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Um breve histórico da teoria das “ondas longas” do capitalismo:

Kondratieff, Mandel e Arrighi.


André Koutchin de Almeida
Bacharel em Ciências Econômicas pela UFMS
Mestrando em Agronegócios pela UFMS
E-mail: akoutchin@hotmail.com
Fone: (67) 3331-3970

Ricardo Pereira de Melo


Bacharel em Ciências Econômicas pela UFMS
Doutorando em Filosofia pela UNICAMP
E-mail: ricardo3020@gmail.com
Fone: (67) 3365-8599

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo discutir, brevemente, a história da teoria das
“ondas longas” no capitalismo mundial. Dentro desta proposta de comunicação, analisaremos
as formulações elaboradas a partir do início do século por Kondratieff, passando pelo
economista marxista Ernest Mandel e chegando finalmente à proposição de Giovanni Arrighi.
Após a Segunda Grande Guerra, a economia ficou cada vez mais prisioneira da econometria e
dos modelos de crescimento econômico. Este momento do desenvolvimento capitalista é
marcado pelo período de crescimento de 1948 até 1970, que significou, literalmente, o fim do
interesse pelos ciclos econômicos. Com a crise mundial a partir do final dos anos 1960, os
economistas políticos voltaram suas preocupações para as “ondas longas” do capitalismo,
buscando compreender a trajetória dos padrões de evolução e repetição do sistema. É nesse
contexto que se busca destacar a abordagem dos ciclos sistêmicos de acumulação.

Palavras-chave: desenvolvimento capitalista; ondas longas; ciclos sistêmicos de acumulação.

1. INTRODUÇÃO

Desde o princípio, a formulação da teoria das “ondas longas” tem colocado grandes
controvérsias sobre as hipóteses e posições políticas de vários teóricos. Em geral, as “ondas
longas” são ciclos de desenvolvimento capitalista compostos de fases acentuadas de
prosperidade e estagnação.

O primeiro a discutir, convencionalmente, a teoria das “ondas longas” foi o


economista russo Kondratieff. Pesquisando na década de 1920 as estatísticas de produção
industrial - consumo, preços, juros e salários - da Grã-Bretanha, Estados Unidos e França,
Kondratieff foi o primeiro a registrar esses ciclos longos exatamente no período da maior
crise da economia capitalista.

1
Após a Segunda Grande Guerra, a economia ficou cada vez mais prisioneira da
econometria e dos modelos de crescimento econômico. Este momento do desenvolvimento
capitalista foi marcado pelo período de crescimento de 1948 até 1970, que significou,
literalmente, o fim do interesse pelos ciclos econômicos.

Com a crise mundial a partir do final dos anos 1960, os economistas políticos voltaram
suas preocupações para as “ondas longas” do capitalismo. O principal representante dessa
contribuição pós-guerra é Mandel que, apoiando-se na teoria marxista, descreve a fase de
ascenso e descenso do ciclo industrial iniciada com as inovações que se expandiram logo após
a 2ª Guerra Mundial como, por exemplo, a energia nuclear. Dessa forma, segundo Mandel,
estaríamos vivendo a fase de descenso no capitalismo atual.

Renovando o padrão de abordagens, Arrighi derivou os conceitos teóricos formulados


por Braudel, analisando o comportamento histórico mundial a partir da concentração de poder
e capital numa determinada região do mundo que, de tempos em tempos, passa a exercer sua
influência sobre as demais. Remetendo-se à análise dos ciclos sistêmicos de acumulação,
identificou duas fases distintas: a primeira marcada por um período de prosperidade, calcada
em movimentos de expansão produtiva; e a segunda caracterizada pelo longo declínio do
ciclo, marcada pela fase de expansão financeira.

Portanto, mais do que trazer uma nova formulação ou acrescentar algo novo à teoria
das “ondas longas”, nos limitaremos a discutir a história da teoria e por que ela é importante
na formulação da Economia Política dos Sistemas-Mundo (EPSM), especialmente na
proposição elaborada por Arrighi.

2. ELEMENTOS “ENDÓGENOS” DA TEORIA MANDELIANA DAS “ONDAS


LONGAS”: A LEI DO VALOR E O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO DO CAPITAL

Falar sobre a teoria das “ondas longas” de Mandel é relacioná-la com o intenso papel
militante que este teórico marxista teve nas fileiras do trotskysmo internacional. Sua intensa
atividade militante fez romper com o grupo de 1953 liderados por James Cannon e formar
juntamente com Miguel Pablo a reestruturação da IV Internacional em 1963. 1

1
Mandel era conhecido por sua posição conciliadora com diversos grupos, inclusive revisionistas.
2
Assim, fez oposição também ao stalinismo teórico e aos teóricos mecanicistas
soviéticos. A atividade militante propiciou a Mandel reformular muitas teorias e recolocar a
economia marxista no centro da discussão acadêmica, principalmente no seu aspecto de ciclos
e crises. 2

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os economistas preocuparam-se em formular


teorias que explicassem o crescimento econômico continuado no pós-guerra e deixando a
teoria dos ciclos - ascensão e crise - afastada dos debates acadêmicos. Com a crise continuada
e permanente desde a década de 70, houve um retorno ao estudo do comportamento dos ciclos
econômicos e da tradição inaugurada por Kondradieff das “ondas longas”.

Mandel, sem dúvida, é um dos expoentes desta teoria. Em 1972, ele lança o livro O
capitalismo tardio que coloca no centro do debate o problema das “ondas longas”. Sua
contribuição nesta área é tentar estabelecer uma ligação entre teoria do valor de Marx e os
extensos períodos de contração e expansão do capitalismo. Para isso, Mandel coloca no
epicentro da sua análise o papel da luta de classes na história do capitalismo. Como bem
destaca Katz sobre a importante contribuição de Mandel para a teoria das ondas longas:

O reestabelecimento marxista contemporâneo mais importante do problema


das ondas longas foi realizado por Ernest Mandel. Seu esquema analítico
teve grande impacto, tanto no âmbito acadêmico como no campo político.
Rever a sua interpretação original – comparando-a com outras e corrigindo
as incompreensões freqüentes – possibilita obter um juízo geral sobre a
teoria e separar as pistas falsas das linhas promissoras dessas investigações
(KATZ, 2000, p. 75).

Segundo Mandel, o capitalismo é marcado por momentos de expansão e contração da


atividade econômica que resultam das leis internas do modo de produção capitalista.
Apoiando da teoria do valor de Marx, Mandel afirma que o desenvolvimento cíclico da
economia capitalista é ocasionado pela expansão e contração da produção de mercadorias, e
consequentemente pela produção de mais-valia.

O andamento cíclico da economia capitalista não é fruto do acaso, mas se desenvolve


internamente ao sistema. As “leis internas do modo de produção capitalista é a razão para a
inevitabilidade das oscilações conjunturais do capitalismo” (MANDEL, 1982, p. 75). Assim:

Esse desenvolvimento corresponde, mais precisamente, a uma unidade


dialética de períodos de equilíbrio e períodos de desequilíbrios, cada um

2
“Cada página que escreveu tinha ligação com sua batalha de revolucionário para construir uma sociedade
emancipada da exploração” (KATZ, 2000, p. 96).
3
desses elementos dando origem à sua própria negação...Todas as
características do capitalismo como forma econômica estão presentes nessa
descrição características baseadas em sua tendência inerente a rupturas de
equilíbrio. Essa mesma tendência também se encontra na origem de todas as
leis de movimento do modo de produção capitalista (MANDEL, 1982, p.
17).

Dessa forma, as “ondas longas” para Mandel não são o efeito de elementos de “fora”
do modelo como, por exemplo, revoluções tecnológicas. O problema fundamental para
entender “a curva do desenvolvimento capitalista” se encontra “endogenamente”, ou seja, nas
leis que regulam o processo de acumulação capitalista. “O ciclo econômico consiste, assim,
na aceleração e desaceleração sucessivas da acumulação”.

Mandel tenta fugir de uma explicação “monocausal” dos processos de crises da


acumulação capitalista, atribuindo a vários fatores que explicam os processos de ascensão e
3
depressão do ciclo econômico capitalista. Mas para ele, o sismógrafo da acumulação
capitalista é a taxa de lucros. “O aumento, queda e revitalização da taxa de lucros tanto
correspondem aos movimentos sucessivos da acumulação de capital, como os comandam”
(MANDEL, 1982, p. 76).

Mandel, seguindo a tradição marxista, sugere que o problema das “ondas longas” não
seria um problema estatístico de comprovação. Não menosprezando os dados empíricos, pois
os dados de produção, preços, distribuição e renda são bons indicadores para provar o caráter
cíclico da economia capitalista mas, no entanto, os problemas de comprovação se encontram
na inadequação dos métodos de verificação ao problema específico da teoria marxista da
acumulação de mais-valia.

Esse seria o principal erro cometido pelos teóricos das “ondas longas”, como
Kondradieff4, que apoiaram em dados meramente estatísticos, sem entender as leis internas de
acumulação de mais-valia. Kondradieff apóia-se em séries estatísticas de preços de alimentos
em setores industriais e agrícolas, mas não percebeu, por exemplo, que a dinâmica do
capitalismo funciona apoiada pela lei do valor que é diferente dos preços de produção ou de
sua forma monetária.

Sobre a originalidade da sua teoria, o próprio Mandel afirma:

3
Para uma crítica ao conceito de “causa” na teoria de Mandel, ver Benoit e Antunes (2008).
4
Segundo Vargas, “a Teoria dos Ciclos Longos de Kondratiev abriu espaço para o surgimento de duas correntes:
uma delas centrada na noção de ciclos de preços; e outra que passa a analisar o comportamento cíclico da
economia como um fenômeno expresso em termos reais na produção” (VARGAS, 1995, p. 84).
4
A contribuição específica de nossa própria análise para uma solução do
problema das “ondas longas” consistiu em relacionar as diversas
combinações de fatores que podem influenciar a taxa de lucros... na lógica
interna do processo de acumulação e valorização do capital a longo prazo,
baseado em jatos de renovação radical ou reprodução da tecnologia
produtiva fundamental (MANDEL, 1982, p. 101 – grifos nossos).

Como podemos notar, Mandel dá fundamental importância aos processos de revolução


tecnológica na economia. Durante o movimento ascendente do ciclo, os empresários seguem-
se estimulados a investir. A expansão da acumulação é proporcionada pelo acréscimo de
mais-valia subjacente à reprodução ampliada globalmente.

Baseando-se na reprodução ampliada do capital de Marx, Mandel diz que o momento


inicial da ascensão do ciclo econômico é formado por novas tecnologias e máquinas
modernas. “A renovação do capital fixo implica, assim, renovação a um nível mais alto de
tecnologia” (MANDEL, 1982, p. 77).

A inversão em nova tecnologia eleva-se o componente técnico do capital e eleva


consequentemente, a composição orgânica do capital. O aumento efetivo da composição
orgânica do capital afeta diretamente o parque industrial capitalista e as relações de trabalho.
A reorganização do processo técnico da produção capitalista muda quantitativa e
qualitativamente o processo de produção. “Cada período de inovação técnica radical aparece,
dessa forma, como um período de repentina aceleração da acumulação de capital”
(MANDEL, 1982, p. 79).

Na fase descendente do ciclo, acontecem dificuldades cada vez maiores de valorização


das mercadorias produzidas. Outra conseqüência é o aumento do capital ocioso e o aumento
do montante global de capital que se desloca lentamente para a esfera financeira, acontecendo
um processo de subinvestimento. Assim, a economia apenas entraria numa nova fase de
ascensão novamente no decorrer de vários anos, na qual parte do capital subinvestido possa
5
desenvolver e proporcionar novas tecnologias. Assim, a análise de Mandel “contém uma
interpretação das revoluções tecnológicas baseada no reconhecimento da dinâmica
descontínua do processo de inovação” (KATZ, 2000, p. 75).

O modo de produção capitalista caracteriza-se por uma reprodução social em escala


ampliada, ou seja, através da extração de mais-valia ele a transforma em capital. A

5
Para Altvater: “Vista a partir desta perspectiva, as novas tecnologias não são condições suficientes para uma
nova ‘onda longa, marcada pela expansão. Porém as novas tecnologias são certamente necessárias para a
superação da depressão” (ALTVATER, 1983, p. 25).
5
valorização do capital implica na extração de mais-valia. O capital invertido na produção é lei
geral da acumulação capitalista. A acumulação de capital é o processo social de conversão do
capital em mais-valia e desta em capital, de maneira crescente. A conversão do novo capital
se realiza seguindo a distinção entre capital constante e capital variável. Esse dinamismo do
processo de acumulação, o capital torna-se um valor que, constantemente, se auto-valoriza. A
auto-valorização do capital depende do próprio capital. O sistema encontra-se dentro de si,
“endogenamente”, as características para a própria expansão e contração das “ondas longas”. 6
“Mandel apresenta uma análise das etapas do capitalismo que leva em conta principalmente a
ação da lei do valor no longo prazo” (KATZ, 2000, p. 75).

Com a acumulação de capital, cria-se um modo específico de produção de uma


sociedade. Em outras palavras, o processo de produção e reprodução capitalista produz não
apenas a mercadoria e a mais-valia, mas produz e reproduz a própria relação capital/trabalho.
A expansão do capital significa a expansão do modo de produção, e conseqüentemente a
expansão das mercadorias, trabalhadores e consumidores.

O modelo se explica pela própria dinâmica interna. Mandel não recorre a fatores
“exógenos” para explicar os momentos de contração e expansão do desenvolvimento
capitalista. 7 A dinâmica capitalista deve-se buscar nos processos do interior da indústria e os
modelos “endógenos” de extração de mais-valia.

3. CICLOS SITÊMICOS, ONDAS LONGAS E ESTÁGIOS DO


DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA

Até que ponto as formulações teóricas, passadas e presentes, sobre a dinâmica do


capitalismo têm de ser modificadas, à luz das reorganizações e reestruturações
radicais que vêm ocorrendo nas forças produtivas e nas relações sociais? (HARVEY
apud ARRIGHI, 1996, p. 4).

Com indagações semelhantes às de Harvey, Arrighi sistematizou sua busca por


respostas em uma investigação das tendências atuais à luz de padrões de repetição e evolução

6
Para uma análise desse modelo de interpretação abstrato para situações mais concretas de análises, ver Mandel
(1990).
7
Nos últimos trabalhos de Mandel, ele atribuiu à luta de classe um papel “exógeno” no seu modelo, “o ciclo de
luta de classe”, apesar de não desenvolver sistematicamente esse aspecto da teoria.
6
que abarcam todo o curso do capitalismo histórico como sistema mundial. O resultado desse
estudo foi intitulado O Longo Século XX 8.

O ponto de partida da investigação foi a afirmação de Braudel (apud ARRIGHI,


1996), de que as características essenciais do capitalismo histórico durante toda sua existência
foram a flexibilidade e o ecletismo do capital, e não as formas concretas assumida por este em
diferentes lugares e épocas.

Nesse sentido, Arrighi percebeu que o processo de formação e expansão do modo


capitalista não se deu por uma trajetória linear dentro de estruturas imutáveis e de relações
permanentes. Havia uma dinâmica ao mesmo tempo contínua (a longue durée ou longa
duração) e descontínua (a mudança) com inovações nessas estruturas e relações (ARIENTI;
FILOMENO, 2007, p. 117).

E é exatamente nas mudanças que se encontra uma característica essencial do


capitalismo histórico: sua dinâmica cíclica. Embora se apresente em épocas e locais distintos,
o capitalismo possui uma lógica subjacente e repete essencialmente as mesmas contradições
sistêmicas. Suas formas concretas se alteram, mas seus aspectos fundamentais se reproduzem.

A fórmula geral do capital apresentada por Marx (DMD’) pode ser interpretada como
“retratando não apenas a lógica dos investimentos capitalistas individuais, mas também como
um padrão reiterado do capitalismo histórico como sistema mundial” (ARRIGHI, 1996, p. 6 ).

O aspecto central desse padrão é a alternância de épocas de expansão material (fases


DM de acumulação de capital) com épocas de expansão financeira (fases MD’). Nestas
últimas, quando o capital prescinde de sua forma mercadoria prossegue se reproduzindo na
esfera financeira (como na fórmula abreviada de Marx, DD’). Juntas essas épocas constituem
um completo ciclo sistêmico de acumulação.

Nesse esquema, Arrighi aceita a concepção braudeliana de uma economia mundial


estruturada em três camadas – o da produção material (vida material), o da circulação ou do
mercado (economia de mercado), e o das altas finanças (o “antimercado” ou capitalismo).
Suas análises estão centradas primordialmente na última esfera, onde os lucros se fazem em
larga escala; neste andar, o capital é sistemática e persistentemente dotado da capacidade de
deslocar-se e multiplicar-se.

8
Considerado o trabalho mais importante de Giovanni Arrighi, publicado originalmente em 1994 e traduzido no
Brasil em 1996, pela editora Unesp.
7
Mais especificamente, Braudel concebeu o autêntico capitalismo como a camada
superior dessa estrutura tripartida, na qual, como em todas as hierarquias, as camadas
superiores não poderiam existir sem os estágios inferiores de que dependem (BRAUDEL
apud ARRIGHI, 1996, p. 10).

A noção de ciclos sistêmicos de acumulação é, portanto, uma decorrência da relação


do capitalismo com os outros dois estágios inferiores e vem enfatizá-la. Ou seja, as expansões
financeiras são tomadas como sintomáticas de uma situação em que o investimento da moeda
na expansão do comércio e da produção não mais atende - com tanta eficiência quanto às
negociações financeiras - ao objetivo de aumentar o fluxo monetário que se direciona à
camada capitalista.

Aqui, a idéia de ciclos compostos de fases de mudanças contínuas aternando-se a fases


de mudanças descontínuas está implícita. Ao longo dos períodos de expansão material, a
economia capitalista mundial cresce continuamente por uma única via de desenvolvimento,
enquanto nas fases de expansão financeira o crescimento pela via estabelecida já atingiu ou
está próxima de atingir seus limites. Nesse ponto, economia capitalista mundial se desloca,
através de reestruturações e reorganizações radicais, para outra via.

Ao procurar as tendências de desenvolvimento dessas vias e etapas, Arrighi fez uso da


abordagem do sistema mundial e da perspectiva de longa duração de Wallerstein9. Constatou
que, historicamente, as reestruturações da economia capitalista mundial têm ocorrido sob a
liderança de determinadas comunidades e blocos de agentes governamentais e empresariais.

As estratégias e estruturas mediante as quais esses agentes promovem, organizam e


regulam a expansão ou a reestruturação da economia capitalista mundial são denominadas por
Arrighi (1996) como regime de acumulação em escala mundial. Ao longo do tempo, cada
regime apresentou um comportamento cíclico e o principal objetivo do conceito de ciclos
sistêmicos é descrever a formação, a consolidação e a desintegração dos sucessivos regimes
pelos quais a economia capitalista se expandiu.

A análise demonstra que a concorrência interestatal foi um componente crucial de toda


e qualquer fase de expansão financeira, bem como um fator de vulto na formação dos blocos

9
“Wallerstein estava absolutamente certo ao insistir que a longa duração do capitalismo histórico era o
arcabouço temporal adequado ao tipo de construção que pretendia” (ARRIGHI, 1996, p. XIII).
8
de organizações governamentais e empresariais que conduziram a economia capitalista
mundial por sucessivas fases de expansão material.

Como regra geral, as grandes expansões materiais só ocorreram quando um


novo bloco dominante acumulou poder mundial suficiente para ficar em
condições não apenas de contornar a competição interestatal, ou erguer-se
acima dela, mas também de mantê-la sob controle, garantindo um mínimo de
cooperação entre os Estados (ARRIGHI, 1996, p. 13).

O que impulsionou a vertiginosa expansão da economia mundial capitalista nos


últimos quinhentos anos não foi a concorrência entre Estados como tal, mas essa concorrência
aliada a uma concentração cada vez maior do poder capitalista no sistema mundial como um
todo. Para Arrighi (1996), essa é a transição que precisa ser elucidada: a do poder capitalista
disperso para um poder concentrado. E o aspecto mais importante dessa transição é a fusão
singular do Estado com o capital.

Posto isto, os ciclos sistêmicos de acumulação nada mais são do que períodos de
ascensão e queda de hegemonias políticas e dos respectivos regimes de acumulação e poder
que lhe são subjacentes, intervalados por períodos de transições. Em cada estágio do
capitalismo histórico, uma determinada aliança entre capital e Estado está na liderança da
camada superior da economia mundial (ARIENTI; FILOMENO, 2007, p. 119).

As expansões financeiras ocupam um papel central na abordagem como fator de


impulso das crises hegemônicas anteriores e da transformação dessas crises em colapsos. Esse
movimento expansivo termina por levar ao chamado "caos sistêmico" - com o aumento da
competição interestatal e interempresarial -, à escalada dos conflitos sociais e à emergência de
novas configurações de poder.

O conceito permitiu que Arrighi (1996) propusesse uma periodização do capitalismo


histórico. Os ciclos sistêmicos de acumulação são identificados pelas suas potências
hegemônicas, apresentando uma fase inicial de expansão material-produtiva e outra final de
expansão financeira.

São quatro os ciclos sistêmicos de acumulação e todos duram mais de cem anos (daí a
idéia de “longo século”): um ciclo genovês, do século XV ao início do século XVII; um ciclo
holandês, do fim do século XVI até decorrida a maior parte do século XVIII; um ciclo
britânico, da segunda metade do século XVIII até o inicio do século XX; e um ciclo norte-

9
americano, iniciado no fim do século XIX e que prossegue na atual fase de expansão
financeira.

Os ciclos sistêmicos de acumulação são totalmente diferentes dos ciclos seculares de


Braudel e dos ciclos de Kondratieff. Nas palavras do próprio Arrighi, os ciclos seculares e os
de Kondratieff “são constructos empíricos cuja base teórica é incerta, derivados da observação
das flutuações de longo prazo nos preços das mercadorias” (ARRIGHI, 1996, p. 6).

Kondratieff10 destinou-se a estudar a existência de periodicidade na variação de


indicadores macroeconômicos. Estas variações são caracterizadas como “ondas longas”, uma
vez que se repetem, sistematicamente, no contexto do sistema capitalista. Os ciclos são bem
visíveis na produção e no comércio mundial e estão geograficamente concentrados, embora as
raízes e o impacto sejam globais; cada ciclo introduz progressivas mudanças estruturais na
sociedade.

A conceituação de “ondas longas” revela duas fases de lutas competitivas no sistema


capitalista interempresas: a fase “A”, ou de prosperidade, onde as empresas tendem a tecer
acordos costumeiros que sustentem as relações de complementaridade e cooperação; e a fase
“B”, ou de depressão, na qual as empresas se envolvem em lutas que escancaram as relações de
competição e substituição (ARRIGHI, 1998, p. 22).

Essas relações entre empresas capitalistas estão incrustadas em estruturas hegemônicas


mundiais, isto é, em acordos costumeiros no nível do sistema inter-Estados. Essas estruturas
estão sujeitas a padrões cíclicos, mas esse ciclo do sistema inter-Estados não tem uma relação
simples com os ciclos de competição do sistema interempresas.

Arrighi (1998) afirma que os dois primeiros ciclos de Kondratieff, englobando o período
de 1787 a 1896, consolidaram a hegemonia mundial britânica, tanto do ponto de vista econômico
como do ponto de vista militar. Contudo na fase depressiva, ou fase “B”, do segundo ciclo
(1870-1896), a competição excessiva que caracteriza esses períodos, ao contrário da fase
depressiva do primeiro ciclo que criou o Sistema de Livre-Comércio da Grã-Bretanha, deu
origem não a um único conjunto de acordos interestatais, capazes de garantir a cooperação
mínima interempresas no mercado mundial, mas a uma multiplicidade de acordos contraditórios.

10
O debate sobre as ondas longas refere-se apenas ao capitalismo industrial, com seus dois regimes sistêmicos
de acumulação, liderados respectivamente pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos. Não abrange os dois
regimes anteriores do capitalismo histórico, de caráter comercial (o genovês e o holandês), conforme a
caracterização de Arrighi (1996).
10
Três respostas principais são apontadas: a resposta britânica, ainda apoiada no sistema de
livre-comércio e no controle militar sobre as rotas marítimas; a resposta neomercantilista alemã,
que no plano interno limitou a concorrência interempresas e, no plano externo, praticou uma
política expansionista no sistema inter-Estados; e a resposta americana, que praticou um misto de
protecionismo estatal e integração vertical das empresas. Como conseqüência, as empresas
americanas assumiram a liderança econômica, mas o mesmo não se verificou com o Estado
americano, que permanecia uma potência militar secundária.

Essa disjunção exacerbou o conflito inter-Estados, particularmente entre o livre-


cambismo inglês e o neomercantilismo alemão, sendo que a fase “A” do terceiro Kondratieff
(1896-1914) foi o resultado dos gastos militares associados à escalada desse conflito, e a fase
depressiva (1914-1945) assumiu a forma peculiar de uma competição militar entre os Estados ao
invés de empresas.

Evidentemente, os Estados Unidos saíram do período de guerras ainda mais fortalecidos


sob a ótica econômica e, também, na condição de superpotência militar, recuperando a unidade
entre hegemonia no sistema interempresas e no sistema inter-Estados. Segue-se daí um período
de prosperidade – a fase expansiva do quarto Kondratieff (1945 a 1973) – caracterizada pela
tentativa das empresas dos demais países, particularmente o Japão, de alcançar as vantagens
organizacionais das empresas americanas. Quando isso ocorre, os aspectos competitivos lançam
a economia mundial numa nova fase depressiva (durante as décadas de 1970 e 1980).

Portanto, houve momentos de inflexão entre fases de aceleração e desaceleração do


crescimento nas quatro ondas longas. Foram indicadores como índices de preços e taxa de juros,
entre outros, que levaram Kondratieff a identificar estas ondas na economia.

De acordo com Arrighi (1998), “ondas longas” são primordialmente um reflexo temporal
dos processos competitivos da economia capitalista mundial. A alternância entre pressões
competitivas mais intensas e mais refreadas é o que se entende por longos ciclos de prosperidade
e de depressão. A conceitualização deve, assim, ser expandida a fim de levar em conta
tendências da economia capitalista mundial.

Na verdade, não há consenso na literatura sobre o que indicam flutuações de


preço a longo prazo – quer as do tipo logístico quer as de Kondratieff. Elas
certamente não são indicadores fidedignos das contrações e expansões do
que quer que haja de especificamente capitalista no moderno sistema
mundial. Tudo depende da fonte de onde provém a concorrência que leva os
preços para cima ou para baixo (ARRIGHI, 1996, p. 7).

11
Tampouco, os ciclos de Kondratieff parecem ser fenômenos especificamente
capitalistas. Na síntese de alguns estudos sobre as constatações empíricas e as justificações
teóricas das “ondas longas”, a noção de capitalismo sequer desempenha algum papel:

(...) as ondas longas dos preços e da produção são basicamente ‘explicadas’ pela
severidade do que se chama de ‘guerras das grandes potências’. Quanto ao
capitalismo, a questão de sua emergência e expansão situa-se inteiramente fora do
âmbito de sua investigação (GOLDSTEIN apud ARRIGHI, 1996, p. 7).

Os ciclos sistêmicos de acumulação, ao contrário das “ondas longas”, são fenômenos


intrinsecamente capitalistas. Apontam para uma continuidade fundamental nos processos
mundiais de acumulação de capital nos tempos modernos. Mas também constituem rupturas
fundamentais nas estratégias e estruturas que moldam esse processo ao longo dos séculos.

Tal como algumas conceituações dos ciclos de Kondratieff11, os ciclos sistêmicos de


acumulação destacam a alternância de fases de mudanças contínuas e fases de mudanças
descontínuas. A diferença repousa sobre o desenvolvimento da economia mundial capitalista
como um todo, ao longo de sua existência, e não somente uma determinada indústria ou
economia nacional.

As “ondas longas”, por sua vez, são “constatações empíricas, que expressam a
alternância de períodos mais refreados e mais intensos da competição intercapitalista, mas
nada relacionam com o regime de acumulação organizado pela potencia estatal hegemônica
para orientar o sistema mundial” (ARIENTI; FILOMENO, 2007, p. 119). 12

Dado o contexto, Arrighi (1998) confere importância à disputa entre os Estados. 13 Em


todos os casos que os processos de acumulação em escala mundial, em uma determinada
época, atingiram seus limites, seguiram-se longos períodos de luta interestatal, durante os
quais o Estado que controlava ou passou a controlar as fontes mais abundantes de excedentes
de capital tendeu também a adquirir capacidade organizacional necessária para promover,

11
Nesse sentido, Arrighi (1996) dedica especial atenção ao “modelo de metamorfose” do desenvolvimento
socioeconômico de Mensch.
12
Para Mandel, as “ondas longas” devem ser analisadas a partir da lei do valor de Marx e não somente por
elementos empíricos. Mandel acrescenta à teoria das “ondas longas” de Kondradieff, a teoria materialista da
história desenvolvida por Marx desde a Ideologia Alemã.
13
Mandel (1982) enfatiza que o Estado devia ser explicado pelo presente desenvolvimento do modo de produção
capitalista, ou seja, pela lógica interna do próprio capital, quebrando com a idéia de autonomia relativa. O Estado
deve ser formalmente separado das relações entre burguesia e proletariado, ao mesmo tempo em que é
metamorfose da luta de classes das mesmas. Essa determinada “autonomia relativa” simboliza as concessões de
exigências tanto de uma classe como a de outra. As relações entre o Estado e a sociedade são ocultadas,
sobretudo pela lei do fetichismo da mercadoria, que ocultam o papel classista da superestrutura estatal.
12
organizar e regular uma nova fase de expansão capitalista, de escala e alcance maiores que a
anterior. 14

A conquista dessas aptidões organizacionais resultou, em geral, muito mais das


vantagens de posicionamento, “na configuração espacial cambiante da economia capitalista
mundial”, do que da inovação em si. Aqui, a afirmação de Braudel de que a mudança refletiu
a vitória de uma nova região sobre outra antiga, combinada com uma vasta mudança de
escala, foi mantida (BRAUDEL apud ARRIGHI, 1996, p. 15).

Outro aspecto das mudanças cíclicas a ser observado é que cada uma delas esteve
associada a uma verdadeira revolução organizacional nas estratégias e estruturas do agente
preponderante da expansão capitalista. Essas revoluções têm origem num impasse geral da
acumulação capitalista e definem os estágios sucessivos de desenvolvimento da economia
mundial (ARRIGHI, 1998, p. 44).

A Revolução Industrial tirou a economia mundial do impasse do capitalismo inicial


através da ênfase na especialização da empresa capitalista. Essa especialização, no entanto,
desencadeou um aumento secular das pressões competitivas que as empresas capitalistas do
núcleo orgânico exerceram umas sobre as outras. Com a expansão da Revolução Industrial ao
longo do segundo ciclo de Kondratieff, as pressões foram tão intensas que o próprio
capitalismo foi jogado num impasse.

A Revolução Organizacional tirou a economia mundial do impasse do capitalismo


pleno através da ênfase na integração vertical e na racionalização produtiva. A muito longo
prazo, entretanto, a Revolução Organizacional estreitou as margens de lucro das empresas
capitalistas do núcleo orgânico e as forçou abrir mão de uma parcela crescente de rendas
empresariais e remuneração.

Segundo Arrighi (1998), o novo impasse pode ser designado com um impasse de
superacumulação, no sentido de que a acumulação capitalista no final do século XX começou
a ir longe demais, indicando que o capitalismo mundial orientado pela hegemonia
estadunidense estaria na sua fase de expansão financeira e de declínio do ciclo sistêmico.

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Segundo Tilly, “os estados formam sistemas à proporção que interagem entre si, e na medida em que a sua
interação afeta significativamente o destino de cada parceiro. Os Estados sempre se desenvolveram a partir da
luta pelo controle de território e população, portanto parecem invariavelmente em aglomerados e costumam
formar sistemas” (TILLY, 1996, p. 57).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de ciclos sistêmicos de acumulação permite a compreensão da trajetória do


capitalismo ao longo dos séculos, abordando as transições de determinados regimes de
acumulação comandados por uma hegemonia “entre Estado e empresas”, que rivaliza e
contesta a hegemonia anterior.

Essa reconstrução da história capitalista, assim como a teoria das “ondas longas” e
suas posteriores derivações, apresentam seu próprio limite. A noção de ciclo sistêmico de
acumulação deriva diretamente da idéia braudeliana do capitalismo como a camada superior
da hierarquia mundial (“antimercado”). A construção analítica se concentra, assim, nessa
camada superior e fornece uma visão limitada do que se passa nas camadas intermediária e
inferior.

Entretanto, à medida que avança acaba por refletir uma lógica estrutural. Torna-se
possível entender os padrões recorrentes de expansão e declínio de um regime, marcados
respectivamente pelas formas produtiva e financeira do capital. Através disso, sinaliza que a
expansão capitalista apresentou uma trajetória cíclica de alterações qualitativas nos regimes
de acumulação e, por conseqüência, em seus agentes envolvidos. Somente consideradas todas
estas dimensões é possível compreender mais claramente os estágios de desenvolvimento do
capitalismo.

Estamos no momento descendente das “ondas longas” de Mandel e no ciclo


ascendente da expansão financeira de Arrighi. A “grande transformação” na qual espera o
capitalismo deve ser acompanhada com os maiores detalhes, permitindo uma análise da luta
de classes dentro do Estado nacional e ao mesmo tempo estudando as relações de classe entre
os Estados.

A crise está estruturalmente presente ao modo de produção capitalista e que ele é


indispensável pela retomada do processo de acumulação do capital. Geralmente, essas
passagens cíclicas de superprodução são momentos politicamente turbulentos por isso são
necessários os aparelhos de repressão física na qual o Estado tem o monopólio. Assim, o
consenso de classe entre a burguesia e os militares é indispensável para a reprodução social do
sistema.

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A crise econômica e a crise do Estado capitalista na década de 70 possibilitaram a ver
a distorção dos arranjos internacionais. O Estado, entendido como o palco da luta de classes,
iniciou um processo contraditório: de um lado acumulação e do outro a legitimação. As
guerras, como ressalta Tilly, devem ser uma constante dentro das relações internacionais.
Doses de coerção e acumulação devem mostrar a forma do Estado capitalista neste século
XXI. “(As) grandes guerras... assemelha-se, economicamente, aos inventos que marcam
época.” (BARAN; SWEEZY, 1978).

REFERÊNCIAS

ALTVATER, Elmar. O capitalismo em vias de recuperação? Sobre teorias da “onda longa” e


dos “estágios”. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 3, n. 2, 1983.

ANTUNES, Jadir; BENOIT, Hector. A exposição dialética do conceito de crise em O Capital.


Revista Mais Valia, ano II, n. 2, 2008.

ARIENTI, Wagner Leal; FILOMENO, Felipe Amin. Economia Política do moderno sistema
mundial: as contribuições de Wallerstein, Braudel e Arrighi. Ensaios FEE, v. 8, n. 1, 2007.

ARRIGHI, Giovanni. A ilusão do desenvolvimento. 4ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1996.

BARAN, Paul; SWEEZY, Paul. Capitalismo monopolista: ensaio sobre a ordem econômica
e social americana. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

KATZ, Cláudio. Ernest Mandel e a teoria das ondas longas. Revista SEP, Rio de Janeiro, n.
7, 2000.

MANDEL, Ernest. A crise do capital: os fatos e sua interpretação marxista. Campinas:


UNICAMP, 1990.

MANDEL, Ernest. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

TILLY, Charles. Coerção, Capital e Estados Europeus. São Paulo: EDUNESP, 1996.

VARGAS, Marco Antonio. Inovação tecnológica e ciclos longos. Revista CEPE, Santa Cruz
do Sul, n. 2, 1995.

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