressupostos
do ato administrativo que configuram sua validade. Em outras palavras, sem esses
pressupostos, o ato será inescapavelmente inválido.
Por fim, de especial importância para este estudo, é o motivo de um ato, o último dos
pressupostos de sua validade. Segundo Bandeira de Mello (2009, p. 392):
Assim, quando tratamos dos eventos da vida real que levam o gestor público a tomar
esta ou aquela decisão, a expedir uma portaria ou emitir uma multa, ou mesmo criar uma nova
política pública - caso em que se valerá, possivelmente, de um plexo de diferentes atos
administrativos – estamos a tratar dos motivos do gestor.
Os estudos de gestão pública tratam, sob diferentes óticas, deste tema. Quais são os
motivos que levam um gestor público a agir de determinada maneira? Qual é a racionalidade
do processo decisório que o leva da constatação dos fatos reais (o que acima já chamamos de
motivos) ao efetivo agir administrativo?
Bin e Castor (2007, p. 39) partem dos modelos construídos por Graham Alisson e
Philip Zelikow num livro a respeito da crise dos mísseis cubanos nos EUA, chamado Essence
of Decision, para explicar essa racionalidade. Haveria, assim, três modelos capazes de explicar
as decisões na administração pública.
Por fim, um terceiro modelo que pode explicar as decisões do gestor público é modelo
político. O modelo político retira a ênfase das racionalidades individuais ou pré-concebidas no
funcionamento da organização, e coloca o processo decisório como fruto de um jogo de
negociações e acordos políticos. Aqui, há diversos autores envolvidos, com diferentes
concepções a respeito dos objetivos das ações de gestão, e o processo político de
convencimento entre esses diferentes atores é que definirá o formato final da política pública.
As "decisões racionais" podem ser substituídas por barganhas e pressões de poder, caso em que
em decisões de políticas públicas, em vez de definidos por metas objetivas, são substituídos
por demandas subjetivas. (BIN;CASTOR, 2007, p. 40).
Assim, observamos que as decisões de um gestor público não são explicadas só pelo
mérito da racionalidade. A decisão que, objetivamente, poderia ser a mais acertada par aum
caso – se fosse seguido o processo racional ou organizacional – pode ser afetado porque, do
ponto de vista prática, as organizações estatais estão sujeitas a diversas pressões políticas, seja
da própria opinião pública, seja de grupos de interesse. Em outras palavras, a decisão do gestor
público, em condições ideais, pode ser definida pela racionalidade e eficiência; no entanto, do
ponto de vista pragmático, ela é filtrada e alterada justamente em virtude do embate político
entre os diversos atores envolvidos.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2009.
BIN, Daniel; CASTOR, Belmiro Valverde Jobim. Racionalidade e política no processo
decisório. Revista de Administração Contemporânea, Curitiba, v. 11, n. 3, p.35-56, jul.
2007.