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AS APARIÇÕES DE NOSSA SENHORA EM MEDJUGORJE E A

PSICOLOGIA ANALÍTICA

APRESENTAÇÃO

O presente trabalho é uma monografia elaborada no curso de Pós graduação em


Psicologia, com especialização em Psicologia Analítica da Universidade São Francisco,
no tema Psicologia e Religião. A escolha do tema baseou-se no meu interesse desde o
início do curso em estudar o fenômeno religioso como elemento da psique humana. Para
esse fim, não poderia utilizar um instrumento mais adequado que a Psicologia Analítica
proposta por Carl Gustav Jung.
Acrescendo ao meu grande interesse científico nesse tema a minha vivência
espiritual na tentativa de ser cristão, fazer tal tarefa foi antes que uma obrigação
acadêmica, uma motivação pessoal que pude com satisfação, desfrutar.

Romildo R. Almeida

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INTRODUÇÃO

As aparições de Nossa Senhora no decorrer dos tempos em geral e a mais


recente ocorrida em Medjugorje em particular, são fenômenos intrigantes que têm
marcado a história dos povos e influenciado diretamente nos rumos da igreja.
O termo aparição, deriva-se do latim apparitio que significa ato de aparecer,
manifestação súbita de um ser ou de um objeto. O que aconteceu e ainda acontece em
Medjugorje, assim como em outros locais, como veremos adiante, são experiências de
ordem psíquica. Por elas se diz reconhecer objetos, seres e situações normalmente
“ïnvisíveis” como Deus, anjos, e pessoas em situações escatológicas como: os santos, a
virgem Maria, as almas etc. São fenômenos extraordinários dos quais existem inúmeros
relatos de experiências em todo mundo.
Dessa forma, usarei o termo aparições entre aspas pois ao me referir a elas, não
as estarei tomando como reais. Todavia, a ênfase maior, será dada aos sujeitos dessas
aparições que chamarei de videntes, já que esse termo diz respeito, segundo o dicionário
Aurélio, a: “pessoas dotadas da faculdade de visão sobrenatural de cenas futuras ou de
cenas que estão ocorrendo em lugares onde ela não está presente.”

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OBJETIVO DESTE TRABALHO

Estudar as “aparições” de Nossa Senhora em Medjugorje de 1984 à 1995, cidade


localizada na Croácia, país na época anexado à Iugoslávia e atualmente independente.
A exclusão das outras aparições desta pesquisa, faz-se necessária a fim de
delimitar o tema. Vou concentrar minha análise nas “aparições” de Medjugorje, visto
que nelas há um maior número de publicações a respeito possibilitando assim maiores
oportunidades de pesquisas e também por ser contemporâneas. Como sabemos, todas as
“aparições” acontecem sempre num contexto social turbulento marcado por iminente
transformações na sociedade ou especificamente no âmbito local, onde as mesmas
ocorrem. Este cenário de turbulências, em geral, colocam em perigo a unidade da igreja
e se tornam ameaças à própria religião. É exatamente a relação entre esse contexto e os
fenômenos de aparições, o objeto desse estudo. Tentaremos identificar um substrato
comum em todas elas utilizando como instrumento, os Fundamentos da Psicologia
Analítica proposta por Carl Gustav Jung. Dessa forma, levantamos três hipóteses que
tentaremos demonstrar adiante.

II. CIENTIFICIDADE DO TEMA

O material que utilizaremos no nosso estudo consiste em 247 mensagens


recebidas pelos jovens videntes de Medjugorje no período de março de 1984 à março
de 1995 que constam no livro: Nossa Senhora aparece em Medjugorje (BARBOSA
1995).

Nas “aparições”, é preciso estabelecer, com clareza, a distinção entre a visão


comum, obtida pelos olhos, e a visão do fenômeno especial. Nesta não se trata de algo
físico, que aparece diante do vidente e que, eventualmente, possa ser ser fotografado ou
filmado. Somente os videntes percebem. Há, mesmo, pessoas sugestionáveis que

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afirmam categoricamente, que viram. É interessante notar que em quase todas elas os
videntes são em geral crianças ou jovens normalmente do sexo feminino e originários
de famílias pobres. Foi assim em Lourdes (A adolescente Bernardete de 14 anos era
filha de um pobre Moleiro). Fátima (Três pequenos pobres pastorinhos) e Medjugorje
( Seis jovens de 10 a 17 anos todos pobres camponeses).
São visões interiores, que se projetam como se fossem
exteriores.(KLOPPENBURG 1960) Até mesmo as “aparições” aceitas pela igreja não
podem ser consideradas como objetivas visto que nenhuma delas foi registrada de modo
físico. Exemplo: Em Fátima, só os três pastorinhos viram Nossa Senhora, apesar de lá
estarem uma multidão de pessoas. Nem as máquinas fotográficas registraram. Os
videntes, por sua vez, entraram em êxtase e disseram conversar com Nossa Senhora.
(PALACIOS 1995). O material resultante dessa “conversa” que foi publicado, é que se
constitui na parte objetiva do fenômeno. O mesmo se pode dizer de outras “aparições.”
Para discorrer de forma científica sobre um tema como este, devemos centrar-
nos nos sujeitos que dizem ver as aparições de Nossa Senhora e não nas aparições em
si. Conforme Umberto Eco relata em seu livro, (ECO 1977) para um estudo ser
considerado científico, é necessário se orientar em quatro critérios básicos:
a) Debruçar-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja
reconhecível igualmente pelos outros. Neste caso, tanto as mensagens
publicadas no livro, quanto os sujeitos que as comunicaram encontram-se à
disposição de outros pesquisadores caracterizando, portanto, provas sobre a
viabilidade do nosso objeto.
b) O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito. Existem várias
publicações sobre o tema “aparições,” porém nem um estudo enfocando
aspectos psicológicos das mensagens como pretende este trabalho realizar.
c) O estudo deve ser útil aos demais. O resultado deste estudo poderá ser
levado em consideração” quando se mencionar o termo aparições.
d) O estudo deve fornecer elementos para a verificação e a contestação das
hipóteses apresentadas. Os interessados poderão consultar a bibliografia
proposta neste trabalho para confirmar ou negar as hipóteses apresentadas.
Este trabalho foi orientado com base nos principais fenômenos de aparições

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de N.Senhora que se tem notícia, (Fátima, Lourdes, Medjugorje) excluindo
outros milhares que acontecem em inúmeros locais pelo mundo. Esta
exclusão foi feita, visto que o presente estudo se baseia nas mensagens
proferidas pelos sujeitos daquelas “aparições” e que, portanto, apresentavam
material suficiente para análise, no caso, as publicações. Todavia, admitimos
que possam haver outros meios de se realizar semelhante pesquisa obtendo
resultados idênticos ou diferentes p. Ex. podem existir “aparições” que não
foram tão noticiadas quanto estas ou documentos que ainda não foram
divulgados.
Tendo em vista que nosso estudo, obedece aos critérios acima expostos,
podemos considerá-lo científico. Sendo assim, o estudo desses videntes,
independentemente da crença ou não nas aparições garante a cientificidade do
nosso método.

HIPÓTESES

I. As aparições ocorrem sempre dentro de um contexto histórico e social


marcado por divisões políticas, guerras, revoluções, transformações sociais etc.

II. As “Aparições” de Nossa Senhora obedecem ao mesmo padrão de


manifestação independente do lugar onde ocorrem.

III. A análise do contexto social das “Aparições” e do conteúdo das mensagens


reveladas pelos videntes, aponta para a existência de padrões arquetípicos comuns que
emergem do Inconsciente coletivo.

I - ASPECTOS GERAIS

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São vários os depoimentos de manifestação de Nossa Senhora no decorrer da
história. Essas manifestações ocorrem em diversos lugares do mundo como por
exemplo: França, Estados Unidos, México, Portugal, Alemanha e outros.
As “aparições” se fazem notar com maior freqüência, nos últimos séculos mas
não são desconhecidas nos períodos anteriores, no quadro de uma religião popular como
forma de um profetismo possível do mundo cristão no caso católico tradicional.
Algumas aparições obtiveram certo reconhecimento da Igreja como Guadalupe (México
1531), Lourdes (França 1858) e Fátima (Portugal 1917). Os lugares das aparições
transformaram-se também em grandes centros de peregrinação.
Entre os séculos XIX e XX contam-se cerca 310 aparições de Nossa Senhora
(1988). No século XX há um expressivo número de casos reais ou presumidos ainda não
depurados pelo tempo ligados principalmente a aparições de Nossa Senhora. Entre esses
casos ocorridos em várias partes do mundo, e que estão chamando certa atenção,
numerosos são patológicos.
Fora do Brasil nota-se uma certa regularidade de casos, a partir de 1940 até hoje.
No Brasil eles começam apenas a partir de 1960. A título de informação, citamos
aqueles casos que obtiveram alguma repercussão, com grande número de devotos e
admiradores primeiramente em outros países.

I.1 - Aparições no mundo


a) Em Marienfeld, Alemanha, Nossa Senhora teria se revelado a uma jovem a
ela consagrada de nome Bárbara de1940 à 1946.
b) Nossa Senhora teria se revelado a Maria Valporte, Itália de 1943 à 1951.
c) Em Amsterdam, Holanda, fala-se de 60 aparições e mensagens de Nossa
Senhora de todos os povos de 1945 à 1959.
d) Pierina Guli teria visto Nossa Senhora Rosa Mística e recebido mensagens
dela em Montechiari, Itália de 1947 à 1974.
e) Quatro meninas teriam visto mais de 2 mil vezes Nossa Senhora e recebido
mensagens dela em Garabandal, Espanha de 1961 à 1965.
f) Rosa Quatrini teria tido aparições de Nossa Senhora das Rosas e recebido
mensagens, em San Damiano, Itália em 1961 à 1970

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g) Uma religiosa teria recebido revelações de Nossa Senhora em Modero,
México em 1969.
h) Uma imagem de Nossa Senhora sangra, fala, chora e cura, no Japão, de
1973 a 1981.
i) Elena Lombardi, filha espiritual de Frei Pio, recebe revelações interiores de
Nossa Senhora em Roma, de 1974 a 1987.
j) Jesus e Maria teriam se revelado a uma senhora de nome Gema em Roma em
1980.
k) Nossa Senhora teria aparecido à Luz Amparo, em Escorial, Espanha, em
1980.
l) Um sacristão, de nome Bernardo, recebe uma visão de Nossa Senhora,
acompanhada de eclipse de Sol em Cuapa na Nicarágua em 1980.
m) Nossa Senhora estaria aparecendo a seis jovens em Medjugorje, Iugoslávia
até hoje.

I.1.2“APARIÇÕES NO BRASIL”

No Brasil, o número de “aparições” e “revelações particulares”,


principalmente de Nossa Senhora, tem aumentado significativamente em vários lugares
(CED 1990). A repercussão desses fenômenos junto aos meios de comunicação social
indica que também tem crescido a expectativa desses fenômenos no meio do povo. Eis
algumas:

a) Desde 1960 até hoje Nossa Senhora da Santa Cruz estaria se manifestando a
Dª. Dorotéia em Erechim, Rio Grande do Sul.

b) Nossa Senhora da Natividade teria aparecido ao Dr. Fausto Faria, em


Natividade, Rio de Janeiro de 1967 a 1977.

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c) Desde 1975 a imagem de Nossa Senhora do Senhor Morto estaria
sangrando e transmitindo mensagem a Da. Hermínia Moraes de Souza em Itu, São
Paulo.

d) Alfredo Moreira teria visto Nossa Senhora da Obediência e dela recebido


mensagem em Congonhal, Minas Gerais entre 1987 a 1988.

e) Um grupo de crianças estaria vendo Nossa Senhora e recebendo dela


mensagens em Taquari, Rio Grande do Sul.

I. O CONTEXTO HISTÓRICO E SOCIAL DAS APARIÇÕES

Algumas “aparições” despertaram maior interesse no povo e mereceram maior


destaque junto aos meios de comunicação e à própria igreja. São elas: Lourdes (França)
em 1858, Fátima (Portugal) em 1917 e Medjugorje (Iugoslávia) de 1981 em diante. A
relevância dessas “aparições” reside no fato de terem coincidido com épocas de
transformações históricas importantes no mundo e por terem apresentado fenômenos
mais substanciais sendo que os locais onde aconteceram, se transformaram em centros
de peregrinações. A seguir apresentaremos um resumo de cada uma delas, bem como o
contexto social da época.

I.1. NOSSA SENHORA DE LOURDES

Em 11/02/1858 na cidade de Lourdes, pertencente à França, nas proximidades da


gruta de Massabièlle, uma jovem chamada Bernadette Soubirous de 14 anos teve a visão
de uma senhora vestida de branco que se dizia ser a “Imaculada Conceição”. Esta visão
se repetiu por 18 vezes até 16 de julho do mesmo ano. A partir dos relatos de
Bernadette, muitas pessoas visitaram o local e se banharam nas águas da gruta tendo-se
notícias de várias curas de doentes que foram alardeadas dando início, assim, ao culto
de Nossa Senhora de Lourdes que foi autorizado pela igreja católica em 1862.

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No local foi construida uma basílica em 1876 e uma outra subterrânea em 1958.
A peregrinação em homenagem à Virgem Maria, em Lourdes, é uma das mais
importantes do mundo ( 4 milhões de peregrinos por ano).

I.1.2. HISTÓRICO DA ÉPOCA

O acontecimento de Lourdes é precedido de um momento de várias


transformações que aconteciam na Europa, tendo como pano de fundo a Revolução
Francesa que pôs fim ao absolutismo onde predominava o poder exercido pelos
governantes “Direito divino dos Reis.” A partir de então, teve início o período histórico
denominado de Iluminismo, movimento intelectual que caracterizou o pensamento
europeu do século XVIII.

Esse movimento tinha como base, a crença no poder da razão para solucionar os
problemas sociais. Os iluministas eram adeptos do ceticismo, do deísmo, do empirismo
e do materialismo. Opunham-se à tradição, representada sobretudo pela igreja católica e
lutaram por uma nova ordem social e política. A democracia e o Liberalismo modernos,
assim como a renovação industrial, tiveram íntima relação com o iluminismo, e a
Revolução Francesa foi sua principal expressão no plano político.

I.2. AS “APARIÇÕES” DE FÁTIMA

Três crianças, Lúcia de 10 anos e seus primos Francisco e Jacinta de 9 e 7 anos


respectivamente relataram visões de Nossa Senhora de Fátima que teriam tido entre
maio e outubro de 1917, na cova da Iria em Portugal.
Estes relatos logo atraíram a atenção popular e o culto católico a Virgem de
Fátima teve início com a construção de uma capela no local. A vida religiosa do país
polarizou-se em Fátima em constantes concentrações, congressos e retiros, do clero e
leigos de todas as categorias e condições sociais. O santuário de Fátima tornou-se
importante local de peregrinação, atraindo pessoas do país e do estrangeiro.

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Essas “aparições” tiveram uma grande importância, situando a Igreja em antes e
depois de Fátima.
Os videntes diziam ver uma jovem de uns 18 anos vestida de branco sobre a
copa de uma árvore e lhes recomendava que rezassem sempre o terço. A Virgem
também teria revelado aos videntes segredos a respeito do futuro da Igreja e da
humanidade.

I.2.1. O CONTEXTO HISTÓRICO DE PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO

A época das aparições em Fátima coincidia com o surgimento do comunismo na


Rússia e a ameaça do seu alastramento por toda a Europa.
Em Portugal aconteciam tensões relacionadas a crise de um governo republicano
nitidamente anticlerical. Essa situação se arrastou por 15 anos desde 1910 marcado por
instabilidades, revoltas e assassinatos, sendo que apenas um presidente, entre oito,
conseguiu chegar ao fim de seu mandato. As efêmeras ditaduras de Pimenta de Castro
em 1915 e de Sidônio Pais (1917 – 1918), tiveram como resposta a criação em 1919 de
uma grande federação sindical operária (CGT) de inspiração anarquista e a do Partido
Comunista Português em 1921.

I.3. O FENÔMENO DE MEDJUGORJE

Desde 24.06.81, seis jovens croatas: Vicka, Ivankovic, Mirjana Dragcevic, Ivan
Dragcevic, Ivanka Ivankovic, Marija Pavlovic e Jakov que na época tinha apenas 10
anos, vêem e ouvem Nossa Senhora, numa aldeia localizada na pequena cidade
chamada MEDJUGORJE, na Croácia, antiga Iugoslávia. (BARBOSA 1995)
De acordo com os jovens videntes, Nossa Senhora apresentou-se como a Rainha
da Paz, querendo com esse título significar que veio disposta a introduzir a paz no
mundo, a começar pela paz interior que deve reinar no coração de cada homem. Nas

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suas comunicações com os videntes dá o caminho para obtenção dessa paz ou seja
convida todos a oração, penitência e conversão, tal qual pediu em Fátima, no ano de
1917, quando de sua aparição à três pastorinhos portugueses. Na aparição de Fátima,
Nossa Senhora previu a 2ª Guerra Mundial e o alastramento do comunismo pelo mundo,
caso seus pedidos não fossem atendidos o que veio de fato acontecer (2ª Guerra
Mundial e expansão do Comunismo). Os fenômenos religiosos de Medjugorje têm
como cenário um país desgastado pela guerra étnica e presa tiranicamente sob o jugo
opressor de um comunismo anti-cristão.
Há anos portanto o povo croata sofre. Não obstante haver diversos setores de
comunidades religiosas tais como ortodoxos e muçulmanos, a tradição católica mantém
raízes inapagáveis, apesar de a educação das novas geração ter recebido nas escolas,
formação materialista em que o humanismo rejeita categoricamente a existência de
Deus e consequentemente a vida eterna.

I.3.1. O CONTEXTO HISTÓRICO DAS “APARIÇÕES” DE MEDJUGORJE

As “aparições” de Medjugorge ocorrem num núcleo fervilhante de guerra e de


desmembramento da Iugoslávia. A Iugoslávia foi formada a partir da união dos povos
Sérvios, Croatas e Eslovenos do impérios Austro-húngaro em outubro de 1918. Na
verdade a Iugoslávia foi criada do nada após a Primeira Guerra Mundial. As etnias
diferentes com tradições e culturas diferentes sendo forçadas a viver dentro de um
mesmo regime de ideologia comunista, não poderia durar muito tempo. Medjugorje tem
a sua população formada por Croatas, embora não dentro das fronteiras da atual
Croácia, mas da sua hoje aliada Bósnia-Herzegovina, cujo povo se compõe de católicos,
ortodoxos e muçulmanos. Os Croatas sempre foram católicos e durante a Segunda
Guerra Mundial eram aliados da Alemanha, lutaram contra a Sérvia ortodoxa e contra as
milícias comunistas do Marechal Tito. Vê-se aqui a razão do ódio entre Croatas e
Sérvios que perdura até hoje, assim, houve massacres de toda a parte na década de 40. A
Europa tentou chegar a um acordo para pacificar o conflito, porém o resultado adverso
da Segunda Guerra Mundial, o impediu.

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Em 1981 quando começaram as aparições em Medjugorje a situação da
Iugoslávia era crítica, havia inflação crescente, falência das empresas e descrédito das
instituições administrativas. A crise se agravou em 1986, não obstante terem sido
adotados planos de estabilização. Esse clima culminou com a guerra civil e
desmantelamento da federação.
As “aparições” de Medjugorje têm, portanto, como berço, um cenário de guerra
e revolução.

I.4. LOCAIS ONDE OCORREM

Também se pode dizer que os locais onde ocorreram as “aparições” seguem um


determinado critério geográfico. Em geral elas ocorrem sempre no campo, no alto de
uma montanha, em cima de uma árvore. Nunca dentro de uma casa ou igreja. Esses
locais são normalmente lugarejos pobres, de vida difícil cujo povo vive sob o jugo de
um governo austero. (Lourdes, Fátima e Medjugorje)

I.4.1. O CONTEXTO

As “aparições” acontecem sempre num contexto social típico. Ou seja: Numa


situação de crise, insegurança, transição. Situações que normalmente provocam
traumas. Ex.: O avanço dos Bárbaros, a queda do império Romano, períodos que
antecedem uma revolução ou uma guerra, Início de século ou de milênio,
transformações sociais etc. Esses cenários que acabamos de descrever, estiveram
presentes em Lourdes (Iluminismo), em Fátima (ameaça comunista) e Medjugorje
(Guerra dos Balcãs e desmembramento da Iugoslávia). Esse contexto sempre impõe
uma ameaça ao cristianismo o que nos dá o direito de inferir que as “aparições”
ocorrem sempre como defesa à igreja e alento às classes menos favorecidas ou
perseguidas.

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II.1. METODOLOGIA

O método de pesquisa que vamos utilizar neste trabalho é o método


Compilativo. Faremos uma compilação bibliográfica a cerca das Aparições de Nossa
Senhora no decorrer dos tempos, analisando as mais importantes como: Fátima, Lourdes
e Medjugorje, tendo como base esta última. Tentaremos reinterpretá-las à luz da
Psicologia Analítica expressa nas obras de Carl Gustav Jung.
Para tabular os dados obtidos nas mensagens comunicadas pelos videntes
usaremos um método estatístico detectando as “respostas” que tiveram maior
incindência. Cada mensagem publicada, foi separada em frases e em cada frase, foi
colhida palavras que representavam uma categoria de resposta. Ex. pecado, demônio,
etc.

III. ELEMENTOS COMUNS NAS “APARIÇÕES”

III.1. AS MENSAGENS

Uma rápida análise da maioria das mensagens emitidas, especialmente em certas


pretensas aparições mostra-nos que, em geral seguem uma estrutura básica que se
repete em todas elas. Iremos observar essa estrutura, de maneira mais clara, nas
“aparições” mais relevantes (Lourdes, Fátima e Medjugorje) que passaremos a discutir.
Se analisarmos algumas características apresentadas nessas três “aparições”
(Lourdes, Fátima e Medjugorje), notaremos uma similaridade entre elas visto que em
todas existe um mesmo padrão de manifestação conforme tabela abaixo:

Tab. 01
LOCAL DAS IDADE DOS CLASSE ACONTECIME

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APARIÇÕES VIDENTES SOCIAL NTO
HISTÓRICO
GRUTA DE POBRE (FILHA
LOURDES 14 ANOS ILUMINISMO
ROCHEDO DE MOLEIRO)
SOBRE 7, 9 E 10 POBRES AMEAÇA
FÁTIMA
ÁRVORE ANOS (PASTORES) COMUNISTA
CRISE POLÍTICA
POBRES
MEDJUGOR DE 10 A 17 E ECONÔMICA
COLINA (FILHOS DE
JE ANOS NA EX-
LAVRADORES)
IUGOSLÁVIA

Com base na tabela acima podemos confirmar a primeira e a segunda hipótese


visto que as três “aparições” são similares por acontecerem em condições idênticas e
terem em comum um contexto de conflito com ameaças ao cristianismo, mais
propriamente ao catolicismo.

III.2. AS MENSAGENS DE MEDJUGORJE

Descreveremos com o auxílio da tabela na próxima página um estudo sobre as


mensagens comunicadas pelos videntes em Medjugorje de 01 de março de l984 à 25 de
março de 1995 e publicadas no livro: Nossa Senhora Aparece em Medjugorje editado
pelo Secretariado Rainha da Paz. Nesses 12 anos foram “recebidas” 247 mensagens:
Essa tabela é um painel expositivo das mensagens que mais se repetem nas
“aparições”. Na coluna 3, por exemplo, o número de asteriscos (*) representa quantas
vezes Nossa Senhora pede orações na comunicação número 001 do dia 01/03/84 e assim
por diante. Na coluna 5 as referências a unidade significam as exortações que os
videntes teriam recebido de Nossa Senhora no sentido de integração, Ex. (Permaneçam
unidos junto ao pároco, mantenham-se unidos na fé etc.) Na coluna 7 entende-se por
divisões, referências à intrigas, desavenças conflitos etc. de natureza política ou
religiosa na região local ou no mundo.

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Tab. 02
MENSAGENS
01 02 03 04 05 06 07 08 09
Nº DATA PEDE REFER REFER PEDE REFERE REFERE- PROMET
ORAÇÕ E-SE A E-SE A SA- -SE A SE AO E:
ES PAZ UNIDA CRIFÍCI PECAD INIMIGO
RECOM
DE OS OS
CAS-
PENSA
TIGO
001 01/03/84 * * *
002 15/03/84 * * * *
003 18/03/84 * *
004 22/03/84 * * * *
005 29/03/84 ** *
006 05/04/84 * *
007 12/04/84 * *
008 19/04/84 ** * *
009 26/04/84 *
010 03/05/84
011 10/05/84 ** *
012 17/05/84 *
013 24/05/84 * *
014 31/05/84
015 07/06/84 * *
016 14/06/84 *
017 21/06/84 *
018 28/06/84
019 05/07/84 ** * * * *
020 12/07/84 * * *
021 19/07/84 *
022 26/07/84 * * *

15
023 02/08/84 ** *
024 09/08/84 ** *
025 16/08/84
026 23/08/84 *
027 30/08/84 *
028 60/09/84 * **
029 13/09/84 ** **
030 20/09/84 * **
031 27/09/84 * * *
032 04/10/84 * *
033 11/10/84 * **
034 18/10/84 *
035 25/10/84 ** **
036 01/11/84 **
037 08/11/84 * **
038 15/11/84 * *
039 22/11/84
040 29/11/84 * *
041 0612/84 * *
042 13/12/84 * * **
043 20/12/84 *
044 27/12/84 * *
-
247 25/03/95 ** ** *
- TOTAIS 40 07 06 13 10 07 18 01

Com base nos resultados expostos na tabela acima referente às “aparições”de


Medjugorje até 27/12/84 a coluna referente aos pedidos de orações foi a que apresentou
um maior número de respostas seguida da coluna em que há promessas de recompensa.
A coluna 6 referente ao pedido de sacrifícios também apresentou grande incidência.

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IV. OS PADRÕES ARQUETIPICOS

Observando o conteúdo das mensagens, podemos notar que as mesmas parecem


seguir um determinado roteiro de quatro categorias que incluem sempre uma denúncia,
um alerta a cerca de perigos, seguidos de pedidos de conversão e orações não
necessariamente nessa ordem. P.ex.:
a) Revelam uma visão apocalíptica da sociedade, do mundo e da igreja. Pintam
um quadro de decadência religiosa, moral e social semelhante à das épocas do dilúvio,
da Torre de Babel, de Sodoma e Gomorra etc.
b) Segue a ameaça de castigos iminentes sobre a humanidade, caso os homens
perseverem no mal.
c) Depois vem o apelo à conversão tentando converter e encaminhar o povo à
um novo modelo de paz e renovação universal.
d) Por fim há uma indicação do caminho para se chegar a esta renovação que
são normalmente evitar o pecado, a vaidade, o luxo. Recomendam penitência, Jejum e o
sacrifício. Exortam à oração à comunhão aos sacramentos, à consagração à Nossa
Senhora, reza do terço etc.
Poderia-se inferir que o maior número de mensagens para orações sugere um
apelo à religação com o transcendente já que com o domínio comunista representado
pela ditadura do Mal. Tito, havia uma espécie de sufocamento do povo croata que em
sua maioria era católico e estava impedido de praticar cultos religiosos. Dentro desse
ponto de vista o inimigo a ser combatido era o estado ateu configurado nos regimes
comunistas visto que havia o perigo de que o povo sucumbisse aos seus ideais.
Todavia será preciso continuar a tabulação dos dados até a última mensagem
para confirmar esta hipótese.

V. AS “APARIÇÕES” E A PSICOLOGIA ANALÍTICA

A psicologia analítica proposta por Carl Gustav Jung tem como um dos seus
pressupostos mais importantes a existência dos arquétipos no inconsciente coletivo.

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Segundo Jung os arquétipos seriam imagens primordiais, imagens virtuais, tendências
inatas e hereditárias, modelos para a ação ou para determinadas situações de vida.
Quando a vivência dos símbolos arquetípicos é empobrecida ou impedida, a
conseqüência disto é sempre danosa para o psiquismo ou para a sociedade. Quase todas
as obras de Jung que tratam da importância dos arquétipos alertam para isto. Sophia
Caracushansky cita em sua apostila: “...muitas religiões desapareceram mas o
cristianismo permaneceu, porque ele coincide com padrões arquetípicos altamente
constelados. O mesmo se pode dizer dos deuses gregos e romanos e da mitologia em
geral. Contudo, nos últimos decênios, a elaboração simbólica primordial dos
arquétipos vêm se empobrecendo. Os arquétipos são menos trazidos ao nível das
práticas e crenças da vida consciente e quando isso ocorre logo desaparecem.
Este empobrecimento crescente tem alguma razão de ser, segundo Jung. Tudo
aquilo sobre o que ainda não pensamos e que por conseguinte, ficou desprovido de uma
conexão significativa com a lógica perdeu-se. Ao invés de resgatarmos nossos
símbolos, tentamos mergulhar no simbolismo oriental. Jung acredita que deveríamos
de preferência ingressar no simbolismo cristão ao invés de permitirmos que a
construção erigida por nossos ancestrais se desmorone.
Qualquer um que tenha perdido os símbolos históricos e não possa satisfazer-se
com substitutos, certamente está hoje numa posição muito difícil; diante dele se estende
o vazio, do qual ele se afasta com horror e o que é pior, o vácuo se preenche com idéias
políticas e sociais abusivas...” (CARACUSHANSKY 1997 p.13)
Na mesma apostila na página 17 encontramos a narrativa de um sonho analisado
por Jung sobre um estudante de Teologia que trazia material inerente a conflitos
religiosos: “... Estava em pé diante de um velho elegante, trajado de preto. Pouco antes
havia conversado com um mágico branco, no qual ele havia pedido um conselho. Dessa
conversa só se lembrava das últimas palavras que lhe foram ditas – para isto vamos
precisar de ajuda do mago negro . E agora o mágico branco dizia ao homem vestido de
negro: - pode falar livremente. Ele (referindo-se ao sonhador) é um inocente. Passou
então o mago negro a lhe contar uma longa história na qual um rei, antes de morrer
escolhera o seu túmulo no qual, outrora, fora sepultada uma virgem. Assim que o
túmulo fora aberto para ser mais tarde utilizado pelo cadáver do rei, os ossos da

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virgem sob o efeito da luz do dia transformaram-se num cavalo negro que se
desvaneceu fugindo pelo deserto. O mágico negro ao saber do acontecido saiu em
busca do cavalo. Acabou achando o cavalo e o importante nisso tudo é que o cavalo
tinha consigo as chaves do paraíso. O mago pegou as chaves e foi procurar o mago
branco para lhe pedir um conselho: O que fazer com as chaves do paraíso?”
O principal na análise desse sonho é destacar o símbolo que vinha regendo a
vida psíquica do jovem estudante e que agora devia morrer, pois estava entrando em
conflito com sua nova vida e seu campo de estudos, este símbolo era o rei. O rei é uma
clara representação do poder, do domínio e poderia também significar o ego inflado e
identificado com a persona. A virgem representava um símbolo adormecido que
renascia e se transformava num cavalo, que provavelmente representavam as paixões
desordenadas. O mago negro representaria a “sombra”, ou seja o lado sombrio e auto-
rejeitado da personalidade. É este lado, que está em oposição aos valores conscientes
que encontra as chaves do paraíso ou seja o caminho da individuação. O mago branco
simbolizava o bem, notando-se no sonho a interligação e relação entre o bem e o mal.
Este sonho é um belo exemplo da maneira como o psiquismo se utiliza de símbolos
arquetípicos no processo de comunicação do inconsciente para o consciente, alertando-o
a cerca de conflitos, confrontos perigos ameaças, mostrando caminhos e apontando
soluções. O inconsciente captaria as impressões internas e externas, elaboraria essas
informações e as revelaria através de mensagens simbólicas nos sonhos.
Poderíamos inferir, a partir disso, que esse mecanismo atua da mesma forma nas
mensagens transmitidas pelos sujeitos das aparições. Nelas o conteúdo das mensagens
também é carregado de símbolos arquetípicos além de se referirem com frequência às
situações de conflitos locais e universais, apresentando também saídas para se recuperar
a unidade perdida.
Jung relata em outra obra o papel dos arquétipos na organização dos processo
psíquicos inconscientes, segundo ele representariam os patterns of behaviour ou seja
padrões de comportamento. Ao mesmo tempo, os arquétipos têm uma “carga
específica” ou seja desenvolvem efeitos numinosos que se expressam como afetos. O
afeto produz uma baixa do nível mental parcial, porque juntamente na mesma medida
em que eleva um determinado conteúdo a um grau supra normal de luminosidade, retira

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também tal quantidade de energia de outros conteúdos tornando-os obscuros e
inconscientes. De acordo com Jung, os conteúdos comumente inibidos irrompem e
encontram expressão no afeto, esses conteúdos por serem primitivos revelam sua
origem arquetípica. (JUNG 1971/1988)
Portanto, da mesma forma que o inconsciente coletivo se manifesta através dos
sonhos arquetípicos que irrompem a consciência na tentativa de restabelecer a
harmonia perdida, também poderia atuar nas “aparições”.

I. CONCLUSÃO

Podemos dizer que de certa forma, neste breve estudo, as nossas três hipóteses
em certo sentido se confirmam uma vez que a primeira hipótese foi demonstrada a partir
da análise das condições sócio-econômicas, políticas e culturais da época e do local das
“aparições” revelando em todas elas um contexto histórico de turbulências e ameaças ao
cristianismo.
Foi assim como vimos, em Lourdes (Iluminismo), em Fátima (Comunismo) e
Meddjugorje (Guerra civil).
A Segunda hipótese também foi comprovada no cap. III, ficando
demonstrado que existe um padrão comum de manifestação desses fenômenos ou seja
que eles ocorrem sempre em locais rurais, nunca em centros urbanos, que os videntes
são sempre jovens de classe social pobre, a maioria adolescentes do sexo feminino e
que existe sempre por traz desses fenômenos um contexto histórico marcado por um
cenário de turbulências. No cap. IV, apresentamos um esquema de quatro elementos que
estrutura as “aparições” e demonstra esse padrão.
Quanto a terceira hipótese, é possível inferir que esses fenômenos acontecendo
sempre dentro de um contexto histórico de ameaça ao cristianismo (primeira hipótese),

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sugere a existência de padrões arquetípicos comuns emergentes do inconsciente coletivo
sustentado pela conformidade que têm com a teoria junguiana, principalmente naquela
que se refere aos sonhos arquetípicos. Identificamos alí uma semelhança entre os
mecanismos de atuação dos sonhos arquetípicos e as mensagens das aparições em
Medjugorje.
O próximo passo desse trabalho deverá ser o de debruçar-se nos estudos dos
sonhos arquetípicos tentando evidenciar de maneira mais contundente as relações entre
eles e as “aparições”.

São Paulo, 18 de novembro de 1998.

_______________________________
ROMILDO RIBEIRO ALMEIDA

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