Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Belo Horizonte
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas UFMG
2005
Gomes, Maria do Carmo Alvarenga de Andrade.
G633d Mapas e mapeamentos: dimensões históricas; as políticas
cartográficas em Minas Gerais – 1850-1930 /Maria do Carmo
Alvarenga de Andrade Gomes – Belo Horizonte, 2005.
434 p.: il.
CDU: 912(091)(815.1)”1850/1930”
Dedico este trabalho à memória da minha muito querida amiga,
a historiadora Moema Moreira Gontijo.
AGRADECIMENTOS
This work studies the cartographic policies implemented in Minas Gerais between
the second half of the nineteenth century and the end of the First Republic. The
central object of the investigation is the Geographic and Geologic Commission of
Minas Gerais and its ambitious cartographic program, put in effect by the state
government between the years 1891 and 1930. The program resulted in the
production of texts and images with scientific, mathematical and pragmatic
representation. This initiative was investigated in connection with other
cartographic series produced in other times and with different objectives. The
successive initiatives of the provincial government which resulted in the articulated
construction between territory and cartographic representation and the mapping
program of the Minas Gerais Centennial Commission, elaborated amidst the
Republican crisis in the 1920s, were highlighted. The goal was to find out how the
web of knowledge, techniques, geopolitical interests and the proceedings of the social
actors was spun around cartographic programs sponsored by the administration in a
time of affirmation of the regional and political identity of the state.
The research studied the different groups of maps as differentiated products of the
same historical process, of continuous formulation and rehearsal of cartographic
policies by the Minas Gerais administrations, regarded as territory control, use and
representation strategies. The cartographic policies both answered and
instrumentalized the political game, in search of the affirmation and identity of
Minas Gerais in relation to the federal government, the other states and even the
population. On the other hand, they were effective tools for the investigation of the
state resources, be they natural, populational or economic. However, the distinctive
cartographic activity of the time and political and geographic space – Minas Gerais
in the First Republic – only became a significant response to the demands and
impositions of the historical moment as far as its own language offered answers to
the questions posed.
LISTA DE FIGU RAS
.
LISTA DE ABREVIATURAS
AN - Arquivo Nacional
APM - Arquivo Público Mineiro
APCBH - Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte
CCNC - Comissão Construtora da Nova Capital
CGG - Comissão Geográfica e Geológica
Cx - Caixa
Doc - Documento
IGA - Instituto de Geociências Aplicadas de Minas Gerais
OP - Obras Públicas
SGMB - Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil
SI - Secretaria do Interior
SUMÁRIO
1 Introdução 13
[...] o mapa tornou-se um objeto opaco, que retém o olhar sobre ele
mesmo. O mapa entrou na era da suspeita. Ele perdeu sua inocência. Não se
pode mais, atualmente, considerar a história da cartografia sem uma
dimensão antropológica, atenta à especificidade dos contextos culturais, e
teórica, que reflita sobre a sua natureza de objeto e os seus poderes
intelectuais e imaginários.
(Christian Jacob, 1992)
1A atuação da CGG deu-se em dois momentos: entre os anos de 1891 e 1898, quando foi extinta, e
entre os anos de 1921 e 1931, quando é transformada no Departamento Geográfico do Estado de
Minas Gerais. O Departamento ainda seguiu publicando as folhas da Comissão até o ano de 1934.
13
sistemático sobre as regiões mapeadas, a partir de uma leitura da paisagem a um
só tempo científica e pragmática. Entre 1895 e 1934 a CGG publicou 34 folhas,
abarcando em torno de um terço do território do estado, em um ritmo que oscilou
ao sabor da disponibilidade dos recursos oficiais e dos interesses políticos em jogo.
14
considerados como expressões privilegiadas, só se constituiu como resposta
significativa às demandas e imposições do momento histórico (fossem elas de
natureza simbólica, política ou científica) na medida em que sua linguagem
própria oferecia respostas às questões em jogo.
15
mais relevantes no tocante ao nosso objeto de estudo. Interessava a genealogia
das experiências significativas para o entendimento do contexto e do processo de
criação da Comissão Geográfica e Geológica e de uma cartografia que se
pretendia renovada em bases científicas. Aqueles foram anos de investimento
público no reconhecimento do território e dos primeiros mapeamentos de bases
cientificistas, que só no final do século seriam retomados. A chamada
modernização do aparato administrativo, no tocante às políticas de exploração e
de representação do território, que era o que nos interessava entender, teria
ocorrido a partir dos anos 50-60. Esse recuo também se impunha pelo quadro
internacional, pois foi durante o século XIX que se estabeleceram as bases
metodológicas e os debates em torno da emergência da cartografia com disciplina,
a relação entre território e nação, temas que sustentavam nossa discussão e que
seriam pertinentes até os anos 20 do século XX.
16
Da his tória dos ma pa s à história dos mapeamentos
17
como disciplina e como prática, oferecendo novas bases filosóficas e teóricas, além
de uma gama de técnicas próprias para os estudos das linguagens cartográficas
ao longo do tempo. As mudanças em curso na história da cartografia nos últimos
cinqüenta anos são decorrentes do moderno pensamento cartográfico: o interesse
na (re)significação das palavras mapa e cartografia, ou seja, na discussão
conceitual; a abordagem dos mapas como artefatos e a ênfase nos processos
técnicos de sua produção; e a abordagem dos mapas como meios de comunicação.
3 Podemos identificar duas obras monumentais que, mesmo em suas diferenças, foram igualmente
férteis na proposição de caminhos: de um lado, a exposição cartográfica promovida pelo Centro
Georges Pompidou e seu respectivo catálogo, denominado Cartes et figures de la Terre, publicado
na França em 1980; de outro, o projeto enciclopédico iniciado em 1982 na Universidade de
Chicago, sob o título The History of Cartography Project.
HARLEY; WOODWARD, 1987.
CENTRE GEORGES POMPIDOU. Centre de Création Industrielle. Cartes et figures de la terre.
Paris, 1980. Catalogue de l'exposition présentée au Centre Georges Pompidou du 24 mai au 17
novembre 1980.
4 Harley não estava sozinho nessa empreitada e suas idéias inovadoras provocaram intenso
18
homens. Harley foi um incansável divulgador de uma concepção alargada de
mapa. Não menosprezava a sua dimensão técnica, mas recusava-se a ver toda a
cartografia e, conseqüentemente, a sua história, reduzida a esta questão. Nesse
sentido, apontou para as diferentes formas de traduzir as imagens cartográficas
como representações culturais carregadas de mensagens políticas, seja nos seus
conteúdos explícitos, nas distorções e ausências, nos signos convencionais ou no
claro simbolismo das decorações de suas margens, cartuchos e vinhetas.5
19
aos seus objetos tradicionais – descobertas progressivas das partes do globo,
fontes de informação e dos modelos, datação e atribuição de documentos – um
especial interesse pela dimensão técnica da carta e pelo contexto social – meio dos
cartógrafos, dos gravadores, dos impressores, das livrarias, dos encomendantes e
dos usuários. Jacob desenvolveu largo esforço teórico na conceituação do mapa,
percebido como um artefato resultante de um conjunto de operações e escolhas
gráficas (geometria, traços, imagens figurativas, ornamentos, escrita), que
acionam códigos de representação organizados em uma verdadeira linguagem.
Mais do que suporte de uma representação, Jacob sublinha o papel de mediação
dos mapas, de materialização de uma operação intelectual que constrói uma
imagem do espaço. Esse artefato é um meio de comunicação que permite a
transmissão visual de informações que se prestam também a manipulações
retóricas (persuasão, engano, sedução, decisão).
mapa e poder, pode ser largamente aplicada às produções e práticas cartográficas mais antigas.
Questionando a pretensa neutralidade dos cartógrafos, o autor mostrou como a naturalização dos
mapas na cultura ocidental, ou seja, a aceitação de sua autoridade como perfeita representação do
território e fonte de informação objetiva, foi uma construção social e histórica. Para Wood, o mapa
não registra silenciosa e inocentemente uma paisagem, mas responde a atos deliberados de
identificação, seleção e nomeação do que é observado, mostrando ou escondendo elementos de
acordo com os interesses em jogo no projeto cartográfico.
WOOD, Denis. The power of maps. London: Routledge, 1992.
7 As noções de apropriação e de práticas de leitura – entendidas como práticas culturais histórica
e socialmente variadas que produzem um sentido não intrínseco ao texto mas forjado no
cruzamento entre leitores dotados de competências específicas e textos cujo significado se
encontra sempre dependente dos dispositivos discursivos e formais [...], são devedoras das
proposições teóricas e metodológicas de Roger Chartier, tecidas no campo da história cultural. A
natureza e extensão desse processo de apropriação criadora do texto cartográfico obedecem ao que
Chartier chamou de protocolo de leitura. Deslocamos os conceitos pensados originalmente para os
livros e a leitura impressa para as imagens cartográficas e para uma prática específica de leitura
que passa por uma fruição estética do olhar – o mapa dado a ver –, pela decifração técnica – o
mapa dado a ler e pela decodificação semiológica, comum a todos os tipos de mapas.
20
Tanto por sua complexidade semiótica como pelas instâncias sociais que o
produzem, utilizam ou controlam, o mapa é um instrumento de duplo poder, no
qual a eficácia não se reduz à representação objetiva de um fragmento da
superfície. Como acontece com a linguagem escrita e falada, não se presta
atenção à carta no seu uso cotidiano ou técnico e a condição de sua eficácia
intelectual está precisamente nessa suposta transparência.
O interesse dos estudiosos pelos processos de fabricação e pelas práticas
sociais de uso e circulação dos mapas conduziu a uma produção historiográfica
atenta à relação do saber e da prática cartográfica com outros campos
disciplinares e outros veículos de leitura, produção e representação da paisagem e
do território.8 Os mapas são inseridos em uma rede intertextual, entre relatórios
técnicos, narrativas de viagem, desenhos e pinturas, um conjunto articulado de
práticas discursivas que, em cada contexto específico, configura uma dada
produção cartográfica que não é apenas representação do espaço físico ou do
território, mas reveladora e configuradora da ordem social.
CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p.96.
8 Citam-se nessa confluência de temas os estudos de:
21
abordagens com os quais podemos relacionar trabalhos específicos de história da
cartografia, como a história dos instrumentos, das instituições, das práticas
científicas e dos protocolos de prova.10 Os estudos se voltam para as redes de
interação e validação dos saberes, em suas múltiplas escalas, e para as práticas e
os procedimentos de legitimação científicas sob aspectos antes não contemplados
como as controvérsias científicas, a relação com os instrumentos e as hierarquias
institucionais, os aspectos retóricos e literários da produção científica.11
22
naturais.13 Uma primeira e fundamental referência nesse campo é Benedict
Anderson, cujo livro Imagined Communities14 aportou uma reflexão sobre as
estratégias cartográficas dos estados coloniais e o surgimento dos nacionalismos
no Sudeste Asiático. Anderson demonstrou como a empresa cartográfica, aliada
ao enquadramento estatístico, empreendida pelas nações coloniais no Sudeste
Asiático no século XIX, pretendeu submeter o espaço e a realidade social das
colônias a uma grade de representação espacial homogênea, alinhando o
território ao poder político instituído. Anderson constatou o poder do mapa em
antecipar a realidade espacial ainda em gestação, transformando-se de
representação em modelo na construção do território.15 Esse entendimento da
cartografia e da estatística como domínios do conhecimento que,
instrumentalizados e articulados aos programas oficiais, emergiram no contexto
da formação e modernização dos estados-nação, é comum a diversos autores. 16
Citamos a historiadora francesa Morganne Labbé (2003) que, em estudo sobre a
carta etnográfica austro-húngara, uma empresa oficial que buscou construir uma
representação ideológica do império, mostrou como os mapas produzidos nesse
momento – meados do século XIX – estavam ligados ao projeto de unificação
13 O livro de Jeremy BLACK, Maps and history (2000), insere-se nessa gama de estudos que
novas abordagens. Em resenha na revista Imago Mundi, Christian Jacob considerou o trabalho
como um modelo metodológico, pela amplidão das fontes utilizadas e das interpretações que a
pesquisa suscita. Três fios condutores estruturam o trabalho: uma reflexão sobre o poder e a
natureza dos mapas no lento processo de transição das técnicas da cartografia de gabinete para
uma cartografia baseada na triangulação sistemática do território; uma interrogação ampliada
sobre os atores, individuais ou coletivos, que intervêm no processo cartográfico; e, por fim, uma
reflexão sobre o lugar da cartografia na política colonial e no projeto de construção de um espaço
imperial.
JACOB, Christian. Book review of Mapping an empire. Imago Mundi, v.50, p.213-214, 1998.
16 Entre outros, ver:
23
nacional. A relação entre saber e poder político foi sublinhada nesse processo,
quando certas atividades científicas tornaram-se gradativamente autônomas
dentro do estado, como a estatística e cartografia, engendrando uma dupla
autoridade para tais atividades: a autoridade científica e a autoridade oficial.
24
caso brasileiro, onde o êxito na manutenção de uma unidade territorial vasta e
pródiga em recursos naturais foi um dos pontos fortes nesta positivação do
nacional.
Thèse (Doctorat en Géographie, Aménegment et Urbanisme) - Université de Paris III, Institut des
Hautes Études de l’ Amérique Latine, Paris, 2000.
25
evidentemente, origem na cartografia européia, mas são construídas em um
contexto específico, no qual a tradição ocidental é confrontada com uma nova
paisagem, um outro contexto social, diferentes relações de poder e padrões
culturais.
26
O programa metodológico proposto atualmente pelos novos historiadores
que se voltam para os mapas como testemunhos históricos pode ser resumido na
expressão levar os mapas a sério. A nosso ver, significa ir e voltar na idéia de
transparência e opacidade do documento cartográfico, sua condição de espelho e
texto, entender essas duas dimensões de sua leitura: é possível ler através do
mapa desde que se conheça e se considere as condições de sua produção; os dados,
a realidade que estaria além do mapa, podem ser exploradas desde que nos
limites claros do processo de representação que é o mapa e dos limites materiais e
cognitivos da sua fabricação. Se a ambivalência da imagem cartográfica é a razão
de seu fascínio e popularidade, a decifração dessa condição deverá ser o desafio
hermenêutico do historiador.
27
Cosgrove21, distorção histórica que sempre privilegiou os mapas trabalhados
artisticamente ou de importância estratégica, enquanto os mapas de uso
cotidiano, a everyday cartography, foram sistematicamente descartados. A
preservação fortemente seletiva foi um fator determinante na composição de um
acervo fragmentado, que tendeu a subestimar as qualidades abertas, parciais e
contingenciais do mapa enquanto objeto em favor daquelas fechadas, assertivas e
estetizantes.22
Seja pela clivagem entre imagem e texto, seja pela acelerada obsolescência
ou pela seletividade monumentalizante, os acervos cartográficos hoje constituídos
nos mais diversos países não dão conta das exigências documentais de uma nova
historiografia.
28
Um dos desafios da pesquisa aqui apresentada foi, portanto, buscar a
restituição, a ligação do mapa com a descrição verbal que está sempre na sua
origem documental, (seja ela testemunhal, administrativa, judiciária, científica
ou discursivo-comemorativa). Nosso propósito foi reunir intelectualmente imagem
e texto para recompor o contexto histórico de sua produção, reconstruindo a série
documentária da qual o mapa faz efetivamente parte e na qual adquire valor
histórico, performativo, como vetor transformador e não apenas atestador de uma
ordem social. Reconstruir uma relação orgânica que estava na origem da
produção do documento cartográfico, produzida na escala do problema que lhe
deu origem, com o mesmo estatuto de outros documentos e de outras práticas.
23
Além dos relatórios, a documentação do IGA reúne fragmentos de correspondência, documentos contábeis,
fotos, croquis de trabalhos de campo e alguns mapas.
29
versões textuais e imagéticas.
Nesse sentido, a série dos relatórios técnicos veio a ser complementada por
tipologias documentais semelhantes preservadas no Arquivo Público Mineiro: os
relatórios das Secretarias de Agricultura e do Interior, que descreviam
sinteticamente as atividades da secretaria e dos órgãos subalternos. Desses
documentos oficiais foi preservada uma série significativa, o que permite um
acompanhamento cronológico das continuidades e rupturas das políticas
implementadas e dos respectivos discursos do governo ao longo do período.
30
exigências técnicas e científicas e os interesses de estado – políticos, econômicos,
estratégicos – que propiciaram a sua implementação. No caso específico dos
conjuntos cartográficos que são objeto da pesquisa, o caráter estatal,
governamental das iniciativas deve ser ressaltado, daí a necessidade do
levantamento sistemático da legislação pela qual eram regidas.
31
missões cartográficas, os problemas de limites entre os estados ensejaram a
produção de diversos documentos técnicos, acordos políticos, livros e artigos, que
tem sido objeto de consulta da pesquisa dada a instrumentalização política do
documento cartográfico. A bibliografia e os documentos oficiais sobre os limites
dos estados mostram que nesta arena de conflitos exacerbavam-se as funções
comunicativas dos mapas, funções sobretudo retóricas mas travestidas em provas
jurídicas, como no recurso às tradições cartográficas para fazer valer uma versão
do processo histórico de produção das fronteiras.
32
primárias os livros, periódicos ou boletins institucionais de divulgação ou
científicos, publicados no período e que tratassem dos temas correlatos ao objeto
de estudo. Frente às dificuldades de se promover um levantamento sistemático,
sob o risco de se ampliar enormemente o espectro das fontes e inviabilizar a
pesquisa, foram priorizadas as publicações geradas pelas comissões (CGG,
Comissão de Limites e Comissão do Centenário) e seus respectivos membros, seus
artigos publicados na imprensa e as publicações e periódicos relativos aos temas
produzidos em Minas Gerais. É importante salientar que durante a pesquisa foi
possível constatar a existência de um número maior de canais de divulgação e
intercâmbio entre os profissionais e cientistas do que se supunha
preliminarmente, como anais e revistas de escolas técnicas, boletins das
instituições científicas, revistas de associações e entidades, periódicos
estrangeiros, entre outros.
33
técnicas de reprodução. Privilegiando sempre o valor documental da imagem,
optamos por reproduzir, poderíamos dizer citar, mesmo aquelas que não tinham
boa legibilidade ou qualidade estética. Algumas informações importantes, como a
escala ou o tamanho de alguns mapas, não puderam ser obtidas, por não
constarem nos originais ou nas reproduções a que tivemos acesso.
Por outro lado, sabemos que a maior parte das imagens aqui reproduzidas
nunca foram pesquisadas e que pouquíssimos pesquisadores já se debruçaram
sobre elas. Alguns mapas de grandes formatos e fabricados em folhas
desdobráveis, como o mapa de Chrockatt de Sá, nunca haviam sido reproduzidos
em sua integridade, como se apresenta neste texto. Sabermos que essas ricas
imagens estão sendo agora oferecidas ao olhar meticuloso do historiador e ao
crivo semiológico dos pesquisadores de imagens, e que poderão gerar outros
estudos que se apropriem do potencial documental destes registros visuais, já
sugere que o esforço terá valido a pena.
34
Ouro Preto e particularmente pela atuação de seu diretor, Henri Gorceix,
capacitando as elites técnicas locais a se constituírem e a postularem o papel de
atores principais na elaboração do projeto cartográfico mineiro em bases
científicas.
35
terreno e os recuos políticos e financeiros que levaram ao abandono do programa
em 1898. A implementação do programa é inserida no contexto mais amplo das
mudanças ocorridas na história da cartografia entre o final do século XIX e inícios
do século XX, fase de abandono das técnicas pictóricas, substituídas pela
mensuração por instrumentos e pela representação matemática do espaço.
36
das operações de mapeamento e da produção textual e cartográfica da comissão
geográfica, a partir das descrições verbais e dos documentos visuais produzidos
pela mesma. Buscou-se desvendar os procedimentos técnicos e as condições
materiais de fabricação dos mapas, no cotidiano dos trabalhos de campo e de
gabinete, desde os processos de triangulação e levantamento topográfico, ao
inventário seletivo dos elementos cartografados e as escolhas gráficas do desenho
das cartas. São explorados os aspectos do trabalho dos técnicos da comissão, tanto
nas rotinas de campo e de gabinete, como na produção intelectual, disseminadas
nos relatórios técnicos, nos artigos de imprensa e nas publicações científicas. As
dimensões discursivas dessa produção e as relações que se estabelecem entre
texto e imagem são exploradas. Dos testemunhos dos técnicos sobre suas práticas
de campo emergiram algumas observações sobre as formas de interação e
condições de inteligibilidade entre as populações locais e o ato oficial de
mapeamento.
37
representação do estado e dos municípios. À luz dessas considerações alguns
mapas são analisados.
38
2 GÊNESE E LINHAGENS DAS REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS EM
MINAS GERAIS NO SÉCULO XIX
1OFÍCIO de João Chrockatt de Sá Pereira e Castro para o Diretor Geral de Obras Públicas Dr.
José Teixeira de Castro Gouvêa. 27 de janeiro de 1886. APM. Fundo Obras Públicas.
Documentação não encadernada. Série Documentação Recebida.
39
gabinete dominaria praticamente toda a produção cartográfica da província
mineira no período do Império.
40
O trabalho de Silva Pinto pode ser entendido como o primeiro de uma série
de produtos cartográficos que, ao longo do século XIX, resultariam do esforço
permanente do poder público para construir a sua carta geral ou corográfica, ou
seja, uma representação geral da província, em uma escala mediana, propícia a
um só tempo à visualização integral do seu corpo físico, com o delineamento de
seus limites, e à identificação de seus principais componentes, no caso, as sedes
urbanas, as redes hidrográficas e os marcos orográficos. O mapa de Silva Pinto5
iniciou uma linhagem de mapas cujo método característico de produção era
recobrir uma base pré-existente (no caso, o mapa de Eschwege) com novos dados,
coligidos de diferentes formas (relatos de viagens, documentos antigos,
informações de campo) e cujo fundamento era sempre a posição estratégica do
gabinete do cartógrafo oficial, que funcionava como uma força centrípeta a
aglutinar informações.
Instrumento administrativo inúmeras vezes reclamado pelas autoridades
provinciais por todo o período do Império, e mesmo no período republicano, por
diversas vezes os aspectos simbólicos inerentes à representações cartográficas -
como a afirmação de uma identidade físico-espacial ou a demonstração de um
domínio sobre o território e a população frente a outras unidades concorrentes -
também motivavam políticos e técnicos envolvidos na sua elaboração. É o que
podemos depreender do teor discursivo com que Silva Pinto concluiu o ofício em
que encaminhava o seu plano:
Reconheço que este trabalho contem inúmeros defeitos, mas parece assim
mesmo poderá ombrear com idênticos relativos a outras províncias, e
mostrará que na central de Minas Gerais também há verdadeiros amantes
da Estatística e da Geografia.6
1821, quando do retorno de Eschwege à Alemanha, permaneceu inédito mas foi em parte
publicado em outras obras.
4 COSTA, Antônio Gilberto. Cartografia da conquista do território das Minas. Belo Horizonte:
aumentado com a costa de leste, limites das dioceses, comarcas eclesiásticas, termos, julgados,
freguesias, e distritos, e comparativo da atual com uma nova organização civil, por Luiz Maria da
Silva Pinto em 1826. [Ouro Preto]: s.n., 1826.
6 Correspondência de Luiz Maria da Silva Pinto para o Conselho do Governo em 10 de março de
41
Em 1836, a Assembléia Legislativa Provincial esboçou o que poderíamos
chamar de a primeira política pública voltada diretamente para a questão
territorial e a representação cartográfica de Minas Gerais.7 Uma lei provincial8
determinou que fosse levantada
formulação de uma política territorial da administração provincial três homens cujas carreiras
profissionais seriam marcadas por importantes iniciativas no campo público e privado. Henrique
Guilherme Fernando Halfeld, engenheiro de minas alemão, tinha trabalhado junto às diversas
mineradoras estrangeiras em Minas e, a partir de sua contratação em 1836, daria início a uma
longa trajetória de serviços prestados aos governos provincial e imperial, como ainda veremos.
Herculano Ferreira Pena foi secretário de governo e posteriormente ocupou a Presidência da
Província de Minas e de outras regiões do Império, além de seguir a carreira parlamentar,
chegando a senador. Luiz Maria da Silva Pinto teve formação militar, foi jornalista e
parlamentar, mas destacou-se pela sua longa e diversificada atuação na administração provincial,
em especial nos campos da estatística e da cartografia.
CUNHA MATOS, Raimundo José da. Corografia histórica da província de Minas Gerais; 1837.
Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1979. 2v.
MORAIS, Geraldo Dutra de. Luiz Maria da Silva Pinto, escorço biográfico. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, n.190, p.73-76, jan./mar. 1946.
11 MINAS GERAIS, 1844, p.47.
42
Frederico Wagner12, cujas atividades, tanto de gabinete como de campo, incluíam
desenhos e cópias de plantas, medições e exames de localidades e confrontações
de mapas, essa última a tarefa então mais usual para a produção de um mapa
novo.
Em documento com instruções para o trabalho de Wagner, Halfeld
explicitou a metodologia a ser adotada na produção do mapa, já distanciada das
pretendidas observações astronômicas e operações geodésicas previstas na lei: a
partir de um inventário de todos os mapas então existentes, Wagner deveria
desenhar, separadamente e em escala grande, cartas dos municípios, sobre as
quais iria acrescentando as medições e exames que os engenheiros fizerem na
ocasião das viagens em comissões do governo, ou por informação, ou por qualquer
auxílio à mão [grifo nosso]13. Essas cartas de recortes locais deveriam servir, se
possível, para a correção da carta geográfica então existente, mas sempre em
uma nova cópia, o que resultaria na confecção de uma nova carta.
12 Segundo Martins, Frederico Wagner nasceu na Boêmia e teria vindo para Minas Gerais após a
independência, onde desenvolveu pesquisas minerais. Apesar de ser mencionado em diversas
ocasiões como engenheiro, geógrafo, cartógrafo, naturalista e mineralogista, tudo indica que não
tinha formação superior. [...] Nos documentos dos anos 40 e 50 Wagner nunca aparece relacionado
entre os engenheiros da província. É sempre mencionado à parte, como desenhador...
MARTINS, Roberto Borges. Tschudi, Halfeld, Wagner e a geografia de Minas Gerais no século
XIX. In: HALFELD, H.G.F., TSCHUDI, J. J. von. A província brasileira de Minas Gerais. Belo
Horizonte: Fundação João Pinheiro; Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998. p.33-4.
13MANUSCRITO de F. Halfeld. APM. Fundo Obras Públicas. Documentação não encadernada.
Uruguai, Paulino José Soares de Sousa, quanto à constante instabilidade e eterno recomeço das
atividades administrativas no Império. No seu livro Ensaio sobre o Direito Administrativo, citado
por: MATTOS, Ilmar R. de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec; Brasília: INL, 1987. p. 208.
43
imperial e pelo olhar estrangeiro. Embora o ritmo e o escopo desse
esquadrinhamento do território fossem definidos pelas marchas e contramarchas
da vida política e dos interesses econômicos, o processo seguia o curso mais amplo
da formação de um estado imperial supervisor e burocrático15 que, a partir da
Conciliação e especialmente do Segundo Reinado, se tornaria o projeto
hegemônico das elites brasileiras no século XIX.
Nesse quadro inserem-se outras iniciativas e outros discursos
governamentais, como o relatório dirigido à Assembléia Provincial pelo tenente-
general Francisco José de Souza Soares de Andréa, primeiro presidente da
província mineira após a chamada revolução liberal de 1842, no qual se pregava a
necessidade de um reconhecimento cartográfico sistemático do território, medida
pragmática em estreita relação com as estratégias de apaziguamento e controle
da população.16 Retomava os termos da lei de 1837, que mandou construir uma
carta geral, mas que não foi além
[...] de dar grandes dimensões às cartas conhecidas até agora, sem que
tenhamos a certeza de que as que giram impressas, ou desenhadas,
tenham sido formadas debaixo de métodos convenientes e seguros.
Não me consta que haja uma coleção de observações astronômicas, que
segurem a posição de certos lugares para em relação a eles se corrigirem
pela estimativa outros. Não sei que haja plantas topográficas de terrenos
parciais, e em tão grande número que possam dar elementos para a Carta
Geral da Província; e não vejo que as hoje existentes sejam outra coisa, que
a tradição sucessiva de diversas cartas de curiosos que, pouco e pouco vão
aumentando de nomes postos à vontade, e por informações, e assim a
maior parte dos trabalhos com que se conta, e de cartas levantadas no
Gabinete, e cujos autores nunca viram esses terrenos. [...]
Não devemos desprezar o trabalho, que está feito, mas devemos cuidar em
ter a Carta Geral da Província por modos mais diretos. 17
15 DUARTE, Regina H. Noites circenses; espetáculos de circo e teatro em Minas Gerais no século
XIX. Campinas: UNICAMP, 1995. p.45.
16Português, Andréa veio para o Brasil com a Corte em 1808. Militar com formação em navegação
44
Os modos mais diretos preconizados por Andréa eram os trabalhos de
campo, a coleta de observações astronômicas nos lugares mais notáveis da
província, os quais, no seu julgamento, compreendiam, além dos núcleos urbanos,
todos os pontos de cruzamento entre rios, estradas e cumeadas de serras.
Latitude e longitude aferidas no terreno, a reunião desses dados deveria resultar
na tessitura da grade de coordenadas e da amarração geométrica do território,
um trabalho que deveria ser feito pelo Arquivo Militar, a ser criado como o centro
de um sistema de administração provincial.
Embora o presidente Andréa julgasse muito hábil o estrangeiro Wagner,
responsável pelos desenhos de todos os trabalhos relativos às obras da província,
especialmente estradas, ele reiterou a necessidade da criação de uma verdadeira
comissão de geografia e de um arquivo geográfico e militar, cuja condução deveria
ficar a cargo de um oficial hábil do imperial corpo de engenheiros. Andréa
desdobrou sua proposta para apreender as muitas faces do trabalho cartográfico.
Detentor de um domínio técnico do assunto, devido à sua formação militar,
Andréa desceu a detalhes sobre as escolhas práticas para a produção e o uso dos
mapas no cotidiano dos serviços de governo, além de solicitar recursos para a
aquisição de instrumentos e sugerir a organização de uma pequena oficina para
impressão das imagens.
Até a década de 1850, o desenho da carta corográfica de Minas continuou
arrastado, e na sua feitura dividiam-se Frederico Wagner e o alferes João José da
Silva Teodoro. Coligindo e transportando dados de plantas municipais, estradas e
rios para o grande mapa, Wagner e Teodoro eram também encarregados de
outras missões, de que o governo precisa.18 Em 1853, eram aguardadas as
informações provenientes do levantamento de Fernando Halfeld no rio São
Francisco para enriquecer a carta topográfica da província, para que seja das
mais exatas.19 Até ali a carta continuava sendo construída com as informações
fragmentadas recolhidas no cotidiano dos engenheiros e com eventuais
18 MINAS GERAIS. Presidente (Luiz Antônio Barbosa 1852-1853). Relatório que à Assembléia
Provincial da província de Minas Gerais apresentou na sessão ordinária de 1852, o doutor Luiz
Antonio Barboza, presidente da mesma província. Ouro Preto: Bom Senso, 1852. p.23.
19 MINAS GERAIS. Presidente (Luiz Antônio Barbosa 1852-1853). Relatório que à Assembléia
Provincial da província de Minas Gerais apresentou na sessão ordinária de 1853 o doutor Luiz
Antonio Barboza, presidente da mesma província. Ouro Preto: Bom Senso, 1853. p.13.
45
contribuições mais substanciais, resultantes de missões mais importantes, como o
levantamento da comarca do Jequitinhonha realizado por Teodoro. Apesar das
constantes demandas das autoridades sobre a urgente necessidade do mapa geral
da província, a sua finalização parecia depender, acima de tudo, de uma decisão
política, já que o método da compilação incessante de dados, continuamente
alimentada, ainda que de forma dispersa e fragmentada, parecia não ter fim.
A produção de uma carta geral da província, até esse momento, parecia
destinar-se sobretudo à construção de uma representação gráfica das hierarquias
administrativas que se superpunham no território: limites intermunicipais,
eclesiásticos, judiciários e militares. Daí a pouca ênfase no quadro topográfico ou
nas amarrações geodésicas, em contraste com o interesse na compilação da
toponímia, na visibilidade da rede urbana e de suas conexões viárias e
hidroviárias. Mas, a partir de meados do século XIX, é possível perceber uma
inflexão nos discursos oficiais, expressos nos relatórios dos presidentes e nas
práticas administrativas, no sentido do incremento do interesse e empenho
oficiais na busca de soluções para as questões territoriais e geopolíticas da
província. Questões que envolviam a atuação do estado, como colonização,
incentivo à navegação e abertura de estradas, ganham maior ênfase e temas
como demarcação de limites, ameaças de desmembramento da província e mesmo
a mudança da capital surgem nos relatórios oficiais.
Era o momento de construção do estado-nação, em que se forjava a idéia de
um interesse público, materializado e promovido por intermédio do
aparelhamento e da modernização da administração pública. Ás administrações
provinciais, pouco mais do que agências a serviço do poder central, competia
reproduzir na escala regional as medidas do governo imperial. A produção de
uma carta da província forneceria uma base de representação da integridade
física e da visibilidade simbólica do território ao nível provincial, como parte do
projeto político mais amplo de integração e afirmação nacional levado a cabo no
período.
Nesse contexto amadureceu a vontade política de dar materialidade à
representação cartográfica da província, tantas vezes refeita e adiada.
Finalmente, em 1855, na administração do presidente Francisco Diogo Pereira de
46
Vasconcelos, o primeiro mapa geral da província mineira seria concluído, após
quase vinte anos de trabalho, e em cuja tarefa parece ter se consumido o
desenhador Frederico Wagner, já em idade avançada quando do seu término.
Duas versões desse mesmo mapa, com algumas diferenças, foram publicadas nos
anos seguintes: uma em Gotha, na Alemanha, em 1862, assinada por Fernando
Halfeld e Frederico Wagner20; outra em 1863, litografada no Arquivo Militar no
Rio de Janeiro, assinada integralmente por Frederico Wagner21. Sendo o mapa
produto de sucessivas compilações, ao qual foram gradativamente incorporadas
as informações resultantes dos levantamentos hidrográficos, municipais,
limítrofes e outros, a questão da sua autoria é controversa e deve ser entendida
no contexto da tradição cartográfica do século XIX e das práticas locais. A grande
maioria dos mapas eram então construções cumulativas e coletivas, como
observou Martins22, para quem a carta deve ser creditada a uma co-autoria entre
Wagner e Halfeld.
A escala de 1:2.000.000, definida na carta gravada em Gotha, era
apropriada para a produção de uma carta de tamanho médio, manipulável e de
visualização integral do corpo físico da província, sem detalhamentos.23
Comparando-se os dois mapas impressos, é evidente o tratamento gráfico
superior da litografia alemã24, cuja maior legibilidade foi proporcionada pela
padronização dos tipos e pela adoção das hachuras para delineamento da
20 KARTE der brasilian provinz Minas Gerais, aufgenommen auf Befehl der Provinzialregierung
in den Jahren 1836-1855, mit Benutzung alterer Karten u. neuerer Vermessungen u.
Beobachtungen, unter specieller Leitung des civil-ingenieurs H. G. F. Halfeld entworfen u.
gezeichnet von Friedrich Wagner. Gotha: Justus Perthes, Lit. Anst. v. C. Hellfarth, 1862. Escala
1:2.000.000. [Carta da província brasileira de Minas Gerais, levantada por ordem do governo
provincial nos anos 1836-1855, utilizando mapas anteriores e levantamentos e observações
recentes, sob a supervisão especial do engenheiro civil H. G. Halfeld, organizado e desenhado por
F. Wagner].
21 CARTA corográfica da província de Minas Gerais, coordenada e desenhada em vista dos mapas
corográficos antigos e das observações mais recentes de vários engenheiros, por ordem do Ilmo. e
Exmo. Sr. Doutor Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, presidente desta província, por
Frederico Wagner. Ouro Preto, 1855. Rio de Janeiro: Arquivo Militar, 1863. Escala gráfica em
léguas. 67,6x76,5cm.
22 MARTINS, 1998, p.37.
23 A carta litografada no Rio de Janeiro só contém a escala gráfica em léguas. Como não foi
possível o acesso ao original, o que possibilitaria a precisa conversão para a escala numérica,
presume-se que ambas tivessem a mesma escala.
24 Gotha era um grande centro tipográfico no século XIX, responsável pela publicação de
importantes obras como o Atlas de Stieler, símbolo de todo o avanço alemão em matéria
cartográfica. PALSKY, G. Um monde fini, un monde couvert. In: POUTRIN, I. (Dir.) Le XIXe
siècle; science, politique et tradition. Paris: Berger-Levrault, 1995. p.140.
47
orografia. Em termos do conteúdo, os elementos cartografados são os mesmos nas
duas cartas: rios, serras, caminhos, a hierarquia da rede urbana entrelaçada à
eclesiástica, aldeias indígenas, quartéis, registros. A esse inventário clássico dos
componentes corográficos somou-se a identificação de um único elemento
econômico, as minas de ouro em trabalho.
48
representação avança sobre amplas regiões limítrofes, especialmente na direção
das cidades costeiras de Campos (Rio de Janeiro) e Itapemirim (Espírito Santo),
como a reivindicar a sempre almejada posse de territórios que garantissem a
saída da província para o mar25. Nesse aspecto, a maior diferenciação entre as
duas cartas se dá nos contornos ocidentais da província, uma vez que a carta
impressa em Gotha, presumivelmente para manter um padrão quadrangular,
apresentou a região do triângulo mineiro como um encarte. Essa solução,
curiosamente, remetia às antigas representações de Minas dos mapas coloniais,
sem o seu característico “nariz” e, nesse sentido, não conferia ao mapa o mesmo
poder de fixação da imagem de Minas da carta gravada no Arquivo Militar, a
despeito do acabamento gráfico mais rudimentar dessa última.
Uma vez pronta, a carta de Wagner de imediato passou a ser criticada por
suas incorreções e deficiências, como a escala reduzida, o que certamente
ocasionou o atraso em sua publicação e acendeu o desejo das autoridades
provinciais de refazer o trabalho. Mas a elaboração de uma nova carta da
província, ou seja, a retomada do processo de sua construção, pressupunha a
viabilização de crescentes exigências técnicas que o campo da engenharia e em
especial da cartografia impunham em toda parte. Pessoal qualificado e
instrumentos precisos eram cada vez mais demandados e as autoridades
debatiam sobre as vantagens e desvantagens desses investimentos num quadro
orçamentário de permanente penúria.
25
Infelizmente, na imagem aqui reproduzida não é possível distinguir essa linha.
49
Figura 2: Carta de Halfeld e Wagner, de 1855. Impresso segundo padrões europeus, o
mapa privilegiou o enquadramento em detrimento da imagem integral da província.
Fonte: MARTINS, 1998.
50
Conquanto seja imperfeita e delineada em pequena escala a carta que
possuímos, conviria mesmo assim mandá-la litografar para que,
vulgarizada, suprisse do modo possível a necessidade que geralmente se
sente de trabalhos desta ordem para solução de questões administrativas e
outras que a todo momento se apresentam.26
26 MINAS GERAIS. Presidente (Carlos Carneiro de Campos 1858-1859). Relatório que ao Ilmo. e
Exmo. Sr. Dr. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, 1º vice-presidente da província, entregou o Ilmo. e
Exmo. Sr. Dr. Conselheiro Carlos Carneiro de Campos em o dia 6 de abril de 1859. Ouro Preto:
Provincial, 1859. p. 25-6.
27 O estudo mais aprofundado da recepção dos mapas foge aos objetivos do presente trabalho,
publicado na Alemanha resultou de uma iniciativa pessoal de Fernando Halfeld, que teria
enviado o manuscrito para a editora Justus Perthes em 1860. Segundo Martins, essa informação
foi fornecida por J. J. Tschudi, o naturalista e diplomata suíço, autor do tratado A província
brasileira de Minas Gerais, publicado juntamente com o mapa de Halfeld e Wagner. MARTINS,
1998.
51
instituição de ensino do país destinada a formar bacharéis em ciências
matemáticas e físicas e engenheiros civis e militares.29
Entre 1853 e 1854, novas contratações foram feitas, ampliando-se o quadro
de engenheiros provinciais, composto majoritariamente de estrangeiros30. Em
torno de 1857, a equipe de engenheiros e a questão da mão-de-obra qualificada
para os serviços de obras públicas ganhou maior atenção, com a criação da
Repartição de Obras Públicas, que, no seu breve período de existência (foi extinta
dois anos depois) chegou a ter oito técnicos, entre engenheiros e desenhadores,
brasileiros e estrangeiros. Seguindo os relatos oficiais, muitas dificuldades
cercavam esse momento de formulação de políticas territoriais e de formação de
uma mão-de-obra técnica qualificada, expressas nas hesitações e incertezas com a
criação e extinção de órgãos e as sucessivas contratações e exonerações dos
engenheiros. Esses profissionais ainda não tinham alcançado o respeito técnico e
o prestígio social que lhes seriam conferidos nas últimas décadas do século, e
ainda era preciso defender e provar a sua necessidade nos quadros do governo,
como mostra a argumentação do Inspetor Geral de Obras Públicas, José
Rodrigues Duarte, ao defender a frágil estrutura de sua repartição:
29 O regime misto de formação civil e militar dessa escola seria alterado em 1858, com a criação da
Escola Central, início do processo de separação das carreiras civil e militar, que culminaria com a
criação da Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1873) e da Escola de Minas de Ouro Preto, em
1876. DIAS, 1994.
30 O quadro anexo ao relatório do presidente em 1853 mostra que a província contava com apenas
quatro engenheiros, sendo três de origem estrangeira (dois alemães e um inglês) e um brasileiro,
militar (Silva Teodoro). MINAS GERAIS, 1853.
Em 1854 a equipe era composta por um engenheiro inglês, dois franceses, um alemão e um
brasileiro, Francisco Eduardo de Paula. Os antigos funcionários Frederico Wagner e Silva
Teodoro não aparecem mais nos quadros dos engenheiros mas como empregados nos trabalhos
geográficos e Wagner é definido como desenhador,esboço de uma hierarquização e diferenciação
dos profissionais.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos 1853-1855). Relatório que
ao ilustríssimo e excelentíssimo Sr. Doutor Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos, muito digno
presidente desta província, apresentou, ao passar-lhe a administração, o 1º. vice-presidente
desembargador José Lopes da Silva Vianna. Ouro Preto: Bom Senso, 1854. p.14.
52
recuando diante de despesas inúteis ou infrutíferas, ou decretando-as,
porém de modo acertado, econômico e produtivo.31
31 MINAS GERAIS. Presidente (Carlos Carneiro de Campos 1858-1859). Relatório sobre o estado
das Obras Públicas na província de Minas Gerais que ao Ilmo. e Exmo. Sr. Conselheiro Carlos
Carneiro de Campos apresentou o Inspetor Geral das mesmas obras José Rodrigues Duarte em 10
de março de 1859. Anexo. In:. MINAS GERAIS, 1859. p.4.
Sobre o prestígio alcançado pela profissão de engenheiro nos quadros das profissões do Império,
ver: COELHO, Edmundo Campos. As profissões imperiais: medicina, engenharia e advocacia no
Rio de Janeiro- 1822-190. Rio de Janeiro: Record, 1999.
32 Pedro de Alcântara Bellegarde já havia colaborado, em 1842, na confecção de uma primeira
carta da província do Rio de Janeiro, a cargo do coronel Conrado Jacob de Niemeyer, seu tio.
Exemplos de uma elite bem sucedida na carreira de engenheiros militares, ambos foram membros
do Corpo Imperial de engenheiros do Império e sócios fundadores do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro. No curso de suas carreiras, produziram diversos mapas importantes e
ocuparam cargos de projeção.
33 MINAS GERAIS, 1859, p.4.
34 Muito pouco se sabe sobre a vida e as atividades de Gerber em Minas ou no Brasil. Os
documentos pesquisados iluminam apenas os dez anos em que esse engenheiro alemão
53
Fernando Halfeld. Oficialmente, Gerber foi contratado para atuar em comissões
especiais, como a inspeção e os estudos morais35 para construções de estradas,
mas é certo que, desde o início, estava nos planos das autoridades o seu
aproveitamento para a produção da nova carta geral da província e para a
elaboração de um estudo corográfico da região mineira, tarefas que só foram
formalizadas por contrato em dezembro de 1861. Nesse sentido, uma das
primeiras iniciativas de Gerber foi colaborar com o inspetor geral na sugestão dos
novos instrumentos de medição, observação e desenho, que deveriam ser
adquiridos pelo governo provincial e que se destinavam, em sua maioria, a
garantir o almejado estatuto de cientificidade do mapeamento.36
A representação física da província deveria responder a uma nova
conjuntura técnica e geopolítica que se desenhava nesses anos, no âmbito
regional e nacional. Em consonância com o quadro nacional, a administração
provincial traduzia, na escala regional, a mesma busca por soluções para o
por Gerber nessas comissões - um julgamento dos projetos fundado na sua experiência, sem o
recurso a detalhamentos técnicos – e demonstra que o engenheiro era considerado uma
autoridade no seu domínio técnico.
36 Entre 1857 e 1858 foram encomendados novos instrumentos destinados à carta corográfica e
54
enfrentamento dos novos e velhos problemas ligados à gestão do território e à
organização espacial, como a inexistência de uma rede de transportes e
comunicações, o acirramento de questões de limites com outras províncias, o
contínuo desmembramento das municipalidades, as exigências de medição de
terras como prevista na lei de 1850. A chamada Lei de Terras previa o registro de
todas as terras efetivamente ocupadas por quaisquer meios até aquela data e
impedia o acesso às terras públicas livres – as terras devolutas – a não ser por
meio da sua compra ou em projetos de colonização.37 Segundo estudiosos do
período, com a lei de terras, cabia ao Estado estabelecer a política de venda das
terras devolutas e o ordenamento da propriedade territorial. Na prática pouco
mais foi feito do que cercear o acesso às terras à população livre e aos imigrantes,
criando uma reserva de mão-de-obra disponível para a lavoura do café.38
Evidentemente, a carta geral da província, como todos os mapas gerais
desenhados em pequenas escalas, não seria instrumento de tradução ou de
observação visual direta de nenhum desses problemas. Ela responderia
fundamentalmente à necessidade do poder público de dar visibilidade e
transparência ao território administrado, de tornar identificáveis e conexos, por
intermédio de uma imagem síntese, os espaços desarticulados, impenetráveis,
litigiosos. Mas a província era pouco mais do que uma circunscrição
administrativa do Império, dado o centralismo político de regime monárquico
brasileiro, e a integridade e articulação pretendidas no nível regional respondiam
sobretudo ao mesmo processo em curso na escala do país.
A acomodação política e social do Segundo Reinado dava fôlego ao governo
imperial para buscar efetivar, tanto no sentido simbólico como pragmático, a
integridade territorial, cuja unidade e indivisibilidade constituíam, nas palavras
37 Em 1858 o governo provincial criou a Repartição Especial das Terras Públicas, destinada à
execução do registro geral de terras. A Repartição deveria proceder à medição e demarcação das
terras com o conseqüente julgamento e legitimação de posse e a discriminação das terras públicas
e privadas. Entretanto, entre muitas dificuldades, a Repartição, que durou apenas dois anos,
enfrentou a carência de agrimensores, o que comprometia todo o andamento dos trabalhos.
Segundo as autoridades, a premente questão da regularização das terras não podia ser
empreendida pois não havia na província pessoas tecnicamente qualificadas para o exercício da
atividade de agrimensura, o que dá uma dimensão das imensas dificuldades que cercavam
qualquer iniciativa relativa ao cadastro e à organização territorial.
38
MATTOS, 1897; DUARTE, 1995.
55
de Mattos39, o corpo político do Império. Em um quadro sempre tensionado pela
fratura social imposta pela escravidão, o Estado imperial, as elites políticas e as
oligarquias regionais articularam-se em torno da construção de um projeto
nacional de feição conservadora, através de iniciativas como a criação do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (1838), que tinha como um dos seus
fundamentos, ao lado da formulação de uma tradição historiográfica
comprometida com a gênese da nação brasileira, a ênfase no conhecimento e no
reconhecimento do território nacional como plataforma fundamental na
construção de um projeto de nacionalidade.40
Como mostrou Botelho, parte da historiografia brasileira,
(Doutorado em História Social) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999. p.158.
56
ações de intervenção no espaço; de outro, como formas expressivas de construção
simbólica do corpo da pátria, através das imagens sínteses que, dada a
identificação entre Estado e território, alcançavam a força emblemática de outros
símbolos como o hino e a bandeira nacionais. Porém, mais do que acentuar a
oposição entre funções simbólicas e pragmáticas, interessa-nos aqui destacar a
sua articulação dentro do processo histórico, articulação sobre a qual se funda a
eficácia das imagens cartográficas.
Se, como apontou Magnoli, [...] foi a partir de meados do século XIX que a
cartografia brasileira produziu uma série de representações, bastantes precisas,
do território nacional42, foi também o momento de surgimento das cartas gerais e
dos primeiros atlas nacionais, essas narrativas visuais que agem como poderosos
recursos pedagógicos de comunicação e divulgação de uma dada imagem do
país43. Como bem frisou De Biaggi,
Mendes em 1868. BORGES, Maria Eliza Linhares. Viagem através do Brasil: o Atlas do Império
do Brazil. [s.n]: 2004.
44 DE BIAGGI, Enali Maria. La cartographie et les representations du territoire au Brésil. 2000.
Thèse (Doctorat en Géographie, Aménegment et Urbanisme) - Université de Paris III, Institut des
Hautes Études de l’ Amérique Latine, Paris, 2000. p.127.
57
fronteiras do Império45. Mas o governo imperial também investiu na produção
das cartas gerais, as chamadas cartas em pequena escala, que nos interessam
mais de perto. Nesse momento, a fabricação desses mapas, de uma maneira geral,
era muito semelhante ao que vinha ocorrendo na província mineira e
provavelmente era esse o processo comum a todo o país: a compilação das
sucessivas cartas anteriores, revistas à luz das contribuições das cartas locais,
das explorações geográficas mais recentes, das pontuais medições geodésicas e
astronômicas e das tímidas inovações tecnológicas.
Em 1846 foi publicada a Carta Corográfica do Império do Brasil, que vinha
coroar a carreira do coronel reformado Conrado Jacob de Niemeyer como
engenheiro militar e cartógrafo. Considerada pelo autor como um esboço que
deveria ser aperfeiçoado no futuro, a carta serviu como base para diversas
reconstruções cartográficas da segunda metade do século XIX. Tendo como
meridiano central o Rio de Janeiro, o conteúdo propriamente corográfico do mapa
resumia-se, segundo De Biaggi, a mostrar os principais rios do país rodeados por
cadeias de montanhas geometricamente dispostas46 e torna-se mais esquemático
à medida que se interioriza, deixando grandes brancos, em especial nos limites
ocidentais ao norte. Para reforço da sua função comunicativa, a imagem principal
conjugava-se a uma tabela com dados econômicos do Império e um encarte
destacando a capital federal. Segundo alguns autores, o maior feito da carta de
Niemeyer foi apresentar pela primeira vez os dados estimados da superfície do
país e das suas províncias.47
Um dos colaboradores na confecção da carta de Niemeyer, Pedro de
Alcântara Bellegarde, quando ministro da Agricultura em 1862, defendeu a
elaboração de uma nova carta geral, destinada à visualização e à articulação dos
programas de obras públicas em curso no ministério, como telégrafos, correios,
PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. As
ciências do Brasil. [Rio de Janeiro]: Melhoramentos, [195-].
58
navegação. Como no caso mineiro, repetiam-se na escala do governo geral os
argumentos em defesa da utilidade imediata de uma produção improvisada, de
um esboço geral48, ainda que imperfeito. Foi nesses termos que a Carta Geral do
Império começou a ser elaborada em 1864, e teve os seus trabalhos prolongados
por décadas, mas nunca chegou a ser finalizada.49 Era mais um trabalho de
colagem e síntese, nos moldes que vimos descrevendo até o momento, com
eventuais trabalhos de campo originados de outras iniciativas oficiais como
exploração de rios, delimitação de fronteiras ou, no caso do município do Rio de
Janeiro, de trabalhos de triangulação.
Em meados dos anos de 1870, o Ministério da Agricultura investia de
forma intensa mas desorganizada na produção cartográfica do país, patrocinando
quatro grandes iniciativas de mapeamento diferentes e, em muitos aspectos,
concorrentes: a continuidade da Carta Geral do Império, a produção de uma
Carta Itinerária destinada ao estudo e à representação das vias de comunicação,
a elaboração da Carta Geológica, voltada para o mapeamento científico dos
recursos minerais e das condições do solo, e a comissão astronômica, que deveria
determinar algumas posições geográficas importantes e medir o meridiano do
território nacional. Tal dispersão de esforços e recursos não permitiu a finalização
de nenhum dos projetos de mapeamento e, em poucos anos, todos os trabalhos
foram abandonados, devido a dificuldades orçamentárias e alteração na
composição política do governo.
Única exceção foi a Carta Geral, publicada em uma versão reduzida para
ser exibida na exposição do centenário da independência dos Estados Unidos, na
Filadélfia, em 1876.50 Ao descolar-se das necessidades pragmáticas e rotineiras
da administração e ganhar estatuto de monumento, a Carta Geral do Império
48 BRASIL. Ministério da Agricultura. Relatório que devia ser presente à Assembléia Geral
Legislativa na 3ª. sessão da 11ª. legislatura pelo ministro e secretário de Estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas Pedro de Alcântara Bellegarde. Rio de Janeiro: Tipografia
Perseverança, 1863. p.20.
49 O projeto original foi concebido pelos engenheiros Santos Werneck e Carlos Krauss em 1866.
Instituída como comissão, a carta geral teve diversos diretores e colaboradores até que os
trabalhos foram coordenados pelo marechal de campo Henrique de Beaurepaire-Rohan, em 1874.
Foi elaborada na escala de 1:742.440, em 42 folhas articuladas.
50 BRASIL. Comissão da Carta Geral do Império. Carta do Império do Brasil organizada pela
Comissão da Carta Geral sob a presidência do general Henrique de Beaurepaire Rohan com a
coadjuvação de Barão da Ponte Ribeiro. [Rio de Janeiro]: Inst. Heliográfico A. Henschel, 1875.
Escala 1:3.710.220.
59
garantiu investimentos que permitiram sua finalização, mesmo que em versão
reduzida. Para tanto, foi preciso que a Carta Geral fosse considerada como um
dos produtos dignos de serem apresentados nas sucessivas exposições
internacionais que o país passou a participar na segunda metade do século. Essas
participações contavam com o apoio entusiástico de d. Pedro II, como frisou De
Biaggi:
60
vastas solidões.53 Para viabilização em um futuro próximo de uma carta geral,
Beaurepaire-Rohan insistia nos métodos tradicionais de compilação de
documentos e nos reconhecimentos de campo apoiados nas observações
astronômicas, para as quais bastavam os instrumentos básicos de todo
engenheiro.54
Naquele mesmo ano de 1857, quando era reeditada a carta corográfica do
Império, Henrique Gerber dava início às suas atividades como engenheiro na
província mineira e à tarefa de compor seus dois trabalhos de síntese sobre Minas
Gerais: o mapa e o tratado descritivo. Como as condições financeiras e técnicas da
província haviam sido pouco alteradas, o projeto de produção de uma carta sobre
novas bases metodológicas foi abandonado em favor da correção da carta
existente, segundo os mesmos procedimentos até então empregados.
Para edificar a sua carta55 sobre um canevas o mais ajustado possível a
uma grade geodésica, mas impossibilitado de proceder à triangulação sobre o
terreno, Gerber recorreu ao arquivo de obras públicas da província (que contava
então com 215 mapas e plantas) e aos dados oriundos de diferentes trabalhos que
efetivamente determinaram coordenadas geográficas em diferentes pontos do
território brasileiro e mineiro, como os levantamentos da costa e a exploração de
rios. Esses dados, denominados de primeira ordem, permitiram o ajuste de uma
base preexistente, muito possivelmente a carta de Halfeld e Wagner. Tecida a
rede das quadrículas, foram sendo intercalados os elementos de segunda ordem,
quais sejam, as informações provenientes de fontes textuais e orais, além
daquelas colhidas pelo autor, como engenheiro da província, a respeito dos cursos
de água secundários, das posições das povoações e das serras, entre outros.
Bento da Cunha Figueiredo presidente da província, segundo os dados oficiais existentes e muitas
próprias observações por Henrique Gerber, engenheiro da mesma província. [Glogau: C. Fleming],
1862. Escala 1:1.500.000.
61
Figura 3: Carta da Província de Minas Gerais, de Henrique Gerber (1862)
Fonte: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1997.
63
acidentes de feição topográfica menos saliente, mas por vezes mais
interessantes. As cidades, vilas, sedes de distritos, e algumas povoações
mais importantes, assim como vários aldeamentos de índios, foram
marcados por suas distâncias respectivas em léguas, distâncias apreciadas
com aproximação bem grosseira. O sistema orográfico está apenas esboçado
pelas direções das serras principais e a indicação dos picos mais elevados, e
nem se compreende de outro modo não tendo sido feita uma triangulação
retangular. Entretanto quem conhece o interior de Minas, fica admirado de
aproximação relativa das indicações fornecidas pelo mapa, se atender para
com os elementos com que foram fixadas as posições relativas de seus
pontos: informações colhidas de todas as fontes, por vezes ministradas por
pessoas incompetentes.56 (grifos nossos).
56 MENEZES, Belarmino Martins de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no Estado de Minas: a carta
de Gerber. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n. 383, 30 mar. 1894. p.3.
57 MINAS GERAIS. Terceiro vice-presidente (Joaquim Camilo Teixeira da Mota 1862). Relatório
que a Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais apresentou no ato da abertura da sessão
ordinária de 1862 o coronel Joaquim Camilo Teixeira da Mota, terceiro vice-presidente da mesma
província. Ouro Preto: Provincial, 1862. p.33.
58 Região limítrofe entre a Alemanha e a Polônia.
59 COSTA, 2004, p.130.
64
Por outro lado, a destinação dos dois trabalhos às autoridades provinciais e
municipais comprovava o interesse oficial na disseminação de uma imagem-
síntese do conhecimento sobre a província. Particularmente interessante é
constatar que o governo provincial não resumiu sua encomenda ao engenheiro
Gerber à tão reclamada carta geral, mas patrocinou igualmente o seu estudo
geográfico. Como esse estudo não havia sido objeto de nenhuma demanda oficial
anterior – pelo menos não nas fontes oficiais que temos pesquisado, os relatórios
da presidência da província –, podemos supor que sua contratação deveu-se ao
interesse e empenho pessoal do próprio autor, o que revelaria uma significativa
margem de ação de um ator social, especialmente no campo ainda embrionário da
pesquisa científica.
O pequeno livro de Gerber encobria sob o discreto título de Noções
geográficas e administrativas da província de Minas Gerais60, uma apurada
síntese do conhecimento geográfico sobre Minas Gerais em meados do século XIX.
Alternando uma narrativa descritiva com trechos mais analíticos e escorços
históricos, o texto contemplava, ainda que de forma geral, um largo espectro de
temas relativos à vida e à paisagem na província, como a sua geografia (extensão,
limites, orografia, hidrografia, meteorologia, configuração geológica, produtos
minerais, vegetais e animais), a etnografia, a estrutura produtiva e as atividades
econômicas, a administração e as instituições provinciais. Trazia em anexo uma
carta da cidade de Ouro Preto do mesmo autor, contemplando a topografia e o
casario da capital.
Distinguem-se no texto características que o aproximam dos procedimentos
cartográficos, demonstrando a articulação texto/mapa que deveria estar na base
do projeto de Gerber. Há uma preocupação com a nomeação – dos lugares, das
ordens científicas de minerais, vegetais –, com a classificação – as informações
são organizadas em tabelas e os elementos hierarquizados em sistemas e grupos
–, e com a medição – altitudes, distâncias. Da mesma forma, uma preocupação
com a origem das informações revela a rede de cartógrafos, viajantes e
65
engenheiros acionados por Gerber para compor e conferir credibilidade a sua
síntese.61
Mas o texto avança também sobre aspectos emudecidos na representação
cartográfica, e o cartógrafo cede lugar ao engenheiro ilustrado, como na avaliação
da navegabilidade dos rios, no destaque aos minerais de importância econômica,
na valorização das matas e da fauna. No quadro da população, Gerber confere
valor etnográfico às populações indígenas, construindo uma genealogia das tribos.
O tom opinativo e recomendatório acentua-se nas partes relativas à produção
econômica e à carência dos meios de transportes, e uma ênfase especial é dada à
questão do fluxo do comércio e das vias de comunicação. Diz Gerber estar
privilegiando as vias de comunicação pelos rios navegáveis e revela seu projeto
maior de esboçar aqui o esqueleto do futuro sistema de viação mineiro segundo a
configuração topográfica do país62, buscando então estabelecer as futuras
conexões entre os rios e as estradas de ferro D. Pedro II e de rodagem da
Companhia União e Indústria. Essa é sem dúvida uma das partes mais
elaboradas e críticas do texto, denotando o crescente interesse pela questão dos
transportes entre as elites técnicas e as autoridades públicas.
Tornada imagem oficial da província e distribuída como tal, a carta de
Gerber, assim como seu texto, atingiram outros círculos de recepção: mapa e texto
foram incorporados na embrionária rede de referências e citações técnico-
científicas que ganharia densidade ao longo da segunda metade do século XIX,
envolvendo viajantes e naturalistas estrangeiros e brasileiros. E, diferentemente
da carta de Halfeld e Wagner, o documento cartográfico produzido por Gerber
teve uma longa vida útil, como posteriormente comprovaram outros geógrafos e
cartógrafos de Minas. Nas palavras de Menezes e Lombard,
61 A exemplo, numa tabela sobre as altitudes de diferentes pontos da província, são citados os
autores das medições, que são: o próprio autor (14), o engenheiro Francisco Aroeira (18),
Eschwege (26), Spix e Martius (12), Monlevade (1), Halfeld (5), Liais (2) e engenheiros das
estradas de ferro (5). O mesmo é feito para o sistema hidrográfico, no qual se destacam as
medições de Eschwege e Halfeld. Gerber cita com familiaridade os trabalhos paleontológicos de
Peter Lund e recorre aos quadros estatísticos de Luiz Maria da Silva Pinto.
62 GERBER, 1863, p.45.
66
lembrar que durante um período de trinta anos, de 1862 a 1892, ela pode
satisfazer as necessidades administrativas que a criaram. Mesmo a
instrução muito teria aproveitado da obra de Gerber, caso cogitasse com
mais seriedade aprender e ensinar a nossa geografia. 63
67
estudos e os traçados de diferentes projetos oficiais. A partir da década de
sessenta, concentrou-se cada vez mais nas questões territoriais ligadas aos meios
de comunicação (correio, telégrafos) e de transporte (viação férrea, navegação),
tendo como questão política de fundo, conduzida na escala do governo imperial, a
permanente preocupação com a integração do território.
Em curto prazo, são traçados sobre a nova carta o plano geral de viação
(1864), a carta das recebedorias, coletorias, linhas de correio e pontos de
extravios68, a carta das estradas existentes e suas despesas69 e a carta das
68MAPA das coletorias, recebedorias e seus extravios, linhas de correios e suas ramificações, da
Província de Minas Gerais, coordenada pela carta geográfica da mesma província e documentos
obtidos nas respectivas repartições por João R. Duarte, desenhador copista da Diretoria Geral de
Obras Públicas sob a imediata inspeção do Sr. Engenheiro Aroeira, em junho de 1866. Ouro Preto:
68
comunicações postais da província.70 Esses trabalhos cartográficos eram, na
verdade, croquis manuscritos de natureza administrativa, destinados à
visualização imediata e espacialmente referenciada das atividades, problemas e
projetos em curso, a fim de que de um golpe de vista se possa formar um juízo
sobre qualquer questão.71
O regulamento da Diretoria de Obras Públicas era um extenso e bem
montado documento que definia com clareza certas prioridades dos serviços
públicos, como o imediato levantamento de um plano de viação. Interessa-nos
aqui destacar o artigo que, entre as competências do engenheiro-chefe, mandava
Diretoria Geral de Obras Públicas, [1866]. Escala 1:2.250.000. APM. OP.013. MAP 1/9. Env. 1.
Doc.2.
69 CARTA da província de Minas Gerais com indicação das atuais estradas e das despesas com
elas feitas durante o decênio de 1855 a 1865, organizada pelo engenheiro Henrique Gerber,
mandada levantar pelo Exmo. Sr. Presidente da mesma província Conselheiro Joaquim Saldanha
Marinho, em janeiro de 1867. [Ouro Preto, 1867]. Escala gráfica. In: MINAS GERAIS. Presidente
(Joaquim Saldanha Marinho 1867). Relatório que ao Exmo. Sr. vice-presidente da província de
Minas Gerais Dr. Elias Pinto de Carvalho apresentou por ocasião de lhe passar a administração
em 30 de junho de 1867 o conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, presidente da província. Rio de
Janeiro: Perseverança, 1867a.
70 CARTA das comunicações postais da província de Minas Gerais, projetada pelo engenheiro H.
Gerber e desenhada por João Duarte, em fevereiro de 1867. Escala 1:1.000.000. APM. OP. 015.
MAP.1/9. Env.1.
71 Palavras do presidente da província Fidelis Andrade Botelho. MINAS GERAIS, 1864, p.10/11.
A carta de Gerber teria sido ainda a base da elaboração do mapa Província de Minas Gerais, de
origem e autoria desconhecidas, também chamado de Mapa do Censo, por conter dados
estatísticos atribuídos ao censo realizado em 1873. COSTA, 2004, p.130.
72MINAS GERAIS. Presidente (Joaquim Saldanha Marinho 1867). Regulamento n. 53. In: ____.
Relatório que ao Exmo. Sr. vice-presidente da província de Minas Gerais Dr. Elias Pinto de
Carvalho apresentou por ocasião de lhe passar a administração em 30 de junho de 1867 o
conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, presidente da província. Rio de Janeiro: Perseverança,
1867b. Anexo AA6. p.4.
69
nova escala, menor que a metade da anterior (1:1.000.000), uma projeção
(Flamsteed)73 e organizou em quatro folhas uma nova rede de meridianos e
paralelos, para onde deveriam ser transferidos os dados topográficos confiáveis
existentes no arquivo. Trata-se, ainda aqui, de uma solução de compromisso, pois
buscava refazer o canevas sob novas bases cartográficas, mas persistia na
transferência dos dados preexistentes.
Durante licença concedida ao engenheiro-chefe, o interino Martiniano da
Fonseca Reis Brandão prosseguiu nos trabalhos de preenchimento da quadrícula
traçada por Gerber, demonstrando, entretanto, quase absoluta descrença no êxito
da empreitada que, segundo ele, necessitaria de 40 engenheiros para que fosse
realizada num prazo de quatro anos. Como muitos outros antes dele, Brandão
utilizou o relatório anual como um espaço de discussão técnica e de
convencimento dos seus superiores sobre a necessidade de se estabelecerem novas
bases operacionais para a produção de uma carta completa da província. À
sugestão de Brandão de que os engenheiros tivessem mais tempo para
observações diretas durante seus trabalhos rotineiros no terreno e, munidos de
novos e mais adequados instrumentos, fossem levantando longitudes e latitudes
de pontos eqüidistantes em diversas direções do território, a resposta lacônica do
diretor de Obras Públicas é por si suficiente: Reconheço a importância de
semelhante trabalho, mas tal é a afluência de afazeres para os engenheiros que
não é possível fazê-lo com a presteza desejável .74
Assim, tanto as inovações propostas por Gerber75 como as sugestões de seu
sucessor não encontraram eco junto às autoridades, e o projeto de uma nova carta
da província seria abandonado por muitos anos.
Como destacamos desde o começo desta seção, se o processo de construção
da carta geral era permanente, em determinados momentos, uma imagem síntese
era gerada e publicada. Enquanto a divulgação da imagem síntese reificava a
OP. Doc. não encadernada. Série Doc. Interna. Subsérie Seção Técnica. Caixa 4. Doc. 27.
75 Gerber retirou-se da administração do governo provincial como licenciado, mas não há, a partir
do ano de 1867, qualquer outra notícia desse engenheiro, fechando um ciclo de atividades que
marcaram definitivamente sua passagem pela província.
70
configuração espacial da província, consagrando seus limites e reforçando a
unidade das diferentes regiões, a imagem instrumento, nos bastidores da
administração pública, era de imediato objeto de crítica pelos seus usuários e
pelos próprios autores. Esse descompasso entre o mapa concluído nos gabinetes e
o fluxo de novos dados que emergiam do trabalho no terreno e vinham contradizê-
lo tendia a aumentar com a multiplicação das expedições e trabalhos de campo,
com o aperfeiçoamento das técnicas cartográficas, com o efetivo aumento das
iniciativas particulares e públicas envolvendo o controle e o agenciamento dos
espaços, com a manipulação dos recursos naturais e, sobretudo, com a aceleração
da mobilidade das mercadorias e das pessoas. De fato, nos anos posteriores à
publicação da carta de Gerber, as eventuais queixas das autoridades em relação à
falta de um mapa da província estariam sempre relacionadas à necessidade de
elaboração de um plano de viação, mais especialmente para estradas de ferro.
Uma outra linhagem de mapas teria sua origem nessas demandas, que
impulsionaram a fabricação de imagens mais localizadas e detalhadas,
instrumentos de reconhecimento e de intervenção sobre os espaços.
2.2 Ca minhos de ter ra, água e fer ro: mapas a serviço do prog ress o
71
os governos a se debruçarem sobre seus territórios. Por toda a segunda metade do
século XIX, uma preocupação com a integração marcou as políticas territoriais e
Minas Gerais era particularmente sensível nesse ponto, devido à sua
insularidade e diversidade regional.
Por outro lado, a exploração do interior do país através do reconhecimento
das suas condições e potencialidades naturais passou a ser outra prioridade
claramente definida pelo governo imperial, materializada em investimentos em
expedições, nacionais e estrangeiras, cujos programas podiam envolver diferentes
objetivos. Tanto os levantamentos dos recursos naturais (solos, riquezas
minerais, flora) como os estudos topográficos e hidrográficos conjugavam, em
maior ou menor grau, interesses científicos, econômicos e políticos.
Particular interesse foi destinado aos estudos sobre a navegabilidade dos
rios, considerados meios naturais de transporte e comunicação. Num segundo
momento, com a introdução da rede ferroviária e as conexões das vias navegáveis
com as estradas de rodagem e de ferro, a constituição de uma rede articulada de
diferentes meios de transporte configurava-se como o caminho seguro para o
desenvolvimento, a integração e a modernização do país.
Todo esse processo em curso pressupunha novos usos para os mapas e
impulsionava a produção cartográfica no país, de uma maneira diferente da
produção das cartas gerais, as imagens sínteses que analisamos na seção
anterior, onde o mapa era o produto final e conclusivo de um processo de
compilação e fusão de dados. No caso dos empreendimentos voltados para a
exploração de rios, delimitação de territórios ou construção de estradas, os
recursos gráficos não eram resultados ou fins em si, mas meios de observação e
instrumentos do reconhecimento do objeto em estudo. Diferentemente das cartas
de gabinete, eram frutos diretos das observações de campo e das intervenções
sobre o meio natural ou das projeções de intervenção.
Novos atores passam a integrar a rede de usuários e produtores de mapas,
com destaque para os empreendedores privados e os homens de ciência, como
botânicos e geólogos. A partir dos anos 50, todas as expedições que percorreram o
país, fossem de viajantes estrangeiros ou comissões de exploração comandadas
72
por militares, engenheiros e naturalistas brasileiros, tinham entre seus objetivos
a produção de mapas, algumas como prioridade.
No contexto regional, ainda nos anos 40, uma das primeiras autoridades
públicas a destacar-se no quadro da administração mineira pelo seu discurso e
pelas iniciativas de cunho geopolítico foi, como apontamos no item anterior, o
presidente da província Francisco José de Souza Soares de Andréa. Engenheiro
militar e cartógrafo, Andréa considerava a questão dos meios de transporte,
especialmente estradas, o ponto mais importante das políticas públicas pois, em
suas palavras, as estradas reduziam a corpo orgânico qualquer porção do
terreno.76 Ambicionando estabelecer uma ligação do centro da província com o
litoral pelo vale do rio Doce, Andréa viajou pela região e propôs a abertura de
estradas e picadas entre pontos estratégicos, utilizando-se de material
cartográfico para a demonstração de suas propostas. Tratou ainda de outra
questão que seria alvo de investimentos e debates por décadas: a viabilidade da
navegação fluvial. Nesse período, os técnicos da província, como Silva Teodoro e
Frederico Wagner, ambos cartógrafos, eram enviados a diferentes regiões para
estudos e trabalhos cartográficos específicos, como a confecção de cartas
corográficas de municípios de regiões limítrofes, estudos de divisas entre Minas e
outros estados e exploração de rios como o Mucuri e o Jequitinhonha.
Já nos anos 50, a província mineira, juntamente com Bahia, Pernambuco e
Sergipe, seria palco de expressivos investimentos do governo imperial, pelo
interesse estratégico no projeto de navegação do rio São Francisco, levado a frente
pelo Imperador e concebido como uma iniciativa destinada à integração de parte
significativa do espaço continente, como um vetor de ligação entre o sul e o norte
do país. O maior interesse, no âmbito do governo imperial, era na viabilização de
uma rede ferroviária, que pressupunha uma conexão com as vias navegáveis.
Para as autoridades, o objetivo era conectar a capital do império a Minas Gerais e
ao nordeste, e o São Francisco era o rio da unidade nacional, imagem recorrente e
poderosa da extensão da comunicação e potencialidade de fluxo desse grande rio
continental. A implementação de uma rede integrada de caminhos era condição
73
de entrada do progresso e da civilização, também imagens-força que conduziam
discursos e práticas de construção da nação imperial brasileira.77
Ao longo da história colonial brasileira, a busca pelas grandes vias
naturais de penetração do interior – as bacias hidrográficas – motivou diferentes
viagens, mas, em meados do século XIX, as expedições ganharam a dimensão de
uma política oficial que buscava a interiorização do país sob bases científicas e
com objetivos estratégicos. Muitas são as expedições científicas promovidas nesse
momento, marcado pela estabilidade política da Conciliação e pela relativa
prosperidade econômica decorrente do fim do tráfico negreiro.78
O presidente da província, Luis Antônio Barbosa, ao anunciar o projeto de
mapeamento do rio São Francisco em 1851, expressou vivamente os nexos entre a
paz imperial e a emergência das condições políticas para viabilização de projetos
modernizadores:
74
envolvendo o trecho entre Pirapora e a sua foz; o mapeamento do alto curso do rio
São Francisco e do rio das Velhas, pelo astrônomo francês Emmanuel Liais e sua
equipe. Concomitantemente, o governo provincial também investiria na
exploração do rio das Velhas, principal afluente do São Francisco nos limites do
território mineiro.
Quando, em 1851, o Ministério do Império delegou-lhe a missão de realizar
o levantamento do rio São Francisco, Fernando Halfeld desligou-se do governo
provincial e dedicou os anos seguintes à elaboração do monumental trabalho. O
programa cartográfico e geográfico encomendado a Fernando Halfeld tinha a
ambição de ser uma completa descrição física e humana, não só do rio, mas de
toda a região, conforme revelam as instruções do governo imperial.80 Ficavam
contratados os serviços de levantamento e planta de uma estrada ligando a
estrada real à barra do rio das Velhas no São Francisco, a topografia minuciosa
das margens do rio, em toda a sua sinuosidade, e o curso de cada um de seus
afluentes em sua extensão navegável. Deveriam ser anotados e representados no
mapa todos os obstáculos à navegação, e nessa categoria pragmática cabiam todos
os elementos naturais do rio: cachoeiras, ilhas, bancos de areia, rochedos ou
pedras soltas, correntezas. O registro cartográfico deveria abarcar outros
elementos, como profundidade das águas, qualidade do solo nas suas margens e
velocidade do fluxo. O produto final deveria conter ainda textos com descrições
dos aspectos físicos, dos núcleos urbanos ribeirinhos, com dados estatísticos e um
prognóstico quanto à viabilidade do futuro empreendimento pois, [...] além da
navegabilidade do rio, o governo queria povoar a região para explorar tanto a
agricultura como a mineração.81 As instruções que regiam a empresa não
deixavam dúvidas quanto ao caráter prático e aplicado da exploração contratada.
Urgência, rigor e precisão eram demandados na exata medida das necessidades
de viabilização da navegação do rio, cujas feições naturais eram vistas como
75
elementos facilitadores ou impeditivos ao projeto, e como tal deveriam ser
identificados e representados no mapa.
O atlas e o relatório de Halfeld resultaram de trabalho de campo de três
anos (1852 a 1854) e de outros quatro anos de trabalho de gabinete, na produção
das cartas, textos e tabelas. Mais dois anos se passariam até a sua publicação em
1860, resultando em uma obra que levou quase dez anos para ser concretizada.82
No relatório, presumivelmente uma síntese dos dados levantados, não há
detalhes sobre as viagens que foram realizadas pelo grupo familiar ou sobre as
escolhas técnicas no mapeamento e na descrição geográfica da região. Mas,
apesar do discurso eminentemente técnico e da descrição que segue
rigorosamente dentro da visão pragmática para o qual foi concebida, a obra, em
sua totalidade, mais do que um relato de viagem, é a viagem em texto e imagem.
A primeira parte é um pequeno ensaio sobre as embarcações no rio São Francisco.
Em seguida o relatório estrutura-se em trechos que descrevem, légua por légua, a
paisagem física e humana do rio. A segunda parte da obra, o atlas, contém trinta
pranchas seriadas e articuladas em seqüência, na escala de 1:71.250, que
representam o curso do rio, de Pirapora até a sua foz, seus acidentes naturais,
serras próximas e traços da ocupação humana como fazendas, engenhos e vilas. A
qualidade técnica do Atlas de Halfeld foi sustentada sobretudo pela precisão do
desenho, dada a ausência da quadrícula de coordenadas. Uma outra série de
cartas complementa o conjunto com uma planta geral do rio, plantas das
cachoeiras do Sobradinho e de Paulo Afonso, cortes e perfis, além de duas
gravuras.
O resultado de sua viagem exploratória e do seu minucioso trabalho
cartográfico, publicado em 1860, rendeu grande prestígio ao engenheiro Halfeld,
citado e consultado por viajantes, cientistas e autoridades, como D. Pedro II,
Louis Agassiz e Richard Burton.83 A publicação do mapeamento do médio e baixo
82 Segundo Bastos, para consecução de sua monumental tarefa, Halfeld teria contado com a ajuda
de dois dos seus filhos - Francisco Mariano e Fernando Feliciano. Considerando que os traços
biográficos de Halfeld compõem uma figura patriarcal, a montagem desse grupo de apoio de base
familiar permite considerar o Atlas como uma obra autoral. BASTOS, Wilson de L. Engenheiro
Henrique Halfeld: sua vida, sua obra, sua descendência. Juiz de Fora: Paraibuna, 1975.
83 HALFELD, Henrique G. Fernando. Atlas e relatório concernente à exploração do Rio São
Francisco desde a cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico, levantado por ordem do governo
de S. M. I., o senhor Dom Pedro II pelo engenheiro civil Henrique Guilherme Fernando Halfeld
76
curso do rio São Francisco, entre outras coisas, inseriu o seu autor e seu objeto na
rede de conhecimentos, influências, contatos científicos e políticos que
constituíam a cultura científica e intelectual da época.84
em 1852, 1853 e 1854, e mandado litografar na Litografia Imperial de Eduardo Rensburg. Rio de
Janeiro: Eduardo Rensburg, 1860.
84 Tendo seu trabalho consagrado no IHGB, Halfeld foi agraciado com a Ordem da Rosa pelo
Imperador. Assim como a casa de outros cientistas estabelecidos na província mineira no século
XIX, como Peter Lund e Henri Gorceix, a visita a Halfeld em Juiz de Fora passou a ser um ponto
de passagem referencial nos percursos dos viajantes por Minas Gerais.
77
Apesar do reconhecimento técnico e do seu caráter monumental, o trabalho
de Halfeld não contribuiu de forma efetiva para a política oficial de incremento à
navegação do rio São Francisco. O julgamento do engenheiro quanto ao alto custo
das obras para conectar o trecho navegável do rio ao litoral era um prognóstico
das dificuldades que cercariam as futuras tentativas, mesmo quando outros
estudos também financiados pelo governo imperial apresentaram soluções
técnicas mais compatíveis com os orçamentos públicos.85
Se o estudo levado a cabo por Halfeld não atingiu os resultados práticos
esperados no curto prazo, o êxito do empreendimento cartográfico e editorial foi
inegável, revelando neste caso uma sugestiva clivagem entre a atividade
exploratória de cunho prático e oficial e a produção do conhecimento geográfico e
cartográfico. Os programas cartográficos, apesar de patrocinados e/ou fortemente
enquadrados nos objetivos estratégicos do governo, mais do que a maioria dos
saberes, também eram respostas a processos e demandas técnicas de um campo
disciplinar em formação naquele momento, qual seja o da geografia e mais
propriamente da cartografia. Segundo Roncayolo86, no século XIX, a leitura
científica dos lugares passa a ser condição de apreensão e conhecimento do
território e os saberes sobre a paisagem – a geografia, a cartografia, a geologia,
até mesmo a estatística e a história – destacam-se da nebulosa enciclopédica para
adquirirem crescente autonomia e identidade disciplinar.87
85 Trata-se dos estudos dos engenheiros Carlos Krauss em 1868 e William Milnor Roberts em
1879. O engenheiro americano Roberts chefiava então a chamada Comissão Hidráulica do
Império. Um estudo mais aprofundado sobre as motivações, os processos e as escolhas políticas
em torno da questão do rio São Francisco fogem aos objetivos deste trabalho que, neste caso,
limitam-se a sublinhar as interações entre as formulações geopolíticas do governo imperial e
provincial e os conseqüentes mapeamentos e explorações geográficas em Minas Gerais.
86 RONCAYOLO, Marcel. Le paisage du savant. In: NORA, Pierre (Dir.). Les lieux de mémoire.
78
Por outro lado, se bons mapas não eram suficientes para a tomada de
decisões quanto à construção de um canal ou o desenvolvimento de uma via
navegável, as políticas públicas voltadas para a gestão do território, como no caso
da navegação do São Francisco, não podiam mais prescindir deles. Os
investimentos nos mapeamentos e na exploração do rio como uma via potencial
de comunicação e transportes continuaram por toda a segunda metade do século
XIX.
Mesmo antes da contratação de Liais, o alto curso do São Francisco e o rio
das Velhas foram objeto de investimento do governo provincial mineiro com o
apoio do Ministério do Império e da Câmara Municipal de Sabará. Como
colocamos, conexões entre redes viárias e rios navegáveis visando a colonização e
a exploração comercial já vinham motivando diferentes expedições de
reconhecimento e mapeamento hidrográfico na escala da província. Envolvendo
engenheiros brasileiros e estrangeiros, iniciativas públicas e privadas, eram
direcionadas especialmente para os rios São Francisco, Velhas, Doce,
Jequitinhonha e Mucuri.88 Enquanto os demais rios corriam para além dos
limites provinciais, em direção à costa, o rio das Velhas guardava a especificidade
de ter o curso inteiramente na região mineira e, ao mesmo tempo, ser potencial
articulador de uma extensa rota entre o norte e o sul, por surgir no coração da
região mineradora e desaguar no rio São Francisco, conectando-se assim com o
nordeste e o litoral. Em um momento em que se discutia a criação de uma nova
província na região do rio São Francisco89, esses levantamentos físicos e humanos
da região adquiriam ainda maior valor estratégico.
Foi nesse contexto que o engenheiro civil francês E. de la Martinière foi
contratado, em 1854, e encarregado do levantamento das condições de
navegabilidade do rio das Velhas, no trecho entre Sabará e a confluência com o
CASTRO, Iná Elias de et all (Org.). Geografia: conceito e temas. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil,
1995.
88 Os projetos estavam relacionados também aos programas de colonização, como no caso do vale
do rio Mucuri, iniciativa de Teófilo Otoni e seu irmão Honório Benedito Otoni.
89 O presidente da província Luis Antônio Barbosa posicionou-se contrariamente à proposta
parlamentar de criação de uma província no rio São Francisco, abarcando municípios da Bahia e
Minas Gerais (Paracatu, Januária e São Romão). Alegando a pobreza dos municípios em questão e
a dispersão dos habitantes, Barbosa sugere, entre outras medidas para o fortalecimento da região,
o incremento dos transportes e das comunicações especialmente com a navegação comercial do rio
São Francisco. MINAS GERAIS, 1853. Anexo 2. p.1-4.
79
rio São Francisco, além do detalhamento das obras de engenharia e dos custos de
sua implementação.
Em seu relatório parcial de 1855, Martinière apresentou as informações
demandadas e um estudo para [...] desenvolver a importância comercial destes
lugares90, o que demonstrava o interesse no desenvolvimento da região como
outro argumento motivador da exploração. O engenheiro detalhou também os
métodos por ele utilizados para a montagem da rede geodésica sobre a qual
desenvolveria seu plano de obras. Trata-se do primeiro documento que descreve
as operações cartográficas destinadas à montagem de uma base geodésica em
território mineiro, para a qual diz o engenheiro ter utilizado diversos métodos
diferentes. Pelo seu texto, conclui-se que Martinière trabalhou praticamente
sozinho, utilizando equipamentos de medição oferecidos pelo governo provincial.
Partindo das únicas coordenadas geográficas seguras existentes na região,
localizadas na cidade de Sabará, Martinière desenvolveu fórmulas matemáticas e
estabeleceu as coordenadas das diferentes estações, medindo latitude e longitude
por observações astronômicas, segundo o plano de projeção modificada de
Flamsteed, que é a empregada para a grande Carta da França publicada pelo
arquivo da Guerra.91
90 MINAS GERAIS, 1854, p.21. Pouco se sabe sobre a vida e a atuação de Martinière em Minas ou
no Brasil. Sua passagem pelos quadros da administração provincial mineira deu-se entre os anos
de 1853 e 1857.
91 MARTINIÈRE, E. de la. Rio das Velhas. Relatório apresentado pelo engenheiro E. de la
Martinière. In: MINAS GERAIS. Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de Minas
Gerais apresentou na 2ª. sessão ordinária da 10ª. legislatura de 1855 o presidente da província,
Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos. Ouro Preto: Bom Senso, 1855. Anexo.
Trata-se da mesma opção de projeção sugerida alguns anos depois por Gerber para a carta geral
da província. A carta da França a que se refere Martinière é também conhecida como Carta do
Estado Maior (Carte de l’ État Major), pois foi realizada pelos militares. As diretrizes originais
para o mapeamento foram estabelecidas por uma comissão topográfica militar em 1802 e
gradativamente incorporadas até a formulação final e início do programa em 1817. Segundo
autores franceses, as diretrizes da comissão marcaram uma nova era para a cartografia mundial,
com o estabelecimento de regras que seriam generalizadamente adotadas: a linguagem
topográfica codificada através de um sistema de signos, a correspondência entre as escalas, a
representação do relevo através de curvas de nível ou hachuras, a definitiva separação entre a
projeção geométrica e as visadas do caminhamento (perspective cavalière). A carta do Estado
Maior da França adotou três escalas: uma para a carta geral (1:80.000) e outras para os
levantamentos de campo e croquis (1:20.000 e 1:40.000). As folhas seriadas e articuladas foram
sendo gradativamente publicadas até 1880. PALSKY, 1996. RONCAYOLO, 1997.
PELLETIER, Monique. Les cartes de Cassini, la science au service de l´État e des regions. Paris:
Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 2002.
80
No relatório final, apresentado em 1856, Martinière foi além e apresentou
um extenso tratado técnico em favor do projeto da navegação do rio das Velhas e
da colonização das regiões ribeirinhas, com um diagnóstico das condições
econômicas e das riquezas vegetais e minerais. O engenheiro ressaltava a
importância dos meios de transporte para o desenvolvimento da região e do país,
a atitude patriótica dos governantes que investiam em estudos e programas de
navegação interior e o valor estratégico da empreitada,
92 MARTINIÈRE, E. de la. O rio das Velhas; descrição dos trabalhos, orçamento, cálculos
geodésicos. In: MINAS GERAIS. Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de Minas
Gerais apresentou na abertura da sessão ordinária de 1856, o conselheiro Herculano Ferreira
Pena, presidente da mesma província. Anexo 5. Ouro Preto, Tip. do Bom Senso, 1856. p.1.
93 Inexistem referências desse possível documento cartográfico, à exceção de um mapa do rio das
Velhas, de sua autoria, que foi inventariado no arquivo da Diretoria Geral de Obras Públicas em
1882. Nada mais pudemos identificar da produção de Martinière, além de um outro mapa sobre a
província do Espírito Santo, também depositado no arquivo da Diretoria Geral de Obras Públicas.
Nenhum dos dois mapas foi localizado no acervo do APM, que foi o depositário da documentação
da antiga Diretoria. APM. Fundo OP. Documentação encadernada. Série Documentação Interna.
v.243.
81
A descontinuidade que marcava as administrações provinciais também
seria responsável pelo pouco aproveitamento dos estudos de Martinière. Já em
1857, o presidente Herculano Ferreira Pena considerava onerosas as obras
necessárias para a navegação do rio das Velhas, tais como haviam sido estimadas
por Martinière, e preconizava novos exames. As iniciativas no âmbito provincial
só seriam retomadas efetivamente uma década depois, no contexto do
fortalecimento dos serviços de obras públicas.
Mantido, por outro lado, o interesse do governo imperial, uma terceira
grande exploração geográfica e cartográfica relativa à navegação dos rios São
Francisco e Velhas foi confiada a outro especialista francês, o astrônomo
Emmanuel Liais, que veio para o Brasil em 1858 acompanhando uma missão
científica de seu país. Era um cientista maduro, astrônomo titular do
Observatório de Paris, com trabalhos publicados no campo da astronomia, da
meteorologia e da climatologia. Convidado pelo Imperador para realizar o
mapeamento do alto rio São Francisco, Liais permaneceu no Brasil por mais treze
anos e desenvolveu uma bem sucedida carreira.94 A missão a ele confiada foi
concebida como uma continuação e tinha exatamente a mesma ambição, do ponto
de vista científico e prático, daquela realizada por Halfeld.
Mas, apesar das instruções oficiais definirem como escopo da missão de
Liais o reconhecimento e exploração do alto curso do rio São Francisco (de
Pirapora até as suas nascentes), o trabalho desenvolvido consistiu também, e
sobretudo, no mapeamento do rio das Velhas. No texto introdutório de seu estudo,
Liais afirmava que sua missão consistia na definição de uma [...] grande via de
comunicação entre o Rio de Janeiro e a Barra do Rio das Velhas de maneira a
ligar o norte e o sul do império do Brasil pelo interior.95 Liais exerceu sua
94 Antes de partir para o Brasil, Liais escreveu na França várias obras técnicas no campo da
astronomia e da geodesia. No Brasil, durante a realização dos trabalhos relativos aos rios São
Francisco e Velhas, realizou estudos em diversas áreas, como geologia, botânica, zoologia,
meteorologia, além da astronomia, sua especialidade. Acompanhava-o nas viagens sua esposa,
Margaretha Liais, responsável por escrever um diário e realizar esboços artísticos. Amigo próximo
do Imperador, Liais foi diretor do Observatório Imperial do Brasil entre 1870 e 1881. Retornou à
França onde foi prefeito de sua cidade natal, Cherbourg, e prosseguiu na sua carreira científica.
Além dos trabalhos relativos à exploração dos rios São Francisco e Velhas, Liais publicou um
tratado de astronomia, e três livros sobre o país, todos em francês e ainda inéditos no Brasil.
95 LIAIS, Emm. Exploração científica do Alto São Francisco e do Rio das Velhas. Paris: Garnier
Frères; Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1865. Tradução anônima, gentilmente cedida por Augusto
Auler.
82
autonomia e autoridade técnica ao julgar mais racional começar pelo afluente do
rio São Francisco, por ter um curso mais fácil de ser melhorado, e por atravessar
regiões mais populosas e mais ricas.
Para o cumprimento de sua missão, Liais acionou todo o conhecimento
técnico e a tradição prática de gerações de cartógrafos, astrônomos e engenheiros
franceses que, desde o século XVIII, vinham ditando as inovações científicas e as
aplicações práticas que tinham feito da França o centro da cartografia mundial
por mais de um século. Como demonstrou o historiador Konvitz96, os cientistas,
engenheiros e outras autoridades técnicas francesas foram os responsáveis pelas
maiores inovações na cartografia por todo o século XVIII. No século XIX, embora
as diferenças qualitativas em relação a outros países europeus tenham
diminuído, a França continuou a inovar e influir internacionalmente, em especial
na cartografia de usos aplicados e na constituição das redes institucionais e
públicas que sustentavam os grandes projetos de mapeamento. Konvitz mostrou
como o desenvolvimento da cartografia aplicada na França foi um meio essencial
para dispor informações e definir políticas relativas ao transporte, especialmente
por se tratar de um processo e de um produto no qual se imbricavam a
representação cientificista das condições físicas do meio (topografia, hidrografia)
e os projetos públicos de intervenção sobre o espaço natural.
No diagnóstico que traçou do quadro mineiro e do país no tocante às
questões territoriais e geográficas, Liais fundiu, como era próprio do seu tempo e
do seu métier, preocupações científicas e soluções práticas, e considerou o
despreparo técnico para a elaboração dos mapas um ponto crítico do projeto
estratégico em jogo. A partir de suas próprias explorações no interior de Minas
Gerais, buscou difundir pedagogicamente seus conhecimentos em diferentes
textos, como enunciou no Traité d´astronomie, um manual concebido para
divulgar entre a elite técnica do Brasil os modernos métodos cartográficos:
83
conjunto dos trabalhos que no futuro certamente se executará neste imenso
território. Para isso é preciso aperfeiçoar as cartas geográficas, para evitar
de conduzir as estradas para regiões onde os obstáculos quase invencíveis
reduzirão a nada os grandes sacrifícios já feitos.
A astronomia aplicada à geografia e a geodesia prática são as ciências que
devem se tornar habituais entre engenheiros nas regiões onde, como no
Brasil, os mapas são ainda imperfeitos.97
97 LIAIS, Emm. Traité d´astronomie appliquée et de géodésie pratique comprenant des méthodes
suivies dans l´exploration du rio de S. Francisco et précédé d´un rapport au gouvernement
impérial du Brésil. Paris: Garnier Frères, 1867. p.XXIII.
98 A triangulação consiste basicamente numa operação de fixação de pontos topográficos ou
geodésicos de um terreno a partir das medições dos vértices dos triângulos formados entre esses
pontos, construindo uma rede de linhas que amarra uma dada superfície em uma rede
matematicamente calculada.
99 LIAIS, Emm. Explorations scientifiques au Brésil: hidrographie du haut San-Francisco et du
Rio das Velhas; résultats au point de vue hydrographique d´un voyage effectué dans la province
de Minas Gerais ; avec la collaboration de MM. Eduardo José de Moraes et Ladislao de Souza
Neto. Paris: Garnier Frères; Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1865.
84
além de uma carta geral. Liais teve maior preocupação em demonstrar a
cientificidade de seu método cartográfico, indicando a projeção utilizada
(Mercator), a escolha das escalas e as deficiências encontradas nos mapas
anteriores (as cartas de Wagner, Gerber e Niemeyer), especialmente quanto à
posição de cidades como Barbacena e Sabará, estratégicas para a definição das
rotas de ligação com a Corte. O texto descritivo das pranchas era acompanhado
por croquis que representavam os acidentes do curso dos rios de interesse para a
sua navegação. Um relatório final continha um arrazoado sobre os trabalhos de
engenharia que deveriam ser feitos e sobre as condições econômicas da região.
Ainda que restrito aos dois vales dos rios Velhas e São Francisco, o
mapeamento conduzido por Liais pode ser considerado um marco devido à
introdução, em Minas Gerais, das novas técnicas matemáticas e astronômicas de
construção dos mapas. Em meados do século XIX, na Europa, Estados Unidos e
em algumas partes do mundo colonial, o processo de triangulação avançava para
cobrir grandes territórios e amarrar numa única rede geométrica cada uma das
emergentes nações-estado do mundo moderno (como o caso pioneiro da França).
Como apontou o historiador M. Edney100, mesmo avançando desigualmente, em
virtude das condições técnicas e políticas de cada país, a introdução do processo
de mapeamento por triangulação ampliou dramaticamente a extensão do poder
dos estados, pela capacidade da técnica de ajuste a qualquer paisagem e de
funcionamento em grandes ou pequenas escalas, podendo cobrir todo o território
com uma eficácia e precisão que os antigos sistemas de coordenadas jamais
tiveram.
No Brasil o método seria introduzido lenta e pontualmente, a partir de
explorações específicas e em mapeamentos de grandes escalas, como nesse caso
da navegação do rio São Francisco. Por muitas décadas, os mapas no país seriam
resultado de uma conjugação de técnicas mais ou menos precisas, que utilizavam
determinados pontos ou pequenas áreas mapeadas segundo as técnicas
consideradas seguras como balizas para a construção das representações mais
gerais. Os atlas de Halfeld e de Liais tiveram essa dimensão referencial no
85
conjunto das produções cartográficas de Minas por toda a segunda metade do
século XIX. Mas, ainda que cumprissem os mesmos objetivos estratégicos ditados
pelo governos imperial – as instruções que regeram os mapeamentos eram
essencialmente as mesmas – as duas iniciativas tinham paradigmas técnicos
diferentes. Enquanto o trabalho de Halfeld baseou-se no processo de
reconhecimento em campo e descrição gráfica de uma paisagem sensorialmente
observada, sem ancoragem em localizações muito precisas, Liais construiu suas
cartas a partir de uma série de localizações previamente determinadas
astronomicamente e estruturadas sobre uma rede de triangulação que modelava
uma paisagem geometricamente medida.
Juntos, em sua envergadura e qualidade, os dois mapeamentos mereceram
a atenção e a análise de especialistas brasileiros e europeus. Em uma resenha
sobre os dois mapas publicada em uma revista alemã em 1866, o trabalho de
Liais foi considerado, do ponto de vista da [...] correta caracterização da
Província101, muito mais preciso que o de Halfeld. Essa não parece ter sido uma
avaliação consensual entre os especialistas que, posteriormente, foram
incumbidos de novos estudos sobre a navegabilidade dos rios e que utilizaram
sistematicamente ambos os trabalhos102, ou mesmo entre os estudiosos brasileiros
como Mello-Leitão103, ou Pereira104, que criticaram o trabalho de Liais como
inferior ao de Halfeld, sobretudo do ponto de vista cartográfico. Essas
101 LIAIS, E. Die Aufnahme des oberen San Francisco und des Rio das Velhas in Brasilien. Gotha:
Peterman´s Geogr. Mitt., Jg,. 1866. p.412-414. (Descrição do Alto São Francisco e do rio das
Velhas no Brasil).
102 Referimo-nos especificamente aos trabalhos do engenheiro norte-americano William Milnor
Roberts, chefe da Comissão Hidráulica do Império, que realizou novos estudos de navegabilidade
de rio São Francisco em 1879, no seu curso a jusante de Pirapora. Entre os membros da sua
equipe, destacamos os nomes do engenheiro Teodoro Sampaio e do geólogo norte-americano
Orville Derby, que também se dedicaram ao mapeamento e estudos geológicos do vale do rio São
Francisco. Outro trabalho que utilizou intensamente os mapas de Liais foi o do engenheiro da
Estrada de Ferro D. Pedro II, Benjamim Franklin, em seu estudo sobre de navegabilidade e
mapeamento do rio das Velhas, em 1882.
RELATÓRIO de W. Milnor Roberts, engenheiro chefe da Comissão Hidráulica sobre o exame do
rio São Francisco desde o mar até a cachoeira de Pirapora. Rio de Janeiro: Nacional, 1880.
RELATÓRIO dos estudos feitos no rio das Velhas, de Macaúbas até a barra no S. Francisco, pelo
engenheiro Benjamim Franklin. Rio de Janeiro: Nacional, 1882. Em anexo a esse relatório:
Reconhecimento geológico dos vales dos rios das Velhas e Alto São Francisco. Rio de Janeiro, 29
de março de 1882. Orville Derby.
103 MELLO-LEITÃO, C. de. História das expedições científicas no Brasil. São Paulo: Nacional,
1941.
104 PEREIRA, 195–, p. 352.
86
interpretações negativas do trabalho de Liais sugerem um juízo xenófobo, como
ecos de um nacionalismo caro ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que
viu no trabalho de Halfeld
[...] a perfeita aliança da ciência com o desenho... que ... se pode comparar
com os mais belos trabalhos que apresenta a Europa naquele gênero. Esta
obra admirável é um diploma das altas habilitações deste engenheiro
brasileiro.105
105 Discurso do Sr. Visconde de Porto Alegre, em 1858, no IHGB, quando do recebimento do Atlas
e relatório de Halfeld. Citado por: BASTOS, 1975, p.15/16.
106 COSTA, 2004, p. 131.
107 Como mostrou SALGUEIRO, em 1868 foi apresentado à Assembléia Provincial um projeto de
87
ou a divisão do território com a criação de novas províncias - , na prática quase
nada foi feito até o final do século XIX.
As crescentes demandas de informações espaciais, essenciais para
definição de traçados de estradas de ferro e concessão de privilégios a companhias
interessadas, vinculavam-se ao avanço da cultura cafeeira pelo sul e sudeste de
Minas no último quartel do século XIX. O surto econômico exigia e propiciava a
construção de um sistema viário, especialmente de linhas de ferro, que permitisse
o escoamento do produto.
Somente na década de 1880, uma incipiente rede de estradas de ferro se
formaria no território mineiro, em ramificações da estrada de ferro D. Pedro II
que, partindo do Rio de Janeiro, avançava sobre o sudeste da província. Em
função do avanço dessa rede, mapas foram produzidos pelas companhias de
estrada de ferro, representando a região em um recorte espacial que transgredia
os limites administrativos entre as províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais. Avaliando um dos mais importantes desses documentos, a Planta
Geral da Estrada de Ferro D. Pedro II, confeccionada pelo engenheiro inglês
James Wells a pedido do governo brasileiro, fica clara a pouca penetração das
linhas na província mineira: embora, em projeto, uma linha avançasse até
Macaúbas, às margens do rio das Velhas (certamente em consonância com o
antigo projeto de conexão dos trens que começavam a cortar a região sul com a
via navegável a caminho do norte), a conexão com a capital Ouro Preto não era
nem digna ainda de figurar em projeto.108
Ainda que muito precária até o advento da República, a rarefeita rede
ferroviária mineira marcaria decisivamente a inflexão dos projetos geopolíticos, e
conseqüentemente cartográficos, dos governos provincial e imperial em direção ao
sul e sudeste da província.
Enquanto os minuciosos mapeamentos em grande escala dos cursos dos
rios eram objeto de investimento dos governos, por viabilizarem estudos de
navegabilidade, para a questão do plano viário da província, permanecia a
108PLANTA geral da Estrada de Ferro D. Pedro II e das outras estradas de ferro das províncias
do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais do Império do Brasil. [Rio de Janeiro]: Ângelo e
Robin, 1879. Escala 1:1.000.000. In: COSTA, Antônio Gilberto. Cartografia da conquista do
território das Minas. Belo Horizonte: UFMG; Lisboa: Kapa, 2004. p.132-133.
88
necessidade do mapa geral, mas agora a demanda era pela sua elaboração em
uma escala capaz de permitir a visualização das condições topográficas dos
terrenos. A partir dos anos setenta, as autoridades técnicas provinciais voltam a
pleitear a confecção de um novo mapa. Em relatório anexo à mensagem provincial
de 1875, o então diretor de Obras Públicas, Luiz Antônio de Souza Pitanga,
reafirmava que as dificuldades da província eram causadas pela ausência dos
meios de transporte, especialmente das linhas de ferro. Tendo como modelo
cartográfico a carta da França e como desafio prático as exigências técnicas da
engenharia de estradas de ferro, que ultrapassavam em muito as informações
contidas no mapa de Gerber, lamentava o diretor que a escolha dos terrenos para
os diversos traçados não poderia ser determinada à vista desse mapa imperfeito e
na escala em que está desenhado.109 No mesmo sentido foram as recomendações
do diretor de obras em 1882, para quem, na falta de um mapa exato e completo
que solucionasse os problemas relativos à implantação das estradas de ferro, o
presidente deveria prestar esse serviço à província, encarregando para tanto [...]
um pessoal de distintos engenheiros, dirigidos por profissional habilíssimo e
conhecido com prática em semelhantes serviços.110
Nomeado diretor de obras públicas em 1883, o engenheiro civil João
Chrockatt de Sá Pereira de Castro111 engrossou o coro dos agentes públicos que
109 MINAS GERAIS. Presidente (Pedro Vicente de Azevedo 1875). Anexo da Diretoria Geral de
Obras Públicas. In: ___. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Minas
Gerais, por ocasião de sua instalação em 9 de setembro de 1875, pelo Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Pedro
Vicente de Azevedo, presidente da província. Ouro Preto: J. F. de Paula Castro, 1875. p.4.
110 MINAS GERAIS. Presidente (Teófilo Otoni 1882). Anexo da Diretoria Geral de Obras
Públicas. In: ___. Fala que o Exmo. Sr. Dr. Teófilo Otoni dirigiu à Assembléia Provincial de Minas
Gerais, ao instalar-se a 1ª. sessão da 24ª. legislatura em o 1º. de agosto de 1882. Ouro Preto:
Carlos Andrade, 1882. p.5-6.
111 Chrockatt de Sá havia sido nomeado naquele mesmo ano professor da Escola de Minas, mas
não chegou a assumir o posto por incompatibilidade com o cargo de Diretor de Obras Públicas. A
exemplar carreira desse engenheiro e cartógrafo, que transitou sem dificuldades pelos altos cargos
da elite técnica brasileira, tanto no período imperial como republicano, merece ser aqui
sintetizada. Nascido no Rio de Janeiro em 1851, Chrockatt de Sá iniciou os seus estudos no
Colégio Pedro II e, ainda estudante, trabalhou na Comissão da Carta Cadastral. Formou-se, em
1871, como bacharel em ciências físicas e matemáticas pela Escola Central e posteriormente como
engenheiro civil. Trabalhou na Repartição Geral dos Telégrafos, na Estrada de Ferro D. Pedro II,
e dirigiu uma seção da E. F. Paulo Afonso. Foi em seguida fiscal da estrada União Indústria até
ser nomeado Diretor Geral de Obras Públicas em Minas Gerais, de onde saiu para assumir a
comissão particular de confeccionar a carta de Minas Gerais. Com a República, ocupou cargos de
direção em companhias de estradas de ferro do norte e nordeste até alcançar o cargo mais elevado
da engenharia nacional, diretor da E. F. Central do Brasil, a antiga Pedro II. Foi ainda Inspetor
Geral de Estradas de Ferro e consultor de autoridades públicas e companhias privadas. Coroando
89
colocavam a questão do mapeamento da província como condição incontornável
para a montagem de uma infra-estrutura de transportes em Minas. Ele
considerava, entretanto, inviável economicamente a execução das grandes
operações geodésicas que o imenso território exigiria, no caso de se produzir uma
carta condizente com os novos paradigmas técnicos. A solução permanecia sendo
o lento e gradativo aprimoramento da carta existente, a ser feito, segundo
Chrockatt de Sá, no trabalho rotineiro de seus engenheiros. Para o diretor, o
ponto mais crítico dessa tarefa era a precariedade dos instrumentos técnicos
indispensáveis para as operações mais simples, como levantamentos topográficos
ou determinação de coordenadas geográficas: faltavam bússolas, níveis, trenas,
miras, sextantes, cronômetros.112
Frente às demandas e ao surgimento de uma rede ferroviária
desarticulada, o governo provincial optou por uma solução intermediária, que não
sua carreira, foi presidente do Clube de Engenharia, entidade cujo foco de atuação era a união da
engenharia com a indústria.
112 Percorrendo os documentos oficiais, relativos aos trabalhos de obras públicas e mapeamentos,
fica evidente a crônica e precária condição dos instrumentos técnicos que, ao longo do século XIX,
adquiriram importância cada vez maior na execução dos serviços. Quase todo o material era
importado dos EUA e especialmente da França, e os técnicos lidavam cotidianamente com
problemas como os altos custos de importação, demora ou prazos indeterminados na compra, na
entrega e nos consertos, danos causados pelas longas viagens e pelo clima tropical, despreparo no
manuseio, dependência de intermediários, entre outros.
Tradicionalmente relegada a um segundo plano, atualmente a história das técnicas e mais
precisamente dos instrumentos vem adquirindo o estatuto de um campo de estudos essencial para
o conhecimento e a interpretação dos processos históricos ligados às práticas científicas e à
cultura material. Estudos renovadores mostraram, por exemplo, o caráter central dos processos
de aquisição e escolha dos equipamentos e instrumentos na produção, circulação e validação dos
saberes científicos. Como mostrou o historiador das ciências Dominique Pestre, a maneira como
são adquiridos os equipamentos não era objeto de pesquisa, pois se partia da idéia de que os
cientistas definiam racionalmente seus equipamentos, com uma solução ótima emergindo dessas
escolhas. As pesquisas mais recentes têm mostrado o caráter ilusório destas descrições, pois as
soluções técnicas surgem a partir dos meios disponíveis e as decisões e escolhas se fazem dentro
de um processo, condicionado pelo fato das práticas científicas serem atividades coletivas,
organizadas em lugares e instituições determinados.
Podemos melhor apreender a validade desta abordagem contextual se pensamos na complexidade
das situações históricas, como em Minas Gerais, em meados do século XIX, uma região em
demasiado afastada dos centros produtores das novas técnicas e instrumentos e das escolas
formadoras dos técnicos, engenheiros ou cientistas, onde, por outro lado, o padrão de uma
cartografia matematizada, que se desdobrava pelo mundo, já alcançava a distante província e
deflagrava, de forma ainda embrionária mas definitiva, as demandas pela mais exata cobertura
cartográfica do seu território.Embora não seja objetivo deste trabalho desenvolver uma história
das técnicas e dos instrumentos cartográficos, abordaremos a questão na medida das
possibilidades abertas pelas próprias fontes consultadas, que comumente mencionam as grandes
dificuldades financeiras e técnicas na importação dos equipamentos, as necessárias adaptações e
eventuais invenções de instrumentos. PESTRE, Dominique. Pour une histoire sociale et culturelle
des sciences; nouvelles définitions, nouveaux objets, nouvelles pratiques. Annales HSS, Paris, n.3,
p.487-522, mai/juin 1995.
90
foi nem a lenta e burocrática revisão da carta de Gerber, a cargo dos engenheiros
já sobrecarregados e desprovidos dos equipamentos básicos, nem a onerosa e
longa empresa de confecção de um mapa em bases geodésicas. Em 1886,
procedeu-se à contratação do mesmo Chrockatt de Sá, agora na função de
engenheiro e cartógrafo, para
113 MINAS GERAIS. Presidente (Carlos Augusto de Oliveira Figueiredo 1887). Fala que o Exmo.
Sr. Dr. Carlos Augusto de Oliveira Figueiredo dirigiu à Assembléia Provincial de Minas Gerais na
segunda sessão da vigésima sexta legislatura em 5 de julho de 1887. Ouro Preto: J.F. de Paula
Castro, 1887. Anexo 1. p.8.
114 A CARTA de Minas. Minas Gerais, Ouro Preto, ano 2, n.242, 7 set 1893. p.4.
91
o previsto e sem prestar contas do andamento dos trabalhos, fosse técnica ou
financeiramente.115 Como mostramos no início dessa seção, seu programa
cartográfico foi reunir e sintetizar graficamente o maior número de documentos
produzidos nas diferentes instâncias do poder público e na iniciativa privada. Um
encarte do mapa menciona os documentos fornecidos pelos ministérios e
diretorias provinciais, inspetorias de terras, companhias ferroviárias, além dos
trabalhos de engenheiros, geólogos, astrônomos e acadêmicos, fornecendo uma
espécie de genealogia da produção cartográfica mineira e brasileira no século
XIX.116
115 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório apresentado
organizado por J. Chrockatt de Sá, engenheiro civil, ex-Diretor Geral das Obras Públicas do
mesmo Estado, com a colaboração de Eduardo A. G. Thompson. Rio de Janeiro: Laemmert, [1893].
Escala 1:1.000.000.
117 Segundo Jacob, a dobradura era a técnica mais utilizada para reduzir os mapas a uma forma
92
Figura 7: Mapa do Estado de Minas Gerais, de J. Chrockatt de Sá (1893 presum.). Publicado já no
período republicano, o mapa constituía uma síntese do conhecimento acumulado sobre o território
da província no século XIX.
Fonte: APM.
94
percorrer algumas léguas e admirado dos rodeios seguidos por um
caminho figurado na carta em linha reta.
Que não se acuse o autor por estes erros, mas a lentidão de sua
montaria ou seu pouco hábito da marcha e a orientação pouco
científica dos viajantes que contribuíram para aquele trabalho,
porque as distâncias foram, pela maior parte, avaliadas em horas de
percurso de cavalgada e as direções muitas vezes estimadas pela
inspeção do sol.120
95
realizadas em Minas, creditados à falta da capacitação técnica do pessoal
envolvido. A vocação natural da região para as atividades de exploração mineral,
a despeito do esgotamento do modelo de exploração colonial, concorreu para que
em Minas os estudos geológicos e mineralógicos e experiências de siderurgia
fossem estimulados pelas autoridades, desde a instalação da corte portuguesa no
Rio de Janeiro.
122 Novas abordagens da historiografia das ciências vêm demonstrando que a introdução das
ciências naturais no Brasil não foi produto exclusivo dessas contribuições estrangeiras
(pressuposto da maioria das interpretações tradicionais), mas resultaram igualmente de
iniciativas das elites locais, especialmente no tocante à institucionalização das práticas
científicas, através da criação de escolas, museus, organização de exposições e associações. Ver:
FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma história social
e institucional, 1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1997.
LOPES, Maria Margaret. O local musealizado em nacional – aspectos da cultura das ciências
naturais no século XIX, no Brasil. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio Augusto Passos (Org.).
Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro: Access, 2001.
FREITAS retoma a questão no sentido de equilibrar as abordagens, ao afirmar que [...] mesmo
sendo muito importante considerar a existência de um certo nível de independência no
pensamento brasileiro do século XIX, já sob outro ponto de vista, o da inserção cultural do
discurso das ciências, o peso da palavra e do olhar dos viajantes – em sua relação com os
cientistas locais – constitui uma baliza definidora e deve fazer parte do campo da análise.
FREITAS, 2002, p.37.
96
qualificada, como fizeram as companhias inglesas de mineração com os
engenheiros da Europa central, de países como Alemanha, Áustria, que tinham
forte tradição em escolas de minas. O próprio Fernando Halfeld teria sido assim
recrutado.
123 Eschwege elaborou também um mapa geral da então capitania de Minas, ainda hoje inédito. A
parte central desse mapa, que representa quase toda a província, foi publicada originalmente no
seu livro, Pluto Brasiliensis. A contribuição de Eschwege para a geografia e a geologia mineiras
já foi objeto de estudo de diversos autores, enquanto sua contribuição cartográfica permanece sem
qualquer estudo específico, à exceção do breve texto do livro Cartografia da Conquista do
Território das Minas Gerais. COSTA, 2004.
124 Uma outra pesquisa seria necessária para dar conta de toda a cartografia dos viajantes.
97
ambiente técnico ou científico brasileiro, circunscritas aos círculos acadêmicos
europeus, onde eram publicadas, ou a uma pequena elite ilustrada brasileira.
Não constituíram uma tradição cartográfica ou uma influência técnica
significativa no país, que só a partir dos anos sessenta, nos novos espaços
institucionais, começaria a produzir uma cartografia de base geológica fundada e
promovida pelos interesses nacionais.
98
no livro Geologia e Geografia no Brasil, considerado um marco no caminho da
institucionalização das ciências naturais no Brasil. 125
99
estrangeiras, foram organizadas comissões científicas nacionais, como a Comissão
Científica de Exploração, organizada pelo IHGB em 1856, e as diversas comissões
promovidas pelo governo imperial na década de 1870. Em todas as iniciativas,
fossem estrangeiras ou nacionais, o mapeamento das regiões visitadas era
considerado estratégico, tanto para o aprimoramento dos dados de posição e
dimensão geográfica (localização, latitude e longitude), base para o planejamento
das ligações e comunicações no interior do país, como no inventário dos recursos
hídricos, botânicos e especialmente minerais.128
128 A organização da Comissão Científica de 1856, que se dirigiu à região norte do país, foi
exemplar nesse aspecto. Dividia-se em cinco partes: botânica, geológica e mineralógica, zoológica,
etnográfica, geográfica e astronômica. Essa última seção, segundo as instruções da comissão,
deveria desenvolver um amplo programa cartográfico, que incluía [...] observações astronômicas e
operações topográficas concernentes à determinação da posição geográfica dos pontos mais
importantes do território explorado [...], trabalhos de mera investigação, que interessam
imediatamente a física geral do globo e os que tiverem por objeto a sugestão de importantes
melhoramentos de que careçam as províncias visitadas [...]. DOMINGUES, 1995, p.166.
Estes trabalhos tinham forte direcionamento prático e incluíam ainda estudos meteorológicos
voltados para a busca de uma solução para a seca das regiões do nordeste.
100
propícia à construção de uma dada identidade nacional brasileira, o IHGB tinha
também um claro projeto no campo da geografia e das ciências naturais, que
passava tanto pela construção do retrato físico da Nação em construção129, como
pela interpretação do nosso meio físico como mecanismo de afirmação da
nacionalidade.130
Mas é evidente que, a partir dos anos 1870, embalada pelo crescimento
econômico, uma política mais sistemática e efetiva de institucionalização das
ciências e do ensino ocorreu a par da maior divulgação e aceitação das novas
idéias, especialmente o positivismo e o republicanismo. Na historiografia
brasileira, a década de 1870 é caracterizada como marco inicial no processo de
institucionalização das ciências e de modernização das práticas científicas, por
concentrar diferentes medidas governamentais nesse sentido: as reformas
modernizantes do Colégio Pedro II e do Museu Nacional, a autonomia do
Observatório Imperial, a transformação da Escola Central em Politécnica, a
criação do Museu Paraense e, especialmente, da Escola de Minas e da Comissão
Geológica do Império. Tais medidas inscreviam-se, por sua vez, num contexto de
frágil equilíbrio político, como colocou Freitas:
Os anos que vão de 1871, com a subida do [gabinete] Rio Branco, a 1878,
com a ascensão dos Liberais – depois de dez anos fora do governo -, foram
marcados por essas pressões vindas de dois flancos. Por um lado, o
Imperador tentando imprimir sua marca política, expressa sobretudo na
construção do ideário nacional; por outro, o crescente desejo de reformas,
expresso pelos novos segmentos urbanos, sejam os ideólogos da república,
os abolicionistas, os jovens oficiais do exército, os profissionais liberais ou
os cientistas.131
129 GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e
Geográfico Brasileira e o projeto de uma História Nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
n.1, 1988. p.19.
130 FIGUEIRÔA,1997, p.84.
131 FREITAS, 2002, p.185.
101
e Gorceix. Como mostrou Freitas, a inserção de Hartt no sistema político de
patronagem que permeava toda a sociedade do Império132 permite entender a
trajetória da Comissão Geológica do Império, criada em 1875.
102
Após a guerra civil de 1865, os surveys voltaram-se para o oeste e
transformaram-se em complexas ferramentas de exploração e integração do
território americano. Estudo de John Short134 mostrou como, nos EUA, esses
surveys foram percebidos como importantes inventários dos recursos econômicos,
que resultavam de uma combinação única entre os interesses privados de
agricultores, mineradores e especuladores imobiliários, as políticas públicas dos
governos estaduais e federal e a emergente comunidade científica. Como a
geografia, também a geologia era, naquele momento, um campo disciplinar muito
difuso e abrangente e os geological surveys não ficavam restritos à geologia, mas
incluíam botânica, ciências do solo, arqueologia e antropologia .135 Conduzidos por
fortes lideranças individuais, militares ou civis, os produtos desses grandes
empreendimentos americanos eram impressos em numerosos volumes contendo
estudos científicos, fotos, desenhos e séries articuladas de mapas, em variada
escala. Publicados em formato de atlas, continham os mapeamentos topográficos
e geológicos, fundados em levantamentos geodésicos. O historiador Lloyd Brown
observou como os geological surveys americanos, especialmente alguns trabalhos
realizados no âmbito dos estados, caracterizaram-se pela ambição cartográfica de
seus projetos, que davam igual peso às observações astronômicas, geodésicas,
topográficas, além de incluir representações dos meios de comunicação, feições
naturais, artificiais e econômicas da paisagem.136
Quando o serviço geológico federal americano foi criado em 1879,
praticamente todo o oeste do EUA estava mapeado, fotografado, descrito
classificação e concessão de terras públicas. A Land Ordinance de 1785, uma das leis fundadoras
da nação americana, forneceu a base do método cartográfico a ser seguido posteriormente nos
mapeamentos e também a base de classificação das terras. A sua insuficiência no tocante à
classificação das terras minerais e de recursos como minérios e mesmo água, fez surgir a
necessidade do mapeamento geológico. Estes levantamentos cadastrais, topográficos e geológicos
eram de inteira responsabilidade dos estados federados, mas a conquista do oeste americano e a
crescente incorporação de imensos territórios ao domínio público, de responsabilidade do governo
federal, levaram à criação do serviço nacional em 1879.
RABBITT, Mary C. The United States Geological Survey; 1879-1989. Disponível em:
<http://pubs.usgs.gov/circ/c1050/index.html>. Acesso em: 20 jun. 2003.
134 SHORT, John Rennie. Representing the republic; mapping the United States, 1600-1900.
Parallel, e, sobretudo, o Geographical Survey of the Territory West of the 100h Meridian.
BROWN, 1979, p.278.
103
geograficamente e representado artisticamente, definitivamente incorporado ao
leste como território nacional. O chamado United States Geological Survey foi
criado para unificar e suplantar os programas regionais e promover o
mapeamento de todo o país sobre a base legitimadora da estreita colaboração
entre o governo federal e de uma ciência definitivamente reconhecida e
institucionalizada – a geologia. Inicialmente dedicou-se às pesquisas geológicas,
considerando o mapeamento topográfico uma atividade subsidiária. Mas a
crescente demanda da sociedade por mapas topográficos, ou seja, mapas que
representassem um conjunto maior de feições dos territórios, determinou a
canalização dos recursos públicos para esse fim e o U.S. Geological Survey passou
a produzir mapas topográficos em proporção muito maior do que outras cartas de
uso geológico.
104
Os trabalhos da comissão cobriram o curto período entre julho de 1875 e
junho de 1877 e consistiram em campanhas de campo que percorreram grande
parte das províncias brasileiras. Quando o produto intelectual das observações de
campo e as enormes coleções zoológicas, geológicas e etnográficas começaram a
ser organizados pela equipe no Rio de Janeiro, os trabalhos foram suspensos.
Apesar das tentativas de convencimento de Hartt quanto à futura aplicabilidade
dos estudos, a extinção da Comissão Geológica ocorreu, como mencionamos em
outra parte deste texto, num momento de cortes orçamentários que, por motivos
econômicos e novas orientações políticas (a ascensão do gabinete do conselheiro
Cansanção de Sinimbu), desfizeram uma série de outras iniciativas de cunho
cartográfico que ocorriam simultaneamente, com patrocínio do Ministério da
Agricultura.
105
conta de um objetivo político, comum às demais campanhas cartográficas que
ocorriam naquele momento: produzir esses mapas na escala nacional era parte do
projeto de construção do estado-nação, um projeto do governo imperial que
passava pela montagem de uma política centralizada de gestão dos recursos
naturais que recobrisse o território e se legitimasse no saber científico. Dadas a
capacidade enunciativa dos documentos cartográficos e a sua inerente autoridade
técnica e até mesmo jurídica, os mapas deveriam ser os produtos por excelência
dessas empreitadas, muito mais do que densos volumes de memórias técnicas ou
vitrines repletas de fósseis, espécies botânicas ou objetos etnográficos.
140Orville Derby nasceu nos Estados Unidos em 1851 e formou-se em História Natural pela
Universidade de Cornell. Como assistente de Hartt, esteve no Brasil como membro das duas
expedições Morgan, anteriores à sua mudança definitiva em 1875. Paralelamente à sua atuação
no Museu Nacional e nas comissões geológicas do Império e de São Paulo, Derby desenvolveu
extensa produção científica e manteve permanente contato com a comunidade científica
internacional.
106
navegabilidade dos rios São Francisco e das Velhas. Permaneceu como chefe da
Seção de Mineralogia do Museu até 1890, quando decidiu dedicar-se
integralmente à Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, sob sua liderança
desde a criação em 1886. Geólogo, naturalista e hábil cartógrafo, Derby
imprimiria à comissão paulista um perfil científico ambicioso, o qual buscou
conciliar com os objetivos pragmáticos e as demandas imediatistas dos seus
promotores – governo e cafeicultores paulistas. Como modelo metodológico e
experiência concreta, a atuação da comissão paulista seria decisiva para os
rumos da cartografia mineira.
107
Daubrée, sobre a [...] melhor maneira de conhecer e explorar as riquezas minerais
no Brasil.142 Já nesse primeiro momento, Daubrée teria sugerido a elaboração da
carta geológica do país e o ensino da geologia, que deveria ser feito por
professores e estrangeiros ou por brasileiros formados no exterior. A idéia da
escola ganhou no Brasil um aliado importante, o então ministro do Império João
Alfredo Correa de Oliveira. Daubrée, impossibilitado de conduzir ele mesmo o
projeto, buscou na França um outro nome e, em 1873, indicou o jovem Claude-
Henri Gorceix, que chegou ao Brasil em meados de 1874.143
diferente da École de Mines de Paris, a qual arregimentava os melhores alunos das escolas
politécnicas para formar uma elite de engenheiros, altos funcionários públicos ou dirigentes da
indústria francesa. Mas ao longo do século XIX, a escola de Saint-Etiènne tendeu a elevar o nível
de seu ensino, aumentando os seus programas e o nível de exigência para a admissão e
aproximando-se do modelo da escola de Paris.
108
Não cabe no escopo desta pesquisa reescrever a história da Escola de
Minas, já bem explorada em estudos anteriores.145 Interessa-nos frisar como esse
sentido prático e aplicado do ensino, aliado a um gosto pelo trabalho de campo,
proposto e ministrado na instituição, concorreu para que mapas, planos técnicos e
perfis diagramáticos constituíssem parte importante da produção de alunos e
professores, fossem encarados como ferramentas de campo ou sínteses gráficas de
seus trabalhos. Por outro lado, desde a primeira recomendação de Daubrée146,
passando pelo programa proposto por Gorceix em 1875 até os seus inúmeros
apelos lançados em outros textos e discursos, foi a carta geológica colocada como
parte essencial de um projeto mais amplo, que era o de contribuir para o
desenvolvimento material da sociedade brasileira e mineira.
THÉPOT, André. Les ingénieurs des mines du XIXème siècle: histoire d´un corps technique
d´État - 1810-1914. Paris: Eska, 1998.
145 Além da obra de Carvalho, já citada, ver também:
LIMA, Margarida Rosa de. D. Pedro II e Gorceix; a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto.
São Paulo: Loyola; Ouro Preto: Fundação Gorceix, 1977.
146 Daubrée chegou a sugerir ao Imperador que Gorceix fosse associado à Comissão Geológica do
109
pessoal a tradição e a experiência francesas, com as quais certamente guardava
maior identidade. Na França o mapeamento geológico foi uma iniciativa do
Estado, a cargo de uma elite, os engenheiros de minas reunidos no Corps de
Mines e formados nas escolas de minas de Paris ou Saint-Etiènne. De fato, logo
após a criação da École de Mines, foi aprovado o projeto de mapeamento geológico
do país, realizado entre 1822 e 1842, embora durante esse período cartas parciais
tenham sido impressas.147 O empenho na atualização dos dados fez com que, em
1868, fosse criado um serviço permanente dentro do aparato administrativo
francês. Enquanto o fundamento científico era o mesmo dos trabalhos
americanos, qual seja, a classificação e o mapeamento geológico ingleses, a
produção cartográfica francesa se ateve ao conteúdo geológico e às informações de
interesse econômico, como jazidas minerais, perímetros de concessão de minas,
estabelecimentos industriais e terrenos propícios à instalação das vias de
comunicação. Nisto diferenciava-se da produção dos surveys americanos que,
como vimos, contemplavam uma vasta gama de conteúdos, linguagens e suportes.
147THÉPOT, 1998.
148Carta de Henri Gorceix a D. Pedro II. Ouro Preto, 1 mar 1880. Reproduzida em: LIMA, 1977,
p.180.
110
síntese desses estudos, confidenciava Gorceix a seu amigo, deixando clara a sua
descrença na capacidade dos cientistas brasileiros: precisaremos de um Elie de
Beaumont ou de um Lyell, grandes nomes, respectivamente, da geologia francesa
e inglesa de seu tempo.
149 MINAS GERAIS. Presidente (Antônio Gonçalves Chaves 1883-1884). Fala que o Exmo. Sr. Dr.
Antônio Gonçalves Chaves dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais na 1ª.
sessão da 25ª. legislatura em 1º. de agosto de 1884. Ouro Preto: Liberal Mineiro, 1884. p.34.
150 FIGUEIRÔA, 1992, p.127.
111
Desde que estou em Minas, é uma idéia que tenho estudado
debaixo de todos os pontos de vista, e cuja realização empreenderei,
custe o que custar. Estou, porem, bem persuadido que, entregue
somente às minhas forças, me é materialmente impossível levá-la a
bom êxito.
É um trabalho que interessa altamente à agricultura, à
indústria, à colonização; trabalho muitíssimo reclamado e que, por
causa de projetos mal apresentados, com despesas exageradas e idéias
de especulação, tem sido julgado difícil e de onerosa execução.
Por certo, não se trata aqui de uma obra completa e tão
minuciosa, como ela se tornará pouco a pouco, mas bastante exata
para o fim a que se destina.151
112
Gorceix sugeriu inicialmente o geólogo Orville Derby como provável
membro de sua equipe, mas, ao tomar conhecimento do início dos trabalhos da
Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, propôs uma comissão liderada por
ele e formada por três engenheiros, com a colaboração dos seus auxiliares e de
alunos da Escola de Minas. Com o capital de conhecimentos acumulado por ele e
outros estudiosos como Eschwege, Hartt e Derby, e todas as informações já
disponíveis, considerava que o trabalho poderia ser feito em cinco anos e com
poucos recursos. O modesto projeto era apresentado por Gorceix como um desafio
pessoal, para o qual não exigia pagamentos pessoais, e como prova cabal da
competência técnica e do espírito público da Escola de Minas.
154MINAS GERAIS. [Relatório do presidente Machado Portela]. [Ouro Preto: s.n.], 1886. p.107.
155BRASIL. Ministério do Império. Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa na 4ª.
sessão da 20ª. legislatura pelo ministro e secretário de estado dos Negócios do Império Antônio
Ferreira Viana. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889. p.56.
De fato, na Europa, especialmente em países como a França, a Inglaterra e a Áustria, a geologia
tornara-se durante o século XIX a primeira das big sciences da modernidade, adquirindo um
estatuto de disciplina científica autônoma, em grande parte fundamentada na produção
cartográfica, visto o expressivo aparato gráfico (mapas, diagramas, perfis estratigráficos) que era
acionado em todos os trabalhos, fossem eles resultantes de investimentos públicos em explorações
minerais, de expedições de caráter essencialmente científico ou, em grande parte dos casos, um
produto conjugado dessas duas motivações.
113
mesmo plano foi ainda apresentado ao Ministério da Agricultura e, nessa altura
do processo, Gorceix utilizou sua maior arma: um pedido de proteção do
Imperador.156
O mapa geológico é como no Barba Azul: irmã Ana, não vê nada chegando?
CORSI, Pietro. Géologie et pouvoir dans l’ Italie du XIXe siècle. In: CENTRE DES
RECHERCHES EN HISTOIRE DES SCIENCES ET DES TECHNIQUES. Rapport d’ activité du
CRHST : du 1er. janvier 2000 au 15 novembre 2002.
156 Carta de Henri Gorceix a D. Pedro II. Ouro Preto, 20 agosto de 1888. LIMA, 1977. p.234.
157 MINAS GERAIS. Vice-presidente (Barão de Camargos 1889). Fala que à Assembléia
Legislativa Provincial de Minas Gerais dirigiu por ocasião da instalação da 2ª. sessão da 27ª.
legislatura em 4 de junho de 1889 o 1º. vice-presidente da província, Dr. Barão de Camargos. Ouro
Preto: J. F. de Paula Castro, 1889. p.23.
BRASIL. Ministério do Império. Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa pelo
ministro e secretário dos Negócios do Império José Fernandes da Costa Pereira Junior. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1888. p.64.
158 Carta de D. Pedro Augusto a Henri Gorceix. Rio de Janeiro, 3 novembro de 1888. LIMA, 1977,
p.245.
114
3 O PROGRA MA CAR TOGRÁFICO DA COMISSÃO GEOGRÁFI CA E
GEOLÓG ICA DE MINAS GERA IS: AS D IMENSÕES FÍSI CAS DA
PÁTRIA MINEIRA
1 Expressão tomada de: WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira,
1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p.83.
2 Entre 15 de novembro de 1889, data da proclamação da República, e 30 de maio de 1892, quando
115
Mas, como mostrou John Wirth, a despeito dos conflitos regionais e da
instabilidade política, os primeiros anos da República em Minas também foram
marcados por um otimismo e por uma confiança no futuro que se traduziram no
efetivo investimento do estado em programas ferroviários, imigração e na nova
capital, além de outros projetos subsidiados pelo governo, entre os quais nos
interessam mais de perto as políticas de reconhecimento e representação do
território, que se concretizaram na criação de programas estatísticos e
cartográficos.
116
desintegração política e econômica do território do estado era então o grande
desafio a ser enfrentado pelos novos governantes. Fragilizado internamente, o
poder estadual não poderia enfrentar, na escala do governo federal, o perigo
igualmente desagregador do federalismo recém-implantado. Mas a forte
diversidade interna impediu, por outro lado, que a disputas regionais,
especialmente entre as regiões da mata, do centro e do sul, lograssem impor a
hegemonia de qualquer uma delas, e a ampla conciliação empreendida por
políticos como Cesário Alvim, João Pinheiro e Afonso Pena terminou por se
sobrepor às forças centrípetas. Segundo estudiosos como Faria5, o amálgama das
forças políticas mineiras nos primeiros anos da República não foi uma identidade
ideológica ou programática, mas sobretudo a cultura política da ordem e a
invenção da tradição de um patriotismo mineiro, recurso simbólico fundado em
um sentimento natural de pertencimento ao território de nascimento ou vivência
mas que ligava suas origens míticas à riqueza e singularidade da antiga região
mineradora, à Inconfidência e especialmente à figura de Tiradentes.
117
[...]a constituição de 1891, ao instituir o federalismo, abria caminho para
que interesses estaduais buscassem no discurso da “pátria estadual” o
esfacelamento da União.6
6 MELO, 1990, p.70. Mas a idéia da petite patrie ,entendida como um sentimento de identidade e
de pertencimento a um território reconhecido pelas práticas sociais, mais do que pelo nascimento,
fixou-se na segunda metade do século XIX em alguns países europeus, com a França e a Itália,
não como contraponto às identidades nacionais, mas em articulação com as mesmas, com um
duplo sentimento que permitiu a cercadura das identidades regionais em torno da construção dos
Estados-nação modernos. No Brasil, essa articulação entre duas ideologias identitárias terá maior
força no momento em que a questão nacional se sobrepuser à afirmação regional, como veremos.
7 TORRES, João C. de Oliveira. A formação do federalismo no Brasil. São Paulo: s.n., 1961. p.168.
8 Marie-Vic Ozouf-Marignier demonstrou que a pretensa arbitrariedade e artificialidade com que
118
pressupunham a aceitação de um poder central e de uma racionalidade supra-
regional, foram repelidas em favor da afirmação da autonomia das circunscrições
então existentes.
119
implementação. É através das clivagens regionalistas que podemos entender a
grande polêmica travada em torno das deliberações mais significativas desse
Congresso, como a autonomia municipal e a mudança da capital.11
11 Segundo Viscardi, em artigo sobre as elites políticas mineiras na primeira República, dois
grandes grupos políticos atuaram na constituinte: os republicanos históricos concentrados nas
regiões cafeicultoras da mata e do sul do estado, e os monarquistas e adesistas, ligados à região
mineradora central. Ainda que pouco representados na Constituinte, os republicanos obtiveram
êxitos como a consagração da autonomia municipal, que conferiu poder político aos coronéis e
garantiu a retenção de recursos financeiros nos municípios cafeicultores, os mais ricos
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Elites políticas em Minas Gerais na Primeira República.
Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.8, n.15, p. 39-56, 1995.
Estudo específico sobre a Constituinte interpõe a essa forte dicotomia o grupo dos chamados
evolucionistas, nem monarquistas nem adesistas de última hora, mas liberais que cedo
incorporaram o discurso republicano, esvaziando-o do sentido revolucionário e imprimindo-lhe
forte pragmatismo. Expoente desse grupo seria João Pinheiro. A CONSTITUINTE..., 1989.
12 Republicano radical, Olinto Máximo de Magalhães era natural de Barbacena, Minas Gerais.
120
Paulo, ou então constituir-se em um estado diferente.
Neste caso, o norte e o centro do nosso estado, perdendo as duas zonas mais
ricas, ver-se-iam forçados a procurar outro recurso para reviver-lhe a
importância, e esse seria necessariamente a sua anexação ao sul da Bahia,
formando por exemplo um novo estado marítimo, servido pelo porto de
Caravelas, desaparecendo assim o glorioso estado de Minas das cartas
geográficas para reviver na história pelas suas inolvidáveis tradições.13
(grifo nosso).
121
constituição estadual prever a possibilidade de desmembramento ou aquisição de
territórios, em acordo com a constituição federal. O texto constitucional federal,
dadas as pendências históricas em diversos pontos do território nacional,
permitia o desmembramento ou subdivisão dos territórios dos estados, em
negociações que, em última instância, só seriam concretizadas com a aprovação
do governo federal. Em Minas, ocorriam litígios em pontos diferentes das
fronteiras com todos os estados vizinhos - múltiplas tensões consideradas como
conflitos localizados, de pequena escala. Mas legislar sobre possibilidades de
desmembramento ou subdivisão levantava mais uma vez a ameaça sempre
presente do retalhamento do estado em grande escala. Na Constituinte, e mesmo
depois dela, tratar do tema dos limites interestaduais significava abrir o debate
novamente sobre a fragilidade do corpo físico em relação à construção simbólica
do patriotismo mineiro, como frisou Campista:
Ao que parece temos receio de tocar nesta questão, como se uma simples
referência ao disposto na Constituição Federal pudesse despertar idéia de
separação ou de retalhamento da pátria mineira, para o qual nenhum de
nós quer concorrer.16
122
questões levantadas pelos parlamentares de 1891 pressupunham o investimento
no conhecimento da base física da unidade federativa como iniciativa estratégica
do novo governo. A fragilidade dos dados estatísticos e geográficos foi por mais de
uma vez assinalada no debate parlamentar em questões essenciais para o
reordenamento administrativo e jurídico do estado, como na definição dos
critérios para a divisão municipal. O critério censitário18, que constava na
proposta em discussão, foi criticado pela insegurança dos dados demográficos e
geográficos então existentes e a desconsideração de outros fatores de
fortalecimento dos municípios, como a relação entre receita e despesa e a
existência de riquezas naturais. A falta de dados seguros poderia levar ao
atendimento de interesses de ocasião ou mesmo à sua declarada manipulação,
como afirmou o deputado Ildefonso Alvim, um defensor da autonomia municipal,
ao comentar sobre o recenseamento geral então em curso, promovido pelo governo
federal:
18 Por esse critério, um distrito só poderia ser elevado a município se contasse com uma população
superior a 30.000 habitantes.
19CONGRESSO CONSTITUINTE, 1896, p.144.
20 Bernardino Augusto de Lima era bacharel em Direito, natural de Nova Lima, Minas Gerais.
123
administração dos municípios e das comarcas. Afirmou ainda Bernardino de
Lima que os constituintes eram pródigos na defesa teórica das municipalidades,
mas que a aplicação desses princípios esbarrava no desconhecimento empírico dos
elementos que constituíam o objeto da estatística – o território, a população e a
administração:
124
Se armas retóricas ou possibilidades históricas, talvez ambas as coisas, os
debates sobre o separatismo regional e a fragilidade das fronteiras, bem como
sobre a credibilidade dos dados estatísticos e territoriais para o reordenamento
administrativo e jurídico do estado fizeram emergir no Congresso Constituinte,
com desdobramentos nas legislaturas posteriores, as preocupações relativas ao
conhecimento geográfico, estatístico e cartográfico do estado.
125
econômica e fiscal de regiões prósperas, como o sul ou a mata. Mas refletiram
também as pressões limítrofes e os interesses de outros estados.27
27A expressão mais radical desses movimentos seria o separatismo republicano do sul de minas,
em plena emergência durante os debates constituintes Em 1892 desaguaria no movimento pela
criação da Minas do Sul, com capital em Campanha. O separatismo recrudesceu com o advento da
República, mas perdeu ímpeto com a construção da nova capital, que enfraqueceu definitivamente
os antigos anseios por uma nova configuração territorial. Tornou-se cada vez mais uma moeda de
troca para obtenção de recursos e concessões do poder executivo estadual (WIRTH, 1982,p.67;
MELO, 1990, p.94-95).
28FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Saneamento básico
em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos; os serviços de água e esgoto. Belo Horizonte, 1996.
Fascículo 3: A Comissão Construtora e o Saneamento da Nova Capital. p.14.
126
Uma vez promulgada a constituição mineira, parlamentares e governo
voltaram-se para as questões que a constituição federal de 1891 havia delegado
aos estados e que a constituição estadual deixara como matéria para
regulamentação, como o uso e propriedade das terras devolutas e a propriedade
do solo e do subsolo. A questão das imensas tarefas atribuídas à recém-criada
Secretaria de Agricultura e da sua exeqüibilidade foi motivo de debates nas
sessões que antecederam a promulgação da lei que regulamentava o uso das
terras devolutas e das minas e criava a repartição de terras e colonização.29
127
melhoramentos.31 Posições contrárias à de Melo Franco eram defendidas por
senadores estaduais como Joaquim Candido Costa Sena e Francisco de Paula
Rocha Lagoa, membros da comissão que apresentara a proposta de lei, e também
engenheiros, ex-alunos e professores da Escola de Minas, o que lhes conferia
grande autoridade sobre o assunto. Segundo esses parlamentares, cabia ao
governo demarcar as terras a serem vendidas e, nesse sentido, o registro Torrens
era necessário e suas exigências plenamente exeqüíveis:
A carta da França foi levantada com todo o esmero e luxo científico. [...]
Guardemos esta tarefa para o futuro, quando outros forem os nossos
elementos e outras as nossas circunstâncias.
Por enquanto só devemos pensar em uma carta geológica que satisfaça as
primeiras necessidades da agricultura, e esta os alunos da Escola de Minas
estão nas condições de levantar, até mesmo com particularidades que
ainda não se tornam necessárias.33
31 CONGRESSO MINEIRO. Anais do Senado; primeira sessão da primeira legislatura nos anos de
1891 e 1892. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1911. p.1049.
32 CONGRESSO MINEIRO, 1911, p.1052.
33 CONGRESSO MINEIRO, 1911, p.1052.
128
Sena e Rocha Lagoa terminaram por se impor, como demonstram a lei n.27, que
regulamentou a medição e demarcação das terras devolutas de acordo com o
sistema Torrens, e o decreto n.597, que aprovou o regulamento da comissão
geográfica e geológica, introduzindo, entre outras modificações, o mapeamento
geológico.34
Não que essas questões já não estivessem sendo objeto de preocupações dos
governos desde o Império. O que desejamos mostrar é como, nesse momento
histórico, todas essas questões, assim como o processo de escolha do sítio natural
para sede da nova capital foram desafios que ocorreram simultaneamente e
influenciaram grandemente a implementação das políticas estatísticas e
cartográficas em Minas Gerais, dando-lhes um escopo técnico, científico e
administrativo como nunca havia sido experimentado antes.
34 Um duelo ainda mais acirrado entre bacharéis e engenheiros seria travado em torno da questão
da propriedade das minas, cuja principal argumento em jogo era a separação da propriedade do
solo e do subsolo. A questão transitava do campo do direito para o campo da geologia e os debates
foram protagonizados especialmente pelo engenheiro Costa Sena e os bacharéis João Gomes
Rebello Horta e Camilo Augusto Maria de Brito. Os debates perduraram por anos e a lei
regulamentadora da matéria só foi aprovada em 1899 (lei n. 285 de 18 de setembro de 1899).
35 José Cesário de Faria Alvim nasceu em Pinheiro, arraial do município de Mariana em 1839 e
faleceu em 1903. Bacharel em Direito em São Paulo, aderiu ao Partido liberal, tendo sido
deputado provincial e da Câmara Geral. Declarou-se republicano em julho de 1889. Foi nomeado
pelo presidente Deodoro para o governo provisório de Minas após a proclamação da República,
posto no qual procurou a conciliação entre as facções políticas, inclusive monarquistas. Foi
ministro do Interior de Deodoro. Foi eleito senador por Minas para o Congresso Constituinte e
primeiro presidente constitucional do Estado. Enfrentou a oposição dos republicanos históricos,
perdendo prestígio com a renúncia de Deodoro. No seu governo ocorreu o movimento separatista
129
vítima da volatibilidade política que caracterizou todo o governo provisório pós-
proclamação da República e mais, avançando por toda a última década dos
oitocentos.
que visava a criação do estado Minas do Sul, liderado pelo município de Campanha, o que levou à
sua renúncia em fevereiro de 1892.
130
Cesário de Faria Alvim.36 [grifos nossos] .
36 MINAS GERAIS. Coleção de leis e decretos do estado de Minas Gerais. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1889-1890.
37 João Pinheiro da Silva nasceu no Serro em 1860, e faleceu em 1909. Estudou na Escola de
Direito em São Paulo, onde foi aluno de Cipriano José de Carvalho e Antônio da Silva Jardim,
notórios partidários do positivismo e do republicanismo. Liberal no tempo do Império, cedo
incorporou o discurso republicano, imprimindo-lhe um caráter mais pragmático e conservador. Foi
um dos organizadores do Clube Republicano de Ouro Preto. No governo provisório foi secretário
de estado, vice-governador, tendo passado para o exercício interino do governo de Minas, com a
saída de Cesário Alvim, no momento de confrontação entre republicanos históricos, os chamados
evolucionistas (como o próprio Pinheiro), e os monarquistas adesistas, momento que antecede a
convocação da Assembléia Constituinte estadual. Deputado constituinte, renuncia ao mandato
131
pela necessidade [...]de se observar a mais severa economia dos dinheiros públicos
[...] e assinalava o caráter transitório dos serviços, em especial aquele referente
ao conhecimento do solo, que poderia ser extinto após a conclusão dos trabalhos.
Considerava ainda que os levantamentos estatísticos sobre a população também
seriam reduzidos assim que se colhessem os dados, e que todo o trabalho teria
prosseguimento pela repartição existente à época.38
com a deposição de Deodoro. Industrial, foi também senador e presidente de Minas, sob a égide da
política da conciliação.
38 O decreto não é muito claro quanto à vinculação das comissões à estrutura administrativa do
governo, mesmo porque o estado passava por uma reestruturação que resultaria na promulgação
dos regulamentos das três secretarias do estado em 1892 (Interior, Finanças e Agricultura,
Comércio e Obras Públicas).
39 Relativos à composição e fertilidade das terras e suas culturas.
40 Em cujo conceito cabiam os levantamentos sobre volume populacional nos diferentes níveis de
organização, sexo, nacionalidade, idade, estado, domicílios, religião e fluxo, número de eleitores,
dívida do estado, imóveis públicos, funcionalismo, força pública, escolas públicas e particulares em
todos os níveis, número de alunos, sociedades científicas, literárias e de outra natureza, hospitais,
cadeias, crimes, detentos e processos criminais.
132
pecuária, inventário das indústrias, artes e ofícios, estrutura, fluxos e valor das
atividades comerciais.
133
José Cupertino de Siqueira (segunda comissão), além do bacharel Levindo
Ferreira Lopes (terceira comissão)43. Podemos presumir que muitas disputas
cercavam essas nomeações, envolvendo uma rede complexa na qual
entrelaçavam-se interesses distintos de cientistas e engenheiros, funcionários
públicos e políticos, professores e alunos, republicanos de primeira ou de última
hora. E nos embates travados nesses anos entrópicos44, em todos os níveis,
emergiam rivalidades nascidas ainda no Império, concorrentes no espaço político
ou pela concretização de antigos projetos técnicos e científicos, como o eram o
plano de viação, o mapeamento geológico ou a condução da Escola de Minas.
Para alguns autores46, João Pinheiro teria convidado Gorceix para dirigir
os trabalhos das comissões, como parte da política conciliadora iniciada por
Alvim. Essa versão não pode ser confirmada pelos documentos consultados,
embora pareça certo que, para além da estratégia política, um convite a Gorceix
poderia corresponder a uma escolha motivada pelo mérito técnico, pela
persistência com que Gorceix perseguira esse objetivo desde a fundação da Escola
de Minas. Por outro lado, as instruções que acompanhavam o decreto n.33, pelo
seu caráter eminentemente técnico e estratégico, eram certamente resultado de
maduras reflexões e discussões anteriores, ocorridas no seio das elites
MINEIROS, 5., Belo Horizonte, 1982. A República Velha em Minas. Belo Horizonte:
UFMG/PROED, 1982. p.98.
46 BARBOSA, 1982.
134
modernizadoras – fossem monarquistas ou republicanas. O senso político de
Alvim e Pinheiro buscou captar e dar encaminhamento institucional a essas
demandas, no seu visível esforço para conferir modernidade e eficiência à
administração, ainda nos primeiros meses da era republicana. Nesse sentido
invertemos a interpretação de Tamm, quando esse afirma que Pinheiro teria
convocado [...]Gorceix, Costa Sena e os mais afamados professores da Escola de
Minas [para lhes comunicar o seu plano] de levantar a carta de Minas [e] realizar
o censo completo do estado.47 Acreditamos que o trânsito das idéias teria se dado
no sentido oposto, ou seja, das proposições técnicas lideradas por Gorceix e o
grupo da Escola de Minas para os novos gabinetes republicanos.
135
espírito de Gorceix, marcado pelo rigor científico, pela estabilidade, e por um
estilo homogêneo de trabalho, e que, sob a liderança do mestre francês, tinham
mantido, durante todo o período do Império, a política fora da Escola.50 Mas as
disputas pelo poder local pós-15 de novembro opunham agora esses republicanos
históricos. Rocha era então o vice-governador do estado, tendo assumido o
governo por breves períodos entre julho e outubro de 1890, e Antônio Olinto era
uma das principais lideranças entre os republicanos históricos. Sentindo-se
desautorizado pelo Ministro da Instrução Pública pela nomeação de Leônidas
Damásio sem que sua opinião fosse considerada, João Pinheiro renunciou à
presidência do estado e tornou-se candidato à Assembléia Constituinte.51
50 Para uma maior compreensão do chamado espírito de Gorceix na condução da Escola de Minas,
ver: CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto; o peso da glória. Belo
Horizonte: UFMG, 2002.
51 As versões sobre o episódio são pouco esclarecedoras e não nos permitem muitas conclusões
Revista Brasileira de Estatística, Rio de Janeiro, ano 4, n.13, p.107-130, jan./mar. 1943. p.110.
136
seguida para época que oportunamente será designada53, não chegando
efetivamente a ocorrer senão, como relatou Teixeira de Freitas, trinta anos
depois.
apresentado ao Presidente da República pelo Dr. João Barbalho Uchoa Cavalcanti, Ministro de
Estado dos Negócios do Interior, em maio de 1891. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1891.
Anexo. p.10.
57 A Diretoria Geral de Estatística foi criada em 1870, no Ministério do Império, cujo titular era
então João Alfredo Correa de Oliveira. Como um dos eixos investigativos de nossa pesquisa é a
noção de rede, cumpre sempre salientar a presença dos atores que significativamente a
compuseram. Um deles certamente é o bacharel em Direito de origem pernambucana João Alfredo
Correa de Oliveira. De sua ampla atuação política durante toda a segunda metade do século XIX,
podemos assinalar diversas ações que o colocam com um articulador e implementador de políticas
científicas, estatísticas e cartográficas, em suas versões “ilustradas”, ou seja, aquelas devedoras
das novas idéias disseminadas a partir dos anos setenta. Como nos informa Figueirôa: João
Alfredo teve praticamente toda a sua carreira ligada à administração pública do Segundo Império,
ocupando cargos de destaque. Foi deputado provincial (1858 a 1861) e deputado geral (1861, 1869
e 1877). Presidiu a província do Pará (1869) e também a Assembléia Legislativa de Pernambuco
(1876). Foi ministro do Império e da Agricultura no Gabinete do Marquês de São Vicente e
Ministro do Império no Gabinete Rio Branco (1871 a 1875) [...] presidiu São Paulo de outubro a
137
No relatório apresentado ao então ministro do Interior Cesário Alvim, Manoel
Timoteo fez entusiástico elogio à medida do governo:
abril de 1886. Envolveu-se ativamente na promulgação da Lei do Ventre Livre e da Lei Áurea (em
1888 era Ministro da fazenda e Presidente do Conselho de Ministros), além de ter, paralelamente
ao esforço abolicionista, incentivado a imigração. Ainda no Liceu de Artes e Ofícios estabeleceu os
gabinetes para o ensino de ciências naturais e deu-lhes outros melhoramentos. Foi quem concebeu
o projeto da Escola de Minas de Ouro Preto, para a qual contratou Henrique Gorceix (seu diretor)
e outros professores estrangeiros. Também contratou professores estrangeiros, para as cadeiras
novas da Escola Politécnica do Rio de Janeiro [...] mandou fazer o primeiro exame científico das
águas de Caxambu, Lambari e Poços de Caldas e ainda criou a Comissão Geológica do Império em
1875, quando era Ministro. (grifos nossos)
FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma história social
e institucional, 1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 38-9.
Resta acrescentar aqui seu feito mais significativo no que toca à presente pesquisa, que foi a
criação da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, durante seu curto período como
presidente daquela província.
58 BRASIL. Ministério do Interior. Relatório da Diretoria Geral de Estatística. In: ____. Relatório
apresentado ao Presidente da República pelo Dr. João Barbalho Uchoa Cavalcanti, Ministro de
Estado dos Negócios do Interior, em maio de 1891. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1891.
Anexo. p.4.
59 Abordagens contemporâneas da história da estatística, tem demonstrado como esse saber se
138
contornos federalistas, dizem muito sobre essa busca de identidade nas duas
escalas. Melhor seria falar em três escalas, pois a esfera local, a das
municipalidades, também disputaria, no domínio da estatística, a identificação e
descrição de suas respectivas realidades, para concorrerem armadas ao embate
da formulação da nova ordem municipal.60
60 O discurso inaugural de Manoel Timóteo nos sugere ainda uma questão sobre a identidade, por
um deslizamento de sentido que podemos propor entre identificar elementos de uma população ou
território e conferir identidade a uma população ou a um território. Conhecer seria construir a
identidade do espaço e da população em diversas instâncias e por múltiplos meios, sendo a
estatística uma delas. Não se tratava simplesmente de selecionar elementos estratégicos e coletar
dados numéricos que descrevessem uma realidade social e econômica, mas de definir quais os
cruzamentos entre esses elementos seriam capazes de traduzir uma identidade nacional, regional
e mesmo local.
61 Decreto n.285, de 12 de dezembro de 1890.
62LACERDA, Augusto de Abreu. Organização e trabalhos da Comissão Geográfica e Geológica do
Estado de Minas Gerais. Boletim, Rio de Janeiro, Comissão Geográfica e Geológica do Estado de
Minas Gerais, n.1, 1894. p.3.
139
geodesia expedita.63 As proposições de Lacerda foram aceitas, e em fevereiro de
1891, novo decreto criava a Comissão de Exploração Geográfica do Estado de
Minas Gerais, dissociada do programa estatístico e dotada de projeto técnico-
científico próprio. 64
aluno, que teria desafiado sua autoridade técnica no assunto. Esse desentendimento teria sido um
dos motivos da saída definitiva de Gorceix da Escola, ocorrida em outubro de 1891. O mesmo
episódio, com pequenas diferenças, é narrado também por: LIMA, 1977, p.136. Ambos baseiam-se
na citada correspondência de Gorceix a Derby.
140
e especialmente da comissão paulista, da qual acabava de chegar o engenheiro
Abreu Lacerda, responsável pela inflexão observada entre os dois dispositivos
legais que vimos analisando. A posse definitiva de Lacerda na presidência da
comissão geográfica pode ser considerada como um marco na implementação de
uma política de cunho propriamente cartográfico no estado. De origem
fluminense, Lacerda não teve participação registrada nas disputas acadêmicas e
políticas que se travavam na Escola de Minas e em Ouro Preto naquele momento.
Por dois anos fora membro da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, o
que lhe conferiria certamente prestígio e credibilidade.67 Ex-aluno de Gorceix e
auxiliar de Derby, Lacerda reunia qualidades herdadas das duas linhagens
técnicas que conformariam o modelo da Comissão mineira.
67 Não foi possível, dentro da documentação consultada, compreender as razões que teriam levado
Gorceix a recusar a direção da comissão, ou se seu nome teria sido vetado. Pouco depois, em
outubro de 1891, Gorceix se desligaria definitivamente da Escola de Minas. Em depoimentos
posteriores, Gorceix viria a apoiar o nome e o trabalho de Lacerda, alguém a quem considerava
um discípulo e que valorizava pela sua experiência com os hábeis mestres da comissão paulista,
Orville Derby e Theodoro Sampaio. A CARTA de Minas. Minas Gerais, Ouro Preto, ano 2, n.242, 7
set 1893. p.4.
68 Decreto n.369, de 12 de fevereiro de 1891.
69LACERDA, 1894, p.4.
141
A definição das coordenadas geográficas seria tarefa a ser realizada por
astrônomo do Observatório do Rio de Janeiro, pago pela comissão. O
levantamento topográfico também seguiria o método da comissão paulista,
compreendendo a determinação dos centros populosos, a direção das estradas de
ferro e rodagem e dos cursos d’ água, assim como a determinação barométrica da
altitude dos pontos percorridos. Limites do estado e dos municípios seriam
determinados por caminhamentos e visadas, e seriam estudadas a
navegabilidade dos rios e sua força motora para utilização industrial. O clima
seria estudado por intermédio das estações meteorológicas a serem espalhadas
pelo estado. As instruções traziam ainda os componentes técnicos para construção
da carta geográfica definitiva: sua escala (1:100.000) e elementos a serem
representados (limites, curvas de nível, relevo, rede fluvial, centros populosos,
estradas de ferro e de rodagem). O programa buscava reforço técnico na
autoridade de outras instituições, como o bem-sucedido processo da CGG em São
Paulo e a credibilidade das medições astronômicas do Observatório Nacional.
142
trabalho de demarcação das terras devolutas. Apesar da lei n.27, em seu primeiro
capítulo, conter uma conceituação relativamente precisa do que seriam essas
terras devolutas, na prática não se conheciam as dimensões dessas zonas
despovoadas ou de domínio impreciso. Desde meados do século XIX, com a
contínua expansão da cultura cafeeira e da rede de transporte, especialmente as
estradas de ferro, grandes extensões de terras antes despovoadas passaram a ser
disputadas e valorizadas, sem que para isso os governos tivessem mecanismos de
controle eficazes para regularizar o acesso e impedir sua posse de forma
indiscriminada, fraudulenta e especulativa. Mas a transferência do domínio das
terras ditas públicas para os estados em nada modificou o regime das terras, pela
incapacidade dos mesmos de empreender uma política efetiva nesse sentido.
Como observou W. Dean, mesmo São Paulo, esse governo estadual bem
burocratizado furtava-se à responsabilidade de realizar um levantamento
cadastral de suas terras.71
71DEAN, Warren. A ferro e fogo; a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996. p.229.
143
divisas políticas e das propriedades rurais foi estabelecida ou redefinida por essa
grade geométrica, como podemos observar com um simples olhar sobre seu
mapa72. Como nos mostra Harvey73, esses grandes mapeamentos, frutos das
utopias iluministas, obedeciam a estratégias espaciais que, mais ou menos bem
sucedidas em seus propósitos concretos, consagraram a representação
matematizada e racionalista do espaço.
72 Norman Thrower explica que, nos EUA, com a criação do United States Public Land Survey e a
promulgação da Land Ordinance de 1785, não desapareceram as antigas divisões não
sistemáticas das terras. Os dois regimes conviveram, sendo que, no oeste, para onde avançariam
as fronteiras no século XIX, predominaria o método sistemático, com fronteiras, estradas e
propriedades divididas segundo a orientação das linhas geodésicas. THROWER, Norman J. W.
The triumph of geometry over geography. Mercator’s World, v.7, n.4, jul./ago. 2002.
73 HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
74 Em tese sobre a gênese e a representação dos espaços urbanos em Minas Gerais, Cláudia
Damasceno mostrou como evoluíram no período colonial os critérios de avaliação das unidades
político-administrativas, que definiram as divisões territoriais e a conformação das circunscrições
administrativas. Dos direitos históricos assentados sobre a tradição das primeiras possessões e a
defesa da continuidade do status quo, as demandas entre as diferentes localidades evoluíram em
resposta às exigências da administração da justiça. Surgiu então uma geometria de circunscrições
baseada na centralidade e equilíbrio de distâncias entre as sedes dos concelhos e das comarcas. Os
marcos naturais mais determinantes da paisagem física, as montanhas e os grandes rios,
percebidos como obstáculos, foram considerados como os elementos mais apropriados para a
definição dos limites entre os municípios, pelo seu caráter perene e incontestável. O critério
demográfico apareceria muito timidamente no fim do período colonial, devido à precariedade das
estatísticas existentes. Uma nova proposta de reestruturação da malha administrativa da
província, já em bases demográficas, seria empreendida em 1826 pelo secretário do governo Luiz
Maria da Silva Pinto. DAMASCENO, Cláudia. Pouvoirs, villes et territoires; genèse et
représentations des espaces urbains dans le Minas Gerais (Brésil), XVIIIe - début du XIXe siècle.
2001. Thèse (Doctorat en Histoire et Civilisations) - École des Hautes Études en Sciences Sociales,
Paris, 2001.
144
E se reduzimos a escala para a representação do regime de propriedade da
terra, ou seja, se buscamos averiguar a existência ou a possibilidade de
elaboração de um ou mais mapas sobre limites de propriedades ou pelo menos
sobre as fronteiras entre as terras de domínio privado, as de domínio público e as
chamadas devolutas, entramos em terreno inteiramente desconhecido. Pelo texto
da lei n. 27 podemos observar que a estratégia do estado para reduzir
minimamente essa deficiência foi regulamentar as atividades de mapeamentos
em duas escalas, a serem desenvolvidas paralelamente, mas de maneira
autônoma: de um lado, o mapeamento gradativo das terras devolutas através de
sua medição, demarcação, divisão e descrição; de outro, a ampliação das
atribuições da comissão de exploração geográfica.
145
registro geral das terras do estado, em conformidade com o decreto de 1891 do
governo provisório, conhecido como Lei Torrens.76
146
de nivelamentos. Parte essencial do processo de elaboração de uma carta, especial
ênfase era dada à seleção dos elementos a serem observados no campo:
147
dados sobre a geografia geral das zonas percorridas, deveriam resultar na
publicação de boletins.
Julgamos de interesse uma análise detida do texto desse decreto n.597, que
pode ser considerado, depois das idas e vindas nas formulações legais entre 1890
e 1892, como o dispositivo que definitivamente norteará os trabalhos da comissão,
mesmo quando parte significativa dos objetivos foram abandonados. O programa
geográfico, geológico e cartográfico estipulado no decreto foi respeitado mesmo
depois de a comissão ficar desativada por mais de vinte anos. O texto legal
demonstra clara preocupação com a precisão e o rigor técnico em todas as etapas
do processo cartográfico, descrevendo os procedimentos para a triangulação, o
levantamento topográfico e o desenho da carta, e discriminando todos elementos
da representação. No tocante aos estudos geológico e meteorológico, deixa
expresso o interesse na sua aplicabilidade econômica, seja na agricultura ou na
mineração. E para todo o conjunto de produções recomendava-se com ênfase a sua
divulgação quase imediata, uma urgência na divulgação dos resultados que
148
certamente buscava dar retorno a um investimento oficial oneroso e de lentas
respostas práticas.
Por outro lado, essa nova elite técnica regional conquistou espaço no
aparato administrativo e nas redes de poder do governo republicano pela
conjunção dos interesses políticos e científicos nesse momento da história
mineira, numa articulação entre poderes e saberes que sempre está na base dos
investimentos públicos nos programas científicos e técnicos.
149
mineiros do período republicano. Suas crises, êxitos e fracassos também dão conta
dos limites desse processo modernizador84.
84 Embora não seja objetivo desta pesquisa desenvolver de forma sistemática um estudo
comparativo entre a atuação da Comissão Geográfica e da Comissão Construtora, serão apontados
alguns dos pontos de contato e as muitas diferenças entre essas duas trajetórias.
85 Entre as muitas instituições então criadas destacamos: Instituto Agronômico de Campinas
(1887), Escola Politécnica de São Paulo (1893), Museu Paulista (1894), Museu Paraense (1894) e
as diversas escolas de engenharia por todo o país.
86 SCHWARCZMAN, Simon. Um espaço para a ciência; a formação da comunidade científica no
150
científicas deu-se por apropriação e ajuste dos modelos institucionais e científicos
da ciência mundial às realidades e sociedades locais.87 Nessas instituições de
pesquisa ou de ensino, a atividade científica de cunho acadêmico era praticada,
muitas vezes, de forma clandestina ou se impunha pela força do prestígio pessoal
de algum cientista, geralmente estrangeiro. Foram instituições marcadas
sobretudo pela produção de um conhecimento pragmático, que respondia às
necessidades sociais como o saneamento urbano e a saúde pública, ou às
exigências econômicas de racionalização e modernização da agricultura e da
exploração dos recursos minerais.
Um perfil profissional destacou-se claramente nesse quadro de demandas e
desafios que conjugavam poder público, saber aplicado e agenciamento territorial:
o engenheiro. A formação abrangente fazia do engenheiro o profissional de
múltiplas atribuições, apto a comandar os projetos nas muitas áreas que se
abriam com a modernização do país. À engenharia, misto de ciência e técnica,
caberia traçar os projetos mais ambiciosos destinados [...] a superar os males do
território – suas condições geográficas, suas distâncias, a barbárie da natureza
selvagem – e transformar os elementos naturais em fontes de riqueza.88
Na escala mais ampla do fortalecimento dos estados nacionais e do
desenvolvimento do capitalismo internacional, no qual o Brasil se inseria como
fornecedor de matérias primas para as nações em processo de industrialização, o
inventário da natureza e a descrição de seus recursos não eram mais
empreendimentos impulsionados pela geografia romântica do pleno conhecimento
do mundo (preencher os brancos do mapa – qualquer mapa - havia sido o grande
desafio cartográfico do século XIX para as nações européias). Tratava-se agora de
sistematizar todo esse conhecimento, de forma a reordenar o acesso aos recursos
naturais, estabelecer uma política de recursos e definir quais eram os atores
legítimos a participar de sua implantação.
das ciências geológicas no Brasil, 1808-1907. 1992. Tese (Doutorado em História) - Universidade
de São Paulo, São Paulo, 1992.
88 MURARI, Luciana. Tudo mais é paisagem: representações da natureza na cultura brasileira.
2002. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. p.400.
151
Uma política que implicava a articulação de três fatores: uma atuação mais
direta dos poderes públicos (os estados e suas estruturas de administração),
instrumentalizadas pelos saberes científicos organizados em instituições e
programas, sobre os novos recortes e agenciamentos territoriais.
Nesse contexto inseriram-se as novas políticas cartográficas e os novos
programas de explorações geológicas e geográficas, como a comissão mineira. Mas
a quais modelos metodológicos, no conjunto das experiências mais avançadas dos
países estrangeiros e de outras iniciativas brasileiras, podemos nos reportar para
compreender as escolhas técnicas dos formuladores da política cartográfica da
comissão mineira?
152
muito mais marcante do que as experiências européias. Se é evidente que em
grande parte essa ligação se deve ao perfil dos responsáveis (Hartt e Derby eram
americanos), a própria escolha desses atores implicou uma opção anterior à
atividade dos mesmos no Brasil. Até mesmo o francês Gorceix defendia o modelo
americano para os mapeamentos no Brasil e em Minas. Mas esse modelo seria
permanentemente discutido e adaptado entre os protagonistas dos mapeamentos
em curso, revelando uma recepção crítica das idéias e dos modelos e uma
permanente busca de soluções próprias, nem sempre enfatizada pela
historiografia das ciências no Brasil. Por outro lado, essa apropriação de modelos
deu-se sobretudo no campo dos métodos de mapeamento, das técnicas de
levantamento de campo e dos instrumentos científicos, posto que os programas
brasileiros, em suas crônicas dificuldades orçamentárias, terminariam por
restringir fortemente seus objetivos científicos.
90 A principal figura política é sem dúvida o então presidente da província de São Paulo, João
Alfredo Correa de Oliveira.
91 FIGUEIRÔA, 1987, p.49.
153
projeto pelo seu dirigente, Orville Derby. Comparando-se os textos fundadores do
trabalho das duas comissões (os instrumentos legais de criação e os primeiros
boletins), separados por curto período, mas durante os quais a experiência
histórica acelerou-se em função de eventos como a abolição da escravidão e a
proclamação da República, observamos que os projetos tinham as mesmas
ambições em termos científicos, como o recolhimento de coleções de objetos,
indicativos de um projeto de museologização da história natural no estado.92
92 Para discussão sobre a museologização das ciências naturais, ver: LOPES, Maria Margaret. O
local musealizado em nacional – aspectos da cultura das ciências naturais no século XIX, no
Brasil. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império
nos trópicos. Rio de Janeiro: Access, 2001.
93 O próprio Carpenter havia trabalhado numa dessas explorações geográficas, comandada pelo
tenente George M. Wheeler. Durante dez anos, até a criação em 1879 do organismo federal U.S.
Geological Survey, Wheeler realizou um mapeamento topográfico sistemático de grande parte do
oeste americano, tendo publicado diversos mapas em escalas articuladas. Concebidas para
propósitos militares, de transportes e planejamento, tais cartas foram a base para posteriores
estudos cadastrais e geológicos.
94LACERDA, 1894, p.7.
95 Segundo Figueirôa, esses métodos são citados nos dois documentos que explicitaram a proposta
da CGG paulista, quais sejam, o relatório do presidente da província de São Paulo João Alfredo
Correa de Oliveira no ano de 1886 para a Assembléia Provincial e o Esboço de um plano para
154
especificamente cartográfico, criado pelo governo americano em 1807 para
realizar um mapeamento preciso, em bases geodésicas, da costa leste do país e
estabelecer coordenadas seguras para a navegação96; e o modelo dos geological
surveys.
exploração geográfica e geológica da província de São Paulo, apresentado por Derby ao mesmo
João Alfredo. FIGUEIRÔA, 1987, p.50.
96 Voltado fundamentalmente para o incremento da navegação comercial, esse serviço, ao longo do
século XIX, ampliou suas tarefas para o estabelecimento de marcos geodésicos de forma a
embasar com precisão o avanço do método da triangulação por todo o país.
97 DERBY, Orville A. Retrospecto histórico dos trabalhos geográficos e geológicos efetuados na
155
topógrafo ou os dois devem prosseguir ao lado um do outro, a comissão
geológica tinha pois que efetuar também estudos geográficos. A geografia e
a geologia são ciências da mais íntima e recíproca dependência: uma indica
e representa fenômenos da crosta terrestre que a outra explica e
demonstra, e não raro surgem problemas daquela que só esta pode e sabe
resolver.98
156
Esse coro afinado trazia de volta à cena a necessidade da carta exata,
tantas vezes demandada pelas autoridades ao longo do século XIX: a cobertura
topográfica do país, assim como a amarração de uma rede geodésica, eram um
passivo do Império que a República teria que enfrentar. Como mostrou Palsky103,
nos países europeus, os grandes empreendimentos topográficos haviam sido
realizados durante os séculos XVIII e XIX. As operações de mapeamento
topográfico, articuladas com a cobertura da triangulação, multiplicaram-se pelo
mundo, embasadas no desenvolvimento técnico - melhoria dos instrumentos e dos
procedimentos de levantamento no campo, novas tecnologias de impressão e
bases astronômicas e geodésicas mais seguras – e impulsionadas pelas crescentes
demandas e exigências do usuários – estados, militares, industriais. Em fins do
século XIX, o conjunto da Europa, além dos Estados Unidos e mesmo estados
coloniais como a Índia, estava topografado, em linguagens e métodos diferentes,
mas sempre em escalas iguais ou superiores a 1:100.000, a mesma escala
escolhida pelos formuladores dos programas cartográficos paulista e mineiro. A
escala de 1:100.000 era considerada como a escala mínima na qual o mapeamento
podia ser feito sem prejuízo da representação dos principais elementos previstos
numa cobertura topográfica, como as redes hidrográficas e seus acidentes mais
relevantes, a direção das serras e os marcos orográficos, as estradas, as manchas
dos cultivos agrícolas, o mosaico da vegetação, a locação de jazidas minerais e
registros da presença humana como fazendas, a distribuição da rede urbana e os
limites administrativos, entre outros passíveis de representação.
relações da geografia com a geologia. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n.389, 30 abr. 1894. p.3.
103 PALSKY, Gilles. Um monde fini, un monde couvert. In: POUTRIN, Isabelle (Dir.) Le XIXe
157
chamadas cartas de base as que mais refletem as necessidades e demandas de
uma sociedade, a orientação de suas ferramentas intelectuais, a forma de suas
ambições.104.
104 CARON, Rémi. Les choix du cartographe. In: CENTRE GEORGES POMPIDOU. Centre de
Création Industrielle. Cartes et figures de la terre. Paris, 1980. Catalogue de l'exposition
présentée au Centre Georges Pompidou du 24 mai au 17 novembre 1980. p.9.
105 LACERDA, 1894, p.34. As instruções prescreviam que os estudos climatológicos e quaisquer
outras informações colhidas nos diversos ramos da história natural, como a zoologia ou a botânica,
deveriam guardar relação prática e econômica com a indústria e a agricultura, no combater às
158
No caso de Minas, a vocação pragmática deveu-se ainda à tradição técnica
e científica da Escola de Minas, de onde saiu a maioria dos componentes da
comissão.106 Concebida como uma escola especializada na formação de geólogos e
engenheiros de minas, desde seu currículo inicial e progressivamente nas grades
curriculares posteriores, os cursos forneciam uma formação teórica e prática em
topografia e agrimensura, além de noções básicas de astronomia e geodesia. Mais
do que essa base curricular, contava a formação de uma mentalidade prática,
voltada para a solução dos problemas da realidade mineira, como sempre
defendeu Gorceix.
159
estado, pesaram na definição de aspectos técnicos do programa cartográfico, como
a decisão sobre a região por onde se iniciou o mapeamento e a direção de seu
desenvolvimento (do centro para o sul do estado). As tensões geopolíticas internas
e a ausência de um grupo econômico hegemônico, como no caso dos cafeicultores
em São Paulo, tornaram o programa cartográfico mineiro, em sua origem, uma
iniciativa oficial não diretamente atrelada aos interesses expansionistas de um
grupo econômico ou regional. Em um segundo momento, a instabilidade dos
limites externos do estado, especialmente com São Paulo, será um argumento e
um ardil no acirramento da concorrência política entre os dois estados, e o
programa cartográfico exercerá então esse papel de instrumento expansionista do
território, ainda que restrito às pequenas margens territoriais de intensa disputa,
como são quase todas as zonas de fronteira.107
160
procedimentos de campo, fosse nas medições ou nos desajustes dos instrumentos,
seria compensado pelos cálculos no escritório, onde de fato a imagem cartográfica
era construída. Em todas as etapas, o recurso aos instrumentos era a chave do
controle de qualidade dos trabalhos, embora coubesse à personalidade109 de cada
topógrafo a descrição da paisagem e a generalização de elementos muitas vezes
invisíveis no campo.
Não será mais com um relógio mal regulado ou a “casco de cavalo”, como se
diz vulgarmente, que mediremos as distâncias de um ponto a outro, nem
usaremos da trena como num cadastro, mas empregaremos o podômetro
bem regulado, o odômetro ou stadia. [...]
Nosso método será, por conseguinte geométrico, como o dos melhores
mapas, mas a medida das linhas será menos rigorosa: o que perdemos em
exatidão ser-nos-á largamente recompensado em rapidez e economia,
obtendo resultado muito superior aos trabalhos atuais, sem base
geométrica. [...]
Não haverá mais lugar para as informações, incertas por natureza; tudo
será percorrido, explorado, medido; mas – repetímo-lo – com aproximação
perfeitamente determinada e previamente estabelecida.
Será esse trabalho uma verdadeira exploração geográfica e marcará o
primeiro passo para a geografia exata do futuro de Minas.111
161
4 A CIÊNCIA EM AÇÃO: A PRIMEI RA FASE DA COMISSÃO
GEOGRÁ FIC A E GEOLÓG ICA DE MINAS GERAIS – 1890-1898
da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de Estado dos Negócios da Indústria,
Viação e Obras Públicas, engenheiro Antônio Olinto dos Santos Pires, em maio de 1896. Rio de
Janeiro: Imprensa Oficial, 1896. p.216.
2 A base geodésica é uma linha marcada sobre um terreno previamente escolhido, cuja distância
entre os dois pontos extremos é definida e rigorosamente medida pelos cartógrafos. Uma vez
estabelecida as coordenadas geográficas dessa extensão, ela se torna um dos lados do primeiro
triângulo medido para composição da rede trigonométrica que se espalhará gradativamente sobre
o terreno escolhido.
163
Prolíficos no que se refere à descrição dos procedimentos de levantamento e
aferição das medidas no terreno, os documentos técnicos produzidos pelos
membros da CGG são lacônicos quanto às escolhas relativas ao ponto zero e às
rotas seguidas pelo mapeamento. Segundo Gorceix, para se medir uma grande
base os vastos platôs do norte e nordeste mineiros eram as regiões ideais, mas
esses quase desertos encontravam-se afastados das estradas de ferro e dos
centros de população3, ou seja, distantes dos eixos do progresso para onde deveria
se dirigir a ação governamental. Por outro lado, Barbacena e Juiz de Fora eram
centros urbanos importantes e, por serem também estações da Estrada de Ferro
Central do Brasil, suas coordenadas geográficas haviam sido determinadas
recentemente pelo Observatório Nacional4. A precisão e o caráter oficial das
medições dos astrônomos do Observatório permitiu a extensão das medidas pelas
regiões vizinhas, como o engenheiro-chefe Lacerda afirmou ter feito.5
3 A CARTA de Minas. Minas Gerais, Ouro Preto, ano 2, n.242, 7 set 1893. p.4.
4 DETERMINAÇÃO das posições geográficas de Rodeio, Entre-Rios, Juiz de Fora, João Gomes e
Barbacena, publicada por L. Cruls, diretor do Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: H. Lombaerts, 1894.
5 MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado pelo secretário interino do
164
Minas a não apresentarem os índices de decadência dos demais centros urbanos
mineradores.7
Parece-nos claro que a escolha desses dois sítios para o início dos trabalhos
da comissão mineira dão conta de uma opção negociada para manter os trabalhos
na região central do estado, ainda a mais forte politicamente, especialmente no
tocante ao controle do aparato político e administrativo, e, ao mesmo tempo,
apontar para um deslocamento espacial dos serviços públicos em direção às suas
zonas mais dinâmicas, no caso em direção ao sul. É também sugestivo que o vetor
de expansão do tecido a ser cartografado a partir dos trabalhos da CGG
apontasse na direção centro-sul, expressão de uma aliança entre os interesses
dessas regiões que, em diferentes momentos da intricada trama de interesses do
período, prevaleceu sobre a aliança sul-mata, mais representativa dos interesses
hegemônicos dos cafeicultores.
7 WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira, 1889-1937. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982. p.64.
8 FARIA, Maria Auxiliadora. A política da gleba; as classes conservadoras mineiras: discurso e
165
modernizante da República iniciou-se em Minas pela abertura de duas frentes
que buscavam superar uma dicotomia histórica (dicotomia discursiva e mítica,
segundo a autora) entre o campo e a cidade, entre as minas e as gerais: a
valorização científica da agricultura e da pecuária e a mudança da capital.
É fora de dúvida que as comissões lideradas por Aarão Reis, tanto aquela
destinada aos estudos das localidades como a construtora da capital, foram
cercadas de maior prestígio técnico e força política do que a comissão geográfica.
prática na Primeira República. 1992. Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São
Paulo. São Paulo, 1992.
9 É sugestivo que as instruções técnicas que regulamentaram ambas as comissões tenham sido
éclectique du 19e. siècle. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1997b. p.38.
11 Parte dessa produção, como recomendavam as instruções, começaria a ser divulgada em 1894,
166
A maior parte da equipe foi montada com profissionais recrutados por Aarão Reis
entre seus colegas da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Oriundos da capital
federal, e egressos da prestigiosa escola, os membros da CCNC distinguiam-se
dos seus colegas da comissão geográfica especialmente pelo distanciamento das
rivalidades e dos interesses locais, e pelo poder de condução de um projeto
modernizador essencialmente intervencionista e normalizador. Embora os textos
produzidos por ambas as comissões e outras fontes documentais não permitam
uma comprovação, podemos considerar que o desempenho de cada uma das
comissões correspondia a projetos políticos senão concorrentes, ao menos
diferenciados, e embora o método cartográfico fosse praticamente o mesmo, a
diferença de escala, muito maior e mais detalhada no sítio da nova capital,
conduzia a procedimentos igualmente diferentes. Os pontos de contato
documentados entre as duas comissões, no nível da relação entre os atores, deixa
entrever, entretanto, na rotina dos trabalhos e nas busca de soluções técnicas, um
respeito e uma solidariedade tática.
12DIAS, José Luciano de Mattos. Os engenheiros do Brasil. In: GOMES, Ângela de Castro
(Coord.). Engenheiros e economistas; novas elites burocráticas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1994. p.18.
167
equipamentos, que não existiam nem mesmo na movimentada praça do Rio de
Janeiro e foram encomendados nos Estados Unidos; de outro, a falta de pessoal
técnico qualificado.
comissão entre 1895 e 1899, esse núcleo principal era formado por técnicos formados na Escola de
Minas (os engenheiros civis e de minas Afonso Monteiro de Barros, Carlos Nunes Rabelo,
Henrique Carlos de Magalhães Gomes e Antônio Dias Tavares; os agrimensores Ernesto Pedro da
Silva Carvalho, Antônio Dias Ferraz da Luz, Efraim do Prado Seixas, Antônio Nogueira
Jaguaribe e Francisco de Paula Figueiredo Brandão). Compunham ainda a equipe Luiz Lombard,
engenheiro formado pela Escola de Minas de Saint-Etiènne, na França, e Álvaro Astolfo da
Silveira e Esdras do Prado Seixas, que acumulavam os títulos de engenheiro civil, de minas e
geólogo, também egressos da Escola de Minas (ver quadro anexo).
15 RABELO, Carlos Nunes. Notícia sobre a Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas
Gerais. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, v.5, n.25, p.4-5, jun. 1897b. p.4
168
Em Várzea do Marçal os trabalhos de campo da comissão geográfica
iniciaram-se com a medição de uma base geodésica, a partir da qual foi iniciada a
triangulação. Em dois anos de trabalho a rede de triângulos avançou sobre uma
área de 600 léguas quadradas16, seguindo na direção de Carrancas (sul) e da
estação da estrada de ferro Central do Brasil em Limoeiro, atual Goianá (zona da
mata), próxima à Juiz de Fora. Em julho de 1892 o escritório foi transferido para
Lavras, cidade ainda mais ao sul do estado. Segundo o relatório anual do
engenheiro-chefe Abreu Lacerda, as dificuldades com a composição da equipe e a
falta de instrumentos precisos forçavam a dependência da colaboração do
Observatório Astronômico do Rio de Janeiro para estabelecer coordenadas
geográficas dos pontos da malha de triangulação.
ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de Estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. David Moretzhon Campista no ano de 1893. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1893b. p.3.
17 MINAS GERAIS, 1892c, n.74.
169
Figura 8: A rede de triangulação fabricada entre os anos de 1891 e 1894: um
esquema matemático que presidia a observação de campo e estruturava o desenho
de gabinete.
Fonte: LACERDA, 1894.
170
agradecido, enquanto esperava regularizar as informações ainda não obtidas em
Oliveira, a cargo do diretor do Sanatório, e em Ubá, também sobre
responsabilidade do farmacêutico local e que ficara impossibilitado de cumprir a
promessa devido às febres que ali grassaram. O otimismo dos primeiros relatórios
deu lugar à constante enumeração das dificuldades geradas pelos poucos recursos
disponíveis e a diminuta equipe. Em pouco tempo, Lacerda concluiu que apelos ao
patriotismo não manteriam com a regularidade esperada os observadores nos
postos de meteorologia, admitindo a necessidade de remunerá-los.
Se forem aceitas as minhas propostas tão úteis para os fins desta comissão,
terei a honra de apresentar-vos as bases do serviço.
O aumento das despesas não deve embaraçar o poder legislativo, porque
essas despesas são fatais, quer a comissão levante a carta de Minas em 16
quer em 50 anos.
Apenas, é lógico, vê-se que a maior utilidade consiste em obter tal trabalho
no menor tempo possível.
Além disso, o tempo não deve espantar ninguém; comecemos hoje ou
amanhã, ele se imporá fatalmente.20
Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas, engenheiro Augusto de Abreu Lacerda. In:
____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado
dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano
171
Lacerda não estava só na defesa do fortalecimento da comissão. Em sua
primeira mensagem anual ao Congresso, o novo presidente da província, Afonso
Pena, considerava e defendia o aumento da comissão geográfica e geológica como
uma das medidas do conjunto de iniciativas destinadas ao incremento agrícola e à
colonização do estado:
Augusto Moreira Pena ao Congresso Mineiro em sua sessão ordinária da 1a. legislatura. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1893. p.25.
172
lento, minucioso, mesmo se as condições operacionais fossem otimizadas, como
reivindicavam Lacerda, Pena e outros defensores do programa. Mais que isso, o
projeto intelectual e científico que informava o mapeamento não estava
diretamente atrelado e não se subordinava às pressões oriundas das demandas
regionais ou dos grupos políticos. Mesmo que se orientasse para regiões política e
economicamente mais fortes ou dinâmicas, como foi o caso, pressupunha uma
distribuição espacial gradativa e uniforme do mapeamento, pois os limites e
recortes das folhas obedeciam a uma progressão sobre uma grade geométrica que
havia recortado a priori o território, quadriculado pelas linhas virtuais dos
paralelos e meridianos.
173
apresentar as duas primeiras imagens cartográficas produzidas pela CGG22, que
buscavam testar e dar visibilidade aos primeiros resultados dos trabalhos de
campo e de gabinete.
Figura 9: Specimem de uma folha da carta do Estado de Minas (1893). O primeiro produto
cartográfico visava testar as escolhas gráficas e a capacidade técnica dos impressores
franceses. Embora esboço, continha praticamente todas as características das futuras folhas
definitivas, demonstrando a maturidade técnica do programa
Fonte: APM.
174
A primeira era um esboço de uma das folhas em produção na escala de
1:100.000, uma specimem inacabada, assim descrita por Lacerda, em relatório de
1894:
Figura 10: Esboço da zona explorada de 1891 a 1893. O primeiro mapa regional
produzido pela Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, no qual se observa o
preenchimento da rede geométrica da triangulação pelo desenho orgânico e sinuoso da
hidrografia e do relevo, descrição em imagem das etapas consecutivas do mapeamento.
Fonte: APM.
175
O mesmo relatório trazia ainda um pequeno documento cartográfico que
reproduzia o antigo mapa de Henrique Gerber em suas principais linhas
(contornos do estado, rios e principais núcleos urbanos), e sobre ele demarcava a
mancha da zona explorada pela comissão e as localidades que sediavam as
estações meteorológicas25.
25 ESTADO DE MINAS: H. Gerber. [Ouro Preto: s.n., 1893]. Escala: 1: 6.000.000. In: MINAS
GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório apresentado ao Dr.
Presidente do estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894. Anexo B. Relatório da
Comissão Geográfica e Geológica de Minas. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894b.
26 A CARTA...,1893. p.4.
176
Figura 11: Estado de Minas. Sobre o mapa de Gerber, ainda a melhor carta
construída, foi plotada a mancha da zona explorada pela CGG nos dois primeiros
anos de trabalho: preocupação com a divulgação de resultados como mecanismo
para garantir a continuidade dos investimentos.
Fonte: MINAS GERAIS, 1894b.
ao Dr. Presidente do estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894. Anexo B.
Relatório da Comissão Geográfica e Geológica de Minas. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894b. p.8.
177
do governo. Nesse caso, Lacerda defendeu veementemente os trabalhos da
comissão, sustentando seus argumentos na economia de seus gastos em função
dos resultados já alcançados:
178
Na verdade, o governo estadual abriu nesses anos não duas, mas diversas
frentes de mapeamento no território, se considerarmos os trabalhos da Comissão
Construtora da Nova Capital e as comissões de exploração geográfica para
medição de terras que a Repartição de Obras Públicas mantinha em cada um dos
cinco distritos do estado.30 De 1894 até o final da década, as verbas votadas para
investimentos nos programas cartográficos cresceriam substancialmente, mas
distribuindo-se entre a CGG, a comissão de limites e as comissões de medição de
terras.31 Esse fortalecimento dos investimentos públicos decorria do crescimento
das receitas orçamentárias do estado com a transferências dos impostos de
exportação, antes recolhidos pelo governo federal. Por outro lado, um surto de
desenvolvimento foi experimentado no período32, no qual o secretário de
Agricultura do novo governo Bias Fortes, Francisco Sá33, via, em inícios de 1895,
o rejuvenescimento de todas as forças vivas do estado. Para Sá, se o resultado
tangível desse crescimento eram as obras públicas em curso, o seu sentido maior
seria fazer de Minas o exemplo da paz, da liberdade e do trabalho.34
30 Cada distrito tinha uma comissão liderada por um engenheiro e composta por agrimensores e
escriturário, dedicados ao trabalho de produzir uma cartografia aplicada na escala dos
mapeamentos cadastrais. O trabalho de medição de terras fez surgir no âmbito da Secretaria de
Agricultura um interessante debate sobre o valor das terras públicas, que dependia de decisão do
Congresso estadual. Os engenheiros dos distritos reivindicavam a adoção de critérios técnicos
baseados nas condições geológicas, topográficas e meteorológicas dos terrenos, além do critério
econômico de avaliação das benfeitorias. MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo
Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr, Francisco Sá
em o ano de 1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895b.
31 Os investimentos também eram direcionados para a criação de institutos agronômicos, cujos
cursos técnicos formavam muitos dos agrimensores empregados nas diferentes comissões.
32 O crescimento das receitas do estado de Minas resultou da conjuntura favorável do mercado
internacional ao café, cuja alta dos preços entre 1885 e 1890 teve conseqüências duradouras até
1894. Conjugada com o crescimento das lavouras, que permitiu a maior participação da
cafeicultura mineira na exportação nacional, a prosperidade persistiu até aproximadamente 1897,
quando não conseguiu mais compensar a baixa dos preços e expôs toda a fragilidade e
dependência do estado em relação à atividade cafeicultora (RESENDE, 1982, p.24-30).
33 Francisco Sá (1862-1936) pode ser considerado como mais um ator social a compor a rede
179
Em 1894, com a criação da turma de limites, inicialmente subordinada à
comissão geográfica, a liderança técnica da CGG é alterada, com a saída do
engenheiro Augusto de Vasconcellos, primeiro ajudante e triangulador, que passa
a liderar a nova turma. Belarmino de Menezes ocupou o seu posto e novos nomes
passam a compor a equipe de engenheiros e agrimensores. Os nomes recrutados
para a turma de limites e as mudanças nos quadros da CGG, entretanto, não
alteraram o perfil de formação técnica da maioria de seus componentes, que
continuavam sendo os ex-alunos da Escola de Minas.
35A Comissão da Carta Corográfica do Rio de Janeiro e demarcação dos limites como os estados
de Espírito Santo, Minas e São Paulo foi criada pelo governo fluminense pelo decreto n.142 de 23
de novembro de 1894.
180
uma equipe maior do que a CGG e com mais recursos votados pelo Congresso.36
Comparando-se as duas comissões, percebe-se que a CGG manteve uma equipe
menor e mais diversificada para dar conta dos objetivos mais amplos da carta
geográfica e geológica e dos estudos meteorológicos. Por outro lado, a comissão de
limites foi composta por uma equipe de engenheiros e agrimensores
exclusivamente voltada para a produção imediata das cartas topográficas das
zonas limítrofes em litígio.
Quanto aos rumos do trabalho que deixava, vaticinou o avanço para o sul e
sudoeste, em direção às zonas limítrofes. Por certo o futuro da CGG dependeria
da sua fusão com as redes de trianguladas que agora envolviam também a
comissão de São Paulo, pelo acordo para definição de limites que os respectivos
governos buscavam ajustar. Mantendo a tradição do discurso otimista e
tecnicamente coerente, Lacerda apontou vantagens técnicas nessa orientação dos
trabalhos, pela possibilidade de ligar a rede iniciada pela medição da base
geodésica em Várzea do Marçal à base paulista de Roseira, medida em conjunto
pelas duas comissões: [...] assim computados os triângulos, de seus lados partirão
outros, que formarão a malha da rede que cobre toda a zona explorada.37
181
O novo dirigente da comissão, Álvaro da Silveira, deu continuidade aos
trabalhos, imprimindo desde logo algumas mudanças para acelerar o ritmo dos
trabalhos, como a priorização do avanço da triangulação que, ao longo dos anos,
tendeu a ficar atrasada em relação ao levantamento topográfico.38 Por outro lado,
introduziu os estudos botânicos e a formação de um herbário entre os objetivos da
comissão. Silveira buscou justificar tecnicamente a abertura dessa nova frente de
trabalhos, que era um campo de seu particular interesse, discorrendo sobre a
importância da relação entre botânica e geologia e citando teoria de Emmanuel
Liais sobre a antiga junção das bacias dos rios Paraopeba e Grande pela
distribuição de espécie Illex congonhas:
38 Certamente Silveira foi motivado pelos próprios números da comissão, pois, pela média da
quilometragem já realizada pela equipe, calculava-se em cerca de 162 anos o prazo para terminar
os trabalhos. Silveira propôs às autoridades que a equipe fosse multiplicada por cinco, para
reduzir esse prazo para 32 anos.
39 MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório da Comissão Geográfica e Geológica. In: ____.
Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo
Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1896. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1896c.
Anexo A. p.115.
40 Como Orville Derby e outros membros da comissão paulista, Álvaro da Silveira tinha
civil na Escola de Minas em 1890. Começou sua carreira na administração pública como químico
da Comissão de Estatística. Engenheiro do Estado, exerceu, entre outros, os cargos de chefe da
Seção Técnica da Repartição de Terras, Inspetor Geral de Terras e Diretor de Agricultura e
Comércio. Foi um dos fundadores da Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte, 1911.
182
pleitear em seu relatório anual um lugar de botânico na comissão. Fez ainda
ressurgir a idéia, insinuada nas instruções de 1892, da criação de um Museu de
Minas, o qual considerava
impressão.
45MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Anexo da Comissão Geográfica e Geológica. In: ____.
Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo
Inspetor de Terras e Colonização, Dr. Carlos Prates em 1898. Ouro Preto: Imprensa Oficial,
1898b. Anexo A. p.116.
183
1897 um novo mapa parcial com a representação da área já coberta pelo
mapeamento.46
Figura 12: Folha de Barbacena (1895), considerada ainda hoje pelos cartógrafos como o
primeiro mapa realizado em Minas Gerais.
Fonte: APM.
46 Segundo Silveira, o mapa foi desenhado na escala de 1:500.000 e continha a rede de triângulos,
as curvas de nível, os cursos d´água e as principais povoações, além dos recortes das folhas e a
diferenciação dos municípios por cor. Não foram encontrados exemplares desse mapa nos arquivos
consultados.
47 Lei n.11 de 13 de novembro de 1891.
184
qualquer outra tentativa de reformulação do mosaico territorial, como forma de
prevenir as tendências de fazer política através de reforma da divisão
administrativa.48 Tanto Lacerda como Silveira lamentaram que as folhas viessem
a público sem que os limites intermunicipais fossem demarcados com o necessário
rigor, mas posicionaram-se em pólos opostos quanto à solução cartográfica para
superação da questão. Para Lacerda, o problema provinha de caos em que se
encontrava a delimitação territorial dos municípios e seus inúmeros conflitos
locais, e julgava conveniente que a comissão publicasse suas cartas não
assinalando limite algum.49 Mas Silveira atribuía parte das dificuldades à
indiferença das câmaras quanto à utilidade das cartas e argumentava em favor
da sua representação:
Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo
Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1897. Anexo A. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1897c. p.5.
185
1895 e 1898, foram anos de crescentes dificuldades econômicas para o estado, com
o aprofundamento da sua dependência em relação à cafeicultura. Para o governo
do estado a crise culminou com o colapso da receita orçamentária advinda da
queda dos preços do café e da desvalorização do câmbio. A eleição do novo
presidente Silviano Brandão deu-se nesse contexto de crise e forçou a adoção de
um programa de governo que conjugava a centralização política com drásticas
medidas de cortes orçamentários. Segundo Wirth51, Silviano Brandão fechou
quase quatrocentas escolas durante a depressão de 1898, o que dá uma dimensão
da amplitude dos cortes então realizados. Suprimiram-se serviços dispensáveis,
suspenderam-se outros adiáveis, e reorganizaram-se diversos outros, dizia o
relatório de Brandão em 1899.52
Minas Gerais pelo secretário dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Sr.
Américo Werneck, em o ano de 1899. Cidade de Minas: Imprensa Oficial, 1899b. p.18.
54 MINAS GERAIS, 1899b. p.46.
186
A comissão geográfica e geológica e a comissão de limites foram assim
extintas em outubro de 1898 e, mais uma vez, adiava-se a fabricação do mapa
exato. A interrupção dos trabalhos cartográficos, pelo que se conclui dos relatórios
anuais dos chefes e técnicos, colheu de surpresa as equipes, em ambas as
comissões, apesar das constantes reclamações sobre a exigüidade dos recursos e
de pessoal por todo o período. Na CGG, os trabalhos se desenvolviam dentro de
uma metodologia que seguramente não previa a possibilidade de sua brusca
paralisação. Como extratos, os trabalhos corriam paralelamente em muitas
frentes, com seus ritmos próprios: triangulação, topografia, desenho, impressão,
mapeamento geológico, observações meteorológicas. A extinção da comissão
deixou todas as etapas inacabadas, forçando procedimentos diferenciados para
salvar os resultados e produtos e garantir a sua possível continuidade no futuro.
Dourada, São Tiago, Juiz de Fora, Bocaina, Remédios, Varginha, Cristais, Palmira, Itapecerica,
Campanha e Pouso Alto. MINAS GERAIS, 1899c, p.272.
57 MINAS GERAIS, 1899c, p.272. As dez folhas finalizadas encobriam uma área de 22.182
quilômetros quadrados.
187
um balanço do trabalho da CGG no seu relatório anual, no qual considerou que a
exploração geológica pouco tinha avançado e que os estudos meteorológicos
mantiveram-se com a previsível regularidade. Mas Prates não poupou elogios à
figura e ao trabalho de Silveira, especialmente aos seus estudos botânicos e à
montagem do herbário,
que deve mais tarde fazer parte do museu do estado e onde figurará com o
nome do laborioso naturalista que o organizou [...] sem verbas especiais,
graças aos esforços perseverantes do sr. engenheiro-chefe que, mais uma
vez, revelou neste trabalho, consagrado pelas apreciações de sábios
estrangeiros, a sua competência e particular dedicação e amor ao progresso
científico de seu estado natal. Com a organização deste herbário, prestou o
sr. Engenheiro chefe valiosa contribuição para o estudo completo da flora
mineira, até hoje mal conhecida e estudada.58
188
O nosso Estado foi organizado não como um simples Estado, mas antes
como uma grande nação; os seus serviços ordinários, em geral aparatosos,
foram generosa e largamente dotados, e os de caráter extraordinário,
embora representando empreendimentos úteis e fecundos, não podiam
deixar de pesar fortemente sobre os orçamentos, onerando
consideravelmente os cofres públicos.60
189
chamada linearização das fronteiras foram próprias dos Estados modernos, e esse
empreendimento pode ser considerado como um dos principais fatores dos
avanços técnicos e da capacidade performativa da cartografia moderna.63 No
Brasil essa operação ocorreu em sua maior parte durante a segunda metade do
século XIX e na chamada era Rio Branco; nos estados federados, consagrados
como pequenas nações, foi desafio interposto com o regime republicano.
63 A linearização das fronteiras entre as monarquias européias, ou seja, a redução das múltiplas e
fluidas zonas de transição a um limite linear demarcado no terreno foi empreendimento que
durou séculos e só atingiu a precisão de sua representação nas cartas em grande escala no século
XIX. Sobre a questão, ver: MAGNOLI, 1997.
NORDMAN, Daniel. Frontières de France; de l´espace au territoire. Paris: Gallimard, 1998.
64 CONGRESSO MINEIRO. Anais do Senado: primeira sessão da primeira legislatura nos anos de
1891 e 1892. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1911. p. 490. Sessão de 16 de setembro de 1891.
190
sempre de combate a uma ameaça externa, defesa contra ataques que eram fruto
da cobiça dos estado limítrofes frente à vasta e fertilíssima zona do território
mineiro.65 Mas os discursos traziam também implícita a idéia de uma
insatisfação das populações locais com o tratamento a elas dispensado pelo
governo mineiro, transparecendo veladas ameaças separatistas66.
[...] grande foi a minha surpresa, quando em vez de receber os dados de que
a comissão tinha necessidade, para estudar e resolver as questões de
limites, não vi mais do que a reprodução dos limites que se encontram
nesses papéis pintados que ai correm com o pomposo nome de mapas
geográficos da antiga província de Minas.67 (grifo nosso)
65 CONGRESSO MINEIRO, 1911b, p. 685. Palavras do senador estadual Silviano Brandão que,
um processo mais amplo, em curso por toda a região e que se agravou nos anos 1890, qual seja, o
esgotamento das possibilidades de expansão das áreas férteis agrícolas ao sul do estado mineiro
para o cultivo do café. Combinado com o fracasso dos programas de imigração patrocinados pelo
poder público e a liberação do contingentes de ex-escravos após a abolição da escravidão, esse
fechamento de fronteiras agrícolas gerou uma população fluida e nômade que transitava pela
região à procura de trabalho e na maior parte das vezes evadia-se para as áreas mais promissoras
do estado de São Paulo. O combate a essa mobilidade da mão-de-obra, a qual gerava incertezas
nos produtores, pode ser considerada como uma motivação a mais para o investimento nos
processos de reconhecimento formal e mapeamento das limites entre os estados.
67 CONGRESSO MINEIRO, 1911b, p.686.
68 CONGRESSO MINEIRO, 1911b, p.687.
191
mineiro cometido por São Paulo, segundo as palavras de Wenceslau Brás69, os
deputados voltaram a cobrar do governo documentos relativos aos limites deste
Estado com o de S. Paulo70 e retomaram projeto do deputado Camilo Prates, que
no ano anterior havia proposto um projeto de lei destinado a aviventar e fixar os
limites entre Minas e os estados limítrofes, conferindo ao tema um caráter de
urgência. Certamente as informações recolhidas nos arquivos e na desacreditada
cartografia existente foram consideradas insuficientes, e o Congresso decidiu pelo
investimento direto na questão, concedendo crédito especial ao governo para
executar os serviços de demarcação.71 Em julho do mesmo ano, lei estadual
permitia ao governo [...] entrar em ajustes com os governos dos estados limítrofes
com o de Minas para proceder a fixação dos limites72, podendo contratar pessoal
especialmente para esses estudos. O convite oficial do governo mineiro para o
estabelecimento de comissões mistas foi aceito inicialmente pelo estado de São
Paulo, e os estados definiram que os trabalhos seriam feitos pelas suas
respectivas comissões geográficas.
192
fixando alguns pontos da rede de triângulos para a carta geográfica de São
Paulo.74 Para Sampaio, a questão apresentava-se como das mais melindrosas, por
não haver nem documentos legais nem demarcações no terreno que permitissem
fixar os limites sem um ajuste político entre os estados. Sampaio lamentava a
natureza arbitrária da delimitação existente:
Rio de Janeiro. Ainda estudante, trabalhou no Museu Nacional com Orville Derby, de quem se
tornaria amigo e parceiro profissional. Integrou a Comissão Hidráulica do Império, quando
participou de grande expedição ao rio São Francisco, sobre a qual escreveria posteriormente dois
livros. Após se dedicar a outros trabalhos, aceitou o convite de Derby para integrar a Comissão
Geográfica e Geológica de São Paulo, como primeiro engenheiro e chefe dos serviços de topografia.
Permaneceu na comissão entre 1886 e 1892. Teodoro Sampaio tornou-se um intelectual respeitado
no seu tempo, como engenheiro e como geógrafo.
74 CARTA de Teodoro Sampaio. São Paulo, 25 setembro de 1891. APM. Fundo SI. Série Limites
com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Doc. 25. Cx. 1.
75 CARTA..., 1891.
193
expansão dos territórios das potências imperiais e na afirmação nacionalista de
paises como a Alemanha, França e mesmo os EUA. Como mostrou Nordman76,
nenhuma fronteira é natural em si, pois sempre é necessária uma convenção,
uma decisão, comum ou não aos vizinhos, para que uma fronteira perceptível na
paisagem seja enfim aceita como tal.
[...] a linha que serve de fronteira e que se acha representada por modo
diverso em cada carta que se publique, não tem existência legal, sendo
baseada apenas em uma convenção tácita entre o povo dos municípios
limítrofes.77
76 NORDMAN, 1998.
77 CÓPIA DE OFÍCIO de Orville Derby para Augusto Lacerda. 31 de janeiro de 1893. APM. Fundo
SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx.1.Doc. 27.
78 As informações solicitadas aos municípios diziam respeito à existência de uma linha de limite
194
conhecer os pontos pacíficos e litigiosos de toda a região. Propunha ainda que
cada comissão seguisse com o mapeamento até a linha de fronteira, sem publicar
qualquer carta parcial até que os elementos colhidos pudessem ser discutidos e os
limites fixados por acordo legal entre os estados. Para que o mapeamento
alcançasse tais regiões era preciso que a triangulação avançasse sobre o território
do outro estado, daí a proposta de Derby de que o trabalho fosse realizado em
conjunto, oferecendo à comissão mineira a possibilidade de auxílios mútuos nas
zonas onde os trabalhos das comissões se encontram.79 Sua proposta era que as
duas comissões realizassem o levantamento topográfico dando preferência às
zonas limítrofes não determinadas pelas referidas feições naturais, e que este
trabalho fosse sustentado por um acordo oficial entre os dois estados.
Será para nós motivo de júbilo concorrermos para a solução pacífica desta
melindrosa e secular questão, para o que faço votos, pois são mais que
suficientes os fermentos existentes para a estabilidade desta cara pátria.80
79 Analisando a linha de fronteira então existente Derby entendeu que as regiões não contestadas
eram aquelas cujos limites eram definidos por feições topográficas de fácil conhecimento (cumeada
da Serra da Mantiqueira e leito do rio Grande). No restante a linha era irregular e descontínua,
antes uma série de pontos do que uma linha, pontos esses que seriam os antigos registros
mineiros do período colonial. Como chefe da CGG paulista, Derby justificava também o seu
interesse na solução da questão pois julgava que o programa cartográfico em curso não poderia
dar publicidade a uma carta oficial cujas linhas divisórias pudessem ser objeto de contestação.
CÓPIA DE OFÍCIO..., 1893.
80 CÓPIA DE OFÍCIO de Augusto Lacerda para Orville Derby. 3 de março de 1893. APM. Fundo
SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx.1. Doc. 27.
81O chefe da turma de limites era o engenheiro Augusto Cesar de Vasconcelos, transferido do
cargo de primeiro ajudante da CGG. Os demais membros da nova comissão conservavam o mesmo
perfil técnico da CGG, sendo em sua maioria antigos alunos da Escola de Minas (ver quadro
anexo)
195
mesmo adotado nas comissões geográficas. Ressalvava-se, porém, que as cartas
parciais produzidas não deveriam ser publicadas antes do pretendido acordo
entre os estados.
82 LIMITES de São Paulo e Minas. Minas Gerais, Ouro Preto, n.148, 3 jun 1894. p.5.
196
serviço.83
83 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Seção de Limites. In:
____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de
Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr, Francisco Sá em o ano de
1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895d. Anexo 4. p.40.
84 No mesmo ano de 1894, Afonso Pena realizou contatos também com o governo do estado do
Espírito Santo, ao qual fez a mesma proposta de um acordo para a criação de uma comissão mista
de limites, mas rejeitando duramente qualquer possibilidade de negociação dos limites então
vigentes.
OFÍCIO de Afonso Pena. 4 de agosto de 1894. APM. Fundo SI. Série Estatística Geral do Estado e
diversos. Registros de correspondência. Encadernado 1139.
85 O episódio da escolha da sede do escritório da seção fluminense, narrado por Lindgren, mostra
em parte as condições em que trabalhavam esses técnicos. Lindgren relatou sobre suas dúvidas
quanto a sede do escritório e sua primeira opção por Palma, por considerar Miracema mais
insalubre e onde os aluguéis eram exorbitantes: Resolvi ficar em Palma, como uma cidade
notoriamente saudável, não só por minha causa como lembrando-me o dever de não obrigar
colegas com família, quando o serviço não exige, morarem em lugares pouco saudáveis. Em pouco
tempo tudo seria mudado, devido a uma epidemia que grassou em Palma, a varíola, e continuou
na região nos anos seguintes, obrigando a comissão a mudar o escritório para Morro Alto e em
seguida para Resende.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da
Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates
em 1896. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1896b, p.195.
197
daquele estado, e grandes dificuldades foram apontadas para o desenvolvimento
do trabalho de campo, devido à ausência de um mapa merecedor de confiança86,
às doenças e à acidentada topografia da região. As mesmas dificuldades de
extensão da triangulação por sobre uma região muito montanhosa era
experimentada pela equipe que atuava na região limítrofe com São Paulo.87
Figura 13: Esboço dos trabalhos de 1894 e 1895. Enquadrado pela moldura em graus de
latitude e longitude, o mapa mostra em cores as zonas reservadas a cada técnico e a fusão
dos elementos das duas comissões. Sobre o rio Paraíba uma densa rede de linhas
paralelas e transversais demonstram a cobertura sistemática da região entre Taubaté e
Lorena, em torno da base da Roseira, inclusive pela comissão mineira. As linhas dos
caminhamentos não coincidem com as linhas retas da triangulação, são sinuosidades que
costuram outros pontos, entre as bases da triangulação, pousos em cidades e povoados.
Fonte: APM.
198
Apesar da proibição da publicação das folhas parciais, dois esboços da
comissão de limites foram publicados como anexos aos relatórios técnicos da
Repartição de Terras, demonstrativos dos trabalhos desenvolvidos entre 1894 e
1895. O primeiro foi produzido pela seção de Meneses e apresentava o estado
geral dos trabalhos nas duas frentes de mapeamento, representando a rede de
triangulação, os caminhamentos e a ligação com os trabalhos da comissão
geográfica e geológica de Minas. Pelo mapa é possível verificar o andamento dos
trabalhos em cada zona delimitada dos técnicos, algumas já cortadas pela
triangulação, outras cruzadas pelos caminhamentos.88
199
Figura 14: Esboço dos trabalhos na zona limítrofe com o
Estado do Rio.
Fonte: APM.
200
ofício ao secretário de Agricultura, era a imprecisão da chamada zona limítrofe.
Vasconcelos propunha que essa se restringisse aos pontos ou regiões que então
apresentavam atritos de jurisdição e acusava a comissão paulista de pretender
alargar o conceito para abarcar zonas onde o estado de Minas já exercia direito de
posse, através do levantamento de conflitos históricos, [...] em vista da publicação
dos documentos antigos colhidos e dados à publicidade pelo Dr. Orville Derby
[...].90 Outro ponto levantado pelo engenheiro dizia respeito à incompatibilidade
técnica encontrada na adoção de um sistema de triangulação comum às duas
comissões, pois embora os modelos e princípios metodológicos fossem os mesmos,
o sistema mineiro, segundo Vasconcelos, era mais rigoroso e a adoção do sistema
paulista acarretaria a perda da uniformidade de precisão com que estavam sendo
fixadas as demais regiões mineiras na carta geral do estado.91 Para superação do
impasse, Vasconcelos solicitava a solução política da questão, a ser enfrentada
pelos dois governos com um acordo que fixasse a zona sobre a qual terá de versar
a questão de limites e pusesse fim a um estado de incerteza que vinha
dificultando a [...] execução da parte técnica da questão, cuja parte é a única que
atualmente me cabe desempenhar.92 A posição de Vasconcelos era, entretanto,
bastante dúbia e terminava por confundir os termos técnicos e políticos, pois ele
próprio forneceu elementos que reforçavam o embate:
diferenças entre os projetos, tanto no sistema de triangulação e no uso dos instrumentos como na
concepção final das cartas, cujo formato e tamanho diferentes impediam a publicação conjunta
das folhas. CÓPIA DE OFÍCIO de Orville Derby. 31 de outubro de 1895. APM. Fundo SI. Série
Limites com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx. 1. Doc. 30.
92 OFÍCIO DO CHEFE da Comissão de Limites ao Secretário de Estado de Obras Públicas de
Minas. 6 de fevereiro de 1896. APM. Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e
Minas Gerais. Cx. 1. Doc. 35.
201
vale do rio Pardo, visto existirem mapas antigos aonde se vê a divisa entre
Minas e S. Paulo pelo rio Pardo.93
com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx. 2. Doc. 41.
202
incidente da sua tarefa principal que é o levantamento do mapa geral do estado.96
Por fim, somente em fevereiro de 1898 as instruções técnicas foram aprovadas
pelos governos, mas foram publicadas com uma diferença de redação e conteúdo
que era a exata expressão das dificuldades nunca superadas. Essa diferença foi a
supressão, pelas instruções da comissão paulista, do artigo n. 9, que definia que o
[...] fim especial das comissões mineira e paulista era fornecer elementos
necessários para a fixação definitiva de limites.97
Como forma de tecer uma rede de apoio em torno de sua posição, Derby
escreveu para o então deputado federal João Pandiá Calógeras98, engenheiro de
minas de grande prestígio e autoridade e colaborador técnico da Secretaria de
Agricultura de Minas. Em sua resposta, Calógeras produziu um arrazoado sobre
a questão, buscando equilibrar-se entre os argumentos técnicos e políticos, entre
as posições paulista e mineira, entre o parecer isento e o conselho amigável. Sua
carta pode ser considerada como uma síntese das ambigüidades que cercavam os
argumentos dos técnicos e mantinham o impasse. De início, Calógeras expressou
a sua opinião de que as divisas deveriam apenas ser retificadas – o que
correspondia inteiramente às pretensões políticas do governo mineiro –, para em
seguida afirmar:
Seja esta [divisa] qual for, não há dúvida entretanto que comissões técnicas
nada tem que ver ou intrometer na discussão de pretensões legítimas ou
tentativas injustificadas de ocupação do território de qualquer dos estados.
A sua única missão é fazer um levantamento da região, tão completo e
tecnicamente perfeito quanto possível, a fim de obter-se um mapa exato da
zona contestada e assim permitir a fixação da fronteira sobre e de acordo
com os mapas por essa forma obtidos e desenhados.99 (grifo do autor)
figurar na rede técnica e política tecida em torno dos mapeamentos mineiros. Quando respondeu à
carta de Derby, estava inaugurando o primeiro dos três mandatos que exerceu como deputado
federal e já tinha ocupado o cargo de consultor técnico da Secretaria da Agricultura de Minas
entre 1895 e 1896. Também já havia publicado diversos trabalhos geológicos e mineralógicos, o
que lhe conferia autoridade técnica para dialogar com a eminente figura de Orville Derby. A
ESCOLA DE MINAS: 1876-1976; 1o Centenário. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto,
1976. p.121.
99 CÓPIA DA CARTA de João Pandiá Calógeras a Orville Derby. 27 de fevereiro de 1898. APM.
Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx.1. Doc.41.
203
A inexistência de instruções técnicas padronizadoras de um mapeamento
irremediavelmente comum às duas comissões foi criticada por Calógeras como
uma fonte de ilegitimidade dos futuros mapas, uma vez que o [...] trabalho técnico
deve ser colocado fora desses termos incandescentes; é obra impessoal a executar;
nenhuma paixão pode alterar a medição das bases ou dos ângulos de um
triângulo [...]100
204
delimitação definitiva da zona. Mais próximas de um acordo de convivência do
que de um roteiro técnico para o trabalho comum, as instruções resguardavam a
autonomia de cada comissão e o seu direito de prosseguir com suas escolhas
técnicas, seu ritmo de trabalho e suas prioridades de publicação, com as ressalvas
necessárias quanto aos pontos de ligação dos dois mapeamentos, quando só então
as operações seriam comuns.
sobretudo como o fundador do Arquivo Público Mineiro (1895), editor da sua revista (1896) e autor
205
missão de definir os termos de um novo acordo. Xavier da Veiga não conseguiu o
novo acordo, mas produziu um relatório e uma memória histórica sobre os limites
de Minas que se tornou uma arma diplomática e jurídica por robustecer as
posições defendidas pelo governo mineiro, à maneira que fazia Orville Derby em
São Paulo. No relatório de Xavier da Veiga, como nos estudos de Derby e de
muitos outros, todo um esforço de pesquisa é realizado para justificar pretensões
territoriais à luz da continuidade ou da reparação de uma injustiça histórica.
Nesses trabalhos técnicos assim como em outros arrazoados jurídicos que seriam
produzidos ao longo dos anos, documentos históricos e mapas antigos eram
acionados no embate pela legitimação de uma dada linha de fronteira, sendo, no
caso de Minas, comumente citados os esboços de João José da Silva Teodoro e
Francisco Eduardo de Paula Aroeira, executados entre os anos de 1840 e 1860, o
mapa de Chrockatt de Sá (1893) e, particularmente, o sempre elogiado mapa de
Henrique Gerber (1861).105
das Efemérides Mineiras (1897). Xavier da Veiga publicou a sua memória sobre os limites com o
Rio de Janeiro na Revista do Arquivo Público Mineiro em 1899, espaço editorial no qual o tema de
limites era freqüente. Como mostraram Carneiro e Neves, toda a obra de Xavier da Veiga,
inclusive a citada memória, inseria-se no conjunto de iniciativas oficiais que buscavam a
valoração da história como instância política e cultural legitimadora das ações governamentais
mineiras (p.31), e mais além, no [...] projeto de definição do Estado como instância política, social
e juridicamente organizadora, mas acrescido de uma nova nuança, a de que aquele projeto
implicava também a consolidação do Estado como instância territorial fisicamente demarcada,
num mecanismo de enquadramento capaz de garantir a caracterização peculiar de um povo
geograficamente determinado, culturalmente reconhecido e historicamente identificado: o povo
mineiro. (grifo nosso). CARNEIRO, Edilane de Almeida; NEVES, Marta Eloísa Melgaço.
Introdução. In: VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides mineiras. Belo Horizonte: Centro de
Estudos Históricos Culturais, Fundação João Pinheiro, 1998. p.31.
105 É importante ressalvar que a própria comissão geográfica de limites reproduziu diversos
mapas antigos de Minas Gerais, desde mapas gerais do período colonial até esboços de grande
escala de limites locais que reproduziam antigos conflitos de jurisdição entre fazendas e
municípios.
206
parciais compatíveis com o rigor geométrico, o detalhamento topográfico e a
qualidade do desenho nos padrões definidos pela CGG e, ao mesmo tempo,
produzir a curto prazo os documentos cartográficos que, por si, pudessem
responder por cortes e disputas territoriais que se prendiam a ações e escolhas
históricas que não estavam inscritas na paisagem, mesmo quando se recorria à
retórica dos limites naturais.
106O que chamamos aqui de contradição nos discursos desses cientistas não pode ser, entretanto,
percebido de uma forma reducionista, como se os mesmos adotassem explicitamente condutas
opostas no trânsito entre uma atuação e outra. A exemplo de Derby, que no período começou a
realizar pesquisas em arquivos e bibliotecas, exumando antigos mapas e documentos e produzindo
extensos trabalhos históricos sobre limites, cartografia e povoamento em São Paulo e no Brasil.
Certamente Derby carregou para sua prática como historiador todo o rigor técnico e aparato de
erudição que sustentava na condução dos trabalhos cartográficos e geológicos da comissão
paulista. O que buscamos frisar, entretanto, são os limites da pretendida objetividade e
imparcialidade científica na condução dos trabalhos sob sua responsabilidade, fossem eles
cartográficos, geológicos ou históricos.
207
território. Grande parte da argumentação técnica e jurídica passa a depender da
existência desses documentos e da sua interpretação, pois muitas vezes os
mesmos mapas eram utilizados para defender posições antagônicas. Antigos
testemunhos cartográficos eram evocados num conjunto mais amplo de provas,
reunidas por cada lado, composto de leis, acordos, tratados geográficos, relatos de
viajantes, informações locais, entre outros. Dessas práticas emergiam outras
contradições, pois a natureza de prova jurídica conferida aos mapas antigos,
atributo também dos mapas produzidos pelas comissões demarcadoras, escapava
totalmente aos argumentos e objetivos estabelecidos para a fabricação dos mapas
das comissões geográficas, que, por inaugurarem o novo, desqualificavam
cientificamente os produtos cartográficos anteriores.
Nesses embates, onde imperava a força do discurso, prevalecia a função
enunciativa dos mapas, cuja força emanava do consenso sobre a objetividade
científica da representação. Nas palavras de Jacob:
107 JACOB, Christian. L´empire des cartes: approche théorique de la cartographie à travers
l`histoire. Paris: Albin Michel, 1992.
108 Esse argumento é devedor das análises da professora e historiadora francesa Alice Ingold a
respeito das práticas cartográficas dos nascentes estados europeus na segunda metade do século
XIX. Tivemos o privilégio de seguir seu seminário intitulado Ressources, communautés,
territoires; administrer les ressources naturelles, XIX-XX siècles, ano 2003-2004, na École des
Hautes Études en Sciences Sociales.
208
nome local e a tradição cartográfica anterior ou deslocasse o mesmo topônimo
para outro marco vizinho podia gerar uma representação e conseqüentemente
uma leitura diferente da configuração da região, corroborando uma interpretação
particular que certamente teria implicações e geraria conflitos na fixação dos
limites.109 Christian Jacob refletiu de maneira profunda sobre essa capacidade
enunciativa do ato de nomear o espaço e, no caso do cartógrafo, de fazer coincidir
o nome com o seu lugar autorizado na carta. Assim como a maior parte das linhas
de fronteiras, os topônimos não existem na paisagem, mas na memória coletiva
colhida no trabalho de campo, nas descrições geográficas e nas cartografias
anteriores que registram os processos sucessivos de nominação. Traços culturais
inscritos na superfície dos mapas, neles introduzem uma dimensão temporal e
genealógica ainda mais aguda quando relativa às zonas de limites imprecisos e
aos territórios disputados.
109 Escutar os moradores dos lugares quanto à toponímia foi regra defendida por Vasconcellos
como meio de se evitar os equívocos e injustiças que poderiam advir de um método cartográfico
que consistia sobretudo em ligar graficamente elementos que se acham esparsos em cadernetas de
diversos topógrafos.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Anexo da Comissão Geográfica e Geológica. In: ____.
Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo
Inspetor de Terras e Colonização, Dr. Carlos Prates em 1898. Anexo A. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1898b. p.167.
110 Como também o seriam as suas congêneres em São Paulo e no Rio de Janeiro.
209
5 A C IÊ NC IA EM AÇÃO II: A SEGUNDA FASE DA CO MISSÃO
GEO GRÁFICA E G EOLÓGICA DE MINAS GE RAIS
111 São as folhas de Lavras (1898), Lima Duarte e Rio Preto (1899).
112 As controvérsias científicas são momentos privilegiados para se compreender como se organiza
um campo científico, ou seja, como se constroem e se confrontam as estratégias dos atores sociais
na luta pela autoridade científica, posição esta que funde indissociavelmente a competência
técnica e o poder social. Pierre Bourdieu desdobrou os conceitos de rede e campo científico da sua
teoria geral de campo social, e desenvolveu um estudo específico para determinar a estrutura e o
funcionamento desse campo particular.
BOURDIEU, Pierre. La spécificité du champs scientifique et les conditions sociales du progrès de
la raison. Sociologie et Sociétés, v.7, n.1, p.91-118, 1975.
210
cartográficas do país na Primeira República. Os dois pólos do debate foram o
próprio Orville Derby, na defesa dos trabalhos da comissão geográfica e geológica
de São Paulo, e o engenheiro Francisco Bhering, então professor na Escola
Politécnica de São Paulo113, criada em 1894, que empunhava a crítica à
orientação metodológica dos mapeamentos e à atuação e personalidade de
Derby.114
Por outro lado, a polêmica entre Bhering e Derby ecoava e mantinha acesa
uma polêmica mais longa e mais antiga, que envolvia o campo da astronomia
brasileira desde o último quartel do século XIX. Tanto a gestão de E. Liais como
de seu sucessor L. Cruls à frente do Observatório Imperial (Nacional, com a
República) caracterizaram-se pela busca de um equilíbrio entre a manutenção
113 Francisco Bhering formou-se em engenharia na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e realizou
estágio no Observatório de Paris. Participou do levantamento cartográfico do Distrito Federal e,
por ocasião da polêmica com Derby, acumulava suas atividades de professor com a de engenheiro
da Repartição Geral dos Telégrafos. Segundo Figueirôa, [...] sua ligação pessoal com Benjamin
Constant, a manifesta veneração que nutria por Pereira Barreto e, principalmente, seu próprio
discurso, evidenciam que Bhering era notório positivista. FIGUEIRÔA, Silvia F. M. Modernos
bandeirantes; a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo e a exploração científica do
território paulista (1866-1931). 1987. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade de São
Paulo, São Paulo, 1987. p.85.
114 Silvia Figueirôa dedicou-se em mais de um trabalho a relatar de forma competente os termos
dessa polêmica. Além do trabalho acima citado, ver: FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça.
As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934. São Paulo:
Hucitec, 1997.
211
das tradições da instituição – a astronomia de posição e o ensino prático – e a
introdução de atividades de pesquisa e divulgação científica.115 A astronomia de
posição era particularmente importante para o desenvolvimento das atividades
de mapeamento, pois era através do seu método de observação da movimentação
dos astros e estrelas e da matemática que se podia determinar as posições
relativas ao espaço e ao tempo, ou seja, a determinação das latitudes e longitudes
de portos, estradas de ferro e pontos essenciais na construção das redes
geodésicas. Com a República, cresceram significativamente as demandas por
esses serviços práticos oferecidos pelo Observatório e pela formação de novos
contingentes de engenheiros-geógrafos e militares, que deveriam servir nas
muitas missões que se inauguravam para a construção da nova nação e a
modernização do estado.
do que científica, e resultavam sobretudo do seu desejo nunca alcançado de ser o diretor do
Observatório. A nosso ver, todo processo de construção e consolidação do conhecimento e das
práticas científicas é marcado por essa concorrência articulada entre estratégias pessoais e
profissionais para alcançar e manter a direção de centros institucionais de produção e difusão da
ciência – como era o Observatório Nacional – e estratégias discursivas e persuasórias para fazer
212
Com os ataques à comissão geográfica e geológica de São Paulo, Bhering
inaugurava um novo momento dentro desse processo mais amplo de confronto
pela autoridade técnica, confronto que recorria às representações dicotômicas
entre uma ciência pura e uma ciência aplicada. As críticas de Bhering foram
veiculadas em dois opúsculos de sua autoria117 e, embora se articulassem para
desferir um ataque frontal ao trabalho e à pessoa de Derby, consistiam em uma
severa crítica e uma proposição mais ampla sobre a cartografia brasileira. No
texto intitulado Contribuição para o estudo do problema cartográfico no Brasil, o
engenheiro buscou demonstrar a falta de uma verdadeira tradição cartográfica no
país, que não tinha uma carta que retratasse o seu território, pois todas as
tentativas anteriores, desde o Império, eram frutos dos trabalhos de gabinete:
213
À desqualificação técnica dos mapeamentos aplicados então existentes,
Bhering somava um duro questionamento sobre a importância e utilidade real, ou
seja, sobre a pertinência e aplicabilidade do conhecimento e do trabalho
cartográfico de cientistas e estrangeiros, a exemplo de E. Liais, cuja maior
preocupação seria [...] produzir interessantes memórias, em geral sobre detalhes
astronômicos, geodésicos e geológicos, destinadas às academias européias.120
Para Bhering, considerando um país em que tudo está por fazer sob o
ponto de vista geográfico, trabalhos como os realizados por Liais à frente do
Observatório Nacional, de alta precisão geodésica e de investigação astronômica,
eram morosos e dispendiosos, além de impraticáveis e inoportunos. Nessa mesma
tradição de ciência a ser combatida, Bhering inseria os trabalhos de Derby e das
comissões paulista e mineira, embora mantivesse uma postura mais ambígua em
relação a esta última, valendo-se por vezes de suas diferenças – como a sua maior
produtividade – para aprofundar a crítica à CGG paulista, seu alvo predileto.
Defendendo a causa da uma carta geral para o país que fosse exeqüível e
compatível com a ânsia de progresso do Brasil121, Bhering combatia a adoção,
pelos programas de mapeamento brasileiros, das operações geodésicas, cujo
objetivo maior não seria a produção de cartas topográficas mas a determinação da
forma e da grandeza do globo terrestre. Em seu tempo, a medição dos meridianos
pelas grandes redes de triangulação internacionais prosseguia na Europa e nos
Estados Unidos, e a finalização dessas operações poderia resultar em
modificações das medidas geodésicas já em uso, alterando os mapeamentos de
alta precisão em todo mundo. Para Bhering, entretanto, o Brasil não deveria se
empenhar nessas operações e realizar o sonho do Sr. Liais, pois tais alterações
não teriam efeitos apreciáveis sobre os trabalhos geográficos, o que significaria
abandonar o necessário para conseguir o supérfluo.122
214
somava ainda o uso do telégrafo. Esse sentimento de urgência que transparece no
discurso de Bhering quanto à necessidade de obter em um curto prazo uma
descrição cartográfica do país parece estar em parte relacionado à sua
experiência enquanto diretor da Repartição Geral de Telégrafos. Bhering pregava
a necessidade de integração do território brasileiro como uma missão patriótica
que visava salvaguardar a própria República, e cujo ponto de partida era a
construção das linhas telegráficas.123 Falava em termos da integridade territorial
pensando particularmente no oeste e norte, nos vastos sertões brasileiros, para
onde dirigiria seus estudos nos anos seguintes.124 Os mapeamentos deveriam
integrar esse plano maior de defesa e integração do território e caminhar
paralelamente à construção das redes telegráficas, e servir-se delas, [...] pois o
processo mais seguro, preciso e rápido para a determinação das longitudes é o que
se baseia na troca de sinais telegráficos.125 Tal método seria suficiente para se
obter o resultado esperado, o qual seria uma carta [...] destinada a servir de base
a estudos meteorológicos, geológicos, etc, assim como a estudos de questões de
limites de territórios, projetos de obras, etc.126
123 MACIEL, Laura Antunes. A nação por um fio: caminhos, práticas e imagens da Comissão
Rondon. São Paulo: EDUC, 1998.
124 Nos anos posteriores a 1901, Bhering produziu estudos sobre o Amazonas e o Pará, tendo
publicado outro opúsculo em que propôs o emprego do processo expedito para o mapeamento do
vale amazônico, com prioridade para o plano de linhas telegráficas. Maciel insere o pensamento
de Bhering entre as concepções de outros eminentes engenheiros e militares que como Euclides da
Cunha e o marechal Cândido Rondon, [...] defendiam para o telégrafo o papel de “sonda” que
deveria acompanhar o trabalho do explorador que ousava devassar regiões distantes e desertas ou
o “precursor do progresso” – um instrumento auxiliar da produção e do comércio. MACIEL, 1998,
p.99.
125 CLUBE DE ENGENHARIA; INSTITUTO POLITÉCNICO BRASILEIRO, 1914, p.20.
126 BHERING, 1901, p.20.
127 BHERING, 1901, p.27.
215
Só quem trabalha, só quem pertence ao grupo dos imperfeitos que fazem,
que operam, é que está no caso de saber quão facilmente se erra.[...]
Os governantes precisam, portanto, nas operações com destino prático,
desconfiar um pouco dos sábios processos: dadas as condições do problema,
eles muitas vezes, apenas encarecem e demoram os trabalhos sem
conseguir a exatidão que se poderia imaginar [...]128
Pelo que precede, vê-se que a Comissão Mineira fazia depender a simples
orientação, a simples determinação de um azimute, de convite a astrônomo
do Observatório. Ora, é claro que essa operação está na alçada de qualquer
viajante geógrafo, de qualquer agrimensor; o processo é o mesmo, quer se
opere com o Casella que dá 20”, quer se opere com o Bamberg ou
Wannschaff que dão 2” [...]. Não estamos aqui no caso das Grandes
Comissões geodésicas, em que devem existir astrônomos e topógrafos, em
que aqueles só se absorviam com as suas operações delicadíssimas, em que
aqueles abandonavam a conseqüência prática de seus trabalhos a
construção da carta – a estes - aos topógrafos, estamos tratando de uma
Comissão simplesmente geográfica, e neste caso os topógrafos devem
absorver a totalidade das funções que se tornam então elementares.130
216
publicações [...]. Pelo simples títulos destas publicações, vê-se que pouco
progresso houve quanto à aquisição de resultados definitivos geográficos:
neste sentido houve uma certa estagnação. Os engenheiros parece que
deixaram-se conduzir pela amenidade dos estudos meteorológicos,
botânicos, geológicos, etc, sobre os quais (é certo que obedecendo à praxe)
encontram-se escritos em latim, confirmando assim o gosto que têm os
nossos coestaduanos por essa língua mãe.
Entretanto, o destino fundamental da Comissão era geográfico; parece-nos,
portanto, que o bom senso dos governantes, pesando de um lado a
necessidade de reduzir despesas, e do outro lado os magros elementos que
a Comissão poderia fornecer para os estudos das importantes questões
estaduais de diversas ordens, as de limites, por exemplo, resolveu adiar
para melhores tempos esse trabalho indispensável e urgente. 131
Para Derby era essa a questão em jogo: o método preconizado por Bhering
uma crítica feita à referida Comissão. São Paulo: Diário Oficial, 1901. p.6.
217
adequava-se a mapas em escala menor, representações que não exigiam o nível
de definição e o número de elementos que estavam na base do projeto da comissão
paulista (e mineira). Para essas cartas de pequena escala, os métodos
astronômicos eram suficientes, mas a triangulação permanecia, na opinião de
Derby e de outros autores estrangeiros por ele recrutados, mais confiável para a
produção dos mapas topográficos.
Embora tenha formulado uma resposta estritamente técnica, Derby não
deixou de dirigir uma crítica aos seus contendores, pois reconhecia na posição de
Bhering toda a Escola Politécnica de São Paulo. Recusou-se a concordar que os
mapas topográficos que a CGG paulista elaborava fossem bom demais para São
Paulo e lamentava que a crítica tivesse partido
218
prática e local.135 Em resposta, o engenheiro Miguel Arrojado Lisboa criticou
Fajardo pelo seu xenofobismo e pela inconsistência técnica de seus argumentos.
Arrojado Lisboa defendeu os estudos geológicos aprofundados realizados por
Derby, e os muitos estudos de outros integrantes de sua equipe, como Eugen
Hussak e Guilherme Florence, que publicavam artigos científicos em periódicos
brasileiros e de língua inglesa e alemã, merecedores de muitos elogios da
comunidade científica.
135 LISBOA, Miguel Arrojado Ribeiro. Um caso de crítica científica. São Paulo: Vanorden, 1902.
p.22.
136 Guilherme Schuch Capanema (1824-1908), o barão de Capanema, era doutor em matemática e
ciências físicas pela Escola Militar do Rio de Janeiro, e engenheiro pela Escola de Viena. Foi chefe
da seção geológica e mineralógica da Comissão Científica de Exploração e professor das Escolas
Militar e Politécnica do Rio de Janeiro. Entre 1855 e 1889, dirigiu a Repartição Geral dos
Telégrafos.
137 LISBOA,1902, p.58. Rogério Fajardo era engenheiro de minas e civil formado pela Escola de
Minas em 1893. Foi engenheiro da Comissão Construtora da Nova Capital, na qual trabalhou no
levantamento geodésico, e chefe da Repartição de Terras e Colonização em Minas Gerais. Mudou-
se em agosto de 1901 para São Paulo, tornando-se professor da Politécnica.
219
penetração tiveram naquela escola. Para Arrojado Lisboa, outro ator dessa
controvérsia e ex-aluno da Escola de Minas (ele próprio se dizia discípulo de
Gorceix), era exatamente a feição prática do ensino138 que oferecia resistência à
propagação dos ideais evolucionistas e positivistas naquela escola. Por outro lado,
vimos como Gorceix e Derby defenderam programas de mapeamento muito
parecidos, e como essas afinidades não se restringiam ao conteúdo das propostas,
mas também às proposições práticas, o que terminou por gerar os programas
semelhantes das comissões mineira e paulista.
138 LISBOA, Miguel Arrojado. A Escola de Minas e Henrique Gorceix. Revista da Escola de Minas
de Ouro Preto, Ouro Preto, ano 13, n.4, p.19-36, out 1948. p.4.
139 Essas são idéias defendidas por Salgueiro na biografia intelectual do engenheiro Aarão Reis.
Para a autora, a noção que permite convergir essas diferentes correntes de pensamento e dar
unidade ao pensamento de Reis e outros engenheiros de seu tempo é o cientismo, ou seja, a crença
na razão e na ciência como os meios de progresso da humanidade.
SALGUEIRO, Heliana Angotti. Engenheiro Aarão Reis: o progresso como missão. Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997a.p.33.
140 SALGUEIRO, 1997a, p.33.
220
ainda não é suficiente para abarcar a complexidade e as contradições dos
alinhamentos teóricos. Figueirôa mostrou como mesmo dentro da Politécnica de
São Paulo, e certamente no interior de cada instituição científica ou de ensino,
travava-se em diferentes escalas e intensidades a disputa que de forma
simplificada opunha ciência pura e aplicada.
221
outros estados, que organizaram o seu serviço, calcando-o pelo de São Paulo
[...]143
trabalho em São Paulo. Em 1905 Derby foi convidado pelo então secretário da Agricultura da
222
mas eram mais de grau do que de procedimentos148, pois representaram o
aprofundamento, ou mesmo a retomada, do caráter pragmático e estratégico com
que a CGG paulista fora criada.149
Bahia Miguel Calmon du Pin e Almeida para a chefia do Serviço de Terras e Minas daquele
estado. Já no ano seguinte, quando o mesmo Miguel Calmon se tornou ministro da Agricultura do
governo Afonso Pena, Derby foi encarregado da criação do Serviço Geológico e Mineralógico do
Brasil, instituição herdeira do programa inaugurado com a Comissão Geológica do Império e na
qual o mesmo Derby havia começado sua carreira no Brasil. Derby tinha abertas muitas
possibilidades para continuar divulgando suas idéias e pesquisas, para além de sua atividade nos
organismos oficiais, como na palestra que proferiu no IHGB, de que era sócio. Intitulada A
cartografia no Brasil, e publicada na revista do Instituto e também no Almanaque Garnier, a
palestra fazia um balanço crítico da produção cartográfica brasileira, mas em tom mais ameno do
que o empregado por Bhering em seus textos beligerantes. Derby constatava na oportunidade o
crescimento da produção cartográfica no país, dividida entre os trabalhos oficiais de mapeamento
geral e os trabalhos parciais, definidos pelas exigências mais imediatas e localizadas. Defensor do
mapeamento sistemático – mapas definitivos, em sua acepção, Derby reconhecia os avanços
advindos dos trabalhos cartográficos restritos a determinadas linhas ou feições do território, a
despeito da dispersão e incompletude dos dados. Para uma análise da conferência e das posições
de Derby no conjunto intertextual do Almanaque Garnier, ver:
DUTRA, Eliana de Freitas. Rebeldes literários da República; história e identidade nacional no
Almanaque Brasileiro Garnier – 1903-1914. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p.152-159.
148 ARRUDA, Gilmar. Cidades e sertões; entre a história e a memória. Bauru: EDUSC, 2000.
149 Bhering parece ter alcançado somente parte de seus objetivos. Logo em seguida à nomeação de
João Pedro Cardoso, ele se desligaria da Politécnica de São Paulo e se mudaria da cidade.
Segundo Figueirôa, essa mudança reforçaria [...] a suspeita de que ele, pessoalmente, alimentar
esperanças de dirigir a instituição (FIGUEIRÔA, 1987, p.88). Com a direção de João Pedro
Cardoso, além da adoção dos levantamentos mais expeditos, como queria Bhering, os
mapeamentos foram direcionados para as regiões menos povoadas do estado, os chamados
terrenos desconhecidos, considerados estratégicos devido ao interesse dos cafeicultores em
desbravar novas fronteiras de expansão agrícola e colonização. Já Mendonça insere as mudanças
da comissão geográfica paulista no contexto mais amplo de implantação, em São Paulo, do modelo
mais emblemático de modernização da agricultura. O novo secretário da Agricultura, Carlos
Botelho, readequou a secretaria em direção à diversificação agrícola, pregada pelos defensores da
vocação agrícola do país, os chamados ruralistas, pautando-se pelo subsídio à pesquisa científica,
aplicada ao desenvolvimento de culturas tão rentáveis como a do café. MENDONÇA, Sônia. O
ruralismo brasileiro. 1888-1931. São Paulo: Hucitec, 1997. p.35.
150 BOURDIEU, 1975.
223
políticos do momento, por outro lado, os mapeamentos eram mais do que seus
produtos, eram longos processos de trabalho nos quais se articulavam múltiplos
campos disciplinares (geografia, topografia, astronomia, geologia, botânica,
meteorologia), cada qual lutando pelo seu próprio reconhecimento. Na sua
construção trabalhavam atores sociais que também buscavam a identidade
profissional, em especial os engenheiros que, por sua formação em sua maior
parte politécnica, afirmavam-se em contradição aos saberes que se
autonomizavam. No embate retórico, as representações das diferenças e dos
conflitos se fizeram presentes, como aquelas que opunham ciência pura e
aplicada, estrangeiros e nativistas, positivistas e não positivistas, enciclopédicos e
especializados.
224
acomodamento e equilíbrio das forças políticas, tanto entre os estados federados
como na política interna mineira, período tradicionalmente conhecido como o da
política do café-com-leite, que se estenderia até o fim da primeira grande
guerra.151
151 Nas periodização da política mineira estabelecida por Viscardi, o século XX inaugurou a
segunda fase da República Velha, a qual, em suas palavras, se prolongava até o início da década
de 1920, [e] foi um período de consolidação do regime republicano, marcado pela relativa
estabilização dos conflitos. O país, governado por alianças políticas travadas entre os estados mais
hegemônicos, parecia encontrar o seu eixo de sustentação, malgrado às divergências políticas que
brotavam a cada sucessão presidencial, mas que não ameaçavam a estabilidade tão duramente
conquistada. Minas Gerais, neste mesmo período, vivenciou um clima de conciliação interna sob
hegemonia dos políticos sul-mineiros.Minas Gerais, neste mesmo período, vivenciou um clima de
conciliação interna sob hegemonia dos políticos sul-mineiros. VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro.
Estudo crítico. In: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais.
Memória política de Minas Gerais: Raul Soares. Belo Horizonte. no prelo.
152 A lei n.319, de 16 de setembro de 1901, criou novos municípios e alterou as divisas
intermunicipais.
225
devido ao seu regime de severíssimas economias153, culminou com a extinção da
Secretaria de Agricultura em 1901. Suas atribuições e serviços foram absorvidos
pela Secretaria do Interior, sob a qual ficou subordinada a Repartição de Terras,
o recém-criado Serviço de Estatística e a Seção de Limites. Na Secretaria de
Finanças ficaram os demais serviços, relativos às obras públicas e viação. Em
1903, já no governo de Francisco Sales, ocorreram novas mudanças, ou correções
de rumos como reconheceram as autoridades, constatada a impropriedade de se
dividir pela metade os serviços e o corpo de engenheiros do estado. Foi então
criada a Diretoria de Obras Públicas, subordinada à Secretaria de Finanças, para
onde foram transferidos todos os serviços, à exceção da estatística.154
153 Palavras do secretário do Interior em 1900, Wenceslau Brás. MINAS GERAIS. Secretaria do
Interior. Relatório apresentado ao Presidente do Estado de Minas pelo secretário de Estado dos
Negócios do Interior Dr. Wenceslau Brás Pereira Gomes em o ano de 1900. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1901.
154 Decreto n.1653, de 15 de dezembro de 1903.
155 Segundo Mendonça, os termos agrarismo ou ruralismo, mais do que um conjunto de
226
antagonismo entre a priorização da agricultura, como comandavam as chamadas
classes conservadoras e o incremento da indústria siderúrgica não chegou a se
delinear, pois [...] a tradição mineira era de uma industrialização cujas raízes se
fincavam na agricultura e na pecuária.156 No projeto mineiro, entretanto, a
ênfase na modernização e na valorização científica da lavoura e da pecuária não
implicou, como em São Paulo, no reforço e direcionamento dos grandes
mapeamentos científicos comandados pelo estado.157
O pouco investimento das políticas públicas numa produção cartográfica
dirigiu-se para as zonas fronteiriças do estado. Com as diversas mudanças nas
atribuições das secretarias, as questões relativas aos limites do estado oscilaram
nesse período do âmbito dos estudos e definições técnicas e estratégicas – como
foram iniciadas na Secretaria da Agricultura – para a arena das negociações
jurídico-políticas, próprias da pasta do Interior. Situações agudas de conflito
eram remetidas ao Supremo Tribunal Federal, como no caso com o Rio de Janeiro
em 1900, após a malograda missão diplomática de Xavier da Veiga.158 O
engenheiro de minas Joaquim Cândido de Costa Sena, quando assumiu a
presidência do estado em substituição a Silviano Brandão, voltou à carga com a
demanda de recomposição da comissão de limites como forma de por termo às
antigas pendências com os estados limítrofes. Mais sensível à questão da gestão e
do conhecimento do território, Costa Sena lamentava a extinção da comissão
devido às dificuldades financeiras:
156 FARIA, Maria Auxiliadora. A política da gleba; as classes conservadoras mineiras: discurso e
prática na Primeira República. 1992. Tese (Doutorado em História Social). Universidade de São
Paulo. São Paulo, 1992. p. 318
157 FARIA, 1992, p.102. A natureza instável desse projeto de apoio técnico e científico às
atividades agrícolas pode ser observada em Minas pela trajetória intermitente da Revista
Agrícola, Comercial e Industrial Mineira. Criada pela Diretoria Geral de Obras Públicas e
impressa na Imprensa Oficial, circularam apenas dois volumes, entre 1904 e 1905. Em 1911 a
revista voltou à circulação, sob o patrocínio da Sociedade Mineira de Agricultura, para novamente
desaparecer em 1912, após a publicação de dois outros volumes. Uma terceira e última tentativa
deu-se em 1923, da qual só conhecemos os volumes publicados em setembro e dezembro daquele
ano. Nas suas duas primeiras versões reunia em sua maior parte pequenos artigos didáticos sobre
as mais diferentes culturas agrícolas, mas também sobre atividades extrativas ou pecuárias. A
maior parte dos artigos era assinada pelos técnicos da Diretoria, como Álvaro da Silveira,
Josaphat Belo e Carlos Prates. Nos anos em que esteve sob a direção da SMA, trazia artigos de
autoridades do pensamento ruralista como Fidelis Reis.
158 MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Silviano de Almeida Brandão 1899-1901). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão ao
Congresso Mineiro em sua 2a. sessão ordinária da 3a. legislatura no ano de 1900. Cidade de
Minas: Imprensa Oficial, 1900. p.5-6.
227
A reorganização desse serviço [...] se impõe, logo que o permitam as rendas
estaduais, porque se os levantamentos topográficos não criam nem
destroem direitos, constituem, entretanto, um elemento essencial para a
demarcação da verdadeira linha divisória.159
159 MINAS GERAIS. Vice-presidente (Joaquim Candido da Costa Sena 1902). Mensagem dirigida
pelo vice-presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Joaquim Cândido da Costa Sena ao Congresso
Mineiro em sua 3a. sessão ordinária da 3a. legislatura no ano de 1902. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1902b. p.8.
160 Entre as prioridades do Arquivo Público Mineiro estava a pesquisa de documentos históricos
sobre a questão de limites. Em 1901 Antônio Augusto de Lima, então diretor do APM, solicitou ao
cônsul geral do Brasil em Lisboa cópia de documentos que guardavam relação com limites, como
mapas coloniais. PARECER de Augusto de Lima. APM. Fundo SI. Série Limites com os estados.
Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Caixa 2. Doc. 46.
161 MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Antônio de Sales 1902-1906). Mensagem dirigida pelo
presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Antônio de Sales ao Congresso Mineiro em
sua 2a. sessão ordinária da 4a. legislatura no ano de 1904. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1904b. p.44.
228
limites, Augusto César de Vasconcelos, como representante mineiro para
acompanhar os trabalhos de mapeamento e definição da linha de limites. De volta
ao trabalho, a primeira tarefa de Vasconcellos foi recuperar o acervo da extinta
comissão de limites e o respectivo registro de todo trabalho então realizado,
[...] serviço este que depois da extinta comissão esteve por mais de quatro
anos sem aproveitamento, e não estaria longe o tempo de ficar
completamente perdido se a resolução do governo de Minas não o viesse
arrancar da ação destruidora do tempo e do esquecimento a que quase
sempre ficam entregues os trabalhos desta natureza, uma vez
interrompidos.162
162 MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório apresentado ao
Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, secretário das Finanças pelo engenheiro Artur
da Costa Guimarães, diretor geral da Agricultura, Viação e Indústria, em 1904. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1904. Relatório anexo de Augusto de Vasconcelos. p.225.
163 As instruções preconizavam a manutenção do status quo existente em 1889, entendido como
[...] a simples constatação daquilo que é, na localidade, tido como limite entre os dois estados.
INSTRUÇÕES de Luiz Ferraz. APM. Fundo SI. Série Limites. Subsérie São Paulo e Minas
Gerais. Caixa 2. Doc. 45. (grifo nosso)
229
precisam ser procurados em cartório.164
164 MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório anexo de
Augusto de Vasconcelos.In: ___. Relatório referente ao ano de 1904 apresentado ao Exmo. Sr. Dr.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, secretário das Finanças pelo engenheiro Artur da Costa
Guimarães, diretor geral da Agricultura, Viação e Obras Públicas. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1905c. p.263.
165 MINAS GERAIS, 1905c, p.264.
166 O representante mineiro nessa negociação era o diretor do Arquivo Público Mineiro, Antônio
Augusto de Lima.
230
Os mapas produzidos nessas missões eram peças gráficas anexadas aos
relatórios, desenhados em escala suficiente para representar o regime de
propriedade da terra ao longo da linha divisória e demais elementos necessários
às negociações. Os relatórios, correspondências e acordos entre os estados
produzidos nesse período eram antes de tudo armas retóricas que articulavam as
informações colhidas e as descrições produzidas in sito com a hermenêutica dos
textos e mapas antigos.167 Em correspondências trocadas entre os governadores
de Goiás e de Minas entre os anos de 1902 e 1906 sobre uma região limítrofe
entre os dois estados, todo um aparato de erudição e interpretação de textos e
especialmente mapas foi acionado para fundamentar os argumentos opostos. Os
governadores, certamente bem assessorados, exibiam, em cartas e telegramas,
um conhecimento enciclopédico sobre tudo o que já fora escrito, representado e
legislado sobre a região, travando um duelo que opunha pesquisadores e
cartógrafos como Cunha Matos, Cândido Mendes, Henrique Gerber, Saint-
Hilaire, Saint-Adolphe, o próprio Barão do Rio Branco.
231
espaço a ser mapeado ao mínimo necessário para se representar a linha oscilante
de limites.168
168 Vasconcelos decidiu produzir dois mapas da região da região em escalas menores, destinados a
cobrir toda a zona limítrofe e servir de base para o planejamento em campo. O engenheiro
constatou em campo as dificuldades de prosseguir com a triangulação iniciada pelos topógrafos
paulistas, que não tinham o hábito de assinalar os vértices dos triângulos nem de nomeá-los.
Decorridos doze anos da implantação do marcos extremos da base da Roseira, Vasconcelos
conseguiu identificá-los no terreno e reiniciar a triangulação a partir deles.
169 MINAS GERAIS, Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório de Augusto de
Vasconcelos. In: ____. Relatório referente ao ano de 1906 apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Manoel
Thomas de Carvalho Brito, secretário das Finanças pelo engenheiro Artur da Costa Guimarães,
diretor geral da Agricultura, Viação e Obras Públicas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1907a.
Anexo. p.362.
232
retomava suas funções como cartógrafo oficial do governo de Minas, exercendo
sua autoridade técnica no terreno acidentado dos litígios de limites. De imediato
criticou fortemente o acordo vigente e propôs mudanças nas instruções e a
celebração de um novo acordo entre os estados. Mais uma vez seriam
abandonados nos campos os marcos da triangulação e com eles o trabalho de
mapeamento sistemático da região fronteira.
170 A exemplo, ocupou, por um período entre 1902 e 1907, o cargo de diretor da Imprensa Oficial
do estado. Nesse posto, entre maio e agosto de 1906, Silveira acompanhou a comitiva do recém-
eleito presidente da República, Afonso Pena, em uma viagem cujo objetivo era conhecer o país que
iria governar. Silveira escreveu um diário dessa grande viagem, que percorreu toda a costa do
nordeste, a Amazônia e depois se dirigiu para o sul do país, chegando a Porto Alegre.
SILVEIRA, Álvaro A. da. Viagem pelo Brasil; notas e impressões colhidas na viagem do Sr. Dr.
Afonso Pena. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1906.
171 MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Álvaro da Silveira. In: ___. Relatório
apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas pelo secretário de estado dos Negócios do
Interior Dr. Wenceslau Brás Pereira Gomes em o ano de 1901. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial],
1902a. Anexo.
172 Silveira criou em 1907 um serviço de informações destinado a orientar os agricultores quanto
ao uso de máquinas, aos remédios contra pragas agrícolas, ao emprego de adubos e à classificação
botânica de plantas para fins industriais, entre outros. MINAS GERAIS. Diretoria de
Agricultura, Comércio, Terras e Colonização. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Manoel
Thomaz de Carvalho Brito, secretário interino das Finanças pelo engenheiro Carlos Prates,
referente ao ano de 1907. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1908ª. p.72).
233
mineiro, restringindo temporariamente suas ambições científicas, exibidas
quando da condução da CGG mineira, especialmente como botânico, à esfera das
iniciativas privadas ou paralelas.
No âmbito da atuação na sociedade civil, Silveira foi um dos fundadores,
em 1909, da Sociedade Mineira de Agricultura, entidade que reunia e
representava os interesses do ruralismo, em sua versão regional.173 Dirigiu a
entidade entre 1910 e 1911 e foi seu consultor técnico até 1916. Como mostrou
Faria, a SMA entrelaçava e dissolvia diferenças entre as elites políticas, técnicas
e econômicas, pois a entidade agregava entre seus diretores
Uma dessas bases era o grande mapa geral de Chrockatt de Sá, publicado
em 1893. O bacharel e deputado Nelson de Sena, em estudo de 1909, citou outros
dois mapas gerais produzidos na Secretaria de Agricultura no período: um de
173 Segundo Faria, essa nuança regional, no caso de Minas, seria a inexistência de antagonismo
com os setores agro-exportador e industrial. FARIA, 1992.
174 FARIA, 1992, p.135.
234
autoria de Wilhelm Brosenius, datado de 1895, e outro deixado inacabado pelo
engenheiro Josaphat Belo, falecido em 1906. Crítico em relação aos mapas de
Chrockatt de Sá e Brosenius, em sua opinião inferiores ao sempre elogiado mapa
de Gerber, Sena sugeria o aproveitamento do esboço de Belo:
175 SENA, Nelson de. Contribuições para um futuro mapa do Estado de Minas Gerais. Revista do
Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, ano 16, p.307-329, 1911b. p.311.
Nenhum dos dois mapas foi encontrado nos arquivos consultados.
176 Decreto n. 3160, de 17 de abril de 1911. Capítulo XIII, artigo 84.
177 Nesse mesmo ano de 1910, a Diretoria de Viação publicou um mapa geral do estado, na escala
de 1:1.000.000. Realizado pelo engenheiro Benedito José dos Santos, foi presumivelmente baseado
no esboço deixado por Josaphat Belo.
MAPA do Estado de Minas Gerais organizado por ordem da Dir. da Viação, O. Públicas e
Indústria, pelo eng. Benedito José dos Santos, sendo presidente do estado o Exmo. Sr. Wenceslau
Brás Pereira Gomes e secretário das Finanças Dr. Juscelino Barbosa. Rio de Janeiro: [s.n.], 1910.
Escala 1:1.000.000.
235
limites, que não tinham sido priorizadas nos governos anteriores de João
Pinheiro e Wenceslau Brás, foram retomadas e passaram a ser objeto exclusivo
da Secretaria do Interior. Com maior apoio parlamentar178 e reforço
orçamentário, foram conduzidas pelo advogado Francisco Mendes Pimentel,
fossem negociações políticas e judiciárias, como no caso do Espírito Santo179,
fossem acordos diretos para condução de trabalhos técnicos, como no caso de São
Paulo. Em ambos os casos os levantamentos cartográficos eram realizados por
comissões mistas entre os estados.180 Curiosamente, enquanto o acordo arbitral
com o Espírito Santo fundava-se no trabalho de campo, enviando os cartógrafos
comissários para a zona contestada, a partir de um roteiro prévio da linha
divisória e dos elementos a serem representados nos mapas, o acordo pacífico com
São Paulo preconizava a pesquisa histórico-documental e a consulta às folhas
topográficas já produzidas pelas comissões mineira e paulista, restando a
verificação sobre o terreno apenas como medida eventual.
levantamento topográfico do terreno contestado entre os estados de Minas e Espírito Santo, que
passaram para a instância da arbitragem judicial. O Arquivo Público Mineiro guarda dois mapas
produzidos por essa comissão, composta por Álvaro da Silveira e Ceciliano Abel de Almeida.
180 O novo acordo com o estado de São Paulo, também refeito por sugestão de Silveira, foi assinado
em maio de 1912. Deu-se início então a um amplo e sistemático levantamento das informações
existentes sobre a situação das propriedades na fronteira Minas-São Paulo em 15 de novembro de
1889.
236
Figura 15: Mapa da Viação Férrea do Estado de Minas Gerais (1916). A produção e
contínua atualização desses documentos cartográficos era atividade rotineira do corpo de
engenheiros da Diretoria de Viação. Como não eram considerados instrumentos de um
efetivo planejamento viário mas espelhos de um processo em curso, rapidamente
tornavam-se obsoletos. Apenas aqueles eventualmente publicados não desapareceram dos
arquivos.
Fonte: O VALE..., 2002.
181 OFÍCIO de Daniel de Carvalho para o Secretário da Agricultura, Raul Soares de Moura. APM.
Fundo SI. Série Limites. Subsérie Limites Minas e São Paulo. Cx. 07. Doc.219.
182 FRONTEIRAS Interestaduais. O convênio entre Minas Gerais - São Paulo e sua interpretação
pelo Dr. Daniel de Carvalho, auxiliar do advogado de Minas. 1916. APM. Fundo SI. Série Limites.
Subsérie Limites Minas e São Paulo. Cx. 07. Doc.227.
237
geográficos destacados na paisagem, não logrou superar a desinteligência entre
os estados. Na zona contestada com o Espírito Santo, apesar da sentença
favorável a Minas Gerais dada pelo tribunal em 1914, o governo do estado vizinho
não acatou a decisão, e o litígio permaneceu, com uma paz sustentada pela
ocupação militar do governo mineiro. Disputas e pendências mais ou menos
graves se arrastariam sem solução definitiva também com os estados do Rio de
Janeiro, Goiás e Bahia.
Mas em termos da produção de uma cartografia oficial, a questão de
limites se esgotava na representação de territórios cada vez menores em razão do
próprio aprofundamento e localização dos conflitos. Nesses anos de plena vigência
da política dos governadores, a administração do estado reduziu as atividades
cartográficas à produção residual dos mapeamentos localizados nos pontos de
litígio das fronteiras e à cartografia burocrática dos planos viários. A estabilidade
e acomodação política do pacto oligárquico parece ter refreado as forças
dinamizadoras e modernizadoras na gestão territorial e dos recursos naturais do
estado, as quais impulsionavam as políticas cartográficas. Poucas iniciativas
podem ser registradas fora desse quadro.
presidente dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de estado da Indústria, Viação e Obras
Públicas Miguel Calmon du Pin e Almeida no ano de 1908. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1908. v.1. p.151.
186 BRASIL, 1908, p.151.
239
Paralelo ao mapeamento topográfico e geológico, foram iniciados em 1908
os estudos geológicos de campo, que tinham como principal objetivo a avaliação
do potencial das reservas de ferro e manganês de Minas Gerais. O SGMB
perseguia seu objetivo de produzir um saber aplicado e, nesse caso específico, de
avaliar o potencial das reservas minerais que fomentassem a indústria
siderúrgica nacional. As pesquisas foram conduzidas pelo primeiro engenheiro
Luis Felipe Gonzaga de Campos187 e, segundo especialistas, configuraram um
conjunto de informações muito bem estruturado e fundamentado tecnicamente.
Em 1909, outro discípulo de Gorceix e Derby, o engenheiro e geólogo Francisco de
Paula Oliveira188, iniciou o mapeamento topográfico e geológico de outra região de
potencial minerário do estado, a zona diamantina das cidades de Diamantina e
Grão Mogol. Os resultados das pesquisas de Gonzaga de Campos e do próprio
Derby apontavam para o grande potencial das jazidas ferríferas mineiras e foram
divulgados por Derby no Congresso Internacional de Geologia de Estocolmo, em
1910. No relatório então apresentado, as jazidas foram nominalmente citadas,
potencialmente avaliadas e cuidadosamente localizadas no mapa de Minas de
Gerais.189. Essa propaganda levou ao crescente interesse de grupos estrangeiros
pelas terras minerais do estado e à compra de importantes propriedades que
mantiveram, entretanto, sem exploração, como reservas. Segundo análise de
Figueirôa (1997), um grande debate sobre a siderurgia foi iniciado a partir desse
processo, mas interessa-nos reter aqui particularmente a constatação da
consolidação de um saber técnico-científico de forte impacto econômico, e o
amadurecimento institucional e profissional de uma geração de engenheiros-
geólogos que, desde Gorceix, vinha construindo um discurso técnico competente e
a serviço do estado.190
187 Ex-aluno da Escola de Minas, Gonzaga de Campos foi sempre um grande colaborador de
Derby. Foi engenheiro da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, na qual realizava
pesquisas geológicas. Sucedeu Derby na direção do SGMB, cargo que ocupou entre 1915 e 1922.
188 Francisco de Paula Oliveira foi aluno da Escola de Minas, formando-se na primeira turma em
240
Nos anos seguintes, o Serviço Geológico passou a sofrer gradativos cortes
orçamentários, em função de crise gerada com a deflagração da grande guerra,
mas Derby e seus auxiliares prosseguiram com os estudos em diferentes partes
do país. Em Minas, outro antigo colaborador de Derby, o geólogo Horace
Williams, abriu uma nova frente de mapeamento na serra da Canastra, ligando-a
ao trecho cartografado por Gonzaga de Campos na serra do Espinhaço. Reunindo
ainda outros mapeamentos realizados por pesquisadores e empresas estrangeiras
na região, Derby anunciava a fabricação de
dos Estados Unidos do Brasil pelo Dr. Manoel Edwiges de Queirós Vieira, ministro de estado da
Agricultura, Indústria e Comércio, no ano de 1913. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura,
Indústria e Comércio, 1913. v.1. p.139.
192 BRASIL, 1913, p.139.
241
Orville Derby, sempre a buscar o frágil equilíbrio entre a sua inequívoca vocação
para a pesquisa científica e o comando de instituições, programas e operações
técnicas voltadas para a produção de um conhecimento prático e aplicado. Em sua
trajetória tal equilíbrio sempre tendia a dissolver-se com a crônica falta de
recursos das instituições públicas, agravadas pelos momentos de crise, como essa
que se anunciava em 1913. Os cortes orçamentários e a pressão do Ministério da
Agricultura por mais resultados práticos culminaram com a promulgação de um
novo regulamento em 1915 no qual era explicitamente determinado
Mais uma vez o conflito entre um saber aplicado e uma ciência pura
marcava a ruptura de um trabalho comandado por Derby, que, dessa vez, pareceu
não encontrar outra saída senão o suicídio.194 Com sua morte, o SGMB
aprofundou sua vocação para os estudos de aproveitamento econômico dos
minerais e de fontes de energia como o petróleo, o carvão e as quedas d’água.
Interromperam-se os trabalhos de mapeamento sistemático e aqueles já
realizados não foram publicados. Em Minas, as pesquisas mais localizadas para
aproveitamento dos recursos energéticos prosseguiriam, especialmente quanto à
força hidráulica.
O regime de economia das despesas públicas, imposto pelos efeitos
econômicos nocivos da primeira grande guerra impôs, no âmbito do governo
estadual, uma outra reforma da Secretaria de Agricultura, efetuada em 1915.
242
Como em 1910, manteve-se entre os fins da secretaria a produção da carta
geográfica e geológica do estado, mas na exposição de motivos do secretário, Raul
Soares, ficava claro que todo o esforço de mudança era destinado à diminuição de
custos e à priorização de alguns poucos serviços, como o ensino agrícola. Nesse
contexto de corte de gastos, Raul Soares foi capaz, entretanto, de redistribuir os
serviços e, mantendo as antigas diretorias de Agricultura e de Viação, criar uma
nova Diretoria, de Comércio e Indústria, que seria o centro de ação do governo,
destinada ao incremento da pecuária. Nessa mesma diretoria foi formalmente
criada uma seção denominada Indústria, responsável pelo incremento da
indústria mineral, especialmente siderúrgica, estâncias hidrominerais e quedas
d´água. Raul Soares, ciente da impossibilidade financeira do governo de promover
quaisquer um desses serviços, justificava sua criação projetando para o futuro a
retomada da vocação minerária do estado:
195 MOURA, Raul Soares. Exposição de motivos. In: MINAS GERAIS. Coleção de leis e decretos do
243
que, em discurso otimista e pontuado de imagens, apontou os traços de uma nova
paisagem que se insinuava no estado, onde
244
Presidente, de que nenhum problema é superior a esse de bem sabermos
qual é a área territorial de nosso estado, de bem sabermos até onde se
alinham as fronteiras da terra mineira [...]198
198 Discurso proferido pelo deputado Nelson de Sena em 19 de agosto de 1913. CONGRESSO
MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1913. p.260.
199 Da extensa obra de Sena, dedicada a temas como a toponímia, a geografia, a história e a
etnologia mineiras, cumpre destacar a série corográfica Anuários de Minas Gerais, publicados
entre 1909 e 1918 e especialmente a publicação do livro sobre o potencial hidráulico de Minas
Gerais, denominado A hulha branca, em 1911. Na segunda edição do mesmo livro, em 1914, Sena
ampliou e reviu o inventário de quedas d’água realizado anteriormente e chamou especial atenção
para o mapeamento topográfico que a CGG paulista vinha realizando na fronteira paulista-
245
da agropecuária para o estado, mas buscou demonstrar em diversos estudos a
importância da atividade minerária, da siderurgia e do potencial hidráulico como
vetores do futuro desenvolvimento do estado. Seu ideário afinava-se com o da
nova geração de políticos que, a partir da década de 1910, se aproximavam do
centro do poder em Minas, como Raul Soares200 e Artur Bernardes.
mineira delimitada pelo rio Grande. Tratava-se, nesse caso, de um levantamento que fundia
numa mesma operação cartográfica dois interesses estratégicos dos governos estaduais: a
delimitação do território e a avaliação do potencial hidráulico. Para um estudo mais aprofundado
da obra e do pensamento de Nelson de Sena, ver:
ARQUIVO Público da Cidade de Belo Horizonte. Inventário do arquivo pessoal Nelson Coelho de
Senna (1876-1952). Belo Horizonte: APCBH, 2000.
CARDOSO, Vera Alice. Nelson de Senna: idéias e ideais de um republicano conservador. In:
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Memória política de
Minas Gerais: Nelson Coelho de Senna. Belo Horizonte. no prelo.
200 Quando secretário da Agricultura do governo Delfim Moreira, Raul Soares pleiteou a volta da
comissão geográfica, nos seguintes termos: Não possui o estado uma carta suficientemente exata
de seu território, o que é uma lacuna deplorável [...] as gerações futuras, quando se encontrarem
desarmadas destes elementos tão essenciais no ponto de vista científico, prático e industrial, para
o aproveitamento das nossas riquezas, não nos perdoarão esta indefinida interrupção. MINAS
GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas. Relatório
apresentado ao Exmo. Sr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Dr. Raul Soares de Moura
no ano de 1915. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1915. p.30.
201 MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida pelo
presidente do estado, Dr. Artur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro em sua primeira sessão
ordinária da 8ª. legislatura do ano de 1919. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1919a]. p.22.
202 O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais foi fundado em 1907 pelo então presidente
grande guerra e da campanha nacional pelo serviço militar obrigatório. Sob a liderança de Olavo
Bilac, abrigava um ideário ligado à defesa da nação pelo fortalecimento da instrução pública e do
ensino cívico. Em Minas, a Liga reunia a elite política e econômica do estado, membros de
agremiações como a Sociedade Mineira de Agricultura e a Associação Comercial, e deu origem a
uma versão regional, a Junta de Defesa Econômica. FARIA, 1992.
246
Arruda para o caso da comissão geográfica e geológica de São Paulo, a
delimitação e a representação cartográfica dos territórios estaduais eram
necessidades estratégicas dos governos e das elites que extrapolavam as
demandas pelo controle interno e dos recorrentes ou eventuais pontos de conflito
para se tornarem armas simbólicas de afirmação frente aos outros estados,
estendendo-se na luta pelo poder nacional . 204
247
de limites, velhos problemas e novas demandas da gestão territorial do estado
emergiram em um contexto favorável à sua retomada. Essa seria tarefa para as
novas lideranças, como Artur Bernardes e Raul Soares de Moura, que
ascenderam ao poder em um quadro de renovação das elites políticas mineiras,
mais identificadas com as mudanças sociais e econômicas em curso.
248
No relatório anual do secretário da Agricultura Clodomiro de Oliveira208,
sobre as atividades da sua pasta no primeiro ano do governo Bernardes, o
engenheiro resumiu suas inúmeras atribuições, retiradas do plano de governo, à
determinação dos elementos para fomentar a produção agropecuária, tarefa que
poderia ser realizada desde que o estado possuísse uma carta geográfica,
geológica e agrológica.209 Para Oliveira, a solução perfeita e acabada era a volta
da comissão, mas os impeditivos orçamentários levaram o engenheiro a buscar
uma solução alternativa e implementar uma outra estratégia: a distribuição
geográfica dos engenheiros da secretaria, antes lotados na capital, pelas
circunscrições de obras espalhadas pelo território do estado, com a incumbência
de, em suas horas ociosas, promover o levantamento topográfico e, por serem
quase todos engenheiros de minas, a classificação geológica dos terrenos dos
municípios sob sua responsabilidade. Para Oliveira, o mapa geológico era
complemento natural do mapa geográfico, e essencial para a agricultura e a
exploração mineral. Os engenheiros fariam suas observações em campo, durante
suas viagens, recolhendo amostras e procedendo ainda à coleta de dados
estatísticos e corográficos sobre os diversos municípios.
208 Clodomiro Augusto de Oliveira era engenheiro de minas e civil formado pela Escola de Minas,
onde era professor, chegando a ser diretor nos anos de 1930 e 1931. Quando assumiu a pasta da
Agricultura, aliava sua experiência acadêmica com a iniciativa privada, pois fora gerente de uma
das primeiras siderúrgicas de Minas, a Usina Wigg. Escreveu uma memória sobre a metalurgia
do ferro em Minas Oliveira integrava o grupo de engenheiros, políticos e empresários
nacionalistas que, liderados por Artur Bernardes, se opuseram à empresa Itabira Iron e suas
pretensões monopolísticas na extração e exportação do minério de ferro.
A ESCOLA DE MINAS: 1876-1976; 1º. Centenário. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro
Preto, 1976. p.88.
209 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Artur Bernardes, presidente do Estado, pelo Dr.
Clodomiro Augusto de Oliveira, secretário da Agricultura; exercício de 1918. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1919b. p.6.
249
viação, outra prioridade do programa de Bernardes, e para o mapeamento
cadastral das terras devolutas do estado. Os engenheiros poderiam ainda ser
utilizados como topógrafos auxiliares, caso o governo federal decidisse por criar
no estado uma comissão geológica, aprofundando o trabalho que vinha sendo feito
pelo Serviço Geológico.
210 Esses caçadores eram na verdade as grandes empresas européias que, desde a divulgação das
riquezas minerais do estado no congresso de Estocolmo, vinham adquirindo grandes reservas
desse minério por baixos preços, devido ao desconhecimento do seu valor pelos proprietários.
Oliveira apontou em seu relatório um problema ainda mais agudo desse processo histórico, que
definiu em grande parte o regime de terras e de propriedade das lavras de minério de ferro. Além
das jazidas conhecidas, os investidores estrangeiros, desde o começo da década, vinham
adquirindo grandes extensões de terras não demarcadas, os chamados campos em comum,
utilizados como pastagens coletivas pelos pequenos agricultores, que desconheciam inteiramente o
potencial minerário das mesmas. Desconhecimento que não era privilégio dos pequenos
proprietários, pois o próprio governo concedia terras devolutas, sem o conhecimento prévio da
riqueza mineral das mesmas. MINAS GERAIS, 1919b, p.10.
211 MINAS GERAIS, 1919b, p.11.
250
Acresce que, achando-se os terrenos devolutos , em sua maior parte, nas
regiões limítrofes de outros estados, o levantamento sem solução de
continuidade já teria facultado ao governo uma carta geográfica dessas
regiões, com as linhas de limites fixadas com o rigor necessário, o que
obstaria a que a soberania do estado fosse eventualmente afetada com já
tem acontecido.212
251
minerais do estado, o projeto de restabelecimento da comissão geográfica, cuja
supressão teria sido
213 Discurso proferido pelo deputado Francisco de Paula Rocha Lagoa Filho em 03 de agosto de
1920. CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: 2ª. sessão da oitava legislatura.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1921. p.254.
214 CONGRESSO MINEIRO, 1921, p.257. Caudaloso e acidentado, o rio Grande, cujo percurso em
grande parte definia o limite entre os estados de Minas Gerais e São Paulo, era nesse momento
um dos principais objetos das pesquisas sobre o potencial hidráulico de toda a região, o que o
tornava conseqüentemente alvo de interesse estratégico dos dois estados e mesmo do governo
federal. Além dos mapeamentos da comissão geográfica de São Paulo, também o Serviço Geológico
elaborou em 1919 um plano de aproveitamento da força hidráulica que incluía pesquisas na bacia
do rio Grande, com mapeamento geodésico, medição de volumes de quedas e cálculos de seu
aproveitamento, estudos de navegabilidade e até planos para construção de uma barragem.
252
estratégico. Preconizou a continuidade dos serviços públicos de grande utilidade
para o estado, arrolando toda a ordem de benefícios de que o estado se encontrava
privado pela sua extinção, como os problemas fiscais, divisão dos municípios,
fixação de fronteiras e outros.
253
É preciso observar que a retomada do programa de mapeamento, embora
carregasse consigo todo o aparato técnico, legal e mesmo humano da experiência
passada, ocorria em um outro momento, quando os discursos pela modernização
econômica e pela eficácia do saber técnico e científico aplicado às políticas do
estado aprofundavam-se em duas direções só aparentemente opostas: no sentido
de um maior pragmatismo e na construção de um novo ideário para a República.
As comemorações do centenário da independência eram o horizonte político com
que trabalhavam as lideranças políticas para construir um discurso renovado
sobre a República, que se antepusesse à crescente crise de legitimidade do regime
e às novas forças que se arregimentavam nos centros urbanos e nas classes
médias.
ocupou os cargos de Chefe da Seção Técnica, até 1913, e de diretor, entre 1914 e 1920. Acumulou
suas atividades no serviço público com muitas outras, como o magistério. Foi um dos fundadores
da Escola de Engenharia de Belo Horizonte, em 1912, onde lecionava topografia e da Escola
Mineira de Agronomia e Veterinária, em 1914. Além da atuação na Sociedade Mineira de
Agricultura, de que falamos anteriormente, foi membro fundador da Academia Mineira de Letras
e do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Nesse período, publicou diversos livros e
artigos sobre temas muito variados, desde experiências e aconselhamentos agrícolas a estudos de
botânica, clima, limites e outros. Esses estudos mesclavam as reflexões e os dados resultantes de
suas viagens e expedições particulares com as atividades à frente dos cargos que assumiu.
217 MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida pelo
presidente do Estado, Dr. Artur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro em sua primeira
sessão ordinária da 8ª. legislatura do ano de 1920. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1920]. p.82.
254
Ao conhecimento sistemático e organizado do estado em seus aspectos
físicos, humanos e econômicos que adviria do trabalho de longo prazo da comissão
geográfica, o novo governo somou uma outra demanda também de natureza
estatístico-cartográfica: a atualização da carta geral do estado para fins de
representação do estado nas festas do centenário de 1922. Essa carta, por ser
concebida como de outra natureza, foi por isso delegada a um outro grupo, e
produzida paralela e separadamente do programa de mapeamento da CGG. Por
motivos estratégicos, promovia-se então uma diferenciação entre dois programas
cartográficos, o que ocorria pela primeira vez na administração do estado.
Enquanto à CGG caberia prosseguir com o mapeamento sistemático, conectando
gradativamente cada parte do território em sua malha de triangulação e
revelando com detalhe e rigor em cada folha impressa os componentes da
paisagem física e econômica do estado, a uma outra instância, organizada como
Comissão Mineira do Centenário, caberia produzir em curto prazo uma imagem-
síntese, de feição monumental, desse mesmo estado. Em algumas situações
concretas as duas iniciativas se entrelaçaram, pois ambas foram empreendidas
no quadro da administração pública do estado e partilharam recursos humanos e
informações técnicas comuns. Por outro lado, suas trajetórias mantiveram-se
paralelas, pois se a carta geral do centenário exigia um movimento centrípeto, de
fusão e síntese dos dados numa imagem unificadora, o mapeamento sistemático
da CGG realizava o movimento inverso, de alargamento progressivo de seu
campo de observação e de desdobramento da sua representação gráfica.218
A comissão iniciou suas atividades pelo resgate dos trabalhos das antigas
comissões geográficas e de limites. Segundo um biógrafo de Silveira219, o diligente
chefe da CGG havia recolhido e guardado todas as cadernetas de campo e demais
documentos produzidos na primeira fase da comissão e, a partir dessa
218 De forma diferente ocorreu na comissão geográfica e geológica de São Paulo, que logrou
conciliar as duas frentes de mapeamento, produzindo diversos mapas-síntese temáticos do estado,
a fim de servir a múltiplos fins (FIGUEIRÔA, 1997, p.204). A carta geral, na escala de
1:1.000.000, foi publicada e atualizada em seis versões, entre os anos de 1914 e 1928. A pujança
econômica de São Paulo permitiu ao estado desenvolver um programa cartográfico mais
diversificado, como no caso da publicação das chamadas cartas dos excursionistas, destinadas à
orientação em viagens pelas estradas de rodagem. Esse tipo de carta, gênese do consagrado guia
rodoviário, transformou-se em um gênero cartográfico típico da produção norte-americana.
219 CORREA FILHO, Virgílio. Vultos da geografia do Brasil: Álvaro Astolfo da Silveira. Revista
255
documentação e dos antigos marcos da triangulação que resistiram no campo,
deu-se seqüência ao mapeamento interrompido naquele momento. Os
procedimentos técnicos, de campo e de gabinete, eram basicamente os mesmos.
As folhas inacabadas foram retomadas, mantendo-se a preferência pela expansão
da frente sudeste do mapeamento, à exceção da primeira folha a ser finalizada,
Oliveira, que se encontrava muito adiantada quando da interrupção dos
trabalhos em 1898. De início, a triangulação buscou fechar as áreas abertas para
complementação da folha de Bocaina, ao sul, e na zona limítrofe com os estados
do Rio de Janeiro e São Paulo, no rastro dos trabalhos efetuados pela comissão de
limites.
F
i
g
u
r
a
1
6
:
F
o
l
h
a
O
l
i
v
e
i
r
a
Figura 16: Folha Oliveira (1922), o primeiro mapa a ser publicado na segunda fase da
CGG, apresentava o mesmo padrão gráfico e o mesmo repertório de elementos
representados.
Fonte: Coleção particular.
256
claros deixados pelos caminhamentos das comissões anteriores, dividindo o ciclo
anual no campo entre a frente ao sul – folhas de Bocaina, Pouso Alto, Soledade –
e a leste, folhas de Juiz de Fora e Palmira.
220 Desde as instruções da CGG em sua primeira fase, os estudos de clima e a montagem de uma
rede meteorológica no estado eram consideradas prioridades dentro do escopo geral do programa
da comissão, embora não fosse um campo de investigação tecnicamente associado ao mapeamento,
assim como o era a geologia. Já em 1907 tanto a meteorologia como a perfuração de poços
apareciam como atribuições da Seção Técnica, então chefiada por Álvaro da Silveira. Em 1911,
quando da reorganização da Secretaria de Agricultura, o novo regulamento manteve a atividade
de perfuração de poços na Seção Técnica e conferiu à atividade, eminentemente prática, o teor de
pesquisa, ao defini-la como sondagem de lençóis da água subterrânea e seu aproveitamento. No
mesmo ano foi criado o Serviço de Meteorologia na Diretoria de Agricultura que, em 1915, tinha
uma rede dispersa pelo estado que somava 30 estações de observação. Ambos os serviços sempre
estiveram sob a condução de Silveira, fato que presumivelmente foi determinante para que fossem
reunidos aos trabalhos da CGG.
221 Tanto a meteorologia como a botânica podem ser consideradas, no contexto das políticas
públicas aqui estudadas, como saberes instrumentais, pois o interesse dos governos prendia-se
diretamente à possibilidade da instrumentalização de seus dados em favor da modernização
agrícola. Já a estatística e os mapeamentos topográfico e geológico eram saberes estratégicos, no
sentido não só do fornecimento de informações técnicas de interesse econômico, mas também e
principalmente pela capacidade desses estudos e dessas imagens, pelas suas escolhas técnicas e
formas de ordenação e apresentação dos dados, em construir e revelar um cenário de
possibilidades, ou mesmo de antecipar uma realidade sobre a qual desejavam intervir.
257
transferiu para a comissão a atribuição de sua avaliação, em decorrência da
crescente demanda pelo conhecimento do seu potencial de aproveitamento. Desde
o início dos anos 1910, toda uma rede de políticos, administradores públicos,
técnicos, cientistas e engenheiros vinha produzindo estudos e engrossando uma
campanha pela adoção de uma política pública no setor, o que envolvia
fundamentalmente o mapeamento das bacias e cachoeiras e a medição de sua
capacidade de gerar energia elétrica. Tarefa de grande envergadura que,
incorporada ao já amplo leque de atribuições da CGG, não poderia se realizar na
extensão e presteza esperadas pelo governo. Em 1922 o secretário da Agricultura
Clodomiro de Oliveira falava da necessidade de se implementar um plano
específico para a avaliação das quedas d’água, cuja crescente importância vinha
deslocar o sentido da riqueza dos rios de sua navegabilidade para a sua carga
potencial de eletricidade: [...] certamente desaparecendo o reinado do vapor para
dar lugar ao reinado da eletricidade, os rios não voltarão a ser caminhos que
marcham [...]222
continua por uma série de saltos, dos quais destaquei os três principais, no
258
nivelamento. Está naturalmente indicada para a eletricidade da Oeste de
Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas; exercício de 1923. IGA. Setor de Limites.
224WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira, 1889-1937. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982.
259
longo de toda a década, não foi o único fator diferenciador em relação à equipe da
primeira fase. Também a formação dos técnicos tornou-se mais diversificada, com
profissionais originários das novas escolas de engenharia e agronomia abertas no
estado, diferentemente da antiga hegemonia dos engenheiros de minas da Escola
de Minas de Ouro Preto. 225 Entretanto, a emergência desses novos atores
profissionais não resultou, segundo nossa análise, em novas práticas, idéias,
métodos ou produtos, que permaneceram herdeiros diretos do projeto intelectual
da geração de Derby e Gorceix, solidamente conduzidos pelo veterano Álvaro da
Silveira, o obstinado construtor da ponte entre os dois momentos da CGG.
Para uns queríamos saber o número exato de alqueires que tinha cada
fazenda para poder o governo cobrar mais impostos; para outros, íamos
praticar por ordem do governo, o puro comunismo bolchevista, dividindo
com os que não as possuíam as terras dos fazendeiros.Verdade é que
possuidores há de vastos latifúndios incultos e improdutivos que bem
mereciam fossem eles divididos com os que quisessem cultivá-los.226
225 Cumpre ressaltar que a documentação consultada não forneceu dados sobre a maioria dos
trianguladores e topógrafos empregados na comissão. (quadro 1). Entre as formações citadas,
encontram-se engenheiros civis, engenheiros civis e eletrotécnicos, geógrafos e engenheiros
agrônomos. Além da incorporação desse novo ator profissional que era o agrônomo, em 1928
surgia pela primeira vez nos créditos oficiais das folhas publicadas a expressão cartógrafo,
atribuída a Alarico Torres, até então designado como desenhista.
226 RELATÓRIO anual do topógrafo Heldomiro Fonseca. 1924. IGA. Setor de Limites.
260
Em outra passagem narrada por Alacrino Monteiro, a desconfiança quanto
às reais intenções dos topógrafos e conseqüentemente sobre a transparência das
ações do governo é percebida no contato com os comerciantes:
227 RELATÓRIO do topógrafo Alacrino Monteiro. In: Relatório anual apresentado pelo engenheiro-
chefe da Comissão Geográfica ao Exmo. Sr. Secretário da Agricultura. 1926. IGA. Setor de
Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais. s/p.
228 Raul Soares e Artur Bernardes eram originários da zona da mata, respectivamente de Ubá e
261
origem das principais lideranças políticas do período, Raul Soares e Artur
Bernardes, esse direcionamento ia ao encontro dos interesses de delimitação das
zonas litigiosas com o estado do Espírito Santo. Esse último serviço foi muito
facilitado pelo fato de a comissão ter encontrado intactos os antigos marcos da
base de Itacoatiara, medida em 1898 pela comissão de limites.
262
agora com um acento também para o norte, alcançando a região central do estado
em municípios como Ponte Nova, Ouro Preto e Sabará. O vetor norte buscava
acercar-se da capital, Belo Horizonte, que, segundo diversos estudos, somente nos
anos vinte afirmou-se econômica e politicamente como o centro do estado.
Por outro lado, a triangulação lançou sua rede para direções extremas e
opostas, com a medição de duas novas bases geodésicas, uma em Pouso Alegre, no
sudeste, para dar continuidade ao mapeamento da região limítrofe com São
Paulo, e outra em Gonçalves Ferreira, estação da estrada de ferro Oeste de Minas
no município de Itapecerica, a noroeste do tecido cartografado. Em 1928 o
mapeamento já estendia suas operações para regiões tão distantes como o
município de Extrema, última fronteira ao sul, a Serra do Caparaó, limite com o
Espírito Santo, e a capital Belo Horizonte, ao norte. Três frentes que certamente
obedeciam aos interesses geoestratégicos de riscar de maneira definitiva a linha
divisória nos limites mais contenciosos, propiciar o mapeamento das regiões mais
prósperas do estado (sul e mata) e avançar em direção à conexão com a capital.
Embora a questão dos limites nunca tenha deixado de ser um objetivo claro
do programa, uma frente específica de trabalhos de delimitação foi reaberta em
1928 para a execução de levantamentos topográficos em pontos das linhas
divisórias com São Paulo, Espírito Santo e Bahia, resultantes de uma nova onda
de acordos que foram encaminhados pelo presidente Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada. Uma equipe especial, com recursos próprios e liderada pelo incansável
Álvaro da Silveira, dedicou-se ao levantamento topográfico ao norte do rio Doce,
fixando com marcos de pedra o limite ao longo da serra dos Aimorés. Nos limites
com São Paulo, as equipes conseguiram minimizar os conflitos que perduravam,
possibilitando a elaboração, em 1930, de um mapa da zona fronteira assinado
pelas duas comissões, onde vinham assinaladas as pretensões locais de cada
estado.229
263
foi a possibilidade de impressão no país: as dez primeiras folhas publicadas foram
litografadas pela empresa paulista Companhia Melhoramentos. Uma exceção foi
a folha Bocaina, publicada pela Casa Hartmann, em Juiz de Fora, cujo trabalho
foi considerado insatisfatório por Álvaro da Silveira.230
Figura 18: Folha Bocaina (1923), a única folha da CGG a ser litografada em Minas.
Fonte: Coleção particular.
230A tiragem dessa folha foi de 2000 exemplares. OFÍCIO da Litografia Hartmann. 4 de abril de
1923. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
264
no final do século XIX, o Serviço Geográfico Militar, no Rio de Janeiro, e o
Instituto Cartográfico do Ministério da Guerra da Bélgica.231 Ao cabo das
consultas e testes, somente o instituto francês chegou a publicar quatro folhas
(Carangola, Viçosa, Piranga e Lagoa Dourada), mas, como o preço foi considerado
muito alto e as folhas entregues com atraso232, não foram mais encomendados os
serviços da casa francesa.
Figura 19: Folha Carangola (1927), uma das quatro cartas que foram impressas na França na
segunda fase da CGG.
Fonte: APM (MG)
231 Exemplares das folhas já impressas eram enviadas às empresas para elaboração de orçamento.
A impressão deveria seguir o padrão estabelecido, que implicava na gravura em pedra em cinco
cores. Esse padrão foi seguido em todas as folhas gravadas durante a existência da CGG.
232 Na seqüência de numeração das folhas da carta, que seguiam passo a passo o processo
cronológico de sua fabricação, as três últimas folhas publicadas pela casa francesa constituíram
um descompasso, pois foram publicadas anos depois de sua efetiva data de conclusão.
265
Geográfica – Bomfim, Laginha e Aimorés –, impressas entre 1930 e 1931,
inauguraram o novo serviço da Imprensa Oficial, a Seção de Cartografia, que a
partir de então seria a responsável pela impressão de todas as folhas da carta do
estado.
266
do mapa geológico do território nacional.234 Mas seria o próprio SGMB, no
entanto, o responsável pela única frente de mapeamento geológico do estado por
todo o período da Primeira República. Minas foi um dos estados que mais atenção
recebeu do serviço federal, seja em virtude das riquezas minerais e dos recursos
hidráulicos do território, seja pelo perfil de seus técnicos e dirigentes, quase
sempre oriundos da Escola de Minas. Eram, em sua maior parte, estudos
pragmáticos próprios de geologia econômica que caracterizava a produção do
SGMB, e que resultaram em reconhecimentos topográficos e geológicos em áreas
determinadas, quase sempre fora do território recortado pelo mapeamento da
CGG.235
234 BRASIL. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Relatório apresentado ao exmo.
Diamantina, a serra da Canastra e região das nascentes do rio São Francisco e a bacia do rio
Grande. A partir de 1924 o SGMB passou a ser presidido por um outro mineiro, o engenheiro civil
e de minas, formado na Escola de Minas, Euzébio Paulo de Oliveira.
236 BOLETIM, Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, Serviço Geológico
Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, entre 1920 e 1930. BOLETIM, Rio de Janeiro,
Ministério da Agricultura, Departamento Nacional da Produção Mineral, Serviço Geológico e
Mineralógico do Brasil, n.100, 1946.
267
João Del Rei representaram um dos poucos investimentos da agência nos
chamados estudos de detalhe, ou seja, em levantamentos minuciosos de pontos
selecionados do território nacional, nos quais fosse possível aprofundar e corrigir
conceitos e interpretações decorrentes dos levantamentos mais extensivos e
superficiais. As folhas geológicas de Minas eram, na opinião de Paiva, produtos
do método proposto por Hartt havia mais de cinqüenta anos, na Comissão
Geológica do Império, o qual recomendava o equilíbrio entre os levantamentos
extensivos e os de detalhe. Se representavam, de um lado, uma exceção na
produção geral do SGMB, voltada para o atendimento das demandas mais
imediatas da nascente indústria nacional, por outro lado, eram testemunhos da
rede de idéias e de atores que, desde Hartt, Gorceix e Derby, vinha articulando as
ações de gerações de engenheiros oriundos da Escola de Minas de Ouro Preto.
Figura 20: Geologia da folha de São João Del-Rei (1927). Produto do trabalho paralelo do
Serviço Geológico do Brasil, a folha mantinha a mesma escala, enquadramento e articulação da
folha correspondente na CGG. Conteúdo e forma, entretanto, eram diferentes: as zonas de cor
268
circunscreviam os domínios geológicos.
Fonte: BOLETIM, 1927.
238 Cumpre ressaltar que, em 1928, decorridos oito anos da retomada dos trabalhos da comissão
geográfica, ensaiou-se a criação de um serviço geológico e mineralógico subordinado à uma nova
Diretoria, denominada Minas, Geologia e Indústria, e dissociado da CGG, que pertencia à
Diretoria de Agricultura. Pretendia-se que os serviços gerassem estudos científicos e econômicos
sobre as riquezas minerais do estado e que se levantasse uma carta geológica, aproveitando-se os
trabalhos da Comissão Geográfica. A proposta não teve prosseguimento, embora permita entrever
um possível jogo de forças entre as autoridades técnicas das áreas da indústria e da agricultura,
pelo comando do mapeamento geológico. MINAS GERAIS. Secretaria de Agricultura. Diretoria de
Indústria e Comércio e Diretoria de Agricultura, Terras e Colonização. Relatórios apresentados ao
Exmo Sr. Dr. Djalma Pinheiro Chagas, secretário da Agricultura, sobre os trabalhos referentes ao
ano de 1927, executados pelas Diretorias de Indústria, Comércio e de Agricultura, Terras e
Colonização, pelos diretores engenheiros Benedito José dos Santos e Ernesto von Sperling. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, 1928c. v.III. p.10.
239 VISCARDI, 2003, p.27-9. Trata-se de uma questão complexa e pouca estudada, que envolveu
muitos atores e interesses, e não pode ser plenamente respondida nos limites do presente
trabalho.
269
do estado paulista. Outro dado levantado pela autora foi a composição da equipe,
constatando o pequeno número de dois geólogos em serviço para um média de
quinze engenheiros dedicados ao mapeamento topográfico e outros serviços. Se
secundário em São Paulo, em Minas podemos afirmar que o título geológico,
presente na denominação da comissão mineira, nunca passou de uma promessa.
Seus relatos são ainda mais expressivos por fazerem emergir as paixões
políticas em meio às falas essencialmente técnicas e muitas vezes burocráticas
dos relatórios. Segundo o relatório do triangulador Otávio Pinto da Silva, redigido
em dezembro daquele ano, ao descrever o início da temporada dos trabalhos de
campo, que nesse ano parecem ter se dado em torno do mês de outubro, é possível
270
identificar um clima de insegurança social e de envolvimento político que parecia
contaminar os membros da comissão, que pela primeira vez apresentavam-se
como sujeitos de uma ação política:
A presente temporada serviços de campo, como muito bem o sabeis, foi
talvez a mais irregular de toda a existência da Comissão. Marchamos para
as montanhas já com a impressão espantante do insucesso, com a previsão
segura de que todos os serviços públicos, mormente os da Comissão
Geográfica, estariam fadados ao fracasso, pois, na capital de nosso estado,
nos nossos lares desassossegados com a ocupação militar, sujeitos de um
momento a outro às patas vandálicas dos ocupantes que, para humilhar
Minas e seu governo não poupariam sequer as nossas famílias, na ausência
de seus chefes.
Neste estado de espírito, digníssimo chefe, de um lado, os nossos filhos com
a ignorância nos seus sorrisos; de outro, para os majestosos picos de nossas
serras, o dedo do dever e este mais forte, abriu-se-nos a estrada do dever.
Assim iniciamos os nossos serviços.241
241 RELATÓRIO do triangulador Otávio Pinto da Silva. 1930. In: Relatório apresentado ao
271
departamento. As folhas parcialmente elaboradas pela CGG seriam publicadas
pelo Departamento Geográfico, com créditos para a comissão, entre os anos de
1932 e 1934.243 Por outro lado, a mudança do modelo de comissão para o de um
departamento sugere uma perspectiva mais estável, mas também mais
burocratizada do trabalho de produção dos mapas.244
243 São as folhas de Belo Horizonte, Itapecerica, Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre e Itauna. O
Departamento prosseguiria com o trabalho, publicando as demais folhas já iniciadas pela CGG,
outras de sua própria lavra e as últimas, já entre os anos de 1939 e 1951, em parceria com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
244 Foge aos objetivos desse trabalho a análise desse outro momento histórico.
245 MORAES, Antônio Carlos Robert de. Notas sobre identidade nacional e institucionalização da
geografia no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n.8, p.166-176, 1991. p.172.
246 WIRTH, 1982, p.61.
272
Figura 21: Croquis de Yves Leloup, busca mostrar a concentração
da população e do sistema viário do estado na zona ao sul do
paralelo 19. Este corte tornou-se paradigmático nas
interpretações geográficas sobre Minas Gerais.
Fonte: WIRTH,1982.
Figura 22: Detalhe da folha Aimorés (1931), com o extremo norte do mapeamento: o rio Doce, o
paralelo 19.
Fonte: APM (MG)
Para os fins da presente análise, incluímos na designação de CGG tanto a Comissão Geográfica
247
e Geológica de Minas como a Comissão Geográfica de Limites, por entendermos que as duas
comissões eram parte do mesmo programa de mapeamento.
275
caminhamentos, mais lentos e detalhados. A rede trigonométrica era tecida pelo
conjunto dos técnicos, pois enquanto os trianguladores determinavam e mediam
os triângulos de primeira ordem, os topógrafos percorriam a mesma região
demarcando os triângulos de segunda e terceira ordem, de forma a
gradativamente irem adensando a malha de linhas imaginárias que, reproduzida
nos croquis de campo, permitia, pelos cálculos matemáticos, a representação da
paisagem sobre o papel.
248 Dada a instabilidade das políticas públicas de mapeamento, que começavam e eram suspensas
ao sabor das conveniências políticas e/ou econômicas dos governos, esses marcos eram
abandonados na paisagem, destruídos pelo tempo ou pela ação dos homens. Quando um
mapeamento era reiniciado numa determinada área, a procura pelos marcos originais da
triangulação era o primeiro desafio das equipes em campo, cujo êxito ou fracasso poderia ser
determinante no ritmo e qualidade da nova operação cartográfica.
276
por onde possa passar o topógrafo, que delineia a vasta topografia dos
terrenos.249
Figura 24: Esboço do horizonte visto do sinal de Santa Rita (1894). Um croqui de campo
mostra o giro de observação do topógrafo, que nomeava e hierarquizava os marcos físicos e
culturais da paisagem.
Fonte: BOLETIM, 1894.
LACERDA, Augusto de Abreu. A bacia do rio das Mortes. Boletim, Belo Horizonte, Comissão
249
277
Figura 25: Detalhe da folha São João Del-Rei (1895), com o sinal de
triangulação da serra de Santa Rita (triângulo com a cota de altitude), de onde
foi observada a linha de horizonte representada no esboço acima
Fonte: IGA.
278
Figura 27: Croquis de uma caderneta de campo da CGG (1896). Elementos
destacados na paisagem para se configurarem como pontos de visada e de
amarração da rede de triangulação: fazenda, cruzeiro, capela, árvore ou pico
rochoso. Uma eleição que não discriminava a natureza física ou cultural do
marco.
Fonte: SILVEIRA, [1927].
250No ano de 1928, a equipe chegou a contar com seis trianguladores e dezessete topógrafos.
RELATÓRIO anual apresentado ao Exmo. Sr. Secretário da Agricultura Dr. Djalma Pinheiro
Chagas pelo engenheiro chefe da Comissão Geográfica do Estado de Minas Gerais. [Belo
Horizonte]: 1928. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de
Minas Gerais.
279
turma, e partia para o campo com seu arsenal, assim descrito por Lacerda em
1891:
251 MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado pelo secretário interino do
Interior ao Exmo. Sr. Vice-presidente do Estado de Minas Gerais: trabalhos da Comissão
Geográfica do Estado de Minas Gerais, 1891. Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n.74, 7 jul. 1892c.
252 RELAÇÃO dos objetos em poder do triangulador. [Manuscrito assinado por Antônio Tavares
280
justificativas por atrasos no cumprimento de metas, as muitas dificuldades
experimentadas na procura por um sítio para o acampamento, na fuga ou morte
do animal, nos descaminhos pelas regiões desertas, nos perigos das epidemias.
Tratava-se de um trabalho áspero, admitia Lacerda em 1893, a justificar a
instabilidade da equipe pelo constante abandono do emprego pelos engenheiros
quando outros mais vantajosos lhes [eram] oferecidos.253 A instabilidade
estendia-se aos camaradas, ajudantes e guias recrutados entre a gente do lugar,
uma das raras faces permeáveis do trabalho oficial em relação ás populações das
regiões mapeadas.
281
Gomes Pereira254, repetidas pelo chefe da comissão, o engenheiro politécnico
Aarão Reis. De forma mais acentuada do que na CGG, os relatos dos engenheiros
da CCNC deixam entrever uma preocupação com o controle das medições, a
revelar que, em mapeamentos de grande escala, a angústia do erro assaltava
permanentemente os responsáveis pela produção cartográfica.255 A minimização
dos erros passava pela adoção dos métodos mais precisos e de compensação, mas
especialmente pelo controle dos instrumentos, motivo das constantes reclamações
dos engenheiros: atrasos nas compras no Rio de Janeiro e no exterior, inabilidade
no uso, inexistência de material para pequenos consertos. De forma aguda, a
comissão construtora expunha os problemas técnicos que eram parte do cotidiano
das comissões geográficas. O improviso e a criatividade passavam, nessas
condições, a garantir a continuidade das operações, e a circulação dessas soluções
era parte de uma solidariedade tática a proteger as equipes técnicas [...]da
ignorância daqueles que pressionavam e que não conheciam os métodos da
ciência.256
282
modelo de base de apoio da mesma fita, as cruzetas movediças, de invenção do Sr.
Lacerda.257
257 RELATÓRIO encaminhado ao Chefe da 4ª. Divisão da CCNCM pelo Chefe da 1ª. Seção. S/l:
1895. APCBH. Fundo Comissão Construtora da Nova Capital de Minas.
258 SILVEIRA, Álvaro da. Topografia. São Paulo: Melhoramentos, [1927]. p.155.
283
altitude pela pressão atmosférica. Essa exigência condicionava fortemente o
trabalho, e os relatos narram as muitas situações de atraso ou interrupção dos
trabalhos devidos às chuvas, aos nevoeiros, ou à fumaça proveniente das
queimadas das matas. A vegetação cerrada também era vista em determinadas
situações como um obstáculo, tanto para a expansão do horizonte e da observação
visual como para a colocação dos marcos, embora, na maior parte das vezes, os
relatos condenem a constante derrubada e queima indiscriminada das matas.259
Em 1923, o triangulador Antônio Tavares narrou o fato de ter despendido quinze
dias para colocação do marco de um sinal, devido à vegetação encontrada na sua
região, a zona da mata,
259 As observações críticas sobre queimadas e derrubadas de matas, vistas no conjunto dos
relatórios de campo produzidos pelas comissões, constituem um consistente inventário dessas
práticas por toda a região mapeada. São, por outro lado, um rico testemunho da existência de uma
mentalidade preservacionista e racionalizadora do uso dos recursos vegetais presente entre os
engenheiros das comissões, categoria social a meio caminho entre uma elite científica e letrada e
as camadas médias do funcionalismo público.
260 RELATÓRIO apresentado pelo engenheiro chefe da Comissão ao senhor Secretário da
Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas; exercício de 1923. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais. p.28-9.
261 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Seção de Limites. In:
____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de
284
A serra da Mantiqueira foi uma das regiões mais desafiadoras para o
trabalho cartográfico empreendido pela comissão de limites, como relatou o chefe
Augusto de Vasconcellos em 1895:
[...] uma zona que não pode ser pior, – quase todos os altos cobertos de
mato; picos escarpados aonde com dificuldades se sobe; precipícios a cada
momento aonde um descuido qualquer pode ser fatal!
É nestes lugares onde o explorador gasta tempo e cansa-se à procura de
pontos que satisfaçam as exigências de uma boa rede de triângulos. Sobe
um pico aonde chega depois de penoso trajeto por caminhos ínvios,
saltando aqui agarrando acolá; e muitas vezes todo o sacrifício é perdido!
Para colocar ali um sinal que se possa ligar a outro, aparecem logo
embaraços: são precisas derrubadas em tais e tais pontos, e uma aberta
acolá; e para evitar trabalho, o que atrasaria muito e para fazer o serviço
com economia lá se vai o explorador caprichoso em demanda de outro
ponto.263
Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr, Francisco Sá em o ano de
1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895d. Anexo 4. p.43.
262 RELATÓRIO dos engenheiros da Comissão Geográfica de Limites com São Paulo e Rio de
Janeiro. Resumo do relatório do chefe da Comissão de Limites. 1895. APM. Fundo SI. Série
Limites. Subsérie Diversos. Cx. 11. p.2.
263 RELATÓRIO sumário dos trabalhos e negócios da Comissão Geográfica de Limites do Estado
de Minas com S. Paulo e Rio de Janeiro durante o 2º. trimestre, 1895, apresentado ao Sr. Dr.
Secretário de Estado da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. APM. Fundo SI. Série Limites.
Subsérie Diversos. Cx. 11. p.3.
285
federados. Uma landmark, no conceito estabelecido por Burnett: uma construção
geográfica que elegia entre os traços físicos de uma dada paisagem aquele capaz
de gerar enclausuramentos, fronteiras e, por força desse mecanismo, gerar
territórios e situações de posse.264
Explorar, medir e mapear uma landmark era desafio constante a que não
se furtavam os membros das comissões. Alguns dos marcos físicos mais
destacados, especialmente picos de grande altitude, eram objeto de atenção
especial, como ocorreu com o maciço do Itatiaia (ou Pico das Agulhas Negras), que
recebeu a visita da comissão de limites em 1895 e da comissão geográfica em
1922. Ambas as equipes buscavam mapear a linha divisória entre os estados por
sobre essa região montanhosa de grande beleza paisagística, que despertava o
interesse exploratório e científico de seus membros. A expedição de 1895 contou
com a prestigiada presença de Orville Derby que, segundo o chefe da equipe,
Augusto de Vasconcellos, [...] desejava colher amostras para os estudos geológicos
desta zona que em grande parte já lhe era conhecida. Em seu relatório,
Vasconcellos mostrou não ter sido possível alcançar o pico, concluindo otimista:
Não direi que as agulhas sejam incessíveis – é questão de tempo, boa vontade e
coragem.265
A retomada do mapeamento dos limites, já na segunda fase da CGG,
ensejou a oportunidade para que fossem refeitos os trajetos da zona montanhosa
das divisas entre Minas, Rio e São Paulo, para onde o topógrafo Benedito
Quintino dos Santos se dirigiu em 1922, explorando as serras de Aiuruoca,
Itatiaia e o Pico das Agulhas Negras. Seu relato, espécie de narrativa de viagem
e roteiro de explorações, mesclava a descrição dos perigos na subida do pico, o
encantamento romântico com a paisagem, o cientismo das notas técnicas
264 BURNETT, D. Graham. Masters of all they surveyed. Chicago: University of Chicago, 2000.
Segundo Burnett, as landmarks permitiam ao explorador em trânsito, na produção do seu mapa,
fixar pontos que possibilitavam a reconciliação do mapa com o terreno, ou seja, que projetavam
sobre a grade homogênea de latitudes e longitudes do mapa os traços do lugar, sua fisionomia
particular. A construção de landmarks eram cruciais na construção de fronteiras e na delimitação
de territórios. No caso da zona fronteira de Minas com os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, a
fixação da serra da Mantiqueira com uma landmark fora trabalho efetuado no tempo longo, desde
os primeiros cartógrafos que percorreram e mapearam a região no século XVIII.
265 RELATÓRIO sumario dos trabalhos e negócios da Comissão Geográfica de Limites do Estado
de Minas com S. Paulo e Rio de Janeiro durante o 4º. trimestre, 1895, apresentado ao Sr. Dr.
Secretário de Estado da Agricultura, Comércio e Obras públicas. APM. Fundo SI. Série Limites.
Subsérie Diversos. Cx. 11. s/p.
286
explicativas das formações rochosas e o pragmatismo da descrição dos seus
procedimentos na fixação de uma linha de limites na cumeada da serra, em
discordância com o trabalho feito anteriormente tanto pela comissão mineira
como pela fluminense.266
266 O trecho é interessante pois mostra o argumento do topógrafo que, segundo suas palavras, se
baseou apenas nas suas observações em campo e somente teve acesso às opiniões divergentes após
as suas próprias conclusões. Santos faz referência ao mapa de Silveira, a quem é dirigido seu
relatório, mostrando como as informações circulavam entre a esfera restrita dos relatórios
administrativos para o campo aberto das publicações técnicas. O referido mapa era um croquis de
localização que foi publicado no livro Memórias Corográficas, no qual Silveira narrou a sua
ascensão aos picos mais altos do Brasil naquela época, o da Bandeira e das Agulhas Negras.
267 O extenso repertório de elementos anotados e de processos observados na relação entre o
conjunto dos mapas e dos textos produzidos será objeto da análise da seção 6.2.
287
Figura 28: Trecho da folha Bocaina (1923), relativo à região da Serra do Itatiaia. Dali
galgamos a serra Negra, passando pelo retiro do Bueno e Pedra Grande, apanhando
novamente o Aiuruoca junto de sua magnífica cachoeira que despenha de cerca de 80 m e
com uma potência aproximada de 500HP. Lutamos com as maiores dificuldades nesta
viagem até atingirmos a belíssima Vargem do Aiuruoca onde nasce o rio deste nome
[...]268
Fonte: APM.
268 RELATÓRIO apresentado pelo engenheiro chefe da Comissão Geográfica e Geológica do Estado
de Minas Gerais ao senhor Secretário da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
1922. Relatório do topógrafo Benedito Quintino dos Santos. IGA Setor de Limites. Documentação
da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais. p. 70.
288
Um procedimento importante na fabricação do mapa em campo, e um dos
poucos permeáveis ao conhecimento das populações locais e a um saber anterior,
era a fixação da toponímia. Percorrendo diferentes regiões, topógrafos e
trianguladores deparavam-se com uma rede toponomástica que poderia ser mais
ou menos rarefeita, de acordo com a densidade de sua ocupação.269 Aos olhos
estrangeiros dos topógrafos, preocupados com o registro de um vocabulário
toponímico passível de universalização através da carta, a toponímia fixada entre
as populações era precisa e consensual na nomeação dos grandes rios e marcos
orográficos, mas muito fluida e inexata no tocante aos afluentes de médio ou
pequeno porte, às serras e aos morros. Essa nomeação praticada na escala local,
entre a gente familiarizada com a paisagem, era entendida como um obstáculo ao
trabalho, como relatou o topógrafo Carlos Lindgren:
269 Para além de toda sua capacidade performativa de inventar (ou reinventar) um lugar, a
atividade cartográfica necessita de um vocabulário que permita a inscrição desses lugares no
mapa, constituído na maior parte das vezes pelos topônimos consagrados pela tradição ou pelo ato
de nomeação praticado pelo próprio cartógrafo. Na seção 3, ao abordar o mapeamento de limites,
discorremos sobre a importância da atividade toponímica no processo cartográfico, seguindo as
idéias de C. Jacob.
JACOB, Christian. L´empire des cartes: approche théorique de la cartographie à travers
l`histoire. Paris: Albin Michel, 1992.
270 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do topógrafo
Carlos Lindgren. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais
pelo Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr, Francisco
Sá em o ano de 1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895e. Anexo B. p.52.
289
Figuras 29 e 30: Trechos das folhas Baependi (1897) e Lima Duarte (1899). A
escala definida para o mapeamento topográfico permitiu o inventário das
propriedades rurais, inscrevendo nos mapas uma rede toponímica repleta de
nomes de fazendas e de seus proprietários.
Fonte: APM.
290
O desenho da futura folha do mapa geral começava a ser elaborado ainda
no campo, o chamado mapa de campo, muitas vezes mencionado pelos
exploradores. Esse esboço, que trazia rascunhados os principais elementos
observados, era confeccionado à noite, na barraca, ou em dias especialmente
reservados para isso. O topógrafo Harold Hermeto indicou alguns desses
elementos que constavam
291
Os trabalhos de escritório iniciavam-se em torno de outubro e prosseguiam
até março, reunindo no escritório central os técnicos que exploraram o terreno
para a construção gráfica da rede de triângulos sobre a qual era feito o desenho
dos caminhamentos, na escala de 1:20.000. Em seguida esses desenhos eram
reduzidos para a escala final de 1:100.000, [...] esboçando-se o relevo do solo por
meio de curvas de nível espaçadas de 50 metros. 273 Ao engenheiro cabia ainda a
redução dos diversos desenhos à escala única através do uso do pantógrafo e o
traçado gráfico. Grande parte do trabalho de gabinete era dedicado à conferência
das medições dos ângulos, cálculos de altitude dos vértices, de coordenadas e das
tabelas necessárias à projeção das folhas no sistema policônico.274 Como no antigo
método de gabinete, certos dados ainda eram colhidos ou corrigidos a partir de
outras fontes e incorporados às imagens em construção, como os limites dos
municípios e o traçados de algumas estradas.
uma escolha entre muitas possibilidades. A projeção policônica, adotada pelo US Geological
Survey em todos os seus mapeamentos, desde sua criação em 1897, foi mais uma apropriação do
modelo americano pelas comissões geográficas brasileiras.
292
Figura 31: Detalhe do Esboço dos trabalhos na zona limítrofe com o estado do Rio
(1896). Comandada pela urgência no mapeamento da zona limítrofe, a comissão de
limites fez uso de uma base topográfica anterior na qual o relevo era representado
pelo método tradicional das hachuras.
Fonte: APM.
Figura 32: Detalhe do Esboço da zona explorada entre 1891 e 1893. Nesse primeiro
mapa produzido pela CGG, cuja finalidade era apresentar os primeiros resultados
regionais do mapeamento, as hachuras são utilizadas para realçar os marcos
altimétricos mais destacados, em especial aqueles que serviam de pontos nodais da
rede triangulada.
Fonte: APM.
293
Figuras 33 e 34: Detalhe das folhas Barbacena (1895) e Oliveira (1922). Entre a primeira e a
segunda fase da CGG observam-se poucas mudanças no projeto intelectual do mapeamento,
embora se observe um certo empobrecimento visual das imagens. O uso de hachuras para
destacar um elemento orográfico na paisagem, em conjugação com a leitura técnica da
topografia proporcionada pelas curvas de nível, aparece nas folhas da CGG nas duas fases de
produção, demonstrando a manutenção de um recurso visual tradicional que se baseava na
identificação icônica do elemento e na qualidade artística do desenho.
Fonte: APM.
Uma opção técnica importante mas quase nunca citada nos documentos
legais ou nos relatórios foi a adoção do meridiano do Rio de Janeiro, medido pelo
Observatório Nacional no Morro do Castelo, como o marco zero na grade de
longitude. A comissão poderia optar por outros meridianos internacionais, já
nessa época mais conhecidos e consagrados, como Paris ou Greenwich. O fato de
não tornar explícita ou debater as razões dessa decisão, que depende de uma
tradição ou convenção para ser adotada, parece sugerir um consenso na escala do
país pela adoção do meridiano do Rio de Janeiro. Essa decisão responderia,
assim, a uma tradição nacionalista de manter determinadas convenções
cartográficas como afirmações próprias de cada nação ou estado, tendência que só
ao final de século XIX começaria a ser substituída por uma maior
estandardização e internacionalização dos formatos e dos conteúdos
cartográficos.275 Enquanto o grau zero de latitude é o equador, ou seja, a posição a
294
meio caminho entre os dois pólos do planeta, o grau zero da longitude pode estar
em qualquer lugar, e por isso exige o arbítrio da autoridade cartográfica.276 Para
além das convenções nacionalistas, a opção pelo meridiano do Rio de Janeiro
permitiu um ajuste mais preciso da grade das folhas ao posicionamento
geodésico, pois, ao transportar o grau zero do meridiano do Rio de Janeiro para as
folhas da CGG, uma linha com o 1º grau a ocidente cortou o território a ser
cartografado em uma posição central, tanto em relação ao conjunto das primeiras
folhas produzidas como a todo o conjunto cartografado até o final dos anos
quarenta (ver fig.39).
países europeus e os Estados Unidos, do sistema métrico francês, criado no conjunto das reformas
da Revolução Francesa, como o sistema internacional de medidas. O impacto mais imediato na
cartografia foi [...] a introdução de uma linguagem mais simples e universal para a expressão da
escala dos mapas, que era o sistema representado em fração, a exemplo, 1/100.000 ou 1:50.000.
Por esse sistema de expressão de escala, qualquer medida da unidade, como 1 centímetro,
representaria 100.000 ou 50.000 unidades no terreno.
WILFORD, John Noble. The mapmakers; the story of the great pioneers in cartography – from
antiquity to the space age. New York: Vintage Books, 2002. p. 257.
276 Wilford (2002) mostrou como o meridiano zero foi objeto da escolha de cartógrafos e nações ao
longo da história. No século XIX, a uniformização começou a ser projetada com a Conferência
Internacional do Meridiano, realizada em 1884 nos Estados Unidos, a qual consagrou o
Observatório de Greenwich, na Inglaterra, como o lócus do meridiano zero internacional. O
estabelecimento do meridiano trouxe consigo a solução para o problema da convenção
internacional da hora, ao dividir o mundo em 24 zonas de tempo correlacionadas às longitudes. As
zonas e fronteiras do tempo, assim como a hora internacional, eram convenções que respondiam
às demandas oriundas da aceleração dos meios de transporte e de comunicações, como as estradas
de ferro, os telégrafos e a telefonia.
295
estradas eram desenhadas segundo seu potencial de trânsito; as povoações,
segundo seu tamanho; as bacias hidrográficas, em toda a sua hierarquia natural.
Todo um código visual era acionado para converter em recursos gráficos essa
diversidade de elementos, seja por traços icônicos ou símbolos convencionais. Se o
programa cartográfico tinha a ambição totalizante de tudo registrar e representar
no mapa, desde que compatível com a escala escolhida, particularmente
interessante foi o uso da distorção da escala, artificialmente diminuída, para
possibilitar a representação das plantas urbanas das povoações. Segundo
Silveira, buscou-se [...] indicar um esboço bastante aproximado, mostrando as
ruas e largos mais importantes [...] para ter-se uma exata idéia da conformação
dessas povoações.277 A exata idéia defendida por Silveira, antes que uma
distorção da realidade, era mais um artifício de exacerbação do efeito do real
sobre a carta.
Figura 35: Detalhe da folha Juiz de Fora (1924). As representações das plantas
urbanas foram propositalmente aumentadas a ponto de se tornarem visíveis na carta.
Fonte: Coleção particular.
277SILVEIRA, Álvaro da. As folhas da carta de 1/100.000 do estado de Minas. Revista Industrial
de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n. 27, p.40, 20 ago.1897.
296
O primeiro chefe da comissão geográfica e geológica, Augusto de
Vasconcellos, foi quem iniciou os estudos para a definição em detalhe do projeto
gráfico das folhas. Mas coube ao seu sucessor, Álvaro da Silveira, as decisões
finais sobre as primeiras folhas impressas, com as quais ficou definido, em suas
principais linhas, a linguagem visual de todo o conjunto posteriormente
elaborado. A concepção do formato final das folhas a serem produzidas e
impressas era o momento determinante na concretização do projeto intelectual
que promovera o mapeamento, pois significava a fusão de todos os elementos
inventariados e fabricados nas operações de campo e a sua tradução em um
suporte visual legível e utilizável pelo público. Tratava-se agora, nos termos de
Jacob, de dar concretude à pragmática da carta, ou seja, de estabelecer, através
das escolhas gráficas que condicionavam o seu formato, as possibilidades e
limites de sua leitura e de seu uso prático.
O conceito de pragmática da carta aproxima-se do conceito de protocolo de
leitura, como definido por Roger Chartier em seus estudos sobre as práticas de
leitura. Partindo do entendimento da leitura como uma prática criadora que
agrega novos significados ao texto proposto pelo autor, Chartier propôs o retorno
ao objeto impresso, para descobrir nele os vestígios da leitura e dos
condicionantes materiais de sua produção:
um tal estudo [...] não considera o impresso como um suporte neutro [...] mas
como um objeto cujos elementos e estruturas remetem, de um lado, a um
processo de fabricação [...] e, de outro, a um processo de leitura ajudado ou
derrotado pelas próprias formas dos materiais que lhe é dado a ler. 278
278 CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p.95. É a esse
processo de fabricação e às práticas de leituras, ou, podemos dizer, às modalidades de consulta dos
mapas, que remete o conceito de Jacob. Jean-Marie Goulemot é outro autor cujos escritos sobre as
possibilidades de produção de sentido da leitura concorrem para o entendimento das modalidades
de consultas das imagens cartográficas. Goulemot ressalta a multiplicidade dos fatores que agem
no processo de leitura, especialmente as experiências anteriores, a memória do leitor, pois os
saberes anteriores são agentes no deciframento do material oferecido à leitura. Jacob tratou desta
dimensão coletiva e intertextual do deciframento dos mapas ao analisar os topônimos, quando
afirma:Na carta podem coexistir estados de conhecimentos pertencentes a épocas diferentes da
história da geografia. Há uma capitalização de um saber enciclopédico, sem aparecer os estratos
que o constituíram. JACOB, 1992, p. 309.
297
inscrições de créditos de autorias ou datas, códigos de articulação das folhas e
outros. No caso das folhas do mapa da CGG, o formato geral já havia sido
estabelecido desde que a concepção original do mapeamento se fundara nos
modelos dos grandes mapeamentos topográficos seriados, em especial os surveys
americanos. Concebidas em uma escala que não admitia a visualização integral
do território cartografado, as folhas seriadas e articuladas priorizavam a
legibilidade do detalhe topográfico e o manuseio do suporte modulável, embora
exigissem do usuário o exercício intelectual de reintegração de um território
recortado, deixando aberta a possibilidade teórica de cicatrizar o corte colando as
margens e restaurando a integridade do espaço.279
298
Dirigindo-se ao futuro público usuário dos mapas da CGG, Álvaro da
Silveira descreveu, em artigos publicados em 1896 e 1897280, os recursos gráficos
que possibilitavam o processo de reintegração das partes recortadas e a
continuidade da leitura dos elementos que cruzavam de uma folha a outra: a
inscrição dos títulos das folhas contíguas nas molduras laterais da imagem, um
número por ele codificado e inscrito à esquerda do título, e a reprodução no seu
verso de um quadro que unificava as diversas partes.
Mas se o modelo das cartas moduláveis, que foi o mais largamente adotado
nos mapeamentos topográficos em todo mundo, interditava ao usuário a visão em
completude e impedia que os limites reconhecíveis, as formas familiares de uma
determinada área fossem visualizados, uma outra modalidade de consulta era
então acionada. O trecho abaixo citado, de C. Jacob, é particularmente claro na
descrição dessa nova legibilidade dos mapas que foi introduzida com os mapas
seriados de grande escala:
280 SILVEIRA,Álvaro da. Geografia: informações sobre as folhas da carta geográfica do Estado de
Minas Gerais. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 3, n.18/19, 15 jun./ 15 jul.
1896.
SILVEIRA, 1897.
281 JACOB, 1992, p.113.
299
Figuras 37 e 38: Detalhes das folhas contíguas São João Del-Rei e Barbacena: para uma leitura
contínua dos espaços recortados, a pragmática da carta prescrevia a observação dos títulos nas laterais
de cada imagem.
Fonte: APM.
Figura 39: Quadro reproduzido no verso da folha Muzambinho (1939), uma das
últimas a serem publicadas, mostra todas as folhas que foram produzidas pelo
mapeamento topográfico concebido pela CGG. Além de permitir a localização de cada
folha no conjunto, esses quadros – chamados cartas-índices – forneciam a chave de
conexão entre as partes e a única visão, ainda que esquemática, da totalidade da
área representada cartograficamente.
Fonte: Coleção particular.
300
Como cada folha continha uma parcela anônima do território, ou seja, sem
forma, limite ou nominação próprias, o título também era parte dessa seqüência
de arbitramentos a cargo dos autores intelectuais do mapeamento. Decisão em
nada simples ou óbvia, pois o título é o lugar privilegiado de enunciação do objeto
cartografado e de seu uso; a eleição do nome do mapa diz muito sobre seu
significado. Entretanto, no caso da CGG mineira, Álvaro da Silveira, em geral
mais prolixo, não conferiu em seus textos qualquer sentido especial às escolhas
realizadas: [...] cada folha tem um título que corresponde a um dos nomes das
povoações nela figuradas.282 Mas porquê uma povoação e não outra? Do exame do
nomes escolhidos, é possível saber que o título consagrava em geral as povoações
maiores ou mais ricas de cada circunscrição, mas sem lastro numa centralidade
geométrica, política ou de qualquer natureza, pois as áreas recortadas não
configuravam regiões orgânicas e articuladas. Os nomes das localidades
escolhidas, ao migrarem para o título da folha, não carregavam consigo uma
aspiração de domínio ou representatividade sobre o espaço cartografado.
Referências espaciais pouco precisas, os títulos das folhas da CGG eram nomes
neutros, discretos, pouco mais do que os números com que muitos mapeamentos
topográficos seriados da mesma natureza reduziam cada folha em particular.
301
Figura 40 e 41: Detalhes da legenda da folha São João Del-Rei (1895). Observa-se o uso
articulado de diferentes códigos visuais – signos miméticos ou convencionais, cores, caligrafia
– para a discriminação e hierarquização dos elementos e processos cartografados: além dos
elementos descritivos da paisagem física (vegetação, relevo, hidrografia) e cultural (limites,
rede urbana), clara ênfase foi dada aos meios de transporte e comunicação e aos recursos
naturais.
Fonte: APM.
Cada folha é tirada em cinco cores: preta, azul, vermelha, verde e sépia. O
preto é utilizado para todos os nomes à exceção de cursos d’água; para a
representação de casas, igrejas, cemitérios, fábricas, explorações de minas,
estradas de ferro, estradas de rodagem de importância secundaria, limites
de municípios, etc.
O azul para representar cursos d’água e para os nomes destes, grotas
secas, lagoas, brejos e acidentes que tiverem relação com esse gênero de
fatos naturais.O vermelho para representar estrada de rodagem de grande
trânsito, estradas de ferro em construção, estações de estradas de ferro,
navegação fluvial, etc.
O verde para representar tudo o que se relacionar com a vegetação. O sépia
302
para a representação do relevo.284
284 MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da
Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, Dr. Carlos Prates
em 1896. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1896b. p.112.
285 HARVEY, P. D. A. The history of topographical maps; symbols, pictures and surveys. London:
303
Figura 43: Detalhe da folha Luminárias (1897). Fiel á concepção de uma carta
inventário, nas folhas da comissão geográfica, a cor é um componente a distinguir com
precisão os elementos selecionados na paisagem topografada, sem o recurso às
manchas coloridas que fundem elementos.
Fonte: IGA.
Figura 44: Detalhe do Esboço dos trabalhos entre 1894 e 1895, Comissão de Limites
(1897). Devido ao seu objetivo principal de relatar em imagem o andamento dos
trabalhos de campo, esta carta recorre á cor em manchas, linhas e pontos para fazer
realçar os elementos essenciais da representação: as linhas de limites definidos, os
caminhamentos realizados, as zonas fronteiriças em processo de diferenciação.
Fonte: APM.
304
A discriminação da complexa cobertura vegetal foi simplificada para
apontar apenas duas categorias – campo e mato – que, segundo o chefe da
comissão Álvaro da Silveira, ele próprio um botânico, apenas poderiam contribuir
no futuro inventário das áreas desflorestadas:
305
(1928-30) e certamente indicativo da emergência de novo momento na
autonomização da profissão.
Figuras 45 e 46: Detalhes da folha Baependi (1897), com as inscrições dos créditos
técnicos, dispostos em cantos opostos do mapa. Produto de um trabalho coletivo por
definição, no seu formato final os mapas repartiam sua complexa autoria entre o campo
(levantamento) e o gabinete (desenho).
Fonte: APM.
306
gravação do desenho em chapas de cobre, que garantiriam futuras reimpressões e
o seu transporte para o Brasil, já que as impressões seriam feitas na Europa.
Lacerda expressou as razões que o fizeram optar pela casa francesa dos Irmãos
Erhardt:
Estes senhores têm feito muitos trabalhos geográficos que denotam de sua
parte grande proficiência. Entre eles conheço as 600 folhas da carta da
França, mandada imprimir pelo ministro do Interior, as folhas da carta do
México, as do Peru, etc.288
307
Com a publicação, impunha-se a finalização do programa: construir uma
representação autorizada científica e politicamente, fazer desaparecer da
superfície da imagem os traços de sua fabricação, enquadrar o conteúdo nas
convenções da linguagem cartográfica e nos protocolos de consulta. Com a
finalização e a publicação das folhas, processava-se um divórcio quase definitivo
entre o mapa e o mapeamento que o construiu. Pronta a imagem, sua
autonomização era regra: vendida ou distribuída, a imagem seguia só. Interesses,
juízos, esboços, tabelas, instrumentos, marcos, barracas, burros e homens: essas
dimensões do mapeamento restavam no campo ou no gabinete para, em geral,
serem esquecidas. Um pouco da intencionalidade, da materialidade e da
historicidade dos mapas permaneceu, entretanto, na produção textual das
comissões e de seus técnicos.
289 Entre os autores que, em diferentes abordagens, tratam de objetos cartográficos, citamos
Christian Licoppe, que se dedicou a acompanhar o desenvolvimento das estratégias discursivas
que foram mobilizadas, entre os séculos XVII e XIX, para a construção do fato empírico e a
credibilidade da prova experimental. Graham Burnett, em livro sobre a construção geográfica da
Guina Inglesa, considerou o conjunto da produção dos exploradores como textos-chave na
fundação deste território colonial do século XIX. Neil Safier, em estudo sobre a produção textual e
gráfica da expedição franco-espanhola a Quito (1735-1744), liderada por Charles La Condamine,
focalizou os processos pelos quais os dados científicos eram coletados, comunicados, legitimados e
defendidos, e as estratégias narrativas e editoriais da literatura de viagens para influenciar a
recepção dos textos em seus contextos específicos. Citamos particularmente a tese de Isabelle
Surun, na qual se discute a interdependência, no contexto da exploração geográfica do continente
africano no século XIX, entre o mapa, o campo e o texto, no processo de constituição do saber.
LICOPPE, Christian. La formation de la pratique scientifique: le discours de l´expérience en
308
Analisando os pressupostos dessas novas produções, Pestre290 serviu-se do
conceito de tecnologias literárias para mostrar como o texto científico é um objeto
construído segundo regras variáveis no tempo e no espaço social, como as
sucessivas traduções dos saberes, desde os rascunhos, os relatórios, as
correspondências, os croquis, até os tratados, manuais, apresentações para o
grande público demonstram que o status de evidência e de lógica dos resultados
modifica-se em cada contexto, e como diferentes modos retóricos podem ser
mobilizados no trabalho de convencimento de audiências específicas.
nouveaux objets, nouvelles pratiques. Annales HSS, Paris, n.3, p.487-522, mai/juin 1995.
309
sobre a exploração, cujo horizonte de propósitos era, de um lado, a produção de
uma memória do empreendimento, e, de outro, a produção de dados para a
construção de um quadro geográfico do estado. Essa dimensão intelectual do
projeto já estava expressa nas instruções de 1892:
A publicação dos boletins obedeceu a outros fatores, pois não buscava ser,
como os relatórios, um espelho das atividades desenvolvidas, mas tinha a
ambição de produzir novos conhecimentos a partir dos trabalhos em curso. O
plano para a publicação dos boletins também já estava delineado, em tudo
semelhante ao plano de publicações da comissão paulista292: o primeiro boletim
São Paulo e a exploração científica do território paulista (1866-1931). 1987. Dissertação (Mestrado
em História) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1987.
310
dedicado à organização da comissão e seus métodos; o segundo, aos dados
climatológicos, e o terceiro a uma descrição geográfica da bacia do rio das Mortes,
por onde efetivamente se iniciaram os trabalhos de campo.
311
Estado de Minas Gerais, tratava-se, na verdade, de um primeiro esboço dos
resultados, sem entrar em grandes e aprofundadas considerações, sobre o clima
de apenas duas localidades até então estudadas, Barbacena e Queluz. Lacerda,
que assinava pessoalmente este e o boletim anterior, buscou acentuar o caráter
preliminar dos dados aferidos em apenas três anos de atividades, quando se sabia
que [...] eram necessários, em Climatologia, dezenas de anos de observações
sistemáticas para se deduzir fatores climáticos.295 Porque, então, publicar dados
ainda pouco sistematizados? A urgência numa publicação desse tipo sugere que a
meteorologia e a climatologia eram campos sujeitos a uma pressão maior por
resultados, pois seus dados poderiam contribuir de forma mais imediata para o
estabelecimento do que se convencionou chamar lavoura científica, que Faria
(1992) apontou como uma das frentes programáticas do projeto de modernização
republicana. O próprio Lacerda acena nesse sentido ao considerar que a
publicação dos dados, ainda que prematuros, [...] poderia contribuir para a ciência
em geral, e para a agricultura e higiene, em particular.296 O chefe da CGG,
consciente do amadorismo e a improvisação que cercavam a atividade e que
contrastavam com o rigor técnico das outras frentes do programa, veiculou no
boletim a sugestão de que o governo promovesse mais investimentos no ensino e
na profissionalização desse campo técnico, [...] cuja utilidade não é preciso
encarecer, principalmente tratando-se atualmente de levantar da rotina a
Lavoura e a Criação dos animais úteis ao homem.297 O boletim continha ensaios
assinados pelo próprio Lacerda sobre o clima de Queluz e de Barbacena e uma
série de observações meteorológicas de outras localidades como Juiz de Fora,
Lavras, Oliveira e Uberaba, nas quais haviam sido instaladas as estações
meteorológicas. Além de se instalar em cidades inseridas nos limites do
mapeamento, a rede meteorológica alcançava outros pontos do estados,
desenvolvendo uma outra lógica espacial, que buscava cobrir de forma mais
sistemática todo o território do estado. O aparato construído para disponibilizar
os dados incluía textos, tabelas e gráficos que continham dados sobre
295 LACERDA, Augusto de Abreu. Subsídios para o estudo do clima do Estado de Minas Gerais.
Boletim, Rio de Janeiro, Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais, n.2, 1895b.
p.3.
296 LACERDA, 1895b, p.3.
297 LACERDA, 1895b, p.6.
312
temperatura, pluviosidade, oscilações barométricas, distribuição dos ventos e
geadas.
298 LACERDA, Augusto de Abreu. A bacia do rio das Mortes. Boletim, Rio de Janeiro, Comissão
313
voltava-se, entretanto, em suas conclusões, para possíveis aplicabilidades de seus
dados e observações empíricas, buscando localizar os fenômenos no calendário
anual e apontar suas conseqüências sobre a vegetação natural e as plantações, a
qualidade das águas, as enchentes e a salubridade da região de uma maneira
geral.
314
botânicas por ele identificadas e respectivos estudos sobre o meio físico onde
floresciam (clima, geologia, vegetação), circunscrito às regiões mapeadas pela
CGG. Silveira apresenta o volume como uma contribuição para o mundo científico
e um avanço em relação aos estudos anteriores produzidos por naturalistas
estrangeiros. O aparato técnico acionado por Silveira incluía a nomeação e a
descrição das novas espécies em latim, segundo a linguagem botânica
internacional, a citação de autores consagrados, a crítica dos estudos botânicos
anteriores e descrições geológicas, topográficas e botânicas de seu habitat. O texto
mesclava essa ambição erudita a conteúdos mais anedóticos, narrados na
primeira pessoa, como na literatura dos viajantes, passagens sobre a exploração
do terreno em muito semelhantes àqueles dos relatórios técnicos produzidos pelos
demais membros da CGG, certamente de onde se originaram. O boletim n.5 era
complementado por mais três ensaios também assinados por Silveira: um relativo
ao clima das montanhas e de algumas povoações mineiras, outro sobre as chuvas
no estado e um terceiro mais específico e aplicado sobre a relação das chuvas com
a recém-introduzida viticultura.
301Na segunda fase de sua existência, a CGG não desenvolveu nenhum programa de publicação
de seus trabalhos ou do conhecimento produzido, que ficou restrito à produção individual do seu
chefe Álvaro da Silveira.
315
existentes302, a série iniciou-se com uma severa crítica a toda a tradição
cartográfica anterior, crítica que atacava a produção mas sempre louvava os
esforços individuais dos seus autores. Lombard e Menezes ressaltaram a
oportunidade que se abria com as mudanças políticas trazidas com o memorável
15 de novembro e anunciavam um novo tempo para a cartografia mineira com a
criação da comissão geografia e geológica. No artigo O melhor método de
exploração, os engenheiros, antecipando-se às críticas que seriam formuladas por
personagens como Francisco Bhering, esforçaram-se em defender a opção pelo
topografia expedita de base geodésica, que resultava em uma solução de meio
termo entre a cartografia de gabinete até então praticada e os minuciosos
levantamentos levados a cabo em países europeus:
[...] ele [o mapeamento] deve ser uma média judiciosa entre os trabalhos
resultantes da compilação dos elementos fornecidos pelos roteiros
primitivos e os que serviram para a construção da carta do Ordenance
Survey da Grã-Bretanha e do Estado Maior da França.303
302 MENEZES, Belarmino M. de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no estado de Minas: a carta de
Gerber. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n. 383, 30 mar. 1894a. p.3.
303 MENEZES,1894a, p.3.
304 MENEZES, Belarmino M. de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no Estado de Minas: relações da
geografia com a geologia. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n.389, 30 abr. 1894. p.3
305 A coordenação editorial era de Alcides Medrado, então bibliotecário da Escola de Minas.
316
econômicas do estado que, com a República, pretendiam fazer renascer a vocação
minerária do estado através das pesquisas e da propaganda de suas riquezas:
306 NOSSO programa. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n. 1, p.1, 15 out.
1893.
307 LACERDA, Augusto de Abreu. As ocras. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano
317
diretos de seu trabalho na comissão308, assim como o eram os artigos de Carlos
Rabello309 e Álvaro da Silveira.310 É curioso notar que os três autores exerceram
no período as funções de geólogo da CGG, o que sugere que suas observações e
anotações do trabalho de campo tinham ambições cientificas maiores do que
aquelas dos topógrafos e trianguladores, a sugerir uma possível hierarquia entre
os saberes ou entre os atores no seio da comissão.
308 LOMBARD, Louis. Mines: sur les exploitations des mines d´or anciennes aux environs de S.
João Del-Rei, Tiradentes et Prados. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n. 6,
15 mar. 1894.
________________. Laboratório de análises da CGG. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro
Preto, ano 1, n. 9, 15 jun. 1894.
________________. A mineração nos municípios de S. João Del-Rei, Tiradentes e Prados. Revista
Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n.10, 15 jul. 1894.
________________. Mineração na serra de São José. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro
Preto, ano 1, n.11, 15 ago. 1894.
________________.Sciencias: une application de la téléphotographie. Revista Industrial de Minas
Gerais, Ouro Preto, ano 1, n.10, 15 de jul. 1894.
________________.Indústria nos estados: exploração mineralógica de Garanhuns a Buíque e zona
salitrosa de Buíque. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 4, n.24, 10 jun. 1897.
________________. Exploração mineralógica de Garanhuns a Buíque e zona salitrosa de Buíque.
Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.25, 20 jun. 1897.
309 RABELLO, Carlos. Sciencias: notícia sobre a Comissão Geográfica e Geológica de Minas
Gerais. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.25, p.4-5, 20 jun. 1897.
_________________. Serra da Treituba: rochas, minerais e flora. Revista Industrial de Minas
Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.29, p.57-58, 30 out. 1897.
_________________. Laboratório da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais.
Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 4, n.22, p.284, 30 mar. 1897.
310 SILVEIRA, 1896 e 1897.
318
topografia então empregados311. Muito técnico era também o texto de Silveira,
publicado em 1896, no qual descrevia o método de projeção adotado pela CGG e
as bases da quadrícula de coordenadas que enquadrava e sustentava o desenho
das folhas.
Figura 47: Detalhe da folha São João Del-Rei (1895), onde se vê localizada a Gruta
Casa de Pedra.
Fonte: APM.
319
Na folha de São João Del-Rei, acha-se indicado o local da Gruta da Casa de
Pedra [...] Dessa gruta natural, fiz o levantamento topográfico e dei uma
descrição bastante detalhada no boletim n.3 [...] Muitas descrições mais ou
menos fantásticas têm sido dadas dessa gruta, em algumas das quais se
afirma que aí há despenhadeiros e abismos insondáveis, galerias cujo fim
ninguém ainda atingiu e outras asserções de cérebros fantasistas.312 (grifo
nosso)
Figura 48: Detalhe da folha São João Del-Rei (1895), onde se vê localizada a fazenda do
Pombal.
Fonte: APM.
Para terminar e para fechar com chave de ouro estas informações, direi
que na folha de S. João Del-Rei está indicado o lugar onde nasceu o mais
saliente dos mártires da Inconfidência Mineira – o alferes Joaquim José da
Silva Xavier, o Tiradentes. Segundo as informações colhidas, o local da
antiga fazenda do Pombal, berço desse herói mineiro, é o que se acha
indicado à margem direita do rio das Mortes, com o mesmo nome de
Pombal.313
312SILVEIRA,1897, p.41-2.
313SILVEIRA,1897, p.41.
314 A comparação tem pertinência desde que observada a maior envergadura intelectual e
320
realizando pesquisas de campo e publicando intensamente até os final dos anos
vinte. Sua produção constitui-se em sua maior parte por inúmeros ensaios
reunidos em livros, que versavam sobre uma imensa variedade de assuntos como
agricultura, pecuária, geologia, e clima.315 Silveira utilizava suas obras ou
espaços na imprensa para provocar e alimentar diversas polêmicas, como era de
seu gosto, desde uma crítica à introdução do gado zebu até a correta altitude dos
picos da Bandeira ou das Agulhas Negras.316 Algumas das mais importantes
dessas coletâneas foram publicadas quando Silveira estava à frente da CGG, nos
anos vinte, e assinava como seu engenheiro-chefe.317
existência das comissões, e por isso mesmo permitia situar melhor a produção das mesmas, no
contexto mais amplo da institucionalização dos diversos saberes que se cruzavam sobre o mapa: a
geografia, a geologia, a engenharia. A historiadora E. Dutra analisou os artigos de Derby sobre a
cartografia brasileira publicados no Almanaque Garnier e mostrou a importância e
contemporaneidade de suas reflexões no amplo debate sobre o papel da geografia e da formação
do território no projeto de construção da nação brasileira.
DUTRA, Eliana de Freitas. Rebeldes literários da República; história e identidade nacional no
Almanaque Brasileiro Garnier – 1903-1914. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
315 A diversidade dos temas tocados pela produção de Silveira vai muito além desses amplos
determinou ser o Pico da Bandeira o mais alto do país, rebaixando o consagrado pico das Agulhas
Negras ao segundo lugar. Frente às críticas de outros geógrafos, Silveira, um explorador devotado
à pesquisa de campo, desafiou a comunidade de geógrafos brasileiros a abandonar os gabinetes:
Quem quiser prestar esse serviço de aprimorar os nossos conhecimentos geográficos, não tem
outra coisa a fazer senão lançar mão da observação – vá viajar, vá subir morros, vá explorar rios e
sertões, vá, enfim, desenvolver esforços semelhantes, conforme o ramo geográfico que desejar
seguir, que tiver em vista elucidar. A geografia é tal que não permite invenção nos seus domínios.
A inteligência humana fica adstrita ao que já existe; compete-lhe somente observar, medir e
depois narrar os resultados. (SILVEIRA, Álvaro da. Memórias corográficas. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1922. p.71-72). Em 1924, através das páginas da Revista da Sociedade de
Geografia do Rio de Janeiro, protagonizou um duro ataque a Nelson de Sena, desqualificando
tecnicamente os trabalhos geográficos do antigo aliado político dos programas de mapeamento no
estado.
317 Referimo-nos aos livros Memórias Corográficas (1922), Fontes, Chuvas e Florestas (1923) e
321
credibilidade científica, ao conciliar o seu trabalho de cartógrafo, geólogo e
botânico, a coleta e a observação em campo, unindo a taxonomia das espécies com
a sua distribuição no espaço na chamada geografia botânica.319
319 Segundo Surun, a geografia botânica era uma das novas modalidades de apreensão do mundo
natural que se consolidou a partir das grandes explorações do continente africano no século XIX.
Assim como a geologia, a geografia botânica priorizava a distribuição e a repartição espacial,
classificando as espécies no interior de uma série ligada ao lugar observado. A nova construção
intelectual era associar estreitamente lugar e fenômeno observado, definindo zonas climáticas
pela sua latitude e novos limites espaciais pela tipologia botânica ou geológica (SURUN, 2003).
320 Na verdade a periodicidade dos originais podia variar – na comissão de limites foram
322
eles devem ser a fiel descrição do aspecto físico do terreno por onde
passaram; e usando um pouco de rigor na expressão, bem poderíamos
dizer, referindo-nos aos caminhamentos à estadia e odômetro, do terreno
que pisaram palmo a palmo.322 (grifo nosso)
322 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Seção de Limites. In:
____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de
Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr, Francisco Sá em o ano de
1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895d. Anexo 4. p.45.
323 SURUN, 2003.
323
marcos, na apreensão da topografia do terreno e da vegetação como elementos
facilitadores ou como obstáculos à construção da rede de triângulos. Sua visão
seletiva incidia de cima para baixo, como um vôo.
324
[...] As serras extensas foram divididas pelos habitantes que lhe deram diversos
nomes para assim designarem aproximadamente a que parte da serra se referem:
por exemplo, a serra de Carrancas, propriamente dita está dividida em três
partes tendo cada uma o respectivo nome, que quase sempre dá idéia do aspecto
do lugar, ou comemora um acidente ou fenômeno natural: assim é que sendo a
ponta desta serra do lado de leste um lugar onde quase sempre venta com
intensidade, deram-lhe um nome que a decência manda calar; à parte central
chamam Cruz das Almas, talvez porque ali existe à beira do caminho uma cruz e
uma caixa das almas; e finalmente deram o nome de Salto ao lugar aonde a serra
apresenta um enorme paredão talhado a prumo.324
325
que teve lugar o desfecho das lutas travadas entre paulistas e
mineiros nas margens do rio das Mortes, fato que deu origem às
denominações: rio das Mortes e Vitória.325
Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas; exercício de 1923. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais. p.144.
327 MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório da Comissão de Limites. In: ____. Relatório
apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo Inspetor
de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1896. Anexo B. Ouro Preto: Imprensa Oficial,
1896d. p.201-2.
326
Figura 51: Detalhe da folha São João Del-Rei (1895). Mapa
e legenda articulam-se para registrar a ocorrência de uma
exploração de ouro. Refletindo suas observações sobre o
terreno, o relatório do geólogo Luiz Lombard registrou a
atividade na sua dimensão diacrônica.
Fonte: APM.
327
regiões visitadas, para as quais o engenheiro, munido de seu saber técnico e
imbuído de sua missão modernizadora, não se furtava de preconizar soluções, em
especial o ensino agrícola e a melhoria das estradas. O topógrafo Afonso Monteiro
de Barros, ainda no ano de 1892, critica o tradicional costume dos fazendeiros de
queimar as matas para fertilizar as terras com as cinzas:
[...] não considero o fazendeiro sem razão neste modo de pensar, mas,
condeno-o por acabar com as matas sem haver necessidade e muito ao
contrário só pode dali resultar-lhe inconveniente, porque a derrubada
exagerada das matas modifica as condições climatéricas [sic] do lugar. [...]
Não quer dizer que se exija do agricultor um conhecimento pleno de
agricultura em um país como o nosso, mas ele pode perfeitamente aprender
a conhecer certas propriedades gerais de modo a poder escolher as terras
segundo as condições climatológicas e a espécie do vegetal a cultivar, isto é:
fazer aplicação racional de tal ou tal cultura para tal ou tal espécie de terra
em um clima dado, para assim forçar o terreno e dar o maior produto
possível. E tudo isto se pode conseguir com a criação de escolas práticas
adequadas ao nosso estado de atraso.329
329 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do topógrafo
Afonso Monteiro de Barros. In: ___. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de Minas
Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, dr.
David Moretzhon Campista no ano de 1893. Anexo C. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1893e. p.18.
330 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do
engenheiro Álvaro da Silveira. In: ___. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de
328
Essa pretensa autoridade com que muitas vezes eram sustentados os
comentários dos cartógrafos mesclava-se com trechos mais prosaicos,
despretensiosos, nos quais muitas vezes a visão ao rés do chão do topógrafo
incorporava o elemento humano na paisagem abstrata dos croquis. Nessa escala
da descrição, o leitor via surgir de corpo inteiro os colonos italianos, cruzava um
cemitério metade paulista, metade mineiro, colhia palmitos ou bebia vinho com
um certo coronel Oliveira. Mas, em geral, no tocante às narrativas sobre as
populações habitantes do espaço mapeado as opiniões e julgamentos dos membros
da CGG expunham de forma aguda as dificuldades que desde sempre marcaram
suas relações pelo nível de desconfiança e preconceito com que as duas partes
estabeleciam suas interações.
Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas,
dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894. Anexo B. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894e.
p.55.
331 RELATÓRIO anual do topógrafo José da Costa Carvalho. Relatório da Comissão Geográfica e
329
costumes tradicionais e da exuberância natural do lugar a retórica
racionalizadora da solução pelo progresso:
332 RELATÓRIO anual do topógrafo Antônio Fernandes Lobato. Relatório da Comissão Geográfica
e Geológica. 1926. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de
Minas Gerais. s/p.
333 RELATÓRIO do triangulador Benedito Quintino dos Santos. Relatório da Comissão Geográfica
330
hospitaleiro e dotado de bons costumes. Ao chegar em S. Vicente, tive
muito bom acolhimento por parte das autoridades locais, que tudo me
facilitaram para a melhor execução dos meus trabalhos.334
334 RELATÓRIO anual do topógrafo Antônio Fernandes Lobato. Relatório da Comissão Geográfica
e Geológica. 1926. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de
Minas Gerais. p. 61v.
335 RELATÓRIO apresentado pelo triangulador Gil Moraes de Lemos ao Sr. Eng. Chefe. 1924.
331
Outras passagens são igualmente ilustrativas desse estranhamento que
cercava a atividade dos cartógrafos em campo. Como ocorria freqüentemente nas
coletas estatísticas, a atividade de mensuração dos espaços e de inventário de
quase tudo, como buscavam realizar os diligentes engenheiros das comissões, fora
decidida nos gabinetes dos políticos e dos técnicos e era exercida como um
programa oficial de governo, descolado das demandas e necessidades da grande
maioria das populações e praticado sobre um território cujo regime de terras era
marcado pela irregularidade, a injustiça e a violência. Gerava medo, desconfiança
e uma resistência cotidiana ao trabalho, fosse quando o povo do lugar arrancava
os marcos geodésicos, quando aumentava os preços de víveres ou quando indicava
caminhos errados.
337RELATÓRIO anual apresentado ao Exmo. Sr. Secretário da Agricultura Dr. Djalma Pinheiro
Chagas pelo engenheiro chefe da Comissão Geográfica do Estado de Minas Gerais. 1928. IGA.
Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais. p.5.
332
Mas nem tudo era preconceito e conflito e nem todos os testemunhos dos
membros das comissões expressavam um comportamento único em campo. Uma
atitude mais didática pode ser observada, ainda que sustentada pela implícita
afirmação da autoridade técnica do engenheiro. Entre suas observações, colhidas
quase de passagem, o topógrafo Waldemar Alves Baeta narra um raro diálogo
travado com os homens da pequena povoação de Mojiana, quando ele e sua equipe
buscavam um lugar para acampar depois de um dia de trabalho:
333
As duas últimas passagens citadas encerram nossos comentários sobre os
relatórios, esses testemunhos de bastidor que muito dizem sobre as atividades
cartográficas e especialmente sobre os personagens que as praticavam. Da
relação conflituosa entre os engenheiros cartógrafos e os habitantes dos espaços
percorridos, conclui-se pela caracterização da empresa como uma medida oficial
concebida no âmbito das elites políticas e técnicas e dissociada dos problemas
sociais e territoriais vivenciados na escala local, aquela das práticas das
populações rurais. Estavam de fato errados os camponeses e fazendeiros quando
desconfiavam das atividades dos cartógrafos? A mensuração dos espaços e sua
exata representação não eram parte de uma estratégia maior do poder público de
esquadrinhar e controlar o território? Não se inscreviam no projeto mais amplo
de inventariar as riquezas naturais do estado – terras, minérios, vegetação,
águas – e produzir instrumentos técnico-científicos que permitissem rediscutir,
longe dos campos, nos gabinetes e nas tribunas, no lufa-lufa dos grandes centros,
os regimes legais de concessão e apropriação desses mesmos recursos? Não estava
de fato em curso a emergência de novos atores sociais que vinham disputar a
propriedade das terras e dos recursos naturais?
O que os engenheiros apontavam como uma prova da ignorância dos habitantes
locais por se julgarem ameaçados pelos avanços dos mapeamentos sobre suas terras não
deixava de ser, em uma outra perspectiva, um entendimento acertado em vista do
sentido maior de apropriação e controle do espaço, implícitos no ato de mapeamento.
Na hierarquia oficial da documentação textual produzida durante todo o programa
de mapeamento, os relatórios dos trianguladores e topógrafos poderiam ser considerados
como os mais desimportantes. Quanto ao teor oficial, prevaleceriam as informações
sintetizadas nos relatórios das autoridades superiores, como o presidente do estado, o
secretário da agricultura ou o chefe da comissão, nos quais se traduziam em números os
quilômetros percorridos ou áreas mapeadas, os municípios contemplados e os recursos
despendidos. Mas foram os relatórios dos engenheiros, especialmente dos topógrafos,
quase todos obscuros funcionários do estado, as fontes mais expressivas das práticas
cotidianas, dos juízos e valores, das subjetividades e da materialidade do ato de fabricação
dos mapas.
334
7 O PROGR AMA CA RTOGRÁFICO-ES TATÍSTICO DA COMISSÃO
MINEIRA DO CENTENÁRIO: AS DIMENSÕES IMA GINÁ RIAS DA
PÁTRIA MINEIRA
339 CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
340 FRITSCH, Winston. 1922: a crise econômica. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.6, n.11, p.3-
8, 1993
341 MOTA, Marli de Souza. A nação faz cem anos: questão nacional no Centenário da
335
concentraram acontecimentos consagrados pela historiografia como marcos
fundadores de um novo tempo para o país, como a fundação do Partido
Comunista Brasileiro, a Semana de Arte Moderna e a primeira manifestação do
movimento tenentista.
342 VELOSO, Mônica Pimenta. Comê, morá? Descobrimento, comemoração e nacionalidade nas
revistas humorísticas ilustradas. Projeto História: revista do Programa de Estudos Pós-
Graduados em História e do Departamento de Historia da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo, n.20, abr. 2000. p.131.
343 HOBSBAWN, Eric. Introdução: a invenção das tradições. In: HOBSBAWN, Eric; RANGER,
Terence (Org.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. p.9-23.
344 NEVES, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro:1986. Relatório de
336
buscadas mais longe no tempo e no espaço, se consideramos que a promoção de
grandes exposições foi fenômeno internacional, que balizou a segunda metade do
século XIX com grandiosos eventos de que são exemplos paradigmáticos a
Exposição Universal da Filadélfia, em 1876, comemorativa do centenário da
independência americana, e a Exposição Internacional de Paris de 1889,
comemorativa do centenário da revolução francesa. A chamada era dos
centenários produziu esses grandiosos eventos que amalgamavam, em maior ou
menor medida, a promoção dos interesses comerciais, a celebração do progresso
técnico e, sobretudo, a afirmação das identidades nacionais.
345Nessa mesma exposição, foi divulgado o trabalho desenvolvido pela Diretoria Geral de
Estatística, trabalho que consistia na apresentação, sob a capa de cientificidade das estatísticas,
de quadros que buscavam descrever e ilustrar por números a grandiosidade da nação. Segundo
Neves, o órgão buscava também afirmar a sua eficiência como cérebro científico da moderna
republica brasileira. NEVES, 1986, p.56.
337
exposição, buscava-se construir a [...] imagem resumida do progresso que o país
tem realizado nestes cem anos de vida livre, em todos os ramos de sua
atividade.346 Esta imagem resumida consistia, na verdade, em um monumental
espaço onde 6013 expositores brasileiros, representantes de todos os estados da
federação, compunham o espetáculo orquestrado pelo poder oficial.
346 Guia Oficial da Exposição Internacional do Centenário. Citado por: NEVES,1986, p.63.
347 SENA, Nelson de. Primeiro centenário da Independência do Brasil: discurso comemorativo
proferido na Câmara Federal. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922. p.5.
348 SENA,1922, p.33.
349 Trata-se do artigo intitulado Le centenaire de la Révolution Française, publicado na
emblemática obra francesa Les lieux de mémoire, ela própria produto das comemorações do
bicentenário da Revolução Francesa. NORA, Pierre (Dir.). Les lieux de mémoire. Paris:
338
historiográfica para englobar todo o conjunto de iniciativas e produtos de cunho
histórico que ocorreram em função da efeméride, como a criação de comitês,
sociedades e revistas dedicadas à pesquisa histórica (com artigos e edições de
documentos) e à vulgarização do evento (abertura de museus, difusão de
brochuras e estampas). Essa comemoração historiográfica também foi parte das
comemorações brasileiras em torno do centenário da independência. Todo um
conjunto de obras, eventos e mesmo instituições, particularmente voltadas para a
geografia e a história, foram produzidas naquele momento em todo o país;
algumas iniciativas de agremiações civis mas, sobretudo, orquestrações do poder
federal e dos estados.
339
publicados na ocasião, destaca-se a Geografia do Brasil352, iniciativa da Sociedade
de Geografia do Rio de Janeiro que reuniu colaboradores de todos os estados. No
programa da obra, a comissão criada para sua edição enfatizou seu caráter
didático, visando divulgar um conhecimento sintético e totalizante sobre a
realidade brasileira, todo ele subordinado a um só ponto de vista doutrinário.353 O
fio condutor dessa clara estratégia de disseminar elementos para composição de
um imaginário social a respeito de nossa condição como nação – a feição do livro
deve ser essencialmente brasileira354 – foi explicitada nos pontos do programa: a
valorização dos aspectos regionais, a conservação das tradições toponímicas
locais, as especificidades da relação do homem com o meio natural.
do Brasil comemorativa do Centenário da Independência: 1919. Rio de Janeiro: Rohe, 1920. p.9.
354 SOCIEDADE, 1920, p.22.
340
espaço político da nação.355 Nos Estados Unidos, o centenário da independência
foi comemorado com a produção de um número significativo e diversificado de
trabalhos cartográficos: uma cartografia explicitamente comemorativa, com
mapas murais de natureza educativa, ilustrados com cenas de eventos da história
americana e atlas produzidos no mesmo estilo, com cenas de batalha e lugares
patrióticos; uma cartografia da base científica, com atlas produzidos pelos
surveys geográficos e geológicos do oeste americano, mas de igual apuro estético e
apelo patriótico, uma vez que os mapas buscavam, simbolizar a conquista
científica da última grande fronteira natural da América.356
355 LABBÉ, Morgane. Compte-rendus. Annales HSS, Paris, v.58, n.1, 2003. p.264.
356 EHRENBERG, Ralph E. Mapping and expanding nation. In: SCHWARTZ, Seymor I.;
EHRENBERG, Ralph E. The mapping of America. Edison: Wellfleet, 2001. p.305.
Foi na exposição do centenário dos Estados Unidos, na Filadélfia, que o império brasileiro expôs a
primeira carta geral do país (ver seção 2).
357 Segundo historiadores da cartografia, a proposta de Penck marcou o início do período moderno
341
na convenção internacional de 1884. Governos e entidades civis passaram a
produzir mapas que, mesmo se não fossem oficialmente folhas articuladas do
mapa internacional, buscavam obedecer aos parâmetros convencionados para o
mesmo.
programa da Comissão da Carta Geral do Império foi retomado pelo Exército Brasileiro, que para
sua execução elaborou um projeto técnico, publicado em 1901 com o título de Memória do Estado
Maior do Exército sobre a Carta Geral da República, no qual se explicitava as escolhas quanto ao
método de levantamento, projeção escala, pessoal necessário à sua execução. O projeto, que
preconizava o método geodésico e foi aprovado por diversas autoridades no campo da cartografia,
como Henrique Morize, então diretor do Observatório Nacional, previa a produção da carta
topográfica em folhas na escala de 1:100.000 e da carta geográfica na escala de 1:1.000.000. O
mapeamento iniciou-se pelo Rio Grande do Sul em 1903, mas não chegou a resultados
satisfatórios. Em 1911, Francisco Bhering criticou duramente a adoção do método geodésico pelo
Exército, assim como já havia feito no ataque que desferiu aos trabalhos das comissões
geográficas de São Paulo e Minas Gerais. O engenheiro seguia em sua defesa do método expedito,
[...] processo por mim preferido e preconizado para a representação gráfica, num plano, da figura
geométrica do nosso país [...]. Para Bhering, somente o método expedito poderia ser viável e útil
diante da desmesurada extensão territorial, população exígua, escassos meios de transporte,
diminutos recursos quanto a pessoal com a precisa idoneidade, e, sobretudo, diante da
necessidade premente da descrição cartográfica do país.
CLUBE DE ENGENHARIA; INSTITUTO POLITÉCNICO BRASILEIRO. A T. S. F. e os
cartógrafos. Rio de Janeiro: Esperança, 1914. p.17. Conferências feitas pelo engenheiro Francisco
Bhering, professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. p.19.
360 PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. As
342
carta geográfica do Brasil361, o mapa foi objeto de inúmeras críticas [...] pela
descontinuidade das bases realizadas numa escala mais detalhada do território,
assim como a ausência de controle uniforme sobre o conjunto do terreno.362 Mais
uma vez, terá prevalecido na produção da carta do centenário o sentido de
urgência na produção da imagem-síntese, que foi em certa medida a premissa
básica das grandes iniciativas do centenário, como o dicionário, a exposição e o
recenseamento geral de 1920.
dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de estado da Agricultura, Indústria e Comércio Miguel
Calmon de Pin e Almeida; ano de 1922. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1925. Diretoria Geral
de Estatística. p. 161-162.
343
foram grandes inovações que uniram a cartografia e a estatística na virada do
século XX, ao construir uma linguagem visual própria para tradução desses
saberes técnico-científicos. Tanto na Europa como nos Estados Unidos as
oportunidades de divulgação visual dos censos estatísticos geradas pelas
publicações de cunho comemorativo e pelas grandes exposições nacionais e
intencionais foram determinantes nos avanços da cartografia estatística.364
344
Gerais, no conjunto de representações regionalistas que se convencionou chamar
de mineiridade, foram então ressaltados os aspectos relacionados à moderação, ao
espírito de ordem e de conciliação, características que projetavam o estado como
base segura de sustentação da República, em um momento de crise e de busca de
identidade.367 Nas palavras de Mário Augusto Teixeira de Freitas, um dos
protagonistas do programa mineiro para o centenário, o estado de Minas era
então [...] a inamovível e insubstituível coluna mestra da arquitetônica social,
econômica e política da nacionalidade pátria.368
Melhoramentos, 1922.
Para uma análise das representações regionalistas de São Paulo e Rio de Janeiro no contexto das
comemorações do centenário, ver: MOTA, 1992.
367 Muitos são os trabalhos dedicados à discussão sobre a mineiridade. Para uma análise que
insere as diferentes abordagens do tema no contexto das comemorações do centenário, ver: MOTA
(1992).
368 FREITAS, M. A. Teixeira de. Os serviços de estatística do estado de Minas Gerais. Separata
de: Revista Brasileira de Estatística, Rio de Janeiro, ano 4, n.13, jan./mar. 1943. p.112.
369 WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira, 1889-1937. Rio de
345
mineira de 1891 haviam sublinhado a carência dos dados censitários sobre a
população e a economia do estado. Os programas estatístico e cartográfico do
estado surgiram unidos numa só política pública em 1890 para serem
definitivamente separados no ano seguinte com a criação da Comissão
Geográfica.
370 Esse serviço compreendia em tese todos os ramos da estatística oficial – desde população,
imigração e colonização, dados econômicos, fiscais, prediais e outros – até a divisão judiciária e
administrativa, limites, registro civil e o Arquivo Público Mineiro. Quando da transferência para
a Diretoria de Agricultura, a Secretaria do Interior manteve alguns dos serviços, como o Arquivo
Público Mineiro e o Setor de limites.
371 MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório apresentado ao
Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, secretário das Finanças pelo engenheiro Artur
da Costa Guimarães, diretor geral da Agricultura, Viação e Indústria, em 1904. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1904a.
346
É porém lamentável a obstinada desatenção senão mesmo formal
repugnância, com que se luta nos municípios para efetuar a coleta de
elementos estatísticos, ainda os mais simples. O funcionalismo público em
geral só aceita as incumbências dessa ordem por uma ou outra vez: elas lhe
são onerosas de trabalho e não são remuneradas, como deviam ser. Os
particulares vêm com maus olhos o encarregado de tais investigações.
Muitos protestam não crer na efetividade, na veracidade, na utilidade
delas; outros estão inabalavelmente convencidos que a administração só
tem intuitos fiscais e a grande multidão hesita ou dissimula o interesse
individual com o pressuposto de que a “alma do negócio é o segredo”.372
372 MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório apresentado ao
Exmo. Sr. Dr.Juscelino Barbosa, secretário das Finanças, pelo engenheiro Carlos Prates,
referente ao ano de 1908. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1909a. p.59.
373 MINAS GERAIS. Presidente (Júlio Bueno Brandão 1911-1914). Mensagem dirigida pelo
presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Júlio Bueno Brandão ao Congresso Mineiro em sua 2a.
sessão ordinária da 6a. legislatura no ano de 1912. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1912. p.47.
374 MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de
Minas pelo secretário de Estado dos Negócios do Interior Dr. Delfim Moreira da Costa Ribeiro em
347
boletins enviados aos municípios mostrava-se falho, pois as respostas, quando
vinham, eram consideradas deficientes, exageradas e mesmo inverossímeis.375 A
sistemática recusa em responder aos questionários por parte dos lavradores e
criadores configura o que se poderia chamar de um silêncio eloqüente, por
expressar claramente o sentimento de desconfiança que nutriam os interpelados
pelas iniciativas do governo. A estatística oficial parecia então relegada ao olvido,
como notou o chefe da seção Fausto Alvim, em 1911.
o ano de 1903. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1903b. v.3. v.3. Diretoria de Arquivo e
Estatística. p.18.
375 Relatório de 1907 mostrou que apenas 5% dos boletins distribuídos às Câmaras Municipais
tinham sido recolhidos à Seção. MINAS GERAIS. Diretoria de Agricultura, Comércio, Terras e
Colonização. Relatório apresentado ao exmo. Sr. Dr. Manoel Thomaz de Carvalho Brito, secretário
interino das Finanças pelo engenheiro Carlos Prates, referente ao ano de 1907. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1908a.
376 MINAS GERAIS. Presidente (Delfim Moreira da Costa Ribeiro 1915-1918). Mensagem dirigida
pelo presidente do estado, Dr. Delfim Moreira da Costa Ribeiro ao Congresso Mineiro em sua
4ª. sessão ordinária da 7ª. legislatura do ano de 1918. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1918].
p.111.
348
do estado. Uma evolução sensível nas formas de apresentação e manipulação dos
dados também pode ser notada com o recursos a diagramas e gráficos que
ocupavam dezenas de páginas dos documentos.
No governo de Artur Bernardes, as atividades cartográfica e estatística
voltariam a ser consideradas como partes integrantes de um mesmo programa de
conhecimento sistemático do estado. Em sua mensagem de governo de 1920,
Bernardes anunciou o começo de um grande censo da população que seria
implementado com vistas às comemorações do centenário da independência.
Comandado pela Diretoria Geral de Estatística, o recenseamento geral só seria
viável pela articulação dos serviços estatísticos e levantamentos já em curso, o
que o discurso de Bernardes vinha reforçar. Todas as frentes de investigação
estatística do estado foram então articuladas para fornecer dados ao
recenseamento, quais sejam, os trabalhos pouco sistemáticos das Secretarias de
Finanças e Interior, além do censo agropecuário da Secretaria de Agricultura.
Malgrado todas as críticas à qualidade dos dados, a iniciativa federal de
compilação das diferentes fontes era saudada por Bernardes, pois o delineamento
de um quadro geral e comparativo de uma realidade medida em números para o
país e para o estado era a evidente e benéfica conseqüência de
377MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida pelo
presidente do Estado, Dr. Artur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro em sua primeira
sessão ordinária da 8ª. legislatura do ano de 1920. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1920].
p.84-85.
349
iniciativas como a retomada do mapeamento, ou a implantação do sempre adiado
programa estatístico do estado.
350
No mesmo artigo anunciou o recenseamento geral que se organizava e que
deveria, por felicíssima coincidência, servir ao mesmo objetivo da carta, pois,
Foi com esse regime de idéias e pretensões técnicas e políticas que Teixeira
de Freitas conduziu o recenseamento geral, entre os anos de 1920 e 1921. Pela
primeira vez a parceria dos órgãos federais e estaduais foi efetiva, animada pelo
estreitamento de objetivos e identidade de propósitos que os discursos de Teixeira
351
de Freitas e Artur Bernardes, em diversas ocasiões e por diferentes meios,
deixavam entrever.382 Assim, em 1921, Artur Bernardes louvava o êxito do
recenseamento populacional e econômico levado a cabo pela Diretoria Geral de
Estatística, com o apoio político e operacional das instituições do estado. Com a
parceria, segundo Bernardes, fora possível introduzir no levantamento certas
questões de interesse da administração estadual, entre elas as informações sobre
os limites administrativos dos municípios e distritos e outros dados tendentes a
compor uma descrição corográfica das municipalidades.383 Já estava em curso o
plano do governo de redesenhar a carta política do estado e assegurar que o
programa estatístico não se esgotasse na comemoração do centenário, mas se
tornasse um serviço regular. Essas eram também as pretensões do delegado
Teixeira de Freitas, de forma que o recenseamento cuidou de levantar mais
informações do que as pretendidas pelo censo oficial – população, atividades
agrícolas, pecuárias e industriais –, resultando em um material que seria o
fundamento da chamada sistematização cartográfica-estatística-corográfica de
Minas, levada a cabo nos anos seguintes.
Tratava-se de um mapa elaborado por José Ximenes César, com os limites administrativos dos
municípios mineiros, e articulado a um cartograma com a densidade demográfica de cada
município. Vale a pena assinalar que esse foi provavelmente o primeiro mapa estatístico a ser
produzido sobre o estado.
ESTADO DE MINAS GERAIS. Esboço da Divisão Municipal vigente em 01 de setembro de 1920 e
Cartograma da Respectiva Densidade Demográfica. Belo Horizonte: Imprensa Oficial Minas –
Lit., 1920.
352
penitenciárias) à produção de uma miscelânea de signos – objetos e atos –
comemorativos (publicações, mapas, estátuas, medalhas, patronos, retratos).
Interessa ressaltar aqui o plano para [...] a reedição, refundida e completada, da
última carta ou Mapa Geral do Estado de Minas384, que ia ao encontro das
intenções já anunciadas no mesmo sentido pelo presidente Bernardes em sua
mensagem de governo.
Boa parte das proposições de Sena foi efetivamente levada a cabo. O poder
legislativo aprovou verbas especiais destinadas à viabilização do programa
comemorativo, criando um crédito especial para a representação do Estado na
Exposição Internacional do Centenário, a realizar-se no Rio de Janeiro. No
mesmo conjunto de decretos promulgados em janeiro de 1922, foi também aberto
crédito especial para a organização do serviço de estatística do estado385, que
ficou a cargo de Teixeira de Freitas.
384 CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: terceira sessão da oitava
Milton Prates) e os membros Joaquim Francisco de Paula, Gustavo Pena e Pedro Mata Machado.
Segundo Artur Bernardes, a comissão contava com um grupo mais numeroso de colaboradores,
[...] formado por elementos representativos das classes sociais do estado, com o mesmo fim
patriótico.
TELEGRAMA de Artur Bernardes a Antônio Olinto dos Santos Pires. AN. Fundo Comissão
Executiva da Comemoração do Centenário da Independência. Cx. 2418. Comissão Organizadora
Minas Gerais.
353
representação de Minas na exposição internacional do Rio de Janeiro, o que
significava expor no cenário do pavilhão que seria especialmente construído para
o evento todos os produtos e objetos simbólicos cuja reunião permitisse a
construção de uma narrativa articulada sobre a tradição, a riqueza e a
prosperidade do estado. Minas precisa brilhar; Minas há de brilhar387, concluía o
discurso de Gustavo Pena, membro da comissão mineira, quando de sua
apresentação à comissão geral no Rio de Janeiro. E um dos produtos privilegiados
na formulação desse discurso identitário da pátria mineira seria a representação
cartográfica do estado, que a comissão buscou viabilizar através da promoção de
um programa
[...] em escala e plano tais, que pudesse representar não só o estado atual
da nossa cartografia, mas ainda a organização administrativa, as condições
de progresso e a situação econômica de cada circunscrição municipal.388
presidente do Estado Dr. Arthur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro, em sua 4ª. sessão
ordinária da 8ª. legislatura no ano de 1922. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1922]. p.54.
354
Centenário, seu desdobramento e complemento, mas desenvolvido em uma escala
ainda mais detalhada (1:500.000, metade da escala da carta geral do país).
355
correspondência e pesquisa sobre o terreno. Freitas afirmava ter movimentado
um adestrado corpo de agentes de estatística e de topógrafos incumbidos de [...]
levantamentos expeditos, necessários à melhoria dos esboços cartográficos
demasiado vagos e imprecisos.390 A direção dos trabalhos cartográficos foi
entregue a um modesto professor de Ouro Fino, José Ximenes César, cujas
habilidades como desenhista e cartógrafo amador haviam sido descobertas
durante os trabalhos do censo. Freitas mencionou ainda a colaboração efetiva da
Comissão Geográfica e Geológica, do seu chefe Álvaro da Silveira e de Benedito
José dos Santos, então diretor de Indústria e Comércio da Secretaria de
Agricultura e autor do último mapa geral do estado, elaborado em 1910.
356
conjuntos do governo do estado e da Diretoria Geral de Estatística e o impulso
modernizador que tais atividades conferiam à administração pública, a tríplice
definição estatística, corográfica e cartográfica do estado, como a definiria Raul
Soares. Teixeira de Freitas, sem deixar de citar as dificuldades que vinham
atrasando a finalização dos trabalhos previstos, deteve-se na apresentação
elogiosa dos documentos cartográficos. O mapa geral do estado não pretendia ser,
segundo suas palavras,
357
hierarquizada. Entre os quadros laterais, a chamada resenha histórica traçava
em síntese o que seria a construção da unidade física, política e cultural da pátria
mineira:
358
peroba branca, as armas do Brasil Império e do Brasil República.396
396 A CARTA física e política comemorativa do Centenário da Independência. Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2 set. 1923.
397 MAPA da Província de Minas Gerais, levantado pelo Coronel Barão de Eschwege em 1921,
aumentado por Luiz Maria da Silva Pinto em 1826, mandado copiar e adaptar em 1922 pela
Comissão Mineira do Centenário para Confronto com o Mapa do Centenário. [S.n.]. Sem escala.
O único exemplar encontrado desse mapa, preservado no Arquivo Público Mineiro, recebeu uma
camada de verniz que escureceu quase totalmente o documento, dificultando sua leitura e
impossibilitando a sua reprodução.
359
todos desinteressados e patriotas[...].398
E Freitas coroou seu elogio rendendo mais uma vez homenagem aos
presidentes de estado Artur Bernardes e Raul Soares, as duas másculas figuras
de estadistas que vinham sustentando o programa estatístico e cartográfico sob
sua responsabilidade. Em resposta, o secretário de Agricultura Daniel de
Carvalho também louvou a todos, sustentando ser aquela apenas uma primeira
etapa do grande programa pretendido [...]de abandonar o empirismo do passado e
estudar todos os problemas a luz de dados positivos, de fatos concretos e de
algarismos obtidos pelos processos científicos.399
398 FREITAS, M. A. Teixeira de. A carta de Minas comemorativa do centenário: discurso. Belo
360
Geral do estado sob a direção do mesmo Teixeira de Freitas. No ano de 1923,
tanto a promoção do Congresso das Municipalidades como a nova divisão
territorial e administrativa do estado foram medidas oficiais para as quais os
trabalhos corográficos e estatísticos concorreram significativamente. Durante o
congresso, foi lançada uma publicação com a síntese dos resultados do
recenseamento do centenário, dando prosseguimento a uma série de publicações
que, a partir de 1921 e por toda a década, buscariam traduzir em números a
realidade física, econômica, social e cultural do estado e consolidar o modelo de
investigação estatística como instrumento técnico-científico de ação e decisão do
governo. Segundo o prefácio de Daniel de Carvalho, a publicação dava um
balanço da situação geral do estado expresso em algarismos obtidos por meio de
rigoroso processo estatístico.401 Para o secretário, a nova geração de políticos
mineiros402 sustentava suas políticas em aparatos científicos e modernizadores,
fechando a era do empirismo e inaugurando a nova fase de soluções positivas,
baseadas na exatidão matemática e no rigor científico próprios dos saberes
cartográficos e estatísticos.
401 O ESTADO DE MINAS GERAIS: fatos e números coordenados para a Carta Comemorativa do
1º. Centenário da Independência Nacional. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1923.
Ao longo dos anos vinte, muitas foram as publicações do Serviço de Estatística, a maior parte
delas como desdobramento do grande censo de 1920. Além de um Anuário estatístico, publicado
em três volumes, foram organizadas obras relativas à nova divisão administrativa e judiciária do
estado, anuários demográficos, anuário relativo a Belo Horizonte, folhetos com temas econômicos
ou demográficos, entre outros trabalhos.
402 Fernando Melo Viana completaria o mandato do presidente Raul Soares, morto
prematuramente em 1924.
361
gratuitamente e vinha provocando uma crescente demanda entre o público.
Figura 52: A Carta Física e Política de Minas Gerais, na forma em que terminou por ser
publicada em 1930: o plano cartográfico principal circundado por dados estatísticos e
textos explicativos que buscam cristalizar na imagem a totalidade territorial e política do
estado. Solução híbrida, a monumentalidade do mapa funda-se nessa profusão de
imagens, textos e dados numéricos, nessa gigantesca síntese dada a ler e a ver
simultaneamente.
Fonte: APCBH.
403 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
Serviço de Estatística Geral. Carta física e política. [São Paulo: Companhia Litográfica Ipiranga,
1930]. Escala 1:1.000.000.
A impressão do mapa foi inicialmente entregue à imprensa oficial do estado, que contava com
uma seção de cartografia e vinha imprimindo todos os trabalhos do serviço de estatística. Mas o
órgão não teve capacidade operacional para realizar a tarefa, como já havia ocorrido com os
mapas da Comissão Geográfica. Ao longo do período, o Serviço de Estatística produziu alguns
mapas ilustrativos e didáticos, dentro de uma outra linguagem cartográfica a cartografia
estatística, como cartogramas e diagramas de produção, de densidade demográfica e itinerários.
362
Era, enfim, o resultado de dez anos de trabalhos, que atravessaram cinco
governos diferentes e duas revisões da divisão administrativa do território, desde
a sua concepção original até a publicação definitiva.
Mas [...] não obstante todos os defeitos cuja possibilidade era de prever [...],
o conjunto orgânico das informações gráfica e numericamente resumidas
nesta obra define, de modo bastante aproximado, a situação do Estado, e
não apenas em indicações de ordem geral e por meio de cifras globais, mas
particularizadamente às condições de constituição e de vida de cada uma
das unidades celulares do seu organismo político.405
404 MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Atlas corográfico
363
continuou ampliando seus trabalhos até abarcar estudos de uma grande
variedade de temas, publicados em diferentes tamanhos e formatos, evoluindo
para tornar-se um órgão que conjugava estatística oficial e publicidade do
governo. De fato, no novo regulamento da Secretaria da Agricultura, promulgado
em 1931, foi criado o Departamento de Estatística e Publicidade, em grande parte
baseado em projeto proposto por Teixeira de Freitas, que já então deixara o cargo
no governo de Minas.
406A correspondência de Teixeira de Freitas com autoridades mineiras na década de 1920 mostra
que, em mais de uma ocasião, ele chegou a pedir sua exoneração por ver ameaçada a sua
autonomia técnica na condução dos trabalhos. FUNDO Mário Augusto Teixeira de Freitas.
Arquivo Nacional/ RJ.
364
pois Freitas retornou ao seu posto na Diretoria Geral de Estatística no Ministério
da Agricultura, mas não sem antes fazer seu sucessor, o discípulo e colaborador
Hildebrando Clark.407
407 A experiência e o êxito de seu trabalho em Minas Gerais foram importantes na trajetória
profissional de Teixeira de Freitas, que se tornaria um intelectual e um administrador público de
peso no cenário pós-30 no Brasil. Seu feito mais notável foi, sem dúvida, a participação decisiva
na criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Baseado em seu plano de cooperação
entre as três esferas governamentais - federal, estadual e municipal -, foi criado em 1934 e
instalado em 1936 o Instituto Nacional de Estatística, que a partir de 1938 passou a denominar-
se Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Neste instituto foram definitivamente
associadas as atividades estatísticas e geográficas, tornando-se o centro administrativo destinado
a formular e executar de forma centralizada as políticas territoriais para todo o país. Entre 1936 a
1948, Teixeira de Freitas esteve à frente da organização estatística brasileira como secretário-
geral do Conselho Nacional de Estatística, órgão do IBGE.
408 TUCCI, Ugo. Atlas. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi. Porto: Imprensa Nacional, Casa da Moeda,
1984.
409 JACOB, Christian. L´empire des cartes: approche théorique de la cartographie à travers
365
visão global. Sua manipulação em folhas seriadas alia o desejo de completude e
totalidade próprio da cartografia científica à possibilidade da viagem imaginária,
como nos roteiros de viajantes.
[...] uma reação contra a geografia dos poetas que era e continua
infelizmente a ser [...] a geografia do Brasil ensinada nas escolas e
ginásios. Com efeito, nada mais miserável do que esse conjunto de noções
fantasiosas e artificiosas que se vê servindo às nossas inteligências moças
sob o rótulo de ciência geográfica.411
410 SUBSÍDIOS para a verdadeira geografia do Brasil; o que é o Atlas Corográfico Municipal.
Diário de Minas, Belo Horizonte, 19 jan. 1927.
411 SUBSÍDIOS, 1927.
366
Freitas não dissimulou a condição inacabada e mesmo provisória que creditava
aos dois volumes do Atlas. Seus discursos mostravam que o núcleo principal do
projeto original, as corografias municipais originalmente concebidas, não
puderam ser elaboradas nas condições de trabalho e de coleta de dados de que
dispunha, e que os resultados estatísticos agora publicados eram aproximativos e
esquemáticos. Restava, portanto, como razão exclusiva para o projeto editorial a
divulgação das imagens cartográficas já elaboradas.
412 Eram as seguintes as classes básicas: território, demografia, agricultura, indústria, meios de
transporte e comunicação, comércio, crédito e previdência, propriedade imóvel, ensino público e
particular, divulgação, diversões, religião, administração pública, representação política.
413 Essa parece ter sido a constatação dos próprios organizadores dos volumes pois no ano
seguinte uma nova versão do trabalho, intitulada Álbum corográfico do Estado de Minas Gerais,
foi publicada apenas com os mapas.
367
Figura 53: Mapa de Nova Lima (1921-25). Articulados pela composição estética, a
concorrência de diferentes linguagens e os múltiplos pontos de vista não comprometiam a
unidade visual do documento.
Fonte: Atlas corográfico municipal.
368
(descritas nas tabelas estatísticas como riqueza em hulha branca).
369
município. Reunidos, produzem todos uma impressão profunda em
qualquer mineiro. [...] Impressos em cores, em bom papel, os 89 mapas do
Atlas Corográfico Municipal falam diretamente à sensibilidade mineira e,
contemplando-os, a gente fica satisfeita de haver nascido em Minas e de
viver nesta grande terra de Minas.414
[...] a obra deve ser ilustrada, trazendo plantas de detalhe, cartas das
regiões de maior interesse corográfico e fotografias de aspectos dos
principais centros povoados ou das regiões mais características da
natureza da país.416
Unidos, o county (condado, em tradução literal para o português) abarcava uma porção do
território em torno de um ou mais núcleos urbanos, mais próximo do distrito do que do município
brasileiro. Para os fins do presente trabalho, entretanto, consideramos válida a aproximação entre
os county maps e os mapas municipais brasileiros.
370
nesses mapas murais, vendidos comercialmente ou fabricados por encomenda
entre os habitantes das comunidades que nele reconheciam o seu lugar, literal e
metaforicamente.419 O processo intensificou-se ao final da guerra civil, com o
surgimento de um largo mercado consumidor desses documentos nas versões
ricamente ilustradas dos county maps e dos county atlas. Esses últimos incluíam
não só a carta ilustrada, mas também esboços biográficos e retratos dos
proprietários locais, empresários, políticos, assim como caprichosas vistas dos
prédios públicos, privados e comerciais.
Figura 55: Mapa Adams County, Pensilvânia (1858), considerado um típico exemplar dos
clássicos mapas murais dos condados americanos. Observa-se a semelhança dos
dispositivos formais com os mapas do Atlas Corográfico: o mapa ao centro da composição,
circundado por fotos, tabelas e plantas.
Fonte: EHRENBERG, 2001.
419SHORT, John Rennie. Representing the republic; mapping the United States, 1600-1900.
London: Reaktin Books, 2001. p.202.
371
urbanas, retratos e vistas panorâmicas. Certamente era dessa última tipologia
que mais se aproximou o Atlas Corográfico Municipal de Minas Gerais.
372
Figura 56: Prancha do Departamento de Ille et Vilaine, do Atlas National Illustre, de Victor
Levasseur e Aristide Michel Perrot, 1861. Mais do que qualquer filiação direta a este ou outro
modelo, importa assinalar a existência de uma forte tradição cartográfica de fusão entre a
representação cartográfica, a descrição textual ou estatística e um cenário de paisagens
idealizadas; uma pedagogia geográfica, que acionava múltiplos pontos de vista a partir de uma
estética do maravilhamento.
Fonte: <http://davyec.free//ileetvilaine.jpg>
373
as famílias francesas.422
422 Victor
Malte-Brun, citado por: DELISSEN, 1985, p.18.
423 Enquanto a autoria dos mapas foi dividida com os cartógrafos Odilon Loureiro e Joaquim
Moreira Barbosa, todos os desenhos e ilustrações podem ser atribuídos a Affonso de Guaíra
Heberle. Cartógrafo e paisagista, Guaíra Heberle nasceu em Ulm, Alemanha, em fins do século
XIX, tendo emigrado para o Brasil após a primeira grande guerra. Naturalizou-se brasileiro,
fixando residência na capital Belo Horizonte. Era hábil desenhista, tendo trabalhado para o
Serviço de Estatística de Minas Gerais e posteriormente para o Conselho Nacional de Geografia.
Faleceu em 1942, em campanha de campo para o IBGE. Além da elaboração de mapas de Minas e
374
autor de todas as ilustrações dos mapas assinados pelos dois outros cartógrafos
do conjunto, Odilon Loureiro e Joaquim Moreira Barbosa. Em síntese, coube a
Guaira Heberle o forte apelo artístico do Atlas, pois, não fosse ele o responsável
pelas reproduções em bico de pena das fotografias encaminhadas ao Serviço de
Estatística, o próprio desenho do mapa já assegurava a superioridade do seu
traço.
de Belo Horizonte, Heberle também colaborou com ilustrações em livros e artigos diversos. Sua
produção aliou o rigor na representação das paisagens gráficas – característica da cartografia que
se tornava mais e mais matemática – à fruição estética alcançada nos delicados desenhos que
ilustravam as cartas, em bico de pena e aquarela.
424 Enquanto a maior parte das escalas oscilaram entre 1:300.000 e 1:600.000, há diversos mapas
375
desigual entre os diversos municípios, de um território unificado, coeso, acessível.
Transportes e comunicações certamente significavam o progresso a caminho.
376
Figura 58: Detalhe do mapa do município de Januária, cujas ilustrações
reforçavam a idéia de uma civilização ancorada no rio.
Fonte: Atlas corográfico municipal.
377
propriamente geográficos, como demonstra esse mapa, significativamente
desprovido de toponímia.
Fonte: Atlas corográfico municipal.
378
Figuras 60, 61 e 62: Detalhes dos mapas dos municípios de Nova Lima, Poços de Caldas e Ouro
Preto. Essas plantas, a exemplo de muitas outras presentes no Atlas, são representativas da
natureza do processo de seleção dos elementos que compõem o território urbano cartografado.
No caso de Ouro Preto, como aspecto singular da velha capital, inscrevem-se alguns dos seus
marcos monumentais: a Casa dos Contos, as Casas de Marília de Dirceu e de Bernardo
Guimarães.
Fonte: Atlas corográfico municipal.
379
Figura 63: O mapa de Araxá (1923) traz ilustrações de dois serviços urbanos diretamente
relacionados às idéias de progresso e civilização: a eletricidade (representações da sub-
estação de energia e da usina hidrelétrica) e a salubridade da água (representação do
sistema de captação de água potável).
Fonte: Atlas corográfico municipal.
425 SENA, Nelson de. A hulha branca em Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1911a.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: 2ª. sessão da oitava legislatura. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, 1921. p.356. Discurso proferido pelo deputado Nelson de Sena em 3
de setembro de 1921.
Em ambas as ocasiões Sena citou especialmente o município de Frutal.
381
Figura 66: Mapa do município de Frutal (1923). O mapa traduzia em imagens a
certeza do progresso que o potencial hidrelétrico inspirava. Como na fala otimista
de Nelson de Sena: Quantos tramways, quantas fábricas novas e quantas
indústrias; que cidades, que ondas radiantes de luz, que de maravilhas esplêndidas;
não abrolharão elas, as poderosas quedas do rio Grande, neste município de
Frutal?426
Fonte: Atlas corográfico municipal.
382
retratados em close exemplares das raças nobres dos rebanhos bovinos, como
nelore e guzerat.
Figura 67: Mapa (e detalhes) do município de Turvo (1922-25). O documento cartográfico inserido
numa crônica visual da ordem e da civilidade do mundo rural: a natureza domesticada, o trabalho
no terreiro de café e no trato com o gado, o conforto de um jardim numa bem-sucedida propriedade
do sul de Minas.
Fonte: Atlas corográfico municipal.
383
Ainda mais escassas foram as representações ligadas às atividades
industriais e especialmente minerárias. Nesse aspecto o Atlas silencia quase
totalmente: uma única ilustração de uma mina de ouro, no município de Nova
Lima; uma única identificação de mina, Passagem, no mapa de Ouro Preto.
Houve nesse ponto uma exata correspondência entre a representação cartográfica
e a descrição estatística: o mapa acompanhou os resultados da investigação
censitária, ou seja, passou ao largo dos recursos minerais e das atividades
minerárias do estado.
384
Janeiro sugere um rito que celebrava mais do que a excelência informativa ou
estética do conjunto. Os mapas participaram e venceram o concurso nacional
porque os elementos nele inscritos davam conta, em sua eficácia simbólica, de
unir a medida e o conhecimento do território ao encantamento com sua paisagem.
Ao provocar, no olhar e no sentimento do observador, confusão entre a beleza da
carta e da paisagem cartografada, o Atlas disseminava e perpetuava as idéias
veiculadas por todo o programa oficial das Comemorações: as idéias de um país
rico e unido, de um território coeso, de uma sociedade no rumo do progresso e da
civilização.
385
8 CONSIDER AÇÕES FINA IS
428
MORAES, Antônio Carlos Robert. Notas sobre identidade nacional e institucionalização da geografia no
Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n.8, 1991. p.172.
429
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística e o Município. Rio de Janeiro, 1941. p.45. Em diversos estados, entre eles Minas Gerais, coube ao
órgão estadual, no caso o Serviço Geográfico do Estado, a confecção de quase todas as cartas municipais.
430
INSTITUTO, 1941, p.46.
386
municipais, os quais foram reunidos em uma grande mostra na capital federal,
por ocasião do quarto aniversário do IBGE.431 A Exposição Nacional de Mapas
Municipais apresentou uma encenação nacionalista própria daquele momento
autoritário: na presença de Getúlio Vargas, o presidente do IBGE convocava os
municípios a apresentarem sua imagem cartográfica a mais perfeita [...], a
indumentária civilizada com que compareciam à mostra da mais completa
documentação cartográfica já reunida no país, senão em todo mundo.432
431
O evento foi inaugurado em 29 de maio de 1940. Fora precedido em um mês por diversas exposições
estaduais, orquestradas para serem inauguradas ao mesmo tempo em cada capital. Em Belo Horizonte o evento
ocorreu na antiga Feira de Amostras, onde foram expostos 288 mapas municipais, em sua maior parte elaborados
pelo Serviço Geográfico do Estado, órgão sucessor da Comissão Geográfica e Geológica.
432
INSTITUTO, 1941, p.46.
433
DE BIAGGI, E. M. La cartographie et les representations du territoire au Brésil. Paris: Université de Paris
III, Institut des Hautes Études de l’ Amérique Latine, 2000. p.177/178.
387
fragmentação e desarticulação do território. Os chamados mapas gerais, fossem
da província ou do estado, ou eram continuamente refeitos, como teia de
Penélope, ou eram tardiamente concluídos, já distantes no tempo em relação à
situação histórica de sua concepção e das demandas de uso, como o foram os
mapas de Chrockatt de Sá de 1893 e a carta física e política de 1930. No entanto,
em todos os empreendimentos cartográficos levados a cabo no período, fosse a
cartografia de recursos, de fronteiras ou de celebração, estava em jogo os
interesses das elites estaduais na representação do corpo físico da pequena pátria
mineira, no esquadrinhamento e delimitação de seu território.
388
elite política decidiu investir em um processo de modernização e racionalização
administrativa que passava necessariamente pela afirmação da unidade
territorial do estado e pela identificação e controle sobre os recursos nela
existentes, ou seja, na exata conjunção entre a capacidade performativa e
enunciadora dos mapas. Foi o caso na geração de João Pinheiro e Afonso Pena,
quando do primeiro ciclo da CGG, e de Artur Bernardes e Raul Soares, no
segundo ciclo. Mas o longo, intermitente e inconcluso processo de mapeamento
sistemático promovido pela comissão geográfica, a despeito de toda a pretensa
racionalidade e objetividade das escolhas técnicas, terminou por cobrir somente
as regiões mais ricas e mais fortes politicamente no estado, o sul e a mata.
389
independência, em meio a uma crise política que anunciava os primeiros abalos
da política dos governadores, o contexto que viabilizou o projeto
monumentalizante da pátria mineira, concretizado nas imagens cuidadosamente
trabalhadas do Atlas Corográfico Municipal.
390
mineira, em rever o padrão de propriedade e distribuição das terras e,
conseqüentemente, em definir o estatuto da exploração mineral, especialmente da
propriedade das minas. Desta indefinição surgiu um discurso nacionalista e
protecionista das riquezas minerais do estado, adiando para outro momento a
exploração mineral. Assim, a cartografia de recursos da comissão geográfica e
geológica não privilegiou a maior riqueza natural do estado, assim como a
cartografia memorativa do Atlas não celebrou em imagens as jazidas e minas de
ferro, ouro e diamantes encontradas em tantos municípios.
391
uma rede técnica a articular atores e instituições em torno dos programas
cartográficos e das muitas atividades a eles correlatas. Redes que conectavam,
em maior ou menor grau de eficiência, os programas geopolíticos e científicos dos
governos às trajetórias profissionais individuais, como no caso de Orville Derby,
Henry Gorceix, Álvaro da Silveira e Teixeira de Freitas; às instituições de ensino
como as escolas politécnicas e a Escola de Minas; às instituições públicas como o
Observatório Nacional e o Serviço Geológico; às associações de classe e seus
instrumentos de expressão, como a Sociedade Mineira de Agricultura e a Revista
Industrial. Particularmente destacadas nessas redes foram as trajetórias de
Álvaro da Silveira e Mário Augusto Teixeira de Freitas, esses protagonistas que
lograram fundir suas trajetórias pessoais e sua produção intelectual a toda uma
estratégia de aproximação com o poder instituído e as autoridades públicas, no
sentido de viabilizar os programas técnico-científicos. Acompanhando o percurso
profissional desses atores sociais, entre outros, foi possível entender um pouco
mais sobre a capacidade de ação dessas elites técnicas, que transitavam entre o
aparato administrativo e os espaços institucionalizados dos saberes técnicos, e
cujos maiores êxitos ocorriam na medida da possibilidade de fusão dessas
instâncias, como foram o programa de mapeamento da Comissão Geográfica e
Geológica e o programa cartográfico-estatístico da Comissão Mineira do
Centenário.
392
humano de sua fabricação. Nesse sentido, a presente pesquisa se valeu dos ricos
testemunhos dos dirigentes e obscuros funcionários da CGG, que por intermédio
de suas narrativas desvendaram a materialidade das práticas de campo e
gabinete, a subjetividade das escolhas, as barreiras culturais interpostas às
relações com as populações dos territórios mapeados. Na escritura desses
relatórios, mais ou menos burocráticos, mais ou menos técnicos, mas sempre
insuflados pela vitalidade do testemunho do ator social, revelaram-se outras
dimensões do trabalho cartográfico e das possibilidades de leitura dos mapas.
Essa oportunidade de (re)ver as imagens à luz das narrativas de seus produtores
mais imediatos permitiu observar o que Cosgrove436 chamou de qualidade
abertas, parciais e contingenciais dos mapas. Apesar de os documentos
cartográficos se apresentarem como imagens soberanas, fundadas em sua dupla
autoridade de documento científico e estatal, as imagens aqui estudadas eram
sempre inacabadas. Inacabadas como respostas imcompletas ou tardias às
demandas pela síntese visual e simbólica da unidade política, como inventário
parcial e seletivo dos recursos naturais do território, como produto fabricado por
homens e instrumentos sujeitos aos limites e às contingências de seu tempo.
As políticas públicas de produção dos mapeamentos, tanto na escala
regional como na nacional, conduziram a uma série de produtos cartográficos nos
quais a incompletude foi uma constante, a revelar as fragilidades do estado em
promover, e mais do que isso, em sustentar nos prazos alargados e nos altos
custos exigidos os mapeamentos sistemáticos em bases técnico-científicas. Nesse
sentido, o mapa inacabado é também metáfora da incompletude do projeto
nacional de modernização, da missão civilizadora e do alcance do progresso
técnico-científico que as operações cartográficas buscavam e prometiam. Em
termos mais amplos, é metáfora da própria incompletude do projeto de construção
do estado- nação.
393
dos saberes e discursos científicos como armas do progresso, do espírito das
missões civilizatórias, e da busca e afirmação de uma identidade nacional no país.
Na confluência desses processos transformadores afirmava-se o saber e as
práticas cartográficas, como instrumento efetivo de gestão e controle dos
territórios nacionais e estaduais em gestação e, ao mesmo tempo, como imagens
cristalizadas do corpo físico da nação em construção437.
437 Essas idéias são devedoras da análise desenvolvida por Carvalho sobre o que ele chamou de
modernização conservadora.CARVALHO, José Murilo de. Brasil 1870-1914; a força da tradição.
In. ____. Pontos e bordados, escritos de história e política. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
394
hierarquizados. Todo o poder performativo e simbólico dos mapas produzidos
advinham dessa transmutação da percepção do espaço natural e social: a
visibilidade proporcionada pela linguagem cartográfica, fosse ela a da superfície
“transparente” e saturada de informação das imagens científicas da comissão
geográfica ou fosse aquela das imagens-síntese, opacas porque tecidas e contidas
em seu próprio código visual. Esta visibilidade descortinava-se ao olhar e
carregava consigo tanto as funções instrumentais de conhecimento e controle
coercitivos dos espaços demandados pelo estado como as possibilidades
identitárias da imaginação e da memória, que fazem com que de imediato uma
dada imagem seja identificada: isto é Minas Gerais. Um vez visível, esse corpo
físico e também político que era Minas Gerais emergia integrando suas partes e
integrando um todo maior, a coletividade territorial da nação.
395
9. REFERÊNCI AS
396
OFÍCIO da Litografia Hartmann. 4 de abril de 1923. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
OFÍCIO de Afonso Pena. 4 de agosto de 1894. APM. Fundo SI. Série Estatística Geral do
Estado e diversos. Registros de correspondência. Encadernado 1139.
OFÍCIO de Daniel de Carvalho para o Secretário da Agricultura, Raul Soares de Moura.
APM. Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e Minas Gerais. Cx.7.
Doc.219.
OFÍCIO de João Chrockatt de Sá Pereira e Castro para o Diretor Geral de Obras
Públicas Dr. José Teixeira de Castro Gouvêa. 27 de janeiro de 1886. APM. Fundo Obras
Públicas. Documentação não encadernada. Série Documentação Recebida.
OFÍCIO DO CHEFE da Comissão de Limites ao Secretário de Estado de Obras Públicas
de Minas. 6/2/1896. APM. Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie São Paulo e
Minas Gerais. Cx. 1. Doc.35.
OFÍCIO DO CHEFE da Comissão de Limites ao Secretário de Estado de Obras Públicas
de Minas. 6 de fevereiro de 1896. APM. Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie
São Paulo e Minas Gerais. Cx. 1. Doc.35.
OFÍCIO do engenheiro-chefe de 12 de dezembro de 1925. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
PARECER de Augusto de Lima. APM. Fundo SI. Série Limites com os estados. Subsérie
São Paulo e Minas Gerais. Cx 2. Doc. 46.
RELAÇÃO dos objetos em poder do triangulador. [Manuscrito assinado por Antônio
Tavares em 8/6/1922]. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e
Geológica de Minas Gerais
RELATÓRIO anual apresentado ao Exmo. Sr. Secretário da Agricultura Dr. Djalma
Pinheiro Chagas pelo engenheiro chefe da Comissão Geográfica do Estado de Minas
Gerais. 1928. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica
de Minas Gerais.
RELATÓRIO anual do topógrafo Antônio Fernandes Lobato. Relatório da Comissão
Geográfica e Geológica. 1926. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão
Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO anual do topógrafo Heldomiro Fonseca. 1924. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO anual do topógrafo José da Costa Carvalho. Relatório da Comissão
Geográfica e Geológica. 1924. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão
Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO apresentado pelo engenheiro chefe da Comissão ao senhor Secretário da
Agricultura, Indústria, Viação e Obras Públicas; exercício de 1923. IGA. Setor de
Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO apresentado pelo engenheiro chefe da Comissão Geográfica e Geológica do
Estado de Minas Gerais ao senhor Secretário da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e
Obras Públicas. 1922. Relatório do topógrafo Benedito Quintino dos Santos. IGA Setor de
Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO apresentado pelo triangulador Gil Moraes de Lemos ao Sr. Eng. Chefe.
1924. IGA Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de
Minas Gerais.
397
RELATÓRIO com justificativa pelo atraso na execução dos trabalhos. S/l: 189-. APCBH.
Subfundo Comissão Construtora da Nova Capital de Minas.
RELATÓRIO do topógrafo Alacrino Monteiro. In: Relatório anual apresentado pelo
engenheiro-chefe da Comissão Geográfica ao Exmo. Sr. Secretário da Agricultura. 1926.
IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas
Gerais.
RELATÓRIO do topógrafo Waldemar Alves Baeta. Relatório apresentado pelo
engenheiro-chefe da Comissão Geográfica e Geológica do estado de Minas Gerais ao
senhor secretário da Agricultura, Indústria, Terra, Viação e obras Públicas. 1922. IGA.
Setor de Limites. Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO do topógrafo Xenophonte Renault. [192-]. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais.
RELATÓRIO do triangulador Benedito Quintino dos Santos. Relatório da Comissão
Geográfica e Geológica. 1925. IGA. Setor de Limites. Documentação da Comissão
Geográfica e Geológica de Minas Gerais.
RELATÓRIO do triangulador Otávio Pinto da Silva. 1930. In: Relatório apresentado ao
Excelentíssimo senhor Secretário da Agricultura, pelo engenheiro-chefe da Comissão
Geográfica do Estado de Minas Gerais no ano de 1930. IGA. Setor de Limites.
Documentação da Comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais. p.11/2.
RELATÓRIO dos engenheiros da Comissão Geográfica de Limites com São Paulo e Rio
de Janeiro. Resumo do relatório do chefe da Comissão de Limites. 1895. APM. Fundo SI.
Série Limites. Subsérie Diversos. Cx. 11.
RELATÓRIO encaminhado ao Chefe da 4ª. Divisão da CCNCM pelo Chefe da 1ª. Seção.
S/l: 1895. APCBH. Subfundo Comissão Construtora da Nova Capital de Minas.
RELATÓRIO sumario dos trabalhos e negócios da Comissão Geográfica de Limites do
Estado de Minas com S. Paulo e Rio de Janeiro durante o 4º. trimestre, 1895,
apresentado ao Sr. Dr. Secretário de Estado da Agricultura, Comércio e Obras públicas.
APM. Fundo SI. Série Limites. Subsérie Diversos. Cx. 11.
RELATÓRIO sumário dos trabalhos e negócios da Comissão Geográfica de Limites do
Estado de Minas com S. Paulo e Rio de Janeiro durante o 2º. trimestre, 1895,
apresentado ao Sr. Dr. Secretário de Estado da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
APM. Fundo SI. Série Limites. Subsérie Diversos. Cx. 11.
RESUMO do relatório do chefe da Comissão de Limites. 1895. APM. Fundo SI. Série
Limites com os estados. Subsérie Diversos. Cx 11.
TELEGRAMA de Artur Bernardes a Antônio Olinto dos Santos Pires. AN. Fundo
Comissão Executiva da Comemoração do Centenário da Independência. Cx. 2418.
Comissão Organizadora Minas Gerais.
9.2 Legisla ção , re lató rio s de gov ern o, anai s par lamentare s
BRASIL. Ministério da Agricultura. Relatório que devia ser presente à Assembléia Geral
Legislativa na 3ª. sessão da 11ª. legislatura pelo ministro e secretário de Estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas Pedro de Alcântara Bellegarde. Rio
de Janeiro: Tipografia Perseverança, 1863.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Relatório apresentado ao
398
Presidente dos Estados Unidos do Brasil pelo Dr. Manoel Edwiges de Queirós Vieira,
ministro de Estado da Agricultura, Indústria e Comércio, no ano de 1914. Rio de
Janeiro: Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, 1913. v.1. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2005/000180.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Relatório apresentado ao
Presidente dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de Estado da Agricultura,
Indústria e Comércio Miguel Calmon de Pin e Almeida; ano de 1922. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1925. Diretoria Geral de Estatística. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2018/000002.html>. Acessado em 23/05/2005.
BRASIL. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Relatório apresentado ao
Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de Estado dos
Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas, engenheiro Antônio Olinto dos Santos
Pires, em maio de 1896. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1896. Disponível em:
<http:brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1981/000215.html>. Acesso em: 12 abr. 2005.
BRASIL. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Relatório apresentado ao
presidente dos Estados Unidos do Brasil pelo ministro de Estado da Indústria, Viação e
Obras Públicas Miguel Calmon du Pin e Almeida no ano de 1908. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1908. v.1. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2275/000209.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
BRASIL. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Relatório apresentado ao
Exmo. Presidente da República pelo ministro de Estado da Agricultura, Indústria e
Comércio Ildefonso Simões Lopes. Rio de Janeiro: Vilas Boas, 1921. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2017/000422.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
BRASIL. Ministério da Justiça. Exposição Internacional do Centenário do Rio de
Janeiro: relatório dos trabalhos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926. 2v.
BRASIL. Ministério do Império. Instruções para os trabalhos de exploração e
reconhecimento do rio São Francisco em todo o seu longo curso. In: ____. Relatório
apresentado à Assembléia Geral Legislativa pelo ministro e secretário de Estado dos
Negócios do Império Visconde de Monte Alegre. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional,
1852. Anexo 5. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1723/index.html>. Acesso
em: 16 dez. 2004.
BRASIL. Ministério do Império. Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa
pelo ministro e secretário dos Negócios do Império José Fernandes da Costa Pereira
Junior. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1888. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1373/000002.html>. Acesso em: 28 set. 2005.
BRASIL. Ministério do Império. Relatório apresentado à Assembléia Geral Legislativa
na 4ª. sessão da 20ª. legislatura pelo ministro e secretário de estado dos Negócios do
Império Antônio Ferreira Viana. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889. Disponível
em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1374/000060.html>. Acesso em: 28 set. 2005.
BRASIL. Ministério do Interior. Relatório da Diretoria Geral de Estatística. In: ____.
Relatório apresentado ao Presidente da República pelo Dr. João Barbalho Uchoa
Cavalcanti, Ministro de Estado dos Negócios do Interior, em maio de 1891. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1891. Anexo.
CONGRESSO CONSTITUINTE. Anais do Congresso Constituinte do Estado de Minas
Gerais; 1891. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1896.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1911a.
399
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1913.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: 2ª. sessão da oitava
legislatura. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1921.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: quarta sessão da primeira
legislatura - ano de 1894. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: terceira sessão da primeira
legislatura no ano de 1893. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1893.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados: terceira sessão da oitava
legislatura. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1922.
CONGRESSO MINEIRO. Anais da Câmara dos Deputados:sessões extraordinária e
ordinária no ano de 1909. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1910.
CONGRESSO MINEIRO. Anais do Senado: primeira sessão da primeira legislatura nos
anos de 1891 e 1892. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1911b.
MINAS GERAIS. Coleção de leis e decretos do estado de Minas Gerais. Ouro Preto:
Imprensa Oficial, 1889-1890.
MINAS GERAIS. Coleção de leis e decretos do estado de Minas Gerais. Ouro Preto:
Imprensa Oficial, 1891a.
MINAS GERAIS. Coleção de leis e decretos do estado de Minas Gerais. Ouro Preto:
Imprensa Oficial, 1892a.
MINAS GERAIS. [Relatório do presidente Machado Portela]. [Ouro Preto: s.n.], 1886.
Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u286/000090.html>. Acesso em: 28 maio
2005.
MINAS GERAIS. Diretoria de Agricultura, Comércio, Terras e Colonização. Relatório
apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Manoel Thomaz de Carvalho Brito, secretário interino das
Finanças pelo engenheiro Carlos Prates, referente ao ano de 1907. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1908a.
MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório
apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, secretário das
Finanças pelo engenheiro Artur da Costa Guimarães, diretor geral da Agricultura,
Viação e Indústria, em 1904. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1904a.
MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório
apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Juscelino Barbosa, secretário das Finanças, pelo
engenheiro Carlos Prates, referente ao ano de 1908. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1909a.
MINAS GERAIS, Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório de
Augusto de Vasconcelos. In: ____. Relatório referente ao ano de 1906 apresentado ao
Exmo. Sr. Dr. Manoel Thomas de Carvalho Brito, secretário das Finanças pelo
engenheiro Artur da Costa Guimarães, diretor geral da Agricultura, Viação e Obras
Públicas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1907a. Anexo.
MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório referente
ao ano de 1904 apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada,
secretário das Finanças pelo engenheiro Artur da Costa Guimarães, diretor geral da
Agricultura, Viação e Obras Públicas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1905a.
400
MINAS GERAIS. Diretoria Geral de Agricultura, Viação e Indústria. Relatório anexo de
Augusto de Vasconcelos.In: ___. Relatório referente ao ano de 1904 apresentado ao
Exmo. Sr. Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, secretário das Finanças pelo
engenheiro Artur da Costa Guimarães, diretor geral da Agricultura, Viação e Obras
Públicas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1905b.
MINAS GERAIS. Governador (Antônio Augusto de Lima 1891). Relatório apresentado ao
Exmo. Sr. Dr. José Cesário de Faria Alvim, presidente do Estado de Minas Gerais, em 15
de junho de 1891, pelo Dr. Antônio Augusto de Lima, ex-governador do mesmo estado.
Ouro Preto: J. F. de Paula Castro, 1892b. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2400/000002.html>. Acesso em: 10 out. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Afonso Augusto Moreira Pena 1892-1894). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Afonso Augusto Moreira Pena ao
Congresso Mineiro em sua quarta sessão da 1a. legislatura. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1894a.
MINAS GERAIS. Presidente (Afonso Augusto Moreira Pena 1892-1894). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Afonso Augusto Moreira Pena ao
Congresso Mineiro em sua sessão ordinária da 1a. legislatura. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1893a.
MINAS GERAIS. Presidente (Antônio Gonçalves Chaves 1883-1884). Fala que o Exmo.
Sr. Dr. Antônio Gonçalves Chaves dirigiu àAssembléia Legislativa Provincial de Minas
Gerais na 1ª. sessão da 25ª. legislatura em 1º. de agosto de 1884. Ouro Preto: Liberal
Mineiro, 1884. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/491/000034.html>. Acesso
em: 28 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida
pelo presidente do estado, Dr. Artur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro em
sua primeira sessão ordinária da 8ª. legislatura do ano de 1919. [Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1919a]. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u303/000022.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado, Dr. Artur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro em
sua primeira sessão ordinária da 8ª. legislatura do ano de 1920. [Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1920]. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u304/000002.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Artur da Silva Bernardes 1919-1922). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado Dr. Arthur da Silva Bernardes, ao Congresso Mineiro, em sua
4ª. sessão ordinária da 8ª. legislatura no ano de 1922. [Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1922]. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u306/000054.html>. Acesso em: 4
out. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Carlos Augusto de Oliveira Figueiredo 1887). Fala que o
Exmo. Sr. Dr. Carlos Augusto de Oliveira Figueiredo dirigiu à Assembléia Provincial de
Minas Gerais na segunda sessão da vigésima sexta legislatura em 5 de julho de 1887.
Ouro Preto: J.F. de Paula Castro, 1887. Anexo 1. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/494/000193.html>. Acesso em: 28 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Carlos Carneiro de Campos 1858-1859). Relatório que ao
Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Joaquim Delfino Ribeiro da Luz, 1º vice-presidente da província,
entregou o Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Conselheiro Carlos Carneiro de Campos em o dia 6
de abril de 1859. Ouro Preto: Provincial, 1859. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u257/000002.html>. Acesso em: 22 set. 2005.
401
MINAS GERAIS. Presidente (Crispim Jacques Bias Fortes 1895-1898). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr.Crispim Jacques Bias Fortes ao
Congresso Mineiro em sua 1 a. sessão ordinária da 2a. legislatura no ano de 1895. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1895a.
MINAS GERAIS. Presidente (Crispim Jacques Bias Fortes 1895-1898). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Crispim Jacques Bias Fortes ao
Congresso Mineiro em sua 2 a. sessão ordinária da 2a. legislatura no ano de 1896. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1896a.
MINAS GERAIS. Presidente (Crispim Jacques Bias Fortes 1895-1898). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Crispim Jacques Bias Fortes ao
Congresso Mineiro em sua 3 a. sessão ordinária da 2a. legislatura no ano de 1897. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1897a.
MINAS GERAIS. Presidente (Crispim Jacques Bias Fortes 1895-1898). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Crispim Jacques Bias Fortes ao
Congresso Mineiro em sua 4 a. sessão ordinária da 2a. legislatura no ano de 1898. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1898a.
MINAS GERAIS. Presidente (Delfim Moreira da Costa Ribeiro 1915-1918). Mensagem
dirigida pelo presidente do estado, Dr. Delfim Moreira da Costa Ribeiro ao Congresso
Mineiro em sua 4ª. sessão ordinária da 7ª. legislatura do ano de 1918. [Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1918]. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u302/000105.html>. Acesso em: 04 out. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Antônio de Sales 1902-1906). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Antônio de Sales ao Congresso
Mineiro em sua 1a. sessão ordinária da 4a. legislatura no ano de 1903. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1903a.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Antônio de Sales 1902-1906). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Antônio de Sales ao Congresso
Mineiro em sua 2a. sessão ordinária da 4a. legislatura no ano de 1904. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1904b. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2413/000042.html>. Acesso em: 24 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Antônio de Sales 1902-1906). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Antônio de Sales ao Congresso
Mineiro em sua 3a. sessão ordinária da 4a. legislatura no ano de 1905. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1905c.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Antônio de Sales 1902-1906). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Antônio de Sales ao Congresso
Mineiro em sua 4a. sessão ordinária da 4a. legislatura no ano de 1906. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1906. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u290/000138.html>.
Acesso em: 23 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos 1853-1855).
Relatório que ao ilustríssimo e excelentíssimo Sr. Doutor Francisco Diogo Pereira de
Vasconcelos, muito digno presidente desta província, apresentou, ao passar-lhe a
administração, o 1º. vice-presidente desembargador José Lopes da Silva Vianna. Ouro
Preto: Bom Senso, 1854. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u254/index.html>.
Acesso em: 22 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco José de Souza Soares de Andréa 1843-1844).
Fala dirigida à Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais na abertura da sessão
ordinária do ano de 1843 pelo presidente da província Francisco José de Souza Soares de
402
Andréa. Ouro Preto: Correio de Minas, 1843. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/447/index.html>. Acesso em 12 out. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco José de Souza Soares de Andréa 1843-1844).
Fala dirigida à Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais na abertura da sessão
ordinária do ano de 1844 pelo presidente da província Francisco José de Souza Soares
de Andréa. Rio de Janeiro: J. Villeneuve, 1844. Disponível em
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/448/index.html>. Acesso em: 22 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Silviano de Almeida Brandão 1899-1901).
Mensagem dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr.Francisco Silviano de
Almeida Brandão ao Congresso Mineiro em sua 1a. sessão ordinária da 3a. legislatura no
ano de 1899. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1899a.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Silviano de Almeida Brandão 1899-1901).
Mensagem dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Silviano de
Almeida Brandão ao Congresso Mineiro em sua 2a. sessão ordinária da 3a. legislatura no
ano de 1900. Cidade de Minas: Imprensa Oficial, 1900.
MINAS GERAIS. Presidente (Francisco Silviano de Almeida Brandão 1899-1901).
Mensagem dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Francisco Silviano de
Almeida Brandão ao Congresso Mineiro em sua 3a. sessão ordinária da 3a. legislatura no
ano de 1901. Cidade de Minas: Imprensa Oficial, 1901.
MINAS GERAIS. Presidente (João Pinheiro da Silva 1906-1908). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. João Pinheiro da Silva ao Congresso
Mineiro em sua 1a. sessão ordinária da 5a. legislatura no ano de 1907. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1907b.
MINAS GERAIS. Presidente (João Pinheiro da Silva 1906-1908). Mensagem dirigida
pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. João Pinheiro da Silva ao Congresso
Mineiro em sua 2a. sessão ordinária da 5a. legislatura no ano de 1908. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1908b.
MINAS GERAIS. Presidente (Joaquim Saldanha Marinho 1867). Regulamento n. 53. In:
____. Relatório que ao Exmo. Sr. vice-presidente da província de Minas Gerais Dr. Elias
Pinto de Carvalho apresentou por ocasião de lhe passar a administração em 30 de junho
de 1867 o conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, presidente da província. Rio de
Janeiro: Perseverança, 1867. Anexo AA6. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u265/000002.html>. Acesso em: 23 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Júlio Bueno Brandão 1911-1914). Mensagem dirigida pelo
presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Júlio Bueno Brandão ao Congresso Mineiro
em sua 2a. sessão ordinária da 6a. legislatura no ano de 1912. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1912. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/content/Brazil/mina.htm>.
Acesso em: 4 out. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Luiz Antônio Barbosa 1852-1853). Relatório que à
Assembléia Provincial da província de Minas Gerais apresentou na sessão ordinária de
1852, o doutor Luiz Antonio Barboza, presidente da mesma província. Ouro Preto: Bom
Senso, 1852. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/456/index.html>. Acesso em:
22 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Luiz Antônio Barbosa 1852-1853). Relatório que à
Assembléia Provincial da província de Minas Gerais apresentou na sessão ordinária de
1853 o doutor Luiz Antonio Barboza, presidente da mesma província. Ouro Preto: Bom
Senso, 1853. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/457/index.html>. Acesso em:
22 set. 2005.
403
MINAS GERAIS. Presidente (Pedro Vicente de Azevedo 1875). Anexo da Diretoria Geral
de Obras Públicas. In: ___. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de
Minas Gerais, por ocasião de sua instalação em 9 de setembro de 1875, pelo Ilmo. e
Exmo. Sr. Dr. Pedro Vicente de Azevedo, presidente da província. Ouro Preto: J. F. de
Paula Castro, 1875. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/482/000120.html>
Acesso em: 24 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Teófilo Otoni 1882). Anexo da Diretoria Geral de Obras
Públicas. In: ___. Fala que o Exmo. Sr. Dr. Teófilo Otoni dirigiu à Assembléia Provincial
de Minas Gerais, ao instalar-se a 1ª. sessão da 24ª. legislatura em o 1º. de agosto de
1882. Ouro Preto: Carlos Andrade, 1882. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/489/000191.html>. Acesso em: 28 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Vicente Pires da Mota 1861). Relatório que à Assembléia
Legislativa Provincial de Minas Gerais apresentou na abertura da sessão ordinari [sic]
de 1861 o Ilmo. e Exmo. Sr. conselheiro Vicente Pires da Motta, presidente da mesma
província. Ouro Preto: Provincial, 1861. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/466/index.html>. Acesso em: 23 set. 2005.
MINAS GERAIS. Presidente (Wenceslau Brás Pereira Gomes 1909-1910). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Wenceslau Bras Pereira Gomes
ao Congresso Mineiro em sua 3a. sessão ordinária da 5a. legislatura no ano de 1909. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, 1909b.
MINAS GERAIS. Presidente (Wenceslau Brás Pereira Gomes 1909-1910). Mensagem
dirigida pelo presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Wenceslau Bras Pereira Gomes
ao Congresso Mineiro em sua 4a. sessão ordinária da 5a. legislatura no ano de 1910. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, 1910.
MINAS GERAIS. Quarto vice-presidente (Fidelis de Andrade Botelho 1864). Relatório
que à Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais apresentou no ato da abertura
da sessão extraordinária de 1863 o doutor Fidelis de Andrade Botelho, quarto vice-
presidente da mesma província. Ouro Preto: Tip. do Minas Gerais, 1864. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/470/index.html>. Acesso em: 23 set. 2005.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Anexo da Comissão Geográfica e Geológica. In:
____. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de
Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, Dr. Carlos Prates em 1898. Anexo
A. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1898b.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de
Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização,
Dr. Carlos Prates em 1896. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1896b.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório da Comissão Geográfica e Geológica.
In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de
Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1896. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1896c. Anexo A.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório da Comissão de Limites. In: ____.
Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de Minas
Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1896. Anexo B. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1896d.
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de
Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização,
Dr. Carlos Prates em 1897. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1897b.
404
MINAS GERAIS. Repartição de Terras. Relatório da Comissão Geográfica e Geológica.
In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Secretário de Estado da Agricultura do Estado de
Minas Gerais pelo Inspetor de Terras e Colonização, dr. Carlos Prates em 1897. Anexo A.
Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1897c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. A nova divisão administrativa do estado de
Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1924.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. A viação férrea no estado de Minas Gerais.
Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1927a.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. A indústria da
criação em Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,1928a.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Divisão
administrativa e judiciária do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1927b.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Minas Gerais
através dos números. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1927c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Minas segundo
o recenseamento de 1920: principais resultados censitários sobre a população, a
agricultura, a pecuária e a indústria. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1921.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Sinopse das
principais riquezas minerais conhecidas no território mineiro. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1928b.
MINAS GERAIS. Secretaria das Finanças. O estado de Minas Gerais; sua evolução. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial,1922b.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
Relatório apresentado alo Exmo. Sr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Dr. Raul
Soares de Moura no ano de 1915. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1915.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório
apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de Estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. David Moretzhon Campista no
ano de 1893. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1893b.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do
chefe da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas, engenheiro Augusto de
Abreu Lacerda. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de Minas
Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1893. Anexo A. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1893c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório de
Belarmino de Menezes. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de
Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1893. Anexo D. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1893d.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do
topógrafo Afonso Monteiro de Barros. In: ___. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do
estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1893. Anexo C. Ouro Preto:
Imprensa Oficial, 1893e.
405
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório
apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de Estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. David Moretzhon Campista no
ano de 1894. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894b.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório da
Comissão Geográfica e Geológica de Minas In: ____. Relatório apresentado ao Dr.
Presidente do estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894.
Anexo B.. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório de
Luis Lombard. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado de Minas
Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894. Anexo B. Ouro Preto: Imprensa
Oficial, 1894d.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do
engenheiro Álvaro da Silveira. In: ___. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do estado
de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no ano de 1894. Anexo B. Ouro Preto:
Imprensa Oficial, 1894e.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório
apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. Francisco Sá no ano de 1895.
Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895b.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório da
Comissão Geográfica e Geológica.In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do
Estado de Minas Gerais pelo Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, Dr, Francisco Sá em o ano de 1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial,
1895c. Anexo 3.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Seção de
Limites. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais
pelo Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr,
Francisco Sá em o ano de 1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895d. Anexo 4.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório do
topógrafo Carlos Lindgren. In: ____. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado
de Minas Gerais pelo Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, Dr, Francisco Sá em o ano de 1895. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1895e.
Anexo B.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Artur Bernardes, presidente do Estado, pelo Dr.
Clodomiro Augusto de Oliveira, secretário da Agricultura; exercício de 1918. Belo
Horizonte: Imprensa Oficial, 1919b.
MINAS GERAIS. Secretaria de Agricultura. Relatório apresentado ao Presidente do
Estado de Minas Gerais pelo secretário dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, Sr. Américo Werneck, em o ano de 1899. Cidade de Minas: Imprensa Oficial,
1899b.
MINAS GERAIS. Secretaria de Agricultura. Relatório do Comissão Geográfica e
Geológica. In; ____. Relatório apresentado ao Presidente do Estado de Minas gerais pelo
406
secretário dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, sr. Américo Werneck,
em o ano de 1899. Anexo C. Cidade de Minas: Imprensa Oficial, 1899c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Diretoria de Indústria e Comércio e
Diretoria de Agricultura, Terras e Colonização. Relatórios apresentados ao Exmo. Sr. Dr.
Djalma Pinheiro Chagas, secretário da Agricultura, sobre os trabalhos referentes ao ano
de 1927, executados pelas Diretorias de Indústria, Comércio e de Agricultura, Terras e
Colonização, pelos diretores engenheiros Benedito José dos Santos e Ernesto von
Sperling. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1928c.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório
apresentado pelo Diretor da Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas ao
vice-governador do estado de Minas Gerais para ser enviado ao Congresso por ocasião da
sua reunião em 1892. Ouro Preto: O Mineiro, 1891b.
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado ao Dr. Presidente do
Estado de Minas pelo secretário de Estado dos Negócios do Interior Dr. Delfim Moreira
da Costa Ribeiro em o ano de 1903. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1903b. v.3.
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado ao Presidente do Estado
de Minas pelo secretário de Estado dos Negócios do Interior Dr. Wenceslau Brás Pereira
Gomes em o ano de 1900. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1901.
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório apresentado pelo secretário interino
do Interior ao Exmo. Sr. Vice-presidente do Estado de Minas Gerais: trabalhos da
Comissão Geográfica do Estado de Minas Gerais, 1891. Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1,
n.74, 7 jul. 1892c.
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Relatório de Álvaro da Silveira. In: ___.
Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas pelo secretário de estado
dos Negócios do Interior Dr. Wenceslau Brás Pereira Gomes em o ano de 1901. [Belo
Horizonte: Imprensa Oficial], 1902a.Anexo.
MINAS GERAIS. Secretaria dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Artur da Silva Bernardes, presidente do Estado,
pelo Dr. Clodomiro Augusto de Oliveira, secretário da Agricultura, referente ao exercício
de 1922. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1923.
MINAS GERAIS. Terceiro vice-presidente (Joaquim Camilo Teixeira da Mota 1862).
Relatório que a Assembléia Legislativa Provincial de Minas Gerais apresentou no ato da
abertura da sessão ordinária de 1862 o coronel Joaquim Camilo Teixeira da Mota,
terceiro vice-presidente da mesma província. Ouro Preto: Provincial, 1862. Disponível
em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/467/index.html>. Acesso em: 23 set. 2005.
MINAS GERAIS. Vice-presidente (Barão de Camargos 1889). Fala que à Assembléia
Legislativa Provincial de Minas Gerais dirigiu por ocasião da instalação da 2ª. sessão da
27ª. legislatura em 4 de junho de 1889 o 1º. vice-presidente da província, Dr. Barão de
Camargos. Ouro Preto: J. F. de Paula Castro, 1889. Disponível em:
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/496/index.html>. Acesso em: 28 set. 2005.
MINAS GERAIS. Vice-presidente (Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira 1892).
Mensagem apresentada ao Congresso Mineiro pelo vice- presidente do Estado de Minas
Gerais Dr. Eduardo Ernesto da Gama Cerqueira. Ouro Preto: Imprensa do estado de
Minas Gerais, 1892d.
MINAS GERAIS. Vice-presidente (Joaquim Candido da Costa Sena 1902). Mensagem
dirigida pelo vice-presidente do Estado de Minas Gerais Dr. Joaquim Cândido da Costa
407
Sena ao Congresso Mineiro em sua 3a. sessão ordinária da 3a. legislatura no ano de 1902.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1902b.
9.3 D isc ur sos, ediç ões co mem ora tiv as, pub li caçõe s té cn ic o- cient íf ica s,
art igos de pe rió dico s
408
CUNHA MATOS, Raimundo José da. Corografia histórica da província de Minas Gerais;
1837. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1979. 2v.
DERBY, Orville A. Retrospecto histórico dos trabalhos geográficos e geológicos efetuados
na província de S. Paulo. Boletim da Comissão Geográfica e Geológica da Província de S.
Paulo, São Paulo, n.1, 1889.
DERBY, Orville Adelbert. Cartografia do Brasil. Almanaque Brasileiro Garnier, Rio de
Janeiro, v.9, p. 261-267, 1911.
DERBY, Orville Adelbert. Coleções paleontológicas da extinta Comissão Geológica.
Revista de Engenharia, Rio de Janeiro, v.5, p.267-268, set. 1883.
DERBY, Orville Adelbert. Limites entre São Paulo e Minas Gerais. São Paulo: Vanorden,
1893.
DERBY, Orville Adelbert. Limites entre São Paulo e Minas Gerais. São Paulo, Arquivo
do Estado, 1896. (Documentos interessantes, v.11).
DERBY, Orville Adelbert. Os mapas mais antigos do Brasil. Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, v.3, p. 227-254, 1902a.
DERBY, Orville. Contribuições recentes para a cartografia do Brasil. Memória lida no
Instituto Histórico, na sessão de 28 de setembro de 1909. Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, t.72, pt. 1, p.36-48, 1910.
DERBY, Orville. O serviço cartográfico do estado de São Paulo e o seu último crítico. O
Estado de São Paulo, São Paulo, 24 set. 1902b.
DERBY, Orville. The present state of science in Brazil. Science, v.1, n,8, p.211-214, 30
mar. 1883.
DERBY, Orville. Trabalhos cartográficos da Comissão Geográfica e Geológica de São
Paulo. São Paulo: Estado de São Paulo, 1902c.
DETERMINAÇÃO das posições geográficas de Rodeio, Entre-Rios, Juiz de Fora, João
Gomes e Barbacena, publicada por L. Cruls, diretor do Observatório Nacional do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: H. Lombaerts, 1894.
ESCOLA DE MINAS: centenário da Independência. Ouro Preto: Mineira, 1920.
ESCOLA DE MINAS: notícia histórica. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional; Ministério da
Justiça e Negócios Interiores, 1898.
ESTUDO meteorológico relativo a S. João Del-Rei, Minas Gerais. Boletim, Belo
Horizonte, Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais, n.4, 1896.
EXPOSIÇÃO DO CENTENÁRIO DO BRASIL; 1922-23 (RJ). Guia oficial da exposição do
centenário com informações gerais sobre o Brasil, a cidade do Rio de Janeiro e os estados
do Rio de Janeiro, Minas Gerais e S. Paulo. Rio de Janeiro: Bureau Oficial de
Informações, [1921].
FERRAND, Paul. O ouro em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro,
Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1998.
FREITAS, M. A. Teixeira de. A carta de Minas comemorativa do centenário: discurso.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1924.
FREITAS, M. A. Teixeira de. O reajustamento territorial do quadro político do Brasil:
conferência realizada pelo Dr. M. A. Teixeira de Freitas, em sessão de 28 de outubro de
1932. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1932.
409
FREITAS, M. A. Teixeira de. O recenseamento de 1920 em Minas Gerais. Rio de Janeiro:
Conselho Nacional de Estatística, Serviço Nacional de Recenseamento, 1951.
(Documentos censitários. Serie B, n.2)
FREITAS, M. A. Teixeira de. Os serviços de estatística do estado de Minas Gerais.
Separata de: Revista Brasileira de Estatística, Rio de Janeiro, ano 4, n.13, p.107-130,
jan./mar. 1943.
FREITAS, M. A. Teixeira de. Recenseamento do centenário: conferência lida em 13 de
maio de 1920 na sede do Clube Acadêmico de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial do Estado de Minas Gerais, 1920.
FREITAS, Mário Augusto Teixeira de. Em torno do Congresso de Geografia: limites e
áreas municipais. Estado de Minas, ano 1, n.52, 12 set. 1919.
GEOGRAFIA do Brasil comemorativa do 1o. Centenário da Independência: 1822-1922.
Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, [1923].
GERBER, Henrique. Noções geográficas e administrativas da província de Minas Gerais.
Rio de Janeiro: [s.n.], 1893.
INDICADOR AGRO-PECUÁRIO, INDUSTRIAL, COMERCIAL E BANCÁRIO DE
MINAS GERAIS: [1927]. Belo Horizonte, Secretaria da Agricultura, Serviço de
Estatística Geral, ano 1, 1928.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. O Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística e o Município. Rio de Janeiro, 1941.
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO. Dicionário histórico,
geográfico e etnográfico do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922
JACOB, Rodolfo. Minas Gerais no XXo. Século. Rio de Janeiro: Gomes, [1910].
LACERDA, Augusto de Abreu. A bacia do rio das Mortes. Boletim, Rio de Janeiro,
Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais, n.3, 1895a.
LACERDA, Augusto de Abreu. As ocras. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto,
ano 1, n. 5, p.106-107, 15 fev. 1894.
LACERDA, Augusto de Abreu. Considerações sobre a organização dos centros agrícolas.
Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 3, n. 17, 15 maio 1896.
LACERDA, Augusto de Abreu. Documents pour servir a l´histoire de l´homme fossile du
Brésil. Memoires Société d´Anthropologie de Paris, Ser. 2, 2, p.517-542, 1882.
LACERDA, Augusto de Abreu. Estrumes químicos e seu emprego. Revista Industrial de
Minas Gerais, Ouro Preto, ano 3, n. 18, 15 jun./ 15 jul. 1896.
LACERDA, Augusto de Abreu. Museu em Minas. Revista Industrial de Minas Gerais,
Ouro Preto, ano 1, n. 8, 15 maio 1894.
LACERDA, Augusto de Abreu. O cafeeiro e a geada. Revista Industrial de Minas Gerais,
Ouro Preto, ano 1, n. 6, 15 mar. 1894.
LACERDA, Augusto de Abreu. Organização e trabalhos da Comissão Geográfica e
Geológica do Estado de Minas Gerais. Boletim, Rio de Janeiro, Comissão Geográfica e
Geológica do Estado de Minas Gerais, n.1, 1894.
LACERDA, Augusto de Abreu. Subsídios para o estudo do clima do Estado de Minas
Gerais. Boletim, Rio de Janeiro, Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas
Gerais, n.2, 1895b.
410
LIAIS, E. Die Aufnahme des oberen San Francisco und des Rio das Velhas in Brasilien.
Gotha: Peterman´s Geogr. Mitt., Jg,. 1866.
LIAIS, Emm. Exploração científica do Alto São Francisco e do Rio das Velhas. Paris:
Garnier Frères; Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1865. Tradução anônima, gentilmente
cedida por Augusto Auler.
LIAIS, Emm. Traité d´astronomie appliquée et de géodésie pratique comprenant des
méthodes suivies dans l´exploration du rio de S. Francisco et précédé d´un rapport au
gouvernement impérial du Brésil. Paris: Garnier Frères, 1867.
LIMA, Mário de. Discurso de encerramento da exposição. In: COMISSÃO Organizadora
da Exposição Universal de 1922. Rio de Janeiro: Fluminense, 1922.
LIMA, Mário de. Minas gloriosa: um século de liberdade e de trabalho. Rio de Janeiro:
Fluminense, 1922. Discurso pronunciado na solenidade da inauguração da seção mineira
no Palácio dos Estados, no dia 7 de novembro de 1922.
LIMITES de São Paulo e Minas. Minas Gerais, Ouro Preto, n.148, 3 jun 1894. p.5
LISBOA, Miguel Arrojado. A Escola de Minas e Henrique Gorceix. Revista da Escola de
Minas de Ouro Preto, Ouro Preto, ano 13, n.4, p.19-36, out 1948.
LISBOA, Miguel Arrojado Ribeiro. Um caso de crítica científica. São Paulo: Vanorden,
1902.
LOMBARD, Louis. A mineração nos municípios de S. João Del-Rei, Tiradentes e Prados.
Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n.10, 15 jul. 1894.
LOMBARD, Louis. Exploração mineralógica de Garanhuns a Buíque e zona salitrosa de
Buíque. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.25, 20 jun. 1897.
LOMBARD, Louis. Indústria nos estados: exploração mineralógica de Garanhuns a
Buíque e zona salitrosa de Buíque. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano
4, n.24, 10 jun. 1897.
LOMBARD, Louis. Laboratório de análises da CGG. Revista Industrial de Minas Gerais,
Ouro Preto, ano 1, n. 9, 15 jun. 1894.
LOMBARD, Louis. Mineração na serra de São José. Revista Industrial de Minas Gerais,
Ouro Preto, ano 1, n.11, 15 ago. 1894.
LOMBARD, Louis. Mines: sur les exploitations des mines d´or anciennes aux environs de
S. João Del-Rei, Tiradentes et Prados. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto,
ano 1, n. 6, 15 mar. 1894.
LOMBARD, Louis. Sciencias: une application de la téléphotographie. Revista Industrial
de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n.10, 15 de jul. 1894.
MARTINIÈRE, E. de la. O rio das Velhas; descrição dos trabalhos, orçamento, cálculos
geodésicos. In: MINAS GERAIS. Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de
Minas Gerais apresentou na abertura da sessão ordinária de 1856, o conselheiro
Herculano Ferreira Pena, presidente da mesma província. Anexo 5. Ouro Preto, Tip. do
Bom Senso, 1856.
MARTINIÈRE, E. de la. Rio das Velhas. Relatório apresentado pelo engenheiro E. de la
Martinière. In: MINAS GERAIS. Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de
Minas Gerais apresentou na 2ª. sessão ordinária da 10ª. legislatura de 1855 o presidente
da província, Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos. Ouro Preto: Bom Senso, 1855.
Anexo. Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/460/000058.html>. Acesso em: 22
set. 2005.
411
MASSENA, José Franklin da Silva. Investigações científicas para o progresso da
geologia mineira. Revista Trimestral do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do
Brasil, Rio de Janeiro, t.47, pt.2, p.249-282, 2. sem., 1884.
MASSENA, José Franklin da Silva. Tabela das altitudes sobre o nível do oceano dos
principais lugares e montes da carta topográfica de Minas Gerais. Revista Trimestral do
Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Brasil, Rio de Janeiro, t.45, pt.1, p.151-
158, 1. sem., 1882.
MENEZES, Belarmino Martins de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no estado de Minas:
a carta de Gerber. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n. 383, 30 mar. 1894a. p.3.
MENEZES, Belarmino Martins de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no estado de Minas:
enumeração dos defeitos dos mapas existentes. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n.
384, 5 abr, 1894b. p.3.
MENEZES, Belarmino Martins de; LOMBARD, Luiz. A cartografia no estado de Minas:
relações da geografia com a geologia. Estado de Minas, Ouro Preto, ano 5, n.389, 30 abr.
1894c. p.3.
MOURA, Raul Soares. Exposição de motivos. In: MINAS GERAIS. Coleção de leis e
decretos do estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1915.
NERY, Frederico José de Santa Anna. Le Brésil en 1889 avec une carte de l´Empire en
chromolithographie, des tableaux statistiques, des graphiques et des cartes. Paris: C.
Delagrave, 1889.
NOSSO programa. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 1, n. 1, p.1, 15
out. 1893.
O ESTADO DE MINAS GERAIS: fatos e números coordenados para a Carta
Comemorativa do 1o. Centenário da Independência Nacional. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1923.
PENA, Gustavo. Pela representação de Minas Gerais na exposição do centenário da
Independência. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, [1921]. Discurso lido perante a
Comissão Geral em outubro de 1921.
RABELO, Carlos Nunes. A serra de São Tomé das Letras. Anuário da Escola Politécnica
de São Paulo, São Paulo, v.4, pt.2, p.59-62, 1903.
RABELO, Carlos Nunes. Laboratório da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de
Minas Gerais; ensaios químicos. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 4,
n.22, p.284, 30 mar. 1897a.
RABELO, Carlos Nunes. Notícia sobre a Comissão Geográfica e Geológica do Estado de
Minas Gerais. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.25, p.4-5, 20 jun.
1897b.
RABELO, Carlos Nunes. Serra da Treituba, rochas minerais e flora - Minas Gerais.
Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n.29, p.57-58, 30 out. 1897c.
RELATÓRIO apresentado pelo secretário interino do Interior ao Exmo. Sr. Vice-
presidente do Estado de Minas Gerais. Trabalhos da Comissão Geográfica do Estado de
Minas Gerais; 1891. Minas Gerais, ano 1, n.74, 7 jul 1892.
RELATÓRIO de W. Milnor Roberts, engenheiro chefe da Comissão Hidráulica sobre o
exame do rio São Francisco desde o mar até a cachoeira de Pirapora. Rio de Janeiro:
Nacional, 1880.
412
RELATÓRIO dos estudos feitos no rio das Velhas, de Macaúbas até a barra no S.
Francisco, pelo engenheiro Benjamim Franklin. Rio de Janeiro: Nacional, 1882.
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO.
Consagrada à questão de limites entre São Paulo e Minas Gerais. São Paulo, Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, v. 24, 1926.
SALES, Alberto. A pátria paulista. Campinas: Gazeta de Campinas, 1887.
SENA, Nelson de. A colaboração de Minas nas comemorações do Centenário. Diário de
Minas, Belo Horizonte, 21 ago. 1921. Discurso do deputado Nelson de Sena.
SENA, Nelson de. A hulha branca em Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1911a.
SENA, Nelson de. A terra mineira. 2. ed. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1926.
SENA, Nelson de. Contribuições para um futuro mapa do Estado de Minas Gerais.
Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, ano 16, p.307-329, 1911b.
SENA, Nelson de. Discurso proferido na sessão solene de abertura do 1o. Congresso
Brasileiro de Geografia (no Palácio Monroe do Rio de Janeiro), a 7 de setembro de 1909.
Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, ano 16, p.., 1911c.
SENA, Nelson de. Primeiro centenário da Independência do Brasil: discurso
comemorativo proferido na Câmara Federal. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922.
SILVEIRA, Álvaro da. Agricultura e pecuária. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1919.
SILVEIRA, Álvaro da. A matemática na música e na linguagem. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1911.
SILVEIRA, Álvaro da. A mineração em Ouro Preto. Revista da Sociedade Brasileira de
Ciências, Rio de Janeiro, v.2, p.147-156, 1918.
SILVEIRA, Álvaro da. As florestas e as chuvas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1916.
SILVEIRA, Álvaro da. As folhas da carta de 1/100.000 do estado de Minas. Revista
Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 5, n. 27, p.40, 20 ago.1897.
SILVEIRA, Álvaro da. Contribuição para as eriocaulaceas brasileiras. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional,1918.
SILVEIRA, Álvaro da. Flora e serras mineiras. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1908.
SILVEIRA, Álvaro da. Fontes, chuvas e florestas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,
1923.
SILVEIRA, Álvaro da. Geografia do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Oliveira
Costa, 1929.
SILVEIRA, Álvaro da. Geografia: informações sobre as folhas da carta geográfica do
Estado de Minas Gerais. Revista Industrial de Minas Gerais, Ouro Preto, ano 3, n.18/19,
15 jun./ 15 jul. 1896.
SILVEIRA, Álvaro da. Memórias corográficas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1922.
SILVEIRA, Álvaro da. Mineralogia. São Paulo: Melhoramentos, Caieiras, s/d.
SILVEIRA, Álvaro da. Narrativas e memórias. Belo Horizonte: Imprensa oficial, 1924.
SILVEIRA, Álvaro da. Os tremores de terra em Bom Sucesso. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1920.
SILVEIRA, Álvaro da. Topografia. São Paulo: Melhoramentos, [1927].
413
SILVEIRA, Álvaro da. Viagem pelo Brasil: notas e impressões colhidas na viagem do Sr.
Dr. Afonso Pena. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1906.
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO. Geografia do Brasil
comemorativa do 1° Centenário da Independência: 1822-1922. Rio de Janeiro: Pimenta
de Mello, [1923].
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DO RIO DE JANEIRO. Indicações gerais sobre a
confecção da geografia do Brasil comemorativa do Centenário da Independência: 1919.
Rio de Janeiro: Rohe, 1920.
SUBSÍDIOS para a verdadeira geografia do Brasil; o que é o Atlas Corográfico
Municipal. Diário de Minas, Belo Horizonte, 19 jan. 1927.
TAUNAY, Affonso D’Escragnolle. Coletânea de Mapas da Cartografia Paulista Antiga.
São Paulo: Caieiras, Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1922.
VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides mineiras. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1897.
VEIGA, José Pedro Xavier da. Minas Gerais e Rio de Janeiro (questão de limites):
relatório apresentado ao governo mineiro. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo
Horizonte, v.4, p.317-376, 1889.
9.4.1 Manuscritos
CARTA da província de Minas Gerais com indicação das atuais estradas e das despesas
com elas feitas durante o decênio de 1855 a 1865, organizada pelo engenheiro Henrique
Gerber, mandada levantar pelo Exmo. Sr. Presidente da mesma província Conselheiro
Joaquim Saldanha Marinho, em janeiro de 1867. [Ouro Preto, 1867]. Escala gráfica. In:
MINAS GERAIS. Presidente (Joaquim Saldanha Marinho 1867). Relatório que ao Exmo.
Sr. vice-presidente da província de Minas Gerais Dr. Elias Pinto de Carvalho apresentou
por ocasião de lhe passar a administração em 30 de junho de 1867 o conselheiro Joaquim
Saldanha Marinho, presidente da província. Rio de Janeiro: Perseverança, 1867a.
Disponível em: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u265/000002.html>. Acesso em: 23 set.
2005.
CARTA das comunicações postais da província de Minas Gerais, projetada pelo
engenheiro H. Gerber e desenhada por João Duarte, em fevereiro de 1867b. Escala
1:1.000.000. APM. OP. 015. MAP.1/9. Env.1.
MAPA da Província de Minas Gerais, levantado pelo coronel Barão d’ Eschwege em 1821,
aumentado com a costa de leste, limites das dioceses, comarcas eclesiásticas, termos,
julgados, freguesias, e distritos, e comparativo da atual com uma nova organização civil,
por Luiz Maria da Silva Pinto em 1826. [Ouro Preto]: s.n., 1826. Biblioteca Nacional (Rio
de Janeiro)
MAPA das coletorias, recebedorias e seus extravios, linhas de correios e suas
ramificações, da Província de Minas Gerais, coordenada pela carta geográfica da mesma
província e documentos obtidos nas respectivas repartições por João R. Duarte,
desenhador copista da Diretoria Geral de Obras Públicas sob a imediata inspeção do Sr.
Engenheiro Aroeira, em junho de 1866. Ouro Preto: Diretoria Geral de Obras Públicas,
[1866]. Escala 1:2.250.000. 63x63 cm. APM.OP.013. MAP 1/9. Env. 1. Doc.2.
NOVO mapa da capitania de Minas Gerais levantado por Guilherme, barão de
Eschwege, tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros. [S.l.: s.n]. 1821. Gabinete de
414
Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (Lisboa).
415
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Belo Horizonte. São
Paulo: Melhoramentos, 1932. Escala 1:100.000. 53x71 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Bocaina. Juiz de Fora:
Hartmann, 1923. Escala 1:100.000. 54x71 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Bomfim. [Belo
Horizonte: Seção de Cartografia da Imprensa Oficial,1930. Escala 1:100.000.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Cambuí. São Paulo:
Melhoramentos, 1930. Escala 1:100.000. 55x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Caparaó. S. Paulo:
Melhoramentos, 1929. Escala 1:100.000. 56x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Carangola. [Paris:
Institut Cartographique de Paris], 1927. Escala 1:100.000. 57x86 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Carrancas. [Paris:
Erhard Frères], 1897. Escala 1:100.000. 56x73 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Cataguazes. [São
Paulo: Melhoramentos], 1926. Escala 1:100.000. 57x75 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Esboço da zona
explorada de 1891 a 1893. Rio de Janeiro: H. Lombaerts, [189-]. Escala 1:500.000.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Extrema. [São Paulo,
Caieiras, Rio de Janeiro]: Melhoramentos, 1929. Escala 1:100.000. 56x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Ibertioga. [Paris:
Erhard Frères], 1895. Escala 1:100.000. 56x73 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Itabirito. [Rio de
Janeiro]: Melhoramentos, 1929. Escala 1:100.000. 54x73 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Itajubá. [São Paulo:
Melhoramentos], 1926. Escala 1:100.000. 72x75 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Itapecerica. Belo
Horizonte: Seção de Cartografia da Imprensa Oficial, 1932. Escala 1:100.000. 56x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Itaúna. Belo
Horizonte: Seção Cartográfica da Imprensa Oficial, 1934. Escala 1:100.000. . 56x73 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Juiz de Fora. São
Paulo: Melhoramentos, 1924. Escala 1:100.000. 64x71 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Laginha. Belo
Horizonte: Seção de Cartografia da Imprensa Oficial, 1931. Escala 1:100.000. 58x74 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Lagoa Dourada.
[Paris]: Institut Cartographique de Paris, 1930. Escala 1:100.000. 55x80 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Lavras. [Paris:
Erhard Frères], 1898. Escala 1:100.000. 55x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Lima Duarte. [Paris:
Erhard Frères], 1899. Escala 1:100.000. 53x57 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Luminárias. [Paris:
Erhard Frères], 1897. Escala 1:100.000. 57x73 cm.
416
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Manhuaçu. São
Paulo: Ipiranga, 1929. Escala 1:100.000. 54x68 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Muriaé. [São Paulo]:
Ipiranga, 1927. Escala 1:100.000. 56x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Oliveira. [São Paulo:
Melhoramentos], 1922. Escala 1:100.000. 55x75 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Ouro Preto. [Rio de
Janeiro]: Melhoramentos, 1928. Escala 1:100.000. 54x76 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Palma. [São Paulo:
Melhoramentos], 1926. Escala 1:100.000. 73x53 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Palmira. [São Paulo]:
Melhoramentos, 1924. Escala 1:100.000. 57x74 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Piranga. [Paris:
Institut Cartographique de Paris], 1930. Escala 1:100.000. 56x85 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Ponte Nova. [São
Paulo, Rio de Janeiro]: Ipiranga, 1928. Escala 1:100.000. 55x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Pouso Alegre. Belo
Horizonte: Seção de Cartografia da Imprensa Oficial, 1933. Escala 1:100.000. 56x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Pouso Alto. [São
Paulo: Melhoramentos], 1923. Escala 1:100.000. 55x74 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Redes de
triangulação. Juiz de Fora: Hartmann, [1921 ou 1922]. Escala 1:850.000.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Remédios. [São Paulo:
Ipiranga], 1926. Escala 1:100.000. 56x75 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Rio Preto. [Paris:
Erhard Frères], 1899. Escala 1:100.000. 56x73 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Santa Rita do
Sapucaí. Belo Horizonte: Seção de Cartografia da Imprensa Oficial, 1933. Escala
1:100.000. 56x71 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. São Tiago. São Paulo:
Melhoramentos, 1929. Escala 1:100.000. 55x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. S. João Del-Rei.
[Paris: Erhard Frères], 1895. Escala 1:100.000. 54x70 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Soledade. [São Paulo:
Melhoramentos], 1923. Escala 1:100.000. 54x69 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Specimem de uma
folha da carta do Estado de Minas. Paris: Calle Denfert-Rochereau, [189-]. Escala
1:100.000. 60,3x70 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Ubá. São Paulo:
Ipiranga, 1927. Escala 1:100.000. 53x72 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DE MINAS GERAIS. Viçosa. [Paris:
Institut Cartographique de Paris], 1930. Escala 1:100.000. 56x85 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Esboço
da zona explorada de 1891 a 1893. Rio de Janeiro: H. Lombaerts: [1893]. Escala
417
1:500.000. 35x52 cm.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Estado
de Minas: H. Gerber. [Zona explorada]. Juiz de Fora: Pedro Biancoville, 1893. Escala
1:6.000.000. In: MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
Relatório apresentado ao Dr. Presidente do Estado de Minas Gerais pelo secretário de
estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Dr. David Moretzhon
Campista no ano de 1894. Anexo B. Relatório da Comissão Geográfica e Geológica de
Minas. Ouro Preto: Imprensa Oficial, 1894.
COMISSÃO GEOGRÁFICA E GEOLÓGICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Redes
de triangulação. Juiz de Fora: Hartmann, [1921]. Escala 1: 850.000.
COMISSÃO MINEIRA DO CENTENÁRIO. Mapa da província de Minas Gerais,
levantada pelo Coronel Barão de Eschwege em 1921, aumentado por Luiz Maria da Silva
Pinto em 1826, mandado copiar e adaptar em 1922 pela Comissão Mineira do Centenário
para confronto com o mapa do centenário. [S. l.: s.n., 1922]. Sem escala.
ESTADO DE MINAS: H. Gerber. [Ouro Preto: s.n., 1893]. Escala: 1: 6.000.000. In:
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Relatório
apresentado ao Dr. Presidente do estado de Minas Gerais pelo Secretário de estado dos
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, dr. David Moretzhon Campista no
ano de 1894. Anexo B. Relatório da Comissão Geográfica e Geológica de Minas. Ouro
Preto: Imprensa Oficial, 1894b.
ESTADO DE MINAS GERAIS. Esboço da Divisão Municipal vigente em 01 de setembro
de 1920 e Cartograma da Respectiva Densidade Demográfica. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial Minas – Lit., 1920.
FOLHA índice do mapeamento topográfico do estado de Massachussets. [18??].
HALFELD, Henrique G. Fernando. Atlas e relatório concernente à exploração do Rio São
Francisco desde a cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlântico, levantado por ordem do
governo de S. M. I., o senhor Dom Pedro II pelo engenheiro civil Henrique Guilherme
Fernando Halfeld em 1852, 1853 e 1854, e mandado litografar na Litografia Imperial de
Eduardo Rensburg. Rio de Janeiro: Eduardo Rensburg, 1860.
KARTE der brasilian provinz Minas Gerais, aufgenommen auf Befehl der
Provinzialregierung in den Jahren 1836-1855, mit Benutzung alterer Karten u. neuerer
Vermessungen u. Beobachtungen, unter specieller Leitung des civil-ingenieurs H. G. F.
Halfeld entworfen u. gezeichnet von Friedrich Wagner. Gotha: Justus Perthes, Lit. Anst.
v. C. Hellfarth, 1862. Escala 1:2.000.000.
LIAIS, Emm. Explorations scientifiques au Brésil: hidrographie du haut San-Francisco
et du Rio das Velhas; résultats au point de vue hydrographique d´un voyage effectué
dans la province de Minas Gerais ; avec la collaboration de MM. Eduardo José de Moraes
et Ladislao de Souza Neto. Paris: Garnier Frères; Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1865.
MAPA da Província de Minas Gerais, levantado pelo Coronel Barão de Eschwege em
1921, aumentado por Luiz Maria da Silva Pinto em 1826, mandado copiar e adaptar em
1922 pela Comissão Mineira do Centenário para Confronto com o Mapa do Centenário.
[S.n.]. Sem escala.
MAPA da Viação Férrea do Estado de Minas Gerais; organizado pela Diretoria da
Viação. S.n: 1916. Escala 1:1. 500.000. In: O VALE do rio Doce. [S.l].: Companhia Vale do
Rio Doce, 2002.
MAPA do Estado de Minas Gerais organizado por ordem da Dir. da Viação, O. Públicas e
Indústria, pelo eng. Benedito José dos Santos, sendo presidente do Estado o Exmo. Sr.
418
Wenceslau Brás Pereira Gomes e secretário das Finanças Dr. Juscelino Barbosa. Rio de
Janeiro: [s.n.], 1910. Escala 1:1.000.000.
MAPA do Estado de Minas Gerais, contendo os do Rio de Janeiro, Espírito Santo e S.
Paulo, organizado por J. Chrockatt de Sá, engenheiro civil, ex-Diretor Geral das Obras
Públicas do mesmo Estado, com a colaboração de Eduardo A. G. Thompson. Rio de
Janeiro: Laemmert, [1893]. Escala 1:1.000.000.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura, Indústria, Terras, Viação e Obras Públicas.
Serviço de Estatística Geral. Carta física e política. [São Paulo: Companhia Litográfica
Ipiranga, 1930]. Escala 1:1.000.000.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Departamento dos Serviços Geográfico e
Geológico. Serviço Geológico. Mapa geológico do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Seção de Cartografia da Imprensa Oficial, 1934. Escala 1:100.000.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Serviço de Estatística Geral. Atlas
corográfico municipal. Belo Horizonte: Imprensa oficial, 1926. 2v.
MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Triangulação até 1931, levantada no Estado
de Minas Gerais pelas Comissões Geográfica e de Limites. Belo Horizonte, 1932. Escala
1:100.000.
PLANTA geral da Estrada de Ferro D. Pedro II e das outras estradas de ferro das
províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais do Império do Brasil. [Rio de
Janeiro]: Ângelo e Robin, 1879. Escala 1:1.000.000. In: COSTA, Antônio Gilberto.
Cartografia da conquista do território das Minas. Belo Horizonte: UFMG; Lisboa: Kapa,
2004. p.132-133.
419
BASTOS, Wilson de Lima. Engenheiro Henrique Halfeld: sua vida, sua obra, sua
descendência. Juiz de Fora: Paraibuna, 1975.
BLACK, Jeremy. Maps and history; constructing images of the past. New Haven,
London: Yale University, 2000.
BLACK, Jeremy. Maps and politics. London: Reaktion Books, 1997.
BLAKE, A. V. A. Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1895.
BOMENY, Helena. Mineiridade dos modernistas; a república dos mineiros. 1991. Tese
(Doutorado em Ciência Política) – IUPERJ, Rio de Janeiro, 1991.
BORGES, Maria Eliza Linhares. Cartografia, poder e imaginário: a produção
cartográfica portuguesa e terras de além-mar. In: SIMAN, Lana M. de Castro;
FONSECA, Thais N. de Lima (Org.). Inaugurando a História e construindo a Nação:
discursos e imagens no ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
BORGES, Maria Eliza Linhares. Viagem através do Brasil: o Atlas do Império do Brazil.
[s.n]: 2004.
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. População e nação no Brasil do século XIX. 1999. Tese
(Doutorado em História Social) - Universidade de São Paulo, São Paulo,1999.
BOURDIEU, Pierre. La spécificité du champs scientifique et les conditions sociales du
progrèss de la raison. Sociologie et Sociétés, v.7, n.1, p.91-118, 1975.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1998.
BOURGUET, M. N., LICOPPE, C., SIBUM, O. Instruments, travel and science:
itineraries of precision from the seventeenth to the twentieth centuries. London:
Routledge, 2002.
BROWN, Lloyd A. The story of maps. New York: Dover, 1979.
BURNETT, D. Graham. Masters of all they surveyed. Chicago: University of Chicago,
2000.
CARDOSO, Vera Alice. Nelson de Senna: idéias e ideais de um republicano conservador.
In: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Memória
política de Minas Gerais: Nelson Coelho de Senna. Belo Horizonte. no prelo.
CARNEIRO, Edilane de Almeida; NEVES, Marta Eloísa Melgaço. Introdução. In:
VEIGA, José Pedro Xavier da. Efemérides mineiras. Belo Horizonte: Centro de Estudos
Históricos Culturais, Fundação João Pinheiro, 1998.
CARON, Rémi. Les choix du cartographe. In: CENTRE GEORGES POMPIDOU. Centre
de Création Industrielle. Cartes et figures de la terre. Paris, 1980. Catalogue de
l'exposition présentée au Centre Georges Pompidou du 24 mai au 17 novembre 1980.
CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de
Janeiro: Campus, 1980.
CARVALHO, José Murilo de. A Escola de Minas de Ouro Preto; o peso da glória. Belo
Horizonte: UFMG, 2002.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CARVALHO, José Murilo de. Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro:
IUPERJ; São Paulo: Vértice, 1988.
420
CARVALHO, Maria Alice Rezende de. O quinto século: André Rebouças e a construção
do Brasil. Rio de Janeiro: Revan: IUPERJ-UCAM, 1998.
CASTRO, Iná Elias de et all (Org.). Geografia: conceito e temas. Rio de Janeiro :
Bertrand Brasil, 1995.
CENTRE GEORGES POMPIDOU. Centre de Création Industrielle. Cartes et figures de
la terre. Paris, 1980. Catalogue de l'exposition présentée au Centre Georges Pompidou
du 24 mai au 17 novembre 1980.
CERTEAU, Michel de. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1982.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel,
[199-].
CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.
COELHO, Edmundo Campos. As profissões imperiais: medicina, engenharia e advocacia
no Rio de Janeiro- 1822-190. Rio de Janeiro: Record, 1999.
CORREA FILHO, Virgílio. Vultos da geografia do Brasil: Álvaro Astolfo da Silveira.
Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, ano 9, n.2, p.115-116, 1947.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Rio de Janeiro: Instituto Rio
Branco, 1971.
CORSI, Pietro. Géologie et pouvoir dans l’ Italie du XIXe siècle. In: CENTRE DES
RECHERCHES EN HISTOIRE DES SCIENCES ET DES TECHNIQUES. Rapport d’
activité du CRHST : du 1er. janvier 2000 au 15 novembre 2002. Disponível em :
<http://www.crhst.cnrs.fr/rapports/rapport_act_umr2139.html>. Acesso em 20 out. 2005.
COSGROVE, Denis. (Org.). Mappings. London: Reaktion Books, 2002.
COSTA, Antônio Gilberto. Cartografia da conquista do território das Minas. Belo
Horizonte: UFMG; Lisboa: Kapa, 2004.
DAMASCENO, Cláudia. Pouvoirs, villes et territoires; genèse et représentations des
espaces urbains dans le Minas Gerais (Brésil), XVIIIe - début du XIXe siècle. 2001.
Thèse (Doctorat en Histoire et Civilisations) - École des Hautes Études en Sciences
Sociales, Paris, 2001.
DE BIAGGI, Enali Maria. La cartographie et les representations du territoire au Brésil.
2000. Thèse (Doctorat en Géographie, Aménegment et Urbanisme) - Université de Paris
III, Institut des Hautes Études de l’ Amérique Latine, Paris, 2000.
DEAN, Warren. A ferro e fogo; a história e a devastação da mata atlântica brasileira.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
DELISSEN, Alain. Géographie romantique: la cartographie illustrée de la France au
XIXème siècle. 1985. Travail de maîtrise - Université de Paris IV, Paris, 1985.
DESROSIÈRES, Alain. La politique des grands nombres. Paris: La Découverte/Poche,
2000.
DIAS, José Luciano de Mattos. Os engenheiros do Brasil. In: GOMES, Ângela de Castro
(Coord.). Engenheiros e economistas; novas elites burocráticas. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1994.
421
DOMINGUES, Heloisa Maria Bertol. Ciência, um caso de política: as relações entre as
ciências naturais e a agricultura no Brasil Império. 1995. Tese (Doutorado em História
Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1995.
DUARTE, Regina Horta. Noites circenses; espetáculos de circo e teatro em Minas Gerais
no século XIX. Campinas: UNICAMP, 1995.
DUTRA, Eliana de Freitas. Rebeldes literários da República; história e identidade
nacional no Almanaque Brasileiro Garnier – 1903-1914. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
EDNEY, Matthew H. Reconsidering enlightenment geography and map making:
reconnaissance, mapping, archive. In: LIVINGSTONE, David N.; WITHERS, Charles W.
J. Geography and enlightenment. Chicago: The University of Chicago, 1999.
EHRENBERG, Ralph E. Mapping and expanding nation. In: SCHWARTZ, Seymor I.;
EHRENBERG, Ralph E. The mapping of America. Edison: Wellfleet, 2001.
FARIA, Maria Auxiliadora. A política da gleba; as classes conservadoras mineiras:
discurso e prática na Primeira República. 1992. Tese (Doutorado em História Social).
Universidade de São Paulo. São Paulo, 1992.
FIGUEIRÔA, Silvia F. M. Modernos bandeirantes; a Comissão Geográfica e Geológica de
São Paulo e a exploração científica do território paulista (1866-1931). 1987. Dissertação
(Mestrado em História) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1987.
FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. As ciências geológicas no Brasil: uma
história social e institucional, 1875-1934. São Paulo: Hucitec, 1997.
FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda Mendonça. Ciência na busca do Eldorado; a
institucionalização das ciências geológicas no Brasil, 1808-1907. 1992. Tese (Doutorado
em História) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.
FOUCAULT, Michel de. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
FREITAS, Marcus Vinícius de. Charles Frederick Hartt, um naturalista no Império de
Pedro II. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
FRITSCH, Winston. 1922: a crise econômica. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.6,
n.11, p.3-8, 1993.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Panorama de
Belo Horizonte; atlas histórico. Belo Horizonte, 1997.
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos Históricos e Culturais. Saneamento
básico em Belo Horizonte: trajetória em 100 anos; os serviços de água e esgoto. Belo
Horizonte, 1996. Fascículo 3: A Comissão Construtora e o Saneamento da Nova Capital.
GARCIA, Rodolfo. História das expedições geográficas no Brasil. In: DICIONÁRIO
histórico, geográfico e etnográfico do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1922. v.
1.
GOMBRICH, E. H. La imagen y el ojo; nuevos estudios sobre la psicología de la
representación pictórica. Madri: Alianza, 1991.
GOMES, Ângela de Castro. História e historiadores. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1996.
GOULD, Peter; BAILLY, Antoine. Le pouvoir des cartes; Brian Harley et la
cartographie. Paris: Antrophus, 1995.
GOULEMOT, Jean Marie. Da leitura como produção de sentido. In: CHARTIER, Roger.
Práticas de leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.
422
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto
Histórico e Geográfico Brasileira e o projeto de uma História Nacional. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, n.1, p.5-27, 1988.
HAMBÚRGUER, Amélia Império et al. (Org.). A ciência nas relações Brasil-França
(1850-1950). São Paulo: Universidade de São Paulo; FAPESP, 1996.
HARLEY, Brian. Cartes, savoir et pouvoir. In: GOULD, Peter; BAILLY, Antoine. Le
pouvoir des cartes. Brian Harley et la cartographie. Paris: Antrophus, 1995.
HARLEY, Brian. Déconstruire la carte. In: GOULD, Peter, BAILLY; Antoine. Le pouvoir
des cartes. Brian Harley et la cartographie. Paris: Antrophus, 1995.
HARLEY, J. B. The new nature of maps; essays on the history of cartography. Baltimore,
London: Johns Hopkins University, 2001.
HARLEY, J. B.; WOODWARD, David (Ed.). The history of cartography; cartography in
prehistoric, ancient and medieval Europe and the Mediterranean. Chicago, London: The
University of Chicago, 1987.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1994.
HARVEY, P. D. A. The history of topographical maps; symbols, pictures and surveys.
London: Thames Hudson, 1980.
HEISER, Alda; VIDEIRA, Antônio Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império
nos trópicos. Rio de Janeiro: Access, 2001.
HOBSBAWN, Eric. Introdução: a invenção das tradições. In: HOBSBAWN, Eric;
RANGER, Terence (Org.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
p.9-23.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Do império à república. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1972. (História Geral da Civilização Brasileira).
IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo imperial mineiro. Rio de Janeiro:
INL, 1958.
IGLÉSIAS, Francisco. Trajetória política do Brasil; 1500-1964. São Paulo: Companhia
das Letras, 1993.
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS APLICADAS. Um século de atividades geocartográficas
em Minas Gerais: a história do IGA. Belo Horizonte: 199-.
JACOB, Christian. Book review of Mapping an empire. Imago Mundi, v.50, p.213-214,
1998.
JACOB, Christian. L´empire des cartes: approche théorique de la cartographie à travers
l`histoire. Paris: Albin Michel, 1992.
JOURDAN, Annie. L´écriture de l´image; représentation politique et révolution. In:
Histoire, images, imaginaries. Actes du colloque international des 21-22-23 mars 1996.
Maine: Université du Maine, 1998.
JOZEAU, Marie-Françoise. La mesure de la Terre au XIXe siècle: nouveaux
instruments, nouvelles méthodes. In: BEAUNE, Jean-Claude (Dir). La mesure;
instruments et philosophes. Mayenne: Champ Vallon, 1994.
KNAUSS, Paulo. Imagem do espaço, imagem da história; a representação espacial da
cidade de Rio de Janeiro. Tempo, Rio de Janeiro, v. 2, n.3, p.135-148, 1997.
KONVITZ, Joseph W. Cartography en France, 1660-1848: science, engineering and
statecraft. Chicago: University of Chicago, 1987.
423
LATOUR, Bruno. Ciência em ação; como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora.
São Paulo: Unesp, 2000.
LABBÉ, Morgane. Compte-rendus. Annales HSS, Paris, v.58, n.1, p.264-265, 2003.
LABBÉ, Morgane. Compte-rendus. Histoire et Mesure, v. 17, n.2/3, 2002.
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora.
São Paulo: Unesp, 2000.
LE GOFF, Jacques. História. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi. Porto: Imprensa Nacional,
Casa da Moeda, 1984. v.1. Memória-História.
LEPETIT, Bernard. Cartographie, topographie, géographie. Comptes rendus. Annales
HSS, Paris, n.4, p.907-909, jul./auôt 1996.
LESSA, Renato. A invenção republicana. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
LICOPPE, Christian. La formation de la pratique scientifique: le discours de l´expérience
en France et en Anglaterre, 1630-1820. Paris: La Découverte, 1996.
LIMA, Margarida Rosa de. D. Pedro II e Gorceix; a fundação da Escola de Minas de Ouro
Preto. São Paulo: Loyola; Ouro Preto: Fundação Gorceix, 1977.
LIMA, Nísia Trindade. Um sertão chamado Brasil; intelectuais e representação
geográfica da identidade nacional. Rio de Janeiro: Revan: IUPERJ-UCAM, 1999.
LINHARES, Maria Yedda (Org.). História geral do Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 1990.
LOPES, Maria Margaret. O local musealizado em nacional – aspectos da cultura das
ciências naturais no século XIX, no Brasil. In: HEIZER, Alda; VIDEIRA, Antônio
Augusto Passos (Org.). Ciência, civilização e império nos trópicos. Rio de Janeiro: Access,
2001.
MACIEL, Laura Antunes. A nação por um fio: caminhos, práticas e imagens da
Comissão Rondon. São Paulo: EDUC, 1998.
MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa no
Brasil (1808-1912). São Paulo: UNESP: Moderna, 1997.
MAPAS: imagens da formação territorial brasileira. Rio de Janeiro: Fundação
Odebrecht, 1993.
MARTINS, Roberto Borges. Tschudi, Halfeld, Wagner e a geografia de Minas Gerais no
século XIX. In: HALFELD, H.G.F., TSCHUDI, J. J. von. A província brasileira de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro; Centro de Estudos Históricos e
Culturais, 1998.
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec; Brasília: INL,
1987.
MELLO-LEITÃO, C. de. História das expedições científicas no Brasil. São Paulo:
Nacional, 1941.
MELO, Ciro Flávio de Castro Bandeira de. Pois tudo é assim...educação, política e
trabalho em Minas Gerais (1889-1907). 1990. Dissertação (Mestrado em História).
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1990.
MENDONÇA, Sônia. O ruralismo brasileiro. 1888-1931. São Paulo: Hucitec, 1997.
MENDONÇA, Sônia Regina de. Agricultura, poder e estado no Brasil: um projeto contra-
hegemônico na Primeira República. In: MENDONÇA, Sônia, MOTTA, Márcia. (Org.).
424
Nação e poder: as dimensões da História. Niterói: Universidade Federal Fluminense,
1998.
A MINERAÇÃO no Brasil e a Companhia Vale do rio Doce. Rio de Janeiro: 1992.
MONTEIRO, Norma de Góes. Dicionário biográfico de Minas Gerais: período
republicano- 1889/1991. Belo Horizonte: Alemg, UFMG/ Centro de Estudos
Mineiros,1994. 2v.
MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e colonização em Minas – 1889-1930. Belo
Horizonte: FAFICH/UFMG, 1971.
MORAES, Antônio Carlos Robert de. Notas sobre identidade nacional e
institucionalização da geografia no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4, n.8,
p.166-176, 1991.
MORAES, Luciano Jacques de. Gorceix, sua vida e sua obra. Revista da Escola de Minas,
Ouro Preto, ano 19, n.2-6, p. IX-XXVI, maio/dez. 1954.
MORAIS, Geraldo Dutra de. Luiz Maria da Silva Pinto, escorço biográfico. Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n.190, p.73-76, jan./mar. 1946.
MORENO, Diego. Une source pour l’ histoire et l’ archéologie des ressources végétales:
les cartes topographiques de la montagne ligure (Italie). In: BOUSQUET-BRESSOLIER,
Catherine. L’ oeil du cartographe et la représentation géographique du Moyen Âge à nos
jours. [Paris]: Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 1995.
MOTA, Marli de Souza. A nação faz cem anos: questão nacional no Centenário da
Independência. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1992.
MOURA, Cristina Patriota de. Rio Branco; a Monarquia e a República. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 2003.
MURARI, Luciana. Brasil, ficção geográfica; ciência e nacionalidade n’Os Sertões. 1995.
Dissertação (Mestrado em História). Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1995.
MURARI, Luciana. Tudo mais é paisagem: representações da natureza na cultura
brasileira. 2002. Tese (Doutorado em História). Universidade de São Paulo, São Paulo,
2002.
NEVES, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro:1986. Relatório de
Pesquisa.PUC/RJ. Departamento de Historia/FINEP.
NORA, Pierre (Dir.). Les lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1997. Quarto 1.
NORDMAN, Daniel. Frontières de France; de l´espace au territoire. Paris: Gallimard,
1998.
OLIVEIRA, Januária Teive; VIDEIRA, Antônio Augusto Passos. As polêmicas entre
Manoel Pereira Reis, Emmanuel Liais e Luis Cruls na passagem do século XIX para o
século XX. Revista da SBHC, ano 1, p.42-52, 2003.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo:
Brasiliense, 1990.
ORY, Pascal. Le centenaire de la Révolution Française. In: NORA, Pierre (Dir.). Les
lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1997. Quarto 1.
ORY, Pascal. L‘ expo universelle. Paris: Complexe, 1989.
OZOUF-MARIGNIER, Marie-Vic. La formation des départements ; la représentation du
territoire français à la fin du XVIIIème siècle. Paris: École des Hautes Études en
425
Sciences Sociales, 1989.
PAIVA, Glycon de. Sentido da obra do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, entre
1920 e 1930. Boletim, Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura, Departamento Nacional
da Produção Mineral, Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, n.100, 1946.
PALSKY, Gilles. Des chiffres et des cartes, naissance et developpement de la
cartographie quantitative française au XIXe siècle. Paris: Comité des Travaux
Historiques et Scientifiques, 1996. (Mémoires de la section de géographie, n.19).
PALSKY, Gilles. Um monde fini, un monde couvert. In: POUTRIN, Isabelle (Dir.) Le
XIXe siècle; science, politique et tradition. Paris: Berger-Levrault, 1995.
PELLETIER, Monique. Les cartes de Cassini, la science au service de l´État e des
regions. Paris: Comité des Travaux Historiques et Scientifiques, 2002.
PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de.
As ciências do Brasil. [Rio de Janeiro]: Melhoramentos, [195-].
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Imagens da nação, do progresso e da tecnologia:
Exposição Universal de Filadélfia de 1876. Anais do Museu Paulista: História e Cultura
Material, São Paulo, v.2, p. 151-168, jan./ dez. 1994.
PESTRE, Dominique. Pour une histoire sociale et culturelle des sciences; nouvelles
définitions, nouveaux objets, nouvelles pratiques. Annales HSS, Paris, n.3, p.487-522,
mai/juin 1995.
RABBITT, Mary C. The United States Geological Survey; 1879-1989. Disponível em:
<http://pubs.usgs.gov/circ/c1050/index.html>. Acesso em: 20 jun. 2003.
RAGGIO, O. Immagini e verità: pratiche sociali, fatti giuridici e tecniche cartografiche.
Quaderni Storici, v.108, ano 36, n.3, p.843-876, 2001.
RAIZ, Erwin. Cartografia geral. Rio de Janeiro: Científica, 1969.
REIS, Maria Ester Saturnino. A cidade “paradigma” e a República: o nascimento do
espaço Belo Horizonte em fins do século XIX. 1994. Dissertação (Mestrado em História) -
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte: 1994.
RESENDE, Maria Efigênia Lage de. Formação da estrutura de dominação em Minas
Gerais: o novo PRM - 1889-1906. Belo Horizonte: UFMG, 1982.
REVEL, Jacques. A invenção da sociedade. Lisboa: Difel, 1989.
RONCAYOLO, Marcel. Le paisage du savant. In: NORA, Pierre (Dir.). Les lieux de
mémoire. Paris: Gallimard, 1997. Quarto 1.
SAFIER, Neil Franklin. Writing the Andes, reading the Amazon: voyages for exploration
and the itineraries of scientific knowledge in the eighteenth century. 2003. Dissertation
(Doctorate of Philosophy) - The Johns Hopkins University, Baltimore, 2003.
SALGUEIRO, Heliana Angotti. Engenheiro Aarão Reis: o progresso como missão. Belo
Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997a.
SALGUEIRO, Heliana Angotti. La Casaque d’ Arlequim; Belo Horizonte, une capitale
éclectique du 19e. siècle. Paris: École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1997b.
SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e
questões raciais no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
SCHWARCZMAN, Simon. Um espaço para a ciência; a formação da comunidade
científica no Brasil. Brasília: MCT/CEE, 2001.
426
SEMINÁRIO DE ESTUDOS MINEIROS, 5., 1982, Belo Horizonte. A República Velha
em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG/PROED, 1982.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão; tensões sociais e criação cultural na
Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1985.
SHORT, John Rennie. Representing the republic; mapping the United States, 1600-1900.
London: Reaktin Books, 2001.
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Republicanismo e federalismo; 1889-1902; um estudo da
implantação da República no Brasil. Brasília: Senado Federal, 1978.
SURUN, Isabelle. Géographies de l´exploration ; la carte, le terrain et le texte (Afrique
occidentale 1780-1880). 2003. Thèse (Doctorat en Histoire). École des Hautes Études en
Sciences Sociales, Paris, 2003.
TAMM, Paulo. João Pinheiro. Belo Horizonte: Livraria Veloso, 1947.
TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da engenharia no Brasil. Rio de Janeiro:
Clavero, 1994. v.2.
THÉPOT, André. Les ingénieurs des mines du XIXème siècle: histoire d´un corps
technique d´État - 1810-1914. Paris: Eska, 1998.
THÉRY, Hervé (Dir.). L’ État et les stratégies du territoire. Paris: Centre National de la
Recherche Scientifique, 1991.
THIESSE, Anne-Marie. Ils apprenaient le France : l’exaltation des régions dans le
discours patriotique. Paris: Maison des Sciences de l´Homme, 1999.
THROWER, Norman J. W. Maps and civilization; cartography in culture and society.
Chicago: Chicago University, 1996.
THROWER, Norman J. W. The triumph of geometry over geography. Mercator’s World,
v.7, n.4, jul./ago. 2002.
TOLMASQUIN, Alfedo Tiommo; BARBOZA, Christina Helena da Motta. Ciência e
tradição; o Observatório Nacional e as resistências à implantação da astrofísica. In:
HAMBURGER, Amélia Império et al. (Org.). A ciência nas relações Brasil-França; 1850-
1950. São Paulo: Edusp/Fapesp, 1996.
TORRES, João Camilo de Oliveira. A formação do federalismo no Brasil. São Paulo: s.n.,
1961.
TOSATTO, Pier Luigi. Orville Derby, o pai da geologia do Brasil. Rio de Janeiro:
CPRM/DNPM, 2001.
TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagens através da América do Sul. Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro. 2v. No prelo. Coleção Mineriana. Série Clássicos.
TUCCI, Ugo. Atlas. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi. Porto: Imprensa Nacional, Casa da
Moeda, 1984. v.1. Memória-História.
VELOSO, Mônica Pimenta. Comê, morá? Descobrimento, comemoração e nacionalidade
nas revistas humorísticas ilustradas. Projeto História: revista do Programa de Estudos
Pós-Graduados em História e do Departamento de Historia da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo, n.20, p. 129-151, abr. 2000.
VIDEIRA, Antônio Augusto Passos. Henrique Morize e o ideal de ciência pura na
República Velha. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2003.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Elites políticas em Minas Gerais na Primeira
República. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.8, n.15, p. 39-56, 1995.
427
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. Estudo crítico. In: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO.
Centro de Estudos Históricos e Culturais. Memória política de Minas Gerais: Raul
Soares. Belo Horizonte. no prelo.
VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O teatro das oligarquias; uma revisão da “política do
café com leite”. Belo Horizonte: C/Arte, 2001.
VOVELLE, Michel. Imagens e imaginário na História. São Paulo: Ática, 1997.
WILFORD, John Noble. The mapmakers; the story of the great pioneers in cartography –
from antiquity to the space age. New York: Vintage Books, 2002.
WIRTH, John. Minas e a Nação: um estudo de poder e dependência regional - 1889-1937.
In: FAUSTO, Boris (Dir.). O Brasil Republicano; estrutura de poder e economia (1899-
1930). São Paulo: Difel, 1977. (Coleção História Geral da Civilização Brasileira, t.3, v.1.)
WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira, 1889-1937. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
WOOD, Denis. The power of maps. London: Routledge, 1992.
428
Quadro I - Enge nhe iros e técnicos das Co missõ es - 1891-1930
Augusto Abreu Lacerda Engenheiro de minas e Escola de Minas 1887 Chefe da Comissão de Exploração 1892
civil
Chefe da CGG
Augusto César de Vasconcellos Engenheiro mecânico Univ. do estado de Primeiro ajudante/Turma de Limites 1895-98
Nova York
Chefe da Comissão de Limites 1902
José Caetano Barcelos de Engenheiro de minas, Escola de Minas Chefe da Seção de Limites 1898/99
Carvalho metalurgia e civil
Nome Profissão Formação Cargos Período
Local Ano
Engenheiro de minas com
Carlos Nunes Rabello regalias de civil Escola de Minas 1893 Geólogo da CGG 1896
Geólogo
Topógrafo 1923
Francisco de Paula Figueiredo Agrimensor Escola de Minas 1895 Ajudante da CGG 1896/99
Brandão
Ajudante da turma de limites 1894
Carlos Lindegren Agrimensor Escola de Minas 1892
Chefe da Seção de Limites 1895-56
Ajudante da Turma de Limites 1894
Luis Felipe de Salles Engenheiro de minas Escola de Minas 1892
Comissão de Limites 1895/96
/agrimensor
Francisco de Paula Cunha Ajudante da CGG 1893
Nicator Phamphiro Engenheiro de minas Escola de Minas 1893 Ajudante CGG 1893-94
Escriturário 1893
Edigar de Castro
Meteorologista 1893
Meteorologista da CGG 1893
Armando de Miranda Lima Engenheiro/ Agrimensor Escola de Minas 1894 Ajudante Turma de Limites
Joaquim de Almeida Lustosa Engenheiro de minas e Escola de Minas 1894 Ajudante de primeira classe/limites 1896
civil
Antônio Pinheiro Campos Agrimensor Escola de Minas 1897
Alfredo Cajado de Lemos Engenheiro Escola de Minas 1895 Ajudante 2ª. Classe/CGG 1896
Alexandre Alfredo Capelache Engenheiro Ajudante de 1ª. Classe/Comissão de 1895/96
de Gusbert Limites
Gabriel Candido de Figueiredo Agrimensor Escola de Minas 1894 Comissão de Limites 1895
Cortes
Julianette de C. Cabral Agrimensor Escola de Minas 1894 Comissão de Limites 1895
Augusto Bagnani Engenheiro Ajudante de 1ª. Classe/limites 1895
Arnoldo Junqueira da Silva Agrimensor Ajudante de 2ª. Classe/limites 1895
João de Freitas Castro Engenheiro Ajudante de 1ª. Classe/limites 1896
Tito Canessa Engenheiro Ajudante/limites 1896
Waldemar Alves Baeta Engenheiro Escola de Minas 1921 Topógrafo 1921
1923
Harold Hermeto C. da Costa Engenheiro Topógrafo 1922/23
Topógrafo 1922
Benedito Quintino dos Santos Engenheiro civil Escola de Engenharia 1916 Triangulador 1923/28
de BH
Chefe da CGG 1931