Sunteți pe pagina 1din 261

RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO CIVIL

Atualizado em 16/02/2018: novos julgados + questões de concurso.

1. DIREITOS DA PERSONALIDADE
1.1. TRANSEXUAL: Transexual pode alterar seu prenome e gênero no registro civil
mesmo sem fazer a cirurgia de transgenitalização – (Info 608) – IMPORTANTE!!!

O direito dos transexuais à retificação do prenome e do sexo/gênero no registro civil


não é condicionado à exigência de realização da cirurgia de transgenitalização.
Trata-se de novidade porque, anteriormente, a jurisprudência exigia a realização
da cirurgia de transgenitalização.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.626.739-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 9/5/17 (Info 608).
OBS:
O STJ entendeu que deveria evoluir e dar um passo além para alcançar também os
transexuais não operados, conferindo-se, assim, a máxima efetividade ao princípio
constitucional da promoção da dignidade da pessoa humana.
Sob essa ótica, devem ser resguardados os direitos fundamentais das pessoas
transexuais não operadas à identidade (tratamento social de acordo com sua
identidade de gênero), à liberdade de desenvolvimento e de expressão da
personalidade humana (sem indevida intromissão estatal), ao reconhecimento perante
a lei (independentemente da realização de procedimentos médicos), à intimidade e à
privacidade (proteção das escolhas de vida), à igualdade e à não discriminação
(eliminação de desigualdades fáticas que venham a colocá-los em situação de
inferioridade), à saúde (garantia do bem-estar biopsicofísico) e à felicidade (bem-estar
geral).
Consequentemente, à luz dos direitos fundamentais, conclui-se que o direito dos
transexuais à retificação do sexo no registro civil não pode ficar condicionado à
exigência de realização da cirurgia de transgenitalização, para muitos inatingível do
ponto de vista financeiro ou mesmo inviável do ponto de vista médico.

1.2. Inaplicabilidade de proteção do direito autoral a modelo fotografado – (Info


554)

Imagine que determinada modelo é fotografada para uma revista.


O titular dos direitos autorais sobre essas fotos será o fotógrafo (e não a modelo).
Em se tratando de fotografia, para efeitos de proteção do direito autoral, o autor –
e, portanto, o titular do direito autoral – é o fotógrafo (e não o fotografado).
O fotógrafo, detentor da técnica e da inspiração, é quem coordena os demais
elementos complementares ao retrato do objeto – como iluminação – e capta a
oportunidade do momento e o transforma em criação intelectual, digna, portanto,
de tutela como manifestação de cunho artístico.
A pessoa fotografada terá proteção jurídica, mas com base no direito de imagem (e
não no direito autoral).
Desse modo, a proteção do fotografado é feita com fundamento no art. 20 do Código
Civil (e não com base na Lei 9.610/98).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.322.704-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/10/14 (Info
554).

1.3. Direito à imagem – (Info 546)

Configura dano moral a divulgação não autorizada de foto de pessoa física em


campanha publicitária promovida por sociedade empresária com o fim de,
mediante incentivo à manutenção da limpeza urbana, incrementar a sua imagem
empresarial perante a população, ainda que a fotografia tenha sido capturada em
local público e sem nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.307.366-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/6/2014 (Info
546).

1.4. Ofensa à dignidade da pessoa humana: dano moral in re ipsa – (Info 513 do
STJ)

Sempre que ocorrer ofensa injusta à dignidade da pessoa humana restará


configurado o dano moral, não sendo necessária a comprovação de dor e
sofrimento. Trata-se de dano moral in re ipsa (dano moral presumido).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/12/12 (Info 513
STJ).

2. NOME DA PESSOA NATURAL


2.1. Alteração de registro civil após aquisição de dupla cidadania – (Info 588)

O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro
civil do Brasil, desde que isso não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer
transtornos no exercício da cidadania por força da apresentação de documentos
estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta
em seus documentos brasileiros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.088-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para
acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/5/16 (Info 588).
OBS: Flexibilização dos arts. 56 e 57 da LRP: As hipóteses de alteração do nome estão
elencadas nos arts. 56 e 57 da Lei nº 6.015/73. O pedido formulado pelo autor não está
previsto expressamente em nenhuma das hipóteses elencadas nesses dois artigos. Vale
ressaltar, no entanto, que o STJ tem flexibilizado a interpretação dos arts. 56 e 57 da
Lei dos Registros Públicos para permitir a alteração de nome desde que haja um "justo
motivo" (art. 57, caput). Alguns exemplos de situações em que se admitiu a
modificação de nome:
a) inclusão do patronímico de companheiro (REsp 1206656/GO,);
b) acréscimo do patronímico materno (REsp 1256074/MG);
c) substituição do patronímico do pai pelo do padrasto (Ag 989812/SP);
d) inclusão do patronímico do padrasto (REsp 538187/RJ);
e) alteração da ordem dos apelidos de família (REsp 1323677/MA);
f) inclusão do nome de solteira da genitora, adotado após o divórcio (REsp
1041751/DF).
Retificação de nome para possibilitar a obtenção de outra nacionalidade: Importante
destacar que o STJ já entendeu que é possível a retificação de nome para possibilitar a
obtenção de outra nacionalidade. No caso concreto, o sobrenome do autor era
"Barticiotto" e assim constava em seus documentos no Brasil. Ocorre que ele era
descendente de italianos e lá esse sobrenome é escrito corretamente como
"Bartucciotto". Quando a família veio para o Brasil, houve um erro de grafia e, por
conta disso, o sobrenome ficou diferente daquele adotado na Itália. Em virtude disso,
o autor ajuizou ação para modificar seu sobrenome, já que, sem essa providência, ele
não conseguiria adquirir a cidadania italiana. O STJ concordou com o pedido
considerando haver justo motivo (STJ. 4ª Turma. REsp 1138103/PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 06/09/2011).

Se pode alterar o nome para a pessoa obter a nacionalidade, com mais razão pode-se
alterar depois que a pessoa adquiriu dupla nacionalidade: Se o STJ permite a mudança
do nome para que o indivíduo possa requerer a cidadania italiana (REsp 1138103/PR),
com maior razão deve permitir a alteração para a pessoa que já obteve a dupla
nacionalidade, prestigiando, assim, o princípio da simetria, da uniformidade, da
verdade real e da segurança jurídica, que norteiam o sistema registral brasileiro. A
posição mais flexível do STJ sobre a imutabilidade do nome civil tem por objetivo
sobretudo assegurar o exercício da cidadania, ou seja, o próprio papel que o nome
desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma pessoa.

2.2. Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do abandono pelo genitor – (Info
555)

Imagine que determinado indivíduo foi abandonado pelo pai quando era ainda
criança, tendo sido criado apenas pela mãe. Quando completou 18 anos, esse rapaz
decidiu que desejava que fosse excluído o nome de seu pai de seu assento de
nascimento e que o patronímico de seu pai fosse retirado de seu nome, incluindo-
se o outro sobrenome da mãe.
O STJ decidiu que esse pedido pode ser deferido e que pode ser excluído
completamente do nome civil do interessado os sobrenomes de seu pai, que o
abandonou em tenra idade.
A jurisprudência tem adotado posicionamento mais flexível acerca da
imutabilidade ou definitividade do nome civil.
O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico
brasileiro. Além disso, a referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que
o nome desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma pessoa.
Desse modo, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias
decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade
familiar, sobrepõe-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já
excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos.
Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome é
elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na
sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que o abandono pelo genitor caracteriza
o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu nome civil, com a
respectiva exclusão completa dos sobrenomes paternos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2014 (Info 555).
2.3. Direito de a pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento de seu
filho após divórcio – (Info 555)

Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de solteira, é possível que o


registro de nascimento dos filhos seja retificado para constar na filiação o nome
atual da mãe.
É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento
de seus filhos após divórcio.
A averbação do patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do
casamento atrai, à luz do princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à
hipótese inversa, qual seja, em decorrência do divórcio, um dos genitores deixa de
utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992).
Em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos
atos jurídicos até então praticados, o nome de casada não deve ser suprimido dos
assentamentos, procedendo-se, tão somente, a averbação da alteração requerida
após o divórcio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.279.952-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
3/2/2015 (Info 555).

3. PESSOAS JURÍDICAS
3.1. Dissolução de sociedade de advogados – (Info 564)

Na avaliação e na partilha de bens em processo de dissolução de sociedade de


advogados, não podem ser levados em consideração elementos típicos de sociedade
empresária, tais quais bens incorpóreos, como a clientela e a sua expressão
econômica e a "estrutura do escritório".
STJ. 4ª Turma. REsp 1.227.240-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/5/15 (Info 564).

4. ASSOCIAÇÕES
4.1. O art. 1.023 do CC, que trata da responsabilidade subsidiária dos sócios da
sociedade simples, não se aplica às associações civis – (Info 602)

O Código Civil, ao tratar sobre a responsabilidade das sociedades simples,


estabelece o seguinte:
Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as
dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em
que participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária.

Esse dispositivo NÃO se aplica às associações civis.

As associações civis são caracterizadas pela união de pessoas que se organizam para
a execução de atividades sem fins lucrativos.

Sociedades simples são formas de execução de atividade empresária, com


finalidade lucrativa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.438-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 4/4/2017 (Info 602).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João ingressou com execução de título
extrajudicial contra a associação “Bons Amigos” buscando o recebimento de um
cheque no valor de R$ 5 mil. Não foram encontrados bens da associação que pudessem
satisfazer o crédito. Diante disso, o credor requereu que os administradores da
associação fossem chamados a pagar a dívida, aplicando-se o art. 1.023 do Código
Civil:
Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as
dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que
participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária.

A questão jurídica debatida foi, portanto, a seguinte: o art. 1.023 do Código Civil
aplica-se para associações civis? NÃO.

Associações civis: São pessoas jurídicas de direito privado que se formam pela união
de pessoas que se juntam para executar atividades que são de interesse comum. Ex:
associação para ajudar pessoas com deficiência.
A associação pode ter fins culturais, beneficentes, religiosos, esportivos, morais etc.
As atividades desenvolvidas pelas associações não possuem fins lucrativos (não
podem ter objetivo de lucro).
Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Veja o que diz o Código
Civil:
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas
que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e
obrigações recíprocos.

Sociedades: O art. 1.023 é um dispositivo criado para tratar sobre a responsabilidade


dos sócios das sociedades simples. A sociedade é uma pessoa jurídica de direito
privada instituída com o propósito de exercer atividade econômica e partilhar lucros.
As pessoas que formam a sociedade são chamadas de sócios. Veja o que diz o Código
Civil:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços,
para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,
dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de
um ou mais negócios determinados.

Principal diferença:
 Associações: somente podem ser constituídas com uma finalidade não
econômica (não lucrativa).
 Sociedades: são instituídas para o exercício de atividade econômica (com o
objetivo de lucro).

Desse modo, no caso da sociedade, o objetivo final é que a atividade desenvolvida


gere lucro e esse resultado seja partilhado (dividido) entre os sócios. O objetivo das
associações é puramente cultural, beneficente, altruísta, religioso, esportivo ou moral.

Art. 1.023 é próprio das sociedades, não podendo ser aplicado para as associações:
Pela análise topográfica do art. 1.023, ou seja, pela posição em que ele foi previsto no
CC/02, já se percebe claramente que ele é voltado às sociedades, estando inserido no
Título II, que trata das sociedades. Além disso, ao se ler o artigo, verifica-se que ele
fala apenas em “bens da sociedade” e em “sócios”. Logo, não se aplica às associações
e aos associados. O art. 1.023 prevê uma espécie de responsabilidade subsidiária dos
sócios pelas dívidas da sociedade. Vale ressaltar que, para incidir o art. 1.023 não é
necessária desconsideração da personalidade jurídica, conforme entende o STJ:
A natureza da "Rio 2004 S/C" é de sociedade simples,
amoldando-se perfeitamente às disposições do art. 1023 do
CC/02 acerca da responsabilidade dos seus sócios. Extinta a
RIO 2004 e não havendo, de sua parte, patrimônio suficiente
para o cumprimento das obrigações contratuais assumidas
frente à SPORTSMEDIA, não se fazia necessária, para a
responsabilização pessoal de seus sócios pelas dívidas sociais,
a desconsideração da sua personalidade jurídica – conclusão,
aliás, a que chegou corretamente o acórdão recorrido.
Igualmente, sendo possível, nos termos do art. 1023 do CC/02,
a utilização dos bens das recorrentes para a satisfação das
dívidas sociais sem a necessidade de se recorrer à
desconsideração da personalidade jurídica da sociedade a
que vinculados, possuem elas, naturalmente, legitimidade
passiva ad causam para responder ao pedido de cobrança.
STJ. 3ª Turma. REsp 895.792/RJ, julgado em 07/04/2011.

5. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


5.1. Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no Código Civil
– (Info 554) – IMPORTANTE!!! – (DPU-2017)

O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares,


não é causa, por si só, para a desconsideração da personalidade jurídica prevista no
Código Civil.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.306.553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 10/12/14 (Info
554).

(TJDFT-2016-CESPE): Conforme entendimento prevalente do STJ, a dissolução da


sociedade comercial, ainda que irregular, não é causa que, isolada, baste à
desconsideração da personalidade jurídica. BL: STJ, ERESp 1306553/SC, Info 554.

5.2. (I)Legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra a decisão que determina
a desconsideração – (Info 544) – TEMA POLÊMICO!!!

Em uma execução proposta pelo credor contra a empresa devedora, se o juiz


determinar a desconsideração da personalidade jurídica e a penhora dos bens dos
sócios, a pessoa jurídica tem legitimidade para recorrer contra essa decisão, desde
que o recurso seja interposto com o objetivo de defender a sua autonomia
patrimonial, isto é, a proteção da sua personalidade. No recurso, a pessoa jurídica
não pode se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou
administradores incluídos no polo passivo por força da desconsideração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.421.464-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24/4/14 (Info 544).
Obs: vale ressaltar que existem inúmeros precedentes do STJ em sentido contrário,
ou seja, defendendo a ilegitimidade da pessoa jurídica nesse caso.
OBS:
TEMA POLÊMICO: Percebe-se que a Min. Nancy Andrighi construiu uma tese
interessantíssima para assegurar a legitimidade da pessoa jurídica em tais casos,
ressaltando que essa só existe nas hipóteses em que for defendida, no recurso, a
própria autonomia patrimonial da sociedade empresária. Apesar disso, podemos
encontrar inúmeros julgados do STJ em sentido contrário, ou seja, negando a
legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra essa decisão. Confira:
(...) 7. Desse modo, não há como reconhecer interesse à pessoa
jurídica para impugnar decisão que atinge a esfera jurídica de
terceiros, o que, em tese, pode preservar o patrimônio da
sociedade ou minorar sua diminuição; afinal, mais pessoas
estariam respondendo pela dívida contra ela cobrada
originalmente.
8. Em casos análogos, a jurisprudência do STJ tem afirmado
que a pessoa jurídica não possui legitimidade nem interesse
recursal para questionar decisão que, sob o fundamento de ter
ocorrido dissolução irregular, determina a responsabilização
dos sócios (EDcl no AREsp 14.308/MG, Rel. Ministro
Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 27.10.2011; REsp
932.675/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ
27.8.2007, p. 215; REsp 793.772/RS, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, DJe 11.2.2009). (...)
(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1307639/RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 17/05/2012).

OBS: Penso que a posição pela ilegitimidade deve prevalecer, sendo majoritária e
consolidada.

5.3. Desconsideração inversa da personalidade jurídica – (Info 533)

Se o sócio controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à


pessoa jurídica controlada com o intuito de fraudar partilha em dissolução de união
estável, a companheira prejudicada, ainda que integre a sociedade empresária na
condição de sócia minoritária, terá legitimidade para requerer a desconsideração
inversa da personalidade jurídica de modo a resguardar sua meação.
É possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica sempre que o
cônjuge ou companheiro empresário valer-se de pessoa jurídica por ele controlada,
ou de interposta pessoa física, a fim de subtrair do outro cônjuge ou companheiro
direitos oriundos da sociedade afetiva. A legitimidade para requerer essa
desconsideração é daquele que foi lesado por essas manobras, ou seja, do outro
cônjuge ou companheiro, sendo irrelevante o fato deste ser sócio da empresa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.236.916-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2013
(Info 533).

6. NEGÓCIO JURÍDICO
6.1. VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO: Venda do bem pelo sócio antes da
desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução para a
pessoa física (Info 594) – IMPORTANTE!!!

A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for


posterior à citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução que
fora originariamente proposta em face da pessoa jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.830-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/11/16 (Info 594).

O entendimento acima exposto permanece válido com o CPC/2015?


Haverá polêmica, mas pela redação literal do novo CPC, não. Isso porque o
CPC/2015 traz uma nova regra, que não havia no Código passado, afirmando que a
fraude à execução tem como marco a data da citação da pessoa jurídica que é objeto
da desconsideração:
Art. 792 (...) § 3º Nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a
partir da citação da parte cuja personalidade se pretende
desconsiderar.

6.2. Impossibilidade de convalidação de negócio jurídico celebrado mediante a


falsificação de assinatura de sócio – (Info 585)

Não são convalidáveis os negócios jurídicos celebrados com o intuito de alterar o


quadro societário de sociedade empresária por meio da falsificação de assinatura
de sócio, ainda que o próprio sócio prejudicado pelo falso tenha, por escritura
pública, concedido ampla, geral e irrevogável quitação, a fim de ratificar os
negócios jurídicos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.368.960-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 7/6/16 (Info
585).

7. PRESCRIÇÃO
7.1. Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de
crédito rural – (Info 592)

Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito envolvendo contrato


de cédula de crédito rural?
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos.
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos.
O termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento (efetiva lesão).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 10/8/16 (recurso
repetitivo) (Info 592).

7.2. Prazo de 3 anos para pretensão de entidade de previdência privada


complementar de reaver verbas relativas a benefício indevidamente apropriadas por
terceiro – (Info 588)

É de 3 anos o prazo prescricional de ação proposta por entidade de previdência


privada
complementar contra terceiro que se apropriou indevidamente de verbas relativas
a benefício previdenciário.
Não há previsão específica para este caso na LC 109/01, razão pela qual se aplica o
art. 206, § 3º, IV, do Código Civil (pretensão de ressarcimento de enriquecimento
sem causa).
Ex: o segurado morreu e, como a entidade de previdência não foi informada,
continuou a depositar, todos os meses, o valor da aposentadoria; tais quantias
foram sacadas indevidamente da conta bancária por uma sobrinha do falecido; a
entidade terá o prazo de 3 anos para reaver os valores.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.334.442-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão
Min. Raul Araújo, j. 7/6/16 (Info 588).

7.3. Prazo de prescrição da pretensão de indenização por dano de mercadoria em


contêiner – (Info 586)

É de 1 ano o prazo de prescrição da pretensão do segurador, sub-rogado nos direitos


do segurado, de indenização pela deterioração de carga em navio por falha em
contêiner.
Aplica-se, neste caso, o art. 8º do Dec-Lei 116/67, que trata sobre o prazo
prescricional envolvendo as ações por extravio, perdas e avarias de carga.
Não se aplica o art. 206, § 3º, V, do CC considerando que se trata de norma geral e,
por isso, não revogou o art. 8º do DL 116/67, que é considerado norma especial.
Aplica-se à presente situação a Súmula 151 do STF que, apesar de antiga, continua
vigente:
Súmula 151-STF: Prescreve em um ano a ação do segurador sub-rogado para haver
indenização por extravio ou perda de carga transportada por navio.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.278.722-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/5/16 (Info
586).

7.4. Prazo prescricional da pretensão de cobrança de serviço de conserto de veículo


por mecânico – (Info 574)

Prescreve em 10 anos (art. 205 do CC) a pretensão de cobrar dívida decorrente de


conserto de automóvel por mecânico que não tenha conhecimento técnico e
formação intelectual suficiente para ser qualificado como profissional liberal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.114-ES,Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
17/11/2015 (Info 574).

7.5. Súmula 547-STJ – (Info 571)

Súmula 547-STJ: Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a
título de participação financeira do consumidor no custeio de construção de rede
elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916.
Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão
contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido,
observada a regra de transição disciplinada em seu art. 2.028. STJ. 2ª Seção.
Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.
7.6. Termo inicial da prescrição da pretensão de cobrança de honorários ad exitum
– (Info 560)

Imagine que o advogado celebrou contrato de prestação de serviços advocatícios


com seu cliente, tendo sido acertado que os honorários contratuais seriam pagos
pelo cliente somente ao final da causa, se esta fosse exitosa. A isso chamamos
cláusula ad exitum ou quota litis.
O advogado elaborou e protocolizou a petição inicial da ação. Ocorre que durante
a tramitação do processo, o cliente e o advogado se desentenderam e o cliente
revogou o mandato outorgado (“revogou a procuração”) e constituiu outro
causídico para acompanhar a causa.
Alguns anos depois, a ação foi julgada procedente (o cliente ganhou a causa).
O prazo prescricional para a cobrança de honorários advocatícios é de 5 anos (art.
25 da Lei 8.906/94). A dúvida que surgiu foi a seguinte: qual é o termo inicial deste
prazo? Ele deve ser contado do dia em que a procuração foi revogada ou da data em
que a ação foi julgada?
A contagem do prazo prescricional começou na data do êxito da demanda, ou seja,
no dia em que houve a sentença favorável ao cliente.
No caso de contrato advocatício com cláusula de remuneração quota litis, a
obrigação é de resultado (e não de meio), ou seja, o direito à remuneração do
profissional dependerá de um julgamento favorável ao seu cliente na demanda
judicial.
No caso em análise, no momento da revogação do mandato, o advogado destituído
ainda não tinha o direito de exigir o pagamento da verba honorária, uma vez que,
naquela altura, o processo não havia sido julgado e o cliente não era vencedor da
demanda.
Segundo o princípio da actio nata, o prazo prescricional somente se inicia quando
o direito for violado. Desse modo, se no momento da revogação da procuração, o
advogado ainda não tinha direito aos honorários, não se pode dizer que ele foi
inerte porque simplesmente não tinha como ingressar com ação cobrando os
honorários.
Aplica-se aqui o brocardo latino “contra non valentem agere non currit
praescriptio”, que significa “a prescrição não corre contra quem não pode agir”.
STJ. 4ª Turma. REsp 805.151-SP, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. para acórdão Min.
Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/8/2014 (Info 560).

7.7. Prescrição da pretensão de cobrança, entre advogados, de honorários


advocatícios – (Info 557)

Prescreve em 10 anos o prazo para que um advogado autônomo possa cobrar de


outro advogado o valor correspondente à divisão de honorários advocatícios
contratuais e de sucumbência referentes a ação judicial na qual ambos trabalharam
em parceria.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.504.969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/3/2015 (Info 557).

7.8. Prescrição e o requisito do prequestionamento nas instâncias ordinárias


O exame no âmbito do recurso especial de questões de ordem pública suscetíveis
de serem conhecidas de ofício em qualquer tempo e grau de jurisdição, como é o
caso da prescrição, não prescinde seja atendido o requisito do prequestionamento,
admitindo-se a análise da matéria quando o recurso especial for conhecido para o
julgamento de outras teses jurídicas.
A ausência do requisito do prequestionamento do tema relativa à prescrição da
cobrança de diferenças de valores resgatados quando do desligamento do plano de
benefícios de entidades de previdência privada impede o conhecimento do recurso
especial (AgRg no AREsp 75065 SP 2011/0189515-1 2015)

(MPMT – 2014): Embora haja previsão legal de que a prescrição possa ser alegada
em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita, para que a parte
possa alegar a prescrição nos tribunais superiores (STF e STJ), a matéria deve ter
sido prequestionada nas instâncias ordinárias.

7.9. Termo inicial do prazo prescrição para o ajuizamento da ação de indenização


por danos decorrentes de crime

(...) INDENIZAÇÃO. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO. TRÂNSITO EM JULGADO


DA AÇÃO PENAL CONDENATÓRIA.
O termo a quo da prescrição da ação de indenização decorrente de ilícito penal
praticado por agente do Estado. Ação civil ex delicto só tem início a partir do
trânsito em julgado da ação penal condenatória. (STJ - AgRg no Ag: 441273 RJ)

(MPMS – 2015 – FAPEC): O termo inicial do prazo de prescrição para o


ajuizamento da ação de indenização por danos decorrentes de crime – ação civil ex
delicto – é a data do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, não se
aplicando na hipótese a noção de independência entre as instâncias civil e penal.
BL: STJ - AgRg no Ag: 441273 RJ.

7.10. Termo inicial do prazo prescrição para o ajuizamento da ação de indenização


por danos decorrentes de crime – (MPMS-2015)

Os prazos de decadência e prescrição prorrogam-se para o próximo dia útil.


Prorroga-se o prazo prescricional findo no curso do recesso forense, devendo a
demanda ser ajuizada no primeiro dia útil seguinte ao seu término. (STJ - REsp:
1446608 RS)

8. PROVA
8.1. Escritura pública gera presunção relativa de veracidade – (Info 541) – Atenção!
Concursos Cartórios!
A quitação dada em escritura pública gera presunção relativa do pagamento,
admitindo prova em contrário que evidencie a invalidade do instrumento eivado
de vício que o torne falso.
Nos termos do art. 215 do CC, a escritura lavrada em cartório tem fé pública, o que
significa dizer que é documento dotado de presunção de veracidade.
Ocorre que essa presunção legal de que trata o art. 215 do CC é relativa. Portanto, a
quitação dada em escritura pública não é uma “verdade indisputável” (absoluta),
na medida em que admite a prova de que o pagamento não foi efetivamente
realizado, evidenciando, ao fim, a invalidade do instrumento em si, porque eivado
de vício que o torna falso.
Assim, entende-se que a quitação dada em escritura pública presume o pagamento,
até que se prove o contrário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.438.432-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/4/14 (Info 541).

9. OBRIGAÇÕES
9.1. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula
penal compensatória – (Info 613) – IMPORTANTE!!!

Na hipótese de inexecução do contrato, revela-se inadmissível a cumulação das


arras com a cláusula penal compensatória, sob pena de ofensa ao princípio do non
bis in idem.
Ex: João celebrou contrato de promessa de compra e venda com uma incorporadora
imobiliária para aquisição de um apartamento. João comprometeu-se a pagar 80
parcelas de R$ 3 mil e, em troca, receberia um apartamento. No início do contrato,
João foi obrigado a pagar R$ 20 mil a título de arras. No contrato, havia uma
cláusula penal compensatória prevendo que, em caso de inadimplemento por parte
de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações que foram pagas por ele.
Trata-se de cláusula penal compensatória. Suponhamos que, após pagar 30
parcelas, João tenha parado de pagar as prestações. Neste caso, João perderá apenas
as arras, mas não será obrigado a pagar também a cláusula penal compensatória.
Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula penal
compensatória. Logo, decretada a rescisão do contrato, fica a incorporadora
autorizada a apenas reter o valor das arras, sem direito à cláusula penal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.617.652-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26/9/17 (Info 613).
OBS:
CLÁUSULA PENAL
Conceito: Cláusula penal é...
- uma cláusula do contrato
- ou um contrato acessório ao principal
- em que se estipula, previamente, o valor da indenização que deverá ser paga
- pela parte contratante que não cumprir, culposamente, a obrigação.

A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual
ou pena convencional.

Natureza jurídica da cláusula penal: Trata-se de uma obrigação acessória, referente


a uma obrigação principal.
Pode estar inserida dentro do contrato (como uma cláusula) ou prevista em
instrumento separado.
Finalidades da cláusula penal: A cláusula penal possui duas finalidades.
 Função ressarcitória: serve de indenização para o credor no caso de
inadimplemento culposo do devedor. Ressalte-se que, para o recebimento da
cláusula penal, o credor não precisa comprovar qualquer prejuízo. Desse
modo, a cláusula penal serve para evitar as dificuldades que o credor teria no
momento de provar o valor do prejuízo sofrido com a inadimplência do
contrato.
 Função coercitiva ou compulsória (meio de coerção): intimida o devedor a
cumprir a obrigação, considerando que este já sabe que, se for inadimplente,
terá que pagar a multa convencional.

Espécies de cláusula penal


MORATÓRIA (compulsória): COMPENSATÓRIA (compensar o
inadimplemento)
Estipulada para desestimular o devedor Estipulada para servir como
a incorrer em mora ou para evitar que indenização no caso de total
deixe de cumprir determinada cláusula inadimplemento da obrigação
especial da obrigação principal. principal (inadimplemento absoluto).
É a cominação contratual de uma multa
para o caso de mora.
Funciona como punição pelo Funciona como uma prefixação das
retardamento no cumprimento da perdas e danos, ou seja, representa um
obrigação ou pelo inadimplemento de valor previamente estipulado pelas
determinada cláusula. partes a título de indenização pela
inexecução contratual.
Ex.1: em uma promessa de compra e Ex.: em um contrato para que um cantor
venda de um apartamento, é estipulada faça um show no réveillon, é estipulada
multa para o caso de atraso na entrega. uma multa de R$ 100 mil caso ele não se
apresente.
Ex.2: multa para o caso do produtor de
soja fornecer uma safra de qualidade
inferior ao tipo “X”.
A cláusula penal moratória é A cláusula penal compensatória não é
cumulativa, ou seja, o credor poderá cumulativa. Assim, haverá uma
exigir o cumprimento da obrigação alternativa para o credor: exigir o
principal mais o valor da cláusula penal cumprimento da obrigação principal
(poderá exigir a substituição da soja OU apenas o valor da cláusula penal.
inferior e ainda o valor da cláusula
penal).
Art. 411. Quando se estipular a cláusula Art. 410. Quando se estipular a cláusula
penal para o caso de mora, ou em penal para o caso de total
segurança especial de outra cláusula inadimplemento da obrigação, esta
determinada, terá o credor o arbítrio de converter-se-á em alternativa a benefício
exigir a satisfação da pena cominada, do credor.
juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

Multa moratória = obrigação principal + multa

Multa compensatória = obrigação principal OU multa


ARRAS
O que são as "arras"? Quando duas pessoas celebram um contrato, é possível que elas
combinem que uma delas irá pagar à outra um valor em dinheiro (ou em outro bem
fungível) como forma de:
1) demonstrar que irá cumprir a obrigação no momento em que chegar o dia do
vencimento; ou
2) como uma espécie de valor que será perdido caso ela queira desistir do negócio.

Para Sílvio Rodrigues, as arras “constituem a importância em dinheiro ou a coisa dada


por um contratante ao outro, por ocasião da conclusão do contrato, com o escopo de
firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda,
excepcionalmente, com o propósito de assegurar, para cada um dos contratantes, o
direito de arrependimento” (Direito Civil. Vol. 2, 30ª ed, São Paulo: Saraiva. 2002, p.
279).

Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a


parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento. É
o que diz o Código Civil:
Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte
der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel,
deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou
computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da
principal.

As arras só existem em contratos bilaterais (obrigações para ambas as partes) que


tenham por objetivo transferir o domínio (propriedade) de alguma coisa. As arras
possuem natureza jurídica de contrato acessório.

Finalidades das arras: A Min. Nancy Andrighi identifica que as arras têm por
finalidades:
a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o
ajuste (caráter confirmatório);
b) servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo
gênero da obrigação principal);
c) prefixar o montante das perdas e danos devidos pelo
descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de
arrependimento, se expressamente estipulado pelas partes
(caráter indenizatório).

Espécies de arras: A partir do conceito acima dado, é possível identificar duas espécies
diferentes de arras e a diferença principal entre elas está no objetivo de cada uma:

Confirmatórias (arts. 418 e 419) Penitenciais (art. 420)


São previstas no contrato com o objetivo São previstas no contrato com o objetivo
de reforçar, incentivar que as partes de permitir que as partes possam
cumpram a obrigação combinada. desistir da obrigação combinada caso
queiram e, se isso ocorrer, o valor das
arras penitenciais já funcionará como
sendo as perdas e danos.
A regra são as arras confirmatórias. Ocorre quando o contrato estipula
Assim, no silêncio do contrato, as arras arras, mas também prevê o direito de
são confirmatórias. arrependimento.
Se as partes cumprirem as obrigações Se as partes cumprirem as obrigações
contratuais, as arras serão devolvidas contratuais, as arras serão devolvidas
para a parte que as havia dado. Poderão para a parte que as havia dado. Poderão
também ser utilizadas como parte do também ser utilizadas como parte do
pagamento. pagamento.
 Se a parte que deu as arras não  Se a parte que deu as arras decidir
executar (cumprir) o contrato: a não cumprir o contrato (exercer seu
outra parte (inocente) poderá reter direito de arrependimento): ela
as arras, ou seja, ficar com elas para perderá as arras dadas.
si.
 Se a parte que recebeu as arras
 Se a parte que recebeu as arras não decidir não cumprir o contrato
executar o contrato: a outra parte (exercer seu direito de
(inocente) poderá exigir a devolução arrependimento): deverá devolver as
das arras mais o equivalente*. arras mais o equivalente*.

Além das arras, a parte inocente poderá As arras penitenciais têm função
pedir: unicamente indenizatória. Isso significa
 indenização suplementar, se provar que a parte inocente ficará apenas com o
maior prejuízo, valendo as arras valor das arras (e do equivalente) e NÃO
como taxa mínima; terá direito a indenização suplementar.
 a execução do contrato, com as Nesse sentido:
perdas e danos, valendo as arras Súmula 412-STF: No compromisso de
como o mínimo da indenização. compra e venda com cláusula de
arrependimento, a devolução do sinal,
por quem o deu, ou a sua restituição em
dobro, por quem o recebeu, exclui
indenização maior, a título de perdas e
danos, salvo os juros moratórios e os
encargos do processo.
Equivalente*: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex:
Mário deu R$ 500 de arras a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele
terá que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais o equivalente (R$ 500),
totalizando R$ 1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de
advogado.

Exemplo de arras confirmatórias: João está se mudando e combina de comprar o carro


de Gabriel, que custa R$ 100 mil; o comprador pede para receber o veículo e pagar o
preço só daqui a três meses, quando irá passar a morar na cidade; o vendedor não
queria aceitar porque existem outros interessados no veículo e ele desejava vender
logo; depois de muita insistência, ele acabou concordando, mas impôs uma exigência,
qual seja, a de que João pagasse R$ 10 mil adiantados, como "sinal"; Gabriel explicou
que este valor serviria como uma demonstração de que João teria intenção de cumprir
o contrato e que não iria desistir; o vendedor explicou, ainda, que, quando o
comprador pagasse o preço (R$ 100 mil), ele iria devolver o cheque com o "sinal" de
R$ 10 mil. Este "sinal" é chamado, juridicamente, de "arras".
Exemplo de arras penitenciais: Antônio comprometeu-se a vender seu apartamento
para Ricardo. No contrato, havia uma cláusula prevendo que o promitente-comprador
deveria dar um sinal de R$ 10 mil reais, valor este que foi pago. Vale ressaltar que o
contrato estipulou que as partes tinham direito de desistir do negócio (direito de
arrependimento). Antes que a primeira prestação fosse paga, Ricardo resolveu não
mais comprar o imóvel. Isso significa que ele irá perder o sinal (arras) que pagou. Em
outras palavras, não terá direito de pedir de volta essa quantia. Da mesma forma,
Antônio não poderá exigir nenhum outro valor de Ricardo, ainda que tenha tido
outros prejuízos decorrentes da desistência.

CUMULAÇÃO DAS ARRAS COM CLÁUSULA PENAL


Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou contrato de promessa de
compra e venda com uma incorporadora imobiliária para aquisição de um
apartamento. João comprometeu-se a pagar 80 parcelas de R$ 3 mil e, em troca,
receberia um apartamento. No início do contrato, João foi obrigado a pagar R$ 20 mil
a título de arras. No contrato, havia uma cláusula penal prevendo que, em caso de
inadimplemento por parte de João, a incorporadora poderia reter 10% das prestações
que foram pagas por ele. Trata-se de cláusula penal compensatória. Suponhamos que,
após pagar 30 parcelas, João tenha parado de pagar as prestações.

Neste caso, ele perderá as arras e também os 10% a título de cláusula penal
compensatória? É possível a cumulação da perda das arras com a imposição da
cláusula penal compensatória? NÃO. Na hipótese de inadimplemento, as arras
funcionam como uma espécie de cláusula penal compensatória, representando o valor
previamente estimado pelas partes para indenizar a parte não culpada pela
inexecução do contrato. A perda das arras, na hipótese, representa o efeito da
resolução imputável e culposa. Assim, as arras, a princípio, têm a função de indicar
que a obrigação será cumprida. No entanto, ocorrendo a inexecução contratual elas
passam a ter função de cláusula penal. Tanto nas arras confirmatórias como nas arras
penitenciais, se a parte que deu as arras não executar o contrato, a outra parte
(inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si. Dessa forma, o que se
conclui é que, na hipótese de inadimplemento do contrato, as arras apresentam
natureza indenizatória, desempenhando papel semelhante ao da cláusula penal
compensatória. Logo, se as arras cumprem a mesma função da cláusula penal
compensatória, não é possível que a parte inocente exija da parte culpada tanto as
arras como a cláusula penal compensatória. Isso seria bis in idem (dupla condenação
a mesmo título), o que é vedado pelo Direito.

Qual das duas deverá, então, prevalecer: as arras ou a cláusula penal? Se previstas
cumulativamente para o inadimplemento contratual, entende-se que deve incidir
exclusivamente a pena de perda das arras, ou a sua devolução mais o equivalente, a
depender da parte a quem se imputa a inexecução contratual. Isso porque o art. 419
do CC afirma que as arras valem como "taxa mínima" de indenização pela inexecução
do contrato. Assim, em nosso exemplo, como quem praticou a inexecução contratual
foi quem deu as arras (João), ele perderá as arras.

9.2. DÍVIDA DE JOGO: É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de
jogo contraídas no exterior – (Info 610) – IMPORTANTE!!!
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona
legalmente no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os
bons costumes e a soberania nacional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/6/17
(Info 610).
OBS: O jogo explorado por cassinos é proibido pela legislação brasileira, sendo, no
entanto, lícito em diversos estados americanos, como é o caso de Nevada, onde se situa
Las Vegas. A questão a ser debatida, então, diz respeito à possibilidade de cobrança
judicial de dívida de jogo contraída por um brasileiro em um cassino que funciona
legalmente no exterior. O STJ entendeu que é possível.

Dívidas de jogo contraídas no Brasil são inexigíveis: O art. 814 do Código Civil
preconiza:
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a
pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se
o perdente é menor ou interdito.

Em caso de obrigação constituída no exterior aplica-se o art. 9º da LINDB: Ocorre


que a obrigação foi constituída nos EUA. Dessa forma, deve-se aplicar a legislação
estadunidense, conforme prevê o art. 9º, caput, da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro (LINDB):
Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei
do país em que se constituírem.

Assim, a lei material aplicável ao caso é a norte-americana, mais especificamente a do


Estado de Nevada.

Para obrigação constituída no exterior poder ser exigida em nosso país, deve-se
respeitar a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes: Vale ressaltar que
a lei estrangeira somente pode produzir eficácia jurídica no Brasil se não ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Em outras palavras, mesmo
tendo a obrigação se constituído no exterior, esta obrigação somente será exigível
em nosso país se não violar estes valores. Isso é o que estabelece o art. 17 da LINDB:
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes.

Dessa feita, a possibilidade (ou não) de cobrança de dívida de jogo contraída no


exterior está diretamente relacionada com os valores mencionados no referido art. 17.

A pergunta que surge, então, é a seguinte: cobrar dívida de jogo contraída no exterior
viola a soberania nacional, ordem pública e bons costumes? NÃO. Vejamos.

Soberania nacional: A cobrança de dívida de jogo ocorrida no exterior não ofende a


soberania nacional. A concessão de validade a negócio jurídico realizado no
estrangeiro não retira o poder do Brasil em relação ao seu território nem cria nenhuma
forma de dependência ou subordinação a outros Estados soberanos.
Ordem pública: A ordem pública é conceito mutável, relacionado com a moral e com
a ordem jurídica vigente em dado momento histórico. Não se trata de uma noção
rígida, mas de um critério que deve ser revisto conforme a evolução da sociedade.
Existem atualmente no Brasil diversos jogos de azar legalizados, os quais em nada se
diferenciam dos jogos estimulados nos cassinos. Não há uma absoluta
incompatibilidade entre a lei do Estado de Nevada, que autoriza os cassinos
supervisionados pelo Estado, com a ordem jurídica vigente no Brasil. Vale ressaltar
que o Brasil pune como contravenção penal a exploração de jogos não legalizados (art.
50). Ocorre que os cassinos no Estado de Nevada são jogos legalizados, de forma que
não se enquadram na Lei de Contravenções Penais.

Bons costumes: O meio social e o ordenamento jurídico brasileiros não consideram


atentatórios aos bons costumes os jogos de azar. Isso se mostra pelo fato de que
diversos deles são autorizados no Brasil, como loterias, raspadinhas, sorteios e
corridas de cavalo. Além disso, o próprio art. 814 do CC, em sua parte final, afirma
que não se pode recobrar a quantia que voluntariamente se pagou a título de dívida
de jogo ou aposta. Ora, se fosse contrário aos bons costumes, não haveria essa regra
de irrepetibilidade.

Dessa forma, cobrar dívida de jogo contraída no exterior não viola a soberania
nacional, ordem pública e bons costumes.

Enriquecimento sem causa: Além disso, permitir a cobrança, no Brasil, de dívida de


jogo contraída no exterior é uma medida que está de acordo com o art. 884 do Código
Civil, que proíbe expressamente o enriquecimento sem causa. Aquele que visita país
estrangeiro, usufrui de sua hospitalidade e contrai livremente obrigações lícitas não
pode retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. Se não fosse
permitido que o cassino cobrasse a dívida aqui no Brasil, haveria lesão à boa-fé de
terceiro, bem como o enriquecimento sem causa do devedor. Conclui-se, portanto, que
o pedido é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os bons costumes e
a soberania brasileira. Ademais, deve ser aplicada, no que respeita ao direito material,
a lei americana.

9.3. Impossibilidade de capitalização de juros por decorrência da aplicação da


imputação do pagamento prevista no art. 354 do CC – (Info 572)

No caso de dívida composta de capital e juros, a imputação de pagamento (art. 354


do CC) insuficiente para a quitação da totalidade dos juros vencidos não acarreta a
capitalização do que restou desses juros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.518.005-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/10/15 (Info
572).

9.4. Dívida de jogo contraída em casa de bingo – (Info 566)

A dívida de jogo contraída em casa de bingo é inexigível, ainda que seu


funcionamento tenha sido autorizado pelo Poder Judiciário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.406.487-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/8/2015 (Info 566).
10. JUROS
10.1. O termo inicial em caso de abuso de mandato é a data da citação – (Info 602)

Reconhecido o abuso de mandato por desacerto contratual, em razão de o advogado


ter repassado valores a menor para seu mandatário, o marco inicial dos juros
moratórios é a data da citação.
O termo inicial dos juros moratórios deve ser determinado a partir da natureza da
relação jurídica mantida entre as partes. No caso, tratando-se de mandato, a relação
jurídica tem natureza contratual, sendo o termo inicial dos juros moratórios a data
da citação (art. 405 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.403.005-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/4/17
(Info 602).

10.2. Termo inicial de juros de mora em cobrança de mensalidade por serviço


educacional – (Info 567)

Se o contrato de prestação de serviço educacional especifica o valor da mensalidade


e a data de pagamento, os juros de mora fluem a partir do vencimento das
mensalidades não pagas - e não da citação válida.
Ex: João matriculou-se em um curso de pós-graduação de uma instituição privada.
Segundo o contrato, João deveria pagar, durante 12 meses, R$ 500 de mensalidade
todo dia 28 de cada mês. O aluno tornou-se inadimplente, razão pela qual a
faculdade ajuizou ação de cobrança pleiteando o pagamento das parcelas que não
foram pagas, acrescidas de juros e multa. Os juros de mora serão contados da data
prevista para o vencimento de cada parcela (e não da data da citação).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.513.262-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
18/8/2015 (Info 567).

10.3. Capitalização de juros e instituições integrantes do Sistema Financeiro


Nacional – (Info 564)

Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à


anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro
Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP 2.170-36/01),
desde que expressamente pactuada.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

10.4. Taxa de juros de contrato bancário – (Info 564)

Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior


ao duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

10.5. Impossibilidade de se comprovar a taxa de juros efetivamente contratada e


adoção da taxa média de mercado – (Info 562)
Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa
de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de
juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado, divulgada
pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for
mais vantajosa para o devedor.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

10.6. A citação é o termo inicial dos juros moratórios em caso de obrigações


contratuais ilíquidas – (Info 545)

Em regra, o termo inicial dos juros moratórios em caso de responsabilidade civil


contratual é a data da citação.
Quando não houver, na sentença condenatória, a definição do termo inicial para a
contabilização dos juros moratórios decorrentes do inadimplemento de obrigação
contratual, dever-se-á adotar na liquidação, como marco inicial, a citação válida do
réu no processo de conhecimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.735-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/8/14 (Info 545).

10.7. Termo inicial dos juros de mora – (Info 537) – IMPORTANTE!!!

Os juros moratórios contratuais, em regra, correm a partir da data da citação. No


entanto, no caso de obrigação positiva e líquida, com vencimento certo, os juros
moratórios correm a partir da data do vencimento da dívida.
Assim, em ação monitória para a cobrança de débito decorrente de obrigação
positiva, líquida e com termo certo, deve-se reconhecer que os juros de mora
incidem desde o inadimplemento da obrigação se não houver estipulação
contratual ou legislação específica em sentido diverso.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.250.382-PR, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 2/4/14 (Info 545).

10.8. Taxa legal de juros de mora: SELIC – (Info 510)

A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 do Código Civil de 2002, é a
SELIC. A incidência da taxa Selic como juros moratórios exclui a correção
monetária, sob pena de bis in idem, considerando que a referida taxa já é composta
de juros e correção monetária.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1.025.298-RS, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 28/11/2012 (Info 510 STJ).

11. ARRAS
11.1. Cálculo das arras confirmatórias e desproporção entre a quantia paga
inicialmente e o preço ajustado – (Info 577)

Se a proporção entre a quantia paga inicialmente e o preço total ajustado evidenciar


que o pagamento inicial englobava mais do que o sinal, não se pode declarar a
perda integral daquela quantia inicial como se arras confirmatórias fosse, sendo
legítima a redução equitativa do valor a ser retido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.513.259-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
16/2/2016 (Info 577).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE ARRAS:
O que são as "arras"? Quando duas pessoas celebram um contrato, é possível que elas
combinem que uma delas irá pagar à outra um valor em dinheiro (ou em outro bem
fungível) como forma de:
1) demonstrar que irá cumprir a obrigação no momento em que chegar o dia do
vencimento; ou
2) como uma espécie de valor que será perdido caso ela queira desistir do negócio.

Se as partes cumprirem as obrigações contratuais, as arras serão devolvidas para a


parte que as havia dado. Poderão também ser utilizadas como parte do pagamento. É
o que diz o Código Civil:
Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à
outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as
arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na
prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

As arras só existem em contratos bilaterais (obrigações para ambas as partes) que


tenham por objetivo transferir o domínio (propriedade) de alguma coisa.
As arras possuem natureza jurídica de contrato acessório.

Espécies de arras: A partir do conceito acima, é possível identificar duas espécies


diferentes de arras e a diferença principal entre elas está no objetivo de cada uma:
* Equivalente: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex:
Mário deu R$ 500 de arras a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele terá
que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais o equivalente (R$ 500), totalizando R$
1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Exemplo de arras confirmatórias: João está se mudando e combina de comprar o carro


de Gabriel, que custa R$ 100 mil; o comprador pede para receber o veículo e pagar o
preço só daqui a três meses, quando irá passar a morar na cidade; o vendedor não
queria aceitar porque existem outros interessados no veículo e ele desejava vender
logo; depois de muita insistência, ele acabou concordando, mas impõs uma exigência,
qual seja, a de que João pagasse R$ 10 mil adiantados como "sinal"; Gabriel explicou
que este valor serviria como uma demonstração de que João teria intenção de cumprir
o contrato e que não iria desistir; o vendedor explicou, ainda, que, quando o
comprador pagasse o preço (R$ 100 mil), ele iria devolver o cheque com o "sinal" de
R$ 10 mil. Este "sinal" é chamado, juridicamente, de "arras".

Exemplo de arras penitenciais: Antônio comprometeu-se a vender seu apartamento


para Ricardo. No contrato, havia uma cláusula prevendo que o promitente-comprador
deveria dar um sinal de R$ 10 mil reais, valor este que foi pago. Vale ressaltar que o
contrato estipulou que as partes tinham direito de desistir do negócio (direito de
arrependimento). Antes que a primeira prestação fosse paga, Ricardo resolveu não
mais comprar o imóvel. Isso significa ele irá perder o sinal (arras) que pagou. Em
outras palavras, não terá direito de pedir de volta essa quantia. Da mesma forma,
Antônio não poderá exigir nenhum outro valor de Ricardo, ainda que tenha tido
outros prejuízos decorrentes da desistência.

CASO PECULIAR JULGADO PELO STJ:


Imagine a seguinte situação hipotética: Francisco prometeu vender sua fazenda a José
por R$ 210 mil. Ficou acertado que seria pago R$ 70 mil à vista e mais 7 parcelas de R$
20 mil, que seriam quitadas a cada 6 meses. Ressalte-se que o contrato não previa
direito de arrependimento. José pagou os R$ 70 mil. Seis meses depois, quando chegou
o momento de pagar a primeira prestação de R$ 20 mil, ele se tornou inadimplente.
Diante disso, Francisco ajuizou ação de rescisão contratual c/c perdas e danos e
reintegração de posse contra José. Na ação, o autor alegou que os R$ 70 mil deveriam
ser entendidos como arras confirmatórias e que, portanto, ele tinha direito de ficar
com esse valor e, além disso, de ser ressarcido pelas perdas e danos que sofreu
decorrente do inadimplemento contratual. José contestou alegando que o valor pago
corresponde a 1/3 do preço total, de forma que é muito alto e, por isso, não poderia
ser considerado como mero "sinal", sendo, na verdade, parte do cumprimento da
obrigação. Assim, em reconvenção, pediu que as perdas e danos fossem fixadas em
R$ 40 mil, devendo, portanto, Francisco lhe devolver R$ 30 mil.

A tese do réu foi aceita pelo STJ? SIM. Realmente, o promitente-comprador, por ter
dado causa à rescisão do contrato, deverá perder as arras confirmatórias que foram
pagas. Isso está previsto no art. 418 do CC:

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito,
e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
juros e honorários de advogado.

Porém, para o STJ, o pagamento inicial feito pelo promitente-comprador, por


representar 1/3 do valor final do negócio, não pode ser considerado como um mero
"sinal" (arras), razão pela qual a aplicação do art. 418 do CC/02 deve sofrer
flexibilização.

No caso concreto, evidenciou-se que o pagamento inicial englobava mais do que o


sinal, motivo pelo qual o STJ entendeu que neste valor de R$ 70 mil já estava embutido
o "sinal" e algumas parcelas do contrato. Se todo esse valor fosse considerado como
arras confirmatórias, o promitente-comprador acabaria sendo onerado
excessivamente e haveria um enriquecimento desproporcional do promitente-
vendedor.

A jurisprudência do STJ: As arras confirmatórias devem ser fixadas em um percentual


máximo que varie de 10% e 20% do valor do bem. Esse seria o valor máximo que o
promitente-vendedor poderia reter para si. Na situação em exame, o STJ afirmou que
o promitente-vendedor deveria reter, a título de arras confirmatórias, a quantia
equivalente a 15% do valor do imóvel.

OBS: Além das arras confirmatórias, o STJ determinou que o promitente-comprador


deveria pagar ao promitente-vendedor o valor equivalente a 6 meses de aluguel
(tempo que ele ficou morando no imóvel antes de ser retirado). Isso é possível. Estes
alugueis correspondem ao valor das perdas e danos sofridos pelo promitente-
vendedor e as perdas e danos podem ser cumuladas com as arras confirmatórias.

12. CLÁUSULA PENAL


12.1. Cláusula penal e cumulação com perdas e danos – (Info 540)

Em um contrato no qual foi estipulada uma CLÁUSULA PENAL, caso haja o


inadimplemento, é possível que o credor exija o valor desta cláusula penal e mais as
perdas e danos?
• Se for cláusula penal MORATÓRIA: SIM.
• Se for cláusula penal COMPENSATÓRIA: NÃO.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.617-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/3/2014 (Info
540).

13. VÍCIO REDIBITÓRIO


13.1. Prazo decadencial para a ação redibitória – (Info 554)

O prazo decadencial para o exercício da pretensão redibitória ou de abatimento do


preço de bem móvel é de 30 dias (art. 445 do CC).
No caso de vício oculto em coisa móvel, o adquirente tem o prazo máximo de 180
dias para perceber o vício (§ 1º do art. 445) e, se o notar neste período, tem o prazo
de decadência de 30 dias (a partir da verificação do vício) para ajuizar a ação
redibitória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.095.882-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 9/12/14 (Info 554).

14. EVICÇÃO
14.1. Prazo prescricional da ação de indenização – (Info 593)

A pretensão deduzida em demanda baseada na garantia da evicção submete-se ao


prazo prescricional de 3 anos.
Em outras palavras, é de 3 anos o prazo prescricional para que o evicto (que perdeu
o bem por evicção) proponha ação de indenização contra o alienante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.577.229-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 8/11/2016 (Info 593).
OBS:
Evicção: A evicção ocorre quando:
- a pessoa que adquiriu um bem
- perde a posse ou a propriedade desta coisa
- em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo
- que reconhece que um terceiro possuía direitos anteriores sobre este bem
- de modo que ele não poderia ter sido alienado.

Após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser


indenizado pelo alienante por conta deste prejuízo. O fundamento desta indenização
está no princípio da garantia. Logo, não interessa discutir se o alienante estava ou não
de boa-fé quando vendeu o bem. Mesmo de boa-fé, ele terá a obrigação de indenizar
o evicto.

Veja como o Min. Luis Felipe Salomão definiu o instituto:


“A evicção consiste na perda parcial ou integral da posse ou
da propriedade do bem, via de regra, em virtude de decisão
judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem,
em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de
aquisição.” (REsp 1.332.112-GO).

Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na
língua portuguesa existe o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de
alguém”.

Exemplo: João comprou um terreno de Bartolomeu. De repente, aparece Gilberto


ajuizando uma ação reivindicatória contra João e afirmando que Bartolomeu não
poderia ter vendido o terreno porque não lhe pertencia. A ação é julgada procedente
e João perde o terreno.

Personagens: Na evicção, temos os seguintes personagens:


 evictor: é o terceiro reivindicante do bem (ex: Gilberto);
 evicto: é o adquirente do bem, que perdeu a ação movida pelo evictor (ex:
João);
 alienante: é o que transferiu o bem ao evicto, e por isso, deve responder pela
evicção, indenizando-o (ex: Bartolomeu).

Indenização devida em caso de evicção: Após perder a posse ou a propriedade do


bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado pelo alienante por conta deste
prejuízo. O valor da indenização englobará o preço pago pelo evicto na compra do
bem e mais as outras despesas que ele comprove ter realizado. Segundo o art. 450 do
CC, o evicto possui o direito de receber as seguintes quantias:
 restituição integral do preço que pagou, com juros e correção monetária;
 indenização pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao evictor;
 indenização pelas benfeitorias necessárias ou úteis não abonadas (art. 453);
 indenização pelas despesas do contrato;
 reembolso das custas judiciais e honorários advocatícios;
 indenização pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção.

Veja o que diz o CC:


Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto,
além da restituição integral do preço ou das quantias que
pagou:
I – à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II – à indenização pelas despesas dos contratos e pelos
prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
III – às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele
constituído.

O valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não com base no
dia da aquisição):
Art. 450 (...) Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou
parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu
(no momento da perda e não na data da alienação), e
proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da
evicção (anos mais tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá
ser devolvido ao evicto.

Qual é o prazo prescricional para esta ação de indenização baseada na evicção? 3


anos. A garantia por evicção está relacionada com a "responsabilidade negocial" do
alienante, que tem a obrigação de indenizar o adquirente evicto pelo fato de não ter
transmitido a propriedade do bem isenta de vícios. Desse modo, independentemente
do nomen juris que seja dado pelo autor, a demanda na qual o evicto busca ser
indenizado pelos danos causados pela evicção é, na verdade, uma ação de reparação
civil decorrente de inadimplemento contratual. Isso porque o alienante descumpriu
uma das obrigações do contrato (transmitir a propriedade isenta de vícios). Logo,
aplica-se ao caso o prazo prescricional previsto no art. 206, § 3º, V, do CC:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;

Este dispositivo fala em "reparação civil" de forma ampla, de modo que tem incidência
tanto na responsabilidade civil extracontratual como contratual.

15. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS


15.1. A capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade, somente será
considerada válida se estiver expressamente pactuada no contrato – (Info 599) –
(DPEMA-2015)

A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é permitida quando


houver expressa pactuação.
Isso significa que a capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual,
semestral, mensal), somente será considerada válida se estiver expressamente
pactuada no contrato. A pactuação da capitalização dos juros é sempre exigida,
inclusive para a periodicidade anual. O art. 591 do Código Civil permite a
capitalização anual, mas não determina a sua aplicação automaticamente. Não é
possível a incidência da capitalização sem previsão no contrato.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 8/2/17 (recurso repetitivo)
(Info 599).
OBS:
JUROS CAPITALIZADOS: A capitalização de juros, também chamada de
anatocismo, ocorre quando os juros são calculados sobre os próprios juros devidos.
Outras denominações para “capitalização de juros”: “juros sobre juros”, “juros
compostos” ou “juros frugíferos”. Normalmente, os juros capitalizados estão
presentes nos contratos de financiamento bancário.

Carlos Roberto Gonçalves explica melhor:


“O anatocismo consiste na prática de somar os juros ao capital
para contagem de novos juros. Há, no caso, capitalização
composta, que é aquela em que a taxa de juros incide sobre o
capital inicial, acrescido dos juros acumulados até o período
anterior. Em resumo, pois, o chamado ‘anatocismo’ é a
incorporação dos juros ao valor principal da dívida, sobre a
qual incidem novos encargos.” (Direito Civil Brasileiro. 8ª ed.,
São Paulo: Saraiva, 2011, p. 409).

CAPITALIZAÇÃO ANUAL DE JUROS: A capitalização de juros foi vedada no


ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 22.626/33 (Lei de Usura), cujo art. 4º
estabeleceu:
Art. 4º É proibido contar juros dos juros: esta proibição não
compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos
líquidos em conta corrente de ano a ano.

O STJ entende que a ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte em cinza)
significa que a Lei de Usura permite a capitalização anual. Em outras palavras, a Lei
de Usura:
 Proibiu a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex:
capitalização mensal de juros);
 Permitiu a capitalização anual de juros.

O CC-1916 (art. 1.262) e o CC-2002 também permitem a capitalização anual:


Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos,
presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida
a capitalização anual.

Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os contratos).
Vale ressaltar que, mesmo sendo permitida por lei, a capitalização anual de juros
precisa estar expressamente pactuada, ou seja, prevista no contrato.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COM PERIODICIDADE INFERIOR A UM ANO:


Como vimos, a capitalização de juros por ano é permitida, seja para contratos
bancários ou não-bancários. O que é proibida, como regra, é a capitalização de juros
com periodicidade inferior a um ano. Ex: capitalização mensal de juros (ou seja, a cada
mês incidem juros sobre os juros).

A capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização


mensal de juros) é proibida também para os bancos? NÃO. A MP n.º 1.963-17, editada
em 31 de março de 2000, permitiu às instituições financeiras a capitalização de juros
com periodicidade inferior a um ano.

Em suma, é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano


em contratos BANCÁRIOS celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação
da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.

Veja a redação da MP 2.170-36/2001:


Art. 5º Nas operações realizadas pelas instituições integrantes
do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização
de juros com periodicidade inferior a um ano.

O STJ sumulou seu entendimento sobre a matéria:


Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a
partir de 31/3/2000 (MP 1.963-17/00, reeditada como MP
2.170-36/01), desde que expressamente pactuada.

Desse modo, os bancos podem fazer a capitalização de juros com periodicidade


inferior a um ano, desde que expressamente pactuada.

Legislação especial pode autorizar a capitalização de juros com periodicidade


inferior a um ano para outras atividades: É possível a cobrança de juros sobre juros
quando existente autorização em lei especial e desde que este encargo tenha sido
expressamente pactuado. Ex: Decretos-lei nº 167/67 e 413/69 e a Lei nº 6840/80, que
disciplinam as cédulas de crédito rural, industrial e comercial. Nesse sentido:
Súmula 93-STJ: A legislação sobre cédulas de crédito rural,
comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros.

A CAPITALIZAÇÃO SOMENTE É VÁLIDA SE HOUVER EXPRESSA PACTUAÇÃO:


Conforme estudamos acima, a Lei de Usura e Código Civil permitiram expressamente
a capitalização anual de juros. Veja novamente a redação do CC:
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos,
presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,
permitida a capitalização anual.

Como o art. 591 fala que os juros são presumidos no contrato de mútuo com fins
econômicos, surgiu a tese de que no caso de mútuo com capitalização anual de juros
não seria necessário que essa capitalização estivesse expressamente prevista no
contrato. Assim, seria permitida a capitalização anual mesmo que o contrato não
estipulasse essa possibilidade textualmente.

Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? NÃO. A pactuação da capitalização dos
juros é sempre exigida, inclusive para a periodicidade anual. Assim, não é possível a
incidência automática da capitalização dos juros. O art. 591 do Código Civil permite a
capitalização anual, mas não determina a sua aplicação automaticamente. Quando ele
fala que se presumem os juros, são os juros remuneratórios incidentes sobre o mútuo
feneratício, ou seja, aqueles recebidos pelo mutuante como compensação pela
privação do capital emprestado. São juros simples. Em caso de capitalização, isso
deverá ser feito de forma expressa no pacto.

O STJ analisou o tema sob a sistemática do recurso repetitivo e resumiu o


entendimento com a seguinte tese:
A cobrança de juros capitalizados nos contratos de mútuo é
permitida quando houver expressa pactuação. STJ. 2ª Seção.
REsp 1.388.972-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
8/2/2017 (recurso repetitivo) (Info 599).

Isso significa que a capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual,
semestral, mensal), somente será considerada válida se estiver expressamente
pactuada (prevista) no contrato.

Necessidade de analisar o contrato firmado: Como consequência disso, para que o


mutuante (quem emprestou o dinheiro) possa provar que ele tem direito de cobrar
juros capitalizados, ele precisará juntar aos autos cópia do contrato celebrado com o
mutuário demonstrando, assim, que a capitalização foi expressamente prevista no
ajuste. Não sendo juntado o contrato, deverá o juiz levar em consideração os juros
legais (juros simples):
(...) 4. Ausente a cópia do contrato por omissão imputável à
instituição financeira, de modo a impedir a aferição do
percentual ajustado e da própria existência de pactuação,
impõe-se observar o critério legalmente estabelecido.
5. No período anterior à vigência do novo Código Civil, os
juros de mora são devidos à taxa de 0,5% ao mês (art. 1.062 do
CC/1916); após 10/1/2003, devem incidir segundo os ditames
do art. 406 do Código Civil de 2002, observado o limite de 1%
imposto pela Súmula nº 379/STJ, salvo se a taxa cobrada for
mais vantajosa para o devedor. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1431572/SC, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 07/06/2016.

16. CONTRATOS
16.1. Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de
contas – (Info 592) – IMPORTANTE!!!

Não é possível a revisão de cláusulas contratuais em ação de exigir contas (ação de


prestação de contas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.497.831-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14/9/16 (recurso repetitivo) (Info 592).
OBS:
Ação de exigir contas (ação de prestação de contas): No CPC 1973, havia a previsão
de um procedimento especial chamado de “ação de prestação de contas”. O CPC 2015
alterou o nome para “ação de exigir contas” (art. 550).

Finalidade da ação: A segunda mudança foi quanto à finalidade da ação e a pessoa


legitimada para propô-la. Veja:

CPC 1973 CPC 2015


A ação de prestação de contas podia ser A ação agora somente pode ser proposta
proposta por dois legitimados: na situação “a”, ou seja, pela pessoa que
a) pela pessoa que tinha o direito de tem o direito de exigir a prestação de
exigir a prestação de contas (ex.: os contas.
sócios que não participam da
administração de uma sociedade podem Não há mais duplicidade na legitimação,
exigir a prestação de contas do sócio sendo legitimado ativo apenas o sujeito
gerente); que tem o direito de receber as contas e
b) pela pessoa que tinha a obrigação de legitimado passivo o sujeito que tem o
prestar as contas (ex.: o sócio gerente dever de prestá-las (NEVES, Daniel
pode ajuizar ação de prestação de contas Amorim Assumpção. Manual de Direito
em face dos demais sócios para, em Processual Civil. São Paulo: Método,
juízo, demonstrar como foram utilizados 2014).
os recursos).

Vale ressaltar que "dita supressão não significa que tenha desaparecido a ação de dar
contas. A administração de bens ou negócios alheios gera sempre, para o gestor, o
dever de prestar contas, de sorte que este tem, na perspectiva do direito material, não
apenas a obrigação, mas também o direito de se livrar desse dever. Assim, coexistem
sempre as duas pretensões, a de exigir e a de dar contas. O que a lei nova fez foi
submeter a procedimento especial apenas a pretensão de exigir contas. A de dar
contas, por isso, será processada sob o procedimento comum.

Para se desincumbir da obrigação de dar contas, o obrigado, quando encontrar


resistência da parte contrária, proporá ação comum, instruindo a petição inicial com o
demonstrativo devido e os documentos justificativos e pedirá ao juiz que, após ouvido
o réu, seja afinal declarado por sentença prestadas as contas que lhe incumbiam."
(THEODORO JR., Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. II. 50ª ed., São
Paulo: Forense, 2016, p. 96).

Ampliação do prazo de resposta: A terceira mudança identificada foi a ampliação do


prazo para resposta do réu:
 CPC 1973: depois de citado, o réu tinha o prazo de 5 dias para apresentar a
prestação de contas exigida pelo autor ou contestar a ação.
 CPC 2015: depois de citado, o réu possui agora o prazo de 15 dias para
apresentar a prestação de contas exigida pelo autor ou oferecer contestação.

Além disso, o CPC/2015 traz regras mais detalhadas sobre o procedimento a ser
seguido.

Administração de valores: A ação de exigir contas (ação de prestação de contas) tem


por objetivo fazer com que alguém que está administrando em nome de outra pessoa
demonstre o resultado dessa administração. Para que seja cabível a ação de exigir
contas, é necessário que determinada pessoa tenha autorizado que outra recebesse
certos recursos e aplicasse esse dinheiro em finalidades próprias. Essa obrigação de
prestar contas pode ser derivada de um contrato ou da própria lei.
 Exemplos decorrentes de contrato: mandato, representação mercantil etc.
 Exemplos decorrentes da lei: gestão de negócios, tutela, curatela etc.

Ação de exigir contas proposta por correntista contra o banco: Um dos exemplos
comuns de ação de exigir contas (ação de prestação de contas) é aquela proposta pelo
correntista em face do banco. Foi editada, inclusive, uma súmula para reconhecer essa
possibilidade:
Súmula 259-STJ: A ação de prestação de contas pode ser
proposta pelo titular de conta-corrente bancária.

Atenção: a súmula continua válida com o CPC 2015, mas a redação da súmula deverá
ser atualizada com o novo nome do procedimento (ação de exigir contas).

A ação de exigir contas é cabível mesmo que o banco forneça periodicamente os


extratos bancários? SIM. É possível a propositura da ação de exigir contas pelo titular
da conta corrente bancária, independentemente do fornecimento periódico de extratos
pelo banco. Por isso a Súmula 259 do STJ apresenta uma redação bem abrangente, sem
restrições. Assim, o correntista, recebendo extratos bancários, pode discordar dos
lançamentos ali presentes e ajuizar ação de exigir contas contra a instituição financeira.

Exemplo: João, analisando seu saldo da conta bancária, desconfia que houve saques
indevidos realizados pela instituição financeira. Este correntista poderá ajuizar ação
de exigir contas contra o banco, visando a obter esclarecimentos acerca da cobrança
de taxas, tarifas e/ou encargos em sua conta.

Procedimento: O procedimento da ação para exigir contas é composto de duas fases:


na primeira, discute-se se o réu tem ou não o dever de prestar as contas. Se ficar
constatado que ele tem este dever, inicia-se a segunda fase, que é a apresentação das
contas em si e a discussão sobre elas.
"É preciso notar, porém, que não se está diante de dois
processos distintos, tramitando simultaneamente nos mesmos
autos. O processo é único, embora dividido em duas fases
distintas. Há, pois, o ajuizamento de uma única demanda,
contendo um único mérito. A análise deste, porém, é dividida
em dois momentos: o primeiro, dedicado à verificação da
existência do direito de exigir a prestação de contas, o
segundo, dirigido à verificação das contas e do saldo
eventualmente existente." (CÂMARA, Alexandre Freitas.
Lições de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 21ª ed.,
2014, p. 391).

1. Petição inicial: Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões


pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa
necessidade, se existirem.

2. Citação: O réu será citado para, no prazo de 15 dias:


a) apresentar as contas que foram exigidas; ou
b) contestar a ação.

3. Apresentação das contas: Se o réu decidir apresentar as contas sem contestar,


resolve-se a primeira fase do procedimento, ou seja, ele mesmo admite que tem o
dever de prestar as contas.
Neste caso, o CPC determina que ele apresente as contas especificando quais as
receitas obtidas, as despesas realizadas e os investimentos efetuados, se houver (art.
551). Depois disso, o autor, também no prazo de 15 dias, irá dizer se concorda ou não
com os valores apresentados.
Se o autor impugnar as contas apresentadas, deverá fazê-lo de forma específica e
fundamentada. O juiz estabelecerá, então, prazo razoável para que o réu apresente os
documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados (§ 1º do art.
551).

4. Contestação: Se o réu contestar, recusando-se a apresentar as contas, o juiz irá


analisar os argumentos e poderá:
a) rejeitar o pedido do autor; ou
b) julgar procedente a ação.

5. Sentença de procedência: Se o magistrado julgar procedente o pedido, condenará o


réu a prestar as contas no prazo de 15 dias.

6. Réu que não apresenta as contas no prazo: Caso ele não as apresente no prazo, a Lei
autoriza que o próprio autor elabore as contas e as apresente em juízo, sem que o réu
as possa impugnar (art. 550, § 5º). O CPC determina que as contas do autor devem ser
apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos,
especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver,
bem como o respectivo saldo. Vale ressaltar que mesmo o réu não podendo mais
impugnar as contas apresentadas pelo autor, isso não significa que o juiz esteja
obrigado a aceitá-las. O juiz, caso entenda que as contas apresentadas pelo autor não
estão corretas, poderá determinar a realização de exame pericial (art. 550, § 6º).

A pergunta mais interessante vem agora: é possível que o autor, na ação de prestação
de contas, além de exigir que o réu demonstre as receitas e despesas, requeira ao juiz
que reconheça que as cláusulas do contrato assinado são abusivas? Ex: João
(correntista) poderá pedir para que o juiz reconheça que determinada taxa de juros
cobrada pelo banco e que estava prevista no contrato é abusiva? NÃO. Não é possível
discutir, em ação de exigir contas (ação de prestação de contas), a abusividade das
cláusulas contratuais. A ação de prestação de contas não é o meio hábil a dirimir
conflitos no tocante a cláusulas de contrato, nem em caráter secundário, uma vez que
tal ação objetiva tão somente a exposição dos créditos e débitos decorrentes de uma
relação jurídica, concluindo-se se existe saldo credor ou devedor.

Rito especial e célere: A ação de prestação de contas não é uma ação ordinária,
possuindo um rito especial, mais célere, e que tem como única finalidade aferir a
regularidade dos débitos e créditos relacionados à administração dos recursos. Não se
trata da via adequada para realizar a análise jurídica da abusividade ou ilegalidade
das cláusulas contratuais. Para a impugnação do próprio contrato, o autor deve fazer
uso da ação ordinária, que comporta dilação probatória mais ampla. Nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.166.628-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/10/2012.

Voltando ao exemplo: Em se tratando de contrato de conta corrente, o banco deverá


demonstrar os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados em
sua conta corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e encargos,
transferências, saques etc) em relação ao período cuja prestação de contas se pede,
para que, ao final, se apure se o saldo da conta corrente é positivo ou negativo, e se o
correntista tem crédito ou, ao contrário, se está em débito. Não será possível, todavia,
a alteração das bases do contrato mantido entre as partes, pois, como visto, o rito
especial da prestação de contas é incompatível com a pretensão de revisar contrato,
em razão das limitações ao contraditório e à ampla defesa. Assim, não é possível ao
juiz substituir, na ação de prestação de contas, a taxa de juros remuneratórios, a
periodicidade da capitalização ou demais encargos aplicados ao longo da relação
contratual. Depois de prestadas as contas, poderá o correntista, caso considere
pertinente, ajuizar ação revisional de contrato cumulada com repetição de eventual
indébito.

Informação adicional correlata:


Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não
possui interesse de agir para a ação de prestação de contas.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 11/3/2015 (Info 558).

16.2. A cláusula contratual que transfere ao comprador a responsabilidade pela


desocupação do imóvel que lhe é alienado pela CEF não é abusiva – (Info 592)
A cláusula contratual que impõe ao comprador a responsabilidade pela
desocupação de imóvel que lhe é alienado pela CEF não é abusiva.
Não há abusividade porque a alienação se dá por preço consideravelmente inferior
ao valor real do imóvel, exatamente pela situação peculiar que o imóvel possa se
encontrar.
A obrigação do adquirente de ter que tomar medidas para que o terceiro desocupe
o imóvel é um ônus que já é informado pela CEF aos interessados antes da
contratação. Tal informação consta expressamente no edital de concorrência
pública e no contrato que é celebrado.
A rápida alienação do imóvel, no estado em que se encontre, favorece o SFH porque
libera recursos financeiros que serão revertidos para novas operações de crédito em
favor de famílias sem casa própria.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.933-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 4/10/16
(Info 592).

16.3. Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar em contrato
celebrado em moeda estrangeira – (Info 556) – IMPORTANTE!!!

Determinado médico importou um equipamento para utilizar em sua atividade


profissional. A aquisição foi feita por meio de um financiamento celebrado em
moeda estrangeira (dólar). Na época, o valor do dólar e do real eram muito
próximos, sendo a conversão próxima de 1 real para cada 1 dólar. Ocorre que, em
janeiro 1999, ocorreu na economia brasileira uma grande desvalorização do real e o
dólar passou a valer cerca de 2 reais.
No caso concreto, o médico pode ser considerado consumidor?
NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-
hospitatar e o médico que firmam contrato de compra e venda de equipamento de
ultrassom com cláusula de reserva de domínio e de indexação ao dólar americano,
na hipótese em que o profissional de saúde tenha adquirido o objeto do contrato
para o desempenho de sua atividade econômica.

É possível a aplicação da teoria da base objetiva na presente situação?


NÃO. A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação
restrita às relações jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais
puramente civis.

É possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria
da imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas
consumeristas –, a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida
a partir de janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da
teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de
indexação ao dólar americano.

O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma
desvalorização do real frente ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso
era um fato imprevisível ou extraordinário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/12/2014 (Info 556).
17. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
17.1. Validade da cláusula contratual que transfere o pagamento do laudêmio ao
promitente-comprador – (Info 575)

É válida cláusula inserta em contrato de promessa de compra e venda de imóvel


situado em terreno de marinha que estipule ser da responsabilidade do promitente-
adquirente o pagamento do laudêmio devido à União, embora a referida cláusula
não seja oponível ao ente público.
STJ. 4ª Turma. REsp 888.666-SE, Rel. Min. Raul Araújo, j. 15/12/15 (Info 575).
OBS:
O recolhimento do laudêmio em favor da União, em se tratando de transferência
onerosa, é obrigação legal decorrente de uma relação jurídica, regida por regras do
direito administrativo, entre o proprietário do domínio direto (a União) e o
proprietário do domínio útil do imóvel (o particular). Isso não impede, contudo, que
os particulares (promitente-adquirente e promitente-vendedor) combinem entre si,
em uma relação meramente contratual e privada, que um deles (promitente-
adquirente) é quem irá pagar o laudêmio.
Esse ajuste contratual envolve direitos disponíveis e não viola qualquer norma
jurídica, sendo, portanto, válida (art. 104 do CC 2002).
A referida cláusula contratual é válida (não tem nenhum vício no plano de validade),
mas é ineficaz perante a União. Este ajuste obriga apenas as partes contratantes, não
sendo oponível à União porque esta mantém com o titular do domínio útil uma
relação jurídica diversa, de cunho legal.

17.2. Ausência de prazo para a ação de adjudicação compulsória (Info 570)

A promessa de compra e venda (ou compromisso de compra e venda) é uma espécie


de contrato preliminar por meio do qual uma pessoa (promitente vendedor) se
compromete a vender o seu bem ao promissário comprador após este pagar
integralmente o preço que foi ajustado.
Se o promitente vendedor, mesmo após receber o preço integral combinado,
recusar-se a outorgar a escritura pública, o promissário comprador poderá ajuizar
ação de adjudicação compulsória.
Existe um prazo para que o promissário comprador proponha a ação de adjudicação
compulsória? Depois de pago integralmente o preço, se o promitente vendedor se
recusar a outorgar a escritura pública, qual o prazo que o promissário comprador
possui para requerer a adjudicação compulsória?
Não há prazo. O promitente comprador, amparado em compromisso de compra e
venda de imóvel cujo preço já tenha sido integralmente pago, tem o direito de
requerer judicialmente, a qualquer tempo, a adjudicação compulsória do imóvel.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.216.568-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
3/9/2015 (Info 570).

17.3. Simulação alegada pelo réu em sede de contestação – (Info 538)

É nulo o compromisso de compra e venda que, em realidade, traduz-se como


instrumento para o credor ficar com o bem dado em garantia em relação a
obrigações decorrentes de contrato de mútuo usurário, se estas não forem
adimplidas. Trata-se de simulação.
Essa simulação poderá ser alegada pelo contratante/réu como matéria de defesa, em
contestação, por se tratar de nulidade absoluta.
A alegação dessa simulação em contestação vale mesmo que o negócio jurídico
tenha sido celebrado sob a égide do Código Civil de 1916.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.076.571-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 11/3/14 (Info 538).
OBS: O STJ decidiu que a prática de negócio jurídico simulado para encobrir a
realização de pacto comissório pode ser alegada por um dos contratantes como
matéria de defesa, em contestação.

Por quê? A simulação ocorre quando...


- as partes fingem que estão celebrando determinado negócio jurídico
- mas não fizeram negócio nenhum (simulação absoluta)
- ou então estão ocultando o verdadeiro negócio jurídico que foi realizado (simulação
relativa)
- isso tudo com o objetivo de violar a lei ou enganar terceiros.

A simulação é um vício social do negócio jurídico, estando previsto na art. 167 do CC:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o
que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

Logo, a simulação provoca a nulidade absoluta do negócio jurídico. Como se trata de


nulidade absoluta, a simulação poderia ter sido alegada por qualquer pessoa, mesmo
pela parte que participou do negócio simulado.
Enunciado 294-CJF: Sendo a simulação uma causa de
nulidade do negócio jurídico, pode ser alegada por uma das
partes contra a outra.

Na verdade, a nulidade absoluta poderia ter sido até mesmo declarada de ofício pelo
juiz.

A simulação era causa de nulidade absoluta no texto do CC-1916? NÃO. No texto do


CC-1916, a simulação era tratada como sendo um caso de anulabilidade (e não de
nulidade). No entanto, mesmo sendo hipótese de anulabilidade, o STJ, antecipando-
se à alteração depois consagrada no CC-2002, já entendia, em alguns julgados, que a
simulação gerava a nulidade do ato, notadamente nos casos em que o negócio jurídico
ocultado por meio da simulação encontrava vedação expressa no ordenamento
jurídico e, por isso, deveria ser reputado nulo de pleno direito. Para tanto, o STJ
invocava o art. 145, V, do CC-1916 para sustentar sua tese (Art. 145. É nulo o ato
jurídico: quando a lei taxativamente o declarar nulo ou lhe negar efeito.).

17.4. Cobrança de juros compensatórios incidentes em período anterior à entrega


das chaves nos contratos de compromisso de compra e venda de imóveis em
construtora sob o regime de incorporação imobiliária – (Info 499)

Não é abusiva a cláusula de cobrança de juros compensatórios incidentes em


período anterior à entrega das chaves nos contratos de compromisso de compra e
venda de imóveis em construção sob o regime de incorporação imobiliária. Em
outras palavras, os “juros no pé” não são abusivos.
STJ. 2ª Seção. EREsp 670.117-PB, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão
Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 13/6/2012 (Info 499 STJ).
18. COMPRA E VENDA
18.1. Se a pessoa somente foi reconhecida como filha após a alienação ter acontecido,
ela não poderá pleitear a anulação com base no art. 496 do Código Civil – (Info 611)

O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato


social com a transferência de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a outro
descendente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.356.431-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/8/17 (Info 611).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, viúvo, possuía um filho chamado Lucas.
João era sócio da sociedade empresária “AJJ”, possuindo 30% das cotas sociais. Em
agosto de 2015, ele vendeu suas cotas sociais para Lucas. Alguns meses depois, João
faleceu. Beatriz ajuizou ação de investigação de paternidade alegando que João e sua
mãe mantiveram relacionamento amoroso no passado e que ele é seu pai biológico.
Depois de ser realizado o exame de DNA com material genético de Lucas, a ação foi
julgada procedente transitando em julgado. Em março de 2017, Beatriz propôs ação
contra João e Lucas pedindo a anulação da alienação, sob o argumento de que ela não
consentiu com a venda, nos termos do art. 496 do CC. Na ação, Beatriz argumenta que
os efeitos da sentença que reconheceu a paternidade retroagem à data do negócio
jurídico, o que tornaria imprescindível sua anuência, ainda que posteriormente, diante
da demonstração do efetivo prejuízo à sua legítima.

Primeira pergunta: O art. 496 do CC aplica-se também no caso de alienação de quotas


societárias? SIM. Aplica-se à transferência de quotas societárias de ascendente a
descendente a exigência de consentimento dos demais descendentes, prevista no art.
496 do CC. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 604.909/RJ, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 25/11/2014.

Segunda pergunta: A ação proposta por Beatriz deverá ser julgada procedente? NÃO.
O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato
social com a transferência de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a outro
descendente. STJ. 4ª Turma. REsp 1.356.431-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 8/8/2017 (Info 611).

O reconhecimento da paternidade é uma decisão de cunho declaratório, produzindo


efeitos ex tunc. Apesar disso, esta decisão não poderá alcançar e modificar os efeitos
jurídicos de situações de direito que já haviam sido definitivamente constituídas.
Assim, esta decisão na ação de investigação não terá o condão de tornar inválido um
negócio jurídico que, no momento em que foi celebrado, era válido segundo as
circunstâncias fáticas existentes na época.
Nesse sentido, confira outro precedente do STJ:
Ainda que a sentença proferida em ação de investigação de
paternidade produza efeitos ex tunc, há um limite
intransponível: o respeito às situações jurídicas
definitivamente constituídas.
STJ. 3ª Turma. REsp 990.549/RS, Rel. Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, Rel. p/ Acórdão Ministro João Otávio de
Noronha, julgado em 05/06/2014.
Na época da concretização do negócio jurídico (alteração do contrato de sociedade
empresária voltada à venda de cotas de ascendente a descendente), a autora ainda não
figurava como filha do de cujus, condição que somente veio a ser reconhecida no bojo
de ação investigatória post mortem. Desse modo, o seu consentimento não era exigível
nem passou a sê-lo em razão do posterior reconhecimento de seu estado de filiação.
Deve ser prestigiado o princípio da segurança jurídica.

18.2. Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao
abatimento do preço – (Info 610)

O saneamento de vício redibitório limitador do uso, gozo e fruição da área de


terraço na cobertura de imóvel objeto de negócio jurídico de compra e venda – que
garante o seu uso de acordo com a destinação e impede a diminuição do valor –,
afasta o pleito de abatimento do preço.
João comprou apartamento no último andar do edifício, estando previsto no
contrato que ele poderia fazer construções na cobertura. Por ter comprado a
cobertura, ele pagou 25% a mais. Ocorre que, depois que o prédio ficou pronto, João
não pode realizar nenhuma construção na cobertura porque isso foi negado pelo
Município sob o argumento de que o prédio já teria alcançado o limite máximo de
altura previsto para aquela localidade. Diante disso, João ajuizou ação de
abatimento de preço contra a construtora. Três anos após o ajuizamento, houve uma
mudança nas regras municipais e o limite de altura dos prédios naquela localidade
aumentou. Com isso, passou a ser permitido que ele construísse na cobertura. João
não terá mais direito ao abatimento do preço.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.254-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/8/17 (Info 610).
OBS:
Direito real de laje: Recentemente, a Lei 13.465/17, alterando o Código Civil, criou o
chamado “direito real de laje” (art. 1.225, XIII, do CC). O direito real de laje consiste
na possibilidade de o proprietário de uma construção-base ceder a superfície superior
ou inferior de sua construção a fim de que o titular da laje mantenha unidade distinta
daquela originalmente construída sobre o solo (novo art. 1.510-A do CC). Em outras
palavras, o Código Civil passa a permitir algo que já existia na prática: alguém tem
um imóvel (uma casa, p. ex.) e cede a outra pessoa a parte de cima deste imóvel (a
"laje") ou mesmo a parte de baixo (subsolo) para que lá ela construa outra edificação
autônoma em relação à construção que já tinha sido feita pelo proprietário. A laje é
unidade imobiliária autônoma, devendo ser considerada como célula habitacional
distinta (isolada) da construção-base, possuindo, inclusive, matrícula própria. O
objetivo da lei foi o de regulamentar realidade social muito comum nas cidades
brasileiras, conferindo, de alguma forma, dignidade à situação de inúmeras famílias
carentes que vivem alijadas de uma proteção específica, dando maior concretude ao
direito constitucional à moradia (art. 6º, da CF/88). Criou-se, assim, um direito real
sobre coisa alheia, na qual se reconheceu a proteção sobre aquela extensão -
superfície sobreposta ou pavimento inferior - da construção original, conferindo
destinação socioeconômica à referida construção.

No caso concreto, João tinha direito real de laje? NÃO. Apesar de algumas vezes ter
se falado acima em “laje”, a situação de João não se enquadra no “direito real de laje”
do art. 1.510-A do CC. Aqui estamos falando da compra de uma unidade ideal
(apartamento) de um edifício que inclui também o terraço. Nesse caso, a área
construída na cobertura é como se fosse uma espécie de acessão/benfeitoria, de
titularidade única, com o mesmo número de matrícula, sem desdobramento da
propriedade, não se tratando de unidade autônoma. A cobertura não tem, por isso
mesmo, matrícula própria, ao contrário do direito real de laje.

No final das contas, o consumidor ficou com o imóvel na forma como ele o adquiriu:
Não há direito ao abatimento do preço porque o consumidor acabou recebendo o seu
imóvel nos exatos moldes em que fora pactuado. Apesar de realmente ter havido um
vício oculto inicial, a coisa acabou por não ficar nem imprópria para o consumo, nem
teve o seu valor diminuído, justamente em razão da sanatória posterior, que permitiu
a construção do gabarito nos termos em que contratado. Assim, realmente, perde
fundamento o pedido de abatimento considerando que a coisa não perdeu seu valor,
já que foi recebida em sua totalidade.

Mas João ficou três anos sem poder construir na cobertura...: O que o STJ afirmou é
que ele não tem direito ao abatimento do preço, ou seja, a redução daquilo que pagou.
No entanto, é possível que ele pleiteie e receba indenização pelos danos materiais
decorrentes do período em que acabou ficando impedido de exercer seu direito de
uso, gozo e fruição da laje.

18.3. COMPRA COM RESERVA DE DOMÍNIO: Em caso de compra e venda com


reserva de domínio, é possível a comprovação da mora por meio de notificação
extrajudicial enviada pelo RTD – (Info 601) – IMPORTANTE!!!

A mora do comprador, na ação ajuizada pelo vendedor com o intuito de recuperação


da coisa vendida com cláusula de reserva de domínio, pode ser comprovada por
meio de notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos
(RTD).
Assim, em caso de cláusula de reserva de domínio, existem três formas pelas quais
o vendedor (credor) poderá comprovar a mora do comprador (devedor):
a) mediante protesto do título;

b) por meio de interpelação judicial;

c) por notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos.


STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.000-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/2017 (Info
601).
OBS:
O que é a compra e venda com reserva de domínio? Trata-se do contrato de compra e
venda no qual existe uma cláusula prevendo que o comprador ficará desde logo na
posse direta do bem, mas que só irá adquirir realmente o domínio (só se tornará dono)
depois de pagar integralmente o preço. O vendedor transmite desde logo a posse,
comprometendo-se a transferir o domínio tão logo o comprador pague a integralidade
do preço. A venda com reserva de domínio (pactum reservati dominii) encontra-se
disciplinada nos arts. 521 a 528 do Código Civil:
Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar
para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente
pago.
Exemplo: A venda com reserva de domínio é normalmente utilizada pelas grandes
lojas de departamento quando vendem a prazo eletrodomésticos de maior valor, como
televisões, geladeiras, fogões etc.

Bens móveis perfeitamente caracterizados: Só pode ser objeto de venda com reserva
de domínio a coisa móvel perfeitamente caracterizável.
Art. 523. Não pode ser objeto de venda com reserva de
domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para
estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a favor
do terceiro adquirente de boa-fé.

Características:
 A cláusula de reserva de domínio deve ser estipulada por escrito.
 Para valer contra terceiros, o contrato precisa ser registrado no domicílio do
comprador (art. 522). A serventia competente para esse registro é o RTD
(Registro de Títulos e Documentos).
 Se o bem vendido foi um automóvel, caberá a anotação do gravame no
Certificado de Registro do Veículo (CRV), nos termos da Lei nº 11.882/2008:
Art. 6º Em operação de arrendamento mercantil ou qualquer
outra modalidade de crédito ou financiamento a anotação da
alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de
registro a que se refere a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de
1997, produz plenos efeitos probatórios contra terceiros,
dispensado qualquer outro registro público.

 Apesar de a venda com reserva de domínio não ser o mesmo que alienação
fiduciária, aplica-se aqui o mesmo raciocínio que inspirou a edição da súmula
92 do STJ:
Súmula 92-STJ: A terceiro de boa-fé não é oponível a
alienação fiduciária não anotada no certificado de registro do
veículo automotor.

Se a coisa perecer, quem sofre o prejuízo é o comprador (possuidor direto): Como


vimos acima, tão logo o contrato é assinado, a posse direta do bem passa para o
comprador. A titularidade do bem (propriedade) só será transferida após o
pagamento integral. No entanto, mesmo sem ser ainda o dono, o comprador tem o
dever de cuidar da coisa. Isso porque se ela perecer (estragar completamente) ou se
deteriorar, quem irá sofrer com esse prejuízo será ele (possuidor direto).
Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se
no momento em que o preço esteja integralmente pago.
Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir
de quando lhe foi entregue.

Ex.: se João compra uma TV em 12x com reserva de domínio e no terceiro mês um
ladrão furta o bem, João deverá pagar as nove prestações que faltam, mesmo sem ficar
com a coisa.

Existe uma regra que diz o seguinte: "res perit domino" (a coisa perece para o dono), ou
seja, se o bem pereceu, quem deve sofrer o prejuízo é o proprietário. O art. 524 acima
analisado é uma exceção a essa regra. Na compra com reserva de domínio vigora a
regra do "res perit emptoris" (a coisa perece para o comprador).
Em caso de mora do comprador, o que o vendedor poderá fazer? O art. 526 do CC
estabelece o seguinte:
Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor
mover contra ele a competente ação de cobrança das
prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido;
ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.

Apesar de o dispositivo acima transcrito mencionar duas hipóteses (ação de cobrança


ou recuperação da posse), a doutrina especializada afirma que o vendedor (credor)
possui três opções:

a) Ação executiva (execução do contrato): Ocorre quando o contrato assinado


preenche os requisitos para ser considerado um título executivo extrajudicial, nos
termos do art. 784, III, do CPC/2015.

b) Ação de cobrança: Se o contrato assinado não preenche os requisitos para ser


considerado um título executivo, o vendedor poderá ajuizar ação cobrando as
prestações vencidas e vincendas e o que mais for devido. Repare que, em caso de
atraso, ocorrerá o vencimento antecipado das parcelas futuras.
Ex.: eram 12 parcelas; depois da 4ª, o comprador tornou-se inadimplente; logo, todas
as 8 restantes já são consideradas vencidas.
Vale ressaltar que, se o vendedor conseguir receber esse valor pleiteado na ação, o
bem objeto do negócio jurídico passa a pertencer ao comprador.

c) Ação de reintegração de posse da coisa vendida (alguns autores defendem que


seria uma ação de busca, apreensão e depósito, com base no art. 1.071 do CPC 1973,
que não foi repetido no CPC 2015): Caso opte por pedir a reintegração de posse (ou
busca e apreensão), mesmo depois de ter de volta o bem, o vendedor poderá reter as
prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas
e o que mais de direito lhe for devido (art. 527). Em outras palavras, o vendedor
poderá utilizar o valor já pago pelo comprador para cobrir seus prejuízos. Isso porque
a coisa foi usada e já não vale o mesmo do que valia quando era nova. Além disso, o
vendedor teve despesas com notificação extrajudicial etc. Se as prestações pagas pelo
comprador forem maiores do que os gastos do vendedor, deverá este devolver o
excedente ao comprador. Se forem menores, poderá ajuizar ação de cobrança para
pleitear o restante.

Se o vendedor quiser ajuizar a ação de reintegração de posse, ele precisará primeiro


pedir a rescisão do contrato? NÃO. Se o vendedor quiser ajuizar a ação de
reintegração de posse da coisa vendida, não precisará previamente pedir a rescisão do
contrato, podendo propor desde logo a ação possessória. Nesse sentido, decidiu o STJ:
Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato
de compra e venda com reserva de domínio, o vendedor pode,
ante o inadimplemento do comprador, pleitear a proteção
possessória sobre o bem móvel objeto da avença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, j.
3/11/2015 (Info 573).

Constituição do devedor em mora: Quando o comprador atrasar o pagamento das


prestações, o vendedor deverá constituí-lo em mora, o que poderá ser feito mediante
protesto do título ou interpelação judicial (art. 525). Só após tomar essa providência é
que o credor poderá ajuizar as ações acima explicadas.

Assim, independentemente da opção exercida pelo vendedor, é imprescindível a


constituição do comprador em mora. E como isso deverá ser feito? O art. 525 afirma
que a constituição do devedor em mora pode ocorrer mediante protesto do título ou
por interpelação judicial. Apesar disso, o STJ admite um terceiro modo de constituição
do devedor em mora: a notificação extrajudicial, conforme decidido no Info 601 do
STJ.

Para o STJ, mesmo a mora no contrato de compra e venda com reserva de domínio
sendo uma mora ex re, é possível aplicar ao caso o parágrafo único do art. 397 do CC:
Art. 397 (...)
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui
mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Assim, em caso de cláusula de reserva de domínio, existem três formas pelas quais o
vendedor (credor) poderá comprovar a mora do comprador (devedor):
a) mediante protesto do título;
b) por meio de interpelação judicial;
c) por notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos.

Instituição financeira que paga o preço da coisa ao vendedor sub-roga-se em seus


direitos: Algumas vezes pode acontecer de a loja vender parceladamente ao
comprador e receber o dinheiro da venda à vista ou logo depois, por intermédio de
uma instituição financeira. Isso é feito para que a loja tenha capital de giro e,
obviamente, o banco irá cobrar do vendedor um valor por este adiantamento. Se essa
situação se verificar, a instituição financeira irá se sub-rogar nos direitos do vendedor
e, assim, se o comprador tornar-se inadimplente, ela poderá exercer os direitos e ações
decorrentes do contrato como se fosse o vendedor. Vale ressaltar que, no momento da
assinatura do contrato, o comprador deverá ser informado e concordar com essa
operação.
Art. 528. Se o vendedor receber o pagamento à vista, ou,
posteriormente, mediante financiamento de instituição do
mercado de capitais, a esta caberá exercer os direitos e ações
decorrentes do contrato, a benefício de qualquer outro. A
operação financeira e a respectiva ciência do comprador
constarão do registro do contrato.

18.4. Nulidade de contrato de compra e venda de imóvel localizado em terreno de


marinha sem pagamento de laudêmio – (Info 589)

É nulo o contrato firmado entre particulares de compra e venda de imóvel de


propriedade da União quando ausentes o prévio recolhimento do laudêmio e a
certidão da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), ainda que o pacto tenha sido
registrado no Cartório competente.
Antes de o ocupante vender o domínio útil do imóvel situado em terreno de
marinha, ele deverá obter autorização da União, por meio da SPU, pagando o
laudêmio e cumprindo outras formalidades exigidas. Somente assim esta alienação
será possível de ser feita validamente.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.590.022-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 9/8/2016 (Info
589).
OBS:
O que são terrenos de marinha? São “todos aqueles que, banhados pelas águas do mar
ou dos rios e lagoas navegáveis (estes últimos, exclusivamente, se sofrerem a
influência das marés, porque senão serão terrenos reservados), vão até a distância de
33 metros para a parte da terra contados da linha do preamar médio, medida em 1831”
(CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Administrativo. Salvador: Juspodivm,
2013, p. 417). Os terrenos de marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). Isso
se justifica por se tratar de uma região estratégica em termos de defesa e de segurança
nacional (é a “porta de entrada” de navios mercantes ou de guerra).

Enfiteuse (ou aforamento): José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito
Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em
algumas regiões, a União permitiu que particulares utilizassem, de forma privada,
imóveis localizados em terrenos de marinha. Como essas áreas pertencem à União, o
uso por particulares é admitido pelo regime da enfiteuse (aforamento), que funciona,
em síntese, da seguinte forma:
 a União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil;
 o particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma
importância a título de foro ou pensão.

O particular (enfiteuta) pode transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce
sobre o bem? SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada
dentro de um terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o
bem e pagando, anualmente, o foro. Ocorre que ele quer se mudar. Diante disso,
poderá “vender” o domínio útil para outra pessoa.

A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a
União? SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência,
deverá pagar 5% do valor do domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João
terá que recolher em favor da União 5% do valor do domínio útil de sua casa pelo
simples fato de ela estar localizada em terreno de marinha. Esse valor é chamado de
laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei 2.398/87:

Art. 3º A transferência onerosa, entre vivos, do domínio útil e


da inscrição de ocupação de terreno da União ou cessão de
direito a eles relativos dependerá do prévio recolhimento do
laudêmio, em quantia correspondente a 5% (cinco por cento)
do valor atualizado do domínio pleno do terreno, excluídas as
benfeitorias.

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética:


João reside em uma casa localizada dentro de um terreno de marinha, possuindo,
portanto, apenas o domínio útil sobre o bem e pagando, anualmente, o foro. João
decide vender sua casa para Pedro. Eles celebram um contrato de compra e venda de
bem imóvel, mediante escritura pública no Tabelionato de Notas, e o levam para
registro no cartório de Registro de Imóveis. Alguns meses depois, a União descobre
que houve esta transação e ajuíza contra eles ação anulatória, argumentando que o
negócio jurídico foi nulo porque não houve prévio pagamento do laudêmio nem
observância das demais formalidades necessárias para a venda do domínio útil. Os
requeridos se defendem argumentando que não houve nulidade porque se tratou de
mera irregularidade formal, o que não atingiria a essencialidade do ato de compra e
venda. Além disso, alegaram que o valor do laudêmio poderia ser cobrado
posteriormente. Por fim, sustentaram que o negócio foi registrado em cartório, o que
garante publicidade e autenticidade.

Afinal de contas, o negócio jurídico realizado foi válido ou não? NÃO.

Edificações particulares em terrenos de marinha: Como vimos acima, os terrenos de


marinha são bens da União (art. 20, VII, da CF/88). As edificações particulares
existentes em terrenos de marinha são, portanto, edificações construídas em bens
públicos. Tais bens públicos são da espécie “bens dominicais”. Os bens dominicais são
aqueles bens públicos que não estão afetados a uma finalidade pública. Apesar de não
estarem sendo utilizados para a realização de uma finalidade pública, o regime
jurídico dos bens dominicais é híbrido, ou seja, é regido tanto por normas de direito
público como de direito privado. Portanto, o contrato de compra e venda de um bem
dominical deve respeitar formalidades legais mais rígidas do que se fosse um bem de
um particular.

Certidão da SPU: Antes de fazer o contrato, o vendedor deveria ter procurado a


Secretaria do Patrimônio da União – SPU a fim de pedir autorização para a realização
do negócio. A SPU analisa o pedido e somente irá autorizar a venda se o imóvel não
se encontrar em área de interesse do serviço público. Caso autorize o negócio, a SPU
irá fazer o cálculo do valor do laudêmio, mediante solicitação do interessado. Depois
de pagar o laudêmio, o vendedor levará o comprovante à SPU. A SPU irá, então,
analisar toda a documentação e, caso não exista nenhuma pendência relacionada com
o vendedor (ex: não está devendo foro), ela irá emitir uma certidão declarando o
cumprimento dos requisitos necessários para a venda do domínio útil. Desse modo,
ao contrário do que alegam os particulares, o pagamento do laudêmio não é a única
formalidade exigida antes da venda do domínio útil do terreno de marinha. Além do
pagamento do laudêmio, é indispensável que haja uma autorização da União para a
realização do negócio jurídico, por meio da SPU.

Prévia autorização da SPU não é mera formalidade: Segundo entende o STJ, a


comunicação do negócio jurídico formalizado entre o ocupante e terceiro à SPU não
se reveste de ato de mera formalidade, mas se constitui em medida de essencial
importância e que produz efeitos jurídicos relevantes, uma vez que a União é a
proprietária do terreno de marinha e, nessa qualidade, deverá estar sempre a par e
consentir com a utilização de bem que lhe pertence (STJ. 1ª Turma. REsp 1201256/RJ,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 07/12/2010).

O tabelião de notas poderia ter lavrado a escritura de compra e venda e o oficial do


Registro de Imóveis poderia ter registrado este título sem a prova do pagamento do
laudêmio? NÃO. É dever dos tabeliães e registradores, antes de lavrar ou registrar a
escritura, exigir a certidão da SPU, na qual estará declarado que houve o pagamento
do laudêmio e cumprimento das demais formalidades. Veja o que diz o DL 2.398/87:
Art. 3º (...)
§ 2º Os Cartórios de Notas e Registro de Imóveis, sob pena de
responsabilidade dos seus respectivos titulares, não lavrarão
nem registrarão escrituras relativas a bens imóveis de
propriedade da União, ou que contenham, ainda que
parcialmente, área de seu domínio:
I - sem certidão da Secretaria do Patrimônio da União - SPU
que declare:
a) ter o interessado recolhido o laudêmio devido, nas
transferências onerosas entre vivos;
b) estar o transmitente em dia com as demais obrigações junto
ao Patrimônio da União; e
b) estar o transmitente em dia, perante o Patrimônio da União,
com as obrigações relativas ao imóvel objeto da transferência;
e
c) estar autorizada a transferência do imóvel, em virtude de
não se encontrar em área de interesse do serviço público;
(...)

18.5. Venda com reserva de domínio e proteção possessória requerida por vendedor
– (Info 573)

Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato de compra e venda com
reserva de domínio, o vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador,
pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel objeto da avença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 3/11/2015
(Info 573).

18.6. Prevalência do valor atribuído pelo fisco para aplicação do art. 108 do CC –
(Info 562) – IMPORTANTE!!! (TJRJ-2016)

A compra e venda de bens IMÓVEIS pode ser feita por meio de contrato particular
ou é necessário escritura pública?
 Em regra: é necessário escritura pública (art. 108 do CC).
 Exceção: a compra e venda pode ser feita por contrato particular (ou seja,
sem escritura pública) se o valor do bem imóvel alienado for inferior a 30
salários-mínimos.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Para fins do art. 108, deve-se adotar o preço dado pelas partes ou o valor calculado
pelo Fisco?
O valor calculado pelo Fisco. O art. 108 do CC fala em valor do imóvel (e não em
preço do negócio). Assim, havendo disparidade entre ambos, é o valor do imóvel
calculado pelo Fisco que deve ser levado em conta para verificar se será necessária
ou não a elaboração da escritura pública. A avaliação feita pela Fazenda Pública
para fins de apuração do valor venal do imóvel é baseada em critérios objetivos,
previstos em lei, os quais admitem aos interessados o conhecimento das
circunstâncias consideradas na formação do quantum atribuído ao bem. Logo,
trata-se de um critério objetivo e público que evita a ocorrência de fraudes.
Obs: está superado o Enunciado 289 das Jornadas de Direito Civil do CJF.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014
(Info 562).

18.7. Rescisão de compra e venda de imóvel urbano e indenização por acessões ou


benfeitorias feitas sem licença da prefeitura – (Info 542) – IMPORTANTE!!!

Em ação que busque a rescisão de contrato de compra e venda de imóvel urbano,


antes de afastar a indenização pelas benfeitorias ou acessões realizadas sem a
obtenção de licença da prefeitura municipal (art. 34, § único, da Lei 6.766/79), é
necessário apurar se a irregularidade é insanável.
A licença para construir é um requisito imprescindível a qualquer obra realizada
em terreno urbano. No entanto, a ausência de licença para construir emitida pela
prefeitura municipal é irregularidade que pode ser ou não sanável, a depender do
caso concreto:
 Se a irregularidade pela falta de licença puder ser sanada e a construção e
benfeitorias puderem ser mantidas no imóvel: haverá direito de o possuidor
ser indenizado, descontando-se eventuais multas e outras despesas que o
vendedor tenha na Prefeitura para regularização.
 Se a irregularidade não puder ser sanada e a construção e benfeitorias
tiverem que ser retiradas: NÀO haverá direito de o possuidor ser
indenizado.
Desse modo, antes de decidir sobre a obrigação de indenizar as acessões e
benfeitorias, é necessário apurar a situação junto à Prefeitura e eventual
necessidade de demolição da obra.
A solução acima tem por objetivo evitar o enriquecimento ilícito de qualquer dos
litigantes.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.191.862-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/5/14 (Info
542).
Obs1: apesar de o art. 1.219 do CC e do art. 34 da Lei 6.766/79 mencionarem apenas
“benfeitorias”, a doutrina majoritária e o STJ entendem que o direito de retenção
abrange também as acessões (como é o caso de uma casa construída em um terreno).
Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. Resp 1.316.895/SP, julgado em 11/06/2013. Foi o
entendimento consagrado na I Jornada de Direito Civil do CJF/STF:

Enunciado 81: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do


CC, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e
úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações)
nas mesmas circunstâncias.

Obs2: nas ações possessórias, o direito de retenção deverá ser alegado no momento
da contestação, sob pena de preclusão (STJ. 3ª Turma. REsp 1.278.094-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 16/8/2012).

19. DOAÇÃO
19.1. Requisitos do instrumento procuratório para a validade da doação – (Info 577)

É inválida a doação realizada por meio de procurador se o instrumento procuratório


concedido pelo proprietário do bem não mencionar o donatário, sendo insuficiente
a declaração de poderes gerais na procuração.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.575.048-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/2/2016 (Info
577).
OBS:
Doação: é um contrato por meio do qual uma pessoa, por liberalidade, transfere bens
ou vantagens de seu patrimônio para uma outra pessoa (art. 538 do CC).

Forma pela qual deverá ser realizada a doação:


Regra: o contrato de doação, em regra, é formal, considerando que precisa ser escrito.
Isso está no caput do art. 541:

Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento


particular.

Obs: se a pessoa quiser doar um bem imóvel cujo valor seja superior a 30 salários-
mínimos, neste caso a doação deverá ser feita, obrigatoriamente, por meio de escritura
pública, conforme determina o art. 108 do CC.

Exceção: é válida a doação verbal de bens móveis e de pequeno valor. É chamada de


"doação manual", estando prevista no parágrafo único do art. 541:

Art. 541 (...) Parágrafo único. A doação verbal será válida, se,
versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir
incontinenti a tradição.

Imagine a seguinte situação hipotética: João, rico empresário, iria viajar para o
exterior e, por essa razão, outorgou procuração pública a um funcionário seu (Pedro)
para que este o representasse em todos os assuntos relativos à compra, venda, locação
e doação de um apartamento de luxo que ele possuía. O que ficou combinado
verbalmente entre João e Pedro é que ele iria procurar eventuais interessados em
comprar o imóvel para vendê-lo por um bom preço. Ocorre que Pedro (procurador de
João), valendo-se da procuração outorgada, doou o apartamento para um amigo (que
era seu "laranja"). Ao saber do ocorrido, João retorna ao Brasil e reúne-se com seus
advogados para discutir o que fazer.

Sob o ponto de vista estritamente formal, existe alguma "brecha" para que esta
doação seja anulada? SIM. O Código Civil permite que o procurador devidamente
constituído faça a doação de um imóvel, mas para que isso seja válido, é necessário
que estejam previstos poderes especiais no instrumento de mandato, nos termos do
artigo 661, §1º:

Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de


administração.
§ 1º Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer
atos que exorbitem da administração ordinária, depende a
procuração de poderes especiais e expressos.

No caso de doação, além de haver poderes especiais no mandato (autorização para


doar), a procuração deverá prever também a pessoa que será beneficiada com a
doação. Assim, como na procuração não foi indicado o donatário do imóvel, a doação
realizada pode ser declarada nula, conforme o art. 166 do CC:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
(...)
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade;

19.2. Legitimidade para ação de doação inoficiosa – (Info 539)

O herdeiro que cede seus direitos hereditários continua tendo legitimidade para
pleitear a declaração de nulidade de doação inoficiosa realizada pelo autor da
herança em benefício de terceiros.
Isso porque o fato de o herdeiro ter realizado a cessão de seus direitos hereditários
não lhe retira a qualidade de herdeiro, que é personalíssima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.983-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/3/14 (Info 556).

20. CONTRATO DE CORRETAGEM


20.1. Responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem – (Info 556)

Contrato de corretagem é o ajuste por meio do qual o corretor obriga-se a obter para
uma pessoa que o contrata ( “cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios,
conforme as instruções recebidas (art. 722 do CC).
O contrato de corretagem é informal, não precisando ser escrito (pode ser verbal).
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do
vendedor ou do comprador?
 Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que
efetivamente contrata o corretor (não importa se é o comprador ou o
vendedor).
 Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em
sentido contrário, ou seja, poderá prever que comprador e vendedor irão
dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.
A remuneração do corretor, se não foi fixada no contrato nem na lei, será arbitrada
segundo a natureza do negócio e os usos locais. No dia-a-dia imobiliário, não
havendo previsão contratual, deverá ser pago ao corretor 6% sobre o valor do
imóvel urbano vendido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 24/2/15 (Info
556).

21. CONTRATO DE SEGURO


21.1. Seguradora não é obrigada a conceder indenização por invalidez total pelo
simples fato de o segurado estar recebendo aposentadoria por invalidez do INSS –
(Info 616) – Atenção! Juiz de Direito e DPE!

A aposentadoria por invalidez permanente concedida pelo INSS não confere ao


segurado o direito automático de receber indenização de seguro contratado com
empresa privada, sendo imprescindível a realização de perícia médica para atestar
o grau de incapacidade e o correto enquadramento na cobertura contratada.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.508.190-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 08/11/17
(Info 616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João fez um seguro de vida no qual estava
previsto que ele teria direito de receber R$ 100 mil em caso de invalidez parcial e R$
300 mil na hipótese de invalidez total. Determinado dia, ele sofreu um acidente de
carro passeando com a família. João era gerente de uma loja e, nesta condição, era
segurado obrigatório do INSS (regime geral de previdência social). Em virtude do
acidente, a perícia do INSS concluiu que ele ficou inválido de forma total e permanente
para o trabalho, razão pela qual lhe foi concedida aposentadoria por invalidez.

Ação contra a seguradora: Após a recusa do pagamento na via extrajudicial, João


ajuizou ação de indenização contra a seguradora pedindo o pagamento da
indenização por invalidez total. A ré, na contestação, pediu realização de prova
pericial. O magistrado, contudo, negou o pedido proferindo julgamento antecipado
da lide sob o argumento de que o fato de o autor estar recebendo aposentadoria por
invalidez já era prova suficiente da procedência do pedido.

Agiu corretamente o magistrado, segundo o STJ? A concessão de aposentadoria por


invalidez pelo INSS é prova suficiente para obrigar a seguradora a pagar a
indenização securitária? NÃO. O reconhecimento por parte do órgão previdenciário
oficial (INSS) de que o segurado tem direito de se aposentar por invalidez não
desobriga este segurado de ter que provar, perante a seguradora, que está inválido
para fins de recebimento do seguro. A concessão de aposentadoria por invalidez pelo
INSS não gera uma presunção absoluta da incapacidade total do segurado, não
podendo, dessa forma, vincular ou obrigar as seguradoras privadas.

21.2. Se houve reconhecimento da culpa do segurado e pagamento de parte da


indenização pela seguradora ao terceiro, não se aplica a Súmula 529 do STJ – (Info 614)

A vítima de acidente de trânsito pode ajuizar demanda direta e exclusivamente


contra a seguradora do causador do dano quando reconhecida, na esfera
administrativa, a responsabilidade deste pela ocorrência do sinistro e quando parte
da indenização securitária já tiver sido paga.
Não se aplica, neste caso, a Súmula 529 do STJ. Isso porque, mesmo não havendo
relação contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, a sucessão dos fatos
(apuração administrativa e pagamento de parte da indenização) faz com que surja
uma relação jurídica de direito material envolvendo a vítima e a seguradora.
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o
ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da
seguradora do apontado causador do dano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.970-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/10/17
(Info 614).
OBS:
REGRA GERAL: IMPOSSIBILIDADE DE A AÇÃO SER AJUIZADA PELA VÍTIMA
APENAS CONTRA A SEGURADORA
Imagine a seguinte situação hipotética: Ricardo estava dirigindo seu veículo, quando
foi abalroado por trás pelo carro de Vitor. Aparentemente, a culpa pelo acidente foi de
Vitor (ele foi o causador do dano). Felizmente, Vitor possui contrato de seguro de
veículos com a “Seguradora X”.
Ricardo (terceiro prejudicado), sabendo que Vitor tem contrato de seguro, pode deixar
de lado o causador do dano e ajuizar ação de indenização apenas contra a
“Seguradora X” cobrando seu prejuízo? NÃO. Segundo entendimento pacífico do STJ,
o terceiro prejudicado não pode ajuizar, direta e exclusivamente, ação judicial em
face da seguradora do causador do dano. Existe, inclusive, uma súmula afirmando
isso:
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil
facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro
prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do
apontado causador do dano.

Obs.: a súmula fala em “seguro de responsabilidade civil facultativo” para deixar


claro que está tratando daquele seguro que os proprietários de carro fazem
espontaneamente com a seguradora. O objetivo foi deixar claro que a súmula não está
tratando sobre o seguro DPVAT, que é um seguro obrigatório de danos pessoais
causados por veículos automotores de via terrestre.

Vejamos os principais argumentos utilizados pelo STJ para chegar à conclusão


exposta na súmula:
 A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros
pressupõe a responsabilidade civil do segurado. Em outras palavras, a
seguradora só paga o terceiro prejudicado se o segurado teve “culpa” pelo
acidente. Como regra, não se pode reconhecer a responsabilidade civil do
segurado em um processo judicial sem que ele tenha participado, sob pena
de ofensa ao devido processo legal e à ampla defesa.
 A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se
implementa pelo simples fato da ocorrência do sinistro, mas somente pela
verificação da eventual obrigação civil do segurado.
 O seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação
a favor de terceiro alheio ao negócio. O indivíduo que faz o seguro de veículos
não contrata a seguradora para pagar uma indenização em favor de terceiros.
O segurado contrata a seguradora para que esta cubra os prejuízos que ele,
segurado, for obrigado a pagar. Assim, diz-se que quem sofre o prejuízo é o
causador do dano e este prejuízo é “garantido” (pago) pela seguradora.
 O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora ofende os
princípios do contraditório e da ampla defesa, pois a ré (seguradora) não teria
como defender-se dos fatos expostos na inicial, especialmente no que tange à
descrição e aos detalhes do sinistro (acidente).
 O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora inviabiliza,
também, que a seguradora possa discutir no processo eventuais fatos
extintivos da cobertura securitária, pois, a depender das circunstâncias em
que o segurado se envolveu no sinistro, poderia a seguradora eximir-se da
obrigação contratualmente assumida. É o caso, por exemplo, do contrato de
seguro que estipula que, se o segurado estava embriagado, a seguradora se
isenta da obrigação contratual. Se o segurado não está na lide, tais discussões
não poderão ser suscitadas pela seguradora.

EXCEÇÃO: HOUVE RECONHECIMENTO ADMINISTRATIVO PELA


SEGURADORA DA RESPONSABILIDADE DO SEGURADO
Imagine agora uma situação diferente: O carro de Pedro abalroou a motocicleta de
João. Pedro possuía seguro de veículos e acionou a seguradora. A seguradora fez a
apuração administrativa do evento, concluiu que a culpa foi de Pedro (segurado) e,
por essa razão, pagou uma indenização a João. Ocorre que João entendeu que não foi
integralmente ressarcido pelos prejuízos que teve. Em razão disso, ajuizou ação de
reparação de danos morais e materiais contra a seguradora pedindo, como
complemento, o ressarcimento das despesas hospitalares e dos dias em que não pode
trabalhar, bem como a compensação moral pelo sofrimento que foi obrigado a
suportar. A seguradora defendeu-se alegando que a ação não poderia ter sido
proposta direta e exclusivamente contra ele. Isso porque seria indispensável a
participação do segurado (Pedro) na lide a fim de que ele pudesse contrapor os fatos
alegados pela parte autora, sob pena de afronta aos princípios do contraditório e da
ampla defesa. Assim, a seguradora alegou que a ação proposta unicamente contra ela
violava o entendimento do STJ contido na Súmula 529, que vimos acima.

A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? A ação proposta por João viola a Súmula
529 do STJ? NÃO. O caso de João é distinto da hipótese tratada pela Súmula 529 do
STJ, considerando que a responsabilidade civil do segurado já foi reconhecida na
esfera administrativa, tanto que a seguradora já pagou a ele, extrajudicialmente, parte
de suas despesas oriundas dos prejuízos ocorridos em sua moto. Neste caso, houve a
apuração administrativa do sinistro e restou comprovada a obrigação do segurado de
indenizar a vítima. Dessa forma, nesta situação, mesmo não havendo relação
contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, a sucessão dos fatos
(apuração administrativa e pagamento de parte da indenização) faz com que surja
uma relação jurídica de direito material envolvendo a vítima e a seguradora. Logo,
a ação proposta pela vítima pedindo para que a seguradora complemente o valor da
indenização securitária pode ser ajuizada direta e exclusivamente contra a
seguradora, pois, com o pagamento tido como parcial na esfera administrativa,
originou-se uma nova relação jurídica substancial entre as partes. Não há violação à
ampla defesa ou contraditório considerando que a discussão dos autos ficará restrita
ao valor da indenização, e não envolverá mais a culpa, que já é fato incontroverso. O
próprio segurado reconheceu sua culpa no sinistro, ou seja, sua obrigação de
indenizar, perante a seguradora (esfera administrativa), tanto que acionou o seguro
para ressarcir os prejuízos que causou à vítima.

21.3. Seguro de vida e sinistro causado pelo segurado em estado de embriaguez:


haverá indenização – (Info 604) – IMPORTANTE!!!

No SEGURO DE VIDA (seguro de pessoas) é devida a indenização securitária mesmo


que o acidente que vitimou o segurado tenha decorrido de seu estado de embriaguez?
SIM. Ocorrendo o sinistro morte do segurado e inexistente a má-fé dele (ex: deixar
de revelar que possuía doença grave antes de fazer o seguro) ou o suicídio no prazo
de carência, a indenização securitária deve ser paga ao beneficiário, visto que a
cobertura neste ramo é ampla.
Assim, é vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro
ou acidente decorrente de atos praticados pelo segurado em estado de embriaguez.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.701-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/5/17 (Info
604).

No SEGURO DE AUTOMÓVEL (seguro de bens) celebrado por uma empresa com a


seguradora, é devida a indenização securitária se o condutor do veículo estava
embriagado?
 Em regra: NÃO.
 Exceção: será devido o pagamento da indenização se o segurado conseguir
provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse
embriagado.

Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de


automóvel quando o causador do sinistro (condutor do veículo segurado) estiver
em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio
ocorreria independentemente dessa circunstância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/11/16
(Info 594).

21.4. A criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos
Autorais – (Info 603)

O direito autoral não pode proteger as ideias em si, mas apenas as formas de
expressá-las. Isso porque as ideias constituem patrimônio comum da humanidade.
Assim, não há proteção autoral a ideia de fazer uma determinada espécie de
contrato, por mais inovadora e original que seja. No máximo, o texto das cláusulas
pode ser protegido.
A Lei de Direitos Autorais não pode tolher a criatividade e a livre iniciativa, nem o
avanço das relações comerciais e da ciência jurídica, que ficaria estagnada com o
direito de exclusividade de certos tipos contratuais.
Assim, a criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos
Autorais.
Desse modo, é possível a coexistência de contratos de seguro com a mesma temática
comercializados por corretoras e seguradoras distintas sem que haja violação de
direitos autorais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.606/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 02/05/17
(Info 603).

21.5. Não é devida a indenização prevista em contrato de seguro de RC D&O caso o


segurado tenha praticado insider trading – (Info 598)

O seguro de RC D&O (Directors and Officers Insurance) não abrange operações de


diretores, administradores ou conselheiros qualificadas como insider trading.
O RC D&O é um tipo de seguro feito por grandes executivos (exs: CEOs) por meio
do qual a seguradora assume os custos caso eles sejam responsabilizados por algum
ato culposo praticado durante a gestão da empresa.
O insider trading ocorre quando uma pessoa (insider), por força do exercício
profissional, possui informações relevantes sobre a empresa e utiliza tais dados
para negociar as ações dessa companhia antes que essas informações sejam
reveladas ao público em geral.
O administrador que praticou insider trading não tem direito à cobertura securitária
do seguro RC D&O por dois motivos:
1) o insider trading não é um ato culposo, mas sim doloso (fraudulento);
2) o insider trading não configura ato de gestão, mas sim um ato pessoal do
administrador com o objetivo de gerar proveitos financeiros próprios, em
detrimento dos interesses da companhia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.555-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/2/17
(Info 598).

21.6. Embriaguez ao volante e agravamento do risco – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a


indenização securitária se o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada)
estava embriagado?
• Em regra: NÃO.
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada
conseguir provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse
embriagado.
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de
automóvel quando o causador do sinistro – preposto da empresa segurada – estiver
em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio
ocorreria independentemente dessa circunstância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/11/16
(Info 594).
OBS:
Embriaguez ao volante e presunção de que o risco foi aumentado: Uma vez constatado
que o condutor do veículo estava sob influência do álcool quando se envolveu em
acidente de trânsito, haverá uma presunção relativa de que o risco da sinistralidade
foi agravado, o que ensejará a aplicação da pena do art. 768 do CC. Por outro lado, a
indenização securitária deverá ser paga se o segurado demonstrar que o infortúnio
ocorreria independentemente do estado de embriaguez. Ex: o segurado poderá provar
que a culpa foi do outro motorista, que houve falha do próprio automóvel,
imperfeições na pista, animal na estrada etc.

Ônus da prova:
 Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir
daí surge a presunção de que houve o agravamento do risco e a indenização
não será, em princípio, devida.
 Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor
não estivesse embriagado. Se não conseguir provar isso, perderá o direito à
indenização.

E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o
seguro? A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio
segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os
condutores principais (familiares, empregados e prepostos). Isso porque o
agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo quanto a
culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever
de escolha adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o
segurado não escolhe de forma correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza
adequadamente, incide em culpa. O segurado deve se portar e tomar todos os
máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso se chama de princípio do
absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar, de
forma desarrazoada, o risco contratual. Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar
todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo segurado para alguém
dirigir. Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele
que contratou o seguro não serve como argumento para que a indenização deixe de
ser paga.

21.7. Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado
mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano – (Info 591) –
IMPORTANTE!!!

Em regra, mesmo que o proprietário do veículo segurado tenha dado termo de


quitação ou renúncia ao causador do sinistro, a seguradora continuará tendo direito
de ajuizar ação regressiva contra o autor do dano e de ser ressarcida pelas despesas
que efetuou com o reparo ou substituição do bem sinistrado.
Ex: o segurado combina com o causador do dano que este irá pagar apenas o valor
da franquia do seguro, em troca de um termo de quitação. A seguradora paga, então,
os prejuízos e poderá cobrar do causador do dano porque ela tem direito à sub-
rogação por força de lei (art. 786, CC) e este acordo não é eficaz perante ela (art. 786,
§ 2º).
Exceção: a seguradora não terá direito de regresso contra o autor do dano caso este
demonstre que indenizou realmente o segurado pelos prejuízos sofridos, na justa
expectativa de que estivesse quitando, integralmente, os danos provocados por sua
conduta. Neste caso, protege-se o terceiro de boa-fé e a seguradora poderá cobrar
do segurado com base na proibição do enriquecimento ilícito.
Ex: o causador do dano paga todas as despesas do segurado e recebe um termo de
quitação; de má-fé, o segurado, mesmo já tendo sido indenizado, aciona o seguro
para consertar seu carro. Se a seguradora ajuizar ação regressiva contra o causador
do dano, ele poderá provar que pagou integralmente as despesas e, neste caso, a
ação será julgada improcedente. Protege-se a boa-fé do terceiro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.533.886-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
Imagine a situação hipotética: Carla, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo
na traseira do carro de João. Este ficou com pena de Carla, que estava muito nervosa,
e propôs a ela o seguinte: "eu tenho seguro; então, você paga apenas a franquia do
meu seguro e ele vai custear as despesas com o conserto dos dois carros. Não precisa
se preocupar." No mesmo instante, João ligou para a seguradora, que recomendou que
ele fizesse um boletim de ocorrência e tirasse fotos da batida. No dia seguinte, João e
Carla se encontraram. Ela deu o dinheiro referente à franquia e ele, em contrapartida,
assinou uma declaração dizendo que renunciava ao direito de postular qualquer
reparação pelos danos sofridos. João entregou à seguradora o dinheiro da franquia e
os dois veículos foram consertados. Dois meses depois, Carla é citada como ré em uma
ação regressiva proposta pela seguradora. A autora cobra R$ 10 mil referentes ao custo
do conserto dos dois veículos. Carla apresenta contestação alegando que o
proprietário do automóvel segurado, por ocasião do sinistro, renunciou ao direito de
postular qualquer reparação pelos danos então sofridos. Dessa maneira, não havendo
direito de crédito do credor primitivo (segurado), não pode a seguradora cobrar o
ressarcimento, já que ela não pode se sub-rogar de um direito que não existe.

Um caso semelhante a este, que é muito comum no dia-a-dia, chegou até o STJ. O que
decidiu o Tribunal? A seguradora terá direito de ser ressarcida pelo conserto mesmo
tendo o segurado assinado este termo de quitação ou renúncia? SIM.
Previsão legal da sub-rogação: O Código Civil prevê que a seguradora que paga a
indenização sub-roga-se nos direitos do segurado. Confira:
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos
limites do valor respectivo, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano.

Isso também já estava consagrado na jurisprudência:


Súmula 188-STF: O segurador tem ação regressiva contra o
causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite
previsto no contrato de seguro.

O art. 786 consiste em espécie de sub-rogação legal, específica para o contrato de


seguro de dano. Vale ressaltar que esta sub-rogação opera-se de pleno direito,
independentemente da vontade do devedor originário, ou seja, do causador do dano
ao bem segurado.

Vale ressaltar que este direito da seguradora de se sub-rogar tem relevância social
porque na sociedade de risco que vivemos hoje em dia é cada vez maior a importância
dos contratos de seguro. Se a seguradora tiver garantias de que poderá ser ressarcida
pelo real causador do dano, isso será levado em consideração no momento do cálculo
do prêmio que é cobrado dos segurados. Em tese, quanto menores as garantias que a
seguradora tiver, maior será o valor do prêmio, o que prejudica a sociedade em geral.
Daí se extrai a relevância social de proteção ao direito de sub-rogação do segurador.

Ineficácia do termo de renúncia firmado pelo proprietário do bem segurado: Ao


disciplinar a sub-rogação no art. 786, o Código Civil previu, de forma expressa e
inequívoca, a ineficácia, perante o segurador, de atos de disposição praticados pelo
segurado juntamente ao autor do dano. Veja:
Art. 786 (...) § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que
diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os direitos a
que se refere este artigo.

Desse modo, eventual termo de renúncia ou quitação outorgado pelo segurado ao


terceiro causador do dano não impede o exercício do direito de regresso pelo
segurador. O legislador buscou proteger o direito do segurador de ser ressarcido da
quantia que gastou para indenizar o segurado.

Assim, se o segurado optou por acionar o seguro, cobrando a garantia contratada, não
lhe cabe firmar com o causador do dano qualquer tipo de transação que possa
importar na extinção ou diminuição do direito de regresso do segurador. Se o fizer, o
ato será absolutamente ineficaz em relação ao segurador, como peremptoriamente
determina o art. 786, § 2º, do CC.

No exemplo dado, o acordo celebrado entre João e Carla é válido e eficaz entre eles
(contratantes). No entanto, não se pode admitir que os efeitos dessa avença sejam
estendidos ao segurador que, além de não ter participado do ajuste, possui, por força
de lei, o direito de ser reembolsado de todos os valores gastos com o reparo do bem
sinistrado.

Normas de caráter público: Dada a importância social do contrato de seguro, as


normas insertas no art. 786, caput e § 2º, do Código Civil, ao assegurarem a sub-
rogação do segurador nos direitos que competirem ao segurado contra o autor do
dano, independentemente da vontade daquele, revestem-se de caráter público, não
havendo como um ato negocial do segurado excluir a prerrogativa outorgada por lei
ao segurador.

Em suma, a regra é a seguinte: Mesmo que o segurado tenha outorgado termo de


quitação ou renúncia ao causador do sinistro, o segurador terá direito de ser
ressarcido, em ação regressiva contra o autor do dano, pelas despesas que efetuou com
o reparo ou substituição do bem sinistrado.

Situação excepcional de má-fé do segurado e boa-fé do autor do dano: A regra foi


acima exposta. No entanto, a prática demonstra que pode acontecer uma situação na
qual se revela a má-fé do segurado e a boa-fé do autor do dano.

Imagine o seguinte: Pedro, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira
do carro de João, que não revela que tem seguro. Pedro assume para João que
realmente foi culpado do acidente e que irá pagar o conserto. No dia seguinte, João
mostra um orçamento da oficina e Pedro lhe entrega o dinheiro. Em contrapartida,
João assinou uma declaração dando quitação integral. Ocorre que João, de má-fé,
aciona o seguro pedindo o conserto do carro, o que é feito. Em seguida, a seguradora
ajuíza ação regressiva contra Pedro cobrando a quantia gasta para consertar o carro
do segurado. Nessa hipótese específica e excepcional, o STJ entende que o terceiro (em
nosso exemplo, Pedro), ao ser demandado na ação regressiva, poderá se eximir do
ressarcimento das despesas com o bem sinistrado, bastando que, nos termos do art.
373, II, do CPC, prove que já realizou a reparação completa dos prejuízos causados,
apresentando o recibo assinado pelo segurado ou eventuais documentos que
comprovem o custeio das despesas. Neste caso, o juiz deverá julgar improcedente o
pedido regressivo formulado, restando à seguradora a alternativa de demandar contra
o próprio segurado, por locupletamento ilícito, tendo em vista que, em evidente ato
de má-fé contratual, requereu, indevidamente, a cobertura securitária mesmo já tendo
sido indenizado diretamente pelo autor do dano. Protege-se aqui o terceiro de boa-fé,
que pagou indenização ao segurado na justa expectativa de que estivesse reparando,
por completo, os danos que causou com seu ato.

21.8. O atraso do segurado em comunicar o seguro que houve um sinistro com o


veículo nem sempre irá gerar a perda da indenização securitária – (Info 590)

O art. 771 do CC determina que o segurado deverá comunicar imediatamente à


seguradora quando ocorrer algum sinistro envolvendo o veículo, já que isso
possibilita que esta tome medidas que possam amenizar os prejuízos da realização
do risco, bem como a sua propagação. Esse dispositivo legal prevê que, se não
houver esta comunicação imediata, o segurado perderá o direito à indenização.
Vale ressaltar, no entanto, que, para que ocorra a sanção prevista no art. 771 do CC,
é necessário que fique demonstrada a ocorrência de uma omissão dolosa do
segurado, que beire a má-fé, ou culpa grave e que, com isso, prejudique, de forma
desproporcional, a atuação da seguradora.
Assim, se o segurado demorou três dias para comunicar à seguradora que o veículo
foi roubado porque foi ameaçado pelo criminoso, ele não perderá o direito de ser
indenizado já que, neste caso, não poderia ser dele exigido comportamento diverso.
Resumindo: o segurado que, devido às ameaças de morte feitas pelo criminoso a ele
e à sua família, deixou de comunicar prontamente o roubo do seu veículo à
seguradora não perde o direito à indenização securitária (art. 771 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.404.908-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 2/8/16
(Info 590).
OBS:
Assim, não haverá a sanção do art. 771 do CC se:
 ficar demonstrado que não havia medidas a serem tomadas de imediato pela
seguradora e que poderiam minorar os efeitos do sinistro. Ex: o veículo foi
completamente incendiado no momento do acidente.
 ou se existirem fatos relevantes que impeçam o segurado de fazer a imediata
comunicação do sinistro.

Nestes dois casos, não há como punir o segurado com a drástica sanção da perda do
direito à indenização, especialmente considerando a presença da boa-fé objetiva,
princípio-chave que permeia todas as relações contratuais, incluídas as de natureza
securitária.

21.9. Indenização securitária pelo valor do automóvel no momento do sinistro –


(Info 583) – IMPORTANTE!!!

No caso de contrato de seguro de automóvel, havendo perda total, a seguradora


deverá indenizar o segurado com base na tabela vigente na data do sinistro, e não
na data do efetivo pagamento (liquidação do sinistro).
É abusiva a cláusula de contrato de seguro de automóvel que, na ocorrência de
perda total do veículo, estabelece a data do efetivo pagamento (liquidação do
sinistro) como parâmetro do cálculo da indenização securitária a ser paga conforme
o valor médio de mercado do bem, em vez da data do sinistro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.163-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/5/16
(Info 583).

21.10. Cláusula de invalidez total deve abranger a incapacidade de exercer qualquer


profissão – (Info 582)

O fato de o beneficiário de seguro de vida ter sido reformado pelo Exército em razão
de incapacidade total para sua atividade habitual (serviço militar) não implica, por
si só, o direito à percepção de indenização securitária em seu grau máximo quando
a apólice de seguro estipula que esse grau máximo é devido no caso de invalidez
total permanente para qualquer atividade laboral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.639-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
26/4/2016 (Info 582).
OBS:
O indivíduo que é considerado inválido para o serviço militar não o é,
necessariamente, para as atividades laborais comuns. Isso porque é muito mais rígida
a exigência física na seara militar.

O contrato de seguro previa o pagamento da indenização para os casos de


incapacidade total e permanente, não mencionando que, para a aferição da
incapacidade, seriam levadas em conta as atividades militares. Só se admitiria o
pagamento da indenização no grau máximo se houvesse cláusula no contrato
estabelecendo que a declaração de invalidez total para a atividade habitual do
segurado implicaria o reconhecimento da incapacidade para qualquer atividade
laboral.

21.11. Cobertura securitária em caso de perda total do bem – (Info 573)

Ainda que o sinistro tenha ocasionado a perda total do bem, a indenização


securitária deve ser calculada com base no prejuízo real suportado pelo segurado,
sendo o valor previsto na apólice, salvo expressa disposição em contrário, mero teto
indenizatório.
A indenização a ser recebida pelo segurado no caso de sinistro deve corresponder
ao real prejuízo do interesse segurado. Há de ser apurado por perícia técnica o
alcance do dano. O limite máximo é o da garantia fixada na apólice. Se os prejuízos
forem menores do que o limite máximo fixado na apólice, o segurador só está
obrigado a pagar por aquilo que realmente aconteceu.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.473.828-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/10/2015
(Info 573).

21.12. Pagamento de indenização securitária na ausência de indicação de beneficiário


na apólice – (Info 566)

Na hipótese em que o segurado tenha contratado seguro de vida sem indicação de


beneficiário e, na data do óbito, esteja separado de fato e em união estável, o capital
segurado deverá ser pago:
• metade aos herdeiros (segundo a ordem da vocação hereditária); e
• a outra metade será dividida entre a cônjuge não separada judicialmente e a
companheira.
Ex: João fez um contrato de seguro de vida. Na apólice, contudo, não constou quem
seriam os beneficiários que deveriam receber a indenização quando o segurado
morresse. O valor da indenização previsto no contrato era de R$ 200 mil. Na época
em que assinou o contrato de seguro, João era casado com Maria, sob o regime da
comunhão universal de bens, e tinha com ela 3 filhos. Ocorre que, ainda na vigência
do contrato, João deixou de viver com Maria e, apesar de não se divorciar nem se
separar judicialmente, passou muitos anos fora de casa e iniciou uma união estável
com Antônia. Determinado dia, João faleceu. Os 3 filhos (herdeiros) receberão R$
100 mil; Maria receberá R$ 50 mil; Antônia terá direito a R$ 50 mil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.401.538-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
4/8/2015 (Info 566).

21.13. Suicídio premeditado – (Info 564) – IMPORTANTE!!!

No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo


obrigação de pagar a indenização?

 Se o suicídio ocorreu ANTES dos dois primeiros anos do contrato: NÃO.


O beneficiário não terá direito ao capital estipulado quando o segurado se
suicida nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato ou nos dois
primeiros anos depois de o contrato ter sido reiniciado (recondução) depois
de um tempo suspenso (art. 798 do CC).
Obs: o beneficiário não terá direito à indenização, mas receberá o valor da
reserva técnica já formada, ou seja, terá direito à quantia que o segurado
pagou a título de prêmio para a seguradora. A seguradora será obrigada a
devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada mesmo
que fique provado que o segurado premeditou o suicídio.

 Se o suicídio ocorreu DEPOIS dos dois primeiros anos do contrato: SIM.


Se o suicídio ocorrer depois dos dois primeiros anos do contrato, será
devida a indenização ainda que exista cláusula expressa em contrário.
Obs: é nula a cláusula contratual que exclua a indenização da seguradora
em caso de suicídio ocorrido depois dos dois primeiros anos do contrato
(art. 798, parágrafo único). Assim, se o suicídio ocorre depois dos dois
primeiros anos, é devida a indenização ainda que exista cláusula expressa
dizendo que a seguradora não deve indenizar.

Atenção: estão SUPERADAS a Súmula 105 do STF, a Súmula 61 do STJ e o


Enunciado 187 da Jornada de Direito Civil.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.334.005-GO, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/4/2015 (Info 564).

21.14. Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida – (Info 561)

A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do


seguro de acordo com a faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado
maior de 60 anos de idade e que conte com mais de 10 anos de vínculo contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.376.550-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 28/4/2015
(Info 561).

21.15. Cláusulas RCF-V e APP – (Info 560)

No momento em que a pessoa celebra um contrato de seguro de veículos, é


importante verificar o tipo de cobertura contratada:

 Se houver apenas a cláusula RCF-V (“Responsabilidade Civil Facultativa


de Veículos”): isso significa que o seguro está se obrigando a cobrir apenas
as despesas que o segurado tiver com danos corporais que forem causados
a terceiros, não servindo para danos corporais sofridos pelo próprio
condutor do veículo ou seus passageiros. Em outras palavras, a cláusula
“RCF-V” determina que a seguradora reembolse, até o limite previsto na
apólice, as indenizações que o segurado seja obrigado a pagar, judicial ou
extrajudicialmente, por ter provocado prejuízos pessoais ou materiais a
outras pessoas de fora do carro (terceiros).
 Para que o contrato abranja também danos causados ao motorista e demais
passageiros do veículo, é necessário que preveja a cláusula APP
(“Acidentes Pessoais de Passageiros”). Por força da cláusula APP, a
seguradora é obrigada a pagar a indenização ao segurado ou aos seus
beneficiários na ocorrência de acidentes pessoais que causem a morte ou a
invalidez permanente total ou parcial dos passageiros do veículo segurado,
respeitados os critérios quanto à lotação oficial do veículo e o limite
máximo de indenização por passageiro estipulado na apólice.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.407-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
5/3/2015 (Info 560).

21.16. Via adequada para cobrança de indenização fundada em contrato de seguro de


automóvel – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de


seguro de automóvel é a ação de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação
executiva).
Não é possível propor diretamente a execução nesse caso porque o contrato de
seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial (art. 585
do CPC).
Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez,
certeza e exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo
ser cobrados por meio de ação de execução.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
2/12/2014 (Info 553).

21.17. Antes da entrega da proposta de seguro à seguradora, não há contrato de seguro


– (Info 551)

O proprietário de automóvel furtado não terá direito a indenização securitária se a


proposta de seguro do seu veículo somente houver sido enviada à seguradora após
a ocorrência do furto.
No caso concreto, o proprietário somente entregou a proposta de seguro preenchida
e assinada à seguradora após o seu veículo ter sido furtado. Logo, não tem direito à
indenização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.204-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
7/10/2014 (Info 551).

21.18. Morte decorrente de AVC não está abrangida em seguro de acidentes pessoais
– (Info 550)

Determinada pessoa contratou um seguro de acidentes pessoais por meio do qual


seus herdeiros receberiam a indenização caso ele falecesse em decorrência de morte
acidental.
Se essa pessoa falecer por causa de um AVC, seus herdeiros não terão direito a
indenização. Isso porque o óbito decorrente do AVC não pode ser caracterizado
como morte acidental, sendo hipótese de morte natural.
A Resolução CNSP nº 117⁄2004 do Conselho Nacional de Seguros Privados traz a
definição do que seja acidente pessoal.
A distinção básica entre a morte acidental e a morte natural está no fato de que a
primeira decorre de um evento diretamente externo enquanto que a segunda é
causada por um fator de natureza interna, como é o caso das doenças.
Para que seus herdeiros tivessem direito à indenização pela morte decorrente do
AVC, essa pessoa deveria ter feito um seguro de vida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.443.115-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/10/2014 (Info 550).

21.19. Transação feita entre o segurado e a vítima sem anuência da seguradora – (Info
548)

No seguro de responsabilidade civil, o segurado não pode, em princípio,


reconhecer sua responsabilidade, transigir ou confessar, judicial ou
extrajudicialmente, sua culpa em favor do lesado a menos que haja prévio e
expresso consentimento do ente segurador, pois, caso contrário, perderá o direito à
garantia securitária, ficando pessoalmente obrigado perante o terceiro, sem direito
de reembolso do que despender (§ 2º do art. 787 do CC).
No entanto, se não há demonstração de que a transação feita pelo segurado e pela
vítima do acidente de trânsito foi abusiva, infundada ou desnecessária, mas, ao
contrário, sendo evidente que o sinistro de fato aconteceu e o acordo realizado foi
em termos favoráveis tanto ao segurado quanto à seguradora, não há razão para se
interpretar a regra do art. 787, § 2º, do CC em termos absolutos e afastar o
ressarcimento do segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.133.459-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/8/2014 (Info 548).

21.20. Seguro de veículo e agravamento do risco pela condução por motorista não
habilitado – (Info 542)

Caso a sociedade empresária segurada, de forma negligente, deixe de evitar que


empregado não habilitado dirija o veículo objeto do seguro, ocorrerá a exclusão do
dever de indenizar se demonstrado que a falta de habilitação importou em
incremento do risco.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.412.816-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/5/14 (Info 542).

21.21. Legitimidade do espólio para ação de cobrança de indenização securitária que


deveria ter sido recebida pelo de cujus – (Info 542)

O espólio possui legitimidade para ajuizar ação de cobrança de indenização


securitária decorrente de invalidez permanente ocorrida antes da morte do
segurado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.407-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 8/5/14
(Info 542).

21.22. Contrato de seguro de vida e acidentes pessoais e omissão a respeito de doença


preexistente

No contrato de seguro de vida e acidentes pessoais, o segurado não tem direito à


indenização caso, agindo de má-fé, silencie a respeito de doença preexistente que
venha a ocasionar o sinistro, ainda que a seguradora não exija exames médicos no
momento da contratação.
STJ. AgRg no REsp 1.286.741-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 15/8/2013.
22. CONTRATO DE TRANSPORTE
22.1. Valor de indenização pelo extravio de mercadorias em transporte aéreo – (Info
573)

Em caso de extravio de mercadoria no transporte internacional envolvendo


consumidor, aplica-se a indenização tarifada previstas na Convenção de Varsóvia?
NÃO. Caracterizando-se como consumidor a parte lesada no contrato de transporte
de mercadoria, não se aplica a indenização tarifada prevista na legislação do
transporte aéreo nacional ou internacional. O que vale é o princípio da reparação
integral, com base no CDC (STJ. 4ª Turma. AgRg no Ag 1409204/PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 25/09/2012).

Em caso de extravio de mercadoria no transporte internacional envolvendo negócio


empresarial (não consumidor final), aplica-se a indenização tarifada prevista na
Convenção de Varsóvia?
 SIM. 4ª Turma. REsp 1.162.649-SP, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão,
Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 13/5/2014 (Info
541).
 NÃO. Deve ser aplicado o Código Civil. Assim, a indenização pelo extravio
de mercadoria transportada por via aérea, prévia e devidamente declarada,
com inequívoca ciência do transportador acerca de seu conteúdo, deve
corresponder ao valor integral declarado, não se aplicando, por
conseguinte, as limitações tarifadas prevista no Código Brasileiro de
Aeronáutica e na Convenção de Varsóvia. Foi o que decidiu a 3ª Turma do
STJ no REsp 1.289.629-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
20/10/2015 (Info 573).

22.2. Descabimento de responsabilidade da empresa de transporte coletivo em se


tratando de dano causado por fato de terceiro – (SEM INFO) – (TJSP-2014)

Afasta-se a responsabilidade da empresa de transporte coletivo quando o dano é


causado por fato de terceiro que representa caso fortuito externo, sendo estranho à
atividade transportadora.
STJ, 3ª Turma, AgRg no AREsp 97.872/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, j. 06/02/14, DJe 17/02/2014 (Sem informativo)
(TJSP-2014-VUNESP): O transportador não pode ser responsabilizado pelos
danos decorrentes de fatos de terceiros que possam ser caracterizados como
fortuito externo.

22.3. Responsabilidade do transportador x extensão dos danos – (SEM INFO) –


(TJSP-2014)
O transportador só responde pelos danos resultantes de fatos conexos com o serviço
que presta.
STJ, 3ª Turma, REsp 468.900/RJ, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, j. 20/02/03, DJ
31/03/2003, p. 222.
(TJSP-2014-VUNESP): O transportador só responde pelos danos resultantes de
fatos conexos com o serviço que presta.

23. CONTRATO DE CAPITALIZAÇÃO


23.1. Devolução de valores aplicados em título de capitalização – (Info 550)

A capitalização é um contrato por meio do qual uma das partes


(aderente/prestamista) se compromete a pagar, durante um prazo fixado no ajuste,
prestações pecuniárias mensais a uma sociedade de capitalização (capitalizadora) e
esta, em contrapartida, se obriga a realizar sorteios periódicos nos quais o aderente
poderá ser contemplado com prêmios ou, então, ao final do ajuste o contratante
receberá de volta parte ou a totalidade das prestações efetuadas (isso irá depender
das condições contratuais). Ex: “Tele Sena”.
Alguns títulos de capitalização permitem o resgate dos valores antes do fim do
prazo. No entanto, a maioria dos contratos possui cláusula prevendo um prazo de
carência, ou seja, um período inicial em que o capital fica indisponível, não
podendo ser resgatado pelo aderente.
É válida a cláusula contratual que estipula prazo de carência para o resgate?
SIM. Desde que redigida em estrita obediência ao previsto na legislação vigente, é
válida a cláusula contratual que prevê prazo de carência para resgate antecipado
dos valores aplicados em título de capitalização. A cláusula que estipule prazo de
carência nos contratos de capitalização deve ser clara e precisa, a fim de atender
todas as diretrizes insculpidas no Código de defesa do Consumidor e garantir
transparência suficiente nas relações jurídicas estabelecidas entre aderente e
sociedade de capitalização.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.354.963-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/9/2014 (Info 550).

24. ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING)


24.1. Purgação da mora em contrato de arrendamento mercantil de veículo
automotor – (Info 573) – IMPORTANTE!!!

Em contrato de arrendamento mercantil de veículo automotor - com ou sem


cláusula resolutiva expressa -, a purgação da mora realizada nos termos do art. 401,
I, do CC deixou de ser possível somente a partir de 14/11/2014, data de vigência da
Lei 13.043/2014, que incluiu o § 15º do art. 3º do Decreto-Lei 911/1969.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.832-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 5/11/15 (Info
573).

25. SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS


25.1. Cláusula penal em contratos de serviços advocatícios – (Info 593) –
IMPORTANTE!!!

Não é possível a estipulação de multa no contrato de honorários para as hipóteses


de renúncia ou revogação unilateral do mandato do advogado, independentemente
de motivação, respeitado o direito de recebimento dos honorários proporcionais ao
serviço prestado.
É direito do advogado renunciar ou da parte revogar o mandato a qualquer
momento e sem necessidade de declinar as razões. Isso porque a relação entre
advogado e cliente é pautada pela confiança, fidúcia, sendo um contrato
personalíssimo (intuitu personae).
Apesar de o advogado não poder exigir multa pelo fato de o contratante ter
revogado o mandato, ele poderá cobrar o valor dos honorários advocatícios na
proporção dos serviços que já foram prestados.
Cláusula penal em contratos advocatícios:
 é lícita para situações de mora e/ou inadimplemento (ex: multa pelo atraso
no pagamento dos honorários).
 não é permitida para as hipóteses de renúncia ou revogação do mandato (ex:
multa pelo fato de o cliente ter decidido revogar o mandato e constituir
outro advogado).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.171-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/10/16 (Info
593).

26. CONTRATOS AGRÁRIOS


26.1. Prazo mínimo de contrato de arrendamento rural para a criação de gado bovino
– (Info 584) – IMPORTANTE!!!

É de 5 anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em


que ocorra pecuária de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala
da atividade exploratória ou da extensão da área a que se refira o contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 24/5/16 (Info
584).
OBS:
Função social da propriedade e prazo mínimo do contrato: O contrato agrário, mesmo
tendo natureza privada (por envolver particulares), é utilizado pelo legislador como
um instrumento de concretização da função social da propriedade rural (arts. 5º, XXIII,
182 e 186 da CF/88). Por essa razão, o arrendamento rural está sujeito a inúmeras
repercussões do direito público. Uma dessas "influências" do direito público é a
proteção conferida pelo legislador à parte economicamente mais frágil deste contrato
(o arrendatário), conforme dispõe o art. 13 do Decreto nº 59.566/66.

Segundo este artigo do decreto, os contratos de arrendamento rural que tenham por
objeto atividade de pecuária (alínea "a" do inciso II do art. 13) devem ter prazos
mínimos de vigência com a finalidade de permitir que o arrendatário tenha tempo
para criar, reproduzir e engordar o gado, considerando que isso demora. O art. 13 faz
a seguinte distinção
 pecuária de pequeno e médio porte: o arrendamento deverá ter prazo mínimo
de 3 anos;
 pecuária de grande porte: o prazo mínimo será de 5 anos.
O que se entende por pecuária de pequeno, médio e grande porte? Existe divergência
na doutrina sobre o tema, mas o STJ adotou a corrente doutrinária que defende o
seguinte:
 Pequeno porte: envolve apicultura, piscicultura, avicultura, cunicultura e
ovinocultura.
 Médio porte: refere-se à criação de suínos, caprinos e ovinos.
 Grande porte: abrange o gado bovino, bubalino, equino e asinino.

Desse modo, quando o Decreto fala em grande porte, não está se referindo ao tamanho
da propriedade, número de animais etc. O critério aqui é a espécie de animal que é
criado. Veja:
"A expressão 'grande porte' não se refere à escala da atividade
(número de unidades de animais, por exemplo), mas, sim, ao
porte dos animais, cujo prazo reprodutivo e de engorda é
maior que os de menor porte. Na pecuária de pequeno porte
são incluídas a apicultura, piscicultura, avicultura e
cunicultura. Na de médio porte, a suinocultura,
caprinocultura e ovinocultura e na de grande porte a
bovinocultura, bubalinocultura, equinocultura e asinino
cultura." (CARVALHO, Edson Ferreira de. Manual didático
de direito agrário. Curitiba: Juruá, 2010, p. 410).

26.2. Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no
Estatuto da Terra – (Info 583)

O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92,


§ 3º, do Estatuto da Terra, não é aplicável à empresa rural de grande porte
(arrendatária rural).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 10/5/16
(Info 583).

26.3. Contrato de arrendamento rural como prova escrita para ação monitória – (Info
580)

É nula cláusula contratual que fixa o preço do arrendamento rural em frutos ou


produtos ou seu equivalente em dinheiro, nos termos do art. 18, § único, do Decreto
59.566/66. Essa nulidade não obsta que o credor proponha ação de cobrança, caso
em que o valor devido deve ser apurado, por arbitramento, em liquidação.
Além disso, o contrato de arrendamento rural que estabelece pagamento em
quantidade de produtos pode ser usado como prova escrita para se ajuizar ação
monitória com a finalidade de determinar a entrega de coisa fungível,
considerando que é indício da relação jurídica material subjacente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.266.975-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 10/3/16
(Info 580).

26.4. Nulidade de cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias


e úteis nos contratos agrários – (Info 564)
No contrato de parceria agrícola, é possível a previsão de uma cláusula por meio da
qual o outorgado (que irá trabalhar a terra) renuncia ao direito às benfeitorias que
realizar?
NÃO. Nos contratos agrários, é NULA a cláusula de renúncia à indenização pelas
benfeitorias necessárias e úteis.
Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado,
como por normas de caráter público e social, de observância obrigatória e, por isso,
irrenunciáveis, tendo como finalidade principal a proteção daqueles que, pelo seu
trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas, conferindo efetividade
à função social da propriedade.
Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem
o direito comum, o contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão
de sua importância para o Estado, do protecionismo que se quer emprestar ao
homem do campo, à função social da propriedade e ao meio ambiente, fazendo com
que a máxima do "pacta sunt servanda" não se opere em absoluto nestes casos.
A legislação dos contratos de parceria agrícola preconiza o direito à indenização
pelas benfeitorias como sendo uma cláusula obrigatória. Logo, não pode o contrato
de parceria agrícola prever a renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias
e úteis, sendo nula qualquer disposição nesse sentido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.182.967-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 9/6/15 (Info 564).

27. CONDOMÍNIO
27.1. Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos – (Info 596) –
(DPU-2017)

Na vigência do Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo prescricional para que


o condomínio geral ou edilício (vertical ou horizontal) exercite a pretensão de
cobrança de taxa condominial ordinária ou extraordinária, constante em
instrumento público ou particular, a contar do dia seguinte ao vencimento da
prestação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.930-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 23/11/16 (recurso
repetitivo) (Info 596).
(DPU-2017-CESPE): Situação hipotética: O condômino B deve taxas condominiais
extraordinárias, estabelecidas em instrumento particular, ao condomínio edilício
A. Assertiva: Nessa situação, o condomínio A goza do prazo de cinco anos, a
contar do dia seguinte ao do vencimento da prestação, para exercer o direito de
cobrança das referidas taxas. BL: Info 596, STJ.

OBS: Segundo o STJ, a cobrança de cota condominial enquadra-se na previsão do art.


206, § 5º, I do CC-2002:
Art. 206. Prescreve:
§ 5º Em cinco anos:
I – a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular;

O débito decorrente da taxa condominial pode ser considerado uma “dívida líquida”?
As cotas condominiais são líquidas desde o momento em que seu valor é definido na
assembleia geral de condôminos. O próprio CPC/2015 considera que os débitos
decorrentes de cotas condominiais são dívidas líquidas, tanto que são considerados
como título executivo extrajudicial:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: (...)
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou
extraordinárias de condomínio edilício, previstas na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral,
desde que documentalmente comprovadas;

Para se enquadrar no art. 206, § 5º, I, do CC, exige-se que a dívida tenha sido contraída
por meio de um instrumento público ou particular? NÃO. O art. 206, § 5º, I, do CC/02
exige apenas que a dívida seja líquida e que ela esteja demonstrada (documentada)
em um instrumento público ou particular. Não é necessário que a dívida tenha sido
contraída em um desses instrumentos.

A cota condominial é uma dívida líquida. Mas ela é constante de instrumento público
ou particular como exige o art. 206, § 5º, I, do CC? SIM. A taxa condominial decorre
da lei (art. 1.336, I, do CC), mas além disso, ela é previamente decidida e seu valor
definido em assembleia geral. A ata dessa assembleia (instrumento particular) deverá
instruir a petição inicial da execução para comprovação do débito cobrado. Logo, esta
dívida líquida está sim documentada em um instrumento particular.

27.2. Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do


condomínio – (Info 588) – IMPORTANTE!!!

O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode


proibir, em razão de inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas
comuns, ainda que destinadas apenas a lazer.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 9/8/16 (Info
588).
OBS:
Direito ao uso das áreas comuns decorre do direito de propriedade: O direito do
condômino ao uso das partes comuns, seja qual for a destinação a elas atribuídas, não
decorre de ele estar ou não adimplente com as despesas condominiais. Este direito
provém do fato de que, por lei, a unidade imobiliária abrange não apenas uma fração
ideal no solo (unidade imobiliária), mas
também as outras partes comuns. Veja o que diz o Código Civil:
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são
propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum
dos condôminos.
(...)
§ 3º A cada unidade imobiliária caberá, como parte
inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras partes
comuns, que será identificada em forma decimal ou ordinária
no instrumento de instituição do condomínio.

Em outras palavras, a propriedade da unidade imobiliária abrange a correspondente


fração ideal de todas as partes comuns. O proprietário do apartamento também é
"dono" de parte das áreas comuns. Dessa forma, a proibição de que o condômino tenha
acesso a uma área comum (seja qual for a sua destinação) viola o que se entende por
condomínio, limitando, indevidamente, o direito de propriedade.
Punições para o condômino inadimplente: Os condôminos possuem o dever de
contribuir para as despesas condominiais, conforme determina o art. 1.336, I, do CC.
No entanto, as consequências pelo seu descumprimento devem ser razoáveis e
proporcionais. No caso de descumprimento do dever de contribuição pelas despesas
condominiais, o Código Civil impõe
ao condômino inadimplente sanções de ordem pecuniária. Em um primeiro momento,
a lei determina que o devedor seja obrigado a pagar juros moratórios de 1% ao mês e
multa de até 2% sobre o débito:
Art. 1.336 (...)
§ 1º O condômino que não pagar a sua contribuição ficará
sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo
previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por
cento sobre o débito.

Se o condômino reiteradamente apresentar um comportamento faltoso (o que não se


confunde com o simples inadimplemento involuntário de alguns débitos), será
possível impor a ele outras penalidades, também de caráter pecuniário, nos termos do
art. 1.337:
Art. 1.337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre
reiteradamente com os seus deveres perante o condomínio
poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos
restantes, ser constrangido a pagar multa correspondente até
ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as
despesas condominiais, conforme a gravidade das faltas e a
reiteração, independentemente das perdas e danos que se
apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu
reiterado comportamento anti-social, gerar incompatibilidade
de convivência com os demais condôminos ou possuidores,
poderá ser constrangido a pagar multa correspondente ao
décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas
condominiais, até ulterior deliberação da assembleia.

Dessa forma, a lei confere meios coercitivos, legítimos e idôneos, à satisfação do


crédito, descabendo ao condomínio valer-se de sanções outras que não as pecuniárias
expressa e taxativamente previstas no Código Civil para o específico caso de
inadimplemento das despesas condominiais. Em outros termos, não existe margem
discricionária para a imposição de outras sanções que não sejam as pecuniárias
estipuladas na Lei.

Vedar acesso às áreas comuns viola o princípio da dignidade da pessoa humana: Além
das sanções pecuniárias, a lei estabelece em favor do condomínio instrumentos
processuais efetivos e céleres para se cobrar as dívidas condominiais. A Lei nº
8.009/90, por exemplo, autoriza que a própria unidade condominial (apartamento,
casa etc.) seja penhorada para o pagamento dos débitos, não podendo o condômino
devedor alegar a proteção do bem de família. O CPC/2015, por sua vez, prevê que as
cotas condominiais possuem natureza de título executivo extrajudicial (art. 784, VIII),
permitindo, assim, o ajuizamento direto de ação executiva, tornando a satisfação do
débito ainda mais célere. Desse modo, diante de todos esses instrumentos colocados
à disposição pelo ordenamento jurídico percebe-se que não há razão legítima para que
o condomínio se valha de meios vexatórios de cobrança. A proibição de que o devedor
tenha acesso e utilize as áreas comuns do condomínio pelo simples fato de que ele está
inadimplente acaba expondo ostensivamente a sua condição de inadimplência
perante o meio social em que reside, o que, ao final, viola o princípio da dignidade
humana.

STJ avança no tema: Vale ressaltar que o presente julgado representa um avanço na
proteção da dignidade do condômino inadimplente. Isso porque o STJ possuía um
entendimento anterior que dizia o seguinte: a assembleia geral de condôminos não
pode proibir o condômino inadimplente de usar os serviços essenciais do condomínio
(ex: elevador); por outro lado, segundo esta posição anterior, seria possível que se
restringisse o acesso do devedor a bens e serviços de caráter supérfluo, tais como
piscina, sauna, salão de festas etc. O julgado a que me refiro é o Resp 1.401.815-ES,
Min. Rel. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013.

Dessa forma, o STJ abandona esta distinção e afirma agora que não se pode negar o
direito do condômino inadimplente de ter acesso às áreas comuns do condomínio
independentemente de sua finalidade, ou seja, ele terá direito de usar tais partes
comuns, sejam elas de caráter essencial, sejam apenas destinadas ao lazer.

27.3. Inaplicabilidade do direito de preferência em contrato de compra e venda


celebrado entre condôminos – (Info 577) – IMPORTANTE!!!

O direito de preferência previsto no art. 504 do CC aplica-se ao contrato de compra


e venda celebrado entre condômino e terceiro, e não àquele ajustado entre
condôminos.
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se
der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte
vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de
decadência.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.137.176-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/2/2016 (Info
577).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, José, Jorge e Júlio receberam, por
testamento, uma fazenda. No registro de imóveis, os quatro constam como
proprietários da fazenda, cada um possuindo 25% da fração ideal do bem. Desse
modo, no caso concreto, existe um condomínio comum. Condomínio consiste na
copropriedade exercida sobre um mesmo bem. Em outras palavras, é o exercício
simultâneo do direito de propriedade por duas ou mais pessoas sobre uma mesma
coisa.

Hipótese 1: Júlio, sem comunicar previamente os outros, vendeu seus 25% da fazenda
para Mário, um vizinho. Quando soube do acontecido, João ajuizou ação de
preferência (ação de preempção), requerendo a compra dos 25% de Júlio. Segundo
argumentou João, antes de alienar o imóvel para outra pessoa, Júlio deveria ter
oferecido o bem para ele, que tinha direito de preferência, nos termos do art. 504 do
CC:
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua
parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O
condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o
requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver
benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão
maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os
comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o
preço.

Nesta situação 1, o pedido de João deverá ser acolhido.

Hipótese 2: Júlio, sem comunicar previamente os outros, vendeu seus 25% da fazenda
para Jorge, um dos condôminos. Quando soube do acontecido, João ajuizou ação de
preferência (ação de preempção), requerendo a compra dos 25% de Júlio. Segundo
argumentou João, antes de alienar o imóvel para outra pessoa, Júlio deveria ter
oferecido o bem para ele, que tinha direito de preferência, nos termos do art. 504 do
CC.

Nesta situação 2, o pedido de João não deverá ser acolhido.

A literalidade do art. 504: O direito de preferência deve ser observado apenas nos
casos em que o contrato de compra e venda seja celebrado entre o condômino e um
estranho. Não se aplica, portanto, às hipóteses de venda entre os consortes
(condôminos).

Objetivo da norma: Estimular que a propriedade permaneça somente com os titulares


originários, evitando desentendimentos com a entrada de um estranho no grupo. A
alienação da fração ideal de um condômino para o outro não ofende a finalidade
intrínseca do direito de preferência do art. 504 do CC, uma vez que não se tratará de
hipótese de ingresso de terceiro/estranho à comunhão. Pelo contrário, serão mantidos
os consortes, apenas com alterações no percentual da parte ideal daquele que adquiriu
a parcela de outrem.

Mas e o parágrafo único do art. 504? Ele não dá a entender que seria necessário dar o
direito de preferência mesmo em caso de venda entre condôminos? NÃO. O parágrafo
único está subordinado e apenas complementa a norma enunciada no caput,
estabelecendo o procedimento a ser adotado caso mais de um condômino venha
manifestar o seu direito de preferência por ocasião da alienação de fração ideal a
terceiro alheio à comunhão. Em outras palavras, se um condômino resolver vender
sua fração a um terceiro (estranho), deverá oferecer primeiro aos demais condôminos.
Se mais de um condômino se interessar, aplica-se o parágrafo único do art. 504. O
parágrafo único do art. 504 não obriga, contudo, a que exista o direito de preferência
caso o condômino resolva vender sua fração ideal para um outro condômino. Neste
caso, o condômino fica livre para escolher para qual condômino quer vender sua
fração ideal.

O direito de preferência previsto no art. 504 é uma restrição à liberdade de contratar:


Deve ser interpretado de forma restritiva. Se a literalidade do art. 504 do CC exige o
direito de preferência apenas para alienações feitas a estranhos, não cabe ao intérprete,
extensivamente, aplicar essa norma aos casos de compra e venda entre consortes.

Este direito de preferência do art. 504 do CC aplica-se também nos casos de


condomínio edilício? Ex: em um prédio, se um dos moradores quiser vender seu
apartamento, terá que oferecer primeiro aos demais condôminos? NÃO. A regra do
art. 504 do CC aplica-se apenas ao condomínio tradicional e não ao condomínio
edilício. "Assim, um condômino em prédio de apartamentos não precisa dar
preferência aos demais proprietários. Mas se a unidade pertencer também a outras
pessoas, estas devem ser notificadas para exercer a preferência legal, pois instaurou-
se, nesse caso, um condomínio tradicional dentro do horizontal" (GONÇALVES,
Carlos Roberto. Direito Civil. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 242).

27.4. Aplicação de multas sancionatória e moratória por inadimplência condominial


contumaz – (Info 573) – IMPORTANTE!!! – (TJRJ-2016)

Se o condômino descumpre reiteradamente o dever de contribuir para as despesas


do condomínio (inciso I do art. 1.336 do CC), o condomínio poderá aplicar contra
ele, além da multa moratória (§ 1º do art. 1.336 do CC), multa sancionatória em razão
de comportamento "antissocial" ou "nocivo" (art. 1.337 do CC).
Assim, o condômino que deixar de adimplir reiteradamente a importância devida
a título de cotas condominiais poderá, desde que aprovada a sanção em assembleia
por deliberação de 3/4 (três quartos) dos condôminos, ser obrigado a pagar multa
em até o quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas
condominiais, conforme a gravidade da falta e a sua reiteração.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.020-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/10/2015 (Info 573).

27.5. Cobrança de cota condominial proposta apenas contra o promitente comprador


e impossibilidade de penhora do imóvel – (Info 573)

Em ação de cobrança de cotas condominiais proposta somente contra o promissário


comprador, não é possível a penhora do imóvel que gerou a dívida - de propriedade
do promissário vendedor -, admitindo-se, no entanto, a constrição dos direitos
aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
3/11/2015 (Info 573).

27.6. Aplicação de multa a condômino antissocial e direito de defesa (Info 570) –


IMPORTANTE!!!

O Código Civil prevê que, se o condômino apresentar reiterado comportamento


antissocial, poderá ser punido com multa (art. 1.337, parágrafo único).
Essa sanção para o comportamento antissocial reiterado de condômino só poderá
ser aplicada se antes foram conferidas ao condômino as garantias da ampla defesa
e do contraditório.
Enunciado 92-CJF: Art. 1.337: As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não
podem ser aplicadas sem que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.365.279-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/8/2015 (Info 570).

27.7. Alteração de fachada sem autorização da totalidade dos condôminos – (Info


568)

O condômino não pode, sem a anuência de todos os condôminos, alterar a cor das
esquadrias externas de seu apartamento para padrão distinto do empregado no
restante da fachada do edifício, ainda que a modificação esteja posicionada em
recuo, não acarrete prejuízo direto ao valor dos demais imóveis e não possa ser vista
do térreo, mas apenas de andares correspondentes de prédios vizinhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.733-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).

27.8. Legitimidade passiva em ação de cobrança de dívidas condominiais – (Info


567)

Em caso de compromisso de compra e venda, a legitimidade passiva para ação de


cobrança de cotas condominiais será do promitente-comprador ou do promitente
vendedor? Quem deverá responder pelo pagamento?
A 2ª Seção do STJ apreciou o tema e forneceu três conclusões expostas em forma
de teses:
a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais
não é o registro do compromisso de compra e venda, mas a relação jurídica material
com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e
pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação.
b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a
responsabilidade pelas despesas de condomínio pode recair tanto sobre o
promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador, dependendo das
circunstâncias de cada caso concreto.
c) Se ficar comprovado: (i) que o promissário comprador se imitira na posse; e (ii) o
condomínio teve ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva
do promitente vendedor para responder por despesas condominiais relativas a
período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2015
9 (recurso repetitivo) (Info 560).

Pelo que foi exposto na tese "c", a responsabilidade será só do PROMITENTE


COMPRADOR se ficar comprovado que:
i) o promissário comprador se imitiu na posse (ele já está na posse direta do bem);
e
ii) o condomínio teve ciência inequívoca da transação (o condomínio soube que
houve a “venda”). Nesta hipótese, o condomínio não poderia ajuizar ação contra o
promitente vendedor pelas cotas condominiais relativas ao período em que a posse
foi exercida pelo promissário comprador.

Ocorre que mesmo após o julgamento desse recurso especial repetitivo (REsp
1.345.331-RS), a 3ª Turma do STJ julgou em sentido contrário à tese exposta na letra
"c".
Segundo decidiu a 3ª Turma do STJ, o promitente comprador e o promitente
vendedor de imóvel têm legitimidade passiva concorrente em ação de cobrança de
débitos condominiais posteriores à imissão daquele na posse do bem, admitindo-
se a penhora do imóvel, como garantia da dívida, quando o titular do direito de
propriedade (promitente vendedor) figurar no polo passivo da demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.840-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/8/2015 (Info 567).

27.9. Direito de preferência na alienação de imóvel em estado de indivisão – (Info


564) – IMPORTANTE!!!

O condômino que desejar alienar a fração ideal de bem imóvel divisível em estado
de indivisão deverá dar preferência na aquisição ao comunheiro.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.207.129-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
16/6/2015 (Info 564).

27.10. Rateio das despesas feitas para ajuizar ação contra um dos condôminos – (Info
549)

O condômino que tenha sido demandado pelo condomínio em ação de cobrança


deve sim participar do rateio das despesas do litígio contra si proposto.
Ex: condomínio contrata advogado para ajuizar execução contra condômino
inadimplente; as despesas referentes à contratação do causídico serão rateadas
entre todos, inclusive o condômino executado, que também irá pagar sua quota
para custear tal gasto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.185.061-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
16/9/2014 (Info 549).

27.11. Inviabilidade de ação de prestação de contas ajuizada por condômino – (Info


549)

O condômino, isoladamente, não possui legitimidade para propor ação de


prestação de contas, pois a obrigação do síndico é de prestar contas à assembleia,
nos termos do art. 22, §1º, "f", da Lei nº 4.591⁄1964.
Faltará interesse de agir ao condômino quando as contas já tiverem sido prestadas
extrajudicialmente, porque, em tal hipótese, a ação judicial não terá utilidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.046.652-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
16/9/2014 (Info 549).

27.12. PRAZO PRESCRICIONAL PARA COBRANÇA DE COTAS


CONDOMINIAIS: 5 ANOS – (Info 527)

O prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais é de 5 anos, contados


do vencimento de cada parcela.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.366.175-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/6/2013
(Info 527).
27.13. MORADOR INADIMPLENTE QUE FIQUE IMPEDIDO DE USAR
ELEVADOR TEM DIREITO À INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Tem direito à indenização por danos morais a moradora que foi impedida de usar
o elevador para chegar ao seu apartamento de um prédio residencial, por estar em
atraso com as taxas do condomínio.
STJ. 3ª Turma. Resp 1.401.815-ES, Min. Rel. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013.

28. CONDOMÍNIO DE FATO


28.1. Cobrança de taxa de manutenção em condomínio de fato – (Info 562) –
IMPORTANTE!!! – (TJRJ-2016)

As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não


associados ou que a elas não anuíram.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso
repetitivo) (Info 562)

29. CONDOMÍNIO EDILÍCIO


29.1. Legitimidade passiva em ação de cobrança de dívidas condominiais – (Info
560) – IMPORTANTE!!!

A responsabilidade pelo pagamento das despesas condominiais é sempre do


proprietário?
NÃO. As despesas condominiais constituem-se em obrigações “propter rem” e são
de responsabilidade não apenas daquele que detém a qualidade de proprietário da
unidade imobiliária. As cotas condominiais podem ser de responsabilidade da
pessoa que, mesmo ser proprietária, é titular de um dos aspectos da propriedade,
tais como a posse, o gozo ou a fruição, desde que esta tenha estabelecido relação
jurídica direta com o condomínio. É o caso, por exemplo, do promitente comprador
que já está morando no imóvel e que já fez todos os cadastros no condomínio como
sendo o novo morador da unidade.

Em caso de compromisso de compra e venda, a legitimidade passiva para ação de


cobrança será do promitente-comprador ou do promitente vendedor?
Depende. Em caso de promessa de compra e venda, a responsabilidade pelas
despesas de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto
sobre o promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso
concreto:
1) A responsabilidade será do PROMITENTE COMPRADOR se ficar comprovado
que:
a) o promissário comprador se imitiu na posse (ele já está na posse direta do bem);
e
b) o condomínio teve ciência inequívoca da transação (o condomínio sabe que
houve a “venda”).
Nesta hipótese, o condomínio não poderá ajuizar ação contra o promitente
vendedor pelas cotas condominiais relativas ao período em que a posse foi exercida
pelo promissário comprador.

O fato de o compromisso de compra e venda estar ou não registrado irá interferir?


NÃO. Não há nenhuma relevância, para o efeito de definir a responsabilidade
pelas despesas condominiais, se o contrato de promessa de compra e venda foi ou
não registrado. O que importa realmente é a relação jurídica material com o imóvel,
representada pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência
inequívoca do condomínio acerca da transação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2015
9 (recurso repetitivo) (Info 560).

18.1. Alteração de cláusula irrevogável e irretratável da convenção de condomínio –


(Info 554) – IMPORTANTE!!!

Os condôminos, pelo voto de 2/3, poderão alterar cláusula da convenção original de


condomínio, mesmo sendo ela prevista como irrevogável e irretratável.
No caso concreto, a convenção original determinou que a divisão das despesas do
condomínio seria feita em partes iguais. Pelo voto de 2/3, alterou-se a forma de
rateio para que as expensas sejam suportadas na proporção das frações ideais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.223-RS, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 554).

18.2. QUÓRUM PARA ALTERAÇÃO DO REGIMENTO INTERNO DO


CONDOMÍNIO EDILÍCIO – (Info 527)

A alteração de regimento interno de condomínio edilício depende de votação com


observância do quórum estipulado na convenção condominial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.169.865-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 13/8/13 (Info
527).

30. LOCAÇÃO
30.1. O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato não pode ser
alcançado pela prorrogação de contratos – (Info 615) – IMPORTANTE!!!

Se a locação residencial foi celebrada por escrito e com prazo igual ou superior a 30
meses, quando chegar ao fim o prazo estipulado, termina o contrato e o locador
poderá pedir a retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar qualquer
justificativa. Diz-se, assim, que o locador pode fazer a chamada “denúncia vazia”.
Isso está previsto no art. 46 da Lei nº 8.245/91.
Vale ressaltar, contudo, que não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30
meses, exigido pelo art. 46 da Lei 8.245/91, é atingido com as sucessivas
prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano.
Em outras palavras, o art. 46 da Lei 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um
único instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses,
não sendo possível contar as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios
(accessio temporis) para se atingir esse prazo de 30 meses.
Ex: o contrato de locação foi celebrado por 12 meses; depois foi prorrogado mais
duas vezes, totalizando 36 meses; não se aplica o art. 46 porque o período mínimo
de 30 meses foi alcançado com prorrogações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/11/17
(Info 615).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João alugou seu apartamento para Pedro. O
contrato foi celebrado por prazo determinado e com duração de 12 meses
(janeiro/2013 a janeiro/2014). Chegando em janeiro de 2014, as partes fizeram novo
contrato escrito prorrogando o ajuste inicial por mais 12 meses (janeiro/2014 a
janeiro/2015). Em janeiro de 2015, Pedro solicitou nova prorrogação e João aceitou,
tendo sido firmado novo contrato com duração de 12 meses (janeiro/2015 a
janeiro/2016). Chegou janeiro de 2016 e João estava viajando e, por isso, não procurou
o inquilino. Em fevereiro de 2016, contudo, João notificou Pedro pedindo o
apartamento de volta e dizendo que não tinha mais interesse em renovar o contrato.
Pedro não concordou e afirmou que o locador somente poderia exigir o imóvel se
demonstrasse algum justo motivo, nos termos do art. 47 da Lei nº 8.245/91:
Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e com
prazo inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a
locação prorroga-se automaticamente, por prazo
indeterminado, somente podendo ser retomado o imóvel:
I - Nos casos do art. 9º;
II - em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a
ocupação do imóvel pelo locatário relacionada com o seu
emprego;
III - se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou
companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou
descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou
companheiro, de imóvel residencial próprio;
IV - se for pedido para demolição e edificação licenciada ou
para a realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que
aumentem a área construída, em, no mínimo, vinte por cento
ou, se o imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão,
em cinquenta por cento;
V - se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco
anos.
§ 1º Na hipótese do inciso III, a necessidade deverá ser
judicialmente demonstrada, se:
a) O retomante, alegando necessidade de usar o imóvel,
estiver ocupando, com a mesma finalidade, outro de sua
propriedade situado na mesma localidade ou, residindo ou
utilizando imóvel alheio, já tiver retomado o imóvel
anteriormente;
b) o ascendente ou descendente, beneficiário da retomada,
residir em imóvel próprio.
§ 2º Nas hipóteses dos incisos III e IV, o retomante deverá
comprovar ser proprietário, promissário comprador ou
promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão
na posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do
mesmo.

Em outras palavras, o inquilino afirmou que, no presente caso, em que o contrato de


locação é inferior a 30 meses, para a retomada do imóvel pelo locador exige-se
“denúncia cheia”.
Parêntese: chama-se de “denúncia vazia” a possibilidade de o locador solicitar a
retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar justificativas. Em contrapartida,
fala-se em “denúncia cheia” quando a lei exige, para a retomada do imóvel, que o
locador demonstre que existe alguma das hipóteses previstas na lei.

Ação de despejo: Diante da recusa do locatário, João ajuizou ação de despejo contra
Pedro postulando a desocupação do imóvel e a entrega das chaves. Afirmou que a
situação em tela não se enquadra no art. 47, mas sim no art. 46. Isso porque houve três
prorrogações do contrato (3 x 12 meses), de forma que o contrato firmado teve, no final
das contas, prazo superior a 30 meses, se computados os períodos de prorrogação.
Logo, aplica-se a regra do art. 46 da Lei nº 8.245/91, que preconiza:
Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual
ou superior a trinta meses, a resolução do contrato ocorrerá
findo o prazo estipulado, independentemente de notificação
ou aviso.
§ 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse
do imóvel alugado por mais de trinta dias sem oposição do
locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo
indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do
contrato.
§ 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o
contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias
para desocupação.

A tese de João foi acolhida pelo STJ? Nesta situação, aplica-se o art. 46 ou o art. 47
da Lei nº 8.245/91? NÃO. A tese de João não foi acolhida. Aplica-se o art. 47 da Lei. O
locador pretendia que o prazo de 30 meses fosse conseguido mediante o instituto
da “acessão de tempo” (acessio temporis), isto é, por meio da soma dos prazos dos
diversos contratos sucessivos. O STJ, contudo, não concordou com essa possibilidade.
Quando a Lei nº 8.245/91 quis adotar a accessio temporis, ela o fez expressamente,
como no caso do art. 51, II. Veja:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo,
desde que, cumulativamente:
(...)
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos
prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco
anos;

O art. 46, caput, por sua vez, traz a expressão “por prazo igual ou superior a trinta meses”,
sem permitir explicitamente a contagem de múltiplos contratos prorrogados. Assim,
a lei é clara quanto à imprescindibilidade do requisito temporal em um único
contrato, cujo objetivo é garantir a estabilidade contratual em favor do locatário.

Essa é também a opinião da doutrina:


“(...) Não se admite a soma de prazos contratuais para os fins
deste artigo. A lei é clara quando estabelece, como requisito,
contrato escrito por prazo igual ou superior a trinta meses, e
seu objetivo é claro: em troca da estabilidade contratual
conferida ao locatário, pelo prazo de dois anos e meio,
através de um só ajuste, compensa-se o locador com o direito
de retomar o prédio ao fim daquele prazo. Assim, não pode
aproveitar o locador a soma de mais de um contrato, ainda
que não tenha ocorrido hiato temporal entre eles, porque
ausente aquela compensação acima referida" (BARROS,
Francisco Carlos Rocha de. Comentários à lei do inquilinato.
São Paulo: Saraiva, 1997, p. 232)

Nesse contexto, fica evidente que o art. 46 da Lei do Inquilinato somente admite a
denúncia vazia se um único instrumento negocial estipular o prazo igual ou
superior a 30 (trinta) meses, não se podendo atingir esse número de 30 meses com
base em sucessivas prorrogações.

30.2. É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que
pagou ao locador – (Info 605)

É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto
de contrato de locação pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os
locatários inadimplentes.
O termo inicial deste prazo é a data em que houve o pagamento do débito pelo
fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de
consequência, inaugura-se ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a
satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/5/2017 (Info
605).

30.3. Se o locatário foi à falência, mas não houve denúncia do contrato de locação, o
fiador permanece vinculado à obrigação – (Info 602)

A decretação de falência do locatário, sem a denúncia da locação, nos termos do


art. 119, VII, da Lei 11.101/05, não altera a responsabilidade dos fiadores junto ao
locador.
Art. 119. Nas relações contratuais a seguir mencionadas
prevalecerão as seguintes regras:
VII – a falência do locador não resolve o contrato de locação
e, na falência do locatário, o administrador judicial pode, a
qualquer tempo, denunciar o contrato;
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.048-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/17 (Info 602).
OBS:
 Em regra, o contrato de locação permanece em vigor mesmo ocorrendo a
falência da locatária.
 Exceção: o administrador judicial poderá, a qualquer tempo, denunciar o
contrato, ou seja, declarar que deseja encerrar a locação.

Assim, a falência do locatário não resolve o contrato de locação, salvo se o


administrador judicial fizer a denúncia do contrato.

Se o administrador judicial não fizer a denúncia do contrato, os fiadores permanecerão


vinculados normalmente ao ajuste. É o que foi decidido pelo STJ.
30.4. Termo inicial do prazo para purgação da mora. Não cabimento de purgação
complementar da mora caso os valores tenham sido contestados pelo locatário –
IMPORTANTE!!! CUIDADO COM ALGUNS LIVROS!!!

Termo inicial do prazo para purgação da mora


Na ação de despejo por falta de pagamento, o locatário ou o fiador poderão evitar a
rescisão da locação efetuando, no prazo de 15 dias, contado da citação, o pagamento
do débito atualizado mediante depósito judicial (art. 62, II, da Lei nº 8.245/91).
A partir de quando começa a ser contado este prazo que o requerido possui para
purgar a mora? O que o art. 62, II, da Lei quer dizer quando fala "contado da
citação"?
O prazo de 15 dias para purgação da mora deve ser contado a partir da juntada aos
autos do mandado de citação ou aviso de recebimento devidamente cumprido.

Não cabimento de purgação complementar da mora caso os valores tenham sido


contestados pelo locatário
A contestação de parte do débito na ação de despejo por falta de pagamento é
incompatível com a intimação do locatário para fins de complementação do
depósito em relação às parcelas tidas por ele como indevidas.
Não se deve intimar o locatário para efetuar a purgação complementar da mora (art.
62, III, da Lei 8.245/91) se houve manifestação contrária de sua parte, em
contestação, quanto à intenção de efetuar o pagamento das parcelas não
depositadas.
Em outras palavras, se o locatário, regularmente citado, contesta parte da dívida,
não cabe a sua intimação para complementar o depósito de emenda da mora e pagar
tais parcelas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.624.005-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 25/10/16
(Info 593).

30.5. Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel às
peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário – (Info 583)

Na hipótese de locação de imóvel comercial, salvo disposição contratual em sentido


contrário, a obrigação do locador restringe-se apenas à higidez e à compatibilidade
do imóvel ao uso comercial e não abrange a adaptação do bem às peculiaridades da
atividade a ser explorada pelo locatário ou mesmo o dever de diligenciar perante
os órgãos públicos para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença
necessária ao desenvolvimento do negócio.
Em outras palavras, na hipótese de locação comercial, a Lei não impõe ao locador o
encargo de adaptar o imóvel às peculiaridades da atividade que será explorada pelo
locatário. Também não obriga o locador a diligenciar junto aos órgãos públicos
para obter alvará de funcionamento ou qualquer outra licença necessária ao
desenvolvimento do negócio. Essas são obrigações do locatário, salvo se houver
alguma previsão contratual em sentido contrário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.731-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/4/16
(Info 583).
OBS:
A regularização do bem perante os órgãos públicos não está entre as obrigações
conferidas ao locador pelo art. 22, I, da Lei 8.245/91, sendo fato imputável
exclusivamente ao locatário.
Obrigação do locador de entregar imóvel que sirva ao uso a que se destina: Segundo
o art. 22, I, da Lei 8.245/91, o locador é obrigado a "entregar ao locatário o imóvel
alugado em estado de servir ao uso a que se destina". A locação urbana pode ser:
 para o uso residencial: destinado à moradia (arts. 46 e 47);
 para temporada: destinado à residência temporária do locatário, para prática
de lazer, realização de cursos, tratamento de saúde, feitura de obras em seu
imóvel, e outros fatos que decorrem apenas de determinado tempo, e
contratada por prazo não superior a 90 dias, esteja ou não mobiliado o imóvel
(arts. 48 a 50); ou
 para o uso comercial: destinado para instalação de escritórios, comércio,
indústria ou qualquer outra atividade que não seja residencial (arts. 51 a 57).

Quando o art. 22, I, afirma que é dever do locador entregar ao locatário o imóvel de
forma compatível com o uso a que se destina, o que se está dizendo é que ele deve ser
entregue com condições de ser utilizado para locação residencial, para temporada ou
comercial (a depender do caso).

Postura colaborativa do locador: Vale ressaltar, no entanto, que o locador, em virtude


dos chamados deveres anexos à boa-fé (deveres de informação, cooperação, lealdade
e probidade) tem a obrigação de colaborar com o locatário fornecendo os documentos
e as informações necessárias à implementação da atividade no imóvel objeto da
locação.
Isso, contudo, é diferente de ele ter a obrigação de resolver os entraves.

30.6. Período de incidência do valor estipulado em ação revisional de aluguel de


imóvel não residencial – (Info 578)

O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de imóvel não residencial não


tem sua incidência limitada ao período compreendido entre a citação e o termo final
do contrato original de locação, devendo incidir até a efetiva entrega das chaves
caso a locação venha a ser prorrogada por prazo indeterminado em razão da
permanência do locatário no imóvel (art. 56, parágrafo único, da Lei Nº 8.245/91).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
1º/3/2016 (Info 578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "A" era proprietária do imóvel "X",
que estava alugada para a empresa "B". O contrato de locação tinha vigência de 10
anos (iniciou em março/2005 e só terminaria em março/2015). O valor do aluguel era
o mesmo desde o início da vigência do contrato e a locatária não aceitava reajustá-lo.
Diante disso, em 2013, a empresa "A", ajuizou ação revisional de aluguel objetivando
readequar o valor do contrato, que estava defasado. O pedido da autora foi baseado
no art. 19 da Lei nº 8.245/91:

Art. 19. Não havendo acordo, o locador ou locatário, após três


anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente
realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de
ajustá-lo ao preço de mercado.
O art. 19 da Lei nº 8.245⁄1991, ao regular a possibilidade de revisão judicial do aluguel
avençado, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado, "consagrou a adoção da teoria da
imprevisão no âmbito do Direito Locatício, oferecendo às partes contratantes um
instrumento jurídico para a manutenção do equilíbrio econômico do contrato" (AgRg
no REsp nº 1.206.723/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/10/2012).

Vale ressaltar que o valor do aluguel era de R$ 10 mil e a autora queria fixá-lo em R$
30 mil.

O juiz julgou o pedido procedente e, com base em laudo pericial, fixou o valor do
aluguel mensal em R$ 30 mil, condenando a ré/locatária (empresa "B") a pagar este
novo valor de forma retroativa à data da citação. A ré interpôs recurso de apelação
contra a sentença.

Enquanto o recurso não é julgado, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na
sentença (R$ 30 mil)? SIM. Segundo a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), os recursos
interpostos contra a sentença que julga ação revisional de aluguel devem ser recebidos
apenas no efeito devolutivo:

Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do


art. 1º, nas ações de despejo, consignação em pagamento de
aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e
renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte:
(...)
V - os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito
somente devolutivo.

Dessa forma, mesmo enquanto aguarda o recurso, a ré já terá que pagar o novo valor
fixado na sentença (R$ 30 mil).

Chegou ao fim o prazo de vigência do contrato: Suponha que chegou o termo final do
contrato (março/2015), mas mesmo assim a locatária (empresa "B") decidiu
permanecer no imóvel sem oposição formal do locador ("A"). Neste caso, o contrato,
que era por prazo determinado, tornou-se indeterminado, nos termos do parágrafo
único do art. 56:

Art. 56. Nos demais casos de locação não residencial, o


contrato por prazo determinado cessa, de pleno direito, findo
o prazo estipulado, independentemente de notificação ou
aviso.
Parágrafo único. Findo o prazo estipulado, se o locatário
permanecer no imóvel por mais de trinta dias sem oposição
do locador, presumir-se-á prorrogada a locação nas condições
ajustadas, mas sem prazo determinado.

Aí, no entanto, surgiu mais uma polêmica. A empresa "B" (locatária) fez o seguinte: a
partir do momento em que o contrato tornou-se por prazo indeterminado, ela voltou
a pagar somente R$ 10 mil de aluguel, argumentando que, conforme estabelece o
parágrafo único acima transcrito, a locação foi prorrogada "nas condições ajustadas"
e, segundo o contrato, o valor era de apenas R$ 10 mil. O valor de R$ 30 mil não estava
previsto no contrato, sendo pago por força de decisão judicial.
A tese da locatária foi aceita pelo STJ? NÃO. Nas hipóteses de prorrogação de
contrato por prazo indeterminado, o locatário deverá observar o valor reajustado do
aluguel. Isso porque a razão de ser da revisão de aluguéis é justamente assegurar a
manutenção do equilíbrio do contrato de locação diante das modificações da realidade
do mercado, a fim de evitar injusto prejuízo ou enriquecimento sem causa a ambas as
partes.

Seria ilógico admitir que o Poder Judiciário apontasse o novo valor dos aluguéis para
o período de vigência do contrato de locação, mas tal valor fosse desconsiderado em
caso de prorrogação da avença por prazo indeterminado.

Desse modo, uma vez reajustado o valor do aluguel por meio do ajuizamento de ação
revisional, é o valor revisado, e não o originalmente pactuado, que será devido na
hipótese de prorrogação da avença perpetrada nos moldes do previsto no parágrafo
único do art. 56 da Lei nº 8.245/91.

30.7. Processamento de ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis durante


o recesso forense – (Info 578)

A Lei nº 8.245/91 prevê que alguns processos envolvendo locações urbanas


tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste
período (art. 58, I). São eles: a) ações de despejo; b) ações de consignação em
pagamento de aluguel e acessório da locação; c) ações revisionais de aluguel; d)
ações renovatórias de locação.
A ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá tramitar durante
as férias forenses? Não. A ação de despejo enquadra-se no art. 58, I, mas a ação de
cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza ambas, de forma
cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima mencionado.
Em suma, nos casos em que há cumulação da ação de despejo com a cobrança de
aluguéis, os prazos processuais (inclusive para recursos) ficam suspensos durante
o recesso forense.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
1º/3/2016 (Info 578).
Tramitação durante as férias forenses: Em regra, durante as férias forenses (recesso
forense do final do ano), os processos e prazos judiciais ficam suspensos. A Lei
8245/91 prevê, no entanto, que alguns processos envolvendo locações urbanas
tramitam mesmo durante as férias forenses e não se suspendem mesmo neste período
(art. 58, I). São eles:
 Ações de despejo;
 Ações de consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação;
 Ações revisionais de aluguel;
 Ações renovatórias de locação.

Se o locador ajuíza contra o locatário ação de despejo cumulada com ação de


cobrança de aluguéis, esta demanda se enquadrará no art. 58, I, da Lei nº 8.245/91? Em
outras palavras, a ação de despejo cumulada com ação de cobrança de alugueis irá
tramitar durante as férias forenses? NÃO. A ação de despejo enquadra-se no art. 58,
I, mas a ação de cobrança não. Assim, a partir do momento em que o autor ajuíza
ambas, de forma cumulada, a situação não mais se amolda ao dispositivo legal acima
mencionado.
Portanto, o processo que envolve ação de despejo cumulada com cobrança de aluguéis
não tramita durante o recesso forense. Este processo ficará suspenso. Foi o que decidiu
o STJ.

30.8. Base de cálculo de multa em caso de cláusula com desconto de bonificação –


(Info 572)

Na hipótese em que, na data de vencimento, o valor do aluguel seja cobrado com


incidência de desconto de bonificação, a multa prevista para o caso de atraso no
pagamento deverá incidir sobre o valor do aluguel com o referido desconto.
STJ. 4ª Turma. REsp 832.293-PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 20/8/15 (Info 572).

30.9. LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO: Legitimidade para cobrança de aluguéis


vencidos em data anterior à da alienação do imóvel – (Info 558)

O proprietário de um imóvel alugado vende este bem para outra pessoa. Se houver
alugueis atrasados, quem tem legitimidade para cobrá-los: o antigo ou o novo
proprietário?
Em regra, o antigo. O antigo proprietário (alienante) tem legitimidade para cobrar
os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel.
O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha
ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.228.266-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
10/3/2015 (Info 558).

30.10. Denúncia de contrato de locação de imóvel onde funciona hospital – (Info 547)

O art. 53 da Lei 8.245/91 estabelece que o locador de imóvel utilizado por hospitais
somente poderá fazer a denúncia do contrato se houver uma dos motivos elencados
na lei. É a chamada “denúncia cheia”.
O STJ confere interpretação restritiva ao art. 53 e afirma que ele não protege o local
em que são desempenhadas as atividades administrativas de estabelecimentos de
saúde.
Assim, pode haver denúncia vazia de contrato de locação de imóvel não residencial
ocupado por instituição de saúde apenas para o desempenho de atividades
administrativas, como marcação de consultas e captação de clientes, não se
aplicando o benefício legal previsto no art. 53 da Lei de Locações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.960-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/9/2014 (Info 547).
OBS1: Assim, segundo o art. 53 da Lei n 8245/91, o locador de imóvel utilizado por
hospitais somente poderá fazer a denúncia do contrato nas seguintes hipóteses:
a) mútuo acordo;
b) prática de infração legal ou contratual;
c) falta de pagamento do aluguel e demais encargos;
d) realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público;
e) pedido do proprietário para demolição do imóvel locado, edificação, ou
reforma que venha a resultar em aumento mínimo de 50% da área útil.

OBS2: O art. 53 da Lei de Locações não alcança o local em que são desempenhadas as
atividades administrativas de estabelecimentos de saúde. Assim, pode haver denúncia
vazia de contrato de locação de imóvel não residencial ocupado por instituição de
saúde apenas para o desempenho de atividades administrativas, como marcação de
consultas e captação de clientes, não se aplicando o benefício legal previsto no art. 53
da Lei de Locações.

30.11. Incidência da Lei 8.245/91 aos imóveis locados por empresa pública – (Info 542)
– IMPORTANTE!!!

As empresas públicas são dotadas de personalidade jurídica de direito privado e,


ressalvadas as hipóteses constitucionais, sujeitam-se ao regime jurídico próprio das
empresas privadas, inclusive nas relações jurídicas contratuais que venham a
manter. (Decreto-lei 200/1967 e a art. 173, § 1º, da CF/88).
Assim, se uma empresa pública realiza contrato de locação comercial de imóvel de
sua propriedade, sendo o imóvel locado bem de natureza privada, o contrato
locatício firmado também é de natureza privada, e não administrativa,
submetendo-se à Lei de Locações.
O art. 1º, “a”, “1” da Lei 8.245/91 somente exclui do seu âmbito as locações de
imóveis de propriedade da União, dos Estados e dos Municípios, de suas
autarquias e fundações públicas. Logo, as empresas públicas e sociedades de
economia mista submetem-se à Lei n. 8.245/91.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.224.007-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/4/14 (Info 542).
OBS:
Se o locatário obedecer os requisitos do art. 51 da Lei 8.245/91, ele terá direito à
renovação da locação comercial? SIM. Se a empresa pública realizou contrato de
locação comercial de imóvel de sua propriedade, ela não pode escusar-se de renovar
o contrato na hipótese em que o locatário tenha cumprido todos os requisitos exigidos
pela Lei de Locações (Lei 8.245/1991) para garantir o direito à renovação. Assim
sendo, tendo o locatário obedecido a todos os requisitos exigidos na referida lei para
garantir o direito à renovação do contrato, não é possível à locadora escusar-se da
renovação.

31. FIANÇA
31.1. A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal
prejudica o fiador – (Info 602)
31.2. A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o
devedor afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários – (Info
602)

A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal prejudica o


fiador
Em regra, o ato interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente
aproveitará a quem o promover ou prejudicará aquele contra quem for dirigido
(persona ad personam non fit interruptio). Isso está previsto no art. 204 do CC.
Exceção a esta regra: interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via
de consequência, estará interrompida a prescrição contra o fiador em razão do
princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o principal), nos termos do art.
204, § 3º, do CC:
§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor
prejudica o fiador.

A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o devedor


afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários
Como regra, a interrupção operada contra o fiador não prejudica o devedor
afiançado. Isso porque o principal não segue a sorte do acessório.
Existe, no entanto, uma exceção: a interrupção em face do fiador poderá, sim,
excepcionalmente, acabar prejudicando o devedor principal nas hipóteses em que
a referida relação for reconhecida como de devedores solidários, ou seja, caso o
fiador tenha renunciado ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou
devedor solidário.
STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. REsp 1.276.778-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.
28/3/17 (Info 602).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro aluga seu apartamento para Rui
(locatário). João, melhor amigo de Rui, aceita figurar no contrato como fiador.
Suponhamos que Rui deixa de pagar o aluguel do mês de janeiro de 2014. Como o
contrato ainda estava em vigor e Pedro não queria confusão naquela época, resolveu
esperar mais um pouco.

Situação 1. Ação proposta contra o devedor principal:


Em janeiro de 2017, Pedro ajuíza ação de cobrança contra Rui (devedor principal).
A ação proposta contra o locatário interrompe o prazo de prescrição contra o fiador?
Imaginemos que a ação contra Rui não tem êxito (ex: ele não tinha bens).
O prazo de prescrição para que o locador ajuíze a ação agora contra o fiador foi
interrompido com a ação proposta contra o devedor principal? SIM. Em regra, o ato
interruptivo da prescrição apresenta caráter pessoal e somente aproveitará a quem o
promover ou prejudicará aquele contra quem for dirigido (persona ad personam non fit
interruptio). Isso está previsto no caput do art. 204 do CC:
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não
aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção
operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica
aos demais coobrigados.

A situação será diferente, no entanto, no caso de ação proposta contra o devedor


principal. Interrompida a prescrição contra o devedor afiançado, por via de
consequência, estará também interrompida a prescrição contra o fiador. Isso por causa
do chamado “princípio da gravitação jurídica” segundo o qual o acessório segue a
sorte do principal. Veja o que diz o § 3º do art. 204 do CC:
§ 3º A interrupção produzida contra o principal devedor
prejudica o fiador.

Assim, quando Pedro ajuizou, em 2017, ação contra o devedor principal, houve
interrupção do prazo prescricional não apenas contra este (Rui), mas também contra
o fiador (João).
Apenas um esclarecimento: o locador poderia ter ajuizado a ação diretamente contra
o devedor principal e contra o fiador.

Situação 2. Ação proposta contra o fiador


Vamos mudar agora o exemplo.
Suponhamos que, em janeiro de 2017, Pedro ajuíza ação de cobrança contra João
(fiador).
A ação proposta contra o fiador interrompe o prazo de prescrição contra o devedor
afiançado? Imaginemos que a ação contra João não tem êxito (ex: ele não tinha bens).
O prazo de prescrição para que o locador ajuíze a ação agora contra o devedor
principal foi interrompido com a ação proposta contra o devedor principal? NÃO.

31.3. Fiança limitada e honorários advocatícios – (Info 595)

A fiança limitada decorre da lei e do contrato, de modo que o fiador não pode ser
compelido a pagar valor superior ao que foi avençado, devendo responder tão
somente até o limite da garantia por ele assumida, o que afasta sua
responsabilização em relação aos acessórios da dívida principal e aos honorários
advocatícios, que deverão ser cobrados apenas do devedor afiançado.
Por se tratar de contrato benéfico, as disposições relativas à fiança devem ser
interpretadas de forma restritiva (art. 819 do CC), razão pela qual, nos casos em que
ela é limitada (art. 822), a responsabilidade do fiador não pode superar os limites
nela indicados.
Ex: indivíduo outorgou fiança limitada a R$ 30 mil; significa que ele não terá
obrigação de pagar o que superar esta quantia, mesmo que esse valor a maior seja
decorrente das custas processuais e honorários advocatícios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.482.565-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info
595).
OBS:
O que é fiança? Fiança é um tipo de contrato por meio do qual uma pessoa (chamada
de “fiadora”) assume o compromisso junto ao credor de que irá satisfazer a obrigação
assumida pelo devedor, caso este não a cumpra (art. 818 do Código Civil).

Características do contrato de fiança


a) Acessório: pressupõe a existência de um contrato principal. Em nosso exemplo, o
contrato principal é a abertura de crédito e a fiança é um ajuste acessório a esse.

b) Formal: afirma-se que a fiança é um contrato formal porque exige a forma escrita
(art. 819 do CC). Logo, não é válida a fiança verbal. Contrato formal é diferente de
solene. A fiança é formal (precisa de forma escrita), mas não é solene, já que não exige
escritura pública.

c) Gratuito ou benéfico: na grande maioria dos casos, a fiança é gratuita, considerando


que o fiador não terá nenhuma prestação em seu favor, nada recebendo em troca da
garantia prestada. Vale ressaltar, no entanto, que é possível que o fiador seja
remunerado por esse serviço e, então, o contrato passa a ser oneroso (fiança onerosa).
É o caso, por exemplo, da fiança bancária na qual o banco aceita ser fiador de
determinada pessoa em troca de uma remuneração por conta disso.
d) Subsidiário: em regra, a fiança é subsidiária porque depende de inexecução do
contrato principal. Todavia, é possível (e muito comum) que haja a previsão da
cláusula de solidariedade, segundo a qual o fiador renuncia ao benefício de ordem e
assume o compromisso de poder ser diretamente acionado em caso de dívida.

e) Unilateral: em regra, a fiança gera obrigação apenas para o fiador (satisfazer o


credor caso o devedor não cumpra a obrigação). Normalmente, nem o credor nem o
devedor possuem obrigações para com o fiador. Exceção: na fiança remunerada, o
devedor tem a obrigação de pagar uma quantia ao fiador por ele ter oferecido esse
serviço.

f) Não admite interpretação extensiva: as cláusulas do contrato de fiança devem ser


interpretadas restritivamente. Assim, em caso de dúvida sobre a interpretação das
cláusulas, a exegese deverá ser feita em favor do fiador. Isso se justifica porque a
fiança, em regra, é um contrato gratuito. Logo, não seria justo que, por meio de
interpretações extensivas, o fiador assumisse obrigações que ele não expressamente
aceitou no pacto escrito. Desse modo, o fiador responde somente por aquilo que
declarou no contrato de fiança. Ex.: Ricardo assinou contrato de fiança afirmando que
pagaria os alugueis caso Fabiano (locatário) ficasse em atraso. Fabiano pagou todos os
alugueis, mas, após a devolução do apartamento, o locador percebeu que ele deixou a
bancada de mármore da cozinha quebrada. Se o contrato de fiança não mencionava a
responsabilidade do fiador por avarias no imóvel, não será possível que o locador
cobre essa despesa de Ricardo.

Extensão da fiança (limitada ou ilimitada): Quanto à sua extensão, a fiança poderá


ser classificada em:
 Ilimitada: ocorre quando a garantia concedida pelo fiador abrange a
integralidade da obrigação, incluindo as parcelas acessórias da dívida
principal (exs: multa contratual, juros de mora e atualização monetária)
 Limitada: ocorre quando o fiador manifesta, de forma expressa, que só está se
responsabilizando por determinada parcela da obrigação. Na fiança limitada,
o fiador poderá dizer que está se responsabilizando apenas pela obrigação
principal e que não pagará despesas acessórias (ex: eu, fiador, me comprometo
a pagar apenas os alugueis que o inquilino não quitar, mas não arcarei com
multa ou quaisquer outras verbas acessórias). Existe também a possibilidade
de a fiança limitada abranger até mesmo apenas uma parte da obrigação
principal (ex1: eu, fiador, me comprometo a pagar até o máximo de 70% da
dívida principal, caso o devedor não cumpra sua parte; ex2: me comprometo
a pagar os alugueis que não forem quitados, desde que isso não ultrapasse R$
30 mil).

No silêncio, a fiança é ilimitada: A regra é que a fiança seja ilimitada (total, universal).
Assim, se o fiador quiser se responsabilizar apenas por parte da obrigação, isso deverá
ser expressamente consignado no contrato. Em caso de silêncio por parte do fiador
(ou seja, se o contrato não falar nada), entende-se que a fiança foi concedida de forma
ilimitada. Um exemplo típico é a fiança locatícia. Se o fiador não fizer nenhuma
ressalva no contrato, a fiança por ele concedida será ilimitada, englobando todos os
alugueis devidos e outras parcelas acessórias, como as taxas de condomínio, IPTU,
danos provocados pelo inquilino ao imóvel, despesas judiciais com a cobrança dos
alugueis e todas as demais obrigações que forem do locatário por força do contrato.
Veja o que diz o Código Civil sobre o tema:
Art. 822. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os
acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais,
desde a citação do fiador.
Art. 823. A fiança pode ser de valor inferior ao da obrigação
principal e contraída em condições menos onerosas, e, quando
exceder o valor da dívida, ou for mais onerosa que ela, não
valerá senão até ao limite da obrigação afiançada.

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: Pedro aluga seu
apartamento para Rui (locatário). João, melhor amigo de Rui, aceita figurar no
contrato como fiador. No ajuste, ficou consignado que o valor máximo da garantia
outorgada pelo fiador seria de R$ 30 mil. Após um ano, Rui devolve o apartamento,
ficando devendo, contudo, quatro meses de aluguel. Pedro ajuíza ação contra João
cobrando o valor devido. O juiz condenou o réu a pagar um total de R$ 50 mil, sendo
referente às seguintes parcelas:
 R$ 40 mil, de alugueis atrasados (dívida principal);
 R$ 5 mil de custas e despesas processuais;
 R$ 5 mil de honorários advocatícios.

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. O fiador outorgou fiança limitada até R$ 30


mil. Isso significa que a sua responsabilidade pela dívida não pode ultrapassar tal
quantia. O fiador de uma obrigação certa e determinada não responde por nenhuma
outra obrigação. Assim, qualquer crédito do locador que supere referido valor haverá
de ser cobrado unicamente do locatário.

O credor alegou que, mesmo sendo a fiança limitada, os honorários advocatícios


deveriam ser pagos pelo fiador, considerando que tal limitação não afeta a
condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, que tem como causa não a
fiança, mas a instauração e perda da demanda. Além disso, o credor argumentou que
honorários advocatícios não são o mesmo que despesas judiciais. Logo, os honorários
não se enquadram no art. 822 do CC. Essa tese foi acolhida pelo STJ? NÃO. Tendo o
fiador contratado uma fiança limitada, a interpretação mais consentânea com o
sentido teleológico da norma é a que exclui a sua obrigação de responder tanto pelas
"despesas judiciais" quanto pelos honorários advocatícios. Esse entendimento mostra-
se alinhado com a necessidade de que os negócios jurídicos benéficos sejam
interpretados estritamente. Não admitir interpretação extensiva significa dizer que o
fiador não responderá senão, precisamente, por aquilo que declarou no instrumento
da fiança, razão pela qual a extensão da cobertura deverá ser sempre definida de
forma prévia e expressa, porque o ato de assumir obrigação de outrem deve traduzir
manifestação positiva e certa da vontade. Em caso de dúvida, a interpretação deverá
ocorrer a favor de quem presta a fiança. Assim, quando o art. 822 do CC afirma que a
fiança limitada não compreende os acessórios da dívida principal e as "despesas
judiciais", deve-se interpretar que a fiança limitada também não abrange os honorários
sucumbenciais.

31.4. Termo inicial do prazo para herdeiro pleitear anulação de fiança – (Info 581)
O prazo decadencial para herdeiro do cônjuge prejudicado pleitear a anulação da
fiança firmada sem a devida outorga conjugal é de dois anos, contado a partir do
falecimento do consorte que não concordou com a referida garantia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.273.639-SP, Rel. Luis Felipe Salomão, j. 10/3/16 (Info 581).

31.5. Cláusula que prevê prorrogação da fiança em caso de prorrogação do contrato


principal – (Info 565) – IMPORTANTE!!! ATUALIZE O INFO 534 DO STJ!!! (TJRJ-
2016)

É válida a cláusula que prevê a prorrogação automática da fiança em caso de


prorrogação do contrato principal?
SIM. É lícita (e, portanto, válida) cláusula em contrato de mútuo bancário que
preveja expressamente que a fiança prestada prorroga-se automaticamente com a
prorrogação do contrato principal.
Em regra, a fiança não se estende além do período de tempo previsto no contrato.
Justamente por isso, para que a fiança seja prorrogada, é preciso a concordância
expressa do fiador. Sobre o tema, o STJ editou, inclusive, um enunciado: Súmula
214-STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
aditamento ao qual não anuiu.
No entanto, o STJ decidiu que é válido que o contrato preveja uma cláusula dizendo
que, em caso de prorrogação do contrato principal, a fiança (pacto acessório)
também será prorrogada. Havendo expressa e clara previsão contratual da
manutenção da fiança, em caso de prorrogação do contrato principal, o pacto
acessório também é prorrogado automaticamente, seguindo a sorte do principal.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.253.411-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/6/2015 (Info 565).
STJ. 3ª Turma. AgRg no AREsp 731.315/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
03/09/2015.

31.6. Ilegitimidade ativa do fiador para pleitear em juízo a revisão do contrato


principal – (Info 560)

Pedro faz um contrato de mútuo bancário, ou seja, toma dinheiro emprestado de


um banco. João aceita figurar no contrato como fiador. Depois de algum tempo,
João vê que os juros bancários são muito altos e, preocupado com eventual
inadimplência, resolve ingressar, em nome próprio, com uma ação contra o Banco
pedindo a revisão do contrato sob a alegação de que os juros são abusivos e, por
isso, merecem ser reduzidos. João tem legitimidade para propor essa demanda?
NÃO. O fiador de mútuo bancário NÃO tem legitimidade para, exclusivamente e
em nome próprio, pleitear em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e
encargos abusivos constantes do contrato principal.
O fiador até possui interesse de agir, mas falta-lhe LEGITIMAÇÃO, já que ele não
é titular do direito material que se pretende tutelar em juízo (não foi ele quem
assinou o contrato de mútuo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.178.616-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 14/4/15
(Info 560).

32. BEM DE FAMÍLIA


32.1. Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado
– (Info 591)

Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel


RESIDENCIAL do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família."
A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é
impenhorável o único imóvel COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando
o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento de locação residencial por
sua entidade familiar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 15/9/16 (Info 591).
OBS:
ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA: No Brasil, atualmente, existem duas espécies de
bem de família:
a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil);
b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90).

BEM DE FAMÍLIA LEGAL: O bem de família legal consiste no imóvel residencial


próprio do casal ou da entidade familiar. Considera-se residência um único imóvel
utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Na hipótese
de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver
sido registrado para esse fim no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem
de família convencional).

PROTEÇÃO CONFERIDA AO BEM DE FAMÍLIA LEGAL: O bem de família legal é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos
que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei
8.009/90.

Situação 1: João possui em seu nome um único imóvel, qual seja, um apartamento que
está alugado para terceiro por R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma
casa alugada em um bairro mais simples, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a
locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família.
João está sendo executado e o juiz determinou a penhora do apartamento que está em
seu nome

Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família?


SIM. Veja o que diz o seguinte enunciado:
Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial
do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda
obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 28/06/2012, DJe
01/08/2012.

A Lei conceitua o que seja imóvel residencial para fins de impenhorabilidade:


Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta
lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo
casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar,
ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se
outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de
Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.

Desse modo, pela redação legal, só seria impenhorável o imóvel próprio utilizado pelo
casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. No entanto, o STJ ampliou
a proteção ao bem de família, conforme pudemos observar pela Súmula 486.

Assim, se um casal, uma entidade familiar ou mesmo uma pessoa solteira e sozinha,
possui um imóvel residencial “X” e o aluga, pela redação da lei ele não seria bem de
família legal e poderia ser penhorado. Entretanto, o STJ afirma que esse imóvel poderá
ser considerado também impenhorável desde que cumpridos os seguintes requisitos:
 O imóvel alugado seja o único do devedor;
 A renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia.

O STJ assim decide porque entende que, em uma interpretação teleológica e


valorativa, o objetivo da norma é o de garantir a moradia familiar ou a subsistência da
família.

Situação 2: Pedro possui em seu nome um único imóvel, qual seja, uma sala comercial
que está alugada para uma empresa, que explora no local uma loja, pagando ao
proprietário R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada,
pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da
sua casa e para a subsistência da família. Pedro está sendo executado e o juiz
determinou a penhora da sala comercial que está em seu nome.

Esta penhora poderá ser desconstituída invocando a proteção do bem de família?


SIM. Se você observar bem a redação da Súmula 486 do STJ verá que esta situação 2
não está abrangida na proteção por ela conferida. Em outras palavras, a redação literal
do enunciado protege como bem de família apenas o imóvel residencial do devedor
que esteja locado a terceiros (não inclui o imóvel comercial). Seguindo uma tendência,
o STJ, nesta decisão, ampliou a abrangência da súmula 486 e entendeu que o imóvel
comercial também pode gozar da proteção como bem de família caso esteja locado
para terceiro e a renda obtida seja utilizada para o pagamento da moraria do
proprietário.

32.2. Penhorabilidade de bem de família dado em hipoteca não registrada – (Info


585) – IMPORTANTE!!!

O art. 3º da Lei 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser
penhorado. O inciso V afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo
bem de família, se ele foi dado como hipoteca (garantia real) de uma dívida em
favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o bem
de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.
Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de
Registro de Imóveis. Assim, a ausência de registro da hipoteca em cartório de
registro de imóveis não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no
art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.
Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser
utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/6/16 (Info
585).
OBS:
ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA: No Brasil, atualmente, existem duas espécies de
bem de família:
a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil);
b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90).

BEM DE FAMÍLIA LEGAL: O bem de família legal consiste no imóvel residencial


próprio do casal ou da entidade familiar. Considera-se residência um único imóvel
utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. Na hipótese
de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver
sido registrado para esse fim no Registro de Imóveis e na forma do Código Civil (bem
de família convencional).

PROTEÇÃO CONFERIDA AO BEM DE FAMÍLIA LEGAL: O bem de família legal é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos
que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas na Lei
8.009/90.

A dívida deve ter sido contraída em favor do casal ou da entidade familiar: A exceção
prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 deve ser interpretada restritivamente e
somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas em
benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. STJ.
3ª Turma. REsp 1.115.265-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/4/2012.

É necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis?


NÃO. Mesmo que a hipoteca não esteja registrada, o ato de oferecimento do bem de
família em garantia real é considerado válido. Isso significa que, se a dívida não for
paga, será possível penhorar o imóvel, nos termos do art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.

A hipoteca pode ser constituída de três modos:


a) hipoteca convencional: por meio de contrato;
b) hipoteca legal: por meio de lei;
c) hipoteca judicial: por sentença.

O registro da hipoteca no cartório de Registro de Imóveis é indispensável para que ela


se constitua como direito real. Isso está previsto no art. 1.227 do CC:
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou
transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o
registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos
títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste
Código.

É essa inscrição no RI que confere à hipoteca a eficácia de direito real oponível erga
omnes. No entanto, apesar disso, a hipoteca convencional já tem validade inter partes,
como direito pessoal, desde o momento da assinatura do contrato.
Desse modo, a ausência de registro da hipoteca não a torna inexistente, mas apenas
válida inter partes como crédito pessoal. Logo, o fato de a hipoteca não ter sido
registrada não pode ser utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora
do bem de família, incidindo a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.

32.3. Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual


reside o sócio – (Info 579) – IMPORTANTE!!!

A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é


afastada pelo fato de o imóvel pertencer à sociedade empresária.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
3/3/2016 (Info 579).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A empresa "XX" ingressou com execução
cobrando R$ 500 mil da empresa "JJ". Foi encontrado um único imóvel em nome da
empresa executada: um apartamento. O juiz determinou a penhora desse imóvel para
pagamento da dívida. João, sócio da empresa "JJ", apresentou embargos de terceiro
provando que mora neste apartamento, de forma que o imóvel se constitui em bem de
família. A exequente impugnou o pedido afirmando que o imóvel está em nome da
empresa devedora e que a dívida é da pessoa jurídica. Dessa forma, não há motivo
para se conferir a proteção da impenhorabilidade do bem de família.

Qual das duas teses prevaleceu no STJ? O imóvel que está em nome da pessoa jurídica,
mas onde reside o sócio também goza da proteção como bem de família? SIM.

O STJ entende que, mesmo nos casos em que o imóvel pertence à pessoa jurídica, é
possível conferir a ele a proteção como bem de família se ele é utilizado como
residência pelos sócios. Nesse sentido:

(...) É impenhorável a residência do casal, ainda que de


propriedade de sociedade comercial, da qual os cônjuges são
sócios exclusivos. (...)
(STJ. 3ª Turma. REsp 356.077/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 30/08/2002).

O bem de família é um instituto que visa a assegurar o direito fundamento à moradia


(art. 6º, caput, da CF/88), sendo um corolário da dignidade da pessoa humana, razão
pela qual é preciso que seja dada uma interpretação ampliativa à proteção legal.

O benefício conferido pela Lei 8009/90 se trata de norma cogente, que contém
princípio de ordem pública, e sua incidência somente é afastada se caracterizada
alguma hipótese descrita no art. 3º do mesmo diploma.

32.4. Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido
extinção da punibilidade pelo cumprimento do sursis processual – (Info 575)
Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem
de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado
tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a
suspensão condicional do processo.
Aplica-se, no caso, a exceção prevista na primeira parte do inciso VI do art. 3º da
Lei nº 8.009/90 ("por ter sido adquirido com produto de crime").
A Lei nº 8.009/90 permite a penhora do bem de família adquirido com produto de
crime sem que para isso precise existir condenação na esfera criminal.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015
(Info 575).
OBS:
Se tivesse havido sentença absolutória: Apesar de não ter ficado expresso no julgado,
vale ressaltar que a situação seria diferente se o réu tivesse sido absolvido no processo
criminal com fundamento no art. 386, I e IV, do CPP. Nestes casos, a sentença penal
absolutória faria coisa julgada no cível (vincularia o juízo cível).
A sentença de extinção da punibilidade pelo cumprimento das condições impostas
na suspensão condicional do processo não é absolutória e não nega a existência do
fato nem a sua autoria.

32.5. Súmula 549-STJ – (Info 571)

Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de


contrato de locação. STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.

32.6. Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor – (Info 558)

A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família
para ser penhorado?
Em regra, NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção
conferida ao instituto de bem de família pela Lei 8009/90 é uma norma cogente, uma
questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício
renuncie à sua proteção.
Exceção: não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar
de bem de família na hipótese em que, mediante acordo homologado
judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo
para pagamento e a redução do valor de dívida que contraíra em benefício da
família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao
oferecimento de qualquer defesa, de modo que, descumprido o acordo, a execução
prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
5/3/2015 (Info 558).

32.7. Possibilidade de penhora do bem de família do fiador – (Info 552)

É possível penhorar a casa do fiador por dívidas decorrentes do contrato de locação?


SIM. É legítima a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de
locação. Isso porque o art. 3º, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade
do bem de família não se aplica no caso de dívidas do fiador decorrentes do
contrato de locação.
O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional e não viola o direito à moradia.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.363.368-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 12/11/14 (recurso
repetitivo) (Info 552).

32.8. Desconsideração da personalidade jurídica e impenhorabilidade do bem de


família dos sócios – (Info 549)

A desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária falida que


tenha sido decretada em decorrência de fraude contra a massa falida não implica,
por si só, o afastamento da impenhorabilidade dos bens de família dos sócios.
Em outras palavras, o simples fato de ter sido decretada a desconsideração da
personalidade jurídica, por si só, não permite que seja penhorado o bem de família
pertencente aos sócios, salvo se os atos que ensejaram a desconsideração também
se ajustarem às exceções legais previstas no art. 3º da Lei n. 8009/90. Tais exceções
devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo, por analogia ou esforço
hermenêutico, apanhar situações não previstas em lei, de modo a superar a proteção
conferida à entidade familiar.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.636-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/10/2014 (Info 549).

32.9. Executado que aliena o bem de família pratica fraude à execução? – (Info 545)

Existe fraude à execução quando o devedor, ciente de que existe execução contra si
proposta, aliena o bem de família?
O tema é polêmico, havendo decisões do STJ nos dois sentidos:
SIM NÃO
O devedor que aliena, gratuita ou Não há fraude à execução na alienação
onerosamente, o único imóvel, onde de bem impenhorável nos termos da
reside com a família, está abrindo mão Lei 8.009/90, tendo em vista que o bem
da proteção legal conferida ao bem de de família jamais será expropriado
família, na medida em que seu para satisfazer a execução, não tendo o
comportamento demonstra que o bem exequente nenhum interesse jurídico
não lhe serve mais à moradia ou em ver essa alienação considerada
subsistência. ineficaz.
Se o bem de família é doado a seu filho Precedentes:
menor impúbere dias após serem STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp
intimados para a execução tal 255.799/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes
circunstância revela que os devedores Maia Filho, j. 17/09/13.
tentam ocultar o bem e proteger o seu STJ. 4ª Turma. REsp 976.566/RS, Rel.
patrimônio, sacrificando o direito do Min. Luis Felipe Salomão, j. 20/04/10.
credor. Assim, com fundamento no
abuso de direito, é possível reconhecer
que houve fraude à execução e afastar a
proteção conferida pela Lei 8.009/90.
STJ. 3ª Turma. REsp 1364509/RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 10/06/14 (Info
545).
OBS:
O que fazer nos concursos públicos? Se a questão for discursiva, explicar a existência
das duas posições. Se a questão for objetiva, não deveria ser cobrada em prova, no
entanto, acontecendo isso o recomendável seria adotar o julgado mais recente,
divulgado neste Informativo 545.

32.10. Bem de família ocupado por familiar – (Info 543)

Se o executado possui um único imóvel residencial, mas quem mora nele é um


parente (ex: filho), mesmo assim esse imóvel será considerado como bem de
família, sendo impenhorável.
Em outras palavras, constitui bem de família, insuscetível de penhora, o único
imóvel residencial do devedor em que resida seu familiar, ainda que o proprietário
nele não habite.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.216.187-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 14/5/14 (Info
543).
(TJAM-2016-CESPE): É considerado bem de família, insuscetível de penhora, o
único imóvel residencial do devedor no qual resida seu familiar, ainda que ele,
proprietário, não habite no imóvel. BL: Info 543, STJ.

33. RESPONSABILIDADE CIVIL


33.1. A Súmula 403 do STJ não se aplica para divulgação de imagem vinculada a fato
histórico de repercussão social – (Info 614) – IMPORTANTE!!!

A Súmula 403 do STJ é inaplicável às hipóteses de divulgação de imagem vinculada


a fato histórico de repercussão social.
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a
indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Caso concreto: a TV Record exibiu reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela


Perez, tendo realizado, inclusive, uma entrevista com Guilherme de Pádua,
condenado pelo homicídio. Foram exibidas, sem prévia autorização da família,
fotos da vítima Daniela. O STJ entendeu que, como havia relevância nacional na
reportagem, não se aplica a Súmula 403 do STJ, não havendo direito à indenização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.329-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min.
Nancy Andrighi, j. 24/10/17 (Info 614).
OBS:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Em 2012, a Record exibiu uma
reportagem sobre o assassinato da atriz Daniela Perez, tendo realizado, inclusive, uma
entrevista com Guilherme de Pádua, condenado pelo homicídio. Na reportagem
foram exibidas fotos de Daniela. Diante disso, a mãe da vítima, a novelista Glória
Perez, ajuizou ação de indenização contra a rede Record alegando que houve violação
ao direito de imagem, que é protegido nos termos da Súmula 403 do STJ:
Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a
indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.

A presente situação enquadra-se na hipótese da Súmula 403 do STJ, gerando direito à


indenização? A veiculação não autorizada da imagem da filha da autora em
programa televisivo configura dano moral indenizável, além de ensejar a reparação
por danos materiais, haja vista o caráter comercial da reportagem? NÃO. A
sociedade possui o direito à memória em relação a fatos históricos de repercussão
social. Ao resgatar um fato histórico de repercussão social, a atividade jornalística
reforça a promessa em sociedade de que não queremos outros episódios de dor e
sofrimento, de que precisamos superar, em todos os tempos, a injustiça e a
intolerância. Registre-se que eventual abuso na transmissão do fato, cometido, entre
outras formas, por meio de um desvirtuado destaque da intimidade da vítima ou do
agressor, deve ser objeto de controle sancionador. Essa sanção, contudo, somente deve
ocorrer em caso de abuso do direito e não pelo simples fato de ser divulgado um fato
histórico.

Importante ressaltar que o STF, no julgamento da ADI 4815, estabeleceu interpretação


conforme a Constituição ao art. 20 do CC/02, para declarar que não é necessária
autorização prévia da pessoa biografada para a publicação de obras biográficas
literárias ou audiovisuais:
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária
autorização prévia do indivíduo biografado, das demais
pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização
prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com
a liberdade de expressão consagrada pela CF/88. As exatas
palavras do STF foram as seguintes: “É inexigível o
consentimento de pessoa biografada relativamente a obras
biográficas literárias ou audiovisuais, sendo por igual
desnecessária a autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas
ou ausentes”. Caso o biografado ou qualquer outra pessoa
retratada na biografia entenda que seus direitos foram
violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá
ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária, como
também por outras formas, tais como a publicação de ressalva,
de nova edição com correção, de direito de resposta etc. STF.
Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 10/6/15
(Info 789).

33.2. Policial que, fora de suas funções, prende vizinho por conta de xingamentos
sofridos, pratica ato ilícito que gera dano moral in re ipsa – (Info 612)

A privação da liberdade por policial fora do exercício de suas funções e com


reconhecido excesso na conduta caracteriza dano moral in re ipsa.
Durante uma discussão no condomínio, um morador, que é policial, algemou e
prendeu seu vizinho, após ser por ele ofendido verbalmente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.675.015-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/17 (Info 612).
33.3. Demora para ajuizar a ação e quantum dos danos morais – (Info 611)

A demora da pessoa em buscar a indenização por dano moral é um fator que, em


conjunto com as demais circunstâncias, pode influenciar na fixação do quantum
indenizatório. Assim, o julgador poderá reduzir a indenização a ser fixada em
virtude do fato de ter se passado um tempo muito grande entre o fato danoso e a
propositura da ação.
Esse entendimento, contudo, não se aplica quando os autores eram menores de
idade no momento do ato ilícito e somente ajuizaram a ação quando completaram
18 anos.
Assim, a demora na busca da compensação por dano moral, quando justificada pela
interrupção prescricional da pretensão dos autores – menores à época do evento
danoso – não configura desídia apta a influenciar a fixação do valor indenizatório.
Ex: João foi atropelado por um ônibus e faleceu, deixando dois filhos: Beatriz (1
ano) e Pedro (2 anos). 17 anos após o acidente, Pedro e Beatriz ajuizaram ação de
indenização por danos morais contra a empresa de ônibus pela perda de seu pai. O
fato de terem esperado completar 18 anos para proporem a ação não é motivo para
que a indenização seja reduzida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.971-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 12/9/17
(Info 611).

33.4. Responsabilidade civil por abandono material do pai em relação ao filho –


(Info 609) – IMPORTANTE!!!

A omissão voluntária e injustificada do pai quanto ao amparo MATERIAL do filho


gera danos morais, passíveis de compensação pecuniária.
O descumprimento da obrigação pelo pai, que, apesar de dispor de recursos, deixa
de prestar assistência MATERIAL ao filho, não proporcionando a este condições
dignas de sobrevivência e causando danos à sua integridade física, moral,
intelectual e psicológica, configura ilícito civil, nos termos do art. 186 do Código
Civil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.087.561-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 13/6/2017 (Info 609).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria viviam em união estável e
tiveram um filho, Lucas. Quando a criança completou cinco anos de idade, João
decidiu separar-se de Maria e saiu de casa. A partir daí nunca mais visitou o filho nem
contribuiu para as despesas do garoto. Vale ressaltar que João possui outros filhos que
ajuda financeiramente. O descaso do pai para com o filho está devidamente
demonstrado tanto pelas testemunhas como pelos relatórios do Conselho Tutelar que
comprovam que Lucas vive em situação de praticamente miséria e que as poucas
vezes que o pai contribuiu foi em virtude de execução de alimentos quando ameaçado
de prisão.

A questão jurídica envolvendo esse caso é a seguinte: em tese, é possível a condenação


de João a pagar indenização por danos morais a Lucas, seu filho, em razão do seu
abandono material? É possível a condenação em danos morais do pai que deixa de
prestar assistência material ao filho? SIM. O dever de convivência familiar,
compreendendo a obrigação dos pais de prestar auxílio afetivo, moral e psíquico aos
filhos, além de assistência material, é direito fundamental da criança e do adolescente.
O descumprimento voluntário do dever de prestar assistência MATERIAL, direito
fundamental da criança e do adolescente, afeta a integridade física, moral, intelectual
e psicológica do filho, em prejuízo do desenvolvimento sadio de sua personalidade e
atenta contra a sua dignidade, configurando ilícito civil e, portanto, os danos morais e
materiais causados são passíveis de compensação pecuniária.

No julgado acima (REsp 1.087.561-RS) adotou-se a responsabilidade civil por


abandono AFETIVO? O pai foi condenado a indenizar pelo fato de não ter dado afeto
ao seu filho? NÃO. No julgado acima explicado o Min. Rel. Raul Araújo, assim como
a Min. Maria Isabel Gallotti, deixaram claro que são contrários à tese da
responsabilidade civil por abandono afetivo. Afirmou-se que a falta de afeto, por si só,
não constitui ato ilícito.
“A convivência e o afeto devem corresponder a sentimentos
naturais, espontâneos, genuínos, com todas as características
positivas e negativas de cada indivíduo e de cada família. Não
é - nem deve ser - o cumprimento de dever jurídico, imposto
pelo Estado, sob pena de punição (ou indenização punitiva).”
(Min. Maria Isabel Gallotti)

Assim, no REsp 1.087.561-RS, o STJ concedeu a indenização por danos morais em


razão do pai não ter dado amparo MATERIAL ao filho.

A partir desse julgado pode-se dizer que qualquer atraso na pensão alimentícia ou
descumprimento do dever de alimentar gera dano moral? NÃO. No caso concreto, não
houve um “mero descumprimento episódico de obrigação alimentar, mas de hipótese
em que a reiterada falta de assistência material foi de tal ordem que revelou ter o autor
sido vítima de humilhações, situações que o levaram ao ridículo, privações que
prejudicaram o seu desenvolvimento, caracterizando o tratamento cruel e degradante
ao qual ficou submetido em decorrência da conduta omissiva do genitor, que tinha,
na época dessas ocorrências, conhecimento da situação de penúria e plenas condições
de suprir suas necessidades.” (Min. Maria Isabel Gallotti).

Existe algum julgado do STJ reconhecendo a responsabilidade civil por abandono


afetivo? SIM. Há um precedente da 3ª Turma:
O abandono AFETIVO decorrente da omissão do genitor no
dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para
caracterizar dano moral compensável. STJ. 3ª Turma. REsp
1.159.242-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
24/4/2012.

33.5. Ofensas proferidas por Rita Lee contra policiais militares em show geraram
dano moral in re ipsa – (Info 609)

As ofensas generalizadas proferidas por cantora contra policias militares que


realizavam a segurança do show atingem, de forma individualizada, cada um dos
integrantes da corporação que estavam de serviço no evento e caracterizam dano
moral in re ipsa, devendo a artista indenizar cada um dos policiais que trabalhavam
no local.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.524-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 3/8/17 (Info 609).
33.6. A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária,
condicional, mitigada e equitativa – (Info 599) – IMPORTANTE!!! – (TRF5-2017)
33.7. A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente
contra o pai do garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo –
(Info 599) – IMPORTANTE!!!
33.8. Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente
pelo fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da
conduta – (Info 599) – IMPORTANTE!!!

A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária,


condicional, mitigada e equitativa
Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos,
terão responsabilidade subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos
do art. 928 do CC.
Subsidiária: porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios
para ressarcir a vítima.
Condicional e mitigada: porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do
patrimônio mínimo do infante.
Equitativa: tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação
do mínimo necessário para a sobrevivência digna do incapaz.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não
solidária.

(TRF5-2017-CESPE): De acordo com o entendimento do STJ, a responsabilidade


civil do incapaz pela reparação de danos que houver causado, quando seus pais
não tiverem meios de repará-los, será condicional, subsidiária e equitativa. BL:
Info 599, do STJ.

A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o
pai do garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo
Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário
entre o genitor responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador
do dano.
É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta
que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito,
intente ação contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo
e simples.
Ex: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a arma de fogo de seu pai e, por
imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu.
Vítor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de
Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação contra João e Lucas, em
litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria plenamente possível
que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra
ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de litisconsórcio:
 Facultativo: não há nada (seja a lei ou a relação jurídica) que obrigue sua
formação, decorrendo ela da conveniência da parte.
 Simples: porque a decisão não seria necessariamente idêntica para o incapaz
e seu responsável.
A vantagem de o autor propor contra os dois seria para o caso de ele já saber que o
responsável pelo incapaz não possui patrimônio suficiente e que o próprio incapaz
detém bens, em seu nome, que poderiam servir para custear a indenização. Trata-
se de hipótese rara na prática, mas possível. Neste caso, o autor faria dois pedidos:
o primeiro para que haja a condenação do responsável pelo incapaz a reparar o
dano; o segundo pedido seria subsidiário, ou seja, na hipótese de o responsável
pelo incapaz não ter a obrigação de indenizar ou não ter meios para isso, pede-se a
condenação do próprio incapaz.

Não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor simplesmente pelo


fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no momento da conduta
O art. 932 do CC prevê que os pais são responsáveis pela reparação civil em relação
aos atos praticados por seus filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia.
O art. 932, I do CC, ao se referir à autoridade e companhia dos pais em relação aos
filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na
guarda), compreendendo um plexo de deveres, como proteção, cuidado, educação,
informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e
diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores
venham a causar danos.
Em outras palavras, não há como afastar a responsabilização do pai do filho menor
simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu filho no
momento da conduta.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/2/17 (Info 599).
Obs: cuidado com o REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 17/12/2015 (Info 575), precedente em sentido um pouco diverso envolvendo uma
mãe que morava em outra cidade.

33.9. Agressões físicas ou verbais praticadas por adulto contra criança geram dano
moral in re ipsa – (Info 598)

A conduta de um adulto que pratica agressão verbal ou física contra criança ou


adolescente configura elemento caracterizador da espécie do dano moral in re ipsa.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.318-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 7/2/2017 (Info 598).

33.10. Abuso de direito em ação proposta por terceiro para impedir que mulher
realize aborto – (Info 592) – IMPORTANTE!!!

Caracteriza abuso de direito ou ação passível de gerar responsabilidade civil pelos


danos causados a impetração do habeas corpus por terceiro com o fim de impedir a
interrupção, deferida judicialmente, de gestação de feto portador de síndrome
incompatível com a vida extrauterina.
Caso concreto: uma mulher descobriu que o bebê que ela estava esperando possuía
uma má-formação conhecida como "Síndrome de Body Stalk", que torna inviável a
vida extrauterina. Ela conseguiu uma autorização judicial para interromper a
gestação e foi internada com esse objetivo. Ocorre que um padre descobriu a
situação e impetrou um habeas corpus em favor do feto pedindo que o Poder
Judiciário impedisse o aborto. Quando a mulher já estava há três dias no hospital
fazendo o procedimento de aborto, foi deferida a liminar no HC e determinou-se
que o procedimento fosse suspenso e que a gravidez prosseguisse. A mulher teve
que voltar para casa. Alguns dias após, nasceu a criança, mas morreu menos de duas
horas depois do parto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.467.888-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/10/16 (Info 592).
OBS:
Extensão do entendimento da ADPF 54 a outros casos de má-formação fetal que
inviabilizam a vida extrauterina: O STF, no julgamento da ADPF 54/DF, decidiu que
a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta atípica (Plenário. ADPF
54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11 e 12/4/12). Assim, por força de interpretação
jurisprudencial, realizar aborto de feto anencéfalo não é crime.

É possível estender este entendimento para outros casos de má-formação do feto que
inviabilizem a vida extrauterina? O feto que é portador da síndrome de Body-Stalk
(Body-StalkAnomaly) não é um feto anencéfalo, ou seja, ele possui cérebro. No
entanto, mesmo assim, não terá condições de ter vida extrauterina. Pode-se aplicar a
decisão da ADPF 54/DF também para este caso? O STJ entendeu que sim. Tanto em
um caso (anencefalia) como no outro (síndrome de Body-Stalk), a conclusão a que se
chega é que não existe possibilidade de vida extrauterina. Desse modo, as mesmas
razões utilizadas pelo STF para autorizar o aborto do feto anencéfalo podem aqui
também ser invocadas para permitir a interrupção da gravidez do feto que tenha a
síndrome de Body-Stalk.

Possibilidade de responsabilização do padre pelo exercício do direito de ação na


hipótese de vulneração da intimidade, da vida privada e da honra do casal: O STJ
entendeu que sim. A interrupção da gestação era uma decisão legítima do casal e
estava relacionada com sua intimidade, vida privada, honra e imagem (art. 5º, X, da
CF/88). A conduta do padre violou esses valores e, portanto, gerou responsabilidade
objetiva pelos danos ocorridos. O STJ não aceitou a alegação do réu de que apenas se
utilizou do direito de ação. Segundo entenderam os Ministros, não seria possível
alegar que houve mero exercício do direito de ação porque:
1) o caso em tela configura hipótese de indenização pelo critério da responsabilidade
civil objetiva;
2) o exercício regular de um direito não pode se subverter em uma transgressão à lei,
sob pena de se configurar como "abuso do direito".

Nexo causal: O STJ não aceitou o argumento do réu de que não houve nexo causal
entre a propositura da ação e os danos provocados ao casal considerando que a
decisão foi do Estado-juiz. A busca do Poder Judiciário por uma tutela de urgência
traz, para àquele que a maneja, o ônus da responsabilidade pelos danos que
porventura a concessão do pleito venha a produzir, especialmente quando ocorre
hipótese de abuso de direito. Nesse sentido:
(...) Segundo o entendimento firmado na Segunda Seção desta
Corte Superior, "Os danos causados a partir da execução de
tutela antecipada (assim também a tutela cautelar e a execução
provisória) são disciplinados pelo sistema processual vigente
à revelia da indagação acerca da culpa da parte, ou se esta agiu
de má-fé ou não.
Com efeito, à luz da legislação, cuida-se de responsabilidade
processual objetiva, bastando a existência do dano decorrente
da pretensão deduzida em juízo para que sejam aplicados os
arts. 273, § 3º, 475-O, incisos I e II, e 811 do CPC⁄1973
(correspondentes aos arts. 297, parágrafo único, 520, I e II, e
302 do novo CPC)". (...) STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1604218/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23/08/2016.

Em suma: Para o STJ, ao propor a ação pedindo a interrupção do procedimento de


aborto, o padre:
a) Violou a intimidade e a vida privada do casal, tentando fazer prevalecer sua posição
particular em relação à interrupção da gestação, mesmo estando eles amparados, na
decisão que tomaram, por tutela judicial;
b) Agrediu-lhes a honra ao denominar a atitude que tomaram, sob os auspícios do
Estado, de assassinato;
c) Agiu temerariamente (quando pediu a suspensão do procedimento médico de
interrupção da gravidez, que já estava em curso) e impôs aos pais – notadamente à
mãe – sofrimento inócuo, pois como se viu, os prognósticos de inviabilidade de vida
extrauterina se confirmaram.

Valor: O STJ fixou a indenização por danos morais em R$ 60.000,00, corrigidos


monetariamente e com a incidência de juros de mora, a partir do dia que a mulher
deixou o hospital.

33.11. Legitimidade passiva de sociedade empresária proprietária de semirreboque


em ação de reparação de dano – (Info 589)

A sociedade empresária proprietária de semirreboque pode figurar no polo passivo


de ação de reparação de danos ajuizada em decorrência de acidente de trânsito
envolvendo o caminhão trator ao qual se encontrava acoplado.
A empresa proprietária de semirreboque é solidariamente responsável pelos danos
causados em acidente envolvendo o caminhão trator, no qual se encontrava
acoplado, devendo, assim, figurar no polo passivo de ação de indenização em razão
dos prejuízos advindos daquele evento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.289.202-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 2/6/16 (Info 589).

33.12. Responsabilidade do provedor de conteúdo em caso de associação indevida


entre o argumento de pesquisa e o resultado de busca – (Info 583) – IMPORTANTE!!!

Não há dano moral quando o Google exibe, como resultado de uma busca, a
indicação do link de um site que não mais contém aquela palavra ou frase porque
já foi removida. Ex: determinado blog publicou a frase "João de Tal é um péssimo
médico". Depois de um tempo, o administrador deste blog retirou a expressão, mas
manteve o restante do texto. O Google demorou para atualizar seu sistema de
buscas e continua exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o nome "João
de Tal", mesmo não havendo mais qualquer referência no texto. Esse fato não gera,
por si só, dano moral a ser pago pelo Google.
A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda
que decorrentes da posterior alteração do conteúdo original publicado pela página,
configuram falha na prestação do serviço de busca, que deve ser corrigida nos
termos do art. 20 do CDC, por frustrarem as legítimas expectativas dos
consumidores.
Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo
consumidor, continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome
desse consumidor (argumento de pesquisa) continua aparecendo, entre os
resultados, determinado site que tinha realmente este nome do consumidor, mas
que já foi retirado de lá. Em outras palavras, não há dano moral quando o provedor,
mesmo depois de alertado sobre a falha, exibe associação indevida entre o
argumento de pesquisa e o resultado de busca.
O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual
equivocado entre o argumento de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de
busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a referida indexação, ainda que esta
não tenha nenhum potencial ofensivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 10/5/16 (Info
583).

33.13. Termo inicial de juros moratórios quando fixada pensão mensal a título de
responsabilidade civil extracontratual – (Info 580)

Na responsabilidade civil extracontratual, se houver a fixação de pensionamento


mensal, os juros moratórios deverão ser contabilizados a partir do vencimento de
cada prestação, e não da data do evento danoso ou da citação.
Não se aplica ao caso a súmula 54 do STJ, que somente tem incidência para
condenações que são fixadas em uma única parcela. Se a condenação for por
responsabilidade extracontratual, mas o juiz fixar pensão mensal, neste caso, sobre
as parcelas já vencidas incidirão juros de mora a contar da data em que venceu cada
prestação. Sobre as parcelas vincendas, em princípio não haverá juros de mora, a
não ser que o devedor atrase o pagamento, situação na qual os juros irão incidir
sobre a data do respectivo vencimento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.270.983-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 8/3/16 (Info 580).

33.14. Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte – (Info 578)

O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade
superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu
dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a
data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida
(Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-
se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
18/2/2016 (Info 578).
OBS: O fato de a vítima já ter ultrapassado a idade correspondente à expectativa
média de vida do brasileiro, por si só, não é óbice ao deferimento do benefício, pois
muitos são os casos em que referida faixa etária é ultrapassada. Em outras palavras,
esta é uma tabela de expectativa de vida, mas não significa que a pessoa não possa
viver mais que isso.
Mas qual será, então, o critério a ser adotado para fixar o termo final da pensão? Até
quando a viúva irá receber a pensão mensal? Neste caso em que a vítima já possuía
mais idade do que a expectativa de vida, deverá ser utilizado como critério a tabela de
sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade correspondente ao gênero da vítima) do
IBGE em vigência na data do óbito.
Com base nesta tabela, pode-se fixar a expectativa de vida da vítima e,
consequentemente, consegue-se estabelecer o termo final da pensão.
Ex: nesta tabela, que está disponível no site do IBGE, é possível verificar, em relação
ao ano de 2005, que para o adulto de 76 anos do sexo masculino, havia uma expectativa
de vida de mais 10,3 anos. Somando-se, pois, esses anos à idade da vítima, teríamos
uma expectativa de vida total de 86,3 anos. Logo, o réu deveria pagar pensão à viúva
até o ano em que a vítima completaria 86,3 anos de idade.

33.15. Responsabilidade da instituição financeira por danos decorrentes de desvios


de valores feitos por gerente de conta bancária – (Info 578)

A instituição financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que,


conquanto tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras,
utilizou-se das facilidades de sua função para desviar, em proveito próprio, valores
constantes da conta bancária do cliente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
1º/3/2016 (Info 578).
OBS:
Tendo o gerente se utilizado das facilidades da função para desviar valores da conta
do cliente, deve o banco, como empregador, responder pelos danos materiais
causados, nos termos do art. 932, III, do CC:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


III - o empregador ou comitente, por seus empregados,
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele;

O banco deverá indenizar mesmo o gerente tendo atuado fora dos limites de suas
atribuições? SIM. A doutrina, ao interpretar a expressão "em razão dele" prevista no
art. 932, III, do CC, confere uma interpretação extensiva para abranger casos em que
o vínculo com o trabalho é bastante tênue. A título de exemplo, confira-se a doutrina
de Sérgio Cavalieri Filho:

"Diferentemente de outros países, basta que o dano tenha sido


causado em razão do trabalho – importando, isso, dizer que o
empregador responde pelo ato do empregado ainda que não
guarde com suas atribuições mais do que simples relação
incidental, local ou cronológica. Na realidade, a fórmula do
nosso Código Civil é muito ampla e bastante severa para o
patrão. Bastará que a função tenha oferecido ao preposto a
oportunidade para a prática do ato ilícito; que a função tenha
lhe proporcionado a ocasião para a prática do ato danoso. E
isso ocorrerá quando, na ausência da função, não teria havido
a oportunidade para que o dano acontecesse." (Programa de
Responsabilidade Civil. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 203)

33.16. Hipótese de inexistência de responsabilidade civil da mãe de menor de idade


causador de acidente – (Info 575) – (TJPR-2017)
A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de
terceiro) é objetiva, nos termos do art. 932, I, do CC, devendo-se comprovar apenas
a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual são os pais responsáveis
legalmente (ou seja, é necessário provar apenas a culpa do filho).
Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob
sua autoridade e em sua companhia; assim, os pais, ou responsável, que não
exercem autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar,
não respondem por ele.
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de
idade, residia permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor
- sobre quem apenas o pai exercia autoridade de fato - não pode ser
responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo considerando
que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
17/12/2015 (Info 575).
(TJTO – 2007 – CESPE): A responsabilidade civil por ato de terceiro permite
estender a obrigação de reparar o dano a pessoa diversa daquela que praticou a
conduta danosa, desde que exista uma relação jurídica entre o causador do dano e
o responsável pela indenização. Nessa hipótese, a responsabilidade é objetiva.
(CERTO)
(DPE/PR 2014): Ainda que a responsabilidade por fato de terceiro seja objetiva em
relação aos pais, incumbe ao ofendido provar a culpa do filho menor que estiver
sob a autoridade ou em companhia daqueles e que seja o causador do dano, com
o que estará configurado o dever de indenizar. (CERTO)
OBS:
Vale ressaltar que o tema do julgado acima é polêmico, havendo precedentes mais
antigos em sentido um pouco diverso do que foi decidido. Em provas de concurso,
deve-se adotar o julgado mais recente, noticiado no Info 575.

33.17. Responsabilidade civil dos genitores pelos danos causados por filho
esquizofrênico – (Info 573) – IMPORTANTE!!!

Os pais de portador de esquizofrenia paranoide que seja solteiro, maior de idade e


more sozinho, têm responsabilidade civil pelos danos causados durante os
recorrentes surtos agressivos de seu filho, no caso em que eles, plenamente cientes
dessa situação, tenham sido omissos na adoção de quaisquer medidas com o
propósito de evitar a repetição desses fatos, deixando de tomar qualquer atitude
para interditá-lo ou mantê-lo sob sua guarda e companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.101.324-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
13/10/2015 (Info 573).

33.18. Sentença penal condenatória e sentença cível que reconhece a ocorrência de


culpa recíproca – (Info 572) – IMPORTANTE!!! (TJRJ-2016)

Diante de sentença penal condenatória que tenha reconhecido a prática de


homicídio culposo, o juízo cível, ao apurar responsabilidade civil decorrente do
delito, não pode, com fundamento na concorrência de culpas, afastar a obrigação de
reparar, embora possa se valer da existência de culpa concorrente da vítima para
fixar o valor da indenização.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.346-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17/9/2015 (Info 572).

33.19. Pensão civil por incapacidade parcial para o trabalho – (Info 568)

Determinado indivíduo, que era soldado do Exército, foi atropelado e, em virtude


do acidente, ficou com deficiência em uma das pernas, sendo desligado das Forças
Armadas.
O juiz condenou a empresa causadora do dano a pagar, dentre outras verbas, pensão
vitalícia mensal no valor equivalente a 100% do último soldo recebido pela vítima
como soldado do Exército, nos termos do art. 950 do CC.
A empresa recorreu contra a sentença sustentando que o encurtamento parcial da
perna não impede que o lesado exerça outras profissões ou até mesmo outras
atividades no próprio Exército, de natureza administrativa e burocrática. Assim,
deveria ser excluída a condenação ao pagamento da pensão de que trata o art. 950
do CC. Esse argumento foi acolhido?
NÃO. O fato de se poder presumir que a vítima ainda tenha capacidade laborativa
para outras atividades, diversas daquela exercida no momento do acidente, não
exclui, por si só, o pensionamento civil de que trata o art. 950 do CC, considerando
que deve ser observado o princípio da reparação integral do dano.
Outro argumento da empresa foi o de que seria exorbitante fixar a pensão em 100%
do último soldo recebido pelo autor. Essa alegação foi aceita?
NÃO. A pensão civil incluída em indenização por debilidade permanente de
membro inferior causada a soldado do Exército Brasileiro por acidente de trânsito
pode ser fixada em 100% do soldo que recebia quando em atividade. A pensão
correspondente ao soldo integral que o soldado recebia na ativa repara de forma
correta o gravíssimo dano por ele sofrido, devendo, portanto, tal montante ser
mantido com amparo no princípio da reparação integral do dano.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.344.962-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).

33.20. Responsabilidade civil dos administradores de rede social por violação de


direito autoral causada por seus usuários – (Info 565) – IMPORTANTE!!!

"Habeas aula" é um curso jurídico "on line" preparatório para concursos públicos.
Determinado dia, o gerente da instituição descobriu que havia uma comunidade
na rede social Orkut® onde estavam sendo vendidas, em DVD, as aulas do curso,
de forma não autorizada ("pirataria"). Diante disso, o curso propôs ação contra a
Google® (proprietária do Orkut®) pedindo:
a) a retirada do ar da referida comunidade;
b) a identificação do IP, ou seja, o número do "computador" (dispositivo) de onde
partiram as publicações;
c) a reparação pelos danos morais que sofreu durante o período em que a
comunidade esteve "on line".

Quando o autor pede a retirada do ar e a identificação do IP de determinado perfil,


página ou comunidade que está presente em uma rede social, ele precisa informar a
URL da página (ex: o perfil abusivo está no endereço
www.orkut.com/xxx123yyy456)? Ou essa informação não é necessária?
É sim necessária. O STJ tem entendimento consolidado no sentido de que o titular
que teve direito autoral violado pela comercialização desautorizada de sua obra em
rede social deve indicar a URL específica da página na qual o ilícito foi praticado,
caso pretenda que o provedor torne indisponível o conteúdo e forneça o IP do
usuário responsável pela violação.

E o pedido de indenização por danos materiais, deverá ser acolhido? No caso


relatado, a Google® deverá ser condenada a indenizar o autor?
NÃO. A Google® não é responsável pelos prejuízos decorrentes de violações de
direito autoral levadas a efeito por usuários que utilizavam a rede social Orkut®
para comercializar obras sem autorização dos respectivos titulares, desde que
constatado que:
(a) o provedor de internet (Google®) não obteve lucro ou contribuiu decisivamente
com a prática ilícita e
(b) os danos sofridos ocorreram antes da notificação do provedor acerca da
existência do conteúdo infringente (ou seja, as vendas foram antes de o provedor
ser notificado sobre as páginas ilícitas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.512.647-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/5/2015 (Info 565).

33.21. Prazo prescricional da ação de indenização proposta contra pessoa jurídica de


direito privado prestadora de serviço público – (Info 563)

É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito


proponha ação de indenização contra concessionária de serviço público de
transporte coletivo (empresa de ônibus).
O fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no
art. 14 c/c art. 27, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.277.724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
26/5/2015 (Info 563).

33.22. Pagamento da pensão nos casos de responsabilidade civil derivada de


incapacitação da vítima para o trabalho – (Info 561) – IMPORTANTE!!! (TJRJ-2016)

O art. 950 do CC prevê que se a vítima sofrer uma ofensa que resulte em lesão por
meio da qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se isso lhe
diminuiu a capacidade de trabalho, esta vítima deverá ser indenizada com o
pagamento de pensão.
O parágrafo único determina que, se o prejudicado preferir, ele poderá exigir que
a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez, ou seja, em vez de receber todo
mês o valor da pensão, ele receberia à vista a quantia total.
O parágrafo único do art. 950 do CC impõe um dever absoluto de o causador do
dano pagar a indenização fixada de uma só vez? Se a vítima pedir para receber de
uma só vez, o magistrado é obrigado a acatar?
NÃO. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho
(art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos
materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez.
O juiz é autorizado a avaliar, em cada caso concreto, se é conveniente ou não a
aplicação da regra que estipula a parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC),
considerando a situação econômica do devedor, o prazo de duração do
pensionamento, a idade da vítima, etc, para só então definir pela possibilidade de
que a pensão seja ou não paga de uma só vez, antecipando-se as prestações
vincendas que só iriam ser creditadas no decorrer dos anos. Isso porque é preciso
ponderar que, se por um lado é necessário satisfazer o crédito do beneficiário, por
outro não se pode exigir o pagamento de uma só vez se isso puder levar o devedor
à ruína.
Enunciado 381-CJF/STJ: O lesado pode exigir que a indenização, sob a forma de
pensionamento, seja arbitrada e paga de uma só vez, salvo impossibilidade
econômica do devedor, caso em que o juiz poderá fixar outra forma de pagamento,
atendendo à condição financeira do ofensor e aos benefícios resultantes do
pagamento antecipado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
14/4/2015 (Info 561).

33.23. Ausência de responsabilidade da empresa de vigilância privada em caso de


assalto a banco – (Info 561) – IMPORTANTE!!!

O banco mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX” por meio
do qual esta se comprometia a prestar serviços de vigilância armada nas agências
bancárias.
Determinado dia, o banco foi assaltado por um grupo de oito ladrões fortemente
armados.
O banco ajuizou ação de indenização contra a empresa de vigilância sustentando
que, por expressa disposição contratual, a empresa deveria ser responsabilizada
pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição bancária.
A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar?
NÃO. A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que
impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de
instituição financeira não acarreta à contratada automática responsabilização por
roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por
grupo fortemente armado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/3/2015 (Info 561).

33.24. Possibilidade de absolutamente incapaz sofrer dano moral – (Info 559)

Determinado indivíduo é portador de doença mental grave (demência total e


irreversível). Certo dia, a filha desse indivíduo notou que houve saques indevidos
(fraudulentos) que foram feitos de sua conta bancária por um terceiro.
Foi proposta ação de indenização por danos morais contra o banco.
O absolutamente incapaz, mesmo sem entender seus atos e os de terceiros, pode sofrer
dano moral?
SIM. O absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico,
pode sofrer dano moral.
O dano moral caracteriza-se por uma ofensa a direitos ou interesses juridicamente
protegidos (direitos da personalidade). A dor, o vexame, o sofrimento e a
humilhação podem ser consequências do dano moral, mas não a sua causa.
Dano moral: é a ofensa a determinados direitos ou interesses. Basta isso para
caracterizá-lo.
Dor, sofrimento, humilhação: são as consequências do dano moral (não precisam
necessariamente ocorrer para que haja a reparação).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.245.550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17/3/2015 (Info 559).
Observação importante: vale ressaltar que, com o Estatuto da Pessoa com Deficiência
(Lei nº 13.146/2015), que entrou em vigor após esse julgado, a pessoa com deficiência
mental não é mais considerada absolutamente incapaz. Isso somente reforça que a
pessoa com deficiência pode sofrer dano moral.

33.25. Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal


de notícias – (Info 558)

A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo


destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por
comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à matéria jornalística
veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em
vigor do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
24/3/2015 (Info 558).

33.26. Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços


eletrônicos pelo ofendido – (Info 558)

Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de


alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e
rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor de hospedagem
do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as
mensagens.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
19/3/2015 (Info 558).

33.27. Danos sociais – (Info 552) – IMPORTANTE!!!

O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente
reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade.
Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao pagamento de danos morais e,
de ofício, determinou que pagasse também danos sociais em favor de uma
instituição de caridade.
O STJ entendeu que essa decisão é nula, por ser “extra petita”.
Para que haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido
expresso.
Vale ressaltar, no entanto, que, no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de
condenação em danos sociais na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido
julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo.
Isso porque, na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode ocorrer
em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de
ações coletivas poderiam pleitear danos sociais.
Em suma, não é possível discutir danos sociais em ação individual.
STJ. 2ª Seção. Rcl 12.062-GO, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014
(recurso repetitivo) (Info 552).

33.28. Utilização indevida da imagem da pessoa em propaganda político-eleitoral –


(Info 549) – (DPU-2017)

Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da imagem de


alguém em material impresso de propaganda político-eleitoral,
independentemente da comprovação de prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.217.422-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/9/14
(Info 549).

33.29. Danos morais por encerramento de curso de graduação – (Info 549)

É cabível indenização por danos morais ao aluno universitário que fora compelido
a migrar para outra instituição educacional pelo fato de a instituição contratada ter
extinguido de forma abrupta o curso, ainda que esta tenha realizado convênio, com
as mesmas condições e valores, com outra instituição para continuidade do curso
encerrado.
Obs: ressalte-se que o tema não é tranquilo e que existe julgado da 4ª Turma
entendendo, com base nas peculiaridades do caso concreto, que não seria devida a
indenização: STJ. 4ª Turma. REsp 1094769/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
18/03/2014.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.341.135-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
14/10/2014 (Info 549).

33.30. Ausência de coleta das células-tronco no momento do parto e aplicação da


perda de uma chance – (Info 549)

Tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance, a criança
que, em razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para
coletar o material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco
embrionárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.291.247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
19/8/2014 (Info 549).

33.31. Fixação individualizada dos danos morais por morte de parente – (Info 544) –
IMPORTANTE!!!

Na fixação do valor da reparação pelos danos morais sofridos por parentes de


vítimas mortas em um mesmo evento, não deve ser estipulada de forma global a
mesma quantia reparatória para cada grupo familiar se, diante do fato de uma
vítima ter mais parentes que outra, for conferido tratamento desigual a lesados que
se encontrem em idêntica situação de abalo psíquico, devendo, nessa situação, ser
adotada metodologia de arbitramento que leve em consideração a situação
individual de cada parente de cada vítima do dano morte.
A fixação de valor reparatório global por núcleo familiar, justificar-se-ia apenas se
a todos os lesados que se encontrem em idêntica situação fosse conferido igual
tratamento.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.913-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j.
4/6/14 (Info 544).

33.32. Cumulação de pensão por morte previdenciária com indenização por danos
materiais paga pelo autor do crime – (Info 542)

É possível a cumulação do benefício previdenciário de pensão por morte com


pensão civil ex delicto.
O benefício previdenciário é diverso e independente da indenização por danos
materiais ou morais, porquanto ambos têm origens distintas. Este, pelo direito
comum; aquele, assegurado pela Previdência. A indenização por ato ilícito é
autônoma em relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba.
STJ. 4ª Turma. REsp 776.338-SC, Rel. Min. Raul Araújo, j. 6/5/14 (Info 542).

33.33. Responsabilidade civil por abuso no direito de propor ação de execução – (Info
539)

O advogado que ajuizou ação de execução de honorários de sucumbência não só


contra a sociedade limitada que exclusivamente constava como sucumbente no
título judicial, mas também, sem qualquer justificativa, contra seus sócios
dirigentes, os quais tiveram valores de sua conta bancária bloqueados sem
aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, deve aos sócios
indenização pelos danos materiais e morais que sofreram.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.245.712-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 11/3/2014
(Info 539)

33.34. Termo inicial dos juros de mora no caso de ação de indenização pela execução
não autorizada de músicas – (Info 539)

Na execução comercial DESAUTORIZADA de obras musicais, a relação entre


executor e ECAD (mandatário dos titulares das obras) é EXTRACONTRATUAL, de
sorte que eventual condenação judicial fica sujeita a juros de mora contados desde
o ato ilícito (art. 398 do CC).
Na execução comercial AUTORIZADA, a relação entre executor e ECAD é
contratual, de maneira que sobre eventual condenação judicial incidem juros de
mora contados desde a citação (art. 405 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.004-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/3/14 (Info 539)

33.35. Ausência de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotérica
– (Infos 518 e 536) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!!!

A Caixa Econômica Federal – CEF não tem responsabilidade pela segurança de


agência com a qual tenha firmado contrato de permissão de loterias.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.224.236-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/3/2014 (Info
536)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 5/3/2013 (Info 518).

33.36. Credores de indenização por morte não podem exigir que o pagamento seja de
uma só vez – (Info 536)

Os credores de indenização por morte fixada na forma de pensão mensal não têm
o direito de exigir que o causador do ilícito pague de uma só vez todo o valor
correspondente. Isso porque a faculdade de “exigir que a indenização seja arbitrada
e paga de uma só vez” (parágrafo único do art. 950 do CC) é estabelecida para a
hipótese do caput do dispositivo, que se refere apenas a defeito que diminua a
capacidade laborativa da vítima, não se estendendo aos casos de falecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.393.577-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 536)

33.37. Imprescritibilidade das ações indenizatórias por dano moral decorrentes de


perseguição, tortura e prisão e por motivos, durante o regime militar – (Info 523)

As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e


prisão, por motivos políticos, durante o regime militar, são imprescritíveis. Para
esses casos, não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do
Decreto 20.910/1932.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 25/6/13 (Info 523).

33.38. Responsabilidade civil do banco por compensação de cheque adulterado –


(Info 520)

O banco responde objetivamente pelos danos causados ao correntista por conta da


compensação de cheque falsificado (sem culpa do cliente), ainda que a falsificação
seja sofisticada.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.440-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/4/2013 (Info 520).

33.39. Titular de blog e responsabilidade por danos morais

O titular de blog é responsável pela reparação dos danos morais decorrentes da


inserção, em seu site, por sua conta e risco, de artigo escrito por terceiro.
REsp 1.381.610-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/9/2013.

33.40. Dano moral e lei das filas

O simples fato da pessoa ter esperado por atendimento bancário por tempo
superior ao previsto na legislação municipal não enseja indenização por danos
morais.
No entanto, se a espera por atendimento na fila de banco for excessiva ou associada
a outros constrangimentos, pode ser reconhecida como provocadora de sofrimento
moral e ensejar condenação por dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.218.497-MT, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 11/9/2012.

34. COBRANÇA JUDICIAL DE DÍVIDA JÁ PAGA


34.1. Via processual adequada para se requerer sanção por cobrança judicial de
dívida já adimplida. Necessidade de demonstração de má-fé do credor para
condenação ao pagamento em dobro – (Info 576) – IMPORTANTE!!!

A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança judicial de dívida


já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002) pode ser postulada pelo
réu na própria defesa, independendo da propositura de ação autônoma ou do
manejo de reconvenção.
Para que haja a aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança
judicial de dívida já adimplida (art. 1.531 do CC 1916 / art. 940 do CC 2002), é
imprescindível a demonstração de má-fé do credor. Permanece válido o
entendimento da Súmula 159-STF: Cobrança excessiva, mas de boa fé, não dá lugar
às sanções do art. 1.531 do Código Civil (atual art. 940 do CC 2002).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.111.270-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 25/11/2015
(recurso repetitivo) (Info 576).
OBS:

Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em


parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for
devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o
dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que
dele exigir, salvo se houver prescrição.

Obs1: essa penalidade do art. 940 deve ser aplicada independentemente da pessoa
demandada ter provado qualquer tipo de prejuízo. Assim, ainda que o demandado
não comprove ter sofrido dano, essa indenização será devida. O art. 940 do CC institui
uma autêntica pena privada, aplicável independentemente da existência de prova do
dano. (STJ. 3ª Turma. REsp 1.286.704/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de
28/10/2013).

Obs2: a penalidade do art. 940 exige que o credor tenha exigido judicialmente a dívida
já paga (“demandar” = “exigir em juízo”).

Sempre que houver cobrança de dívida já paga, haverá a condenação do autor à


penalidade do art. 940 do CC? Não, nem sempre. Segundo a jurisprudência, são
exigidos dois requisitos para a aplicação do art. 940:
a) Cobrança JUDICIAL de dívida já paga (no todo ou em parte), sem ressalvar as
quantias recebidas;
b) MÁ-FÉ do cobrador.

35. FORÇA MAIOR


35.1. A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural pode ser
considerada como força maior para evitar que o proprietário tenha que pagar dívida –
(Info 589)

A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não
é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser
analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto
(necessariedade e inevitabilidade – art. 393, § único, do Código Civil).
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da
propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da
obrigação. Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus
efeitos.
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o
MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão
constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios
de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16
(Info 589).

36. POSSE
36.1. Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço
contratado – (Info 610) – IMPORTANTE!!!

Oficina mecânica que realiza reparos em veículo, com autorização do proprietário,


não pode reter o bem por falta de pagamento do serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.385-ES, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 22/8/17
(Info 610).

36.2. Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias
para defender a sua permanência no local? – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do


PODER PÚBLICO: não é possível. Não terá direito à proteção possessória. Não
poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder Público, ele exerce
mera detenção.
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro
PARTICULAR: terá direito, em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de
interditos possessórios em litígio entre particulares sobre bem público dominical,
pois entre ambos a disputa será relativa à posse.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/10/16 (Info
594).
OBS:
Para o entendimento atual do STJ, é cabível o ajuizamento de ações possessórias por
parte de invasor de terra pública desde que contra outros particulares. Existem
decisões das duas Turmas do STJ nesse sentido:
 STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
10/3/2016 (Info 579).
 STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/10/2016 (Info 594).
A interpretação que reconhece a posse nos bens dominicais deve ser conciliada com a
regra que veda o reconhecimento da usucapião nos bens públicos (Súmula 340 do STF;
arts. 183, § 3º e 192 da CF/88; art. 102 do CC), permitindo se concluir que, apenas um
dos efeitos jurídicos da posse - a usucapião - é que será limitado, devendo ser mantida,
no entanto, a possibilidade de invocação dos interditos possessórios pelo particular.
Em outras palavras, se o particular estiver litigando contra outro particular, pode-se
reconhecer a posse de um deles sobre o bem público. No entanto, esta "posse" nunca
dará direito à usucapião.

Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas
mãos do Estado, mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre
particulares, a relação será eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens
do patrimônio disponível do Estado, despojados de destinação pública, será
plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória pelos
ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social.

36.3. AÇÕES POSSESSÓRIAS: Particular pode ajuizar ação possessória tendo como
objeto bem público de uso comum do povo – (Info 590)

Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso
de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão
de passagem.
Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de
acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais.
Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse
contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma
servidão de passagem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/9/16 (Info 590).
OBS:
Bem de uso comum do povo: O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de
acordo com a sua destinação (ou afetação):

a) bens de uso comum do b) bens de uso especial c) bens dominicais


povo
São aqueles destinados à São aqueles utilizados pela São aqueles que não estão
utilização geral pelos Administração para a sendo utilizados para
indivíduos, podendo ser prestação dos serviços nenhuma destinação
utilizados por todos em administrativos e dos pública, abrangendo o
igualdade de condições, serviços públicos em geral, denominado domínio
independentemente de ou seja, utilizados pela privado do Estado.
consentimento Administração para a Exs: terras devolutas,
individualizado por parte do satisfação de seus objetivos. terrenos de marinha, prédios
Poder Público (uso coletivo). Exs: prédio onde funciona públicos desativados,
Exs: ruas, praças, rios, praias um órgão público. móveis inservíveis, dívida
etc. ativa etc.

Desse modo, quando se fala em bem de uso comum do povo, o particular é o usuário
concreto do bem e, como tal, pode ser considerado como titular de direito subjetivo
público. Em outras palavras, se o seu direito de utilizar o bem de uso comum for
violado, seja por terceiro, seja pela própria Administração Pública, ele poderá
defender o seu direito de usar o bem, seja na via administrativa ou judicial.
Exemplo: se um rico empresário resolve construir uma casa na beira da praia e fechá-
la, tornando-a privativa, qualquer outra pessoa poderá questionar judicialmente esta
medida. Nesse sentido: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª
ed., São Paulo: Atlas, 2014. p. 763-764.

Possibilidade jurídica de o particular requerer a proteção possessória de bem público


de uso comum: Realmente, o STJ possui inúmeros julgados afirmando que a ocupação
irregular de bem público dominical não caracteriza posse, mas mera detenção,
hipótese que afasta o reconhecimento de direitos em favor do particular com base em
alegada boa-fé. Assim, por exemplo, se o particular invade um bem público que não é
utilizado para nada (ex: um terreno baldio), a jurisprudência entende que ele não é
considerado possuidor, mas mero detentor. Logo, não poderá invocar a proteção
possessória contra o Poder Público. Esse entendimento, porém, não se aplica para o
caso de um particular que está defendendo seu direito de usar um bem público de uso
comum do povo. Aqui a situação é diferente. No caso de bens públicos de uso comum
do povo, podemos sim falar em posse e o particular poderá defendê-la em juízo. Nesse
sentido: THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil –
Procedimentos Especiais – vol. III, Rio de Janeiro: Forense, 2014, p.122).
Desse modo, podemos concluir que:
 o ordenamento jurídico não permite a proteção possessória em caso de
particular que ocupe bens públicos dominicais, sendo esta situação
caracterizada como mera detenção;
 é possível, no entanto, que particulares exerçam proteção possessória para
garantir seu direito de utilizar bens de uso comum do povo, como é o caso, por
exemplo, da tutela possessória para assegurar o direito de uso de uma via
pública.

36.4. Ajuizamento de ação possessória por invasor de terra pública contra outros
particulares – (Info 579) – TEMA POLÊMICO!

É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública


contra outros particulares.
A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do
domínio, não pode ser confundida com a mera detenção.
Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em
nome alheio. Não há entre ele e o proprietário uma relação de dependência ou
subordinação.
Ainda que a posse não possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do
bem, ela pode ser oposta contra outros particulares, tornando admissíveis as ações
possessórias entre invasores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016
(Info 579).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Um grupo de "sem-terras" invadiu um terreno
pertencente ao Estado-membro (terras públicas). O Governo do Estado, preocupado
com a repercussão política do evento, não ingressou com nenhuma medida judicial
contra os invasores e apenas iniciou um período de negociação para que eles saíssem
voluntariamente das terras. O grupo limpou o mato que havia no local e dividiu o
terreno em "lotes" informais. João, um dos invasores, ficou com um desses lotes e ali
construiu sua casa, onde passou a morar. Determinado dia, João viajou de férias para
o interior do Estado a fim de visitar sua mãe. Quando retornou, verificou que Mário
havia invadido sua casa e estava morando no local. Diante disso, João procurou a
Defensoria Pública, que ajuizou ação de reintegração de posse contra Mário. O juiz,
contudo, extinguiu a ação sem resolução do mérito afirmando que, pelo fato de a terra
pertencer ao Estado (terra pública), João nunca teve a posse da área, mas sim uma
mera detenção. Dessa forma, por não ser possuidor, ele não poderia ingressar com
ação possessória contra Mário, sendo esta a via inadequada (art. 485, VI, do
CPC/2015).

Agiu corretamente o magistrado? NÃO. É cabível o ajuizamento de ações possessórias


por parte de invasor de terra pública contra outros particulares. Realmente, existem
acórdãos do STJ no sentido de que a ocupação de área pública sem autorização
expressa e legítima do titular do domínio constitui mera detenção (STJ. 3ª Turma.
REsp 998.409-DF, DJe 3/11/2009). Contudo, neste julgado, a 3ª Turma do STJ, mesmo
reconhecendo a existência desses precedentes, decidiu chegar a uma posição
diferentes e entender que há sim posse.

O conceito de detenção está previsto no art. 1.198 do CC:

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em


relação de dependência para com outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.

Ao ler esse artigo, percebe-se que o invasor de uma terra pública não pode ser
enquadrado neste conceito, ou seja, não pode ser considerado detentor.

O art. 1.198 fala em "relação de dependência", de forma que a posse deve ser exercida
em nome de outrem que ostenta o jus possidendi ou o jus possessionis. É o caso, por
exemplo, de um "caseiro" que mora no sítio. Este, sim, é considerado "detentor" porque
possui uma relação de dependência com o possuidor e conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de suas ordens.

Por outro lado, em sentido contrário, não se pode dizer que a pessoa que invade terra
pública e nela constrói sua moradia esteja exercendo a posse em nome do Poder
Público. Além disso, não há entre ele e o ente público uma relação de dependência ou
de subordinação. Logo, não há que se falar que o invasor tenha mera detenção.

O invasor possui animus domni, ou seja, age como se fosse o dono. Sabe-se que as terras
públicas não estão sujeitas à usucapião, no entanto, mesmo assim o invasor age como
se fosse o dono. Isso é indiscutível. Na prática, o invasor, na maioria das vezes, nem
sabe quem é o proprietário da terra e também desconhece que não poderá adquiri-la.
Ele simplesmente age como se fosse o dono, de forma que isso caracteriza a posse.
Diante desse contexto, é perfeitamente possível que o invasor de terras públicas
proponha interditos possessórios caso um outro particular tente ou efetivamente
consiga tomar-lhe a posse.

Atenção: Vale ressaltar que o tema é polêmico e, como se trata apenas de uma decisão
da 3ª Turma, não se pode afirmar, com convicção, que tenha havido uma mudança de
entendimento do STJ sobre o assunto.
37. DIREITOS REAIS
37.1. Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time-
sharing – (Info 589) – IMPORTANTE!!!

É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de


multipropriedade (time-sharing) em decorrência de dívida de condomínio de
responsabilidade do organizador do compartilhamento.
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui
natureza jurídica de direito real, harmonizando-se com os institutos constantes do
rol previsto no art. 1.225 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. João Otávio de Noronha, j. 26/4/16 (Info 589).
OBS:
Time-sharing (multipropriedade): Time-sharing ocorre quando um bem
 é dividido entre vários proprietários
 sendo que cada um deles utilizará a coisa,
 com exclusividade,
 durante certo(s) período(s) de tempo por ano,
 em um sistema de rodízio.

Nomenclatura: O time-sharing é também chamado de multipropriedade ou de regime


de aproveitamento por turno.

Origem: O fenômeno da multipropriedade surgiu na França, por volta de 1967. No


Brasil, as primeiras operações de multipropriedade começaram na década de 1980.

Exemplo: O time-sharing ocorre com frequência em imóveis destinados ao lazer. É o


caso de uma casa de praia. Em litorais mais caros do país, como na região dos Lagos
(RJ) ou em Santa Catarina, é comum que sejam lançados empreendimentos em sistema
de time-sharing. Normalmente, o imóvel é dividido em 52 cotas (número de semanas
do ano). Daí o indivíduo que compra uma cota, torna-se proprietário de 1/52 do
imóvel e poderá utilizá-lo durante uma semana por ano.

Finalidade: Este modelo é adotado normalmente por indivíduos que querem usufruir
de um imóvel apenas durante parte do ano e, por isso, não valeria a pena serem
proprietários únicos do bem. Assim, com o sistema do time-sharing não precisam
desembolsar o preço total do imóvel na aquisição e também não terão que arcar
sozinhos com os custos da manutenção.

Qual é a natureza jurídica da time-sharing: trata-se de direito real ou pessoal


(obrigacional)? Existe grande divergência na doutrina acerca do tema. Uma primeira
corrente defende que se trata de direito PESSOAL (obrigacional), pois afirma que os
direitos reais são em número limitado (numerus clausus) e estão previstos
taxativamente no art. 1.225 do CC. A time-sharing não se enquadra em nenhum deles.
O integrante do time-sharing não pode ser considerado proprietário, considerando que
este modelo possui inúmeras diferenças em relação ao direito de propriedade,
podendo ser apontadas as seguintes:
1) no time-sharing, o direito de uso e gozo ocorre apenas em
um período do ano, enquanto no direito de propriedade não
existe esta limitação;
2) não há liberdade quanto ao modo de uso, só podendo
utilizar o bem para a finalidade com a qual ele foi criado (ex:
se é um imóvel para lazer, não pode ser utilizado para fins
comerciais);
3) a pessoa integrante do time-sharing não pode efetuar
modificações no imóvel, o que não ocorreria se ela fosse
proprietária.

O STJ, no entanto, seguindo o entendimento majoritário na doutrina, decidiu que se


trata de direito real, consoante decidido no Info 589.

O time-sharing, também chamada de multipropriedade imobiliária, possui forte liame


com o instituto da propriedade, sendo até mesmo considerada por alguns como uma
expressão do direito de propriedade.

Ao contrário do que afirma a primeira corrente, é possível que sejam admitidos como
direitos reais não apenas aqueles que estão enumerados na lei, mas também outros
que possam ser criados a partir da liberdade negocial.

O Código Civil não traz nenhuma proibição de que sejam criados novos direitos reais
a partir da convenção de vontades. Além disso, a time-sharing se harmoniza com os
atributos dos direitos reais, considerando que o participante detém as faculdades de
uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de
compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo.

Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação adaptada: A empresa "XX"


Incorporações e Negócios Ltda. é proprietária de uma casa de praia em Angra dos
Reis e organizou um time-sharing deste imóvel. Para tanto, ela ofereceu 52 cotas para
os interessados, que adquiriram, assim, frações ideais do bem para utilização
periódica. Portanto, cada pessoa que comprou uma cota poderá utilizar a casa de praia
uma semana por ano. Vale ressaltar que esta casa (nº 11-B) fica dentro de um
condomínio fechado. A empresa "XX" deixou de pagar seis meses de taxa
condominial, razão pela qual o condomínio ingressou com execução e conseguiu a
penhora da casa nº 11-B. João, um dos que adquiriu uma cota da casa, ingressou com
embargos de terceiro afirmando que, por ser detentora da propriedade de 1/52 avos
da casa nº 11-B, é indevido o ato de penhora que recaiu sobre a totalidade do imóvel.
Acrescentou que o referido imóvel está registrado na modalidade de time-sharing,
tendo sido subdividido, antes da comercialização, em 52 frações ideais, pertencendo a
titulares diversos, o que, segundo afirma, evidencia a impossibilidade de ser mantida
a constrição sobre a totalidade da casa.

Os embargos de terceiro foram julgados procedentes? A penhora sobre a totalidade


da casa foi indevida? SIM. A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente
codificada, possui natureza jurídica de direito real, harmonizando-se, portanto, com
os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil; e o
multiproprietário, no caso de penhora do imóvel objeto de compartilhamento espaço-
temporal (time-sharing), tem, nos embargos de terceiro, o instrumento judicial
protetivo de sua fração ideal do bem objeto de constrição. Assim, é insubsistente a
penhora sobre a integralidade do imóvel submetido ao regime de multipropriedade
na hipótese em que a parte embargante é titular de fração ideal do bem e nada tem a
ver com a dívida.
37.2. Eficácia subjetiva da coisa julgada de ação reintegratória proferida em processo
no qual o possuidor de boa-fé não participou – (Info 560)

Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João.
Ocorre que Pedro não pagou Fernando, razão pela qual este propôs ação de rescisão
contratual cumulada com reintegração de posse unicamente contra Pedro.
A sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e
determinado que ele devolvesse a posse do imóvel para Fernando.
Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João,
que assumiu o local antes de a ação de reintegração ser proposta.
Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-
fé)?
NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em
processo do qual não participou o terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira
do réu o imóvel objeto do litígio.
Em regra, a sentença faz coisa julgada somente para as partes do processo, não
beneficiando nem prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC
2015). Também não é caso de aplicar o art. 42, § 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do
CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel ANTES da ação proposta pelo
autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou
seja, ainda não havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O bem ou
direito somente se torna litigioso com a litispendência, ou seja, com a lide
pendente. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura da ação,
enquanto que, para o réu, com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do
CPC 2015). Se o bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a
litigiosidade, não há falar em extensão dos efeitos da coisa julgada ao adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.458.741-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
14/4/2015 (Info 560).

37.3. Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida – (Info 556)

Determinada mineradora obteve da União outorga para realizar pesquisas de


viabilidade de lavra de minérios em determinado sítio. Ocorre que um terceiro
retirou do local, sem autorização da mineradora, grande quantidade de minérios.
Ao descobrir esse fato, a mineradora ajuizou ação de indenização por danos
materiais contra esse terceiro pedindo que ele fosse condenado a pagar o valor dos
minérios extraídos.
Em sua defesa, o terceiro alegou que a mineradora não teria direito à indenização,
considerando que os recursos minerais presentes no subsolo são de propriedade da
União (arts. 20, IX e 176 da CF/88). Logo, se alguém sofreu prejuízo, não foi a
mineradora, mas sim a União. Esse raciocínio está correto?
NÃO. O STJ entendeu que o terceiro que explorou clandestinamente área objeto
de outorga para pesquisa de viabilidade de lavra de minérios deve sim indenizar o
particular que possuía o direito de pesquisa e de lavra. Ainda que a União seja a
proprietária exclusiva das reservas minerais existentes no solo e subsolo, ao
concessionário particular (mineradora) é garantida a propriedade do produto de
sua exploração, fazendo emergir da nossa ordem constitucional o princípio do livre
acesso aos recursos minerais. A fim de ordenar o livre acesso aos recursos minerais,
o Código de Mineração utiliza-se do direito de prioridade, e, por consequência,
assegura ao pesquisador, de forma exclusiva, a futura exploração da reserva
pesquisada, bem como a possibilidade de eventual negociação desse direito.
Terceiro que explora, clandestina e ilicitamente, a reserva pesquisada, atenta contra
o direito de prioridade e causa dano direto ao legítimo pesquisador, devendo, pois,
ressarcir-lhe integralmente o prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.571-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
10/2/2015 (Info 556).

38. ACESSÃO
38.1. Responsabilidade do proprietário do solo pelas despesas havidas com a
construção realizada em seu terreno – (Info 593)

O construtor proprietário dos materiais poderá cobrar do proprietário do solo a


indenização devida pela construção, quando não puder havê-la do contratante.
Ex: a empresa "A" contratou uma construtora para fazer um centro comercial no
terreno pertencente à empresa "B". A empresa "B", mesmo não tendo participado
do contrato, poderá ser responsabilizada subsidiariamente caso a construção seja
realizada e a construtora não seja paga.
Aplica-se, ao caso, o parágrafo único do art. 1.257: "O proprietário das sementes,
plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida,
quando não puder havê-la do plantador ou construtor."
STJ. 4ª Turma. REsp 963.199-DF, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/10/16 (Info 593).

39. PROPRIEDADE DE SUBSOLO


39.1. Proprietário somente pode se opor que terceiros façam atividades no seu
subsolo se demonstrar interesse legítimo – (Info 557)

No caso em que o subsolo de imóvel tenha sido invadido por tirantes (pinos de
concreto) provenientes de obra de sustentação do imóvel vizinho, o proprietário do
imóvel invadido não terá legítimo interesse para requerer, com base no art. 1.229
do CC, a remoção dos tirantes nem indenização por perdas e danos, desde que fique
constatado que a invasão não acarretou prejuízos comprovados a ele, tampouco
impossibilitou o perfeito uso, gozo e fruição do seu imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.256.825-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 5/3/15 (Info
557).

40. HIPOTECA
40.1. Prescrição da obrigação principal e extinção da garantia hipotecária – (Info 572)

A prescrição da pretensão de cobrança da dívida extingue o direito real de hipoteca


estipulado para garanti-la. A hipoteca, no sistema brasileiro, é uma garantia
acessória, seguindo, portanto, a sorte (o destino) da obrigação principal. Assim,
prescrita a pretensão derivada da obrigação principal, não persiste a garantia
hipotecária (art. 1.499 do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.408.861-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 20/10/15
(Info 572).
41. USUCAPIÃO
41.1. Ausência de citação dos confinantes gera nulidade relativa – (Info 616) –
IMPORTANTE!!!

Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos


confinantes, ou seja, dos vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja.
E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta
do processo?
Não. Apesar de amplamente recomendável, a falta de citação dos confinantes não
acarretará, por si, ou seja, obrigatoriamente, a nulidade da sentença que declara a
usucapião. Não há que se falar em nulidade absoluta, no caso.
A ausência de citação dos confinantes e respectivos cônjuges na ação de usucapião
é considerada hipótese de nulidade relativa, somente gerando a nulidade do
processo caso se constate o efetivo prejuízo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.432.579-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/10/17 (Info
616).
OBS:
Ação de usucapião: O CPC/1973 trazia, em seus arts. 941 a 945, um procedimento
especial para a ação de usucapião. O CPC/2015 não previu procedimento especial
para a ação de usucapião, de forma que a usucapião judicial deverá seguir o
procedimento comum.

Em uma ação de usucapião, o autor deve pedir a citação de quem? Quem deve ser
citado?
 O indivíduo em nome do qual se encontra registrado o imóvel, ou seja, o
“proprietário” do imóvel, segundo o cartório de registro de imóveis;
 Os proprietários ou possuidores dos imóveis confinantes, ou seja, os vizinhos
que fazem fronteira com o imóvel que se almeja na ação. Em se tratando de
casa, em geral, são três confinantes: o vizinho da esquerda, o da direita e o
vizinho de trás;
 A citação, por edital, de eventuais interessados (art. 259, I, do CPC/2015).

Atenção: mesmo que o indivíduo (autor da ação) não esteja mais na posse do imóvel,
ainda assim ele poderá ter direito à usucapião desde que tenha preenchidos todos os
requisitos para a constituição do direito antes de perder a posse. Neste caso, o autor
deverá pedir a citação também do atual possuidor do imóvel. Conforme explica
Marcus Vinicius Rios Gonçalves:
“Não é preciso que o autor da ação tenha posse atual do bem.
A ação de usucapião visa a declarar a propriedade em favor
de alguém que, por ter permanecido na coisa com posse
animus domini, contínua, ininterrupta, pacífica e pública, pelo
tempo exigido por lei. Pode ocorrer que o possuidor tenha
permanecido todo o tempo necessário, e tenha-se tornado
proprietário, mas que tenha perdido a posse, logo depois.
Isso não o impede de pedir a declaração de propriedade em
seu favor. A única ressalva é que ele deve incluir — no polo
passivo — o atual possuidor. É o que resulta da Súmula 263
do STF: “O possuidor deve ser citado pessoalmente para a
ação de usucapião”. O possuidor a que a súmula se refere é o
que tem a posse atual da coisa. Ele deve ser citado na ação
ajuizada pelo usucapiente, que perdeu posteriormente a
posse.” (Direito Processual Civil esquematizado. 2ª ed., São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 796).

Além disso, o autor deverá requerer a manifestação dos representantes da Fazenda


Pública da União, do Estado/DF e do Município.

Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes,
ou seja, dos vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja? SIM. Isso foi
dito acima. Perguntei de novo apenas para ter certeza que você entendeu. Essa
exigência é antiga. Em 1964, o STF aprovou uma súmula falando isso. Confira:
Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado
pessoalmente para a ação de usucapião.

Em 1973, foi editado o antigo CPC e ele trouxe, em seu art. 942, a previsão de que o
autor da ação de usucapião deveria requerer “a citação daquele em cujo nome estiver
registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em
lugar incerto e dos eventuais interessados”.

(...) Em regra, seja qual for o procedimento a ser adotado na


ação de usucapião - ordinário, sumário ou especial -, é de
extrema relevância a citação do titular do registro, assim como
dos confinantes e confrontantes do imóvel usucapiendo. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1275559/ES, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 07/06/2016.

No CPC/2015 existe previsão expressa de citação dos confinantes? SIM. Essa


obrigatoriedade encontra-se no art. 246, § 3º do CPC/2015 e pode ser assim resumida:
 Regra: na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados
pessoalmente.
 Exceção: quando a ação de usucapião tiver por objeto unidade autônoma de
prédio em condomínio, tal citação é dispensada.

Por que os confinantes têm que ser citados na ação de usucapião? Qual é a razão de
o CPC trazer essa exigência? Por duas razões:
1) os confinantes podem trazer informações úteis ao deslinde
do processo;
2) a depender do caso concreto, o confinante pode ter que
defender os limites de sua propriedade. Ex: o autor afirma que
a fazenda objeto da usucapião termina depois do córrego; o
confinante contesta essa alegação e comprova que a área do
córrego já está dentro de sua propriedade.

Como explica Fábio Caldas de Araújo:


“Os confinantes atuam diretamente na avaliação das
confrontações traçadas pelo requerente garantindo a
integridade de suas respectivas propriedades. E de forma
indireta atuam como testemunha do prescribente,
delimitando o espaço geográfico em que o mesmo assenta sua
posse ad usucapionem. (ARAÚJO, Fábio Caldas de. Usucapião.
São Paulo: Malheiros, 2013, p. 454).
Dessa forma, o principal objetivo da citação dos confinantes é o de evitar que eles
sofram prejuízos, razão pela qual é indispensável a sua citação.

E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta
do processo? NÃO. É o que foi decidido no Informativo 616 do STJ.

Veja importante lição doutrinária nesse sentido:


“Caso qualquer dos confrontantes deixe de ser citado
pessoalmente, a sentença que ferir interesses seus, que seriam
defendidos na ação de usucapião, é, a nosso ver, inexistente,
por falta de um pressuposto processual de existência do
processo, como também o seria caso não fosse publicado o
edital previsto no art. 942, II, do CPC.
Porém, se, apesar da falta de citação de um dos
confrontantes, a sentença a ele não disser respeito, ou seja, a
área usucapienda em nada afete sua área de domínio, posse
ou qualquer outro interesse, não será caso de inexistência ou
nulidade ou ineficácia da sentença, pois este não tem, neste
caso, no processo, interesse de réu, de parte, fato que só se
pode constatar ao final da ação. Daí a necessidade, por
precaução, da citação de todos. Trata-se, pois, de
necessariedade secundum eventum litis.” (PINTO, Nelson Luiz.
Ação de usucapião. São Paulo: RT, 1991, p. 82-83)

E o que acontece caso não haja a citação do proprietário do imóvel (e seu cônjuge)?
Neste caso, o vício é mais grave. A sentença de usucapião proferida sem a citação do
proprietário e seu cônjuge será considerada absolutamente ineficaz, inutiliter data,
tratando-se de nulidade insanável.

41.2. Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em
ação de usucapião, esta decisão produzir a efeitos no juízo cível, devendo a ação ser
extinta por perda do objeto – (Info 613)

Há perda de objeto da ação de usucapião proposta em juízo cível na hipótese em


que juízo criminal decreta a perda do imóvel usucapiendo em razão de ter sido
adquirido com proventos de crime.
João praticou um crime. Com o dinheiro obtido com o delito, ele comprou uma casa.
No processo criminal, o juiz decretou, em março/2012, o sequestro da casa
comprada. João fugiu e abandonou o imóvel. Em abril/2012, Pedro invadiu a casa e
passou a morar lá. Em maio/2017, após mais de 5 anos morando no imóvel, Pedro
ajuizou ação de usucapião (art. 1.240 do CC). A ação de usucapião estava tramitando
até que, em outubro/2017, transitou em julgado a sentença do juiz condenando João
pela prática do crime. Como efeito da condenação, o magistrado determinou o
confisco da casa (art. 91, II, “b”, do CP). A ação de usucapião perde o objeto,
considerando que este tema foi definido no juízo criminal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.563-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/9/17
(Info 613).
41.3. A decretação da falência do proprietário do imóvel interrompe o prazo para
que o possuidor possa adquirir este bem por usucapião – (Info 613)

O curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a massa falida


é interrompido com a decretação da falência.
Ex: João é possuidor, há 4 anos e 6 meses, de uma área urbana de 200m2, que utiliza
para a sua própria moradia. Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá
mora há todos esses anos sem oposição de ninguém. Imagine que foi decretada a
falência da empresa que é proprietária desse imóvel. Isso significa que, neste
instante, o prazo para João adquirir o bem por usucapião vai ser interrompido, ou
seja, vai recomeçar do zero.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.680.357-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 10/10/17 (Info 613).

41.4. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que
o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) –
IMPORTANTE!!!

O Estatuto da Cidade, ao tratar sobre a ação de usucapião especial urbana, prevê


que "o autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita,
inclusive perante o cartório de registro de imóveis."
Isso significa que o autor da ação de usucapião especial urbana gozará sempre da
gratuidade da justiça? Há uma presunção absoluta de que este autor não tem
recursos suficientes para pagar as custas? NÃO.
O art. 12, § 2º da Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) estabelece uma presunção
relativa de que o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente. Isso
significa que essa presunção pode ser ilidida (refutada) a partir da comprovação
inequívoca de que o autor não é considerado "necessitado".
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.822-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/2/17
(Info 599).

41.5. Indivíduo que comprou e tem a posse de veículo pode propor usucapião se o
automóvel estiver registrado em nome de terceiro – (Info 593)

O indivíduo que tem a propriedade de um veículo que, no entanto, está registrado


em nome de um terceiro no DETRAN, possui interesse de agir para propor ação de
usucapião extraordinária (art. 1.261 do CC) já que, com a sentença favorável, poderá
regularizar o bem no órgão de trânsito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.177-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25/10/16 (Info 593).
OBS:
Sílvio de Salvo Venosa já enfrentou o tema:
"Por vezes, terá o possuidor de coisa móvel necessidade de
comprovar e regularizar a propriedade. Suponhamos a
hipótese de veículos. Como toda coisa móvel, sua propriedade
transfere-se pela tradição. O registro na repartição
administrativa não interfere no princípio do direito material.
No entanto, a ausência ou defeito no registro administrativo
poderá trazer entraves ao proprietário, bem como sanções
administrativas. Trata-se de caso típico no qual, não logrando
o titular regularizar a documentação administrativa do
veículo, irregular por qualquer motivo, pode obter a
declaração da propriedade por meio da usucapião.” (Direito
Civil: Direitos Reais. 15ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 264).

41.6. Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja
inferior ao "módulo urbano" – (Info 584)

Não obsta o pedido declaratório de usucapião especial urbana o fato de a área do


imóvel ser inferior à correspondente ao "módulo urbano" (a área mínima a ser
observada no parcelamento de solo urbano por determinação infraconstitucional).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.360.017-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 5/5/16 (Info
584).

Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, o reconhecimento do direito à


usucapião especial urbana não pode ser obstado por legislação infraconstitucional
que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel
(dimensão do lote).
STF. Plenário. RE 422349, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/04/15 (Info 783 STF).
OBS:
Requisitos da usucapião especial urbana: Está prevista no art. 183 da CF/88, sendo
também reproduzida no art. 1.240 do CC e no art. 9º da Lei 10.257/2001. Para se ter
direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo,
250m2;
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo,
5 anos ininterruptos, sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou
de sua família;
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem
imóvel (urbano ou rural).

Algumas observações:
 Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de
boa-fé;
 Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
 É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for
calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área
comum, como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa);
 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à
mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

ATENÇÃO: Segundo entende o STF e o STJ, se forem preenchidos os requisitos do art.


183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel
em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação
local para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar
esse direito, que tem índole constitucional.

Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento
dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor
obstáculos, de índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de
parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.
41.7. Pode ser deferida usucapião especial rural ainda que a área do imóvel seja
inferior ao módulo rural – (Info 566) – IMPORTANTE!!!

Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião


especial rural, prevista no art. 191 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido
alegando que a área usucapienda era muito inferior ao mínimo legal permitido para
desmembramento ou divisão de gleba rural. Em outras palavras, o magistrado juiz
argumentou, que apesar de o autor preencher os requisitos constitucionais, a
legislação não permite que uma área tão pequena seja desmembrada e se torne um
imóvel com matrícula própria.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na legislação
infraconstitucional impede que a pessoa tenha direito à usucapião especial rural?
NÃO. Presentes os requisitos exigidos no art. 191 da CF/88, o imóvel rural cuja área
seja inferior ao "módulo rural" estabelecido para a região poderá ser adquirido por
meio de usucapião especial rural.
A CF/88, ao instituir a usucapião rural, prescreveu um limite máximo de área a ser
usucapida, sem impor um tamanho mínimo. Assim, estando presentes todos os
requisitos exigidos pelo texto constitucional, não se pode negar a usucapião
alegando que o imóvel é inferior ao módulo rural previsto para a região.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.040.296-ES, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 566).

41.8. Impossibilidade de declaração de ofício da usucapião – (Info 560) –


IMPORTANTE!!!

Alguns autores afirmam que a USUCAPIÃO também pode ser chamada de


prescrição aquisitiva.
Assim, existiriam em nosso ordenamento jurídico, duas formas de prescrição:
a) Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita).
b) Prescrição aquisitiva (usucapião).
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 prevê que “o juiz pronunciará, de ofício, a
prescrição”. Essa regra do art. 219, § 5º do CPC 1973 aplica-se apenas para a
prescrição extintiva ou também para a prescrição aquisitiva (usucapião)? O juiz
pode reconhecer, de ofício, a usucapião? Ex: Pedro, mesmo sem ser proprietário,
está morando em um imóvel há mais de 20 anos sem ser incomodado por ninguém;
determinado dia, João (que figura no registro de imóveis como proprietário do
bem) ajuíza ação de reintegração de posse; o juiz, mesmo sem que Pedro alegue,
poderá declarar que houve usucapião (prescrição aquisitiva)?
NÃO. O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não autoriza a declaração, de ofício, da
usucapião. Em outras palavras, o juiz não pode reconhecer a usucapião a não ser
que haja requerimento da parte. Não se aplica o § 5º do art. 219 do CPC 1973 à
usucapião.
O disposto no § 5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas,
conforme expressamente dispõe o art. 220.
Além disso, a prescrição extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo
inadequada a aplicação da disciplina de um deles frente ao outro, uma vez que a
expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de usucapião, tem razões mais
ligadas a motivos fáticos/históricos.
Essa conclusão acima exposta persiste com o CPC 2015? SIM. Mesmo com o novo
CPC, o juiz continuará sem poder declarar de ofício a usucapião.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.106.809-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Marco Buzzi, julgado em 3/3/2015 (Info 560).

42. USUFRUTO
42.1. Usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória
– (Info 550) – (TJMS-2015)

Usufruto é o direito real e temporário de usar e fruir (retirar frutos e utilidades)


coisa alheia (bem móvel ou imóvel), de forma gratuita, sem alterar-lhe a substância
ou destinação econômica.
O usufrutuário detém a posse direta do bem. Além disso, como se trata de direito
real, ele também possui o poder de sequela, podendo perseguir a coisa, aonde quer
que ela vá.
Como o usufrutuário detém a posse direta do bem, é óbvio que ele pode se valer
das ações possessórias caso esteja sendo ameaçado em sua posse. No entanto, como
o usufruto é um direito real e como o usufrutuário detém poder de sequela, a
doutrina e a jurisprudência também admitem que ele ajuíze ação reivindicatória –
de caráter petitório – com o objetivo de fazer prevalecer o seu direito sobre o bem,
seja contra o nu-proprietário, seja contra terceiros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.202.843-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/10/14
(Info 550).
(TJMS-2015-VUNESP): É possível ao usufrutuário propor ação reivindicatória
para a defesa de seu usufruto vitalício? Sim, pois, na condição de titular de um
direito real limitado, dotado de direito de sequela, tem legitimidade e interesse
processual. BL: Info 550 do STJ.

43. DIREITO DE VIZINHANÇA


43.1. A proibição de construir janelas a menos de 1,5m do terreno vizinho é objetiva
– (Info 592)

A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas
a menos de 1,5m do terreno vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira
presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação não tem por objetivo
limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho
de outras espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física
(ex: busca impedir que objetos caiam ou sejam arremessados de uma propriedade
a outra).
Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua configuração, a presença
do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m
do terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à
eventual atenuação do devassamento visual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.094-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/10/16
(Info 592).

43.2. Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas – (Info 591)
O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu
vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas
provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de
águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho
prejudicado.
Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/9/16 (Info 591).

44. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO


44.1. Companheira sobrevivente tem direito real de habitação de que trata o art.
1.831 do CC – (Info 533)

A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitação (art. 1.831 do CC)
sobre o imóvel no qual convivia com o companheiro falecido, ainda que tenha
adquirido outro imóvel residencial com o dinheiro recebido do seguro de vida do
de cujus.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.227-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 17/12/13 (Info
533).

45. SEPARAÇÃO JUDICIAL E DIVÓRCIO


45.1. A separação judicial continua existindo no ordenamento jurídico mesmo após
a EC 66/2010 – (Infos 604 e 610) – IMPORTANTE!!!

A EC 66/2010 não revogou, expressa ou tacitamente, a legislação ordinária que trata


da separação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.431.370-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 15/8/17
(Info 610).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14/3/17 (Info
604).
OBS:
EC 66/2010: A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação
do art. 226, § 6º da CF/88, suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de
dois anos de separação de fato no divórcio. A EC 66/2010 retirou do texto da CF/88 a
referência expressa à existência de separação judicial.

Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art.
1.571, III, do CC (que menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente
revogado. Em outras palavras, o constituinte reformador tirou da Constituição a
separação, mas ela ainda continua presente no Código Civil. Diante disso, surgiram
duas correntes:

O Direito brasileiro ainda admite a existência da separação?


SIM NÃO
Uma primeira corrente defende que a Sustenta que o art. 1.571, III, do CC,
separação judicial continua a ser mesmo
possível para aqueles que assim não tendo sido alterado expressamente,
desejam. foi revogado pela EC 66/2010 (não
recepção).
Os autores filiados a essa posição Logo, não é mais possível que haja
afirmam que existem pessoas que, por separação judicial, mas apenas o
razões religiosas ou filosóficas, não divórcio.
admitem o divórcio e, assim, querem
ficar apenas “separadas”, mas não
“divorciadas”.
Outro argumento é o de que a separação
seria uma alternativa interessante para
os casais que não descartam a
possibilidade de reatarem, considerando
que se estiverem apenas separados
poderão restabelecer, a todo tempo, a
sociedade conjugal. Ao contrário, se
estiverem divorciados e desejarem se
reconciliar, teriam que casar novamente,
o que seria mais burocrático.
Na V Jornada de Direito Civil foi Essa segunda posição era defendida por
aprovado um enunciado adotando a 1ª inúmeros doutrinadores, como Paulo
corrente: Lôbo, Rodrigo da Cunha Pereira, Pablo
Enunciado 514: Art. 1.571. A Emenda Stolze, Maria Berenice Dias, Flávio
Constitucional n. 66/2010 não extinguiu Tartuce, Cristiano Chaves e Nelson
o instituto da separação judicial e Rosenvald.
extrajudicial.

Principais argumentos invocados para esta conclusão:


 Analisando a literalidade do art. 226, § 6º, percebe-se que a única alteração
promovida pela EC 66/2010 foi a supressão do requisito temporal para
divórcio, bem como do sistema bifásico, para que o casamento seja dissolvido
pelo divórcio. Ocorreu, portanto, facilitação ao divórcio (e não a abolição da
separação judicial).
 O texto constitucional dispõe que o casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio. Isso significa que a CF conferiu uma faculdade aos cônjuges, não
significando, contudo, que tenha extinguido a possibilidade de separação
judicial.
 Se o divórcio é permitido sem qualquer restrição, forçoso concluir que também
é possível a separação judicial considerando que, quem pode o mais, pode o
menos também.
 Entender que a alteração promovida pela EC 66/10 suprimiu a existência da
separação extrajudicial ou judicial levaria à interpretação de que qualquer
assunto que não fosse mais tratado no texto constitucional por
desconstitucionalização estaria extinto, o que seria um absurdo.
 Não ocorreu a revogação tácita da legislação infraconstitucional que versa
sobre a separação, dado que a EC 66/2010 não tratou em momento algum
sobre a separação, bem como não dispôs sobre matéria com ela incompatível.
 O novo CPC (Lei nº 13.105/2015) manteve em diversos dispositivos referências
ao instituto da separação judicial, inclusive regulando-o no capítulo que trata
das ações de família, demonstrando, de forma indiscutível, que a mens legis foi
a de manter a figura da separação no ordenamento jurídico pátrio.

Considerando que o divórcio e a separação ainda coexistem no ordenamento jurídico,


qual seria a diferença entre eles?
Separação (judicial ou extrajudicial) Divórcio
A separação é modalidade de extinção É forma de dissolução do vínculo
da sociedade conjugal, pondo fim aos conjugal e extingue o próprio vínculo
deveres de coabitação e fidelidade, bem conjugal, pondo termo ao casamento,
como ao regime de bens (art. 1.571, III, refletindo diretamente sobre o estado
do Código Civil) sem, no entanto, civil da pessoa e permitindo que os ex-
dissolver o casamento. cônjuges celebrem novo casamento, o
que não ocorre com a separação.
A separação é uma medida temporária e O divórcio é, em tese, definitivo. Caso as
de escolha pessoal dos envolvidos, que pessoas divorciadas desejem ficar
podem optar, a qualquer tempo, por novamente juntas, precisam se casar
restabelecer a sociedade conjugal ou novamente.
pela sua conversão definitiva em
divórcio.

45.2. Em caso de divórcio no qual se pede a desconsideração inversa da


personalidade jurídica, deve-se incluir no polo passivo a pessoa que teria participado
do conluio com o cônjuge – (Info 606)

A sócia da empresa, cuja personalidade jurídica se pretende desconsiderar, que


teria sido beneficiada por suposta transferência fraudulenta de cotas sociais por um
dos cônjuges, tem legitimidade passiva para integrar a ação de divórcio cumulada
com partilha de bens, no bojo da qual se requereu a declaração de ineficácia do
negócio jurídico que teve por propósito transferir a participação do sócio/ex-marido
à sócia remanescente, dias antes da consecução da separação de fato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.522.142-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 13/6/17 (Info
606).
OBS: Em regra, a ação de divórcio é personalíssima e somente envolve os cônjuges.
No entanto, no presente caso, a sócia remanescente possui legitimidade para figurar
no polo passivo da ação de divórcio em decorrência da relação jurídica de direito
material existente entre ela e o marido da requerente, considerando que eles teriam
feito eventual conluio com o intuito de burlar a partilha de bens.
Diante de tais premissas, existe, no presente caso, a possibilidade de aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica, desde que comprovados os requisitos
legais previstos no art. 50 do CC.

46. DIVÓRCIO
46.1. Ex-cônjuge que está utilizando o bem comum de forma exclusiva poderá ser
condenado a indenizar o outro mesmo que ainda não tenha havido partilha – (Info
598)

Na separação e no divórcio, o fato de certo bem comum ainda pertencer


indistintamente aos ex-cônjuges, por não ter sido formalizada a partilha, não
representa automático empecilho ao pagamento de indenização pelo uso exclusivo
do bem por um deles, desde que a parte que toca a cada um tenha sido definida por
qualquer meio inequívoco.
Ex: João e Maria eram casados e decidiram se divorciar. Maria foi morar com a sua
mãe e João continuou no apartamento que pertence ao casal. Vale mencionar que
este é o único bem que o casal tem a partilhar. O juiz determinou o divórcio e
afirmou, na sentença, que o imóvel deveria ser dividido igualmente entre os dois
(50% para cada um dos ex-cônjuges). Apesar disso, a partilha formal do bem ainda
não foi feita. Como a partilha ainda não foi realizada, João continuou morando no
apartamento. Enquanto a partilha não for concretizada, João poderá ser condenado
a indenizar Maria, pagando a ela, mensalmente, a quantia equivalente a 50% do
valor arbitrado como sendo o aluguel deste apartamento onde ele está morando.
Isso ocorre para evitar o enriquecimento sem causa daquele que está utilizando o
bem de forma exclusiva.
Suponhamos que o juiz entenda que Maria tem direito à indenização. Ela terá
direito de receber as parcelas pretéritas desde quando? O termo inicial para o
ressarcimento deve ser a data da ciência do pedido da parte contrária, ou seja, será
a data da citação (caso seja uma ação proposta unicamente para isso) ou da
intimação (caso a indenização seja requerida em pedido reconvencional feito pelo
réu na contestação).
O fato de João ter sido condenado a pagar esta indenização poderá influenciar no
valor pago a título de pensão alimentícia? Ele poderá pedir a revisão do valor da
prestação alimentícia?
SIM. A indenização pelo uso exclusivo do bem por parte do alimentante pode
influir no valor da prestação de alimentos, pois afeta a renda do obrigado, devendo
as obrigações serem reciprocamente consideradas pelo juiz, sempre atento às
peculiaridades do caso concreto.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.250.362-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 8/2/17 (Info 598).

46.2. Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas
no momento efetivo da partilha – (Info 594)

Verificada a existência de mancomunhão, o pagamento da expressão patrimonial


das cotas societárias à ex-cônjuge, não sócia, deve corresponder ao momento efetivo
da partilha, e não àquele em que estabelecido acordo prévio sobre os bens que
fariam parte do acervo patrimonial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.107-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016
(Info 594).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria eram casados sob o regime da
comunhão parcial de bens. Em 2005, quando ainda estavam juntos, João tornou-se
sócio de um hospital, com 50% do capital social, sendo a outra metade titularizada por
um colega médico. Em 2013, João se apaixonou perdidamente por uma residente e
decidiu se divorciar. Como estava com muita pressa, João e Maria se divorciaram, mas
não realizaram, nesta ocasião, a partilha de bens. Eles fizeram apenas um acordo
prévio sobre os bens que fariam parte do acervo patrimonial, estabelecendo que
seriam partilhados em momento futuro.

É possível fazer o divórcio sem a partilha de bens? SIM. Quando um casal está se
divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os mais diversos
aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a discussão
acerca da alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode esquecer, há
também o debate sobre o patrimônio e a divisão (partilha) dos bens, de acordo com o
regime matrimonial adotado.

Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que
isso ocorra logo. No entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa
e acabar atrasando a formalização do divórcio.

Diante deste problema da vida prática, o Código Civil previu a possibilidade de os


cônjuges realizarem o divórcio e que a discussão sobre a divisão dos bens fique para
ser resolvida em um momento posterior. Confira:
Art. 1.581. O divórcio pode ser concedido sem que haja prévia
partilha de bens.

Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio
de três caminhos (Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p.
1.075):
 nos próprios autos da ação de divórcio;
 em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara
de família);
 por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007).

Mancomunhão: Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens
do patrimônio comum, eles continuarão mantendo uma relação jurídica em torno
desses bens. A doutrina afirma que, neste caso, surge um estado de “mancomunhão”
(também chamado de “condomínio de mão única ou fechada”). Mancomunhão não é
o mesmo que condomínio. No condomínio as pessoas são proprietárias de “partes
ideais” do bem, podendo aliená-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais,
pois o que se constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada,
e que dá acesso a ambos ex-cônjuges, à totalidade dos bens.

Voltando ao exemplo: Em 2017, ou seja, 2 anos após o divórcio, o casal resolveu fazer
a partilha dos bens, com destaque para as cotas sociais do hospital. Como eram
casados no regime da comunhão parcial, Maria terá direito à metade dos bens
adquiridos onerosamente durante o relacionamento. Assim, Maria terá direito à
metade das cotas sociais que pertencem a João. O ex-casal concordou que Maria
receberá o equivalente das cotas sociais em dinheiro, de forma que ela não entrará na
sociedade. A dúvida que surgiu, no entanto, foi quanto ao valor das cotas. Isso porque
de 2013 até 2017 o hospital teve uma enorme valorização, passando a ser a principal
referência médica da cidade. Em outras palavras, nestes quatro anos o hospital se
tornou muito mais valioso.

Na hora de pagar Maria, o valor das cotas deve coincidir com o seu valor histórico
da data da ruptura do relacionamento (2013) ou deverá ser fixado com base na sua
avaliação atual (2017)? Em outras palavras, considera-se o valor da data do divórcio
(em que houve o acordo prévio sobre os bens) ou do momento da partilha? Do
momento da partilha.

Embora Maria não ostente a condição de sócia da referida empresa, existia, no caso,
uma copropriedade decorrente do regime de comunhão parcial de bens e esta situação
perdurou mesmo após o divórcio (quando surgiu a mancomunhão).
Durante quatro anos, Maria, embora detentora de metade das cotas, ou de sua
expressão venal, viu seu patrimônio imobilizado, ser utilizado pelo ex-cônjuge para
alavancar, em retroalimentação, o crescimento da sociedade empresária.

Nesse período, Maria se atrelou, por força da copropriedade que exercia sobre as cotas
com seu ex-cônjuge, à sorte da sociedade, tanto assim, que se essa sociedade tivesse
falido, ela teria tido prejuízo e não teria mais nenhum patrimônio a partilhar.

Então, não se pode privar a ex-esposa dos resultados positivos decorrentes do sucesso
da sociedade, sob pena de gerar um enriquecimento sem causa para o ex-marido.

46.3. Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência suportada por
mulher no âmbito familiar e doméstico – (Info 572)

A extinção de medida protetiva de urgência diante da homologação de acordo entre


as partes não afasta a competência da Vara Especializada de Violência Doméstica
ou Familiar contra a Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma
situação de agressividade vivenciada pela vítima e que fora distribuída por
dependência à medida extinta.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.030-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/10/15 (Info
572).

46.4. Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio


direto consensual – (Info 558)

O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de
ser realizada audiência de conciliação ou ratificação antes de o juiz decretar o
divórcio consensual.
Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010.
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226,
§ 6º da CF/88, eliminando os prazos para a concessão do divórcio e afastando a
necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as
causas que geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se divorciar,
não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a
figura da intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora
efetivamente direto.
Por força da alteração constitucional, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122
do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de
divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme
disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais
formalidades foram atendidas.
Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC
1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não
havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação
ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada
produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir.
Obs: seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a
realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é
tratado nos arts. 731 a 733.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 17/3/15 (Info 558).
47. CASAMENTO
47.1. Justiça brasileira poderá, em processo de divórcio, dispor sobre a partilha de
bem situado no exterior – (Info 597)

É possível, em processo de dissolução de casamento em curso no país, que se


disponha sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de bens da sociedade
conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha reflexos sobre bens situados
no exterior para efeitos da referida partilha.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.913-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 8/11/16 (Info 597).
OBS: Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria são casados e desejam se
divorciar. O único bem que possuem a partilhar são 200 mil dólares depositados em
uma conta bancária conjunta de um banco em Miami (EUA), onde moraram durante
5 anos antes de retornarem ao Brasil. Maria ajuizou ação de divórcio na vara de família
do Rio de Janeiro (RJ) pedindo a dissolução da sociedade conjugal e 50% do valor
depositado. João alegou que a Justiça brasileira seria incompetente para processar o
inventário e a partilha do dinheiro depositado em conta de banco situado em outro
país. Segundo afirmou, a Justiça brasileira somente seria competente se a conta
bancária estivesse no Brasil. Invocou como fundamento jurídico o art. 23 do
CPC/2015:
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com
exclusão de qualquer outra:
(...) III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união
estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda
que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional.

Além disso, João alegou que a Justiça brasileira não tem soberania para determinar
ordens sobre bens localizados no estrangeiro.

O pedido de Maria poderá ser conhecido? A Justiça brasileira poderá dispor sobre esse
dinheiro mesmo ele estando em outro país? A Justiça brasileira é competente para o
caso? SIM. O art. 23, III, do CPC afirma que a Justiça brasileira é competente (com
exclusão de qualquer outra) para fazer a partilha de bens situados no Brasil. O que
esse dispositivo está querendo dizer é que a Justiça de outro país não pode dispor
sobre esse tema. No entanto, o art. 23, III, não está afirmando que a Justiça brasileira
está impedida de fazer a partilha de bens situados no exterior.

Realmente, o princípio da soberania impede qualquer ingerência do Poder Judiciário


Brasileiro na efetivação de direitos relativos a bens localizados no exterior. Isso não
significa, contudo, que a Justiça brasileira não possa, em processo de divórcio que
tramita em nosso país, dispor sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de
bens, ainda que a decisão tenha reflexos sobre bens situados no exterior para efeitos
da referida partilha. Depois de a Justiça brasileira decidir, caberá à parte, assim
entendendo, promover a efetivação de seu direito material aqui reconhecido mediante
os trâmites adequados conforme o direito internacional. Em outras palavras, a Justiça
brasileira decide e depois a parte buscará a homologação e cumprimento da decisão
no país onde está situado o bem.
Obs: o caso concreto foi decidido ainda com base no art. 89, II, do CPC/1973, mas
segundo o Dizer o Direito não haveria alteração no resultado se o feito tivesse
tramitado sob a égide do novo CPC.

48. REGIME DE BENS


48.1. CASAMENTO: Regime da separação obrigatória de bens para idosos não se
aplica se o casamento foi precedido de união estável iniciada antes da idade-limite –
(Info 595)

A proteção matrimonial conferida ao noivo, nos termos do art. 258, parágrafo único,
II, do Código Civil de 1916, não se revela necessária quando o enlace for precedido
de longo relacionamento em união estável, que se iniciou quando os cônjuges não
tinham restrição legal à escolha do regime de bens.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.281-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 1/12/16 (Info
595).
OBS:
Como é a situação no Código Civil de 2002? O Código Civil de 2002 possui uma
previsão semelhante, com a diferença de ter ampliado a idade para 70 anos. Confira:
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento:
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;

Desse modo, a decisão do STJ acima exposta (REsp 1.318.281-PE) pode ser aplicada
para as situações ocorridas sob a égide do CC-2002. Assim, adaptando o
entendimento, podemos afirmar o seguinte:

A proteção matrimonial conferida pelo art. 1.641, II, do


Código Civil de 2002, não deve ser aplicada quando o
casamento for precedido de união estável que se iniciou
quando os cônjuges eram menores de 70 anos.

Esse é também o entendimento consolidado na doutrina (enunciado nº 261, da III


Jornada de Direito Civil).

OBS: a doutrina praticamente de forma unânime afirma que o art. 1.641, II, do CC-
2002 é inconstitucional por violar a dignidade da pessoa humana e o princípio da
proporcionalidade. Vale ressaltar, no entanto, que ainda não há decisão do STF sobre
o tema.

48.2. Comunhão parcial e inexistência de meação de valores do FGTS depositados


antes do casamento – (Info 581) – IMPORTANTE!!!

Diante do divórcio de cônjuges que viviam sob o regime da comunhão parcial de


bens, não deve ser reconhecido o direito à meação dos valores que foram
depositados em conta vinculada ao FGTS em datas anteriores à constância do
casamento e que tenham sido utilizados para aquisição de imóvel pelo casal
durante a vigência da relação conjugal.
Ao contrário, deve ser reconhecido o direito à meação dos valores do FGTS
auferidos DURANTE a constância do casamento, ainda que o saque daqueles
valores não seja realizado imediatamente à separação do casal.
Os proventos do trabalho recebidos, por um ou outro cônjuge, na vigência do
casamento, compõem o patrimônio comum do casal, a ser partilhado na separação,
tendo em vista a formação de sociedade de fato, configurada pelo esforço comum
dos cônjuges, independentemente de ser financeira a contribuição de um dos
consortes e do outro não.
A incomunicabilidade prevista no inciso VI do art. 1.659 do CC somente ocorre
quando os valores são percebidos em momento anterior ou posterior ao casamento.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.399.199-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para acórdão
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/3/2016 (Info 581).
OBS:
Resumindo o entendimento do STJ quanto ao inciso VI do art. 1.659:
 Se os proventos do trabalho foram adquiridos ANTES ou DEPOIS do
casamento: não se comunicam. Os valores pertencerão ao patrimônio
particular de quem tem o direito a seu recebimento.
 Se os proventos do trabalho foram adquiridos DURANTE o casamento:
comunicam-se.

No caso concreto, contudo, o FGTS não se comunicou porque era referente a períodos
de trabalho laborados antes do casamento.

Quais são os requisitos para que se reconheça a filiação socioafetiva? Para que seja
reconhecida a filiação socioafetiva, é necessário que fiquem demonstradas duas
circunstâncias bem definidas:
a) vontade clara e inequívoca do apontado pai ou mãe
socioafetivo de ser reconhecido(a), voluntária e juridicamente,
como tal (demonstração de carinho, afeto, amor); e
b) configuração da denominada “posse de estado de filho”,
compreendida pela doutrina como a presença (não
concomitante) de tractatus (tratamento, de parte à parte, como
pai/mãe e filho); nomen (a pessoa traz consigo o nome do
apontado pai/mãe); e fama (reconhecimento pela família e
pela comunidade de relação de filiação), que naturalmente
deve apresentar-se de forma sólida e duradoura.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 21/10/2014 (Info 552).

Existe algum dispositivo legal que pode ser invocado ao caso? Pode ser aplicado, por
analogia, o raciocínio previsto no art. 42, § 6º do ECA:

Art. 42 (...)
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso
do procedimento, antes de prolatada a sentença.

O STJ adota uma interpretação ampliativa desse dispositivo, afirmando que em


situações nas quais ficar amplamente demonstrada a inequívoca vontade de adotar, é
possível o deferimento da adoção póstuma mesmo que o adotante não tenha dado
início ao processo formal para tanto (STJ. 3ª Turma. REsp 1.326.728/RS, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 20/8/2013).

Dessa forma, ainda que o pai, em vida, não tenha formalizado o processo de adoção
do filho, isso pode ser reconhecido se ficar provado que havia entre eles uma ligação
de paternidade socioafetiva.

Existe uma relação direta entre a possibilidade de adoção post mortem com a filiação
socioafetiva, conforme já reconheceu o STJ:

(...) Para as adoções post mortem, vigem, como comprovação


da inequívoca vontade do de cujus em adotar, as mesmas
regras que comprovam a filiação socioafetiva: o tratamento do
menor como se filho fosse e o conhecimento público dessa
condição. (...) (STJ. 3ª Turma. REsp 1.217.415/RS, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 19/06/2012).

Tal entendimento consagra a ideia de que o parentesco civil não advém


exclusivamente da origem consanguínea, podendo florescer da socioafetividade, o
que não é vedado pela legislação pátria, e, portanto, plenamente possível no
ordenamento.

48.3. Doação e o regime de comunhão parcial de bens – (Info 523)

Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão
parcial dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a
doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar
os bens do casal.
Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato
de doação, ficar expressa a afirmação de que a doação é para o casal.
Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de
liberalidade ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).
STJ. 3ª Turma. REsp 1318599/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/04/13 (Info 523).

49. UNIÃO ESTÁVEL


49.1. Partilha de prêmio da loteria mesmo que se trate de relacionamento regulado
pelo regime da separação obrigatória (art. 1.641, II, do CC) – (Info 616) – Atenção!
Concursos Estaduais!

Se a pessoa inicia uma união estável possuindo mais de 70 anos, o regime


patrimonial que irá regular essa relação é o da separação obrigatória de bens (art.
1.641, II, do CC).
Apesar disso, se, durante essa relação, um dos companheiros ganhar na loteria, o
valor do prêmio integra a massa de bens comuns do casal (art. 1.660, II, do CC), de
forma que pertence a ambos.
Assim, havendo dissolução da união estável, o valor desse prêmio deverá ser
partilhado igualmente entre os consortes.
Em suma, o prêmio de loteria, recebido por ex-companheiro septuagenário durante
a relação de união estável, deve ser objeto de meação entre o casal em caso de
dissolução do relacionamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.689.152-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 24/10/17 (Info
616).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Em 2012, João, 70 anos de idade, passou a
viver em união estável com Carla. Em 2015, João ganhou R$ 2 milhões na MegaSena.
Alguns dias depois, João decidiu terminar o relacionamento. Em razão disso, Carla
ajuizou ação de reconhecimento e dissolução de união estável pedindo o pagamento
de pensão alimentícia e a partilha dos bens, dentre os quais o prêmio da loteria. João
alegou que não tinha que dividir o patrimônio considerando que, quando a união
estável teve início, ele possuía mais de 70 anos de idade, de forma que o regime
patrimonial que regulou a relação dos dois foi o regime legal da separação obrigatória
de bens, previsto no art. 1.641, II, do Código Civil:
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento:
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;

Ao maior de 70 anos é imposto o regime de separação obrigatória de bens. O objetivo


do legislador foi o de proteger o idoso e seus herdeiros de casamentos realizados por
interesse estritamente econômico.

Essa regra do art. 1.641, II, do CC fala em “casamento”. É possível estendê-la também
para a união estável? SIM. O STJ possui alguns julgados afirmando que essa regra
específica do casamento deve ser estendida à união estável. Nesse sentido: STJ. 4ª
Turma. REsp 646.259/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/06/2010.

Havendo dissolução de união estável regida pelo regime da separação obrigatória de


bens (art. 1.641, II, do CC), como deve ser feita a partilha dos bens? Deverão ser
partilhados apenas os bens adquiridos onerosamente na constância da união
estável, e desde que comprovado o esforço comum na sua aquisição (STJ. 2ª Seção.
EREsp 1171820/PR, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/08/2015). Desse modo, em nosso
exemplo, Carla terá direito à meação dos bens adquiridos durante a união estável,
desde que comprovado o esforço comum.

E quanto ao prêmio da loteria, ela terá direito? SIM. Segundo o Código Civil, a loteria
ingressa na comunhão sob a rubrica de “bens adquiridos por fato eventual, com ou
sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”. Veja:
Art. 1.660. Entram na comunhão:
(...)
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o
concurso de trabalho ou despesa anterior;

“Os bens adquiridos por fato eventual, ou seja, a título


gratuito e não esperado, também integram a massa de bens
comuns, mesmo não havendo o consórcio de esforço comum
dos nubentes para tal aquisição, sendo, neste caso,
responsável o fator sorte.” (TEPEDINO, Gustavo. Código civil
interpretado conforme a Constituição da República. Vol. IV,
Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p. 306)
“O inciso II trata dos bens adquiridos por fato eventual. Nesse
caso, não se leva em consideração se houve concurso de
trabalho ou despesa anterior de qualquer cônjuge. São
exemplos os bens havidos por aluvião (art. 1.250), por
descoberta (art. 1.233), os tesouros (art. 1.264), a aposta e a
loteria”. (SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Código Civil
Comentado. 6ª ed., São Paulo: Saraiva. p. 1.810).

Mas João era maior de 70 anos... Mesmo assim, o prêmio da loteria irá ser objeto de
partilha? SIM. O STJ apontou quatro razões:
1) Trata-se de bem comum, que ingressa no patrimônio do
casal, independentemente da aferição do esforço de cada
um, pouco importando se houve ou não despesa do outro
consorte. A própria redação do dispositivo afirma,
expressamente, que “os bens adquiridos por fato eventual,
com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”, são
comuns.

2) Foi o próprio legislador quem estabeleceu a referida


comunicabilidade.

3) A comunicabilidade é a regra, que admite exceções, a


depender do regime de bens, sendo que aquele de separação
legal do septuagenário é diverso do regime de separação
convencional, tendo recebido mitigação reconhecida pela
jurisprudência do STF e do STJ, sendo, em verdade, uma
mescla de regimes.

4) A partilha dos referidos ganhos com a loteria não ofende


o objetivo da lei, já que o prêmio foi ganho durante a relação,
não havendo falar em matrimônio (união estável) realizado
por interesse. A pessoa não sabia que ele iria ganhar o prêmio.

49.2. Partilha dos direitos de concessão de uso para fins de moradia de imóvel
público – (Info 609)

Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de


uso para moradia de imóvel público.
Ex: João e Maria viviam em união estável. No curso dessa união eles passaram a
residir em uma casa pertencente ao Governo do Distrito Federal sobre o qual
receberam a concessão de uso para fins de moradia. Depois de algum tempo
decidem por fim à relação. Deverá haver uma partilha sobre os direitos
relacionados com a concessão de uso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.494.302-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 13/6/17 (Info
609).
OBS:
E como fazer isso na prática? O STJ afirmou que a melhor forma de se efetivar a
meação deveria ser decidida pelo juiz de 1ª instância, existindo algumas alternativas,
dentre elas:
a) convocar a entidade cedente (Governo do DF) para dividir a concessão;
b) autorizar a alienação judicial da concessão;
c) permitir que um dos dois permaneça na casa e que pague ao outro uma indenização
proporcional por estar utilizando o bem de forma exclusiva.

49.3. O casal não é obrigado a formular pedido extrajudicial antes de ingressar com
ação judicial pedindo a conversão da união estável em casamento – (Info 609) –
IMPORTANTE!!!

O art. 8º da Lei nº 9.278/96 prevê a possibilidade de que a conversão da união


estável em casamento seja feita pela via extrajudicial. No entanto, este dispositivo
não impõe a obrigatoriedade de que se formule o pedido de conversão na via
administrativa antes de se ingressar com a ação judicial.
O art. 8º da Lei 9.278/96 deve ser interpretado como sendo uma faculdade das
partes. Dessa forma, o ordenamento jurídico oferece duas opções ao casal:
a) pode fazer a conversão extrajudicial, nos termos do art. 8º da Lei 9.278/96; ou
b) pode optar pela conversão judicial, conforme preconiza o art. 1.726 do CC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.937-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/8/17 (Info 609).
OBS:
Lei 9.278/96, Art. 8º. Os conviventes poderão, de comum
acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união
estável em casamento, por requerimento ao Oficial do
Registro Civil da Circunscrição de seu domicílio.

CC/02, Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em


casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e
assento no Registro Civil.

49.4. Em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as


mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge – (Info 609)

O STF fixou a seguinte tese:


No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes
sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil.
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/2017 (repercussão geral)
(Info 864).

O STJ acompanhou o entendimento do Supremo e também decidiu de forma


similar:
É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no
art. 1.829 do CC/2002.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/6/17
(Info 609).
OBS:
Sucessão legítima: É a transmissão do patrimônio do falecido para os seus herdeiros,
segundo uma ordem, que é chamada de ordem de vocação hereditária, sendo prevista
no art. 1.829 do Código Civil.

O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado
com Maria, morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança?
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). Assim, se a pessoa morrer e for
casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança. Vale ressaltar, no entanto, que, se
o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito
à herança, a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina
e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro
necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os
descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os
descendentes. Vejamos:

1) Situações em que o cônjuge 2) Situações em que o cônjuge não


herda em concorrência com os herda em concorrência com os
descendentes descendentes
 Regime da comunhão parcial de  Regime da comunhão parcial de
bens, existirem bens particulares bens, se não havia bens
do falecido. particulares do falecido.
 Regime da separação  Regime da separação legal
convencional de bens (é aquela (obrigatória) de bens (é aquela
que decorre de pacto prevista no art. 1.641 do CC).
antenupcial).  Regime da comunhão universal
de bens.

Voltando ao exemplo: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e
Tiago. Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação
convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança
deixada pelo marido. Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da
comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será
meeira, mas não herdeira. Se os consortes são casados no regime da comunhão
universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à
meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao
cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.

Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens
pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”

O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou
ascendentes? Ex: João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas
deixou pai e mãe. Como será feita a divisão da herança? Neste caso, o cônjuge
sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso exemplo,
Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante. Vale ressaltar
que aqui não importa qual era o regime de bens do casal.

E se o falecido morreu sem deixar descendentes e ascendentes, o cônjuge terá direito à


herança? Ex: João, casado com Maria, morreu sem deixar filhos, netos, nem pais ou
avós. SIM. Nesta hipótese Maria terá direito à integralidade da herança.

Regras da sucessão do cônjuge: Essas regras acima explicadas envolvendo a sucessão


causa mortis do cônjuge estão previstas no art. 1.829 do Código Civil:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

E o companheiro do falecido (união estável), tem direito à herança? O que o Código


Civil previu sobre o tema? O Código Civil de 2002 trouxe as regras sobre a sucessão
do companheiro no art. 1.790:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da
sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente
na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota
equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança,
tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito
a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
da herança.

Ao se comparar este art. 1.790 com o art. 1.829 do CC veremos que o legislador trouxe
regras muito mais desvantajosas para o companheiro do que para o cônjuge do
falecido.

Um exemplo ilustra bem essa diferença de tratamento: pelo art. 1.790 do CC, se o
falecido deixar a companheira e um tio, por exemplo, esse tio iria herdar 2/3 da
herança e a companheira apenas 1/3.
Tese da inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC: Diversos doutrinadores de Direito
Civil sempre defenderam que o art. 1.790 do CC seria inconstitucional. Isso porque a
Constituição Federal protege a união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º).
Dessa forma, não existe uma superioridade do casamento sobre a união estável,
devendo os dois institutos serem equiparados.

Essa tese foi acolhida pelo STF? O art. 1.790 do CC, que trata sobre a sucessão do
companheiro, é inconstitucional? SIM. O STF entendeu que o art. 1.790 do Código
Civil de 2002 é inconstitucional.

Mudanças na noção tradicional de família: O regime sucessório sempre buscou


proteger a família do falecido. A noção tradicional de família esteve ligada durante
muito tempo à ideia de casamento. Vale ressaltar, no entanto, que esse modelo passou
a sofrer alterações, principalmente durante a segunda metade do século XX, quando
o laço formal do matrimônio passou a ser substituído pela afetividade e por um
projeto de vida em comum.

CF/88 protege diferentes modalidades de família: A CF/88 prevê não apenas a família
decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas outras modalidades
de família. Umas das espécies de família protegidas pela Constituição é a família
derivada da união estável, seja ela hetero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º
do art. 226 do Texto Constitucional:
Art. 226 (...)
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Código Civil de 2002 regrediu no tratamento do tema: O legislador, cumprindo a


vontade constituinte, editou duas leis ordinárias que equiparavam os regimes
jurídicos sucessórios do casamento e da união estável (Lei nº 8.971/94 e Lei 9.278/96).
O Código Civil de 2002, no entanto, regrediu no tratamento do tema e
“desequiparou”, para fins de sucessão, o casamento e a união estável, fazendo com
que o(a) companheiro(a) do falecido tivesse uma proteção bem menor do que aquela
que é conferida ao cônjuge. Dessa forma, o CC-2002 promoveu verdadeiro retrocesso,
criando uma hierarquização entre as famílias, o que não é admitido pela Constituição,
que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia, respeito e consideração.

Princípios constitucionais violados: Dessa forma, o art. 1.790 do CC é inconstitucional


porque viola:
 o princípio da igualdade;
 a dignidade da pessoa humana;
 o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à proteção
deficiente) e
 o princípio da vedação ao retrocesso.

Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de


companheiro? Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da
união estável morra? O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo
tratamento conferido ao casamento. Logo, em caso de sucessão causa mortis do
companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do
cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC.
O STF apreciou o tema em sede de recurso extraordinário submetido à repercussão
geral e fixou a seguinte tese:
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a
diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o
regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil.
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/
o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG,
Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/17 (repercussão geral) (Info
864).

Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou
companheiro(a)” Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser
considerado herdeiro necessário.

O STJ acompanhou o entendimento do STF e também decidiu da mesma forma:


É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre
cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.332.773-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 27/6/2017 (Info 609).

49.5. Benefício de previdência privada fechada não entra na partilha em caso de fim
de relação – (Info 606)

O benefício de previdência privada fechada é excluído da partilha em dissolução


de união estável regida pela comunhão parcial de bens.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.477.937-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 27/4/17
(Info 606).
OBS: O benefício de previdência privada fechada amolda-se como sendo uma das
exceções previstas no art. 1.659, VII, do CC:
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
(...)
VII — as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas
semelhantes.

A previdência complementar fechada possui natureza análoga aos institutos das


pensões, meios-soldos, montepios, incluindo-se, por isso, na expressão "outras
rendas” prevista no art. 1.659, VII, do CC/2002.

Desse modo, trata-se de verba excluída da partilha em caso de dissolução da união


estável.
Vale ressaltar, inclusive, que o valor investido na previdência complementar fechada
não pode nem ser resgatado por livre escolha do participante, sob pena de violação de
normas previdenciárias e estatutárias. Existem requisitos para que ocorra o
levantamento a fim de que se mantenha o equilíbrio financeiro e atuarial do plano de
previdência.
Admitir a possibilidade de resgate antecipado de renda investida no plano de
previdência privada fechada significaria lesar terceiros de boa-fé (demais
participantes do plano).

Apenas a título de reforço de argumentação, vale ressaltar que a aposentadoria


pública (benefício pago pelo INSS) também não é incluída na meação como "bem",
sendo incomunicável.

49.6. Imóvel doado por um companheiro para o outro deve ser excluído do montante
partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC – (Info 603)

O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo
estatuto da comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos
companheiros, através de doação pura e simples realizada pelo outro, deve ser
excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002:
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;

Ex: João e Maria vivem em união estável. Durante este relacionamento, João
comprou um apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal, na
constância da união estável, o imóvel foi doado por João, de forma graciosa, à
Maria. Isso significa que, no momento que for feita a dissolução da união estável,
este bem não irá integrar o montante partilhável. João, quando doou o imóvel, o fez
quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/4/17 (Info 603).

49.7. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL: Prazo para anular partilha de bens em


dissolução de união estável por vício de consentimento é de 4 anos – (Info 600)

É de 4 anos o prazo de decadência para anular partilha de bens em dissolução de


união estável, por vício de consentimento (coação), nos termos do art. 178 do Código
Civil.

Cuidado:
 Prazo para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano. (2.027,
parágrafo único, do Código Civil e do art. 657, parágrafo único, I, do CPC)

 Prazo para anulação da partilha em caso de divórcio ou dissolução de união


estável: 4 anos. (art. 178 do Código Civil).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.621.610-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/2/17 (Info 600).

49.8. Contrato de convivência não exige escritura pública – (Info 595) –


IMPORTANTE!!! (DPEAL-2009)

É válido, desde que escrito, o pacto de convivência formulado pelo casal no qual se
opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil (igual) ao
regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura
pública.
Em outras palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar
contrato de convivência dizendo que aquela relação será regida por um regime de
bens igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para ser válido, precisa
ser feito por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1459597/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/12/2016 (Info 595)

(TJCE-2012-CESPE): Considere que Carlos e Regina convivam em união estável e


decidam celebrar contrato de convivência. Nessa situação, o contrato somente
produzirá efeitos patrimoniais.

OBS:
Em que consiste a união estável? A união estável é uma entidade familiar,
caracterizada pela união entre duas pessoas, do mesmo sexo ou de sexos diferentes,
que possuem convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de
constituição de família.

Previsão constitucional:
Art. 226 (...) § 3º — Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.

Previsão no CC-2002:
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo
de constituição de família.

Apesar da CF-88 e do CC-2002 falarem em união de homem e mulher, o STF, ao julgar


a ADI 4.277-DF em conjunto com a ADPF 132-RJ, entendeu que é possível a existência
de uniões estáveis homoafetivas, ou seja, entre pessoas do mesmo sexo (ADI 4277, Rel.
Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011).

Requisitos para a caracterização da união estável:


a) A união deve ser pública (não pode ser oculta, clandestina);
b) a união deve ser duradoura, ou seja, estável, apesar de não se exigir um tempo
mínimo;
c) a união deve ser contínua (sem que haja interrupções constantes);
d) a união deve ser estabelecida com o objetivo de constituir uma família;
e) as duas pessoas não podem ter impedimentos para casar;
f) a união entre essas duas pessoas deve ser exclusiva (é impossível a existência de
uniões estáveis concomitantes e a existência de união estável se um dos componentes
é casado e não separado de fato).

A coabitação é um requisito da união estável? NÃO. O CC-2002 não exige que os


companheiros residam sob o mesmo teto, de sorte que continua em vigor, com as
devidas adaptações, a antiga Súmula 382-STF: A vida em comum sob o mesmo teto,
"more uxorio", não é indispensável à caracterização do concubinato.
Se duas pessoas estão vivendo em união estável, a lei prevê regras para disciplinar o
patrimônio desse casal? SIM. O Código Civil estabelece que, na união estável, as
relações patrimoniais entre o casal obedecem às regras do regime da comunhão parcial
de bens (art. 1.725). Em outras palavras, é como se as pessoas que vivem em união
estável estivessem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens.

É possível que esse casal altere isso? SIM. Os companheiros podem celebrar um
contrato escrito entre si estipulando regras patrimoniais específicas que irão vigorar
naquela união estável. Ex.: empresários, esportistas ou artistas milionários costumam
assinar contratos com suas companheiras estabelecendo que, naquela união estável,
irá vigorar o regime da separação de bens. Isso é denominado pela doutrina de
"contrato de convivência" ou "contrato particular de convívio conjugal".

No caso do casamento, se os nubentes desejarem fazer um pacto antenupcial, o Código


Civil exige que isso seja formalizado por meio de escritura pública (art. 1.640, § único).
Para o contrato de união estável exige-se esta mesma formalidade? O contrato de
união estável precisa ser feito por escritura pública ou precisa ser averbado no
registro de imóveis? NÃO. Diferentemente do casamento, no caso da regulação de
bens envolvendo a união estável, o Código Civil exigiu apenas que isso fosse feito por
contrato escrito, não obrigando a lavratura de escritura pública ou qualquer outra
providência notarial ou registral. Confira o art. 1.725 do CC:
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que
couber, o regime da comunhão parcial de bens.

Essa sempre foi a opinião da doutrina:


"Considerando que a união estável é uma realidade fática,
desprovida de formalidades legais, o contrato de convivência,
por conseguinte, é um negócio jurídico informal, não
reclamando solenidades previstas em lei. Apenas e tão
somente exige-se a sua celebração por escrito, afastando-se a
forma verbal. Assim, pode ser celebrado por escritura pública
ou particular, não submetido ao registro público." (FARIAS,
Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito
Civil. Vol. 6. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 502).

Desse modo, o contrato de união estável precisa apenas ser escrito e observar os
requisitos de validade do negócio jurídico (art. 104 do CC). É nesse sentido a decisão
do STJ (vide ementa acima).

Provimento 37/2014-CNJ: Vale ressaltar que o CNJ, em 2014, editou um Provimento


para dispor sobre o registro da união estável no Livro "E", por Oficial do Registro Civil
da Pessoas Naturais. Este provimento deixa claro que não é obrigatório o registro do
contrato de convivência nem a sua celebração por escritura pública. Confira os arts. 1º
e 7º:
Art. 1º. É facultativo o registro da união estável prevista nos
artigos 1.723 a 1.727 do Código Civil, mantida entre o homem
e a mulher, ou entre duas pessoas do mesmo sexo.
Art. 7º Não é exigível o prévio registro da união estável para
que seja registrada a sua dissolução, devendo, nessa hipótese,
constar do registro somente a data da escritura pública de
dissolução.

Dispensa de testemunhas: Vale ressaltar que o contrato de convivência não precisa


nem mesmo de testemunhas para ser considerado válido.

Não confundir contrato de convivência com contrato de namoro: Por fim, uma última
informação adicional: o contrato de convivência, acima explicado, não se confunde
com o chamado "contrato de namoro".

Contrato de namoro é um pacto escrito celebrado entre duas pessoas no qual elas
declaram que mantêm entre si apenas um namoro e não uma união estável. O contrato
de namoro não tem relevância jurídica, considerando que não tem a força de garantir
para as partes envolvidas o objetivo que elas almejavam ao celebrá-lo, qual seja, o de
evitar a caracterização da união estável.

Explicando melhor: mesmo que as partes tenham celebrado este contrato, o Judiciário
poderá reconhecer que, na prática, havia sim união estável (e não simples namoro).
Isso porque a união estável é uma situação fática que acontece independentemente de
acordo escrito. O contrato de namoro não pode mudar a realidade. Se, na prática, um
casal vive em união estável segundo os requisitos descritos na lei, não é um contrato
que vai descaracterizar esta situação. Assim, a celebração de um contrato de namoro
é uma péssima providência porque gera uma falsa garantia para as partes. Se a
intenção é evitar a comunhão patrimonial, logo que o namoro se tornar mais estável,
o ideal é a realização de um contrato de convivência na qual seja estipulado que o
regime de bens entre o casal é o da separação total.

49.9. DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL: Não é possível a partilha de lucros de


sociedade empresária quando estes estão destinados à conta de reserva – (Info 588)

Algumas vezes, uma empresa apura lucro, mas decide que não irá distribuí-los aos
acionistas, retendo esses lucros com o objetivo de incrementar o seu capital social.
O lucro destinado à conta de reserva, ou seja, que não é distribuído aos sócios,
continua pertencendo à sociedade empresária (e não ao sócio).
Em razão disso, essa quantia não será partilhada caso um dos sócios termine a união
estável que mantinha.
Em outras palavras, os lucros de sociedade empresária destinados a sua própria
conta de reserva não são partilháveis entre o casal no caso de dissolução de união
estável de sócio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.595.775-AP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16
(Info 588).

49.10. Foro competente para apreciar ação de dissolução de união estável cumulada
com alimentos – (Info 568)
A autora pode optar entre o foro de seu domicílio e o foro de domicílio do réu para
propor ação de reconhecimento e dissolução de união estável cumulada com
pedido de alimentos, quando o litígio não envolver interesse de incapaz.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.290.950-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).

49.11. Irretroatividade dos efeitos de contrato de união estável – (Info 563)

Não é lícito aos conviventes atribuírem efeitos retroativos ao contrato de união


estável, a fim de eleger o regime de bens aplicável ao período de convivência
anterior à sua assinatura.
Ex: em 2010, Christian, rico empresário, começa a namorar Anastasia. O
relacionamento fica sério e se transforma em uma união pública, duradoura e
contínua. Eles, inclusive, falam em constituir uma família. Em 2015, orientado por
seus advogados, Christian decide celebrar com Anastasia um “contrato de união
estável” (contrato de convivência). No instrumento é estipulado que o regime de
bens do casal é o da separação total. Consta uma cláusula no contrato prevendo que
esse regime de bens retroage ao ano de 2010, quando começou o relacionamento
entre o casal. O STJ entende que essa cláusula de retroação é inválida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.624-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 2/6/2015
(Info 563).

49.12. Definição de propósito de constituir família para efeito de reconhecimento de


união estável – (Info 557) – (TJAM-2016)

O fato de namorados projetarem constituir família no futuro não caracteriza união


estável, ainda que haja coabitação.
Com base nisso, o STJ decidiu que um casal de namorados que morou juntos e que
depois resolveu se casar, não vivia em união estável se o objetivo deles era apenas
o de constituir uma família no futuro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.454.643-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/3/15 (Info
557).

49.13. Inaplicabilidade da Lei 9.278/96 a situações ocorridas antes de sua vigência –


(Info 556)

ANTES da Lei 9.278/96, quando chegava ao fim uma união estável, cada
companheiro somente teria direito aos bens que contribuiu para a formação do
patrimônio comum. Não havia presunção legal de esforço comum para a partilha
de bens. Ao término do relacionamento, os bens amealhados no período eram
divididos proporcionalmente ao esforço comprovado, direto ou indireto, de cada
convivente. Ainda vigorava, em parte, o raciocínio da súmula 380 do STF quanto à
necessidade de provar o esforço comum.
DEPOIS da Lei 9.278/96, foi criada uma presunção legal de comunhão dos bens
adquiridos a título oneroso durante a união estável. Quando há a dissolução da
união estável, para que o(a) companheiro(a) tenha direito aos bens adquiridos
durante a relação, ele(a) não precisará provar que contribuiu para a aquisição. Com
a edição desta, os bens a partir de então adquiridos por pessoas em união estável
passaram a pertencer a ambos em meação, salvo se houver estipulação em sentido
contrário ou se a aquisição patrimonial decorrer do produto de bens anteriores ao
início da união. Ficou superada a súmula 380 do STF.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000.
Somente o homem trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999,
adquiriu uma casa e um sítio. Em 2000, chegou ao fim a união. As regras da Lei
9.278/96 poderão ser aplicadas para todos os bens adquiridos durante a união (dois
apartamentos, uma casa e um sítio)? Presume-se que a mulher tenha direito aos
dois apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. Os bens adquiridos anteriormente à Lei 9.278⁄96 têm a propriedade - e,
consequentemente, a partilha ao fim da união - disciplinada pelo ordenamento
jurídico vigente quando respectiva aquisição. Assim, tem-se o seguinte:
 Quanto aos bens adquiridos antes da Lei 9.278/96 (dois apartamentos):
aplica-se o regime da prova do esforço comum (Súmula 380 do STF).
 Quanto aos bens adquiridos após a Lei 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a
presunção legal de que a mulher tem direito à meação dos bens,
independentemente de prova do esforço comum.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).

49.14. Alienação de bem imóvel sem consentimento do companheiro – (Info 554)

O art. 1.647, I, do CC prevê que, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta, alienar ou gravar de ônus real os
bens imóveis. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem
casadas sob o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC).
Para a 3ª Turma do STJ, a regra do art. 1.647, I, do CC pode ser aplicada à união
estável, desde que tenha sido dada publicidade aos eventuais adquirentes a
respeito da existência dessa união estável.
Se um imóvel foi alienado pelo companheiro sem a anuência de sua companheira,
a anulação dessa alienação somente será possível se no registro de imóveis onde
está inscrito o bem, houvesse a averbação (uma espécie de anotação/observação
feita no registro) de que o proprietário daquele imóvel vive em união estável.
Se não houver essa averbação no registro imobiliário e se não existir nenhuma
outra prova de que o adquirente do apartamento estava de má-fé, deve-se presumir
que o comprador estava de boa-fé, preservando, assim, a alienação realizada, em
nome da segurança jurídica e da proteção ao terceiro de boa-fé.
Em suma: a invalidação da alienação de imóvel comum, fundada na falta de
consentimento do companheiro, dependerá da publicidade conferida à união
estável, mediante a averbação de contrato de convivência ou da decisão declaratória
da existência de união estável no Ofício do Registro de Imóveis em que cadastrados
os bens comuns, ou da demonstração de má-fé do adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.275-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/12/2014 (Info 554).

49.15. União estável alegada em ação de manutenção de posse para assegurar direito
real de habitação – (Info 543)

Ainda que o companheiro supérstite não tenha buscado em ação própria o


reconhecimento da união estável antes do falecimento, é admissível que invoque o
direito real de habitação em ação possessória, a fim de ser mantido na posse do
imóvel em que residia com o falecido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.203.144-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 27/5/14 (Info 543).
OBS:
Existe direito real de habitação no caso da morte de companheiro (união estável)?
SIM. O STJ possui o entendimento tranquilo de que a companheira sobrevivente faz
jus ao direito real de habitação sobre o imóvel no qual convivia com o companheiro
falecido.

O art. 1.831 do CC-2002 fala apenas em cônjuge. Qual é o fundamento para estender
o direito real de habitação também aos companheiros? De fato, o art. 1.831 do CC-
2002, ao tratar sobre o direito real de habitação, menciona apenas o cônjuge
sobrevivente, silenciando quanto à extensão desse direito ao companheiro
sobrevivente. No entanto, esse dispositivo do CC deverá ser interpretado conforme a
regra contida no art. 226, § 3º, da CF/88, que reconhece a união estável como entidade
familiar. Assim, deve-se buscar uma interpretação que garanta à pessoa que viva em
união estável os mesmos direitos que ela teria caso fosse casada. O art. 226, § 3º da
CF/88 é uma norma de inclusão, sendo contrária ao seu espírito a tentativa de lhe
extrair efeitos discriminatórios entre cônjuge e companheiro. Desse modo, o direto
real de habitação contido no art. 1.831 do CC deve ser aplicado também ao
companheiro sobrevivente.

Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil: O direito real de habitação deve ser
estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei 9.278, seja
em razão da interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º, caput,
da Constituição de 88.

O direito real de habitação é ex vi legis (por força de lei) decorrente do direito


sucessório e, ao contrário do direito instituído inter vivos, não necessita ser registrado
no Cartório de Registro de Imóveis. Assim sendo, é plenamente possível a arguição
desse direito para fins exclusivamente possessórios, até porque, entender de forma
diversa, seria negar proteção justamente à pessoa para o qual o instituto foi
desenvolvido e em momento pelo qual ele é o mais efetivo.

50. PARENTESCO SOCIOAFETIVO


50.1. (I)legitimidade do filho para pedir que sua falecida mãe seja reconhecida como
filha dos pretensos avós – (Info 588)

O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão
declaratória de filiação socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo
do ajuizamento da ação, pré-morta (já falecida) - e os supostos pais socioafetivos
dela.
Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento de sua
relação de parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, seria outra
ação, na qual se buscaria um direito próprio (e não de sua mãe).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/8/16 (Info
588).
OBS:
O Código Civil prevê quem é legitimado para propor ação pedindo o reconhecimento
do vínculo de parentesco:
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho,
enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor
ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros
poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.

A partir da análise deste dispositivo podemos extrair as seguintes regras:


 Se a pessoa estiver viva, ela é quem deverá propor a ação;
 Se a pessoa tiver morrido menor ou incapaz, os herdeiros poderão iniciar a
ação;
 Se a pessoa tiver proposto a ação quando estava viva e no curso do processo
tiver falecido, os herdeiros poderão continuar o processo.

Observação: Vale ressaltar que, no caso concreto acima explicado, o autor não
ingressou com uma ação de reconhecimento de parentesco avoengo. Em outras
palavras, ele não ajuizou a ação pedindo que fosse reconhecido como neto de João e
Maria. Seu pedido foi para que sua falecida mãe fosse declarada como filha do casal.
Isso é que foi analisado e julgado pelo STJ, encontrando óbice no art. 1.606 do CC.

Nada impede que o autor ajuíze ação pedindo o reconhecimento de sua relação de
parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, será uma outra ação, na
qual se buscará um direito próprio (e não da falecida mãe). Esta outra ação seria, em
tese, processualmente viável, conforme entendimento da doutrina majoritária. Nesse
sentido:
Enunciado 521-CJF/STJ: Qualquer descendente possui
legitimidade, por direito próprio, para propor o
reconhecimento do vínculo de parentesco em face dos avós ou
de qualquer ascendente de grau superior, ainda que o pai não
tenha iniciado a ação de prova da filiação em vida.

51. PATERNIDADE
51.1. Reconhecimento de paternidade socioafetiva post mortem – (Info 581) –
IMPORTANTE!!!

É possível o reconhecimento da paternidade socioafetiva post mortem, ou seja,


mesmo após a morte do suposto pai socioafetivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.999-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
12/4/2016 (Info 581).
OBS:
A ação deverá ser proposta contra o(s) herdeiro(s) que serão afetados juridicamente
caso o pedido seja julgado procedente. Na ação, deverão ser juntadas fotos, bilhetes,
vídeos de celular, posts do Facebook e quaisquer outros documentos que provem a
relação de afeto como pai e filho. Poderão também ser arroladas testemunhas.

A paternidade socioafetiva é protegida pelo ordenamento jurídico? SIM. A


socioafetividade é contemplada pelo art. 1.593 do Código Civil, que prevê:

Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de


consanguinidade ou outra origem.
Ao falar em "outra origem", o legislador permite que a paternidade seja reconhecida
com base em outras fontes que não apenas a relação de sangue. Logo, permite a
paternidade com fundamento no afeto. Assim, a paternidade socioafetiva é uma forma
de parentesco civil. Nesse sentido, confira o Enunciado nº 256 da III JDC do CJF:

Enunciado 256-CJF: A posse do estado de filho (parentalidade


socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.

51.2. ADOÇÃO À BRASILEIRA: Direito ao reconhecimento de paternidade


biológica – (Info 577)

O filho tem direito de desconstituir a denominada "adoção à brasileira" para fazer


constar o nome de seu pai biológico em seu registro de nascimento, ainda que
preexista vínculo socioafetivo de filiação com o pai registral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.598-CE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
17/12/2015 (Info 577).
OBS:
NOÇÕES GERAIS SOBRE ADOÇÃO À BRASILEIRA:
O que é a chamada “adoção à brasileira”( ou adoção à moda brasileira)? Ocorre
quando o homem ou a mulher declara, para fins de registro civil, um menor como
sendo seu filho biológico, sem que isso seja verdade.

Exemplo: Carla tinha um namorado (Bruno), tendo ficado grávida desse rapaz. Ao
contar a Bruno sobre a gravidez, este achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”,
não deixando paradeiro conhecido. Três meses depois, Carla decide se reconciliar com
André, seu antigo noivo, que promete à amada que irá se casar com ela e “assumir” o
nascituro. No dia em que nasce a criança, André vai até o registro civil de pessoas
naturais e, de posse da DNV (declaração de nascido vivo) fornecida pela maternidade,
declara que o menor recém-nascido (Vitor) é seu filho e de Carla, sendo o registro de
nascimento lavrado nesses termos.

Por que recebe esse nome? Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à
brasileira” porque é uma espécie de “adoção” feita sem observar as exigências legais,
ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. Tecnicamente, não se trata
de adoção, porque não segue o procedimento legal. Consiste, em verdade, em uma
perfilhação simulada.

A “adoção à brasileira” é permitida? NÃO. Formalmente, esta conduta é até mesmo


prevista como crime pelo Código Penal:

Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado


civil de recém-nascido
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho
de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou
alterando direito inerente ao estado civil:
Pena — reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único — Se o crime é praticado por motivo de reconhecida
nobreza:
Pena — detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de
aplicar a pena.

Ressalta-se que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe pena por conta
desse delito. Isso porque poderá o juiz reconhecer a existência de erro de proibição ou,
então, aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo único do art. 242 do CP.

É preciso, no entanto, que seja investigada a conduta porque, embora a “adoção à


brasileira”, na maioria das vezes, não represente torpeza de quem a pratica, pode ela
ter sido utilizada para a consecução de outros ilícitos, como o tráfico internacional de
crianças.

Caso o pai registral se arrependa da “adoção à brasileira” realizada, ele poderá


pleitear a sua anulação? E no caso, o filho registrado indevidamente tem o direito de
ter reconhecido como pai o seu genitor biológico?

SITUAÇÃO 1: PAI REGISTRAL QUER ANULAR O REGISTRO


Voltando ao exemplo acima, imagine que, depois de alguns anos, André (o pai
registral) termina seu relacionamento com Carla. Com raiva, ele procura um
advogado pretendendo o reconhecimento judicial de que ele não é o pai de Vitor.

Qual a ação que deverá ser proposta pelo advogado de André? Ação negatória de
paternidade cumulada com nulidade do registro civil.

Contra quem a ação é proposta? Contra Vitor (não é proposta em face da mãe de
Vitor). Se Vitor for menor, será assistido (entre 16 e 18 anos) ou representado (menor
de 16 anos) por sua mãe. Se Vitor já for falecido, a ação será ajuizada contra seus
herdeiros. Não havendo herdeiros conhecidos (lembre-se que a sua mãe é herdeira),
André deverá pedir a citação por edital de eventuais interessados.

Qual é o prazo desta ação? É imprescritível (art. 1.601 do CC).

Onde esta ação deverá ser proposta (de quem é a competência)? No foro da comarca
onde reside o réu (Vitor), mais especificamente na vara de família (não deve ser
ajuizada na vara de registros públicos).

Participação do Ministério Público: se o filho for menor de 18 anos, o MP atuará como


fiscal da ordem jurídica (custos legis), considerando que se trata de processo que
envolve interesse de incapaz (art. 178, II, do CPC 2015).

Provas produzidas: atualmente, a principal prova produzida nestas ações é o exame


pericial de DNA.

Se o exame de DNA provar que Vitor não é filho biológico de André, o juiz terá que,
obrigatoriamente, julgar procedente o pedido, declarar/desconstituir a paternidade e
anular o registro? NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não
biológico), que ele próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva,
mais especificamente a regra da venire contra factum proprium (proibição de
comportamento contraditório). Para que seja possível a anulação do registro, é
indispensável que fique provado que o pai registrou o filho enganado (induzido em
erro), ou seja, é imprescindível que tenha havido vício de consentimento:
(...) O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser
desfeito quando demonstrado vício de consentimento; não há como
desfazer um ato levado a efeito com perfeita demonstração da
vontade, em que o próprio pai manifestou que sabia perfeitamente
não haver vínculo biológico entre ele e o menor e, mesmo assim,
reconheceu-o como seu filho. (...) (STJ. 3ª Turma. REsp 1229044/SC,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/06/2013)

SITUAÇÃO 2: FILHO DESEJA QUE SEJA RECONHECIDO SEU PAI BIOLÓGICO


Imagine agora que Vitor, já maior, descubra que André não é seu pai biológico, mas
sim Bruno. Vitor ajuíza ação de reconhecimento de paternidade cumulada com
nulidade do registro contra Bruno e André.

A ação terá êxito segundo o entendimento do STJ? SIM. É possível o reconhecimento


da paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento na hipótese em que
pleiteados pelo filho adotado conforme prática conhecida como “adoção à brasileira”.
O direito da pessoa ao reconhecimento de sua ancestralidade e origem genética insere-
se nos atributos da própria personalidade. O direito do filho de buscar o
reconhecimento do estado biológico de filiação constitui direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, consubstanciado no princípio constitucional da
dignidade da pessoa humana. Caracteriza violação ao princípio da dignidade da
pessoa humana cercear o direito de conhecimento da origem genética, respeitando-se,
por conseguinte, a necessidade psicológica de se conhecer a verdade biológica (STJ.
REsp 833.712/RS).
A prática conhecida como “adoção à brasileira”, ao contrário da adoção legal, não tem
a aptidão de romper os vínculos civis entre o filho e os pais biológicos, que devem ser
restabelecidos sempre que o filho manifestar o seu desejo de desfazer o liame jurídico
advindo do registro ilegalmente levado a efeito, restaurando-se, por conseguinte,
todos os consectários legais da paternidade biológica, como os registrais, os
patrimoniais e os hereditários.

A ação será julgada procedente e o registro será anulado mesmo que tenha se
estabelecido uma relação socioafetiva entre Vítor e André? SIM. O STJ entende que,
mesmo que o filho tenha sido acolhido e tenha usufruído de uma relação socioafetiva,
nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua
real história, de ter acesso à sua verdade biológica que lhe foi usurpada desde o
nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto, prevalecerá o direito
ao reconhecimento do vínculo biológico (REsp 833.712/RS). Dessa forma, a filiação
socioafetiva desenvolvida com o pai registral não afasta o direito do filho de ver
reconhecida a sua filiação biológica.

Compare as duas situações:


51.3. Desconstituição da paternidade registral – (Info 555) – IMPORTANTE!!! –
(TJRJ-2016)

Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de


registrar a criança e que não é pai biológico do seu filho registral, ele poderá
contestar a paternidade, pedindo a retificação do registro (arts. 1.601 e 1.604 do CC).
Não se pode obrigar o pai registral, induzido a erro substancial, a manter uma
relação de afeto, igualmente calcada no vício de consentimento originário,
impondo-lhe os deveres daí advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o
queira.
Ressalta-se, no entanto, que, para que o pai registral enganado consiga
desconstituir a paternidade é indispensável que tão logo ele tenha sabido da
verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo
imediatamente o vínculo afetivo.
Se o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda manteve
vínculos afetivos com o filho registral, neste caso ele não mais poderá desconstituir
a paternidade.

“Adoção à brasileira”
A situação acima descrita é diferente da chamada “adoção à brasileira”, que ocorre
quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como
sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade. No caso de adoção à brasileira,
o pai sabe que não é genitor biológico (ele não foi enganado).
Caso o pai registral se arrependa da “adoção à brasileira” realizada, ele poderá
pleitear a sua anulação?
NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que
ele próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais
especificamente a regra da venire contra factum proprium (proibição de
comportamento contraditório).
Para que seja possível a anulação do registro é indispensável que fique provado
que o pai registrou o filho enganado (induzido em erro), ou seja, é imprescindível
que tenha havido vício de consentimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
5/2/2015 (Info 555).

51.4. Ação negatória de paternidade – (Info 533)


O direito de contestar a paternidade é personalíssimo. No entanto, mesmo assim,
os avós registrais podem continuar com a ação em caso de falecimento do pai/autor.
Isso porque o pai registral, quando vivo, manifestou sua vontade ao ajuizar a ação.
Em outras palavras, ele exerceu seu direito personalíssimo. Portanto, ainda que se
trate de direito personalíssimo, tendo o pai registral concretizado sua intenção de
contestar a paternidade ainda em vida, admite-se a sucessão processual de seus
ascendentes, a fim de dar prosseguimento à ação proposta.
Em ação negatória de paternidade, não é possível ao juiz declarar a nulidade do
registro de nascimento com base, exclusivamente, na alegação de dúvida acerca do
vínculo biológico do pai com o registrado, sem provas robustas da ocorrência de
erro escusável quando do reconhecimento voluntário da paternidade.
O não comparecimento do filho menor de idade para submeter-se ao exame de
DNA não significa que, por si só, deve-se reconhecer a inexistência de paternidade.
A Súmula 301-STJ induz presunção relativa, de modo que a mera recusa à
submissão ao exame não implica automaticamente reconhecimento da paternidade
ou seu afastamento, pois deve ser apreciada em conjunto com os demais elementos
probatórios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.272.691-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/11/2013
(Info 533).

52. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA


52.1. Necessidade de instrução probatória para comprovar a filiação socioafetiva –
(Info 552)

Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua
filha, sendo a criança criada por Maria e Francisca durante vários anos, como uma
família. Na época em que Carla nasceu, a união homoafetiva não era protegida pelo
Direito brasileiro, razão pela qual em seu registro de nascimento constava apenas
o nome de Maria como sendo sua mãe, não havendo qualquer referência a
Francisca. Apesar disso, para Carla, ela sempre teve duas mães, Maria e Francisca,
que exerciam na prática esse papel. Passados mais alguns anos, Maria e Francisca
romperam a união que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo. Quando
Francisca faleceu, Carla ingressou com ação judicial pedindo que fosse reconhecido
que a falecida foi sua mãe socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil
duas mães: Maria e Francisca.
O juiz afirmou que não havia necessidade de produzir prova em audiência e,
portanto, fez o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na
sentença, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora alegando que não
ficou demonstrado nos autos que a suposta mãe socioafetiva teve, efetivamente, a
pretensão de “adotar” a requerente em conjunto com a mãe registral.
Para o STJ, o magistrado cometeu um erro processual, pois não era possível, no caso
concreto, julgar improcedente o pedido de reconhecimento post mortem da
maternidade socioafetiva sem que houvesse sido permitida a realização de
instrução probatória. Em outras palavras, não era hipótese de julgamento
antecipado da lide (art. 330, I, do CPC).
O magistrado, ao não permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados,
promoveu cerceamento de defesa.
Vale ressaltar que o pleito da autora para ter “dupla maternidade” é um pedido
juridicamente possível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/10/14 (Info
552).
53. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
53.1. Não se pode mais rediscutir a coisa julgada em situação na qual a ação de
investigação foi julgada procedente pelo fato de o investigado ter se recusado a fazer
o DNA – (Info 604) – IMPORTANTE!!!

A coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade deve ser


relativizada nos casos em que, no processo, não houve a realização de exame de
DNA e, portanto, não foi possível ter-se certeza sobre o vínculo genético (STF.
Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011. Repercussão
geral).

O STJ entendeu, contudo, que essa relativização da coisa julgada não se aplica às
hipóteses em que o magistrado reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou
seus herdeiros) terem se recusado a comparecer ao laboratório para a coleta do
material biológico.
Ex: Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra João; este se recusou
a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu
que Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do
suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de
paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João ingressou com
ação negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a
realização de exame de DNA. Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito
pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC).
Em suma, a relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de
paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo
genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do
vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em
comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.239/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 09/05/17
(Info 604).
OBS: A parte que se recusou a fazer o DNA e que agora quer desconstituir a coisa
julgada sob o argumento de que não foi realizado o referido exame e que este é
essencial para a descoberta da verdade real demonstra comportamento contrário à
boa-fé objetiva, incidindo naquilo que a doutrina denomina de venire contra factum
proprium (proibição de comportamento contraditório), sendo uma forma de abuso de
direito.
Assim, como o autor negou-se a produzir a prova que traria certeza à controvérsia nos
autos da ação de investigação de paternidade que transitou em julgado, não pode,
agora, utilizar-se maliciosamente da ausência da referida prova como fundamento
para a propositura de ação negatória de paternidade e, com isso, buscar ver alterada
a decisão que lhe foi desfavorável, sob pena de incorrer em violação da boa-fé objetiva.

53.2. Extensão dos efeitos de sentença transitada em julgada que reconhece relação
de parentesco – (Info 587)

Os efeitos da sentença transitada em julgado que reconhece o vínculo de parentesco


entre filho e pai em ação de investigação de paternidade alcançam o avô, ainda que
este não tenha participado da relação jurídica processual.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.331.815-SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 16/6/16 (Info
587).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Pedro teve um rápido relacionamento com
Luisa e, desse enlace, nasceu Lucas. Ocorre que Pedro não reconheceu
voluntariamente o filho. Lucas, representado por sua mãe, propôs ação de
investigação de paternidade contra Pedro. Pedro se recusou a realizar o exame de
DNA e a ação foi julgada procedente, nos termos da súmula 301 do STJ, declarando
que ele é pai de Lucas. Houve trânsito em julgado. Alguns meses depois, Pedro
faleceu. Como não tinha nenhum patrimônio em vida, não deixou herança. Diante
disso, Lucas ingressou com ação de alimentos contra o Sr. Antônio, pai de Pedro, ou
seja, seu avô paterno. Na ação, provou que sua mãe Luisa e seus avós maternos não
tinham condições de sustentá-lo. O Sr. Antônio alegou, como questão prejudicial, que,
como não fez parte da relação processual estabelecida na ação de investigação de
paternidade, não poderia sofrer os efeitos da coisa julgada e, por consequência, ser
demandado na ação alimentícia. Requereu que a ação de alimentos, em razão disso,
fosse julgada improcedente ou, subsidiariamente, fosse realizado exame de DNA. O
dispositivo invocado pelo avô foi o art. 506 do CPC/2015:
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais
é dada, não prejudicando terceiros.

O pedido do Sr. Antônio deverá ser acolhido? Como ele não participou da ação de
investigação de paternidade, ficará livre dos efeitos do que ali foi decidido? NÃO.

Limites subjetivos da coisa julgada: Quando se fala em limites subjetivos da coisa


julgada, isso significa: "a quem a coisa julgada atinge", ou seja, "quem está submetido
à coisa julgada" formada naquele processo. Em regra, os limites subjetivos da coisa
julgada são inter partes, ou seja, estão limitados às partes do processo. Isso está previsto
no art. 506 do CPC/2015, transcrito acima. Ao ler este artigo, você poderia pensar:
"então o avô está correto, já que ele não foi parte no processo de investigação e não
pode ser prejudicado".
Ocorre que é preciso diferenciar "limites subjetivos da coisa julgada" de "efeitos da
sentença". São institutos diferentes.

Efeitos da sentença: Os efeitos da sentença são as alterações que a sentença produz


sobre as relações existentes fora do processo. Os efeitos da sentença irradiam-se com
eficácia erga omnes, atingindo mesmo aqueles que não figuraram como parte na relação
jurídica processual.

Limites subjetivos da coisa julgada X efeitos da sentença: Desse modo, é fundamental


não confundir limites subjetivos da coisa julgada com efeitos da sentença. Conforme
explica a doutrina:
"Importante distinção diz respeito aos limites subjetivos da
coisa julgada e os efeitos da sentença. Apesar da coisa julgada
só atingir as partes que litigaram no processo (exatamente os
limites subjetivos ora analisados), os efeitos da sentença a
todos atingem, independentemente da legitimidade ou
participação no processo.
Contudo, apenas foi possível traçar essa distinção quando,
com LIEBMAN, passou-se a diferenciar os efeitos da sentença
da coisa julgada. Assim, após a sistematização da posição dos
terceiros e dos efeitos advindos da sentença, admitiu-se que,
em regra, os efeitos da decisão podem atingir terceiros, ao
passo que a coisa julgada atinge apenas as partes." (DELLORE,
Luiz. Estudos sobre coisa julgada e controle de
constitucionalidade. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 65-66.)

Coisa julgada não abrange o avô, mas os efeitos da sentença o atingem: A coisa
julgada formada na ação de investigação de paternidade ajuizada pelo filho em face
do pai não atinge o avô, na medida em que esta primeira demanda foi proposta
exclusivamente contra seu filho (Pedro). No entanto, os efeitos da sentença o atingem.
Ex: se duas pessoas se divorciam em um processo judicial de divórcio, a coisa julgada
atinge apenas aos dois; no entanto, os efeitos dessa sentença irradiam-se de forma erga
omnes; o ex-casal não está divorciado apenas entre eles, mas sim perante qualquer
pessoa. Os efeitos da sentença não encontram a mesma limitação subjetiva que o art.
506 do CPC/2015 destina ao instituto da coisa julgada, de maneira que também
podem atingir, direta ou indiretamente, terceiros que não participaram da relação
jurídica processual. Os efeitos da sentença possuem, portanto, eficácia erga omnes.
Assim, tendo o filho promovido ação de investigação de paternidade contra o pai, na
qual se deu o julgamento de procedência do pedido e o trânsito em julgado, o vínculo
parental entre eles é, por força da coisa julgada que ali se formou, imutável e
indiscutível, à luz do art. 502 do CPC/2015. Nesse contexto, o avô agora suporta as
consequências da decisão que assentou a paternidade de seu filho, cujos efeitos
atingem-no de maneira reflexa, por força de sua ascendência em relação ao pai
judicialmente reconhecido. Ora, se o autor é filho de seu filho, logo, por força de um
vínculo jurídico lógico e necessário, é seu neto (art. 1.591 do CC).

Repita-se: não está o avô sujeito à coisa julgada, que só atinge as partes da ação
investigatória, mas efetivamente suporta os efeitos que resultam da decisão,
independentemente de sua participação na relação processual. Vale ressaltar que não
é apenas o avô que irá suportar esses efeitos, mas toda e qualquer pessoa, física ou
jurídica. Os efeitos são erga omnes. É o caso, por exemplo, do INSS. Perante a autarquia
previdenciária, Lucas é filho de Pedro e, portanto, seu dependente, mesmo o INSS não
tendo participado da ação de investigação de paternidade. O INSS não se submete à
coisa julgada, mas está sujeito aos efeitos da sentença.

53.3. Legitimidade da viúva para impugnar ação de investigação de paternidade


post mortem – (Info 578) – IMPORTANTE!!!

Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá
impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o
processo no estado em que este se encontra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 23/2/16 (Info
578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, casado com Maria, morreu e deixou dois
filhos que estão registrados em seu nome: Pedro e Tiago. Um mês após a morte,
apareceu Lucas afirmando que João era também seu pai biológico, apesar de nunca tê-
lo registrado.
Se João ainda estivesse vivo, contra quem deveria ser proposta a ação? Contra quem
é proposta a ação de investigação de paternidade? Contra João. A ação de investigação
de paternidade deve ser proposta em face do suposto pai.

E neste caso, em que João já está morto, contra quem Lucas terá que ajuizar a ação?
Quem deverá figurar obrigatoriamente no polo passivo da ação de investigação de
paternidade post mortem? A ação de investigação de paternidade post mortem deve
ser proposta contra os herdeiros do suposto pai. Isso é o que está previsto no art. 27
do ECA:

Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito


personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
restrição, observado o segredo de Justiça.

A ação de investigação post mortem terá que ser proposta, obrigatoriamente, contra
os herdeiros do falecido porque, se esta for julgada procedente, o resultado da
demanda irá afetar diretamente a situação dos herdeiros, que poderão perder o direito
à herança ou ficar com ela reduzida.

Em nosso exemplo, Lucas terá que propor a ação de investigação contra Maria (a
viúva)? Depende. A viúva é herdeira necessária (art. 1.845 do CC), mas se o falecido
tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança,
a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina
e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro
necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os
descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os
descendentes. Vejamos:

Assim, por exemplo, se Maria era casada com João sob o regime da separação
convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança
deixada pelo marido. Logo, neste caso, Lucas terá que propor a ação de investigação
de paternidade contra Maria, Pedro e Tiago.
Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de
bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira.
Desse modo, Lucas terá que propor a ação apenas contra Pedro e Tiago.

Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que,


quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens
do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é
que será a herança.

Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens
pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”

Voltando ao nosso exemplo: Vamos supor que Maria era casada sob o regime da
comunhão universal de bens. O advogado de Lucas descobriu isso ao examinar a
certidão de óbito de João, onde lá constava essa informação. Sabendo que Maria não
tinha direito à herança, o advogado de Lucas preparou a ação de investigação de
paternidade post mortem apenas contra Pedro e Tiago (herdeiros).

Agiu corretamente o advogado de Lucas? SIM. Isso porque, como vimos, sendo a
viúva casada no regime da comunhão universal de bens, ela será meeira, mas não
herdeira.

Pedro e Tiago foram citados e apresentaram contestação. Realizou-se audiência, na


qual foi ouvida uma testemunha, e o juiz remarcou o restante da audiência em razão
de as duas testemunhas restantes estarem comprovadamente doentes.

Foi, então, que Maria soube que estava tramitando este processo e ficou chateada
porque queria participar e provar que seu marido nunca a havia traído e que "não
tinha outro filho coisa nenhuma".

Maria, por meio de advogado, peticiona ao juiz requerendo: 1) seu ingresso no feito
no polo passivo a fim de impugnar a ação de investigação; 2) que a instrução do
processo seja reiniciada, reabrindo o prazo para que ela apresente contestação, sendo
novamente ouvida a testemunha já inquirida.

Os pedidos de Maria deverão ser aceitos? Um deles sim, o outro não.

Pedido 1: SIM.
Na hipótese de a viúva não ser herdeira do investigado, ela não ostentará, em
princípio, a condição de parte ou litisconsorte necessária na ação de investigação de
paternidade post mortem. Em outras palavras, o autor da ação não precisa propor a
demanda contra ela. A relação processual estará, em regra, completa com a citação de
todos os seus herdeiros, não havendo nulidade pela não inclusão no polo passivo de
viúva não herdeira. Ocorre que o Código Civil autoriza que qualquer pessoa que tenha
interesse possa contestar a ação de investigação de paternidade (art. 1.615).
No caso concreto, Maria não possui interesse patrimonial na demanda, considerando
que, mesmo que Lucas seja reconhecido como filho, o que irá mudar é que Pedro e
Tiago terão que dividir a herança com ele. A meação de Maria permanecerá intacta. A
viúva possui, no entanto, interesse moral na causa.
Em regra, o interesse meramente moral não autoriza a intervenção como assistente.
No entanto, a interpretação da doutrina e da jurisprudência é que, no caso do art.
1.615 do CC, o interesse moral permite que a viúva intervenha no polo passivo da ação
de investigação de paternidade post mortem. Dessa forma, Maria poderá assumir o
polo passivo da ação, juntamente com os demais réus, pelo fato de possuir interesse
moral na causa, o que satisfaz a exigência do art. 1.615 do CC:

Art. 1.615. Qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode


contestar a ação de investigação de paternidade, ou
maternidade.

Pedido 2: NÃO.
Maria, pelo fato de não ter direito à herança, não era litisconsorte necessária. Em
outras palavras, Lucas, o autor da demanda, não era obrigado a incluí-la no polo
passivo. Ele não fez nada errado ao intentar a demanda apenas contra os herdeiros
(Pedro e Tiago). Logo, não há motivo para se retroceder o curso processual. Aplica-se
aqui o raciocínio expresso no parágrafo único do art. 119 do CPC/2015:

Art. 119. (...) Parágrafo único. A assistência será admitida em


qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição,
recebendo o assistente o processo no estado em que se
encontre.

53.4. Citação por edital e despesas com a publicação em jornal local – (Info 557)

O art. 232, § 2º do CPC 1973 prevê que a publicação do edital será feita apenas no
órgão oficial quando a parte for beneficiária da Assistência Judiciária. Em uma ação
de investigação de paternidade proposta pelo MP como substituto processual em
favor de uma criança pobre, caso o réu não seja localizado, é possível aplicar esse
dispositivo?
NÃO. Se o Ministério Público Estadual propuser ação de investigação de
paternidade como substituto processual de criança, a citação editalícia do réu não
poderá ser realizada apenas em órgão oficial. Isso porque a parte desta ação não é
a criança, mas sim o Ministério Público (ele está litigando em nome próprio,
defendendo o direito do menor). Perceba, portanto, essa sutileza que muda tudo: a
parte não é a pobre criança, mas sim o MP. Logo, não se aplica o art. 232, § 2º, do
CPC.
Obs: o novo CPC desburocratizou o tema e exigiu que o edital seja publicado, em
regra, apenas na internet (art. 257, II, do CPC 2015). Assim, se já fosse sob a égide
do novo CPC não seria necessária, em regra, a publicação pelo jornal local.

O Ministério Público terá que adiantar o custo da publicação do edital no jornal?


NÃO. O Ministério Público Estadual, ao propor ação de investigação de
paternidade como substituto processual de criança, não é obrigado a adiantar as
despesas decorrentes da citação editalícia do réu em jornal local, devendo o
adiantamento dos gastos da referida diligência ser realizado pela Fazenda Pública
Estadual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.377.675-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
10/3/2015 (Info 557).

53.5. Inaplicabilidade do prazo decadencial do art. 1.614 do CC para a ação de


investigação de paternidade – (Info 556)

A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4


anos estabelecido no art. 1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se
pretende, exclusivamente, desconstituir o reconhecimento de filiação, não tendo
incidência nas investigações de paternidade, nas quais a anulação do registro civil
constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.
 Ação pedindo apenas a desconstituição do reconhecimento de filiação:
prazo de 4 anos.
 Ação pedindo a investigação de paternidade e a consequente
desconstituição do reconhecimento de filiação: imprescritível.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.259.703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado
em 24/2/2015 (Info 556).

53.6. As partes possuem o direito de que novo exame de DNA seja feito caso o
primeiro tenha sido inconclusivo e exista viabilidade técnica para o seu refazimento
– (Info 545)

Em uma ação de investigação de paternidade post mortem, o juiz autorizou que


fosse feito o exame de DNA com os restos mortais do suposto pai. O laudo foi
inconclusivo em razão da degradação do material genético.
As partes pediram, então, que fosse feito um novo exame, desta vez utilizando-se
como parâmetro para o teste o material genético da filha do morto (suposta irmã do
autor).
O juiz indeferiu a nova perícia dizendo que seria desnecessária e, com base na
prova testemunhal, julgou procedente o pedido.
Segundo o STJ, a decisão do magistrado não foi correta.
A primeira perícia somente não foi exitosa por causa da insuficiência dos restos
mortais, sendo, no entanto, perfeitamente possível chegar a um resultado
conclusivo se um novo exame for feito com materiais genéticos coletados de
descendentes ou colaterais do falecido. Isso cria expectativa e confiança no
jurisdicionado de que outro exame de DNA será realizado, em razão da segurança
jurídica e da devida prestação jurisdicional.
O magistrado, ao negar a nova perícia, não foi coerente com a sua conduta
processual anterior, já que, ao deferir a produção do primeiro exame, ele
reconheceu que a prova técnica era pertinente e necessária para a solução da lide. É
possível falarmos até mesmo que houve a preclusão para o juiz, isto é, ele já se
manifestou sobre a pertinência da prova técnica.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.229.905-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
5/8/2014 (Info 545).

53.7. Flexibilização da coisa julgada material nas ações de investigação de


paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improcedente por falta de prova
– (Info 512)
É possível a flexibilização da coisa julgada material nas ações de investigação de
paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improcedente por falta de
prova.
Contudo, não se admite o ajuizamento de nova ação para comprovar a paternidade
mediante a utilização de exame de DNA em caso no qual o pedido anterior foi
julgado improcedente com base em prova pericial produzida de acordo com a
tecnologia então disponível.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 929.773-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 6/12/12;
REsp 1.223.610-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 6/12/12 (Info 512 STJ).

54. GUARDA COMPARTILHADA


54.1. Aplicação obrigatória da guarda compartilhada – (Info 595) – IMPORTANTE!!!
– (TJRS-2016)

REGRA: o CC determina que, quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto
à guarda do filho, o juiz deverá aplicar a guarda compartilhada (art. 1.584, § 2º).

EXCEÇÕES: Não será aplicada a guarda compartilhada se:


a) um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor;

b) um dos genitores não estiver apto a exercer o poder familiar.

O § 2º do art. 1.584 afirma que “encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer


o poder familiar”, será aplicada a guarda compartilhada. O que significa essa
expressão: “genitores aptos a exercer o poder familiar”? Quando o genitor não
estará apto a exercer o poder familiar?
A guarda compartilhada somente deixará de ser aplicada quando houver inaptidão
de um dos ascendentes para o exercício do poder familiar, fato que deverá ser
declarado, prévia ou incidentalmente à ação de guarda, por meio de decisão judicial
(STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2016.
Info 595).

O § 2º do art. 1.584 somente admite duas exceções em que não será aplicada a guarda
compartilhada. A interpretação desse dispositivo pode ser relativizada? É possível
afastar a guarda compartilhada com base em peculiaridades do caso concreto
mesmo que não previstas no § 2º do art. 1.584 do CC?
O STJ está dividido, havendo decisões em ambos os sentidos:
 1ª) NÃO. A guarda compartilhada apresenta força vinculante, devendo ser
obrigatoriamente adotada, salvo se um dos genitores não estiver apto a
exercer o poder familiar ou se um deles declarar ao magistrado que não
deseja a guarda do menor (STJ. 3ª Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 15/09/16).

 2ª) SIM. As peculiaridades do caso concreto podem servir como argumento


para que não seja implementada a guarda compartilhada. Ex: se houver
dificuldades geográficas (pai mora em uma cidade e mãe em outra,
distante). Isso porque deve-se atentar para o princípio do melhor interesse
dos menores. Assim, as partes poderão demonstrar a existência de
impedimento insuperável ao exercício da guarda compartilhada, podendo o
juiz aceitar mesmo que não expressamente previsto no art. 1.584, § 2º. A
aplicação obrigatória da guarda compartilhada pode ser mitigada se ficar
constatado que ela será prejudicial ao melhor interesse do menor (STJ. 3ª
Turma. REsp 1605477/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
21/06/2016).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.994-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6/12/16 (Info 595).
OBS:
ESPÉCIES DE GUARDA: Existem quatro espécies de guarda que serão vistas abaixo.
As duas primeiras estão previstas expressamente no Código Civil e as duas outras são
criações da doutrina.
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.

a) Unilateral (exclusiva): Ocorre quando o pai ou a mãe fica com a guarda e a outra
pessoa possuirá apenas o direito de visitas. Segundo a definição do CC/02, a guarda
unilateral é aquela “atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua” (art.
1.583, § 1º). Ainda hoje é bastante comum.

Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que Maria ficará com a guarda da
filha de 5 anos e que o pai tem direito de visitas aos finais de semana.

Ressalte-se que, mesmo sendo fixada a guarda unilateral, o pai ou a mãe que ficar sem
a guarda continuará com o dever de supervisionar os interesses dos filhos. Para
possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para
solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos
ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a
educação de seus filhos (§ 5º do art. 1.583).

b) Compartilhada (conjunta): Ocorre quando o pai e a mãe são responsáveis pela


guarda do filho. A guarda é de responsabilidade de ambos e as decisões a respeito do
filho são tomadas em conjunto, baseadas no diálogo e consenso. O instituto da guarda
compartilhada teve origem na Common Law, do Direito Inglês, com a denominação de
joint custody. Porém, foi nos Estados Unidos que a denominada “guarda conjunta”
ganhou força e se popularizou.

Segundo o Código Civil brasileiro, entende-se por guarda compartilhada “a


responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não
vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns” (art.
1.583, § 1º).

É considerada a melhor espécie de guarda porque o filho tem a possibilidade de


conviver com ambos e os pais, por sua vez, sentem-se igualmente responsáveis. Vale
ressaltar que nessa espécie de guarda, apesar de tanto o pai como a mãe possuírem a
guarda, o filho mora apenas com um dos dois.

Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que a filha do casal ficará morando
com a mãe; apesar disso, tanto Maria como João terão a guarda compartilhada
(conjunta) da criança, de forma que ela irá conviver constantemente com ambos e as
decisões sobre ela serão tomadas em conjunto pelos pais.

E se os pais morarem em cidades diferentes? A Lei estabeleceu que a cidade


considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses
dos filhos (§ 3º do art. 1.584).
Tempo de convivência: Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos
deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista
as condições fáticas e os interesses dos filhos (§ 2º do art. 1.583).

Orientação técnico-profissional: Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os


períodos de convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento
do MP, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe
interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com a
mãe (§ 3º do art. 1.584 do CC). Com a ajuda de psicólogos, assistentes sociais e outros
profissionais, o juiz já deverá estabelecer as atribuições que caberão a cada um dos
pais e o tempo de convivência com o filho.

Ex: João irá buscar o filho no colégio todos os dias às 12h; no período da tarde, a criança
continuará na companhia do pai e, às 18h, ele deverá deixá-lo na casa da mãe.

c) Alternada: Ocorre quando o pai e a mãe se revezam em períodos exclusivos de


guarda, cabendo ao outro direito de visitas. Em outras palavras, é aquela na qual
durante alguns dias a mãe terá a guarda exclusiva e, em outros períodos, o pai terá a
guarda exclusiva.

Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que durante uma semana a filha do
casal ficará morando com a mãe (e o pai não pode interferir durante esse tempo) e, na
semana seguinte, a filha ficará vivendo com o pai (que terá a guarda exclusiva nesse
período).

“Essa forma de guarda não é recomendável, eis que pode


trazer confusões psicológicas à criança. Com tom didático,
pode-se dizer que essa é a guarda pingue-pongue, pois a
criança permanece com cada um dos genitores por períodos
ininterruptos. Alguns a denominam como a guarda do
mochileiro, pois o filho sempre deve arrumar a sua malinha
ou mochila para ir à outra casa. É altamente inconveniente,
pois a criança perde seu referencial, recebendo tratamentos
diferentes quando na casa paterna e na materna.” (TARTUCE,
Flávio. Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo:
Método, 2013, p. 1224).

d) Aninhamento (nidação): Ocorre quando a criança permanece na mesma casa onde


morava e os pais, de forma alternada, se revezam na sua companhia. Assim, é o
contrário da guarda alternada, já que são os pais que, durante determinados períodos,
se mudam.

Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que a filha do casal ficará morando
no mesmo apartamento onde residia e no qual já possui seus amiguinhos na
vizinhança. Durante uma semana, a mãe ficará morando no apartamento com a
criança (e o pai não pode interferir durante esse tempo). Na semana seguinte, a mãe
se muda temporariamente para outro lugar e o pai ficará vivendo no apartamento com
a filha.
Defendida por alguns como uma forma de a criança não sofrer transtornos
psicológicos por ter que abandonar o meio em que já vivia e estava familiarizada.
Apesar disso, é bastante rara devido aos inconvenientes práticos de sua
implementação.

A palavra “aninhamento” vem de “aninhar”, ou seja, colocar em um ninho. Transmite


a ideia de que a criança permanecerá no mesmo ninho (mesmo lar) e os seus pais é
quem se revezarão em sua companhia.
Como já dito acima, o Código Civil somente fala em unilateral ou compartilhada (art.
1.583), mas as demais espécies também existem na prática.

DEFINIÇÃO DA GUARDA
Como é definida a espécie de guarda que será aplicada? O ideal é que a guarda seja
definida por consenso entre o pai e a mãe. Por isso, o CC/02 determina que seja feita
uma audiência de conciliação. A Lei também afirma que o juiz deverá incentivar que
os pais façam um acordo adotando a guarda compartilhada:
Art. 1.584 (...) § 1º Na audiência de conciliação, o juiz
informará ao pai e à mãe o significado da guarda
compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e
direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.

Se mesmo assim não houver acordo, o juiz irá fixar a guarda de forma compulsória.
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por
qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio,
de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas
do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao
convívio deste com o pai e com a mãe.

Em regra, o juiz não deve conceder a guarda sem ouvir a outra parte: A decisão sobre
guarda de filhos, mesmo que provisória, será proferida preferencialmente após a
oitiva de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos interesses dos filhos
exigir a concessão de liminar sem a oitiva da outra parte (art. 1.585 do CC).

A guarda compartilhada depende da concordância dos genitores? Ex: o pai deseja a


guarda unilateral e a mãe também; nenhum dos dois quer a guarda compartilhada;
mesmo assim, o juiz pode determinar esta espécie de guarda? SIM. A implementação
da guarda compartilhada não se sujeita à transigência dos genitores. Em outras
palavras, a guarda compartilhada é a regra, independentemente de concordância
entre os genitores acerca de sua necessidade ou oportunidade (STJ. 3ª Turma. REsp
1605477/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/06/2016.

Simples animosidade: Vale ressaltar, ainda, e isso pode ser cobrado em sua prova, que
o STJ já decidiu que A simples animosidade entre os genitores e suas diferenças de
ponto de vista sobre a criação dos filhos não são impedimento para a fixação da
guarda compartilhada. STJ. 3ª Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 15/09/2016.
E se não for possível mesmo a guarda compartilhada? Nas hipóteses em que seja
inviável a guarda compartilhada, a atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por
preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente
com o outro genitor (art. 7º da Lei nº 12.318/2010).

OUTROS TEMAS
A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe? SIM. Se o
juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá
a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida,
considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade (§ 5º do art. 1.584). O exemplo mais comum dessa situação é a guarda
atribuída aos avós.

Dever de os estabelecimentos públicos e privados prestarem informações aos pais:


Seja na guarda compartilhada, seja na guarda unilateral, tanto o pai como a mãe
possuem o direito de acompanhar e fiscalizar a educação e saúde de seus filhos.
Pensando nisso, e a fim de evitar qualquer embaraço, o § 6º ao art. 1.584 do CC
determinou que os estabelecimentos públicos e privados são obrigados a fornecer
informações ao pai ou a mãe sobre a situação dos seus filhos. Veja:
§ 6º Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado
a prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos
destes, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$
500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da
solicitação.

Essa regra vale mesmo que o pai (ou a mãe) que esteja requerendo a informação não
detenha a guarda do filho. Ex: João e Maria divorciaram-se e a mãe ficou com a guarda
exclusiva da criança; determinado dia, João foi até o colégio de sua filha para ter acesso
às notas do boletim escolar, tendo a escola negado, afirmando que somente a mãe
poderia obtê-lo. Esse estabelecimento de ensino poderá ser multado, na forma do § 6º
do art. 1.584 do CC. O mesmo vale para um hospital, por exemplo. A multa deve ser
cobrada na via judicial, devendo o pai (ou a mãe) comprovar que fez a solicitação não
atendida.

Descumprimento das regras: A alteração não autorizada ou o descumprimento


imotivado de cláusula de guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a
redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor (§ 4º do art. 1.584). Ex: ficou
acertado que João tem o direito de ficar com sua filha todos os sábados, devendo
entregá-la à mãe no domingo às 8h; ocorre que ele sempre leva a criança atrasado,
chegando por volta das 12h; neste caso, a lei prevê a possibilidade de ele ter reduzido
este direito.

55. DIREITO DE VISITAS


55.1. É possível a fixação de astreintes para forçar a genitora que está com a guarda
da criança a respeitar o direito de visita do pai – (Info 599)

É válida a aplicação de astreintes quando o genitor detentor da guarda da criança


descumpre acordo homologado judicialmente sobre o regime de visitas.
A aplicação das astreintes em hipótese de descumprimento do regime de visitas por
parte do genitor, detentor da guarda da criança se mostra como um instrumento
eficiente e também, menos drástico para a criança.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.531-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 16/2/2017 (Info 599).
OBS: Normalmente, as astreintes são utilizadas para a tutela de direitos patrimoniais.
No entanto, nada impede que seja fixada multa cominatória para tutelar direitos
extrapatrimoniais, como é o caso do direito de visitação. Esse é o entendimento da
doutrina:
"O direito de visitas gera uma obrigação de fazer infungível,
obrigação personalíssima, que deve ser cumprida
pessoalmente. Nada impede que seja buscado o
adimplemento, mediante aplicação da chamada astreinte:
tutela inibitória, mediante a aplicação de multa diária. Nada
mais do que um gravame pecuniário imposto ao devedor
renitente para que honre o cumprimento de sua obrigação.
Instrumento de pressão psicológica, verdadeira sanção,
destinada a desestimular a resistência do obrigado, de modo
que ele se sinta compelido a fazer o que está obrigado." (DIAS,
Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10ª ed. São
Paulo: RT, 2015, p. 539).

Cabe ressaltar que o CPC/2015 autoriza, de modo expresso, a aplicação de multa em


caso de descumprimento de obrigação de natureza não obrigacional ou existencial:
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a
exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz
poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da
tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação
do exequente.
(...)
§ 6º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao
cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de
não fazer de natureza não obrigacional.

Outro mecanismo que poderia ser utilizado para que o não guardião da criança
exercesse o seu direito de visitação seria a utilização da busca e apreensão. No
entanto, essa medida, levando-se em consideração sempre o melhor interesse da
criança e do adolescente, pode se mostrar drástica e prejudicial para o menor, que
poderia ser levado à força por uma ordem judicial, inclusive com a utilização da
polícia para a sua efetivação. Dessa forma, as astreintes se mostram como um meio
muito mais eficaz e menos traumatizante para a criança.

56. ALIMENTOS
56.1. Possibilidade de converter a execução sob o rito da prisão civil promovida em
desfavor dos avós em execução para penhora e expropriação de bens – (Info 617)

Havendo meios executivos mais adequados e igualmente eficazes para a satisfação


da dívida alimentar dos avós, é admissível a conversão da execução para o rito da
penhora e da expropriação, a fim de afastar o decreto prisional em desfavor dos
executados.
STJ. 3ª Turma. HC 416886-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/12/17 (Info 617).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria são avós paternos de Lucas,
criança com 7 anos. Eles fizeram um acordo homologado judicialmente no qual se
obrigaram a pagar R$ 2 mil por mês, a título de pensão alimentícia, em favor do neto.
Ocorre que João e Maria deixaram de pagar a pensão e, em razão disso, Lucas,
representado por sua mãe, ingressou com execução de alimentos sob o rito do art. 528
do CPC/2015 pedindo a prisão civil dos devedores (seus avós). O juiz mandou intimar
os executados pessoalmente para, em 3 dias:
a) pagarem o débito;
b) provarem que já o fizeram (provarem que já pagaram a
dívida); ou
c) justificarem a impossibilidade de efetuá-lo (provarem que
não têm condições de pagar).

Os avós afirmaram que não possuem condições de pagar em dinheiro o débito e


ofereceram um terreno como forma de quitar a dívida. O exequente, contudo, negou
a proposta.

Será possível acolher o pedido dos avós, evitando-se a prisão? SIM. A


responsabilidade dos avós na prestação de alimentos (obrigação alimentar avoenga)
possui as características da complementaridade e da subsidiariedade. Assim, para
estender a obrigação alimentar aos avós e bisavós, deve-se demonstrar fortemente que
os genitores estão absolutamente impossibilitados de prestar os alimentos de forma
suficiente.

O fato de os avós terem assumido uma obrigação de natureza complementar de forma


espontânea não significa dizer que, em caso de inadimplemento, a execução deverá
obrigatoriamente seguir o rito estabelecido para o cumprimento das obrigações
alimentares devidas pelos genitores, que são, em última análise, os responsáveis
originários pela prestação dos alimentos necessários aos menores.

Não há dúvida de que o inadimplemento causou transtornos ao menor; todavia,


sopesando-se os prejuízos que seriam causados na hipótese de manutenção do decreto
prisional dos idosos, conclui-se que a solução mais adequada à espécie é autorizar a
conversão da execução para o rito da penhora e da expropriação, o que, a um só
tempo, homenageia o princípio da menor onerosidade da execução (art. 805 do
CPC/2015) e também o princípio da máxima utilidade da execução.

56.2. O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros
e resultados deve ser incorporado à prestação alimentar devida? – (Info 615)

Os valores recebidos a título de “participação nos lucros e resultados” são incluídos


no percentual que é devido a título de pensão alimentícia? Em suma, toda vez que
o devedor receber participação nos lucros e resultados, o valor da pensão deverá
ser, automaticamente, pago a mais?
1ª corrente: NÃO. Os valores recebidos a título de participação nos lucros e
resultados não se incorporam à verba alimentar devida ao menor. É a posição da 3ª
Turma do STJ. REsp 1.465.679-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/11/17 (Info 615).
2ª corrente: SIM. As parcelas percebidas a título de participação nos lucros
configuram rendimento, devendo integrar a base de cálculo da pensão fixada em
percentual, uma vez que o conceito de rendimentos é amplo, especialmente para
fins de cálculo de alimentos. É a corrente adotada pela 4ª Turma do STJ. AgInt no
AREsp 1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/09/2017.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Arthur, 5 anos de idade, representado por sua
mãe, Carla, ajuizou ação de alimentos contra seu pai, Augusto, funcionário
regularmente contratado de uma empresa. O juiz, por meio de decisão interlocutória,
de ofício, deferiu a tutela de urgência, concedendo alimentos provisórios ao menor à
razão de 30% sobre os valores líquidos percebidos por Augusto, incidentes, inclusive,
sobre a participação nos lucros e resultados, que devem ser descontados diretamente
da folha de pagamento do genitor.

Augusto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste
caso? Agravo de instrumento.

O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício? SIM. Trata-se de uma das
hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de ofício. Esta previsão
está implícita no art. 4º da Lei nº 5.478/68:
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo
alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o
credor expressamente declarar que deles não necessita.

Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre
verbas esporádicas, eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do
trabalhador, tendo natureza indenizatória e que não integram os rendimentos do
alimentante, como é o caso da participação nos lucros e gratificações.

O que o STJ entende sobre o tema? Os valores recebidos a título de participação nos
lucros e resultados são incluídos no percentual que é devido a título de pensão
alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor receber participação nos lucros e
resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais?

1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM


A participação nos lucros e resultados As parcelas percebidas a título de
deve ser desvinculado do salário ou da participação nos lucros configuram
remuneração habitualmente recebida. rendimento, devendo integrar a base de
Trata-se de uma bonificação de cálculo da pensão fixada em percentual,
natureza indenizatória, eventual e que uma vez que o conceito de rendimentos
depende do desenvolvimento e do é amplo, especialmente para fins de
sucesso profissional no cumprimento cálculo de alimentos.
das metas estabelecidas. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
O recebimento, pelo alimentante 1070204/SE, Rel. Min. Luis Felipe
(devedor), de valores adicionais e Salomão, j. 19/09/2017.
eventuais não impacta, em regra, na
redefinição do valor dos alimentos a
serem prestados, ressalvadas as
situações em que as necessidades do
alimentado não foram inicialmente
satisfeitas ou sofreram alterações
supervenientes que justificam a
readequação do valor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1465679/SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 09/11/2017.

56.3. Súmula 596-STJ – (Info 614)

Súmula 596-STJ: A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e


subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial
de seu cumprimento pelos pais.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 08/10/2017. (Info 614)
OBS:
O Ministério Público pode ajuizar ação de alimentos em favor de criança ou
adolescente? SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de
alimentos em proveito de criança ou adolescente. Nesse caso, o MP atua como
substituto processual, ou seja, ele irá propor a ação em nome próprio defendendo
direito alheio (da criança/adolescente). Vale ressaltar que o Ministério Público tem
legitimidade ativa para ajuizar a ação de alimentos ainda que em proveito de uma
única criança. Ficará assim na petição inicial:
“MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO XX, por intermédio do
Promotor de Justiça que ao final subscreve, vem ajuizar a presente
AÇÃO DE ALIMENTOS em favor da criança XXX, contra
FULANO DE TAL (...)”

Quais são os fundamentos para que se reconheça a legitimidade ativa do MP na ação


de alimentos em favor das crianças e adolescentes?
Fundamentos constitucionais
 O direito das crianças e adolescentes aos alimentos pode ser classificado como
sendo um interesse individual indisponível, o que se insere nas atribuições
do MP, conforme previsto no art. 127 da CF/88.
 É dever não apenas da família, como também da sociedade e do Estado,
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, entre outros (art. 227).

Fundamento legal
 Compete ao Ministério Público promover e acompanhar as ações de alimentos
em favor de crianças e adolescentes (art. 201, III, do ECA).

O Ministério Público pode ajuizar ação de alimentos em favor de criança ou


adolescente mesmo que na localidade exista Defensoria Pública instalada e
funcionando? SIM. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de
alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente de existir ou não
Defensoria Pública no local. Isso porque as atuações dos órgãos não se confundem,
não sendo idênticas.
Ação de alimentos proposta pelo MP Ação de alimentos proposta pela
Defensoria
Na ação de alimentos, o MP atua como Na ação de alimentos, a Defensoria
substituto processual, pleiteando, em Pública atua como representante
nome próprio, o direito do infante aos processual, pleiteando, em nome da
alimentos. Para isso, em tese, o Parquet criança ou do adolescente, o seu direito
não precisa que a mãe ou o responsável aos alimentos.
pela criança ou adolescente procure o Para tanto, a Defensoria só pode ajuizar
órgão em busca de assistência. O MP a ação de alimentos se for provocada
pode atuar de ofício. Aliás, na maioria pelos responsáveis pela criança ou
das vezes o MP atua quando há a adolescente.
omissão dos pais ou responsáveis na
satisfação dos direitos mínimos da
criança e do adolescente, notadamente o
direito à alimentação.

Existia uma posição sustentando que o MP somente poderia ajuizar ação de


alimentos se a mãe da criança ou do adolescente não estivesse exercendo o poder
familiar, uma vez que, em caso contrário, ela deveria tomar essa providência. Essa
posição prevaleceu? NÃO. O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar
ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente, independentemente do
exercício do poder familiar dos pais. Em suma, a mãe e o pai podem estar no pleno
exercício do poder familiar e mesmo assim a ação ser proposta pelo Parquet.

Existia uma posição sustentando que o MP somente poderia ajuizar ação de


alimentos se ficasse caracterizado que a criança ou o adolescente estivesse em
situação de risco (art. 98 do ECA). Essa posição prevaleceu? NÃO. O Ministério
Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança
ou adolescente mesmo que a criança ou adolescente não se encontre nas situações de
risco descritas no art. 98 do ECA. Vigora em nosso ordenamento a doutrina da
proteção integral da criança e do adolescente. Como decorrência lógica dessa
doutrina, o ECA adota, em seu art. 100, parágrafo único, VI, o princípio da
intervenção precoce, segundo o qual a atuação do Estado na proteção do infante deve
ocorrer antes que o infante caia no que o antigo Código de Menores chamava de
situação irregular, como nas hipóteses de maus-tratos, violação extrema de direitos
por parte dos pais e demais familiares.

56.4. Súmula 594-STJ – (Info 614)

Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de
alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício
do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de
risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública
na comarca.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. (Info 614)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João é um jovem rico empresário. Ele é casado
e possui duas filhas deste casamento. Além disso, possui também um terceiro filho
(Bernardo), caçula, fruto de um relacionamento extraconjugal. João pagava 5 salários-
mínimos de pensão alimentícia para o filho. Ocorre que, determinado dia, o
empresário sofreu um acidente e faleceu. Com a morte, foi aberto inventário judicial
para apurar quais foram os bens deixados pelo falecido e, após isso, realizar a partilha
entre os herdeiros. Vale ressaltar que, como o patrimônio deixado por João é grande,
é provável que o inventário demore alguns anos para ser concluído. Um mês após a
morte, Bernardo, representado por sua mãe, ajuizou ação de alimentos contra o pai de
João, alegando que, com a morte deste, a criança ficou desassistida e precisa
urgentemente da quantia que já era paga para suas necessidades diárias. Segundo
alegou Bernardo, diante da morte de seu pai, a obrigação de prestar os alimentos
deverá ser transmitida automaticamente para seu avô paterno, que é um rico
empresário, detentor de grande fortuna. O pedido de Bernardo foi fundamentado no
art. 1.696 do Código Civil:
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre
pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes (ex: avós),
recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta
de outros.

O pedido de Bernardo deverá ser acolhido? NÃO. A obrigação dos avós de prestar
alimentos tem natureza complementar e subsidiária e somente exsurge se ficar
demonstrada a impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos dos filhos,
ou de os proverem de forma suficiente. Assim, morrendo o pai que pagava os
alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos avós se ficar demonstrado que nem a
mãe nem o espólio do falecido têm condições de sustentar o filho. Não tendo ficado
demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do cumprimento da obrigação
alimentar pela mãe, como também pelo espólio do pai falecido, não há como
reconhecer a obrigação do avô de prestar alimentos.

O falecimento do pai do alimentante não implica a automática transmissão do dever


alimentar aos avós. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.133-SC, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, j. 16/6/2016 (Info 587).

Demonstrar a impossibilidade da mãe: A primeira questão a ser ressaltada é que, para


a ação de alimentos ajuizada contra os avós ter êxito, é indispensável que se demonstre
que nem o pai nem a mãe têm condições de sustentar o alimentando. No caso concreto,
o pai já era falecido, mas o autor (Bernardo) teria que demonstrar que a sua mãe
também não tinha condições de sustentar o filho. Isso porque a obrigação alimentar
avoenga (entre avós e netos) tem natureza complementar e subsidiária. Confira:
(...) A obrigação alimentar dos avós apresenta natureza
complementar e subsidiária, somente se configurando
quando pai e mãe não dispuserem de meios para promover as
necessidades básicas dos filhos.
2. Necessidade de demonstração da impossibilidade de os
dois genitores proverem os alimentos de seus filhos.
3. Caso dos autos em que não restou demonstrada a
incapacidade de a genitora arcar com a subsistência dos
filhos.
4. Inteligência do art. 1.696 do Código Civil. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.415.753/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 24/11/2015.
Demonstrar a impossibilidade do espólio: Além disso, para intentar a ação contra o
avô, o autor também teria que ter demonstrado que o espólio de seu pai não tinha
condições de continuar pagando a pensão alimentícia.

Obs: o espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora


dele. Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para
praticar atos jurídicos (ex.: celebrar contratos no interesse da herança) e tem
legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual)
(FARIAS, Cristiano Chaves. et. al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm,
2013, p. 1396).

Ação deveria ter sido dirigida contra o espólio: Desse modo, no caso concreto,
Bernardo deveria ter ajuizado a ação de alimentos contra o espólio de seu pai. O
alimentando é herdeiro do falecido e, por isso, deveria ter pedido alimentos ao espólio
de seu pai.

Não há transmissão automática do dever de alimentar aos avós: Não é correta,


portanto, a afirmação de que o dever de alimentar transmite-se automaticamente aos
avós em caso de falecimento do pai que pagava a pensão.

56.5. As decisões e sentenças nas ações de alimentos devem ser líquidas – (Info 608)

Não é possível, em tutela antecipada deferida na ação revisional de alimentos, a


alteração de valor fixo de pensão alimentícia para um valor ilíquido,
correspondente a percentual de rendimentos que virão a ser apurados no curso do
processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.975-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 27/6/17
(Info 608).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João pagava R$ 3 mil de pensão alimentícia
para sua filha Luana. O genitor ingressou com ação revisional de alimentos com o
objetivo de reduzir o valor da pensão alimentícia alegando que ficou desempregado e
que está vivendo de serviços autônomos que presta esporadicamente. O juiz deferiu
o pedido de tutela provisória de urgência antecipada e reduziu o valor da pensão
alimentícia, fixando-a em 30% dos rendimentos do alimentante (João), de acordo com
o que ficar comprovado no curso do processo, uma vez que ele não é assalariado.

A decisão do magistrado foi correta? NÃO.

O Código de Processo Civil proíbe, em regra, a prolação de sentença ou decisão


ilíquida quando se tratar de obrigação de pagar quantia. Confira:
Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda
que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo
a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa
de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da
capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando:
I - não for possível determinar, de modo definitivo, o
montante devido;
II - a apuração do valor devido depender da produção de
prova de realização demorada ou excessivamente
dispendiosa, assim reconhecida na sentença.

Conforme explica a doutrina:


“A sentença ilíquida é a exceção no direito brasileiro por óbvia
razão: é sempre desejável a criação de um título executivo
judicial, que contenha obrigação líquida que permita a
imediata instauração do cumprimento de sentença. A
desnecessidade da fase de liquidação da sentença diminui o
tempo necessário à satisfação do direito, prestigiando os
princípios da celeridade, economia e duração razoável do
processo.
(...)
Fica clara a opção do legislador pela sentença líquida, que
deve ser tentada mesmo quando o pedido do autor é
genérico.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Comentários
ao Novo Código de Processo Civil. Salvador: JusPodivm, 2016,
p. 817).

No âmbito da ação de alimentos, a exigência de sentença líquida assume uma


importância ainda maior tendo em vista a necessidade imediata do alimentando,
que não pode ficar esperando que se defina futuramente o valor exato a que ele terá
direito. Justamente por essa razão é que a Lei de Alimentos (Lei 5.478/68) determina
ao juiz que fixe já no início do processo os alimentos provisórios (art. 4º).

No exemplo dado, a decisão judicial proferida contrariou a regra processual sobre a


necessidade de liquidez dos provimentos judiciais e atentou contra o interesse da
alimentanda, pois a pensão alimentícia foi alterada de um valor fixo, passível de
imediata execução, para um valor ilíquido, a ser determinado no curso da demanda
revisional, impedindo a imediata execução.

56.6. Termo inicial do prazo prescricional para cumprimento de sentença de


alimentos – (Info 607)

O prazo prescricional para o cumprimento de sentença que condenou ao


pagamento de verba alimentícia retroativa se inicia tão somente com o trânsito em
julgado da decisão que reconheceu a paternidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.063-AC, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 20/6/17 (Info 607).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética:
Em 2008, Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos
contra João alegando que ele seria seu pai.
Em 2009 foi proferida sentença reconhecendo a paternidade e condenando João a
pagar os alimentos desde a data da citação.
Em 2010, Lucas fez 18 anos, atingindo, assim, a maioridade. Vale ressaltar que logo
em seguida ele ingressou na universidade.
Em 19/08/2012, após uma sucessão de recursos, houve o trânsito em julgado da
sentença.
Em 05/08/2014, Lucas ingressou com cumprimento de sentença cobrando os valores
atrasados de pensão alimentícia de 2008 até 2012.
João alegou, em sua defesa, que houve prescrição para a cobrança das referidas
parcelas alimentares.
Segundo a tese do devedor, o prazo prescricional para cobrança de dívidas
alimentares é de 2 anos, nos termos do art. 206, § 2º do Código Civil, e este prazo teria
se iniciado em 2010, quando Lucas atingiu a maioridade e cessou o poder familiar (art.
197, II). Veja o que diz o Código Civil:
Art. 197. Não corre a prescrição: (...)
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder
familiar;

Art. 206. Prescreve: (...)


§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações
alimentares, a partir da data em que se vencerem.

O argumento do devedor foi aceito pelo STJ? Houve prescrição neste caso? NÃO. É o
que foi decidido pelo STJ, no Info 607.

“Tratando-se de ação de investigação de paternidade cumulada com pedido de


alimentos, o prazo prescricional das prestações vencidas somente começa a fluir a
partir do momento em que, por estar definitivamente firmada a obrigação, o
beneficiário podia exigi-las.” (CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. 8ª ed. São Paulo:
RT, 2013, p. 96).
Faltava o requisito da exigibilidade para a promoção do cumprimento da sentença
porque a obrigação não estava definitivamente firmada, o que somente veio a ocorrer
com o trânsito em julgado da sentença da investigatória de paternidade.

O termo inicial da execução da sentença é o do respectivo trânsito em julgado, nada


importando que – recebido o recurso no só efeito devolutivo – já fosse possível a
execução provisória. (...)
STJ. 3ª Turma. AgRg no AG 617.869/SP, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em
29/11/2005.

56.7. Ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o
nascimento da criança – (Info 606)

A ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o


nascimento da criança, pois os referidos alimentos ficam convertidos em pensão
alimentícia até eventual ação revisional em que se solicite a exoneração, redução ou
majoração de seu valor ou até mesmo eventual resultado em ação de investigação
ou negatória de paternidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.629.423-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/6/17 (Info
606).

56.8. Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus
pais têm dever de prestar alimentos, sendo a necessidade presumida – (Info 601) –
IMPORTANTE!!!
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença
mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos
prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do
alimentado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/17 (Info 601).
OBS:
João paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho Gabriel (de 7 anos), que teve
com sua ex-esposa. Qual é o fundamento jurídico para o pagamento dessa prestação?
O fundamento está no poder familiar.
Poder familiar é um conjunto de direitos e deveres conferido aos pais com relação ao
filho menor de 18 anos (não emancipado), dentre eles o poder de dirigir a criação e a
educação, de conceder consentimento para casar, de exigir que preste obediência, e
outros previstos no art. 1.634 do CC.
Como decorrência do poder familiar, os pais são obrigados a dar sustento aos filhos
menores, nos termos do art. 1.566, IV, do CC:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
IV – sustento, guarda e educação dos filhos;

Até quando João terá que pagar pensão alimentícia em favor de Gabriel? Em regra,
até 18 anos. Isso porque o poder familiar dos pais sobre os filhos cessa com a
maioridade, ou seja, quando os filhos completam 18 anos (art. 1.630 e art. 1.635, III).
Assim, em regra, a obrigação dos pais de prestar alimentos aos filhos cessa com o fim
do poder familiar, isto é, quando os filhos completam 18 anos.
É importante, no entanto, fazer um alerta. O fato de o filho completar 18 anos não
autoriza que o pai, a partir desse dia, automaticamente, deixe de pagar a pensão. É
necessário que o genitor faça um pedido ao juiz de exoneração da obrigação de
alimentar. Há, inclusive, uma súmula do STJ a respeito:
Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de
filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

Esse pedido ao juiz deverá ser formulado nos próprios autos da ação de alimentos (se
houver) ou, então, o pai terá que propor uma ação de exoneração. É necessário esse
pedido expresso porque o filho deve ter a oportunidade de se defender e pedir para
continuar recebendo a pensão por outro motivo que não seja a menoridade (ex: estudo,
doença etc.). Veremos mais sobre isso logo abaixo.

Filho maior de 18 anos que esteja fazendo curso superior ou técnico: A jurisprudência
construiu a tese de que, mesmo após completar 18 anos, o filho continua tendo direito
de receber alimentos dos pais se ele, por ocasião da extinção do poder familiar, estiver
regularmente frequentando curso superior ou técnico. Nesta hipótese, contudo, o
dever de alimentar dos pais tem outro fundamento, qual seja, a relação de parentesco:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros
pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para
viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive
para atender às necessidades de sua educação.

Dessa forma, é devido alimentos ao filho maior quando comprovada a frequência em


curso universitário ou técnico, por força da obrigação parental de promover adequada
formação profissional.
Esse filho que está fazendo curso superior ou técnico terá direito à pensão alimentícia
até que idade? Em regra, até 24 anos. Essa idade não está prevista no Código Civil,
tendo sido uma criação da jurisprudência com base na legislação do imposto de renda,
que estipula que até esta idade o filho pode ser considerado dependente para fins
desse tributo. Nesse sentido:
“Observamos, de outro lado, que, com relação ao direito dos
filhos maiores pedirem alimentos aos pais, não é o poder
familiar que o determina, mas a relação de parentesco, que
predomina e acarreta a responsabilidade alimentícia. Com
relação aos filhos que atingem a maioridade, a ideia que deve
preponderar é que os alimentos cessam com ela. Entende-se,
porém, que a pensão poderá distender-se por mais algum
tempo, até que o filho complete os estudos superiores ou
profissionalizantes, com idade razoável, e possa prover a
própria subsistência. Nesse sentido, o art. 1.694 do presente
Código sublinha que os alimentos devem atender, inclusive,
às necessidades de educação. Tem-se entendido que, por
aplicação do entendimento fiscal quanto à dependência para
o Imposto de renda, que o pensionamento deva ir até os 24
anos de idade.” (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de Família.
12ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 381-382)

Vale ressaltar, no entanto, que esta idade “máxima” de 24 anos é apenas um


parâmetro e que o juiz, no caso concreto, poderá ampliar o pagamento da pensão para
depois dessa idade, desde que demonstrada, de forma efetiva, a necessidade do
alimentando.

Recapitulando o que vimos até agora:


 Até 18 anos, o filho tem direito à pensão por força do poder familiar;
 De 18 até 24 anos, o filho continuará tendo direito à pensão se estiver fazendo
curso superior ou técnico, hipótese na qual o pai terá que pagar os alimentos
com fundamento no parentesco.

Vamos avançar. Alguns de vocês devem estar pensando: e se o filho, já graduado,


estiver fazendo especialização, mestrado ou doutorado, ele terá direito à pensão
alimentícia? NÃO. Aí já está demais.

O estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser


imposto aos pais de forma perene, sob pena de subverter o
instituto da obrigação alimentar oriunda das relações de
parentesco, que tem por objetivo, tão só, preservar as
condições mínimas de sobrevida do alimentado.
Em rigor, a formação profissional se completa com a
graduação, que, de regra, permite ao bacharel o exercício da
profissão para a qual se graduou, independentemente de
posterior especialização, podendo assim, em tese, prover o
próprio sustento, circunstância que afasta, por si só, a
presunção iuris tantum de necessidade do filho estudante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1505079/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 13/12/2016.
Imagine agora a seguinte situação hipotética: Carlos paga pensão alimentícia para
seu filho Lucas (de 17 anos) no valor de 30% do salário-mínimo. Vale ressaltar que
Lucas possui uma doença mental grave incapacitante e, por conta disso, recebe do
Poder Público, todos os meses, um valor chamado de “Benefício de Prestação
Continuada” (BPC), previsto na Lei 8.742/93 – LOAS) e pago para pessoas com
deficiência que sejam economicamente miseráveis. Quando o filho completou 18 anos,
Carlos ajuizou ação de exoneração de alimentos contra ele alegando que Lucas não
está estudando e que, por ter direito ao benefício assistencial, não teria necessidade de
receber a pensão alimentícia.

O argumento de Carlos deverá ser aceito? NÃO. A ação deverá ser julgada
improcedente e Carlos deverá continuar pagando a pensão alimentícia.
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do
portador de doença mental incapacitante, devendo ser
suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em
razão do poder familiar, independentemente da maioridade
civil do alimentado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).

Necessidade presumida: Conforme vimos, quando o filho atinge a maioridade, cessa


o dever do pai de pagar os alimentos com fundamento no poder familiar. No entanto,
é possível que esse dever continue, mas agora com base em outro alicerce jurídico: o
parentesco. No caso dos alimentos decorrentes do poder familiar, a necessidade do
filho é presumida. Por outro lado, no caso dos alimentos com fundamento no
parentesco, em regra, é necessário que o filho prove que necessita da pensão. É
necessária comprovação da necessidade.
Na situação de Lucas, quando ele completou 18 anos, o dever de alimentar de seu pai
mudou de fundamento: deixou de ser pelo poder familiar e passou a ser pelo
parentesco. Apesar disso, como ele é portador de doença mental incapacitante, a
necessidade continua sendo presumida.
Assim, em caso de filho maior de 18 anos com doença mental incapacitante, o pai
continua tendo obrigação de prestar os alimentos, com base no parentesco, sendo,
presumida a necessidade do alimentado.

Dever específico previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência: Importante também


destacar que a Lei 13.146/2015, determina que é dever da família assegurar à pessoa
com deficiência, com prioridade, a efetivação de diversos direitos, dentre eles, o
direito à vida, à saúde, à alimentação e à habitação.

Valores gastos com pessoa com deficiência são muito altos: O Benefício de Prestação
Continuada é equivalente a um salário mínimo. As regras de experiência demonstram
que, no cotidiano de famílias nas quais um dos membros é acometido de doença
mental incapacitante, esse valor é ínfimo se comparado com as efetivas necessidades
dessa pessoa. Mesmo se somarmos o valor da pensão (30% do salário mínimo) com o
BPC, ainda assim, a quantia total recebida pelo alimentando fica aquém (abaixo) de
suas reais necessidades.

Quadro-Resumo:
Fundamento:
Pais têm obrigação de prestar alimentos. A
Filho até 18 anos Poder
necessidade do filho é presumida.
familiar
(art. 1.566, IV)
Como regra, os pais não têm obrigação de Fundamento:
Filho maior de 18 prestar alimentos. O filho poderá provar Parentesco
anos que necessita dos alimentos (ex: motivo de (art. 1.694)
doença).
Pais continuam tendo a obrigação de
Filho maior de 18 e
prestar alimentos. A necessidade do filho Fundamento:
menor de 24 anos, se
é presumida. Parentesco
estiver fazendo
(art. 1.694)
curso superior ou Como o filho está estudando, a
técnico. jurisprudência considera que existe uma
presunção de que ele necessita dos
alimentos.
Filho maior de 18 e
menor de 24 anos, se Como regra, os pais não têm obrigação de Fundamento:
estiver cursando prestar alimentos. O filho poderá provar Parentesco
especialização, que necessita dos alimentos (ex: motivo de (art. 1.694)
mestrado ou doença).
doutorado.
Pais continuam tendo a obrigação de
Filho maior de 18 Fundamento:
prestar alimentos.
anos que apresenta Parentesco
A necessidade do alimentado se presume,
doença mental (art. 1.694)
e deve ser suprida nos mesmo moldes dos
incapacitante.
alimentos prestados em razão do poder
familiar.

56.9. O devedor de alimentos, executado sob a ameaça de prisão, pode comprovar a


impossibilidade de pagamento por meio de testemunhas? – (Info 599) –
IMPORTANTE!!!

Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015),
o executado é intimado pessoalmente para, em 3 dias:
a) pagar o débito;
b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou
c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de
pagar).

É possível que o devedor justifique a impossibilidade de pagar por meio de


testemunhas?
SIM. Em tese, é possível que isso seja feito por meio de prova testemunhal. Neste
caso, as testemunhas terão que ser ouvidas obrigatoriamente no prazo de 3 dias.
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015),
o executado pode comprovar a impossibilidade de pagamento por meio de prova
testemunhal, desde que a oitiva ocorra no tríduo previsto para a justificação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.338-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para
acórdão Min. Nancy Andrighi, j. 13/12/2016 (Info 599).

56.10. A genitora possui legitimidade para prosseguir na execução de alimentos


proposta na época em que tinha a guarda do filho com o objetivo de ser ressarcida
pelas prestações pretéritas – (Info 590)

A genitora que, ao tempo em que exercia a guarda judicial do filho, representou-o


em ação de execução de débitos alimentares possui legitimidade para prosseguir
no processo executivo com intuito de ser ressarcida, ainda que, no curso da
cobrança judicial, a guarda tenha sido transferida ao genitor (executado).
Ex: João e Maria foram casados e são pais de Lucas. Depois que se separaram,
iniciou-se uma disputa pela guarda do filho. Enquanto não se definia a questão, a
guarda foi provisoriamente deferida para Maria. O juiz determinou que João
pagasse pensão alimentícia em favor do filho. O pai ficou devendo 4 meses de
pensão (abril a julho/2015). Em razão disso, Lucas, representado por Maria, ajuizou
execução de alimentos cobrando a quantia. Em novembro de 2015, o juiz, na
sentença, determinou que a guarda de Lucas deveria ficar com o pai, revogando a
decisão interlocutória anterior que havia deferido a guarda em favor de Maria.
Mesmo assim, a genitora possui legitimidade para prosseguir na execução dos
débitos alimentares relacionados com a época em que ela era guardiã do filho. Isso
porque ela teve que assumir as despesas com o filho no período em que o pai não
pagou a pensão alimentícia e precisa ser ressarcida.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.410.815-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 9/8/2016 (Info
590).
OBS: O pai, mesmo estando atualmente com o filho, continua obrigado a pagar os
meses de pensão alimentícia atrasados nos quais a guarda da criança estava com a
mãe. Isso porque, neste período, enquanto não recebia o dinheiro da pensão, ela teve
que assumir os gastos com a criação e sustento do filho e tais despesas devem ser
ressarcidas. Assim, foi decidido pelo STJ no Info 590.

Realmente a partir do momento em que houve a alteração da guarda para o pai, cessou
a obrigação do genitor de pagar a pensão alimentícia. No entanto, tal fato não o exime
da dívida alimentar pretérita, contraída nos meses em que a guarda da criança estava
com a mãe. Assim, o débito alimentar no período em que Lucas estava sob a guarda
materna permanece inalterado e a genitora tem legitimidade para continuar
executando tal quantia.

Maria Berenice Dias já se debruçou sobre este tema e ensina:


"Para evitar prejuízo enorme, como o genitor que detém a
guarda é quem acaba sozinho provendo ao sustento da prole,
indispensável reconhecer a ocorrência de sub-rogação. Ou
seja, resta ele como titular do crédito vencido e não pago
enquanto o filho era menor, ainda que relativamente capaz. Se
ele está sob sua guarda, como o dever de lhe prover o sustento
é de ambos os genitores, quando tal encargo é desempenhado
somente por um deles, pode reembolsar-se com relação ao
omisso. (...)
O mesmo ocorre quando o filho passa para a guarda do outro
genitor. Se existe um crédito alimentar, quem arcou sozinho
com o sustento do filho pode reembolsar-se do que despendeu.
Dispõe ele de legitimidade para cobrar os alimentos. Age em
nome próprio, como credor sub-rogado." (DIAS, Maria
Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª ed. São Paulo: RT,
2013. p. 582.)

Mas na execução agora constará como exequente a mãe ou permanecerá sendo o filho?
A mãe. O STJ entende que há neste caso sub-rogação. A mãe, como arcou com a dívida
que era do pai da criança, sub-rogou-se no direito de cobrar o pai como se fosse o filho.
O CPC permite que o sub-rogado que não receber o crédito do devedor possa
prosseguir na execução já iniciada pelo credor originário. Veja:
Art. 857 (...)
§ 2º A sub-rogação não impede o sub-rogado, se não receber o
crédito do executado, de prosseguir na execução, nos mesmos
autos, penhorando outros bens.

No processo de execução, a mãe poderá pedir a prisão civil do devedor? NÃO. O STJ
entendeu que, como houve a alteração da guarda e a execução atualmente está
correndo no interesse da mãe, não é mais possível pedir a prisão civil do devedor,
razão pela qual o prosseguimento do feito deve seguir o rito previsto no art. 913 do
CPC/2015.

56.11. Inexistência de transferência automática do dever de alimentar – (Info 587) –


IMPORTANTE!!!

A obrigação dos avós de prestar alimentos tem natureza complementar e


subsidiária e somente exsurge se ficar demonstrada a impossibilidade de os dois
genitores proverem os alimentos dos filhos, ou de os proverem de forma suficiente.
Assim, morrendo o pai que pagava os alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos
avós se ficar demonstrado que nem a mãe nem o espólio do falecido têm condições
de sustentar o filho.
Não tendo ficado demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do
cumprimento da obrigação alimentar pela mãe, como também pelo espólio do pai
falecido, não há como reconhecer a obrigação do avô de prestar alimentos.
O falecimento do pai do alimentante não implica a automática transmissão do
dever alimentar aos avós.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.133-SC, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para
acórdão Min. Raul Araújo, j. 16/6/2016 (Info 587).
OBS:
Demonstrar a impossibilidade da mãe: A primeira questão a ser ressaltada é que, para
a ação de alimentos ajuizada contra os avós ter êxito, é indispensável que se demonstre
que nem o pai nem a mãe têm condições de sustentar o alimentando. No caso concreto,
o pai já era falecido, mas o autor teria que demonstrar que a sua mãe também não
tinha condições de sustentar o filho. Isso porque a obrigação alimentar avoenga (entre
avós e netos) tem natureza complementar e subsidiária. Confira:
(...) A obrigação alimentar dos avós apresenta natureza
complementar e subsidiária, somente se configurando quando
pai e mãe não dispuserem de meios para promover as
necessidades básicas dos filhos.
2. Necessidade de demonstração da impossibilidade de os
dois genitores proverem os alimentos de seus filhos.
3. Caso dos autos em que não restou demonstrada a
incapacidade de a genitora arcar com a subsistência dos filhos.
4. Inteligência do art. 1.696 do Código Civil. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.415.753/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 24/11/2015.

Demonstrar a impossibilidade do espólio: Além disso, para intentar a ação contra o


avô, o autor também teria que ter demonstrado que o espólio de seu pai não tinha
condições de continuar pagando a pensão alimentícia.

Obs: o espólio é o ente despersonalizado que representa a herança em juízo ou fora


dele. Mesmo sem possuir personalidade jurídica, o espólio tem capacidade para
praticar atos jurídicos (ex.: celebrar contratos no interesse da herança) e tem
legitimidade processual (pode estar no polo ativo ou passivo da relação processual)
(FARIAS, Cristiano Chaves. et. al., Código Civil para concursos. Salvador: Juspodivm,
2013, p. 1396).

Ação deveria ter sido dirigida contra o espólio: Desse modo, no caso concreto, o autor
deveria ter ajuizado a ação de alimentos contra o espólio de pai. O alimentando é
herdeiro do falecido e, por isso, deveria ter pedido alimentos ao espólio de seu pai.

Não há transmissão automática do dever de alimentar aos avós: Não é correta,


portanto, a afirmação de que o dever de alimentar transmite-se automaticamente aos
avós em caso de falecimento do pai que pagava a pensão.

Uma última pergunta: se o devedor dos alimentos morre, essa obrigação sempre irá se
transmitir para o espólio? NÃO. Nem sempre. É necessário distinguir as situações:
 Situação 1: se o credor de alimentos é herdeiro do falecido (exemplo mais
comum: filho/filha). Neste caso, o espólio terá obrigação de pagar os
alimentos.
 Situação 2: se o credor de alimentos não é herdeiro do falecido (exemplo: ex-
companheira). Neste caso, o espólio não deverá continuar pagando a pensão
fixada.

Para maiores informações sobre este último ponto, veja STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.693-
SP, Rel. originário Min. Maria Isabel Gallotti, voto vencedor Min. Nancy Andrighi,
Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 26/11/2014 (Info 555).

56.12. Não é indispensável a presença do advogado no acordo de alimentos – (Info


582)

É válido o acordo de alimentos celebrado pelos interessados na presença do


magistrado e do Ministério Público, mas sem a participação do advogado do
alimentante capaz.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.584.503-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. em 19/4/16
(Info 582).
OBS:
Previsão específica da Lei de Alimentos (Lei 5478/68): Não exige a presença de
advogado na audiência de conciliação. Confira:

Art. 6º Na audiência de conciliação e julgamento deverão


estar presentes autor e réu, independentemente de intimação
e de comparecimento de seus representantes.
(...)
Art. 9º Aberta a audiência, lida a petição ou o termo, e a
resposta, se houver, ou dispensada a leitura, o juiz ouvirá as
partes litigantes e o representante do Ministério Público,
propondo conciliação. § 1º Se houver acordo, lavrar-se-á o
respectivo termo, que será assinado pelo juiz, escrivão, partes
e representantes do Ministério Público.

A Lei de Alimentos aceita a postulação verbal pela própria parte, por termo ou
advogado constituído nos autos (art. 3º, § 1º), o que demonstra a preocupação do
legislador em garantir aos necessitados a via judiciária mesmo sem advogado (REsp
1.113.590-MG, Terceira Turma, DJe 10/9/2010).

Com base nessa lei específica, entende-se que o alimentante possui capacidade e
legitimidade para transacionar, independentemente da presença de seu patrono no
momento da realização do ato.

Essa é a posição de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:

"(...) para fins de celebração de conciliação, as partes podem


estar desacompanhadas de advogado, uma vez que inexiste,
até o referido momento procedimental, litígio propriamente
dito." (Curso de Direito Civil. Vol. 6. Salvador: Juspodivm,
2016, p. 778).

Admite-se acordo extrajudicial sem advogado; logo, com maior razão, deve-se aceitar
na via judicial: O STJ possui diversos precedentes no sentido de que "A assistência de
advogado não constitui requisito formal de validade de transação celebrada
extrajudicialmente mesmo versando sobre direitos litigiosos" (RESP 666.328-PR,
Primeira Turma, DJ 21/3/2005). Se é possível o acordo extrajudicial sem advogado,
com maior razão deve-se admitir no caso de este ser celebrado perante a via judicial,
especialmente porque, neste caso, há maior proteção das partes, tendo em vista a
participação do MP, como custos legis, bem como por meio da atuação do próprio
Estado-Juiz. Incide aqui a premissa de que "quem pode o mais, pode o menos".

Ausentes vícios de consentimento, não há motivo para anulação: Ausentes os vícios


de consentimento, quais sejam, dolo, coação, erro substancial quanto à pessoa ou coisa
controversa e lesão (art. 849 do CC), não há motivo para a anulação da transação
judicial de alimentos celebrada na presença do magistrado e do MP.

E o § 9º do art. 334 do NCPC? O STJ não se manifestou especificamente sobre esse


dispositivo porque o caso envolvia uma situação ocorrida ainda na vigência do
CPC/73. Porém, na doutrina, há posição defendendo que, mesmo com o § 9º, a
presença do advogado na audiência de conciliação é mera faculdade (e não dever) das
partes. Veja:
"Segundo o § 9º do art. 334 do NCPC, as partes devem estar
acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos.
Compreende-se a preocupação do legislador, porque com
uma assessoria técnica se evitam avenças inexequíveis ou
temerárias, nas quais as partes podem dispor de direitos que
nem sabiam ser titulares.
Apesar de aparentemente instituir um dever, o dispositivo
não prevê a consequência de seu descumprimento. Entendo
que não se trata efetivamente de um dever, mas de uma
faculdade da parte, até porque o ato de autocomposição ou
mediação é ato da parte, que independe de capacidade
postulatória, de forma que a ausência de seu patrono nessa
audiência não impede que a solução consensual seja obtida e
homologada em juízo. Dessa forma, a ausência do advogado
não impede a realização da audiência e a consequente
autocomposição." (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 578).

56.13. Protesto e inscrição do nome do devedor de alimentos em cadastros de


inadimplentes – (Info 579) – IMPORTANTE!!!

Em execução de alimentos devidos a filho menor de idade, é possível o protesto e


a inscrição do nome do devedor em cadastros de proteção ao crédito.
Mostra-se juridicamente possível o pedido do credor para que seja realizado
protesto e inclusão do nome do devedor de alimentos nos cadastros de proteção ao
crédito (SPC e Serasa), como medida executiva a ser adotada pelo magistrado para
garantir a efetivação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
No CPC 2015 existe previsão expressa nesse sentido (art. 528, § 1º e art. 782, §§ 3º e
4º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
8/3/2016 (Info 579).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.533.206-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17⁄11⁄2015.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O juiz, por meio de sentença em ação de
alimentos, determinou que João pagasse R$ 2 mil, mensalmente, em favor de seu filho
Lucas (17 anos). João vinha cumprindo a obrigação. Ocorre que, por estar enfrentando
dificuldades financeiras, o pai atrasou os últimos pagamentos. Diante disso, Lucas
ingressou com cumprimento de sentença, nos termos do art. 528 do CPC 2015,
cobrando a quantia em atraso. O juiz mandou intimar o executado pessoalmente para,
em 3 dias: a) pagar o débito; b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou c)
justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de pagar).

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao


pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para,
em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar
a impossibilidade de efetuá-lo.
O executado permaneceu inerte, ou seja, não pagou a dívida nem apresentou qualquer
justificativa idônea para o inadimplemento.

Neste caso, é possível que esta decisão judicial que fixou os alimentos seja levada a
protesto e que o nome do devedor seja incluído no SPC/SERASA? SIM.

Há previsão legal para isso?

CPC 1973 CPC 2015


Não havia previsão expressa. Esta possibilidade passou a ser
Mesmo assim, o STJ afirmava que isso expressamente prevista. Veja o que diz o
seria possível, sob o argumento de que novo CPC:
não havia nenhum impedimento legal Art. 528 (...)
para que se determinasse a negativação § 1º Caso o executado, no prazo referido
do nome do devedor de alimentos. no caput, não efetue o pagamento, não
O art. 19 da Lei de Alimentos (Lei prove que o efetuou ou não apresente
5478/68) prevê que incumbe ao juiz da justificativa da impossibilidade de
causa adotar as providências necessárias efetuá-lo, o juiz mandará protestar o
para a execução da sentença ou do pronunciamento judicial, aplicando-se,
acordo de alimentos. Isso deve ser no que couber, o disposto no art. 517.
interpretado da forma mais ampla Art. 782. Não dispondo a lei de modo
possível, tendo em vista a natureza do diverso, o juiz determinará os atos
direito em discussão, o qual, em última executivos, e o oficial de justiça os
análise, visa garantir a sobrevivência e a cumprirá.
dignidade da criança ou adolescente (...)
alimentando. § 3º A requerimento da parte, o juiz
Ademais, o princípio do melhor pode determinar a inclusão do nome do
interesse da criança e do adolescente executado em cadastros de
encontra respaldo constitucional (art. inadimplentes.
227 da CF/88). § 4º A inscrição será cancelada
Se a inscrição do nome do devedor no imediatamente se for efetuado o
SPC/SERASA pode ser utilizada para pagamento, se for garantida a execução
resguardar interesses bancários e ou se a execução for extinta por qualquer
empresariais em geral, com maior razão outro motivo.
esta medida pode ser utilizada para § 5º O disposto nos §§ 3º e 4º aplica-se à
dívidas alimentícias. execução definitiva de título judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.469.102-SP, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 8/3/2016 (Info 579).

Obs: vale ressaltar que as decisões do STJ sobre o tema falam em alimentos devidos a
filho menor. No entanto, o texto do novo CPC traz a previsão de protesto de forma
ampla, não se limitando aos casos de alimentos devidos a filho menor.

56.14. Prazo prescricional para reembolso de despesas feitas pela mãe no lugar do pai
devedor – (Info 574)
Se a mãe, ante o inadimplemento do pai obrigado a prestar alimentos a seu filho,
assume essas despesas, o prazo prescricional da pretensão de cobrança do
reembolso é de 10 anos.
Ex: João e Maria, quando se divorciaram, fizeram um acordo quanto à guarda e
alimentos do filho. A guarda ficaria com Maria e João teria que arcar, a título de
pensão alimentícia, com as despesas do plano de saúde (R$ 100) e as mensalidades
do colégio (R$ 400). João deixou de pagar tais despesas. Maria passou a arcar, ela
própria, com tais pagamentos. O prazo para Maria reaver esse dinheiro de João é
de 10 anos, nos termos do art. 205 do CC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.453.838-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/11/2015 (Info 574).
OBS:
Segundo entendeu o STJ, a mãe, neste caso, atuou como se fosse uma gestora de
negócios ("gestão de negócios"), figura prevista no art. 861 do CC. Inclusive, no
capítulo específico da gestão de negócios, há previsão especial relacionada com o
dever legal de alimentos àquele que os presta no lugar daquele que era realmente
obrigado (art. 871).
Nesse contexto, observa-se que a razão de ser do instituto, notadamente por afastar
eventual necessidade de concordância do devedor, é conferir a máxima proteção ao
alimentado e, ao mesmo tempo, garantir àqueles que prestam socorro o direito de
reembolso pelas despesas despendidas, evitando o enriquecimento sem causa do
devedor de alimentos.
Reconhecida a incidência da gestão de negócios, deve-se entender que a mãe agiu
como terceiro não interessado e seu crédito é de natureza pessoal (não se situando no
âmbito do direito de família). Assim, o crédito da mãe para com o genitor, não sendo
de direito de família, não se aplica o art. 206, § 2º do CC. Como não existe no rol do
art. 206 um dispositivo que se enquadre na presente situação, deve-se aplicar a regra
geral trazida pelo art. 205 do CC (prazo de 10 anos).

56.15. Execução de alimentos e impossibilidade de efetuar o pagamento das


prestações – (Info 573) – IMPORTANTE!!!

Em execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC 1973 (art. 528 do CPC 2015),
o acolhimento da justificativa da impossibilidade de efetuar o pagamento das
prestações alimentícias executadas desautoriza a decretação da prisão do devedor,
mas não acarreta a extinção da execução.
Se o juiz acolher a justificativa do executado, ele deverá intimar o credor para que
ele informe se deseja: i) desistir da execução; ii) suspender a execução que foi
proposta pelo rito do art. 733 do CPC 1973 (art. 528 do CPC 2015) aguardando para
ver se a situação econômica do devedor se modifica; ou iii) mudar o rito da execução
para o do art. 732 do CPC 1973 (art. 523 do CPC 2015), que não prevê prisão civil,
mas apenas medidas patrimoniais, como a penhora e expropriação de bens.
Para que o devedor consiga por fim à obrigação alimentícia, deverá ajuizar ação de
exoneração ou de revisão de alimentos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.040-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/10/2015 (Info 573).

56.16. Possibilidade de alteração da forma de pagamento dos alimentos em ação


revisional – (Info 567) – IMPORTANTE!!!
É possível, em sede de ação revisional, pleitear a alteração na forma de pagamento
dos alimentos, ainda que não haja modificação nas condições financeiras quer do
alimentante, quer do alimentando?
SIM. Em sede de ação revisional de alimentos, é possível que o autor peça apenas
a modificação da forma da prestação alimentar (em espécie ou in natura), desde que
demonstrada a razão pela qual a modalidade anterior não mais atende à finalidade
da obrigação, ainda que não haja alteração na condição financeira das partes nem
pretensão de modificação do valor da pensão.
Ex: João pagava a pensão alimentícia para sua filha por meio de desconto do valor
na folha de pagamento, conforme determinado em acordo judicial. João propôs
ação revisional de alimentos pleiteando para mudar apenas a forma de prestação
dos alimentos. Em vez de descontado de seu contracheque, ele pediu para pagar o
valor da pensão in natura, isto é, pagando o condomínio e o IPTU do apartamento
adquirido em nome da menor, as mensalidades escolares e as prestações do plano
de saúde. Segundo entendeu o STJ, esse tipo de pedido pode ser formulado em
ação revisional de alimentos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.505.030-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 06/8/2015
(Info 567).

56.17. Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo
sexo – (Info 558)

É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de


união estável homoafetiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.467-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
3/3/2015 (Info 558).

56.18. Valor da prestação alimentar em face de constituição de nova unidade familiar


pelo alimentante – (Info 557) – IMPORTANTE!!!

A constituição de nova família pelo devedor de alimentos não acarreta, por si só,
revisão da quantia estabelecida a título de alimentos em favor dos filhos advindos
de anterior unidade familiar formada pelo alimentante, sobretudo se não houver
prova da diminuição da capacidade financeira do devedor em decorrência da
formação do novo núcleo familiar.
Ex: João, rico empresário, paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho, que
teve com sua ex-esposa. Determinado dia, João se casa e dessa união nasce uma
filha. Com base unicamente nesta nova circunstância, João ajuíza ação revisional
de alimentos pedindo que o valor pago de pensão a seu filho seja reduzido. Para
que o devedor consiga reduzir a prestação paga, além de alegar que suas despesas
aumentaram por conta da nova família, ele deverá provar também que o valor
fixado anteriormente está acima das suas possibilidades, ou seja, que ele não tem
mais condições de pagar aquela quantia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015
(Info 557).

56.19. Pensão alimentícia devida a ex-cônjuge e fixação de termo final – (Info 557) –
IMPORTANTE!!!
Alimentos transitórios são aqueles fixados por um prazo determinado, após o qual
cessa a obrigação de alimentar mesmo que ainda exista necessidade do
alimentando e possibilidade do alimentante.
Os alimentos fixados para o ex-cônjuge devem ser transitórios?
 Regra geral: SIM. Em regra, a pensão alimentícia devida a ex-cônjuge deve
ser fixada por tempo determinado.
 Exceção: será cabível a pensão por prazo indeterminado somente quando o
alimentado (ex-cônjuge credor) se encontrar em circunstâncias
excepcionais, como de incapacidade laboral permanente, saúde fragilizada
ou impossibilidade prática de inserção no mercado de trabalho.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015
(Info 557).

56.20. Obrigação alimentar e espólio – (Info 555)

João viveu em união estável com Maria. No acordo de dissolução da união estável,
João se comprometeu a pagar, todos os meses, R$ 2 mil a Maria sem previsão de
término. Após a morte de João, essa obrigação persiste? O espólio deverá continuar
pagando a pensão fixada?
NÃO. Extingue-se, com o óbito do alimentante, a obrigação de prestar alimentos a
sua ex-companheira decorrente de acordo celebrado em razão do encerramento da
união estável, transmitindo-se ao espólio apenas a responsabilidade pelo
pagamento dos débitos alimentares que porventura não tenham sido quitados pelo
devedor em vida (art. 1.700 do CC).
Observado que os alimentos pagos pelo de cujus à sua ex-companheira decorrem
de acordo celebrado no momento do encerramento da união estável, a referida
obrigação, de natureza personalíssima, extingue-se com o óbito do alimentante,
cabendo ao espólio pagar tão somente eventuais débitos não quitados pelo devedor
quando em vida.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.693-SP, Rel. originário Min. Maria Isabel Gallotti, voto
vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 26/11/2014 (Info 555).

56.21. Renúncia aos alimentos feita durante a vigência da união estável não perdura
se houve fato superveniente que reduziu a capacidade de trabalho de um dos
conviventes – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

Um homem e uma mulher, na época em que conviviam juntos em união estável,


fizeram uma declaração, por escritura pública, afirmando que, em caso de
dissolução da união, nenhum dos dois iria pleitear pensão alimentícia. Em outras
palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos.
O STJ decidiu que, mesmo com essa renúncia, seria possível que a ex-convivente
pedisse e tivesse direito aos alimentos na hipótese em que, após essa renúncia, ela
tenha sido acometida de uma moléstia grave, que reduziu sua capacidade laboral,
comprometendo sua situação financeira.
São irrenunciáveis os alimentos devidos na constância do vínculo familiar (art.
1.707 do CC).
É válida e eficaz a renúncia manifestada no momento do acordo de separação
judicial ou de divórcio. No entanto, por outro lado, não pode ser admitida a
renúncia feita durante a vigência da união estável.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.233-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/11/2014 (Info
553).

56.22. Verbas eventuais recebidas pelo devedor e reflexo no valor da pensão


alimentícia – (Info 553) - TEMA POLÊMICO!

ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAÇÃO E


VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO DEVEDOR
As parcelas percebidas a título de PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E
RESULTADOS integram a base de cálculo da pensão alimentícia quando esta é
fixada em percentual sobre os rendimentos, salvo se houve disposição transacional
ou judicial em sentido contrário. Assim, se a pensão alimentícia foi fixada em
percentual (ex: 30% sobre os rendimentos), no mês que o devedor receber
participação nos lucros da empresa, o percentual incidirá sobre tal valor.

ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NÃO VARIAM SE HOUVER


RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS PELO DEVEDOR
O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras (eventuais) não
compõem a base de cálculo da pensão alimentícia quando esta é estabelecida em
valor fixo, salvo se houver disposição transacional ou judicial em sentido contrário.
No caso em que os alimentos tenham sido arbitrados pelo juiz em valor fixo (ex: 10
mil reais, 5 salários-mínimos etc.), o alimentando não tem direito a receber, com
base naquele título judicial, quaisquer acréscimos decorrentes de verbas
trabalhistas percebidas pelo alimentante e ali não previstos. Assim, o credor não
terá direito a qualquer acréscimo no valor da pensão quando o devedor receber no
mês um abono, comissão por produtividade, 13º salário, participação nos lucros etc.

AVISO PRÉVIO
O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve
disposição transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, não importa que a
pensão tenha sido fixada em valor fixo ou percentual variável, o aviso prévio não
interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/12/2014 (Info 553).

56.23. Prisão civil do advogado e sala de Estado Maior – (Infos 551 e 537)

Os advogados têm o direito de, caso sejam presos, ficarem recolhidos em sala de
Estado Maior (art. 7º, V, do Estatuto da OAB). Essa regra aplica-se também para os
casos de prisão civil?
• NÃO. Posição da 3ª Turma.
• SIM. Posição da 4ª Turma.
STJ. 3ª Turma. HC 305.805-GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/10/14
(Info 551).
STJ. 4ª Turma. HC 271.256-MS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/2/14 (Info 537).
56.24. Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos
por ele fixados – (Info 550) – IMPORTANTE!!!

O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência


para julgar a execução de alimentos que tenham sido fixados a título de medida
protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em favor de filho do casal em
conflito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.006-MT, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/10/2014
(Info 550).

56.25. Possibilidade de adjudicação dos direitos hereditários do alimentante para


pagamento de pensão alimentícia – (Info 544)

É possível a adjudicação em favor do alimentado dos direitos hereditários do


alimentante, penhorados no rosto dos autos do inventário, desde que observado os
interesses dos demais herdeiros, nos termos dos arts. 1.793 a 1.795 do CC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.165-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13/5/14 (Info 544).
OBS:
DIREITOS HEREDITÁRIOS
Qual é a natureza jurídica dos direitos hereditários?
São considerados bens imóveis (art. 80, II do CC):
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
II - o direito à sucessão aberta.

Os direitos hereditários podem ser penhorados? SIM, desde que tenham cunho
patrimonial (STJ. 3ª Turma. REsp 1105951/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 04/10/11).

Ex: O pai de João morre e deixa um carro para ele e seu irmão. João possui dívidas de
pensão alimentícia. O alimentado (credor) poderá requerer ao juiz que determine a
penhora, no rosto dos autos do inventário, dos direitos hereditários que João
(alimentante/devedor) possui sobre o carro.

56.26. Legitimidade do MP para ação de alimentos – (Info 541) – Atenção! MP!

O MP tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança


ou adolescente, independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou de
o infante se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da
existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.265.821-BA e REsp 1.327.471-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
j. 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info 541).

56.27. Sentença de redução, majoração ou exoneração de alimentos e efeito retroativo


– (Info 543)

Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos – seja em caso de


redução, majoração ou exoneração – retroagem à data da citação (art. 13, § 2º, da Lei
5.478/1968), ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a
impossibilidade de compensação do excesso pago com prestações vincendas.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.181.119-RJ, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/11/2013 (Info 543).

Obs: apesar desse precedente, encontramos ainda decisões posteriores em sentido


contrário na 3ª Turma do STJ: AgRg no REsp 1283049/SP, RHC 35.192/RS.

56.28. Alimentos transitórios podem ser executados segundo o rito do art. 733 do CPC
1973 – (Info 536)

Ainda que o valor fixado a título de alimentos transitórios supere o indispensável


à garantia de uma vida digna ao alimentando, é adequada a utilização do rito
previsto no art. 733 do CPC 1973 – cujo teor prevê possibilidade de prisão do
devedor de alimentos – para a execução de decisão que estabeleça a obrigação em
valor elevado, tendo em vista a conduta do alimentante que, após a separação
judicial, protela a partilha dos bens que administra, privando o alimentando da
posse da parte que lhe cabe no patrimônio do casal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.362.113-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/2/14 (Info 536).
OBS:
O que são os alimentos transitórios? Alimentos transitórios são aqueles fixados por
um prazo determinado, após o qual cessa a obrigação de alimentar mesmo que ainda
exista necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante. Assim, os
alimentos transitórios não obedecem à regra do rebus sic stantibus, sendo estabelecidos
em razão de uma causa temporária e específica. Terminado o prazo fixado, cessa a
obrigação de alimentar, mesmo que a situação das partes envolvidas permaneça a
mesma.

A Min. Nancy Andrighi, precursora a tratar do tema no STJ, explicou em que consiste
o instituto: “alimentos transitórios – de cunho resolúvel – são obrigações prestadas,
notadamente entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, em que o credor, em regra
pessoa com idade apta para o trabalho, necessita dos alimentos apenas até que se
projete determinada condição ou ao final de certo tempo, circunstância em que a
obrigação extinguir-se-á automaticamente" (REsp 1.388.955/RS, DJe 29/11/2013).

Em outras palavras, “a obrigação de prestar alimentos transitórios – a tempo certo – é


cabível, em regra, quando o alimentando é pessoa com idade, condições e formação
profissional compatíveis com uma provável inserção no mercado de trabalho,
necessitando dos alimentos apenas até que atinja sua autonomia financeira, momento
em que se emancipará da tutela do alimentante – outrora provedor do lar –, que será
então liberado da obrigação, a qual se extinguirá automaticamente” (REsp
1.025.769/MG, DJe 01/09/2010).

56.29. O espólio só terá obrigação de pagar alimentos ao filho do falecido se eles já


tinham sido fixados antes da morte (por acordo ou decisão judicial) – (Info 534)

O espólio de genitor do autor de ação de alimentos não possui legitimidade para


figurar no polo passivo da ação na hipótese em que inexista obrigação alimentar
assumida pelo genitor por acordo ou decisão judicial antes da sua morte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.862-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/2/14 (Info 534).

57. ADOÇÃO DE MAIORES


57.1. A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai
biológico – (Info 558)

Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João),
tendo sido criado por Bento, quem considera seu verdadeiro pai.
Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz.
João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e
invocando o caput do art. 45 do ECA: “A adoção depende do consentimento dos
pais ou do representante legal do adotando.”
O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior
de 18 anos é motivo suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o
caput do art. 45 do ECA?
NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o
adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai
biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa.
A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA. No entanto, no caso,
não se aplica a exigência do caput do art. 45 do ECA porque o § 1º do mesmo artigo
afirma que esse consentimento do pai é dispensado caso ele tenha sido destituído
do poder familiar. O poder familiar termina quando o filho atinge a maioridade.
Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder familiar sobre ele,
não sendo necessário seu consentimento para a adoção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
17/3/2015 (Info 558).

58. CURATELA
58.1. Necessidade de nomear curador especial ao interditando mesmo que o MP
esteja atuando como fiscal da ordem jurídica. Nulidade do processo de interdição pela
não realização do interrogatório (entrevista) – (Info 611)

O CPC/1973 previa que quando a interdição fosse requerida pelo Ministério


Público, o juiz deveria nomear ao interditando curador à lide. Assim, em caso de
ação de interdição proposta pelo MP não havia dúvida, o juiz deveria
obrigatoriamente nomear curador à lide (curador especial).
E no caso de ação de interdição proposta por outro legitimado (diferente do MP)?
Nesta situação era necessário nomear curador à lide?
1ª corrente: NÃO. Não seria necessária a nomeação de curador à lide porque o
próprio MP já iria ser o responsável pela defesa dos interesses do interditando.
Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
j. 2/12/14 (Info 553).
2ª corrente: SIM. A participação do MP como custos legis não supre a ausência de
nomeação de curador à lide. Mesmo a ação tendo sido proposta por outro
legitimado, seria necessária a nomeação de curador à lide. Nesse sentido: STJ. 3ª
Turma. REsp 1.686.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/17 (Info 611).
Com o CPC/2015, não importa, para fins de curador especial, se a ação foi proposta
ou não pelo MP. Se o interditando não apresentar advogado, o juiz deverá,
obrigatoriamente, nomear curador especial mesmo que o autor da ação não tenha
sido o MP e mesmo que o Promotor de Justiça esteja atuando nos autos como fiscal
da ordem jurídica.

O juiz poderá dispensar o interrogatório do interditando (atualmente chamado de


“entrevista”) argumentando que este é desnecessário diante das conclusões do
laudo médico?
NÃO. A ausência de realização do interrogatório do interditando (atual
“entrevista”) acarreta a nulidade do processo de interdição.
O interrogatório (entrevista) do interditando é medida que garante o contraditório
e a ampla defesa de pessoa que se encontra em presumido estado de
vulnerabilidade.
São intangíveis as regras processuais que cuidam do direito de defesa do
interditando, especialmente quando se trata de reconhecer a incapacidade e
restringir direitos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.686.161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 12/9/17 (Info 611).

58.2. Legitimidade para propor ação de interdição – (Info 571)

Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo


judicial, de jurisdição voluntária, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186 do CPC 1973
(arts. 747 a 758 do CPC 2015).
Esse processo é iniciado por meio de uma ação de interdição. O rol dos legitimados
para propor ação de interdição está descrito no art. 1.177 do CPC 1973 (art. 747 do
CPC 2015). Esse rol é preferencial?
NÃO. A ordem de legitimados para o ajuizamento de ação de interdição NÃO é
preferencial.

O inciso II do art. 1.177 do CPC 1973 (art. 747 do CPC 2015) fala em "parente". Isso
abrange também os parentes por afinidade?
SIM. Qualquer pessoa que se enquadre no conceito de parente do Código Civil é
parte legítima para propor ação de interdição. Como afinidade gera relação de
parentesco (art. 1.595 do CC), nada impede que os afins requeiram a interdição e
exerçam a curatela. STJ. 3ª Turma. REsp 1.346.013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 13/10/15 (Info 571).

59. INTERDIÇÃO
59.1. Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas
ajuizada por ele – (Info 583)

A morte do interditando no curso de ação de interdição não implica, por si só, a


extinção do processo sem resolução de mérito da ação de exigir contas por ele
ajuizada mediante seu curador provisório, tendo o espólio legitimidade para
prosseguir com a ação de exigir contas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.677-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
3/5/2016 (Info 583).
OBS:
A ação de exigir contas (chamada na época do CPC/1973 de "ação de prestação de
contas") é considerada personalíssima apenas em relação ao requerido (réu da ação).
No que tange ao requerente (autor), ela não é personalíssima, podendo ser assumida,
no polo ativo, pelo espólio do falecido.

59.2. Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi


proposta pelo MP – (Info 553) – IMPORTANTE!!!

A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”)


por meio do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa
(“curatelado”) que, apesar de ser maior de idade, possui uma incapacidade prevista
no art. 1.767 do CC.
Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um processo
judicial por meio de uma ação de interdição.
É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando?
 Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear
curador à lide (curador especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.
 Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária
a nomeação de curador à lide porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos
interesses do interditando (art. 1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
2/12/2014 (Info 553).

60. INVENTÁRIO
60.1. Pedido de abertura de inventário com a regularização processual por meio de
nomeação de advogado implica aceitação tácita da herança – (Info 593)

O pedido de abertura de inventário e o arrolamento de bens, com a regularização


processual por meio de nomeação de advogado, implicam a aceitação tácita da
herança.
Assim, se depois de constituir advogado e pedir a abertura de inventário, a pessoa
morre, os herdeiros desta não poderão renunciar à herança porque já houve
aceitação tácita.
A aceitação da herança (expressa ou tácita) torna definitiva a qualidade de herdeiro,
constituindo ato irrevogável e irretratável.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.622.331-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 8/11/16
(Info 593).
OBS:
Essa é a posição da doutrina a respeito do tema:
"(...) A presunção relativa (iuris tantum) é de que o herdeiro
aceitou a herança. Só com ato positivo em sentido contrário
(renúncia expressa) é que se tem por não aceita a herança. São
demonstrações de aceitação tácita da herança a outorga de
procuração para advogado habilitar-se no inventário do
falecido, o ajuizamento do inventário, a concordância com a
avaliação dos bens que compõem a herança etc. A aceitação
ou adição (Aditio) da herança, expressa ou tácita, torna
definitiva a qualidade de herdeiro, de modo que não poderá
haver, posteriormente, renúncia à referida herança. O
herdeiro que aceitar a herança, e, em seguida não quiser mais
ostentar essa situação poderá celebrar negócio jurídico de
doação, transferência, alienação ou de cessão dos direitos
hereditários de que seja titular". (NERY JUNIOR, Nelson;
NERY, Rosa Maria de A. Código Civil Comentado. São Paulo:
RT, 11ª ed., p. 2.072) (grifou-se)

"A aceitação tácita é comportamental, decorrendo da prática


de atos positivos ou negativos do sucessor, demonstrando a
sua vontade de receber o patrimônio transmitido
automaticamente. (...) Ilustrativamente, é possível falar em
aceitação tácita quando o herdeiro exterioriza-se como
possuidor e proprietário dos bens transmitidos, ou ainda,
quando constitui um advogado para se habilitar no
inventário e participar da partilha (...)" (FARIAS, Cristiano
Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol.
7. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 214-215).

60.2. Anulação de doação-partilha não deve ser pedida em processo de inventário –


(Info 573)

Na hipótese em que o autor da herança tenha promovido em vida a partilha da


integralidade de seus bens em favor de todos seus descendentes e herdeiros
necessários, por meio de escrituras públicas de doação nas quais ficou consignado
o consentimento de todos eles e, ainda, a dispensa de colação futura, a alegação de
eventual prejuízo à legítima em decorrência da referida partilha deve ser pleiteada
pela via anulatória apropriada, e não por meio de ação de inventário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.523.552-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 3/11/15 (Info
573).

61. PARTILHA
61.1. É possível que o herdeiro testamentário suceda o autor da ação de investigação
de paternidade cumulada com nulidade de partilha – (Info 592)

Ocorrido o falecimento do autor da ação de investigação de paternidade cumulada


com nulidade da partilha antes da prolação da sentença, sem deixar herdeiros
necessários, detém o herdeiro testamentário, que o sucedeu a título universal,
legitimidade e interesse para prosseguir com o feito, notadamente, pela
repercussão patrimonial advinda do potencial reconhecimento do vínculo
biológico do testador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.392.314-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/10/16 (Info
592).

61.2. Partilha de quotas de sociedade de advogados em caso de separação/divórcio –


(Info 575)

Na separação judicial, sujeitam-se à partilha as quotas de sociedade de advogados


adquiridas por um dos cônjuges, sob o regime da comunhão universal de bens, na
constância do casamento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.288-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 24/11/15 (Info
575).

62. SUCESSÃO
62.1. PARTILHA DE BENS: Dever de prestar contas do cônjuge que ficou na
administração dos bens em mancomunhão – (Info 614)

Após a separação de fato ou de corpos, o cônjuge que estiver na posse ou na


administração do patrimônio partilhável - seja na condição de administrador
provisório, seja na de inventariante - terá o dever de prestar contas ao ex-consorte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.274.639-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 12/9/17 (Info 614).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria foram casados durante vários
anos e, neste período, acumularam muitos bens. Em 2012, Maria ajuizou ação cautelar
e o juiz decretou a separação de corpos do casal. Em seguida, iniciou-se o processo de
separação judicial e João foi nomeado como administrador provisório dos bens
enquanto não há a partilha. Em 2017, como a partilha ainda não foi concluída, Maria
ajuizou contra João ação de exigir contas (“ação de prestação de contas”). Na ação,
afirma que o gestor de bem alheio (no caso, o ex-cônjuge que se encontra na exclusiva
administração do patrimônio comum) tem a obrigação legal de prestar contas.
Sustenta também que o patrimônio em comum abrange muitas aplicações financeiras
e cotas societárias, de forma que é difícil para ela fiscalizar sozinha a oscilação
patrimonial neste caso.

João tem o dever de prestar contas? SIM.


Após a separação de fato ou de corpos, o cônjuge que estiver
na posse ou na administração do patrimônio partilhável - seja
na condição de administrador provisório, seja na de
inventariante - terá o dever de prestar contas ao ex-consorte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.274.639-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 12/09/2017 (Info 614).

Administração do patrimônio comum do casal: Em princípio, a administração do


patrimônio comum do casal compete a ambos os cônjuges, conforme previsto nos arts.
1.663 e 1.720 do Código Civil:
Art. 1.663. A administração do patrimônio comum compete a
qualquer dos cônjuges.
§ 1º As dívidas contraídas no exercício da administração
obrigam os bens comuns e particulares do cônjuge que os
administra, e os do outro na razão do proveito que houver
auferido.
§ 2º A anuência de ambos os cônjuges é necessária para os atos,
a título gratuito, que impliquem cessão do uso ou gozo dos
bens comuns.
§ 3º Em caso de malversação dos bens, o juiz poderá atribuir a
administração a apenas um dos cônjuges.
Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição,
a administração do bem de família compete a ambos os
cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a
administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do
contrário, a seu tutor.

A partir da separação de fato ou de corpos (marco final do regime de bens), os bens e


direitos dos exconsortes ficam em estado de mancomunhão.

O que é a mancomunhão? “É a expressão que define o estado dos bens conjugais antes
de sua efetiva partilha. Difere do estado condominial, em que o casal detém o bem ou
coisa simultaneamente, com direito a uma fração ideal, podendo alienar ou gravar
seus direitos, observando a preferência do outro. Na mancomunhão, o bem não pode
ser alienado nem gravado por apenas um dos ex-cônjuges, permanecendo indivisível
até a partilha. Enquanto não for feita a partilha dos bens comuns, eles pertencem a
ambos os cônjuges em estado de mancomunhão.” (PEREIRA, Rodrigo da Cunha.
Dicionário de direito de família e sucessões. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 447).

“Depois da separação de fato, da separação jurídica ou do divórcio, sem a realização


de partilha, os bens permanecem em estado de mancomunhão, expressão corrente na
doutrina, que, no entanto, não dispõe de previsão legal. De qualquer sorte, quer dizer
que os bens pertencem a ambos os cônjuges ou companheiros em ‘mão comum’.”
(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: RT, 2009, p. 299-
301).

Dever de exigir contas: Aquele que administra bens de terceiros possui o dever de
prestar contas e o interessado pode exigi-las sem necessidade de alegar qualquer
motivo para isso. Após a separação de fato ou de corpos, o cônjuge que estiver na
posse ou na administração do patrimônio partilhável - seja na condição de
administrador provisório, seja na de inventariante - terá o dever de prestar contas
ao ex-consorte. Isso porque, uma vez cessada a afeição e a confiança entre os cônjuges,
aquele titular de bens ou negócios administrados pelo outro tem o legítimo interesse
ao pleno conhecimento da forma como são conduzidos, não se revelando necessária a
demonstração de qualquer irregularidade, prejuízo ou crédito em detrimento do
gestor. Nesse sentido:
(...) 4. O transcurso de longo lapso temporal entre a separação
de fato e a formalização da partilha obriga o gestor dos bens
comuns à prestação de contas ao outro consorte, que
desconhece o estado dos bens administrados e pode deparar-
se com prejuízos irreparáveis.
5. Na vigência da comunhão de bens, os cônjuges entre si não
se acham jungidos ao dever de prestação de contas. A
comunhão de bens é a mais ampla possível e não permite a
separação de cotas, nem mesmo ideal entre os consortes. Não
há, pois, como cogitar-se de prestação de contas de um
cônjuge ao outro. Uma vez dissolvida a sociedade conjugal,
desaparece a comunhão universal e os bens comuns devem
ser partilhados como em qualquer comunhão que se extingue.
Havendo, porém, um interregno entre a dissolução da
sociedade conjugal e a partilha, aquele que conservar a
posse dos bens do casal estará sujeito a prestação de contas
como qualquer consorte de comunhão ordinária.
(...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1300250/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 27/3/12.

62.2. Parente colateral não possui legitimidade ativa para ação pedindo anulação de
adoção realizada pelo seu parente falecido, caso este tenha deixado companheira viva
– (Info 611) – IMPORTANTE!!!

Parentes colaterais (exs: irmão, tios, sobrinhos) não possuem legitimidade ativa
para ajuizar ação pedindo que se anule a adoção realizada pelo seu parente já
falecido, no caso em que o de cujus deixou cônjuge ou companheira viva. Isso
porque tais parentes colaterais não terão direito à herança mesmo que se exclua o
filho adotivo. Não terão direito à herança porque o art. 1.790 do Código Civil, que
autoriza os colaterais a herdarem em conjunto com a companheira sobrevivente, foi
declarado inconstitucional pelo STF. Logo, em caso de sucessão causa mortis do
companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do
cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. Em outras palavras, se
o indivíduo faleceu deixando uma companheira (união estável), esta herdará
exatamente como se fosse esposa (casamento).
Pelas regras do art. 1.829, se o falecido morreu sem deixar descendentes (filhos,
netos etc.) ou ascendentes (pais, avós etc.), a sua companheira terá direito à
totalidade da herança, sem ter que repartir nada com os demais parentes colaterais
(como irmãos, tios, sobrinhos etc.).
Ex: João e Maria viviam em união estável. Decidiram adotar uma criança (Lucas).
Logo em seguida, João faleceu. Seus únicos herdeiros eram Maria e Lucas. Pedro,
irmão de João, de olho nos bens deixados pelo falecido, ingressou com ação
pedindo a anulação da adoção de Lucas. Como o art. 1.790 do CC não vale mais,
para Pedro, nada muda juridicamente se conseguir anular a adoção feita por seu
irmão. Ele não terá nenhum ganho jurídico com essa decisão. Dessa forma, se ele
não possui interesse jurídico no resultado do processo, ele não tem legitimidade
para propor esta ação de anulação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/8/17 (Info 611).

62.3. AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA: Termo inicial do prazo prescricional da


petição de herança em caso de reconhecimento póstumo da paternidade – (Info 583)

Na hipótese em que ação de investigação de paternidade post mortem tenha sido


ajuizada após o trânsito em julgado da decisão de partilha de bens deixados pelo
de cujus, o termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de
petição de herança é a data do trânsito em julgado da decisão que reconheceu a
paternidade, e não o trânsito em julgado da sentença que julgou a ação de
inventário.
Em suma, o termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data
do trânsito em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese,
confirma-se a condição de herdeiro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.475.759-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
17/5/2016 (Info 583).
OBS:
Previsão: A petição de herança está prevista nos arts. 1.824 a 1.828 do CC:

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança,


demandar o reconhecimento de seu direito sucessório, para
obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem,
na qualidade de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua.

Prazo prescricional: A pretensão de petição de herança prescreve no prazo de 10 anos,


nos termos do art. 205 do CC, já que não existe um prazo específico fixado no Código:

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não


lhe haja fixado prazo menor.

62.4. PETIÇÃO DE HERANÇA: Ilegitimidade da viúva meeira para figurar no polo


passivo de ação de petição de herança – (Info 578)

A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar
no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada
a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio
"pro indiviso" com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
23/2/2016 (Info 578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos era casado em comunhão universal de
bens com Francisca. Dessa união nasceram dois filhos: Hugo e Fábio. Carlos morreu
deixando apenas uma casa no valor de R$ 1 milhão.

Diante disso, indaga-se: Francisca, Hugo e Fábio terão direito a este valor? Qual é a
participação de cada um e a que título? Como Francisca era casada com João sob o
regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso, ela
será meeira, mas não herdeira. Significa que ela terá direito à metade do patrimônio
deixado pelo falecido (meação), mas não terá direito a nada da outra metade, que
consiste na herança. A herança ficará apenas com os descendentes.

No caso do regime da comunhão universal, o legislador, ao fazer a regra do art. 1.829,


I, do CC, pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo
fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”

Logo, podemos dizer que o panorama será o seguinte:


 Francisca terá direito a 50% do patrimônio (R$ 500 mil) como meeira.
 Hugo terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro.
 Fábio terá direito a 25% (R$ 250 mil) como herdeiro.

Ação de petição de herança: Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém
que quer ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter
direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, petição de herança
significa pedir a herança.
Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os
filhos do defunto não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação
de reconhecimento de união estável post mortem cumulada com petição de herança.

Ex2: filho não reconhecido pelo morto poderá ajuizar ação de reconhecimento de
paternidade post mortem cumulada com petição de herança.

Voltando ao nosso exemplo: Imagine que aparece Beatriz, uma menina de 14 anos,
dizendo-se filha não reconhecida de Carlos. Beatriz, assistida por sua mãe, propõe
ação de investigação de paternidade post mortem cumulada com petição de herança
contra Francisca, Hugo e Fábio. Francisca, ao ser citada, argui a sua ilegitimidade
passiva ad causam e diz que não tem nada a ver com a demanda, pedindo para ser
excluída da lide.

O pedido de Francisca deverá ser aceito? SIM. Mesmo que a referida ação seja julgada
procedente, isso não irá refletir na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em vista
que sua participação não será afetada. Em outras palavras, sendo ou não reconhecida
a autora como filha do morto, a meação continua sendo a mesma. O cálculo da
meação não muda se houver mais ou menos herdeiros. A meação será sempre a metade
do patrimônio do cônjuge falecido. A outra metade é a herança. Logo, o cônjuge
meeiro não pode ser qualificado como litisconsorte passivo necessário. Vale ressaltar
que o fato de o bem deixado pelo falecido ser uma coisa indivisível (uma casa) não
faz com que a viúva meeira passe a ter legitimidade para estar na lide. Ela continua
sendo parte ilegítima porque, se a autora for reconhecida como filha, a viúva
continuará tendo 50% da fração ideal da casa (o que ela já tinha antes) e os 50%
restantes serão divididos entre os três herdeiros.

62.5. Herança de bem gravado com cláusula de incomunicabilidade – (Info 576) –


IMPORTANTE!!!

A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem transferido por doação ou


testamento só produz efeitos enquanto viver o beneficiário, sendo que, após a
morte deste, o cônjuge sobrevivente poderá se habilitar como herdeiro do referido
bem, observada a ordem de vocação hereditária.
A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não interfere na vocação
hereditária. Assim, se o indivíduo recebeu por doação ou testamento bem imóvel
com a referida cláusula, sua morte não impede que seu herdeiro receba o mesmo
bem.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.552.553-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
24/11/2015 (Info 576).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João faleceu e deixou, por meio de testamento,
um apartamento para a sua afilhada Luiza. Ocorre que João não gostava de Ricardo,
casado com Luiza sob o regime de comunhão universal de bens, e, por isso, deixou o
imóvel para ela com uma cláusula de incomunicabilidade. A cláusula de
incomunicabilidade é um gravame imposto pelo testador ou doador como forma de
impedir que o bem recebido em doação, herança ou legado integre o patrimônio que
irá se comunicar com o do cônjuge (meação). Em outras palavras, o objetivo é evitar
que o bem transmitido fique pertencendo também ao cônjuge do beneficiário.
Se Luiza e Ricardo decidirem se divorciar, ele terá algum direito sobre o apartamento?
NÃO. A lei exclui da universalidade da comunhão os bens pertencentes a um dos
cônjuges e que sejam gravados com cláusula de incomunicabilidade. Nesse sentido:

Art. 1.668. São excluídos da comunhão:


I - os bens doados ou herdados com a cláusula de
incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;

Morte de Luiza: Alguns anos depois, Luiza morreu misteriosamente ao cair da escada
de sua casa. Vale ressaltar que ela não tinha mais pais ou avós vivos nem chegou a ter
filhos. Ela deixou, contudo, irmãos, que logo quiseram receber alguma parte da
herança.

Ricardo será herdeiro de Luiza? Ele terá direito à herança? SIM. Se o casal é casado
no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu
cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem
obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.

Em nosso exemplo, se Luiza tivesse deixado descendentes, Ricardo seria dono de


metade do patrimônio deixado (a título de meação), mas não teria direito à outra
metade (herança), que ficaria com os descendentes. No entanto, como ela não deixou
descendentes nem ascendentes, Ricardo (cônjuge supérstite) terá direito à meação e
também à herança toda. Os irmãos de Luiza não terão direito a nada. Isso porque,
como são parentes colaterais, estão em 4º lugar na linha de sucessão e só teriam direito
se a falecida não tivesse deixado: descendentes, ascendentes ou cônjuge.

Tais regras estão no art. 1.829 do CC:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

Ricardo irá herdar o apartamento mesmo este tendo sido doado por João com
cláusula de incomunicabilidade? SIM. Desse modo, com o falecimento da
beneficiária, acabou a eficácia da cláusula de incomunicabilidade. Ela deixou de
produzir efeitos. A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não se
relaciona com a vocação hereditária. A cláusula de incomunicabilidade não interfere
nas regras do Código Civil sobre a sucessão causa mortis. Assim, se o indivíduo
recebeu, por doação ou testamento, algum bem imóvel com cláusula de
incomunicabilidade, quando este morrer, o seu herdeiro irá receber o bem.

62.6. Sucessão do cônjuge: Discussão de culpa no direito sucessório e ônus da prova


– (Info 573) – IMPORTANTE!!! NÃO TEM NOS LIVROS!!!
Ocorrendo a morte de um dos cônjuges após dois anos da separação de fato do
casal, é legalmente relevante, para fins sucessórios, a discussão da culpa do cônjuge
sobrevivente pela ruptura da vida em comum, cabendo a ele o ônus de comprovar
que a convivência do casal se tornara impossível sem a sua culpa.
Assim, em regra, o cônjuge separado há mais de dois anos não é herdeiro, salvo se
ele (cônjuge sobrevivente) provar que não teve culpa pela separação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.513.252-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
3/11/2015 (Info 573).

62.7. Sucessão Causa Mortis: Responsabilidade dos herdeiros pelo pagamento de


dívida divisível do autor da herança – (Info 563)

Em execução de dívida divisível do autor da herança ajuizada após a partilha, cada


herdeiro beneficiado pela sucessão responde na proporção da parte que lhes coube
na herança.
Ex: João faleceu e deixou como únicos herdeiros seus cinco filhos. O patrimônio
deixado por João foi equivalente a R$ 1 milhão, tendo cada filho herdado a quota
parte de 20% desse valor. Depois de ter sido feito o inventário e a partilha dos bens,
apareceu Mário cobrando uma dívida de R$ 500 mil da qual João era devedor.
Mário terá que ingressar com a execução contra os cinco herdeiros e cada um
responderia por 20% da dívida (proporcional à parte que coube a cada um). Logo,
como a dívida total é R$ 500 mil, cada herdeiro somente poderia ser condenado a
pagar, no máximo, R$ 100 mil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
21/5/2015 (Info 563).

62.8. Sucessão do cônjuge em concorrência com os descendentes e regime da


comunhão parcial – (Info 563) – IMPORTANTE!!!

O cônjuge irá herdar se o falecido deixou descendentes?


Depende. Para responder a isso deveremos analisar o regime de bens (art. 1.829, I,
do CC).
Se o cônjuge era casado sob o regime da comunhão parcial de bens e o falecido
deixou descendentes, o cônjuge terá direito à herança?
 Se o falecido NÃO deixou bens particulares: o cônjuge sobrevivente não
terá direito à herança. Vale ressaltar, no entanto, que ele, como cônjuge, já
tem direito à metade desses bens por ser meeiro.
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; João não deixou bens
particulares; Maria (esposa de João) terá direito a duas casas por ser meeira;
os filhos de João herdarão as outras duas casas; Maria não terá direito à
herança.

 Se o falecido deixou bens particulares: tais bens particulares serão herdados


tanto pelo cônjuge como pelos descendentes (eles dividirão/concorrerão).
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; duas dessas casas eram
bens comuns do casal (casas “A” e “B”); as duas outras eram bens
particulares de João (casas “C” e “D”, que ele possuía em seu nome mesmo
antes de se casar); Maria (esposa de João) terá direito a uma casa (ex: “A”)
por ser meeira (a meeira tem direito a metade dos bens comuns); os filhos
de João herdarão sozinhos (sem a participação de Maria) a casa ”B”; os filhos
de João, em concorrência com Maria, herdarão também as casas “C” e “D”
(bens particulares de João).

O entendimento do STJ está em harmonia com o enunciado da Jornada de Direito


Civil:
Enunciado 270-CJF: O art. 1.829, inciso I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o
direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados
no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da
comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens
particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-se a tais bens, devendo os
bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes.

Resumindo: o cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de comunhão parcial de


bens, somente concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido com relação aos
bens particulares eventualmente constantes do acervo hereditário.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.368.123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Raul
Araújo, julgado em 22/4/2015 (Info 563).

62.9. Cônjuge supérstite casado em regime de separação convencional e sucessão


"causa mortis" – (Info 562) – IMPORTANTE!!!

O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro
necessário (art.1.845 do CC).
No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre
com os descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao
regime da separação legal de bens previsto no art. 1.641 do CC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.382.170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015 (Info 562).

62.10. A esposa supérstite não tem direito real de habitação se o imóvel deixado
pertencia também aos irmãos do falecido – (Info 541)

Marido e mulher moravam em uma casa que estava registrada em nome do marido
e de seus dois irmãos. O marido faleceu e deixou como única herança para a mulher
a sua terça parte na casa. Essa esposa sobrevivente terá direito real de habitação
sobre a casa?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, a viúva não pode opor o direito real de habitação aos
irmãos de seu falecido cônjuge na hipótese em que eles forem, desde antes da
abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.184.492-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 1º/4/14 (Info 541).

63. COLAÇÃO DE BENS


63.1. O cálculo do valor de colação dos bens doados deverá ser feito tendo como
critério o tempo da liberalidade ou da abertura da sucessão? – (Info 617) – Tema
Polêmico!!!

Em um caso envolvendo situação antes do CPC/2015, o STJ decidiu que o valor de


colação dos bens doados deverá ser aquele atribuído ao tempo da liberalidade,
corrigido monetariamente até a data da abertura da sucessão. Aplicou-se aqui a
regra do art. 2.004 do Código Civil de 2002.
STJ. 4ª Turma.REsp 1166568-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador
convocado do TRF da 5ª Região), julgado em 12/12/2017 (Info 617).

O CPC/2015, em seu art. 639, parágrafo único, traz regra diferente do art. 2.004 do
CC/2002 e diz que o valor de colação dos bens deverá ser calculado ao tempo da
morte do autor da herança. Confira:
Art. 639. No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro
obrigado à colação conferirá por termo nos autos ou por
petição à qual o termo se reportará os bens que recebeu ou,
se já não os possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens a serem conferidos na partilha,
assim como as acessões e as benfeitorias que o donatário
fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da
abertura da sucessão.

Diante disso, não se pode afirmar que a conclusão do STJ no REsp 1.166.568-SP
seria a mesma caso a morte tivesse ocorrido agora, ou seja, sob a vigência do
CPC/2015. Isso porque este diploma é posterior ao CC/2002 e, pelo menos sob o
critério cronológico, teria prevalência em relação ao Código Civil.

63.2. Direito de o herdeiro exigir a colação mesmo que ainda não concebido no
momento da doação – (Info 563) – IMPORTANTE!!!

O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que estes
receberam via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha
sido concebido ao tempo da liberalidade.
Para efeito de cumprimento do dever de colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu
antes ou após a doação, não havendo também diferença entre os descendentes, se
são eles irmãos germanos ou unilaterais ou se supervenientes à eventual separação
ou divórcio do doador.
Ex: em 2007, João doou todo o seu patrimônio (casas, apartamentos, carros etc.) para
seus três filhos (Hugo, Tiago e Luis). Em 2010, João teve um novo filho (João Jr.),
fruto de um relacionamento com sua secretária. Em 2012, João faleceu. Foi aberto
inventário de João e, João Jr., o caçula temporão, representado por sua mãe,
habilitou-se nos autos e ingressou com incidente de colação, distribuído por
dependência nos autos do inventário, requerendo que todos os bens recebidos em
doação por Hugo, Tiago e Luis fossem colacionados (devolvidos) para serem
partilhados. Os donatários (Hugo, Tiago e Luis) contestaram o pedido afirmando
que João Jr. ainda não havia nascido e sequer tinha sido concebido ao tempo das
doações, o que afastaria o seu interesse em formular pedido de colação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
19/5/2015 (Info 563).

64. TESTAMENTO
64.1. Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas
duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no
instrumento – (Info 610)
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de
testamento feito por pessoa cega. Exige-se:
a) que o testamento seja público;
a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma);
b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego.

Em um caso concreto, indivíduo cego procurou o tabelionato de notas para fazer


um testamento público. O testamento foi produzido no cartório pelo tabelião.
Ocorre que houve apenas uma leitura em voz alta pelo tabelião na presença do
testador e de duas testemunhas.
Além disso, não houve expressa menção no corpo do documento da condição de
cego do testador. Apesar disso, o STJ entendeu que não houve nulidade.
O descumprimento de exigência legal para a confecção de testamento público –
segunda leitura e expressa menção no corpo do documento da condição de cego –
não gera a sua nulidade se mantida a higidez da manifestação de vontade do
testador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.677.931-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/8/17 (Info 610).

64.2. É inválido o testamento particular sem assinatura do testador – (Info 551) –


IMPORTANTE!!! ATENÇÃO! CARTÓRIOS!

É inválido o testamento particular redigido de próprio punho quando não for


assinado pelo testador.
A assinatura do testador no testamento particular, além de requisito legal, é mais
que mera formalidade, consistindo verdadeiro pressuposto de validade do ato, que
não pode ser relativizado. Assim, a sua ausência é um vício muito grave e
insuperável. Isso porque, não havendo assinatura, o próprio testamento é apócrifo,
não sendo, portanto, possível concluir, de modo seguro, que o testamento redigido
de próprio punho exprime a real vontade do testador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.867-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 23/9/14
(Info 551).

65. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA


65.1. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: Devedor pode ajuizar ação de prestação de contas
contra a instituição financeira com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação
extrajudicial do bem apreendido – (Info 613)

Mesmo antes do advento da Lei 13.043/14, que deu nova redação ao art. 2º do
Decreto-Lei 911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas
relativas aos valores auferidos com o leilão extrajudicial de veículo apreendido em
busca e apreensão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 5/10/17 (Info
613).
OBS:
CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: “A alienação fiduciária em garantia é
um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a
propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira,
em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).
REGRAMENTO: O CC/02 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em
seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o
tema:
 alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei 9.514/97;
 alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de
capitais: Lei 4.728/65 e Decreto-Lei 911/69. É o caso, por exemplo, de um
automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de
alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se


apenas de forma subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou
de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica
das respectivas leis especiais, somente se aplicando as
disposições deste Código naquilo que não for incompatível
com a legislação especial.

Resumindo:

Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de


bens MÓVEIS fungíveis bens MÓVEIS bens IMÓVEIS
e infungíveis quando o infungíveis quando o
credor fiduciário for credor fiduciário for
instituição financeira pessoa natural ou
jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002 Lei 9.514/97
Decreto-Lei 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO


FINANCEIRO E DE CAPITAIS (DL 911/69)
Imagine a seguinte situação hipotética: Antônio quer comprar um carro de R$
30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o Banco “X”, que celebra
com ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária. Assim, o
Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do
pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X”
e a posse direta com Antônio. Em outras palavras, Antônio ficará andando com o
carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel é do Banco “X” (constará
“alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco tem a propriedade
resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco
“resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo,


Antônio)? Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte
(regulado pelo DL 911/69):

Notificação do devedor: O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor


de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é
indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:
Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa notificação é feita por
meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada
por intermédio do Cartório de RTD.

O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do
próprio destinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69). Para a constituição em mora por
meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do
devedor, ainda que não pessoalmente.

Ajuizamento da ação de busca e apreensão: Após comprovar a mora, o mutuante


(Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe
seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL
911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer procedimento
posterior.

Concessão da liminar: O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem


ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor
(art. 3º do DL 911/69).

Possibilidade de pagamento integral da dívida: No prazo de 5 dias após o


cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor
fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do
art. 3º do DL 911/69):
Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,
consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às
repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade
fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na
qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada
pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Todo o débito. Segundo


decidiu o STJ, a Lei 10.931/04, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor
a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague
somente as prestações vencidas. Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de
volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas
quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar.
O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão
vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso,
purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento.
Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei 10.931/04 passou a não mais
permitir a purgação da mora. Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede
de recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em
todos os processos semelhantes:
Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004,
compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a
execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a
integralidade da dívida - entendida esta como os valores
apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob
pena de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de
alienação fiduciária. STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (recurso repetitivo) (Info
540).

Resposta: No prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o


devedor fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação).
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a
integralidade da dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a
restituição.
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade
das cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o
contrato era abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

Venda do bem: Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor


(proprietário fiduciário) poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de
leilão, hasta pública, avaliação prévia ou qualquer outra medida judicial ou
extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no contrato (art. 2º do
DL 911/69). O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser
utilizado para pagar os débitos do devedor para com o credor e também para custear
as despesas decorrentes da cobrança dessa dívida. Se, após o pagamento da dívida,
ainda sobrar dinheiro, esse saldo apurado deverá ser entregue ao devedor.

Dever do credor de prestar contas: A Lei 13.043/14 alterou o caput do art. 2º do DL


911/69, deixando expresso que o credor, após fazer a alienação do bem, tem o dever
de prestar contas ao devedor a fim de que este tenha ciência do valor que foi
apurado com a venda e possa fiscalizar para saber se sobrou algum saldo, já que tais
recursos lhe pertencem. Compare:

Antes da Lei nº 13.043/2014 Depois da Lei nº 13.043/2014


Art. 2º No caso de inadimplemento ou Art. 2º No caso de inadimplemento ou
mora nas obrigações contratuais mora nas obrigações contratuais
garantidas mediante alienação garantidas mediante alienação
fiduciária, o proprietário fiduciário ou fiduciária, o proprietário fiduciário ou
credor poderá vender a coisa a terceiros, credor poderá vender a coisa a terceiros,
independentemente de leilão, hasta independentemente de leilão, hasta
pública, avaliação prévia ou qualquer pública, avaliação prévia ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, outra medida judicial ou extrajudicial,
salvo disposição expressa em contrário salvo disposição expressa em contrário
prevista no contrato, devendo aplicar o prevista no contrato, devendo aplicar o
preço da venda no pagamento de seu preço da venda no pagamento de seu
crédito e das despesas decorrentes e crédito e das despesas decorrentes e
entregar ao devedor o saldo apurado, se entregar ao devedor o saldo apurado, se
houver. houver, com a devida prestação de
contas.

Desse modo, depois da venda, caso o credor não tenha informado acerca de eventual
saldo, o devedor poderá, inclusive, ajuizar ação de prestação de contas em desfavor
da instituição financeira, com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação
extrajudicial do bem apreendido na forma do DL 911/1969, e se apurar eventual saldo
em favor do autor.

Essa possibilidade de o devedor exigir prestação de contas do credor somente surgiu


com a edição da Lei nº 13.043/2014? NÃO.

O interesse do devedor fiduciário para o ajuizamento da referida ação é evidente nos


casos de alienação extrajudicial, pois busca saber o quantum da arrecadação e a forma
de aplicação dos valores. Se, por um lado, garante-se ao credor uma forma executiva
extremamente célere e sem interferência direta do Estado, por outro, tem o devedor,
no mínimo, o direito de saber da solução realizada pelo credor, a qual necessariamente
afeta seu patrimônio.
Ao credor cumpre zelar pela correta destinação da quantia obtida com a alienação
extrajudicial. Essa incumbência também está ligada ao patrimônio do devedor, o qual
ficará vinculado pela dívida remanescente ou terá saldo a receber.
Dessa forma, tem-se por inegável a existência de um vínculo entre o credor e o
devedor, sendo que desta relação decorre o interesse de agir (utilidade e adequação)
para o devedor fiduciário ajuizar ação de prestação de contas, especificamente
quanto aos valores decorrentes do leilão extrajudicial do bem. A alteração
promovida pela Lei nº 13.043/2014 teve como objetivo apenas reforçar um direito que
o devedor já possuía.

65.2. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA: OSCIP não pode ajuizar ação


de busca e apreensão do DL 911/69 – (Info 600)

Caso o mutuário de um contrato de alienação fiduciária se torne inadimplente, a


instituição financeira mutuante poderá ingressar com busca e apreensão do bem,
sendo essa uma ação especial e muito célere, prevista no Decreto-Lei nº 911/69.
A organização da sociedade civil de interesse público - OSCIP -, mesmo ligada ao
Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO, não pode ser
classificada ou equiparada à instituição financeira, carecendo, portanto, de
legitimidade ativa para requerer busca e apreensão de bens com fulcro no Decreto-
Lei nº 911/69.
O procedimento judicial de busca e apreensão previsto no DL 911/69 é um
instrumento exclusivo das instituições financeiras lato sensu ou das pessoas
jurídicas de direito público titulares de créditos fiscais e previdenciários. A OSCIP
não se insere no conceito de instituição financeira nem pode ser a ela equiparada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.071-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 21/3/17
(Info 600).
65.3. Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação
fiduciária em garantia regidos pelo DL 911/69 – (Info 599) – IMPORTANTE!!!

Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação


fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/69.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min.
Marco Aurélio Bellizze, j. 22/2/2017 (Info 599).
OBS: TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL: Em um contrato, se uma parte
descumpre a sua obrigação, a parte credora terá, em regra, duas opções:
1) poderá exigir o cumprimento da prestação que não foi adimplida; ou
2) pedir a resolução (“desfazimento”) do contrato.

Além disso, tanto em um caso como no outro, ela poderá também pedir o pagamento
de eventuais perdas e danos que comprove ter sofrido. Isso está previsto no art. 475
do Código Civil:
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização
por perdas e danos.

A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo mitigar o que foi explicado
acima. Segundo essa teoria, se a parte devedora cumpriu quase tudo que estava
previsto no contrato (ex: eram 48 prestações, e ela pagou 46), então, neste caso, a parte
credora não terá direito de pedir a resolução do contrato porque, como faltou muito
pouco, o desfazimento do pacto seria uma medida exagerada, desproporcional,
injusta e violaria a boa-fé objetiva.
Desse modo, havendo adimplemento substancial (adimplemento de grande parte do
contrato), o credor teria apenas uma opção: exigir do devedor o cumprimento da
prestação (das prestações) que ficou (ficaram) inadimplida(s) e pleitear eventual
indenização pelos prejuízos que sofreu.
Veja o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva:
Adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão
próximo ao resultado final, que, tendo-se em vista a conduta
das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez
que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé
(objetiva)" (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e
Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português.
São Paulo: RT, 1980, p. 56).

A origem desta teoria remonta o Direito Inglês do séc. XVIII, tendo lá recebido o nome
de "substancial performance".

A teoria do adimplemento substancial é acolhida pelo STJ? SIM. Existem julgados


adotando expressamente a teoria. Vale ressaltar, no entanto, que seu uso não pode ser
banalizado a ponto de inverter a lógica jurídica de extinção das obrigações. O
“normal” que as partes esperam legitimamente é que os contratos sejam cumpridos
de forma integral e regular. Diante disso, a fim de que haja critérios, o STJ afirma que
são necessários três requisitos para a aplicação da teoria:
a) a existência de expectativas legítimas geradas pelo
comportamento das partes;
b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando
o total do negócio;
c) deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem
prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida
pelos meios ordinários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1581505/SC, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 18/08/2016.

CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: “A alienação fiduciária em garantia é


um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a
propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira,
em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).

REGRAMENTO: O CC/02 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em


seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o
tema:
 alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei 9.514/97;
 alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de
capitais: Lei 4.728/65 e Decreto-Lei 911/69. É o caso, por exemplo, de um
automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de
alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se


apenas de forma subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou
de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica
das respectivas leis especiais, somente se aplicando as
disposições deste Código naquilo que não for incompatível
com a legislação especial.

Resumindo:

Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de


bens MÓVEIS fungíveis bens MÓVEIS bens IMÓVEIS
e infungíveis quando o infungíveis quando o
credor fiduciário for credor fiduciário for
instituição financeira pessoa natural ou
jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002 Lei 9.514/97
Decreto-Lei 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL À


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA REGIDA PELO DL 911/69: A espécie mais comum de
alienação fiduciária é a de automóveis, que é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69. Ex:
Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil. Antônio
procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de
alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio, que compra o
veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do
carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras palavras,
Antônio ficará andando com o carro, mas, no documento, a propriedade do automóvel
é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco
tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do
carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio.
Antônio financiou o veículo em 48 prestações. Após pagar 44 parcelas, ele ficou
desempregado e não conseguiu arcar com as 4 últimas prestações.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo,


Antônio)? Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte
(regulado pelo DL 911/69):

Notificação do devedor: O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor


de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é
indispensável para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à


busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa notificação é feita por
meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada
por intermédio do Cartório de RTD.

O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do
próprio destinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69). Para a constituição em mora por
meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do
devedor, ainda que não pessoalmente.

Ajuizamento da ação: Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá


ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem
(art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação
especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.

Concessão da liminar: O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem


ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor
(art. 3º do DL 911/69).

Possibilidade de pagamento integral da dívida: No prazo de 5 dias após o


cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor
fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do
art. 3º do DL 911/69):

Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,
consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às
repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade
fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na
qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada
pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Todo o débito. Segundo


decidiu o STJ, a Lei 10.931/04, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao devedor
a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente
as prestações vencidas. Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele
terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas quanto as
vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar. Em nosso
exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 40 parcelas restantes. O devedor purga
a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e mais o valor
dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o
devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre que na
alienação fiduciária em garantia, a Lei 10.931/04 passou a não mais permitir a
purgação da mora. Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso
repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em todos os
processos semelhantes:

Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004,


compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a
execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a
integralidade da dívida - entendida esta como os valores
apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena
de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de
alienação fiduciária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info
540).

Feita esta breve revisão, voltemos ao nosso exemplo: O Banco enviou notificação
extrajudicial para Antônio informando que ele se encontrava em débito (Súmula 72-
STJ), mas este não fez a purgação da mora. Diante disso, a instituição financeira
ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do bem, conforme
autoriza o art. 3º do DL 911/69:
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que
comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º,
ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual
será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em
plantão judiciário.

O juiz concedeu a liminar e o automóvel saiu da posse de Antônio e foi entregue ao


Banco.

Resposta do devedor: O devedor fiduciante apresentou, então, resposta (uma espécie


de contestação) prevista no § 3º do art. 3º do DL 911/69. Nesta defesa apresentada
pelo devedor, ele pediu a aplicação da teoria do adimplemento substancial, afirmando
que cumpriu quase todas as prestações (cumpriu 91,66% do contrato). Logo, a
determinação de tomar o veículo, resolvendo o contrato, seria uma medida
desproporcional. Argumentou que o banco deveria ter ingressado com ação cobrando
as quatro últimas parcelas que não foram pagas.

A tese do devedor foi aceita pelo STJ? É possível a aplicação da teoria do


adimplemento substancial para a alienação fiduciária regida pelo DL 911/69? NÃO.
Não se aplica a teoria do adimplemento substancial aos
contratos de alienação fiduciária em garantia regidos pelo
Decreto-Lei 911/69. STJ. 2ª Seção. REsp 1.622.555-MG, Rel.
Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 22/2/2017 (Info 599).

Conforme vimos acima, devidamente comprovada a mora ou o inadimplemento, o


DL 911/69 autoriza que o credor fiduciário possa se valer da ação de busca e
apreensão, sendo irrelevante examinar quantas parcelas já foram pagas ou estão em
aberto. Além disso, o art. 3º, § 2º do DL 911/69 prevê que o bem somente poderá ser
restituído ao devedor se ele pagar, no prazo de 5 dias, a integralidade da dívida
pendente. Dessa forma, a lei foi muito clara ao exigir a quitação integral do débito
como condição imprescindível para que o bem alienado fiduciariamente seja
remancipado. Ou seja, nos termos da lei, para que o bem possa ser restituído ao
devedor livre de ônus, é necessário que ele quite integralmente a dívida pendente.
Assim, mostra-se incongruente impedir a utilização da ação de busca e apreensão pelo
simples fato de faltarem poucas prestações a serem pagas, considerando que a lei de
regência do instituto expressamente exigiu o pagamento integral da dívida pendente.

Incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas: Vale mencionar, ainda, que a


aplicação da teoria do adimplemento substancial para obstar a utilização da ação de
busca e apreensão representaria um incentivo ao inadimplemento das últimas
parcelas contratuais, considerando que o devedor saberia que não perderia o bem e
que o credor teria que se contentar em buscar o crédito faltante por outras vias
judiciais menos eficazes.

Juros mais elevados: Se fosse aplicada a teoria do adimplemento substancial para os


contratos de alienação fiduciária, haveria um enfraquecimento da garantia prevista
neste instituto fazendo com que as instituições financeiras começassem a praticar juros
mais elevados a fim de compensar esses riscos. Isso seria prejudicial para a economia
e para os consumidores em geral. Dessa forma, a propriedade fiduciária, concebida
pelo legislador justamente para conferir segurança jurídica às concessões de crédito,
essencial ao desenvolvimento da economia nacional, ficaria comprometida pela
aplicação deturpada da teoria do adimplemento substancial.

65.4. Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no
carro para permitir a direção por deficiente físico – (Info 594) – IMPORTANTE!!!

Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto


fiduciário, com aparelhos para direção por deficiente físico, o devedor fiduciante
tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento do pacto e a consequente
busca e apreensão do bem.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 18/10/16 (Info
594).
OBS:
Os equipamentos que permitem a condução do veículo por pessoa com deficiência
física, se instalados em automóvel, são considerados bens acessórios do carro? SIM.

Então, por que eles não seguem a sorte do principal? Porque estes equipamentos são
classificados como pertenças, uma espécie peculiar de bens acessórios que, em regra,
não seguem a sorte do principal.

O que são pertenças? A definição legal está no art. 93 do Código Civil:


Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao
serviço ou ao aformoseamento de outro.

Exemplos de pertenças: aparelho de ar condicionado, telefone do escritório,


elevadores, bombas de água, instalações elétricas, estátuas, espelhos, tapetes,
máquinas da fábrica, tratores, instrumentos agrícolas etc.

Pertenças são bens acessórios sui generis: As pertenças têm como objetivo dar uma
maior qualidade, utilidade ou vantagem a um bem principal. Por isso, as pertenças
são classificadas como bens acessórios. No entanto, são bens acessórios sui generis
porque mantêm sua individualidade e autonomia, não se incorporando no bem
principal.

Assim, a pertença, em regra, não é alcançada pelo negócio jurídico que envolver o bem
principal, a não ser que haja imposição legal, expressa manifestação das partes ou
decorrer das circunstâncias do caso concreto. Trata-se de exceção à regra de que o
acessório segue o principal. Isso está previsto expressamente no art. 94 do Código
Civil:

Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem


principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário
resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.

No caso concreto, há um bem principal (automóvel) e existem as pertenças, que são os


aparelhos de adaptação para direção por deficiente físico. Por serem pertenças, não se
aplica a elas o princípio da gravitação jurídica, mas sim a regra do art. 94 do CC acima
transcrito. Relembrando: as pertenças, em regra, não seguem o destino do bem
principal a que se vinculam.

Solidariedade social e direito à mobilidade: Além dos argumentos acima expostos, o


direito de retirada dos equipamentos se fundamenta também:
 na solidariedade social (art. 3º, I, da CF/88);
 na Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que previu o
direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida; e
 no princípio que veda o enriquecimento sem causa.
65.5. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS: Legitimidade para cobrar a
taxa de ocupação (art. 37-A da Lei nº 9.514/97) – (Info 592)

A legitimidade ativa para a ação de cobrança da taxa de ocupação é, nos termos do


art. 37-A da Lei 9.514/97, do credor fiduciário ou do arrematante do bem dado em
garantia fiduciária, a depender do momento em que proposta a demanda e o
período de sua abrangência. Ajuizada a ação de cobrança em momento anterior à
arrematação do bem, é o credor fiduciário o legitimado para a cobrança da taxa
referida. Por outro lado, proposta em momento em que já havida a arrematação, é
do arrematante a legitimidade ativa da ação de cobrança da taxa de ocupação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.622.102-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/9/16 (Info 592).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João celebrou com o banco um contrato de
alienação fiduciária para a compra de seu imóvel residencial. Significa que João tomou
dinheiro emprestado do banco (agente financeiro/mutuante) com o objetivo de
adquirir a sua moradia, ficando o imóvel em nome da instituição financeira até que
ele pague totalmente a dívida. Dessa forma, João permaneceu morando no imóvel
adquirido, mas este ficou registrado em nome do banco, como uma forma de garantia
de que o devedor irá pagar o débito, sob pena de perder o bem. A alienação fiduciária
de bens imóveis é regida precipuamente pela Lei nº 9.514/97.

Personagens: No exemplo dado acima, podemos assim definir os personagens


envolvidos:
 João: Chamado de mutuário/fiduciante. Mutuário é a pessoa beneficiada por
um contrato de mútuo, ou seja, quem toma dinheiro emprestado. Fiduciante é
a pessoa que, no contrato de alienação fiduciária, transmite a propriedade do
bem ao credor como forma de garantia da dívida. Fiduciante é a parte
devedora. Fidúcia é uma palavra de origem latina que significa confiança.
Assim, fiduciante é a pessoa que dá o bem em confiança.
 Banco: Chamado de mutuante/fiduciário. Mutuante é a pessoa que empresta
dinheiro em um contrato de mútuo. Fiduciário é a pessoa que, no contrato de
alienação fiduciária, recebe a propriedade do bem do devedor como forma de
garantia da dívida. É a parte credora.

Inadimplência: João comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações. Ocorre que,


por dificuldades financeiras, o mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente. Quando
o fiduciante não paga a dívida, a lei afirma que ocorre a consolidação da propriedade
em nome do fiduciário. Nesse sentido, é o que prevê o art. 26 da Lei nº 9.514/97:
Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e
constituído em mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos
deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.

Leilão: Importante explicar que, apesar de a lei falar que a propriedade do imóvel
consolida-se em nome do fiduciário, isso não significa que ele tenha se tornado o
proprietário pleno do bem. A Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o
imóvel por meio de leilão:
Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o
fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do
registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá
público leilão para a alienação do imóvel.
No momento em que ocorre a consolidação da propriedade (arts. 26 e 27, caput), caso
o fiduciante (devedor) continue morando no imóvel, o fiduciário (credor) poderá exigir
o pagamento da taxa de ocupação de que trata o art. 37-A da Lei nº 9.514/97? A taxa
de ocupação está prevista no art. 37-A da Lei nº 9.514/97 nos seguintes termos:
Art. 37-A. O fiduciante pagará ao fiduciário, ou a quem vier a
sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou
fração, valor correspondente a um por cento do valor a que se
refere o inciso VI do art. 24, computado e exigível desde a data
da alienação em leilão até a data em que o fiduciário, ou seus
sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel.

Apenas como uma figura de linguagem para você entender melhor, essa taxa de
ocupação é como se fosse um "aluguel", ou seja, uma "remuneração" paga ao fiduciário
pelo fato de o fiduciante continuar na posse do imóvel mesmo estando inadimplente.

Voltemos à pergunta: no momento em que ocorre a consolidação da propriedade, caso


o fiduciante (devedor) continue morando no imóvel, já será possível exigir o
pagamento da taxa de ocupação (art. 37-A da Lei nº 9.514/97)?

NÃO SIM
A taxa de ocupação só pode ser exigida A partir de uma interpretação
pelo fiduciário se o fiduciante continuar teleológica do art. 37-A, é preciso
ocupando o imóvel mesmo após o bem flexibilizar o termo inicial de incidência
ter sido alienado em leilão. Essa é a da taxa de ocupação.
redação literal do art. 37-A. STJ. 4ª Turma. REsp 1.622.102-SP, Rel.
Desse modo, a taxa de ocupação Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/9/16
somente é exigível a partir da data da (Info 592).
alienação do imóvel em leilão e irá durar
até o dia em que o fiduciante desocupar
o imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.401.233-RS, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
17/11/15 (Info 574).

Legitimidade para cobrar esta taxa de ocupação: Para esta 2ª corrente, a legitimidade
para cobrar a taxa de ocupação vai depender do período a que se refere:
 Se estiver sendo cobrada a taxa referente ao período que vai da consolidação
da propriedade até a data de realização do leilão: a legitimidade será do credor
fiduciário (em nosso exemplo, o banco). Assim, se estiver sendo cobrado o
tempo que o fiduciante/devedor ficou no imóvel até o dia do leilão, quem tem
legitimidade para isso é o fiduciário.
 Se estiver sendo cobrada a taxa referente ao período que vai da realização do
leilão até a efetiva desocupação do imóvel: a legitimidade será do
arrematante, ou seja, da pessoa que adquiriu o bem no leilão.

65.6. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA: Na ação de busca e apreensão


fundada no DL 911/69, o prazo de 15 dias para resposta deve ser contado a partir da
juntada aos autos do mandado de citação cumprido – (Info 588) – IMPORTANTE!
ATUALIZE SEUS LIVROS!!!
Em ação de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, o termo inicial
para a contagem do prazo de 15 dias para o oferecimento de resposta pelo devedor
fiduciante é a data de juntada aos autos do mandado de citação devidamente
cumprido (e não a data da execução da medida liminar).
O mandado de busca e apreensão/citação veicula, simultaneamente, a comunicação
ao devedor acerca da retomada do bem alienado fiduciariamente e sua citação, daí
decorrendo dois prazos diversos:
a) de 5 dias, contados da execução da liminar, para o pagamento da dívida; e
b) de 15 dias, a contar da juntada do mandado aos autos, para o oferecimento de
resposta.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.052-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16
(Info 588).
OBS:
CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: “A alienação fiduciária em garantia é
um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a
propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira,
em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).

REGRAMENTO: O CC/02 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em


seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o
tema:
 alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei 9.514/97;
 alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de
capitais: Lei 4.728/65 e Decreto-Lei 911/69. É o caso, por exemplo, de um
automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de
alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se


apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou


de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica
das respectivas leis especiais, somente se aplicando as
disposições deste Código naquilo que não for incompatível
com a legislação especial.

Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis bens MÓVEIS bens IMÓVEIS
e infungíveis quando o infungíveis quando o
credor fiduciário for credor fiduciário for
instituição financeira pessoa natural ou
jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002 Lei 9.514/97
Decreto-Lei 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS: A espécie mais comum de alienação
fiduciária é a de automóveis.

Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil.
Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com
garantia de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio,
que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade
resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras
palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas no documento, a propriedade do
automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se
que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a
propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer
a Antônio.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo,


Antônio)? Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte
(regulado pelo DL 911/69):

1) Notificação do devedor: No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do


simples vencimento do prazo para pagamento, mas a lei exige que o credor
(mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso, notificando o devedor.

Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se


encontra em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável
para que o credor possa ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à


busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Pergunta importante: como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa


ser realizada por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa
notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não
precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD. Essa foi uma das mudanças
operadas pela Lei 13.043/14 no § 2º do art. 2º do DL 911/69.

O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. A Lei 13.043/14 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que
não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio
destinatário.

Obs: apesar de não estar expressamente prevista no DL 911/69, a jurisprudência do


STJ já entendia que a notificação não precisava ser pessoal, bastando que fosse
entregue no endereço do devedor:
(...) Esta Corte consolidou entendimento no sentido de que,
para a constituição em mora por meio de notificação
extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do
devedor, ainda que não pessoalmente. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 419.667/MS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 06/05/2014.
2) Ajuizamento da ação: Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá
ingressar com uma ação de busca e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem
(art. 3º do DL 911/69). Essa busca e apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação
especial autônoma e independente de qualquer procedimento posterior.

3) Concessão da liminar: O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem


ouvir o devedor), desde que comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor
(art. 3º do DL 911/69). A concessão liminar da busca e apreensão pode ocorrer no
plantão judiciário (art. 3º do DL 911/69):

Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que


comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º,
ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual
será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em
plantão judiciário.

4) Inserção de restrições sobre o veículo: Se o bem objeto da alienação fiduciária for


um veículo, caso seja concedida a liminar na busca e apreensão, uma medida de
grande eficácia para conseguir localizar e recuperar o bem é inserir uma restrição
judicial no “registro” do veículo. Pensando nisso, o § 9º do art. 3º do DL 911/69
estipula que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de veículo, deverá inserir uma
restrição judicial na base de dados do Renavam.

Renavam significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um


banco de dados que funciona como um registro de todos os veículos existentes no
Brasil. Cada veículo recebe um número identificador que é chamado de “código
renavam” e lá são registradas todas as informações sobre a “vida” do automóvel,
desde o momento da sua fabricação ou importação, passando pelo emplacamento,
mudanças de proprietário, alterações em sua cor e características, até o instante em
que o veículo sai de circulação.

O Poder Judiciário mantém convênio com o DENATRAN por meio do qual os


magistrados possuem acesso ao sistema informatizado do Renavam. Assim, o juiz
pode digitar seu login e sua senha, entrar na página interna do Renavam e inserir
restrições judiciais incidentes sobre os veículos objeto do processo. Assim, quando o
carro for parado em uma blitz ou for realizar uma inspeção de rotina no DETRAN,
aparecerá aquela informação no sistema e o veículo será apreendido e entregue à
Justiça.

Dessa forma, quando o juiz decreta a busca e apreensão, ele próprio, com sua senha,
deverá inserir diretamente a restrição judicial no RENAVAM. Caso ele não tenha
acesso à base de dados, deverá expedir um ofício ao DETRAN para que:
I - registre o gravame referente à decretação da busca e apreensão do veículo; e
II - retire o gravame após a apreensão do veículo.

5) Apreensão do bem: Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde
está tramitando a ação (ex: o processo tramita em Belo Horizonte e o carro foi
encontrado em Lavras), a parte interessada poderá requerer diretamente ao juízo
desta comarca pedindo a apreensão do veículo, bastando que em tal requerimento
conste a cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do despacho que
concedeu a busca e apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º do DL 911/69). A apreensão
do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a instituição
financeira para retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do art.
3º). O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão,
deverá entregar o bem e seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º).

6) Possibilidade de pagamento integral da dívida: No prazo de 5 dias após o


cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor
fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do
art. 3º do DL 911/69):

Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,
consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às
repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade
fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na
qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada
pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Para que o devedor tenha
de volta o bem, ele deverá pagar todo o valor do financiamento ou somente as parcelas
já vencidas e não pagas (purgação da mora)? Ex: Antônio financiou o veículo em 60
parcelas. A partir da 20ª prestação, ele começou a não mais pagar. Estão vencidas 5
parcelas. Para ter de volta o bem, ele terá que pagar somente as 5 parcelas vencidas
(purgação mora) ou todo o financiamento restante (40 parcelas)? Todo o débito.
Segundo decidiu o STJ, a Lei 10.931/04, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao
devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague
somente as prestações vencidas. Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de
volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas
quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar.

Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 40 parcelas restantes.

O devedor purga a mora quando ele oferece ao devedor as prestações que estão
vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso,
purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento.
Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei 10.931/04 passou a não mais
permitir a purgação da mora. Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de
recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em
todos os processos semelhantes:

Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/2004,


compete ao devedor, no prazo de 5 (cinco) dias após a
execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a
integralidade da dívida - entendida esta como os valores
apresentados e comprovados pelo credor na inicial -, sob pena
de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de
alienação fiduciária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info
540).

Nos contratos anteriores à vigência da Lei n. 10.931/2004 é permitida a purgação da


mora? SIM. Antes da Lei 10.931/04 era permitida a purgação da mora, desde que o
devedor já tivesse pago no mínimo 40% do valor financiado. Tal entendimento estava,
inclusive, consagrado em um enunciado do STJ:
Súmula 284-STJ: A purga da mora, nos contratos de alienação
fiduciária, só é permitida quando já pagos pelo menos 40%
(quarenta por cento) do valor financiado.

A súmula 284-STJ ainda é válida?


• Para contratos anteriores à Lei 10.931/2004: SIM.
• Para contratos posteriores à Lei 10.931/2004: NÃO.

7) Resposta: No prazo de 15 dias, o devedor fiduciante apresentará resposta (uma


espécie de contestação).
Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a
integralidade da dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a
restituição.
Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade
das cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o
contrato era abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

Importante: Qual é o termo inicial para a contagem deste prazo de 15 dias: o dia em
que for executada a medida liminar (apreensão do bem) ou a data da juntada do
mandado de citação cumprido? Data da juntada aos autos do mandado de citação
cumprido. Foi o que decidiu o STJ no Info 588.

A redação do DL 911/1969 dá a entender que o prazo para a resposta será contado da


execução da liminar. Veja:
Art. 3º (...) § 3º O devedor fiduciante apresentará resposta no
prazo de quinze dias da execução da liminar.

O STJ, contudo, afirma que este prazo de resposta não pode ser contado a partir da
execução da liminar. Isso porque o juiz concede a busca e apreensão de forma liminar,
ou seja, sem ouvir o devedor.

Desse modo, é indispensável que seja realizado um ato formal de citação do devedor,
sendo isso imprescindível ao desenvolvimento válido e regular do processo, visto que
somente a perfeita angularização da relação processual é capaz de garantir à parte
demandada o pleno exercício do contraditório.

Assim, concedida a liminar inaudita altera parte, cumpre ao magistrado expedir um


mandado, que tem dupla finalidade: 1) autorizar a busca e apreensão do bem; 2)
promover a citação do réu. Assim, depois de executada a liminar, ou seja, depois de o
bem ter sido apreendido, deverá o réu ser citado. No mandado constará o prazo de 15
dias, que começará a ser contado da sua juntada aos autos.

Existe outro precedente do STJ, da 4ª Turma, no mesmo sentido:


(...) O mandado de busca e apreensão/citação veicula,
simultaneamente, a comunicação ao devedor acerca da
retomada do bem alienado fiduciariamente e sua citação, daí
decorrendo dois prazos diversos: (i) de 5 dias, contados da
execução da liminar, para o pagamento da dívida (art. 3º, §§ 1º
e 2º, do Decreto-Lei n. 911/1969, c/c 240 do CPC); e (ii) de 15
dias, a contar da juntada do mandado aos autos, para o
oferecimento de resposta (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.148.622/DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, j. 1º/10/13.

65.7. Necessidade de intimação pessoal do devedor para oportunizar a purgação de


mora – (Info 580)

Em alienação fiduciária de bem imóvel (Lei nº 9.514/1997), é nula a intimação do


devedor para oportunizar a purgação de mora realizada por meio de carta com aviso
de recebimento quando esta for recebida por pessoa desconhecida e alheia à relação
jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.144-PB, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 15/3/2016
(Info 580).
OBS:
CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: “A alienação fiduciária em garantia é
um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a
propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira,
em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).

REGRAMENTO: O CC/02 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em


seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o
tema:
 alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei 9.514/97;
 alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de
capitais: Lei 4.728/65 e Decreto-Lei 911/69. É o caso, por exemplo, de um
automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de
alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se


apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou


de titularidade fiduciária submetem-se à disciplina específica
das respectivas leis especiais, somente se aplicando as
disposições deste Código naquilo que não for incompatível
com a legislação especial.
Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis bens MÓVEIS bens IMÓVEIS
e infungíveis quando o infungíveis quando o
credor fiduciário for credor fiduciário for
instituição financeira pessoa natural ou
jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002 Lei 9.514/97
Decreto-Lei 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS


Conceito: Na alienação fiduciária de bem imóvel alguém (fiduciante) toma dinheiro
emprestado de outrem (fiduciário) e, como garantia de que irá pagar a dívida,
transfere a propriedade resolúvel de um bem imóvel para o credor, ficando este
obrigado a devolver ao devedor o bem que lhe foi alienado quando houver o
adimplemento integral do débito. Veja agora o conceito dado pela Lei nº 9.514/97:

Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o


negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o
escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou
fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel.

Imagine a seguinte situação: João quer comprar uma casa, mas não possui o dinheiro
suficiente. Ele procurou o Banco “X”, que celebrou com ele contrato de financiamento
com garantia de alienação fiduciária. O Banco “X” emprestou a João o dinheiro
suficiente para comprar o imóvel. Como garantia do pagamento do empréstimo, a
propriedade resolúvel da casa ficará com o banco e João terá a posse, podendo usar
livremente o bem. Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez
pago o empréstimo, a propriedade do imóvel pelo banco “resolve-se” (acaba) e ela
passa a pertencer a João.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, João)?


Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial
("intimação") do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a
mora. Essa notificação é exigida pelo art. 26 da Lei nº 9.514/97.

Para que serve essa intimação? O devedor é notificado para ter a possibilidade de
purgar a mora, no prazo de 15 dias, mediante o pagamento das prestações vencidas e
não pagas. Veja o que diz o § 1º do art. 26:

§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, o fiduciante, ou seu


representante legal ou procurador regularmente constituído,
será intimado, a requerimento do fiduciário, pelo oficial do
competente Registro de Imóveis, a satisfazer, no prazo de
quinze dias, a prestação vencida e as que se vencerem até a
data do pagamento, os juros convencionais, as penalidades e
os demais encargos contratuais, os encargos legais, inclusive
tributos, as contribuições condominiais imputáveis ao imóvel,
além das despesas de cobrança e de intimação.
Se o devedor purgar a mora, o contrato de alienação fiduciária se convalescerá (§ 5º
do art. 26). O oficial do Registro de Imóveis, nos três dias seguintes à purgação da
mora, entregará ao fiduciário as importâncias recebidas, deduzidas as despesas de
cobrança e de intimação.

Se passarem os 15 dias sem que o devedor purgue a mora, o oficial do Registro de


Imóveis irá certificar esse fato e promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da
consolidação da propriedade em nome do fiduciário (§ 7º do art. 26). Em outras
palavras, o fiduciário (credor) torna-se o proprietário pleno. Vale ressaltar que, antes
de fazer a consolidação da propriedade, o registrador deverá exigir do fiduciário o
pagamento do imposto de transmissão inter vivos (ITBI) e, se for o caso, do laudêmio.
Obs: uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de 30
dias, deverá promover um leilão público para alienar o imóvel (art. 27).

Como é feita a intimação? A intimação deverá ser pessoal, podendo ser realizada de
três maneiras:
a) por solicitação do oficial do Registro de Imóveis;
b) por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel
ou do domicílio de quem deva recebê-la; ou
c) pelo correio, com aviso de recebimento

Nesse sentido, veja a redação do § 3º do art. 26 da Lei nº 9.514/97:

Art. 26 (...)
§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu
representante legal ou ao procurador regularmente
constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial
do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e
Documentos da comarca da situação do imóvel ou do
domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso
de recebimento.

Voltando ao nosso exemplo: João passou a atrasar o pagamento das prestações, razão
pela qual o banco determinou a sua intimação por correio. Ocorre que João não mais
morava no endereço informado e o aviso de recebimento da carta veio assinado por
uma pessoa que não tinha nenhuma relação com o devedor.

Essa intimação, no caso, é válida? NÃO. A intimação do devedor deverá ser feita de
forma pessoal. A necessidade de intimação pessoal decorre da previsão constitucional
da propriedade como direito fundamental (art. 5º, XXII, da CF), o que torna justificável
a exigência de um tratamento rigoroso ao procedimento que visa desapossar alguém
(devedor) desse direito essencial.

Diante deste caso, o que deveria ter feito o credor? Como restou provado que o
devedor mudou-se e se encontrava em lugar incerto e não sabido, o credor deveria ter
providenciado a sua intimação por edital, conforme determina o § 4º do art. 26 da Lei
nº 9.514/97:

Art. 26 (...)
§ 4º Quando o fiduciante, ou seu cessionário, ou seu
representante legal ou procurador encontrar-se em local
ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo
serventuário encarregado da diligência e informado ao oficial
de Registro de Imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a
intimação por edital publicado durante 3 (três) dias, pelo
menos, em um dos jornais de maior circulação local ou noutro
de comarca de fácil acesso, se no local não houver imprensa
diária, contado o prazo para purgação da mora da data da
última publicação do edital.

Cuidado. Alienação fiduciária de bens móveis: A notificação do devedor na alienação


fiduciária de bens móveis é regida pelo Decreto-Lei nº 911/69, que expressamente
afirma não ser necessária a intimação pessoal do mutuário:

Art. 2º (...)
§ 2º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para
pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com
aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura
constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.

Esse é também o entendimento do STJ:

(...) A mora do devedor deve ser comprovada por notificação


extrajudicial realizada por intermédio do Cartório de Títulos
e Documentos a ser entregue no domicílio do devedor, sendo
dispensada a notificação pessoal. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 851.361/MS, Rel. Min. Raul
Araújo, julgado em 08/03/2016.

Comparando:
 Alienação fiduciária de bens imóveis: o devedor deve ser intimado
pessoalmente para que haja a constituição em mora (art. 26 da Lei nº 9.504/97).
 Alienação fiduciária de bens móveis: a mora decorre do simples vencimento
do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com
aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido
aviso seja a do próprio destinatário (art. 2º, § 2º do DL 911/69).

65.8. Alienação fiduciária de imóvel em garantia de qualquer operação de crédito –


(Info 574)

É possível a constituição de alienação fiduciária de bem imóvel para garantia de


operação de crédito não relacionada com o Sistema Financeiro Imobiliário? Em
outros termos, é possível que o dinheiro obtido com a alienação fiduciária de bem
imóvel seja utilizado para outras finalidades que não seja adquirir, construir ou
reformar o imóvel oferecido em garantia?
SIM. É possível a constituição de alienação fiduciária de bem imóvel para garantia
de operação de crédito não vinculada ao Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
A lei não exige que o contrato de alienação fiduciária de imóvel seja vinculado ao
financiamento do próprio bem que foi dado em garantia. Em outras palavras, o
dinheiro obtido com o empréstimo pode ser utilizado para finalidades diversas e
não precisa estar vinculado à aquisição, construção ou reforma de bem imóvel.
É legítima a constituição de alienação fiduciária em garantia para financiar toda e
qualquer obrigação pecuniária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.542.275-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 24/11/15
(Info 574).

65.9. Possibilidade de purgação da mora mesmo após a consolidação da propriedade


em nome do credor fiduciário – (Info 552) – IMPORTANTE!!! – (TJRJ-2016)

Na alienação fiduciária de bem imóvel, é possível que ocorra a purgação da mora


mesmo após já ter havido a consolidação da propriedade em nome do credor? Até que
momento é possível a purgação?
SIM. Mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel dado em garantia em
nome do credor fiduciário, é possível a purgação da mora.
Em verdade, a purgação é admitida até a assinatura do auto de arrematação.
Nos contratos de alienação fiduciária de bem imóvel (regido pela Lei 9.514/97)
aplica, subsidiariamente, o Decreto-Lei 70/1966, que prevê o seguinte que “é lícito
ao devedor, a qualquer momento, até a assinatura do auto de arrematação, purgar
o débito”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.462.210-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/11/14
(Info 552).
(TJRJ-2016-VUNESP): Em 2010, no auge de um “boom imobiliário", Luciano
adquiriu de uma construtora um apartamento já construído. Deu pequena entrada
de R$ 20.000,00 e o saldo financiou junto à própria construtora, subscrevendo
escritura pública de compra e venda com pacto de alienação fiduciária em
garantia. Em 2015, com a crise financeira que assolou o país, Luciano deixou de
pagar as parcelas junto à fiduciária. A esta altura, Luciano já havia pago valor
equivalente a 50% do preço, faltando pagar R$ 250.000,00. Assim, a construtora
intimou Luciano, via cartório, para que purgasse a mora no prazo legal. Sem meios
para tanto, Luciano não pôde purgar a mora. Assim, a fiduciária procedeu à
consolidação da propriedade em seu nome e promoveu o público leilão do imóvel,
que foi arrematado por Mounir, em primeira hasta, por R$ 650.000,00, lavrando-
se imediatamente o auto de arrematação. No dia seguinte, Luciano compareceu à
sede da construtora para quitar integralmente sua dívida, mas a fiduciária
recusou-se a receber, argumentando que já havia se encerrado o prazo para
purgação da mora. Nesse panorama fático, assinale a alternativa correta, de acordo
com a legislação aplicável e jurisprudência sobre a matéria: O estágio do
procedimento extrajudicial não mais admite que o fiduciante purgue a mora ou
quite a dívida, assegurado seu direito de receber o valor que superar a dívida,
acrescida de eventuais outras despesas e encargos. BL: Info 552, STJ.

65.10. É nula a notificação extrajudicial se constar nome diverso do real credor – (Info
550)

No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do simples vencimento do


prazo para pagamento, mas a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a
ocorrência desse atraso notificando o devedor.
Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se
encontra em débito, comprovando, assim, a mora.
Essa exigência de prévia notificação está presente tanto no procedimento da
alienação fiduciária de bens móveis de que trata o Decreto-Lei 911/69 como também
na alienação fiduciária de bens imóveis (Lei 9.514/97).
É nula a notificação extrajudicial realizada com o fim de constituir em mora o
devedor fiduciante de imóvel, quando na referida comunicação constar nome
diverso do real credor fiduciário. A notificação em questão produz severas
consequências para o devedor, de forma que qualquer vício em seu conteúdo é
hábil a tornar nulos seus efeitos, principalmente quando se trata de erro crasso,
como há na troca da pessoa notificante.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.172.025-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/10/2014 (Info
550).

65.11. Alienação fiduciária e pagamento integral da dívida após o cumprimento da


busca e apreensão – (Info 540) – IMPORTANTE!!!

Nos contratos firmados na vigência da Lei 10.931/04, compete ao devedor, no prazo


de 5 (cinco) dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar a
integralidade da dívida - entendida esta como os valores apresentados e
comprovados pelo credor na inicial -, sob pena de consolidação da propriedade do
bem móvel objeto de alienação fiduciária.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14/5/14 (recurso
repetitivo) (Info 540).

66. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA


66.1. Se for realizada nova alienação do terreno onde iria ser construído o imóvel, é
necessário que o proprietário/vendedor faça a indenização dos antigos adquirentes –
(Info 607)

O proprietário de terreno objeto de contrato de permuta com


incorporadora/construtora, rescindido por decisão judicial no curso do processo
falimentar desta, tem responsabilidade pelos danos sofridos pelos antigos
adquirentes de unidades autônomas no empreendimento imobiliário inacabado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.012-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 20/6/17
(Info 607).
OBS:
Incorporação imobiliária: É a atividade desenvolvida por um incorporador (pessoa
física ou jurídica) por meio da qual ele planeja a construção de um condomínio com
unidades autônomas (ex: um prédio com vários apartamentos) e, antes mesmo de
iniciar a edificação, já aliena as unidades para os interessados e, com os recursos
obtidos, vai construindo o projeto.
Nas palavras do Min. Luis Felipe Salomão, "a expressão incorporação imobiliária designa
a iniciativa do empreendedor que, com a venda antecipada das unidades autônomas, obtém
capital necessário para a construção de edifício de apartamentos, sob o regime condominial".
Assim, por meio da incorporação imobiliária, é realizada a venda antecipada de
unidades imobiliárias com o objetivo de obter recursos para a construção e entrega,
no futuro, das unidades habitacionais.
Lei nº 4.591/64: A Lei 4.591/64 trata sobre o condomínio em edificações e as
incorporações imobiliárias. Parte da Lei 4.591/64 foi revogada pelo Código Civil de
2002. O art. 28 da Lei, que continua em vigor, assim conceitua incorporação
imobiliária:
Art. 28. As incorporações imobiliárias, em todo o território
nacional, reger-se-ão pela presente Lei.
Parágrafo único. Para efeito desta Lei, considera-se
incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de
promover e realizar a construção, para alienação total ou
parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas
de unidades autônomas.

Imagine a seguinte situação hipotética: A incorporadora “Habibem” estava


construindo um edifício residencial de 12 andares. João celebrou contrato de promessa
de compra e venda para adquirir um dos apartamentos “na planta”, pagando à vista
R$ 500 mil, o valor da unidade. João somente receberia o apartamento quando a obra
fosse concluída. Ocorre que a incorporadora foi à falência quando as obras já estavam
bem adiantadas. O terreno onde estava sendo construído o edifício pertencia à
empresa “TERR”, que havia celebrado com a incorporadora um contrato de compra e
venda. De acordo com esse contrato, a “TERR” comprometeu-se a vender o terreno e,
como pagamento, receberia 10 apartamentos quando eles estivessem prontos. Foi uma
espécie de permuta, ou seja, a troca do terreno por 10 apartamentos. Como a obra não
foi concluída em virtude da falência, a empresa “TERR” conseguiu obter, por decisão
do juízo falimentar, a resolução do contrato e a retomada do terreno. Essa decisão
frustrou João e os demais adquirentes. Isso porque a intenção deles era formar um
grupo de adquirentes para custearem o término da construção. Para piorar ainda mais
a situação, a empresa “TERR” contratou uma nova construtora, que terminou as obras
do edifício inacabado. Diante disso, João ingressou com ação de indenização contra a
empresa “TERR” pedindo o valor gasto com o apartamento que não lhe foi entregue.

A ação deverá ser julgada procedente? A empresa “TERR”, proprietária do terreno,


tem responsabilidade neste caso? Rescindido o contrato de permuta do terreno onde
se realizaria o empreendimento imobiliário pelo juízo falimentar, o proprietário
responde pela nova alienação do imóvel objeto da rescisão? SIM. É o que foi decidido
pelo STJ:
O proprietário de terreno objeto de contrato de permuta com
incorporadora/construtora, rescindido por decisão judicial no
curso do processo falimentar desta, tem responsabilidade
pelos danos sofridos pelos antigos adquirentes de unidades
autônomas no empreendimento imobiliário inacabado. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.537.012-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 20/6/2017 (Info 607).

A Lei nº 4.591/64 prevê que o proprietário do imóvel tem o dever de indenizar os


titulares (adquirentes) das unidades autônomas em caso de nova alienação do
terreno, mesmo com a rescisão contratual da permuta decretada pelo juízo
falimentar. Confira:
Art. 40. No caso de rescisão de contrato de alienação do
terreno ou de fração ideal, ficarão rescindidas as cessões ou
promessas de cessão de direitos correspondentes à aquisição
do terreno.
§ 1º Nesta hipótese, consolidar-se-á, no alienante em cujo
favor se opera a resolução, o direito sobre a construção
porventura existente.
§ 2º No caso do parágrafo anterior, cada um dos ex-titulares
de direito à aquisição de unidades autônomas haverá do
mencionado alienante o valor da parcela de construção que
haja adicionado à unidade, salvo se a rescisão houver sido
causada pelo ex-titular.
§ 3º Na hipótese dos parágrafos anteriores, sob pena de
nulidade, não poderá o alienante em cujo favor se operou a
resolução voltar a negociar seus direitos sobre a unidade
autônoma, sem a prévia indenização aos titulares, de que trata
o § 2º.
§ 4º No caso do parágrafo anterior, se os ex-titulares tiverem
de recorrer à cobrança judicial do que lhes for devido, somente
poderão garantir o seu pagamento a unidade e respectiva
fração de terreno objeto do presente artigo.

A regra protetiva prevista no art. 40 da Lei nº 4.591/64, especialmente a constante nos


seus §§ 3º e 4º, busca resguardar os direitos dos adquirentes das unidades autônomas,
evitando-se o enriquecimento sem causa do proprietário do terreno, em cujo favor se
operou a rescisão contratual.
Cumpre ressaltar que a condição para a indenização dos adquirentes ocorre desde
que tenha havido acréscimo, construção ou investimento no terreno.
Vale ressaltar que, mesmo havendo a habilitação do adquirente no processo de
falência como credor privilegiado, isso não isenta o proprietário do terreno da sua
obrigação legal de indenizar em caso de nova alienação.
Enfim, a habilitação do crédito do adquirente da unidade autônoma no processo
falimentar do incorporador não autoriza que o proprietário do terreno aliene o objeto
da rescisão sem que haja o devido
pagamento da respectiva indenização, sob pena de seu enriquecimento sem causa.

66.2. Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco – (Info
594)

A recusa do banco em substituir a garantia dada pela incorporadora em contrato de


financiamento imobiliário, mesmo após a ciência de que a unidade habitacional se
encontrava quitada, viola os deveres contratuais da informação e cooperação,
tornando ineficaz o gravame perante o adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.478.814-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 6/12/16
(Info 594).

66.3. Desnecessidade de notificação pessoal do devedor acerca do leilão previsto no


art. 63, § 1º, da Lei nº 4.591/64 – (Info 574)

Nas execuções disciplinadas pela lei que regula as incorporações imobiliárias (Lei
nº 4.591/64), não há necessidade de notificação da parte inadimplente da data e hora
do leilão extrajudicial (art. 63, § 1º), quando existir autorização contratual para sua
utilização e prévia interpelação do devedor com intuito de possibilitar a purgação
da mora.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.024-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 3/11/15 (Info
574).

67. DPVAT
67.1. Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT – (Info 614)

As normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam ao


seguro obrigatório (DPVAT).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.635.398-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 17/10/17 (Info
614).
OBS: O seguro DPVAT não é baseado em uma relação jurídica contratual. Trata-se
de um seguro obrigatório por força de lei, que tem por objetivo mitigar os danos
advindos da circulação de veículos automotores. Em se tratando de obrigação imposta
por lei, não há, por conseguinte, qualquer acordo de vontade e, principalmente,
voluntariedade entre o proprietário do veículo e as seguradoras componentes do
consórcio do seguro DPVAT, o que, por si, evidencia que não se trata de contrato. A
estipulação da indenização securitária em favor da vítima do acidente, assim como
as específicas hipóteses de cabimento (morte, invalidez permanente, total e parcial,
e por despesas de assistência médica e suplementares) decorrem exclusivamente de
imposição legal, e, como tal, não comportam qualquer temperamento das partes
envolvidas. Nesse contexto, não há, por parte das seguradoras integrantes do
consórcio do seguro DPVAT, responsáveis por realizarem o pagamento, qualquer
ingerência nas regras relativas à indenização securitária. Ao contrário do que ocorre
no caso de seguro facultativo (esta, sim, sujeita ao CDC), a atuação das seguradoras
integrantes do consórcio do seguro DPVAT não é concorrencial nem se destina à
obtenção de lucro, na medida em que a respectiva arrecadação possui destinação
legal específica. Tampouco seria possível falar em vulnerabilidade, na acepção
técnico-jurídica, das vítimas de acidente de trânsito - e muito menos do proprietário
do veículo a quem é imposto o pagamento do "prêmio" do seguro DPVAT - perante
as seguradoras, as quais não possuem qualquer margem discricionária para efetivação
do pagamento da indenização securitária, sempre que presentes os requisitos
estabelecidos na lei.

67.2. Não há indenização DPVAT se a vítima estava praticando um crime com o


veículo no momento do acidente – (Info 604)

É indevida a indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, na hipótese em


que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha ocorrido no momento de
prática de ilícito penal doloso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 9/5/17 (Info 604).

67.3. Sucessores do falecido podem cobrar a indenização DPVAT por invalidez


permanente que a vítima deveria ter recebido quando estava viva – (Info 598)

Determinada pessoa sofreu acidente de trânsito que causou sua invalidez


permanente. Ela não requereu indenização DPVAT. Meses depois, ela faleceu por
outras razões. Seus herdeiros poderão cobrar a indenização do DPVAT que ela
deveria ter recebido quando estava viva?
SIM. Os sucessores da vítima têm legitimidade para ajuizar ação de cobrança de
pagamento de indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente ocorrida
antes da morte daquela.
O direito à indenização do seguro DPVAT por invalidez permanente integra o
patrimônio da vítima e transmite-se aos seus sucessores com o falecimento do
titular. Os sucessores, portanto, têm legitimidade para propor a ação de cobrança
da quantia correspondente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.907-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 14/2/17 (Info
598).

67.4. Súmula 580-STJ – (Info 590)

Súmula 580-STJ: A correção monetária nas indenizações do seguro DPVAT por


morte ou invalidez, prevista no § 7º do art. 5º da Lei nº 6.194/1974, redação dada
pela Lei nº 11.482/2007, incide desde a data do evento danoso.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/09/2016, DJe 19/09/2016 (Info 590).
OBS:
Resumindo:
 Existe correção monetária dos valores do DPVAT desde 2006? NÃO. Tais
valores foram previstos em quantias fixas e a MP e a Lei não previram formas
de corrigir essas quantias (infeliz opção do legislador, que não pode ser
consertada pelo Judiciário);
 Existe alguma forma de correção monetária dos valores do DPVAT? SIM. A
Lei prevê que, se a seguradora demorar mais que 30 dias para pagar a
indenização após o recebimento dos documentos, o beneficiário deverá receber
os valores com correção monetária, mas o termo inicial desta correção não é
2006 e sim a data do evento danoso.

O tema já estava pacificado no STJ por meio do REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 27/5/2015 (recurso repetitivo) (Info 563).

67.5. A intimação para perícia médica em ação de cobrança de DPVAT deve ser
pessoal – (Info 589)

Em ação de cobrança de seguro DPVAT, a intimação da parte para o


comparecimento à perícia médica deve ser pessoal, e não por intermédio de
advogado.
Não pode a intimação ser feita ao representante processual se o ato deve ser
pessoalmente praticado pela própria parte, como é o caso.
Recaindo a perícia sobre a própria parte, é necessária a sua intimação pessoal, não
por meio do seu advogado, uma vez que se trata de ato personalíssimo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.364.911-GO, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 1/9/16 (Info 589).
OBS: A intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e dos termos do
processo (art. 269 do CPC/2015). O comparecimento em perícia médica é ato que deve
ser necessariamente realizado pela parte interessada. Trata-se de ato personalíssimo.
Em razão disso, não se mostra suficiente a intimação por intermédio do advogado.
Sobre o tema, ensina Humberto Theodoro Júnior:
"Não valem as intimações feitas à parte quando o ato
processual a praticar deve ser do advogado. A contrario sensu,
não pode ser a intimação feita ao representante processual, se
o ato deve ser pessoalmente praticado pela parte." (Curso de
Direito Processual Civil. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
p. 300).

Existe outro precedente do STJ no mesmo sentido:


(...) 1. Em regra, a intimação será encaminhada à pessoa a
quem cabe desempenhar o ato comunicado. Tratando-se da
prática de atos postulatórios, a intimação deve ser dirigida
ao advogado; tratando-se da prática de ato personalíssimo
da parte, ela deve ser intimada pessoalmente.
2. Deve-se distinguir a intimação meramente comunicativa,
que cria ônus ou faz fluir prazos, da intimação que ordena
condutas e gera deveres para o intimado, como é o caso
daquela para a parte se submeter a perícia médica, cujo não
comparecimento "supre a prova que se pretendia obter com o
exame" (CC, art. 232).
3. Recaindo a perícia sobre a própria parte, é necessária a
intimação pessoal, não por meio do seu advogado, uma vez
que se trata de ato personalíssimo. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1309276/SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 26/04/16.

67.6. Aplicação da teoria da aparência em pagamento de indenização do seguro


DPVAT – (Info 585)

É válido o pagamento de indenização do Seguro DPVAT aos pais - e não ao filho -


do de cujus no caso em que os genitores, apresentando-se como únicos herdeiros,
entregaram os documentos exigidos pela Lei 6.194/74 para o aludido pagamento
(art. 5º, § 1º), dentre os quais certidão de óbito que afirmava que o falecido era
solteiro e não tinha filhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.601.533-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/6/16 (Info
585).

67.7. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
585)

Súmula 573-STJ: Nas ações de indenização decorrente de seguro DPVAT, a ciência


inequívoca do caráter permanente da invalidez, para fins de contagem do prazo
prescricional, depende de laudo médico, exceto nos casos de invalidez permanente
notória ou naqueles em que o conhecimento anterior resulte comprovado na fase
de instrução.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 22/06/2016, DJe 27/06/2016.
OBS:
O que é o DPVAT? O DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores
de Via Terrestres) é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos
automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não.
Qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou
por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso
abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus
respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que
passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista
e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o
pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de
DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre
receberão indenização de DPVAT por invalidez.

Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha
sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes
receberão a indenização normalmente.

O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais,


somente danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT? Os proprietários de veículos


automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim, sempre que o proprietário do
veículo paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia, um valor cobrado a título
de DPVAT. O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal,
de cunho social, sendo regulamentado pela Lei nº 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?


 no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)
 no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima)
 no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00
como reembolso a cada vítima.

Esses valores estão previstos textualmente no art. 3º da Lei 6.194/74 e foram previstos
nesta Lei por força da MP 340/06. Confira:
Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido
no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte,
por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de
assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as
regras que se seguem, por pessoa vitimada:
I - R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
morte;
II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
invalidez permanente; e
III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como
reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência
médica e suplementares devidamente comprovadas.

Obs: os três incisos acima foram incluídos pela Medida Provisória 340/06, convertida
na Lei 11.482/07. Antes, tais valores eram previstos em salários-mínimos.
Como a pessoa obtém a indenização do DPVAT? A pessoa deverá procurar uma das
empresas seguradoras que seja consorciada ao DPVAT e apresentar a documentação
necessária. Para requerer o seguro DPVAT não é necessário advogado, despachante
ou qualquer outra ajuda de terceiros.

Existe um prazo para pagamento? SIM. A Lei prevê que a indenização deve ser paga,
em cheque nominal aos beneficiários, no prazo de 30 dias da entrega dos documentos
que comprovem o acidente, o óbito, a invalidez etc. (art. 5º, § 1º).

Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a


indenização?
 no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não
fossem separados judicialmente, e o restante aos herdeiros da vítima,
obedecida a ordem da vocação hereditária. Não havendo cônjuge nem
herdeiros, serão beneficiários os que provarem que a morte da vítima os privou
dos meios necessários à subsistência.
 no caso de invalidez permanente: a própria vítima.
 no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima.

INVALIDEZ
O que é invalidez permanente para fins do DPVAT? Em um primeiro momento, a Lei
6.194/74 não previu o que seria invalidez permanente. Diante dessa lacuna, o
Conselho Nacional de Seguros Privados — CNSP elaborou uma tabela com diversas
situações que caracterizavam invalidez permanente. A MP 451/2008 e,
posteriormente, a Lei 11.945/2009, acrescentaram, então, um anexo à Lei 6.194/74,
prevendo expressamente, por meio de uma tabela, situações caracterizadoras de
invalidez permanente.

Essa lista prevista no anexo da Lei nº 6.194/74 é exaustiva ou exemplificativa?


Exemplificativa. Não é possível prever, por meio de uma listagem de situações, todas
as hipóteses de invalidez permanente, total ou parcial, de forma que, em última
análise, incumbe ao intérprete a definição do conteúdo daquele conceito jurídico
indeterminado.

Noutras palavras, as situações previstas na lista elaborada pelo CNSP, assim como as
presentes no anexo à Lei 6.194/74, constituem rol meramente exemplificativo, em
contínuo desenvolvimento, tanto pela ciência como pelo direito. Portanto, o não
enquadramento de uma determinada situação na lista previamente elaborada não
implica, por si só, a não configuração da invalidez permanente, sendo necessário o
exame das peculiaridades de cada caso concreto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.214-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/8/2013 (Info 530).

TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO NAS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO DO SEGURO


DPVAT
Caso a pessoa beneficiária do DPVAT não receba a indenização ou não concorde com
o valor pago pela seguradora, ela poderá buscar auxílio do Poder Judiciário? Sim. A
pessoa poderá ajuizar uma ação de cobrança contra a seguradora objetivando a
indenização decorrente de DPVAT.
Qual é o prazo para as ações decorrentes do DPVAT? A ação de cobrança do seguro
obrigatório DPVAT prescreve em 3 anos (Súmula 405-STJ).

A partir de quando se inicia a contagem desse prazo no caso da invalidez? O termo


inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência inequívoca do
caráter permanente da invalidez. Em outras palavras, conta-se da data em que a
pessoa teve ciência de que estava inválido permanentemente. Nesse sentido, existe
um enunciado do STJ:
Súmula 278-STJ: O termo inicial do prazo prescricional, na
ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca da incapacidade laboral.

Quando se considera que a pessoa teve ciência inequívoca da invalidez?


 REGRA: a ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez depende de
laudo médico. Assim, para efeitos de início do prazo prescricional, considera-
se que o segurado somente tem ciência da invalidez permanente quando é
produzido um laudo médico atestando essa condição.
 EXCEÇÕES: o prazo prescricional se inicia mesmo sem ter sido feito laudo
médico se:
a) a invalidez permanente for notória (ex: acidente no qual a
vítima teve amputada suas duas pernas); ou
b) se o conhecimento anterior resultar comprovado na fase de
instrução.

Dessa forma, exceto nos casos de invalidez permanente notória, ou naqueles em que
o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução, a ciência inequívoca
do caráter permanente da invalidez depende de laudo médico.

Resumindo:
 Prazo para a ação de indenização DPVAT: 3 anos.
 Início do prazo em caso de invalidez permanente: data do laudo médico
(regra geral).
 Exceções: o prazo prescricional se inicia mesmo sem ter sido feito laudo
médico se a invalidez permanente for notória (ex: acidente no qual a vítima
teve amputada suas duas pernas); ou se o conhecimento anterior resultar
comprovado na fase de instrução.

Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 27/8/2014 (Info 555).
Este entendimento pacífico do STJ foi materializado na Súmula 573 do STJ.

67.8. DPVAT não cobre acidentes causados por trem – (Info 582)

O Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via


terrestre (DPVAT) não cobre os danos de acidente ocasionado por trem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.647-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 12/4/16 (Info
582).

67.9. Súmula 544-STJ – (Info 567)


Súmula 544-STJ: É válida a utilização de tabela do Conselho Nacional de Seguros
Privados para estabelecer a proporcionalidade da indenização do seguro DPVAT
ao grau de invalidez também na hipótese de sinistro anterior a 16/12/2008, data da
entrada em vigor da Medida Provisória n. 451/2008.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 26/8/2015, DJe 31/8/2015 (Info 567).

67.10. Ilegitimidade do espólio para pleitear indenização do DPVAT no caso de


morte da vítima – (Info 565)

João faleceu em um acidente de trânsito, deixando esposa e filhos. Foi aberto


inventário, tendo sido nomeado seu irmão como inventariante. O espólio de João
ajuizou ação cobrando o pagamento da indenização do DVPAT. Agiu corretamente
o espólio de João? O espólio do morto poderá cobrar a indenização do DPVAT?
NÃO. O espólio, ainda que representado pelo inventariante, não possui
legitimidade ativa para ajuizar ação de cobrança do seguro obrigatório (DPVAT)
em caso de morte da vítima no acidente de trânsito.
Segundo a Lei do DPVAT, o valor indenizatório deve ser pago metade ao cônjuge
não separado judicialmente e o restante aos herdeiros da vítima, segundo a ordem
de vocação hereditária (art. 4º da Lei 6.194/1974).
Desse modo, depreende-se que o valor oriundo do DPVAT não integra o
patrimônio da vítima de acidente de trânsito. Em outras palavras, o valor da
indenização não é um crédito da vítima falecida. Não integra o patrimônio deixado
pelo morto.
O valor da indenização do DPVAT, em caso de morte, passa diretamente para os
beneficiários (cônjuge supérstite e demais herdeiros).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.419.814-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
23/6/2015 (Info 565).

67.11. Foro competente para ação discutindo o DPVAT – (Info 564)

Súmula 540-STJ: Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do


autor escolher entre os foros do seu domicílio, do local do acidente ou ainda do
domicílio do réu.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

67.12. Termo inicial da atualização monetária das indenizações relativas ao seguro


DPVAT – (Info 563) – Vide acima Info 590 – NOVA SÚMULA 580 DO STJ!!!

A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do


seguro DPVAT, prevista no § 7º do art. 5º da Lei 6194/74, redação dada pela Lei
11.482/2007, opera-se desde a data do evento danoso.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
27/5/2015 (Info 563).

67.13. Cessão de crédito relativo ao seguro DPVAT – (Info 562)


É possível a cessão de crédito relativo à indenização do seguro DPVAT decorrente
de morte.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.275.391-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
19/5/2015 (Info 562).

67.14. Prazo prescricional para cobrança ou complementação de valor do seguro


DPVAT – (Info 559)

Qual é o prazo que o beneficiário possui para ajuizar ação cobrando da seguradora
a indenização do DPVAT que não lhe foi paga? Qual é o termo inicial?
A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3 anos (Súmula
405-STJ e art. 206, § 3º, IX, do CC).
O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca do caráter permanente da invalidez ou da morte.

E se o beneficiário recebeu apenas uma parte do seguro, mas não concorda com o
valor e quer o pagamento do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$
10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00. Qual é o prazo neste caso?
O prazo de prescrição para o recebimento da complementação do seguro DPVAT
também é trienal. Não há motivo para que o prazo da ação pedindo o complemento
seja diferente daquele previsto para que se pleiteie o todo.
O prazo prescricional começa no dia que foi realizado o pagamento administrativo
que o beneficiário considera que tenha sido menor que o devido.
Em suma, a pretensão de cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro
DPVAT prescrevem em três anos, sendo o termo inicial, no último caso, o
pagamento administrativo considerado a menor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.347-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).

67.15. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
555)

O prazo prescricional no caso de ação de indenização do DPVAT é de 3 anos


(Súmula 405-STJ).
O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca do caráter permanente da invalidez.
Em regra, a pessoa somente tem ciência inequívoca da invalidez permanente com
o laudo médico que atesta essa situação. Assim, em regra, o termo inicial do prazo
é a data do laudo.
Exceções: o prazo prescricional se inicia mesmo sem ter sido feito laudo médico se:
a) a invalidez permanente for notória (ex: acidente no qual a vítima teve amputada
suas duas pernas); ou
b) se o conhecimento anterior resultar comprovado na fase de instrução.
STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Segunda Seção, julgado em 27/8/2014 (Info 555).

67.16. Acidente envolvendo máquina colheitadeira – (Info 550)


É possível o pagamento de indenização do DPVAT em caso de acidente envolvendo
máquina colheitadeira?
Depende. Apesar de a máquina “colheitadeira” ser também veículo automotor
agrícola, não se pode sempre enquadrá-la como veículo automotor para fins de
indenização pelo DPVAT:
• Se essa máquina colheitadeira era suscetível de trafegar por via pública: SIM,
será devido o DPVAT.
• Se não houver possibilidade de que essa máquina ande em via pública: NÃO.
Não será devido o DPVAT.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.342.178-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
14/10/2014 (Info 550).

67.17. Grávida que sofre aborto por causa de acidente de trânsito tem direito de
receber do DPVAT indenização pela morte do nascituro – (Info 547 do STJ) –
IMPORTANTE!!!

O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos


automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. Em
outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um
veículo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a
indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres
ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros.
O art. 3º, I, da Lei 6.194/74 afirma que deverá ser paga indenização do DPVAT aos
herdeiros do falecido no caso de morte no trânsito.
O STJ decidiu que, se uma gestante envolve-se em acidente de carro e, em virtude
disso, sofre um aborto, ela terá direito de receber a indenização por morte do
DPVAT, nos termos do art. 3º, I, da Lei 6.194/74.
O Ministro Relator afirmou expressamente que, em sua opinião, “o ordenamento
jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais à
teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão
enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
4/9/2014 (Info 547).

67.18. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
544)

O prazo prescricional no caso de ação de indenização do DPVAT é de 3 anos


(Súmula 405-STJ).
O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca do caráter permanente da invalidez.
Em regra, a pessoa somente tem ciência inequívoca da invalidez permanente com
o laudo médico que atesta essa situação. Assim, em regra, o termo inicial do prazo
é a data do laudo.
Exceção: nos casos de invalidez permanente notória, a ciência inequívoca da
invalidez não depende de laudo médico. Dessa forma, em caso de invalidez
notória, o termo inicial do prazo é a data da invalidez (em geral, a data do acidente).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 11/6/14
(recurso repetitivo) (Info 544).
OBS:
Resumindo:
 Prazo para a ação de indenização DPVAT: 3 anos.
 Início do prazo em caso de invalidez permanente: data do laudo médico
(regra geral).
 Início do prazo em caso de invalidez permanente notória: data da invalidez.

67.19. Valor recebido pela vítima do DPVAT e compensação com indenização


judicial fixada – (Info 540)

O valor correspondente à indenização do seguro de danos pessoais causados por


veículos automotores de via terrestre (DPVAT) pode ser deduzido do valor da
indenização por danos exclusivamente morais fixada judicialmente, quando os
danos psicológicos derivem de morte ou invalidez permanente causados pelo
acidente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.365.540-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/4/14 (Info 540).

68. CONSÓRCIO
68.1. Herdeiros de consorciado falecido e liberação da carta de crédito em razão da
quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista – (Info 596)

Em 2006, Maria celebrou com a “Caixa Consórcios” contrato de participação em


grupo de consórcio destinado à aquisição de um bem imóvel. Neste contrato havia
uma cláusula prevendo um seguro prestamista com cobertura para o risco de morte.
Isso significa que havia uma espécie de seguro de vida como pacto acessório ao
contrato de consórcio. Por meio deste seguro prestamista, a administradora do
consórcio afirmou o seguinte: se a contratante falecer antes de quitar todas as
parcelas do consórcio, a contratada (Caixa Consórcios) irá quitar o saldo devedor
relativo à cota da consorciada falecida, viabilizando não só a continuidade do grupo
consorcial, como também a proteção financeira da família da segurada. Antes do
fim do consórcio, Maria faleceu. Ocorre que a Caixa Consórcios recusou-se a pagar
a indenização do seguro (quitação do saldo devedor do consórcio)
O STJ decidiu que:
1) Os herdeiros de consorciado falecido antes do encerramento do grupo consorcial
detêm legitimidade para pleitear a liberação, pela administradora, do montante
constante da carta de crédito, quando ocorrido o sinistro coberto por seguro
prestamista.

2) Os herdeiros de consorciada falecida têm direito à liberação imediata da carta de


crédito, em razão da quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista,
independentemente da efetiva contemplação ou do encerramento do grupo
consorcial, nos termos da norma regulamentar vigente à época da contratação do
consórcio (Circular Bacen 2.766/97).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.406.200-AL, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
17/11/2016 (Info 596).

68.2. Taxa de administração de administradoras de consórcio – (Info 564)


Súmula 538-STJ: As administradoras de consórcio têm liberdade para estabelecer a
respectiva taxa de administração, ainda que fixada em percentual superior a dez
por cento.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

69. PROPRIEDADE INTELECTUAL


69.1. Ideias e indicações de bibliografia não gozam de proteção dos direitos de autor
– (Info 600)

As ideias que servem de base e a bibliografia de que se vale autor de texto de


dissertação de mestrado não estão abarcadas pela proteção aos direitos de autor.
Ex: determinada pessoa fez uma dissertação de mestrado envolvendo literatura de
vampiros; algum tempo depois, a Faculdade criou uma disciplina na pós-graduação
envolvendo esta temática e utilizando parte da bibliografia mencionada na
dissertação. Embora o texto de sua dissertação e das suas conferências realizadas
em eventos acadêmicos esteja protegido pela Lei de Direitos Autorais, as ideias que
lhe serviram de base, bem como a bibliografia de que se valeu para a realização da
pesquisa não estão abrangidas pela proteção aos direitos de autor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.528.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 7/3/17
(Info 600).

69.2. É indevida a cobrança de direitos autorais em caso de festa junina promovida


pela escola com fins didáticos, pedagógicos e de integração, sem intuito de lucro –
(Info 587) – IMPORTANTE!!!

É indevida a cobrança de direitos autorais pela execução, sem autorização prévia


dos titulares dos direitos autorais ou de seus substitutos, de músicas folclóricas e
culturais em festa junina realizada no interior de estabelecimento de ensino, na
hipótese em que o evento tenha sido organizado como parte de projeto pedagógico,
reunindo pais, alunos e professores, com vistas à integração escola-família, sem
venda de ingressos e sem a utilização econômica das obras.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.575.225-SP, Rel. Min. Raul Araújo, j. 22/6/16 (Info 587).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O colégio "Bons Estudos" realizou uma festa
junina na quadra da escola contando com a participação dos alunos e pais. Durante a
festa foram executadas diversas músicas folclóricas e culturais, tendo havido danças
típicas etc. Após o evento, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD)
ajuizou ação de cobrança contra o colégio alegando que, mesmo notificada, a escola
não pagou os valores relativos aos direitos autorais das músicas executadas durante a
festa. A cobrança realizada foi feita com base no art. 29, VIII, "b" e art. 68 da Lei nº
9.610/98:

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a


utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:
(...)
VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística
ou científica, mediante:
a) representação, recitação ou declamação;
b) execução musical;
Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular,
não poderão ser utilizadas obras teatrais, composições
musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações
e execuções públicas.

O colégio contestou a demanda argumentando que o evento foi gratuito e sem objetivo
de lucro. Alegou que se tratava de uma confraternização entre pais, alunos e
professores, fazendo parte do programa pedagógico da escola.

O pedido do ECAD deve ser julgado procedente? NÃO.

Em regra, mesmo que o evento não vise o lucro, deverá haver pagamento de direitos
autorais: A Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais), em regra, não exige que o evento
tenha finalidade lucrativa (direta ou indireta) para que seja obrigatório o pagamento
dos direitos autorais. Em outras palavras, em regra, mesmo a exibição da obra não
tenha objetivo de lucro, ainda assim é dever o pagamento da retribuição autoral. O
fato gerador do pagamento dos direitos autorais é a exibição pública da obra artística,
em local de frequência coletiva.

Exceção: execução musical nos estabelecimentos de ensino sem intuito de lucro: A


regra acima exposta tem uma exceção prevista no art. 46, VI, da Lei nº 9.610/98. Veja:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


(...) VI - a representação teatral e a execução musical, quando
realizadas no recesso familiar ou, para fins exclusivamente
didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo em
qualquer caso intuito de lucro;

A regra prevista no art. 46, VI, por ser especial, tem prevalência sobre os arts. 29 e 68,
que são consideradas regras gerais. Assim, o caráter pedagógico da atividade -
execução de músicas culturais e folclóricas em festa junina - ocorrida, sem fins
lucrativos, no interior de estabelecimento de ensino, justifica o não cabimento da
cobrança de direitos autorais.

Deve ser analisado o evento no caso concreto: O STJ esclareceu que cada solução
dependerá do caso concreto, pois as circunstâncias de cada evento é que irão
determinar seu devido enquadramento.

Quermesse, casamento, batizado, hotel e hospital: deverá haver pagamento de


direitos autorais: Ressalte-se, por fim, que o STJ tem posição consolidada no sentido
de que é devido o pagamento de direitos autorais nos casos de reprodução musical
realizada no âmbito de quermesses (inclusive de igrejas), casamentos, batizados, hotel
e hospital. Esse entendimento continua em vigor. Isso porque tais situações não se
enquadram no art. 46, VI, devendo incidir, portanto, a regra geral de proteção ao
direito do autor.

69.3. Ação de cobrança de direitos autorais proposta pelo ECAD


Na ação de cobrança de direitos autorais proposta pelo ECAD em desfavor de
sociedade empresária executante de serviço de radiodifusão, o Termo de
Comprovação de Utilização Musical não é fonte de prova imprescindível para
comprovação do fato constitutivo do direito do autor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.391.090-MT,Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
22/9/2015 (Info 570).

69.4. Pagamento de direitos autorais pela execução pública de fonogramas inseridos


em trilhas sonoras de filmes – (Info 566)

É possível a suspensão ou a interrupção da transmissão ou retransmissão públicas


de obra audiovisual por sociedade empresária do ramo cinematográfico no caso em
que não houver o prévio pagamento dos direitos autorais referentes à transmissão
ou à retransmissão dos fonogramas que componham a trilha sonora da obra
cinematográfica, ainda que os detentores dos direitos autorais dos fonogramas
tenham concedido, ao diretor ou ao produtor da obra cinematográfica, autorizações
para inserção das suas obras na trilha sonora do filme.
STJ. 3ª Turma. AgRg no AgRg no REsp 1.484.566-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 6/8/2015 (Info 566).

69.5. Pagamento de direitos autorais pela execução de músicas em supermercado –


(Info 542)

É devido o pagamento de direitos autorais ao ECAD pela transmissão radiofônica


de músicas em supermercado, quando essas forem executadas sem autorização de
seus autores, independentemente da obtenção de lucro direto ou indireto pelo
estabelecimento comercial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.152.820-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 5/6/14 (Info 542).

69.6. É válida a tabela de preços de direitos autorais instituída pelo próprio ECAD

É válido o critério de estimativa da receita bruta do evento realizado, previsto em


regulamento de arrecadação do ECAD, para se cobrar os valores devidos pela
execução de obras musicais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.160.483-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 10/6/14 (Info 543).

70. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO


70.1. Súmula 586-STJ – (Info 595)

Súmula 586-STJ: A exigência de acordo entre o credor e o devedor na escolha do


agente fiduciário aplica-se, exclusivamente, aos contratos não vinculados ao
Sistema Financeiro da Habitação – SFH.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 19/12/2016.

70.2. Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião – (Info 594)
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de
Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado
como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/11/16 (Info 594).
OBS:
Segundo o art. 98 do Código Civil: Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não
poderia ser considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é
uma empresa pública federal (pessoa jurídica de direito privado).

No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele
pertencente à pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço
público, quando este bem estiver vinculado à prestação dessa atividade. Nesse
sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. Salvador:
JusPodivm, 2015, p. 391.

Esta orientação é acolhida pela jurisprudência, conforme aconteceu quando o STF


reconheceu que os bens dos Correios (empresa pública federal) são impenhoráveis:
Os bens, as rendas e os serviços da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos são impenhoráveis, e a execução deve
observar o regime de precatórios.
STF. 1ª Turma. RE 393032 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 27/10/2009.

70.3. Inexistência de direito de retenção por benfeitorias realizadas antes de


adjudicação de imóvel vinculado ao SFH – (Info 585)

O ex-mutuário de imóvel dado em garantia hipotecária em financiamento do


Sistema Financeiro da Habitação (SFH) não tem direito à retenção pelas
benfeitorias realizadas no bem antes da adjudicação.
Quanto às benfeitorias realizadas após a adjudicação, deve-se analisar se há boa-fé
ou má-fé na posse. Havendo má-fé do ex-mutuário possuidor (o que é a regra), ele
não tem direito de retenção pelas benfeitorias realizadas no imóvel após a
adjudicação, mas poderá ser indenizado pelas benfeitorias necessárias (art. 1.220
do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.399.143-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 7/6/16
(Info 585).

70.4. Termo inicial da taxa de ocupação de imóvel alienado fiduciariamente no


âmbito do SFH – (Info 574)

Na hipótese em que frustrados os públicos leilões promovidos pelo fiduciário para


a alienação do imóvel objeto de alienação fiduciária no âmbito do Sistema
Financeiro da Habitação (SFH), a taxa de ocupação será exigível do fiduciante em
mora a partir da data na qual se considera extinta a dívida (art. 27, § 5º, da Lei nº
9.514/97), e não desde a data da consolidação da propriedade em nome do fiduciário
(art. 27, caput, da Lei nº 9.514/97).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.401.233-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/11/15
(Info 574).

70.5. Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH – (Info
561)

Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de


Financiamento de Habitação (SFH) as disposições da Lei 10.931/2004, mormente as
referentes aos requisitos da petição inicial de ação de revisão de cláusulas
contratuais (art. 50).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.283-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 7/4/15 (Info 561).

70.6. Utilização de Tabela Price nos contratos do SFH – (Info 554)

A análise acerca da legalidade da utilização da Tabela Price - mesmo que em


abstrato - passa, necessariamente, pela constatação da eventual capitalização de
juros (ou incidência de juros compostos, juros sobre juros ou anatocismo), que é
questão de fato e não de direito, motivo pelo qual não cabe ao STJ tal apreciação
(Súmulas 5 e 7 do STJ).
É exatamente por isso que, em contratos cuja capitalização de juros seja vedada, é
necessária a interpretação de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica
para aferir a existência da cobrança de juros não lineares, incompatíveis, portanto,
com financiamentos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação
antes da vigência da Lei 11.977⁄2009, que acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380⁄1964.
Em se verificando que matérias de fato ou eminentemente técnicas foram tratadas
como exclusivamente de direito, reconhece-se o cerceamento, para que seja
realizada a prova pericial.
STJ. Corte Especial. REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial,
julgado em 3/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 554).

70.7. A quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário nos contratos


sem FCVS – (Info 550) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!

Nos contratos de financiamento celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de


Habitação (SFH), sem cláusula de garantia de cobertura do Fundo de Compensação
das Variações Salariais (FCVS), o saldo devedor residual deverá ser suportado pelo
mutuário.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.447.108-CE e REsp 1.443.870-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 22/10/14 (recurso repetitivo) (Info 550).

71. DIREITOS AUTORAIS


71.1. Gravação de mensagem de voz para central telefônica não pode ser enquadrada
como direito conexo ao de autor – (Info 606)
Gravação de mensagem de voz para central telefônica não pode ser enquadrada
como direito conexo ao de autor, por não representar execução de obra literária ou
artística ou de expressão do folclore.
O uso indevido de voz de locutora profissional em gravação de saudação telefônica,
que não se enquadre como direito conexo ao de autor, não encontra proteção na Lei
de Direitos Autorais.
Isso porque a Lei nº 9.610/98 protege apenas os intérpretes ou executantes: de obras
literárias ou artísticas; ou de expressões do folclore. A simples locução de uma
saudação telefônica não se enquadra nessas situações que merecem proteção da Lei
nº 9.610/98.

Os direitos da personalidade podem ser objeto de disposição voluntária, desde que


não permanente nem geral
O exercício dos direitos da personalidade pode ser objeto de disposição voluntária,
desde que não permanente nem geral, estando condicionado à prévia autorização
do titular e devendo sua utilização estar de acordo com o contrato estabelecido
entre as partes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.630.851-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 27/4/17
(Info 606).

71.2. Cobrança de direitos autorais em caso de hotel equipado com TV – (Info 606)

Hotéis pagam direitos autorais ao ECAD pelo simples fato de os quartos serem
equipados com TV
A simples disponibilização de aparelhos radiofônicos (rádios) e televisores em
quartos de hotéis, motéis, clínicas e hospitais autoriza a cobrança de direitos
autorais por parte do ECAD.

Se o quarto do hotel for equipado com TV por assinatura, tanto a empresa de TV a


cabo como o hotel pagarão direitos autorais
Não há bis in idem nas hipóteses de cobrança de direitos autorais tanto da empresa
exploradora do serviço de hotelaria (hotel) como da empresa prestadora dos
serviços de transmissão de sinal de TV por assinatura (ex: NET).

Prazo prescricional para o ECAD ajuizar ação cobrando direitos autorais


A cobrança em juízo dos direitos decorrentes da execução de obras musicais sem
prévia e expressa autorização do autor envolve pretensão de reparação civil, a atrair
a aplicação do prazo de prescrição de 3 anos de que trata o art. 206, § 3º, V, do
Código Civil.

ECAD não pode cobrar multa moratória prevista em seu regulamento


Por ausência de previsão legal e ante a inexistência de relação contratual, é
descabida a cobrança de multa moratória estabelecida unilateralmente em
Regulamento de Arrecadação do ECAD.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.589.598-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/6/2017
(Info 606).

71.3. Na antiga Lei de Direitos Autorais, o contrato de cessão de direitos precisava


ser averbado à margem do registro para que pudesse ter eficácia contra terceiros –
(Info 599)
A Lei 5.988/73 (antiga Lei de Direitos Autorais) exigia que o contrato de cessão de
direitos de obra musical fosse averbado à margem do registro no órgão competente
para que pudesse ter eficácia contra terceiros. Isso estava previsto no art. 53, § 1º
(Para valer perante terceiros, deverá a cessão ser averbada à margem do registro a
que se refere o artigo 17).
É possível averbar o contrato de cessão de direitos autorais firmado na vigência da
Lei nº 5.988/73 mesmo sem que tenha havido anterior registro da obra por seu
titular no órgão oficial competente. Em outras palavras, ainda que o titular dos
direitos autorais sobre a música (cedente) não tenha registrado sua canção no
registro adequado, o cessionário tem legitimidade para fazer a averbação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.500.635-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 21/2/17 (Info 599).

71.4. Transmissão de músicas por streaming exige pagamento de direitos autorais


ao ECAD – (Info 597) – IMPORTANTE!!!

A transmissão de músicas por meio da rede mundial de computadores mediante o


emprego da tecnologia streaming (webcasting e simulcasting) demanda autorização
prévia e expressa pelo titular dos direitos de autor e caracteriza fato gerador de
cobrança pelo ECAD relativa à exploração econômica desses direitos.
STJ. 2ª Seção. REsp 1559264/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 08/02/17 (Info
597).

71.5. Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais – (Info 594)
– IMPORTANTE!!!

Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura
como encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais,
conforme interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98. Assim,
ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização,
caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/10/16 (Info
594).

71.6. Imagem da fachada do imóvel utilizada em propaganda comercial com


permissão do proprietário, mas sem autorização do autor do projeto – (Info 594)

O autor de projeto de obra arquitetônica, ainda que situada permanentemente em


logradouros públicos, integrando de modo indissociável o meio ambiente, a
compor a paisagem como um todo, faz jus ao ressarcimento por danos de ordem
material e moral em virtude da representação por terceiros de sua obra, com fins
comerciais, sem a devida autorização e indicação de autoria, ainda que tenha
havido aquiescência do proprietário da obra.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.617-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 22/11/16 (Info
594).

71.7. Responsabilidade pelo pagamento de direitos autorais decorrentes de evento


executado por sociedade empresária contratada mediante licitação – (Info 588)
Se o Município contratou, mediante licitação, uma empresa para a realização do
evento, será dela a responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais.
Exceções: esta responsabilidade poderá ser transferida para o Município em duas
hipóteses:
1) se ficar demonstrado que o Poder Público colaborou direta ou indiretamente para
a execução do espetáculo; ou
2) se ficar comprovado que o Município teve culpa em seu dever de fiscalizar o
cumprimento do contrato público (culpa in eligendo ou in vigilando).
Em síntese: no caso em que sociedade empresária tenha sido contratada mediante
licitação para a execução integral de evento festivo promovido pelo Poder Público,
a contratada - e não o ente que apenas a contratou, sem colaborar direta ou
indiretamente para a execução do espetáculo - será responsável pelo pagamento dos
direitos autorais referentes às obras musicais executadas no evento, salvo se
comprovada a ação culposa do contratante quanto ao dever de fiscalizar o
cumprimento dos contratos públicos (culpa in eligendo ou in vigilando).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16
(Info 588).
OBS:
Por que o dever de pagar os direitos autorais é da empresa contratada para realizar
o evento? De acordo com o § 4º do art. 68 da Lei 9.610/98, antes da realização do evento
em que haverá a execução pública de obras musicais, o "empresário" deve apresentar
ao ECAD a comprovação dos recolhimentos relativos aos direitos autorais. Se houver
o descumprimento desta obrigação, cabe ao ECAD cobrar a dívida, judicial ou
extrajudicialmente. Desse modo, quando o § 4º do art. 68 fala em "empresário",
entende-se a pessoa responsável pela realização do evento.

E qual é o fundamento para não se cobrar, a princípio, do Município? O fundamento


para esta conclusão encontra-se no art. 71 da Lei nº 8.666/93:
Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos
trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes
da execução do contrato.
§ 1º A inadimplência do contratado, com referência aos
encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à
Administração Pública a responsabilidade por seu
pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou
restringir a regularização e o uso das obras e edificações,
inclusive perante o Registro de Imóveis.
§ 2º A Administração Pública responde solidariamente com o
contratado pelos encargos previdenciários resultantes da
execução do contrato, nos termos do art. 31 da Lei nº 8.212, de
24 de julho de 1991.

A única exceção está expressamente prevista no § 2º do art. 71 da Lei nº 8.666/93,


segundo o qual a Administração Pública responde solidariamente com o contratado
pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato. Fora dessa
específica hipótese, não há que se falar em responsabilidade solidária do ente público.

No julgamento da ADC nº 16/DF, o STF declarou a constitucionalidade do referido


art. 71.
Desde então, a jurisprudência entende que o ente público, em regra, não responde
pelos débitos da empresa contratada, salvo se provado que contribuiu culposamente
para o resultado danoso. Confira:
(...) Na ADC 16, este Tribunal afirmou a tese de que a
Administração Pública não pode ser responsabilizada
automaticamente por débitos trabalhistas de suas contratadas
ou conveniadas. Só se admite sua condenação, em caráter
subsidiário, quando o juiz ou tribunal conclua que a entidade
estatal contribuiu para o resultado danoso ao agir ou omitir-
se de forma culposa (in eligendo ou in vigilando). (...)
STJ. 1ª Turma. Rcl 16.846 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j.
19/5/15.

Os valores pagos a título de direito autoral estão incluídos nos encargos de que trata
o art. 71? SIM. Os direitos autorais cobrados pelo ECAD possuem natureza jurídica
eminentemente privada e, portanto, consideram-se inseridos no conceito de "encargos
comerciais".

72. ARBITRAGEM
72.1. O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no
polo passivo de eventual ação anulatória – (Info 613)

A instituição arbitral, por ser simples administradora do procedimento arbitral, não


possui interesse processual nem legitimidade para integrar o polo passivo da ação
que busca a sua anulação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/9/17
(Info 613).
OBS:
Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de
conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja
decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é
uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é
resolvido por um terceiro.

Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo


também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem: As partes interessadas podem submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º). Convenção de
arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
 a cláusula compromissória e
 o compromisso arbitral.

Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória,


também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).
A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei nº 9.307/96:
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da
qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato.

Compromisso arbitral: O compromisso arbitral é...


- um acordo (convenção) feito entre as partes
- após o conflito já ter surgido,
- por meio do qual se combina que a solução desta lide
- não será resolvida pelo Poder Judiciário,
- mas sim por intermédio da arbitragem.

No compromisso arbitral, as partes renunciam ao seu direito de buscar a atividade


jurisdicional estatal e decidem se valer da arbitragem.

OBS.: Diferença entre a cláusula compromissória e o compromisso arbitral:


Cláusula compromissória Compromisso arbitral
É uma convenção de arbitragem em que É uma convenção de arbitragem
as partes declaram que qualquer conflito posterior ao conflito. O conflito surgiu e
futuro será resolvido por arbitragem. as partes decidem resolvê-lo por
arbitragem.
É uma cláusula prévia e abstrata, que É pactuado após o conflito ter surgido e
não se refere a um conflito específico. se refere a um problema concreto, já
instaurado.
Em regra, mesmo havendo a cláusula Mesmo que não exista cláusula
compromissória no contrato, as partes compromissória no contrato, as partes
ainda precisarão de um compromisso poderão decidir estabelecer um
arbitral para regular como a arbitragem compromisso arbitral para resolver o
será feita. conflito.
Exceção: Fredie Didier ressalta que não
será necessário o compromisso arbitral
se a cláusula compromissória for
completa, ou seja, contiver todos os
elementos para a instauração imediata
da arbitragem (exs.: quem serão os
árbitros, o direito a ser aplicável, o tempo
de duração etc.).
Regras para a escolha dos árbitros: As regras relacionadas à escolha dos árbitros estão
previstas nos arts. 13 a 18 da Lei nº 9.307/96.

Quem pode ser árbitro? Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiança das
partes (art. 13). As partes que escolhem quem elas querem como árbitro. As partes
nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também,
suplentes.

Órgão arbitral institucional ou entidade especializada: Em vez de as partes


escolherem individualmente os árbitros que irão julgar a causa, elas podem ainda
escolher um órgão arbitral institucional ou entidade especializada.
Órgão arbitral institucional ou entidade especializada é uma pessoa jurídica
constituída para a solução extrajudicial de conflitos por meio da mediação,
negociação, conciliação e arbitragem. Também pode ser chamada de “instituição
arbitral”.
Desse modo, as partes poderão, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha
dos árbitros ou adotar as regras de um órgão arbitral institucional ou entidade
especializada (art. 13, § 3º).

Escolha de árbitros caso as partes optem por um órgão arbitral institucional ou


entidade especializada: Se as partes escolherem um órgão arbitral institucional ou
entidade especializada para solucionar a causa, a seleção dos árbitros será feita, em
princípio, pelas regras previstas no estatuto da entidade. Normalmente, tais entidades
possuem uma lista de árbitros previamente cadastrados e a escolha recai sobre um
desses nomes.

Feita esta revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética: A empresa
“BM” mantinha um contrato com a empresa “PP”. No contrato havia uma cláusula
compromissória definindo que os litígios que surgissem envolvendo as empresas
deveriam ser resolvidos pela “Câmara de Arbitragem Empresarial Norte Sul -
CAENS”, uma instituição arbitral, ou seja, uma pessoa jurídica especializada na
solução extrajudicial de conflitos por meio da arbitragem. A CAENS julgou o conflito
em favor da empresa “BM”. Inconformada, a empresa “PP” propôs contra a empresa
“BM” e contra a “CAENS” ação anulatória de processo arbitral sob o argumento de
que o consentimento para a instauração da arbitragem não foi dado pelo verdadeiro
representante legal da empresa, mas sim por uma gerente que não tinha poderes para
tanto. Em contestação, a “CAENS” arguiu preliminar de ilegitimidade passiva
argumentando que é apenas uma instituição administradora de procedimentos
arbitrais. Sua prestação de serviços restringe-se às atividades de apoio técnico,
logístico e operacional às partes e aos árbitros, sendo que sua atuação institucional não
envolve quaisquer atos jurisdicionais decisórios, cuja competência é exclusiva do
árbitro.

A instituição arbitral deve ou não figurar no polo passivo da ação anulatório de


processo arbitral? NÃO. O órgão arbitral institucional é uma entidade de natureza
essencialmente administrativa e a sua atuação não envolve nenhum ato
jurisdicional, cuja competência é exclusiva dos árbitros nomeados pelas partes. Vale
registrar que, segundo a doutrina especializada, nem mesmo os árbitros, embora
prolatores do ato considerado viciado, teriam, em tese, legitimidade para integrar o
polo passivo da ação anulatória de sentença arbitral. Logo, com muito mais razão, a
instituição arbitral (que só tem funções administrativas) é parte ilegítima. A ação
anulatória de sentença arbitral é como se fosse uma ação rescisória de sentença
judicial. Em uma ação rescisória, o juiz que prolatou a sentença não figura como réu.
O réu da ação rescisória é a parte que figurou na relação original. Esse mesmo
raciocínio deve ser transportado para a ação anulatória de processo arbitral.

Em suma:
A instituição arbitral, por ser simples administradora do
procedimento arbitral, não possui interesse processual nem
legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a
sua anulação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/9/17 (Info 613).

72.2. O STJ não irá homologar a sentença arbitral estrangeira se constatar que o
árbitro que participou do procedimento não gozava de imparcialidade – (Info 605)

A prerrogativa de imparcialidade do julgador aplica-se à arbitragem e sua


inobservância resulta em ofensa direta à ordem pública nacional – o que legitima
o exame da matéria pelo Superior Tribunal de Justiça, independentemente de
decisão proferida pela Justiça estrangeira acerca do tema.
STJ. Corte Especial. SEC 9.412-EX, Rel. Min. Felix Fischer, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, j. 19/4/2017 (Info 605).
OBS:
Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de
conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja
decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é
uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é
resolvido por um terceiro.

Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo


também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem: As partes interessadas podem submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º). Convenção de
arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
 a cláusula compromissória e
 o compromisso arbitral.

Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória,


também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura
surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão
resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96
e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma
apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da
Câmara de Arbitragem)."

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9.307/96:


Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da
qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato.

É possível alegar a parcialidade de um árbitro? SIM. Os árbitros, assim como os juízes


togados, possuem o dever de imparcialidade, estando isso expresso na Lei nº 9.307/96:
Art. 14. Estão impedidos de funcionar como árbitros as
pessoas que tenham, com as partes ou com o litígio que lhes
for submetido, algumas das relações que caracterizam os
casos de impedimento ou suspeição de juízes, aplicando-se-
lhes, no que couber, os mesmos deveres e responsabilidades,
conforme previsto no Código de Processo Civil.
§ 1º As pessoas indicadas para funcionar como árbitro têm o
dever de revelar, antes da aceitação da função, qualquer fato
que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e
independência.
(...)
A Lei prevê, inclusive, um procedimento para a arguição de suspeição ou
impedimento do árbitro:
Art. 20. A parte que pretender arguir questões relativas à
competência, suspeição ou impedimento do árbitro ou dos
árbitros, bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da
convenção de arbitragem, deverá fazê-lo na primeira
oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da
arbitragem.
§ 1º Acolhida a arguição de suspeição ou impedimento, será o
árbitro substituído nos termos do art. 16 desta Lei,
reconhecida a incompetência do árbitro ou do tribunal
arbitral, bem como a nulidade, invalidade ou ineficácia da
convenção de arbitragem, serão as partes remetidas ao órgão
do Poder Judiciário competente para julgar a causa.
§ 2º Não sendo acolhida a arguição, terá normal
prosseguimento a arbitragem, sem prejuízo de vir a ser
examinada a decisão pelo órgão do Poder Judiciário
competente, quando da eventual propositura da demanda de
que trata o art. 33 desta Lei.

Qual é a exigência para que uma sentença arbitral estrangeira produza efeitos no
Brasil? Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira
está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 35 da Lei
nº 9.307/96). Essa homologação segue o mesmo procedimento adotado para
homologação das demais sentenças estrangeiras.
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: A empresa 1
(EUA) possuía um contrato de fornecimento de mercadorias com a empresa 2
(brasileira). O contrato foi celebrado nos EUA. Após algum tempo, houve um
desentendimento entre as empresas acerca do cumprimento do pacto. No contrato
havia uma cláusula compromissória definindo que os litígios que surgissem
envolvendo as empresas deveriam ser resolvidos pelo Tribunal Arbitral de Nova
Iorque. Foi, então, instaurado um procedimento de arbitragem. O Tribunal Arbitral
designou o árbitro David Coper para presidir a arbitragem. A empresa 2 alegou a
parcialidade deste árbitro sob o argumento de que ele é sócio do escritório de
advocacia que defendeu os interesses da empresa 1 em outras operações e que recebeu
vultosa quantia de honorários, inclusive no curso da arbitragem. O Tribunal Arbitral
negou o pedido da empresa 2 e David continuou como árbitro. Ao final, o Tribunal
Arbitral considerou que a empresa 1 tinha razão na disputa contratual. Diante disso,
a empresa 2 ingressou com ação na Justiça dos EUA pedindo a anulação da sentença
arbitral em virtude da parcialidade do árbitro. O pedido, contudo, foi julgado
improcedente. A empresa 1 (vencedora da sentença arbitral) pediu ao STJ a
homologação da sentença arbitral. A empresa 2 novamente alegou que a sentença
arbitral seria nula, considerando que dela participou árbitro suspeito.

Nesse cenário, o que decidiu o STJ? O STJ poderá examinar novamente esta alegação
da parcialidade do árbitro mesmo isso já tendo sido rejeitado pela Justiça dos EUA?
SIM. O STJ negou a homologação da sentença arbitral estrangeira sob o argumento de
que o árbitro, de fato, não gozava de imparcialidade.

O STJ, ao examinar se homologa ou não a sentença arbitral estrangeira, não está


vinculado ao resultado da ação anulatória proposta perante a Justiça dos EUA.
Quando o STJ analisa a possibilidade de homologação de sentença estrangeira, ele
verifica se foram observados os requisitos formais previstos no art. 5º da Resolução nº
9/2005-STJ e se a sentença estrangeira ofende a soberania ou a ordem pública nacional.

A imparcialidade do julgador é uma das garantias do devido processo legal, também


aplicável à arbitragem. A inobservância da imparcialidade ofende, diretamente, a
ordem pública nacional. Assim, a sentença proferida pela Justiça Federal americana à
luz de sua própria legislação não tem o condão de obstar o exame do STJ quanto a
possível ofensa à ordem pública nacional decorrente da alegada imparcialidade do
árbitro.

A relação do árbitro com a empresa 1 pode se enquadrar na hipótese de suspeição


prevista no art. 145, III, do CPC:
Art. 145. Há suspeição do juiz:
(...)
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora,
de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em
linha reta até o terceiro grau, inclusive;

Portanto, o recebimento pelo escritório de advocacia do árbitro-presidente de vultosa


quantia paga por uma das partes no curso da arbitragem configura hipótese objetiva
passível de comprometer a isenção do árbitro.

Vale ressaltar que a Lei nº 9.307/96 afirma que “é nula a sentença arbitral se emanou
de quem não podia ser árbitro” (art. 32, II).
72.3. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser
observado o art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!! (TJSP-2013)

A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim,
é um contrato de adesão.
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula
compromissória só terá eficácia se o aderente:
 tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
 concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de
consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º,
da Lei 9.307/96.
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de
franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).

72.4. Competência para declarar nulidade de cláusula de compromisso arbitral –


(Info 591) – IMPORTANTE!!!

O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória)


sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro?
Regra: Não. Segundo o art. 8º, § único da Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96), antes de
judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve
formular esse pedido ao próprio árbitro.
Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos
em que prima facie é identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é,
claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula, independentemente do
estado em que se encontre o procedimento arbitral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/2016 (Info 591).
OBS:
Em que consiste a arbitragem? Arbitragem representa uma técnica de solução de
conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a solução de seu litígio seja
decidida por uma terceira pessoa, de sua confiança. Vale ressaltar que a arbitragem é
uma forma de heterocomposição, isto é, instrumento por meio do qual o conflito é
resolvido por um terceiro.

Regulamentação: A arbitragem, no Brasil, é regulada pela Lei 9.307/96, havendo


também alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Convenção de arbitragem: As partes interessadas podem submeter a solução de seus


litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem (art. 3º). Convenção de
arbitragem é o gênero, que engloba duas espécies:
 a cláusula compromissória e
 o compromisso arbitral.
Em que consiste a chamada cláusula compromissória? A cláusula compromissória,
também chamada de cláusula arbitral, é...
- uma cláusula prevista no contrato,
- de forma prévia e abstrata,
- por meio da qual as partes estipulam que
- qualquer conflito futuro relacionado àquele contrato
- será resolvido por arbitragem (e não pela via jurisdicional estatal).

Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura
surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão
resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96
e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma
apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da
Câmara de Arbitragem)."

A cláusula compromissória está prevista no art. 4º da Lei 9.307/96:


Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da
qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: “X” e “Y” celebram um contrato e


estipulam, no pacto, uma cláusula compromissória, ou seja, uma previsão contratual
na qual as partes dizem que qualquer conflito futuro relacionado com o ajuste será
resolvido por meio de arbitragem. Após um tempo, “X” e “Y” começam a discordar
quanto ao cumprimento do contrato. “X” ajuíza ação anulatória na vara cível da
Justiça Estadual, alegando que essa cláusula arbitral é nula.

O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória)


sem que essa questão tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro?
REGRA: NÃO. Segundo a Lei de Arbitragem (Lei 9.307/96), antes de judicializar a
questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse
pedido ao próprio árbitro, nos termos do art. 8º, parágrafo único:
Art. 8º (...) Parágrafo único. Caberá ao árbitro decidir de ofício,
ou por provocação das partes, as questões acerca da
existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e
do contrato que contenha a cláusula compromissória.

Assim, por expressa previsão legal, não pode a parte ajuizar ação anulatória para
desconstituir acordo com base na nulidade da cláusula compromissória ali presente
antes de submeter o assunto ao árbitro.

Vale ressaltar que não haverá prejuízo à parte porque, mesmo se o árbitro considerar
que a cláusula é válida (e julgar a arbitragem), essa questão da nulidade poderá ser
apreciada pelo Poder Judiciário em momento posterior. Isso porque, para fazer
cumprir a sentença arbitral, o credor terá que ajuizar uma execução judicial. Nesse
momento, o devedor poderá se defender por meio de embargos à execução alegando
a nulidade da cláusula arbitral e, consequentemente, da sentença arbitral.

Nesse sentido é a jurisprudência do STJ:


Segundo a Lei de Arbitragem (art. 8º, parágrafo único, da Lei
9.307/96), se a parte quiser arguir a nulidade da cláusula
arbitral, deverá formular esse pedido, em primeiro lugar, ao
próprio árbitro, sendo inadmissível que ajuíze diretamente
ação anulatória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.302.900-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, j.
9/10/012.

As questões relacionadas à existência de cláusula


compromissória válida para fundamentar a instauração do
Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e
não pelo Poder Judiciário.
Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem,
a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem como do
contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro
lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo prematura a
apreciação pelo Poder Judiciário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, j.
09/08/16.

EXCEÇÃO: O STJ relativizou esta regra e decidiu que se a nulidade da cláusula


compromissória for muito evidente, será possível ao Poder Judiciário declarar a sua
invalidade mesmo sem que este pedido tenha sido formulado, em primeiro lugar, ao
próprio árbitro. Veja trecho da ementa e fique atento para a expressão "compromisso
arbitral patológico", que poderá ser cobrada em sua prova:
O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é
identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é,
claramente ilegal, declarar a nulidade dessa cláusula,
independentemente do estado em que se encontre o
procedimento arbitral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).

Trata-se de exceção à regra geral de prioridade do Juízo arbitral.

S-ar putea să vă placă și