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URSOS, FILHOTES E CAÇADORES: PRIMEIRAS IMPRESSÕES

SOBRE A COMUNIDADE “BEAR” PAULISTA NO CAMPO DA


HISTÓRIA

BEARS, CUBS AND CHASERS: FIRST IMPRESSIONS ABOUT


“BEAR” COMMUNITY IN SÃO PAULO IN THE FIELD OF
HISTORY

Vinicius Melo Flauaus*

Resumo: Sendo os ursos, grosso modo, homens que se relacionam afetivamente e/ou
sexualmente com outros homens1 e que tem características em comum o culto, no sentido de
cultivo, à barba, pelos e gordura corporal. O presente texto tem como objetivo fazer um
apontamento de pesquisas anteriores e apresentar os dados preliminares da pesquisa “Ursos,
Filhotes e Caçadores: cultura, identidade e virilidade ‘bear’ paulista”, com o enfoque nos
problemas metodológicos de lidar com assuntos recentes na historiografia (corpos, gênero e
virilidade) e quais foram as dificuldades e soluções encontradas para avançar na pesquisa sobre o
tema dos ursos ou bears, no campo da história.
Palavras-chave: Bear, Ursos, Virilidade, Subcultura Homossexual, São Paulo

Abstract: Bears, roughly speaking, are men who relate affectively and / or sexually with other
men and who have characteristics in common such as the valuation of facial and body hair and
larger sized bodies. The present text aims to present the preliminary data of the research "Bears,
Cubs and Chasers: Culture, Identity and Bear Virility in São Paulo”, focusing on the
methodological problems of working with recent issues in historiography (bodies, gender and
virility) and what problems and solutions were found to move foward in the research on the theme
of the "bears" or "ursos" (in portuguese) in the field of history.
Keywords: Bear, Ursos, Virility, homossexual subculture, São Paulo

“I want a bear, a daddy or cub


A furry body that’s all mine to rub
I want a bear, Blue collared and able
To cook dinner, then do me on the table”
(DaddyB, 2015) 2.

Ao escolher tratar o tema dos ursos no campo da história, alguns problemas já vieram
à tona. O primeiro problema seria a definição de urso e as fontes de pesquisa: o que é um
urso e a “comunidade ursina”? Onde poderíamos encontrar os primeiros registros de
reunião desses homens? Como que se deu a formação dessas festas e encontros que hoje
movem mais de 3000 pessoas para frequentarem dois dias de festas Ursound3, na semana
da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo? Eles possuem algum projeto, militância ou
agenda política? Em um segundo momento, o que nos chama atenção é a insistência ou a

*
Mestrando – Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências Sociais
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) – Brasil. Bolsista CAPES.
E-mail: viniciusflauaus@gmail.com.
valorização de atributos como a barba, os pelos e a gordura corporal como parte dessa
identidade do urso, remetendo a uma masculinidade dominante socialmente construída
(BOURDIEU, 2002). Mas como se daria, então, a relação entre virilidade e uma
subcultura homossexual 4 ? Quais seriam as negociações entre masculinidade, corpo e
sexualidade? - Seriam corpos que resistem à uma cultura gay construída? (ERIBON,
2008). Ou seriam corpos conservadores que buscariam imitar uma estética
heteronormativa? - Por último, como trazer essa discussão tão impregnada de
antropologia, sociologia e etnografia para o campo da história? O presente artigo abordará
sobre os primeiros problemas (questões, debates, temas e problemas metodológicos)
levantados durante a pesquisa e apresentará as fontes e soluções preliminares
encontradas.

O corpo na historiografia

O corpo, por muito tempo relegado às ciências biológicas e médicas, foi retomado,
a partir da segunda metade do século XX, como objeto de estudo nas ciências sociais,
como na psicologia, fenomenologia e antropologia, e nos últimos cinquenta anos na
historiografia (COURTINE, 2011; BERNUZZI DE SANT'ANNA, 2015). Essa que
tradicionalmente estudava os grandes feitos daqueles corpos de grandes nomes na
história, passou a se interessar pelas práticas de higiene dos corpos sem renome
(VIGARELLO, 1996), passou a propor problemas para pensar o cotidiano em que viviam
esses corpos, como se alimentavam (ELIAS, 1993), como tratavam de seus defuntos
(MORIN, 1997; ARIÈS, 2012), como lidava com seus volumes e alimentação
(VIGARELLO, 2012) até como se deu a institucionalização do controle sobre os corpos
e sua “naturalização” no cotidiano (FOUCAULT, 1988) e outros temas. O corpo como
teoria encontrou o seu primeiro campo a partir da psicologia, da fenomenologia e da
antropologia durante o século

É impossível falar de corpo na historiografia sem mencionar o movimento francês da


Nova História e a Escola dos Annales que propôs novos temas, paradigmas,
interdisciplinaridade e novas fontes de pesquisa para os historiadores (LE GOFF &
NORA, 1995; BURKE, 1997). O movimento também se deve às contribuições do
materialismo (que abriu portas para o questionamento, critica e resistência as estruturas e
significados oficiais), seguido das técnicas pós-estruturalistas e desconstrutivistas das
análises textuais, das críticas dos movimentos feministas e de contracultura no final do
século XX (PORTER, 2011):
A história do corpo usa não apenas o corpo físico como objeto de estudo, nem corpos
vazios enumerados em tabelas fechadas, mas suas experiências e suas "representações"
no "discurso", os significados simbólicos do corpo. “O corpo é uma ficção, um conjunto
de representações mentais, uma imagem inconsciente que se elabora, se dissolve, se
reconstrói através da história do sujeito, com a mediação dos discursos sociais e dos
sistemas simbólicos. ” (CORBIN, 2012). E o corpo encarnado, a relação consigo, da
relação que o corpo tem com o espaço, com os outros corpos e com o meio, podemos
entender aspectos de classe, cultura e identidade:

“Um conjunto de regras, um trabalho cotidiano das aparências, de


complexos rituais de interação, a liberdade de que cada um dispõe para
lidar com o estilo comum, com as posturas, as atitudes determinadas,
os modos usuais de olhar, de se portar, de se mover, compõem a fábrica
social do corpo. As maneiras de se maquiar, de se pentear, inclusive de
se tatuar – se necessário, se mutilar – e de se vestir, são igualmente
características do gênero, da classe etária, do status social ou da
pretensão de pertencer a determinada classe. Até a própria transgressão
manifesta a força do contexto social e ideológico. ” (CORBIN, 2012).

Um dos pensamentos que norteiam essas novas pesquisas é o chamado


“construcionismo social”, sob uma nova perspectiva culturalista, que questiona as
metanarrativas “essencialistas”, ou seja, que explicavam as relações de gênero, corpo e
sexualidade pelo viés “naturalista”, reduzindo as análises e interpretações sociais com
paradigmas evolucionistas ou biológicos. O “construcionismo social” propõe ver as
ações, os significados sociais e os sentidos que damos para as diferenças entre gêneros,
sexualidade e identidade como construções sociais, que podem ser diferentes em lugares
distintos no mesmo tempo cronológico, inclusive podem não ser fixas no mesmo espaço
em tempos distintos. (WEEKS, 1996).
A história do corpo trouxe algumas contribuições nas discussões sobre o dualismo entre
corpo e alma, natureza e cultura, corpo e mente, corpos privados e corpos públicos, corpos
nos espaços privados e corpos nos espaços públicos, inclusive os debates sobre sexo,
gênero e sexualidade. A masculinidade e a virilidade também fazem parte das discussões
sobre gênero e nos ajudam a entender as estruturas de poder, os valores culturais, os
sentidos e significados da masculinidade e suas relações com o poder, gênero e
sexualidades em diferentes períodos. E quando falamos de masculinidades
homossexuais?

George Chauncey, em sua pesquisa sobre as subculturas homossexuais em Nova


Iorque, entre os anos 1890 e 1940, identifica as polarizações entre os grupos gays
masculinos que se dividiam entre “Fairies” (fadas, mais efeminados) e “Wolves” (lobos,
masculinos), fazendo referência aos trejeitos e papéis sexuais (cujos “lobos” seriam os
futuros “ursos”). Com os anos 1960 a polarização se manteria sob outras palavras as
“queens” de um lado, e os “leathermen” de outro. O estilo “Clone” dos anos 1970, usado
por americanos de classe média que se apropriavam da estética e roupas da classe
trabalhadora como calça jeans, couro, cabelo baixo com gel ou fixador de cabelo, botas e
bigodes, que virou moda entre os homossexuais nos anos 1970 em São Francisco e Nova
York.

Os ursos nos anos 1980 seriam uma alternativa que iria contra a
hipermaculinização e ênfase no sexo casual dos Clones5, quanto a efeminação e o culto
ao corpo jovem dos Twinks. Ambos são vistos como modificadores e controladores do
corpo. Assim como os Clones de Castro que usavam lenços de cores diferentes para
indicar suas preferências sexuais, os frequentadores dos bares de couro (Leather) de São
Francisco, começaram a usar ursos de pelúcia em camisetas ou no bolso de trás da calça
como uma forma de se distanciar justamente dos códigos dos lenços e indicar menos
ênfase no sexo casual. Os ursos se definem como o tipo “regular guy” ou “um homem
normal”, ou seja, um típico americano médio que não se preocuparia com roupas, pelos,
músculos ou gordura corporal. Entretanto essa “naturalidade” é baseada nos valores
sociais dominantes de classe e etnia. Apesar de muitos terem poder aquisitivo, a estética
e valores da classe trabalhadora, também chamada de “Blue Collar” (colarinho azul),
referência na epígrafe desse artigo, que usavam roupas simples urbanas e/ou rurais como
camisas de flanela, bonés de baseball, camisetas, calça jeans e barba cujos músculos
adquiridos com o trabalho era mais valorizado do que esculpido de forma artificial, dentro
de academias. (WRHIGHT, 1997).

Estudos ursinos6?

Durante o levantamento das leituras e pesquisas sobre o tema, foi observado que
os ursos ou a “comunidade ursina” começam a ser temas de publicações e pesquisas nos
Estados Unidos no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 (WRIGHT, 1997 e 2001;
SURESHA, 2002; HENNEN, 2008). Sobre suas origens, as conclusões não apresentam
uma datação exata, é um dos debates entre os diferentes pesquisadores.

Em julho de 1979, em um artigo intitulado “Who’s Who in the Zoo: A Glossary


of Gay Animals”, publicada na revista Advocate, o autor Georges Mazzei publicou um
texto cômico propondo uma série de animais que seriam associados aos diferentes “tipos”
de gays e lésbicas. O texto foi acompanhado de ilustrações feitas por Gerard Donelan dos
ursos, corujas, cisnes, gazelas, gatinhos e outros bichos do zoológico homossexual,
seguido de descrições jocosas sobre o que comem, o habitat natural, descrição e
peculiaridades. Ele descreve os ursos como “tipos grandes e pesados... grandes peitorais
e barrigas maiores que a média e notáveis pernas musculosas 7 ” (MAZZEI, 1979). O
primeiro estudioso da “comunidade ursina”, Les Wright, indica que esse artigo seria a
primeira descrição impressa sobre os “bears” (WRIGHT, 1997).

Além desse artigo haveriam notícias de primeiros encontros em moto-clubes, ou


encontros de amigos que não se sentiam bem-vindos em espaços gays mainstream. A
abertura do bar Lone Star Saloon, em 1989, no distrito de South of Market em São
Francisco, é visto por muitos como um dos marcos mais importantes na formação da
“comunidade ursina”. Conhecido como a “meca dos ursos” foi frequentado inicialmente
por motociclistas e outros que usavam roupas de couro (por isso há uma ligação entre os
ursos e a cultura BDSM8), que somados à criação e comercialização da revista BEAR no
Lone Star Saloon, e o efeito social dos casos de AIDS nos anos 1980, teriam feito os ursos
se unirem e ficarem mais conhecidos, uma vez que não se sabiam suas causas ou
profilaxia, apenas sabiam que as pessoas emagreciam e morriam. Os ursos, devido ao
volume dos corpos, seriam associados à saúde e não-soropositividade.

"One reason I think there's been such an explosion of interest and


activity around the bear community is that a lot of gay guys, as they get
older, find [they put] on weight and don't find themselves fitting the
model of the svelte, young guy," said Stevo Harris, publisher of "A
Bear's Life" magazine. "They look around for new models — and they
discover there's a bear community in which men have real bodies, not
the fantasies you see on television."9 (KAYE, 2007)

Portanto, de acordo com os autores citados acima, haveria não apenas uma
origem, mas uma soma de fatores que levaram os ursos a serem conhecidos como uma
subcultura homossexual: o fato de não se sentirem incluídos ou bem-vindos no meio gay
comercial; a negação da identidade gay standard da época; a busca de uma outra postura
e estilo que não modificasse o corpo ou a aparência; o consentimento de espaços de
socialização voltados para esse novo público e os efeitos sociais da epidemia da AIDS.

Nos anos 1990, com a popularização dos computadores pessoais, a difusão da


internet, seguido da criação de sites de bate-papo, blogues pessoais e redes sociais, a ideia
de urso e da “comunidade ursina” se espalha. Na mesma medida, a subcultura ursina se
internacionaliza e novas pesquisas, ou arriscando chamar de “Bear studies” (KAYE,
2007), surgem em outros países como México (MARMOLEJO, 2004), Austrália (HAY,
1997; HYSLOP, 2001; SHARMAN, 2001), Japão e Turkia (SURESHA, 2002),
Argentina (TILOCA, 2013) e Brasil (DOMINGOS, 2010; FRANÇA, 2010; GONZALEZ
JÚNIOR, 2012; GASPARI, 2013; SCAGLIUSI e FERNÁNDEZ, 2015; DINIZ, 2017).
Com relação ao Brasil, a maior parte das pesquisas possuem o enfoque na “comunidade
ursina” de São Paulo, onde encontramos uma maior variedade, frequência e público nos
diferentes encontros, bares, festas, saunas voltadas para os ursos.

Problemas metodológicos

Apesar da quantidade razoável de pesquisas sobre a “comunidade ursina” no


Brasil, principalmente em São Paulo, o enfoque dava se nas práticas atuais desses grupos,
com relatos etnográficos, antropológicos e/ou sociológicos, dando menos ênfase no
contexto histórico. É o momento em que encontramos uma lacuna a ser preenchida pela
presente pesquisa. Como separar uma pesquisa impregnada de métodos da antropologia
e sociologia para trazer o tema para o campo da história? E quais fontes poderíamos usar?
Como a formação dos grupos e festas ursinas é um fato recente, os métodos da história
oral para entrevistas e análise dessa fonte vieram de encontro com a pesquisa.

Entrevistas foram feitas, sob o método “bola de neve”, cujo colaborador


encontrado indica uma próxima pessoa para ser entrevistada. O método possui um risco
de cair em um determinado ciclo de amizade e acabar tendo visões e/ou versões muito
parecidas, ocultando divergências e diferentes versões. Entretanto, o método usa os
próprios sujeitos como facilitadores para o acesso de novos colaboradores (uma vez que
é muito difícil acessá-los quando você não está inserido no contexto). O objetivo das
entrevistas, como fonte oral (MEIHY, 2011), é apresentar a partir dos relatos de pessoas
residentes em São Paulo, que se consideram pertencentes à “comunidade ursina” e
analisar, por meio de um desenho de estudo qualitativo, o entendimento por ‘ser urso’,
sua identidade e a história da comunidade por meio das experiências pessoais. Para o seu
desenvolvimento serão construídas narrativas de histórias de vida e temática. A pesquisa
teve 8 conversas com membros da “comunidade”, acima de 35 anos, moradores de São
Paulo, não necessariamente que nasceram na cidade, mas que frequentam ou
frequentaram os bares, festas e outros espaços considerados “ursinos” nos últimos 10
anos. Os primeiros nomes foram de DJs de festas temáticas voltadas para a “comunidade
ursina” e os sócios do bar Soda Pop, onde acontecem os encontros.
Os locais onde ocorreram as entrevistas foram definidos pelos próprios
colaboradores para que eles se sentissem à vontade para falar, inclusive de temas mais
íntimos. O roteiro das entrevistas foi estruturado de forma temática, com perguntas
semiabertas, ou seja, com perguntas voltadas ao tema da pesquisa, mas sem restringir
possibilidade de novas questões ou direcionamentos fazendo uma mediação entre as
necessidades da pesquisa e outros momentos de registro de memórias e outros assuntos,
que nos ajudam inferir a subjetividade dos colaboradores. As entrevistas tiveram duração
de uma a duas horas a fim de deixar o entrevistado mais livre, ganhar confiança e ter um
registro considerável que possibilitasse explorar outros temas em futuras pesquisas.

Os registros serão analisados e dialogados com outras fontes: como a discussão


teórica, as pesquisas realizadas anteriormente sobre o tema e a revista Bear Mais
Magazine. A revista Bear Mais Magazine tem importância nessa pesquisa devido ao fato
de ter dez anos de publicações mensais feitas por e para membros da “comunidade
ursina”. Uma das formas encontradas para ter um distanciamento dos métodos usados
pelas outras disciplinas, foi tratar essas pesquisas como fonte historiográfica, abordando
os diferentes pontos de discordância e como se deram os processos de formação dos
grupos, festas e identidade ursina. Caso houver lacunas ou novas dúvidas durante a
análise, cujas fontes não puderam responder, novas entrevistas serão feitas com outros ou
os mesmos colaboradores.

BEAR Magazine

Precursora da revista Bear Mais Magazine, que é fonte de análise nessa pesquisa,
em 1987, em São Francisco, é publicada, de forma artesanal pelo casal Richard Bulger e
Chris Nelson, as primeiras edições da revista BEAR (WRIGHT, 1997: 31-32),
considerada fundamental para a identificação, visibilidade, formulação e discussão do
que é chamado de urso ou “comunidade ursina”. Enquanto as outras revistas
apresentavam corpos magros, jovens, músculos rígidos e modelos sem pelos, a BEAR,
como indicado em seu slogan, “Masculinity Without the Trappings” (Masculinidade Sem
Armadilhas), viria como alternativa para outros corpos: homens peludos e barbudos, com
idade acima dos modelos de outras revistas, estampados de modo que passasse confiança,
liberdade e conforto com o próprio corpo. A BEAR foi publicada entre 1987 e 200210 e
apresentava, como conteúdo, fotografias de homens valorizando seus elementos e
atributos de masculinidade, relatos e entrevistas, matérias para os membros da
“comunidade ursina” emergente e os "petites annonces" ou classificados de perfis. As
primeiras capas não necessariamente eram de homens com corpos volumosos (por
músculos ou gordura). O atributo comum entre eles eram muito mais a barba e os pelos
do que o tamanho do corpo. O que fez os ursos serem associados a homens grandes foi
com a associação da comunidade dos Girth & Mirth 11 no início dos anos 1990. Os
primeiros clubes Girth & Mirth começaram em São Francisco e Nova York e foram se
espalhando pelos Estados Unidos nos anos 1970 até os dias de hoje (WHITESEL, 2014).

Para Jason Whitesel, Os Girth & Mirth são um movimento social nacional,
organizado nos anos 1970 em resposta a discriminação do peso na comunidade gay, cujas
atividades sempre transformam as experiências desses homens em situações de embaraço
e vergonha. Por sofrerem duplamente discriminação e estigma por conta de sua
sexualidade e corpos volumosos, a subcultura dos Girth & Mirth reconstruiria suas
identidades, estratégias e possibilidades de respostas à opressão por meio da rede de
sociabilidade. (ibid.). Entretanto, o próprio autor indicaria uma cisma entre os ursos e os
Girth & Mirth cuja ênfase nos pelos, ao invés da gordura corporal, seria maior entre os
ursos. Nesse sentido, os “Chubbies” e seus admiradores, que se sentindo novamente
invisibilizados dentro de um grupo gay, se separam dos ursos por “terem dificuldade de
competir com a popularidade dos Muscle Bears12” (WHITESEL, 2014).
Como a revista BEAR foi importante para a formulação e disseminação da
identidade ursina nos Estados Unidos antes da internet, será que a revista brasileira Bear
Mais Magazine teria tido o mesmo impacto?

Bear Mais Magazine

Uma das fontes escolhidas para trabalhar o tema foi a revista Bear Mais Magazine.
Trata se de uma revista eletrônica, ou seja, que não há sua publicação impressa. A revista
possui mais de dez anos de edições mensais, feita por membros da “comunidade ursina”
para aqueles que se reconhecem também como parte desta comunidade. Esses seriam os
motivos pela escolha da revista como material para pesquisa. Por meio de seus textos,
imagens e publicidade podemos identificar os seus discursos, as permanências,
incoerências, repetições que constituiriam e consolidariam as representações e imaginário
sobre o corpo, constituiriam as identidades e a ideia de “comunidade ursina” na revista,
além de evidenciar os diálogos com as outras subculturas homossexuais.

A história da revista está ligada ao seu editor, Marcelo Gomes Andrade, que por
meio do Orkut, uma das redes sociais que teve uma popularidade forte no Brasil na
primeira década dos anos 2000, afirma ter entrado na comunidade em 2006. Como não
encontrava publicações próximas, Marcelo uniu-se com alguns amigos que resolveram
criar inicialmente um blog, o "Bear Blog Magazine", com fotos de um ensaio, textos e
entrevistas de membros da comunidade. O Blog se tornaria uma revista virtual em outubro
de 2007. Com aspecto amador, devido aos recursos disponíveis na época, tanto
financeiros quanto técnicos, teve que aprender sozinho a montar a revista e o site, pois o
autor não era formado em web design e não possuía verba para investir em um curso.

Tratava-se de uma revista online e gratuita, feita pelo fundador, amigos e


voluntários que, assim como sua precursora BEAR, foi feita de forma artesanal cujos
autores aceitavam escrever os textos e participar dos ensaios. Marcelo, formado em
administração, acumula até hoje as funções de colunista, fotógrafo e produtor de ensaios.
Entre 2008 e 2011, Marcelo e seus amigos fizeram concursos online no blog e site para
definir qual “modelo ursino” seria a próxima capa. Isso contribuía para a divulgação da
revista e para aumentar a visibilidade da comunidade, pois, as votações online também
tinham participação dos amigos daqueles que estavam concorrendo para ser a capa do
mês. Até 2012, as fotos eram dos próprios modelos, não havia um ensaio preparado ou
produzido pela revista. Após esse ano, a revista passou a fazer uma seleção dos modelos
com produção própria das fotos.

Devido ao número crescente de downloads gratuitos, o alto custo, a dificuldade de


manter as publicações mensais e aos modelos que resistiam em tirar fotos com nu frontal,
a revista passa a cobrar o acesso em 2014. Com isso, uma parte dos leitores deixou de
acessar a revista por não concordar com a cobrança online. Não demorou muito para que
em março de 2015 a revista voltasse atrás e oferecesse duas versões, uma gratuita e outra
paga. A diferença, de acordo com o autor, seriam os ensaios e as matérias eróticas, que
não seriam contempladas na versão gratuita. Nas últimas edições mudaram novamente a
forma de adquirir a revista: fica disponível gratuitamente por um período e depois passa
a ser paga com o valor de R$7,25 por edição13.

Atualmente a revista passou por uma nova estruturação. As edições anteriores ao


segundo semestre de 2016 não são mais vendidas no site, e até mesmo a "cara da revista"
mudou. Os modelos das capas tendem a ser fortes e musculosos em comparação com as
outras edições, se aproximando da estética da revista Bear Magazine americana.

A revista foi analisada de acordo com a metodologia indicada no artigo "Na oficina
do historiador; Conversas sobre história e imprensa" (CRUZ e PEIXOTO, 2007). O texto
contém um roteiro e procedimentos metodológicos para trabalhar jornais ou materiais da
imprensa periódica. Apesar de não tratar se de fonte imprensa, que circula em bancas de
jornais, a circulação virtual tem número bastante expressivo: 17 mil e 21 mil downloads,
nas capas do Wellington Bianzeno e do Joan Munhoz, respectivamente (LUCON, 2013).
Podemos tangenciar o alcance da revista com a coluna Bear Mail (a partir da edição 55,
de junho de 2012. Antes Bear Correio ou Cartas) que traz comentários de diferentes
leitores, de vários estados brasileiros sobre os textos da edição anterior (prática comum
de revistas impressas). A seção nos indicaria não apenas o alcance da revista, mas também
o impacto na formulação ou projeto de uma imagem sobre a “comunidade ursina”,
especialmente a comunidade paulista.
Não retomaremos a história da imprensa como instituição, nem sua configuração.
No entanto, é importante considerar presente o debate historiográfico que trabalha o
objeto revista como documento e monumento, ou seja, busca se na pesquisa o
entendimento das suas intencionalidades, linguagem, representações, diálogos,
silenciamentos e outros aspectos. O artigo possibilitou pensar as revistas não como um
depositário de textos isolados, mas um projeto como um todo: desde as escolhas das
capas, chamadas, publicidade, imagens, ordem em que elas aparecem etc.
A pesquisa não pretende, inclusive, afirmar que a revista reflete uma imagem
“real” da comunidade, mas talvez um projeto de comunidade que se busca afirmar ou
construir. Afinal, sua origem é paralela ao engendramento e crescimento da comunidade
em São Paulo. Mesmo que possamos pontuar o aspecto efêmero de manifestações
culturais, que estão em rearranjo constante, nem por isso devemos deixar de estudá-las.
Dessa forma, a pesquisa pretende dialogar com as fontes estudadas com os textos
anteriores a fim de captar se houveram mudanças e como se deu esse processo.

Bear Mais Magazine: levantamento de dados e primeiras impressões

Por meio de pesquisas feitas na internet, lembrando que a revista não possui outro
tipo de distribuição além da virtual, encontrei 12 edições completas da revista e arquivos
com imagens das primeiras capas até as atuais, totalizando 100 capas. Nesse total foi
observada a ocorrência edições com mais de uma versão de capa. Podendo ser proposital,
mais opções para o leitor, ser parte do concurso de “capa do mês” ou um erro de
montagem, devido ao processo amador de edição da revista. Atualmente, a revista
superou sua 101ª edição.

A seleção vê como objetivo observar e comparar essas publicações durante os


últimos 6 anos da revista. Foram selecionadas 12 edições: os números 54 e 55 (maio e
junho de 2012); 68, 69 e 70 (setembro, outubro e novembro de 2013); 72, 74 e 76 (janeiro,
abril e junho de 2014); 98 e 99 (junho e agosto de 2016); 100 e 101 (outubro de 2016 e
março de 2017). Alguns números foram selecionados em sequência (edições 54 e 55, 100
e 101 por exemplo), com a finalidade de observar a repercussão, alcance das matérias na
coluna Bear Mail e verificar possíveis as transformações de conteúdos nas diferentes
publicações.
Ainda com relação as numerações, desde a primeira revista até a 101ª edição não foram
localizadas as capas de 8 edições. As edições não localizadas são as de número 20, 26,
28, 32, 32, 34, 51 e 70 (respectivamente de maio e novembro de 2009; janeiro, maio,
junho de 2010; janeiro ou fevereiro de 2012, pois não há publicação entre dezembro de
2011 e março de 2012; e novembro de 2013). Considero que essas lacunas não irão
comprometer o resultado da pesquisa e das análises.

Antes a seleção das capas de interesse, foi feito um trabalho inicial que organizara,
de forma cronológica, os arquivos digitais por número de edição, data de publicação,
seguindo as indicações localizadas na capa da revista, e assim, organizar os arquivos
facilitando a análise serial das diferentes edições. Como dito acima, algumas capas
indicavam o mesmo número de edição e data de publicação. A solução encontrada foi
seguir com as indicações "número", "mês e ano de publicação", seguido das letras "B, C,
D e E" para indicar essas diferentes versões da mesma edição (por exemplo, "48 -
OUTUBRO 2011" e "48 - OUTUBRO 2011B"). Esses exemplos de duplicidade de capas
ocorreram entre a publicação de 27 de dezembro de 2009, e nas edições nª 41 até a nº50,
de fevereiro a dezembro de 2011, com as mesmas chamadas ou tipografia igual ou
parecida, que indicaria fazer parte do concurso online que decidia, por votos online, a
“capa do mês”, como já indicado pelo editor em entrevista (LUCON, 2013).
Para identificar as primeiras publicações da revista, quando ainda se chamava Bear Blog
Magazine, foi acrescentado no arquivo digital a palavra “Bear Blog Magazine” no nome,
seguindo as indicações das capas, a identificação do mês e ano da sua publicação (por
exemplo, “01 BEAR BLOG MAGAZINE - OUTUBRO 2007”).
As últimas publicações, depois da mudança editorial que não indicava mais o mês e ano
de publicação, foram nomeadas só com as indicações da edição. A partir dessa primeira
organização, podemos localizar duplicidade de edições, meses em que a revista não foi
publicada, as lacunas entre as edições da revista cujas capas não foram localizadas e
outros temas sobre conteúdo das capas, análises das imagens e outras camadas de
interpretação e análise.

A partir da nomeação das capas por edição e versões, durante essa primeira análise
das capas, pude perceber 5 fases da revista Bear Mais Magazine. Os aspectos que
basearam essa divisão são: o logotipo da revista; as chamadas na capa, o código de barras,
a qualidade das fotos das capas e os corpos dos modelos escolhidos:

• A primeira fase Bear Blog Magazine, com 14 edições, entre outubro de 2007 e
novembro de 2008, com fotos das capas doadas pelos próprios modelos, não tinha
nenhuma preocupação com definição das imagens ou iluminação (que dava um
aspecto amador para a revista);

• A segunda fase, possui 13 edições entre dezembro de 2008 e dezembro de 2009. É


quando muda o nome para Bear Mais Magazine, acrescentam os códigos de barras
em algumas edições, porém as fotos permanecem sendo doadas pelos modelos que
participavam de concurso da capa do mês;

• Com 13 edições, a terceira fase durou entre o início de 2010 até março de 2011. É
quando mudam o logotipo da revista, e nota-se uma preocupação mais estética com o
uso e experimentos de diferentes tipografias nas chamadas das matérias em diferentes
edições. As chamadas, que já estavam presentes nas primeiras edições da Bear Blog
Magazine de outubro de 2007, permanecem na segunda fase Bear Mais Magazine, e
são experimentadas na terceira fase até a edição de março de 2011;

• Nessa quarta e maior fase da revista, contabilizamos 46 edições com o mesmo padrão
entre abril de 2011 e junho de 2016. É quando o Marcelo e sua equipe começam a
tirar as fotos dos modelos e não mais fazer concursos. Suprem as chamadas das
matérias nas capas, mas permanecem o nome dos modelos, o logotipo da revista e o
código de barras (com informações sobre o número da edição);

• A quinta fase (atual) conta atualmente com 14 edições entre julho de 2016 e março
de 2017, buscam um público internacional experimentando suas primeiras edições em
inglês e espanhol, cujos modelos também lembram os corpos dos modelos das revistas
americanas como a BEAR (homens geralmente fortes e musculosos, barba, peles
rígidas e não flácidas, poses que buscam exaltar a virilidade dos modelos.
Sobre o título e tipografia da revista, muda de Bear Blog Magazine para Bear Mais
Magazine, feito com poucos recursos, com as fontes disponíveis do pacote de aplicativos
Microsoft Office_. Na terceira fase é quando se muda o logotipo do título e adiciona a
imagem de dois ursos se abraçando formando a letra "b" da palavra “Bear” e, por último,
quando mantém o último logotipo e diminuem o tamanho, ocupando metade do tamanho
das edições anteriores e não mais centralizado, sempre à esquerda ou à direita,
dependendo da posição do modelo na capa. Essas mudanças indicam um esforço de
buscar uma imagem mais comercial para a revista e trazer credibilidade, se aproximando
dos padrões comerciais/impressos e também do padrão na revista americana BEAR.

Interessante observar que o código de barras cumpre uma função estética na capa, talvez
para dar uma impressão de revistas impressas comercializadas e, portanto, profissionais.
O código pode ter uma função de controle entre os editores, mas não segue o padrão
EAN-8 ou EAN-13 14 usado para registrar produtos comercializáveis, pois deveria
começar com o número "789", que identifica um produto brasileiro no mercado, e não a
alteração de numeração em diferentes edições da revista. Nas edições atuais reforça essa
função estética por seguir a sequência "12345" no início do código. Além da numeração,
pude notar que há um conflito de numeração com diferentes capas como é o exemplo da
publicação Nº70, de novembro de 2013, cuja numeração na capa estava como Nº69, do
mês anterior. Todavia, a numeração estava presente e correta no índice da revista.

A partir dessas primeiras impressões, a pesquisa continuará com as próximas etapas


de análises gráficas, iconográficas e textuais, que além de fazer uma análise da revista
como fonte histórica, contribui para a pesquisa na medida em que representações sobre o
corpo, virilidade, identidade e comunidade são apresentadas de forma transversal na
revista. A pesquisa tentará levantar essas representações e interpretar se houve um
“projeto de comunidade” pelo seu editor, por meio das escolhas dos textos, imagens e
outros elementos gráficos da revista.

Conclusão

O artigo propôs situar inicialmente a pesquisa no campo das ciências sociais,


levantando as primeiras interrogações e apresentando um dos debates encontrados (sobre
a origem da comunidade ursina). Levantou leituras e pesquisas encontradas, afim de
motivar novas pesquisas, facilitando a localização de artigos, livros e outros textos sobre
o tema. Em um segundo momento foi apresentado os problemas e as soluções
metodológicas encontradas, com o enfoque nas primeiras impressões sobre uma das
fontes escolhidas, a revista Bear Mais Magazine.
Em resumo, os primeiros problemas encontrados foram localizar as definições de
urso, perceber lacunas interpretativas e encontrar formas de se distanciar das pesquisas
anteriores, impregnados de metodologias das ciências sociais, em busca de uma
perspectiva histórica sobre o tema. As soluções encontradas foram tratar as pesquisas
anteriores como um debate historiográfico, pensando sua historicidade, usar dos métodos
da história oral para buscar registros de experiências e memórias coletivas da dos ursos
em São Paulo e interpretar se haveria um projeto de “comunidade ursina” pelo editor da
revista, que pulverizaria para os outros estados, além de problematizar os conceitos de
identidade e virilidade cruzando as diferentes fontes usadas.

Referências

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Notas
1
A expressão ‘homens que se relacionam afetivamente e/ou sexualmente com outros homens foi um
recurso usado primeiramente por Regina Faccini, em sua eese de doutorado sobre homossexualidades
femininas, em seguida por Isadora Lins França em sua tese de doutorado sobre o papel do consumo na
formação de identidade e subjetividade de três subculturas homossexuais em São Paulo. A expressão é
usada como uma forma de não restringir as identidades desses sujeitos.
2
MCKINLEY, William David (DaddyB). I Want a Bear. In: DADDYB. I Want a Bear - Single. Nova
York, Sunday's Child Ink, 2015. Disco virtual disponível para download no site
https://itunes.apple.com/us/album/i-want-a-bear-single/1023321521. Acesso em 15 fev 2018.
3
Em 2016, durante a semana da 20ª Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, houve duas festas voltadas
para a “comunidade ursina”, a Ursound: uma na sexta-feira e outra no sábado, 27 e 28 de maio. A primeira,
onde regularmente acontece as festas, aconteceu no Club Hotel Cambridge, próximo ao metrô Anhangabaú,
região central da cidade. E a festa de sábado, em comemoração aos 11 anos da festa, foi feita no espaço
Audio Club, na barra funda, que é uma casa de shows e eventos com a capacidade para 3.000 pessoas, de
acordo com o site da casa de shows (Disponível em: http://www.audiosp.com.br/. Acesso em: 4 mar. 2018).
O perfil @Ursound.club, que é a página da festa no Facebook, possui 20.758 seguidores. Acesso em: 4
mar. 2018. Dessa forma conseguimos visualizar a proporção de frequentadores da festa e possíveis
membros da “comunidade ursina”.
4
O termo subcultura na lingua inglesa é empregado nas pesquisas lidas não no sentido de inferiorização,
mas sim como fragmentação ou particuliaridade de um grupo. Na presente pesquisa é entendido, por sua
vez, como desdobramento de uma cultura gay. O termo foi encontrado nas pesquisas dos autores
americanos citados nesse trabalho, como Peter Hennen, que vai de encontro com a ideia da “comunidade
ursina” para muitos colaboradores entrevistados na pesquisa. O urso, ou a “comunidade ursina”, seria uma
possibilidade ou alternativa de ser homossexual que fugiria ou resistiria aos estereótipos, e ao mesmo tempo
da injúria, sobre a cultura gay ou da figura do homossexual comercializado nos meios de comunicação, nas
artes, literatura e publicidade.
5
O código dos lenços ou “hanky-code” é usado pelas culturas Bondage Sado-Masoquista (BDSM) para
indicar, por meio de cores de flanelas ou munhequeiras de couro, as preferências e práticas sexuais.
6
KALE, Richard A. Bear-y Gay. Los Angeles Times. Los Angeles, 4 mar. 2007. Disponível em
http://www.latimes.com/news/la-op-kaye4feb04-story.html. Acesso em 4 mar. 2018. O Subtítulo faz
referência ao artigo cujo autor faz um levantamento dos estudos sobre identidade, masculinidade, corpos e
outros temas que vieram a partir de análises sobre “comunidade ursina”, apostando o título de “estudos
ursinos” para classificar o número crescente de pesquisas sobre o tema.
7
“Bears are usually hunk, chunck types… They gave larger chests and bellies than average, and notably
muscular legs.” Livre tradução.
8
Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo, ou BDSM refere-se a práticas de fetiche relacionado a
imobilizar e/ou incitar o prazer por meio da dor, tortura, cócegas ou submissão consentida. Para mais
informações, disponível em:
https://web.archive.org/web/20120204120709/http://www.domsub.info/glossary.shtml. Acesso em 4 mar.
2018.
9
“‘Uma das razões pelas quais eu acho que houve uma tal explosão de interesse e atividade em torno da
comunidade ursina é que muitos gays, à medida que envelhecem, ganham peso e não se acham adequados
ao modelo do esbelto, jovem’, disse Stevo Harris, editor da revista Bear's Life. ‘Eles buscam novos modelos
- e eles descobrem que há uma comunidade ursina em que os homens têm corpos reais, e não as fantasias
que você vê na televisão.’”. Livre tradução.
10
De acordo com o site da revista. Disponível em: http://bearmagazine.com/winter/about.html. Acesso em
4 mar. 2018.
11
Girth poderíamos traduzir como “cintura” ou “circunferência”, Já a palavra Mirth como
“contentamento”, “alegria” ou “regozijo”. Portanto o Girth & Mirth são uma espécie de clube, associação
ou subcultura gay de homens obesos que se encontram em cafés, festas, cinemas, Pool-Parties como uma
rede de socialização.
12
“In fact, Girth & Mirthers find it difficult to compete with the popularity of the muscle-Bear”
(WHITESEL, 2014. p. 51). Livre Tradução.
13
O preço de R$7,25 continua até o presente momento da pesquisa. Disponível em:
http://www.bearmaismagazine.com.br/home/store/antiga.html. Acesso em 4 mar. 2018.
14
De acordo com o banco de dados ISBN internacional para verificar a veracidade dos códigos. Disponível
em: https://grp.isbn-international.org/content/using-register. Acesso em 4 mar. 2018.

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