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Do hortulanus ao jardineiro…
Maria Daniela Pereira de Sousa, 2016
Resumo:
Uma breve retrospetiva aponta que o ensino público da Jardinagem é herdeiro de um
passado histórico relacionado com o ensino técnico-profissional, que se implementou
progressivamente a partir de 1854, com António Augusto de Aguiar, e que ganhou grande
expressão durante o Estado Novo, sobretudo a partir a Reforma do Ensino Técnico–
Profissional, Industrial e Comercial. Em Portugal, desde 1852 que está instituído o Ensino
Agrícola (Decreto de 16 de Dezembro, reinado de D. Maria II). Nesse mesmo ano Fontes
Pereira de Melo e por iniciativa do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria,
cria os ensinos, agrícola (DG. 300 de 29-12 – 52), para o ensino agrícola) e industrial.
Nos programas de estudo já se preveem aulas de floricultura e jardinagem. Desta época
sabemos que se ensinavam rudimentos de jardinagem na escola primária e que se
ministravam os ensinamentos através de manuais escolares específicos da área agrícola.
Contudo, o desenvolvimento da área disciplinar de jardinagem, na prática, só ocorreu de
forma significativa a partir dos anos 50 do século XX, constituindo-se a Lei de Bases do
Sistema Educativo (LSB) de 1986 como um marco temporal, culminando nos dias de hoje
com um ensino profissional fundado em cursos da especialidade e com a unificação da
sua estrutura organizativa e curricular.
Do decurso da pesquisa realizada, apurou-se que o termo “Jardinagem, Jardim” entra no
léxico português a partir do século XVI, estando provavelmente na origem da designação
pela qual é conhecida, hoje, a atividade profissional de jardineiro. Existiria já o ofício de
jardineiro e escolas de horticultura e jardinagem nos primórdios do século XIX.
Atualidade (p.48)
No livro “A jardinagem em Portugal” e que data dos inícios do século XX, precisamente
1906, escrito por Sousa Viterbo, este referia “Estou convencido que nos primeiros séculos
da monarquia a jardinagem tinha um caráter modesto e rudimentar. Os jardins reais eram
uma reprodução dos de Alcino, com as suas hortas e pomares, não esquecendo os
canteiros de plantas Therapeuticas” (in Ronchetti, 2009:272). É provável que no século
XIV em Portugal, alguns paços reais, e ricas casas senhoriais ou de poderosos chefes de
igreja tenham sido dotados com formosos pátios cingidos dentro de altos muros, onde
florescessem plantas delicadas no meio da frescura espalhada no ambiente pelo borbulhar
das fontes. Nos séculos XIV e XV os jardins teriam, ainda, uma relevância secundária na
estruturação dos espaços das casas senhoriais (Macedo, 2012). Ronchetti (2009) refere
que a escritura de aforamento do rei D. Afonso V (1438-1481) dos Paços do Arcebispo
na Alcáçova de Lisboa, além de fornecer informações sobre as plantas escolhidas
(ciprestes, laranjeiras e limoeiros), também já testemunha o cuidado que este rei teria para
com os seus “pomares”, o que leva a pensar que não tivesse uma conotação meramente
hortícola e agrícola, mas também já de deleite ou fruição. D. João II (1455 –1495) sente
a necessidade de entregar estas tarefas a um verdadeiro profissional do ofício, l igator
d´horts, e manda chamar Gomes ou James Fernandes, hortelão/Hortulanus e guarda da
famosa horta Real de Valência. Chama-o para trabalhar “na horta dos paços de Évora que,
além das plantas de uso doméstico e dos pomares, seria semeada de hervas de virtude”
(Viterbo, 1906:71 in Ronchetti, 2009), informando-nos assim da dupla função do jardim
do Paço. É nesta época que começa a entrar também na cena dos jardins portugueses: o
Hortulanus, ou seja, o hortelão ou jardineiro. O cargo de Gomes Fernandes começa em
1494 com um ordenado de 17.000 reais, pagos metade no princípio do ano e metade no
S. João, mais o aproveitamento da horta e D. Manuel (1495-1521) confirma-o, em 1496
(Ronchetti, 2009). Em todo o caso em Portugal, segundo Carolina Michaelis o vocábulo
Muitos são os nomes dos que foram nomeados hortelãos ou jardineiros das hortas,
pomares e jardys de muitos paços reais que no final do século XV e no século XVI foram
reabilitados (Carapinha, 1995). Sucederá a Gomes Fernandes “Pasquim Velanes, de
provável origem italiana, a quem, por sua vez, segue António Monteiro e, a partir daí,
uma série de nomes, às vezes ligados uns aos outros por parentesco, cujas pegadas Sousa
Viterbo segue atentamente de Paço em Paço, entre Évora, Salvaterra, Almeirim, Alhos
Vedros, por Portugal fora” (Ronchetti,2009:275). Este facto revela, não só a vontade de
alinhar com as tendências mais consideradas de então, na arte dos jardins, mas deve ser
também encarada como o “início provável, de um movimento de enobrecimento, de
valorização estética de hortas e pomares” (Carapinha, 1995:81). Conhecem-se também
nomes de jardineiros do tempo de D. João IV (1640-1656) e D. Afonso VI (1656-1683)
– Gonçalo João e Manuel Gonçalves, o que indicia que eram cuidados e que haveria
preocupação na sua manutenção, tal como no tempo de D. João V (1707-1750) ou não
haveria um “Regimento das pessoas a cujo cargo estão as hortas dos meus paços, e quinta
de Alcântara” (Jordão, 1946:12 in Rodrigues, 2013:373).
Por esta altura criam-se as escolas agrícolas médias e que ficam a dever á iniciativa
particular entre elas destaca-se: Escola Maria Cristina, as fundadas pelo conde de Sucena,
de Agrolongo e José Bessa de Meneses (Fontes, s.d.).
Em 1865 são criados os cursos de Regentes Agrícolas e Regentes Florestais. Sabe-se que
o primeiro aluno que foi admitido no ensino oficial agrícola em 19 de Agosto de 1865
1
Disponível em http\\História Instituto Superior de Agronomia.mht
A estreita colaboração entre a teoria e a prática marca a orientação que se desejava para
este sistema de ensino. Jaime Moniz, vice-presidente do Conselho Superior de Instrução
Pública e introdutor da pedagogia científica em Portugal, fará publicar em 1894-95 a
Reforma do Ensino Secundário (Publicada no Decreto nº 2 de 22 de dezembro 1894). A
Reforma esta que como refere Brito (2014), teve como bases, uma preferência pela
educação integral face à instrução; a centralidade e a uniformização do sistema de ensino;
uma formação geral de base humanista mas com caráter prático; o desenvolvimento do
espírito nacionalista; a formação de professores e o reforço dos aspetos formativos do
ensino. A Escola Prática de Agricultura de Viseu é extinta por um decreto régio datado
de 9 de Dezembro de 1898 sendo os seus serviços transferidos para a Estação Agrária.
Em 1899 o ministro Elvino José de Sousa e Brito extingue o curso de ensino elementar
agrícola, na Escola de Viseu e institui aulas de instrução primária agrícola que
compreendiam os dois graus do ensino elementar revestindo feição acentuadamente
agrícola de modo a que o aluno obtivesse o conhecimento exato e prático das coisas úteis
à vida rural. (Dec. de 17 de Outubro de 1899).
Em finais do século XIX e inícios do século XX, as Reformas de Jaime Moniz (1894-95)
e de Eduardo José Coelho (1905) viriam a definir a estrutura curricular e os objetivos do
Ensino Secundário Liceal (Brito, 2014).
Em 1905, pela Reforma de Eduardo José Coelho, procede-se a nova revisão do Ensino
Secundário. Considerando a falta de recursos económicos e materiais para o ensino
público, bem como o excesso de burocracia, este diploma propõe medidas muito liberais
e democráticas centradas na responsabilização e autonomia dos professores nas decisões
pedagógicas, através da gestão dos programas e planificação conjunta em grupos
disciplinares e de turma (Brito, 2014). Neste mesmo ano é aprovado o Regulamento da
Escola de Regentes Agrícolas “Morais Soares” (publicado no Diário do Governo, nº4, de
5 de Janeiro).
No que concerne ao ensino superior, data também de 1911 a criação das Universidades
de Lisboa e do Porto e volta a conceder-se a todas as instituições universitárias a sua
tradicional autonomia, dotando-as dos recursos necessários ao seu desenvolvimento. As
reformas desse ano estendem-se ao ensino comercial e industrial, destacando-se o
desdobramento do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa em duas escolas distintas: o
Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior do Comércio.
2
A. H. Oliveira Marques, in, ob. cit.pag.113-114
Em 1917a Junta Geral do Distrito de Lisboa aprovou as bases gerais para a criação de
uma escola de agricultura denominada “Escola Profissional de Agricultura do Distrito de
Lisboa” e adquiriu as propriedades na Paiã, iniciando a instalação da Escola5 que viria a
ser inaugurada em 1919com a entrada dos primeiros alunos. Tendo em vista o
restabelecimento do ensino agrícola feminino é criada a Escola Agrícola Feminina Viera
de Natividade em Alcobaça. Admitiu-se mais tarde a hipótese das alunas externas
poderem vir a frequentar as aulas práticas dadas no Posto Agrário. O curso abrangeria um
vasto leque de matérias, tais como agricultura em geral, pomologia, horticultura,
jardinagem, zootecnia, lacticínios, avicultura, e apicultura, com uma duração de 3 anos.
A Lei nº824, de 8 de Setembro amplia e modifica a legislação sobre o Ensino Agrícola
(publicado no Diário do Governo , nº143, 1ª série, de 8 de Setembro de 1917). Foi por
este ao que o Edifício Principal do ISA (hoje Instituto Superior de Agronomia) foi
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que teve o apoio do Partido Republicano Evolucionista e da União Republicana, e também de fações
militares conservadoras, ficou no poder de 28 de Janeiro a 14 de Maio de 1915
4
http\\Educação_ Carlos Fontes.mht
5
http://www.epadd-paia.pt/historial
A novidade maior da reforma de 1919 foi o lançamento de facto das escolas primárias
superiores. “O ensino primário superior abria-se aos alunos com mais de 12 anos de idade
e as áreas de formação curricular compreendiam as seguintes matérias gerais: língua
portuguesa, língua francesa, língua inglesa, matemática elementar, geometria e sistema
métrico, ciências físico-químicas naturais, geografia, história geral e de Portugal,
instrução moral e cívica, noções de higiene e puericultura, educação física, modelação e
desenho, trabalhos manuais e música e canto coral (Fernandes e Correi, 2010:192). De
acordo com as condições socioeconómicas de cada região, as escolas de ensino primário
superior podiam ministrar secções curriculares especiais de natureza técnico-profissional
ligadas às atividades agrícola, comercial, doméstica, industrial ou marítima. Como
referem os mesmos autores (2010) o cumprimento dos 3 anos do ciclo superior permitia
o acesso à matrícula no ensino normal primário, a requisição do exame da 2ª secção do
curso geral do ensino secundário-liceal (5ª classe) e/ou a possibilidade de matrícula no
ensino secundário-técnico.
É desta época que surge o modelo de “escola ao ar livre” preconizado por Camilo
Augusto de Figueiredo na sua tese de Doutoramento, apresentada à faculdade de
medicina do Porto em Janeiro de 1922, com o tema “Breves considerações sobre Escolas
ao ar livre”, anunciando um trabalho de investigação sobre o modelo de “escola ao ar
livre” como medida preventiva contra a tuberculose durante o período de idade escolar, e
que demonstra a sua preocupação face ao desenvolvimento assustador que a tuberculose
ia tomando face ao perigo de contágio que assolava então naquela época em Portugal,
empreendendo um caminho pioneiro para a luta antituberculosa. Como preceituado pelo
Fig 2- Em Monnetier- “as portáteis” transportadas com facilidade pelas crianças (in
Figueiredo, 1922:57) compostas por duas peças de madeira articuladas, uma de banco e
outra mesa, leves podem desmontar-se e ser levadas ao dorso.
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Em 1911 existiam em Itália 191 destas cátedras (Fontes, s.d).
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Disponível em http://vidago.com.sapo.pt/testamento_bonifacio.htm
Teixeira, Luis C.(s.d.). O Testamento, in Eito Fora, edição nº 17, disponível em
http://www.trasosmontes.com/eitofora/numero17/historia.html. acedido em 13 de Março de 2016.
De 1926 a 1933
A 28 de Maio de 1926, um movimento liderado pelo exército dissolve o parlamento,
pondo fim à 1ª República. Entre 1926 e 1933 vive-se um período dominado por uma
ditadura militar. Como referem Fernandes e Correia (2010) o grau superior do ensino
primário acabará por ser extinto pelas autoridades ditatoriais através do Decreto 11730,
de 15 de Junho de 1926. A escolaridade obrigatória será reduzida pelas mesmas
autoridades para três anos curriculares (nível primário elementar), através de um
emaranhado legal publicado em 1927 e 1928, mantendo-se uma escolaridade primária
complementar com dois anos curriculares. “Os principais eixos orientadores do curso das
novas escolas normais primárias eram os seguintes: abordagem primordialmente
profissional e um currículo de formação que mescla áreas de ciências da educação e de
outras disciplinas formais (Higiene Escolar; Psicologia Geral e Experimental; Pedologia;
Pedagogia; História da Instrução Popular; Legislação Escolar) com áreas de metodologia
ou de disciplinas de aplicação (Educação Estética – Modelagem, Desenho, Trabalhos
Manuais, Bordados, Cozinha e Música; Educação Intelectual – Português e Literatura,
Matemáticas, Ciências Naturais, Agricultura e Geografia; e Educação Social – História
da Civilização, Direito e Economia Social e Economia Doméstica)” (Fernandes e Correia,
2010:195).
8
Decreto n.10.331, de 21 de Novembro de 1924
A ditadura que se inicia nesta ápoca, limita a profissionalização, mas também a formação
de professores.
Como refere Fontes (s.d.)10em agricultura, entre 1911 e 1930, diplomaram-se 251 alunos
no Instituto Superior de Agronomia. Na escola Nacional de Agricultura neste período da
1ªa República formaram-se 389 alunos e na escola de Santarém fizeram exame final, de
1913 a 1930, 143 alunos. Em 1930 dá-se a reabertura, após uma extinção em 1929, da
Escola Profissional de Agricultura do Distrito de Lisboa agora denominada “Escola
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Adaptado de Http\História da Formação Profissional e da Educação_ Carlos Fontes.mht.
http://educar.no.sapo.pt/histFormProf129.htm
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http://educar.no.sapo.pt/histFormProf129.htm
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O edifício principal da Escola Comercial de Lourenço Marques localizava-se na Avenida 24 de Julho, e
tinha sido construído para um Internato de Raparigas/Instituto Feminino, e entretanto foi lá instalada uma
bateria de artilharia, nesse mesmo espaço foi instalado em 1919, o Liceu Nacional 5 de Outubro.
O decreto lei nº34:476, de 2 de Abril torna aplicável ao ensino agrícola dos graus
elementar e médio os preceitos legais que regulam o exercício do ensino particular
(publicado do Diário do Governo, nº69, 1ªsérie, de 2 de Abril de 1945).
A Reforma de Pires de Lima ocorre entre 1947 e 1952, num período de pós-guerra em
que Portugal, à semelhança dos restantes países europeus, é impelido ao
desenvolvimento, forçado em parte por acordos e organizações internacionais. No país
12
Membro do Conselho Nacional de Educação entre 1965 1977. Mais informação disponível em
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/78204/2/111561.pdf.
http://proffranciscocaldeiracabral.portaldojardim.com
Com esta reforma de Pires de Lima, são publicados novos estatutos para o Ensino Liceal
e para o Ensino Técnico. O Ensino Secundário apresenta, de forma mais nítida, duas
grandes vias, muito diferenciadas, quer quanto aos conteúdos, quer quanto à origem social
dos respetivos alunos. No Ensino Liceal, são repostos os planos curriculares anteriores a
1936. O Curso Geral volta a ter 5 anos, em regime de classes, e o curso complementar
divide-se em letras e ciências. Na totalidade, o Curso Liceal comporta três níveis de
escolaridade: o 1º. Ciclo (1ª e 2ª classes), o Curso Geral (3ª, 4ª e 5ª classes) e o Curso
Complementar (6ª e 7ª classes). Este sistema dava acesso aos Cursos Superiores, sendo
frequentado por alunos predominantemente oriundos das classes de maiores rendimentos.
O Ensino Técnico dava acesso aos Institutos Comerciais e Institutos Industriais e era
frequentado sobretudo pelos filhos das camadas da população com menores rendimentos.
Oferecia cursos nas áreas dos Serviços, Formação Feminina, Indústria e Artes. A
uniformização destes cursos acarreta a perda da sua tradicional vocação regionalista,
passando a servir à formação de quadros intermédios nas áreas do comércio, indústria e
serviços, aqueles (quadros) de que o país realmente necessitava para o seu
desenvolvimento a curto prazo. É criada a Inspeção do Ensino Liceal e analisa-se o que
foram, até ao momento, as estruturas pedagógicas para a formação de professores.
A partir dos anos 50, encontramos as seguintes variantes nos estabelecimentos de Ensino
Técnico: Escolas Técnicas Elementares, destinadas exclusivamente ao Ciclo
Preparatório; Escolas Industrias; Escolas Comerciais; Escolas Industriais e Comerciais,
podendo qualquer uma delas incluir ou não o Ciclo Preparatório. A complexidade do
Também poderiam ingressar neste curso os alunos detentores do Curso Geral dos Liceus
(5º ano), com mais de 16 anos e menos de 20. Estes seriam dispensados da frequência das
Apesar das alterações sociais ocorridas nas décadas de 50 e 60, a vida política portuguesa
mantém as grandes linhas do regime, acentuando-se o estado de vigilância. Algumas
mudanças surgem involuntariamente, como a queda de Salazar em 1968 e a sua
substituição por Marcelo Caetano nesse mesmo ano. A partir de finais da década de 50,
com a campanha de Humberto Delgado, o país começara a dar sinais de insurgimento
contra o regime, em iniciativas pontuais mas significativas (Brito, 2014).
Fonte: INE
Neste contexto é criado o subsistema das escolas profissionais (Decreto-Lei n.º 26/89 de
21 de Janeiro) como uma modalidade alternativa de escolarização de nível secundário. Já
nesta altura esta modalidade é defendida como um vetor de modernização da educação
portuguesa e de contributo fundamental para a redução do insucesso escolar, a redução
do desemprego jovem e o desenvolvimento económico local, objetivos que seriam
realizados através da multiplicação acelerada da oferta de formação profissional e
profissionalizante e do apoio à implementação de um rede de escolas profissionais
eminentemente locais.
Atualidade
Atualmente alterações ao sistema educativo nacional têm vindo a ser impulsionadas pela
comunidade internacional (OCDE, UNESCO, BANCO MUNDIAL, União Europeia),
com expressão no desenvolvimento da empregabilidade e na necessidade de prevenir
todas as formas de exclusão, na convergência de modelos e políticas da educação.
De referência é o ano letivo 2012/2013 onde se dá início ao alargamento da escolaridade
obrigatória para o ensino secundário, tal como prevê a Resolução do Conselho de
Ministros 44/2010. A partir do ano letivo 2012/2013, esta foi alargada para os 12 anos,
passando a incluir todos os alunos que frequentam estabelecimentos de educação ou de
formação entre os 5 e os 18 anos de idade. O referido documento tem vários objetivos,
sendo que o principal é então a obrigatoriedade de cumprir um percurso académico
mínimo de 12 anos para todos os alunos. Paralelamente, o Ministério da Educação e
Ciência pretendeu ainda dar continuidade à reorganização da rede escolar que teve início
em 2005 para que houvesse “cada vez mais igualdade de oportunidades no acesso à
educação em Portugal, adequando as escolas à promoção do sucesso escolar e ao combate
ao abandono” (Resolução do Conselho de Ministros 44/2010, p. 1997). Estamos perante
grandes reformas no sistema de ensino assegurando a universalidade da educação escolar,
a obrigatoriedade e a gratuitidade ao nível da educação básica (1º, 2º e 3º ciclo) e
secundária.
Não é possível abordar a atualidade do ensino/ formação em Portugal sem referir os factos
que emergem do Quadro Europeu de Qualificações que nos dias de hoje atribui níveis
de aprendizagem e qualificações e que as uniformiza no espaço europeu. Desde 2000,
com o Conselho Europeu de Lisboa, que se consagrou a importância da transparência das
Atualmente, o CNQ integra 270 qualificações que abrangem a maioria dos setores de
atividade. Trata-se de um instrumento dinâmico, concebido para responder às
necessidades de qualificação do tecido empresarial, encontrando-se em permanente
atualização através de dois modelos: os Conselhos Setoriais para a Qualificação (CSQ) e
o Modelo Aberto de Consulta. Os CSQ são grupos de trabalho técnico-consultivos, nos
quais têm assento entidades formadoras, parceiros sociais, autoridades competentes,
peritos independentes, empresas, etc., com o principal objetivo identificar as necessidades
de atualização do CNQ, considerando as evoluções e alterações ocorridas nos diferentes
setores da sociedade. Atualmente existem 16 CSQ: i)Agroalimentar; ii) Artesanato e
Ourivesaria; iii) Comércio e Marketing; iv) Construção Civil e Urbanismo; v) Cultura,
Património e Produção de Conteúdos; vi) Energia e Ambiente; vii) Indústrias Químicas,
Cerâmicas, Vidro e Outras; viii) Informática, Eletrónica e Telecomunicações; ix)
Madeira, Mobiliário e Cortiça; x) Metalurgia e Metalomecânica; xi) Moda; xii) Serviços
às Empresas; xii) Serviços Pessoais; xiv) Saúde e Serviços a Comunidade; xv)
Transportes e Logística; xvi) Turismo e Lazer.
O Education Policy Outlook, é um relatório anual publicado desde 2012 e que tem como
objetivo oferecer uma perspetiva sobre as reformas no sector da Educação que têm vindo
a ser seguidas pelos países da OCDE (Organização para a cooperação e desenvolvimento
económico). Este anuário, Education Policy Outlook, considera “coerente” a estratégia
para o ensino e formação profissional que tem sido seguida por Portugal, mas também
aponta limitações ao sistema de ensino nacional, sobretudo no que toca às altas taxas de
abandono e insucesso escolar. Para a OCDE, o caminho seguido tem permitido colocar a
formação profissional no ensino secundário como uma alternativa “ao mesmo nível” dos
programas de carácter geral. A organização internacional elenca o papel que têm tido a
alteração legal que permitiu definir Escolas de Referência do Ensino Profissional e os
compromissos do país para o alargamento da oferta neste sector, bem como para a
implementação do ensino dual, como principais contributos. O objetivo do Governo a
médio prazo é o de que haja 200 mil estudantes inscritos nas vias profissionais de ensino
até 2020. Atingir essa meta implicaria um aumento de 30% no número de inscritos,
reforçando a tendência atual de crescimento da procura nos cursos profissionais — o
número de inscritos cresceu de cerca de 30 mil em 2001 para mais de 100 mil em 2012
—, acentuada, desde 2005, quando a oferta destas formações foi generalizada a todas as
escolas públicas. Apesar das mudanças ao nível do ensino profissional, o relatório não
deixa de dar atenção às limitações da Educação Nacional. A OCDE identifica, desde logo,
limitações ao financiamento (a parcela do PIB-produto Interno bruto, destinada ao ensino
fica aquém da do conjunto dos 34 países avaliados) e à autonomia das escolas, colocada
também abaixo da média. Tendo em conta o baixo nível de qualificações dos portugueses,
o documento defende ainda que o país deve incluir nos seus objetivos o aumento do
número dos que completam o Ensino Secundário e a Educação de Nível Superior. A
organização internacional também aponta as altas taxas de repetência e de abandono
escolar, reforçando no documento que “Portugal enfrenta o desafio de garantir que todos
os alunos completam o ensino obrigatório”, bem como “alcançar uma educação inclusiva
e de qualidade para todos os alunos”.
No sentido de responder a essas duas realidades, é sublinhado o contributo do Programa
de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar de 2012, que concede um apoio extra aos
De referir que a grande aposta no ensino profissional é foi reforçada através dos
mecanismos de financiamento estabelecidos, nomeadamente através do Programa
Operacional do Potencial Humano (POPH), que veio substituir o PRODEP (Programa de
Desenvolvimento Educativo para Portugal), criado no âmbito dos Quadros Comunitários
de Apoio (QCA), do Fundo Social Europeu e que terminou em 2013.
Uma das características da formação profissional em Portugal reside pois numa
expressiva oferta formativa sectorial (tutelada por serviços públicos) que, partindo das
necessidades concretas sentidas nos sectores de atividade, se constituiu como adequada
aos mesmos e, em muitos casos, como alternativa aos grandes sistemas nacionais. A
análise dos sistemas de formação parte da descrição das estruturas dos dois ministérios
com responsabilidade horizontal, para a análise da formação desenvolvida no âmbito dos
sectores, em particular os da agricultura, indústria, turismo e saúde, que são os sectores
mais expressivos em termos organizativos.
Tabela 11- Esquema do percurso escolar aprovado pelo Ministério da Educação, 2015
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