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DIREITO CIVIL
1. DIREITOS DA PERSONALIDADE
1.1. TRANSEXUAL: Transexual pode alterar seu prenome e gênero no registro civil
mesmo sem fazer a cirurgia de transgenitalização – (Info 608) – IMPORTANTE!!!
1.4. Ofensa à dignidade da pessoa humana: dano moral in re ipsa – (Info 513 do
STJ)
O brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro
civil do Brasil, desde que isso não cause prejuízo a terceiros, quando vier a sofrer
transtornos no exercício da cidadania por força da apresentação de documentos
estrangeiros com sobrenome imposto por lei estrangeira e diferente do que consta
em seus documentos brasileiros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.088-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. para
acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 17/5/16 (Info 588).
OBS: Flexibilização dos arts. 56 e 57 da LRP: As hipóteses de alteração do nome estão
elencadas nos arts. 56 e 57 da Lei nº 6.015/73. O pedido formulado pelo autor não está
previsto expressamente em nenhuma das hipóteses elencadas nesses dois artigos. Vale
ressaltar, no entanto, que o STJ tem flexibilizado a interpretação dos arts. 56 e 57 da
Lei dos Registros Públicos para permitir a alteração de nome desde que haja um "justo
motivo" (art. 57, caput). Alguns exemplos de situações em que se admitiu a
modificação de nome:
a) inclusão do patronímico de companheiro (REsp 1206656/GO,);
b) acréscimo do patronímico materno (REsp 1256074/MG);
c) substituição do patronímico do pai pelo do padrasto (Ag 989812/SP);
d) inclusão do patronímico do padrasto (REsp 538187/RJ);
e) alteração da ordem dos apelidos de família (REsp 1323677/MA);
f) inclusão do nome de solteira da genitora, adotado após o divórcio (REsp
1041751/DF).
Retificação de nome para possibilitar a obtenção de outra nacionalidade: Importante
destacar que o STJ já entendeu que é possível a retificação de nome para possibilitar a
obtenção de outra nacionalidade. No caso concreto, o sobrenome do autor era
"Barticiotto" e assim constava em seus documentos no Brasil. Ocorre que ele era
descendente de italianos e lá esse sobrenome é escrito corretamente como
"Bartucciotto". Quando a família veio para o Brasil, houve um erro de grafia e, por
conta disso, o sobrenome ficou diferente daquele adotado na Itália. Em virtude disso,
o autor ajuizou ação para modificar seu sobrenome, já que, sem essa providência, ele
não conseguiria adquirir a cidadania italiana. O STJ concordou com o pedido
considerando haver justo motivo (STJ. 4ª Turma. REsp 1138103/PR, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 06/09/2011).
Se pode alterar o nome para a pessoa obter a nacionalidade, com mais razão pode-se
alterar depois que a pessoa adquiriu dupla nacionalidade: Se o STJ permite a mudança
do nome para que o indivíduo possa requerer a cidadania italiana (REsp 1138103/PR),
com maior razão deve permitir a alteração para a pessoa que já obteve a dupla
nacionalidade, prestigiando, assim, o princípio da simetria, da uniformidade, da
verdade real e da segurança jurídica, que norteiam o sistema registral brasileiro. A
posição mais flexível do STJ sobre a imutabilidade do nome civil tem por objetivo
sobretudo assegurar o exercício da cidadania, ou seja, o próprio papel que o nome
desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma pessoa.
2.2. Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do abandono pelo genitor – (Info
555)
Imagine que determinado indivíduo foi abandonado pelo pai quando era ainda
criança, tendo sido criado apenas pela mãe. Quando completou 18 anos, esse rapaz
decidiu que desejava que fosse excluído o nome de seu pai de seu assento de
nascimento e que o patronímico de seu pai fosse retirado de seu nome, incluindo-
se o outro sobrenome da mãe.
O STJ decidiu que esse pedido pode ser deferido e que pode ser excluído
completamente do nome civil do interessado os sobrenomes de seu pai, que o
abandonou em tenra idade.
A jurisprudência tem adotado posicionamento mais flexível acerca da
imutabilidade ou definitividade do nome civil.
O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema jurídico
brasileiro. Além disso, a referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que
o nome desempenha na formação e consolidação da personalidade de uma pessoa.
Desse modo, o direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias
decorrentes do abandono paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade
familiar, sobrepõe-se ao interesse público de imutabilidade do nome, já
excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos.
Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome é
elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na
sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que o abandono pelo genitor caracteriza
o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu nome civil, com a
respectiva exclusão completa dos sobrenomes paternos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2014 (Info 555).
2.3. Direito de a pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento de seu
filho após divórcio – (Info 555)
3. PESSOAS JURÍDICAS
3.1. Dissolução de sociedade de advogados – (Info 564)
4. ASSOCIAÇÕES
4.1. O art. 1.023 do CC, que trata da responsabilidade subsidiária dos sócios da
sociedade simples, não se aplica às associações civis – (Info 602)
As associações civis são caracterizadas pela união de pessoas que se organizam para
a execução de atividades sem fins lucrativos.
A questão jurídica debatida foi, portanto, a seguinte: o art. 1.023 do Código Civil
aplica-se para associações civis? NÃO.
Associações civis: São pessoas jurídicas de direito privado que se formam pela união
de pessoas que se juntam para executar atividades que são de interesse comum. Ex:
associação para ajudar pessoas com deficiência.
A associação pode ter fins culturais, beneficentes, religiosos, esportivos, morais etc.
As atividades desenvolvidas pelas associações não possuem fins lucrativos (não
podem ter objetivo de lucro).
Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Veja o que diz o Código
Civil:
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas
que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e
obrigações recíprocos.
Principal diferença:
Associações: somente podem ser constituídas com uma finalidade não
econômica (não lucrativa).
Sociedades: são instituídas para o exercício de atividade econômica (com o
objetivo de lucro).
Art. 1.023 é próprio das sociedades, não podendo ser aplicado para as associações:
Pela análise topográfica do art. 1.023, ou seja, pela posição em que ele foi previsto no
CC/02, já se percebe claramente que ele é voltado às sociedades, estando inserido no
Título II, que trata das sociedades. Além disso, ao se ler o artigo, verifica-se que ele
fala apenas em “bens da sociedade” e em “sócios”. Logo, não se aplica às associações
e aos associados. O art. 1.023 prevê uma espécie de responsabilidade subsidiária dos
sócios pelas dívidas da sociedade. Vale ressaltar que, para incidir o art. 1.023 não é
necessária desconsideração da personalidade jurídica, conforme entende o STJ:
A natureza da "Rio 2004 S/C" é de sociedade simples,
amoldando-se perfeitamente às disposições do art. 1023 do
CC/02 acerca da responsabilidade dos seus sócios. Extinta a
RIO 2004 e não havendo, de sua parte, patrimônio suficiente
para o cumprimento das obrigações contratuais assumidas
frente à SPORTSMEDIA, não se fazia necessária, para a
responsabilização pessoal de seus sócios pelas dívidas sociais,
a desconsideração da sua personalidade jurídica – conclusão,
aliás, a que chegou corretamente o acórdão recorrido.
Igualmente, sendo possível, nos termos do art. 1023 do CC/02,
a utilização dos bens das recorrentes para a satisfação das
dívidas sociais sem a necessidade de se recorrer à
desconsideração da personalidade jurídica da sociedade a
que vinculados, possuem elas, naturalmente, legitimidade
passiva ad causam para responder ao pedido de cobrança.
STJ. 3ª Turma. REsp 895.792/RJ, julgado em 07/04/2011.
5.2. (I)Legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra a decisão que determina
a desconsideração – (Info 544) – TEMA POLÊMICO!!!
OBS: Penso que a posição pela ilegitimidade deve prevalecer, sendo majoritária e
consolidada.
6. NEGÓCIO JURÍDICO
6.1. VÍCIOS DO NEGÓCIOS JURÍDICO: Venda do bem pelo sócio antes da
desconsideração da personalidade jurídica e do redirecionamento da execução para a
pessoa física (Info 594) – IMPORTANTE!!!
7. PRESCRIÇÃO
7.1. Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo contrato de cédula de
crédito rural – (Info 592)
Súmula 547-STJ: Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a
título de participação financeira do consumidor no custeio de construção de rede
elétrica, o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916.
Na vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão
contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido,
observada a regra de transição disciplinada em seu art. 2.028. STJ. 2ª Seção.
Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.
7.6. Termo inicial da prescrição da pretensão de cobrança de honorários ad exitum
– (Info 560)
(MPMT – 2014): Embora haja previsão legal de que a prescrição possa ser alegada
em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita, para que a parte
possa alegar a prescrição nos tribunais superiores (STF e STJ), a matéria deve ter
sido prequestionada nas instâncias ordinárias.
8. PROVA
8.1. Escritura pública gera presunção relativa de veracidade – (Info 541) – Atenção!
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A quitação dada em escritura pública gera presunção relativa do pagamento,
admitindo prova em contrário que evidencie a invalidade do instrumento eivado
de vício que o torne falso.
Nos termos do art. 215 do CC, a escritura lavrada em cartório tem fé pública, o que
significa dizer que é documento dotado de presunção de veracidade.
Ocorre que essa presunção legal de que trata o art. 215 do CC é relativa. Portanto, a
quitação dada em escritura pública não é uma “verdade indisputável” (absoluta),
na medida em que admite a prova de que o pagamento não foi efetivamente
realizado, evidenciando, ao fim, a invalidade do instrumento em si, porque eivado
de vício que o torna falso.
Assim, entende-se que a quitação dada em escritura pública presume o pagamento,
até que se prove o contrário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.438.432-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 22/4/14 (Info 541).
9. OBRIGAÇÕES
9.1. Não é possível a cumulação da perda das arras com a imposição da cláusula
penal compensatória – (Info 613) – IMPORTANTE!!!
A cláusula penal também pode ser chamada de multa convencional, multa contratual
ou pena convencional.
Finalidades das arras: A Min. Nancy Andrighi identifica que as arras têm por
finalidades:
a) firmar a presunção de acordo final, tornando obrigatório o
ajuste (caráter confirmatório);
b) servir de princípio de pagamento (se forem do mesmo
gênero da obrigação principal);
c) prefixar o montante das perdas e danos devidos pelo
descumprimento do contrato ou pelo exercício do direito de
arrependimento, se expressamente estipulado pelas partes
(caráter indenizatório).
Espécies de arras: A partir do conceito acima dado, é possível identificar duas espécies
diferentes de arras e a diferença principal entre elas está no objetivo de cada uma:
Além das arras, a parte inocente poderá As arras penitenciais têm função
pedir: unicamente indenizatória. Isso significa
indenização suplementar, se provar que a parte inocente ficará apenas com o
maior prejuízo, valendo as arras valor das arras (e do equivalente) e NÃO
como taxa mínima; terá direito a indenização suplementar.
a execução do contrato, com as Nesse sentido:
perdas e danos, valendo as arras Súmula 412-STF: No compromisso de
como o mínimo da indenização. compra e venda com cláusula de
arrependimento, a devolução do sinal,
por quem o deu, ou a sua restituição em
dobro, por quem o recebeu, exclui
indenização maior, a título de perdas e
danos, salvo os juros moratórios e os
encargos do processo.
Equivalente*: significa o valor equivalente das arras que haviam sido dadas. Ex:
Mário deu R$ 500 de arras a Paulo; este não cumpriu o contrato; significa que ele
terá que devolver as arras recebidas (R$ 500) mais o equivalente (R$ 500),
totalizando R$ 1000. Obs: esta devolução deverá ocorrer com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de
advogado.
Neste caso, ele perderá as arras e também os 10% a título de cláusula penal
compensatória? É possível a cumulação da perda das arras com a imposição da
cláusula penal compensatória? NÃO. Na hipótese de inadimplemento, as arras
funcionam como uma espécie de cláusula penal compensatória, representando o valor
previamente estimado pelas partes para indenizar a parte não culpada pela
inexecução do contrato. A perda das arras, na hipótese, representa o efeito da
resolução imputável e culposa. Assim, as arras, a princípio, têm a função de indicar
que a obrigação será cumprida. No entanto, ocorrendo a inexecução contratual elas
passam a ter função de cláusula penal. Tanto nas arras confirmatórias como nas arras
penitenciais, se a parte que deu as arras não executar o contrato, a outra parte
(inocente) poderá reter as arras, ou seja, ficar com elas para si. Dessa forma, o que se
conclui é que, na hipótese de inadimplemento do contrato, as arras apresentam
natureza indenizatória, desempenhando papel semelhante ao da cláusula penal
compensatória. Logo, se as arras cumprem a mesma função da cláusula penal
compensatória, não é possível que a parte inocente exija da parte culpada tanto as
arras como a cláusula penal compensatória. Isso seria bis in idem (dupla condenação
a mesmo título), o que é vedado pelo Direito.
Qual das duas deverá, então, prevalecer: as arras ou a cláusula penal? Se previstas
cumulativamente para o inadimplemento contratual, entende-se que deve incidir
exclusivamente a pena de perda das arras, ou a sua devolução mais o equivalente, a
depender da parte a quem se imputa a inexecução contratual. Isso porque o art. 419
do CC afirma que as arras valem como "taxa mínima" de indenização pela inexecução
do contrato. Assim, em nosso exemplo, como quem praticou a inexecução contratual
foi quem deu as arras (João), ele perderá as arras.
9.2. DÍVIDA DE JOGO: É possível que o cassino cobre no Brasil por dívidas de
jogo contraídas no exterior – (Info 610) – IMPORTANTE!!!
A cobrança de dívida de jogo contraída por brasileiro em cassino que funciona
legalmente no exterior é juridicamente possível e não ofende a ordem pública, os
bons costumes e a soberania nacional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.974-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 13/6/17
(Info 610).
OBS: O jogo explorado por cassinos é proibido pela legislação brasileira, sendo, no
entanto, lícito em diversos estados americanos, como é o caso de Nevada, onde se situa
Las Vegas. A questão a ser debatida, então, diz respeito à possibilidade de cobrança
judicial de dívida de jogo contraída por um brasileiro em um cassino que funciona
legalmente no exterior. O STJ entendeu que é possível.
Dívidas de jogo contraídas no Brasil são inexigíveis: O art. 814 do Código Civil
preconiza:
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a
pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se
o perdente é menor ou interdito.
Para obrigação constituída no exterior poder ser exigida em nosso país, deve-se
respeitar a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes: Vale ressaltar que
a lei estrangeira somente pode produzir eficácia jurídica no Brasil se não ofenderem a
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Em outras palavras, mesmo
tendo a obrigação se constituído no exterior, esta obrigação somente será exigível
em nosso país se não violar estes valores. Isso é o que estabelece o art. 17 da LINDB:
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes.
A pergunta que surge, então, é a seguinte: cobrar dívida de jogo contraída no exterior
viola a soberania nacional, ordem pública e bons costumes? NÃO. Vejamos.
Dessa forma, cobrar dívida de jogo contraída no exterior não viola a soberania
nacional, ordem pública e bons costumes.
A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 do Código Civil de 2002, é a
SELIC. A incidência da taxa Selic como juros moratórios exclui a correção
monetária, sob pena de bis in idem, considerando que a referida taxa já é composta
de juros e correção monetária.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1.025.298-RS, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 28/11/2012 (Info 510 STJ).
11. ARRAS
11.1. Cálculo das arras confirmatórias e desproporção entre a quantia paga
inicialmente e o preço ajustado – (Info 577)
A tese do réu foi aceita pelo STJ? SIM. Realmente, o promitente-comprador, por ter
dado causa à rescisão do contrato, deverá perder as arras confirmatórias que foram
pagas. Isso está previsto no art. 418 do CC:
Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá
a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito,
e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos,
juros e honorários de advogado.
14. EVICÇÃO
14.1. Prazo prescricional da ação de indenização – (Info 593)
Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na
língua portuguesa existe o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de
alguém”.
O valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não com base no
dia da aquisição):
Art. 450 (...) Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou
parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu
(no momento da perda e não na data da alienação), e
proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.
Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da
evicção (anos mais tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá
ser devolvido ao evicto.
Este dispositivo fala em "reparação civil" de forma ampla, de modo que tem incidência
tanto na responsabilidade civil extracontratual como contratual.
O STJ entende que a ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte em cinza)
significa que a Lei de Usura permite a capitalização anual. Em outras palavras, a Lei
de Usura:
Proibiu a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (ex:
capitalização mensal de juros);
Permitiu a capitalização anual de juros.
Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os contratos).
Vale ressaltar que, mesmo sendo permitida por lei, a capitalização anual de juros
precisa estar expressamente pactuada, ou seja, prevista no contrato.
Como o art. 591 fala que os juros são presumidos no contrato de mútuo com fins
econômicos, surgiu a tese de que no caso de mútuo com capitalização anual de juros
não seria necessário que essa capitalização estivesse expressamente prevista no
contrato. Assim, seria permitida a capitalização anual mesmo que o contrato não
estipulasse essa possibilidade textualmente.
Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? NÃO. A pactuação da capitalização dos
juros é sempre exigida, inclusive para a periodicidade anual. Assim, não é possível a
incidência automática da capitalização dos juros. O art. 591 do Código Civil permite a
capitalização anual, mas não determina a sua aplicação automaticamente. Quando ele
fala que se presumem os juros, são os juros remuneratórios incidentes sobre o mútuo
feneratício, ou seja, aqueles recebidos pelo mutuante como compensação pela
privação do capital emprestado. São juros simples. Em caso de capitalização, isso
deverá ser feito de forma expressa no pacto.
Isso significa que a capitalização de juros, seja qual for a sua periodicidade (anual,
semestral, mensal), somente será considerada válida se estiver expressamente
pactuada (prevista) no contrato.
16. CONTRATOS
16.1. Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de
contas – (Info 592) – IMPORTANTE!!!
Vale ressaltar que "dita supressão não significa que tenha desaparecido a ação de dar
contas. A administração de bens ou negócios alheios gera sempre, para o gestor, o
dever de prestar contas, de sorte que este tem, na perspectiva do direito material, não
apenas a obrigação, mas também o direito de se livrar desse dever. Assim, coexistem
sempre as duas pretensões, a de exigir e a de dar contas. O que a lei nova fez foi
submeter a procedimento especial apenas a pretensão de exigir contas. A de dar
contas, por isso, será processada sob o procedimento comum.
Além disso, o CPC/2015 traz regras mais detalhadas sobre o procedimento a ser
seguido.
Ação de exigir contas proposta por correntista contra o banco: Um dos exemplos
comuns de ação de exigir contas (ação de prestação de contas) é aquela proposta pelo
correntista em face do banco. Foi editada, inclusive, uma súmula para reconhecer essa
possibilidade:
Súmula 259-STJ: A ação de prestação de contas pode ser
proposta pelo titular de conta-corrente bancária.
Atenção: a súmula continua válida com o CPC 2015, mas a redação da súmula deverá
ser atualizada com o novo nome do procedimento (ação de exigir contas).
Exemplo: João, analisando seu saldo da conta bancária, desconfia que houve saques
indevidos realizados pela instituição financeira. Este correntista poderá ajuizar ação
de exigir contas contra o banco, visando a obter esclarecimentos acerca da cobrança
de taxas, tarifas e/ou encargos em sua conta.
6. Réu que não apresenta as contas no prazo: Caso ele não as apresente no prazo, a Lei
autoriza que o próprio autor elabore as contas e as apresente em juízo, sem que o réu
as possa impugnar (art. 550, § 5º). O CPC determina que as contas do autor devem ser
apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos,
especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver,
bem como o respectivo saldo. Vale ressaltar que mesmo o réu não podendo mais
impugnar as contas apresentadas pelo autor, isso não significa que o juiz esteja
obrigado a aceitá-las. O juiz, caso entenda que as contas apresentadas pelo autor não
estão corretas, poderá determinar a realização de exame pericial (art. 550, § 6º).
A pergunta mais interessante vem agora: é possível que o autor, na ação de prestação
de contas, além de exigir que o réu demonstre as receitas e despesas, requeira ao juiz
que reconheça que as cláusulas do contrato assinado são abusivas? Ex: João
(correntista) poderá pedir para que o juiz reconheça que determinada taxa de juros
cobrada pelo banco e que estava prevista no contrato é abusiva? NÃO. Não é possível
discutir, em ação de exigir contas (ação de prestação de contas), a abusividade das
cláusulas contratuais. A ação de prestação de contas não é o meio hábil a dirimir
conflitos no tocante a cláusulas de contrato, nem em caráter secundário, uma vez que
tal ação objetiva tão somente a exposição dos créditos e débitos decorrentes de uma
relação jurídica, concluindo-se se existe saldo credor ou devedor.
Rito especial e célere: A ação de prestação de contas não é uma ação ordinária,
possuindo um rito especial, mais célere, e que tem como única finalidade aferir a
regularidade dos débitos e créditos relacionados à administração dos recursos. Não se
trata da via adequada para realizar a análise jurídica da abusividade ou ilegalidade
das cláusulas contratuais. Para a impugnação do próprio contrato, o autor deve fazer
uso da ação ordinária, que comporta dilação probatória mais ampla. Nesse sentido:
STJ. 3ª Turma. REsp 1.166.628-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/10/2012.
16.3. Ação revisional por conta da desvalorização do real frente ao dólar em contrato
celebrado em moeda estrangeira – (Info 556) – IMPORTANTE!!!
É possível acolher o pedido do médico para a revisão do contrato com base na teoria
da imprevisão e da onerosidade excessiva?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas
consumeristas –, a maxidesvalorização do real em face do dólar americano ocorrida
a partir de janeiro de 1999 não autoriza a aplicação da teoria da imprevisão ou da
teoria da onerosidade excessiva, com intuito de promover a revisão de cláusula de
indexação ao dólar americano.
O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma
desvalorização do real frente ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso
era um fato imprevisível ou extraordinário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/12/2014 (Info 556).
17. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA
17.1. Validade da cláusula contratual que transfere o pagamento do laudêmio ao
promitente-comprador – (Info 575)
A simulação é um vício social do negócio jurídico, estando previsto na art. 167 do CC:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o
que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
Na verdade, a nulidade absoluta poderia ter sido até mesmo declarada de ofício pelo
juiz.
Segunda pergunta: A ação proposta por Beatriz deverá ser julgada procedente? NÃO.
O reconhecimento de paternidade post mortem não invalida a alteração de contrato
social com a transferência de todas as cotas societárias realizada pelo genitor a outro
descendente. STJ. 4ª Turma. REsp 1.356.431-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 8/8/2017 (Info 611).
18.2. Se o vício redibitório foi sanado, o adquirente não tem mais direito ao
abatimento do preço – (Info 610)
No caso concreto, João tinha direito real de laje? NÃO. Apesar de algumas vezes ter
se falado acima em “laje”, a situação de João não se enquadra no “direito real de laje”
do art. 1.510-A do CC. Aqui estamos falando da compra de uma unidade ideal
(apartamento) de um edifício que inclui também o terraço. Nesse caso, a área
construída na cobertura é como se fosse uma espécie de acessão/benfeitoria, de
titularidade única, com o mesmo número de matrícula, sem desdobramento da
propriedade, não se tratando de unidade autônoma. A cobertura não tem, por isso
mesmo, matrícula própria, ao contrário do direito real de laje.
No final das contas, o consumidor ficou com o imóvel na forma como ele o adquiriu:
Não há direito ao abatimento do preço porque o consumidor acabou recebendo o seu
imóvel nos exatos moldes em que fora pactuado. Apesar de realmente ter havido um
vício oculto inicial, a coisa acabou por não ficar nem imprópria para o consumo, nem
teve o seu valor diminuído, justamente em razão da sanatória posterior, que permitiu
a construção do gabarito nos termos em que contratado. Assim, realmente, perde
fundamento o pedido de abatimento considerando que a coisa não perdeu seu valor,
já que foi recebida em sua totalidade.
Mas João ficou três anos sem poder construir na cobertura...: O que o STJ afirmou é
que ele não tem direito ao abatimento do preço, ou seja, a redução daquilo que pagou.
No entanto, é possível que ele pleiteie e receba indenização pelos danos materiais
decorrentes do período em que acabou ficando impedido de exercer seu direito de
uso, gozo e fruição da laje.
Bens móveis perfeitamente caracterizados: Só pode ser objeto de venda com reserva
de domínio a coisa móvel perfeitamente caracterizável.
Art. 523. Não pode ser objeto de venda com reserva de
domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para
estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a favor
do terceiro adquirente de boa-fé.
Características:
A cláusula de reserva de domínio deve ser estipulada por escrito.
Para valer contra terceiros, o contrato precisa ser registrado no domicílio do
comprador (art. 522). A serventia competente para esse registro é o RTD
(Registro de Títulos e Documentos).
Se o bem vendido foi um automóvel, caberá a anotação do gravame no
Certificado de Registro do Veículo (CRV), nos termos da Lei nº 11.882/2008:
Art. 6º Em operação de arrendamento mercantil ou qualquer
outra modalidade de crédito ou financiamento a anotação da
alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de
registro a que se refere a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de
1997, produz plenos efeitos probatórios contra terceiros,
dispensado qualquer outro registro público.
Apesar de a venda com reserva de domínio não ser o mesmo que alienação
fiduciária, aplica-se aqui o mesmo raciocínio que inspirou a edição da súmula
92 do STJ:
Súmula 92-STJ: A terceiro de boa-fé não é oponível a
alienação fiduciária não anotada no certificado de registro do
veículo automotor.
Ex.: se João compra uma TV em 12x com reserva de domínio e no terceiro mês um
ladrão furta o bem, João deverá pagar as nove prestações que faltam, mesmo sem ficar
com a coisa.
Existe uma regra que diz o seguinte: "res perit domino" (a coisa perece para o dono), ou
seja, se o bem pereceu, quem deve sofrer o prejuízo é o proprietário. O art. 524 acima
analisado é uma exceção a essa regra. Na compra com reserva de domínio vigora a
regra do "res perit emptoris" (a coisa perece para o comprador).
Em caso de mora do comprador, o que o vendedor poderá fazer? O art. 526 do CC
estabelece o seguinte:
Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor
mover contra ele a competente ação de cobrança das
prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido;
ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.
Para o STJ, mesmo a mora no contrato de compra e venda com reserva de domínio
sendo uma mora ex re, é possível aplicar ao caso o parágrafo único do art. 397 do CC:
Art. 397 (...)
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui
mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
Assim, em caso de cláusula de reserva de domínio, existem três formas pelas quais o
vendedor (credor) poderá comprovar a mora do comprador (devedor):
a) mediante protesto do título;
b) por meio de interpelação judicial;
c) por notificação extrajudicial enviada pelo Cartório de Títulos e Documentos.
Enfiteuse (ou aforamento): José dos Santos Carvalho Filho (Manual de Direito
Administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 1311) explica que, em
algumas regiões, a União permitiu que particulares utilizassem, de forma privada,
imóveis localizados em terrenos de marinha. Como essas áreas pertencem à União, o
uso por particulares é admitido pelo regime da enfiteuse (aforamento), que funciona,
em síntese, da seguinte forma:
a União (senhorio direto) transfere ao particular (enfiteuta) o domínio útil;
o particular (enfiteuta) passa a ter a obrigação de pagar anualmente uma
importância a título de foro ou pensão.
O particular (enfiteuta) pode transferir para outras pessoas o domínio útil que exerce
sobre o bem? SIM. Tome-se o seguinte exemplo: João reside em uma casa localizada
dentro de um terreno de marinha, possuindo, portanto, apenas o domínio útil sobre o
bem e pagando, anualmente, o foro. Ocorre que ele quer se mudar. Diante disso,
poderá “vender” o domínio útil para outra pessoa.
A pessoa que transferir o domínio útil do imóvel terá que pagar algum valor para a
União? SIM. A legislação estabelece que a pessoa, antes de efetuar a transferência,
deverá pagar 5% do valor do domínio útil à União. Assim, em nosso exemplo, João
terá que recolher em favor da União 5% do valor do domínio útil de sua casa pelo
simples fato de ela estar localizada em terreno de marinha. Esse valor é chamado de
laudêmio e seu pagamento está previsto no art. 3º do Decreto-Lei 2.398/87:
18.5. Venda com reserva de domínio e proteção possessória requerida por vendedor
– (Info 573)
Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do contrato de compra e venda com
reserva de domínio, o vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador,
pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel objeto da avença.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.056.837-RN, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 3/11/2015
(Info 573).
18.6. Prevalência do valor atribuído pelo fisco para aplicação do art. 108 do CC –
(Info 562) – IMPORTANTE!!! (TJRJ-2016)
A compra e venda de bens IMÓVEIS pode ser feita por meio de contrato particular
ou é necessário escritura pública?
Em regra: é necessário escritura pública (art. 108 do CC).
Exceção: a compra e venda pode ser feita por contrato particular (ou seja,
sem escritura pública) se o valor do bem imóvel alienado for inferior a 30
salários-mínimos.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Para fins do art. 108, deve-se adotar o preço dado pelas partes ou o valor calculado
pelo Fisco?
O valor calculado pelo Fisco. O art. 108 do CC fala em valor do imóvel (e não em
preço do negócio). Assim, havendo disparidade entre ambos, é o valor do imóvel
calculado pelo Fisco que deve ser levado em conta para verificar se será necessária
ou não a elaboração da escritura pública. A avaliação feita pela Fazenda Pública
para fins de apuração do valor venal do imóvel é baseada em critérios objetivos,
previstos em lei, os quais admitem aos interessados o conhecimento das
circunstâncias consideradas na formação do quantum atribuído ao bem. Logo,
trata-se de um critério objetivo e público que evita a ocorrência de fraudes.
Obs: está superado o Enunciado 289 das Jornadas de Direito Civil do CJF.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014
(Info 562).
Obs2: nas ações possessórias, o direito de retenção deverá ser alegado no momento
da contestação, sob pena de preclusão (STJ. 3ª Turma. REsp 1.278.094-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 16/8/2012).
19. DOAÇÃO
19.1. Requisitos do instrumento procuratório para a validade da doação – (Info 577)
Obs: se a pessoa quiser doar um bem imóvel cujo valor seja superior a 30 salários-
mínimos, neste caso a doação deverá ser feita, obrigatoriamente, por meio de escritura
pública, conforme determina o art. 108 do CC.
Art. 541 (...) Parágrafo único. A doação verbal será válida, se,
versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir
incontinenti a tradição.
Imagine a seguinte situação hipotética: João, rico empresário, iria viajar para o
exterior e, por essa razão, outorgou procuração pública a um funcionário seu (Pedro)
para que este o representasse em todos os assuntos relativos à compra, venda, locação
e doação de um apartamento de luxo que ele possuía. O que ficou combinado
verbalmente entre João e Pedro é que ele iria procurar eventuais interessados em
comprar o imóvel para vendê-lo por um bom preço. Ocorre que Pedro (procurador de
João), valendo-se da procuração outorgada, doou o apartamento para um amigo (que
era seu "laranja"). Ao saber do ocorrido, João retorna ao Brasil e reúne-se com seus
advogados para discutir o que fazer.
Sob o ponto de vista estritamente formal, existe alguma "brecha" para que esta
doação seja anulada? SIM. O Código Civil permite que o procurador devidamente
constituído faça a doação de um imóvel, mas para que isso seja válido, é necessário
que estejam previstos poderes especiais no instrumento de mandato, nos termos do
artigo 661, §1º:
O herdeiro que cede seus direitos hereditários continua tendo legitimidade para
pleitear a declaração de nulidade de doação inoficiosa realizada pelo autor da
herança em benefício de terceiros.
Isso porque o fato de o herdeiro ter realizado a cessão de seus direitos hereditários
não lhe retira a qualidade de herdeiro, que é personalíssima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.983-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/3/14 (Info 556).
Contrato de corretagem é o ajuste por meio do qual o corretor obriga-se a obter para
uma pessoa que o contrata ( “cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios,
conforme as instruções recebidas (art. 722 do CC).
O contrato de corretagem é informal, não precisando ser escrito (pode ser verbal).
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do
vendedor ou do comprador?
Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que
efetivamente contrata o corretor (não importa se é o comprador ou o
vendedor).
Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em
sentido contrário, ou seja, poderá prever que comprador e vendedor irão
dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.
A remuneração do corretor, se não foi fixada no contrato nem na lei, será arbitrada
segundo a natureza do negócio e os usos locais. No dia-a-dia imobiliário, não
havendo previsão contratual, deverá ser pago ao corretor 6% sobre o valor do
imóvel urbano vendido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 24/2/15 (Info
556).
A tese da seguradora foi aceita pelo STJ? A ação proposta por João viola a Súmula
529 do STJ? NÃO. O caso de João é distinto da hipótese tratada pela Súmula 529 do
STJ, considerando que a responsabilidade civil do segurado já foi reconhecida na
esfera administrativa, tanto que a seguradora já pagou a ele, extrajudicialmente, parte
de suas despesas oriundas dos prejuízos ocorridos em sua moto. Neste caso, houve a
apuração administrativa do sinistro e restou comprovada a obrigação do segurado de
indenizar a vítima. Dessa forma, nesta situação, mesmo não havendo relação
contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, a sucessão dos fatos
(apuração administrativa e pagamento de parte da indenização) faz com que surja
uma relação jurídica de direito material envolvendo a vítima e a seguradora. Logo,
a ação proposta pela vítima pedindo para que a seguradora complemente o valor da
indenização securitária pode ser ajuizada direta e exclusivamente contra a
seguradora, pois, com o pagamento tido como parcial na esfera administrativa,
originou-se uma nova relação jurídica substancial entre as partes. Não há violação à
ampla defesa ou contraditório considerando que a discussão dos autos ficará restrita
ao valor da indenização, e não envolverá mais a culpa, que já é fato incontroverso. O
próprio segurado reconheceu sua culpa no sinistro, ou seja, sua obrigação de
indenizar, perante a seguradora (esfera administrativa), tanto que acionou o seguro
para ressarcir os prejuízos que causou à vítima.
21.4. A criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos
Autorais – (Info 603)
O direito autoral não pode proteger as ideias em si, mas apenas as formas de
expressá-las. Isso porque as ideias constituem patrimônio comum da humanidade.
Assim, não há proteção autoral a ideia de fazer uma determinada espécie de
contrato, por mais inovadora e original que seja. No máximo, o texto das cláusulas
pode ser protegido.
A Lei de Direitos Autorais não pode tolher a criatividade e a livre iniciativa, nem o
avanço das relações comerciais e da ciência jurídica, que ficaria estagnada com o
direito de exclusividade de certos tipos contratuais.
Assim, a criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos
Autorais.
Desse modo, é possível a coexistência de contratos de seguro com a mesma temática
comercializados por corretoras e seguradoras distintas sem que haja violação de
direitos autorais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.606/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 02/05/17
(Info 603).
Ônus da prova:
Seguradora: precisa comprovar que o motorista estava embriagado. A partir
daí surge a presunção de que houve o agravamento do risco e a indenização
não será, em princípio, devida.
Segurado: poderá comprovar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor
não estivesse embriagado. Se não conseguir provar isso, perderá o direito à
indenização.
E se o indivíduo que estava dirigindo embrigado não era aquele que contratou o
seguro? A configuração do risco agravado não se dá somente quando o próprio
segurado se encontra alcoolizado na direção do veículo, mas abrange também os
condutores principais (familiares, empregados e prepostos). Isso porque o
agravamento intencional de que trata o art. 768 do CC envolve tanto o dolo quanto a
culpa grave do segurado, que tem o dever de vigilância (culpa in vigilando) e o dever
de escolha adequada daquele a quem confia a prática do ato (culpa in eligendo). Se o
segurado não escolhe de forma correta a quem entrega o veículo ou não o fiscaliza
adequadamente, incide em culpa. O segurado deve se portar e tomar todos os
máximos cuidados como se não tivesse feito o seguro. A isso se chama de princípio do
absenteísmo, isto é, ele tem o dever de se abster de tudo que possa incrementar, de
forma desarrazoada, o risco contratual. Logo, a pessoa que fez o seguro deve tomar
todos os cuidados possíveis quando for entregar o veículo segurado para alguém
dirigir. Desse modo, o simples fato de o indivíduo que estava dirigindo não ser aquele
que contratou o seguro não serve como argumento para que a indenização deixe de
ser paga.
21.7. Direito de a seguradora ser ressarcida pelos gastos que houve com o segurado
mesmo que este tenha dado quitação integral para o autor do dano – (Info 591) –
IMPORTANTE!!!
Um caso semelhante a este, que é muito comum no dia-a-dia, chegou até o STJ. O que
decidiu o Tribunal? A seguradora terá direito de ser ressarcida pelo conserto mesmo
tendo o segurado assinado este termo de quitação ou renúncia? SIM.
Previsão legal da sub-rogação: O Código Civil prevê que a seguradora que paga a
indenização sub-roga-se nos direitos do segurado. Confira:
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos
limites do valor respectivo, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano.
Vale ressaltar que este direito da seguradora de se sub-rogar tem relevância social
porque na sociedade de risco que vivemos hoje em dia é cada vez maior a importância
dos contratos de seguro. Se a seguradora tiver garantias de que poderá ser ressarcida
pelo real causador do dano, isso será levado em consideração no momento do cálculo
do prêmio que é cobrado dos segurados. Em tese, quanto menores as garantias que a
seguradora tiver, maior será o valor do prêmio, o que prejudica a sociedade em geral.
Daí se extrai a relevância social de proteção ao direito de sub-rogação do segurador.
Assim, se o segurado optou por acionar o seguro, cobrando a garantia contratada, não
lhe cabe firmar com o causador do dano qualquer tipo de transação que possa
importar na extinção ou diminuição do direito de regresso do segurador. Se o fizer, o
ato será absolutamente ineficaz em relação ao segurador, como peremptoriamente
determina o art. 786, § 2º, do CC.
No exemplo dado, o acordo celebrado entre João e Carla é válido e eficaz entre eles
(contratantes). No entanto, não se pode admitir que os efeitos dessa avença sejam
estendidos ao segurador que, além de não ter participado do ajuste, possui, por força
de lei, o direito de ser reembolsado de todos os valores gastos com o reparo do bem
sinistrado.
Imagine o seguinte: Pedro, dirigindo de forma negligente, bateu seu veículo na traseira
do carro de João, que não revela que tem seguro. Pedro assume para João que
realmente foi culpado do acidente e que irá pagar o conserto. No dia seguinte, João
mostra um orçamento da oficina e Pedro lhe entrega o dinheiro. Em contrapartida,
João assinou uma declaração dando quitação integral. Ocorre que João, de má-fé,
aciona o seguro pedindo o conserto do carro, o que é feito. Em seguida, a seguradora
ajuíza ação regressiva contra Pedro cobrando a quantia gasta para consertar o carro
do segurado. Nessa hipótese específica e excepcional, o STJ entende que o terceiro (em
nosso exemplo, Pedro), ao ser demandado na ação regressiva, poderá se eximir do
ressarcimento das despesas com o bem sinistrado, bastando que, nos termos do art.
373, II, do CPC, prove que já realizou a reparação completa dos prejuízos causados,
apresentando o recibo assinado pelo segurado ou eventuais documentos que
comprovem o custeio das despesas. Neste caso, o juiz deverá julgar improcedente o
pedido regressivo formulado, restando à seguradora a alternativa de demandar contra
o próprio segurado, por locupletamento ilícito, tendo em vista que, em evidente ato
de má-fé contratual, requereu, indevidamente, a cobertura securitária mesmo já tendo
sido indenizado diretamente pelo autor do dano. Protege-se aqui o terceiro de boa-fé,
que pagou indenização ao segurado na justa expectativa de que estivesse reparando,
por completo, os danos que causou com seu ato.
Nestes dois casos, não há como punir o segurado com a drástica sanção da perda do
direito à indenização, especialmente considerando a presença da boa-fé objetiva,
princípio-chave que permeia todas as relações contratuais, incluídas as de natureza
securitária.
O fato de o beneficiário de seguro de vida ter sido reformado pelo Exército em razão
de incapacidade total para sua atividade habitual (serviço militar) não implica, por
si só, o direito à percepção de indenização securitária em seu grau máximo quando
a apólice de seguro estipula que esse grau máximo é devido no caso de invalidez
total permanente para qualquer atividade laboral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.639-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
26/4/2016 (Info 582).
OBS:
O indivíduo que é considerado inválido para o serviço militar não o é,
necessariamente, para as atividades laborais comuns. Isso porque é muito mais rígida
a exigência física na seara militar.
21.14. Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida – (Info 561)
21.18. Morte decorrente de AVC não está abrangida em seguro de acidentes pessoais
– (Info 550)
21.19. Transação feita entre o segurado e a vítima sem anuência da seguradora – (Info
548)
21.20. Seguro de veículo e agravamento do risco pela condução por motorista não
habilitado – (Info 542)
Segundo este artigo do decreto, os contratos de arrendamento rural que tenham por
objeto atividade de pecuária (alínea "a" do inciso II do art. 13) devem ter prazos
mínimos de vigência com a finalidade de permitir que o arrendatário tenha tempo
para criar, reproduzir e engordar o gado, considerando que isso demora. O art. 13 faz
a seguinte distinção
pecuária de pequeno e médio porte: o arrendamento deverá ter prazo mínimo
de 3 anos;
pecuária de grande porte: o prazo mínimo será de 5 anos.
O que se entende por pecuária de pequeno, médio e grande porte? Existe divergência
na doutrina sobre o tema, mas o STJ adotou a corrente doutrinária que defende o
seguinte:
Pequeno porte: envolve apicultura, piscicultura, avicultura, cunicultura e
ovinocultura.
Médio porte: refere-se à criação de suínos, caprinos e ovinos.
Grande porte: abrange o gado bovino, bubalino, equino e asinino.
Desse modo, quando o Decreto fala em grande porte, não está se referindo ao tamanho
da propriedade, número de animais etc. O critério aqui é a espécie de animal que é
criado. Veja:
"A expressão 'grande porte' não se refere à escala da atividade
(número de unidades de animais, por exemplo), mas, sim, ao
porte dos animais, cujo prazo reprodutivo e de engorda é
maior que os de menor porte. Na pecuária de pequeno porte
são incluídas a apicultura, piscicultura, avicultura e
cunicultura. Na de médio porte, a suinocultura,
caprinocultura e ovinocultura e na de grande porte a
bovinocultura, bubalinocultura, equinocultura e asinino
cultura." (CARVALHO, Edson Ferreira de. Manual didático
de direito agrário. Curitiba: Juruá, 2010, p. 410).
26.2. Empresa rural de grande porte não tem direito de preferência previsto no
Estatuto da Terra – (Info 583)
26.3. Contrato de arrendamento rural como prova escrita para ação monitória – (Info
580)
27. CONDOMÍNIO
27.1. Prazo prescricional para cobrança de cotas condominiais: 5 anos – (Info 596) –
(DPU-2017)
O débito decorrente da taxa condominial pode ser considerado uma “dívida líquida”?
As cotas condominiais são líquidas desde o momento em que seu valor é definido na
assembleia geral de condôminos. O próprio CPC/2015 considera que os débitos
decorrentes de cotas condominiais são dívidas líquidas, tanto que são considerados
como título executivo extrajudicial:
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: (...)
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou
extraordinárias de condomínio edilício, previstas na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral,
desde que documentalmente comprovadas;
Para se enquadrar no art. 206, § 5º, I, do CC, exige-se que a dívida tenha sido contraída
por meio de um instrumento público ou particular? NÃO. O art. 206, § 5º, I, do CC/02
exige apenas que a dívida seja líquida e que ela esteja demonstrada (documentada)
em um instrumento público ou particular. Não é necessário que a dívida tenha sido
contraída em um desses instrumentos.
A cota condominial é uma dívida líquida. Mas ela é constante de instrumento público
ou particular como exige o art. 206, § 5º, I, do CC? SIM. A taxa condominial decorre
da lei (art. 1.336, I, do CC), mas além disso, ela é previamente decidida e seu valor
definido em assembleia geral. A ata dessa assembleia (instrumento particular) deverá
instruir a petição inicial da execução para comprovação do débito cobrado. Logo, esta
dívida líquida está sim documentada em um instrumento particular.
Vedar acesso às áreas comuns viola o princípio da dignidade da pessoa humana: Além
das sanções pecuniárias, a lei estabelece em favor do condomínio instrumentos
processuais efetivos e céleres para se cobrar as dívidas condominiais. A Lei nº
8.009/90, por exemplo, autoriza que a própria unidade condominial (apartamento,
casa etc.) seja penhorada para o pagamento dos débitos, não podendo o condômino
devedor alegar a proteção do bem de família. O CPC/2015, por sua vez, prevê que as
cotas condominiais possuem natureza de título executivo extrajudicial (art. 784, VIII),
permitindo, assim, o ajuizamento direto de ação executiva, tornando a satisfação do
débito ainda mais célere. Desse modo, diante de todos esses instrumentos colocados
à disposição pelo ordenamento jurídico percebe-se que não há razão legítima para que
o condomínio se valha de meios vexatórios de cobrança. A proibição de que o devedor
tenha acesso e utilize as áreas comuns do condomínio pelo simples fato de que ele está
inadimplente acaba expondo ostensivamente a sua condição de inadimplência
perante o meio social em que reside, o que, ao final, viola o princípio da dignidade
humana.
STJ avança no tema: Vale ressaltar que o presente julgado representa um avanço na
proteção da dignidade do condômino inadimplente. Isso porque o STJ possuía um
entendimento anterior que dizia o seguinte: a assembleia geral de condôminos não
pode proibir o condômino inadimplente de usar os serviços essenciais do condomínio
(ex: elevador); por outro lado, segundo esta posição anterior, seria possível que se
restringisse o acesso do devedor a bens e serviços de caráter supérfluo, tais como
piscina, sauna, salão de festas etc. O julgado a que me refiro é o Resp 1.401.815-ES,
Min. Rel. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013.
Dessa forma, o STJ abandona esta distinção e afirma agora que não se pode negar o
direito do condômino inadimplente de ter acesso às áreas comuns do condomínio
independentemente de sua finalidade, ou seja, ele terá direito de usar tais partes
comuns, sejam elas de caráter essencial, sejam apenas destinadas ao lazer.
Hipótese 1: Júlio, sem comunicar previamente os outros, vendeu seus 25% da fazenda
para Mário, um vizinho. Quando soube do acontecido, João ajuizou ação de
preferência (ação de preempção), requerendo a compra dos 25% de Júlio. Segundo
argumentou João, antes de alienar o imóvel para outra pessoa, Júlio deveria ter
oferecido o bem para ele, que tinha direito de preferência, nos termos do art. 504 do
CC:
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua
parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O
condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o
requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver
benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão
maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os
comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o
preço.
Hipótese 2: Júlio, sem comunicar previamente os outros, vendeu seus 25% da fazenda
para Jorge, um dos condôminos. Quando soube do acontecido, João ajuizou ação de
preferência (ação de preempção), requerendo a compra dos 25% de Júlio. Segundo
argumentou João, antes de alienar o imóvel para outra pessoa, Júlio deveria ter
oferecido o bem para ele, que tinha direito de preferência, nos termos do art. 504 do
CC.
A literalidade do art. 504: O direito de preferência deve ser observado apenas nos
casos em que o contrato de compra e venda seja celebrado entre o condômino e um
estranho. Não se aplica, portanto, às hipóteses de venda entre os consortes
(condôminos).
Mas e o parágrafo único do art. 504? Ele não dá a entender que seria necessário dar o
direito de preferência mesmo em caso de venda entre condôminos? NÃO. O parágrafo
único está subordinado e apenas complementa a norma enunciada no caput,
estabelecendo o procedimento a ser adotado caso mais de um condômino venha
manifestar o seu direito de preferência por ocasião da alienação de fração ideal a
terceiro alheio à comunhão. Em outras palavras, se um condômino resolver vender
sua fração a um terceiro (estranho), deverá oferecer primeiro aos demais condôminos.
Se mais de um condômino se interessar, aplica-se o parágrafo único do art. 504. O
parágrafo único do art. 504 não obriga, contudo, a que exista o direito de preferência
caso o condômino resolva vender sua fração ideal para um outro condômino. Neste
caso, o condômino fica livre para escolher para qual condômino quer vender sua
fração ideal.
O condômino não pode, sem a anuência de todos os condôminos, alterar a cor das
esquadrias externas de seu apartamento para padrão distinto do empregado no
restante da fachada do edifício, ainda que a modificação esteja posicionada em
recuo, não acarrete prejuízo direto ao valor dos demais imóveis e não possa ser vista
do térreo, mas apenas de andares correspondentes de prédios vizinhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.733-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).
Ocorre que mesmo após o julgamento desse recurso especial repetitivo (REsp
1.345.331-RS), a 3ª Turma do STJ julgou em sentido contrário à tese exposta na letra
"c".
Segundo decidiu a 3ª Turma do STJ, o promitente comprador e o promitente
vendedor de imóvel têm legitimidade passiva concorrente em ação de cobrança de
débitos condominiais posteriores à imissão daquele na posse do bem, admitindo-
se a penhora do imóvel, como garantia da dívida, quando o titular do direito de
propriedade (promitente vendedor) figurar no polo passivo da demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.442.840-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/8/2015 (Info 567).
O condômino que desejar alienar a fração ideal de bem imóvel divisível em estado
de indivisão deverá dar preferência na aquisição ao comunheiro.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.207.129-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
16/6/2015 (Info 564).
27.10. Rateio das despesas feitas para ajuizar ação contra um dos condôminos – (Info
549)
Tem direito à indenização por danos morais a moradora que foi impedida de usar
o elevador para chegar ao seu apartamento de um prédio residencial, por estar em
atraso com as taxas do condomínio.
STJ. 3ª Turma. Resp 1.401.815-ES, Min. Rel. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013.
30. LOCAÇÃO
30.1. O prazo de 30 meses previsto no art. 46 da Lei de Inquilinato não pode ser
alcançado pela prorrogação de contratos – (Info 615) – IMPORTANTE!!!
Se a locação residencial foi celebrada por escrito e com prazo igual ou superior a 30
meses, quando chegar ao fim o prazo estipulado, termina o contrato e o locador
poderá pedir a retomada do imóvel sem a necessidade de apresentar qualquer
justificativa. Diz-se, assim, que o locador pode fazer a chamada “denúncia vazia”.
Isso está previsto no art. 46 da Lei nº 8.245/91.
Vale ressaltar, contudo, que não é cabível a denúncia vazia quando o prazo de 30
meses, exigido pelo art. 46 da Lei 8.245/91, é atingido com as sucessivas
prorrogações do contrato de locação de imóvel residencial urbano.
Em outras palavras, o art. 46 da Lei 8.245/91 somente admite a denúncia vazia se um
único instrumento escrito de locação estipular o prazo igual ou superior a 30 meses,
não sendo possível contar as sucessivas prorrogações dos períodos locatícios
(accessio temporis) para se atingir esse prazo de 30 meses.
Ex: o contrato de locação foi celebrado por 12 meses; depois foi prorrogado mais
duas vezes, totalizando 36 meses; não se aplica o art. 46 porque o período mínimo
de 30 meses foi alcançado com prorrogações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.364.668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 7/11/17
(Info 615).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João alugou seu apartamento para Pedro. O
contrato foi celebrado por prazo determinado e com duração de 12 meses
(janeiro/2013 a janeiro/2014). Chegando em janeiro de 2014, as partes fizeram novo
contrato escrito prorrogando o ajuste inicial por mais 12 meses (janeiro/2014 a
janeiro/2015). Em janeiro de 2015, Pedro solicitou nova prorrogação e João aceitou,
tendo sido firmado novo contrato com duração de 12 meses (janeiro/2015 a
janeiro/2016). Chegou janeiro de 2016 e João estava viajando e, por isso, não procurou
o inquilino. Em fevereiro de 2016, contudo, João notificou Pedro pedindo o
apartamento de volta e dizendo que não tinha mais interesse em renovar o contrato.
Pedro não concordou e afirmou que o locador somente poderia exigir o imóvel se
demonstrasse algum justo motivo, nos termos do art. 47 da Lei nº 8.245/91:
Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e com
prazo inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a
locação prorroga-se automaticamente, por prazo
indeterminado, somente podendo ser retomado o imóvel:
I - Nos casos do art. 9º;
II - em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a
ocupação do imóvel pelo locatário relacionada com o seu
emprego;
III - se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou
companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou
descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou
companheiro, de imóvel residencial próprio;
IV - se for pedido para demolição e edificação licenciada ou
para a realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que
aumentem a área construída, em, no mínimo, vinte por cento
ou, se o imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão,
em cinquenta por cento;
V - se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco
anos.
§ 1º Na hipótese do inciso III, a necessidade deverá ser
judicialmente demonstrada, se:
a) O retomante, alegando necessidade de usar o imóvel,
estiver ocupando, com a mesma finalidade, outro de sua
propriedade situado na mesma localidade ou, residindo ou
utilizando imóvel alheio, já tiver retomado o imóvel
anteriormente;
b) o ascendente ou descendente, beneficiário da retomada,
residir em imóvel próprio.
§ 2º Nas hipóteses dos incisos III e IV, o retomante deverá
comprovar ser proprietário, promissário comprador ou
promissário cessionário, em caráter irrevogável, com imissão
na posse do imóvel e título registrado junto à matrícula do
mesmo.
Ação de despejo: Diante da recusa do locatário, João ajuizou ação de despejo contra
Pedro postulando a desocupação do imóvel e a entrega das chaves. Afirmou que a
situação em tela não se enquadra no art. 47, mas sim no art. 46. Isso porque houve três
prorrogações do contrato (3 x 12 meses), de forma que o contrato firmado teve, no final
das contas, prazo superior a 30 meses, se computados os períodos de prorrogação.
Logo, aplica-se a regra do art. 46 da Lei nº 8.245/91, que preconiza:
Art. 46. Nas locações ajustadas por escrito e por prazo igual
ou superior a trinta meses, a resolução do contrato ocorrerá
findo o prazo estipulado, independentemente de notificação
ou aviso.
§ 1º Findo o prazo ajustado, se o locatário continuar na posse
do imóvel alugado por mais de trinta dias sem oposição do
locador, presumir-se-á prorrogada a locação por prazo
indeterminado, mantidas as demais cláusulas e condições do
contrato.
§ 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o
contrato a qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias
para desocupação.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? Nesta situação, aplica-se o art. 46 ou o art. 47
da Lei nº 8.245/91? NÃO. A tese de João não foi acolhida. Aplica-se o art. 47 da Lei. O
locador pretendia que o prazo de 30 meses fosse conseguido mediante o instituto
da “acessão de tempo” (acessio temporis), isto é, por meio da soma dos prazos dos
diversos contratos sucessivos. O STJ, contudo, não concordou com essa possibilidade.
Quando a Lei nº 8.245/91 quis adotar a accessio temporis, ela o fez expressamente,
como no caso do art. 51, II. Veja:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo,
desde que, cumulativamente:
(...)
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos
prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco
anos;
O art. 46, caput, por sua vez, traz a expressão “por prazo igual ou superior a trinta meses”,
sem permitir explicitamente a contagem de múltiplos contratos prorrogados. Assim,
a lei é clara quanto à imprescindibilidade do requisito temporal em um único
contrato, cujo objetivo é garantir a estabilidade contratual em favor do locatário.
Nesse contexto, fica evidente que o art. 46 da Lei do Inquilinato somente admite a
denúncia vazia se um único instrumento negocial estipular o prazo igual ou
superior a 30 (trinta) meses, não se podendo atingir esse número de 30 meses com
base em sucessivas prorrogações.
30.2. É de 3 anos o prazo para o fiador cobrar do locatário inadimplente o valor que
pagou ao locador – (Info 605)
É trienal o prazo de prescrição para fiador que pagou integralmente dívida objeto
de contrato de locação pleitear o ressarcimento dos valores despendidos contra os
locatários inadimplentes.
O termo inicial deste prazo é a data em que houve o pagamento do débito pelo
fiador, considerando que é a partir daí que ocorre a sub-rogação, e, via de
consequência, inaugura-se ao fiador a possibilidade de demandar judicialmente a
satisfação de seu direito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 16/5/2017 (Info
605).
30.3. Se o locatário foi à falência, mas não houve denúncia do contrato de locação, o
fiador permanece vinculado à obrigação – (Info 602)
30.5. Locador de locação comercial não tem a obrigação legal de adaptar o imóvel às
peculiaridades da atividade que será explorada pelo locatário – (Info 583)
Quando o art. 22, I, afirma que é dever do locador entregar ao locatário o imóvel de
forma compatível com o uso a que se destina, o que se está dizendo é que ele deve ser
entregue com condições de ser utilizado para locação residencial, para temporada ou
comercial (a depender do caso).
Vale ressaltar que o valor do aluguel era de R$ 10 mil e a autora queria fixá-lo em R$
30 mil.
O juiz julgou o pedido procedente e, com base em laudo pericial, fixou o valor do
aluguel mensal em R$ 30 mil, condenando a ré/locatária (empresa "B") a pagar este
novo valor de forma retroativa à data da citação. A ré interpôs recurso de apelação
contra a sentença.
Enquanto o recurso não é julgado, a ré já terá que pagar o novo valor fixado na
sentença (R$ 30 mil)? SIM. Segundo a Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), os recursos
interpostos contra a sentença que julga ação revisional de aluguel devem ser recebidos
apenas no efeito devolutivo:
Dessa forma, mesmo enquanto aguarda o recurso, a ré já terá que pagar o novo valor
fixado na sentença (R$ 30 mil).
Chegou ao fim o prazo de vigência do contrato: Suponha que chegou o termo final do
contrato (março/2015), mas mesmo assim a locatária (empresa "B") decidiu
permanecer no imóvel sem oposição formal do locador ("A"). Neste caso, o contrato,
que era por prazo determinado, tornou-se indeterminado, nos termos do parágrafo
único do art. 56:
Aí, no entanto, surgiu mais uma polêmica. A empresa "B" (locatária) fez o seguinte: a
partir do momento em que o contrato tornou-se por prazo indeterminado, ela voltou
a pagar somente R$ 10 mil de aluguel, argumentando que, conforme estabelece o
parágrafo único acima transcrito, a locação foi prorrogada "nas condições ajustadas"
e, segundo o contrato, o valor era de apenas R$ 10 mil. O valor de R$ 30 mil não estava
previsto no contrato, sendo pago por força de decisão judicial.
A tese da locatária foi aceita pelo STJ? NÃO. Nas hipóteses de prorrogação de
contrato por prazo indeterminado, o locatário deverá observar o valor reajustado do
aluguel. Isso porque a razão de ser da revisão de aluguéis é justamente assegurar a
manutenção do equilíbrio do contrato de locação diante das modificações da realidade
do mercado, a fim de evitar injusto prejuízo ou enriquecimento sem causa a ambas as
partes.
Seria ilógico admitir que o Poder Judiciário apontasse o novo valor dos aluguéis para
o período de vigência do contrato de locação, mas tal valor fosse desconsiderado em
caso de prorrogação da avença por prazo indeterminado.
Desse modo, uma vez reajustado o valor do aluguel por meio do ajuizamento de ação
revisional, é o valor revisado, e não o originalmente pactuado, que será devido na
hipótese de prorrogação da avença perpetrada nos moldes do previsto no parágrafo
único do art. 56 da Lei nº 8.245/91.
O proprietário de um imóvel alugado vende este bem para outra pessoa. Se houver
alugueis atrasados, quem tem legitimidade para cobrá-los: o antigo ou o novo
proprietário?
Em regra, o antigo. O antigo proprietário (alienante) tem legitimidade para cobrar
os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel.
O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha
ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.228.266-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
10/3/2015 (Info 558).
30.10. Denúncia de contrato de locação de imóvel onde funciona hospital – (Info 547)
O art. 53 da Lei 8.245/91 estabelece que o locador de imóvel utilizado por hospitais
somente poderá fazer a denúncia do contrato se houver uma dos motivos elencados
na lei. É a chamada “denúncia cheia”.
O STJ confere interpretação restritiva ao art. 53 e afirma que ele não protege o local
em que são desempenhadas as atividades administrativas de estabelecimentos de
saúde.
Assim, pode haver denúncia vazia de contrato de locação de imóvel não residencial
ocupado por instituição de saúde apenas para o desempenho de atividades
administrativas, como marcação de consultas e captação de clientes, não se
aplicando o benefício legal previsto no art. 53 da Lei de Locações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.310.960-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/9/2014 (Info 547).
OBS1: Assim, segundo o art. 53 da Lei n 8245/91, o locador de imóvel utilizado por
hospitais somente poderá fazer a denúncia do contrato nas seguintes hipóteses:
a) mútuo acordo;
b) prática de infração legal ou contratual;
c) falta de pagamento do aluguel e demais encargos;
d) realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público;
e) pedido do proprietário para demolição do imóvel locado, edificação, ou
reforma que venha a resultar em aumento mínimo de 50% da área útil.
OBS2: O art. 53 da Lei de Locações não alcança o local em que são desempenhadas as
atividades administrativas de estabelecimentos de saúde. Assim, pode haver denúncia
vazia de contrato de locação de imóvel não residencial ocupado por instituição de
saúde apenas para o desempenho de atividades administrativas, como marcação de
consultas e captação de clientes, não se aplicando o benefício legal previsto no art. 53
da Lei de Locações.
30.11. Incidência da Lei 8.245/91 aos imóveis locados por empresa pública – (Info 542)
– IMPORTANTE!!!
31. FIANÇA
31.1. A interrupção do prazo prescricional operada contra o devedor principal
prejudica o fiador – (Info 602)
31.2. A interrupção do prazo prescricional operada contra o fiador não prejudica o
devedor afiançado, salvo nas hipóteses em que os devedores sejam solidários – (Info
602)
Assim, quando Pedro ajuizou, em 2017, ação contra o devedor principal, houve
interrupção do prazo prescricional não apenas contra este (Rui), mas também contra
o fiador (João).
Apenas um esclarecimento: o locador poderia ter ajuizado a ação diretamente contra
o devedor principal e contra o fiador.
A fiança limitada decorre da lei e do contrato, de modo que o fiador não pode ser
compelido a pagar valor superior ao que foi avençado, devendo responder tão
somente até o limite da garantia por ele assumida, o que afasta sua
responsabilização em relação aos acessórios da dívida principal e aos honorários
advocatícios, que deverão ser cobrados apenas do devedor afiançado.
Por se tratar de contrato benéfico, as disposições relativas à fiança devem ser
interpretadas de forma restritiva (art. 819 do CC), razão pela qual, nos casos em que
ela é limitada (art. 822), a responsabilidade do fiador não pode superar os limites
nela indicados.
Ex: indivíduo outorgou fiança limitada a R$ 30 mil; significa que ele não terá
obrigação de pagar o que superar esta quantia, mesmo que esse valor a maior seja
decorrente das custas processuais e honorários advocatícios.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.482.565-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 6/12/16 (Info
595).
OBS:
O que é fiança? Fiança é um tipo de contrato por meio do qual uma pessoa (chamada
de “fiadora”) assume o compromisso junto ao credor de que irá satisfazer a obrigação
assumida pelo devedor, caso este não a cumpra (art. 818 do Código Civil).
b) Formal: afirma-se que a fiança é um contrato formal porque exige a forma escrita
(art. 819 do CC). Logo, não é válida a fiança verbal. Contrato formal é diferente de
solene. A fiança é formal (precisa de forma escrita), mas não é solene, já que não exige
escritura pública.
No silêncio, a fiança é ilimitada: A regra é que a fiança seja ilimitada (total, universal).
Assim, se o fiador quiser se responsabilizar apenas por parte da obrigação, isso deverá
ser expressamente consignado no contrato. Em caso de silêncio por parte do fiador
(ou seja, se o contrato não falar nada), entende-se que a fiança foi concedida de forma
ilimitada. Um exemplo típico é a fiança locatícia. Se o fiador não fizer nenhuma
ressalva no contrato, a fiança por ele concedida será ilimitada, englobando todos os
alugueis devidos e outras parcelas acessórias, como as taxas de condomínio, IPTU,
danos provocados pelo inquilino ao imóvel, despesas judiciais com a cobrança dos
alugueis e todas as demais obrigações que forem do locatário por força do contrato.
Veja o que diz o Código Civil sobre o tema:
Art. 822. Não sendo limitada, a fiança compreenderá todos os
acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais,
desde a citação do fiador.
Art. 823. A fiança pode ser de valor inferior ao da obrigação
principal e contraída em condições menos onerosas, e, quando
exceder o valor da dívida, ou for mais onerosa que ela, não
valerá senão até ao limite da obrigação afiançada.
Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: Pedro aluga seu
apartamento para Rui (locatário). João, melhor amigo de Rui, aceita figurar no
contrato como fiador. No ajuste, ficou consignado que o valor máximo da garantia
outorgada pelo fiador seria de R$ 30 mil. Após um ano, Rui devolve o apartamento,
ficando devendo, contudo, quatro meses de aluguel. Pedro ajuíza ação contra João
cobrando o valor devido. O juiz condenou o réu a pagar um total de R$ 50 mil, sendo
referente às seguintes parcelas:
R$ 40 mil, de alugueis atrasados (dívida principal);
R$ 5 mil de custas e despesas processuais;
R$ 5 mil de honorários advocatícios.
31.4. Termo inicial do prazo para herdeiro pleitear anulação de fiança – (Info 581)
O prazo decadencial para herdeiro do cônjuge prejudicado pleitear a anulação da
fiança firmada sem a devida outorga conjugal é de dois anos, contado a partir do
falecimento do consorte que não concordou com a referida garantia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.273.639-SP, Rel. Luis Felipe Salomão, j. 10/3/16 (Info 581).
Situação 1: João possui em seu nome um único imóvel, qual seja, um apartamento que
está alugado para terceiro por R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma
casa alugada em um bairro mais simples, pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a
locação é utilizada para pagar o aluguel da sua casa e para a subsistência da família.
João está sendo executado e o juiz determinou a penhora do apartamento que está em
seu nome
Desse modo, pela redação legal, só seria impenhorável o imóvel próprio utilizado pelo
casal ou pela entidade familiar para moradia permanente. No entanto, o STJ ampliou
a proteção ao bem de família, conforme pudemos observar pela Súmula 486.
Assim, se um casal, uma entidade familiar ou mesmo uma pessoa solteira e sozinha,
possui um imóvel residencial “X” e o aluga, pela redação da lei ele não seria bem de
família legal e poderia ser penhorado. Entretanto, o STJ afirma que esse imóvel poderá
ser considerado também impenhorável desde que cumpridos os seguintes requisitos:
O imóvel alugado seja o único do devedor;
A renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia.
Situação 2: Pedro possui em seu nome um único imóvel, qual seja, uma sala comercial
que está alugada para uma empresa, que explora no local uma loja, pagando ao
proprietário R$ 2 mil. Ele e sua família, por sua vez, moram em uma casa alugada,
pagando R$ 1 mil. A renda recebida com a locação é utilizada para pagar o aluguel da
sua casa e para a subsistência da família. Pedro está sendo executado e o juiz
determinou a penhora da sala comercial que está em seu nome.
O art. 3º da Lei 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser
penhorado. O inciso V afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo
bem de família, se ele foi dado como hipoteca (garantia real) de uma dívida em
favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso, o bem
de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.
Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de
Registro de Imóveis. Assim, a ausência de registro da hipoteca em cartório de
registro de imóveis não afasta a exceção à regra de impenhorabilidade prevista no
art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.
Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser
utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora do bem de família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 14/6/16 (Info
585).
OBS:
ESPÉCIES DE BEM DE FAMÍLIA: No Brasil, atualmente, existem duas espécies de
bem de família:
a) bem de família convencional ou voluntário (arts. 1711 a 1722 do Código Civil);
b) bem de família legal (Lei nº 8.009/90).
A dívida deve ter sido contraída em favor do casal ou da entidade familiar: A exceção
prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 deve ser interpretada restritivamente e
somente atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas em
benefício da própria família, não abrangendo bens dados em garantia de terceiros. STJ.
3ª Turma. REsp 1.115.265-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/4/2012.
É essa inscrição no RI que confere à hipoteca a eficácia de direito real oponível erga
omnes. No entanto, apesar disso, a hipoteca convencional já tem validade inter partes,
como direito pessoal, desde o momento da assinatura do contrato.
Desse modo, a ausência de registro da hipoteca não a torna inexistente, mas apenas
válida inter partes como crédito pessoal. Logo, o fato de a hipoteca não ter sido
registrada não pode ser utilizado como argumento pelo devedor para evitar a penhora
do bem de família, incidindo a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.
Qual das duas teses prevaleceu no STJ? O imóvel que está em nome da pessoa jurídica,
mas onde reside o sócio também goza da proteção como bem de família? SIM.
O STJ entende que, mesmo nos casos em que o imóvel pertence à pessoa jurídica, é
possível conferir a ele a proteção como bem de família se ele é utilizado como
residência pelos sócios. Nesse sentido:
O benefício conferido pela Lei 8009/90 se trata de norma cogente, que contém
princípio de ordem pública, e sua incidência somente é afastada se caracterizada
alguma hipótese descrita no art. 3º do mesmo diploma.
32.4. Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido
extinção da punibilidade pelo cumprimento do sursis processual – (Info 575)
Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem
de família adquirido com o produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado
tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições estipuladas para a
suspensão condicional do processo.
Aplica-se, no caso, a exceção prevista na primeira parte do inciso VI do art. 3º da
Lei nº 8.009/90 ("por ter sido adquirido com produto de crime").
A Lei nº 8.009/90 permite a penhora do bem de família adquirido com produto de
crime sem que para isso precise existir condenação na esfera criminal.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.091.236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015
(Info 575).
OBS:
Se tivesse havido sentença absolutória: Apesar de não ter ficado expresso no julgado,
vale ressaltar que a situação seria diferente se o réu tivesse sido absolvido no processo
criminal com fundamento no art. 386, I e IV, do CPP. Nestes casos, a sentença penal
absolutória faria coisa julgada no cível (vincularia o juízo cível).
A sentença de extinção da punibilidade pelo cumprimento das condições impostas
na suspensão condicional do processo não é absolutória e não nega a existência do
fato nem a sua autoria.
32.6. Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor – (Info 558)
A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família
para ser penhorado?
Em regra, NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção
conferida ao instituto de bem de família pela Lei 8009/90 é uma norma cogente, uma
questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício
renuncie à sua proteção.
Exceção: não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar
de bem de família na hipótese em que, mediante acordo homologado
judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo
para pagamento e a redução do valor de dívida que contraíra em benefício da
família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao
oferecimento de qualquer defesa, de modo que, descumprido o acordo, a execução
prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
5/3/2015 (Info 558).
32.9. Executado que aliena o bem de família pratica fraude à execução? – (Info 545)
Existe fraude à execução quando o devedor, ciente de que existe execução contra si
proposta, aliena o bem de família?
O tema é polêmico, havendo decisões do STJ nos dois sentidos:
SIM NÃO
O devedor que aliena, gratuita ou Não há fraude à execução na alienação
onerosamente, o único imóvel, onde de bem impenhorável nos termos da
reside com a família, está abrindo mão Lei 8.009/90, tendo em vista que o bem
da proteção legal conferida ao bem de de família jamais será expropriado
família, na medida em que seu para satisfazer a execução, não tendo o
comportamento demonstra que o bem exequente nenhum interesse jurídico
não lhe serve mais à moradia ou em ver essa alienação considerada
subsistência. ineficaz.
Se o bem de família é doado a seu filho Precedentes:
menor impúbere dias após serem STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp
intimados para a execução tal 255.799/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes
circunstância revela que os devedores Maia Filho, j. 17/09/13.
tentam ocultar o bem e proteger o seu STJ. 4ª Turma. REsp 976.566/RS, Rel.
patrimônio, sacrificando o direito do Min. Luis Felipe Salomão, j. 20/04/10.
credor. Assim, com fundamento no
abuso de direito, é possível reconhecer
que houve fraude à execução e afastar a
proteção conferida pela Lei 8.009/90.
STJ. 3ª Turma. REsp 1364509/RS, Rel.
Min. Nancy Andrighi, j. 10/06/14 (Info
545).
OBS:
O que fazer nos concursos públicos? Se a questão for discursiva, explicar a existência
das duas posições. Se a questão for objetiva, não deveria ser cobrada em prova, no
entanto, acontecendo isso o recomendável seria adotar o julgado mais recente,
divulgado neste Informativo 545.
33.2. Policial que, fora de suas funções, prende vizinho por conta de xingamentos
sofridos, pratica ato ilícito que gera dano moral in re ipsa – (Info 612)
A partir desse julgado pode-se dizer que qualquer atraso na pensão alimentícia ou
descumprimento do dever de alimentar gera dano moral? NÃO. No caso concreto, não
houve um “mero descumprimento episódico de obrigação alimentar, mas de hipótese
em que a reiterada falta de assistência material foi de tal ordem que revelou ter o autor
sido vítima de humilhações, situações que o levaram ao ridículo, privações que
prejudicaram o seu desenvolvimento, caracterizando o tratamento cruel e degradante
ao qual ficou submetido em decorrência da conduta omissiva do genitor, que tinha,
na época dessas ocorrências, conhecimento da situação de penúria e plenas condições
de suprir suas necessidades.” (Min. Maria Isabel Gallotti).
33.5. Ofensas proferidas por Rita Lee contra policiais militares em show geraram
dano moral in re ipsa – (Info 609)
A vítima de um ato ilícito praticado por menor pode propor a ação somente contra o
pai do garoto, não sendo necessário incluir o adolescente no polo passivo
Em ação indenizatória decorrente de ato ilícito, não há litisconsórcio necessário
entre o genitor responsável pela reparação (art. 932, I, do CC) e o menor causador
do dano.
É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta
que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito,
intente ação contra ambos – pai e filho –, formando-se um litisconsórcio facultativo
e simples.
Ex: Lucas, 15 anos de idade, brincava com a arma de fogo de seu pai e, por
imprudência, acabou acertando um tiro em Vítor, que ficou ferido, mas sobreviveu.
Vítor ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra João (pai de
Lucas). Não era necessário que Vítor propusesse a ação contra João e Lucas, em
litisconsórcio. Vale a pena esclarecer, no entanto, que seria plenamente possível
que o autor (vítima) tivesse, por sua opção e liberalidade, ajuizado a ação contra
ambos (pai e filho). Neste caso, teríamos uma hipótese de litisconsórcio:
Facultativo: não há nada (seja a lei ou a relação jurídica) que obrigue sua
formação, decorrendo ela da conveniência da parte.
Simples: porque a decisão não seria necessariamente idêntica para o incapaz
e seu responsável.
A vantagem de o autor propor contra os dois seria para o caso de ele já saber que o
responsável pelo incapaz não possui patrimônio suficiente e que o próprio incapaz
detém bens, em seu nome, que poderiam servir para custear a indenização. Trata-
se de hipótese rara na prática, mas possível. Neste caso, o autor faria dois pedidos:
o primeiro para que haja a condenação do responsável pelo incapaz a reparar o
dano; o segundo pedido seria subsidiário, ou seja, na hipótese de o responsável
pelo incapaz não ter a obrigação de indenizar ou não ter meios para isso, pede-se a
condenação do próprio incapaz.
33.9. Agressões físicas ou verbais praticadas por adulto contra criança geram dano
moral in re ipsa – (Info 598)
33.10. Abuso de direito em ação proposta por terceiro para impedir que mulher
realize aborto – (Info 592) – IMPORTANTE!!!
É possível estender este entendimento para outros casos de má-formação do feto que
inviabilizem a vida extrauterina? O feto que é portador da síndrome de Body-Stalk
(Body-StalkAnomaly) não é um feto anencéfalo, ou seja, ele possui cérebro. No
entanto, mesmo assim, não terá condições de ter vida extrauterina. Pode-se aplicar a
decisão da ADPF 54/DF também para este caso? O STJ entendeu que sim. Tanto em
um caso (anencefalia) como no outro (síndrome de Body-Stalk), a conclusão a que se
chega é que não existe possibilidade de vida extrauterina. Desse modo, as mesmas
razões utilizadas pelo STF para autorizar o aborto do feto anencéfalo podem aqui
também ser invocadas para permitir a interrupção da gravidez do feto que tenha a
síndrome de Body-Stalk.
Nexo causal: O STJ não aceitou o argumento do réu de que não houve nexo causal
entre a propositura da ação e os danos provocados ao casal considerando que a
decisão foi do Estado-juiz. A busca do Poder Judiciário por uma tutela de urgência
traz, para àquele que a maneja, o ônus da responsabilidade pelos danos que
porventura a concessão do pleito venha a produzir, especialmente quando ocorre
hipótese de abuso de direito. Nesse sentido:
(...) Segundo o entendimento firmado na Segunda Seção desta
Corte Superior, "Os danos causados a partir da execução de
tutela antecipada (assim também a tutela cautelar e a execução
provisória) são disciplinados pelo sistema processual vigente
à revelia da indagação acerca da culpa da parte, ou se esta agiu
de má-fé ou não.
Com efeito, à luz da legislação, cuida-se de responsabilidade
processual objetiva, bastando a existência do dano decorrente
da pretensão deduzida em juízo para que sejam aplicados os
arts. 273, § 3º, 475-O, incisos I e II, e 811 do CPC⁄1973
(correspondentes aos arts. 297, parágrafo único, 520, I e II, e
302 do novo CPC)". (...) STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1604218/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23/08/2016.
Não há dano moral quando o Google exibe, como resultado de uma busca, a
indicação do link de um site que não mais contém aquela palavra ou frase porque
já foi removida. Ex: determinado blog publicou a frase "João de Tal é um péssimo
médico". Depois de um tempo, o administrador deste blog retirou a expressão, mas
manteve o restante do texto. O Google demorou para atualizar seu sistema de
buscas e continua exibindo o link deste blog quando a pessoa digita o nome "João
de Tal", mesmo não havendo mais qualquer referência no texto. Esse fato não gera,
por si só, dano moral a ser pago pelo Google.
A ausência de congruência entre o resultado atual e os termos pesquisados, ainda
que decorrentes da posterior alteração do conteúdo original publicado pela página,
configuram falha na prestação do serviço de busca, que deve ser corrigida nos
termos do art. 20 do CDC, por frustrarem as legítimas expectativas dos
consumidores.
Não há dano moral quando o provedor de busca, mesmo após ser cientificado pelo
consumidor, continua exibindo resultado desatualizado. Ex: ao se digitar o nome
desse consumidor (argumento de pesquisa) continua aparecendo, entre os
resultados, determinado site que tinha realmente este nome do consumidor, mas
que já foi retirado de lá. Em outras palavras, não há dano moral quando o provedor,
mesmo depois de alertado sobre a falha, exibe associação indevida entre o
argumento de pesquisa e o resultado de busca.
O provedor de busca cientificado pelo consumidor sobre vínculo virtual
equivocado entre o argumento de pesquisa (nome de consumidor) e o resultado de
busca (sítio eletrônico) é obrigado a desfazer a referida indexação, ainda que esta
não tenha nenhum potencial ofensivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 10/5/16 (Info
583).
33.13. Termo inicial de juros moratórios quando fixada pensão mensal a título de
responsabilidade civil extracontratual – (Info 580)
33.14. Termo final de pensão mensal por ato ilícito com resultado morte – (Info 578)
O fato de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade
superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu
dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a
data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de sobrevida
(Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito, considerando-
se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
18/2/2016 (Info 578).
OBS: O fato de a vítima já ter ultrapassado a idade correspondente à expectativa
média de vida do brasileiro, por si só, não é óbice ao deferimento do benefício, pois
muitos são os casos em que referida faixa etária é ultrapassada. Em outras palavras,
esta é uma tabela de expectativa de vida, mas não significa que a pessoa não possa
viver mais que isso.
Mas qual será, então, o critério a ser adotado para fixar o termo final da pensão? Até
quando a viúva irá receber a pensão mensal? Neste caso em que a vítima já possuía
mais idade do que a expectativa de vida, deverá ser utilizado como critério a tabela de
sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade correspondente ao gênero da vítima) do
IBGE em vigência na data do óbito.
Com base nesta tabela, pode-se fixar a expectativa de vida da vítima e,
consequentemente, consegue-se estabelecer o termo final da pensão.
Ex: nesta tabela, que está disponível no site do IBGE, é possível verificar, em relação
ao ano de 2005, que para o adulto de 76 anos do sexo masculino, havia uma expectativa
de vida de mais 10,3 anos. Somando-se, pois, esses anos à idade da vítima, teríamos
uma expectativa de vida total de 86,3 anos. Logo, o réu deveria pagar pensão à viúva
até o ano em que a vítima completaria 86,3 anos de idade.
O banco deverá indenizar mesmo o gerente tendo atuado fora dos limites de suas
atribuições? SIM. A doutrina, ao interpretar a expressão "em razão dele" prevista no
art. 932, III, do CC, confere uma interpretação extensiva para abranger casos em que
o vínculo com o trabalho é bastante tênue. A título de exemplo, confira-se a doutrina
de Sérgio Cavalieri Filho:
33.17. Responsabilidade civil dos genitores pelos danos causados por filho
esquizofrênico – (Info 573) – IMPORTANTE!!!
33.19. Pensão civil por incapacidade parcial para o trabalho – (Info 568)
"Habeas aula" é um curso jurídico "on line" preparatório para concursos públicos.
Determinado dia, o gerente da instituição descobriu que havia uma comunidade
na rede social Orkut® onde estavam sendo vendidas, em DVD, as aulas do curso,
de forma não autorizada ("pirataria"). Diante disso, o curso propôs ação contra a
Google® (proprietária do Orkut®) pedindo:
a) a retirada do ar da referida comunidade;
b) a identificação do IP, ou seja, o número do "computador" (dispositivo) de onde
partiram as publicações;
c) a reparação pelos danos morais que sofreu durante o período em que a
comunidade esteve "on line".
O art. 950 do CC prevê que se a vítima sofrer uma ofensa que resulte em lesão por
meio da qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se isso lhe
diminuiu a capacidade de trabalho, esta vítima deverá ser indenizada com o
pagamento de pensão.
O parágrafo único determina que, se o prejudicado preferir, ele poderá exigir que
a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez, ou seja, em vez de receber todo
mês o valor da pensão, ele receberia à vista a quantia total.
O parágrafo único do art. 950 do CC impõe um dever absoluto de o causador do
dano pagar a indenização fixada de uma só vez? Se a vítima pedir para receber de
uma só vez, o magistrado é obrigado a acatar?
NÃO. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho
(art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos
materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez.
O juiz é autorizado a avaliar, em cada caso concreto, se é conveniente ou não a
aplicação da regra que estipula a parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC),
considerando a situação econômica do devedor, o prazo de duração do
pensionamento, a idade da vítima, etc, para só então definir pela possibilidade de
que a pensão seja ou não paga de uma só vez, antecipando-se as prestações
vincendas que só iriam ser creditadas no decorrer dos anos. Isso porque é preciso
ponderar que, se por um lado é necessário satisfazer o crédito do beneficiário, por
outro não se pode exigir o pagamento de uma só vez se isso puder levar o devedor
à ruína.
Enunciado 381-CJF/STJ: O lesado pode exigir que a indenização, sob a forma de
pensionamento, seja arbitrada e paga de uma só vez, salvo impossibilidade
econômica do devedor, caso em que o juiz poderá fixar outra forma de pagamento,
atendendo à condição financeira do ofensor e aos benefícios resultantes do
pagamento antecipado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
14/4/2015 (Info 561).
O banco mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX” por meio
do qual esta se comprometia a prestar serviços de vigilância armada nas agências
bancárias.
Determinado dia, o banco foi assaltado por um grupo de oito ladrões fortemente
armados.
O banco ajuizou ação de indenização contra a empresa de vigilância sustentando
que, por expressa disposição contratual, a empresa deveria ser responsabilizada
pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição bancária.
A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar?
NÃO. A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que
impõe o dever de obstar assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de
instituição financeira não acarreta à contratada automática responsabilização por
roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando praticado por
grupo fortemente armado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/3/2015 (Info 561).
O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os
danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente
reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade.
Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao pagamento de danos morais e,
de ofício, determinou que pagasse também danos sociais em favor de uma
instituição de caridade.
O STJ entendeu que essa decisão é nula, por ser “extra petita”.
Para que haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido
expresso.
Vale ressaltar, no entanto, que, no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de
condenação em danos sociais na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido
julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo.
Isso porque, na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode ocorrer
em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de
ações coletivas poderiam pleitear danos sociais.
Em suma, não é possível discutir danos sociais em ação individual.
STJ. 2ª Seção. Rcl 12.062-GO, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014
(recurso repetitivo) (Info 552).
É cabível indenização por danos morais ao aluno universitário que fora compelido
a migrar para outra instituição educacional pelo fato de a instituição contratada ter
extinguido de forma abrupta o curso, ainda que esta tenha realizado convênio, com
as mesmas condições e valores, com outra instituição para continuidade do curso
encerrado.
Obs: ressalte-se que o tema não é tranquilo e que existe julgado da 4ª Turma
entendendo, com base nas peculiaridades do caso concreto, que não seria devida a
indenização: STJ. 4ª Turma. REsp 1094769/SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
18/03/2014.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.341.135-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
14/10/2014 (Info 549).
Tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance, a criança
que, em razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para
coletar o material no momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco
embrionárias.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.291.247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
19/8/2014 (Info 549).
33.31. Fixação individualizada dos danos morais por morte de parente – (Info 544) –
IMPORTANTE!!!
33.32. Cumulação de pensão por morte previdenciária com indenização por danos
materiais paga pelo autor do crime – (Info 542)
33.33. Responsabilidade civil por abuso no direito de propor ação de execução – (Info
539)
33.34. Termo inicial dos juros de mora no caso de ação de indenização pela execução
não autorizada de músicas – (Info 539)
33.35. Ausência de responsabilidade civil da CEF por roubo ocorrido em casa lotérica
– (Infos 518 e 536) – ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!!!
33.36. Credores de indenização por morte não podem exigir que o pagamento seja de
uma só vez – (Info 536)
Os credores de indenização por morte fixada na forma de pensão mensal não têm
o direito de exigir que o causador do ilícito pague de uma só vez todo o valor
correspondente. Isso porque a faculdade de “exigir que a indenização seja arbitrada
e paga de uma só vez” (parágrafo único do art. 950 do CC) é estabelecida para a
hipótese do caput do dispositivo, que se refere apenas a defeito que diminua a
capacidade laborativa da vítima, não se estendendo aos casos de falecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.393.577-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 20/2/2014 (Info 536)
O simples fato da pessoa ter esperado por atendimento bancário por tempo
superior ao previsto na legislação municipal não enseja indenização por danos
morais.
No entanto, se a espera por atendimento na fila de banco for excessiva ou associada
a outros constrangimentos, pode ser reconhecida como provocadora de sofrimento
moral e ensejar condenação por dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.218.497-MT, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 11/9/2012.
Obs1: essa penalidade do art. 940 deve ser aplicada independentemente da pessoa
demandada ter provado qualquer tipo de prejuízo. Assim, ainda que o demandado
não comprove ter sofrido dano, essa indenização será devida. O art. 940 do CC institui
uma autêntica pena privada, aplicável independentemente da existência de prova do
dano. (STJ. 3ª Turma. REsp 1.286.704/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de
28/10/2013).
Obs2: a penalidade do art. 940 exige que o credor tenha exigido judicialmente a dívida
já paga (“demandar” = “exigir em juízo”).
A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade rural, por si só, não
é fato suficiente para configurar o evento como de força maior, pois deve ser
analisada, concretamente, a presença dos requisitos caracterizadores do instituto
(necessariedade e inevitabilidade – art. 393, § único, do Código Civil).
A parte que faz esta alegação deverá comprovar que a ocupação ilegal da
propriedade rural pelo MST criou óbice intransponível ao cumprimento da
obrigação. Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir os seus
efeitos.
Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá exigível na hipótese de o
MST invadir o imóvel do financiado e este deixar de comprovar que a invasão
constitui óbice intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam meios
de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.705-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 16/8/16
(Info 589).
36. POSSE
36.1. Não é possível que oficina retenha veículo até que haja o pagamento do serviço
contratado – (Info 610) – IMPORTANTE!!!
36.2. Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias
para defender a sua permanência no local? – (Info 594) – IMPORTANTE!!!
Em suma, não haverá alteração na titularidade dominial do bem, que continuará nas
mãos do Estado, mantendo sua natureza pública. No entanto, na contenda entre
particulares, a relação será eminentemente possessória, e, por conseguinte, nos bens
do patrimônio disponível do Estado, despojados de destinação pública, será
plenamente possível - ainda que de forma precária -, a proteção possessória pelos
ocupantes da terra pública que venham a lhe dar função social.
36.3. AÇÕES POSSESSÓRIAS: Particular pode ajuizar ação possessória tendo como
objeto bem público de uso comum do povo – (Info 590)
Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso
de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão
de passagem.
Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de
acesso (rua) que liga a avenida principal à uma comunidade de moradores locais.
Os moradores possuem legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse
contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma
servidão de passagem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/9/16 (Info 590).
OBS:
Bem de uso comum do povo: O art. 99 do Código Civil classifica os bens públicos de
acordo com a sua destinação (ou afetação):
Desse modo, quando se fala em bem de uso comum do povo, o particular é o usuário
concreto do bem e, como tal, pode ser considerado como titular de direito subjetivo
público. Em outras palavras, se o seu direito de utilizar o bem de uso comum for
violado, seja por terceiro, seja pela própria Administração Pública, ele poderá
defender o seu direito de usar o bem, seja na via administrativa ou judicial.
Exemplo: se um rico empresário resolve construir uma casa na beira da praia e fechá-
la, tornando-a privativa, qualquer outra pessoa poderá questionar judicialmente esta
medida. Nesse sentido: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 27ª
ed., São Paulo: Atlas, 2014. p. 763-764.
36.4. Ajuizamento de ação possessória por invasor de terra pública contra outros
particulares – (Info 579) – TEMA POLÊMICO!
Ao ler esse artigo, percebe-se que o invasor de uma terra pública não pode ser
enquadrado neste conceito, ou seja, não pode ser considerado detentor.
O art. 1.198 fala em "relação de dependência", de forma que a posse deve ser exercida
em nome de outrem que ostenta o jus possidendi ou o jus possessionis. É o caso, por
exemplo, de um "caseiro" que mora no sítio. Este, sim, é considerado "detentor" porque
possui uma relação de dependência com o possuidor e conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de suas ordens.
Por outro lado, em sentido contrário, não se pode dizer que a pessoa que invade terra
pública e nela constrói sua moradia esteja exercendo a posse em nome do Poder
Público. Além disso, não há entre ele e o ente público uma relação de dependência ou
de subordinação. Logo, não há que se falar que o invasor tenha mera detenção.
O invasor possui animus domni, ou seja, age como se fosse o dono. Sabe-se que as terras
públicas não estão sujeitas à usucapião, no entanto, mesmo assim o invasor age como
se fosse o dono. Isso é indiscutível. Na prática, o invasor, na maioria das vezes, nem
sabe quem é o proprietário da terra e também desconhece que não poderá adquiri-la.
Ele simplesmente age como se fosse o dono, de forma que isso caracteriza a posse.
Diante desse contexto, é perfeitamente possível que o invasor de terras públicas
proponha interditos possessórios caso um outro particular tente ou efetivamente
consiga tomar-lhe a posse.
Atenção: Vale ressaltar que o tema é polêmico e, como se trata apenas de uma decisão
da 3ª Turma, não se pode afirmar, com convicção, que tenha havido uma mudança de
entendimento do STJ sobre o assunto.
37. DIREITOS REAIS
37.1. Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time-
sharing – (Info 589) – IMPORTANTE!!!
Finalidade: Este modelo é adotado normalmente por indivíduos que querem usufruir
de um imóvel apenas durante parte do ano e, por isso, não valeria a pena serem
proprietários únicos do bem. Assim, com o sistema do time-sharing não precisam
desembolsar o preço total do imóvel na aquisição e também não terão que arcar
sozinhos com os custos da manutenção.
Ao contrário do que afirma a primeira corrente, é possível que sejam admitidos como
direitos reais não apenas aqueles que estão enumerados na lei, mas também outros
que possam ser criados a partir da liberdade negocial.
O Código Civil não traz nenhuma proibição de que sejam criados novos direitos reais
a partir da convenção de vontades. Além disso, a time-sharing se harmoniza com os
atributos dos direitos reais, considerando que o participante detém as faculdades de
uso, gozo e disposição sobre fração ideal do bem, ainda que objeto de
compartilhamento pelos multiproprietários de espaço e turnos fixos de tempo.
Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João.
Ocorre que Pedro não pagou Fernando, razão pela qual este propôs ação de rescisão
contratual cumulada com reintegração de posse unicamente contra Pedro.
A sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e
determinado que ele devolvesse a posse do imóvel para Fernando.
Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João,
que assumiu o local antes de a ação de reintegração ser proposta.
Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-
fé)?
NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em
processo do qual não participou o terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira
do réu o imóvel objeto do litígio.
Em regra, a sentença faz coisa julgada somente para as partes do processo, não
beneficiando nem prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC
2015). Também não é caso de aplicar o art. 42, § 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do
CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel ANTES da ação proposta pelo
autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou
seja, ainda não havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O bem ou
direito somente se torna litigioso com a litispendência, ou seja, com a lide
pendente. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura da ação,
enquanto que, para o réu, com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do
CPC 2015). Se o bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a
litigiosidade, não há falar em extensão dos efeitos da coisa julgada ao adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.458.741-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
14/4/2015 (Info 560).
38. ACESSÃO
38.1. Responsabilidade do proprietário do solo pelas despesas havidas com a
construção realizada em seu terreno – (Info 593)
No caso em que o subsolo de imóvel tenha sido invadido por tirantes (pinos de
concreto) provenientes de obra de sustentação do imóvel vizinho, o proprietário do
imóvel invadido não terá legítimo interesse para requerer, com base no art. 1.229
do CC, a remoção dos tirantes nem indenização por perdas e danos, desde que fique
constatado que a invasão não acarretou prejuízos comprovados a ele, tampouco
impossibilitou o perfeito uso, gozo e fruição do seu imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.256.825-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 5/3/15 (Info
557).
40. HIPOTECA
40.1. Prescrição da obrigação principal e extinção da garantia hipotecária – (Info 572)
Em uma ação de usucapião, o autor deve pedir a citação de quem? Quem deve ser
citado?
O indivíduo em nome do qual se encontra registrado o imóvel, ou seja, o
“proprietário” do imóvel, segundo o cartório de registro de imóveis;
Os proprietários ou possuidores dos imóveis confinantes, ou seja, os vizinhos
que fazem fronteira com o imóvel que se almeja na ação. Em se tratando de
casa, em geral, são três confinantes: o vizinho da esquerda, o da direita e o
vizinho de trás;
A citação, por edital, de eventuais interessados (art. 259, I, do CPC/2015).
Atenção: mesmo que o indivíduo (autor da ação) não esteja mais na posse do imóvel,
ainda assim ele poderá ter direito à usucapião desde que tenha preenchidos todos os
requisitos para a constituição do direito antes de perder a posse. Neste caso, o autor
deverá pedir a citação também do atual possuidor do imóvel. Conforme explica
Marcus Vinicius Rios Gonçalves:
“Não é preciso que o autor da ação tenha posse atual do bem.
A ação de usucapião visa a declarar a propriedade em favor
de alguém que, por ter permanecido na coisa com posse
animus domini, contínua, ininterrupta, pacífica e pública, pelo
tempo exigido por lei. Pode ocorrer que o possuidor tenha
permanecido todo o tempo necessário, e tenha-se tornado
proprietário, mas que tenha perdido a posse, logo depois.
Isso não o impede de pedir a declaração de propriedade em
seu favor. A única ressalva é que ele deve incluir — no polo
passivo — o atual possuidor. É o que resulta da Súmula 263
do STF: “O possuidor deve ser citado pessoalmente para a
ação de usucapião”. O possuidor a que a súmula se refere é o
que tem a posse atual da coisa. Ele deve ser citado na ação
ajuizada pelo usucapiente, que perdeu posteriormente a
posse.” (Direito Processual Civil esquematizado. 2ª ed., São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 796).
Ao propor uma ação de usucapião, o autor deverá requerer a citação dos confinantes,
ou seja, dos vizinhos que fazem fronteira com o imóvel que ele almeja? SIM. Isso foi
dito acima. Perguntei de novo apenas para ter certeza que você entendeu. Essa
exigência é antiga. Em 1964, o STF aprovou uma súmula falando isso. Confira:
Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado
pessoalmente para a ação de usucapião.
Em 1973, foi editado o antigo CPC e ele trouxe, em seu art. 942, a previsão de que o
autor da ação de usucapião deveria requerer “a citação daquele em cujo nome estiver
registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em
lugar incerto e dos eventuais interessados”.
Por que os confinantes têm que ser citados na ação de usucapião? Qual é a razão de
o CPC trazer essa exigência? Por duas razões:
1) os confinantes podem trazer informações úteis ao deslinde
do processo;
2) a depender do caso concreto, o confinante pode ter que
defender os limites de sua propriedade. Ex: o autor afirma que
a fazenda objeto da usucapião termina depois do córrego; o
confinante contesta essa alegação e comprova que a área do
córrego já está dentro de sua propriedade.
E o que acontece caso não haja a citação dos confinantes? Haverá nulidade absoluta
do processo? NÃO. É o que foi decidido no Informativo 616 do STJ.
E o que acontece caso não haja a citação do proprietário do imóvel (e seu cônjuge)?
Neste caso, o vício é mais grave. A sentença de usucapião proferida sem a citação do
proprietário e seu cônjuge será considerada absolutamente ineficaz, inutiliter data,
tratando-se de nulidade insanável.
41.2. Se o juízo criminal decretou a perda do imóvel que está sendo pleiteado em
ação de usucapião, esta decisão produzir a efeitos no juízo cível, devendo a ação ser
extinta por perda do objeto – (Info 613)
41.4. O art. 12, § 2º do Estatuto da Cidade estabelece uma presunção relativa de que
o autor da ação de usucapião especial urbana é hipossuficiente – (Info 599) –
IMPORTANTE!!!
41.5. Indivíduo que comprou e tem a posse de veículo pode propor usucapião se o
automóvel estiver registrado em nome de terceiro – (Info 593)
41.6. Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja
inferior ao "módulo urbano" – (Info 584)
Algumas observações:
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de
boa-fé;
Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for
calcular se o tamanho do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área
comum, como salão de festas etc, mas tão somente a parte privativa);
O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à
mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento
dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor
obstáculos, de índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de
parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.
41.7. Pode ser deferida usucapião especial rural ainda que a área do imóvel seja
inferior ao módulo rural – (Info 566) – IMPORTANTE!!!
42. USUFRUTO
42.1. Usufrutuário possui legitimidade e interesse para propor ação reivindicatória
– (Info 550) – (TJMS-2015)
A proibição prevista no art. 1.301, caput, do Código Civil – de não construir janelas
a menos de 1,5m do terreno vizinho – possui caráter objetivo e traduz verdadeira
presunção de devassamento ("invasão"). Logo, esta vedação não tem por objetivo
limitar apenas a visão do imóvel sobre seu vizinho. Ela também protege o vizinho
de outras espécies de invasão, como a auditiva, olfativa e, principalmente, física
(ex: busca impedir que objetos caiam ou sejam arremessados de uma propriedade
a outra).
Desse modo, a proibição é objetiva, bastando, para a sua configuração, a presença
do elemento objetivo estabelecido pela lei (construção da janela a menos de 1,5m
do terreno vizinho), não importando a aferição de aspectos subjetivos relativos à
eventual atenuação do devassamento visual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.531.094-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/10/16
(Info 592).
43.2. Construção em terreno alheio de aqueduto para passagem de águas – (Info 591)
O proprietário de imóvel tem direito de construir aqueduto no terreno do seu
vizinho, independentemente do consentimento deste, para receber águas
provenientes de outro imóvel, desde que não existam outros meios de passagem de
águas para a sua propriedade e haja o pagamento de prévia indenização ao vizinho
prejudicado.
Trata-se de direito de vizinhança assegurado pelo art. 1.293 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.616.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 27/9/16 (Info 591).
A companheira sobrevivente faz jus ao direito real de habitação (art. 1.831 do CC)
sobre o imóvel no qual convivia com o companheiro falecido, ainda que tenha
adquirido outro imóvel residencial com o dinheiro recebido do seguro de vida do
de cujus.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.249.227-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 17/12/13 (Info
533).
Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art.
1.571, III, do CC (que menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente
revogado. Em outras palavras, o constituinte reformador tirou da Constituição a
separação, mas ela ainda continua presente no Código Civil. Diante disso, surgiram
duas correntes:
46. DIVÓRCIO
46.1. Ex-cônjuge que está utilizando o bem comum de forma exclusiva poderá ser
condenado a indenizar o outro mesmo que ainda não tenha havido partilha – (Info
598)
46.2. Cotas sociais que serão partilhadas após mancomunhão deverão ser calculadas
no momento efetivo da partilha – (Info 594)
É possível fazer o divórcio sem a partilha de bens? SIM. Quando um casal está se
divorciando, são muitos os conflitos que surgem envolvendo os mais diversos
aspectos da vida da pessoa: a questão sentimental, a guarda dos filhos, a discussão
acerca da alteração ou manutenção do patronímico e, como não se pode esquecer, há
também o debate sobre o patrimônio e a divisão (partilha) dos bens, de acordo com o
regime matrimonial adotado.
Algumas vezes, a vontade do casal de se divorciar é muito intensa e eles querem que
isso ocorra logo. No entanto, a discussão sobre a divisão dos bens pode ser complexa
e acabar atrasando a formalização do divórcio.
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio
de três caminhos (Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p.
1.075):
nos próprios autos da ação de divórcio;
em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara
de família);
por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007).
Mancomunhão: Quando um casal se divorcia sem realizar a imediata partilha dos bens
do patrimônio comum, eles continuarão mantendo uma relação jurídica em torno
desses bens. A doutrina afirma que, neste caso, surge um estado de “mancomunhão”
(também chamado de “condomínio de mão única ou fechada”). Mancomunhão não é
o mesmo que condomínio. No condomínio as pessoas são proprietárias de “partes
ideais” do bem, podendo aliená-las. Na mancomunhão não se fala em metades ideais,
pois o que se constata é a existência de uma verdadeira unidade patrimonial, fechada,
e que dá acesso a ambos ex-cônjuges, à totalidade dos bens.
Voltando ao exemplo: Em 2017, ou seja, 2 anos após o divórcio, o casal resolveu fazer
a partilha dos bens, com destaque para as cotas sociais do hospital. Como eram
casados no regime da comunhão parcial, Maria terá direito à metade dos bens
adquiridos onerosamente durante o relacionamento. Assim, Maria terá direito à
metade das cotas sociais que pertencem a João. O ex-casal concordou que Maria
receberá o equivalente das cotas sociais em dinheiro, de forma que ela não entrará na
sociedade. A dúvida que surgiu, no entanto, foi quanto ao valor das cotas. Isso porque
de 2013 até 2017 o hospital teve uma enorme valorização, passando a ser a principal
referência médica da cidade. Em outras palavras, nestes quatro anos o hospital se
tornou muito mais valioso.
Na hora de pagar Maria, o valor das cotas deve coincidir com o seu valor histórico
da data da ruptura do relacionamento (2013) ou deverá ser fixado com base na sua
avaliação atual (2017)? Em outras palavras, considera-se o valor da data do divórcio
(em que houve o acordo prévio sobre os bens) ou do momento da partilha? Do
momento da partilha.
Embora Maria não ostente a condição de sócia da referida empresa, existia, no caso,
uma copropriedade decorrente do regime de comunhão parcial de bens e esta situação
perdurou mesmo após o divórcio (quando surgiu a mancomunhão).
Durante quatro anos, Maria, embora detentora de metade das cotas, ou de sua
expressão venal, viu seu patrimônio imobilizado, ser utilizado pelo ex-cônjuge para
alavancar, em retroalimentação, o crescimento da sociedade empresária.
Nesse período, Maria se atrelou, por força da copropriedade que exercia sobre as cotas
com seu ex-cônjuge, à sorte da sociedade, tanto assim, que se essa sociedade tivesse
falido, ela teria tido prejuízo e não teria mais nenhum patrimônio a partilhar.
Então, não se pode privar a ex-esposa dos resultados positivos decorrentes do sucesso
da sociedade, sob pena de gerar um enriquecimento sem causa para o ex-marido.
46.3. Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência suportada por
mulher no âmbito familiar e doméstico – (Info 572)
O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de
ser realizada audiência de conciliação ou ratificação antes de o juiz decretar o
divórcio consensual.
Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010.
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226,
§ 6º da CF/88, eliminando os prazos para a concessão do divórcio e afastando a
necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as
causas que geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se divorciar,
não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a
figura da intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora
efetivamente direto.
Por força da alteração constitucional, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122
do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de
divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme
disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais
formalidades foram atendidas.
Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC
1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não
havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação
ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada
produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir.
Obs: seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a
realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é
tratado nos arts. 731 a 733.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, j. 17/3/15 (Info 558).
47. CASAMENTO
47.1. Justiça brasileira poderá, em processo de divórcio, dispor sobre a partilha de
bem situado no exterior – (Info 597)
Além disso, João alegou que a Justiça brasileira não tem soberania para determinar
ordens sobre bens localizados no estrangeiro.
O pedido de Maria poderá ser conhecido? A Justiça brasileira poderá dispor sobre esse
dinheiro mesmo ele estando em outro país? A Justiça brasileira é competente para o
caso? SIM. O art. 23, III, do CPC afirma que a Justiça brasileira é competente (com
exclusão de qualquer outra) para fazer a partilha de bens situados no Brasil. O que
esse dispositivo está querendo dizer é que a Justiça de outro país não pode dispor
sobre esse tema. No entanto, o art. 23, III, não está afirmando que a Justiça brasileira
está impedida de fazer a partilha de bens situados no exterior.
A proteção matrimonial conferida ao noivo, nos termos do art. 258, parágrafo único,
II, do Código Civil de 1916, não se revela necessária quando o enlace for precedido
de longo relacionamento em união estável, que se iniciou quando os cônjuges não
tinham restrição legal à escolha do regime de bens.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.281-PE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 1/12/16 (Info
595).
OBS:
Como é a situação no Código Civil de 2002? O Código Civil de 2002 possui uma
previsão semelhante, com a diferença de ter ampliado a idade para 70 anos. Confira:
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no
casamento:
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
Desse modo, a decisão do STJ acima exposta (REsp 1.318.281-PE) pode ser aplicada
para as situações ocorridas sob a égide do CC-2002. Assim, adaptando o
entendimento, podemos afirmar o seguinte:
OBS: a doutrina praticamente de forma unânime afirma que o art. 1.641, II, do CC-
2002 é inconstitucional por violar a dignidade da pessoa humana e o princípio da
proporcionalidade. Vale ressaltar, no entanto, que ainda não há decisão do STF sobre
o tema.
No caso concreto, contudo, o FGTS não se comunicou porque era referente a períodos
de trabalho laborados antes do casamento.
Quais são os requisitos para que se reconheça a filiação socioafetiva? Para que seja
reconhecida a filiação socioafetiva, é necessário que fiquem demonstradas duas
circunstâncias bem definidas:
a) vontade clara e inequívoca do apontado pai ou mãe
socioafetivo de ser reconhecido(a), voluntária e juridicamente,
como tal (demonstração de carinho, afeto, amor); e
b) configuração da denominada “posse de estado de filho”,
compreendida pela doutrina como a presença (não
concomitante) de tractatus (tratamento, de parte à parte, como
pai/mãe e filho); nomen (a pessoa traz consigo o nome do
apontado pai/mãe); e fama (reconhecimento pela família e
pela comunidade de relação de filiação), que naturalmente
deve apresentar-se de forma sólida e duradoura.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 21/10/2014 (Info 552).
Existe algum dispositivo legal que pode ser invocado ao caso? Pode ser aplicado, por
analogia, o raciocínio previsto no art. 42, § 6º do ECA:
Art. 42 (...)
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso
do procedimento, antes de prolatada a sentença.
Dessa forma, ainda que o pai, em vida, não tenha formalizado o processo de adoção
do filho, isso pode ser reconhecido se ficar provado que havia entre eles uma ligação
de paternidade socioafetiva.
Existe uma relação direta entre a possibilidade de adoção post mortem com a filiação
socioafetiva, conforme já reconheceu o STJ:
Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um casamento regido pela comunhão
parcial dos bens, a regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que recebeu a
doação. Em outras palavras, esse bem doado não se comunica, não passa a integrar
os bens do casal.
Em um regime de comunhão parcial, o bem doado somente se comunica se, no ato
de doação, ficar expressa a afirmação de que a doação é para o casal.
Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se interpretar que esse ato de
liberalidade ocorreu em favor apenas do donatário (um dos cônjuges).
STJ. 3ª Turma. REsp 1318599/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 23/04/13 (Info 523).
Essa regra do art. 1.641, II, do CC fala em “casamento”. É possível estendê-la também
para a união estável? SIM. O STJ possui alguns julgados afirmando que essa regra
específica do casamento deve ser estendida à união estável. Nesse sentido: STJ. 4ª
Turma. REsp 646.259/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/06/2010.
E quanto ao prêmio da loteria, ela terá direito? SIM. Segundo o Código Civil, a loteria
ingressa na comunhão sob a rubrica de “bens adquiridos por fato eventual, com ou
sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”. Veja:
Art. 1.660. Entram na comunhão:
(...)
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o
concurso de trabalho ou despesa anterior;
Mas João era maior de 70 anos... Mesmo assim, o prêmio da loteria irá ser objeto de
partilha? SIM. O STJ apontou quatro razões:
1) Trata-se de bem comum, que ingressa no patrimônio do
casal, independentemente da aferição do esforço de cada
um, pouco importando se houve ou não despesa do outro
consorte. A própria redação do dispositivo afirma,
expressamente, que “os bens adquiridos por fato eventual,
com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior”, são
comuns.
49.2. Partilha dos direitos de concessão de uso para fins de moradia de imóvel
público – (Info 609)
49.3. O casal não é obrigado a formular pedido extrajudicial antes de ingressar com
ação judicial pedindo a conversão da união estável em casamento – (Info 609) –
IMPORTANTE!!!
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado
com Maria, morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança?
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). Assim, se a pessoa morrer e for
casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança. Vale ressaltar, no entanto, que, se
o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito
à herança, a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina
e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro
necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os
descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os
descendentes. Vejamos:
Voltando ao exemplo: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e
Tiago. Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação
convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança
deixada pelo marido. Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da
comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será
meeira, mas não herdeira. Se os consortes são casados no regime da comunhão
universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à
meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao
cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens
pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou
ascendentes? Ex: João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas
deixou pai e mãe. Como será feita a divisão da herança? Neste caso, o cônjuge
sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso exemplo,
Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante. Vale ressaltar
que aqui não importa qual era o regime de bens do casal.
Ao se comparar este art. 1.790 com o art. 1.829 do CC veremos que o legislador trouxe
regras muito mais desvantajosas para o companheiro do que para o cônjuge do
falecido.
Um exemplo ilustra bem essa diferença de tratamento: pelo art. 1.790 do CC, se o
falecido deixar a companheira e um tio, por exemplo, esse tio iria herdar 2/3 da
herança e a companheira apenas 1/3.
Tese da inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC: Diversos doutrinadores de Direito
Civil sempre defenderam que o art. 1.790 do CC seria inconstitucional. Isso porque a
Constituição Federal protege a união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º).
Dessa forma, não existe uma superioridade do casamento sobre a união estável,
devendo os dois institutos serem equiparados.
Essa tese foi acolhida pelo STF? O art. 1.790 do CC, que trata sobre a sucessão do
companheiro, é inconstitucional? SIM. O STF entendeu que o art. 1.790 do Código
Civil de 2002 é inconstitucional.
CF/88 protege diferentes modalidades de família: A CF/88 prevê não apenas a família
decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas outras modalidades
de família. Umas das espécies de família protegidas pela Constituição é a família
derivada da união estável, seja ela hetero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º
do art. 226 do Texto Constitucional:
Art. 226 (...)
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou
companheiro(a)” Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser
considerado herdeiro necessário.
49.5. Benefício de previdência privada fechada não entra na partilha em caso de fim
de relação – (Info 606)
49.6. Imóvel doado por um companheiro para o outro deve ser excluído do montante
partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC – (Info 603)
O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo
estatuto da comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos
companheiros, através de doação pura e simples realizada pelo outro, deve ser
excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC/2002:
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe
sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou
sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
Ex: João e Maria vivem em união estável. Durante este relacionamento, João
comprou um apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal, na
constância da união estável, o imóvel foi doado por João, de forma graciosa, à
Maria. Isso significa que, no momento que for feita a dissolução da união estável,
este bem não irá integrar o montante partilhável. João, quando doou o imóvel, o fez
quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 4/4/17 (Info 603).
Cuidado:
Prazo para anulação da partilha do direito sucessório (morte): 1 ano. (2.027,
parágrafo único, do Código Civil e do art. 657, parágrafo único, I, do CPC)
É válido, desde que escrito, o pacto de convivência formulado pelo casal no qual se
opta pela adoção da regulação patrimonial da futura relação como símil (igual) ao
regime de comunhão universal, ainda que não tenha sido feito por meio de escritura
pública.
Em outras palavras, um casal que vive (ou viverá) em união estável pode celebrar
contrato de convivência dizendo que aquela relação será regida por um regime de
bens igual ao regime da comunhão universal. Esse contrato, para ser válido, precisa
ser feito por escrito, mas não é necessário que seja realizado por escritura pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1459597/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 01/12/2016 (Info 595)
OBS:
Em que consiste a união estável? A união estável é uma entidade familiar,
caracterizada pela união entre duas pessoas, do mesmo sexo ou de sexos diferentes,
que possuem convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de
constituição de família.
Previsão constitucional:
Art. 226 (...) § 3º — Para efeito da proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento.
Previsão no CC-2002:
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união
estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência
pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo
de constituição de família.
É possível que esse casal altere isso? SIM. Os companheiros podem celebrar um
contrato escrito entre si estipulando regras patrimoniais específicas que irão vigorar
naquela união estável. Ex.: empresários, esportistas ou artistas milionários costumam
assinar contratos com suas companheiras estabelecendo que, naquela união estável,
irá vigorar o regime da separação de bens. Isso é denominado pela doutrina de
"contrato de convivência" ou "contrato particular de convívio conjugal".
Desse modo, o contrato de união estável precisa apenas ser escrito e observar os
requisitos de validade do negócio jurídico (art. 104 do CC). É nesse sentido a decisão
do STJ (vide ementa acima).
Não confundir contrato de convivência com contrato de namoro: Por fim, uma última
informação adicional: o contrato de convivência, acima explicado, não se confunde
com o chamado "contrato de namoro".
Contrato de namoro é um pacto escrito celebrado entre duas pessoas no qual elas
declaram que mantêm entre si apenas um namoro e não uma união estável. O contrato
de namoro não tem relevância jurídica, considerando que não tem a força de garantir
para as partes envolvidas o objetivo que elas almejavam ao celebrá-lo, qual seja, o de
evitar a caracterização da união estável.
Explicando melhor: mesmo que as partes tenham celebrado este contrato, o Judiciário
poderá reconhecer que, na prática, havia sim união estável (e não simples namoro).
Isso porque a união estável é uma situação fática que acontece independentemente de
acordo escrito. O contrato de namoro não pode mudar a realidade. Se, na prática, um
casal vive em união estável segundo os requisitos descritos na lei, não é um contrato
que vai descaracterizar esta situação. Assim, a celebração de um contrato de namoro
é uma péssima providência porque gera uma falsa garantia para as partes. Se a
intenção é evitar a comunhão patrimonial, logo que o namoro se tornar mais estável,
o ideal é a realização de um contrato de convivência na qual seja estipulado que o
regime de bens entre o casal é o da separação total.
Algumas vezes, uma empresa apura lucro, mas decide que não irá distribuí-los aos
acionistas, retendo esses lucros com o objetivo de incrementar o seu capital social.
O lucro destinado à conta de reserva, ou seja, que não é distribuído aos sócios,
continua pertencendo à sociedade empresária (e não ao sócio).
Em razão disso, essa quantia não será partilhada caso um dos sócios termine a união
estável que mantinha.
Em outras palavras, os lucros de sociedade empresária destinados a sua própria
conta de reserva não são partilháveis entre o casal no caso de dissolução de união
estável de sócio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.595.775-AP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 9/8/16
(Info 588).
49.10. Foro competente para apreciar ação de dissolução de união estável cumulada
com alimentos – (Info 568)
A autora pode optar entre o foro de seu domicílio e o foro de domicílio do réu para
propor ação de reconhecimento e dissolução de união estável cumulada com
pedido de alimentos, quando o litígio não envolver interesse de incapaz.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.290.950-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/8/2015 (Info 568).
ANTES da Lei 9.278/96, quando chegava ao fim uma união estável, cada
companheiro somente teria direito aos bens que contribuiu para a formação do
patrimônio comum. Não havia presunção legal de esforço comum para a partilha
de bens. Ao término do relacionamento, os bens amealhados no período eram
divididos proporcionalmente ao esforço comprovado, direto ou indireto, de cada
convivente. Ainda vigorava, em parte, o raciocínio da súmula 380 do STF quanto à
necessidade de provar o esforço comum.
DEPOIS da Lei 9.278/96, foi criada uma presunção legal de comunhão dos bens
adquiridos a título oneroso durante a união estável. Quando há a dissolução da
união estável, para que o(a) companheiro(a) tenha direito aos bens adquiridos
durante a relação, ele(a) não precisará provar que contribuiu para a aquisição. Com
a edição desta, os bens a partir de então adquiridos por pessoas em união estável
passaram a pertencer a ambos em meação, salvo se houver estipulação em sentido
contrário ou se a aquisição patrimonial decorrer do produto de bens anteriores ao
início da união. Ficou superada a súmula 380 do STF.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000.
Somente o homem trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999,
adquiriu uma casa e um sítio. Em 2000, chegou ao fim a união. As regras da Lei
9.278/96 poderão ser aplicadas para todos os bens adquiridos durante a união (dois
apartamentos, uma casa e um sítio)? Presume-se que a mulher tenha direito aos
dois apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. Os bens adquiridos anteriormente à Lei 9.278⁄96 têm a propriedade - e,
consequentemente, a partilha ao fim da união - disciplinada pelo ordenamento
jurídico vigente quando respectiva aquisição. Assim, tem-se o seguinte:
Quanto aos bens adquiridos antes da Lei 9.278/96 (dois apartamentos):
aplica-se o regime da prova do esforço comum (Súmula 380 do STF).
Quanto aos bens adquiridos após a Lei 9.278/96 (casa e sítio): aplica-se a
presunção legal de que a mulher tem direito à meação dos bens,
independentemente de prova do esforço comum.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
O art. 1.647, I, do CC prevê que, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta, alienar ou gravar de ônus real os
bens imóveis. Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem
casadas sob o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC).
Para a 3ª Turma do STJ, a regra do art. 1.647, I, do CC pode ser aplicada à união
estável, desde que tenha sido dada publicidade aos eventuais adquirentes a
respeito da existência dessa união estável.
Se um imóvel foi alienado pelo companheiro sem a anuência de sua companheira,
a anulação dessa alienação somente será possível se no registro de imóveis onde
está inscrito o bem, houvesse a averbação (uma espécie de anotação/observação
feita no registro) de que o proprietário daquele imóvel vive em união estável.
Se não houver essa averbação no registro imobiliário e se não existir nenhuma
outra prova de que o adquirente do apartamento estava de má-fé, deve-se presumir
que o comprador estava de boa-fé, preservando, assim, a alienação realizada, em
nome da segurança jurídica e da proteção ao terceiro de boa-fé.
Em suma: a invalidação da alienação de imóvel comum, fundada na falta de
consentimento do companheiro, dependerá da publicidade conferida à união
estável, mediante a averbação de contrato de convivência ou da decisão declaratória
da existência de união estável no Ofício do Registro de Imóveis em que cadastrados
os bens comuns, ou da demonstração de má-fé do adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.275-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/12/2014 (Info 554).
49.15. União estável alegada em ação de manutenção de posse para assegurar direito
real de habitação – (Info 543)
O art. 1.831 do CC-2002 fala apenas em cônjuge. Qual é o fundamento para estender
o direito real de habitação também aos companheiros? De fato, o art. 1.831 do CC-
2002, ao tratar sobre o direito real de habitação, menciona apenas o cônjuge
sobrevivente, silenciando quanto à extensão desse direito ao companheiro
sobrevivente. No entanto, esse dispositivo do CC deverá ser interpretado conforme a
regra contida no art. 226, § 3º, da CF/88, que reconhece a união estável como entidade
familiar. Assim, deve-se buscar uma interpretação que garanta à pessoa que viva em
união estável os mesmos direitos que ela teria caso fosse casada. O art. 226, § 3º da
CF/88 é uma norma de inclusão, sendo contrária ao seu espírito a tentativa de lhe
extrair efeitos discriminatórios entre cônjuge e companheiro. Desse modo, o direto
real de habitação contido no art. 1.831 do CC deve ser aplicado também ao
companheiro sobrevivente.
Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil: O direito real de habitação deve ser
estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei 9.278, seja
em razão da interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º, caput,
da Constituição de 88.
O filho, em nome próprio, não tem legitimidade para deduzir em juízo pretensão
declaratória de filiação socioafetiva entre sua mãe - que era maior, capaz e, ao tempo
do ajuizamento da ação, pré-morta (já falecida) - e os supostos pais socioafetivos
dela.
Obs: o filho teria legitimidade para propor ação pedindo o reconhecimento de sua
relação de parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, seria outra
ação, na qual se buscaria um direito próprio (e não de sua mãe).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.492.861-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 2/8/16 (Info
588).
OBS:
O Código Civil prevê quem é legitimado para propor ação pedindo o reconhecimento
do vínculo de parentesco:
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho,
enquanto viver, passando aos herdeiros, se ele morrer menor
ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros
poderão continuá-la, salvo se julgado extinto o processo.
Observação: Vale ressaltar que, no caso concreto acima explicado, o autor não
ingressou com uma ação de reconhecimento de parentesco avoengo. Em outras
palavras, ele não ajuizou a ação pedindo que fosse reconhecido como neto de João e
Maria. Seu pedido foi para que sua falecida mãe fosse declarada como filha do casal.
Isso é que foi analisado e julgado pelo STJ, encontrando óbice no art. 1.606 do CC.
Nada impede que o autor ajuíze ação pedindo o reconhecimento de sua relação de
parentesco socioafetivo com os pretensos avós. Aí, contudo, será uma outra ação, na
qual se buscará um direito próprio (e não da falecida mãe). Esta outra ação seria, em
tese, processualmente viável, conforme entendimento da doutrina majoritária. Nesse
sentido:
Enunciado 521-CJF/STJ: Qualquer descendente possui
legitimidade, por direito próprio, para propor o
reconhecimento do vínculo de parentesco em face dos avós ou
de qualquer ascendente de grau superior, ainda que o pai não
tenha iniciado a ação de prova da filiação em vida.
51. PATERNIDADE
51.1. Reconhecimento de paternidade socioafetiva post mortem – (Info 581) –
IMPORTANTE!!!
Exemplo: Carla tinha um namorado (Bruno), tendo ficado grávida desse rapaz. Ao
contar a Bruno sobre a gravidez, este achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”,
não deixando paradeiro conhecido. Três meses depois, Carla decide se reconciliar com
André, seu antigo noivo, que promete à amada que irá se casar com ela e “assumir” o
nascituro. No dia em que nasce a criança, André vai até o registro civil de pessoas
naturais e, de posse da DNV (declaração de nascido vivo) fornecida pela maternidade,
declara que o menor recém-nascido (Vitor) é seu filho e de Carla, sendo o registro de
nascimento lavrado nesses termos.
Por que recebe esse nome? Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à
brasileira” porque é uma espécie de “adoção” feita sem observar as exigências legais,
ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. Tecnicamente, não se trata
de adoção, porque não segue o procedimento legal. Consiste, em verdade, em uma
perfilhação simulada.
Ressalta-se que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe pena por conta
desse delito. Isso porque poderá o juiz reconhecer a existência de erro de proibição ou,
então, aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo único do art. 242 do CP.
Qual a ação que deverá ser proposta pelo advogado de André? Ação negatória de
paternidade cumulada com nulidade do registro civil.
Contra quem a ação é proposta? Contra Vitor (não é proposta em face da mãe de
Vitor). Se Vitor for menor, será assistido (entre 16 e 18 anos) ou representado (menor
de 16 anos) por sua mãe. Se Vitor já for falecido, a ação será ajuizada contra seus
herdeiros. Não havendo herdeiros conhecidos (lembre-se que a sua mãe é herdeira),
André deverá pedir a citação por edital de eventuais interessados.
Onde esta ação deverá ser proposta (de quem é a competência)? No foro da comarca
onde reside o réu (Vitor), mais especificamente na vara de família (não deve ser
ajuizada na vara de registros públicos).
Se o exame de DNA provar que Vitor não é filho biológico de André, o juiz terá que,
obrigatoriamente, julgar procedente o pedido, declarar/desconstituir a paternidade e
anular o registro? NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não
biológico), que ele próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva,
mais especificamente a regra da venire contra factum proprium (proibição de
comportamento contraditório). Para que seja possível a anulação do registro, é
indispensável que fique provado que o pai registrou o filho enganado (induzido em
erro), ou seja, é imprescindível que tenha havido vício de consentimento:
(...) O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode ser
desfeito quando demonstrado vício de consentimento; não há como
desfazer um ato levado a efeito com perfeita demonstração da
vontade, em que o próprio pai manifestou que sabia perfeitamente
não haver vínculo biológico entre ele e o menor e, mesmo assim,
reconheceu-o como seu filho. (...) (STJ. 3ª Turma. REsp 1229044/SC,
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/06/2013)
A ação será julgada procedente e o registro será anulado mesmo que tenha se
estabelecido uma relação socioafetiva entre Vítor e André? SIM. O STJ entende que,
mesmo que o filho tenha sido acolhido e tenha usufruído de uma relação socioafetiva,
nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua
real história, de ter acesso à sua verdade biológica que lhe foi usurpada desde o
nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto, prevalecerá o direito
ao reconhecimento do vínculo biológico (REsp 833.712/RS). Dessa forma, a filiação
socioafetiva desenvolvida com o pai registral não afasta o direito do filho de ver
reconhecida a sua filiação biológica.
“Adoção à brasileira”
A situação acima descrita é diferente da chamada “adoção à brasileira”, que ocorre
quando o homem e/ou a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como
sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade. No caso de adoção à brasileira,
o pai sabe que não é genitor biológico (ele não foi enganado).
Caso o pai registral se arrependa da “adoção à brasileira” realizada, ele poderá
pleitear a sua anulação?
NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que
ele próprio registrou conscientemente, está violando a boa-fé objetiva, mais
especificamente a regra da venire contra factum proprium (proibição de
comportamento contraditório).
Para que seja possível a anulação do registro é indispensável que fique provado
que o pai registrou o filho enganado (induzido em erro), ou seja, é imprescindível
que tenha havido vício de consentimento.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
5/2/2015 (Info 555).
Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua
filha, sendo a criança criada por Maria e Francisca durante vários anos, como uma
família. Na época em que Carla nasceu, a união homoafetiva não era protegida pelo
Direito brasileiro, razão pela qual em seu registro de nascimento constava apenas
o nome de Maria como sendo sua mãe, não havendo qualquer referência a
Francisca. Apesar disso, para Carla, ela sempre teve duas mães, Maria e Francisca,
que exerciam na prática esse papel. Passados mais alguns anos, Maria e Francisca
romperam a união que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo. Quando
Francisca faleceu, Carla ingressou com ação judicial pedindo que fosse reconhecido
que a falecida foi sua mãe socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil
duas mães: Maria e Francisca.
O juiz afirmou que não havia necessidade de produzir prova em audiência e,
portanto, fez o julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na
sentença, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora alegando que não
ficou demonstrado nos autos que a suposta mãe socioafetiva teve, efetivamente, a
pretensão de “adotar” a requerente em conjunto com a mãe registral.
Para o STJ, o magistrado cometeu um erro processual, pois não era possível, no caso
concreto, julgar improcedente o pedido de reconhecimento post mortem da
maternidade socioafetiva sem que houvesse sido permitida a realização de
instrução probatória. Em outras palavras, não era hipótese de julgamento
antecipado da lide (art. 330, I, do CPC).
O magistrado, ao não permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados,
promoveu cerceamento de defesa.
Vale ressaltar que o pleito da autora para ter “dupla maternidade” é um pedido
juridicamente possível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. 21/10/14 (Info
552).
53. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
53.1. Não se pode mais rediscutir a coisa julgada em situação na qual a ação de
investigação foi julgada procedente pelo fato de o investigado ter se recusado a fazer
o DNA – (Info 604) – IMPORTANTE!!!
O STJ entendeu, contudo, que essa relativização da coisa julgada não se aplica às
hipóteses em que o magistrado reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou
seus herdeiros) terem se recusado a comparecer ao laboratório para a coleta do
material biológico.
Ex: Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra João; este se recusou
a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu
que Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do
suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de
paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João ingressou com
ação negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a
realização de exame de DNA. Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito
pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC).
Em suma, a relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de
paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo
genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do
vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em
comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.239/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 09/05/17
(Info 604).
OBS: A parte que se recusou a fazer o DNA e que agora quer desconstituir a coisa
julgada sob o argumento de que não foi realizado o referido exame e que este é
essencial para a descoberta da verdade real demonstra comportamento contrário à
boa-fé objetiva, incidindo naquilo que a doutrina denomina de venire contra factum
proprium (proibição de comportamento contraditório), sendo uma forma de abuso de
direito.
Assim, como o autor negou-se a produzir a prova que traria certeza à controvérsia nos
autos da ação de investigação de paternidade que transitou em julgado, não pode,
agora, utilizar-se maliciosamente da ausência da referida prova como fundamento
para a propositura de ação negatória de paternidade e, com isso, buscar ver alterada
a decisão que lhe foi desfavorável, sob pena de incorrer em violação da boa-fé objetiva.
53.2. Extensão dos efeitos de sentença transitada em julgada que reconhece relação
de parentesco – (Info 587)
O pedido do Sr. Antônio deverá ser acolhido? Como ele não participou da ação de
investigação de paternidade, ficará livre dos efeitos do que ali foi decidido? NÃO.
Coisa julgada não abrange o avô, mas os efeitos da sentença o atingem: A coisa
julgada formada na ação de investigação de paternidade ajuizada pelo filho em face
do pai não atinge o avô, na medida em que esta primeira demanda foi proposta
exclusivamente contra seu filho (Pedro). No entanto, os efeitos da sentença o atingem.
Ex: se duas pessoas se divorciam em um processo judicial de divórcio, a coisa julgada
atinge apenas aos dois; no entanto, os efeitos dessa sentença irradiam-se de forma erga
omnes; o ex-casal não está divorciado apenas entre eles, mas sim perante qualquer
pessoa. Os efeitos da sentença não encontram a mesma limitação subjetiva que o art.
506 do CPC/2015 destina ao instituto da coisa julgada, de maneira que também
podem atingir, direta ou indiretamente, terceiros que não participaram da relação
jurídica processual. Os efeitos da sentença possuem, portanto, eficácia erga omnes.
Assim, tendo o filho promovido ação de investigação de paternidade contra o pai, na
qual se deu o julgamento de procedência do pedido e o trânsito em julgado, o vínculo
parental entre eles é, por força da coisa julgada que ali se formou, imutável e
indiscutível, à luz do art. 502 do CPC/2015. Nesse contexto, o avô agora suporta as
consequências da decisão que assentou a paternidade de seu filho, cujos efeitos
atingem-no de maneira reflexa, por força de sua ascendência em relação ao pai
judicialmente reconhecido. Ora, se o autor é filho de seu filho, logo, por força de um
vínculo jurídico lógico e necessário, é seu neto (art. 1.591 do CC).
Repita-se: não está o avô sujeito à coisa julgada, que só atinge as partes da ação
investigatória, mas efetivamente suporta os efeitos que resultam da decisão,
independentemente de sua participação na relação processual. Vale ressaltar que não
é apenas o avô que irá suportar esses efeitos, mas toda e qualquer pessoa, física ou
jurídica. Os efeitos são erga omnes. É o caso, por exemplo, do INSS. Perante a autarquia
previdenciária, Lucas é filho de Pedro e, portanto, seu dependente, mesmo o INSS não
tendo participado da ação de investigação de paternidade. O INSS não se submete à
coisa julgada, mas está sujeito aos efeitos da sentença.
Mesmo nas hipóteses em que não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá
impugnar ação de investigação de paternidade post mortem, devendo receber o
processo no estado em que este se encontra.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 23/2/16 (Info
578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João, casado com Maria, morreu e deixou dois
filhos que estão registrados em seu nome: Pedro e Tiago. Um mês após a morte,
apareceu Lucas afirmando que João era também seu pai biológico, apesar de nunca tê-
lo registrado.
Se João ainda estivesse vivo, contra quem deveria ser proposta a ação? Contra quem
é proposta a ação de investigação de paternidade? Contra João. A ação de investigação
de paternidade deve ser proposta em face do suposto pai.
E neste caso, em que João já está morto, contra quem Lucas terá que ajuizar a ação?
Quem deverá figurar obrigatoriamente no polo passivo da ação de investigação de
paternidade post mortem? A ação de investigação de paternidade post mortem deve
ser proposta contra os herdeiros do suposto pai. Isso é o que está previsto no art. 27
do ECA:
A ação de investigação post mortem terá que ser proposta, obrigatoriamente, contra
os herdeiros do falecido porque, se esta for julgada procedente, o resultado da
demanda irá afetar diretamente a situação dos herdeiros, que poderão perder o direito
à herança ou ficar com ela reduzida.
Em nosso exemplo, Lucas terá que propor a ação de investigação contra Maria (a
viúva)? Depende. A viúva é herdeira necessária (art. 1.845 do CC), mas se o falecido
tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança,
a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC:
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina
e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro
necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os
descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os
descendentes. Vejamos:
Assim, por exemplo, se Maria era casada com João sob o regime da separação
convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança
deixada pelo marido. Logo, neste caso, Lucas terá que propor a ação de investigação
de paternidade contra Maria, Pedro e Tiago.
Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de
bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira.
Desse modo, Lucas terá que propor a ação apenas contra Pedro e Tiago.
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens
pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em
prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda
para os descendentes.”
Voltando ao nosso exemplo: Vamos supor que Maria era casada sob o regime da
comunhão universal de bens. O advogado de Lucas descobriu isso ao examinar a
certidão de óbito de João, onde lá constava essa informação. Sabendo que Maria não
tinha direito à herança, o advogado de Lucas preparou a ação de investigação de
paternidade post mortem apenas contra Pedro e Tiago (herdeiros).
Agiu corretamente o advogado de Lucas? SIM. Isso porque, como vimos, sendo a
viúva casada no regime da comunhão universal de bens, ela será meeira, mas não
herdeira.
Foi, então, que Maria soube que estava tramitando este processo e ficou chateada
porque queria participar e provar que seu marido nunca a havia traído e que "não
tinha outro filho coisa nenhuma".
Maria, por meio de advogado, peticiona ao juiz requerendo: 1) seu ingresso no feito
no polo passivo a fim de impugnar a ação de investigação; 2) que a instrução do
processo seja reiniciada, reabrindo o prazo para que ela apresente contestação, sendo
novamente ouvida a testemunha já inquirida.
Pedido 1: SIM.
Na hipótese de a viúva não ser herdeira do investigado, ela não ostentará, em
princípio, a condição de parte ou litisconsorte necessária na ação de investigação de
paternidade post mortem. Em outras palavras, o autor da ação não precisa propor a
demanda contra ela. A relação processual estará, em regra, completa com a citação de
todos os seus herdeiros, não havendo nulidade pela não inclusão no polo passivo de
viúva não herdeira. Ocorre que o Código Civil autoriza que qualquer pessoa que tenha
interesse possa contestar a ação de investigação de paternidade (art. 1.615).
No caso concreto, Maria não possui interesse patrimonial na demanda, considerando
que, mesmo que Lucas seja reconhecido como filho, o que irá mudar é que Pedro e
Tiago terão que dividir a herança com ele. A meação de Maria permanecerá intacta. A
viúva possui, no entanto, interesse moral na causa.
Em regra, o interesse meramente moral não autoriza a intervenção como assistente.
No entanto, a interpretação da doutrina e da jurisprudência é que, no caso do art.
1.615 do CC, o interesse moral permite que a viúva intervenha no polo passivo da ação
de investigação de paternidade post mortem. Dessa forma, Maria poderá assumir o
polo passivo da ação, juntamente com os demais réus, pelo fato de possuir interesse
moral na causa, o que satisfaz a exigência do art. 1.615 do CC:
Pedido 2: NÃO.
Maria, pelo fato de não ter direito à herança, não era litisconsorte necessária. Em
outras palavras, Lucas, o autor da demanda, não era obrigado a incluí-la no polo
passivo. Ele não fez nada errado ao intentar a demanda apenas contra os herdeiros
(Pedro e Tiago). Logo, não há motivo para se retroceder o curso processual. Aplica-se
aqui o raciocínio expresso no parágrafo único do art. 119 do CPC/2015:
53.4. Citação por edital e despesas com a publicação em jornal local – (Info 557)
O art. 232, § 2º do CPC 1973 prevê que a publicação do edital será feita apenas no
órgão oficial quando a parte for beneficiária da Assistência Judiciária. Em uma ação
de investigação de paternidade proposta pelo MP como substituto processual em
favor de uma criança pobre, caso o réu não seja localizado, é possível aplicar esse
dispositivo?
NÃO. Se o Ministério Público Estadual propuser ação de investigação de
paternidade como substituto processual de criança, a citação editalícia do réu não
poderá ser realizada apenas em órgão oficial. Isso porque a parte desta ação não é
a criança, mas sim o Ministério Público (ele está litigando em nome próprio,
defendendo o direito do menor). Perceba, portanto, essa sutileza que muda tudo: a
parte não é a pobre criança, mas sim o MP. Logo, não se aplica o art. 232, § 2º, do
CPC.
Obs: o novo CPC desburocratizou o tema e exigiu que o edital seja publicado, em
regra, apenas na internet (art. 257, II, do CPC 2015). Assim, se já fosse sob a égide
do novo CPC não seria necessária, em regra, a publicação pelo jornal local.
53.6. As partes possuem o direito de que novo exame de DNA seja feito caso o
primeiro tenha sido inconclusivo e exista viabilidade técnica para o seu refazimento
– (Info 545)
REGRA: o CC determina que, quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto
à guarda do filho, o juiz deverá aplicar a guarda compartilhada (art. 1.584, § 2º).
O § 2º do art. 1.584 somente admite duas exceções em que não será aplicada a guarda
compartilhada. A interpretação desse dispositivo pode ser relativizada? É possível
afastar a guarda compartilhada com base em peculiaridades do caso concreto
mesmo que não previstas no § 2º do art. 1.584 do CC?
O STJ está dividido, havendo decisões em ambos os sentidos:
1ª) NÃO. A guarda compartilhada apresenta força vinculante, devendo ser
obrigatoriamente adotada, salvo se um dos genitores não estiver apto a
exercer o poder familiar ou se um deles declarar ao magistrado que não
deseja a guarda do menor (STJ. 3ª Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 15/09/16).
a) Unilateral (exclusiva): Ocorre quando o pai ou a mãe fica com a guarda e a outra
pessoa possuirá apenas o direito de visitas. Segundo a definição do CC/02, a guarda
unilateral é aquela “atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua” (art.
1.583, § 1º). Ainda hoje é bastante comum.
Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que Maria ficará com a guarda da
filha de 5 anos e que o pai tem direito de visitas aos finais de semana.
Ressalte-se que, mesmo sendo fixada a guarda unilateral, o pai ou a mãe que ficar sem
a guarda continuará com o dever de supervisionar os interesses dos filhos. Para
possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para
solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos
ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a
educação de seus filhos (§ 5º do art. 1.583).
Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que a filha do casal ficará morando
com a mãe; apesar disso, tanto Maria como João terão a guarda compartilhada
(conjunta) da criança, de forma que ela irá conviver constantemente com ambos e as
decisões sobre ela serão tomadas em conjunto pelos pais.
Ex: João irá buscar o filho no colégio todos os dias às 12h; no período da tarde, a criança
continuará na companhia do pai e, às 18h, ele deverá deixá-lo na casa da mãe.
Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que durante uma semana a filha do
casal ficará morando com a mãe (e o pai não pode interferir durante esse tempo) e, na
semana seguinte, a filha ficará vivendo com o pai (que terá a guarda exclusiva nesse
período).
Ex: João e Maria se divorciaram; ficou combinado que a filha do casal ficará morando
no mesmo apartamento onde residia e no qual já possui seus amiguinhos na
vizinhança. Durante uma semana, a mãe ficará morando no apartamento com a
criança (e o pai não pode interferir durante esse tempo). Na semana seguinte, a mãe
se muda temporariamente para outro lugar e o pai ficará vivendo no apartamento com
a filha.
Defendida por alguns como uma forma de a criança não sofrer transtornos
psicológicos por ter que abandonar o meio em que já vivia e estava familiarizada.
Apesar disso, é bastante rara devido aos inconvenientes práticos de sua
implementação.
DEFINIÇÃO DA GUARDA
Como é definida a espécie de guarda que será aplicada? O ideal é que a guarda seja
definida por consenso entre o pai e a mãe. Por isso, o CC/02 determina que seja feita
uma audiência de conciliação. A Lei também afirma que o juiz deverá incentivar que
os pais façam um acordo adotando a guarda compartilhada:
Art. 1.584 (...) § 1º Na audiência de conciliação, o juiz
informará ao pai e à mãe o significado da guarda
compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e
direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.
Se mesmo assim não houver acordo, o juiz irá fixar a guarda de forma compulsória.
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por
qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio,
de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas
do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao
convívio deste com o pai e com a mãe.
Em regra, o juiz não deve conceder a guarda sem ouvir a outra parte: A decisão sobre
guarda de filhos, mesmo que provisória, será proferida preferencialmente após a
oitiva de ambas as partes perante o juiz, salvo se a proteção aos interesses dos filhos
exigir a concessão de liminar sem a oitiva da outra parte (art. 1.585 do CC).
Simples animosidade: Vale ressaltar, ainda, e isso pode ser cobrado em sua prova, que
o STJ já decidiu que A simples animosidade entre os genitores e suas diferenças de
ponto de vista sobre a criação dos filhos não são impedimento para a fixação da
guarda compartilhada. STJ. 3ª Turma. REsp 1626495/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 15/09/2016.
E se não for possível mesmo a guarda compartilhada? Nas hipóteses em que seja
inviável a guarda compartilhada, a atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por
preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente
com o outro genitor (art. 7º da Lei nº 12.318/2010).
OUTROS TEMAS
A guarda pode ser deferida para outra pessoa que não seja o pai ou a mãe? SIM. Se o
juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá
a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida,
considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade (§ 5º do art. 1.584). O exemplo mais comum dessa situação é a guarda
atribuída aos avós.
Essa regra vale mesmo que o pai (ou a mãe) que esteja requerendo a informação não
detenha a guarda do filho. Ex: João e Maria divorciaram-se e a mãe ficou com a guarda
exclusiva da criança; determinado dia, João foi até o colégio de sua filha para ter acesso
às notas do boletim escolar, tendo a escola negado, afirmando que somente a mãe
poderia obtê-lo. Esse estabelecimento de ensino poderá ser multado, na forma do § 6º
do art. 1.584 do CC. O mesmo vale para um hospital, por exemplo. A multa deve ser
cobrada na via judicial, devendo o pai (ou a mãe) comprovar que fez a solicitação não
atendida.
Outro mecanismo que poderia ser utilizado para que o não guardião da criança
exercesse o seu direito de visitação seria a utilização da busca e apreensão. No
entanto, essa medida, levando-se em consideração sempre o melhor interesse da
criança e do adolescente, pode se mostrar drástica e prejudicial para o menor, que
poderia ser levado à força por uma ordem judicial, inclusive com a utilização da
polícia para a sua efetivação. Dessa forma, as astreintes se mostram como um meio
muito mais eficaz e menos traumatizante para a criança.
56. ALIMENTOS
56.1. Possibilidade de converter a execução sob o rito da prisão civil promovida em
desfavor dos avós em execução para penhora e expropriação de bens – (Info 617)
56.2. O valor recebido pelo alimentante (devedor) a título de participação nos lucros
e resultados deve ser incorporado à prestação alimentar devida? – (Info 615)
Augusto não concordou com a decisão. Qual é o recurso que ele pode interpor neste
caso? Agravo de instrumento.
O juiz pode conceder alimentos provisórios de ofício? SIM. Trata-se de uma das
hipóteses em que é possível concessão de tutela antecipada de ofício. Esta previsão
está implícita no art. 4º da Lei nº 5.478/68:
Art. 4º As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo
alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o
credor expressamente declarar que deles não necessita.
Em seu recurso, o alimentante alegou que os alimentos não podem incidir sobre
verbas esporádicas, eventuais e incertas, que visam premiar o esforço pessoal do
trabalhador, tendo natureza indenizatória e que não integram os rendimentos do
alimentante, como é o caso da participação nos lucros e gratificações.
O que o STJ entende sobre o tema? Os valores recebidos a título de participação nos
lucros e resultados são incluídos no percentual que é devido a título de pensão
alimentícia? Em suma, toda vez que o devedor receber participação nos lucros e
resultados, o valor da pensão deverá ser, automaticamente, pago a mais?
Fundamento legal
Compete ao Ministério Público promover e acompanhar as ações de alimentos
em favor de crianças e adolescentes (art. 201, III, do ECA).
Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de
alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício
do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de
risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer
outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública
na comarca.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 25/10/2017, DJe 06/11/2017. (Info 614)
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João é um jovem rico empresário. Ele é casado
e possui duas filhas deste casamento. Além disso, possui também um terceiro filho
(Bernardo), caçula, fruto de um relacionamento extraconjugal. João pagava 5 salários-
mínimos de pensão alimentícia para o filho. Ocorre que, determinado dia, o
empresário sofreu um acidente e faleceu. Com a morte, foi aberto inventário judicial
para apurar quais foram os bens deixados pelo falecido e, após isso, realizar a partilha
entre os herdeiros. Vale ressaltar que, como o patrimônio deixado por João é grande,
é provável que o inventário demore alguns anos para ser concluído. Um mês após a
morte, Bernardo, representado por sua mãe, ajuizou ação de alimentos contra o pai de
João, alegando que, com a morte deste, a criança ficou desassistida e precisa
urgentemente da quantia que já era paga para suas necessidades diárias. Segundo
alegou Bernardo, diante da morte de seu pai, a obrigação de prestar os alimentos
deverá ser transmitida automaticamente para seu avô paterno, que é um rico
empresário, detentor de grande fortuna. O pedido de Bernardo foi fundamentado no
art. 1.696 do Código Civil:
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre
pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes (ex: avós),
recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta
de outros.
O pedido de Bernardo deverá ser acolhido? NÃO. A obrigação dos avós de prestar
alimentos tem natureza complementar e subsidiária e somente exsurge se ficar
demonstrada a impossibilidade de os dois genitores proverem os alimentos dos filhos,
ou de os proverem de forma suficiente. Assim, morrendo o pai que pagava os
alimentos, só se poderá cobrar alimentos dos avós se ficar demonstrado que nem a
mãe nem o espólio do falecido têm condições de sustentar o filho. Não tendo ficado
demonstrada a impossibilidade ou a insuficiência do cumprimento da obrigação
alimentar pela mãe, como também pelo espólio do pai falecido, não há como
reconhecer a obrigação do avô de prestar alimentos.
Ação deveria ter sido dirigida contra o espólio: Desse modo, no caso concreto,
Bernardo deveria ter ajuizado a ação de alimentos contra o espólio de seu pai. O
alimentando é herdeiro do falecido e, por isso, deveria ter pedido alimentos ao espólio
de seu pai.
56.5. As decisões e sentenças nas ações de alimentos devem ser líquidas – (Info 608)
O argumento do devedor foi aceito pelo STJ? Houve prescrição neste caso? NÃO. É o
que foi decidido pelo STJ, no Info 607.
56.7. Ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o
nascimento da criança – (Info 606)
56.8. Se o filho é maior de 18 anos, mas apresenta doença mental incapacitante, seus
pais têm dever de prestar alimentos, sendo a necessidade presumida – (Info 601) –
IMPORTANTE!!!
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do portador de doença
mental incapacitante, devendo ser suprida nos mesmos moldes dos alimentos
prestados em razão do poder familiar, independentemente da maioridade civil do
alimentado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28/3/17 (Info 601).
OBS:
João paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho Gabriel (de 7 anos), que teve
com sua ex-esposa. Qual é o fundamento jurídico para o pagamento dessa prestação?
O fundamento está no poder familiar.
Poder familiar é um conjunto de direitos e deveres conferido aos pais com relação ao
filho menor de 18 anos (não emancipado), dentre eles o poder de dirigir a criação e a
educação, de conceder consentimento para casar, de exigir que preste obediência, e
outros previstos no art. 1.634 do CC.
Como decorrência do poder familiar, os pais são obrigados a dar sustento aos filhos
menores, nos termos do art. 1.566, IV, do CC:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
IV – sustento, guarda e educação dos filhos;
Até quando João terá que pagar pensão alimentícia em favor de Gabriel? Em regra,
até 18 anos. Isso porque o poder familiar dos pais sobre os filhos cessa com a
maioridade, ou seja, quando os filhos completam 18 anos (art. 1.630 e art. 1.635, III).
Assim, em regra, a obrigação dos pais de prestar alimentos aos filhos cessa com o fim
do poder familiar, isto é, quando os filhos completam 18 anos.
É importante, no entanto, fazer um alerta. O fato de o filho completar 18 anos não
autoriza que o pai, a partir desse dia, automaticamente, deixe de pagar a pensão. É
necessário que o genitor faça um pedido ao juiz de exoneração da obrigação de
alimentar. Há, inclusive, uma súmula do STJ a respeito:
Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de
filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial,
mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
Esse pedido ao juiz deverá ser formulado nos próprios autos da ação de alimentos (se
houver) ou, então, o pai terá que propor uma ação de exoneração. É necessário esse
pedido expresso porque o filho deve ter a oportunidade de se defender e pedir para
continuar recebendo a pensão por outro motivo que não seja a menoridade (ex: estudo,
doença etc.). Veremos mais sobre isso logo abaixo.
Filho maior de 18 anos que esteja fazendo curso superior ou técnico: A jurisprudência
construiu a tese de que, mesmo após completar 18 anos, o filho continua tendo direito
de receber alimentos dos pais se ele, por ocasião da extinção do poder familiar, estiver
regularmente frequentando curso superior ou técnico. Nesta hipótese, contudo, o
dever de alimentar dos pais tem outro fundamento, qual seja, a relação de parentesco:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros
pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para
viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive
para atender às necessidades de sua educação.
O argumento de Carlos deverá ser aceito? NÃO. A ação deverá ser julgada
improcedente e Carlos deverá continuar pagando a pensão alimentícia.
É presumida a necessidade de percepção de alimentos do
portador de doença mental incapacitante, devendo ser
suprida nos mesmos moldes dos alimentos prestados em
razão do poder familiar, independentemente da maioridade
civil do alimentado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.323-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/3/2017 (Info 601).
Valores gastos com pessoa com deficiência são muito altos: O Benefício de Prestação
Continuada é equivalente a um salário mínimo. As regras de experiência demonstram
que, no cotidiano de famílias nas quais um dos membros é acometido de doença
mental incapacitante, esse valor é ínfimo se comparado com as efetivas necessidades
dessa pessoa. Mesmo se somarmos o valor da pensão (30% do salário mínimo) com o
BPC, ainda assim, a quantia total recebida pelo alimentando fica aquém (abaixo) de
suas reais necessidades.
Quadro-Resumo:
Fundamento:
Pais têm obrigação de prestar alimentos. A
Filho até 18 anos Poder
necessidade do filho é presumida.
familiar
(art. 1.566, IV)
Como regra, os pais não têm obrigação de Fundamento:
Filho maior de 18 prestar alimentos. O filho poderá provar Parentesco
anos que necessita dos alimentos (ex: motivo de (art. 1.694)
doença).
Pais continuam tendo a obrigação de
Filho maior de 18 e
prestar alimentos. A necessidade do filho Fundamento:
menor de 24 anos, se
é presumida. Parentesco
estiver fazendo
(art. 1.694)
curso superior ou Como o filho está estudando, a
técnico. jurisprudência considera que existe uma
presunção de que ele necessita dos
alimentos.
Filho maior de 18 e
menor de 24 anos, se Como regra, os pais não têm obrigação de Fundamento:
estiver cursando prestar alimentos. O filho poderá provar Parentesco
especialização, que necessita dos alimentos (ex: motivo de (art. 1.694)
mestrado ou doença).
doutorado.
Pais continuam tendo a obrigação de
Filho maior de 18 Fundamento:
prestar alimentos.
anos que apresenta Parentesco
A necessidade do alimentado se presume,
doença mental (art. 1.694)
e deve ser suprida nos mesmo moldes dos
incapacitante.
alimentos prestados em razão do poder
familiar.
Na execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC/1973 (art. 528 do CPC/2015),
o executado é intimado pessoalmente para, em 3 dias:
a) pagar o débito;
b) provar que o fez (provar que já pagou a dívida); ou
c) justificar a impossibilidade de efetuá-lo (provar que não tem condições de
pagar).
Realmente a partir do momento em que houve a alteração da guarda para o pai, cessou
a obrigação do genitor de pagar a pensão alimentícia. No entanto, tal fato não o exime
da dívida alimentar pretérita, contraída nos meses em que a guarda da criança estava
com a mãe. Assim, o débito alimentar no período em que Lucas estava sob a guarda
materna permanece inalterado e a genitora tem legitimidade para continuar
executando tal quantia.
Mas na execução agora constará como exequente a mãe ou permanecerá sendo o filho?
A mãe. O STJ entende que há neste caso sub-rogação. A mãe, como arcou com a dívida
que era do pai da criança, sub-rogou-se no direito de cobrar o pai como se fosse o filho.
O CPC permite que o sub-rogado que não receber o crédito do devedor possa
prosseguir na execução já iniciada pelo credor originário. Veja:
Art. 857 (...)
§ 2º A sub-rogação não impede o sub-rogado, se não receber o
crédito do executado, de prosseguir na execução, nos mesmos
autos, penhorando outros bens.
No processo de execução, a mãe poderá pedir a prisão civil do devedor? NÃO. O STJ
entendeu que, como houve a alteração da guarda e a execução atualmente está
correndo no interesse da mãe, não é mais possível pedir a prisão civil do devedor,
razão pela qual o prosseguimento do feito deve seguir o rito previsto no art. 913 do
CPC/2015.
Ação deveria ter sido dirigida contra o espólio: Desse modo, no caso concreto, o autor
deveria ter ajuizado a ação de alimentos contra o espólio de pai. O alimentando é
herdeiro do falecido e, por isso, deveria ter pedido alimentos ao espólio de seu pai.
Uma última pergunta: se o devedor dos alimentos morre, essa obrigação sempre irá se
transmitir para o espólio? NÃO. Nem sempre. É necessário distinguir as situações:
Situação 1: se o credor de alimentos é herdeiro do falecido (exemplo mais
comum: filho/filha). Neste caso, o espólio terá obrigação de pagar os
alimentos.
Situação 2: se o credor de alimentos não é herdeiro do falecido (exemplo: ex-
companheira). Neste caso, o espólio não deverá continuar pagando a pensão
fixada.
Para maiores informações sobre este último ponto, veja STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.693-
SP, Rel. originário Min. Maria Isabel Gallotti, voto vencedor Min. Nancy Andrighi,
Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 26/11/2014 (Info 555).
A Lei de Alimentos aceita a postulação verbal pela própria parte, por termo ou
advogado constituído nos autos (art. 3º, § 1º), o que demonstra a preocupação do
legislador em garantir aos necessitados a via judiciária mesmo sem advogado (REsp
1.113.590-MG, Terceira Turma, DJe 10/9/2010).
Com base nessa lei específica, entende-se que o alimentante possui capacidade e
legitimidade para transacionar, independentemente da presença de seu patrono no
momento da realização do ato.
Admite-se acordo extrajudicial sem advogado; logo, com maior razão, deve-se aceitar
na via judicial: O STJ possui diversos precedentes no sentido de que "A assistência de
advogado não constitui requisito formal de validade de transação celebrada
extrajudicialmente mesmo versando sobre direitos litigiosos" (RESP 666.328-PR,
Primeira Turma, DJ 21/3/2005). Se é possível o acordo extrajudicial sem advogado,
com maior razão deve-se admitir no caso de este ser celebrado perante a via judicial,
especialmente porque, neste caso, há maior proteção das partes, tendo em vista a
participação do MP, como custos legis, bem como por meio da atuação do próprio
Estado-Juiz. Incide aqui a premissa de que "quem pode o mais, pode o menos".
Neste caso, é possível que esta decisão judicial que fixou os alimentos seja levada a
protesto e que o nome do devedor seja incluído no SPC/SERASA? SIM.
Obs: vale ressaltar que as decisões do STJ sobre o tema falam em alimentos devidos a
filho menor. No entanto, o texto do novo CPC traz a previsão de protesto de forma
ampla, não se limitando aos casos de alimentos devidos a filho menor.
56.14. Prazo prescricional para reembolso de despesas feitas pela mãe no lugar do pai
devedor – (Info 574)
Se a mãe, ante o inadimplemento do pai obrigado a prestar alimentos a seu filho,
assume essas despesas, o prazo prescricional da pretensão de cobrança do
reembolso é de 10 anos.
Ex: João e Maria, quando se divorciaram, fizeram um acordo quanto à guarda e
alimentos do filho. A guarda ficaria com Maria e João teria que arcar, a título de
pensão alimentícia, com as despesas do plano de saúde (R$ 100) e as mensalidades
do colégio (R$ 400). João deixou de pagar tais despesas. Maria passou a arcar, ela
própria, com tais pagamentos. O prazo para Maria reaver esse dinheiro de João é
de 10 anos, nos termos do art. 205 do CC.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.453.838-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
24/11/2015 (Info 574).
OBS:
Segundo entendeu o STJ, a mãe, neste caso, atuou como se fosse uma gestora de
negócios ("gestão de negócios"), figura prevista no art. 861 do CC. Inclusive, no
capítulo específico da gestão de negócios, há previsão especial relacionada com o
dever legal de alimentos àquele que os presta no lugar daquele que era realmente
obrigado (art. 871).
Nesse contexto, observa-se que a razão de ser do instituto, notadamente por afastar
eventual necessidade de concordância do devedor, é conferir a máxima proteção ao
alimentado e, ao mesmo tempo, garantir àqueles que prestam socorro o direito de
reembolso pelas despesas despendidas, evitando o enriquecimento sem causa do
devedor de alimentos.
Reconhecida a incidência da gestão de negócios, deve-se entender que a mãe agiu
como terceiro não interessado e seu crédito é de natureza pessoal (não se situando no
âmbito do direito de família). Assim, o crédito da mãe para com o genitor, não sendo
de direito de família, não se aplica o art. 206, § 2º do CC. Como não existe no rol do
art. 206 um dispositivo que se enquadre na presente situação, deve-se aplicar a regra
geral trazida pelo art. 205 do CC (prazo de 10 anos).
Em execução de alimentos pelo rito do art. 733 do CPC 1973 (art. 528 do CPC 2015),
o acolhimento da justificativa da impossibilidade de efetuar o pagamento das
prestações alimentícias executadas desautoriza a decretação da prisão do devedor,
mas não acarreta a extinção da execução.
Se o juiz acolher a justificativa do executado, ele deverá intimar o credor para que
ele informe se deseja: i) desistir da execução; ii) suspender a execução que foi
proposta pelo rito do art. 733 do CPC 1973 (art. 528 do CPC 2015) aguardando para
ver se a situação econômica do devedor se modifica; ou iii) mudar o rito da execução
para o do art. 732 do CPC 1973 (art. 523 do CPC 2015), que não prevê prisão civil,
mas apenas medidas patrimoniais, como a penhora e expropriação de bens.
Para que o devedor consiga por fim à obrigação alimentícia, deverá ajuizar ação de
exoneração ou de revisão de alimentos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.185.040-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
13/10/2015 (Info 573).
56.17. Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo
sexo – (Info 558)
A constituição de nova família pelo devedor de alimentos não acarreta, por si só,
revisão da quantia estabelecida a título de alimentos em favor dos filhos advindos
de anterior unidade familiar formada pelo alimentante, sobretudo se não houver
prova da diminuição da capacidade financeira do devedor em decorrência da
formação do novo núcleo familiar.
Ex: João, rico empresário, paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho, que
teve com sua ex-esposa. Determinado dia, João se casa e dessa união nasce uma
filha. Com base unicamente nesta nova circunstância, João ajuíza ação revisional
de alimentos pedindo que o valor pago de pensão a seu filho seja reduzido. Para
que o devedor consiga reduzir a prestação paga, além de alegar que suas despesas
aumentaram por conta da nova família, ele deverá provar também que o valor
fixado anteriormente está acima das suas possibilidades, ou seja, que ele não tem
mais condições de pagar aquela quantia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015
(Info 557).
56.19. Pensão alimentícia devida a ex-cônjuge e fixação de termo final – (Info 557) –
IMPORTANTE!!!
Alimentos transitórios são aqueles fixados por um prazo determinado, após o qual
cessa a obrigação de alimentar mesmo que ainda exista necessidade do
alimentando e possibilidade do alimentante.
Os alimentos fixados para o ex-cônjuge devem ser transitórios?
Regra geral: SIM. Em regra, a pensão alimentícia devida a ex-cônjuge deve
ser fixada por tempo determinado.
Exceção: será cabível a pensão por prazo indeterminado somente quando o
alimentado (ex-cônjuge credor) se encontrar em circunstâncias
excepcionais, como de incapacidade laboral permanente, saúde fragilizada
ou impossibilidade prática de inserção no mercado de trabalho.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015
(Info 557).
João viveu em união estável com Maria. No acordo de dissolução da união estável,
João se comprometeu a pagar, todos os meses, R$ 2 mil a Maria sem previsão de
término. Após a morte de João, essa obrigação persiste? O espólio deverá continuar
pagando a pensão fixada?
NÃO. Extingue-se, com o óbito do alimentante, a obrigação de prestar alimentos a
sua ex-companheira decorrente de acordo celebrado em razão do encerramento da
união estável, transmitindo-se ao espólio apenas a responsabilidade pelo
pagamento dos débitos alimentares que porventura não tenham sido quitados pelo
devedor em vida (art. 1.700 do CC).
Observado que os alimentos pagos pelo de cujus à sua ex-companheira decorrem
de acordo celebrado no momento do encerramento da união estável, a referida
obrigação, de natureza personalíssima, extingue-se com o óbito do alimentante,
cabendo ao espólio pagar tão somente eventuais débitos não quitados pelo devedor
quando em vida.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.693-SP, Rel. originário Min. Maria Isabel Gallotti, voto
vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira,
julgado em 26/11/2014 (Info 555).
56.21. Renúncia aos alimentos feita durante a vigência da união estável não perdura
se houve fato superveniente que reduziu a capacidade de trabalho de um dos
conviventes – (Info 553) – IMPORTANTE!!!
AVISO PRÉVIO
O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve
disposição transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, não importa que a
pensão tenha sido fixada em valor fixo ou percentual variável, o aviso prévio não
interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
18/12/2014 (Info 553).
56.23. Prisão civil do advogado e sala de Estado Maior – (Infos 551 e 537)
Os advogados têm o direito de, caso sejam presos, ficarem recolhidos em sala de
Estado Maior (art. 7º, V, do Estatuto da OAB). Essa regra aplica-se também para os
casos de prisão civil?
• NÃO. Posição da 3ª Turma.
• SIM. Posição da 4ª Turma.
STJ. 3ª Turma. HC 305.805-GO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 13/10/14
(Info 551).
STJ. 4ª Turma. HC 271.256-MS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 11/2/14 (Info 537).
56.24. Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos
por ele fixados – (Info 550) – IMPORTANTE!!!
Os direitos hereditários podem ser penhorados? SIM, desde que tenham cunho
patrimonial (STJ. 3ª Turma. REsp 1105951/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 04/10/11).
Ex: O pai de João morre e deixa um carro para ele e seu irmão. João possui dívidas de
pensão alimentícia. O alimentado (credor) poderá requerer ao juiz que determine a
penhora, no rosto dos autos do inventário, dos direitos hereditários que João
(alimentante/devedor) possui sobre o carro.
56.28. Alimentos transitórios podem ser executados segundo o rito do art. 733 do CPC
1973 – (Info 536)
A Min. Nancy Andrighi, precursora a tratar do tema no STJ, explicou em que consiste
o instituto: “alimentos transitórios – de cunho resolúvel – são obrigações prestadas,
notadamente entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, em que o credor, em regra
pessoa com idade apta para o trabalho, necessita dos alimentos apenas até que se
projete determinada condição ou ao final de certo tempo, circunstância em que a
obrigação extinguir-se-á automaticamente" (REsp 1.388.955/RS, DJe 29/11/2013).
Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João),
tendo sido criado por Bento, quem considera seu verdadeiro pai.
Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz.
João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e
invocando o caput do art. 45 do ECA: “A adoção depende do consentimento dos
pais ou do representante legal do adotando.”
O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior
de 18 anos é motivo suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o
caput do art. 45 do ECA?
NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o
adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai
biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa.
A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA. No entanto, no caso,
não se aplica a exigência do caput do art. 45 do ECA porque o § 1º do mesmo artigo
afirma que esse consentimento do pai é dispensado caso ele tenha sido destituído
do poder familiar. O poder familiar termina quando o filho atinge a maioridade.
Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder familiar sobre ele,
não sendo necessário seu consentimento para a adoção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
17/3/2015 (Info 558).
58. CURATELA
58.1. Necessidade de nomear curador especial ao interditando mesmo que o MP
esteja atuando como fiscal da ordem jurídica. Nulidade do processo de interdição pela
não realização do interrogatório (entrevista) – (Info 611)
O inciso II do art. 1.177 do CPC 1973 (art. 747 do CPC 2015) fala em "parente". Isso
abrange também os parentes por afinidade?
SIM. Qualquer pessoa que se enquadre no conceito de parente do Código Civil é
parte legítima para propor ação de interdição. Como afinidade gera relação de
parentesco (art. 1.595 do CC), nada impede que os afins requeiram a interdição e
exerçam a curatela. STJ. 3ª Turma. REsp 1.346.013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 13/10/15 (Info 571).
59. INTERDIÇÃO
59.1. Morte do interditando não acarreta, por si só, a extinção da ação de exigir contas
ajuizada por ele – (Info 583)
60. INVENTÁRIO
60.1. Pedido de abertura de inventário com a regularização processual por meio de
nomeação de advogado implica aceitação tácita da herança – (Info 593)
61. PARTILHA
61.1. É possível que o herdeiro testamentário suceda o autor da ação de investigação
de paternidade cumulada com nulidade de partilha – (Info 592)
62. SUCESSÃO
62.1. PARTILHA DE BENS: Dever de prestar contas do cônjuge que ficou na
administração dos bens em mancomunhão – (Info 614)
O que é a mancomunhão? “É a expressão que define o estado dos bens conjugais antes
de sua efetiva partilha. Difere do estado condominial, em que o casal detém o bem ou
coisa simultaneamente, com direito a uma fração ideal, podendo alienar ou gravar
seus direitos, observando a preferência do outro. Na mancomunhão, o bem não pode
ser alienado nem gravado por apenas um dos ex-cônjuges, permanecendo indivisível
até a partilha. Enquanto não for feita a partilha dos bens comuns, eles pertencem a
ambos os cônjuges em estado de mancomunhão.” (PEREIRA, Rodrigo da Cunha.
Dicionário de direito de família e sucessões. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 447).
Dever de exigir contas: Aquele que administra bens de terceiros possui o dever de
prestar contas e o interessado pode exigi-las sem necessidade de alegar qualquer
motivo para isso. Após a separação de fato ou de corpos, o cônjuge que estiver na
posse ou na administração do patrimônio partilhável - seja na condição de
administrador provisório, seja na de inventariante - terá o dever de prestar contas
ao ex-consorte. Isso porque, uma vez cessada a afeição e a confiança entre os cônjuges,
aquele titular de bens ou negócios administrados pelo outro tem o legítimo interesse
ao pleno conhecimento da forma como são conduzidos, não se revelando necessária a
demonstração de qualquer irregularidade, prejuízo ou crédito em detrimento do
gestor. Nesse sentido:
(...) 4. O transcurso de longo lapso temporal entre a separação
de fato e a formalização da partilha obriga o gestor dos bens
comuns à prestação de contas ao outro consorte, que
desconhece o estado dos bens administrados e pode deparar-
se com prejuízos irreparáveis.
5. Na vigência da comunhão de bens, os cônjuges entre si não
se acham jungidos ao dever de prestação de contas. A
comunhão de bens é a mais ampla possível e não permite a
separação de cotas, nem mesmo ideal entre os consortes. Não
há, pois, como cogitar-se de prestação de contas de um
cônjuge ao outro. Uma vez dissolvida a sociedade conjugal,
desaparece a comunhão universal e os bens comuns devem
ser partilhados como em qualquer comunhão que se extingue.
Havendo, porém, um interregno entre a dissolução da
sociedade conjugal e a partilha, aquele que conservar a
posse dos bens do casal estará sujeito a prestação de contas
como qualquer consorte de comunhão ordinária.
(...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1300250/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, j. 27/3/12.
62.2. Parente colateral não possui legitimidade ativa para ação pedindo anulação de
adoção realizada pelo seu parente falecido, caso este tenha deixado companheira viva
– (Info 611) – IMPORTANTE!!!
Parentes colaterais (exs: irmão, tios, sobrinhos) não possuem legitimidade ativa
para ajuizar ação pedindo que se anule a adoção realizada pelo seu parente já
falecido, no caso em que o de cujus deixou cônjuge ou companheira viva. Isso
porque tais parentes colaterais não terão direito à herança mesmo que se exclua o
filho adotivo. Não terão direito à herança porque o art. 1.790 do Código Civil, que
autoriza os colaterais a herdarem em conjunto com a companheira sobrevivente, foi
declarado inconstitucional pelo STF. Logo, em caso de sucessão causa mortis do
companheiro, deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do
cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. Em outras palavras, se
o indivíduo faleceu deixando uma companheira (união estável), esta herdará
exatamente como se fosse esposa (casamento).
Pelas regras do art. 1.829, se o falecido morreu sem deixar descendentes (filhos,
netos etc.) ou ascendentes (pais, avós etc.), a sua companheira terá direito à
totalidade da herança, sem ter que repartir nada com os demais parentes colaterais
(como irmãos, tios, sobrinhos etc.).
Ex: João e Maria viviam em união estável. Decidiram adotar uma criança (Lucas).
Logo em seguida, João faleceu. Seus únicos herdeiros eram Maria e Lucas. Pedro,
irmão de João, de olho nos bens deixados pelo falecido, ingressou com ação
pedindo a anulação da adoção de Lucas. Como o art. 1.790 do CC não vale mais,
para Pedro, nada muda juridicamente se conseguir anular a adoção feita por seu
irmão. Ele não terá nenhum ganho jurídico com essa decisão. Dessa forma, se ele
não possui interesse jurídico no resultado do processo, ele não tem legitimidade
para propor esta ação de anulação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.337.420-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22/8/17 (Info 611).
A viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para figurar
no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido questionada
a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem em condomínio
"pro indiviso" com os bens pertencentes ao quinhão hereditário.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
23/2/2016 (Info 578).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Carlos era casado em comunhão universal de
bens com Francisca. Dessa união nasceram dois filhos: Hugo e Fábio. Carlos morreu
deixando apenas uma casa no valor de R$ 1 milhão.
Diante disso, indaga-se: Francisca, Hugo e Fábio terão direito a este valor? Qual é a
participação de cada um e a que título? Como Francisca era casada com João sob o
regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso, ela
será meeira, mas não herdeira. Significa que ela terá direito à metade do patrimônio
deixado pelo falecido (meação), mas não terá direito a nada da outra metade, que
consiste na herança. A herança ficará apenas com os descendentes.
Ação de petição de herança: Ação de petição de herança é aquela proposta por alguém
que quer ser reconhecido como herdeiro do falecido e, como via de consequência, ter
direito à herança (no todo ou em parte). Petição = pedido. Logo, petição de herança
significa pedir a herança.
Ex1: mulher vivia em união estável com o morto, mas isso não estava oficializado e os
filhos do defunto não a reconhecem como sua companheira. Ela poderá ajuizar ação
de reconhecimento de união estável post mortem cumulada com petição de herança.
Ex2: filho não reconhecido pelo morto poderá ajuizar ação de reconhecimento de
paternidade post mortem cumulada com petição de herança.
Voltando ao nosso exemplo: Imagine que aparece Beatriz, uma menina de 14 anos,
dizendo-se filha não reconhecida de Carlos. Beatriz, assistida por sua mãe, propõe
ação de investigação de paternidade post mortem cumulada com petição de herança
contra Francisca, Hugo e Fábio. Francisca, ao ser citada, argui a sua ilegitimidade
passiva ad causam e diz que não tem nada a ver com a demanda, pedindo para ser
excluída da lide.
O pedido de Francisca deverá ser aceito? SIM. Mesmo que a referida ação seja julgada
procedente, isso não irá refletir na esfera de direitos da viúva meeira, tendo em vista
que sua participação não será afetada. Em outras palavras, sendo ou não reconhecida
a autora como filha do morto, a meação continua sendo a mesma. O cálculo da
meação não muda se houver mais ou menos herdeiros. A meação será sempre a metade
do patrimônio do cônjuge falecido. A outra metade é a herança. Logo, o cônjuge
meeiro não pode ser qualificado como litisconsorte passivo necessário. Vale ressaltar
que o fato de o bem deixado pelo falecido ser uma coisa indivisível (uma casa) não
faz com que a viúva meeira passe a ter legitimidade para estar na lide. Ela continua
sendo parte ilegítima porque, se a autora for reconhecida como filha, a viúva
continuará tendo 50% da fração ideal da casa (o que ela já tinha antes) e os 50%
restantes serão divididos entre os três herdeiros.
Morte de Luiza: Alguns anos depois, Luiza morreu misteriosamente ao cair da escada
de sua casa. Vale ressaltar que ela não tinha mais pais ou avós vivos nem chegou a ter
filhos. Ela deixou, contudo, irmãos, que logo quiseram receber alguma parte da
herança.
Ricardo será herdeiro de Luiza? Ele terá direito à herança? SIM. Se o casal é casado
no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu
cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem
obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança.
Ricardo irá herdar o apartamento mesmo este tendo sido doado por João com
cláusula de incomunicabilidade? SIM. Desse modo, com o falecimento da
beneficiária, acabou a eficácia da cláusula de incomunicabilidade. Ela deixou de
produzir efeitos. A cláusula de incomunicabilidade imposta a um bem não se
relaciona com a vocação hereditária. A cláusula de incomunicabilidade não interfere
nas regras do Código Civil sobre a sucessão causa mortis. Assim, se o indivíduo
recebeu, por doação ou testamento, algum bem imóvel com cláusula de
incomunicabilidade, quando este morrer, o seu herdeiro irá receber o bem.
O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro
necessário (art.1.845 do CC).
No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre
com os descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao
regime da separação legal de bens previsto no art. 1.641 do CC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.382.170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 22/4/2015 (Info 562).
62.10. A esposa supérstite não tem direito real de habitação se o imóvel deixado
pertencia também aos irmãos do falecido – (Info 541)
Marido e mulher moravam em uma casa que estava registrada em nome do marido
e de seus dois irmãos. O marido faleceu e deixou como única herança para a mulher
a sua terça parte na casa. Essa esposa sobrevivente terá direito real de habitação
sobre a casa?
NÃO. Segundo decidiu o STJ, a viúva não pode opor o direito real de habitação aos
irmãos de seu falecido cônjuge na hipótese em que eles forem, desde antes da
abertura da sucessão, coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.184.492-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 1º/4/14 (Info 541).
O CPC/2015, em seu art. 639, parágrafo único, traz regra diferente do art. 2.004 do
CC/2002 e diz que o valor de colação dos bens deverá ser calculado ao tempo da
morte do autor da herança. Confira:
Art. 639. No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro
obrigado à colação conferirá por termo nos autos ou por
petição à qual o termo se reportará os bens que recebeu ou,
se já não os possuir, trar-lhes-á o valor.
Parágrafo único. Os bens a serem conferidos na partilha,
assim como as acessões e as benfeitorias que o donatário
fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da
abertura da sucessão.
Diante disso, não se pode afirmar que a conclusão do STJ no REsp 1.166.568-SP
seria a mesma caso a morte tivesse ocorrido agora, ou seja, sob a vigência do
CPC/2015. Isso porque este diploma é posterior ao CC/2002 e, pelo menos sob o
critério cronológico, teria prevalência em relação ao Código Civil.
63.2. Direito de o herdeiro exigir a colação mesmo que ainda não concebido no
momento da doação – (Info 563) – IMPORTANTE!!!
O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que estes
receberam via doação a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha
sido concebido ao tempo da liberalidade.
Para efeito de cumprimento do dever de colação, é irrelevante se o herdeiro nasceu
antes ou após a doação, não havendo também diferença entre os descendentes, se
são eles irmãos germanos ou unilaterais ou se supervenientes à eventual separação
ou divórcio do doador.
Ex: em 2007, João doou todo o seu patrimônio (casas, apartamentos, carros etc.) para
seus três filhos (Hugo, Tiago e Luis). Em 2010, João teve um novo filho (João Jr.),
fruto de um relacionamento com sua secretária. Em 2012, João faleceu. Foi aberto
inventário de João e, João Jr., o caçula temporão, representado por sua mãe,
habilitou-se nos autos e ingressou com incidente de colação, distribuído por
dependência nos autos do inventário, requerendo que todos os bens recebidos em
doação por Hugo, Tiago e Luis fossem colacionados (devolvidos) para serem
partilhados. Os donatários (Hugo, Tiago e Luis) contestaram o pedido afirmando
que João Jr. ainda não havia nascido e sequer tinha sido concebido ao tempo das
doações, o que afastaria o seu interesse em formular pedido de colação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
19/5/2015 (Info 563).
64. TESTAMENTO
64.1. Validade de testamento feito por cego mesmo sem que tenham sido realizadas
duas leituras e ainda que não tenha sido feito o registro da condição de cego no
instrumento – (Info 610)
O art. 1.867 do Código Civil traz as seguintes exigências adicionais no caso de
testamento feito por pessoa cega. Exige-se:
a) que o testamento seja público;
a) que sejam realizadas duas leituras do testamento (se não for cego, basta uma);
b) que o tabelião declare expressamente no testamento que o testador é cego.
Mesmo antes do advento da Lei 13.043/14, que deu nova redação ao art. 2º do
Decreto-Lei 911/69, já era cabível o ajuizamento de ação de prestação de contas
relativas aos valores auferidos com o leilão extrajudicial de veículo apreendido em
busca e apreensão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.678.525-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. 5/10/17 (Info
613).
OBS:
CONCEITO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA: “A alienação fiduciária em garantia é
um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança, aliena a outra a
propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira,
em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito
Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2012, p. 565).
REGRAMENTO: O CC/02 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em
seus arts. 1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o
tema:
alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei 9.514/97;
alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de
capitais: Lei 4.728/65 e Decreto-Lei 911/69. É o caso, por exemplo, de um
automóvel comprado por meio de financiamento bancário com garantia de
alienação fiduciária.
Resumindo:
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa notificação é feita por
meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada
por intermédio do Cartório de RTD.
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do
próprio destinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69). Para a constituição em mora por
meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do
devedor, ainda que não pessoalmente.
Desse modo, depois da venda, caso o credor não tenha informado acerca de eventual
saldo, o devedor poderá, inclusive, ajuizar ação de prestação de contas em desfavor
da instituição financeira, com o objetivo de se conhecer o resultado da alienação
extrajudicial do bem apreendido na forma do DL 911/1969, e se apurar eventual saldo
em favor do autor.
Além disso, tanto em um caso como no outro, ela poderá também pedir o pagamento
de eventuais perdas e danos que comprove ter sofrido. Isso está previsto no art. 475
do Código Civil:
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização
por perdas e danos.
A teoria do adimplemento substancial tem por objetivo mitigar o que foi explicado
acima. Segundo essa teoria, se a parte devedora cumpriu quase tudo que estava
previsto no contrato (ex: eram 48 prestações, e ela pagou 46), então, neste caso, a parte
credora não terá direito de pedir a resolução do contrato porque, como faltou muito
pouco, o desfazimento do pacto seria uma medida exagerada, desproporcional,
injusta e violaria a boa-fé objetiva.
Desse modo, havendo adimplemento substancial (adimplemento de grande parte do
contrato), o credor teria apenas uma opção: exigir do devedor o cumprimento da
prestação (das prestações) que ficou (ficaram) inadimplida(s) e pleitear eventual
indenização pelos prejuízos que sofreu.
Veja o clássico conceito de Clóvis do Couto e Silva:
Adimplemento substancial “constitui um adimplemento tão
próximo ao resultado final, que, tendo-se em vista a conduta
das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão
somente o pedido de indenização e/ou adimplemento, de vez
que a primeira pretensão viria a ferir o princípio da boa-fé
(objetiva)" (O Princípio da Boa-Fé no Direito Brasileiro e
Português in Estudos de Direito Civil Brasileiro e Português.
São Paulo: RT, 1980, p. 56).
A origem desta teoria remonta o Direito Inglês do séc. XVIII, tendo lá recebido o nome
de "substancial performance".
Resumindo:
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por
intermédio do Cartório de Títulos e Documentos? NÃO. Essa notificação é feita por
meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa ser realizada
por intermédio do Cartório de RTD.
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do
próprio destinatário (§ 2º do art. 2º do DL 911/69). Para a constituição em mora por
meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no endereço do
devedor, ainda que não pessoalmente.
Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,
consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às
repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade
fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na
qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada
pela Lei 10.931/2004)
Feita esta breve revisão, voltemos ao nosso exemplo: O Banco enviou notificação
extrajudicial para Antônio informando que ele se encontrava em débito (Súmula 72-
STJ), mas este não fez a purgação da mora. Diante disso, a instituição financeira
ingressou com ação de busca e apreensão requerendo a entrega do bem, conforme
autoriza o art. 3º do DL 911/69:
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que
comprovada a mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º,
ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual
será concedida liminarmente, podendo ser apreciada em
plantão judiciário.
65.4. Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no
carro para permitir a direção por deficiente físico – (Info 594) – IMPORTANTE!!!
Então, por que eles não seguem a sorte do principal? Porque estes equipamentos são
classificados como pertenças, uma espécie peculiar de bens acessórios que, em regra,
não seguem a sorte do principal.
Pertenças são bens acessórios sui generis: As pertenças têm como objetivo dar uma
maior qualidade, utilidade ou vantagem a um bem principal. Por isso, as pertenças
são classificadas como bens acessórios. No entanto, são bens acessórios sui generis
porque mantêm sua individualidade e autonomia, não se incorporando no bem
principal.
Assim, a pertença, em regra, não é alcançada pelo negócio jurídico que envolver o bem
principal, a não ser que haja imposição legal, expressa manifestação das partes ou
decorrer das circunstâncias do caso concreto. Trata-se de exceção à regra de que o
acessório segue o principal. Isso está previsto expressamente no art. 94 do Código
Civil:
Leilão: Importante explicar que, apesar de a lei falar que a propriedade do imóvel
consolida-se em nome do fiduciário, isso não significa que ele tenha se tornado o
proprietário pleno do bem. A Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o
imóvel por meio de leilão:
Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o
fiduciário, no prazo de trinta dias, contados da data do
registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá
público leilão para a alienação do imóvel.
No momento em que ocorre a consolidação da propriedade (arts. 26 e 27, caput), caso
o fiduciante (devedor) continue morando no imóvel, o fiduciário (credor) poderá exigir
o pagamento da taxa de ocupação de que trata o art. 37-A da Lei nº 9.514/97? A taxa
de ocupação está prevista no art. 37-A da Lei nº 9.514/97 nos seguintes termos:
Art. 37-A. O fiduciante pagará ao fiduciário, ou a quem vier a
sucedê-lo, a título de taxa de ocupação do imóvel, por mês ou
fração, valor correspondente a um por cento do valor a que se
refere o inciso VI do art. 24, computado e exigível desde a data
da alienação em leilão até a data em que o fiduciário, ou seus
sucessores, vier a ser imitido na posse do imóvel.
Apenas como uma figura de linguagem para você entender melhor, essa taxa de
ocupação é como se fosse um "aluguel", ou seja, uma "remuneração" paga ao fiduciário
pelo fato de o fiduciante continuar na posse do imóvel mesmo estando inadimplente.
NÃO SIM
A taxa de ocupação só pode ser exigida A partir de uma interpretação
pelo fiduciário se o fiduciante continuar teleológica do art. 37-A, é preciso
ocupando o imóvel mesmo após o bem flexibilizar o termo inicial de incidência
ter sido alienado em leilão. Essa é a da taxa de ocupação.
redação literal do art. 37-A. STJ. 4ª Turma. REsp 1.622.102-SP, Rel.
Desse modo, a taxa de ocupação Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/9/16
somente é exigível a partir da data da (Info 592).
alienação do imóvel em leilão e irá durar
até o dia em que o fiduciante desocupar
o imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.401.233-RS, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j.
17/11/15 (Info 574).
Legitimidade para cobrar esta taxa de ocupação: Para esta 2ª corrente, a legitimidade
para cobrar a taxa de ocupação vai depender do período a que se refere:
Se estiver sendo cobrada a taxa referente ao período que vai da consolidação
da propriedade até a data de realização do leilão: a legitimidade será do credor
fiduciário (em nosso exemplo, o banco). Assim, se estiver sendo cobrado o
tempo que o fiduciante/devedor ficou no imóvel até o dia do leilão, quem tem
legitimidade para isso é o fiduciário.
Se estiver sendo cobrada a taxa referente ao período que vai da realização do
leilão até a efetiva desocupação do imóvel: a legitimidade será do
arrematante, ou seja, da pessoa que adquiriu o bem no leilão.
Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis bens MÓVEIS bens IMÓVEIS
e infungíveis quando o infungíveis quando o
credor fiduciário for credor fiduciário for
instituição financeira pessoa natural ou
jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002 Lei 9.514/97
Decreto-Lei 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-A)
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS: A espécie mais comum de alienação
fiduciária é a de automóveis.
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10 mil.
Antônio procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com
garantia de alienação fiduciária. Assim, o Banco “X” empresta R$ 20 mil a Antônio,
que compra o veículo. Como garantia do pagamento do empréstimo, a propriedade
resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse direta com Antônio. Em outras
palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas no documento, a propriedade do
automóvel é do Banco “X” (constará: “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se
que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a
propriedade do carro pelo banco “resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer
a Antônio.
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. A Lei 13.043/14 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que
não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio
destinatário.
Dessa forma, quando o juiz decreta a busca e apreensão, ele próprio, com sua senha,
deverá inserir diretamente a restrição judicial no RENAVAM. Caso ele não tenha
acesso à base de dados, deverá expedir um ofício ao DETRAN para que:
I - registre o gravame referente à decretação da busca e apreensão do veículo; e
II - retire o gravame após a apreensão do veículo.
5) Apreensão do bem: Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde
está tramitando a ação (ex: o processo tramita em Belo Horizonte e o carro foi
encontrado em Lavras), a parte interessada poderá requerer diretamente ao juízo
desta comarca pedindo a apreensão do veículo, bastando que em tal requerimento
conste a cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do despacho que
concedeu a busca e apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º do DL 911/69). A apreensão
do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a instituição
financeira para retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do art.
3º). O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão,
deverá entregar o bem e seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º).
Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput,
consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do
bem no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às
repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade
fiduciária. (Redação dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a
integralidade da dívida pendente, segundo os valores
apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na
qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação dada
pela Lei 10.931/2004)
O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Para que o devedor tenha
de volta o bem, ele deverá pagar todo o valor do financiamento ou somente as parcelas
já vencidas e não pagas (purgação da mora)? Ex: Antônio financiou o veículo em 60
parcelas. A partir da 20ª prestação, ele começou a não mais pagar. Estão vencidas 5
parcelas. Para ter de volta o bem, ele terá que pagar somente as 5 parcelas vencidas
(purgação mora) ou todo o financiamento restante (40 parcelas)? Todo o débito.
Segundo decidiu o STJ, a Lei 10.931/04, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao
devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague
somente as prestações vencidas. Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de
volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas
quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a execução da liminar.
O devedor purga a mora quando ele oferece ao devedor as prestações que estão
vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso,
purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento.
Ocorre que na alienação fiduciária em garantia, a Lei 10.931/04 passou a não mais
permitir a purgação da mora. Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de
recurso repetitivo, tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em
todos os processos semelhantes:
Importante: Qual é o termo inicial para a contagem deste prazo de 15 dias: o dia em
que for executada a medida liminar (apreensão do bem) ou a data da juntada do
mandado de citação cumprido? Data da juntada aos autos do mandado de citação
cumprido. Foi o que decidiu o STJ no Info 588.
O STJ, contudo, afirma que este prazo de resposta não pode ser contado a partir da
execução da liminar. Isso porque o juiz concede a busca e apreensão de forma liminar,
ou seja, sem ouvir o devedor.
Desse modo, é indispensável que seja realizado um ato formal de citação do devedor,
sendo isso imprescindível ao desenvolvimento válido e regular do processo, visto que
somente a perfeita angularização da relação processual é capaz de garantir à parte
demandada o pleno exercício do contraditório.
Imagine a seguinte situação: João quer comprar uma casa, mas não possui o dinheiro
suficiente. Ele procurou o Banco “X”, que celebrou com ele contrato de financiamento
com garantia de alienação fiduciária. O Banco “X” emprestou a João o dinheiro
suficiente para comprar o imóvel. Como garantia do pagamento do empréstimo, a
propriedade resolúvel da casa ficará com o banco e João terá a posse, podendo usar
livremente o bem. Diz-se que o banco tem a propriedade resolúvel porque, uma vez
pago o empréstimo, a propriedade do imóvel pelo banco “resolve-se” (acaba) e ela
passa a pertencer a João.
Para que serve essa intimação? O devedor é notificado para ter a possibilidade de
purgar a mora, no prazo de 15 dias, mediante o pagamento das prestações vencidas e
não pagas. Veja o que diz o § 1º do art. 26:
Como é feita a intimação? A intimação deverá ser pessoal, podendo ser realizada de
três maneiras:
a) por solicitação do oficial do Registro de Imóveis;
b) por oficial de Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel
ou do domicílio de quem deva recebê-la; ou
c) pelo correio, com aviso de recebimento
Art. 26 (...)
§ 3º A intimação far-se-á pessoalmente ao fiduciante, ou ao seu
representante legal ou ao procurador regularmente
constituído, podendo ser promovida, por solicitação do oficial
do Registro de Imóveis, por oficial de Registro de Títulos e
Documentos da comarca da situação do imóvel ou do
domicílio de quem deva recebê-la, ou pelo correio, com aviso
de recebimento.
Voltando ao nosso exemplo: João passou a atrasar o pagamento das prestações, razão
pela qual o banco determinou a sua intimação por correio. Ocorre que João não mais
morava no endereço informado e o aviso de recebimento da carta veio assinado por
uma pessoa que não tinha nenhuma relação com o devedor.
Essa intimação, no caso, é válida? NÃO. A intimação do devedor deverá ser feita de
forma pessoal. A necessidade de intimação pessoal decorre da previsão constitucional
da propriedade como direito fundamental (art. 5º, XXII, da CF), o que torna justificável
a exigência de um tratamento rigoroso ao procedimento que visa desapossar alguém
(devedor) desse direito essencial.
Diante deste caso, o que deveria ter feito o credor? Como restou provado que o
devedor mudou-se e se encontrava em lugar incerto e não sabido, o credor deveria ter
providenciado a sua intimação por edital, conforme determina o § 4º do art. 26 da Lei
nº 9.514/97:
Art. 26 (...)
§ 4º Quando o fiduciante, ou seu cessionário, ou seu
representante legal ou procurador encontrar-se em local
ignorado, incerto ou inacessível, o fato será certificado pelo
serventuário encarregado da diligência e informado ao oficial
de Registro de Imóveis, que, à vista da certidão, promoverá a
intimação por edital publicado durante 3 (três) dias, pelo
menos, em um dos jornais de maior circulação local ou noutro
de comarca de fácil acesso, se no local não houver imprensa
diária, contado o prazo para purgação da mora da data da
última publicação do edital.
Art. 2º (...)
§ 2º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para
pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com
aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura
constante do referido aviso seja a do próprio destinatário.
Comparando:
Alienação fiduciária de bens imóveis: o devedor deve ser intimado
pessoalmente para que haja a constituição em mora (art. 26 da Lei nº 9.504/97).
Alienação fiduciária de bens móveis: a mora decorre do simples vencimento
do prazo para pagamento e poderá ser comprovada por carta registrada com
aviso de recebimento, não se exigindo que a assinatura constante do referido
aviso seja a do próprio destinatário (art. 2º, § 2º do DL 911/69).
65.10. É nula a notificação extrajudicial se constar nome diverso do real credor – (Info
550)
66.2. Unidade habitacional já quitada e que foi dada em garantia ao banco – (Info
594)
Nas execuções disciplinadas pela lei que regula as incorporações imobiliárias (Lei
nº 4.591/64), não há necessidade de notificação da parte inadimplente da data e hora
do leilão extrajudicial (art. 63, § 1º), quando existir autorização contratual para sua
utilização e prévia interpelação do devedor com intuito de possibilitar a purgação
da mora.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.024-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 3/11/15 (Info
574).
67. DPVAT
67.1. Não se aplica o CDC para as discussões envolvendo o DPVAT – (Info 614)
O tema já estava pacificado no STJ por meio do REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 27/5/2015 (recurso repetitivo) (Info 563).
67.5. A intimação para perícia médica em ação de cobrança de DPVAT deve ser
pessoal – (Info 589)
67.7. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
585)
Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que
passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista
e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o
pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de
DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre
receberão indenização de DPVAT por invalidez.
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha
sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes
receberão a indenização normalmente.
Esses valores estão previstos textualmente no art. 3º da Lei 6.194/74 e foram previstos
nesta Lei por força da MP 340/06. Confira:
Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido
no art. 2º desta Lei compreendem as indenizações por morte,
por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de
assistência médica e suplementares, nos valores e conforme as
regras que se seguem, por pessoa vitimada:
I - R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
morte;
II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
invalidez permanente; e
III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como
reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência
médica e suplementares devidamente comprovadas.
Obs: os três incisos acima foram incluídos pela Medida Provisória 340/06, convertida
na Lei 11.482/07. Antes, tais valores eram previstos em salários-mínimos.
Como a pessoa obtém a indenização do DPVAT? A pessoa deverá procurar uma das
empresas seguradoras que seja consorciada ao DPVAT e apresentar a documentação
necessária. Para requerer o seguro DPVAT não é necessário advogado, despachante
ou qualquer outra ajuda de terceiros.
Existe um prazo para pagamento? SIM. A Lei prevê que a indenização deve ser paga,
em cheque nominal aos beneficiários, no prazo de 30 dias da entrega dos documentos
que comprovem o acidente, o óbito, a invalidez etc. (art. 5º, § 1º).
INVALIDEZ
O que é invalidez permanente para fins do DPVAT? Em um primeiro momento, a Lei
6.194/74 não previu o que seria invalidez permanente. Diante dessa lacuna, o
Conselho Nacional de Seguros Privados — CNSP elaborou uma tabela com diversas
situações que caracterizavam invalidez permanente. A MP 451/2008 e,
posteriormente, a Lei 11.945/2009, acrescentaram, então, um anexo à Lei 6.194/74,
prevendo expressamente, por meio de uma tabela, situações caracterizadoras de
invalidez permanente.
Noutras palavras, as situações previstas na lista elaborada pelo CNSP, assim como as
presentes no anexo à Lei 6.194/74, constituem rol meramente exemplificativo, em
contínuo desenvolvimento, tanto pela ciência como pelo direito. Portanto, o não
enquadramento de uma determinada situação na lista previamente elaborada não
implica, por si só, a não configuração da invalidez permanente, sendo necessário o
exame das peculiaridades de cada caso concreto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.214-SP,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/8/2013 (Info 530).
Dessa forma, exceto nos casos de invalidez permanente notória, ou naqueles em que
o conhecimento anterior resulte comprovado na fase de instrução, a ciência inequívoca
do caráter permanente da invalidez depende de laudo médico.
Resumindo:
Prazo para a ação de indenização DPVAT: 3 anos.
Início do prazo em caso de invalidez permanente: data do laudo médico
(regra geral).
Exceções: o prazo prescricional se inicia mesmo sem ter sido feito laudo
médico se a invalidez permanente for notória (ex: acidente no qual a vítima
teve amputada suas duas pernas); ou se o conhecimento anterior resultar
comprovado na fase de instrução.
Nesse sentido: STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 27/8/2014 (Info 555).
Este entendimento pacífico do STJ foi materializado na Súmula 573 do STJ.
67.8. DPVAT não cobre acidentes causados por trem – (Info 582)
Qual é o prazo que o beneficiário possui para ajuizar ação cobrando da seguradora
a indenização do DPVAT que não lhe foi paga? Qual é o termo inicial?
A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3 anos (Súmula
405-STJ e art. 206, § 3º, IX, do CC).
O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência
inequívoca do caráter permanente da invalidez ou da morte.
E se o beneficiário recebeu apenas uma parte do seguro, mas não concorda com o
valor e quer o pagamento do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$
10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00. Qual é o prazo neste caso?
O prazo de prescrição para o recebimento da complementação do seguro DPVAT
também é trienal. Não há motivo para que o prazo da ação pedindo o complemento
seja diferente daquele previsto para que se pleiteie o todo.
O prazo prescricional começa no dia que foi realizado o pagamento administrativo
que o beneficiário considera que tenha sido menor que o devido.
Em suma, a pretensão de cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro
DPVAT prescrevem em três anos, sendo o termo inicial, no último caso, o
pagamento administrativo considerado a menor.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.347-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info 559).
67.15. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
555)
67.17. Grávida que sofre aborto por causa de acidente de trânsito tem direito de
receber do DPVAT indenização pela morte do nascituro – (Info 547 do STJ) –
IMPORTANTE!!!
67.18. Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT – (Info
544)
68. CONSÓRCIO
68.1. Herdeiros de consorciado falecido e liberação da carta de crédito em razão da
quitação do saldo devedor pelo seguro prestamista – (Info 596)
O colégio contestou a demanda argumentando que o evento foi gratuito e sem objetivo
de lucro. Alegou que se tratava de uma confraternização entre pais, alunos e
professores, fazendo parte do programa pedagógico da escola.
Em regra, mesmo que o evento não vise o lucro, deverá haver pagamento de direitos
autorais: A Lei 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais), em regra, não exige que o evento
tenha finalidade lucrativa (direta ou indireta) para que seja obrigatório o pagamento
dos direitos autorais. Em outras palavras, em regra, mesmo a exibição da obra não
tenha objetivo de lucro, ainda assim é dever o pagamento da retribuição autoral. O
fato gerador do pagamento dos direitos autorais é a exibição pública da obra artística,
em local de frequência coletiva.
A regra prevista no art. 46, VI, por ser especial, tem prevalência sobre os arts. 29 e 68,
que são consideradas regras gerais. Assim, o caráter pedagógico da atividade -
execução de músicas culturais e folclóricas em festa junina - ocorrida, sem fins
lucrativos, no interior de estabelecimento de ensino, justifica o não cabimento da
cobrança de direitos autorais.
Deve ser analisado o evento no caso concreto: O STJ esclareceu que cada solução
dependerá do caso concreto, pois as circunstâncias de cada evento é que irão
determinar seu devido enquadramento.
69.6. É válida a tabela de preços de direitos autorais instituída pelo próprio ECAD
70.2. Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião – (Info 594)
O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de
Habitação, como está afetado à prestação de um serviço público, deve ser tratado
como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.026-PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17/11/16 (Info 594).
OBS:
Segundo o art. 98 do Código Civil: Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são
particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Se fôssemos levar em consideração a redação literal do art. 98 do CC, este imóvel não
poderia ser considerado como bem público considerando que a Caixa Econômica é
uma empresa pública federal (pessoa jurídica de direito privado).
No entanto, a doutrina defende que também deve ser considerado bem público aquele
pertencente à pessoa jurídica de direito privado que seja prestadora de serviço
público, quando este bem estiver vinculado à prestação dessa atividade. Nesse
sentido: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. Salvador:
JusPodivm, 2015, p. 391.
70.5. Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH – (Info
561)
71.2. Cobrança de direitos autorais em caso de hotel equipado com TV – (Info 606)
Hotéis pagam direitos autorais ao ECAD pelo simples fato de os quartos serem
equipados com TV
A simples disponibilização de aparelhos radiofônicos (rádios) e televisores em
quartos de hotéis, motéis, clínicas e hospitais autoriza a cobrança de direitos
autorais por parte do ECAD.
71.5. Possibilidade de a pessoa jurídica ser titular dos direitos autorais – (Info 594)
– IMPORTANTE!!!
Nos contratos sob encomenda de obras intelectuais, a pessoa jurídica que figura
como encomendada na relação contratual pode ser titular dos direitos autorais,
conforme interpretação do art. 11, parágrafo único, da Lei nº 9.610/98. Assim,
ocorrendo a utilização indevida da obra encomendada, sem a devida autorização,
caberá à pessoa jurídica contratada pleitear a reparação dos danos sofridos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.473.392-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 11/10/16 (Info
594).
Os valores pagos a título de direito autoral estão incluídos nos encargos de que trata
o art. 71? SIM. Os direitos autorais cobrados pelo ECAD possuem natureza jurídica
eminentemente privada e, portanto, consideram-se inseridos no conceito de "encargos
comerciais".
72. ARBITRAGEM
72.1. O árbitro e a instituição de arbitragem não têm legitimidade para figurarem no
polo passivo de eventual ação anulatória – (Info 613)
Quem pode ser árbitro? Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiança das
partes (art. 13). As partes que escolhem quem elas querem como árbitro. As partes
nomearão um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, podendo nomear, também,
suplentes.
Feita esta revisão sobre o tema, imagine a seguinte situação hipotética: A empresa
“BM” mantinha um contrato com a empresa “PP”. No contrato havia uma cláusula
compromissória definindo que os litígios que surgissem envolvendo as empresas
deveriam ser resolvidos pela “Câmara de Arbitragem Empresarial Norte Sul -
CAENS”, uma instituição arbitral, ou seja, uma pessoa jurídica especializada na
solução extrajudicial de conflitos por meio da arbitragem. A CAENS julgou o conflito
em favor da empresa “BM”. Inconformada, a empresa “PP” propôs contra a empresa
“BM” e contra a “CAENS” ação anulatória de processo arbitral sob o argumento de
que o consentimento para a instauração da arbitragem não foi dado pelo verdadeiro
representante legal da empresa, mas sim por uma gerente que não tinha poderes para
tanto. Em contestação, a “CAENS” arguiu preliminar de ilegitimidade passiva
argumentando que é apenas uma instituição administradora de procedimentos
arbitrais. Sua prestação de serviços restringe-se às atividades de apoio técnico,
logístico e operacional às partes e aos árbitros, sendo que sua atuação institucional não
envolve quaisquer atos jurisdicionais decisórios, cuja competência é exclusiva do
árbitro.
Em suma:
A instituição arbitral, por ser simples administradora do
procedimento arbitral, não possui interesse processual nem
legitimidade para integrar o polo passivo da ação que busca a
sua anulação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.433.940-MG, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 26/9/17 (Info 613).
72.2. O STJ não irá homologar a sentença arbitral estrangeira se constatar que o
árbitro que participou do procedimento não gozava de imparcialidade – (Info 605)
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura
surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão
resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96
e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma
apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da
Câmara de Arbitragem)."
Qual é a exigência para que uma sentença arbitral estrangeira produza efeitos no
Brasil? Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira
está sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça (art. 35 da Lei
nº 9.307/96). Essa homologação segue o mesmo procedimento adotado para
homologação das demais sentenças estrangeiras.
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação adaptada: A empresa 1
(EUA) possuía um contrato de fornecimento de mercadorias com a empresa 2
(brasileira). O contrato foi celebrado nos EUA. Após algum tempo, houve um
desentendimento entre as empresas acerca do cumprimento do pacto. No contrato
havia uma cláusula compromissória definindo que os litígios que surgissem
envolvendo as empresas deveriam ser resolvidos pelo Tribunal Arbitral de Nova
Iorque. Foi, então, instaurado um procedimento de arbitragem. O Tribunal Arbitral
designou o árbitro David Coper para presidir a arbitragem. A empresa 2 alegou a
parcialidade deste árbitro sob o argumento de que ele é sócio do escritório de
advocacia que defendeu os interesses da empresa 1 em outras operações e que recebeu
vultosa quantia de honorários, inclusive no curso da arbitragem. O Tribunal Arbitral
negou o pedido da empresa 2 e David continuou como árbitro. Ao final, o Tribunal
Arbitral considerou que a empresa 1 tinha razão na disputa contratual. Diante disso,
a empresa 2 ingressou com ação na Justiça dos EUA pedindo a anulação da sentença
arbitral em virtude da parcialidade do árbitro. O pedido, contudo, foi julgado
improcedente. A empresa 1 (vencedora da sentença arbitral) pediu ao STJ a
homologação da sentença arbitral. A empresa 2 novamente alegou que a sentença
arbitral seria nula, considerando que dela participou árbitro suspeito.
Nesse cenário, o que decidiu o STJ? O STJ poderá examinar novamente esta alegação
da parcialidade do árbitro mesmo isso já tendo sido rejeitado pela Justiça dos EUA?
SIM. O STJ negou a homologação da sentença arbitral estrangeira sob o argumento de
que o árbitro, de fato, não gozava de imparcialidade.
Vale ressaltar que a Lei nº 9.307/96 afirma que “é nula a sentença arbitral se emanou
de quem não podia ser árbitro” (art. 32, II).
72.3. Para que haja cláusula compromissória no contrato de franquia deverá ser
observado o art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96 – (Info 591) – IMPORTANTE!!! (TJSP-2013)
A franquia não é um contrato de consumo (regido pelo CDC), mas, mesmo assim,
é um contrato de adesão.
Segundo o art. 4º, § 2º da Lei 9.307/96, nos contratos de adesão, a cláusula
compromissória só terá eficácia se o aderente:
tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ou
concordar, expressamente, com a sua instituição, por escrito, em documento
anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa
cláusula
Todos os contratos de adesão, mesmo aqueles que não consubstanciam relações de
consumo, como os contratos de franquia, devem observar o disposto no art. 4º, § 2º,
da Lei 9.307/96.
Assim, é possível a instituição de cláusula compromissória em contrato de
franquia, desde que observados os requisitos do art. 4º, § 2º, da Lei 9.307/96.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 15/9/16 (Info 591).
Exemplo:
"Cláusula 5.1.2 Eventuais controvérsias que porventura
surgirem na interpretação ou execução deste contrato serão
resolvidas por meio de arbitragem, segundo a Lei nº 9.307/96
e o Código de Processo Civil brasileiro (este aplicado de forma
apenas subsidiária à Lei de Arbitragem e ao Regulamento da
Câmara de Arbitragem)."
Assim, por expressa previsão legal, não pode a parte ajuizar ação anulatória para
desconstituir acordo com base na nulidade da cláusula compromissória ali presente
antes de submeter o assunto ao árbitro.
Vale ressaltar que não haverá prejuízo à parte porque, mesmo se o árbitro considerar
que a cláusula é válida (e julgar a arbitragem), essa questão da nulidade poderá ser
apreciada pelo Poder Judiciário em momento posterior. Isso porque, para fazer
cumprir a sentença arbitral, o credor terá que ajuizar uma execução judicial. Nesse
momento, o devedor poderá se defender por meio de embargos à execução alegando
a nulidade da cláusula arbitral e, consequentemente, da sentença arbitral.