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Unidade III
3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
As ciências se utilizam de métodos científicos para gerar conhecimento, mas o uso desses métodos
não é exclusivo das ciências.
Segundo Lakatos e Marconi (2003), não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
A palavra método vem do grego antigo methodos, por sua vez formada pelas palavras meta (depois)
+ odos (caminho), e significa seguir um caminho. Assim, a palavra metodologia, formada pelas palavras
do grego antigo methodos + logia (estudo), significa estudo dos métodos ou estudo dos caminhos a
seguir (Μ'EΘΟΔΟΣ [MÉTODO], [s.d.]).
Os métodos fazem parte do nosso dia a dia, desde a forma como nos vestimos pela manhã até
o momento de dormir. Por exemplo, pela manhã, cada um de nós tem um método para se levantar.
Podemos nos levantar da cama logo ao acordar, ou nos espreguiçarmos antes de sair da cama, ou fazer
uma revisão do que temos a realizar naquele dia, ou sermos obrigados a nos levantar porque nossa mãe
nos chama sem parar. Ou seja, cada um cria seus métodos, que inclusive costumam mudar conforme se
fica mais velho.
Em ciência, precisamos todos utilizar um mesmo método, de forma que todos possam entender o
assunto estudado e replicar a pesquisa.
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Como visto antes, o método científico foi inventado por uma série de pensadores europeus entre
1550 e 1700. No entanto, como sua origem remonta aos gregos clássicos, especialmente a Aristóteles,
foi necessário mudar a visão de mundo herdada sobre matéria e movimento para criar uma nova
(DOREN, 2013).
Tomemos como exemplo as considerações de Aristóteles sobre o estado natural das coisas.
Para ele, o estado natural das coisas sublunares, ou seja, as que estão sob a Lua, é a inércia.
Portanto, o movimento não é algo natural – é sempre violento ou é uma correção de um estado
de desequilíbrio, que tende a voltar ao estado de inércia, estado de repouso, quando o movimento
cessa (DOREN, 2013).
Vamos analisar: tudo está inerte ou à procura do repouso – como quando jogamos uma bola e ela
para de quicar e rolar, ficando em repouso até que alguém a pegue e jogue de novo. Aparentemente,
tudo faz sentido.
Essa interpretação feita por Aristóteles foi considerada válida até o século XVII, no Renascimento,
quando Galileu Galilei, ao utilizar um método baseado na experimentação, propôs que, quando se
empurra um objeto, além da força necessária para deslocá-lo, existem outras forças atuantes que se
opõem ao movimento do corpo e, por isso, ele para quando cessa a força para movimentação sobre ele.
Se não houvesse forças contrárias ao movimento, o objeto continuaria infinitamente em movimento
retilíneo e com velocidade constante após o início do deslocamento.
Essa concepção vai contra a ideia inicial de Aristóteles, mas também faz sentido, e foi com ela que
Galileu estabeleceu o conceito de inércia: a propriedade de permanecer em repouso quando em repouso
e em movimento quando em movimento (HAWKING, 2004).
Por que surgiu esse questionamento em Galileu? Um dos motivos é que não havia como explicar
movimentos violentos, como o lançamento de um projétil, a partir da ideia de Aristóteles.
Após Galileu, mas ainda no mesmo século, Newton formulou as leis básicas da Mecânica, as Leis de
Newton, que relacionam movimento e força. Como base para o enunciado da primeira lei, Newton usou
o conceito de inércia definido por Galileu. A Primeira Lei de Newton, ou Lei da Inércia, diz que os corpos
têm a tendência de permanecer em seu estado natural de repouso (Aristóteles) ou em movimento
retilíneo e uniforme (Galileu) (HAWKING, 2004).
Para chegar a essa lei, Newton também se utilizou de um método experimental, anotando todas as
suas observações, mas, acima de tudo, valeu-se do método de Descartes, aplicando modelos matemáticos
a problemas físicos (DOREN, 2013).
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O que percebemos, portanto, é que uma ideia inicial pode não ser completa, pode precisar de ajustes,
e cabe aos estudos de cientistas ou pesquisadores complementar ou refutar essas ideias. Porém, sem o
auxílio de um método, é mais difícil comprovar algo.
Assim como Galileu, Descartes e Newton, diversos outros cientistas colaboraram no desenvolvimento
da metodologia científica que, mais tarde, Einstein e outros utilizariam em seus trabalhos.
Como visto antes, são a crença, a justificação e a verdade, conceitos que podem ser apresentados de
forma prática através das questões do quadro a seguir:
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Qual o objetivo?
Crença
Qual a ideia a testar?
Como o projeto pode demonstrar esse objetivo?
Quais os resultados previstos em termos mensuráveis?
Como o experimento será executado?
Justificação
Como o experimento testa a hipótese?
Quais as variáveis e os controles do experimento?
Como as medidas dos resultados vão provar ou refutar a hipótese?
Qual a pergunta científica a ser respondida?
Verdade
Qual a conclusão esperada?
Assim, fazer uma pesquisa significa aprender a pôr ordem nas próprias ideias (GOLDENBERG, 2004).
Lakatos e Marconi (2003) apresentam o seguinte fluxograma da sequência utilizada na metodologia
científica:
Problema
Explicação
Sem explicação
Colocação precisa
do problema
Procura de
conhecimento
Tentativa de solução
Solução Solução
satisfatória insatisfatória
Prova
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Antes de tudo, portanto, precisamos determinar o tipo de pesquisa a ser realizado. A pesquisa pode
ser de três tipos:
• segundo os objetivos;
No quadro a seguir, podemos ter uma visão dos tipos de pesquisa, suas subdivisões, objetivos e
formas de obtenção de informações.
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Quanto ao texto ou formato da apresentação da pesquisa, ele pode ser dividido em:
Saiba mais
Método: “processo racional para chegar a determinado fim; maneira de proceder; processo racional
para chegar ao conhecimento ou demonstração da verdade” (MÉTODO, 2013).
Técnica: “parte material de uma arte; conjunto dos processos de uma arte; prática” (TÉCNICA, 2013).
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3.4 Métodos
Métodos não são modelos, fórmulas ou receitas, mas sim um conjunto ordenado de procedimentos
comprovadamente eficientes que auxiliam a inteligência e a capacidade de reflexão do pesquisador
(CERVO; BERVIAN; SILVA, 2009).
Observação
Tomemos como exemplo a Física teórica, que questiona a própria realidade. O método usado é o
racional, partindo da observação da realidade questionada e seguindo com a dedução ou a indução.
Assim, as técnicas empregadas por esse método são a observação, a análise, a comparação, a síntese, a
dedução, a indução, a hipótese e a teoria. O método experimental da Física prática, por sua vez, utiliza‑se
das mesmas técnicas, mas para testar ou comprovar uma hipótese, que pode ter sido levantada pela
Física teórica.
Saiba mais
3.5 Técnicas
Cada ciência utiliza técnicas específicas de pesquisa. No entanto, algumas técnicas são comuns a
todas as ciências, sendo preciso realizar adaptações quando são necessárias técnicas especializadas.
Segundo Cervo, Bervian e Silva (2009), essas técnicas têm os seguintes propósitos:
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
• elaborar ou rever ideias, explicações, conclusões que estejam em desacordo com o observado;
• realizar previsões.
Trata-se da aplicação atenta dos sentidos físicos para a obtenção de conhecimento claro e preciso
sobre o objeto da pesquisa.
A observação é algo que fazemos o tempo todo, mas é uma observação ao acaso, ao contrário da
observação científica, que é orientada para a explicação dos fatos.
Muitas vezes, o uso dos nossos sentidos não é o suficiente, e passa a ser necessário utilizar instrumentos
que tornam a observação precisa e objetiva, ao mesmo tempo que permitem a quantificação do que
está sendo observado.
A observação científica não é uma simples observação de fatos. É preciso saber selecionar os dados
mais relevantes, utilizar um critério que auxilie na solução do problema, bem como olhar além dos fatos
utilizando o conhecimento adquirido.
Por exemplo, em 1643, quando se limpavam os poços de água de Florença, verificou-se que
a água não subia a mais de 10,33 metros. Torricelli, ao ser chamado, explicou que se tratava da
existência da pressão atmosférica. Esse fato, a pressão atmosférica, não era algo óbvio para as
pessoas que observavam perplexas o fenômeno. Assim, Torricelli teve que criar um nome para o
fenômeno e explicá-lo.
A observação emprega medidas numéricas para tudo o que for quantitativo e, nesse caso, deve
utilizar a técnica estatística para melhor visualizar os resultados.
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Tem a finalidade de permitir ao leitor a compreensão do que foi observado e de cada um dos passos
da pesquisa, de forma que ela possa ser replicada (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2009).
Por exemplo, uma descrição verbal do efeito de gravidade seria: solte uma bola e ela cairá.
Esse é um fato bastante evidente, mas vago. A descrição exige mais informações, como:
Assim, na utilização dessa técnica, é necessário fazer o maior número de indagações possível, observar
e anotar tudo. Se houver condições, filmar ou fotografar, para poder recorrer a novas observações,
perguntas e dados.
As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenômeno, ou então o estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 2002).
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Visa a separar as semelhanças e destacar as diferenças sempre que houver dois ou mais termos com
as mesmas propriedades gerais ou características particulares (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2009).
Essa técnica é baseada em dois procedimentos inseparáveis: a análise e a síntese (CERVO; BERVIAN;
SILVA, 2009).
A análise é uma operação mental, quando o método é racional, ou física, quando o método é
experimental. Consiste na decomposição de um todo em tantas partes quantas forem possíveis, de
forma a dividir as dificuldades para que possam ser mais bem compreendidas.
Deve ser usada em todas as pesquisas quantitativas, uma vez que trabalham com grandes quantidades
de informação.
A estatística tem a função de auxiliar na visualização dos resultados e deve ser utilizada com cautela
para evitar conclusões falsas.
“A estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem. E eles sempre confessam”, diz
Abraham Laredo Sicsú, do Departamento de Informática e Métodos Quantitativos da Fundação Getulio
Vargas (apud VIEIRA, 2011).
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• experimento;
Observação
A experimentação, conforme Bacon (apud CERVO; BERVIAN; SILVA, 2009), deve seguir algumas
regras apresentadas no quadro a seguir:
Regra Função
Aumentar aos poucos e o mais possível a intensidade da causa para
Alargar verificar se a intensidade do efeito aumenta na mesma proporção
Variar Aplicar a mesma causa a objetos de estudo diferentes
Aplicar a causa contrária à causa suposta para verificar se é produzido
Inverter
um efeito contrário
Recorrer Verificar casos de experiências anteriores
Trata-se das formas de se obter dados para análise, especialmente quando não há registros ou fontes
documentais sobre o assunto.
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Observação
Saiba mais
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
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Resumo
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