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Ao longo da história da aviação o tema Fatores Humanos vem se destacando de forma crescente
como importante questão para a segurança operacional pela sua expressiva participação como fator
contribuinte nos acidentes aéreos ao redor do mundo. No Brasil, as estatísticas apontam que 70% a 80%
dos fatores contribuintes em acidentes aéreos se relacionam com os Fatores Humanos (PAOLI et al.,
2007).
Para a ICAO (2003), o conceito de fator humano refere-se ao estudo das capacidades e das
limitações humanas oferecidas pelo local de trabalho. Ou seja, é o estudo da interação humana em suas
situações de trabalho e de vida: entre as pessoas e as máquinas e equipamentos utilizados, os
procedimentos escritos e verbais, as regras que devem ser seguidas, as condições ambientais ao seu
redor e as interações com as outras pessoas.
Ainda segundo a ICAO, o elemento humano é “a parte mais flexível, adaptável e valiosa dentro do
sistema aeronáutico, mas é também a que está mais vulnerável às influências externas que poderão vir a
afetar negativamente o seu desempenho” (ICAO, 2003, p.1-1). São justamente a flexibilidade, a
adaptabilidade e a vulnerabilidade em relação às influências externas que, enquanto características
inerentemente humanas, nos conduzem a refletir acerca de outro conceito indispensável à segurança
operacional: A Cultura Organizacional.
Desta forma, se entendemos que a atitude humana e seus critérios de análise, julgamento,
ação e reação são não apenas influenciados, mas também constituídos, forjados e originados nos
contextos ambientais, organizacionais e culturais a que o sujeito está submetido, podemos inferir que
a atitude e o processo decisório estão intimamente relacionados à cultura organizacional em sua
gênese e em seus desdobramentos.
No contexto da aviação, tendo como foco a segurança operacional, Reason (1998) destaca que a
cultura organizacional se revela através da forma como a organização lida com as falhas de segurança
identificadas. A ICAO em sua circular número 10 que trata dos Fatores Humanos (COELHO; MAGALHÃES,
2001) define cultura de segurança:
Conjunto de crenças, normas, atitudes, funções e práticas sociais e técnicas que visam
reduzir ao mínimo a exposição de empregados, diretores, clientes e membros do
público em geral a condições avaliadas como perigosas ou de risco (p. 43).
Dados divulgados pelo CENIPA comprovam a contribuição da cultura organizacional nos acidentes
aeronáuticos brasileiros ao longo dos últimos 10 anos, conforme figura abaixo.
Para Reason (1998), as organizações funcionam como organismos que se adaptam de forma
adequada ou não dentro de um contexto e evoluem gradualmente em resposta às condições do ambiente,
aos acontecimentos, ao tipo de gestão e à forma como as pessoas se posicionam em relação à
organização e os valores nela compartilhados.
Assim, em uma cultura de segurança adequada, as pessoas sabem exatamente quais são os
comportamentos aceitáveis ou inaceitáveis, seguros ou não seguros. Pois, uma cultura organizacional
deficiente no aspecto da segurança cria e sustenta lacunas nas defesas através das quais passa a
trajetória de um acidente.
Diante dos aspectos aqui discutidos e sem a pretensão de esgotar as discussões sobre o tema,
evidenciamos a necessidade de ações preventivas e mitigadoras de risco voltadas aos aspectos
organizacionais, visto que estes se revelaram determinantes na atitude humana e nos seus critérios de
análise, julgamento, ação e reação na busca incessante de uma aviação segura.
Referências:
Figuras: