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Criação e Manejo de Quelônios no

Amazonas
(Projeto diagnóstico da criação de animais silvestres no e stado do
Amazonas)

Editor
Paulo César Machado Andrade - M.Sc.
Laboratório de Animais Silvestres - Ufam
Coordenador do Projeto Pé-de-Pincha

Apoio: Programa Trópico Úmido/CNPq

Publicação:
Catalogação na Fonte
Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

C967 Criação e manejo de quelônios no Amazonas. / Paulo César Machado,


organizador. – Manaus: Ibama, ProVárzea, 2007.
513 p. : il. color.; cm.

Bibliografia
ISBN

1. Quelônios. 2. Tartaruga. 3. Manejo. 4. Criadouro. I. Andrade, Paulo


César Machado. II. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis. III. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea.
V. Projeto Pé-de-Pincha. VI. Título.
CDU(2.ed.)639

Criação e Manejo de Quelônios no


Amazonas.Projeto Diagnóstico da Criação de
Animais Silvestres no Estado do Amazonas.2007. I
Seminário de Criação e Manejo de Quelônios da
Amazônia Ocidental. Ed. Pa ulo César Machado
Andrade. 2ªEdição. ProVárzea/FAPEAM/SDS.
Manaus/AM. 447 p. Palavras-chave: Quelônios;
Tartaruga; Criação Podocnemis

ii
ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº -
Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. (92) 3613-3083 /
6246 / 6754. Fax. (092) 3237-5616. Site:
www.ibama.gov.br/provarzea

iii
“Dona lebre só queria correr o dia inteiro,
porém, dona Tartaruga andando chegou primeiro!” PARDI, M. C., SANTOS, I. F. dos ; SOUZA, E. R. ; PARDI, H. S. Ciência,
Higiene e Tecnologia da Carne. 2ed. Goiânia: CEGRAF/UFG, v.1, 2001.
(La Fontaine)
POUGH, F. H., HEISER, J. B., Mc FARLAND, W. N. A vida dos
vertebrados. 2.ed. – São Paulo: Atheneu, 1999.

KIRK, R. W. Atualização terapêutica na veterinária. São Paulo: Manole,


1984.

LUZ, V. L. F. Avaliação do crescimento e morfometria do trato digestivo


de Podocnemis expansa (Tartaruga-da-Amazônia) criada em sistema de
cativeiro em Goiás . Goiânia, 2001 . Disserta ção (Mestrado) - Escola de
Medicina Veterinária da Universidade de Federal de Goiás.

LUZ, V. L. F. ; REIS, I. J. Manual técnico: criação comercial de tartaruga e


tracajá. Goiânia: RAN/Ibama, 2002.
Aos meus pais, Manuel e Regina, OGAWA, M.; MAIA, E. L. Manual da pesca. São Paulo: Varela, v. 1, 1999.
Por todo o incentivo, sempre!
OLIVEIRA, M. O. Abate e comercialização de animais silvestres. Viçosa:
CPT, 1999. 58 p.
À Ediana e ao Gustavo por todo amor e paciência!
QUINTANILHA, L. C. Enfermidades infecciosas em quelônios aquáticos e
principais fatores de sua instalação em criadores comerciais. Goiânia:
Ao Rosinaldo da Costa Machado, RAN/Ibama, 1997.
Professor do Centro Agropecuário, UFPA e
QUINTANILHA, L. C. Parâmetros zootécnicos do abate industrial da
Manuelino Bentes, “Seo” Mocinho Lobo, pelo exemplo de tartaruga-da-amazônia ( Podocnemis expansa ) criada em cativeiro .
vida Brasília, 2003. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Agronomia e Medicina
Veterinária da Universidade de Brasília.
(in memorian)
SENAI/DN. Elementos de apoio para o Sistema APPCC . Brasília: Projeto
APPCC. Convênio CNI/SENAI/SERAE 1999. 371 p. (Série Qualidade e
Segurança Alimentar)

SZYFRES, B. ; ACHA, P. N. Zoonosis y Enfermidades transmisibles


comunes al hombre y a los animales. 3ed. Washington, D.C.: OPS, 2001.
TEIXEIRA, R. D.; BORGES, G. F.; COSTA JUNIOR, G. A. Informativo
técnico: técnicas de abate de rãs, como perspectivas de um melhor
aproveitamento higiênico-sanitário dos produtos obtidos. Brasília:
Delegacia Federal de Agricultura do Distrito Federal. 1987.

iv 537
Agradecimentos
Ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama, pelo
_____. Lei n° 7.889 de 23/11/89. Dispõe sobre a inspeção industrial e
sanitária de produtos de origem animal. Brasília-DF, 1989. reconhecimento ao Programa Pé-de-Pincha como iniciativa promissora para as várzeas
amazônicas e por tornar real o sonho desta publicação.
_____. Portaria nº 368 de 04/09/97. Regulamento técnico sobre as
condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para Ao Governo do Amazonas, que através da Fapeam e da Secretaria de Meio
estabelecimento elaboradores/industrializadores de alimentos.
Brasília-DF, 1997. Ambiente e Desenvolvimento Sustentável apoiaram a realização do I Seminário de Criação e
Manejo de Quelônios daAmazônia Ocidental, em 2004, que deu origem a este livro.
_____. Portaria nº 46 de 10/02/98. Manual genérico para APPCC em
indústrias de produtos de origem animal. Brasília-DF, 1998. Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de
_____. Portaria nº 210 de 10/11/98. Regulamento técnico da inspeção Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à
tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves. Brasília-DF, 1998. Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e
_____. Portaria nº 711 de 01/11/95. Normas técnicas de instalações e logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento
equipamentos para abate e industrialização de suínos. Brasília-DF,
1995. da importância estratégica da fauna para a região amazônica.
Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela
_____. Padronização de técnicas, instalações e equipamentos para o
abate de bovinos. trajetória de luta.
_____. Instrução Normativa nº 03 de 17/01/00. Regulamento técnico de Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló,
métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas
açougue. Brasília-DF, 2000.
horas mais difíceis.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 142 de 30 de dezembro
de 1992. Normatiza a criação em cativeiro das espécies de quelônios Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos
Podocenmis expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas.
tracajá, com finalidade comercial, partindo de filhotes, nas áreas de
distribuição geográfica. Brasília-DF, 1993. Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando
_____. Portaria nº 070 de 23 de agosto de 1996. Normatiza a “milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto com a nossa equipe.
comercialização de produtos das espécies de quelônios Podocenmis
expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, tracajá,
Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários
provenientes de criadouros comerciais regulamentados pelo IBAMA. de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara,
Brasília-DF, 1996.
Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis,
DORNELLES, A. M. G.; QUINTANILHA, L. C. Abate experimental de
tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa). In: CONGRESSO LATINO-
Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e
AMERICANO DE HIGIENISTAS DE ALIMENTOS, 2003. Belo Horizonte. 1., Vickson).
2003. Anais… Belo Horizonte: CRMV-MG, p.57-58.
À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa
GASPAR, A.; RANGEL FILHO, F. B. Utilização de carne de tartarugas da
Amazonia (Podocnemis expansa), criadas em cativeiro, para consumo loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em três meses.
humano. Revista Higiene Alimentar, v.15, p. 73-78, 2001.
Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos
JAY, J. M. Modern food microbiology. 4ed. New York: Van Nostrand
Reinhold, 1992. problemáticos computadores desta edição.

Aos meus pais, familiares e, sobretudo, à Deus!

536 v
Sumário
VOGT, R. VI meeting of the project to manage and project Amazonian River
Introdução........................................................................ 1 turtles. Tortoises & Turtles, Newlestter of the IUCN tortoise and
Capítulo 1: Manejo comunitário de quelônios – a Freshwater Turtle Specialist Group, v. 5, 1990. p. 18-20.
parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha........................ 12
Capítulo 2: Revisão sobre as características das
principais espécies de quelônios aquáticos Capítulo 13:
amazônicos..................................................................... 24
Capítulo 3: Áreas de reprodução de quelônios
protegidas pelo RAN-Ibama/Amazonas e Ufam................. 55 CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia. In:
Capítulo 4: Ecologia de quelônios pelomedusídeos NASCIMENTO, L. B.; BERNARDES, A. T.; COTTA, G. A. (Ed.). Herpetologia
na Reserva Biológica do Abufari......................................129 no Brasil. Belo Horizonte: PUC-MG: Fundação Biodiversitas: Fundação
Ezequiel Dias, 1994. p. 25-34.
Capítulo 5: Genética molecular das populações das
espécies de quelônios do gênero Podocnemis na IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia 10 anos. Brasília, 1989. 119 p.
Amazônia: resultados preliminares................................. 176
Capítulo 6: Fisiologia e bioquímica de quelônios e IBAMA; UFAM. Relatório final 98-2000 do projeto “Diagnóstico da
criação de animais silvestres no estado do Amazonas”. Manaus: Ibama:
suas implicações para o manejo e a criação em
CNPq, 2001.
cativeiro......................................................................... 196
Capítulo 7: Instalações para a criação de quelônios....... 227 MARTIN, N. B. et al. Custos e retornos na piscicultura em São Paulo.
Capítulo 8: Alimentação e nutrição de quelônios Informações Econômicas, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 9-47, 1995.
aquáticos amazônicos (Podocnemis spp.)........................ 265
MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U.; RODRIGUES, F. M. Criação de tambaqui
Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da- (Colossoma macropomum) em viveiros de argila/barragens no estado
amazônia (P.expansa) e tracajá (P. unifilis) em do Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2001. 30 p.
cativeiro, alimentados com dietas artificiais em (Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos, 18).
diferentes instalações..................................................... 295
MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U; Andrade, P. C. M; SILVA, A. V; HOSSAINE-
Capítulo 10: Manejo em criações de quelônios LIMA, M. G. Criação de Tartaruga da Amazônia (Podocnemis expansa).
aquáticos no Amazonas: adubação, densidade de Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2003. 14 p. (Embrapa Amazônia
cultivo, desempenho de diferentes espécies, Ocidental. Documentos, 26).
populações e sexo.......................................................... 338
SCORVO FILHO, J. D.; MARTIN, N. B.; AYROZA, L. M. S. Piscicultura em
Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação e São Paulo: custos e retornos de diferentes sistemas de produção na safra
sanidade....................................................................... 378 1996/1997. Informações Econômicas, v. 28, n. 3, p. 41-60, 1998.
Capítulo 12: Caracterização socioeconômica e
ambiental da criação de quelônios no estado do
Amazonas e comercialização...........................................421 Capítulo 14:
Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia (P.
expansa): alternativa ecológica, técnica e econômica
ao agronegócio amazônico.............................................. 451
BRASIL. Ministério da Agricultura, Secretaria Nacional de Defesa
Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-da- Agropecuária. Lei n° 30.691 de 29/03/52 Regulamento da inspeção
amazônia (P. expansa) criada em cativeiro..................... 463 industrial e sanitária de produtos de origem animal e seus
Referências bibliográficas........................................... 502 ingredientes. Brasília-DF, 1997.

vi 535
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001 - Introdução
Sistema de gestão ambiental. Especificações e diretrizes de uso. 1996.
19 p.

BRASIL. Lei n. 5.197/6, de 03 de jan. de 1967 de Proteção à Fauna. Diário


Oficial. Brasília, 21 jan.1967. O homem da Amazônia sempre aproveitou os recursos da
COSTA, F. S. et al. Efeito do tipo de instalação, densidade e níveis de fauna como alimento ou fonte de subprodutos (peles, penas, óleos,
energia na ração sobre desenvolvimento de tartarugas (Podocnemis expansa etc.) para a venda. A proibição da caça, em 1967, não extinguiu
e Podocnemis unifilis ) criados em cativeiro no Estado do Amazonas. In :
CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE essa atividade, mas a reduziu drasticamente, retirando uma das
EM AMAZONIA E LATINO AMERICA, 4., 1999. Anais... Assuncion, 1999. p.
9-102. fontes de renda dos ribeirinhos.

FACHIN-TERAN, A. Ecologia de Podocnemis sextuberculata (Testudines, Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado do
Pelomedusidae) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável,
Amazônia, Brasil . Manaus , 1999. 189 p. Tese (Doutorado em Ecologia) – Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios de
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Universidade do Amazonas,
(INPA/FUA).
água doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à
capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas
GOLTERMAN, H. L.; CLYMO, R. S.; OHNSTAD , M. A. M. Methods for
Physical and Chemical Analysis of Fre shwaters. London: IBP Handbook, (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás
Blackweel Sci. Public., n. 8, 1978. 214 p.
(Podocnemis sextuberculata) para serem abatidos. Em 1792,
IBAMA. Portaria n. 142/92 – Ibama, set. 1992. Diário Oficial , 21 jan. segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade (1988), registra-
1993.
se em apenas um ano o abate de 24 milhões de tartarugas na cidade
IBAMA. Diretrizes aplicada ao planejamento e gestão ambiental.
Brasília, 1992(b). 101 p. da Barra do Rio Negro, a futura Manaós. A primeira proibição surge
em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo
KUBTZA, F. Quali dade da água na produção de peixes. Parte II. Panorama
da aqüicultura, v. 8, n. 48, p. 35-41, 1998. o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº
LUZ, V. I. F; REIS, I. S; CANTARELLI, V. H. S; QUITARILHA, L. C. A. A 54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba,
criação de quelônios como alternativa de uso racional dos Recursos Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga,
Naturais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE ANIMAIS
SILVESTRES DE LA AMAZONIA. La Paz, dez.1997. p. 125 começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e
MACEDO, S. K. Metodologia para a sustentabilidade ambiental. Análise 1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelas
ambiental estratégias e ações. Rio Claro , São Paulo: Centro de Estudos
ruas. No Mercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma
Ambientais – Unesp, 1995. p. 77-102.
área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que,
SOINI, P. Biologia y manejo de la tortuga Podocnemis expansa
(Testudines, Pelomedusidae) Tratado de Cooperação Técnica. Caracas: posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras
Secretaria Pro Tempore, 1997. 48 p.
áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de
UNIÃO INTERNACIONAL PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ( UICN). quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988)
Red list of treatened animais. 1998. 36 p.

534
. Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios,
PAIXÃO. L .; TATCHER, V. E. Dados preliminares sobre a fauna
em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria parasitológica de Podocnemis sp. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ZOOLOGIA. 11., 1984. Pará, p.307-8.
proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa
medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a PEZZUTI, J. C. B. Ecologia reprodutiva de iaçá, Podocnemis
sextuberculata (Testudines, Pelomedusidae), na Reserva de
comercialização de produtos de animais silvestres constava Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil . Manaus ,
inclusive na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da 1997.

Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas SOINI, P. Ecología reproductiva de la taricaya (Podocnemis unifilis) en el rio
adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de Pacaya, Perú. Folia Amazônica, v. 6, p. 105-124, 1995.

Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00. TERAN, A. F.; ACOSTA, A.; VILCHEZ, I. Tortugas Podocnemis mantidas em
Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará, cativeiro ao redor de Iquitos, Loreto -Peru. Boletím de Li ma, v. 84, p. 79 -
88, 1992.
trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D.; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G .
problemas entre a coletoria do estado e a Delegacia local. Reproducion da la Taricaya Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en
cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei nº 5.197 de 1967, o comércio de MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2.,
07/05-12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana
quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado clandestino y la University of Florida. Iquitos, Perú.
vem tornando-se cada vez mais forte e organizado. Essa mesma lei já
THORBJARNARSON, J. B; PEREZ, N .; ESCALONA, T. Nesting of
previa em seu artigo 6º, item b, a “construção de criadouros Podocnemis unifilis in the Capanaparo River, Venez uela. Journal of
destinados à criação de animais silvestres para fins econômicos e Herpetology, v. 27, p. 347-351, 1993.

industriais”. Em 1969, saiu a primeira portaria tentando normatizar TRATADO DE COOPERACION AMAZONICA. Biologia y manejo de la
esse novo tipo de empreendimento, a Portaria nº 1.136/1969. Em tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997.

1973, com a Portaria nº 1.265P, ficava autorizada na Amazônia a VOGT, R. C.; BULL, J. Ecology of hat chling Sex ratio in map turtles.
Ecology, v. 65, n. 2, p. 65-74, 1984.
implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros grandes
projetos de criação de quelônios da Amazônia começou na verdade
em 1964, sendo, posteriormente, acompanhado pelo extinto Capítulo 12:
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Foi o do
ACOSTA, J. Protección e manejo de la tortuga charapa en la Amazonia
Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes de tartaruga oriundos do rio Equatoriana. In: CAMPOS-ROZO, C.; ULLOA, A.; RUBIO, H. (Ed.). Manejo
Trombetas eram de fauna em comunidades rurales. Bogotá: Fundación Natura, 1996. p.
119-131.

ALFINITO, J. A tartaruga verdadeira do Amazonas - sua criação. Faculdade


de Ciências Agrárias do Pará. Informativo Técnico , Belém, v. 5 , p. 1 -32,
1980.
1

Manuel Andrade, Gerente de Operações da A. Raposo e Cia. – Distribuidora de ASSAYAG, S. Análise dos sistemas de gestão ambiental da Zona de
combustível no Baixo Amazonas, no período de 1960 a 1975. Informação pessoal. Manaus. Manaus , 1999. 92 p. Dissertação ( Curso de Pós em Ciências
Ambientais) – Universidade do Amazonas.

2 533
criados até atingirem 8 kg com, aproximadamente, 6 anos de idade, quando eram
Capítulo 11: comercializados. O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que, segundo
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F. da. Instituto Brasileiro de relatos, recebeu em um único lote 100.000 tartaruguinhas.
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980.
No estado do Amazonas, as atividades do Projeto Quelônios da Amazônia
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F da. Berçário de tartarugas.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1976. tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco (afluente do rio Negro) e em
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Influência da temperatura de Codajás, sendo que em 1977 foram criados oficialmente vários tabuleiros no Purus
incubação na determinação do sexo da tartaruga-da-amazônia (Axioma, Santa Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é
(Podocnemis expansa) (Testudinata, Pelomedusidae). 1984.
Pai, Pão, Pupunha, Manariã; e em Itamarati: Walter Buri, Marimari, Iracema, etc.).
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Sincronia entre o regime de vazante do
rio e o comportamento de nidificação da tartaruga da Amazônia Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos do trabalho de conservação
(Podocnemis expansa - Testudinata -Pelomedusidae). Acta Amazônica, executado por grandes seringalistas daquela região. O Instituto Brasileiro de
Manaus, v. 12, n. 2, p. 323-26, 1982.
Desenvolvimento Florestal (IBDF), com apoio dos proprietários locais e da
ALHO, C. J. R.; CARVALHO, A. G. de ; PÁDUA, L. F. M. de. Ecologia da
Tartaruga da Amazônia e avaliação do seu manejo na Reserva Biológica do experiência das comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve
Trombetas. Brasil Florestal, n. 38, p. 29-47, 1979. produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá (RAN-AM,
ANDRADE, P. C. M.; LIMA, A. C.; CANTO, S. L. O. et al. Proj eto “Pé -de- 2001).
pincha”: Manejo Sustentável de quelônios ( Podocnemis sp.) no baixo
Amazonas. Extensão Universitária, Coleção Socializando Experiências, Em 1989, a proteção passou a ser realizada apenas nos tabuleiros do Abufari (rio Purus)
Universidade de Mogi das Cruzes/Olho D’água, São Paulo, v. 3, p. 1 -14,
2004. e em Walter Buri (rio Juruá), sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em
108.319 filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção passam a se
CENAQUA. Informativo da Associa ção Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia .
Goiânia, jun. 1994. concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se encontra o tabuleiro/praia de
maior produção de quelônios no Amazonas), em Walter Buri e na Reserva Extrativista
CHELONIA. Problemas enfrentados na criação de tartarugas . Goiânia, n.
4, jun.1994 do Médio Juruá (maior área produtora de quelônios do estado). A produção da praia do
FERRARINI, S. A. Quelônios: animais em extinção. Manaus, 1980. Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em 1994, caindo para
170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada de filhotes de tartaruga em Abufari
FOWLER, M. E. Zoo & Wild animal medicine . 2 ed. Denver, C olorado,
USA: W. B. Saunders Company, 1986. p. 109-186. foi de 260.000 animais. A Resex do Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros
remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal
IBAMA. Projetos quelônios da Amazônia 10 Anos. Brasília, 1989.
Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã,Ati
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.

MURPHY, J. B.; COLLINS, J. T. A rewiem of the diseases and treatments


of captive turtles. 1983. 56 p.

PÁDUA, L. F. M.; ALHO, C. J. R . Comportamento de Nidificação da


Tartaruga da Amazônia. Brasil Florestal, jan./fev./mar. 1982.

532 3
(comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari (comunidade
expansa e P. erythrocephala ) nos Municípios de Terra Santa e Oriximiná -
do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é estimada em 250.000 PA e Nhamundá e Parintins - AM - "Projeto Pé -de-Pincha". Revista de
Extensão da Universidade do Amazonas . PROEXT/FUA, Manaus/AM , v.
filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá. Desde 2001, o Ibama tem trabalhado em 73 áreas 2, n. único, p. 1-25, 2001.
diferentes, em oito calhas de rio (Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã, CENAQUA. Info rmativo da Associação Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia .
Amazonas, Nhamundá e Trombetas), com uma produção média anual de 1.500.000 Goiânia, jun.1994.

filhotes de quelônios (Andrade, 2002). COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações,
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e
P. sextuberculata ) em cativeiro. Manaus, 1999. 123 p.
A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é extremamente Monografia/UFAM.
elevada no estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá são as espécies mais
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e
procuradas para a criação comercial. A criação de quelônios depende da retirada de estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e
P. unifilis ) no estado do Amazonas . Manaus, 1998. 106 p. Monografia
milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor, /UFAM.
de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica do Abufari, sendo que a retirada anual de FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatura; fator limitante à criação de
tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia ,
filhotes carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente
1994. p. 4.
estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação sobre os
HERNÁNDEZ, O.; NARBAIZA, I.; ESPIN, R. Logros de FUDECI durante
estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e densidade, área de vida, uso cinco anos (1994 -1999) de cria em cautiverio de neonatos d e tortuga arrau
(Podocnemis expansa ). In: TALLER SOBRE LA CONSERVACIÓN DE LA
de habitats, taxas de sobrevivência de filhotes em diferentes estágios de vida ESPECIE TORTUGA EN VENEZUELA. Caracas, 1999. 10 p.
(filhotes, jovens, subadultos e matrizes). Hoje, os principais fornecedores de MAGNUSSON, W. E.; MARIANO, J. S. O papel da fauna nativa no
filhotes para os criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio desenvolvimento da agropecuária na Amazônia. 1993.

Juruá, monitorado pelo Posto de Eirunepé, e Sororoca e Toró, no rio Branco/RR. MOLINA, F. B.; RO CHA, M. B. Identificação, caracterização e
distribuição dos quelônios da Amazônia brasileira . Belém/PA: Centro
Nacional dos Quelônios da Amazônia. 1996. 24 p. Apostila.
No estado do Amazonas existem aproximadamente 196 projetos de
criação comercial de animais silvestres, em análise, junto ao Ibama- NAVARRO, V. A. R.; DIAS, A. A. Densidad y Crescimento en Crias de
taricayas, Podocnemis unifilis , (Chelonia:Pelomedusidae) en Cautiveiro,
AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros em Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE
FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 3., 03/12-
Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%; Itacoatiara, 21,7%; 07/12/1997. Anais... Santa Cruz de La Sierra – Bolívia.

Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; São SEBRAE. Criação de quelônios em cat iveiro. Manaus : Programa de
informação. 1995. 62 p.
Gabriel da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999).
Destes, 88,46% são criatórios de tartaruga. O estado é o que possui o SILVA NETO, P. B. Abate de tartarugas -da-amazônia. Relatório. São
Paulo: Pró -Fauna Assessoria e Comércio L tda. Convênio Empresa Pró -
maior número de criatórios Fauan e Cenaqua-Ibama, 1998. 48 p.

SCHÜLTE, R . Zoocriadero de La Herpet ofauna: Su Problematica. In:


MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN LA AMAZONIA. 1990.

4 531
comerciais de quelônios do país, com uma demanda crescente
VANZOLINI, P. E.; GOMES, N. A note on the biometry and reproduction of
Podocnemis sextuberculata (Testudines, Pelomedusidae). Papéis Avulsos de passando de 11 criadouros registrados, em 1997, para 33 criadouros
Zoologia, v. 32, n. 23, p. 227-290, 1979. em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados. Ao final de
VALLE. Preservação da tartaruga da Amazônia; contribuição do estado da 2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais em cativeiro
tartaruga amazônica. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE FAUNA (Andrade et al., 2003).
SILVESTRE E PESCA FLUVIAL E LACUSTRE AMAZÔNICA. Manaus.
Monografia sobre fauna terrestre. Amazonas. Instituo Interamericano de
Ciências Agrícolas da OEA. 1973. v. 2, p. 66-88.
Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são,
freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo
VERÍSSIMO, J. A. A pesca da tartaruga. A pesca na Amazônia .
Universidade Federal do Pará. Coleção Amazônica, 1970. p. 41-59. o Amazonas, tendo como principal ponto de comercialização (90%),
Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com
VIANNA, V. O. Uso de dietas artificiais no desenvolvimento inicial de
tracajá (Podocnemis unifilis), tigre d’água ( Trachemys dorbignyi), teiú 52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda
(Tupinambis merianae ) e jacaré -de-apo-amarelo ( Caiman latirostris ) representa 22% do total de animais silvestres comercializados para
em cativeiro . Jaboticabal, SP, 1999. Dissertação (Mestrado) – Centro de
Aqüicultura, UNESP. alimentação. Os municípios onde ocorre o maior número de
VOGT, R. C.; BULL, J. J. Temperature controlled Sex determination in
apreensões são Manaus (59%), Tefé (12%), Manacapuru (7%) e
turtles: Ecological and behaviord. E.U.A. Herpetologica, v. 38, n. 1, p. Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de
156-64, 1982.
apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas
VOGT. R. C.; CANTARELLI, V. H.; CARVALHO, A. G. Reproduc tion of the do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%)
cabeçudo, Peltocephalus dumerilianus, in the Biological reseve of Rio
Trombetas, Pará, Brazil. Chelonian Conservation and Biology , v. 1, n. 2 , são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes,
p. 145-148. 1994. onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preços
WEBB, G. J. W.; SMITH, A. M. A. Sex ratio and survivorship in the de venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (Canto et
australian freshw ater crocodile Crocodilus johnstoni. Symp. Zool. Soc. al., 1999).
London, v. 52, p. 319-355, 1984.

WOOD, R. C. Two new species of Chelus (Testudines:Pleurodira) from the O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito arraigado
late tertiary of northern south America. Breviora, Mus. Comp. Zool. na população local, o que tem levado à caça e comercialização ilegal
Harvard Univ., v. 435, p. 1-26, 1976.
de ovos e de animais adultos. A criação comercial, permitida pela
ZHAN, X. A.; Xu-Zi, R.; QIAN, L. C. Muscle and fat quality of Chinese soft - Portaria nº 142/92, ainda não consegue atender o mercado e seus
shelled turtle. Journal of Zhejiang University Agriculture and Life
Sciences, v. 26, p. 457-460. preços, ainda são elevados. A demanda por filhotes para criação,
também é grande e o Ibama não está conseguindo atender a todos
que querem criar, pois não possui um número suficiente de
Capítulo 10:
tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e 1999). O esvaziamento
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Influência da temperatura de do meio rural e a falta de incentivos para a agricultura levaram a um
incubação na determinação do sexo da tartaruga-da-amazônia
(Podocnemis expansa) (Testudinata, Pelomedusidae). 1984. quadro em que os que sobreviviam no interior passaram a trabalhar
ANDRADE, P. C. M.; LIMA, A. C.; SILVA, R. G.; DUARTE, J. A. M. et al. quase que exclusivamente como
Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis unifilis, P. sextuberculata, P.

530 5
vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como
pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a SCHWARZKOPF, L.; BROOKS, J. R. Nest -site selection and offspring Sex
subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela ratio in painted turtles, Chrysemys picta. Copeia, v. 7, n. 1, p. 55-61, 1987.

exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Manaus : Programa de
castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradas informação, 1995. 62 p.

de maneira predatória e irracional (Smith & Pinedo, 2002). SILVA NETO, P. B. Abate de tartarugas -da-amazônia. Relatório. São
Paulo: Pró -Fauna Assessoria e Com ércio L tda, Convênio Empresa Pró -
Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de Fauan e Cenaqua-Ibama. 1998. 48 p.
quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas
SILVA, T. J. Genética da conservação de Podocnemis sextuberculata
comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em (Testudines, P elomedusidae) utilizando região controle de DNA
Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram mitocondrial. 2002.

protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por SLINGER, S. J. Effect of pelleting and crumbling methods on the nutritional
associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, a values of feeds. In: EFFECT OF PROCESSING ON THE NUTRITIONAL
VALUE OF FEEDS. Gainesville. Proceedings... Gainesville: Limerick, 1972.
Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o RAN/Ibama-AM, com p. 48-66. 1972.
o apoio das comunidades de Parintins, Nhamundá, Barreirinha,
SMITH, N. J. H. Quelônios aquáticos da Amazônia: um recurso ameaçado.
Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq, Acta Amazônica Manaus, v. 9, n. 1, p. 87-97, 1979.
Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm
SOUZA FILHO, J.; SCHAPPO, C. L.; TAMASSIA, S. T. S. Custo de produção
realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as de peixe de água doce . Florianópolis: Ed. Rev., Instituto CEPA/SC/
Epagri, 2003. 40 p.
seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de
Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes); SPENCER, R. J. Growth patterns of two widely dis tributed freshwater
turtles and a comparison of common methods used to estimate age
Capacitação de 49 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em Australian Journal of Zoology, v. 50, n. 5, p. 477-490, 2002.
Educação Ambiental para 385 professores; Construção de
STEFFENS, W. Princípios fundamentales de la alimentación de los
cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5. peces. Zaragoza, España: Ed. Acribia, SA. 1987. 275 p.
Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606
STORER, T. Classe Reptilia; Répteis. In: Zoologia Geral. 6 ed. São Paulo :
participantes) sobre meio ambiente e alternativas de Nacional, 1991. p. 642 -66. (Tradução : Claudio Gilberto Fraehlich, Diva
desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação Diniz Correa e Erika Schlens)

caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, STRINGHINI, J. H.; ANDRADE, M. L.; ROCHA, P. T. Recentes avanços na
manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de nutrição de frangos de corte. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE
CIÊNCIAS AVIÁRIAS , 6., 2000. Uberlândia. Anais... Uberlândia:
campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, e visita Universidade Federal de Uberlândia, p. 66-100.
a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias,
SEBRAE, T. I et al. Criação de quelônios em cativeiro. Manaus: Programa
envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400 de Informação, 1995. 62 p.
pessoas nas 78 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em
TERAN, A. F. Alimentação de cinco espécies de quelônios em Costa
1999-2000, foram Marques; Rondônia, Brasil. 1998. Tese (Doutorado) – INPA.

6 529
PISTONE, M. M. A. Morfologia Interna das espécies Podocnemis transferidos 1.847 ninhos, 38.229 ovos e soltos 29.476 filhotes na
expansa e P. unifilis. Rondônia, 1995. natureza (Andrade et al., 2001). O número total de filhotes
PORTAL, R. R.; LIMA, M. A. S.; LUZ, V. L. F.; BATAUS, Y. S. L. REIS, I. J. devolvidos à natureza de 1999 a 2006 chega a 629.183 em sete
Espécies vegetais utilizadas na alimentação de Podocnemis unifilis na região
do Paracuúba – Amapá. Rev. Ciência Animal Brasileira, 2002.
anos. Através deste programa de conservação de recursos naturais
e extensão, denominado “Pé-de-Pincha”, o Ibama e a Ufam
POUGH, F. H .; HEISER, J . B. ; McFARLAND, W . N. Ectotermos
terrestres; Tartarugas. In: A vida dos vertebrados . São Paulo : Atheneu, conscientizaram e capacitaram essas comunidades do Médio-Baixo
1993. p. 387-406. Amazonas para o manejo racional de quelônios.
PRITCHARD, P. C. H. Side - neck turtles; Genus Podocnemis. In:
Encyclopédia of turtles . Estados Unidos da América : T. F. H. , 1979. p. Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para
750-58. o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga (Podocnemis
PRITCHARD, P. C. H. ; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela. Soc. Stud. expansa), o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) têm
Amphib. Rept., p. 33-43, 1984. ampla distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa
QUINTANILHA, L. C. ; LUZ, V. L. ; CANTARELLI, V. H. ; SÁ, V. A, BONACH, real de proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da
K. Influência do Percentual de Proteína Bruta Sobre de Filhotes o
Crescimento de P. expansa em Cativeiro. In: CONGRESSO Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja
INTERNACIONAL DE MANEJO DE FAUNA AMAZÔNICA . 3., 1997. Santa desenvolvido um programa de manejo para evitar uma
Cruz, Bolívia.
superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da
QUINTANILHA, L. C. Parâmetros Zootécnicos do Abate Industrial da população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem ser
Tartaruga-da-amazônia ( Podocnemis expansa) criada em cativeiro .
Brasília, 2003. 60 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Agronomia e estimados através do estudo de dinâmica de populações. A
Medicina Veterinária, Universidade de Brasília.
avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com
RAN. Atividades da área de criação em cativeiro no exercício de 2001 . parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem
Relatório. Goiânia: Ibama, Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
Anfíbios. 2001. 23 p. como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da
REIS, I. J. Criação em cativeiro : cresce interesse pela criação e
exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003;
comercialização de quelônios. Chelonia. Goiânia: Cenaqua, Área técnica de Bataus, 1998).
criação em cativeiro, 1997. p. 4.
A criação de quelônios em cativeiros licenciados poderá, de certa forma,
RHEN, T.; LANG, J. W. Phenotypic plasticity for growth in the common
snapping turtle: effects of incubation temperature, clutch, and their amenizar a situação desses animais quanto à pressão de caça e à
interaction. The American Naturalist, v. 146, n. 5, p. 726-747, 1995. extinção. Através da Portaria nº 142/92 do Instituto Brasileiro do Meio
RODRIGUES, R. M. Quelônios. In: A fauna da Amazônia . Belém, Pará : Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que normatiza
CEJUP, 1992. p. 209-14. a criação comercial da tartaruga-da-amazônia e do tracajá, em
SÁ, M. V. C.; FRACALOSSI, D. M. Exigência Protéica e Relação cativeiro, o Governo brasileiro pretendeu proporcionar ao consumidor
Energia/Proteína para Alevinos de Piracanjuba ( Brycon orbignyanus). Rev.
de produtos da fauna, a oportunidade de conseguir o animal para
Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 1, Viçosa, jan./fev., 2001.
consumo, de forma legal, contribuindo para a
SANTOS, A. A. Estratégias para o uso sustentável dos recursos
pesqueiros da Amazônia. Rio de Janeiro, 1995. p. 18-19.

528 7
conservação e a preservação de ambas as espécies e para a
MOLINA, F. B.; ROCHA, M. B. Identificação, caracterização e
diminuição da caça predatória, oferecendo uma nova alternativa distribuição dos quelônios da Amazônia brasileira . Belém: Centro
Nacional dos Quelônios da Amazônia, 1996. 24 p. Apostila.
comercial para os produtores rurais locais (Duarte, 1998).
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.
Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e
MUGGIATI, A. A carne de tartaruga volta ao cardápio. Folha de São Paulo.
qualitativamente” uma forma de concorrência desleal para a 6 cad. Agrofolha. p. 1. 1996.

queloniocultura amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento NOGUEIRA NETO, P. Classe Reptilia , ordem Chelonia. In: A criação de
animais indígenas vertebrados. São Paulo: Tecnopis. P., 1973
da oferta de produtos oriundos de criadouros licenciados de
NOMURA, H. Criação e biologia de quelônios. São Paulo. In: Criação e
animais silvestres diminua a pressão de caça sobre os estoques biologia de animais aquáticos. São Paulo: Nobel, 1977. p. 71-101.
naturais, cujo manejo natural será um fator importante para
NUANGSAENG, B.; BOONYARATAPALIN, M. Protein requirement of juvenile
manter a conservação das espécies de elevado valor econômico. soft-shelled turtle Trionyx sinensis Wiegmann Aquaculture Research ,
Suppl. 1, v. 32, p. 106-111, 2001.
Apesar da importância estratégica dessa atividade, até OJASTI, J. Consideraciones Sobre la Ecologia Y Conservacion de la Tortuga
meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido Podocnemis expansa (Chelonia :Pelomedusidae) In: Atas do Simpósio
Sobre a Biota Amazônica, CNPq, v. 7, p. 201-206, 1967.
realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para
OJASTI, J. Um plateamento para la conservacion de la tortuga del Orinoco.
tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem Escola de biologia, Universidad Central de Venezuela. Agricultor
venezuelano, n. 228, p. 32-7, 1993.
pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de
OLIVEIRA, P. H. G. Manejo de quelônios em cativeiro no Estado do
crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade da Amazonas. Manaus/AM: UFAM, 2000.
criação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva,
OJASTI, J. Um plateamento para la conservacion de la tortuga del O rinoco.
1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações, Escola de biologia, Universidad Central de Venezuela. Agricultor
venezuelano, n. 228, p. 32-7, 1993.
possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido
ORR, R . T. Biologia de los vertebrados . 2 ed. México : Centro Regional de
disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público. Ayuda Técnica , 1970. 42 p. (Tradução: Dr. Fernando Calchero
Arrubarrena)
Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente expressivas
PAIXÃO. L .; TATCHER, V. E. Dados preliminares sobre a fauna
e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a tartaruga parasitológica de Podocnemis sp. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ZOOLOGIA. 11., Pará, 1984. p. 307-8.
(Podocnemis expansa) e o tracajá (P. unifilis). Para estimular a criação
desses animais em cativeiro, o antigo Centro Nacional dos Quelônios da PARMENTER R. R. Digestive turnover rates in freshTemperature relations
of young snap ping turtles, water turtles: the influence of temperature and
Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro de Conservação e Manejo de body size. Comp. Biochem. Physiol., 70A, p. 235-238, 1981.

Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos Experimentais de Tecnologia de PEZZUTI, J. C. P.; VOGT, R. C. Nest site selection and causes of mortality
of Podocnemis sextuberculata, Amazonas, Brazil. Chelonian Conservation
Criação de Quelônios. No Amazonas, esses núcleos não foram criados e and Biolog, v. 3, n. 3, 1999.
os queloniocultores pioneiros não tiveram

8 527
LIMA, F. F. Criação de peixes e quelônios; cria e recria em lago natural . assistência técnica adequada, baseando suas criações no
Série V, n. 3, 1967. conhecimento empírico individual e em algumas informações
LIMA, M. G. H. S. A importância das proteínas de origem vegetal e repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998).
animal no primeiro ano de vida da Tartaruga da Amazônia (Podocnemis
expansa). Manaus/AM, 1998. Dissertação (Mestrado em Ciência de Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e
Alimentos) - UFAM & INPA.
tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de
LIMA, A. C. Caracterização socioeconômica e ambiental da criação de
quelônios no Estado do Amazonas . Manaus/AM, 2000. Dissertação determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir
(Mestrado) - Centro de Ciências do Ambiente/UFAM.
desse quadro, diagnosticado, propor formas de manejo para garantir
LOREN U. W.; JAMES, R. S.; EDWARD, A. S. Selected Temperature and melhores desempenhos desses animais em cativeiro.
CTM of Young Snapping turtles, Chelydra S erpentina. Department of
Biology, State University College of New York at Buffalo, 1300 Elmwood
Avenue, Buffalo, NY 14222 and Savannah Rive r Ecology Laboratory,
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama
Drawer E, Aiken, SC 29801, U.S.A. 1989. iniciaram em 1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia e Manejo
LOVELL, T. Nutrition and feeding of fish . New York: Van Nostrand de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o
Reinhold, 1989. p. 11-18.
Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do
LUZ, V. L. F.; Reis, I. J.; CANTARELLI, V. H, QUINTANILHA, L. C. A Criação Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através
de Quelônios em Cativeiro C omo Alternativa de Utilização Sustentável dos
Recursos Naturais no Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE. Santa Cruz de la Sierra. Bolívia, 1997.
passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição,
LUZ, V. L. F.; STRINGHINI, J. H.; BATAUS, Y. S. L.; PAULA, W. S. de;
NOVAIS, M. N.; REIS, I. J. dos. Morfometria do trato digestório da
genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva,
tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em sistema comercial. biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre os
Rev. Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 1, Viçosa, jan/fev, 2003.
criatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores
MAGNUSSON, W. E. ; MARIANO, J. S. O papel da fauna nativa no
desenvolvimento da Agropecuária Amazônia. In: SIMPÓSIO DO TRÓPICO passaram a prestar assistência técnica repassando,
ÚMIDO, Belém, 1984. Anais... Embrapa – CPATU, V. b, p. 37-42. simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam
MAIORKA, A. Efeito da forma física e do nível de energia da ração sobre realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do
o desempenho, a composição de carcaça, a utilização e a rete nção da
energia líquida de frangos de corte, machos, dos 21 aos 42 dias de grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura
idade, 1997 . Porto Alegre, 1998. 108f. Dissertação (Mestrado em
Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
muito grande por implantação de projetos individuais e
comunitários, cursos e material bibliográfico.
MARCON, J. L.; BATISTA, G. S.; MONTEIRO, L. B. B.; COSTA, C. A. P.;
DUNCAN, W. P. Diagnóstico do estado geral de saúde de Podocnemis
expansa criada em cativeiro no Estado do Amazonas. In: Amazônia 500 A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos, aprovar
anos – 7ª reunião especial da SBPC. Manaus, AM. 2001. projetos na área de criação e manejo de animais silvestres, que
MARCON, J. L.; DUNCAN, W. P.; FILHO, D. W.; SILVA, M. P.; KOH ATA, S. totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e aplicada,
H.; SILVA, M. G.; ARAÚJO, S. M. S.; FARIAS, M. S.; ARAÚJO, J. P. R.
Fisiologia e bioquímica comparada de quelônios do gênero Podocnemis sendo que a
em diferentes etapas do desenvolvimento. 2002.

526 9
Ufam destinou recursos de capital e custeio de mais de R$ 61.533,10
como contrapartida para o projeto “Diagnóstico.../PTU” e para recursos naturales renovables . Bogota, colômbia: Divisão de Parques
Nacionales Y Vida Silvestre. 1972. p. 38.
projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o Projeto de Extensão “Pé-de-
FACHIN-TERAN, A. , VOGT, R. C., GOMES, S. F. Food habitats of na
Pincha”, além da concessão de bolsas institucionais de iniciação assemblage of live species of turtles in the rio Guaporé, Rondônia, Brazil. J.
científica e de extensão, totalizando R$ 58.560,00. As principais Herpetology, Ology, S/1, v. 29, n. 4, p. 536-547, 1995.

unidades de pesquisa com criação de animais silvestres são a FERRARINI, S. A. Quelônios; animais em extinção. Manaus, 1980. 68 p.
Fazenda Experimental da Universidade, com criatórios comerciais FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatu ra; fator limitante à criação de
de quelônios e capivaras, e científicos, de caititus, queixadas, pacas, tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia,
1994. p. 4.
cutias e jabutis, e o Centro Experimental de Criação de Animais
FRAIR, W. Turtle red blood cell packed volumes, sizes and numbers.
Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do Ibama-AM. Além desses, Herpetologica, v. 33, p. 167-190, 1977.
completam as unidades de pesquisa os laboratórios de criação de
FRAIR, W. Blood biochemistry a nd relations among Podocnemis turtles
animais silvestres, de zoologia, de parasitologia e de genética. O (Pleurodira, Pelomedusidae). Comp. Biochem. Physiol ., 61B , p. 139-143,
1978.
campus avançado de Parintins é a base logística para os trabalhos
com manejo participativo de quelônios, por comunidades no Baixo GARSCHAGEN, D. M. Tartaruga. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro : Ed.
Atlas, 1995. v. 14, p. 474-76,
Amazonas e oeste do Pará.
GASPAR, A. ; RANGEL-FILHO, F. B. Utilizaç ão de carne de tartarugas da
Essas informações demonstraram a importância estratégica que a Amazônia (Podocnemis expansa ), criadas em cativeiro, para consumo
humano. Higiene Alimentar, v. 15, n. 89, p. 73-78, 2001.
Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do Ibama-
GATTEN JUNIOR, R. E. Aerobic metabolism in snapping turtles, Chelydra
AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais serpentina after hermal acclimatio n. Comp. Biochem. Physiol. , 61A, p.
silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados pode-se 325-337, 1978.

dizer que hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo GEORGES, A. Female turtles from hot nests: is the duration of the
development of proportion of development that matters. Oecologia, v. 81,
para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras, p. 323-328, 1989.
pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação;
IHERING, R . Von. Tartaruga. In: Dicionário de animais do Brasil . São
alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes Paulo: Universidade de Brasília, 1968. p. 676-78.
populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia. Brasília, 1989. 119 p.
criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época de
IBAMA. Portaria n. 142. Diário Oficial da União. Brasília, 1992. p.41-59.
abate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras
JACKSON, D. R. Reproductive strategies of sympa tric fre7shwater emydid
informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais turtles in northern peninsular Florida. Bull. Florida State Mus. Biol. Sci. ,
silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a v. 33, n. 3, p. 113-158, 1988.

ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos KEPENIS V.; McMANUS, J. J. Bioenergetics of young painted turtles,
Chrysemys picta. Comp. Biochem. Physiol., 48A, p. 309-317, 1974.
criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e
uma conseqüente melhoria nas técnicas de criação.

10 525
os resultados foram amplamente divulgados na mídia e em
BURGER, J. Effects of incubation temperature on th e behavior of young congressos locais, nacionais e internacionais, através de periódicos,
black racers ( Coluber constrictor ), and kingsnakes ( Lampropeltis getulus ).
Journal of Herpetology, v. 24, p. 158-163, 1990. fôlderes e, finalmente, em cartilhas.
BURGER, J. Effects of incubation themperature on behavior of hatchling Este livro serviu de base de discussões durante o I Seminário
pine snakes: implications for reptilian d istribution. Behavior Ecology and de criação e manejo de quelônios da Amazônia ocidental, realizado
Sociobiology, v. 28, p. 297-303, 1991.
em Manaus, em 2004, pela Ufam, Ibama e Secretaria Estadual de
CAMARGO, R .; FONSECA, H .; PRADO FILHO, L. G.; ANDRADE, M. O.
CANTARELLI, P. R.; OLIVEIRA, A. J.; GRANER, M.; CARUSO, J. G. B.; Desenvolvimento Sustentável (SDS). Com o apoio do
NOGUERIA, J. N.; LIMA, U. A. ; MOREIRA, L. S. Tecnologia dos produtos ProVárzea/Ibama, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de
agropecuários: alimentos. São Paulo: Nobel, 1984. 297 p.
material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor
CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia. In:
Herpetologia no Brasil, PUC/MG . Fundação Biodiversitas: Fundação primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, que
Esequiel Dias, 1994. p. 25-34. desejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e
CENTRO NACIONAL DOS Q UELÔNIOS DA AMAZÔNIA. Núcleo manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que
Experimental de tecnologia de criação de quelônios na Amazônia em
cativeiro na UHE. Balbina/AM: Ibama, 1992. n. 9. são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os
queloniocultores do Amazonas, nos últimos nove anos.
CENTRO NACIONAL DOS QUELÔNIOS DA AMAZÔNIA. Relatório de
atividades da área de criação em cativeiro, no exercício de 2000 .
Goiânia: Ibama, Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia, 2000. 20 p.

CHELONIA. Problemas enfrentados na criação de tartarugas . Goiânia, n.


4, jun.1994.

CHETVERIKOV, S. S. On ertain features of the evolutionary process from


the viewpoint of modern genetics. J. Exp. Biol., v. 2, p. 3-54,1926.

CHETVERIKOV, S. S. Uber die genetische Beschaffenheit wilder population.


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proteína bruta na ração para quelônios em cativeiro . Anais da Jornada
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ESPRIELLA, R. D de la . Manual para la expotacion tecnica de la
tartaruga “charapa” em zoocriaderos. Instituto de desarrollo de los

524 11
Capítulo 1 TRATADO DE COOPERACION AMAZONICA. Biologia y manejo de la
tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997.
Manejo comunitário de quelônios VIANNA, V. O. Uso de dietas artificiais no desenvolvimento inicial de
A parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha tracajá (Podocnemis unifilis), tigre d’água ( Trachemys dorbignyi), teiú
(Tupinambis merianae ) e jacaré -de-apo-amarelo ( Caiman latirostris )
em cativeiro . Jaboticabal, SP, 1999. Dissertação (Mestrado) – Centro de
Marcelo Derzi Vidal Aqüicultura, UNESP.
Tiago Viana da Costa

A várzea Capítulo 9:

ALFINITO, J. A. A tartaruga verdadeira do Amazonas e sua criação .


A várzea é um dos ecossistemas mais ricos da bacia Belém: Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, 1980.
amazônica em termos de produtividade biológica, biodiversidade e ALHO, C. J. R. Uso potencial da fauna silvestre através de seu manejo.
recursos naturais. Meio de vida para mais de 1,5 milhão de Belém, 1986. 68 p.
ribeirinhos, a várzea ocupa 300 mil km2, ao longo da calha dos rios ALHO, C. J. R. ; CARVALHO, A. G. Ecologia da tartaruga da Amazônia e
Amazonas/Solimões e seus principais tributários, tamanho avaliação de seu manejo na Reserva Biológica do Trombetas. Brasil
Florestal, n. 38, p. 29-47, 1979.
equivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal (Santos, 2004).
Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia, ALHO, C. J. R .; PÁDUA, L. F. M. Sincronia entre o regime de vazante do rio
e o comportamento de nidificação da tartaruga da Amazônia ( Podocnemis
abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo e outro expansa) (Testudinata , Pelomedusidae). Acta Amazônica. Manaus, 12, n.
número expressivo de anfíbios, répteis, aves e mamíferos que 2, 1982.
interagem em um complexo e exuberante, porém frágil, ecossistema. ALHO, C. J. R. Uso potencial da fauna silvestre através de seu manejo. In: I
Apesar de sua capacidade produtiva e resiliência natural, o atual SIMPÓSIO DO TRÓPICO ÚMIDO . 1., 1986. Anais... Belém, Pará. Centro de
modelo humano de utilização dos recursos naturais está levando Pesquisa Agroflorestal do Trópico Úmido, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. p. 359-68, v. 2. 1986.
à degradação progressiva de suas áreas. Entre as principais
causas desse processo podemos destacar (a) a gestão ineficiente; ANDRADE, M. Pratos, lendas, estórias e superstições de alguns peixes
do Amazonas. Manaus: Ed. Governo do Estado, 1988. 593 p.
(b) a falta de políticas específicas para promover o
desenvolvimento sustentável em seu ambiente – crédito, BATAUS, Y. S. L. Estimativa de parâmetros populacionais de
Podocnemis expansa no rio Crixás -açu (GO) a partir dos dados
desenvolvimento tecnológico, infra-estrutura e regularização biométricos. Goiania, 1998. Dissertação (Mestrado em Biologia) - UFG.
fundiária; (c)
BEST, R. C.; SOUZA, V. S. Nutrição e crescimento em tartarugas jovens da
Amazônia (P. expansa). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA . 11.,
1984. Pará, p. 304-5.

Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – BORGES, A. M. Noções de piscicultura – a criação de peixes - Internet:
marcelo.vidal@ibama.gov.br mderzi@bol.com.br guia do usuário. São Paulo: Atlas, 1992.
BRAGA, L. G. T.; LIMA, S. L. Influência da Temperatura Ambiente no
Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – Desempenho da Rã-Touro, Rana catesbeiana (Shaw, 1802) na Fase de
tvianadacosta@yahoo.com.br Recria. Rev. Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 6, nov./dez. Viçosa, 2001.

12 523
a escassez de sistemas efetivos de manejo dos recursos naturais; (d)
PÁDUA, L. F. M.; ALHO, C. J. R. Avaliação do comportamento de a deficiência do sistema de monitoramento e controle; e (e) a falta de
nidificação em Podocnemis expansa (Testudinata, Pe lomedusidae), na
Reserva biológica do Rio Trombetas, Pará. Brasil Florestal, v. 12, p. 33-44, uma estratégia de conservação específica para o ecossistema de
1984.
várzea (Santos, 2005).
PORTAL, R. R.; LIMA, M. A. S.; LUZ, V. L. F.; BATAUS, Y. S. L.; REIS, I. J.
Espécies vegetais utilizadas na Alimentação de Podocnemis unfilis na região O ProVárzea/Ibama
do Pracuúba-Amapá-Brasil. Ver. Ciência Animal Brasileira , UFG, v. 3, n. Visando atenuar a progressiva degradação nessa região,
1, p. 11-19, 2002.
considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o Projeto
QUINTANILHA, L. C.; LUZ, V. L. F.; CANTARELLI, V. H.; SÁ, V. A.; Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu para
BONACH, K. Influência do Nível de proteína sobre o crescimento de
Podocnemis expansa em Cativeiro. In: C ONGRESSO INTERNACIONAL fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea,
SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E incentivando a participação das populações tradicionais que nela
LATINOAMERICA.3., 03/12-07/12/1997. Anais... Santa Cruz de La Sierra
- Bolívia. habitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Instituto Brasileiro do
RAMÍREZ, M. V. Estudio Biologico de La Tortuga “arrau” del Orinoco,
Venezuela. Agricultor Venezoelano, v. 21, n. 190, p. 44-63, 1956. Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o
projeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e
SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Manaus: Programa de
informação, 1995. 62 p. política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos
naturais das várzeas da região central da bacia amazônica.
SOINI, P. Estudio, reproucción e manejo de los quelonios del genero
Podocnemism (charapa, cupiso y tarycaia) en la cuenca del rio Pacaya,
Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio a projetos que
Loreto – Peru . Investigaciones en La Estación Biológica Cahuana, 1979 - desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais,
1994. CDC – UNALM / FPCN/ TCN. Lima, Perú, 1997.
que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e
TERAN, A. F.; ACOSTA, A ; VILCHEZ, I. Tortugas Podocnemis mantidas em ambiental, e que possam ser multiplicáveis não somente em outras
cativeiro ao redor de Iquitos, Loreto -Peru. Boletím de Lima , v. 84, p. 79 -
88, 1992.
áreas da várzea amazônica, mas também em outras regiões do país.
No período de 2002 a 2006, o ProVárzea/Ibama, por meio do
TERAN, A . F .; VOGT, R . C. ; GOMEZ, M . de F . S . Food Habitats of na
Assemblage of Five Species of T urtles in the Rio Guapore, Rondonia, Brasil.
Componente Iniciativas Promissoras, investiu um montante de R$
Journal of Herpetology, v. 29, n. 4, p. 536-547, 1995. 8.451.456,57 em 25 projetos nas seguintes linhas temáticas: (a)
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D. ; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G . T .
manejo dos recursos florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros;
Reproducion da la Taricaya Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en (c) agropecuária; e (d) fortalecimento institucional. Desse total de
cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2.,
recursos, uma expressiva parcela foi destinada a atividades de
07/05-12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana capacitação, monitoramento e manejo de recursos, e escoamento e
y la University of Florida. Iquitos, Perú.
comercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foram
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D.; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G . T . atingidas diretamente nos 38 municípios dos estados do Amazonas e
Consumo de tortugas de la Reserva Nacional Pacaya – Samiria, Loreto,
Perú. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJ O DE FAUNA Pará, por meio dos projetos (Figura 1).
SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2., 07/05 -12/05/1995.
Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana y la University of
Florida. Iquitos, Perú.

522 13
Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama.
Figura 1. Municípios abrangidos pelos projetos apoiados pelo Componente
COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações,
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e
P. sextuberculata ) em cativeiro . Manaus, 1999. 123 p. Monografia –
UFAM.

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HERNÁNDEZ, O.;NARBAIZA, I.; ESPIN, R. Logros de FUDECI durante cinco


anos (1994 -1999) de cria em cautiverio de neonatos de tortuga arrau
(Podocnemis expansa ). In: TALLER SOBRE LA CONSERVACIÓN DE LA
ESPECIE TORTUGA EN VENEZUELA. Caracas, 1999. 10 p.

LIMA, F. F. Criação de peixes e quelônios; cria e recria em lago natural .


Série V. n. 3. 1967.

LUZ, V. L. F.; BONACH, K.; BATAUS, Y. S. L.; JAYME, V. S.


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cativeiro. CENAQUA/Ibama. Goiânia, 1994. 6 p.

MORLOCK, H. Turtles: Perspectives and Research. Flórida, 1997. 479 p.

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taricayas, Podocnemis unifilis , (Chelonia:Pelomedusidae) en Cautiveiro,
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p. Tesis - Univ. de Brasília.

14 521
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F. da. Instituto Brasileiro de
O Projeto Pé-de-Pincha
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980.

CENAQUA. Informati vo da Associação Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia . O Projeto Pé-de-Pincha surgiu em 1999 dentro da
Goiânia, Jun. 1994. Universidade Federal do Amazonas – Ufam, a partir da demanda de
COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações, alguns comunitários do município de Terra Santa, no Pará, que
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e solicitaram apoio para a realização de atividades que levassem ao
P. sextuberculata ) em cativeiro . Manaus, 1999. 123 p. Monografia –
UFAM. uso racional da fauna, com ênfase em quelônios, recurso outrora
abundante na região mas que, devido ao uso desregrado e
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e
estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e predatório, havia se tornado escasso.
P. unifilis ) no estado do Amazonas . Manaus, 1998. 106 p. Monografia – Para iniciar as ações do projeto, os técnicos e professores da
UFAM.
Ufam firmaram parcerias com o Ibama, as prefeituras e os
ESPRIELLA, R. O. D . de la . Manual para la expotacion técnica de la comunitários. Atualmente, o Projeto Pé- de-Pincha é desenvolvido
tartaruga “charapa” em zoocriader os. Boogota, Colômbia: Instituo de
desarrollo de los recursos naturales renovables. Divisão de parques por uma equipe multidisciplinar que integra professores, técnicos,
nacionales y vida silvestre. 1972. p. 38. estagiários e voluntários de diversas instituições e comunidades.
HERNÁNDEZ, O.; NARBAIZA, I.; ESPIN, R. Logros de FUDECI durante Suas ações são executadas em 76 localidades nos municípios de
cinco anos (1994 -1999) de cria em cautiverio de neonatos de tortuga arrau Parintins, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Terra
(Podocnemis expansa ). In: TALLER SOBRE LA CONSERVACIÓN DE LA
ESPECIE TORTUGA EN VENEZUELA. Caracas, 1999. 10 p. Santa, Oriximiná, Faro e Juruti, no estado do Pará.
Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.
(Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata), tartarugas (P.
SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Mana us: Programa de expansa) e irapucas (P. erythrocephala), pelos próprios
informação, 1995. 62 p.
comunitários, estão presentes as possibilidades de utilização do
recurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercialização
Capítulo 8: de filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo um
programa de educação ambiental com palestras, capacitação de
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F da. Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980. professores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários,
atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Early growth of pen -reared Amazon
turtles ( Podocnemis expansa ) (Testudinata, Pelomedusidae) . Ver. Bras. comunidades em associações e cooperativas.
Biol., v. 42, p. 641-646, 1982.

BEST, R. C.; SOUZA, V. S. Nutrição e crescimento em tartarugas jovens da


A parceria
Amazônia (P. expansa). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOLOGIA. 11.,
1984. Pará, p. 304-5. No ano de 2003 a Ufam, por meio da Fundação Rio Solimões –
CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia .
Unisol, apresentou a proposta do Projeto Pé-de-Pincha no
In: Herpetologia no Brasil, PUC/MG. Fundação Biodiversitas: Fundação processo seletivo de apoio a projetos de manejo dos recursos
Esequiel Dias. CENAQUA. Informativo da Associação Pró -Tartaruga. Rev.
Chelonia. Goiânia, Jun. 1994. p. 25-34.
naturais do ProVárzea/Ibama.

520 15
Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. Reproductive parameters and nesting
de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do behavior of the Amazon turtle Podocnemis expansa (Testudinata:
projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por Pelomedusidae) in Brazil. Canadian J. Zoology , v. 60, n. 1, p. 97 -103,
1982.
comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O
custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 de ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. Influência da temperatura de incubação
na determinação do sexo da tartaruga da Amazônia Podocnemis expansa
recursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da (Testudinata: Pelomedusidae) Rev. Bra sil. Biol. , v. 44, n. 3, p. 305-311,
1984.
contrapartida da Ufam.
ANDRADE, G. B. Estudos efetuados para a criação da Reserva Biológica
do Abufari - Rio Purus - Amazonas . Relatório do Projeto Polamazônia.
Manaus, 1981.
Aspectos ambientais
BATES, H. W. The naturalist on the river Amazon . London, Murr ay,
1876. 395 p.
A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha é
BATISTELLA, A. M. Ecologia de nidificação de Podocnemis
baseada em diversas fases e atores que, sendo complementares, erythrocephala (Testudines, Podocnemidae) em campinas do Médio Rio
resultam em ações significativas. Negro-AM. Manaus, 2003. 43 p. Dissertação (Mestrado) - INPA/UFAM.
Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados BERNHARD, R. Biologia reprodutiva de Podocnemis sextuberculata
pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de (Testudines, Pelomedusidae) na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil . Manaus, 2001. 52 p.
desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos Dissertação (Mestrado) – INPA/UA.
quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos
CASTAÑO-MORA, O. V.; GALVIS-PEÑUELAL, P. A. ; MOLANO, J. G.
ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas Reproductive Ecology of Podocnemis erythrocephala (Testudines:
“berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dos Podocnemididae) in the Lower lnírida River, Colômbia. Chelonian
Conservation and Biology, v. 4, n. 3, p. 661-670, 2003.
filhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 1). Finalmente,
após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias CONGDON, J. D.; GREENE, J.; GIBBONS, J. W. Biomass of Freshwater
Turtles: A Geographic Comparison. Am. Midl. Nat. , v. 115, p. 165-173,
originalmente utilizadas para desova e a distribuição de 1986.
aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores
EISEMBERG, C. C. Manipulação da proporção sexual em ninhos de
credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência. Podocnemis sextuberculata (Cornalia, 1849) (Testudines,
No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha Podocnemididae) na praia Pirapucú – RDS/Mamirauá – AM . Belo
Horizonte, 2004. 39 p. Monografia (Apresentada ao Departamento de
resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos à Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas ) - Universidade Federal de
natureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos Minas Gerais.

indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de ESCALONA, T.; FA, J. E. Survival of nests of the terecay turtle (Podocnemis
ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à unifilis) in the Nichare -Tawadu Rivers, Venezuela. J. Zool., Lond. , v. 244,
p. 303-312, 1998.
natureza (Fig. 2), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos
berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido FACHIN-TERÁN A. ; VOGT, R. C. ; THORBJARNARSON, J. B. Estrutura
populacional, razão sexual e abundância de Podocnemis sextuberculata na
maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil.
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quelônios em praias artificiais; (C) Biometria de filhotes.
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sexual sobre o perfil hematológico e bioquímico de jacarés -de-papo-
amarelo (Caiman latirostris) mantidos em cativeiro. Resumos trabalhos Devido às ações desenvolvidas pelo projeto, é provável que o
científicos Abravas, 2003.
número de filhotes produzidos pelo Pé-de- Pincha seja superior em
LENINHGER, A. L. Princípios da bioquímica . São Paulo: Ed. SARVIER , relação ao que poderia ser produzido em ambiente natural. Isso é
1984. 725 p.
ainda reforçado, segundo os comunitários, pela maior quantidade
MUNDIM, A. V; QUEIROZ, R. P.; SANT OS, A. L. Q.; BELETTI, M. E.; LUZ,V. L.
de indivíduos adultos que vem sendo observada nas áreas
F. Bioquímica sanguínea da tartaruga da Amazônia Podocnemis
( expansa) em
seu habitat natural.Bioscience Journal, v. 15, n. 2, p. 18-22, 1999. manejadas, o que há muito tempo não acontecia. Entretanto,
MARCON, J. L.; Da SILVEIRA, R.; THORBJARNARSON , J. First insights on
analisando por espécie manejada, pode-se verificar um grande
the ecophysiology of Amazonian caimans: hematology, plasma metabolite aumento no número de ninhos e ovos de irapucas, ao contrário das
profile and body temperature. In: 2003 JOINT MEETING OF
ICHTHYOLOGISTS AND HERPETOLOGISTS. Manaus, 2003. CD-ROM do demais espécies de quelônios trabalhadas pelo projeto que,
Congresso. praticamente, mantiveram-se constantes ao longo de três anos
MARCON, J. L.; FARIAS, R. S.; DUNCAN, W. P. Características sangüíneas
e metabólicas em recém eclodidos e adultos de três espécies de quelônios (Tab. 1). Esses valores podem estar relacionados à grande pressão
da Amazônia do gênero Podocnemis. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE antrópica sobre espécies culturalmente utilizadas para
AQUICULTURA, 2000, Florianópolis, SC. CD-ROM do Congresso Brasileiro
de Aquicultura, 2000. p. 1-8.

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consumo e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a
tartaruga e o tracajá. SMITH, N. J. H. Aquatic turtles of Amazonia: na endangered resource.
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Nº Ninhos Nº de Ovos Soltura
WILLIAMS, E. E. A key and description of the living species of the genus
Figura 2. Gráfico comparativo entre o número de ninhos, número de Podocnemis (sensu Boulenger). Bull. Mus. Comp. Zool. Haward, v. 111, n.
ovos e soltura no período de 2004 a 2006. 8, p. 279-295, 1954.

Capítulo 6:
Tabela 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de
2004 a 2006.
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Nº de Nº de Nº de Nº de Nº de Nº de
Espécie ALHO, C. J. R.; CARVALHO, A. G.; PÁDUA, L. F. M. Ecologia da tartaruga
ninhos ovos ninhos ovos ninhos ovos
da Amazônia e avaliação de seu manejo na reserva biológica do Trombetas.
Tracajá 2.504 55.384 3.315 67.034 2.823 61.525 Brasil Florestal, v. 9, n. 38, p. 29-37, 1979.
Pitiú 830 12.791 797 11.004 537 9.030
BIRGEL JUNIOR, E. H.; D’ANGELINO, J. L.; BENESI, F. J.; BIRGEL E. H.
Tartaruga 83 5.964 39 3.888 64 6.331 Valores de referência do eritrograma de bovinos da raça Jersey criados no
Irapuca 70 597 282 2.059 755 5.838 Estado de São Paulo. Arq. Brás. Méd. Vet. Zootec., v. 53, n. 2, p. 1-9,
Total 3.487 74.736 4.433 83.985 4.179 82.724 2001.
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Aspectos sociais
GILES, R. E. ; BLANC, H. ; CANN, H. M.; WALLACE, D. C. Maternal Um fator de sucesso do Pé-de-Pincha é o excelente
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Academy of Sciences, USA, v. 77, p. 6715-6719, 1980. trabalho de educação ambiental desenvolvido nas instituições de
ensino dos municípios abrangidos. O projeto consegue mobilizar
IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia – 10 anos. Brasília, 1989. 119 p.
professores, técnicos e alunos de escolas municipais e estaduais, e
IVERSON, J. B. A revised checklist with distribution maps at the
turtles of the world . Richmond, Indiana: Privately printed. Paust Printing,
os professores têm se mostrado extremamente satisfeitos com os
1992. 363 p. conhecimentos adquiridos e materiais didáticos utilizados.
As atividades realizadas com o intuito de promover a
MATIOLI, S. R. Biologia molecular e evolução. Ribeirão Preto: Ed. Holos,
2001. 202 p. educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas
e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e
MITTERMEIER, R. A. ; WILSON, R. A. Redescription of Podocnemis
erythocephala (Spix, 1824), an Amazonian Pelomedusid turtle. Pap. av. comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram
Zool., v. 28, p. 147-162, 1974.
realizadas 356 atividades de educação ambiental com uma
NEILL, W. T. Notes on the five Amazon species of Podocnemi s (Testudinata: participação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando
Pelomedusidae). Herpetologica, v. 2, n. 14, p. 287-294, 1965.
252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto.
OJASTI, J. La tortuga Arrau del Orinoco. Defensa de la Naturaleza, v, v. 1,
n. 2, p. 3-9, 1971. O projeto conta ainda com uma excelente participação de
PRITCHARD, P. C. H. Encyclopedia of turtles. New Jersey: T. F. H. Publ., crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e
Inc., Neptune, 1979. 895 p. soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que
PRITCHARD, P. C. H. ; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela . Soc. Stud. congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classe
Amphib. Rept. p. 33-43, 1984. social e cor, e cria condições básicas para um trabalho de
RAY, D. A. ; DENSMORE, L. The Crocodilian Mitochondrial Control Region: conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo
General Structure, Conserved Sequences, and Evolutionary Implications.
Journal of Experimental Zoology (Mol Dev Evol) , v. 294 , p. 334-345,
prazo (Fig. 3).
2002.
O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha
QUELLER, D. C. ; STRASSMANN, J. E. ; HUGHES, C. R. Microsatellites and
kinship. Tree, v. 8, p. 285-298, 1993. também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos
municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser
SAMBROOK, J. ; FRITSCH, E. F. ; MANIATIS, T. Molecular Cloning. A
Laboratory Manual. 2ed. New York, NY: Cold Spring Harbor Laboratory seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidados
Press, 1989. a proferirem palestras e cursos sobre a experiência desenvolvida.
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suprir uma demanda cultural nas áreas de

516 19
várzea – o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer
as novas tendências dos mercados nacional e internacional, que
cada vez mais têm procurado alternativas de produção que consequences of an unusual life history pattern. Proc. Nat. Acad. Sci. , v.
83, p. 4350-4354, 1986.
promovam e valorizem o manejo de fauna silvestre por populações
tradicionais. AVISE, J. C.; NEIGEL, J. E.; ARNOLD, J. Demographic influences on
Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26 mitochondrial DNA lineage survivorship in animal populations. J. M ol.
criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 4), distribuídos nos Evol., n. 20, p. 99-105, 1984.
municípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, e CANTARELLI, V. H. ; HERDE, L. C. Projeto quelônios da Amazônia 10
alojados 8.187 animais. No entanto, a comercialização ainda não Anos. CANTARELLI, V. H. ; HERDE, L. C. (Ed.). Brasília: Ibama; Ministério
ocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho de do Interior, 1989. 122 p.
abate que requer o mercado.
CHETVERIKOV, S. S. On certain features of the evolutiona ry process from
the viewpoint of modern genetics. J. Exp. Biol., v. 2; p. 3-54, 1926.
A experiência da criação em cativeiro promove um aporte de
informações biológicas (taxas de crescimento, densidade de CHETVERIKOV, S. S. Uber die genetische Beschaffenheit wilder population.
Verb. V. Internat. Kong. Vererburgsw, v. 2, p. 1439-1500, 1927.
indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros)
sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas com CLEMENT, M.; POSADA, D.; CRALDALL, K. A. TCS: a computer program to
experimentos em condições melhores controladas e com dados estimate gene genealogies. Molecular Ecology, v. 9, p. 1657-1659, 2000.
obtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais.
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Disseminação
Capítulo 5:
O projeto Pé-de-Pincha alcançou uma boa articulação e
parceria com instituições locais (associações, escolas, grupos de
ALFINITO, J.; VI ANNA, C. M.; Da Silva, M. M. F.; RODRIGUES , Y. H. jovens, etc.), prefeituras, organizações de ensino e pesquisa (Inpa,
Transferência de tartarugas do Rio Trombetas para o Rio Tapajós. Brasil
Florestal, n. 7, p. 49-53, 1976(a). Ufam, ONGs), de conservação e controle (Ibama) e tem utilizado um
amplo leque de instrumentos de difusão (rádio, matérias na
AVISE, J. C. Molecular markers, natural history and evolution. Chapman &
Hall, Inc., USA. 1994. 511 p. televisão, jornais, cartilhas, etc.), o que tem feito com que as ações
AVISE, J. C.; HELFMAN, G. S.; SAUNDERS, N. C.; STANTON, L. H. não somente sejam divulgadas em outras áreas, mas que ocorra a
Mitochondrial DNA differentiation in north Atlantic eels: Population genetic
replicação baseada nas experiências do projeto (Fig. 5).

514 21
Outra relevante estratégia de disseminação é o intercâmbio das
iniciativas promissoras. O evento, realizado anualmente desde 2002
pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entre REBÊLO, G.; PEZZUTI , J. C. B.; LUGLI , L. ; MOREIRA , G. Pesca artesanal
técnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos de quelônios no Parque Nacional do Jaú. Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi,
apoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes, Ser. C. Hum., v. 1, n. 1, p. 109-125, 2005.
compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade e SALATI, E.; MARQUES, J. Climatology of the Amazon region. In: SIOLI, H.
colaboração para a execução dos projetos. (Ed.) The Amazon : limnology and landscape ecology of a might tropical
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Figura 5. Cartilha produzida a partir das experiências do Projeto Pé-de-
Pincha.

22 513
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Amazonas, Brazil. In: Annual meeting American Society of Icthyologists Conclusão
and Herpetologists ASIH), the American Elasmobranch Society (AES),
the Herpetologists League (HL), and the Society for the Study of
Amphibians and Reptiles . Universidad Autónoma de Baja California Sur .
La Paz, B. C. S., 2000. p. 294-294.
Quando analisamos os avanços obtidos pela parceria
PRITCHARD, P. C. H.; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela. Society for the
study Amphibians and Reptiles. Contributions to Herpetology , n. 2, ProVárzea/Ibama – Projeto Pé-de-Pincha podemos concluir que a
1984. 403 p.
iniciativa não é somente promissora. Hoje a parceria está
PEZZUTI, J. C. B.; VOGT, R. C. Nest site selection, nest distribution, consolidada e promove um diálogo de saberes acadêmicos e
survivorship and sex ratio of 3 amazonian freshwater turtles, genus
Podocnemis. In: Joint Meeting of the American Society of
empíricos, diferentes sim, porém complementares.
Ichthyologists and Herpetologists (ASIH), the A merican Elasmobranch
Society (AES), the Herpetologists League (HL), and the Society for the Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e o
Study of Amphibians and Reptiles, June 24 -30, 1999 . Pennsylvania ,
USA: State University, Pennsylvania, 1999(b). aperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um
vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e
PEZZUTI, J. B.; VOGT , R. C. ; KEMENES, A.; FELIX, D.; SALVESTRINI, F.;
LIMA, J. P. Nesting ecology of pelomedusid turtles in the Purus River, adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se
Amazonas, Brazil. In: Annual meeting American Society of Icthyologists entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre
and Herpetologists ASIH), the American Elasmobranch Society (AES),
the Herpetologists League (HL ), and the Society for the Study of seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do
Amphibians and Reptiles . Universidad Autónoma de Baja Califórnia Sur,
La Paz, B. C. S., 2000. p. 294-294.
ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a
replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, a
RAEDER, F. Elaboração de plano para manejo e conservação de aves e
quelônios na Praia do Horizonte, Reserva de Des envolvimento discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e
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menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundo Coimbra Filho Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil. Manaus, 2001. 52 p.
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tartaruga (P. expansa) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de
comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina CONGDON, J. D.; GREENE, J.; GIBBONS, J. W. Biomass of Freshwater
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& Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ± 1986.
17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith,
EISEMBERG, C. C. Manipulação da proporção sexual em ninhos de
1979). Podocnemis sextuberculata (Cornalia, 1849) (Testudines,
Podocnemididae) na praia Pirapucú – RDS/Mamirauá – AM. Belo

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Para o TCA (1997) a idade pode ser determinada a partir dos
anéis das placas da carapaça, sendo que uma fêmea com 45,2 cm de
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alimentação de quelônios (Podocnemis sp.) em projetos comunitários de O tracajá (P. unifilis) – Figuras 3 e 4 – encontra-se
Parintins e Barreirinha no Amazonas. Relatório final do PIBIC-UFAM
2004-2005. Manaus, 2005. 73 p. distribuído por toda a Bacia Amazônica. As fêmeas são maiores do
ANDRADE, P. C. M.; SOARES, N. O. Levantamento e Manejo de Quelônios
que os machos. Possui a forma ovalada, carapaça gris escura quando
(Podocnemis spp.). Por comunidades de Parintins e Barreirinha - Amazonas. molhada, com o plastrão de coloração escura. Apresenta patas
Relatório final do PIBIC-UFAM 2004-2005. Manaus, 2005. 39 p.
curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de
ANDRADE, P. C. M.; PINTO, J. R. S.; LIMA, A.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, pequeno tamanho em relação ao corpo. Possui manchas amareladas
P. M.; OLIVEIRA, P. H. G.; AZEVEDO, S. H. Projeto Pé-de-Pincha,
parceria de futuro para conservar quelônios na várzea amazônica. na cabeça, na parte dorsal. Os olhos, bastante juntos, são separados
Manuas: Ibama/ProVárzea, 2005. 27 p. (Coleção Iniciativas Promissoras, v. por um sulco. Vive, principalmente, em lagos, rios e igarapés. Supõe-
l)
se estar maduro sexualmente após os sete anos. Alimenta-se de
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ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; SILVA, A. V.; SILVA, em barrancos, em covas de, aproximadamente, 30 cm de
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Os ninhos consistem de escavações com uma entrada quase
VOGT, R. C.; BULL, J. Ecology of hatchling Sex ratio in map turtles.
circular e uma câmara ligeiramente ovóide (Fig. 5). A profundidade Ecology, v. 65, n. 2, p. 65-74, 1984.
pode variar de 18 a 25 cm. O número de ovos por ninho varia de 9 a
WETTEBERG, G. B.; FERREIRA, M.; BRITO, W. J. dos S.; ARAUJO, V. C.
40, com média de 28,8 ± 9,2 ovos. O tamanho médio dos ovos pode Fauna Amazônica preferida como alimento. Brasília: IBDF – PRODEPEF,
variar de 42,2 x 29,5 mm e peso médio de 21,7 ± 2,1 g. A desova 1976. 26 p. (Série técnica, 4)

ocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de WILHOFT, D. D.; HOTALING, E.; FRANKS, P. Effects of incubation
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Baixo Amazonas; e em novembro no rio Negro e afluentes. O tamanho
médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán
et al., 1995). Capítulo 3:

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temporada, com intervalos observados de 9 e 10 dias. O número e o
506 29
tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova.
Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da
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Trombetas. Brasil Florestal, n. 38, p. 29-47, 1979.

ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; MACEDO, P. C. et al. Figura 7: Ninho e ovos de tracajá (P. unifilis) no barro. Observar ovos aderidos
Diagnostic of comercial farming of chelonians (Podocnemis sp.) in Amazonas ao tampão do ninho. Macuricanã/Nhamundá-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
State – Brazil. In: JOINT MEETING OF ICHTHYOLOGIST AND
HERPETOLOGIST. Abstracts... Manaus, 2003. CD-ROM.

CANTO, S. L. O.; OLIVEIRA, M. da S. de; RODRIGUES, E. C. P. de G.; Os ovos de tracajá (Fig. 7) são de forma elipsoidal, de casca
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Consumo de produtos da fauna
silvestre no Estado do Amazonas. In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE calcárea e de cor esbranquiçada. Quando estão recém-postos são
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA Y LATINO AMERICA, 4., duros, transparentes e cobertos de um líquido ligeiramente viscoso.
4-8 de out. 1999. Anais... Asunción, Paraguay, 1999. p. 125.
No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca e
CANTO, S. L. O; ANDRADE, P. C. M; DUARTE, J. A. M. Potencial de
Mercado para o Consumo de Animais Silvestres na cidade de Manaus. In: começa a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação
AMAPET, 6., dez. 1998, FUA. Anais... Manaus/AM, 1998, p. 25.
a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a
BULL, J. J.; VOGT, R. Temperature-Sex determination in turtles. Science, suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaço dos ovos que dura
v. 206, n. 7, p. 186-1118, 1979.
até o final do período de incubação, resultando no aumento do
CENAQUA. Informativo da Associação Pró-Tartaruga. Rev. Chelonia,
Goiânia, jun.1994. 4 p.
diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P.
unifilis depende da temperatura de incubação (Souza & Vogt, 1994).
CENAQUA. Núcleo experimental de tecnologia de criação de quelônios
na Amazônia em cativeiro na UHE. Balbina /AM: Ibama, 1992. p. 9.
Os tracajás parecem ser mais rústicos do que as tartarugas,
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis,
estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e
P. unifilis) no estado do Amazonas. Manaus. 1998.106 p. Monografia 1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para
/UFAM.
fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou
ESPRIELLA, R. O. D. de la. Manual para la expotacion técnica de la
para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas
tartaruga “charapa” em zoocriaderos. Boogota, Colômbia: Instituo de
desarrollo de los recursos naturales renovables. Divisão de Parques vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de
Nacionales y Vida Silvestre, 1972. p. 38.
cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em
504 31
cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal,
rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa
qualidade e boa aceitação pelos camponeses. FERREIRA LUZ, V. L. Criação de Tartarugas em Cativeiro. Chelonia, n. 2,
Goiânia, 1994.

Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios de IBAMA. Manejo de fauna silvestre. Brasília: Ibama, v. 5, 2003. 112 p.
Série: A Reserva Extrativista que Conquistamos.
diferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos,
identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água RAN-AM. Relatório de atividades do Centro Nacional de Quelônios da
Amazônia – Ano 2.000. Manaus: Ibama/AM, 2001. 37 p.
e ao consumo dos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando
uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, SILVA, R. R. A conservação de quelônios no Brasil. Boletim da FBCN, Rio
de Janeiro, v. 23, 1988. p. 73-81.
a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer
os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante SMITH, R. C.; PINEDO, D. El cuidado de los bienes comunes: gobierno y
manejo de los lagos y bosques en la Amazonia. Lima: IEP, 2002. 410 p.
(até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situação
semelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para VOIGT, R. C. Pesquisa e conservação de quelônios no Baixo Rio Purus. In:
DEUS, C. P.; Da SILVEIRA, R.; Py-DANIEL, L. H. Piagaçu-Purus: bases
realizar as amostras mensais. Esse comportamento, científicas para a criação de uma reserva de desenvolvimento sustentável.
Manaus: IDSM, 2003. p. 73-74.
provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em
lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiam-
se principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se
Capítulo 1:
deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor
escura. IBAMA. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea:
conceito e estratégia. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2002. 82 p.

SANTOS, M. T. Iniciativas de desenvolvimento sustentável das


Iaçá ou pitiú (Podocnemis sextuberculata) comunidades da várzea do rio Amazonas/Solimões. Manaus:
Ibama/ProVárzea, 2004. 28 p.

_____. Aprendizados do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea


A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente – ProVárzea. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005. 53 p.

de iaçá, pitiú e cambéua. Smith, 1979, cita que essa espécie é


encontrada somente nos rios de água barrenta como o Branco,
Capítulo 2:
Solimões e Amazonas (Figuras 8 e 9). Essa espécie é também
encontrada nos rios Trombetas e Tapajós, considerados de água
clara. A fêmea possui manchas amarelas com dois barbelos embaixo ACOSTA, A. D.; TERAN, A. F.; RAMIREZ, I. V.; TALEIXO, G. T. Alimentación
de las crías de Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en cautiverio,
da boca. A carapaça tem cor marrom-claro e marrom-escuro. O Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE
plastrão apresenta, principalmente nos indivíduos jovens, seis FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2., 07/05-
12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana y la
pontas salientes de cor cinza ou marrom. A postura média é de 15 a University of Florida. Iquitos, Perú. 1995.
20 ovos de casca mole. O macho é chamado de anori e possui
tamanho menor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou cambéua.
32 503
Referências Bibliográficas:
Introdução:

ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; MACEDO, P. C. et al.


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ANDRADE, P. C. M.; LIMA, A. C.; SILVA, R. G.; DUARTE, J. A. M. et al.


Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis unifilis, P. sextuberculata, P. Figura 8: Fêmea de iaçá (P.sextuberculata). Xiacá/Terra Santa-PA. Foto:
expansa e P. erythrocephala) nos Municípios de Terra Santa e Oriximiná - Pé-de-Pincha (Andrade, P.C. M.).
PA e Nhamundá e Parintins - AM - Projeto Pé-de-Pincha. Revista de
Extensão da Universidade do Amazonas. PROEXT/FUA, Manaus/AM, v. O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Soini (1997)
2, n. único, p. 1-25, 2001.
sugere que essa espécie desova quase sempre em praias arenosas,
ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; SILVA, A. V.; SILVA, geralmente próximo da água. A desova ocorre geralmente à noite.
J. R. S. Diagnóstico da criação de quelônios no Estado do Amazonas. In:
CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e mais largos que os de
AMAZONIA Y LATINO AMERICA, ASUNCIÓN, PARAGUAY. 4., 1999. tracajá. A casca é mais clara, mais delgada e mais flexível.
Anais... p. 110.

ANDRADE, M. Pratos, lendas, estórias e supertições de alguns peixes do


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partir de dados biométricos. Goiânia, 1998. 58 p. Dissertação (Mestrado)
– UFG.

CANTO, S. L. O.; OLIVEIRA, M. da S. de; RODRIGUES, E. C. P. de G.;


DUARTE, J. A. da M.; ANDRADE, P. C. M. Consumo de produtos da fauna
silvestre no estado do Amazonas. In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA Y LATINOAMERICA. 4.,
Assuncion – Paraguay, 1999. Anais...

CENAQUA. ENCONTRO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO SOBRE


PRESERVAÇÃO DE QUELÔNIOS. 1., 1994. Goiânia: Cenaqua, 87 p.

DUARTE, J. A. M. Diagnóstico da produção e estudos sobre incubação


artificial de quelônios (Podocnemis expansa e P. unifilis) no estado do
Amazonas. Manaus, 1998.106 p. Monografia (Conclusão do curso de
Figura 9: Iaçá (P. sextuberculata). Foto: RAN-AM (Andrade, P.C. M.).
Agronomia) – UFAM.

502 33
Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do
Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito 14.9 CONCLUSÃO
pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As
A metodologia de abate de tartaruga-da-amazônia ainda não
fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A
está bem estabelecida. O processo ainda requer mais estudos e
profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de pesquisas visando a definir as condições e o período de descanso, o
incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de melhor método de insensibilização, o tempo de sangria, a melhor
incubação e na sobrevivência dos mesmos. forma de remover o plastrão e o acesso à cavidade celomática, sem a
ruptura da bexiga.
Sugerimos que os estudos sejam continuados a partir das
A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As
informações e dos dados produzidos neste trabalho, visando a
crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num
estabelecer uma metodologia de abate que atenda a todos os
período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificação
requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos. Também sugerimos
dura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite,
que sejam realizados estudos de mercado para verificar as
sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995).
necessidades e demandas que poderão nortear os trabalhos
futuros.
Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do Assim sendo, o trabalho desenvolvido foi importante para
Abufari identificaram através de monitoramento de um único delinear os principais pontos-chave no processo de abate,
fornecendo diretrizes para o desenvolvimento das próximas
transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a
pesquisas aplicadas para a exploração econômica dos produtos e
praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de
subprodutos da tartaruga-da-amazônia.
145 ninhos por jacurarus (Tupinambis nigropunctatus, lagartos
grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição
de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são
os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista
o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se,
também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação,
preferindo locais mais altos e distantes da água. O monitoramento de
219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e
razão sexual de 28,5% de machos.

Os predadores de filhotes de iaçás identificados na Reserva


Biológica do Abufari, Amazonas, foram: Phractocephalus
hemioliopterus (pirarara), Osteoglossum bicirrhosum (aruanã),
34 501
negativamente nos níveis de contaminação para os parâmetros Leiarius marmoratus (jandiá) e Sorubimichthys planiceps (peixe-
coliformes fecais e contagem total de aeróbios mesófilos. Os lenha) (Garcia, 1999).
resultados indicaram que a metodologia empregada no abate deve
ser mais estudada para evitar, principalmente, a contaminação da
carne pela urina. Também devem ser realizadas novas análises O iaçá é, das espécies de quelônios, a mais consumida em
microbiológicas para validar as duas pré-lavagens e a lavagem. Manaus. Sua carne se encontra à venda, de forma ilegal, nas feiras a
14) Rendimento de carcaça e demais partes: deve ser considerado, R$ 3,59/kg (Canto et al., 1998).
na continuação dos trabalhos de pesquisa, o estudo de viabilidade
econômica do empreendimento, levando em conta a utilização
racional dos produtos bem como dos subprodutos do abate que Anatomia e fisiologia
apresentem interesse comercial, evitando-se a produção de
resíduos possivelmente poluentes ao meio ambiente.
Evaristo (1995) apud Duarte & Andrade (1998), cita que os
quelônios são répteis que possuem uma carapaça óssea que protege
os órgãos internos. Essa carapaça é formada pela fusão das
costelas, externo e vértebras. Em geral, denomina-se casco ao
conjunto das partes rígidas dorsal e peitoral. Contudo, a parte
superior denomina-se carapaça, sendo achatada, mais larga na
região posterior, com coloração marrom, cinza ou verde- oliva, e a
inferior plastrão, sendo ambos compostos por placas ossificadas
revestidas por uma camada queratinosa de forma convexa e
achatada, quase horizontal, unidas por uma estrutura óssea
conhecida por ponte (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina &
Rocha, 1996).

Na P. expansa, a carapaça (Fig. 10) é composta por 37


escudos (2 cervicais seguidos de 5 escudos vertebrais com duas
séries de 4 pleurais, no total de 8; no lado de fora dos pleurais e
estendendo-se pelos dois lados a partir dos cervicais há 22 escudos
marginais). Os escudos do plastrão são divididos em pares por uma
linha longitudinal. Anteriormente, há um escudo gular intercalado
por dois intergulares. Seguem-se um par de humerais, peitorais,
abdominais, femurais e anais, respectivamente, totalizando 13

500 35
escudos com possibilidade de haver variações em forma e número.
estabelecimento não possuir túnel de congelamento para promover
Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre o devido abaixamento da temperatura do conjunto carapaça-
escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma carcaça, no tempo adequado. Entretanto, para a elaboração do
espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, produto final da carcaça-carapaça devem ser estudadas formas
mais eficientes para higienizar a carapaça, de maneira que ela não
1996). represente contaminação para a carcaça. As áreas onde se realizam
essas manipulações devem ser climatizadas para evitar grandes
elevações de temperatura da carne.

10) Fracionamento e embalagem: essas etapas não foram bem


estudadas porque deve-se realizar um levantamento de mercado
para a verificação das porções cárneas preferidas, bem como o
método de embalagem mais adequado às exigências dos
consumidores. A rotulagem poderá ser feita com base na legislação,
seguindo-se os manuais de orientação das indústrias disponíveis
no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(www.anvisa.gov.br).

11) Congelamento: esse trabalho foi realizado através do armário ou


congelador de placas, que é utilizado para porções cárneas com
espessura reduzida. Esse motivo estabeleceu que os trabalhos
deveriam ser realizados para a obtenção da carne embalada e
congelada. Para obter a carne congelada com a carapaça, o
Figura 10: Desenho esquemático de carapaça de Podocnemis expansa. estabelecimento deverá possuir túnel de congelamento para
promover o abaixamento da temperatura da carne, em tempo
adequado, para evitar a formação de grandes cristais de gelo e
Os quelônios apresentam um tubo digestivo completo, com prejuízos à qualidade final do produto.
digestão extracelular, sendo o estômago uma dilatação do tubo
digestivo, terminando em um orifício denominado cloaca, 12) Potencial hidrogeniônico (pH): sugerimos que sejam melhor
estudadas as variações de pH em função das manipulações dos
semelhante ao de ave, pelo qual desemboca a urina, fezes e material animais vivos, desde o transporte até a sangria. Essas
seminal, ocorrendo também a vascularização nas paredes como manipulações, principalmente, no período imediatamente antes do
“brânquias cloacais” (essa região, possivelmente, realiza uma abate, levam à mobilização excessiva do glicogênio muscular,
refletindo no pH final elevado e na conseqüente diminuição da vida
respiração cutânea mínima: sangue-parede vascular-água). A útil dos produtos cárneos.
digestão é auxiliada pelo fígado e pâncreas, ocorrendo parcialmente
no estômago e finalizada no intestino, havendo, neste último, a 13) Microbiologia: a ausência de Salmonella sp. nas carnes indicou
que os trabalhos foram realizados sob um bom nível de higiene.
absorção do alimento digerido no duodeno. No intestino grosso Entretanto, a escassez de pessoal para auxiliar nas diversas
ocorre a formação de fezes. A circulação é fechada (vasos e veias), atividades de abate experimental pode ter influenciado

36 499
ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e
animais insensibilizados pelos diferentes métodos, nos trabalhos
futuros. incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se
mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana
5) Sangria: o método mais eficiente verificado nesse trabalho, tal
nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e
como nas espécies domésticas, foi através da secção parcial do
pescoço, mantendo-se a integridade da coluna cervical e da um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo,
medula espinhal. Essa integridade mantém por mais tempo a 1995).
função cardíaca, facilitando o escoamento sangüíneo. Sugerimos a
verificação da influência da eletronarcose como método de
insensibilização, para avaliar o gotejamento de sangue, com o As espécies podem ser identificadas por características
objetivo de reduzir o tempo e/ou verificar o aumento do volume
externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido
gotejado.
em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e
6) Lavagem: essa etapa deve ser reavaliada através da utilização de posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto de
swabs antes e após a lavagem, para uma avaliação da eficiência do
maior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud
processo, visando a adequar as formas e as concentrações de uso
dos agentes detergentes utilizados. Duarte & Andrade, 1998).

7) Serragem das pontes: essa etapa é muito crítica porque a


utilização da serra pode causar acidentes nos manipuladores e As potentes patas podem ser recolhidas para dentro como
promover contaminação da musculatura pela ruptura das vísceras medida de segurança e descanso. São duas dianteiras de cores
e órgãos. Para evitar acidentes, os animais devem ser fixados em escuras e cobertas com pele rugosa e cinco unhas largas, firmes,
suportes metálicos, antes do início da serragem. A serragem deve
ser realizada com uma serra com potência igual ou superior à semicurvadas e acanaladas na parte inferior, e duas traseiras com
utilizada neste trabalho. O disco da serra deve ter, quatro unhas e características idênticas, pois o nome genérico
aproximadamente, 7 centímetros de raio. A desarticulação da atribui-se aos calcanhares das patas posteriores, dotados de unhas
junção óssea das pontes com o plastrão, em alguns casos, poderá
ser feita para completar a operação de serragem. Para essa para reptar e cavar (Lima, 1967; Nomura, 1977).
desarticulação, deve-se utilizar um trinchante de ponta rombuda,
evitando a ruptura da musculatura superficial, das vísceras e
órgãos. As tartarugas são ectotérmicas (heliotérmicas), como os
lacertílios e os crocodilianos e podem atingir um grau considerado
8) Retirada do plastrão: a secção da junção plastro-pelviana foi de estabilidade da temperatura corpórea por meio da regulação
bastante difícil de ser realizada com tesouras, por isso sugerimos
uma utilização experimental de outra serra elétrica manual, através da troca de energia térmica com o ambiente
pequena, para facilitar essa operação. Todavia, a serra deve ser (termorregulação). A temperatura corporal de tartarugas que se
usada com muito cuidado para evitar a ruptura da musculatura aquecem ao sol é mais elevada do que a temperatura da água e do ar
superficial, bem como das vísceras e órgãos.
e pode acelerar a digestão, o crescimento e o desenvolvimento dos
9) Retirada da carcaça da carapaça: o objetivo desse trabalho foi a ovos. Além disso, o aquecimento pela luz do sol pode auxiliar as
obtenção da carne embalada e congelada, devido ao fato de o

498 37
tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough, ao abate. A carne oriunda de animais contaminados poderá
Heiser & McFarland, 1993). apresentar riscos para a saúde dos consumidores, fato que pode
comprometer a comercialização. Assim sendo, deve-se elaborar um
No comportamento social, as tartarugas podem empregar sistema de controle de qualidade da alimentação, dos
sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os medicamentos veterinários usados e do nível de contaminantes
químicos e microbiológicos da água dos boxes de criação.
machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas
posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se 2) Descanso: esse período deve ser definido após a verificação do
também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser tempo necessário para ocorrer o esvaziamento gastrointestinal e
vesical, visando a reduzir os riscos de ruptura dessas vísceras
& McFarland, 1993).
durante as operações de evisceração. Os estudos mostraram que
animais em privação hídrica e alimentar de até 15 dias
Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar o permaneceram com suas bexigas repletas. Possivelmente, a
temperatura ambiental teve influência na fisiologia renal, sendo
efeito da submergência de longa duração sobre o balanço uma variável importante a ser melhor analisada. Acreditamos que a
energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões utilização de água corrente estimule a defecação, como é observado
eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de nas rãs, embora possa contribuir para promover a repleção da
bexiga.
Podocnemis expansa, bem como suas principais características
funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço 3) Pré-lavagem (pré-abate): essa etapa requer muito cuidado para
energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanho médio evitar o estresse dos animais, porque poderá influenciar
negativamente no pH final da carne. A água sob pressão não deve
de 9,114 0,081 cm e peso médio de 85,574 2,92 g, concluiu que a exceder 3 atm. A pressão excessiva poderá, inclusive, remover o
tartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando epitélio do revestimento externo, provocando pequenas
submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no hemorragias. Animais com alto nível de sujidades externas poderão
estimular o uso de água, sob pressões elevadas, que poderá
músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi influenciar negativamente nos valores finais de pH, reduzindo a
observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de vida útil da carne, por apresentar um pH elevado e adequado ao
glicose aumentou significativamente, (P0,05) sugerindo que há uma desenvolvimento microbiano.
mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprir a 4) Insensibilização: a utilização do gelo durante 15 minutos nos
demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos permitiu evidenciar que os animais apresentaram-se um estado de
do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém torpor. Entretanto, foram observadas contrações musculares e
movimentos de pedalagem em alguns animais após o sacrifício e
mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às durante a evisceração. Assim sendo, sugerimos que sejam
tartarugas de região temperada. avaliados os resultados obtidos por outros métodos. A
eletronarcose é usada amplamente para as aves, de uma forma
mais eficiente e humanitária. A quantificação do cortisol sangüíneo
poderá ser analisado para avaliar o possível estresse sofrido pelos

38 497
Tabela 8: Resultados obtidos na sangria por decapitação Sexo e reprodução
Sangria por decapitação O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode
Tempo de sangria % de sangue escoado ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão
e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas
12 minutos 2,44
adultas) (Pritchard & Trebbau, 1984) – Figura 11.
14 minutos 1,92
15 minutos 2,32

Considerando que normalmente 8% do peso dos animais é


representado pelo seu volume sangüíneo; que uma boa sangria é
aquela que remove até 50% do sangue; que o conjunto carapaça e
plastrão representam 33,32%; que o aspecto da carne obtida deve
ser rósea ou vermelho-claro (indicando pouco sangue na
musculatura); e que o pH final obtido está dentro de valores
aceitáveis, o melhor resultado foi obtido pelo período de 15 minutos,
obtendo-se 3,11% de escoamento de sangue pela secção parcial do
pescoço. Observou-se a coagulação sangüínea quando o período de
sangria foi maior do que 15 minutos.

14.8 Comentários e proposições Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa): macho (esquerda) e
fêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.).
Os trabalhos de abate foram realizados e permitiram
Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998)
evidenciar alguns aspectos importantes do processo de obtenção da
não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da
carne embalada e congelada para o consumo humano, que deverão
maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do
ser mais estudados. Os principais pontos são os seguintes:
exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de
1) Criadouros: o tipo de alimentação, a utilização de drogas filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo
veterinárias, a qualidade da água e o nível de contaminantes sexual para Podocnemis expansa, pois os jovens apresentam
ambientais são importantes para a obtenção de animais e, manchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a
posteriormente, da carne, sem riscos para a saúde dos fêmea tem a cauda curta.
consumidores. Tais aspectos têm influência direta no nível de
contaminação química, física e microbiológica dos animais enviados Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em
quelônios encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual
do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás,
16
Kolb, Fisiologia Veterinária. 1987.
17
Pardi et al., Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne. 2001. temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude

496 39
térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a Tabela 7: Rendimento da carcaça e das principais partes obtidas durante o
máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt, abate.
1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al., Partes do corpo Rendimento %
1983; Spotila et al., 1987; Souza & Vogt, 1994). Carcaça 34,66
Carapaça 25,41
Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o Vísceras 11,87
regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de Plastrão 7,91
nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo,
Gordura extramuscular 5,54
proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes (não cavitária)
(recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos Total 85,39
naturais ou artificiais.
Os percentuais de 25,41% da carapaça e 7,91% do plastrão
P. expansa tende a entrar na fase de reprodução entre cinco perfazem um total de 33,32% do animal, similares aos 34,66% da
carcaça. Fato que demonstra a necessidade de se estabelecer um
e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967). aproveitamento comercial para o conjunto carapaça-plastrão.
Também deve-se considerar as demais partes como subprodutos
que devem ter um aproveitamento econômico sustentável.
Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa)
apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10 14.7.5 Volume de sangue escoado
anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os
machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente, O escoamento sangüíneo é fundamental para a qualidade da
carne. O sangue possui o pH próximo da neutralidade e por ser rico
realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de
em nutrientes pode facilitar a multiplicação dos microrganismos
janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova, deteriorantes e/ou patogênicos. Assim sendo, foi avaliado o
denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo escoamento em função do tempo e do método de sangria.
capitari.
O tempo de postura de P. expansa pode estar relacionado
diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno
de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o
desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que
cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de
postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough,
Heiser & McFarland, 1993; Alho & Pádua, 1982).

40 495
locais distintos. No caso da pré-lavagem as pontes direitas e Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do
esquerdas foram escolhidas, enquanto na lavagem foram feitas na tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à
pele junto à cauda.
margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a
Os resultados indicam uma redução da microbiota tartaruga fica mais vulnerável à predação antrópica.
equivalente a 11,76% da carga microbiana inicial, na região da
ponte direita. A redução foi de 33,33% na região da ponte esquerda.
Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam
Os resultados das análises microbiológicas dos swabs
para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos
realizados para avaliar a etapa de lavagem não foram adequados utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de
por falha na coleta do material. Assim sendo, será necessária uma repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de
reavaliação mais criteriosa dessa etapa. navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como
orientador (Pough, Heiser & McFarland, 1993).
14.7.4 Rendimento de carcaça e demais partes

Para efeito deste trabalho, considera-se carcaça o conjunto Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no
formado pela musculatura, ossos dos membros, vértebras leito do rio durante 4,5 0,7 dias observando a praia de dentro
coccígeas e cervicais. Também foram avaliados o rendimento de
d'água, ou as fêmeas realizam 5,5 0,7 subidas na praia de desova
carcaça e demais partes.
durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para
verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do
ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que
tem uma variação natural de 0,63 0,27 m, podendo ser depositados
de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima,
1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith,
1979).

Para Espriella (1972), o número aceitável para tartarugas


em cativeiro está numa média de 80 ovos, de forma esférica, com
peso médio de 39-43 g, que serão cobertos com areia, pela fêmea,
após a desova. A oviposição pode durar de 1,5 a 4 horas,
aproximadamente, sendo geralmente à noite e, ocasionalmente, à
tarde ou de manhã.

494 41
No período reprodutivo de P. expansa são observados os
mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de e Salmonella sp. todas (100%) as amostras apresentaram-se em
desova (Vanzolini, 1967): conformidade.
Nas amostras avaliadas para o parâmetro contagem total de
(1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pela bactérias mesófilas, 21,60% das amostras se apresentaram não-
agregação dos animais em águas rasas, com subidas ocasionais na
conformes aos padrões estabelecidos. Entre as 39 amostras, 4
margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios
solares; apresentaram resultados incontáveis.
Também foram realizadas duas análises microbiológicas de
(2) Subida à praia para a escolha do local da cova; amostras de urina coletadas de dois animais distintos e os
resultados seguem conforme a tabela a seguir:
(3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os Tabela 6: Avaliação microbiológica da urina de dois animais.
animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local
de postura;
Resultados
Parâmetro A B
(4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da microbiológico
areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si Contagem total de 520.000 1.200.00
bactérias mesófilas 0
mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a (UFC/ml)
usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a Coliformes fecais (UFC/ml) Zero >2.400
Salmonella Ausência Ausência
60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara.

(5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se As não-conformidades encontradas nas amostras de carne
importam com a presença de estranhos e podem ser tocadas sem podem estar relacionadas à metodologia de abate utilizada. Os
reação. O valor adaptativo da estereotipia durante a oviposição de P. procedimentos de serragem das pontes bem como o acesso à
expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa
cavidade celomática levaram à ruptura da bexiga, na maior parte
espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica
dos casos, promovendo a contaminação da carne.
estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de
Os resultados indicam que a contaminação da carne, pela
reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores urina, a torna inadequada ao consumo humano, por exceder os
(trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de padrões microbiológicos estabelecidos.
oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo Para avaliar a eficiência da primeira pré-lavagem e da
do animal move-se para frente e para trás e também executa uma lavagem foram realizados um total de 8 swabs, sendo 4 para a pré-
lavagem e os outros 4 para a lavagem. Nos dois casos, foram
lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a realizados dois swabs antes e mais dois após cada operação em dois

42 493
Tabela 4: Padrões microbiológicos utilizados como referência para a análise da profundidade, as patas traseiras têm mais ação. Com as unhas para
carne da tartaruga-da-amazônia.
baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação,
Parâmetro Padrão fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a
microbiológico
Coliformes fecais (g) 10 forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e
Estafilococos coagulase 100 diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50-
positiva (g)
100 cm. Durante esse processo, as patas dianteiras ajudam na
Contagem total de 500.000
aeróbios mesófilos (g) sustentação do animal. O ato é repetido, inserindo a outra pata na
Salmonella sp. (g) Ausência abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o
ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, inicia-
Entre as 39 amostras analisadas, somente 11 (28,2%) se a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15
atenderam aos padrões estabelecidos para os quatro parâmetros. segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém
As conformidades e as não-conformidades para cada parâmetro esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpo
microbiológico apresentaram-se da seguinte forma: em relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15
Tabela 5: Proporção de carcaças obtidas conforme as exigências segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos;
microbiológicas estabelecidas.

Parâmetros % Amostras % Amostras (6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação
microbiológicos em em os animais entram num processo de ritualização do
conformidade não-
conformida comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo
de movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendo
Coliformes fecais 35,90 64,10 areia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral,
(g)
Estafilococos 100 00 a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada
coagulase durante o fechamento da cova;
positiva (g)
Contagem total 78,40 21,60
de aeróbios (7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova,
mesófilos (g)
normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que
Ausência de 100 00
Salmonella sp. (g) escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás,
rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da
Nas amostras que apresentaram não-conformidades para o postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas).
parâmetro coliformes fecais (64,10%) foram encontradas 8 amostras
com as cargas máximas ( 2.400 NMP/g) para a metodologia analítica Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis
utilizada (método do número mais provável) representando 20,51% expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide
do total das amostras. antes e depois da desova, fazendo um sulco na areia. A caminhada
Em relação aos parâmetros Estafilococos coagulase positiva para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m,

492 43
alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito Tabela 3: Comparação da composição química das carnes bovina e suína.
na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça
Composição química das carnes bovina e suína
durante a escavação. Após retornar à água, a população adulta Componentes Carne bovina Carne suína
permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes. Umidade (%) 76,77 71,20
Proteínas (%) 20,00 19,00
Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos Lipídeos (%) 3,00 9,34
adultos fora d'água. Cinzas (%) 1,09 1,00
Valor calórico 107 160
(kcal/100g)
Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais Fonte: Gaspar (1997). Obs.: valores médios.
difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967; Os valores demonstram que a carne de tartaruga apresenta
Alho & Pádua, 1979). 1,83% de lipídeos enquanto as carnes bovina e suína apresentam 3
e 9,34%, respectivamente. O valor calórico também é mais reduzido
Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70 para a carne de tartaruga (85,99%) do que o que foi obtido para a
dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de carne bovina (107%) e suína (160%).
fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a
umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a 14.7.2.1 Potencial hidrogeniônico (pH)
temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de Foram encaminhadas 14 amostras para avaliação do pH da
carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento carne. Foram aferidos, aproximadamente, 6 e 24 horas após o
embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho & sacrifício dos animais.
Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989).
Os valores citados de pH apresentaram uma média de 6,28 e
A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento 5,85 após 6 e 24 horas do sacrifício. Esses resultados mostram-se
embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem favoráveis porque estão próximos dos valores utilizados como
ser letais. A determinação do sexo dependente da temperatura foi referência para os pescados e para as demais carnes.
demonstrada em algumas, mas não em todas as famílias de 14.7.3 Microbiologia
tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos
(Pough, Heiser & McFarland, 1993). Foram enviadas 39 amostras da carne para avaliar a carga
microbiana. Pela inexistência de um padrão microbiológico para a
Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982) carne de quelônios, ficou estabelecido que para o estudo seriam
em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de utilizados os critérios microbiológicos do Codex Alimentarius para a
25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas, carne de rã, conforme tabela a seguir.
respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro
de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie.
15 JAY, J. M. Modern Food Microbiology. 1992

44 491
Tabela 1: Resultados das análises físico-químicas da carne da tartaruga-da- Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento
amazônia embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo,
Análises Físico- Resultados portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam
químicas
Proteínas 22,0g/100g expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser &
Gorduras totais ou 5,50g/100g McFarland, 1993).
lipídeos
Gordura Saturada 2,68g/100g
Mínima Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de
Colesterol 68,0mg/100g temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a
Carboidratos 0,0g/100g
Fibra Alimentar 0,0g/100g determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o
Cálcio (Ca) 18,5mg/100g topo e o final do ninho (Pough, Heiser & McFarland, 1993).
Ferro (Fe) 1,60mg/100g
Sódio (Na) 46,3mg/100g
Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotes
Os resultados das análises físico-químicas podem ser maiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é
utilizados como referência na elaboração dos dizeres de rotulagem necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do
(composição centesimal e informação nutricional), conforme embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas
legislação vigente no país. eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu
intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado
Tabela 2: Resultados das análises para a avaliação da composição química.
durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser &
Composição centesimal da carne de tartaruga McFarland, 1993).
Parâmetros Valores
Umidade (%) 78,80 (+- 0,16)
Proteína (%) 17,39 (+-0,80) A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de
Cinzas (%) 0,91 (+-0,07) 56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica
Lipídeos (%) 1,83 (+-0,75)
(Soini, 1997).
Valor calórico (Kcal/100g) 85,99 (+-5,72)
Valores médios; números entre parênteses representam o desvio-
padrão.
O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a
Fonte: Gaspar (1997).
incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser uma
medida importante para a conservação. Para conseguir ótimos
resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados
em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original,
ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois
da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta,
significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do
¹4 Legislação de rotulagem. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br

490 45
ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de 14.7 Resultados
incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em
ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e Os principais parâmetros avaliados foram: as observações
têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos macroscópicas dos tecidos durante o abate, as análises
ninhos expostos ao sol (Soini, 1997). microbiológicas, as análises físico-químicas, o volume sanguíneo e o
rendimento de carcaça e demais partes.

As tartarugas, por serem pecilotérmicas, apresentam 14.7.1 Necropsia, histopatologia e parasitologia


amplitude térmica de 22ºC a 32ºC, e ideal entre 27ºC a 30ºC, na qual
Os animais foram observados durante o período de descanso,
eclodem as crias medindo em torno de 50 mm de comprimento e 40
mm de largura. A atividade espontânea de alguns indivíduos põe o sendo detectado o óbito de um animal. A necropsia foi realizada em
grupo em movimento, uns rastejando sobre os outros, agindo sobre local inadequado, pela inexistência de uma dependência específica
os demais (Lima, 1967; Ferreira, 1994). para essa finalidade e não foi possível observar qualquer alteração
macroscópica sugestiva da causa mortis.

Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e No transcorrer das operações de evisceração dos 39 animais
todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite, foram detectadas alterações macroscópicas em 3 baços, 2 fígados,
talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as nas mucosas estomacais e intestinais de alguns animais.
tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes
são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais Os tecidos com as alterações foram encaminhados para uma
podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser & avaliação histopatológica que confirmou a suspeita de degeneração
McFarland, 1993). gordurosa ou esteatose em dois fígados. Essa alteração
normalmente está relacionada a problemas metabólicos. Não foram
verificadas alterações histopatológicas nos baços e nas mucosas.
Essa emergência simultânea é uma característica
Também foram observadas infestações parasitárias por cestódeos e
importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão
trematódeos (digenéticos) nos estômagos e intestinos dos animais.
propensos à agressão em decorrência do equilíbrio biológico imposto
pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre 14.7.2 Físico-química
as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough,
Uma amostra de carne foi encaminhada para a realização das
Heiser & McFarland, 1993).
análises necessárias à adequação das exigências das informações

Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa nutricionais de rotulagem. Os resultados encontram-se na tabela
poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma abaixo:
porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros
seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número ¹³Trematódeos que passam parte de sua fase larvária em hospedeiros
intermediários, geralmente pequenos moluscos

46 489
CONGELAMENTO – As carcaças foram congeladas em armários de de animais desses criadouros, um número predeterminado seja
placas sob temperaturas de -25 a -40ºC, por um período de 2 a 6 restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição
horas. reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e
maximizando a taxa de natalidade (Alho & Pádua, 1984).

Na Reserva Biológica do Abufari/Tapauá – AM, o Ibama


desenvolve o programa de proteção às áreas de desova. Através do
Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, atualmente
Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Afíbios – RAN, realiza-
se a proteção do tabuleiro (praia de desova) assim como das matrizes
e dos filhotes recém-nascidos. Sendo que estes filhotes, em sua
maioria de tartaruga, logo ao abandonarem as covas ficam retidos
em cercados de tela para serem apanhados, contados e
transportados para a base física. Posteriormente, é feita a soltura dos
animais em local com uma incidência, provavelmente, menor de
predadores naturais aquáticos (Armond & Armond, 1990, apud
Duarte & Andrade, 1998).

Essa atividade é realizada na Venezuela com certa


Figura 17: Armário ou cogelador de placas.
similaridade, como cita Ojasti (1995; 1967), assim como em outras
áreas de concentração de tartaruga que servem de referência a
ARMAZENAMENTO/ESTOCAGEM – Os produtos foram programas de manejo, como no rio Trombetas, entre outros
armazenados e estocados em câmaras frigoríficas sob temperaturas (Nomura, 1977; Alho & Pádua, 1984; Pough, Heiser & McFarland,
inferiores a -18ºC. 1993; Ferreira, 1994; Soini, 1997).
EXPEDIÇÃO – Os produtos foram expedidos em condições que
evitaram a elevação da temperatura do produto. A área de expedição Segundo Nogueira Neto (1973), é possível obter a
funcionou como antecâmara provida de portas de saída para a reprodução de tartaruga em cativeiro. Na prática, tem-se a
expedição. As portas de saída foram providas de portais de possibilidade da reprodução de quelônios em cativeiro, sem a
borrachas para permitir o embarque em veículos transportadores, migração, desde que haja uma praia artificial para a desova.
minimizando a elevação da temperatura dos produtos expedidos.

488 47
Valor nutricional FRACIONAMENTO – Podem ser realizados cortes na carcaça de
acordo com as necessidades do mercado, sob as mesmas condições
Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994) de higiene na manipulação e do ambiente climatizado (temperaturas
citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e do ambiente menor ou igual a 15ºC) utilizadas na etapa anterior.
Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-da-
amazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%.
Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais
(frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma
superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade
protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina
2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g;
Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g e
Metionina 5,32 g.

Aguiar, 1996, apud Duarte & Andrade (1998), obteve em


quatro análises realizadas em carne de Podocnemis expansa: 1,10 g
de lipídio/100 g; 21,17 g de proteína/100 g; 94,58 Kcal de
Figura 15: Carcaça sem a gordura extramuscular não cavitária
energia/100 g; 0,00 g de carboidrato/100 g; onde cita que em geral
a carne de animal silvestre é magra.
EMBALAGEM – As embalagens poderão ser de polietileno ou outro
material de embalagem que evite contaminação física, química ou
Maués, 1976, apud Duarte & Andrade (1998), ao comparar microbiológica dos produtos, que também devem ser rotulados,
os aspectos bromatológicos de ovos de galinha e codorna, ambos conforme a legislação vigente.¹²
oriundos de feiras livres de São Paulo, e tartaruga Podocnemis sp.,
oriundo de feiras livres de Bélem – PA, mostra que os ovos de
tartaruga pesaram em média 23,67 g, onde a gema, a clara e a casca
pesaram respectivamente 18,55 g; 3,74 g e 1,62 g, com um
percentual médio de 15,38% para a clara, 73,44%, correspondendo
à gema e 11,18% equivalente à casca.

O teor de lípides totais, verificado no ovo inteiro, clara e


gema em ovos de tartaruga é particularmente 7,92 mg/100 g; 0,08 ¹² Legislação da Anvisa. disponível em: http://
mg/100 g e 18,26 mg/100 g; em ovos de galinha obteve-se 13,08 g/ www.anvisa.gov.br/alimentos/legis/especifica/rotuali.htm

48 487
resquícios de fáscias musculares ou fragmentos que permaneceram 100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30
após as operações de evisceração e de esfola. g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976).

O teor de proteína no ovo de tartaruga na porção inteira,


clara e gema foi na ordem de 12,70 g /100g; 1,56 g/100 g e 20,58 g
/100 g, enquanto que nos de galinha foram 9,98 g/100 g; 9,28 g
/100 g e 16,19 g /100 g e nos de codorna obteve-se 9,78 g /100 g;
9,43 g /100 g e 12,07 g/100 g (Maués, 1976, apud Duarte &
Andrade, 1998).

A composição de cinzas no ovo de tartaruga na porção gema


foi superior (1,68 g/100g) ao de galinha (1,25 g/100 g) e codorna
(1,36 g/100g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998).

O teor mineralógico de ferro e fósforo na porção gema nos


Figura 12: Remoção das patas. ovos de tartaruga foi superior (10,9 mg/100 g e 495 mg/100 g) ao de
PRÉ-LAVAGEM – Foi realizado um enxágüe com água clorada para codorna (8,2 mg/100 g e 415 mg /100 g) e galinha (5,0 mg/100 g e
a remoção de pequenos resíduos que permaneceram na carcaça 260 mg /100 g) e com um teor de cálcio na gema inferior (120,19
durante as etapas anteriores. mg/100 g) em relação ao de galinha (152,25 mg/100g) e codorna (
168,13 mg/100 g) (Maués, 1976 apud Duarte & Andrade, 1998).

O teor vitamínico de -caroteno foi baixo em ovo de tartaruga


(6,06 mg/100 g) relacionado ao de galinha (30,63 mg/100 g), e
vitamina A (57,83 mg/100 g), contra os de galinha (69,87 mg/100 g)
e codorna (73,95 mg /100 g). Em relação ao tocoferol (total), o ovo de
tartaruga estudado foi superior (2,78 mg/100 g) ao de galinha (1,94
mg/100 g) e inferior ao de codorna (3,55 mg/100 g) (Maués, 1976,
apud Duarte & Andrade, 1998).

O teor de colesterol na porção clara mais gema, e gema no


Figura 13: Lavagem da carcaça.
ovo de tartaruga foi inferior (226,5 mg/100 g e 329,1 mg/100 g) aos

486 49
de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4 DECAPITAÇÃO – Após a retirada das vísceras realizou-se a ablação
mg/100 g e 946,9 mg/100 g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, (retirada) da cabeça.
1998).
ESFOLA – Realizou-se, com o auxílio de uma faca, a esfola dos
membros posteriores e da cauda e reverteu-se a posição dos animais
Importância econômica
nos ganchos. Eles foram fixados pelos membros anteriores para a
A tartaruga tem sido de grande importância para o homem realização da esfola do pescoço e dos membros anteriores. Foram
amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os feitos cortes das regiões metatarsianas e metacarpianas, separando
colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios a pele do membro da pele da pata. Assim, seguiu-se com a
durante a vazante capturavam um grande número de tartarugas. dissecação da pele dos membros até a completa retirada.

Segundo Smith (1979), durante o século XVII as tartarugas


desovavam em um grande número de praias na área de
Itacoatiara/AM durante os meses em que o nível da água estava
baixo. Esse fenômeno atraiu comerciantes portugueses e uma praia
Real ficou estabelecida para alimentar os soldados do rio Negro,
enquanto outras praias foram exploradas por serem consideradas
grandes e abundantes, porém, até hoje, esses quelônios continuam
fazendo parte da dieta do interiorano. Historicamente, a tartaruga,
P. expansa, foi um quelônio de fácil captura para suprir a
alimentação do homem amazônida através de carne e ovos. Sendo
exportado, na época do Brasil Colônia, em 1719, pela capitania de
São José do Rio Negro 192 libras de “manteiga” de tartaruga. Ihering
(1968) cita que para produzir 1 kg de manteiga são necessários 275
ovos de P. expansa.

Alho, Carvalho & Pádua (1979) citam que o preço da


tartaruga em Manaus chegou a alcançar US$ 180,00, Pádua, Alho & Figura 11: Remoção da pele.
Carvalho (1983) citam que em 1980 um exemplar de 30 kg de peso
TOALETE – Foram removidas as partes distais dos membros
vivo chegou a custar cerca de US$ 200,00 em Belém.
(patas) pela secção do tarso e do carpo, da cauda e quaisquer

Wetteberg et al. (1976) determinaram o mercado potencial


para espécies silvestres da fauna amazônica nos 23 restaurantes
50 485
com o auxílio de facas (higienizadas a cada utilização). A partir daí, existentes em Manaus, de 1974 a 1975, bem como tentaram
procedeu-se uma retração manual de todo o trato digestivo até a identificar mercados para as espécies em outras cidades brasileiras
porção anterior (esofágica). Deve-se ter o cuidado de remover as ou no exterior. Esses autores citam que 78,78% dos restaurantes
partes do fígado que permanecem bem aderidas lateralmente, expressaram interesse em vender carne de fauna silvestre, sendo
próximo à inserção dos membros anteriores e posteriores. Os denotado interesse pelo público desses restaurantes, em primeiro
pulmões ficam bem aderidos à carapaça e também são retirados por lugar, pela tartaruga (P. expansa) com peso médio de 28,82 kg e um
tração manual (arrancamento). A retração das vísceras preço médio (estimado pelos restaurantes) que os clientes pagariam
gastrointestinais deve ser realizada cuidadosamente para evitar a por quilograma de US$ 21,81, com um lucro potencial por
ruptura e a contaminação da carcaça por conteúdo fecal. As facas quilograma para os restaurantes de US$ 19,31.
utilizadas nessa fase devem ser de uso restrito dos manipuladores
que trabalham nessa etapa do processo de abate. Espriella (1972) e Nomura (1977) citam uma grande
demanda comercial em países como os Estados Unidos e o Japão,
sendo a comunidade nipônica considerada a pioneira em criação de
tartarugas, desde 1866, por considerarem seu alto valor nutritivo.
Eles recomendam que os criadouros sejam uma das maneiras de
conservar e preservar a tartaruga ou o tracajá. Os criadouros podem
também fornecer filhotes para exportação e ovos para extração de
óleo, sendo que essa extração parece inviável porque o valor
comercial da tartaruga é elevado, embora 100 g de ovos produzam
cerca de 100 g de creme facial.

Segundo o Cenaqua (1994), na Amazônia um boi necessita


de 3-4 ha para produzir 40 kg de carne/ano. Enquanto que em 1 ha
de água pode-se criar até 4.500 tartarugas, com um mínimo de
1.800 kg/ano e um custo aproximado para cada quilo das carnes de
peixe, boi e tartaruga de US$ 1,00, US$ 2,30 e US$ 6,00,
respectivamente.

O Cenaqua (1994) cita que em 1991 as tartarugas com peso


Figura 10: Seqüência de operações para a remoção das vísceras. médio de 25 kg tiveram preço médio de US$ 80,00. Indicando, por
esses valores, que a tartaruga constitui um item acessível à classe
alta.

484 51
O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo Secciona-se a junção óssea da plastro-pelviana com o auxílio de
(PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco. tesouras metálicas.
No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg
fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em
rendimento de carcaça.

Para o TCA (1997), o preço por tartaruga viva no Brasil,


Colômbia, Peru e Venezuela foi de US$ 97,00 a 122,00; US$ 5,00 a
61,00; US$ 8,00 a 20,00; US$ 18,00 a 47,00, respectivamente. Na
Colômbia o preço por um quilo é de US$ 4,80.

No Peru, devido aos ovos de Podocnemis expansa serem


apreciados para consumo humano, o preço por unidade chegou a
US$ 0,22 (TCA, 1997).

Para o TCA (1997), o preço de um exemplar adulto de


Podocnemis expansa varia, dependendo do local e tamanho do
animal. O preço pago nos centros urbanos amazônicos (Iquitos e
Manaus) é cerca do dobro do preço pago ao povo ribeirinho, e mais do
triplo do que recebe o trabalhador rural.

Segundo Terán et al. (1997), os quelônios foram e


continuam sendo uma das principais fontes de proteínas para os
Figura 9: Remoção do plastrão realizada na área limpa.
índios e ribeirinhos em toda a Amazônia. Na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Brasil, onde realizou-se REVERSÃO DA PENDURA – Para facilitar a evisceração reverteu-se
entrevistas com 50 famílias e observações de campo, obteve-se o a posição do animal, tornando a fixá-lo nos ganchos dos trilhos da
consumo de quatro espécies de tartarugas na alimentação familiar, nora pelos membros posteriores.
como Podocnemis sextuberculata (68,2%), P. unifilis (27,1%),
EVISCERAÇÃO – Ao acessar a cavidade celomática pela incisão na
Geochelone denticulata (4,3%) Chelus fimbriatus (0,4%).
linha alba, seccionou-se uma porção transversal do fígado que
comunica as porções hepáticas direita e esquerda. Procedeu-se a
Rebelo et al., 1997, apud Duarte & Andrade (1998) ao dissecação da porção terminal da cloaca junto à cauda, realizando-
mostrarem a evolução do consumo de animais de caça e a se uma dissecação da porção terminal do trato digestivo, até os rins,
determinação das populações de quelônios no Parque Nacional do

52 483
SERRAGEM DAS PONTES – Na serragem, os animais foram Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta
apoiados em decúbito dorsal, no suporte metálico, para facilitar a Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os
operação e evitar acidentes com os manipuladores. As pontes foram animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto
serradas com o auxílio de uma serra elétrica manual. O disco da lugar na citação. A criação doméstica foi citada em apenas 0,5% das
serra deve ter aproximadamente 7 cm de raio. Foi usado um plano refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo com
paralelo com a superfície ventral do plastrão, serrando-se medial e calendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram
superficialmente para evitar a ruptura das vísceras e órgãos. Para a quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis
desarticulação final das pontes utilizou-se um trinchante de ponta unifilis e Podocnemis erythrocephala), 38% mamíferos terrestres e
romba. 17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6
meses, ou 48,6 animais/família/ano.

Canto et al. (1999), ao realizarem um levantamento


preliminar da comercialização ilegal de produtos da fauna no estado
do Amazonas, registram que as classes mais apreendidas são
répteis (principalmente, quelônios) com 52,2%, mamíferos 30% e
aves 17,8%. Nas feiras, a maior comercialização de carne é para
mamíferos (68%), aves (19%) e quelônios (13%). Sendo os quelônios
(tartaruga e tracajá), mais apreciados, a comercialização feita sob
encomenda cuidadosa, representando 22% dos animais
comercializados para alimentação e o preço relativo por um
quilograma (peso vivo – PV) da tartaruga de R$ 30,00.

Figura 8: Seqüência de operações de serragem e desarticulação das pontes.


A carne de tartaruga-da-amazônia proveniente de
PENDURA – Pendura-se pelos membros anteriores nos ganchos dos criadouros legalizados pelo Ibama, no Amazonas, foi vendida
trilhos com nora, passando à área limpa do abatedouro para a inicialmente ao preço de R$ 12,00 a 18,00/kg de peso vivo em
retirada do plastrão. supermercados de Manaus (A Crítica, 1996), sendo pago ao
produtor até R$ 13,00/kg. Hoje, os produtores estão
RETIRADA DO PLASTRÃO – Dissecação do plastrão, no sentido
comercializando com preços que variam de R$ 8,00 a 12,00, por
longitudinal, até a sua porção posterior.
quilograma de animal vivo.

Segundo Andrade et al. (2003), o custo com ração é de US$


11
Makita ¼” (6 mm): modelo 906 com potência de 240 w. 1,45 para produzir um quilo de tartaruga e em um cultivo
superintensivo em tanques-rede pode-se obter renda líquida de US$

482 53
3
246,24/m . Lima (2000), estimou, nos criadouros do Amazonas os período de sangria de 15 minutos. Obteve-se melhor escoamento do
custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para sangue, aparência menos avermelhada da musculatura e o volume
produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de médio de sangue escoado foi de 3,11% do peso vivo dos animais.
venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de
104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como uma
atividade altamente rentável.

Figura 7: Secção parcial dos vasos da porção anterior do pescoço.

LAVAGEM – Foi iniciada por um primeiro enxágüe com jatos de água


sob pressão com água clorada a 5 ppm, seguida por uma escovação
(escova pequena) com detergente alcalino a 0,2% em todo o animal e
nas regiões axilares que não foram acessadas durante a pré-
lavagem. Finalmente, foi realizado o último enxágüe para a remoção
dos resíduos de sujidades com o detergente.

10
É sugerido o uso de luvas, pelo manipulador, para evitar a ação corrosiva dos
detergentes alcalinos

54 481
PENDURA – Os animais foram pendurados pelas membranas
interdigitais dos membros posteriores, nos ganchos dos trilhos com
nora, visando a facilitar a etapa de sangria, agilizando o processo.
Capítulo 3: Áreas de reprodução de
quelônios protegidas pelo RAN-
Ibama/Amazonas e Ufam

Paulo Cesar Machado Andrade


João Alfredo da Mota Duarte
Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
Pedro Macedo da Costa
Agenor Vicente
Anndson Brelaz
Carlos Dias de Almeida Júnior
Wander Rodrigues
Jonathas Nascimento
Hellen Christina Medeiros
Luiz Mendonça Neto
Sandra Helena Azevedo
José Ribamar da Silva Pinto

Quando chega o verão na Amazônia, a vazante se inicia e com


ela surgem milhares de praias ao longo dos rios. Sejam praias de
areia bem branquinha em rios de águas negras e claras, ou praias
amareladas em rios de águas barrentas, todas se transformam em
verdadeiros depositários de vida com o período reprodutivo de
quelônios (tartarugas, tracajás, iaçás, irapucas) e aves (gaivotas,
Figura 6: Pendura dos animais através das membranas interdigitais dos corta-águas, quero-queros, etc.). A gerência do Ibama no estado do
membros posteriores. Amazonas, através do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
Anfíbios (RAN) tem desenvolvido uma série de atividades que visam a
SANGRIA – Foram realizados testes através da secção total e da conservação dos quelônios na região.
secção parcial da porção anterior do pescoço. O melhor método foi a Esse trabalho envolve parceria com a Universidade Federal
secção parcial (como na maioria das espécies domésticas) com o do Amazonas (Ufam), comunidades e prefeituras dos municípios.
Em um primeiro momento, as comunidades são visitadas e

480 55
realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se INSENSIBILIZAÇÃO – Os animais foram insensibilizados sob a ação
envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais do gelo em água, permanecendo em recipiente de plástico atóxico em
pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos temperatura de 0 a 2ºC por um período de 15 minutos, quando se
do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que obteve a flacidez e a ausência dos reflexos da cabeça e dos membros.
atuarão no controle, monitoramento e fiscalização de cada praia de
desova de quelônios, os chamados tabuleiros.

O Projeto Quelônios ampliou, desde 2001, sua atuação para


os municípios amazonenses de Parintins, Juruá, Manicoré, Lábrea,
Borba, Tapauá, Eirunepé, Carauri, Barreirinha, Nhamundá,
Canutama, Barcelos, Novo Airão, Itamarati e São Sebastião do
Uatumã, atingindo 407.504 habitantes que constituem as
populações desses municípios. Atingimos, ainda, em parceria com a
Ufam, através do projeto de extensão de manejo sustentável de
tracajás, o Projeto Pé-de-Pincha, três municípios limítrofes no
Estado do Pará, Terra Santa (16.500 habitantes), Oriximiná (60.000
habitantes) e Juruti (20.000 habitantes).

Em cada município temos diretamente envolvidos com os


trabalhos de campo e os treinamentos as comunidades e os
professores da rede pública de ensino: 1) Em Parintins são 15
comunidades com cerca de 490 famílias e 62 professores em
treinamento e 26 agentes ambientais voluntários; 2) Em
Barreirinha, 12 comunidades com 160 famílias, 35 professores e 1
agente ambiental; 3) Em Nhamundá, são 10 localidades com 63
famílias; 4) Em Eirunepé e Itamarati, nas praias de Walter Buri,
cerca de 30 famílias; 5) Em Carauari, na Resex do Médio Juruá, em
10 tabuleiros, 200 famílias; 6) No Juruá, nos tabuleiros de Joanico,
Renascença, Antonina, Vai-quem-quer e Botafogo, 100 famílias; 7)
Em Manicoré, na praia do Nazaré, envolvendo 30 famílias que
trabalham no local; 8) Em Lábrea, nas comunidades do Buraco, Figura 5: Recipiente com água e gelo utilizado para insensibilização. Animal
sendo insensibilizado.
Luzitânia, Jurucuá, Bananal, Santa Cândida, Novo Brasil,
Porongaba e Realeza, 370 habitantes; 9) Em Borba, no rio Matupiri,
cerca de 100 habitantes; 10) Em Tapauá, na Rebio Abufari e nas

56 479
14.6 Operações de abate e processamento comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu,
aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do
PRÉ-LAVAGEM – Os animais foram transportados dos boxes de Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40
espera ou descanso em caixas plásticas previamente higienizadas famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque
até a área suja, onde foi realizada uma pré-lavagem dos animais do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina;
com jatos de água clorada a 5 ppm sob pressão de, 14) Em São Sebastião do Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no
aproximadamente, 3 atm para remover as sujidades maiores, Jarauacá e no Livramento, atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em
principalmente nas regiões da carapaça e do plastrão. Deve-se Terra Santa (10 comunidades), Oriximiná (6 comunidades) e Juruti
tomar o cuidado de não utilizar pressão excessiva para não lesar o (19 comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes,
epitélio, estressando os animais. sendo que lá já existem 78 professores treinados, 60 agentes
ambientais voluntários e 45 professores em treinamento.

Em todas essas áreas está sendo feita a proteção das matrizes


de tartarugas, iaçás e tracajás, durante a desova, sendo feito o
acompanhamento da postura até a eclosão, quando é desenvolvido o
trabalho de proteção e manejo dos filhotes. A fiscalização pelo Ibama
e pelos comunitários é bastante rígida nesses locais. Acompanhando
esses trabalhos de monitoramento e controle, é desenvolvida uma
estratégia de conscientização através da educação ambiental e da
discussão sobre alternativas de desenvolvimento. Nesse aspecto, a
parceria com a Universidade tem permitido ao Ibama levar cursos e
projetos de desenvolvimento para algumas comunidades como:
criação caipira de galinhas, beneficiamento de pescado, utilização
de plantas medicinais, piscicultura, criação de animais silvestres e
ecoturismo. O apoio das prefeituras tem sido fundamental para a
realização dessas atividades, que passam a se consolidar em cada
município como estratégias de conservação e possível geração de
renda no futuro, através da criação e manejo de quelônios e do
Figura 4: Pré-lavagem utilizando água clorada sob pressão. ecoturismo, entre outras.

8
Partes por milhão. Unidade de medida equivalente à mg/kg.
9
Atmosfera. Unidade de pressão

478 57
Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram soltos FLUXOGRAMA DE OBTENÇÃO DE CARNE EMBALADA E
1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de 3.886 CONGELADA
covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de iaçás e
4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número de
praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número médio RECEPÇÃO
anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a
proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e DESCANSO EVISCERAÇÃO
diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de
conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas,
também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso, PRÉ-LAVAGEM ESFOLA
consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para
criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas, TOALETE
com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro INSENSIBILIZAÇÃO
de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os
ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua PRÉ-LAVAGEM
dimensão territorial. PENDURA (POSTERIORES)

Áreas de Conservação de Quelônios SANGRIA RETIRADA DA


pelo RAN-Amazonas CARAPAÇA

100 87 LAVAGEM
80 59 63 Rios EMBALAGEM
60 SERRAGEM DAS PONTES
Localidades
n

40 18 19 16
12 10 11 10 Municípios
20 2 3 CONGELAMENTO
0
PENDURA(ANTERIORES)
2000 2001 2002 2003
ESTOCAGEM
RETIRADA DO PLASTRÃO
Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre
2000 e 2003.

A Figura 1 apresenta os dados da ampliação das áreas EXPEDIÇÃO


PENDURA(POSTERIORES)
reprodutivas de quelônios protegidas pelo RAN- AM, em 2000-2003.

58 477
O transporte do criadouro ao abatedouro poderá ser terrestre, aéreo Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de
ou fluvial, mas deve ser conduzido de maneira a minimizar o recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias
estresse aos animais. Para o transporte, os animais deverão possuir com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de
a autorização do Ibama. financiamento de projetos científicos e de extensão. O número de
técnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do
RECEPÇÃO – Os animais foram recepcionados no abatedouro, RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de
sendo realizados os procedimentos para a avaliação geral. Também Fauna, no Ibama-AM.
foi verificada a documentação do Ibama, sendo feito o
encaminhamento dos animais para os boxes de espera ou descanso. O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a
conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas:
DESCANSO – Os animais permaneceram nos boxes de espera ou
descanso do abatedouro por um período específico. Os currais ou Rio Purus
boxes de espera devem ter água clorada corrente, a 5 (cinco) ppm de
1) Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, em Tapauá;
cloro residual livre, para reduzir a carga de contaminantes e
2) Tabuleiros de Piranhas e Enseada, em Tapauá;
estimular a defecação. 3) Tabuleiro do Curuzu e Vista Alegre, em Tapauá;
4) Reserva do Jamanduá, em Canutama;
14.5 Elaboração do fluxograma de processo 5) Tabuleiro do Nazaré e Axioma, município de Canutama.

Inicialmente, o fluxograma foi estabelecido com base na Rio Uatumã


metodologia de abate usada atualmente por alguns
estabelecimentos que realizam abate para fins comerciais. Durante 1) Tabuleiro do Abacate /Balbina;
2) Tabuleiros do rio Jarauacá/comunidade do Livramento,
os trabalhos realizados, algumas etapas foram modificadas e/ou
Balbina;
incluídas no processo. Entretanto, ainda há a necessidade de
3) Rebio Uatumã e rio Pitinga: Ilha do Limão, do Bacaba, Sororoca,
utilizar métodos de validação dessas etapas aqui descritas.
Arapari, do Açaí, do Papagaio.
A proposta de fluxograma foi realizada com o objetivo de
Rio Juruá
obter a carne de tartaruga-da-amazônia embalada e congelada com
as devidas características das instalações do estabelecimento onde 1) Resex do Médio Juruá/Carauari: 10 tabuleiros (Gumo do Facão,
foram realizados os trabalhos experimentais. Nova Esperança/Jacaré, Roque/Ati, Bauana, Deus é Pai, Bom
Jesus, Manariã, Monte Carmelo/Pau Furado, Itanga, Mandioca)
2) Tabuleiro do Joanico e Renascença/Juruá;
6 Os trabalhos realizados não permitiram estabelecer o período de descanso adequado 3) Tabuleiro de Botafogo, Antonina e Vai-quem-quer/Juruá;
para essa espécie. As peculiaridades fisiológicas dessa espécie deverão ser mais 4) Tabuleiro de Walter Buri/Itamarati-Eirunepé;
estudadas para a obtenção dos resultados desejados nessa etapa.
7 Como ocorre nas rãs, observamos que a presença de água corrente estimula a defecação
5) Tabuleiros de São Francisco, Dois Irmãos, do Gado/Itamarati;
das tartarugas.

476 59
Rio Madeira 14.4 Operações pré-abate

1)Praia do Nazaré/Manicoré; As operações pré-abate acontecem desde os cuidados na


2)Rio Matupiri/Borba: diversos tabuleiros; aquisição dos insumos, criação, transporte, recepção no
Rios Solimões-Japurá estabelecimento, encaminhamento para os boxes de espera ou
descanso, até o transporte para a edificação de abate. Assim sendo,
1) Tefé – RDS Mamirauá: Pirapucu, Praia do Meio, Horizonte, Ingá; descreveremos os principais cuidados realizados durante os
2) Coari: Ilha do Geral; trabalhos experimentais que foram e/ou devem ser adotados
durante o período de pré-abate.
Rio Negro
CRIADOURO – Os animais foram criados em conformidade à
1) Praia da Velha/Parna Jaú, Novo Airão;
2) Praia do Cabuano/Parna Jaú/Novo Airão; regulamentação específica. Os criadouros estão estabelecidos em
3) Praia Dulumina/Barcelos. ambientes que não possuam resíduos de contaminantes ambientais
(pesticidas e resíduos de agrotóxicos) que constituam risco à saúde
dos animais. Os ingredientes e as rações usadas na alimentação dos
Áreas do Programa Pé-de-Pincha: Médio-Baixo Amazonas
animais devem ser elaboradas e armazenadas de forma a minimizar
os riscos para a saúde animal. As drogas veterinárias utilizadas
a) Rio Amazonas: durante o período de criação devem respeitar as doses e os períodos
Ilha de Vila Nova/Parintins. de tratamento preconizados, bem como o prazo de carência
específico para o aproveitamento humano dos produtos animais. Os
b) Municípios do Amazonas:
animais somente podem ser encaminhados ao abatedouro quando
1) Barreirinha: Piraí, Granja Ceres, Ipiranga, Tucumunduba, São apresentarem o peso vivo igual ou superior a 1,5 kg. Todos os
Francisco, São Pedro, Proteção Divina, Lírios do Vale, Matupiri, animais destinados ao abatedouro deverão proceder de criadouros
Ariaú, Coatá, Ponta Alegre e Pindobal; registrados e autorizados pelo RAN/Ibama.

2) Parintins: Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba, TRANSPORTE – Os animais foram acondicionados em
Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São recipientes plásticos atóxicos, previamente higienizados, sem
Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes do Mamuru; qualquer tipo de contaminante, em condições de temperatura e de
umidade medianas.
3) Nhamundá: Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador,
Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal,
Marcolino, São Francisco e Vista Alegre. 5 Conforme a Portaria nº 142/92 de 30 de dezembro de 1992 do Ibama/MMA.

60 475
As atividades de inspeção deverão ser realizadas de forma c) Municípios do oeste do Pará:
semelhante aos procedimentos adotados para as espécies
4) Terra Santa: Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal,
genericamente denominadas pescados e quando aplicável às
Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado,
demais espécies animais.
Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa
A inspeção se divide em duas grandes etapas chamadas de Grande), Igarapé do Jamary (Alemã e Chuedá) e Lago do Abaucu
inspeção ante-mortem e inspeção post-mortem. (Capote e Jauaruna).

A inspeção ante-mortem compreende os trabalhos 5) Oriximiná: Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do
realizados na recepção dos animais, na verificação da Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho,
documentação, na avaliação dos animais nos boxes de espera e Cachoeiry;
observação, no encaminhamento dos eventuais animais ao
departamento de necropsia, na realização das necropsias e no 6) Juruti: Maravilha, Santa Madalena, Açaí, Zé Maria, Caapiranga,
encaminhamento dos materiais para avaliação laboratorial. Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa,
Capitão e Vila Muirapinima.
A inspeção post-mortem compreende todos os trabalhos
realizados antes, durante e após as operações realizadas na área Na Figura 2 e na Tabela 1 observamos que mesmo com todos
suja (pré-lavagem, insensibilização, sangria, lavagem e serragem os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio Abufari, em
das pontes), na área limpa (retirada do plastrão, evisceração, esfola, 2001-2002, ela perde o status de maior produtora de quelônios do
toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem e Amazonas para áreas com trabalhos comunitários em tabuleiros
congelamento) e nas demais áreas. pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e Baixo
Juruá, sendo que as áreas com manejo comunitário/participativo
A visualização macroscópica das partes externas, internas, de quelônios passaram a responder pela maior parte da produção do
bem como suas vísceras e órgãos celomáticos, durante a Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes) em relação às áreas de
evisceração, será fundamental para a verificação das possíveis proteção estrita do Governo (39,98% = 430.920 filhotes).
alterações patológicas que possam comprometer a qualidade do
produto final. É possível, a critério do médico-veterinário oficial, Esse envolvimento e conscientização comunitária
após uma avaliação minuciosa no DIF, liberar, aproveitar permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,37-
condicionalmente ou rejeitar as partes, o todo ou até mesmo um lote 0,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas
de animais que apresentem alterações que impliquem em algum verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a
prejuízo aos consumidores. Além disso, os veterinários oficiais partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução
poderão auditar os sistemas de controle e garantia de qualidade, monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na
implantados pelas empresas processadoras. produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e
Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as
populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e

474 61
estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras O Departamento de Inspeção Final bem como o
áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi Departamento de Necropsias devem ser providos de mesas e
muito mais significativo. utensílios necessários (facas, fuzis, termômetros, tesouras de ponta
A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas romba, frascos para coleta de material, etc.) aos trabalhos.
produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as
comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a Todos os manipuladores deverão estar providos de dois
completa ausência de técnicos do Governo e de recursos, conjuntos de jalecos brancos, duas calças brancas, dois pares de
amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho botas brancas de borracha, dois gorros com máscaras que devem
comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de ser higienizadas diariamente em lavanderias, para evitar
646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja, contaminações durante as diversas operações.
46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário, onde o governo
14.3 Inspeção
se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do
ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-de- A inspeção corresponde às atividades realizadas pelo serviço
Pincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de veterinário oficial, que poderá ser municipal (Serviço de Inspeção
2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção. Municipal – SIM), estadual (Serviço de Inspeção Estadual – SIE) e
federal (Serviço de Inspeção Federal – SIF) que têm como missão
Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os garantir que o produto de origem animal seja sadio, seguro e
incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de confiável para o consumidor.
quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários
A atuação dos serviços de inspeção é fundamentada em
foram mais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo
critérios higiênico-sanitários e tecnológicos, a fim de que a indústria
conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são
possa ofertar um produto adequado ao consumo. Entretanto, não é
mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de
responsabilidade exclusiva dos serviços de inspeção a garantia da
contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos
qualidade dos produtos. As empresas devem estabelecer seus
recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações
próprios sistemas de controle e garantia da qualidade, que devem
comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”,
ser coordenados por profissionais capacitados à utilização das
definido como um recurso público a fundo perdido, destinado
principais ferramentas. Dessa forma, todos os empreendedores
àquelas comunidades devidamente regularizadas e
interessados em desenvolver a atividade de abate de quelônios
comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna
deverão seguir as orientações dos serviços veterinários oficiais,
aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a
desde a elaboração dos projetos até o seu funcionamento.
geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou
extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação de
4
animais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Padrão de Higiene Operacional
de filhotes de áreas de manejo comunitário para criadores. (PPHO) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

62 473
Produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas no
Amazonas

400000
350000
300000 2001
250000 2002

No.
200000 2003
150000 2004
100000 2005
50000
0


ha


a

au
ar m ã
i

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am

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Áreas

Figura 2: Variação na produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas


pelo RAN/Ibama-AM em 2001 e 2005.

Principais tabuleiros

A) Rio Juruá:

A.1) Alto Juruá: tabuleiros de Walter Buri, Nova Olinda/São


Francisco, Matupá e outros.

Figura 3: Nora automática com ganchos sobre a bancada.


Nesse rio de águas barrentas, estreito e cheio de curvas, no trecho
compreendido entre as cidades de Eirunepé e Itamarati, existem
Os utensílios deverão ser de materiais plásticos resistentes ou diversas praias de desova de quelônios. Muitos desses tabuleiros
metálicos (aço inoxidável), de fácil higienização, para evitar as foram protegidos por antigos donos de seringais. O mais famoso
contaminações cruzadas. Os principais são: facas exclusivas para deles é o tabuleiro de Walter Buri, em italiano, o Castelo de Ouro,
cada área ou operação, fuzis ou chairas, tesouras, trinchantes, localizado em frente à vila do seringal que tinha o mesmo nome.
cestas ou caixas metálicas e monoblocos plásticos brancos e Desde 1983, o então IBDF realiza o monitoramento, controle e
vermelhos. manejo das populações de quelônios que desovam naquela área.
Entretanto, existem outras praias promissoras como a do tabuleiro
de Nova Olinda/São Francisco, praia do Gado, Dois Irmãos,

472 63
Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de devem possuir boxes metálicos profundos para a higienização dos
Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km em braços e dos antebraços, bem como pedilúvio e lava-botas. Todas as
linha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de dependências que realizarem manipulação também devem possuir
popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de boxes metálicos para a higienização de braços, antebraços e de
altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em alguns utensílios.
Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e
Carlos Augusto Bié. O estabelecimento deve possuir localização estratégica
distante de quaisquer fontes contaminantes que possam
comprometer a qualidade dos produtos. Neste caso, o
estabelecimento deve seguir as boas práticas de fabricação,
conforme a Portaria nº 368/98 da SDA/Mapa.

Os equipamentos e os utensílios também deverão seguir a


portaria citada no que se refere à construção, manutenção e higiene.

Os trilhos devem ter aproximadamente 2,00 m de altura com


nora e ganchos metálicos resistentes para a fixação dos animais
durante as operações. Devem ser utilizados equipamentos para a
produção de gelo e calor, serra para a secção das pontes, compressor
para a produção de jatos de água, termômetros, cronômetros, mesas
metálicas com fixadores para os animais, durante as serragens,
mesas para pesagens, mesa para embalagem, forno crematório,
mesa para necropsia, esterilizadores (para serras, facas, fuzis,
tesouras e trinchantes), balanças, embaladoras, seladoras e
climatizadores de ambiente, paletes para caixas e câmaras de
estocagem.

³ Disponível em: http:// www.agricultura.gov.br.html.

64 471
1) Área de lavagem e guarda de caixas plásticas.

2) Área de lavagem e guarda de utensílios.

3) Área de armazenamento de embalagens.

4) Área de expedição: adjacente à estocagem, com porta de


saída para o exterior.

5) Área de produção e armazenamento do gelo: adjacente à


área limpa.

6) Área de estocagem: câmaras de congelamento.

7) Área para recebimento de pele, carapaça, plastrão e


resíduos.

8) Salas de máquinas: unidade de produção de frio


industrial.

III – Prédio administrativo:

1) Escritório.

2) Banheiros: masculinos e femininos.

3) Vestiários: masculinos e femininos.

4) Sede do Serviço de Inspeção: municipal, estadual ou


federal.

5) Lavanderia: higienização dos uniformes dos


manipuladores.

6) Almoxarifado.

Todas as edificações destinadas à elaboração de produtos e


subprodutos comestíveis devem possuir, nos locais de acesso de
pessoal, gabinetes de higienização. Os gabinetes de higienização

470 65
O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de II – Prédio principal: para o desenvolvimento das operações de abate,
2
2001, com bóias de ferro, uma balsa de 80 m de área e uma casa de propriamente ditas, que devem possuir gabinetes de higienização
2
60 m de área construída (dois quartos, um banheiro, uma sala- (botas, braços e antebraços) nos locais de entrada das áreas de
cozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa processamento.
base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro de Walter Buri, do O prédio será composto pelas seguintes áreas ou salas:
outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a equipe 1) Área suja: onde se realizam as etapas de pré-lavagem,
de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato “Curisco”, insensibilização, sangria e serragem das pontes (Figura
que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e Sílvio Santos. Os 2).
trabalhos de proteção têm início em maio, quando os quelônios saem
dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse período, a vigilância
das “bocas” desses lagos é fundamental para que os quelônios
consigam chegar até as áreas de postura. Dois lagos merecem
especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da Empresa
Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo sr.
Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr. Sílvio
Santos. O trabalho se estende durante todo o período reprodutivo
(junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos filhotes
(outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário vigiar
novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos
quelônios, do rio para os lagos (de alimentação).

Figura 2: Vista da área suja. Passagem do trilho da área suja para a área limpa.

1) Área limpa: onde se realizam as etapas de retirada do


plastrão, evisceração, esfola, toalete, pré-lavagem,
retirada da carapaça, embalagem e congelamento. Deve
existir uma área equivalente a 5% dessa área, para o
Departamento de Inspeção Final (DIF), para a avaliação
minuciosa das alterações encontradas durante as
operações de abate.

66 469
Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM.
(Andrade, P.C.M.).

O tabuleiro de Walter Buri tem fornecido filhotes para os


criadouros de quelônios do Amazonas desde 1999 (cerca de 25.000
filhotes de Podocnemis expansa/ano). Os demais filhotes de
tartaruga são soltos no lago da Cachoeira, lago do Maturani, igarapé
de Nova Olinda e, do outro lado do rio, próximo a Walter Buri, desde
que haja bastante capim. Tracajás (P. unifilis) e iaçás (P.
sextuberculata) saem espontaneamente de seus ninhos e correm
Figura 1: Vista de um box de espera, vazio, com piso revestido em epóxi. para a água (as covas de tartaruga são marcadas e manejadas; as
4) Dependências para a elaboração de subprodutos. dos tracajás apenas contadas e as das iaçás são estimadas). Na
5) Dependências para o tratamento dos efluentes: conforme Tabela 2 apresentamos o georreferenciamento das praias de desova
legislação específica². de quelônios e dos lagos de alimentação.

² A legislação ambiental deve ser consultada para o atendimento das exigências


estaduais e federais.

468 67
1) Box de espera ou descanso: destinado a receber os
animais, provenientes dos criadouros, para um período de
descanso.

2) Box de observação: destinado a receber os animais que


apresentaram alterações clínicas nos boxes de espera.

3) Departamento de necropsia:

3.1 – Sala de necropsia: destinada à realização de necropsia


em animais que chegarem mortos, que morrerem nos boxes de
espera ou que apresentarem alterações clínico-patológicas que
justifiquem tais medidas.

3.2 - Forno crematório: destinado à cremação dos despojos


animais que foram a óbito ou que apresentem doenças infecto-
contagiosas que representem grave perigo à saúde humana ou
animal.

Figura 5: Transporte de filhotes de tartaruga (P. expansa) de Walter Buri para


criadores registrados no Amazonas, 2002. Foto: RAN/AM (Andrade, P. C. M.).

68 467
Tabela 2: Tabuleiros e lagos de alimentação de quelônios situados entre Eirunepé e Itamarati,
As análises microbiológicas foram realizadas pelo no Alto rio Juruá

Laboratório de Higiene dos Alimentos da Faculdade de Ciências da Local Tipo Coordenadas Dimensões Nº de Nº de
Saúde da Universidade de Brasília, e as análises físico-químicas pelo da praia ninhos em filhotes
2001 produzi_
Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da dos ou
Universidade Federal de Goiás. soltos
Walter Tabuleiro 6º28’54’’S; 4.000 m X Tartaruga= 72.588
Buri de desova 68º25’54”W e 200 m 560
Também foram realizadas avaliações parasitológicas e 119 m de Tracajá=600
altitude Iaçá=1000
histopatológicas pelo Departamento de Medicina Veterinária da
São Tabuleiro 6º29’25” S; 4.500 m X Tartaruga= 10.178
Upis – Faculdades Integradas do DF. Francis_ de desova 68º31’56” W 200 m 15
co Tracajá=321
Matupá Praia de 6º26’46”S; 4.000 m X Tartaruga=2 2.885
Os trabalhos foram acompanhados por médicos-veterinários Tracajá=23
desova 68º29’16”W 150 m
do Serviço de Inspeção Federal do Setor de Pescados do Iaçá=125
Do Gado Praia de 6º27’55”S; Tartaruga=5 418
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do desova 68º27’29”W
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Maturini Praia de 6º30’22”S;
1.000 m X Tartaruga=1 84
desova 68º27’29”W
100 m
Dos Dois Praia de 6º26’8”S;
1500 m X Tartaruga=5 418
14.2 Descrição das instalações, equipamentos e utensílios Irmãos desova 68º28’55”W
80 m e
2.800 m X
Uma proposta de estabelecimento industrial destinado ao 80 m
TOTAL DE FILHOTES PRODUZIDOS EM 2001 86.571
abate e ao processamento de tartaruga-da-amazônia deve possuir Local Tipo Coordenadas Espécie Nº/espécie Nº t otal
as principais dependências exigidas para o abate das demais de
filhotes
espécies utilizadas na alimentação humana, visando ao Estirão Potenciais
30 minutos de Tartaruga - -
do Óbito praias de Eirunepé, Tracajá
aproveitamento sustentável e econômico dos produtos e e São desova descendo o rio
subprodutos oriundos do abate. As dependências (Anexo I) exigidas João na margem
direita
são: Lago do Lagos de 6º30’37”S; Tartaruga 2.300 2.300
Maturani alimenta_ 68º27’24”W
I - Área externa: próxima ao abatedouro, devendo estar, no e do ção
Tarira
mínimo, a 10 metros de distância do prédio principal. Igarapé Rota de 6º28’19”S; Tartaruga 1.000 1.000
de Nova migração 68º 30’45”W
Olinda
Lago Soltura - Tartaruga 3.500 3.500
Cachoei_
ra
Walter Soltura - Tartaruga 1.031 1.078
Buri Tracajá 31
Iaçá 16
¹ É um código internacional de alimentos coordenado por comissões da Food and FILHOTES SOLTOS EM OUTROS LUGARES EM 2001 7.878
Agriculture Organization (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS).

466 69
A.2) Médio Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista Os 40 animais foram doados por três criadouros comerciais,
(Resex) Médio Juruá em Carauari/AM. dois do estado de Goiás e um do Pará, ambos registrados e
autorizados pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
A atividade de produção de quelônios em praias manejadas Anfíbios (RAN/Ibama).
está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursos
da Resex, sendo mais uma alternativa de renda para as 14.1 Considerações gerais
comunidades, ao mesmo tempo que conserva essas espécies que, na
região, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamos O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
um aumento proporcional na produção de quelônios em relação ao Produtos de Origem Animal (Riispoa) classifica os quelônios, na
tempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que tal denominação genérica de pescados, todavia, não existe uma
iniciativa pode estar proporcionando condições para melhorar a
reprodução dos quelônios. As comunidades da Resex decidiram regulamentação específica para quelônios. Esse fato tornou o abate
proteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis experimental um tanto quanto empírico, pois não havia informações
expansa), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos, preliminares que pudessem direcionar os primeiros passos do
ficando o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) sob proteção abate.
relativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelas
populações tradicionais durante a vazante do rio. Além disso, os quelônios são répteis singulares, com
características anatômicas e fisiológicas particulares que indicam a
necessidade de experimentações e estudos específicos para a
definição de uma metodologia de abate.

A inexistência de mecanismos intrínsecos de regulação da


temperatura corporal (heterotermia), a presença de esqueleto
externo (carapaça e plastrão) e o baixo metabolismo basal são
alguns dos pontos que influenciam e exigem diferenciação nos
procedimentos de abate.

Entre as espécies de pescados utilizadas comercialmente


temos a rã-touro-gigante (Rana catesbeiana) que foi a espécie que
mais se assemelhou biologicamente à tartaruga-da-amazônia. Por
isso, os padrões microbiológicos usados neste trabalho foram os
Figura 6: Tabuleiro Deus é Pai – Resex Médio Juruá/Carauari-AM. Foto: mesmos utilizados para a carne de rã, pelo Codex Alimentarius.
RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
Devido às características do estabelecimento industrial em
que foram realizados os trabalhos de abate experimental, o produto
final obtido foi a carne de tartaruga-da-amazônia congelada.

70 465
Até recentemente, a experiência científica de abate se
resumia ao sacrifício de exemplares de porte maior, retirados da
natureza. A criação comercial foi um caminho obscuro para os
pioneiros. Não era conhecida a forma de se manejar em cativeiro e a
velocidade de crescimento, sem idéia do tempo necessário para que
os animais atingissem o peso para abate (1,5kg).

Os primeiros criadouros comerciais de tartaruga-da-


amazônia começaram a produzir e alguns animais atingiram o peso
de abate. A partir daí, ficou evidente a inexistência de uma
metodologia de abate que atendesse a todos os critérios higiênico-
sanitários e tecnológicos previstos na legislação.

Dessa forma, este trabalho teve por objetivo estudar e


estabelecer parâmetros para o abate visando atender aos requisitos Figura 7: Tabuleiro do Ati, comunidade do Roque, Resex Médio Juruá,
Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.).
tecnológicos e higiênico-sanitários para um aproveitamento
racional e econômico da carne de tartaruga-da-amazônia para o
consumo humano.

Os trabalhos para a definição dos procedimentos básicos de


abate foram realizados durante o período compreendido entre os
dias 23 de outubro e 11 de dezembro de 2002. Foram abatidos um
total de 40 animais com o objetivo de estabelecer as etapas,
propondo uma metodologia de abate para a espécie Podocnemis
expansa (tartaruga-da-amazônia).

Os 40 animais foram divididos em seis episódios de abates


experimentais realizados no entreposto de pescados da empresa
Rander, localizada no Gama/DF e registrada sob o SIF nº 2840 na
Delegacia Federal de Agricultura do DF, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O referido estabelecimento
destina-se, principalmente, ao abate da rã-touro-gigante (Rana
catesbeiana) para a obtenção de carne congelada. Figura 8: Rastros de P. expansa, tabuleiro do Ati, Resex Médio Juruá,
Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).

464 71
Tabela 3: Produção de quelônios nas praias manejadas da Resex do Médio
Juruá, no período de 1994 a 2006.
Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-
Iaçá Tartaruga Tracajá
ano filhote covas filhotes covas filhotes da-amazônia (Podocnemis expansa) criada em
vivos morto vivos morto cativeiro
s s
1994 150.000 465 43.721 - 1029 24.949 -
1995 - 249 28.418 - 1.033 33.572 - Trabalho requisitado pelo Centro Nacional de Manejo e
1996 - 460 40.376 - 704 6.163 - Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama-Goiânia), realizado
1997 98.781 - 43.046 - - 13.140 -
1998 121.666 542 58.804 174 666 25.949 100
pela empresa Xamã Veterinária Ltda. e conduzido pelos Médicos-
1999 144.783 616 76.521 8.256 712 23.008 449 Veterinários Alexander Dornelles e Leonardo Quintanilha.
2000 165.530 876 101.644 - 946 29.882 -
2001 186.086 - 118.332 - 1106 36.313 - A tartaruga-da-amazônia tem uma carne muito apreciada na
2002 81.096 600 69.696 142 574 15.598 9
região Norte, mas alcança o mercado das demais regiões. A produção
2003 89.656 679 78.784 140 976 27.345 120
2004 103.608 426 49.416 219 396 8.741 - da tartaruga-da-amazônia, bem como dos demais animais silvestres
2005 70.230 426 42.531 - 735 13.709 - é regulamentada pelo Ibama.
2006 54.133 467 47.423 - 834 20.109 -
Total 1265569 5341 798.712 8.931 11338 278.478 678 O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade & Brelaz (2006).
(RAN/Ibama), com o objetivo de gerar renda aos produtores rurais e
Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas promover a conservação da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas: expansa), vem incentivando e dando diretrizes para uma exploração
Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é comercial visando ao atendimento desses mercados.
Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, O primeiro criatório comercial de tartaruga-da-amazônia foi
Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo), registrado em 1993 no estado do Amazonas mas, somente em 1995,
Itanga, Mandioca. os primeiros animais atingiram o peso permitido para o abate
Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de (1,5kg), sendo comercializados vivos e abatidos, sem inspeção
agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro do veterinária. Somente no final de 2000, alguns animais foram
Pupunhas. Naquele ano foram monitorados os tabuleiros Deus é Pai abatidos experimentalmente no matadouro de pequenos e médios
ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus animais no município de Iguape, no interior de São Paulo.
Coelho. A exploração comercial da tartaruga-da-amazônia, dentro da
O tabuleiro do Jacaré, protegido pelos agentes da atual visão do agronegócio, deve ser vista como uma cadeia
comunidade Nova Esperança, está localizado no antigo seringal produtiva. Todos os elos dessa cadeia devem estar organizados e
Pupunha. Nele, o seringalista Basílio Coelho Bastos pagava vigias coordenados para o sucesso da atividade.
de praia e recebia a produção de

72 463
Conclusão filhotes no grande barracão. Soltava todos em um pequeno igarapé
que permitia, quando enchia, que os filhotes saíssem naturalmente
A criação de tartaruga-da-amazônia, em escala comercial, para o rio Juruá. Depois, o seringal foi vendido para a Maginco.
com ciclo de 36 meses é uma atividade técnica e economicamente
Quando o IBDF assumiu a proteção da área já havia o trabalho que
viável e constitui-se em uma nova opção ao agronegócio amazônico.
foi mantido com o sistema de contrato de agentes de praia,
O cultivo de tartaruga-da-amazônia é um dos mais acampamento e marcação de tartarugas. Tudo isso acompanhado
promissores instrumentos para a sustentação de políticas pelo sr. João Tomaz/IBDF. Com o tempo e o crescimento de
ambientais voltadas à preservação e ao restabelecimento de
Carauari, começaram a invadir o tabuleiro, então ficou muito ruim
estoques naturais da espécie.
até criarem a Resex. No Jacaré, desovam 32 tartarugas. Segundo os
agentes, em 2001 desovaram 24 tartarugas e 140 tracajás, em 2000,
haviam desovado 34 tartarugas e 130 tracajás. O período de
boiadouro para iaçá e tracajá é em junho e a desova destes ocorre em
julho/agosto, já as tartarugas desovam em agosto/setembro.

O tabuleiro do Ati também pertence à área do seringal


Pupunha, sendo manejado pela comunidade do Roque, que fica
distante da margem do Juruá (tem de entrar em um lago e caminhar
uma hora na mata de várzea até chegar à comunidade). Esse
tabuleiro é o que detém, hoje, a maior produção, cerca de 280 covas
de tartaruga. O Manariã é o segundo mais produtivo, entretanto é
manejado por uma só família. O terceiro em produção é o Mandioca,
seguido do Gumo do Facão ou do Bauana. No Marari, desovam mais
tracajás. A Tabela 4 apresenta as coordenadas e informações sobre
os tabuleiros.

O tabuleiro Deus é Pai já foi o mais produtivo na área do


antigo seringal Pão, todavia, houve o encalhe de uma balsa com
8.000 sacos de farinha e a movimentação das máquinas para
desencalhar a balsa e a dragagem da praia espantaram as
tartarugas. Hoje, a presença de gado na praia também prejudica.
No Jacaré, Manariã e Deus é Pai, os agentes de praia usavam o
capitari (macho da tartaruga) preso em um cercado como “indez” ou

462 73
“chama”. A seguir, apresentamos fotos mostrando a reprodução de Tabela 6. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperação de Capital
aves nos tabuleiros da Resex (Figura 9) (TRC).

Períodos de Cultivo
Preço de
venda 12 meses 24 meses 36 meses 45 meses
(R$/kg) TIR TCR TIR TCR TIR TCR TIR TCR
(%) (ano) (%) (ano) (%) (ano) (%) (ano)

4,00 --- --- 15 10 24 6 9 8


5,00 10 8 35 4 37 3 20 4
6,00 33 6 52 4 49 3 29 4
7,00 59 4 67 2 60 3 37 4
8,00 84 3 82 2 69 3 44 4

No teste de sensibilidade a diferentes preços de venda, que dá


segurança e poder de barganha ao produtor para enfrentar
quaisquer oscilações de mercado, observa-se que o cultivo realizado
em um período de 36 meses apresentou melhor desempenho que os
demais, com TIRs acima da taxa de atratividade, a partir de
R$4,00/kg, como preço de venda. Caso o criador venda o seu
produto a R$4,00 o quilo, em dois cultivos (6 anos), ele recupera o
capital investido. A partir de R$5,00/kg, o tempo de recuperação de
capital será de 3 anos.

74 461
Tabela 5. Composição do custo operacional total da criação de tartaruga sob
diferentes ciclos de produção.
Na mesma época da nidificação dos
quelônios, os tabuleiros também são
Períodos de Cultivo brindados com muitas aves reproduzindo
24 meses 36 meses 45 meses nas praias como corta água, gaivotas e
12 meses
Discriminação (%) bacurau. Os filhotes lutam pela
(%) (%) (%)
sobrevivência quando não são assados
Filhotes 32,61 20,04 12,16 8,61
pelo sol abrasador ou servem de alimento
Ração 53,96 61,52 66,75 67,02
para os jacarés, mucuras etc.
Mão-de-obra 0,88 1,08 0,98 0,87
Encargos sociais 0,68 0,84 0,76 0,67
Administração e logística 4,49 4,28 4,14 4,14
Manutenção 1,63 2,02 1,84 1,66
Depreciação 1,63 2,02 1,84 1,66
Juros de custeio 4,12 8,20 11,53 15,37
Custo operacional total 100 100 100 100

Na Tabela 6, são apresentadas as taxas internas de retorno (TIRs) e


tempos de recuperação do capital (TRCs).

Foi considerada como taxa de atratividade a de 15% a.a., que


seria um excelente ganho líquido (abatidos os impostos e taxas) para
aplicações no mercado de capitais. Para que o investidor faça a
opção de aplicar no agronegócio, a TIR a ser obtida deverá ser duas
vezes superior à taxa de atratividade, no mínimo.

Os ovos do corta-água e gaivotas


são tão camuflados que são
confundidos com a coloração da
área nos tabuleiros. Os filhotes
também possuem uma pelagem
inicial muito parecida com a areia
da praia.
São estratégias dos animais para se
livrarem dos predadores.
Os tabuleiros já estão também
fazendo um controle da
ovoposição das aves e também das
iguanas que desovam em grande
quantidade, em algumas praias.

460 75
Tabela 4: Informações sobre tabuleiros e localidades referenciais na Resex O capital de giro necessário para a condução do criatório em
Médio Juruá.
quaisquer dos períodos de cultivo é apresentado na Tabela 4.
Tabuleiro/ Coordenadas Nº de Tabela 4. Parâmetros econômicos após 45 meses de cultivo de tartaruga, ao
localidade famílias preço médio de venda de R$6,00.
(nº hab.)
Pupunha 5º8’51” S; 67º7’35”W à 1 .500 m de 27 (168)
(Jacaré) Nova Esperança (5º5’29”S; 67º10’5” W; Períodos de Cultivo
alt.=74m) Discriminação 12 meses 24 meses 36 meses 45 meses
Ati 5º10’57”S; 67º11’45”W Praia
Rendimento (kg/ha) 1 8.085 16.755 30.250 41.230
Porto do Roque 5º6’13”S; 67º11’59”W 59 (298) Preço médio de venda (R$/kg) 2 6,00 6,00 6,00 6,00
Gumo do facão 5º4’33”S; 66º53’42”W - alt.=74m 21(110) Custo Operacional Efetivo (R$/kg) 3 3,57 2,66 2,36 2,34
Bauana 5º25’18.7’’S; 67º’17’12’’W 18(117) Custo Operacional Total (R$/kg) 4 3,79 2,96 2,72 2,82
Custo Total de produção (R$/kg) 5 3,99 3,23 2,94 3,04
Deus é Pai 5º42’44”S e 67º35’72”W-alt=64 m 3 (11) Renda Líquida I (R$/kg) (2 - 3) 2,43 3,34 3,64 3,66
Bom Jesus 5º22’37.9’’S; 67º12’55”W 22(143) Renda Líquida II (R$/kg) (2 - 4) 2,21 3,04 3,28 3,18
Mari-Mari 5º45’94”S e 67º45’04”W-alt.=68m 3(15) Renda Líquida III (R$/kg) (2 - 5) 2,01 2,77 3,06 2,96
*Rentabilidade (%) 68,06 125,56 154,24 156,41
Manariã 5º28’15”0S; 67º28’31”W-alt.=68 m 5(18) **Lucratividade (%) 36,83 50,67 54,66 53,00
Monte- 5º53’70”S e 67º56’52”W-alt.=74m 9 (18) Capital de Giro/Custeio (R$/ha) (1X3) 28.863,00 44.568,00 71.246,00 96.478,00
Carmelo (Pau
Furado) *Rentabilidade = renda líquida I / custo operacional efetivo.
Itanga 5º45’48’’S; 67º49’56’’W - alt.=77m 13(67) **Lucratividade = renda líquida II / preço médio de venda.
Mandioca 5º59’86”S e 67º58’55”W - alt.=73m 14(77)

O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentes A Tabela 5 mostra a composição percentual do custo
rancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois operacional total para diferentes períodos de cultivo de tartaruga,
conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três em área de 1 hectare, com densidade de 5 mil unidades. Ressalta-se
ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar que em todos os períodos estudados o item ração desponta como o de
um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os maior relevância, o que é comum em todos os criatórios de
trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace). monogástricos.
Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex,
como a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), que
paga R$ 200,00 para duas pessoas e fornece dez litros de gasolina,
durante seis meses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas
diretamente pelo recurso, embora em 2001 todos os agentes tenham
reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em
dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são
provenientes de um projeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc.
Em maio foram liberados R$ 14.400,00 para pagamento

76 459
A duração do ciclo de cultivo deve ser aquela em que se dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos
produza a tartaruga com o maior ganho de peso, pelo menor custo principais produtos agrícolas da Resex: farinha e banana
total, para a obtenção de maior renda líquida por quilo de tartaruga (atualmente, prejudicada pelo mal da Sigatoga Negra).
produzida. Quanto ao preço de venda, maior fator de competição de Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve
mercado, o da tartaruga produzida em cativeiro deve ser bem inferior financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através de
aos praticados no mercado marginal, para que possa haver um trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades
coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou
competitividade.
como coordenador do projeto, e por um técnico do Ibama, lotado na
Para fugir da comparação entre o tamanho de tartarugas Resex do Médio Juruá, Manoel Cruz “Manoelzinho” e Aldízio Lima,
provenientes do comércio marginal e de cativeiro, estas, respectivamente. Esse projeto previa auxílio para os vigias na forma
preferencialmente, devem ser comercializadas abatidas, com cortes de alimentação, a cada mês, recursos para viagens de
selecionados, permitindo agregação de valor ao produto. monitoramento mensal das atividades dos vigias e compra de
Os investimentos fixos para a criação de tartarugas são da equipamentos para a implementação das ações de preservação dos
ordem de R$25.000,00/ha, conforme a Tabela 3. quelônios.
O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos
Tabela 3. Investimentos fixos. ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma
casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde
Discriminação Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
(R$) (R$) está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma
Construção Civil
base para que possam permanecer durante o dia e a noite. O
Movimentação de terra m³ 10.000 2,15 21,500,00 trabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para
Monge u 1 1.500,00 1.500,00
Cerca de proteção m 400 5,00 2.000,00
evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de
animais desovando, a marcação das covas dos animais para o
Total --- --- --- 25.000,00
controle do número que desova em cada praia, e o controle da data
de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o
As tartarugas produzidas com 36 meses de cultivo apresentaram
controle do número de animais que desovaram nas praias, o número
melhores resultados quanto ao custo total de produção, renda
de filhotes que nasceram e que morreram e os ovos não eclodidos.
líquida e lucratividade, se comparadas com as produzidas nos
demais períodos de cultivo estudados. A rentabilidade, mesmo De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio
inferior à alcançada com a produção de tartaruga após 45 meses de Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para
cultivo, é excelente, pois para cada real aplicado na produção de 1,0 estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga
kg de peso vivo houve um ganho de R$1,54, conforme a Tabela 4. (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá
(Podocnemis sextuberculata)

458 77
da região do Médio rio Juruá/AM, através de manejo extensivo de Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de tartarugas de diferentes cultivos.
ovos, filhotes e adultos, por comunidade. Utilizou-se captura-
marcação-recaptura, com armadilhas/redes em diferentes Parâmetros Trabalho Cultivos Comerciais
microambientes e próximas às áreas de nidificação. Os quelônios
Tempo de cultivo (em meses) 45 66
foram marcados com perfuração de carapaça (Figura 10). Densidade de cultivo (tartaruga/ha) 5.000 5.000
Conversão alimentar 2,56:1 14:1
Comprimento de carapaça (cm) 44,00 29,56
Largura de carapaça (cm) 37,50 24,85
Peso médio (g) 8.480 2.660
Produção/unidade de área (kg/ha) 41.230 13.300

Observou-se também, após sexagem, que 17,41% dos exemplares


eram machos e 82,59%, fêmeas; os pesos médios para machos e
fêmeas foram 4,63 e 8,84 kg, respectivamente. Diante dessa
constatação, o interessante, quando possível, seria realizar a
sexagem antes do povoamento do viveiro de engorda, optando-se
pela criação de fêmeas. Neste caso, os machos deveriam ser
destinados à reprodução ou ao comércio ornamental.

A análise dos dados econômicos deve ser focada no mercado


existente para tartaruga, mesmo que ilegal, e no risco inerente à
atividade, comum a todas as outras do ramo zootécnico, quando
praticadas em cultivos de longa duração. Atualmente, o mercado
demanda tartarugas vivas com peso vivo acima de 15 kg
(preferencialmente) e paga de R$12,00 a R$15,00 o quilo,
dependendo da época do ano. Quanto aos riscos, aconselha-se não
estender por muitos anos o tempo de cultivo para que o produtor não
seja surpreendido por eventualidades, tais como: parasitas,
doenças, fugas, roubo, etc. Além disso, em qualquer atividade
econômica, quanto menor o tempo do giro do capital empregado
Figura 10: Captura de quelônios com rede trammel-net no sacado do Mari-Mari mais saudável é o negócio.
– Resex Médio Juruá, biometria, marcação, soltura e aplicação de
questionários. Fotos: C.Dias A.Jr. (2005).

Foram aplicados 45 questionários em nove comunidades na Resex


Médio Juruá. Foram identificadas oito espécies de quelônios:
Podocnemis expansa (16%), P.

78 457
instalações e tempo de duração completamente diferentes aos deste unifilis (16%), P. sextuberculata (16%), Peltocephalus
estudo. Entretanto, as comparações serão realizadas com dumerilianus (4%), R. punctularia (11%), G. denticulata (16%), G.
resultados obtidos em cultivos comerciais, acompanhados pelo carbonaria (5%) e C. fimbriatus (16%). Os comunitários informaram
Ibama. que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%),
Os resultados observados sobre o desempenho zootécnico frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). No Médio
são apresentados na Tabela 1. Juruá, as principais espécies consumidas são P. unifilis (tracajá)
31%, P. expansa (tartaruga) 26%, Geochelone spp. (jabuti) 17% e P.
Tabela 1: Desempenho zootécnico de tartaruga, após 45 meses de cultivo. sextuberculata (iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a
Tempo de
Carapaça
Peso Biomassa Biomassa Ganho de Produção/Unidade Ração Conversão gordura de quelônios como remédio (Nascimento & Andrade, 2005).
Cultivo Comprimento Largura médio inicial final Biomassa de Área Consumida Alimenar
(meses) (cm) (cm) (g) (kg) (kg) (kg) (kg/ha) (kg)
Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no
Início 13,30 12,50 234 209,66 --- --- --- --- ---
12 meses 23,15 20,30 1.853 209,66 1658,44 1.448,78 8.085 3.188 2,20 Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
24 meses 37,48 31,92 3.609 1.658,44 3230,06 3.020,40 16.755 6.834 2,26
36 meses 42,00 35,00 6.338 3.230,06 5690,41 5.480,75 30.250 13.083 2,39 No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ±
44,00 37,50 8.480 7.379,90 41.230 18.875 2,56
45 meses 5.690,41 7589,15
40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3.

Há maior abundância de iaçás (Podocnemis sexturbeculata)


na Resex Médio Juruá (59%). O período com maior número de
capturas é à tarde. No fim da tarde e à noite, foram os momentos de
captura dos animais maiores em comprimento e peso. No período de
cheia dos rios os quelônios concentram-se nos lagos e na floresta
alagada, pela maior oferta de alimentos e proteção contra
predadores. Os aparelhos de pesca de maior eficiência para tracajás
e iaçás foram as caçoeiras, dos comunitários. E, para as tartarugas,
as malhadeiras. A comunidade Bom Jesus mostrou maior
quantidade de cascos utilizados em casas de farinha (para tirar a
massa) e em residências. Os cascos mais utilizados são os de iaçá,
talvez por serem quelônios em maior abundância na região, uma vez
que os comunitários preferem utilizar cascos de tracajá por serem
médios.
Esses resultados foram consideravelmente superiores
quando cotejados com os obtidos da análise dos cultivos comerciais, O maior pico de desova do iaçá ocorre no período de julho e
registrados no Relatório Final 98-2000 do projeto: Diagnóstico da agosto. A tartaruga e o tracajá apresentam seu período de desova
Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas – nos meses de agosto e setembro. Os maiores tabuleiros: Deus é
Ufam/Ibama, conforme a Tabela 2. Pai, Ati (Roque) e Monte

456 79
Carmelo. As médias de ovos por ninhos: tartaruga=122,5 Determinação do sexo
ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8
ovos; matá-matá=12,5 ovos (Nascimento & Andrade, 2005).
A determinação do sexo foi realizada de acordo com a
Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, o metodologia descrita por Ibama (2001):
peso de animais capturados foi: tartaruga=1.652,32 1.619,81g,
· Macho: apresenta a cauda mais espessa e comprida, com a
idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14
cloaca mais próxima da extremidade, e tamanho corporal
e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e
menor quando comparado ao da fêmea de mesma idade.
idade=2,91 1,25 anos (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355
7.635 g, idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas, · Fêmea: tem a cauda mais curta e menos espessa enquanto a
tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e cloaca se localiza intermediariamente entre a base e a
iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimento extremidade da cauda.
médio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais
marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. & Andrade, 2006).
Análise de viabilidade econômica
A.3) Baixo Juruá: tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e
Botafogo, em Juruá/AM
A análise de viabilidade econômica seguiu a metodologia
O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros adotada por Martin et al. (1995), Scorvo Filho et al. (1998) e Melo et
comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo e al. (2001), na determinação de custos de produção, rendas líquidas,
tabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela receitas, taxas internas de retorno (TIRs) e tempo de recuperação de
cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do capital (TRC), para diferentes sistemas de produção e preços de
Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo venda.
conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São
realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso Resultados
quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do
rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criada
em 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os Pela amplitude temporal do trabalho (45 meses) e o seu
trabalhos de conservação. pioneirismo, torna-se impraticável a comparação dos resultados
obtidos com os disponíveis na literatura para a mesma espécie, visto
O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador que eles foram realizados sob condições de manejo alimentar,
acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de

80 455
Manejo alimentar junho – iaçás; 2ª quinzena de julho – tracajás; 1ª quinzena de agosto
– tartarugas. O período de desova vai de julho a setembro (julho-
As tartarugas, nos primeiros treze meses de cultivo, foram agosto, as iaçás; agosto-setembro, tracajás e tartarugas). As iaçás
alimentadas duas vezes ao dia, às 11:00 e às 15:00h, sempre que põem de quatro a nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a
possível com ração comercial extrusada, recomendada para 36 ovos, e as tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001
alimentação de peixes onívoros, contendo 34% de proteína bruta e a foram marcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No
taxa de alimentação diária, nesse período, foi de no máximo 1,5% da tabuleiro Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três
biomassa inicial do viveiro. Na segunda fase (13 a 45 meses), as covas de tartaruga e 120 de tracajá. Os principais predadores de
tartarugas foram alimentadas uma única vez ao dia, sempre às 15 ovos são: jacuraru, camaleão, urubu, gavião-de-bico-vermelho; os
horas, com dieta à base de ração extrusada contendo 24% de PB e a predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes
taxa diária de alimentação de, no máximo, 1,0% da biomassa do lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes
viveiro, observada no início dessa fase. estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e o
tracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes).
O fornecimento diário de rações obedeceu ao consumo
espontâneo das tartarugas, limitando-se, no máximo, às taxas
citadas anteriormente. Observou-se que nos dias nublados e de
temperaturas mais amenas as tartarugas ingeriam menores
quantidades de ração.

Biometrias

Durante todo o cultivo (45 meses), a cada período de 4 meses


foram realizadas avaliações biométricas utilizando-se uma amostra
de 10% do lote, com o objetivo de avaliar o desenvolvimento corporal,
ganho de peso, conversão alimentar do período e a presença de
Figura 11: Equipe do tabuleiro do Joanico, Juruá/AM, 2001. Foto: RAN/AM
ectoparasitas. (Andrade, P.C.M.).

O trabalho no Joanico consistiu em piquetear as covas de


tartaruga e tracajá, coletar filhotes e soltar no rio ou nos lagos. Em
2001, pela primeira vez, foram utilizados oito berçários de 1,5 m x
1,5 m x 1,5 m, de madeira, telado com sombrite. Antes, trabalhava só
um agente de praia, o sr. José de Nascimento Santana. Nos últimos
anos tem trabalhado uma equipe de fiscalização:

454 81
Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º Solo e clima
Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes
As condições edafoclimáticas predominantes na área são:
Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião
latossolo amarelo, textura muito argilosa, precipitação
Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos
pluviométrica anual de 2.400 mm, média de umidade relativa do ar
Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GM
de 88%, temperatura média anual de 26,5°C, média diária de brilho
Francisco Deusimar da Silva; GM Antônio Israel de Araújo Filho; GM
solar de 5,4 horas, velocidade média do vento de 0,7 m/s e altitude
Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça
de 50 m acima do nível do mar.
de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca
do Breu.
Tartarugas
A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos
lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcos Foram utilizadas, na fase de engorda, 896 tartarugas
ou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os oriundas da Reserva Biológica do Abufari-Tapauá/AM. As
quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para tartarugas passaram por um período pré-experimental de dez meses
contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a na Embrapa Amazônia Ocidental, sendo transferidas para dar início
maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram à Unidade de Observação. Foram coletados os seguintes dados
44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano biométricos: 1) carapaça: comprimento: 13,30 cm, 12,50 cm de
de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram largura; 2) plastrão: 10,15 cm de comprimento e 10,10 cm de
colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a população largura; 3) peso vivo médio: 234 g.
visse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na
multidão ao presenciarem a cena com muitos iaçás já mortos.
Preparo e povoamento do viveiro
A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do
rio Juruá Após uma semana de exposição aos raios solares, aconteceu
a limpeza do fundo e das laterais do viveiro, deixando-o livre de
O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico,
restos vegetais, materiais de construção, vidros, plásticos etc. Em
localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro
seguida, realizou-se o abastecimento do viveiro e o seu povoamento,
com mais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por
obedecendo à densidade de 1 tartaruga/2m² de área inundada
seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as
(5.000 tartarugas/ha).
bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha
indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de
2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na
calha do

82 453
O agronegócio amazônico, que apresenta reduzidas opções rio Juruá. Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás (P.
de sistemas de produção animal sustentáveis, tem, com este unifilis), 63 tartarugas-da-amazônia (P. expansa), centenas de aves
trabalho realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus que encontraram no tabuleiro de Juanico um raro lugar seguro para
parceiros, ampliado o seu leque de alternativas. fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata) lá
nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vida
Objetivos explode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância
humana.
Disponibilizar um sistema de produção de tartaruga-da-
amazônia técnica e economicamente viável, como uma nova opção Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de
ao agronegócio amazônico. pássaros nidificando, ocorrendo principalmente gaivota (Phaetusa
simplex e Sterna superciliaris), corta-água (Rynchops nigra),
Disponibilizar informações técnicas que, entre outros maçarico (Charadrius collaris e Vanellus cayanus ) e bacurau
fatores, permitam aumentar a oferta de tartaruga para atender à (Chordeiles rupestris). As praias protegidas ficam tomadas pelas
demanda existente, diminuindo a pressão do extrativismo e aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra à medida
proporcionando o estabelecimento de políticas ambientais voltadas que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em
para a conservação e a recuperação do estoque natural. nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar.

Materiais e métodos

Os estudos foram realizados em propriedade particular


parceira da Embrapa Amazônia Ocidental, para a realização de
atividades de pesquisa e desenvolvimento, desde 1994, localizada no
município de Rio Preto da Eva-AM, cuja atividade principal é a
piscicultura intensiva. A implantação da Unidade de Observação
(UO) foi em 1/7/1999 e o período de coleta de dados foi de 45 meses,
utilizando um viveiro escavado em argila com área de 1.792 m2 com
cerca de contenção (distante 2 metros do corpo d'água), de tela
(sarão), com altura de 80 cm e enterrada 20 cm. O viveiro recebe Figura 12: Filhotes de trinta-réis (Phaetusa simplex). Fonte: Paulo
água por gravidade originária de igarapé de água preta, ácida (pH 5), Henrique Oliveira.
que apresenta baixa fertilidade natural. A renovação diária de água
A.3.2. Pressão de caça e predação
no viveiro é da ordem de 2,5%.
Detectamos algumas dezenas de praias, ao longo do caminho, que
pareciam desertas, inteiramente desabitadas e predadas, vítimas da
intensa predação, como a retirada de ovos das aves aquáticas e dos

452 83
quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no
ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata) e tracajás (P. unifilis),
que ocorrem em maior freqüência, são os mais coletados. Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia
A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do (Podocnemis expansa): alternativa ecológica,
Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis), técnica e econômica ao agronegócio amazônico
tartaruga (Podocnemis expansa), Jabuti-amarelo (Geochelone
denticulata), iaçá (Podocnemis sextuberculata), tartaruga de igapó Luiz Antelmo Silva Melo
Antônio Cláudio Uchôa Izel
(Phrynops raniceps) e matá-matá (Chelus fimbriatus). Maria das Graça Hossaine-Lima
Agenor Vicente da Silva
Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são: Paulo Cesar Machado Andrade
banha da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo,
rendidura e dor muscular; chá da escama da carapaça do jabuti – Introdução
para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser
O hábito alimentar arraigado de consumir carnes de animais
de jabuti fêmea e vice-versa; chá da escama assada da carapaça do
silvestres nativos da região é inerente ao amazônida, pois seus
matá-matá – para assadura; carapaça – capitari, fêmea do tracajá e
ancestrais já o praticavam. Dentre as espécies mais apreciadas por
iaçá e zé-prego -- é usada como comedouro p/ animais domésticos e
essa população, destaca-se a tartaruga-da-amazônia, devido às
principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno, na
excelentes características organolépticas de suas partes
casa de farinha.
comestíveis, o que levou a espécie ao risco de extinção.
As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na
Considerando a conhecida dificuldade de mudança de hábito
Resex são: tracajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o
alimentar de uma população, assim como a necessidade de
quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio
preservação da espécie e de recuperação do estoque natural, pode-se
Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para
afirmar que a criação comercial de tartaruga é uma alternativa
comercializar nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e
potencial para atender diversas situações.
Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas
comunidades, mas não é tão intenso quanto na cidade.
¹ Os dados apresentados neste trabalho são oriundos da publicação Criacão de
tartaruga-da-amazônia (Podcnemis expansa). 14 p., 2003. (Embrapa, Amazônia
²Ocidental. Documentos, 26).
³Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.
4
Zootecnista M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.
4
Bióloga M.Sc. – Seduc/AM.
5
Biólogo B.Sc. – Ibama/AM.
¹Rendidura – hérnia escrotal; 6
Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Ibama/AM
²Capitari – macho da tartaruga;
³Zé-prego – macho do tracajá;

84 451
instituições de pesquisas, extensão rural, vigilância sanitária,
consumidores, mercado, etc., visando propiciar o desenvolvimento
da criação de quelônios, em cativeiro, na região.

Espera-se, também, a efetiva e necessária organização da


cadeia produtiva, principalmente, através dos itens: a) colocação do
produto no mercado; b) propaganda e marketing; c) construção de
abatedouro licenciado pela inspeção federal; d) definição das formas
de comercialização e abate; e) agroindústria agregada ao abate para
fabricação de cosméticos, farmacoterápicos e peças de artesanato.
Tudo isto, entretanto, deverá estar associado à manifestação real de Figura13: Tracajá (P. unifilis) sendo comercializado na cidade de
interesse e ao firme propósito dos possíveis órgãos fomentadores do Juruá. Fonte: P.H. Oliveira.
setor primário no Estado (Governo, Basa, Suframa-Distrito
Agropecuário). Hoje, podemos dizer que já existe uma tecnologia de É freqüente o encontro com vários barcos peixeiros na calha do
produção e, principalmente, um volume muito grande de produto rio Juruá, sempre acompanhados por muitas canoas e cheios de
para ser colocado no mercado (estima-se hoje, no Amazonas, cerca caixas de isopor. Nas margens do rio observamos outras várias
de 600.000 animais em cativeiro, dos quais 100.000 já estariam em caixas de isopor dispostas nos portos das casas. Não há controle do
ponto de abate), faltando acertar detalhes da cadeia para que a fluxo de embarcações que navegam o rio Juruá. Com trânsito livre, a
região fica vulnerável e grande parte dos recursos da região é
atividade rentável e viável seja uma alternativa produtiva para o
retirada. Alguns exemplos que mostram o grau de predação: no ano
Norte do país.
de 1999, a polícia de Juruá prendeu oito barcos que, juntos,
Em 2005, os criadores do Amazonas, conseguiram vencer transportavam cerca de 44.000 quelônios e dois meses depois, mais
um dos entraves na cadeia produtiva que era, justamente, a 800 indivíduos. Por informações dos comunitários, sabe-se que no
comercialização, direta e em escala, de seu produto. Em função da ano de 2002 passaram 8.000 animais para o município de Alvarães,
organização dos criadores em uma associação, e do fomento da pelo Igarapé do Breu.
agência de agronegócios do Estado, a maior parte do plantel São vários os predadores de quelônios encontrados nos
produtivo dos criadores pioneiros (1995 e 1996) já foi comercializada tabuleiros do rio Juruá na época da desova dos quelônios.
com o animal vivo em feiras, em 2005 e 2006, garantindo o retorno do Predadores de ovos: homem, jacuraru (Tupinambis sp.), mucura
investimento com alta rentabilidade (375,4%), em que o custo de (Didelphis marsupialis), gavião-preto (Buteogallus urubitinga),
produção médio foi de R$2,93/kg em peso vivo e receita com a venda urubu (Coragyps atratus), paquinha (Orthoptera, Gryllotalpidae),
de R$11,00/kg. A média de peso dos animais comercializados subiu macaco-prego (Cebus apella). Predadores de filhotes: bagres em
para R$7,8±5,5 kg, com animais de 5 a 7 anos, o que demonstra um geral e aruanã (Osteoglossum sp.), piranha (Pygocentrus nattereri),
avanço, também, na adoção das técnicas de manejo e alimentação pirarara ( Phractocephalus hemioliopterus ), jacaré ( Caiman
disseminadas pela Ufam desde 1997. crocodylus e Melanosuchus niger), corta-água (Rynchops nigra),

450 85
gaivota (Phaetusa simplex), gavião-preto (Buteogallus urubitinga), Foi verificado o prolapso retal em alguns machos de P.
urubu (Coragyps atratus ), gato-maracajá (Leopardus wiedii). expansa separados para a venda (Figura 8). É possível que isso
esteja associado à traumatismo causado pela aglomeração dos
Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajá animais em ambiente seco, por tempo prolongado. A reversão
aumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estão
ocorreu em 3 dias. Este comportamento foi observado por Duarte
diminuindo, tartaruga nem se vê falar meu irmãozinho”.
(1998) em alguns filhotes recém-nascidos, com 4 dias de idade (não
A.3.3. Envolvimento comunitário sexados) na Reserva Biológica do Abufari, em Tapauá, Amazonas.
Ele acredita ter sido ocasionado pelo estresse ao manejo de captura
Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuem um e transporte, pelo atrito da cauda dos animais com superfícies
histórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença, rígidas, pela mudança de ambiente, ou por agentes parasitológicos
Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito por que podem provocar mudança no sistema fisiológico do animal.
revezamento entre os comunitários (um fica durante o dia todo e o
outro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos, Figura 8: Prolapso retal verificado em alguns machos de
devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam de
forma (altura, largura e, muitas vezes, crateras são criadas ao longo
da praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dos
seringais e tem uma bandeira como um marco indicando que a praia
é protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eram
demarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando
bandeiras brancas e vermelhas.

As comunidades Botafogo e Antonina têm um histórico de


mais de 15 anos de proteção dos tabuleiros, que eram saqueados por
índios da etnia Deni e Culina, no trajeto em direção à cidade de
Juruá, para receber benefícos do governo, como aposentadoria.
Essa falta de sintonia entre irmãos indígenas e ribeirinhos
enfraquecia as ações de conservação dos quelônios aquáticos.

A.3.4 Produção nos tabuleiros


P. expansa separados para venda. Foto:Duarte, 1998.

A expectativa com a criação licenciada e com o mercado pelos


queloniocultores, em geral, é que haja uma demanda significativa
dos produtos e subprodutos oriundos desses quelônios legalizados,
através de um monitoramento envolvendo os queloniocultores,

86 449
Sangue = 3,66 ± 0,79% A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceu
bastante de 1998 a 2002, como mostra a Tabela 2.
Carapaça = 23,11 ± 0,82%
Tabela 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de
Plastrão = 10,54 ± 1,17%
Espécie Número Filhotes
Cabeça = 3,94 ± 0,78% Ano de soltos
ninhos
Carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) = 32,83 ± 9,09%
1998 P. expansa 76 7.618
P. unifilis 132 3.571
Vísceras = 7,96 ± 1,31%
P. sextuberculata 5.210 52.101
Fígado = 1,48 ± 0,29% Total 5.418 63.290
1999 P. expansa 152 18.496
Coração = 0,16 ± 0,03% P. unifilis 157 4.782
P. sextuberculata 6.720 67.204
Quartos dianteiros = 15,24 ± 4,15% Total 7.029 90.482
2000 P. expansa 158 19.000
Quartos traseiros = 17,56 ± 5,01% P. unifilis 160 4.986
P. sextuberculata 7.510 80.753
Rendimento de partes comestíveis (sangue, carne, fígado,
Total 7828 104.739
rins, pulmão, coração) = 39,62 ± 9,63%. 2001 P. expansa 170 21.490
P. unifilis 170 5.200
Animais de maior tamanho e peso apresentam maior
P. sextuberculata 8.075 80.735
rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de Total 8.415 107.425
categorias menores (maior porcentagem de casco). Este fator pode 2002 P. expansa 185 27.900
ser direcionado de acordo com o mercado consumidor. P. unifilis 185 6.275
P. sextuberculata 10.050 100.500
Em alguns animais foram encontrados endoparasitas ao Total 10.420 132.225
longo do trato gastrointestinal. Eles foram coletados e fixados em
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Juruá-AM e RAN-
lâminas, para posterior identificação. Foram observados
Ibama/AM, 2003.
nematelmintos (níveis elevados) principalmente no estômago, além
de protozoários e bactérias. Não foram encontrados parasitas O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos,
sangüíneos e nem sanguessugas. tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade,
2001). O comprimento médio dos ovos ficou em torno de 40 mm para
o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga
ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá
26 mm.

448 87
O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de Foram capturados 1.172 animais, sendo realizada a
37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do biometria em 884 animais. Do total, 65% apresentavam-se abaixo do
tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser peso mínimo para venda, ou seja: 1,5 kg PV. A distribuição em
pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número categoria de peso pode ser observada na Figura 7.
médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos
(tracajá), 70-130 (tartaruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi Distribuição do peso em relação ao número
de 88,56% para Podcnemis expansa, 96,4% para P.unifilis e de indivíduos
92,3% para P. sextuberculata (Andrade, 2001).
No. de Indivíduos
No tabuleiro de Renascença foram produzidos, em 2001,
273 filhotes de tartaruga (P. expansa), 360 de tracajá (P.
700
unifilis) e 5.441 de iaçá (P. sextuberculata).
600

Indivíduos
500
A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá: 400
Botafogo, Antonina e Itaúna
300
A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a 200
Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em 100
130.011 filhotes (1,30% P. expansa, 6,79% P. unifilis, 91,92% 0
P. sextuberculata). Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes 0 -1 kg 1 - 5 kg 5 - 10 10 - 15 20 kg
gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e kg kg
Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um
Peso ( kg )
aumento percentual em relação à participação dos tabuleiros
da Resex na produção total do Baixo Juruá, já que em 1995 o Figura 7. Distribuição, em peso, dos animais analisados pelo Ibama
tabuleiro de Botafogo colaborou com apenas 13,91% do total para venda. (Duarte, 1998).
produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% de
Quanto aos parâmetros de carcaça dos animais, foram
tartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o
abatidos 5 de diferentes categorias, que apresentaram os valores de
restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4
rendimento percentual em relação ao peso corporal em jejum:
apresenta a produção de filhotes de quelônios em Antonina,
Botafogo e Itaúna, em 2001.

Tabela 6: Produção de ninhos e filhotes de quelônios em


Antonina, Botafogo e Itaúna – Resex Baixo Juruá, 2001.

88 447
espessa, a abertura “cloacal” mais próxima da extremidade final da Tabuleiro Espécie Nº de Nº Nº Nº
cauda e sutura média no plastrão em formato em “U” e o tamanho Ninhos Médio Total Estimado
de de ovos de
corporal menor se comparado à fêmea. A fêmea tem a cauda mais
ovos filhotes
curta e menos espessa em relação ao macho, a abertura “cloacal” Antonina Tartaruga 6 125- 800 780
localiza-se medianamente na extremidade da cauda e a base e a 133
(3º23’40”S e Tracajá 70 34 2380 1200
sutura médio-ventral no plastrão da fêmea tem formato em “V” e o
66º4’18”W)
tamanho corporal é maior do que o macho. Antes de atingir de 2 a 3 Iaçá 2600 10-11 27560 26000
anos de idade observou-se que a sutura médio-ventral no plastrão, Botafogo Tartaruga 5 120- 700 660
no macho, apresenta-se em “V” e na fêmea expressa-se em “U”. 140
(3º20’8”S e Tracajá 170 30 5100 3400
Estes indicadores invertem-se em animais de 2,5 ± 0,707 anos de 65º97’30”W)
idade. Iaçá 9200 9-11 98924 92000
Itaúna Tartaruga 2 110- 284 250
Foi aplicado um questionário aos compradores dos 142
animais, no supermercado, visando saber qual a opinião do público (3º1’20”S e Tracajá 170 26 4.420 4230
65º54’24”W)
em relação ao sabor do animal de cativeiro, o seu tamanho, e o preço Iaçá 213 10 2.130 1491
por kg do peso vivo, forma de preparo, qual a freqüência de Total 12436 142394 130011
consumir tartaruga, etc. Obs. A área total dos tabuleiros é: Botafogo=3.600 m x 280 m, Antonina=
1.770 m x 150 m e Itaúna= 1.240 m x 239 m. Fonte: Andrade (2001).
10.3.1 ANÁLISE DE CARCAÇA DOS ANIMAIS
COMERCIALIZADOS A Figura 14 e a Tabela 7 mostram a evolução da produção
de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se uma tendência
Os animais apresentaram, em média, os seguintes valores:
gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à
Idade: 5,5 anos tendência observada por Andrade et al. (2006) para a Resex do
Médio Juruá e demais calhas de rios do Amazonas, onde ocorre o
Comprimento da carapaça: 29,56 cm trabalho de proteção, o que significa que poderemos utilizar o
modelo proposto para verificar a sustentabilidade das taxas de
Largura da carapaça: 24,85 cm
extração anual.
Altura: 12,8 cm

Peso: 2,66 kg

Porcentagem Sexual: macho 55%; fêmea 45 %

446 89
foi demonstrado neste capítulo e no capítulo 7, deste livro), isto é,
Produção de ninhos de quelônios em Botafogo reduzindo um pouco sua margem de lucro e melhor estratégia de
180 12000
marketing e venda, os queloniocultores legalizados poderão
160
facilmente estabelecer preços mais competitivos e desbancar,
10000 definitivamente, o produto ilegal.
140
N.Tracajás/tartarugas

120 8000 A queloniocultura, provavelmente, deverá direcionar os

N. Iaçás
100 Tartaruga produtos e subprodutos em termos de qualidade e/ou quantidade,
6000 Tracajá
80 Iaçá
em função do mercado, pois, historicamente, o hábito alimentar do
60 4000 consumidor, em relação à tartaruga, refere-se (em geral) ao animal
40
com aproximadamente 25 kg PV. Sendo necessário, para isso, um
2000 esclarecimento visando uma possível mudança no hábito, assim
20
como a forma de venda dos animais, a estrutura de abate, etc.
0 0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
O empréstimo bancário para a queloniocultura deve ser
Ano
estudado em função das características da criação e ao período em
que atividade trará resposta do investimento, pois a linha de crédito
Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro
é um dos suportes para o desenvolvimento dessa atividade.
de Botafogo – Resex Médio Juruá. Fonte: Andrade (2001).

Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os Durante a fase de comercialização, alguns animais
comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes deixaram de apresentar, em uma das placas marginais, na parte
para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás, posterior da carapaça, o lacre plástico identificando que eram
ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (1990- provenientes de criadouro licenciado. Eles foram quebrados pelas
2002). patas posteriores dos animais (Kohashi1).

A.3.6 Monitoramento de quelônios na Resex Baixo Juruá Recomenda-se que os animais sejam inspecionados para
consumo humano por terem sido encontrados, na amostra de
Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa animais analisados para venda, endoparasitas.
realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de
quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na Resex do Observou-se que os machos (comercializados) de P. expansa
Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários, apresentam a cauda mais comprida e espessa, a abertura “cloacal”
captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados
biométricos, razão sexual e outras informações sobre a
¹ Kohashi, Moysés. Administrador. Informação pessoal.

90 445
A propaganda não deixou claro que os animais eram estrutura populacional dessas espécies. Essas informações
provenientes de criadouro licenciado. Para uma atividade nova, em subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento
termos legais é importante divulgar que os animais são de criadouro contínuo fornecerá – associado aos dados de produção das áreas
licenciado, para dar suporte à queloniocultura regional. Foi reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o
detectado (durante as observações dos animais no tanque) que que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques e
alguns clientes no supermercado, e outras pessoas em conversa verificar a sustentabilidade de taxas de desfrute anuais de ovos,
pessoal, deduziram, por equívoco, que os animais expostos estavam filhotes ou animais subadultos.
liberados para venda como se fossem capturados da natureza, sem
Tabela 7: Histórico da produção de quelônios em praias
autorização, como ainda ocorre no estado do Amazonas. protegidas na Resex Baixo Juruá.
O preço relativo pelo qual foi vendida, inicialmente, no Produção nos tabuleiros da Resex
supermercado, de R$ 18,00 (US$ 6,00) por kg do peso vivo-PV de Botafogo Ninhos Filhotes
tartaruga se comparado às carnes de peixe (tambaqui, cerca de R$ Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
7,00/kg PV), frango e bovina, foi elevado para um produto 1990 1 25 559 130 500 5.200
1991 2 52 1.075 265 1.040 10.000
amazônico.
1992 3 80 1.613 390 1.600 15.000
Existe uma tendência para que esse preço diminua com o 1993 4 93 2.151 520 1.860 20.000
1994 4 110 2.688 530 2.200 25.000
aumento do número de animais postos à venda por outros
1995 4 120 3.175 536 2.400 29.530
criadouros licenciados. Caso contrário, o preço cobrado tende a
1996 5 126 3.468 680 2.520 32.250
comprometer a venda legal, pois a forma de comercialização para 1997 5 134 4.970 680 2.680 46.220
alguns possíveis compradores torna-se desinteressante pelo fato de 1998 5 140 5.161 635 2.800 48.000
ter que pagar R$ 18,00/kg PV por uma parte do animal que não será 1999 5 148 5.726 642 2.960 53.250
consumida (carapaça e plastrão). 2000 5 155 7.903 640 3.100 73.500
2001 5 170 9.892 660 3.400 92.000
Além disso, existe o problema da concorrência com o animal Antonina Ninhos Filhotes
de origem ilegal, cujo preço, hoje, está em torno de R$ 300,00 Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
(U$100,00) para um animal com peso médio de 25-30 kg de PV, ou 1998 2 35 2.400 220 860 24.000
1999 3 55 2.752 420 970 27.520
seja, o produto clandestino está saindo cerca de R$ 10-12,00/kg
2000 4 65 2.600 662 1.100 26.000
de PV (U$3,33-4,00). Muitos queloniocultores já reduziram seu 2001 5 70 2.600 780 1.100 26.000
preço de venda para R$6,00 a R$10,00/kg, ou seja, um preço que
Fonte: Andrade (2001) e Secretaria de Meio Ambiente do Juruá (2002).
concorre com o produto ilegal. Todavia, os custos médios de
produção no Amazonas giram em torno de R$1,45 a 2,93 (conforme

444 91
Figura 6: Colocação do lacre plástico para a venda de quelônios com perfuração
da escama caudal da carapaça com auxílio de furadeira elétrica. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).

Após marcados, os animais foram vendidos vivos para um


supermercado local, que exibia os animais ao público em um grande
aquário, com uma placa com o registro do supermercado como
comerciante de produtos da fauna (Portaria nº 117/97) a origem dos
animais e o número de registro/autorização do criador.
Acompanhou-se, ainda, a venda aos consumidores regionais, no
próprio supermercado, que era feita da seguinte forma: o
consumidor escolhia o animal, um atendente o capturava no
Figura 15: Locais de monitoramento de quelônios na Resex Baixo aquário com um puçá e ele era pesado em uma balança digital que
Juruá – 2005/2006. fornecia, imediatamente, uma etiqueta com o preço a ser pago.
Então o animal era levado em um carrinho de supermercado para
A.3.6.1 Informações baseadas nos questionários – espécies ser pago no caixa, sempre com o lacre identificador de sua origem
de quelônios (habitat, alimentação, reprodução) e sua legal.
utilização
O comportamento dos animais dentro do aquário, no
Os comunitários identificaram dez espécies de quelônios supermercado, era bastante agitado, devido, provavelmente, à
entre os animais mostrados nas pranchas coloridas: Podocnemis climatização interna do supermercado, pois pela observação, a
expansa (tartaruga), Podocnemis unifilis (tracajá), Podocnemis natação era bastante rápida, como se fosse uma forma de
“aquecimento” corporal, seguido de algumas mordidas quando os
sextuberculata (iaçá), Peltocephalus dumerilianus (cabeçudo),
animais submersos tocavam-se.
Rhinoclemmys

92 443
punctularia (perema), Platemys platycephala (jabuti-machado),
Geochelone denticulata (jabuti-amarelo), Geochelone
carbonaria (jabuti-vermelho), Chelus fimbriatus (matá-matá) e
Phrynops raniceps (lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se
que a designação ou nomenclatura popular é diferenciada de
outros locais da Amazônia, pois chamam de perema a Phrynops
nasutus , e lalá o Platemys platycephala , tartaruga-de-igapó é a
Phrynops raniceps

A alimentação desses animais é muito variada. Segundo


os comunitários, eles alimentam-se de frutos diversos,
inflorescências, sementes, animais em putrefação e algas. Os
alimentos disponíveis nos lagos e matas alagadas são bem
diversificados. Exemplo de frutos de igapó e matas alagadas:
Figura 4: Animal para venda com lacre plástico. Foto: Projeto abiorana, cajurana, caimbé, castanha, apuí, caxingubu, camu-
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).
camu, socoró, marajá, muruxi, caimbé, tamaquari, jauari,
oxirna, bacuri e castanharana; macrófitas aquáticas e
gramíneas: canarana, mururé, mureru, taboca e capim-
membeca.

No Baixo Juruá, segundo os comunitários, os quelônios


alimentam-se de frutos (30,77%), plantas aquáticas (29,59%),
sementes (18,93%), peixes (14,79%) e flores (5,92%). Na Resex
Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os
comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se
principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%),
insetos (15%) e peixes (13%).

Observou-se que, para os comunitários, a maioria das


Figura 5: Lacre plástico para venda de quelônios. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade). espécies vive em rios, lagos, igarapés e cabeceiras (exceção do
jabuti que vive na floresta). Essa opinião é similar ao Médio
Juruá, onde, segundo os moradores, 66% dos quelônios
habitariam em lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento,
2005).

442 93
Verificamos que os valores registrados para o número de deverão receber marcação diferencial com plaquetas de alumínio de
ovos não diferem significativamente dos encontrados por 4,0 cm X 1,5 e 2 mm de espessura. Esse material recebe o nome
Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8 Ibama, numeração seqüencial e registro do criadouro. Na plaqueta
ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio são feitos dois furos através dos quais se passarão dois arrebites
Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registraram as seguintes para a fixação na carapaça do animal. Os furos e a colocação da
médias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 plaqueta são feitos com o auxílio de furadeira, nas escamas caudais
ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá- da carapaça.
matá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas
O rendimento de carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) foi de
no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que,
32,83 ± 9,09% em relação ao peso corporal de 2,66 kg obtidos. Isso
provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de
difere do citado pelo Sebrae(1995), em que 35% do peso corresponde
quelônios do rio Solimões, que são animais muito maiores do que
ao casco e 65% à carne e que, ao final de 4 anos, a tartaruga estará
a média dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999).
com 20 kg, crescimento e rendimento que verificou-se com base em
No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para consumo são todos os estudos realizados, praticamente impossível de se obter nas
os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), e mata- atuais condições tecnológicas de criação.
matá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá
Hoje, o tamanho mínimo permitido deve ser esclarecido à
(31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%). Verificou-se que
população para uma possível mudança no hábito alimentar, pois a
nas três regiões da Resex Baixo Juruá o preferido é o tracajá. Em
tartarugada regional refere-se, em geral, a um animal de tamanho
segundo lugar, dependendo da abundância ou não do recurso no
grande.
local, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas
tartarugas, a preferência recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de Após a biometria, pesagem e seleção, cada animal com peso,
ser o mais abundante, não está entre os três preferidos. para venda, foi marcado pelo queloniocultor com um lacre oficial
(de material plástico), com identificação específica, adquirido no
Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são:
Ibama-AM para ser fixado no escudo posterior da carapaça
a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), o jaticá (15,15%) e o
(Figuras 4, 5 e 6).
espinhel (9,09%). Andrade & Nascimento (2005) verificaram que
os petrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio
Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).

A Tabela 8 apresenta o preço médio de venda das


principais espécies de quelônios, praticada nas comunidades
dentro da Resex (35%) e na cidade de
¹Designação gastronômica para o preparo da tartaruga.

94 441
11.3 Comercialização Juruá (47%). Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$
15,00 a R$ 20,00 o cento.
Durante o diagnóstico da criação de quelônios um criador do
Puraquequara, Manaus, que recebeu 17.000 animais doados pelo Tabela 8: Preço médio de venda de quelônios e ovos na Resex
Ibama-AM, desde 1992, realizou a primeira comercialização de Baixo Juruá.
tartarugas legalizadas no Amazonas, vendendo, em 17/07/1998, Espécie Tracajá Tartaruga Tartaruga Iaçá Jabuti
parte dos animais recebidos (Podocnemis expansa), conforme prevê (R$) unidade unidade (kg) unidade unidade
Média 34,06 123,33 4,29 3,88 15,00
a Portaria nº 070/96 do Ibama, específica para a comercialização de
DP 8,41 66,53 0,70 1,32 3,54
P. expansa e P. unifilis, oriundos de criadouro licenciado. Máximo 50,00 200,00 5,00 5,00 20,00
Mínimo 15,00 20,00 3,00 1,50 10,00
O processo de comercialização dos animais iniciou-se com o
Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves
queloniocultor, solicitando a liberação do estoque para venda
silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente
através de vistoria e de parecer técnico favorável do Ibama–AM, bem
mais caros quando comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá,
como o fornecimento dos lacres de identificação para os animais que
o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$
seriam comercializados. Cada lacre plástico, em cores, que varia a
3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andrade & Nascimento, 2005).
cada lote (verde, vermelho, branco), possui o número de registro do
criador, o estado de origem, a sigla Ibama e um número seqüencial. Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios
Os lacres são vendidos ao criador a um preço de R$1,10 como remédio e 48,3% usam o casco como pegador ou bacia, para
(aproximadamente U$0,36) a unidade. descansar a massa da farinha. Foi relatado que o casco do jabuti
torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã,
Após a autorização da venda realizou-se a captura através de
combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para
redes de pesca (Tipo arrastão). Foi feita a biometria (carapaça e bronquite. No Médio Juruá essa utilização como remédio cai para
plastrão), a pesagem dos animais em balanças de capacidade de 15 apenas 28% (Andrade & Nascimento, 2005).
kg e de 50 kg, e posterior seleção dos animais que estavam com peso
vivo – P.V. acima de 1,5 kg, ou seja, o peso mínimo para venda, A.3.6.2 Parâmetros de estrutura populacional de quelônios
conforme determina a Portaria nº 070/96. Após selecionados, os na Resex Baixo Juruá
animais com P.V. inferior a 1,5 kg foram devolvidos à barragem
Na primeira excursão, no final da seca, foram capturados
pelos trabalhadores do criadouro.
115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis),
A seleção de 10% dos animais do lote para reprodução do plantel, 12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás (Podocnemis sextuberculata), 59
por ocasião da venda (Portaria nº 142/92), se ainda não foi feita, machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas
deverá ser realizada nessa ocasião. As matrizes e reprodutores (Podocnemis expansa), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops
raniceps. Também foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de
tracajás e 4

440 95
filhotes de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no 1) Criar critérios técnicos ambientais para instalação para
igarapé do Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5 estabelecer diagnóstico ambiental no sentido de prever
quelônio/hora-homem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na conseqüências potenciais necessárias para a instalação,
segunda excursão foram capturados 67 iaçás (Podocnemis operação e manutenção das condições ambientais.
sextuberculata), uma P. expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops
nasutus. 2) Desenvolver instrumentos e metodologias visando o
desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais
Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do educativos e outros instrumentos para a prática da criação
total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao animal;
local de captura, 67,5% foram capturados em enseadas, ressacas
ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a 3) Implementar um de sistema de informação para estabelecer um
maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%), sistema de manutenção de informações para organizar a
sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam em enseadas documentação e todas as informações necessárias à execução da
ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes, atividade;
58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados
4) Proporcionar ações educativas e de capacitação visando
biométricos, razão sexual e média de idade dos animais
estimular e apoiar a participação dos responsáveis na
capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies
formulação de políticas para o meio ambiente, bem como a
capturadas.
concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do
Tabela 9: Parâmetros biométricos, idade e razão sexual de meio natural, social e cultural, através da implementação da
quelônios capturados no final da vazante, na Resex Baixo Juruá. educação ambiental.
Parâmetro Tartaruga Tracajá Iaçá (P. Phrynops 5) Controle operacional para estabelecer e manter instrumentos
(P.expan- (P. unifilis) sextuber_ raniceps
sa) culata) para verificar, investigar e corrigir através de inspeções,
Número de 4 26 84 1 auditorias ambientais e ações corretivas e preventivas.
animais Agradecimentos
Comprimento 34,7±8,9 22,2±5,1 17,3±3,7 27,5
da carapaça Especial agradecimento à profa. Cassandra Guimarães de
(cm) Freitas, por acertadas críticas e sugestões valiosas, igualmente à
Peso (kg) 4,1±2,8 2,2±1,5 0,61±0,3 2,45
Fachin-Teran e aos professores Gilberto Peixoto, Ubirajara Boechar,
Idade (anos) 8 6,7±2,2 3,6±0,8 -
Razão sexual 75% 53,8% 72,8% 1 fêmea Andrea Waichman e Elizabeth Santos, pelo apoio e colaboração. À
Machos machos machos todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente para a
Esses valores são similares aos encontrados por Andrade et al. realização deste trabalho. Ao programa do Trópico Ùmido-
(2006) para quelônios capturados no início e no final da vazante, PTU/CNPq, pelo apoio logístico.
na Resex Médio Juruá, para

96 439
que o interesse pela criação de quelônios é apenas um fator comprimento de carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm;
econômico e, portanto, não há comprometimento, tracajás=21,27-5,96 cm; iaçás=17,2-8,71cm), peso
conhecimentos básicos das espécies, dos custos, entre outros (tartarugas=1,65-4,3 kg; tracajás=2,01-2,41 kg; iaçás=0,61-0,64
aspectos, para a efetividade da sustentabilidade da atividade. kg), idade (tartarugas=3,68-6,7 anos; tracajás=2,6-6,25 anos;
iaçás=2,91-5 anos) e razão sexual (tartarugas=18,2% machos;
Os criadouros funcionam de acordo com a disponibilidade tracajás=90,9% machos; iaçás=56,67% machos).
do local e são implantados sem qualquer planejamento, controle
dos resíduos, condições ambientais e disponibilidade dos
recursos que atendam às recomendações das normas ambientais
(ABNT, 1996), e assim, proporcionem bom funcionamento aos
criadouros implantados ou que venham a ser implantados.
Para a operacionalização recomenda-se a adoção efetiva
de um técnico habilitado, com o objetivo de disciplinar o
gerenciamento, supervisionar, planejar, bem como proporcionar
treinamento do pessoal envolvido, assegurando um desempenho
melhor das funções e evitando as conseqüências potenciais dos
procedimentos operacionais.

Recomendações

O órgão fiscalizador deverá propor mudanças de


comportamento passando de uma ação fiscalizadora para uma
gerenciadora do planejamento e administração, baseada em
compromissos ambientais e sociais.
Figura 16: Quelônios capturados na Resex Baixo Juruá: a) Podocnemis
Com base nas constatações realizadas, pode-se propor unifilis ; b) Phrynops raniceps ; c) Podocnemis sextuberculata; d) Podocnemis
que os estabelecimentos pesquisados propiciem a gestão expansa. Fonte: Vinicius T. Carvalho.
ambiental nos modelos propostos por Macedo (1995) e ABNT
Os filhotes de tracajás, recém-eclodidos, apresentaram média de
(1996) visando maior sustentabilidade dos recursos e maior
comprimento da carapaça igual a 4,29 ± 0,26 cm, sendo o peso
produção, tendo como estratégias básicas:
médio de 15,18 ± 3,53 g. Filhotes de tartaruga encontrados em
cativeiro no igarapé do Breu apresentaram 5,65 ± 0,06 cm de
comprimento da carapaça e 31 ± 0,82 g de peso. No Médio Juruá,
Andrade & Nascimento (2005) encontraram filhotes de

438 97
tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso O acompanhamento dos custos é muito importante por
de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio garantir compensações econômicas, além de diversas outras
Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a vantagens. Para isso, é necessário que o criador conheça os custos
4,9 cm e peso médio de 22 g. associados à implementação do criadouro, assim como os
benefícios obtidos para que sua propriedade torne-se competitiva
Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus no mercado e possa proporcionar sustentabilidade ao
infestado por mais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas empreendimento.
pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já
haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis A falta de conhecimento do número de animais a serem
unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou doados para criação torna-se um fator negativo, pois não se sabe o
tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17 impacto que a retirada desses animais da natureza poderá
apresenta o Phrynops nasutus infestado. proporcionar ao ambiente, sem causar desequilíbrios nas
populações.

A implementação da criação de quelônios requer o uso de


mecanismos capazes de internacionalizar os custos dos recursos,
com base no princípio poluidor/pagador. De acordo com a ABNT
(1996), a exigência pela conservação ambiental faz com que os
empreendimentos implementem a gestão ambiental, com a
finalidade de equacionar as diferentes práticas com a qualidade do
meio ambiente e a internalização dos custos/benefícios para a
sociedade.

Considerções finais
Figura 17: Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e
capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006. A criação de quelônios surgiu a partir das condições que a
Fonte: Ermelinda Oliveira. legislação criou, em que a questão ambiental foi tratada nos
empreendimentos apenas como uma exigência legal, tendo como
O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de responsabilidade técnica apenas o caráter fiscalizador, não
quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, através do projeto contemplando ações educativas que proporcionem o
com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as comprometimento de todos os participantes no processo.
possibilidades de manejo do recurso, apresentados no final deste Os criadores, por serem, na maioria, de outro estado,
capítulo. possuem pouco conhecimento da realidade amazônica e apesar de
desenvolverem atividades com a criação animal, observou-se

98 437
dos recursos, proporcionaram a criação de normas e legislação B) RIO PURUS
ambiental que têm exigido das organizações de qualquer grandeza
ou tamanho a incorporação da variável ambiental na alocação de B.1) BAIXO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA BIOLÓGICA
recursos (Assayag, 1999). A não inclusão da internalização dos DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA
efeitos externos ao meio ambiente, na ocasião da implantação do ENSEADA, PIRANHAS E OUTROS EM TAPAUÁ/AM
criadouro, poderá, futuramente, comprometer a atividade e
inviabilizá-la devido à incorporação primária e direta da natureza. A
O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo
falta de normas na infra-estrutura do local pode implicar na
nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado desde
captação de água – o percurso do igarapé – com mortes ou aumento
1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático iniciado a
de outros organismos, além do comprometimento da água usada
partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais
pela população circunvizinha.
Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do
A efetivação recente dos criadouros pode estar relacionada à PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas
desburocratização do órgão fiscalizador que fomentou a atividade, (Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas
para que os que estivessem irregulares viessem para a legalidade naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, mas,
e/ou por ter despertado nos criadores uma nova opção de renda. também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e
Para que seja uma atividade de perspectiva de renda deverá assumir humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos,
um compromisso com o melhoramento contínuo, considerando os parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que
problemas reais e potenciais, conforme sugere a ABNT (1996). O desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela
objetivo é proporcionar competências ao pessoal envolvido, com base Ufam, bem como um acompanhamento técnico mais
em educação, treinamento e/ou experiências apropriadas, especializado, tem fornecido ao RAN melhores indicadores sobre
proporcionando compreensão, atitudes e valores. a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos
maiores informações sobre essa que é a maior praia de
A ABNT (1966) recomenda que as organizações estabeleçam e reprodução de quelônios do Amazonas.
mantenham procedimentos para identificar as necessidades de
treinamentos dos envolvidos. A criação de quelônio tem caráter PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS
técnico e é necessário que o responsável e todos os envolvidos DA AMAZÔNIA”
recebam treinamentos para assegurar a qualificação, assim como é
Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de
preciso responsabilizar atribuições na área técnica e ambiental para
Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo Fundo Nacional do Meio
proporcionar melhor desempenho das atividades.
Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos para
que trabalhássemos outras comunidades na calha do rio Purus.
Para a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a comunidade
Piranhas, em Tapauá.

436 99
Quadro 2 – Instruções/procedimentos para a construção de barragens.

Itens (%) TIPOS F


N=
Á 30,4
Escoamento/abastecimento 1
G Faz controle com cal 1
U S=69,2 Procurou conversar com engenheiro 1
A Renovação natural na barragem 1
Usou saco de serrapilheira 1
Construiu fora do leito do igarapé 1
Aproveitou os mananciais 1
Examinou a qualidade d’água antes de 1
construir a barragem
Figura 18: Tabuleiro do Abufari, Equipe da Ufam, 1998. Foto:
N=53,8
Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.). S Escolheu o tamanho mínimo para 1
O S=46,2 escavação
L Foi aterrado, antes era encharcado 1
Em julho daquele ano iniciamos os trabalhos em Tapauá O Foi aterrado conforme recursos técnicos 2
O solo foi analisado por técnicos da 1
participando da primeira excursão o engenheiro-agrônomo Pedro Emater
Macedo (RAN-AM), a bióloga Maria Gorete e a socióloga Sarah
N=38,5
(RAN Central). Nessa viagem foram feitas várias reuniões de V Deixou a vegetação natural ao redor da 5
E S=61,5 barragem
prospecção nas comunidades Enseada, Piranhas, Bem-te-vi, G Está plantando fruteiras para recuperar 2
Fazenda e Pupunhas. Ficou acertado então que a comunidade E o local
T Manteve uma área com vegetação 1
Enseada trabalharia na proteção da praia do Bananal, com os A natural
agentes Daniel, Noel, Isaquiel e Oziel. A comunidade Piranhas Ç Acima da barragem onde há vários 1
também aceitou realizar os trabalhos. Na praia do Bananal, os à animais soltos
O Obedeceu recomendação de técnicos do 1
trabalhos de fiscalização e monitoramento de quelônios foram Inpa
realizados contando com o treinamento e o apoio por parte da Não respondeu 1
Rebio Abufari. Em 2002 e 2003, por falta de recursos, o trabalho N=92.3
Resí_ Embora controlando, há poluição devido 1
naquelas praias foi abandonado. duo S=7.7 aos restos orgânicos
Orgâni
co
B.2) MÉDIO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA MUNICIPAL
S=sim N=não
DO JAMANDUÁ, AXIOMA, NAZARÉ, CURUZU E PORTO ALEGRE,
EM CANUTAMA/AM Nas últimas décadas, o crescimento das atividades de produção
e consumo e, conseqüentemente, o aumento de lançamentos de
resíduos nos meios receptores, bem como a utilização excessiva
Os tabuleiros Curuzu, Nazaré, Axioma, Santa Bárbara e Santa Cora,
no trecho do barrento e enovelado

100 435
Quanto à finalidade dos criadouros, para a conservação da Purus, que vai de Tapauá a Lábrea, passando por
espécie, as respostas destacaram-se em ajudar na diminuição da Canutama, têm recebido proteção desde 1984, pelo
predação dos animais e a manutenção das matrizes, embora IBDF/Ibama-AM, tornando-se áreas conhecidas pela produção
verificou-se que 84% dos criadores ainda não construíram o sistema de quelônios. Naquelas áreas de antigos seringais, alguns
para a reprodução dos animais, o que mostra o não atendimento da herdeiros de seringalistas, como a sra. Sebastiana Paixão
Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes (Praia do Nazaré) e o sr.
exigência da Portaria n. 142/92 (Ibama, 1992b), artigo 7º, parágrafo
Damião Santos (Praia do Curuzu, Porto Alegre e Aramiã),
2º.
preocuparam-se em, anualmente, solicitar autorizações para
A opinião dos criadores sobre: protegerem suas praias, o que tem sido feito regularmente, sem
acarretar gastos para o Ibama. Todavia, sem uma presença mais
1) combate ao comércio ilegal de quelônios: sugeriram fiscalização efetiva do órgão federal de fiscalização e controle ambiental,
rigorosa envolvendo as forças do exército, marinha e desde 1996, a situação tornou-se crítica.
aeronáutica. O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a
prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservas
2) a importância principal em criar quelônios é ganhar dinheiro. municipais de quelônios, em Jamanduá e em Axioma. No
Entre os criadores, um pretende, com a criação, saldar sua Jamanduá, a prefeitura mantém um flutuante e paga quatro
dívida com um empréstimo realizado no banco. agentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e
Turismo. Em Axioma, em 2000 e 2001, uma parceria com o Poder
Na avaliação ambiental observou-se o uso direto dos cursos Judiciário permitiu que um rancho mensal e bandeiras fossem
d'água nas instalações, que funcionam como meio de captação de destinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com o
água e onde são lançados os efluentes que podem comprometer a salário de um agente.
qualidade dentro e fora dos viveiros. Impor aos outros usuários uma
série de custos sociais, uma vez que as descargas dos restos
orgânicos são lançadas ao ambiente sem nenhum controle da
poluição (Quadro 2).

Figura 19: Equipe da Reserva Municipal do Jamanduá, Canutama/AM. Foto:


RAN/AM (Costa, P.M.).

434 101
Entre as espécies doadas para criação verificou-se
Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis. O total de animais
recebido por criador variou de 7.392,15 + 7.522,68 animais
(Tabela 4).

Tabela 4 – Números de animais doados para criação.

Número de Média DP Mínimo Máximo N


animais doados

QUANTIDADE 7.392,15 7.522,68 835 25.000 13


Figura 20: Base do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, RECEBIDA
P.M.). QUANTIDADE 7.979,15 6.841,90 835 21.000 13
ATUAL
TEMPO DE 1,9231 0,77595 1,000 5,000 13
RECEBIMENTO

Os meios utilizados para transportar os animais do tabuleiro de


desova para os criadouros foram barco e avião (Tabela 5). Segundo
os criadores, o avião parece ser o melhor meio, embora seja o mais
caro, sendo a melhor opção, pois, a mortalidade dos animais é
menor, em virtude do acondicionamento que deixa os animais
menos vulneráveis a doenças.

Tabela 5 – Meio de transporte dos animais dos tabuleiros para os criadouros.

TEMPO (%)
TIPO FREQ. (%) FREQ.
GASTO
53,8
AVIÃO 3 23,1 DIAS 7
BARCO 10 76,9 HORAS 3 23,1
SEMANAS 3
23,1

Figura 21: Placa do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM


(Costa, P.M.).

Em 2001, com a predisposição do RAN-AM em aumentar o número de


populações de quelônios

102 433
Os dados representados no Quadro 1 mostram um custo anual, por protegidas no Amazonas, foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do
tartaruga, de R$ 2,93, indicando que em média uma tartaruga com Jamanduá,Axioma, Nazaré, Curuzu e PortoAlegre.
cinco anos de idade pode estar custando R$ 15,00,
aproximadamente.

Quadro 1 – Custos totais, médios e participação percentual da criação de


quelônios no estado do Amazonas, no ano de 1999.

ITENS CUSTOS CUSTOS VARIÁVEIS %


FIXOS PARTICIPA
ÇÃO
S/ CUSTOS
TOTAIS
(%)
(R$) (%) (R$) (%)
Depreciação 16,021,50 34,35 - - 8,72
Rem. Capital 19.050,90 40,84 - - 10,35
Mão-de-obra 11.575,00 24,81 - - 6,30
Alimentação - - 96.047,25 70,05 52,50 Figura 22: Ninho de tartaruga (P. expansa), Praia do Curuzu,
Mão-de-obra - - 7.871,50 5,74 4,48 Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).
Combustível - - 10.644,00 7,76 5,80
Manutenção - - 14.773,25 10,77 8,40
Transporte - - 5.970,00 4,35 3,35 O Jamanduá é um tabuleiro que fica a 40 minutos, de bote
Outros - - 1.817,20 1,33 0,10 com motor de popa 40HP, da sede do município e mede 1.500 m x
Total 46.647,40 100,00 137.123,20 100,00 100,00 300 m. Seu monitoramento pela prefeitura começou em 1998
%participação quando foram registrados 11 ninhos de tartaruga e 7 de tracajá.
s/ custo total 25,38 - 74,62 - 100,00 Em 1999, foram 56 ninhos de tartaruga e 27 de tracajá e, em
2000, 117 tartarugas e 100 tracajás desovaram naquela praia, o
Custo médio 0,74 - 2,19 - 2,93
que demonstra mais uma vez que, se existe uma população boa de
quelônios, na região, eles rapidamente ocupam o espaço, propício
pelas áreas conservadas, tornando os resultados altamente
positivos em curto espaço de tempo. A administração municipal
do sr. Raimundo Amorim, com apoio do sr. Antônio Apolinário, da
Funasa, possibilitaram o monitoramento do RAN-AM a partir de
2001. No tabuleiro Nazaré, que mede 800 m x 250 m, o apoio foi
dado pela sra. Dulce Paixão.

B.3) ALTO PURUS

Os tabuleiros a partir de Lábrea/AM, no rio Purus, são monitorados pela


equipe do RAN/AC, em função da maior proximidade daquelas áreas com a Gerex
doAcre.

432 103
Mesmo assim, enviamos técnico do RAN-AM e do Esreg, de Boca do Acre e Lábrea,
para acompanharem, em 2001, os trabalhos de execução do projeto FNMA, nas RESPONSÁVEL TÉCNICO
comunidades do rio Purus, noAmazonas.
6
5
4
BIOLOGO
3 ENGPESCA
IDAM
2 UA
MÉD. VETERINÁRIO
1 TECNOLABORATÓRIO

0
Figura 3 – Responsável técnico.

A maioria dos funcionários foi selecionada principalmente


por indicação de outras pessoas, observando-se a não-exigência de
critérios e conhecimentos para o desenvolvimento das atividades,
Figura 23: Reunião com comunidades em Lábrea, Projeto
assim como foi notada a falta de programas de treinamento e/ou
Quelônios, FNMA. Foto: RAN.
sensibilização dos funcionários.
C) RIO MADEIRA
Na avaliação dos custos, observou-se que não há registros
sistematizados dos fatos que ocorrem nas propriedades. Os dados
C.1) PRAIA DO NAZARÉ – MANICORÉ/AM foram estimados com base em informações provenientes de
anotações e de estimativas. A participação dos custos fixos sobre
A praia do Nazaré está situada próxima à cidade de os custos totais é de 25,38% e os custos variáveis participam com
Manicoré, no leito do rio Madeira. Essa praia servia de porto para 74, 62%. A alta participação destes últimos é a alimentação com,
comunitários que trabalham grandes roçados na várzea. aproximadamente, 52%. O gasto com ração
Todavia, diversos quelônios dela se utilizam durante o período (alimentação/ano/animal) ficou em torno de R$1,53%. Resultado
reprodutivo. Através das informações do CNPT/AM fomos consistente com o estudo realizado por Costa (1999), com 350
orientados sobre a possibilidade de realizarmos o trabalho de
animais em cativeiro, que identificou um custo de R$
conservação de quelônios naquela praia, com o apoio do Esreg do
1,58/animal/ano, referente à alimentação.
Ibama local. A Tabela 10 apresenta a evolução dos trabalhos de
conservação de quelônios naquela praia.

104 431
Tabela 2 – Tamanho da área (m2) entre os criadouros. Espécies 2001 2002 2003

Ninhos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes Ninhos Ovos Filhotes


TAMANHO DA
MÉDIA DP Mínimo Máximo N Iaçá 140 681 1.252 18.200 17.565 1.338 21.595 18.516
ÁREA
Tracajá 25 103 71 1.980 1.620 71 2.206 1.737

BARRAGEM 1.430,96 1.304,42 2,630 3.000 9 Tartaruga 6 359 9 866 636 15 1.604 1.158
BERÇÁRIO 1.027,89 2.212,87 4,000 6.844 9
Total 171 1.143 1.332 23.076 19.821 1.424 25.405 21.411
TANQUE 421 384,431 25 900 6
PROPRIEDADE 2.000,52 3.650,98 1,000 131,40 13
Tabela 10: Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro do
A efetivação da criação de quelônios ocorreu por volta dos Nazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/Ibama Manicoré (2003).
anos de 1970, em função da implementação da primeira portaria,
registrando-se um interesse maior nos últimos cinco anos, maior
aprovação dos projetos técnicos nos anos de 1995/2004 (Tabela 3).

Tabela 3 – Intervalos de aprovação dos projetos técnicos entre os criadores. A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro, com o pico de
desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam de julho a setembro, com pico
APROVAÇÃO DOS FREQÜÊNCIA (%) em agosto. Tartarugas desovam de agosto a outubro, com o pico de desova em setembro.
PROJETOS

1995-1996 4 8,7
1997-1998 4 8,7
1999-2000 5 10,9
2001-2004 33 71,7

O acompanhamento técnico foi efetuado por profissionais


indicados por pessoas ou órgão (Figura 3), apenas para efetivar a
aprovação do empreendimento, sem assegurar, no entanto, o seu
comprometimento para monitorar as atividades.

Figura 24: Praia do Nazaré, Manicoré. Foto: Esreg/Ibama,


Manicoré/AM.

430 105
C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO Tabela 1: Perfil socioeconômico dos criadores de quelônios.
IGARAPÉ DO BOTO, IGARAPÉ DO MURUTINGA, IGAPÓ AÇU.
FAIXA NÍVEL
ETÁRIA FREQ % ESCOLAR FREQ. %
20-39 1 8,5 Semi-analf. 1 8,3
O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas anos
1ºGrau inc. 3 25,0
escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo 40-59 8 66,7
encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a anos 1ºGrau comp. 1 8,3

vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema 60-79 3 25,0 2ºGrau comp. 3 25,0
diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de anos
Sup. Inc. 1 8,3
areia ou barrancos de várzea, tracajás (Podocnemis unifilis) e,
Sup. Comp. 3 25,0
principalmente, irapucas (P. erythrocephala) desovam no meio do
folhiço úmido, como as muçuãs (Knosternon scorpioides) que RENDA
PROFISSÕES FREQ. % FAMILIAR FREQ. %
desovam no mangue.
Administrador 1 8,3 1-10 SM 5 41,7
As características diferentes desse sítio reprodutivo de Advogado 1 8,3 11-15 SM 4 33,3
Agricultor 3 25,0 16-20 SM 3 25,0
quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área, Aposentado 1 8,3
monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a Comerciante 4 33,3
Engenheiro 1 8,3
reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas Pescador 1 8,3
três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041
filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por falta A estrutura operacional dos criadouros é, na maioria,
de recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de localizada em zona rural, abastecida de água de igarapé e energia
2002 e 2003. elétrica pelas Centrais Elétricas do Amazonas (Ceam). São, na
maioria, manejados por pessoas físicas (61,5%), com sistema de
criação do tipo semi-intensivo (69%), e objetivos de criar quelônios e
o comércio dos animais (84,5%). Não há normas para o
estabelecimento das dimensões e tipos de recintos, como tamanho
da área variando de 2.000,52 + 3.650,98m, represas de 1.430,9 +
1.304,42m, berçário de 1.027,89 + 2.212,87m e tanque de 421 +
384,43m (Tabela 2). Neste caso, a recomendação deveria estar
condicionada à qualidade de animais e fase de criação.

Figura 25: Área de desova do rio Matupiri, Borba/AM. Foto: RAN/AM


(A.Vicente).

106 429
Os dados foram elaborados em uma planilha e aplicou-se D) RIO NEGRO
estatística descritiva com distribuição de freqüências e teste de
Kruskal-Wallis (P>0,05), a fim de comparar as variações dos As praias do rio Negro, historicamente, abastecem a
cidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a
parâmetros encontrados entre os criadores e o padrão estabelecido
culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública.
pelo Conama (1996) Resolução nº 020/96, para estabelecer o nível
Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foram
de significância entre as médias e agrupar, entre os criadouros, os
capturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enorme
que apresentam melhores condições de funcionamento. pressão levou a uma drástica diminuição dos estoques das
populações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucas
Resultados e discussões
são as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nos
A criação de quelônios no estado do Amazonas é atualmente tabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró e
composto por 33 criadouros legalizados, funcionando de acordo Mussum.
com a disponibilidade dos recursos de cada um e a utilização de
Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, o
práticas impróprias de manejo.
RAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam,
O perfil socioeconômico dos criadores revelou faixa etária em Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram os
trabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em
torno dos 40 anos, grau de escolaridade no ensino médio,
2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% de
profissões, com maior freqüência, de comerciante e de agricultor.
tartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de
Dados consistentes com Costa (1999), renda familiar com maior
irapucas).
percentual na faixa de 5 a 10 salários mínimos (Tabela 1).
D.1) PRAIA DA VELHA – PARNA JAÚ – NOVO AIRÃO/AM

É uma praia situada próxima à base do Parque Nacional do Jaú,


em Novo Airão. Essa praia de areia branca e fina abriga os sítios
reprodutivos de gaivotas, corta-águas, iaçás, tartarugas,
irapucas e tracajás. Com recursos do RAN/AM, os técnicos da
Ufam contrataram dois agentes de praia na comunidade mais
próxima porque a praia já está bastante depredada, visto que,
além dos comunitários que tiram ovos e animais adultos, ela é
alvo de barcos de recreio ou de particulares que alcançam
facilmente suas margens, já que ela fica em área de tráfego fluvial
(canal navegável do rio), sendo rota obrigatória dos barcos que
sobem o rio Negro. Em 2000, foi registrado um ninho de tartaruga
na praia da Velha

428 107
Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação função de modelos de desenvolvimento exploratórios e predatórios.
humana, entretanto, lotes de queixadas (Tayassu tajacu)
As propriedades escolhidas para os estudos foram em função
atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos,
dos criadouros licenciados pelo Ibama, localizados em Manaus e
duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos
municípios próximos.
para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o que
permitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes Metodologia
alocados em berçários na mesma ilha.
Em um primeiro momento, foram realizados contatos iniciais
com os proprietários dos criadouros, a fim de solicitar autorização. A
partir daí iniciou-se o trabalho com observações diretas das
instalações, rede hidrográfica, dimensões dos viveiros e a
composição da vegetação, com a finalidade de realizar o diagnóstico
ambiental.

Entrevistas foram feitas com 13 criadores que detalharam


questões sobre o levantamento dos aspectos relacionados aos meios
socioeconômico e físico, a fim de estabelecer o perfil dos
criadores/criadouros. Também foi verificada a estrutura
operacional dos criadouros.

Posteriormente, definiu-se a análise da água para avaliar


Figura 26: Placa da Praia da Velha, Parna Jaú, Novo Airão/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e entre os parâmetros químicos os efeitos de impactos diretos e
J. Pezzuti).
indiretos causados ao ambiente. Para isso, efetuaram-se medidas
Em 2002, 10 tartarugas desovaram em Cauixi. A produção em no campo da condutividade elétrica, temperatura e oxigênio
2003, foi de 171 ninhos de iaçá e 13 de tartaruga, com produção de dissolvido, utilizando um condutivímetro digital tipo WTW e
1.189 iaçás, 36 tracajás, 9 irapucas e 656 tartarugas, o que peagômetro tipo WTW, para determinar o pH.
demonstra, como comentamos anteriormente, a rápida recuperação
Amostras de água foram coletadas em garrafas de polietileno
dos tabuleiros por meio de trabalhos efetivos de conservação. A
e frascos de vidro com tampa esmerilada. Análises foram realizadas
partir de 2003, foram protegidas outras praias no parque, como
no Laboratório de Limnologia /Depesca/Ufam, segundo Golterman,
Maquipana, do Boi, Traíra e dos Pretos, o que permitiu a proteção de
et al. (1978), para determinar os parâmetros químicos: DBO
16 ninhos de tartaruga. Em 2004, 18 ninhos de tartaruga e 85 de
(Demanda Biológica de oxigênio0, DQO (demanda química de
iaçás foram protegidos. Desde 2002 esses trabalhos vêm sendo
oxigênio), compostos nitrogenados: nitrato (N02), nitrito (N03) e
realizados pelos analistas do Parque Nacional do Jaú, como o
amônia, fósforo (P04) e dureza.
médico-veterinário Marcelo Bresolin.

108 427
Atividades dos queloniocultores

20%
30% Outras atividades
Comerciantes
10% Produtor Rural
Construtura
10% Hotelaria
30%

Figura 2: Atividades dos queloniocultores.

11.2 Caracterização socioeconômica e ambiental das


criações comerciais de quelônios Figura 27: Praia da Dulumina, Barcelos/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J.
Pezzuti).
Neste outro trabalho, iniciado em 2000, teve-se por objetivo
Em 2006, os trabalhos em Barcelos foram retomados pela Ufam.
caracterizar as condições de funcionamento dos criadouros de
O acadêmico de engenharia de pesca, Radson, começou a
quelônios, através de um levantamento mais detalhado, como forma
desenvolver com a Secretaria de Meio Ambiente o Programa Pé-de-
de garantir novas alternativas de uso sustentável diante das atuais
Pincha com as comunidades de Ponta da Terra, Campina do Quatro,
técnicas de manejo dos recursos naturais, estabelecer o perfil
Campina do Careca, Campina do Cairara e Praia da Alegria. Foram
socioeconômico dos criadores/criadouros, identificar fatores de
transferidos 32 ninhos de tracajá e 50 de irapuca, em um total de
impactos ambientais, bem como verificar a viabilidade econômico-
1.200 ovos, dos quais 408 filhotes nasceram e foram devolvidos à
ambiental, a fim de propor um modelo de gestão socioambiental para
natureza.
as atividades de produção animal.

Área de estudo

O estado do Amazonas possui fortes tradições culturais, e por


dispor de recursos naturais diversos, as características de usos e
costumes de seus habitantes concentram-se nesses recursos.
Assim, os recursos da fauna amazônica vêm servindo a alimentação
humana há milhões de anos, com a alteração dos ecossistemas em

426 109
E) RIO UATUMÃ Quanto ao tipo de alimento fornecido, observou-se que
animais alimentados à base de proteína animal superam os
TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUACÁ, EM
alimentados com proteína vegetal em ganho de peso. Observou-se
PRESIDENTE FIGUEIREDO E SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ/AM. 2
que a densidade de 78 indivíduos/m proporciona um bom
O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF, desde 1986, desempenho aos animais. A tartaruga (P. expansa) parece superar o
todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A Manaus Energia, através dos tracajá (P. unifilis) e o iaçá(P. sextuberculata) em ganho de peso.
trabalhos do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na Animais provenientes de Uatumã-Balbina/AM possuem tendência a
UHE de Balbina, tem trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a obter maior ganho de peso que os provenientes do Abufari-
montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do RAN/AM Tapauá/AM e Rio Branco-RR.
(combustível, pagamento de agentes de praia, ranchos, etc.) a bióloga Sandra do
Nascimento treinou agentes de praia e monitorou sítios reprodutivos de quelônios no
igarapé do Jarauacá, tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva
Biológica do Uatumã.

Figura 1: Tamanho das propriedades.


Figura 28: Praia artificial da UHE Balbina, Presidente Figueiredo/AM.
Foto: CPPQA/Rebio Uatumã.

Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio 2.048 filhotes de
P. unifilis e 1.421 de

110 425
para caracterizar a produção de quelônios no estado, o que serviu P. expansa, 20 de P. sextuberculata e 22 de P. erythrocephala, no Lago do Maracanã, nas
praias artificiais de Balbina e no igarapé do Jarauacá.
para inferir sobre o melhor sistema de criação utilizado.

Quanto à localização, 21,66% dos criadores estão situados


em áreas do município de Manaus, 21,66% em Manacapuru,
21,66% em Iranduba, 21,66% em Rio Preto da Eva, 6,6% em
Manicoré, 3,7% em Itacoatiara, 1,8% em São Gabriel da Cachoeira e
1,8% em Lábrea.

O tamanho das propriedades variou de 8 a mais de 6.000 ha,


sendo a maioria entre 9–35 ha, com média de 22 18,384 ha (Figura
1). As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria estivesse
2
entre 1 e 2 ha, e os berçários de 30 a mais de 1.000 m . A maior parte
dos criatórios possui densidade de berçário entre 0,5 e 5
2
indivíduos/m . Figura 29: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:
RAN/NA (J.A.M. Duarte).
Quanto às atividades dos criadores, têm-se a maior parte
exercendo a atividade de comerciantes, encontrando-se também
agricultores, advogados e donos de rede de hotelaria (Figura 2).

O número de animais por criador variou de 600 a mais de


22.000 indivíduos, sendo 60% com número de 1.000 a 5.000
indivíduos, o que é considerado um número pequeno para a
atividade comercial. A alimentação fornecida ficou distribuída entre
vísceras bovinas, restos de feira (verdura), peixe, peixe + puerária e
ração, sendo que a maioria fornece peixe, havendo uma tendência
para adotar ração, pelo menos na fase inicial, seguindo as novas
orientações técnicas fornecidas.

Figura 30: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto:


RAN/NA (J.A.M. Duarte).

424 111
pesquisas, levantar estratégias zootécnicas, considerar os fatores
jurídicos e ambientais e proporcionar treinamentos para os
funcionários, com a perspectiva de que as relações e as
interferências sobre o ambiente tornem-se irreversíveis.

Em 1997, a Ufam e o Ibama, iniciaram um diagnóstico dos


criatórios de quelônios no Amazonas. Posteriormente, em 2000, foi
realizada a caracterização socioeconômica e ambiental dessas
criações comerciais de quelônios. Os resultados desses dois estudos
e as informações sobre a primeira comercialização ocorrida no
estado, em 1999, são apresentados neste capítulo.

11.1 Diagnóstico dos criatórios de quelônios no estado


do Amazonas

Com os dados obtidos nos questionários feitos aos criadores,


ou técnicos, de cada propriedade foi possível o diagnóstico da
situação quanto ao tamanho das propriedades, instalações
(barragens ou represas e berçários), densidade do berçário, número
de animais de cada criadouro, atividades do criador, tipo de
alimentação fornecida aos animais, doenças, predadores, etc.

Neste estudo foram acompanhados os criatórios de


tartaruga (P. expansa) e tracajá (P. unifilis), licenciados pelo Ibama
no estado do Amazonas até 1999, onde pôde-se fazer a análise dos
novos criatórios registrados e a avaliação do desempenho da nova
população explorada pelo Ibama para fornecimento dos filhotes
(Tabuleiro de Sororoca-Rio Branco/RR). Esse acompanhamento foi
feito através de biometrias bimestrais nos criadouros, onde
registrava-se, através de questionários específicos e entrevistas, as
características de cada sistema de produção, tais como:
alimentação, tipo e tamanho de instalações, densidade de cultivo,
características da água, manejo, equipamentos, etc. Os animais
foram medidos e pesados. Os dados obtidos foram sistematizados
Figura 31: Mapa das Áreas de reprodução de quelônios na Rebio
Uatumã. Foto: Rebio Uatumã/Ibama-AM.

112 423
No entanto, apesar de as estratégias de manejo estarem F) RIO AMAZONAS
sendo desenvolvidas desde 1986, o processo de criação animal em
sistema artificial foi implantado com práticas impróprias devido à MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM
falta de conhecimentos adequados da biologia das espécies, PARINTINS/AM
constituindo em ameaça (Soini, 1997). Por outro lado, não foram
O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de
estabelecidas políticas sustentáveis de manejo que se orientam
quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio
primordialmente a eliminar e/ou mitigar o impacto negativo das
do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8
ameaças ao ambiente.
km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante
Conforme a espécie explorada, a ação repercute na elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins,
incorporação direta e primária da natureza, em que não são medidos Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que,
por seus planejadores, o impacto direto e o indireto quanto ao naquela região, são animais de porte bastante avantajado se
controle dos resíduos e ao uso dos recursos. Esses fatores são comparados aos do Purus e Juruá.
essenciais para avaliar a viabilidade da atividade e articular as
relações econômicas, sociais e ambientais (Kubitza, 1998). Essas
relações com o meio ambiente são essenciais para o
desenvolvimento efetivo da gestão do meio ambiente.

A gestão do meio ambiente é um processo de mediação que


define e redefine, continuamente, a forma como as diferentes
organizações, através de suas práticas, alteram a sociedade, a
qualidade do meio ambiente e como se distribuem na sociedade os
custos e os benefícios decorrentes da ação desses agentes (Ibama,
1992). Para realizá-la é indispensável acompanhar e atuar sobre os
elementos envolvidos na transformação ambiental e realizar a
gestão de cada um deles (Macedo, 1995), podendo, com isso,
equacionar e/ou levantar os recursos/benefícios, reconhecer e
reavaliar o desenvolvimento dos animais e articular a participação
dos diferentes segmentos sociais, proporcionando o
Figura 32: Rastro de tartaruga (P. expansa) no Tabuleiro de Vila Nova,
comprometimento dos seus gerenciadores. Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F. Clóvis).
A comunidade de Vila Nova realizava na década de 1940 até 1960 a conservação da
Para contextualizar a criação de quelônios em criadouros área, inclusive com marcação e manejo de ninhos, manutenção de filhotes em berçários
licenciados, futuramente, exigirá a necessidade de estabelecer um e festas de soltura. Com o aumento da pressão da pesca e a coleta predatória sobre
planejamento ambiental antes da sua implantação, priorizar aquela

422 113
população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o Capítulo 12: Caracterização socioeconômica
trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em
Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a
e ambiental da criação de quelônios no estado
proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a do Amazonas e comercialização
chegada do Projeto Pé-de-Pincha em Parintins, o Ibama e a Ufam Aldeniza Cardoso de Lima
Paulo César Machado Andrade
começaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de
João Alfredo da Mota Duarte
conservação em Vila Nova e adjacências. Luiz Alberto do Santos Monjeló
Richard Vogt
Janderson Rocha Garcez
Wander Rodrigues
Anndson Brelaz
Introdução

Os quelônios são uma ordem de espécies silvestres da


Amazônia que, durante séculos, têm sido intensamente exploradas
para comércio e consumo humano, entre outras finalidades,
principalmente Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis
classificadas como espécies em estado vulnerável e de baixo risco,
respectivamente, dependente de estratégias de conservação (UICN,
1996).

Para contrapor essa superexploração e consciente de seu


Figura 33: Placa de alerta do tabuleiro de Vila Nova,
potencial para o uso sustentável, implantou-se a criação artificial
Parintins/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F.Clóvis).
com a finalidade de desenvolver a criação com finalidades comerciais
O RAN/AM começou então a enviar equipes de fiscalização (Acosta, 1996; Vogt, 1990).
a partir de abril de 2001. Em maio foi realizada reunião com as
No Brasil, a criação de quelônios surgiu devido ao estímulo à
lideranças comunitárias de Vila Nova e marcado o início dos
captura ilegal na natureza; à oferta de produtos e subprodutos; por
trabalhos para julho (treinamento de pessoal e monitoramento
ser adaptada à condição ambiental; e aos resultados de trabalhos de
de praia). Além das comunidades de Vila Nova, Ilha das Onças e
proteção e manejo nas áreas de desovas (Alfinito, 1980; Luz, et al.,
Guaribas, o trabalho conta com o apoio do sr. Dodó Carvalho,
1994). Na Amazônia tiveram início ações para contrapor a
empresário local e proprietário de parte da área.
exploração com a finalidade de domesticar e obter excedentes que
O RAN/AM colocou 5 placas de 4 m x 2 m – que avisam permitam o repovoamento onde têm diminuído ou desaparecido as
do tabuleiro e proíbem a pesca e caça no local – e enviou fiscais espécies (Fachin, 1999).
e técnicos com o apoio da equipe de

114 421
professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o
trabalho de proteção da área.
A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador
Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo
Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam,
Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó
Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda
como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes,
sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos
que foram mantidos em berçário.

Tabela 11: Produção de ninhos transferidos de quelônios no


tabuleiro de Vila Nova – Parintins.
Ano/ninho Pitiú Tracajás Tartarugas
2001 108 15 12
2002 120 16 12
2003 276 79 12
2004 186 13 13
2005 47 19 24
2006 217 54 35
Ano/ovos
2001 3.363 467 379
2002 3.615 502 944
2003 5.041 313 1.433
2004 3.120 438 1.116
2005 950 624 2.570
2006 3.472 1.134 3.850
Ano/filhotes
2001 3.610 160 750
Figura 12: contagem de filhotes de tartaruga em cercado no tabuleiro do 2002 3.143 477 900
Abufari. Abaixo: equipe da Universidade Federal do Amazonas e Ibama na 2003 4.536 281 1.289
base flutuante da Rebio Abufari, rio Purus/AM. Foto: Projeto Diagnóstico 2004 4.232 569 1.516
(Andrade, P.C.M. 1998).
2005 1.990 411 1.667
2006 3.980 484 2.576

420 115
G) PROGRAMA “PÉ-DE-PINCHA” – MANEJO PARTICIPATIVO DE
QUELÔNIOS EM BARREIRINHA, PARINTINS E NHAMUNDÁ/AM
E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica
Médio-Baixo Amazonas)

O “Pé-de-Pincha” vem sendo desenvolvido como Programa de


Extensão e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam),
desde 1999, estimulando a conservação de quelônios através de seu
manejo participativo. Tendo como espécie focal o tracajá
(Podocnemis unifilis), recebeu o apelido de “pé-de-pincha”, devido às
pegadas desse animal na areia, que se parece com tampinhas de
refrigerante. Ufam e Ibama vêm trabalhando em 78 comunidades do
Médio Amazonas, nos municípios de Nhamundá, Parintins e Figura 10: Filhotes de tartaruga predados por urubu. Observe que só a parte
Barreirinha/AM e Terra Santa, Juruti, Faro e Oriximiná /PA. O dianteira foi consumida. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M., 1998).
programa visa o manejo racional e sustentável de quelônios, pelas
próprias comunidades.

Figura 11: Soltura de filhotes de tartaruga na reserva biológica do Abufari, rio


Purus. Observe que ela é feita a noite, no meio da vegetação e distante do
Figura 34: Rastro de tracajá (P. unifilis), pé-de-pincha no lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. tabueliro, para reduzir a predação. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.
Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
1998).

116 419
funcionários da Rebio Abufari/Ibama-AM monitoram atentamente a
praia, vigiando as cercas de tabuleiros desde a madrugada, evitando
que os filhotes sejam predados ainda durante a noite, por aves que
dormem na praia. Nessa época, também realizam contagem (Figura
12) e, posteriormente, a transferência e a soltura dos filhotes. Esta
última é realizada em outra margem distante da praia, onde realizam
a soltura dos filhotes no meio de plantas aquáticas para reduzir a
chance da predação, por peixes, sobre os filhotes de tartaruga,
tracajá e iaçá (Figura 11).

Figura 35: Equipe de campo (comunitários e universitários), lago do


Macurani, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.).

Diversas comunidades rurais do Médio-Baixo Amazonas


que produziam juta, cacau, farinha, hortaliças, etc.,
abandonaram a agricultura, dedicando-se, principalmente, à
pecuária extensiva, à pesca e ao extrativismo, aumentando a
pressão sobre a fauna silvestre. Devido à caça predatória e à
coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo
desses municípios. Animais adultos e ovos são consumidos ou
vendidos para Manaus, Parintins e Santarém. Algumas áreas,
entretanto, foram protegidas pelos comunitários e por
associações, como o Granav (Grupo Ambientalista Natureza
Viva) e Asase-3, em Parintins, a Ascon/Acplasa/ARQMO, no
Lago do Sapucuá/Oriximiná, e ATAAV, em Terra Santa, com o
objetivo de conservar esse recurso natural.

418 117
ariranha (Pteronura brasiliensis), sucuri ( Eunectis murinus), jacaré
(Caiman spp), felinos (Leopardus pardalis e Panthera onca) e o
homem (Alfinito, 1980; TCA-SPT, 1996).

Figura 36: Agente Ambiental retira filhotes de quelônios de berçário, para soltura, Aliança, Lago
do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Em 1999, o sr. Manuelino Bentes “Mocinho Lobo” e


Figura 9: Urubus atacando filhotes de quelônios em Abufari, Purus,
comunitários de Terra Santa/PA procuraram a Universidade Tapauá. Foto: Projeto Diagnóstico (Duarte, J. A.M.).
Federal do Amazonas (Ufam) para obter informações sobre
conservação de quelônios. A Ufam reuniu-se com os produtores, o Na Reserva Biológica do Abufari – AM (Figuras 9 e 10), foram
Ibama e as prefeituras locais para a criação do projeto “Pé-de- observados, em 1998, pelos autores, predadores como aves (urubu e
Pincha”. Inicialmente, foram trabalhadas áreas de Terra Santa e gavião) e peixes (pirarara, etc.), com ambos realizando um tipo de
Nhamundá. Em 2000 e 2001, o projeto foi ampliado para “vigilância” na praia onde desovam a tartaruga, o tracajá e o iaçá
Oriximiná/PA, Parintins/AM e Barreirinha/AM. E em 2004, para (também conhecido por pítiú). No período de eclosão dos filhotes as
Juruti, Boa Vista do Ramos e Faro. O plano inicial de ação foi aves ficam 24 horas por dia na praia de desova para capturar os
definido em maio de 1999, no I Seminário Sobre Manejo Sustentável filhotes logo que saíssem da cova. Sendo, no caso das aves, que o
de Tracajás (255 participantes) em Terra Santa (Andrade et al., primeiro comportamento observado é o decepamento dos filhotes
2005). para depois forrageá-los. No caso dos peixes, estes ficam a margem
da praia de desova para forragear os filhotes logo que estes entram
Foram capacitados 385 professores das escolas
na água, pois este caso ocorre com algumas covas distantes umas
municipais em educação ambiental; realizadas palestras nas
das outras.
escolas e comunidades para mais de 67.606 ouvintes; treinados
49 agentes ambientais voluntários; realização de cursos de Na grande maioria, devido ao número de animais que
alternativas para geração de renda (tecnologia do pescado, criação desovam ser elevado, é feita uma cerca circular, em que há um
caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, considerado número de covas. No período da eclosão, os
manejo de quelônios, etc.) para mais de 1.021 pessoas; e foram

118 417
contaminação bacteriana e na análise micótica foi identificado instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339
novamente o fungo Aspergillus niger. A Figura 8 apresenta os quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1).
animais com essas lesões. Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238
comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas
com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais;
divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de
850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de
23.400 pessoas nas comunidades e sede.

Desde 2004 o programa conta com o apoio do ProVárzea-


Ibama e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

Figura 8: Tartaruga, P. expansa com lesões na carapaça e plastrão,


provenientes do ataque de fungos (Fotos: Ikaro).

10.2.2 Predação

Como predadores em condições naturais, pode-se reunir


três categorias: (1) os que aproveitam os ovos, (2) os que consomem
os filhotes recém-nascidos e (3) os que consomem os adultos, em
decorrência do equilíbrio biológico natural e captura pelo homem Figura 37: Ninhos de quelônios protegidos em Aliança, Lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.
pois, em ambas o animal encontra-se nos cursos d'água ou na praia Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
de desova. A pior das predações parece ser apanhar os ovos, não
Na região foram identificadas 13 espécies de quelônios:
obstando que as demais não sejam prejudiciais. Entre os tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis), iaçá (P.
predadores, tem-se formigas-de-fogo (Prenolepis sp.), jacuraru sextuberculata), irapuca (P.erythrocephala), cabeçudo
(Tupinambis nigropuctatus, T. teguxin), aves (urubu Cathartus (Peltocephalus dumerilianus), perema (Rhinoclemmys
spp., Caragypis atratus foestus; gavião Spazastur spp.; gaivota punctularia), lalá (Phrynops nasutus), muçuã (Kinosternon
Phaetusa simplex). Em uma praia venezuelana, 6% das crias recém- scorpioides), jabuti (Geochelone denticulata e G. carbonaria),
eclodidas foram predadas por aves, desde o momento de saída do matá-matá (Chelus fimbriatus), jabuti-machado (Platemys
ninho até chegarem à água: peixes carnívoros (traíra Hoplias platycephala) e Phrynops spp. De 1999 a 2006, o programa
malabaricus; tucunaré Cichla sp.; piranha Serrasalmus sp.; devolveu à natureza 629.183 filhotes de quelônios (74,4%
pirarara Phractocephalus hemioliopterus; pirarucu Arapaima gigas, tracajás; 7,6% tartarugas; 10,9% iaçás; e 7,1% irapucas),
aruanã Osteoglossum bicirrhosum), lontra (Lutra platensis); provenientes de ninhos manejados,

416 119
com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ±
16,27% de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ±
4,93 ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos
locais de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás
nasceram pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas
22,52 ± 1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g.

Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá (P. unifilis), igarapé dos Currais, Terra
Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).

Figura 7: Jovem de tartaruga (P. expansa) de cativeiro com lesão na


carapaça causada por fungos e bactérias. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).

O mesmo tipo de lesão foi encontrado em dois exemplares


de P. expansa em criadouro no Iranduba. Um animal apresentava
uma única lesão na carapaça e outro apresentava várias lesões na
carapaça e no plastrão. Aplicou-se, o mesmo tratamento descrito
Figura 39: Técnico do RAN-AM e universitário coletam dados de
anteriormente mas, antes foi feita a raspagem do local e realizada
ninhos de quelônios, lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de- cultura do material biológico recolhido. Não houve resultados para
Pincha (Andrade, P.C.M.).

120 415
Para Aeromonas: Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira
et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no
1)Pode ser feito também um tratamento à base de
Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes
tetraciclina (5 mg em 2 ml de água destilada), via estômago, duas
(23%), frutos (22%) e plantas (20%), ocupando maior diversidade
vezes ao dia, durante 5 dias (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1980).
de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de
Entretanto, enquanto pesquisávamos o caso, voltamos a 15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à
adotar o mesmo procedimento utilizado para a água de filhotes disponibilidade, os quelônios mais consumidos são os tracajás
recém-chegados ao criadouro, ou seja, colocamos 10 gotas de (55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência
iodo/100 litros de água no tanque dos animais doentes. seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá
(16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura,
Em 5 ou 7 dias houve uma redução progressiva dos
como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são
sintomas dos animais doentes. Animais aparentemente sadios que
utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel
foram separados para outro tanque, antes do início do tratamento,
(17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos
apresentaram os sintomas naquela outra instalação (5 dias depois),
ribeirinhos afirmam comercializar esses animais, enquanto que
sendo imediatamente medicados.
no Juruá, esse número pode atingir de 64-99%. O preço médio é
Outro caso observado em criadouros de Itacoatiara foi o de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, sendo que, além do
aparecimento de ulcerações na carapaça de tartarugas juvenis consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como
(Figura 5). Os animais foram trazidos ao Ibama, isolados e deixados remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%).
em recipiente com pouca água (para que o local da lesão se
Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados
mantivesse seco). Na lesão foi aplicado iodo e colocado unguento.
28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com
Foram feitas aplicações diárias até a perfeita cicatrização do local.
microchips) para monitoramento através de recaptura (CMR) e
estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes
manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimou-
se em 5,74% a sobrevivência total até 12 meses. O maior índice
de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. A sobrevivência média
de tracajás na natureza, até 12 meses de idade, foi estimada em
17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi
estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas
áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%.

414 121
O Aeromonas, bactéria gram negativa, causa a chamada
red leg, que são manchas avermelhadas nos membros com
ulcerações e equimoses, além de anemia macrocítica, leucopenia e
trombocitopenia (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1986).

O Citrobacter freundii é bactéria gram negativa que destrói


os glóbulos vermelhos, causando danos aos órgãos internos, perda
de apetite, letargia, ulcerações e necrose na pele e posterior
paralisia dos membros inferiores com multilação nos dedos, além de
filamentos de sangue que cobrem os olhos até atingir um quadro
fatal de septicemia, síndrome conhecida como SCUD (Scepticemic
cutaneous ulcerative disease), que acomete tartarugas aquáticas.
Nestes casos, o parasita pode ser isolado do fígado, coração, sangue,
rins. É uma doença transmitida pela água, sendo mais susceptíveis
tartarugas com escarificações (ferimentos) nas patas (Murphy &
Collins, 1982; Fowler, 1986).

Os tratamentos recomendados na literatura são:

Para Citrobacter:
1) Glorioso et al. (1974): uma dose inicial de 8 mg/100g,
intramuscular de Kaba, quemicetina ou quemisulfan, continuando
o tratamento durante 7 dias, com duas doses de 4 mg.
Figura 40: Marcação de filhotes de tracajás, com microchips,
por jovens cientistas – Fapeam, em Barreirinha-AM. Fonte: Jane –
2) Murphy & Collins, 1982: Clorafenicol foi usado
ProVárzea. 2007 eficientemente em alguns casos com uma dosagem inicial de 6
mg/200 g de peso vivo, no primeiro dia, seguida por uma dosagem
de 3mg/200 g de PV por sete dias. Ou 250 mg de clorafenicol por 2,6
litros de água. Colocar nesta proporção na água do reservatório
duas a três vezes por semana, e melhorar a alimentação e exposição
ao s raios de sol (colocar solário).

3) Fowler, 1986: Aplicação de betadina ou iodina (iodo)


localmente, e clorafenicol parenteralmente.

122 413
Os animais que foram acometidos desse sintoma estavam
em área mais exposta ao sol do que os outros tanques. Filhotes de
tracajá (P.unifilis) e iaçá (P. sextuberculata) que estavam em tanques
próximos não apresentaram esses sintomas.

Foi realizada punção timpânica em alguns animais


enfermos, a fim de coletar material para análise. Todavia, o material
que enchia a membrana não era secreção purulenta. Tratava-se de
gás acumulado que cedeu após a punção, desinchando. No dia
seguinte, os animais puncionados apresentavam novamente o
inchaço.

Os exsudatos recolhidos nos animais enfermos, bem como o


material retirado do sangue, fígado e rins de um animal doente, que
foi sacrificado, foram inoculados e analisados pelo Dr. Januário, do
Figura 41: Comunitários da Granja, Barreirinha-AM, soltando os filhotes de
Laboratório de Patologia da Universidade Federal do Amazonas. A quelônios resultado de seu trabalho. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (P.H.G.
cultura dos exsudatos e do material recolhido dos tecidos revelou a Oliveira).
presença de bactérias do gênero Proteus e Citrobacter. Não foram
O custo médio do filhote, produzido nesse sistema de manejo
observadas alterações, em nível macroscópico no fígado, trato
comunitário, é de R$ 0,71 ± 0,06. A rentabilidade para os
gastrointestinal e rins do animal sacrificado. Cortes histopatológicos
investimentos em conservação de quelônios foi estimada em
não foram realizados.
120,21%, em conscientização ambiental foi de 165,76% e em criação
O diagnóstico da doença foi feito a partir de revisão de quelônios de 183,44%. Através desse programa de conservação
bibliográfica (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1994) cruzada com o de recursos naturais e extensão, a Ufam tem conscientizado as
resultado dos exames patológicos dos animais doentes. comunidades do Médio-Baixo Amazonas para o manejo racional de
quelônios, utilizando a metodologia de pesquisa participativa ou
Na bibliografia, encontramos que das quatro categorias de pesquisa-ação. Os resultados alcançados mostram, a princípio, que
patógenos causadores de infecções em quelônios (patógenos gram abordar a questão ambiental com a parceria da comunidade tem um
positivos; bacilos gram negativos móveis que possuem citocromo grande impacto na redução do problema, pela valorização do meio
oxidase e que não possuem; bacilos gram negativos não móveis), os ambiente, o que resultou em ações concretas para a melhoria da
gêneros Aeromonas e Citrobacter causavam sintomatologia similar qualidade de vida.
ao caso estudado.

412 123
O conteúdo do trato digestivo foi obtido de tartarugas
abatidas oriundas de criadouro comercial em Manaus. Coletou-se
material do estômago, intestino delgado e grosso. O conteúdo dos
diversos segmentos foi colocado em solução aquosa e feita a leitura
do material a fresco. Foram preparadas lâminas semipermanentes
de algumas estruturas para confecção de fotografias e identificação.
O material foi fotografado em microscópio especial (Zeiss).
O material do segmento estomacal apresentou uma
densidade parasitária imensa no estádio larval de nematelmintos,
em todos os estômagos analisados. À medida que progrediu-se no
sentido caudal do trato digestivo, a carga parasitária foi diminuindo
Figura 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através de sensivelmente. No intestino delgado encontrou-se larvas em apenas
fantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto: 45% do material analisado (Tabela 2).
Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005).
Tabela 2: Freqüência de parasitismo no trato digestivo em tartarugas
Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por (P.expansa) de cativeiro, Manaus/AM.
inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do Segm ento do nº pesquisado n º parasitado % de
Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado trato digestivo parasitados
também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama Estôm ago 19 19 100
Intestino 11 5 45
e a universidade pretendem, através de novas parcerias, delgado
redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o Intestino 1 0 0
grosso
pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo,
cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a Os animais analisados em criadouros apresentaram mais
Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam parasitas no período das chuvas (40,62 4,42%).
interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento Em 1999, registramos em filhotes de tartaruga (P. expansa)
empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um criados em tanques de fibra de vidro com 250 litros, na densidade de
futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus 3
100 animais/m , alimentados com ração de peixe, 40% de proteína,
recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o os seguintes sintomas: inchaço das membranas timpânicas, com
sustento do homem ribeirinho. deformação da cabeça e olhos saltados; abcessos e feridas, de
aspecto caseoso (cor amarelada) nos membros posteriores próximos
2.3. Modelos de crescimento populacional de quelônios, análise às articulações femurais; derrame na parte inferior interna do globo
da sustentabilidade e propostas de manejo racional ocular seguido de embaçamento do olho; manchas avermelhadas
tendendo para o roxo no plastrão.

124 411
Matos & Fedullo (1996) apud Duarte (1998), ao realizarem Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23
exames bacteriológicos em amostras fecais de 60 quelônios para anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes
detectar a presença de bactérias do gênero Salmonella, obtiveram praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro,
em filhotes de Trachemys scripta elegans, obtidos de feiras e lojas de Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e
animais, maior índice de infecção, 23,07 %, enquanto filhotes de Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo de
Geochelone denticulata, da Fundação Rio Zoo, tiveram índice de proteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série
temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis
10% e T. dorbignyi, Chrysemys picta picta, Graptemys
analisadas (regressão linear= P<0,018; regressão
pseudogeografica e G. carbonaria oriundos de ambas as fontes,
quadrática=P<0,072). O melhor modelo de ajuste encontrado foi a
obtiveram resultado negativo foram encontrados os sorovares 2
regressão quadrática: P= - 108391+37439,3. t – 778,616. t , com
Typhimurium, Albany, Kottbus, Loanda e o sorovar 0:50 de S.
R2=38%. Na Figura 43, apresentamos o ajuste dos pontos e a curva
enterica subespécie houtenae. As visíveis implicações à saúde
quadrática para a série temporal de produção no rio Juruá.
pública são discutidas em virtude da crescente popularidade desses
répteis como animais de estimação.
Regression Plot
C10 = -108391 + 37439,3 C11

a) Problemas de sanidade nos criadouros do Amazonas - 778,616 C11**2

S = 174695 R-Sq = 38,0 % R-Sq(adj) = 26,7 %

800000
Os técnicos do projeto Diagnóstico/PTU analisaram
material fecal, regurgitados e material do trato digestivo de 600000

quelônios de cativeiro. As amostras foram coletadas em criadouros


em Manaus, Iranduba e Manacapuru. 400000

C10
As fezes e regurgitados foram coletados durante as 200000

biometrias bimestrais realizadas nos criadouros. Foram coletadas 0

em vidro limpo com tampa rosqueável contendo conservante MIF.


Este material foi tamizado em cálice com formol a 10%. Após sua 0 10

C11
20

sedimentação espontânea (método de Lutz), procedeu-se a leitura


em lâminas no microscópio ótico. Tomou-se uma fração do Figura 43: Regressão entre o tempo de proteção de um tabuleiro e a
sedimento em lâmina de vidro e acrescentou-se uma gota de lugol, produção estimada de filhotes de quelônios no rio Juruá.
homogeneizando-se, cobrindo com uma lâminula. A leitura foi feita
Andrade et al. (2006) estimaram, ainda, o melhor modelo de curva
em aumento de 100X e detalhada em aumento de 400X. As
para explicar o crescimento populacional de quelônios, em áreas
estruturas parasitárias observadas (larvas, ovos de nematelmintos e -0,8313.t
protegidas, como sendo o de Von Bertallanfy, Yt= 187.014 (1- e ),
amebas) foram fixadas em lâminas semipermanentes, para posterior
sendo o crescimento populacional máximo (k) estimado
identificação.

410 125
em 207.889 animais (tartarugas, tracajás e iaçás), com taxa de Para Morlock (1979), as doenças de tartarugas em cativeiro
crescimento anual (r) igual a 0,8313. Quando esse modelo foi são provenientes de grupos formados indevidamente, sanidade no
comparado aos dados reais do rio Juruá, observou-se que mesmo local da criação, introdução de animais infectados.
com falhas na proteção, em alguns anos, as populações mantêm Para Alfinito (1980), as principais causas de mortalidade
uma tendência de crescimento que se estabiliza em torno de 10 a 13 estão relacionadas aos estados de desidratação, inanição e asfixia,
anos de trabalho. podendo haver a possibilidade de albinismo (leucodermia congênita
e acromatose congênita) entre as tartarugas, sendo que estas devem
Curva de Crescimento Populacional de Quelônios
ser descartadas para evitar a multiplicação de animais albinos no
200000 lote.
180000
O Ibama (1989) cita que a fotofobia e alteração congestiva,
160000
-0,8313. t
140000 Yt= 187014 (1 - e ) em casos agudos, podem apresentar inflamações das pálpebras com
N.Filhotes

120000
derrame purulento, sendo a mais temível doença, o moquilo que
100000
80000 parece ser vírus filtráveis e bactérias associadas. Os sintomas são
60000
debilidade, perda do apetite, inflamação das pálpebras, úlcera na
40000
20000 córnea, lacrimejamento contínuo. Em sua etapa final, apresenta
0 uma secreção gastrointestinal aguda, defecando substância
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Anos de Proteção semelhantes às que apresentam nas fossas nasais. Quando
acometido o animal não quer permanecer na água e busca sempre
Figura 44: Modelo de curva de crescimento de Von Bertallanfy, proteger-se em local escuro e úmido.
para a produção de filhotes de quelônios, pelo tempo de proteção da
área de reprodução. Em relação à parasitologia, Paixão & Thatcher (1984), ao
analisarem alguns exemplares de tartaruga (Podocnemis expansa),
Ao aplicar-se o referido modelo de crescimento
tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. sextuberculata), provenientes da
populacional à série histórica do Baixo Juruá (produção de
Reserva Biológica do Abufari, AM, encontraram helmintos dos filos
filhotes de Joanico, Botafogo e Antonina), notamos que a
Trematoda em tartaruga (Telorchis spp.; Nematophila grandis;
produção máxima de filhotes no crescimento populacional
Braunotrema pulvinatum), tracajá (Nematophila grandis;
máximo (k) foi estimada em 540.507 filhotes, com uma taxa de
Braunotrema pulvinatum; Telorchis spp.; Haltrema avitelina) e iaçá
crescimento anual (r) igual a 0,09125. O modelo estimado de
produção de filhotes para a região do Baixo Juruá foi o seguinte: (Paramphistomiformes) e Nematoda em tartaruga (Paratractis sp.) e
Produção de filhotes Y(t)= 540.507 (1 – e
-0,09125 . t
). tracajá (Ancyracanthus pinnatifidus) fixados à mucosa do estômago
e intestino, que se encontravam espessados com pontos
Se somarmos a produção de filhotes dos tabuleiros de hemorrágicos nos locais de fixação.
Joanico, Botafogo e Antonina temos uma produção anual estimada
em torno de 262.236 filhotes de quelônios (76 a 91% de iaçás, 4,7 a

126 409
10.2 Sanidade e predação a 6,8% de tracajás e 1,3 a 21,1% de tartarugas), ou seja, 48,52% da
10.2.1 Sanidade capacidade produtiva, prevista pelo modelo, para tabuleiros
conservados por cerca de 15 anos.
A tartaruga Podocnemis expansa pode ser considerada
rústica em relação à incidência de doenças. Para a criação em Deve-se considerar, contudo, que no primeiro ano de vida
cativeiro, no estado do Amazonas, ainda estamos estudando quais existe uma elevada taxa de mortalidade. Andrade & Soares (2005) e
seriam os agentes microbiológicos e os fatores que poderiam causar Andrade & Rodrigues (2005) verificaram que dos filhotes de
danos à biologia do animal e à produtividade. quelônios marcados e soltos em lagos naturais (Médio Amazonas e
Médio Juruá) foi estimada em 5,74% a taxa de sobrevivência total,
Baixas temperaturas causam a morte de tartarugas jovens
até 12 meses, sendo que para os tracajás (Podocnemis unifilis) a taxa
em cativeiro. No frio, os filhotes desenvolvem um quadro de
de sobrevivência média na natureza foi estimada em 17,76 ±
pneumonia com sintomas de perda do apetite; presença de uma
10,23%.
membrana esbranquiçada cobrindo o globo ocular; secreção nasal
com obstrução das vias respiratórias; insuficiência respiratória Se considerarmos o valor de k (constante de equilíbrio
caracterizada pelo comportamento atípico dos animais em populacional, valor populacional de produção máximo)= 262.236
permanecerem boiando com o corpo em posição inclinada e animais no Baixo Juruá, e a taxa de crescimento anual média
mortalidade (Chelonia, 1994). estimada por Andrade et al. (2006) para a calha do rio Juruá, ou seja
r=0,8313, observa-se que, a cada ano, 217.997 animais deveriam
Análises necroscópicas realizadas em tartarugas jovens de ser recrutados pela população. Todavia, a taxa de crescimento que
cativeiro constataram infecção bacteriana múltipla por Escherichia estimamos neste trabalho, para o Baixo Juruá, foi de r=0,09125,
coli, Klebsiella sp., Pseudomonas sp., Proteus sp. e Salmonella sp., logo, o número de indivíduos estimados para recrutamento cairia
que apresentaram no teste de antibiograma resistência antibiótica, para 48.646 animais (10.264 tartarugas, 2.286 tracajás e 36.971
principalmente Pseudomonas sp. Entre os antibióticos iaçás).
administrados, os do grupo quinolona apresentaram melhor
Contudo, deve-se observar que as taxas de sobrevivência são
eficácia associados a medidas profiláticas como limpeza e
relativamente pequenas. Portanto, ao se considerar as taxas por
desinfecção dos tanques, banho dos animais com permanganato de
espécie (estimadas por Andrade & Soares, 2005, e Andrade &
potássio, desobstrução nasal e a transferência dos animais dos
Rodrigues, 2005), esse recrutamento anual cairá para 2.122 iaçás,
tanques de fundo de terra, pois, devido ao tratamento, houve uma
406 tracajás e 157 tartarugas.
expressiva diminuição na taxa de mortalidade (Chelonia, 1994).
Esses valores naturais de recrutamento impossibilitam a
Alfinito (1980) cita a ocorrência do Micobacterium
extração de quelônios de forma racional, em vida livre, com o número
tuberculosis chelonei isolado por Friedmam nos pulmões de atual de praias manejadas, posto que, estima-se para a região do Baixo
tartaruga de aquário, em Berlim.

408 127
Juruá, a extração clandestina de cerca de 8.000
quelônios/ano. Se aumentarmos o número de praias conservadas e
o número de rios protegidos, possivelmente, elevaríamos a taxa de
recrutamento e com isso o número de animais adultos chegariam até
o período de desova. Somente isso, permitiria, em um período de 8 a
10 anos de trabalho de proteção, atingir-se o máximo da capacidade
produtiva e com isso, a possibilidade de exploração racional de
adultos de espécies como o iaçá e o tracajá, em vida livre. Diante da
impossibilidade do manejo extensivo imediato, sugere-se algumas
propostas que possibilitarão a obtenção de renda a partir da
conservação de quelônios.

Para aumentarmos a taxa de recrutamento e gerarmos


quelônios excedentes para consumo ou geração de renda, quatro
medidas de manejo devem ser adotadas: a) Proteção dos ninhos
naturais e transferência de ninhos ameaçados; b) Manutenção de
filhotes recém-eclodidos de tartarugas e tracajás, em berçários, até o
segundo ou terceiro mês de vida; c) Soltura destes filhotes em lagos Figura 6: a e b) Ninho e praia de reprodução de tartaruga (P.
ou lagoas centrais em locais de farta alimentação e abrigo (restart); expansa) em criador de Manacapuru; c) Marcação com furos na
d) Criação comunitária em gaiolas ou tanques-rede. A extração de carapaça; d) Comparação entre a fêmea, matriz de tartaruga, e seu
ovos e de filhotes para criadores seria uma possibilidade de geração filhote.
de renda desde que adotado rigoroso controle sobre os tabuleiros e
sobre a captura ilegal de adultos e que fossem seguidas as quatro
sugestões de manejo propostas.

128 407
No criadouro com razão sexual de 2,2F:1M, sendo o peso
Capítulo 4: Ecologia de quelônios
médio das fêmeas=20,875 ± 11,91kg e machos =4,219 ± 0,787kg,
foram registradas desovas desde o ano de 2003. Alguns animais pelomedusídeos na Reserva Biológica do Abufari
subiram na praia de reprodução e formaram cardumes na margem
Juarez Carlos Brito Pezzuti – NAEA/UFPA
em comportamento similar ao da fase de boiadouro e Daniely Félix da Silva - MPEG
assoalhamento na fase reprodutiva em áreas naturais. Nenhuma Jackson Pantoja Lima – Inpa
cova foi identificada embora suspeite-se que alguns a tenham feito. Alexandre Kemenes – Inpa
Marcelo Garcia - Ipaam
Em 2005, foram identificados três ninhos com número médio de
Norival Dagoberto Paraluppi - Ufam
ovos de 80/ninho. Houve uma taxa de eclosão de 90%, sendo Luiz Alberto dos Santos Monjeló - Ufam
totalizados 216 novos filhotes de tartaruga no plantel. Em 2006,
foram registrados nove ninhos e nasceram 440 filhotes. A comunidade de quelônios aquáticos da bacia amazônica,
uma das mais diversas do mundo, sempre constituiu elemento
importante na dieta dos habitantes da região. A tartaruga,
Podocnemis expansa, espécie de maior porte e a mais abundante, era
rotineiramente consumida e também armazenada em currais, nas
aldeias indígenas, para ser utilizada na cheia quando os peixes eram
menos acessíveis.

Mesmo com a Lei de Proteção à Fauna (no 5.197/1967), essas


populações permanecem sujeitas à forte pressão de pesca
clandestina de animais adultos, e não somente durante o período
reprodutivo. Durante outras épocas, os sistemas aquáticos são
constantemente invadidos, e a sua extrema complexidade facilita
essa atividade. A conseqüência óbvia é o declínio populacional
evidente. No Trombetas, o número de fêmeas reproduzindo-se nos
tabuleiros vem diminuindo gradativamente. Na Rebio Abufari, a
despeito da presença mais constante da fiscalização, centenas de
animais adultos são capturados todos os anos por pescadores
financiados por traficantes de Manacapuru.

Figura 5: Biometria e marcação de plantel reprodutivo. Os ovos também foram e ainda são, em algumas
localidades, uma fonte importante de proteínas para a população
local. , sugere que, possivelmente, a coleta da tartaruga e de seus
ovos é a atividade etnozoológica mais importante de toda a região

406 129
amazônica, vindo desde o período pré-colombiano até hoje., que postura, completando assim, o ciclo de criação através da
registrou a apreensão de 261 quelônios em operação de fiscalização reprodução em cativeiro. Entre as prioridades de pesquisa
do IBDF. elencadas foi queloniocultores fez-se necessário avaliar o
crescimento nas categorias de engorda e reprodução de animais
submetidos a diferentes tipos de alimentos, em complementação
Some-se a isso a ausência de informações básicas sobre a
aos primeiros estudos feitos nas fases de berçário e crescimento.
ecologia desses animais, como área de vida e padrões migratórios. Os
esforços para a conservação de quelônios têm sido direcionados para A avaliação dos parâmetros reprodutivos de quelônios em
a proteção de ninhos e diversas espécies ameaçadas tiveram seu cativeiro foi realizada em dois criadouros comerciais (Iranduba e
manejo baseado num conhecimento incompleto da dinâmica Manacapuru). Foram analisados os parâmetros e a eficiência
populacional, sem informações demográficas sobre classes de idade, reprodutiva através das variáveis tamanho e idade das fêmeas em
área de vida e padrões migratórios. No entanto, a aplicação de postura; abundância e distribuição dos ninhos; número de
programas de manejo, apenas recentemente, tem levado em ovos/ninho.
consideração aspectos básicos da biologia reprodutiva desses A idade média do plantel reprodutivo nas primeiras desovas
animais. Um dos processos críticos é a influência da temperatura de em cativeiro foi de 8,57 ± 0,79 anos. Em animais alimentados com
incubação sobre a determinação do sexo dos embriões, ainda mais proteína de origem vegetal (rações com farelo de soja, verduras e
porque a metodologia, geralmente aplicada pelos programas de frutas) o peso médio foi de 14,19 ± 2,29 kg nas fêmeas e 11,87 ±
conservação de quelônios no mundo, tem sido a de transplantar 2,06kg nos machos. O peso ao final de cinco anos de cultivo, que era
ninhos para locais protegidos, sem a verificação do sexo produzido em média 2,66 kg em 1997, aumentou para 9,2 ± 2,25 kg em mais de
pela incubação dos ovos em tais condições . 65% dos animais dos lotes comercializados.

Na criação com razão sexual de 4F:1M foram registradas


Na Amazônia, estudos sobre determinação sexual foram desovas desde 8 anos de idade, sendo que aos 7 anos alguns
desenvolvidos com Podocnemis expansa , P. unifilis e Peltocephalus animais “experimentaram” fazer ninhos na praia artificial. Em
dumerilianus . Destes, apenas Valenzuela (2001) e Souza & Vogt 2003-2004, foram conferidos mais de 20 ninhos com uma média de
(1994) investigaram a relação entre as características de ninhos 70 ovos. Em 2005, registrou-se 5 ninhadas, com média de 73,80 ±
naturais com a temperatura de incubação e outros parâmetros 2,5 ovos, havendo predação por jacuraru (Tupinambis spp.). A taxa
físicos. As demais espécies amazônicas permanecem desconhecidas de eclosão foi baixa, sobrevivendo apenas 150 filhotes. Em 2006,
quanto a esses aspectos de sua biologia reprodutiva. Os ninhos estão foram produzidos 300 filhotes. Em criadouros cujos animais eram
alimentados principalmente por fontes de proteína animal (sangue
ainda sujeitos à predação natural e a variações ambientais súbitas
coagulado bovino, restos de filetagem de peixe), o peso médio dos
animais comercializados com 5 anos variou em média de 7,25 a
18,55 kg (158 animais comercializados).

130 405
tanques de 1.000 litros, após 7,5 0,707 dias (serragem) a 10,333 como a repentina subida do nível do rio ; .
2,516 dias (vermiculita) de nascidos. As mortes ocorridas foram de A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas na
ordem técnica no manejo dos animais. Amazônia para criação com finalidade comercial. O fornecimento
aos criadores depende da retirada anual de milhares de filhotes
Os animais nascidos a 32ºC apresentaram uma tendência a
dos tabuleiros protegidos pelo Ibama, para formar o plantel das
um maior crescimento (ganho diário de peso, GDP = 0,24 g/dia), em
criações comerciais, cujo número aumenta todo ano. O principal
relação aos que nasceram a uma temperatura mais baixa, 27ºC,
fornecedor, até o ano de 1998, era o tabuleiro do Abufari, que se
GDP = 0,18 g/dia. No entanto, os animais obtidos na vermiculita situa na unidade de conservação que recebe o mesmo nome
apresentaram maior GDP = 0,20 0,03 g/dia do que os da serragem, (Reserva Biológica do Abufari).
GDP = 0,10 0,0 g/dia. Os animais de 30ºC apresentaram maior
consumo diário de ração, CDR = 3,36 1,86 g/dia em relação aos de Esses fatores, associados com a questão básica da
32ºC, 1,83g/dia, e 27ºC, 1,19 g/dia. Os animais da vermiculita determinação do sexo pela temperatura em quelônios e suas
conseqüências para qualquer prática de conservação e manejo
apresentaram menor consumo, 1,66 0,43 g/dia, enquanto os da
desses animais, fazem com que seja imprescindível a
serragem tiveram 3,28 1,97 g/dia. A umidade parece ter
investigação dos aspectos mais elementares da ecologia das
influenciado no metabolismo dos filhotes. Filhotes nascidos na
espécies com que estamos lidando, sobretudo quanto ao processo
serragem (ambiente mais úmido) demoraram mais para absorver o reprodutivo.
vitelo, apresentaram menor GDP e maior consumo do que os da
vermiculita (menor umidade). O quadro, portanto, é de franca carência de estudos sobre
esses valiosos recursos que vêm sendo milenarmente explorados
A sexagem dos animais foi realizada aos seis meses de idade, por populações indígenas, para subsistência, e há pelo menos 300
em que verificou-se uma tendência para um maior número de anos em intensa escala comercial rumo ao seu esgotamento. Diante
fêmeas nas temperaturas mais elevadas, 32ºC igual a 50,55%, 30ºC do exposto, a Universidade Federal do Amazonas, em cooperação
igual a 41,15% e a 27ºC igual a 28,07%. Em relação aos outros com o Ibama, realizaram estudos sobre a ecologia, fisiologia,
substratos, a vermiculita apresentou um maior número de fêmeas parasitologia e genética para a conservação dos quelônios da
47,16% , do que a serragem, 35%. A determinação sexual Reserva Biológica do Abufari, com apoio financeiro do CNPq através
dependente da temperatura ocorre no segundo terço do dos projetos “Diagnóstico da criação de animais silvestres no
estado do Amazonas” (Fase I/1998 e Fase II Proc. nº
desenvolvimento embrionário pelo efeito acumulativo da
49.9940/2000-0 PTU/CNPq). Subprojeto Ecologia Reprodutiva dos
temperatura de incubação, devido às tartarugas não possuírem
quelônios da Rebio Abufari (Ibama Proc. nº 02005.002248/98-13).
cromossomas sexuais heteromórficos (Vogt & Villela, 1986).
As pesquisas continuaram com financiamento do Banco da
10.1.3 A reprodução de quelônios em cativeiro Amazônia (Basa) ao projeto “Bases Ecológicas para o manejo dos
quelônios no Estado do Amazonas”. Finalmente, em 2003,
Em 2005, os primeiros espécimes de P. expansa doados contamos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
pelo Ibama (em 1995), para criação, realizaram sua primeira

404 131
Estado do Amazonas (Fapeam) para a continuação das pesquisas
dessa equipe multidisciplinar, com a execução do Projeto “Ecologia
reprodutiva, dinâmica populacional, genética de populações e
manejo de quelônios na Amazônia”.

Portanto, este produto inclui o resultado de vários projetos


executados ao longo do período entre 1998 e 2004. O objeto principal
de estudo durante esses anos foram as populações de Podocnemis
expansa, P. sextuberculata e P. unifilis que se utilizam da Praia do
Abufari para reprodução. Investigamos aspectos básicos de ecologia
reprodutiva dessas espécies e investimos em um programa de
marcação para determinar a estrutura populacional, a área de vida e
a rotas migratórias sazonais de dispersão entre essa praia e as áreas
de alimentação. Ainda monitoramos a pesca clandestina de
quelônios aquáticos na Rebio. Muito ainda precisa ser feito,
sobretudo para conhecer os padrões anuais de movimentação dos
adultos e para isso daremos continuidade, em 2006, a essas
pesquisas, intensificando o programa de captura, marcação e
soltura de animais adultos e monitorando fêmeas adultas de P. Figura 4: Eclosão dos filhotes de Podocnemis expansa. Foto:
expansa, utilizando radiotelemetria. RAN/AM (Duarte, 1998).

O Tabuleiro do Abufari O peso ao nascer, dos filhotes, foi maior na vermiculita,


18,96 1,32 g, do que na serragem 17,13 1,00 g. A umidade variou
A Reserva Biológica do Abufari situa-se no primeiro terço do de 93,098 ± 0,300% a 93,00 ± 0,00%, com isto pode ter ocorrido uma
rio Purus, o último grande afluente do Rio Solimões antes do tendência para os animais serem mais pesados do que outros,
encontro com o rio Negro, formando o Amazonas. Trata-se de um devido a um substrato reter mais umidade do que o outro. Embora
típico rio de águas brancas e, portanto, carregadas de sedimentos Morlock (1979) cite que deve-se umedecer os ovos para incubá-los,
que depositaram-se ao longo do tempo formando os solos que na literatura citada não foram encontradas definições sobre a
sustentam o ecossistema de várzea. A planície alagável, recortada influência da umidade na incubação e no desenvolvimento do
por um complexo sistema de corpos de água formado por paranás, embrião e peso, ao nascer, do filhote de tartarugas como citam Vogt
canos, ressacas e lagos, está sujeita a profundas alterações em & Villela (1986). A absorção do vitelo e o fechamento do “umbigo” foi
função da variação anual do nível da água (Figura 1). Durante a
mais rápido nos filhotes nascidos na vermiculita, 3 e 4 dias,
cheia, esse conjunto torna-se um único corpo de água contínuo,
respectivamente, em relação à serragem, 4 e 7 dias. Em seguida, os
preenchido pela floresta inundada. Nessa região, o Ibama realiza
animais foram medidos e pesados antes de serem levados para
fiscalização direta, patrulhando os rios, canais, igarapés e lagos,

132 403
Tabela 1: Dados sobre incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa. apreendendo animais e aparatos de pesca.
(Duarte, 1998).
Iten s \T ratam en tos V V V S S
32ºC 30ºC 27ºC 32ºC 30ºC
* * * ** **
-Nú m ero de ovos 57 100 60 54 45
-Peso dos ovos 28,5 ± - 27,5 ± 21,2 ± 20,3 ±
2,6 3,0 2,7 1,2
-Período de incu bação 39 40 45 45 47
(dias)
-Taxa de eclosã o (% ) 91,07 36,67 100,0 54,76 48,00
0
-Nú m ero de ovos 1 10 1 12 -
inférteis
-Natim ortos (% ) 3,57 15,56 - 4,76 12,00
-A bsorção do vitelo 3 2,5 2,5 4 4
(dias)
-Fecham ento do 4 4 4 7 7
“u m bigo” (dia s)
-Peso ao nascer (g) 19,96 17,46 19,80 18,49 16,48
±1,12 ±1,11 ± 1,08 ± 1,51 ±0,66
-Passagem para o 8 13 10 8 7
tanqu e (dias)
-M orte após colocação 2 3 1 - -
nos tanqu e.
*V32°C/V30°C/V27°C = vermiculita a 32°C /30°C/27°C Reserva Biológica do Abufari
** S32°C/S30°C = serragem a 32°C/30°C (288.000 hectares)

Figura 1. Carta-imagem da Reserva Biológica do Abufari, rio Purus (em azul), município
de Tapauá, Amazonas, Brasil (Legenda: 1 – praia do Abufari; 2 – rio Abufari; 3 – complexo
de lagos do Chapéu; 4 – lago Macapá; 5 – Paraná do iragapé Chapéu; 6 – lago Panelão; 7 -
lago do Campina; 8 – lago Pupunha; 9 – igarapé Tauamirim; verde-escuro – floresta de
terra firme e verde-claro – planície de inundação).

Monitoramento das desovas

A praia anualmente é mapeada no seu comprimento


com estacas de 50 em 50 metros, dispostas paralelamente à
vegetação. Para fazermos as estimativas da quantidade de
ninhos depositados na praia do Abufari é necessário marcar

402 133
áreas de 10 metros de largura distantes umas das outras a cada 150 A temperatura recomendada para a queloniocultura
metros. Essas áreas são chamadas de transectos, que são locais seria, inicialmente, para a formação do plantel de fêmeas, de
onde o monitoramento será intenso e todas as desovas ali existentes 32°C e, posteriormente, para o plantel de machos, de 27°C, desde
serão monitoradas. Pelo conhecimento do número de ninhos de que se tenha os cuidados básicos ao manejar o ovo,
iaçás e tracajás nestes locais, foi possível estimarmos o número de movimentando-o lentamente, sem girar, devido ao embrião
ninhos existentes na praia e também o número de fêmeas dessas
aderir na parte superior da casca, por cima da gema. O controle
espécies que ali subiram para desovar.
da temperatura de incubação é importante para determinação
Como as tartarugas desovam em um grande agrupamento sexual.
(tabuleiro, Figura 2), o número total de ninhos é estimado dividindo-
se a produção de filhotes desse cercado e dos ninhos isolados pela
média de filhotes produzidos por ninho. Os números e as
respectivas densidades de ninhos da praia do Abufari, nos anos de
1999, 2000 e 2001 estão na Tabela 1.

Pelo esforço direcionado no estabelecimento e


monitoramento de transectos, ou seja, locais com área conhecida e
onde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível
estimar o número total de ninhos e a densidade dos ninhos na praia
do Abufari.

Nossa equipe de trabalho todos os anos monitora o


tabuleiro do Abufari, a partir do mês de agosto, pois é o momento
em que as fêmeas já migraram dos lagos e paranãs para a praia.
Durante o período da desova, entre setembro e meados de outubro,
há um monitoramento noturno das desovas que são depositadas
Figura 3: Vista externa das incubadoras com caixas de isopor de 170
ali. Além desse trabalho noturno, visitas diárias são necessárias,
litros, termostato (até 100ºC, graduação de 1ºC) e 4 lâmpadas incandescentes.
pois a localização dos ninhos não encontrados durante a noite só Foto: RAN/AM (Duarte, 1998).
será possível com o solo recentemente perturbado com nítidos
rastros deixados na noite anterior e os ninhos cobertos
externamente com areia úmida removida pelas fêmeas (Souza &
Vogt, 1994; Fachin, 1992). Com esse monitoramento sistemático
dos transectos é possível detectarmos os ninhos predados ou
inundados pela subida repentina do nível da água do rio. Para cada
ninho encontrado registramos a data da postura, adistância do

134 401
fungo Aspergillus nigrans e nos ovos inviáveis houve influência ninho à parte mais alta da praia e até a margem do rio e a
na taxa de eclosão. profundidade do ninho. Os ninhos são marcados com estacas de
identificação numeradas.
Esse fungo envolveu toda a casca do ovo e durante a Com o monitoramento dos animais que sobem a praia para
incubação alguns ovos tinham sido forrageados por ácaro. A. desovar foi possível observarmos que a menor iaçá (P.
nigrans pode ser encontrado em outros ambientes (frutas e sextuberculata) que desovou na praia do Abufari tinha 24
verduras, geladeiras) e compromete o processo respiratório dos centímetros de comprimento retilíneo da carapaça e 1,1 quilograma.
filhotes e prejudica a troca gasosa nos ovos. Isso faz com que os Dentre as tartarugas (P. expansa), o menor animal encontrado
ovos estraguem, os embriões morram ou se desenvolvam com desovando na praia tinha 61 cm de comprimento retilíneo da
deformações. carapaça e 22,0 quilogramas.

Os ovos inviáveis parecem contribuir bastante para a Tabela 1: Número e densidade de ninhos encontrados na praia do
contaminação dos ovos viáveis, por fungo, matando os filhotes Abufari, durante o monitoramento diário realizado no período de
nos ovos ou após o nascimento e reduzindo a taxa de eclosão. O agosto a dezembro de 1999, 2000 e 2001.
que, provavelmente, está ligado a alguma substância que não é
Espécie Número de ninhos Densidade (ninhos/m2)
liberada por ovos não fecundados e que atuaria como fungicida
1999 2000 2001 1999 2000 2001
natural.
Iaçá 9.054 3.900 5.782,74 0,019 0,02 0,014
A utilização dos ovos inviáveis serviu para comprovar a Tracajá 238 195 337,57* 0,0005 0,0012 0,00084
importância da seleção dos ovos e suas conseqüências biológicas Tartaruga 2.123 2.300 2.475 0,004 0,014 0,0061
para a criação comercial, em que os ovos de P. expansa devem ser
selecionados, visando o descarte de ovos inviáveis.
Na Reserva Biológica do Abufari – AM, também foi Espécie
Total de filhotes
observada a contaminação dos ovos por fungo durante o período
1999 2000 2001
de incubação natural, na qual ocorreu a morte dos filhotes, nas
Iaçá 88.004 37.908 75.523
diferentes idades, aliada ao ataque de formigas ou de larvas de
Tracajá 5.983 4.900 9.829
moscas.
Tartaruga 152.200 170.000 17.000
O custo da incubação artificial foi de R$ 400,00 para as
O processo de sexagem de filhotes
incubadoras, referente à aquisição do material supracitado (US$
133,330). O monitoramento dos ninhos nos transectos nos permitiu
um acompanhamento completo do período de incubação. Ao
atingirem 40 dias de incubação, os ninhos passam a ser revisados a
cada dois ou três dias para a

400 135
identificação de sinais indicando a eclosão dos filhotes, ou seja, o Quanto às temperaturas a eclodibilidade a 27°C obteve-
nascimento dos filhotes. Esses sinais são a casca do ovo se 100,0 0,0%, a 30°C 42,333 8,013% e a 32°C 72,916 25,674
quebradiça e um pouco transparente e a presença de gotículas de %. Na natureza a temperatura média de incubação é 23,3 a
água e pequenas rachaduras na sua superfície. 37,6ºC, sendo a taxa de eclosão entre 85% a 98% de eclosão
Para cada ninho eclodido foram contados o número de (Morlock, 1979; Alfinito, 1980; Alho & Pádua, 1982; Alho, Danni
filhotes vivos, o número de ovos sem desenvolvimento aparente, & Pádua, 1984; TCA-SPT, 1997).
os ovos de gordura, o número de embriões mortos e, quando A contagem dos filhotes de tartaruga que nasciam por
possível, a causa da morte. Os filhotes vivos foram medidos,
período (dia ou hora), não foi possível por poder haver (1) o
pesados e posteriormente libertados na praia. Tendo em vista a
comprometimento da vital absorção do vitelo (reserva nutritiva –
necessidade de sacrifício de filhotes para a identificação do sexo,
composta de gema, aderida ao plastrão por uma película); (2)
foi expedida uma autorização pela Direc/Ibama para a realização
Perda do microclima interno em cada incubadora; (3) Estresse
dessa atividade (autorização nº 32/99, expedida pela
aos animais e o (4) Empilhamento.
Direc/Ibama – DF, renovada em 2003). Em geral são sacrificados
10 filhotes por ninho, em média, 10 ninhos de cada espécie, com O período de incubação em função da temperatura de
injeção de 0,1 ml de Nembutal (substância que leva o animal a incubação a 27°C foi de 43,000 0,0 dias, a 30°C 42,000 7,071
uma parada cardíaca) por indivíduo. Esses filhotes foram fixados dias e 32°C 40,7071 7,071 dias. Sendo, de 39 dias, a 32ºC, na
em solução de formol tamponada (1 litro de formol a 10%, 4g de vermiculita, 46 dias, a 30ºC, na serragem (Tabela 1), havendo
H 2NaPO 4.H 2O, 6,05g de HNa 2PO 4.H 2O), para determinação do sexo evidência da premissa de que quanto maior a temperatura,
dos filhotes, realizado através do exame posterior das gônadas menor será o período de incubação, resultado obtido no substrato
com o auxílio de microscópio óptico (Figura 3). vermiculita. Em condições artificiais no Museu Goeldi, Alho,
A razão sexual foi determinada como sendo a proporção de Carvalho & Pádua (1979) observaram que esse período pode
machos na ninhada (número de machos dividido pelo número de ultrapassar 60 dias.
filhotes vivos) e a sobrevivência como o número de filhotes
O fechamento do “umbigo” em filhotes de P. expansa
eclodidos vivos, dividido pelo número total de ovos. Na Tabela 2
incubados artificialmente na vermiculita e na serragem ocorreu
estão os dados de número de ninhos amostrados e a média do
no quarto e no sétimo dias de idade, respectivamente. O tempo de
número de ovos coletados em setembro de 1999, 2000 e 2001.
absorção do vitelo foi menor na vermiculita ( 2,666 ± 0,288 dias) e
maior na serragem (4,0 ± 0,0 dias).

O percentual de natimortos foi pequeno, de 0% a 4,76%,


sendo maior na incubadora a 30ºC com substratos vermiculita e
serragem, V30ºC = 15,56% e S30ºC = 12% devido à presença do

136 399
A temperatura média da incubação artificial, em função
das horas, oscilou em ambos os substratos, mantendo mais
constante na serragem em relação a vermiculita (Figura 2).

Temperatura média de incubação X Horas

V27 V30 V32 S30 S32

33,5

32,5

31,5 Figura 3: Gônada masculina, em detalhe, no centro da figura.


Temperatura (oC)

O resultado da sexagem dos filhotes, a partir das amostras


30,5
coletadas, demonstra que no ano de 2000 houve um desvio
29,5
acentuado para a produção de fêmeas de tartaruga, no entanto, iaçá
teve um desvio para a produção de machos (Tabela 4). Infelizmente,
28,5 os dados de temperatura de incubação registrados pelos data-
loggers foram perdidos por falha nos aparelhos e, portanto, não
27,5 podemos testar quaisquer relações entre a temperatura média ou a
temperatura acumulada, com a razão sexual dos ninhos
26,5 monitorados. As gônadas masculinas (testículos) apresentam
formação cilíndrica e aspecto opaco com uma granulação
0

0
:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0

:0
06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

esbranquiçada, efeito provocado pelas circunvoluções dos ductos do


Horas
epidídimo. As gônadas femininas (ovários) têm um formato mais
Figura 2: Temperatura média de incubação em relação as horas do alongado e o contorno mais irregular em relação às masculinas e não
dia (Duarte, 1998). apresentam granulações.
Foram incubados 316 ovos. A taxa de eclosão, nos cinco O estudo de marcação e recaptura dos quelônios (avaliação do
tratamentos foi de 66,1 27,817%; na vermiculita -V registrou-se status populacional)
75,912 34,279% e na serragem 51,380 4,781% (A taxa de eclosão
foi maior na vermiculita (V), sendo especificamente na V32ºC = Estão sendo realizadas pescarias experimentais utilizando
91,07%; V30ºC = 36,67%; V27ºC = 100%, em relação a serragem (S), redes de espera do tipo “capa-saco” e redes de cerco. A técnica de
obteve-se na S30ºC = 48,0%; S32ºC = 54,76 %. captura chamada de capa-saco é bastante utilizada na região do
Purus. Esses apetrechos consistem de grandes redes de comprimento
médio de 60 metros e altura de 10 metros, que são instaladas nos

398 137
canais dos paranás, quando os animais estão migrando para o rio
ou mesmo retornando para os lagos. Essas redes também são f) Resultados e discussões
instaladas no canal do rio Purus. O esforço amostral de captura de O peso médio dos ovos incubados na vermiculita foi de
animais na área da Rebio vem sendo exercido sobre a calha principal
28,5 2,629g a 27,5 3,034 g, na serragem 20,568 6,074g a
do rio Purus, nos lagos internos (lago Comprido – região do Chapéu e
21,203 2,710g. No entanto, Espriella (1972) cita que o peso
lago do Almoço no sistema do rio Abufari) e os principais canais de
médio para o criadouro deve ser de 43g e Maués (1976), ao fazer a
ligação entre ambos. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 pretendemos
comparação bromatológica em ovos de Podocnemis sp., obteve
replicar as parcelas de pesca experimental durante as seguintes
peso médio de 23,67g. Sendo o tamanho do ovo variável de 2,056
fases do ciclo hidrológico anual: cheia (junho-julho), vazante
0,607 cm a 3,614 0,164 cm, para ambos os substratos.
(agosto-setembro), seca (outubro-novembro) e enchente (dezembro-
maio). Os substratos foram utilizados devido: (a) apresenta
menor tendência à compressão durante o desenvolvimento do ovo
Os dois primeiros aparelhos foram verificados de 3 em 3 horas,
e embrião; (b) identificar qual o substrato para incubação
minimizando a possibilidade de morte dos animais por afogamento,
conforme descrito em . As redes de cerco foram utilizadas artificial, pois, no caso da areia do tabuleiro poderia haver uma
principalmente no canal do rio Purus, em números variados de compressão no ovo (embrião) durante o período de incubação; (c)
lances, dependendo das taxas de captura. Em cada pescaria foi utilizar um material estéril (vermiculita), que é caro e não
registrado o horário de saída, a embarcação e os equipamentos acessível, e um material regional barato, que é a serragem. Na
utilizados, o tempo gasto para chegar até o local escolhido, o tempo incubação artificial deve-se observar o emprego e a
gasto na captura de animais, as características do habitat e granulometria da areia para que não comprometa o
microhabitat onde o animal foi coletado, a profundidade, a desenvolvimento do ovo e do embrião.
velocidade da correnteza e a temperatura do local. Os locais de pesca
foram georreferenciados com auxílio de GPS (Global Position
System).

Cada animal capturado foi identificado, medido


(comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento do
plastrão, largura máxima da carapaça e largura da cabeça), pesado
e marcado com etiqueta numerada presa na carapaça através de
pequenos orifícios perfurados nos escudos marginais (técnica de
marcação permanente, padronizada e aplicada por estudiosos de
várias partes do mundo, sem causar danos

138 397
durante o transporte. Entretanto, os ovos incubados na serragem aos animais). Posteriormente, os animais foram soltos no local de
foram condicionados numa caixa de papelão contendo areia da captura.
praia de desova. Comparando ambos, o primeiro mostrou-se mais A abundância relativa de cada espécie foi determinada em
função do rendimento dos aparelhos de pesca utilizados, com base
seguro.
no número ou biomassa dos animais, por pescaria, por dia de pesca.
A instalação do experimento consistiu de biometria dos Neste estudo a CPUE (captura por unidade de esforço) foi utilizada
ovos e pesagem em balança de 1.610 g, com o cuidado de não girá- como o índice de densidade populacional e foi calculada com base na
los para evitar movimento precipitado do embrião, seguido de seguinte equação:
delicada colocação em cada substrato.

e) Condução do experimento CPUE = å N / Pescaria / dia


No monitoramento da incubação dos ovos registrou-se a Onde: ∑ N = somatório do número de indivíduos capturados;
temperatura interna e externa (acima) no substrato, a cada uma Pescaria = pescaria (em geral leva 15 a 20 minutos); dia de pescaria.
hora, através de termômetros de solo para cada temperatura, A estimativa de biomassa foi baseada na massa dos animais
capturados, dividida por pescaria e por dia.
verificando-se a consonância com a temperatura predeterminada
Os habitats registrados foram: igapó, rio, lago (Figura 4); a
no termostato.
época do ano: enchente, cheia, vazante, seca. A profundidade nos
Quando a temperatura interna, elevava ou abaixava além locais amostrados foi registrada com uma corda metrada e com
do desejado, em cada substrato, diminuía-se ou aumentava-se o trena. Durante o período reprodutivo, que vem sendo
indicador do termostato. sistematicamente acompanhado pela equipe deste projeto, desde
1998, foi realizada a marcação de fêmeas durante a desova. Ao final
No início, após a colocação dos ovos em cada substrato,
de cada noite de desova coletiva as fêmeas que acabavam de enterrar
distribuiu-se 1 litro d'água na vermiculita. Não foi necessário na
seus ovos foram interceptadas para biometria, pesagem e marcação,
serragem porque o material estava úmido após três sucessivas
como descrito anteriormente.
lavagens. Durante a condução do experimento, a umidade
interna foi mantida pela água, contida numa placa de Petri, ou
pulverizando-a sobre o substrato. O momento da manutenção da
umidade dentro desse sistema é determinado pela leitura do
psicrômetro interno (umidade relativa) observado pelo visor
externo em cada incubadora, a cada uma hora após a leitura da
temperatura no termômetro de solo em cada substrato.

396 139
b) Material usado para incubação artificial de ovos de
tartaruga

Como incubadoras foram utilizadas 3 caixas de isopor de


170 litros cada, montadas com aquecimento interno automático.
Sendo necessário em cada incubadora 4 lâmpadas de 25 W, 1
termostato, 2 termômetros de solo, 1 psicrômetro, 1 visor de
vidro, 1 suspiro, 1 divisória interna de vidro, 1 placa de Petri,
substratos (vermiculita e serragem), fio paralelo, e para as três
incubadoras, 1 estabilizador eletrônico, 1 extensão elétrica, 1
balança de 1.610g (graduação de 1g), ovos de tartaruga.

c) Montagem das incubadoras artificiais

Para a montagem de cada incubadora, gastou-se cerca de


2 horas, envolvendo as fases de instalação e teste. Inicialmente,
instalou-se as lâmpadas, o termostato, a divisória interna de
vidro, seguido do teste de funcionamento e identificação das
incubadoras. Após a instalação e teste, colocou-se 1,66 g de
vermiculita em 3 incubadoras e 0,021 m³ de serragem em 2
C
incubadoras Em ambas as condições foi utilizada a metade do
espaço físico interno das incubadoras para ambos os substratos,
devido à falta de recurso financeiro para aquisição de material e o
espaço físico para mais incubadoras. A serragem utilizada
passou por 3 lavagens, visando a retirada de possíveis compostos
químicos que poderiam ser prejudiciais durante a incubação dos
ovos, e após estar parcialmente seca foi colocada dentro das
incubadoras.
d) Transporte, biometria, pesagem e colocação dos ovos nas
incubadoras
Figura 4. Vista aérea da praia do Abufari durante o período de descida do nível
do rio em 2004 (A) e durante o período de seca do ano de 1999 (B). Habitat de
lagos da Rebio Abufari, durante o período de enchente do rio Purus, janeiro de
O transporte dos ovos incubados na vermiculita foi
2005. (C) (Foto: Jackson P. Lima). realizado numa caixa de isopor com areia da praia de desova para
evitar atrito e, principalmente, que eles virem dentro da caixa

140 395
g/dia, enquanto que os que nasceram na areia tiveram um Quelônios e seus predadores
GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas,
O fenômeno da predação é comum nos quelônios amazônicos.
GDP=0,15 g/dia. Ao completarem dois meses, os filhotes foram
Foram encontrados diversos ninhos predados por jacurarus,
soltos nos seus locais de origem, em áreas com menos predadores
urubus e mucuras. Durante esses anos de estudo verificamos que
e/ou lagos com bastante alimentação natural disponível.
vários ninhos marcados são predados, mas somente uma pequena
10.1.2 Incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa no porcentagem deles não é possível identificar o predador.
Amazonas Gaivotas são excelentes predadoras. Essas aves são
Como o sexo dos filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá são observadas predando filhotes na praia tanto de dia como de noite, e
no rio durante o dia. Na praia, a estratégia mais comum é a gaivota
determinados pela temperatura de incubação, os criadouros
realizar vôos cada vez mais baixos sobre o filhote, até conseguir
poderiam, através da incubação artificial, estabelecer o sexo dos
apanhá-lo com as patas sem pousar na areia. Na água, as gaivotas
filhotes que estivessem gerando em sua propriedade, optando por
sobrevoam o local à espera que um filhote venha à tona. Quando isso
produzir mais machos ou fêmeas.
acontece, realizam uma descida rápida e capturam os filhotes com
Pensando nessa possibilidade e buscando adaptar a as patas, erguendo-se novamente.
tecnologia já existente ao material disponível no Amazonas, em
Durante as primeiras horas da manhã, é comum observarmos
1999, a Ufam e, o então Cenaqua desenvolveram na sede do Ibama-
repetidas vezes a presença de gaviões (várias espécies ainda não
AM, Manaus, um experimento de incubação artificial de ovos de
identificadas), gaivotas e urubus atacando filhotes isolados e dentro
tartaruga avaliando os efeitos de diferentes substratos (vermiculita e de cercados de tartaruga, mesmo quando já existem agentes e
serragem) e de diferentes temperaturas (27, 30 e 32ºC), no período estagiários trabalhando na retirada de filhotes. Gaviões e urubus
incubatório e no sexo e desempenho dos filhotes. pousam próximo à presa e a seguram no solo, ao passo que as
a) Procedência dos ovos de tartaruga (Podocnemis expansa) gaivotas normalmente capturam os filhotes em vôos rasantes e os
levam consigo. Pudemos também observar interações agonísticas
Foram utilizados 316 ovos coletados por funcionários do (disputa) entre as aves.
Ibama/AM, localizado no tabuleiro da Reserva Biológica do Abufari
Nas noites em que milhares de filhotes emergem
(Lat. S 04 51' – 05 30' e Long. W 6247' a 6322'; criada pelo Decreto
simultaneamente nos cercados, observamos que grupos de urubus
Federal número 87.585 de 20/9/1982) no município de Tapauá
passam a noite dentro dos cercados alimentando-se deles. Nas
(Lat. S 05 45' e Long. W 64 24') administrada pelo Ibama no estado
manhãs seguintes, centenas de cascos são encontrados dentro dos
do Amazonas, em 1997.
cercados e nas imediações.

²
Termo utilizado para a praia de desova.

394 141
Jacarés-açus (Melanossuchus niger) e tingas (Caiman que pode ser um indicativo de uma predação humana excessiva
crocodilus) investem em grupo de tartarugas que escapam dos sobre machos e fêmeas adultas. Em 2000, a taxa de ovos inférteis,
cercados e também sobre os cercados, quando estes estão próximos gorados e natimortos, foi superior à 1999 (teste T, P<0,05), o que
à margem da praia. No período de emergência de filhotes, vários associamos a um atraso no período das chuvas. Os filhotes que
cascos comidos por mucuras foram encontrados perto dos locais em conseguiram eclodir nas covas naturais que acompanhamos, não
que eles foram capturados. Nesses cascos, havia marcas de dentes tiveram forças para sair da cova e acabaram sendo predados por
que permitiram a identificação do predador. larvas de moscas (Diptera: Ephydridae).
A predação de filhotes na água também é um fenômeno Os esforços de conservação de quelônios nesses municípios,
muito comum de ser observado na praia do Abufari. A aruanã entretanto, vêm sendo comprometidos em alguns lugares
(Osteoglossum bichirrosum) é um dos principais predadores
(Oriximiná/PA: Lago do Sapucuá, Jarauacá, Igarapé dos Currais;
aquáticos dos filhotes de quelônios que nascem na praia.
Parintins/AM: Valéria, Murituba), em função dos danos causados
Ecologia reprodutiva pelas larvas desses dípteros pertencentes à família Ephydridae. O
O principal local de nidificação dos quelônios na Rebio é a praia do adulto é uma mosca de coloração preto-metálico, medindo cerca de
Abufari. A altura média da praia é de 4,5 m (±1,8m), onde desovam três milímetros de comprimento. Essa mosca, por apresentar
em média 8.802 ±2.516 quelônios: tracajás, iaçás e tartarugas. hábitos muito variados, inclusive saprofíticos, ataca na fase de
maior suscetibilidade do ciclo evolutivo dos quelônios. As larvas
Considerando os anos de 1997-2004, exceto 2002, a
produção média anual de filhotes de tartarugas na Rebio Abufari foi predam ovos e filhotes, sendo os adultos, provavelmente, atraídos
de 177.000 ±53.250 (Figura 5). Rebêlo (1985) reporta que na praia pelo odor característico de ovo, logo após o primeiro filhote eclodir,
do Abufari foram produzidos cerca de 40 mil filhotes de tartarugas ou pelo odor de putrefação de ovos contaminados por fungos ou
no ano de 1984. Informações entre os anos de 1985 a 1997 e 2002 gorados.
são escassas e duvidosas e, portanto, não estão sendo utilizadas
Os tracajás (n=617) nasceram medindo o comprimento de
neste relatório.
carapaça, 39,3 ± 1,7 mm, os iaçás (n=101) com 40,5 ± 2,4 mm e as
Segundo dados diários da produção de filhotes de tartaruga tartarugas (n=201) com 46,9 ± 1,4 mm. Os tracajás pesaram em
encontrados em planilhas do arquivo da Rebio, no ano de 1997 a média 14,9 ± 1,4 g, iaçás 14,3 ± 1,8 g, tartarugas 22,5 ± 1,4g e
produção foi de 287.686 filhotes. calalumãs (n=110) 11,2 ± 2,6 g. Os filhotes que nasceram em covas
transplantadas para o barro foram significativamente (teste T,
P<0,01) maiores (comprimento da carapaça = 39,8 ± 0,9 mm), mais
pesados (peso=15,6 ± 0,2 g) e menos pigmentados do que aqueles
que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0 ± 2,2 mm;
peso=14,3 ± 1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás que
nasceram no barro tiveram um ganho diário de peso (GDP) de 0,05

142 393
larvas se deu em número muito menor e não houve problema de
350
pisoteio, sendo a taxa de eclosão das covas naturais de 95,45%.

Produção de Filhotes (mil)


300
Pezzuti (1998) também encontrou filhotes de pitiú predados por
larvas dessas moscas. 250
O maior predador de ninhos naturais nas comunidades do 200
projeto, depois do homem, foi o jacuraru ou teiú (Tupinambis
150
teguixin). Nos ninhos transferidos, tivemos problema apenas com
100
um cachorro que entrou à noite no cercado de proteção da Aliança -
50
Lago do Piraruacá, e comeu os filhotes e ovos de duas covas, em
1999 e duas covas naturais em 2000. 0
1984 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Alho et al. (1984) e Vogt (1994) afirmam que a manipulação Anos

dos ovos em programas de conservação alterariam as condições


microclimáticas dos ninhos, retardando a eclosão, aumentando a Figura 5. Registros da produção de filhotes de tartaruga da Rebio
mortalidade e influenciando a razão sexual com a masculinização Abufari, Amazonas, Brasil (dados de 1984 obtidos em Rebêlo, 1985).
dos embriões. Isso, entretanto, não ocorreu na maioria das áreas do
Pelo esforço direcionado no estabelecimento e
projeto, onde as covas transferidas tiveram maior taxa de eclosão e monitoramento dos transectos, ou seja, locais com área conhecida e
sobrevivência de filhotes do que as covas naturais. Quanto à onde todas as desovas foram marcadas e mapeadas, foi possível
sexagem dos filhotes, embora sabendo que é extremamente estimar o número total de ninhos e a sua densidade, na praia do
importante para determinar a razão sexual do que estamos Abufari, para os anos de 1999, 2000 e 2001 (Tabelas 1 e 2).
produzindo, ao transferir os ninhos, não realizamos por ser
No ano de 2004 a produção de filhotes na Rebio Abufari foi
extremamente difícil convencer os comunitários e colaboradores,
menor em relação à média dos anos anteriores, devido à subida
pelo menos nesse primeiro ano do projeto, da utilidade que teria
rápida do nível do rio Purus (repiquete). Os tabuleiros de desova das
sacrificarmos alguns exemplares dos animais que estamos
tartarugas são atingidos pelas águas do rio Purus, em anos
querendo conservar. A sexagem será realizada nos próximos anos. considerados normais, por volta da primeira quinzena de dezembro
Os tracajás apresentaram uma taxa de ovos inférteis (sem e, no entanto, em 2004 eles foram inundados pelo menos 20 dias
antes, comprometendo a produção de filhotes. Mesmo depois de
vestígios de embrião) de 3,44 ± 3,37% e os pitiús 4,22 ± 14,07%.
eclodidos, os filhotes permanecem por, no mínimo, uma semana
Quanto aos ovos gorados, os tracajás apresentaram uma taxa de
enterrados absorvendo completamente o vitelo exposto. Somente
15,75 ± 12,80% e os pitiús, 22,17 ± 22,14%. A taxa de ovos inférteis
após a completa cicatrização do umbigo é que eles podem emergir.
pode ser considerada normal, mas em alguns lugares como no lago Em várias ocasiões encontramos ninhos piquetados atingidos pela
do Abaucu e no Macuricanã, onde foram próximas à 10%, podem água, desenterrando-os encontramos os filhotes afogados, mesmo já
significar a falta de machos ou a desova por fêmeas muito jovens, o eclodidos e fora da casca.

392 143
Tabela 2. Número médio de ovos, por ninho, na praia do Abufari, em setembro
de 1999, 2000 e 2001.
Espécie Média nº Média nº
ovos /ninho filhotes /ninho
1999 2000 2001 1999 2000 2001
Iaçá 13,31 13,87 12,82 9,72 10,52 11,16
Tracajá 30,00 30,71 29,12 25,14 14,89 27,00
Tartaruga 98,15 133,00 . 71,69 100,7 .

* Em 2000 e 2001 obtivemos um número amostral baixo (N=12 e 03, respectivamente).

Espécie
Sobrevivência Figura 1: Eclosão e filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis) do
1999 2000 2001 igarapé dos Currais - Terra Santa/Pará.
Iaçá 0,730 0,749 0,910 As covas transferidas de tartaruga tiveram uma taxa de
Tracajá 0,838 0,502 0,920 eclosão baixa devido à profundidade da cova artificial ter sido muito
Tartaruga* 0,730 0,735 . pequena. As covas ficaram pequenas e os ovos não puderam se
expandir, comprimindo e matando os embriões. Em 2000, o
No ano de 2000, encontramos em um ninho de tartaruga um problema foi solucionado com a divisão de cada cova natural, em
filhote albino. No ano de 2003, foram encontrados um filhote albino, duas transplantadas. Encontramos duas desovas de tartaruga no
um melânico (carapaça e patas parcialmente brancas e olho de barro, na área do igarapé dos Currais. Cada cova possuía 60 ovos e,
coloração normal) e um com características mistas (metade albino e
em uma delas, devido à pouca profundidade da cova e ao trabalho de
metade normal) (Figura 6). Com relação à posição onde os ninhos
compactação da fêmea, metade dos ovos estavam quebrados.
dos Podocnemis foram depositados na praia, os animais escolhem os
pontos mais altos. A distância dos ninhos em relação à vegetação é Covas naturais de tracajás e pitiús, na areia, tiveram uma
muito similar entre tracajá e iaçá. Para as três espécies estudadas na taxa de eclosão inferior (teste T, P<0,01) à das covas transferidas,
praia do Abufari a taxa de eclosão ficou em torno de 80% (Tabela 2). 37,74 (n=61) e 55,55 % (n=18) contra 85,6 (n=103) e 73,7 (39)%,
respectivamente. Acredita-se que isso se deva, em parte, a uma noite
de pisoteio por búfalos no local onde se encontravam as covas
naturais protegidas e, em parte, à predação de ovos e filhotes por
larvas de dípteros (moscas) da família Sarcophagidae (foram
registradas duas espécies ainda em processo de identificação),
encontradas em vários ninhos naturais. No barro, a presença das

144 391
que a profundidade do ninho e o período de incubação são
inversamente proporcionais em pitiús. O mesmo comportamento
que podemos verificar entre os tracajás que desovaram na areia e no
barro, e entre tracajás e pitús, isto é, quanto mais rasas as covas
maior o período de incubação.

Os filhotes, ao nascerem (Figura 1), foram colocados em


berçários (tanque de alvenaria, gaiolas e tanques de alumínio),
sendo que a taxa de eclosão foi: para tracajás de 85,6 ±18,19%, para
pitiús de 73,7% e para tartarugas de 43,16%, na areia. No barro, a
taxa para tracajás foi de 53,68 ± 13,70%. A reduzida taxa de eclosão
no barro foi motivada pelo acúmulo de água no fundo das covas,
principalmente, no igarapé dos Currais, onde a argila era muito mais
fina. Os filhotes, muitas vezes, já estavam prestes a sair do ovo, mas
como as chuvas inundavam a cova os filhotes morriam afogados
dentro dos ovos. Alguns ninhos foram salvos, colocando-se capim e
folhas secas no fundo, e afofando-se novamente a terra. Em 2000, foi
feita uma praia artificial com uma camada de 40 cm de areia no local
de transplante dos ninhos no igarapé dos Currais, o que elevou a
taxa de eclosão para 80%.

Figura 6. Filhotes albinos e melânicos de Podocnemis expansa


encontrados na praia do Abufari em 2000 (acima) e 2003 (abaixo).

A escolha dos locais de nidificação é um fator importante no


sucesso da reprodução dos quelônios da Rebio Abufari. Verificamos
que a distância da vegetação influencia na perda de ninhos pelo
alagamento. Embora o resultado da regressão logística para a altura
dos ninhos alagados e eclodidos tenha sido superior a 5%, o valor
encontrado é bastante próximo. Assim, consideramos que a altura,
de fato, está relacionada com a probabilidade do sítio de desova ser
atingido pela água. No caso de Podocnemis unifilis não foi verificada
uma influência direta da perda de ninhos, pelo pulso de inundação,
em função da sua localização na praia.

390 145
Podocnemis expansa para andarem em terrenos mais íngrimes.

O tamanho médio das fêmeas de P. expansa que desovaram Estudos feitos por Pezzuti (1997) com pitiú, no rio Japurá
no Abufari entre os anos de 1998 e 2004 foi de 74,3 cm (±3,97 cm, (estado do Amazonas), demonstraram que a altura tem efeito
N=158; Figura 7), e o peso médio 37,4 kg (±6,8 kg; N=18; Figura 10). pronunciado na discriminação dos ninhos, em pontos aleatórios. As
A menor fêmea de tartaruga que registramos desovando na praia do fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A
Abufari durante esse período mediu 61 cm de comprimento de profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de
carapaça e pesou 22 kg. incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de
incubação e na sobrevivência dos embriões.
O número médio de ovos depositados por essas fêmeas é de
96,89 ovos (± 31,2 ovos), no entanto, registros de 163 ovos/ninho já b) Eclosão e desenvolvimento dos filhotes
foram observados na praia do Abufari. Em um ninho foi registrada
Os primeiros filhotes (18 pitiús) nasceram na área da Aliança
massa total dos ovos de 4,126 kg. O peso médio dos ovos de
no Lago do Piraruacá. O tempo médio de incubação na areia foi: para
tartaruga é de 36,48 gramas (± 6,38 gramas, N = 7 ninhos).
tracajás = 57,88 ± 2,68 dias (mínimo=54; máximo=65); para pitiús =
O número médio de filhotes de tartaruga produzidos por
59,23 ± 3,34 dias (mínimo= 46; máximo= 66); e para tartaruga =
ninho é de 64,38 filhotes (±40,47 filhotes; N = 103 ninhos), com
57,67 ± 5,69 dias (mínimo= 53; máximo= 64). No barro, os ovos de
sobrevivência média de 77,8% (±34,3%; N = 144 ninhos). O
tracajá tiveram um tempo de incubação de cerca de 63,85 ± 2,31 dias
comprimento médio dos filhotes é de 39,24 mm (±04,98 mm; N = 18
(mínimo= 62; máximo=71). Pelos resultados, pode-se observar que
ninhos) e o peso médio de 17,89 gramas (±2,38 gramas; N = 18
apesar da temperatura média do barro ser maior, devido a uma
ninhos).
maior umidade, o tempo de incubação para tracajás é maior no barro
Foram encontrados em média 4 filhotes natimortos por ninho do que na areia. O tempo de incubação é maior para pitiús do que
(± 9, 5 filhotes; N=20 ninhos). O número máximo de natimortos por para tracajás e tartarugas.
ninho foi de 44 filhotes. Encontramos, em média, 10,4 ovos de
Fergusson & Joanen(1983), Georges (1989), Lang (1987),
tartaruga por ninho sem sinais de desenvolvimento aparente (± 11,9
Webb et al. (1987), Packard et al. (1989), Rhen & Lang (1995) apud
filhotes; N= 49 ninhos). Em 69 ninhos analisados registramos uma
Pezzuti (1997) verificaram que a temperatura de incubação
média de 21,27 ovos em putrefação, por ninho (±24 ovos).
influencia também a termorregulação, o tamanho, o padrão de
Provavelmente, são ovos fertilizados em que o embrião morreu, pois
pigmentação e a massa do filhote, ao nascer, e o crescimento.
ovos inférteis normalmente não apodrecem.
Segundo Pezzuti (1997), a eclosão dos ovos de pitiú ocorre,
geralmente, de 55 a 70 dias. As crias eclodidas ainda permanecem
dentro da cova, normalmente, num período de 7 a 15 dias. Portanto,
o período médio de nidificação dura 69 dias. Esse autor encontrou

146 389
com 8 a 16 cm de profundidade, com uma média de 30,3 ± 7,27 ovos
com 83,3 ± 6,8 dias de incubação. Alho et al. (1984) encontraram
temperaturas médias de 34,5ºC em ninhos de P. expansa, no
Trombetas, com razão sexual média dos ninhos desviada para
fêmeas (0,033).

Para tracajás, na Venezuela, no rio Capanaro,


Thorbjarnarson et al. (1993) encontraram desovas médias de 23,3
ovos com um período de incubação de 60-65 dias. No Peru, no rio
Samiria, Terán-Fachin (1993) encontrou uma média de 31,3 ovos e
66,5 dias de incubação. Terán et al. (1995) encontraram covas de
tracajá no Peru com 28,8±9,2 ovos em covas de 21,4 ± 2,2 cm de
profundidade e tempo de incubação de 111,8 ± 13,5 dias.

Pezzuti (1997) observou que fêmeas de pitiú, no rio Japurá,


desovam nos locais mais altos e distantes da linha d'água,
entretanto, a temperatura média dos ninhos foi de 29,3ºC e do Figura 7. Distribuição de comprimentos de Podocnemis expansa
substrato de 29,8ºC, o que resultou em um maior percentual de encontrados nidificando na praia do Abufari (L50 – comprimento de
machos (razão sexual=0,967). Os ninhos tinham em média 15,8 ± primeira maturação).
4,99 ovos, pesando 19,49 ± 7,42 g e 17,5 cm de profundidade. Em oito ninhos foi verificada a presença de filhotes aleijados
Pelos resultados, verificamos que os tracajás, ao desovarem ou deformados, com uma média de 4,62 filhotes/ninho (±4,59
na areia, distanciam-se mais da água, chegando até próximo à filhotes).
vegetação, fazem covas mais profundas e menos largas do que no A razão sexual (proporção de machos no total da ninhada) foi,
barro. Isto talvez se deva ao fato de a areia ser mais fácil para cavar, em média, 0,185 (18,5% de machos no total) para tartarugas, 0,378
bem como as covas serem mais distantes, para evitar a umidade, já para iaçás e 0,031 para tracajás. A proporção de filhotes fêmeas e
que a areia possuiria maior capilaridade. Elas são mais fundas para machos nos ninhos de tartaruga variou em função da sua
garantir uma temperatura mais baixa. No barro, as covas são mais 2
profundidade (R = 0,348, N=15; p= 0,021; Razão Sexual (ln) = 0,366
próximas da água e da vegetação (na maioria dos casos, no meio do – 0,014 profundidade; Figura 8).
capim-murim, Axonopus sp.), contudo, a argila retém melhor a
umidade. As covas rasas são para reduzir o aquecimento excessivo.
Na areia, os pitiús desovam em covas mais profundas do que as dos
tracajás, contudo, o fazem mais próximo da água, longe da
vegetação, por não possuírem as mesmas habilidades do tracajá,

388 147
pivotal, oscilação ou amplitude térmica, local e período da desova.
Nest sex ratio (ln N.males/N.total) 0.5 Nas covas transplantadas para a areia, tivemos uma temperatura
média que poderia provocar o nascimento apenas de fêmeas,
entretanto, como a variação ao longo do dia foi pequena, existe uma
tendência de masculinização de alguns ovos.
0.0
Cerca de 50,12% das covas de tracajás foram transferidas da
areia com uma profundidade média de 17,2 ± 2,7 cm e largura de
12,2 ± 2,1 cm, com 22,3 ± 4,7 ovos (máximo=36 e mínimo=12),
-0.5
pesando 24,5 ± 2,8 g. As covas retiradas do barro (49,88%)
apresentaram profundidade de 13,2 ± 2,1 cm e largura de 13,6 ± 2,9
cm, com 23,3 ± 5,4 ovos (máximo=34 e mínimo=10), pesando 23,7 ±
-1.0 2,6 g. A distância das covas de tracajá da água variou de 18,4 ± 14,1
20 30 40 50 60 70 80 m na areia e 15,4 ± 16,1 m no barro, e a distância da vegetação variou
Nest deph (cm) de 3,8 ± 6,7 m na areia e 2,2 ± 6,1 m no barro. As covas de pitiú foram
todas retiradas de praias e apresentaram, em média, 16,9 ± 3,5 ovos
(máximo=25 e mínimo=6), com peso de 20,8 ± 5,6 g, sendo
Figura 8. Relação entre a razão sexual dos ninhos de P. expansa em
encontradas a 18,25 ± 20,89 m da vegetação, bem próximo à água
função da variável independente – profundidade do ninho, monitorados
(em média 6 metros). A Tabela 1 apresenta os resultados da
na Rebio Abufari.
transferência por área e espécie.
A relação entre peso e comprimento dos filhotes de tartaruga é
Fachin (1992) registrou que P. unifilis desova no Peru, no rio
significativa (R2 = 0,469, N=18; p= 0,002; Peso = 1,367+0,143 *
Samiria, no período de julho e agosto em praias de areia (44,7%),
comprimento).
praias semi-arenosas (22,4%), praias com pedregulhos (17,6%) e
Podocnemis sextuberculata barrancos (15,3%).

O comprimento médio dos iaçás que desovaram na Rebio Os tracajás podem desovar em praias ou no barro a até 15-50
Abufari entre os anos de 1998-2003 foi de 28,34 cm (±3,39 cm). O metros da água em covas com, aproximadamente, 18-20 cm de
comprimento da carapaça de 50% das fêmeas que se encontravam profundidade e 8-11 cm de diâmetro e uma média de 24,4 ovos
desovando na praia do Abufari foi de 27 cm (L50) - N=74; Figura 9. (Vanzolini, 1979; Paez, 1995). No rio Guaporé, os ninhos de P. unifilis
têm uma temperatura pivotal de 32,1ºC e uma média de 23,7 ovos,
O número médio de ovos depositados pelas fêmeas de iaçá na sendo que, em condições de laboratório, ovos incubados a 31ºC
praia foi de 12,67 ovos/ninho (±4,3 ovos; produziram 80% de machos (Souza e Vogt, 1994). Soini (1995)
estudou P. unifilis que desova de 2 a 12 metros da água, em covas

148 387
a) Resultados de transferência de ninhos pelo Projeto Pé-de- N=312), sendo que o ninho mais numeroso continha 26 ovos.
Pincha O peso médio dos ovos foi de 16,67 gramas (± 3,13 gramas; N= 29
ninhos). O número médio de filhotes por ninho foi 10,4 filhotes (±5
Foram monitoradas pela Ufam/Ibama-AM, em 1999, as filhotes; N=324 filhotes), e o peso médio dos filhotes de 13,1 gramas
transferências de 306 ninhos, com um total de 6.426 ovos (79,96% (± 2,36 gramas). O comprimento médio dos filhotes foi 31,8 mm
de tracajá, P. unifilis, e 20,04% de pitiú ou iaçá, P. sextuberculata). (±05,4mm) e a largura da carapaça 27,42 mm (± 05,74mm). O
Até o final do período de coleta, as comunidades e seus agentes número médio de ovos sem desenvolvimento aparente, por ninho, foi
ambientais voluntários conseguiram transferir 654 ninhos, com um de 2,6 ovos (±3,2 ovos; N=86), e o número médio de filhotes
total de 14.214 ovos (86,29% de tracajá, P. unifilis, 10,25% de pitiú natimortos foi de 2,2 (± 1,9 filhote; N= 86). A presença de filhotes
ou iaçá, P. sextuberculata, 2,59% de tartaruga, P. expansa, e 0,87% deformados foi observada em três ninhos (N= 86) e a de larvas em 08
de irapuca ou calalumã, P. erythrocephala), e realizaram a proteção ninhos (N=86).
de 85 covas naturais. Em 2000, foram coletados 24.015 ovos,
21.482 de tracajá, 2.393 de pitiú, 20 de calalumã e 120 de tartaruga A sobrevivência média dos ninhos de P.sextuberculata foi de
(um total de 1.193 covas transferidas, sendo 89,45% de tracajás, 80% (± 29,5%; N=280 ninhos). A amplitude de sobrevivência
9,96% de pitiú, 0,5% de tartaruga e 0,08% de calalumã) e foram apresentou variação máxima, indo de 0 a 100%, ou seja, houve
protegidas 9 covas naturais. ninhos em que nenhum ovo eclodiu e no outro extremo ninhos com
eclosão de todos os embriões. A razão sexual média (proporção de
A coleta dos ovos foi realizada, principalmente, nas horas machos na ninhada) foi de 0,348, portanto, temos predomínio de
mais frias do dia, entre 6-9 h (74%), sendo feita em caixas de isopor fêmeas entre os filhotes desta espécie produzidos no local entre 1998
de 24,5 litros (cada caixa comportava de 3 a 4 ninhadas, dependendo e 1999. A razão sexual dos filhotes de P. sextuberculata não diferiu
do número de ovos). Os ovos ficavam nas caixas até 16:00 horas, significativamente entre os anos 1998 e 1999 (t= - 0,586; G.L. = 27;
quando eram transplantados para as covas artificiais nas áreas p=0,563), não apresentando relação com a altura onde o ninho foi
protegidas. A temperatura média nos locais de transplante com 25 depositado (R2 = 0,001; N=7; p= 0,952), com a distância do ninho até
cm de profundidade = 33,62 ± 1,45º C, com 30 cm = 32,55ºC ± 3,17ºC
a vegetação (R2 = 0,021; N=17; p= 0,575) nem tampouco com a sua
e com 50 cm = 31,69º ± 1,30ºC. A temperatura média na areia foi de
profundidade (R2 = 0,008; N=19; p= 0,723).
32,58 ± 1,94ºC e no barro foi de 35,83 ± 0,764ºC. As maiores
temperaturas foram registradas no período das 14 às 16:00 horas.

É importante verificar a influência da temperatura de


incubação sobre a determinação sexual dos embriões (Vogt, 1994).
Em programas de conservação de quelônios, como o "Pé-de-Pincha",
que trabalham com o transplante de ninhos, isso é extremamente
importante. A razão sexual é influenciada não somente pela
temperatura média de incubação, mas, também, pela temperatura

386 149
campo, bem como ministrar palestras nos colégios locais. Os temas
são diversificados, de acordo com as especialidades do pessoal
envolvido no projeto (quelônios, ecologia, horticultura, pecuária,
criação de animais silvestres, parasitismo e profilaxia, uso de
agrotóxicos, plantas medicinais, criação caipira de galinhas, etc.).
Em novembro, com o início das eclosões e o nascimento dos
filhotes nas covas transplantadas, a equipe da Ufam retorna às
localidades para a construção dos berçários, o treinamento do
pessoal nos cuidados com os filhotes (alimentos, horário de
alimentação, conservação dos ovos não eclodidos e filhotes mortos,
etc.), coleta de dados de biometria e parasitologia e marcação dos
filhotes. Os filhotes são mantidos nos berçários até completarem
dois meses de idade, período em que já possuem cascos mais
resistentes, tornando-se, provavelmente, menos susceptíveis à
predação.

Cada berçário feito em alvenaria mede cerca de 100 m2, já os


berçários tipo gaiola (madeira e tela) construídos de peças de
Figura 9. Distribuição de comprimento da carapaça das fêmeas de
madeira (itaúba) e tela, tipo galinheiro, têm em torno de 5-10 m2. A
Podocnemis sextuberculata que desovaram na praia do Abufari entre os
escolha do tipo de berçário depende do local onde ele é implantado e
anos de 1998-2003 (L50 – tamanho de primeira maturação).
do número de filhotes. Cada berçário é recoberto de fios de náilon
A taxa de eclosão de Podocnemis sextuberculata foi diferente trançados, para evitar a predação dos filhotes por aves, e possui
entre os anos monitorados (KW=10,272; N=348; G.L. 4; p=0,036), pequenas balsas flutuantes de madeira que servem como solário,
tendo sido menor em 2000 em comparação com o ano anterior e o além disso, são colocados aguapés e murerus que servem de abrigo
posterior. Esse dado também variou em função da profundidade do e alimentação para os filhotes.
ninho (rs= - 0,2213, t= -3,2177, N=203, p=0,0015, Figura 10), numa
relação inversa onde as menores taxas de sobrevivência de embriões Durante o processo de eclosão dos ovos são registrados os
foram observadas em ninhos mais profundos. Entretanto, a taxa de considerados férteis, os inférteis (quando não se encontra sinais do
eclosão não foi influenciada pela altura do ninho em relação à água embrião na gema), os com fungos, os parasitados por larvas, os
(rs= 0,0294, t= 0,2681, N=85, p=0,7893), nem tampouco pela gorados e os animais natimortos, bem como é feita, também, a
distância da vegetação (rs= 0,1371, t= 1,4903, N=118, p=0,1388). O biometria dos animais vivos, sendo estes, posteriormente,
tamanho da ninhada (número de ovos por ninho) influencia no peso transferidos para as gaiolas e tanques. Nessa fase, eles são
2
total da ninhada em Podocnemis sextuberculata (R =0,977, N=28, alimentados por plantas aquáticas murerus, aguapés, vísceras de
p<0,001). peixes, pão e ração para peixes.

150 385
2
Os ninhos são abertos e os ovos colocados em caixas de O peso médio do ovo foi influenciado pelo tamanho (R =0,43;
2
isopor (24,5 e 37 l) forradas com areia. Ao transferir os ovos para a N=17 ninhos; p=0,004) e também pelo peso da fêmea (R =0,285;
caixa, eles são mantidos na mesma posição que estavam no ninho. N=17 ninhos; p=0,027, Figura 11).
De cada cova encontrada, são registrados em fichas o número da
cova, a procedência, a espécie, a quantidade de ovos, a distância
1.2

Nest eclosion rate (N hatchlings/Neggs)


para a vegetação e para a água, a profundidade, o diâmetro e a
temperatura delas e, a cada cinco covas, é feita a biometria dos ovos.
1.0
As covas artificiais são construídas de modo similar ao da
natureza, com uma câmara de ar e profundidade em torno de 30 cm. 0.8
Cada cova recebe uma estaca em que está escrito um número
indicando a ficha do ninho (na ficha estarão registrados dados como 0.6
o local de coleta, o número de ovos, a distância da água, o tipo de
solo, etc.) e a provável data de eclosão. Os locais de transplante 0.4
foram selecionados pela textura da areia ou argila, pela ausência de
pedregulhos e/ou raízes de árvores e vegetação abundante, pela 0.2
menor umidade, distância do lençol freático e temperatura. As
covas transplantadas ficam sob os cuidados dos proprietários ou de 0.0
0 10 20 30
comunitários. Foi feito também o registro da temperatura da área
Nest deph (cm)
onde foram implantadas as covas, a fim de avaliar, posteriormente,
a sua influência sobre o nascimento de machos e fêmeas. As
temperaturas foram registradas em termômetros de solo (10 por Figura 10: correlação entre a taxa de eclosão de ninhos de P.
sextuberculata e a profundidade dos ninhos na praia do Abufari, rio
área) colocados aleatoriamente em covas transplantadas, sendo as Purus, Amazonas (taxa de eclosão = número de filhotes eclodidos vivos).
leituras feitas de hora em hora, das 5:00h às 22:00h durante o
período de incubação.

Algumas covas naturais também são mantidas nas áreas


protegidas com cercas individuais com, aproximadamente, 60 cm
de altura, feitas de ripa, tela plástica e com bandeira vermelha de
marcação.

No período de transferência das covas, a equipe da Ufam e


Ibama escolhem uma área para receber a visita de alunos da rede
municipal de ensino, que vêm observar como é feito o trabalho de

384 151
2
25 tartaruga, deve haver 1 m de praia para cada matriz em reprodução.
No caso de tracajás, podemos trabalhar a densidade de 5
2
matrizes/m de praia.
mean egg mas per nest (g) 10.1.1 Transferência de ninhos
20
Em situações de extrema predação humana dos ovos e
impossibilidade de fiscalização sistemática do tabuleiro ou, no caso
de perigo de inundação e perda dos ninhos, pode-se executar a
15 transferência dos ninhos para praias protegidas pelo Ibama ou pelas
comunidades. Em cativeiro, o mesmo pode ser feito quando há uma
predação natural (lagarto teiú, Tupinambis spp.; formigas; cupins,
etc.), acentuada, ou a praia artificial às margens do tanque ou
10 barragem não possua condições adequadas para a incubação dos
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500
female weight (g) ovos.

Andrade et al. (2004) vêm desenvolvendo desde 1999, na


Figura 11. Relação entre o peso das fêmeas e a massa média dos ovos,
região do Baixo Amazonas (Parintins, Nhamundá, Barreirinha,
por ninho, em Podocnemis sextuberculata na Rebio Abufari, entre os
Terra Santa, Oriximiná e Juruti) um programa de manejo
anos de 1999-2003 (massa média ovo/ninho = 13,836+0,002(massa da
comunitário participativo de quelônios. Nesse projeto, chamado de
fêmea)).
“Pé-de-Pincha”, os comunitários são treinados para realizar a
Podocnemis unifilis transferência de ninhos de áreas muito ameaçadas.
O número de tracajás que desovam na praia do Abufari é muito
reduzido em comparação com as duas primeiras espécies. Foram Em setembro e outubro é realizada a transferência dos
capturadas somente cinco fêmeas nas praias durante os períodos ninhos. Essa atividade é feita por cinco equipes com o apoio de um
reprodutivos monitorados. Elas apresentaram um comprimento ou dois guias locais. O deslocamento é feito em botes de alumínio
médio de carapaça de 48,3 cm (±80,87 cm), sendo que o menor com motor de popa 15-40 HP, ou motores tipo rabeta. A
indivíduo encontrado desovando tinha 29 cm de comprimento. O transferência dos ninhos é um processo simples desde que se saiba
peso médio desses indivíduos foi de 6,066 kg (±1,677 kg; N=3). a idade dos ninhos (ela não pode ser executada com ovos entre o
terceiro e o vigésimo sétimo dia de incubação). Como é difícil
precisar a idade de covas mais velhas, trabalhamos com covas
novas.

152 383
espécie é encontrada somente nos rios de água barrenta como o O número médio de ovos de tracajás observados nos ninhos
Branco, o Solimões e o Amazonas, mas ela também é encontrada nos encontrados dispersos pela praia foi de 29,6 ovos (±5,87 ovos; N=46
rios Trombetas e Tapajós, considerados de água clara. A fêmea ninhos). A massa de um ninho foi de 1 kg e o peso médio dos ovos
possui manchas amarelas com dois barbelos embaixo da boca. A desse ninho foi de 23,97 g. O número médio de filhotes produzidos
carapaça tem coloração marrom-claro e marrom-escuro. A postura por ninho é de 20,2 filhotes (±11,04 filhotes/ninho; N=31 ninhos). A
média é de 15 a 20 ovos de casca mole. O iaçá é menor do que o sobrevivência média foi de 76,6% (±23,5%; N = 24 ninhos). A menor
tracajá. Soini (1980) sugere que esta espécie desova quase sempre sobrevivência encontrada para essa espécie foi de 30%. A média de
em praias arenosas, geralmente próximo da água. A desova ocorre comprimento e de peso dos filhotes foi de 34,04 mm (±5,7 mm; N= 10
geralmente à noite. Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e ninhos) e de 14,72 gramas (±2,75 gramas; N=10 ninhos),
compridos, com a casca mais clara, mais delgada e mais flexível. respectivamente.

Recomendação para a reprodução natural em cativeiro A razão sexual da pequena amostra dos ninhos de tracajá
depositados na praia do Abufari é desviada para a produção de
Os tanques ou represas em que ficam matrizes e fêmeas, com um percentual médio de 3,1% de machos (±8,8%; N=8).
reprodutores devem ter constante renovação de água, ser limpos A razão sexual dos filhotes de P. unifilis que nascem na Rebio Abufari
sem tocos ou vegetação, que dificulte a locomoção, e com não sofreu influência da profundidade do ninho (R2 = 0,122; n=6;
profundidade média de 2 m. Ainda não se sabe a razão sexual mais p=0,497). Os dados não são conclusivos, pelo pequeno tamanho da
adequada para a reprodução em cativeiro. Segundo o Dr. Richard amostra, tanto para definir o que a praia está produzindo em termos
Vogt/Inpa (informação pessoal), a proporção de machos e fêmeas de proporção sexual dos filhotes como no tocante aos fatores que
adultos também é variável na natureza, não podendo servir como influenciam no processo.
indicativo. Contudo, sabe-se que uma fêmea de tartaruga pode ser
coberta por vários machos, podendo apresentar ninhadas com Os ninhos dessa espécie apresentaram em média 4,1 ovos
filhotes de diferentes pais. Portanto, sugere-se uma proporção de sem desenvolvimento aparente (± 4,3 ovos, N = 19) e 4 ovos em
reprodutores e matrizes que varie de 1 macho:1 fêmea até 1 macho:5 putrefação (±4,3 ovos; N= 10 ninhos). A quantidade de filhotes
fêmeas. natimortos foi, em média, de dois indivíduos por ninho (±1,41 filhote,
N= 4 ninhos). Foi registrado um ninho com filhotes deformados e três
Em cativeiro, as praias artificiais para tartarugas devem ser ninhos com presença de larvas de dípteros.
feitas com areia fina ou média, ser colocadas à margem dos tanques e
barragens, ou ao centro, em forma de ilha (mais difícil manutenção e A taxa de eclosão de ovos de tracajá não foi influenciada nem
reposição da areia perdida pela movimentação da água e dos pela distância da vegetação (R2=0,215, N=11, p=0,150), nem pela
animais). A altura mínima deverá ser de um metro acima do nível da profundidade do ninho (Correlação de Spearman, coef. = 0,133; t =
água, entretanto, é preciso verificar até que altura a água do tanque 0,571; p = 0,575).
infiltra na areia. Deve haver uma faixa mínima de 30 cm isolando a
areia úmida do tabuleiro, separando-a do fundo do ninho. No caso da

382 153
Ecologia populacional que filhotes lançados no rio, por ocasião de grandes cheias, não
sofriam os ataques intensivos dos predadores habituais (Alfinito,
Abundância e densidade de quelônios nos ambientes da Rebio Vianna, Silva, 1976).
Durante todo o monitoramento da Rebio foram marcados Os adultos são de hábitos solitários. No entanto, durante a
1.259 quelônios, de diversas procedências, como captura na praia, temporada de reprodução tornam-se gregários em lugares
captura com redes de cerco e redes do tipo capa-saco e animais de tradicionais de desova para realizar a cópula e a desova (TCA, 1997).
apreensão. O número de tartarugas, iaçás e tracajás foi 524, 688 e
47 animais, respectivamente. Em 1994, Meri Ushiñahua Alvarez calculou um custo de US$
5,00 por cada filhote de P. unifilis produzido na comunidade
Redes de cerco são aparelhos de pesca bastante utilizados no ribeirinha de Manco Capac, na periferia da Reserva Nacional de
sistema de pesca ilegal e contrabando de quelônios na Rebio Abufari Pacaya-Samiria. Foram produzidos 2.197 filhotes e o manejo
durante a estação seca. Da mesma maneira, esse apetrecho é utilizado foi transplantar as ninhadas de um banco de areia
utilizado pela nossa equipe para captura, biometria, marcação e construído na comunidade, no qual foram incubados ninhos quase
soltura de tartarugas, tracajás e iaçás. Realizamos pesca naturais, escavados à mão. Para P. expansa o custo seria muito
experimental, com esse tipo de petrecho, em frente a praia do similar ao de P. unifilis. No Amazonas, o RAN-Ibama estimou o custo
Abufari e em trechos do Purus, logo acima e abaixo da praia, nos de produção de filhotes em áreas protegidas em torno de R$0,16-
meses de outubro, novembro e dezembro. Redes de cerco foram 0,21 por unidade (U$0,07), isto ocorre em função do volume da
utilizadas somente nesses meses por dois motivos: 1 – como medida produção de filhotes do estado e, em parte, devido ao trabalho
mitigadora dos impactos da pesquisa sobre o ciclo reprodutivo das voluntário de muitas comunidades.
tartarugas, iaçás e tracajás, pois nesses meses os animais já
desovaram e a possibilidade de provocar estresse nos animais O tracajá (P. unifilis) encontra-se distribuído por toda a bacia
durante o período reprodutivo é evitada; 2 – somente nesse período amazônica, sendo as fêmeas maiores do que os machos (que
do ano as populações de tartarugas, tracajás e iaçás estão possuem manchas amareladas na cabeça), possuindo em torno de 8
concentradas na calha principal do rio, quando são também alvo da kg e medindo cerca de 38 cm. Vivem em lagos, rios e igarapés e
pesca ilegal. desovam isoladamente em barrancos, em covas de,
aproximadamente, 30 cm de profundidade em que colocam, em
A captura média de quelônios com arrastos feitos com rede de média, 20-30 ovos (Soini, 1995). Supõe-se estar maduro
cerco foi de 35,9 indivíduos/pescaria/dia (±35,6 indivíduos), sendo, sexualmente após os 7 anos e, alimentam-se de frutas, sementes,
portanto, maior do que a CPUE média do capa-saco, que foi de 11,77 raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos, crustáceos e moluscos.
indivíduos/pescaria/dia (± 9, 20 indivíduos). Parecem ser mais rústicos do que as tartarugas, o que lhes confere
uma melhor adaptação ao cativeiro (Terán-Fachin, 1992).

A Podocnemis sextuberculata é denominada vulgarmente


de iaçá, pitiú ou cambeuá (Pezzuti, 1997). Smith, 1979, cita que essa

154 381
Como camuflagem no momento da saída jogam areia nas Estrutura populacional
proximidades da cova (2 a 3 metros), iniciando, a partir de então, o
retorno ao rio, que é geralmente lento, fato que demonstra o cansaço Podocnemis expansa
pelo esforço despendido. A quantidade de ovos por cova varia de 40 a Das 524 tartarugas marcadas na Rebio Abufari, 67 eram
160, com média em torno de 100 (Cenaqua, 1994). As posturas machos e 457 eram fêmeas. Esta não é uma amostragem real da
situam-se em torno de 75 ovos por cova, com variação mínima de 54 proporção sexual dos animais, pois boa parte das fêmeas foi
e máxima de 136. Os ovos são lançados no fundo da cova, ao acaso, e capturada na praia, após a desova. O comprimento médio de machos
sobre eles descarrega grande quantidade de muco misturado com foi de 35,80 cm (±6,08 cm) e fêmeas de 56,34 cm (±19,57 cm; Figura
urina. Retornando à atividade, espalha bastante areia sobre a cova, 18). A menor fêmea mediu 55,10 cm, e a maior 82,50 cm. Os
com ágeis movimentos sobre as patas anteriores e posteriores, como tamanhos do menor e maior macho foram, respectivamente, de
também do plastrão (peito). A profundidade da cova oscila entre 44 e 14,09 e 49,20 cm. Machos capturados no estudo tinham, em
83 cm, sendo a média de 54 cm, podendo, naturalmente, variar média, comprimento de carapaça de 35,47 cm (±5,68 N= 46
esses limites. A concentração de covas nessas áreas, chamadas indivíduos). Machos apreendidos mediram em média 36,51 cm
tabuleiros, é, em média, de 4 a 7/m2 (Alfinito, 1980). (±6,96 cm; N= 21 indivíduos). O comprimento médio da carapaça de
A cova pode ser identificada pela areia molhada, extraída fêmeas capturadas foi de 62,80 cm (±14,57 cm; N=297) e de fêmeas
pelo animal, das partes mais profundas da cavidade, pelo rastro apreendidas foi 44,34 cm (±21,92 cm; N= 160).
deixado na areia, por ocasião da subida para a desova ou, ainda,
900
utilizando-se um estilete (varinha) que, introduzido na areia fofa,
penetre facilmente na cova (Pádua & Alho, 1982). 800

Strainght carapace length (mm)


700
O período embrionário do ovo da tartaruga é de 45 dias,
600
permanecendo os filhotes no fundo da cova (câmara de incubação)
500
até completarem 60 ou 90 dias, prazo que coincide com a absorção
400
total da bolsa da gema, implantada na parte externa do plastrão, em
que se forma o umbigo. Os ovos mantidos em incubação natural são 300

85% gerados, desde que permaneçam em equilíbrio a umidade e a 200


temperatura (Pádua & Alho, 1982). 100
0
As tartaruguinhas que nascem estão sujeitas ao ataque Female Male
Sex
maciço dos inimigos naturais e dos predadores aquáticos, como a
piranha ( Serrasalmus sp.), pirarara ( Phractocephalus Figura 12. Distribuição de comprimento de Podocnemis expansa
hemioliopterus), tucunaré (Cichla sp.), traíra (Hoplias malabaricus) e capturados e apreendidos na Rebio Abufari entre os anos de 1999 e
outros. Porém, trabalhos realizados em Fordlândia demonstraram 2004.

380 155
Tabela 3. Número de tartarugas (N), comprimento (média, desvio-padrão, mínimo e Segundo Alho & Pádua (1982), há uma sincronização entre a
máximo) capturado na Rebio Abufari.
vazante e o desencadeamento do comportamento de nidificação da
Ano Procedência Sexo N Média Desv. Pad. Min. Max
tartaruga-da-amazônia. O comportamento de nidificação só começa
1998 desovando fêmea 24 69,57 3,37 64,52 78,47
quando a água se estabiliza em seu nível mais baixo. A
imprevisibilidade dos níveis de água no Rio Trombetas, um
1999 apreendido fêmea 13 64,42 8,82 41,00 78,00

desovando fêmea 114 70,27 3,97 57,33 79,01


tributário do Amazonas, no Pará, é um fator seletivo importante que
influencia a data e a escolha do local da postura de P. expansa. A
2000 apreendido fêmea 23 61,22 15,79 26,90 78,00 cheia rápida e imprevisível (conhecida como repiquete) matou, em
apreendido macho 2 30,75 3,89 28,00 33,50 1980, 99% dos embriões nos ovos em contraste com as estações de
rede de cerco fêmea 21 58,56 16,91 23,50 82,50 nidificação de 1978, 1979 e 1981, quando 95% dos ovos eclodiram
rede de cerco macho 3 33,50 8,06 24,20 38,30 com sucesso.
capa-saco fêmea 14 39,94 8,51 24,50 58,00

capa-saco macho 8 35,35 6,26 29,20 49,20


O cruzamento ocorre dentro da água. É fácil observar esse
desovando fêmea 23 72,48 3,25 65,00 79,00 movimento nas águas mais ou menos paradas, próximo às margens
dos grandes rios. Macho e fêmea passam horas juntos, vindo
2001 apreendido fêmea 71 51,91 13,90 26,00 77,00 freqüentemente à tona ora o macho ora a fêmea ou os dois juntos. O
apreendido macho 9 39,06 2,81 35,50 43,00 acasalamento ocorre particularmente nos meses de maio e junho
rede de cerco fêmea 42 52,29 13,05 26,50 78,70 (Ferrarini, 1980).
rede de cerco macho 14 33,33 7,69 14,09 45,30

desovando fêmea 12 67,83 3,80 61,00 73,50 Após a seleção do sítio de postura, as tartarugas sobem à
praia, geralmente à noite, onde, após uma perambulação, escolhem
2002 rede de cerco fêmea 1 66,20 0,00 66,20 66,20 o local específico de desova, iniciando a abertura da cova,
capa-saco fêmea 4 45,63 17,26 30,00 70,30 alternadamente, jogando a areia para trás. Com movimentos do
capa-saco macho 3 38,40 3,29 34,60 40,30 corpo para a direita e para a esquerda, vão modelando aos poucos a
cova, encaixando a parte posterior no buraco e aumentando a ação
2003 rede de cerco fêmea 15 46,07 18,26 29,80 79,40
das patas traseiras. Preparada a câmara de postura, começam a
rede de cerco macho 15 36,94 2,75 32,60 42,10
deposição dos ovos. Nessa etapa, elas tornam-se quietas, realizando
capa-saco fêmea 8 24,60 2,46 22,50 30,00
movimentos estereotipados, podendo até serem tocadas sem que
2004 apreendido fêmea 53 21,96 16,46 5,51 69,00 haja reação. Terminada a postura, as tartarugas iniciam o processo
Apreendido macho 10 35,38 9,15 17,31 44,50 de fechamento da cova, utilizando as patas traseiras. A seguir,
rede de cerco macho 2 36,70 1,70 35,50 37,90 através de batidas com o plastrão, fazem a compactação da cova
capa-saco macho 1 39,40 0,00 39,40 39,40 (Alho, 1979).
Desovando Fêmea 19 72,03 3,42 66,00 78,50

Todos os grupos 524 53,71 19,64 5,51 82,50

156 379
A proporção sexual de animais apreendidos durante o
Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação e 2
período de enchente foi 0,769:1 ( = 0,3913, G.L.=1; p>0,05). Durante
sanidade o período de seca foi apreendido um total de 30 fêmeas de tartaruga e
2
nenhum macho ( = 30; G.L.=1; p<0,001). Na época da vazante foram
Paulo Cesar Machado Andrade apreendidos pelo Ibama 117 fêmeas e 11 machos de tartarugas, ou
2
João Alfredo Mota Duarte seja, uma proporção de 0,094:1 ( = 87,78, G.L.=1; p<0,001).
Maria Linda Flora de N. Benetton Portanto, entre os animais capturados na pesca ilegal, temos o
Raimunda Lenice da Silva
Francivane Fernandes predomínio de machos durante a enchente e de fêmeas quando o rio
José Ribamar da Silva Pinto está secando.
Agenor Vicente da Silva
Welton Oda A variação no incremento do peso de fêmeas adultas de P.
Anndson Brelaz expansa nidificando na praia do Abufari está relacionada
Wander Rodrigues positivamente com o incremento no comprimento da carapaça
2
(R =0,744; N=18; p=0,000; Peso fêmea = -83703,7+168,379
11.1 Manejo reprodutivo *comprimento). A análise discriminante utilizada confirma a
existência de dimorfismo sexual de tamanho na tartaruga ( = 80149;
As fêmeas de tartaruga têm condições de procriar entre 5 e 7 F (2,180)=22,291 p< 0,001), mas a mesma técnica não indica
anos de idade. No início do verão, geralmente, nos meses de diferença com relação ao peso.
setembro a novembro, machos e fêmeas sobem os rios em direção às
praias para reprodução, procedimento denominado “arribação”, em Comparando as regressões entre o comprimento da carapaça
que se aglomeram em frente às praias, observando o ambiente, e de machos e fêmeas de tartarugas e a sua massa corporal, observa-
passam algum período em processo chamado “assoalhamento”, que se que o valor da inclinação dessas retas parece ser diferente (Figura
é a agregação dos animais, em águas rasas, com subidas ocasionais 13), o que evidencia uma diferença também na forma ou no peso
na margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios específico entre os sexos.
solares, para depois as fêmeas subirem às praias na busca do sítio
A razão sexual de indivíduos de P. expansa capturados com
ideal de postura, considerando condições de temperatura e umidade 2
redes de cerco foi 0,494:1; sendo, portanto, desviada para fêmeas ( =
(Cenaqua, 1994).
14,226; G.L.=1; p<0,001). Fêmeas também predominaram nas
A tartaruga-da-amazônia cumpre o determinismo biológico capturas realizadas com rede capa-saco, onde a razão sexual foi de
2
de retornar à mesma área de desova. A desova é única e anual. Após 0,462:1 ( = 5,158; G.L.=1; p<0,05).
longa jornada de viagem ao tabuleiro, o bando ou cardume
permanece alguns dias em completo repouso, na parte mais funda
do rio, denominada de poção ou boiadouro (Alfinito, 1980).

378 157
80000 Os animais que formaram o plantel de reprodutores e
70000
Female weight = matrizes deverão ser marcados com sistema codificado de furos na
371,8954*exp(0,0063*x)
carapaça e plaquetas metálicas rebitadas nas escamas caudais da
60000
carapaça. Cada plaqueta deverá conter um número de série
50000 identificador do animal e o número de registro do criador no Ibama.
40000

A B
30000
Weight (g)

20000

10000

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Carapace length (mm)

Figura 13. Relação entre o comprimento da carapaça e o peso de C D


tartarugas capturadas na Rebio Abufari entre os anos de 1999-2004
( fêmeas: r = 0,9456: p = 0,000; machos: r = 0,9499, p = 0,000).

A temperatura cloacal de Podocnemis expansa variou em


função da temperatura da água onde os animais foram capturados
2
(R = 0,718; N= 12; p =0,001).

Podocnemis sextuberculata
E F
Foram marcados na Rebio Abufari 688 indivíduos de
Podocnemis sextuberculata, sendo 259 fêmeas e 429 machos. O
comprimento médio geral desses animais foi de 19,3 cm (± 3,6 cm).
O comprimento médio de fêmeas foi de 21,8 cm (±4,3cm) e o dos
machos 17,8 cm (±2,0 cm). Durante todo o estudo de marcação
Figura 21: Seleção de lote de 5 toneladas de quelônios para venda: a e
foram registradas fêmeas com comprimento de carapaça entre
b) captura dos animais; c) lançamento de quelônios até o caminhão; d e
10,8 cm e 35,1 cm e machos com variação entre 14,1 cm
e) carroceria dividida para separar animais de diferentes tamanhos; f)
Separação de animal doente.

158 377
Exemplo 2: Área alagada de 3,0 ha, considerando-se a seleção para e 22,5 cm. Os machos de P. sextuberculata apreendidos em
comercialização no terceiro ano (50% dos animais atingiram o peso acampamentos e embarcações dentro da Rebio mediram em média
de abate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do 16,6 cm (±22,0 cm; N=166 indivíduos). Machos capturados na nossa
terceiro ano. pesca experimental mediram em média 18,6 cm (±13,0 cm; N=260
indivíduos). O comprimento médio da carapaça de fêmeas
Item/Instalação 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano apreendidas e capturadas pela nossa equipe foi de, respectivamente,
Berçário I 3.500 4.000 4.500 - 19,6 cm (±4,1 cm; N=118) e 23,6 cm (±3,5 cm; N=236).
Berçário II / 3.400 3.900 4.400
Crescimento A razão sexual dos indivíduos de P. sextuberculata
Lago ou - - 350 750 1.200
barragem apreendidos nos vários acampamentos e embarcações de transporte
(Matrizes de cargas e passageiros dentro da Rebio Abufari durante o período de
/Reprodutores) enchente foi desviada em favor de machos (proporção sexual =
Barragem ou 3.050 5.500 6.225 2
tanque (animais 2,182:1; =19,314; G.L.=1; p<0,001). Durante o período de seca
para venda) foram apreendidas somente fêmeas (N=5). Na baixada das águas do
Mortos * 100 100 100 - - rio Purus, pescadores oriundos de comunidades ribeirinhas
Comercializados 1.050 3.225 3.657 próximas e de centros urbanos mais distantes, como Manacapuru,
TOTAL 3.400 7.400 10.650 7.425 3.768
vêm pescar clandestinamente para capturar centenas de animais
durante o período em que a água começa a correr dos lagos, do
c) Manejo dos animais por lote de tamanho ou peso, e seleção interior da Rebio para a calha principal do Purus. É o período em que
para venda o Ibama apreende um maior número de animais. Durante a vazante
de 2004, foram encontrados em um único acampamento 2.068
Se os animais não recebem a quantidade adequada de quelônios, sendo 1.156 machos e 681 fêmeas de P. sextuberculata,
alimento vai ocorrer uma grande heterogeneidade no tamanho dos 2
uma razão sexual de 1,697:1 ( = 128,2743; G.L.=1; p<0,001). Com
animais do plantel. Uns crescem muito e outros não crescem nada. base nesses dados, podemos inferir que a proporção sexual dos
Se esses animais são mantidos juntos, a tendência é aumentar essa indivíduos de P. sextuberculata capturados pela pesca ilegal é
diferença. Portanto, é adequado que, quando da seleção de animais desviada para machos.
para venda ou para o plantel de reprodutores, se aproveite a ocasião
O mesmo padrão foi observado nas pescarias experimentais,
para selecionar os animais pelo tamanho e colocá-los em tanques
onde foram capturados 248 machos e 84 fêmeas nas redes de cerco,
diferentes. Com isso, passamos a ter maior controle sobre o número 2
isto é, uma razão sexual de 2,952:1 ( = 81,012; G.L.=1; p<0,001). Ao
e o peso dos animais em cada instalação e podemos melhorar o
contrário do padrão encontrado nas capturas com redes de cerco,
controle no fornecimento adequado de alimentos. A Figura 21 nas capturas com redes do tipo capa-saco observamos que a razão
mostra como é o processo de captura de animais para venda e sexual dos animais capturados não difere da razão esperada de 0,5
seleção de lotes por tamanho e plantel reprodutivo. 2
(RS capa-saco = 0,586:1; ( = 3,13; G.L.=1; p>0,05).
O aumento no peso das fêmeas de P. sextuberculata que nidificaram

376 159
na praia do Abufari está correlacionado positivamente com o
incremento do comprimento da carapaça desses indivíduos
2
(R =0,896; N=50; p=0,000; Peso fêmea= - 4704,63+25,76 (Continuação) GASTOS COM RAÇÃO
*comprimento).
CUSTO COM RAÇÃO ANO 02 ANO 01 TOTAL
Também com o emprego de análise discriminante foi possível Nº DE ANIMAIS 3800 4712 8512
confirmar dimorfismo sexual de tamanho com fêmeas maiores para PESO (g) 1100 361 -
P. sextuberculata ( = Wilks' Lambda = 0,56317; F (2,373) =144,66; % BIOMASSA 0,03 0,05 -
p<0,0000; Tabela 13). Tanto a variável comprimento como a variável QUANT. ALIMENTO 125,40 85,05 210,45
peso foram diferentes entre os sexos. A regressão entre o CUSTO UNITÁRIO 1,15 1,15 -
CUSTO TOTAL DIÁRIO 144,21 97,81 242,02
comprimento da carapaça de machos e fêmeas de iaçá e a massa R$ R$ R$
corporal desses animais mostra que o valor da inclinação dessas CUSTO ANUAL 48.454,56 32.864,16 81.318,72
retas parece ser diferente.
CUSTO COM
A temperatura cloacal média de Podocnemis sextuberculata RAÇÃO ANO 03 ANO 02 ANO 01 TOTAL
foi de 29,3ºC (± 0,79ºC). A temperatura cloacal não sofreu influência Nº DE ANIMAIS 3800 4712 4712 13224
da temperatura do meio onde os animais foram capturados (R2 = PESO (g) 2250 1100 361 -
0,085; N= 28; p =0,407). % BIOMASSA 0,01 0,03 0,05 -
QUANT.
Podocnemis unifilis ALIMENTO 85,50 155,50 85,05 326,05
CUSTO UNITARIO 1,15 1,15 1,15 1,15
CUSTO TOTAL
Durante o estudo na Rebio foram marcados 47 tracajás,
DIÁRIO 98,32 178,82 97,81 374,95
sendo 41 fêmeas e 6 machos. O comprimento médio de todos os R$ R$ R$ R$
animais marcados foi de 36,2 cm (±5,4 cm). O comprimento médio CUSTO ANUAL 33.037,20 60.083,65 32.864,16 125.985,01

das fêmeas foi de 37,51 cm (±4,19 cm) e dos machos foi 27,28 cm
(±5,22 cm). A amplitude de tamanhos de machos e fêmeas foi de 14,2 OBS.: Sugerimos que a ração deverá ser ministrada apenas no Ano
cm e 18,9 cm, respectivamente. 01, como única fonte de alimento, sendo nos anos subseqüentes
complementada com outras culturas (macaxeira, folhas de
hortaliças, etc.), devido ao alto custo, para não se tornar inviável a
produção de quelônios.

160 375
b) Cronograma proposto para a evolução do plantel O tamanho médio dos machos capturados com redes de cerco e
capa-saco foi de 25,7 cm (±1,54 N= 4 indivíduos) e dos machos
Exemplo 1: Área alagada de 3,5 ha, considerando-se seleção para apreendidos 30,4 cm (±10,0 cm; N= 2 indivíduos). O comprimento
comercialização no quarto ano (65% dos animais atingiram o peso de médio de fêmeas capturadas nas redes é de 37,7 cm (±5,07 cm; N= 26
abate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do
terceiro ano. indivíduos) e das fêmeas apreendidas 37,2 cm (±2,0 cm; N=15). Com
a mesma técnica que analisamos as diferenças entre machos e
EVOLUÇÃO DO PLANTEL fêmeas de tartarugas e iaçás, também confirmamos as diferenças
ANO ANO ANO ANO ANO
INSTALAÇÃO 01 02 03 04 05 TOTAL
morfométricas entre machos e fêmeas de P. unifilis ( = 40311; F
B ERÇÁRIO 4000 5000 5000 0 0 0 (2,30)=22,211 p< 0,001), tanto para peso como comprimento. A
TANQU E D E regressão entre o comprimento da carapaça de machos e fêmeas de
CRESCIM EN TO 0 3000 4712 4712 0 0 tartarugas e a massa corporal desses animais mostra uma boa
TANQU E D E
ENGORDA 0 0 2400 5552 6361 6361 relação para fêmeas, mas não para machos, possivelmente, pelo
REPRODUÇÃO 0 0 1400 1400 1400 1400 número reduzido de machos para a realização adequada do teste
MORTOS 200 288 288 0 776 (Figura 14). A temperatura cloacal média de Podocnemis unifilis foi
VENDA 0 0 1560 3903 5463 de 29,4ºC (±0,7ºC). A temperatura média da água foi de 29,3ºC
TOTAL GERAL 3800 8512 13224 10104 3122 14000 (±0,3ºC), com uma variação pequena de 1ºC. Não foi constatada a
existência de relação entre a temperatura cloacal de tracajás com a
b.1) Projeção dos gastos com ração para o plantel do exemplo 1, temperatura da água (R²= ,0564; N=18; p=0,342).
considerando-se a taxa de 5% da biomassa para o arraçoamento no
14000
primeiro ano, de 3% do segundo ano e 1% do terceiro em diante.
12000

CUSTO COM RAÇÃO ANO 01


10000
Nº DE ANIMAIS 3800
PESO (g) 361 8000

% BIOMASSA 0,05
6000
QUANT. ALIMENTO 68,59
CUSTO UNITÁRIO 1,15

W eight (g)
4000
CUSTO TOTAL DIÁRIO 79,01
CUSTO ANUAL R$26.547,36 2000

0
0 100 200 300 400 500

Carapace length (mm)

Figura 14. Relação entre o comprimento da carapaça e o peso de


tracajás capturados em Abufari, de 1999-2004.

374 161
( fêmeas: r = 0,9486, p = 0,000; machos: r = 0,6814, p = 0,2053). Para a realização dos levantamentos qualitativos e
Pesca ilegal de quelônios quantitativos das áreas a serem manejadas será usada a
Mesmo com um monitoramento precário e insuficiente da Rebio metodologia determinada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo
Abufari nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2004, período no qual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
estiveram como chefes da UC os senhores Gabriel Marchioro, Renováveis, que definiu o manejo simplificado coletivo para facilitar,
Alexandre Kemenes e Jackson Pantoja Lima, respectivamente foram
como apoio técnico para os criadores de quelônios, observando as
apreendidos 6.406 quelônios em embarcações e acampamentos
dispersos pela floresta inundada, próximo aos maiores afluentes na normas da Vigilância Sanitária da legislação estadual.
Rebio Abufari. Do total de animais apreendidos, 5.647 (88,15%) A amostra-padrão é a de um tanque que apresente um
pertenciam à espécie P. sextuberculata, 635 (9,91%) a espécie P. ambiente de fácil observação e captura. O tamanho amostral vai
expansa e somente 124 (1,94%) pertenciam à espécie P. unifilis. Na depender da área e do plantel a ser explorado, e será variável
Figura 15 observamos a existência de um padrão estritamente
sazonal de apreensões, em 1999, que reflete a variação anual na conforme o tamanho da gleba do produtor (criador) a ser
atividade de pesca ilegal (P. unifilis não aparece na figura devido à inventariada.
baixa presença de indivíduos no total de apreensões). No período de Os animais serão distribuídos em tanques, de maneira a ter
vazante, ou seja, durante a descida das águas, a atividade fácil acesso no momento da captura, para posterior manejo,
clandestina dos pescadores de quelônios na Rebio Abufari se
intensifica. Em 2004, justamente em agosto, em um único análises e emplacamentos, sendo respeitados a quantidade para
acampamento, foram apreendidos 2.086 quelônios em currais de cada lote e o tipo de procedimento aplicado.
madeira na água (Figura 16). Deste montante, 2.020 animais Para a medição das amostras, será feita a captura no local de
pertenciam à espécie P. sextuberculata. criação, onde serão definidas as porcentagens de animais
distribuídos para os tanques, de acordo com a idade, peso, altura,
largura e comprimento para cada espécie.
Paralelamente, o modelo de projeto e inventário deverá realizar
observações quanto à maturação sexual dos animais, merecendo
especial atenção às espécies mais requisitadas no mercado
consumidor, para um melhor controle na reprodução e manutenção
do estoque natural. O material não identificado no local da captura
será coletado e posteriormente identificado em estudos de
laboratório.

162 373
alimentados, 50-65% dos animais atingiriam ou superariam esse
peso); seleção de 10% dos animais, acima de quatro anos, para
reprodutores e matrizes (em geral, os animais maiores são separados
e marcados com plaqueta metálica e rebite). 4000 2500

3500
2000
3000

Cota média mensal (cm)


Número de quelônios
2500
1500

2000

1000
1500

1000
500
500

0 0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

P. expansa P. sextuberculata Nível do rio

Figura 15. Padrão de exploração ilegal de quelônios na Rebio Abufari,


em 1999.

Figura 20: Evolução do plantel.

No que diz respeito à atividade de criação de quelônios, os


problemas começam no momento do planejamento, pois é realizada
sem critérios ou acompanhamento técnico, e sem a determinação de
um calendário prévio, que acaba por resultar em desperdícios de
recursos, tempo e sobrecarga dos órgãos licenciadores.
Nos criadouros, mesmo depois de implantados, deverão ser
realizados trabalhos de inventários para determinar qualitativa e
quantitativamente a viabilidade técnica e econômica, o potencial de
produção nos criadouros de quelônios para a certificação e posterior Figura 16. Apreensão de 2.086 quelônios (esquerda) em currais de
madeira (direita) no paraná do Chapéu, em agosto de 2004. (Fotos:
comercialização racional dos produtos in natura e beneficiados, Jackson Pantoja Lima).
agregando valores.

a) Metodologia para o monitoramento do plantel

372 163
Movimentos migratórios
d) MARCAÇÃO, BIOMETRIA E CAPTURA DOS ANIMAIS
Durante o período de seca, grandes aglomerações de
tartarugas e iaçás são observadas na frente da praia do Abufari. Os Os animais acima de três anos, selecionados para
animais concentram-se em alguns locais mais profundos da calha reprodutores e matrizes, receberão uma plaqueta metálica na
do Purus, naquele trecho, denominados boiadouros. Alguns animais carapaça constando as iniciais do proprietário, o número de registro
também são avistados boiando em trechos a montante e a jusante da do criadouro, no Ibama, e o número do animal. A plaqueta será
praia (praia do Camaleão e praia do Bem-te-vi, respectivamente), presa por arrebites nas escamas caudais da carapaça.
dentro de um trecho de rio de 15 a 20 km. Baseado no padrão do ciclo Animais para venda receberão o lacre plástico específico,
de atividade de pesca ilegal e apreensão, assim como da natureza fornecido pelo Ibama, mediante solicitação do produtor, com pelo
dos artefatos de pesca utilizados nessa atividade, nos depoimentos menos um mês de antecedência. Hoje, o lacre custa R$1,10 a
colhidos durante esses anos e do nosso esforço de captura (que unidade (aproximadamente, U$0,35).
consideramos o ponto mais fraco da pesquisa até agora, pelo esforço
As biometrias serão realizadas bimestralmente em animais
de captura desigual tanto espacialmente quanto temporalmente),
até um ano, e semestral ou anualmente nos demais animais.
propomos a categorização do padrão sazonal de movimentos de Para a biometria os animais dos berçários serão capturados
quelônios aquáticos na Rebio Abufari da seguinte maneira: com puçás ou com malhadeira. Os animais da represa serão
1 – No início da vazante, os quelônios adultos movimentam-se em capturados com malhadeira após o seu esvaziamento, bem como
direção ao canal principal, deixando a planície de inundação, pelos construiremos uma “manga de cerca” (espécie de labirinto com
afluentes do rio Purus, como o rio Abufari e paraná do Chapéu, estacas ou tela) em alguns pontos da cerca, de forma que, ao
ambos conhecidos como principais rotas migratórias dos quelônios esvaziarmos a represa, caso os animais tentem fugir durante a noite,
do Abufari. Acompanhando o pulso de vazante do próprio ciclo acabam ficando presos nesse artifício.
hidrológico, animais adultos, principalmente indivíduos de P.
9.4.4 EVOLUÇÃO DO PLANTEL
expansa e P. sextuberculata, e em menor escala, P. unifilis, descem
para a calha principal e lá permanecem em locais mais profundos, Para efeito de planejamento do plantel, em um prazo de 5
aguardando a emersão dos bancos de areia que formarão as grandes anos, consideramos os seguintes aspectos: mortalidade em torno de
praias fluviais. 5% dos animais, no primeiro ano; comercialização de animais acima
de 1,5 kg (considera-se que a partir do terceiro ano, quando bem
2 – No final da vazante e durante o período em que o rio atinge seu
nível mais baixo, milhares de quelônios desovam no tabuleiro do
Abufari. Após a desova, os animais permanecem na calha principal e
aguardam a enchente para retornar para os locais de alimentação
nas restingas e chavascais, nas planícies de inundação.

164 371
A renovação de água na represa será feita conforme o fluxo de 3 – Migrações do rio para lagos e floresta inundada (Figura 29).
água do igarapé e a vazão do excedente por tubos de PVC de 4 Durante a enchente, os indivíduos que se encontravam no rio Purus,
polegadas ou monge situados na barragem. Para evitar que a água principalmente tartarugas e iaçás, migram em direção aos lagos do
se suje rapidamente os excedentes de alimento nos cochos serão complexo do rio Abufari (pontos 6 e 9) e lagos da região do Chapéu
(p1-lago do Ati, p2 – lago Comprido, p3 – lago Sacopema), através dos
removidos, diariamente, por volta das 17h.
paranás e também pela planície de inundação da Rebio, pois
Para evitar a fuga dos animais da represa serão construídas durante a enchente ela pode alcançar cerca de 30 a 40 quilômetros
cercas de estacas de madeira, com 50 cm acima do nível do solo. de largura. Uma proporção, provavelmente, sai dos limites da Rebio
Essas cercas não possuirão cantos (cantos arredondados) e terão os deslocando-se a montante e a jusante. Nessas áreas alagadas os
quelônios permanecem alimentando-se até o período de vazante e
mourões colocados pelo lado de fora. O controle de predadores na
seca para, então, reiniciarem os movimentos que antecedem a
represa será feito por um tratador que deverá residir próximo às
desova em um novo ciclo anual.
instalações, e poderá vigiar a criação dia e noite, evitando não só o
ataque de aves, jacarés e alguns mamíferos, mas o furto de animais. Os canais anteriormente mencionados são apontados por
Além disso, deve-se construir uma cerca de arame farpado de 1,80 moradores da região como as principais rotas migratórias dos
m ao redor de todo o criatório o que deverá dificultar ainda mais o quelônios da Rebio, e nelas, a pressão de pesca concentra-se
justamente durante o período de vazante. Nesses locais, o Ibama
furto. No caso específico de aves nos berçários (gaviões, garças etc.),
apreende anualmente grande quantidade de quelônios, como já
deve-se colocar uma rede ou fios de náilon para evitar o pouso de
demonstrado. O padrão de pesca ilegal, tanto em escala espacial
predadores no local.
como temporal, corrobora o modelo proposto.
c) PROFILAXIA E TRATAMENTO
A captura de grande quantidade de fêmeas adultas nos
Os berçários e a represa serão vistoriados diariamente em boiadouros, realizada entre os meses de novembro e dezembro, em
anos distintos, já no final da época de eclosão e emergência dos
busca de animais doentes ou mortos. Animais doentes serão
filhotes, comprova que as fêmeas permanecem próximas aos locais
isolados e submetidos à tratamento veterinário; animais
de reprodução, por vários meses, após desovarem. Nesse período, os
encontrados mortos serão necropsiados, imediatamente, pelo
canais de drenagem encontram-se ainda com nível bastante baixo e
técnico responsável. Não sendo possível, o animal será guardado em os lagos total ou parcialmente isolados. Constatamos esse período
freezer para posterior análise. de ausência de deslocamentos significativos em todos os anos
estudados, o que indica claramente a existência de um padrão.
A renovação da água dos berçários e da represa, o o
No lago Comprido (ponto 2- S5 18'01''/ W62 58'55''), nas coletas
periodicamente, também consiste em uma medida profilática para realizadas em novembro de 2001, período de enchente no rio
evitar o acúmulo de sujeira e a proliferação de microorganismos que principal, mas ainda de águas baixas nos lagos da região do Chapéu,
possam adquirir caráter patogênico. foram encontrados indivíduos jovens de Podocnemis expansa e
Podocnemis sextuberculata e adultos de Podocnemis unifilis (Figura
17).

370 165
Com base no esforço de captura foi possível observar que farpado ou tela de alambrado, para evitar predadores e furto de
tartarugas e iaçás marcados, que estavam migrando da planície de animais.
inundação da região do Chapéu, em agosto de 2004, foram 9.4.2 ANIMAIS: quantidade e aquisição
capturados por contrabandistas e depois apreendidos por fiscais do
Utiliza-se como base de cálculo um total de 4.000 animais
Ibama.
por hectare de espelho d'água, considerando-se a somatória das
áreas alagadas que, efetivamente, serão utilizadas na propriedade
para criar quelônios: lago ou barragem de reprodução (1,0-2,5 ha),
mais o tanque ou açude de crescimento e engorda (berçário II) e o
berçário I. O projeto deverá prever um total de 12.000 animais, para
3 ha de área alagada, a serem doados pelo Ibama em lotes anuais de
4.000 indivíduos, sempre que houver disponibilidade.

9.4.3 MANEJO

a) ALIMENTAÇÃO

A alimentação será fornecida a cada 24h, no horário entre 9 e


10 horas da manhã, em vista do metabolismo dos animais ser
favorecido nas horas mais quentes, aumentando sua eficiência
digestiva. O alimento será fornecido em cocho submerso a 50 cm do
nível da água, tendo por base de consumo 5% da biomassa total de
quelônios, para indivíduos até um ano, e de 3% da biomassa para
indivíduos acima de um ano.
Figura 17. Mapa resumido das possíveis rotas migratórias de quelônios
O tipo de alimentação fornecida será ração, vísceras e sangue
na Rebio Abufari (1 – lago do Ati; 2 – lago Comprido; 3 – lago Sacopema;
4 – lago Macapá; 5 – igarapé e lago do Tauamirim; 6 – lago do Almoço; 7 – coagulado de frango, suínos e bovinos, pescado moído, verduras e
praia; 8 – paraná do Panelão; 9 – rio Abufari; 10 – lago Pupunha; setas frutas (resto de feiras) e macaxeira e milho (é interessante que seja
contínuas – movimentos migratórios durante a enchente; setas feito um roçado só para atender à criação). O alimento dependerá da
pontilhadas – movimentos migratórios durante a vazante dos rios). disponibilidade na propriedade e do custo.

b) RENOVAÇÃO DA ÁGUA, CONTROLE DE FUGA E DE


PREDADORES

166 369
terra firme similar à dos criadouros de Manaus) e do Abufari (clima Com o registro de apreensões de animais marcados no canal
similar aos dos criadouros de Manacapuru, margem do rio Solimões, do igarapé do Chapéu e rio Abufari e também próximo à comunidade
onde deságua o rio Purus). Beabá, podemos inferir que a migração durante o ciclo anual pode
atingir 100 km ou mais de extensão. Temos, ainda, depoimentos
9.4 Roteiro básico para o planejamento do manejo em indicando que pelo menos uma tartaruga marcada na Rebio (com
criadouros de quelônios furos codificados nas escamas marginais e etiquetas plásticas) foi
9.4.1 DESCRIÇÃO DA ÁREA E INSTALAÇÕES: capturada próximo à sede do município de Canutama, situada no
médio rio Purus (rio acima), cerca de 550 km de distância, via fluvial,
A área destinada à criação de quelônios deverá ser da Rebio Abufari. Nessa área, há um pequeno tabuleiro, onde, em
apresentada ao Ibama em croqui ou planta detalhada do criadouro. 1998, nidificaram cerca de 10 tartarugas. Também desovam
Recomenda-se que a propriedade possua um lago ou barragem de 1 anualmente no local entre 100 e 200 tracajás e iaçás.
a 2,5 ha, que será destinado a receber os animais após os dois anos,
matrizes e reprodutores. Essa área alagada poderá ser alimentada No Purus, observamos em mais de uma estação reprodutiva
por um igarapé com vazão média de 2 l/s, em área cercada por que tanto a tartaruga quanto o tracajá e o iaçá começaram a desovar
floresta equatorial de terra firme, mata de capoeira ou pastagens. As bem antes de o nível do rio atingir a sua cota mínima. Em outros
bordas da represa deverão ser inclinadas, em sua maior parte, com anos, quando as águas do Purus baixaram ainda mais lentamente, e
declives de até 30%. O tipo de solo ideal é o latossolo para reduzir o as praias não emergiram a tempo, as tartarugas nidificaram em
problema de perda de massa líquida, por infiltração, sendo que áreas de barranco, onde o solo é diferente do que ocorre nas alvas
poderá haver, próximo à barragem, manchas de podzóis com faixas praias de areia preferidas por essa espécie. Também houve anos em
de terreno arenoso que poderá ser utilizado para a formação de uma que as fêmeas das três espécies iniciaram a desova com o grande
praia artificial para desova. tabuleiro completamente exposto, pois o rio secou rapidamente.
Do ponto de vista de maximização das chances de sobrevivência dos
O berçário I para receber os filhotes de tartaruga doados pelo ninhos, as fêmeas esperarem o rio baixar completamente não faz
2
Ibama deverá medir aproximadamente de 60 a 100 m , para lotes de muito sentido, pois com isso, resta menos tempo para que os
4.000 animais. A cerca do berçário será de aproximadamente 50 cm embriões completem seu desenvolvimento, eclodam e abandonem o
de altura, feita em tela ondulada com malha de meia polegada, fio nº ninho antes que a subida das águas os atinja. Seguindo esse
12 ou com estacas de madeira. Recomenda-se que os animais no raciocínio, quanto antes desovarem, melhor, pois isso minimiza as
segundo ano de vida sejam transferidos para um segundo berçário, chances de que o ninho seja alagado pelo repiquete. As fêmeas
2
com 500 a 1.000 m para lotes de 4.000 animais, cercado por campos também necessitam, entretanto, de um tempo determinado para
de puerária, gramíneas nativas ou implantadas, capoeira, mata e que os ovos fecundados se desenvolvam completamente para que
fruteiras. Essa área receberá uma cerca de 1,80 m de altura total, possam ser depositados em uma cova. No ano em que as águas
com metade em estacas de madeira (0,5 m) e o restante com arame

368 167
baixam muito cedo, pode ser que a maior parte da população de
fêmeas da praia ainda não esteja completamente pronta para
desovar. Esse pode ter sido, na verdade, o caso particular observado,
naquele ano, por Alho e Pádua (1982). Além disso, se os animais
esperam o rio atingir sua cota mínima têm que percorrer uma
distância bem maior (no caso do Abufari, isso pode significar até 500
metros a mais), expondo-se aos predadores.

A alta densidade de quelônios foi o motivo que levou o então


IBDF, hoje Ibama, a enviar o biólogo Glênio Bruck de Andrade ao rio
Purus, em novembro de 1980, para fazer o levantamento da
potencialidade biológica da então Rebio Abufari (Andrade, 1981).
Segundo relatos dos moradores locais da Rebio, a densidade de
quelônios no rio Purus era muito superior à que observamos hoje, e
não era concentrada somente nessa praia, mas em várias outras, Figura 19: Comparação de ganho diário em peso (g/dia) de três
tanto a jusante como a montante. No entanto, o que se tem nos diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa,
registros do IBDF até 1980 é uma produção de cerca de 80 mil 1999).
filhotes de quelônios, por ano, somando as áreas do rio Purus e Apesar de não haver diferenças significativas (teste t não
Juruá. Esse fato parece ser verdadeiro, uma vez que Rebêlo (1985) pareado, 5%), é possível observar que os animais provenientes de
registrou a produção de filhotes de tartaruga no Abufari em
Uatumã apresentam melhor crescimento e ganho de peso em relação
aproximadamente 40 mil no ano de 1984.
às outras populações no primeiro ano, porém, os animais do Abufari
Podemos concluir que a produção anual aumentou daquele os superam em desempenho dos 12 aos 16 meses, embora animais
período para a década de 1990 e para o início deste século. Saracura do Uatumã mantenham maiores incrementos em peso. Contudo,
(1995) comenta que a produção de filhotes nos tabuleiros do mantém-se a tendência de animais do Purus apresentar crescimento
Abufari, em média, é de 330.000 filhotes de quelônios por ano. Essa maior em relação aos animais de Rio Branco.
informação parece ser aproximada quando somamos a produção
das 3 espécies (Tabela 1). Sugere-se que o Ibama e os criadores procurem trabalhar
com filhotes de tabuleiros próximos à região do criadouro,
No caso do Abufari a razão sexual dos filhotes de tartarugas e fomentando o trabalho de proteção nesses lugares (apoio aos
iaçás foi desviada para fêmeas, o que pode não ser um bom reflexo do comunitários do local, criação de infra-estrutura básica,
que acontece em outras praias do Purus, pois o tabuleiro do Abufari alternativas de desenvolvimento com geração de renda, etc.).
é uma das praias mais altas da região, podendo atingir um máximo Provavelmente, animais mais adaptados ao clima local tenham
superior a dez metros em anos de seca forte. Raeder
melhor desempenho, como é o caso de animais do Uatumã (área de

168 365
Através das figuras podemos observar que os animais (2003) demonstrou que em praias mais altas o período de
provenientes de Uatumã apresentaram uma ligeira tendência a um incubação é mais curto, indicando temperaturas mais elevadas. O
melhor crescimento e ganho de peso em relação às outras mesmo fator pode significar maior produção de fêmeas em praias
populações, porém, os animais do Abufari apresentam crescimento altas.
maior em relação aos animais de Rio Branco, o que confirma os
A variação na altura, entretanto, não explicou a variação entre
dados dos criadores que apresentaram resultados semelhantes nos
os ninhos em uma mesma praia, o que pode significar a existência
primeiros 12 meses de vida.
de um padrão realmente bem definido de desova nos locais mais
As Figuras 18 e 19 demonstram a comparação de altos, com pouca variação entre as fêmeas que utilizam uma mesma
crescimento de comprimento de carapaça (mm) e ganho diário de praia.
peso (g/dia) das três populações até os 16 meses de vida. Em P. expansa, a profundidade do ninho influenciou
negativamente na razão sexual, ou seja, maiores profundidades
produzindo uma baixa razão sexual, o que quer dizer uma maior
produção de fêmeas. Possivelmente, em maiores profundidades, a
Comparação de comprimento da carapaça (mm) de tartaruga
provenientes de diferentes populações temperatura seja mais elevada ou então se mantenha mais
constante, não sofrendo diretamente com as mudanças do ciclo
180 diário (noite e dia). Por outro lado, ninhos mais superficiais
160
deveriam estar experimentando temperaturas de incubação mais
140
120
elevadas, pelo menos durante as horas mais quentes do dia. Outra
Ccp (mm)

100 possibilidade é que o calor gerado pela grande quantidade de ninhos


80 que, na prática, formam um grande aglomerado de ovos, pode gerar
60
uma quantidade de calor metabólico que mascara o efeito da
40
Abufari temperatura. O monitoramento com coletores remotos de dados de
20
0 Rio Branco temperatura (data-loggers) em locais distintos, tanto na superfície
0 2 4 6 12 16
Uatumã quanto junto aos ovos, e também entre ninhos isolados e no centro
Idade (meses) do tabuleiro, seriam necessários para elucidar essa questão.

Figura 18: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de três A posição dos ninhos de quelônios aquáticos é fator crítico
diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa, para o seu sucesso quanto às principais causas de perda, a saber:
1999).
predação e alagamento. Ninhos de quelônios amazônicos são alvos
de diversas espécies de animais, incluindo insetos, répteis, aves e
mamíferos (Soini, 1995, Batistella, 2003, Félix-Silva et al., 2003).

Em anos que o nível do rio desce de forma lenta,


geralmente observamos no Abufari a formação de umúnico

364 169
tabuleiro, o que aumenta a perda por reescavação. Não se tem ao
certo um valor da quantidade de ovos de tartarugas que são perdidos Comprimento da carapaça (mm)
dessa forma, a cada ano, pois após dias e dias de desovas em grupo o
200
que temos nos tabuleiros são grandes aglomerados de ovos em que
150

Ccp (mm)
não há mais como individualizar os ninhos. Isso inviabiliza,
100
inclusive, a possibilidade de determinarmos com precisão o número
50 Abufari
de fêmeas de tartarugas que desovam nos grandes tabuleiros.
0 Rio
Também não podemos contar simplesmente os ovos que são
0 2 4 6 12 Branco
arrancados pois, certamente, muitos são danificados e rompidos, Uatumã
permanecendo enterrados. O material apodrecido no interior de um Idade ( m eses )

ninho atingido pode provocar a perda de ovos nesse ninho e em Figura 16: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de três
ninhos adjacentes. diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa &
Andrade, 1999).
Embora esse comportamento pareça ser desfavorável em
termos de produção de filhotes, seu significado adaptativo pode
Peso ( g )
estar relacionado com dois outros fatores: primeiro, após alguns
dias de intensa atividade escavatória, a areia do tabuleiro fica
800
completamente descompactada, facilitando a escavação e,
600
potencialmente, diminuindo o tempo de postura. Essa possibilidade

Peso (g)
poderia ser testada quantificando-se as durações das posturas em 400 Abufari

dias distintos, ao longo do período de posturas. Outro possível 200 Rio


componente adaptativo do comportamento de desova em grandes Branco
0 Uatumã
grupos relaciona-se com a hipótese de saciedade do predador. A 0 2 4 6 12

oferta de centenas de milhares de presas, tanto na forma de fêmeas Idade ( m eses )


adultas quanto de ovos e, posteriormente, filhotes, reduzem suas
Figura 17: Comparação de peso (g) de três diferentes populações de
probabilidades individuais de predação se essa oferta for tartaruga (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa & Andrade, 1999).
extremamente concentrada tanto espacialmente quanto
temporalmente.

Atualmente, no rio Purus existem dois grandes tabuleiros de desova


de quelônios. Um está situado no médio rio Purus, no município de
Canutama, na Reserva Ecológica do Jamanduá, onde desovam 350
tartarugas, 100 tracajás e 3.500 iaçás. O outro é no próprio Abufari.

170 363
Com relação à Podocnemis expansa, considerando o L50 como
medida base para distinguir uma população de fêmeas adultas de
uma população de fêmeas imaturas, podemos dizer que, do total de
indivíduos observados, 25,8% da população são fêmeas adultas. Se
considerarmos o tamanho da menor fêmea marcada na praia,
desovando, podemos concluir que 66,2% das fêmeas capturadas
estavam maturas.

No caso de Podocnemis sextuberculata, se também utilizarmos


o tamanho das fêmeas como indicador do tamanho médio da
população adulta, podemos dizer que, utilizando o L50 como medida-
base, temos no Abufari 17,9% da população composta por fêmeas
Figura 15; Ganho de peso (g) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas em adultas. No entanto, se considerarmos o tamanho da menor fêmea
cativeiro no estado do Amazonas, provenientes de duas populações (Costa & marcada no estudo, podemos afirmar que 42,02% das fêmeas
Andrade, 1999). capturadas são fêmeas maturas. Segundo Shine & Iverson (1995), o
padrão de maturidade sexual é de cerca de 70% do comprimento
Um experimento foi realizado na Fazenda Experimental da
máximo da carapaça. No nosso estudo, o comprimento estimado
Universidade do Amazonas, onde foram utilizados 350 filhotes de
para a maturidade de tartaruga corresponde a 66%, se utilizarmos o
tartaruga (Podocnemis expansa) que foram alojados em um curral
2
tamanho da menor fêmea de tartaruga capturada na praia do
de estacas de 16 m , provenientes de três locais: Rio Purus, Reserva Abufari, e 90,2% se utilizarmos o valor do L50, onde, 50% das fêmeas
Biológica do Abufari-Tapauá/AM; Rio Branco-RR; Rio Uatumã- com esse comprimento podem estar maduras ou não.
Balbina/AM. Com este estudo pôde-se fazer uma comparação, sob
as mesmas condições experimentais, do crescimento e ganho de Segundo Gibbons (1990), a razão sexual desviada para
peso de animais originados de três diferentes populações, criadas fêmeas pode estar associada às aglomerações da espécie nas
em cativeiro, verificando-se que os resultados obtidos em campo, proximidades das áreas de nidificação. Essa hipótese é plausível se
nos criadouros se repetiam. observamos novamente a Figura 21, em que a maior proporção
capturada foi de fêmeas, para as três espécies, exceto quando
As Figuras 16 e 17 demonstram a comparação de utilizamos a rede de cerco para a captura de iaçás que, ao contrário
crescimento de comprimento de carapaça (mm), peso (g) e ganho de das outras, mostrou uma maior captura de machos do que de
peso (g) das três populações. Não houve diferença significativa entre fêmeas. Esse efeito das aglomerações de fêmeas na praia pode ser
o desempenho das tartarugas de diferentes populações. excluído quando analisamos a razão sexual dos indivíduos
capturados pela pesca ilegal, quando os animais estão migrando dos
lagos para o rio Purus. Nesse período de vazante, com base nos dados
de animais apreendidos, foi observada uma maior proporção de

362 171
fêmeas, tanto para tracajá como para a tartaruga, e uma maior
proporção de machos para iaçá. Portanto, tanto os resultados da
análise da proporção de sexos na pesca experimental quanto das
apreensões estão de acordo. São diversos os fatores que podem
influenciar nesse resultado, como a taxa de mortalidade natural
diferenciada e também o impacto da pesca ilegal.

A pesquisa desse grupo no Abufari iniciou-se em junho de


1998, com uma visita inicial do coordenador, que acompanhou as
atividades de fiscalização do Ibama, na época, coordenadas pelo
então chefe da Rebio, sr. Agenor Vicente da Silva. Foram percorridos
os principais canais de drenagem do complexo de lagos localizado
na margem esquerda do rio Purus. Esses canais são o do Abufari, do
Figura 13: Comprimento de carapaça (mm) de tartarugas (Podocnemis
Chapéu e do Panelão. Nessa época, ocorre a migração de animais expansa) criadas em cativeiro no estado do Amazonas, provenientes de duas
adultos para a calha principal onde, em breve, estarão expostas as populações (Costa & Andrade, 1999).
grandes praias fluviais utilizadas para a reprodução por quelônios
aquáticos. Descem principalmente tartarugas e iaçás, ao passo que
os tracajás apresentam comportamento mais diversificado,
desovando em ambientes variados que vão desde as praias arenosas
até os barrancos e folhiços.

Nesse período, pescadores clandestinos estão instalando


grandes capa-sacos para a captura dos animais que descem. Em
junho de 1998, o Ibama realizou três apreensões de animais e de
equipamentos, todas vinculadas à atividade. Nas duas primeiras
foram detectados e retirados os capa-sacos instalados com o
auxílio de poitas (âncoras de ferro com ganchos que se prendem
na corda superior do capa-saco submerso), exatamente nos
canais apontados por moradores da região como as principais
rotas de migração dos animais que desovam na praia do Abufari. Figura 14: Peso (g) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas em cativeiro
Numa dessas situações, no canal do Abufari, em cuja foz fica a no estado do Amazonas, provenientes de duas populações (Costa & Andrade,
1999).
base flutuante do Ibama, além dos vários animais retirados dos
próprios apetrechos também foram encontrados acampamentos

172 361
Tabela 7: Comparação entre o comprimento da carapaça (mm), peso com cerca de 350 animais mantidos em sacos e currais. Os
(g) e ganho diário de peso (g/dia) de duas populações diferentes de tartaruga pescadores são, em sua maioria, provenientes de Manacapuru,
em cativeiro (Abufari e Rio Branco). (Costa & Andrade, 1999). comprovando a forte pressão de pesca ilegal associada aos
movimentos migratórios que antecedem o início do período
C o m prim en to d a carapaç a (m m )
Po p 0 4 6 8 10 12 reprodutivo.
A bufa 5 6 ,7 6 6 ,1 ±5 6 7 ,2 ±5 7 8 ,7 ±7 8 5 ,0 8 9 ,4
ri ±2 ,5 ,2 ±9 ,1 ±1 1 ,4 Desde 1998 nossas atividades concentram-se
R io 5 2 ,7 6 9 ,8 7 4 ,9 6 8 ,9 8 6 ,9 9 2 ,2
B ran ±2 ,5 ±4 ,9 ±6 ,6 ±4 ,8 ±7 ,2 ±8 ,6
principalmente no período reprodutivo e num esforço concentrado
co na captura, biometria, marcação e soltura de tartarugas, iaçás e
Peso (g)
Po p 0 4 6 8 10 12
tracajás nas praias (após a desova), assim como nos boiadouros.
A bufa 3 4 ,5 4 9 ,2 9 0 ,5 ± 8 3 ,7 ± 1 1 0 ,2 ± 1 4 1 ,6 Dependendo do recurso disponível, também investimos na captura
ri ±4 .6 ±1 0 ,1 1 8 ,7 1 9 ,3 3 9 ,1 5 ±5 3 ,.4 de adultos, em outras épocas.
R io 2 4 ,6 4 5 ,6 7 1 ,5 6 3 ,8 8 6 ,9 8 1 0 8 ,4 ±
B ran ±2 ,4 ±7 ,3 ±1 4 ,7 ±8 ,3 ± 2 2 ,2 2 4 ,9
co Pudemos também contar com depoimentos de antigos
G an h o d e peso (g/d ia). moradores, nascidos na região e que continuam ali morando com
Po p 0 4 6 8 10 12 suas famílias, filhos e netos. Um deles, o sr. Julinho, morador da
A bufa 0 ,1 7 2 0 ,1 8 0 ,3 7 0 ,4 7 0 ,.4 8 comunidade do Bem-Te-Vi, já trabalhou na praia como vigia durante
ri
R io 0 ,0 8 4 0 .1 9 0 ,0 4 0 ,1 0 9 0 ,5 3
doze anos, no período em que ela era de propriedade do seringalista
B ran c Abdom Said. Esse chefe local não permitia que se interferisse na
o
desova dos animais, mantendo proteção ostensiva e, eventualmente,
As Figuras de 13 a 15 mostram a comparação de duas comercializando certa quantidade de fêmeas adultas com os
batelões aviadores. Julinho conta que, após o fim da atividade
populações de tartarugas (Podocnemis expansa) de 0 a 12 meses em
seringueira, a proteção do grande tabuleiro do Abufari passou a ser
que os animais provenientes do Abufari demonstram em geral
realizada pela comunidade que levava o mesmo nome, situada no
valores maiores de peso e ganho de peso em relação aos animais
canal de drenagem de lagos internos, em frente à parte superior do
provenientes de Rio Branco-RR, sendo que os de Rio Branco têm
banco de areia e que também recebia este nome, Abufari. A
maior carapaça. Isso indica, provavelmente, maior rendimento de
comunidade foi retirada na ocasião da criação da unidade de
carcaça dos animais provenientes do Abufari.
conservação.

Em várias ocasiões, enquanto nos recebeu em sua casa, na


comunidade Bem-Te-Vi, assim como nas ocasiões em que nos
ajudou durante estudo realizado com os peixes predadores, o sr.
Julinho nos contou sobre as extensas áreas alagadas ao redor do
lago do Lira (ou do Ira), apontado como o “coração da reserva”. Outro
depoimento importante sobre o comportamento dos quelônios

360 173
aquáticos, nesse trecho do Purus, nos foi dado por um ex-morador 9.3.2 Avaliação do desempenho em função da população de
da comunidade Abufari, extinta com a criação da Rebio, como já origem do plantel
dito, o sr. Dudu Mangabeira, morador da atual comunidade
Fazenda. O sr. Dudu chegou a esboçar, em um desenho, um mapa
Os primeiros criadores de quelônios do Amazonas
cognitivo com a rota migratória realizada anualmente pelos
recebiam filhotes de tartaruga oriundos do tabuleiro do Abufari,
quelônios aquáticos para dentro e para fora do sistema de lagos,
utilizando os três canais principais também já mencionados. Médio rio Purus. Em 1999, essa prática foi abolida pela Câmara
Multiinstitucional de Fauna, do Ibama-AM, justamente por
Existem evidências consistentes de que pelo menos P. estar, aquele tabuleiro, em área de reserva biológica e que,
expansa é capaz de realizar longas migrações após a desova. O mais portanto, pela lei, deveria ficar intocado. Então, os
provável é que tenhamos uma boa parcela dessa população queloniocultores do estado passaram a receber filhotes do rio
migrando para o sistema de lagos que se encontram dentro dos Juruá (tabuleiros do Walter Buri, Joanico) e do rio Branco
limites da Rebio Abufari, e outra que migre pelo Purus a jusante e (afluente do rio Negro), dos tabuleiros de Sororoca, Caracaraí,
ainda outra que sobe rio acima. Sobre o caso acima relatado, de um Roraima, sendo transportados de avião e caminhão.
animal marcado na Rebio e recapturado em Canutama, centenas de
quilômetros a montante, e considerando que marcamos animais Já a partir de janeiro de 1998, os criadores
desde 1999 e a extensão percorrida, podemos levantar a acompanhados pelo projeto Diagnóstico receberam animais
possibilidade da existência de fluxos de dispersão não provenientes de Rio Branco-RR, o que nos permitiu avaliá-los
necessariamente relacionados com o pulso anual de migração entre confrontando com os dados de animais recebidos anteriormente
áreas de reprodução e alimentação, acima descritas. Uma parcela (novembro de 1997), provenientes da Reserva Biológica do
da população pode estar simplesmente se dispersando. Abufari, município de Tapauá-AM. A Tabela 7 compara os
valores de comprimento de carapaça (mm), peso (g) e ganho
Considerações gerais
diário de peso (g/dia) das duas populações de tartarugas criadas
É fundamental que se continue a monitorar anualmente os em cativeiros.
tabuleiros. Em primeiro lugar, a variação climática anual pode
provocar, como já discutido, profundas mudanças nas taxas de
sobrevivência, na razão sexual dos filhotes e na proporção de ninhos
atingida pelo repiquete do rio. A continuação desse trabalho
possibilitará uma melhor compreensão desses fenômenos, suas
variações anuais e a potencialidade dos diversos fatores
influenciando a reprodução dos quelônios amazônicos. Além disso,
como avaliação do status populacional, a continuidade das atividades
permitirá que analisemos as tendências das populações.

174 359
Agradecimentos
Ganho diário de peso ( g )

Agradecemos ao Conselho Nacional de Pesquisas Científicas


0,7 e Tecnológicas/Programa do Trópico Úmido (Proc. 469940-00) e ao
0,6 Banco da Amazônia pelo suporte logístico para a realização deste
0,5
trabalho. Agradecemos também ao Doutor Luiz Alberto dos Santos
GDP ( G )

0,4
Monjeló, coordenador do Projeto de Diagnóstico da Criação de
0,3
Animais Silvestres. Somos muito gratos ao Ibama pelo apoio
0,2
logístico e de licenciamento da pesquisa. Agradecemos ao senhor
0,1
Júlio Ferreira e seus filhos, pelo suporte em campo.
0 Tartaruga
4 6 14
Tracajá
Idade ( meses )
Iaçá

Figura 11: Comparação de ganho diário de peso (g/dia) de três


diferentes espécies de quelônios, criadas em cativeiro (Costa, 1999).

Ganho de peso em percentagem do peso vivo

0,6

0,5

0,4
GDP % PV ( g )

0,3

0,2

0,1

0
4 6 14 Tartaruga
Tracajá
Idade ( meses ) Iaçá

Figura 12: Comparação de ganho diário de peso em percentual do peso


vivo (%) de três diferentes espécies de quelônios, criadas em cativeiro (Costa,
1999).

358 175
A conversão alimentar verificada na Tabela 6 para tartaruga,
Capítulo 5:Genética Molecular das Populações
provavelmente, ocorreu em condições de dificuldade em adquirir o
das Espécies de Quelônios do Gênero tipo de alimento, a mudança ou diminuição da quantidade de
Podocnemis da Amazônia: Resultados alimentação fornecida, a falta de solários, ou de um número
Preliminares pequeno, para os animais exporem-se ao sol, em função do número
de animais na instalação, a falta de acompanhamento técnico em
alguns criadouros durante a realização deste trabalho, o horário
Maria das Neves Silva Viana
inapropriado de fornecimento da alimentação, para aproveitar o
Izeni Pires Farias
horário de 10:00 às 15:00 horas, a variação no tipo de alimentação,
2
Rafaela Cardoso dos Santos consórcio com peixes, o efeito do El Niño, etc.
Maria Iracilda Sampaio
2
Para avaliar o desempenho de três diferentes espécies de
Luiz Alberto dos Santos Monjeló
quelônios: tartaruga, tracajá e iaçá, criadas em cativeiro, foram
realizadas biometrias bimestrais de 360 animais entre 4 e 14 meses
INTRODUÇÃO de idade, alojados em gaiolas experimentais tipo tanque-rede, de um
metro cúbico, com densidade de 25 animais/baia.
Os quelônios são os mais antigos répteis existentes.
Surgiram na era dos répteis, há milhões de anos, sendo de linhagem As Figuras 11 e 12 mostram a comparação entre as três
mais antiga do que os dinossauros fósseis. De um modo geral, são espécies analisadas, relacionando-se ganho médio diário de peso
encontrados em locais diversos como lagos, rios, açudes, mares,
(g/dia) e ganho de peso em percentual de peso vivo. De acordo com
pântanos, desertos e florestas. Existem espécies adaptadas para
viverem exclusivamente em terra, enquanto outras passam a vida as figuras, observa-se que a tartaruga tem maior ganho diário de
toda nas águas dos rios ou mares. O tamanho do corpo é variável de peso do que o tracajá e o iaçá, porém, o ganho de peso em percentual
acordo com as espécies, encontrando-se formas de dois a três
do peso vivo é relativo, de acordo com a idade. Esse é um fato de
metros de comprimento e também pequenas formas que atingem de
sete a doze centímetros. grande importância e que deve ser levado em consideração para
quem deseja uma criação comercial desses quelônios, já que se
deseja que a espécie tenha crescimento e ganho de peso mais
precoce.

¹Universidade Federal do Amazonas - Instituto de Ciências


Biológicas – Laboratório de Bioquímica.
² Universidade Federal do Amazonas - Instituto de Ciências
Biológicas – Laboratório de Genética.
³ Universidade Federal do Pará – Centro de Ciências
Biológicas-Campus de Bragança.

176 357
9.3.2. Avaliação do desempenho de três espécies de quelônios: Estudiosos citam que esses répteis têm vida mais longa que
tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. qualquer outro vertebrado, podendo, as espécies terrestres, viver
sextuberculata), criadas em cativeiro. mais de cem anos. No entanto, a maior parte do desenvolvimento
biológico desses animais só ocorre durante os primeiros 5 a 10 anos
A Tabela 6 compara a tartaruga (Podocnemis expansa de existência e, segundo pesquisas, a maturidade sexual só
Schweigger, 1812), o tracajá (P. unifilis Trochel, 1848) e o iaçá (ou acontece aproximadamente aos sete anos, para os machos, e 11 a 15
pitiú) (P. sextuberculata Cornalia, 1849) em cativeiro. De acordo anos para as fêmeas. Muitas espécies de quelônios estão em vias de
com os dados, observa-se que a tartaruga tem maior peso, ao extinção, conseqüência da perseguição desmedida do homem que
nascer, do que o tracajá, porém, o ganho de peso por dia e o ganho de destrói os ovos e pratica a caça predatória na época de reprodução,
além de promover a destruição do habitat desses animais.
peso por porcentagem do peso vivo é maior no tracajá. Esse é um fato
de grande importância e que deve ser levado em consideração pelos Família Pelomedusidae
criadores, já que se deseja que a espécie tenha crescimento e ganho
de peso mais rápido. O iaçá tem valores inferiores em relação às Os representantes da família Pelomedusidae são
outras duas espécies. O tracajá tem reproduzido eficientemente, em denominados de "tartarugas de cabeça escondida" porque recolhem
cativeiro, em alguns criadouros visitados. a cabeça dobrando-a lateralmente. Em muitos aspectos, esse
procedimento é considerado como mais primitivo e menos eficaz
Avaliação de três espécies de quelônios em cativeiro. para a defesa. Essa família é caracterizada pelo pescoço
lateralmente retrátil, apresenta especializações vertebrais
Espécies / Podocnemis P. expansa P.
Parâmetros unifilis sextuber associadas, 13 escudos plastrais, pélvis fundida tanto à carapaça
culata quanto ao plastrão, a mandíbula é forte e tem a área articular
convexa (Pritchard & Trebbau, 1984).
Peso ao 13,27 ± 1,42 g 18,22 a 23,13 15,36 ±
nascer 2,05 g São encontradas nas águas da África, Austrália e América
GDP (g) 0,59 0,24 a 0,87 0,04
do Sul, existindo três tipos distintos: pelomedusa africana, que dá
GDP (% do 2,9 0,42 0,25
P.V.)
nome à família; pelúsia, encontrada facilmente na África como
Taxa de 83,15 ± 11,06 - - animal doméstico; e Podocnemis, encontrada nos rios da América do
eclosão em % Sul e de Madagascar. A razão dessa distribuição geográfica do
cativeiro gênero Podocnemis parece ter como causa a dispersão ampla das
Ovos por 21,0 ± 6,0 - -
formas de seus antepassados, que se acredita terem sido animais
cova
Consumo - 2meses 12 meses - marinhos, de mares pouco profundos.
aparente (g)
PV¹ 1,7 PV¹ 4,7 Na América do Sul, encontramos seis espécies do gênero
PA² 3,6 PA² 15 Podocnemis: Podocnemis vogli, P. lewyana, P. expansa, P. unifilis, P.
-Conversão - PA² PV¹ - sextuberculata e P. erythrocephala; sendo as quatro últimas
alimentar 15:1 14:1 encontradas no Brasil.
1- PV = Proteína vegetal; 2 - PA = Proteína animal (Duarte, 1998).

356 177
Podocnemis expansa Schweigger, 1812 que os jovens apresentam manchas amarelas na cabeça, com o
macho tendo a cauda comprida e a fêmea a cauda curta.
Podocnemis expansa (Figura 1), no Brasil e na Bolívia é
conhecida popularmente como tartaruga-gigante-da-amazônia; A avaliação do desempenho de machos e fêmeas de
arrau (Venezuela); charapa (Equador, Colômbia e Peru); chapanera, tartaruga em cativeiro foi feita através da análise dos dados obtidos
sumarita (oriente da Colômbia). É o maior quelônio de água doce através de biometrias bimestrais em animais com idade de seis
encontrado na América do Sul. meses, criadouros comerciais de quelônios legalizados no
Amazonas, durante os três primeiros anos de vida. Os animais eram
Apresenta uma ampla distribuição na Amazônia que se submetidos a diferentes tipos de alimento e densidades de cultivo.
estende desde a desembocadura do rio Amazonas até pelo menos o
rio Morona e rio Marañón, Peru. Sua distribuição inclui também o rio Em relação ao ganho diário de peso de machos e fêmeas, na
Orinoco e rio Essequibo (Pritchard & Trebbau, 1984). Está presente análise geral dos dados de criadores não foi encontrada diferença
nos seguintes, países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guianas, estatística significativa (machos = 0,94 ± 0,82 g/dia; fêmeas = GDP
Peru e Venezuela. É estritamente aquática e só sai da água para = 0,89 ± 0,77 g/dia), ao nível de 5% pelo teste t não pareado e pelo
realizar a desova. Habita os rios, lagos, pântanos, ilhas e bosques LSMEANS do SAS, durante os dois primeiros anos de vida.
inundados. Durante a estiagem dos rios, as populações encontram-
Tabela 5: Ganho diário de peso (g/dia) em machos e fêmeas de tartaruga (P.
se confinadas nos leitos dos rios e lagos relativamente profundos.
expansa), considerando o tipo de alimento fornecido.
Durante a subida das águas se dispersam pelas extensas áreas
Alim entação Machos (g/dia) Fêm eas (g/dia)
inundadas que rodeiam os rios e outros corpos permanentes de Peixe 0,534 0,536
água. Vísceras bovinas 1,284 1,130
Peixe+puerária 1,032 0,966
Restos de feira 0,925 0,921
(verduras, frutas e
tubérculos)
Ração balanceada 0,877 0,995
Média 0,93±0,27 0,91±0,22

178 355
Andrade et al. (2001), criando tracajás (P. unifilis) em gaiolas
nos lagos de várzea do Macuricanã, Nhamundá/AM, em uma
2
densidade de 22 animais/m , obtiveram um ganho de peso de 3,8
g/dia nos três primeiros meses de vida.

Recomendações quanto à densidade de cultivo para


tartaruga (P. expansa)

a) Em berçários em tanques escavados, ou de cercados de


madeira em margem de barragem utilizar no primeiro ano de vida
65-80 animais/m2. No segundo ano, reduzir para 30-40
animais/m2.

b) Em tanques-rede ou gaiolas, trabalhar apenas até os 18


meses de idade ou até atingirem o peso de 1,5 kg (peso de abate), em
densidade de 25 a 37 indivíduos por m3.

9.3 Índices zootécnicos de acordo com a espécie cultivada, a


Figura 1. Exemplar de P. expansa.. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.)
população de origem do plantel e o sexo
Podocnemis expansa se reproduz tipicamente em grandes
A partir dos dados do diagnóstico dos produtores de grupos de fêmeas, em determinadas praias tradicionais de desova.
quelônios no Amazonas e de ensaios de competição entre tartaruga, Em áreas onde a espécie é pouco abundante devido tanto a fatores
tracajá e iaçá, no Ibama-AM e fazenda da Ufam, podemos inferir naturais quanto à intervenção antropogênica, desovam
principalmente em pequenos grupos dispersos e também
sobre qual das três espécies do gênero Podocnemis apresenta solitariamente (Soini & Soini, 1995c).
melhor desenvolvimento. Os animais foram analisados também em
relação ao sexo, quanto ao desempenho de machos e fêmeas de Graças a um vigoroso programa de recuperação de P.
tartarugas em cativeiro e ao local de origem dos filhotes de cada expansa pelo IBDF, durante muitos anos, a população desovadora
do Brasil está aumentando consideravelmente (Vogt, 1990). Como
plantel. um notável exemplo de crescimento pode-se citar o caso da praia de
Monte Cristo, do rio Tapajós, onde, mediante a proteção da praia
9.3.1 Avaliação do desempenho de machos e fêmeas de assim como a implementação de algumas outras medidas de
tartarugas (Podocnemis expansa) em cativeiro manejo, a população desovadora aumentou de 78 fêmeas, em 1969
(Alfinito et al., 1976a), para 1.600 fêmeas em 1988 (Vogt, 1990).
Para Alho, Danni & Pádua (1984), não há dimorfismo sexual
em tartarugas antes da maturidade sexual. No entanto, Molina &
Rocha (1996) citam que há dimorfismo sexual em P. expansa, em

354 179
Podocnemis unifilis Troschel, 1848 As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças
Podocnemis unifilis (Figura 2), conhecida popularmente como significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do
tracajá, possui a carapaça cinza-escuro quando molhada. Apresenta as LSMEANS/SAS, para o fator densidade.
patas curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de
pequeno tamanho em relação ao corpo. Os olhos, bastante juntos, são Efeitos da densidade sobre o ganho diário de peso de
separados por um sulco. A fêmea adulta pesa em torno de oito quilos e tartarugas (P. expansa ) criadas em cativeiro
mede cerca de 38 cm. É uma tartaruga essencialmente aquática. 2,5
Pritchard & Trebbau (1984) e Iverson (1992) citam que essa espécie 2

GDP (g/dia)
pode ser encontrada nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco e seus
1,5
afluentes, no norte da América do Sul, sendo considerada generalista.
Ocorre em rios de água preta, clara e branca, bem como em lagos e 1
reservatórios. 0,5
0 12
6 8 13 16
25
Idade (meses) 37

Figura 10: Efeitos da densidade de cultivo sobre o ganho diário de peso


(g/dia) de tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

A Tabela 4 apresenta o estudo das interações entre


densidade e tipo de instalação. As interações não foram
significativas (teste F, 5%).

Tabela 4: Efeitos do tipo de instalação e densidade de cultivo sobre o


ganho médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16
meses de idade (Costa, 1999).

Instalação \ 12 25 37 Médias
Densidade anim ais/ anim ais/ anim ais/
de cultivo m2 m2 m2
Estufa 1,2±0,60 1,19±0,41 1,31±0,41 1,25±0,47
Ar livre 1,1±0,47 1,24±0,20 1,13±0,20 1,18±0,29
Médias 1,2±0,53 1,22±0,30 1,22±0,30
Como não houve diferença significativa entre as densidades,
Figura 2: Exemplar de P. unifilis. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.)
devemos utilizar a maior, a fim de reduzir custos com instalações.

180 353
resultados podem ser observados na Tabela 3 e Figuras 9 e 10). Essa é considerada a segunda espécie mais consumida na
Logo, a densidade apresenta uma tendência para um região amazônica, parecendo possuir melhor adaptação em
comportamento quadrático, embora não tenhamos aplicado a cativeiro, por ser mais generalista que P. expansa. A fêmea do
regressão em função da não significância do teste F. tracajá procura desovar isoladamente em barrancos às margens dos
rios e lagos, geralmente antes das enchentes. As covas são de
Tabela 3: Efeito da densidade de cultivo sobre o ganho diário de peso (g/dia) de aproximadamente 30 cm de profundidade, apresentando uma
tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999). média de 20 ovos por ninho. Estudos em cativeiro demonstram que o
D en sidade de 6 m eses 8 m eses 13 m eses 16 número de ovos, por ninho, pode variar de nove a quarenta, com
cultivo/idade (g/dia) (g/dia) (g/dia) m eses uma média de 28,8 ovos. O período de incubação vai de 101 a 136
12 in d/m 2 0,389 1,136 2,484 1,205 dias.
25 in d/m 2 0,441 1,141 2,246 1,221
37 in d/m 2 0,333 0,976 2,231 1,219
Podocnemis sextuberculata Cornalia, 1849

Podocnemis sextuberculata (Figura 3) é conhecida


popularmente como iaçá, pitiú ou cambéua (Smith, 1979). A
carapaça tem coloração que vai de marrom-claro a marrom-escuro.
peso (g) X densidade
O plastrão nos indivíduos jovens apresenta seis tubérculos de cor
cinza ou marrom, os quais conferem o nome à espécie (P.
250 sextuberculata), cuja função, provavelmente, seja para segurar o
200 animal em lugares onde existe muita correnteza. A fêmea possui
10
gramas

150 manchas amarelas com um par de barbelos logo abaixo da boca. A


20
100 média de postura vai de 20 a 25 ovos de casca mole. O macho é
30
50 menor do que a fêmea (Ibama, 1989).
0
3 4 5 6 7
idade (meses)

Figura 9: Efeitos da densidade sobre o peso, aos 7 meses, de filhotes de


tartaruga (P. expansa). (Costa & Andrade, 1999).

352 181
Hernandez et al. (1999), na Venezuela, onde testaram para filhotes
Fonte: Turtle of the World
de tartaruga densidades de 10, 25, 50 e 75 animais/m². Verificaram
que no primeiro ano, por possuírem hábito gregário e se sentirem
mais seguros em grupo, desde que haja água limpa e em quantidade
adequada e boa alimentação, suportam grandes densidades de
cultivo, apresentando melhor desempenho com 75 filhotes/m².

Tabela 2: Relação entre densidade e ganho diário de peso em P. expansa em


cativeiro (Duarte, 1998).
Densidade (animal/m²) GDP (g)
0,5 – 5 0,454
5 – 65 0,438
65 – 100 0,678
Maior que 100 0,034

Em estudo realizado na fazenda experimental da Ufam,


BR-174, Manaus/AM, foram testadas 3 densidades de cultivo em
Figura 3: Exemplar de P. sextuberculata Foto: RAN/AM (Andrade, tanques-rede (12, 25 e 37 animais/m²) para 360 filhotes de
P.C.).
tartaruga, no período de três aos dezesseis meses de idade. Os
Sua distribuição geográfica abrange a drenagem do rio animais experimentais apresentaram efeito semelhante ao
Amazonas no Brasil, Peru e Colômbia (Iverson, 1992). No Brasil, é encontrado nos resultados do diagnóstico realizado nos
encontrada em rios de água barrenta como Solimões, Japurá e criatórios de tartarugas do Amazonas, ou seja, em uma menor
Branco e em rios de água clara como Trombetas e Tapajós (Cantarelli densidade (10 indivíduos/baia ou 12 animais/m 2) os animais
& Herde, 1989). Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável permanecem muito isolados, tendo dificuldades em encontrar o
Mamirauá-RDSM, é encontrada em águas pretas e barrentas, nos alimento (tartaruga possui hábito gregário na hora de localizar o
canais dos rios, paranás, ressacas e lagos, sendo relativamente
alimento, uma segue a outra, e o alimento é encontrado pela
abundante e constituindo uma importante fonte alimentar para a
olfação ou pela comunicação química enviada por outro animal,
população local.
como nos alevinos). À medida que a densidade foi aumentada
Podocnemis erythrocephala Spix, 1824 para 25 animais/m 2, houve um aumento no GDP, 0,94 g/dia,
Podocnemis erythrocephala (Figura 4), é a menor espécie do gênero,
todavia, quando se chega à densidade mais alta (37 animais/m 2)
facilmente distinguida de suas congêneres devido ao seu pequeno
o GDP cai para 0,85 g/dia, ressaltando o efeito da competição,
tamanho (medindo menos que 32 cm. Geralmente, as fêmeas medem em
acúmulo de dejetos e estresse sobre esses animais (esses

182 351
Portal & Silva (1996), em experimento realizado no Amapá, testaram torno de 27 cm e os machos são menores ainda), a coloração
três densidades de cultivo (10, 20 e 30 animais/m²) para filhotes de vai do marrom-escuro ao preto, a carapaça é expandida na porção
tartaruga, dos 8 aos 14 meses, que receberam dois tipos de alimento: posterior; apresenta um par de barbelos embaixo do queixo e uma
ração de 25% PB e 2.400 kcal e verduras (couve, Brassica oleracea; faixa vermelha brilhante que se estende da parte de trás da cabeça
alface, Lactuca sativa; repolho, B. oleracea capitata; e cariru, até os tímpanos.
Vários autores, incluindo Williams (1954a) e Wermuth & Mertens
Amaranthus sp.) com frutas (mamão, Carica papaya; e goiaba,
(1961), citam que P. erythrocephala ocupa uma grande área ao norte
Psidium guayava). O ganho de peso em 6 meses foi maior para
da América do Sul, contudo, Mittermeier & Wilson (1974) relatam
animais alimentados com ração na menor densidade (Densidade
que as amostras com informações de procedências seguras foram
10=73,5 g/6 meses; densidade 20=67,6 g/6 meses; densidade
todas coletadas no sistema do rio Negro. É quase completamente
30=59,7g/6 meses), provavelmente, pelo acúmulo de excretas
confinada a rios de água preta e a maioria dos exemplares
nitrogenadas em instalações com densidades maiores. Em animais conhecidos é proveniente do rio Negro, o maior tributário de água
alimentados com verduras e frutas, o melhor desempenho foi com a doce do Amazonas. Dentro do sistema do rio Negro, a espécie mostra
densidade de 30 animais/m² (densidade 10=24,04 g/6 meses; preferência por pequenos lagos de água preta e seus afluentes,
densidade 20=21,51 g/6 meses; densidade 30=33,16 g/6 meses). sendo raramente encontrados no leito principal do rio (Mittermeier
& Wilson, 1974).

2
Figura 8: Berçário com cerca de madeira medindo 16 m , para 1.000 animais
2
(densidade=62,5 tartarugas/m ), em margem de tanque escavado e com solário.
Instalação simples e animais com excelente desempenho. Manacapuru/AM (Duarte,
1998).
Analisando os dados obtidos encontrou-se a mesma
tendência de maiores ganhos de peso em criadores com uma
densidade no berçário entre 65-100 animais/m². O menor ganho
diário de peso de 0,034 g/dia, foi obtido com uma densidade acima
de 100 animais/m², representando 10% dos criadouros. Figura 4: Exemplar de P. erythrocephala..
Esses resultados foram similares aos encontrados por

350 183
Essa espécie coloca seus ovos no período que vai do final do tartarugas, não sendo recomendado o consórcio pelo fato de que não
mês de agosto até o início de novembro, nas praias do rio Negro, se sabe qual seria a influência no crescimento em peso da tartaruga
sendo que o pico da estação de postura, aparentemente, ocorre entre da criação junto com peixe, e vice-versa, em um mesmo ambiente
setembro e outubro. O número de ovos varia de 5 a 14 e a postura aquático, e também por não haver mecanismos eficientes para
ocorre geralmente à noite, na areia, em áreas chamadas de separar a alimentação de ambos em consórcio.
campinas. Os ovos são brancos e alongados podendo apresentar a
Figura 7: Berçário com cerca de madeira medindo 800
casca dura ou levemente flexível. Apesar dessa espécie não ter muita
importância na economia, é intensamente caçada na região do rio
Negro para consumo de sua carne e seus ovos. A captura é feita por
arpão e linha de pescar e as fêmeas também são capturadas nos
locais de desova.

Os indivíduos adultos dessas quatro espécies são utilizados


tanto como fonte de alimento, para as populações ribeirinhas da
região amazônica, como para a venda no mercado negro, pelo alto
valor comercial, para consumo da carne ou como animal de
estimação. Conseqüentemente, essas espécies estão classificadas
como vulneráveis e dependentes de cuidados (Cites I e II). Em adição
aos dados ecológicos, são necessárias informações sobre estrutura e
variabilidade genética para dar suporte a programas de manejo
adequados para conservação de cada uma dessas espécies.

m2, para 20.000 animais (densidade=25 tartarugas/m2), em margem de


VARIABILIDADE GENÉTICA barragem. Para esse local foram trazidos os animais da Figura 5, quando então,
bem alimentados, apresentaram melhor desempenho, Manacapuru/AM.
(Duarte, 1998).
A variação genética é uma condição fundamental para que haja
evolução adaptativa, uma vez que a seleção natural atua entre as
Navarro & Dias (1997), ao realizar estudo para determinar a
variantes que ocorrem dentro das populações, em função da
melhor densidade em função do crescimento e incremento de peso
adaptação ao ambiente, convergindo essa variação entre populações
total, ao final do experimento, utilizando alimento de origem animal
e, finalmente, para a variação entre espécies. Chetverikov (1926,
e vegetal, testou para filhotes de Podocnemis unifilis, densidades de
1927) foi pioneiro em mostrar que a análise genética de populações
4,8 e 12 animais/m², e constatou na proporção de 18 animais por
4,5 m² como sendo a melhor.

184 349
Com os dados obtidos através dos questionários feitos aos naturais é necessária para revelar a quantidade de variabilidade
criadores, ou técnicos de cada propriedade, foi possível avaliar os genética potencial de uma população.
criadores quanto ao tamanho das propriedades, instalações
Marcadores moleculares
(barragens ou represas e berçários), número de animais de cada
criadouro e, conseqüentemente, da densidade de cultivo utilizada Marcador molecular pode ser definido como toda e qualquer
por cada um deles, com a determinação da melhor. característica molecular proveniente de uma seqüência do DNA
(Ferreira & Grattapaglia, 1995). Quando seu comportamento quanto
à segregação segue os padrões mendelianos de herança, o marcador
é definido como "marcador genético". Quando usamos marcadores
genéticos estamos tentando estimar o número de modificações
(mutações) na seqüência de pares de bases que constituem o DNA
dos indivíduos.

Existem numerosas técnicas moleculares disponíveis para


avaliar a diversidade genética entre indivíduos e entre populações.
Segundo Queller et al. (1983), o marcador genético ideal para
estudos em população seria um de fácil uso e que distinguisse
características que são determinadas por uma combinação de
fatores, que fornecesse valores não ambíguos e, preferivelmente,
com alta variação, como é o caso de genes do DNA mitocondrial.

DNA mitocondrial em estudos populacionais (DNAmt)


Figura 6: Relação entre o ganho de peso e a densidade em criação
comercial de P. expansa (animais/m²).(Duarte, 1998). A mitocôndria é uma organela encontrada na maioria dos
organismos superiores e sua função nas células está relacionada
Em alguns criadouros, há o consórcio de tartaruga (P. com a degradação de açúcares e gorduras importantes para o
expansa) com peixes (tambaqui Colossoma macropomum ou fornecimento de energia para os seres vivos. O material genético da
matrinxã Brycon spp.). Ainda não há estudo da viabilidade técnica e mitocôndria constitui-se de seqüências de DNA que estão presentes
econômica de quelônios com peixes. No entanto, esse procedimento normalmente em cópia única e servem como códigos para a formação
parece ser desfavorável para a tartaruga e para o peixe, em relação à das proteínas necessárias para a manutenção de suas funções e
apreensão do alimento, espaço físico, competição por alimento, para a expressão gênica. O genoma mitocondrial (conjunto total do
qualidade da água. Os peixes sendo mais ágeis na água do que os DNA da mitocôndria) dos animais é uma molécula de DNA circular,
quelônios comem mais rapidamente, deixando as tartarugas sem de fita dupla, pequena e contida em múltiplas cópias na mitocôndria.
alimento. Isso influencia no comportamento alimentar das Seu tamanho é relativamente estável para animais, em torno de 16 -
21 kilobases (kb) (Ray & Densmore, 2002).

348 185
Características particulares como a herança, geralmente A densidade de cultivo está relacionada às diversas variáveis
materna, ausência de recombinação (não há participação do de cada sistema de criação (tipo de alimento, instalação, taxa de
material genético do pai) e as altas taxas de variação, quando renovação da água, etc.), sendo que o desempenho dos animais,
comparadas com o material genético que se encontra no núcleo da para uma determinada densidade, poderá ser melhor ou pior,
célula, fazem do DNA mitocondrial uma ferramenta muito dependendo do criadouro. Para o Amazonas, como veremos a seguir,
importante no estudo das relações evolutivas entre indivíduos, esses valores de taxa de lotação são baixos, podendo a criação ser
espécies e populações (Avise, 1994). mais intensificada, com mais tartarugas/m2.

Para determinar o grau de variação genética entre as


populações e dentro de cada população, nós utilizamos as pequenas
variações ou polimorfismos, que ocorrem especificamente na
seqüência de bases do DNA mitocondrial de cada indivíduo.

As seqüências de DNA que apresentam variação (mutações)


são classificadas como haplótipos, sendo que as que apresentarem
os polimorfismos mais semelhantes e mais antigos serão agrupadas
como um único haplótipo (representada em um cladograma por um
quadrado); as seqüências que apresentam polimorfismos muito
diferentes ou raros serão classificadas, cada uma, como um
haplótipo separado e são representadas no cladograma como uma
elipse. Nesse segundo grupo de polimorfismos cada haplótipo pode
conter um ou mais indivíduos, e isso será determinado pelo tamanho
da elipse. Cada população que apresentou estrutura genética
diferenciada das demais foi considerada como uma unidade de
manejo e conservação.

JUSTIFICATIVA

Com a publicação da portaria do Ibama nº 142/92-P,


regulamentando a criação da tartaruga-da-amazônia (P.expansa) e 2
Figura 5: Berçários em alvenaria com densidade de mais de 100 filhotes/m . A
do tracajá (P. unifilis) em cativeiro, houve um aumento na demanda competição por espaço e água gera um estresse tão forte que os animais
preferem ficar fora da água tentando fugir, Manacapuru/AM. Foto: Projeto
comercial dessas espécies, o que contrasta com o seu atual nível de
Diagnóstico (P.C.M.Andrade).
informação.

186 347
O projeto “Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres do
recebiam, para iniciar sua criação, matrizes e reprodutores de
Estado do Amazonas” PTU/CNPq reúne uma equipe
tartarugas e tracajás. Esses animais deveriam se reproduzir em
multidisciplinar e interinstitucional da Ufam/Ibama, que visa à
cativeiro e os seus filhotes seriam engordados e vendidos. Em
conservação e um possível manejo auto-sustentável, de algumas
função do desaparecimento dos animais adultos doados e da
espécies silvestres do Amazonas, incluindo as espécies P. expansa
inviabilidade econômica de projetos com esse sistema de criação
(tartaruga-da-amazônia), P. unifilis (tracajá), P. sextuberculata
(tempo demasiadamente longo para os quelônios se acostumar ao
(iaçá) e P. erythrocephala (irapuca).
cativeiro, se reproduzir e seus filhotes atingir peso mínimo de abate
de 12 kg), esse tipo de criação foi substituído pelo de recria de Este trabalho dará suporte ao projeto “Diagnóstico da
filhotes, estabelecido pela Portaria nº 133 de 5 de maio de 1988 Criação de Animais Silvestres do Estado do Amazonas”,
(substituída em 1992 pela Portaria nº 142). proporcionando informações sobre o nível de variabilidade e
características da estrutura genética de populações locais das
A Portaria nº 133/88 trazia, além da novidade da recria de
espécies do gênero Podocnemis, contribuindo para estudos
filhotes, normas técnicas para sua criação, de acordo com a idade do
posteriores relacionados ao impacto de manejo, reprodução tanto na
animal:
natureza como em cativeiro e outras informações que permitirão um
a) Filhotes de 0 a 2 anos: deveriam ser criados isolados de outros planejamento adequado em programas de melhoramento genético
animais (sem consórcio), em berçários de, no mínimo, um metro de em criadouros.
profundidade, com renovação constante de água, com áreas de sol e
sombra, pequena praia de areia (1/3 da área) e proteção contra OBJETIVOS
predadores. As densidades foram estipuladas em 5 animais/m2, no
primeiro ano, e 2,5 animais/m2, no segundo ano. OBJETIVO GERAL

b) Jovens e adultos: para efeito de cálculo da lotação dos tanques e O objetivo deste trabalho foi identificar unidades de
barragens, considerava-se como exigência mínima 5,2 m2 de conservação e manejo de quatro espécies de tartarugas da Amazônia
superfície de água/animal, com profundidade média superior a 2 (P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata e P. erythrocephala)
através do marcador molecular de DNA mitocondrial, para que os
metros. Como volume mínimo por animal, prescrevia-se 15,81 m3.
resultados provenientes deste estudo possam dar suporte a
Só se considerava profundidade média entre 2 e 3 metros, sendo que
programas de manejo na natureza e aos criadores.
o excedente a 3 metros era desconsiderado. A fórmula proposta por
aquela portaria para o cálculo da taxa de lotação máxima
consentida era:
LMC= (superfície x profundidade média)/15,81

346 187
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 9.2 Densidade de cultivo

Ø Caracterizar e analisar o grau de variação genética encontrada A densidade e o tipo de alimento fornecido aos quelônios são
dentro das populações naturais de quatro espécies de tartarugas fatores limitantes. Um grande número de animais em uma pequena
do gênero Podocnemis: P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata
área diminui a taxa de crescimento e o ganho de peso. O número de
e P. erythrocephala.
Ø Determinar se os h indivíduos distribuídos por unidade de área pode influenciar no
aplótipos do DNA mitocondrial estão associados com a distribuição crescimento dos animais em cativeiro.
geográfica.
Nos quelônios, um grande número de animais em uma área
Ø Verificar a ocorrência de estrutura populacional das diferentes considerada pequena pode levá-los à competição por alimento,
espécies usando a região controle do DNA mitocondrial.
espaço, abrigo, entre outros, o que pode promover um estresse nos
METODOLOGIA animais, levando-os a uma redução na taxa de crescimento e ganho
OBTENÇÃO DE AMOSTRAS DE SANGUE E EXTRAÇÃO DO DNA de peso (Figura 5).

Em contrapartida, um pequeno número de indivíduos, em


As coletas foram realizadas com o apoio do Ibama. Utilizamos indivíduos jovens,
recém-eclodidos, de tartarugas com uma amostragem em torno de 15-20 indivíduos uma área grande, também pode comprometer o crescimento, pois os
provenientes das seguintes localidades: (1) Uatumã, AM; (2) Abufari, rio Purus (AM); animais vão demorar mais a encontrar o alimento em virtude da
(3) Itamarati, rio Juruá (AM); (4) Manicoré, rio Madeira (AM); (5) Barcelos, rio Negro maior dispersão pela área das instalações. Os animais costumam se
(AM); (6) Parque Nacional do Jaú, AM; (7) Terra Santa, PA; Oriximiná, PA, e Jarauaca,
em Oriximiná (PA), (8)Parintins e Barreirinha(AM)(Figura 5). movimentar em grupos e estabelecem comunicação. A comunicação
química e sonora parecem ser fatores importantes na agregação e
sentido de defesa dos filhotes. Se eles estão dispersos, a localização
do alimento fica prejudicada, acarretando menor desempenho.

Existe uma densidade ótima em que os animais são


distribuídos adequadamente na área disponível e obtêm um bom
desempenho no crescimento e ganho de peso, não havendo grande
competição e, sim, uma disponibilidade para o animal encontrar o
alimento. Os criadouros do Amazonas foram monitorados quanto ao
número médio de tartarugas que possuíam e as densidades de
cultivo que utilizavam (Figura 5). A Figura 6 apresenta o resultado da
análise da relação entre três grupos de densidades e ganho de peso,
referentes aos criadouros avaliados.

De 1976 a 1988, os criadouros de quelônios registrados pelo


então IBDF (Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal)

188 345
De acordo com os resultados obtidos, pode-se observar que
não houve diferença significativa no crescimento dos animais em
relação à quantidade de adubo adicionada, porém, foi possível notar
3
uma tendência para que a adição de 14,75 kg de esterco fresco/m
proporcione um melhor desenvolvimento dos animais (Peso aos 9
3
meses de idades: 0 kg de esterco fresco/m = 80,99 15,05g; 7,37 kg
3 3
de esterco fresco/m = 80,89 15,52g; 14,75 kg de esterco fresco/m
3
= 83,17 19,76g; 22,12 kg de esterco fresco/m = 78,02 18,03g).

Essa quantidade de esterco é superior à proposta pelo Sebrae


(1995) que é de 2.000 kg por mês, ou 100 kg de esterco/hectare/dia,
em dias ensolarados, e de 40 kg/hectare/dia, em dias nublados.

Figura 5: Mapa dos locais de coleta.

Como o principal objetivo deste trabalho é a preservação das


espécies, nenhum animal foi sacrificado e foram retiradas amostras
de 0,1 ml de sangue, através de punção da veia femural. Esse sangue
foi preservado em álcool em temperatura ambiente até o momento da
extração do DNA. Em seguida, os animais foram devolvidos para a
natureza no local onde foram coletados.

O procedimento utilizado para a extração do DNA foi baseado em protocolos


específicos (método Fenol/Clorofórmio, segundo Sambrook et al., 1989) com
algumas modificações. Após a extração o DNA foi amplificado, via PCR,
utilizando-se iniciadores específicos para a região controle do DNA mitocondrial de
Podocnemis. O produto do PCR foi então seqüenciado em seqüenciador automático
Megabace 1000 na Universidade Federal do Amazonas – AM. Para a obtenção do

344 189
cladograma de haplótipos foi utilizado o programa TCS (Clemente et Altura da tartaruga (Podocnemis expansa) 0kgde
al., 2000). As análises populacionais foram realizadas através do 40 esterco/m3

a lt u ra (m m )
programa Arlequin (Schneider et al., 2000). 30 7,37kgde
20 esterco/m3
RESULTADOS E DISCUSSÃO 10
14,75kgde
esterco/m3
0
Quanto às localidades, as quatro espécies apresentaram 0 5 7 9
22,12kgde
esterco/m3
uma amostragem diferenciada. Para P. erythrocephala foram idade (meses)
amostrados indivíduos das localidades de Jaú (6), Barcelos (5),
Oriximiná (8) e Terra Santa (7); para P. unifilis foram coletados Figura 2: Efeitos da adubação na altura (mm) de tartaruga (P. expansa) em
indivíduos de Itamarati (3), Manicoré (4), Terra Santa (7), Oriximiná cativeiro.
e Jarauacá (8); para P. sextuberculata as localidades foram Abufari
Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa)
(2), Manicoré (4), Terra Santa (7) e Oriximiná (8); e para P. expansa 120 0 kg de
foram amostrados indivíduos de Uatumã (1), Abufari (2) e Terra 100 esterco/m3
Santa (7). 7,37 kg de

peso (g)
80
60 esterco/m3
O alinhamento final das seqüências de DNA foi composto 40 14,75 kg de
por aproximadamente 580 pares de bases (com exceção de P. 20 esterco/m3
expansa, que foi de 996 pares de bases) e definiu o número de 0 22,12 kg de
1 2 3 4
haplótipos, que está representado em forma de cladograma para esterco/m3
idade (meses)
cada espécie (Figuras 6 a 9).

Os resultados aqui apresentados devem ser Figura 3: Efeitos da adubação no peso (g) de tartaruga (P. expansa) em cativeiro.
considerados como preliminares uma vez que apesar da ampla
amostragem, as espécies diferem nos locais de coleta. A Ganho Médio de Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis
continuação do projeto visa ampliar os locais de coleta para evitar expansa ) 0 kg de
falha nas amostragens. 0,8 esterco/m3

médio de
0,6

peso (g)
7,37 kg de

ganho
De uma maneira geral, as três espécies P. sextuberculata, P. 0,4 esterco/m3
erythrocephala e P. unifilis apresentaram um padrão populacional 0,2 14,75 kg de
pan-mítico muito bem visualizado pelo cladograma dos haplótipos 0 esterco/m3
5 7 9 22,12 kg de
(Figuras 7, 8, e 9), onde não se observa a presença de uma
esterco/m3
associação entre os haplótipos com a distribuição geográfica. A idade (meses)
presença de populações diferenciadas (estrutura de população) foi Figura 4: Efeitos da adubação no ganho diário de peso (g/dia) de tartaruga
observada somente para os locais de Abufari (em P. sextuberculata), (P. expansa) em cativeiro.

190 343
adubação na água de tanques destinados ao alojamento de filhotes Jaύ (em P. erythrocephala) e Itamarati (em P. unifilis), o que pode ser
de tartaruga em cativeiro. Porém, é possível observar uma tendência um artefato de coleta causado pela ausência de locais
para que na idade de 7 e 9 meses a quantidade de 14,75 kg de intermediários não-amostrados entre as localidades aqui
esterco/m3 proporcione melhor desenvolvimento dos animais em analisadas. A falta de uma forte estrutura de população favorece o
relação às outras quantidades utilizadas. manejo para essas espécies.

A Tabela 1 demonstra valores médios aos 9 meses de idade das Somente P. expansa apresentou uma forte estrutura de
variáveis analisadas durante as biometrias. população (todas as populações foram geneticamente
diferenciadas), como pode ser observado no cladograma (Figura 6).
Tabela 1: Efeitos da adubação com esterco de gado no crescimento de tartaruga Os indivíduos, em sua maioria, se uniram em grupos formando um
(P. expansa) em cativeiro, de dois aos nove meses de idade. haplótipo, por localidade, com adicionais haplótipos raros.
Variáveis 0 kg de 7,37 kg de 14,75 kg de 22,12 kg de
esterco esterco esterco esterco
/1.000 /1.000 /1.000 /1.000
litros de litros de litros de litros de
água água água água
Ccp (m m ) 69,5 ±7,2 70,6±6,6 71,3±7,4 69,5±8,2
Lcp (m m ) 60,9±5,9 61,9±5,4 61,9±5,8 61,4±6,4
Cpl (m m ) 58,7±5,9 59,6±6,2 60,0±6,4 58,8±6,9
Lpl (m m ) 28,3±2,5 29,1±3,8 28,7±2,9 28,3±2,9
Alt (m m 30,3±2,6 30,6±2,8 30,9±3,0 30,3±3,0
Peso (g ) 81,0±15,0 80,9±15,5 83,2±19,8 78,0±18,0
GDP (g ) 0,18±0,10 0,25±0,05 0,27±0,03 0,30±0,05
*Ccp: comprimento da carapaça; Lcp: largura da carapaça; Cpl: comprimento do plastrão;
Lpl: Largura do plastrão; Alt: altura; GDP: ganho de peso.

Ganho Médio de Peso de filhotes de tartaruga


(Podocnemis expansa )
0 kg de
0,8
esterco/m3
médio de

0,6
peso (g)

7,37 kg de
ganho

0,4 esterco/m3
0,2 14,75 kg de
0 esterco/m3
5 7 9 22,12 kg de
esterco/m3
idade (meses)
Figura 1: Efeitos da adubação no comprimento de carapaça (mm) de
tartaruga (P. expansa) em cativeiro.

342 191
Tapauá/AM.

Esses animais foram alojados em tanques de fibro-cimento


com capacidade de 1.000 litros. Os filhotes foram divididos em
quatro tanques, em sistema superintensivo, onde cada tanque tinha
um total de 200 animais.

Para a alimentação dos filhotes, utilizou-se a ração comercial


para trutas que tem como ingredientes: farinha de peixe, milho,
farelo de soja, farelo de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca,
sal, premix mineral e vitamínico e é composta de 46% de proteína
bruta e 3.800 kcal de energia bruta/kg. Os animais eram
alimentados com uma quantidade correspondente a 5% do seu peso
vivo.

A avaliação foi realizada com filhotes dos 2 aos 9 meses de


idade, através da análise de ganho diário de peso (GDP), consumo
diário de alimento (CDR), conversão alimentar e medidas
morfométricas (comprimento, largura e altura da carapaça,
comprimento e largura do plastrão e peso).

O experimento foi acompanhado com medidas mensais dos


animais, em que os dados foram anotados e, posteriormente,
tabulados em planilha eletrônica. Os resultados foram analisados
através de medidas repetidas no tempo e comparados através do
teste t não pareado.

Os tratamentos foram divididos de acordo com a quantidade


de esterco bovino adicionado diariamente durante a troca de água
dos tanques: 0 kg/m3; 7,37 kg/ m3; 14,75 kg/m3; e 22,12 kg de
Figura 6: Cladograma de haplótipos de P. expansa esterco/m3.

Através das Figuras de 1 a 4, pode-se observar que não houve


diferença significativa quanto ao acréscimo de esterco, como

192 341
principalmente, em áreas adaptáveis ao seu habitat natural como: a
água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado para que ocorra
uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio ecológico do
açude; é necessária a construção de tanques de engorda e
crescimento inicial.

Os criadouros comerciais de quelônios, instalados em


represa ou açudes, deverão apresentar sistema que permita seu
completo esvaziamento. Os criadouros instalados em braços de
lagos devem prever sistemas de captura dos animais, através de
cercados ou redes, mediante condicionamento alimentar.

Através do projeto Diagnóstico/PTU-CNPq, a Universidade


Federal do Amazonas e o Ibama-AM realizaram o monitoramento
periódico dos criadores do estado e diversos experimentos que nos
permitem inferir sobre algumas práticas mais adequadas de manejo
para esses animais em cativeiro, tais como: o efeito da adubação da
água das instalações de cultivo sobre o crescimento dos quelônios; a
densidade de cultivo ideal; os índices zootécnicos de acordo com a
espécie cultivada; a população de origem do plantel e o sexo. Além
disso, o conhecimento dos índices médios das criações do Amazonas
possibilitou, também, a proposta de um plano básico de manejo e de
evolução do plantel mais adequado à realidade dos queloniocultores.

9.1 Efeitos da adubação da água de cultivo no


desenvolvimento de filhotes de tartaruga (P. expansa) em
cativeiro

Foi realizada uma pesquisa na fazenda experimental da


Universidade Federal do Amazonas, localizada no Km 38 da BR-174,
Figura 7: Cladograma de haplótipos de P. unifilis.
Manaus-Boa Vista. Foram utilizados 800 filhotes de tartaruga
(Podocnemis expansa), com dois meses de idade, obtidos junto ao
Ibama/AM, provenientes do tabuleiro do Abufari, rio Purus,

340 193
exigências nutricionais, densidade de cultivo, instalações etc. (Silva,
1998; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994).

Os quelônios são os répteis mais antigos (surgiram há mais de


200 milhões de anos), possuindo diferentes estratégias
biocomportamentais para escaparem de inimigos naturais ou dos
rigores climáticos. São os únicos que possuem a carapaça como
instrumento de defesa. Podem recolher a cabeça, as pernas e a cauda
para o interior da carapaça, servindo de escudo de proteção, ou
possuem mandíbulas e fortes maxilares usados para morder
vorazmente o inimigo, ou ainda, desenvolvem um tipo de natação
muito rápida. O conhecimento dessas características biológicas é
fundamental para melhorar o manejo das espécies em cativeiro
(Cenaqua, 1994).

O Ibama fornece os animais ao criador registrado (Portaria nº


142/92), destinando de 4.000 a 4.500 filhotes, por hectare, de área
alagada de cada projeto. Dos animais recebidos, 10% deverão ficar
para reprodutores e matrizes, podendo o restante ser
comercializado. O controle da venda é feito através de um lacre com
numeração seqüencial, número do registro, ano e logomarca do
Ibama. Esse lacre acompanha as tartarugas, praticamente, até a
mesa em que a carne será degustada. Os animais podem ser
comercializados quando atingem 1,5 kg de peso vivo.

Em cativeiro, a tartaruga pode ter seu crescimento acelerado,


dependendo do tipo de manejo utilizado e da disponibilidade de
alimento. Pode alcançar até 1,5 kg de peso vivo no primeiro ano de
cultivo (Costa, 1999; Duarte, 1998). A carne de tartaruga apresenta
de 88 a 94% de proteína, quantidade superior à encontrada na carne
bovina (44%), carne suína (44%) e de lagosta (82%)(Alho apud Portal
Figura 8: Cladograma de haplótipos de P. sextuberculata
& Silva, 1996).

Para a criação de tartarugas é necessário ter alguns cuidados,

194 339
Capítulo 10: Manejo em criações de quelônios
aquáticos no Amazonas: adubação, densidade
de cultivo, desempenho de diferentes espécies,
populações e sexo

Paulo Cesar Machado Andrade


João Alfredo da Mota Duarte
Sônia Luzia de Oliveira Canto
Pedro Macedo da Costa
Francimara Sousa da Costa
Ana Cristina Leite Menezes
José Raimundo da Silveira

Os criatórios de quelônios têm suas vantagens e


desvantagens considerando os diferentes tipos e métodos de manejo
(Schulte, 1990). Quatro tipos e quatro subtipos podem manejar
répteis e anfíbios da fauna amazônica: o primeiro é o criatório
intensivo com dois subgrupos: um manejo sem rotação (A) e com
rotação (B). O segundo tipo é o criatório extensivo com dois
subgrupos: de limite aberto (A) e de limite fechado (B). O terceiro tipo
é a reserva extrativa e, o último, é o mais importante e conhecido, o
criatório sem reprodutores, usado em nível mundial para o resgate
de tartarugas marinhas, lagartos etc.

O manejo de animais silvestres, por ser uma das atividades


mais antigas no mundo, já trouxe benefícios para a conservação e
desenvolvimento de regiões utilizadoras desse recurso e no Brasil
percebe-se que ainda há pouco desenvolvimento referente a essa
atividade, principalmente, pela falta de pesquisas que possam
oferecer subsídios científicos para tecnologias adequadas e
Figura 9: Cladograma de haplótipos de P. erythrocephala..
eficientes de manejo (Magnusson & Mariano 1993). Não são
estudados parâmetros como: taxa de crescimento, alimentação e

338 195
Na Tabela 1 podem ser observados os parâmetros ♦ Tracajás criados em tanques-rede tendem a obter maior
genéticos obtidos para todas as espécies e evidenciam bons níveis de desenvolvimento com rações de 30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.
variabilidade genética.
♦ Foi observada uma tendência de maior crescimento e ganho
Tabela 1: Parâmetros genéticos para as espécies de Podocnemis. de peso de tartarugas, quando comparado ao crescimento de
tracajás, criada em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas e
Popula N No. de Diversidade Diversidade em todos os níveis nutricionais testados.
ção haplótip Gênica Nucleotídica
os ♦ Não houve efeito significativo da cobertura plástica no
Podocnemis sextuberculata
experimento com tanque-rede, porém, tartarugas e tracajás
Abufari 19 05 0,66±0,0744 0,0022±0,0016
confinados em tanques com cobertura plástica, simulando o efeito
T. Santa 12 02 0,30±0,1475 0,0005±0,0006
de uma estufa, tendem a obter maior crescimento em todas as
Manico 18 05 0,41±0,1428 0,0007±0,0008
ré variáveis analisadas e em todos os níveis nutricionais testados.
Oriximi 13 04 0,60±0,1306 0,0017±0,0014
ná ♦ Tartarugas criadas em tanque escavado tendem a um
Podocnemis erythrocephala melhor crescimento e ganho de peso quando alimentadas com
Barcelos 17 07 0,79±0,0783 0,0031±0,0021 rações de 40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg. Pôde-se observar um
PNJ 18 04 0,74±0,0596 0,0023±0,0017 aumento linear nas médias biométricas, com o aumento do nível de
T. Santa 14 04 0,49±0,1506 0,000972±0,001 proteína e energia, sendo que não foi observada diferença
0
significativa da influência desses níveis na análise estatística.
Oriximi 15 04 0,47±0,1478 0,000910±0,001
ná 0
♦ Comparando-se as três instalações experimentadas, sendo
Podocnemis unifilis
tanques-rede com e sem cobertura plástica e tanque escavado,
T.Santa 21 10 0,81±0,0809 0,0078±0,0044
houve diferença significativa ao nível de P<0,05, em que tartarugas
Manicor 15 06 0,74±0,0943 0,0058±0,0035
é confinadas em tanque escavado, obtiveram o pior desenvolvimento e
Itamara 12 04 0,45±0,1701 0,0028±0,0020 os animais alojados em tanques-rede cobertos obtiveram o melhor
ti
desempenho das três instalações.
Oriximi 11 09 0,95±0,0659 0,0101±0,0059

Jarauac 09 07 0,94±0,0702 0,0062±0,0039
á
Podocnemis expansa
Abufari 14 12 0,98±0,0345 0,0003±0,0003
Uatumã 17 17 1,00±0,0202 0,0015±0,0011
T. Santa 18 13 0,72±0,1198 0,0012±0,0009

Nota: T. Santa = Terra Santa; PNJ = Parque Nacional do Jaú.

196 337
Os produtos utilizados para a produção de rações podem ser CONCLUSÃO
substituídos de acordo com a época do ano e disponibilidade no
mercado local, observando a não-alteração brusca, na composição Ø O DNA mitocondrial mostrou ser um bom marcador
química, para não afetar o fornecimento dos nutrientes, bem como molecular para o estudo de populações de tartarugas.
Ø As populações de tartaruga-da-amazônia (P. expansa), por
suas quantidades. A quantidade de proteína bruta mínima na ração
terem apresentado estrutura de população, devem ser
de recria para quelônios deve ser de 25%.
consideradas como unidades de manejo diferenciadas. Deve
A principal condicionante na comercialização de quelônios é ser evitado misturar animais de uma localidade com as
a qualidade do produto e a periodicidade do abastecimento. Um outras, tendo-se o cuidado de repovoar áreas com problemas
produto de boa qualidade começa com jejum dos animais de dois utilizando-se indivíduos de locais próximos da região
dias antes do abate, para limpar as vias digestivas. Os animais afetada.
devem ser transportados, de forma a não sofrerem danos físicos, Ø As populações das outras três (com exceção daquelas que
para agregar maior valor ao produto. apresentaram-se geneticamente diferenciadas) podem ser
consideradas como fazendo parte de uma única e grande
São necessários investimentos em estudos de nutrição de população pan-mítica, conseqüentemente, podem ser
quelônios, pois, essa é uma informação essencial para a produção manejadas sem restrição.
em cativeiro, já que o interessante para os criadores comerciais é
utilizar uma alimentação, com níveis nutricionais adequados, que AGRADECIMENTOS
atendam às necessidades de desenvolvimento desses animais,
Gostaríamos de agradecer aos colegas que coletaram as
proporcionando um aumento da produção.
amostras de P. erythrocephala: Jackson Pantoja, Juarez Pezzuti e
As conclusões desses experimentos com quelônios em Daniele Felix; aos colegas do Ibama: Paulo Henrique, Pedro, João
cativeiro foram: Alfredo e Paulo César Andrade, por todo o apoio desde o início do
projeto; e ao Dr. Richard Vogt, do Inpa. Agradecemos também ao Dr.
♦ Não houve diferença significativa na influência dos níveis Tomas Herbek, da Universidade de Washington, pelo apóio técnico.
de proteína e energia bruta estudados sobre o desenvolvimento de Este trabalho teve apoio financeiro da Universidade Federal do
tartaruga (Podocnemis expansa) e tracajá (P. unifilis), em animais Amazonas, do CNPq e do Ibama.
criados em tanque-rede.

♦ Apesar da não significância dos níveis nutricionais,


utilizados nas rações experimentais ao nível de P<0,05, há uma
tendência para que tartarugas criadas em tanque-rede obtenham
maior ganho de peso com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de
EB/kg.

336 197
Tabela 18: Análise econômica, simplificada, dos custos do experimento II.

Discrim inação V alor (R$)


Custos fix os
Capítulo 6: fisiologia e bioquímica de quelônios
D epreciação, conservação e apetrechos 1.300,00
e suas implicações para o manejo e a criação em
Eventuais 1.100,00
cativeiro Instalações
Custos variáveis
Ração 36.499,51
Jaydione Luiz Marcon
Michele Gonçalves da Silva Alim entação de pessoal 1.025,00
Gelson da Silva Batista
3 Com bustível 1.800,00
Raimunda de Souza Farias
3
Leonardo Bruno Barbosa Monteiro M ão-de-obra 3.000,00
T otal 44.724,51

I - Introdução Considerações e conclusão

Os quelônios do gênero Podocnemis são animais endêmicos A partir do momento que aumentar o número de criatórios
das bacias do Amazonas, do Orinoco e do Araguaia e historicamente intensivos, com baixo custo de produção, e oferta regular expressiva
ligados aos hábitos culturais das populações humanas locais, que do produto, a tendência será o crescimento do consumo e o fim do
utilizam a carne, a gordura e seus ovos como fontes de alimento preconceito em relação à opção alimentar com carne de tartaruga.
(Smith, 1979). Segundo informações obtidas na literatura, bem
Sob o ponto de vista de mercado, a região Norte é a mais
como nos documentários de Silvino Santos, pioneiro no registro
cinematográfico da história e da cultura do Amazonas (Souza, 1999), indicada para a absorção do suprimento em demanda. É possível
as populações desses quelônios eram enormes e se distribuíam ao optar por outros canais de escoamento da produção, principalmente
longo de toda a região amazônica. Entretanto, dois séculos de a venda in natura, simulando o sistema pesque-e-pague, e para o
intensa exploração foram suficientes para causar uma diminuição consumo direto (mercado regional e supermercados). No caso de
significativa das populações naturais e, em alguns locais, o venda in natura, o criador necessita oferecer preço, qualidade e
volume compensadores. Daí decorre a necessidade da organização
de queloniocultores em associações ou cooperatiavas, pois entre
¹Professor do Departamento de Ciências Fisiológicas. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal outras, obtém-se vantagens na comercialização e na compra de
doAmazonas. Manaus,AM. Fone: (92) 644-3359. e-mail: jlmarcon@ufam.edu.br.
² Bolsista do Pibic e Acadêmica do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade de insumos, como também na implantação de infra-estrutura
Ciências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM.
³ Bolsistas do CNPq e Acadêmicos do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade de
adequada para atender às exigências de um mercado dinâmico.
Ciências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM.

198 335
Tabela 17: Análise econômica simplificada dos custos do experimento I. desaparecimento completo desses animais, principalmente da
Discriminação Valor (R$) tartaruga-da-amazônia, Podocnemis expansa (Alho et al., 1979;
Smith, 1979), espécie de maior porte e muito visada pelo mercado
Custos fixos
ilegal.
Depreciação, conservação e apetrechos 1.000,00
Eventuais 1.000,00 Apesar do quadro alarmante que se estabeleceu no início do
século passado, pouca atenção foi dada ao problema, até 1982,
Instalações
quando o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
Custos variáveis
(IBDF), hoje Ibama, passou a incentivar a criação da tartaruga em
Ração 4.438,89 cativeiro no estado do Amazonas, como forma de atenuar a pressão
Alimentação de pessoal 960,00 exercida pela captura ilegal de exemplares da espécie na natureza
Combustível 1.600,00 (Alho et al., 1979; Smith, 1979). Essa iniciativa se deu através do
fornecimento de tartarugas recém-eclodidas, oriundas dos
Mão-de-obra 2.400,00
tabuleiros naturais da Reserva Biológica do Abufari (Tapauá, AM) e
Total 11.398,89 do rio Branco (RR), para serem criadas em cativeiro em diversas
fazendas credenciadas naquela Instituição. No entanto, durante
O experimento II teve duração de 14 meses, sendo fornecido um total
esse período, os progressos tecnológicos obtidos no setor foram
de 1.564,30 sacos de ração de 21 kg, para alimentar 3.600 animais,
tímidos e limitados pela carência de estudos técnicos e científicos
numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo, ajustada
desenvolvidos no setor. Como conseqüência, houve pouca
mensalmente de acordo com o crescimento. A Tabela 18 demonstra
integração dos órgãos de pesquisa e agentes financiadores,
uma análise econômica simplificada do experimento. presentes na região, com os criadores credenciados no Ibama.
Observa-se que até mesmo os custos com criação em tanque Dentro do projeto “Diagnóstico da criação de animais
escavado são mais elevados do que em tanques-rede. Lima (2000), silvestres” nosso grupo procurou estabelecer as primeiras
cita que em sistemas convencionais, admitindo-se um peso médio informações sobre as características fisiológicas dos quelônios em
de 2,66kg/animal, com cinco anos e meio de idade e preço de venda condições naturais, bem como da criar exemplares da tartaruga e
de R$ 10,00 o quilo, a atividade proporcionará uma receita bruta de do tracajá (P. unifilis) em cativeiro. Contudo, o que podemos
R$ 25,00, por animal, e lucro unitário de R$ 10,00. Neste estudo, se entender por características fisiológicas ou fisiologia?
considerarmos o peso médio de 1,5 kg e venda a R$13,00 o quilo de
peso vivo, a receita líquida pode chegar a R$ 8,00/animal no sistema De acordo com um dos pioneiros da fisiologia animal
de tanques-rede, com animais de apenas dois anos de idade. comparada, Schmidt-Nielsen (1996), a fisiologia é o ramo da
biologia que estuda as funções dos organismos vivos, i.e., como eles
se alimentam, respiram, movimentam, reproduzem, etc. A fisiologia
também procura estabelecer os mecanismos que os animais

334 199
desenvolveram para interagir com as variações em seus ambientes e avaliação dos resultados e foram classificados em custos fixos e
entender as estratégias naturalmente adotadas para resolver os custos variáveis. Para o cálculo do custo variável consideram-se os
problemas e assegurar a sua sobrevivência. custos que variam em proporção à quantidade produzida em um
ciclo produtivo. Os custos fixos são todos os que incorrem sobre a
Uma estratégia eficiente utilizada por muitos animais,
propriedade, independentemente de haver ou não produção (Souza
inclusive quelônios, é promover ajustes no seu metabolismo, i.e.,
et al., 2003).
ajustar a relação entre a velocidade ou intensidade com que as
células consomem energia, para manterem seu funcionamento, e a Para o cálculo da depreciação considerou-se 4% para as
capacidade de gerar energia necessária para suprir essa demanda. instalações, 10% para máquinas e motores e 20% para veículos. A
Em condições normais, geralmente, existe um equilíbrio entre a taxa de manutenção foi estimada em 5% e os juros de 6% para
quantidade gerada e gasta de energia pelo corpo, o que mantém o remunerar o capital estável, conforme modelo proposto por Lima,
seu funcionamento estável ao longo do tempo. A manutenção desse 2000. O tempo médio da mão-de-obra envolvida com a atividade,
equilíbrio depende, por sua vez, da necessidade rotineira da maioria por dia, é de duas horas. A participação dos custos variáveis é de 92%
dos animais em realizar processos fisiológicos normais, tais como devido, especialmente, aos gastos efetuados com ração.
ingerir alimentos, beber água, produzir calor, gás carbônico, suor,
excretas (fezes, urina), produzir células reprodutivas, entre outros. O experimento I teve duração de 14 meses, sendo fornecido
um total de 190,24 sacos de ração de 21 kg. Os animais eram
Na natureza, os quelônios do gênero Podocnemis vêm sendo alimentados numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo,
expostos a pressões evolutivas distintas entre as espécies, que se ajustada mensalmente de acordo com o crescimento. Quanto ao
reflete em seus estilos de vida, seus padrões de distribuição, além de experimento II, a Tabela 17 demonstra uma análise econômica
mecanismos genéticos e comportamentais característicos. Estudos simplificada do experimento. Essa análise pretendia fornecer
enfocando a genética de populações das três espécies mais subsídios aos produtores quanto ao modelo de manejo proposto
importantes do gênero, a tartaruga, o tracajá e o iaçá (P. neste estudo, referente à alimentação e instalações a serem
sextuberculata), apresentados por Viana et al. (2004), ilustram de utilizadas na produção de quelônios.
forma inédita estes aspectos. De acordo com os resultados dessas
pesquisas, as populações naturais da tartaruga e do iaçá
apresentam amplo fluxo gênico, o que nos leva a supor que cada
uma dessas espécies apresenta uma única grande população
distribuída ao longo da bacia Amazônica. Já para o tracajá, as
populações naturais são distintamente estruturadas em cada um
dos diferentes locais estudados, sugerindo que se devem ter ações
específicas para a preservação de cada população dessa espécie.
Essas informações nos

200 333
ótima, em que os animais são distribuídos adequadamente na área alertam para a relevância de dispormos desse conhecimento para a
disponível e obtêm um bom desempenho no crescimento e ganho de elaboração de planos de manejo, em populações naturais, ou ainda
peso, não havendo grande competição para o animal encontrar o para aplicação no melhoramento genético do plantel de animais
alimento. Como não se tem parâmetros para a comparação de uma destinados à criação.
densidade ótima, não podemos inferir corretamente até que ponto a
densidade utilizada, neste estudo, influenciou nos resultados Entretanto, em cativeiro, as condições impostas ao animal
obtidos. podem ser bastante diferentes daquelas encontradas nos ambientes
naturais e, muitas vezes, até desfavoráveis. Para manter uma
Quanto ao rendimento de carcaça, as tartarugas alojadas em tartaruga em cativeiro, é necessário que o criador tenha à sua
tanque-rede, com estufa (CE) e sem estufa (SE), obtiveram maior disposição um conjunto mínimo de informações sobre a biologia e o
rendimento em relação àquelas alojadas em tanque escavado (TE), estilo de vida desse animal como, o que e quanto ele come, como ele
tendo os animais deste último, o rendimento mais baixo. A ração de cresce, como ele se reproduz, como ele tolera as variações na
40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tende a proporcionar um melhor temperatura e na qualidade da água, entre outras. A princípio,
resultado em rendimento de carcaça nas instalações em tanque essas indagações parecem aspectos triviais e, teoricamente, fáceis
escavado e a ração de 30% de PB e 3.500 kcal de EB/kg tende a de serem resolvidas durante a rotina da criação. No entanto, o que
proporcionar melhor resultado nas instalações em tanque-rede. tem sido constatado, na prática, pelo menos no estado do
Amazonas, é que a carência extrema dessas informações
É importante salientar que antes da adoção da implantação
praticamente estagnou o avanço da criação de quelônios em
do sistema de tanques-rede para a queloniocultura, sugere-se um
cativeiro nesses últimos dez anos. Os progressos existentes no setor
estudo de mercado das características do sistema e de projetos de
são resultados de esforços isolados de alguns criadores que
implantação, buscando locais que possuam condições para fomento
desenvolveram seus procedimentos de criação embasados na
técnico da atividade.
observação e em suas próprias experiências.
Análise econômica dos experimentos
Nesse sentido, é imprescindível que sejam disponibilizadas
A criação de quelônios em cativeiro é uma alternativa para o aos criadores de quelônios informações técnicas e científicas
produtor rural que planeja viabilizar economicamente sua relacionadas não apenas com a densidade de estocagem e engorda e
propriedade, através de uma diversificação, e que visa aproveitar os com o padrão das instalações, mas, principalmente, informações
recursos existentes (Quintanilha, 2003). ligadas ao comportamento e às respostas funcionais que esses
animais manifestam nos ambientes de criação em relação à
Os aspectos considerados para a análise econômica qualidade nutricional (ainda um dos maiores desafios a serem
simplificada foram a construção das instalações, os gastos com desenvolvidos), à temperatura e qualidade físico-química da água,
alimentação e o combustível. Os custos são compostos de todos os além da presença de parasitoses, de ocorrência comum nos
itens que entram direta ou indiretamente para a manutenção do ambientes de criação. Esses fatores em conjunto podem
experimento, de forma a estabelecer os padrões necessários para a desencadear respostas negativas no processo de adaptação e no

332 201
crescimento dos quelônios e, em médio e longo prazo, podem se apesar de ser efetuada a limpeza do tanque. Isso pode explicar a
traduzir no insucesso dessa atividade de agronegócio, quando se tendência a melhor desenvolvimento com os maiores níveis de
considera a relação custo/benefício. proteína e energia bruta, pois essa alimentação alternativa,
disponível, poderia ser de menor teor nutritivo, porém, mais
II - O sangue como parâmetro fisiológico e bioquímico de análise palatável, e assim ter desencadeado a preferência dos animais,
Por que eleger o sangue como indicador de saúde ou do status levando ao menor consumo voluntário de ração.
nutricional de um animal? A análise desse material biológico nos
oferece algumas vantagens e, talvez, a mais importante seja o fato de
que o animal não precisa ser sacrificado para se obter um
diagnóstico. Além disso, diferentes parâmetros podem ser
analisados em uma amostra de sangue. Esse aspecto nos permite
ter, em uma mesma amostra, acesso a um conjunto variado de
informações sobre a fisiologia e a bioquímica do animal.

Apesar de sua aparência líquida, o sangue é, na verdade, um


tecido complexo constituído por um conjunto de células em
suspensão (células vermelhas, células brancas e plaquetas) que
desempenham diferentes funções à medida que circulam no
organismo e por uma parte líquida, o plasma. Nos répteis, ao
contrário dos mamíferos, as células vermelhas ou eritrócitos são Figura 13: Efeito do tipo de instalação (CE=tanque-rede com cobertura plástica;
bem maiores por apresentarem núcleo no seu interior (Figura 1). SE=Tanque-rede sem cobertura; TE=tanque escavado) sobre o ganho diário em peso
Essas células são responsáveis pelo transporte dos gases (g/dia) de tartarugas em cativeiro.
respiratórios (oxigênio e gás carbônico), enquanto as células
Outro fator que pode ter influenciado a sugestão de que
brancas ou leucócitos (Figura 1) atuam na regulação do potencial
animais em tanque escavado necessitam de um maior teor de
imunológico e na manutenção da integridade dos tecidos contra
energia bruta na ração é a densidade utilizada. Costa et al., 1998,
agentes infecciosos e corpos estranhos ao organismo. As plaquetas
citam que no caso de quelônios, um grande número de animais em
participam do processo de coagulação sanguínea. No caso de
uma área considerada pequena, pode gerar competição por
rompimento dos vasos, as plaquetas produzem uma substância que
alimento, espaço, entre outros, resultando em estresse, levando-os a
dá início a uma cascata de reações químicas que resultam na
uma redução na taxa de crescimento e ganho de peso. Em
produção do fibrinogênio e da fibrina, responsáveis pela formação do
contrapartida, um pequeno número de indivíduos, numa grande
coágulo e posterior restauração do vaso.
área, também pode comprometer o crescimento, pois os animais vão
demorar mais a encontrar o alimento. Existe, pois, uma densidade

202 331
A comparação entre as instalações apresentou diferença
significativa ao nível de P<0,05. Animais alojados em tanque
escavado obtiveram menor resposta em relação aos animais
confinados em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas. Para
comprimento e altura da carapaça, a ração que proporcionou
tendência a um maior desenvolvimento foi a de 40% de PB e 3.500
Kcal de EB/kg para as tartarugas em tanque-rede, e de 40% de PB e
4.500 kcal de EB/kg para os animais criados em tanque escavado.
Entre os animais confinados em tanque escavado, há um aumento
linear de acordo com o aumento de nível de proteína e energia bruta,
para comprimento e altura, já, nos animais em tanque-rede, esse
efeito só é observado comparando-se os níveis de energia bruta.

Quanto ao peso e ganho diário de peso (Figura 13), animais


confinados em tanque-rede obtiveram tendência a melhor
Figura 1. Fotografia de esfregaço sanguíneo da tartaruga-da-amazônia,
resultado, com a ração de 40% de PB, sendo que nesse tipo de mostrando as células vermelhas ou eritrócitos nucleados e, ao centro, um tipo
instalação, para essas duas variáveis, o melhor resultado tende a ser de célula branca, o eosinófilo.
alcançado com o menor nível de energia bruta estudado. Para os
animais estudados em instalações em tanque escavado, a ração que O plasma, por sua vez, é constituído principalmente por
tende a proporcionar melhor ganho diário de peso foi a de 40% e água, além de uma variedade de substâncias que incluem os sais
4.500 kcal de EB/kg. minerais (ex. sódio, potássio, cálcio e cloreto), os produtos finais da
digestão das proteínas (aminoácidos), açúcares (glicose) e lipídeos
Praticamente, todos os organismos presentes em um viveiro, (triglicerídeos e colesterol), vitaminas, hormônios, metabólitos,
contribuem para a alimentação de quelônios criados em cativeiro. A gases, além de produtos de excreção, como a uréia, amônia e ácido
maior ou menor quantidade desses organismos irá influenciar úrico, entre outros (Verrastro et al., 1998).
diretamente a produção (Souza et al., 2003). No ambiente natural,
quelônios aquáticos têm nos alimentos naturais suas exigências O sangue é responsável pela integração dos diferentes
nutricionais atendidas, porém, em viveiros, para o aumento da sistemas de um animal, mantendo os líquidos que estão distribuídos
produtividade, a utilização de alimentos artificiais é imprescindível nos diferentes compartimentos do corpo em constante movimento. À
(Sebrae, 1995). medida que o coração bombeia o sangue para os diferentes vasos, os
tecidos recebem os nutrientes, os sais minerais e o oxigênio
Os animais alojados no tanque escavado podem ter tido necessário para manter suas funções normais. Essas substâncias
acesso a outro tipo de alimentação diferente da ração experimental, em suspensão no sangue deixam os vasos através do movimento do
como larvas, insetos e alguma vegetação carreada pela chuva, plasma, para os espaços entre as células (compartimento

330 203
extracelular), e se misturam aos líquidos ali existentes, passando a A forma como os quelônios utilizam os nutrientes e a energia
se movimentar para o espaço existente no interior das células que consomem, é um aspecto fisiológico ainda pouco estudado e tem
(compartimento intracelular). Nas células, o oxigênio e os nutrientes implicações importantes para a produtividade de animais
são consumidos para a produção da energia e, em contrapartida, cultivados.
são formadas substâncias de excreção (gás carbônico e outros
metabólitos) que precisam ser transportados para fora das células e Desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
posteriormente eliminados. Como o organismo da maioria dos expansa) criada em tanque-rede e tanque escavado
animais é formado por cerca de 60 a 75% de água (Aires, 1999;
O tanque-rede é um conjunto flutuante que permite o
Davies et al., 2002), esse movimento contínuo do sangue e dos
confinamento de animais aquáticos em quantidade planejada,
líquidos ao longo do corpo é responsável pela manutenção da
possibilitando maior produtividade e diminuindo o impacto
distribuição de água nos diferentes compartimentos e pelo
ambiental causado pela intervenção do homem. O material utilizado
equilíbrio geral das funções do organismo.
na confecção do tanque deve seguir as orientações técnicas (telas,
Em humanos, exames de sangue envolvendo a análise da armação de sustentação e bóias) para evitar danos ao meio
série vermelha do sangue (hemograma) e dos metabólitos presentes ambiente. Para tanto, o material deve resistir à corrosões, pressões,
no plasma (análise bioquímica) já são feitos de forma rotineira em choques mecânicos e predadores (Santos, 1995).
laboratórios, que utilizam técnicas específicas bastante
Neste capítulo, objetivou-se comparar os resultados de
desenvolvidas e, em sua maioria, automatizadas. Parte dessa
crescimento para P. expansa em tanques-rede, com e sem cobertura
tecnologia vem sendo transferida para a aplicação em outros grupos
plástica e tanque escavado. A Tabela 16 compara os valores médios
de animais como bovinos, eqüinos e caprinos, para o
de comprimento da carapaça.
estabelecimento de intervalos normais que servem como
referenciais no diagnóstico da saúde desses animais (Silva et al., Tabela 16: Comprimento da carapaça (cm) de (P. expansa) em tanque-rede e
1999; Sharma et al., 2000; Birgel Júnior et al., 2001). Mais tanque escavado.
recentemente, diversos grupos de pesquisa científica e veterinária Insta 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
lações 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
distribuídos no país vêm padronizando técnicas de diagnóstico
CE 21,29 21,57 22,06 21,31 21,69 21,98
clínico para animais silvestres mantidos em zoológicos e criados em ± 2,4 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,1 ± 0,6 ± 2,3
cativeiro, como jacarés (Kindermann et al., 2003; Marcon et al., SE 20,22 21,12 21,76 20,64 21,19 21,45
2003) e quelônios (Mundim et al., 1999; Marcon et al., 2000). ± 3,6 ± 2,1 ± 2,0 ± 1,5 ± 1,1 ± 1,1
TE 18,07 18,40 19,33 19,70 20,00 21,50
As técnicas que avaliam o hemograma se baseiam na análise ± 2,3 ± 1,9 ± 1,9 ± 2,2 ± 2,5 ± 1,7
de algumas propriedades do sangue conhecidos como parâmetros *SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TE=
tanque escavado.
hematológicos, que incluem o hematócrito, a concentração de
hemoglobina e o número de células vermelhas presentes no sangue.

204 329
O hematócrito representa a proporção de células vermelhas
Ganho diário de peso de tartaruga em tanque ou eritrócitos sedimentados no sangue (Figura 2). Esse parâmetro
escavado
nos fornece indicações sobre a viscosidade (“consistência”, grau de
2,5 atrito que o sangue tem quando friccionado entre os dedos) e a
2 relação entre o volume total de sangue e a proporção de elementos
GDP (g/dia)

1,5 sólidos presentes, que estão sendo continuamente bombeados pelo


1 coração. Torna-se cada vez mais difícil para o coração bombear o
0,5 sangue, quanto maior for sua viscosidade. Nos quelônios, o sangue
circula dentro dos vasos fechados, de forma idêntica aos demais
0
20/3500 40/3500 30/4500 vertebrados. Aumentos do hematócrito podem dificultar o fluxo do
sangue e, com isso, exigir mais do coração para que esse fluxo seja
Níveis de PB e EB
mantido dentro dos níveis necessários para o bom funcionamento do
animal.
Figura 11: Ganho diário de peso de P. expansa alimentada com ração de três
níveis de proteína bruta e 3.500 e 4.500 kcal de EB/kg em tanque escavado.

A Figura 11 mostra o ganho diário de peso dos animais aos 24


meses de idade. Observa-se que há uma tendência de maior
desenvolvimento com a ração de 40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.

Peso de tartaruga em tanque escavado

1500

1000

500

0 20/4500
12 16 18 22 24 30/4500
I d a d e ( m e se s) 40/4500

Figura 2. Obtenção do hematócrito por sedimentação ou centrifugação, a partir


Figura 12: Peso de P. expansa alimentada com ração de três níveis de proteína de uma amostra de sangue.
bruta e 4.500 kcal de EB/kg em tanque escavado.
Em humanos e outros animais terrestres sujeitos à
desidratação pode ocorrer uma concentração do sangue nos vasos,

328 205
como resultado da perda anormal de água, uma condição Tabela 15: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o
clinicamente chamada de hemoconcentração e facilmente ganho diário em peso(g/dia) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.
Comparação das médias.
diagnosticada pela análise do hematócrito. Este se mostra elevado
20%PB 30%PB 40%PB Médias
quando comparado com o de animais não sujeitos a esse tipo de
3.500 kcal de EB 0,712 0,77 0,8102 0,76±0,05
condição. Hematócritos diminuídos podem refletir, por exemplo, um 4.500 kcal de EB 1,004 1,3626 1,5794 1,31±0,29
diagnóstico de anemia, distúrbio do sangue muito comum entre os Médias 0,858± 1,0663± 1,1948±
humanos causado por vários fatores, como desnutrição, carência de 0,206475 0,419031 0,543907
ferro e, em alguns casos, por características determinadas
De modo geral, não houve diferença significativa ao nível de
geneticamente, como a anemia falciforme, muito freqüente em
P<0,05, dos níveis de proteína e energia bruta estudados. Observa-
populações endêmicas do continente africano.
se, porém, um aumento linear de crescimento, com o aumento dos
A concentração de hemoglobina reflete a capacidade que o níveis de proteína e energia bruta para todas as variáveis analisadas.
sangue tem de transportar o oxigênio, que é retirado da atmosfera O ganho diário de peso também foi crescente com o aumento da
pelos pulmões para ser fornecido aos tecidos e, com isso, permitir idade dos animais. Não houve diferença significativa para
que eles possam produzir a energia necessária para manter suas comprimento e altura da carapaça, porém, há uma tendência para
funções normais. A hemoglobina é uma proteína de estrutura que os animais alimentados com rações de 40% de PB e 4.500 kcal
complexa que é produzida e confinada dentro do citoplasma das de EB/kg obtenham maiores medidas de carapaça. Esse resultado
células vermelhas do sangue. Cada molécula da hemoglobina pode também é observado para peso e ganho diário de peso, sendo que,
transportar até quatro moléculas de oxigênio que se ligam em locais analisando-se a variável peso, apesar de não significativa ao nível de
específicos chamados heme, onde há a presença do átomo de ferro P<0,05, ocorre uma maior variação dos valores médios entre os
(Leninhger, 1984). Aliás, é graças à presença do ferro no interior das tratamentos testados. Vale ressaltar que a temperatura média da
células vermelhas ou eritrócitos (eritro = vermelho; citos = célula) água ficou em torno de 29°C.
que o sangue dos animais tem coloração tipicamente vermelha. O
Os resultados encontrados neste estudo corroboram com os
ferro é também responsável pelo aspecto corado da pele, observado
encontrados para P. expansa no experimento I, com animais criados
nos humanos saudáveis, não observado em pacientes portadores de
em tanques-rede, em que observou-se tendência a um maior
anemia, por exemplo, que normalmente possuem a pele de
desenvolvimento em animais alimentados com ração de 40% de
coloração pálida (Verrastro et al., 1998).
PB. Porém, diferem quanto ao nível de energia, pois, um maior
O número de eritrócitos é também outro parâmetro do crescimento tende a ser alcançado com a ração de 4.500 kcal de
sangue muito importante na avaliação do estado de saúde de um EB/kg. Talvez, animais instalados em tanques escavados
animal. Ele retrata a estimativa do número de células vermelhas que mantenham-se mais isolados e tenham mais espaço para se
3
circulam em cada milímetro cúbico de sangue (1 mm equivale a 10
-6
movimentar, ocorrendo maior gasto energético e necessitando de
litros; quantidade menor do que uma gota). Nos mamíferos, os níveis mais altos de energia na ração para compensar essa perda.
eritrócitos não possuem núcleo e, por isso, possuem vida curta (120-

206 327
Tabela 13: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o 180 dias) e precisam ser constantemente repostos pelos tecidos que
comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado. produzem essas células, denominados tecidos hematopoiéticos. No
Comparação das médias.
homem, eles se localizam na medula espinhal. Nos quelônios, como
20%PB 30%PB 40%PB Médias já mencionado, os eritrócitos possuem núcleo e podem viver por
3.500 kcal de 18,07 19,33 20,00 19,13±0,98 muitos anos na circulação no animal. Os tecidos hematopoiéticos
EB dos quelônios e répteis, em geral, estão situados no fígado, no baço e,
4.500 kcal de 18,40 19,70 21,50 19,87±1,56
EB em menor proporção, na medula (Schmidt-Nielsen, 1996).
Médias 18,23±0,23 19,51±0,26 20,75±1,06
O número de eritrócitos, assim como a concentração de
hemoglobina, está geralmente correlacionado ao nível de atividade
Efeito de níveis de proteína e energia no crescim ento
em peso de tartarugas
do animal (Schmidt-Nielsen, 1996). Quanto maior a atividade do seu
metabolismo, mais oxigênio deve ser consumido para que as células
1200
do organismo possam gerar a energia necessária. Essa necessidade
pode ser facilmente suprida pelo aumento do número de células
1000 20/ 3500
vermelhas (e de moléculas de hemoglobina), aumentando, com isso,
800 30/ 3500
Peso (g)

40/ 3500 a oferta de oxigênio transportado, através do sangue, para os


600
20/ 4500 tecidos. Em humanos e outros animais, o estabelecimento de um
400 30/ 4500
40/ 4500
quadro clínico de anemia geralmente está associado a uma
200
diminuição do número de eritrócitos presentes no sangue (Verrastro
0
et al., 1998; Davies et al., 2002)
10 (T0) 12 16 18 22 24
idade(m eses) A partir da obtenção dos parâmetros hematológicos descritos
acima, é possível calcularmos os chamados índices hematimétricos,
Figura 10: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o peso representados pelo volume celular médio (VCM), hemoglobina
(g) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.
celular média (HCM) e a concentração de hemoglobina celular média
(CHCM). Esses índices nos fornecem informações sobre o
Tabela 14: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o comportamento do eritrócito diante de alterações no volume de água
peso(g) de tartaruga (P. expansa) em Tanque escavado. Comparação das
médias. no organismo, bem como na quantidade de íons como ferro, sódio
20%PB 30%PB 40%PB Médias (Na+) potássio (K+), cloreto (Cl-) e cálcio (Ca2+), entre outros.
3.500 752,61 790 836,46
kcal 793,02± O VCM representa o volume que uma única célula vermelha
de EB 42,0
4.500 932 1.030,6 1.081,4 pode apresentar no momento em que o sangue foi retirado do
kcal 1.014,6 animal. Se em uma dada condição o animal perder água
de EB ±75,9
excessivamente, seu volume sanguíneo diminuirá e, com isso, as
Médias 842,30±126,8 910,27±170,09 958,93±173,20

326 207
células vermelhas do sangue podem murchar, causando ganho diário de peso (g/dia), rendimento de carcaça (%). Os
diminuições no VCM. Em situação oposta, se houver excesso de tratamentos foram organizados em um delineamento experimental
água corpórea, o aumento do volume de sangue pode ser inteiramente casualizado. Os resultados foram submetidos à análise
acompanhado por um aumento do VCM. A análise desse parâmetro de variância (Anova), as comparações foram realizadas através do
hematimétrico é, portanto, uma ferramenta simples e rápida para teste t. O nível de significância utilizado em todos os testes
identificar se o animal está ou não em equilíbrio hídrico ou estatísticos foi de P < 0,05.
eletrolítico.
As Tabelas 12, 13, 14,15 e a Figura 10 apresentam resultados
Já, o HCM, representa a quantidade de hemoglobina presente de crescimento para comprimento de carapaça (cm), peso (kg) e
em um único eritrócito. Além de também fornecer indicações sobre o ganho de peso (g/dia). Os resultados foram analisados
comportamento do volume celular, que se reflete em maior ou menor bimestralmente utilizando como covariável os valores das
quantidade de hemoglobina no seu interior, para os eritrócitos observações obtidas na medição anterior.
nucleados esse parâmetro pode ser importante, pois a síntese de
Tabela 12: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o
novas moléculas de hemoglobina pode ocorrer repetidas vezes, comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.
dependendo das necessidades metabólicas do animal. Essas
Idade (meses) 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
características também podem influenciar o CHCM, que representa
3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
a proporção de hemoglobina em relação ao volume do eritrócito. 10 (T0) 13,27 13,27 13,27 13,27 13,27 13,27
Como o ferro é necessário para a síntese de hemoglobina, a carência ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0
desse mineral também pode induzir a diminuições na CHCM. 12 15,03 15,46 15,26 15,40 15,60 16,30
± 2,8 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,8 ± 2,2 ± 1,9
Além do estudo da função dos elementos celulares do sangue, 16 16,82 17,35 17,62 18,11 18,35 18,44
a avaliação da composição química do plasma pode fornecer um ± 2,6 ± 1,9 ± 1,7 ± 1,4 ± 2,0 ± 2,2
18 17,06 17,52 17,97 18,30 18,80 19,00
outro conjunto importante de informações sobre o estado de saúde e
± 1,8 ± 2,6 ± 2,4 ± 1,6 ± 1,8 ± 1,4
das características nutricionais dos animais. Através da análise do 22 17,75 17,98 18,10 18,61 18,90 19,23
plasma é possível termos uma visão das quantidades dos principais ± 1,6 ± 1,6 ± 2,0 ± 2,4 ± 1,5 ± 1,8
nutrientes exigidos e consumidos pelo organismo, como a glicose, os 24 18,07 18,40 19,33 19,70 20,00 21,50
± 2,3 ± 1,9 ± 1,9 ± 2,2 ± 2,5 ± 1,7
triglicerídeos, o colesterol e as proteínas totais, além da quantidade
de íons (Na+, K+ e Cl-, entre outros) e produtos de excreção. Condições
ambientais e nutricionais variáveis ou desfavoráveis podem
provocar mudanças dramáticas na composição química do plasma,
que podem ser facilmente diagnosticadas através da análise desse
constituinte do sangue.

O estudo das características do sangue pode, portanto,

208 325
Alimentação: De 0 aos 10 meses de idade esses animais fornecer informações clínicas importantes para o entendimento do
foram alimentados com uma ração constituída de 60% da ração estado geral de saúde e do próprio desempenho do animal, seja em
comercial para peixe (Tabela 1). Nesse período, os animais estavam seu ambiente natural ou quando submetido aos procedimentos
2
depositados num tanque escavado de 400m , numa densidade de 9 inerentes da criação em cativeiro.
2
animais/m .
III - Procedimentos para coleta, armazenamento e análise do
A alimentação dos animais durante o período experimental sangue de quelônios
foi uma ração fabricada na Universidade Federal do Amazonas, com
três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e dois níveis de Como pudemos perceber, a análise do sangue se torna
energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). Os animais foram vantajosa pela quantidade de informações que podem ser obtidas
alimentados com as mesmas rações utilizadas no experimento I para diagnosticar o estado de saúde de um animal. Entretanto, fora
(Tabela 2). do corpo, o sangue é um líquido muito suscetível à degradação e
alteração de suas propriedades. Para assegurar a qualidade desse
O experimento foi dividido em seis tratamentos, de acordo material, são necessários, portanto, observar alguns critérios de
com o tipo de alimentação fornecida. Os animais eram alimentados procedimento que visam a praticidade e agilidade em todas as etapas
uma vez por dia, com base em 5% de seu peso vivo, sendo esse valor envolvidas na análise, i e., desde a etapa de captura do animal e
ajustado bimestralmente, de acordo com os resultados da coleta do sangue até o seu tratamento e armazenamento. A seguir
biometria. são definidas as etapas e os principais procedimentos recomendados
para a aplicação em cada uma delas:
Para a definição dos teores de proteína bruta e energia bruta
utilizados nas rações experimentais, foram tomados por base teores a) Captura: dependendo das dimensões e das condições dos açudes
utilizados em outros experimentos realizados no estado do e/ou tanques de criação (profundidade e transparência da água,
Amazonas, onde foram testados 27 e 30% de PB e 3.000 e 4.000 kcal presença de paus e troncos no fundo, tipo de fundo, etc.), os animais
de EB/kg (Lima, 1998). Os níveis de PB e EB das rações podem ser capturados com o auxílio de puçás, redes de cerco,
experimentais também estão bem próximos dos níveis utilizados malhadeiras e até tarrafas (Figura 3). Essa deve ser feita
nas rações comerciais para peixes. As rações foram fornecidas na rapidamente e, dependendo no número de exemplares necessários,
forma de péletes. em várias etapas.

Delineamento experimental e análise dos resultados: Os


animais foram medidos e pesados bimestralmente, tirando-se uma
amostragem de 100 indivíduos/baia. Os dados foram tabulados em
planilha eletrônica Excel e submetidos à análise estatística no
programa SPSS for Windows 8.0. Os dados foram tabulados por
nível de proteína e energia testados. As variáveis analisadas foram
comprimento da carapaça (cm), altura da carapaça (cm), peso (g),

324 209
Figura 3. Captura dos animais em uma das fazendas visitadas, utilizando Figura 9: Experimento em baias com tela plástica em tanque escavado em
tarrafa. criadouro no Rio Preto da Eva/AM. Foto: RAN/AM (P.C.M. Andrade).

b) Coleta da amostra: após serem capturados, os quelônios Animais: Foram utilizados um total de 3.600 tartarugas
devem ser retirados da água e rapidamente imobilizados, por (Podocnemis expansa), de 10 meses de idade, com comprimento
viração, para a coleta da amostra de sangue. É importante que esse médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso médio inicial de 320,05 ± 0,6g,
período de tempo não exceda o intervalo de 2 a 5 minutos para cada acompanhadas dos 10 aos 24 meses de idade. Os animais foram
animal, pois a partir daí, os hormônios de estresse começam a distribuídos numa densidade de estocagem de 75 indivíduos/ m2.
exercer seus efeitos, que resultam em alterações nas propriedades Esses animais pertenciam ao mesmo lote dos animais utilizados no
do sangue do animal. Por esses motivos, recomendamos que os experimento I.
quelônios a serem amostrados sejam capturados paulatinamente e
de acordo com as possibilidades de trabalho da equipe, pois, à Instalações: Os animais foram distribuídos em tanques
medida que esperam, esses animais vão ficando estressados e, cercados com madeira, tipo curral, de 48,0 m2 e 1,80m de
conseqüentemente, inadequados para o diagnóstico do estado geral profundidade, situados em uma barragem de 1,5 ha de espelho
de saúde daquele lote e/ou população de animais. d'água. Os tanques foram divididos com tela, em 6 baias de 8 m2,
sendo alojados 600 animais em cada baia. Sobre o tanque foram
A punção do sangue pode ser feita a partir da veia femoral colocados fios de náilon para evitar o ataque de predadores como
(Figura 4), utilizando seringas plásticas descartáveis (volumes entre gavião (Spizastur sp.) e urubu (Coragyps atratus).
1 e 5 ml), contendo heparina ou liquemina como substâncias

210 323
Estudo do desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia anticoagulantes. Em fêmeas grandes da tartaruga-da-amazônia, a
(Podocnemis expansa) alimentada com ração de três níveis de punção pode ser feita na veia caudal. Não recomendamos o uso de
proteína bruta e dois níveis de energia bruta, criadas em EDTA em quelônios, anticoagulante utilizado em humanos e muito
tanque escavado. comum em postos de saúde e laboratórios clínicos, pois
constatamos em trabalho realizado com tartarugas selvagens na
Este experimento teve duração de 14 meses e foi conduzido
Rebio Abufari, que o EDTA causa alterações no volume do eritrócito
em criatórios comerciais de tartaruga, legalizados pelo Ibama/AM,
e principalmente hemólise (destruição dos eritrócitos e liberação de
localizados na estrada AM 070, Km 26, Iranduba/AM e na rodovia
hemoglobina no plasma), o que pode levar a interpretações errôneas
AM-010, Km 100, Rio Preto da Eva (Figuras 8 e 9).
quando da análise do sangue.

Figura 8: Experimento em baias com cerca de madeira em tanque escavado


em criadouro no Iranduba/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.). Figura 4. Obtenção de amostras de sangue em uma tartaruga, através da
punção da veia femoral.

Durante a coleta, é importante o uso de luvas de


procedimento e jaleco (bata) para assegurar proteção contra a
contaminação por eventuais agentes infecciosos presentes no
sangue. Os quelônios não são considerados vetores de doenças para
humanos e peixes. Entretanto, como os resultados obtidos são ainda
escassos e inconclusivos, deve-se ter cautela e evitar contato direto
com o sangue desses animais.

322 211
c) Medidas biométricas: normalmente essas medidas se baseiam no Os resultados da comparação de crescimento das duas
comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento do espécies coincidem com os encontrados por Oliveira (2000), citando
plastrão, altura, peso e, pelo menos em animais de cativeiro, suas
respectivas idades. É importante mencionar que os dados que a tartaruga cresce melhor do que o tracajá, em cativeiro, tanto no
biométricos devem ser obtidos sempre após a retirada do sangue, primeiro quanto no segundo ano de vida, citando GDP de 1,05 ± 0,14
pois, caso aconteça o inverso, a manipulação do animal durante a para a tartaruga no primeiro ano e 1,97 ± 0,24 no segundo ano, e
biometria poderá ocasionar alterações significativas em seus para o tracajá 0,87 ± 0,15 no primeiro ano e 1,51 ± 0,27 no segundo
parâmetros hematológicos e metabólicos plasmáticos, o que pode
levar a conclusões errôneas na análise dos resultados. Existem ano (Tabela 11).
relatos científicos com uma espécie de tartaruga (Clemys insculpta),
Tabela 11: Comparação entre o peso, ganho diário de peso, ao final de 18 meses
demonstrando que ela sofre uma condição de febre temporária
de cultivo, entre três espécies de quelônios criadas em tanque-rede (tartaruga,
(aumento rápido da temperatura corpórea) quando manipulada em
condições de cativeiro (Cabanac & Bernieri, 2000). Aumentos da P.expansa; tracajá, P. unifilis; e iaçá, P. sextuberculata) (Oliveira, 2000)
temperatura corpórea podem causar alterações nas propriedades do Espécies Peso (g) GDP (g/dia) GDP (% do
sangue. peso vivo)

d) Análise e armazenamento do sangue: durante a análise de suas Tartaruga 853 1,51 0,17
propriedades, tanto no campo como nas fazendas de criação, o Tracajá 598 1,19 0,19
sangue deve ser mantido constantemente em gelo. A baixa Iaçá 333 0,59 0,17
temperatura deprime o funcionamento das células e contribui para
preservar a composição química e hematológica do sangue.
Se a análise do sangue prevê a utilização do plasma, esse Neste experimento, Oliveira (2000) observou que o iaçá
pode ser separado do sangue total por centrifugação, acondicionado apresenta, no primeiro ano, maior crescimento com rações de 3.500
em tubo apropriado e bem vedado, devidamente identificado e,
kcal de EB/kg e 40% de PB (peso=340 g e GDP =0,38 g/dia). No
finalmente, congelado em freezer -20ºC ou em nitrogênio líquido,
mais adequado, já que promove o congelamento instantâneo da segundo ano, não há diferença significativa em termos de energia,
amostra a uma temperatura aproximada de -183ºC. embora animais alimentados com rações de 4.500 kcal de Eb,
apresentem maior ganho de peso (GDP=0,83 g/dia). Existe uma
tendência, no segundo ano, de que animais alimentados com rações
IV - Métodos analíticos aplicados à avaliação das propriedades
do sangue em quelônios com 20% de PB tenham maior crescimento (peso médio=370 g e
GDP=0,88 g/dia).

Parâmetros hematológicos

Hematócrito (Ht): a proporção relativa (%) dos eritrócitos


presentes no sangue pode ser determinada de acordo com o método
que emprega o uso de tubo capilar (75 mm x 1 mm) de vidro, no qual
um volume qualquer de sangue total é introduzido e centrifugado a
10.000 rpm, durante 5 minutos.

212 321
Concentração de hemoglobina sangüínea (Hb): é
determinada por meio de uso de um método colorimétrico que
emprega o uso de um reativo de cor especial (reagente de Brabkin)
que reage diretamente com a hemoglobina presente no sangue. Com
o uso de um aparelho denominado espectrofotômetro (que mede a
intensidade de luz que passa pela solução de cor contendo
hemoglobina), é possível quantificar a concentração (expressa em
g/dl) desse pigmento, que tipicamente tem a coloração vermelha.

Contagem do número de eritrócitos (NE): a contagem do


número total de células vermelhas presentes no sangue pode ser
realizada pelo método de leitura em microscópio óptico, a partir da
diluição de uma amostra de sangue total (10ml) em 2 ml de solução
de formol-citrato (citrato de sódio e formol), utilizando a câmara de
Neubauer, uma placa de vidro dividida em quadros milimétricos, nos
quais as células são contadas. O resultado da contagem é expresso
6 3
em milhões de eritrócitos (NE) por milímetro cúbico (10 /mm ) de
Figura 6: Peso de duas espécies de quelônios alimentados com ração sangue.
em tanques-rede com cobertura plástica.
Índices hematimétricos: o volume corpuscular médio
(VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM) e a concentração de
hemoglobina corpuscular média (CHCM) podem ser facilmente
calculados a partir das relações entre os valores obtidos para os
parâmetros do sangue, citados acima, por meio das seguintes
equações:
3
VCM (m ) = (Ht / nº de eritrócitos) x 10

HCM (pg) = ([Hb] / nº de eritrócitos) x 10

CHCM (%) = ([Hb] / Ht) x 100

Metabólitos plasmáticos

Glicose plasmática: os níveis (mg/dl) de glicose foram


determinados por meio de uma reação enzimática, utilizando um kit.
comercial (Glicose enzimática líquida, Doles reagentes, Goiânia-
GO), seguido de leitura em espectrofotômetro a 510 nm.
Figura 7: Ganho de peso de duas espécies de quelônios alimentados Triglicerídeos: Os triglicerídeos (mg/dl) foram determinados
com ração em tanques-rede com cobertura plástica. através de um método enzimático colorimétrico (Triglicerídeos
enzimático líquido, Doles reagentes, Goiânia-GO), que se baseia na

320 213
hidrólise com lipases. A leitura foi feita em espectrofotômetro a 510 Tabela 10: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre a altura
nm. da carapaça (cm) de duas espécies de quelônios.
Espé T 20/3. 30/3.5 40/3. 20/4.5 30/4. 40/4.5
Colesterol: Os níveis plasmáticos (mg/dl) de colesterol total cie I 500 00 500 00 500 00
foram analisados através de um kit. comercial enzimático-
colorimétrico (Colesterol enzimático líquido, Doles reagentes, Tarta C 8,07 ± 8,18 ± 8,60 ± 7,80 ± 8,04 ± 8,42 ±
Goiânia-GO), com leitura em 510 nm. ruga E 0,4 0,5 0,3 0,7 0,9 0,7
Traca C 6,90 ± 7,50 ± 7,66 ± 6,80 ± 7,88 ± 7,20 ±
Proteínas totais: As proteínas totais do plasma foram já E 1,8 2,7 2,6 2,3 2,2 1,6
determinadas por meio de um teste colorimétrico em 540 nm,
utilizando-se o reagente de Biureto (Doles, GO) e seus níveis Tarta S 7,96 ± 7,59 ± 7,70 ± 7,30 ± 7,54 ± 7,42 ±
expressos em g/dl. ruga E 0,4 0,7 0,9 0,6 0,6 0,6

Uréia plasmática: Os níveis de uréia (mM) foram Traca S 6,20 ± 7,00 ± 7,12 ± 6,70 ± 7,73 ± 6,90 ±
determinados em 600 nm através de um kit. comercial enzimático- já E 1,9 2,8 2,2 1,7 1,1 1,7
colorimétrico (Uréia enzimática líquida, Doles reagentes, Goiânia- *SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura
GO).
plástica, TI= tipo de instalação.

Comparando-se o crescimento das duas espécies de


V - Estudos de caso
quelônios estudadas em tanques-rede, não houve diferença
Durante a apresentação de alguns estudos de caso significativa ao nível de P<0,05 nas variáveis analisadas. Observa-
desenvolvidos pelo grupo de fisiologia e bioquímica com quelônios se, porém, que, de um modo geral, a tartaruga supera em
em várias fazendas próximas a Manaus, o leitor vai ter uma visão de desenvolvimento (comprimento e altura da carapaça) em relação ao
como as propriedades do sangue podem ser empregadas como tracajá, tanto nos animais alojados em baias com cobertura plástica
ferramentas para diagnosticar a saúde, bem como o caráter
nutricional de quelônios criados em cativeiro, utilizando a quanto nos alojados em baias sem cobertura. Tartarugas obtiveram
tartaruga-da-amazônia como objeto de estudo. tendência a alcançar maior crescimento com a ração de 40% de PB e
3.500 kcal de EB/kg, já, entre os tracajás, esse resultado foi
Três situações distintas: parasitismo, perda anormal de água alcançado com a ração de 30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.
por dessecação e o acompanhamento de tartarugas submetidas a
diferentes métodos de criação, foram estudadas e parte desses Os mesmos resultados foram obtidos para peso (Figura 6) e
resultados são mostrados a seguir:
ganho diário de peso (Figura 7), em que tartarugas tendem a superar
os tracajás, tanto entre os animais confinados em tanques-rede, com
Animais parasitados cobertura plástica, quanto nos animais confinados em tanques sem
cobertura. As tartarugas obtiveram maior ganho de peso com a ração
Em 1999, os técnicos do Ibama-Manaus informaram aos
de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, e os tracajás alcançaram
membros do projeto Diagnóstico que um lote de tartarugas
melhores resultados com a ração de 30% de PB e 4.500 kcal de
mantidas nas dependências daquele órgão estavam doentes. Os
EB/kg.

214 319
instalados em baias com cobertura (CE), alimentados com ração de animais estavam sendo mantidos em tanques de fibra de vidro de
30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior rendimento 1.000 litros, parcialmente preenchidos com água estagnada e de
em relação aos animais instalados em baias sem cobertura (SE). Os
resultados para rendimento de carcaça foram semelhantes aos qualidade precária. O diagnóstico foi realizado no local e
encontrados para P. expansa, no experimento I, quanto ao tipo de confirmou a presença de parasitismo múltiplo (Santos, 1999). As
instalação. tartarugas apresentavam pele ressecada, hematomas e sinais de
hemorragia no plastrão e nas patas, manchas e proliferação de
Desenvolvimento de duas espécies de Quelônios criados em
Tanque-Rede fungos ao longo da pele, na membrana timpânica e nos olhos.
Além disso, a autopsia realizada em nove exemplares
As Tabelas 9 e 10 comparam os valores médios de encaminhados ao Laboratório de Parasitologia, da Universidade
crescimento e altura da carapaça de tartaruga (Podocnemis
Federal do Amazonas, revelou quantidade muito elevada de
expansa) e tracajá (P. unifilis), criados em tanques-rede (com
cobertura plástica e sem cobertura) aos 24 meses de idade. vermes helmintos aderidos às paredes internas do trato
gastrointestinal.
Tabela 9: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre o
comprimento da carapaça (cm) de duas espécies de quelônios. Com o objetivo de comparar o quadro diagnosticado nos
Espé T 20/3. 30/3.5 40/3. 20/4.5 30/4. 40/4.5 animais doentes, nove tartarugas consideradas saudáveis
cie I 500 00 500 00 500 00 também foram abatidas para autopsia e houve confirmação da
Tarta C 21,29 21,57 22,06 21,31 21,69 21,98
não incidência de parasitas gastrointestinais e cutâneos. Estes
ruga E ± 2,4 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,1 ± 0,6 ± 2,3
Traca C 17,25 18,00 17,80 16,25 19,00 17,10 animais serviram como grupo controle. A presença de helmintos
já E ± 0,8 ± 2,3 ± 1,4 ± 1,9 ± 1,8 ± 2,3 em quelônios amazônicos selvagens coletados na natureza já foi
Tarta S 20,22 21,12 21,76 20,64 21,19 21,45 descrita na literatura para a tartaruga e o tracajá (Gibbons et al.,
ruga E ± 3,6 ± 2,1 ± 2,0 ± 1,5 ± 1,1 ± 1,1 1997), contudo, a freqüência e o grau de infestação são
Traca S 15,90 16,62 17,66 16,10 18,50 16,90
geralmente baixos.
já E ± 0,9 ± 1,7 ± 1,7 ± 1,4 ± 1,7 ± 2,4
*SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TI= Além dos sinais externos provocados pelo parasitismo
tipo de instalação.
múltiplo, as tartarugas também apresentaram modificações
importantes nas propriedades do sangue. Diminuições
significativas (p<0,05) no hematócrito, na concentração de
hemoglobina e, principalmente, no número de eritrócitos foram
observados nas tartarugas parasitadas, em comparação ao
grupo-controle (Tabela 1), indicando a presença de um quadro
representativo de uma condição de anemia. De acordo com os
resultados obtidos, torna-se evidente que as tartarugas
parasitadas sofreram perda de seu volume sanguíneo provocado,

318 215
principalmente, pela elevada carga de helmintos presentes no Rendimento de carcaça de P. unifilis
trato gastrointestinal. Em mamíferos em geral, esses parasitas
são reconhecidos por causarem, além da anemia, uma série de O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos
distúrbios como letargia, morbidade (falta de estímulo e por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram
movimento), parada no processo de crescimento e, em casos colocados em um recipiente, contendo água e gelo a uma
extremos, a morte do animal. Os resultados também demonstram temperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada
que as tartarugas parasitadas respondem de forma semelhante a decapitação. Após a retirada do plastrão com auxílio de uma serra
aos mamíferos, quando infestadas por helmintos. Como esses elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato
parasitas não apresentam tubo digestivo completo, alimentam- digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho
se por meio da sucção do sangue, contendo as células e os excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 10 animais de cada
nutrientes do plasma, absorvidos durante o processo digestivo, tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).
aspectos que explicam os baixos valores observados em seus Tabela 8: Rendimento de carcaça (%) de P. unifilis de acordo com o tratamento.
parâmetros hematológicos. P arte TI 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
do 3 .5 0 0 3 .5 0 0 3 .5 0 0 4 .5 0 0 4 .5 0 0 4 .5 0 0
co rp o
C arca CE 2 7 ,0 2 7 ,9 5 2 8 ,4 5 2 8 ,9 7 2 9 ,0 3 2 9 ,5 5
ça SE 2 6 ,8 8 2 7 ,1 2 2 7 ,6 3 2 8 ,1 2 2 8 ,3 6 2 8 ,7 7
V ís c e CE 9 ,0 3 9 ,4 6 9 ,8 7 1 0 ,0 1 0 ,6 4 1 0 ,9 8
ras SE 8 ,4 6 8 ,6 4 9 ,0 3 9 ,3 6 9 ,7 8 1 0 ,0 1
G o rd u CE 4 ,3 5 4 ,8 7 5 ,1 0 5 ,3 6 5 ,5 5 5 ,7 2
ra SE 4 ,0 2 4 ,4 2 5 ,0 5 ,1 5 5 ,2 0 5 ,4 2
e x tra -
m us
c u la r
(n ã o
c a v it á
r ia )
TOTA CE 4 0 ,3 8 4 2 ,2 8 4 3 ,4 2 4 4 ,3 3 4 5 ,2 2 4 6 ,2 5
L (% ) SE 3 9 ,3 6 4 0 ,1 8 4 1 .6 6 4 2 ,6 3 4 3 ,3 4 4 4 ,2 0
CE 2 1 ,2 7 2 1 ,9 8 2 2 ,0 5 2 2 ,4 5 2 2 ,8 8 2 3 ,0
C ara SE 2 0 ,9 7 2 1 ,0 3 2 1 ,8 5 2 2 ,0 1 2 2 ,2 5 2 2 ,6 3
paça
P la s CE 7 ,9 8 8 ,0 2 8 ,3 6 8 ,4 7 8 ,9 8 9 ,0 5
trão SE 7 ,1 2 7 ,8 6 8 ,0 8 ,2 5 8 ,3 6 8 ,6 5
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa (sem
cobertura plástica);

A Tabela 8, mostra o rendimento de carcaça (%) de P. unifilis


de acordo com o tratamento. Observa-se que animais de maior
tamanho e peso apresentaram maior rendimento de carcaça e
partes comestíveis do que animais de categorias menores. Os
resultados de rendimento de carcaça convergem com os
encontrados para as outras variáveis analisadas. Animais

216 317
apresentaram um crescimento superior quando comparados aos
animais alojados em baias sem cobertura (SE), tanto para
comprimento e altura da carapaça, quanto para peso e ganho diário
de peso. Esse resultado corrobora com os encontrados para P.
expansa, confirmando que pelo fato da cobertura plástica
proporcionar maior estabilidade da temperatura e manutenção de
temperaturas mais altas, dentro das baias cobertas, considerando
que estes animais tinham dentro das baias uma rampa para
tomarem sol, provavelmente esse fator pode influenciar no
metabolismo de quelônios criados em cativeiro, por serem
ectotérmicos e, conseqüentemente, numa taxa de desenvolvimento
positiva.

Observa-se um aumento linear, nas rações com 3.500 kcal de


EB/kg, quanto ao aumento do nível de proteína bruta nas variáveis
estudadas, sendo que para o nível de energia bruta de 4.500 esse
resultado não foi observado. Comparando-se os resultados quanto
aos níveis de proteína bruta, as variáveis apresentaram maiores Tabela 1. Efeito da infestação por parasitas sobre os parâmetros
valores quando referentes aos tratamentos com 30% de PB, hematológicos e índices hematimétricos (média DP) obtidos no sangue de
tartarugas-da-amazônia criadas em cativeiro.
diferindo dos resultados encontrados para P. expansa, nesse
estudo, onde 40% de PB proporcionou melhor resposta em
Animais controle Animais parasitados Parâmetro
desenvolvimento, em valores médios.
28,14 ± 0,94 18,09 ± 0,74* Ht (%)
Oliveira (2000), em estudos com tracajás (P. unifilis), de zero
a um ano de idade, em temperatura ambiente em torno de 28C, cita 9,39 ± 0,40 5,84 ± 0,28* [Hb] (g/dl)
uma tendência para que animais alimentados com rações de 40% de
0,32 ± 0,02 0,20 ± 0,01* NE (106/mm3)
PB e 4.500 kcal de EB/kg tenham maior crescimento. Nesse estudo,
obteve-se como resultado para o segundo ano de vida, tendência a 935.42 ± 65,31 930,09 ± 62,99 VCM (mm3)
maior desenvolvimento com 30% de PB, o que pode indicar que 298,87 ± 14,45 301,07 ± 23,18 HCM (pg)
ocorre uma diminuição da necessidade protéica dessa espécie, de
acordo com a fase de vida. No habitat natural, animais jovens 32,45 ± 1,83 32,46 ± 1,31 CHCM (%)

consomem mais proteína de origem animal do que os adultos (Teran, * Indica diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os animais sadios e os
parasitados.
1992).

316 217
O parasitismo não parece influenciar os índices Tabela 7: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o ganho de
peso (g) de tracajá (P. unifilis) em tanques-rede.
hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) nas tartarugas estudadas
(Tabela 1). Geralmente, as alterações observadas nesses índices Idade TI 20/3. 30/3. 40/3. 20/4. 30/4. 40/4.
estão relacionadas a distúrbios do balanço hídrico e eletrolítico do (meses) 500 500 500 500 500 500
organismo, como por exemplo, em animais sujeitos à perda anormal 12 C 0,412 0,596 0,740 0,780 0,898 0,710
de água ou acúmulo excessivo de sais. E ±2,1 ±1,9 ±0,3 ±1,8 ±0,8 ±0,6
SE 0,398 0,458 0,591 0,546 0,700
Situações de infestação por parasitas podem ser muito ±2,3 ±1,8 ±1,5 ±2,4 ±1,9 0,654
±0,7
freqüentes em animais mantidos em ambientes de criação, por isso é
necessário que o criador observe o comportamento de seus animais 16 C 0,499 0,650 0,850 0,980 1,214 1,123
durante a criação e, periodicamente, realize exames parasitológicos E ±1,8 ± 2,1 ±0,6 ±1,9 ±1,4 ±0,5
SE 0,444 0,586 0,812 0,673 0,956
para evitar a possibilidade de infestação por helmintos ou outros
±1,5 ±2,2 ±1,8 ±1,6 ±1,6 1,055
tipos de parasitoses. ±1,6

Animais sujeitos à perda excessiva de água, por dessecação 18 C 1,224 1,680 1,720 1,530 1,990 1,800
E ±1,4 ±2,3 ±1,7 ±1,1 ±2,1 ±2,1
O diagnóstico de perda de água corpórea em exemplares da SE 1,112 1,416 1,444 1,437 1,890
±0,9 ±2,7 ±2,4 ±1,5 ±2,3 1,720
tartaruga (P. expansa) foi obtido em duas fazendas de criação ±2,3
situadas no município de Manacapuru-AM, durante os
procedimentos de despesca desses animais para acompanhamento 22 C 1,470 1,730 1,890 1,740 2,420 2,100
E ±1,3 ±2,4 ±1,9 ±1,3 ±1,4 ±1,8
da biometria. No primeiro local de criação (fazenda A), os animais SE 1,391 1,472 1,567 1,585 2,150
foram capturados com rede de cerco, confinados em sacos de náilon ±2,5 ±1,6 ±1,4 ±2,8 ±2,2 1,960
de 50 litros (n=10) e expostos ao ar por um período aproximado de 3 ±1,5
horas consecutivas, até a conclusão da biometria. As amostras de 24 C 1,620 1,990 2,350 2,490 2,760 2,500
sangue foram obtidas imediatamente após o término desse E ±1,1 ±1,7 ±1,5 ±1,9 ±1,4 ±1,6
intervalo. Paralelamente, outro lote de tartarugas (n=10) foi SE 1,555 1,858 2,180 2,270 2,680
1±2,1 ±0,5 ±2,2 ±1,6 ±1,6 2,458
capturado, mantido em água por um período máximo de 15 minutos ±1,3
e, em seguida, amostrado para a obtenção do sangue. Esses
indivíduos foram analisados para servirem como controles em *TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
(sem cobertura plástica);
relação aos animais expostos à dessecação. Na fazenda B, um grupo
de tartarugas (n=10) também foi submetido ao mesmo procedimento De um modo geral, não houve efeito significativo ao nível de
de captura e confinamento, só que por um período aproximado de 6 P<0,05, dos níveis de proteína bruta e energia bruta utilizados nas
horas consecutivas. A exemplo da fazenda anterior, um grupo de rações experimentais, para nenhuma das variáveis analisadas.
tartarugas mantidas em água foi analisado para servir como Porém, os animais confinados em instalações com cobertura (CE)

218 315
Tabela 6: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o peso (g) de tracajá (P. controle em relação aos animais dessecados.
unifilis) em tanques-rede.
Quando os animais sujeitos à dessecação são comparados
Idad T 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
com seus respectivos grupos de controle, é possível observar que os
e I 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
(me parâmetros hematológicos não sofreram variações nas tartarugas
ses) da fazenda A (Tabela 2). Entretanto, nos animais da fazenda B,
10 120,40 120,40 120,40 120,40 120,40 120,4 expostos à dessecação durante 6 horas, já foi possível verificar
(T0) ±0,3 ±0,3 ±0,3 ±0,3 ±0,3 0 ±0,3
aumentos significativos na concentração de hemoglobina. Esse
12 C 186,00 217,00 238,00 190,00 231,25 281,3
E ±2,2 ±1,1 ±1,3 ±1,9 ±2,3 7 ±0,9 aumento da hemoglobina no sangue é resultado da diminuição do
S 184,60 210,00 230,00 169,16 259,00 218,4 volume do eritrócito, que se refletiu nos baixos valores de VCM
E ±2,1 ±1,8 ±1,1 ±1,5 ±1,8 ±1,8 (p<0,05) observados para ambos os grupos de tartarugas sujeitas à
16 C 289,60 332,00 384,00 333,33 376,25 348,0
dessecação (Tabela 2).
E ±1,4 ±2,1 ±1,3 ±2,1 ±1,4 0 ±1,4
S 255,00 263,33 332,50 250,00 373,75 341,0
Tabela 2. Mudanças observadas (média DP) nos parâmetros hematológicos e
E ±1,0 ±1,3 ±1,2 ±2,2 ±1,7 0 ±2,1
índices hematimétricos provocados pela perda de água corpórea em
18 C 425,00 497,00 515,00 465,00 755,00 527,5
exemplares da tartaruga-da-amazônia submetidos por três (fazenda A) e seis
E ±2,1 ±1,5 ±1,1 ±1,8 ±2,1 0 ±2,3
S 343,33 394,16 419,16 397,50 400,00 455,0 horas (fazenda B) à dessecação.
E ±1,8 ±1,1 ±2,4 ±1,3 ±2,2 0 ±2,4
Parâmetro Fazenda A Fazenda B
22 C 628,70 706,00 775,00 581,66 785,00 617,5
E ±0,9 ±0,9 ±2,1 ±1,4 ±2,3 0 ±1,7 Normais Dessecados Normais Dessecados
S 530,00 628,33 752,50 562,50 660,00 610,0
E ±2,5 ±1,5 ±2,2 ±1,7 ±1,9 0 ±1,8 Ht (%) 23,9 ± 1,4 23,0 ± 1,8 28,5±1,6 25,9±1,1
24 C 631,16 718,20 760,00 785,00 935,00 819,0
[Hb] (g/dl) 6,7 ± 0,4 7,42 ± 0,5 7,0 ± 0,4 9,0 ± 0,5*
E ±0,6 ±0,6 ±2,3 ±1,9 ±2,1 ±1,9
S 615,00 635,00 641,00 650,33 868,33 765,0 NE 0,28±0,02 0,31 ± 0,02 0,31±0,02 0,34 ± 0,02
E ±0,8 ±0,8 ±1,6 ±2,1 ±1,9 ±1,5 (106/mm3)

VCM (mm3) 859,5±27,3 745,7±35,0* 890,8±18,7 777,6± 31,1*


*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
(sem cobertura plástica); HCM (pg) 241,1±7,4 245,4± 16,5 226,9±6,1 269,1± 11,1*
CHCM (%) 28,1 ± 0,7 32,1 ± 1,6* 25,3 ± 0,7 34,6 ± 0,6*

* Indica diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os animais dessecados e


aqueles mantidos em água.

É importante mencionar que, pelo menos nas tartarugas


expostas à dessecação por 6 horas consecutivas, todos os índices
hematimétricos se mostraram alterados (Tabela 2), indicando que
esses animais estavam enfrentando uma situação de estresse

314 219
hídrico intenso, pois a diminuição da quantidade de água corpórea sinensis) foram 18,21 e 1,23%, respectivamente, e o conteúdo de
já vinha sendo acompanhada por um decréscimo da proporção de lipídio do bloco de gordura foi de 86,72% (Zhan et al., 2000).
líquido em relação à quantidade de elementos celulares, que leva os
eritrócitos a ficarem menos volumosos e com maior concentração de Efeito do tipo de instalação e da ração experimental no
hemoglobina em seu interior. Diminuições no volume dos desenvolvimento de tracajá (Podocnemis unifilis) criados em
eritrócitos, bem como no volume sanguíneo total, foram também cativeiro
observadas em porcos jovens sujeitos à deprivação de água por 12
As Tabelas 6 e 7 apresentam resultados de crescimento para
horas consecutivas (Houpt & Yang, 1995), indicando que
peso (kg) e ganho de peso (g/dia) de tracajá (P. unifilis) criado em
mamíferos e quelônios sofrem os efeitos negativos da perda de água
gaiolas flutuantes.
corpórea, de maneira similar.
Os animais foram alimentados diariamente com ração de 20,
30 e 40% de proteína bruta e 3.500 e 4.500 kcal de energia bruta/kg.
A ração experimental utilizada tem a mesma composição da ração
descrita no experimento com P. expansa.

As variáveis ambientais registradas no experimento, a fim de que se


pudesse avaliar o efeito da cobertura plástica (estufa) sobre metade
dos tanques-rede foram a temperatura do ar e temperatura da água.
Com relação a essas variáveis, a temperatura da água foi maior nas
instalações com cobertura plástica (31,5 2,22C) comparada às
instalações sem estufa (30,1 1,25C), bem como a temperatura do
ar, que nas instalações com estufa foi de 33,1 1,27C e nas baias sem
estufa de 29,31 1,95C.

No caso dos quelônios, para reverter essa situação de


estresse, é necessário que após o manejo os animais sejam
rapidamente devolvidos à água, para que possam restabelecer o seu
equilíbrio hídrico. Nesse sentido, é importante que durante o
processo de criação os animais sejam mantidos fora da água, o
menor tempo possível, para que não sejam expostos a situações de
estresse hídrico e deprivação de água.

220 313
Tabela 5: Rendimento de carcaça (%) de P. expansa de acordo com o tratamento.
Parte do TI 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/ Animais submetidos a diferentes métodos de criação em
corpo 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
Carcaça CE 29,9 30,85 33,85 31,45 32,0 33,28 cativeiro
SE 28,89 30,12 33,52 30,95 31,74 32,88
Vísceras CE 9,95 10,12 12,75 10,64 11,0 11,85
SE 9,21 9,77 12,11 10,0 10,84 11,25 Como um dos objetivos principais do projeto era realizar um
Gordura CE 5,01 5,10 6,1 5,26 5,56 5,95
extra- SE 4,95 5,0 5,87 5,12 5,23 5,85
diagnóstico das condições gerais de criação dos quelônios, entre os
muscular anos de 1998 e 2000, as equipes do projeto promoveram visitas
(não
periódicas em diversas fazendas de criação localizadas em Manaus e
cavitária)
Total (%) CE 44,86 46,07 52,70 47,35 48,56 51,08 municípios próximos. Inicialmente, a equipe de fisiologia selecionou
SE 43,05 44,89 51,50 46,07 47,81 49,98 fazendas que haviam recebido lotes de recém-eclodidos provenientes
Carapaça CE 22,56 22,98 25,76 23, 97 24,46 25,24
SE 22,0 22,11 25,0 23,0 23,54 24,56 da Rebio Abufari, onde foram realizados os primeiros estudos com o
Plastrão CE 8,78 8,93 10,4 9,0 9,45 9,98 sangue de tartarugas selvagens, para a obtenção de valores de
SE 8,23 8,65 10,0 8,8 9,2 9,6
referência para os parâmetros hematológicos e metabólitos do
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: em estufa plasma (Marcon et al., 2000). Com o intuito de preservar a
(sem cobertura plástica).
privacidade dos proprietários que apoiaram esse estudo, as fazendas
A Tabela 5 mostra o rendimento de carcaça (%) de P. expansa de criação foram aqui identificadas apenas por letras. Nesse sentido,
de acordo com o tratamento. Observa-se que animais de maior foram eleitas quatro fazendas: fazenda A (Manaus), fazenda B
tamanho e peso (de acordo com as Tabelas 5 e 7), apresentaram (Iranduba), fazenda C (Manacapuru) e fazenda D (Rio Preto da Eva).
maior rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de
categorias menores. Os resultados de rendimento de carcaça Paralelamente à coleta de sangue, foram realizadas
convergem com os encontrados para as outras variáveis analisadas. entrevistas com os proprietários e/ou responsáveis das fazendas,
Animais instalados em baias com cobertura (CE), alimentados com com o objetivo de obter informações mais detalhadas sobre as
ração de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior condições de criação, o tipo de tanque utilizado, alimentação (tipo e
rendimento em relação aos animais instalados em baias sem quantidade), qualidade da água, relatos de parasitismo, etc.
cobertura (SE).
As fazendas monitoradas neste revelaram procedimentos de
Valores aproximados foram encontrados por Gaspar & criação variados. Os animais da fazenda A estavam sendo criados em
Rangel-Filho (2001), verificando que depois da retirada dos ossos o tanques escavados (aprox. 20m x 40m), contendo água de coloração
rendimento de carne de tartaruga foi de 30%, o conteúdo de proteína barrenta. A alimentação era notoriamente insuficiente e consistia
e lipídio foi de 17,39 e 1,83%, respectivamente, com valor calórico basicamente da sobra de vegetais (alface picada, repolho e outros
baixo (86,03 kcal/100 g carne). tipos de verdura) obtidos em feiras. Na fazenda B, a alimentação se
Estudos na China mostram que o conteúdo de proteína e resumia à oferta de uma macrófita aquática (mureru, Eichhornia
lipídio no músculo da tartaruga-chinesa-de-casco-mole (Trionyx
312 221
sp.), de restos de pão e, quando disponível, de ração comercial para
peixes. Em ambas as fazendas, os indivíduos amostrados estavam Rendimento de carcaça de P. expansa em tanque-rede
magros e pequenos e apresentavam sinais claros de inanição, em
O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos
comparação aos indivíduos de mesma faixa etária, amostrados nos
por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram
outros dois criadores (Tabela 3). colocados em um recipiente contendo água e gelo a uma
Na fazenda C, os animais eram criados em um pequeno lago temperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada
contendo água preta e de boa qualidade. Os animais estavam sendo a secção da cabeça. Após a retirada do plastrão, com auxílio de uma
alimentados com uma ração comercial à base de peixes, oferecida serra elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato
digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho
em quantidades aparentemente suficientes e apresentavam aspecto
excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 5 animais de cada
saudável. Já na fazenda D, as tartarugas estavam sendo criadas em
tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).
uma barragem, em consórcio com tilápias (Tilapia sp.) e pirarucus
(Arapaima gigas), com água também de coloração preta e de boa
qualidade. A alimentação, a exemplo da fazenda C, também
consistia na oferta de ração comercial à base de peixes. Entretanto,
além da ração, o criador fazia uma complementação alimentar diária
com macaxeira. Os animais estavam aparentemente saudáveis, com
peso e tamanho superiores ao observado nos animais analisados
nas demais fazendas (Tabela 3).

Esse histórico inicial é fundamental para entendermos como


as condições gerais de criação podem influenciar os parâmetros
hematológicos da tartaruga. Os resultados obtidos nas diferentes
fazendas revelam dois extremos importantes: os animais das
fazendas A e B apresentaram os parâmetros hematológicos
estatisticamente (p<0,05) inferiores aos registrados para os animais
da natureza (controle). Esse comportamento foi ainda mais evidente
na fazenda B (Tabela 3). Isso é um forte indicativo de que os
procedimentos empregados nas duas primeiras fazendas não
estavam sendo satisfatórios para propiciar um crescimento
adequado para a tartaruga em cativeiro.

222 311
protéico são mais caras, mas esse custo se justifica, se o ganho de Tabela 3. Biometria, hematologia e níveis dos principais metabólitos
peso for considerável. Vale ressaltar que os gastos com alimentação plasmáticos (média DP) obtidos em exemplares (n=10) da tartaruga (Podocnemis
nesse sistema situam-se entre 50% e 70% dos custos totais da expansa) criados em 4 fazendas próximas a Manaus. * indica diferença estatística
produção, porém, é imprescindível investir na dieta correta, pois a (p<0,05) em relação aos animais controle.

resposta virá em produtividade e, conseqüentemente, em lucro.


Parâmetro Animais Fazenda A Fazenda Fazenda Fazenda
controle B C D
Quanto aos níveis de proteína bruta e energia bruta 1

utilizados nas rações experimentais, de modo geral, observou-se Hematologia


Ht (%) 28,1±4,2 19,6±3,8 18,6±3,3 22,4±5,0 29,9±6,7
tendência das rações com 40% de PB proporcionarem maior *
crescimento em todas as variáveis analisadas. É observado um [Hb] (g/dl) 8,2±1,4 5,4±1,0* 5,5±0,7* 6,4±1,9 9,0±1,81
NE 0,30±0,04 0,28±0,05 0,22±0,02 0,27±0,08 0,41±0,07
crescimento linear dentro de cada nível de PB e EB avaliado, de (10 6 /mm 3 ) * *

acordo com o aumento da idade do animal, em todas as variáveis VCM (mm 3 ) 803±144 722±199 847±157 893±249 728±104
HCM (pg) 249 ± 45 198±42* 249±33 248±91 221±36
analisadas. À medida que é aumentado o nível de proteína bruta, CHCM (%) 31,2±2,2 28,5±8,1 29,8±4,6 28,4±3,4 30,8±6.5
observa-se também um aumento linear dentro das variáveis. Metabólitos
PT (g/dl) 2,8±0,7 2,4±0,3 1,7±0,3* 1,5±0,3* 4,0±0,7*
Glicose 94,9±30, 102,5±15, 59,7±19, 90,1±16, 86,7±15,
Costa et al., 1998, em estudos com P. expansa em cativeiro, (mg/dl) 6 1 5* 0 7
observaram que animais alimentados com 20% de PB obtiveram TG (mg/dl) 31,3±20, 53,6±61,0 69,2±33, 18,6±11, 209,4±9
9 6 7 8
melhor ganho de peso (0,523 ± 1,08 g/dia) em relação aos que foram
COL 38,3±38, 31,4±8,4 27,8±7,7 33,3±12, 26,1±7,9
alimentados com 30% de PB (0,489 ± 0,89 g/dia) e 40% de PB (0,492 (mg/dl) 6 4
Uréia (mM) 1,6±1,5 1,0±0,4 2,4±0,8* 2,5±1,6* 5,9±3,8*
± 1,13 g/dia). Animais alimentados com 3.000 Kcal de EB/kg (0,536
± 1,16 g/dia) superam os animais alimentados com 4.000 Kcal de Biometria
EB/kg (0,466 ± 1,93 g/dia), no primeiro ano de vida. Esse resultado Carapaça 37,9±5,0 14,1±1,2 14,2±1,1 22,6±4,3 24,5±3,0
(cm)
pode indicar que essa espécie, no segundo ano de vida, necessite de Peso (kg) 5,74±2,6 0,37±0,1 0.32±0,0 1,33±0,7 1,78±0,5
um maior teor de proteína bruta para atender à exigência dietética 7 2 6
Idade ? 4,0±0 2,5±0,5 2,7±0,5 2,0±0
por aminoácidos necessários ao seu crescimento máximo. (anos)
Nota: 1) indivíduos selvagens (n=10) da tartaruga, provenientes da Rebio Abufari. PT =
Como não houve diferença significativa no efeito dos níveis de proteínas totais; TG = triglicerídeos; COL = colesterol total.
PB e EB testados, sugere-se a utilização de dietas com 30% de PB e
A avaliação das condições gerais dessas fazendas demonstra
3.500 kcal de EB/kg, já que a ração de 20% de PB tende a
descaso com a alimentação e a manutenção da qualidade da água.
proporcionar desenvolvimento mais baixo. Para a criação de Apesar de condizente com o hábito herbívoro atribuído à tartaruga-
tartarugas em tanques-rede pode-se optar pela utilização de da-amazônia (Fachin et al., 1995; Soini et al., 1989), tanto a
cobertura plástica, para conservar maior temperatura da água quantidade, como a qualidade (restos de feira e mureru) do alimento
fornecido não pareciam estar satisfazendo as necessidades
dentro das baias, permitindo um metabolismo mais eficiente.
fisiológicas da espécie. Isso se reflete claramente no peso dos
animais cultivados nessas fazendas: os quelônios analisados na

310 223
fazenda A possuíam uma faixa etária de aproximadamente 4 anos e ambiente (ectotérmicos).
um dos menores pesos registrados entre os diferentes locais.
Situação semelhante pode ser observada nas tartarugas da fazenda Como o consumo de alimento está diretamente relacionado
B que, apesar de mais jovens, também revelaram pesos muito abaixo ao metabolismo dos quelônios, pode-se inferir que a cobertura
da média, observados para outras fazendas (Tabela 3), indicando
que os animais dessas fazendas estavam sendo submetidos a uma plástica promova um maior desenvolvimento dos animais, pela
dieta destinada tipicamente à manutenção de suas funções manutenção de temperaturas mais altas dentro das baias. O baixo
orgânicas e distantes daquela esperada para um bom crescimento desenvolvimento referente à menor temperatura, pode estar
em condições de criação. relacionado à mudança de comportamento termorregulatório dos
animais.

Pouco se conhece quanto às exigências nutricionais de


quelônios, portanto, é necessário determinar a necessidade de
aminoácidos para cada fase de produção e a relação de aminoácidos
ideal em rações de baixo teor de proteína. A qualidade da proteína é
um fator a ser considerado para o fornecimento de ração aos
animais, visando oferecer os níveis de aminoácidos essenciais
adequados para atender suas necessidades iniciais. Duarte, 1998,
infere em estudos com Podocnemis expansa, que proteína de origem
animal (vísceras de peixe e bovina) proporciona maior ganho de peso
relacionado ao fornecimento de proteína de origem vegetal. As
matérias-primas de origem vegetal ou animal, usadas na fabricação
de ração comercial, possuem proteína variando entre 5 e 10%. Assim
como varia o teor de proteína bruta, também varia o teor de
A fazenda C e, especialmente a fazenda D, parecem estar aminoácidos que compõem cada uma dessas matérias-primas. No
mais preparadas para a criação de P. expansa em cativeiro. A entanto, essas variações não são lineares, ou seja, um ingrediente
manutenção desses animais em açudes de igarapé represados e/ou mais rico em proteína não é necessariamente mais rico em todos os
lagos naturais, bem como a utilização de rações mais equilibradas e aminoácidos essenciais.
ricas em proteínas, parecem ser procedimentos que melhor
satisfazem as necessidades naturais dessa espécie e se refletem Nos tanques-rede, os animais não têm acesso ao meio
positivamente no crescimento dos animais (Tabela 3). Na fazenda C, ambiente e a ração é a única fonte alimentar. Por esse motivo, o
apenas os níveis de proteínas totais estiveram diminuídos em alimento deve ser de excelente qualidade, com o devido
relação aos animais de controle, enquanto que os níveis de uréia balanceamento dos nutrientes necessários ao desenvolvimento do
encontraram-se aumentados. O proprietário da fazenda estava em animal. O nível protéico das rações para criação em tanques-rede
fase de negociação do imóvel durante o período de acompanhamento deve ficar entre 32% e 40% (RAN, 2001). Rações de maior nível

224 309
É importante considerar que os animais alojados em baias e, provavelmente, deve ter reduzido a quantidade de ração oferecida
sem cobertura podem ter tido acesso a outro tipo de alimentação aos animais. Isso poderia explicar, em parte, a diminuição dos
diferente da ração experimental, como larvas, insetos e alguma valores de proteínas totais, observada no plasma. Já, as
vegetação carreada pela chuva, sendo que nas baias cobertas esse propriedades do sangue das tartarugas criadas na fazenda D foram
controle era mais rigoroso. Isso pode ter influenciado no menor semelhantes aos dos animais de controle, com exceção do número
desenvolvimento dos animais nas instalações sem estufa, visto que de eritrócitos, bem como dos conteúdos de proteínas totais, uréia e,
essa alimentação alternativa disponível poderia ser mais palatável e, principalmente, de triglicerídeos, provavelmente devido ao tipo de
assim, ter desencadeado a preferência dos animais, levando ao complementação alimentar, à base de macaxeira, ingerido por esses
menor consumo voluntário de ração. animais.

De um modo geral, não houve diferença significativa ao nível


de P<0,05 quanto ao efeito dos níveis de proteína e energia bruta
testados e o tipo de instalação. Porém, há uma tendência para que
animais instalados em baias com cobertura plástica superem em
desenvolvimento aqueles alojados em instalações sem cobertura
plástica, em todos os tratamentos e em todas as variáveis analisadas
(aos 24 meses, GDP=3,3 ± 1,8g/dia e GDP=2,815 ± 1,74g/dia,
respectivamente, para ração de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg).

Esses resultados corroboram com os encontrados por Costa


et al., 1998, onde P. expansa confinada em tanques-rede com
cobertura plástica, apresentou maiores valores de ganho diário de
peso em relação aos animais alojados em baias sem cobertura (1,37
0,36 g/dia e 1,08 0,48g/dia, respectivamente), com temperatura
ambiente em torno de 30C, acompanhados no primeiro ano de vida.
Informações obtidas em tartarugas selvagens (Marcon et al.,
Oliveira (2000), estudando o desenvolvimento de P. expansa 2000, Duncan et. al., 2001) indicam que esses animais são versáteis
quanto ao uso de diferentes substratos energéticos, desde as
em tanques-rede encontrou resultados semelhantes aos resultados primeiras fases de vida. Nesse sentido, é provável que o excesso de
desse estudo. Aos 12 meses de idade, os animais apresentaram GDP carboidratos ingeridos pelas tartarugas da fazenda D estariam
de 1,26 0,25, em baias cobertas, e GDP de 1,09 0,35 em baias sem sendo convertidos em triglicerídeos e transportados no plasma em
cobertura, explicando que a cobertura plástica proporciona maior grandes quantidades, por parte das proteínas aí presentes, até os
diversos tecidos, onde podem ser metabolizados ou armazenados na
estabilidade da temperatura e conservação do ambiente, por mais forma de gordura. A quantidade de triglicerídeos foi tão expressiva
tempo, permitindo uma taxa metabólica mais regular, visto que o nesse grupo, que dois indivíduos chegaram a apresentar 449 e 680
metabolismo desses animais é influenciado pela temperatura mg/dl, respectivamente, valores bem superiores aos considerados

308 225
normais para animais da natureza (Marcon et al., 2000). O PB e 3.500 kcal de EB/kg, a partir dos 18 meses. Esse resultado é
resultado desse complemento alimentar se refletiu no peso médio alcançado aumentando-se o nível de energia bruta para 4.500 kcal
atingido por esses animais, que supera os valores obtidos nas
de EB/kg. A diferença nos resultados apresentados entre as
outras fazendas de criação. Entretanto, os níveis de triglicerídeos
também indicam que esse procedimento de criação pode induzir as variáveis analisadas talvez indique um crescimento alométrico para
tartarugas a ficarem excessivamente gordas. Naquela esta espécie, conforme sugerido por Vianna, 1999, para P. unifilis,
oportunidade, foi sugerido ao proprietário da fazenda diminuir a sendo que alguns autores indicam crescimento isométrico para
oferta de macaxeira para balancear melhor a quantidade de
animais de carapaça externa. Pelas controvérsias, são necessários
alimento fornecido aos seus animais. Uma dieta mais equilibrada
pode permitir que o animal converta a maior parte dos nutrientes estudos específicos complementares para confirmarem esses
absorvidos e metabolizados em massa muscular (carne) e não em parâmetros. Pode indicar também que sejam necessários maiores
gordura. níveis de energia bruta para o crescimento em comprimento já que
com o aumento do nível protéico da dieta ocorre uma redução na
Por fim, torna-se evidente que o acompanhamento periódico
das características do sangue pode se constituir em uma excelente energia não protéica disponível. Porém, como os quelônios são
ferramenta, tanto para o diagnóstico do estado de saúde como para vendidos por peso vivo esse resultado é irrelevante, sendo
o entendimento das necessidades nutricionais dos quelônios importante considerar os resultados encontrados para peso e ganho
criados em cativeiro. Estudos complementares são ainda
diário de peso e, para essas variáveis, o melhor desenvolvimento foi
necessários para que possam ser definidos com maior adequação,
critérios e procedimentos de acompanhamento das condições gerais alcançado com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, durante
de criação de quelônios no estado do Amazonas. todo o período experimental. Pode ser que as rações com 40% de PB
apresentem melhor perfil de aminoácidos essenciais, assim como
apresentaram melhores níveis de cálcio e fósforo, permitindo, dessa
forma, um maior atendimento das exigências nutricionais.

As variáveis ambientais registradas no experimento, a fim de


que se pudesse avaliar o efeito da cobertura plástica (estufa) sobre
metade dos tanques-rede, foram a temperatura do ar e a
temperatura da água. Com relação a essas variáveis, a temperatura
da água foi maior nas instalações com cobertura plástica (30,55
1,53 C) se comparada às instalações sem estufa (27,22 0,73 C),
assim como a temperatura do ar que, nas instalações com estufa, foi
de 33,5 2,98C e nas baias sem estufa foi de 28,82 2,47C. Isso pode
ser devido ao fato de que o plástico das estufas tornou-se opaco pelo
acúmulo direto de sujeira, o que, de certa forma, impediu a rápida
dissipação do calor nas instalações, provocando um efeito estufa.

226 307
Capítulo 7: Instalações para a criação de
quelônios

Paulo César Machado Andrade


João Alfredo da Mota Duarte
Francimara Souza da Costa
Wander Rodrigues
Hugo R. Bezerra Alves
Anndson Oliveira Brelaz

Figura 4: Ganho diário de peso de tartarugas criadas em tanques-rede com Na criação comercial de quelônios em cativeiro, as
estufa, alimentadas com ração de 20, 30 e 40% de proteína bruta. o
instalações precisam ser conforme exige o Ibama na Portaria n
142/92, para as fases de reprodução, cria, recria, alimentação e
manutenção, para que, ao submeter o animal a um ambiente
G a n h o d iá r io d e p e s o d e t a r t a r u g a e m c a t iv e ir o
3 ,5 artificial, com características aproximadas ao habitat natural, se
3 consiga um crescimento satisfatório (Duarte, 1998).
2 ,5
G D P ( g /d ia )

As principais instalações para um criatório de quelônios são:


2
a) Berçário: Instalação onde os filhotes ficaram durante o
1 ,5
primeiro ano de vida, recebendo maior proteção contra predadores e
1 uma alimentação que propicie melhor crescimento inicial. Em geral,
0 ,5 são feitos de cercas de madeira em barragens, pequenos tanques
0 escavados, tanques em alvenaria ou tanques-rede. Em média,
12 16 18 20 22 24
3500
trabalha-se com uma área de 70-150 m2 para 4.000-4.500 filhotes
Id a d e ( m e s e s ) 4500 em berçários de cerca de madeira ou tanque escavado, ou de 35
Figura 5: Ganho diário de peso de tartarugas criadas em tanques-rede animais/m3 em tanques-rede ou gaiolas (Figuras 1, 2, 3).
com estufa, alimentadas com ração de 3.500 e 4.500 kcal/kg.

Em resumo, no comprimento e altura da carapaça, a


tendência a um maior crescimento nos primeiros meses de
experimento é observada com o fornecimento de ração com 40% de

306 227
Figura 3: Peso de tartarugas em tanques-rede alimentadas com ração de
40% de PB e dois níveis de energia bruta.
Figura 1: Modelos de berçários de quelônios na fazenda experimental da
Universidade Federal do Amazonas: a) Balsa com berçário em gaiolas flutuantes ou A Figura 4 compara os níveis de proteína bruta na ração de 3.500
tanques-rede; b) Berçário com cercado de madeira. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, kcal de EB/kg dos animais confinados nos tanques-rede com
P.C.M.)
cobertura plástica. Os resultados sugerem que a ração de 40% de PB
proporciona uma resposta de maior ganho diário de peso em relação
aos níveis de 20 e 30% de PB, durante todo o período experimental,
sendo que essa diferença não foi significativa ao nível de P<0,05. A
Figura 5 demonstra o ganho diário de peso (g/dia) de animais
alimentados com ração de 40% de PB e dois níveis de energia bruta
(3.500 e 4.500 kcal de EB/kg) confinados em baias com estufa.
Pode-se observar que o nível de 3.500 de energia bruta promove um
maior ganho diário de peso a partir dos 16 meses de idade.
Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira (2000),
inferindo que tartarugas criadas em gaiolas flutuantes
Figura 2: Berçário com cerca de madeira, cantos arredondados e plataforma de
areia como solário. Fazenda Águas Claras, Manacapuru/AM. Foto: Projeto Diagnóstico apresentaram maior desenvolvimento com rações de 40% de PB e
(Andrade, P.C.M.)
3.500 kcal de EB/kg, avaliadas no primeiro ano de vida.

228 305
A Figura 2 demonstra o peso dos animais aos 24 meses de
idade, alimentados com três níveis de proteína bruta em rações de
3.500 kcal de EB/kg, e a figura 3 compara os dois níveis de energia
de acordo com o tipo de baia. O efeito das baias cobertas e sem
cobertura não foi significativo ao nível de P<0,05. Porém, pode-se
observar que animais alojados em baias cobertas (CE) possuem peso
superior aos animais instalados em baias sem cobertura (SE), assim
como aqueles alimentados com rações de 40% de PB superam em
peso os animais alimentados com 20 e 30% de PB. O nível de energia
que teve tendência a proporcionar melhor resposta de crescimento
foi o de 3.500 kcal de EB/kg.
Figura 3: Berçário tipo gaiola em lagos naturais. Macuricanã, Nhamundá/AM.
Peso de tartaruga em diferentes instalações Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.)

1600
b) Tanque ou barragem de crescimento: Instalação para
1400 onde os animais são transferidos após a saída do berçário. Em geral,
1200 são tanques escavados ou barragens, onde os quelônios têm maior
1000 espaço disponível para deslocamentos, permitindo um melhor
Peso (g)

800 CE
desempenho. Essa instalação serve para animais de 12 a 36 meses,
600 SE 2
e em geral trabalha-se com cerca de 1 animal/m , sendo, entretanto,
400
2
200 possível, trabalharmos intensivamente com até 20 animais/m no
0 segundo ano (Figura 4).
20 30 40
Proteína bruta (% )

Figura 2: Peso(g) de tartarugas criadas em tanques-rede alimentadas com


ração de 3.500 kcal de EB/kg.

Figura 4: Tanques de crescimento e barragem como área de reprodução com


praia artificial. Novo Israel, Manaus/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.)

304 229
c) Tanque ou barragem de reprodução: Esta instalação Tabela 4: Efeito do tipo de instalação e níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração,
sobre o peso (g) de Podocnemis expansa em tanques-rede.
destina-se aos reprodutores e matrizes, selecionados entre animais
acima de 4 anos ou 7 kg de peso vivo, no caso das tartarugas, e 4 anos Idade T 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
(mês) I 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
ou acima de 3 kg, no caso dos tracajás. Trabalha-se com uma 10 320,05 320,05 320,05 320,05 320,05 320,05
2
densidade de um animal para cada 2,5 m , preferencialmente, em (T0) ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6
12 C 465,41 488,87 539,33 453,02 483,50 525,93
barragens de um hectare ou grandes tanques escavados (acima de E ± 1,2 ± 2,9 ± 1,9 ± 2,8 ± 8,2 ± 9,1
2
1.000 m ). Em uma de suas margens deverá ser construída uma S 380,72 401,00 433,33 348,50 377,50 422,97
E ± 2,4 ± 2,2 ± 3,6 ± 3,8 ± 2,8 ± 7,1
praia artificial com areia fina ou média, com no mínimo um metro de 16 C 548,25 568,75 685,00 457,77 525,93 564,64
altura acima do nível d'água (Figura 5). E ± 2,0 ± 1,4 ± 1,3 ± 2,6 ± 6,8 ± 4,1
S 470,00 481,25 502,61 421,60 507,85 526,33
E ± 7,3 ± 4,0 ± 1,2 ± 1,0 ± 7,4 ± 1,3
18 C 641,53 648,41 748,75 483,88 579,12 701,25
E ± 5,0 ± 1,2 ± 2,6 ± 1,5 ± 1,3 ± 4,5
S 525,85 548,16 587,77 595,00 523,75 602,66
E ± 1,8 ± 5,0 ± 2,0 ± 3,8 ± 5,7 ± 7,1
20 C 701,00 736,81 1.217,3 600,00 762,54 773,67
E ± 2,5 ± 9,6 0 ± 3,3 ± 2,1 ± 3,5 ± 9,4
S 576,87 648,41 773,03 561,11 619,86 732,22
E ± 2,6 ± 1,0 ± 1,9 ± 1,8 ± 1,2 ± 8,2
22 C 770,78 1.051,3 1.350,0 778,33 978,68 1.262,7
E ± 1,6 0 ± 1,2 0 ± 2,1 ± 6,9 ± 4,6 0 ± 1,3
S 708,57 940,50 1.055,0 625,55 970,58 1.007,0
E ± 2,1 ± 2,0 0 ± 2,5 ± 1,7 ± 2,0 0 ± 1,5
24 C 1.124,4 1.378,2 1.542,4 1.116,4 1.296,9 1.496,7
E 0 ± 3,8 0 ± 1,0 0 ± 3,5 0 ± 2,2 0 ± 6,7 0 ± 4,8
S 1.046,3 1.305,0 1.435,0 872,50 1.136,3 1.373,6
E 0 ± 2,8 0 ± 3,8 0 ± 3,2 ± 1,3 0 ± 1,8 0 ± 2,1
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
Figura 5: Tanque circular de reprodução de quelônios em alvenaria. CPPQA,
(sem cobertura plástica).
Balbina/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

Analisando-se os dados de peso (Tabela 4), também não foi


Outras instalações poderão ser construídas, como berçários encontrada diferença significativa ao nível de P<0,05. Pôde-se
para animais com dois anos, tanques de engorda para animais observar, porém, que durante todo o período experimental animais
acima de três anos, que ainda não atingiram peso de abate, etc. alimentados com rações de 3.500 kcal de EB/kg, tendem a superar
Quanto mais divididos forem os lotes, preferencialmente, por classe em desenvolvimento aqueles alimentados com rações de 4.500 kcal
de tamanho ou peso, menor a competição e mais uniformemente os de EB/kg, sendo que a maior média foi alcançada com o
animais terão acesso ao manejo e alimentação oferecidos. fornecimento de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg. Em todos os
tratamentos, o maior peso e ganho diário de peso foram alcançados
Todas as instalações deverão ser cercadas com cercas de com animais alimentados com rações de 40% de PB.
madeira, tela de alambrado ou mureta de alvenaria, com, no

230 303
Quanto ao comprimento da carapaça (Tabela 3), não houve mínimo, 60 cm de altura e com cantos arredondados. Este tipo de
diferença significativa ao nível de P<0,05, do efeito dos níveis de PB e estrutura evitará a fuga de animais (principalmente tracajás),
EB testados, tanto para os tratamentos com animais confinados em quando de eventuais problemas de secagem acidental dos tanques e
instalações com cobertura plástica (CE), quanto para os confinados barragens (Figura 8).
em instalações sem cobertura (SE). Porém, observa-se que dos 12
aos 18 meses de idade, ocorre uma tendência à obtenção de maior Nos berçários, é recomendável que se coloque uma estrutura
crescimento em valores médios, com o fornecimento de ração com de proteção para evitar predadores aéreos (gaviões, garças, socós,
40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg para as duas instalações testadas. etc.). Isso pode ser feito com redes de pesca, tela tipo sombrite ou fios
A partir dos 18 meses de idade, até o final do experimento, obteve-se de náilon esticados (Figuras 6 e 7).
tendência para maiores valores de comprimento da carapaça,
aumentando-se o teor de energia bruta para 4.500 kcal de EB/kg,
em rações de 40% de PB.

Para a variável altura da carapaça também não foi observada


diferença significativa ao nível de P<0,05, do efeito dos níveis de PB e
EB testados para nenhuma das instalações. Observa-se, porém, que
aos 12 meses de idade a maior altura foi obtida nos animais
alimentados com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, tanto
para aqueles alojados em instalações com cobertura, quanto aos
alojados em instalações sem cobertura. Dos 16 aos 24 meses de
idade, observa-se que há tendência à obtenção de maior
desenvolvimento, com o aumento do teor de energia bruta associado
ao maior nível de proteína bruta (40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg).

Figura 6: a) Berçário com cerca de madeira em barragem; b) Detalhe do sistema


de fios de náilon para proteger contra predadores aéreos. Vide praia de reprodução ao
fundo. Fazenda do sr. Chico Lima/Manacapuru-AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade,
P.C.M.).

302 231
Tabela 3: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg) sobre o comprimento
da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa), em tanques-rede.

Idade TI 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/


(mês)
3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
10 (T0) 13,27 13,27 13,27 13,27 ± 13,27 13,27
± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 2,0 ± 2,0 ± 2,0
12 CE 14,53 15,02 16,27 15,08 ± 14,96 15,54
± 1,5 ± 1,4 ± 2,2 2,3 ± 1,6 ± 1,7
SE
13,73 14,62 14,89 14,16 ± 14,23 14,56
± 2,3 ± 1,6 ± 2,0 1,1 ± 1,3 ± 1,3
16 CE 15,48 15,80 16,35 15,85 ± 15,16 15,85
± 0,5 ± 1,2 ± 1,2 1,0 ± 1,4 ± 1,7
SE
15,35 15,56 15,69 14,86 ± 15,00 15,67
± 1,2 ± 0,7 ± 1,0 1,1 ± 1,0 ± 0,5
Figura 7: Berçário de alvenaria redondo e com proteção contra predadores, feita
com rede de pesca. Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade,
18 CE 15,71 16,43 17,63 15,69 ± 17,05 17,05
P.C.M.). ± 1,3 ± 1,7 ± 1,8 0,7 ± 1,4 ± 1,1
SE
15,55 16,03 16,44 15,26 ± 15,70 16,06
± 1,4 ± 0,6 ± 1,2 0,4 ± 1,1 ± 1,5
20 CE 17,79 18,08 18,65 18,03 ± 18,18 19,17
± 1,8 ± 1,6 ± 1,8 0,8 ± 2,0 ± 1,2
SE
16,29 17,35 17,67 16,84 ± 17,13 18,27
± 1,7 ± 1,0 ± 0,8 1,1 ± 1,2 ± 1,3
22 CE 18,33 19,78 20,97 18,46 ± 19,72 21,41
± 1,3 ± 1,8 ± 2,8 1,3 ± 1,6 ± 1,3
SE
18,21 19,17 20,69 17,49 ± 18,06 21,19
± 1,7 ± 1,3 ± 1,5 1,6 ± 1,7 ± 0,9
24 CE 21,29 21,57 21,93 21,31 ± 21,69 22,06
± 2,4 ± 2,0 ± 2,0 1,1 ± 0,6 ± 2,3
SE
20,22 21,12 21,45 20,64 ± 21,19 21,76
Figura 8: Detalhe de cerca de madeira em barragem com quelônios.
± 3,6 ± 2,1 ± 2,0 1,5 ± 1,1 ± 1,1
Eirunepé/AM. Foto: RAN-AM (Duarte, J.A.M.).
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
(sem cobertura plástica).

232 301
As rações foram fornecidas na forma de péletes, por A seguir, temos uma pequena revisão sobre dados de
promover maior facilidade no momento da apreensão. Proporciona instalações para quelônios e, posteriormente, apresentamos os
também maior estabilidade na água e maior agregação dos resultados de estudos realizados em instalações para
ingredientes, já que o fornecimento da ração farelada promove queloniocultura no Amazonas.
grande perda de alimento, pois os animais ao se alimentarem ficam
com a ração aderida ao corpo (Vianna, 2000). 5.1. Instalações para quelônios: uma pequena revisão

Espriella (1972) indica algumas condições para a criação


em cativeiro, como a renovação de água (oxigenação); tamanho da
fonte de água, que deve ser adequado para fomentar a espécie, pois
cada tartaruga necessita, em função do manejo, de um espaço vital
de 2 m³ de água (2.000 litros) onde a água deve fluir tranqüilamente;
a elevação do nível da água não deve comprometer a barragem, com
profundidade de 1,0 m a 2,20 m; deve-se dispor de bosques, dentro
da área, com o objetivo de manter a presença de insetos ou outros
organismos úteis que possam fazer parte da alimentação; a
localização da praia de desova deve ser para o oriente, porque ao
nascer, os filhotes caminham nesse sentido até a submersão, e a
área de praia necessária para cada tartaruga é de 1m² numa
profundidade de 80 cm, com areia retirada de rio.

A areia da praia de desova não pode ser úmida (poços


Figura 1: Produção da ração experimental. Setor avicultura da FCA/Ufam,
d'água), pois a desova poderia ocorrer em terra firme, “compacta”. A
Manaus.
disponibilidade de plantas variadas através de cultivo ou não para
complementar a alimentação é muito importante. A ração deve
variar para permitir um maior crescimento corporal e produção de
ovos.

O tamanho da área física, recomendado por Morlock (1979)


para o funcionamento do cativeiro é de 1 m² para cada 1 cm de casco
de tartaruga. Sendo o proposto pelo Sebrae (1995), uma área de
2
1.250 m para 5.000 filhotes, de 1 kg cada animal,
aproximadamente, no período de adaptação.

300 233
O Cenaqua (1994) e o Ibama-AM recomendam por 1 ha de Tabela 2 - Nutrientes e ingredientes da ração experimental.

lâmina d'água 4.500 e 4.000 indivíduos, respectivamente. Ingredien 20/3.500 30/3.500 40/3.500 20/4.500 30/4.500 40/4.500
tes (%)
Milho 63,81 37,03 12,936 63,81 37,03 12,936
A princípio, para o investimento físico, é necessário o
F. soja 23,40 48,66 71,388 23,40 48,66 71,388
levantamento topográfico da área escolhida, demarcação para F. carne 6,25 7,76 9,126 6,25 7,76 9,126
limpeza e construção de barragem. Na limpeza é importante que F. trigo 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00
F. osso 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
sejam retirados troncos que correspondam a 20% da área a ser Calcário 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
inundada para a captura e nos 80% restante, corta-se rente ao solo Sal 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30
Óleo - - - 5,8L 5,8L 5,8L
(Espriella, 1973; Sebrae, 1995). Premix 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
vit.
Para Espriella (1972) e o Sebrae (1995), praias de desova Mineral
Total 100Kg 100Kg 100 Kg 100Kg 100Kg 100Kg
devem margear o criatório e possuir 250 m2, aproximadamente. O Nutrientes (%)
uso de cercas, caso haja necessidade, deve ser feita após a
Proteína 20,19 30,74 40,01 20,08 30,52 40,25
construção com mourões distanciados a cada 2,0 m. A Bruta
profundidade do mourão e da estaca deve ser de 30 cm, a uma Energia 3.524 3.513 3.535 4.546 4.537 4.523
Bruta
altura de 1,5 m e no caso da superfície da água deve estar a 1m EE 4,56 5,25 6,34 4,98 5,70 6,86
acima da superfície para evitar a entrada de animais indesejáveis ou Fibra 7,63 7,98 8,47 7,85 7,46 8,54
Cinzas 12,25 12,90 11,98 12,11 12,56 11,87
a saída das tartarugas do berçário ou represa. Por isso, não é
Cálcio 4,25 4,28 4,44 4,32 4,12 4,56
recomendado construir porta comum e, quando for o caso, o tipo Fósforo 1,81 1,69 1,87 1,78 1,79 1,98
guilhotina seria o indicado, incluindo também rampa para acesso *PB(%)/EB(kcal/kg)
dos animais, cultivos de plantas para ampliar/diversificar a
alimentação dos quelônios. Delineamento experimental e análise dos resultados

Alfinito, Viana & Silva (1976) enfatizam a importância do Os resultados de crescimento foram obtidos através de biometria
bimestrais. Todos os animais eram medidos e pesados. Os dados
berçário de tartarugas, na qual os animais confinados foram tabulados em planilha eletrônica Excel e submetidos à
desenvolvem-se satisfatoriamente, não sendo registrado perda análise estatística no programa SPSS for Windows 8.0. Os dados
superior a 1%. foram tabulados por espécie, por nível de proteína e energia
testados, e por tipo de instalação a que foram submetidos os
Recomenda-se a construção de berçário para diminuir ou animais. As variáveis analisadas foram comprimento da carapaça
(cm), altura da carapaça (cm), peso (g), ganho diário de peso (g/dia) e
evitar o índice de mortalidade, nos primeiros meses de vida, dada às rendimento de carcaça (%). Os tratamentos foram organizados em
adaptações naturais biológicas, com solário e comedouro um delineamento experimental inteiramente casualizado. Os
submerso, sendo o primeiro com 10 m x 8 m, comprimento e resultados foram submetidos à análise de variância (Anova) e as
comparações foram realizadas através do teste t. O nível de
largura, respectivamente, a uma profundidade de 1 m, ou menor,
significância utilizado em todos os testes estatísticos foi de P < 0,05.

234 299
Para a análise da variação de temperatura nas baias, foram podendo essas medidas variar segundo as circunstâncias de
utilizadas medidas de temperatura da água e do ar. A temperatura disponibilidade, características técnica e econômica do material
ambiente foi medida por meio de um par de psicômetros, um de encontrado no local, desde que não comprometam o crescimento do
bulbo seco e um de bulbo úmido, instalados dentro da baia. As animal, podendo ser coberto com tela de arame ou fio de náilon, a
leituras foram feitas de 10:00h às 16:00h, em intervalos de uma fim de evitar o ataque de predadores avícolas silvestres. O solário e a
hora. rampa de alimentação devem ter lâmina d'água para diminuir o
De 0 aos 10 meses de idade, as tartarugas e tracajás foram consumo de água de reposição no reservatório, controle de
alimentados com uma ração constituída de 60% da ração comercial alimentação e realizar a higienização diária (Alfinito, 1980).
Nutripescado e 40% da ração comercial Nutritruta. Os ingredientes Pela qualidade da água amazônica, em termos de sais
dessas duas rações são: farinha de peixe, milho, farelo de soja, farelo
dissolvidos, ser pouco produtiva e com certa acidez, sendo causado
de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal, premix vitamínico
por fatores geológicos ou pelo índice pluviométrico, deve haver a
e mineral. A Tabela 1 apresenta os nutrientes desta ração. Neste
possibilidade de renovação para que a taxa de oxigênio dissolvido
período, os animais estavam depositados num tanque escavado de
esteja acima de 9,0 ppm (Sebrae, 1995).
120 m2, numa densidade de 9 animais/m2.
Sobretudo o período após a alimentação dos quelônios,
Tabela 1: Nutrientes da ração fornecida aos animais de 0 a 10
meses de idade.
para o Sebrae (1995), é extremamente essencial porque esses
Nutrientes %
animais necessitam de flutuadores (natural ou artificial) para,
Umidade (%) 13,0 através da sua exposição aos raios solares, acelerar seu
Proteína bruta (%) 32,33 metabolismo e a digestão, após a alimentação em cativeiro.
Energia bruta (kcal/kg) 3.432,80
Extrato etéreo (%) 3,66 Na barragem, o escoamento controlador do nível d'água
Fibra bruta (%) 7,0
deve ser feito através de gravidade em direção do monge e
Extrato não nitrogenado (%) 46,01
Matéria mineral (%) 11,00 sangradouro, telados. Para facilitar a captura dos animais, a caixa
Ca (%) 2,50 de coleta deve ser de 10% da área inundada com 0,75 m de
P (%) 0,7
profundidade. Após o esvaziamento deve ser feita a calagem com
A alimentação dos animais durante o período experimental (10 calcário dolomítico, em função da análise química d'água, com solo
a 24 meses), foi uma ração fabricada na Universidade Federal do úmido, sem nenhuma tartaruga, e após 7 dias, a barragem deverá
Amazonas, com três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e ser enchida e os animais colocados depois de 15 dias de espera
dois níveis de energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). A Tabela (Sebrae,1995).
2 apresenta os nutrientes desta ração.
Observações realizadas no Núcleo de Criação de Quelônios
em Cativeiro, na Fazenda Vale do Sol, em Goiás, demonstraram que

298 235
a baixa temperatura ambiente é um fator que causa a morte em proteína e energia na dieta, são indicadas entre 20 e 40%, porém, é
tartarugas jovens em cativeiro. Como conseqüência do frio, os necessário diminuir essa faixa visando minimizar os custos do
filhotes podem desenvolver um quadro de pneumonia, evidenciado produtor com ração.
por sintomas como perda do apetite, presença de uma membrana
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de diferentes
esbranquiçada cobrindo o globo ocular, secreção nasal com
níveis de proteína e energia bruta em dietas artificiais no
obstrução das vias respiratórias, insuficiência respiratória desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) e
caracterizada pelo comportamento atípico dos animais, que tracajá (Podocnemis unifilis). Avaliar a influência de tipos de
permanecem boiando com o corpo em posição inclinada, e instalações no desenvolvimento: tanques-rede com e sem cobertura
mortalidade (Ferreira, 1994). Isso indica que em locais com períodos plástica e tanque escavado.
mais frios, além dos solários, os berçários podem receber cobertura
plástica para propiciar temperaturas maiores e mais constantes. Localização: Esse experimento teve duração de 14 meses e
foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal do
Para a criação de tartarugas é necessário que haja alguns Amazonas, localizada na BR-174, Km 37, Manaus/AM.
cuidados, principalmente em áreas adaptáveis ao seu habitat
natural como: a água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado Animais: Foram utilizadas 270 tartarugas (Podocnemis
para que ocorra uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio expansa) com comprimento médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso
ecológico do açude; é necessária a construção de tanques de engorda médio inicial de 320,05 ± 0,6g e 270 tracajás (Podocnemis unifilis),
e crescimento inicial (Duarte, 1998). com comprimento médio inicial de 9,58 ± 0,8cm e peso médio inicial
de 120,40 ± 1,5g, avaliados de 10 a 24 meses de idade, provenientes
Os criadouros comerciais de quelônios, instalados em da Reserva Biológica de Abufari, município de Tapauá/AM.
represa ou açudes, deverão apresentar sistema que permita seu
A densidade de estocagem era de 15 indivíduos/ m2.
completo esvaziamento. Os criadouros instalados em braços de
lagos devem prever sistemas de captura dos animais através de Instalações: Em um tanque escavado de 120m2 de espelho
cercados ou redes, mediante condicionamento alimentar (Duarte, d'água, foram depositadas quatro balsas de madeira de 9m2, cada
1998). uma com quatro flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa
Para a criação comercial de quelônios em cativeiro, estava dividida em 9 baias de 1,0m2 x 0,6m de profundidade, num
sistema de gaiolas tanques-rede flutuantes, sendo que do total de 36
sugere-se a construção de um tanque e de um lago de barragem. Os
baias, metade foi coberta com plástico transparente para simular o
lagos deverão ter 10.000 m2, destinando-se aos últimos 36 meses de
efeito de uma estufa (com estufa), e a outra metade estava sem
engorda, de onde sairão 4.500 tartarugas adultas, pesando, no
cobertura plástica (sem estufa). Cada baia possuía uma área para
mínimo, 25 kg a unidade (Sebrae, 1995).
banho de sol, e as baias sem cobertura foram teladas para evitar o
Para implementar um criatório de quelônios, é necessário ataque de possíveis predadores.

236 297
sementes e frutos, e os machos, talos. Os exemplares menores dispor de uma área adequada que contenha igarapé com uma
consomem proporcionalmente mais produto de origem animal do lâmina de água não inferior a 1,0 ha (Duarte, 1998).
que os maiores, ainda que em baixa proporção do volume total.
Mudanças na dieta de jovens e adultos são comuns nos quelônios. Os investimentos físicos para a implantação de um criatório
Em geral, espécies onívoras tendem a ser carnívoras quando jovens de tartaruga consistem em atividades da construção civil como:
e herbívoras quando adultas. seleção e demarcação da área, cuidado com a qualidade da água,
limpeza da área, praia de desova, cerca de proteção, sistema de
Lima (1998) avaliou o efeito de dietas contendo diferentes escoamento, monges, sangradouros, barragens, tanque de filhotes e
fontes de proteína na matéria seca (100% vegetal; 75% vegetal e 25%
local de captura (Sebrae, 1995).
animal; 50% vegetal e 50% animal; 25% vegetal e 75% animal; e
100% animal), como alimentação de filhotes de P. expansa em 5.2 Instalações para quelônios no Amazonas: Etapa I:
cativeiro, pós-eclosão até 12 meses de idade, e observou que a ração diagnóstico da criação de quelônios no estado do Amazonas
com 50% de proteína animal e 50% vegetal foi a que proporcionou
maior ganho de peso, 512,79% ± 12,48g, e melhor homeostase. Através do projeto Diagnóstico da Criação de Animais
Silvestres no Amazonas, a Universidade Federal do Amazonas e o
A principal dificuldade enfrentada pela queloniocultura é a Ibama realizaram o levantamento dos principais tipos de instalações
questão alimentar. Pouco se conhece sobre as reais exigências de quelônios utilizadas no Amazonas.
nutricionais da tartaruga. Estudos têm indicado que 90% da
alimentação da tartaruga, em condições naturais, são compostas de 5.2.1 Localização do diagnóstico
vegetais. O item alimentar mais utilizado na criação de tartaruga
As propriedades visitadas, bimestralmente, foram os
tem-se constituído de ração para peixes, com níveis protéicos
criadouros registrados no Ibama-AM apresentados na Tabela 1.
variando de 28% a 30% de proteína bruta e é considerado o melhor
alimento disponível no mercado (RAN, 2001). Duarte et al., 1998, ao 5.2.2 Procedência dos animais
fazer um diagnóstico da queloniocultura no estado do Amazonas, Os filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa) foram doados
verificaram que tartarugas alimentadas com ração para peixes pelo Ibama-AM ao(s) queloniocultor(es), mediante a aprovação do
superaram em crescimento àquelas alimentadas com produtos de projeto para a criação comercial, sendo os animais provenientes,
origem animal e vegetal, tendo com este último produto, o pior inicialmente, da Reserva Biológica do Abufari (Lat. S 0451' – 0530' e
desenvolvimento dos animais. Long. W 6247' a 6322'; Criada pelo Decreto Federal nº 87.585 de
20/9/1982) no município de Tapauá (Lat. S 0545' e Long. W 6424') e
Apesar de apresentar boas qualidades zootécnicas, poucos
são os conhecimentos tecnológicos disponíveis para o cultivo depois nos tabuleiros de Sororoca, Rio Branco, Roraima e Walter
intensivo de quelônios, havendo a necessidade de mais pesquisas Buri, Rio Juruá, Itamarati.
para que se viabilize sua produção em larga escala. As exigências Tabela 1: Criadouros de tartaruga (Podocnemis expansa) do estado do Amazonas
nutricionais elementares para quelônios, como as concentrações de analisados e total de animais recebidos do Ibama até 2000.

296 237
Propriedade Animais recebidos

Manoel Neuzimar Pinheiro - Sítio Vida Tropical 1.000 Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da-
Carlos A. de Souza 835
José V. dos S. Lima 1.300 amazônia (P. expansa) e tracajá (P. unifilis) em
Águas Claras Piscicultura Ltda. 3.000
Agropecuária Exata Ltda.
Francisco de S. Campos
22.100
15.000
cativeiro, alimentados com dietas artificiais em
Antônio B. Penha
Manoel Neuzimar
8.000
1.000
diferentes instalações
Francisco O. Jordão - Agropecuária Punã Ltda. 19.433
Pedro de Q. Sampaio - Agropecuária PEC Ltda. 25.000 Francimara Sousa da Costa
José da S. Vasconcelos 5000
Ocimar Lopes – Aq. Sypiri 2.000
Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
Arlindo Apolinário Pereira 3.000 Augusto Shynia Abe
Ufam 1.200 Paulo César Machado Andrade
Ivan Menezes – Fazenda D. Diego 2.000 Pedro Macedo da Costa
José Itamar da Silva 4.000
José Bastos de Oliveira 4.000
Stênio Lima da Silva 5.000
Total (unidades) 122.868 Pouco se conhece sobre a nutrição adequada dos quelônios
em cativeiro na fase de pós-eclosão até um ano de idade (Souza,
5.2.3 Material para captura, biometria e pesagem dos 1984). A importância de estudos morfológicos para as diversas áreas
de pesquisas em quelônios pode ser ressaltada através de alguns
animais
exemplos, como o fato do comprimento do intestino ser, na maioria
Para a captura e biometria dos animais foram utilizados
dos casos, proporcionalmente maior em animais herbívoros quando
puçá, rede de pesca (tipo tarrafa ou malhadeira), paquímetros
comparado aos carnívoros.
metálicos, plásticos e/ou de madeira, caçapas plásticas, trena,
coletor plástico para amostras, máquina fotográfica, etiquetas de Em estudos realizados por Terán (1998), com animais de vida
identificação, ficha de biometria de quelônios, prancheta, lápis, livre, observou-se que não houve variação sazonal na alimentação
borracha, papel-lenço, balanças com capacidade respectiva de entre machos e fêmeas de P. unifilis. Sementes e frutos foram mais
1,610 kg (graduação de 1g), 2,610 kg (graduação de 1g), 15 kg consumidos por fêmeas, e talos, por machos. Houve aumento no
(graduação de 5 g) e 50 kg (graduação de 100 g). Foram realizadas consumo de sementes e frutos em função do tamanho, sendo que o
biometrias e pesagens amostrais em 100 animais de cada criadouro, volume de peixe consumido diminuiu com o tamanho do animal.
bimestralmente. Também foi observada a influência da alimentação consumida em
função do tipo de habitat. Sementes e frutos foram consumidos na
floresta inundada do que nos lagos e no rio. Apesar de machos e
fêmeas de P. unifilis serem herbívoros, existem diferenças na
alimentação entre os sexos. As fêmeas consomem principalmente

238 295
aquáticos cultivados. Animais alimentados com rações com farelo de
arroz não tiveram bom crescimento.

Luz et al. (1993) compararam rações com 20 e 25% de


proteína bruta na alimentação de filhotes recém-eclodidos de
tracajás (P. unifilis), cultivados com uma densidade de 25
3
animais/m , obtendo, ao final de 8 meses, animais com mais de 120
mm de comprimento de carapaça e de 200 a 280 g de peso, sendo que
houve uma tendência para que animais alimentados com ração com
25% de PB tivessem melhor desempenho. As rações utilizadas
tinham os seguintes ingredientes:

a) Ração com 20% de proteína e 4,71% de fibra: 38% de milho,


28,45% de farelo de soja, 18,55% de farelo de trigo, 5% de talo Figura 9: Captura para biometria de quelônios. Fazenda Chico Lima,
Manacapuru/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.)
e folha de mandioca, 1,5% de fosfato bicálcico, 8% de calcário
calcítico, 0,5% de premix.
5.2.4 Metodologia do diagnóstico

b) Ração com 25% de proteína e 4,8% de fibra: 29,6% de milho, Foram realizadas visitas bimestrais aos criadouros
43,9% de farelo de soja, 11,5% de farelo de trigo, 5% de talo e licenciados pelo Ibama, no estado do Amazonas, onde foram
folha de mandioca, 1,5% de fosfato bicálcico, 8% de calcário aplicados questionários para caracterizar os criadores através de
calcítico e 0,5% de premix. informações sobre questões referentes à qualidade da água, tipos e
dimensões de instalações, densidade de cultivo, etc. Para a coleta
Conclusão
dos dados, foi feita uma amostragem de 100 animais em cada
A alimentação representa entre 60 a 80% dos custos de criadouro. Eles foram medidos e pesados (biometria)
produção de tartarugas e tracajás cultivados. Enquanto não estão bimestralmente. Após a biometria os animais eram submersos em
totalmente definidas as exigências nutricionais por espécie e solução antifúngica em bacias plásticas de tamanho apropriado
categorias de idade e sexo, cada criador deverá buscar utilizar para evitar quaisquer possíveis problemas fúngicos.
aqueles alimentos que já foram testados e que apresentam melhores Posteriormente, eles eram soltos nos berçários.
efeitos no desempenho dos quelônios e, certamente, um menor
custo, a fim de baratear sua produção. Cada animal foi medido linearmente, com paquímetro. As
variáveis mensuradas foram comprimento e largura da carapaça e

294 239
do plastrão, altura e peso. Sistematicamente, na carapaça, mediu- T3: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028
se o comprimento entre a união dos dois primeiros escudos/placas T4: ração basal = R$ 85,29
laterais. Até os dois últimos e para a largura adotou-se como T5: ração basal + 600 ml de óleo de soja = R$ 92,1615
referência a união dos sextos e sétimos escudos laterais. T6: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028

No plastrão, o comprimento foi realizado na parte externa


A receita líquida foi calculada baseando-se na venda dos
do escudo/placa intergular, até o final da sutura médio-ventral, e a animais ao preço de R$13,00/kg de peso vivo. Através dos
largura mediu-se pelo centro dos escudos abdominais, coincidindo resultados pode-se observar que o custo total de ração foi de R$
com o sexto e sétimo escudos laterais. 552,959, a renda bruta (peso médio/tratamento x 13,00) foi de R$
4.985,166 e a receita líquida total foi de R$ 4.432,207. Isso vem
A altura, envolvendo a carapaça e o plastrão, foi medida demonstrar que é extremamente viável a criação de tartaruga
utilizando como alimentação ração disponível no mercado, para
com paquímetro inserido verticalmente na união do quinto e sexto peixes em crescimento, mesmo sem incluir nos custos os gastos
escudos laterais (ou marginais), na parte superior da carapaça e com mão-de-obra e instalações.
inferior do plastrão.
Muitos criadores vêm testando formulações diversas de
rações balanceadas. Na Tabela 11 apresentamos a variação
5.2.5 Resultados e discussões percentual dos ingredientes em algumas rações testadas.

O tamanho das propriedades variou de 9 até mais de 5.000 Tabela 11: Variação percentual de ingredientes de rações testadas por alguns
queloniocultores do Amazonas e Rondônia.
hectares (ha). Sendo a maioria entre 9 –35 ha, com média de 22
18,38 ha (Figura 10). Ingredientes Valor máximo Valor mínimo
utilizado (%) utilizado (%)
Farelo de soja 54,1 31,0
As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria Milho 49,1 29,0
estivesse entre 1 e 2 ha (Figura 11). Farinha de carne 12,0 0,0
Farinha de peixe 23,0 0,0
Fosfato bicálcico 2,0 0,0
A área dos berçários foi, em maioria, de 30 m2 até mais de Farelo de arroz 10,0 0,0
Sal 0,5 0,5
1.000 m2 (Figura 14 a, b e c). A maior parte dos criadouros possui a Premix 0,4 0,4
densidade no berçário entre 0,5 e 5 indivíduos/ m2 (Figuras 12, 13 e mineral/vitamínico
15). B.H.T.(antioxidante) 0,03 0,03
Óleo de soja 4,0 0,0
**- Premix para peixes carnívoros (truta).

As rações com farinha de peixe e óleo vegetal (mais proteína e


energia) tiveram melhores efeitos sobre o desempenho de quelônios

240 293
Com base nos resultados destes experimentos, podemos
concluir que filhotes de tartaruga criados em instalações com
cobertura plástica (efeito estufa), com uma ração com 4.500 kcal de
2
EB/kg, na densidade de 25 animais/m (tanques-rede) ou 40
2
animais/m (berçário circular de madeira) podem alcançar um
melhor desempenho.

7.2.3 Análise econômica

O experimento teve duração de 422 dias, onde foi fornecida,


no total, a quantidade de 21 sacos de ração de peixe (saco de 25 kg)
para alimentar 360 animais. A análise econômica do experimento foi
baseada nos gastos com a ração fornecida para alimentação dos
animais e o óleo de soja que era adicionado de acordo com cada
tratamento, sendo um total de seis tratamentos.

Nos dois primeiros meses de condução do experimento, com Figura 10: Tamanho das propriedades (Duarte, 1998).
animais de idade entre 3 e 5 meses, foi fornecido inicialmente um
total de 21,12 kg de ração, por tratamento. Nos dois últimos meses, a
quantidade de ração fornecida foi de 40,04 kg, quando os animais
estavam com idade de 22 meses. Cada saco de ração custou R$
22,50, portanto, o gasto inicial por tratamento foi de R$ 19,01, com
total de R$ 114,048 e o final de R$ 36,036, com total de R$ 216,216.
Esses cálculos foram baseados na quantidade de fornecimento
diário de ração, por tratamento, nos dois primeiros meses (inicial) e
dois últimos meses (final).

O peso médio final dos animais, por tratamento, foi de:


T1:10.23,75 g ; T2: 9.33,33 g; T3: 1.168 g; T4: 9.55,83 g; T5:
1.292,5 g e T6: 1.017,5 g.

O custo total de ração mais óleo de soja adicionado, nos 16


meses de condução do experimento foi:
Figura 11: Tamanho das represas (Duarte, 1998).

T1: ração basal = R$ 85,29


T2: ração basal + 600 ml de óleo de soja = R$ 92,1615

292 241
Efeitos do nível de energia na ração sobre o ganho diário de
peso (g/dia) de tartaruga (P. expansa ) criadas em cativeiro

2,5
2

GDP (g/dia)
1,5
1
0,5
0 3500
6 8 13 16 4000
Idade (meses) 4500

Figura 12: Densidades de cultivo utilizadas pelos criadores do


Amazonas (Duarte, 1998).
Figura 9: Efeitos do nível de energia bruta na ração sobre o ganho diário de peso
(g/dia) de tartaruga (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

A Tabela 10 apresenta as interações entre o nível de energia


bruta na ração e o tipo de instalação, sendo que elas não afetaram
significativamente o ganho de peso de filhotes de tartaruga.

Tabela 10: Efeitos do tipo de instalação e nível de energia bruta sobre o ganho
médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 meses
de idade. (Costa, 1999)

Instalação/ 3.500 kcal 4.000 kcal 4.500 kcal Médias


Nível de de EB/kg de EB/kg de EB/kg
energia
bruta
Estufa 1,35±0,4 1,81±0,5 1,427±0,39 1,254±0,43
Ar livre 1,1±0,4 1,14±0,4 1,276±0,28 1,176±0,36
Médias 1,22±0,4 1,099±0,42 1,328±0,335

Figura 13: Número médio de animais, por criadouro, no Amazonas


(Duarte, 1998).

242 291
Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobre
o ganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa) (Costa,
1999).

Instalação 3.500 kcal 4.000 kcal 4.500 kcal de Médias


/nível de de EB/kg de EB/kg EB/kg
Energia
Estufa 0,88±0,60 0,98±0,41 0,88±0,41 0,91
Ar livre 0,65±0,47 0,89±0,59 1,02±0,20 0,85
Médias 0,77 0,93 0,95

Observa-se uma tendência linear de que tartarugas até os


sete meses alimentadas com rações com maior nível de energia
bruta apresentem maior ganho de peso (GDP3.500= 0,77 g/dia;
GDP4.000=0,93 g/dia e GDP4.500=0,95 g/dia). Não foi aplicada a
regressão linear para analisar o comportamento dos dados visto que 2
Figura 14 a:Berçário de filhotes de Podocnemis expansa com 30 m .
Fazenda Águas Claras/Manacapuru-AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade,
a Anova resultou não significativa. P.C.M.).

Observa-se, também, para animais dos 7 aos 16 meses, uma


tendência de que ao serem alimentados com rações com maior nível
de energia bruta apresentem maior ganho de peso (GDP3.500=
1,217 g/dia; GDP4.000=1,099 g/dia e GDP4.500=1,328 g/dia),
conforme pode-se observar na Tabela 9 e Figura 11. Não foi aplicada
a regressão linear para analisar o comportamento dos dados visto
que a Anova resultou não significativa.

Tabela 9: Efeito do nível de energia na ração sobre o ganho diário de peso de


tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).

Nível de energia 6 meses 8 meses 13 meses 16 meses


(kcal de EB/kg) /
idade
3.500 0,288 1,102 2,263 1,217
4.000 0,401 0,945 1,869 1,099
4.500 0,534 1,205 2,242 1,328 Figura 14 b: Berçário de filhotes de Podocnemis expansa com área
superior a 1.000 m². Fazenda Exata, Manacapuru-AM. Foto: Projeto
Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

290 243
Tabela 6: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a
variação do peso (g) de filhotes de tartaruga (Costa, 1999).

Tratamen 3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16


to/idade meses
T1 32,12 40,73 256,63 617,07 855,46
T2 33,19 40,52 241,99 619,68 947,01
T3 33,04 43,22 245,45 620,44 751,1
T4 32,48 40,6 220,26 577,75 731,72
T5 32,97 40,54 224,47 549,55 724,87
T6 31,82 42,9 254,44 639,28 855,07
* T1: CE x 3.500 kcal de EB/kg; T2: CE x 4.000 kcal de EB/kg; T3: CE x 4.500 kcal de
EB/kg; T4: SE x 3.500 kcal de EB/kg; T5: SE x 4.000 kcal de EB/kg; T6: SE x 4.500 kcal
de EB/kg; SE: instalações sem cobertura plástica; CE: instalações com cobertura
plástica.

Figura 14 c: Equipe da Ufam/Ibama no diagnóstico dos criadouros de


quelônios no Amazonas. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).
Tabela 7: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre o ganho
5.3 Instalações para quelônios no Amazonas: Etapa II: diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (Costa, 1999).
experimento sobre os efeitos de três tipos de instalações sobre o Tratamen 3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16 meses
desempenho de filhotes de tartaruga (P. expansa) criados em to/idade
T1 0,696 0,770 1,466 2,263 1,335
cativeiro
T2 0,758 0,295 1,066 1,672 1,116
T3 0,727 0,450 1,209 2,372 1,311
O experimento foi realizado em área de terra firme na fazenda
T4 0,737 0,461 0,823 2,262 1,100
experimental da Universidade do Amazonas, localizada no Km 38 da T5 0,666 0,578 0,825 2,067 1,082
BR-174, Manaus-Boa Vista.
T6 0,740 0,592 1,202 2,479 1,346
5.3.1 Instalações utilizadas e metodologia
*-Mesmos tratamentos citados anteriormente nas Tabelas 5 e 6.
As variáveis comprimento, largura e altura da carapaça, peso
Baias experimentais: Os filhotes utilizados no experimento e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças
foram alojados em um berçário tipo tanque-rede colocado em um significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do LSMEANS,
2
tanque escavado de 400 m de espelho d'água, na Fazenda tanto para o fator densidade, como tipo de instalação e nível de
Experimental, conforme demonstra a Figura 15. O berçário tipo energia.
tanque-rede se constitui em duas balsas de madeira de 2,40m x
1,80m, com dois flutuadores (camburões metálicos de 200 litros).
Cada balsa está dividida em 18 baias de 0,9m x 0,9m, sendo que

244 289
O experimento conduzido na fazenda experimental sobre o cada baia possui uma área para o banho de sol, uma abertura para
nível de energia na ração, durou 422 dias, sendo iniciado com água, devidamente telada, com aproximadamente 0,9 m de
filhotes de tartaruga da Rebio Abufari, Tapauá/AM, com 3 meses de profundidade.
idade e peso médio de 45,66 3,63 g. As baias foram recobertas, sendo 50% cobertas com telas de fio de
náilon, para evitar ataque de predadores. As outras baias foram
A temperatura da água medida nas instalações ao ar livre foi cobertas com plástico para simular o efeito de uma estufa, mantendo
de 31,05 0,81C e, em berçário com estufa de 30,52 0,90C. A a temperatura mais elevada e constante. Foram utilizadas as
temperatura do ar foi nas instalações com estufa era igual a 33,5C, e seguintes densidades de estocagem: 30, 20 e 10 animais/m . Em
3

nas sem estufa de 31,82C. A umidade relativa do ar maior em anexo, apresentamos o croqui das baias experimentais.
instalações com estufa, 76,25%, do que nas instalações ao ar livre,
69,90%.

As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam os resultados encontrados


para algumas das variáveis analisadas nesse experimento
(comprimento e largura de carapaça, comprimento e largura de
plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).

Tabela 5: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a


variação no comprimento da carapaça (mm) de filhotes de tartaruga (Costa,
1999).

Tratamen 3 meses 5 meses 8 meses 13 meses 16


to/idade meses
T1 82,61 102,42 127,18 166,20 207,91
T2 82,59 110,35 124,23 167,34 207,12
T3 82,75 108,87 125,6 173,22 181,57
Figura 15: Baias experimentais destinadas a filhotes de tartaruga
T4 83,11 110,36 118,28 161,45 165,96
T5 83,14 107,34 120,53 162,25 178,97 (Podocnemis expansa), Fazenda Experimental-Ufam, Manaus. Foto: Projeto
T6 79,67 107,29 125,51 174,9 193,76 Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).

* T1: CE x 3.500 kcal de EB/kg; T2: CE x 4.000 kcal de EB/kg; T3: CE x 4.500 kcal de O berçário destinado aos outros filhotes de tartaruga,
EB/kg; T4: SE x 3.500 kcal de EB/kg; T5: SE x 4.000 kcal de EB/kg; T6: SE x 4.500 kcal
provenientes de Abufari, foi um curral de estacas de madeira
de EB/kg; SE: instalações sem cobertura plástica; CE: instalações com cobertura
plástica. (berçário convencional) de 16 m2 situado no mesmo tanque escavado
de 400 m2 de espelho d'água, dentro da fazenda. O berçário
encontra-se recoberto por tela para evitar o ataque de possíveis
predadores, bem como possui pequenas balsas que permitem aos

288 245
filhotes a exposição ao sol. Para a alimentação dos animais foi utilizada ração
experimental com três níveis de energia (3.500, 4.000 e 4.500 kcal de
Os animais foram medidos com paquímetros e pesados em
Energia Bruta/kg), conforme a Tabela 4:
balança mecânica de prato, com capacidade para 1.610g e precisão
de 1g. Para medir a temperatura da água foram utilizados Tabela 4: Nutrientes e ingredientes da ração experimental utilizada como
termômetros de imersão. A temperatura do ar bem como a umidade alimento para os animais do experimento.
relativa foi obtida através de psicrômetro.
Nutrientes EB3.500 EB4.000 EB4.500 Berçário
Umidade (%) 13 13 13 13
Neste experimento foram avaliados os efeitos de três tipos de Proteína 38,75 38,75 38,75 32,33
instalações (com e sem estufa em tanques-redes berçário), três bruta (%)
Energia 3.629 3.985 4.302 3.432,8
densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m2) e três níveis de energia bruta
bruta (kcal/
(3.500, 4.000 e 4.500 kcal/kg) em ração utilizada na alimentação, kg)
sobre o desempenho de filhotes de tartarugas (Podocnemis expansa) Extrato 3,33 8,8 13,68 3,66
etéreo (%)
em cativeiro. Os resultados sobre densidade de cultivo e nutrição são Fibra bruta 7 7 7 7
apresentados em capítulos posteriores relativos ao tema. Foram (%)
Extrato não - 40,94 35,47 30,59 46,01
medidos os seguintes parâmetros: comprimento e largura da
nitrogenado
carapaça, comprimento e largura do plastrão, altura, peso, ganho (%)
diário de peso e conversão alimentar. Matéria 9,98 9,98 9,98 11
mineral (%)
Ca (%) 3,84 3,84 3,84 2,5
Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento P (%) 0,83 0,83 0,83 0,7
inteiramente casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo Ingredientes
2
consideradas três densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m ), três Ração Basal* 1 1 1 2
Óleo de soja 0 6.000 12.000 0
instalações (com e sem estufa e berçário) e três níveis de energia (ml/100 kg)
bruta em rações (3.500, 4.000 e 4.500 kcal de EB/kg).
* Ração Basal 1: Composta de 67,10% da ração comercial com 42% de proteína e 32,89%
de ração com 30% de PB; Ração Basal 2: composta de 66,66% de ração com 42% de PB e
Foi considerada como parcela a densidade e como 33,33% de ração com 30% de PB. Os ingredientes dessas rações são os seguintes: farinha
subparcelas as instalações e os níveis de energia da ração. Foram de peixe, milho, farelo de soja, farelo de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal,
tomadas medidas repetidas ao longo do tempo, sendo cada período premix mineral e vitamínico.
de medição considerado uma repetição. As variáveis foram Os filhotes utilizados no experimento, foram alojados nas
analisadas pelo programa SAS, através da análise com aplicação da baias experimentais e, diariamente, foram alimentados. A
Anova e LSMEANS (teste t). alimentação era fornecida mediante a deposição da ração dentro das
baias, no horário de 9:00h às 10:00h da manhã, numa quantidade
Os animais da balsa (tanque-rede) foram comparados com os de 5% do peso vivo dos animais.
animais do berçário através do teste t do LSMEANS.

246 287
Amazonas, localizada no Km 38 da BR-174, Manaus-Boa Vista, O experimento teve duração de 422 dias. No início, os animais
experimento para determinar as exigências energéticas de filhotes de foram separados e devidamente marcados, com esmalte e picos no
tartaruga até os 16 meses. casco, indicando o seu número e o correspondente tratamento, para
não haver mistura entre as baias. Os tratamentos ficaram divididos
Neste experimento foram utilizados 360 filhotes de tartaruga
de acordo com alimentação, instalação e densidade.
(Podocnemis expansa), com 3 meses de idade. Esses animais foram
obtidos no Ibama/AM e são oriundos da Reserva Biológica de Concomitantemente à biometria, foram tomadas as medidas
Abufari, localizada no município de Tapauá/AM, tinham, ao nascer, de temperatura da água e do ar e umidade relativa referente a cada
peso médio de 23,1 ± 3,07g, e foram alojados em baias em balsas tipo baia. Essas medidas serviram para se ter uma idéia das condições de
tanques-rede. Outros filhotes de mesma origem foram alojados em temperatura e umidade às quais os animais estavam submetidos.
um berçário circular de 16 m2, feito curral de estacas de madeira. 5.3.2 Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos 3 aos 7
meses
Os filhotes foram alojados em berçário tipo tanque-rede
colocado em um tanque escavado de 400 m2 de espelho d'água. Esse O experimento conduzido na fazenda experimental sobre
berçário foi constituído de duas balsas de madeira de 2,40m x densidade, tipo de instalação e nível de energia na ração durou, em
1,80m, com dois flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa foi sua primeira fase, 153 dias, sendo iniciado com filhotes de tartaruga
dividida em 18 baias de 0,9m x 0,9m, sendo que cada baia possuía provenientes da Rebio Abufari, Tapauá/AM, com 3 meses de idade e
uma área para o banho de sol, uma abertura para água devidamente peso médio de 45,66 3,63 g.
telada, com aproximadamente 0,9 m de profundidade. Os Além do experimento nos tanques-rede foram
tratamentos foram distribuídos em um delineamento inteiramente acompanhados, também, 353 animais de diferentes populações
casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo considerados três (Abufari, Rio Branco e Uatumã) colocados no berçário circular de
densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m2), 3 instalações (com e sem estacas de madeira com, aproximadamente, 16 m2 de área e 1 m de
estufa e berçário) e 3 níveis de energia bruta em rações (3.500, 4.000 profundidade (Figura 1), na densidade de 22 animais/m2.
e 4.500 kcal de EB/kg).
As variáveis ambientais registradas para avaliar o efeito da
cobertura plástica (estufa) sobre metade dos tanques-rede foram a
temperatura do ar, a temperatura da água e a umidade do ar.

Com relação a essas variáveis foi observado que a


temperatura da água foi maior nas instalações ao ar livre (31,05
0,81C) do que nas instalações com estufa (30,52 0,90C). Já, a
temperatura do ar, foi maior nas instalações com estufa (33,5C) do
que nas sem estufa (31,82C). Isso pode ser devido ao fato de que o

286 247
plástico das estufas tornou-se opaco pelo acúmulo direto de sujeira, com base em 3% da biomassa, passando a 1% da biomassa a partir
o que, de certa forma, impediu a entrada total dos raios solares, do quarto ano de cultivo. Lembrar que se desejar manter uma
funcionando como uma espécie de sombreamento. Contudo, da alimentação 100% baseada em ração diminuirá o tempo de
mesma forma que impediu a total irradiação solar, a estufa impediu produção, pois o animal crescerá mais rápido, o que acaba por
a rápida dissipação do calor nas instalações, o que foi verificado reduzir custos com mão-de-obra, equipamentos e instalações.
através de uma menor variação de temperatura, dentro das
instalações, com uma menor amplitude térmica entre dia e noite, e
7.2 Exigências nutricionais
ao longo do dia, como pode ser observado na Figura 15.
Além do horário de fornecimento, do tipo, da forma e da
A umidade relativa do ar foi maior nas instalações com
quantidade de alimento fornecida, é de fundamental importância
estufa, 76,25%, do que nas ao ar livre, 69,90%.
para as criações de quelônios conhecer suas exigências nutricionais
específicas e por categoria de idade. A determinação dos níveis de
energia, proteína, cálcio, fósforo e demais minerais e vitaminas para
Temperatura da água nos tanques-redes ao longo do dia
atender a demanda de filhotes, jovens e adultos reprodutores de
tartarugas e tracajás em cultivos comerciais, ainda é uma incógnita.
33
32 Alguns experimentos foram conduzidos para determinação,
31 ar livre principalmente, das exigências protéicas (origem e níveis). Contudo,
o C

30 estufa ainda faltam muitas pesquisas para que possamos chegar a uma
29 tabela de exigências nutricionais para as diferentes espécies (P.
28
expansa, P. unifilis e P. sextuberculata) e diferentes categorias de
27
quelônios aquáticos cultivados na Amazônia.
10 11 12 13 14 15 16
horas 7.2.1 Energia bruta

A quantidade de alimento ingerida por um animal é em


o
Figura 16: Variação da temperatura ( C) ao longo do dia nos função direta de sua necessidade energética, por isso,
tanques-rede do experimento (Costa & Andrade, 1999).
primeiramente, devemos pensar no atendimento das exigências de
energia dos quelônios. No próximo capítulo, trataremos das
necessidades protéicas e suas inter-relações com a energia.

Através do Projeto Diagnóstico/PTU-CNPq foi realizado em


área de terra firme na Fazenda Experimental da Universidade do

248 285
A Tabela 2 e as Figuras 17 e 18 apresentam os resultados
Para animais pequenos e mesmo os adultos, a alimentação encontrados para algumas das variáveis analisadas neste
na superfície da água é mais difícil de ser realizada, exigindo maior experimento (comprimento e largura de carapaça, comprimento e
largura de plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).
esforço dos animais. Os alimentos devem afundar rapidamente e
não ser jogados a lanço, o que causa um maior desperdício. Tabela 2: Efeito do tipo de instalação sobre o comprimento e altura da carapaça (mm)
Pequenos cochos de madeira colocados no fundo, em uma das de filhotes de tartaruga (P. expansa) de 4 a 7 meses (Costa &Andrade, 1999).

margens do berçário ou barragem, ou cochos suspensos que possam Tratamento\ idade 4 meses 5 meses 6 meses 7 meses
ser afundados ou suspendidos através de fios e roldanas, também Comprimento da carapaça (mm)
são interessantes. Uma simples rampa de madeira em que se Tanque-rede sem 82,7±0,1 99,2±1,8 107,2±4,2 109,8±4,3
coloque o alimento próximo à margem permitirá visualizar melhor os cobertura plástica
Tanque-rede com 82,0±2,0 101,2±1,9 108,3±1,8 115,9±2,9
animais e evitar o estrago dos alimentos.
Evitar fornecer alimentos contaminados por fungos ou cobertura plástica
(estufa)
estragados, pois poderão causar doenças no plantel.
c) Alimentação inicial dos filhotes de quelônios: ao receber os Altura da Carapaça (mm)
Tanque-rede sem 32,8±0,6 40,8±0,9 41,5±1,5 43,5±1,2
animais do Ibama, sugerimos que na primeira semana, forneça
cobertura plástica
fígado bovino moído ou gema de ovo cozida, misturada com pó de Tanque-rede com 32,4±0,6 41,2±0,9 41,3±1,3 44,9±0,3
casca de ovo, na proporção de 1 g por filhote. Essa alimentação cobertura plástica
servirá para estimular o quelônio a comer e poderá servir para (estufa)
condicioná-lo a comer em cochos ou rampas.
Quando os filhotes estiverem acostumados a comer, fornecer As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
ração balanceada para peixe, em alevinagem, com o menor tamanho e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças
de pellet disponível e que afunde rapidamente, com cerca de 30-36% significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do LSMEANS, para
PB e 4.000-4.500 kcal de EB/kg. Essa ração deverá compor 100% da o fator tipo de instalação (análise do SAS). Todavia, conforme é
dieta nos 6 primeiros meses, posteriormente, poderá ser substituída possível verificar nas Tabelas 2, 3 e 4, existe uma tendência para que
por 30% de subprodutos de origem animal e/ou 30% de animais criados em estufa apresentem maior desenvolvimento
subprodutos de origem vegetal. Nesse período, o cálculo da (GDP=0,91 g/dia) do que aqueles que foram criados ao ar livre. Isso
quantidade de alimento é feito com base em 5% do peso da é, provavelmente, relacionado a uma maior estabilidade da
biomassa. temperatura e à conservação do calor no ambiente, por mais tempo,
d) Acima dos 12 meses: a ração é fornecida suplementarmente e permitindo um taxa metabólica mais regular, visto que o
trabalha-se com uma ração de crescimento (com 25-30% de PB). metabolismo destes animais é influenciado pela temperatura
Para baratear custos, pode-se ir cortando gradativamente o externa (ectotérmicos).
fornecimento de ração até que ela represente apenas 10% da
quantidade diária fornecida. A partir dessa fase, o fornecimento é

284 249
EfeitosdadensidadeXenergiabrutaXtipodeinstalaçãosobreopesofinal(g) Comprimento da carapaça ( mm )

250 250 Peixe

Comprimento da carapaça
200 10 200
g ra m a s

150 20
Vísceras
150
100

(mm )
30
50 100 Peixe +
0 puerária
50
sest3500 sest4000 sest4500 cest3500 cest4000 cest4500 Restos de
0 Feira
Tratamentos (verdura)
0 4 6 8 10 12 15 17 19 21 23 25 Ração

Figura 17: Efeitos da densidade e do nível de energia bruta nas rações sobre o peso, aos Idade ( m eses)

7 meses, de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &Andrade, 1999).


**-Tanques-rede sem cobertura plástica (alimentados com T1=3.500 kcal de EB;
T2=4.000 kcal de EB; T3=4.500 kcal de EB); Tanques-rede com cobertura
Figura 8: Efeito do tipo de alimentação no crescimento de comprimento
plástica–estufa, (alimentados com T1=3500 kcal de EB; T2=4000 kcal de EB;T3=4500
kcal de EB. de carapaça (mm) de tartarugas (Podocnemis expansa) criadas em cativeiro no
estado do Amazonas (Costa & Andrade, 1999).

Peso(g) X niveis de energia bruta X tipo de instalação


PROGRAMA DE MANEJO ALIMENTAR
250 T1
200 Recomenda-se ao queloniocultor que, sempre que possível,
gramas

T2
150 T3
para reduzir custos e utilizar subprodutos originados em sua
100 T4 propriedade ou de fácil aquisição nas proximidades, seguir o
50
T5 seguinte programa:
T6
0 a) Horário de arraçoamento: uma vez ao dia, às 10:00h, ou duas
4 5 6 7 vezes ao dia, às 9:00h e às 15:00h.
idade (meses)
b) Forma de fornecimento da alimentação: preferencialmente,
deve-se fornecer os alimentos sempre em um mesmo local. Esse
Figura 18: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta nas rações
sobre o peso, aos 7 meses, de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa & condicionamento alimentar facilitará, posteriormente, a captura dos
Andrade, 1999). animais para atividades de rotina como biometria ou despesca.

250 283
na revisão do início deste capítulo. Tabela 3: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobre o
ganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &
A ração de peixe balanceada peletizada, como base Andrade, 1999).
alimentar, vem proporcionando um bom desempenho dos animais,
talvez por conter os níveis nutricionais aproximados dos valores Instalação 3.500 kcal 4.000 kcal 4.500 kcal de Médias
necessários para quelônios, dando ao animal os ingredientes /nível de de EB/kg de EB/kg EB/kg
essenciais para um bom crescimento. Energia
Bruta
A Tabela 3 apresenta uma comparação de médias de ganho Estufa 0,88±0,60 0,98±0,41 0,88±0,41 0,91
diário de peso (g/dia) relacionado ao tipo de alimento fornecido no
Ar livre 0,65±0,47 0,89±0,59 1,02±0,20 0,85
primeiro e segundo ano de vida.
Médias 0,77 0,93 0,95
Tabela 3: Médias de ganho diário de peso (g/dia) – GDP, em relação ao tipo de
alimento fornecido no primeiro e segundo ano de vida para filhotes de tartaruga Com relação aos animais do berçário, nos sete primeiros
(P. expansa) (Costa & Andrade, 1999). meses de vida eles apresentaram maior ganho de peso do que os
animais dos tanques-rede (1,52 0,79 g/dia contra 0,88 0,13 g/dia).
Tipo de alimento 1o ano GDP 2o ano GDP
Tabela 4: Efeitos do tipo de instalação e da densidade sobre o ganho médio
(g/dia) (g/dia) diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &Andrade, 1999).
Peixe 0,304 ± 0,29 1,315 ± 1,04
Ração (30% PB) 0,769 ± 0,71 1,061 ± 1,26 Instalação 12 25 37 Médias
Peixe + puerária 0,296 ± 0,35 1,071 ± 1,3 /densidad animais/ animais/m2 animais/m2
Restos de feira (verdura) 0,121 ± 0,17 1,199 ± 1,27 e m2
Vísceras bovinas 0,30 ± 0,43 1,818 ± 0,97
Estufa 0,91±0,44 1,04±0,46 0,79±0,39 0,91
Ar livre 0,86±0,44 0,85±0,38 0,91±0,28 0,87
Médias 0,88 0,94 0,85

5.3.3 Recomendação para berçário de filhotes de


quelônios nos primeiros 7 meses de vida:

a) Com base nos resultados deste experimento podemos


concluir que filhotes de tartaruga criados em tanques-rede com
cobertura plástica, simulando um efeito estufa, na densidade de 25
animais/m2 podem alcançar um melhor desempenho.

b) Animais criados em berçários circulares de madeira


apresentam maior desenvolvimento do que os criados
intensivamente em tanques-rede.
282 251
c) A densidade e o tipo de alimento fornecido aos quelônios De acordo com o observado no diagnóstico, pode-se constatar
são fatores limitantes. Um grande número de animais numa que os jovens de tartaruga, até 24 meses, alimentados com vísceras
pequena área diminui a taxa de crescimento e o ganho de peso. Nos bovinas (GDP=0,3 g/dia) e peixe (GDP=0,421 g/dia), que são
alimentos à base de proteína animal, continuam apresentando
primeiros anos, o crescimento é melhor com o fornecimento de
tendência a um melhor crescimento e ganho de peso em relação aos
alimentos à base de proteína animal. A densidade que propicia um demais tipos de alimentos fornecidos, sendo que as vísceras
2
maior desenvolvimento é a de 65-80 animais/m em berçário tipo bovinas(GDP= 1,818 g/dia) superam o peixe (GDP=1,168 g/dia) em
curral com estacas de madeira. ganho de peso, no segundo ano.

d) A espécie que obtém melhor ganho de peso nos primeiros A utilização de ração peletizada para peixes tem demonstrado
promover bom crescimento. Apesar dessa ração não ser balanceada
anos é o tracajá (Podocnemis unifilis).
para quelônios, apresenta muitos nutrientes essenciais para o
crescimento e engorda de tartarugas. Em geral, utiliza-se a ração tipo
alevinagem (mais protéica – 36 a 42%PB – e com pellet menor) para
5.3.4 Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos filhotes, no primeiro ano de vida, e a ração para crescimento para
8 aos 16 meses animais com mais de 12 meses.

Os animais que recebem peixe + puerária também crescem de


As Tabelas 5, 6, 7 e 8 e a Figura 19 apresentam os resultados forma razoável. No caso dos criatórios analisados, observou-se que
encontrados para algumas das variáveis analisadas neste em determinado ponto os animais têm um ganho de peso
experimento (comprimento e largura de carapaça, comprimento e compensatório, pois inicialmente os animais recebiam muita
puerária e depois passaram a aumentar a quantidade de
largura de plastrão, altura, peso e ganho diário de peso). fornecimento de peixe em relação à puerária. Animais alimentados à
base de verdura (proteína vegetal) demonstraram menor ganho
Tabela 5: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a
diário de peso (0,211 g/dia) em relação aos outros tipos de alimentos.
variação no comprimento da carapaça (mm), peso (g) e ganho de peso (g/dia) de
filhotes de tartaruga – P. expansa.. (Costa, 1999). Esses fatos podem ser observados na Figura 8 que demonstra
uma comparação entre os criadores distribuídos de acordo com o tipo
T r a t a m e n to / id a d e 8 m eses 1 3 m eses 1 6 m eses de alimentação que fornecem, entre eles: vísceras bovinas, peixe,
C o m p r im e n t o d e c a r a p a ç a (m m ) restos de feira (principalmente verduras e tubérculos), ração e peixe +
T a n q u e -re d e s e m 1 2 5 ,7 ± 1 , 1 6 8 ,9 ± 3 ,8 1 9 8 ,9 ± 1 5
c o b e r t u r a p lá s t ic a 5 puerária. O fato de o alimento à base de proteína animal demonstrar
T a n q u e -re d e c o m 1 2 1 ,4 ± 3 , 1 6 6 ,2 ± 7 ,5 1 7 9 ,6 ± 1 3 , melhor crescimento pode estar ligado, como já mencionamos, à
c o b e r t u r a p lá s t ic a (e s t u fa ) 7 9 digestibilidade das proteínas, sabendo-se que nos primeiros anos de
P e s o (g )
T a n q u e -re d e s e m 2 4 8 ,0 ± 7 , 6 1 9 ,1 ± 1 ,8 8 5 1 ,2 ± 9 8
vida os quelônios fazem melhor digestão de proteínas de origem
c o b e r t u r a p lá s t ic a 7 animal. É importante, porém, ressaltar novamente que não se deve
T a n q u e -re d e c o m 2 3 3 ,1 ± 1 8 5 8 8 ,9 ± 4 5 , 7 7 0 ,6 ± 7 3 , privar os animais de alimentos à base de proteína vegetal, pois
c o b e r t u r a p lá s t ic a (e s t u fa ) ,6 9 3
G a n h o d iá r io d e p e s o (g / d ia )
possuem fibra, minerais e vitaminas (principalmente carotenóides)
T a n q u e -re d e s e m 1 ,2 ± 0 ,2 2 ,1 ± 0 ,4 1 ,3 ± 0 ,1 essenciais para um melhor desenvolvimento. Nesse caso, pode-se
c o b e r t u r a p lá s t ic a optar por produtos ou subprodutos baratos ou disponíveis na
T a n q u e -re d e c o m 1 ,0 ± 0 ,2 2 ,3 ± 0 ,2 1 ,2 ± 0 ,1 propriedade. Próximo à criação, recomenda-se plantar algumas das
c o b e r t u r a p lá s t ic a (e s t u fa )
espécies vegetais de melhor palatabilidade e valor nutritivo, citadas

252 281
As variáveis comprimento, largura e altura da carapaça, peso
e ganho médio diário de peso para tartarugas dos 8 aos 16 meses,
também não apresentaram diferenças significativas, ao nível de 5%,
pelo teste F e teste t do LSMEANS, tanto para o fator densidade,
como tipo de instalação e nível de energia. Todavia, conforme é
possível observar-se na Tabela 6 e na Figura 19, existe uma
tendência para que esses animais criados em estufa apresentem
maior desenvolvimento (GDP=1,215 g/dia) do que aqueles que
foram criados ao ar livre.

Tabela 6: Efeito do tipo de instalação sobre o ganho diário de peso de tartarugas


(P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999).
Tipo de 6 m eses 8 m eses 13 m eses 16 m eses
instala
ção
/idade
Com 0,455 1,679 2,391 1,254
estufa
Sem 0,385 0,485 2,269 1,176
Figura 6: Tartarugas (P.expansa) com crescimento diferenciado em estufa
função do tipo de alimento. Animais à esquerda do paquímetro têm 12 meses: o
de cima foi alimentado com vísceras bovinas, o do meio com pescado e o de baixo
com 70% de puerária e 30% de pescado; à direita, animal de 24 meses Efeitos do tipo de instalação sobre o ganho diário de peso de
alimentado com puerária (Duarte, 1998). tartarugas (P. expansa ) criadas em cativeiro
7.1.2 Alimentação na recria (12 a 24 meses) 3
O tipo de alimento fornecido aos quelônios pode ser um fator 2,5
limitante para a produção comercial. Como reflexo do

GDP (g/dia)
2
acompanhamento bimestral, iniciado em 1997, e das orientações
técnicas dadas pelos pesquisadores da Ufam e do Ibama-AM, 1,5
durante essas visitas, houve uma modificação no tipo de 1
alimentação fornecida pelos queloniocultores do Amazonas, a partir 0,5
de 1999, quando registramos que entre eles 10% passaram a utilizar
ração para peixe, pelo menos no primeiro ano de vida ou 0
CE
suplementarmente a outra alimentação fornecida. Buscando maior 6 8 13 16
Idade (meses) SE
crescimento dos filhotes, 40% passaram a alimentar suas
tartarugas com peixe, 10% com vísceras e 20% forneceram uma
Figura 19: Efeitos do tipo de instalação (CE=com estufa e SE=sem
proporção de 60-70% de peixe e 30-40% de puerária. Apenas 20% estufa) sobre o ganho diário de peso (g/dia) de tartarugas (P. expansa) criadas
mantiveram a dieta baseada em folhas, verduras, tubérculos e em cativeiro. (Costa, 1999).
frutas, obtidas em restos de feiras e mercados (Costa & Andrade,
1999).

280 253
Não houve diferença significativa em crescimento e ganho de Tabela 2: Ganho diário de peso (GDP) de tartaruga (P. expansa) sob diferentes
dietas – Relatórios Ibama (Duarte, 1998).
peso relacionando-se animais alojados em berçário circular de
madeira e animais alojados em baias tipo tanque-rede, porém, Variáveis Proteína animal Proteína vegetal
através da Tabela 7 observa-se que há uma tendência para que GDP médio (g) 0,554 ± 0,13 0,375 ± 0,31
animais alojados em baias tipo tanque-rede obtenham um melhor GDP mínimo (g) 0,257 ± 0,17 0,02 ± 0,03
desempenho na idade de 8 a 16 meses. GDP máximo (g) 1,22 ± 0,62 0,489 ± 0,27
GDP do PV (% ) 0,402 ± 0,09 0,476 ± 0,34
Tabela 7: Crescimento de filhotes de tartaruga (P. expansa) de acordo com o tipo
de instalação. (Costa,1999).
Essa diferença de crescimento entre animais alimentados
V a riá v e is/ B a lsa (T a n q u e - B e rç á rio c irc u la r d e com matéria de origem animal e vegetal também está ligada ao nível
In sta la ç ã o re d e ) m a d e ira
C o m p rim e n to 1 8 6 ,7 7 ± 1 5 ,9 2 1 6 7 ,8 5 ± 2 1 ,3 6
protéico dos alimentos, muito superior nos de origem animal, como o
da c a ra p a ç a pescado utilizado (branquinha – Curimata spp.) com teores de
(m m ) proteína (19,2 ± 2,545 g/100g), lipídio (15,95 ±0,636 g/100g),
A ltu ra da 6 9 ,7 6 ± 5 ,8 4 6 1 ,7 1 ± 7 ,2 2
quando comparado ao teor de proteína dos alimentos de origem
c a ra p a ç a (m m )
P e so (g ) 8 1 0 ,8 7 ± 7 5 4 ,7 1 ± 2 0 2 ,3 8 vegetal, como por exemplo, a batata-doce (Ipomoea batatas Lam.)
1 4 1 ,8 0 (0,94 g/100g) e o cará-roxo (1,24 g/100g) (Aguiar, 1996).
G anho d iá rio 1 ,2 1 8 ± 0 ,6 5 1 ,2 0 0 ± 0 ,8 7
d e p e so (g / d ia ) A Figura 6 ilustra bem essa tendência quando compara
filhotes de tartaruga, em que o animal de maior tamanho corporal
Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e densidade de cultivo sobre o ganho
médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 meses recebeu pescado, o médio, acima, recebeu vísceras bovinas e o
de idade (Costa, 1999). menor (abaixo do maior) recebeu proteína vegetal, todos com um ano
de idade. O lado direito do paquímetro é um animal de dois anos
In stalação/ 12 25 37 M éd ias
alimentado com proteína vegetal.
D en sid ad e de an im ais/ an im ais/ an im ais/
cu ltivo m2 m2 m2
E stu fa 1,2±0,6 1,2±0,4 1,3±0,4 1,2±0,5

A r livre 1,1±0,5 1,2±0,2 1,1±0,2 1.2±0,3


M éd ias 1,2±0,5 1,2±0,3 1,2±0,3

5.3.5 Recomendações sobre instalações para filhotes até


os 16 meses: Com relação aos animais de 8 a 16 meses, há uma
tendência para que sejam alojados em baias tipo tanque-rede com
estufa para obter um melhor desempenho.

254 279
5.3.6 Criação em gaiolas ou tanques-rede em ambientes
Ganho diário de peso (g) X tipo de alimentação
naturais (lagos, rios)
2
visc.bov. Para tartarugas em vida livre Hernandez (1999) estimou que
1,5
animais que foram soltos com um ano de idade, pesando 358,30 g e
gramas

pescado
1 medindo 90,2 mm de comprimento de carapaça, chegavam aos
pueraria+pesc
0,5 rest.feira quatro anos com peso vivo de 4 kg.
0
4 6 8 10 12 14 16 Andrade et al. (2001) observou que crescimento em vida livre
idade (meses)
de tracajás (P. unifilis), ao final de um ano, variava conforme a água
e o ambiente que se encontravam. Em águas pretas, atingiam aos 12
meses um peso médio de 87 a 103 g, com ganho diário de peso de
Figura 5: Ganho diário de peso em tartarugas (P. expansa), sob 0,25 g/dia. Em águas barrentas, atingiam um peso bem superior,
diferentes tipos de alimentação (Duarte, 1998). de 108 a 125 g, com ganhos de peso de 0,3 g/dia.

A análise dos dados coletados no diagnóstico, comparada


Em tanques-rede de ambientes artificiais como barragens ou
com os dados de biometria apresentado nos processos dos demais
tanques escavados, tartarugas atingem ao final de 12 meses peso
criadores, nos permite observar que existe, realmente, uma médio de 810,9 g (máximo=1.400g), em densidades de até 37
tendência de que animais alimentados com maior quantidade de animais/m3, com ganho diário de peso (GDP) de 1,23 g/dia (Costa,
proteína animal apresentem maior ganho de peso do que aqueles 1999). Andrade et al. (2001) em estudo realizado com tracajás
alimentados com proteína de origem vegetal, embora não haja criados em tanques-rede, em lagos de várzea ou margens de rio, a
diferença estatística significativa pelo teste F. A Tabela 2 apresenta uma densidade de 22 animais/m3, estimou o peso médio final
esses resultados. variando de 350 a 700 g, com ganho diário de peso de 3,8 g/dia, até
os três meses de vida.
Isso se deve, provavelmente, não só a uma menor
digestibilidade de alimentos de origem vegetal, para as tartarugas de
Em 2002, foi realizado um estudo com modelos de gaiola ou
um ano, como também devido a uma menor disponibilidade de
tanques-rede, à venda no mercado de Manaus, para a criação de
aminoácidos essenciais, de maior importância para quelônios em
peixes. Foram montadas duas unidades demonstrativas, uma no
crescimento, como a lisina. Animais alimentados com peixe
lago do Puraquequara e outra no rio Preto da Eva. Filhotes de P.
apresentaram desempenho superior àqueles alimentados com
expansa foram alojados na densidade de 30 animais/m3 e
vísceras e sangue coagulado. alimentados com ração para peixe com 36% de PB, 3.800 kcal de
EB/kg e sangue bovino coagulado. Os animais foram monitorados
até os quatro meses de vida.

278 255
Ao final de 120 dias de cultivo os animais haviam atingido alimentados com peixe têm casco mais baixo e achatado (abaulado),
84,51 ± 12,06 mm de comprimento de carapaça e pesavam, em o que pode representar um menor volume interno no casco e,
média, 153,54 ± 46,55 g (máximo=269 g; mínimo=45,9 g), com portanto, um menor rendimento de carcaça.
ganho médio diário em peso de 1,06 ± 0,42 g/dia.
Essa diferença no modo de desenvolvimento, conforme a
alimentação fornecida provavelmente relaciona-se ao fato de o
Esses valores, considerando-se que os animais não foram
acompanhados até um ano nem receberam ração regularmente, são pescado conter maiores teores de cálcio e fósforo do que as vísceras
bastante promissores sobre o cultivo de quelônios nesse tipo de bovinas, permitindo que o organismo do quelônio invista mais no
instalação, em áreas naturais, o que poderá ser uma saída para desenvolvimento de tecido ósseo como o casco, gerando um
pequenos produtores e para as comunidades que ajudam na desenvolvimento mais acelerado da carapaça. Sob a ótica de que os
conservação das áreas de reprodução de quelônios que, até o quelônios são comercializados vivos, animais alimentados com
presente, não podiam criar os animais que ajudavam a preservar, pescado apresentam um maior atrativo visual por parecerem
pelo alto custo inicial para a implantação de tanques e barragens ou, maiores e mais pesados. Quando a comercialização for baseada
mesmo, por não possuírem documentação legal das terras que apenas no rendimento de carcaça, a alimentação com vísceras torna-
tradicionalmente habitam. se mais interessante.

Observa-se, na Figura 4 (peso x idade x tipo de alimentação),


5.3.7 Instalações em criações comunitárias de
que os animais alimentados com puerária apresentam uma
quelônios
tendência a ganho compensatório de peso, a partir dos 10 meses,
Com o apoio do ProVárzea, através do Componente devido a uma mudança na proporção da dieta. Deste período em
Iniciativas Promissoras, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do diante foi fornecido, basicamente, pescado, o que garantiu maiores
Amazonas (Fapeam), desde 2004, estão sendo realizados estudos ganhos diários de peso (GDP) aos animais, como podemos observar
para analisar o potencial da criação comunitária de quelônios em na Figura 5. Observa-se também uma grande queda no GDP dos
diferentes instalações, principalmente, em tanques-rede ou gaiolas. animais alimentados com pescado a partir dos 14 meses. Esse fato
foi devido ao grande período de seca (efeito do El Niño) pelo qual
A criação comunitária de quelônios é uma possibilidade de passou a região desse criador, o que o levou a transferir,
exploração do recurso ex-situ, e sempre foi uma demanda daqueles provisoriamente, seus animais de berçário, acarretando estresse e,
ribeirinhos que, tradicionalmente, protegem as praias de desova. conseqüentemente, perda de peso. Contudo, na avaliação geral de
Através do Programa Pé-de-Pincha, 78 comunidades manejam, de
ganho de peso, tartarugas alimentadas com pescado apresentaram a
forma participativa, quelônios na região do Médio Amazonas. No
maior média.
Baixo e Médio Juruá, as comunidades das reservas extrativistas
também protegem tabuleiros de desova. Contudo, embora essas
comunidades devolvam por ano, respectivamente, próximo a 100 e

256 277
200 mil filhotes de quelônios para a natureza, por se encontrarem
Altura X tipo de alimentação em área de várzea, em sua maioria não possuem documentação
legal da terra que habitam há muitos anos. Também não dispõem de
60
recursos para construção de tanques escavados ou barragens,
40 visc.bov
geralmente utilizados na criação comercial de quelônios. Dessa
mm

pescado forma, pela Portaria nº 142/92 de criação de quelônios, as


20
pueraria+pesc comunidades que protegem as praias de reprodução dessas
0 rest.feira espécies jamais poderiam criá-las legalmente.
4 6 8 10 12 14 16
idade (meses) Em 2002, a Diretoria de Fauna e o RAN começam a elaborar a
minuta da nova instrução normativa de criação, onde está inserida a
Figura 3: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em altura da carapaça (mm), questão da criação comunitária de quelônios. Como forma de
de acordo com o tipo de alimentação (Duarte, 1998). estimular esse tipo de criação pelas comunidades, implantamos as
primeiras unidades demonstrativas de criação com os quelônios
Peso (g) X tipo de alimentação nascidos nas praias protegidas, utilizando diferentes tipos de
instalação: tanques de fibra, tanques de alvenaria, tanques
400 escavados e tanques-rede (Figura 20), e comparamos com o
300 visc.bov. desempenho dos filhotes soltos na natureza.
gramas

pescado
200
pueraria+pesc Foram marcados 7.960 filhotes, 2004-2005, sendo criados
100 rest.feira 2.305 (1.100 em tanque de fibra-alvenaria, 805 em tanque-rede e
0 400 em tanque escavado) e os demais soltos em lagos. Inicialmente,
0 4 6 8 10 12 14 16 os filhotes foram alojados em 14 unidades (três lagos, cinco
idade (meses) tanques-rede, cinco tanques de alvenaria-fibrocimento de 1,76 m3,
um tanque escavado de 1.350 m2). Analisou-se comprimento,
Figura 3: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em altura da carapaça (mm),
de acordo com o tipo de alimentação (Duarte, 1998). largura e altura da carapaça, peso, ganho diário de peso (GDP) e
sobrevivência de filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga
Não houve diferença nas variáveis analisadas entre os
animais de criadores que alimentaram com pescado e vísceras
bovinas, contudo, tartarugas que se alimentaram com pescado
apresentaram uma tendência de maior peso e comprimento de
carapaça. A forma do casco desses animais, entretanto, é diferente.
Animais alimentados com vísceras bovinas são mais altos e animais

276 257
basicamente com proteína animal, em todas as variáveis
analisadas (comprimento, largura e altura da carapaça,
(P. expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) e
comprimento e largura do plastrão e peso).
cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) – Figura 21.

Comprimento de carapaça X tipo de alimentação

150
visc.bov.
100
pescado

mm
50 pueraria+p
esc
0 rest.feira
0 4 6 8 10 12 14 16
Idade (meses)

Figura 2: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em comprimento de carapaça (mm), de acordo


com o tipo de alimentação (Duarte, 1998).

Alimentos de origem vegetal foram enriquecidos com farelo


de soja ou puerária para atingirem níveis similares aos alimentos de
origem animal, em teores de proteína bruta (PB), permitindo, assim,
a comparação entre dietas praticamente isoprotéicas, em torno de
45% de PB.

Figura 20: Diferentes instalações de criação comunitária: de cima para baixo –


gaiola, tanque de piso de concreto e parede de cinta de borracha, e tanque de
alvenaria (Foto: ProVárzea).

258 275
vísceras, GDP = 0,42 0,88g) do que com proteína vegetal (50% de
puerária, Pueraria phaseoloides mais 50% de pescado, GDP = 0,388
0,44g; “sobra ou resto verduras de feira”, GDP = 0,135 0,07g).

Esse fato pode estar ligado à digestibilidade das proteínas, em


função de que nos primeiros anos de vida os quelônios fazem melhor
digestão de proteínas de origem animal por não conseguirem, ainda,
fazer grande aproveitamento das fibras, o que reduz a digestibilidade
dos nutrientes em alimentos de origem vegetal.

É importante, porém, não privar os animais de alimentos à


base de proteína vegetal, visto que ela propicia a manutenção e
estimula a flora microbiana na mucosa intestinal. São esses
microrganismos que fazem a fermentação das fibras dos alimentos
de origem vegetal, o que tende a melhorar a eficiência digestiva das
tartarugas. Conforme crescem, esses animais assumem um caráter Figura 21: Diferentes espécies de quelônios utilizadas nas unidades
mais onívoro e, além disso, os alimentos de origem vegetal, com demonstrativas: irapuca (P. erythrocephala), iaçá (P. sextuberculata),
maior teor de fibra, em geral, são mais baratos para manter animais tracajá (Podocnemis unifilis) e tartaruga (P. expansa) – de cima para
em crescimento ou engorda. baixo (Foto: Oliveira, P.H.).

Pelos resultados apresentados do crescimento médio em


Tartarugas e cabeçudos são as espécies que mais crescem nos
função do tipo de alimentação fornecida para P. expansa em
primeiros 16 meses (Figura 22). Todavia, a espécie Peltocephalus
cativeiro, verifica-se uma superioridade desses se comparados aos
dumerilianus (cabeçudo) é extremamente agressiva, atacando e
de TCA – SPT (1997) e Alho & Pádua (1982), que citam que, em
mordendo indivíduos de espécies diferentes, por isso aconselha-se
cativeiro, quando os animais são criados em condições favoráveis,
criá-los separados.
alcançam no primeiro ano de vida 85 mm de comprimento da
carapaça, com peso de 85g. Os animais foram monitorados por um período de 28 meses,
As Figuras de 2 a 5 apresentam uma comparação entre dois sendo que os quelônios criados em tanques-rede demonstraram um
grupos de criadores distribuídos de acordo com o tipo de ganho diário de peso (GDP) superior (0,41g/dia) aos criados em
alimentação que fornecem, ou seja, maior parte em vísceras de boi tanques fixos de alvenaria ou fibra (0,18g/dia). P. unifilis, em
ou peixe (proteína animal) ou a maior parte em verduras, raízes e tanques-rede apresentam, aos 16 meses, comprimento superior aos
restos de feira, ou em puerária+pescado (proteína vegetal). Observa- dos animais criados em tanques de fibra (99,66 ± 6,14 mm vs. 70,37
se o melhor desempenho dos criadores que alimentam os animais ± 10,07 mm), e inferior aos do tanque escavado ou lagos (181,42 ±

274 259
17,6 mm) – Figura 23. Tabela 1: Crescimento médio em função do tipo de alimentação fornecida para
Podocnemis expansa, em cativeiro, no primeiro ano de vida (Duarte, 1998).
Ali VÍSCERAS PEIXE VEGETAL
Peso médio de quelônios ment BOVINAS
o
Inicial* Final** Inicial* Final** Inicial* Final**
140,00 Ccp¹ 69,0± 137,5± 81,4± 134,9± 57,0± 91,4±
120,00 Tracajá
(mm) 5,7 14,8 6,0 18,5 7,1 8,8
Lcp¹ 60,6± 116,8± 66,1± 104,2± 48,8± 76,3±
100,00
Tartaruga (mm) 5,0 11,52 4,7 12,9 2,5 6,4
80,00
Iaçá
g

Htp¹ 29,8± 52,5± 34,2± 51,7± 21,1± 35,7±


60,00
Cabeçudo (mm) 2,3 3,79 2,8 5,9 1,3 3,1
40,00
20,00 Irapuca Peso¹ 54,7± 281,5± 64,7± 261,0± 25,4± 103,3±
(g) 12,5 85,41 14,2 115,8 3,55 24,1
0,00
6m s

8m s
1 0 es

1 2 ses

1 4 ses

1 6 ses
es
3m s

* - Primeira biometria: animais com 4 meses de idade.


e

e
ê
es

es

es
0m

es
e

e
m

m
** - Última biometria: animais com 16 meses de idade.
1- As variáveis referem-se: Ccp - Comprimento da carapaça; Lcp - Largura da
carapaça; Hcp - Altura da carapaça e plastrão; Peso.
Figura 22: Crescimento de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga (P.
expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) e
cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) durante 16 meses, em criações De acordo com o diagnóstico dos criadouros de quelônios,
constatou-se que os animais alimentados com vísceras bovinas ou
peixe (proteína animal) apresentaram uma tendência a um melhor
Crescimento em carapaça de tracajás em cativeiro e em vida livre crescimento e ganho de peso em relação aos que foram alimentados
basicamente com verduras e tubérculos (proteína vegetal).
200

Observa-se melhor desempenho em locais onde os animais


150
Trede
são alimentados, basicamente com proteína animal, em todas as
Natureza
mm

100
Tfibra
variáveis analisadas, como comprimento e largura de carapaça e
Tescavado plastrão, altura da carapaça e peso.
50

0
As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
0 3 6 8 10 12 14 16 e ganho de peso dos animais que receberam diferentes tipos de
meses alimentação, apresentaram, pela análise multivariada, uma
diferença significativa ao nível de 5% pelo teste F (Prob>F= 0,019; CV
= 86,54%), entre aqueles criadores que alimentaram com maior
quantidade de proteína animal (pescado, GDP = 0,66 0,55g;

260 273
Figura 23: Distribuição de crescimento em comprimento da carapaça
(mm) de tracajás (Podocnemis unifilis). criados em diferentes tipos de
instalações (tanque-rede, tanque de fibra ou alvenaria, tanque escavado
e na natureza)

A melhor densidade de cultivo para esse sistema foi de 40-65


3
indivíduos/m , sendo que a sobrevivência com um ano foi de 89,42 ±
10,56%, não havendo diferença entre instalações, sendo a espécie
com menor taxa a P. sextuberculata, com 76,92%. Os quelônios
foram alimentados com ração com 36% de proteína, obtendo melhor
desempenho que com alimentos alternativos (peixe, macrófitas
aquáticas, beldroega). Sanguessugas foram registradas parasitando
principalmente tracajás, em tanques-rede colocados em áreas de
água preta, com pouca movimentação e baixa profundidade.
Figura 1: Tipo de alimento fornecido para P. expansa em cativeiro (Duarte,
1998).
Parasitas identificados em tanque-rede em água preta (sanguessuga)
e em ovos transferidos (larvas de Diptera, Ephydridae, 1%).
A Tabela 1 apresenta a média de crescimento de filhotes de
tartaruga conforme o tipo de alimentação fornecida. Esses dados Animais alimentados com ração com 25% de proteína tiveram
foram obtidos através de biometrias bimestrais, em onze melhor desempenho em GDP do que com alimentos alternativos
queloniocultores do Amazonas (Manacapuru, Iranduba, (peixe, macrófitas aquáticas, beldroega).
Itacoatiara, Rio Preto da Eva e Manaus) (Duarte, 1998).
A Figura 24 apresenta o crescimento em peso, de tracajás em
7.1.1 Alimentação desde o nascimento até 12 meses cativeiro comunitário, até os 28 meses. Tartarugas criadas em
tanques-rede atingem, aos 28 meses, média de peso de 1.537,6 g
Conforme observado na Tabela 1 existe crescimento (mínimo= 937,33 g; máximo= 3.166,67 g).
diferenciado entre os animais dos criatórios, ou seja, há animais
crescendo mais do que outros, apesar de terem a mesma Em 2005, com recursos do ProVárzea, adquirimos 10 tanques-
característica (idade e origem). Isso sugere que há um tipo de rede padrão, medindo 2 m x 2 m x 1,5 m (tela de alambrado,
alimento melhor que outro. Isso pode, também, estar sendo estrutura em aço, Figura 25), os animais puderam ser colocados em
influenciado pelo potencial orgânico e fisiológico de cada indivíduo, áreas mais profundas e com fluxo de água mais intenso,
pela densidade, pelo tipo de alimentação fornecida (qualidade) ou, proporcionando melhores condições e melhor desempenho do que
ainda, pela imprescindível necessidade de exposição dos animais ao nas outras instalações (GDP= 0,488 ± 0,202 g/dia).
sol, que são fatores que influenciam diretamente no crescimento
diferenciado dos animais no cativeiro, obtendo-se assim um maior
ou menor crescimento.

272 261
devidamente tratados e fornecidos com o uso de equipamentos
Peso médio do Tracajá/Instalação
adequados, como cochos, caixas de madeira, canoas, pranchas
350 (Sebrae, 1995).
300 Terán (1993), ao realizar estudos sobre diferentes dietas em
250
cativeiro, para tracajás jovens e adultos, observou um aspecto
200 T. Rede
importante com relação à perturbação da água e o consumo dos
g

150 T. Fibrocimento
100 alimentos. Efetivamente, verificou que quando uma pessoa entrava
50
no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, a água ficava turva,
0
fazendo com que os animais não viessem comer os alimentos
0mês
3meses
6meses
8meses

22meses
10meses
12meses
14meses
16meses

24meses
28meses
disponíveis. Nesses dias, o consumo reduzia bastante (até 15% do
total dos alimentos oferecidos). Uma situação semelhante foi
Figura 24: Distribuição do peso da carapaça de tracajás (Podocnemis observada quando o tanque era esvaziado para realizar as amostras
unifilis) criados em diferentes instalações no período de 28 meses. mensais. Esse comportamento deve-se provavelmente, ao estresse
provocado por modificações no ambiente e manipulação do animal.

7.1 Tipos de alimentos fornecidos

A alimentação fornecida pelos criadores de quelônios do


Amazonas é variada sendo distribuída entre vísceras, verduras,
tubérculos e peixe, Figura 1 (Duarte, 1998). Desde 2000, muitos
criadores, sob orientação do RAN-AM e da Ufam têm dado mais
atenção à alimentação, no primeiro ano de vida dos filhotes,
fornecendo rações de crescimento para peixe com cerca de 25-30 %
de proteína bruta.

Figura 25: Diferentes modelos de tanques-rede utilizados na criação de


quelônios.

262 271
evitar a ocorrência de processos fermentativos (Lima, 1967; Existe uma tendência a um melhor desenvolvimento dos
Morlock, 1979; Alfinito, 1980). filhotes de tartarugas e tracajás acondicionados em gaiolas do tipo
tanque-rede na margem de rios/lagos, pelo fato de apresentarem
Estudos feitos por Terán (1993), testando o tipo de
características mais próximas do ambiente natural, como por
alimentação para tracajá em cativeiro, demonstraram que uma dieta
exemplo, fluxo contínuo de água, que acarreta uma maior
onívora (constituída de espécies comuns de peixes, Curimatus
circulação de nutrientes no ambiente do cativeiro, e menor carga de
rutiloides, e folha de bananeira, Musa paradisiaca), influi
estresse aos animais.
significativamente no crescimento de P. unifilis, durante os
primeiros 8 meses de vida. Isso reafirma o fato de que os indivíduos Os 3.130 quelônios criados nesse sistema propiciaram em 16
jovens necessitam de uma abundante ração de proteína, cálcio e meses de cultivo uma produção total de 866 kg. Em Terra Santa, a
carboidratos, que são usados na construção dos tecidos e como comercialização experimental de 10 unidades de criação
combustível de crescimento. Essas dietas são de baixo custo e ideal comunitária alcançou o preço de venda similar ao praticado em
para serem usadas para a criação do tracajá em cativeiro. Folhas Manaus, ou seja, R$10,00/kg, contra o preço clandestino que, na
frescas de puerária (Pueraria phaseoloides) não foram aceitas pelos região, é de cerca de R$3,36-5,56 com potencial de venda estimado
filhotes. em R$8.660,00. A construção de tanques-rede com material local e
a utilização de alimentos disponíveis na comunidade como
Estudos realizados por Navarro (1997), para determinar o macaxeira, peixe, piracuí, beldroega ou erva-de-jabuti, reduzirá os
melhor tipo de alimentação para a criação de tracajá em cativeiro, custos com instalações e alimentação, aumentando a lucratividade,
tiveram como fonte: peixes (Psectrogaster amazonica, Curimatus hoje em torno de 12,55%.
rutiloides e Potamohrina altamazonica) e banana (Musa spp.)
A Tabela 9 apresenta os custos e receitas da criação
comunitária de quelônios para uma unidade familiar.
Em condições de cativeiro Espriella (1972) cita que o
alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e
suspensos para facilitar a deglutição. Um animal adulto pode
consumir 1.816g de alimento, repartidos em 10 dias, de 7:00 às
9:00h ou às 16:00h.

Em cativeiro, os filhotes de tartaruga começam a se alimentar


com microorganismos gerados na flora bacteriana do tanque.
Entretanto, a alimentação deve ser complementada com
substâncias protéicas, principalmente à base de fígado de animais e
caramujos. É importante que, a partir do segundo ano a alimentação
seja complementada com resíduos vegetais e subprodutos de origem
animal (vísceras, sangue coagulado, restos de filetagem de peixes)

270 263
Tabela 9: Orçamento simplificado de unidade de criação familiar de Comparativamente, Viana & Abe (1998), ao avaliarem o
quelônios.
desenvolvimento de 198 filhotes de tracajá Podocnemis unifilis com
dieta de 21, 26 e 31% de proteína bruta - PB e isocalóricas (energia
Orçamento – 16 meses de
criação bruta = 3.850 kcal/kg) durante 240 dias, obtiveram nos animais
Custos alimentados com ração de 26 ou 31% de PB maior desenvolvimento.
Custos fixos 216,9 Então, sugeriram utilizar ração com 21% de PB, até 8 meses de
Custos idade, e com 26% de PB para filhotes até completarem 12 meses para
variáveis 276,26
diminuir o custo com ração.
Custos totais 493,17
Receita Esses dados são semelhantes aos encontrados por Best &
N. animais 500
Souza (1984) ao testarem quatro rações peletizadas, com teores de
Biomassa total 155,92 kg
40%, 60%, 70% e 80% de proteína em matéria seca, e balanceada em
Preço kg ilegal 3,36-5,56
Preço kg termos de energia, utilizando 60 tartarugas com peso médio 26,0g e
criação 10 pesos médios finais, respectivamente, em relação aos teores de
Receita bruta 1.559,20 proteína: 174,0 ± 39,9 g; 194,1 ± 58,1 g; 221,4 ± 67,3 g e 165,4 ± 62,7
Receita líquida 1.066,03 g, onde o GDP para a ração com 70% proteica foi 0,71 g/dia, à base
A rentabilidade para os investimentos em manejo de 2% do peso corporal, uma maior eficiência de utilização igual a
comunitário de quelônios foi estimada em 120,21% e para a criação 47,8 g de tartaruga/100g ração. Eles citam haver uma estreita
de quelônios, pelo sistema de tanques-rede, em 183,44%. relação entre a quantidade de alimento fornecido e o crescimento das
tartarugas.
As unidades comunitárias de criação de quelônios
Na Venezuela, Hernandez et al. (1999) verificaram também
demonstram que esse sistema poderá, perfeitamente, servir como
que filhotes de tartaruga cresciam mais com o fornecimento de
modelo de manejo, tipo ranching, em que as comunidades que
rações com maior nível protéico e sugerem que no primeiro ano seja
protegem áreas de reprodução de quelônios adquirem o direito de
fornecida uma ração básica para peixes carnívoros com 48% de
criar um percentual dos filhotes produzidos (30% de tracajás e 10%
proteína e que, no segundo ano, uma ração de crescimento para
de tartarugas). As instalações mais eficientes e práticas são os
peixes com 24% PB. Com essa dieta os animais atingiram, ao final de
tanques-rede, e a alimentação é produzida na própria comunidade.
um ano 90,2 a 143 mm de comprimento de carapaça e 100,6 a 358,3
Isso garantirá geração de renda aliada à conservação dessas
g de peso, com uma conversão alimentar de 1:1, ou seja, para cada
espécies.
grama de ração consumida os filhotes engordaram um grama.

De certa forma, deve haver uma complementação que


contenha cálcio para a formação do casco e deve-se ter atenção para
a alimentação dos animais jovens, mantidos em cativeiro, para

264 269
provavelmente, devido a um maior nível protéico e uma
concentração de aminoácidos essenciais, superior.
Capítulo 8: alimentação e nutrição de
Segundo Quintanilha et al. (1997), há indícios de que a
qualidade de proteína (origem animal e vegetal), influência no quelônios aquáticos amazônicos (Podocnemis
desenvolvimento de P. expansa em cativeiro. spp.)
Cantarelli (1994), em experimento sobre metodologia
alimentar para quelônios em cativeiro, testou rações formuladas
Francimara Sousa da Costa
com diferentes níveis de proteína bruta, 18, 21, 24, 27 e 30% de PB e João Alfredo da Mota Duarte
ração comercial para peixes com 30% de PB. Concluiu que há Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
indícios de que a qualidade da proteína (origem animal ou vegetal) Paulo Cesar Machado Andrade
influencia no desenvolvimento dos animais e que os animais
crescem melhor, se alimentados com alta taxa de proteína bruta (27
a 30%). O tipo de alimento fornecido aos quelônios para criação
em cativeiro é um fator decisivo para que os animais o peso vivo
Maria das Graças Houssaine-Lima (comunicação pessoal, mínimo de 1,5 kg para comercialização, conforme determinam as
1999) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, testou Portarias Normativas nº 142/92 (Criação) e nº 70/96
diferentes fontes de proteína (farinha de peixe e farelo de soja) na (comercialização).
dieta de tartaruga (P. expansa) nos primeiros anos de vida. Neste
experimento conduzido no Centro de Preservação e Pesquisa de A alimentação de Podocnemis expansa é bastante variada,
Quelônios Aquáticos (CPPQA) da UHE Balbina/AM, foram usadas sendo considerada por muitos autores como uma espécie onívora,
rações que variavam a fonte protéica em diferentes níveis de oportunista, ou seja, alimenta-se tanto de raízes, frutas, sementes e
substituição do farelo de soja por farinha de peixe (100% e 0%; 75% e folhas, quanto de crustáceos, moluscos e pequenos peixes
25%; 50% e 50%; 25% e 75%; 0% e 100%; respectivamente). Os (Cenaqua, 1994).
animais apresentaram maior crescimento em dietas com 100% de
Estudos feitos por Téran, Vogt e Gomez (1995), no rio
farinha de peixe, contudo, também apresentaram uma maior taxa de
Guaporé – Rondônia, demonstraram que a principal fonte de
mortalidade, mesmo em animais acima de 1,5 kg. Concluiu-se que a
alimento nessa área, para esses animais, são matérias vegetais
melhor ração foi aquela em que a fonte protéica tinha 50% de farelo
incluindo-se sementes pertencentes às famílias Anonaceae,
de soja e 50% de farinha de peixe.
Leguminosae, Sapotaceae e Rubiaceae e frutas (Leguminosae,
Euforbiaceae, Convolvulaceae).

Os frutos citados como alimento de tartaruga incluem as


seguintes espécies: Astrocarium jauari, Bactris spp., Spondias

268 265
mombin, Genipa americana, Inga spp., Hevea spp., Macrolobium os animais mais velhos (Ojasti, 1971).
acaciaefolium, Symphonia globulifera, Tachigalia paniculata, e
Em geral, a tartaruga e o tracajá têm uma dieta herbívora
espécies adicionais dos gêneros: Brosimum, Calophyllum,
na natureza, mas em condições de cativeiro consomem carne e
Campsiandra, Curatella, Desmoncus, Gustavia, Lonchocarpus e
peixe (Molina & Rocha, 1996).
Sideroxylon (Soini, 1997).
Segundo Best & Souza (1984), pouco se conhecia sobre a
Os estômagos de P. expansa adultas examinados na
nutrição adequada dos quelônios em cativeiro, na fase de pós-
temporada de reprodução, por Ramirez (1956) e Ojasti (1971), em
eclosão, até um ano de idade.
Orinoco, e Pádua e Alho (1984), em Trombetas, estavam vazios e
continham somente fragmentos de madeira decomposta, lodo e Para Alfinito (1980), P. expansa apresenta uma demorada
areia, o que torna evidente que P. expansa experimenta um amplo digestão, justificando-se os jejuns prolongados pelo qual o curso no
“cardápio” durante o período de estiagem. O estômago de uma trato digestivo é considerado bastante significativo, e suas fezes são
fêmea que morreu durante a desova no rio Trombetas continha liberadas após 170 horas de digestão, correspondendo a 7 dias,
cascas vazias de ovos da mesma espécie (Pádua, 1981). significando 5% do volume alimentar, podendo o restante ser
expelido até 880 horas, equivalente a 36 dias. No habitat natural, o
Portal et al. (2002), estudaram a alimentação natural de
forrageamento condiciona-se às contingências momentâneas.
tracajás (P. unifilis) na região do Pracuúba, Amapá, Brasil, e
encontraram 35 diferentes espécies vegetais, sendo a maioria de Em condições de cativeiro, Espriella (1972) cita que o
leguminosas (22,81%) e gramíneas (8,57%). Das plantas alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e
analisadas, 12 espécies apresentam teores de proteína superiores a suspensos, para facilitar a deglutição, onde um animal adulto pode
10%. Entre essas, oito espécies apresentam boa possibilidade de consumir 1.816g de alimento em 10 dias, repartidas entre 7:00 e
servirem como ingredientes de uma ração regional, em função de 16:00 horas.
suas propriedades nutricionais e disponibilidade na natureza. São
elas: Commelina longicaulis (maria-mole) (20,78%); Polygonum Para o Sebrae (1995), os filhotes devem receber uma
acuminatum (pimenteira-brava) (20,19%); Aschymene sensitiva complementação de proteína à base de fígado e caramujos, no
(corticeira)(19,93%); Macrolobium acaiaefolium (jandaruá)(17,06%), entanto, não cita como seria feito o fornecimento. A partir do
Oryza glandiglumes (canarana-grande)(15,00%); Thalia geniculata segundo ano, deverá ser complementada com resíduos vegetais e
(14,14%); Nymphaea rudgeana (11,55%) e Hymenachne peixe, carne ou outros alimentos de origem animal, tratados e
amplexicaulis (10,11%). fornecidos em pequenos pedaços, para facilitar a deglutição, com
preferência por palmito, vísceras, leguminosas e, naturalmente,
Em cativeiro, essa espécie é eminentemente onívora. Aceita por frutos silvestres das margens dos rios.
uma grande variedade de produtos vegetais, pescado e carne picada
(Alho e Pádua, 1982; Terán et al., 1992, FPR, 1988). Os recém- Nos primeiros anos, o crescimento é melhor com o
nascidos demonstram maior preferência pela dieta carnívora do que fornecimento de alimentos à base de proteína animal,

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