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Autor convidado

Marco Antonio Coutinho Jorge

Freud com Lacan: a psicanálise hoje1


Marco Antonio Coutinho Jorge

Resumo
O artigo apresenta os principais elementos que permitem situar a teoria e a clínica psicanalíticas
hoje como tributárias da radical renovação produzida pela leitura da obra de Sigmund Freud
empreendida por Jacques Lacan.

Palavras-chave: Psicanálise, Freud, Lacan, Transmissão, Contemporaneidade.

A “peste freudiana” teses freudianas depende precisamente da


Parece inerente à própria estrutura da verdade que está em jogo em seus con-
psicanálise, desde seu nascimento, o fato teúdos, verdade inaceitável, insuportável
de ela suscitar a oposição dos indivíduos, para os homens, pois demonstra que há
assim como a dissidência entre os próprios algo que age neles à revelia deles mesmos
psicanalistas. O exemplo mais eloquente e, mais do que isso, algo a partir do que
desta afirmação é fornecido pelo próprio eles agem sem saber que o fazem. Tal é o
Freud quando, ao retraçar, em 1914, a fato último que implica a teoria freudiana
História do movimento psicanalítico, apre- do inconsciente: a presentificação de uma
senta, de fato, um longo inventário das divisão constitutiva que revela que os
resistências à psicanálise. Freud narra aí homens não são senhores de si mesmos.
como grande número de seus discípulos Com razão, Freud chegou a comparar essa
iniciais (Adler, Jung, Rank) deixaram de descoberta aos grandes descentramentos
aderir em algum momento às suas teses e produzidos pelas obras de Copérnico – a
fundaram suas próprias disciplinas. A his- Terra do centro do Universo – e Darwin
tória da psicanálise narrada por Freud é a – o homem do centro da criação.
história das resistências às teses freudianas. Freud ressaltava ainda que uma acei-
Na verdade, a própria teoria psicana- tação imediata, abrupta de sua teoria era
lítica apresenta os meios para esclarecer os do mesmo modo reveladora da ação da
motivos que estão na base de tal repúdio. resistência à sua doutrina, porque, acar-
Não era outra coisa que Freud tinha em retando uma aceitação sem consequências
mente quando, ao viajar para os EUA em subjetivas, tinha em seu horizonte uma
1909, convidado pela Universidade Clark, eficaz neutralização do que ele trouxera
que ocupava uma posição de vanguarda de radicalmente novo. Talvez seja nessa
no meio acadêmico norte-americano e medida mesma que se pode observar, hoje,
lhe concedeu naquele momento o título em todo o mundo, paralelamente ao au-
de Doutor Honoris Causa, comentou com mento da difusão da psicanálise junto ao
Jung, que o acompanhava, que os ameri- público pelos diversos meios da imprensa,
canos não sabiam que ele estava levando- um crescente desconhecimento da especi-
lhes a peste.2 A suscitação da recusa das ficidade do pensamento freudiano.

1. Texto originalmente escrito para a Encyclopaedia Britannica e permanecido inédito. Revisto, aumentado e atua-
lizado em 2017.
2. Em sua biografia de Freud recém-publicada, Elisabeth Roudinesco contesta a veracidade dessa afirmação pelo
método histórico. Ela permanece mais uma lenda freudiana. (ROUDINESCO, E. Sigmund Freud em sua época e em
nosso tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 2016).

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Freud com Lacan: a psicanálise hoje

Se tal desconhecimento pôde ser de- um sob uma forma específica, um sentido
tido em sua progressão, isso se deve sem ocultado por efeito do recalcamento, era
dúvida ao trabalho rigoroso e fecundo de o agente da produção de uma formação do
reconsideração dos fundamentos da obra inconsciente, o qual para se fazer presente
de Freud empreendido pelo psicanalista necessitava de uma expressão indireta e
francês Jacques Lacan. Entretanto, não que deformava para o sujeito em questão
é em toda parte que a obra de Lacan tem o desejo inconsciente em jogo.
merecido acolhida. Até hoje, com algumas Se no trabalho sobre a Psicopatologia
exceções, os centros de estudo de psicaná- da vida cotidiana Freud se dedica à de-
lise voltados para ela parecem restritos, de monstração exaustiva de sua tese do
um modo geral, aos países de língua latina. determinismo psíquico para evidenciar
É assim que se observa, além da França, que nenhuma de nossas ações escapa à
uma posição particularmente privilegiada sobredeterminação (no sentido de super-
da Argentina, do Brasil, da Espanha e da determinação) inconsciente, é em Mais
Itália, para citar alguns, quanto à conti- além do princípio de prazer (texto completa-
nuidade dada ao ensino de Lacan. mente esquecido por muitos psicanalistas
pós-freudianos até que Lacan chamasse
O determinismo inconsciente atenção para sua importância decisiva
Partindo de sua experiência inaugural com em seu seminário sobre O eu na teoria de
as pacientes histéricas, Freud não tarda Freud e na técnica da psicanálise) que ele
a outorgar à sua teoria uma abrangência dará o relevo maior e mais abrangente à
absoluta. Desse modo, a fronteira entre sua teoria do inconsciente.
o normal e o patológico, nitidamente Se, no primeiro, Freud surpreende ao
demarcada pelo discurso da medicina, se valer de exemplos tão contundentes
acha-se problematizada de saída pela tese para exemplificar o grau de profundidade
freudiana do “determinismo psíquico in- da ação da sobredeterminação inconscien-
consciente”. Radicalizando as formulações te, mencionando que até mesmo a escolha
freudianas sobre o assunto, Lacan chegou aparentemente casual de um número é
a dizer que o inconsciente é a verdadeira determinada por uma constelação sim-
doença mental do homem. bólica específica, no segundo, ele renova
Freud destaca paulatinamente a ação o conceito de repetição, através do qual
do desejo inconsciente num amplo espec- já abordara a transferência e a fantasia,
tro de fenômenos até então relegados a para lhe outorgar um relevo ainda mais
um plano desimportante (como o sonho, poderoso na ação dos mecanismos incons-
o esquecimento de palavras e nomes, o ato cientes. Para exemplificar tal repetição
falho, o chiste) ou, ainda, naqueles cuja na qual sua pesquisa desemboca, Freud
estrutura se revelara até então ininteligí- se vale dos sonhos traumáticos (sonhos
vel pelos discursos médico e psiquiátrico reiterativos centrados em torno de uma
(sintomas neuróticos, delírios psicóticos, vivência particularmente traumática para
perversões sexuais). o sujeito), cujo caráter coercitivo revela
Na análise de todos esses fenômenos a ação de uma força – a pulsão de morte
que haviam sido jogados na lata do lixo – que ultrapassa aquelas que regulam a
pelo discurso da ciência, um mesmo de- busca da homeostase, na qual se baseia o
nominador comum foi depreendido por princípio de prazer. A repetição constituirá
Freud: a expressão, por meios distorcidos a grande novidade do seminário sobre Os
pela censura psíquica, de uma verdade quatro conceitos fundamentais da psicanálise
à qual o sujeito não tinha acesso cons- ao ser alçada por Lacan à categoria de
cientemente. Em todos eles, e em cada um dos quatro conceitos fundamentais
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Marco Antonio Coutinho Jorge

da psicanálise, conjuntamente com o percepção, confirmada pelo assentimento


inconsciente, a pulsão e a transferência. de um terceiro, de sua própria imagem
Com seus postulados que conseguem no espelho, e vivencia tal percepção com
formalizar muito rapidamente uma teoria uma alegria muito intensa, um verdadeiro
consistente sobre o inconsciente, Freud júbilo (termo forte empregado por Lacan).
atinge com violência a hipótese recon- Nesse instante, forma-se a matriz identi-
fortante do livre arbítrio e, desse modo, ficatória original do eu, imagem unitária
golpeia simultaneamente o narcisismo dos que lhe fornece uma ilusão de completude.
homens, revelando algo difícil de ser por Se tal imagem surge para o bebê enquanto
eles assimilado – o fato de que se acham, apaziguadora – pois lhe permite a vivência
em suma, descentrados em relação a si de uma unidade corporal que substitua o
mesmos. Para Freud, toda escolha, todo anterior estado do corpo: parcial, espeda-
ato, toda preferência, por mais banal e çado –, por outro lado, ela apresenta desde
casual que possa parecer, são determinados já um valor letal, origem das manifestações
por elementos que transcendem qualquer agressivas. Pois ao perceber seu eu naquela
deliberação da vontade consciente. Vê- imagem na qual se aliena, é criado para
se, por aí, o grau de dificuldade que seus o bebê um abismo incolmatável que lhe
postulados colocam: aceitá-los verdadei- revela que seu próprio eu está dissociado
ramente (e isso implica necessariamente dele mesmo de modo inarredável. É assim
passar pela experiência da análise pessoal) que a criança terá, a partir daí, marcada
significa, de algum modo, despojar-se da para sempre em seu horizonte, a imagem
ilusão imaginária de si mesmo. Além disso, de um ‘eu ideal’ cuja potência cativante
uma nova forma de deliberação precisa ser possui o valor de uma verdadeira estátua
alcançada com a análise, aquela que con- pregnante.
juga as novas possibilidades de lidar com a Uma teoria tão em voga ainda hoje
pulsão repertoriada por Freud – satisfação nos institutos norte-americanos de psica-
direta e sublimação – com a aquisição de nálise como a do eu autônomo, introdu-
um mínimo de liberdade subjetiva neces- zida pelo psicanalista Heinz Hartmann,
sariamente presente no ato do deliberar encontra aqui sua crítica mais radical. Se
pós-analítico (Jorge, 2017, p. 107-142). o sujeito se manifesta essencialmente por
É precisamente tal ilusão de si mesmo meio do conflito – a cabeça de Janus é por
que é nutrida pela instância psíquica do isso mesmo a melhor imagem que Freud
eu (ou ego, segundo a tradução inglesa encontrou para ilustrá-lo – a suposição
do Ich freudiano), cujo caráter unitário, de uma esfera isenta de todo e qualquer
íntegro se opõe veementemente ao caráter conflito, como a de um eu autônomo,
originalmente cindido, dividido do sujeito constitui na verdade um ideal ilusório,
do inconsciente. A distinção categórica uma miragem imaginária.
entre o eu e o sujeito do inconsciente foi
estabelecida por Lacan, ao ressaltar que Uma nova concepção da sexualidade
era justo no eu que Freud situava não Embora o nome de Freud tenha muito
apenas a instância produtora do recalque rapidamente sido associado à ideia de
como também a sede da maior resistência sexo, poucas vezes o sentido que é atri-
às descobertas analíticas. buído por Freud à sexualidade é resgatado
Em seu trabalho sobre O estádio corretamente. Isso porque a concepção
do espelho, com efeito, Lacan aborda o que Freud introduz sobre a sexualidade
momento, destacado pela psicologia do é inteiramente nova e não pode ser con-
desenvolvimento, em que, entre os 6 e 18 fundida com as noções que lhe atribui o
meses, o infans (aquele que não fala) tem a senso comum, muitas vezes camuflado sob
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Freud com Lacan: a psicanálise hoje

uma máscara de pseudocientificidade. De assim subvertida, a sexualidade se encon-


fato, a noção de sexualidade em Freud só trará nos homens sob a ação preeminente
possui um valor particular se referenciada da linguagem e, desse modo, adquirirá uma
aos seus postulados fundamentais sobre o abrangência tão absoluta quanto poderosa
recalque e o inconsciente. sobre sua vida.
Se Freud parte da observação de que Para o ser falante, pois, a sexualidade
os sintomas neuróticos apresentam um não se restringirá ao ato sexual enquanto
sentido que se revela, à análise, de caráter conjunção dos órgãos genitais, mas se re-
sexual, é na medida em que a sexualidade velará em outras atividades aparentemen-
no neurótico se acha perpassada, de modo te desprovidas de um cunho sexual: o ato
latente, por aqueles mesmos elementos do olhar, a leitura, os esportes, as funções
que na sexualidade perversa (da qual o fisiológicas de excreção, a respiração, para
fetichismo e o masoquismo constituem dar alguns exemplos, são todas atividades
para ele os exemplos princeps) surgem de imbuídas de elementos de satisfação pro-
modo manifesto. Voltando-se para as for- priamente sexual.
mas da sexualidade perversa, Freud cedo Se Freud isola nas práticas sexuais cha-
se dá conta de que aquilo que era conde- madas de perversas os mesmos elementos
nado socialmente enquanto desvio, ou até que compõem a sexualidade considerada
mesmo degeneração sexual, encontra na normal, é na medida em que em ambas se
verdade a expressão mais corriqueira em acham os resíduos da ação remanescente
todos os indivíduos considerados normais. da sexualidade infantil, na qual ele obser-
Tal fato se demonstra pela constatação vou uma disposição perversa polimorfa
feita pela psicanálise da universalidade originária. Um dos polos geradores de
das chamadas perversões sexuais e deve- maior resistência à teoria freudiana da se-
se a uma disposição inata comum a toda xualidade se encontra precisamente na sua
a humanidade.3 concepção de uma sexualidade múltipla,
Freud constata que, contrariamente errática, desconcertante e, além disso, cal-
às outras espécies animais, os homens não cada nas vivências primevas da infância.
apresentam ao nascimento uma indicação É por meio dessas constatações que
demarcada quanto ao parceiro sexual a Freud dá à força que rege os impulsos
ser procurado. Se tal afirmação pode, de sexuais no ser humano o nome não de
início, parecer aberrante, ela se demonstra instinto (cujo funcionamento supõe um
facilmente pela inexistência, nos seres objeto sexual previamente definido), mas
humanos, de uma relação exclusiva da de pulsão, não sendo esta como aquele re-
sexualidade com os ciclos biológicos que gida por ciclos biológicos preestabelecidos,
recortam as épocas da reprodução. Não mas sim pela ação contínua da linguagem:
havendo para os humanos os períodos a pulsão, diz ele, é uma força constante.
de cio, sua sexualidade se revela de saída Esta será a responsável pelas chamadas
enquanto desvinculada dos fins específi- fases de desenvolvimento da libido – oral,
cos da reprodução da espécie. A ação dos anal e fálica –, segundo o predomínio de
ciclos periódicos da natureza achando-se sua ação incidir mais sobre esta ou aque-
la zona erógena nas diversas etapas da
3. Freud constrói a teoria do recalque orgânico que per- existência inicial da criança. Se as bordas
mite estabelecer as bases para se conceber a passagem orificiais do corpo se revelam de início
do funcionamento instintual animal para o pulsional
humano. Ver Jorge, M. A. C. “A anatomia é o destino”: enquanto verdadeiros pólos de imantação
o recalque orgânico e a perda originária do objeto. In: erógena nos quais são associados não só a
______. Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan -
v. 1: as bases conceituais. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar,
obtenção de prazer como a satisfação da
2008. p. 36-45. necessidade, não obstante qualquer região
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do corpo se revela também passível de ser Psicanálise e medicina


erogeneizada. Embora desde seu surgimento a práti-
É a partir do Outro, lugar da palavra, ca psicanalítica tenha sido associada à
como veio a precisar Lacan, que a criança prática médica, ambas, na verdade, não
obterá meios para constituir sua sexuali- apresentam nada em comum e requerem,
dade particular. Se ela não possui a desig- outrossim, ser distinguidas em seus funda-
nação sexual previamente delimitada (o mentos. Tendo ele próprio uma formação
que Freud formula através da constatação universitária médica e neurológica, Freud
da inexistência da inscrição da diferença sempre manteve uma posição favorável à
sexual no inconsciente), é somente por prática da análise leiga (por não médicos),
intermédio da ação da linguagem sobre tendo mesmo dedicado um longo trabalho
seu ser que poderá vir a obtê-la. É tal para tratar desse assunto; mas sua palavra
ação que produz um ‘sujeito’, enquanto não foi, muitas vezes, escutada e durante
efeito da linguagem e, por isso mesmo, muitas décadas pudemos encontrar muitos
a ela ‘sujeito’, como a ambiguidade do centros onde a prática da psicanálise se
termo, através da “sabedoria maior da encontrava restrita exclusivamente aos
língua” (expressão corriqueira no texto médicos. Tal restrição foi sendo abolida
freudiano), indica. Nessa medida, Freud gradativamente, e hoje se ela existe ainda
será autorizado a falar das “teorias se- não possui o mesmo valor que possuía an-
xuais infantis”, modo pelo qual a criança tes. Lacan foi um dos grandes defensores
poderá constituir uma fantasia sexual da análise leiga, tal como ela foi definida
inconsciente que passará a mediatizar, por Freud no ensaio sobre o tema: o psica-
por toda sua vida, seu encontro com o nalista não precisa ter formação médica, e
real. Tal fantasia constitui precisamente sim formação psicanalítica!
o princípio de realidade para cada sujeito, Paradoxalmente, era, entretanto, jus-
o que acentua que a noção de “realidade” to no seio da medicina que Freud localiza-
introduzida pela psicanálise é inteiramente va a fonte de uma das maiores resistências
nova: refere-se a uma realidade psíquica iniciais às descobertas psicanalíticas. Com
singular e remete ao momento mesmo de efeito, fortes contingências históricas
constituição do sujeito. pareciam vir a se associar a uma resistên-
O corpo de que trata a psicanálise cia que, como já dissemos, é preciso ser
é, pois, diverso daquele que é abordado concebida enquanto estrutural: quando a
pelas ciências da biologia, da fisiologia e psicanálise surge, trata-se precisamente do
da anatomia. Recortado pelo simbólico, o momento em que a medicina começava a
corpo pulsional (é bem assim que é preciso se impor enquanto um campo de aplicação
denominá-lo) é radicalmente heterogê- prática de diversas ciências, fato que cons-
neo ao imaginário da anatomia corporal titui a atualidade da medicina moderna. A
e – fato tão decisivo quanto espantoso chegada da psicanálise não poderia deixar
– não está apenas subdito a nenhuma lei de ecoar, para o moderno espírito médico
natural. É assim que cabe à psicanálise, nascente, como uma espécie de retrocesso
hoje, fazer a crítica de inúmeras práticas às especulações filosóficas e místicas da
ditas de terapia corporal, as quais, calcadas chamada “filosofia da natureza” nas quais
precisamente no ideal obscurantista de a medicina estivera mergulhada numa
um retorno à natureza, desconhecem o época imediatamente anterior.
fato de que o corpo, construído por meio Com o ensino de Jacques Lacan,
da linguagem, só por esta é abordável, e tornou-se possível dar uma consequência
que, enquanto tal, o corpo é partícipe de efetiva à necessidade de desvinculação
um real ao qual é impossível ter acesso. dessas duas práticas e diferenciar de modo
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Freud com Lacan: a psicanálise hoje

preciso os discursos que estão em jogo em são surpreendidos, simultaneamente, o


cada uma delas. De uma maneira geral, analista e o analisando.
trata-se nessa diferenciação sobretudo da Vê-se, por aí, o quanto tal postulado
forma pela qual o psicanalista e o médico de base apresenta de abrangência para a
estão inseridos em sua prática, o que acar- prática analítica e, por outro lado, quão
retará efeitos cruciais no modo pelo qual nítida demarcação ele traz para com o dis-
ambos passam a lidar com o outro. curso da medicina. Este supõe um objetivo
Se a prática médica depende do exer- terapêutico preestabelecido condizente
cício do saber constituído da medicina, a com uma norma calcada nos ideais de
partir do qual o médico poderá efetivar saúde e de normalidade, por mais difícil
as diversas etapas do tratamento (o diag- que seja sua conceituação pela medicina.
nóstico, a terapêutica e o prognóstico), O objetivo do tratamento médico residirá,
a prática psicanalítica retira sua eficácia, pois, num retorno a um estado anterior de
paradoxalmente, justo na medida em que saúde, será eminentemente restitutivo,
o psicanalista prescindir da utilização do enquanto que o fim da cura analítica não
saber psicanalítico constituído. Tal fato, de pode ser considerado dessa forma, pois
saída impactante, constitui talvez a maior visa algo mais além da mera supressão
dificuldade da transmissão da psicanálise dos sintomas.
e é um dos motivos que levavam Freud a Com efeito, muitas distorções trazidas
afirmar que a psicanálise era uma profissão ao âmbito da prática psicanalítica decor-
impossível. rem do desconhecimento dessa diferença
Tal fato básico é o que sustentava a de perspectiva e implicam a inclusão,
postulação freudiana de que cada caso no seio da prática, de alguma espécie de
clínico devia ser abordado como se fosse ideal médico-psicológico a partir do qual
o primeiro, em sua radical singularidade. a singularidade do sujeito em questão é
É a esse título que Freud afirmava ainda excluída. Para Freud, o tratamento analí-
que, na prática da análise, a pesquisa e o tico não implicava estritamente objetivos
tratamento caminhavam juntos, sobre o terapêuticos, os quais, na verdade, acar-
que Lacan viria a insistir posteriormente retavam um perigo para ele, e o desapare-
ao ressaltar que aprendia simplesmente cimento dos sintomas representava antes
tudo de seus analisandos. um efeito do trabalho da análise do que
Tal postura do psicanalista, denomina- propriamente seu objetivo, pois trazen-
da por Lacan de “ignorância douta” para do-os para o registro da palavra através da
designar a forma refinada de um saber que ação do desrecalcamento, a consistência
inclui um não saber, não é, na verdade, um deles pode ser dissolvida.
mero princípio a ser seguido tecnicamente, Atinge-se, assim, um ponto de dife-
mas sim efeito da experiência pessoal pela renciação radical entre a psicanálise e a
qual o psicanalista necessariamente passou medicina: a primeira centrada em torno da
em sua análise: o saber que se revela na ex- função da escuta, e a segunda, em torno
periência psicanalítica é da ordem do par- da função do olhar, sobre a qual a expres-
ticular, não se presta à generalização, não são corriqueira do olho clínico do médico
pode ser dominado por qualquer espécie fornece uma eloquente e aguda ilustração.
de mestria. O saber que nela está em jogo é É assim que é preciso dizer que a no-
o “saber inconsciente”, cuja característica ção bastante difundida de ‘psicoterapias
primordial é o estabelecimento de uma de orientação psicanalítica’ implica algum
descontinuidade, de uma ruptura em toda grau de desconhecimento dos princípios
forma de saber consciente. É assim que, à mesmos da psicanálise. Associando dois
emergência da verdade do inconsciente, termos radicalmente heterogêneos e com-
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patibilizando posturas incompatíveis (na primeiros a atribuir, na França, importân-


verdade o termo “psicoterapia” designava cia para a elaboração freudiana. Após sua
originariamente na Grécia cristã a arte de publicação, Lacan, que desfrutava de um
converter os pagãos), tal expressão camu- convívio com o grupo surrealista, foi con-
fla o fato de que a medicina, lidando com vidado para escrever na revista surrealista
o outro enquanto um objeto, promove, em Minotaure. Além disso, foi após a leitura
última instância, a exclusão do sujeito ao de Da psicose paranoica que Salvador Dali
qual a psicanálise visa precisamente dar criou seu método paranoico-crítico, o
um lugar. qual viria a dar um novo fôlego para o
movimento surrealista, pois supunha uma
Lacan: poética e ciência na psicanálise atividade crítico-interpretativa que se
Qualquer um que se dedique, hoje, ao opunha à passividade inerente aos méto-
estudo da psicanálise não pode deixar de dos da escrita automática introduzida por
abordar a obra de Jacques Lacan. Esta se André Breton.
reparte entre seus escritos, em sua maior Através de um movimento por ele
parte reunidos em um único volume, e seu próprio intitulado de “retorno a Freud”,
seminário, proferido durante aproximada- Lacan efetivou na verdade um rebatimen-
mente trinta anos, primeiro para um grupo to da teoria psicanalítica sobre si mesma
restrito de psicanalistas franceses e, depois, ou, se quisermos, uma espécie de psicaná-
tornado lugar de frequência da intelligentsia lise da própria psicanálise. Evidenciando
parisiense. Erroneamente considerado, que, após a morte de Freud, a psicanálise
de início, enquanto estruturalista, Lacan passara a trilhar desvios ideológicos in-
nunca o foi de fato, pois, embora parte de compatíveis com aquilo que o mestre
seus desenvolvimentos iniciais tenham vienense avançara, Lacan promove a
se valido da linguística estrutural criada incidência sobre a teoria psicanalítica dos
por Ferdinand de Saussure, na verdade elementos mesmos que ela adianta.
sua concepção de estrutura difere funda- Assim, sempre considerando a leitura
mentalmente daquela do estruturalismo: de Freud como infinitamente mais fecunda
implicando o inconsciente, a estrutura que que a de um Otto Fenichel, por exemplo,
está em jogo para Lacan não é fechada, autor de um manual sobre psicanálise uti-
mas aberta. lizado nos institutos de formação psicana-
Formado em medicina, sua tese de lítica em detrimento da leitura do próprio
psiquiatria Da psicose paranoica em suas Freud, Lacan veio a destacar conceitos
relações com a personalidade constitui, de que haviam desaparecido nas traduções
fato, já a primeira incursão de Lacan no de sua obra. Alguns exemplos disso são o
campo propriamente psicanalítico. Nela é conceito de Verwerfung [foraclusão], intro-
precisamente toda a tradição psiquiátrica duzido por Freud para abordar as psicoses;
que é criticada, à luz do debate então a categoria de Nachträglich [o só-depois],
emergente entre as correntes psiquiátricas fundamental para a compreensão da tem-
organogenéticas e psicogenéticas, a partir poralidade lógica particular que preside o
da perspectiva freudiana. É a partir dessa funcionamento do inconsciente; o concei-
perspectiva que Lacan dará relevo, na to de Trieb [pulsão], introduzido por Freud
análise de um caso de paranoia, o caso para destacar a especificidade da sexuali-
Aimée, ao mecanismo de autopunição, dade humana e que fora homogeneizado à
cuja inteligibilidade só é destacável a partir noção de instinto pelos pós-freudianos; o
do conceito freudiano de inconsciente. conceito de Verneinung [denegaçã], modo
Da psicose paranoica obteve uma no- pelo qual o sujeito chega a poder enunciar
tável acolhida por parte dos surrealistas, uma verdade desde que negando-a, tam-
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Freud com Lacan: a psicanálise hoje

bém tem sua importância ressaltada pela veemente crítica aos desvios engendrados
leitura de Freud feita por Lacan. pelos psicanalistas pós-freudianos em sua
Desde o início de seu ensino, Lacan prática. Tais desvios implicavam no fun-
reintroduz no seio da experiência psicana- do uma deterioração da dimensão ética
lítica a importância fundadora da palavra, particular da psicanálise, a qual não se
fato esquecido pelos pós-freudianos. E, se centra na obtenção de um ‘bem’ para o
a supremacia da palavra no contexto da sujeito (forma camuflada de dominação
cura é salientada por Lacan, do mesmo na qual se esteiam todos os discursos do
modo o é a utilização da palavra por par- poder), mas sim na possibilitação para o
te do psicanalista. Assim, Lacan dá seu sujeito de ‘bem dizer’ seu próprio sintoma
próprio exemplo através de seus Escritos, e, não cedendo sobre seu desejo, chegar a
cuja dificuldade de leitura procede de uma diminuir ao máximo a distância que separa
verdadeira estratégia metodológica: opa- seus enunciados de sua enunciação.
cificando seu sentido, elevando-os a um Seguindo a recomendação freudiana
intenso grau de densidade textual, Lacan que indicava para o analista uma posição
promove a requisição de que o sujeito se de neutralidade, sede de um não agir po-
inclua efetivamente no ato da leitura, sitivo, Lacan redefine o lugar do analista
assim como traz à demonstração teórica enquanto o “lugar do morto”. Tal formu-
uma verossimilhança ímpar, aproximan- lação implica precisamente que o analista
do-a da forma particular de exegese que o esteja morto quanto à própria subjetivida-
psicanalista deverá operar em sua prática. de, a qual não pode estar presente no ato
Por isso, o teor poético de seus escritos é analítico sob pena de obliterar sua escuta.
exemplar da utilização rigorosa da palavra A partir daí, Lacan passa a criticar a uti-
enquanto meio precioso e supremo do lização, difundida universalmente, entre
qual se vale a psicanálise. A crítica feita a nós sobretudo pelos trabalhos de Heinrich
Lacan de preciosismo se esquece de que Racker, da chamada contratransferência
a rigor é impossível não sê-lo quando se do analista (sentimentos e ideias evocados
trata da palavra. no analista pelo discurso do analisando),
Dessa ênfase posta na palavra, decorre enquanto meio técnico, pois ela se calca
a constituição da ‘lógica’ lacaniana ‘do na suposição da existência de uma re-
significante’, a qual, partindo das noções lação intersubjetiva entre o analista e o
introduzidas pela linguística estrutural analisando. Essa suposição é imaginária,
de Saussure, subverte-as ao articulá-las depende de uma concepção da análise
com a categoria do sujeito, excluída da enquanto uma relação dual, especular, de
linguística. eu a eu, e tem em seu horizonte o objetivo
As intervenções estabelecidas por de identificar o eu do analisando ao eu do
Lacan no campo da teoria psicanalítica analista, perpetuando, assim, uma aliena-
podem ser repartidas, grosso modo, sob três ção imaginária que, na verdade, a análise
rubricas gerais: (a) questões pertinentes deve visar suprimir.
à direção do tratamento analítico; (b) Tal desvio na prática era uma decor-
contribuições à metapsicologia da psica- rência da ação cada vez mais centrada no
nálise; e (c) desenvolvimentos relativos eu pelos pós-freudianos, que passaram
à problemática da transmissibilidade da a valorizar no manejo técnico a análise
psicanálise. das resistências. Lacan veio ainda aí
Quanto aos problemas colocados estabelecer uma importante retificação,
pela direção da análise, o trabalho de demonstrando que voltar a atenção para
Lacan, simultaneamente ao resgate das a resistência constitui, com efeito, uma
postulações freudianas essenciais, é uma “resistência do analista”. Parecendo à
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primeira vista incongruente, tal afirmação os afetos mantêm alguma relação com
é na verdade consoante com a tese freu- o simbólico e nela trata-se precisamente
diana, posta em Mais além do princípio de de ‘dar a palavra’ àquilo que até então só
prazer, de que o “inconsciente não resiste”, encontrava expressão através do sintoma.
mas sim “insiste”, e é a essa insistência Antes de ser não verbal, o sintoma é na
desejante que cabe ao analista aliar-se na verdade hiperverbal; no entanto, apenas
direção do tratamento. Um dos sentidos trazendo-o ao regime da palavra o sujeito
das sessões de duração variável introdu- pode se realizar plenamente.
zidas por Lacan, que estiveram na origem Tal crítica lacaniana implica que na
de sua expulsão da IPA, é precisamente psicanálise de crianças, por exemplo, a
a aliança que deve ser estabelecida pelo técnica de utilização do desenho e do
analista, sem dar ouvidos às resistências, jogo possa ser utilizada, mas desde que
com a insistência desejante. As sessões de acompanhada pela enunciação da crian-
duração variável adquirem seu valor ainda ça ou ainda que os afetos preservem sua
da necessidade de desritualizar a prática, importância desde que seu mero extra-
através da introdução no seio mesmo da vasamento não seja considerado como o
experiência daquele elemento de surpresa, objetivo maior do tratamento, mas sim a
de inesperado, através do qual o incons- assunção subjetiva de seu sentido através,
ciente se manifesta. ainda e sempre, da enunciação.
Acentuando o desejo, e não a resistên- Paralelamente ao resgate para a teoria
cia, Lacan pôde vir a retrazer à “interpreta- psicanalítica da importância da palavra e
ção”, modo de intervenção do analista por da linguagem, Lacan toma para si o encar-
excelência, seu estatuto freudiano original. go de obter para aquela alguma forma de
Diversa da compreensão, à qual de fato se transmissibilidade. Essa questão se revela
opõe (do mesmo modo que a transferência fundamental na medida em que, se para
se opõe à sugestão), a interpretação é a Freud não se colocava a questão da não
emergência no discurso do analisando da cientificidade da psicanálise, sabe-se das
verdade de seu desejo, cabendo ao analista críticas sofridas por esta desde sempre pela
apenas colhê-lha, acolhê-la e relançá-la ao epistemologia da ciência. Lacan traz essa
sujeito. Por essa via, o psicanalista M. D. questão para o seio da própria psicanálise
Magno desenvolveu a tese de que o ato e, através disso, não só levanta um questio-
psicanalítico e o ato poético são isomórfi- namento do estatuto da ciência enquanto
cos, pois o poeta, definido por Saint-John promotora da exclusão do sujeito de seu
Perse como aquele sujeito que apresenta discurso, como também estabelece algu-
uma contínua aptidão para o espanto, é mas balizas que visam dar alguma cienti-
também aquele que consegue chegar a ficidade à psicanálise.
dizer algo que ninguém mais poderia dizer Não poderíamos nos estender sobre
em seu lugar. esse ponto complexo no quadro deste
Se a palavra é fundadora e seu valor ensaio, mas, digamos sucintamente, que
na psicanálise é absoluto na medida em tais balizas residem, por um lado, na re-
que ela constitui o único meio do qual a corrência à topologia matemática (por
psicanálise dispõe, Lacan vem a empreen- exemplo, à banda de Moebius, para ilustrar
der uma veemente crítica ainda aos ana- a topologia do sujeito), à teoria dos nós
listas que se valiam de noções decorrentes (com a utilização do nó borromeano para
da ideia de uma comunicação não verbal demonstrar a tripartição estrutural entre
e, através desta, só faziam objetificar o Real, Simbólico e Imaginário); por outro
analisando. Para a psicanálise, com efei- lado, no estabelecimento gradual ao longo
to, todos os atos, os gestos, as mímicas, de seu ensino de uma álgebra cujas letras
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Freud com Lacan: a psicanálise hoje

[S1], o significante-mestre [S2], o saber Real-Simbólico-Imaginário, a qual embora


[ ], o sujeito dividido entre o par signifi- presente em Freud de modo implícito, ao
cante [a] e o objeto causa do desejo), ao ser nomeada e explicitada por Lacan, trou-
ser associadas, constituem fórmulas que xe um aporte para a teoria psicanalítica
Lacan denominou de “matemas”. do qual ela não poderia, hoje, prescindir.
Tais matemas têm a função, para Registros heterogêneos, mas entrelaçados,
Lacan, de possibilitar a transmissão de Real, Simbólico e Imaginário constituem
um mínimo daquilo que é revelado na a estrutura mesma do sujeito falante.
experiência da análise. A título de exem- Acreditamos que em nossa exposição
plo, citemos o matema da fantasia [ ◊ a], possam ser encontrados elementos que
que associa o sujeito [ ] em sua relação justifiquem que nos abstenhamos de en-
desejante com o objeto causa do desejo fatizar a dimensão de sua importância. j
[a]; o matema da falta no campo do Outro
[S(A)], falta que é a matriz da estrutura
do inconsciente. FREUD WITH LACAN:
Dois pontos essenciais nos quais PSYCHOANALYSIS TODAY
desembocam os matemas lacanianos são,
por um lado, as “fórmulas quânticas da Abstract
sexuação”, formulação lógica que recorta
os campos do masculino e do feminino The article presents the main elements that
dissociando-os do imaginário da anatomia allow us to situate psychoanalytic theory
corporal e articula o primeiro à função and clinical practice today as tributaries of
fálica fundadora do sujeito e o segundo à the radical renewal produced by the reading
falta inerente ao Outro. É por meio dessa of Sigmund Freud ‘s work undertaken by
lógica que Lacan vem a afirmar que A Jacques Lacan.
mulher não existe, pois não existe nenhum
sujeito que se inscreva totalmente no cam- Keywords: Psychoanalysis, Freud, Lacan,
po do feminino, numa referência ao furo; Transmission, Contemporaneity.
todo sujeito, mesmo as mulheres – e elas
existem – inscrevendo-se necessariamente
por uma referência fálica, masculina. A
principal decorrência dessa afirmação con- Referências
tundente, no entanto rigorosa, de Lacan,
é outro axioma não menos surpreendente: JORGE, M. A. C. Fundamentos da psicanálise de
Freud a Lacan - v. 1: as bases conceituais. Rio de
se A mulher não existe, “a relação sexual Janeiro: Zahar, 2000.
é impossível”.
Por outro lado, os matemas lacanianos JORGE, M. A. C. Fundamentos da psicanálise de
resultam na constituição de uma teoria dos Freud a Lacan - v. 2: a clínica da fantasia. Rio de
discursos, através da qual ele isola quatro Janeiro: Zahar, 2010.
discursos que remetem às impossibilidades JORGE, M. A. C. Fundamentos da psicanálise de
apontadas por Freud – governar, educar e Freud a Lacan - v. 3: a prática analítica. Rio de
psicanalisar –, os discursos do Mestre, do Janeiro: Zahar, 2017.
Universitário, do Psicanalista, às quais ele
acrescentou uma quarta: se fazer desejar,
Recebido em: 02/04/2017
discurso da Histérica. Aprovado em: 10/04/2017
Não podemos deixar de mencionar
aqui algo que perpassou toda nossa expo-
sição, ou seja, a tripartição estrutural de
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Marco Antonio Coutinho Jorge

Endereço para correspondência

E-mail: <macjorge@macjorge.pro.br>

Sobre o autor

Marco Antonio Coutinho Jorge


Psicanalista.
Diretor do Corpo Freudiano
Seção Rio de Janeiro.
Membro da Association Insistance (Paris)
e da Sociedade Internacional de História
da Psiquiatria e da Psicanálise (Paris).
Professor associado do Instituto de Psicologia
da Uerj, onde ensina no Curso de Pós
Graduação em Psicanálise.
Autor da série Fundamentos da psicanálise de
Freud a Lacan - v.1: as bases conceituais (2008);
v. 2: a clínica da fantasia (2010); v. 3:
a prática analítica (2017), Rio de Janeiro: Zahar.

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