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Amazonas
(Projeto diagnóstico da criação de animais silvestres no e stado do
Amazonas)
Editor
Paulo César Machado Andrade - M.Sc.
Laboratório de Animais Silvestres - Ufam
Coordenador do Projeto Pé-de-Pincha
Publicação:
Catalogação na Fonte
Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Bibliografia
ISBN
ii
ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº -
Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. (92) 3613-3083 /
6246 / 6754. Fax. (092) 3237-5616. Site:
www.ibama.gov.br/provarzea
iii
“Dona lebre só queria correr o dia inteiro,
porém, dona Tartaruga andando chegou primeiro!” PARDI, M. C., SANTOS, I. F. dos ; SOUZA, E. R. ; PARDI, H. S. Ciência,
Higiene e Tecnologia da Carne. 2ed. Goiânia: CEGRAF/UFG, v.1, 2001.
(La Fontaine)
POUGH, F. H., HEISER, J. B., Mc FARLAND, W. N. A vida dos
vertebrados. 2.ed. – São Paulo: Atheneu, 1999.
iv 537
Agradecimentos
Ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama, pelo
_____. Lei n° 7.889 de 23/11/89. Dispõe sobre a inspeção industrial e
sanitária de produtos de origem animal. Brasília-DF, 1989. reconhecimento ao Programa Pé-de-Pincha como iniciativa promissora para as várzeas
amazônicas e por tornar real o sonho desta publicação.
_____. Portaria nº 368 de 04/09/97. Regulamento técnico sobre as
condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para Ao Governo do Amazonas, que através da Fapeam e da Secretaria de Meio
estabelecimento elaboradores/industrializadores de alimentos.
Brasília-DF, 1997. Ambiente e Desenvolvimento Sustentável apoiaram a realização do I Seminário de Criação e
Manejo de Quelônios daAmazônia Ocidental, em 2004, que deu origem a este livro.
_____. Portaria nº 46 de 10/02/98. Manual genérico para APPCC em
indústrias de produtos de origem animal. Brasília-DF, 1998. Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de
_____. Portaria nº 210 de 10/11/98. Regulamento técnico da inspeção Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à
tecnológica e higiênico-sanitária de carne de aves. Brasília-DF, 1998. Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e
_____. Portaria nº 711 de 01/11/95. Normas técnicas de instalações e logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento
equipamentos para abate e industrialização de suínos. Brasília-DF,
1995. da importância estratégica da fauna para a região amazônica.
Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela
_____. Padronização de técnicas, instalações e equipamentos para o
abate de bovinos. trajetória de luta.
_____. Instrução Normativa nº 03 de 17/01/00. Regulamento técnico de Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló,
métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas
açougue. Brasília-DF, 2000.
horas mais difíceis.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 142 de 30 de dezembro
de 1992. Normatiza a criação em cativeiro das espécies de quelônios Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos
Podocenmis expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas.
tracajá, com finalidade comercial, partindo de filhotes, nas áreas de
distribuição geográfica. Brasília-DF, 1993. Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando
_____. Portaria nº 070 de 23 de agosto de 1996. Normatiza a “milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto com a nossa equipe.
comercialização de produtos das espécies de quelônios Podocenmis
expansa, tartaruga-da-amazônia e Podocnemis unifilis, tracajá,
Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários
provenientes de criadouros comerciais regulamentados pelo IBAMA. de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara,
Brasília-DF, 1996.
Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis,
DORNELLES, A. M. G.; QUINTANILHA, L. C. Abate experimental de
tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa). In: CONGRESSO LATINO-
Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e
AMERICANO DE HIGIENISTAS DE ALIMENTOS, 2003. Belo Horizonte. 1., Vickson).
2003. Anais… Belo Horizonte: CRMV-MG, p.57-58.
À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa
GASPAR, A.; RANGEL FILHO, F. B. Utilização de carne de tartarugas da
Amazonia (Podocnemis expansa), criadas em cativeiro, para consumo loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em três meses.
humano. Revista Higiene Alimentar, v.15, p. 73-78, 2001.
Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos
JAY, J. M. Modern food microbiology. 4ed. New York: Van Nostrand
Reinhold, 1992. problemáticos computadores desta edição.
536 v
Sumário
VOGT, R. VI meeting of the project to manage and project Amazonian River
Introdução........................................................................ 1 turtles. Tortoises & Turtles, Newlestter of the IUCN tortoise and
Capítulo 1: Manejo comunitário de quelônios – a Freshwater Turtle Specialist Group, v. 5, 1990. p. 18-20.
parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha........................ 12
Capítulo 2: Revisão sobre as características das
principais espécies de quelônios aquáticos Capítulo 13:
amazônicos..................................................................... 24
Capítulo 3: Áreas de reprodução de quelônios
protegidas pelo RAN-Ibama/Amazonas e Ufam................. 55 CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia. In:
Capítulo 4: Ecologia de quelônios pelomedusídeos NASCIMENTO, L. B.; BERNARDES, A. T.; COTTA, G. A. (Ed.). Herpetologia
na Reserva Biológica do Abufari......................................129 no Brasil. Belo Horizonte: PUC-MG: Fundação Biodiversitas: Fundação
Ezequiel Dias, 1994. p. 25-34.
Capítulo 5: Genética molecular das populações das
espécies de quelônios do gênero Podocnemis na IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia 10 anos. Brasília, 1989. 119 p.
Amazônia: resultados preliminares................................. 176
Capítulo 6: Fisiologia e bioquímica de quelônios e IBAMA; UFAM. Relatório final 98-2000 do projeto “Diagnóstico da
criação de animais silvestres no estado do Amazonas”. Manaus: Ibama:
suas implicações para o manejo e a criação em
CNPq, 2001.
cativeiro......................................................................... 196
Capítulo 7: Instalações para a criação de quelônios....... 227 MARTIN, N. B. et al. Custos e retornos na piscicultura em São Paulo.
Capítulo 8: Alimentação e nutrição de quelônios Informações Econômicas, São Paulo, v. 25, n. 1, p. 9-47, 1995.
aquáticos amazônicos (Podocnemis spp.)........................ 265
MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U.; RODRIGUES, F. M. Criação de tambaqui
Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da- (Colossoma macropomum) em viveiros de argila/barragens no estado
amazônia (P.expansa) e tracajá (P. unifilis) em do Amazonas. Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2001. 30 p.
cativeiro, alimentados com dietas artificiais em (Embrapa Amazônia Ocidental. Documentos, 18).
diferentes instalações..................................................... 295
MELO, L. A. S.; IZEL, A. C. U; Andrade, P. C. M; SILVA, A. V; HOSSAINE-
Capítulo 10: Manejo em criações de quelônios LIMA, M. G. Criação de Tartaruga da Amazônia (Podocnemis expansa).
aquáticos no Amazonas: adubação, densidade de Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental, 2003. 14 p. (Embrapa Amazônia
cultivo, desempenho de diferentes espécies, Ocidental. Documentos, 26).
populações e sexo.......................................................... 338
SCORVO FILHO, J. D.; MARTIN, N. B.; AYROZA, L. M. S. Piscicultura em
Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação e São Paulo: custos e retornos de diferentes sistemas de produção na safra
sanidade....................................................................... 378 1996/1997. Informações Econômicas, v. 28, n. 3, p. 41-60, 1998.
Capítulo 12: Caracterização socioeconômica e
ambiental da criação de quelônios no estado do
Amazonas e comercialização...........................................421 Capítulo 14:
Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia (P.
expansa): alternativa ecológica, técnica e econômica
ao agronegócio amazônico.............................................. 451
BRASIL. Ministério da Agricultura, Secretaria Nacional de Defesa
Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-da- Agropecuária. Lei n° 30.691 de 29/03/52 Regulamento da inspeção
amazônia (P. expansa) criada em cativeiro..................... 463 industrial e sanitária de produtos de origem animal e seus
Referências bibliográficas........................................... 502 ingredientes. Brasília-DF, 1997.
vi 535
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001 - Introdução
Sistema de gestão ambiental. Especificações e diretrizes de uso. 1996.
19 p.
FACHIN-TERAN, A. Ecologia de Podocnemis sextuberculata (Testudines, Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado do
Pelomedusidae) na Reserva de Desenvolvimento Sustentável,
Amazônia, Brasil . Manaus , 1999. 189 p. Tese (Doutorado em Ecologia) – Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios de
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/Universidade do Amazonas,
(INPA/FUA).
água doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à
capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas
GOLTERMAN, H. L.; CLYMO, R. S.; OHNSTAD , M. A. M. Methods for
Physical and Chemical Analysis of Fre shwaters. London: IBP Handbook, (Podocnemis expansa), tracajás (Podocnemis unifilis) e iaçás
Blackweel Sci. Public., n. 8, 1978. 214 p.
(Podocnemis sextuberculata) para serem abatidos. Em 1792,
IBAMA. Portaria n. 142/92 – Ibama, set. 1992. Diário Oficial , 21 jan. segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade (1988), registra-
1993.
se em apenas um ano o abate de 24 milhões de tartarugas na cidade
IBAMA. Diretrizes aplicada ao planejamento e gestão ambiental.
Brasília, 1992(b). 101 p. da Barra do Rio Negro, a futura Manaós. A primeira proibição surge
em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo
KUBTZA, F. Quali dade da água na produção de peixes. Parte II. Panorama
da aqüicultura, v. 8, n. 48, p. 35-41, 1998. o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº
LUZ, V. I. F; REIS, I. S; CANTARELLI, V. H. S; QUITARILHA, L. C. A. A 54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba,
criação de quelônios como alternativa de uso racional dos Recursos Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga,
Naturais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE ANIMAIS
SILVESTRES DE LA AMAZONIA. La Paz, dez.1997. p. 125 começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e
MACEDO, S. K. Metodologia para a sustentabilidade ambiental. Análise 1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelas
ambiental estratégias e ações. Rio Claro , São Paulo: Centro de Estudos
ruas. No Mercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma
Ambientais – Unesp, 1995. p. 77-102.
área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que,
SOINI, P. Biologia y manejo de la tortuga Podocnemis expansa
(Testudines, Pelomedusidae) Tratado de Cooperação Técnica. Caracas: posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras
Secretaria Pro Tempore, 1997. 48 p.
áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de
UNIÃO INTERNACIONAL PARA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA ( UICN). quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988)
Red list of treatened animais. 1998. 36 p.
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. Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios,
PAIXÃO. L .; TATCHER, V. E. Dados preliminares sobre a fauna
em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria parasitológica de Podocnemis sp. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ZOOLOGIA. 11., 1984. Pará, p.307-8.
proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa
medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a PEZZUTI, J. C. B. Ecologia reprodutiva de iaçá, Podocnemis
sextuberculata (Testudines, Pelomedusidae), na Reserva de
comercialização de produtos de animais silvestres constava Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil . Manaus ,
inclusive na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da 1997.
Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas SOINI, P. Ecología reproductiva de la taricaya (Podocnemis unifilis) en el rio
adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de Pacaya, Perú. Folia Amazônica, v. 6, p. 105-124, 1995.
Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00. TERAN, A. F.; ACOSTA, A.; VILCHEZ, I. Tortugas Podocnemis mantidas em
Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará, cativeiro ao redor de Iquitos, Loreto -Peru. Boletím de Li ma, v. 84, p. 79 -
88, 1992.
trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D.; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G .
problemas entre a coletoria do estado e a Delegacia local. Reproducion da la Taricaya Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en
cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei nº 5.197 de 1967, o comércio de MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2.,
07/05-12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana
quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado clandestino y la University of Florida. Iquitos, Perú.
vem tornando-se cada vez mais forte e organizado. Essa mesma lei já
THORBJARNARSON, J. B; PEREZ, N .; ESCALONA, T. Nesting of
previa em seu artigo 6º, item b, a “construção de criadouros Podocnemis unifilis in the Capanaparo River, Venez uela. Journal of
destinados à criação de animais silvestres para fins econômicos e Herpetology, v. 27, p. 347-351, 1993.
industriais”. Em 1969, saiu a primeira portaria tentando normatizar TRATADO DE COOPERACION AMAZONICA. Biologia y manejo de la
esse novo tipo de empreendimento, a Portaria nº 1.136/1969. Em tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997.
1973, com a Portaria nº 1.265P, ficava autorizada na Amazônia a VOGT, R. C.; BULL, J. Ecology of hat chling Sex ratio in map turtles.
Ecology, v. 65, n. 2, p. 65-74, 1984.
implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros grandes
projetos de criação de quelônios da Amazônia começou na verdade
em 1964, sendo, posteriormente, acompanhado pelo extinto Capítulo 12:
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Foi o do
ACOSTA, J. Protección e manejo de la tortuga charapa en la Amazonia
Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes de tartaruga oriundos do rio Equatoriana. In: CAMPOS-ROZO, C.; ULLOA, A.; RUBIO, H. (Ed.). Manejo
Trombetas eram de fauna em comunidades rurales. Bogotá: Fundación Natura, 1996. p.
119-131.
Manuel Andrade, Gerente de Operações da A. Raposo e Cia. – Distribuidora de ASSAYAG, S. Análise dos sistemas de gestão ambiental da Zona de
combustível no Baixo Amazonas, no período de 1960 a 1975. Informação pessoal. Manaus. Manaus , 1999. 92 p. Dissertação ( Curso de Pós em Ciências
Ambientais) – Universidade do Amazonas.
2 533
criados até atingirem 8 kg com, aproximadamente, 6 anos de idade, quando eram
Capítulo 11: comercializados. O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que, segundo
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F. da. Instituto Brasileiro de relatos, recebeu em um único lote 100.000 tartaruguinhas.
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980.
No estado do Amazonas, as atividades do Projeto Quelônios da Amazônia
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F da. Berçário de tartarugas.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1976. tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco (afluente do rio Negro) e em
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Influência da temperatura de Codajás, sendo que em 1977 foram criados oficialmente vários tabuleiros no Purus
incubação na determinação do sexo da tartaruga-da-amazônia (Axioma, Santa Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é
(Podocnemis expansa) (Testudinata, Pelomedusidae). 1984.
Pai, Pão, Pupunha, Manariã; e em Itamarati: Walter Buri, Marimari, Iracema, etc.).
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Sincronia entre o regime de vazante do
rio e o comportamento de nidificação da tartaruga da Amazônia Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos do trabalho de conservação
(Podocnemis expansa - Testudinata -Pelomedusidae). Acta Amazônica, executado por grandes seringalistas daquela região. O Instituto Brasileiro de
Manaus, v. 12, n. 2, p. 323-26, 1982.
Desenvolvimento Florestal (IBDF), com apoio dos proprietários locais e da
ALHO, C. J. R.; CARVALHO, A. G. de ; PÁDUA, L. F. M. de. Ecologia da
Tartaruga da Amazônia e avaliação do seu manejo na Reserva Biológica do experiência das comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve
Trombetas. Brasil Florestal, n. 38, p. 29-47, 1979. produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá (RAN-AM,
ANDRADE, P. C. M.; LIMA, A. C.; CANTO, S. L. O. et al. Proj eto “Pé -de- 2001).
pincha”: Manejo Sustentável de quelônios ( Podocnemis sp.) no baixo
Amazonas. Extensão Universitária, Coleção Socializando Experiências, Em 1989, a proteção passou a ser realizada apenas nos tabuleiros do Abufari (rio Purus)
Universidade de Mogi das Cruzes/Olho D’água, São Paulo, v. 3, p. 1 -14,
2004. e em Walter Buri (rio Juruá), sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em
108.319 filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção passam a se
CENAQUA. Informativo da Associa ção Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia .
Goiânia, jun. 1994. concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se encontra o tabuleiro/praia de
maior produção de quelônios no Amazonas), em Walter Buri e na Reserva Extrativista
CHELONIA. Problemas enfrentados na criação de tartarugas . Goiânia, n.
4, jun.1994 do Médio Juruá (maior área produtora de quelônios do estado). A produção da praia do
FERRARINI, S. A. Quelônios: animais em extinção. Manaus, 1980. Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em 1994, caindo para
170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada de filhotes de tartaruga em Abufari
FOWLER, M. E. Zoo & Wild animal medicine . 2 ed. Denver, C olorado,
USA: W. B. Saunders Company, 1986. p. 109-186. foi de 260.000 animais. A Resex do Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros
remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal
IBAMA. Projetos quelônios da Amazônia 10 Anos. Brasília, 1989.
Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã,Ati
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.
532 3
(comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari (comunidade
expansa e P. erythrocephala ) nos Municípios de Terra Santa e Oriximiná -
do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é estimada em 250.000 PA e Nhamundá e Parintins - AM - "Projeto Pé -de-Pincha". Revista de
Extensão da Universidade do Amazonas . PROEXT/FUA, Manaus/AM , v.
filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá. Desde 2001, o Ibama tem trabalhado em 73 áreas 2, n. único, p. 1-25, 2001.
diferentes, em oito calhas de rio (Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã, CENAQUA. Info rmativo da Associação Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia .
Amazonas, Nhamundá e Trombetas), com uma produção média anual de 1.500.000 Goiânia, jun.1994.
filhotes de quelônios (Andrade, 2002). COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações,
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e
P. sextuberculata ) em cativeiro. Manaus, 1999. 123 p.
A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é extremamente Monografia/UFAM.
elevada no estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá são as espécies mais
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e
procuradas para a criação comercial. A criação de quelônios depende da retirada de estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e
P. unifilis ) no estado do Amazonas . Manaus, 1998. 106 p. Monografia
milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor, /UFAM.
de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica do Abufari, sendo que a retirada anual de FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatura; fator limitante à criação de
tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia ,
filhotes carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente
1994. p. 4.
estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação sobre os
HERNÁNDEZ, O.; NARBAIZA, I.; ESPIN, R. Logros de FUDECI durante
estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e densidade, área de vida, uso cinco anos (1994 -1999) de cria em cautiverio de neonatos d e tortuga arrau
(Podocnemis expansa ). In: TALLER SOBRE LA CONSERVACIÓN DE LA
de habitats, taxas de sobrevivência de filhotes em diferentes estágios de vida ESPECIE TORTUGA EN VENEZUELA. Caracas, 1999. 10 p.
(filhotes, jovens, subadultos e matrizes). Hoje, os principais fornecedores de MAGNUSSON, W. E.; MARIANO, J. S. O papel da fauna nativa no
filhotes para os criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio desenvolvimento da agropecuária na Amazônia. 1993.
Juruá, monitorado pelo Posto de Eirunepé, e Sororoca e Toró, no rio Branco/RR. MOLINA, F. B.; RO CHA, M. B. Identificação, caracterização e
distribuição dos quelônios da Amazônia brasileira . Belém/PA: Centro
Nacional dos Quelônios da Amazônia. 1996. 24 p. Apostila.
No estado do Amazonas existem aproximadamente 196 projetos de
criação comercial de animais silvestres, em análise, junto ao Ibama- NAVARRO, V. A. R.; DIAS, A. A. Densidad y Crescimento en Crias de
taricayas, Podocnemis unifilis , (Chelonia:Pelomedusidae) en Cautiveiro,
AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros em Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJO DE
FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 3., 03/12-
Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%; Itacoatiara, 21,7%; 07/12/1997. Anais... Santa Cruz de La Sierra – Bolívia.
Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; São SEBRAE. Criação de quelônios em cat iveiro. Manaus : Programa de
informação. 1995. 62 p.
Gabriel da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999).
Destes, 88,46% são criatórios de tartaruga. O estado é o que possui o SILVA NETO, P. B. Abate de tartarugas -da-amazônia. Relatório. São
Paulo: Pró -Fauna Assessoria e Comércio L tda. Convênio Empresa Pró -
maior número de criatórios Fauan e Cenaqua-Ibama, 1998. 48 p.
4 531
comerciais de quelônios do país, com uma demanda crescente
VANZOLINI, P. E.; GOMES, N. A note on the biometry and reproduction of
Podocnemis sextuberculata (Testudines, Pelomedusidae). Papéis Avulsos de passando de 11 criadouros registrados, em 1997, para 33 criadouros
Zoologia, v. 32, n. 23, p. 227-290, 1979. em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados. Ao final de
VALLE. Preservação da tartaruga da Amazônia; contribuição do estado da 2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais em cativeiro
tartaruga amazônica. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE FAUNA (Andrade et al., 2003).
SILVESTRE E PESCA FLUVIAL E LACUSTRE AMAZÔNICA. Manaus.
Monografia sobre fauna terrestre. Amazonas. Instituo Interamericano de
Ciências Agrícolas da OEA. 1973. v. 2, p. 66-88.
Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são,
freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo
VERÍSSIMO, J. A. A pesca da tartaruga. A pesca na Amazônia .
Universidade Federal do Pará. Coleção Amazônica, 1970. p. 41-59. o Amazonas, tendo como principal ponto de comercialização (90%),
Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com
VIANNA, V. O. Uso de dietas artificiais no desenvolvimento inicial de
tracajá (Podocnemis unifilis), tigre d’água ( Trachemys dorbignyi), teiú 52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda
(Tupinambis merianae ) e jacaré -de-apo-amarelo ( Caiman latirostris ) representa 22% do total de animais silvestres comercializados para
em cativeiro . Jaboticabal, SP, 1999. Dissertação (Mestrado) – Centro de
Aqüicultura, UNESP. alimentação. Os municípios onde ocorre o maior número de
VOGT, R. C.; BULL, J. J. Temperature controlled Sex determination in
apreensões são Manaus (59%), Tefé (12%), Manacapuru (7%) e
turtles: Ecological and behaviord. E.U.A. Herpetologica, v. 38, n. 1, p. Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de
156-64, 1982.
apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas
VOGT. R. C.; CANTARELLI, V. H.; CARVALHO, A. G. Reproduc tion of the do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%)
cabeçudo, Peltocephalus dumerilianus, in the Biological reseve of Rio
Trombetas, Pará, Brazil. Chelonian Conservation and Biology , v. 1, n. 2 , são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes,
p. 145-148. 1994. onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preços
WEBB, G. J. W.; SMITH, A. M. A. Sex ratio and survivorship in the de venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (Canto et
australian freshw ater crocodile Crocodilus johnstoni. Symp. Zool. Soc. al., 1999).
London, v. 52, p. 319-355, 1984.
WOOD, R. C. Two new species of Chelus (Testudines:Pleurodira) from the O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito arraigado
late tertiary of northern south America. Breviora, Mus. Comp. Zool. na população local, o que tem levado à caça e comercialização ilegal
Harvard Univ., v. 435, p. 1-26, 1976.
de ovos e de animais adultos. A criação comercial, permitida pela
ZHAN, X. A.; Xu-Zi, R.; QIAN, L. C. Muscle and fat quality of Chinese soft - Portaria nº 142/92, ainda não consegue atender o mercado e seus
shelled turtle. Journal of Zhejiang University Agriculture and Life
Sciences, v. 26, p. 457-460. preços, ainda são elevados. A demanda por filhotes para criação,
também é grande e o Ibama não está conseguindo atender a todos
que querem criar, pois não possui um número suficiente de
Capítulo 10:
tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e 1999). O esvaziamento
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Influência da temperatura de do meio rural e a falta de incentivos para a agricultura levaram a um
incubação na determinação do sexo da tartaruga-da-amazônia
(Podocnemis expansa) (Testudinata, Pelomedusidae). 1984. quadro em que os que sobreviviam no interior passaram a trabalhar
ANDRADE, P. C. M.; LIMA, A. C.; SILVA, R. G.; DUARTE, J. A. M. et al. quase que exclusivamente como
Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis unifilis, P. sextuberculata, P.
530 5
vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como
pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a SCHWARZKOPF, L.; BROOKS, J. R. Nest -site selection and offspring Sex
subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela ratio in painted turtles, Chrysemys picta. Copeia, v. 7, n. 1, p. 55-61, 1987.
exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Manaus : Programa de
castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradas informação, 1995. 62 p.
de maneira predatória e irracional (Smith & Pinedo, 2002). SILVA NETO, P. B. Abate de tartarugas -da-amazônia. Relatório. São
Paulo: Pró -Fauna Assessoria e Com ércio L tda, Convênio Empresa Pró -
Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de Fauan e Cenaqua-Ibama. 1998. 48 p.
quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas
SILVA, T. J. Genética da conservação de Podocnemis sextuberculata
comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em (Testudines, P elomedusidae) utilizando região controle de DNA
Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram mitocondrial. 2002.
protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por SLINGER, S. J. Effect of pelleting and crumbling methods on the nutritional
associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, a values of feeds. In: EFFECT OF PROCESSING ON THE NUTRITIONAL
VALUE OF FEEDS. Gainesville. Proceedings... Gainesville: Limerick, 1972.
Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o RAN/Ibama-AM, com p. 48-66. 1972.
o apoio das comunidades de Parintins, Nhamundá, Barreirinha,
SMITH, N. J. H. Quelônios aquáticos da Amazônia: um recurso ameaçado.
Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq, Acta Amazônica Manaus, v. 9, n. 1, p. 87-97, 1979.
Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm
SOUZA FILHO, J.; SCHAPPO, C. L.; TAMASSIA, S. T. S. Custo de produção
realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as de peixe de água doce . Florianópolis: Ed. Rev., Instituto CEPA/SC/
Epagri, 2003. 40 p.
seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de
Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes); SPENCER, R. J. Growth patterns of two widely dis tributed freshwater
turtles and a comparison of common methods used to estimate age
Capacitação de 49 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em Australian Journal of Zoology, v. 50, n. 5, p. 477-490, 2002.
Educação Ambiental para 385 professores; Construção de
STEFFENS, W. Princípios fundamentales de la alimentación de los
cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5. peces. Zaragoza, España: Ed. Acribia, SA. 1987. 275 p.
Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606
STORER, T. Classe Reptilia; Répteis. In: Zoologia Geral. 6 ed. São Paulo :
participantes) sobre meio ambiente e alternativas de Nacional, 1991. p. 642 -66. (Tradução : Claudio Gilberto Fraehlich, Diva
desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação Diniz Correa e Erika Schlens)
caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, STRINGHINI, J. H.; ANDRADE, M. L.; ROCHA, P. T. Recentes avanços na
manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de nutrição de frangos de corte. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE
CIÊNCIAS AVIÁRIAS , 6., 2000. Uberlândia. Anais... Uberlândia:
campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, e visita Universidade Federal de Uberlândia, p. 66-100.
a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias,
SEBRAE, T. I et al. Criação de quelônios em cativeiro. Manaus: Programa
envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400 de Informação, 1995. 62 p.
pessoas nas 78 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em
TERAN, A. F. Alimentação de cinco espécies de quelônios em Costa
1999-2000, foram Marques; Rondônia, Brasil. 1998. Tese (Doutorado) – INPA.
6 529
PISTONE, M. M. A. Morfologia Interna das espécies Podocnemis transferidos 1.847 ninhos, 38.229 ovos e soltos 29.476 filhotes na
expansa e P. unifilis. Rondônia, 1995. natureza (Andrade et al., 2001). O número total de filhotes
PORTAL, R. R.; LIMA, M. A. S.; LUZ, V. L. F.; BATAUS, Y. S. L. REIS, I. J. devolvidos à natureza de 1999 a 2006 chega a 629.183 em sete
Espécies vegetais utilizadas na alimentação de Podocnemis unifilis na região
do Paracuúba – Amapá. Rev. Ciência Animal Brasileira, 2002.
anos. Através deste programa de conservação de recursos naturais
e extensão, denominado “Pé-de-Pincha”, o Ibama e a Ufam
POUGH, F. H .; HEISER, J . B. ; McFARLAND, W . N. Ectotermos
terrestres; Tartarugas. In: A vida dos vertebrados . São Paulo : Atheneu, conscientizaram e capacitaram essas comunidades do Médio-Baixo
1993. p. 387-406. Amazonas para o manejo racional de quelônios.
PRITCHARD, P. C. H. Side - neck turtles; Genus Podocnemis. In:
Encyclopédia of turtles . Estados Unidos da América : T. F. H. , 1979. p. Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para
750-58. o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga (Podocnemis
PRITCHARD, P. C. H. ; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela. Soc. Stud. expansa), o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) têm
Amphib. Rept., p. 33-43, 1984. ampla distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa
QUINTANILHA, L. C. ; LUZ, V. L. ; CANTARELLI, V. H. ; SÁ, V. A, BONACH, real de proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da
K. Influência do Percentual de Proteína Bruta Sobre de Filhotes o
Crescimento de P. expansa em Cativeiro. In: CONGRESSO Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja
INTERNACIONAL DE MANEJO DE FAUNA AMAZÔNICA . 3., 1997. Santa desenvolvido um programa de manejo para evitar uma
Cruz, Bolívia.
superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da
QUINTANILHA, L. C. Parâmetros Zootécnicos do Abate Industrial da população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem ser
Tartaruga-da-amazônia ( Podocnemis expansa) criada em cativeiro .
Brasília, 2003. 60 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Agronomia e estimados através do estudo de dinâmica de populações. A
Medicina Veterinária, Universidade de Brasília.
avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com
RAN. Atividades da área de criação em cativeiro no exercício de 2001 . parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem
Relatório. Goiânia: Ibama, Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
Anfíbios. 2001. 23 p. como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da
REIS, I. J. Criação em cativeiro : cresce interesse pela criação e
exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003;
comercialização de quelônios. Chelonia. Goiânia: Cenaqua, Área técnica de Bataus, 1998).
criação em cativeiro, 1997. p. 4.
A criação de quelônios em cativeiros licenciados poderá, de certa forma,
RHEN, T.; LANG, J. W. Phenotypic plasticity for growth in the common
snapping turtle: effects of incubation temperature, clutch, and their amenizar a situação desses animais quanto à pressão de caça e à
interaction. The American Naturalist, v. 146, n. 5, p. 726-747, 1995. extinção. Através da Portaria nº 142/92 do Instituto Brasileiro do Meio
RODRIGUES, R. M. Quelônios. In: A fauna da Amazônia . Belém, Pará : Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que normatiza
CEJUP, 1992. p. 209-14. a criação comercial da tartaruga-da-amazônia e do tracajá, em
SÁ, M. V. C.; FRACALOSSI, D. M. Exigência Protéica e Relação cativeiro, o Governo brasileiro pretendeu proporcionar ao consumidor
Energia/Proteína para Alevinos de Piracanjuba ( Brycon orbignyanus). Rev.
de produtos da fauna, a oportunidade de conseguir o animal para
Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 1, Viçosa, jan./fev., 2001.
consumo, de forma legal, contribuindo para a
SANTOS, A. A. Estratégias para o uso sustentável dos recursos
pesqueiros da Amazônia. Rio de Janeiro, 1995. p. 18-19.
528 7
conservação e a preservação de ambas as espécies e para a
MOLINA, F. B.; ROCHA, M. B. Identificação, caracterização e
diminuição da caça predatória, oferecendo uma nova alternativa distribuição dos quelônios da Amazônia brasileira . Belém: Centro
Nacional dos Quelônios da Amazônia, 1996. 24 p. Apostila.
comercial para os produtores rurais locais (Duarte, 1998).
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.
Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e
MUGGIATI, A. A carne de tartaruga volta ao cardápio. Folha de São Paulo.
qualitativamente” uma forma de concorrência desleal para a 6 cad. Agrofolha. p. 1. 1996.
queloniocultura amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento NOGUEIRA NETO, P. Classe Reptilia , ordem Chelonia. In: A criação de
animais indígenas vertebrados. São Paulo: Tecnopis. P., 1973
da oferta de produtos oriundos de criadouros licenciados de
NOMURA, H. Criação e biologia de quelônios. São Paulo. In: Criação e
animais silvestres diminua a pressão de caça sobre os estoques biologia de animais aquáticos. São Paulo: Nobel, 1977. p. 71-101.
naturais, cujo manejo natural será um fator importante para
NUANGSAENG, B.; BOONYARATAPALIN, M. Protein requirement of juvenile
manter a conservação das espécies de elevado valor econômico. soft-shelled turtle Trionyx sinensis Wiegmann Aquaculture Research ,
Suppl. 1, v. 32, p. 106-111, 2001.
Apesar da importância estratégica dessa atividade, até OJASTI, J. Consideraciones Sobre la Ecologia Y Conservacion de la Tortuga
meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido Podocnemis expansa (Chelonia :Pelomedusidae) In: Atas do Simpósio
Sobre a Biota Amazônica, CNPq, v. 7, p. 201-206, 1967.
realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para
OJASTI, J. Um plateamento para la conservacion de la tortuga del Orinoco.
tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem Escola de biologia, Universidad Central de Venezuela. Agricultor
venezuelano, n. 228, p. 32-7, 1993.
pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de
OLIVEIRA, P. H. G. Manejo de quelônios em cativeiro no Estado do
crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade da Amazonas. Manaus/AM: UFAM, 2000.
criação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva,
OJASTI, J. Um plateamento para la conservacion de la tortuga del O rinoco.
1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações, Escola de biologia, Universidad Central de Venezuela. Agricultor
venezuelano, n. 228, p. 32-7, 1993.
possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido
ORR, R . T. Biologia de los vertebrados . 2 ed. México : Centro Regional de
disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público. Ayuda Técnica , 1970. 42 p. (Tradução: Dr. Fernando Calchero
Arrubarrena)
Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente expressivas
PAIXÃO. L .; TATCHER, V. E. Dados preliminares sobre a fauna
e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a tartaruga parasitológica de Podocnemis sp. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ZOOLOGIA. 11., Pará, 1984. p. 307-8.
(Podocnemis expansa) e o tracajá (P. unifilis). Para estimular a criação
desses animais em cativeiro, o antigo Centro Nacional dos Quelônios da PARMENTER R. R. Digestive turnover rates in freshTemperature relations
of young snap ping turtles, water turtles: the influence of temperature and
Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro de Conservação e Manejo de body size. Comp. Biochem. Physiol., 70A, p. 235-238, 1981.
Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos Experimentais de Tecnologia de PEZZUTI, J. C. P.; VOGT, R. C. Nest site selection and causes of mortality
of Podocnemis sextuberculata, Amazonas, Brazil. Chelonian Conservation
Criação de Quelônios. No Amazonas, esses núcleos não foram criados e and Biolog, v. 3, n. 3, 1999.
os queloniocultores pioneiros não tiveram
8 527
LIMA, F. F. Criação de peixes e quelônios; cria e recria em lago natural . assistência técnica adequada, baseando suas criações no
Série V, n. 3, 1967. conhecimento empírico individual e em algumas informações
LIMA, M. G. H. S. A importância das proteínas de origem vegetal e repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998).
animal no primeiro ano de vida da Tartaruga da Amazônia (Podocnemis
expansa). Manaus/AM, 1998. Dissertação (Mestrado em Ciência de Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e
Alimentos) - UFAM & INPA.
tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de
LIMA, A. C. Caracterização socioeconômica e ambiental da criação de
quelônios no Estado do Amazonas . Manaus/AM, 2000. Dissertação determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir
(Mestrado) - Centro de Ciências do Ambiente/UFAM.
desse quadro, diagnosticado, propor formas de manejo para garantir
LOREN U. W.; JAMES, R. S.; EDWARD, A. S. Selected Temperature and melhores desempenhos desses animais em cativeiro.
CTM of Young Snapping turtles, Chelydra S erpentina. Department of
Biology, State University College of New York at Buffalo, 1300 Elmwood
Avenue, Buffalo, NY 14222 and Savannah Rive r Ecology Laboratory,
A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama
Drawer E, Aiken, SC 29801, U.S.A. 1989. iniciaram em 1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia e Manejo
LOVELL, T. Nutrition and feeding of fish . New York: Van Nostrand de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o
Reinhold, 1989. p. 11-18.
Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do
LUZ, V. L. F.; Reis, I. J.; CANTARELLI, V. H, QUINTANILHA, L. C. A Criação Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através
de Quelônios em Cativeiro C omo Alternativa de Utilização Sustentável dos
Recursos Naturais no Brasil. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE. Santa Cruz de la Sierra. Bolívia, 1997.
passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição,
LUZ, V. L. F.; STRINGHINI, J. H.; BATAUS, Y. S. L.; PAULA, W. S. de;
NOVAIS, M. N.; REIS, I. J. dos. Morfometria do trato digestório da
genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva,
tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) criada em sistema comercial. biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre os
Rev. Brasileira de Zootecnia, v. 32, n. 1, Viçosa, jan/fev, 2003.
criatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores
MAGNUSSON, W. E. ; MARIANO, J. S. O papel da fauna nativa no
desenvolvimento da Agropecuária Amazônia. In: SIMPÓSIO DO TRÓPICO passaram a prestar assistência técnica repassando,
ÚMIDO, Belém, 1984. Anais... Embrapa – CPATU, V. b, p. 37-42. simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam
MAIORKA, A. Efeito da forma física e do nível de energia da ração sobre realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do
o desempenho, a composição de carcaça, a utilização e a rete nção da
energia líquida de frangos de corte, machos, dos 21 aos 42 dias de grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura
idade, 1997 . Porto Alegre, 1998. 108f. Dissertação (Mestrado em
Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
muito grande por implantação de projetos individuais e
comunitários, cursos e material bibliográfico.
MARCON, J. L.; BATISTA, G. S.; MONTEIRO, L. B. B.; COSTA, C. A. P.;
DUNCAN, W. P. Diagnóstico do estado geral de saúde de Podocnemis
expansa criada em cativeiro no Estado do Amazonas. In: Amazônia 500 A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos, aprovar
anos – 7ª reunião especial da SBPC. Manaus, AM. 2001. projetos na área de criação e manejo de animais silvestres, que
MARCON, J. L.; DUNCAN, W. P.; FILHO, D. W.; SILVA, M. P.; KOH ATA, S. totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e aplicada,
H.; SILVA, M. G.; ARAÚJO, S. M. S.; FARIAS, M. S.; ARAÚJO, J. P. R.
Fisiologia e bioquímica comparada de quelônios do gênero Podocnemis sendo que a
em diferentes etapas do desenvolvimento. 2002.
526 9
Ufam destinou recursos de capital e custeio de mais de R$ 61.533,10
como contrapartida para o projeto “Diagnóstico.../PTU” e para recursos naturales renovables . Bogota, colômbia: Divisão de Parques
Nacionales Y Vida Silvestre. 1972. p. 38.
projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o Projeto de Extensão “Pé-de-
FACHIN-TERAN, A. , VOGT, R. C., GOMES, S. F. Food habitats of na
Pincha”, além da concessão de bolsas institucionais de iniciação assemblage of live species of turtles in the rio Guaporé, Rondônia, Brazil. J.
científica e de extensão, totalizando R$ 58.560,00. As principais Herpetology, Ology, S/1, v. 29, n. 4, p. 536-547, 1995.
unidades de pesquisa com criação de animais silvestres são a FERRARINI, S. A. Quelônios; animais em extinção. Manaus, 1980. 68 p.
Fazenda Experimental da Universidade, com criatórios comerciais FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatu ra; fator limitante à criação de
de quelônios e capivaras, e científicos, de caititus, queixadas, pacas, tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia,
1994. p. 4.
cutias e jabutis, e o Centro Experimental de Criação de Animais
FRAIR, W. Turtle red blood cell packed volumes, sizes and numbers.
Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do Ibama-AM. Além desses, Herpetologica, v. 33, p. 167-190, 1977.
completam as unidades de pesquisa os laboratórios de criação de
FRAIR, W. Blood biochemistry a nd relations among Podocnemis turtles
animais silvestres, de zoologia, de parasitologia e de genética. O (Pleurodira, Pelomedusidae). Comp. Biochem. Physiol ., 61B , p. 139-143,
1978.
campus avançado de Parintins é a base logística para os trabalhos
com manejo participativo de quelônios, por comunidades no Baixo GARSCHAGEN, D. M. Tartaruga. Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro : Ed.
Atlas, 1995. v. 14, p. 474-76,
Amazonas e oeste do Pará.
GASPAR, A. ; RANGEL-FILHO, F. B. Utilizaç ão de carne de tartarugas da
Essas informações demonstraram a importância estratégica que a Amazônia (Podocnemis expansa ), criadas em cativeiro, para consumo
humano. Higiene Alimentar, v. 15, n. 89, p. 73-78, 2001.
Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do Ibama-
GATTEN JUNIOR, R. E. Aerobic metabolism in snapping turtles, Chelydra
AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais serpentina after hermal acclimatio n. Comp. Biochem. Physiol. , 61A, p.
silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados pode-se 325-337, 1978.
dizer que hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo GEORGES, A. Female turtles from hot nests: is the duration of the
development of proportion of development that matters. Oecologia, v. 81,
para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras, p. 323-328, 1989.
pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação;
IHERING, R . Von. Tartaruga. In: Dicionário de animais do Brasil . São
alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes Paulo: Universidade de Brasília, 1968. p. 676-78.
populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia. Brasília, 1989. 119 p.
criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época de
IBAMA. Portaria n. 142. Diário Oficial da União. Brasília, 1992. p.41-59.
abate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras
JACKSON, D. R. Reproductive strategies of sympa tric fre7shwater emydid
informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais turtles in northern peninsular Florida. Bull. Florida State Mus. Biol. Sci. ,
silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a v. 33, n. 3, p. 113-158, 1988.
ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos KEPENIS V.; McMANUS, J. J. Bioenergetics of young painted turtles,
Chrysemys picta. Comp. Biochem. Physiol., 48A, p. 309-317, 1974.
criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e
uma conseqüente melhoria nas técnicas de criação.
10 525
os resultados foram amplamente divulgados na mídia e em
BURGER, J. Effects of incubation temperature on th e behavior of young congressos locais, nacionais e internacionais, através de periódicos,
black racers ( Coluber constrictor ), and kingsnakes ( Lampropeltis getulus ).
Journal of Herpetology, v. 24, p. 158-163, 1990. fôlderes e, finalmente, em cartilhas.
BURGER, J. Effects of incubation themperature on behavior of hatchling Este livro serviu de base de discussões durante o I Seminário
pine snakes: implications for reptilian d istribution. Behavior Ecology and de criação e manejo de quelônios da Amazônia ocidental, realizado
Sociobiology, v. 28, p. 297-303, 1991.
em Manaus, em 2004, pela Ufam, Ibama e Secretaria Estadual de
CAMARGO, R .; FONSECA, H .; PRADO FILHO, L. G.; ANDRADE, M. O.
CANTARELLI, P. R.; OLIVEIRA, A. J.; GRANER, M.; CARUSO, J. G. B.; Desenvolvimento Sustentável (SDS). Com o apoio do
NOGUERIA, J. N.; LIMA, U. A. ; MOREIRA, L. S. Tecnologia dos produtos ProVárzea/Ibama, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de
agropecuários: alimentos. São Paulo: Nobel, 1984. 297 p.
material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor
CANTARELLI, V. H. Conservação e manejo de quelônios da Amazônia. In:
Herpetologia no Brasil, PUC/MG . Fundação Biodiversitas: Fundação primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, que
Esequiel Dias, 1994. p. 25-34. desejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e
CENTRO NACIONAL DOS Q UELÔNIOS DA AMAZÔNIA. Núcleo manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que
Experimental de tecnologia de criação de quelônios na Amazônia em
cativeiro na UHE. Balbina/AM: Ibama, 1992. n. 9. são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os
queloniocultores do Amazonas, nos últimos nove anos.
CENTRO NACIONAL DOS QUELÔNIOS DA AMAZÔNIA. Relatório de
atividades da área de criação em cativeiro, no exercício de 2000 .
Goiânia: Ibama, Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia, 2000. 20 p.
524 11
Capítulo 1 TRATADO DE COOPERACION AMAZONICA. Biologia y manejo de la
tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997.
Manejo comunitário de quelônios VIANNA, V. O. Uso de dietas artificiais no desenvolvimento inicial de
A parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha tracajá (Podocnemis unifilis), tigre d’água ( Trachemys dorbignyi), teiú
(Tupinambis merianae ) e jacaré -de-apo-amarelo ( Caiman latirostris )
em cativeiro . Jaboticabal, SP, 1999. Dissertação (Mestrado) – Centro de
Marcelo Derzi Vidal Aqüicultura, UNESP.
Tiago Viana da Costa
A várzea Capítulo 9:
Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – BORGES, A. M. Noções de piscicultura – a criação de peixes - Internet:
marcelo.vidal@ibama.gov.br mderzi@bol.com.br guia do usuário. São Paulo: Atlas, 1992.
BRAGA, L. G. T.; LIMA, S. L. Influência da Temperatura Ambiente no
Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama – Desempenho da Rã-Touro, Rana catesbeiana (Shaw, 1802) na Fase de
tvianadacosta@yahoo.com.br Recria. Rev. Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 6, nov./dez. Viçosa, 2001.
12 523
a escassez de sistemas efetivos de manejo dos recursos naturais; (d)
PÁDUA, L. F. M.; ALHO, C. J. R. Avaliação do comportamento de a deficiência do sistema de monitoramento e controle; e (e) a falta de
nidificação em Podocnemis expansa (Testudinata, Pe lomedusidae), na
Reserva biológica do Rio Trombetas, Pará. Brasil Florestal, v. 12, p. 33-44, uma estratégia de conservação específica para o ecossistema de
1984.
várzea (Santos, 2005).
PORTAL, R. R.; LIMA, M. A. S.; LUZ, V. L. F.; BATAUS, Y. S. L.; REIS, I. J.
Espécies vegetais utilizadas na Alimentação de Podocnemis unfilis na região O ProVárzea/Ibama
do Pracuúba-Amapá-Brasil. Ver. Ciência Animal Brasileira , UFG, v. 3, n. Visando atenuar a progressiva degradação nessa região,
1, p. 11-19, 2002.
considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o Projeto
QUINTANILHA, L. C.; LUZ, V. L. F.; CANTARELLI, V. H.; SÁ, V. A.; Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu para
BONACH, K. Influência do Nível de proteína sobre o crescimento de
Podocnemis expansa em Cativeiro. In: C ONGRESSO INTERNACIONAL fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea,
SOBRE MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E incentivando a participação das populações tradicionais que nela
LATINOAMERICA.3., 03/12-07/12/1997. Anais... Santa Cruz de La Sierra
- Bolívia. habitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas
Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Instituto Brasileiro do
RAMÍREZ, M. V. Estudio Biologico de La Tortuga “arrau” del Orinoco,
Venezuela. Agricultor Venezoelano, v. 21, n. 190, p. 44-63, 1956. Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o
projeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e
SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Manaus: Programa de
informação, 1995. 62 p. política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos
naturais das várzeas da região central da bacia amazônica.
SOINI, P. Estudio, reproucción e manejo de los quelonios del genero
Podocnemism (charapa, cupiso y tarycaia) en la cuenca del rio Pacaya,
Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio a projetos que
Loreto – Peru . Investigaciones en La Estación Biológica Cahuana, 1979 - desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais,
1994. CDC – UNALM / FPCN/ TCN. Lima, Perú, 1997.
que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e
TERAN, A. F.; ACOSTA, A ; VILCHEZ, I. Tortugas Podocnemis mantidas em ambiental, e que possam ser multiplicáveis não somente em outras
cativeiro ao redor de Iquitos, Loreto -Peru. Boletím de Lima , v. 84, p. 79 -
88, 1992.
áreas da várzea amazônica, mas também em outras regiões do país.
No período de 2002 a 2006, o ProVárzea/Ibama, por meio do
TERAN, A . F .; VOGT, R . C. ; GOMEZ, M . de F . S . Food Habitats of na
Assemblage of Five Species of T urtles in the Rio Guapore, Rondonia, Brasil.
Componente Iniciativas Promissoras, investiu um montante de R$
Journal of Herpetology, v. 29, n. 4, p. 536-547, 1995. 8.451.456,57 em 25 projetos nas seguintes linhas temáticas: (a)
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D. ; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G . T .
manejo dos recursos florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros;
Reproducion da la Taricaya Podocnemis unifilis (Reptilia: Testudinides) en (c) agropecuária; e (d) fortalecimento institucional. Desse total de
cautiverio, Iquitos, Peru. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2.,
recursos, uma expressiva parcela foi destinada a atividades de
07/05-12/05/1995. Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana capacitação, monitoramento e manejo de recursos, e escoamento e
y la University of Florida. Iquitos, Perú.
comercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foram
TERAN, A . F .; ACOSTA, A .; RAMIREZ, D.; VILCHEZ, I.; TALEIXO, G . T . atingidas diretamente nos 38 municípios dos estados do Amazonas e
Consumo de tortugas de la Reserva Nacional Pacaya – Samiria, Loreto,
Perú. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE MANEJ O DE FAUNA Pará, por meio dos projetos (Figura 1).
SILVESTRE EN AMAZONIA E LATINOAMERICA. 2., 07/05 -12/05/1995.
Anais... Universidad Nacional de la Amazonia Peruana y la University of
Florida. Iquitos, Perú.
522 13
Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama.
Figura 1. Municípios abrangidos pelos projetos apoiados pelo Componente
COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações,
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e
P. sextuberculata ) em cativeiro . Manaus, 1999. 123 p. Monografia –
UFAM.
14 521
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F. da. Instituto Brasileiro de
O Projeto Pé-de-Pincha
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980.
CENAQUA. Informati vo da Associação Pró -Tartaruga. Rev. Chelonia . O Projeto Pé-de-Pincha surgiu em 1999 dentro da
Goiânia, Jun. 1994. Universidade Federal do Amazonas – Ufam, a partir da demanda de
COSTA, F. S. Efeitos de níve l de energia bruta na ração, instalações, alguns comunitários do município de Terra Santa, no Pará, que
densidade, populações e sexo sobre quelônios ( P. expansa, P. unifilis e solicitaram apoio para a realização de atividades que levassem ao
P. sextuberculata ) em cativeiro . Manaus, 1999. 123 p. Monografia –
UFAM. uso racional da fauna, com ênfase em quelônios, recurso outrora
abundante na região mas que, devido ao uso desregrado e
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e
estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e predatório, havia se tornado escasso.
P. unifilis ) no estado do Amazonas . Manaus, 1998. 106 p. Monografia – Para iniciar as ações do projeto, os técnicos e professores da
UFAM.
Ufam firmaram parcerias com o Ibama, as prefeituras e os
ESPRIELLA, R. O. D . de la . Manual para la expotacion técnica de la comunitários. Atualmente, o Projeto Pé- de-Pincha é desenvolvido
tartaruga “charapa” em zoocriader os. Boogota, Colômbia: Instituo de
desarrollo de los recursos naturales renovables. Divisão de parques por uma equipe multidisciplinar que integra professores, técnicos,
nacionales y vida silvestre. 1972. p. 38. estagiários e voluntários de diversas instituições e comunidades.
HERNÁNDEZ, O.; NARBAIZA, I.; ESPIN, R. Logros de FUDECI durante Suas ações são executadas em 76 localidades nos municípios de
cinco anos (1994 -1999) de cria em cautiverio de neonatos de tortuga arrau Parintins, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Terra
(Podocnemis expansa ). In: TALLER SOBRE LA CONSERVACIÓN DE LA
ESPECIE TORTUGA EN VENEZUELA. Caracas, 1999. 10 p. Santa, Oriximiná, Faro e Juruti, no estado do Pará.
Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás
MORLOCK, H. Turtles: perspectives and research. Flórida, 1997. 479 p.
(Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata), tartarugas (P.
SEBRAE. Criação de quelônios em cativeiro . Mana us: Programa de expansa) e irapucas (P. erythrocephala), pelos próprios
informação, 1995. 62 p.
comunitários, estão presentes as possibilidades de utilização do
recurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercialização
Capítulo 8: de filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo um
programa de educação ambiental com palestras, capacitação de
ALFINITO, J. A; VIANA, C. M; SILVA, M. M. F da. Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal, v. 7, n. 27, p. 30-33, 1980. professores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários,
atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. de. Early growth of pen -reared Amazon
turtles ( Podocnemis expansa ) (Testudinata, Pelomedusidae) . Ver. Bras. comunidades em associações e cooperativas.
Biol., v. 42, p. 641-646, 1982.
520 15
Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais
ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. Reproductive parameters and nesting
de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do behavior of the Amazon turtle Podocnemis expansa (Testudinata:
projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por Pelomedusidae) in Brazil. Canadian J. Zoology , v. 60, n. 1, p. 97 -103,
1982.
comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O
custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 de ALHO, C. J. R.; PÁDUA, L. F. M. Influência da temperatura de incubação
na determinação do sexo da tartaruga da Amazônia Podocnemis expansa
recursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da (Testudinata: Pelomedusidae) Rev. Bra sil. Biol. , v. 44, n. 3, p. 305-311,
1984.
contrapartida da Ufam.
ANDRADE, G. B. Estudos efetuados para a criação da Reserva Biológica
do Abufari - Rio Purus - Amazonas . Relatório do Projeto Polamazônia.
Manaus, 1981.
Aspectos ambientais
BATES, H. W. The naturalist on the river Amazon . London, Murr ay,
1876. 395 p.
A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha é
BATISTELLA, A. M. Ecologia de nidificação de Podocnemis
baseada em diversas fases e atores que, sendo complementares, erythrocephala (Testudines, Podocnemidae) em campinas do Médio Rio
resultam em ações significativas. Negro-AM. Manaus, 2003. 43 p. Dissertação (Mestrado) - INPA/UFAM.
Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados BERNHARD, R. Biologia reprodutiva de Podocnemis sextuberculata
pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de (Testudines, Pelomedusidae) na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil . Manaus, 2001. 52 p.
desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos Dissertação (Mestrado) – INPA/UA.
quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos
CASTAÑO-MORA, O. V.; GALVIS-PEÑUELAL, P. A. ; MOLANO, J. G.
ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas Reproductive Ecology of Podocnemis erythrocephala (Testudines:
“berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dos Podocnemididae) in the Lower lnírida River, Colômbia. Chelonian
Conservation and Biology, v. 4, n. 3, p. 661-670, 2003.
filhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 1). Finalmente,
após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias CONGDON, J. D.; GREENE, J.; GIBBONS, J. W. Biomass of Freshwater
Turtles: A Geographic Comparison. Am. Midl. Nat. , v. 115, p. 165-173,
originalmente utilizadas para desova e a distribuição de 1986.
aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores
EISEMBERG, C. C. Manipulação da proporção sexual em ninhos de
credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência. Podocnemis sextuberculata (Cornalia, 1849) (Testudines,
No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha Podocnemididae) na praia Pirapucú – RDS/Mamirauá – AM . Belo
Horizonte, 2004. 39 p. Monografia (Apresentada ao Departamento de
resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos à Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas ) - Universidade Federal de
natureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos Minas Gerais.
indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de ESCALONA, T.; FA, J. E. Survival of nests of the terecay turtle (Podocnemis
ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à unifilis) in the Nichare -Tawadu Rivers, Venezuela. J. Zool., Lond. , v. 244,
p. 303-312, 1998.
natureza (Fig. 2), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos
berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido FACHIN-TERÁN A. ; VOGT, R. C. ; THORBJARNARSON, J. B. Estrutura
populacional, razão sexual e abundância de Podocnemis sextuberculata na
maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil.
natural. Phyllomedusa, v. 2, n. 1, p. 43-63, 2003.
16 519
tachycardia by handling in a turtle ( Clemys insculpta ). Behavioural
Process, v. 49, p. 61-68, 2000.
518 17
consumo e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a
tartaruga e o tracajá. SMITH, N. J. H. Aquatic turtles of Amazonia: na endangered resource.
Biological Conservation, v. 16, p. 165-176, 1979.
Capítulo 6:
Tabela 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de
2004 a 2006.
AIRES, M. M. Fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan,
2004 2005 2006 1999. 934 p.
Nº de Nº de Nº de Nº de Nº de Nº de
Espécie ALHO, C. J. R.; CARVALHO, A. G.; PÁDUA, L. F. M. Ecologia da tartaruga
ninhos ovos ninhos ovos ninhos ovos
da Amazônia e avaliação de seu manejo na reserva biológica do Trombetas.
Tracajá 2.504 55.384 3.315 67.034 2.823 61.525 Brasil Florestal, v. 9, n. 38, p. 29-37, 1979.
Pitiú 830 12.791 797 11.004 537 9.030
BIRGEL JUNIOR, E. H.; D’ANGELINO, J. L.; BENESI, F. J.; BIRGEL E. H.
Tartaruga 83 5.964 39 3.888 64 6.331 Valores de referência do eritrograma de bovinos da raça Jersey criados no
Irapuca 70 597 282 2.059 755 5.838 Estado de São Paulo. Arq. Brás. Méd. Vet. Zootec., v. 53, n. 2, p. 1-9,
Total 3.487 74.736 4.433 83.985 4.179 82.724 2001.
CABABNAC, M.; BERNIERI, C. Behavioural rise in body temperature and
18 517
Aspectos sociais
GILES, R. E. ; BLANC, H. ; CANN, H. M.; WALLACE, D. C. Maternal Um fator de sucesso do Pé-de-Pincha é o excelente
inheritance of human mitochondrial DNA. Proceedings of Nationa l
Academy of Sciences, USA, v. 77, p. 6715-6719, 1980. trabalho de educação ambiental desenvolvido nas instituições de
ensino dos municípios abrangidos. O projeto consegue mobilizar
IBAMA. Projeto quelônios da Amazônia – 10 anos. Brasília, 1989. 119 p.
professores, técnicos e alunos de escolas municipais e estaduais, e
IVERSON, J. B. A revised checklist with distribution maps at the
turtles of the world . Richmond, Indiana: Privately printed. Paust Printing,
os professores têm se mostrado extremamente satisfeitos com os
1992. 363 p. conhecimentos adquiridos e materiais didáticos utilizados.
As atividades realizadas com o intuito de promover a
MATIOLI, S. R. Biologia molecular e evolução. Ribeirão Preto: Ed. Holos,
2001. 202 p. educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas
e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e
MITTERMEIER, R. A. ; WILSON, R. A. Redescription of Podocnemis
erythocephala (Spix, 1824), an Amazonian Pelomedusid turtle. Pap. av. comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram
Zool., v. 28, p. 147-162, 1974.
realizadas 356 atividades de educação ambiental com uma
NEILL, W. T. Notes on the five Amazon species of Podocnemi s (Testudinata: participação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando
Pelomedusidae). Herpetologica, v. 2, n. 14, p. 287-294, 1965.
252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto.
OJASTI, J. La tortuga Arrau del Orinoco. Defensa de la Naturaleza, v, v. 1,
n. 2, p. 3-9, 1971. O projeto conta ainda com uma excelente participação de
PRITCHARD, P. C. H. Encyclopedia of turtles. New Jersey: T. F. H. Publ., crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e
Inc., Neptune, 1979. 895 p. soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que
PRITCHARD, P. C. H. ; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela . Soc. Stud. congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classe
Amphib. Rept. p. 33-43, 1984. social e cor, e cria condições básicas para um trabalho de
RAY, D. A. ; DENSMORE, L. The Crocodilian Mitochondrial Control Region: conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo
General Structure, Conserved Sequences, and Evolutionary Implications.
Journal of Experimental Zoology (Mol Dev Evol) , v. 294 , p. 334-345,
prazo (Fig. 3).
2002.
O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha
QUELLER, D. C. ; STRASSMANN, J. E. ; HUGHES, C. R. Microsatellites and
kinship. Tree, v. 8, p. 285-298, 1993. também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos
municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser
SAMBROOK, J. ; FRITSCH, E. F. ; MANIATIS, T. Molecular Cloning. A
Laboratory Manual. 2ed. New York, NY: Cold Spring Harbor Laboratory seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidados
Press, 1989. a proferirem palestras e cursos sobre a experiência desenvolvida.
SCHNEIDER, S.; ROESSLI, D.; EXCOFFIER, L. Arlequin Version 2001 : a
software for population genetic data analysis . Laboratório de genética e Aspectos econômicos
biometria. Universidade de Geneva, Suiça. 2001. Disponível: http://
anthropologie. Unige.ch/arlequin.
SCHEWEIGGER, A. F. Monographie Cheloniorum. Könogsberg. Arch.
Naturwiss. Math., v. 1, p. 271-368, 1812. A criação em cativeiro promovida pelo Pé-de- Pincha visa
suprir uma demanda cultural nas áreas de
516 19
várzea – o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer
as novas tendências dos mercados nacional e internacional, que
cada vez mais têm procurado alternativas de produção que consequences of an unusual life history pattern. Proc. Nat. Acad. Sci. , v.
83, p. 4350-4354, 1986.
promovam e valorizem o manejo de fauna silvestre por populações
tradicionais. AVISE, J. C.; NEIGEL, J. E.; ARNOLD, J. Demographic influences on
Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26 mitochondrial DNA lineage survivorship in animal populations. J. M ol.
criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 4), distribuídos nos Evol., n. 20, p. 99-105, 1984.
municípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, e CANTARELLI, V. H. ; HERDE, L. C. Projeto quelônios da Amazônia 10
alojados 8.187 animais. No entanto, a comercialização ainda não Anos. CANTARELLI, V. H. ; HERDE, L. C. (Ed.). Brasília: Ibama; Ministério
ocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho de do Interior, 1989. 122 p.
abate que requer o mercado.
CHETVERIKOV, S. S. On certain features of the evolutiona ry process from
the viewpoint of modern genetics. J. Exp. Biol., v. 2; p. 3-54, 1926.
A experiência da criação em cativeiro promove um aporte de
informações biológicas (taxas de crescimento, densidade de CHETVERIKOV, S. S. Uber die genetische Beschaffenheit wilder population.
Verb. V. Internat. Kong. Vererburgsw, v. 2, p. 1439-1500, 1927.
indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros)
sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas com CLEMENT, M.; POSADA, D.; CRALDALL, K. A. TCS: a computer program to
experimentos em condições melhores controladas e com dados estimate gene genealogies. Molecular Ecology, v. 9, p. 1657-1659, 2000.
obtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais.
CORNALIA, E. Vertebratorum Synopsis . In: Museo Mediolanensis
Extantium: 1849. p. 301-315.
20 515
Figura 3. Soltura de filhotes no município de Terra Santa, Pará.
VALENZUELA, N.; BOTERO, R.; MARTÍNEZ, E. Field study of sex
determination in Podocnemis expansa from Colombian Amazonia.
Herpetologica, v. 53, n. 3, p. 390-398, 1997.
Disseminação
Capítulo 5:
O projeto Pé-de-Pincha alcançou uma boa articulação e
parceria com instituições locais (associações, escolas, grupos de
ALFINITO, J.; VI ANNA, C. M.; Da Silva, M. M. F.; RODRIGUES , Y. H. jovens, etc.), prefeituras, organizações de ensino e pesquisa (Inpa,
Transferência de tartarugas do Rio Trombetas para o Rio Tapajós. Brasil
Florestal, n. 7, p. 49-53, 1976(a). Ufam, ONGs), de conservação e controle (Ibama) e tem utilizado um
amplo leque de instrumentos de difusão (rádio, matérias na
AVISE, J. C. Molecular markers, natural history and evolution. Chapman &
Hall, Inc., USA. 1994. 511 p. televisão, jornais, cartilhas, etc.), o que tem feito com que as ações
AVISE, J. C.; HELFMAN, G. S.; SAUNDERS, N. C.; STANTON, L. H. não somente sejam divulgadas em outras áreas, mas que ocorra a
Mitochondrial DNA differentiation in north Atlantic eels: Population genetic
replicação baseada nas experiências do projeto (Fig. 5).
514 21
Outra relevante estratégia de disseminação é o intercâmbio das
iniciativas promissoras. O evento, realizado anualmente desde 2002
pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entre REBÊLO, G.; PEZZUTI , J. C. B.; LUGLI , L. ; MOREIRA , G. Pesca artesanal
técnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos de quelônios no Parque Nacional do Jaú. Bol. Mus. Para. Emilio Goeldi,
apoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes, Ser. C. Hum., v. 1, n. 1, p. 109-125, 2005.
compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade e SALATI, E.; MARQUES, J. Climatology of the Amazon region. In: SIOLI, H.
colaboração para a execução dos projetos. (Ed.) The Amazon : limnology and landscape ecology of a might tropical
river and its basin. Netherlands: Junk Publishers, 1984. 520 p.
22 513
PEZZUTI, J. B.; VOGT , R. C., KEMENES, A.; FELIX, D.; SALVESTRINI, F.;
LIMA, J. P . Nesting ecology of pelomedusid turtles in the Purus River,
Amazonas, Brazil. In: Annual meeting American Society of Icthyologists Conclusão
and Herpetologists ASIH), the American Elasmobranch Society (AES),
the Herpetologists League (HL), and the Society for the Study of
Amphibians and Reptiles . Universidad Autónoma de Baja California Sur .
La Paz, B. C. S., 2000. p. 294-294.
Quando analisamos os avanços obtidos pela parceria
PRITCHARD, P. C. H.; TREBBAU, P. Turtles of Venezuela. Society for the
study Amphibians and Reptiles. Contributions to Herpetology , n. 2, ProVárzea/Ibama – Projeto Pé-de-Pincha podemos concluir que a
1984. 403 p.
iniciativa não é somente promissora. Hoje a parceria está
PEZZUTI, J. C. B.; VOGT, R. C. Nest site selection, nest distribution, consolidada e promove um diálogo de saberes acadêmicos e
survivorship and sex ratio of 3 amazonian freshwater turtles, genus
Podocnemis. In: Joint Meeting of the American Society of
empíricos, diferentes sim, porém complementares.
Ichthyologists and Herpetologists (ASIH), the A merican Elasmobranch
Society (AES), the Herpetologists League (HL), and the Society for the Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e o
Study of Amphibians and Reptiles, June 24 -30, 1999 . Pennsylvania ,
USA: State University, Pennsylvania, 1999(b). aperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um
vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e
PEZZUTI, J. B.; VOGT , R. C. ; KEMENES, A.; FELIX, D.; SALVESTRINI, F.;
LIMA, J. P. Nesting ecology of pelomedusid turtles in the Purus River, adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se
Amazonas, Brazil. In: Annual meeting American Society of Icthyologists entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre
and Herpetologists ASIH), the American Elasmobranch Society (AES),
the Herpetologists League (HL ), and the Society for the Study of seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do
Amphibians and Reptiles . Universidad Autónoma de Baja Califórnia Sur,
La Paz, B. C. S., 2000. p. 294-294.
ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a
replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, a
RAEDER, F. Elaboração de plano para manejo e conservação de aves e
quelônios na Praia do Horizonte, Reserva de Des envolvimento discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e
Sustentável Mamirauá, AM. Manaus, 2003. 48 p. Dissertação (Mestrado) - adequadas ao cenário amazônico.
INPA/UFAM.
512 23
Capítulo 2 GIBBONS, J. W. Sex ratios and their significance among turtle popul ations.
In: WHITFIELD GIBBONS, J. (Ed.). Life History and Ecolgy of the Slider
Turtle. Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press , 1990. Chapter
Revisão sobre as características das principais 14, p. 171-182.
espécies de quelônios aquáticos amazônicos GIRODONT, M.; ZABORSKI, P.; SEVAN, J.; PIEAU, C. Genetic contribution
to sex determination in turtles with environmental sex determination .
Genetical Research Cambridge, v. 63, p. 117-127, 1994.
24 511
scorpioides), aperema (Rhinoclemmys punctularia), jabuti-machado
Horizonte, 2004. 39 p. Monografia (Apresentada ao Departamento de (Platemys platycephala) e lalá ou cágado (Phrynops nasutus) (Molina
Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas ) - Universidade Federal de
Minas Gerais. & Rocha, 1996).
510 25
Capítulo 4:
A tartaruga-do-amazonas pertence ao filo Chordata, subfilo ANDRADE, G. B. Estudos efetuados para a criação da Reserva Biológica
do Abufari - Rio Purus - Amazonas. Relatório do Projeto Polamazônia.
Vertebrata, classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia Manaus, 1981.
(Testudinata), subordem Pleurodira, superfamília Chelonioidea,
BATES, H. W. The naturalist on the river Amazon. London, Murray,
família Pelomedusidae, gênero Podocnemis e espécie P. expansa 1876. 395 p.
Schweigger (1812) (Cenaqua, 1992).
BATISTELLA, A. M. Ecologia de nidificação de Podocnemis
erythrocephala (Testudines, Podocnemidae) em campinas do Médio Rio
Negro-AM. Manaus, 2003. 43 p. Dissertação (Mestrado) - INPA/UFAM.
O macho de Podocnemis expansa denomina-se comumente
BERNHARD, R. Biologia reprodutiva de Podocnemis sextuberculata
por capitari ou capitaré, sendo, aproximadamente, duas vezes (Testudines, Pelomedusidae) na Reserva de Desenvolvimento
menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundo Coimbra Filho Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil. Manaus, 2001. 52 p.
Dissertação (Mestrado) – INPA/UA.
(1967) apud Nogueira Neto (1973).
CASTAÑO-MORA, O. V.; GALVIS-PEÑUELAL, P. A.; MOLANO, J. G.
Reproductive Ecology of Podocnemis erythrocephala (Testudines:
Sendo o maior quelônio de água doce da América do Sul, a Podocnemididae) in the Lower lnírida River, Colômbia. Chelonian
Conservation and Biology, v. 4, n. 3, p. 661-670, 2003.
tartaruga (P. expansa) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de
comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina CONGDON, J. D.; GREENE, J.; GIBBONS, J. W. Biomass of Freshwater
Turtles: A Geographic Comparison. Am. Midl. Nat., v. 115, p. 165-173,
& Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ± 1986.
17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith,
EISEMBERG, C. C. Manipulação da proporção sexual em ninhos de
1979). Podocnemis sextuberculata (Cornalia, 1849) (Testudines,
Podocnemididae) na praia Pirapucú – RDS/Mamirauá – AM. Belo
26 509
Para o TCA (1997) a idade pode ser determinada a partir dos
anéis das placas da carapaça, sendo que uma fêmea com 45,2 cm de
ANDRADE, P. C. M.; BRELAZ, A. Criação de Quelônios (Podocnemis sp.) em carapaça apresentava oito anéis na placa dorsal da carapaça,
Tanques-rede por comunidades do Médio Amazonas. Relatório parcial do
PIBIC-UFAM 2006-2007. Manaus, 2006. 68 p. indicando, provavelmente, que teria oito anos de idade.
ANDRADE, P. C. M.; NASCIMENTO, J. P. Criação de quelônios (Podocnemis
sp.) por comunidades do Baixo amazonas e rio Juruá. Relatório final do
PIBIC-UFAM 2004-2005. Manaus, 2005. 36 p. Tracajá (Podocnemis unifilis)
508 27
TCA (Tratado De Cooperacion Amazonica). Biologia y manejo de la
tortuga (Podocnemis expansa). Caracas, Venezuela, 1997. 93 p.
ocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de WILHOFT, D. D.; HOTALING, E.; FRANKS, P. Effects of incubation
temperature on Sex determination in embryos of the snapping turtle,
junho a agosto, no oeste do Amazonas; de setembro a outubro no Chelydra serpentina. Journal of Herpetology, v. 17, p. 38-42, 1983.
Baixo Amazonas; e em novembro no rio Negro e afluentes. O tamanho
médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán
et al., 1995). Capítulo 3:
28 507
PEZZUTI, J. C. B. Ecologia reprodutiva de iaçá, Podocnemis
sextuberculata (Testudines, Pelomedusidae), na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Amazonas, Brasil. Manaus,
1997.
SPOTILA, J. R.; STANDORA, E. A.; MORREALE, S. J.; RUIZ, G. J. O tracajá é encontrado na Amazônia brasileira vivendo nos
Temperature dependent Sex determination in the green turtle (Chelonia rios e lagos, dificilmente migrando aos tabuleiros de desova no
mydas): effects on the Sex ratio on a natural nesting beach. Herpetologica,
v. 43, p. 74-81, 1987. período de estiagem. Muitas fêmeas desovam duas vezes por
temporada, com intervalos observados de 9 e 10 dias. O número e o
506 29
tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova.
Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da
FERREIRA LUZ, V. L. Baixa temperatura; fator limitante à criação de
desova. As fêmeas são maiores que os machos e chegam a medir tartaruga. Chelonia. Goiânia: Centro nacional dos Quelônios de Amazônia,
1994. p. 4.
cerca de 50 cm de comprimento de carapaça e pesar até 12 kg (Soini,
1995). GARCIA, M. Estudo da predação de filhotes de quelônios por peixe na
Reserva Biológica do Abufari, AM. 1999. 23 p.
Estudos realizados por Terán et al. (1992) sobre a GARSCHAGEN, D. M. Tartaruga. In: Enciclopédia Barsa. Rio de
reprodução de P. unifilis em praias artificiais, em Iquitos, Peru, em Janeiro: Ed. Atlas, v. 14, T. 1, 1995. p. 474-76.
um período de cinco meses (junho a novembro), verificaram que IHERING, R. Von. Tartaruga. In: Dicionário de animais do Brasil. São
houve apenas 27,6% de eclosão (Fig. 6) e desenvolvimento completo Paulo: Universidade de Brasília, 1968. p. 676-78.
dos sobreviventes, fato ocorrido pela falta de fertilidade em 14,4% IBAMA. Projetos quelônios da Amazônia 10 Anos. Brasília, 1989. 19 p.
dos ovos e morte prematura dos embriões. O pico de postura nessa
LIMA, A. C. Caracterização socioeconômica e ambiental da criação de
região ocorreu principalmente na segunda quinzena de julho. quelônios no Estado do Amazonas. Manaus, 2000. 120 p. Dissertação
(Mestrado) – Centro de Ciências do Ambiente/UFAM.
As covas de tracajá são identificadas pelo monte de argila e LIMA, F. F. Criação de peixes e quelônios: cria e recria em lago natural.
de capim umedecidos, com os quais a espécie fecha a cavidade da Série V, n. 3, 1967.
postura (beiju) – Figura 7, não ocorrendo tal fato quando a desova é MOLINA, F. B.; ROCHA, M. B. Identificação, caracterização e
em terreno não argiloso (Alho, 1986). distribuição dos quelônios da Amazônia brasileira. Belém: Centro
Nacional dos Quelônios da Amazônia, 1996. 24 p. Apostila.
30 505
Pesquisa Agroflorestal do Trópico Úmido, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, 1986, v. 2. p. 359 - 368.
ANDRADE, P. C. M.; DUARTE, J. A. M.; COSTA, F. S.; MACEDO, P. C. et al. Figura 7: Ninho e ovos de tracajá (P. unifilis) no barro. Observar ovos aderidos
Diagnostic of comercial farming of chelonians (Podocnemis sp.) in Amazonas ao tampão do ninho. Macuricanã/Nhamundá-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
State – Brazil. In: JOINT MEETING OF ICHTHYOLOGIST AND
HERPETOLOGIST. Abstracts... Manaus, 2003. CD-ROM.
CANTO, S. L. O.; OLIVEIRA, M. da S. de; RODRIGUES, E. C. P. de G.; Os ovos de tracajá (Fig. 7) são de forma elipsoidal, de casca
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Consumo de produtos da fauna
silvestre no Estado do Amazonas. In: CONGRESO INTERNACIONAL SOBRE calcárea e de cor esbranquiçada. Quando estão recém-postos são
MANEJO DE FAUNA SILVESTRE EN AMAZONIA Y LATINO AMERICA, 4., duros, transparentes e cobertos de um líquido ligeiramente viscoso.
4-8 de out. 1999. Anais... Asunción, Paraguay, 1999. p. 125.
No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca e
CANTO, S. L. O; ANDRADE, P. C. M; DUARTE, J. A. M. Potencial de
Mercado para o Consumo de Animais Silvestres na cidade de Manaus. In: começa a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação
AMAPET, 6., dez. 1998, FUA. Anais... Manaus/AM, 1998, p. 25.
a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a
BULL, J. J.; VOGT, R. Temperature-Sex determination in turtles. Science, suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaço dos ovos que dura
v. 206, n. 7, p. 186-1118, 1979.
até o final do período de incubação, resultando no aumento do
CENAQUA. Informativo da Associação Pró-Tartaruga. Rev. Chelonia,
Goiânia, jun.1994. 4 p.
diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P.
unifilis depende da temperatura de incubação (Souza & Vogt, 1994).
CENAQUA. Núcleo experimental de tecnologia de criação de quelônios
na Amazônia em cativeiro na UHE. Balbina /AM: Ibama, 1992. p. 9.
Os tracajás parecem ser mais rústicos do que as tartarugas,
DUARTE, J. A. M.; ANDRADE, P. C. M. Diagnóstico da produção e o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis,
estudos sobre incubação artificial de quelônios (Podocnemis expansa e
P. unifilis) no estado do Amazonas. Manaus. 1998.106 p. Monografia 1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para
/UFAM.
fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou
ESPRIELLA, R. O. D. de la. Manual para la expotacion técnica de la
para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas
tartaruga “charapa” em zoocriaderos. Boogota, Colômbia: Instituo de
desarrollo de los recursos naturales renovables. Divisão de Parques vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de
Nacionales y Vida Silvestre, 1972. p. 38.
cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em
504 31
cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal,
rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa
qualidade e boa aceitação pelos camponeses. FERREIRA LUZ, V. L. Criação de Tartarugas em Cativeiro. Chelonia, n. 2,
Goiânia, 1994.
Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios de IBAMA. Manejo de fauna silvestre. Brasília: Ibama, v. 5, 2003. 112 p.
Série: A Reserva Extrativista que Conquistamos.
diferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos,
identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água RAN-AM. Relatório de atividades do Centro Nacional de Quelônios da
Amazônia – Ano 2.000. Manaus: Ibama/AM, 2001. 37 p.
e ao consumo dos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando
uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, SILVA, R. R. A conservação de quelônios no Brasil. Boletim da FBCN, Rio
de Janeiro, v. 23, 1988. p. 73-81.
a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer
os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante SMITH, R. C.; PINEDO, D. El cuidado de los bienes comunes: gobierno y
manejo de los lagos y bosques en la Amazonia. Lima: IEP, 2002. 410 p.
(até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situação
semelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para VOIGT, R. C. Pesquisa e conservação de quelônios no Baixo Rio Purus. In:
DEUS, C. P.; Da SILVEIRA, R.; Py-DANIEL, L. H. Piagaçu-Purus: bases
realizar as amostras mensais. Esse comportamento, científicas para a criação de uma reserva de desenvolvimento sustentável.
Manaus: IDSM, 2003. p. 73-74.
provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em
lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiam-
se principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se
Capítulo 1:
deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor
escura. IBAMA. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea:
conceito e estratégia. Manaus: Ibama/ProVárzea, 2002. 82 p.
502 33
Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do
Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito 14.9 CONCLUSÃO
pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As
A metodologia de abate de tartaruga-da-amazônia ainda não
fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A
está bem estabelecida. O processo ainda requer mais estudos e
profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de pesquisas visando a definir as condições e o período de descanso, o
incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de melhor método de insensibilização, o tempo de sangria, a melhor
incubação e na sobrevivência dos mesmos. forma de remover o plastrão e o acesso à cavidade celomática, sem a
ruptura da bexiga.
Sugerimos que os estudos sejam continuados a partir das
A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As
informações e dos dados produzidos neste trabalho, visando a
crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num
estabelecer uma metodologia de abate que atenda a todos os
período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificação
requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos. Também sugerimos
dura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite,
que sejam realizados estudos de mercado para verificar as
sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995).
necessidades e demandas que poderão nortear os trabalhos
futuros.
Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do Assim sendo, o trabalho desenvolvido foi importante para
Abufari identificaram através de monitoramento de um único delinear os principais pontos-chave no processo de abate,
fornecendo diretrizes para o desenvolvimento das próximas
transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a
pesquisas aplicadas para a exploração econômica dos produtos e
praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de
subprodutos da tartaruga-da-amazônia.
145 ninhos por jacurarus (Tupinambis nigropunctatus, lagartos
grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição
de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são
os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista
o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se,
também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação,
preferindo locais mais altos e distantes da água. O monitoramento de
219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e
razão sexual de 28,5% de machos.
500 35
escudos com possibilidade de haver variações em forma e número.
estabelecimento não possuir túnel de congelamento para promover
Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre o devido abaixamento da temperatura do conjunto carapaça-
escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma carcaça, no tempo adequado. Entretanto, para a elaboração do
espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, produto final da carcaça-carapaça devem ser estudadas formas
mais eficientes para higienizar a carapaça, de maneira que ela não
1996). represente contaminação para a carcaça. As áreas onde se realizam
essas manipulações devem ser climatizadas para evitar grandes
elevações de temperatura da carne.
36 499
ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e
animais insensibilizados pelos diferentes métodos, nos trabalhos
futuros. incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se
mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana
5) Sangria: o método mais eficiente verificado nesse trabalho, tal
nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e
como nas espécies domésticas, foi através da secção parcial do
pescoço, mantendo-se a integridade da coluna cervical e da um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo,
medula espinhal. Essa integridade mantém por mais tempo a 1995).
função cardíaca, facilitando o escoamento sangüíneo. Sugerimos a
verificação da influência da eletronarcose como método de
insensibilização, para avaliar o gotejamento de sangue, com o As espécies podem ser identificadas por características
objetivo de reduzir o tempo e/ou verificar o aumento do volume
externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido
gotejado.
em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e
6) Lavagem: essa etapa deve ser reavaliada através da utilização de posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto de
swabs antes e após a lavagem, para uma avaliação da eficiência do
maior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud
processo, visando a adequar as formas e as concentrações de uso
dos agentes detergentes utilizados. Duarte & Andrade, 1998).
498 37
tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough, ao abate. A carne oriunda de animais contaminados poderá
Heiser & McFarland, 1993). apresentar riscos para a saúde dos consumidores, fato que pode
comprometer a comercialização. Assim sendo, deve-se elaborar um
No comportamento social, as tartarugas podem empregar sistema de controle de qualidade da alimentação, dos
sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os medicamentos veterinários usados e do nível de contaminantes
químicos e microbiológicos da água dos boxes de criação.
machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas
posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se 2) Descanso: esse período deve ser definido após a verificação do
também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser tempo necessário para ocorrer o esvaziamento gastrointestinal e
vesical, visando a reduzir os riscos de ruptura dessas vísceras
& McFarland, 1993).
durante as operações de evisceração. Os estudos mostraram que
animais em privação hídrica e alimentar de até 15 dias
Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar o permaneceram com suas bexigas repletas. Possivelmente, a
temperatura ambiental teve influência na fisiologia renal, sendo
efeito da submergência de longa duração sobre o balanço uma variável importante a ser melhor analisada. Acreditamos que a
energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões utilização de água corrente estimule a defecação, como é observado
eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de nas rãs, embora possa contribuir para promover a repleção da
bexiga.
Podocnemis expansa, bem como suas principais características
funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço 3) Pré-lavagem (pré-abate): essa etapa requer muito cuidado para
energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanho médio evitar o estresse dos animais, porque poderá influenciar
negativamente no pH final da carne. A água sob pressão não deve
de 9,114 0,081 cm e peso médio de 85,574 2,92 g, concluiu que a exceder 3 atm. A pressão excessiva poderá, inclusive, remover o
tartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando epitélio do revestimento externo, provocando pequenas
submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no hemorragias. Animais com alto nível de sujidades externas poderão
estimular o uso de água, sob pressões elevadas, que poderá
músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi influenciar negativamente nos valores finais de pH, reduzindo a
observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de vida útil da carne, por apresentar um pH elevado e adequado ao
glicose aumentou significativamente, (P0,05) sugerindo que há uma desenvolvimento microbiano.
mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprir a 4) Insensibilização: a utilização do gelo durante 15 minutos nos
demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos permitiu evidenciar que os animais apresentaram-se um estado de
do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém torpor. Entretanto, foram observadas contrações musculares e
movimentos de pedalagem em alguns animais após o sacrifício e
mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às durante a evisceração. Assim sendo, sugerimos que sejam
tartarugas de região temperada. avaliados os resultados obtidos por outros métodos. A
eletronarcose é usada amplamente para as aves, de uma forma
mais eficiente e humanitária. A quantificação do cortisol sangüíneo
poderá ser analisado para avaliar o possível estresse sofrido pelos
38 497
Tabela 8: Resultados obtidos na sangria por decapitação Sexo e reprodução
Sangria por decapitação O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode
Tempo de sangria % de sangue escoado ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão
e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas
12 minutos 2,44
adultas) (Pritchard & Trebbau, 1984) – Figura 11.
14 minutos 1,92
15 minutos 2,32
14.8 Comentários e proposições Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa): macho (esquerda) e
fêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.).
Os trabalhos de abate foram realizados e permitiram
Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998)
evidenciar alguns aspectos importantes do processo de obtenção da
não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da
carne embalada e congelada para o consumo humano, que deverão
maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do
ser mais estudados. Os principais pontos são os seguintes:
exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de
1) Criadouros: o tipo de alimentação, a utilização de drogas filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo
veterinárias, a qualidade da água e o nível de contaminantes sexual para Podocnemis expansa, pois os jovens apresentam
ambientais são importantes para a obtenção de animais e, manchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a
posteriormente, da carne, sem riscos para a saúde dos fêmea tem a cauda curta.
consumidores. Tais aspectos têm influência direta no nível de
contaminação química, física e microbiológica dos animais enviados Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em
quelônios encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual
do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás,
16
Kolb, Fisiologia Veterinária. 1987.
17
Pardi et al., Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne. 2001. temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude
496 39
térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a Tabela 7: Rendimento da carcaça e das principais partes obtidas durante o
máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt, abate.
1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al., Partes do corpo Rendimento %
1983; Spotila et al., 1987; Souza & Vogt, 1994). Carcaça 34,66
Carapaça 25,41
Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o Vísceras 11,87
regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de Plastrão 7,91
nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo,
Gordura extramuscular 5,54
proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes (não cavitária)
(recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos Total 85,39
naturais ou artificiais.
Os percentuais de 25,41% da carapaça e 7,91% do plastrão
P. expansa tende a entrar na fase de reprodução entre cinco perfazem um total de 33,32% do animal, similares aos 34,66% da
carcaça. Fato que demonstra a necessidade de se estabelecer um
e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967). aproveitamento comercial para o conjunto carapaça-plastrão.
Também deve-se considerar as demais partes como subprodutos
que devem ter um aproveitamento econômico sustentável.
Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa)
apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10 14.7.5 Volume de sangue escoado
anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os
machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente, O escoamento sangüíneo é fundamental para a qualidade da
carne. O sangue possui o pH próximo da neutralidade e por ser rico
realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de
em nutrientes pode facilitar a multiplicação dos microrganismos
janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova, deteriorantes e/ou patogênicos. Assim sendo, foi avaliado o
denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo escoamento em função do tempo e do método de sangria.
capitari.
O tempo de postura de P. expansa pode estar relacionado
diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno
de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o
desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que
cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de
postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough,
Heiser & McFarland, 1993; Alho & Pádua, 1982).
40 495
locais distintos. No caso da pré-lavagem as pontes direitas e Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do
esquerdas foram escolhidas, enquanto na lavagem foram feitas na tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à
pele junto à cauda.
margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a
Os resultados indicam uma redução da microbiota tartaruga fica mais vulnerável à predação antrópica.
equivalente a 11,76% da carga microbiana inicial, na região da
ponte direita. A redução foi de 33,33% na região da ponte esquerda.
Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam
Os resultados das análises microbiológicas dos swabs
para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos
realizados para avaliar a etapa de lavagem não foram adequados utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de
por falha na coleta do material. Assim sendo, será necessária uma repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de
reavaliação mais criteriosa dessa etapa. navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como
orientador (Pough, Heiser & McFarland, 1993).
14.7.4 Rendimento de carcaça e demais partes
Para efeito deste trabalho, considera-se carcaça o conjunto Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no
formado pela musculatura, ossos dos membros, vértebras leito do rio durante 4,5 0,7 dias observando a praia de dentro
coccígeas e cervicais. Também foram avaliados o rendimento de
d'água, ou as fêmeas realizam 5,5 0,7 subidas na praia de desova
carcaça e demais partes.
durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para
verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do
ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que
tem uma variação natural de 0,63 0,27 m, podendo ser depositados
de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima,
1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith,
1979).
494 41
No período reprodutivo de P. expansa são observados os
mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de e Salmonella sp. todas (100%) as amostras apresentaram-se em
desova (Vanzolini, 1967): conformidade.
Nas amostras avaliadas para o parâmetro contagem total de
(1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pela bactérias mesófilas, 21,60% das amostras se apresentaram não-
agregação dos animais em águas rasas, com subidas ocasionais na
conformes aos padrões estabelecidos. Entre as 39 amostras, 4
margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios
solares; apresentaram resultados incontáveis.
Também foram realizadas duas análises microbiológicas de
(2) Subida à praia para a escolha do local da cova; amostras de urina coletadas de dois animais distintos e os
resultados seguem conforme a tabela a seguir:
(3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os Tabela 6: Avaliação microbiológica da urina de dois animais.
animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local
de postura;
Resultados
Parâmetro A B
(4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da microbiológico
areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si Contagem total de 520.000 1.200.00
bactérias mesófilas 0
mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a (UFC/ml)
usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a Coliformes fecais (UFC/ml) Zero >2.400
Salmonella Ausência Ausência
60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara.
(5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se As não-conformidades encontradas nas amostras de carne
importam com a presença de estranhos e podem ser tocadas sem podem estar relacionadas à metodologia de abate utilizada. Os
reação. O valor adaptativo da estereotipia durante a oviposição de P. procedimentos de serragem das pontes bem como o acesso à
expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa
cavidade celomática levaram à ruptura da bexiga, na maior parte
espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica
dos casos, promovendo a contaminação da carne.
estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de
Os resultados indicam que a contaminação da carne, pela
reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores urina, a torna inadequada ao consumo humano, por exceder os
(trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de padrões microbiológicos estabelecidos.
oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo Para avaliar a eficiência da primeira pré-lavagem e da
do animal move-se para frente e para trás e também executa uma lavagem foram realizados um total de 8 swabs, sendo 4 para a pré-
lavagem e os outros 4 para a lavagem. Nos dois casos, foram
lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a realizados dois swabs antes e mais dois após cada operação em dois
42 493
Tabela 4: Padrões microbiológicos utilizados como referência para a análise da profundidade, as patas traseiras têm mais ação. Com as unhas para
carne da tartaruga-da-amazônia.
baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação,
Parâmetro Padrão fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a
microbiológico
Coliformes fecais (g) 10 forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e
Estafilococos coagulase 100 diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50-
positiva (g)
100 cm. Durante esse processo, as patas dianteiras ajudam na
Contagem total de 500.000
aeróbios mesófilos (g) sustentação do animal. O ato é repetido, inserindo a outra pata na
Salmonella sp. (g) Ausência abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o
ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, inicia-
Entre as 39 amostras analisadas, somente 11 (28,2%) se a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15
atenderam aos padrões estabelecidos para os quatro parâmetros. segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém
As conformidades e as não-conformidades para cada parâmetro esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpo
microbiológico apresentaram-se da seguinte forma: em relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15
Tabela 5: Proporção de carcaças obtidas conforme as exigências segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos;
microbiológicas estabelecidas.
Parâmetros % Amostras % Amostras (6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação
microbiológicos em em os animais entram num processo de ritualização do
conformidade não-
conformida comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo
de movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendo
Coliformes fecais 35,90 64,10 areia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral,
(g)
Estafilococos 100 00 a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada
coagulase durante o fechamento da cova;
positiva (g)
Contagem total 78,40 21,60
de aeróbios (7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova,
mesófilos (g)
normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que
Ausência de 100 00
Salmonella sp. (g) escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás,
rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da
Nas amostras que apresentaram não-conformidades para o postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas).
parâmetro coliformes fecais (64,10%) foram encontradas 8 amostras
com as cargas máximas ( 2.400 NMP/g) para a metodologia analítica Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis
utilizada (método do número mais provável) representando 20,51% expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide
do total das amostras. antes e depois da desova, fazendo um sulco na areia. A caminhada
Em relação aos parâmetros Estafilococos coagulase positiva para a água é lenta devido ao cansaço, caminhando 3-4 m,
492 43
alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito Tabela 3: Comparação da composição química das carnes bovina e suína.
na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça
Composição química das carnes bovina e suína
durante a escavação. Após retornar à água, a população adulta Componentes Carne bovina Carne suína
permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes. Umidade (%) 76,77 71,20
Proteínas (%) 20,00 19,00
Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos Lipídeos (%) 3,00 9,34
adultos fora d'água. Cinzas (%) 1,09 1,00
Valor calórico 107 160
(kcal/100g)
Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais Fonte: Gaspar (1997). Obs.: valores médios.
difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967; Os valores demonstram que a carne de tartaruga apresenta
Alho & Pádua, 1979). 1,83% de lipídeos enquanto as carnes bovina e suína apresentam 3
e 9,34%, respectivamente. O valor calórico também é mais reduzido
Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70 para a carne de tartaruga (85,99%) do que o que foi obtido para a
dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de carne bovina (107%) e suína (160%).
fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a
umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a 14.7.2.1 Potencial hidrogeniônico (pH)
temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de Foram encaminhadas 14 amostras para avaliação do pH da
carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento carne. Foram aferidos, aproximadamente, 6 e 24 horas após o
embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho & sacrifício dos animais.
Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989).
Os valores citados de pH apresentaram uma média de 6,28 e
A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento 5,85 após 6 e 24 horas do sacrifício. Esses resultados mostram-se
embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem favoráveis porque estão próximos dos valores utilizados como
ser letais. A determinação do sexo dependente da temperatura foi referência para os pescados e para as demais carnes.
demonstrada em algumas, mas não em todas as famílias de 14.7.3 Microbiologia
tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos
(Pough, Heiser & McFarland, 1993). Foram enviadas 39 amostras da carne para avaliar a carga
microbiana. Pela inexistência de um padrão microbiológico para a
Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982) carne de quelônios, ficou estabelecido que para o estudo seriam
em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de utilizados os critérios microbiológicos do Codex Alimentarius para a
25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas, carne de rã, conforme tabela a seguir.
respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro
de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie.
15 JAY, J. M. Modern Food Microbiology. 1992
44 491
Tabela 1: Resultados das análises físico-químicas da carne da tartaruga-da- Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento
amazônia embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo,
Análises Físico- Resultados portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam
químicas
Proteínas 22,0g/100g expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser &
Gorduras totais ou 5,50g/100g McFarland, 1993).
lipídeos
Gordura Saturada 2,68g/100g
Mínima Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de
Colesterol 68,0mg/100g temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a
Carboidratos 0,0g/100g
Fibra Alimentar 0,0g/100g determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o
Cálcio (Ca) 18,5mg/100g topo e o final do ninho (Pough, Heiser & McFarland, 1993).
Ferro (Fe) 1,60mg/100g
Sódio (Na) 46,3mg/100g
Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotes
Os resultados das análises físico-químicas podem ser maiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é
utilizados como referência na elaboração dos dizeres de rotulagem necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do
(composição centesimal e informação nutricional), conforme embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas
legislação vigente no país. eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu
intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado
Tabela 2: Resultados das análises para a avaliação da composição química.
durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser &
Composição centesimal da carne de tartaruga McFarland, 1993).
Parâmetros Valores
Umidade (%) 78,80 (+- 0,16)
Proteína (%) 17,39 (+-0,80) A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de
Cinzas (%) 0,91 (+-0,07) 56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica
Lipídeos (%) 1,83 (+-0,75)
(Soini, 1997).
Valor calórico (Kcal/100g) 85,99 (+-5,72)
Valores médios; números entre parênteses representam o desvio-
padrão.
O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a
Fonte: Gaspar (1997).
incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser uma
medida importante para a conservação. Para conseguir ótimos
resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados
em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original,
ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois
da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta,
significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do
¹4 Legislação de rotulagem. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br
490 45
ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de 14.7 Resultados
incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em
ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e Os principais parâmetros avaliados foram: as observações
têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos macroscópicas dos tecidos durante o abate, as análises
ninhos expostos ao sol (Soini, 1997). microbiológicas, as análises físico-químicas, o volume sanguíneo e o
rendimento de carcaça e demais partes.
Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e No transcorrer das operações de evisceração dos 39 animais
todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite, foram detectadas alterações macroscópicas em 3 baços, 2 fígados,
talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as nas mucosas estomacais e intestinais de alguns animais.
tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes
são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais Os tecidos com as alterações foram encaminhados para uma
podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser & avaliação histopatológica que confirmou a suspeita de degeneração
McFarland, 1993). gordurosa ou esteatose em dois fígados. Essa alteração
normalmente está relacionada a problemas metabólicos. Não foram
verificadas alterações histopatológicas nos baços e nas mucosas.
Essa emergência simultânea é uma característica
Também foram observadas infestações parasitárias por cestódeos e
importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão
trematódeos (digenéticos) nos estômagos e intestinos dos animais.
propensos à agressão em decorrência do equilíbrio biológico imposto
pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre 14.7.2 Físico-química
as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough,
Uma amostra de carne foi encaminhada para a realização das
Heiser & McFarland, 1993).
análises necessárias à adequação das exigências das informações
Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa nutricionais de rotulagem. Os resultados encontram-se na tabela
poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma abaixo:
porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros
seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número ¹³Trematódeos que passam parte de sua fase larvária em hospedeiros
intermediários, geralmente pequenos moluscos
46 489
CONGELAMENTO – As carcaças foram congeladas em armários de de animais desses criadouros, um número predeterminado seja
placas sob temperaturas de -25 a -40ºC, por um período de 2 a 6 restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição
horas. reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e
maximizando a taxa de natalidade (Alho & Pádua, 1984).
488 47
Valor nutricional FRACIONAMENTO – Podem ser realizados cortes na carcaça de
acordo com as necessidades do mercado, sob as mesmas condições
Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994) de higiene na manipulação e do ambiente climatizado (temperaturas
citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e do ambiente menor ou igual a 15ºC) utilizadas na etapa anterior.
Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-da-
amazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%.
Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais
(frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma
superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade
protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina
2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g;
Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g e
Metionina 5,32 g.
48 487
resquícios de fáscias musculares ou fragmentos que permaneceram 100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30
após as operações de evisceração e de esfola. g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976).
486 49
de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4 DECAPITAÇÃO – Após a retirada das vísceras realizou-se a ablação
mg/100 g e 946,9 mg/100 g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, (retirada) da cabeça.
1998).
ESFOLA – Realizou-se, com o auxílio de uma faca, a esfola dos
membros posteriores e da cauda e reverteu-se a posição dos animais
Importância econômica
nos ganchos. Eles foram fixados pelos membros anteriores para a
A tartaruga tem sido de grande importância para o homem realização da esfola do pescoço e dos membros anteriores. Foram
amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os feitos cortes das regiões metatarsianas e metacarpianas, separando
colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios a pele do membro da pele da pata. Assim, seguiu-se com a
durante a vazante capturavam um grande número de tartarugas. dissecação da pele dos membros até a completa retirada.
484 51
O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo Secciona-se a junção óssea da plastro-pelviana com o auxílio de
(PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco. tesouras metálicas.
No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg
fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em
rendimento de carcaça.
52 483
SERRAGEM DAS PONTES – Na serragem, os animais foram Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta
apoiados em decúbito dorsal, no suporte metálico, para facilitar a Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os
operação e evitar acidentes com os manipuladores. As pontes foram animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto
serradas com o auxílio de uma serra elétrica manual. O disco da lugar na citação. A criação doméstica foi citada em apenas 0,5% das
serra deve ter aproximadamente 7 cm de raio. Foi usado um plano refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo com
paralelo com a superfície ventral do plastrão, serrando-se medial e calendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram
superficialmente para evitar a ruptura das vísceras e órgãos. Para a quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis
desarticulação final das pontes utilizou-se um trinchante de ponta unifilis e Podocnemis erythrocephala), 38% mamíferos terrestres e
romba. 17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6
meses, ou 48,6 animais/família/ano.
482 53
3
246,24/m . Lima (2000), estimou, nos criadouros do Amazonas os período de sangria de 15 minutos. Obteve-se melhor escoamento do
custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para sangue, aparência menos avermelhada da musculatura e o volume
produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de médio de sangue escoado foi de 3,11% do peso vivo dos animais.
venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de
104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como uma
atividade altamente rentável.
10
É sugerido o uso de luvas, pelo manipulador, para evitar a ação corrosiva dos
detergentes alcalinos
54 481
PENDURA – Os animais foram pendurados pelas membranas
interdigitais dos membros posteriores, nos ganchos dos trilhos com
nora, visando a facilitar a etapa de sangria, agilizando o processo.
Capítulo 3: Áreas de reprodução de
quelônios protegidas pelo RAN-
Ibama/Amazonas e Ufam
480 55
realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se INSENSIBILIZAÇÃO – Os animais foram insensibilizados sob a ação
envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais do gelo em água, permanecendo em recipiente de plástico atóxico em
pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos temperatura de 0 a 2ºC por um período de 15 minutos, quando se
do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que obteve a flacidez e a ausência dos reflexos da cabeça e dos membros.
atuarão no controle, monitoramento e fiscalização de cada praia de
desova de quelônios, os chamados tabuleiros.
56 479
14.6 Operações de abate e processamento comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu,
aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do
PRÉ-LAVAGEM – Os animais foram transportados dos boxes de Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40
espera ou descanso em caixas plásticas previamente higienizadas famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque
até a área suja, onde foi realizada uma pré-lavagem dos animais do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina;
com jatos de água clorada a 5 ppm sob pressão de, 14) Em São Sebastião do Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no
aproximadamente, 3 atm para remover as sujidades maiores, Jarauacá e no Livramento, atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em
principalmente nas regiões da carapaça e do plastrão. Deve-se Terra Santa (10 comunidades), Oriximiná (6 comunidades) e Juruti
tomar o cuidado de não utilizar pressão excessiva para não lesar o (19 comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes,
epitélio, estressando os animais. sendo que lá já existem 78 professores treinados, 60 agentes
ambientais voluntários e 45 professores em treinamento.
8
Partes por milhão. Unidade de medida equivalente à mg/kg.
9
Atmosfera. Unidade de pressão
478 57
Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram soltos FLUXOGRAMA DE OBTENÇÃO DE CARNE EMBALADA E
1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de 3.886 CONGELADA
covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de iaçás e
4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número de
praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número médio RECEPÇÃO
anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a
proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e DESCANSO EVISCERAÇÃO
diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de
conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas,
também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso, PRÉ-LAVAGEM ESFOLA
consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para
criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas, TOALETE
com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro INSENSIBILIZAÇÃO
de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os
ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua PRÉ-LAVAGEM
dimensão territorial. PENDURA (POSTERIORES)
100 87 LAVAGEM
80 59 63 Rios EMBALAGEM
60 SERRAGEM DAS PONTES
Localidades
n
40 18 19 16
12 10 11 10 Municípios
20 2 3 CONGELAMENTO
0
PENDURA(ANTERIORES)
2000 2001 2002 2003
ESTOCAGEM
RETIRADA DO PLASTRÃO
Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre
2000 e 2003.
58 477
O transporte do criadouro ao abatedouro poderá ser terrestre, aéreo Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de
ou fluvial, mas deve ser conduzido de maneira a minimizar o recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias
estresse aos animais. Para o transporte, os animais deverão possuir com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de
a autorização do Ibama. financiamento de projetos científicos e de extensão. O número de
técnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do
RECEPÇÃO – Os animais foram recepcionados no abatedouro, RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de
sendo realizados os procedimentos para a avaliação geral. Também Fauna, no Ibama-AM.
foi verificada a documentação do Ibama, sendo feito o
encaminhamento dos animais para os boxes de espera ou descanso. O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a
conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas:
DESCANSO – Os animais permaneceram nos boxes de espera ou
descanso do abatedouro por um período específico. Os currais ou Rio Purus
boxes de espera devem ter água clorada corrente, a 5 (cinco) ppm de
1) Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, em Tapauá;
cloro residual livre, para reduzir a carga de contaminantes e
2) Tabuleiros de Piranhas e Enseada, em Tapauá;
estimular a defecação. 3) Tabuleiro do Curuzu e Vista Alegre, em Tapauá;
4) Reserva do Jamanduá, em Canutama;
14.5 Elaboração do fluxograma de processo 5) Tabuleiro do Nazaré e Axioma, município de Canutama.
476 59
Rio Madeira 14.4 Operações pré-abate
2) Parintins: Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba, TRANSPORTE – Os animais foram acondicionados em
Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São recipientes plásticos atóxicos, previamente higienizados, sem
Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes do Mamuru; qualquer tipo de contaminante, em condições de temperatura e de
umidade medianas.
3) Nhamundá: Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador,
Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal,
Marcolino, São Francisco e Vista Alegre. 5 Conforme a Portaria nº 142/92 de 30 de dezembro de 1992 do Ibama/MMA.
60 475
As atividades de inspeção deverão ser realizadas de forma c) Municípios do oeste do Pará:
semelhante aos procedimentos adotados para as espécies
4) Terra Santa: Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal,
genericamente denominadas pescados e quando aplicável às
Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado,
demais espécies animais.
Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa
A inspeção se divide em duas grandes etapas chamadas de Grande), Igarapé do Jamary (Alemã e Chuedá) e Lago do Abaucu
inspeção ante-mortem e inspeção post-mortem. (Capote e Jauaruna).
A inspeção ante-mortem compreende os trabalhos 5) Oriximiná: Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do
realizados na recepção dos animais, na verificação da Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho,
documentação, na avaliação dos animais nos boxes de espera e Cachoeiry;
observação, no encaminhamento dos eventuais animais ao
departamento de necropsia, na realização das necropsias e no 6) Juruti: Maravilha, Santa Madalena, Açaí, Zé Maria, Caapiranga,
encaminhamento dos materiais para avaliação laboratorial. Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa,
Capitão e Vila Muirapinima.
A inspeção post-mortem compreende todos os trabalhos
realizados antes, durante e após as operações realizadas na área Na Figura 2 e na Tabela 1 observamos que mesmo com todos
suja (pré-lavagem, insensibilização, sangria, lavagem e serragem os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio Abufari, em
das pontes), na área limpa (retirada do plastrão, evisceração, esfola, 2001-2002, ela perde o status de maior produtora de quelônios do
toalete, pré-lavagem, retirada da carapaça, embalagem e Amazonas para áreas com trabalhos comunitários em tabuleiros
congelamento) e nas demais áreas. pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e Baixo
Juruá, sendo que as áreas com manejo comunitário/participativo
A visualização macroscópica das partes externas, internas, de quelônios passaram a responder pela maior parte da produção do
bem como suas vísceras e órgãos celomáticos, durante a Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes) em relação às áreas de
evisceração, será fundamental para a verificação das possíveis proteção estrita do Governo (39,98% = 430.920 filhotes).
alterações patológicas que possam comprometer a qualidade do
produto final. É possível, a critério do médico-veterinário oficial, Esse envolvimento e conscientização comunitária
após uma avaliação minuciosa no DIF, liberar, aproveitar permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,37-
condicionalmente ou rejeitar as partes, o todo ou até mesmo um lote 0,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas
de animais que apresentem alterações que impliquem em algum verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a
prejuízo aos consumidores. Além disso, os veterinários oficiais partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução
poderão auditar os sistemas de controle e garantia de qualidade, monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na
implantados pelas empresas processadoras. produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e
Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as
populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e
474 61
estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras O Departamento de Inspeção Final bem como o
áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi Departamento de Necropsias devem ser providos de mesas e
muito mais significativo. utensílios necessários (facas, fuzis, termômetros, tesouras de ponta
A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas romba, frascos para coleta de material, etc.) aos trabalhos.
produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as
comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a Todos os manipuladores deverão estar providos de dois
completa ausência de técnicos do Governo e de recursos, conjuntos de jalecos brancos, duas calças brancas, dois pares de
amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho botas brancas de borracha, dois gorros com máscaras que devem
comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de ser higienizadas diariamente em lavanderias, para evitar
646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja, contaminações durante as diversas operações.
46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário, onde o governo
14.3 Inspeção
se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do
ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-de- A inspeção corresponde às atividades realizadas pelo serviço
Pincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de veterinário oficial, que poderá ser municipal (Serviço de Inspeção
2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção. Municipal – SIM), estadual (Serviço de Inspeção Estadual – SIE) e
federal (Serviço de Inspeção Federal – SIF) que têm como missão
Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os garantir que o produto de origem animal seja sadio, seguro e
incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de confiável para o consumidor.
quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários
A atuação dos serviços de inspeção é fundamentada em
foram mais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo
critérios higiênico-sanitários e tecnológicos, a fim de que a indústria
conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são
possa ofertar um produto adequado ao consumo. Entretanto, não é
mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de
responsabilidade exclusiva dos serviços de inspeção a garantia da
contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos
qualidade dos produtos. As empresas devem estabelecer seus
recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações
próprios sistemas de controle e garantia da qualidade, que devem
comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”,
ser coordenados por profissionais capacitados à utilização das
definido como um recurso público a fundo perdido, destinado
principais ferramentas. Dessa forma, todos os empreendedores
àquelas comunidades devidamente regularizadas e
interessados em desenvolver a atividade de abate de quelônios
comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna
deverão seguir as orientações dos serviços veterinários oficiais,
aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a
desde a elaboração dos projetos até o seu funcionamento.
geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou
extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação de
4
animais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimentos Padrão de Higiene Operacional
de filhotes de áreas de manejo comunitário para criadores. (PPHO) e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
62 473
Produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas no
Amazonas
400000
350000
300000 2001
250000 2002
No.
200000 2003
150000 2004
100000 2005
50000
0
uá
ha
aú
a
ré
au
ar m ã
i
ur
á
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ar
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am
ira
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C
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al
-M
C
M
-d
rc
W
C
uf
fé
Pé
Ba
Ab
Te
Áreas
Principais tabuleiros
A) Rio Juruá:
472 63
Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de devem possuir boxes metálicos profundos para a higienização dos
Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km em braços e dos antebraços, bem como pedilúvio e lava-botas. Todas as
linha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de dependências que realizarem manipulação também devem possuir
popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de boxes metálicos para a higienização de braços, antebraços e de
altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em alguns utensílios.
Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e
Carlos Augusto Bié. O estabelecimento deve possuir localização estratégica
distante de quaisquer fontes contaminantes que possam
comprometer a qualidade dos produtos. Neste caso, o
estabelecimento deve seguir as boas práticas de fabricação,
conforme a Portaria nº 368/98 da SDA/Mapa.
64 471
1) Área de lavagem e guarda de caixas plásticas.
1) Escritório.
6) Almoxarifado.
470 65
O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de II – Prédio principal: para o desenvolvimento das operações de abate,
2
2001, com bóias de ferro, uma balsa de 80 m de área e uma casa de propriamente ditas, que devem possuir gabinetes de higienização
2
60 m de área construída (dois quartos, um banheiro, uma sala- (botas, braços e antebraços) nos locais de entrada das áreas de
cozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa processamento.
base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro de Walter Buri, do O prédio será composto pelas seguintes áreas ou salas:
outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a equipe 1) Área suja: onde se realizam as etapas de pré-lavagem,
de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato “Curisco”, insensibilização, sangria e serragem das pontes (Figura
que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e Sílvio Santos. Os 2).
trabalhos de proteção têm início em maio, quando os quelônios saem
dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse período, a vigilância
das “bocas” desses lagos é fundamental para que os quelônios
consigam chegar até as áreas de postura. Dois lagos merecem
especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da Empresa
Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo sr.
Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr. Sílvio
Santos. O trabalho se estende durante todo o período reprodutivo
(junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos filhotes
(outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário vigiar
novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos
quelônios, do rio para os lagos (de alimentação).
Figura 2: Vista da área suja. Passagem do trilho da área suja para a área limpa.
66 469
Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM.
(Andrade, P.C.M.).
468 67
1) Box de espera ou descanso: destinado a receber os
animais, provenientes dos criadouros, para um período de
descanso.
3) Departamento de necropsia:
68 467
Tabela 2: Tabuleiros e lagos de alimentação de quelônios situados entre Eirunepé e Itamarati,
As análises microbiológicas foram realizadas pelo no Alto rio Juruá
Laboratório de Higiene dos Alimentos da Faculdade de Ciências da Local Tipo Coordenadas Dimensões Nº de Nº de
Saúde da Universidade de Brasília, e as análises físico-químicas pelo da praia ninhos em filhotes
2001 produzi_
Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da dos ou
Universidade Federal de Goiás. soltos
Walter Tabuleiro 6º28’54’’S; 4.000 m X Tartaruga= 72.588
Buri de desova 68º25’54”W e 200 m 560
Também foram realizadas avaliações parasitológicas e 119 m de Tracajá=600
altitude Iaçá=1000
histopatológicas pelo Departamento de Medicina Veterinária da
São Tabuleiro 6º29’25” S; 4.500 m X Tartaruga= 10.178
Upis – Faculdades Integradas do DF. Francis_ de desova 68º31’56” W 200 m 15
co Tracajá=321
Matupá Praia de 6º26’46”S; 4.000 m X Tartaruga=2 2.885
Os trabalhos foram acompanhados por médicos-veterinários Tracajá=23
desova 68º29’16”W 150 m
do Serviço de Inspeção Federal do Setor de Pescados do Iaçá=125
Do Gado Praia de 6º27’55”S; Tartaruga=5 418
Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do desova 68º27’29”W
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Maturini Praia de 6º30’22”S;
1.000 m X Tartaruga=1 84
desova 68º27’29”W
100 m
Dos Dois Praia de 6º26’8”S;
1500 m X Tartaruga=5 418
14.2 Descrição das instalações, equipamentos e utensílios Irmãos desova 68º28’55”W
80 m e
2.800 m X
Uma proposta de estabelecimento industrial destinado ao 80 m
TOTAL DE FILHOTES PRODUZIDOS EM 2001 86.571
abate e ao processamento de tartaruga-da-amazônia deve possuir Local Tipo Coordenadas Espécie Nº/espécie Nº t otal
as principais dependências exigidas para o abate das demais de
filhotes
espécies utilizadas na alimentação humana, visando ao Estirão Potenciais
30 minutos de Tartaruga - -
do Óbito praias de Eirunepé, Tracajá
aproveitamento sustentável e econômico dos produtos e e São desova descendo o rio
subprodutos oriundos do abate. As dependências (Anexo I) exigidas João na margem
direita
são: Lago do Lagos de 6º30’37”S; Tartaruga 2.300 2.300
Maturani alimenta_ 68º27’24”W
I - Área externa: próxima ao abatedouro, devendo estar, no e do ção
Tarira
mínimo, a 10 metros de distância do prédio principal. Igarapé Rota de 6º28’19”S; Tartaruga 1.000 1.000
de Nova migração 68º 30’45”W
Olinda
Lago Soltura - Tartaruga 3.500 3.500
Cachoei_
ra
Walter Soltura - Tartaruga 1.031 1.078
Buri Tracajá 31
Iaçá 16
¹ É um código internacional de alimentos coordenado por comissões da Food and FILHOTES SOLTOS EM OUTROS LUGARES EM 2001 7.878
Agriculture Organization (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS).
466 69
A.2) Médio Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista Os 40 animais foram doados por três criadouros comerciais,
(Resex) Médio Juruá em Carauari/AM. dois do estado de Goiás e um do Pará, ambos registrados e
autorizados pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e
A atividade de produção de quelônios em praias manejadas Anfíbios (RAN/Ibama).
está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursos
da Resex, sendo mais uma alternativa de renda para as 14.1 Considerações gerais
comunidades, ao mesmo tempo que conserva essas espécies que, na
região, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamos O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
um aumento proporcional na produção de quelônios em relação ao Produtos de Origem Animal (Riispoa) classifica os quelônios, na
tempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que tal denominação genérica de pescados, todavia, não existe uma
iniciativa pode estar proporcionando condições para melhorar a
reprodução dos quelônios. As comunidades da Resex decidiram regulamentação específica para quelônios. Esse fato tornou o abate
proteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis experimental um tanto quanto empírico, pois não havia informações
expansa), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos, preliminares que pudessem direcionar os primeiros passos do
ficando o tracajá (P. unifilis) e o iaçá (P. sextuberculata) sob proteção abate.
relativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelas
populações tradicionais durante a vazante do rio. Além disso, os quelônios são répteis singulares, com
características anatômicas e fisiológicas particulares que indicam a
necessidade de experimentações e estudos específicos para a
definição de uma metodologia de abate.
70 465
Até recentemente, a experiência científica de abate se
resumia ao sacrifício de exemplares de porte maior, retirados da
natureza. A criação comercial foi um caminho obscuro para os
pioneiros. Não era conhecida a forma de se manejar em cativeiro e a
velocidade de crescimento, sem idéia do tempo necessário para que
os animais atingissem o peso para abate (1,5kg).
464 71
Tabela 3: Produção de quelônios nas praias manejadas da Resex do Médio
Juruá, no período de 1994 a 2006.
Capítulo 14: Abate experimental da tartaruga-
Iaçá Tartaruga Tracajá
ano filhote covas filhotes covas filhotes da-amazônia (Podocnemis expansa) criada em
vivos morto vivos morto cativeiro
s s
1994 150.000 465 43.721 - 1029 24.949 -
1995 - 249 28.418 - 1.033 33.572 - Trabalho requisitado pelo Centro Nacional de Manejo e
1996 - 460 40.376 - 704 6.163 - Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN/Ibama-Goiânia), realizado
1997 98.781 - 43.046 - - 13.140 -
1998 121.666 542 58.804 174 666 25.949 100
pela empresa Xamã Veterinária Ltda. e conduzido pelos Médicos-
1999 144.783 616 76.521 8.256 712 23.008 449 Veterinários Alexander Dornelles e Leonardo Quintanilha.
2000 165.530 876 101.644 - 946 29.882 -
2001 186.086 - 118.332 - 1106 36.313 - A tartaruga-da-amazônia tem uma carne muito apreciada na
2002 81.096 600 69.696 142 574 15.598 9
região Norte, mas alcança o mercado das demais regiões. A produção
2003 89.656 679 78.784 140 976 27.345 120
2004 103.608 426 49.416 219 396 8.741 - da tartaruga-da-amazônia, bem como dos demais animais silvestres
2005 70.230 426 42.531 - 735 13.709 - é regulamentada pelo Ibama.
2006 54.133 467 47.423 - 834 20.109 -
Total 1265569 5341 798.712 8.931 11338 278.478 678 O Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade & Brelaz (2006).
(RAN/Ibama), com o objetivo de gerar renda aos produtores rurais e
Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas promover a conservação da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas: expansa), vem incentivando e dando diretrizes para uma exploração
Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é comercial visando ao atendimento desses mercados.
Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, O primeiro criatório comercial de tartaruga-da-amazônia foi
Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo), registrado em 1993 no estado do Amazonas mas, somente em 1995,
Itanga, Mandioca. os primeiros animais atingiram o peso permitido para o abate
Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de (1,5kg), sendo comercializados vivos e abatidos, sem inspeção
agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro do veterinária. Somente no final de 2000, alguns animais foram
Pupunhas. Naquele ano foram monitorados os tabuleiros Deus é Pai abatidos experimentalmente no matadouro de pequenos e médios
ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus animais no município de Iguape, no interior de São Paulo.
Coelho. A exploração comercial da tartaruga-da-amazônia, dentro da
O tabuleiro do Jacaré, protegido pelos agentes da atual visão do agronegócio, deve ser vista como uma cadeia
comunidade Nova Esperança, está localizado no antigo seringal produtiva. Todos os elos dessa cadeia devem estar organizados e
Pupunha. Nele, o seringalista Basílio Coelho Bastos pagava vigias coordenados para o sucesso da atividade.
de praia e recebia a produção de
72 463
Conclusão filhotes no grande barracão. Soltava todos em um pequeno igarapé
que permitia, quando enchia, que os filhotes saíssem naturalmente
A criação de tartaruga-da-amazônia, em escala comercial, para o rio Juruá. Depois, o seringal foi vendido para a Maginco.
com ciclo de 36 meses é uma atividade técnica e economicamente
Quando o IBDF assumiu a proteção da área já havia o trabalho que
viável e constitui-se em uma nova opção ao agronegócio amazônico.
foi mantido com o sistema de contrato de agentes de praia,
O cultivo de tartaruga-da-amazônia é um dos mais acampamento e marcação de tartarugas. Tudo isso acompanhado
promissores instrumentos para a sustentação de políticas pelo sr. João Tomaz/IBDF. Com o tempo e o crescimento de
ambientais voltadas à preservação e ao restabelecimento de
Carauari, começaram a invadir o tabuleiro, então ficou muito ruim
estoques naturais da espécie.
até criarem a Resex. No Jacaré, desovam 32 tartarugas. Segundo os
agentes, em 2001 desovaram 24 tartarugas e 140 tracajás, em 2000,
haviam desovado 34 tartarugas e 130 tracajás. O período de
boiadouro para iaçá e tracajá é em junho e a desova destes ocorre em
julho/agosto, já as tartarugas desovam em agosto/setembro.
462 73
“chama”. A seguir, apresentamos fotos mostrando a reprodução de Tabela 6. Taxa Interna de Retorno (TIR) e Tempo de Recuperação de Capital
aves nos tabuleiros da Resex (Figura 9) (TRC).
Períodos de Cultivo
Preço de
venda 12 meses 24 meses 36 meses 45 meses
(R$/kg) TIR TCR TIR TCR TIR TCR TIR TCR
(%) (ano) (%) (ano) (%) (ano) (%) (ano)
74 461
Tabela 5. Composição do custo operacional total da criação de tartaruga sob
diferentes ciclos de produção.
Na mesma época da nidificação dos
quelônios, os tabuleiros também são
Períodos de Cultivo brindados com muitas aves reproduzindo
24 meses 36 meses 45 meses nas praias como corta água, gaivotas e
12 meses
Discriminação (%) bacurau. Os filhotes lutam pela
(%) (%) (%)
sobrevivência quando não são assados
Filhotes 32,61 20,04 12,16 8,61
pelo sol abrasador ou servem de alimento
Ração 53,96 61,52 66,75 67,02
para os jacarés, mucuras etc.
Mão-de-obra 0,88 1,08 0,98 0,87
Encargos sociais 0,68 0,84 0,76 0,67
Administração e logística 4,49 4,28 4,14 4,14
Manutenção 1,63 2,02 1,84 1,66
Depreciação 1,63 2,02 1,84 1,66
Juros de custeio 4,12 8,20 11,53 15,37
Custo operacional total 100 100 100 100
460 75
Tabela 4: Informações sobre tabuleiros e localidades referenciais na Resex O capital de giro necessário para a condução do criatório em
Médio Juruá.
quaisquer dos períodos de cultivo é apresentado na Tabela 4.
Tabuleiro/ Coordenadas Nº de Tabela 4. Parâmetros econômicos após 45 meses de cultivo de tartaruga, ao
localidade famílias preço médio de venda de R$6,00.
(nº hab.)
Pupunha 5º8’51” S; 67º7’35”W à 1 .500 m de 27 (168)
(Jacaré) Nova Esperança (5º5’29”S; 67º10’5” W; Períodos de Cultivo
alt.=74m) Discriminação 12 meses 24 meses 36 meses 45 meses
Ati 5º10’57”S; 67º11’45”W Praia
Rendimento (kg/ha) 1 8.085 16.755 30.250 41.230
Porto do Roque 5º6’13”S; 67º11’59”W 59 (298) Preço médio de venda (R$/kg) 2 6,00 6,00 6,00 6,00
Gumo do facão 5º4’33”S; 66º53’42”W - alt.=74m 21(110) Custo Operacional Efetivo (R$/kg) 3 3,57 2,66 2,36 2,34
Bauana 5º25’18.7’’S; 67º’17’12’’W 18(117) Custo Operacional Total (R$/kg) 4 3,79 2,96 2,72 2,82
Custo Total de produção (R$/kg) 5 3,99 3,23 2,94 3,04
Deus é Pai 5º42’44”S e 67º35’72”W-alt=64 m 3 (11) Renda Líquida I (R$/kg) (2 - 3) 2,43 3,34 3,64 3,66
Bom Jesus 5º22’37.9’’S; 67º12’55”W 22(143) Renda Líquida II (R$/kg) (2 - 4) 2,21 3,04 3,28 3,18
Mari-Mari 5º45’94”S e 67º45’04”W-alt.=68m 3(15) Renda Líquida III (R$/kg) (2 - 5) 2,01 2,77 3,06 2,96
*Rentabilidade (%) 68,06 125,56 154,24 156,41
Manariã 5º28’15”0S; 67º28’31”W-alt.=68 m 5(18) **Lucratividade (%) 36,83 50,67 54,66 53,00
Monte- 5º53’70”S e 67º56’52”W-alt.=74m 9 (18) Capital de Giro/Custeio (R$/ha) (1X3) 28.863,00 44.568,00 71.246,00 96.478,00
Carmelo (Pau
Furado) *Rentabilidade = renda líquida I / custo operacional efetivo.
Itanga 5º45’48’’S; 67º49’56’’W - alt.=77m 13(67) **Lucratividade = renda líquida II / preço médio de venda.
Mandioca 5º59’86”S e 67º58’55”W - alt.=73m 14(77)
O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentes A Tabela 5 mostra a composição percentual do custo
rancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois operacional total para diferentes períodos de cultivo de tartaruga,
conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três em área de 1 hectare, com densidade de 5 mil unidades. Ressalta-se
ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar que em todos os períodos estudados o item ração desponta como o de
um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os maior relevância, o que é comum em todos os criatórios de
trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace). monogástricos.
Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex,
como a Asproc (Associação dos Produtores Rurais de Carauari), que
paga R$ 200,00 para duas pessoas e fornece dez litros de gasolina,
durante seis meses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas
diretamente pelo recurso, embora em 2001 todos os agentes tenham
reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em
dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são
provenientes de um projeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc.
Em maio foram liberados R$ 14.400,00 para pagamento
76 459
A duração do ciclo de cultivo deve ser aquela em que se dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos
produza a tartaruga com o maior ganho de peso, pelo menor custo principais produtos agrícolas da Resex: farinha e banana
total, para a obtenção de maior renda líquida por quilo de tartaruga (atualmente, prejudicada pelo mal da Sigatoga Negra).
produzida. Quanto ao preço de venda, maior fator de competição de Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve
mercado, o da tartaruga produzida em cativeiro deve ser bem inferior financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através de
aos praticados no mercado marginal, para que possa haver um trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades
coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou
competitividade.
como coordenador do projeto, e por um técnico do Ibama, lotado na
Para fugir da comparação entre o tamanho de tartarugas Resex do Médio Juruá, Manoel Cruz “Manoelzinho” e Aldízio Lima,
provenientes do comércio marginal e de cativeiro, estas, respectivamente. Esse projeto previa auxílio para os vigias na forma
preferencialmente, devem ser comercializadas abatidas, com cortes de alimentação, a cada mês, recursos para viagens de
selecionados, permitindo agregação de valor ao produto. monitoramento mensal das atividades dos vigias e compra de
Os investimentos fixos para a criação de tartarugas são da equipamentos para a implementação das ações de preservação dos
ordem de R$25.000,00/ha, conforme a Tabela 3. quelônios.
O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos
Tabela 3. Investimentos fixos. ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma
casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde
Discriminação Unidade Quantidade Valor Unitário Valor Total
(R$) (R$) está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma
Construção Civil
base para que possam permanecer durante o dia e a noite. O
Movimentação de terra m³ 10.000 2,15 21,500,00 trabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para
Monge u 1 1.500,00 1.500,00
Cerca de proteção m 400 5,00 2.000,00
evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de
animais desovando, a marcação das covas dos animais para o
Total --- --- --- 25.000,00
controle do número que desova em cada praia, e o controle da data
de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o
As tartarugas produzidas com 36 meses de cultivo apresentaram
controle do número de animais que desovaram nas praias, o número
melhores resultados quanto ao custo total de produção, renda
de filhotes que nasceram e que morreram e os ovos não eclodidos.
líquida e lucratividade, se comparadas com as produzidas nos
demais períodos de cultivo estudados. A rentabilidade, mesmo De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio
inferior à alcançada com a produção de tartaruga após 45 meses de Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para
cultivo, é excelente, pois para cada real aplicado na produção de 1,0 estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga
kg de peso vivo houve um ganho de R$1,54, conforme a Tabela 4. (Podocnemis expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá
(Podocnemis sextuberculata)
458 77
da região do Médio rio Juruá/AM, através de manejo extensivo de Tabela 2. Parâmetros zootécnicos de tartarugas de diferentes cultivos.
ovos, filhotes e adultos, por comunidade. Utilizou-se captura-
marcação-recaptura, com armadilhas/redes em diferentes Parâmetros Trabalho Cultivos Comerciais
microambientes e próximas às áreas de nidificação. Os quelônios
Tempo de cultivo (em meses) 45 66
foram marcados com perfuração de carapaça (Figura 10). Densidade de cultivo (tartaruga/ha) 5.000 5.000
Conversão alimentar 2,56:1 14:1
Comprimento de carapaça (cm) 44,00 29,56
Largura de carapaça (cm) 37,50 24,85
Peso médio (g) 8.480 2.660
Produção/unidade de área (kg/ha) 41.230 13.300
78 457
instalações e tempo de duração completamente diferentes aos deste unifilis (16%), P. sextuberculata (16%), Peltocephalus
estudo. Entretanto, as comparações serão realizadas com dumerilianus (4%), R. punctularia (11%), G. denticulata (16%), G.
resultados obtidos em cultivos comerciais, acompanhados pelo carbonaria (5%) e C. fimbriatus (16%). Os comunitários informaram
Ibama. que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%),
Os resultados observados sobre o desempenho zootécnico frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). No Médio
são apresentados na Tabela 1. Juruá, as principais espécies consumidas são P. unifilis (tracajá)
31%, P. expansa (tartaruga) 26%, Geochelone spp. (jabuti) 17% e P.
Tabela 1: Desempenho zootécnico de tartaruga, após 45 meses de cultivo. sextuberculata (iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a
Tempo de
Carapaça
Peso Biomassa Biomassa Ganho de Produção/Unidade Ração Conversão gordura de quelônios como remédio (Nascimento & Andrade, 2005).
Cultivo Comprimento Largura médio inicial final Biomassa de Área Consumida Alimenar
(meses) (cm) (cm) (g) (kg) (kg) (kg) (kg/ha) (kg)
Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no
Início 13,30 12,50 234 209,66 --- --- --- --- ---
12 meses 23,15 20,30 1.853 209,66 1658,44 1.448,78 8.085 3.188 2,20 Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
24 meses 37,48 31,92 3.609 1.658,44 3230,06 3.020,40 16.755 6.834 2,26
36 meses 42,00 35,00 6.338 3.230,06 5690,41 5.480,75 30.250 13.083 2,39 No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ±
44,00 37,50 8.480 7.379,90 41.230 18.875 2,56
45 meses 5.690,41 7589,15
40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3.
456 79
Carmelo. As médias de ovos por ninhos: tartaruga=122,5 Determinação do sexo
ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8
ovos; matá-matá=12,5 ovos (Nascimento & Andrade, 2005).
A determinação do sexo foi realizada de acordo com a
Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, o metodologia descrita por Ibama (2001):
peso de animais capturados foi: tartaruga=1.652,32 1.619,81g,
· Macho: apresenta a cauda mais espessa e comprida, com a
idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14
cloaca mais próxima da extremidade, e tamanho corporal
e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e
menor quando comparado ao da fêmea de mesma idade.
idade=2,91 1,25 anos (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355
7.635 g, idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas, · Fêmea: tem a cauda mais curta e menos espessa enquanto a
tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e cloaca se localiza intermediariamente entre a base e a
iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimento extremidade da cauda.
médio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais
marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. & Andrade, 2006).
Análise de viabilidade econômica
A.3) Baixo Juruá: tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e
Botafogo, em Juruá/AM
A análise de viabilidade econômica seguiu a metodologia
O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros adotada por Martin et al. (1995), Scorvo Filho et al. (1998) e Melo et
comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo e al. (2001), na determinação de custos de produção, rendas líquidas,
tabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela receitas, taxas internas de retorno (TIRs) e tempo de recuperação de
cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do capital (TRC), para diferentes sistemas de produção e preços de
Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo venda.
conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São
realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso Resultados
quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do
rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criada
em 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os Pela amplitude temporal do trabalho (45 meses) e o seu
trabalhos de conservação. pioneirismo, torna-se impraticável a comparação dos resultados
obtidos com os disponíveis na literatura para a mesma espécie, visto
O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador que eles foram realizados sob condições de manejo alimentar,
acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de
80 455
Manejo alimentar junho – iaçás; 2ª quinzena de julho – tracajás; 1ª quinzena de agosto
– tartarugas. O período de desova vai de julho a setembro (julho-
As tartarugas, nos primeiros treze meses de cultivo, foram agosto, as iaçás; agosto-setembro, tracajás e tartarugas). As iaçás
alimentadas duas vezes ao dia, às 11:00 e às 15:00h, sempre que põem de quatro a nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a
possível com ração comercial extrusada, recomendada para 36 ovos, e as tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001
alimentação de peixes onívoros, contendo 34% de proteína bruta e a foram marcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No
taxa de alimentação diária, nesse período, foi de no máximo 1,5% da tabuleiro Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três
biomassa inicial do viveiro. Na segunda fase (13 a 45 meses), as covas de tartaruga e 120 de tracajá. Os principais predadores de
tartarugas foram alimentadas uma única vez ao dia, sempre às 15 ovos são: jacuraru, camaleão, urubu, gavião-de-bico-vermelho; os
horas, com dieta à base de ração extrusada contendo 24% de PB e a predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes
taxa diária de alimentação de, no máximo, 1,0% da biomassa do lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes
viveiro, observada no início dessa fase. estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e o
tracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes).
O fornecimento diário de rações obedeceu ao consumo
espontâneo das tartarugas, limitando-se, no máximo, às taxas
citadas anteriormente. Observou-se que nos dias nublados e de
temperaturas mais amenas as tartarugas ingeriam menores
quantidades de ração.
Biometrias
454 81
Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º Solo e clima
Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes
As condições edafoclimáticas predominantes na área são:
Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião
latossolo amarelo, textura muito argilosa, precipitação
Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos
pluviométrica anual de 2.400 mm, média de umidade relativa do ar
Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GM
de 88%, temperatura média anual de 26,5°C, média diária de brilho
Francisco Deusimar da Silva; GM Antônio Israel de Araújo Filho; GM
solar de 5,4 horas, velocidade média do vento de 0,7 m/s e altitude
Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça
de 50 m acima do nível do mar.
de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca
do Breu.
Tartarugas
A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos
lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcos Foram utilizadas, na fase de engorda, 896 tartarugas
ou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os oriundas da Reserva Biológica do Abufari-Tapauá/AM. As
quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para tartarugas passaram por um período pré-experimental de dez meses
contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a na Embrapa Amazônia Ocidental, sendo transferidas para dar início
maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram à Unidade de Observação. Foram coletados os seguintes dados
44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano biométricos: 1) carapaça: comprimento: 13,30 cm, 12,50 cm de
de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram largura; 2) plastrão: 10,15 cm de comprimento e 10,10 cm de
colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a população largura; 3) peso vivo médio: 234 g.
visse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na
multidão ao presenciarem a cena com muitos iaçás já mortos.
Preparo e povoamento do viveiro
A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do
rio Juruá Após uma semana de exposição aos raios solares, aconteceu
a limpeza do fundo e das laterais do viveiro, deixando-o livre de
O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico,
restos vegetais, materiais de construção, vidros, plásticos etc. Em
localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro
seguida, realizou-se o abastecimento do viveiro e o seu povoamento,
com mais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por
obedecendo à densidade de 1 tartaruga/2m² de área inundada
seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as
(5.000 tartarugas/ha).
bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha
indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de
2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na
calha do
82 453
O agronegócio amazônico, que apresenta reduzidas opções rio Juruá. Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás (P.
de sistemas de produção animal sustentáveis, tem, com este unifilis), 63 tartarugas-da-amazônia (P. expansa), centenas de aves
trabalho realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental e seus que encontraram no tabuleiro de Juanico um raro lugar seguro para
parceiros, ampliado o seu leque de alternativas. fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata) lá
nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vida
Objetivos explode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância
humana.
Disponibilizar um sistema de produção de tartaruga-da-
amazônia técnica e economicamente viável, como uma nova opção Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de
ao agronegócio amazônico. pássaros nidificando, ocorrendo principalmente gaivota (Phaetusa
simplex e Sterna superciliaris), corta-água (Rynchops nigra),
Disponibilizar informações técnicas que, entre outros maçarico (Charadrius collaris e Vanellus cayanus ) e bacurau
fatores, permitam aumentar a oferta de tartaruga para atender à (Chordeiles rupestris). As praias protegidas ficam tomadas pelas
demanda existente, diminuindo a pressão do extrativismo e aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra à medida
proporcionando o estabelecimento de políticas ambientais voltadas que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em
para a conservação e a recuperação do estoque natural. nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar.
Materiais e métodos
452 83
quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no
ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata) e tracajás (P. unifilis),
que ocorrem em maior freqüência, são os mais coletados. Capítulo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia
A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do (Podocnemis expansa): alternativa ecológica,
Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis), técnica e econômica ao agronegócio amazônico
tartaruga (Podocnemis expansa), Jabuti-amarelo (Geochelone
denticulata), iaçá (Podocnemis sextuberculata), tartaruga de igapó Luiz Antelmo Silva Melo
Antônio Cláudio Uchôa Izel
(Phrynops raniceps) e matá-matá (Chelus fimbriatus). Maria das Graça Hossaine-Lima
Agenor Vicente da Silva
Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são: Paulo Cesar Machado Andrade
banha da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo,
rendidura e dor muscular; chá da escama da carapaça do jabuti – Introdução
para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser
O hábito alimentar arraigado de consumir carnes de animais
de jabuti fêmea e vice-versa; chá da escama assada da carapaça do
silvestres nativos da região é inerente ao amazônida, pois seus
matá-matá – para assadura; carapaça – capitari, fêmea do tracajá e
ancestrais já o praticavam. Dentre as espécies mais apreciadas por
iaçá e zé-prego -- é usada como comedouro p/ animais domésticos e
essa população, destaca-se a tartaruga-da-amazônia, devido às
principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno, na
excelentes características organolépticas de suas partes
casa de farinha.
comestíveis, o que levou a espécie ao risco de extinção.
As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na
Considerando a conhecida dificuldade de mudança de hábito
Resex são: tracajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o
alimentar de uma população, assim como a necessidade de
quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio
preservação da espécie e de recuperação do estoque natural, pode-se
Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para
afirmar que a criação comercial de tartaruga é uma alternativa
comercializar nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e
potencial para atender diversas situações.
Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas
comunidades, mas não é tão intenso quanto na cidade.
¹ Os dados apresentados neste trabalho são oriundos da publicação Criacão de
tartaruga-da-amazônia (Podcnemis expansa). 14 p., 2003. (Embrapa, Amazônia
²Ocidental. Documentos, 26).
³Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.
4
Zootecnista M.Sc. – Embrapa Amazônia Ocidental.
4
Bióloga M.Sc. – Seduc/AM.
5
Biólogo B.Sc. – Ibama/AM.
¹Rendidura – hérnia escrotal; 6
Engenheiro-Agrônomo M.Sc. – Ibama/AM
²Capitari – macho da tartaruga;
³Zé-prego – macho do tracajá;
84 451
instituições de pesquisas, extensão rural, vigilância sanitária,
consumidores, mercado, etc., visando propiciar o desenvolvimento
da criação de quelônios, em cativeiro, na região.
450 85
gaivota (Phaetusa simplex), gavião-preto (Buteogallus urubitinga), Foi verificado o prolapso retal em alguns machos de P.
urubu (Coragyps atratus ), gato-maracajá (Leopardus wiedii). expansa separados para a venda (Figura 8). É possível que isso
esteja associado à traumatismo causado pela aglomeração dos
Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajá animais em ambiente seco, por tempo prolongado. A reversão
aumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estão
ocorreu em 3 dias. Este comportamento foi observado por Duarte
diminuindo, tartaruga nem se vê falar meu irmãozinho”.
(1998) em alguns filhotes recém-nascidos, com 4 dias de idade (não
A.3.3. Envolvimento comunitário sexados) na Reserva Biológica do Abufari, em Tapauá, Amazonas.
Ele acredita ter sido ocasionado pelo estresse ao manejo de captura
Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuem um e transporte, pelo atrito da cauda dos animais com superfícies
histórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença, rígidas, pela mudança de ambiente, ou por agentes parasitológicos
Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito por que podem provocar mudança no sistema fisiológico do animal.
revezamento entre os comunitários (um fica durante o dia todo e o
outro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos, Figura 8: Prolapso retal verificado em alguns machos de
devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam de
forma (altura, largura e, muitas vezes, crateras são criadas ao longo
da praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dos
seringais e tem uma bandeira como um marco indicando que a praia
é protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eram
demarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando
bandeiras brancas e vermelhas.
86 449
Sangue = 3,66 ± 0,79% A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceu
bastante de 1998 a 2002, como mostra a Tabela 2.
Carapaça = 23,11 ± 0,82%
Tabela 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de
Plastrão = 10,54 ± 1,17%
Espécie Número Filhotes
Cabeça = 3,94 ± 0,78% Ano de soltos
ninhos
Carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) = 32,83 ± 9,09%
1998 P. expansa 76 7.618
P. unifilis 132 3.571
Vísceras = 7,96 ± 1,31%
P. sextuberculata 5.210 52.101
Fígado = 1,48 ± 0,29% Total 5.418 63.290
1999 P. expansa 152 18.496
Coração = 0,16 ± 0,03% P. unifilis 157 4.782
P. sextuberculata 6.720 67.204
Quartos dianteiros = 15,24 ± 4,15% Total 7.029 90.482
2000 P. expansa 158 19.000
Quartos traseiros = 17,56 ± 5,01% P. unifilis 160 4.986
P. sextuberculata 7.510 80.753
Rendimento de partes comestíveis (sangue, carne, fígado,
Total 7828 104.739
rins, pulmão, coração) = 39,62 ± 9,63%. 2001 P. expansa 170 21.490
P. unifilis 170 5.200
Animais de maior tamanho e peso apresentam maior
P. sextuberculata 8.075 80.735
rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de Total 8.415 107.425
categorias menores (maior porcentagem de casco). Este fator pode 2002 P. expansa 185 27.900
ser direcionado de acordo com o mercado consumidor. P. unifilis 185 6.275
P. sextuberculata 10.050 100.500
Em alguns animais foram encontrados endoparasitas ao Total 10.420 132.225
longo do trato gastrointestinal. Eles foram coletados e fixados em
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Juruá-AM e RAN-
lâminas, para posterior identificação. Foram observados
Ibama/AM, 2003.
nematelmintos (níveis elevados) principalmente no estômago, além
de protozoários e bactérias. Não foram encontrados parasitas O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos,
sangüíneos e nem sanguessugas. tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade,
2001). O comprimento médio dos ovos ficou em torno de 40 mm para
o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga
ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá
26 mm.
448 87
O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de Foram capturados 1.172 animais, sendo realizada a
37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do biometria em 884 animais. Do total, 65% apresentavam-se abaixo do
tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser peso mínimo para venda, ou seja: 1,5 kg PV. A distribuição em
pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número categoria de peso pode ser observada na Figura 7.
médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos
(tracajá), 70-130 (tartaruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi Distribuição do peso em relação ao número
de 88,56% para Podcnemis expansa, 96,4% para P.unifilis e de indivíduos
92,3% para P. sextuberculata (Andrade, 2001).
No. de Indivíduos
No tabuleiro de Renascença foram produzidos, em 2001,
273 filhotes de tartaruga (P. expansa), 360 de tracajá (P.
700
unifilis) e 5.441 de iaçá (P. sextuberculata).
600
Indivíduos
500
A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá: 400
Botafogo, Antonina e Itaúna
300
A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a 200
Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em 100
130.011 filhotes (1,30% P. expansa, 6,79% P. unifilis, 91,92% 0
P. sextuberculata). Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes 0 -1 kg 1 - 5 kg 5 - 10 10 - 15 20 kg
gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e kg kg
Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um
Peso ( kg )
aumento percentual em relação à participação dos tabuleiros
da Resex na produção total do Baixo Juruá, já que em 1995 o Figura 7. Distribuição, em peso, dos animais analisados pelo Ibama
tabuleiro de Botafogo colaborou com apenas 13,91% do total para venda. (Duarte, 1998).
produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% de
Quanto aos parâmetros de carcaça dos animais, foram
tartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o
abatidos 5 de diferentes categorias, que apresentaram os valores de
restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4
rendimento percentual em relação ao peso corporal em jejum:
apresenta a produção de filhotes de quelônios em Antonina,
Botafogo e Itaúna, em 2001.
88 447
espessa, a abertura “cloacal” mais próxima da extremidade final da Tabuleiro Espécie Nº de Nº Nº Nº
cauda e sutura média no plastrão em formato em “U” e o tamanho Ninhos Médio Total Estimado
de de ovos de
corporal menor se comparado à fêmea. A fêmea tem a cauda mais
ovos filhotes
curta e menos espessa em relação ao macho, a abertura “cloacal” Antonina Tartaruga 6 125- 800 780
localiza-se medianamente na extremidade da cauda e a base e a 133
(3º23’40”S e Tracajá 70 34 2380 1200
sutura médio-ventral no plastrão da fêmea tem formato em “V” e o
66º4’18”W)
tamanho corporal é maior do que o macho. Antes de atingir de 2 a 3 Iaçá 2600 10-11 27560 26000
anos de idade observou-se que a sutura médio-ventral no plastrão, Botafogo Tartaruga 5 120- 700 660
no macho, apresenta-se em “V” e na fêmea expressa-se em “U”. 140
(3º20’8”S e Tracajá 170 30 5100 3400
Estes indicadores invertem-se em animais de 2,5 ± 0,707 anos de 65º97’30”W)
idade. Iaçá 9200 9-11 98924 92000
Itaúna Tartaruga 2 110- 284 250
Foi aplicado um questionário aos compradores dos 142
animais, no supermercado, visando saber qual a opinião do público (3º1’20”S e Tracajá 170 26 4.420 4230
65º54’24”W)
em relação ao sabor do animal de cativeiro, o seu tamanho, e o preço Iaçá 213 10 2.130 1491
por kg do peso vivo, forma de preparo, qual a freqüência de Total 12436 142394 130011
consumir tartaruga, etc. Obs. A área total dos tabuleiros é: Botafogo=3.600 m x 280 m, Antonina=
1.770 m x 150 m e Itaúna= 1.240 m x 239 m. Fonte: Andrade (2001).
10.3.1 ANÁLISE DE CARCAÇA DOS ANIMAIS
COMERCIALIZADOS A Figura 14 e a Tabela 7 mostram a evolução da produção
de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se uma tendência
Os animais apresentaram, em média, os seguintes valores:
gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à
Idade: 5,5 anos tendência observada por Andrade et al. (2006) para a Resex do
Médio Juruá e demais calhas de rios do Amazonas, onde ocorre o
Comprimento da carapaça: 29,56 cm trabalho de proteção, o que significa que poderemos utilizar o
modelo proposto para verificar a sustentabilidade das taxas de
Largura da carapaça: 24,85 cm
extração anual.
Altura: 12,8 cm
Peso: 2,66 kg
446 89
foi demonstrado neste capítulo e no capítulo 7, deste livro), isto é,
Produção de ninhos de quelônios em Botafogo reduzindo um pouco sua margem de lucro e melhor estratégia de
180 12000
marketing e venda, os queloniocultores legalizados poderão
160
facilmente estabelecer preços mais competitivos e desbancar,
10000 definitivamente, o produto ilegal.
140
N.Tracajás/tartarugas
N. Iaçás
100 Tartaruga produtos e subprodutos em termos de qualidade e/ou quantidade,
6000 Tracajá
80 Iaçá
em função do mercado, pois, historicamente, o hábito alimentar do
60 4000 consumidor, em relação à tartaruga, refere-se (em geral) ao animal
40
com aproximadamente 25 kg PV. Sendo necessário, para isso, um
2000 esclarecimento visando uma possível mudança no hábito, assim
20
como a forma de venda dos animais, a estrutura de abate, etc.
0 0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
O empréstimo bancário para a queloniocultura deve ser
Ano
estudado em função das características da criação e ao período em
que atividade trará resposta do investimento, pois a linha de crédito
Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro
é um dos suportes para o desenvolvimento dessa atividade.
de Botafogo – Resex Médio Juruá. Fonte: Andrade (2001).
Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os Durante a fase de comercialização, alguns animais
comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes deixaram de apresentar, em uma das placas marginais, na parte
para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás, posterior da carapaça, o lacre plástico identificando que eram
ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (1990- provenientes de criadouro licenciado. Eles foram quebrados pelas
2002). patas posteriores dos animais (Kohashi1).
A.3.6 Monitoramento de quelônios na Resex Baixo Juruá Recomenda-se que os animais sejam inspecionados para
consumo humano por terem sido encontrados, na amostra de
Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa animais analisados para venda, endoparasitas.
realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de
quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na Resex do Observou-se que os machos (comercializados) de P. expansa
Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários, apresentam a cauda mais comprida e espessa, a abertura “cloacal”
captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados
biométricos, razão sexual e outras informações sobre a
¹ Kohashi, Moysés. Administrador. Informação pessoal.
90 445
A propaganda não deixou claro que os animais eram estrutura populacional dessas espécies. Essas informações
provenientes de criadouro licenciado. Para uma atividade nova, em subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento
termos legais é importante divulgar que os animais são de criadouro contínuo fornecerá – associado aos dados de produção das áreas
licenciado, para dar suporte à queloniocultura regional. Foi reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o
detectado (durante as observações dos animais no tanque) que que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques e
alguns clientes no supermercado, e outras pessoas em conversa verificar a sustentabilidade de taxas de desfrute anuais de ovos,
pessoal, deduziram, por equívoco, que os animais expostos estavam filhotes ou animais subadultos.
liberados para venda como se fossem capturados da natureza, sem
Tabela 7: Histórico da produção de quelônios em praias
autorização, como ainda ocorre no estado do Amazonas. protegidas na Resex Baixo Juruá.
O preço relativo pelo qual foi vendida, inicialmente, no Produção nos tabuleiros da Resex
supermercado, de R$ 18,00 (US$ 6,00) por kg do peso vivo-PV de Botafogo Ninhos Filhotes
tartaruga se comparado às carnes de peixe (tambaqui, cerca de R$ Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
7,00/kg PV), frango e bovina, foi elevado para um produto 1990 1 25 559 130 500 5.200
1991 2 52 1.075 265 1.040 10.000
amazônico.
1992 3 80 1.613 390 1.600 15.000
Existe uma tendência para que esse preço diminua com o 1993 4 93 2.151 520 1.860 20.000
1994 4 110 2.688 530 2.200 25.000
aumento do número de animais postos à venda por outros
1995 4 120 3.175 536 2.400 29.530
criadouros licenciados. Caso contrário, o preço cobrado tende a
1996 5 126 3.468 680 2.520 32.250
comprometer a venda legal, pois a forma de comercialização para 1997 5 134 4.970 680 2.680 46.220
alguns possíveis compradores torna-se desinteressante pelo fato de 1998 5 140 5.161 635 2.800 48.000
ter que pagar R$ 18,00/kg PV por uma parte do animal que não será 1999 5 148 5.726 642 2.960 53.250
consumida (carapaça e plastrão). 2000 5 155 7.903 640 3.100 73.500
2001 5 170 9.892 660 3.400 92.000
Além disso, existe o problema da concorrência com o animal Antonina Ninhos Filhotes
de origem ilegal, cujo preço, hoje, está em torno de R$ 300,00 Ano Tartaruga Tracajá Iaçá Tartaruga Tracajá Iaçá
(U$100,00) para um animal com peso médio de 25-30 kg de PV, ou 1998 2 35 2.400 220 860 24.000
1999 3 55 2.752 420 970 27.520
seja, o produto clandestino está saindo cerca de R$ 10-12,00/kg
2000 4 65 2.600 662 1.100 26.000
de PV (U$3,33-4,00). Muitos queloniocultores já reduziram seu 2001 5 70 2.600 780 1.100 26.000
preço de venda para R$6,00 a R$10,00/kg, ou seja, um preço que
Fonte: Andrade (2001) e Secretaria de Meio Ambiente do Juruá (2002).
concorre com o produto ilegal. Todavia, os custos médios de
produção no Amazonas giram em torno de R$1,45 a 2,93 (conforme
444 91
Figura 6: Colocação do lacre plástico para a venda de quelônios com perfuração
da escama caudal da carapaça com auxílio de furadeira elétrica. Foto: Projeto
Diagnóstico (P.C.M. Andrade).
92 443
punctularia (perema), Platemys platycephala (jabuti-machado),
Geochelone denticulata (jabuti-amarelo), Geochelone
carbonaria (jabuti-vermelho), Chelus fimbriatus (matá-matá) e
Phrynops raniceps (lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se
que a designação ou nomenclatura popular é diferenciada de
outros locais da Amazônia, pois chamam de perema a Phrynops
nasutus , e lalá o Platemys platycephala , tartaruga-de-igapó é a
Phrynops raniceps
442 93
Verificamos que os valores registrados para o número de deverão receber marcação diferencial com plaquetas de alumínio de
ovos não diferem significativamente dos encontrados por 4,0 cm X 1,5 e 2 mm de espessura. Esse material recebe o nome
Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8 Ibama, numeração seqüencial e registro do criadouro. Na plaqueta
ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio são feitos dois furos através dos quais se passarão dois arrebites
Juruá, Andrade & Nascimento (2005) registraram as seguintes para a fixação na carapaça do animal. Os furos e a colocação da
médias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 plaqueta são feitos com o auxílio de furadeira, nas escamas caudais
ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá- da carapaça.
matá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas
O rendimento de carcaça (dianteiro, traseiro e lombo) foi de
no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que,
32,83 ± 9,09% em relação ao peso corporal de 2,66 kg obtidos. Isso
provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de
difere do citado pelo Sebrae(1995), em que 35% do peso corresponde
quelônios do rio Solimões, que são animais muito maiores do que
ao casco e 65% à carne e que, ao final de 4 anos, a tartaruga estará
a média dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999).
com 20 kg, crescimento e rendimento que verificou-se com base em
No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para consumo são todos os estudos realizados, praticamente impossível de se obter nas
os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), e mata- atuais condições tecnológicas de criação.
matá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá
Hoje, o tamanho mínimo permitido deve ser esclarecido à
(31%), tartaruga (26%), jabuti (17%), iaçá (16%). Verificou-se que
população para uma possível mudança no hábito alimentar, pois a
nas três regiões da Resex Baixo Juruá o preferido é o tracajá. Em
tartarugada regional refere-se, em geral, a um animal de tamanho
segundo lugar, dependendo da abundância ou não do recurso no
grande.
local, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas
tartarugas, a preferência recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de Após a biometria, pesagem e seleção, cada animal com peso,
ser o mais abundante, não está entre os três preferidos. para venda, foi marcado pelo queloniocultor com um lacre oficial
(de material plástico), com identificação específica, adquirido no
Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são:
Ibama-AM para ser fixado no escudo posterior da carapaça
a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), o jaticá (15,15%) e o
(Figuras 4, 5 e 6).
espinhel (9,09%). Andrade & Nascimento (2005) verificaram que
os petrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio
Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%).
94 441
11.3 Comercialização Juruá (47%). Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$
15,00 a R$ 20,00 o cento.
Durante o diagnóstico da criação de quelônios um criador do
Puraquequara, Manaus, que recebeu 17.000 animais doados pelo Tabela 8: Preço médio de venda de quelônios e ovos na Resex
Ibama-AM, desde 1992, realizou a primeira comercialização de Baixo Juruá.
tartarugas legalizadas no Amazonas, vendendo, em 17/07/1998, Espécie Tracajá Tartaruga Tartaruga Iaçá Jabuti
parte dos animais recebidos (Podocnemis expansa), conforme prevê (R$) unidade unidade (kg) unidade unidade
Média 34,06 123,33 4,29 3,88 15,00
a Portaria nº 070/96 do Ibama, específica para a comercialização de
DP 8,41 66,53 0,70 1,32 3,54
P. expansa e P. unifilis, oriundos de criadouro licenciado. Máximo 50,00 200,00 5,00 5,00 20,00
Mínimo 15,00 20,00 3,00 1,50 10,00
O processo de comercialização dos animais iniciou-se com o
Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves
queloniocultor, solicitando a liberação do estoque para venda
silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente
através de vistoria e de parecer técnico favorável do Ibama–AM, bem
mais caros quando comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá,
como o fornecimento dos lacres de identificação para os animais que
o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$
seriam comercializados. Cada lacre plástico, em cores, que varia a
3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andrade & Nascimento, 2005).
cada lote (verde, vermelho, branco), possui o número de registro do
criador, o estado de origem, a sigla Ibama e um número seqüencial. Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios
Os lacres são vendidos ao criador a um preço de R$1,10 como remédio e 48,3% usam o casco como pegador ou bacia, para
(aproximadamente U$0,36) a unidade. descansar a massa da farinha. Foi relatado que o casco do jabuti
torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã,
Após a autorização da venda realizou-se a captura através de
combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para
redes de pesca (Tipo arrastão). Foi feita a biometria (carapaça e bronquite. No Médio Juruá essa utilização como remédio cai para
plastrão), a pesagem dos animais em balanças de capacidade de 15 apenas 28% (Andrade & Nascimento, 2005).
kg e de 50 kg, e posterior seleção dos animais que estavam com peso
vivo – P.V. acima de 1,5 kg, ou seja, o peso mínimo para venda, A.3.6.2 Parâmetros de estrutura populacional de quelônios
conforme determina a Portaria nº 070/96. Após selecionados, os na Resex Baixo Juruá
animais com P.V. inferior a 1,5 kg foram devolvidos à barragem
Na primeira excursão, no final da seca, foram capturados
pelos trabalhadores do criadouro.
115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis),
A seleção de 10% dos animais do lote para reprodução do plantel, 12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás (Podocnemis sextuberculata), 59
por ocasião da venda (Portaria nº 142/92), se ainda não foi feita, machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas
deverá ser realizada nessa ocasião. As matrizes e reprodutores (Podocnemis expansa), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops
raniceps. Também foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de
tracajás e 4
440 95
filhotes de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no 1) Criar critérios técnicos ambientais para instalação para
igarapé do Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5 estabelecer diagnóstico ambiental no sentido de prever
quelônio/hora-homem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na conseqüências potenciais necessárias para a instalação,
segunda excursão foram capturados 67 iaçás (Podocnemis operação e manutenção das condições ambientais.
sextuberculata), uma P. expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops
nasutus. 2) Desenvolver instrumentos e metodologias visando o
desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais
Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do educativos e outros instrumentos para a prática da criação
total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao animal;
local de captura, 67,5% foram capturados em enseadas, ressacas
ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a 3) Implementar um de sistema de informação para estabelecer um
maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%), sistema de manutenção de informações para organizar a
sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam em enseadas documentação e todas as informações necessárias à execução da
ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes, atividade;
58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados
4) Proporcionar ações educativas e de capacitação visando
biométricos, razão sexual e média de idade dos animais
estimular e apoiar a participação dos responsáveis na
capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies
formulação de políticas para o meio ambiente, bem como a
capturadas.
concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do
Tabela 9: Parâmetros biométricos, idade e razão sexual de meio natural, social e cultural, através da implementação da
quelônios capturados no final da vazante, na Resex Baixo Juruá. educação ambiental.
Parâmetro Tartaruga Tracajá Iaçá (P. Phrynops 5) Controle operacional para estabelecer e manter instrumentos
(P.expan- (P. unifilis) sextuber_ raniceps
sa) culata) para verificar, investigar e corrigir através de inspeções,
Número de 4 26 84 1 auditorias ambientais e ações corretivas e preventivas.
animais Agradecimentos
Comprimento 34,7±8,9 22,2±5,1 17,3±3,7 27,5
da carapaça Especial agradecimento à profa. Cassandra Guimarães de
(cm) Freitas, por acertadas críticas e sugestões valiosas, igualmente à
Peso (kg) 4,1±2,8 2,2±1,5 0,61±0,3 2,45
Fachin-Teran e aos professores Gilberto Peixoto, Ubirajara Boechar,
Idade (anos) 8 6,7±2,2 3,6±0,8 -
Razão sexual 75% 53,8% 72,8% 1 fêmea Andrea Waichman e Elizabeth Santos, pelo apoio e colaboração. À
Machos machos machos todas as pessoas que colaboraram direta e indiretamente para a
Esses valores são similares aos encontrados por Andrade et al. realização deste trabalho. Ao programa do Trópico Ùmido-
(2006) para quelônios capturados no início e no final da vazante, PTU/CNPq, pelo apoio logístico.
na Resex Médio Juruá, para
96 439
que o interesse pela criação de quelônios é apenas um fator comprimento de carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm;
econômico e, portanto, não há comprometimento, tracajás=21,27-5,96 cm; iaçás=17,2-8,71cm), peso
conhecimentos básicos das espécies, dos custos, entre outros (tartarugas=1,65-4,3 kg; tracajás=2,01-2,41 kg; iaçás=0,61-0,64
aspectos, para a efetividade da sustentabilidade da atividade. kg), idade (tartarugas=3,68-6,7 anos; tracajás=2,6-6,25 anos;
iaçás=2,91-5 anos) e razão sexual (tartarugas=18,2% machos;
Os criadouros funcionam de acordo com a disponibilidade tracajás=90,9% machos; iaçás=56,67% machos).
do local e são implantados sem qualquer planejamento, controle
dos resíduos, condições ambientais e disponibilidade dos
recursos que atendam às recomendações das normas ambientais
(ABNT, 1996), e assim, proporcionem bom funcionamento aos
criadouros implantados ou que venham a ser implantados.
Para a operacionalização recomenda-se a adoção efetiva
de um técnico habilitado, com o objetivo de disciplinar o
gerenciamento, supervisionar, planejar, bem como proporcionar
treinamento do pessoal envolvido, assegurando um desempenho
melhor das funções e evitando as conseqüências potenciais dos
procedimentos operacionais.
Recomendações
438 97
tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso O acompanhamento dos custos é muito importante por
de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio garantir compensações econômicas, além de diversas outras
Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a vantagens. Para isso, é necessário que o criador conheça os custos
4,9 cm e peso médio de 22 g. associados à implementação do criadouro, assim como os
benefícios obtidos para que sua propriedade torne-se competitiva
Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus no mercado e possa proporcionar sustentabilidade ao
infestado por mais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas empreendimento.
pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já
haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis A falta de conhecimento do número de animais a serem
unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou doados para criação torna-se um fator negativo, pois não se sabe o
tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17 impacto que a retirada desses animais da natureza poderá
apresenta o Phrynops nasutus infestado. proporcionar ao ambiente, sem causar desequilíbrios nas
populações.
Considerções finais
Figura 17: Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e
capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006. A criação de quelônios surgiu a partir das condições que a
Fonte: Ermelinda Oliveira. legislação criou, em que a questão ambiental foi tratada nos
empreendimentos apenas como uma exigência legal, tendo como
O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de responsabilidade técnica apenas o caráter fiscalizador, não
quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, através do projeto contemplando ações educativas que proporcionem o
com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as comprometimento de todos os participantes no processo.
possibilidades de manejo do recurso, apresentados no final deste Os criadores, por serem, na maioria, de outro estado,
capítulo. possuem pouco conhecimento da realidade amazônica e apesar de
desenvolverem atividades com a criação animal, observou-se
98 437
dos recursos, proporcionaram a criação de normas e legislação B) RIO PURUS
ambiental que têm exigido das organizações de qualquer grandeza
ou tamanho a incorporação da variável ambiental na alocação de B.1) BAIXO PURUS: TABULEIROS DA RESERVA BIOLÓGICA
recursos (Assayag, 1999). A não inclusão da internalização dos DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA
efeitos externos ao meio ambiente, na ocasião da implantação do ENSEADA, PIRANHAS E OUTROS EM TAPAUÁ/AM
criadouro, poderá, futuramente, comprometer a atividade e
inviabilizá-la devido à incorporação primária e direta da natureza. A
O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo
falta de normas na infra-estrutura do local pode implicar na
nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado desde
captação de água – o percurso do igarapé – com mortes ou aumento
1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático iniciado a
de outros organismos, além do comprometimento da água usada
partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais
pela população circunvizinha.
Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do
A efetivação recente dos criadouros pode estar relacionada à PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas
desburocratização do órgão fiscalizador que fomentou a atividade, (Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas
para que os que estivessem irregulares viessem para a legalidade naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, mas,
e/ou por ter despertado nos criadores uma nova opção de renda. também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e
Para que seja uma atividade de perspectiva de renda deverá assumir humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos,
um compromisso com o melhoramento contínuo, considerando os parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que
problemas reais e potenciais, conforme sugere a ABNT (1996). O desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela
objetivo é proporcionar competências ao pessoal envolvido, com base Ufam, bem como um acompanhamento técnico mais
em educação, treinamento e/ou experiências apropriadas, especializado, tem fornecido ao RAN melhores indicadores sobre
proporcionando compreensão, atitudes e valores. a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos
maiores informações sobre essa que é a maior praia de
A ABNT (1966) recomenda que as organizações estabeleçam e reprodução de quelônios do Amazonas.
mantenham procedimentos para identificar as necessidades de
treinamentos dos envolvidos. A criação de quelônio tem caráter PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS
técnico e é necessário que o responsável e todos os envolvidos DA AMAZÔNIA”
recebam treinamentos para assegurar a qualificação, assim como é
Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de
preciso responsabilizar atribuições na área técnica e ambiental para
Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo Fundo Nacional do Meio
proporcionar melhor desempenho das atividades.
Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos para
que trabalhássemos outras comunidades na calha do rio Purus.
Para a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a comunidade
Piranhas, em Tapauá.
436 99
Quadro 2 – Instruções/procedimentos para a construção de barragens.
100 435
Quanto à finalidade dos criadouros, para a conservação da Purus, que vai de Tapauá a Lábrea, passando por
espécie, as respostas destacaram-se em ajudar na diminuição da Canutama, têm recebido proteção desde 1984, pelo
predação dos animais e a manutenção das matrizes, embora IBDF/Ibama-AM, tornando-se áreas conhecidas pela produção
verificou-se que 84% dos criadores ainda não construíram o sistema de quelônios. Naquelas áreas de antigos seringais, alguns
para a reprodução dos animais, o que mostra o não atendimento da herdeiros de seringalistas, como a sra. Sebastiana Paixão
Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes (Praia do Nazaré) e o sr.
exigência da Portaria n. 142/92 (Ibama, 1992b), artigo 7º, parágrafo
Damião Santos (Praia do Curuzu, Porto Alegre e Aramiã),
2º.
preocuparam-se em, anualmente, solicitar autorizações para
A opinião dos criadores sobre: protegerem suas praias, o que tem sido feito regularmente, sem
acarretar gastos para o Ibama. Todavia, sem uma presença mais
1) combate ao comércio ilegal de quelônios: sugeriram fiscalização efetiva do órgão federal de fiscalização e controle ambiental,
rigorosa envolvendo as forças do exército, marinha e desde 1996, a situação tornou-se crítica.
aeronáutica. O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a
prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservas
2) a importância principal em criar quelônios é ganhar dinheiro. municipais de quelônios, em Jamanduá e em Axioma. No
Entre os criadores, um pretende, com a criação, saldar sua Jamanduá, a prefeitura mantém um flutuante e paga quatro
dívida com um empréstimo realizado no banco. agentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e
Turismo. Em Axioma, em 2000 e 2001, uma parceria com o Poder
Na avaliação ambiental observou-se o uso direto dos cursos Judiciário permitiu que um rancho mensal e bandeiras fossem
d'água nas instalações, que funcionam como meio de captação de destinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com o
água e onde são lançados os efluentes que podem comprometer a salário de um agente.
qualidade dentro e fora dos viveiros. Impor aos outros usuários uma
série de custos sociais, uma vez que as descargas dos restos
orgânicos são lançadas ao ambiente sem nenhum controle da
poluição (Quadro 2).
434 101
Entre as espécies doadas para criação verificou-se
Podocnemis expansa e Podocnemis unifilis. O total de animais
recebido por criador variou de 7.392,15 + 7.522,68 animais
(Tabela 4).
TEMPO (%)
TIPO FREQ. (%) FREQ.
GASTO
53,8
AVIÃO 3 23,1 DIAS 7
BARCO 10 76,9 HORAS 3 23,1
SEMANAS 3
23,1
102 433
Os dados representados no Quadro 1 mostram um custo anual, por protegidas no Amazonas, foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do
tartaruga, de R$ 2,93, indicando que em média uma tartaruga com Jamanduá,Axioma, Nazaré, Curuzu e PortoAlegre.
cinco anos de idade pode estar custando R$ 15,00,
aproximadamente.
432 103
Mesmo assim, enviamos técnico do RAN-AM e do Esreg, de Boca do Acre e Lábrea,
para acompanharem, em 2001, os trabalhos de execução do projeto FNMA, nas RESPONSÁVEL TÉCNICO
comunidades do rio Purus, noAmazonas.
6
5
4
BIOLOGO
3 ENGPESCA
IDAM
2 UA
MÉD. VETERINÁRIO
1 TECNOLABORATÓRIO
0
Figura 3 – Responsável técnico.
104 431
Tabela 2 – Tamanho da área (m2) entre os criadouros. Espécies 2001 2002 2003
BARRAGEM 1.430,96 1.304,42 2,630 3.000 9 Tartaruga 6 359 9 866 636 15 1.604 1.158
BERÇÁRIO 1.027,89 2.212,87 4,000 6.844 9
Total 171 1.143 1.332 23.076 19.821 1.424 25.405 21.411
TANQUE 421 384,431 25 900 6
PROPRIEDADE 2.000,52 3.650,98 1,000 131,40 13
Tabela 10: Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro do
A efetivação da criação de quelônios ocorreu por volta dos Nazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/Ibama Manicoré (2003).
anos de 1970, em função da implementação da primeira portaria,
registrando-se um interesse maior nos últimos cinco anos, maior
aprovação dos projetos técnicos nos anos de 1995/2004 (Tabela 3).
Tabela 3 – Intervalos de aprovação dos projetos técnicos entre os criadores. A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro, com o pico de
desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam de julho a setembro, com pico
APROVAÇÃO DOS FREQÜÊNCIA (%) em agosto. Tartarugas desovam de agosto a outubro, com o pico de desova em setembro.
PROJETOS
1995-1996 4 8,7
1997-1998 4 8,7
1999-2000 5 10,9
2001-2004 33 71,7
430 105
C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO Tabela 1: Perfil socioeconômico dos criadores de quelônios.
IGARAPÉ DO BOTO, IGARAPÉ DO MURUTINGA, IGAPÓ AÇU.
FAIXA NÍVEL
ETÁRIA FREQ % ESCOLAR FREQ. %
20-39 1 8,5 Semi-analf. 1 8,3
O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas anos
1ºGrau inc. 3 25,0
escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo 40-59 8 66,7
encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a anos 1ºGrau comp. 1 8,3
vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema 60-79 3 25,0 2ºGrau comp. 3 25,0
diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de anos
Sup. Inc. 1 8,3
areia ou barrancos de várzea, tracajás (Podocnemis unifilis) e,
Sup. Comp. 3 25,0
principalmente, irapucas (P. erythrocephala) desovam no meio do
folhiço úmido, como as muçuãs (Knosternon scorpioides) que RENDA
PROFISSÕES FREQ. % FAMILIAR FREQ. %
desovam no mangue.
Administrador 1 8,3 1-10 SM 5 41,7
As características diferentes desse sítio reprodutivo de Advogado 1 8,3 11-15 SM 4 33,3
Agricultor 3 25,0 16-20 SM 3 25,0
quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área, Aposentado 1 8,3
monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a Comerciante 4 33,3
Engenheiro 1 8,3
reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas Pescador 1 8,3
três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041
filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por falta A estrutura operacional dos criadouros é, na maioria,
de recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de localizada em zona rural, abastecida de água de igarapé e energia
2002 e 2003. elétrica pelas Centrais Elétricas do Amazonas (Ceam). São, na
maioria, manejados por pessoas físicas (61,5%), com sistema de
criação do tipo semi-intensivo (69%), e objetivos de criar quelônios e
o comércio dos animais (84,5%). Não há normas para o
estabelecimento das dimensões e tipos de recintos, como tamanho
da área variando de 2.000,52 + 3.650,98m, represas de 1.430,9 +
1.304,42m, berçário de 1.027,89 + 2.212,87m e tanque de 421 +
384,43m (Tabela 2). Neste caso, a recomendação deveria estar
condicionada à qualidade de animais e fase de criação.
106 429
Os dados foram elaborados em uma planilha e aplicou-se D) RIO NEGRO
estatística descritiva com distribuição de freqüências e teste de
Kruskal-Wallis (P>0,05), a fim de comparar as variações dos As praias do rio Negro, historicamente, abastecem a
cidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a
parâmetros encontrados entre os criadores e o padrão estabelecido
culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública.
pelo Conama (1996) Resolução nº 020/96, para estabelecer o nível
Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foram
de significância entre as médias e agrupar, entre os criadouros, os
capturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enorme
que apresentam melhores condições de funcionamento. pressão levou a uma drástica diminuição dos estoques das
populações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucas
Resultados e discussões
são as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nos
A criação de quelônios no estado do Amazonas é atualmente tabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró e
composto por 33 criadouros legalizados, funcionando de acordo Mussum.
com a disponibilidade dos recursos de cada um e a utilização de
Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, o
práticas impróprias de manejo.
RAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam,
O perfil socioeconômico dos criadores revelou faixa etária em Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram os
trabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em
torno dos 40 anos, grau de escolaridade no ensino médio,
2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% de
profissões, com maior freqüência, de comerciante e de agricultor.
tartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de
Dados consistentes com Costa (1999), renda familiar com maior
irapucas).
percentual na faixa de 5 a 10 salários mínimos (Tabela 1).
D.1) PRAIA DA VELHA – PARNA JAÚ – NOVO AIRÃO/AM
428 107
Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação função de modelos de desenvolvimento exploratórios e predatórios.
humana, entretanto, lotes de queixadas (Tayassu tajacu)
As propriedades escolhidas para os estudos foram em função
atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos,
dos criadouros licenciados pelo Ibama, localizados em Manaus e
duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos
municípios próximos.
para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o que
permitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes Metodologia
alocados em berçários na mesma ilha.
Em um primeiro momento, foram realizados contatos iniciais
com os proprietários dos criadouros, a fim de solicitar autorização. A
partir daí iniciou-se o trabalho com observações diretas das
instalações, rede hidrográfica, dimensões dos viveiros e a
composição da vegetação, com a finalidade de realizar o diagnóstico
ambiental.
108 427
Atividades dos queloniocultores
20%
30% Outras atividades
Comerciantes
10% Produtor Rural
Construtura
10% Hotelaria
30%
Área de estudo
426 109
E) RIO UATUMÃ Quanto ao tipo de alimento fornecido, observou-se que
animais alimentados à base de proteína animal superam os
TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUACÁ, EM
alimentados com proteína vegetal em ganho de peso. Observou-se
PRESIDENTE FIGUEIREDO E SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ/AM. 2
que a densidade de 78 indivíduos/m proporciona um bom
O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF, desde 1986, desempenho aos animais. A tartaruga (P. expansa) parece superar o
todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A Manaus Energia, através dos tracajá (P. unifilis) e o iaçá(P. sextuberculata) em ganho de peso.
trabalhos do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na Animais provenientes de Uatumã-Balbina/AM possuem tendência a
UHE de Balbina, tem trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a obter maior ganho de peso que os provenientes do Abufari-
montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do RAN/AM Tapauá/AM e Rio Branco-RR.
(combustível, pagamento de agentes de praia, ranchos, etc.) a bióloga Sandra do
Nascimento treinou agentes de praia e monitorou sítios reprodutivos de quelônios no
igarapé do Jarauacá, tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva
Biológica do Uatumã.
Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio 2.048 filhotes de
P. unifilis e 1.421 de
110 425
para caracterizar a produção de quelônios no estado, o que serviu P. expansa, 20 de P. sextuberculata e 22 de P. erythrocephala, no Lago do Maracanã, nas
praias artificiais de Balbina e no igarapé do Jarauacá.
para inferir sobre o melhor sistema de criação utilizado.
424 111
pesquisas, levantar estratégias zootécnicas, considerar os fatores
jurídicos e ambientais e proporcionar treinamentos para os
funcionários, com a perspectiva de que as relações e as
interferências sobre o ambiente tornem-se irreversíveis.
112 423
No entanto, apesar de as estratégias de manejo estarem F) RIO AMAZONAS
sendo desenvolvidas desde 1986, o processo de criação animal em
sistema artificial foi implantado com práticas impróprias devido à MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM
falta de conhecimentos adequados da biologia das espécies, PARINTINS/AM
constituindo em ameaça (Soini, 1997). Por outro lado, não foram
O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de
estabelecidas políticas sustentáveis de manejo que se orientam
quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio
primordialmente a eliminar e/ou mitigar o impacto negativo das
do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8
ameaças ao ambiente.
km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante
Conforme a espécie explorada, a ação repercute na elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins,
incorporação direta e primária da natureza, em que não são medidos Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que,
por seus planejadores, o impacto direto e o indireto quanto ao naquela região, são animais de porte bastante avantajado se
controle dos resíduos e ao uso dos recursos. Esses fatores são comparados aos do Purus e Juruá.
essenciais para avaliar a viabilidade da atividade e articular as
relações econômicas, sociais e ambientais (Kubitza, 1998). Essas
relações com o meio ambiente são essenciais para o
desenvolvimento efetivo da gestão do meio ambiente.
422 113
população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o Capítulo 12: Caracterização socioeconômica
trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em
Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a
e ambiental da criação de quelônios no estado
proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a do Amazonas e comercialização
chegada do Projeto Pé-de-Pincha em Parintins, o Ibama e a Ufam Aldeniza Cardoso de Lima
Paulo César Machado Andrade
começaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de
João Alfredo da Mota Duarte
conservação em Vila Nova e adjacências. Luiz Alberto do Santos Monjeló
Richard Vogt
Janderson Rocha Garcez
Wander Rodrigues
Anndson Brelaz
Introdução
114 421
professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o
trabalho de proteção da área.
A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador
Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo
Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam,
Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó
Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda
como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes,
sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos
que foram mantidos em berçário.
420 115
G) PROGRAMA “PÉ-DE-PINCHA” – MANEJO PARTICIPATIVO DE
QUELÔNIOS EM BARREIRINHA, PARINTINS E NHAMUNDÁ/AM
E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica
Médio-Baixo Amazonas)
116 419
funcionários da Rebio Abufari/Ibama-AM monitoram atentamente a
praia, vigiando as cercas de tabuleiros desde a madrugada, evitando
que os filhotes sejam predados ainda durante a noite, por aves que
dormem na praia. Nessa época, também realizam contagem (Figura
12) e, posteriormente, a transferência e a soltura dos filhotes. Esta
última é realizada em outra margem distante da praia, onde realizam
a soltura dos filhotes no meio de plantas aquáticas para reduzir a
chance da predação, por peixes, sobre os filhotes de tartaruga,
tracajá e iaçá (Figura 11).
418 117
ariranha (Pteronura brasiliensis), sucuri ( Eunectis murinus), jacaré
(Caiman spp), felinos (Leopardus pardalis e Panthera onca) e o
homem (Alfinito, 1980; TCA-SPT, 1996).
Figura 36: Agente Ambiental retira filhotes de quelônios de berçário, para soltura, Aliança, Lago
do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
118 417
contaminação bacteriana e na análise micótica foi identificado instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339
novamente o fungo Aspergillus niger. A Figura 8 apresenta os quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1).
animais com essas lesões. Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238
comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas
com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais;
divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de
850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de
23.400 pessoas nas comunidades e sede.
10.2.2 Predação
416 119
com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ±
16,27% de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ±
4,93 ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos
locais de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás
nasceram pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas
22,52 ± 1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g.
Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá (P. unifilis), igarapé dos Currais, Terra
Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
120 415
Para Aeromonas: Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira
et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no
1)Pode ser feito também um tratamento à base de
Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes
tetraciclina (5 mg em 2 ml de água destilada), via estômago, duas
(23%), frutos (22%) e plantas (20%), ocupando maior diversidade
vezes ao dia, durante 5 dias (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1980).
de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de
Entretanto, enquanto pesquisávamos o caso, voltamos a 15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à
adotar o mesmo procedimento utilizado para a água de filhotes disponibilidade, os quelônios mais consumidos são os tracajás
recém-chegados ao criadouro, ou seja, colocamos 10 gotas de (55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência
iodo/100 litros de água no tanque dos animais doentes. seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá
(16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura,
Em 5 ou 7 dias houve uma redução progressiva dos
como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são
sintomas dos animais doentes. Animais aparentemente sadios que
utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel
foram separados para outro tanque, antes do início do tratamento,
(17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos
apresentaram os sintomas naquela outra instalação (5 dias depois),
ribeirinhos afirmam comercializar esses animais, enquanto que
sendo imediatamente medicados.
no Juruá, esse número pode atingir de 64-99%. O preço médio é
Outro caso observado em criadouros de Itacoatiara foi o de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, sendo que, além do
aparecimento de ulcerações na carapaça de tartarugas juvenis consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como
(Figura 5). Os animais foram trazidos ao Ibama, isolados e deixados remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%).
em recipiente com pouca água (para que o local da lesão se
Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados
mantivesse seco). Na lesão foi aplicado iodo e colocado unguento.
28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com
Foram feitas aplicações diárias até a perfeita cicatrização do local.
microchips) para monitoramento através de recaptura (CMR) e
estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes
manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimou-
se em 5,74% a sobrevivência total até 12 meses. O maior índice
de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. A sobrevivência média
de tracajás na natureza, até 12 meses de idade, foi estimada em
17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi
estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas
áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%.
414 121
O Aeromonas, bactéria gram negativa, causa a chamada
red leg, que são manchas avermelhadas nos membros com
ulcerações e equimoses, além de anemia macrocítica, leucopenia e
trombocitopenia (Murphy & Collins, 1982; Fowler, 1986).
Para Citrobacter:
1) Glorioso et al. (1974): uma dose inicial de 8 mg/100g,
intramuscular de Kaba, quemicetina ou quemisulfan, continuando
o tratamento durante 7 dias, com duas doses de 4 mg.
Figura 40: Marcação de filhotes de tracajás, com microchips,
por jovens cientistas – Fapeam, em Barreirinha-AM. Fonte: Jane –
2) Murphy & Collins, 1982: Clorafenicol foi usado
ProVárzea. 2007 eficientemente em alguns casos com uma dosagem inicial de 6
mg/200 g de peso vivo, no primeiro dia, seguida por uma dosagem
de 3mg/200 g de PV por sete dias. Ou 250 mg de clorafenicol por 2,6
litros de água. Colocar nesta proporção na água do reservatório
duas a três vezes por semana, e melhorar a alimentação e exposição
ao s raios de sol (colocar solário).
122 413
Os animais que foram acometidos desse sintoma estavam
em área mais exposta ao sol do que os outros tanques. Filhotes de
tracajá (P.unifilis) e iaçá (P. sextuberculata) que estavam em tanques
próximos não apresentaram esses sintomas.
412 123
O conteúdo do trato digestivo foi obtido de tartarugas
abatidas oriundas de criadouro comercial em Manaus. Coletou-se
material do estômago, intestino delgado e grosso. O conteúdo dos
diversos segmentos foi colocado em solução aquosa e feita a leitura
do material a fresco. Foram preparadas lâminas semipermanentes
de algumas estruturas para confecção de fotografias e identificação.
O material foi fotografado em microscópio especial (Zeiss).
O material do segmento estomacal apresentou uma
densidade parasitária imensa no estádio larval de nematelmintos,
em todos os estômagos analisados. À medida que progrediu-se no
sentido caudal do trato digestivo, a carga parasitária foi diminuindo
Figura 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através de sensivelmente. No intestino delgado encontrou-se larvas em apenas
fantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto: 45% do material analisado (Tabela 2).
Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005).
Tabela 2: Freqüência de parasitismo no trato digestivo em tartarugas
Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por (P.expansa) de cativeiro, Manaus/AM.
inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do Segm ento do nº pesquisado n º parasitado % de
Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado trato digestivo parasitados
também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama Estôm ago 19 19 100
Intestino 11 5 45
e a universidade pretendem, através de novas parcerias, delgado
redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o Intestino 1 0 0
grosso
pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo,
cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a Os animais analisados em criadouros apresentaram mais
Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam parasitas no período das chuvas (40,62 4,42%).
interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento Em 1999, registramos em filhotes de tartaruga (P. expansa)
empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um criados em tanques de fibra de vidro com 250 litros, na densidade de
futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus 3
100 animais/m , alimentados com ração de peixe, 40% de proteína,
recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o os seguintes sintomas: inchaço das membranas timpânicas, com
sustento do homem ribeirinho. deformação da cabeça e olhos saltados; abcessos e feridas, de
aspecto caseoso (cor amarelada) nos membros posteriores próximos
2.3. Modelos de crescimento populacional de quelônios, análise às articulações femurais; derrame na parte inferior interna do globo
da sustentabilidade e propostas de manejo racional ocular seguido de embaçamento do olho; manchas avermelhadas
tendendo para o roxo no plastrão.
124 411
Matos & Fedullo (1996) apud Duarte (1998), ao realizarem Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23
exames bacteriológicos em amostras fecais de 60 quelônios para anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes
detectar a presença de bactérias do gênero Salmonella, obtiveram praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro,
em filhotes de Trachemys scripta elegans, obtidos de feiras e lojas de Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e
animais, maior índice de infecção, 23,07 %, enquanto filhotes de Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo de
Geochelone denticulata, da Fundação Rio Zoo, tiveram índice de proteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série
temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis
10% e T. dorbignyi, Chrysemys picta picta, Graptemys
analisadas (regressão linear= P<0,018; regressão
pseudogeografica e G. carbonaria oriundos de ambas as fontes,
quadrática=P<0,072). O melhor modelo de ajuste encontrado foi a
obtiveram resultado negativo foram encontrados os sorovares 2
regressão quadrática: P= - 108391+37439,3. t – 778,616. t , com
Typhimurium, Albany, Kottbus, Loanda e o sorovar 0:50 de S.
R2=38%. Na Figura 43, apresentamos o ajuste dos pontos e a curva
enterica subespécie houtenae. As visíveis implicações à saúde
quadrática para a série temporal de produção no rio Juruá.
pública são discutidas em virtude da crescente popularidade desses
répteis como animais de estimação.
Regression Plot
C10 = -108391 + 37439,3 C11
800000
Os técnicos do projeto Diagnóstico/PTU analisaram
material fecal, regurgitados e material do trato digestivo de 600000
C10
As fezes e regurgitados foram coletados durante as 200000
C11
20
410 125
em 207.889 animais (tartarugas, tracajás e iaçás), com taxa de Para Morlock (1979), as doenças de tartarugas em cativeiro
crescimento anual (r) igual a 0,8313. Quando esse modelo foi são provenientes de grupos formados indevidamente, sanidade no
comparado aos dados reais do rio Juruá, observou-se que mesmo local da criação, introdução de animais infectados.
com falhas na proteção, em alguns anos, as populações mantêm Para Alfinito (1980), as principais causas de mortalidade
uma tendência de crescimento que se estabiliza em torno de 10 a 13 estão relacionadas aos estados de desidratação, inanição e asfixia,
anos de trabalho. podendo haver a possibilidade de albinismo (leucodermia congênita
e acromatose congênita) entre as tartarugas, sendo que estas devem
Curva de Crescimento Populacional de Quelônios
ser descartadas para evitar a multiplicação de animais albinos no
200000 lote.
180000
O Ibama (1989) cita que a fotofobia e alteração congestiva,
160000
-0,8313. t
140000 Yt= 187014 (1 - e ) em casos agudos, podem apresentar inflamações das pálpebras com
N.Filhotes
120000
derrame purulento, sendo a mais temível doença, o moquilo que
100000
80000 parece ser vírus filtráveis e bactérias associadas. Os sintomas são
60000
debilidade, perda do apetite, inflamação das pálpebras, úlcera na
40000
20000 córnea, lacrimejamento contínuo. Em sua etapa final, apresenta
0 uma secreção gastrointestinal aguda, defecando substância
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Anos de Proteção semelhantes às que apresentam nas fossas nasais. Quando
acometido o animal não quer permanecer na água e busca sempre
Figura 44: Modelo de curva de crescimento de Von Bertallanfy, proteger-se em local escuro e úmido.
para a produção de filhotes de quelônios, pelo tempo de proteção da
área de reprodução. Em relação à parasitologia, Paixão & Thatcher (1984), ao
analisarem alguns exemplares de tartaruga (Podocnemis expansa),
Ao aplicar-se o referido modelo de crescimento
tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. sextuberculata), provenientes da
populacional à série histórica do Baixo Juruá (produção de
Reserva Biológica do Abufari, AM, encontraram helmintos dos filos
filhotes de Joanico, Botafogo e Antonina), notamos que a
Trematoda em tartaruga (Telorchis spp.; Nematophila grandis;
produção máxima de filhotes no crescimento populacional
Braunotrema pulvinatum), tracajá (Nematophila grandis;
máximo (k) foi estimada em 540.507 filhotes, com uma taxa de
Braunotrema pulvinatum; Telorchis spp.; Haltrema avitelina) e iaçá
crescimento anual (r) igual a 0,09125. O modelo estimado de
produção de filhotes para a região do Baixo Juruá foi o seguinte: (Paramphistomiformes) e Nematoda em tartaruga (Paratractis sp.) e
Produção de filhotes Y(t)= 540.507 (1 – e
-0,09125 . t
). tracajá (Ancyracanthus pinnatifidus) fixados à mucosa do estômago
e intestino, que se encontravam espessados com pontos
Se somarmos a produção de filhotes dos tabuleiros de hemorrágicos nos locais de fixação.
Joanico, Botafogo e Antonina temos uma produção anual estimada
em torno de 262.236 filhotes de quelônios (76 a 91% de iaçás, 4,7 a
126 409
10.2 Sanidade e predação a 6,8% de tracajás e 1,3 a 21,1% de tartarugas), ou seja, 48,52% da
10.2.1 Sanidade capacidade produtiva, prevista pelo modelo, para tabuleiros
conservados por cerca de 15 anos.
A tartaruga Podocnemis expansa pode ser considerada
rústica em relação à incidência de doenças. Para a criação em Deve-se considerar, contudo, que no primeiro ano de vida
cativeiro, no estado do Amazonas, ainda estamos estudando quais existe uma elevada taxa de mortalidade. Andrade & Soares (2005) e
seriam os agentes microbiológicos e os fatores que poderiam causar Andrade & Rodrigues (2005) verificaram que dos filhotes de
danos à biologia do animal e à produtividade. quelônios marcados e soltos em lagos naturais (Médio Amazonas e
Médio Juruá) foi estimada em 5,74% a taxa de sobrevivência total,
Baixas temperaturas causam a morte de tartarugas jovens
até 12 meses, sendo que para os tracajás (Podocnemis unifilis) a taxa
em cativeiro. No frio, os filhotes desenvolvem um quadro de
de sobrevivência média na natureza foi estimada em 17,76 ±
pneumonia com sintomas de perda do apetite; presença de uma
10,23%.
membrana esbranquiçada cobrindo o globo ocular; secreção nasal
com obstrução das vias respiratórias; insuficiência respiratória Se considerarmos o valor de k (constante de equilíbrio
caracterizada pelo comportamento atípico dos animais em populacional, valor populacional de produção máximo)= 262.236
permanecerem boiando com o corpo em posição inclinada e animais no Baixo Juruá, e a taxa de crescimento anual média
mortalidade (Chelonia, 1994). estimada por Andrade et al. (2006) para a calha do rio Juruá, ou seja
r=0,8313, observa-se que, a cada ano, 217.997 animais deveriam
Análises necroscópicas realizadas em tartarugas jovens de ser recrutados pela população. Todavia, a taxa de crescimento que
cativeiro constataram infecção bacteriana múltipla por Escherichia estimamos neste trabalho, para o Baixo Juruá, foi de r=0,09125,
coli, Klebsiella sp., Pseudomonas sp., Proteus sp. e Salmonella sp., logo, o número de indivíduos estimados para recrutamento cairia
que apresentaram no teste de antibiograma resistência antibiótica, para 48.646 animais (10.264 tartarugas, 2.286 tracajás e 36.971
principalmente Pseudomonas sp. Entre os antibióticos iaçás).
administrados, os do grupo quinolona apresentaram melhor
Contudo, deve-se observar que as taxas de sobrevivência são
eficácia associados a medidas profiláticas como limpeza e
relativamente pequenas. Portanto, ao se considerar as taxas por
desinfecção dos tanques, banho dos animais com permanganato de
espécie (estimadas por Andrade & Soares, 2005, e Andrade &
potássio, desobstrução nasal e a transferência dos animais dos
Rodrigues, 2005), esse recrutamento anual cairá para 2.122 iaçás,
tanques de fundo de terra, pois, devido ao tratamento, houve uma
406 tracajás e 157 tartarugas.
expressiva diminuição na taxa de mortalidade (Chelonia, 1994).
Esses valores naturais de recrutamento impossibilitam a
Alfinito (1980) cita a ocorrência do Micobacterium
extração de quelônios de forma racional, em vida livre, com o número
tuberculosis chelonei isolado por Friedmam nos pulmões de atual de praias manejadas, posto que, estima-se para a região do Baixo
tartaruga de aquário, em Berlim.
408 127
Juruá, a extração clandestina de cerca de 8.000
quelônios/ano. Se aumentarmos o número de praias conservadas e
o número de rios protegidos, possivelmente, elevaríamos a taxa de
recrutamento e com isso o número de animais adultos chegariam até
o período de desova. Somente isso, permitiria, em um período de 8 a
10 anos de trabalho de proteção, atingir-se o máximo da capacidade
produtiva e com isso, a possibilidade de exploração racional de
adultos de espécies como o iaçá e o tracajá, em vida livre. Diante da
impossibilidade do manejo extensivo imediato, sugere-se algumas
propostas que possibilitarão a obtenção de renda a partir da
conservação de quelônios.
128 407
No criadouro com razão sexual de 2,2F:1M, sendo o peso
Capítulo 4: Ecologia de quelônios
médio das fêmeas=20,875 ± 11,91kg e machos =4,219 ± 0,787kg,
foram registradas desovas desde o ano de 2003. Alguns animais pelomedusídeos na Reserva Biológica do Abufari
subiram na praia de reprodução e formaram cardumes na margem
Juarez Carlos Brito Pezzuti – NAEA/UFPA
em comportamento similar ao da fase de boiadouro e Daniely Félix da Silva - MPEG
assoalhamento na fase reprodutiva em áreas naturais. Nenhuma Jackson Pantoja Lima – Inpa
cova foi identificada embora suspeite-se que alguns a tenham feito. Alexandre Kemenes – Inpa
Marcelo Garcia - Ipaam
Em 2005, foram identificados três ninhos com número médio de
Norival Dagoberto Paraluppi - Ufam
ovos de 80/ninho. Houve uma taxa de eclosão de 90%, sendo Luiz Alberto dos Santos Monjeló - Ufam
totalizados 216 novos filhotes de tartaruga no plantel. Em 2006,
foram registrados nove ninhos e nasceram 440 filhotes. A comunidade de quelônios aquáticos da bacia amazônica,
uma das mais diversas do mundo, sempre constituiu elemento
importante na dieta dos habitantes da região. A tartaruga,
Podocnemis expansa, espécie de maior porte e a mais abundante, era
rotineiramente consumida e também armazenada em currais, nas
aldeias indígenas, para ser utilizada na cheia quando os peixes eram
menos acessíveis.
Figura 5: Biometria e marcação de plantel reprodutivo. Os ovos também foram e ainda são, em algumas
localidades, uma fonte importante de proteínas para a população
local. , sugere que, possivelmente, a coleta da tartaruga e de seus
ovos é a atividade etnozoológica mais importante de toda a região
406 129
amazônica, vindo desde o período pré-colombiano até hoje., que postura, completando assim, o ciclo de criação através da
registrou a apreensão de 261 quelônios em operação de fiscalização reprodução em cativeiro. Entre as prioridades de pesquisa
do IBDF. elencadas foi queloniocultores fez-se necessário avaliar o
crescimento nas categorias de engorda e reprodução de animais
submetidos a diferentes tipos de alimentos, em complementação
Some-se a isso a ausência de informações básicas sobre a
aos primeiros estudos feitos nas fases de berçário e crescimento.
ecologia desses animais, como área de vida e padrões migratórios. Os
esforços para a conservação de quelônios têm sido direcionados para A avaliação dos parâmetros reprodutivos de quelônios em
a proteção de ninhos e diversas espécies ameaçadas tiveram seu cativeiro foi realizada em dois criadouros comerciais (Iranduba e
manejo baseado num conhecimento incompleto da dinâmica Manacapuru). Foram analisados os parâmetros e a eficiência
populacional, sem informações demográficas sobre classes de idade, reprodutiva através das variáveis tamanho e idade das fêmeas em
área de vida e padrões migratórios. No entanto, a aplicação de postura; abundância e distribuição dos ninhos; número de
programas de manejo, apenas recentemente, tem levado em ovos/ninho.
consideração aspectos básicos da biologia reprodutiva desses A idade média do plantel reprodutivo nas primeiras desovas
animais. Um dos processos críticos é a influência da temperatura de em cativeiro foi de 8,57 ± 0,79 anos. Em animais alimentados com
incubação sobre a determinação do sexo dos embriões, ainda mais proteína de origem vegetal (rações com farelo de soja, verduras e
porque a metodologia, geralmente aplicada pelos programas de frutas) o peso médio foi de 14,19 ± 2,29 kg nas fêmeas e 11,87 ±
conservação de quelônios no mundo, tem sido a de transplantar 2,06kg nos machos. O peso ao final de cinco anos de cultivo, que era
ninhos para locais protegidos, sem a verificação do sexo produzido em média 2,66 kg em 1997, aumentou para 9,2 ± 2,25 kg em mais de
pela incubação dos ovos em tais condições . 65% dos animais dos lotes comercializados.
130 405
tanques de 1.000 litros, após 7,5 0,707 dias (serragem) a 10,333 como a repentina subida do nível do rio ; .
2,516 dias (vermiculita) de nascidos. As mortes ocorridas foram de A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas na
ordem técnica no manejo dos animais. Amazônia para criação com finalidade comercial. O fornecimento
aos criadores depende da retirada anual de milhares de filhotes
Os animais nascidos a 32ºC apresentaram uma tendência a
dos tabuleiros protegidos pelo Ibama, para formar o plantel das
um maior crescimento (ganho diário de peso, GDP = 0,24 g/dia), em
criações comerciais, cujo número aumenta todo ano. O principal
relação aos que nasceram a uma temperatura mais baixa, 27ºC,
fornecedor, até o ano de 1998, era o tabuleiro do Abufari, que se
GDP = 0,18 g/dia. No entanto, os animais obtidos na vermiculita situa na unidade de conservação que recebe o mesmo nome
apresentaram maior GDP = 0,20 0,03 g/dia do que os da serragem, (Reserva Biológica do Abufari).
GDP = 0,10 0,0 g/dia. Os animais de 30ºC apresentaram maior
consumo diário de ração, CDR = 3,36 1,86 g/dia em relação aos de Esses fatores, associados com a questão básica da
32ºC, 1,83g/dia, e 27ºC, 1,19 g/dia. Os animais da vermiculita determinação do sexo pela temperatura em quelônios e suas
conseqüências para qualquer prática de conservação e manejo
apresentaram menor consumo, 1,66 0,43 g/dia, enquanto os da
desses animais, fazem com que seja imprescindível a
serragem tiveram 3,28 1,97 g/dia. A umidade parece ter
investigação dos aspectos mais elementares da ecologia das
influenciado no metabolismo dos filhotes. Filhotes nascidos na
espécies com que estamos lidando, sobretudo quanto ao processo
serragem (ambiente mais úmido) demoraram mais para absorver o reprodutivo.
vitelo, apresentaram menor GDP e maior consumo do que os da
vermiculita (menor umidade). O quadro, portanto, é de franca carência de estudos sobre
esses valiosos recursos que vêm sendo milenarmente explorados
A sexagem dos animais foi realizada aos seis meses de idade, por populações indígenas, para subsistência, e há pelo menos 300
em que verificou-se uma tendência para um maior número de anos em intensa escala comercial rumo ao seu esgotamento. Diante
fêmeas nas temperaturas mais elevadas, 32ºC igual a 50,55%, 30ºC do exposto, a Universidade Federal do Amazonas, em cooperação
igual a 41,15% e a 27ºC igual a 28,07%. Em relação aos outros com o Ibama, realizaram estudos sobre a ecologia, fisiologia,
substratos, a vermiculita apresentou um maior número de fêmeas parasitologia e genética para a conservação dos quelônios da
47,16% , do que a serragem, 35%. A determinação sexual Reserva Biológica do Abufari, com apoio financeiro do CNPq através
dependente da temperatura ocorre no segundo terço do dos projetos “Diagnóstico da criação de animais silvestres no
estado do Amazonas” (Fase I/1998 e Fase II Proc. nº
desenvolvimento embrionário pelo efeito acumulativo da
49.9940/2000-0 PTU/CNPq). Subprojeto Ecologia Reprodutiva dos
temperatura de incubação, devido às tartarugas não possuírem
quelônios da Rebio Abufari (Ibama Proc. nº 02005.002248/98-13).
cromossomas sexuais heteromórficos (Vogt & Villela, 1986).
As pesquisas continuaram com financiamento do Banco da
10.1.3 A reprodução de quelônios em cativeiro Amazônia (Basa) ao projeto “Bases Ecológicas para o manejo dos
quelônios no Estado do Amazonas”. Finalmente, em 2003,
Em 2005, os primeiros espécimes de P. expansa doados contamos com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
pelo Ibama (em 1995), para criação, realizaram sua primeira
404 131
Estado do Amazonas (Fapeam) para a continuação das pesquisas
dessa equipe multidisciplinar, com a execução do Projeto “Ecologia
reprodutiva, dinâmica populacional, genética de populações e
manejo de quelônios na Amazônia”.
132 403
Tabela 1: Dados sobre incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa. apreendendo animais e aparatos de pesca.
(Duarte, 1998).
Iten s \T ratam en tos V V V S S
32ºC 30ºC 27ºC 32ºC 30ºC
* * * ** **
-Nú m ero de ovos 57 100 60 54 45
-Peso dos ovos 28,5 ± - 27,5 ± 21,2 ± 20,3 ±
2,6 3,0 2,7 1,2
-Período de incu bação 39 40 45 45 47
(dias)
-Taxa de eclosã o (% ) 91,07 36,67 100,0 54,76 48,00
0
-Nú m ero de ovos 1 10 1 12 -
inférteis
-Natim ortos (% ) 3,57 15,56 - 4,76 12,00
-A bsorção do vitelo 3 2,5 2,5 4 4
(dias)
-Fecham ento do 4 4 4 7 7
“u m bigo” (dia s)
-Peso ao nascer (g) 19,96 17,46 19,80 18,49 16,48
±1,12 ±1,11 ± 1,08 ± 1,51 ±0,66
-Passagem para o 8 13 10 8 7
tanqu e (dias)
-M orte após colocação 2 3 1 - -
nos tanqu e.
*V32°C/V30°C/V27°C = vermiculita a 32°C /30°C/27°C Reserva Biológica do Abufari
** S32°C/S30°C = serragem a 32°C/30°C (288.000 hectares)
Figura 1. Carta-imagem da Reserva Biológica do Abufari, rio Purus (em azul), município
de Tapauá, Amazonas, Brasil (Legenda: 1 – praia do Abufari; 2 – rio Abufari; 3 – complexo
de lagos do Chapéu; 4 – lago Macapá; 5 – Paraná do iragapé Chapéu; 6 – lago Panelão; 7 -
lago do Campina; 8 – lago Pupunha; 9 – igarapé Tauamirim; verde-escuro – floresta de
terra firme e verde-claro – planície de inundação).
402 133
áreas de 10 metros de largura distantes umas das outras a cada 150 A temperatura recomendada para a queloniocultura
metros. Essas áreas são chamadas de transectos, que são locais seria, inicialmente, para a formação do plantel de fêmeas, de
onde o monitoramento será intenso e todas as desovas ali existentes 32°C e, posteriormente, para o plantel de machos, de 27°C, desde
serão monitoradas. Pelo conhecimento do número de ninhos de que se tenha os cuidados básicos ao manejar o ovo,
iaçás e tracajás nestes locais, foi possível estimarmos o número de movimentando-o lentamente, sem girar, devido ao embrião
ninhos existentes na praia e também o número de fêmeas dessas
aderir na parte superior da casca, por cima da gema. O controle
espécies que ali subiram para desovar.
da temperatura de incubação é importante para determinação
Como as tartarugas desovam em um grande agrupamento sexual.
(tabuleiro, Figura 2), o número total de ninhos é estimado dividindo-
se a produção de filhotes desse cercado e dos ninhos isolados pela
média de filhotes produzidos por ninho. Os números e as
respectivas densidades de ninhos da praia do Abufari, nos anos de
1999, 2000 e 2001 estão na Tabela 1.
134 401
fungo Aspergillus nigrans e nos ovos inviáveis houve influência ninho à parte mais alta da praia e até a margem do rio e a
na taxa de eclosão. profundidade do ninho. Os ninhos são marcados com estacas de
identificação numeradas.
Esse fungo envolveu toda a casca do ovo e durante a Com o monitoramento dos animais que sobem a praia para
incubação alguns ovos tinham sido forrageados por ácaro. A. desovar foi possível observarmos que a menor iaçá (P.
nigrans pode ser encontrado em outros ambientes (frutas e sextuberculata) que desovou na praia do Abufari tinha 24
verduras, geladeiras) e compromete o processo respiratório dos centímetros de comprimento retilíneo da carapaça e 1,1 quilograma.
filhotes e prejudica a troca gasosa nos ovos. Isso faz com que os Dentre as tartarugas (P. expansa), o menor animal encontrado
ovos estraguem, os embriões morram ou se desenvolvam com desovando na praia tinha 61 cm de comprimento retilíneo da
deformações. carapaça e 22,0 quilogramas.
Os ovos inviáveis parecem contribuir bastante para a Tabela 1: Número e densidade de ninhos encontrados na praia do
contaminação dos ovos viáveis, por fungo, matando os filhotes Abufari, durante o monitoramento diário realizado no período de
nos ovos ou após o nascimento e reduzindo a taxa de eclosão. O agosto a dezembro de 1999, 2000 e 2001.
que, provavelmente, está ligado a alguma substância que não é
Espécie Número de ninhos Densidade (ninhos/m2)
liberada por ovos não fecundados e que atuaria como fungicida
1999 2000 2001 1999 2000 2001
natural.
Iaçá 9.054 3.900 5.782,74 0,019 0,02 0,014
A utilização dos ovos inviáveis serviu para comprovar a Tracajá 238 195 337,57* 0,0005 0,0012 0,00084
importância da seleção dos ovos e suas conseqüências biológicas Tartaruga 2.123 2.300 2.475 0,004 0,014 0,0061
para a criação comercial, em que os ovos de P. expansa devem ser
selecionados, visando o descarte de ovos inviáveis.
Na Reserva Biológica do Abufari – AM, também foi Espécie
Total de filhotes
observada a contaminação dos ovos por fungo durante o período
1999 2000 2001
de incubação natural, na qual ocorreu a morte dos filhotes, nas
Iaçá 88.004 37.908 75.523
diferentes idades, aliada ao ataque de formigas ou de larvas de
Tracajá 5.983 4.900 9.829
moscas.
Tartaruga 152.200 170.000 17.000
O custo da incubação artificial foi de R$ 400,00 para as
O processo de sexagem de filhotes
incubadoras, referente à aquisição do material supracitado (US$
133,330). O monitoramento dos ninhos nos transectos nos permitiu
um acompanhamento completo do período de incubação. Ao
atingirem 40 dias de incubação, os ninhos passam a ser revisados a
cada dois ou três dias para a
400 135
identificação de sinais indicando a eclosão dos filhotes, ou seja, o Quanto às temperaturas a eclodibilidade a 27°C obteve-
nascimento dos filhotes. Esses sinais são a casca do ovo se 100,0 0,0%, a 30°C 42,333 8,013% e a 32°C 72,916 25,674
quebradiça e um pouco transparente e a presença de gotículas de %. Na natureza a temperatura média de incubação é 23,3 a
água e pequenas rachaduras na sua superfície. 37,6ºC, sendo a taxa de eclosão entre 85% a 98% de eclosão
Para cada ninho eclodido foram contados o número de (Morlock, 1979; Alfinito, 1980; Alho & Pádua, 1982; Alho, Danni
filhotes vivos, o número de ovos sem desenvolvimento aparente, & Pádua, 1984; TCA-SPT, 1997).
os ovos de gordura, o número de embriões mortos e, quando A contagem dos filhotes de tartaruga que nasciam por
possível, a causa da morte. Os filhotes vivos foram medidos,
período (dia ou hora), não foi possível por poder haver (1) o
pesados e posteriormente libertados na praia. Tendo em vista a
comprometimento da vital absorção do vitelo (reserva nutritiva –
necessidade de sacrifício de filhotes para a identificação do sexo,
composta de gema, aderida ao plastrão por uma película); (2)
foi expedida uma autorização pela Direc/Ibama para a realização
Perda do microclima interno em cada incubadora; (3) Estresse
dessa atividade (autorização nº 32/99, expedida pela
aos animais e o (4) Empilhamento.
Direc/Ibama – DF, renovada em 2003). Em geral são sacrificados
10 filhotes por ninho, em média, 10 ninhos de cada espécie, com O período de incubação em função da temperatura de
injeção de 0,1 ml de Nembutal (substância que leva o animal a incubação a 27°C foi de 43,000 0,0 dias, a 30°C 42,000 7,071
uma parada cardíaca) por indivíduo. Esses filhotes foram fixados dias e 32°C 40,7071 7,071 dias. Sendo, de 39 dias, a 32ºC, na
em solução de formol tamponada (1 litro de formol a 10%, 4g de vermiculita, 46 dias, a 30ºC, na serragem (Tabela 1), havendo
H 2NaPO 4.H 2O, 6,05g de HNa 2PO 4.H 2O), para determinação do sexo evidência da premissa de que quanto maior a temperatura,
dos filhotes, realizado através do exame posterior das gônadas menor será o período de incubação, resultado obtido no substrato
com o auxílio de microscópio óptico (Figura 3). vermiculita. Em condições artificiais no Museu Goeldi, Alho,
A razão sexual foi determinada como sendo a proporção de Carvalho & Pádua (1979) observaram que esse período pode
machos na ninhada (número de machos dividido pelo número de ultrapassar 60 dias.
filhotes vivos) e a sobrevivência como o número de filhotes
O fechamento do “umbigo” em filhotes de P. expansa
eclodidos vivos, dividido pelo número total de ovos. Na Tabela 2
incubados artificialmente na vermiculita e na serragem ocorreu
estão os dados de número de ninhos amostrados e a média do
no quarto e no sétimo dias de idade, respectivamente. O tempo de
número de ovos coletados em setembro de 1999, 2000 e 2001.
absorção do vitelo foi menor na vermiculita ( 2,666 ± 0,288 dias) e
maior na serragem (4,0 ± 0,0 dias).
136 399
A temperatura média da incubação artificial, em função
das horas, oscilou em ambos os substratos, mantendo mais
constante na serragem em relação a vermiculita (Figura 2).
33,5
32,5
0
:0
:0
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:0
:0
:0
:0
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:0
:0
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06
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17
18
19
398 137
canais dos paranás, quando os animais estão migrando para o rio
ou mesmo retornando para os lagos. Essas redes também são f) Resultados e discussões
instaladas no canal do rio Purus. O esforço amostral de captura de O peso médio dos ovos incubados na vermiculita foi de
animais na área da Rebio vem sendo exercido sobre a calha principal
28,5 2,629g a 27,5 3,034 g, na serragem 20,568 6,074g a
do rio Purus, nos lagos internos (lago Comprido – região do Chapéu e
21,203 2,710g. No entanto, Espriella (1972) cita que o peso
lago do Almoço no sistema do rio Abufari) e os principais canais de
médio para o criadouro deve ser de 43g e Maués (1976), ao fazer a
ligação entre ambos. Nos anos de 2006, 2007 e 2008 pretendemos
comparação bromatológica em ovos de Podocnemis sp., obteve
replicar as parcelas de pesca experimental durante as seguintes
peso médio de 23,67g. Sendo o tamanho do ovo variável de 2,056
fases do ciclo hidrológico anual: cheia (junho-julho), vazante
0,607 cm a 3,614 0,164 cm, para ambos os substratos.
(agosto-setembro), seca (outubro-novembro) e enchente (dezembro-
maio). Os substratos foram utilizados devido: (a) apresenta
menor tendência à compressão durante o desenvolvimento do ovo
Os dois primeiros aparelhos foram verificados de 3 em 3 horas,
e embrião; (b) identificar qual o substrato para incubação
minimizando a possibilidade de morte dos animais por afogamento,
conforme descrito em . As redes de cerco foram utilizadas artificial, pois, no caso da areia do tabuleiro poderia haver uma
principalmente no canal do rio Purus, em números variados de compressão no ovo (embrião) durante o período de incubação; (c)
lances, dependendo das taxas de captura. Em cada pescaria foi utilizar um material estéril (vermiculita), que é caro e não
registrado o horário de saída, a embarcação e os equipamentos acessível, e um material regional barato, que é a serragem. Na
utilizados, o tempo gasto para chegar até o local escolhido, o tempo incubação artificial deve-se observar o emprego e a
gasto na captura de animais, as características do habitat e granulometria da areia para que não comprometa o
microhabitat onde o animal foi coletado, a profundidade, a desenvolvimento do ovo e do embrião.
velocidade da correnteza e a temperatura do local. Os locais de pesca
foram georreferenciados com auxílio de GPS (Global Position
System).
138 397
durante o transporte. Entretanto, os ovos incubados na serragem aos animais). Posteriormente, os animais foram soltos no local de
foram condicionados numa caixa de papelão contendo areia da captura.
praia de desova. Comparando ambos, o primeiro mostrou-se mais A abundância relativa de cada espécie foi determinada em
função do rendimento dos aparelhos de pesca utilizados, com base
seguro.
no número ou biomassa dos animais, por pescaria, por dia de pesca.
A instalação do experimento consistiu de biometria dos Neste estudo a CPUE (captura por unidade de esforço) foi utilizada
ovos e pesagem em balança de 1.610 g, com o cuidado de não girá- como o índice de densidade populacional e foi calculada com base na
los para evitar movimento precipitado do embrião, seguido de seguinte equação:
delicada colocação em cada substrato.
396 139
b) Material usado para incubação artificial de ovos de
tartaruga
140 395
g/dia, enquanto que os que nasceram na areia tiveram um Quelônios e seus predadores
GDP=0,08 g/dia. Os iaçás tiveram GDP=0,06 g/dia e as tartarugas,
O fenômeno da predação é comum nos quelônios amazônicos.
GDP=0,15 g/dia. Ao completarem dois meses, os filhotes foram
Foram encontrados diversos ninhos predados por jacurarus,
soltos nos seus locais de origem, em áreas com menos predadores
urubus e mucuras. Durante esses anos de estudo verificamos que
e/ou lagos com bastante alimentação natural disponível.
vários ninhos marcados são predados, mas somente uma pequena
10.1.2 Incubação artificial de ovos de Podocnemis expansa no porcentagem deles não é possível identificar o predador.
Amazonas Gaivotas são excelentes predadoras. Essas aves são
Como o sexo dos filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá são observadas predando filhotes na praia tanto de dia como de noite, e
no rio durante o dia. Na praia, a estratégia mais comum é a gaivota
determinados pela temperatura de incubação, os criadouros
realizar vôos cada vez mais baixos sobre o filhote, até conseguir
poderiam, através da incubação artificial, estabelecer o sexo dos
apanhá-lo com as patas sem pousar na areia. Na água, as gaivotas
filhotes que estivessem gerando em sua propriedade, optando por
sobrevoam o local à espera que um filhote venha à tona. Quando isso
produzir mais machos ou fêmeas.
acontece, realizam uma descida rápida e capturam os filhotes com
Pensando nessa possibilidade e buscando adaptar a as patas, erguendo-se novamente.
tecnologia já existente ao material disponível no Amazonas, em
Durante as primeiras horas da manhã, é comum observarmos
1999, a Ufam e, o então Cenaqua desenvolveram na sede do Ibama-
repetidas vezes a presença de gaviões (várias espécies ainda não
AM, Manaus, um experimento de incubação artificial de ovos de
identificadas), gaivotas e urubus atacando filhotes isolados e dentro
tartaruga avaliando os efeitos de diferentes substratos (vermiculita e de cercados de tartaruga, mesmo quando já existem agentes e
serragem) e de diferentes temperaturas (27, 30 e 32ºC), no período estagiários trabalhando na retirada de filhotes. Gaviões e urubus
incubatório e no sexo e desempenho dos filhotes. pousam próximo à presa e a seguram no solo, ao passo que as
a) Procedência dos ovos de tartaruga (Podocnemis expansa) gaivotas normalmente capturam os filhotes em vôos rasantes e os
levam consigo. Pudemos também observar interações agonísticas
Foram utilizados 316 ovos coletados por funcionários do (disputa) entre as aves.
Ibama/AM, localizado no tabuleiro da Reserva Biológica do Abufari
Nas noites em que milhares de filhotes emergem
(Lat. S 04 51' – 05 30' e Long. W 6247' a 6322'; criada pelo Decreto
simultaneamente nos cercados, observamos que grupos de urubus
Federal número 87.585 de 20/9/1982) no município de Tapauá
passam a noite dentro dos cercados alimentando-se deles. Nas
(Lat. S 05 45' e Long. W 64 24') administrada pelo Ibama no estado
manhãs seguintes, centenas de cascos são encontrados dentro dos
do Amazonas, em 1997.
cercados e nas imediações.
²
Termo utilizado para a praia de desova.
394 141
Jacarés-açus (Melanossuchus niger) e tingas (Caiman que pode ser um indicativo de uma predação humana excessiva
crocodilus) investem em grupo de tartarugas que escapam dos sobre machos e fêmeas adultas. Em 2000, a taxa de ovos inférteis,
cercados e também sobre os cercados, quando estes estão próximos gorados e natimortos, foi superior à 1999 (teste T, P<0,05), o que
à margem da praia. No período de emergência de filhotes, vários associamos a um atraso no período das chuvas. Os filhotes que
cascos comidos por mucuras foram encontrados perto dos locais em conseguiram eclodir nas covas naturais que acompanhamos, não
que eles foram capturados. Nesses cascos, havia marcas de dentes tiveram forças para sair da cova e acabaram sendo predados por
que permitiram a identificação do predador. larvas de moscas (Diptera: Ephydridae).
A predação de filhotes na água também é um fenômeno Os esforços de conservação de quelônios nesses municípios,
muito comum de ser observado na praia do Abufari. A aruanã entretanto, vêm sendo comprometidos em alguns lugares
(Osteoglossum bichirrosum) é um dos principais predadores
(Oriximiná/PA: Lago do Sapucuá, Jarauacá, Igarapé dos Currais;
aquáticos dos filhotes de quelônios que nascem na praia.
Parintins/AM: Valéria, Murituba), em função dos danos causados
Ecologia reprodutiva pelas larvas desses dípteros pertencentes à família Ephydridae. O
O principal local de nidificação dos quelônios na Rebio é a praia do adulto é uma mosca de coloração preto-metálico, medindo cerca de
Abufari. A altura média da praia é de 4,5 m (±1,8m), onde desovam três milímetros de comprimento. Essa mosca, por apresentar
em média 8.802 ±2.516 quelônios: tracajás, iaçás e tartarugas. hábitos muito variados, inclusive saprofíticos, ataca na fase de
maior suscetibilidade do ciclo evolutivo dos quelônios. As larvas
Considerando os anos de 1997-2004, exceto 2002, a
produção média anual de filhotes de tartarugas na Rebio Abufari foi predam ovos e filhotes, sendo os adultos, provavelmente, atraídos
de 177.000 ±53.250 (Figura 5). Rebêlo (1985) reporta que na praia pelo odor característico de ovo, logo após o primeiro filhote eclodir,
do Abufari foram produzidos cerca de 40 mil filhotes de tartarugas ou pelo odor de putrefação de ovos contaminados por fungos ou
no ano de 1984. Informações entre os anos de 1985 a 1997 e 2002 gorados.
são escassas e duvidosas e, portanto, não estão sendo utilizadas
Os tracajás (n=617) nasceram medindo o comprimento de
neste relatório.
carapaça, 39,3 ± 1,7 mm, os iaçás (n=101) com 40,5 ± 2,4 mm e as
Segundo dados diários da produção de filhotes de tartaruga tartarugas (n=201) com 46,9 ± 1,4 mm. Os tracajás pesaram em
encontrados em planilhas do arquivo da Rebio, no ano de 1997 a média 14,9 ± 1,4 g, iaçás 14,3 ± 1,8 g, tartarugas 22,5 ± 1,4g e
produção foi de 287.686 filhotes. calalumãs (n=110) 11,2 ± 2,6 g. Os filhotes que nasceram em covas
transplantadas para o barro foram significativamente (teste T,
P<0,01) maiores (comprimento da carapaça = 39,8 ± 0,9 mm), mais
pesados (peso=15,6 ± 0,2 g) e menos pigmentados do que aqueles
que nasceram na areia (comprimento da carapaça=39,0 ± 2,2 mm;
peso=14,3 ± 1,7 g). Até os dois meses de vida, os tracajás que
nasceram no barro tiveram um ganho diário de peso (GDP) de 0,05
142 393
larvas se deu em número muito menor e não houve problema de
350
pisoteio, sendo a taxa de eclosão das covas naturais de 95,45%.
392 143
Tabela 2. Número médio de ovos, por ninho, na praia do Abufari, em setembro
de 1999, 2000 e 2001.
Espécie Média nº Média nº
ovos /ninho filhotes /ninho
1999 2000 2001 1999 2000 2001
Iaçá 13,31 13,87 12,82 9,72 10,52 11,16
Tracajá 30,00 30,71 29,12 25,14 14,89 27,00
Tartaruga 98,15 133,00 . 71,69 100,7 .
Espécie
Sobrevivência Figura 1: Eclosão e filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis) do
1999 2000 2001 igarapé dos Currais - Terra Santa/Pará.
Iaçá 0,730 0,749 0,910 As covas transferidas de tartaruga tiveram uma taxa de
Tracajá 0,838 0,502 0,920 eclosão baixa devido à profundidade da cova artificial ter sido muito
Tartaruga* 0,730 0,735 . pequena. As covas ficaram pequenas e os ovos não puderam se
expandir, comprimindo e matando os embriões. Em 2000, o
No ano de 2000, encontramos em um ninho de tartaruga um problema foi solucionado com a divisão de cada cova natural, em
filhote albino. No ano de 2003, foram encontrados um filhote albino, duas transplantadas. Encontramos duas desovas de tartaruga no
um melânico (carapaça e patas parcialmente brancas e olho de barro, na área do igarapé dos Currais. Cada cova possuía 60 ovos e,
coloração normal) e um com características mistas (metade albino e
em uma delas, devido à pouca profundidade da cova e ao trabalho de
metade normal) (Figura 6). Com relação à posição onde os ninhos
compactação da fêmea, metade dos ovos estavam quebrados.
dos Podocnemis foram depositados na praia, os animais escolhem os
pontos mais altos. A distância dos ninhos em relação à vegetação é Covas naturais de tracajás e pitiús, na areia, tiveram uma
muito similar entre tracajá e iaçá. Para as três espécies estudadas na taxa de eclosão inferior (teste T, P<0,01) à das covas transferidas,
praia do Abufari a taxa de eclosão ficou em torno de 80% (Tabela 2). 37,74 (n=61) e 55,55 % (n=18) contra 85,6 (n=103) e 73,7 (39)%,
respectivamente. Acredita-se que isso se deva, em parte, a uma noite
de pisoteio por búfalos no local onde se encontravam as covas
naturais protegidas e, em parte, à predação de ovos e filhotes por
larvas de dípteros (moscas) da família Sarcophagidae (foram
registradas duas espécies ainda em processo de identificação),
encontradas em vários ninhos naturais. No barro, a presença das
144 391
que a profundidade do ninho e o período de incubação são
inversamente proporcionais em pitiús. O mesmo comportamento
que podemos verificar entre os tracajás que desovaram na areia e no
barro, e entre tracajás e pitús, isto é, quanto mais rasas as covas
maior o período de incubação.
390 145
Podocnemis expansa para andarem em terrenos mais íngrimes.
O tamanho médio das fêmeas de P. expansa que desovaram Estudos feitos por Pezzuti (1997) com pitiú, no rio Japurá
no Abufari entre os anos de 1998 e 2004 foi de 74,3 cm (±3,97 cm, (estado do Amazonas), demonstraram que a altura tem efeito
N=158; Figura 7), e o peso médio 37,4 kg (±6,8 kg; N=18; Figura 10). pronunciado na discriminação dos ninhos, em pontos aleatórios. As
A menor fêmea de tartaruga que registramos desovando na praia do fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A
Abufari durante esse período mediu 61 cm de comprimento de profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de
carapaça e pesou 22 kg. incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de
incubação e na sobrevivência dos embriões.
O número médio de ovos depositados por essas fêmeas é de
96,89 ovos (± 31,2 ovos), no entanto, registros de 163 ovos/ninho já b) Eclosão e desenvolvimento dos filhotes
foram observados na praia do Abufari. Em um ninho foi registrada
Os primeiros filhotes (18 pitiús) nasceram na área da Aliança
massa total dos ovos de 4,126 kg. O peso médio dos ovos de
no Lago do Piraruacá. O tempo médio de incubação na areia foi: para
tartaruga é de 36,48 gramas (± 6,38 gramas, N = 7 ninhos).
tracajás = 57,88 ± 2,68 dias (mínimo=54; máximo=65); para pitiús =
O número médio de filhotes de tartaruga produzidos por
59,23 ± 3,34 dias (mínimo= 46; máximo= 66); e para tartaruga =
ninho é de 64,38 filhotes (±40,47 filhotes; N = 103 ninhos), com
57,67 ± 5,69 dias (mínimo= 53; máximo= 64). No barro, os ovos de
sobrevivência média de 77,8% (±34,3%; N = 144 ninhos). O
tracajá tiveram um tempo de incubação de cerca de 63,85 ± 2,31 dias
comprimento médio dos filhotes é de 39,24 mm (±04,98 mm; N = 18
(mínimo= 62; máximo=71). Pelos resultados, pode-se observar que
ninhos) e o peso médio de 17,89 gramas (±2,38 gramas; N = 18
apesar da temperatura média do barro ser maior, devido a uma
ninhos).
maior umidade, o tempo de incubação para tracajás é maior no barro
Foram encontrados em média 4 filhotes natimortos por ninho do que na areia. O tempo de incubação é maior para pitiús do que
(± 9, 5 filhotes; N=20 ninhos). O número máximo de natimortos por para tracajás e tartarugas.
ninho foi de 44 filhotes. Encontramos, em média, 10,4 ovos de
Fergusson & Joanen(1983), Georges (1989), Lang (1987),
tartaruga por ninho sem sinais de desenvolvimento aparente (± 11,9
Webb et al. (1987), Packard et al. (1989), Rhen & Lang (1995) apud
filhotes; N= 49 ninhos). Em 69 ninhos analisados registramos uma
Pezzuti (1997) verificaram que a temperatura de incubação
média de 21,27 ovos em putrefação, por ninho (±24 ovos).
influencia também a termorregulação, o tamanho, o padrão de
Provavelmente, são ovos fertilizados em que o embrião morreu, pois
pigmentação e a massa do filhote, ao nascer, e o crescimento.
ovos inférteis normalmente não apodrecem.
Segundo Pezzuti (1997), a eclosão dos ovos de pitiú ocorre,
geralmente, de 55 a 70 dias. As crias eclodidas ainda permanecem
dentro da cova, normalmente, num período de 7 a 15 dias. Portanto,
o período médio de nidificação dura 69 dias. Esse autor encontrou
146 389
com 8 a 16 cm de profundidade, com uma média de 30,3 ± 7,27 ovos
com 83,3 ± 6,8 dias de incubação. Alho et al. (1984) encontraram
temperaturas médias de 34,5ºC em ninhos de P. expansa, no
Trombetas, com razão sexual média dos ninhos desviada para
fêmeas (0,033).
388 147
pivotal, oscilação ou amplitude térmica, local e período da desova.
Nest sex ratio (ln N.males/N.total) 0.5 Nas covas transplantadas para a areia, tivemos uma temperatura
média que poderia provocar o nascimento apenas de fêmeas,
entretanto, como a variação ao longo do dia foi pequena, existe uma
tendência de masculinização de alguns ovos.
0.0
Cerca de 50,12% das covas de tracajás foram transferidas da
areia com uma profundidade média de 17,2 ± 2,7 cm e largura de
12,2 ± 2,1 cm, com 22,3 ± 4,7 ovos (máximo=36 e mínimo=12),
-0.5
pesando 24,5 ± 2,8 g. As covas retiradas do barro (49,88%)
apresentaram profundidade de 13,2 ± 2,1 cm e largura de 13,6 ± 2,9
cm, com 23,3 ± 5,4 ovos (máximo=34 e mínimo=10), pesando 23,7 ±
-1.0 2,6 g. A distância das covas de tracajá da água variou de 18,4 ± 14,1
20 30 40 50 60 70 80 m na areia e 15,4 ± 16,1 m no barro, e a distância da vegetação variou
Nest deph (cm) de 3,8 ± 6,7 m na areia e 2,2 ± 6,1 m no barro. As covas de pitiú foram
todas retiradas de praias e apresentaram, em média, 16,9 ± 3,5 ovos
(máximo=25 e mínimo=6), com peso de 20,8 ± 5,6 g, sendo
Figura 8. Relação entre a razão sexual dos ninhos de P. expansa em
encontradas a 18,25 ± 20,89 m da vegetação, bem próximo à água
função da variável independente – profundidade do ninho, monitorados
(em média 6 metros). A Tabela 1 apresenta os resultados da
na Rebio Abufari.
transferência por área e espécie.
A relação entre peso e comprimento dos filhotes de tartaruga é
Fachin (1992) registrou que P. unifilis desova no Peru, no rio
significativa (R2 = 0,469, N=18; p= 0,002; Peso = 1,367+0,143 *
Samiria, no período de julho e agosto em praias de areia (44,7%),
comprimento).
praias semi-arenosas (22,4%), praias com pedregulhos (17,6%) e
Podocnemis sextuberculata barrancos (15,3%).
O comprimento médio dos iaçás que desovaram na Rebio Os tracajás podem desovar em praias ou no barro a até 15-50
Abufari entre os anos de 1998-2003 foi de 28,34 cm (±3,39 cm). O metros da água em covas com, aproximadamente, 18-20 cm de
comprimento da carapaça de 50% das fêmeas que se encontravam profundidade e 8-11 cm de diâmetro e uma média de 24,4 ovos
desovando na praia do Abufari foi de 27 cm (L50) - N=74; Figura 9. (Vanzolini, 1979; Paez, 1995). No rio Guaporé, os ninhos de P. unifilis
têm uma temperatura pivotal de 32,1ºC e uma média de 23,7 ovos,
O número médio de ovos depositados pelas fêmeas de iaçá na sendo que, em condições de laboratório, ovos incubados a 31ºC
praia foi de 12,67 ovos/ninho (±4,3 ovos; produziram 80% de machos (Souza e Vogt, 1994). Soini (1995)
estudou P. unifilis que desova de 2 a 12 metros da água, em covas
148 387
a) Resultados de transferência de ninhos pelo Projeto Pé-de- N=312), sendo que o ninho mais numeroso continha 26 ovos.
Pincha O peso médio dos ovos foi de 16,67 gramas (± 3,13 gramas; N= 29
ninhos). O número médio de filhotes por ninho foi 10,4 filhotes (±5
Foram monitoradas pela Ufam/Ibama-AM, em 1999, as filhotes; N=324 filhotes), e o peso médio dos filhotes de 13,1 gramas
transferências de 306 ninhos, com um total de 6.426 ovos (79,96% (± 2,36 gramas). O comprimento médio dos filhotes foi 31,8 mm
de tracajá, P. unifilis, e 20,04% de pitiú ou iaçá, P. sextuberculata). (±05,4mm) e a largura da carapaça 27,42 mm (± 05,74mm). O
Até o final do período de coleta, as comunidades e seus agentes número médio de ovos sem desenvolvimento aparente, por ninho, foi
ambientais voluntários conseguiram transferir 654 ninhos, com um de 2,6 ovos (±3,2 ovos; N=86), e o número médio de filhotes
total de 14.214 ovos (86,29% de tracajá, P. unifilis, 10,25% de pitiú natimortos foi de 2,2 (± 1,9 filhote; N= 86). A presença de filhotes
ou iaçá, P. sextuberculata, 2,59% de tartaruga, P. expansa, e 0,87% deformados foi observada em três ninhos (N= 86) e a de larvas em 08
de irapuca ou calalumã, P. erythrocephala), e realizaram a proteção ninhos (N=86).
de 85 covas naturais. Em 2000, foram coletados 24.015 ovos,
21.482 de tracajá, 2.393 de pitiú, 20 de calalumã e 120 de tartaruga A sobrevivência média dos ninhos de P.sextuberculata foi de
(um total de 1.193 covas transferidas, sendo 89,45% de tracajás, 80% (± 29,5%; N=280 ninhos). A amplitude de sobrevivência
9,96% de pitiú, 0,5% de tartaruga e 0,08% de calalumã) e foram apresentou variação máxima, indo de 0 a 100%, ou seja, houve
protegidas 9 covas naturais. ninhos em que nenhum ovo eclodiu e no outro extremo ninhos com
eclosão de todos os embriões. A razão sexual média (proporção de
A coleta dos ovos foi realizada, principalmente, nas horas machos na ninhada) foi de 0,348, portanto, temos predomínio de
mais frias do dia, entre 6-9 h (74%), sendo feita em caixas de isopor fêmeas entre os filhotes desta espécie produzidos no local entre 1998
de 24,5 litros (cada caixa comportava de 3 a 4 ninhadas, dependendo e 1999. A razão sexual dos filhotes de P. sextuberculata não diferiu
do número de ovos). Os ovos ficavam nas caixas até 16:00 horas, significativamente entre os anos 1998 e 1999 (t= - 0,586; G.L. = 27;
quando eram transplantados para as covas artificiais nas áreas p=0,563), não apresentando relação com a altura onde o ninho foi
protegidas. A temperatura média nos locais de transplante com 25 depositado (R2 = 0,001; N=7; p= 0,952), com a distância do ninho até
cm de profundidade = 33,62 ± 1,45º C, com 30 cm = 32,55ºC ± 3,17ºC
a vegetação (R2 = 0,021; N=17; p= 0,575) nem tampouco com a sua
e com 50 cm = 31,69º ± 1,30ºC. A temperatura média na areia foi de
profundidade (R2 = 0,008; N=19; p= 0,723).
32,58 ± 1,94ºC e no barro foi de 35,83 ± 0,764ºC. As maiores
temperaturas foram registradas no período das 14 às 16:00 horas.
386 149
campo, bem como ministrar palestras nos colégios locais. Os temas
são diversificados, de acordo com as especialidades do pessoal
envolvido no projeto (quelônios, ecologia, horticultura, pecuária,
criação de animais silvestres, parasitismo e profilaxia, uso de
agrotóxicos, plantas medicinais, criação caipira de galinhas, etc.).
Em novembro, com o início das eclosões e o nascimento dos
filhotes nas covas transplantadas, a equipe da Ufam retorna às
localidades para a construção dos berçários, o treinamento do
pessoal nos cuidados com os filhotes (alimentos, horário de
alimentação, conservação dos ovos não eclodidos e filhotes mortos,
etc.), coleta de dados de biometria e parasitologia e marcação dos
filhotes. Os filhotes são mantidos nos berçários até completarem
dois meses de idade, período em que já possuem cascos mais
resistentes, tornando-se, provavelmente, menos susceptíveis à
predação.
150 385
2
Os ninhos são abertos e os ovos colocados em caixas de O peso médio do ovo foi influenciado pelo tamanho (R =0,43;
2
isopor (24,5 e 37 l) forradas com areia. Ao transferir os ovos para a N=17 ninhos; p=0,004) e também pelo peso da fêmea (R =0,285;
caixa, eles são mantidos na mesma posição que estavam no ninho. N=17 ninhos; p=0,027, Figura 11).
De cada cova encontrada, são registrados em fichas o número da
cova, a procedência, a espécie, a quantidade de ovos, a distância
1.2
384 151
2
25 tartaruga, deve haver 1 m de praia para cada matriz em reprodução.
No caso de tracajás, podemos trabalhar a densidade de 5
2
matrizes/m de praia.
mean egg mas per nest (g) 10.1.1 Transferência de ninhos
20
Em situações de extrema predação humana dos ovos e
impossibilidade de fiscalização sistemática do tabuleiro ou, no caso
de perigo de inundação e perda dos ninhos, pode-se executar a
15 transferência dos ninhos para praias protegidas pelo Ibama ou pelas
comunidades. Em cativeiro, o mesmo pode ser feito quando há uma
predação natural (lagarto teiú, Tupinambis spp.; formigas; cupins,
etc.), acentuada, ou a praia artificial às margens do tanque ou
10 barragem não possua condições adequadas para a incubação dos
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500
female weight (g) ovos.
152 383
espécie é encontrada somente nos rios de água barrenta como o O número médio de ovos de tracajás observados nos ninhos
Branco, o Solimões e o Amazonas, mas ela também é encontrada nos encontrados dispersos pela praia foi de 29,6 ovos (±5,87 ovos; N=46
rios Trombetas e Tapajós, considerados de água clara. A fêmea ninhos). A massa de um ninho foi de 1 kg e o peso médio dos ovos
possui manchas amarelas com dois barbelos embaixo da boca. A desse ninho foi de 23,97 g. O número médio de filhotes produzidos
carapaça tem coloração marrom-claro e marrom-escuro. A postura por ninho é de 20,2 filhotes (±11,04 filhotes/ninho; N=31 ninhos). A
média é de 15 a 20 ovos de casca mole. O iaçá é menor do que o sobrevivência média foi de 76,6% (±23,5%; N = 24 ninhos). A menor
tracajá. Soini (1980) sugere que esta espécie desova quase sempre sobrevivência encontrada para essa espécie foi de 30%. A média de
em praias arenosas, geralmente próximo da água. A desova ocorre comprimento e de peso dos filhotes foi de 34,04 mm (±5,7 mm; N= 10
geralmente à noite. Em geral, os ovos de iaçá são pequenos e ninhos) e de 14,72 gramas (±2,75 gramas; N=10 ninhos),
compridos, com a casca mais clara, mais delgada e mais flexível. respectivamente.
Recomendação para a reprodução natural em cativeiro A razão sexual da pequena amostra dos ninhos de tracajá
depositados na praia do Abufari é desviada para a produção de
Os tanques ou represas em que ficam matrizes e fêmeas, com um percentual médio de 3,1% de machos (±8,8%; N=8).
reprodutores devem ter constante renovação de água, ser limpos A razão sexual dos filhotes de P. unifilis que nascem na Rebio Abufari
sem tocos ou vegetação, que dificulte a locomoção, e com não sofreu influência da profundidade do ninho (R2 = 0,122; n=6;
profundidade média de 2 m. Ainda não se sabe a razão sexual mais p=0,497). Os dados não são conclusivos, pelo pequeno tamanho da
adequada para a reprodução em cativeiro. Segundo o Dr. Richard amostra, tanto para definir o que a praia está produzindo em termos
Vogt/Inpa (informação pessoal), a proporção de machos e fêmeas de proporção sexual dos filhotes como no tocante aos fatores que
adultos também é variável na natureza, não podendo servir como influenciam no processo.
indicativo. Contudo, sabe-se que uma fêmea de tartaruga pode ser
coberta por vários machos, podendo apresentar ninhadas com Os ninhos dessa espécie apresentaram em média 4,1 ovos
filhotes de diferentes pais. Portanto, sugere-se uma proporção de sem desenvolvimento aparente (± 4,3 ovos, N = 19) e 4 ovos em
reprodutores e matrizes que varie de 1 macho:1 fêmea até 1 macho:5 putrefação (±4,3 ovos; N= 10 ninhos). A quantidade de filhotes
fêmeas. natimortos foi, em média, de dois indivíduos por ninho (±1,41 filhote,
N= 4 ninhos). Foi registrado um ninho com filhotes deformados e três
Em cativeiro, as praias artificiais para tartarugas devem ser ninhos com presença de larvas de dípteros.
feitas com areia fina ou média, ser colocadas à margem dos tanques e
barragens, ou ao centro, em forma de ilha (mais difícil manutenção e A taxa de eclosão de ovos de tracajá não foi influenciada nem
reposição da areia perdida pela movimentação da água e dos pela distância da vegetação (R2=0,215, N=11, p=0,150), nem pela
animais). A altura mínima deverá ser de um metro acima do nível da profundidade do ninho (Correlação de Spearman, coef. = 0,133; t =
água, entretanto, é preciso verificar até que altura a água do tanque 0,571; p = 0,575).
infiltra na areia. Deve haver uma faixa mínima de 30 cm isolando a
areia úmida do tabuleiro, separando-a do fundo do ninho. No caso da
382 153
Ecologia populacional que filhotes lançados no rio, por ocasião de grandes cheias, não
sofriam os ataques intensivos dos predadores habituais (Alfinito,
Abundância e densidade de quelônios nos ambientes da Rebio Vianna, Silva, 1976).
Durante todo o monitoramento da Rebio foram marcados Os adultos são de hábitos solitários. No entanto, durante a
1.259 quelônios, de diversas procedências, como captura na praia, temporada de reprodução tornam-se gregários em lugares
captura com redes de cerco e redes do tipo capa-saco e animais de tradicionais de desova para realizar a cópula e a desova (TCA, 1997).
apreensão. O número de tartarugas, iaçás e tracajás foi 524, 688 e
47 animais, respectivamente. Em 1994, Meri Ushiñahua Alvarez calculou um custo de US$
5,00 por cada filhote de P. unifilis produzido na comunidade
Redes de cerco são aparelhos de pesca bastante utilizados no ribeirinha de Manco Capac, na periferia da Reserva Nacional de
sistema de pesca ilegal e contrabando de quelônios na Rebio Abufari Pacaya-Samiria. Foram produzidos 2.197 filhotes e o manejo
durante a estação seca. Da mesma maneira, esse apetrecho é utilizado foi transplantar as ninhadas de um banco de areia
utilizado pela nossa equipe para captura, biometria, marcação e construído na comunidade, no qual foram incubados ninhos quase
soltura de tartarugas, tracajás e iaçás. Realizamos pesca naturais, escavados à mão. Para P. expansa o custo seria muito
experimental, com esse tipo de petrecho, em frente a praia do similar ao de P. unifilis. No Amazonas, o RAN-Ibama estimou o custo
Abufari e em trechos do Purus, logo acima e abaixo da praia, nos de produção de filhotes em áreas protegidas em torno de R$0,16-
meses de outubro, novembro e dezembro. Redes de cerco foram 0,21 por unidade (U$0,07), isto ocorre em função do volume da
utilizadas somente nesses meses por dois motivos: 1 – como medida produção de filhotes do estado e, em parte, devido ao trabalho
mitigadora dos impactos da pesquisa sobre o ciclo reprodutivo das voluntário de muitas comunidades.
tartarugas, iaçás e tracajás, pois nesses meses os animais já
desovaram e a possibilidade de provocar estresse nos animais O tracajá (P. unifilis) encontra-se distribuído por toda a bacia
durante o período reprodutivo é evitada; 2 – somente nesse período amazônica, sendo as fêmeas maiores do que os machos (que
do ano as populações de tartarugas, tracajás e iaçás estão possuem manchas amareladas na cabeça), possuindo em torno de 8
concentradas na calha principal do rio, quando são também alvo da kg e medindo cerca de 38 cm. Vivem em lagos, rios e igarapés e
pesca ilegal. desovam isoladamente em barrancos, em covas de,
aproximadamente, 30 cm de profundidade em que colocam, em
A captura média de quelônios com arrastos feitos com rede de média, 20-30 ovos (Soini, 1995). Supõe-se estar maduro
cerco foi de 35,9 indivíduos/pescaria/dia (±35,6 indivíduos), sendo, sexualmente após os 7 anos e, alimentam-se de frutas, sementes,
portanto, maior do que a CPUE média do capa-saco, que foi de 11,77 raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos, crustáceos e moluscos.
indivíduos/pescaria/dia (± 9, 20 indivíduos). Parecem ser mais rústicos do que as tartarugas, o que lhes confere
uma melhor adaptação ao cativeiro (Terán-Fachin, 1992).
154 381
Como camuflagem no momento da saída jogam areia nas Estrutura populacional
proximidades da cova (2 a 3 metros), iniciando, a partir de então, o
retorno ao rio, que é geralmente lento, fato que demonstra o cansaço Podocnemis expansa
pelo esforço despendido. A quantidade de ovos por cova varia de 40 a Das 524 tartarugas marcadas na Rebio Abufari, 67 eram
160, com média em torno de 100 (Cenaqua, 1994). As posturas machos e 457 eram fêmeas. Esta não é uma amostragem real da
situam-se em torno de 75 ovos por cova, com variação mínima de 54 proporção sexual dos animais, pois boa parte das fêmeas foi
e máxima de 136. Os ovos são lançados no fundo da cova, ao acaso, e capturada na praia, após a desova. O comprimento médio de machos
sobre eles descarrega grande quantidade de muco misturado com foi de 35,80 cm (±6,08 cm) e fêmeas de 56,34 cm (±19,57 cm; Figura
urina. Retornando à atividade, espalha bastante areia sobre a cova, 18). A menor fêmea mediu 55,10 cm, e a maior 82,50 cm. Os
com ágeis movimentos sobre as patas anteriores e posteriores, como tamanhos do menor e maior macho foram, respectivamente, de
também do plastrão (peito). A profundidade da cova oscila entre 44 e 14,09 e 49,20 cm. Machos capturados no estudo tinham, em
83 cm, sendo a média de 54 cm, podendo, naturalmente, variar média, comprimento de carapaça de 35,47 cm (±5,68 N= 46
esses limites. A concentração de covas nessas áreas, chamadas indivíduos). Machos apreendidos mediram em média 36,51 cm
tabuleiros, é, em média, de 4 a 7/m2 (Alfinito, 1980). (±6,96 cm; N= 21 indivíduos). O comprimento médio da carapaça de
A cova pode ser identificada pela areia molhada, extraída fêmeas capturadas foi de 62,80 cm (±14,57 cm; N=297) e de fêmeas
pelo animal, das partes mais profundas da cavidade, pelo rastro apreendidas foi 44,34 cm (±21,92 cm; N= 160).
deixado na areia, por ocasião da subida para a desova ou, ainda,
900
utilizando-se um estilete (varinha) que, introduzido na areia fofa,
penetre facilmente na cova (Pádua & Alho, 1982). 800
380 155
Tabela 3. Número de tartarugas (N), comprimento (média, desvio-padrão, mínimo e Segundo Alho & Pádua (1982), há uma sincronização entre a
máximo) capturado na Rebio Abufari.
vazante e o desencadeamento do comportamento de nidificação da
Ano Procedência Sexo N Média Desv. Pad. Min. Max
tartaruga-da-amazônia. O comportamento de nidificação só começa
1998 desovando fêmea 24 69,57 3,37 64,52 78,47
quando a água se estabiliza em seu nível mais baixo. A
imprevisibilidade dos níveis de água no Rio Trombetas, um
1999 apreendido fêmea 13 64,42 8,82 41,00 78,00
desovando fêmea 12 67,83 3,80 61,00 73,50 Após a seleção do sítio de postura, as tartarugas sobem à
praia, geralmente à noite, onde, após uma perambulação, escolhem
2002 rede de cerco fêmea 1 66,20 0,00 66,20 66,20 o local específico de desova, iniciando a abertura da cova,
capa-saco fêmea 4 45,63 17,26 30,00 70,30 alternadamente, jogando a areia para trás. Com movimentos do
capa-saco macho 3 38,40 3,29 34,60 40,30 corpo para a direita e para a esquerda, vão modelando aos poucos a
cova, encaixando a parte posterior no buraco e aumentando a ação
2003 rede de cerco fêmea 15 46,07 18,26 29,80 79,40
das patas traseiras. Preparada a câmara de postura, começam a
rede de cerco macho 15 36,94 2,75 32,60 42,10
deposição dos ovos. Nessa etapa, elas tornam-se quietas, realizando
capa-saco fêmea 8 24,60 2,46 22,50 30,00
movimentos estereotipados, podendo até serem tocadas sem que
2004 apreendido fêmea 53 21,96 16,46 5,51 69,00 haja reação. Terminada a postura, as tartarugas iniciam o processo
Apreendido macho 10 35,38 9,15 17,31 44,50 de fechamento da cova, utilizando as patas traseiras. A seguir,
rede de cerco macho 2 36,70 1,70 35,50 37,90 através de batidas com o plastrão, fazem a compactação da cova
capa-saco macho 1 39,40 0,00 39,40 39,40 (Alho, 1979).
Desovando Fêmea 19 72,03 3,42 66,00 78,50
156 379
A proporção sexual de animais apreendidos durante o
Capítulo 11: Manejo reprodutivo, predação e 2
período de enchente foi 0,769:1 ( = 0,3913, G.L.=1; p>0,05). Durante
sanidade o período de seca foi apreendido um total de 30 fêmeas de tartaruga e
2
nenhum macho ( = 30; G.L.=1; p<0,001). Na época da vazante foram
Paulo Cesar Machado Andrade apreendidos pelo Ibama 117 fêmeas e 11 machos de tartarugas, ou
2
João Alfredo Mota Duarte seja, uma proporção de 0,094:1 ( = 87,78, G.L.=1; p<0,001).
Maria Linda Flora de N. Benetton Portanto, entre os animais capturados na pesca ilegal, temos o
Raimunda Lenice da Silva
Francivane Fernandes predomínio de machos durante a enchente e de fêmeas quando o rio
José Ribamar da Silva Pinto está secando.
Agenor Vicente da Silva
Welton Oda A variação no incremento do peso de fêmeas adultas de P.
Anndson Brelaz expansa nidificando na praia do Abufari está relacionada
Wander Rodrigues positivamente com o incremento no comprimento da carapaça
2
(R =0,744; N=18; p=0,000; Peso fêmea = -83703,7+168,379
11.1 Manejo reprodutivo *comprimento). A análise discriminante utilizada confirma a
existência de dimorfismo sexual de tamanho na tartaruga ( = 80149;
As fêmeas de tartaruga têm condições de procriar entre 5 e 7 F (2,180)=22,291 p< 0,001), mas a mesma técnica não indica
anos de idade. No início do verão, geralmente, nos meses de diferença com relação ao peso.
setembro a novembro, machos e fêmeas sobem os rios em direção às
praias para reprodução, procedimento denominado “arribação”, em Comparando as regressões entre o comprimento da carapaça
que se aglomeram em frente às praias, observando o ambiente, e de machos e fêmeas de tartarugas e a sua massa corporal, observa-
passam algum período em processo chamado “assoalhamento”, que se que o valor da inclinação dessas retas parece ser diferente (Figura
é a agregação dos animais, em águas rasas, com subidas ocasionais 13), o que evidencia uma diferença também na forma ou no peso
na margem do tabuleiro (praia de desova) para exporem-se aos raios específico entre os sexos.
solares, para depois as fêmeas subirem às praias na busca do sítio
A razão sexual de indivíduos de P. expansa capturados com
ideal de postura, considerando condições de temperatura e umidade 2
redes de cerco foi 0,494:1; sendo, portanto, desviada para fêmeas ( =
(Cenaqua, 1994).
14,226; G.L.=1; p<0,001). Fêmeas também predominaram nas
A tartaruga-da-amazônia cumpre o determinismo biológico capturas realizadas com rede capa-saco, onde a razão sexual foi de
2
de retornar à mesma área de desova. A desova é única e anual. Após 0,462:1 ( = 5,158; G.L.=1; p<0,05).
longa jornada de viagem ao tabuleiro, o bando ou cardume
permanece alguns dias em completo repouso, na parte mais funda
do rio, denominada de poção ou boiadouro (Alfinito, 1980).
378 157
80000 Os animais que formaram o plantel de reprodutores e
70000
Female weight = matrizes deverão ser marcados com sistema codificado de furos na
371,8954*exp(0,0063*x)
carapaça e plaquetas metálicas rebitadas nas escamas caudais da
60000
carapaça. Cada plaqueta deverá conter um número de série
50000 identificador do animal e o número de registro do criador no Ibama.
40000
A B
30000
Weight (g)
20000
10000
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Podocnemis sextuberculata
E F
Foram marcados na Rebio Abufari 688 indivíduos de
Podocnemis sextuberculata, sendo 259 fêmeas e 429 machos. O
comprimento médio geral desses animais foi de 19,3 cm (± 3,6 cm).
O comprimento médio de fêmeas foi de 21,8 cm (±4,3cm) e o dos
machos 17,8 cm (±2,0 cm). Durante todo o estudo de marcação
Figura 21: Seleção de lote de 5 toneladas de quelônios para venda: a e
foram registradas fêmeas com comprimento de carapaça entre
b) captura dos animais; c) lançamento de quelônios até o caminhão; d e
10,8 cm e 35,1 cm e machos com variação entre 14,1 cm
e) carroceria dividida para separar animais de diferentes tamanhos; f)
Separação de animal doente.
158 377
Exemplo 2: Área alagada de 3,0 ha, considerando-se a seleção para e 22,5 cm. Os machos de P. sextuberculata apreendidos em
comercialização no terceiro ano (50% dos animais atingiram o peso acampamentos e embarcações dentro da Rebio mediram em média
de abate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do 16,6 cm (±22,0 cm; N=166 indivíduos). Machos capturados na nossa
terceiro ano. pesca experimental mediram em média 18,6 cm (±13,0 cm; N=260
indivíduos). O comprimento médio da carapaça de fêmeas
Item/Instalação 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano apreendidas e capturadas pela nossa equipe foi de, respectivamente,
Berçário I 3.500 4.000 4.500 - 19,6 cm (±4,1 cm; N=118) e 23,6 cm (±3,5 cm; N=236).
Berçário II / 3.400 3.900 4.400
Crescimento A razão sexual dos indivíduos de P. sextuberculata
Lago ou - - 350 750 1.200
barragem apreendidos nos vários acampamentos e embarcações de transporte
(Matrizes de cargas e passageiros dentro da Rebio Abufari durante o período de
/Reprodutores) enchente foi desviada em favor de machos (proporção sexual =
Barragem ou 3.050 5.500 6.225 2
tanque (animais 2,182:1; =19,314; G.L.=1; p<0,001). Durante o período de seca
para venda) foram apreendidas somente fêmeas (N=5). Na baixada das águas do
Mortos * 100 100 100 - - rio Purus, pescadores oriundos de comunidades ribeirinhas
Comercializados 1.050 3.225 3.657 próximas e de centros urbanos mais distantes, como Manacapuru,
TOTAL 3.400 7.400 10.650 7.425 3.768
vêm pescar clandestinamente para capturar centenas de animais
durante o período em que a água começa a correr dos lagos, do
c) Manejo dos animais por lote de tamanho ou peso, e seleção interior da Rebio para a calha principal do Purus. É o período em que
para venda o Ibama apreende um maior número de animais. Durante a vazante
de 2004, foram encontrados em um único acampamento 2.068
Se os animais não recebem a quantidade adequada de quelônios, sendo 1.156 machos e 681 fêmeas de P. sextuberculata,
alimento vai ocorrer uma grande heterogeneidade no tamanho dos 2
uma razão sexual de 1,697:1 ( = 128,2743; G.L.=1; p<0,001). Com
animais do plantel. Uns crescem muito e outros não crescem nada. base nesses dados, podemos inferir que a proporção sexual dos
Se esses animais são mantidos juntos, a tendência é aumentar essa indivíduos de P. sextuberculata capturados pela pesca ilegal é
diferença. Portanto, é adequado que, quando da seleção de animais desviada para machos.
para venda ou para o plantel de reprodutores, se aproveite a ocasião
O mesmo padrão foi observado nas pescarias experimentais,
para selecionar os animais pelo tamanho e colocá-los em tanques
onde foram capturados 248 machos e 84 fêmeas nas redes de cerco,
diferentes. Com isso, passamos a ter maior controle sobre o número 2
isto é, uma razão sexual de 2,952:1 ( = 81,012; G.L.=1; p<0,001). Ao
e o peso dos animais em cada instalação e podemos melhorar o
contrário do padrão encontrado nas capturas com redes de cerco,
controle no fornecimento adequado de alimentos. A Figura 21 nas capturas com redes do tipo capa-saco observamos que a razão
mostra como é o processo de captura de animais para venda e sexual dos animais capturados não difere da razão esperada de 0,5
seleção de lotes por tamanho e plantel reprodutivo. 2
(RS capa-saco = 0,586:1; ( = 3,13; G.L.=1; p>0,05).
O aumento no peso das fêmeas de P. sextuberculata que nidificaram
376 159
na praia do Abufari está correlacionado positivamente com o
incremento do comprimento da carapaça desses indivíduos
2
(R =0,896; N=50; p=0,000; Peso fêmea= - 4704,63+25,76 (Continuação) GASTOS COM RAÇÃO
*comprimento).
CUSTO COM RAÇÃO ANO 02 ANO 01 TOTAL
Também com o emprego de análise discriminante foi possível Nº DE ANIMAIS 3800 4712 8512
confirmar dimorfismo sexual de tamanho com fêmeas maiores para PESO (g) 1100 361 -
P. sextuberculata ( = Wilks' Lambda = 0,56317; F (2,373) =144,66; % BIOMASSA 0,03 0,05 -
p<0,0000; Tabela 13). Tanto a variável comprimento como a variável QUANT. ALIMENTO 125,40 85,05 210,45
peso foram diferentes entre os sexos. A regressão entre o CUSTO UNITÁRIO 1,15 1,15 -
CUSTO TOTAL DIÁRIO 144,21 97,81 242,02
comprimento da carapaça de machos e fêmeas de iaçá e a massa R$ R$ R$
corporal desses animais mostra que o valor da inclinação dessas CUSTO ANUAL 48.454,56 32.864,16 81.318,72
retas parece ser diferente.
CUSTO COM
A temperatura cloacal média de Podocnemis sextuberculata RAÇÃO ANO 03 ANO 02 ANO 01 TOTAL
foi de 29,3ºC (± 0,79ºC). A temperatura cloacal não sofreu influência Nº DE ANIMAIS 3800 4712 4712 13224
da temperatura do meio onde os animais foram capturados (R2 = PESO (g) 2250 1100 361 -
0,085; N= 28; p =0,407). % BIOMASSA 0,01 0,03 0,05 -
QUANT.
Podocnemis unifilis ALIMENTO 85,50 155,50 85,05 326,05
CUSTO UNITARIO 1,15 1,15 1,15 1,15
CUSTO TOTAL
Durante o estudo na Rebio foram marcados 47 tracajás,
DIÁRIO 98,32 178,82 97,81 374,95
sendo 41 fêmeas e 6 machos. O comprimento médio de todos os R$ R$ R$ R$
animais marcados foi de 36,2 cm (±5,4 cm). O comprimento médio CUSTO ANUAL 33.037,20 60.083,65 32.864,16 125.985,01
das fêmeas foi de 37,51 cm (±4,19 cm) e dos machos foi 27,28 cm
(±5,22 cm). A amplitude de tamanhos de machos e fêmeas foi de 14,2 OBS.: Sugerimos que a ração deverá ser ministrada apenas no Ano
cm e 18,9 cm, respectivamente. 01, como única fonte de alimento, sendo nos anos subseqüentes
complementada com outras culturas (macaxeira, folhas de
hortaliças, etc.), devido ao alto custo, para não se tornar inviável a
produção de quelônios.
160 375
b) Cronograma proposto para a evolução do plantel O tamanho médio dos machos capturados com redes de cerco e
capa-saco foi de 25,7 cm (±1,54 N= 4 indivíduos) e dos machos
Exemplo 1: Área alagada de 3,5 ha, considerando-se seleção para apreendidos 30,4 cm (±10,0 cm; N= 2 indivíduos). O comprimento
comercialização no quarto ano (65% dos animais atingiram o peso de médio de fêmeas capturadas nas redes é de 37,7 cm (±5,07 cm; N= 26
abate) e seleção das matrizes e reprodutores (10%) a partir do
terceiro ano. indivíduos) e das fêmeas apreendidas 37,2 cm (±2,0 cm; N=15). Com
a mesma técnica que analisamos as diferenças entre machos e
EVOLUÇÃO DO PLANTEL fêmeas de tartarugas e iaçás, também confirmamos as diferenças
ANO ANO ANO ANO ANO
INSTALAÇÃO 01 02 03 04 05 TOTAL
morfométricas entre machos e fêmeas de P. unifilis ( = 40311; F
B ERÇÁRIO 4000 5000 5000 0 0 0 (2,30)=22,211 p< 0,001), tanto para peso como comprimento. A
TANQU E D E regressão entre o comprimento da carapaça de machos e fêmeas de
CRESCIM EN TO 0 3000 4712 4712 0 0 tartarugas e a massa corporal desses animais mostra uma boa
TANQU E D E
ENGORDA 0 0 2400 5552 6361 6361 relação para fêmeas, mas não para machos, possivelmente, pelo
REPRODUÇÃO 0 0 1400 1400 1400 1400 número reduzido de machos para a realização adequada do teste
MORTOS 200 288 288 0 776 (Figura 14). A temperatura cloacal média de Podocnemis unifilis foi
VENDA 0 0 1560 3903 5463 de 29,4ºC (±0,7ºC). A temperatura média da água foi de 29,3ºC
TOTAL GERAL 3800 8512 13224 10104 3122 14000 (±0,3ºC), com uma variação pequena de 1ºC. Não foi constatada a
existência de relação entre a temperatura cloacal de tracajás com a
b.1) Projeção dos gastos com ração para o plantel do exemplo 1, temperatura da água (R²= ,0564; N=18; p=0,342).
considerando-se a taxa de 5% da biomassa para o arraçoamento no
14000
primeiro ano, de 3% do segundo ano e 1% do terceiro em diante.
12000
% BIOMASSA 0,05
6000
QUANT. ALIMENTO 68,59
CUSTO UNITÁRIO 1,15
W eight (g)
4000
CUSTO TOTAL DIÁRIO 79,01
CUSTO ANUAL R$26.547,36 2000
0
0 100 200 300 400 500
374 161
( fêmeas: r = 0,9486, p = 0,000; machos: r = 0,6814, p = 0,2053). Para a realização dos levantamentos qualitativos e
Pesca ilegal de quelônios quantitativos das áreas a serem manejadas será usada a
Mesmo com um monitoramento precário e insuficiente da Rebio metodologia determinada pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo
Abufari nos anos de 1999, 2000, 2001 e 2004, período no qual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
estiveram como chefes da UC os senhores Gabriel Marchioro, Renováveis, que definiu o manejo simplificado coletivo para facilitar,
Alexandre Kemenes e Jackson Pantoja Lima, respectivamente foram
como apoio técnico para os criadores de quelônios, observando as
apreendidos 6.406 quelônios em embarcações e acampamentos
dispersos pela floresta inundada, próximo aos maiores afluentes na normas da Vigilância Sanitária da legislação estadual.
Rebio Abufari. Do total de animais apreendidos, 5.647 (88,15%) A amostra-padrão é a de um tanque que apresente um
pertenciam à espécie P. sextuberculata, 635 (9,91%) a espécie P. ambiente de fácil observação e captura. O tamanho amostral vai
expansa e somente 124 (1,94%) pertenciam à espécie P. unifilis. Na depender da área e do plantel a ser explorado, e será variável
Figura 15 observamos a existência de um padrão estritamente
sazonal de apreensões, em 1999, que reflete a variação anual na conforme o tamanho da gleba do produtor (criador) a ser
atividade de pesca ilegal (P. unifilis não aparece na figura devido à inventariada.
baixa presença de indivíduos no total de apreensões). No período de Os animais serão distribuídos em tanques, de maneira a ter
vazante, ou seja, durante a descida das águas, a atividade fácil acesso no momento da captura, para posterior manejo,
clandestina dos pescadores de quelônios na Rebio Abufari se
intensifica. Em 2004, justamente em agosto, em um único análises e emplacamentos, sendo respeitados a quantidade para
acampamento, foram apreendidos 2.086 quelônios em currais de cada lote e o tipo de procedimento aplicado.
madeira na água (Figura 16). Deste montante, 2.020 animais Para a medição das amostras, será feita a captura no local de
pertenciam à espécie P. sextuberculata. criação, onde serão definidas as porcentagens de animais
distribuídos para os tanques, de acordo com a idade, peso, altura,
largura e comprimento para cada espécie.
Paralelamente, o modelo de projeto e inventário deverá realizar
observações quanto à maturação sexual dos animais, merecendo
especial atenção às espécies mais requisitadas no mercado
consumidor, para um melhor controle na reprodução e manutenção
do estoque natural. O material não identificado no local da captura
será coletado e posteriormente identificado em estudos de
laboratório.
162 373
alimentados, 50-65% dos animais atingiriam ou superariam esse
peso); seleção de 10% dos animais, acima de quatro anos, para
reprodutores e matrizes (em geral, os animais maiores são separados
e marcados com plaqueta metálica e rebite). 4000 2500
3500
2000
3000
2000
1000
1500
1000
500
500
0 0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
372 163
Movimentos migratórios
d) MARCAÇÃO, BIOMETRIA E CAPTURA DOS ANIMAIS
Durante o período de seca, grandes aglomerações de
tartarugas e iaçás são observadas na frente da praia do Abufari. Os Os animais acima de três anos, selecionados para
animais concentram-se em alguns locais mais profundos da calha reprodutores e matrizes, receberão uma plaqueta metálica na
do Purus, naquele trecho, denominados boiadouros. Alguns animais carapaça constando as iniciais do proprietário, o número de registro
também são avistados boiando em trechos a montante e a jusante da do criadouro, no Ibama, e o número do animal. A plaqueta será
praia (praia do Camaleão e praia do Bem-te-vi, respectivamente), presa por arrebites nas escamas caudais da carapaça.
dentro de um trecho de rio de 15 a 20 km. Baseado no padrão do ciclo Animais para venda receberão o lacre plástico específico,
de atividade de pesca ilegal e apreensão, assim como da natureza fornecido pelo Ibama, mediante solicitação do produtor, com pelo
dos artefatos de pesca utilizados nessa atividade, nos depoimentos menos um mês de antecedência. Hoje, o lacre custa R$1,10 a
colhidos durante esses anos e do nosso esforço de captura (que unidade (aproximadamente, U$0,35).
consideramos o ponto mais fraco da pesquisa até agora, pelo esforço
As biometrias serão realizadas bimestralmente em animais
de captura desigual tanto espacialmente quanto temporalmente),
até um ano, e semestral ou anualmente nos demais animais.
propomos a categorização do padrão sazonal de movimentos de Para a biometria os animais dos berçários serão capturados
quelônios aquáticos na Rebio Abufari da seguinte maneira: com puçás ou com malhadeira. Os animais da represa serão
1 – No início da vazante, os quelônios adultos movimentam-se em capturados com malhadeira após o seu esvaziamento, bem como
direção ao canal principal, deixando a planície de inundação, pelos construiremos uma “manga de cerca” (espécie de labirinto com
afluentes do rio Purus, como o rio Abufari e paraná do Chapéu, estacas ou tela) em alguns pontos da cerca, de forma que, ao
ambos conhecidos como principais rotas migratórias dos quelônios esvaziarmos a represa, caso os animais tentem fugir durante a noite,
do Abufari. Acompanhando o pulso de vazante do próprio ciclo acabam ficando presos nesse artifício.
hidrológico, animais adultos, principalmente indivíduos de P.
9.4.4 EVOLUÇÃO DO PLANTEL
expansa e P. sextuberculata, e em menor escala, P. unifilis, descem
para a calha principal e lá permanecem em locais mais profundos, Para efeito de planejamento do plantel, em um prazo de 5
aguardando a emersão dos bancos de areia que formarão as grandes anos, consideramos os seguintes aspectos: mortalidade em torno de
praias fluviais. 5% dos animais, no primeiro ano; comercialização de animais acima
de 1,5 kg (considera-se que a partir do terceiro ano, quando bem
2 – No final da vazante e durante o período em que o rio atinge seu
nível mais baixo, milhares de quelônios desovam no tabuleiro do
Abufari. Após a desova, os animais permanecem na calha principal e
aguardam a enchente para retornar para os locais de alimentação
nas restingas e chavascais, nas planícies de inundação.
164 371
A renovação de água na represa será feita conforme o fluxo de 3 – Migrações do rio para lagos e floresta inundada (Figura 29).
água do igarapé e a vazão do excedente por tubos de PVC de 4 Durante a enchente, os indivíduos que se encontravam no rio Purus,
polegadas ou monge situados na barragem. Para evitar que a água principalmente tartarugas e iaçás, migram em direção aos lagos do
se suje rapidamente os excedentes de alimento nos cochos serão complexo do rio Abufari (pontos 6 e 9) e lagos da região do Chapéu
(p1-lago do Ati, p2 – lago Comprido, p3 – lago Sacopema), através dos
removidos, diariamente, por volta das 17h.
paranás e também pela planície de inundação da Rebio, pois
Para evitar a fuga dos animais da represa serão construídas durante a enchente ela pode alcançar cerca de 30 a 40 quilômetros
cercas de estacas de madeira, com 50 cm acima do nível do solo. de largura. Uma proporção, provavelmente, sai dos limites da Rebio
Essas cercas não possuirão cantos (cantos arredondados) e terão os deslocando-se a montante e a jusante. Nessas áreas alagadas os
quelônios permanecem alimentando-se até o período de vazante e
mourões colocados pelo lado de fora. O controle de predadores na
seca para, então, reiniciarem os movimentos que antecedem a
represa será feito por um tratador que deverá residir próximo às
desova em um novo ciclo anual.
instalações, e poderá vigiar a criação dia e noite, evitando não só o
ataque de aves, jacarés e alguns mamíferos, mas o furto de animais. Os canais anteriormente mencionados são apontados por
Além disso, deve-se construir uma cerca de arame farpado de 1,80 moradores da região como as principais rotas migratórias dos
m ao redor de todo o criatório o que deverá dificultar ainda mais o quelônios da Rebio, e nelas, a pressão de pesca concentra-se
justamente durante o período de vazante. Nesses locais, o Ibama
furto. No caso específico de aves nos berçários (gaviões, garças etc.),
apreende anualmente grande quantidade de quelônios, como já
deve-se colocar uma rede ou fios de náilon para evitar o pouso de
demonstrado. O padrão de pesca ilegal, tanto em escala espacial
predadores no local.
como temporal, corrobora o modelo proposto.
c) PROFILAXIA E TRATAMENTO
A captura de grande quantidade de fêmeas adultas nos
Os berçários e a represa serão vistoriados diariamente em boiadouros, realizada entre os meses de novembro e dezembro, em
anos distintos, já no final da época de eclosão e emergência dos
busca de animais doentes ou mortos. Animais doentes serão
filhotes, comprova que as fêmeas permanecem próximas aos locais
isolados e submetidos à tratamento veterinário; animais
de reprodução, por vários meses, após desovarem. Nesse período, os
encontrados mortos serão necropsiados, imediatamente, pelo
canais de drenagem encontram-se ainda com nível bastante baixo e
técnico responsável. Não sendo possível, o animal será guardado em os lagos total ou parcialmente isolados. Constatamos esse período
freezer para posterior análise. de ausência de deslocamentos significativos em todos os anos
estudados, o que indica claramente a existência de um padrão.
A renovação da água dos berçários e da represa, o o
No lago Comprido (ponto 2- S5 18'01''/ W62 58'55''), nas coletas
periodicamente, também consiste em uma medida profilática para realizadas em novembro de 2001, período de enchente no rio
evitar o acúmulo de sujeira e a proliferação de microorganismos que principal, mas ainda de águas baixas nos lagos da região do Chapéu,
possam adquirir caráter patogênico. foram encontrados indivíduos jovens de Podocnemis expansa e
Podocnemis sextuberculata e adultos de Podocnemis unifilis (Figura
17).
370 165
Com base no esforço de captura foi possível observar que farpado ou tela de alambrado, para evitar predadores e furto de
tartarugas e iaçás marcados, que estavam migrando da planície de animais.
inundação da região do Chapéu, em agosto de 2004, foram 9.4.2 ANIMAIS: quantidade e aquisição
capturados por contrabandistas e depois apreendidos por fiscais do
Utiliza-se como base de cálculo um total de 4.000 animais
Ibama.
por hectare de espelho d'água, considerando-se a somatória das
áreas alagadas que, efetivamente, serão utilizadas na propriedade
para criar quelônios: lago ou barragem de reprodução (1,0-2,5 ha),
mais o tanque ou açude de crescimento e engorda (berçário II) e o
berçário I. O projeto deverá prever um total de 12.000 animais, para
3 ha de área alagada, a serem doados pelo Ibama em lotes anuais de
4.000 indivíduos, sempre que houver disponibilidade.
9.4.3 MANEJO
a) ALIMENTAÇÃO
166 369
terra firme similar à dos criadouros de Manaus) e do Abufari (clima Com o registro de apreensões de animais marcados no canal
similar aos dos criadouros de Manacapuru, margem do rio Solimões, do igarapé do Chapéu e rio Abufari e também próximo à comunidade
onde deságua o rio Purus). Beabá, podemos inferir que a migração durante o ciclo anual pode
atingir 100 km ou mais de extensão. Temos, ainda, depoimentos
9.4 Roteiro básico para o planejamento do manejo em indicando que pelo menos uma tartaruga marcada na Rebio (com
criadouros de quelônios furos codificados nas escamas marginais e etiquetas plásticas) foi
9.4.1 DESCRIÇÃO DA ÁREA E INSTALAÇÕES: capturada próximo à sede do município de Canutama, situada no
médio rio Purus (rio acima), cerca de 550 km de distância, via fluvial,
A área destinada à criação de quelônios deverá ser da Rebio Abufari. Nessa área, há um pequeno tabuleiro, onde, em
apresentada ao Ibama em croqui ou planta detalhada do criadouro. 1998, nidificaram cerca de 10 tartarugas. Também desovam
Recomenda-se que a propriedade possua um lago ou barragem de 1 anualmente no local entre 100 e 200 tracajás e iaçás.
a 2,5 ha, que será destinado a receber os animais após os dois anos,
matrizes e reprodutores. Essa área alagada poderá ser alimentada No Purus, observamos em mais de uma estação reprodutiva
por um igarapé com vazão média de 2 l/s, em área cercada por que tanto a tartaruga quanto o tracajá e o iaçá começaram a desovar
floresta equatorial de terra firme, mata de capoeira ou pastagens. As bem antes de o nível do rio atingir a sua cota mínima. Em outros
bordas da represa deverão ser inclinadas, em sua maior parte, com anos, quando as águas do Purus baixaram ainda mais lentamente, e
declives de até 30%. O tipo de solo ideal é o latossolo para reduzir o as praias não emergiram a tempo, as tartarugas nidificaram em
problema de perda de massa líquida, por infiltração, sendo que áreas de barranco, onde o solo é diferente do que ocorre nas alvas
poderá haver, próximo à barragem, manchas de podzóis com faixas praias de areia preferidas por essa espécie. Também houve anos em
de terreno arenoso que poderá ser utilizado para a formação de uma que as fêmeas das três espécies iniciaram a desova com o grande
praia artificial para desova. tabuleiro completamente exposto, pois o rio secou rapidamente.
Do ponto de vista de maximização das chances de sobrevivência dos
O berçário I para receber os filhotes de tartaruga doados pelo ninhos, as fêmeas esperarem o rio baixar completamente não faz
2
Ibama deverá medir aproximadamente de 60 a 100 m , para lotes de muito sentido, pois com isso, resta menos tempo para que os
4.000 animais. A cerca do berçário será de aproximadamente 50 cm embriões completem seu desenvolvimento, eclodam e abandonem o
de altura, feita em tela ondulada com malha de meia polegada, fio nº ninho antes que a subida das águas os atinja. Seguindo esse
12 ou com estacas de madeira. Recomenda-se que os animais no raciocínio, quanto antes desovarem, melhor, pois isso minimiza as
segundo ano de vida sejam transferidos para um segundo berçário, chances de que o ninho seja alagado pelo repiquete. As fêmeas
2
com 500 a 1.000 m para lotes de 4.000 animais, cercado por campos também necessitam, entretanto, de um tempo determinado para
de puerária, gramíneas nativas ou implantadas, capoeira, mata e que os ovos fecundados se desenvolvam completamente para que
fruteiras. Essa área receberá uma cerca de 1,80 m de altura total, possam ser depositados em uma cova. No ano em que as águas
com metade em estacas de madeira (0,5 m) e o restante com arame
368 167
baixam muito cedo, pode ser que a maior parte da população de
fêmeas da praia ainda não esteja completamente pronta para
desovar. Esse pode ter sido, na verdade, o caso particular observado,
naquele ano, por Alho e Pádua (1982). Além disso, se os animais
esperam o rio atingir sua cota mínima têm que percorrer uma
distância bem maior (no caso do Abufari, isso pode significar até 500
metros a mais), expondo-se aos predadores.
168 365
Através das figuras podemos observar que os animais (2003) demonstrou que em praias mais altas o período de
provenientes de Uatumã apresentaram uma ligeira tendência a um incubação é mais curto, indicando temperaturas mais elevadas. O
melhor crescimento e ganho de peso em relação às outras mesmo fator pode significar maior produção de fêmeas em praias
populações, porém, os animais do Abufari apresentam crescimento altas.
maior em relação aos animais de Rio Branco, o que confirma os
A variação na altura, entretanto, não explicou a variação entre
dados dos criadores que apresentaram resultados semelhantes nos
os ninhos em uma mesma praia, o que pode significar a existência
primeiros 12 meses de vida.
de um padrão realmente bem definido de desova nos locais mais
As Figuras 18 e 19 demonstram a comparação de altos, com pouca variação entre as fêmeas que utilizam uma mesma
crescimento de comprimento de carapaça (mm) e ganho diário de praia.
peso (g/dia) das três populações até os 16 meses de vida. Em P. expansa, a profundidade do ninho influenciou
negativamente na razão sexual, ou seja, maiores profundidades
produzindo uma baixa razão sexual, o que quer dizer uma maior
produção de fêmeas. Possivelmente, em maiores profundidades, a
Comparação de comprimento da carapaça (mm) de tartaruga
provenientes de diferentes populações temperatura seja mais elevada ou então se mantenha mais
constante, não sofrendo diretamente com as mudanças do ciclo
180 diário (noite e dia). Por outro lado, ninhos mais superficiais
160
deveriam estar experimentando temperaturas de incubação mais
140
120
elevadas, pelo menos durante as horas mais quentes do dia. Outra
Ccp (mm)
Figura 18: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de três A posição dos ninhos de quelônios aquáticos é fator crítico
diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa, para o seu sucesso quanto às principais causas de perda, a saber:
1999).
predação e alagamento. Ninhos de quelônios amazônicos são alvos
de diversas espécies de animais, incluindo insetos, répteis, aves e
mamíferos (Soini, 1995, Batistella, 2003, Félix-Silva et al., 2003).
364 169
tabuleiro, o que aumenta a perda por reescavação. Não se tem ao
certo um valor da quantidade de ovos de tartarugas que são perdidos Comprimento da carapaça (mm)
dessa forma, a cada ano, pois após dias e dias de desovas em grupo o
200
que temos nos tabuleiros são grandes aglomerados de ovos em que
150
Ccp (mm)
não há mais como individualizar os ninhos. Isso inviabiliza,
100
inclusive, a possibilidade de determinarmos com precisão o número
50 Abufari
de fêmeas de tartarugas que desovam nos grandes tabuleiros.
0 Rio
Também não podemos contar simplesmente os ovos que são
0 2 4 6 12 Branco
arrancados pois, certamente, muitos são danificados e rompidos, Uatumã
permanecendo enterrados. O material apodrecido no interior de um Idade ( m eses )
ninho atingido pode provocar a perda de ovos nesse ninho e em Figura 16: Comparação de comprimento de carapaça (mm) de três
ninhos adjacentes. diferentes populações de tartaruga (P.expansa) criadas em cativeiro (Costa &
Andrade, 1999).
Embora esse comportamento pareça ser desfavorável em
termos de produção de filhotes, seu significado adaptativo pode
Peso ( g )
estar relacionado com dois outros fatores: primeiro, após alguns
dias de intensa atividade escavatória, a areia do tabuleiro fica
800
completamente descompactada, facilitando a escavação e,
600
potencialmente, diminuindo o tempo de postura. Essa possibilidade
Peso (g)
poderia ser testada quantificando-se as durações das posturas em 400 Abufari
170 363
Com relação à Podocnemis expansa, considerando o L50 como
medida base para distinguir uma população de fêmeas adultas de
uma população de fêmeas imaturas, podemos dizer que, do total de
indivíduos observados, 25,8% da população são fêmeas adultas. Se
considerarmos o tamanho da menor fêmea marcada na praia,
desovando, podemos concluir que 66,2% das fêmeas capturadas
estavam maturas.
362 171
fêmeas, tanto para tracajá como para a tartaruga, e uma maior
proporção de machos para iaçá. Portanto, tanto os resultados da
análise da proporção de sexos na pesca experimental quanto das
apreensões estão de acordo. São diversos os fatores que podem
influenciar nesse resultado, como a taxa de mortalidade natural
diferenciada e também o impacto da pesca ilegal.
172 361
Tabela 7: Comparação entre o comprimento da carapaça (mm), peso com cerca de 350 animais mantidos em sacos e currais. Os
(g) e ganho diário de peso (g/dia) de duas populações diferentes de tartaruga pescadores são, em sua maioria, provenientes de Manacapuru,
em cativeiro (Abufari e Rio Branco). (Costa & Andrade, 1999). comprovando a forte pressão de pesca ilegal associada aos
movimentos migratórios que antecedem o início do período
C o m prim en to d a carapaç a (m m )
Po p 0 4 6 8 10 12 reprodutivo.
A bufa 5 6 ,7 6 6 ,1 ±5 6 7 ,2 ±5 7 8 ,7 ±7 8 5 ,0 8 9 ,4
ri ±2 ,5 ,2 ±9 ,1 ±1 1 ,4 Desde 1998 nossas atividades concentram-se
R io 5 2 ,7 6 9 ,8 7 4 ,9 6 8 ,9 8 6 ,9 9 2 ,2
B ran ±2 ,5 ±4 ,9 ±6 ,6 ±4 ,8 ±7 ,2 ±8 ,6
principalmente no período reprodutivo e num esforço concentrado
co na captura, biometria, marcação e soltura de tartarugas, iaçás e
Peso (g)
Po p 0 4 6 8 10 12
tracajás nas praias (após a desova), assim como nos boiadouros.
A bufa 3 4 ,5 4 9 ,2 9 0 ,5 ± 8 3 ,7 ± 1 1 0 ,2 ± 1 4 1 ,6 Dependendo do recurso disponível, também investimos na captura
ri ±4 .6 ±1 0 ,1 1 8 ,7 1 9 ,3 3 9 ,1 5 ±5 3 ,.4 de adultos, em outras épocas.
R io 2 4 ,6 4 5 ,6 7 1 ,5 6 3 ,8 8 6 ,9 8 1 0 8 ,4 ±
B ran ±2 ,4 ±7 ,3 ±1 4 ,7 ±8 ,3 ± 2 2 ,2 2 4 ,9
co Pudemos também contar com depoimentos de antigos
G an h o d e peso (g/d ia). moradores, nascidos na região e que continuam ali morando com
Po p 0 4 6 8 10 12 suas famílias, filhos e netos. Um deles, o sr. Julinho, morador da
A bufa 0 ,1 7 2 0 ,1 8 0 ,3 7 0 ,4 7 0 ,.4 8 comunidade do Bem-Te-Vi, já trabalhou na praia como vigia durante
ri
R io 0 ,0 8 4 0 .1 9 0 ,0 4 0 ,1 0 9 0 ,5 3
doze anos, no período em que ela era de propriedade do seringalista
B ran c Abdom Said. Esse chefe local não permitia que se interferisse na
o
desova dos animais, mantendo proteção ostensiva e, eventualmente,
As Figuras de 13 a 15 mostram a comparação de duas comercializando certa quantidade de fêmeas adultas com os
batelões aviadores. Julinho conta que, após o fim da atividade
populações de tartarugas (Podocnemis expansa) de 0 a 12 meses em
seringueira, a proteção do grande tabuleiro do Abufari passou a ser
que os animais provenientes do Abufari demonstram em geral
realizada pela comunidade que levava o mesmo nome, situada no
valores maiores de peso e ganho de peso em relação aos animais
canal de drenagem de lagos internos, em frente à parte superior do
provenientes de Rio Branco-RR, sendo que os de Rio Branco têm
banco de areia e que também recebia este nome, Abufari. A
maior carapaça. Isso indica, provavelmente, maior rendimento de
comunidade foi retirada na ocasião da criação da unidade de
carcaça dos animais provenientes do Abufari.
conservação.
360 173
aquáticos, nesse trecho do Purus, nos foi dado por um ex-morador 9.3.2 Avaliação do desempenho em função da população de
da comunidade Abufari, extinta com a criação da Rebio, como já origem do plantel
dito, o sr. Dudu Mangabeira, morador da atual comunidade
Fazenda. O sr. Dudu chegou a esboçar, em um desenho, um mapa
Os primeiros criadores de quelônios do Amazonas
cognitivo com a rota migratória realizada anualmente pelos
recebiam filhotes de tartaruga oriundos do tabuleiro do Abufari,
quelônios aquáticos para dentro e para fora do sistema de lagos,
utilizando os três canais principais também já mencionados. Médio rio Purus. Em 1999, essa prática foi abolida pela Câmara
Multiinstitucional de Fauna, do Ibama-AM, justamente por
Existem evidências consistentes de que pelo menos P. estar, aquele tabuleiro, em área de reserva biológica e que,
expansa é capaz de realizar longas migrações após a desova. O mais portanto, pela lei, deveria ficar intocado. Então, os
provável é que tenhamos uma boa parcela dessa população queloniocultores do estado passaram a receber filhotes do rio
migrando para o sistema de lagos que se encontram dentro dos Juruá (tabuleiros do Walter Buri, Joanico) e do rio Branco
limites da Rebio Abufari, e outra que migre pelo Purus a jusante e (afluente do rio Negro), dos tabuleiros de Sororoca, Caracaraí,
ainda outra que sobe rio acima. Sobre o caso acima relatado, de um Roraima, sendo transportados de avião e caminhão.
animal marcado na Rebio e recapturado em Canutama, centenas de
quilômetros a montante, e considerando que marcamos animais Já a partir de janeiro de 1998, os criadores
desde 1999 e a extensão percorrida, podemos levantar a acompanhados pelo projeto Diagnóstico receberam animais
possibilidade da existência de fluxos de dispersão não provenientes de Rio Branco-RR, o que nos permitiu avaliá-los
necessariamente relacionados com o pulso anual de migração entre confrontando com os dados de animais recebidos anteriormente
áreas de reprodução e alimentação, acima descritas. Uma parcela (novembro de 1997), provenientes da Reserva Biológica do
da população pode estar simplesmente se dispersando. Abufari, município de Tapauá-AM. A Tabela 7 compara os
valores de comprimento de carapaça (mm), peso (g) e ganho
Considerações gerais
diário de peso (g/dia) das duas populações de tartarugas criadas
É fundamental que se continue a monitorar anualmente os em cativeiros.
tabuleiros. Em primeiro lugar, a variação climática anual pode
provocar, como já discutido, profundas mudanças nas taxas de
sobrevivência, na razão sexual dos filhotes e na proporção de ninhos
atingida pelo repiquete do rio. A continuação desse trabalho
possibilitará uma melhor compreensão desses fenômenos, suas
variações anuais e a potencialidade dos diversos fatores
influenciando a reprodução dos quelônios amazônicos. Além disso,
como avaliação do status populacional, a continuidade das atividades
permitirá que analisemos as tendências das populações.
174 359
Agradecimentos
Ganho diário de peso ( g )
0,4
Monjeló, coordenador do Projeto de Diagnóstico da Criação de
0,3
Animais Silvestres. Somos muito gratos ao Ibama pelo apoio
0,2
logístico e de licenciamento da pesquisa. Agradecemos ao senhor
0,1
Júlio Ferreira e seus filhos, pelo suporte em campo.
0 Tartaruga
4 6 14
Tracajá
Idade ( meses )
Iaçá
0,6
0,5
0,4
GDP % PV ( g )
0,3
0,2
0,1
0
4 6 14 Tartaruga
Tracajá
Idade ( meses ) Iaçá
358 175
A conversão alimentar verificada na Tabela 6 para tartaruga,
Capítulo 5:Genética Molecular das Populações
provavelmente, ocorreu em condições de dificuldade em adquirir o
das Espécies de Quelônios do Gênero tipo de alimento, a mudança ou diminuição da quantidade de
Podocnemis da Amazônia: Resultados alimentação fornecida, a falta de solários, ou de um número
Preliminares pequeno, para os animais exporem-se ao sol, em função do número
de animais na instalação, a falta de acompanhamento técnico em
alguns criadouros durante a realização deste trabalho, o horário
Maria das Neves Silva Viana
inapropriado de fornecimento da alimentação, para aproveitar o
Izeni Pires Farias
horário de 10:00 às 15:00 horas, a variação no tipo de alimentação,
2
Rafaela Cardoso dos Santos consórcio com peixes, o efeito do El Niño, etc.
Maria Iracilda Sampaio
2
Para avaliar o desempenho de três diferentes espécies de
Luiz Alberto dos Santos Monjeló
quelônios: tartaruga, tracajá e iaçá, criadas em cativeiro, foram
realizadas biometrias bimestrais de 360 animais entre 4 e 14 meses
INTRODUÇÃO de idade, alojados em gaiolas experimentais tipo tanque-rede, de um
metro cúbico, com densidade de 25 animais/baia.
Os quelônios são os mais antigos répteis existentes.
Surgiram na era dos répteis, há milhões de anos, sendo de linhagem As Figuras 11 e 12 mostram a comparação entre as três
mais antiga do que os dinossauros fósseis. De um modo geral, são espécies analisadas, relacionando-se ganho médio diário de peso
encontrados em locais diversos como lagos, rios, açudes, mares,
(g/dia) e ganho de peso em percentual de peso vivo. De acordo com
pântanos, desertos e florestas. Existem espécies adaptadas para
viverem exclusivamente em terra, enquanto outras passam a vida as figuras, observa-se que a tartaruga tem maior ganho diário de
toda nas águas dos rios ou mares. O tamanho do corpo é variável de peso do que o tracajá e o iaçá, porém, o ganho de peso em percentual
acordo com as espécies, encontrando-se formas de dois a três
do peso vivo é relativo, de acordo com a idade. Esse é um fato de
metros de comprimento e também pequenas formas que atingem de
sete a doze centímetros. grande importância e que deve ser levado em consideração para
quem deseja uma criação comercial desses quelônios, já que se
deseja que a espécie tenha crescimento e ganho de peso mais
precoce.
176 357
9.3.2. Avaliação do desempenho de três espécies de quelônios: Estudiosos citam que esses répteis têm vida mais longa que
tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá (P. unifilis) e iaçá (P. qualquer outro vertebrado, podendo, as espécies terrestres, viver
sextuberculata), criadas em cativeiro. mais de cem anos. No entanto, a maior parte do desenvolvimento
biológico desses animais só ocorre durante os primeiros 5 a 10 anos
A Tabela 6 compara a tartaruga (Podocnemis expansa de existência e, segundo pesquisas, a maturidade sexual só
Schweigger, 1812), o tracajá (P. unifilis Trochel, 1848) e o iaçá (ou acontece aproximadamente aos sete anos, para os machos, e 11 a 15
pitiú) (P. sextuberculata Cornalia, 1849) em cativeiro. De acordo anos para as fêmeas. Muitas espécies de quelônios estão em vias de
com os dados, observa-se que a tartaruga tem maior peso, ao extinção, conseqüência da perseguição desmedida do homem que
nascer, do que o tracajá, porém, o ganho de peso por dia e o ganho de destrói os ovos e pratica a caça predatória na época de reprodução,
além de promover a destruição do habitat desses animais.
peso por porcentagem do peso vivo é maior no tracajá. Esse é um fato
de grande importância e que deve ser levado em consideração pelos Família Pelomedusidae
criadores, já que se deseja que a espécie tenha crescimento e ganho
de peso mais rápido. O iaçá tem valores inferiores em relação às Os representantes da família Pelomedusidae são
outras duas espécies. O tracajá tem reproduzido eficientemente, em denominados de "tartarugas de cabeça escondida" porque recolhem
cativeiro, em alguns criadouros visitados. a cabeça dobrando-a lateralmente. Em muitos aspectos, esse
procedimento é considerado como mais primitivo e menos eficaz
Avaliação de três espécies de quelônios em cativeiro. para a defesa. Essa família é caracterizada pelo pescoço
lateralmente retrátil, apresenta especializações vertebrais
Espécies / Podocnemis P. expansa P.
Parâmetros unifilis sextuber associadas, 13 escudos plastrais, pélvis fundida tanto à carapaça
culata quanto ao plastrão, a mandíbula é forte e tem a área articular
convexa (Pritchard & Trebbau, 1984).
Peso ao 13,27 ± 1,42 g 18,22 a 23,13 15,36 ±
nascer 2,05 g São encontradas nas águas da África, Austrália e América
GDP (g) 0,59 0,24 a 0,87 0,04
do Sul, existindo três tipos distintos: pelomedusa africana, que dá
GDP (% do 2,9 0,42 0,25
P.V.)
nome à família; pelúsia, encontrada facilmente na África como
Taxa de 83,15 ± 11,06 - - animal doméstico; e Podocnemis, encontrada nos rios da América do
eclosão em % Sul e de Madagascar. A razão dessa distribuição geográfica do
cativeiro gênero Podocnemis parece ter como causa a dispersão ampla das
Ovos por 21,0 ± 6,0 - -
formas de seus antepassados, que se acredita terem sido animais
cova
Consumo - 2meses 12 meses - marinhos, de mares pouco profundos.
aparente (g)
PV¹ 1,7 PV¹ 4,7 Na América do Sul, encontramos seis espécies do gênero
PA² 3,6 PA² 15 Podocnemis: Podocnemis vogli, P. lewyana, P. expansa, P. unifilis, P.
-Conversão - PA² PV¹ - sextuberculata e P. erythrocephala; sendo as quatro últimas
alimentar 15:1 14:1 encontradas no Brasil.
1- PV = Proteína vegetal; 2 - PA = Proteína animal (Duarte, 1998).
356 177
Podocnemis expansa Schweigger, 1812 que os jovens apresentam manchas amarelas na cabeça, com o
macho tendo a cauda comprida e a fêmea a cauda curta.
Podocnemis expansa (Figura 1), no Brasil e na Bolívia é
conhecida popularmente como tartaruga-gigante-da-amazônia; A avaliação do desempenho de machos e fêmeas de
arrau (Venezuela); charapa (Equador, Colômbia e Peru); chapanera, tartaruga em cativeiro foi feita através da análise dos dados obtidos
sumarita (oriente da Colômbia). É o maior quelônio de água doce através de biometrias bimestrais em animais com idade de seis
encontrado na América do Sul. meses, criadouros comerciais de quelônios legalizados no
Amazonas, durante os três primeiros anos de vida. Os animais eram
Apresenta uma ampla distribuição na Amazônia que se submetidos a diferentes tipos de alimento e densidades de cultivo.
estende desde a desembocadura do rio Amazonas até pelo menos o
rio Morona e rio Marañón, Peru. Sua distribuição inclui também o rio Em relação ao ganho diário de peso de machos e fêmeas, na
Orinoco e rio Essequibo (Pritchard & Trebbau, 1984). Está presente análise geral dos dados de criadores não foi encontrada diferença
nos seguintes, países: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guianas, estatística significativa (machos = 0,94 ± 0,82 g/dia; fêmeas = GDP
Peru e Venezuela. É estritamente aquática e só sai da água para = 0,89 ± 0,77 g/dia), ao nível de 5% pelo teste t não pareado e pelo
realizar a desova. Habita os rios, lagos, pântanos, ilhas e bosques LSMEANS do SAS, durante os dois primeiros anos de vida.
inundados. Durante a estiagem dos rios, as populações encontram-
Tabela 5: Ganho diário de peso (g/dia) em machos e fêmeas de tartaruga (P.
se confinadas nos leitos dos rios e lagos relativamente profundos.
expansa), considerando o tipo de alimento fornecido.
Durante a subida das águas se dispersam pelas extensas áreas
Alim entação Machos (g/dia) Fêm eas (g/dia)
inundadas que rodeiam os rios e outros corpos permanentes de Peixe 0,534 0,536
água. Vísceras bovinas 1,284 1,130
Peixe+puerária 1,032 0,966
Restos de feira 0,925 0,921
(verduras, frutas e
tubérculos)
Ração balanceada 0,877 0,995
Média 0,93±0,27 0,91±0,22
178 355
Andrade et al. (2001), criando tracajás (P. unifilis) em gaiolas
nos lagos de várzea do Macuricanã, Nhamundá/AM, em uma
2
densidade de 22 animais/m , obtiveram um ganho de peso de 3,8
g/dia nos três primeiros meses de vida.
354 179
Podocnemis unifilis Troschel, 1848 As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças
Podocnemis unifilis (Figura 2), conhecida popularmente como significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do
tracajá, possui a carapaça cinza-escuro quando molhada. Apresenta as LSMEANS/SAS, para o fator densidade.
patas curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de
pequeno tamanho em relação ao corpo. Os olhos, bastante juntos, são Efeitos da densidade sobre o ganho diário de peso de
separados por um sulco. A fêmea adulta pesa em torno de oito quilos e tartarugas (P. expansa ) criadas em cativeiro
mede cerca de 38 cm. É uma tartaruga essencialmente aquática. 2,5
Pritchard & Trebbau (1984) e Iverson (1992) citam que essa espécie 2
GDP (g/dia)
pode ser encontrada nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco e seus
1,5
afluentes, no norte da América do Sul, sendo considerada generalista.
Ocorre em rios de água preta, clara e branca, bem como em lagos e 1
reservatórios. 0,5
0 12
6 8 13 16
25
Idade (meses) 37
Instalação \ 12 25 37 Médias
Densidade anim ais/ anim ais/ anim ais/
de cultivo m2 m2 m2
Estufa 1,2±0,60 1,19±0,41 1,31±0,41 1,25±0,47
Ar livre 1,1±0,47 1,24±0,20 1,13±0,20 1,18±0,29
Médias 1,2±0,53 1,22±0,30 1,22±0,30
Como não houve diferença significativa entre as densidades,
Figura 2: Exemplar de P. unifilis. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.)
devemos utilizar a maior, a fim de reduzir custos com instalações.
180 353
resultados podem ser observados na Tabela 3 e Figuras 9 e 10). Essa é considerada a segunda espécie mais consumida na
Logo, a densidade apresenta uma tendência para um região amazônica, parecendo possuir melhor adaptação em
comportamento quadrático, embora não tenhamos aplicado a cativeiro, por ser mais generalista que P. expansa. A fêmea do
regressão em função da não significância do teste F. tracajá procura desovar isoladamente em barrancos às margens dos
rios e lagos, geralmente antes das enchentes. As covas são de
Tabela 3: Efeito da densidade de cultivo sobre o ganho diário de peso (g/dia) de aproximadamente 30 cm de profundidade, apresentando uma
tartarugas (P. expansa) criadas em cativeiro (Costa, 1999). média de 20 ovos por ninho. Estudos em cativeiro demonstram que o
D en sidade de 6 m eses 8 m eses 13 m eses 16 número de ovos, por ninho, pode variar de nove a quarenta, com
cultivo/idade (g/dia) (g/dia) (g/dia) m eses uma média de 28,8 ovos. O período de incubação vai de 101 a 136
12 in d/m 2 0,389 1,136 2,484 1,205 dias.
25 in d/m 2 0,441 1,141 2,246 1,221
37 in d/m 2 0,333 0,976 2,231 1,219
Podocnemis sextuberculata Cornalia, 1849
352 181
Hernandez et al. (1999), na Venezuela, onde testaram para filhotes
Fonte: Turtle of the World
de tartaruga densidades de 10, 25, 50 e 75 animais/m². Verificaram
que no primeiro ano, por possuírem hábito gregário e se sentirem
mais seguros em grupo, desde que haja água limpa e em quantidade
adequada e boa alimentação, suportam grandes densidades de
cultivo, apresentando melhor desempenho com 75 filhotes/m².
182 351
Portal & Silva (1996), em experimento realizado no Amapá, testaram torno de 27 cm e os machos são menores ainda), a coloração
três densidades de cultivo (10, 20 e 30 animais/m²) para filhotes de vai do marrom-escuro ao preto, a carapaça é expandida na porção
tartaruga, dos 8 aos 14 meses, que receberam dois tipos de alimento: posterior; apresenta um par de barbelos embaixo do queixo e uma
ração de 25% PB e 2.400 kcal e verduras (couve, Brassica oleracea; faixa vermelha brilhante que se estende da parte de trás da cabeça
alface, Lactuca sativa; repolho, B. oleracea capitata; e cariru, até os tímpanos.
Vários autores, incluindo Williams (1954a) e Wermuth & Mertens
Amaranthus sp.) com frutas (mamão, Carica papaya; e goiaba,
(1961), citam que P. erythrocephala ocupa uma grande área ao norte
Psidium guayava). O ganho de peso em 6 meses foi maior para
da América do Sul, contudo, Mittermeier & Wilson (1974) relatam
animais alimentados com ração na menor densidade (Densidade
que as amostras com informações de procedências seguras foram
10=73,5 g/6 meses; densidade 20=67,6 g/6 meses; densidade
todas coletadas no sistema do rio Negro. É quase completamente
30=59,7g/6 meses), provavelmente, pelo acúmulo de excretas
confinada a rios de água preta e a maioria dos exemplares
nitrogenadas em instalações com densidades maiores. Em animais conhecidos é proveniente do rio Negro, o maior tributário de água
alimentados com verduras e frutas, o melhor desempenho foi com a doce do Amazonas. Dentro do sistema do rio Negro, a espécie mostra
densidade de 30 animais/m² (densidade 10=24,04 g/6 meses; preferência por pequenos lagos de água preta e seus afluentes,
densidade 20=21,51 g/6 meses; densidade 30=33,16 g/6 meses). sendo raramente encontrados no leito principal do rio (Mittermeier
& Wilson, 1974).
2
Figura 8: Berçário com cerca de madeira medindo 16 m , para 1.000 animais
2
(densidade=62,5 tartarugas/m ), em margem de tanque escavado e com solário.
Instalação simples e animais com excelente desempenho. Manacapuru/AM (Duarte,
1998).
Analisando os dados obtidos encontrou-se a mesma
tendência de maiores ganhos de peso em criadores com uma
densidade no berçário entre 65-100 animais/m². O menor ganho
diário de peso de 0,034 g/dia, foi obtido com uma densidade acima
de 100 animais/m², representando 10% dos criadouros. Figura 4: Exemplar de P. erythrocephala..
Esses resultados foram similares aos encontrados por
350 183
Essa espécie coloca seus ovos no período que vai do final do tartarugas, não sendo recomendado o consórcio pelo fato de que não
mês de agosto até o início de novembro, nas praias do rio Negro, se sabe qual seria a influência no crescimento em peso da tartaruga
sendo que o pico da estação de postura, aparentemente, ocorre entre da criação junto com peixe, e vice-versa, em um mesmo ambiente
setembro e outubro. O número de ovos varia de 5 a 14 e a postura aquático, e também por não haver mecanismos eficientes para
ocorre geralmente à noite, na areia, em áreas chamadas de separar a alimentação de ambos em consórcio.
campinas. Os ovos são brancos e alongados podendo apresentar a
Figura 7: Berçário com cerca de madeira medindo 800
casca dura ou levemente flexível. Apesar dessa espécie não ter muita
importância na economia, é intensamente caçada na região do rio
Negro para consumo de sua carne e seus ovos. A captura é feita por
arpão e linha de pescar e as fêmeas também são capturadas nos
locais de desova.
184 349
Com os dados obtidos através dos questionários feitos aos naturais é necessária para revelar a quantidade de variabilidade
criadores, ou técnicos de cada propriedade, foi possível avaliar os genética potencial de uma população.
criadores quanto ao tamanho das propriedades, instalações
Marcadores moleculares
(barragens ou represas e berçários), número de animais de cada
criadouro e, conseqüentemente, da densidade de cultivo utilizada Marcador molecular pode ser definido como toda e qualquer
por cada um deles, com a determinação da melhor. característica molecular proveniente de uma seqüência do DNA
(Ferreira & Grattapaglia, 1995). Quando seu comportamento quanto
à segregação segue os padrões mendelianos de herança, o marcador
é definido como "marcador genético". Quando usamos marcadores
genéticos estamos tentando estimar o número de modificações
(mutações) na seqüência de pares de bases que constituem o DNA
dos indivíduos.
348 185
Características particulares como a herança, geralmente A densidade de cultivo está relacionada às diversas variáveis
materna, ausência de recombinação (não há participação do de cada sistema de criação (tipo de alimento, instalação, taxa de
material genético do pai) e as altas taxas de variação, quando renovação da água, etc.), sendo que o desempenho dos animais,
comparadas com o material genético que se encontra no núcleo da para uma determinada densidade, poderá ser melhor ou pior,
célula, fazem do DNA mitocondrial uma ferramenta muito dependendo do criadouro. Para o Amazonas, como veremos a seguir,
importante no estudo das relações evolutivas entre indivíduos, esses valores de taxa de lotação são baixos, podendo a criação ser
espécies e populações (Avise, 1994). mais intensificada, com mais tartarugas/m2.
JUSTIFICATIVA
186 347
O projeto “Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres do
recebiam, para iniciar sua criação, matrizes e reprodutores de
Estado do Amazonas” PTU/CNPq reúne uma equipe
tartarugas e tracajás. Esses animais deveriam se reproduzir em
multidisciplinar e interinstitucional da Ufam/Ibama, que visa à
cativeiro e os seus filhotes seriam engordados e vendidos. Em
conservação e um possível manejo auto-sustentável, de algumas
função do desaparecimento dos animais adultos doados e da
espécies silvestres do Amazonas, incluindo as espécies P. expansa
inviabilidade econômica de projetos com esse sistema de criação
(tartaruga-da-amazônia), P. unifilis (tracajá), P. sextuberculata
(tempo demasiadamente longo para os quelônios se acostumar ao
(iaçá) e P. erythrocephala (irapuca).
cativeiro, se reproduzir e seus filhotes atingir peso mínimo de abate
de 12 kg), esse tipo de criação foi substituído pelo de recria de Este trabalho dará suporte ao projeto “Diagnóstico da
filhotes, estabelecido pela Portaria nº 133 de 5 de maio de 1988 Criação de Animais Silvestres do Estado do Amazonas”,
(substituída em 1992 pela Portaria nº 142). proporcionando informações sobre o nível de variabilidade e
características da estrutura genética de populações locais das
A Portaria nº 133/88 trazia, além da novidade da recria de
espécies do gênero Podocnemis, contribuindo para estudos
filhotes, normas técnicas para sua criação, de acordo com a idade do
posteriores relacionados ao impacto de manejo, reprodução tanto na
animal:
natureza como em cativeiro e outras informações que permitirão um
a) Filhotes de 0 a 2 anos: deveriam ser criados isolados de outros planejamento adequado em programas de melhoramento genético
animais (sem consórcio), em berçários de, no mínimo, um metro de em criadouros.
profundidade, com renovação constante de água, com áreas de sol e
sombra, pequena praia de areia (1/3 da área) e proteção contra OBJETIVOS
predadores. As densidades foram estipuladas em 5 animais/m2, no
primeiro ano, e 2,5 animais/m2, no segundo ano. OBJETIVO GERAL
b) Jovens e adultos: para efeito de cálculo da lotação dos tanques e O objetivo deste trabalho foi identificar unidades de
barragens, considerava-se como exigência mínima 5,2 m2 de conservação e manejo de quatro espécies de tartarugas da Amazônia
superfície de água/animal, com profundidade média superior a 2 (P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata e P. erythrocephala)
através do marcador molecular de DNA mitocondrial, para que os
metros. Como volume mínimo por animal, prescrevia-se 15,81 m3.
resultados provenientes deste estudo possam dar suporte a
Só se considerava profundidade média entre 2 e 3 metros, sendo que
programas de manejo na natureza e aos criadores.
o excedente a 3 metros era desconsiderado. A fórmula proposta por
aquela portaria para o cálculo da taxa de lotação máxima
consentida era:
LMC= (superfície x profundidade média)/15,81
346 187
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 9.2 Densidade de cultivo
Ø Caracterizar e analisar o grau de variação genética encontrada A densidade e o tipo de alimento fornecido aos quelônios são
dentro das populações naturais de quatro espécies de tartarugas fatores limitantes. Um grande número de animais em uma pequena
do gênero Podocnemis: P. expansa, P. unifilis, P. sextuberculata
área diminui a taxa de crescimento e o ganho de peso. O número de
e P. erythrocephala.
Ø Determinar se os h indivíduos distribuídos por unidade de área pode influenciar no
aplótipos do DNA mitocondrial estão associados com a distribuição crescimento dos animais em cativeiro.
geográfica.
Nos quelônios, um grande número de animais em uma área
Ø Verificar a ocorrência de estrutura populacional das diferentes considerada pequena pode levá-los à competição por alimento,
espécies usando a região controle do DNA mitocondrial.
espaço, abrigo, entre outros, o que pode promover um estresse nos
METODOLOGIA animais, levando-os a uma redução na taxa de crescimento e ganho
OBTENÇÃO DE AMOSTRAS DE SANGUE E EXTRAÇÃO DO DNA de peso (Figura 5).
188 345
De acordo com os resultados obtidos, pode-se observar que
não houve diferença significativa no crescimento dos animais em
relação à quantidade de adubo adicionada, porém, foi possível notar
3
uma tendência para que a adição de 14,75 kg de esterco fresco/m
proporcione um melhor desenvolvimento dos animais (Peso aos 9
3
meses de idades: 0 kg de esterco fresco/m = 80,99 15,05g; 7,37 kg
3 3
de esterco fresco/m = 80,89 15,52g; 14,75 kg de esterco fresco/m
3
= 83,17 19,76g; 22,12 kg de esterco fresco/m = 78,02 18,03g).
344 189
cladograma de haplótipos foi utilizado o programa TCS (Clemente et Altura da tartaruga (Podocnemis expansa) 0kgde
al., 2000). As análises populacionais foram realizadas através do 40 esterco/m3
a lt u ra (m m )
programa Arlequin (Schneider et al., 2000). 30 7,37kgde
20 esterco/m3
RESULTADOS E DISCUSSÃO 10
14,75kgde
esterco/m3
0
Quanto às localidades, as quatro espécies apresentaram 0 5 7 9
22,12kgde
esterco/m3
uma amostragem diferenciada. Para P. erythrocephala foram idade (meses)
amostrados indivíduos das localidades de Jaú (6), Barcelos (5),
Oriximiná (8) e Terra Santa (7); para P. unifilis foram coletados Figura 2: Efeitos da adubação na altura (mm) de tartaruga (P. expansa) em
indivíduos de Itamarati (3), Manicoré (4), Terra Santa (7), Oriximiná cativeiro.
e Jarauacá (8); para P. sextuberculata as localidades foram Abufari
Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa)
(2), Manicoré (4), Terra Santa (7) e Oriximiná (8); e para P. expansa 120 0 kg de
foram amostrados indivíduos de Uatumã (1), Abufari (2) e Terra 100 esterco/m3
Santa (7). 7,37 kg de
peso (g)
80
60 esterco/m3
O alinhamento final das seqüências de DNA foi composto 40 14,75 kg de
por aproximadamente 580 pares de bases (com exceção de P. 20 esterco/m3
expansa, que foi de 996 pares de bases) e definiu o número de 0 22,12 kg de
1 2 3 4
haplótipos, que está representado em forma de cladograma para esterco/m3
idade (meses)
cada espécie (Figuras 6 a 9).
Os resultados aqui apresentados devem ser Figura 3: Efeitos da adubação no peso (g) de tartaruga (P. expansa) em cativeiro.
considerados como preliminares uma vez que apesar da ampla
amostragem, as espécies diferem nos locais de coleta. A Ganho Médio de Peso de filhotes de tartaruga (Podocnemis
continuação do projeto visa ampliar os locais de coleta para evitar expansa ) 0 kg de
falha nas amostragens. 0,8 esterco/m3
médio de
0,6
peso (g)
7,37 kg de
ganho
De uma maneira geral, as três espécies P. sextuberculata, P. 0,4 esterco/m3
erythrocephala e P. unifilis apresentaram um padrão populacional 0,2 14,75 kg de
pan-mítico muito bem visualizado pelo cladograma dos haplótipos 0 esterco/m3
5 7 9 22,12 kg de
(Figuras 7, 8, e 9), onde não se observa a presença de uma
esterco/m3
associação entre os haplótipos com a distribuição geográfica. A idade (meses)
presença de populações diferenciadas (estrutura de população) foi Figura 4: Efeitos da adubação no ganho diário de peso (g/dia) de tartaruga
observada somente para os locais de Abufari (em P. sextuberculata), (P. expansa) em cativeiro.
190 343
adubação na água de tanques destinados ao alojamento de filhotes Jaύ (em P. erythrocephala) e Itamarati (em P. unifilis), o que pode ser
de tartaruga em cativeiro. Porém, é possível observar uma tendência um artefato de coleta causado pela ausência de locais
para que na idade de 7 e 9 meses a quantidade de 14,75 kg de intermediários não-amostrados entre as localidades aqui
esterco/m3 proporcione melhor desenvolvimento dos animais em analisadas. A falta de uma forte estrutura de população favorece o
relação às outras quantidades utilizadas. manejo para essas espécies.
A Tabela 1 demonstra valores médios aos 9 meses de idade das Somente P. expansa apresentou uma forte estrutura de
variáveis analisadas durante as biometrias. população (todas as populações foram geneticamente
diferenciadas), como pode ser observado no cladograma (Figura 6).
Tabela 1: Efeitos da adubação com esterco de gado no crescimento de tartaruga Os indivíduos, em sua maioria, se uniram em grupos formando um
(P. expansa) em cativeiro, de dois aos nove meses de idade. haplótipo, por localidade, com adicionais haplótipos raros.
Variáveis 0 kg de 7,37 kg de 14,75 kg de 22,12 kg de
esterco esterco esterco esterco
/1.000 /1.000 /1.000 /1.000
litros de litros de litros de litros de
água água água água
Ccp (m m ) 69,5 ±7,2 70,6±6,6 71,3±7,4 69,5±8,2
Lcp (m m ) 60,9±5,9 61,9±5,4 61,9±5,8 61,4±6,4
Cpl (m m ) 58,7±5,9 59,6±6,2 60,0±6,4 58,8±6,9
Lpl (m m ) 28,3±2,5 29,1±3,8 28,7±2,9 28,3±2,9
Alt (m m 30,3±2,6 30,6±2,8 30,9±3,0 30,3±3,0
Peso (g ) 81,0±15,0 80,9±15,5 83,2±19,8 78,0±18,0
GDP (g ) 0,18±0,10 0,25±0,05 0,27±0,03 0,30±0,05
*Ccp: comprimento da carapaça; Lcp: largura da carapaça; Cpl: comprimento do plastrão;
Lpl: Largura do plastrão; Alt: altura; GDP: ganho de peso.
0,6
peso (g)
7,37 kg de
ganho
0,4 esterco/m3
0,2 14,75 kg de
0 esterco/m3
5 7 9 22,12 kg de
esterco/m3
idade (meses)
Figura 1: Efeitos da adubação no comprimento de carapaça (mm) de
tartaruga (P. expansa) em cativeiro.
342 191
Tapauá/AM.
192 341
principalmente, em áreas adaptáveis ao seu habitat natural como: a
água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado para que ocorra
uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio ecológico do
açude; é necessária a construção de tanques de engorda e
crescimento inicial.
340 193
exigências nutricionais, densidade de cultivo, instalações etc. (Silva,
1998; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994).
194 339
Capítulo 10: Manejo em criações de quelônios
aquáticos no Amazonas: adubação, densidade
de cultivo, desempenho de diferentes espécies,
populações e sexo
338 195
Na Tabela 1 podem ser observados os parâmetros ♦ Tracajás criados em tanques-rede tendem a obter maior
genéticos obtidos para todas as espécies e evidenciam bons níveis de desenvolvimento com rações de 30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg.
variabilidade genética.
♦ Foi observada uma tendência de maior crescimento e ganho
Tabela 1: Parâmetros genéticos para as espécies de Podocnemis. de peso de tartarugas, quando comparado ao crescimento de
tracajás, criada em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas e
Popula N No. de Diversidade Diversidade em todos os níveis nutricionais testados.
ção haplótip Gênica Nucleotídica
os ♦ Não houve efeito significativo da cobertura plástica no
Podocnemis sextuberculata
experimento com tanque-rede, porém, tartarugas e tracajás
Abufari 19 05 0,66±0,0744 0,0022±0,0016
confinados em tanques com cobertura plástica, simulando o efeito
T. Santa 12 02 0,30±0,1475 0,0005±0,0006
de uma estufa, tendem a obter maior crescimento em todas as
Manico 18 05 0,41±0,1428 0,0007±0,0008
ré variáveis analisadas e em todos os níveis nutricionais testados.
Oriximi 13 04 0,60±0,1306 0,0017±0,0014
ná ♦ Tartarugas criadas em tanque escavado tendem a um
Podocnemis erythrocephala melhor crescimento e ganho de peso quando alimentadas com
Barcelos 17 07 0,79±0,0783 0,0031±0,0021 rações de 40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg. Pôde-se observar um
PNJ 18 04 0,74±0,0596 0,0023±0,0017 aumento linear nas médias biométricas, com o aumento do nível de
T. Santa 14 04 0,49±0,1506 0,000972±0,001 proteína e energia, sendo que não foi observada diferença
0
significativa da influência desses níveis na análise estatística.
Oriximi 15 04 0,47±0,1478 0,000910±0,001
ná 0
♦ Comparando-se as três instalações experimentadas, sendo
Podocnemis unifilis
tanques-rede com e sem cobertura plástica e tanque escavado,
T.Santa 21 10 0,81±0,0809 0,0078±0,0044
houve diferença significativa ao nível de P<0,05, em que tartarugas
Manicor 15 06 0,74±0,0943 0,0058±0,0035
é confinadas em tanque escavado, obtiveram o pior desenvolvimento e
Itamara 12 04 0,45±0,1701 0,0028±0,0020 os animais alojados em tanques-rede cobertos obtiveram o melhor
ti
desempenho das três instalações.
Oriximi 11 09 0,95±0,0659 0,0101±0,0059
ná
Jarauac 09 07 0,94±0,0702 0,0062±0,0039
á
Podocnemis expansa
Abufari 14 12 0,98±0,0345 0,0003±0,0003
Uatumã 17 17 1,00±0,0202 0,0015±0,0011
T. Santa 18 13 0,72±0,1198 0,0012±0,0009
196 337
Os produtos utilizados para a produção de rações podem ser CONCLUSÃO
substituídos de acordo com a época do ano e disponibilidade no
mercado local, observando a não-alteração brusca, na composição Ø O DNA mitocondrial mostrou ser um bom marcador
química, para não afetar o fornecimento dos nutrientes, bem como molecular para o estudo de populações de tartarugas.
Ø As populações de tartaruga-da-amazônia (P. expansa), por
suas quantidades. A quantidade de proteína bruta mínima na ração
terem apresentado estrutura de população, devem ser
de recria para quelônios deve ser de 25%.
consideradas como unidades de manejo diferenciadas. Deve
A principal condicionante na comercialização de quelônios é ser evitado misturar animais de uma localidade com as
a qualidade do produto e a periodicidade do abastecimento. Um outras, tendo-se o cuidado de repovoar áreas com problemas
produto de boa qualidade começa com jejum dos animais de dois utilizando-se indivíduos de locais próximos da região
dias antes do abate, para limpar as vias digestivas. Os animais afetada.
devem ser transportados, de forma a não sofrerem danos físicos, Ø As populações das outras três (com exceção daquelas que
para agregar maior valor ao produto. apresentaram-se geneticamente diferenciadas) podem ser
consideradas como fazendo parte de uma única e grande
São necessários investimentos em estudos de nutrição de população pan-mítica, conseqüentemente, podem ser
quelônios, pois, essa é uma informação essencial para a produção manejadas sem restrição.
em cativeiro, já que o interessante para os criadores comerciais é
utilizar uma alimentação, com níveis nutricionais adequados, que AGRADECIMENTOS
atendam às necessidades de desenvolvimento desses animais,
Gostaríamos de agradecer aos colegas que coletaram as
proporcionando um aumento da produção.
amostras de P. erythrocephala: Jackson Pantoja, Juarez Pezzuti e
As conclusões desses experimentos com quelônios em Daniele Felix; aos colegas do Ibama: Paulo Henrique, Pedro, João
cativeiro foram: Alfredo e Paulo César Andrade, por todo o apoio desde o início do
projeto; e ao Dr. Richard Vogt, do Inpa. Agradecemos também ao Dr.
♦ Não houve diferença significativa na influência dos níveis Tomas Herbek, da Universidade de Washington, pelo apóio técnico.
de proteína e energia bruta estudados sobre o desenvolvimento de Este trabalho teve apoio financeiro da Universidade Federal do
tartaruga (Podocnemis expansa) e tracajá (P. unifilis), em animais Amazonas, do CNPq e do Ibama.
criados em tanque-rede.
336 197
Tabela 18: Análise econômica, simplificada, dos custos do experimento II.
Os quelônios do gênero Podocnemis são animais endêmicos A partir do momento que aumentar o número de criatórios
das bacias do Amazonas, do Orinoco e do Araguaia e historicamente intensivos, com baixo custo de produção, e oferta regular expressiva
ligados aos hábitos culturais das populações humanas locais, que do produto, a tendência será o crescimento do consumo e o fim do
utilizam a carne, a gordura e seus ovos como fontes de alimento preconceito em relação à opção alimentar com carne de tartaruga.
(Smith, 1979). Segundo informações obtidas na literatura, bem
Sob o ponto de vista de mercado, a região Norte é a mais
como nos documentários de Silvino Santos, pioneiro no registro
cinematográfico da história e da cultura do Amazonas (Souza, 1999), indicada para a absorção do suprimento em demanda. É possível
as populações desses quelônios eram enormes e se distribuíam ao optar por outros canais de escoamento da produção, principalmente
longo de toda a região amazônica. Entretanto, dois séculos de a venda in natura, simulando o sistema pesque-e-pague, e para o
intensa exploração foram suficientes para causar uma diminuição consumo direto (mercado regional e supermercados). No caso de
significativa das populações naturais e, em alguns locais, o venda in natura, o criador necessita oferecer preço, qualidade e
volume compensadores. Daí decorre a necessidade da organização
de queloniocultores em associações ou cooperatiavas, pois entre
¹Professor do Departamento de Ciências Fisiológicas. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal outras, obtém-se vantagens na comercialização e na compra de
doAmazonas. Manaus,AM. Fone: (92) 644-3359. e-mail: jlmarcon@ufam.edu.br.
² Bolsista do Pibic e Acadêmica do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade de insumos, como também na implantação de infra-estrutura
Ciências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas, Manaus, AM.
³ Bolsistas do CNPq e Acadêmicos do Curso de Engenharia de Pesca, da Faculdade de
adequada para atender às exigências de um mercado dinâmico.
Ciências Agrárias. Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM.
198 335
Tabela 17: Análise econômica simplificada dos custos do experimento I. desaparecimento completo desses animais, principalmente da
Discriminação Valor (R$) tartaruga-da-amazônia, Podocnemis expansa (Alho et al., 1979;
Smith, 1979), espécie de maior porte e muito visada pelo mercado
Custos fixos
ilegal.
Depreciação, conservação e apetrechos 1.000,00
Eventuais 1.000,00 Apesar do quadro alarmante que se estabeleceu no início do
século passado, pouca atenção foi dada ao problema, até 1982,
Instalações
quando o antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
Custos variáveis
(IBDF), hoje Ibama, passou a incentivar a criação da tartaruga em
Ração 4.438,89 cativeiro no estado do Amazonas, como forma de atenuar a pressão
Alimentação de pessoal 960,00 exercida pela captura ilegal de exemplares da espécie na natureza
Combustível 1.600,00 (Alho et al., 1979; Smith, 1979). Essa iniciativa se deu através do
fornecimento de tartarugas recém-eclodidas, oriundas dos
Mão-de-obra 2.400,00
tabuleiros naturais da Reserva Biológica do Abufari (Tapauá, AM) e
Total 11.398,89 do rio Branco (RR), para serem criadas em cativeiro em diversas
fazendas credenciadas naquela Instituição. No entanto, durante
O experimento II teve duração de 14 meses, sendo fornecido um total
esse período, os progressos tecnológicos obtidos no setor foram
de 1.564,30 sacos de ração de 21 kg, para alimentar 3.600 animais,
tímidos e limitados pela carência de estudos técnicos e científicos
numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo, ajustada
desenvolvidos no setor. Como conseqüência, houve pouca
mensalmente de acordo com o crescimento. A Tabela 18 demonstra
integração dos órgãos de pesquisa e agentes financiadores,
uma análise econômica simplificada do experimento. presentes na região, com os criadores credenciados no Ibama.
Observa-se que até mesmo os custos com criação em tanque Dentro do projeto “Diagnóstico da criação de animais
escavado são mais elevados do que em tanques-rede. Lima (2000), silvestres” nosso grupo procurou estabelecer as primeiras
cita que em sistemas convencionais, admitindo-se um peso médio informações sobre as características fisiológicas dos quelônios em
de 2,66kg/animal, com cinco anos e meio de idade e preço de venda condições naturais, bem como da criar exemplares da tartaruga e
de R$ 10,00 o quilo, a atividade proporcionará uma receita bruta de do tracajá (P. unifilis) em cativeiro. Contudo, o que podemos
R$ 25,00, por animal, e lucro unitário de R$ 10,00. Neste estudo, se entender por características fisiológicas ou fisiologia?
considerarmos o peso médio de 1,5 kg e venda a R$13,00 o quilo de
peso vivo, a receita líquida pode chegar a R$ 8,00/animal no sistema De acordo com um dos pioneiros da fisiologia animal
de tanques-rede, com animais de apenas dois anos de idade. comparada, Schmidt-Nielsen (1996), a fisiologia é o ramo da
biologia que estuda as funções dos organismos vivos, i.e., como eles
se alimentam, respiram, movimentam, reproduzem, etc. A fisiologia
também procura estabelecer os mecanismos que os animais
334 199
desenvolveram para interagir com as variações em seus ambientes e avaliação dos resultados e foram classificados em custos fixos e
entender as estratégias naturalmente adotadas para resolver os custos variáveis. Para o cálculo do custo variável consideram-se os
problemas e assegurar a sua sobrevivência. custos que variam em proporção à quantidade produzida em um
ciclo produtivo. Os custos fixos são todos os que incorrem sobre a
Uma estratégia eficiente utilizada por muitos animais,
propriedade, independentemente de haver ou não produção (Souza
inclusive quelônios, é promover ajustes no seu metabolismo, i.e.,
et al., 2003).
ajustar a relação entre a velocidade ou intensidade com que as
células consomem energia, para manterem seu funcionamento, e a Para o cálculo da depreciação considerou-se 4% para as
capacidade de gerar energia necessária para suprir essa demanda. instalações, 10% para máquinas e motores e 20% para veículos. A
Em condições normais, geralmente, existe um equilíbrio entre a taxa de manutenção foi estimada em 5% e os juros de 6% para
quantidade gerada e gasta de energia pelo corpo, o que mantém o remunerar o capital estável, conforme modelo proposto por Lima,
seu funcionamento estável ao longo do tempo. A manutenção desse 2000. O tempo médio da mão-de-obra envolvida com a atividade,
equilíbrio depende, por sua vez, da necessidade rotineira da maioria por dia, é de duas horas. A participação dos custos variáveis é de 92%
dos animais em realizar processos fisiológicos normais, tais como devido, especialmente, aos gastos efetuados com ração.
ingerir alimentos, beber água, produzir calor, gás carbônico, suor,
excretas (fezes, urina), produzir células reprodutivas, entre outros. O experimento I teve duração de 14 meses, sendo fornecido
um total de 190,24 sacos de ração de 21 kg. Os animais eram
Na natureza, os quelônios do gênero Podocnemis vêm sendo alimentados numa quantidade baseada em 5% de seu peso vivo,
expostos a pressões evolutivas distintas entre as espécies, que se ajustada mensalmente de acordo com o crescimento. Quanto ao
reflete em seus estilos de vida, seus padrões de distribuição, além de experimento II, a Tabela 17 demonstra uma análise econômica
mecanismos genéticos e comportamentais característicos. Estudos simplificada do experimento. Essa análise pretendia fornecer
enfocando a genética de populações das três espécies mais subsídios aos produtores quanto ao modelo de manejo proposto
importantes do gênero, a tartaruga, o tracajá e o iaçá (P. neste estudo, referente à alimentação e instalações a serem
sextuberculata), apresentados por Viana et al. (2004), ilustram de utilizadas na produção de quelônios.
forma inédita estes aspectos. De acordo com os resultados dessas
pesquisas, as populações naturais da tartaruga e do iaçá
apresentam amplo fluxo gênico, o que nos leva a supor que cada
uma dessas espécies apresenta uma única grande população
distribuída ao longo da bacia Amazônica. Já para o tracajá, as
populações naturais são distintamente estruturadas em cada um
dos diferentes locais estudados, sugerindo que se devem ter ações
específicas para a preservação de cada população dessa espécie.
Essas informações nos
200 333
ótima, em que os animais são distribuídos adequadamente na área alertam para a relevância de dispormos desse conhecimento para a
disponível e obtêm um bom desempenho no crescimento e ganho de elaboração de planos de manejo, em populações naturais, ou ainda
peso, não havendo grande competição para o animal encontrar o para aplicação no melhoramento genético do plantel de animais
alimento. Como não se tem parâmetros para a comparação de uma destinados à criação.
densidade ótima, não podemos inferir corretamente até que ponto a
densidade utilizada, neste estudo, influenciou nos resultados Entretanto, em cativeiro, as condições impostas ao animal
obtidos. podem ser bastante diferentes daquelas encontradas nos ambientes
naturais e, muitas vezes, até desfavoráveis. Para manter uma
Quanto ao rendimento de carcaça, as tartarugas alojadas em tartaruga em cativeiro, é necessário que o criador tenha à sua
tanque-rede, com estufa (CE) e sem estufa (SE), obtiveram maior disposição um conjunto mínimo de informações sobre a biologia e o
rendimento em relação àquelas alojadas em tanque escavado (TE), estilo de vida desse animal como, o que e quanto ele come, como ele
tendo os animais deste último, o rendimento mais baixo. A ração de cresce, como ele se reproduz, como ele tolera as variações na
40% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tende a proporcionar um melhor temperatura e na qualidade da água, entre outras. A princípio,
resultado em rendimento de carcaça nas instalações em tanque essas indagações parecem aspectos triviais e, teoricamente, fáceis
escavado e a ração de 30% de PB e 3.500 kcal de EB/kg tende a de serem resolvidas durante a rotina da criação. No entanto, o que
proporcionar melhor resultado nas instalações em tanque-rede. tem sido constatado, na prática, pelo menos no estado do
Amazonas, é que a carência extrema dessas informações
É importante salientar que antes da adoção da implantação
praticamente estagnou o avanço da criação de quelônios em
do sistema de tanques-rede para a queloniocultura, sugere-se um
cativeiro nesses últimos dez anos. Os progressos existentes no setor
estudo de mercado das características do sistema e de projetos de
são resultados de esforços isolados de alguns criadores que
implantação, buscando locais que possuam condições para fomento
desenvolveram seus procedimentos de criação embasados na
técnico da atividade.
observação e em suas próprias experiências.
Análise econômica dos experimentos
Nesse sentido, é imprescindível que sejam disponibilizadas
A criação de quelônios em cativeiro é uma alternativa para o aos criadores de quelônios informações técnicas e científicas
produtor rural que planeja viabilizar economicamente sua relacionadas não apenas com a densidade de estocagem e engorda e
propriedade, através de uma diversificação, e que visa aproveitar os com o padrão das instalações, mas, principalmente, informações
recursos existentes (Quintanilha, 2003). ligadas ao comportamento e às respostas funcionais que esses
animais manifestam nos ambientes de criação em relação à
Os aspectos considerados para a análise econômica qualidade nutricional (ainda um dos maiores desafios a serem
simplificada foram a construção das instalações, os gastos com desenvolvidos), à temperatura e qualidade físico-química da água,
alimentação e o combustível. Os custos são compostos de todos os além da presença de parasitoses, de ocorrência comum nos
itens que entram direta ou indiretamente para a manutenção do ambientes de criação. Esses fatores em conjunto podem
experimento, de forma a estabelecer os padrões necessários para a desencadear respostas negativas no processo de adaptação e no
332 201
crescimento dos quelônios e, em médio e longo prazo, podem se apesar de ser efetuada a limpeza do tanque. Isso pode explicar a
traduzir no insucesso dessa atividade de agronegócio, quando se tendência a melhor desenvolvimento com os maiores níveis de
considera a relação custo/benefício. proteína e energia bruta, pois essa alimentação alternativa,
disponível, poderia ser de menor teor nutritivo, porém, mais
II - O sangue como parâmetro fisiológico e bioquímico de análise palatável, e assim ter desencadeado a preferência dos animais,
Por que eleger o sangue como indicador de saúde ou do status levando ao menor consumo voluntário de ração.
nutricional de um animal? A análise desse material biológico nos
oferece algumas vantagens e, talvez, a mais importante seja o fato de
que o animal não precisa ser sacrificado para se obter um
diagnóstico. Além disso, diferentes parâmetros podem ser
analisados em uma amostra de sangue. Esse aspecto nos permite
ter, em uma mesma amostra, acesso a um conjunto variado de
informações sobre a fisiologia e a bioquímica do animal.
202 331
A comparação entre as instalações apresentou diferença
significativa ao nível de P<0,05. Animais alojados em tanque
escavado obtiveram menor resposta em relação aos animais
confinados em tanque-rede, em todas as variáveis analisadas. Para
comprimento e altura da carapaça, a ração que proporcionou
tendência a um maior desenvolvimento foi a de 40% de PB e 3.500
Kcal de EB/kg para as tartarugas em tanque-rede, e de 40% de PB e
4.500 kcal de EB/kg para os animais criados em tanque escavado.
Entre os animais confinados em tanque escavado, há um aumento
linear de acordo com o aumento de nível de proteína e energia bruta,
para comprimento e altura, já, nos animais em tanque-rede, esse
efeito só é observado comparando-se os níveis de energia bruta.
330 203
extracelular), e se misturam aos líquidos ali existentes, passando a A forma como os quelônios utilizam os nutrientes e a energia
se movimentar para o espaço existente no interior das células que consomem, é um aspecto fisiológico ainda pouco estudado e tem
(compartimento intracelular). Nas células, o oxigênio e os nutrientes implicações importantes para a produtividade de animais
são consumidos para a produção da energia e, em contrapartida, cultivados.
são formadas substâncias de excreção (gás carbônico e outros
metabólitos) que precisam ser transportados para fora das células e Desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
posteriormente eliminados. Como o organismo da maioria dos expansa) criada em tanque-rede e tanque escavado
animais é formado por cerca de 60 a 75% de água (Aires, 1999;
O tanque-rede é um conjunto flutuante que permite o
Davies et al., 2002), esse movimento contínuo do sangue e dos
confinamento de animais aquáticos em quantidade planejada,
líquidos ao longo do corpo é responsável pela manutenção da
possibilitando maior produtividade e diminuindo o impacto
distribuição de água nos diferentes compartimentos e pelo
ambiental causado pela intervenção do homem. O material utilizado
equilíbrio geral das funções do organismo.
na confecção do tanque deve seguir as orientações técnicas (telas,
Em humanos, exames de sangue envolvendo a análise da armação de sustentação e bóias) para evitar danos ao meio
série vermelha do sangue (hemograma) e dos metabólitos presentes ambiente. Para tanto, o material deve resistir à corrosões, pressões,
no plasma (análise bioquímica) já são feitos de forma rotineira em choques mecânicos e predadores (Santos, 1995).
laboratórios, que utilizam técnicas específicas bastante
Neste capítulo, objetivou-se comparar os resultados de
desenvolvidas e, em sua maioria, automatizadas. Parte dessa
crescimento para P. expansa em tanques-rede, com e sem cobertura
tecnologia vem sendo transferida para a aplicação em outros grupos
plástica e tanque escavado. A Tabela 16 compara os valores médios
de animais como bovinos, eqüinos e caprinos, para o
de comprimento da carapaça.
estabelecimento de intervalos normais que servem como
referenciais no diagnóstico da saúde desses animais (Silva et al., Tabela 16: Comprimento da carapaça (cm) de (P. expansa) em tanque-rede e
1999; Sharma et al., 2000; Birgel Júnior et al., 2001). Mais tanque escavado.
recentemente, diversos grupos de pesquisa científica e veterinária Insta 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
lações 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
distribuídos no país vêm padronizando técnicas de diagnóstico
CE 21,29 21,57 22,06 21,31 21,69 21,98
clínico para animais silvestres mantidos em zoológicos e criados em ± 2,4 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,1 ± 0,6 ± 2,3
cativeiro, como jacarés (Kindermann et al., 2003; Marcon et al., SE 20,22 21,12 21,76 20,64 21,19 21,45
2003) e quelônios (Mundim et al., 1999; Marcon et al., 2000). ± 3,6 ± 2,1 ± 2,0 ± 1,5 ± 1,1 ± 1,1
TE 18,07 18,40 19,33 19,70 20,00 21,50
As técnicas que avaliam o hemograma se baseiam na análise ± 2,3 ± 1,9 ± 1,9 ± 2,2 ± 2,5 ± 1,7
de algumas propriedades do sangue conhecidos como parâmetros *SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TE=
tanque escavado.
hematológicos, que incluem o hematócrito, a concentração de
hemoglobina e o número de células vermelhas presentes no sangue.
204 329
O hematócrito representa a proporção de células vermelhas
Ganho diário de peso de tartaruga em tanque ou eritrócitos sedimentados no sangue (Figura 2). Esse parâmetro
escavado
nos fornece indicações sobre a viscosidade (“consistência”, grau de
2,5 atrito que o sangue tem quando friccionado entre os dedos) e a
2 relação entre o volume total de sangue e a proporção de elementos
GDP (g/dia)
1500
1000
500
0 20/4500
12 16 18 22 24 30/4500
I d a d e ( m e se s) 40/4500
328 205
como resultado da perda anormal de água, uma condição Tabela 15: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o
clinicamente chamada de hemoconcentração e facilmente ganho diário em peso(g/dia) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.
Comparação das médias.
diagnosticada pela análise do hematócrito. Este se mostra elevado
20%PB 30%PB 40%PB Médias
quando comparado com o de animais não sujeitos a esse tipo de
3.500 kcal de EB 0,712 0,77 0,8102 0,76±0,05
condição. Hematócritos diminuídos podem refletir, por exemplo, um 4.500 kcal de EB 1,004 1,3626 1,5794 1,31±0,29
diagnóstico de anemia, distúrbio do sangue muito comum entre os Médias 0,858± 1,0663± 1,1948±
humanos causado por vários fatores, como desnutrição, carência de 0,206475 0,419031 0,543907
ferro e, em alguns casos, por características determinadas
De modo geral, não houve diferença significativa ao nível de
geneticamente, como a anemia falciforme, muito freqüente em
P<0,05, dos níveis de proteína e energia bruta estudados. Observa-
populações endêmicas do continente africano.
se, porém, um aumento linear de crescimento, com o aumento dos
A concentração de hemoglobina reflete a capacidade que o níveis de proteína e energia bruta para todas as variáveis analisadas.
sangue tem de transportar o oxigênio, que é retirado da atmosfera O ganho diário de peso também foi crescente com o aumento da
pelos pulmões para ser fornecido aos tecidos e, com isso, permitir idade dos animais. Não houve diferença significativa para
que eles possam produzir a energia necessária para manter suas comprimento e altura da carapaça, porém, há uma tendência para
funções normais. A hemoglobina é uma proteína de estrutura que os animais alimentados com rações de 40% de PB e 4.500 kcal
complexa que é produzida e confinada dentro do citoplasma das de EB/kg obtenham maiores medidas de carapaça. Esse resultado
células vermelhas do sangue. Cada molécula da hemoglobina pode também é observado para peso e ganho diário de peso, sendo que,
transportar até quatro moléculas de oxigênio que se ligam em locais analisando-se a variável peso, apesar de não significativa ao nível de
específicos chamados heme, onde há a presença do átomo de ferro P<0,05, ocorre uma maior variação dos valores médios entre os
(Leninhger, 1984). Aliás, é graças à presença do ferro no interior das tratamentos testados. Vale ressaltar que a temperatura média da
células vermelhas ou eritrócitos (eritro = vermelho; citos = célula) água ficou em torno de 29°C.
que o sangue dos animais tem coloração tipicamente vermelha. O
Os resultados encontrados neste estudo corroboram com os
ferro é também responsável pelo aspecto corado da pele, observado
encontrados para P. expansa no experimento I, com animais criados
nos humanos saudáveis, não observado em pacientes portadores de
em tanques-rede, em que observou-se tendência a um maior
anemia, por exemplo, que normalmente possuem a pele de
desenvolvimento em animais alimentados com ração de 40% de
coloração pálida (Verrastro et al., 1998).
PB. Porém, diferem quanto ao nível de energia, pois, um maior
O número de eritrócitos é também outro parâmetro do crescimento tende a ser alcançado com a ração de 4.500 kcal de
sangue muito importante na avaliação do estado de saúde de um EB/kg. Talvez, animais instalados em tanques escavados
animal. Ele retrata a estimativa do número de células vermelhas que mantenham-se mais isolados e tenham mais espaço para se
3
circulam em cada milímetro cúbico de sangue (1 mm equivale a 10
-6
movimentar, ocorrendo maior gasto energético e necessitando de
litros; quantidade menor do que uma gota). Nos mamíferos, os níveis mais altos de energia na ração para compensar essa perda.
eritrócitos não possuem núcleo e, por isso, possuem vida curta (120-
206 327
Tabela 13: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o 180 dias) e precisam ser constantemente repostos pelos tecidos que
comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado. produzem essas células, denominados tecidos hematopoiéticos. No
Comparação das médias.
homem, eles se localizam na medula espinhal. Nos quelônios, como
20%PB 30%PB 40%PB Médias já mencionado, os eritrócitos possuem núcleo e podem viver por
3.500 kcal de 18,07 19,33 20,00 19,13±0,98 muitos anos na circulação no animal. Os tecidos hematopoiéticos
EB dos quelônios e répteis, em geral, estão situados no fígado, no baço e,
4.500 kcal de 18,40 19,70 21,50 19,87±1,56
EB em menor proporção, na medula (Schmidt-Nielsen, 1996).
Médias 18,23±0,23 19,51±0,26 20,75±1,06
O número de eritrócitos, assim como a concentração de
hemoglobina, está geralmente correlacionado ao nível de atividade
Efeito de níveis de proteína e energia no crescim ento
em peso de tartarugas
do animal (Schmidt-Nielsen, 1996). Quanto maior a atividade do seu
metabolismo, mais oxigênio deve ser consumido para que as células
1200
do organismo possam gerar a energia necessária. Essa necessidade
pode ser facilmente suprida pelo aumento do número de células
1000 20/ 3500
vermelhas (e de moléculas de hemoglobina), aumentando, com isso,
800 30/ 3500
Peso (g)
326 207
células vermelhas do sangue podem murchar, causando ganho diário de peso (g/dia), rendimento de carcaça (%). Os
diminuições no VCM. Em situação oposta, se houver excesso de tratamentos foram organizados em um delineamento experimental
água corpórea, o aumento do volume de sangue pode ser inteiramente casualizado. Os resultados foram submetidos à análise
acompanhado por um aumento do VCM. A análise desse parâmetro de variância (Anova), as comparações foram realizadas através do
hematimétrico é, portanto, uma ferramenta simples e rápida para teste t. O nível de significância utilizado em todos os testes
identificar se o animal está ou não em equilíbrio hídrico ou estatísticos foi de P < 0,05.
eletrolítico.
As Tabelas 12, 13, 14,15 e a Figura 10 apresentam resultados
Já, o HCM, representa a quantidade de hemoglobina presente de crescimento para comprimento de carapaça (cm), peso (kg) e
em um único eritrócito. Além de também fornecer indicações sobre o ganho de peso (g/dia). Os resultados foram analisados
comportamento do volume celular, que se reflete em maior ou menor bimestralmente utilizando como covariável os valores das
quantidade de hemoglobina no seu interior, para os eritrócitos observações obtidas na medição anterior.
nucleados esse parâmetro pode ser importante, pois a síntese de
Tabela 12: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg)na ração, sobre o
novas moléculas de hemoglobina pode ocorrer repetidas vezes, comprimento da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa) em tanque escavado.
dependendo das necessidades metabólicas do animal. Essas
Idade (meses) 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
características também podem influenciar o CHCM, que representa
3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
a proporção de hemoglobina em relação ao volume do eritrócito. 10 (T0) 13,27 13,27 13,27 13,27 13,27 13,27
Como o ferro é necessário para a síntese de hemoglobina, a carência ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0 ± 2,0
desse mineral também pode induzir a diminuições na CHCM. 12 15,03 15,46 15,26 15,40 15,60 16,30
± 2,8 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,8 ± 2,2 ± 1,9
Além do estudo da função dos elementos celulares do sangue, 16 16,82 17,35 17,62 18,11 18,35 18,44
a avaliação da composição química do plasma pode fornecer um ± 2,6 ± 1,9 ± 1,7 ± 1,4 ± 2,0 ± 2,2
18 17,06 17,52 17,97 18,30 18,80 19,00
outro conjunto importante de informações sobre o estado de saúde e
± 1,8 ± 2,6 ± 2,4 ± 1,6 ± 1,8 ± 1,4
das características nutricionais dos animais. Através da análise do 22 17,75 17,98 18,10 18,61 18,90 19,23
plasma é possível termos uma visão das quantidades dos principais ± 1,6 ± 1,6 ± 2,0 ± 2,4 ± 1,5 ± 1,8
nutrientes exigidos e consumidos pelo organismo, como a glicose, os 24 18,07 18,40 19,33 19,70 20,00 21,50
± 2,3 ± 1,9 ± 1,9 ± 2,2 ± 2,5 ± 1,7
triglicerídeos, o colesterol e as proteínas totais, além da quantidade
de íons (Na+, K+ e Cl-, entre outros) e produtos de excreção. Condições
ambientais e nutricionais variáveis ou desfavoráveis podem
provocar mudanças dramáticas na composição química do plasma,
que podem ser facilmente diagnosticadas através da análise desse
constituinte do sangue.
208 325
Alimentação: De 0 aos 10 meses de idade esses animais fornecer informações clínicas importantes para o entendimento do
foram alimentados com uma ração constituída de 60% da ração estado geral de saúde e do próprio desempenho do animal, seja em
comercial para peixe (Tabela 1). Nesse período, os animais estavam seu ambiente natural ou quando submetido aos procedimentos
2
depositados num tanque escavado de 400m , numa densidade de 9 inerentes da criação em cativeiro.
2
animais/m .
III - Procedimentos para coleta, armazenamento e análise do
A alimentação dos animais durante o período experimental sangue de quelônios
foi uma ração fabricada na Universidade Federal do Amazonas, com
três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e dois níveis de Como pudemos perceber, a análise do sangue se torna
energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). Os animais foram vantajosa pela quantidade de informações que podem ser obtidas
alimentados com as mesmas rações utilizadas no experimento I para diagnosticar o estado de saúde de um animal. Entretanto, fora
(Tabela 2). do corpo, o sangue é um líquido muito suscetível à degradação e
alteração de suas propriedades. Para assegurar a qualidade desse
O experimento foi dividido em seis tratamentos, de acordo material, são necessários, portanto, observar alguns critérios de
com o tipo de alimentação fornecida. Os animais eram alimentados procedimento que visam a praticidade e agilidade em todas as etapas
uma vez por dia, com base em 5% de seu peso vivo, sendo esse valor envolvidas na análise, i e., desde a etapa de captura do animal e
ajustado bimestralmente, de acordo com os resultados da coleta do sangue até o seu tratamento e armazenamento. A seguir
biometria. são definidas as etapas e os principais procedimentos recomendados
para a aplicação em cada uma delas:
Para a definição dos teores de proteína bruta e energia bruta
utilizados nas rações experimentais, foram tomados por base teores a) Captura: dependendo das dimensões e das condições dos açudes
utilizados em outros experimentos realizados no estado do e/ou tanques de criação (profundidade e transparência da água,
Amazonas, onde foram testados 27 e 30% de PB e 3.000 e 4.000 kcal presença de paus e troncos no fundo, tipo de fundo, etc.), os animais
de EB/kg (Lima, 1998). Os níveis de PB e EB das rações podem ser capturados com o auxílio de puçás, redes de cerco,
experimentais também estão bem próximos dos níveis utilizados malhadeiras e até tarrafas (Figura 3). Essa deve ser feita
nas rações comerciais para peixes. As rações foram fornecidas na rapidamente e, dependendo no número de exemplares necessários,
forma de péletes. em várias etapas.
324 209
Figura 3. Captura dos animais em uma das fazendas visitadas, utilizando Figura 9: Experimento em baias com tela plástica em tanque escavado em
tarrafa. criadouro no Rio Preto da Eva/AM. Foto: RAN/AM (P.C.M. Andrade).
b) Coleta da amostra: após serem capturados, os quelônios Animais: Foram utilizados um total de 3.600 tartarugas
devem ser retirados da água e rapidamente imobilizados, por (Podocnemis expansa), de 10 meses de idade, com comprimento
viração, para a coleta da amostra de sangue. É importante que esse médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso médio inicial de 320,05 ± 0,6g,
período de tempo não exceda o intervalo de 2 a 5 minutos para cada acompanhadas dos 10 aos 24 meses de idade. Os animais foram
animal, pois a partir daí, os hormônios de estresse começam a distribuídos numa densidade de estocagem de 75 indivíduos/ m2.
exercer seus efeitos, que resultam em alterações nas propriedades Esses animais pertenciam ao mesmo lote dos animais utilizados no
do sangue do animal. Por esses motivos, recomendamos que os experimento I.
quelônios a serem amostrados sejam capturados paulatinamente e
de acordo com as possibilidades de trabalho da equipe, pois, à Instalações: Os animais foram distribuídos em tanques
medida que esperam, esses animais vão ficando estressados e, cercados com madeira, tipo curral, de 48,0 m2 e 1,80m de
conseqüentemente, inadequados para o diagnóstico do estado geral profundidade, situados em uma barragem de 1,5 ha de espelho
de saúde daquele lote e/ou população de animais. d'água. Os tanques foram divididos com tela, em 6 baias de 8 m2,
sendo alojados 600 animais em cada baia. Sobre o tanque foram
A punção do sangue pode ser feita a partir da veia femoral colocados fios de náilon para evitar o ataque de predadores como
(Figura 4), utilizando seringas plásticas descartáveis (volumes entre gavião (Spizastur sp.) e urubu (Coragyps atratus).
1 e 5 ml), contendo heparina ou liquemina como substâncias
210 323
Estudo do desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia anticoagulantes. Em fêmeas grandes da tartaruga-da-amazônia, a
(Podocnemis expansa) alimentada com ração de três níveis de punção pode ser feita na veia caudal. Não recomendamos o uso de
proteína bruta e dois níveis de energia bruta, criadas em EDTA em quelônios, anticoagulante utilizado em humanos e muito
tanque escavado. comum em postos de saúde e laboratórios clínicos, pois
constatamos em trabalho realizado com tartarugas selvagens na
Este experimento teve duração de 14 meses e foi conduzido
Rebio Abufari, que o EDTA causa alterações no volume do eritrócito
em criatórios comerciais de tartaruga, legalizados pelo Ibama/AM,
e principalmente hemólise (destruição dos eritrócitos e liberação de
localizados na estrada AM 070, Km 26, Iranduba/AM e na rodovia
hemoglobina no plasma), o que pode levar a interpretações errôneas
AM-010, Km 100, Rio Preto da Eva (Figuras 8 e 9).
quando da análise do sangue.
322 211
c) Medidas biométricas: normalmente essas medidas se baseiam no Os resultados da comparação de crescimento das duas
comprimento retilíneo e curvilíneo da carapaça, comprimento do espécies coincidem com os encontrados por Oliveira (2000), citando
plastrão, altura, peso e, pelo menos em animais de cativeiro, suas
respectivas idades. É importante mencionar que os dados que a tartaruga cresce melhor do que o tracajá, em cativeiro, tanto no
biométricos devem ser obtidos sempre após a retirada do sangue, primeiro quanto no segundo ano de vida, citando GDP de 1,05 ± 0,14
pois, caso aconteça o inverso, a manipulação do animal durante a para a tartaruga no primeiro ano e 1,97 ± 0,24 no segundo ano, e
biometria poderá ocasionar alterações significativas em seus para o tracajá 0,87 ± 0,15 no primeiro ano e 1,51 ± 0,27 no segundo
parâmetros hematológicos e metabólicos plasmáticos, o que pode
levar a conclusões errôneas na análise dos resultados. Existem ano (Tabela 11).
relatos científicos com uma espécie de tartaruga (Clemys insculpta),
Tabela 11: Comparação entre o peso, ganho diário de peso, ao final de 18 meses
demonstrando que ela sofre uma condição de febre temporária
de cultivo, entre três espécies de quelônios criadas em tanque-rede (tartaruga,
(aumento rápido da temperatura corpórea) quando manipulada em
condições de cativeiro (Cabanac & Bernieri, 2000). Aumentos da P.expansa; tracajá, P. unifilis; e iaçá, P. sextuberculata) (Oliveira, 2000)
temperatura corpórea podem causar alterações nas propriedades do Espécies Peso (g) GDP (g/dia) GDP (% do
sangue. peso vivo)
d) Análise e armazenamento do sangue: durante a análise de suas Tartaruga 853 1,51 0,17
propriedades, tanto no campo como nas fazendas de criação, o Tracajá 598 1,19 0,19
sangue deve ser mantido constantemente em gelo. A baixa Iaçá 333 0,59 0,17
temperatura deprime o funcionamento das células e contribui para
preservar a composição química e hematológica do sangue.
Se a análise do sangue prevê a utilização do plasma, esse Neste experimento, Oliveira (2000) observou que o iaçá
pode ser separado do sangue total por centrifugação, acondicionado apresenta, no primeiro ano, maior crescimento com rações de 3.500
em tubo apropriado e bem vedado, devidamente identificado e,
kcal de EB/kg e 40% de PB (peso=340 g e GDP =0,38 g/dia). No
finalmente, congelado em freezer -20ºC ou em nitrogênio líquido,
mais adequado, já que promove o congelamento instantâneo da segundo ano, não há diferença significativa em termos de energia,
amostra a uma temperatura aproximada de -183ºC. embora animais alimentados com rações de 4.500 kcal de Eb,
apresentem maior ganho de peso (GDP=0,83 g/dia). Existe uma
tendência, no segundo ano, de que animais alimentados com rações
IV - Métodos analíticos aplicados à avaliação das propriedades
do sangue em quelônios com 20% de PB tenham maior crescimento (peso médio=370 g e
GDP=0,88 g/dia).
Parâmetros hematológicos
212 321
Concentração de hemoglobina sangüínea (Hb): é
determinada por meio de uso de um método colorimétrico que
emprega o uso de um reativo de cor especial (reagente de Brabkin)
que reage diretamente com a hemoglobina presente no sangue. Com
o uso de um aparelho denominado espectrofotômetro (que mede a
intensidade de luz que passa pela solução de cor contendo
hemoglobina), é possível quantificar a concentração (expressa em
g/dl) desse pigmento, que tipicamente tem a coloração vermelha.
Metabólitos plasmáticos
320 213
hidrólise com lipases. A leitura foi feita em espectrofotômetro a 510 Tabela 10: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre a altura
nm. da carapaça (cm) de duas espécies de quelônios.
Espé T 20/3. 30/3.5 40/3. 20/4.5 30/4. 40/4.5
Colesterol: Os níveis plasmáticos (mg/dl) de colesterol total cie I 500 00 500 00 500 00
foram analisados através de um kit. comercial enzimático-
colorimétrico (Colesterol enzimático líquido, Doles reagentes, Tarta C 8,07 ± 8,18 ± 8,60 ± 7,80 ± 8,04 ± 8,42 ±
Goiânia-GO), com leitura em 510 nm. ruga E 0,4 0,5 0,3 0,7 0,9 0,7
Traca C 6,90 ± 7,50 ± 7,66 ± 6,80 ± 7,88 ± 7,20 ±
Proteínas totais: As proteínas totais do plasma foram já E 1,8 2,7 2,6 2,3 2,2 1,6
determinadas por meio de um teste colorimétrico em 540 nm,
utilizando-se o reagente de Biureto (Doles, GO) e seus níveis Tarta S 7,96 ± 7,59 ± 7,70 ± 7,30 ± 7,54 ± 7,42 ±
expressos em g/dl. ruga E 0,4 0,7 0,9 0,6 0,6 0,6
Uréia plasmática: Os níveis de uréia (mM) foram Traca S 6,20 ± 7,00 ± 7,12 ± 6,70 ± 7,73 ± 6,90 ±
determinados em 600 nm através de um kit. comercial enzimático- já E 1,9 2,8 2,2 1,7 1,1 1,7
colorimétrico (Uréia enzimática líquida, Doles reagentes, Goiânia- *SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura
GO).
plástica, TI= tipo de instalação.
214 319
instalados em baias com cobertura (CE), alimentados com ração de animais estavam sendo mantidos em tanques de fibra de vidro de
30% de PB e 4.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior rendimento 1.000 litros, parcialmente preenchidos com água estagnada e de
em relação aos animais instalados em baias sem cobertura (SE). Os
resultados para rendimento de carcaça foram semelhantes aos qualidade precária. O diagnóstico foi realizado no local e
encontrados para P. expansa, no experimento I, quanto ao tipo de confirmou a presença de parasitismo múltiplo (Santos, 1999). As
instalação. tartarugas apresentavam pele ressecada, hematomas e sinais de
hemorragia no plastrão e nas patas, manchas e proliferação de
Desenvolvimento de duas espécies de Quelônios criados em
Tanque-Rede fungos ao longo da pele, na membrana timpânica e nos olhos.
Além disso, a autopsia realizada em nove exemplares
As Tabelas 9 e 10 comparam os valores médios de encaminhados ao Laboratório de Parasitologia, da Universidade
crescimento e altura da carapaça de tartaruga (Podocnemis
Federal do Amazonas, revelou quantidade muito elevada de
expansa) e tracajá (P. unifilis), criados em tanques-rede (com
cobertura plástica e sem cobertura) aos 24 meses de idade. vermes helmintos aderidos às paredes internas do trato
gastrointestinal.
Tabela 9: Efeito da ração experimental e tipos de instalações sobre o
comprimento da carapaça (cm) de duas espécies de quelônios. Com o objetivo de comparar o quadro diagnosticado nos
Espé T 20/3. 30/3.5 40/3. 20/4.5 30/4. 40/4.5 animais doentes, nove tartarugas consideradas saudáveis
cie I 500 00 500 00 500 00 também foram abatidas para autopsia e houve confirmação da
Tarta C 21,29 21,57 22,06 21,31 21,69 21,98
não incidência de parasitas gastrointestinais e cutâneos. Estes
ruga E ± 2,4 ± 2,0 ± 2,0 ± 1,1 ± 0,6 ± 2,3
Traca C 17,25 18,00 17,80 16,25 19,00 17,10 animais serviram como grupo controle. A presença de helmintos
já E ± 0,8 ± 2,3 ± 1,4 ± 1,9 ± 1,8 ± 2,3 em quelônios amazônicos selvagens coletados na natureza já foi
Tarta S 20,22 21,12 21,76 20,64 21,19 21,45 descrita na literatura para a tartaruga e o tracajá (Gibbons et al.,
ruga E ± 3,6 ± 2,1 ± 2,0 ± 1,5 ± 1,1 ± 1,1 1997), contudo, a freqüência e o grau de infestação são
Traca S 15,90 16,62 17,66 16,10 18,50 16,90
geralmente baixos.
já E ± 0,9 ± 1,7 ± 1,7 ± 1,4 ± 1,7 ± 2,4
*SE= tanque-rede sem cobertura plástica, CE= tanque-rede com cobertura plástica, TI= Além dos sinais externos provocados pelo parasitismo
tipo de instalação.
múltiplo, as tartarugas também apresentaram modificações
importantes nas propriedades do sangue. Diminuições
significativas (p<0,05) no hematócrito, na concentração de
hemoglobina e, principalmente, no número de eritrócitos foram
observados nas tartarugas parasitadas, em comparação ao
grupo-controle (Tabela 1), indicando a presença de um quadro
representativo de uma condição de anemia. De acordo com os
resultados obtidos, torna-se evidente que as tartarugas
parasitadas sofreram perda de seu volume sanguíneo provocado,
318 215
principalmente, pela elevada carga de helmintos presentes no Rendimento de carcaça de P. unifilis
trato gastrointestinal. Em mamíferos em geral, esses parasitas
são reconhecidos por causarem, além da anemia, uma série de O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos
distúrbios como letargia, morbidade (falta de estímulo e por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram
movimento), parada no processo de crescimento e, em casos colocados em um recipiente, contendo água e gelo a uma
extremos, a morte do animal. Os resultados também demonstram temperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada
que as tartarugas parasitadas respondem de forma semelhante a decapitação. Após a retirada do plastrão com auxílio de uma serra
aos mamíferos, quando infestadas por helmintos. Como esses elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato
parasitas não apresentam tubo digestivo completo, alimentam- digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho
se por meio da sucção do sangue, contendo as células e os excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 10 animais de cada
nutrientes do plasma, absorvidos durante o processo digestivo, tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).
aspectos que explicam os baixos valores observados em seus Tabela 8: Rendimento de carcaça (%) de P. unifilis de acordo com o tratamento.
parâmetros hematológicos. P arte TI 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
do 3 .5 0 0 3 .5 0 0 3 .5 0 0 4 .5 0 0 4 .5 0 0 4 .5 0 0
co rp o
C arca CE 2 7 ,0 2 7 ,9 5 2 8 ,4 5 2 8 ,9 7 2 9 ,0 3 2 9 ,5 5
ça SE 2 6 ,8 8 2 7 ,1 2 2 7 ,6 3 2 8 ,1 2 2 8 ,3 6 2 8 ,7 7
V ís c e CE 9 ,0 3 9 ,4 6 9 ,8 7 1 0 ,0 1 0 ,6 4 1 0 ,9 8
ras SE 8 ,4 6 8 ,6 4 9 ,0 3 9 ,3 6 9 ,7 8 1 0 ,0 1
G o rd u CE 4 ,3 5 4 ,8 7 5 ,1 0 5 ,3 6 5 ,5 5 5 ,7 2
ra SE 4 ,0 2 4 ,4 2 5 ,0 5 ,1 5 5 ,2 0 5 ,4 2
e x tra -
m us
c u la r
(n ã o
c a v it á
r ia )
TOTA CE 4 0 ,3 8 4 2 ,2 8 4 3 ,4 2 4 4 ,3 3 4 5 ,2 2 4 6 ,2 5
L (% ) SE 3 9 ,3 6 4 0 ,1 8 4 1 .6 6 4 2 ,6 3 4 3 ,3 4 4 4 ,2 0
CE 2 1 ,2 7 2 1 ,9 8 2 2 ,0 5 2 2 ,4 5 2 2 ,8 8 2 3 ,0
C ara SE 2 0 ,9 7 2 1 ,0 3 2 1 ,8 5 2 2 ,0 1 2 2 ,2 5 2 2 ,6 3
paça
P la s CE 7 ,9 8 8 ,0 2 8 ,3 6 8 ,4 7 8 ,9 8 9 ,0 5
trão SE 7 ,1 2 7 ,8 6 8 ,0 8 ,2 5 8 ,3 6 8 ,6 5
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa (sem
cobertura plástica);
216 317
apresentaram um crescimento superior quando comparados aos
animais alojados em baias sem cobertura (SE), tanto para
comprimento e altura da carapaça, quanto para peso e ganho diário
de peso. Esse resultado corrobora com os encontrados para P.
expansa, confirmando que pelo fato da cobertura plástica
proporcionar maior estabilidade da temperatura e manutenção de
temperaturas mais altas, dentro das baias cobertas, considerando
que estes animais tinham dentro das baias uma rampa para
tomarem sol, provavelmente esse fator pode influenciar no
metabolismo de quelônios criados em cativeiro, por serem
ectotérmicos e, conseqüentemente, numa taxa de desenvolvimento
positiva.
consomem mais proteína de origem animal do que os adultos (Teran, * Indica diferença estatisticamente significativa (p<0,05) entre os animais sadios e os
parasitados.
1992).
316 217
O parasitismo não parece influenciar os índices Tabela 7: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o ganho de
peso (g) de tracajá (P. unifilis) em tanques-rede.
hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) nas tartarugas estudadas
(Tabela 1). Geralmente, as alterações observadas nesses índices Idade TI 20/3. 30/3. 40/3. 20/4. 30/4. 40/4.
estão relacionadas a distúrbios do balanço hídrico e eletrolítico do (meses) 500 500 500 500 500 500
organismo, como por exemplo, em animais sujeitos à perda anormal 12 C 0,412 0,596 0,740 0,780 0,898 0,710
de água ou acúmulo excessivo de sais. E ±2,1 ±1,9 ±0,3 ±1,8 ±0,8 ±0,6
SE 0,398 0,458 0,591 0,546 0,700
Situações de infestação por parasitas podem ser muito ±2,3 ±1,8 ±1,5 ±2,4 ±1,9 0,654
±0,7
freqüentes em animais mantidos em ambientes de criação, por isso é
necessário que o criador observe o comportamento de seus animais 16 C 0,499 0,650 0,850 0,980 1,214 1,123
durante a criação e, periodicamente, realize exames parasitológicos E ±1,8 ± 2,1 ±0,6 ±1,9 ±1,4 ±0,5
SE 0,444 0,586 0,812 0,673 0,956
para evitar a possibilidade de infestação por helmintos ou outros
±1,5 ±2,2 ±1,8 ±1,6 ±1,6 1,055
tipos de parasitoses. ±1,6
Animais sujeitos à perda excessiva de água, por dessecação 18 C 1,224 1,680 1,720 1,530 1,990 1,800
E ±1,4 ±2,3 ±1,7 ±1,1 ±2,1 ±2,1
O diagnóstico de perda de água corpórea em exemplares da SE 1,112 1,416 1,444 1,437 1,890
±0,9 ±2,7 ±2,4 ±1,5 ±2,3 1,720
tartaruga (P. expansa) foi obtido em duas fazendas de criação ±2,3
situadas no município de Manacapuru-AM, durante os
procedimentos de despesca desses animais para acompanhamento 22 C 1,470 1,730 1,890 1,740 2,420 2,100
E ±1,3 ±2,4 ±1,9 ±1,3 ±1,4 ±1,8
da biometria. No primeiro local de criação (fazenda A), os animais SE 1,391 1,472 1,567 1,585 2,150
foram capturados com rede de cerco, confinados em sacos de náilon ±2,5 ±1,6 ±1,4 ±2,8 ±2,2 1,960
de 50 litros (n=10) e expostos ao ar por um período aproximado de 3 ±1,5
horas consecutivas, até a conclusão da biometria. As amostras de 24 C 1,620 1,990 2,350 2,490 2,760 2,500
sangue foram obtidas imediatamente após o término desse E ±1,1 ±1,7 ±1,5 ±1,9 ±1,4 ±1,6
intervalo. Paralelamente, outro lote de tartarugas (n=10) foi SE 1,555 1,858 2,180 2,270 2,680
1±2,1 ±0,5 ±2,2 ±1,6 ±1,6 2,458
capturado, mantido em água por um período máximo de 15 minutos ±1,3
e, em seguida, amostrado para a obtenção do sangue. Esses
indivíduos foram analisados para servirem como controles em *TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
(sem cobertura plástica);
relação aos animais expostos à dessecação. Na fazenda B, um grupo
de tartarugas (n=10) também foi submetido ao mesmo procedimento De um modo geral, não houve efeito significativo ao nível de
de captura e confinamento, só que por um período aproximado de 6 P<0,05, dos níveis de proteína bruta e energia bruta utilizados nas
horas consecutivas. A exemplo da fazenda anterior, um grupo de rações experimentais, para nenhuma das variáveis analisadas.
tartarugas mantidas em água foi analisado para servir como Porém, os animais confinados em instalações com cobertura (CE)
218 315
Tabela 6: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração, sobre o peso (g) de tracajá (P. controle em relação aos animais dessecados.
unifilis) em tanques-rede.
Quando os animais sujeitos à dessecação são comparados
Idad T 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
com seus respectivos grupos de controle, é possível observar que os
e I 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
(me parâmetros hematológicos não sofreram variações nas tartarugas
ses) da fazenda A (Tabela 2). Entretanto, nos animais da fazenda B,
10 120,40 120,40 120,40 120,40 120,40 120,4 expostos à dessecação durante 6 horas, já foi possível verificar
(T0) ±0,3 ±0,3 ±0,3 ±0,3 ±0,3 0 ±0,3
aumentos significativos na concentração de hemoglobina. Esse
12 C 186,00 217,00 238,00 190,00 231,25 281,3
E ±2,2 ±1,1 ±1,3 ±1,9 ±2,3 7 ±0,9 aumento da hemoglobina no sangue é resultado da diminuição do
S 184,60 210,00 230,00 169,16 259,00 218,4 volume do eritrócito, que se refletiu nos baixos valores de VCM
E ±2,1 ±1,8 ±1,1 ±1,5 ±1,8 ±1,8 (p<0,05) observados para ambos os grupos de tartarugas sujeitas à
16 C 289,60 332,00 384,00 333,33 376,25 348,0
dessecação (Tabela 2).
E ±1,4 ±2,1 ±1,3 ±2,1 ±1,4 0 ±1,4
S 255,00 263,33 332,50 250,00 373,75 341,0
Tabela 2. Mudanças observadas (média DP) nos parâmetros hematológicos e
E ±1,0 ±1,3 ±1,2 ±2,2 ±1,7 0 ±2,1
índices hematimétricos provocados pela perda de água corpórea em
18 C 425,00 497,00 515,00 465,00 755,00 527,5
exemplares da tartaruga-da-amazônia submetidos por três (fazenda A) e seis
E ±2,1 ±1,5 ±1,1 ±1,8 ±2,1 0 ±2,3
S 343,33 394,16 419,16 397,50 400,00 455,0 horas (fazenda B) à dessecação.
E ±1,8 ±1,1 ±2,4 ±1,3 ±2,2 0 ±2,4
Parâmetro Fazenda A Fazenda B
22 C 628,70 706,00 775,00 581,66 785,00 617,5
E ±0,9 ±0,9 ±2,1 ±1,4 ±2,3 0 ±1,7 Normais Dessecados Normais Dessecados
S 530,00 628,33 752,50 562,50 660,00 610,0
E ±2,5 ±1,5 ±2,2 ±1,7 ±1,9 0 ±1,8 Ht (%) 23,9 ± 1,4 23,0 ± 1,8 28,5±1,6 25,9±1,1
24 C 631,16 718,20 760,00 785,00 935,00 819,0
[Hb] (g/dl) 6,7 ± 0,4 7,42 ± 0,5 7,0 ± 0,4 9,0 ± 0,5*
E ±0,6 ±0,6 ±2,3 ±1,9 ±2,1 ±1,9
S 615,00 635,00 641,00 650,33 868,33 765,0 NE 0,28±0,02 0,31 ± 0,02 0,31±0,02 0,34 ± 0,02
E ±0,8 ±0,8 ±1,6 ±2,1 ±1,9 ±1,5 (106/mm3)
314 219
hídrico intenso, pois a diminuição da quantidade de água corpórea sinensis) foram 18,21 e 1,23%, respectivamente, e o conteúdo de
já vinha sendo acompanhada por um decréscimo da proporção de lipídio do bloco de gordura foi de 86,72% (Zhan et al., 2000).
líquido em relação à quantidade de elementos celulares, que leva os
eritrócitos a ficarem menos volumosos e com maior concentração de Efeito do tipo de instalação e da ração experimental no
hemoglobina em seu interior. Diminuições no volume dos desenvolvimento de tracajá (Podocnemis unifilis) criados em
eritrócitos, bem como no volume sanguíneo total, foram também cativeiro
observadas em porcos jovens sujeitos à deprivação de água por 12
As Tabelas 6 e 7 apresentam resultados de crescimento para
horas consecutivas (Houpt & Yang, 1995), indicando que
peso (kg) e ganho de peso (g/dia) de tracajá (P. unifilis) criado em
mamíferos e quelônios sofrem os efeitos negativos da perda de água
gaiolas flutuantes.
corpórea, de maneira similar.
Os animais foram alimentados diariamente com ração de 20,
30 e 40% de proteína bruta e 3.500 e 4.500 kcal de energia bruta/kg.
A ração experimental utilizada tem a mesma composição da ração
descrita no experimento com P. expansa.
220 313
Tabela 5: Rendimento de carcaça (%) de P. expansa de acordo com o tratamento.
Parte do TI 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/ Animais submetidos a diferentes métodos de criação em
corpo 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
Carcaça CE 29,9 30,85 33,85 31,45 32,0 33,28 cativeiro
SE 28,89 30,12 33,52 30,95 31,74 32,88
Vísceras CE 9,95 10,12 12,75 10,64 11,0 11,85
SE 9,21 9,77 12,11 10,0 10,84 11,25 Como um dos objetivos principais do projeto era realizar um
Gordura CE 5,01 5,10 6,1 5,26 5,56 5,95
extra- SE 4,95 5,0 5,87 5,12 5,23 5,85
diagnóstico das condições gerais de criação dos quelônios, entre os
muscular anos de 1998 e 2000, as equipes do projeto promoveram visitas
(não
periódicas em diversas fazendas de criação localizadas em Manaus e
cavitária)
Total (%) CE 44,86 46,07 52,70 47,35 48,56 51,08 municípios próximos. Inicialmente, a equipe de fisiologia selecionou
SE 43,05 44,89 51,50 46,07 47,81 49,98 fazendas que haviam recebido lotes de recém-eclodidos provenientes
Carapaça CE 22,56 22,98 25,76 23, 97 24,46 25,24
SE 22,0 22,11 25,0 23,0 23,54 24,56 da Rebio Abufari, onde foram realizados os primeiros estudos com o
Plastrão CE 8,78 8,93 10,4 9,0 9,45 9,98 sangue de tartarugas selvagens, para a obtenção de valores de
SE 8,23 8,65 10,0 8,8 9,2 9,6
referência para os parâmetros hematológicos e metabólitos do
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: em estufa plasma (Marcon et al., 2000). Com o intuito de preservar a
(sem cobertura plástica).
privacidade dos proprietários que apoiaram esse estudo, as fazendas
A Tabela 5 mostra o rendimento de carcaça (%) de P. expansa de criação foram aqui identificadas apenas por letras. Nesse sentido,
de acordo com o tratamento. Observa-se que animais de maior foram eleitas quatro fazendas: fazenda A (Manaus), fazenda B
tamanho e peso (de acordo com as Tabelas 5 e 7), apresentaram (Iranduba), fazenda C (Manacapuru) e fazenda D (Rio Preto da Eva).
maior rendimento de carcaça e partes comestíveis do que animais de
categorias menores. Os resultados de rendimento de carcaça Paralelamente à coleta de sangue, foram realizadas
convergem com os encontrados para as outras variáveis analisadas. entrevistas com os proprietários e/ou responsáveis das fazendas,
Animais instalados em baias com cobertura (CE), alimentados com com o objetivo de obter informações mais detalhadas sobre as
ração de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg tendem a obter maior condições de criação, o tipo de tanque utilizado, alimentação (tipo e
rendimento em relação aos animais instalados em baias sem quantidade), qualidade da água, relatos de parasitismo, etc.
cobertura (SE).
As fazendas monitoradas neste revelaram procedimentos de
Valores aproximados foram encontrados por Gaspar & criação variados. Os animais da fazenda A estavam sendo criados em
Rangel-Filho (2001), verificando que depois da retirada dos ossos o tanques escavados (aprox. 20m x 40m), contendo água de coloração
rendimento de carne de tartaruga foi de 30%, o conteúdo de proteína barrenta. A alimentação era notoriamente insuficiente e consistia
e lipídio foi de 17,39 e 1,83%, respectivamente, com valor calórico basicamente da sobra de vegetais (alface picada, repolho e outros
baixo (86,03 kcal/100 g carne). tipos de verdura) obtidos em feiras. Na fazenda B, a alimentação se
Estudos na China mostram que o conteúdo de proteína e resumia à oferta de uma macrófita aquática (mureru, Eichhornia
lipídio no músculo da tartaruga-chinesa-de-casco-mole (Trionyx
312 221
sp.), de restos de pão e, quando disponível, de ração comercial para
peixes. Em ambas as fazendas, os indivíduos amostrados estavam Rendimento de carcaça de P. expansa em tanque-rede
magros e pequenos e apresentavam sinais claros de inanição, em
O abate foi realizado conforme os procedimentos sugeridos
comparação aos indivíduos de mesma faixa etária, amostrados nos
por Silva Neto (1998). Para a insensibilização, os animais foram
outros dois criadores (Tabela 3). colocados em um recipiente contendo água e gelo a uma
Na fazenda C, os animais eram criados em um pequeno lago temperatura de 4ºC, durante 15 minutos. Inicialmente, foi realizada
contendo água preta e de boa qualidade. Os animais estavam sendo a secção da cabeça. Após a retirada do plastrão, com auxílio de uma
alimentados com uma ração comercial à base de peixes, oferecida serra elétrica, foi efetuada a retirada manual das vísceras do trato
digestivo, fígado, pâncreas, gordura, baço, pulmões, aparelho
em quantidades aparentemente suficientes e apresentavam aspecto
excretor e órgãos reprodutores. Foram abatidos 5 animais de cada
saudável. Já na fazenda D, as tartarugas estavam sendo criadas em
tratamento, após a última biometria realizada (24 meses de idade).
uma barragem, em consórcio com tilápias (Tilapia sp.) e pirarucus
(Arapaima gigas), com água também de coloração preta e de boa
qualidade. A alimentação, a exemplo da fazenda C, também
consistia na oferta de ração comercial à base de peixes. Entretanto,
além da ração, o criador fazia uma complementação alimentar diária
com macaxeira. Os animais estavam aparentemente saudáveis, com
peso e tamanho superiores ao observado nos animais analisados
nas demais fazendas (Tabela 3).
222 311
protéico são mais caras, mas esse custo se justifica, se o ganho de Tabela 3. Biometria, hematologia e níveis dos principais metabólitos
peso for considerável. Vale ressaltar que os gastos com alimentação plasmáticos (média DP) obtidos em exemplares (n=10) da tartaruga (Podocnemis
nesse sistema situam-se entre 50% e 70% dos custos totais da expansa) criados em 4 fazendas próximas a Manaus. * indica diferença estatística
produção, porém, é imprescindível investir na dieta correta, pois a (p<0,05) em relação aos animais controle.
acordo com o aumento da idade do animal, em todas as variáveis VCM (mm 3 ) 803±144 722±199 847±157 893±249 728±104
HCM (pg) 249 ± 45 198±42* 249±33 248±91 221±36
analisadas. À medida que é aumentado o nível de proteína bruta, CHCM (%) 31,2±2,2 28,5±8,1 29,8±4,6 28,4±3,4 30,8±6.5
observa-se também um aumento linear dentro das variáveis. Metabólitos
PT (g/dl) 2,8±0,7 2,4±0,3 1,7±0,3* 1,5±0,3* 4,0±0,7*
Glicose 94,9±30, 102,5±15, 59,7±19, 90,1±16, 86,7±15,
Costa et al., 1998, em estudos com P. expansa em cativeiro, (mg/dl) 6 1 5* 0 7
observaram que animais alimentados com 20% de PB obtiveram TG (mg/dl) 31,3±20, 53,6±61,0 69,2±33, 18,6±11, 209,4±9
9 6 7 8
melhor ganho de peso (0,523 ± 1,08 g/dia) em relação aos que foram
COL 38,3±38, 31,4±8,4 27,8±7,7 33,3±12, 26,1±7,9
alimentados com 30% de PB (0,489 ± 0,89 g/dia) e 40% de PB (0,492 (mg/dl) 6 4
Uréia (mM) 1,6±1,5 1,0±0,4 2,4±0,8* 2,5±1,6* 5,9±3,8*
± 1,13 g/dia). Animais alimentados com 3.000 Kcal de EB/kg (0,536
± 1,16 g/dia) superam os animais alimentados com 4.000 Kcal de Biometria
EB/kg (0,466 ± 1,93 g/dia), no primeiro ano de vida. Esse resultado Carapaça 37,9±5,0 14,1±1,2 14,2±1,1 22,6±4,3 24,5±3,0
(cm)
pode indicar que essa espécie, no segundo ano de vida, necessite de Peso (kg) 5,74±2,6 0,37±0,1 0.32±0,0 1,33±0,7 1,78±0,5
um maior teor de proteína bruta para atender à exigência dietética 7 2 6
Idade ? 4,0±0 2,5±0,5 2,7±0,5 2,0±0
por aminoácidos necessários ao seu crescimento máximo. (anos)
Nota: 1) indivíduos selvagens (n=10) da tartaruga, provenientes da Rebio Abufari. PT =
Como não houve diferença significativa no efeito dos níveis de proteínas totais; TG = triglicerídeos; COL = colesterol total.
PB e EB testados, sugere-se a utilização de dietas com 30% de PB e
A avaliação das condições gerais dessas fazendas demonstra
3.500 kcal de EB/kg, já que a ração de 20% de PB tende a
descaso com a alimentação e a manutenção da qualidade da água.
proporcionar desenvolvimento mais baixo. Para a criação de Apesar de condizente com o hábito herbívoro atribuído à tartaruga-
tartarugas em tanques-rede pode-se optar pela utilização de da-amazônia (Fachin et al., 1995; Soini et al., 1989), tanto a
cobertura plástica, para conservar maior temperatura da água quantidade, como a qualidade (restos de feira e mureru) do alimento
fornecido não pareciam estar satisfazendo as necessidades
dentro das baias, permitindo um metabolismo mais eficiente.
fisiológicas da espécie. Isso se reflete claramente no peso dos
animais cultivados nessas fazendas: os quelônios analisados na
310 223
fazenda A possuíam uma faixa etária de aproximadamente 4 anos e ambiente (ectotérmicos).
um dos menores pesos registrados entre os diferentes locais.
Situação semelhante pode ser observada nas tartarugas da fazenda Como o consumo de alimento está diretamente relacionado
B que, apesar de mais jovens, também revelaram pesos muito abaixo ao metabolismo dos quelônios, pode-se inferir que a cobertura
da média, observados para outras fazendas (Tabela 3), indicando
que os animais dessas fazendas estavam sendo submetidos a uma plástica promova um maior desenvolvimento dos animais, pela
dieta destinada tipicamente à manutenção de suas funções manutenção de temperaturas mais altas dentro das baias. O baixo
orgânicas e distantes daquela esperada para um bom crescimento desenvolvimento referente à menor temperatura, pode estar
em condições de criação. relacionado à mudança de comportamento termorregulatório dos
animais.
224 309
É importante considerar que os animais alojados em baias e, provavelmente, deve ter reduzido a quantidade de ração oferecida
sem cobertura podem ter tido acesso a outro tipo de alimentação aos animais. Isso poderia explicar, em parte, a diminuição dos
diferente da ração experimental, como larvas, insetos e alguma valores de proteínas totais, observada no plasma. Já, as
vegetação carreada pela chuva, sendo que nas baias cobertas esse propriedades do sangue das tartarugas criadas na fazenda D foram
controle era mais rigoroso. Isso pode ter influenciado no menor semelhantes aos dos animais de controle, com exceção do número
desenvolvimento dos animais nas instalações sem estufa, visto que de eritrócitos, bem como dos conteúdos de proteínas totais, uréia e,
essa alimentação alternativa disponível poderia ser mais palatável e, principalmente, de triglicerídeos, provavelmente devido ao tipo de
assim, ter desencadeado a preferência dos animais, levando ao complementação alimentar, à base de macaxeira, ingerido por esses
menor consumo voluntário de ração. animais.
308 225
normais para animais da natureza (Marcon et al., 2000). O PB e 3.500 kcal de EB/kg, a partir dos 18 meses. Esse resultado é
resultado desse complemento alimentar se refletiu no peso médio alcançado aumentando-se o nível de energia bruta para 4.500 kcal
atingido por esses animais, que supera os valores obtidos nas
de EB/kg. A diferença nos resultados apresentados entre as
outras fazendas de criação. Entretanto, os níveis de triglicerídeos
também indicam que esse procedimento de criação pode induzir as variáveis analisadas talvez indique um crescimento alométrico para
tartarugas a ficarem excessivamente gordas. Naquela esta espécie, conforme sugerido por Vianna, 1999, para P. unifilis,
oportunidade, foi sugerido ao proprietário da fazenda diminuir a sendo que alguns autores indicam crescimento isométrico para
oferta de macaxeira para balancear melhor a quantidade de
animais de carapaça externa. Pelas controvérsias, são necessários
alimento fornecido aos seus animais. Uma dieta mais equilibrada
pode permitir que o animal converta a maior parte dos nutrientes estudos específicos complementares para confirmarem esses
absorvidos e metabolizados em massa muscular (carne) e não em parâmetros. Pode indicar também que sejam necessários maiores
gordura. níveis de energia bruta para o crescimento em comprimento já que
com o aumento do nível protéico da dieta ocorre uma redução na
Por fim, torna-se evidente que o acompanhamento periódico
das características do sangue pode se constituir em uma excelente energia não protéica disponível. Porém, como os quelônios são
ferramenta, tanto para o diagnóstico do estado de saúde como para vendidos por peso vivo esse resultado é irrelevante, sendo
o entendimento das necessidades nutricionais dos quelônios importante considerar os resultados encontrados para peso e ganho
criados em cativeiro. Estudos complementares são ainda
diário de peso e, para essas variáveis, o melhor desenvolvimento foi
necessários para que possam ser definidos com maior adequação,
critérios e procedimentos de acompanhamento das condições gerais alcançado com rações de 40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg, durante
de criação de quelônios no estado do Amazonas. todo o período experimental. Pode ser que as rações com 40% de PB
apresentem melhor perfil de aminoácidos essenciais, assim como
apresentaram melhores níveis de cálcio e fósforo, permitindo, dessa
forma, um maior atendimento das exigências nutricionais.
226 307
Capítulo 7: Instalações para a criação de
quelônios
Figura 4: Ganho diário de peso de tartarugas criadas em tanques-rede com Na criação comercial de quelônios em cativeiro, as
estufa, alimentadas com ração de 20, 30 e 40% de proteína bruta. o
instalações precisam ser conforme exige o Ibama na Portaria n
142/92, para as fases de reprodução, cria, recria, alimentação e
manutenção, para que, ao submeter o animal a um ambiente
G a n h o d iá r io d e p e s o d e t a r t a r u g a e m c a t iv e ir o
3 ,5 artificial, com características aproximadas ao habitat natural, se
3 consiga um crescimento satisfatório (Duarte, 1998).
2 ,5
G D P ( g /d ia )
306 227
Figura 3: Peso de tartarugas em tanques-rede alimentadas com ração de
40% de PB e dois níveis de energia bruta.
Figura 1: Modelos de berçários de quelônios na fazenda experimental da
Universidade Federal do Amazonas: a) Balsa com berçário em gaiolas flutuantes ou A Figura 4 compara os níveis de proteína bruta na ração de 3.500
tanques-rede; b) Berçário com cercado de madeira. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, kcal de EB/kg dos animais confinados nos tanques-rede com
P.C.M.)
cobertura plástica. Os resultados sugerem que a ração de 40% de PB
proporciona uma resposta de maior ganho diário de peso em relação
aos níveis de 20 e 30% de PB, durante todo o período experimental,
sendo que essa diferença não foi significativa ao nível de P<0,05. A
Figura 5 demonstra o ganho diário de peso (g/dia) de animais
alimentados com ração de 40% de PB e dois níveis de energia bruta
(3.500 e 4.500 kcal de EB/kg) confinados em baias com estufa.
Pode-se observar que o nível de 3.500 de energia bruta promove um
maior ganho diário de peso a partir dos 16 meses de idade.
Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira (2000),
inferindo que tartarugas criadas em gaiolas flutuantes
Figura 2: Berçário com cerca de madeira, cantos arredondados e plataforma de
areia como solário. Fazenda Águas Claras, Manacapuru/AM. Foto: Projeto Diagnóstico apresentaram maior desenvolvimento com rações de 40% de PB e
(Andrade, P.C.M.)
3.500 kcal de EB/kg, avaliadas no primeiro ano de vida.
228 305
A Figura 2 demonstra o peso dos animais aos 24 meses de
idade, alimentados com três níveis de proteína bruta em rações de
3.500 kcal de EB/kg, e a figura 3 compara os dois níveis de energia
de acordo com o tipo de baia. O efeito das baias cobertas e sem
cobertura não foi significativo ao nível de P<0,05. Porém, pode-se
observar que animais alojados em baias cobertas (CE) possuem peso
superior aos animais instalados em baias sem cobertura (SE), assim
como aqueles alimentados com rações de 40% de PB superam em
peso os animais alimentados com 20 e 30% de PB. O nível de energia
que teve tendência a proporcionar melhor resposta de crescimento
foi o de 3.500 kcal de EB/kg.
Figura 3: Berçário tipo gaiola em lagos naturais. Macuricanã, Nhamundá/AM.
Peso de tartaruga em diferentes instalações Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.)
1600
b) Tanque ou barragem de crescimento: Instalação para
1400 onde os animais são transferidos após a saída do berçário. Em geral,
1200 são tanques escavados ou barragens, onde os quelônios têm maior
1000 espaço disponível para deslocamentos, permitindo um melhor
Peso (g)
800 CE
desempenho. Essa instalação serve para animais de 12 a 36 meses,
600 SE 2
e em geral trabalha-se com cerca de 1 animal/m , sendo, entretanto,
400
2
200 possível, trabalharmos intensivamente com até 20 animais/m no
0 segundo ano (Figura 4).
20 30 40
Proteína bruta (% )
304 229
c) Tanque ou barragem de reprodução: Esta instalação Tabela 4: Efeito do tipo de instalação e níveis de PB (%)/EB (kcal/kg) na ração,
sobre o peso (g) de Podocnemis expansa em tanques-rede.
destina-se aos reprodutores e matrizes, selecionados entre animais
acima de 4 anos ou 7 kg de peso vivo, no caso das tartarugas, e 4 anos Idade T 20/ 30/ 40/ 20/ 30/ 40/
(mês) I 3.500 3.500 3.500 4.500 4.500 4.500
ou acima de 3 kg, no caso dos tracajás. Trabalha-se com uma 10 320,05 320,05 320,05 320,05 320,05 320,05
2
densidade de um animal para cada 2,5 m , preferencialmente, em (T0) ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6 ± 0,6
12 C 465,41 488,87 539,33 453,02 483,50 525,93
barragens de um hectare ou grandes tanques escavados (acima de E ± 1,2 ± 2,9 ± 1,9 ± 2,8 ± 8,2 ± 9,1
2
1.000 m ). Em uma de suas margens deverá ser construída uma S 380,72 401,00 433,33 348,50 377,50 422,97
E ± 2,4 ± 2,2 ± 3,6 ± 3,8 ± 2,8 ± 7,1
praia artificial com areia fina ou média, com no mínimo um metro de 16 C 548,25 568,75 685,00 457,77 525,93 564,64
altura acima do nível d'água (Figura 5). E ± 2,0 ± 1,4 ± 1,3 ± 2,6 ± 6,8 ± 4,1
S 470,00 481,25 502,61 421,60 507,85 526,33
E ± 7,3 ± 4,0 ± 1,2 ± 1,0 ± 7,4 ± 1,3
18 C 641,53 648,41 748,75 483,88 579,12 701,25
E ± 5,0 ± 1,2 ± 2,6 ± 1,5 ± 1,3 ± 4,5
S 525,85 548,16 587,77 595,00 523,75 602,66
E ± 1,8 ± 5,0 ± 2,0 ± 3,8 ± 5,7 ± 7,1
20 C 701,00 736,81 1.217,3 600,00 762,54 773,67
E ± 2,5 ± 9,6 0 ± 3,3 ± 2,1 ± 3,5 ± 9,4
S 576,87 648,41 773,03 561,11 619,86 732,22
E ± 2,6 ± 1,0 ± 1,9 ± 1,8 ± 1,2 ± 8,2
22 C 770,78 1.051,3 1.350,0 778,33 978,68 1.262,7
E ± 1,6 0 ± 1,2 0 ± 2,1 ± 6,9 ± 4,6 0 ± 1,3
S 708,57 940,50 1.055,0 625,55 970,58 1.007,0
E ± 2,1 ± 2,0 0 ± 2,5 ± 1,7 ± 2,0 0 ± 1,5
24 C 1.124,4 1.378,2 1.542,4 1.116,4 1.296,9 1.496,7
E 0 ± 3,8 0 ± 1,0 0 ± 3,5 0 ± 2,2 0 ± 6,7 0 ± 4,8
S 1.046,3 1.305,0 1.435,0 872,50 1.136,3 1.373,6
E 0 ± 2,8 0 ± 3,8 0 ± 3,2 ± 1,3 0 ± 1,8 0 ± 2,1
*TI: Tipo de instalação; CE: em estufa (com cobertura plástica); SE: sem estufa
Figura 5: Tanque circular de reprodução de quelônios em alvenaria. CPPQA,
(sem cobertura plástica).
Balbina/AM. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).
230 303
Quanto ao comprimento da carapaça (Tabela 3), não houve mínimo, 60 cm de altura e com cantos arredondados. Este tipo de
diferença significativa ao nível de P<0,05, do efeito dos níveis de PB e estrutura evitará a fuga de animais (principalmente tracajás),
EB testados, tanto para os tratamentos com animais confinados em quando de eventuais problemas de secagem acidental dos tanques e
instalações com cobertura plástica (CE), quanto para os confinados barragens (Figura 8).
em instalações sem cobertura (SE). Porém, observa-se que dos 12
aos 18 meses de idade, ocorre uma tendência à obtenção de maior Nos berçários, é recomendável que se coloque uma estrutura
crescimento em valores médios, com o fornecimento de ração com de proteção para evitar predadores aéreos (gaviões, garças, socós,
40% de PB e 3.500 kcal de EB/kg para as duas instalações testadas. etc.). Isso pode ser feito com redes de pesca, tela tipo sombrite ou fios
A partir dos 18 meses de idade, até o final do experimento, obteve-se de náilon esticados (Figuras 6 e 7).
tendência para maiores valores de comprimento da carapaça,
aumentando-se o teor de energia bruta para 4.500 kcal de EB/kg,
em rações de 40% de PB.
302 231
Tabela 3: Efeito dos níveis de PB (%)/EB (kcal de EB/kg) sobre o comprimento
da carapaça (cm) de tartaruga (P. expansa), em tanques-rede.
232 301
As rações foram fornecidas na forma de péletes, por A seguir, temos uma pequena revisão sobre dados de
promover maior facilidade no momento da apreensão. Proporciona instalações para quelônios e, posteriormente, apresentamos os
também maior estabilidade na água e maior agregação dos resultados de estudos realizados em instalações para
ingredientes, já que o fornecimento da ração farelada promove queloniocultura no Amazonas.
grande perda de alimento, pois os animais ao se alimentarem ficam
com a ração aderida ao corpo (Vianna, 2000). 5.1. Instalações para quelônios: uma pequena revisão
300 233
O Cenaqua (1994) e o Ibama-AM recomendam por 1 ha de Tabela 2 - Nutrientes e ingredientes da ração experimental.
lâmina d'água 4.500 e 4.000 indivíduos, respectivamente. Ingredien 20/3.500 30/3.500 40/3.500 20/4.500 30/4.500 40/4.500
tes (%)
Milho 63,81 37,03 12,936 63,81 37,03 12,936
A princípio, para o investimento físico, é necessário o
F. soja 23,40 48,66 71,388 23,40 48,66 71,388
levantamento topográfico da área escolhida, demarcação para F. carne 6,25 7,76 9,126 6,25 7,76 9,126
limpeza e construção de barragem. Na limpeza é importante que F. trigo 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00
F. osso 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
sejam retirados troncos que correspondam a 20% da área a ser Calcário 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50
inundada para a captura e nos 80% restante, corta-se rente ao solo Sal 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30 0,30
Óleo - - - 5,8L 5,8L 5,8L
(Espriella, 1973; Sebrae, 1995). Premix 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
vit.
Para Espriella (1972) e o Sebrae (1995), praias de desova Mineral
Total 100Kg 100Kg 100 Kg 100Kg 100Kg 100Kg
devem margear o criatório e possuir 250 m2, aproximadamente. O Nutrientes (%)
uso de cercas, caso haja necessidade, deve ser feita após a
Proteína 20,19 30,74 40,01 20,08 30,52 40,25
construção com mourões distanciados a cada 2,0 m. A Bruta
profundidade do mourão e da estaca deve ser de 30 cm, a uma Energia 3.524 3.513 3.535 4.546 4.537 4.523
Bruta
altura de 1,5 m e no caso da superfície da água deve estar a 1m EE 4,56 5,25 6,34 4,98 5,70 6,86
acima da superfície para evitar a entrada de animais indesejáveis ou Fibra 7,63 7,98 8,47 7,85 7,46 8,54
Cinzas 12,25 12,90 11,98 12,11 12,56 11,87
a saída das tartarugas do berçário ou represa. Por isso, não é
Cálcio 4,25 4,28 4,44 4,32 4,12 4,56
recomendado construir porta comum e, quando for o caso, o tipo Fósforo 1,81 1,69 1,87 1,78 1,79 1,98
guilhotina seria o indicado, incluindo também rampa para acesso *PB(%)/EB(kcal/kg)
dos animais, cultivos de plantas para ampliar/diversificar a
alimentação dos quelônios. Delineamento experimental e análise dos resultados
Alfinito, Viana & Silva (1976) enfatizam a importância do Os resultados de crescimento foram obtidos através de biometria
bimestrais. Todos os animais eram medidos e pesados. Os dados
berçário de tartarugas, na qual os animais confinados foram tabulados em planilha eletrônica Excel e submetidos à
desenvolvem-se satisfatoriamente, não sendo registrado perda análise estatística no programa SPSS for Windows 8.0. Os dados
superior a 1%. foram tabulados por espécie, por nível de proteína e energia
testados, e por tipo de instalação a que foram submetidos os
Recomenda-se a construção de berçário para diminuir ou animais. As variáveis analisadas foram comprimento da carapaça
(cm), altura da carapaça (cm), peso (g), ganho diário de peso (g/dia) e
evitar o índice de mortalidade, nos primeiros meses de vida, dada às rendimento de carcaça (%). Os tratamentos foram organizados em
adaptações naturais biológicas, com solário e comedouro um delineamento experimental inteiramente casualizado. Os
submerso, sendo o primeiro com 10 m x 8 m, comprimento e resultados foram submetidos à análise de variância (Anova) e as
comparações foram realizadas através do teste t. O nível de
largura, respectivamente, a uma profundidade de 1 m, ou menor,
significância utilizado em todos os testes estatísticos foi de P < 0,05.
234 299
Para a análise da variação de temperatura nas baias, foram podendo essas medidas variar segundo as circunstâncias de
utilizadas medidas de temperatura da água e do ar. A temperatura disponibilidade, características técnica e econômica do material
ambiente foi medida por meio de um par de psicômetros, um de encontrado no local, desde que não comprometam o crescimento do
bulbo seco e um de bulbo úmido, instalados dentro da baia. As animal, podendo ser coberto com tela de arame ou fio de náilon, a
leituras foram feitas de 10:00h às 16:00h, em intervalos de uma fim de evitar o ataque de predadores avícolas silvestres. O solário e a
hora. rampa de alimentação devem ter lâmina d'água para diminuir o
De 0 aos 10 meses de idade, as tartarugas e tracajás foram consumo de água de reposição no reservatório, controle de
alimentados com uma ração constituída de 60% da ração comercial alimentação e realizar a higienização diária (Alfinito, 1980).
Nutripescado e 40% da ração comercial Nutritruta. Os ingredientes Pela qualidade da água amazônica, em termos de sais
dessas duas rações são: farinha de peixe, milho, farelo de soja, farelo
dissolvidos, ser pouco produtiva e com certa acidez, sendo causado
de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal, premix vitamínico
por fatores geológicos ou pelo índice pluviométrico, deve haver a
e mineral. A Tabela 1 apresenta os nutrientes desta ração. Neste
possibilidade de renovação para que a taxa de oxigênio dissolvido
período, os animais estavam depositados num tanque escavado de
esteja acima de 9,0 ppm (Sebrae, 1995).
120 m2, numa densidade de 9 animais/m2.
Sobretudo o período após a alimentação dos quelônios,
Tabela 1: Nutrientes da ração fornecida aos animais de 0 a 10
meses de idade.
para o Sebrae (1995), é extremamente essencial porque esses
Nutrientes %
animais necessitam de flutuadores (natural ou artificial) para,
Umidade (%) 13,0 através da sua exposição aos raios solares, acelerar seu
Proteína bruta (%) 32,33 metabolismo e a digestão, após a alimentação em cativeiro.
Energia bruta (kcal/kg) 3.432,80
Extrato etéreo (%) 3,66 Na barragem, o escoamento controlador do nível d'água
Fibra bruta (%) 7,0
deve ser feito através de gravidade em direção do monge e
Extrato não nitrogenado (%) 46,01
Matéria mineral (%) 11,00 sangradouro, telados. Para facilitar a captura dos animais, a caixa
Ca (%) 2,50 de coleta deve ser de 10% da área inundada com 0,75 m de
P (%) 0,7
profundidade. Após o esvaziamento deve ser feita a calagem com
A alimentação dos animais durante o período experimental (10 calcário dolomítico, em função da análise química d'água, com solo
a 24 meses), foi uma ração fabricada na Universidade Federal do úmido, sem nenhuma tartaruga, e após 7 dias, a barragem deverá
Amazonas, com três níveis de proteína bruta (20, 30 e 40% de PB) e ser enchida e os animais colocados depois de 15 dias de espera
dois níveis de energia bruta (3.500 e 4.500 kcal de EB/kg). A Tabela (Sebrae,1995).
2 apresenta os nutrientes desta ração.
Observações realizadas no Núcleo de Criação de Quelônios
em Cativeiro, na Fazenda Vale do Sol, em Goiás, demonstraram que
298 235
a baixa temperatura ambiente é um fator que causa a morte em proteína e energia na dieta, são indicadas entre 20 e 40%, porém, é
tartarugas jovens em cativeiro. Como conseqüência do frio, os necessário diminuir essa faixa visando minimizar os custos do
filhotes podem desenvolver um quadro de pneumonia, evidenciado produtor com ração.
por sintomas como perda do apetite, presença de uma membrana
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de diferentes
esbranquiçada cobrindo o globo ocular, secreção nasal com
níveis de proteína e energia bruta em dietas artificiais no
obstrução das vias respiratórias, insuficiência respiratória desenvolvimento de tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa) e
caracterizada pelo comportamento atípico dos animais, que tracajá (Podocnemis unifilis). Avaliar a influência de tipos de
permanecem boiando com o corpo em posição inclinada, e instalações no desenvolvimento: tanques-rede com e sem cobertura
mortalidade (Ferreira, 1994). Isso indica que em locais com períodos plástica e tanque escavado.
mais frios, além dos solários, os berçários podem receber cobertura
plástica para propiciar temperaturas maiores e mais constantes. Localização: Esse experimento teve duração de 14 meses e
foi conduzido na Fazenda Experimental da Universidade Federal do
Para a criação de tartarugas é necessário que haja alguns Amazonas, localizada na BR-174, Km 37, Manaus/AM.
cuidados, principalmente em áreas adaptáveis ao seu habitat
natural como: a água deve ser renovável; o viveiro deve ser fertilizado Animais: Foram utilizadas 270 tartarugas (Podocnemis
para que ocorra uma reprodução de microplâncton, útil ao equilíbrio expansa) com comprimento médio inicial de 13,27 ± 2,0cm e peso
ecológico do açude; é necessária a construção de tanques de engorda médio inicial de 320,05 ± 0,6g e 270 tracajás (Podocnemis unifilis),
e crescimento inicial (Duarte, 1998). com comprimento médio inicial de 9,58 ± 0,8cm e peso médio inicial
de 120,40 ± 1,5g, avaliados de 10 a 24 meses de idade, provenientes
Os criadouros comerciais de quelônios, instalados em da Reserva Biológica de Abufari, município de Tapauá/AM.
represa ou açudes, deverão apresentar sistema que permita seu
A densidade de estocagem era de 15 indivíduos/ m2.
completo esvaziamento. Os criadouros instalados em braços de
lagos devem prever sistemas de captura dos animais através de Instalações: Em um tanque escavado de 120m2 de espelho
cercados ou redes, mediante condicionamento alimentar (Duarte, d'água, foram depositadas quatro balsas de madeira de 9m2, cada
1998). uma com quatro flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa
Para a criação comercial de quelônios em cativeiro, estava dividida em 9 baias de 1,0m2 x 0,6m de profundidade, num
sistema de gaiolas tanques-rede flutuantes, sendo que do total de 36
sugere-se a construção de um tanque e de um lago de barragem. Os
baias, metade foi coberta com plástico transparente para simular o
lagos deverão ter 10.000 m2, destinando-se aos últimos 36 meses de
efeito de uma estufa (com estufa), e a outra metade estava sem
engorda, de onde sairão 4.500 tartarugas adultas, pesando, no
cobertura plástica (sem estufa). Cada baia possuía uma área para
mínimo, 25 kg a unidade (Sebrae, 1995).
banho de sol, e as baias sem cobertura foram teladas para evitar o
Para implementar um criatório de quelônios, é necessário ataque de possíveis predadores.
236 297
sementes e frutos, e os machos, talos. Os exemplares menores dispor de uma área adequada que contenha igarapé com uma
consomem proporcionalmente mais produto de origem animal do lâmina de água não inferior a 1,0 ha (Duarte, 1998).
que os maiores, ainda que em baixa proporção do volume total.
Mudanças na dieta de jovens e adultos são comuns nos quelônios. Os investimentos físicos para a implantação de um criatório
Em geral, espécies onívoras tendem a ser carnívoras quando jovens de tartaruga consistem em atividades da construção civil como:
e herbívoras quando adultas. seleção e demarcação da área, cuidado com a qualidade da água,
limpeza da área, praia de desova, cerca de proteção, sistema de
Lima (1998) avaliou o efeito de dietas contendo diferentes escoamento, monges, sangradouros, barragens, tanque de filhotes e
fontes de proteína na matéria seca (100% vegetal; 75% vegetal e 25%
local de captura (Sebrae, 1995).
animal; 50% vegetal e 50% animal; 25% vegetal e 75% animal; e
100% animal), como alimentação de filhotes de P. expansa em 5.2 Instalações para quelônios no Amazonas: Etapa I:
cativeiro, pós-eclosão até 12 meses de idade, e observou que a ração diagnóstico da criação de quelônios no estado do Amazonas
com 50% de proteína animal e 50% vegetal foi a que proporcionou
maior ganho de peso, 512,79% ± 12,48g, e melhor homeostase. Através do projeto Diagnóstico da Criação de Animais
Silvestres no Amazonas, a Universidade Federal do Amazonas e o
A principal dificuldade enfrentada pela queloniocultura é a Ibama realizaram o levantamento dos principais tipos de instalações
questão alimentar. Pouco se conhece sobre as reais exigências de quelônios utilizadas no Amazonas.
nutricionais da tartaruga. Estudos têm indicado que 90% da
alimentação da tartaruga, em condições naturais, são compostas de 5.2.1 Localização do diagnóstico
vegetais. O item alimentar mais utilizado na criação de tartaruga
As propriedades visitadas, bimestralmente, foram os
tem-se constituído de ração para peixes, com níveis protéicos
criadouros registrados no Ibama-AM apresentados na Tabela 1.
variando de 28% a 30% de proteína bruta e é considerado o melhor
alimento disponível no mercado (RAN, 2001). Duarte et al., 1998, ao 5.2.2 Procedência dos animais
fazer um diagnóstico da queloniocultura no estado do Amazonas, Os filhotes de tartaruga (Podocnemis expansa) foram doados
verificaram que tartarugas alimentadas com ração para peixes pelo Ibama-AM ao(s) queloniocultor(es), mediante a aprovação do
superaram em crescimento àquelas alimentadas com produtos de projeto para a criação comercial, sendo os animais provenientes,
origem animal e vegetal, tendo com este último produto, o pior inicialmente, da Reserva Biológica do Abufari (Lat. S 0451' – 0530' e
desenvolvimento dos animais. Long. W 6247' a 6322'; Criada pelo Decreto Federal nº 87.585 de
20/9/1982) no município de Tapauá (Lat. S 0545' e Long. W 6424') e
Apesar de apresentar boas qualidades zootécnicas, poucos
são os conhecimentos tecnológicos disponíveis para o cultivo depois nos tabuleiros de Sororoca, Rio Branco, Roraima e Walter
intensivo de quelônios, havendo a necessidade de mais pesquisas Buri, Rio Juruá, Itamarati.
para que se viabilize sua produção em larga escala. As exigências Tabela 1: Criadouros de tartaruga (Podocnemis expansa) do estado do Amazonas
nutricionais elementares para quelônios, como as concentrações de analisados e total de animais recebidos do Ibama até 2000.
296 237
Propriedade Animais recebidos
Manoel Neuzimar Pinheiro - Sítio Vida Tropical 1.000 Capítulo 9: Desenvolvimento de tartaruga-da-
Carlos A. de Souza 835
José V. dos S. Lima 1.300 amazônia (P. expansa) e tracajá (P. unifilis) em
Águas Claras Piscicultura Ltda. 3.000
Agropecuária Exata Ltda.
Francisco de S. Campos
22.100
15.000
cativeiro, alimentados com dietas artificiais em
Antônio B. Penha
Manoel Neuzimar
8.000
1.000
diferentes instalações
Francisco O. Jordão - Agropecuária Punã Ltda. 19.433
Pedro de Q. Sampaio - Agropecuária PEC Ltda. 25.000 Francimara Sousa da Costa
José da S. Vasconcelos 5000
Ocimar Lopes – Aq. Sypiri 2.000
Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
Arlindo Apolinário Pereira 3.000 Augusto Shynia Abe
Ufam 1.200 Paulo César Machado Andrade
Ivan Menezes – Fazenda D. Diego 2.000 Pedro Macedo da Costa
José Itamar da Silva 4.000
José Bastos de Oliveira 4.000
Stênio Lima da Silva 5.000
Total (unidades) 122.868 Pouco se conhece sobre a nutrição adequada dos quelônios
em cativeiro na fase de pós-eclosão até um ano de idade (Souza,
5.2.3 Material para captura, biometria e pesagem dos 1984). A importância de estudos morfológicos para as diversas áreas
de pesquisas em quelônios pode ser ressaltada através de alguns
animais
exemplos, como o fato do comprimento do intestino ser, na maioria
Para a captura e biometria dos animais foram utilizados
dos casos, proporcionalmente maior em animais herbívoros quando
puçá, rede de pesca (tipo tarrafa ou malhadeira), paquímetros
comparado aos carnívoros.
metálicos, plásticos e/ou de madeira, caçapas plásticas, trena,
coletor plástico para amostras, máquina fotográfica, etiquetas de Em estudos realizados por Terán (1998), com animais de vida
identificação, ficha de biometria de quelônios, prancheta, lápis, livre, observou-se que não houve variação sazonal na alimentação
borracha, papel-lenço, balanças com capacidade respectiva de entre machos e fêmeas de P. unifilis. Sementes e frutos foram mais
1,610 kg (graduação de 1g), 2,610 kg (graduação de 1g), 15 kg consumidos por fêmeas, e talos, por machos. Houve aumento no
(graduação de 5 g) e 50 kg (graduação de 100 g). Foram realizadas consumo de sementes e frutos em função do tamanho, sendo que o
biometrias e pesagens amostrais em 100 animais de cada criadouro, volume de peixe consumido diminuiu com o tamanho do animal.
bimestralmente. Também foi observada a influência da alimentação consumida em
função do tipo de habitat. Sementes e frutos foram consumidos na
floresta inundada do que nos lagos e no rio. Apesar de machos e
fêmeas de P. unifilis serem herbívoros, existem diferenças na
alimentação entre os sexos. As fêmeas consomem principalmente
238 295
aquáticos cultivados. Animais alimentados com rações com farelo de
arroz não tiveram bom crescimento.
b) Ração com 25% de proteína e 4,8% de fibra: 29,6% de milho, Foram realizadas visitas bimestrais aos criadouros
43,9% de farelo de soja, 11,5% de farelo de trigo, 5% de talo e licenciados pelo Ibama, no estado do Amazonas, onde foram
folha de mandioca, 1,5% de fosfato bicálcico, 8% de calcário aplicados questionários para caracterizar os criadores através de
calcítico e 0,5% de premix. informações sobre questões referentes à qualidade da água, tipos e
dimensões de instalações, densidade de cultivo, etc. Para a coleta
Conclusão
dos dados, foi feita uma amostragem de 100 animais em cada
A alimentação representa entre 60 a 80% dos custos de criadouro. Eles foram medidos e pesados (biometria)
produção de tartarugas e tracajás cultivados. Enquanto não estão bimestralmente. Após a biometria os animais eram submersos em
totalmente definidas as exigências nutricionais por espécie e solução antifúngica em bacias plásticas de tamanho apropriado
categorias de idade e sexo, cada criador deverá buscar utilizar para evitar quaisquer possíveis problemas fúngicos.
aqueles alimentos que já foram testados e que apresentam melhores Posteriormente, eles eram soltos nos berçários.
efeitos no desempenho dos quelônios e, certamente, um menor
custo, a fim de baratear sua produção. Cada animal foi medido linearmente, com paquímetro. As
variáveis mensuradas foram comprimento e largura da carapaça e
294 239
do plastrão, altura e peso. Sistematicamente, na carapaça, mediu- T3: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028
se o comprimento entre a união dos dois primeiros escudos/placas T4: ração basal = R$ 85,29
laterais. Até os dois últimos e para a largura adotou-se como T5: ração basal + 600 ml de óleo de soja = R$ 92,1615
referência a união dos sextos e sétimos escudos laterais. T6: ração basal + 1.200 ml de óleo de soja = R$ 99,028
O tamanho das propriedades variou de 9 até mais de 5.000 Tabela 11: Variação percentual de ingredientes de rações testadas por alguns
queloniocultores do Amazonas e Rondônia.
hectares (ha). Sendo a maioria entre 9 –35 ha, com média de 22
18,38 ha (Figura 10). Ingredientes Valor máximo Valor mínimo
utilizado (%) utilizado (%)
Farelo de soja 54,1 31,0
As represas variaram de 0,1 a 6,0 ha, embora a maioria Milho 49,1 29,0
estivesse entre 1 e 2 ha (Figura 11). Farinha de carne 12,0 0,0
Farinha de peixe 23,0 0,0
Fosfato bicálcico 2,0 0,0
A área dos berçários foi, em maioria, de 30 m2 até mais de Farelo de arroz 10,0 0,0
Sal 0,5 0,5
1.000 m2 (Figura 14 a, b e c). A maior parte dos criadouros possui a Premix 0,4 0,4
densidade no berçário entre 0,5 e 5 indivíduos/ m2 (Figuras 12, 13 e mineral/vitamínico
15). B.H.T.(antioxidante) 0,03 0,03
Óleo de soja 4,0 0,0
**- Premix para peixes carnívoros (truta).
240 293
Com base nos resultados destes experimentos, podemos
concluir que filhotes de tartaruga criados em instalações com
cobertura plástica (efeito estufa), com uma ração com 4.500 kcal de
2
EB/kg, na densidade de 25 animais/m (tanques-rede) ou 40
2
animais/m (berçário circular de madeira) podem alcançar um
melhor desempenho.
Nos dois primeiros meses de condução do experimento, com Figura 10: Tamanho das propriedades (Duarte, 1998).
animais de idade entre 3 e 5 meses, foi fornecido inicialmente um
total de 21,12 kg de ração, por tratamento. Nos dois últimos meses, a
quantidade de ração fornecida foi de 40,04 kg, quando os animais
estavam com idade de 22 meses. Cada saco de ração custou R$
22,50, portanto, o gasto inicial por tratamento foi de R$ 19,01, com
total de R$ 114,048 e o final de R$ 36,036, com total de R$ 216,216.
Esses cálculos foram baseados na quantidade de fornecimento
diário de ração, por tratamento, nos dois primeiros meses (inicial) e
dois últimos meses (final).
292 241
Efeitos do nível de energia na ração sobre o ganho diário de
peso (g/dia) de tartaruga (P. expansa ) criadas em cativeiro
2,5
2
GDP (g/dia)
1,5
1
0,5
0 3500
6 8 13 16 4000
Idade (meses) 4500
Tabela 10: Efeitos do tipo de instalação e nível de energia bruta sobre o ganho
médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 meses
de idade. (Costa, 1999)
242 291
Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobre
o ganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa) (Costa,
1999).
290 243
Tabela 6: Efeitos dos níveis de energia bruta e tipo de instalação sobre a
variação do peso (g) de filhotes de tartaruga (Costa, 1999).
244 289
O experimento conduzido na fazenda experimental sobre o cada baia possui uma área para o banho de sol, uma abertura para
nível de energia na ração, durou 422 dias, sendo iniciado com água, devidamente telada, com aproximadamente 0,9 m de
filhotes de tartaruga da Rebio Abufari, Tapauá/AM, com 3 meses de profundidade.
idade e peso médio de 45,66 3,63 g. As baias foram recobertas, sendo 50% cobertas com telas de fio de
náilon, para evitar ataque de predadores. As outras baias foram
A temperatura da água medida nas instalações ao ar livre foi cobertas com plástico para simular o efeito de uma estufa, mantendo
de 31,05 0,81C e, em berçário com estufa de 30,52 0,90C. A a temperatura mais elevada e constante. Foram utilizadas as
temperatura do ar foi nas instalações com estufa era igual a 33,5C, e seguintes densidades de estocagem: 30, 20 e 10 animais/m . Em
3
nas sem estufa de 31,82C. A umidade relativa do ar maior em anexo, apresentamos o croqui das baias experimentais.
instalações com estufa, 76,25%, do que nas instalações ao ar livre,
69,90%.
* T1: CE x 3.500 kcal de EB/kg; T2: CE x 4.000 kcal de EB/kg; T3: CE x 4.500 kcal de O berçário destinado aos outros filhotes de tartaruga,
EB/kg; T4: SE x 3.500 kcal de EB/kg; T5: SE x 4.000 kcal de EB/kg; T6: SE x 4.500 kcal
provenientes de Abufari, foi um curral de estacas de madeira
de EB/kg; SE: instalações sem cobertura plástica; CE: instalações com cobertura
plástica. (berçário convencional) de 16 m2 situado no mesmo tanque escavado
de 400 m2 de espelho d'água, dentro da fazenda. O berçário
encontra-se recoberto por tela para evitar o ataque de possíveis
predadores, bem como possui pequenas balsas que permitem aos
288 245
filhotes a exposição ao sol. Para a alimentação dos animais foi utilizada ração
experimental com três níveis de energia (3.500, 4.000 e 4.500 kcal de
Os animais foram medidos com paquímetros e pesados em
Energia Bruta/kg), conforme a Tabela 4:
balança mecânica de prato, com capacidade para 1.610g e precisão
de 1g. Para medir a temperatura da água foram utilizados Tabela 4: Nutrientes e ingredientes da ração experimental utilizada como
termômetros de imersão. A temperatura do ar bem como a umidade alimento para os animais do experimento.
relativa foi obtida através de psicrômetro.
Nutrientes EB3.500 EB4.000 EB4.500 Berçário
Umidade (%) 13 13 13 13
Neste experimento foram avaliados os efeitos de três tipos de Proteína 38,75 38,75 38,75 32,33
instalações (com e sem estufa em tanques-redes berçário), três bruta (%)
Energia 3.629 3.985 4.302 3.432,8
densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m2) e três níveis de energia bruta
bruta (kcal/
(3.500, 4.000 e 4.500 kcal/kg) em ração utilizada na alimentação, kg)
sobre o desempenho de filhotes de tartarugas (Podocnemis expansa) Extrato 3,33 8,8 13,68 3,66
etéreo (%)
em cativeiro. Os resultados sobre densidade de cultivo e nutrição são Fibra bruta 7 7 7 7
apresentados em capítulos posteriores relativos ao tema. Foram (%)
Extrato não - 40,94 35,47 30,59 46,01
medidos os seguintes parâmetros: comprimento e largura da
nitrogenado
carapaça, comprimento e largura do plastrão, altura, peso, ganho (%)
diário de peso e conversão alimentar. Matéria 9,98 9,98 9,98 11
mineral (%)
Ca (%) 3,84 3,84 3,84 2,5
Os tratamentos foram distribuídos em um delineamento P (%) 0,83 0,83 0,83 0,7
inteiramente casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo Ingredientes
2
consideradas três densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m ), três Ração Basal* 1 1 1 2
Óleo de soja 0 6.000 12.000 0
instalações (com e sem estufa e berçário) e três níveis de energia (ml/100 kg)
bruta em rações (3.500, 4.000 e 4.500 kcal de EB/kg).
* Ração Basal 1: Composta de 67,10% da ração comercial com 42% de proteína e 32,89%
de ração com 30% de PB; Ração Basal 2: composta de 66,66% de ração com 42% de PB e
Foi considerada como parcela a densidade e como 33,33% de ração com 30% de PB. Os ingredientes dessas rações são os seguintes: farinha
subparcelas as instalações e os níveis de energia da ração. Foram de peixe, milho, farelo de soja, farelo de trigo, farinha de sangue, carbonato de Ca, sal,
tomadas medidas repetidas ao longo do tempo, sendo cada período premix mineral e vitamínico.
de medição considerado uma repetição. As variáveis foram Os filhotes utilizados no experimento, foram alojados nas
analisadas pelo programa SAS, através da análise com aplicação da baias experimentais e, diariamente, foram alimentados. A
Anova e LSMEANS (teste t). alimentação era fornecida mediante a deposição da ração dentro das
baias, no horário de 9:00h às 10:00h da manhã, numa quantidade
Os animais da balsa (tanque-rede) foram comparados com os de 5% do peso vivo dos animais.
animais do berçário através do teste t do LSMEANS.
246 287
Amazonas, localizada no Km 38 da BR-174, Manaus-Boa Vista, O experimento teve duração de 422 dias. No início, os animais
experimento para determinar as exigências energéticas de filhotes de foram separados e devidamente marcados, com esmalte e picos no
tartaruga até os 16 meses. casco, indicando o seu número e o correspondente tratamento, para
não haver mistura entre as baias. Os tratamentos ficaram divididos
Neste experimento foram utilizados 360 filhotes de tartaruga
de acordo com alimentação, instalação e densidade.
(Podocnemis expansa), com 3 meses de idade. Esses animais foram
obtidos no Ibama/AM e são oriundos da Reserva Biológica de Concomitantemente à biometria, foram tomadas as medidas
Abufari, localizada no município de Tapauá/AM, tinham, ao nascer, de temperatura da água e do ar e umidade relativa referente a cada
peso médio de 23,1 ± 3,07g, e foram alojados em baias em balsas tipo baia. Essas medidas serviram para se ter uma idéia das condições de
tanques-rede. Outros filhotes de mesma origem foram alojados em temperatura e umidade às quais os animais estavam submetidos.
um berçário circular de 16 m2, feito curral de estacas de madeira. 5.3.2 Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos 3 aos 7
meses
Os filhotes foram alojados em berçário tipo tanque-rede
colocado em um tanque escavado de 400 m2 de espelho d'água. Esse O experimento conduzido na fazenda experimental sobre
berçário foi constituído de duas balsas de madeira de 2,40m x densidade, tipo de instalação e nível de energia na ração durou, em
1,80m, com dois flutuadores (camburões metálicos). Cada balsa foi sua primeira fase, 153 dias, sendo iniciado com filhotes de tartaruga
dividida em 18 baias de 0,9m x 0,9m, sendo que cada baia possuía provenientes da Rebio Abufari, Tapauá/AM, com 3 meses de idade e
uma área para o banho de sol, uma abertura para água devidamente peso médio de 45,66 3,63 g.
telada, com aproximadamente 0,9 m de profundidade. Os Além do experimento nos tanques-rede foram
tratamentos foram distribuídos em um delineamento inteiramente acompanhados, também, 353 animais de diferentes populações
casualizado, com esquema fatorial 3x2x3, sendo considerados três (Abufari, Rio Branco e Uatumã) colocados no berçário circular de
densidades (12, 25 e 37 indivíduos/m2), 3 instalações (com e sem estacas de madeira com, aproximadamente, 16 m2 de área e 1 m de
estufa e berçário) e 3 níveis de energia bruta em rações (3.500, 4.000 profundidade (Figura 1), na densidade de 22 animais/m2.
e 4.500 kcal de EB/kg).
As variáveis ambientais registradas para avaliar o efeito da
cobertura plástica (estufa) sobre metade dos tanques-rede foram a
temperatura do ar, a temperatura da água e a umidade do ar.
286 247
plástico das estufas tornou-se opaco pelo acúmulo direto de sujeira, com base em 3% da biomassa, passando a 1% da biomassa a partir
o que, de certa forma, impediu a entrada total dos raios solares, do quarto ano de cultivo. Lembrar que se desejar manter uma
funcionando como uma espécie de sombreamento. Contudo, da alimentação 100% baseada em ração diminuirá o tempo de
mesma forma que impediu a total irradiação solar, a estufa impediu produção, pois o animal crescerá mais rápido, o que acaba por
a rápida dissipação do calor nas instalações, o que foi verificado reduzir custos com mão-de-obra, equipamentos e instalações.
através de uma menor variação de temperatura, dentro das
instalações, com uma menor amplitude térmica entre dia e noite, e
7.2 Exigências nutricionais
ao longo do dia, como pode ser observado na Figura 15.
Além do horário de fornecimento, do tipo, da forma e da
A umidade relativa do ar foi maior nas instalações com
quantidade de alimento fornecida, é de fundamental importância
estufa, 76,25%, do que nas ao ar livre, 69,90%.
para as criações de quelônios conhecer suas exigências nutricionais
específicas e por categoria de idade. A determinação dos níveis de
energia, proteína, cálcio, fósforo e demais minerais e vitaminas para
Temperatura da água nos tanques-redes ao longo do dia
atender a demanda de filhotes, jovens e adultos reprodutores de
tartarugas e tracajás em cultivos comerciais, ainda é uma incógnita.
33
32 Alguns experimentos foram conduzidos para determinação,
31 ar livre principalmente, das exigências protéicas (origem e níveis). Contudo,
o C
30 estufa ainda faltam muitas pesquisas para que possamos chegar a uma
29 tabela de exigências nutricionais para as diferentes espécies (P.
28
expansa, P. unifilis e P. sextuberculata) e diferentes categorias de
27
quelônios aquáticos cultivados na Amazônia.
10 11 12 13 14 15 16
horas 7.2.1 Energia bruta
248 285
A Tabela 2 e as Figuras 17 e 18 apresentam os resultados
Para animais pequenos e mesmo os adultos, a alimentação encontrados para algumas das variáveis analisadas neste
na superfície da água é mais difícil de ser realizada, exigindo maior experimento (comprimento e largura de carapaça, comprimento e
largura de plastrão, altura, peso e ganho diário de peso).
esforço dos animais. Os alimentos devem afundar rapidamente e
não ser jogados a lanço, o que causa um maior desperdício. Tabela 2: Efeito do tipo de instalação sobre o comprimento e altura da carapaça (mm)
Pequenos cochos de madeira colocados no fundo, em uma das de filhotes de tartaruga (P. expansa) de 4 a 7 meses (Costa &Andrade, 1999).
margens do berçário ou barragem, ou cochos suspensos que possam Tratamento\ idade 4 meses 5 meses 6 meses 7 meses
ser afundados ou suspendidos através de fios e roldanas, também Comprimento da carapaça (mm)
são interessantes. Uma simples rampa de madeira em que se Tanque-rede sem 82,7±0,1 99,2±1,8 107,2±4,2 109,8±4,3
coloque o alimento próximo à margem permitirá visualizar melhor os cobertura plástica
Tanque-rede com 82,0±2,0 101,2±1,9 108,3±1,8 115,9±2,9
animais e evitar o estrago dos alimentos.
Evitar fornecer alimentos contaminados por fungos ou cobertura plástica
(estufa)
estragados, pois poderão causar doenças no plantel.
c) Alimentação inicial dos filhotes de quelônios: ao receber os Altura da Carapaça (mm)
Tanque-rede sem 32,8±0,6 40,8±0,9 41,5±1,5 43,5±1,2
animais do Ibama, sugerimos que na primeira semana, forneça
cobertura plástica
fígado bovino moído ou gema de ovo cozida, misturada com pó de Tanque-rede com 32,4±0,6 41,2±0,9 41,3±1,3 44,9±0,3
casca de ovo, na proporção de 1 g por filhote. Essa alimentação cobertura plástica
servirá para estimular o quelônio a comer e poderá servir para (estufa)
condicioná-lo a comer em cochos ou rampas.
Quando os filhotes estiverem acostumados a comer, fornecer As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
ração balanceada para peixe, em alevinagem, com o menor tamanho e ganho médio diário de peso não apresentaram diferenças
de pellet disponível e que afunde rapidamente, com cerca de 30-36% significativas, ao nível de 5%, pelo teste F e teste t do LSMEANS, para
PB e 4.000-4.500 kcal de EB/kg. Essa ração deverá compor 100% da o fator tipo de instalação (análise do SAS). Todavia, conforme é
dieta nos 6 primeiros meses, posteriormente, poderá ser substituída possível verificar nas Tabelas 2, 3 e 4, existe uma tendência para que
por 30% de subprodutos de origem animal e/ou 30% de animais criados em estufa apresentem maior desenvolvimento
subprodutos de origem vegetal. Nesse período, o cálculo da (GDP=0,91 g/dia) do que aqueles que foram criados ao ar livre. Isso
quantidade de alimento é feito com base em 5% do peso da é, provavelmente, relacionado a uma maior estabilidade da
biomassa. temperatura e à conservação do calor no ambiente, por mais tempo,
d) Acima dos 12 meses: a ração é fornecida suplementarmente e permitindo um taxa metabólica mais regular, visto que o
trabalha-se com uma ração de crescimento (com 25-30% de PB). metabolismo destes animais é influenciado pela temperatura
Para baratear custos, pode-se ir cortando gradativamente o externa (ectotérmicos).
fornecimento de ração até que ela represente apenas 10% da
quantidade diária fornecida. A partir dessa fase, o fornecimento é
284 249
EfeitosdadensidadeXenergiabrutaXtipodeinstalaçãosobreopesofinal(g) Comprimento da carapaça ( mm )
Comprimento da carapaça
200 10 200
g ra m a s
150 20
Vísceras
150
100
(mm )
30
50 100 Peixe +
0 puerária
50
sest3500 sest4000 sest4500 cest3500 cest4000 cest4500 Restos de
0 Feira
Tratamentos (verdura)
0 4 6 8 10 12 15 17 19 21 23 25 Ração
Figura 17: Efeitos da densidade e do nível de energia bruta nas rações sobre o peso, aos Idade ( m eses)
T2
150 T3
para reduzir custos e utilizar subprodutos originados em sua
100 T4 propriedade ou de fácil aquisição nas proximidades, seguir o
50
T5 seguinte programa:
T6
0 a) Horário de arraçoamento: uma vez ao dia, às 10:00h, ou duas
4 5 6 7 vezes ao dia, às 9:00h e às 15:00h.
idade (meses)
b) Forma de fornecimento da alimentação: preferencialmente,
deve-se fornecer os alimentos sempre em um mesmo local. Esse
Figura 18: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta nas rações
sobre o peso, aos 7 meses, de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa & condicionamento alimentar facilitará, posteriormente, a captura dos
Andrade, 1999). animais para atividades de rotina como biometria ou despesca.
250 283
na revisão do início deste capítulo. Tabela 3: Efeitos do tipo de instalação e do nível de energia bruta sobre o
ganho médio diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &
A ração de peixe balanceada peletizada, como base Andrade, 1999).
alimentar, vem proporcionando um bom desempenho dos animais,
talvez por conter os níveis nutricionais aproximados dos valores Instalação 3.500 kcal 4.000 kcal 4.500 kcal de Médias
necessários para quelônios, dando ao animal os ingredientes /nível de de EB/kg de EB/kg EB/kg
essenciais para um bom crescimento. Energia
Bruta
A Tabela 3 apresenta uma comparação de médias de ganho Estufa 0,88±0,60 0,98±0,41 0,88±0,41 0,91
diário de peso (g/dia) relacionado ao tipo de alimento fornecido no
Ar livre 0,65±0,47 0,89±0,59 1,02±0,20 0,85
primeiro e segundo ano de vida.
Médias 0,77 0,93 0,95
Tabela 3: Médias de ganho diário de peso (g/dia) – GDP, em relação ao tipo de
alimento fornecido no primeiro e segundo ano de vida para filhotes de tartaruga Com relação aos animais do berçário, nos sete primeiros
(P. expansa) (Costa & Andrade, 1999). meses de vida eles apresentaram maior ganho de peso do que os
animais dos tanques-rede (1,52 0,79 g/dia contra 0,88 0,13 g/dia).
Tipo de alimento 1o ano GDP 2o ano GDP
Tabela 4: Efeitos do tipo de instalação e da densidade sobre o ganho médio
(g/dia) (g/dia) diário de peso (GDP) de filhotes de tartaruga (P. expansa). (Costa &Andrade, 1999).
Peixe 0,304 ± 0,29 1,315 ± 1,04
Ração (30% PB) 0,769 ± 0,71 1,061 ± 1,26 Instalação 12 25 37 Médias
Peixe + puerária 0,296 ± 0,35 1,071 ± 1,3 /densidad animais/ animais/m2 animais/m2
Restos de feira (verdura) 0,121 ± 0,17 1,199 ± 1,27 e m2
Vísceras bovinas 0,30 ± 0,43 1,818 ± 0,97
Estufa 0,91±0,44 1,04±0,46 0,79±0,39 0,91
Ar livre 0,86±0,44 0,85±0,38 0,91±0,28 0,87
Médias 0,88 0,94 0,85
d) A espécie que obtém melhor ganho de peso nos primeiros A utilização de ração peletizada para peixes tem demonstrado
promover bom crescimento. Apesar dessa ração não ser balanceada
anos é o tracajá (Podocnemis unifilis).
para quelônios, apresenta muitos nutrientes essenciais para o
crescimento e engorda de tartarugas. Em geral, utiliza-se a ração tipo
alevinagem (mais protéica – 36 a 42%PB – e com pellet menor) para
5.3.4 Resultados obtidos com os filhotes de tartaruga dos filhotes, no primeiro ano de vida, e a ração para crescimento para
8 aos 16 meses animais com mais de 12 meses.
252 281
As variáveis comprimento, largura e altura da carapaça, peso
e ganho médio diário de peso para tartarugas dos 8 aos 16 meses,
também não apresentaram diferenças significativas, ao nível de 5%,
pelo teste F e teste t do LSMEANS, tanto para o fator densidade,
como tipo de instalação e nível de energia. Todavia, conforme é
possível observar-se na Tabela 6 e na Figura 19, existe uma
tendência para que esses animais criados em estufa apresentem
maior desenvolvimento (GDP=1,215 g/dia) do que aqueles que
foram criados ao ar livre.
GDP (g/dia)
2
acompanhamento bimestral, iniciado em 1997, e das orientações
técnicas dadas pelos pesquisadores da Ufam e do Ibama-AM, 1,5
durante essas visitas, houve uma modificação no tipo de 1
alimentação fornecida pelos queloniocultores do Amazonas, a partir 0,5
de 1999, quando registramos que entre eles 10% passaram a utilizar
ração para peixe, pelo menos no primeiro ano de vida ou 0
CE
suplementarmente a outra alimentação fornecida. Buscando maior 6 8 13 16
Idade (meses) SE
crescimento dos filhotes, 40% passaram a alimentar suas
tartarugas com peixe, 10% com vísceras e 20% forneceram uma
Figura 19: Efeitos do tipo de instalação (CE=com estufa e SE=sem
proporção de 60-70% de peixe e 30-40% de puerária. Apenas 20% estufa) sobre o ganho diário de peso (g/dia) de tartarugas (P. expansa) criadas
mantiveram a dieta baseada em folhas, verduras, tubérculos e em cativeiro. (Costa, 1999).
frutas, obtidas em restos de feiras e mercados (Costa & Andrade,
1999).
280 253
Não houve diferença significativa em crescimento e ganho de Tabela 2: Ganho diário de peso (GDP) de tartaruga (P. expansa) sob diferentes
dietas – Relatórios Ibama (Duarte, 1998).
peso relacionando-se animais alojados em berçário circular de
madeira e animais alojados em baias tipo tanque-rede, porém, Variáveis Proteína animal Proteína vegetal
através da Tabela 7 observa-se que há uma tendência para que GDP médio (g) 0,554 ± 0,13 0,375 ± 0,31
animais alojados em baias tipo tanque-rede obtenham um melhor GDP mínimo (g) 0,257 ± 0,17 0,02 ± 0,03
desempenho na idade de 8 a 16 meses. GDP máximo (g) 1,22 ± 0,62 0,489 ± 0,27
GDP do PV (% ) 0,402 ± 0,09 0,476 ± 0,34
Tabela 7: Crescimento de filhotes de tartaruga (P. expansa) de acordo com o tipo
de instalação. (Costa,1999).
Essa diferença de crescimento entre animais alimentados
V a riá v e is/ B a lsa (T a n q u e - B e rç á rio c irc u la r d e com matéria de origem animal e vegetal também está ligada ao nível
In sta la ç ã o re d e ) m a d e ira
C o m p rim e n to 1 8 6 ,7 7 ± 1 5 ,9 2 1 6 7 ,8 5 ± 2 1 ,3 6
protéico dos alimentos, muito superior nos de origem animal, como o
da c a ra p a ç a pescado utilizado (branquinha – Curimata spp.) com teores de
(m m ) proteína (19,2 ± 2,545 g/100g), lipídio (15,95 ±0,636 g/100g),
A ltu ra da 6 9 ,7 6 ± 5 ,8 4 6 1 ,7 1 ± 7 ,2 2
quando comparado ao teor de proteína dos alimentos de origem
c a ra p a ç a (m m )
P e so (g ) 8 1 0 ,8 7 ± 7 5 4 ,7 1 ± 2 0 2 ,3 8 vegetal, como por exemplo, a batata-doce (Ipomoea batatas Lam.)
1 4 1 ,8 0 (0,94 g/100g) e o cará-roxo (1,24 g/100g) (Aguiar, 1996).
G anho d iá rio 1 ,2 1 8 ± 0 ,6 5 1 ,2 0 0 ± 0 ,8 7
d e p e so (g / d ia ) A Figura 6 ilustra bem essa tendência quando compara
filhotes de tartaruga, em que o animal de maior tamanho corporal
Tabela 8: Efeitos do tipo de instalação e densidade de cultivo sobre o ganho
médio diário de peso (g/dia) de filhotes de tartaruga (P. expansa), aos 16 meses recebeu pescado, o médio, acima, recebeu vísceras bovinas e o
de idade (Costa, 1999). menor (abaixo do maior) recebeu proteína vegetal, todos com um ano
de idade. O lado direito do paquímetro é um animal de dois anos
In stalação/ 12 25 37 M éd ias
alimentado com proteína vegetal.
D en sid ad e de an im ais/ an im ais/ an im ais/
cu ltivo m2 m2 m2
E stu fa 1,2±0,6 1,2±0,4 1,3±0,4 1,2±0,5
254 279
5.3.6 Criação em gaiolas ou tanques-rede em ambientes
Ganho diário de peso (g) X tipo de alimentação
naturais (lagos, rios)
2
visc.bov. Para tartarugas em vida livre Hernandez (1999) estimou que
1,5
animais que foram soltos com um ano de idade, pesando 358,30 g e
gramas
pescado
1 medindo 90,2 mm de comprimento de carapaça, chegavam aos
pueraria+pesc
0,5 rest.feira quatro anos com peso vivo de 4 kg.
0
4 6 8 10 12 14 16 Andrade et al. (2001) observou que crescimento em vida livre
idade (meses)
de tracajás (P. unifilis), ao final de um ano, variava conforme a água
e o ambiente que se encontravam. Em águas pretas, atingiam aos 12
meses um peso médio de 87 a 103 g, com ganho diário de peso de
Figura 5: Ganho diário de peso em tartarugas (P. expansa), sob 0,25 g/dia. Em águas barrentas, atingiam um peso bem superior,
diferentes tipos de alimentação (Duarte, 1998). de 108 a 125 g, com ganhos de peso de 0,3 g/dia.
278 255
Ao final de 120 dias de cultivo os animais haviam atingido alimentados com peixe têm casco mais baixo e achatado (abaulado),
84,51 ± 12,06 mm de comprimento de carapaça e pesavam, em o que pode representar um menor volume interno no casco e,
média, 153,54 ± 46,55 g (máximo=269 g; mínimo=45,9 g), com portanto, um menor rendimento de carcaça.
ganho médio diário em peso de 1,06 ± 0,42 g/dia.
Essa diferença no modo de desenvolvimento, conforme a
alimentação fornecida provavelmente relaciona-se ao fato de o
Esses valores, considerando-se que os animais não foram
acompanhados até um ano nem receberam ração regularmente, são pescado conter maiores teores de cálcio e fósforo do que as vísceras
bastante promissores sobre o cultivo de quelônios nesse tipo de bovinas, permitindo que o organismo do quelônio invista mais no
instalação, em áreas naturais, o que poderá ser uma saída para desenvolvimento de tecido ósseo como o casco, gerando um
pequenos produtores e para as comunidades que ajudam na desenvolvimento mais acelerado da carapaça. Sob a ótica de que os
conservação das áreas de reprodução de quelônios que, até o quelônios são comercializados vivos, animais alimentados com
presente, não podiam criar os animais que ajudavam a preservar, pescado apresentam um maior atrativo visual por parecerem
pelo alto custo inicial para a implantação de tanques e barragens ou, maiores e mais pesados. Quando a comercialização for baseada
mesmo, por não possuírem documentação legal das terras que apenas no rendimento de carcaça, a alimentação com vísceras torna-
tradicionalmente habitam. se mais interessante.
256 277
200 mil filhotes de quelônios para a natureza, por se encontrarem
Altura X tipo de alimentação em área de várzea, em sua maioria não possuem documentação
legal da terra que habitam há muitos anos. Também não dispõem de
60
recursos para construção de tanques escavados ou barragens,
40 visc.bov
geralmente utilizados na criação comercial de quelônios. Dessa
mm
pescado
200
pueraria+pesc Foram marcados 7.960 filhotes, 2004-2005, sendo criados
100 rest.feira 2.305 (1.100 em tanque de fibra-alvenaria, 805 em tanque-rede e
0 400 em tanque escavado) e os demais soltos em lagos. Inicialmente,
0 4 6 8 10 12 14 16 os filhotes foram alojados em 14 unidades (três lagos, cinco
idade (meses) tanques-rede, cinco tanques de alvenaria-fibrocimento de 1,76 m3,
um tanque escavado de 1.350 m2). Analisou-se comprimento,
Figura 3: Crescimento de tartaruga (P.expansa) em altura da carapaça (mm),
de acordo com o tipo de alimentação (Duarte, 1998). largura e altura da carapaça, peso, ganho diário de peso (GDP) e
sobrevivência de filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga
Não houve diferença nas variáveis analisadas entre os
animais de criadores que alimentaram com pescado e vísceras
bovinas, contudo, tartarugas que se alimentaram com pescado
apresentaram uma tendência de maior peso e comprimento de
carapaça. A forma do casco desses animais, entretanto, é diferente.
Animais alimentados com vísceras bovinas são mais altos e animais
276 257
basicamente com proteína animal, em todas as variáveis
analisadas (comprimento, largura e altura da carapaça,
(P. expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) e
comprimento e largura do plastrão e peso).
cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) – Figura 21.
150
visc.bov.
100
pescado
mm
50 pueraria+p
esc
0 rest.feira
0 4 6 8 10 12 14 16
Idade (meses)
258 275
vísceras, GDP = 0,42 0,88g) do que com proteína vegetal (50% de
puerária, Pueraria phaseoloides mais 50% de pescado, GDP = 0,388
0,44g; “sobra ou resto verduras de feira”, GDP = 0,135 0,07g).
274 259
17,6 mm) – Figura 23. Tabela 1: Crescimento médio em função do tipo de alimentação fornecida para
Podocnemis expansa, em cativeiro, no primeiro ano de vida (Duarte, 1998).
Ali VÍSCERAS PEIXE VEGETAL
Peso médio de quelônios ment BOVINAS
o
Inicial* Final** Inicial* Final** Inicial* Final**
140,00 Ccp¹ 69,0± 137,5± 81,4± 134,9± 57,0± 91,4±
120,00 Tracajá
(mm) 5,7 14,8 6,0 18,5 7,1 8,8
Lcp¹ 60,6± 116,8± 66,1± 104,2± 48,8± 76,3±
100,00
Tartaruga (mm) 5,0 11,52 4,7 12,9 2,5 6,4
80,00
Iaçá
g
8m s
1 0 es
1 2 ses
1 4 ses
1 6 ses
es
3m s
e
ê
es
es
es
0m
es
e
e
m
m
** - Última biometria: animais com 16 meses de idade.
1- As variáveis referem-se: Ccp - Comprimento da carapaça; Lcp - Largura da
carapaça; Hcp - Altura da carapaça e plastrão; Peso.
Figura 22: Crescimento de tracajá (Podocnemis unifilis), tartaruga (P.
expansa), iaçá (P. sextuberculata), irapuca (P. erythrocephala) e
cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus) durante 16 meses, em criações De acordo com o diagnóstico dos criadouros de quelônios,
constatou-se que os animais alimentados com vísceras bovinas ou
peixe (proteína animal) apresentaram uma tendência a um melhor
Crescimento em carapaça de tracajás em cativeiro e em vida livre crescimento e ganho de peso em relação aos que foram alimentados
basicamente com verduras e tubérculos (proteína vegetal).
200
100
Tfibra
variáveis analisadas, como comprimento e largura de carapaça e
Tescavado plastrão, altura da carapaça e peso.
50
0
As variáveis comprimento e largura de carapaça, altura, peso
0 3 6 8 10 12 14 16 e ganho de peso dos animais que receberam diferentes tipos de
meses alimentação, apresentaram, pela análise multivariada, uma
diferença significativa ao nível de 5% pelo teste F (Prob>F= 0,019; CV
= 86,54%), entre aqueles criadores que alimentaram com maior
quantidade de proteína animal (pescado, GDP = 0,66 0,55g;
260 273
Figura 23: Distribuição de crescimento em comprimento da carapaça
(mm) de tracajás (Podocnemis unifilis). criados em diferentes tipos de
instalações (tanque-rede, tanque de fibra ou alvenaria, tanque escavado
e na natureza)
272 261
devidamente tratados e fornecidos com o uso de equipamentos
Peso médio do Tracajá/Instalação
adequados, como cochos, caixas de madeira, canoas, pranchas
350 (Sebrae, 1995).
300 Terán (1993), ao realizar estudos sobre diferentes dietas em
250
cativeiro, para tracajás jovens e adultos, observou um aspecto
200 T. Rede
importante com relação à perturbação da água e o consumo dos
g
150 T. Fibrocimento
100 alimentos. Efetivamente, verificou que quando uma pessoa entrava
50
no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, a água ficava turva,
0
fazendo com que os animais não viessem comer os alimentos
0mês
3meses
6meses
8meses
22meses
10meses
12meses
14meses
16meses
24meses
28meses
disponíveis. Nesses dias, o consumo reduzia bastante (até 15% do
total dos alimentos oferecidos). Uma situação semelhante foi
Figura 24: Distribuição do peso da carapaça de tracajás (Podocnemis observada quando o tanque era esvaziado para realizar as amostras
unifilis) criados em diferentes instalações no período de 28 meses. mensais. Esse comportamento deve-se provavelmente, ao estresse
provocado por modificações no ambiente e manipulação do animal.
262 271
evitar a ocorrência de processos fermentativos (Lima, 1967; Existe uma tendência a um melhor desenvolvimento dos
Morlock, 1979; Alfinito, 1980). filhotes de tartarugas e tracajás acondicionados em gaiolas do tipo
tanque-rede na margem de rios/lagos, pelo fato de apresentarem
Estudos feitos por Terán (1993), testando o tipo de
características mais próximas do ambiente natural, como por
alimentação para tracajá em cativeiro, demonstraram que uma dieta
exemplo, fluxo contínuo de água, que acarreta uma maior
onívora (constituída de espécies comuns de peixes, Curimatus
circulação de nutrientes no ambiente do cativeiro, e menor carga de
rutiloides, e folha de bananeira, Musa paradisiaca), influi
estresse aos animais.
significativamente no crescimento de P. unifilis, durante os
primeiros 8 meses de vida. Isso reafirma o fato de que os indivíduos Os 3.130 quelônios criados nesse sistema propiciaram em 16
jovens necessitam de uma abundante ração de proteína, cálcio e meses de cultivo uma produção total de 866 kg. Em Terra Santa, a
carboidratos, que são usados na construção dos tecidos e como comercialização experimental de 10 unidades de criação
combustível de crescimento. Essas dietas são de baixo custo e ideal comunitária alcançou o preço de venda similar ao praticado em
para serem usadas para a criação do tracajá em cativeiro. Folhas Manaus, ou seja, R$10,00/kg, contra o preço clandestino que, na
frescas de puerária (Pueraria phaseoloides) não foram aceitas pelos região, é de cerca de R$3,36-5,56 com potencial de venda estimado
filhotes. em R$8.660,00. A construção de tanques-rede com material local e
a utilização de alimentos disponíveis na comunidade como
Estudos realizados por Navarro (1997), para determinar o macaxeira, peixe, piracuí, beldroega ou erva-de-jabuti, reduzirá os
melhor tipo de alimentação para a criação de tracajá em cativeiro, custos com instalações e alimentação, aumentando a lucratividade,
tiveram como fonte: peixes (Psectrogaster amazonica, Curimatus hoje em torno de 12,55%.
rutiloides e Potamohrina altamazonica) e banana (Musa spp.)
A Tabela 9 apresenta os custos e receitas da criação
comunitária de quelônios para uma unidade familiar.
Em condições de cativeiro Espriella (1972) cita que o
alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e
suspensos para facilitar a deglutição. Um animal adulto pode
consumir 1.816g de alimento, repartidos em 10 dias, de 7:00 às
9:00h ou às 16:00h.
270 263
Tabela 9: Orçamento simplificado de unidade de criação familiar de Comparativamente, Viana & Abe (1998), ao avaliarem o
quelônios.
desenvolvimento de 198 filhotes de tracajá Podocnemis unifilis com
dieta de 21, 26 e 31% de proteína bruta - PB e isocalóricas (energia
Orçamento – 16 meses de
criação bruta = 3.850 kcal/kg) durante 240 dias, obtiveram nos animais
Custos alimentados com ração de 26 ou 31% de PB maior desenvolvimento.
Custos fixos 216,9 Então, sugeriram utilizar ração com 21% de PB, até 8 meses de
Custos idade, e com 26% de PB para filhotes até completarem 12 meses para
variáveis 276,26
diminuir o custo com ração.
Custos totais 493,17
Receita Esses dados são semelhantes aos encontrados por Best &
N. animais 500
Souza (1984) ao testarem quatro rações peletizadas, com teores de
Biomassa total 155,92 kg
40%, 60%, 70% e 80% de proteína em matéria seca, e balanceada em
Preço kg ilegal 3,36-5,56
Preço kg termos de energia, utilizando 60 tartarugas com peso médio 26,0g e
criação 10 pesos médios finais, respectivamente, em relação aos teores de
Receita bruta 1.559,20 proteína: 174,0 ± 39,9 g; 194,1 ± 58,1 g; 221,4 ± 67,3 g e 165,4 ± 62,7
Receita líquida 1.066,03 g, onde o GDP para a ração com 70% proteica foi 0,71 g/dia, à base
A rentabilidade para os investimentos em manejo de 2% do peso corporal, uma maior eficiência de utilização igual a
comunitário de quelônios foi estimada em 120,21% e para a criação 47,8 g de tartaruga/100g ração. Eles citam haver uma estreita
de quelônios, pelo sistema de tanques-rede, em 183,44%. relação entre a quantidade de alimento fornecido e o crescimento das
tartarugas.
As unidades comunitárias de criação de quelônios
Na Venezuela, Hernandez et al. (1999) verificaram também
demonstram que esse sistema poderá, perfeitamente, servir como
que filhotes de tartaruga cresciam mais com o fornecimento de
modelo de manejo, tipo ranching, em que as comunidades que
rações com maior nível protéico e sugerem que no primeiro ano seja
protegem áreas de reprodução de quelônios adquirem o direito de
fornecida uma ração básica para peixes carnívoros com 48% de
criar um percentual dos filhotes produzidos (30% de tracajás e 10%
proteína e que, no segundo ano, uma ração de crescimento para
de tartarugas). As instalações mais eficientes e práticas são os
peixes com 24% PB. Com essa dieta os animais atingiram, ao final de
tanques-rede, e a alimentação é produzida na própria comunidade.
um ano 90,2 a 143 mm de comprimento de carapaça e 100,6 a 358,3
Isso garantirá geração de renda aliada à conservação dessas
g de peso, com uma conversão alimentar de 1:1, ou seja, para cada
espécies.
grama de ração consumida os filhotes engordaram um grama.
264 269
provavelmente, devido a um maior nível protéico e uma
concentração de aminoácidos essenciais, superior.
Capítulo 8: alimentação e nutrição de
Segundo Quintanilha et al. (1997), há indícios de que a
qualidade de proteína (origem animal e vegetal), influência no quelônios aquáticos amazônicos (Podocnemis
desenvolvimento de P. expansa em cativeiro. spp.)
Cantarelli (1994), em experimento sobre metodologia
alimentar para quelônios em cativeiro, testou rações formuladas
Francimara Sousa da Costa
com diferentes níveis de proteína bruta, 18, 21, 24, 27 e 30% de PB e João Alfredo da Mota Duarte
ração comercial para peixes com 30% de PB. Concluiu que há Paulo Henrique Guimarães de Oliveira
indícios de que a qualidade da proteína (origem animal ou vegetal) Paulo Cesar Machado Andrade
influencia no desenvolvimento dos animais e que os animais
crescem melhor, se alimentados com alta taxa de proteína bruta (27
a 30%). O tipo de alimento fornecido aos quelônios para criação
em cativeiro é um fator decisivo para que os animais o peso vivo
Maria das Graças Houssaine-Lima (comunicação pessoal, mínimo de 1,5 kg para comercialização, conforme determinam as
1999) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, testou Portarias Normativas nº 142/92 (Criação) e nº 70/96
diferentes fontes de proteína (farinha de peixe e farelo de soja) na (comercialização).
dieta de tartaruga (P. expansa) nos primeiros anos de vida. Neste
experimento conduzido no Centro de Preservação e Pesquisa de A alimentação de Podocnemis expansa é bastante variada,
Quelônios Aquáticos (CPPQA) da UHE Balbina/AM, foram usadas sendo considerada por muitos autores como uma espécie onívora,
rações que variavam a fonte protéica em diferentes níveis de oportunista, ou seja, alimenta-se tanto de raízes, frutas, sementes e
substituição do farelo de soja por farinha de peixe (100% e 0%; 75% e folhas, quanto de crustáceos, moluscos e pequenos peixes
25%; 50% e 50%; 25% e 75%; 0% e 100%; respectivamente). Os (Cenaqua, 1994).
animais apresentaram maior crescimento em dietas com 100% de
Estudos feitos por Téran, Vogt e Gomez (1995), no rio
farinha de peixe, contudo, também apresentaram uma maior taxa de
Guaporé – Rondônia, demonstraram que a principal fonte de
mortalidade, mesmo em animais acima de 1,5 kg. Concluiu-se que a
alimento nessa área, para esses animais, são matérias vegetais
melhor ração foi aquela em que a fonte protéica tinha 50% de farelo
incluindo-se sementes pertencentes às famílias Anonaceae,
de soja e 50% de farinha de peixe.
Leguminosae, Sapotaceae e Rubiaceae e frutas (Leguminosae,
Euforbiaceae, Convolvulaceae).
268 265
mombin, Genipa americana, Inga spp., Hevea spp., Macrolobium os animais mais velhos (Ojasti, 1971).
acaciaefolium, Symphonia globulifera, Tachigalia paniculata, e
Em geral, a tartaruga e o tracajá têm uma dieta herbívora
espécies adicionais dos gêneros: Brosimum, Calophyllum,
na natureza, mas em condições de cativeiro consomem carne e
Campsiandra, Curatella, Desmoncus, Gustavia, Lonchocarpus e
peixe (Molina & Rocha, 1996).
Sideroxylon (Soini, 1997).
Segundo Best & Souza (1984), pouco se conhecia sobre a
Os estômagos de P. expansa adultas examinados na
nutrição adequada dos quelônios em cativeiro, na fase de pós-
temporada de reprodução, por Ramirez (1956) e Ojasti (1971), em
eclosão, até um ano de idade.
Orinoco, e Pádua e Alho (1984), em Trombetas, estavam vazios e
continham somente fragmentos de madeira decomposta, lodo e Para Alfinito (1980), P. expansa apresenta uma demorada
areia, o que torna evidente que P. expansa experimenta um amplo digestão, justificando-se os jejuns prolongados pelo qual o curso no
“cardápio” durante o período de estiagem. O estômago de uma trato digestivo é considerado bastante significativo, e suas fezes são
fêmea que morreu durante a desova no rio Trombetas continha liberadas após 170 horas de digestão, correspondendo a 7 dias,
cascas vazias de ovos da mesma espécie (Pádua, 1981). significando 5% do volume alimentar, podendo o restante ser
expelido até 880 horas, equivalente a 36 dias. No habitat natural, o
Portal et al. (2002), estudaram a alimentação natural de
forrageamento condiciona-se às contingências momentâneas.
tracajás (P. unifilis) na região do Pracuúba, Amapá, Brasil, e
encontraram 35 diferentes espécies vegetais, sendo a maioria de Em condições de cativeiro, Espriella (1972) cita que o
leguminosas (22,81%) e gramíneas (8,57%). Das plantas alimento deve ser fornecido em pequenos pedaços ou amarrados e
analisadas, 12 espécies apresentam teores de proteína superiores a suspensos, para facilitar a deglutição, onde um animal adulto pode
10%. Entre essas, oito espécies apresentam boa possibilidade de consumir 1.816g de alimento em 10 dias, repartidas entre 7:00 e
servirem como ingredientes de uma ração regional, em função de 16:00 horas.
suas propriedades nutricionais e disponibilidade na natureza. São
elas: Commelina longicaulis (maria-mole) (20,78%); Polygonum Para o Sebrae (1995), os filhotes devem receber uma
acuminatum (pimenteira-brava) (20,19%); Aschymene sensitiva complementação de proteína à base de fígado e caramujos, no
(corticeira)(19,93%); Macrolobium acaiaefolium (jandaruá)(17,06%), entanto, não cita como seria feito o fornecimento. A partir do
Oryza glandiglumes (canarana-grande)(15,00%); Thalia geniculata segundo ano, deverá ser complementada com resíduos vegetais e
(14,14%); Nymphaea rudgeana (11,55%) e Hymenachne peixe, carne ou outros alimentos de origem animal, tratados e
amplexicaulis (10,11%). fornecidos em pequenos pedaços, para facilitar a deglutição, com
preferência por palmito, vísceras, leguminosas e, naturalmente,
Em cativeiro, essa espécie é eminentemente onívora. Aceita por frutos silvestres das margens dos rios.
uma grande variedade de produtos vegetais, pescado e carne picada
(Alho e Pádua, 1982; Terán et al., 1992, FPR, 1988). Os recém- Nos primeiros anos, o crescimento é melhor com o
nascidos demonstram maior preferência pela dieta carnívora do que fornecimento de alimentos à base de proteína animal,
266 267