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Os Novos Danos

É raro, a propósito, que o dano


invocado seja imaginório.
- -
Marcel Planiol

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Ï A universal ampliação da ressarcibilidade

É evidente que, como resultado direto da erosâo dos filtros tradicionais da re-
. paraÇäO - ou, em outras palavras, da relativa perda de importância da culpa e do
nexo causal como óbices ao ressarcimento dos danos sofridos -, um major número
de pretensöes indenizatórias passou, gradativamente, a ser acoihido pelo Poder
Judiciário. Cortes que, em outros tempos, fechavam suas portas a açöes judiciais
promovidas sem demonstraçäo da culpa ou do nexo causal, deixando a vítima
sem qualquer forma de compensação, hoje emitem, muitas vezes, provimentos
jurisdicionais favoráveis em virtude de urna manipulaçâo mais flexível - ou, como
visto nos capítulos anteriores, até de urna presunçäo ou desconsideração - dos
pressupostos tradicionais da responsabilidade civil.
Longe de ser restrita ao âmbito probatório, esta flexibilização indica urna al-
teraçâo gradativa e eminentemente jurisprudencial na estrutura da responsabili-
dade civil, a refletir a valorização de sua funçäo compensatória e a crescente ne-
cessidade de assistir a vítima em urna realidade social marcada pela insuficiência
das políticas públicas na administraçào e reparação dos danos. Neste contexto,
os pressupostos da responsabilidade civil relacionados à imputaçâo do dever de
indenizar (culpa e nexo causal) perdem relevância em face de urna certa ascensào
daquele elemento que consiste, a um só tempo, no objeto e na ratio da repara-
çào: o dano. Por décadas relegado a um patarnar secundário, advindo da sua fácil
verificaçäo sob a ótica materialista, este pressuposto - então, efetivamente pré-
suposto -o dano vem, pouco a pouco, conquistando local de destaque na análise
jurisprudencial, como elemento apto, por si só, a atrair a atuaçào das cortes em
amparo às vítimas dos infortúnios mais diversos.
A expansão do dano ressarcível começa a ser, deste modo, noticiada por toda
parte. Na Itália, afirma-se que "a funçào ressarcitória vem, por assim dizer, exalta-
da pelo incremento dos danos que é um corolário típico da sociedade moderna".'
Na França, destaca-se "a aparição e multiplicaçäo de danos completamente novos,
seja pela sua origern, seja pela sua amplitud - os acidentes de toda natureza que
atingem o homem e o seu ambiente em razão do desenvolvimento da indústria,
d6s rneios de transportes, da difusão de produtos complexos e perigosos, da ex-

i No original: "lafunzione risarcitoria viene per così dire esaltata dall'incremento dei danni che è un
connotato tipico della società moderna" (Guido Alpa e Mario Bessone, Atipicità dell'illecito, 1a parte,
Miläo: Dott. A. Giuffrè, 1980, p. 4).
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82 ovos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 83

ploração de energias mais ou menos bem controladas, etc."2 No Brasil, registra-se dos requisitos para a reparação resulta necessariamente na sua ampliaçâo. Outras
que "seja pelo significativo desenvolvimento dos direitos da personalidade, seja causas, entretanto, nao podem ser desprezadas na análise de cada ordenamento
pelas vicissitudes inerentes a um instituto que só recentemente tern recebido apli- jurídico em particular.
cação mais intensa, a doutrina vem apontando urna extensa ampliaço do rol de
No Brasil, por exemplo, nao se pode ignorar, nesta temática, o progressivo
hipóteses de dano moral reconhecidas jurisprudencialmente".3 E, em urna pers-
desmoronar de barreiras processuais que veio assegurar a extensa carnada da po-
pectiva comparatista, conclui Giovanni Comandé que "a prescindir de qualquer pulaçâo, antes marginalizada, o efetivo acesso ao Poder Judiciário como mejo de
ênfase descritiva, o efetivo alargamento da área do dano ressarcível é um dado realiZaÇão da Justiça. A criação dos Juizados Especiais, a gratuidade de acesso às
cortes, o empenho - inversamente proporcional ao aparethamento - da Defenso-
fático presente nas últimas décadas em todas as experiências ocidentais".4
Como esta expansáo tern sido apreendida pelas cortes judiciais de todo mun- ria pública, o crescente recurso a açoes coletivas e outros novos instrumentos de
do é questáo cuja análise se faz útil nao apenas para compreender a nova meto- ordern processual6 têm provocado urna verdadeira revolução que contribui signi-
dologia que vai caracterizando a responsabilidade civil, mas para enfrentar o tao ficativa e saudavelmente, para um aumento quantitativo das açOes de indenizaçâo
necessário quanto imprescindível debate acerca dos papéis que o instituto vem e dos danos efetivamente ressarcidos.
desempenhando e que deve desempenhar na sociedade contemporânea. À parte essa expansão quantitativa, verifica-se, em todo mundo, e de modo
ainda mais marcante, urna expansâo qualitativa, na medida em que novos inte-
resses, sobretudo de natureza existencial e coletiva, passarn a ser considerados
2 Expansäo quantitativa e qualitativa pelos tribunais como merecedores de tutela, consubstanciando-se a sua violaçáo
em novos danos ressarcíveis. De fato, o reconhecimento da necessidade de tutela
O prirneiro prisma sob o quai a expansâo do dano ressarcível costuma ser dos interesses existenciais atinentes à pessoa humana, e, de outro lado, a verifi-
identificada é sempre o quantitativo. Aponta-se, em muitas partes, o aumento do caÇão de danos demasiado abrangentes, identificados corn interesses transindi-
número de açöes de ressarcimento e nao faltam estatísticas alertando para o ver- viduais ou supra-individuais, que passam a ser considerados dignos de proteçâo,
tiginoso crescimento dos pedidos de indenizaçâo por dano moral.5 Em parte, tal vierarn exigir o repensar da estrutura individualista e eminentemente patrimonial
aumento deriva dos fenôrnenos já examinados: o ocaso da culpa e a flexibiizaçâo das açOes de reparaçâo.7 . . -. . .

do nexo de causalidade, que geram como conseqüência evidente um major grau


Mais: a imensa abertura provocada por estas novas espécies de interesses
de ace itabilidade de pedidos ressarcitórios, pela simples razäo de que o afrouxar
tutelados, que nao encontram mais o freio relativamente seguro do raciocInio
materialista que governava a tradicional análise do dano, vem exigir das cortes a
No original: "l'apparition et la multiplication de dommages complètement nouveaux, aussi bien par aplicação de métodos ou critérios de seleçäo dos danos ressarcíveis, que, na major
leur origine que par leur ampleur - les accidents de toutes natures qui atteignent l'homme et son envi- parte dos ordenamentos, permanecem carentes de autêntico exame crítico. Gum-
ronnement du fait du développement de l'industrie, des moyens de transport, de la thffiLsion de produits
complexes et dangereux, de l'exploitation d'énergies plus ou moins bien maîtrisées, etc" (Geneviève
Viney, De la Codification du Droit de la Responsabilité Civile: l'Expérience Française, in Actes du Col-
loque International de Droit Civil Comparé - Codification: Valeurs et Langage, disponível em: www
6
Entre as obras que analisam estes novos instrumentos processuais, imprescindível a leitura de
cslf.gouv.qcca). Paulo Cezar Pmheiro Carneiro, Acesso àiustiça: Juriados Especiai.s Cíveis e Açdo Civil Pública, Rio de
Janeiro: Forense, 1999.
Maria Celina Bodin de Moraes, Danos à Pessoa Humana, cit., p. 165.
4
7 Neste sentido, afIrma Fernando Noronha: "Em tempos ainda recentes, os danos suscetíveis de
No original: "a prescindere da qualsiasi enfasi descrittiva, l'effettivo allargamento dell'area del
danno risarcibile è un dato difatto riscontrabile negli ultimi decenni in tutte le esperienze occidentali" reparação eram quase que sornente o patrimoniais e individuais. A necessidade sentida pela socie-
(Giovanni Comandé, Risarcimento del Danno alla Persona e Alternative Istituzionale: Studio di Diritto
dade de nao deixar dario nenhifmsem reparaçäo é que mudou as coisas. Em primeiro lugar gerou
um- avassalador movimento em prol da reparaçâo dos danos extrapatrimoniais (ou morals em sen-
Comparato, Thrim: G. Giappichelli Editore, 1999, p. 20).
Udo amplo), que, por contraposição aos danos que acarretam prejuízo econômico, atingem valores
5
Entre nós, noticia-se: "Dados do Superior Tribunal de Justiça mostram que, em cinco anos, o nú- somente de ordem corporal (danos puramente corporais) ou espiritual e moral (danos anímicos, ou
meto de açôes por danos morais que chegam por mês à Corte cresceu quase sete vezes: eram 145 morals em sentido estrito) . [. . .] Em segundo lugar conduziu ao reconhecimento da necessidade de
açOes em 2001 contra 974este ano - até o início dejullio de 2005, desaguaram no Tribunal 5.844 tutelar também os danos transindividuais (também chamados de supra-individuais ou metaindivi-
pedidos de indenizaçào por danos morals. Quando são comparados os números atuals corn os de duals), que são os que resultam da violaçäo dos chamados interesses difusos e coletivos, definidos
12 anos atrás, o crescimento é de quase 500 vezes. Em 1993, o STJ recebeu apenas 28 pedidos de pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90), art. 81, parágrafo único, I e II. Trata-se
indenizaçào - ou 2 processos a cada 30 dias" (Responsabilidade Civil - Explode o Volume de Açöes de danos que dizem respeito a benz do interesse da generalidade das pessoas que integram urna
por Danos MoraLs no PaLs, reportagem de Maria Fernanda Erdelyi, disponível em: wwwconjur.com. comunidade, destacando-se,dentre eles, os rejúfó ¿èùsadds ab Îeio asrthient, ao consumidor e
br, acessado em 14.11.2005). a bens ou direitos da coletividade" (Fernando Noronha, Direito das Obrigaçdes, cit., p. 542).
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84 Novos Paradignss dasponsabi qadCivi1. SçhreWr Os Nov05 Danos 85

pre, portanto, em primeiro lugar, investigar o recente reconhecimento de tutela É emblemático o caso brasileiro. Já a Lei n° 4.717, de 29 de junho de 1965,
destes novos interesses coletivos e existenciais à luz dos percursos históricos pró- institUfra a açäo popular, instrumento capaz de assegurar a tutela de interesses
prios dos diferentes ordenamentosjurídicos. Só entào, afigura-se possível avahar, supra-individuais, mas cujas potencialidades nunca vieram a ser inteiramente ex-
criticamente, os diversos critérios e métodos de seleçào dos interesses tutelados, ploradas.9 A Lei n° 7.347, de 24 dejulho de 1985, trouxe, por sua vez, a disciplina
que emergem da experiência jurisprudencia! pátria e estrangeira. da ação civil pública, e o Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078, de i i de
setembro de 1990) dedicou inúmeros dispositivos à tutela coletiva dos interesses
dos consumidores, ainda quando tais interesses sejam essencialmente individuais
3 Os interesses supra-inclividuais e as açöes coletivas de reparação - os conhecidos interesses individuais homogéneos.'° A extensào legislativa da
tutela consumerista aos chamados consumidores por equiparação (CDC, arts. 2°,
A evolução científica e industrial conduziu, como já é truísmo dizer, a urna parágrafo único, 17 e 29) acabou por contribuir para um cenário em que as açöes
substancial majoração do potencial lesivo da autonomia privada. A exploração de coletivas alcançam ampia variedade de relaçôes.
novas fontes de energia; as técnicas de produção em massa; a ampia comerciahiza- Decisöes atuais mostram a crescente aceitaçào das açOes coletivas de repa-
ção de medicamentos e terapias que refletem descobertas relativamente recentes raÇãO em âmbitos diferenciados e por iniciativa de entidades diversas. Tome-se
da ciência médica; o desenvolvimento desconcertante dos transportes terrestre, como exemplo a decisào do Superior Tribunal de Justiça, que considerou legítima
aéreo e marítimo; a explosào da midia; tudo que caracteriza, enfim, a sociedade a propositUra pela Procuradoria de Assistência Judicidria do Estado de São Pau-
contemporanea esconde, por trás de si, um enorme potencial de dano. loll de açäo civil pública visando indenizaçào por danos materiais e morals das
Nao se chega, no maisdasvezes, a Çogitar da paralisação ou eliminação destes diversas vítimas da expiosãò de um estabelecimento que explorava o comércio de
fatores de risco, mas bem se sabe que os acidentes dal derivados alcançam enor- fogos de artifIcio. Reconheceu, na oportunidade, a corte que "no que se refere à
mes proporçöes. A tragédia ínsita a tais episódios aflige, há muito, a comunidade defesa dos interesses do consumidor por meio de açôes coletivas, a intenção do
jurídica internacional, tendo, por toda parte, se desenvolvido a idéia dos interes- legislador pátrio foi ampliar o campo da legitimação ativa, conforme se depreende
ses difusos ou coletivos em tomo de bens jurídicos de utihidade comum.8 Urna vez do art. 82 e incisos do CDC, bem assim do art. 5°, inciso XXXII, da Constituiçäo
violados, tais interesses ensejam danos igualmente comuns, a serern ressarcidos Federal, ao dispor expressamente que incumbe ao Estado promover, na forma da
em benefIcio de toda a sociedade ou da coletividade atingida. lei, a defesa do consumidor".'2

A dificuldade de se enquadrarem danos coletivos e difusos em um esquema


9 Neste sentido, José Carlos Barbosa Moreira, O Processo Civil Brasileiro entre Dois Mundos, cit.,
dogmático construIdo sobre bases essencialmente individuais parece, hoje, supe-
p. 126, e, do mesmo autor, A Açäo Popular do Diretto Brasdeiro como Instrumento de Tutela Juris-
rada na maior parte dos ordenamentos por força da diligente atuaçao da proces- diciona! dos Chamados Interesses Dftisos, in Studi in onore di Enrico Tullio Liebman, Milâo: Giuffrè,
sualística contemporânea Verifica-se, atualmente, um ampio desenvolvimento
. 1979, y. Pci . 2.673 ss.

das chamadas açäes coletivas, corn iniciativa assegurada ora solidariamente a lo Interesses individuais homogêneos são, na expressa definiçâo do art. 81, III, do Código de De-
qualquer membro da comunidade, ora a entidades extraordinariamente legiti- fesa do Consumidor, "os decorrentes de origem comum". Esclarece Kazuo Watanabe que "origem
madas, como associaçées civis, agências governamentais, o Ministério Público e cornum nao significa, necessariamente, urna unidade factual e temporal. As vítimas de urna publi-
cidade enganosa veiculada por vários órgäos de imprensa e em repetidos dias ou de um produto
outras entidades. nocivo à saúde adquirido por vários consumidores num largo espaço de tempo e em várias regiôes
têm, como causa de seus danos, fatos corn homogeneidade tal que os tomam a origem comum de
8
todos eles" (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelosAutores do Anteprojeto, cit.,
Importante papel desempenhou, neste particular, a doutrina italiana. Como destaca Patrizia Pe-
p. 724). Sobre o tema, é de se conferir, também, Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, Açées Coletivas: A
trelli: "Negli anni'70 del secolo scorso, a seguito di un ampio dibattito dottritiale da porte dei proces- Tutela Jurisdicional dos Direitos Individuais Honsogêneos, Rio de Janeiro: Forense, 2000.
sualisti, deipenalisti, dei civilisti e degli amministrativisti sulla tutela degli interessi collettivi e dffiis4
sollecitato da alcune importanti decisioni urisprudenziali, la nozione di interesse wilettivo the, come
11
De acordo com o art. 10 do Ato das Disposiçöes Ttansitórias da Constituiçäo do Estado de São
si è detto, era stata elaborata in altraepoca, viene recuperata poichépresenta, ,ispetto all'interesse di!- Paulo, até que seja criada a Defensoria Pública, suas atribuiçöes devem ser desempenhadas pela
fuso defiaLto tnteresseidespota o senza struttura, il vantaggio di essere nfenbde a soggetti deterrmnatt Procuradoria Geral do Estado. Para tanto, criou-se urna subprocuradoria denominada Procurado-
o determinabth considerati centri di imputaztone o portatore th detto interesse (Patrizia Petrelli Inte ria de Msistência Judiciária, que, por meio de seus procuradores e de convênios firmados corn a
ressi collettivi e responsabilitàcîvile, Pádua ;Cedam,2003, p. 4-5). Nada obstante, a comparaçào corn OAB, faculdades de diretto e escritórios de advocacia, presta assistência judiciária à populaçào de
outros ordenarnentos revela que os efeitos- práricos alcançados no direito positivo italiano ficaram São Paulo.
aquém desta produçäo intelectual, que, por outro-Iado, vejo a ser aproveitada de forma bastante 12
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial 181.580-SP Rel. Min. Castro Fiiho, julg.
eficiente em países como o Brasil. 9.12.2003.
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86 NQvo Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 87

Por toda parte, a doutrina, há muito, constata que as açOes coletivas nao ape- o indivIduo. De um lado, a negativa de reparabilidade ao "dano moral coletivo"
nas superam a dificuldade de acesso individual à Justiça, mas também asseguram nao implica a impossibilidade de dano moral decorrente da lesào a um interesse
a plena compreensão da demanda e urna decisão coerente (porque unitária) para transindividual'7 De outro, a própria discussào em torno do tema revela, antes,
todas as vítimas, poupando esforços e custos desnecessários às partes e ao poder que os interesses difusos e coletivos, até pouco tempo combatidos apenas por
público. Tais benefIcios são, por óbvio, muito bem-vindos em sociedades em que medidas de direito público em sentido estrito (multas administrativas etc.), in-
o recurso ao Poder Judiciário ainda consiste em atitude incomum para a major gressam, firmemente, no campo da responsabilidade civil e passam a exigir novos
parcela da população. Nao são dispensáveis, todavia, nem mesmo naquelas so- posicionamentoS das cortes de todo o mundo, em oposiçäo à dogmática tradicio-
ciedades marcadas por urna cultura da ampia defesa judicial dos direitos, como nalmente individualista do instituto.'8
ocorre nos Estados Unidos, cujo modelo bern-sucedido das class actions serviu, em
larga medida, de inspiração ao legislador brasileiro. A eficiência do instrumento
é, aliás, demonstrada pelos seus próprios opositores. É significativo que a recente 4 A dignidade da pessoa humana e a tutela dos interesses
batalha travada pelo Governo Bush contra o alto custo empresarial representado existenciaiS
pelo sistema de torts norte-americano tenha tido como alvo da primeira investida
justamente as class actions.'3 Se o despertar do direito para os interesses supra-individuais pode ser con-
À parte a questão das açöes coletivas de reparaçäo, parece inegável que, sob siderado um dos grandes avanços da ciência jurídica recente, o reconhecimento
o ponto de vista substancial, a tutela dos interesses supra-individuais vejo revelar da necessidade de tutela dos interesses existenciais atinentes à pessoa humana
a insuficiência da dicotomia dano moral-dano patrimonial e propor novos proble- representa urna autêntica revoluçào.'9 A consagraçào da dignidade humana como
mas, como se vê particularmente da discussão em torno do chamado "dano moral valor fundamental nas constituiçôes do último século, associada à aplicação dire-
coletivo".'4 Pressupoe a figura que seja possível causar dano moral de forma difusa, ta das normas constitucionais às relaçôes privadas, veio exigir corn força irresis-
afetando-se urna comunidade de pessoas, para além da individualidade de cada tível a ressarcibilidade, até entäo discutida, do dano extrapatrimonial.2° Embora
um. No Brasil, acórdão recente do Superior Tribunal de Justiça considerou, por de forma diferenciada, cada sistema jurídico passou, gradativa ou subitamente,
maioria, impossível cogitar de dano moral coletivo, pleiteado em nome de cornu- a conceder reparaçäo a lesöes de interesses existenc.iais antes considerados de
nidade afetada por lesão ao mejo ambiente, argumentando que "nao parece ser forma meramente programática, como escopo de comandos dirigidos tao-sornen-
compatível corn o dano moral a idéia da transindividualidade (da indeterminabi- te ao legislador, inaptos a deflagrar direta proteçào contra vioiaçôes perpetradas
lidade do sujeito passivo e da indivisibilidade da ofensa e da reparaçäo) da lesào. pelo Estado ou por outros particulares.2'
É que o dano moral envolve, necessariamente, dor, sentimento, lesào psíquica,
afetando a parte sensitiva do ser humano, como a intimidade, a vida privada, a 17 o próprio STJ reconhece: "0 dano ambiental ou ecológico pode, em tese, acarretar também
honra e a imagem das pessoas."5 dano moral - como, por exemplo, na hipótese de destruiçâo de árvore plantada por antepassado
de determinado indivIduo, para quem a planta tena, por essa razão, grande valor afetivo. Todavia,
A decisào é criticável em sua associaçào do dano moral corn a dor e o a vítima do dano moral é, necessariamente, urna pessoa" (REsp 598.281, Rel. Min. Teori Albino
soft jmento,'6 mas o julgamento, longe de revelar oposição à tutela dos interesses Zavascki, 2.5.2006).
supra-individuais, demonstra urna crescente sensibiidade do Poder Judiciário para 18
Neste sentido, Patrizia Petrelli, Interessi Collettivi e Responsabilità Civile, cit, p 221-222.
a distinçäo entre os interesses puramente individuais e aqueles que transcendern 19
Sobre a tutela da pessoa humana, imprescindível a lettura de Pietro Perlingieri, La personalità
umana nell'ordinamento giuridico, Camerino: Jovene Editore, 1972. No Brasil, fundamental é a lei-
13
tura de Gustavo Tepedino, A Tutela au Personalidade no Ordenamento Civil-ConstitucionaL Brasileiro,
Recente medida legislativa limitou a competência das cortes estaduais americanas para a apre- in Temas de Direito Civil, cit., p. 23-58; e Maria Celina Bodin de Moraes, A Caininho de um Direi-
ciaçäo de class actions, o que pode, de acordo corn o Prof. Arthur R. Miller, da Universidade de Har- to Civil Constitucional, in Revista de Direito Civil, imobiliário, Agrérlo e Empresarial, y. 65, jul./set.
yard, levar à "balkanization ofclass-action litigation by encouragingp!aintiffs' laanjers tofile smaller 1993, p. 21-32.
suits in djfferent courts, rather than a single large nationwide action" (New York Times, 11.22005, 20 Especiuicamente sobre a ressarcibilidade dos danos à pessoa, ver Maria Celina Bodin de Moraes,
Senates Approves Measure to Curb Big Class Actions).
14
Danos à Pessoa Humana, cit., passim. Na experlência estrangeira, ver Antonino Procida Mirabelli di
Sobre o tema ver Carlos Alberto Birtar Fitho Do dano moral coletivo no atual contexto juridico Lauro, La riparazione dei danni alla persona, Nápoles: ESI, 1993.
brasileiro, in Revista de Direito do Consumidor, y. 12, p. 44-62.
' STJ, REsp 598.281, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 2.5,2006.
21
No Brasil, confira-se, como urna das primeiras obras a sistematizar, entre nós, a evolução do
dano moral, Carlos Edison do Rêgo Monteirct Fiihu; Elthcntos d ResponsabiIiçlade Civil por Dano
Ver Capítulo 4, item 4-A impropriedade do critério da dor. Moral, Rio de Janeiro: Renovar, 2000.
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88 Noves Paradigna Cii ScJiLeber. Os Novas Danos 89

o fenômeno da constitucionalizaçâo do direito civil refletiu-se, poi-tanto, tam- se, deste modo, diante dos tribunais de toda parte o que já se denominou de "o
bém ria responsabilidade civil, e de forma notável.22 Um novo universo de inte- grande mar" da existencialidade,28 em urna expansào gigantesca, e, para alguns,
resses merecedores de tutela vejo dar margem, diante da sua violaçâo, a danos tendencialmente infinita das fronteiras do dano ressarcível.
que até entâo sequer eram considerados juridicamente como tais, tendo, de forma
direta ou indireta, negada a sua ressarcibiidade.
Basta pensar, a título de ilustraçAo, no dano àpriviéidade. Em 1960, era in- ExemploS de novos danos
5
concebível que uma pessoa recorresse ao Poder Judiciário alegando ter sofrido
dano à privacidade, como modalidade autônoma e específica de um prejuízo res-
As figuras mais comuns de dano nao-patrimonial (dano à integridade psico-
sarcivel.23 Hoje, ao contrário, a privacidade é amplamente reconhecida como um
física, dano estético, dano à saúde etc.) vêm se sornando outras, de surgirnento
interesse merecedor de tutela, e os tribunais têm se mostrado prontos para tutelar
mais recente e de classificaçào ainda um tanto assistemática. Para designá-las, a
qualquer lesâo que se ihe apresente, como evidenciam, por exemplo, os casos de
condenaçâo por revista ou video-vigilância nao autorizada em ambiente de tra- doutrina de toda parte tem empregado expressöes como novos danos ou novos ti-
balho24 ou por abuso no direito de informaçào.25
pos de danos. A rigor, a alusão a "tipos" mostra-se imprópria na major parte dos
ordenarnentos, já que a tendência mundial hoje é a de se rejeitar a aplicaçao do
A exemplo do que ocorreu corn a privacidade, a aplicaçào direta da norma princfpio - ou da lógica - da tipicidade no que tange à definiçào dos danos ressar-
constitucional de tutela da dignidade humana vejo abrir caminho à proteçao de cíveis. Justamente por essa razáo, o arrolamento destes "novos danos" mostra-se
outros interesses existenciais que, há muito, dernandavam reparaçào. Por exemplo,
tarefa das mais ingratas. Nao sendo possível exauri-los, sua indicaçáo tem como
douirina e tribunais brasileiros passaram, mesmo à margem de previsão legislativa
específica, a considerar como -daiio resarcíve1 o dano à imagem, o dano estético utilidade apenas a descriçäo ilustrativa da amplíssima expansäo do dano ressar-
e o dano à integridade psicofísica.26 Consolidou-se, na experiência brasileira, a
cível que vem chocando tribunais ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, corn-
efetiva tutela reparatória destes aspectos da personalidade, constitucionalmente preensOes sistemáticas que poderiam, quiçá, auxiliar na apreensäo do fenômeno
protegida. vêm já desencorajadas pela imensa variabilidade das tantas figuras reunidas sob
o signo comum da novidade.
o problema mais atual residè no fato de que a dignidade humana nao se lirni-
ta, nem poderia se limitar, como cláusula geral que é, aos interesses existenciais Tome-se como exemplo inicial a jurisprudência italiana. A Corte di Cassazione
acima mencionados. O seu conteúdo inclui aspectos diversos da pessoa humana menciona expressamente "o dano à vida de relaçào, o dano pela perda de concor-
que "vêm se enriquecendo, articulando e diferenciando sempre mais".27 Abre- rencialidade, o dano por reduçáo de capacidade laboral genérica"29 e reconhece a
ressarcibilidade do chamado "dano sexual".3° O Tribunal de Florença propñe "um
reconhecirnento em via autônoma do conceito de dano hedonístico".3' O Tribu-
22
Sobre a constitucionalização do direito civil, ver, como referência fundamental, Gustavo Tepe-
dino, Premissas Metodo1ógcus para a Constitucionalizaçäo do Direito Civil, in Temas de Direito Civil,
cit., p- 1-22.
2001, p. 4).
23
28
A expressäo é de Francesco Donato Busnelli, il Danno alla Persona al Giro di Boa, in Danno e
Para a evoluçäo do tratamento da privacidade no direito brasileiro, confira-se Danilo Doneda,
Responsabilità, ano VIII, 2003, p- 243.
Da Privctcidade à Proteçäo de Dados Pessoais, Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
24
29
"fl danno aLla vita di reLazione, iL danno per la perdita di concorrenzialità, il danno per riduzione
Sobre o tema, imprescindível a leitura de Bruno Lewicki, A Privacidade da Pessoa Humana no
della capacità lavorativa generica" (Corte di Cassazione, 27 agosto 1999, n0 8998).
Ambiente de Trabalho, Rio de Janeiro: Enovai 2003.
25
Confira-se, por exemplo, decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em que se declarou:
30
Trata-se do dano autônomo sofrido pelo individuo que se vê impedido de manter relaçöes
sexuais por força de outro dano causado diretamente ao seu cônjuge. No entender da corte italiana:
'A reportagem publicada ein revista de grande circulação noticiando encontro forjado de casal, corn
"Il comportamento doloso o colposo del terzo che cagiona ad ana persona coniugato l'impossibilità dei
reprodução de diálogo revelador da vida íntima, da pessoa que acreditava ser verdadeiro aquele
inicial relacionamento, viola o direito à privacidade e à intimidade, assegurado na Constituição Fe- rapporti sessuali è immediatamente e direttamente lesii)o, sopprimendolo, del diritto dell'altro conio-
ge a tali rapporti, quale diritto-dovere reciproco, inerente alla persona, strutturante, insieme agil altri
deral, ensejando a reparaçäo moral" (TJRJ, Apelaçäo Cível 2004.001.14725 2004.001.14725, Rel.
diritti-doveri reciproci, il rapporto di coniugio. La soppressione di tale diritto, menomando la persona
Des Jose Geraldo Antomo j 31 8 2004)
del coniuge, nel suo modo di essere e nel suo svolgimento nellafamiglia, è di per sé risarcibile, quale
26
Ver, entre outros, Superior Tribunal de Justiça, Recursos Especiais 182.977/PR, 207.165/SP modo di riparazione della lesione di quel diritto delLa persono., qual(ficabile come danno che non è né
595.338/lU, 327.210/MG, 401.124/BA e 449.000/PE. patrimoniale, né non patrimoniale, comunque rientrante nella previsione dell'art. 2043 cod. civ" (Cas-
27
No original: "si sOno venuti sempre più arricchendo, articolando e dfferenziando" (Raffaele Tom- sozione Civile, sezione III, 11.11.1986, sentenzan 6607).
masini, Soggetti e area del danno risarcibile: 'evoIuzione del sistema, Turim: G. Giappichelli Editore, 31
Tribunal de Florença, 24.2.2000, in Guida al Diritto, 2000, n0 25, p. 46 ss
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90 Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 91

nal de Veneza vem apenas enriquecer um debate ampiamente desenvolvido em lizada nao deixou de atentar para o risco de que, na esteira da decisào da Corte
território francês ao decidir que o nascimento nao-programado de urna criança de Justiça, as férias passassem a ser consideradas como um bem jurídico autono-
por força de urna cirurgia de esterilizaçäo faiha implica no ressarcirnento do dano mamente tutelado. 36
consistente no custo de manutençao do fiiho indesejado.32 E o Tribunal de Milão
Corn risco mais ou menos semeihante, fala-se hoje, na Europa, em dano de
já reconheceu o dano existencial de ernissäo de ruido, como "dano consistente na
mobbing, dano de mass media, dano de processo lento, dano de brincadeiras cruéis
perturbação das normais atividades do indivIduo e da serenidade pessoal a que (bullying) e assim por diante.37 No Brasil, à parte outras figuras controversas de
cada sujeito tern direito".33
danos, a jurisprudência tern, mais recentemente, se deparado corn inúmeros pedi-
Alguns destes novos danos acabam por alcançar, na Europa, reconhecirnento dos de indenizaçào em decorrência de ruptura ou desenvolvimento insatisfatório
em grau comunitário. A Corte de Justiça da Comunidade Européia, por exemplo, de relaçöes familiares. Confrontam-se, deste modo, as cortes pátrias com deman-
acolheu expressamente o chamado "danno da vacanza rovinata" (literalmente, das de ressarcimento pelo dano moral decorrente do "rompirnento de noivado",
dano de férias arruinadas), determinando que faz jus o consumidor ao ressarci- da "separaçâo após a notícia da gravidez" e do "abandono afetivo" de flihos e
mento do dano nao patrimonial derivado do inadimplemento ou da má execução cônjugeS.3° Também tem provocado polêmica, aqui e aihures, a indenização do
das prestaçôes contratadas por ocasiâo de uma viagem de turismo.34 O caso, am-
piamente debatido na comunidade jurídica européia, foi o da menina infectada
le alle vivande servite nel club. La malattia, che continuava dopo la fine del soggiorno, si manifestava
por salmonela durante viagem à Turquia, em virtude das refeiçoes consumidas con accesso difebbre per più giorni, problemi circolatori, diarrea e vomito assieme a stati di ansietà. I
em um resort onde permanecia hospedada corn a famIlia.35 A doutrina especia- genitori dovevano assistere la sig.na Leitnerfino al termine dei soggiorno. Molti altri clienti del club si
erano ammalati, presentando gli stessi sintomi." Fatos semeihantes têm sido ampiamente reconhecidos
como fonte de dever de indenizar na jurisprudência italiana, podendo-se citai a título ilustrativo, a
32
Tribunal de Veneza, 10.9.2002, in Danno e Responsabilità, n0 4, 2003, p. 403. Observa, porém, o decisão do Tribunal de Milán, de 7.2.2002, publicada em Danno e Responsabilità, 00 5, 2003, p. 553:
tribunal que "affermare la rLsarcibilità dei danni per la nascita di un bambino non significa qualij1 care "Tenuto conto delle precise richieste delle attrici un addetto dell'Agensia Acentro provvedeva a contattare
negativamente la vita umana, ma più semplicemente riconoscere ilfatto che unfiglio può determinare telefonicamente il peisonale della Teorema, che consigliava l'albergo Sol Akti Zeus di Hiraklion, situato
dei costi, senz'altro economici, e talvolta morali, e che questi devono gravare sul medico, responsabile nella zona di Arnoudara (Creta), descritto come 'uno di quelli con il mare migliore' e con 'la spiaggia
del proprio errore, anziché sui genitori dei bambino la cui nascita non era pian4ïcata né desiderata. In maggiormente attrezzata'. f. . .3 Le attrici hanno altresì precisato che il mare e la spiaggia risultavano
altre parole, il danno risarcibile non è la nascita in sé, ma l'onere economico inevitabilmente correlato completamente inagibili a causa del pesante inquinamento sia marino ehe atmosferico con presenza di
ad un evento non programmato." Esta era já a abordagem da melhor doutrina italiana. Cf. Rocco bidoni di idrocarburi galleggianti sul mare prospiciente la spiaggia. che si presentava in stato di totale
Favale, Genitori contro Volontà e Risarcimento per i Danni da Nascita, in Danno e Responsabilità, n0 incuria e sporcizia, essendo copara di rifiuti. inoltre le attrici hanno lamentato che i servizi e i comforts
5, 2001, p. 481-489 (publicado também no Brasil na Revista Trimestral de Direito Civil - RTDC, V. del complesso alberghiero, compresi quelli di ristorazione, erano di livello scadente e, comunque, di li-
6, p. 129 ss.), em que o comparatista conclui: "Certamente il risarcimento dei danni subiti dai geni- vello qualitativo inferiore rispetto a quelli offerti da un albergo classificato di categoria A."
tori per il figlio non voluto è sì collegato alla nascita contro volontà, ma la compensazione riguarda 36
Confira-se a pertinente crítica de Massimo Gazzara, Vacanze 'Tutto Compreso' e Risarcimento del
soprattutto i genitori, o meglio il 'programma' dei genitori di non averlo. La lesione investe appunto la
Danno Morale, in Danno e Responsabilità, n0 3, 2003, p. 248: "Se invece si concepisse la vacanza come
pianificazione realizzata dalla coppia. In questa direzione decisamente si richiama la violazione della
bene della vita autonomamente tutelabile anche ai sensi dell'art. 2043 c.c. dovrebbe in linea teorica
personalità dei genitori: nessuno può attentare al dirittofondamentale di autodeterminnsione. Questa
riconoscersi il diritto al risarcimento del danno da vacanza rovinata anche per chi, ad esempio, vitti-
tendenza, che dfende il valore esistenziale della procreazione consapevole, potrebbe costituire la base
ma di un sinistro stradale nei giorni precedenti alla partenza, fosse costretto ad annullare il viaggio in
comune dello soluzioni europee, compresa anche la nostra, per offrire una risposta all'unisono con i
conseguenze delle lesioni riportate."
valorifondamentali della civiltà europea".
37
33 Para urna análise destas e outras figuras recentes de dano, ver Paolo Cendon, Trattato Breve dei
Tribunal de Milão, 21.10.1999. No original: "Coloro che a causa di immissioniprovenienti dalfondo
Nuovi Danni, cit., passim.
del vicino e qualificabili come illecite, in quanto eccedenti la normale tollerabilità ex art. 844 cod. civ.,
38
subiscono un danno, non necessariamente di carattere biologico, ma anche semplicemente di tipo eststen- Tais açbes nao são exciusividade da experiência brasileira. O Tribunal de Milão já reconheceu
ziale, ossia un danno consistente in un turbamento delle normali attività dell'individuo e della serenità que a mulher abandonada no dia seguinte à noticia de sua gravidez sofre urn dano ressarcível repre-
personale cui ciascun soggetto ha diritto, devono essere risarciti ai sensi dell'art. 2043 cod. civ." sentado pela "modificaçào prejudicial da sua esfera pessoal de sujeito, entendida como complexo de
34 atividades, mas também de experiências afetivas, emocionais e relacionais, em que o sujeito explica
Corte de Justiça CE, 12.3.2002, n. C-168/00, in Danno e Responsabilità, n. 11, 2002, p. 1098.
sua própria personalidade, bem mais grave que o mero deságio normalmente resultante da ruptura
35
Para urna descrhho mais detaihada dos fatos, ver Corte de Justiça CE, 12.3.2002, n0 C-168/00, ir' da uniäo conjugal" (Tribunal de Milão, 7.3.2002, in Danno e Responsabilità, n. 6, 2003, p. 644-651).
Danno e Responsabthta n° 1 1 2002 p 1098 Lafamiglia della ztg na Leitner nata il 7 luglio 1987) o -aludido Tribunal ressaltou, ainda, que a conduta do cônjuge que deixa a muffler grávida representa
acquistava presso la TUI un viaggio (con soggiorno) tutto compreso presso il club Robinson Pamfihya violaçäo dos deveres matrimoniais, Quia gravidade se torna ainda mais intensa diante das condiçöes
aSide, in Thrchia (inprosiego: il 'club'); per il periodo comprèso trail 4 luglio e il 18 luglio 1997. La de "particular fragilidade e necessidade de assistência e suporte moral e afetivo" que decorrem do
sig.na IJeitñerraggiuàgeva 1adesdnazione con i suoi genitori il 4 luglio 1997. Lafamiglia trascorreva estado de gravidez. Sobre a ruptura de noivado, ver, entre outras decisôes, Tribunal de Justiça de
l'intéro soggiorno presso il club e vi consumava tutti i pasti. Circa otto giorni dopo l'inizio del soggiorno São Paulo, Apelaçäo Cível 81.499-4/3-00, 249.1998: O'easo específico do.bandono afetivo", que
la sig.na Leitner accusava sintomi di un'intossicazione da salmonella. Tale intossicazione era imputabi- provocou ampla polêmica na comunidade jurídica brasileira, será examinado mais adiante.
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92 Novos Paradigns .Sc1i.eibe
Os Novos Danos 93

dano-morte, seja no que diz respeito à vítima do falecimento - atualmente, in-


deniza-se, em diversos países, a morte de animal doméstico, às vezes em bases "a multiP1jcÇã0 de novas figuras de dano venha a ter como únicos limites a fan-
assustadoramente semeihantes à morte de pessoas39 -, mas, sobretudo, no que tasia do intérprete e a flexibilidade da lurisprudência".42 Corn efeito, as últimas
tange à titularidade do ressarcimento, que se tern procurado estender a parentes décadas têm demonstrado que a criatividade do intérprete e a flexibilidade da
mediatos e, às vezes, até a pessoas sem relação de parentesco corn o falecido.4° jurispmdêfla podem ir bem longe. Basta examinar, a título ilustrativo, algumas
Alguns tribunais superiores estrangeiros têm chegado ao ponto de reconhecer, decisôes polémicas proferidas ao redor do mundo.
genericamente, que "nao só no caso de morte, ma também no caso de lesöes cul-
posas, é ressarcível - na condiçäo de dano reflexo e desde que seja demonstrado
o nexo de causalidade corn a vítima imediata do ilícito -o dano moral lamentado 6 1guns casos polêmicos
pelo cônjuge do ofendido".4'
:
Esta avalanche de "novos danos", se, por um lado, revela major sensibilida- Na Itália, em 27 de novembro de 2000, dois sujeitos que haviam sido presos
de dos tribunals à tutela de aspectos existenciais da personalidade, por outro, faz em flagrante ao tentar furtar urna moto foram condenados pelo Tribunal de Milão,
nascer, em toda parte, urn certo temor - antevisto por Stefano Rodotà - de que em âmbito cível, nao apenas à reparaçáo dos danos patrimoniais causados, mas
também à reparação do "danno morale affetivo", decorrente, nos próprios termos
do julgado, do fato de existir um intenso vínculo afetivo entre a vítima e o obje-
39
o dano moral decorrente da morte de animais domésticos é bastante difundido no Brasil e sua to, já que a moto era nova e havia sido adquirida corn o primeiro salário do seu
justificativa vem sempre acompanbada de argumentos relacionados à "forte dor" sofrida pelo proprie- proprietáriO.43 Criticamente batizada de "dano de moto nova", a nova espécie de
tário. Confira-se a decisäo do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Apelaçäo CIve! 2001.001.17959, dano converteU-se, na ótica comparatista, em advertência aos limites da ressarci-
j. 11.4.2002: "Padece de foste dor, grande sofrimento, quem acompanha a morte de sens animais de
criaçäo acometidos de grave enferrnidade que estana coberta por vacina, que se mostrou inócua por bilîdade do dano e da expansão da própria responsabilidade civil.
óbvio defeito de fabricação." A indenizaçào de tais danos chega mesmo a ultrapassar, algumas vezes,
àquela atribuida em casos de danos às pessoas: "Sucedeu no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, 42
Stefano Rodotà, rl Problema della Responsabilità Civile, cit., p. 23. No mesmo sentido, registra-se
no ano de 1991. Enfoque-se o drama de duas familias: urna pleiteia a reparaçäo do dano moral pela
mais recentemente: "sempre più spesso le riviste specializzate (ed ancorprima i quotidianO anunziano
perda de dois (lEsos menores; a outra, pela perda de dois caes. Submetidos os casos à apreciaçflo do
'cases' nei quali è stato riconosciuto e variamente quantijicato un danno morale e/o esistenziale in vicende
Judiciário, ambos os pedidos restaram julgados procedentes, o que seria absolutamente comum -e
e situazioni che invero soltanto lafen'idafantasia degli operatori del diritto avrebbe potuto ipotizzare"
mesmo louvável -, nao fosse por um singelo detaihe. À perda de cada cachorro, atribuiu-se o valor
(Raffaele Tommasini, Soggetti e Area del Danno Risarcibile: l'Evoluzione del Sistema, cit., p. 1).
de 50 salérios mínimos. A perda de cada filho, 10 salários mínimos. E todo isso no mesmo ano, no
mesmo tribunal ..... (Carlos Edison do Rêgo Monteiro Fiiho, Elementos de Responsabilidade Civil por
43
Tribunal de Milâo, 27.11.2000, in Danno e Responsabilità, n0 7, 2001, p. 735-736: "Trattasi di
Dano Moral, cit., pp. 147-148). danno morale affettivo, riconoscthile ogni quai volto ilfatto illecito di terzi, incidente non sulla persona
40 del soggètto leso, ma su beni di sua proprietà, provoca, per il legame affettivo attribuito al bene che,
A rigor, ao fondai-se o ressarcimento, como frequentemente ocorre em casos de dano-morte,
notoriamente, può sussistere non soltanto tra personefisiche, ma anche tra un soggetto ed un bene, o il
no "sofrirnento" e na "dor" do titular do direito à indenizaçào, nada impede sua extensào a irmàos,
particolare valore subiettivo attribuito al bene, una ripercussione psichica diversa dal semplice dispiace-
avós, namorados, amigos ou mesmo fâs da vítima direta do ilícito. Em algumas expetiências, tens-se
re o disturbo per il verificarsi del danno (corne nel coso di perdita di beni aventi un valore affettivo per
reconhecjdo o direito destas vítimas secundérias ao ressarcimento do dano-morte, embora se tenha essere già stati di proprietà di un soggetto caro, c.d. gioielli difomiglia), o per l'intenso vincolo affettivo
exigido a demonstraçäo do laço afetivo, ao contrário de certas relaçöes (como a paternidade ou a
che può legare il soggetto ad un bene o ad un animale." Para comentários à decisäo, veja-se Chiara Co-
filiação) em lue a afetividade é presumida. Neste sentido, Luigi Papi, Linee di Tendenza della Giuris-
mai, Il Tentato Furto della Motocicletta Nuova, in Danno e Responsabilità, n° 7, 2001, p. 736-740-
prudenza di Merito ed Aspetti Medico-Legali in Tema di Risarcibilità del Danno da Morte, in Danno e
Responsabilità, n° 11, 2002, p. 1079: "L'esistenza di uno stato di sofferenza o prostrazione è presunta
44
A decisbo foi trazida a debate por Tommaso Artigo no 4° volume de célebre publicaçào italiana
per alcune categorie di relazioni, quali il coniugio, lafihiazione e la parentela; in un caso, ad esempio de dimito comparado, coordenada por Maurizio Lupoi, EAlambicco del Comparatista: Dalla Disgra-
(Trib. Milano, I O giugno i 999), si nega il risarcimento ai nonni della vittima in quanto 'nel caso zia al Danno, Miläo: Giuffrè, 2002, p. 11-13. 0 julgado mereceu também a atençbo de Francesco
specie non esiste alcun riscontro difrequentazione dei predetti con la vittima, di rapporti epistolari, di Donato Busnelli, Il Danno alle Persona al Giro di Boa, cit., p. 238: "Possono i confini della responso-
convivenze, di periodi di vacanze trascorse dalla nipote presso i nonni, di tatché difetta ogni presupposto bilità civile dilatarsifino a ricomprendere la risarcibilitis del turbamento emotivo accusato dal giovane
per il riconoscimento del danno in parola'." proprietario di unafiamniante motocicletta (acquistata - si legge in motivazione - 'con i primi guada-
41 gol, realizzando con sacrificio un desiderio a lungo accarezzato') per il tentatofiirto della stessa, di lì
Cortedi Cassazione, sentença n 4186, 23.4.1998, in Danno e Responsabilità, 1998, n° 6,
p. 686. a poco ritrovata intatta? E, questo, un caso a cui dà risposta affermativa una sentenza del Tribunale
No original: "non solo nel caso di morte, ma anche nel caso di lesioni colpose, è risorcibile - in quanto
di Milano inserendosi in un dibattito, particolarmente acceso in Italia, avente ad oggetto dimensioni e
dannoriflesso e purchésia dimostrato il nesso di causalità con il danno subito dalla vittima immediata limiti di una prospettiva di 'liberalizzazione' del risarcimento del danno non patrimoniale, attualmente
dell'illecito - il danno morale lamentato dai congiunti dell'offeso". Sobre o tema, ver Enza Pellecchia,
'ingessato' nelle rigide maglie dell'art. 2059 del nostro codice civile. Si prospetto., qui, il pericolo di una
Danno Morale e Legittimnsione ad Agire dei Congiunti in Caso di Sopravvivenza della Persona Lesa, in
dilatazione incontrollabile dei confini della responsabilità civile, che pone necessariamente il problema
Danno e Responsabilità, n° 11, 2002, p. 1071. - ben noto all'esperienza tedesca - difronteggiare le c.d. Bagatelschäden."
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94 ovos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 95

Na França, ganhou ampia repercussào o chamado Affaire Perruche, em que a peSSOal" após ter, no curso de urna série de artigos jornalísticos, visto se lhe atri-
Cour de Cassation reconheceu a um adolescente o direito de ser inderiizado pe- buir urna posiçâo científica que jamais adotara: a de convencido entusiasmo em
los danos derivados do seu "nascimento corn grave deficiência física" decorrente relaÇáO à eficácia afrodisiaca da raíz de ginseng.48 Polêmica mais recente resul-
de rubéola contraída por sua mae d,urante a gravidez, muito embora a genitora tou do julgamento que considerou como dano à integridade física a negligente
houvesse expressamente declarado em contratos celebrados corn seus médicos destruiÇão de líquido seminal em um banco de sêmen, ressaltando a corte alemà
seu desejo de interromper a gestaçao caso o diagnóstico de rubéola viesse a ser
a possibilidade de extensâo do conceito de corpo para abranger também partes
confirmado.45 A suposição de que, no entendimento daquela corte superior, o
dele destacadas.49
nascimento de urna criança pudesse ser considerado como dano ressarcível ge-
rou infindáveis polêmicas no direito francês, que culminaram corn a edição da Lei Nos Estados Unidos, urna cadeia de restaurantes foi condenada por urna corte
2002-303. 0 referido diploma proibiu expressamente a indenização por simples da Georgia a indenizar os 1.321 destinatários pelo dano derivado do recebimento
nascimento indesejado, limitando o remédio ressarcitório àqueias hipóteses em de fax publicitário nao solicitado, em um total de US$ 11,889,OOO.00.° Também
que o erro médico tenha provocado diretamente o handicap, o tenha agravado, nos Estados Unidos, em Ohio, o treinador de um time juvenil de beisebol, após
ou tenha, de alguma forrna, impedido que fossem adotadas as providências neces- perder todas as partidas da temporada, foi processado pelo pai de um dos joga-
sárias a atenuá-lo.46 Apesar da medida legislativa, as discussöes parecern, ainda, dores, por "danos emocionais decorrentes do fracasso esportivo". O pai alegou
longe de se encerrar.47 que O seu filho e toda a famIlia padeceram de grave sofrimento em virtude das
derrotas.5'
Na Alemanha, histórica importância é atribuIda ao caso de um ilustre pro-
fessor de direito eclesiástico que obteve reparaçäo por "dano à sua identidade Entre nós, ganhou repercussào o pedido de indenizaçào formulado por ado-
lescente barrada na entrada de um baile de gala,por estar vestindo traje made-
45
Cour de Cassation, 17.11.2000. Para discussöes adicionais, ver Janine Chanteur, Condamnés à quado à ocasião. A demanda foi severamente rejeitada pelojuiz, que enfatizou na
mort ou condamnés à vivre? Autour de l'arrêt Perruche, Paris: Editions Factuel, 2002. Para urna abor- sentença sua estupefaçäo corn o pedido:
dagem do problema sob a perspectiva comparatista, confira-se Rocco Favale, Genitori contro volon-
tà e risarcimento per i danni da nascita, cit., p. 129 ss), em que o autor afirma: "Il modello francese "No Brasil, morre por subnutriçào urna criança a cada dois minutos,
parte dal principio secondo cui la nascita di un bambino non può costituire in se' un danno risarcibile, mais ou menos. A população de nosso lañtaj ulfrapássou seis bilhöes de
in quanto il diritto alla vita è bene supremo di ciascun individuo. (. .J Dieci anni dopo la Corte di cas-
.sa!zione francese ha ribadito il medesimo principio negativo, ma nel contempo ha fatto un po' di Luce
pessoas e urn terço deste contingente passa forne, diariamente. A miséria
nell'angolo buio delle circostanze derogatorie. Nella specie i giudici supremi hanno posto l'accento sullo se alastra, os problemas sociais são gigantescos e causam a criminalidade
stato di salute del bambino nonché della madre, soprattutto sotto il profilo della sofferenza morale. La e a violência generalizada. Vivemos em um mundo de exclusäo, no quai
salute del bambino quindi integra una delle circostanze rilevanti derogatorie circa la risarcibilità del a brutalidade supera corn larga margem os valores humanos. O Poder Ju-
danno da nascita indesiderata così come espresso dal Consiglio di Stato in un arresta dei I 989, anche
se limitatamente alle conseguenze direttamente collegabili alle circostanze particolari." diciário é incapaz de proporcionar urn mínimo de justiça social e de paz
46
A Lei n° 2002-303, de 4 de marco de 2002, determinou, em seu art. 1°: "Nul ne peut se prévaloir à sociedade. E agora tenho de julgar um confuto surgido em decorrência
d'un préjudice du seulfait de sa naissance. La personne née avec un handicap dû à unefaute médicale
peut obtenir la réparation de son préjudice lorsque l'actefauttfa provoqué directement le handicap au 48
BGH, 19.9.1961, NJW, 1961, 2059. A decisäo é comentada por Paolo Cendon, Trattato Breve
l'a aggravé, ou n'a pas permis de prendre les mesures susceptibles de l'atténuer. Lorsque la responsabi-
dei Nuovi Danni, cit., p. 53-54.
lité d'un professionnel ou d'un établissement de santé est engagée vis-à-vis des parents d'un enfant né
avec un handicap non décelépetidant la grossesse à la suite d'unefaute caractérisée, les parents peuvent
49
BGH 9.11.1993, NJ\ 1994, 128. 0 julgado adquire extrema importância na medida em que
demander une indemnité au titre de leur seul préjudice. Ce préjudice ne saurait inclure les charges par- se verifica, na atualidade, a possibilidade de extraçäo do código genético do indivIduo a partir de
ticulière.s découlant, tout au long de la vie de l'enfant, de ce handicap. La compensation de ce dernier fibs de cabelo, saliva e outros cbmponentes destacados do corpo físico de forma causal. No Brasil,
relève de la solidarité nationale." pode-se remeter ao desfecho intolerável do caso da cantora mexicana Gloria Trevi, que, tendo en-
47 gravidado nas dependências da Polícia Federal, viu sua placenta coletada e congelada para fins de
Corn efeito, recente decisão da Cour de Cassation criou polêmica ao estabelecer que a Lei 0
exaine de DNA contra sua expressa manifestação de vontade, tudo corn a chancela do Supremo
2002-303 näo tern aplicaçäo retroativa, restando a salvo de sua incidência os processos já em curso Tribunal Federal (STF Reclamaçào 2O40/DI j. 21.2.2002).
quando da sua entrada em vigor (Recurso 02-13775, 24.1.2006), muito embora o diploma legal de-
clarasse justamente o oposto em seu art. 1° ("Les dispositions du présent sont applicables aux instances
so
Nicholson vs. Hooters ofAugusta Inc. , Superior Court of Richmond County, Estado de Augusta,
en cours!') . A duplicidade de regimes fundon-se na previsäo do art. lo do protocolo da Convenção CivilAction File 95-RCCV-616, j. 25.4.2001.
de Direitos do Homem, cujo descumprimento foi sustentado por litigantes prejudicados pela Lei n° si Para detaihes sobre este e outros casos envolvendo pedidos de indenizaçào contra treinado-
2002-303 em requerimentos vitoriosos perante a Corte Européia de Direitos Humanos (Affaire Dra- res de equipes desportivas, ver matéria jornathtiiñtitiu1adà "Sud thé Cocrch.'!, in sports Illustrated,
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on c. France, Requête 1513/03 e Affaire Maurice c. France, Requête 11810/03). 6.11.2002, disponível em: wwwcnnsLcom.
96 rJovos Paradigra dRepofisbiIida4e Ci'ii, Schreibek Os Novos Danos 97

de um vestido! Que valor humano importante é este, capaz de gerar urna um quadro em que segredos mágicos eram desvendados. Argumentava a associa-
demanda jurídica?"52 ção que "houve intenção deliberada de menosprezar a arte mágica, mostrando-os
como verdadeiros embusteiros, enquanto Mister M aparecia como o paladino da
Algo espantoso é a franca acoihida às inúmeras decisäes que impöem indeni-
Justiça, O herói capaz de resgatar a verdade", afirmando-se, ainda, que "a lingua-
zaçäo por danos decorrentes de rompimento de noivado, invocando, muitas ve-
zes em associação corn a lógica contratual, a ruptura.de urna promessa unilateral gem utilizada, na referência aos mágicos, era de escárnio, desafiadora, irônica e
como fonte do dever de indenizar.53 Controvérsia r&ente é aquela que diz respeito acompanhada de entonaçao de deboche e othares irônicos dos apresentadores".
à possibilidade de se reparar dano moral decorrente da "ausência de amor e cari- o juízo de primeiro grau havia condenando a emissora a reparar os danos mate-
nho": pedido neste sentido foi julgado procedente pelo Tribunal de Minas Gerais riais e morais, em montante a ser oportunamente liquidado.56
em ação movida pelo autor contra seu pai, ao argumento de que, embora pagasse Independentemente do acerto ou desacerto de tais decisoes, casos issim têm
regularmente pensäo alimenticia equivalente a 20% dos seus rendimentos, o geni- despertado a doutrina e ajurisprudência de toda parte para os riscos da prolifera-
tor deixara de comparecer a eventos importantes da vida do filho, como aniversá- ção de "novos danos". Urna análise cuidadosa revela, contudo, que algumas destas
nos e festas escolares, adotando urna postura geral de frieza e abandono.54 O rén novas espécies de dano correspondem, a rigor, nao a novos danos, mas simples-
recorren da decisão, que restou reformada pelo Superior Tribunal de Justiça.55 mente a novas situaçöes de risco ou a novos meios lesivos, cujo incremento é, de
o mesmo Superior Tribunal de Justiça, em julgado recentíssimo, manteve fato, inevitável no avançar do tempo. Quem tern sua imagem divulgada de forma
acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que considerou improce- vexatória na internet ou transmitida para apareihos celulares57 sofre, tecnica-
dente pedido de indenização por danos morais e materiais formulado contra certa mente, dano à honra, o mesmo dano à honra que há muito se repara. Embora a
emissora de televisào por associação de mágicos em virtude da apresentaçao de divulgaçäo se dê por urn mejo muito mais sofisticado e quase sempre mais lesivo
do que os outrora conhecidos, nao se pode identificar aqui uma nova rnodalidade
52
Comarca de Tubarão, Açäo Ordinária n° 075.99009820-O, i 1.7.2002, publicada no site Con- de dano, sob o ponto de vista científico.
suitor Jurídtco, wwwconjur.com.br, acessado em: 22.7.2002. Nao se trata de ocorrência ¡solada na
jurisprudência, como se ve da matériaïJso de vestidos semelhantes em baile de debutante näo gera Em outros tantos casos, ao contrário, o que se tern é efetivamente um novo
dano moral (publicada na Revista Eletrônica Última Instância, em 11.7.2006), acerca de decisâo da dano, isto é, um novo interesse, que passa a ser reconhecido como merecedor de
95 Cámara CIvel do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que encerrou confito
surgido de baile tutela pelo Poder Judiciário na análise de lesöes concretas. Assim, as decisöes que
de debutantes.
invocam danos à serenidade pessoal, à tranqüilidade doméstica, à vida sexual,
53
"Evidenciada a condiçäo, a promessa do casamento, a indenização é devida, isso porque a pro-
messa se revestiu de atos idôneos para o fim prometido. .1 a ruptura imotivada da promessa de aludem, todas, a interesses de que, até rnuito recentemente, nao se cogitava como
[..

casamento pode autorizar uma indenizaçäo, isso pela suspeita que pesará sobre a pessoa abandona- bens jurídicos tuteláveis pela via ressarcitória. Em muitos ordenamentos, sequer
da, sendo cabível, assim sendo, a indenizaçäo pelo dano moral" (Tribunal de Justiça de São Paulo, se reconhecia ao Poder Judiciário este papel de identificaçâo de interesses mere-
Apelaçbo Cível 81.499-4/3-00, 24.9.1998). A situaçao deve ser diferenciada daquelas situaçäes em
que o rompimento da relaçäo afetiva vem acompanhado de atos ofensivos de retaliaçào ou de as- cedores de tutela, enxergando-se em suas ocasionais ocorrências urna intolerável
sédio. Confira-se, a título ilustrativo, decisâo recente da 35 Vara Cível de Goiânia, que condenou ao intromissäo na competência exclusiva do Poder Legislativo. Hoje, ao contrário, o
pagamento de indenização de R$ 31.125,00 mulher que, após o fim de relacionamento extracon- que se vê é que sistemas originariamente antagônicos no que diz respeito à res-
jugal, passou a perseguir e a ameaçar a cônjuge do ex-companheiro no ambiente de trabatho e na
sua própria vizinhança. Para outros precedentes semelhantes, confira-se a reportagem Juiz condena sarcibilidade dos danos vêm convergindo sobre este exame de merecimento de
amanre a indenizar mulher traída, publicada no jornal O Globo, ediçäo de 24.9.2008, p. 13. tutela, que a atualidade concede ao juiz, pela absoluta impossibilidade de perma-
54
Para detaihes do caso, confira-se matéria publicada em O Globo, ediçâo de 30.3.2005, sob o necer à espera do legislador.
título "STJ vai decidir se pai deve indenizar filho por falta de atençäo ecarinho". Ali, a posição do
autor foi assim sintetizada: "O rapaz alega que, até os 6 anos, levou urna vida normal. Foi entäo
56
que scu pai teve putra fliha, em outro casarnento. Ele afirma que, embora tenha recebido pensäo Noticiado no site do Superior Tribunal de Justiça (wwwstj.gov.br), em 1.10.2008.
alimenticia (20% dos rendimentos do pai), o que quena era amor e reconhecimento. Em troca, diz 57 Exemplo preocupante, e que envolve também violaçöes à integridade psico-física, é o já siludido
que recebeu apenas fijeza, abandono e rejeiçâo, mesmo em datas importantes cmo aniversários e happy slapping, prática crescente entre adolescentes britânicos por meio da quai um passante é
formatura no colégio." Os advogados do pal, por sua vez, alegaram que "a indenizaçâo é abusiva, agredido e filmado por câmeras instaladas em celulares ou câmeras de vIdeo no exato momento da
porque a guarda ficou corn a mae após a separaçâo e que o pai passou parte do tempo fora do país, agressào, sendo as imagens posteriormente transmitidas a inúmeros usudrios. Confira-se a matéria
a trabaiho. Chega-se às raias da loucura exigir que urna pessoa tenha o dom da ubiqüidade". jornalística publicada no The Guardian, de 26.4.2005, sob o título "Concern over rise of'happy slapping'
55
Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial 757.411/MG, j. 29.11.2005. rl-ase - Fad offilming violent attacks on mobile phones spreads."

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98 Novos Paradigmas daResponsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 99

7 Análise comparativa entre sistemas abertos e fechados namefltos mais abertos encontram certos limites normativos à ressarcibilidade
dos danos, ainda que fundados nos outros pressupostos do dever de indenizar.62
Embora da análise das decisöes mencionadas se possa extrair um problema científico na medida em que revela a diferença de
A distinçãO, todavia, tern valor
universal relativo à expansão do dano ressarcível e urna preocupaçâo comuni re-
postura na formulaçào do tecido normativo dos diversos ordenamentos jurídicos
ferente aos limites desta expansão, o carninho triihado por cada ordenamento na-
cional até este ponto mostra-se substancialmente diverso. De fato, em matéria de no que tange à ressarcibilidade do dano: uns partindo da restriçào; outros, da
dano ressarcível, os ordenamentos modernos dividem-se em duas verteiltes bem amplitude. Importante compreender, sob a ótica comparatista, como ordenamen-
definidas: (i) ordenamentos típicos ou fechados, que indicam taxativamente os tos assim tao diversos, antagônicos mesmo, vêm convergindo sobre os mesmos
interesses cuja violação enseja um dano reparável; e (ii) ordenamentos atípicos questionamentos, a revelar a necessidade de soluçées intermediárias entre a plena
ou abertos, que nao empregam semeihante restriçAo.58 abertura e a tipificaçäo inflexível dos danos ressarcíveis.
Em outras palavras, nos ordenamentos típicos, o legislador limita o dano res- Na impossibiidade de prosseguir de forma abrangente, em urna análise ver-
sarcível a certos interesses previamente indicados, restringindo a atuação judicial dadeiramente comparativa,63 deve-se centrar o estudo sobre dois ordenamentos
a urn campo determinado. Nos ordenamentos atfpicos, ao contthrio, o legislador particulares que exprimern posiçöes inteirarnente opostas, refletindo de forma
prevé tão-somente cláusulas gerais, que deixam ao Poder Judiciário ampia margem geral as vocaçôes das diversas realidades jurídicas nacionais. Dentre os sistemas
de avaliaçáo no que tange ao merecimento de tutela do interesse alegadamente
atípicos, convém examinar o sistema brasileiro que, tendo seguido o modelo da
lesado. Nesta esteira, diz-se típico, originariamente, o ordenamento alemäo, em
codificação francesa, nao contou, porém, com a "tipificação jurisprudencial" que
que o ressarcimento dos danos vem assegurado apenas em face da iesão a irrte-
resses tipificados em lei, como a vida, a integridade física, a saúde, a liberdade se operou na França, permanecendo, por esta razào, ampiamente aberto. Dentre
e a propriedade.59 É atípico, por outro lado, o ordenamento brasileiro, em que os sistemas típicos, convém analisar o sistema italiano, que, embora coihendo
o legislador nao indica os interesses cuja violaçäo origina um dano ressarcível, inspiraçäo, em parte, no direito francês e, em parte, no direito alemAo, acabou
limitando-se a prever urna cláusula gera! de ressarcimento pelos danos patrimo- resultando, nos termos da codificação de 1942, em um sistema de ressarcibilidade
niais ou morais.60 até mais fechado que o deste último.
Ressalte-se, desde logo, que, como todo esquema classificatório, a distinçâo A análise de cada um destes sistemas, nao restrita ao seu tecido normativo,
entre ordenamentos típicos e atípicos no que tange à ressarcibilidade do dano im- mas voltada, sobretudo, à sua evolução concreta em tempos recentes, demons-
plica certa dose de simplificaço. Muitos ordenamentos usualmente qualificados tra, corn clareza, a convergência em um único problema e, quiçá, em urna comum
como típicos contêm válvulas de abertura a novos interesses61 e mesmo os orde-
soluçâo.
SS
Neste sentido, Guido Alpa e Mario Bessone, Atipicità dell'illecito, cit. p. 247.
atipico, ma mancando la coscienza di tale atipicità, preferiamo usare il termine di atipicità potenziale
59
"Come è stato appena sottolineato, l'origine e la formulazione definitiva della norma dei 823 per descrivere tale sistema, almenofinché l'atipicità non sarà utilizzata coscientemente come principio
comma I BGB Stava nella profonda convinzione dei legislatore del 1896 chefosse indispensabile evita- informatore della responsabilità extracontrattuale."
re di aprire le porte della responsabilità civile ad un indiscriminato allargamento di pretese. Per ques- 62
No ordenamento brasileiro, por exemplo, sein embargo dajá examinada tendênciajurispruden-
to motivo, padri del BGB evitarono la formulazione di una clausola generale, prevedendo il sorgere
cia à flexibilizaçbo na aferiçbo do nexo causal, funciona como limite de ressarcibilidade no direito
1:

dell'obbligazione ex delicto solo nell'ipotesi di una lesione di un diritto soggettivo assoluto. L'individuazione
positivo a previsäo do art. 403, segundo a quai: 'inda que a inexecuçäo resulte de dolo do deve-
dei beni giuridici protetti divenne così l'esercizio interpretativo più importante nell'applicazione della
dor, as perdas e danos só inc1um os piejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dala direto e
fattispecie identificata dal 823 comma i BGB. Sulfinire del XlXsecolo, i beni classici da proteggere
imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual."
erano la vita, l'integritàfisica, la salute, la libertà, la proprietà, ovvero un sonstiges Recht" (Maximi-
1jan Fuchs, I Caratteri Fondamentali dei Sistema della Responsabilità Civile Tedesca, in Danno e Res-
63
É a lição de Léontin-Jeaii Constanlinesco, Il metodo comparativo, ed. ital. Antonino Procida Mi-
ponsabilità, n. 12, 2001, p. 1135). rabêffi di Lauro, Turisn: G. Giappichelli Editore, 2000, p. 24: "Tra l'altro è opportuno ricordare che
60 ' i giuristi, inizialmente, si sono affannati a confrontare il maggior numero possibile di esperienze. La
186. Aquele que, por açbo ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
ragione e la consgueaza di questa tendenza universalistica è nella concezionefilosofica che, attraverso
e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito." (Código Civil)
generalizzazioni successive, aspira a scoprire le leggi generali e l'essenza dei diritto. Ma questa ilusione
61
o próprio sistema alemäo ja foi classificado como potencialmente atípico, em virtude da litera- è Stata abbandonata. Il moderno studioso tende a circoscrivere i! numero degli ordinamenti messi a
lidade do § 823 ter permitido a posterior abertura à reparaçäo de lesbes a outros interesses. Con- confronto, allo scopo dipreferire laprofondità della comparazione rispetto a una ricerca orientata verso
fha-se Franco Ferrari, Atipicità dell7llecito Civile: Una Comparazione, Miläo: Dott. A. Giuffrè, 1992, l'estensione. Un'opera, persoddisfare tutte le estgeññietb'dólogithe'e ientifithe, de'e necessariamente
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p. 193: "possiamo affermare che anche il sistema di illecito tedesco può essere considerato un sistema essere limitata a un numero ristretto di modeilL"
100 Novos Parad as4.RsponsabìIidde Civil Schreiber Os Novos Danos 101

8 0 dano ressarcível no direito brasileiro de dano à teoria da diferença explica também urna certa postura restritiva dos
No direito brasileiro, o dano é elemento indispensável à responsabilidade ci- tribunaiS corn relaçäo aos lucros cessantes, até hoje dificilmente indenizados em
vil. O axioma, herdado do sistema francês que inspirou a codificação brasileira de hipóteses onde inexiste repetiçáo anterior de lucros semelhantes, a fornecer ao
1916, e repetido incansavelmente pela doutrina magistrado um parâmetro seguro de cálculo. Corn efeito, embora nada no concej-
- "pas de préjudice, pas de responsabilité civile" -,naoculta.
fórmula célebre de Henri Lalou
ainda hoje, o desconcer-
to de lucros cessantes sugira o condicionamento de sua reparaçào à experiência
tante fato de que jamais contamos corn urna defiñiçäo legal de dano. O Código pretérita, os tribunals brasileiros costumam conceder indenizaçào pelos lucros
Civil de 1916 limitava-se a mencioná-lo como elemento do ato ilícito: cessantes apenas quando situaçoes anteriores permitem precisar a existência e a
medida de tais lucros. Neste sentido, a jurisprudência reconhece o dever de in-
'Art. 159. Aquele que, por açào ou omissão voluntária, negligência, ou denizar por lucros cessantes decorrentes da perda salarial por força de incapaci-
imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a dade laborativa permanente provocada por acidente em estádio de futebol;65 da
reparar o dano." diminuiçäO de renda decorrente do furto de motocicleta utilizada em serviços de
entrega a domicIlio;66 ou da perda de lucro líquido resultante da resiliçào abrupta
Reconhecia-se que o dano em sentido jurídico nao poderia equivaler ao dano de contrato de distribuição de bebidas.67 Fora de hipóteses como estas, em que os
em sentido material, ou seja, ao prejuízo na acepçâo comum do termo, já que
rendimentos perdidos contam corn previsäo contratual ou se afiguram habituais
prejuízos podem ser lícitos e irreparáveis, como a lesão fisica causada por urna
ou reiterados, as cortes brasileiras tendem a declarar que a perda configura dano
intervençäo cirúrgica, o prejuízo econôrnico decorrente da concorrência comercíal
hipotético, sendo, portanto, irressarcível.68
e assim por diante. Coube, entäo, à doutrina delimitar a noçao a ser empregada
na aplicação do art. 159,.tarefa da quai se desincumbiu, sobretudo, por mejo de Se já no ámbito patrimonial a identificaçào do dano corn um decréscimo ma-
urna petiçäo de princIpio que vinculava a noçao jurídica de dano à ilicitude da temático gerava desconforto, seus inconvenientes foram muito mais sentidos no
conduta que o gerava, e que acabava por equipará-lo, portanto, a qualquer preju- âmbito extrapatrimonial. Até a década de 60, os tribunais brasileiros valiam-se
Izo causado por um comportamento culposo ou doloso.64 desta rédutiva associação de idéias para negar ressarcimento ao dano moral. Foi
apenas em 1966 que o Supremo Tribunal Federal reverteu a orientaçào majoritária,
Esta identificação do dano jurídico com o dano natural (prejuízo) nao se re-
reconhecendo a possibiidade de indenização.69 O dano, que, até entáo, era vislum-
velou tao problemática na fase inicial da responsabilidade civil brasileíra, marca-
brado somente sob o prisma econômico e patrimonial, passou a ter seu conceito
darnente patrimonialista, em que a quantificaçao do dano vinculava-se exciusi-
vamente à teoria da diferença. De fato, sendo aferido por urna simples equação ampliado a fim de abarcar tambérn os interesses existenciais.7° A jurisprudência
matemática entre o patrimônio da vítima anteriormente à iesão e o mesmo patri-
mônio no momento que Ihe é posterior, o dano patrimonial equivale, substancial- 65 TJSP Apelaçâo Cive! 28017-4/7, 25.3.1998.
66 Apelaçào Cível 2002.001.11732, 21.8.2002.
mente, ao sentido material ou vulgar de dano (dano como prejuízo) Em outras .
TJRJ,
palavras, havendo decréscimo econômico, há dano em sentido patrimonial e sua 67
TJDF, Apelação CIvel 70001768340, 12.12.2002.
ressarcibilidade somente fica excluIda pela ausência dos demais pressupostos do 68
Nao é desprezível o fato de que nao conta o ordenamento brasileiro corn urna norma que auto-
ato ilícito, isto é, pela ausência de ilicitude da conduta ou de nexo causal entre a rize o arbitramento do dano patrimonial. De tal modo, as dificuldades práticas de identificaçäo do
conduta e o dano. quantum do dario causado, como ocorre nestes casos em que nao há parâmetro anterior de aferição,
conduzem muitas vezes à negativa judicial de ressarcimento.
A associaçäo entre o conceito jurídico de dano e o decréscimo matemático so- 69
A íntegra da célebre decisào do Supremo Tribunal Federal, de 1966, encontra-se publicada na
frido pela vítima nao deixava, porém, de gerar inconsistências dentro do próprio Revista Trimestral de Jurisprudência, y. 39, p. 38-44. Antes disso, o Código Civil de 1916 reconhecia

ámbito do dano patrimonial: a histórica resistência, no Brasil, à indenização por hipóteses especfficas de reparaçào por !esào nao-patrimonial (homicIdio, ofensa à saúde, injúria etc.),
mas ao vocébulo "dario" se atribuía o sentido patrimonial. Interessante notar, a propósito, como o
"perda de urna chance", por exemplo, é fenôrneno que se explica, em boa medida, novo Código Civil, de 2002, embora reconhecendo exprelsamente a ressarcibilidade genérica do dano
pela impossibilidade de atribuir à oportunidade perdida um valor econômico que moral, manteve as anacrôflicas previsöeS de indenizaçâo para aquelas hipóteses de homicídio, ofensa
pudesse ser tornado como dimiiiuição econômica. A vinculaçào da noção técnica a saude etc inclusive no que tange a sua quantificaçao (an 948 ss) A nova codificaçao revela se
neste particular, näo apenas incoerente, mas inconstitucional (Anderson Schreiber, Arbitramento do
Dano Moral no Novo Código Civil, in Revista Trimestral de Direito Civil - RTDC, y. 12, p. 3-24).
64
o equívoco nao era privativo da doutrina brasileira, como se vê da advertê&ia de Chironi: "Vero 70 De
fato, liçôes mais antigas entre nós tratam o dano moral como algo estranho à própria noçâo
è che ildanno ingiusto, iniuria datum, assorbe comumente l'attenzione dei giuristi, tanto dafar ritenere habituai de dano: "Vale dizer que dano moral é, tecnicamente, um nào-dano; onde a palavra 'dano' é
che di nessun'altra specie di dannopossa parlarsi sul terreno giuridico" (Il Danno, y. I, cit.,
p. 25). empregada corn sentido traxislato ou como metáfora: um estrago ou urna lesão (este o termo jurídico
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102 Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Nov05 Danos 103

brasileira continuou, no entanto, hesitante mesmo apÓs os precedentes da supre- ponsabilidade sem culpa, a ilicitude encontra-se ausente, haverido, no máximo,
ma corte. Muitos julgados permaneceram rejeitando a "reparaçäo pecuniária da de se cogitar de antijuridicidade no resultado do comportamento, isto é, corn a
dor" e outros, numerosos, somente reconheciam a ressarcibilidade do dano moral geraÇao do dano em si.73
quando cumulado corn algum prejuízo patrimonial!' Indenizava-se, por exemplo,
o dano moral decorrente de ferimento físico, porque acompanhado do dano pa-
Além disso, perdeu o legislador a oportunidade de afastar a tradicional equi-
trimonial relativo às despesas médicas e à incapacidade para o trabaiho nos dias valência entre o sentido jurídico de dano e seu significado material, a quai, embo-
de recuperaçäo, mas o dano exclusivamente moral, ou seja, desacompanhado de ra algo inofensiva no que diz respeito ao dano patrimonial, mostra-se nefasta no
prejuízo econômico, restava, frequentemente, irressarcido. que concerne ao dano moral ou extrapatrimonial. Corn efeito, nao sendo possível
a aplicaÇao do método matemático consagrado pela teoria da diferença, o dano
Foi somente a partir de 1988, quando da promulgaçäo da atual Constituição moral acaba por ter seu sentido natural (rectius: nao jurídico) associado a qual-
brasileira, que o cenário começou a se alterar. Por força de previsão expressa no quer prejuízo economicamente incalculável.74 Dal a sua identificaçäo, tao comum
texto constitucional, a reparabilidade do dano moral tornou-se incontestável e os entre nós, corn a dor, o sofrimento, a frustraçào, definindo-se o dano moral como
tribunais, rapidamente, curvaram-se à norma superior. Nos bastidores legislati- "as dores físicas e morais que o homem experimenta em face da lesào".75
vos, vários projetos de reforma do Código Civil de 1916 vinham, há muito, dan-
do guarida à reparaçáo do dano moral. O anteprojeto de Código de Obrigaçoes Certo é que um sentido assim tao ampio de dano moral nao pode corresponder
de 1965 já ampliava a definiçao do ato ilícito para declarar o dever de reparaçâo ao sentido jurídico, sob pena de a sua configuraçào atrelar-se excessivamente ao
ainda quando o dano fosse exclusivamente moral. O Código Civil de 2002, cujo subjetivismo de cada um. A identificaçào do dano moral corn a dor e o sofrimento
projeto inicial data de 1975, limitou-se a repetir a disposiçào do projeto de Códi- pessoal acabaram resultando emjuigados emblemáticos no cenário brasileiro, como
go de Obrigaçoes, registrando em seu art. 186: a famosa decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que julgou improcedente
o pedido de indenização por danos morais formulado por atriz que, tendo sido fo-
'Art. 186. Aquele que, por ação ou omissào voluntária, negligência ou tografada nua para certa revista, viu as mesmas fotografias serem publicadas, sem
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusiva- autorização, em outro veículo de informaçào. Assim se pronunciou o Tribunal na
mente moral, cornete ato ilícito."72 ocasiäo: "O dano moral, como é cediço, é aquele que acarreta, para quem o sofre,
mUita dor, grande tristeza, mágoa profunda, muLto constrangimento, vexame, hu-
A previsão é, a rigor, insuficiente. O atual estado da responsabilidade civil no
Brasil impoe reconhecer que o dano moral transcende as fronteiras do ato ilíci- milhação, sofrimento. Ora, nas circunstâncias do caso concreto, nao se percebe de
to. A ampliaçào da responsabilidade objetiva vem eliminar, em definitivo, o peso que forma o uso inconsentido da imagem da autora pode ter-Hie acarretado dor,
atribuIdo à ilicitude na usual conceituaçäo do dano. Corn efeito, nos casos de res- tristeza, mágoa, sofrimento, vexame, humilhaçào. Pelo contrário, a exibição do
seu belo corpo, do qual ela, corn justificada razào, certamente muito se orguiha,
naturalmente lhe proporcionou muita alegria, júbilo, contentamento, satisfação,
genérico), na pessoa mas nao no patrirnônio. A indenizaçäo pelo dano moral tern aspecto absurdo exaltaçäo, felicidade, que só nAo foi completa porque faltou o pagamento do va-
porque nao havia dano nern, por conseguinte, diminuiçâo no patrirnônio" (Walter Moraes, apud Rui
Stoco, ResponsabWdade Clvi? e sua Intepretaçäo Jurisprudencial, São Paulo: Revista dos Tribunais, br a que tern direito pelo uso inconsentido da sua imagem. Só mulher feia pode
1995, p. 457-458). Como registra Caio Mário da Silva Pereira: "Partindo de que se encontrava fora se sentir humilhada, constrangida, vexada em ver seu corpo desnudo estampado
do campo da reparaçao civil stricto sensu, pouco a pouco foi-se encorpando a convicçâo de que o em jornais ou em revistas. As bonitas, nao."76
vocábulo dano deve ser entendido em acepçäo mais ampla do que a idéia que acompanha no caso
de prejuízo material" (Responsabilidade Civil, cit., p. 59).
71
73 Ver, sobre o assunto, Capítulo 7, itm i - Perda de nitidez na distinção entre responsabilidade
Afirmava-se, ainda na década de 80: "São freqüentes os julgados que admitem o ressarcimento
subjetiva e objetiva. . '
do dano moral quando do sofrimento resulta um prejuízo material. E, talvez, o equívoco mais en-
contradiço nas sentenças e acórdäos. A confusao, a nosso vei advém do seguinte: um dano moral 74 Expressamente neste sentido, Silvio Rodrigues, Direito Civil: Responsabilidade Civil, cit., p. 189-
quase sempre acarreta um prejuízo material" (Mário Moacyr Porto, Temas de Responsabilidade Civil, 190: "Trata-se assim de dann sern qualquer repercussäo patrimonial; se a injúria, assacada contra a
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p. 33). vítima em artigo de jornal, provocou a queda de seu crédito e a diminuição de seu ganho comercial,
72 Sobre o Projeto de Código Civil de 1975, que acabou sendo promulgado, corn modificaçôes, pelo oprejuízo é patrimonial, e nao meramente moral. Este ocorre quando se trata apenas da reparação
Congresso Nacional em 2002 afirmou Caio Mano da SIlva Pereira Adermdo a tese de meu Projeto da dor causada à vítima, sem reflexo em seu patrimônio."
de Códigò de Obrigaçöes incorporou o conceito genérico da indenizaçäo por dann moral, quando 75 José de Aguiar Dias, Da Responsabilidade Civil, cit., p. 1006.
.

o art. :186define o ato ilícito,di-zendo: aquele que, por açäo ou omissäo volunthria, negligência ou 76
Acórdão publicado na Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, n° 41, p. 184-
imprudência, violar o direito.e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 187. A decisão, posteriormente reformada pek SuperiorTribunalde Justiça, analisada por Maria
ilícito" (Calo Mthio da Silva Pereira, Respomsabilidade Civil, cit., p. 57). Celina Bodin de Moraes, Danos à Pessoa Humana, cit., p. 46-49.
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104 Novos Pradgmaa Reponsab1idade Civil Schreiber Os Novos Danos 105

Decisöes como esta mostraram a necessidade de se rejeitar, de forma gera!, a anseiOs, dotada de urna vastidáo tecnicamente insustentável. A definiçào de dano
identificação do dano em sentido jurídico corn o dano em sentido material (pre- como lesào a um interesse tutelado, muito ao contrário, estimula a investigaçào
juízo econômico ou emocional), recuperando-se o conceito de dano como lesão a sobre o objeto da lesAo -o
interesse da vítima efetivamente violado pelo ofensor
urn interesse juridicamente tutelado.77 A vantagem desta definiçäo está em con- a fim de se aferir o seu merecimento de tutela ou nao, possibilitando a seleção
-,
centrar-se sobre o objeto atingido -o interesse lesado -, e nao sobre as conseqü- dos danos ressarcíveis.
ências econômicas ou emocionais da lesão sobre determinado sujeito.78
A meihor doutrina brasileira tern defendido abertamente este caminho. Neste
A alteraçâo do conceito de dano tern aparertemente pouco impacto no que sentido, afirma Maria Celina Bodin de Moraes: "De fato, nao será toda e qualquer
tange ao dano patrimonial. A lesão ao patrimônio de um indivIduo, sendo aferida situaçäo de sofrimento, tristeza, transtorno ou aborrecimento que ensejará a re-
por um critério matemático (teoria da diferença), corresponde, objetivamente, à paraÇàO, mas apenas aquelas situaçöes graves o suficiente para afetar a dignida-
conseqüência econômica que sobre ele repercute, sem que se vislumbre al tanto de humana em seus diversos substratos materiais, já identificados, quais sejam,
espaço ao subjetivismo. O mesmo nao acontece no dano moral, em que a lesão a a igualdade, a integridade psicofísica, a liberdade e a solidariedade familiar ou
um interesse tutelado (por exemplo, a saúde, a privacidade) repercute de forma social, no plano extrapatrimonial em sentido estrito."80 E a jurisprudência pátria
inteiramente diferenciada sobre cada pessoa, nao havendo um critério objetivo começa a mostrar urna tendência mais seletiva no que tange ao ressarcimento
que permita sua precisa aferição. Por esta razäo, fazer depender a configuraçào dos danos.8'
do dano moral de um momento conseqüencial (dor, sofrimento etc.) equivale a Pode-se concluir que a experiênciajurfdica brasileira, embora partindo de urna
lançá-lo em um limbo inacessível de sensaçôes pessoais, íntimas e eventuais. Da noçao abertíssima de dano - pela própria ausência de definiçäo ou limite legislativo
mesma forma, defini-lo por via negativa, como todo prejuízo economicamente -, vern sendo, sobretudo diante do reconhecimento dos danos extrapatrimoniais,
incalculável,79 acaba por convertçr o.dano moral em figura receptora de todos os compelida a fechar-se gradativamente, em busca de urna noçäo menos abrangente
de dano ressarcível, que permita a seleção dos interesses merecedores de tutela
77
A Construçâo remete à célebre liçâc de Francesco Carnelutti: "i! danno riguarda sempre ici situarlo- indenizatória. O desafio que, hoje, se impöe aos juristas brasileiros é justamente
ne della persona rispetto al bene, non il bene in sè. Appunto il concetto di lesione si attaglia all'interesse, o de definir os métodos de aferiçào deste merecimento de tutela, reconhecendo a
non invece al bene (considerato al difliori dal suo rapporto con un uomo). Questo è il motivo, per cui importância da discricionariedade judicial na tarefa, mas sem deixá-la exclusiva-
la formula può e deve essere semplificath in queste parole brevi: lesione di interesse. Non credo che il mente ao arbitrio dos tribunais.
danno possa essere definito più precisamente di così." (Il danno e il reato, Milào: Cedam, i 930, p. 14).
Sobre a noçäo de interesse, esclarece o autor: "Perciò la nozione di interesse, se ha da essere uno dei
fondamenti della teoria giuridica, conviene che sia obbiettiva, non subbiettiva; che consideri l'interesse
come qualcosa che esiste fuori da noi, non in noi. Ciò che esiste fuori da noi, e non è il bene stesso, è la 9 0 dano ressarcível no direito italiano
situazione di ciascun uomo rispetto al bene, in virtù della quale gli sia possibile, gli siafacile, gli sia si-
curo di poterlo impiegare per la sodisfazione di un bisogno; questa situazione è l'interesse; la relazione, Ao contrário do que ocorre no Brasil, o direito italiano parte de um sistema
dunque, quae inter est, tra l'uomo e il bene. Lafame è un bisogno; il pane è un bene; poter mangiare il
fechado: embora também nao conte corn urna definição legislativa de dano, a sua
pane, questo è un interesse" (ob. cit., p. 12).
ressarcibilidade vem consideravelmente limitada pela codificação de 1942. Avul-
78
Neste sentido, Cesare Salvi, Danno, in Digesto delle Discipline Privatistiche, Seção Civil, y. \ Tu-
rim: UTET, 1989, p. 63-64: "le consuete definizioni del danno, quando non restano al livello generico tam em irnportância, neste sentido, os arts. 2.043 e 2.059:
dell'indicazione di un fatto pregiudizievole per un soggetto determinato, seguono due strade: tentano
di individuare il tipo di conseguenze pregiudizievoli che si assumono rilevanti; oppure si concentrano 'Art. 2.043. Ressarcimento por ato ilícito - Qualquer ato doloso ou cul-
sul contrasto dell'accadimento con regole o principi posti a protezione dell'interesse leso. Nella pri- poso, que causa a outros um dano injusto, obriga quem o cometeu a res-
ma prospettiva, per danno si intende l'alterazione negativa di una determinata situazione della vitti- sarcir o dano."82
ma, economica, o anche fisica o psichica. Nella seconda, il danno è definito come lesione del diritto o
dell'interesse protetto."
80 Maria Celina Bodm de Moraes, Danos à Pessoa Humana, cit., p. 188-189.
79 Esta a outra orientação comum na experlência brasileira -a de definir o dano moral como toda
perda de caréter nào-econômico - comumente invocada em âmbito jurisprudencial: "Dano moral. 81
Ver, por exemplo, TJRJ, Apelaçào Cive! 2005.001.05742,j. 3.5.2005, em que se rejeitou pedido
Liçäo de Aguiar Dias: o dano moral é o efeito nao patrimonial da lesäo de direito e nao a própria de mdenizaçào por danos morass decorrentes de inadimplemento contratua! O inadunpiemento
lesäo abstratamente considerada. Lição de Savatier: dano moral é todo sofrimento humano que cotitratual, por si só, pode acarretar danos materlais e indenização por perdas e danos, mas, em re-
nao é causado por urna perda pecuniéria. Lição de Pontes de Miranda: nos danos morals a esfera gra, nao dà margern ao dano moral, porque nao agride a dignidade humana."
ética da pessoa é que é ofendida: o dano moral é o que, só atingindo o devedor corno ser humano, 82
Tradução livre do original: "Art. 2.049. Risarcimento perfatto illecito - Qualunquefatto doloso
nao the atinge o patrimônio" (TJRJ, Rel. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 19.11.1991, Revista de o colposo, che cagi000 ad altri un danno ingiusto, obbliga colui che ha com,iesso ilfatto a risarcire il
Direito Público, p. 185-198). danno."
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os Novos Danos 107
106 Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber

'Art. 2.059. Danos näo-patrimoniais -O dano nao-patrimonial deve ser utilidade fundamental no sistema italiano, e este significado vern, parcialmente,
conservado.87
ressarcido apenas nos casos determinados pela lei."83
Por sua vez, o art. 2.059 representava urna inovação mais substancial, deli-
Há al as duas normas basilares do sistema italiano de reparação de danos: beradamente destinada a limitar a reparabilidade dos "males do espírito" que, já
(i) urna norma geral de ressarcimento por ato ilícito, que acrescenta ao elemento nas palavras de Gabba em 1896, "si è fatta così facile strada nella giurisprudenza
dano a qualifìcaçao de "injusto"; e (ii) uma norma especificamente dirigida aos italiana".88 Inspirado pelo BGB alemäo, o Código Civil italiano de 1942 inaugura
danos não-patrirnoniais, que limita sua ressarcibilidade aos casos previstos em um sistema guiado pela tipicidade, mas, aparentemente, mais flexível, na medida
lei. Ambas as normas, ausentes no Código Civil italiano de 1865, representam em que remete à lei -e ao ordenamento em geral -a tarefa de definir e ampliar
inovaçôes do legislador de 1942, para cuja cornpreensão faz-se imprescindível as hipóteses de reparabilidade, em um resultado dito "a mejo caminho entre o
urna análise histórica. sistema francês e o alemão, conjugando a elasticidade do primeiro corn a instân-
cia de certeza do segundo".59
O termo injusto acrescentado à noçäo de dano visava tão-somente esclarecer
que o dano ressarcível seria apenas aquele resultante de conduta antijurídica.84 O aparente aspecto flexível do sistema italiano de reparaçào de danos nao pa-
Tratava-se, portanto, de mera repetiçao enfática daquilo que já denotavam os trimoniais caiu por terra, todavia, diante da interpretaçao atribuída ao art. 2.059,
que passou a limitá-lo às hipóteses de crime, na esteira do art. 185 do Código
demais pressupostos do ato ilícito, vinculando-se a injustiça ao caráter antijurídi-
co do ato lesivo.85 A duplicaçào resultou em que "segundo a opiniào prevalente,
compartilhada também pelo legislador (y. arts. 2.044-2.045 do Código Civil), o
problema das exciudentes de antijuridicidade é considerado parte integrante do
inteiro problema do dano ressarcível."86 Ainda hoje se atribui ao termo injusto 87
De fato, a doutrina italiana reconhece, atualmente, an termo injustiça do dano um duplo cará-
ter: (i) contra lus, a revelar o atentado a um interesse tutelado pelo ordenamento; e (ii) non iure,
83
No original: "Art. 2059. Danni non patrimoniali - Il danno non patrimoniale deve essere risarcito correspondente à ausência de direito do agente de praticar a conduta lesiva. Confira-se Antonino
solo nei casi determinati dalla legge." Procida Mirabelli di Lauro, La responsabilità civile: strutture e funzioni, Turim: G. Giappichelli Edi-
tore, 2004, p. 72: "11 danno ingiusto, per un verso, va intesø Nel SUO essere contra ¡us o, più precisa-
84
Neste sentido, Guido Alpa, Danno Ingiusto e Ruolo Della Colpa: Un Profilo Storico, cit. , p. 154:
mente, nella violazione di un qualsiasi interesse protetto dall'ordinamento. Per altro verso, va ver jflca-
"Come è noto, si aggiunge nella clausola generale la menzione dell'ingiustizia del danno. Ecco la giu-
to nel suo manifestarsi non jure, nell'assenza di un diritto (o di un dovere) dell'agente al compimento
stijicazione: siprecisa così, conferendo maggior chiarezza alla norma dell'art. J 151 cod. civ. del 1865,
della condotta che ha causato il danno. Le due concezioni, originariamente pensate come antitetiche,
che la culpa o l'iniuria sono concetti distinti; e quindi si esige che ilfatto o l'omissione, per essere fonte
anziché elidersi vicendevolmente, individuano il compiuto significato del danno ingiusto proprio nella
di responsabilità, debba essere doloso o colposo, ossia imputabile, e debba inoltre essere compiuto me-
loro reciproca combinazione, secondo quella logica di complementarità che lega la norma primaria di
diante la lesione della sfera giuridica altrui. Non vi sarà responsabilità quando il danno è arrecato in cui ali'art. 2043 c.c. aile regole successive e, in questo caso, alla disciplina esimenti (in particolare, agli
situazione di legittima dfesa perché thi agisce ha in tal caso il potere di difendere il proprio diritto a artt. 2044 e 2045 c.c.). " Na mesma direção, entre outros, Franco Ferrari, Atipicità dell'illecito Civi-
costo di recare danno a chi lo aggredisce; il danno arrecato in tal caso non può qualificarsi ingiusto.
le: Una Comparazione, Milão: Dott. A. Giuffrè, 1992, p. 121: "la ingiustizia, che l'art. 2043 assume
In altri termini, injuria si ha quando si lede, senza giustijicazione, la sfera giuridica altrui' (R.G., n.
quale componente essenziale dellafattispecie di responsabilità civile, va intesa nella duplice accezione
267). Parole che oggi possono apparire di scarso significato e che invece, lo si è visto, sono ricche di di danno prodotto non lure e contra ¿us: non iure, nel senso che ilfatto produttivo dei danno non debba
storia e di esperienza." essere giustificato dall'ordinamento. Il danno si considera, invece, giustificato dall'ordinamento, ossia
85
Emanuela Navarretta, Diritti inviolabili e Risarcimento dei Danno, Turim: G. Giappichelli Edito- il danno non è ingiusto, quando il danneggiato abbia agito per la legitima difesa o in stato di necessità
re, 1996, p. 142-143: "La sua interpretazione - in una primafase - aveva indotto a ribadire la conti- e comunque, ogni volta che abbia agito in presenza di una causa di giustificasione, anche se diversa
nuità con l'art. I 151 del codice civile del 1865, fino a sconfessare il senso letterale della nuova norma, dalle due ora ricordate." 4
spostando la sua orbita attrativa dal danno alfatto. Ne risultava confermata una concezione tipizzante 88
Carlo Francesco Gabba, in Pcro italiano, 1896, 1, cc. 700 e 702, onde o autor expressa todo o
.

e sanzionatorla dell'iliectio, che connotava l'art. 2043 c.c. come norma secondaria, correlandola alla
seu espanto corn este fato de que os males da alma venham ressarcidos de forma excessivamente
lesione di diritti soggettivi assoluti."
facilitada pelas cortes italianas.
86
No original: "secondo l'opinione prevalente, condivisa anche dal legislatore (y. gli artt. 2044-2045 89-
Naintegra: "Il risultato è che la norma è in grado di seguire l'evoluzione dell'ordinamento, ren-
cod. civ.), il problema delle cause di giustificazione è considerato parte integrante dell'intero problema
dendo risarcibile il danno conseguente alla lesione non solo di ogni diritto soggettivo riconosciuto
dei danno nsarcthzle (Giuseppe Tucci II Danno Ingiusto Napoles Editore Jovene Napoli 1970 p
dall'ordinamento anche successivamente all'introduzione del codice, ma pure di ogni situazione sogget-
9). 0 autor, porém, insurge-se contra este entendimento, concluindo que: "Lo studio delle c.d. cau- riva che, in quanto resa rilevante dall'ordinamento, rende ingiusta la lesione che la riguarda. Su quei-
se di giustificazione non interferisce quindi con quello dell'ingiustizia dei danno, proprio perché non
ta base abbiamo potuto sostenere l'idea che il nostro ordinamento risulta attestato a metà tra quello
si tratta di spiegare per quali ragioni la presenza di determinati elementi difatto rende secundum ins
francese e quello tedesco, coniugando l'elasticità -del prImo esso i'isanzct di £ertezza del secondo" (Carlo
un eveto lesivo, ma se mai di chiarire per quali motivi la realizzazione di un danno contra lus non dà Castronovo, La Nuova Responsbbiiità Civile, Miläo: Dort. A. Giuffrè, 1997, p. 10).
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luogo alla tutela risarcitoria." (ob. cit., p. 10).
108 Nowos Parad jrnas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Sanos 109

Penal italiano.90 Assim, a inovaçâo, que pretendia mover-se em direção à tipici- llano flEO se torna apenas mais rígido que o alemäo, mas também menos razoável,
dade, conservando, porém, alguma flexibilidade, acabou ganhando, por força do já que fundado nao no objeto da lesão, mas no caráter penal do ilícito em que se
espirito da época, rigidez sem precedentes. Concluiria, tempos depois, a doutrina consubstancja.95
que "a idéia de introduzir o art. 2.059 parecia feliz; muito menos feliz, ao contrá-
A multiplicaçào dos acidentes e a gradual consolidação de urna perspectiva
rio, foi a estreita importância atribuida à norma que, ao tipificar o dano moral,
mais atenta à dignidade humana vieram a exigir a superaçào destes estreitos limi-
acabou essencialmente ancorada a urna asfixiante vinculaçâo corn o art. 185 do
Código Penal".91 tes impoStoS pela interpretação prevalente do art. 2.059. Já na década de 70, os
tribunais italianos passaram a se referir ao danno biologico, como figura destina-
Nesta perspectiva, o dano nao-patrimonial resta limitado ao tradicional "danno da a assegurar à vítima ressarcimento pelos danos derivados de lesãd à sua saú-
morale-soggettivo", identificado corn a dor, física e psíquica, cuja ressarcibilidade de que superassem a simples perda de renda por incapacidade de trabaiho (dano
é concedida apenas nas hipóteses de crime.92 O sistema italiano adquire, entäo, patrimonial) mesmo nos casos ein que nao se estivesse diante de um crime (dano
um caráter mais fechado que o próprio BGB, onde a tipicidade já vinha atenuada nao-patrimonial em sentido estrito) 96
pela expressão outros direitos alheios (sonstige Rechte)93 e a interpretaçäo vinha
Corn a consolidação jurisprudencia! do danno biologico, logo se passou a res-
carninhando em sentido oposto, isto é, justamente no de ensejar a reparaçäo em
sarcir a figura mais ampia do danno alla salute, expressào que transcende o cará-
casos adicionais aos taxativamente contemplados.94 Mais que isso: o sistema ita-
ter médico-legal intrínseco à primeira terminologia e que assegura a esta segunda
conteúdo mais ampio e fundamento constitucional.97 O dano à saúde provocou
90 "Art. 185. Restituizioni e risarcimento del danno - Ogni reato obbliga alle restituzioni, a norma acirradas discussôes em torno do seu posicionamento na tipologia dos danos res-
delle leggi civili".
sarcíveis à luz da experiência italiana. De fato, a bipolaridade original, que en-
91 No original: "l'idea di intrøduri'e.l'aat.-2059 apparvefelice; molto menofelice, invece, fit l'angusta xergava no art. 2.043 a regra de ressarcimento dos danos patrirnoniais e no art.
portata attribuita alla norma che, nel tipizzare il danno morale, rimane essenzialmente ancorata a
un asflttico collegamento con l'art. 185 c.p." (Francesco Busnelli, Interessi Della Persona e Risarci-
mento del Danno, in Rivista Trimestrole di Diritto de Procedura Civile, ano L, 1996, Miläo: Doti. A. giurisprudenza, come vedremo in seguito, a diritti soggettivi simili a clausole generali (es. il generale
Giuffrè, p. 4). diritto della personalità) hafatro esplodere l'equilibrio del sistema positivo previsto dal legislatore." E
92 Cesare Salvi, Danno, in Digesto delle Discipline Privatistiche, seçäo civil, y. \ Turim: UTET, 1989, de se conferir também Franco Ferrari, Atipicità dell'illecito Civile: Una Comparazione, Milào: Don. A.
p. 66. Giuffrè, 1992, p. 1 74: "La responsabilità ex 823 comma 1° BGB non sorge, tuttavia, solo nei casi ora
93
A expressâo originariamente tinha tão-somente a função de permitir a ressarcibilidade em aten-
illustrati, ossia nei casi di uccisione, di Körperverletzung, di lesione della salute, di lesione della libertà
e di Eigentumsverletzung, in quanto l'articolo in esamefa sorgere la responsabilità anche nell'ipotesi in
tados a interesses semeihantes aus previstos no § 823. Ver Maximilian Fuchs, I Caratteri Fondamen-
cui venga leso "un altro diritto altrui". Ed è proprio da questo termine, o, meglio, dall'interpretazione
tali dei Sistema della Responsabilità Civile Tedesca, in Danno e Responsabilità, n 12, 2001, p. 1135:
che di questo termine viene data che o-alamo spunto per criticare Ia concezione che vuole l'ordinamento
"Si tratta di una norma di chiusura. Non potendo elencare tutti i diritti assoluti esistenti, il legislatore
tedesco essere imperniato sul principio di tipicità, critica che, comunque, crediamo potersi basare anche
chiuse la sua elencazione prevedendo un concetto che consentisse di considerare nell'ambito di operati-
vità del 823 comma i BGB ogni bene giuridico chefosse simile ai beni già espressamente individuati su altri argomenti che di volta in volta esporremo."
dalla norma f. . .j Restringendo il novera dei beni giuridicamente protetti, si sperava d'inalzare la diga 95 Giovanni Bonilini, Danno Morale, in Digesto delle Discipline Privatistiche, seçào civil, y. \ Turim:
necessaria a scongiurare il tracimamento dei danni da risarcire." UTET, 1989, p. 85 "Non va dimenticato, peraltro, che la somiglianza è stata adottata, dal legislatore
:

94 A própria doutrina italiano, in chiave deteriore, puntandosi infatti sulla limitazione basata sulla qualità - penale o civile -
italiana assim teconhece. Confira-se Giovanna Visintini, Trattado Breve della
dell'illecito generatore del pregiudizio non patrimoniale, laddove il legislatore germanico punta sul bene
Responsabilità Civile, cit., p. 362-363: "Dunque quello che caratterizza il sistema tedesco è la menzione
concretamente leso, con soluzione più aderente - data l'ampiezza della lista dei casi, e l'importanza dei
dei beni giuridici la cui lesione fa sorgere la responsabilità ex par 823. Questa caratteristica ha fatto
beni ivi contemplati - alfine di tutela dell'individuo."
dire, e si tratta di un'opinione corrente, che il sistema tedesco è imperniato sulla tipicità deifatti illeciti.
Viceversa bisogna osservare che dopo l'elenco di diritti ivi spec(ficati vi è anche la menzione dell'ipotesi
96
Cesare Salvi, Danno, in Digesto delle Discipline Privatistiche, sezione civile, y. \ Turim: UTET,
in cui venga leso un'altro diritto altrui Ed è proprio dall'intepretazione che è stata data dai giudici 1989, p. 67.
tedeschi a questa previsione che si può trarre lo spunto per dire che l'ordinamento tedesco non è imper- 97 Pier Giuseppe Monaten, Danno alla Persona, in Digesto delle Discipline Pnivatistiche, seçäo civil,
niato su un principio di tipicità in via assoluta. Infatti si è imposta una interpretazione della locuzione V. \( Turim: UTET, 1989, p. 75: "Mentre il primo condtto, infatti, è desunto dalla medicina legale, e
altro diritto the figura nel primo comma del paragrafo 823 nel senso che il termine integri una sorta il guinista non à in grado di contribuire al suo approfondimento, il secondo ha un suo referente nella
di clausola generale, che consente ai giudici di estendere la responsabilità aquiliana ad ogni altro dint- norma costituzionale e ordinaria (art. 32 e L 23-12-1987, n. 833) e come tale è soggetto all'elabora-
to e non soltanto ai diritti somiglianti a quelli menzionati espressamente, cioè ai diritti assoluti." No zione della scienza giuridica. Il danno alla salute non si limita al danno biologico definito come lesione
mesmo sentido, já aflnnava Giuseppe Tucci, Il Danno Ingiusto, cit., 1970, p. 33: "Senonchè lo svilup- dell'integrità fisica in sé e per sé considerata, ma riguarda anche il danno psichico in sé considerato. Il
po della dottrina e della giurisprudenza tedesca è avvenuto nel senso di estendere oltre i casi previsti la danno alla salute ha per oggetto la lesione della salute (intesa nel suo ampio significato costituziona-
tutela risarcitoria, facendo leva sul concetto di lesione del diritto soggettivo che nel 823 BOB è espres- le) ed è questo concetto che la giurisprudenza è venuta delineando, pur se gli viene spesso attribuito il
samente codificato. Questo processo, per il sempre piùfrequente ricorso da parte della dottrina e della nome di danno biologico."

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110 Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber
Os Novos Oanos 111

2.059 a norma de reparaçào dos danos nao patrimoniais, acabou substituIda por
a sua impressionante amplitude, que causa espanto em parte da doutrina e dos
um "sistema tripolare",98 que inseria sob o primeiro preceito também o dano à 104
saúde, que, à margem de discussöes sobre seu caráter patrimonial, extrapatrimo- tribunais
nial ou de tertium genus, configurava dano injusto por violar diretamente o art. Pela própria evoluçâo da matéria na experiência italiana, objeçöes severas à
32 da Constituiçào italiana.99 figura do danno esistenziale têm sido raras.105 Diante de um passado restritivo, a
A construçao civil-constitucional elaborada em prol da tutela da saúde esten-
deu-se, rapidamente, a outros interesses inerentes à pessoa humana que, situados
no ámbito de aplicaçào do art. 2.043 (dano injusto), passaram a requerer repara- 2003, a Corte di Cassazione rejeitou, expressamente, a tradicional leitura testritiva do dispositivo,
çâo também à luz da Constituiçào.'°° Em raciocInio idêntico àquele que conduziu admitindo o dano existencial como categoria de dano näo-patrimonial, tutelado pelo art. 2.059 em
leitura constitucional. Confira-se Cassazione, sezione terza civile, sentenças 8827 e 8828, ambas
ao reconhecimento do dano à saúde, o art. 2° da Constituição veio a ser invocado de 31.5.2003. Assim declarou a corte italiana: "Ritiene il Collegio che la tradizionale restrittiva let-
como fundamento de reparabilidade de urna categoria autônoma de dano, o cha- tora dell'articolo 2059, in relazione all'articolo 185 c. p., come diretto ad assicurare tutela soltanto al
mado danno esistenziale.'°' Definido como lesão a qualquer aspecto existencial danno morale soggettivo, alla sofferenza contingente, al turbamento dell'animo transeunte determinati
da pessoa,'°2 a nova modalidade de dano enfrentou dificuldades no seu enqua- da fatto illecito integrante reato (interpretazione fondata sui lavori preparatori del codice dei I 942 e
dramento sistemático.'°3 Hoje, todavia, o foco das discussôes transferiu-se para largamente seguita dalla giurisprudenza), non può essere ulteriormente condivisa. Nel vigente assetto
dell'ordinamento, nel quale assume posizione preminente la Costituzione - che, all'articolo 2, riconosce
e garantisce i diritti inviotabili dell'uomo -, ii danno non patrimoniale deve essere inteso come catego-
ria ampia, comprensiva di ogni ipotesi in cui sia leso un valore inerente alla persona. f. .] Venendo ora
-

98 Cesare Salvi, Danno, in Digesto delle Discipline Pnvatistiche, seçao civil, y. \ Turim: IJTET, 1989, alla questione cruciale del limite al quale l'articolo 2059 del codice del i 942 assoggetta ii risarcimento
del danno non patrimoniale, mediante la riserva di legge, originariamente esplicata dal solo articolo
p. 67.
99 A própria Corte
185 c. p. (ma y. anche l'articolo 89 c. p. c.), ritiene il Collegio che, venendo in considerazione valori
Costituzona!e, todavia, definia o danno biologico como dano patrimonial, en- personali di rilievo costituzionale, clave escludersi che il risarcimento dei danno non patrimoniale che
quadrando-o no art. 2.043, a fim de evitar discussöes de legitimidade constitucional em torno do ne consegua sia soggetto al limito derivante dalla riserva di legge correlata all'articolo I 85 c. p. Una
art. 2.059. Ver Corte Costituzionale, j. 14.7.1986, sentença n° 184: "E infondata la questione di 111e- lettura della norma costituzionalmente orientata one di ritenere inoperante il detto limite se la lesione
gittimità cosdtuzionale dell'art. 2059 cod. dv. per contrasto con gli artt. 3 e 32 Cost. perché tale norma ha riguardato valori della persona costituzionalmente garantiti." Para urna análise crítica das duas
impedirebbe il risarcimento del c.d. danno biologico, in quanto questa specie di danno ha natura patri- sentenças, que representam um marco na jutispmdência)alir,a eri matéria de dano ressarcível,
moniale, può essere risarcito sulla base degli artt. 32 Cost. e 2043 cod. civ. e non implica l'applicazione ver Antonino Procida Mirabelli di Lauro, La responsabilità civile: strutture e funzioni, cit., p. 88:
dell'art. 2059 cod. civ." "Nella lunga calda estate del 2003, tra mille chiaroscuri e qualche visione onirica, mentre la Consulta
wo Corte di Cassazione, sezione lavoro, 3.7.2001, sentença n. 9009, in Lavoro e previdenza oggi, stava decidendo sulla ennesima questione di legittimità costituzionale dell'art. 2059 c.c., questa volta
2001, p- 1396: "tanto i pregiudizi alla salute quanto quelli alla dimensione esistenziale, sicuramente motivata con argomentazioni non certo decisive, la Corte di Cassazione, rinnegando gran parte della
di natura non patrimoniale, non possono esere lasciati privi di tutela risarcitoria, sulla scorta di uno sua giurisprudenza, anche delle Sezioni Unite, la citata decisione n. I 84 del I 986 e, da ultimo, lo stesso
lettura costituzionalmente orientata del sistema della responsabilità civile". legislatore, ha deciso di sostituirsi alla Corte costituzionale e ha accolto un'interpretazione parzialmente
101 Marco Bona, Danno Esistenziale, in Digesto delle Discipline Privatistiche, seçâo civil, aggiorna- abrogante del testo dell'art. 2059, in ordine sia ai 'pressuposti dell'art. i 85 c.p. ', sia al 'richiamo testuale
mento, Turim: UTET, 2003, p. 655, em que o autor registra: "la costruzione giuridica che ha permesso al danno non patrimoniale'. La Corte, nelle due sentenze-fotocopia, ha caratterizzato tale ermeneutica
al danno biologico di collocarsi sotto l'ombrello dell'art. 2.043 c.c. (violazione di un diritto costituzia- abrogante in senso relativo, là dove ha dichiarato di 'ritenere inoperante il detto limite se la lesione ha
nalmente garantito = ingiustizia del danno = diritto al risarcimento del danno ex art. 2.043 c.c.) è il riguardato valori della persona costituzionalmente garantiti'." Para majores detalhes sobre a "saga
medesimo su cui si reggi oggi il danno esistenziale." dell'an. 2059", ver, do mesmo autor, tart. 2059 c.c. va in paradiso, in Danno e Responsabilità, n0 8-9,
102 2003, p. 835. Outros capítulos da "storia infinita dell'art. 2059 c.c." podem ser conferidos também
Bernardino Izzi, Il Danno non Patrimoniale Derivante dalla Lesione di Interessi Legittimi, in Gio- em Luigi La Battaglia, La Storia Infinita dell'An. 2059 c.c. : Quale Via per le 'Nuove' Esigenze di Tu-
vanni di Giandomenjco (coord.), Ildanno risarcibileperlesione di interessilegittimi, Nápoles: Edizioni tela?, inDanno e Responsabilità, n. 7, 2003, pp. 777-780.
Sicentifiche Italiane, coleçäo da Università degli Studi del MoUse, n° 20, p. 131, em que o danno esisten-
ziale vem definido como "danno arrecato da qualunque genere di illecito ai risvolti personal-esistenziali
104
Sobre a amplitude da noçbo; ver Raffaele Tommasini, Soggetti e Area dei Danno Risarcibile:
della persona, ossia ognifattispecie di danno in cui, indipentendemente dalla lesione all'integrità psico- l'Evoluzione dei Sistema, cit., p. 4: "Dentro laformula 'danno esistenziale' vengono ricomprese ipotesi
fisica della vittima, l'illecito, più o meno definitivamente, ha leso le attività realizzatrici della persona diversissime (danni da procreazione, danni da uccisione, danni da mancata tempestiva erogazione del
interessata, modificando in senso peggiorativo le condizioni di vita della vittima dell'illecito". Cumpre contributo alimentare, dannialla vita di relazione, danno estetico, danno dafalse comunicazioni di
registrar ainda a definiçâo algo genérica de Paolo Cendon, um dos precursores da nova modalidacle mercato ecc.) e questa tipologia è sempre connessa a lesioni che riguardano la saluteflsio-psichica del
de dana Momentt relazionali spezzati (abbIamo detto) ma non soltanto talvolta rtflesst anche th na soggetto, i diritti della personalità (immagine, nome, identità, riservatezza), più in generale beni e cose
turo corporea muscolare gesti o movImenti psu o menofacili qua e la rtcadute dt crescente pesantezza che possono coinvolgere anche la sfera relazionale ed affettiva dei soggetto."
con loscorrere del tempo" (Paolo Çendon, Trattato Breve dei Nuovi Danni, cit., p. 20). 105
Exceçöes são os estudos de Giulio Ponzanelli, que se empenha em "rilevare come le esigenze
103 De fato, o
reconhecimento gradativo do danno esistenziale deu ensejo a alteraçöes na conso- riparatorie sottese al riconoscimento del dannci esistenziale possano essere meglio fronteggiate con le
lidada interpretaçäo do art. 2.059 do Código Civil italiano. Por meio de duas sentenças-gêmeas de categorie che la giurisprudenza italiana ha identificato e nelle quali h' sealprr creduto. " (Giulio Pon-
PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor zanelli, Non c'è Bisogno del Danno Esistenziale, in Danno e Responsabilità, n. S, 2003, p. 551). Cf.,
112 Novos Paradigmas èponab1idad Civil. . Sclsreiber Os Novos Danos 113

atual possibilidade de ampliar os antes rígidos limites do ressarcimento é vista, de dano.107 O temor que vêm experimentando os juristas italianos nos dias atuais é
forma geral, como urna saudável inovação. Os precursores da nova modalidade de justamente o de que a consagraçao do danno esistenziale conduza ao acolhimento
dano parecern mesmo festejar sua generalidade.'°6 Preocupaçöes corn a expansäo de todas as demandas indenizatórias,' sem o devido cuidado corn a identificaçao
08
excessiva do danno esistenziale têm, contudo, se verificado mais recentemente, e seleçâo dos interesses juridicamente
sobretudo em Sede doutrinária, onde nao se tern deixado de registrar a inexau-
rível capacidade de advogados e magistrados para "inventar" novas espécies de
lo Convergência entre as experiências analisadas

ainda, Giulio Ponzanelli, Sei Ragioni pr Escludere il Risarcimento del Danno Esistenziale, in Danno e Como se vê, o direito italiano e o direito brasileiro empreenderam, de certa
Responsabilità, n 7, 2000, p. 693-695. forma e por certo período, marchas opostas. Partindo de um direito positivo ilimi-
106
Confira-se o impressionante rol de situaçöes que podem ensejar o danno esistenziale na passa- tado, de inspiraçao francesa, os tribunais brasileiros têm, desde o reconhecimento
gem emblemática de um de seos precursores, Paolo Cendon, Trattato Breve dei Nuovi Danni, cit., p. da reparabilidade do dano moral, enfrentado as dificuldades de uma noçäo exces-
20-27: "(a) li mondo dellafamiglia e degli affetti, in primo luogo. Il lutto anzitutto - dovuto, poniamo,
ad un incidente automobilistico, a un infortunio nel lavoro, a un delitto di mafia, a un suicidio (im-
sivamente aberta de dano. Mais recentemente, as cortes pátrias vêm iniciando, de
putabife al comportamento di qualcuno). J riflessi suifigli allora: chiamati a vivere di lì in poi senza il forma ainda desordenada, esforços de restriçäo da ressarcibilidade, a fim de evi-
calore della madre, senza un costante tocco protettivo, avviati talvolta all'orfanotrofio, senza più baci tar os efeitos negativos de urna excessiva expansâo da responsabilidade civil. Na
della buonanotte. Oppure senza i sì e i no dellafigura paterna:finit-i i gesti di sostegno virile, i lanci in Itália, ao contrário, embora a codificação de 1865 tenha instaurado um sistema
aria per gioco, le spiegazioni da uomo a uomo, il conforto dopo gli insuccessi Dolore - certo - singhiozzi, igualmente inspirado no Code Napoléon, o Código Civil de 1942 inverteu a orien-
commozione. L.. .1 (b) La lesioneinvalidante del ongiunto, soprattutto nelle ipoteSi_più gravi (follia,
Aids, coma profondo, handicap totali): quella di unfiglio, mettiamo, o dei consorte, della madre, di un taçäo até então predominante, instituindo, na direçäo da codificaçào alema, um
fratello. La propria agenda rovesciata all'improvviso - come una clessidra, come un guanto. f. . .1 Cc) sistema fechado, porque restrito, em matéria de dano nao patrimonial, aos casos
Lafamiglia come luogo del male. Fra i coniugi anzitutto. Trasgressioni ai doveri dei 'regime primario, previstos em lei - limitaçâo que, por via interpretativa, alcançou caráter mais rígido
inferni grandi e piccoli, abdicazioni totali aipropri compiti, sordità oltre il lecito, imposizione di convi- que o do próprio BGB ao se vincular às hipdteses de crime. Desde então, doutrina
venze sgradite, aut out irragionevoli. (. .] Verso ifigli poi. L. .3 Veleni trafratelli efratelli, tra sorelle e
. .

e jurisprudência passaram a empreender um esforço gradual de abertura, a fim


sorelle. Gamo e Abele alla moviola quotidiana. L. .1 (d) La violazione degli obblighi di mantenimento
de assegurar reparaçào mais ampia à lesão de interesses existenciais.
.

1. - .1 (e) Il mondo della scuola, ancoro: durezze eccessive di una maestra, sordità del contesto, razzismi
mal dissimulati, micro-crudeltà dei compagni. Lo sboccio impedito, le ali troncate da una bocciatura Por conta justamente deste caminho diferenciado, há distinçOes marcantes
ingiusta, la perdita difiducia in se stessi: l'imbarbarirsi dei codici di comunicazione, per i dileggi e le
irrisioni, lungo i mille sentieri dell'abbandono. Un destino assai diverso, talvolta, da quela che avrebbe
entre os sistemas brasileiro e italiano de reparação de danos. Por exemplo, o di-
potuto essere. (f La lesione di qualche diritto della personalità f. .1 (g) L'ambiente di lavoro, ancora.
.
reito brasileiro contempla os danos extrapatrimoniais sob uma categoria única,
Non solamente il cazo del mobbing f. . .1 Anche il sommerso - di cui invece si sa poco - delle molestie denominada normalmente "dano moral", expressào empregada como sinônimo
sessuali, in fabbrica o in ufficio: dattori di lavoro pronti alla ritorsione, avances asfissianti, baci ruba- de "dano nao patrimonial" ou, mais raramente, "dano à pessoa".109 O direito ita-
ti in malo modo, volgarità pervasive. L. .1 (h) I mille rivali attraverso cui può logarsi - per effetto di
.

incurie dal basso, o di noncuranze dall'alto - la quotidianità di chi si veda confinato entro le mura di
un'istituzione totale. L. J (i) L'ambiente, i beni naturali, la città, il quartiere. Le colpe di costruttori
. 107
Raffaele Tommasini, Soggetti e Area del Danno Risarcibile: l'Evoluzione del Sistema, cit., p. 4-5:
spregiudicati, la disapplicazione delle regole; sanzioni amministrative rinviate, inibitorie sospese, il di- "Questo aspetto ha in non pochi autori ingenerato anche (giustificate) perple.ssità sulla possibile am-
sarmo eventuale degli enti pubblici f. . .] (1) I rapporti di vicinato, le locazioni urbane, il condominio, missione della categoria dei danno esistenziale, troppo generica e dai contorni non bene definiti e defi-
le servitù prediale f. .1 (m) vivere sotto il tallone della mafia, della camorra, della 'ndrangheta, della
.
nibili Ma invero nel settore della giustizialità gli operatori del diritto (avvocati e giudici) tendono ad
sacra corona unita L. . .] (n) La guerra, ancora, le deportazioni, i grandi sconvolgimenti popolari L...] 'inventare' sempre nuoveforme di danno esistenziale."
(o) La circovenzione di incapace t. . .J (p) Unfurto in casa, magari una rapina: la serratura scassata, la
finestra rotta, il domicilio violato, Ia porta divelta e trovata semiaperta al ritorno L. .1 (q) La giustizia,
.
108
Expressamente neste sentido, Giulio Ponzanelli, Sei Ragioni per Escludere il Risarcimento del
i processi, i disguidi L.. .] (r) La malafede nei processi dviii f. . J (s) Le ripercussioni legate all'attentato Danno Esistenziale, cit., p. 693: "Con il riconoscimento del danno esistenziale tutti i limiti, generali e
ai beni necessari o signJïcativ4 dal punto di vista esistenziale. La distruzione di un oggetto d'affezione tradizionali, sembrano superati: ogni perdita, anche s non incida sulla capacità di produrre reddito
(magari n seguIto all altrui condotta dolosa) cimelifamthan, corteggi preziost o deheati, album foto (danno patrimoniale classico) o sull'integritàpsicofisica (danno biologico, risarcibile secondo l'ait 2043
grafici, vestiti dt scena, videocacsette deli infanzia, collezionI amatortalt, trofei, medaglie regali simbolo c.c.),-o non costituisca paterna d'animo (risarcibile sussistendo un illecito penale), diventa pienamente
di qualche amore passato manoscntti o partiture di opere lontane nel tempo recanti il segno di quel risarcibile. Si prescinde pertanto dall'esistenza di un diritto tutelato e riconosciuto come tale dall'ordi-
percorso creativo t J Gli isnimali dome.sticL t J anche una bestiola qualsiasi ;fedele compagna dt namento; o dalla lesione di un bene/interesse costituzionalmente garantito."
un bambino dt una persona sola, comunque dt un padrone sensibile Un bastardino senza pretese un 109
Veja-se o título atribuIdo por Maria Celina Badin de Moraes à sua obra: Danos à Pessoa Huma-
pappagallo conpoca fantasia, un micio troppo grasso, un-cane da caccia bonaccione, un cardellino na, cit., em que a autora defende justamente a necessidade de se vincularò conceito de dano moral
uguale a tutti glI altri (non per la sua padrono. però)." à noçho de dignidade humana.
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114 Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil Schreiber Os Novos Danos 115

liano, por sua vez, nao conta corn urna única categoria de dano extrapatrimonial, nao é diversa a conclusão a que tern chegado a meihor doutrina, res-
E no Brasil
tendo as sucessivas tentativas de evasäo da rigidez do art. 2.059 dado margem a
saltando que a "violaçAo de urna situaçäo jurídica subjetiva extrapatrirnonial (ou
categorias construidas de forma 11° como o danno morale-soggettivo, o
de um 'interesse nao patrimonial') em que esteja envolvida a vítima, desde que
danno biologico e o danno esistenziale."
merecedora de tutela, será suficiente para garantir a reparaçäo"."4
Verifica-se, todavia, que, embora os carninhos seguidos tenham sido antagô-
Sern embargo, portanto, de seus pontos de partida diferenciados, o certo é
nicos, o momento atual, seja na experiência italiana, seja na experiência brasilei-
que, hoje, juristas italianos e brasileiros, alemäes e franceses, americanos e in-
ra, é significativamente semeihante, havendo urna genuIna convergência destas
gleses, juristas, enfim, de ordenamentos típicos e atípicos defrontam-se corn o
experiências em torno de um problema único: o da seleçào dos interesses mere-
mesmo problema fundamental: o de identificar critérios e métodos aptos a pro-
cedores de tutela.112 Assim, na Itália, afirma-se que "o verdadeiro problema em
mover, sobretudo em matéria de dano nao patrimonial, a seleçào dos interesses
tema de danos à pessoa nao é (ou nao é mais) hoje aquele da classificação e da
merecedores de tutela.
'resposta acobertadora' a oferecer ao magmático aflorar de espécies sempre novas
de prejuízos emergentes da praxe: é, ao contrário, aquele de selecionar e conter
tais danos, no escopo de nao desperdiçar em um interminável acúmulo de trivial
actions a tutela ressarcitória da pessoa humana, que deve, isto sim, concentrar-se
em assegurar plena satisfaçâo às pretensôes legítimas de sujeitos seriamente lesa-
dos em interesses privilegiados pela escala de valores delineada pelo sistema."113

110
Pier Giuseppe Monaten et ali, Il nuovo danno alla persona, MiIâo: Giuffrè, 1999, p. 13: "Oggi
una trattazione unitaria del danno non patrimoniale appare impossibile. Tale categoria si frantumo,
infatti, in una pluralità di considerazioni che attengono alle dive rsefattispecie."
111
Marco Bona, li Danno Esistenziale Bussa alla Porta e la Corte Costituzionale apre (verso il nuovo
art. 2059 c.c.), in Danno e Responsabilità, n° 10. 2003, p. 949-950. Note-se, todavia, que, para al-
guns autores, a categoria do danno e.sisteiiziale tende a absorver as demais categorias de dano nao-
patrimonial, quiçá equiparando-se, neste sentido, ao dano moral brasileiro. Sobre a capacidade de
absorçao do danno esistenziale, ver Paolo Cendon, Trattato breve dei nuovi danni, cit., p. 2-3, em que
a nova modalidade de dano vem definida como "unaJlgura da prospettarsi, secondo l'inquadramento
preferibile, come entità ricomprensiva di due sotto-alveifondamentali, quello dei danno esistenziale bio-
logico (luogo cui ricondurre le ipotesi effettive di aggressione alla salute) e quella del danno esistenziale
non biologico (sede per la menomazioni inerenti a beni diversi dall'integrità psicofisica)."
112
Tudo a confirmar a Iiçao de Constantinesco, para quem sob o tecido legislativo de cada orde-
namento nacional esconde-se, multas vezes, um direito judiciário de características diversas daque-
las consagradas no direito positivo. V Léontin-Jean Constantinesco, Il metodo comparativo, ed. ital.
Antonino Procida Mirabelli di Lauro, Turim: G. Giappichelli Editore, 2000, p. 144: "Consultare le
fonti del diritto straniero nella loro totalità signfica completare il testo con l'esame delle consuetudini,
della dottrina, delle preassi commerciali e, soprattutto, della giurisprudenza, e ciò anche nei paesi nei
quali il primato della legge costituisce un principio generalmente riconosciuto. Infatti, sulla base delle
regole legali, ma di là dei testi e talvolta contro di essi, si sviluppa un diritto di origine giudiziario che
si distingue, in diversi punti essenziali, da quello legislativo."
113
Na íntegra: "In verità, tornando conclusivamenre ad alcune considerazioni di carattere generale,
il vero problema in tema di danni alla persona non è (o non è più) oggi quello della catalogazione e
della 'risposta accorpante' da offrire alla magmatica floritura delle sempre nuove voci di pregiudizio
emergenti dalla prassi e invece quello della selezione e del contenimento dl tali danni, allo scopo di non altrove. In altre parole, è indispensabile valutare in termine di opportunità e di ragionevolezza a chi
di.sperdere m una sterminata congette di trivial actions la tutela risarcttona dellapersona umana che atribuire il cámpito di dterminare i danni alla persona risarcibili, come selezionare gli interessi merite-
deve mvece concentrarsi nell assicurare soddisfazione ptena alle legitnme pretese di soggetti seriamente voli di tutela, quali danni sottOporre a un trattamento risarcitorio differenziato" (Francesco Busnelli,
pregiudicati negli interessi privilegian dalla stata di valori delineata dal sistema f J Non serve conti Interessi della Persona e Risarcimento del Danno, in Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile,
nuareachiedersi se l'art. 2059 vada salvato o, invece, vada eliminato. È ii caso piuttosto di interrogarsi ano L, 1996, Miläo: Dort. A Giu.ffrè, p. 21).' ..

sulla strategie da adottare perfarfronte ai problemi e ai timori veti del momento attuale, in Italia come
PDF compression, OCR, web optimization using a watermarked evaluation copy of CVISION PDFCompressor 114
Maria Celina Bodin de Moraes, Danos à Pessoa Humana, cit., p. 188 (grifou-se).

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